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1 REVISÃO DO PLANO DE MANEJO DA ICTIOFAUNA (UHE SÃO DOMINGOS) Novembro de 2014

REVISÃO DO PLANO DE MANEJO DA ICTIOFAUNA · Ao longo dos anos diversas medidas de manejo em reservatórios ... 320000 340000 360000 380000 7720000 7700000 7740000 7760000 7780000

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REVISÃODOPLANODEMANEJODA

ICTIOFAUNA

(UHESÃODOMINGOS)

 

Novembro de 2014 

2

Sumário

1.  DO PLANO DE MANEJO ....................................................................................................... 4 

2.  O EMPREENDIMENTO E A REGIÃO ................................................................................. 4 

3.  A UHE SÃO DOMINGOS ....................................................................................................... 5 

4.  IMPACTOS DA CONSTRUÇÃO DE BARRAGENS ........................................................... 7 

5.  MITIGAÇÃO DE IMPACTOS EM RESERVATÓRIOS .................................................... 8 

5.1   MECANISMO DE TRANSPOSIÇÃO .......................................................................................... 8 

5.2   REMOÇÃO PRÉVIA DA VEGETAÇÃO ....................................................................................10 

5.3   ESTOCAGEM ............................................................................................................................11 

5.4  RESGATE DE PEIXES NOS TUBOS DE SUCÇÃO DE UNIDADES GERADORAS ...............13 

5.5  INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES .................................................................................................15 

5.6  CONTROLE DA PESCA ............................................................................................................17 

5.7  TRECHO DE VAZÃO REDUZIDA (TVR) .................................................................................18 

6.  MANEJO PARA A PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS PESQUEIROS NA ÁREA DE INFLUÊNCIA DA UHE SÃO DOMINGOS .....................................................................................21 

6.1 MANUTENÇÃO DAS ROTAS MIGRATÓRIAS .........................................................................21 

6.1.1 Mecanismo de transposição ..........................................................................................................21 

6.1.2 Importância dos tributários (rio São Domingos e ribeirão Araras) .............................................27 

6.2 ÁREAS PRIORITÁRIAS PARA MANUTENÇÃO DA ATIVIDADE REPRODUTIVA .............28 

6.2.1 Preservação de áreas de desova e manutenção de paliteiros .......................................................28 

6.3 ÁREAS PRIORITÁRIAS BASEADAS NA ALIMENTAÇÃO E CRESCIMENTO ..............32 

6.3.1 Manutenção de paliteiros (vegetação arbórea a ser alagada) .....................................................32 

6.4 MANUTENÇÃO DA VARIABILIDADE GENÉTICA DOS ESTOQUES EM RISCO DE EXTINÇÃO ..........................................................................................................................................35 

6.4.1 Estocagem .....................................................................................................................................35 

6.5 INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES NÃO-NATIVAS ......................................................................35 

6.5.1 Ações preventivas ..........................................................................................................................35 

6.6 MANEJO DA PESCA ....................................................................................................................38 

3

6.6.1 Interdição temporal .......................................................................................................................38 

6.6.2 Interdição espacial ........................................................................................................................40 

6.6.3 Interdição de aparelhos ................................................................................................................40 

6.6.4 Controle do tamanho do pescado ..................................................................................................42 

6.6.5 Controle do esforço de pesca ........................................................................................................43 

6.6.6 Monitoramento ambiental .............................................................................................................44 

6.7 RESGATE DA FAUNA NO TRECHO DE VAZÃO REDUZIDA (TVR) ...............................44 

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................................47 

9 - REFERÊNCIAS ..............................................................................................................................50 

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1. DOPLANODEMANEJO

Devido à falta de compreensão da estrutura e funcionamento dos ambientes

aquáticos, gestores do setor hidroelétrico têm encontrado dificuldades no trato de questões

referentes à fauna aquática. Ao longo dos anos diversas medidas de manejo em reservatórios

têm sido implantadas, no entanto, o desconhecimento das possíveis respostas a essas ações

têm conduzido a resultados muitas vezes inesperados, necessitando que as medidas de manejo

sofram ajustes periódicos em função das respostas ambientais (Baumgartner, et al., 2010).

Esta revisão do plano de manejo “Conservação das Espécies Migradoras e de

Interesse Comercial e/ou Ecológico”, elaborado pela Universidade de Toledo/PR, visa

estabelecer metodologias flexíveis e dinâmicas que permitam avaliar o processo de

planejamento de ações para a conservação das espécies migradoras e de interesse comercial

e/ou ecológico, buscando a identificação de áreas de elevada importância para as espécies

alvo.

Este plano é pautado em informações geradas a partir do monitoramento realizado

durante o período de pré e pós-enchimento da UHE São Domingos, e com base no disposto na

literatura.

2. OEMPREENDIMENTOEAREGIÃO

As usinas hidrelétricas são uma importante fonte de energia no mundo atual,

sendo que no Brasil, 1025 empreendimentos hidrelétricos estão em funcionamento, que são

responsáveis por 65,1% de toda energia gerada no país, totalizando 83.647 MW de potência

instalada no país. Deste montante, somente 7% são gerados no estado do Mato Grosso do Sul

(ANEEL, 2012), o que indica que possivelmente este estado seja foco para implantação de

novos empreendimentos hidrelétricos. Aquele órgão relata ainda, a existência de 65

empreendimentos hidrelétricos em construção e mais 140 já outorgados em todo o país, dos

quais diversos serão implantados no Mato Grosso do Sul (Baumgartner, et al., 2010).

A opção pela hidroeletricidade como forma de geração de energia parece

consenso entre os brasileiros, podendo-se antever que diversas bacias hidrográficas serão

ocupadas por esses empreendimentos, dentre elas a do rio Verde, onde foi implantada a UHE

São Domingos, com previsão de pelo menos mais duas usinas (Baumgartner, et al., 2010).

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3. AUHESÃODOMINGOS

A bacia de drenagem do Rio Verde localiza-se na porção nordeste do estado de

Mato Grosso do Sul e abrange áreas dos municípios de Camapuã, Costa Rica, Água Clara,

Ribas do Rio Pardo, Brasilândia e Três Lagoas. Este rio é um dos raros rios da bacia do

Paraná até então livre de represamentos, apesar de apresentar águas predominantemente

rápidas e agitadas, com muitas quedas e corredeiras, que o torna atrativo do ponto de vista

energético (Baumgartner, et al., 2010).

A UHE São Domingos está localizada no Estado de Mato Grosso do Sul com seu

reservatório estendendo-se por áreas dos municípios de Água Clara e Ribas do Rio Pardo

(Figura 1). A barragem fica no rio Verde a cerca de 190 km da foz com o rio Paraná. O acesso

ao local do aproveitamento se dá a partir de Campo Grande, de onde se vai até a cidade de

Água Clara pela rodovia BR-262 por 177 km. Esta cidade dista cerca de 70 km do local do

eixo da barragem, que pode ser atingido através de estrada de terra (Engevix, 2001). Esse

empreendimento possui potência instalada de 48 MW, sendo que a barragem de terra tem

extensão de cerca de 1.900 m, altura máxima de 32 m e média de 12 m, tem sua crista cotada

na elevação 349,00 m, com 10,00 m de largura, sendo constituída de solo compactado, com

exceção do trecho junto às estruturas de concreto (Engevix, 2001).

O reservatório da Usina Hidrelétrica São Domingos tem o seu nível de água

máximo normal na cota 345,00 m, com uma área total de 17,8 km² e um volume de cerca de

131,3 hm³ (Engevix, 2001), alagando parte dos rios Verde, São Domingos e Araras.

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Figura 01 – Área de influência da UHE São Domingos, Mato Grosso do Sul (Fonte:

Baumgartner, et al., 2010).

Água Clara

Ribas do Rio Pardo

Brasilândia

Sant a Rita do Pardo

240000 260000 280000 300000

320000

340000 360000 380000

772

0000

7700

000

774

000

077

6000

077

8000

07

8000

00

R IO VERDE

RI O

POM

BO

RIBEIRÃO BERREIRINHO

RIBEIRÃO FERREIRA

RIBEIRÃO TAMANDUÁ

RIBEI RÃO ARARAS

RIO VE RDE

RIO VERDE

RIO

SÃO

DO

MIN

GO

S

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4. IMPACTOSDACONSTRUÇÃODEBARRAGENS

Com a construção de barragens ocorre a formação dos reservatórios, que se

tornaram componentes indissociáveis da paisagem de bacias hidrográficas dos rios brasileiros

(Agostinho et al., 2007), os quais apresentam elevada importância econômica e ecológica

(Carol et al., 2006). No entanto, a formação de reservatórios altera as características

ambientais, causando efeitos físicos, químicos e biológicos no antigo rio (Agostinho et al.,

2008). Mesmo após muitos anos de sua formação os efeitos antrópicos sobre o regime

hidrológico permanecem, sendo as vazões, principalmente as de jusante, reguladas para

atender às demandas sociais, econômicas, e de desenvolvimento regional e industrial

(Thornton, 1990; Straskraba et al., 1993), negligenciando-se, em muitos casos, os efeitos

negativos gerados pela atividade.

Do ponto de vista biológico, os efeitos negativos da implantação de usinas

hidrelétricas são de difícil compreensão, pois conduzem a respostas ambientais complexas,

com efeitos diferenciados imediatamente após a formação e alguns anos depois de

estabelecido o reservatório. De forma geral, a formação do reservatório provoca redução na

interdependência e na estabilidade biótica (Benedito-Cecílio et al., 1997), afetando os

processos de sucessão natural da biota. Na fauna aquática, tais efeitos podem ser evidenciados

pelas alterações na composição e abundância das espécies, com elevada proliferação de

algumas e redução ou até mesmo eliminação de outras (Agostinho et al., 1999), bem como

por mudanças comportamentais como alterações de hábitos alimentares e reprodutivos.

No entanto, a avaliação dos reais impactos gerados pelo barramento do rio e dos

seus efeitos de curto e longo prazo, são tarefas extremamente difíceis, já que o número de

variáveis químicas, físicas e biológicas atuantes é enorme, e o grau de interdependência destas

variáveis é demasiadamente complexo. Essa condição, associada à falta de informações sobre:

(a) os organismos aquáticos (tais como taxonomia, ecologia alimentar e reprodutiva, dinâmica

populacional e história de vida); (b) as características do ambiente antes e após o

represamento (tais como limnologia, qualidade e quantidade de água); (c) os usuários da bacia

(tais como socioeconomia, percepções e leis); e (d) as atividades pesqueiras (tais como

espécies preferenciais, rendimento e estratégia de pesca); tem impossibilitado o entendimento

do ecossistema reservatório, tornando suas predições precárias (Agostinho et al., 2007).

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No anseio de mitigar e/ou compensar os impactos causados pelo empreendimento,

governo e empreendedores implementam planos de manejo sem conhecerem as reais

condições do ambiente em que estão manejando, conduzindo a resultados insatisfatórios,

quando não ao fracasso. Além disso, algumas medidas de manejo bem intencionadas acabam

por provocar resultados negativos, gerando uma nova forma de impacto ao ambiente

(Baumgartner, et al., 2010).

5. MITIGAÇÃODEIMPACTOSEMRESERVATÓRIOS

No Brasil, a história da mitigação de impactos de represamentos hidrelétricos

sobre a ictiofauna teve seus primeiros passos com a construção da escada de peixes do

reservatório de Itaipava, em 1911, no rio Pardo (Agostinho et al., 2007). A partir desse marco

diversas atividades vêm sendo implantadas, das quais, em alguns casos têm obtido certo

sucesso. No entanto, diversas medidas não têm produzido efeitos satisfatórios do ponto de

vista da recuperação e manutenção dos estoques pesqueiros em reservatórios, e outras

apresentam sucesso desconhecido, em função da insuficiência de informações após a

implantação da medida de manejo. Dentre as medidas de manejo utilizadas para mitigação de

impactos da formação de reservatórios pode-se citar: (a) os mecanismos de transposição para

peixes; (b) a remoção prévia da vegetação; (c) estocagem; (d) resgate de peixes nos tubos de

sucção de unidades geradoras; (e) introdução de espécies; (f) controle da pesca, e (g) manejo

da fauna na alça de vazão reduzida.

5.1 MECANISMODETRANSPOSIÇÃO

No Brasil os mecanismos de transposição para peixes restringem-se a escadas,

excetuando-se os elevadores instalados nas barragens de Porto Primavera e Funil, além é

claro, do “canal da Piracema”, canal para migração de peixes da UHE Itaipu Binacional

(Agostinho et al., 2007). Tais dispositivos inicialmente foram concebidos para que os peixes

pudessem transpor obstáculos nos rios, principalmente os implantados pelo homem

(barragens), fazendo com que os peixes migradores pudessem alcançar os sítios reprodutivos

para desenvolver seu ciclo de vida.

Estes mecanismos, a exemplo de outras tecnologias, foram implantados

motivados por sucessos ocorridos com outras espécies em outros países, destacando-se os

ocorridos com os salmonídeos em rios norte-americanos (Oldoni et al., 2007). No entanto, a

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preocupação hoje crescente no hemisfério Norte, com o retorno dos exemplares para compor

os estoques de jusante, tem sido totalmente negligenciada no hemisfério Sul, sendo que os

estudos existentes para avaliação da eficácia do sistema de transposição levam somente em

conta migrações ascendentes (rio acima) (Baumgartner, et al., 2010).

No contexto da conservação dos estoques de peixes e na preservação de peixes

migradores, os sistemas de transposição para peixes têm apresentado pouca eficiência (Oldoni

et al., 2007), transpondo menores proporções que as observadas em condições naturais. Além

disso, para que o mecanismo apresente eficácia é necessário o entendimento das reais

condições antes da implantação do barramento, e seus efeitos após sua implantação.

Segundo Agostinho et al. (2002) entre os fatores que tem evidenciado grande

ineficácia em sistemas de transposições estão: (i) o desenho do mecanismo e funcionamento -

de extrema importância, pois determina quais e quantos peixes irão transpor o sistema, sendo

que seu grande estrangulador é o mecanismo de atração (geralmente fluxo de água), que

possibilita aos cardumes que estão na calha principal, que busquem o mecanismo de

transposição; (ii) a eficiência na transposição – todo sistema de transposição de peixes é

seletivo, porém, conseguir que sua seletividade seja semelhante à que havia antes da

implantação do barramento (condição natural), é uma tarefa exaustiva de engenharia, no

entanto, estudos para avaliações desse item, tem sido realizados com pouco detalhamento, não

havendo até o momento, uma metodologia padrão que torne possível comparações entre as

diferentes experiências com mecanismos em nosso país; (iii) a continuidade da migração

reprodutiva – indica se os peixes que transpuseram o mecanismos migraram para seus sítios

reprodutivos, sendo importante na avaliação do sucesso reprodutivo da transposição, e sua

avaliação é geralmente conduzida a partir de estudos de marcação e recaptura; (iv) migração

descendente e passagem pela barragem - tem sido considerada como uma das principais

dificuldades no contexto da preservação dos recursos pesqueiros, já que em rios naturais, os

peixes buscam seus sítios reprodutivos, desovam normalmente em águas com correntezas e

túrbidas, que distribuem os ovos e larvas às diversas regiões do rio, inclusive as de jusante, no

entanto, na atualidade não são realizados estudos que possam mensurar quanto do esforço

realizado para transpor os peixes se transformou em recurso pesqueiro no reservatório e

quanto irá compor os estoques de jusante (Baumgartner, et al., 2010).

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5.2 REMOÇÃOPRÉVIADAVEGETAÇÃO

Até os dias de hoje, gestores ambientais e do setor elétrico tem implantado a

prática de remoção da vegetação na região do futuro reservatório antes do enchimento. Tal

prática tem sido implantada com vistas à redução da matéria orgânica em decomposição, a

qual eleva a demanda bioquímica de oxigênio (DBO), que em alguns casos provoca anoxia

em reservatórios, impedindo a vida de organismos aeróbios. No entanto, esta prática tem sido

objeto de grandes debates e muita controvérsia quanto a sua implementação, já que na maioria

das vezes, a remoção ocorre principalmente de troncos (de decomposição lenta e com baixa

DBO), restando folhas e serrapilheira de rápida decomposição, e que causam o

deplecionamento do oxigênio dissolvido (OD), muitas vezes a níveis críticos.

A manutenção da vegetação dentro do reservatório traz diversas vantagens, sendo

ela considerada um fator favorável do ponto de vista biótico, enquanto que o problema da

elevada DBO, conduzindo a concentrações críticas de OD, pode ser facilmente resolvido com

enchimento mais lento do reservatório, permitindo a decomposição parcial da matéria

orgânica, com maior renovação da água (Baumgartner, et al., 2010).

Segundo Agostinho et al. (2007) a manutenção da vegetação terrestre submersa

tem sido vista como um fator favorável por: (i) fornecer substrato para perifíton e bentos -

comunidades perifíticas e bentônicas fazem parte da cadeia alimentar e são importantes

recursos para diversas espécies de peixes, a manutenção da vegetação prévia (paliteiros)

aumenta consideravelmente a área de substrato para a produção, principalmente do perifíton,

ampliando assim, o espaço de nicho que dará suporte aos níveis superiores da cadeia

alimentar, o que incrementa a capacidade biogênica do reservatório; (ii) prevenir a

sobrepesca – a manutenção da vegetação, dificulta a utilização de equipamentos de pesca, em

especial aqueles utilizados por arrasto e com isso, reduz o risco de sobrepesca; (iii)

disponibilizar locais de reprodução e refúgio – diversas espécies de peixes utilizam a

vegetação submersa como substrato para desova e proteção de seus ovos e larvas contra a

predação, além disso, a vegetação protege ainda de efeitos físicos como ondas, erosão e

cargas de sedimentos, tornando a região próxima a vegetação, perfeita para o

desenvolvimento das fases iniciais; (iv) aumentar a produtividade em áreas litorâneas – as

áreas litorâneas onde ocorre a transição para a região inundada, necessitam a manutenção de

vegetação viva, que mantém o processo de fornecimento de matéria orgânica e nutrientes para

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o reservatório, além de aumentar a diversidade estrutural; (v) reduzir os elevados custos com

a remoção – a retirada da vegetação marginal demanda elevada quantidade de recursos,

pessoal e tempo, dificultando em alguns casos o processo de fechamento do reservatório, além

disso, a comercialização do recurso florestal abre uma lacuna para os aproveitadores

conseguirem licença para transporte de madeira e com isso retirarem de outras áreas os

recursos florestais protegidos por lei.

5.3 ESTOCAGEM

Esta prática consiste na liberação de peixes provenientes de outros sistemas, em

geral de pisciculturas próximas ao corpo de água a ser manejado, comumente denominada de

repovoamento ou peixamento, é considerada a prática de manejo mais aplicada no mundo

(Welcomme, 1988).

Objetivando recompor os estoques, essa prática de manejo somente é

recomendada para atender objetivos específicos, com prévio delineamento de metas e aferição

dos objetivos alcançados. As estocagens podem ser uma alternativa para manutenção do

estoque nativo, quando estes apresentarem problemas relacionados à sobrepesca ou à

insuficiência de áreas de desova e criadouros naturais. Elas jamais devem ocorrer a partir de

espécies não nativas, pois estas correm o risco de não conseguir se estabelecer no

reservatório, e mesmo quando do seu estabelecimento, podem ocupar o nicho de uma espécie

nativa, causando desequilíbrio nas relações intra e interespecíficas estabelecidas ao longo de

milhares de anos.

Além disso, no Brasil é proibida a importação e exportação de quaisquer espécies

aquáticas, bem como a introdução de espécies exóticas sem autorização do órgão ambiental

competente (Lei Federal 9605/98 - Decreto Federal 3.179/99), o que torna a prática de

estocagem crime quando não autorizada pelo órgão ambiental.

Historicamente no Brasil e em outros países, como Cuba, a prática da estocagem

tem sido marcada por fracassos (Quirós e Mari, 1999; Agostinho et al., 2008), onde os

principais motivos do insucesso são: o desconhecimento da fauna e do ambiente manejado, a

ausência de critério na seleção da espécie-alvo e do tamanho dos exemplares para realizar a

estocagem, e principalmente, a falta de avaliações dos resultados gerados por esta prática de

manejo.

12

De forma geral, em nosso país, as necessidades de estudos prévios foram sempre

contestadas, com a alegação de que tais levantamentos seriam financeiramente onerosos e que

demandariam muito tempo para sua realização, o que impediria a implantação dos

reservatórios. Em reservatórios já implantados, a alegação passou a ser de que o aumento no

rendimento da pesca não compensaria os valores empenhados nos estudos. No entanto, frente

a anseios populares, milhares de reais têm sido demandados para ações de manejo, muitas

vezes infrutíferas (Baumgartner, et al., 2010).

Para implementação da prática de estocagem em reservatórios, seriam necessários

estudos que identificassem qual espécie (alvo) naquele reservatório, necessitaria de

adensamento, conhecer a bioecologia da espécie-alvo, desenvolver técnicas de reprodução e

alevinagem para esta espécie, e monitorar os reais efeitos das solturas sobre a estrutura da

assembleia de peixes. Cada reservatório tem sua própria evolução e estudos gerados em um

ambiente, não necessariamente trarão bons resultados em outro (Baumgartner, et al., 2010).

Segundo Agostinho et al. (2007) na maioria das vezes quando foi sugerida a

prática de estocagem em reservatórios brasileiros, as metas e os objetivos foram vagos,

dificultando posteriormente sua aferição. Para esses autores, o uso de termos como “melhorar

os estoques”, “aumentar o rendimento pesqueiro”, “melhorar a pesca”, “contribuir para a

conservação da biodiversidade”, embora sejam eficientes formas de comunicação pessoal, são

tecnicamente inadequados, pois não indicam a real necessidade dessa prática de manejo.

Portanto, os repovoamentos devem atender as necessidades do ambiente a ser manejado,

sendo que o adensamento do estoque no reservatório, só deverá ser indicado para a

manutenção da variabilidade genética, de alguma espécie que apresente sobrepesca ou

problemas relacionados ao recrutamento de seus indivíduos. Um caso importante a ser

considerado é quando há presença de espécies ameaçadas de extinção, as quais talvez tenham

na estocagem a única prática capaz de recuperar seus estoques.

Em caso de reservatórios onde a pressão por pesca é pequena ou ainda, onde a

pesca não é liberada, programas de estocagens somente são justificados para a manutenção da

variabilidade genética, pois a abundância das espécies de peixes é determinada pela própria

capacidade de suporte do ambiente e pela utilização dos nichos por cada espécie. Nesses

casos, a soltura deliberada de exemplares, ao invés de promover a manutenção dos estoques

pesqueiros, estaria promovendo um impacto ambiental (Baumgartner, et al., 2010).

13

5.4 RESGATEDEPEIXESNOSTUBOSDESUCÇÃODEUNIDADESGERADORAS

Embora em barragem ocorra diversos tipos de injúrias e mortes em peixes, até o

momento, a única ação de manejo implementada para evitá-las é o resgate de peixes nos tubos

de unidades geradoras (Figuras 2, 3 e 4).

Essa prática consiste no bombeamento de oxigênio e retirada de peixes que são

aprisionados no interior do tubo de sucção de unidades geradoras, durante as paradas das

máquinas. As paradas das máquinas em operação são realizadas com o objetivo de

manutenções periódicas ou para correções de emergências de máquinas que apresentem

algum problema de ordem eletromecânica, podendo ainda ocorrer paradas em função da

redução da demanda energética ou de água, determinadas pelo Operador Nacional do Sistema

(ONS).

Durante as duas primeiras situações, as comportas de montante e jusante são

fechadas e os peixes são atraídos pelas diferenças de correntes, ficando aprisionados nos

canais de sucção e de fuga, os resgates são realizados manualmente, com a descida de

técnicos e retirada dos exemplares devolvendo-os aos seus habitats. Na terceira situação de

parada das máquinas as comportas de montante e jusante permanecem abertas, pois a

qualquer momento o ONS pode solicitar a entrada instantânea em operação. Nesses casos, as

elevadas alterações de pressão e fluxos podem conduzir a mortalidades massivas de peixes

(Baumgartner, et al., 2010).

Figura 2 - Peixes aprisionados no tubo de sucção de uma unidade geradora. Fonte: JIE. ITAIPUBINACIONAL (2011).

14

Figura 3 – Esquema de localização do tubo de sucção. Fonte: JIE. TAIPU BINACIONAL (2011)

Figura 4 – Vista interna do tubo de sucção de uma unidade geradora. Fonte: JIE.ITAIPU BINACIONAL (2011).

No entanto, há outras modalidades de injúrias e mortes, como é o caso da

alteração das vazões, que provocam os mesmos efeitos das paradas, só que em escalas

menores. Estes procedimentos podem ocorrer durante a operação, onde os mesmos são

determinados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), ou ainda, para testes de

performance das turbinas, realizados antes da máquina entrar em operação, sendo eles

determinados pela empresa geradora. Tais testes são importantes para garantir o

funcionamento do equipamento e evitar paradas, no entanto, são negligenciados os impactos

causados por essa atividade (Baumgartner, et al., 2010).

15

Alternativas para evitar paradas de máquinas por alteração das demandas

energéticas têm sido implementadas, a exemplo de compensador-síncronos, no entanto, os

reais efeitos devido às alterações bruscas de pressão dessa nova prática sobre a ictiofauna são

desconhecidos e negligenciados por órgãos ambientais e gestores do sistema elétrico

(Baumgartner, et al., 2010).

Outra forma de injúrias ou causa de morte em peixes é a passagem dos peixes

adultos, ou de suas fases iniciais (ovos, larvas e juvenis), pelos vertedouros ou turbinas. Nessa

modalidade o grau de injúria depende dos aspectos construtivos da barragem, e da diferença

de nível entre o reservatório e jusante. Acredita-se que na maioria dos casos, devido às

pequenas diferenças de cotas entre montante e jusante, não ocorram grandes danos aos

exemplares, no entanto, são ainda desconhecidos os graus de lesões internas ou externas que

podem ocorrer. O peixe após lesionado, mesmo não morrendo naquele momento, passará a ter

dificuldade em sua alimentação e natação, se tornando presa fácil para outros animais

(Baumgartner, et al., 2010).

A falta de estudos relacionados aos efeitos da operação das usinas sobre a

ictiofauna dificulta as ações de mitigação desses impactos, bem como o desenvolvimento de

tecnologias que possam auxiliar no manejo e na proteção da ictiofauna. No entanto, a

determinação das causas das injúrias ou mortes de peixes em barragens é uma tarefa árdua e

complexa, tendo em vista que o número de fatores envolvidos é enorme e a observação dos

exemplares e análise das condições em que ocorrem os impactos é dificílima. Nesses casos,

gestores do sistema gerador, universidades e órgãos ambientais devem associar-se na busca do

entendimento dos reais efeitos causados sobre a fauna aquática e no desenvolvimento de

tecnologias que possibilitem a preservação dos recursos pesqueiros dos reservatórios

(Baumgartner, et al., 2010).

5.5 INTRODUÇÃODEESPÉCIES

A prática da introdução de espécies apresenta data desconhecida, sendo que as

introduções em reservatórios brasileiros já ocorrem há aproximadamente um século.

Inicialmente a introdução de espécie foi considerada prática conservacionista,

onde algumas espécies foram introduzidas para a manutenção ou o aumento da pesca, no

16

entanto, os efeitos dessas introduções têm produzido resultados desastrosos do ponto de vista

ecológico.

A introdução de espécies pode impor à fauna nativa a competição por recursos,

tanto alimentar como reprodutivos, oferecendo assim, pressão para redução das espécies

nativas conduzindo-as muitas vezes à extinção. Outro fator é a introdução de patógenos, pois

as espécies que habitam outros ambientes evoluíram para a coexistência com outros

organismos, criando imunidade a algumas espécies de fungos, vírus e bactérias, entre outros.

Esses organismos, quando em contato com a fauna nativa de história evolutiva diferente,

contraem doenças debilitando os animais e conduzindo-os à morte, mesmo que esta seja por

facilitação na predação.

Quando a espécie introduzida trata-se de um piscívoro como os tucunarés

(Cichla), a corvina (P. squamosissimus), o blackbass (M. salmoides), entre outros, a pressão

sobre a fauna nativa ocorre por predação e territorialismo. A facilidade no estabelecimento

dessas espécies em reservatórios brasileiros tornou-se preocupante, já que algumas delas são

capazes de dizimar populações inteiras de espécies nativas (Baumgartner, et al., 2010). 

As introduções podem ocorrer de forma premeditada ou acidental, em ambos os

casos os efeitos são desastrosos. A introdução premeditada tem sido constrangida por leis e

decretos que visam à conservação da biodiversidade e que ganharam força a partir da

convenção da diversidade biológica, assinada em 05 de junho de 1992 e incorporada à

legislação brasileira pelo decreto federal no 2.519, de 16 de março de 1998, que versa sobre os

impedimentos da introdução de espécies exóticas. No entanto, a confusão de termos utilizados

para denominar espécies introduzidas tem aberto lacunas para aproveitadores utilizarem o

termo da forma que entendiam ser a mais conveniente (Agostinho et al., 2007).

Outra forma, ainda premeditada, ocorre com aquariofilistas, que após adquirirem

exemplares de espécies com coloridos iridescentes, mas de bacias hidrográficas muitas vezes

muito distantes, resolvem se desfazer de seus peixes. Na maioria das vezes, para não sacrificar

o pobre animal optam por liberá-lo no riacho mais próximo, e o pobre peixe passa a ser uma

espécie introduzida afetando uma gama de fatores relacionados às espécies nativas, ou seja,

essas pessoas para não sentir a culpa pelo sacrifício de um exemplar acabam por comprometer

a qualidade do ecossistema como um todo. A soltura de peixes, que para leigos é vista como

17

uma atitude de compaixão pode oferecer um impacto enorme ao ecossistema, e em alguns

casos ser considerada crime (Baumgartner, et al., 2010).

Além da forma premeditada, podemos destacar a forma acidental de introdução de

espécies, que é nos dias de hoje, considerada a principal via de introduções de espécies não-

nativas em ambientes naturais (Agostinho et al., 2007). Na maioria das vezes, quando não se

sabe ao certo a origem das introduções, elas são atribuídas aos escapes (introdução acidental).

Os principais escapes ocorrem a partir de tanques de piscicultura ou de tanques-rede, os quais

têm nas espécies não-nativas a base de sua atividade. Importadas junto com tecnologias de

outros países, as espécies exóticas passaram a figurar na atividade aquícola do país, sendo

muitas delas consideradas inviáveis para o desenvolvimento da piscicultura em algumas

regiões do país. Aos poucos, com o desenvolvimento de tecnologias dentro da própria bacia

hidrográfica, o cultivo de espécies nativas vem ganhando força, tornando-se a principal

promessa para aquicultura brasileira (Baumgartner, et al., 2010).

Para Mack et al. (2000) a introdução de espécies não-nativas, é considerada uma

das mais determinantes formas de perda de biodiversidade em recursos naturais. Pois além

das espécies não-nativas oferecerem grande impacto sobre as nativas, sua erradicação é

praticamente impossível.

5.6 CONTROLEDAPESCA

Esta prática de manejo vem sendo implementada em nosso país há décadas,

entretanto, seu sucesso tem sido parcial. Com vistas na recuperação dos estoques, a pesca tem

sido controlada normalmente por força de lei, no entanto, na maioria das vezes não é aferido

se após a implantação desta ação de manejo os estoques realmente foram recuperados.

Na maioria das vezes a insuficiência de informação a respeito dos estoques e da

pesca, não permite que sejam realmente detectados quais os reais fatores que influenciam os

resultados do controle da pesca. O controle da pesca, apesar de muitas vezes não se ter clareza

dos porquês das interdições, apresenta efeito moral importante e deve ser sempre considerado

em qualquer ação de manejo. Quando aplicado com objetivos claros, aferidos pelo

monitoramento e com a participação dos pescadores e da sociedade civil, pode garantir a

manutenção de determinados estoques, gerando resultados satisfatórios para o ambiente e as

comunidades locais (Baumgartner, et al., 2010).

18

O controle da pesca pode ser implementado de diversas formas. Para Agostinho et

al. (2007), o controle da pesca inclui interdição temporal da pesca (defeso), interdição

espacial, interdição de aparelhos de pesca, controle do tamanho do pescado e controle do

esforço de pesca, conforme indicados na tabela 1.

Essas aplicações devem ser sempre focadas para espécies nativas e com valor

comercial, sendo especial atenção necessária às migradoras, que em função de sucessivos

barramentos têm seus estoques reduzidos. Por outro lado, esforços e recursos não devem ser

desperdiçados em proteção às espécies não-nativas, a exemplo da corvina, dos tucunarés e da

tilápia, que podem e devem ter seus estoques capturados por pescadores mesmo durante os

períodos de defeso.

5.7 TRECHODEVAZÃOREDUZIDA(TVR)

Diversos empreendimentos hidroelétricos têm suas unidades geradoras juntamente

à barragem, liberando as águas turbinadas e vertidas em locais muito próximos, não formando

uma área de vazão reduzida. No entanto, há casos como o da UHE São Domingos em que o

local de geração fica abaixo (no sentido do rio) do local onde o rio foi interrompido. Nesse

layout construtivo, na maioria dos casos para gerar mais energia, constrói-se um canal ou

conduto de adução que devido aos desníveis construtivos proporciona um maior

aproveitamento hidroelétrico. Esse processo desvia o fluxo em uma parte do rio reduzindo ou

até mesmo eliminando a água que por ali passava (Baumgartner, et al., 2010).

No passado, diversos empreendimentos não mantinham vazão nesta parte do rio

impossibilitando diversos organismos de viverem lá. Em muitos casos, em períodos de

elevada fluviosidade, o TVR tem sido utilizado para receber as águas de vertimento (não

utilizadas para geração), o que proporciona momentos com elevada disponibilidade de água e

condições ótimas para a existência dos organismos e outros com ausência de fluxo e

impossibilidade de vida aquática (Baumgartner, et al., 2010).

Com o intuito de reduzir esses efeitos sobre tais trechos, tem sido sugerida a

manutenção de uma vazão ecológica, a qual busca manter a qualidade das águas e a

possibilidade de existência de peixes e outros organismos. Além do fator ecológico, outro não

de menor importância é o cênico, pois em muitos casos a vazão ecológica permitirá a

manutenção de quedas e cachoeiras (Baumgartner, et al., 2010).

19

Tabela 1 – Modalidades de controle da pesca, associadas à proteção dos estoques. Modificado de Agostinho et al. (2007).

Tipo Características Situação apropriada Considerações

Interdição

temporal

Proibição da atividade durante os

períodos críticos (época de desova,

sobrepesca, migração entre outros).

Deve ser implantada quando verificada

depleção dos estoques por recrutamento

ou crescimento.

Somente deve ser implantada quando o monitoramento

indicar depleção dos estoques por recrutamento ou

crescimento, sempre com base em informações acerca do

ciclo reprodutivo (período de desova).

Interdição

espacial

Proibição da pesca em locais onde os

estoques são vulneráveis.

Devem ser implantadas à jusante de

barragens, cachoeiras, próximo a

mecanismos de transposição ou a áreas

de desova.

Requer conhecimento dos locais e espécies vulneráveis e de

seus ciclos reprodutivos.

Interdição de

aparelhos de

pesca

Proibição do uso de determinados

aparelhos ou técnicas de pesca

Recomendado somente quando o estoque está deplecionado.

Requer monitoramento da pesca e dos estoques, bem como

conhecimento da seletividade dos aparelhos de pesca.

Controle do

tamanho do

pescado

Proibição da captura de determinados

tamanhos de peixes

Recomendado quando os estoques estão

em sobrepesca ou recrutamento baixo.

Requer conhecimento da situação dos estoques, do ciclo de

vida das espécies, e dos efeitos da pesca sobre os estoques.

Controle do

esforço de

pesca

Restrição ao número de pescadores

ou aos aparelhos de pesca

Recomendado em caso de depleção da

pesca.

Requer monitoramento dos estoques e das atividades

pesqueiras.

20

Em outros empreendimentos, a manutenção de uma vazão ecológica tem sido

motivada pelos fatores: (a) preservação da mobilidade da ictiofauna e piracema; (b)

navegação, abastecimento de água e irrigação; (c) o lazer (pesca, balneabilidade, esportes

náuticos); (d) sustentação de outros empreendimentos hidroelétricos menores; (e)

manutenção de conexões rio-planície de inundação; (f) atratividade para mecanismos de

transposição; e (g) manutenção de espécies raras ou endêmicas.

De forma geral, a vazão ecológica e seu manejo têm sido determinados por

métodos matemáticos, sendo desconsideradas informações sobre a biota local. Devido à

complexidade na obtenção de informações que possam proporcionar predições precisas sobre

a fauna aquática este fator normalmente tem sido excluído nas modelagens para o manejo do

trecho de vazões reduzidas (Baumgartner, et al., 2010).

Para Baumgartner (2010), os mecanismos reguladores da assembleia são

fortemente afetados pela forma de operação do sistema barragem-reservatório, induzindo a

comportamentos diferentes da ictiofauna em função da estratégia de operação, destacando-se

ainda, a necessidade de incorporar a fauna aquática em qualquer estratégia de manejo.

A consideração de características da fauna aquática poderá determinar as vazões

utilizadas no TVR e poderão prevenir os possíveis impactos daquele setor.

Para de Paulo (2007), os principais impactos esperados em um TVR são: (a)

perdas de habitat lóticos; (b) perdas de recursos alimentares típicos de ambientes lóticos

(fauna bentônica); (c) atração de peixes no período de vertimento; (d) aprisionamento de

peixes após interrompido o vertimento; (e) possibilidade de concentração de pescadores pela

facilidade de captura nesse locais; (f) alterações de cenários com perdas de belezas cênicas

como cachoeiras; (g) perdas de qualidade das águas, quando da sua estagnação; e (h)

possibilidade de rebaixamento do lençol freático.

Para empreendimentos com TVRs de grandes dimensões aquele autor ainda

destaca que poderia ocorrer impactos como: (a) possibilidade de intercomunicação de

propriedades, pastos e pastagens; (b) extinção de bebedouros e acessos de animais a água; (c)

alterações de atividades de pesca e recreação; (d) alterações em outras atividades como

irrigação, abastecimento e extração de minérios na região do TVR; e (e) possibilidade de

21

ocorrência de acidentes com pessoas e animais surpreendidos pelo vertimento (Baumgartner,

et al., 2010).

Para ANA (2004) os recursos hídricos são bens de domínio público e escasso,

cuja gestão deve ser conduzida de forma integrada, participativa e articulada entre os gestores

e usuários, para que sejam asseguradas condições quantitativas e qualitativas adequadas de

fornecimento de água para as atuais e futuras gerações.

Deste modo, para o completo atendimento de todas as prerrogativas do uso da

água, o plano de manejo da vazão ecológica deve ser realizado pautado em um diagnóstico da

situação antes da implantação do empreendimento, com vistas para o balanço entre

disponibilidades e demandas futuras de vazões, as quais gerarão prognóstico das quantidades

e da qualidade do ambiente aquático a ser manejado. Tal prognóstico, associado às

informações bióticas é o primeiro passo no sentido do sucesso do manejo ao novo ecossistema

(Baumgartner, et al., 2010). 

6. MANEJO PARA A PRESERVAÇÃODOS RECURSOS PESQUEIROSNA ÁREADE

INFLUÊNCIADAUHESÃODOMINGOS

6.1MANUTENÇÃODASROTASMIGRATÓRIAS

6.1.1Mecanismodetransposição

Com a construção da barragem da UHE São Domingos, o rio Verde sofreu

diversos impactos sobre a ictiofauna decorrentes da construção do empreendimento, entre eles

o impedimento das rotas migratórias de algumas espécies.

Durante os dois anos de pré-enchimento (novembro de 2010 a agosto de 2012) e

dois de pós-enchimento (novembro de 2012 a julho de 2014) de monitoramento realizado na

área de influência da UHE São Domingos, ficou evidente que a cachoeira Branca funcionava

como barreira física (obstáculo) para a movimentação ascendente de algumas espécies de

peixes, como os Siluriformes (peixes de couro), que apresentaram espécies somente

capturadas a jusante da cachoeira Branca.

Para esta ordem (Siluriformes), foram capturados 162 indivíduos de espécies

migradoras no pré-enchimento e 26 no pós-enchimento. Dos 162 indivíduos capturados no

22

período de pré-enchimento, 145 indivíduos (H. platyrhynchos n=62, P. corruscans n=52, P.

granulosus n=14, P. maculatus n=6, P. ornatus n=6 e S. lima n=5) foram coletados a jusante

da cachoeira Branca. Durante o período de pós-enchimento, 26 indivíduos de espécies

migradoras de couro foram coletados na área em estudo, e apenas nove foram capturados a

montante do barramento (área do reservatório) (P. ornatus = 1 expl. no ponto 2, P. maculatus

= 1 expl. no ponto 1, P. heraldoi = 5 expls. no ponto 2, P. corruscans = 2 expls. no ponto 14).

Esses resultados demonstram a seletividade na ascendência das espécies migradoras que a

Cachoeira Branca exerce principalmente sobre as espécies da ordem Siluriformes (Figura 5 e

6).

Assim como no plano de manejo preliminar, onde a ordem dos Characiformes

predominou na fase de pré-enchimento com as espécies L. friderici (n= 821 na jusante da

cachoeira Branca, n=569 na montante da cachoeira Branca e n=796 nos tributários), L.

elongatus (n=318 na jusante da cachoeira Branca, n=210 na montante da cachoeira Branca e

n=79 nos tributários) e S. brasiliensis (n=88 na jusante da cachoeira Branca, n=115 na

montante da cachoeira branca e n=120 nos tributários), também, ocorreu no período de pós-

enchimento com as espécies L. elongatus (n= 61 na jusante da Cachoeira Branca, n=64 no

reservatório e n= 113 nos tributários), L. friderici (n= 8 na jusante da Cachoeira Branca, n=19

no reservatório e n= 28 nos tributários), L. obtusidens (n= 21 na jusante da Cachoeira Branca,

n=17 no reservatório e n= 9 nos tributários), S. brasiliensis (n= 0 na jusante da Cachoeira

Branca, n=4 no reservatório e n=10 nos tributários) e S. hilarii (n= 0 na jusante da Cachoeira

Branca, n=1 no reservatório e n=8 nos tributários) nas 3 microrregiões estudadas.

Nota-se que as espécies migradoras da ordem Characiformes distribuem-se nas 3

microrregiões, evidenciando principalmente que as espécies desta ordem transpõem a

cachoeira, possivelmente em época de cheia, utilizando a montante da cachoeira e tributários

como rotas migratórias para a reprodução. Vale destacar a grande captura da espécie L.

friderici, que mesmo sendo uma espécie não migradora ou migradora de curta distância, com

fecundação externa e sem cuidado parental (Suzuki et. al, 2002), é uma espécie muito

explorada na pesca amadora, profissional e de subsistência, devido a qualidade da sua carne.

No momento, para a manutenção das rotas migratórias na UHE São Domingos, as

espécies migradoras de longa distância de Characiformes estão sendo capturadas a jusante da

Cachoeira Branca e soltas no reservatório.

23

Figura 5 - Número total de indivíduos das 15 espécies migradoras e de interesse comercial para as 3 (três) microrregiões (JCB = jusante da cachoeira Branca; MCB = montante da cachoeira Branca e Tributários = Tributários São Domingos e Araras) na área de influência da UHE São Domingos, durante o período de

pré-enchimento (novembro de 2010 a agosto de 2012). Barras azuis – Characiformes, barras cinzas – Siluriformes.

0 200 400 600 800 1000

P. lineatusR. vulpinus

S. brasiliensisS. hilarii

S. marginatusB. orbignyanus

L. cf. obtusidensL. elongatus

L. fridericiH. platyrhynchos

P. corruscansP. granulosusP. maculatus

P. ornatusS. lima

0 200 400 600 800 1000

P. lineatusR. vulpinus

S. brasiliensisS. hilarii

S. marginatusB. orbignyanus

L. cf. obtusidensL. elongatus

L. fridericiH. platyrhynchos

P. corruscansP. granulosusP. maculatus

P. ornatusS. lima

MCB

0 200 400 600 800 1000

P. lineatusR. vulpinus

S. brasiliensisS. hilarii

S. marginatusB. orbignyanus

L. cf. obtusidensL. elongatus

L. fridericiH. platyrhynchos

P. corruscansP. granulosusP. maculatus

P. ornatusS. lima

Nº de indivíduos

JCB

TRI

24

Figura 6 - Número total de indivíduos das 15 espécies migradoras e de interesse comercial para as 3 (três) microrregiões (JCB = jusante da cachoeira Branca; RES = Reservatório e TRI = Tributários São

Domingos e Araras) na área de influência da UHE São Domingos, durante o período pós-enchimento (novembro de 2012 a julho de 2014). Barras azuis – Characiformes, barras cinzas – Siluriformes.

Conforme os gráficos contidos nas Figuras 5 e 6, onde estão representados o

número de indivíduos migradores e interesse comercial capturados durante o período de pré e

pós-enchimento nas três microrregiões, o número de indivíduos de 15 espécies em estudo

diminuiu entre 2012 e 2014. A diminuição ocorreu principalmente entre os Characiformes,

como observado em L. friderici (pré: n= 821 a JCB, n=569 a MCB e n=796 nos TRI; Pós: n=

13 a JCB, n=19 no RES e n= 28 nos TRI), L. elongatus (pré: n= 318 a JCB, n=210 a MCB e

n=79 nos TRI; Pós: n= 76 a JCB, n=69 no RES e n= 113 nos TRI), S. brasiliensis (pré: n= 88

a JCB, n=115 a MCB e n=120 nos TRI; Pós: n= 0 a JCB, n=4 no RES e n= 10 nos TRI).

Conforme já mencionado, somente os representantes de Characiformes,

principalmente os migradores de longa distância, ultrapassam a cachoeira Branca, pois, não

conseguem transpor o barramento justificando a diminuição no número de exemplares desta

Ordem no reservatório e tributários. Porém, abaixo da cachoeira Branca o número de

exemplares capturados não corresponde à metodologia utilizada, considerando que o esforço

amostral foi o mesmo em ambos os períodos (pré e pós-enchimento) como especificado na

metodologia apresentada pela equipe de Toledo (2012) e na especificação técnica (2012). Esta

conclusão é confirmada pelo número de exemplares capturados durante a transposição de

algumas espécies alvos durante o período de 2012 e 2014 (Fonte: Relatório conclusivo da

Transposição de peixes da UHE São Domingos – MS 2012/2013 e 2013/2014) abaixo da

25

Cachoeira Branca, como exemplo: L. obtusidens = 8034 expls., P. lineatus = 1887 expls., L.

elongatus = 753 expls. , B. orbgnyanus = 72 expls e S. brasiliensis = 530 expls.

A partir dos dados apresentados é concluído que o barramento da UHE São

Domingos tem grande influência no número de exemplares das espécies consideradas

migradoras de longa distância à montante do barramento.

Analisando os dados de pré-enchimento percebemos que o elevado número de

exemplares nesses pontos é corroborado pela captura de grande número de indivíduos de

peixes de pequeno porte com o uso do picaré (rede litorânea), como exemplo:

Bryconamericus stramineus (3.578 expls.), Bryconamericus sp. 1 (1.660 expls.), Knodus

moenkhausii (414 expls.) e Piabina argentea (1.030 expls.). Dessa forma, conclui-se que o

esforço amostral justifica o número de indivíduos abaixo da cachoeira Branca, isto é, o uso

excessivo de lances de tarrafas e do uso de anzol com molinetes para a captura de grande

migradores justifica os valores durante o programa de transposição (L. obtusidens = 8034

expls., P. lineatus = 1887 expls., L. elongatus = 753 expls. B. orbgnyanus = 72 expls e S.

brasiliensis = 96 expls.). Por outro lado, o baixo uso do picaré abaixo da cachoeira Branca

justifica a baixa captura de indivíduos de espécies de peixes de pequeno porte (lambaris no

geral). Das 124 espécies de peixes registradas durante o pré-enchimento 23 espécies são

capturadas apenas com o uso do picaré (rede litorânea) ou puçá.

Com a facilidade de captura de peixes migradores abaixo da Cachoeira Branca é

sugerido uma fiscalização rígida nesta área, principalmente, durante os meses de piracema

que se estende de novembro a março (Baumgartner, et. al., 2010).

Em muitas circunstâncias, com a formação do reservatório, a própria fisiografia

do rio estabelece barreiras a algumas espécies, como é o caso da cachoeira Branca. Deste

modo, a implantação de um tipo qualquer de mecanismo de transposição sem seletividade

promoveria a subida de espécies de peixes em proporções diferentes daquela ocorrida

naturalmente antes do barramento.

A transposição aleatória e desordenada de peixes para o novo ambiente

(reservatório) pode promover o deplecionamento dos estoques de jusante e desequilíbrio nas

relações inter e intra-específicas de montante, tornando-se o sistema de transposição uma

ferramenta ineficiente para as finalidades pretendidas (Baumgartner, et al., 2010).

26

Com isso, entendemos que o mecanismo a ser implantado nesse e em outros

empreendimentos nesta bacia hidrográfica deve promover a seletividade das espécies, bem

como das quantidades de peixes que serão transpostos. Essas informações deverão ser

definidas em função das proporções da ictiofauna observadas antes e após o barramento do rio

em regiões de montante e jusante. As espécies e proporções de peixes a serem transpostas

poderão apresentar alterações de ano a ano, pois será função dos resultados observados pelo

monitoramento da ictiofauna após a formação do reservatório, em comparação com o período

pré-represamento, indicar quais espécies estarão com os estoques deplecionados e em que

proporção estes deverão ser transferidos (Baumgartner, et al., 2010).

Com base nos resultados obtidos durante o pré e pós-enchimento foi concluído

que houve depleção, principalmente entre os Characiformes, acima do barramento, área do

reservatório e tributários, conforme já mencionado. Desta forma indicamos a transposição das

seguintes espécies e suas proporções: a piracanjuba (Brycon orbygnianus – 50%), o piau-três-

pintas (L. friderici - 50%), a piapara (L. elongatus - 25%), o piau (L. obtusidens - 50%), a

curimba (P. lineatus - 50%), o dourado (S. brasiliensis - 50%) e a tabarana (S. hilarii - 50%).

Essas porcentagens deverão ser mantidas por dois motivos: a) Não existe na UHE São

Domingos vertedouros por onde estas espécies possam retornar com segurança após a

reprodução; b) manter os estoques dessas espécies a jusante do barramento.

Apesar da cachorra (Rhaphiodon vulpinnus) ser citada no programa de

transposição, não é indicada a transposição dessa espécie por ser considerada uma espécie

piscívora e voraz, que estando em um ambiente lêntico, propício a ela, poderá causar danos

futuros a comunidade de peixes residente do lago, e pela ausência de captura da mesma a

montante da cachoeira Branca, conforme os resultados apresentados durante o pré-

enchimento.

Para atender a este tipo de transposição foi instalada a jusante da cachoeira Branca

o STP (Sistema de Transposição de Peixes) do tipo seletivo de peixes, evitando a transposição

das espécies de couro (Siluriformes). Este mecanismo contém tanques para seleção de quantos

e quais exemplares continuarão suas rotas migratórias e caminhão de transporte para liberação

dos exemplares em locais que ofereçam melhores condições para continuar seu percurso livre

dos riscos de predação. Esse mecanismo, associado ao monitoramento da ictiofauna no

27

reservatório, montante, jusante e tributários, poderá ser ferramenta valiosa na manutenção das

espécies migradoras na área de influência da UHE São Domingos.

6.1.2Importânciadostributários(rioSãoDomingoseribeirãoAraras)

Os dois tributários (rio São Domingos e ribeirão Araras) atingidos pelo

reservatório da UHE São Domingos exercem papel fundamental na assembleia de peixes

daquela região, onde agrupados representaram 31,3% (26,01% rio São Domingos e 5,3%

ribeirão Araras) dos indivíduos (espécies migradoras e de interesse comercial) no período de

pré-enchimento e 46% no período de pós-enchimento, onde 22% destas foram capturadas no

rio São Domingos e 24% no Ribeirão Araras, sendo que algumas espécies foram capturadas

em ambos os tributários (Figuras 7 e 8). Estes resultados demonstram a importância dos

tributários para o reservatório da UHE São Domingos e a preservação de porções lóticas

(acima do reservatório). Elas serão responsáveis pela diversidade original da bacia

hidrográfica estudada, podendo ser usado como hábitat de reprodução, crescimento e

alimentação, principalmente em sua porção superior, para a manutenção das espécies

reofílicas e da diversidade da ictiofauna do reservatório (Hoffmann et al., 2005).

Figura 7 - Frequência de indivíduos de espécies migradoras e de interesse comercial para 4 (quatro) microrregiões (JCB = abaixo cachoeira Branca; MCB = acima cachoeira Branca; SDO = rio São

Domingos e ARA = ribeirão Araras) na área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2010 a agosto de 2012.

28

Figura 8 - Frequência de indivíduos de espécies migradoras e de interesse comercial para 4 (quatro) microrregiões (JCB = abaixo cachoeira Branca; RES = reservatório; SDO = rio São Domingos e ARA = ribeirão Araras) na área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2012 a

outubro de 2014.

6.2ÁREASPRIORITÁRIASPARAMANUTENÇÃODAATIVIDADEREPRODUTIVA

6.2.1Preservaçãodeáreasdedesovaemanutençãodepaliteiros

De forma geral, esse item tem sido negligenciado por empresas e órgãos

vinculados a preservação ambiental. A proteção de áreas prioritárias para que os peixes

realizem a desova e onde seus indivíduos possam realizar o desenvolvimento inicial é pouco

considerada como ação de manejo, principalmente quando da formação de reservatórios.

Atividades como a manutenção de rotas migratórias, passam a ter pouco valor

quando os exemplares transpõem, e não encontram regiões propícias para se reproduzir.

Mesmo quando reproduzem, se as condições para eclosão e desenvolvimento inicial não

forem favoráveis, a manutenção das rotas (transposição manual ou por meio de estruturas

físicas para a transposição) será inócua. No caso dos exemplares que desovam dentro do

reservatório, se a espécie apresentar ovos mais densos que a água, eles irão atingir regiões

profundas onde as características da água provavelmente dificultarão a eclosão, impedindo o

sucesso reprodutivo (Baumgartner, et al., 2010).

Para os grandes migradores a manutenção de áreas com água corrente, bem

oxigenada, parece ser fundamental para o sucesso reprodutivo, bem como a manutenção de

vegetação marginal e o impedimento da pesca nessas regiões.

29

Outras espécies utilizam a região alagada para a reprodução, sendo que a maioria

delas apresenta ovos adesivos e/ou capacidade de desovar em substratos. Para esses casos a

remoção prévia da vegetação a ser inundada não é indicada, devido à redução dos substratos

necessários para a desova. No caso da UHE São Domingos, a manutenção de parte da

vegetação dentro da área do reservatório pode ser considerada benéfica à fauna íctica.

Os resultados finais do monitoramento da atividade reprodutiva demonstram

atividade reprodutiva em todos os pontos de amostragem, onde as espécies de peixes

migradores e de interesse comercial conseguem desenvolver todo o ciclo reprodutivo dentro

desta bacia hidrográfica (Figuras 09 e 10). Merece destaque a grande quantidade de

indivíduos capturados a jusante da cachoeira Branca com gônadas em reprodução. O elevado

número de exemplares em repouso nos pontos P11 e P12 localizados no rio São Domingos,

merece atenção, pois possivelmente existam áreas de desova acima desses pontos, ou seja, o

rio São Domingos serve como rota migratória para peixes migradores que vão desovar a

montante.

Figura 9 - Número total de indivíduos e variação espacial da frequência dos estádios de maturação gonadal (Imt=imaturo; Mat=maturação; Rpd=reprodução; Esg=esgotado; Rep=repouso) das espécies migradoras e de interesse comercial para a área de influência da UHE São Domingos (JCB = abaixo

cachoeira Branca; MCB = acima cachoeira Branca; TRI=tributários), durante o período de novembro de 2010 e agosto de 2012.

0

100

200

300

400

P02 P01 P14 P03 P13 P04 P08 P10 P11 P12

de in

div

ídu

os

Imt Mat Rpd Esg Rep

MCB JCB TRI

0%

25%

50%

75%

100%

P02 P01 P14 P03 P13 P04 P08 P10 P11 P12

Imt Mat Rpd Esg Rep

MCB JCB TRI

30

Figura 10 - Número total de fêmeas e variação espacial da frequência dos estádios de maturação gonadal (Imt=imaturo; Mat=maturação; Rpd=reprodução (madura + semi-esgotada); Rep=repouso)) das espécies

migradoras e de interesse comercial para a área de influência da UHE São Domingos (JCB = abaixo cachoeira Branca; MCB=montante cachoeira branca no reservatório; TRI=tributários), durante o

período de novembro de 2012 e outubro de 2014.

As amostragens de ovos e larvas de peixes durante os dois primeiros anos de

monitoramento (novembro de 2010 a fevereiro de 2012) na área de influência da UHE São

Domingos (Figura 11) demonstraram comportamento semelhante do plano de manejo

preliminar com as maiores atividades reprodutivas a jusante da Cachoeira Branca, maiores

densidades de ovos, larvas e jovens de peixes nesta microrregião, principalmente no ponto

P03 com elevada densidade de ovos. Nos demais locais de coleta, pode-se destacar a porção a

montante da Cachoeira Branca, no ponto P15 e nos tributários, no ponto P12, revelando

também a utilização das outras microrregiões como locais propícios às atividades

reprodutivas, indicando que os exemplares ao passarem pela Cachoeira Branca, dirigem-se

aos tributários ou suas proximidades para efetivarem suas desovas. Estes resultados indicam

que os tributários exercerão importante papel para a manutenção da atividade reprodutiva

daquela região, e que localidades próximas aos pontos supracitados devem ser prioritárias

para investimentos de preservação (Baumgartner, et al., 2010).

A jusante da cachoeira Branca pode ser considerada como local de desova,

principalmente nos pontos P04 e P03, onde foram coletados ovos em fases iniciais

(segmentação e blastulação), pertencentes à família Anostomidae, o que indica a atividade

reprodutiva das espécies dessa família nesses locais durante o período analisado

(Baumgartner, et al., 2010).

A determinação exata dos locais de desova em um corpo hídrico é um dos

principais desafios na avaliação da comunidade íctica da bacia hidrográfica, sendo necessárias

31

avaliações dos estágios de desenvolvimento dos ovos (segmentação, blastulação ou

gastrulação), das larvas (flexão da notocorda e presença de nadadeira) (Nakatani et al., 2001;

Reynalte-Tataje et al., 2008) e da dinâmica do fluxo da água. Para Bonetto & Castello (1985)

os peixes não necessitam alcançar as cabeceiras dos rios, ou seja, eles migram acima até

alcançar locais apropriados para a desova.

 

Figura 11 – Densidade de ovos (A), larvas (B) e jovens (c) capturadas nos diferentes pontos de amostragens da área de influência UHE São Domingos, entre os meses de novembro de 2010 e fevereiro de

2012.

Entre novembro de 2012 a maio de 2014 foram capturados no total 29 indivíduos

nas 14 campanhas de amostragem. Somente três indivíduos são de espécies migradoras, todas

as outras pertencem à fauna residente. O estágio ontogenético que ocorreu em maior

abundância foi o de ovos (n=9) na coleta de Dezembro 2012 (Schulz, 2013).

As campanhas mensais durante e depois da época de reprodução 2012/13 e

2013/2014 mostraram uma ocorrência muito reduzida de ictioplâncton. Baumgartner et al.

(2012) capturaram 9.093 indivíduos da categoria de ictioplâncton entre outubro 2011 e

fevereiro 2012. A captura foi composta na maioria por larvas (62,8%) seguidas por ovos

(37,0%). Juvenis e adultos somaram apenas 0,2% da abundância relativa.

A maior abundância de ictioplâncton ocorreu nos pontos de amostragem a jusante

da Cachoeira Branca, como no estudo atual de 2012/14. Baumgartner et al. (2012) capturaram

seis espécies migratórias: Brycon orbignyanus, Salminus hilarii, Salminus brasiliensis,

Leporinus elongatus, Hemisorubim platyrhynchus e Pseudoplatystoma corruscans. Todas

estas espécies foram encontradas em estágio avançado de maturação. Supostamente todas

MCB JCB T

Microrregiões

0,0

25,0

50,0

75,0

100,0

125,0

Org

anis

mos

/10m

3

A Ovos Larvas Jovens/Adultos

P14

P01

P15

P02

P13

P04

P03

P10

P11

P12

P08

Ponto

0,0

25,0

50,0

75,0

100,0

125,0

Org

anis

mos

/10m

3

BJCBMBC T

32

estão se reproduzindo na área da influência da barragem, porém, jusante da cachoeira Branca,

local da barragem. Somente entre 2012 e 2013 foram capturadas larvas de espécies

migratórias (P. lineatus) a montante da barragem, próximo ao ponto 10. Como esta espécie é

típica de ambientes lóticos, supõe-se que sua área de reprodução seja a montante deste ponto,

fora da área do reservatório.

Outro aspecto importante a destacar é o fato de que dos 9 pontos situados a

montante do barramento, somente 1 destes está fora da área do reservatório. Com isso os

pontos antes situados em ambiente lótico tiveram suas características alteradas para ambiente

lêntico. Espécies que anteriormente se reproduziam neste local tendem a buscar locais a

montante onde as características do rio foram mantidas e se assemelham as características do

rio verde antes do enchimento do reservatório. Este aspecto pode ter contribuído também para

a significativa redução das capturas de ictioplâncton após a formação do reservatório nos

pontos monitorados.

O resultado encontrado durante as 14 campanhas de monitoramento apresentou

uma baixa atividade reprodutiva de peixes migratórios à montante da barragem. Para as

próximas campanhas recomenda-se manter a manutenção das amostragens noturnas descritas

em Baumgartner et al. (2012). Outros estudos também mostram a maior densidade de

ictioplâncton em amostragens noturnas. Hermes-Silva et al. (2009) encontraram as maiores

densidades de ictioplâncton no rio Uruguai as 21.00 e as 03.00 horas da madrugada.

Recomenda-se ainda que sejam implantados novos pontos de monitoramento de

ictioplâncton situados a montante do reservatório, tanto no rio verde, como nos tributários,

são domingos e arroio Araras de forma a monitorar ambientes lóticos sem interferência do

reservatório.

6.3ÁREASPRIORITÁRIASBASEADASNAALIMENTAÇÃOECRESCIMENTO

6.3.1Manutençãodepaliteiros(vegetaçãoarbóreaaseralagada)

Com base nos resultados amostrais, foi possível observar 8 guildas tróficas na

área de influência de UHE São Domingos, sendo em sua maioria com hábito alimentar

herbívoro, insetívoro e piscívoro durante o período pré-enchimento (Figura 12) e de hábito

onívoro, piscívoro e insetívoro terrestre no período pós-enchimento (Figura 13), e que a

grande maioria dos recursos consumidos naquela região é de origem alóctone (Figura 14).

33

Tais resultados destacam a importância da vegetação marginal para manutenção

da atividade alimentar das espécies. A alteração do ambiente terrestre em aquático propicia

uma grande entrada de material de origem terrestre durante o enchimento, principalmente de

vegetais e invertebrados, que se tornam recursos alimentares importantes para os peixes

(Crippa & Hahn, 2006; Hahn & Fugi, 2007).

A manutenção de parte da vegetação da área do reservatório da UHE São

Domingos foi benéfica para manter a variabilidade de ambientes na área do reservatório

propiciando à guilda trófica ambientes variados para reprodução e alimentação.

Após dois anos de monitoramento pós-enchimento a principal alteração

constatada foi a redução das espécies herbívoras, que passou de 34% para 9% dos indivíduos

capturados.

Os gráficos abaixo demonstram que na fase pré-enchimento a composição da

guilda trófica era formada por 55% de animais herbívoros e piscívoros e após o enchimento

esta proporção caiu para 28%, com um aumento dos insetívoros que passaram de 18% para

37% considerando insetívoros aquáticos e terrestres.

Figura 12 - Percentual de guildas tróficas para as espécies de peixes analisadas na área de influência do futuro reservatório de São Domingos no período de novembro de 2010 a agosto de 2012.

34

Figura 13 - Percentual de guildas tróficas para as espécies de peixes analisadas na área de influência do futuro reservatório de São Domingos no período de novembro de 2012 a julho de 2014.

Figura 14. Origem dos itens alimentares consumidos pelas espécies analisadas na área de influência do futuro reservatório de São Domingos.

Outros estudos têm evidenciado que além de aumentar a produtividade biológica

com o aumento das áreas com paliteiros, essa vegetação proporciona estrutura física adequada

à instalação e proteção de diversos organismos, com impacto positivo sobre o sucesso

reprodutivo, crescimento, sobrevivência de juvenis e recrutamento de novos indivíduos aos

estoques pesqueiros (Antônio et al., 2005). Além disso, nesses locais a predação pode ocorrer

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

alóctone/autóctone

alóctone

autóctone

%

35

com menor intensidade, pois a presença de habitats mais estruturados pode influenciar a

eficiência de predação de alguns piscívoros (Willey et al., 1984; Durocher et al., 1984;

Dibble, 1984). Como citado anteriormente, os paliteiros tem um papel importante no controle

da erosão, atenuando a ação de ondas sobre a margem e o aumento do material particulado em

suspensão, o que reflete sobre a capacidade biogênica do ambiente (Agostinho et al., 2007).

6.4MANUTENÇÃODAVARIABILIDADEGENÉTICADOSESTOQUESEMRISCODE

EXTINÇÃO

6.4.1Estocagem

Os resultados amostrais indicam que as espécies analisadas apresentaram boa

variabilidade genética, não sendo indicada na atualidade a adoção da prática de estocagem

para a maioria das espécies. No entanto, futuramente, talvez seja prudente avaliar a

necessidade do desenvolvimento de tecnologia para a reprodução e criopreservação de

embriões de algumas espécies consideradas em risco de extinção, a exemplo da piracanjuba

(Brycon orbignyanus) e o pacu-peva (Myleus tiete), que constam na lista de espécies

ameaçadas de extinção. Este procedimento deverá ser realizado em parceria com instituição

de pesquisa que se dedique única e exclusivamente à criação de peixes para a estocagem,

tendo em vista a necessidade de manutenção da variabilidade genética.

Para as outras espécies, caso seja observada a redução dos estoques, recomenda-se

análises periódicas para a verificação da condição genética, por exemplo, através de análises

de DNA, para se estabelecer a necessidade de transposição ou estocagem (Baumgartner, et al.,

2010).

6.5INTRODUÇÃODEESPÉCIESNÃO‐NATIVAS

6.5.1Açõespreventivas

A introdução de espécies não nativas pode comprometer as demais ações de

manejo a serem realizadas, com isso se propõem algumas ações para evitar esta prática tão

deletéria ao ambiente aquático.

Para evitar essa prática, os órgãos ambientais devem: (i) coibir a prática de

estocagem (repovoamentos) com espécies não-nativas; (ii) cadastrar aquiculturas de tanques

escavados e/ou tanques rede, quando da sua existência, (iii) avaliar e orientar processos de

36

implantação de aquiculturas; (iv) coibir o uso de iscas vivas originárias de outras bacias

hidrográficas e, (v) conscientizar a população afeta sobre os riscos que a introdução de

espécies não-nativas pode produzir. Vale ressaltar a captura durante o monitoramento de pré e

pós-enchimento das espécies não nativas Cichla kelberi (n=9), Cichla piquiti (n=1) e Tilapia

rendalli (n=1) na área do reservatório da UHE São Domingos. Estas espécies são

preocupantes do ponto de vista ecológico, pois esses ciclídeos têm causado grandes prejuízos

ecológicos em reservatórios brasileiros. No sentido de controlar e/ou evitar a introdução de

espécies não-nativas, por usuários da bacia, se sugere a realização de um trabalho de educação

ambiental na região, conscientizando a comunidade ribeirinha dos prejuízos ecológicos que

estas espécies causarão ao ambiente.

37

 Figura 15 – Em destaque as áreas prioritárias para manutenção da vegetação submersa e conservação da área de preservação permanente.

38

6.6MANEJODAPESCA

6.6.1Interdiçãotemporal

Esta prática vem sendo realizada e consiste em proibir a atividade pesqueira

durante o período de desova, principalmente nos meses quentes (outubro a fevereiro) e de

época de cheias, assegurando assim, a reprodução suficiente que sustente os estoques,

evitando que os mesmos sejam explorados nos períodos em que se encontram mais

vulneráveis a pesca (formação de cardumes para reprodução) (Agostinho et al., 2007).

No entanto, com as informações geradas durante o período estudado, não é

possível identificar os estoques que estão em sobrepesca ou deplecionados. Para identificação

dos estoques em sobrepesca são necessários estudos de desembarque pesqueiros (estatística

pesqueira), sendo os estoques deplecionados identificados a partir de alguns anos

consecutivos de monitoramento, quando o baixo número de indivíduos não represente

somente a variabilidade sazonal natural de uma população. Portanto, é sugerida a manutenção

preventiva da interdição temporal, obedecendo aos meses de maior atividade reprodutiva,

sendo que durante os quatro anos de monitoramento a atividade reprodutiva foi mais intensa

de novembro a março e de outubro a fevereiro (Figuras 16 e 17).

Nota-se que as duas etapas analisadas iniciam-se com intensa atividade

reprodutiva, dando indícios que os meses anteriores podem indicar elevada atividade

reprodutiva também.

39

 

Figura 16 - Variação temporal da frequência dos estádios de maturação gonadal (Imt=imaturo; Mat=maturação; Rpd=reprodução; Esg=esgotado; Rep=repouso) das espécies migradoras e de interesse

comercial para a área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro de 2010 e agosto de 2012.

 

Figura 17 - Variação temporal da frequência dos estádios de maturação gonadal de fêmeas (Imt=imaturo; Mat=maturação; Rpd=reprodução (madura + semi-esgotada); Rep=repouso)) das espécies migradoras e de interesse comercial para a área de influência da UHE São Domingos, durante o período de novembro

de 2012 e julho de 2014.

0%

25%

50%

75%

100%

Imt Mat Rpd Esg Rep

etapa I etapa II

40

6.6.2Interdiçãoespacial

Os resultados amostrais indicam como áreas prioritárias para preservação da fauna

aquática, as regiões abaixo da cachoeira Branca (pelo menos 1500 metros) e os tributários São

Domingos e Araras (incluindo os trechos inundados dos tributários com a formação do

reservatório). Este tipo de interdição deve ocorrer em locais onde as populações de peixes são

vulneráveis à sobrepesca (jusante de barragens, corredeiras, mecanismos de transposição),

onde há elevada captura de imaturos (áreas de várzea, lagoas marginais) ou em áreas de

reprodução coletiva (áreas de desova, cachoeira) (Agostinho et al., 2007).

6.6.3Interdiçãodeaparelhos

De acordo com a Lei estadual no 3.886, de 28 de abril de 2010, na atualidade são

estabelecidas 4 modalidades de pesca, sendo para elas liberada determinados petrechos

(IMASUL, 2011). As modalidades previstas em lei são: (i) Pesca comercial; (ii) Pesca

amadora; (iii) Pesca de subsistência, e (iv) Pesca para pesquisa científica.

Na pesca amadora do estado do Mato Grosso do Sul são permitidos os seguintes

petrechos de pesca e insumos: (i) linha de mão, puçá, caniço simples, anzóis simples, vara

com carretilha ou molinete; (ii) isca natural, isca artificial e isca viva autóctone (nativa da

bacia).

Na pesca comercial são permitidos os seguintes petrechos de pesca e insumos para

captura de peixes destinados ao consumo alimentar: (i) linha de mão, caniço simples,

molinete, carretilha, joão-bobo (bóia com um anzol), bóia fixa ou cavalinho, anzol de galho

(aquele fixado em vegetação da mata ciliar ou em estacas afixadas no barranco); (ii) isca

natural, isca artificial e isca viva autóctone (nativa da bacia).

Em ambas as modalidades são permitidas o uso de ganchos ou “bicheiros” para

auxiliar no embarque dos exemplares capturados. Para a captura das iscas vivas é permitido o

uso de: (i) caniço simples; (ii) linha de mão; (iii) tarrafa com altura máxima de 2,0 m; malha

mínima de 20 mm e máxima de 50 mm, confeccionada com linha de náilon monofilamento

com espessura máxima de 0,5 mm; (iv) peneira ou quadro com tela com dimensões de até

2,20 m de comprimento e 1,20 m de largura; (v) jiqui ou covo: petrecho com até 1,50 m de

comprimento e até 70 cm de diâmetro, revestido com tela, tendo em uma das extremidades

uma estrutura em formato de funil com abertura de até 6 cm de diâmetro voltada para dentro

41

do petrecho, sendo a outra extremidade utilizada para despesca; (vi) minicovo: lata ou tubo

plástico com até 10 cm de diâmetro e 60 cm de comprimento, onde numa extremidade há um

funil acoplado com uma abertura máxima de até 3,0 cm na sua extremidade menor.

Para reservatórios esta mesma lei versa em seu Art. 11 o seguinte texto:

É permitido nos reservatórios provenientes de empreendimentos hidroelétricos, exceto as Pequenas Centrais Hidroelétricas (PCHs), para a pesca comercial, o uso dos seguintes petrechos:

I - rede de emalhar com malha igual ou superior a 80 mm (oitenta milímetros), com o máximo de 100 m (cem metros) de comprimento, instaladas a uma distância mínima de 300 m (trezentos metros) uma da outra, independentemente do proprietário, e identificada com plaqueta contendo nome e número da AAPC;

II - tarrafa com, no máximo 2,50 m (dois metros e meio), com malha igual ou superior a 70 mm (setenta milímetros);

III - duas redes para captura de isca, por pescador, com até 2 m (dois metros) de altura e até 20 m (vinte metros) de comprimento, com malha mínima de 30 mm (trinta milímetros) e máxima de 50 mm (cinquenta milímetros);

IV - linha de mão, caniço simples, com molinete ou carretilha, isca natural ou isca artificial com ou sem garatéia, nas modalidades de arremesso e corrico;

V - espinhel de fundo com o máximo de 15 anzóis cada, instalado a uma distância mínima de 300 m (trezentos metros) um do outro, independentemente do proprietário, e identificado com plaqueta contendo nome e número da AAPC.

A partir dos resultados amostrais gerados pelos estudos preliminares, não é

possível constatar que espécies em densidades baixas se tratavam de espécies com estoques

deplecionados por sobrepesca, portanto, não há evidências científicas suficientes para a

sugestão de restrição a algum dos petrechos e insumos liberados para o Estado do Mato

Grosso do Sul.

Quanto à pesca em reservatórios, a liberação do uso de redes de emalhar e outros

petrechos, parece ser uma ferramenta de manejo aplicável para a região, desde que sejam

42

monitorados os desembarques e o ambiente, evitando o risco de depleção de alguma espécie

de peixe, a limiares abaixo dos de uma população mínima viável (Baumgartner, et al., 2010).

Conforme sugestão anterior, o uso de iscas vivas só deve ser permitido quando se

tratarem de iscas de espécies nativas, evitando dessa forma a introdução de espécies não

nativas.

6.6.4Controledotamanhodopescado

O controle do tamanho do pescado tem como objetivo assegurar que os juvenis

alcancem a maturidade antes que sejam capturados. No entanto, a supressão somente dos

exemplares maiores, que geneticamente apresentam capacidade de produzir descendentes com

potencial para atingir tamanhos maiores, com maior probabilidade de sobrevivência e com

taxas de crescimento muitas vezes maiores e maior fecundidade, pode gerar resultados

negativos, comprometendo a qualidade e a quantidade do estoque (Baumgartner, et al., 2010).

Vale lembrar que a pesca seletiva de exemplares de tamanhos maiores é praticada

historicamente, não existindo estudos que amparem decisões para mudar os tamanhos a serem

pescados. Portanto, entende-se que outras formas de interdição sejam mais adequadas que o

controle do tamanho do pescado.

Na atualidade os tamanhos mínimos são regulados pelo decreto estadual nº

12.039/2006 – MS, que diz em seu artigo 14:

Fica vedada a captura das espécies de peixes abaixo indicadas

com a utilização de quaisquer dos petrechos descritos no artigo

17 e em tamanho inferior ao estabelecido neste artigo: “Jaú”

Paulicéia luetkeni (95 cm), “Pintado” Pseudoplaystoma

corruscans (85 cm), “Cachara” Pseudoplaystoma fasciatum (80

cm), “Dourado” Salminus maxilosus (65 cm), “Pacu” Piaractus

mesopotamicus (45 cm), “Curimbatá” Prochilodus lineatus (38

cm), “Piau-uçú” Leporinus sp (38 cm), “Barbado” Pinirampus

pirinampu (60 cm) e “Piraputanga” Brycon Microlepis (30 cm).

Vale destacar que após revisões taxonômicas (Reis et al., 2003), foi verificado que

três das espécies citadas na legislação vigente tem distribuição restrita a outras bacias, sendo

43

que as ocorrentes nesta região são na verdade o “dourado” (Salminus brasiliensis), jaú

(Zungaro jahu) e piraputanga (Brycon hilarii) (Baumgartner, et al., 2010).

Esse tamanho mínimo de captura geralmente é estipulado através do L50, sendo

este o comprimento em que 50% dos indivíduos da população já estão aptos a reprodução ou

já reproduziram uma vez, ou pode ser utilizado também o L100, onde 100% dos indivíduos

estão aptos a reproduzir (Agostinho et al., 2007).

Durante o monitoramento realizado na área de influência da UHE São Domingos,

observou-se que indivíduos de Salminus brasiliensis e Pseudoplatystoma corruscans abaixo

do tamanho mínimo de captura estavam aptos a reprodução, dando indícios de que essas

espécies estão iniciando suas atividades reprodutivas em tamanhos menores. Tal fato pode

indicar que capturas de exemplares maiores estão reduzindo o tamanho da população, ou que

as espécies estão com os estoques deplecionados e estão investindo maior quantidade de

energia na atividade reprodutiva.

Uma das alternativas para essa situação seria a interdição da pesca dessas

espécies, independente do tamanho dos exemplares, entretanto, com a continuidade das

amostragens, será possível estabelecer o tamanho de primeira maturação para as espécies que

apresentarem número de indivíduos suficientes (Baumgartner, et al., 2010).

Outra questão não menos importante está relacionada ao gênero Leporinus, que

segundo o decreto 12.039/2006 – MS menciona apenas a espécie Leporinus sp. (piau-uçú)

com tamanho mínimo de captura de 38 cm. No entanto, as dificuldades de ordem taxonômica

podem ter contribuído para isso, já que na região são registrados o “piau-três-pintas”

(Leporinus friderici), “piapara” (Leporinus elongatus) e “ximboré” (Schizodon borellii), de

características físicas um pouco semelhantes, porém com tamanhos muitas vezes menores que

o indicado na legislação. Neste caso sugere-se que seja realizada uma revisão nos tamanhos

de primeira maturação para a área de influência da UHE São Domingos (Baumgartner, et al.,

2010).

6.6.5Controledoesforçodepesca

Os resultados amostrais impossibilitam a avaliação da necessidade do controle do

esforço da pesca, já que para isso é necessário, além do monitoramento dos estoques, o

44

monitoramento da atividade pesqueira, ou seja, o estudo dos desembarques pesqueiros

(estatística pesqueira).

O monitoramento da atividade pesqueira é um estudo que dá respaldo tanto ao

empreendedor, como ao órgão fiscalizador, pois como já aconteceu em outros reservatórios,

uma das queixas é de que a pesca diminuiu em função da implantação da usina (Baumgartner,

et al., 2010).

6.6.6Monitoramentoambiental

É considerada a ferramenta mais importante no direcionamento das possíveis

atividades de manejo em rios e reservatórios. Toda ação de manejo realizada deve ser aferida

pelo monitoramento, pois ele indicará se os esforços e recursos empenhados na ação de

manejo foram efetivos.

Associados ao monitoramento ambiental estão os estudos de estatística pesqueira

e recrutamento, que darão suporte para avaliações relacionadas ao controle da pesca.

O impacto da formação do reservatório tem seus efeitos agravados nos primeiros

anos após a formação, sendo reduzidos gradativamente. A velocidade com que os efeitos

sobre o ambiente ocorrem depende de uma gama de fatores físicos, químicos e biológicos, os

quais têm no monitoramento o único caminho para seu entendimento e predições. Desta

forma recomenda-se a continuidade do monitoramento ambiental nos mesmos pontos

previamente previstos (Baumgartner, et al., 2010).

6.7RESGATEDAFAUNANOTRECHODEVAZÃOREDUZIDA(TVR)

No rio Verde, com a implantação da UHE São Domingos, ocorreu a formação de

uma área crítica para a fauna de peixes, denominada “trecho de vazão reduzida”, que

corresponde a um trecho de aproximadamente 600 m, de leito rochoso e acidentado localizado

entre o eixo da barragem e a jusante da casa de força (Figura 18). Nesse local a redução

repentina do volume de água do rio Verde, para o enchimento do reservatório e

posteriormente para as operações dos vertedouros produziu inúmeros poções de água

isolados, com volume individual bastante heterogêneo, onde peixes de diferentes tamanhos e

espécies ficaram aprisionados.

45

Figura 18 – TVR – Trecho de Vazão Reduzida da UHE São Domingos, em branco espectro da barragem e

usina, sombreamento azul área alagada.

Para minimizar o impacto advindo da redução do volume de água a jusante do

barramento durante a fase de enchimento, foi realizada uma operação de salvamento da

ictiofauna para a retirada de peixes das áreas sujeitas à dessecação e o salvamento de

exemplares de peixes de diferentes espécies durante o fechamento das comportas para o

enchimento do reservatório.

Nessa operação, equipes de resgates equipadas para o salvamento da fauna íctica

foram posicionadas no TVR e a vazão foi reduzida gradativamente. Nesse processo foram

capturados somente 145 espécimes. O baixo número de exemplares observado durante esta

etapa ocorreu devido à elevada vazão remanescente no TVR (aproximadamente 64,5 m³/s),

que juntamente com a redução gradativa do volume, propiciaram que espécies maiores

acompanhassem o fluxo, o que evitou que a maioria dos indivíduos ficasse ilhada ou em

locais secos. Esse é, sem dúvida, o procedimento mais adequado para o fechamento de usinas

hidrelétricas, o qual proporciona o menor impacto à fauna local, minimizando o estresse e

mortes dos exemplares, sendo recomendado para este e outros empreendimentos

(Baumgartner, et al., 2010).

Além do momento supracitado, podemos destacar os eventos durante os

vertimentos, pois em períodos de maior pluviosidade (chuvoso) o volume de água que

46

chegará ao reservatório poderá ser superior ao necessário para a geração, necessitando a UHE

liberar parte da água pelos seus vertedouros. Tal condição simulará no TVR, uma condição

semelhante a do antigo rio, atraindo diversas espécies de peixes para aquele setor, que depois

de cessado o vertimento (fechamento das comportas), poderão ficar aprisionados em pequenas

poças ou até mesmo em locais secos.

Nessa condição o TVR passa novamente a consistir em uma região crítica

necessitando dos cuidados realizados anteriormente. Para evitar prejuízos a ictiofauna sugere-

se a realização de uma operação de resgate a cada operação de vertimento, tendo como

cuidado necessário a redução gradativa da vazão no TVR e o salvamento dos peixes que não

conseguiram naturalmente retornar ao leito principal (Baumgartner, et al., 2010). 

47

7.CONSIDERAÇÕESFINAIS

De forma geral, estudos relacionados aos ambientes aquáticos são escassos

(Agostinho et al., 2007), com insuficiência de informação acerca de diversos fatores

associados a ictiofauna. Essa condição não é totalmente diferente na área de influência da

UHE São Domingos, onde foi realizado um levantamento entre novembro de 2010 e agosto

de 2012 com quatorze amostragens (pré-enchimento) e outro entre novembro de 2012 e julho

de 2014 com quinze amostragens (pós-enchimento) em 12 estações de coleta.

A obtenção de informações capazes de dimensionar os impactos negativos

promovidos pelo represamento sobre a fauna aquática é considerado o grande desafio por

empresas e autoridades envolvidas (Agostinho et al., 2008). No entanto, com base nas

informações geradas durante o monitoramento da ictiofauna, podem-se extrair algumas

possíveis ações a serem implantadas na área de influência da UHE São Domingos.

Considerando que a cachoeira Branca exerce o papel de barreira natural para

algumas populações de peixes, e que outras populações transpõem naturalmente o local, é

recomendado transpor somente os exemplares e espécies que apresentarem deplecionamento

de seus estoques através do STP. A transposição deve ser operada e monitorada com rigor

técnico, registrando as informações sobre as espécies transpostas, tais como: tamanho, peso e

número de exemplares.

Para a transposição é sugerido às seguintes proporções para cada espécie: a

piracanjuba (Brycon orbygnianus – 50%), o piau-três-pintas (L. friderici - 50%), a piapara (L.

elongatus - 25%), o piau (L. obtusidens - 50%), a curimba (P. lineatus - 50%), o dourado (S.

brasiliensis - 50%) e a tabarana (S. hilarii - 50%). Essas porcentagens deverão ser mantidas

por dois motivos: a) Não existe na UHE São Domingos vertedouros por onde estas espécies

possam retornar com segurança após a reprodução; b) manter os estoques dessas espécies a

jusante do barramento.

Apesar da cachorra (Rhaphiodon vulpinnus) ser citada no programa de

transposição, não é indicada a transposição dessa espécie por ser considerada uma espécie

piscívora e voraz, que estando em um ambiente lêntico, propício a ela, poderá causar danos

futuros a comunidade de peixes residente do lago, e pela ausência de captura da mesma a

48

montante da cachoeira Branca, conforme os resultados apresentados durante o pré-

enchimento.

Considerando que parte da vegetação ripária foi mantida na área do reservatório,

embora tenham sido diagnosticadas alterações na guilda trófica, estas ainda não são

significativas, sendo que deve ser mantido o monitoramento conforme previsto recomenda-se

no entanto que sejam acrescidos pontos de monitoramento a montante do reservatório nos

trechos fora da influência do reservatório.

Outro fator a ser considerado é a presença de locais de reprodução das espécies

que compõem a fauna dessa região. Nesses locais, além da manutenção dos paliteiros para

manutenção de trechos lóticos, a preservação da vegetação ciliar e proibição da pesca são

ações que podem colaborar para a preservação dos estoques. O mapeamento indica que as

áreas prioritárias correspondem aos rios Araras e São Domingos e suas áreas de confluências

com o rio Verde (ver Figura 15), sendo estes os principais pontos na área de influência da

UHE São Domingos onde foi mantida parte da vegetação alagada.

Outro local de relevante importância para a preservação da ictiofauna é a região a

jusante da cachoeira Branca. Essa região exerce um papel fundamental na manutenção da

atividade reprodutiva, já que o maior número de exemplares em suas fases iniciais de vida foi

lá registrado. Para essa região é sugerido interdição da pesca (pelo órgão ambiental),

preservação da vegetação ciliar e monitoramento (pelo empreendedor) para verificar possíveis

impactos do empreendimento sobre as comunidades aquáticas (Baumgartner, et al., 2010).

Caso haja necessidade, sugere-se também que ações no sentido de preservação in-

situ e ex-situ sejam realizadas para a manutenção das populações de piracanjuba e pacu-peva,

que se encontram ameaçadas de extinção, porém estas ações carecem ainda de mais dados de

monitoramento capazes de avaliar os estoques destas espécies.

Caso seja implantada a pesca no reservatório, o controle do desembarque

pesqueiro deve ser implementado como forma de controle e monitoramento.

Apesar das marcantes limitações que estudos prévios e levantamentos têm na

predição de impactos a serem causados pelo empreendimento, seus estudos são

imprescindíveis na tomada de decisões por ações preventivas, e até mesmo para ações

mitigadoras ou compensatórias (Baumgartner, et al., 2010).

49

8.EQUIPETÉCNICA

Biólogo Dr. Alexandre Rodrigues Cardoso 

Biologa Drª Nicolle Albornoz Pesoa 

Biólogo Bruno Klotzel 

Biólogo Luiz Artiolli 

Biólogo Daniel Monteiro Sampaio  

   

50

9‐REFERÊNCIAS

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