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7/23/2019 Os Dilemas da Africa Contemporânea http://slidepdf.com/reader/full/os-dilemas-da-africa-contemporanea 1/25  Ciênc. let., Porto Alegre, n. 44, p. 125-149, jul./dez. 2008  125 Disponível em: <http://www.fapa.com.br/cienciaseletras> Os Dilemas da África Contemporânea: a persistência do neocolonialismo e os desafios da autonomia, segurança e desenvolvimento (1960-2008)  André Luiz Reis da Silva Resumo Este artigo discute a formação da África contemporânea, considerando as dificuldades apresentadas após a independência, como o neocolonialismo e a instabilidade política interna. Analisa também o papel do continente durante a Guerra Fria, para verificar o impacto com o seu fim, nos anos 1990, com a marginalização e posterior reafirmação do continente. Por fim, problematiza os novos interesses na África, na última década, e as possibilidades de autonomia do continente. Palavras-chave: África Contemporânea. Relações Internacionais. Pós-colonialismo. Passados cerca de cinqüenta anos do processo de independência, o continente africano ainda parece permanecer com os mesmos problemas e dificuldades da década de 1960. Os meios de comunicação de massa mostram a África como ela se fosse uma série de acidentes e conflitos, pois apenas nestes momentos ela é subitamente lembrada. O “esquecimento” intermitente da África até recentemente também alcançava a pesquisa acadêmica que, com exceção de poucos comprometidos pesquisadores, também projetava sobre o continente apenas as imagens do atraso, do exotismo e do pessimismo. Muitas vezes, a “lembrança” da África vinha acompanhada da construção, sobre ela, da noção de um paraíso perdido na história, subjugado e vitimizado pelas maquinações européias, em uma visão que desumanizaria o continente, pois não lhe atribuiria as contradições existentes em qualquer sociedade. Na realidade, dada a incipiente produção de conhecimento sobre a África no Brasil, pouco sabemos sobre o dinamismo e a criatividade das sociedades africanas, na sua realidade objetiva e na busca de soluções para seus problemas. Sem a pretensão de esgotar o tema, este artigo tem como objetivo precisamente problematizar as interpretações correntes sobre os problemas da África contemporânea e verificar como o pós-Guerra Fria impactou o continente, bem como as recentes mostras de sua reafirmação no sistema mundial, após uma fase de marginalização e * Doutor em Ciência Política e Mestre em História (UFRGS). Professor do Departamento de História da Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), lecionando História da África Contemporânea no Curso de Pós-Graduação. Contato: [email protected].

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Os Dilemas da África Contemporânea: apersistência do neocolonialismo e os

desafios da autonomia, segurança edesenvolvimento (1960-2008)

 André Luiz Reis da Silva* 

ResumoEste artigo discute a formação da África contemporânea, considerando as dificuldadesapresentadas após a independência, como o neocolonialismo e a instabilidade políticainterna. Analisa também o papel do continente durante a Guerra Fria, para verificar oimpacto com o seu fim, nos anos 1990, com a marginalização e posterior reafirmação docontinente. Por fim, problematiza os novos interesses na África, na última década, e aspossibilidades de autonomia do continente.

Palavras-chave: África Contemporânea. Relações Internacionais. Pós-colonialismo.

Passados cerca de cinqüenta anos do processo de independência, ocontinente africano ainda parece permanecer com os mesmos problemase dificuldades da década de 1960. Os meios de comunicação de massa

mostram a África como ela se fosse uma série de acidentes e conflitos, poisapenas nestes momentos ela é subitamente lembrada. O “esquecimento”intermitente da África até recentemente também alcançava a pesquisaacadêmica que, com exceção de poucos comprometidos pesquisadores,também projetava sobre o continente apenas as imagens do atraso, doexotismo e do pessimismo. Muitas vezes, a “lembrança” da África vinhaacompanhada da construção, sobre ela, da noção de um paraíso perdidona história, subjugado e vitimizado pelas maquinações européias, em umavisão que desumanizaria o continente, pois não lhe atribuiria ascontradições existentes em qualquer sociedade.

Na realidade, dada a incipiente produção de conhecimento sobre aÁfrica no Brasil, pouco sabemos sobre o dinamismo e a criatividade dassociedades africanas, na sua realidade objetiva e na busca de soluçõespara seus problemas. Sem a pretensão de esgotar o tema, este artigo temcomo objetivo precisamente problematizar as interpretações correntessobre os problemas da África contemporânea e verificar como o pós-GuerraFria impactou o continente, bem como as recentes mostras de suareafirmação no sistema mundial, após uma fase de marginalização e

* Doutor em Ciência Política e Mestre em História (UFRGS). Professor do Departamento deHistória da Faculdade Porto-Alegrense (FAPA), lecionando História da África Contemporâneano Curso de Pós-Graduação. Contato: [email protected].

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desinteresse internacional. O objetivo inicial é trabalhar a hipótese de queo continente africano não pode ser inteiramente responsabilizado pelosproblemas da África, nas décadas recentes, pois o passado colonial recente,o neocolonialismo e a dependência externa continuam afetando a região.Mesmo no contexto de uma nova disputa pelo continente, verificada naúltima década, pode-se afirmar que a África vem desenvolvendoestratégias para aumentar sua autonomia no sistema internacional, buscando a superação de seus problemas e dificuldades.

A África independente e a situação neocolonial:

primeiras dificuldadesAs independências na África constituíram um importante marco

na História mundial contemporânea. Trouxeram para o sistema mundialmais de 50 países independentes, que têm procurado influir neste sistema, buscando formas alternativas de desenvolvimento. Juntamente com ospaíses asiáticos, formavam a maior parte do Terceiro Mundo, que tinhama característica comum de sofrerem com o subdesenvolvimento e com opassado colonial recente. Estes Estados foram incorporados à ONU, dandoum novo perfil à Assembléia Geral, introduzindo novos temas e novasdemandas de transformação do sistema internacional.

Mas os países afro-asiáticos também tinham mecanismos próprios

de articulação. Em 1955, ocorreu, em Bandung (Indonésia), com aparticipação total de 29 países, a primeira Conferência Afro-Asiática,patrocinada por Indonésia, Índia, Birmânia, Paquistão e Ceilão. Nestareunião, considerada o marco do terceiro-mundismo e do não-alinhamento, foi lançada a Carta de Bandung, um documento de dez pontosreivindicando a autodeterminação dos povos e criticando o racismo e ocolonialismo. Inicialmente patrocinado pelos asiáticos, esse movimentocolaborou para a descolonização africana, que estava ocorrendo.

Em 1961, realizou-se em Belgrado (Iugoslávia), a Primeira Conferênciados Países Não-alinhados, que convergiam na busca de um caminhopróprio nas relações internacionais. Tendo como principais articuladoresTito (Iugoslávia), Nasser (Egito), Nehru (Índia) e Sukarno (Indonésia), os

participantes da reunião elaboraram as bases de sua orientação política.Eles rejeitavam a divisão do mundo em dois blocos feita pela guerra fria epostulavam uma Nova Ordem Econômica Internacional mais justa. OMovimento dos Não-Alinhados fez reuniões sucessivas, aprofundandosuas convicções políticas (luta contra o imperialismo, colonialismo,neocolonialismo, racismo, bem como a qualquer tipo de agressão oudominação externa) e debatendo questões econômicas, como o preço dasmatérias primas, o desenvolvimento e a dívida externa. Diversos paísesafricanos participaram ativamente destas atividades.

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Na África, a maioria das independências foi conquistada na décadade 1960. Somente em 1960, o “ano africano”, mais de uma dezena de paísestornaram-se independentes. Na África inglesa, a descolonização teve umcaráter em geral mais pacífico (ou menos conflituoso) do que na área decolonização da França, que tentava retardar o processo através deinfrutíferas mudanças e tentativas de integração das antigas colônias,como a Conferência de Brazzaville, da qual nenhum africano participou,mostrando o caráter unilateral da negociação francesa. Na África Austral,persistiram os bastiões brancos na África do Sul (sob o regime desegregação racial do Apartheid, desde 1948), na Rodésia do Sul e nas colôniasportuguesas de Angola e Moçambique. A descolonização da África

Portuguesa só ocorreria em 1974-1975, após longo processo de luta armadae da Revolução dos Cravos em Portugal.As independências mostraram as fragilidades dos novos países,

como as fronteiras herdadas do período colonial, a ausência de quadrosqualificados em número suficiente para ocupar postos na economia e naadministração dos Estados Independentes, bem como a situaçãoneocolonial imposta pelas ex-metrópoles. O neocolonialismo caracteriza-se pela relação de dependência e pela manutenção da exploração entre ospaíses desenvolvidos e subdesenvolvidos, numa relação de troca desigual.Constituem a condição a que a maioria das ex-colônias submeteram-se ostratados e acordos bilaterais com a antiga potência colonial ou com osEUA, referentes à cultura, economia e acordos militares. Aos paísesafricanos estavam destinadas as atividades econômicas do períodocolonial. Em 1990, dois terços dos 450 milhões de africanos continuavam aviver da terra, num quadro que mescla produção para subsistência esuperexploração capitalista.

Nesse sentido, o presidente de Gana e militante da unificação daÁfrica, Kwame N´Krumah, já denunciava, no início dos anos 1960, asituação neocolonial. Para o líder africano, o neocolonialismo representavao imperialismo em sua fase final e “mais perigosa”, cuja essência é a de quetodo o Estado que está sujeito ao neocolonialismo é teoricamenteindependente e tem todos os adornos exteriores da soberania internacional.Entretanto, seu sistema político e econômico é dirigido do exterior.Continuando com N´Krumah:

O neocolonialismo é a pior forma de imperialismo. Para aquelesque o exercem, significa o poder sem a responsabilidade e paraaqueles que o sofrem, significa exploração sem alívio. Nos dias doantigo colonialismo, a potência colonial tinha pelo menos que explicare justificar, as ações que realizava no exterior. Na colônia, aquelesque serviam à potência imperial dominante podiam pelo menosesperar a sua proteção contra qualquer ação violenta dos seusopositores. Com o neocolonialismo, nenhum dos dois casos acontece.1

1 N´Krumah, Kwame. Neocolonialismo: último estágio do imperialismo. Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1967, p. 4.

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A retirada dos quadros de comando das ex-colônias provocouum vácuo de poder, em que as disputas por sua ocupação ocorriam entregrupos étnico-lingüísticos locais e grupos econômicos com interessesespecíficos. As fronteiras deixadas pelos colonizadores não correspondiamaos recortes étnicos e históricos pré-coloniais. Nesse sentido, o primeirogrande teste da África independente centrou-se na questão da estabilidadedas fronteiras, havia dificuldades para efetivar a concepção pan-africanade Estados Unidos da África ou para as federações ou semi-federaçõescriadas pelas potências colonizadoras. Na Organização da UnidadeAfricana (OUA), criada em 1963, acabou prevalecendo a tese da cooperaçãoe não da integração entre os países. As incipientes organizações regionais,

de expressão predominantemente inglesa ou francesa, desenhavamdistintos projetos para a cooperação. Conforme Sombra Saraiva:

Para as primeiras, a independência política conduzirianaturalmente o continente à soberania econômica. Esse era o pa ss o ma is se gu ro em di re çã o à co op er aç ão e in te gr aç ãocontinentais. Para os países de expressão francesa, a manutençãode laços com a metrópole associando-se a seus interesses pareciauma boa forma para alcançar a gradual integração continental. 2

A questão é que as colônias tinham recursos econômicos muitodiferentes. As regiões com mais recursos não queriam se associar às maispobres. Um exemplo é a Costa do Marfim, com plantações de cacau,

produção de marfim e fácil acesso às rotas marítimas. Na África equatorial,o Gabão (rico em petróleo e minerais) assumiu posição similar. Poucoimportava se Nkruma de Gana, Senghor do Senegal ou Modibo Keita doMali pensassem em unidades maiores. O fracasso das tentativas deconsolidar agrupamentos políticos maiores durante os primeiros anos daindependência africana foi, entretanto, compensado por um grau notávelde sucesso na prevenção da desintegração das unidades territoriais básicascriadas durante o período colonial. Assim, embora presenciando diversasguerras separatistas (Congo/Zaire, Nigéria, Sudão, etc.), os países africanosconseguiram, em grande parte, manter suas unidades territoriais.

As análises superficiais sobre os conflitos africanos reforçaram oclichê de explicar a instabilidade política da África como centralmenteoriundas das fronteiras herdadas do colonialismo, que seriam “fronteirasartificiais”. Em primeiro lugar, o conceito de “fronteiras artificiais” deveser problematizado. Em História, o conceito de fronteira não-artificialperde sentido, pois todas as fronteiras dos Estados modernos foramhistoricamente construídas (e, portanto, poderiam ser diferentes), a partirde uma afirmação interna e externa, normalmente com o recurso da

2 SARAIVA, José Flávio Sombra. Cooperação e Integração no Continente africano: dos sonhospan-africanistas às frustrações do momento. Revista Brasileira de Política Internacional. N. 36(2), 1993, p. 33.

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violência na sua definição. Entretanto, como a História não se repete, osEstados africanos não estão passando por processo equivalente aoseuropeus na Idade Moderna, já que ocorrem em outro contexto espaço-temporal, e podem, exatamente por isso, superar os problemas deixadosnos Estados europeus, construindo soluções criativas, flexíveis eadaptadas, como Estados multinacionais e multiculturais.

Em segundo lugar, as fronteiras africanas foram, de fato, em grandeparte, herdadas do colonialismo. Mas a implantação das fronteirascoloniais também havia sido resultado de acordos com chefes políticosafricanos que tinham uma região sob seu domínio ou da luta colonialistacontra os povos de diversas regiões que não queriam estabelecer os acordos

ou a eles se impunham. Dessa forma, a implantação colonialista européiana África não conseguiu anular completamente a realidade africanapreexistente. Assim, as fronteiras africanas atuais são o resultado decomplexas interações entre as estruturas estatais, étnicas e territoriaisafricanas preexistentes, das transformações provocadas pelo imperialismoe das próprias opções tomadas pelos novos governos africanos quando daindependência. Conforme Wolfang Dopkce

Os Estados pré-coloniais tinham, na sua composição e estrutura,as mesmas características [multidão de etnias diferentes]:cortavam através de suas fronteiras, grandes regiões culturais elingüísticas e não se distinguiam pela homogeneidade étnica.Nesse sentido, a fronteira moderna na África parece até menos‘artificial’. A multietnicidade e as culturas e etnias politicamentedivididas representam uma forte tradição africana desde a época pré- colonial, sobrevi vendo até os dias atuais.3

Nesse sentido, as principais fontes de instabilidade política da África,que resultaram em conflitos, não se originam principalmente na disputade “fronteiras étnicas”, mas de interesses geopolíticos e geoeconômicos,tanto localizados, como potencializados por interesses estrangeiros.Conforme Samir Amin, os povos da periferia, separados por fronteiras namaioria dos casos arbitrárias e artificiais, não constituem, muitas vezes,nem uma nem várias nações. Constituem uma ou várias etnias emmomentos diversos de agregação e desenvolvimento, em processo deformação nacional. O problema da fusão de etnias em nações nas sociedades

periféricas mostra o caráter extrovertido da formação desses países, noqual a burguesia e suas elites tradicionais, ligadas aos agentes imperialistasexternos, formam uma economia desarticulada internamente. Adominação internacional reflete-se na estruturação interna desses paísesdependentes e, “as lutas de classes manifestam-se freqüentemente comolutas étnicas, podendo, pois, ser manipuladas do interior e do exterior por

3 DOPCKE, Wolfgang. A vida longa em linhas retas: cinco mitos sobre as fronteiras na ÁfricaNegra. Revista Brasileira de Política Internacional. N 42, vol. 1, 1999, p. 99.

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classes reacionárias e forças imperialistas”.4 Nesse sentido, a divisão dospaíses em unidades menores, cada uma com uma etnia, não resolveria oproblema básico do subdesenvolvimento, da superexploração do campo,da dependência externa nos países africanos e das enormes fraturas sociaisnestas localidades.

Depois da descolonização, a África foi o continente com o maiornúmero de conflitos armados. Desde 1955, apenas Tunísia, Costa doMarfim, Benin, Guiné Equatorial, Gabão, Botswana, Malaui e Madagascarnão vivenciaram conflitos armados, representando um quinto dos paísesafricanos. Nestes conflitos armados, a maioria resultou em conflitosinternos aos países, principalmente levantes contra o regime no poder.

Embora muitos conflitos internos tivessem simpatia e apoio dos paísesvizinhos, raramente ocorreu uma guerra aberta entre dois Estadosafricanos. Das cerca de 30 disputas fronteiriças ocorridas da descolonizaçãoaté meados dos anos 1990, 25 não envolveram violência, mas negociaçõesdiplomáticas.5

Em pouco tempo, também ocorreu uma verdadeira enxurrada degolpes militares (1965-1966), por exemplo, na Nigéria, Argélia, Zaire, Gana,República Centro-Africana, Alto Volta e Burundi. Em 1967, a maioria dasnovas nações africanas não estava mais nas mãos de legisladores eleitos,mas de regimes militares ou de governos civis autoritários. Em muitoscasos, ante a latente pressão das forças centrífugas nestes jovens países, oexército constituía a única organização com base nacional que poderiagarantir a preservação da integridade do país durante o período inicial daindependência.

O imperialismo tardio e a descolonização da Áfricaportuguesa

Os portugueses mantiveram, no continente africano, umcolonialismo antigo e prolongado. Foram os primeiros a implantar odomínio europeu na África, na época das grandes navegações, no séculoXV. Foram uns dos últimos a sair, lutando para prolongar ao máximo oimperialismo colonialista. O colonialismo português na África foi

constituído pelas colônias de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, CaboVerde e São Tomé e Príncipe.Na realidade, quando da descolonização, na década de 1970,

Portugal consistia apenas em um país periférico e dependente (emboraeuropeu), procurando manter o que considerava uma de suas últimaspossibilidades de potência. Nesta época, restavam apenas as lembranças

4 AMIN, Samir. Classe e nação: na História e na crise contemporânea . Lisboa: Moraes editores,1981, p. 149.5 DOPCKE, Wolfgang. Op. cit., p. 100

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do pioneirismo português nos mares, nos séculos XV e XVI, montando umgigantesco aparelho colonial e comercial. No contexto europeu da décadade 1970, o imperialismo colonialista e o fascismo salazarista portuguêsdestoavam das novas tendências do capitalismo internacional, emborativesse sentido sua existência na manutenção dos bastiões brancosconservadores na África, representando resistência ao socialismo africanoe ao movimento terceiro-mundista.

Desde o fim do tráfico de escravos, em meados do século XIX, ocolonialismo português dedicava-se à exploração mineral e agrícola desuas colônias, bem como ao fornecimento de mão de obra para as empresasmineradoras na África Austral. Em seus territórios, os portugueses serviam

também como intermediários de investimentos diretos de países e gruposimperialistas mais desenvolvidos, como alemães, belgas e ingleses, bemcomo posteriormente de empresas sul-africanas. A administração colonialportuguesa não procurou criar elites locais, nem desenvolver elementosde autogoverno assimilados. Conforme o historiador africano Joseph Ki-Zerbo escreveria na década de 1970, “poder-se-ia dizer que a colonizaçãoportuguesa é a colonização francesa sem a inteligência e a laicidade”.6

Embora o governo português se proclamasse defensor da democraciaracial e utilizasse o discurso do luso-tropicalismo de Gilberto Freyre, justif icando o colonialismo com a idéia de que a obra “redentora-civilizatória” de construção de uma comunidade “afro-luso-brasileira”ainda não estava completa nas colônias africanas, o colonialismoportuguês também foi erguido sobre um racismo evidente. Na Lei Colonialde 1930, o governo português dividiu a população em indígenas e não-indígenas, estas compreendendo os brancos e os negros assimilados, cercade 3% da população. Em 1953, os assimilados receberam cidadaniaportuguesa, numa estratégia divisionista de cooptação de uma pequenaelite educada nos moldes ocidentais. Enquanto, nos anos 1960, rapidamenteforam ocorrendo as independências nas colônias inglesas e francesas (tantonegociadas como através de lutas de libertação), Portugal procuravaresistir às pressões e manter as colônias. É neste contexto que surgem osmovimentos armados de libertação das colônias portuguesas.7

Portugal vivia, na época das descolonizações, a ditadura salazaristado Estado Novo, um regime inspirado no fascismo, institucionalizado, em1933, por Antonio de Oliveira Salazar. O regime salazarista havia

sobrevivido à Segunda Guerra Mundial (permaneceu neutro na guerra) erecebido apoio internacional, como uma espécie de bastião anti-comunista,tanto na península ibérica como em suas extensões coloniais. A recusa emconceder as independências para as colônias africanas fez aumentar apresença militar portuguesa na África, a partir de 1961, a qual nãodiminuiu com a ascensão de Marcelo Caetano ao poder português, em6 KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra. Lisboa: Europa América, volume 2, p. 272.7 LINHARES, Maria Yedda. A luta contra a metrópole: Ásia e África. 1945-1975 . São Paulo:Brasiliense, 1981, p. 100.

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1968. Em 1969, a maior parte do exército português estava mobilizado naÁfrica, atingia, em 1972, a marca de 140 mil homens e comprometia maisda metade do orçamento metropolitano para a rubrica “defesa esegurança”. Portugal beneficiava-se da OTAN, recebendo da aliançaatlântica armamentos modernos que, em princípio, deveriam ser utilizadosna defesa do território português.8

A escalada da guerra colonial, especialmente em Angola, foi um dosprincipais fatores de desgaste do regime do Estado Novo, levando àinsurreição armada de 25 de abril de 1974, que deu início à “Revolução dosCravos” e ao processo de descolonização. Neste momento, oficiaisportugueses de média patente derrubaram o governo de Caetano,

provocando o ressurgimento de diversos grupos que disputavam o podere mergulharam o país num clima de agitação revolucionária. Com aRevolução dos Cravos, foram realizadas as negociações para oficializar aindependência das colônias africanas, as quais o governo português naquelemomento pouco controlava. Estava encerrando um dos últimosremanescentes do fascismo do entre-guerras e do colonialismo imperialista.

Em Angola, a colônia mais importante para os portugueses, adescolonização foi um processo complexo e emblemático. Em 1956, foifundado, por Agostinho Neto, o MPLA (Movimento para a Libertação deAngola) de inspiração marxista e que buscava ampla base nacional epopular, embora tivesse mais força nas zonas urbanas e no centro do país.Em 1962, foi fundado a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola),dirigido por Holden Roberto. Baseado no Norte de Angola, tinha basesétnicas e relações com o Zaire. Em 1966, um dissidente do FNLA, JonasSavimbi, criou a UNITA (União Nacional pela Independência Total deAngola), com base de atuação no Sul de Angola. Os três grupos, além delutarem contra Portugal, também lutavam entre si. Em 1971, a UNITAfechou um acordo secreto de colaboração com o comando português daZona Militar Leste (ZML), a “operação madeira”, através da qual ajudouas forças armadas portuguesas no combate aos outros dois movimentos.Este acordo manteve-se até o início de 1974, quando recomeçaram oscombates entre a UNITA e as forças portuguesas.

Em janeiro de 1975, os Acordos de Alvor formataram um governode transição em Angola, estabelecendo um ministério paritário entre ostrês movimentos, bem como a realização de eleições. O processo eleitoral

acabou não ocorrendo, com o reinício dos conflitos entre os três grupos. AFNLA e a UNITA uniram-se para combater o MPLA, que acabou saindovitorioso, com Agostinho Neto proclamando a República, em novembrode 1975. A FNLA se desintegraria pouco tempo depois, restando à UNITA,apoiada por África do Sul, China e EUA, o combate ao governo federal, querecebia apoio da URSS, de Cuba e dos demais países socialistas e de algunsgovernos africanos. O governo angolano teve de lutar, por quase duas

8 KI-ZERBO, op., cit., p. 279.

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décadas, até conseguir pacificar o país, com a morte, em combate, de JonasSavimbi, em fevereiro de 2002.

Os nacionalistas de Guiné Bissau e Cabo Verde fundaram, em 1953,um movimento de defesa da descolonização, o PAIGCV (Partido Africanopara a Independência de Guiné Bissau e Cabo Verde), dirigido por AmílcarCabral que, em 1963, iniciou a luta armada. Através de uma guerra popularprolongada, o PAIGCV foi paulatinamente conquistando o território,isolando os portugueses. Nem mesmo o assassinato de Amílcar Cabral, noinício de 1973, impediu a declaração de independência, em setembro domesmo ano. Em 1974, Portugal reconheceu o novo Estado. As ilhas de CaboVerde ganharam, em 1975, o status de país independente de Guiné Bissau.

Em São Tomé e Príncipe, os nacionalistas fundaram, em 1960, o CLSTP(Comitê de Libertação de São Tomé e Príncipe) que agia na defesa dadescolonização e da reforma agrária. Em 1972, o CLSTP foi transformado emMLSTP (movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe), que realizou intensotrabalho de conscientização popular e articulação internacional com osmovimentos das outras colônias portuguesas, pelo qual chegaram a constituira Conferência das Organizações Nacionalistas das Colônias Portuguesas(CONCP). O MLSTP foi o movimento que negociou o processo deindependência em São Tomé e Príncipe, em 1975, após a Revolução dos Cravos.

Em Moçambique, o movimento de descolonização criou a Frelimo,em 1962, que reunia diversas tendências, mas cujo programa defendiauma revolução popular socialista. Iniciada no norte do país, a guerrilhafoi paulatinamente avançando no território, concentrando os portuguesesao sul, os quais sobreviviam graças à ajuda militar da OTAN. Em 1975,com a Frelimo já vencedora, foram assinados os Acordos de Lusaka,reconhecendo a independência. O governo passou para o líder da Frelimo,Samora Machel, que implantou um modelo socialista de desenvolvimento.Além das dificuldades econômicas, Machel precisou enfrentar as ações daResistência Nacional Moçambicana, Renamo, um grupo anticomunistaapoiado pela África do Sul. Samora Machel morreu em 1986, num desastreaéreo, e foi sucedido pelo chanceler Joaquim Chissano. As lutas entre ogoverno e a Renamo devastaram o país.9

A descolonização portuguesa foi um dos fatos de maior importânciana África negra, nos anos 1970, com significados regionais e internacionais.Em primeiro lugar, tradicionalmente se coloca que a Revolução dos Cravos

foi a causa imediata das independências das colônias portuguesas. Mastambém é importante refletir que dialeticamente as lutas anticoloniaiscontribuíram para a queda do regime salazarista em Portugal, perpetradapelo próprio exército, desgastado na manutenção de um colonialismoagonizante. Dessa forma, os africanos, através de sua luta, contribuírampara as mudanças políticas ocorridas na própria metrópole.10

9 RIBEIRO, Luiz Dario. Descolonização da Ásia e da África. Ciências & Letras , Porto Alegre, n.33, jan-jul 2003, p. 80.10 KI-ZERBO, op., cit., p. 280.

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As ex-colônias portuguesas buscaram inspiração no marxismo eaproximaram-se do bloco socialista. Entretanto, estruturalmente nãoconseguiram fugir inteiramente à condição neocolonial na relação com asantigas potências européias. Embora as jovens nações africanas de“expressão portuguesa” tivessem como princípio o modelo socialista eprocurassem aplicar um programa que envolvia nacionalização dasempresas, reforma agrária, alfabetização em massa e grandes obraspúblicas, as dificuldades eram enormes. Além de conflitos e dificuldadesinternas, o neocolonialismo (ou imperialismo sem colonização) manteve-se, na medida em que relegava às jovens e frágeis nações africanas o papelde economias fornecedoras de matérias-primas, numa situação de troca

desigual. Entretanto, para a esquerda mundial, tornava-se mais umexemplo da via socialista de busca da autonomia na luta contra oimperialismo. No contexto da Guerra Fria, significava a ampliação dapresença soviética no continente, o que ampliava a margem de manobrados africanos e o interesse estratégico das grandes potências.

A Guerra Fria e crise econômica na África

Os conflitos africanos foram alimentados pela Guerra Fria, pois adisputa sistêmica entre EUA e URSS buscava aliados na África. Váriospaíses (como a França) mantiveram bases aéreas ou navais no Continente,reforçando o comércio internacional de armas. De fato, a mera presença da

URSS e de seus aliados foi de grande importância para os africanos e suarelação com o mundo ocidental, configurando um importante espaço de barganha. A presença soviética na região estimulava os EUA a apoiarem oregime ditatorial de Mobutu no Zaire, a guerrilha da Unita em Angola e oApartheid na África do Sul.

A independência das colônias portuguesas provocaram, na ÁfricaAustral, uma reviravolta na geopolítica regional, na década de 1970. Apósa descolonização da África portuguesa, em 1974/75, formou-se um grupode países de orientação progressista, denominado países da linha de frente(envolvendo Zâmbia, Angola, Botsuana, Moçambique e Tanzânia) cujoobjetivo central era a crítica aos regimes racistas da Rodésia e da África doSul, que ocupava ainda a Namíbia e através dela promovia ataques aosoutros países na região. Com a ascensão de um governo negro na Rodésia(que trocou então o nome para Zimbabwe), em 1980, a África do Sul foificando mais isolada na região. Apoiados pela URSS, Cuba e outros paísessocialistas, os países da linha de frente tinham como objetivo a eliminaçãodo Apartheid e da agressão sul-africana, bem como o desenvolvimentodas jovens nações africanas de forma independente.

Para Cuba, a presença na África significava poder participar dogrande jogo das relações internacionais no contexto da Guerra Fria.11 De11 CHALIAND, Gerard. A luta pela África: estratégia das grandes potências. São Paulo: Brasiliense,1982.

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fato, os cubanos estiveram presentes na política africana. Em 1961, umnavio cubano levou armas à guerrilha argelina e voltou carregado deferidos e órfãos. Depois, tropas cubanas foram à Argélia para defendersuas fronteiras ameaçadas. De 1964 a 1965, o governo cubano enviou tropaspara o Congo e o comandante Ernesto Che Guevara participou dasoperações, enquanto outro grupo foi enviado ao antigo Congo-Brazzaville.Em 1966, os cubanos prestaram sua ajuda — militar, médica e material —às forças antiimperialistas do Partido Africano da Independência da Guinée Cabo Verde (PAIGC). Os cubanos também combateram junto aosrevolucionários de Moçambique e da Etiópia e ajudaram os nascentesgovernos independentes a fundarem e treinarem suas forças armadas. De

1975 a 1990, milhares de cubanos lutaram ao lado do governo angolano.No plano inter-regional, ressalte-se a cooperação entre os africanose os árabes, em especial após o choque petrolífero de 1973. A solidariedadedos países africanos à chamada questão árabe contra Israel e a participaçãode nove países da Organização da Unidade Africana na Liga Árabecontribuíram para essa aproximação. Enquanto o Banco Árabe para oDesenvolvimento Econômico da África (BADEA) financiava diversas açõesno continente africano, os países árabes exportadores de petróleo tentavamatenuar o aumento de preços para os consumidores africanos. Em 1977,ocorria a Conferência de Chefes de Estado da OUA e da Liga Árabe noCairo, cujos princípios elencados eram o não-alinhamento, a solidariedadeafro-árabe e a condenação ao sionismo, ao colonialismo e ao apartheid.Entretanto, a cooperação afro-árabe foi muito inferior, em termos derecursos, ao que os países africanos imaginaram e ainda sofreu asvicissitudes dos conflitos no Oriente Médio, que paralisaram muitas vezesos projetos de cooperação.12

Se, estrategicamente, o continente africano ganhava espaços emargens de manobra, foi na economia que suas fragilidades mais seressaltaram. Muitas oscilações na história econômica recente da Áfricaocorreram devido às descobertas sucessivas de petróleo em alguns paísese das flutuações de seu preço no mercado mundial. Países como Líbia eNigéria viram suas receitas crescerem enormemente em função da vendado petróleo. Enquanto as crises do petróleo aumentaram as rendas dospaíses exportadores (incluindo também Argélia, Gabão, Costa do Marfim,Angola e Congo), para os países africanos, que dependiam das importações

de petróleo, elas foram um verdadeiro desastre. A crise também veio paraos países exportadores, quando o preço baixou, pois não puderam manterseus orçamentos. Na Nigéria, durante esses anos, a renda per capita recuoua menos de um terço do patamar que havia atingido no começo do da crisedo petróleo. O endividamento externo alcançou enormes cifras. Em 1988, oserviço da dívida dos países africanos tropicais correspondia em média a

12 SARAIVA, José Flávio Sombra. Cooperação e Integração no Continente africano: dossonhos pan-africanistas às frustrações do momento. Revista Brasileira de Política Internacional.N. 36 (2), 1993, p. 38-39.

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47% de suas exportações. A fonte quase única de empréstimos eram o FMIe o Banco Mundial, que exigiam o ajuste estrutural nos moldes doneoliberalismo, com privatizações, diminuição dos gastos do Estado eabertura econômica.13

Ainda em 1981, o Banco Mundial lançou um documento, conhecidocomo Relatório Berg. O objetivo deste relatório era defender a tese de queos problemas econômicos e de desenvolvimento na África tinham causasinternas. Criticava profundamente os governos africanos, em especialaqueles que teriam incentivado a produção industrial em detrimento daspolíticas de proteção à agricultura, bem como o “excesso” de Estado naeconomia. Praticamente inocentando as variáveis externas, o relatório

concluía que a solução estava na substituição das “más políticas” pelas“boas políticas”. Seria apenas uma questão de escolha racional. Na mesmaépoca, os próprios governos africanos questionaram a leitura internalistae estado-minimalista da crise africana. Em 1981, foram publicados osresultados do encontro de chefes de Estado africanos que havia ocorridoem Lagos. O Plano de Ação de Lagos descreveu a crise africana como umasérie de choques externos, em especial a deterioração dos termos de troca,o pagamento do serviço da dívida externa e o protecionismo dos paísesdesenvolvidos. A solução não estaria nas políticas de mercado, mas nacapacidade de os Estados africanos mobilizarem recursos nacionais paraa integração e a cooperação econômica.14

Os anos seguintes foram, porém, de crise econômica e fome na África.Em 1985, ocorreu um novo encontro da Organização da Unidade Africana(OUA) , em Adis Abeba, para discutir o tema, com o objetivo de prepararum plano de ação em conjunto com a ONU. No encontro foi produzido umdocumento, o  Africa’s Priority Programme for Economic Recovery, 1986–1990(APPER), no qual os governantes africanos aceitavam a tese daresponsabilidade interna da África nos problemas do continente econcordavam em implantar as reformas liberais preconizadas pelo BancoMundial, em troca especialmente da renegociação da dívida externa com acomunidade internacional, bem como a promessa de buscar soluções parao problema da deterioração dos preços das matérias-primas. Oneoliberalismo afirmava-se no continente.15

Na realidade, os custos da crise econômica mundial das décadas de1970/1980 foram, em grande parte, repassados para o Terceiro Mundo. Os

países ricos conduziram então uma política de redução das importações eos países exportadores de matéria primas tiveram seus recursosdiminuídos em virtude da queda dos preços e do volume das exportações.Os bancos privados com sede em países desenvolvidos e as instituições de13 OLIVER, Roland. A experiência africana: da pré-história aos nossos dias. Rio de Janeiro: JorgeZahar, 1994, p. 278.14 ARRIGUI, Giovanni. The african crisis: World systemic and regional aspects. New LeftReview, n. 15, maio/junho 2002, p. 07-0815 Ibid., p. 09

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crédito internacionais, como o Banco Mundial e o FMI, elevaram as taxasde juros, provocando a explosão das dívidas externas. Para pagar o serviçoda dívida, os países africanos tiveram de exportar cada vez mais. Comosão exportadores basicamente de matérias primas e produtos poucoelaborados, sua oferta aumentou no mercado mundial, desvalorizandocom isso seus preços. Deve-se levar em conta também a revoluçãotecnológica, com sua tendência à desvalorização de matérias primas. Nestecontexto, a década de 1980 representou, do ponto de vista econômico, adécada perdida para a África, houve a redução do PIB do continente e aexclusão de regiões inteiras do mercado mundial. Nesse contexto, ocorreua bifurcação do Terceiro Mundo. Enquanto os países do Leste Asiático (em

especial os tigres asiáticos) cresciam a taxas elevadas, assistia-se àestagnação e ao declínio econômico em amplas áreas da América Latina edo continente africano.

A África no pós-Guerra Fria: marginalização e conflitosmicro-centrados

No final da década de 1980, os sinais do fim da Guerra Friacomeçaram a aparecer. Depois da derrota da batalha de Cuito-Cuinavalesofrida pelos Sul-Africanos para as tropas cubano-angolanas em 1988, osEUA e a África do Sul decidiram negociar a pacificação. Os Estados Unidos

propuseram a retirada cubana em troca da independência da Namíbia(que era ocupada pela África do Sul e utilizada como ponta de lança paraatacar Angola). Em 1989, os cubanos retiraram-se de Angola e da Etiópia efoi iniciado o processo de independência da Namíbia, concluído em 1990.O fim da Guerra Fria também influiu na queda dos regimes de partidoúnico apoiados pelo Ocidente, enquanto ocorria ou a derrubada dosregimes marxistas ou pelo menos a conversão de parte de seus dirigentesao liberalismo. O governo sul-africano promoveu a libertação do lídernegro Nelson Mandela, em 1990, e o fim do Apartheid, em 1991.

O fim da Guerra Fria não trouxe, entretanto, a solução para osconflitos e problemas africanos, pois representou para o continente a perdade importância estratégica e da capacidade de barganha. Assim, a África

passou a sofrer os efeitos da marginalização e da desestrategização docontinente por parte das grandes potências, que diminuíram a cooperaçãoe os instrumentos de ajuda. Retirados os esteios que garantiam algum“equilíbrio” regional, ocorreu o desencadeamento de violentos conflitos,em grande parte “tribalizados”: carregados de forte conteúdo étnico, comarmas menos modernas, com financiamentos privados (empresasmultinacionais, senhores da droga, velhas elites oligárquicas) ougovernamentais, nacionais e internacionais.

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Assim, ocorreu, na década de 1990, uma série de conflitos nocontinente africano: os conflitos em Ruanda e Burundi, na Somália, naLibéria, Zaire, Serra Leoa e Nigéria, entre outros. Com dificuldades, aOrganização da Unidade Africana criou forças de Paz para barrar conflitoscomo na Libéria e em Serra Leoa. Entre as intervenções da ONU, éimportante ressaltar a na Somália, em 1992, que tinha como objetivo“restaurar a esperança no Chifre da África” através da liquidação dosconflitos clânicos que ocorriam no país, desde a queda de Siad Barre em1991. A operação, com custo elevado para a ONU e para os EUA,transformou-se em um fracasso, quando tentaram capturar o GeneralMohammed Aiddid, líder da Aliança Nacional Somali. Após a morte de

vários capacetes azuis, os EUA e a ONU negociaram, em 1994, sua retiradado país, em troca de um piloto militar norte-americano que havia sidocapturado. A crise na Somália persiste até os dias de hoje.

Na esteira das crises dos anos 1990, foi o conflito entre hutus e tutsis,que envolveu Ruanda, Burundi e o Zaire, o que mais impactou, pelas suasdimensões e conseqüências. O massacre mútuo entre tutsis e hutus (comquase um milhão de mortos) parecia um conflito “étnico”, mas deitavaraízes na forma da colonização belga, que havia fomentado a diferençaentre as etnias como forma de manter o aparelho colonial. A queda deMobutu no Zaire, em 1997, teve um significado estratégico, pois privou aFrança de um importante aliado no continente, que apoiava as políticasocidentais contra os governos progressistas. Em 1997, as tropas da Aliançadas Forças Democráticas para a Libertação (AFDL) derrubaram opresidente do Zaire (Mobuto) e proclamaram a República Democrática doCongo (RDC) com Laurent-Désiré Kabila como presidente. Em agosto de1998, militares banyamulenge (congoleses tutsis de origem ruandesa)lançaram um movimento de rebelião no Kivu, no conflito conhecido comoSegunda Guerra do Congo, que teve a presença de milhares de soldados daONU na tentativa de debelar o conflito.

Em janeiro de 2001, Laurent-Désiré Kabila, assassinado, foisubstituído por seu filho Joseph. De fevereiro de 2002 a abril de 2003,ocorreu o diálogo intercongolês em Sun City (África do Sul) entre o governo,os rebeldes, a sociedade civil e a classe política, período no qual foramassinados acordos de paz entre a RDC, Ruanda e Angola. Em 2003, ocorreua formação de um governo de transição chamado de União Nacional,

composto pelo presidente Joseph Kabila e por quatro vice-presidentes, dediferentes tendências políticas do país. Essa Guerra do Congo (1998-2003)tinha, como pano de fundo, o controle de minerais estratégicos, como doColtan, combinação de duas palavras que correspondem aos mineraiscolumbita e tantalita, dos quais se extraem metais utilizados na fabricaçãode equipamentos eletrônicos avançados. Estes metais são consideradosaltamente estratégicos e 80% de suas reservas encontram-se na RepúblicaDemocrática do Congo.

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A Libéria, com seus quase três milhões e meio de habitantes, é arepública mais antiga da África negra. De 1997 até agosto de 2003, foidirigida pelo ex-chefe de guerra Charles Taylor, quando foi substituídopelo vice-presidente, Moses Blah. Este país já havia mergulhado, de 1989 a1997, em uma longa guerra civil, liderada por Charles Taylor, então chefede um dos bandos armados. O conflito entre diferentes gruposguerrilheiros deixou milhares de mortos e exilados. Desde 1999, o regimede Taylor enfrentava a rebelião dos Liberianos Unidos pela Reconciliaçãoe a Democracia, LURD, quando alcançaram e cercaram a capital Monróvia.Em agosto de 2003, Taylor retirou-se do país, sob a proteção das tropas daUnião Africana.

Neste contexto, é importante reiterar que as análises que explicamos conflitos e a violência pela mera existência de diferentes identidadesétnicas religiosas e culturais, na realidade obscurecem o caráter dinâmicoe multifacético das identidades étnicas, assim como a capacidade de muitosgrupos étnico-culturais de conviver pacificamente em grande parte daÁfrica e do mundo. Além disso, o discurso essencialmente “étnico” ou“identitário” da crise esconde a atuação e a responsabilidade dos diferentesatores africanos e internacionais que, em sua luta por poder e recursos,instrumentalizaram as identidades étnicas e culturais. Mascara tambémas profundas fraturas sociais herdadas do colonialismo e retro-alimentadas no neocolonialismo e pelas disputas das grandes potências.

A privatização de muitos conflitos também deve ser registrada. Comoafirma Christopher Clapham, as relações externas do continente foramprivatizadas, não somente através da subversão pelos interesses privadosdos políticos internos e externos ao continente, mas também através dodeslocamento das relações tradicionais mantidas pelo Estado, oriundasdo processo de globalização, com a presença e interferência das agências eórgãos internacionais, organizações não-governamentais, igrejas, etc. Alémdisso, verifica-se que muitos conflitos africanos têm origem ou sãoalimentados por interesses de empresas estrangeiras em obter ou controlardeterminadas concessões para exploração econômica (sobretudoextrativismo mineral e petrolífero).16

O Fim do Apartheid e a nova África do Sul: o reencontro

com o continente

Em abril de 2004, foram realizadas as terceiras eleições federais naÁfrica do Sul desde que a elite branca do país, depois de 46 anos de regimede Apartheid, negociou sua saída do poder, em 1994, quando foi eleitopresidente do país o líder da resistência negra, Nelson Mandela. Nesses

16 CLAPHAM, Christopher. Africa and the international system: the politics of state survival .Cambridge: Cambridge University Press, 1996, p. 256.

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dez anos, a África do Sul demonstrou a consolidação de um novo regimepós-Apartheid que, embora não tenha provocado as transformaçõesesperadas no regime social vigente no país, tem sinalizado importantesmudanças com efeitos internos e internacionais, que, de certa forma,marcam a transição para uma reafirmação da África no sistema mundial.

Situada na rota comercial para as Índias e habitada por diversosgrupos negros, a região foi colonizada, a partir do século XVI,principalmente por imigrantes holandeses (chamados bôeres ouafricânderes), que desenvolveram uma língua própria, o africâner. Duranteo século XIX, ocorreu uma série de conflitos entre os ingleses (que foramocupando a região), os negros e os bôeres. Com os choques, os bôeres

emigram para o nordeste (em 1836), fundando duas repúblicasindependentes, Transvaal e Estado Livre de Orange. A entrada dos inglesesno Transvaal resultou na Guerra dos Bôeres, que culminou com a vitória britânica. A partir de 1911, a minoria branca, composta de africânderes edescendentes de britânicos, promulgou uma série de leis que consolidouseu poder sobre a população negra. A política de segregação racial doApartheid (separação, em africâner) foi oficializada em 1948, com a chegadaao poder do Partido Nacional (PN). O Apartheid impedia o acesso dosnegros à propriedade da terra e à participação política e os obrigava aviver em zonas residenciais segregadas, proibindo-se inclusive casamentose relações entre pessoas de raças diferentes.

Na década de 1950, a oposição ao Apartheid ganhou força, quando oCongresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912,deflagrou uma campanha de desobediência civil. O Massacre deSharpeville, ocorrido em 1960, no qual a polícia matou 67 negros queparticipavam de uma manifestação, provocou protestos no país e noexterior. O governo declarou o CNA ilegal e prendeu, em 1962, seu principallíder, Nelson Mandela, o condenando à prisão perpétua. Enquanto isso, emmaio de 1963, o Parlamento da África do Sul aprovou um projeto de Leique previa a tortura para os detidos. Na década de 1970, a política doApartheid recrudesceu. Uma série de leis classificava e separava os negrosem grupos étnicos, na tentativa de confiná-los em territórios denominados bantustões.17

Com o fim do império colonial português na África (1975) e a quedado governo de minoria branca na Rodésia, atual Zimbabwe (1980), o

domínio branco na África do Sul entrou na defensiva. Em 1976, uma novaonda de protestos culminou com o massacre de Soweto. Na década de1980, o fim da Guerra Fria desestrategizou o Apartheid, as pressões internase internacionais aumentaram e obrigaram o governo a iniciar algumasreformas.18 O fim do Apartheid na África do Sul foi um dos acontecimentos

17 KI-ZERBO, op., cit., p. 296-298.18 DOPCKE, Wolfgang. Uma nova política exterior depois do Apartheid: reflexões sobre asrelações regionais da África do Sul, 1974-1998. Revista Brasileira de Política Internacional. N41, vol. 1, 1998, p. 137-138.

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de maior impacto na África Pós-Guerra Fria. A África do Sul, na década de1980, experimentava o isolamento diplomático internacional devido à suapolítica racista de segregação interna. A crítica interna e internacional aoregime racista foi se intensificando, até que, com a posse de Frederik DeKlerk na presidência, em 1989, ocorreram várias mudanças no país. Em1990, Mandela foi libertado e o CNA recuperou a legalidade. De Klerkrevogou as leis raciais e iniciou o diálogo com o CNA. Sua política, criticadapela direita, foi legitimada por um plebiscito, em 1992, pelo qual os brancos,os únicos que puderam votar, aprovaram o fim do Apartheid.

Inconformados com o avanço das reformas, líderes extremistas brancos fundaram, em 1993, a Frente Nacional Africânder (FNA). Mesmo

com a resistência dos extremistas, De Klerk convocou para 1994 asprimeiras eleições multirraciais para um governo de transição. Em abrilde 1994, Nelson Mandela (que juntamente com De Klerk ganhou o PrêmioNobel da Paz, em 1993) foi eleito presidente da África do Sul. A aliança doCongresso Nacional Africano (CNA) de Mandela com o Partido Nacional(PN) de De Klerk viabilizou o primeiro governo multirracial do país. Atransição negociada também foi criticada por organizações como o PartidoLiberdade Inkatha, organização zulu, que disputava com o CNA arepresentação política dos negros sul-africanos.

O governo de coalizão dirigido por Mandela enfrentou o desafio derestaurar as propriedades das famílias negras atingidas pela lei de 1913,que garantia 87% do território sul-africano à minoria branca. Por nãoconcordar com os rumos do governo, o Partido Nacional retirou-se, em1996. A Comissão de Reconciliação e Verdade, criada em 1995 com oobjetivo de promover a reconciliação entre os sul-africanos, não conseguiumaiores avanços. Entretanto, leis abrangentes contra discriminação deraça, gênero e deficiência física e contra o uso de termos racistas pela mídiaforam aprovadas, em janeiro de 2000.

Em 1999, o vice-presidente Thabo Mbeki foi eleito para dirigir opaís. As eleições parlamentares de junho de 1999 foram vencidas peloCNA, que formou uma coalizão com o partido Frente Minoritária,assegurando dois terços das cadeiras da Assembléia Nacional. O PartidoNacional, que governou o país entre 1948 e 1994, disputou as eleições como nome de Novo Partido Nacional (NNP). Nesse contexto, Thabo Mbekiassumiu a Presidência com o desafio de garantir a continuidade do regime

democrático e reduzir as diferenças sociais entre brancos e negros.As mudanças promovidas na África do Sul têm sido lentas,

descontentando a maioria da população negra, que observa as riquezasdo país ainda concentradas nas mãos da minoria brancas. O programa degoverno teve como metas uma transição gradualista, respeitando apropriedade privada, as relações com as multinacionais e os interessesestrangeiros no país, bem como seguindo algumas das metas do FMI e doBanco Mundial, como liberalização da economia e limitação de gastossociais. Como resultado, aumentaram algumas desigualdades sociais. A

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participação dos negros na riqueza tem aumentado, porém beneficiandosomente uma elite relativamente pequena (os chamados “buppies”). Odesemprego sul-africano, cujos números oficiais apontam 30%, e a AIDS,com cerca de cinco milhões de soropositivos, têm demandado um esforçoadicional do governo na execução de políticas públicas de emprego e saúde.A concentração das terras nas mãos dos brancos - base fundamental doregime colonial e do Apartheid na África do Sul – ainda permanece. Ogoverno implantou um programa de reforma agrária que, com umorçamento limitado, pouco restituiu de terras aos negros. Nesse contexto,os conflitos rurais têm recrudescido, inclusive estimulando a formação,em 2001, do Movimento do Povo Sem-Terra.

Mesmo com a persistência desses problemas, a maioria da populaçãotem apoiado o governo do CNA. Tal fato foi demonstrado com a reeleiçãode Thabo Mbeki para a presidência do país, em abril de 2004. Nestasterceiras eleições democráticas na África do Sul, o CNA obteve cerca de69,6% dos votos, um sucesso para o partido, que havia alcançado 66,4%nas eleições de 1999 e 62,6% nas primeiras eleições multirraciais, em 1994.

A África do Sul tem contribuído para a retomada dodesenvolvimento africano e a melhor projeção internacional. A África doSul pós-Apartheid representa peça-chave no desenvolvimento africano,seja por sua projeção econômica e política, seja pelas expectativas geradase efetivadas com o fim do Apartheid. O povo negro sul-africano venceu oApartheid racial, conquistando direitos civis e políticos, mas ainda tempela frente o enorme desafio de superar o Apartheid social e a pobreza, naluta pela garantia dos direitos sociais.

A nova diplomacia e o “renascimento” africano na buscada autonomia

A marginalização e a desestrategização da África ocorridas com ofim da Guerra Fria também marcaram uma nova etapa nas relaçõesinternacionais e no processo de desenvolvimento do continente. Ao mesmotempo em que o mundo passa por uma reorganização internacional nosistema pós-Guerra Fria, a África vem dando sinais de profundas

transformações e novas tendências, no sentido de sua reafirmação, buscade soluções e construção de sua autonomia. O momentâneo desinteressedos países desenvolvidos pela África, nos anos 1990, conferiu umaoportunidade para o continente reorganizar-se em bases mais autônomas.Essa autonomia está baseada no relativo enfraquecimento da influênciadireta européia na África, em especial a francesa e na rearticulação regionalafricana provocada pela África do Sul e outros países-pólo no continente.19

19 VIZENTINI, Paulo. África: relações Internacionais e construção do Estado-nação. Ciências& Letras , Porto Alegre, n. 33, jun-jul 2003, p. 89-117.

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Assim, no plano das Relações Internacionais, a África do Sul tempatrocinado uma importante inflexão, com significados regionais einternacionais. A nova diplomacia pós-Apartheid buscou construirparcerias regionais, ingressando na Organização da Unidade Africana eno Movimento dos Não Alinhados e estabelecendo parcerias em váriospaíses, destacando-se China, Brasil, Cuba, Líbia, Índia, entre outros. AÁfrica do Sul está articulada com o bloco econômico da África Austral(SADC) e tem promovido intensa cooperação econômica no continente.Também é importante salientar sua recente associação com o Brasil e coma Índia na formação do G-3.

A Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC)

remonta ao bloco político de luta contra os países que viviam sob governosracistas (África do Sul e Rodésia), denominado “Países da Linha de Frente”e o bloco econômico equivalente, Conferência de Coordenação doDesenvolvimento da África Austral (SADC), fundados em 1980. Os blocosnão avançaram devido à guerra persistente e à ausência da maioreconomia da região, a da África do Sul. Com o fim do regime do Apartheid,no início dos anos 1990, a situação mudou completamente, com a adesãoda África do Sul. São membros da SADC atualmente os seguintes países,cada qual com uma função: África do Sul, finanças e investimentos; Angola,energia; Botswana, produção animal e agrária; Lesoto, conservação daágua, do solo e turismo; Malauí, florestas e fauna; Maurício (sem funçãoespecífica); Moçambique, transportes, cultura e comunicações; Namíbia,pesca; Suazilândia, recursos humanos; Zâmbia, minas; Zimbábue,segurança alimentar. A Tanzânia, a República Democrática do Congo e asIlhas Seichelles aderiram posteriormente ao bloco.

A SADC é considerada o maior bloco de toda a região africana,possuindo atualmente um PIB de quase 200 bilhões de dólares e umapopulação total de mais de 200 milhões de pessoas. Em suas exportações,a SADC arrecada uma média de 53,5 bilhões de dólares e gasta em média52,8 bilhões de dólares em importações. África do Sul, Namíbia, Botswana,Lesoto e Swazilândia formam o núcleo central da SADC, pois constituema União Aduaneira da África Austral (SACU), uma zona de livre comércio.

Em 2001, foi lançado o NEPAD (Nova Parceria para o DesenvolvimentoAfricano), um plano de desenvolvimento do continente africano. Este planotem como características o vínculo entre democracia, governabilidade e

desenvolvimento econômico, uma abordagem diferenciada do FMI e doBanco Mundial dos problemas africanos, além de ter sido criado pelospróprios africanos. Propondo uma nova base ideária de inserçãointernacional da África, o Plano retoma certa ofensiva diplomática docontinente no debate sobre seu desenvolvimento.

No campo político, foi ratificada por 53 países do continente, em julho de 2002, a criação da União Africana (UA), que substi tuiu aOrganização da Unidade Africana (OUA). O único país que dela nãoparticipa é o Marrocos, em função da admissão do Saara Ocidental como

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Estado membro. Com objetivos de aumentar a integração e cooperaçãoentre os povos africanos, este novo organismo foi dotado de um Conselhode Paz para tratar dos conflitos na região, ao mesmo tempo em que tentoupropor a criação de um bloco econômico para promover o desenvolvimentodos países da região. No início de 2003, a União Africana tomou posiçãocontrária ao ataque norte-americano ao Iraque, sem a aprovação doConselho de Segurança. Em 2004, entrou em funcionamento o ParlamentoAfricano, com sede na África do Sul.

Dessa forma, vislumbra-se a possibilidade do “renascimento”africano, através do processo de cooperação e da reafirmação no sistemamundial. Embora persistam os conflitos, o neocolonialismo e o

subdesenvolvimento, assistimos a recomposição social e política nocontinente africano, através do processo de cooperação, reafirmação eprocura de soluções negociadas, o que tem aberto muitas possibilidadespara seu desenvolvimento. Os povos do continente africano têm renovadasas suas possibilidades de reconstruir sua autonomia. Talvez os povosafricanos promovam a nova ligação sul-sul, unindo os povos da AméricaLatina, África e Ásia na luta por um mundo melhor, superando a bifurcaçãodos anos 1980 e 1990.

Considerações finais: entre o renascimento e a novadisputa pela África

A nova disputa no continente africano, ocorrida nos últimos anos,retoma e atualiza os antigos interesses imperialistas (minerais, pontosestratégicos, possibilidades de investimentos lucrativos) e modifica opanorama geopolítico africano. Como instrumentos, encontram-se aindaas características centrais do neocolonialismo, como projeção militar,dependência financeira e dívida externa, dependência comercial, diversasformas de “ajuda” (bilateral e multilateral) associadas a determinadoscondicionamentos de “bom comportamento”. Entretanto, Convém ressaltarque há um potencial neocolonialista e não um neocolonialismo automatizadonas relações entre os países africanos e os países imperialistas. Entre osprincipais agentes atuando na África, verifica-se a manutenção dosinteresses europeus (sobretudo franceses e ingleses) em disputa com atoresque estão procurando aumentar sua presença no continente, entre os quaispodemos citar Estados Unidos, China (ocupando vazios deixados poroutras potências, como a Rússia), bem como Índia e Brasil, estes dois últimosnos marcos da cooperação sul-sul.

Os Estados Unidos, após o fracasso da intervenção na Somália(finalizada em março de 1994), havia diminuído seu interesse no continente,mas, no final da década, o interesse foi renovado, como manifestado noencontro com ministros africanos ocorrida em Washington, entre 15 e 18

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de março de 1999. A estratégia americana, segundo Pierre Abramovici,está assentada em dois eixos: manter acesso ilimitado a mercadosimportantes (petróleo, minerais) e garantir segurança nas vias decomunicação e de transporte.20

Nesse contexto, o programa Acri, ( African Crisis Response Initiative)norte americano de meados dos anos 1990, foi transformado em 2002, em Acota (AfricaContengency Operations Training Assistance), um programa de treinamentomilitar estendido a diversos países e padronizado de treinamento ofensivo.Desde então, os Estados Unidos vem aumentando significativamente suapresença na África, com a justificativa da “luta contra o terrorismo”. Nessesentido, nos dias 23 e 24 de março de 2004, os chefes de estado-maior de

oito países africanos (Chade, Mali, Mauritânia, Marrocos, Niger, Senegal eTunísia) participaram, pela primeira vez, de uma discreta reunião na sededo comando europeu do exército norte-americano (US-Eucom), emStuttgart. O Acordo referia-se ao Sahel, entre as zonas petrolíferas do nortedo continente e as do Golfo da Guiné. Significativa é também a participaçãoindireta de Washington, no mês de março de 2004, numa operação militarrealizada por quatro países do Sahel (Mali, Chade, Niger e Argélia) contrao Grupo Salafista para a Pregação e o Combate (GSPC).21 Em 2008, o governonorte-americano anunciou a criação da Africom (África comand), numengajamento militar dos Estados Unidos no continente.

Os europeus, sobretudo França e Inglaterra, procuram manter suasposições neocoloniais na África. Este é o caso da França que detém diversas bases militares e uma forte presença econômica em suas antigas colônias.Nesse contexto, além dos acordos existentes entre países da Europa e África(Cotonou, Francofonia, Commonwealth e CPLP), ocorreu, em 2000, aprimeira cúpula entre os chefes de Estado dos dois continentes. Em 2007,ocorreu a segunda cúpula, cujo objetivo principal era forçar os paísesafricanos a assinar novos tratados comerciais (APE) antes de 31 dedezembro de 2007, em aplicação da Convenção de Cotonou (junho de 2000),que previa o fim dos acordos de Lomé (1975, nos quais diversos produtosafricanos detinham alguns privilégios alfandegários na União Européia).O acordo, que permitiria que os produtos europeus entrassem na Áfricade forma privilegiada, não foi concluído e as negociações terminaram emfracasso, após a recusa dos governos do Senegal, África do Sul e Namíbia.

A China desponta como um dos maiores investidores na África

recente. Para o governo chinês, a África não representa apenas fonte dematérias-primas e fonte de produtos, mas significa também um palcopolítico importante, em que 45 países mantém relações diplomáticas coma China. Essa parceria também rende dividendos políticos para o governochinês, como ocorreu com o caso de Tiananmen, em 1989, no qual váriospaíses africanos manifestaram apoio à China (Egito, Mauritânia, Gana,20 ABRAMOVICI, Pierre. Activisme militaire de Washington en Afrique. Paris: Le MondeDiplomatique. Julliet, 2004. p. 14 –15.21 Ibid.

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Togo, Gabão, Angola, Quênia), afirmando que era um problema interno daChina e evitando seu isolamento. Desde 1990, por sete anos consecutivos,a China conseguiu evitar, na ONU, resoluções anti-chinesas com o apoiodos países africanos (que representam mais de 50 votos). Na década de1990, dez dirigentes chineses de alto escalão realizaram cerca de 30 visitasà África. Entre 1989 e 2000, durante 12 anos, os ministros das relaçõesexteriores visitaram a África no início de cada ano. É também importanterecordar que a China continental e Taiwan disputam apoio diplomático ereconhecimento no continente africano, por isto muitos países aproveitampara aumentar a capacidade de barganha.22 Nesse sentido, em 2000, aChina e os países africanos estabeleceram a Focac (Fórum on China-África

Cooperation). Em 2003, ocorreu um encontro, em Adis Abeba, e, em 2006,outro em Pequim, no qual o Presidente Chinês Hu Jintao reuniu-se comChefes de Estado ou governo de 48 países africanos.23

O continente africano também é palco de interesse renovado dapolítica externa brasileira. Durante o governo Lula, verifica-se a articulaçãoentre o discurso interno de identidade afro-brasileira (com políticaspúblicas) e as relações destacadas com o continente africano, rompendocom a idéia de “parcerias seletivas”, para pensar a África de forma global.Dentro da formulação de uma nova política externa, o governo Luis InácioLula da Silva tem procurado nova aproximação com a África, em especiala África do Sul, que tem interesses semelhantes no sistema internacional,como a defesa da multipolaridade. Busca também estabelecer, no continenteafricano, parcerias no campo comercial e político. Desde que assumiu ogoverno, em 2003, o Presidente Luis Inácio Lula da Silva já realizou oitovisitas ao continente e promoveu intensas parcerias. Uma das parceriasestratégicas mais promissoras é a que está se estabelecendo entre Brasil eÁfrica do Sul, não apenas em relação a temas regionais, mas tambémmundiais, como o G-3 (fórum que integra Brasil, Índia e África do Sul), oConselho de Segurança, as questões da paz e do desenvolvimento. Ambosos países são fortes candidatos a líderes de pólos de poder regional naconformação de um sistema mundial multipolar.

Em síntese, verifica-se um renovado interesse no continente africano,que mantém e atualiza os antigos interesses imperialistas, mas em outrocontexto. O elemento novo é a capacidade de resposta que os governosafricanos tem colocado nessa relação, na busca pela autonomia e na

possibilidade de utilização seletiva dos investimentos externos. A novademocracia africana também tem produzido uma nova elite política, maisousada em termos diplomáticos e de busca de autonomia nos projetos dedesenvolvimento. Com a diminuição e a resolução de muitos conflitos

22 MING, Zhang Hong. A política chinesa na África. In. BELLUCCI, Beluce. Abrindo os Olhospara a China. Rio de Janeiro: EDUCAM, 2004, p. 263-265.23 OLIVEIRA, Amaury Porto. A política africana da China. In: África – II Conferência Nacionalde Política Externa e Política Internacional: o Brasil e o mundo que vem ai. Brasília: Funag,2008, p. 13.

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(comparativamente aos anos 1990), o crescimento econômico e o aumentodos interesses internacionais pelo continente, verifica-se que a Áfricaentrou em uma nova fase que, ainda longe do “otimismo renascentista”apregoado, tem mostrado avanços concretos, rumo à autonomia.Contraditoriamente, porém, os interesses neocolonialistas persistem erearticulam-se em um novo contexto de disputa pelo continente.

Recebido em agosto de 2008. Aprovado em outubro de 2008.

Title: The Dilemmas of Contemporary Africa: the Persistence of Neocolonialism and theChallenges of Autonomy, Security, and Development (1960-2008)

AbstractThis article discusses the formation of contemporary Africa, considering the difficultiesfaced by the continent after independence, such as neocolonialism and domestic politicalinstability. This study also analyzes the role of the continent during the Cold War and itsending, in the 1990s in order to verify the impact political confrontation caused in thecontinent, resulting, first, in marginalization and, later, reassurance . Finally, this articleexamines the interest in Africa, in the last decade, and the possibilities of the continent’sautonomy.

Key words: Contemporary Africa. International relations. Post-colonialism.

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