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PUBLICAÇÃO DO Conselho Regional de Medicina Veterinária Revista Centauro v.7, n.1, p 34 - 55, 2016 do Estado do Rio Grande do Norte Versão On-line ISSN 2178-7573 http://www.crmvrn.org.br Correspondências devem ser enviadas para: [email protected] O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores 34 REVISÃO DE LITERATURA LEITE CAPRINO: CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS, ORGANOLÉPTICAS E IMPORTÂNCIA DO CONSUMO Karen Luanna Marinho Catunda 1 ; Emerson Moreira de Aguiar 1 ; José Geraldo Medeiros da Silva 2 ; Adriano Henrique do Nascimento Rangel 1 RESUMO - O leite de cabra possui características importantes do ponto de vista nutricional e quando comparado ao leite bovino apresenta algumas peculiaridades. Por apresentar características de hipoalergenicidade, alta digestibilidade e boa aceitação, o leite caprino tem ganhado espaço no mercado consumidor, portanto sendo recomendado na alimentação humana e principalmente infantil de pessoas idosas e convalescentes. As características organolépticas tem sido um dos principais fatores de aceitação do leite caprino na dieta humana. No entanto, a escassez de trabalhos contendo informações específicas sobre o leite de cabra motivou a realização deste artigo. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma revisão de literatura sobre as características nutricionais com enfoque na composição físico-química e de ácidos graxos, características organolépticas e importância do consumo do leite caprino. Unitermos: Valor nutricional; Composição físico-química; Perfil de ácidos graxos; Hipoalergenicidade. GOATS MILK: NUTRITIONAL CHARACTERISTICS, ORGANOLEPTIC AND CONSUMPTION OF IMPORTANCE ABSTRACT - Goat's milk has important characteristics from the nutritional point of view and when compared to bovine milk present some peculiarities. For presenting hypoallergenicity characteristics, high digestibility and good acceptance, goat milk has been gaining ground in the consumer Market, therefore has been recommending in human food and especially for children, elderly and convalescent people. The organoleptic characteristics has been one of the main goat milk acceptance factors in the human diet. However, there are few studies containing specific information about the goat milk and it motivated this article. Therefore, this study aimed to develop a literature review on nutritional characteristics focusing on the physical and chemical 1 Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN 160 - Km 03 - Distrito de JundiaíMacaíba, CEP: 59280-000, CP 07, Natal-RN, Brasil. E:mail: [email protected] 2 Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte-EMPARN, Av. Eliza Branco Pereira dos Santos, s/n° - Parque das Nações, Parnamirim-RN, Brasil.

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Conselho Regional de Medicina Veterinária Revista Centauro v.7, n.1, p 34 - 55, 2016

do Estado do Rio Grande do Norte Versão On-line ISSN 2178-7573

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Correspondências devem ser enviadas para: [email protected]

O conteúdo científico dos manuscritos são de responsabilidade dos autores 34

REVISÃO DE LITERATURA

LEITE CAPRINO: CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS,

ORGANOLÉPTICAS E IMPORTÂNCIA DO CONSUMO

Karen Luanna Marinho Catunda1; Emerson Moreira de Aguiar1; José Geraldo Medeiros

da Silva2; Adriano Henrique do Nascimento Rangel1

RESUMO - O leite de cabra possui características importantes do ponto de vista

nutricional e quando comparado ao leite bovino apresenta algumas peculiaridades. Por

apresentar características de hipoalergenicidade, alta digestibilidade e boa aceitação, o

leite caprino tem ganhado espaço no mercado consumidor, portanto sendo recomendado

na alimentação humana e principalmente infantil de pessoas idosas e convalescentes. As

características organolépticas tem sido um dos principais fatores de aceitação do leite

caprino na dieta humana. No entanto, a escassez de trabalhos contendo informações

específicas sobre o leite de cabra motivou a realização deste artigo. Portanto, o presente

trabalho teve como objetivo desenvolver uma revisão de literatura sobre as

características nutricionais com enfoque na composição físico-química e de ácidos

graxos, características organolépticas e importância do consumo do leite caprino.

Unitermos: Valor nutricional; Composição físico-química; Perfil de ácidos graxos;

Hipoalergenicidade.

GOATS MILK: NUTRITIONAL CHARACTERISTICS, ORGANOLEPTIC AND

CONSUMPTION OF IMPORTANCE

ABSTRACT - Goat's milk has important characteristics from the nutritional point of

view and when compared to bovine milk present some peculiarities. For presenting

hypoallergenicity characteristics, high digestibility and good acceptance, goat milk has

been gaining ground in the consumer Market, therefore has been recommending in

human food and especially for children, elderly and convalescent people. The

organoleptic characteristics has been one of the main goat milk acceptance factors in the

human diet. However, there are few studies containing specific information about the

goat milk and it motivated this article. Therefore, this study aimed to develop a

literature review on nutritional characteristics focusing on the physical and chemical

1 Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN 160 - Km 03 - Distrito de Jundiaí–Macaíba, CEP:

59280-000, CP 07, Natal-RN, Brasil. E:mail: [email protected] 2 Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte-EMPARN, Av. Eliza Branco Pereira dos Santos, s/n° - Parque das

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composition and fatty acids profile, organoleptic characteristics and importance of goat

milk consumption.

Keywords: Nutritional value; Physical and chemical composition; Fatty acid profile;

Hypoallergenicity.

INTRODUÇÃO

No Brasil a criação de cabras leiteiras tem tomado lugar de destaque, por

ser uma atividade de importância crescente na geração de diferentes alimentos e renda

principalmente para os pequenos produtores rurais. Apresentando facilidade no manejo,

boa adaptabilidade às condições ambientais, as cabras, tem ainda produzido leite de

qualidade, e este tem representando um alimento alternativo para sobrevivência e

sustentabilidade dos criadores dessa espécie animal.

O leite caprino possui qualidades nutricionais que superam em vários aspectos o

leite bovino, apresentando menores micelas de caseína e de glóbulos de gordura, baixo

teor de lactose, maior quantidade de vitamina A e B, e maior proporção de ácidos

graxos de cadeia curta e média (PARK et al., 2007).

Atualmente o leite de cabra é classificado como alimento funcional, pois além de

ser um excelente alimento, participa da manutenção da saúde e reduz doenças, portanto,

sendo recomendado na alimentação humana e principalmente infantil de pessoas idosas

e convalescentes pelas características de hipoalergenicidade e alta digestibilidade

(HAENLEIN, 2004, CHYE et al., 2012).

O leite caprino e seus derivados representam um nicho promissor para a

indústria láctea, devido principalmente as suas características nutricionais em

consonância com a atual tendência de alimentação saudável (OLALLA et al., 2009). Os

derivados do leite de cabra são produtos de alto valor agregado e possuem

características de sabor e aroma peculiares, evidenciando oportunidades de diversificar

e inovar o mercado de leite atendendo a novas demandas de produtos diferenciados

(CHACÓN VILLALOBOS, 2005; RODRIGUEZ et al., 2008, VARGAS et al., 2008).

Existe, na literatura, uma série de trabalhos sobre leite de vaca, todavia, a

escassez de trabalhos contendo informações específicas sobre o leite de cabra motivou a

realização deste artigo. Informações sobre características nutricionais e organolépticas

do leite de cabra é de fundamental importância para conhecimento dos produtores e

beneficiadores de leite no Brasil, pois as modificações ocorridas nas características

químicas e sensoriais, assim como o perfil de ácidos graxos do leite terá reflexo na

produção de seus derivados e na venda, o que pode vir a influenciar na aceitação desses

produtos pelos consumidores.

Portanto, o presente trabalho teve como objetivo desenvolver uma revisão de

literatura sobre as características nutricionais com enfoque na composição físico-

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química e de ácidos graxos, características organolépticas e importância do consumo do

leite caprino.

1. CARACTERÍSTICAS NUTRICIONAIS DO LEITE CAPRINO

1.1.COMPOSIÇÃO FÍSICO-QUÍMICA

O leite é o primeiro alimento dos mamíferos, a única fonte de nutrientes no

momento do nascimento, e também é considerado o melhor alimento natural, pois

contém quantidades relativamente importantes de nutrientes essenciais.

O leite é em geral definido como líquido branco, opaco, duas vezes mais viscoso

que a água, de sabor ligeiramente adocicado e de odor pouco acentuado, composto por

87% de água e 13% de substâncias sólidas (VALSECHI, 2001).

Segundo POIATTI (2005), o leite pode ser compreendido como um sistema

trifásico em perfeito equilíbrio, a saber:

• Solução – composta de 87% de água, numerosos sais minerais dissolvidos,

lactose, ureia, ácido lático, creatinina, aminoácidos e vitaminas hidrossolúveis.

Entre os minerais, principalmente o cálcio, sódio, cloretos e fosfatos, sendo que

o cálcio se apresenta em forma facilmente absorvível;

• Colóide ou solução coloidal – apresenta alta concentração de proteínas e

compõe-se de agregados de moléculas proteicas formando micelas esféricas com

fosfato de cálcio coloidal;

• Emulsão – em sua fase lipídica, na qual as gotículas de gordura, envoltas em

membranas lipoproteicas, encontram-se finamente dispersas numa solução

predominantemente aquosa, caracterizando uma emulsão que pode ser rompida

por centrifugação ou repouso.

No Brasil os requisitos mínimos de qualidade do leite de cabra, segundo a

Instrução Normativa Nº 37 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

(BRASIL, 2000), são os seguintes: proteína total mínima de 2,80%; lactose mínima

4,30%; 8,20% de extrato seco desengordurado; 0,70% de cinzas; acidez (% de ácido

lático) de 0,13% a 0,18%; densidade a 15°C de 1,028 g/mL a 1,034 g/mL; índice

crioscópico (ponto de congelamento) de -0,550ºH a -0,585ºH; e pH em torno de 6,45. O

teor mínimo de gordura não é fixado, sendo admitidos valores inferiores a 2,90%

mediante comprovação de que o teor médio de gordura de um determinado rebanho não

atinge esse nível.

O leite caprino é rico em gorduras (ácidos graxos de cadeia curta e saturada),

proteínas (aminoácidos essenciais), vitaminas A e B e sais minerais (cálcio, selênio,

fosfato).

A composição dos nutrientes do leite pode variar em função de alguns

importantes fatores que englobam a espécie, raça, idade da matriz, ordem de parto,

estádio de lactação, variabilidade genética individual, nutrição (SANZ SAMPELAYO

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et al., 2007), como também manejo, estado sanitário e às características individuais de

cada animal (SPREER, 1991).

Alguns componentes do leite, como a gordura, proteína, lactose entre outros,

podem sofrer variações tendo em conta a espécie animal (caprino, ovino e bovino) e

raça, como pode ser observado nas Tabelas 1 e 2.

Tabela 1. Composição físico-química do leite de diferentes espécies

Parâmetros Tipo de leite

Leite bovino Leite caprino Leite ovino

pH 6,60 6,53 6,7

Acidez em ºD 15 16 21

Densidade (g/cm3) 1.029,58 1.026,63 1.031,56

Proteína (%) 2,51 3,50 4,66

Gordura (%) 3,65 3,94 7,21

Lactose (%) 3,99 3,93 4,44

EST (%) 12,02 11,63 16,79

PC (oC) -0,507 -0,547 -0,524

ºD= Graus Dornic; EST= Extrato Seco Total; PC= Ponto de Crioscopia (ponto de congelamento).

Fonte: Pellegrini (2012).

Tabela 2. Composição físico-química do leite de diferentes raças caprinas

Parâmetros Raças

Saanen1 Moxotó2 Anglo-nubiano3

Proteína (%) 2,93 3,23 3,92

Gordura (%) 3,61 3,89 3,67

Lactose (%) 4,95 4,20 3,67

EST (%) 12,23 12,01 12,13

Cinzas (%) 0,74 0,69 0,88

Densidade (g/cm3) 1,030 1,030 1,032

EST= Extrato Seco Total; ºD =Graus Dornic.

Fonte: 1 Rangel et al. (2012); 2 Fernandes et al. (2008); 3 Santos et al. (2011).

1.2. COMPOSIÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS

Os lipídios são um dos componentes mais estudados no leite, pois estes

representam o maior componente energético do leite além de serem fontes de ácidos

graxos essenciais. Eles são considerados os mais importantes da constituição geral dos

produtos lácteos em termos de custo, características nutricionais, físicas e sensoriais

(HAENLEIN, 2004; ZAMBOM, 2006; PARK et al., 2007).

A fração lipídica do leite caprino se reflete no rendimento e firmeza de seus

derivados, bem como na coloração, sabor e odor característicos dos produtos caprinos e

nas características benéficas ao organismo humano (CHILLIARD et al., 2003; ŽAN et

al., 2006; OSMARI, 2007).

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Quimicamente os lipídios presente no leite estão na forma de triglicerídeos ou

triacilgliceróis, que são compostos formados por três moléculas de ácidos graxos

ligadas a uma molécula de glicerol (BELL et al., 1997).

O comprimento da cadeia carbônica do ácido graxo pode variar entre 4 e 24

átomos de carbonos, podendo possuir cadeia do tipo linear ou ramificada, saturada ou

insaturada. Os ácidos graxos saturados (SFA= saturated fatty acids) possuem somente

ligações simples na cadeia carbônica e os insaturados (UFA= unsaturated fatty acids)

possuem duplas ligações. Quando os ácidos graxos insaturados apresentarem apenas

uma dupla ligação, são denominados monoinsaturados (MUFAs= monounsaturated

fatty acids) e quando apresentarem duas ou mais duplas ligações, são chamados de

poliinsaturados (PUFAs= polyunsaturated fatty acids) (BELL et al., 1997).

Os ácidos graxos diferem basicamente uns dos outros pelo comprimento da

cadeia hidrocarbônica, pelo número e posição das duplas ligações, localização das

insaturações e quanto à isomeria geométrica (cis ou trans) (Tabela 3).

Tabela 3. Listagem de alguns ácidos graxos saturados e insaturados encontrados no leite

de cabra

Nome sistemático Nome

comum

Nº de átomos

de carbonos

Nº de duplas

ligações

n-butanóico Butírico 4 0

n-hexanóico Capróico 6 0

n-octanóico Caprílico 8 0

n-decanóico Cáprico 10 0

n-dodecanóico Láurico 12 0

n-tetradecanóico Mirístico 14 0

n-cis,9-tetradecenóico Miristoléico 14 1

Hexadecanóico Palmítico 16 0

n-cis,9-Hexadecenóico Palmitoléico 16 1

n-octadecanóico Esteárico 18 0

n-cis,9-Octadecenóico Oleico 18 1

n-cis,11- Octadecenóico Vacênico 18 1

n-cis,9,12-Octadecadienóico Linoleico 18 2

n-cis,9,12,15-Octadecatrienóico Linolênico 18 3

n-eicosanóico Araquídico 20 0

n-docosanóico Behênico 22 0

Fonte: Adptado de MAYES (1994).

A nomenclatura química convencional é a sistemática, a qual inicia a numeração

dos átomos de carbonos pelo grupo carboxila terminal. Os átomos de carbono de

número 2 e 3 adjacentes ao grupo carboxila são denominados de carbonos α e β,

respectivamente, enquanto que o último carbono é o ω- ou n-carbono. A posição da

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dupla ligação é indicada pelo símbolo ∆, seguido por um número, por exemplo: ∆9 se

refere à dupla ligação entre os carbonos 9 e 10 numerados a partir do grupo carboxila.

Contudo, uma prática aceita é descrever a estrutura química das moléculas dos ácidos

graxos iniciando pela numeração dos carbonos no grupo metil (ω- ou n-) (ROSE e

CONNOLY, 1999), como pode ser observado na Figura 1.

Figura 1. Ilustração da estrutura da cadeia de ácidos graxos saturado e insaturados (cis e

trans) Fonte: Elaborado pela autora.

O ácido oleico, por exemplo, tem uma dupla ligação localizada entre os

carbonos 9 e 10 do grupo metil final, portanto é designado como ácido graxo

monoinsaturado ω9 (ou n-9). Este ácido graxo pode ser sintetizado por todos os

mamíferos, incluindo humanos. Os ácidos graxos poli-insaturados ω3 (n-3) e ω6 (n-6),

conhecidos respectivamente por linolênico e linoleico não podem ser sintetizados pelos

mamíferos por não possuírem a enzima ∆9-dessaturase; portanto, são ácidos graxos

essenciais, devendo ser obtidos da dieta. Estes ácidos são ainda precursores para a

síntese de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, que são de grande

importância para a saúde humana, como exemplo o ácido linoleico conjugado,

conhecido como CLA (ROSE e CONNOLY, 1999; TEITELBAUM e WALKER,

2001).

O CLA é o nome dado ao grupo de isômeros posicionais e geométricos do ácido

octadecadienóico (18:2- ácido linoléico) que contem um par de ligações duplas

conjugadas ao longo da cadeia, sendo o ácido octadecadienóico- c9t11, o isômero mais

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comum encontrado no leite de ruminantes (JONES et al., 2005). Os isômeros do CLA,

no caso dos animais ruminantes, são formados no rúmen no processo de

biohidrogenação do ácido linoleico, pela enzima secretada pelas bactérias Butirivibrio

fibrosolvens no rúmen (IP et al., 1991).

Quanto à extensão da cadeia, os ácidos graxos do leite podem ser de cadeia

curta (AGCC) com 4 a 10 átomos de carbono, cadeia média (AGCM), de 12 a 16

carbonos e de cadeia longa (AGCL) com mais de 16 átomos de carbono (EIFERT et al.,

2006).

Segundo Jenness (1980), os lipídeos do leite caprino exibem consideráveis

diferenças com o leite de vaca, apresentando valores mais elevados de ácido capróico

(C6:0), caprílico (C8:0), cáprico (C10:0), láurico (C12:0), mirístico (C14:0), palmítico

(C16:0), linoleico (C18:2) (Tabela 4).

Tabela 4. Perfil de ácidos graxos (%) do leite das espécies bovina e caprina

Ácidos graxos Espécie Animal

Bovina Caprina

C4:0 1,11 0,67

C6:0 0,86 0,95

C8:0 0,59 1,29

C10:0 1,25 5,22

C12:0 1,73 2,89

C14:0 8,50 9,04

C14:1 1,04 0,00

C15:0 1,11 0,96

C16:0 27,94 28,05

C16:1 2,35 0,56

C17:0 0,81 0,86

C18:0 10,66 11,21

C18:1t11 2,71 1,57

C18:1n9T 0,00 1,43

C18:1n9c 26,45 21,90

C18:2n6C 1,70 2,01

C18:3n3 0,57 0,57

CLA 0,99 0,99

∑SFA 55,49 61,86

∑MUFA 32,91 26,02

∑PUFA 3,66 3,51

∑SFA= Somatório Ácidos Graxos Saturados; ∑MUFA= Somatório Ácidos Graxos Monoinsaturados; ∑PUFA=

Somatório Ácidos Graxos Poliinsaturados.

Fonte: Pellegrini et al. (2012).

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De acordo com os estudos de Alonso et al. (1999), os lipídios do leite de cabra

apresentam valores médios de triglicerídeos divididos em: 55% de ácidos graxos

saturados, 29% monoinsaturados e 16% poli-insaturados.

Jandal (1996) e Fontecha et al. (2000) ressaltam que o leite caprino contém

maior proporção de ácidos graxos de cadeia curta e média (57%) comparado ao leite de

vaca (50%), como o ácido graxo C10:0 (ácido cáprico) apresentando maior diferença

entre eles.

A concentração de ácidos graxos de cadeia com menos de 11 carbonos no leite

caprino, ou seja, os AGCC podem ser responsáveis em grande parte pelas características

organolépticas dos produtos lácteos proveniente desses ruminantes, que por serem

ácidos mais voláteis contribuem principalmente para o flavour do leite caprino

(ALONSO et al., 1999; SANZ SAMPELAYO et al., 2007).

Segundo Demeyer e Doreau (1999) e Chilliard et al. (2000), a gordura do leite é

originada através dos lipídios sintetizados na glândula mamária a partir de acetato e β-

hidroxibutirato (cerca de 40 a 50%) e a partir dos ácidos graxos pré-formados

absorvidos da corrente sanguínea (cerca de 40% de origem dietética e 10% da

mobilização das reservas corporais). Em média 40% do ácido palmítico (C16:0) e dos

ácidos graxos com 18 ou mais carbonos tem origem dos ácidos graxos pré-formados,

enquanto os ácidos graxos de cadeia curta e média são originados da própria glândula

mamária.

Segundo Chilliard et al. (2000) os ácidos graxos provenientes da dieta dos

caprinos podem sofrer modificações a partir da população microbiana do rúmen que age

sobre os AG insaturados, promovendo a saturação pela rota de biohidrogenação

ruminal, e sintetizando ácidos graxos pela síntese “de novo”; e também através da

enzima Δ9- desaturase que age nos enterócitos e na glândula mamária incluindo uma

ligação dupla cis-9 nos ácidos graxos, por exemplo, transformando o ácido esteárico

(C18:0) em oleico (C18:1n9cis) e o vacênico (C18:1-11trans) em CLA C18:2-

9cis11trans.

Além da composição da dieta (proporção volumoso: concentrado), a genética do

animal, fase da lactação, o balanço energético e o pH ruminal são fatores importantes

que influenciam o teor de gordura e consequentemente o perfil de ácidos graxos no leite

de cabra (PALMQUIST et al., 1993; BOZA e SANZ SAMPELAYO, 1997).

A distribuição de forragens moídas e granuladas às cabras aumenta a

porcentagem de ácidos graxos insaturados e diminui a de ácidos graxos saturados. Esta

situação se comporta de forma semelhante a uma dieta com elevados teores de

concentrados, devido alterações no ambiente ruminal decorrente da redução no pH, a

microbiota ruminal não fica favorável a rota de biohidrogenação (ou seja,

biohidrogenação incompleta), resultando em maiores concentrações de ácidos graxos

insaturados (GRIINARI et al., 1998; PARK et al., 2007; VILANOVA, 2007), situação

inversa ocorre com dietas ricas em volumoso.

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Segundo Chilliard et al. (2001), o aporte de volumoso da dieta além de favorecer

a biohidrogenação, aumenta também as proporções de acetato e α-hidroxibutirato,

importantes precursores na síntese “de novo” dos ácidos graxos de cadeias curta e

média (AGCCM) na glândula mamária.

2. CARACTERÍSTICAS ORGANOLÉPTICAS DO LEITE CAPRINO

As características organolépticas são percebidas através dos sentidos: paladar,

olfato, tato e visão. Através destes sentidos é possível observar o aspecto geral, cor,

textura, odor e sabor do leite.

A cor do leite de cabra é branca e a textura não apresenta grumos, sendo de

aspecto limpo (FURTADO, 1984).

O odor é dado pela percepção de compostos voláteis pelos receptores olfativos,

é uma sensação complexa, pois o olfato pode discriminar vários compostos

(QUEIROGA et al., 2007).

O odor do leite de cabra é suave (FURTADO, 1984), no entanto, o tipo de

alimentação fornecida aos ruminantes pode alterar os componentes do leite afetando

diretamente no sabor e odor do leite produzido, como também de seus derivados. Por

exemplo, dietas a base de pastagens, em razão das substâncias odoríferas, pode

modificar a composição química e as propriedades sensoriais do leite, relacionadas à

composição de ácidos graxos (grau de instauração e comprimento da cadeia carbônica)

e enzimas do leite (proteolíticas e lipolíticas) (COULON e PRIOLO, 2002).

Um dos aspectos mais interessantes do leite caprino segundo Sanz Sampelayo et

al. (2007), diz respeito à natureza da gordura, por que além de ser o seu principal

nutriente, é responsável pela origem de odores agradáveis ou desagradáveis e pela

formação do flavour (também denominado flavor) no leite.

Os compostos responsáveis pelo aroma e sabor apresentam estruturas químicas

diversas derivadas dos principais constituintes dos alimentos, sendo suas características

específicas capazes de estimular os receptores dos reflexos do gosto e odor, para

produzir uma resposta sincronizada e integrada, denominada sabor ou flavour (Figura 2)

(FISHER e SCOTT, 1997). Em geral, o termo flavour surgiu para o uso que implica na

percepção integrada global de todos os sentidos que participam (olfato, paladar, visão,

audição e tato) no momento de consumir o alimento (FENNEMA, 1993; PAL et al.,

1997; FERREIRA et al., 2000; STEPHAN et al., 2000).

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Figura 2. Definição e interação entre flavour, aroma, gosto, e sensação de contato. Fonte: Adaptado por Stephan et al. (2000).

A ABNT (1993) define como sabor (flavour) a experiência mista, mas unitária

de sensações olfativas, gustativas e táteis percebidas durante a degustação, enquanto, o

termo off-flavour refere-se ao sabor estranho, não caraterístico. Os consumidores

consideram o sabor como uma das principais propriedades sensoriais, sendo decisivas

na seleção, aceitação e ingestão dos alimentos (FISHER e SCOTT, 1997).

Segundo Furtado (1984), o sabor do leite caprino é adocicado e agradável, no

entanto, como dito anteriormente esta característica sensorial natural do leite caprino

pode sofrer variações.

Jaubert et al. (1997) estudando características químicas e sensoriais do leite

caprino de quarenta rebanhos de Saanen, na França, observaram que a intensidade do

sabor do leite variava significativamente em função do estágio de lactação, maior

conteúdo de gordura, contagem de células somáticas e elevado teor de ácidos graxos

livres. Observaram também, que os fatores tamanho de rebanho, pH, acidez e

concentração proteica não apresentam influência nos atributos sensoriais do leite.

Segundo Coulon e Priolo (2002), mudanças na fração volátil do leite e na

produção do sabor ocorrem devido a processos térmicos, deteriorações resultantes de

microrganismos durante a estocagem e processos enzimáticos e de natureza química, o

que acarreta consequências indesejáveis a qualidade final do produto.

Os compostos voláteis do leite influenciam nas características organolépticas,

podendo ser considerado um fator determinante para aceitação e consumo, tendo em

vista que são abundantes no leite fresco de pequenos ruminantes (CHILLIARD et al.,

2001; ADDIS et al., 2006).

Para o leite fresco existem várias rotas bioquímicas e químicas para formação

dos compostos voláteis. O sabor oxidado da gordura do leite caprino é originado,

primariamente, dos ácidos linoléico e linolênico, como também de outros ácidos graxos

poli-insaturados. A hidrólise de triacilgliceróis, catalisada por lípases, libera ácidos

graxos de cadeia curta (especialmente: capróico - C6:0, caprílico - C8:0, cáprico C10:0),

que são responsáveis pelo flavour característico do leite de cabra. Os teores de ácidos

graxos de cadeia curta (15 - 18%) no leite caprino são duas vezes maiores que no leite

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de vaca, tornando-os quimicamente e sensorialmente distintos (DELACROIX-

BUCHET e LAMBERET, 2000).

Vários autores (FERNANDEZ- GARCIA et al., 2004; ADDIS et al., 2006;

EKNAES e SKEIE, 2006) reportaram a importância dos compostos voláteis no leite,

relatando nas pesquisas as variações sofridas pelo leite de ruminantes através da relação

do que foi consumido com o produzido e abordam a necessidade de mais estudos sobre

a influência das dietas no sistema alimentar de ruminantes sobre a qualidade do leite e

seus produtos.

3. IMPORTÂNCIA DO CONSUMO DO LEITE CAPRINO

No âmbito da pesquisa, a composição do leite caprino vem sendo estudada em

diversas partes do mundo com intuito de obter qualidade e aceitação do produto, assim

como acentuar substâncias benéficas à saúde humana (COSTA et al., 2009).

Do ponto de vista nutricional, trabalhos destacam a importância do leite de cabra

na nutrição humana, uma vez que constitui um alimento de elevado valor nutricional

com elementos essenciais, como proteínas de alto valor biológico, ácidos graxos

essenciais, carboidratos, além de seu conteúdo mineral e vitamínico.

O leite de cabra apresenta certas propriedades bioquímicas e características

próprias de qualidade que favorecem também o seu valor nutricional e que diferem do

leite de outras espécies, sendo, portanto apreciadas pelos nutricionistas e consumidores,

que recomendam na dieta infantil, dos idosos, doentes (principalmente com doenças

gastrointestinais), pessoas malnutridas, convalescentes e nos casos de intolerantes e

alérgicos ao leite de vaca (PELLERIN, 2001; GIANGIACOMO, 2003).

A importância desse leite na alimentação infantil é devido às características de

hipoalergenicidade e digestibilidade, por possuir pequenas dimensões de glóbulos de

gordura e micelas de caseína (HAENLEIN, 2004). Isso representa um menor tempo de

permanência do leite de cabra no estômago e trânsito intestinal, pois esses pequenos

glóbulos são atacados pelos sucos digestivos e lipases com maior facilidade (LUIZ et

al., 1999; MESQUITA et al., 2004).

As principais proteínas presentes no leite podem ser divididas em três grupos

que se apresentam em quantidades diferenciadas de espécie para espécie. O primeiro

grupo é constituído de caseína, que é a principal proteína do leite e que possui

propriedades coagulantes e função de regulação do tempo de trânsito das proteínas pelo

intestino (reduz a velocidade de passagem facilitando a absorção dos aminoácidos),

apresentando os tipos: α-S1, α-S2, β, κ e γ. O segundo grupo se refere às proteínas

solúveis não coaguláveis que são constituídas essencialmente de α-lactoalbumina e β-

lactoglobulina. E o terceiro grupo representado pelas proteoses, peptonas, albumina

sérica e imunoglobulinas, as quais ocorrem em baixas concentrações (COULON et al.,

1998; RIBEIRO e RIBEIRO, 2001).

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A porcentagem de proteínas no leite, principalmente β-lactoglobulinas, α-

lactoalbuminas e imonoglobulinas, são valiosas do ponto de vista nutricional, pois

apresenta vários aminoácidos essenciais equilibrados e de acordo com os requisitos da

Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas – FAO

(CASSANEGO et al., 2012).

No entanto, as proteínas mais alergênicas encontradas no leite de vaca são: α-S1

caseína, α-lactoalbumina, β-lactoglobulina e albumina sérica (RIBEIRO e RIBEIRO,

2001).

A alergia ao leite é uma resposta imunologicamente mediada a uma ou várias

proteínas do leite (CRITTENDEN e BENNETT, 2005). As razões pelas quais alguns

indivíduos desenvolvem alergia ao leite não são bem entendidas, mas acredita-se que

estas envolvem uma complexa interação entre fatores genéticos e ambientais. O

histórico familiar de alergia e a exposição precoce ao leite bovino são fatores de risco

para a alergia ao leite bovino (HALKEN, 2004). Sendo, no entanto mais comum em

recém-nascidos e crianças do que em adultos.

O único cuidado efetivo para a alergia ao leite de vaca é evitar o consumo desse

leite e produtos derivados. No entanto, a restrição do consumo de produtos lácteos em

crianças com alergia ao leite bovino pode levar a consequências, por falta de nutrientes,

afetando o crescimento e a saúde dos ossos (KLEINMAN, 2004).

As fórmulas à base de soja são comumente utilizadas como substitutos do leite

de vaca nesses casos, no entanto, há estimativa de que 25 a 50% das crianças com

sensibilidade as proteínas do leite de vaca também apresentam sintomas similares com

as bebidas à base de soja (MAZZEI, 1992).

Diante disso, o leite caprino surge como substituto para suprir essa deficiência

de leite na alimentação humana, pois essas reações alérgicas ocorrem com menos

frequência com as proteínas do leite de cabra (FISBERG et al., 1999). O leite caprino

difere na composição de aminoácidos, possuindo baixos teores de α-S1 caseína e β-

lactoglobulina quando comparado com o leite bovino (DEL VAL et al., 1999). Além

disso, a porção α-S1 caseína é diferenciada, pois forma coágulos finos e suaves,

facilitando assim os processos digestivos nos humanos (TRONCO, 1996).

Walker (1991) atuando como médica em clínicas de alergia pesquisou durante

um período de 25 anos as alergias causadas pelo leite de vaca, e constatou que apenas

1% das crianças que eram alérgicas ao leite de vaca, nas quais o uso de leite de cabra

não pôde corrigir a alergia. Esta mesma autora menciona que apesar do leite de cabra

não aliviar todos os processos alérgicos induzidos pelo leite de vaca, tem-se observado

bons resultados na maioria dos casos, sendo o leite de cabra bastante recomendado pelos

médicos.

Ortoloni (1997) relata que diversos estudos internacionais demonstraram que

cerca de 30% dos seres humanos evitam ou não tomam leite de ruminantes “in natura”,

basicamente, por dois motivos: por pura aversão que é motivada por fatores

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psicológicos principalmente ocorridos durante a infância; ou principalmente pelas

intolerâncias a lactose.

De acordo com vários estudos, é reconhecida a intolerância ao leite de vaca, por

crianças numa frequência de 0,3 a 7%, sobretudo, nos primeiros anos de vida

(MAZZEI, 1992).

A intolerância à lactose, uma reação não imunológica, é a ocorrência de

sintomas após pessoas com má digestão clinicamente diagnosticada da lactose (ou seja,

baixos níveis da enzima intestinal – lactase) consumirem lactose (açúcar do leite) em

quantidades maiores do que sua capacidade de hidrolisar este açúcar em glucose e

galactose (BAHNA, 2002; MOORE, 2003; TAYLOR e HEFLER, 2006).

Quando não há lactase suficiente para digerir a quantidade de lactose consumida,

este açúcar não digerido é fermentado pelas bactérias do cólon em metano, hidrogênio e

dióxido de carbono, o que pode levar a sintomas gastrointestinais (náuseas, distensão

abdominal, flatulência e diarreia) após duas horas do consumo de uma dose grande de

lactose devido a esta digestão incompleta (SAHI, 1994).

A eliminação total de alimentos lácteos é desnecessária e não recomendada.

Uma equipe de cientistas internacionalmente conhecidos especializados em digestão de

lactose concluiu que a intolerância à lactose é facilmente controlada e não é uma

barreira ao consumo de produtos lácteos (MOORE, 2003).

Nesse caso, a lactose do leite de cabra apresenta fermentação lenta que não

provoca alterações, e contém quantidades de 0,2 a 0,5% menor do que no leite de vaca,

por este motivo é indicado a pessoas que possuem intolerância à lactose bovina

(TRONCO, 1996).

As pessoas que consomem baixas quantidades de leite e outros produtos lácteos,

como resultados de intolerância à lactose, geralmente têm ingestão inadequada de cálcio

e outros nutrientes fornecidos pelo leite, ficando, desta forma, em risco de desenvolver

osteoporose e outras doenças crônicas (JACKSON e SAVAIANO, 2001).

O cálcio representa um dos elementos mais importante para o organismo,

correspondendo a 1 ou 2% do peso corporal. Como não é produzido endogenamente, é

necessária a ingestão diária através dos vários alimentos que o contêm. Por esta razão, o

leite torna-se indispensável para uma alimentação saudável, devido à composição

nutricional fornecer as quantidades de cálcio suficientes para a dieta equilibrada conter

elevada quantidade de cálcio.

Alguns autores consideram o leite de cabra como o melhor alimento fornecedor de

cálcio, pois sua digestibilidade juntamente com a do fósforo é geralmente alta, pois

estes minerais são encontrados em associação com as caseínas, por isso o leite

representa a melhor fonte desses minerais essenciais, como também do potássio, para o

crescimento dos ossos e dentes de indivíduos de todas as idades (TRONCO, 1996;

WATTIAUX e KARG, 2004).

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Os níveis de selênio, um importante componente do leite humano, são similares

nos leites de cabra, mas significativamente mais altos que os níveis encontrados no leite

de vaca (CHADAN et al., 1992).

Além disso, o leite caprino apresenta níveis de vitamina A mais elevados do que

o leite de vaca, suprindo adequadamente a necessidade para recém-nascidos. Esses

níveis mais elevados são devido às cabras converterem todo β-caroteno em vitamina A

no leite, o que torna o leite caprino mais branco do que o leite de vaca (PARK, 2006;

PARK et al., 2007). A vitamina A quando fornecida com a vitamina D possui um

importante papel no desenvolvimento e crescimento dos humanos (LARQUE et al.,

2001).

Muitos dos ácidos graxos do leite de cabra têm demonstrado exercer efeito

positivo na saúde humana, como os ácidos linolênico (ômega-3) e linoleico (ômega-6),

e o ácido linoleico conjugado (CLA), por possuírem efeito cardioprotetor agindo como

antiaterogênico (PARIZA, 1999), além de apresentar propriedades anticarcinogênicas,

antioxidantes, estimuladoras do sistema imunológico e antiateroscleroses (WILLIAMS,

2000).

Além disso, o leite de cabra é rico em ácidos graxos com cadeias curtas e

médias, tais como o cáprico e caprílico, que devido à estrutura molecular são facilmente

digeridos e absorvidos no organismo humano promovendo o esvaziamento gástrico e

impedindo o refluxo do alimento. Esses ácidos graxos são comumente usados em

tratamentos de pessoas com problemas de má absorção, pois têm habilidade única como

fonte direta de energia, além de inibir e limitar a deposição de colesterol nos tecidos e

dissolver as placas de colesterol (HAENLEIN, 1992), atua também como transporte

para as vitaminas lipossolúveis como A, D, E e K (TRONCO, 1996).

O leite e seus derivados fornecem 25 a 35% da gordura total saturada consumida

pelo homem, tornando-se muitas vezes um dos principais alvos das críticas dos

nutricionistas (CHILLIARD et al., 2001). No entanto, segundo Chilliard e Ferlay

(2004), a difamação dos ácidos graxos saturados não deve ser generalizada, visto que os

referidos autores afirmaram que o ácido esteárico (C18:0) não possui efeito aterogênico,

enquanto que o efeito aterogênico alegado de determinados ácidos graxos, como o

vacênico (C18:1-trans11), não foi bem confirmado.

Segundo Fagundes (2002) a carência de ácidos graxos essenciais na alimentação

humana conduz a transtornos de crescimento, mudanças na pele, alterações

imunológicas e neurológicas, doenças coronárias, além de sérios transtornos

comportamentais.

Simopoulos (1991) realizou estudos que sugeriram que a ingestão diária de 0,5 a

1,0g de ácido graxo de cadeia longa, como exemplo o ômega-3, reduz o risco de

doenças cardiovasculares em homens de meia idade por volta de 40%, o que poderia ser

atendido com um consumo diário de 1 litro de leite enriquecido com ômega-3.

Diante disso, ao longo dos anos a demanda pelo leite de cabra no país vem

aumentando, o interesse por produtos especiais feitos com leite de cabra, como queijos e

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iogurtes é devido principalmente pela preocupação das pessoas causada pela alergia ou

intolerância a lactose do leite de vaca (MACEDO et al., 2003; HAENLEIN, 2004).

Em regiões áridas e semiáridas, especialmente para pessoas de baixa renda ou

mal nutridas, o leite de cabra tem constituído um alimento essencial como fonte de

proteína de alta qualidade e cálcio, já que nessas regiões as vacas têm dificuldades para

serem mantidas. As cabras são muitas vezes consideradas pelos consumidores como

animais ecológicos, e seus produtos, a priori, como mais adaptados para manter a saúde

humana (HAENLEIN, 2004).

Os efeitos benéficos do leite de cabra do ponto de vista nutricional e social são

consideráveis, entretanto no Brasil, as pesquisas que avaliam a composição nutricional

desse produto vêm sendo realizadas, apesar de serem ainda insuficientes, visto a

grandeza do país e do potencial do seu rebanho caprino (QUEIROGA et al., 2003).

CONCLUSÕES

As características nutricionais do leite de cabra justificam sua importância na

nutrição humana, uma vez que constitui um alimento de elevado valor nutricional com

elementos essenciais, como proteínas de alto valor biológico, ácidos graxos essenciais,

carboidratos, além de seu conteúdo mineral e vitamínico. As características

organolépticas ainda tem sido uma das limitações do consumo do leite de cabra, no

entanto, estão sendo desenvolvidas pesquisas para melhorias desta característica.

Informações específicas sobre os aspectos gerais do leite de cabra são de grande

importância para se obter qualidade, aceitação e desenvolvimento de novos produtos,

assim como oferecer benefícios à saúde humana.

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Conselho Regional de Medicina Veterinária Revista Centauro v.7, n.1, p 34 - 55, 2016

do Estado do Rio Grande do Norte Versão On-line ISSN 2178-7573

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