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MATIZES - Uma experiência urbana de arte comunitária - Guilherme Gadelha Célia Cymbalista

Matizes -Uma experiência urbana de arte comunitária

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Livro Matizes

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MATIZES- Uma experiência urbana de arte comunitária -

Guilherme GadelhaCélia Cymbalista

A Ação Comunitária do Brasil -SP é uma organização não-governamental que atua na promoção da inclusão social de crianças, adolescentes e jovens na periferia da Zona Sul da cidade de São Paulo.

Anualmente, atende a cerca de 6.300 crianças, adoles-centes e jovens em três programas socioeducativos:

Primeiras Letras (2 a 5 anos)

Crê-Ser(6 a 15 anos)

Preparação para o Trabalho (15 a 21 anos)

O Projeto Matizes é a con-cretização da idéia de trabalhar com a arte ceramista nos programas socioeducativos da Ação Comunitária. O projeto iniciado em 2008, envolveu a participação de 2.028 educandos, 42 educadores, uma artista plástica e uma arquiteta, resultando na criação do Jardim das Esculturas, uma exposição permanente e a céu aberto de 60 obras selecionadas para visitação da população.

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O FORNO EA QUEIMA

MATIZES- Uma experiência urbana de arte comunitária -

São Paulo, 2010

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Pelos esforços, compreensão e mobilização para a concretização deste projeto:

Sr. Alexandre Schneider Secretário de Educação

Sr. Celso Seabra Santiago Assessor da Secretaria Municipal de Educação para Projetos Educacionais

Sr. Aldo Antunes de Faria Sodré Engenheiro Núcleo Técnico da Secretaria Municipal de Educação

Maria Carmem da Silva Assessora Secretaria Municipal de Educação

Sr. Luis Ricardo Santoro Subprefeito do Campo Limpo

Sr. Isac Félix dos Santos Assessor técnico de comunicação daSr. Raimundo Silistro Subprefeitura do Campo Limpo / Líder Comunitário

Sr. Fabiano Almeida Lopes Supervisor de Cultura da Subprefeitura do Campo Limpo

Sra. Mary Elizabeth Mandina Gestora do CEU Campo Limpo

Saleti de Abreu Sodré

Suporte pedagógico no período em que o projeto foi desenvolvido:

Helena Komatsu

Izabel Cristina Buccini

AGRADECIMENTOS

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MATIZES

Arte como campo de conhecimento

A experiência da Ação Comunitária do Brasil - SP

Esta declaração retirada dos Parâmetros Curriculares Nacionais exemplifica bem a proposta educativa em artes dos programas socioeducacionais da organização não-governamental Ação Comunitária, aliada à reflexão de que a arte só encontra legitimidade pelo seu valor social.

Isso porque a arte tem sido aplicada, cada vez mais, em processos de humanização para ensinar aos indivíduos sobre si mesmos, revelando a criatividade, a imaginação e o mundo subjetivo. Tal conhecimento pode ser adaptado ao contexto e à realidade de cada sociedade e cultura, com objetivos de desenvolver o ser humano como um ser social. Assim, no convívio com o universo da arte, os educandos podem ter acesso ao fazer artístico como:

• Experiência poética (a técnica e o fazer como articulação de significados e experimentação de materiais, suporte e instrumentações variados);

• Desenvolvimento de potencialidades: percepção, intuição, reflexão, investigação, sensibilidade, imaginação, curiosidade e flexibilidade;

• Experiência de comunicação humana e de interações com o grupo, na comunidade, na localidade e nas culturas;

• Contato com a obra artística como forma sígnica (sua estrutura e organização);

• Vivência da obra de arte como produção cultural (documento do imaginário humano, sua historicidade e sua diversidade).

Enquanto metodologia de ensino da arte, os programas tem como base conceitual a relação que se faz entre a Abordagem Triangular e os Conteúdos para uma Concepção EducativaIntegral, ambos indicados pelo PCN.

PREFÁCIO

“O artista desafia as coisas como são para revelar como poderiam ser,

segundo um certo modo de significar o mundo”

PCN Artes(1997)

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A Abordagem Triangular contempla as relações da arte em três aspectos, todos com igualimportância:

Contextualizar (saberes da História da Arte), Ler (percepção, apreciação) e Fazer (prática).

Os Conteúdos Para Uma Educação Integral, proposto por César Coll (1986), abrangem, além das capacidades cognitivas, as motoras, afetivas, de relação interpessoal e de inserção social, que seriam conceituais, procedimentais e atitudinais. Divisão esta que corresponderia às seguintes questões:

Os conceituais estão relacionados com conceitos propriamente ditos, ou seja, os conhecimentosrelacionados com os fatos, acontecimentos, dados, nomes e códigos. São mais abstratos, pois demandam compreensão, reflexão, análise e comparação.

Os procedimentais envolvem ações ordenadas com um fim, ou seja, direcionadas à realização de um objetivo, àquilo que se aprende a fazer, fazendo.

Os atitudinais podem ser agrupados em: valores, atitudes ou normas. Entre esses conteúdos, podem-se destacar a título de exemplo: a cooperação, a solidariedade, o trabalho em grupo, o gosto pela leitura, o respeito, a ética, as experiências com componentes afetivos.

O planejamento de ações do projeto Matizes procurou alinhar-se a esta relação metodológica, de forma gradativa no cronograma e nas etapas de execução, principalmente por intermédio dos encontros de formação dos educadores sociais, nas supervisões, nas abordagens, orientações e reflexões durante o acompanhamento dos trabalhos dos educandos nas comunidades.

Guilherme Gadelha de Souza

Orientador Pedagógico do Programa Crê-Ser da Ação Comunitária, especialista em Linguagens da Arte e um dos idealizadores do Projeto Matizes

ABORDAGEM TRIANGULAR

Contextualização

Produção

Apreciação

CONTEúDOS PARA UMA CONCEPçãO EDUCATIvA INTEGRAL

Conceituais

Procedimentais

Atitudinais

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MATIZES

PARTE 1 – Matizes de um grande painel humano e cultural 7

Como surgiu o Projeto Matizes 8

João de Barro + formação + produto cultural = Matizes 9

Valores, Saberes e Habilidades 10

A Massa e as Mãos 10

Os Sem Terra 12

Terra à Vista 13

Arquitetura e Contexto 13

Validar e Avaliar 15

Matizes materializado 16

PARTE 2 Aos olhos da artista 17

O começo 18

O Desafio 18

Barro e Cerâmica 19

Com os educadores 20

A Oficina de Trabalho 21

O Forno e a Queima 23

A Prática nas Organizações Comunitárias 23

Com os Jovens do Programa Preparação para o Trabalho 24

Considerações Finais 26

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS 27

ANEXOS 28

A Ação Comunitária 28

ÍNDICE

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PARTE 1 Matizes de um grande painel

humano e cultural

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MATIZESA ideia original do projeto Matizes teve início no ano de 2005, quando se realizava uma parceria com o Núcleo de Ação Educativa do Mube (Museu Brasileiro da Escultura), com o objetivo de dar acesso aos bens culturais da cidade e promover o conhecimento sobre arte em várias modalidades para um grupo de doze crianças e jovens na faixa etária dos 10 aos 14 anos. Eles eram educandos do programa Crê-Ser de educação complementar da Ação Comunitária que, por solicitação do Orientador Pedagógico, foram identificados pelos educadores sociais nas organizações comunitárias pelas suas habilidades artísticas.

Durante seis meses, esses educandos – moradores de comunidades com alta vulnera-bilidade social na zona sul de São Paulo – frequentaram as oficinas de artes no museu e tiveram a oportunidade de se expressar artisticamente e desenvolver habilidades criativas orientadas no “Ateliê Aberto”, nome da parceria realizada com a ação voluntária de artistas plásticos convidados pelo Mube, entre os quais Guto Lacaz e Noêmia Nunes.

No decorrer do processo, a interação entre as crianças e os artistas foram agradáveis e harmoniosas; as oficinas eram alimentadas por questionamentos, práticas e reflexões, principalmente, sobre a arte contemporânea. No fim do semestre, quando se concluiu a parceria, avaliou-se um resultado muito significativo nas aprendizagens dos alunos, tanto na qualidade das produções como na ampliação dos seus conceitos e repertórios sobre o campo da arte visual.

Já que o resultado da parceria havia sido tão expressivo, decidiu-se dar continuidade às oficinas, mas, dessa vez, em forma de projeto cultural que envolvesse a participação de todos os atendidos pelo programa.

O “Ateliê Aberto” transformou- se, portanto, no projeto inicial-mente denominado “João de Barro”, que concebia como produto final a construção de um painel cerâmico pelos educan-dos. O objetivo seria fomentar a conscientização sobre o valor dos bens culturais públicos, en-quanto autores e produtores de um monumento de arte dentro de um museu.

No formato de projeto cultural, precisava-se de apoio financeiro para concretizá-lo. Naquele pe- ríodo, recebeu-se a colaboração do setor de Relacionamentos e Mobilização de Recursos da Ação Comunitária, que enviou o projeto para concorrer ao incentivo da Lei Mendonça de projetos culturais. Entretanto, o projeto não apresentou um formato adequado para a aprovação nos trâmites da referida lei e permaneceu en-gavetado à espera de outra oportunidade.

Como surgiu o Projeto Matizes

Projeto Inicial de Construção

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João de Barro + formação + produto cultural = Matizes

Dois anos depois, aproximadamente, quando a Ação Comunitária resolveu dinamizar a atuação em projetos incentivados por leis governamentais e, devido a essa nova diretriz, solicitou ao programa Crê-Ser que apresentasse um projeto de caráter educativo, que contemplasse a participação e ação conjuntas dos programas de educação complementar CS (Crê-Ser) e PPT (Preparação para o Trabalho). Nessa etapa, o projeto já estava pronto. Após algumas adaptações, o “João de Barro” adquiriu um formato bem mais abrangente para participar da concorrência ao incentivo de projetos culturais do FUMCAD (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), com o novo nome de “Matizes”.

As comunidades que fizeram parte do projeto são conveniadas com a Ação Comunitária para obter assessoria pedagógica e atendem crianças e jovens de 6 a 21 anos de idade. No programa Crê-Ser, os educadores sociais das organizações comunitárias atuam com base nos conteúdos dos encontros de formação, que abordam áreas do conhecimento como comunicação (oral, escrita, corporal, digital), cultura, artes, participação na vida pública (direitos e deveres), raciocínio lógico e ferramentas educativas (jogos, brincadeiras, teatro, dança, música e informática). No programa PPT, as formações abordam os eixos de Autogestão, Trabalho e Cultura.

Na adaptação do projeto, foram dois os motivos que impulsionaram a sua idealização: a formação dos educadores sociais na técnica da cerâmica, com a finalidade de propiciar a multiplicação desse conhecimento aos educandos atendidos pelos programas CS e PPT, e a construção de um produto cultural que fosse realizado por eles na comunidade.

Estipularam-se como os principais objetivos do projeto:

1. Dar suporte artístico e técnico aos educadores sociais dos Programas Crê-Ser e Preparação para o Trabalho sobre o conhecimento da argila e da cerâmica e a sua respectiva multiplicação aos educandos;

2. Criar um produto cultural significativo que represente o trabalho da Ação Comunitária na zona sul de São Paulo.

Quanto ao produto, pensou-se no modelo de uma arte pública, um símbolo de identidade local e de pertencimento cultural na área de atuação da Ação Comunitária, com base na concepção das Cidades Educadoras, na qual todos os integrantes de uma sociedade são responsáveis pela educação de crianças e jovens. Esse ideário segue os princípios da Escola da Ponte, em Portugal, e de seu fundador, José Pacheco, que diz: “Um projeto só poderá encontrar sentido e sustentabilidade se estiver ancorado numa permanente interrogação das suas práticas e escapar à vertigem de fundamen-talismos pedagógicos. Toda a contribuição que faça sentido no projeto é integrada, avaliada, trans-formada em função do contexto e dos seres-autores, porque é um trabalho que precisa ser coletivo, trata-se de construir um projeto de escola e cidade educativa”.

Devido às necessidades técnicas do projeto, precisou-se da assessoria de um especialista em cerâmica para a capacitação dos educadores sociais e de um profissional de arquitetura para projetar e desenhar o formato da obra. A artista plástica Célia Cymbalista e a arquiteta Simone Viterbo, respectivamente, aceitaram o convite.

Essas profissionais foram escolhidas com base em referências pessoais, experiências e familiaridade com projetos socioeducativos e arte pública, conhecimentos indispensáveis que correspondiam às expectativas e à proposta do projeto.

Depois de reuniões e conversas com todos os envolvidos, chegou-se a uma definição do cronograma e dos conteúdos a serem colocados em prática num período de um ano, seu tempo de duração.

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MATIZESPara os educandos participantes dos Programas selecionados para o projeto (6 a 21 anos), o propósito foi especificamente:

- Fortalecer a cidadania, por meio da reflexão sobre identidade cultural e autoestima, ao valorizarem o espaço público comunitário como produtores de um monumento de arte e agentes de preservação e conservação de bens culturais.

Por sua vez, os educadores sociais das comunidades conveniadas tiveram uma oportunidade de entrar em contato com a técnica da cerâmica por meio da assessoria de uma artista plástica especialista.

Uma característica importante observada durante a execução do projeto foi a mobilização coletiva impulsionada pela dinâmica de trabalho de várias comunidades, com o mesmo comprometimento que dinamizou contatos e parcerias com subprefeituras, empresas e lideranças das comunidades.

No cronograma de atividades, contemplaram-se visitas a espaços culturais, com o objetivo de que os alunos tivessem a oportunidade de acesso a bens que ampliassem o repertório, a informação e a percepção desses educandos sobre a arte pública.

A visita a um museu foi importante porque esse espaço está associado ao conceito de patrimônio e bem coletivo, ou seja, vinculado a um conjunto de bens culturais ou naturais, de valor reconhecido para determinada comunidade, região, país ou, mesmo, para a humanidade.

O lugar de referência, mais visitado pelas comunidades devido ao seu caráter de manifestação de arte pública, foi o jardim da Praça da Luz, indicado por abrigar vários exemplares de esculturas. Lá as crianças e os jovens foram acompanhados pelos monitores da Pinacoteca do Estado participaram de oficinas educativas no próprio local.

O tema principal foi arte pública; com base nessa noção geral, as turmas poderiam explorar livremente outros assuntos que estivessem agregados aos seus projetos pedagógicos individuais.

O trabalho em argila desenvolvido pelos educado-res com as crianças e os jovens nas organizações comunitárias foi supervisionado pela artista plástica Célia Cymbalista. O propósito da supervisão era orientar melhor os educadores a respeito das técnicas e dos procedimentos envolvidos na experiência e informá-los sobre o universo procedi-mental no âmbito da modelagem em argila.

O modo de aprendizagem foi um fio condutor importante nas propostas de acompanhamento. O pensar sobre a arte e o fazer a arte formaram um binômio nas ações que permitiriam o desenvolvi-mento do percurso de criação pessoal do educando.

Valores, Saberes e Habilidades

A Massa e as Mãos

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As crianças e os jovens experimentaram, manipularam a argila, aprenderam técnicas variadas e entraram em contato com o repertório da história da arte. A mesma atividade pôde ser trabalhada com educandos de diferentes idades, pois o importante era que a prática artística permitisse a auto-expressão e a superação das barreiras dos estereótipos formais, o encontro com o inusitado.

O processo de aprendizagem dos educandos seria o reflexo da valorização da criação em detrimento da mera reprodução de um objeto. A criação de formas plásticas com a argila passa a ter um significado fundamental para a construção do olhar e do pensamento críticos, presentes na emancipação do indivíduo que cria com base em referências de um repertório livre e pessoal.

A modelagem no barro seria um meio oportuno de descobrir as próprias potencialidades, despertar a autoestima e resgatar aspectos culturais importantes relacionados à história de suas vidas no contexto social do ambiente em que vivem.

Apesar do comprometimento inicial de todos, também se tornaram imprevistas as demandas no cronograma de atividades das organizações comunitárias. Por essa razão, alguns educadores atrasaram ou mesmo deixaram de entregar as produções dos alunos para a instalação final da obra.

Todas as crianças e jovens participantes do projeto produziram, pelo menos, uma peça em argila, mas somente em torno de cem unidades foram selecionadas. Durante a queima das peças em forno de alta temperatura, acontecem alguns imprevistos inerentes ao processo cerâmico, como a quebra de material. Finalmente, chegou-se em torno de cinquenta peças perfeitas para serem coladas nos nichos vazados da parede.

Antes dessa etapa, contudo, foi necessária uma seleção das obras, devido ao pouco espaço disponível, sem nichos suficientes para abrigar todas as peças construídas pelos participantes. A seleção foi compartilhada com os educadores, que, por conseguinte, repassaram-na para os alunos em sala de aula, utilizando como principais critérios a formalidade técnica e a criatividade sem estereótipos. Depois da seleção, as peças foram enviadas ao ateliê da artista plástica para serem queimadas em forno apropriado.

Das comunidades, os educadores sociais trouxeram produções das crianças, dos adolescentes e dos jovens para, conjuntamente, serem analisadas e apresentadas as dificuldades no desenvolvimento do trabalho. Nessa reflexão conjunta, a assessora artística facilitou e enriqueceu as atividades, apresentando muitas possibilidades para dar continuidade ao trabalho e aprofundar as experiências.

O propósito era garantir a liberdade de imaginar e edificar propostas artísticas pessoais ou grupais com base em intenções próprias. A atividade poderia ajudar os alunos a desenvolverem modos interessantes, imaginativos e criadores de fazer e de pensar arte, de forma que exercitassem seus repertórios de expressão e comunicação.

A cerâmica foi aplicada no projeto Matizes como um instrumento singular de conhecimento, interpretação e intervenção, para possibilitar infinitas formas de leitura de uma mesma realidade, de um mesmo mundo. Pela modelagem em argila e confecção de objetos em cerâmica, o educando valeu-se da sensibilidade e criatividade para realizar construções simbólicas que favorecem o redimensionamento do mundo real, questionando-o, transcendendo-o, dando-lhe novos significados e propondo desafios.

Crianças e adolescentes, através do olhar, aprendem a distinguir a criação artística das outras modalidades de conhecimento humano. Por uma utilização particular dessa forma de linguagem, qualquer obra de arte propicia qualidades de comunicação.

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MATIZESEsta é a expressão para definir os episódios ocorridos durante a escolha do espaço que abrigaria as produções das crianças, adolescentes e jovens, um local onde a memória coletiva do grupo e as identidades culturais fossem valorizadas.

Inicialmente, o lugar escolhido foi a avenida Mar Paulista, às margens da represa Billings, por ser significativo como espaço público na região sul de São Paulo, campo de atuação da Ação Comunitária, e muito peculiar pela visualidade urbana na periferia de São Paulo, uma vez que oferece uma panorâmica agradável em direção à água da represa.

Apesar da proposta atrativa do projeto, várias dificuldades foram enfrentadas durante o seu desenvolvi-mento. A maior delas foi conseguir uma autorização para a instalação definitiva do produto, pois se desco-nhecia que o local escolhido pertencia a uma área de preservação ambiental de manancial. Por esse motivo, o projeto deparou-se com processos burocráticos que atrasaram o cronograma de instalação das peças e descartou o plano que norteou o design original. No entanto, o maior entrave aconteceu durante as negocia-ções com o Departamento de Gestão Ambiental e com o Departamento de Patrimônio Imobiliário da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.), proprietária e mantenedora da área. Após quase um ano de contatos e reuniões na EMAE, que havia assegurado à equipe da Ação Comunitária a concessão do espaço, a empresa informou que a área passaria a ser responsabilidade da subprefeitura da Cidade Ademar. Em Abril de 2009, as negociações direcionaram-se para esta subprefeitura.

Consegue-se uma reunião com o subprefeito Beto Mendes, na presença de um vereador, e com os integrantes da Associação de Moradores do Mar Paulista. Após várias discussões, esta Associação, que inicialmente havia apoiado o projeto, posicionou-se contra a sua implementação, com a justificativa de que o local não era apropriado para abrigar qualquer tipo de construção por ser área de manancial. Na realidade, já havia outros interesses para a área. A subprefeitura decidiu agendar uma nova reunião, desta vez no próprio local, com a presença da coordenação de Infra-estrutura Urbana e Obras da subprefeitura, a qual afirmou ter um projeto de urbanização da área com a criação de um parque ecológico. Diante das posições contrárias, o subprefeito sugeriu um “plano B” para o projeto, ou seja, a instalação das peças no Parque Sete Campos, uma grande área de lazer para a população, que estava em construção também próxima à represa. Para tanto, seria necessária apenas a sua autorização, que prometeu realizar imediatamente.

Depois de avaliar o curto prazo de tempo disponível para a conclusão do projeto, decidiu-se optar pela sugestão do subprefeito no Parque Sete Campos, já que o local pertence à região de atuação da Ação Comunitária e não fugia à proposta original do projeto. Após a aprovação informal do subprefeito, surpreendentemente, o projeto deparou-se com uma série de processos burocráticos para a liberação do espaço e construção da obra, pois, apesar de os técnicos da subprefeitura terem o desenho do projeto em mãos, achavam que se tratava apenas de uma escultura e não de uma construção, uma parede com nichos vazados. Esse formato teria de passar pelas mãos da coordenadoria geral das subprefeituras sem previsão para a aprovação final.

Novamente, por causa da burocracia, a Ação Comunitária começou, com urgência, a manter contatos com outras instituições que pudessem abrigar o projeto, como o SESC Interlagos e o Metrô de São Paulo. No entanto, todas tinham período de inscrições, e o tempo para instalar a obra já estava curto demais.

Os Sem Terra

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Como não havia mais tempo hábil, devido aos compromissos do cronograma, decidiu- se lançar outra estratégia: identificar um espaço nas imediações da Ação Comunitária,no bairro Campo Limpo, que pudesse abrigar o projeto. Localizou-se uma pequena praça, bem próxima da organização que havia sido recentemente reformada.

O departamento de cultura da subprefeitura do Campo Limpo foi procurado pela equipe da Ação Comunitária e, por intermédio do supervisor de cultura da região, Sr. Fabiano Almeida Lopes, foi realizada uma reunião com o Subprefeito Luiz Ricardo Santoro, que gostou muito do projeto. Entretanto, a praça indicada situava-se numa região violenta, com histórico de muitos assaltos, e, por con-seguinte, inviável, por medida de segurança, pois infratores poderiam esconder-se atrás do muro da obra. Porém, para solucionar o problema, o subprefeito sugeriu um espaço dentro do Centro de Educação Unificada (CEU) do Campo Limpo.

Por o CEU estar muito próximo da Ação Comunitária, que mantém relações de parceria com esta unidade de ensino, a sugestão foi aceita sem hesitação. Para viabilizar a instalação da obra, foi marcada uma reunião com então gestora do CEU Sra. Mary Elizabeth Mandina, que acatou muito bem o Matizes, uma vez que, coincidentemente, a proposta se encaixaria num outro projeto da Unidade chamado de “Jardim das Artes e da Natureza”.

Para que fosse possível essa instalação novas articulações se fizeram necessárias, dessa vez junto à Secretaria Municipal de Educação, intermediadas pelo Sr. Luiz Ricardo Santoro.

Finalmente, depois de enfrentar mais alguns processos de autorizações, o Matizes foi autorizado e readaptado com o novo design da arquiteta Simone Tartuce. Apesar de ter de desmembrar a obra em várias placas de concreto armado, a arquiteta conseguiu adaptá-la ao novo terreno conservando a leveza e a harmonia do projeto original.

O desenho do projeto Matizes constitui-se um episódio à parte. Da ideia original, consta o memorial descritivo da arquiteta, que registrou imagens para o estudo do melhor local para a construção da obra: um muro de cinco metros (5 m) de comprimento e dois metros e dez centímetros (2,10 m) de altura com vários nichos vazados que abrigaria as produções em cerâmica das crianças, dos adoles-centes e dos jovens.

A arquiteta Simone definiu assim a concepção do projeto:

“A partir das conversas com a equipe do projeto, concluem-se alguns conceitos que foram levados em consideração na elaboração do croqui. São eles:

Terra à Vista

Arquitetura e Contexto

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MATIZESOs Nichos vazados:

A importância deste `elemento arquitetônico´, que denominamos por hora de `parede´ e serve de suporte para as obras, possui a função clara de `exibi-las´, mostrá-las e deve mesclar-se com o entorno. Por esta razão, os nichos encontrarão vazados, como se fossem janelas, recortes da natureza, chamando atenção para as obras que, por sua vez, também se mesclam ao entorno.

Outro aspecto interessante, observado por nós na escolha destes nichos, foi a busca de elementos que nos serviram de inspiração e validação. Neste caso, as peneiras quadradas e vazadas utilizadas nas olarias.

Madeira:

A madeira foi escolhida para revestir os nichos, porque remetem às fôrmas utilizadas nas olarias na fabricação de tijolos (adobe, por exemplo). Quando criado os nichos, avaliei-os como uma alusão às `fôrmas´ que acolhem esses tijolos para os seus determinados fins. A madeira, portanto, é uma `com-panheira´ já conhecida deste `barro´ que agora ganhou forma e volta a ser abrigada pela madeira.

O Concreto Claro:

De um lado a avenida, o asfalto, e do outro a água, a grama, a terra. A avenida parece mais um divisor – cidade/campo. A escolha do concreto vem para integrar estes dois elementos, fundindo-o em um ambiente único, capaz de conviver em harmonia. Quando `criada esta parede´, através dela poderemos ter outros olhares, recortes, descobertas que nos farão refletir, arriscaria aqui dizer, filosofar! Ao apreciar as obras, será impossível desassociá-la do entorno e/ou fixar em um só olhar. Teremos diferentes leituras e olhares e percepções. Outro aspecto, e não menor, o material concreto. O que é o concreto senão uma mistura de materiais minerais que vem da natureza. Ali estão mistura-dos, cimento, areia, pedra e água. O concreto, quanto material, trará a estabilidade e durabilidade para esta proposta de arte pública, perpetuando-a e abrigando-a da ação do tempo.

Paredes construídas com concreto armado na tonalidade cinza claro para o branco. Nesta composição do concreto, o ideal é utilizar areias brancas e cimento branco (CPV – estrutural).

Fundação:

Para esta especificação é necessária fazer um alicerce que suporte o peso próprio desta construção no solo existente no local. Para tanto, é necessário uma análise do solo para classificá-lo e então escolher o tipo de fundação que melhor se adapte ao projeto.

Revestimento de madeira – nichos:

A madeira de demolição é a mais indicada para o uso. Os antigos postes de madeira estão sendo trocados por poste de cimento. Estes são ideais para a uti-lização nos nichos, pois se trata de madeiras que já resistiram ao tempo e de grande durabilidade.

Proteção:

Para o concreto, deve ser impermeabilizado com resinas antipichação. Existe no mercado uma varie-dade de fabricantes, que oportunamente poderemos verificar.

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Para a Madeira, também existem produtos que aumentam sua durabilidade e remove pichações (estes produtos possuem, em média, durabilidade de 05 anos).

Manutenção:

Apenas em caráter informativo, porque verificaremos a manutenção quando fecharmos o projeto e materiais utilizados. Mas, se tratando de concreto, a manutenção ocorre mais facilmente, se optarmos por pintura, por exemplo. A durabilidade da camada de tinta é bem menor que a do concreto. O que deveremos observar, portanto, é quanto à qualidade da proteção do concreto, ao aumento ou não da necessidade de reaplicação da mesma. A manutenção se dará como continuidade do projeto Matizes, pelos alunos das organizações.”

As avaliações do projeto foram mais qualitativas, prin-cipalmente quando se trata de arte em que tudo passa necessariamente, por âmbitos introspectivos e intimistas.

Uma avaliação quantitativa parcial foi realizada pela comparação dos índices iniciais e finais dos indicadores de resultados do aprender a fazer e a conhecer do nosso Sistema de Avaliação de Impactos Sociais (SAMIS) que os educadores sociais alimentam com dados via computador.

Obteve-se, por exemplo, para as crianças e adolescentes do Programa Crê-Ser, uma evolução de 34% no índice do aprender a co-nhecer e de 28% no

aprender a fazer no segundo semestre de 2008, ano de início do projeto. É importante salientar que estes dados são os resultados gerais de todos os indicadores referentes àquelas aprendizagens e que o projeto Matizes veio contribuir para isso.

A avaliação do projeto Matizes nas organizações comunitárias foi um processo de aprendizagem e esteve vinculada às atividades desenvolvidas com argila, nas quais eram analisados os resultados alcançados, principalmente em relação às habilidades técnicas e às qualidades estéticas. Por isso, tinha que ser dinâmica, contínua, permanente e cumulativa. Assim, a cada supervisão, foi realizada uma avaliação do processo como um todo com os participantes do projeto e, com base nos dados coletados, as propostas realizadas foram revistas, por meio de modificações e adapta-ções, sempre visando à melhoria do trabalho.

Pode-se avaliar a finalização do projeto Matizes como um sucesso de ação conjunta entre as organizações e a Ação Comunitária. A formação dos educadores sociais, aliada ao esforço e à dedi-cação da maioria deles, foi fundamental para a concretização da proposta, que trouxe uma nova perspectiva para os resultados concretos dos programas.

Uma obra conjunta construída pelos integrantes das próprias comunidades, da qual se espera que venha contribuir para um novo vínculo de identi-dade com o lugar e que esses componentes sociais sejam agentes de preservação de um bem cultural carregado de significados de pertencimento.

Validar e Avaliar

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MATIZESUma parte do processo que se faz imperativo mencionar foram os enfrentamentos burocráticos, que só dificultam o entendimento sobre o significado e a importância da arte pública.

A burocracia demonstra que as instituições podem não estar preparadas para viabilizar políticas públicas, talvez pelo fato da pouca vocação cultural para aceitarem e aprovarem intervenções estéticas na cidade, notadamente em comu-nidades da periferia, com a finali-dade de embelezar, humanizar e valorizar esteticamente os espaços públicos por meio da arte. Nota-se que a maioria dos serviços estão

centradas no atendimento a questões estruturais e administrativas.

Também é interessante mencionar a declaração da artista plástica assessora do projeto, Célia Cymbalista: “Esta foi uma questão que não entrou em linha de conta ao definirmos o planejamento do projeto Matizes: as inúmeras dificuldades no que se refere à relação da sociedade civil com o poder público. Aprendizado importante que nos trouxe muita angústia e implicou esforços conjuntos, tempo e energias despendidas. No entanto, avaliamos que é importante que essa relação se dê e que o poder público, de alguma forma, não apenas conheça o que fazemos, mas também participe e que se possa estabelecer laços entre a entidade e o governo local”.

Pode-se concluir, portanto, que um dos maiores ganhos para a sociedade de iniciativas como o projeto Matizes, além da proposta educativa, é o fato de a proposta ser concretizada com recursos financeiros do poder público, por meio das leis de incentivos culturais que agora voltam novamente para o público, por meio de uma ação privada.

Em suma, foi compensador viven-ciar a trajetória e ver o projeto de arte pública construída com obras realizadas pelas crianças e pelos jovens nas comunidades, com o apoio da equipe de trabalho da Ação Comu-nitária e de todos os envolvidos na execução do projeto, que se empe-nharam numa idealização que apenas simboliza a luz que clareia o caminho dos educadores.

Aquilo que ilumina e faz motivar e mobilizar pessoas, ouvir e expressar opiniões, aprender, falar, enfrentar desafios, sentir o conhecimento no outro e ver o brilho nos olhos, assim como disse Paulo Freire: “Ensinar tem que ser uma boniteza”.

Matizes materializado

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PARTE 2

Aos olhos da artista

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MATIZES Uma aventura no mundo do barro e da cerâmica a ser experimentada na companhia de pessoas e organizações da periferia da zona sul de São Paulo. Nesse lugar, que é quase uma não-cidade, tão alta é a exclusão social e onde as palavras faltam, precariedade, violência, incerteza, medo, estão talvez muito mais presentes nas falas e no imaginário das pessoas que ali vivem do que em outros lugares.

Mas aventura é isso: a possibilidade de encantamen-to e descoberta. Abrir uma janela, uma porta, deixar passar o ar fresco da esperança e da alegria. As-sim configurou-se, para mim, essa tarefa de apoiar a equipe da Ação Comunitária no desenvolvimento e na consecução deste projeto.

Em 2005 recebi um convite de Guilherme Gadelha de Souza, orientador pedagógico do programa Crê-Ser, para desenvolver um projeto com cerâmica dirigido às organizações comunitárias atendidas pela Ação Comunitária. Retomar o contato com Guilherme, que havia sido meu aluno na FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) muitos anos antes, foi uma surpresa e uma alegria. Enquanto educadora, fiquei mobilizada em saber que depois de tanto tempo um aluno propunha trabalhar em parceria comigo. Ademais, moro na região do manancial do Guarapiranga e participo de organizações da sociedade civil e de redes de entidades da região voltadas à proteção ambiental, ao desenvolvimento sustentável, e à superação da violência e da exclusão social. Aceitei imediatamente. Desenvolver esse projeto configurava-se como uma possibilidade instigante de combinar meus saberes e fazeres de artista e educadora com as atividades sociais e comunitárias na região onde vivo e cuja realidade conheço bem.

O grande desafio da tarefa era compatibilizar minha atuação com a missão da Ação Comunitária, res-peitando a estrutura estabelecida com suas possibilidades e limites. Trazer contribuições significativas para o coletivo de coordenadores pedagógicos, educadores e educandos que pudessem enriquecer, antes de tudo, o trabalho e as vidas das pessoas. Também de forma a capacitar os educadores para desenvolver, nas suas comunidades, um trabalho de criação, utilizando o material cerâmico, cujo resultado pudesse ser organizado sob a forma de uma obra única em um espaço público.

Desde logo, o aspecto que mais me interessou foi a possibilidade de interação e encontros com todos os envolvidos, de tal forma que se pudesse instaurar um processo compartilhado de criação, conheci-mento, formação, ampliação de repertórios. Não tenho interesse por atividades em educação que estejam no campo da funcionalidade e visem a preencher a cabeça das pessoas com conteúdos que sejam úteis para desempenhar certas funções na vida ou fornecer receitas de como fazer coisas. A educação é muito mais do que isso, porque os sistemas educacionais são sempre anacrônicos quando se pensa na velocidade do mundo contemporâneo e tendem a resultar em achatamento da condição humana.

Tanto a sociologia quanto a psicologia e mesmo a filosofia já têm se ocupado dessas questões e denun-ciado seus resultados desastrosos. Mesmo assim, nossa educação formal e até a informal são, ainda, caudatárias desse funcionalismo que leva muito pouco em conta a humanidade em cada um de nós e as reais necessidades para o desenvolvimento das crianças, dos jovens e dos educadores.

O começo

O Desafio

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A origem da cerâmica é a descoberta da terra cozida. A vasilha em terra cozida aparece quando os grupos vinculam-se à terra que cultivam, tecem cestos que forram com terra para receber os grãos da colheita e a água. Por acidente, esses cestos primeiros sofrem a ação de algum fogo, e são descobertas as qualidades da terra cozida: resistente, durável, quase perene. A terra crua é maleável. A terra cozida é a forma conservada. A matéria crua maleável, quan-do cozida, é aquele mesmo corpo transfor-mado em cerâmica.

Descoberta dos povos primitivos, a cerâmica está intimamente ligada à vida cotidiana dos primórdios, ao tempo circular, ao

sagrado. O fazer da cerâmica para os primitivos vai muito além da utilidade dos objetos. Esse fazer, que é encarnado, é o que dá sentido às coisas e constitui as pessoas, e depende de saberes vários e está vinculado às transformações do material e aos sentidos: ver, ouvir, cheirar, manusear a matéria. O gesto é o ponto de partida. Implica a descoberta. Resulta em objetos vivos, matéria transformada e transformadora.

Através dos tempos, as descobertas tornaram-se um saber fazer que foi transmitido e atualizado de geração em geração. Tornou-se um ofício realizado em lugares próprios pelos artífices e artesãos.

A cerâmica é o material de minha escolha enquanto artista, e com ela sinto-me à vontade para explorar possibilidades de criação. Enquanto educadora, sinto-me muito à vontade para explorar e usar o barro e a cerâmica em processos comunitários que propiciam o desenvolvimento e o conhecimento. Criar com a matéria significa a possibilidade de acesso a um certo tipo de conheci-mento do qual temos nos distanciado no mundo contemporâneo. É conhecimento resultante de um mover-se nos campos da estética, da afetividade, do mundo e das coisas tal como se apresentam e com a bagagem que trazemos: a história de nossa vida e dos que nos antecederam. É sempre um ato político. E é o movimento para o futuro, na direção de uma utopia, de um destino, de um vir a ser, das possibilidades.

Barro e Cerâmica

Interesso-me por experiências que escapam a essa sina e que deixam marcas e memória nas almas e nos corpos das pessoas, mais do que nas cabeças, e que sirvam como referências de encontros nos quais as questões éticas tenham prevalência. Respeito, acolhimento, escuta, generosidade, alegria, honestidade, são fundamentos de qualquer ação educativa que considero significativa e que possa favorecer o trânsito pela vida.

Segundo Winnicott, a criatividade é uma faceta originária do ser humano. É a ação criativa que origina o psíquico, e o ser se constitui por meio do gesto; cria o inédito e dá lugar para o ser de liberdade, sempre em trânsito, sempre inacabado. São processos que, para ser férteis e seminais, não podem acontecer na solidão e no isolamento. Todos precisamos estar acompanhados para bem transitar na vida. E justamente me pareceu que era disso que se tratava: uma oportunidade de acompanhar as pessoas em um processo de descobertas e construção coletiva e compartilhada; abrir espaço para o estar e o fazer em comunidade. E nesse fazer, também eu pude transitar pela minha vida e abrir es-paço para o inédito.1

Gravações e DVDs e a presença em algumas aulas do Prof. Dr. Gilberto Safra trouxeram um aporte teórico para min-ha prática de educadora. Menciono, especialmente: “Educação, encanto e transcendência”, palestra para educadores em 24/05/2004; “A loucura como ausência do cotidiano”, palestra de 25/04/98; “Criatividade – Implicações para o ser humano e para a clínica”, de 17/10/2008; “Lugar da educação no processo civilizatório”, aula ministrada em 12/05/2009. Aula ministrada no programa PROFOCO, em 28/11/2009: “Adolescer no mundo contemporâneo”.

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MATIZES

Com a equipe da Ação Comunitária desenhamos o projeto. E decidimos começar com uma oficina de trabalho para os educadores. Pensamos que esse contato com os educadores deveria basear-se na possibilidade de estarmos juntos por toda uma semana, dias inteiros para propiciar oportunidades de convívio entre todos os envolvidos.

Experiências pedagógicas comunitárias precisam de um lugar. Ofereci meu estúdio que é um local propício para desenvolver atividades com barro e cerâmica, com espaço suficiente para um grupo grande, aberto para o verde e para a água. Pensamos que poderia ser bom para a tarefa os educadores serem recebidos em um espaço diferente dos habituais.

Os educadores foram convocados para uma atividade que não escolheram, mas que foi proposta como parte dos conteúdos de formação continuada de educadores contratada nos convênios entre Ação Comunitária e organizações. Era preciso acolhê-los e criar as condições para que pudessem usufruir, em liberdade, daquilo que estava sendo oferecido. Quando preparo o espaço para uma atividade como esta, já estou dentro da atividade. As pessoas com quem vou trabalhar já estão presentes em mim, mesmo sem conhecê-las. Tenho enorme prazer nessa preparação. O espaço torna-se um lugar só na medida em que há acontecimentos que o configurem como tal. Os acontecimentos, fruto da relação das pessoas, são o sopro que traz a alma – anima que transforma espaço em lugar.

Também penso que as experiências significativas necessitam de uma certa intensidade. Dessa forma, elaborei um programa com muitas atividades. Isso, por si só, não garante a intensidade. O que a garante é a forma como as atividades são desenvolvidas.

“Fui atravessado pela experiência e me comovi muito ao ver como isso da experiência, que é tão importante no meu trabalho no grupo de teatro e na minha vida, também era importante para você” – fala do educador Francisco.

O tempo deveria ser distribuído entre as atividades individuais e coletivas, os trabalhos com a matéria propriamente dita, as reflexões sobre o que estava acontecendo com cada participante e com o grupo, tanto no que se refere aos processos quanto às peças em elaboração, a oferta de informações sobre a história da cerâmica e sobre a cerâmica contemporânea, reflexões sobre os processos de criação e descoberta. Também, deveríamos poder elaborar como cada um levaria consigo essa experiência para suas comunidades. É importante que todos possam perceber que nessa travessia alguma coisa acontece que nos modifica, e é a partir daí que vamos continuar nosso trabalho.

O trabalho se dá com base no que já existe e no que já está posto, e precisa poder ser expresso, ventilado, elaborado. Assim, temos superpostas e vivas as biografias de cada um, suas culturas e crenças. Quando falo de cada um, incluo a mim mesma. Também participam as histórias e crenças das organizações nas quais se inserem os educadores e a história, crenças e pressupostos da Ação Comunitária que oferece esta capacitação. Dessa forma, é preciso criar oportunidades para as falas e trocas, comentários, elaborações individuais e coletivas. O que se espera é que cada um possa ir além de suas próprias determinações, abrindo possibilidades. O trabalho deve se desenvolver na direção do que poderá vir a ser, o que, às vezes, só intuímos...

Com os educadores

“O senhor... Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas

que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.

João Guimarães Rosa

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O princípio em que se baseou a oficina de trabalho é oferecer aos educadores uma experiência signifi-cativa com o material cerâmico, de forma análoga àquela que deverão propiciar para os educandos. Trata-se de experiência sensível e expressiva com o material para que se sintam suficientemente familiarizados com todas as etapas do processo cerâmico. Romper com as idéias preconcebidas sobre a matéria barro e estimular os participantes a experimentar novas aproximações com o material fa-vorece descobertas e possibilidades expressivas. Com base nessas descobertas, pode-se reconhecer o que é o fazer criador e a atividade de criação com qualquer material.

Uma formação não é um treino num conjunto de técnicas, mas resulta de um percurso experiencial. Nesse sentido, oferecer aos educadores a oportunidade de trabalhar num estúdio profissional, onde há muitas referências aos fazeres que aí se desenvolvem, onde podem ver e tocar as obras feitas por mim e por outros ceramistas, onde lhes é franqueado o acesso a uma biblioteca especializada, parece-nos um bom ponto de partida. E, como foi dito, tudo estava preparado para recebê-los.2

Nós nos conhecemos nesse dia. Os comentários e as observações iniciais já mostraram que os educadores se encantaram com o estúdio e como estava organizado. Sentiram-se bem logo de início e expressaram essa sensação de diferentes formas. Também fizeram muitas perguntas sobre mim, sobre meu trabalho, minha vida... Rapidamente descobriram que moro no mesmo lugar. Estabeleceu-se um clima de cooperação, alegre e com uma certa intimidade.

Para organizar os trabalhos e atender às necessidades e às solicitações de tantas e diferentes pessoas, solicitei a ajuda de Cristina Maranhão, ex-aluna, fotógrafa, ceramista e atualmente doutoranda em ciências sociais e, especialmente, bem preparada para atividades pedagógicas. Com ela, compartilhei as tarefas e as reflexões sobre o andamento das atividades, bem como os necessários ajustes para ir consolidando, aos poucos, a experiência que estávamos oferecendo.

A Oficina de Trabalho

Éramos umas 40 pessoas envolvidas. Desde logo, ficou muito claro que deveríamos prever muitos espaços e tempos para as trocas. Acontecimentos fazem parte da formação e não podem ser previstos antecipadamente. Mas é certo que se farão presentes e neles reside uma riqueza fundamental para que haja ressonâncias profundas para todos os participantes. Muitas vezes é preciso, na hora, decidir abrir mão de algum conteúdo, ou modificar a ordem das propostas para dar espaço para expressões individuais e reflexões compartilhadas. É preciso atender as pessoas individualmente e o grupo todo, sem perder de vista que devemos passar por todas as etapas do processo cerâmico.

O manejo do tempo é importante e perceber as necessidades do momento, sem atropelar as pessoas nem sempre é fácil. A construção do forno e a queima das peças realizadas durante a semana deveriam encerrar a oficina de trabalho. Essa queima é uma verdadeira celebração e o ponto alto desta etapa. As falas que surgiram na avaliação dão conta disso e evidenciam a importância de propiciar para os educadores atividades e experiências significativas em si, e não apenas instrumen-talizá-los com técnicas a serem aplicadas com os educandos. À medida que cada indivíduo se sente contemplado e enriquecido por meio da atividade comunitária, pode por-se em marcha, transitar, constituir-se e, como decorrência, ocupar-se melhor das tarefas da vida.

2 - Muitos dos conceitos e elaborações sobre processos de criação como forma de conhecimento do mundo e de si, que têm enriquecido o meu trabalho, são fruto da convivência com Sergio Lima.

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MATIZES Numa proposta como essa, é fundamental prestar muita atenção a tudo o que se passa no grupo. É também essencial ter com quem dialogar. Guilherme Gadelha, orientador pedagógico da Ação Comunitária, foi, naquele momento e também na sequência da capacitação, interlocutor muito importante.

Iniciamos a jornada explicitando os objetivos do encon-tro e sua organização prática, o emprego do tempo, as regras de convivência e as primeiras aproximações com o barro.

Programamos almoçar nos quatro primeiros dias, numa instituição que fica próxima do estúdio. Todos os dias caminhamos até lá. No último dia, durante o processo de queima, foi oferecido aos participantes um churrasco muito festivo. Assim, compartilhamos essa refeição, ao mesmo tempo em que acompanhá-vamos os acontecimentos e encantamentos da fornada da qual falo mais adiante.

O programa que organizamos foi completamente cumprido. Na medida do possível, respeitamos os tempos dos participantes. E foi geral o comentário de que gostariam de continuar e ter mais tempo para repetir a experiência. Alguém assim se referiu à oficina de trabalho: “Foi um presente!” Ficou um gosto de quero mais e os educadores saíram muito estimulados e inquietos.

“Meu corpo foi embora, mas minha alma ficou lá” – Sueli, da organização Meu Abacateiro, ao referir-se ao estúdio.

Em todas as etapas da Oficina de Trabalho, focalizamos sempre a possibilidade de consolidar a experiência pessoal de cada um. São as experiências significativas que podem apoiar as pessoas em suas atividades de educadores. E aí, não importa se é fazer cerâmica ou outro fazer qualquer.... Mas, neste caso, era cerâmica, com suas especificidades.

“Essa experiência até mudou meu olhar... Nem imaginava, fiquei maravilhada, foi importante. Minha experiência foi muito forte, as crianças querem passar por tudo o que passei, querem também fazer o forno. E a paixão que você mostrou pelo seu trabalho me apaixonou também. E a paixão com que você mostrou as coisas para nós também passei para as crianças e os jovens.” – Rose, da organização Paulo VI.

Essa fala da Rose surgiu numa conversa quando o projeto já estava chegando ao fim; fiquei tão tocada que me comprometi a ir lá na organização em que trabalha, ajudar a fazer o forno e a queima. Espero que isso aconteça um dia desses....

Especial atenção foi dada para os acontecimentos individuais e coletivos, tentando evidenciar a sua complementação e a importância do sentimento de pertencimento que atividades como essa podem favorecer e estimular. É opinião compartilhada e explicitada no grupo que o sentimento de pertenci-mento é fundamental para as crianças e os adolescentes beneficiários dos projetos sob a coordenação

da Ação Comunitária, grande parte em situação de muita vulnerabilidade, oriundos de famílias que aban-donaram seus lugares e comunidades originárias.

Devem-se criar oportunidades para que este sentimen-to de pertencimento se desenvolva. Todos concordamos que esse é um processo que se dá ao longo do tempo e por meio de atividades múltiplas, assim como o plane-jamento sistemático e coerente, e a reflexão e avalia-ção permanentes devem ser fundamentos de uma ação continuada. Ficou claro que esse projeto apoiado na cerâmica era uma das possibilidades. Penso que uma das razões da grande satisfação que o projeto Matizes

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propiciou aos participantes deve-se ao fato de que, durante a oficina de trabalho, por meio do olhar atento para as pessoas e seus fazeres, todos puderam sentir-se atendidos nas suas necessidades indi-viduais enquanto pessoas, por estar inseridos num processo que vai muito além da capacitação e do treinamento para ações a serem desempenhadas em suas atividades de educadores. Todo o processo privilegiou as pessoas e não as funções por elas desempenhadas.

Isabel Buccini, coordenadora naquele momento do Programa de Preparação para o Trabalho (PPT), que é de curta duração, narra o que um dos educadores deste programa disse a ela: pela primeira vez houve “uma capacitação para mim e foi um presente e um prazer”.

Vários comentários desse tipo reiteram a minha crença na importância das pessoas serem acompanha-das no desenvolver de atividades que levam à descoberta, à criação. E acompanhadas por alguém que possa olhar e testemunhar essas descobertas, esse crescimento. Levando dentro de si essa experiên-cia de ser delicadamente acompanhados, esses educadores serão mais conscientes das necessidades dos educandos e poderão, não apenas acompanhá-los nas suas trajetórias, mas também organizar e oferecer oportunidades para as descobertas e para os fazeres da criação.

Fazer o forno com galhos secos de árvores, jornal velho e barro líquido foi uma atividade da qual todos nós nos envolvemos. Con-figurou-se como a obra do grupo, o fazer em que a cooperação era fundamental. Poder queimar as peças de barro dependia de todos. E o forno foi construído brincando, com prazer e alegria. Acompanhar a queima nos diferentes momentos criou naturalmente um centro, um ponto de convergência para os participantes. Ademais, uma grande fogueira que guarda em seu corpo as obras que resultaram do encontro de todos nós é símbolo por demais forte. As chamas têm um movimento que não para, uma pulsão, uma luz que é vida, cujo movimento é ascendente, rítmico, quente... É uma experiência con-creta da transformação daquilo que é naquilo que pode vir a ser.

As falas dos participantes no final da queima testemunharam que a oficina de trabalho foi, além de uma construção coletiva, um processo gratificante, no qual o sentido de pertenci-mento a um coletivo pôde ser experimentado uma vez que desenvolveram-se olhares frescos e novas atitudes diante de possibilidades de criação e de expressão. A aquisição de habilidades e conhecimentos necessários para o manuseio do barro com vistas a chegar na cerâmica, e também com o objetivo de chegarmos a uma obra coletiva em um espaço público, foi uma decorrência natural.

Logo depois do recesso de julho, os educadores e as educadoras deveriam dar início às primeiras experimentações com os educandos. Começamos, também, a fazer as visitas às organizações para observar e assessorar no desenvolvimento da atividade. Essas visitas foram sempre muito ricas para mim, que pude conhecer os lugares, ter contato com as crianças e os jovens durante o trabalho, conversar com os educadores, ver as peças realizadas. As visitas evidenciam as diferenças e especificidades de cada comunidade e também as diferenças de educador para educador. Há educadores muito identificados com o projeto e outros menos. Há educadores com muita facilidade e disponibilidade para este tipo de tarefa e outros menos. Faz parte da tarefa de coordenação

O Forno e a Queima

A Prática nas Organizações Comunitárias

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MATIZES respeitar as especificidades, motivar mais aqueles que necessitam e fortalecer e subsidiar os que já estão muito estimulados.

Realizamos também encontros com o grupo de educadores para compartilharmos as experiências que levaram a efeito nas comunidades.

Nos encontros, sempre retomamos a proposta e ouvimos atentamente cada educador.

Os educadores expressaram, várias vezes, o quanto a oficina de trabalho da qual participaram em julho ofereceu instrumentos e categorias de pensamento que influenciaram diretamente as ações no trabalho de criação com o barro. Eles trouxeram dúvidas, inquietações e demandas. Reconhecem a grande diferença que faz terem, agora, uma assessoria, um material de boa qualidade e em quantidade adequada, ferramentas e também um objetivo muito claro para o qual estão trabalhando.

Os encontros funcionam para apoiar a sequência das atividades do projeto Matizes com segurança, reavivando o repertório já consolidado, ajudando os educadores a retomar o fio da meada, a atualizar, tornar presente, mais uma vez, os princípios sobre os quais está baseado o Matizes: o significado do trabalho com o barro e com a cerâmica e seu potencial na formação e educação de crianças e jovens enquanto experiência compartilhada, além de consolidar a idéia de que o fazer criador e o fazer com a matéria são formas de conhecer.

Mais uma vez, nesses encontros, oferecemos aos educadores a possibilidade de trabalhar, novamente, com o barro, sempre acompanhando cada um e compartilhando, no grupo, as observações pertinen-tes. Nesses encontros foram mostradas imagens dos croquis do projeto arquitetônico acompanhadas de explicações e justificativas a respeito das escolhas feitas pela arquiteta. O projeto agradou e encantou os educadores.

Levando-se em conta que a passagem dos jovens do PPT pelos programas acompanhados pela Ação Comunitária é muito mais rápida que a do programa CRE-SER, decidimos, em conjunto com os educadores culturais, oferecer aos jovens que estivessem mais envolvidos e interessados no trabalho com o barro dois dias completos de atividade direta comigo. O planejamento foi feito para contemplar uma parte de história da cerâmica, com a projeção de imagens de objetos em cerâmica visando a aumentar o repertório dos jovens no que se refere a esse material expressivo e também estabelecer relações entre esse fazer tradicional, tal como desenvolvido primitivamente e até hoje, de forma artesanal ou como arte. Também evidenciamos as possibilidades industriais e da contemporaneidade tecnológica do material cerâmico. Falamos so-bre diferentes profissões da atualidade nas quais esse material é utilizado, mencionamos o design industrial e atividades correlatas. Esse momento do trabalho suscitou enorme interesse e muita con-versa entre eles, com os educadores e comigo.

A outra atividade proposta foi a realização de peças com o barro. Essa atividade foi acompanhada todo o tempo, ajudando-os a tirar o melhor partido possível do trabalho para se familiarizarem com o material. Desse modo, usaram o barro de forma livre e usufruiram da convivência com partici-pantes de diferentes comunidades.

Oferecemos, também, a oportunidade de os alunos visitarem meu atelier para conhecerem um estúdio cerâmico profissional.

Fizemos uma avaliação, por escrito, e os depoimentos dos participantes indicam que os objetivos foram cumpridos e que a atividade significou um diferencial para aqueles que participaram.

Com os Jovens do Programa Preparação para o Trabalho

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Pergunta: “O que estou levando destes encontros?”

Respostas: “Estou levando conhecimentos sobre argila e arte”; “Estou levando uma grande experiên-cia sobre a arte e mais habilidade para meu dia a dia”; “Estou levando uma visão melhor do que é arte, melhorando minha concentração e observando melhor qualquer tipo de arte”; “Estou levando muita determinação, paciência para conseguir elaborar meu objeto”; “Eu estou levando muito apren-dizado, conhecimento, felicidade de ter tido essa oportunidade e de saber que minha obra vai ser exposta para muitas pessoas poderem ver”; “Muita tranquilidade, pois o contato com o barro nos faz esquecer um pouco nossa vida cotidiana e volto um pouco à minha infância”.

Pergunta: “O que descobri?”

Respostas: “Descobri que cada pessoa tem sua maneira de ver e sua opinião sobre uma obra e também aprendi a respeitar isso”; “Descobri que você sempre pode expressar sua opinião e vontade com a sua obra”; “Descobri que sou capaz; aliás, se eu trabalhasse mais um pouco sairia obra melhor”; “Não preciso ser um artista plástico para construir uma obra, basta partir de um pensamento ou sentimento”; “ Descobri um bom conhecimento em trabalhar em equipe”; “Descobri a história da arte com cerâmica e pude descobrir bastante coisas que eu não conhecia e revi outras coisas que eu conhecia” ; “Descobri que para trabalhar com a argila é preciso ter paciência, cuidado com a massa e deixar acontecer a obra”; “Descobri que eu sou bastante criativo”; “Descobri que eu gosto muito mais de arte do que eu imaginava”.

Pergunta: “Que diferença esses dois dias fizeram para mim?”

Resposta: “Fizeram eu descobrir em mim que sou bem mais do que penso ser”

Na avaliação escrita todos os jovens indicaram que gostariam de repetir a experiência e ter mais tempo para esse tipo de trabalho.

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MATIZESRetomo uma fala minha do início deste texto:

“Criar com a matéria significa a possibilidade de um certo tipo de conhecimento do qual temos nos distanciado no mundo contemporâneo. É conhecimento resultante de um mover-se nos campos da estética, da afetividade, do mundo e das coisas tal como se apresentam, com a bagagem que trazemos, a história de nossa vida e dos que nos antecederam. É sempre um ato político. E é o movimento, por excelência, para o futuro, na direção de uma utopia, de um destino.”

Que utopia é essa? Qual é a esperança que, enquanto grupo, comunidade, partilhamos? Que valores subjazem a esse fazer, que teve um começo e um fim? O que trouxemos para o Projeto Matizes e o que estamos levando conosco e o que estamos deixando para o ente que é a Ação Comunitária? Não é fácil dar respostas a essas perguntas. Mesmo porque, as respostas não residem nas palavras, no discurso, nas medidas, nos indicadores perfeitamente formulados. Residem nos fazeres que estão por vir, nas transformações instauradas e que possibilitam um mundo redescoberto, o novo.

“... as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.

Célia Cymbalista

Artista Plástica, consultora técnica do Projeto Matizes

Considerações Finais

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BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. ParâmetrosCurriculares Nacionais: 1ª a 4ª série. Brasília: SEF/MEC, 1997. v.7.

PACHECO, José. (2006) Caminhos para a Inclusão, Artmed Editora.

SOUZA, Paulo Sergio Bravo de. Eficácia no terceiro Setor: 40 anos de Ação Comunitária. São Paulo: Saint Paul Editora, 2008

Barbosa, Ana Mae. Arte-Educação no Brasil. Editora Perspectiva. Coleção debates. 2002

ZABALA Antoni.(1998) A Prática Educativa: como ensinar, Artmed Editora.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

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MATIZES

Missão

Contribuir de forma contínua e integrada para a inclusão social – educação, cultura, empregabilidade e cidadania – de crianças, adolescentes e jovens em parceria com lideranças comunitárias formal-mente organizadas.

Localização

Rua Amacás, 243

Campo Limpo/ 05792-030 / São Paulo – SP

Contatos

Telefone: 11 58432900

Site: www.acomunitaria.org.br

Empresários paulistas, sensibilizados com a crescente problemática social, inteiraram-se de projetos inovadores e bem-sucedidos de organização humana, na Colômbia e Venezuela, junto às populações que se nuclearam próximo às indústrias petrolíferas, na década de 60.

Nessa mesma época São Paulo despontava como o maior pólo industrial da América do Sul, gerando oportunidade de emprego, incitando correntes migratórias do norte, nordeste e centro-oeste que formaram cortiços, vilas operárias e favelas em terrenos públicos e privados.

Com o apoio técnico da Action International (Fundação Americana de Assessoria Técnica a Organizações Não Governamentais), a Ação Comunitária do Brasil foi fundada em 10 de abril de 1967.

Projetos pilotos para organização humana das comunidades e desenvolvimento de lideranças no início foram implantados num cortiço no bairro da Bela Vista, numa favela no Jaguaré e em duas vilas operárias: Jardim Verônea e Jardim Ibirapuera. Foram realizados para isso estudos da realidade, pesquisas sócio-econômicas, mapeamento e caracterização das áreas.

O foco do trabalho era voltado à formação e articulação de lideranças comunitárias e mobilização de moradores. Diante da pluralidade e complexidade das necessidades da população houve a ampliação das ações nas comunidades.

Em 1971 a Ação Comunitária direciona suas ações para a região sul da cidade de São Paulo. Em 1.991 alinha seu atendimento ao ECA. A medida em que os serviços públicos foram sendo implementados e ao sabor das bruscas políticas sócio-econômicas do país, a Ação Comunitária, com competência e eficácia, redirecionava suas ações sociais juntamente com a comunidade, líderes e parceiros.

A história da Ação Comunitária se identifica com a história da formação e desenvolvimento da periferia da zona sul de São Paulo, atendendo as demandas das comunidades e suprindo as carências emergentes, mantendo como eixos a educação, a cultura e a capacitação profissional: instrumentos de desenvolvimento.

ANEXOSA Ação Comunitária

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Em sua trajetória de 43 anos de existência, a Ação Comunitária vêm conquistando grandes resultados atendendo às demandas das comunidades. Aproximadamente 107.000 crianças e adolescentes com acesso a educação de qualidade e a cultura; 1.000 líderes comunitários capacitados; 3.000 educadores formados; 500 organizações qualificadas com seus serviços otimizados. Foram mais de 600.000 indivíduos que compartilharam do crescimento e desenvolvimento de organizações sociais e de comunidades.

Pelo seu caráter pioneiro e inovador, contribuiu para dar visibilidade ao trabalho social que numa progressão geométrica passou a mobilizar o setor empresarial e pessoas físicas que criaram fundações, institutos e outras organizações da sociedade civil, contribuindo para o surgimento e fortalecimento do terceiro setor.

Através de sua atuação, reconhecida através da chancela da UNESCO aos programas, dos Prêmios Bem Eficiente 1997, 2000 e 2006, e do Prêmio Top Social ADVB 2001, a Ação Comunitária espera promover o desenvolvimento humano e social na região sul da cidade de São Paulo, contribuindo para a melhoria das taxas de alfabetização e de emprego.

Os programas da Ação Comunitária

A Ação Comunitária atualmente possui parceria com 40 organizações conveniadas através de seus programas socioeducacionais e de assessoria pedagógica:

- Programa Primeiras Letras:

Tem como objetivo geral contribuir para o desenvolvimento integral da criança de 2 a 5 anos, considerando seus aspectos físico, afetivo, cognitivo e sua individualidade, de forma articulada com a família e a comunidade, através de situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas, enriquecendo o universo informacional, social, cultural e lúdico das crianças.

Baseado no Referencial Curricular para a Educação Infantil – MEC 1998, os eixos de formação são: identidade, autonomia, movimento, natureza e sociedade, matemática, linguagem oral e escrita, música e artes.

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MATIZES- Programa Crê-Ser

O Programa Crê-Ser (CS) tem como princípio básico desenvolver atividades socioeducacionais comple-mentares para crianças e jovens de 6 a 15 anos, articuladas com a família, a escola e a comunidade. Os outros princípios são enriquecer o universo informacional, cultural e lúdico; estimular a percepção das igualdades e das diferenças com a construção e reconstrução da identidade e do fortalecimento da autoestima; formar cidadãos conscientes de si, do outro, da realidade que os cerca e da capacidade de realização de seus próprios projetos de vida, possibilitando o domínio e a mudança de suas condições sociais.

Os campos do conhecimento desenvolvidos por este programa para este público são: Artes, Participação na vida pública, Cultura, Comunicação e Raciocínio Lógico.

- Programa Preparação para o Trabalho

Seu objetivo é desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes que contribuam para a empregabi-lidade e inclusão social de jovens de 15 a 21 anos pertencentes a famílias de baixa renda. Estabelece uma ampla rede de parcerias com empresas, órgãos públicos e outras ONG’s.

Sua proposta pedagógica baseia-se em 3 eixos: Autogestão (iniciação para o trabalho, comunicação e expressão e atualidades); Cultura (por meio de oficinas de teatro); Trabalho (informática, matemática, atendimento).

Todas as organizações parceiras recebem da Ação Comunitária apoio em sua infra-estrutura e assessoria pedagógica para fortalecer sua ação, de acordo com as seguintes ações:

- Programa de formação continuada de educadores sociais e culturais

Com encontros mensais de capacitação e supervisões mensais na prática com os educadores, nossa equipe técnica desenvolve este programa com o intuito de desenvolver as competências requeridas pelas concepções sustentadoras de cada Programa Socioeducacional.

Os Objetivos específicos são:

• Possibilitar aos educadores compreensão sobre os fundamentos teórico prático, específicos de cada programa;

• Instrumentalizar educadores sociais e culturais para estabelecer parcerias com família, escola e demais recursos da comunidade.

• Propiciar aos educadores sociais condições para monitorar, avaliar e renovar a sua prática educativa, tendo o Sistema de Avaliação e Impactos Sociais - SAMIS como ferramenta de trabalho;

• Promover espaços de reflexão que assegurem o compromisso e envolvimento dos educadores sociais e culturais com a organização de bairro e Ação Comunitária.

- Programa de Desenvolvimento de líderes e gestores comunitários

Por meio de formações bimensais para líderes e gestores separadamente este programa visa desenvolver habilidades e competências nesses públicos para que tenham uma visão estratégica e sustentável na gestão das organizações de bairro conveniadas, melhorando os Programas Socio- educacionais e a qualidade de vidas das pessoas de seu entorno.

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- Programa de fortalecimento às famílias

Dentro dos diversos conteúdos de formação dos educadores, gestores e líderes comunitários encontra-se o tema família. Nossa equipe técnica contribui para a re-significação do trabalho com famílias, estimulando as organizações a envolvê-las ativamente e de forma qualitativa na educação de seus filhos e na gestão da organização, de modo colaborativo visando desenvolver a comunidade.

Além da formação da organização para esse trabalho com famílias a Ação Comunitária também contribui com indicações de profissionais para assessorar diretamente a organização no relaciona-mento com as famílias.

- Núcleo de Cultura e Lazer

Proporciona atividades culturais e de lazer semanalmente às crianças, adolescentes e jovens dos Programas da Ação Comunitária com forte envolvimento da liderança comunitária, pais de educandos e organização comunitária.

Além do educador cultural integrado à equipe pedagógica, o Núcleo de Cultura também dá suporte às atividades recreativas de férias, Mostra Cultural de final de ano onde todas as organizações se reúnem num grande evento cultural e atividades extraclasses (verba para ônibus, ingresso e lanche para 2 saídas culturais por turma).

Para isso conta com uma estrutura própria que sedia 67 colaboradores e oferece salas e auditórios para formações continuadas e um Centro de Multimídia que facilita a pesquisa, busca de informações e construção de conhecimento de todos os atores envolvidos na Ação Comunitária, nas organizações parceiras e convidados.

SAMIS – Sistema de Avaliação de Mudanças e Impactos sociais

O propósito final da forma estruturada de atuação da Ação Comunitária é conhecer e intervir sobre: quais mudanças os Programas da Ação Comunitária promovem na vida das crianças, adolescentes e dos jovens participantes. Para isto desenvolveu um sistema informatizado chamado SAMIS – Sistema de Avaliação de Mudanças e Impactos Sociais, que avalia 100% dos alunos, declarando áreas de resultados referentes à melhoria do desenvolvimento cognitivo, sucesso escolar, desenvolvimento da sociabilidade, individuali-dade, cidadania e emgregabilidade, mudanças positivas nas condições de saúde e de status social.

O Sistema está preparado para fornecer resultados analíticos por educando e por turma, e sintéticos por organização comunitária e por programa. Além de possibilitar o levantamento do perfil dos educandos e das famílias.

A prática de avaliação e sistematização qualifica e dá sentido ao fazer da Ação Comunitária, deixando claro o que se quer construir e transformar e de que maneira isso pode ser feito.

O SAMIS garante:

• Avaliar a eficácia dos programas;

• Aprimorar a atuação de educadores sociais e líderes comunitários;

• Orientar intervenções da equipe técnica para solução de problemas;

• Demonstrar às empresas parceiras o retorno de seus investimentos sociais;

• Atrair novos parceiros;

• Desenvolver know-how replicável;

• Obter ganhos de imagem institucional.

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MATIZES

PRESIDENTE: Paulo Bravo

SUPERINTENDENTE: Celso Freitas

GERENTE DE DESENvOLvIMENTO SOCIAL: Deise Rodrigues Sartori

GERENTE DE PROGRAMAS SOCIOEDUCIONAIS: Rachel Barbosa Matos

GERENTE ADMINISTRATIvO: Josmael Castanho da Silva

GERENTE DE RELACIONAMENTO E MOBILIZAçãO DE RECURSOS: Anatrícia Borges

GESTOR DE PROJETOS: Edson Ferraz

COORDENADORA DO PROGRAMA CRÊ-SER: Ana Carla de Souza

COORDENADORA DO PROGRAMA PREPARAçãO PARA O TRABALHO: Claudia Barone

COORDENADOR ADMINISTRATIvO: Murilo de Santana Vendramini

ORIENTADORES PEDAGÓGICOS:

Maria Eugênia Gregório

Maria Odete da Costa Menezes

Jean Karlo de Oliveira de Souza

Michele Ângela Caetano Scaramuza

ASSISTENTES DE DESENvOLvIMENTO SOCIAL:

Daniela Nunes

Alexandre Magno

ASSISTENTE ADMINISTRATIvO:

Cesar Alexsander da Silva Coelho

CONSULTORIA:

ARQUITETA: Simone Tartuce

REvISOR DE TEXTO: André Lima

Colaboradores da Ação Comunitária envolvidos no Projeto Matizes

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Congregação Evangélica Luterana Ebenezer (Campo Limpo)

Associação dos Moradores do Jardim Magdalena (Campo Limpo)

Associação dos Moradores do Jardim Boa Sorte (Campo Limpo)

Associação de Apoio à Criança e ao Adolescente Bom Pastor (M’Boi Mirim)

União de Moradores da Cidade Julia (Cidade Ademar)

Seara Bendita Instituição Espírita (Cidade Ademar)

Centro de Promoção Humana Nossa Senhora Aparecida e Comunidade Meu Abacateiro (Pedreira)

Associação Comunitária Sociocultural Sul (Capela do Socorro)

Associação à Criança, ao Adolescente e Jovem do Icaraí – Acaji (Capela do Socorro) Grupo Unido pela Reintegração Infantil – Guri (Capela do Socorro)

Associação do Parque Santa Amélia e Balneário São Francisco (Cidade Ademar), Centro de Promoção Humana São Joaquim Santana – Joca e Villa (Cidade Ademar), Movimento Comunitário de Assistência e Promoção Humana – Mocaph (Itapecerica da Serra)

Movimento Renovador Paulo VI (Embu-Guaçu)

Total de crianças, adolescentes e jovens envolvidos = 2028

Total de educadores sociais = 42

Organizações comunitárias conveniadas participantes do projeto

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Apoio

Realização

Cerâmica - Célia Cymbalista

Uma aventura no mundo do barro e da cerâmica a ser experimentada na companhia de pessoas e organizações da periferia da Zona Sul de São Paulo. Nesse lugar, que é quase uma não cidade, tão alta é a exclusão social e aonde as palavras falta, precariedade, violência, incerteza, medo, estão talvez muito mais presentes nas falas e no imaginário das pessoas que ali vivem do que em outros lugares...Mas aventura é isso: a possibilidade de encantamento e descoberta. Abrir uma janela, uma porta, deixar passar o ar fresco da esperança e da alegria.

Arte Pública - Guilherme Gadelha

“... um símbolo de identidade local e de pertencimento cultural na área de atuação da Ação Comunitária, com base na concepção das Cidades Educadoras, na qual todos os integrantes de uma sociedade são responsáveis pela educação de crianças e jovens. Esse ideário segue os princípios da Escola da Ponte, em Portugal, e de seu fundador, José Pacheco, que diz: “Um projeto só poderá encontrar sentido e sustentabilidade se estiver ancorado numa permanente interrogação das suas práticas e escapar à vertigem de fundamentalismos pedagógicos. Toda a contribuição que faça sentido no projeto é integrada, avaliada, transformada em função do contexto e dos seres-autores, porque é um trabalho que precisa ser coletivo, trata-se de construir um projeto de escola e cidade educativa.”