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revista elaborada para a disciplina de linguagem da performance, do curso de graduação em Artes Visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, ministrado pela professora Juliana Moraes.
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REVISTA ATOS
A A revista Atos surgiu
com o intuito de reunir
artistas visuais que atuam
na área da performance,
propondo assim, a
reflexão e a difusão de
trabalhos performáticos.
O apreço pela cultura e
sua propagação é um dos
principais objetivos da
Atos. A cada exemplar
um novo artista será
apresentado. Espero que
o leitor aprecie.
A edição
SUMÁRIO
A ARTISTA ............. ..................................3
A EXECUÇÂO .......... ..................................4
ENTREVISTA ..............................................5
GALERIA .................................... ...............7
VÍDEOS ............................... .....................8
CRÍTICA ....................................................9
A ARTISTA
Raíssa Arruda Medeiros nasceu na cidade de São Paulo, em 1987. Aos nove
anos mudou-se para Santa Catarina com seus pais, e por lá permaneceu na
cidade de Florianópolis até os vinte e três anos. Insatisfeita com sua escolha
acadêmica, abandona o curso de Ciências Sociais e regressa para a cidade de
São Paulo, iniciando a partir de então, em 2011, o curso de Artes Visuais no
Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Com isso, a artista dá início a
diversos trabalhos no campo da arte que vão desde o desenho à performance.
Assim, nesta primeira edição apresentaremos ao leitor Alactar, trabalho
produzido em 2014, pela artista.
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A EXECUÇÃO
As etapas da performance Alactar
iniciam-se em sala de aula, durante a
disciplina de Linguagem da Performance,
no Centro Universitário Belas Artes de
São Paulo, e desdobra-se para além do
teto escolar. Foi uma performance
elaborada não para ser praticada em sala
de aula e sim em um lugar público.
Primeiramente, ela se constrói em 4 atos,
estes praticados em sala de aula: o de
sentar, comer, ordenhar e beber. No
primeiro ato a artista calmamente senta
em uma cadeira diante de uma mesa. Em
cima dessa mesa, Raíssa apoia um copo e
um pão de queijo. No segundo momento,
enquanto ela come o pão, devagar abre os
botões da blusa. No terceiro momento,
com calma, abre seu sutiã de
amamentação, pega o copo e ordenha o
próprio leite. E por último e quarto, bebe-
o.
O processo do trabalho, segundo a artista,
começou num projeto solo, com o
propósito de atuar com esses quatro atos
em um café. Não um café qualquer, mas
o da própria faculdade em que a artista
estuda. Porém, devido as discussões
geradas em sala de aula,durante a sua
graduação, a performance poderia
adquirir um outro valor se praticada em
grupo de mulheres que
aleitam. E assim foi feito, não só, pois
essa mudança gerou também um
deslocamento de local, e o local proposto
fora a Bienal de São Paulo.
Assim, em 2014, durante a XXX Bienal
de São Paulo, as artistas Ághata e Tatiana
Heide, junto a Raíssa, executam Alactar
no café/restaurante da própria Bienal.
Juntas, elas chegam como “quem não
quer nada”. Pedem algo para comer, um
café para tomar e sentam-se à mesa. Em
forma de banquete, a mesa do restaurante
é una: não há divisórias. Assim, é
impossível sentar-se sozinho.
Compartilhando a mesa junto com
desconhecidos as artistas, sem pudor,
colocam seus peitos para fora de seus
sutiãs e ordenham dentro das suas xícaras
de café. E tomam. Tomam o café com
leite. E tomam o leite mesmo sem café. O
tempo de execução da performance dura
em torno de meia hora, o suficiente para
que olhares indiscriminados ou, olhares
mais tímidos, tomem conta da cena que
fora elaborada. Há desconcerto nas
pessoas.
A finalização do trabalho acontece de
forma natural e espontânea. Quando a
conversa acaba, quando o cansaço
começa a invadir seus corpos e a
novidade do início do ato torna-se
comum, já não tem o mesmo impacto, as
artistas sentem que não há mais o que
fazer por ali. Levantam-se, vão embora.
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ENTREVISTA
Em 2014, Raíssa dá início ao seu primeiro trabalho em performance: Alactar. A proposta da artista envolve como
tema o aleitamento, que ainda nos dias de hoje é um “tema-tabu”. Partindo de questionamentos como o da
“hiper-sexualização” dos peitos femininos, a artista trabalha de forma simples e objetiva o corpo feminino em
ação.
Atos - Como foi pra você fazer esta performance?
Raíssa - Fazer um trabalho de performance não é fácil. Sou uma pessoa que, de maneira geral, não gosto de
me expor. Então, fazer este trabalho foi romper uma barreira (bem grande por sinal), pois, além de eu me
expor, eu exponho o meu corpo. Então foi uma experiência renovadora.
“(...) a mulher muitas vezes passa pela humilhação em locais públicos de
ter que se retirar e amamentar seu filho em um local “propício”, e, na
maior parte das vezes, esse local é o fraldário.”
Atos - Como surgiu a proposta? Raíssa - A proposta do Alactar surgiu por uma série de fatores: um deles, e o principal, é que eu amamento, portanto produzo leite; outro é que faço parte de um grupo de mães militantes. Dentre os vários temas que levantamos bandeira, um deles é o tema do aleitamento (por dois anos ou mais).
E nessa conjuntura existe ainda outra subdivisão (se é que posso chamar assim), que é a liberdade pela
amamentação: seja a liberdade da mulher amamentar até quando ela quiser e seja pela liberdade de
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ENTREVISTA
amamentar em público (e os dois juntos). E meu trabalho se enquadra nesse segundo aspecto, do amamentar
em público.
“Já senti esse preconceito. Mas nunca ninguém falou nada pra mim,
mas os olhares fixos, aqueles rostos de desaprovação, cara de nojo, são
aspectos que não tem como não notar, mas finjo que não vejo.”
Atos - Por que você escolheu esse tema?
Raíssa - Por que escolho esse tema? Porque há um preconceito ainda muito grande da amamentação em
locais públicos. Embora hoje se trate muito mais do tema, embora exista cada vez mais informação e divulgação
dos benefícios do aleitamento, da liberdade do aleitamento, a mulher muitas vezes passa pela humilhação em locais
públicos de ter que se retirar e amamentar seu filho em um local “propício”, e, na maior parte das vezes, esse local
é o fraldário.
Atos - Você já foi coagida a amamentar em outro local? Já passou por esse preconceito?
Raíssa - Já senti esse preconceito. Mas nunca ninguém falou nada pra mim, mas os olhares fixos, aqueles rostos de desaprovação, cara de nojo, são aspectos que não tem como não notar, mas finjo que não vejo
Um outro exemplo banal, é quando estou no ônibus com meu filho, aquele excesso de olhar masculino pro meu
peito, é constrangedor! Um saco! Não, não estou mostrando meu peito pra você! E isso não é um atentado ao
pudor!
Por isso é necessário mudar a nossa visão sobre o tema, sobre o papel da mulher, da mãe... Esses
preconceitos cotidianos mostram que a sociedade é ainda muito machista e conservadora. E romper com esse
pensamento é o que propõe Alactar.
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GALERIA
Tatiana Heide a esquerda e Ághata Barbosa à direita
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VÍDEOS
https://www.youtube.com/watch?v=JYp0iq9kI3c
https://vimeo.com/110076118
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Crítica
Por Mayra Madureira
A paulistana Raíssa Arruda Medeiros é aluna do sexto semestre do Curso de Artes
Visuais na Universidade de Belas Artes de São Paulo, hoje tem 27 anos e é mãe. Sua
performance, intitulada ``Alactar´´, foi criada a partir de sua indignação com o modo que as
pessoas em geral se comportam ao vê-la amamentar seu filho em publico. Há um incomodo e
um desconforto com este gesto tão natural do ser humano que a fizeram questionar os aspectos
e padrões machistas que nossa cultura carrega, sendo que neste caso, mostrar os seios não é
atentado ao pudor, mas sim direito de mãe em alimentar seu filho. Devido a experiências
próprias, e com a vontade de questionar a hiper-sexualização dos seios, ela pode conceber
esta performance em 4 atos, o de sentar, comer, ordenhar e beber seu próprio leite em lugares
públicos. A performance foi realizada três vezes por enquanto. A primeira em sala de aula,
depois na 31ª Bienal de São Paulo e por ultimo em frente a Faculdade Belas Artes. Na Bienal,
sentou-se com mais duas amigas na cafeteria, elas também lactantes, esvaziaram seus seios,
tendo como recipiente um copo de café. Beberam. Em frente a Belas Artes, sentou-se só,
desabotoou sua camisa, encheu um copo e foi bebericando enquanto comia um pão de queijo.
A reação das pessoas varia, umas esboçam constrangimento, outras curiosidade, e muitas tem
nojo. É um ato silencioso e solitário. Amamentar é gesto tão puro, tão feminino, normal, e ainda
assim as pessoas ao redor olham com estranhamento. A forma que Raissa faz sua performance
é calma e serena, não é erotizada nem tem a intenção de afrontar os que estão ao redor. É o
simples ser mãe.
A performance foi registrada com fotos e vídeos durante a Bienal e também no dia em
que fez em frente a Faculdade. O projeto da artista ainda tem intenção de uma continuação, ou
seja, reunir mães lactantes e ir a locais públicos, cafeterias principalmente e promover esta
ação, de modo a gerar discussões sobre amamentação e como enfrentar este tabu que causa
tanto desconforto cotidianamente.
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