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A revista Arte Urbana
surgiu com o intuito de
reunir proposições
artísticas que ocorrem de
maneira espontânea e
independente na
underground de São Paulo.
Nessa edição veremos uma
ação conjunta proposta
pelo artista Felipe Mei com
a participação da
comunidade escolhida e de
muitos outros artistas de
rua.
A Proposta .......... ...................................3
Critica.......................................................6
Registros .................................................8
A Proposta:
Este trabalho tem como objetivo realizar uma performance coletiva, onde a essência
está presente no trabalho conjunto. Abrindo um espaço para trocas de experiências, para
se aprender e ensinar de modo fluido e informal.
A ideia é construir em coletivo um mutirão de graffiti, que não tenha apenas a
função de preencher espaços em branco, mas de envolver a comunidade do entorno na
produção dessa arte. Seria necessário convidar artistas já envolvidos com graffiti e pixo,
para que a arte de rua e a linguagem urbana possam ser envolvidas de maneira crua e
real. Com esse grupo já definido, para que a performance aconteça, é necessário definir
o local escolhido. Que no caso é de extrema importância, já que esse tipo de linguagem
pertence ao ambiente urbano e ficaria sem sentido em qualquer espaço fechado ou
controlado. E no caso dessa performance, os locais escolhidos são bairros periféricos,
lugares onde o contato com a arte e o lazer são muito escassos. Por isso, também faz
parte da ação a participação das pessoas do entorno, para que essa troca seja completa e
faça sentido para quem mora lá.
As pessoas da comunidade participando do evento.
No dia escolhido para ocorrer a ação, com o lugar combinado previamente com
os artistas, a princípio começa uma série de conversas com os moradores da vizinhança,
para saber quem gostaria de participar e quem deseja ter sua casa pintada. Após o
primeiro contato ter sido feito, começa-se a desenvolver os trabalhos artísticos de todos,
sejam artistas, voluntários ou curiosos. Para formar um ambiente confortável e
acolhedor, e principalmente convidativo, é necessário que tenha algum tipo de som. Que
seria providenciado, também em coletivo.
Coletivo Smok Dub fazendo o som do evento.
O principal, é que esse evento aconteça em coletivo, e que todos sejam ativos no
processo de forma igual. Alem de trazer arte para o bairro e proporcionar uma vivencia
positiva com os moradores e artistas, tentando diminuir a distancia entre arte e
sociedade. Pois para muita gente, fazer arte é para poucos. E essa ação tenta mostrar que
não existe diferença entra arte e vida, ou que seja necessário ir a um museu ou
instituições de arte para se viver a arte. Pois a arte estará em suas casas, muros e ruas. E
muitas vezes feito por eles, deles e para eles.
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O conceito aqui apresentado está em consonância com o primeiro capítulo da
obra “Dialética da Colonização” de Alfredo Bosi, na qual o autor examina a
constituição fenomênica da palavra. O verbete romano “colo”, que designava o ato de
morar, ocupar a terra, é origem das palavras: colonização, cultivo, cultura e culto.
Assim, revela-se no corpo da linguagem a condição social da arte. A cultura e o cultivo,
a visão de mundo e a apropriação da terra constituem um único tecido, no ato de morar,
ocupar e cultuar a terra; em sua complexidade subjetiva e social. A arte diz respeito à
vida, em seus diversos momentos e escalas, distintas percepções e apropriações do
mundo.
Assim, a performance aqui proposta poderia aproximar a ideia de arte ao ato de
morar, à maneira de ocupar a terra, associando as atividades humanas ao cotidiano, ao
entorno da casa, ao tangível. Estimula-se a produção autônoma da arte, contrariando a
tendência moderna de passividade diante do artístico, de extrema fragmentação do
trabalho e consequente submissão da arte à um mercado especializado. O pixo e o
graffiti são exemplos excelentes da luta pelo direito à cidade, pelo direito de decidir
sobre a paisagem, influir nos signos diários.
Em relação à historiografia da arte, pode-se citar o realismo social, considerado
comumente como corrente do romantismo crítica ao iluminismo renascentista. No
iluminismo, a ciência exacerba-se enquanto instituição de autoridade social, busca-se a
imitação perfeita da natureza, com resgate ou apologia à estética greco-romana e talvez
certo dogmatismo quanto à forma e elaboração do pensamento racional.
Critica:
Arte para as comunidades, 2014.
Crítica por Mayra Brito Cavalcanti
Trazer a comunidade para o meio da arte não só pela intervenção do Grafitti em seus próprios
muros, mas também pela interação direta com o material, com o artista e até mesmo com as obras. A
ação Arte para as comunidades, organizada pelo artista Felipe Mei, inovou no que antes eram
somente intervenções artísticas nos muros da cidade de São Paulo.
A ação começou com o diálogo de Felipe com a comunidade Polop, no Butantã, para conhecer sua
população e saber se concordariam com a intervenção dos artistas em seus muros, com sua
participação em um único dia na comunidade. Não com uma relação distante, tampouco somente
pelo muro, a ação só foi capaz de acontecer com a ajuda de diversos fatores: A participação de mais
de 30 grafiteiros, da Ocupação Raiz Libertária, da própria comunidade e o apoio com o material para
produção foi indispensável para a potência da performance.
O ato só foi possível pela energia gasta por Felipe para movimentar tantos grupos de pessoas de
diferentes pensamentos para que formassem um único todo naquele acontecimento que duraria tão
pouco tempo.
Felipe Mei (centro) com moradores da comunidade Polop. Arte para as Comunidades, 2014.
Performance. Registro: Coletivo Raiz Libertária
Apenas o evento para a ação tomou gigantescas proporções que houve até mesmo o veículo
midiático “Folha de S. Paulo” entrevistou o coletivo do artista, chegando a gravar também imagens
da ação feita em Polop. Houve o apoio da instituição Jamac (Jardim Miriam Arte Clube) e de
algumas empresas de tinta, que ao todo doaram 10 latas de tinta para a produção da intervenção.
Não somente havia o grupo de artistas presentes, mas também crianças da comunidade que não
quiseram ficar sem sua participação, e tiveram total acesso nas obras produzidas, ajudando na
preparação dos muros, auxiliavam no trabalho dos artistas e até mesmo faziam suas próprias pinturas
e intervenções nos muros das casas.
Moradores da comunidade Polop participando diretamente das intervenções.
Arte para as Comunidades, 2014. Performance.
Registro: Coletivo Raiz Libertária
Nesse cenário de artista e comunidade, não há distinções econômicas ou sociais. Houve uma
unificação tamanha, que todos aqueles grupos diferentes viram-se focados naquela mesma ação.
Houve uma total confiança dos moradores com os grafiteiros, com os músicos e com suas ações
enquanto permaneceram alí com eles, em uma relação de troca com o próprio Artista, que a todo
tempo esteve presente e participativo entre ambos os grupos, auxiliando e interagindo diretamente.
Registros:
https://www.youtube.com/watch?v=D2wBcVIz5lw&spfreload=10
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/12/1566271-artistas-resgatam-area-
abandonada-na-periferia-de-sp-veja-video.shtml