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Psicologia e Educação 61 Vol. VII, nº 1, Jun. 2008 Dilemas em aconselhamento de carreira Paulo Cardoso* Resumo: A partir da análise de alguns dilemas do aconselhamento de carreira este artigo tem o duplo objectivo de reflectir sobre o processo de aconselhamento de carreira e os desafios que se colocam aos psicólogos/conselheiros que desenvolvem estas práticas. Partindo da ideia de dilema como conceito transteórico, começo por situar o conceito na ajuda psicológica em geral para depois centrá-lo no aconselhamento de carreira. Apresentam-se alguns dilemas, considerando as suas dimensões éticas e técnicas bem como possíveis formas de resolução. Ao longo do texto, são realçadas as potenci- alidades da perspectiva construtivista de aconselhamento de carreira para lidar com os dilemas vividos pelo conselheiro. Também é sublinhada a importância da aceitação da experiência dilemática enquanto estímulo a uma atitude crítica face ao processo de aconselhamento de carreira. Palavras-chave: dilemas, aconselhamento de carreira, transteórico. Abstract: This paper aims to reflect and discuss some of the dilemmas met during career counselling. Based on the idea of dilemma as a transtheoretical concept, I start by defining this concept within psychological aid in general, moving then to specify it in the context of career counselling. Some dilemmas are presented, in their ethical and technical dimensions as well as possible solutions. This paper highlights the advantages of the constructivist perspective in career counselling to deal with the dilemmas experienced by the counsellor. It is also stressed the importance of accepting the dilemmatic experience in prompting a critical attitude towards the process of career counselling. Key-words: dilemmas, career counseling, transtheoretical. _______________ * Departamento de Psicologia da Universidade de Évora. E-mail: [email protected] Dilemas do aconselhamento de carreira O aconselhamento de carreira é uma modalidade de ajuda psicológica cuja especificidade advém da intervenção focar- se em problemas relativos ao trabalho e à carreira dos indivíduos (Gysbers, Heppner & Johnston, 2003), advindo, daqui, especificidades teóricas e metodológicas (Hackett, 1993). Estas particularidades são, frequentemente, distorcidas por uma visão estereotipada do aconselhamento de carreira como uma intervenção pontual, focada em decisões vocacionais, através da qual o conselheiro, investido do poder mágico conferido pela psicotécnica, esclarece o cliente que, passivamente, aguarda os resultados da avaliação e a resolução do seu problema. Esta perspectiva expressa-se frequentemen- te em pedidos de ajuda, tais como: “venho cá fazer os testes”, “gostava de saber para que tenho jeito”. A necessidade de promover uma visão mais actual do aconselhamento de carreira le-

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Vol. VII, nº 1, Jun. 2008

Dilemas em aconselhamento de carreiraPaulo Cardoso*

Resumo: A partir da análise de alguns dilemas do aconselhamento de carreira esteartigo tem o duplo objectivo de reflectir sobre o processo de aconselhamento de carreirae os desafios que se colocam aos psicólogos/conselheiros que desenvolvem estas práticas.Partindo da ideia de dilema como conceito transteórico, começo por situar o conceitona ajuda psicológica em geral para depois centrá-lo no aconselhamento de carreira.Apresentam-se alguns dilemas, considerando as suas dimensões éticas e técnicas bemcomo possíveis formas de resolução. Ao longo do texto, são realçadas as potenci-alidades da perspectiva construtivista de aconselhamento de carreira para lidar comos dilemas vividos pelo conselheiro. Também é sublinhada a importância da aceitaçãoda experiência dilemática enquanto estímulo a uma atitude crítica face ao processode aconselhamento de carreira.Palavras-chave: dilemas, aconselhamento de carreira, transteórico.

Abstract: This paper aims to reflect and discuss some of the dilemmas met duringcareer counselling. Based on the idea of dilemma as a transtheoretical concept, I startby defining this concept within psychological aid in general, moving then to specifyit in the context of career counselling. Some dilemmas are presented, in their ethicaland technical dimensions as well as possible solutions. This paper highlights theadvantages of the constructivist perspective in career counselling to deal with thedilemmas experienced by the counsellor. It is also stressed the importance of acceptingthe dilemmatic experience in prompting a critical attitude towards the process of careercounselling.Key-words: dilemmas, career counseling, transtheoretical.

_______________* Departamento de Psicologia da Universidade

de Évora. E-mail: [email protected]

Dilemas do aconselhamento de carreira

O aconselhamento de carreira é umamodalidade de ajuda psicológica cujaespecificidade advém da intervenção focar-se em problemas relativos ao trabalho eà carreira dos indivíduos (Gysbers,Heppner & Johnston, 2003), advindo,daqui, especificidades teóricas emetodológicas (Hackett, 1993). Estasparticularidades são, frequentemente,

distorcidas por uma visão estereotipada doaconselhamento de carreira como umaintervenção pontual, focada em decisõesvocacionais, através da qual o conselheiro,investido do poder mágico conferido pelapsicotécnica, esclarece o cliente que,passivamente, aguarda os resultados daavaliação e a resolução do seu problema.Esta perspectiva expressa-se frequentemen-te em pedidos de ajuda, tais como: “venhocá fazer os testes”, “gostava de saber paraque tenho jeito”.A necessidade de promover uma visão maisactual do aconselhamento de carreira le-

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vou que vasta publicação sublinhasse ocarácter holístico da intervenção, bemcomo a interface com outras modalidadesdo aconselhamento psicológico e dapsicoterapia (Blustein, 2006; Brown &Krane, 2000; Hackett, 1993; Richardson,1996). Considero perspectiva actual deaconselhamento de carreira, diferentespráticas que, inspiradas na inovação teó-rica sobre o funcionamento humano, aten-dem à diversidade de populações e decontextos, para ajudar ao processo deconstrução da carreira em contextos mar-cados pela imprevisibilidade e mudança.A globalização e a inovação tecnológicaproduziram alterações na natureza do tra-balho, na estrutura das organizações e namobilidade das populações com conse-quências no aparecimento de novas opor-tunidades, no crescente número de pesso-as com trabalho precário ou sem trabalhoe, ainda, na exigência de aprendizagem aolongo da vida. Simultaneamente regista-se o aumento e a diversificação do númerode serviços que utilizam práticas deaconselhamento de carreira para apoiar aspessoas e as organizações a lidarem comos novos desafios da carreira. Para alémdos Serviços de Psicologia e Orientação,nos ensinos básico e secundário, e daintervenção dos Serviços de Emprego,surgiram outras valências como as de apoioao desenvolvimento de carreira de estu-dantes do ensino superior, à qualificaçãoprofissional em Centros de Reconhecimen-to, Validação e Certificação de Competên-cias e apoiando, ainda, a inclusãosocioprofissional no âmbito da deficiênciamental, da saúde mental ou dos compor-tamentos aditivos em instituições públicasde solidariedade social. Nestes contextos,promover a adaptabilidade das pessoaspassa também pela ajuda à construção deprojectos de vida que mobilizem a umaatitude proactiva face aos desafios que a

carreira coloca. Esta intervenção exigepráticas flexíveis de aconselhamento decarreira, ou seja, atendendo ao ciclo de vidadas pessoas, recorrem a metodologiasdinâmicas que procuram apreender a es-treita relação entre as dimensõesvocacionais e psicossociais e asespecificidades sociais e culturais dosindivíduos (Amudson, 2006).Com o duplo objectivo de reflectir sobreo processo de aconselhamento de carreirae os desafios que se colocam aos psicó-logos/conselheiros que desenvolvem estaspráticas, o presente artigo analisa algunsdilemas do aconselhamento de carreira naperspectiva do interventor. A mais vastaabordagem da matéria no âmbito dapsicoterapia, a minha experiência profis-sional e um entendimento dos dilemascomo experiências transteóricas foram oreferencial da reflexão sobre um temapouco abordado no âmbito doaconselhamento de carreira. Começo porsituar os dilemas no processo de ajudapsicológica em geral para depois me focarno processo de aconselhamento de carrei-ra. Finalmente, sublinha-se a importânciada aceitação dos dilemas como estímuloà construção de uma atitude crítica faceàs práticas, com implicações positivas nodesenvolvimento do conselheiro e nadinâmica relacional do processo deaconselhamento.

Os dilemas na ajuda psicológica

A complexidade das relações humanasdecorre da necessidade de gerir asinteracções num processo nem semprelinear e racional, no qual se cruza umapluralidade de olhares sobre a mesmasituação, sobrepondo-se dimensões sociaise pressões do contexto, o que pode sus-citar dúvidas quanto à forma mais adequa-

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da de agir. Esta complexidade está, na-turalmente, presente nas relações de ajudapsicológica, pelo que o aconselhamento oua psicoterapia podem ser entendidos comoprocessos em que a resolução dos dilemasdo cliente implica a gestão dos dilemasdo psicólogo/psicoterapeuta (Scaturo,2005). A complexidade e a inevitabilidadeda vivência dilemática na ajuda psicoló-gica é sintetizada pela clássica questão dePaul (1969, citado de Moreira, Gonçalves& Beutler, 2005) “que tratamento, aplica-do por quem, é mais eficaz para esteindivíduo, com este problema específico,nestas circunstâncias?” (p. 24).Os dilemas em aconselhamento/psicoterapia são dúvidas ou conflitos sobreo que fazer ou dizer em determinadomomento do processo de ajuda, porque aspossíveis alternativas de actuação revelam-se igualmente insatisfatórias (Scaturo &McPeak, 1998). O conselheiro confronta-se, assim, com a necessidade de escolherentre dois cursos de acção mutuamenteexclusivos. Nestas situações, a intensidadedo mal-estar vivido depende da maior oumenor dificuldade em avaliar qual a melhoralternativa e/ou da gravidade das conse-quências associadas a uma má decisão(Scaturo, 2005).A presença da experiência do dilema emdiferentes modalidades de aconselhamentoou de psicoterapia confere-lhe um caráctertransteórico (Scaturo, 2005). Evidenciam-no as publicações específicas, quer noâmbito da psicoterapia quer doaconselhamento psicológico em que sãoabordados segundo a modalidade de ajuda(Dryden, 1997; Gati, 1993; Scaturo, 2005;Sadeghi, Fisher & House, 2003; Savickas,2006), as dimensões do processo de ajuda(Pinals & Gutheil, 2001; Scaturo, 2005;Scaturo & McPeak, 1998) ou da orienta-ção teórica de eminentes psicoterapeutasou conselheiros (Dryden, 1997; Savickas,

2006). A pluralidade de perspectivas naabordagem dos dilemas resulta da suanatureza complexa e pouco diferenciada.Por exemplo, subjacentes ao dilema deconfrontar ou não o realismo de umaescolha vocacional podem estar dúvidas deordem ética (“Que direito tenho para dizero que é melhor para esta pessoa?”), deordem técnica (“Ser tão directivo não secoaduna com o meu modo de trabalhar”)ou relativas à idiossincrasia do psicólogo/conselheiro (“Incomoda-me magoar/frus-trar o meu cliente”). Este dilema dedirectividade/não directividade pode con-siderar-se de compromisso se estiver rela-cionado com uma tensão entre actuaçãoideal e actuação pragmática (Dryden,1997). No entanto, se esta tensão resultarde uma opção entre as necessidades docliente e a fidelidade a uma concepçãoteórica, poderá considerar-se o que desig-no como dilema de fidelidade teórica. Atentativa de Scaturo (2002) para categorizaros dilemas em psicoterapia reflecte estacomplexidade e a insuficiência de um olharúnico sobre o problema. Considera comodistinção mais básica, a de dilemas éticosversus dilemas técnicos. Nos primeiros, adúvida prende-se com o bem-estar geraldo cliente, pois reconhece-se que estão emcausa princípios éticos da conduta profis-sional. Nos segundos, a dúvida é relativaao tipo de tarefa terapêutica a implemen-tar. No entanto, Scaturo também consideraque as duas dimensões tendem a sobrepor-se pois a matriz relacional em que assentaqualquer intervenção tende a colocar emjogo princípios éticos da prática psicoló-gica. Assim, recorre a outros critérios declassificação dos dilemas, a saber: emfunção da modalidade de ajuda (e.g. te-rapia familiar, terapia cognitivo-comportamental, psicoterapias breves, etc.)e do processo de ajuda (e.g. neutralidadeterapêutica, gestão dos limites da relação

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de ajuda, transferência e contra-transferên-cia) (Scaturo 2002, 2005). Aparentemente,esta distinção também é controversa seconsiderarmos que o dilema é uma expe-riência inerente a qualquer processo deajuda psicológica. No entanto, ter comocritério a modalidade de ajuda permiteexplorar, através do dilema fundamental,as particularidades desse processo deaconselhamento.

Os dilemas no aconselhamento de car-reira

A natureza pouco diferenciada dos dile-mas, expressa na multiplicidade de prin-cípios éticos em causa e na possibilidadedo mesmo dilema pode partilhar caracte-rísticas de mais do que um tipo de dilema,levantou a dificuldade do estabelecimentode um critério para a classificação dosdilemas do aconselhamento da carreira. Asolução foi optar por designações especí-ficas da experiência dilemática em causa.Como se poderá verificar, o problema deexclusividade de cada dilema a um tiponão foi completamente resolvido.Dilema de duplo papel na relação - re-sulta, fundamentalmente, do duplo papelque caracteriza a relação no aconselha-mento de carreira. Por um lado, a proxi-midade de um parceiro que acompanha eparticipa na experiência do cliente, faci-litando a emergência de novas significa-ções que levem à construção do projectode vida. Por outro, o distanciamento pró-prio de quem informa sobre oportunidadesescolares e profissionais, apresenta resul-tados de avaliação psicológica ou procuraintroduzir realismo nos projectos. O de-sempenho deste papel é, por vezes, vividocomo experiência dilemática. Nestes ca-sos, o lado da proximidade, da aceitaçãodo cliente, tende a sentir sinais de impo-

sição de valores e de estereótipos quandotransmite informação para a carreira, avaliae confronta (Gati, 1994). O lado do con-selheiro que representa o papel de quemempatiza conflitua com o outro lado,relativo às suas representações socialmen-te partilhadas. Este é o lado mais distan-ciado do observador externo que legitimaa sua acção na necessidade de promovero desenvolvimento do cliente através, daexposição à pluralidade de representaçõesde si e dos contextos em que se move.Mark Savickas (2006) considera este odilema central do aconselhamento dacarreira, definindo-o como ver com osolhos do cliente e/ou da sociedade.Na minha prática profissional, esta dualidadede papéis expressa-se como dilema quandoemerge a dúvida de confrontar ou não orealismo dos projectos vocacionais do cli-ente. Este conflito tende a intensificar-secom clientes mais vulneráveis (e.g. pessoascom deficiência ou socialmente muitodesfavorecidas), para quem os projectos decarreira constituem uma fuga à realidadedolorosa que vivem, tendendo, por isso, aperpetuar o problema vivido. É o caso dajovem com graves problemas de linguagemque pretende ser terapeuta da fala ou dapessoa com deficiência mental ligeira, cujaresolução da necessidade de aceitação leva-a a desejar ser músico profissional, apesarde nunca ter tido qualquer experiência noâmbito musical. Por um lado, existe aconsciência de que o confronto é necessá-rio para alterar um padrão disfuncional,alertando para um caminho que não temsaída e, por outro, questões de naturezatécnica e ética: “Será que o cliente estápreparado para aceitar o confronto?” ou“Quais os riscos de uma má decisão parao cliente e para o processo de ajuda?”.Nestes casos crenças pessoais relativas àcondição vulnerável do cliente tendem aintensificar a experiência dilemática.

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Abordar as dimensões éticas e técnicasdeste dilema passa por aceitar asubjectividade como elemento do próprioprocesso de ajuda, por considerar que oconselheiro não é um facilitador neutralda auto-determinação do cliente. Acrescen-te-se que, em situações como as referidas,a neutralidade pode ser mesmo imoral(Lomas, 1997). Aceitar a completa neu-tralidade tende a obscurecer o dilema,distancia o conselheiro do processo eaumenta o risco de se “impor” no proces-so de ajuda, inviabilizando uma atitudecrítica face ao mesmo.Dilemas de quem é o cliente - este dilematende a ser experienciado como pressãoentre ter de responder às expectativas daorganização ou às necessidades da pessoa.O conselheiro interroga-se: “Quem é ocliente? A pessoa com quem estou ou ainstituição que me paga?”. Estão em jogoprincípios éticos relativos à responsabili-dade profissional e à preocupação com obem-estar do outro. Este dilema tende aestar cada vez mais presente nos diferen-tes contextos do aconselhamento(American Psychological Association,2003; Reid & McReynolds, 2007) e dapsicoterapia (Bilynsky & Vernaglia, 1998),devido às exigências de competitividadeque, cada vez mais, se colocam às orga-nizações onde se presta este tipo de ser-viços. A lógica é a de responder ao cres-cente número de utentes ao mais baixocusto, levando à definição de critérios deprodutividade cada vez mais exigentes emtermos do número e tipo de clientes a seremrecebidos, por quanto tempo e dos planosde acção esperados (Amudson, 2006;Amudson & Borgen, 2000). O conflitoemerge quando este quadro institucionalnão permite atender às necessidades docliente, deixando o conselheiro na dúvidaentre ir ao encontro do que o cliente precisaou atender aos objectivos que a instituição

estabeleceu para aquele tipo de interven-ção. O dilema pode complexificar-se.Nas organizações onde o conselheiro e ocliente são pagos pela mesma entidadepatronal há o risco do primeiro ser per-cebido pelo segundo como “agente secre-to” do empregador (Toomer, 1980). Ocliente tende a recear quebra deconfidencialidade, especialmente nas fasesiniciais do processo, quando a relação deajuda ainda não está suficientemente es-tabelecida ou quando o problema aborda-do fragiliza a posição do cliente face àentidade patronal. Este dilema deconfidencialidade, associado ao da duplalealdade, pode ser exemplificado com ocaso de um quadro de empresa que, tendouma óptima relação com os profissionaisdo departamento de recursos humanos,pede ajuda para decidir se aceita ou nãouma proposta feita por uma empresaconcorrente. Neste caso, o dilema ético daconfidencialidade, resultante do conflitoentre as necessidades da organização e docliente, põe em causa princípios éticosfundamentais, como os relativos à integri-dade do conselheiro e ao respeito peladignidade e direitos do outro. Este dilemapode intensificar-se se o conselheiro pen-sar que pode ser pressionado a fornecerinformações consideradas pertinentes paraa produtividade da empresa. Toomer faztrês propostas para minimizar os efeitosnefastos do dilema: 1) a credibilidade doconselheiro para resistir a pressõesinjustificadas; 2) sensibilizar a gestão parao dilema; 3) dar a conhecer ao cliente oslimites da confidencialidade.Dilema de avaliação - o processo deavaliação também é susceptível da vivên-cia de dilemas. Refiro-me, especificamen-te, ao resultante da dúvida sobre a pos-sibilidade da avaliação psicológica ter ounão um efeito negativo no cliente. Oconflito está estreitamente relacionado com

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uma das especificidades do aconselhamentode carreira: a necessidade de apresentar osresultados da avaliação psicológica. Naminha experiência profissional o dilema éfrequente com adolescentes que evidenci-am perfis de aptidões muito baixos, con-tradizendo indicadores relativos aos seusresultados académicos. A sobrevalorizaçãoque tendem a fazer da avaliaçãoestandardizada e o compromisso quanto àentrega dos resultados conduzem às dú-vidas: “O cliente espera e tem direito aosresultados da avaliação mas isso pode-lheser prejudicial?”, “Como evitar a desva-lorização da avaliação realizada?”. Adesvalorização da avaliação põe em riscoa credibilidade de todo o processo de ajudae, simultaneamente, fecha a possibilidadeà exploração da novidade introduzida. Aresolução do dilema pode, assim, passarpor: 1) conhecer os limites e possibilida-des das medidas de avaliação psicológicautilizadas; 2) levar o cliente a expressar-se sobre as discrepâncias entre os resul-tados da avaliação estandardizada e a auto-avaliação das aptidões (se necessário,considerar os limites e possibilidades deavaliação das medidas utilizadas); 3) pro-mover a emergência de nova síntese a partirde um processo de co-construção de novarepresentação de si.Este dilema também pode surgir em es-treita relação com o anteriormente apre-sentado, Quem é o cliente?. Em organi-zações com grande número de utentes, comproblemáticas muito diversificadas (e.g.centros de novas oportunidades, centros deemprego…), a adopção de determinadosinstrumentos de avaliação em função doscritérios de produtividade estabelecidosaumentam a probabilidade de muitas daspráticas de avaliação serem pouco sensí-veis às especificidades de alguns utentes.Nestas situações, o conselheiro vivencia adúvida quanto às vantagens da avaliação

para o cliente. A tensão resulta da cons-ciência de que as medidas utilizadas podemser pouco adequadas às especificidades dealguns (e.g. indivíduos etnicamenteminoritários, pessoas com muito baixaqualificação), pelo que o acto de avaliaçãopsicológica e a apresentação dos respec-tivos resultados pode reforçar estigmas e/ou ameaçar a auto-estima dos clientes.Neste dilema, dúvidas de ordem técnicanão deixam de revelar princípios éticossubjacentes ao respeito pelos direitos edignidade do cliente, bem como de res-ponsabilidade pelo seu bem-estar.Dilemas de fidelidade teórica/conceptual- neste tipo de dilemas o conselheiro viveo conflito entre a fidelidade a uma con-cepção teórica sobre o que deve ser oprocesso de ajuda e a observância dosconstrangimentos colocados pelo contextoou pelas especificidades da problemáticaem causa, afastando-se do quadro teóricode referência. Por exemplo, a procura deuma solução de compromisso para oconflito da dupla lealdade instituição/cli-ente pode conduzir a um dilema relativoà fidelidade teórica do conselheiro. Nestecaso, os limites impostos pela instituiçãoconflituam com a formação do conselhei-ro, apontando para práticas holísticas dosproblemas da carreira, pouco ajustadas aoscritérios de produtividade da instituição.Bilynsky e Vernaglia (1998), a propósitoda intervenção psicoterapêutica em con-textos de saúde, salientam, como condiçãoimportante para a resolução deste dilema,a criação pelas instituições de oportuni-dades de formação contínua facilitadorasdo ajustamento das práticas profissionaisàs exigências e especificidades dos con-textos de intervenção.A perspectiva construtivista de aconselha-mento da carreira, preconizada ao longodeste trabalho, poderá facilitar a gestãodeste dilema porque assenta numa matriz

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epistemológica face à qual “o conhecimen-to não é validado em relação à teoria, maslegitimado pela sua utilidade na acção”(Savickas, 1995). Neste quadro conceptual,as possibilidades de gestão do dilemaaumentam porque se abrem possibilidadesde integrar, de forma sequencial ou com-plementar, instrumentos de avaliação econceptualizações oriundos de diferentesorientações teóricas (e“visões do mundo”), com o objectivo deaumentar a compreensão e eficácia daintervenção (Vasco, 2001).Este dilema também pode estar presentequando se recorre a metodologias quali-tativas de avaliação. Por exemplo, tra-balhando numa perspectiva narrativa, osclientes têm dificuldade em fazer emergiro tema que dá unidade aos diferentesepisódios da sua vida. Num primeiromomento, surge o dilema de compromissoentre ser mais ou menos directivo na ajudaà consciência do tema de vida subjacenteaos relatos. Deste dilema decorre outrorelativo à fidelidade ao quadro teórico dereferência, que se operacionaliza naquestão:”“Que nível de interpretação fa-cilitará a tomada de consciência semcomprometer o papel activo do clientecomo construtor de significado?”. Daralguma interpretação conflitua com oposicionamento teórico e epistemológicoface ao processo de ajuda que valoriza oindivíduo como especialista de si, cons-trutor do seu conhecimento, cabendo aoconselheiro um papel de facilitar esteprocesso. O dilema é semelhante emcontexto psicoterapêutico, quando emer-gem dúvidas quanto ao momento e graude interpretação a devolver ao cliente.Nesta situação está fragilizada a integri-dade profissional do conselheiro pois éténue o limite para lá do qual pode imporao cliente os seus valores ou a sua visãodo problema. Surgindo o dilema da

indefinição destes limites, a resoluçãocomeça pela sua aceitação enquanto salu-tar sinal de um posicionamento ontológicoe epistemológico que reconhece a impos-sibilidade de neutralidade absoluta numprocesso que também é de ajuda à auto-determinação do cliente. Tal implica amonitorização do processo deaconselhamento, ficando atento a sinais,na relação de ajuda, de imposição decrenças e valores. É igualmente pertinenteque a devolução de interpretações sejagradual e apresentada como hipóteses aexplorar.Dilema sobre a utilidade do processo deajuda - este dilema pode situar-se no queDryden (1997) descreve como dilema deresponsabilidade, no sentido em que oconselheiro está descrente na sua possi-bilidade de poder ajudar o cliente mas, aomesmo tempo, sente a responsabilidade deresponder às necessidades do mesmo. Oconflito é ampliado pela consciência queo desânimo passa na relação de ajuda,reforçando a condição desfavorável docliente. Estão em risco princípios éticoscomo os da responsabilidade e da com-petência profissional bem como o relativoà preocupação com o bem-estar do cliente.O dilema é experienciado através de sen-timentos de insatisfação, de impotência oude culpa, acompanhados de verbalizaçõescomo “O que faço aqui?”, “Que respostaspara estas pessoas?”, “Qual o sentido domeu trabalho” e, simultaneamente “Secontinuo assim vai ser pior para mim epara as pessoas?”.Em momentos de maior recessão econó-mica, o crescente desemprego, o grandenúmero de pessoas recorrendo a institui-ções que prestam serviços deaconselhamento de carreira e as exigên-cias de produtividade combinam-se comvariáveis específicas ao conselheiro, comoa sua estrutura psicológica e formação

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académica/profissional, criando condiçõespara a emergência da descrença na capa-cidade de responder às necessidades daspessoas. Conselheiros com estruturas defuncionamento menos adaptativas (e.g.depressiva, ansiosa ou perturbação dapersonalidade) tornam-se mais vulneráveisàs exigências não só colocadas pelosserviços mas também pelos utentes, espe-cialmente os que se encontram em situ-ação sócio-profissional muito difícil(Lowman, 1993). Nestes casos, tendem aemergir sentimentos de desesperança, e/oucrenças irracionais que conduzem àsexigências de perfeccionismo, à baixa to-lerância à frustração, ao pessimismo e aoevitamento da situação aversiva. A com-binação destas variáveis pessoais podeexpressar-se no conflito entre partes: “nãoacredito que possa ajudar esta pessoa etenho que a ajudar”. Nestes casos, asupervisão da intervenção é fundamentalporque estimula a reflexão do conselheirosobre si no processo de ajuda, contribu-indo para tomadas de consciência promo-toras do seu desenvolvimento pessoal eprofissional (Zorga, 2007).A insuficiente ou não actualizada forma-ção em psicologia vocacional é outravariável do conselheiro que destaco comoimportante determinante para a descrençana ajuda de aconselhamento da carreira.Em Portugal, a proliferação de formaçõessuperiores que não contemplam o estudodo comportamento vocacional e do desen-volvimento de carreira pode conduzir aodilema, sobretudo em contextos onde estaspráticas são menos habituais mas neces-sárias para a promoção da inclusão socialde populações com baixa qualificação e/ou em risco de segregação no mercado detrabalho (e.g. adictos, saúde mental, de-ficiência física e mental). A experiênciaprofissional revela que, entre estes psicó-logos, a insuficiência na formação conduz

a entendimentos do aconselhamento dacarreira como prática pontual, de ajuda àtomada de decisão na carreira, com oobjectivo de conseguir o melhor ajustamen-to entre as características individuais e umaactividade profissional. Nos actuais con-textos económicos e sociais, de mudançae de imprevisibilidade, estes quadrosconceptuais levam a considerar, natural-mente, que as pessoas não têm escolha,tal como o conselheiro, estão num becosem saída. A solução é procurada empráticas descontextualizadas que não situ-am a temática do trabalho na problemáticacentral da pessoa. Por exemplo, trabalham-se técnicas de procura de emprego sem queas pessoas tenham sido ajudadas a construirum projecto de vida ou, então, remetem-se para serviços de emprego. Nestes casos,a gestão do dilema passa por criar condi-ções de actualização da formação dosprofissionais, sensibilizando-os para osnovos paradigmas teórico-práticos, capazesde sustentar intervenções adequadas aosnovos contextos do trabalho (Savickas,1995; Van Esbroeck, 2008). São práticasque ajudam o cliente a interpretar as suasnecessidades, interesses e competênciascomo expressão de um tema central de vida.A estruturação conseguida permite umsentimento de continuidade. Passado, pre-sente e futuro interligam-se numa estruturade significado em que a pessoa se vê comoconstrutora do seu percurso de vida. Destemodo, tendem a emergir sentimentos decontrolo e de confiança capazes de susten-tar uma projecção de si com futuro(Savickas, 1993; 2005). Estas estruturasemocionais/de significado mobilizam aoplaneamento, contribuindo para a realiza-ção dos objectivos. Entendido desta forma,o aconselhamento da carreira é, também,susceptível de ser integrado em práticasmultidisciplinares que procuram responderà complexidade da vida real das pessoas.

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Conclusão

Os dilemas identificados neste trabalho têmparalelo noutras modalidades de ajudapsicológica, evidenciando o seu caráctertransteórico. A inevitabilidade dos dilemasremete-nos para a sua aceitação e valoraçãopositiva, como em qualquer crise: opor-tunidade de mudança (Watchel, 1997). Estaatitude constitui-se, também, como umposicionamento epistemológico face aoprocesso de aconselhamento. O conselhei-ro rejeita uma atitude de omnipotência,enquanto detentor da verdade, abrindo-seà reflexão sobre si e sobre o processo deajuda como forma de lidar com o dilema.Os dilemas também revelamespecificidades da intervenção deaconselhamento da carreira: o duplo papeldo conselheiro na relação com o cliente,o tipo de compromissos exigidos peloscontextos em que intervém e as exigênciasde formação científica. Verificou-se queum dilema pode levar a outro, combinan-do interrogações de natureza ética, técnicae pessoal numa complexidade à medida dosproblemas do cliente. Abordar os dilemasé um desafio à natureza do trabalho quese realiza e ao sentido que o conselheirotem de si. As propostas de resoluçãoapresentadas, na linha da revisão de lite-ratura (Bond, 1997; Corey, Corey &Callahan, 2003; Plante, 2005), enfatizama assumpção de uma atitude crítica facea si no processo de aconselhamento,permitindo identificar potenciaismarcadores de áreas de conflito, consigoe com o cliente. Neste processo, os gruposde supervisão também têm um importantepapel. A revisão e a partilha de experi-ências com colegas e com um supervisorpermitem o distanciamento face às suasvivências, minimizando a possibilidade dese repetirem padrões disfuncionais deactuação que promovem resistências do

cliente à intervenção (Reid & McReynolds,2007; Zorga, 2007). A atitude reflectida/crítica face a si e ao processo permitemum discernimento, abertura e plasticidadede funcionamento que preparam o conse-lheiro para os desafios dos contextos detrabalho em que actua. Também propor-ciona ao cliente um modelo de gestão dedilemas (Irving & Williams, 1995; Scaturo,2005).O recurso a códigos de conduta ética éoutra importante fonte de informaçãosalientada na generalidade das propostasde resolução de dilemas emaconselhamento e em psicoterapia (APA,2003; Shaw & Shaw, 2006). No entanto,não se preconiza uma utilização dos có-digos de ética profissional como se demanuais de intervenção se tratassem.Deverão antes funcionar como instrumen-tos de trabalho, facilitadores da reflexãocrítica e da consciencialização das vari-áveis pessoais e contextuais subjacentes aodilema, ou seja, como instrumentos deformação para decisões éticas (Machado,2005). Códigos deontológicos relevantespara a prática da psicologia em geralpodem ser os estabelecidos pela AmericanPsychological Association (http://www.apa.org/ethics/code2002.html) oupela American Counseling Association(http://www.counseling.org). Já em estrei-ta relação com as actividades deaconselhamento da carreira constituemboas referências os códigos de condutaética estabelecidos pela InternationalAssociation for Educational and VocationalGuidance (http://www.iaevg.org) e peloNational Career Development Association(http://ncda.org/).Consciente de que os dilemas apresenta-dos reflectem uma parcela dos vividospelos conselheiros e que é reduzido onúmero de publicações específicas àtemática, o presente trabalho sugere a

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necessidade de investigação neste âmbito.Neste sentido, desenvolvo na Universida-de de Évora, um estudo qualitativo sobreos dilemas vividos por psicólogos queexercem práticas de aconselhamento dacarreira em Serviços de Psicologia eOrientação das Escolas Básicas e Secun-dárias, serviços de intervenção psicológicano Ensino Superior, Centros deRevalidação e Certificação de Competên-cias, Serviços de Emprego, serviços depsicologia das Forças Armadas e empre-sas, bem como por psicólogos em práticaprivada de aconselhamento/psicoterapia.Deste modo, procuro dar um contributopara a obtenção de um quadro mais com-pleto dos dilemas que os profissionaisenfrentam no âmbito do aconselhamentode carreira. Simultaneamente, pretendocontribuir para uma visão e práticasactualizadas de aconselhamento de carrei-ra, suportadas numa atitude crítica face aoprocesso de ajuda.

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