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Revista Baianade Saúde Pública
v.34, n.4, p.967-979out./dez. 2010
ARtiGO ORiGinAL
FONOAUDIOLOGIA E SERVIÇOS DE SAÚDE NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): ANÁLISE DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA (1990-2005)
Ana Regina Granera Luiz Augusto de Paula Souzab
ResumoO objetivo deste trabalho é analisar as tendências e perspectivas da produção
recente sobre as práticas fonoaudiológicas em Saúde pública. A metodologia está centrada na realização de um levantamento da produção bibliográfica da área (sem a pretensão de esgotá-la), de 1990 até 2005. O período cronológico foi definido em função do fato de que, com o advento do Sistema Único de Saúde, houve um incremento de pesquisas, atuações e publicações na área de Saúde pública devido à maior presença e efetividade da atuação fonoaudiológica nos serviços públicos de saúde. para tanto, foram adotadas como fontes de pesquisa as produções elaboradas em forma de dissertações e/ou teses, livros e/ou capítulos e artigos em periódicos. A análise dos dados levantados aponta que a Saúde pública é uma área importante para a Fonoaudiologia, um campo aberto a ser explorado na atuação e na pesquisa. Conclui-se que, se o tema Fonoaudiologia e Saúde pública entrou mais intensamente para a agenda das atuais produções, então é preciso maior investimento e investigação por parte dos fonoaudiólogos.
palavras-Chave: Fonoaudiologia. Saúde pública. políticas públicas de Saúde.
SpEECH-LAnGUAGE pAtHOLOGY And HEALtH SERViCES in tHE SinGLE HEALtH SYStEM: An AnALYSiS OF SCiEntiFiC RESEARCH (1990-2005)
Abstractthis study is an analysis of the trends and perspectives apparent in recent research
on Speech-Language pathology in the public health sector. this objective was achieved by carrying out a bibliographical review of the field from 1990 to 2005 (though without the claim of being exhaustive). the chronological period was defined by the increase in research, activity and publications in public health due to the implantation of the Single Health System (SUS), which
a Mestre em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professora titular do curso de Fonoaudiologia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
b Doutor em Psicologia (Psicologia Clínica) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Professor titular da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Endereço para correspondência: Rua Território do Amapá, no. 422, apto. 401, Pituba, Salvador, Bahia. CEP: 41830-540. [email protected]
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led to an increase in the number of speech therapists working in the public health sector and their effectiveness. Use was made of dissertations, theses, chapters or books and articles in journals as research sources. An analysis of this data emphasizes the importance of the public health sector to Speech-Language pathology as a field to be explored for research and performance. As the field of Speech-Language pathology becomes more important in current practices in the public health sector a greater investment is needed by its professionals and in terms of research.
Key words: Speech-Language pathology. public health. public health policies.
FOnOAUdiOLOGÍA Y SERViCiOS dE SALUd En EL SiStEMA ÚniCO dE SALUd (SUS): AnÁLiSiS dE LA pROdUCCiÓn CiEntÍFiCA (1990-2005)
Resumen El objetivo de este trabajo es analizar las tendencias y perspectivas de la reciente
producción sobre las prácticas fonoaudiológicas en la salud pública. Metodologicamente se utilizó el análisis bibliográfico sobre el tema, desde 1990 hasta 2005 (sin la pretención de un trabajo absoluto). El marco cronológico fue definido en función del advento del Sistema Único de Salud y el consecuente incremento de las investigaciones, actuaciones y publicaciones en el área de la salud pública, además de una mayor presencia y efectividad de la actuación fonoaudiológica en estos servicios. Se adoptaron como fuentes de investigación las producciones em formato de disertaciones y/o tesis, libros y/o capítulos y artículos publicados en revistas científicas. Los datos obtenidos indican que la salud pública es una importante área para la fonoaudiológia y un campo abierto para la explotación de investigaciones y la actuación. Se concluye que el tema de la fonoaudiología y la salud pública, entraron de forma más intensa en la agenda de las actuales producciones, demandando mayor inversión e investigación de parte de los fonoaudiólogos.
palabras-clave: Fonoaudiología. Salud pública. políticas públicas de salud.
INTRODUÇÃO
A Fonoaudiologia iniciou sua aproximação com a Saúde pública na década
de 1970, tornando-se mais densa na década de 1980 na Secretaria Municipal de Saúde da
cidade de São paulo.1 para tratar da Fonoaudiologia nos serviços públicos de saúde é preciso
retomar, ainda que brevemente, premissas conceituais da Saúde pública, pois é necessário
que o fonoaudiólogo reconheça certas especificidades teóricas, técnicas e institucionais para
compreender e atender às demandas clínicas, preventivas e de promoção à saúde que lhe
forem pertinentes nesse universo.
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O termo saúde pública tem, pelo menos, dois significados. O primeiro refere-se
à condição da saúde do público e o segundo, aos esforços sociais organizados para preservar e
melhorar a saúde de uma dada população. deste modo, saúde pública é a ciência e a arte da
prevenção da doença, prolongamento da vida e promoção da saúde física e da eficiência pelos
esforços comunitários organizados para o saneamento do ambiente, o controle das infecções
na comunidade, a educação do indivíduo nos princípios de higiene pessoal, a organização dos
serviços médicos e de enfermagem para o diagnóstico precoce para o tratamento preventivo
das doenças e o desenvolvimento do maquinário social que assegurará, a cada indivíduo na
comunidade, um padrão de vida adequado para a manutenção da saúde.2
Esta definição é interessante, pois não apenas estabelece a ênfase central de todo
o trabalho da saúde pública, ou seja, promover a saúde e prevenir a doença, como também
enfatiza as diversas estratégias necessárias para trazer à tona saneamento ambiental, esforços
para o controle de doenças específicas, educação para saúde, atenção médica e de enfermagem
e a busca de condições de vida satisfatórias. por fim, deixa claro que, para alcançar esses
objetivos, a ação social organizada é necessária. isto pode ser verificado em vários momentos
da história do Brasil, entre os quais alguns serão mencionados a seguir.
O papel histórico e continuado das políticas e instituições de saúde pode ser
analisado ao longo dos períodos que marcam as principais conjunturas da história do país,
desde a proclamação da República até a restauração dos direitos políticos e civis (cassados no
pós-1964) a partir de 1982.3
A Saúde pública no Brasil, durante grande parte do século xx, recebeu forte
influência do chamado “naturalismo médico”, centrado na enfermidade e no adoecimento do
indivíduo, embora houvesse tentativas e tendências, ainda que não dominantes, de se realçar
os determinantes econômicos e sociais das enfermidades.
A concepção de níveis de prevenção, baseada no modelo de Leavell e Clark,4 foi
incorporada ao discurso da Medicina Comunitária no Brasil, na década de 1960, e orientou
o estabelecimento de níveis de atenção nos sistemas e serviços de saúde, que vigoram até
hoje. Foi amplamente difundida durante os anos 1970 e 1980, juntamente com as propostas
de Atenção primária em Saúde e a ideia de “Saúde para todos no ano 2000”, contida na
declaração de Alma-Ata, que levou à criação das bases para um novo paradigma de saúde.5
O texto da declaração de Alma-Ata6 amplia a visão do cuidado à saúde e
contribui para a superação do campo de ação dos responsáveis pela atenção convencional
dos serviços de saúde. Ela obteve destaque na i Conferência internacional sobre promoção da
Saúde, em Otawa, 1986, na qual foram sugeridos cinco campos de ação para a promoção de
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saúde da coletividade: ambientes suportivos à saúde, construção de políticas públicas saudáveis,
fortalecimento da ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais, reorientação
dos serviços de saúde.
Em 1988, concluiu-se o processo constituinte e foi promulgada a oitava Constituição
do Brasil. A chamada “Constituição Cidadã” foi um marco fundamental na redefinição das
prioridades da política do Estado na área da saúde pública. A Constituição brasileira passou a
ser considerada como uma das mais avançadas do mundo no que diz respeito à saúde.7 nela é
firmado o marco legal do Sistema Único de Saúde (SUS) e o Brasil passa a contar com modernas
diretrizes de saúde, fruto de conquistas importantes do movimento da Reforma Sanitária. de
acordo com a atual Constituição, a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantida
mediante políticas sociais e econômicas que visam a redução do risco de doenças e de outros
agravos, bem como o acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.8
O SUS prevê uma rede regionalizada de ações e serviços, partindo de Sistemas
Locais de Saúde com referência e contra-referências definidas, para oferecer atenção integral
à saúde da população. Em seus princípios organizativos, o SUS propõe a descentralização
da coordenação, regionalização do atendimento e hierarquização dos serviços. Já em seus
princípios doutrinários, defende a Universalidade, a Equidade, a integralidade e a participação
social.9
A Fonoaudiologia, cuja constituição não responde diretamente à lógica e aos
princípios que ensejaram o SUS, segundo suas características e possibilidades, tem buscado
adequar suas práticas e seus saberes às concepções e políticas construídas na esfera desse
sistema. Com isso, tenta avançar e consolidar suas funções sociais no campo da saúde.
Reflexos dessas mudanças têm ocorrido nos currículos de graduação em
Fonoaudiologia e podem ser verificados a partir da última década do século xx, pois houve um
aumento significativo de ações fonoaudiológicas na saúde pública/coletiva, como também um
aumento da produção e divulgação de trabalhos e pesquisas da área.
Com a crescente inserção do fonoaudiólogo nos serviços públicos de saúde, este
profissional passou a se relacionar com os demais membros da equipe de saúde, possibilitando
discussões e articulações entre saberes diversos. A Fonoaudiologia aproxima-se, com isso e mais
intensamente, de fundamentos sociológicos de seu trabalho, num movimento dialético entre
sujeito e sociedade. nesse sentido, a promoção da saúde na área da Fonoaudiologia implica-se
com outras áreas de conhecimento e com a comunidade, nos diversos espaços sociais, nos quais
o homem produz sua história e a si próprio.10 A Fonoaudiologia, no Brasil, passa a caminhar
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ao lado das demais profissões de saúde, para participar ativamente da construção, implantação
e viabilização do SUS. isto implica assumir concepções de linguagem, de sujeito, de saúde e
de sociedade que fundamentem e orientem as práticas fonoaudiológicas pela integralidade,
interdisciplinaridade, intersetorialidade e participação social.
para o fonoaudiólogo, os sentidos do trabalho em saúde podem ser resumidos
numa zona de confluência de competências várias, articuladas numa rede necessariamente
transdisciplinar, na qual vários saberes são convocados a hibridarem-se, compondo a área da
saúde para além das especificidades disciplinares e dos modelos preestabelecidos: um campo
flexível, permeável e, acima de tudo, definido por sua capacidade de se colocar à escuta e de
intervir nas demandas coletivas de saúde, sejam essas expressas por sujeitos individuais ou por
segmentos sociais.11
Assim sendo, o objetivo deste estudo foi realizar uma análise das tendências e
perspectivas da produção recente sobre práticas fonoaudiológicas em Saúde pública no período
de 1990-2005.
MÉTODO
para a realização deste estudo foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, com
caráter retrospectivo e descritivo e com abordagem qualitativa.12 Como se trata de um artigo
de revisão, não houve necessidade de submissão do presente estudo ao Comitê de Ética em
pesquisa.
para atender ao objetivo foi feita uma busca nas bases de dados, usando as
seguintes expressões: “Fonoaudiologia e Saúde pública” e “inserção da Fonoaudiologia na
Saúde pública”. Com esta estratégia foram compilados os dados para a pesquisa. isto significa
dizer que, certamente, deve haver outras produções fonoaudiológicas na área de Saúde pública
que não foram prospectadas pelo recorte desta pesquisa. Além de livros, dissertações e/ou
teses, foram levantados os periódicos científicos correntes relacionados à Fonoaudiologia, como
também foram selecionadas a Revista de Saúde Pública, da Faculdade de Saúde pública de
São paulo, e a Revista Saúde e Sociedade, da Faculdade de Saúde pública (FSp) da USp e da
Associação paulista de Saúde pública.
O período cronológico foi definido em função de que, nesses 15 anos,c com
o advento do SUS, houve um incremento de pesquisas, atuações e publicações na área de
Saúde pública, devido a maior presença e efetividade da atuação fonoaudiológica nos serviços
públicos de saúde.
c 2005 foi o ano de corte da pesquisa, pois o levantamento bibliográfico foi concluído em meados de 2006.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
O levantamento da literatura fonoaudiológica na área de Saúde pública (dissertações,
teses, artigos, livros, capítulos etc.), possibilitou a produção de uma série de elementos, como
também a observação de algumas tendências nesse campo, as quais serão apresentadas a seguir.
pode-se constatar, na Tabela 1, um aumento gradativo e sistemático da produção
científica fonoaudiológica na área de Saúde publica. É importante lembrar que esse incremento
deu-se sob a atmosfera do SUS, o que implicou em diálogo e interação com bases teóricas e
práticas de tal sistema, redundando em revisão de conceitos e da prática de caráter eminentemente
reabilitador, franqueando, assim, a construção de novas práticas fonoaudiológicas.
Tabela 1. distribuição da produção levantada sobre fonoaudiologia e saúde pública, segundo o tipo de publicação – Brasil – 1990-2005
Tipo de publicação
Produção por ano
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 Total
dissertação e/ou tese 0 2 0 1 2 1 1 1 0 2 1 3 0 1 3 0 18
periódicos 1 4 1 0 0 2 2 0 2 1 1 0 4 4 3 4 29
Livro ou capítulo 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2
Total 1 6 0 1 2 5 3 1 2 3 2 3 4 5 6 4 49
O material mais publicado foi artigo em periódicos, num total de 29, sendo os
anos de 2002, 2003, 2004 e 2005, numericamente, os mais frutíferos.
desde que o fonoaudiólogo inseriu-se no serviço público de saúde, passou a se
relacionar com os demais membros da equipe de saúde, o que fomentou discussões e articulações
entre saberes diversos, ampliando a produção e a divulgação de trabalhos e pesquisas na área.
isto gerou, inclusive, necessidades e exigências na formação desses profissionais.
Conforme mencionado, o tipo de publicação mais utilizado foi o periódico. Em
razão disso, fez-se um levantamento da produção científica fonoaudiológica na área de Saúde
pública em todos os periódicos da fonoaudiologia e em dois da área da Saúde pública, pois,
nesses últimos, também apareceram textos de fonoaudiólogos. pode-se observar, na Tabela 2,
que os dois periódicos que mais publicaram sobre a Fonoaudiologia e a Saúde pública foram as
revistas: Distúrbios da Comunicação e Pró-Fono. Vale lembrar que apenas essas duas publicações
cobrem todo o período cronológico estudado.d
d A Revista Lugar em Fonoaudiologia foi publicada regularmente apenas no período de 1989 a 1993; desde então, sofreu descontinuidade.
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Tabela 2. distribuição da produção levantada sobre fonoaudiologia e saúde pública em periódicos com produção de fonoaudiólogos – Brasil – 1990-2005
PeriódicoProdução por ano
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 Total
Cefac - - - - - - - - - - - - - 1 1 2 4
dist. Com. - 1 - - - 1 - - - 1 - - 2 1 2 2 10
Fono Atual - - - - - - - - - - - - 1 - - - 1
pró-Fono - 3 - - - 1 2 - 2 - 1 - 1 - - - 10
Rev. S.B.Fono - - - - - - - - - - - - - - - - -
Rev. Fonobrasil - - - - - - - - - - - - - 1 - - 1
Rev. Lugar Fono - 1 - - - - - - - - - - - - - - 1
Rev. Saúde públ. - - 1 - - - - - - - - - - - - - 1
Rev. Saúde Soc. - - - - - - - - - - - - - 1 - - 1
Total - 5 1 - - 2 2 - 2 1 1 - 4 4 3 4 29
nota: - dado numérico igual a zero.
Além dos periódicos científicos na área da Fonoaudiologia, encontram-se
publicações sobre o tema pesquisado na Revista Saúde Pública, da Faculdade de Saúde pública
de São paulo (um artigo), e na Revista Saúde e Sociedade, da Faculdade de Saúde pública da
USp e da Associação paulista de Saúde pública (também um artigo).
A criação e a consolidação dos cursos de pós-graduação impulsionaram
a elaboração de dissertações de mestrado e teses de doutorado.13 Acrescenta-se que essas
produções, mesmo com divulgação restrita, por estarem atreladas aos programas a que foram
submetidas, deram origem a artigos, livros e trabalhos em congressos, ampliando a produção
científica da Fonoaudiologia em todas as suas especialidades, o que inclui, naturalmente, a
Saúde pública.14
Com a inserção crescente de fonoaudiólogos nos serviços públicos de saúde, esses
profissionais passaram a participar na garantia do direito à saúde e na qualidade da atenção
prestada aos usuários, como também fornecer elementos para que os gestores conheçam as
ações fonoaudiológicas no SUS. nesse escopo, foi possível perceber, nas produções pesquisadas
sobre saúde pública, os seguintes temas de interesse: estudos epidemiológicos, planejamento
e gestão, modelos de atenção à saúde, formação para o SUS e inserção no SUS. isto fica
sistematizado na Tabela 3.
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Tabela 3. distribuição temporal da produção levantada, por categoria temática dos textos – Brasil – 1990-2005
TemáticasProdução por ano
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 Total
Ei - - - - - - - - 1 1 1 - 1 1 1 - 6
pG - - - - 1 - - - 1 - - 1 - - 1 - 4
MAS - 4 1 - - 4 3 1 1 1 1 2 3 4 5 3 33
FS - 1 - 1 1 - - - - 1 - 1 - 1 2 - 8
iS 1 2 - 1 1 1 - 1 - 1 - 2 - 1 2 - 13
Legenda: Estudos epidemiológicos - Ei; planejamento e gestão - pG; Modelos de atenção à saúde - MAS; Formação para o SUS - FS; inserção no SUS – iS.nota: - dado numérico igual a zero.
Vê-se que a categoria temática que predominou foi a de Modelos de Atenção
à Saúde. É natural que isso tenha acontecido logo nos primeiros anos após a implantação do
SUS, pois o fonoaudiólogo começava a se inserir nessa área, necessitando apropriar-se dos
princípios do SUS, que apontam para a importância de uma atenção universal, equânime e
integral à saúde.
trabalhos que enfocaram a inserção e formação para o SUS vieram em seguida,
e estiveram presentes ao longo do período estudado. pode-se esperar também que, após
a entrada desses profissionais nos serviços públicos de saúde, por meio de concursos, eles
necessitassem de capacitação para essa nova inserção.
na última década, foi possível perceber mudanças nos currículos de graduação
em Fonoaudiologia, enfocando os princípios, diretrizes e processos de trabalho do SUS,
colaborando, desta forma, para um aumento de produção nesta temática.
Os trabalhos destacando estudos epidemiológicos surgiram com maior ênfase a
partir de 1998, quando os fonoaudiólogos começaram a coletar dados da comunidade sobre a
comunicação e suas alterações, identificando fatores de risco para os distúrbios fonoaudiológicos
e seus índices de prevalência.
Em menor quantidade, encontram-se os trabalhos que abordam a temática
planejamento e gestão. talvez isto se deva à não apropriação (empowerment)e pelos
fonoaudiólogos das mudanças das profissões de saúde sob o eixo da integralidade, o que mostra
ser possível formular políticas com significado na vida da população.15
e Entende-se por empowerment o processo de capacitação (aquisição de conhecimentos) e de poder político por parte dos indivíduos e da comunidade.
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Após o advento do SUS e com a inserção do fonoaudiólogo nos serviços públicos
de saúde, suas ações passaram a englobar a promoção, proteção e recuperação da saúde nos
diversos aspectos relacionados à comunicação humana em todo o ciclo vital.
nesta perspectiva, as produções levantadas sobre saúde pública mostram trabalhos
(nas várias temáticas) que discutem as seguintes ações em saúde: prevenção, promoção,
reabilitação e educação em saúde.
Após análise dos dados mostrados na Tabela 4, verificou-se que o tipo de ação
em saúde mais frequente nas publicações foi o de promoção de saúde, seguido pela educação
e prevenção. A reabilitação aparece com um número menor de trabalhos.
Tabela 4. distribuição temporal da produção levantada, por tipo de ação em saúde – Brasil – 1990-2005
Tipo de açãoProdução por ano
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 Total
pREV 1 1 1 1 1 1 - 2 1 1 2 4 1 5 1 23
pROM. 3 1 1 1 5 3 - 2 1 1 2 4 - 5 1 30
REAB. 2 - 1 1 4 1 1 - 1 1 1 2 2 3 1 21
EdS 3 1 - - 4 3 1 1 2 1 2 4 2 5 3 32
Legenda: prevenção – pREV.; promoção – pROM.; Reabilitação – REAB.; Educação em Saúde – EdS.nota: - dado numérico igual a zero.
O fonoaudiólogo parece deixar para trás o modelo biomédico e assistencialista
de atenção à saúde, passando a buscar posições que incorporem novos conhecimentos, tanto
de outros segmentos quanto de outros setores, de maneira a criar condições para enfrentar os
agravos de saúde que lhe dizem respeito, em sua complexidade e singularidade. desse modo, a
Fonoaudiologia procura, passo a passo, assumir um papel ainda mais relevante na manutenção
da saúde e da qualidade de vida da população a quem presta serviços.
A produção de trabalhos na área de Educação em Saúde, promoção, prevenção e
Recuperação dão indícios de novas concepções de saúde pelo fonoaudiólogo, pois ali começam
a aparecer trabalhos interdisciplinares, que dialogam e integram saberes, requalificando ideias e
posições teórico-metodológicas, permitindo a abertura (mesmo que prospectiva e inicial) para
uma visão de saúde pautada pela integralidade da assistência.
tendo como referência que o SUS, em seus princípios doutrinários, prevê a
universalidade, a equidade e a integralidade da assistência à saúde, a análise dos achados desta
pesquisa tornou possível também separar as publicações de acordo com o ciclo de vida e/ou o
grupo populacional ao qual se destinavam, tal como mostra a Tabela 5.
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Tabela 5. distribuição temporal da produção levantada por programas ligados a ciclo de vida (cv) e/ou grupo populacional (Gp) – Brasil – 1990-2005
CV - GPProdução por ano
90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 Total
SC - 2 1 - 1 3 1 - - 3 2 2 2 - 4 3 24
SMi - - - - 1 1 1 - 1 1 1 2 - - 4 1 13
AS - - - - 1 2 1 - 1 2 1 2 - - 4 2 16
Si - - - - 1 1 1 - - 1 1 1 1 1 - 1 9
St - - - - 1 2 3 - - 1 1 1 1 2 2 1 15
SM - - - - 1 3 1 1 - 1 1 1 - - - 1 10
SpnE - 1 - - 1 2 1 - - 1 1 1 - 2 - 1 11
SAd - - - - 1 1 1 - - 1 1 1 - 1 - 1 8
Legenda: Saúde da criança (SC); Saúde materno infantil (SMi); Saúde do adolescente (AS); Saúde do idoso (Si); Saúde do trabalhador – St; Saúde mental – SM; Saúde do portador de necessidades especiais – SpnE; Saúde do adulto – SAd.nota: - dado numérico igual a zero.
Os trabalhos que tiveram como tema as programações em saúde surgiram a partir
de 1991 e tornaram-se mais frequentes de 1994 em diante, na medida em que o fonoaudiólogo
passou a rever, mais efetivamente, sua atuação no setor público de saúde. O serviço e as ações
são planejadas e executadas de acordo com as necessidades da comunidade ou, ao menos, tal
preocupação começa a orientar a ação do fonoaudiólogo, aparecendo com algum destaque nas
publicações pesquisadas.
percebe-se uma produção maior para os seguintes grupos: criança, adolescente,
trabalhador e mãe/criança. talvez isto indique alguma carência de produções sobre outros
grupos populacionais. Se for considerado que a atuação fonoaudiológica nos serviços públicos
de saúde deve enfocar princípios, diretrizes e processos de trabalho do SUS, torna-se evidente
a necessidade de também incrementar ações com outros segmentos populacionais.
por outro lado, tal carência indica que há espaço a ser explorado em novas ações,
programas e políticas de saúde em busca de garantir a viabilização, por exemplo, da reabilitação
e da inclusão social de portadores de necessidades especiais,16 que é um segmento social cuja
ação fonoaudiológica mostra-se imprescindível.
Ainda a título de exemplo, outro segmento populacional relevante ao trabalho
fonoaudiológico na saúde pública é a população idosa. É sabido que o número de idosos cresce
significativa e consistentemente. no esteio desse crescimento, o Ministério da Saúde vem
definindo ações e políticas públicas voltadas ao idoso, objetivando criar condições para promover
a longevidade com qualidade de vida, colocando em prática ações voltadas não apenas para os
que estão velhos, mas também para aqueles que irão envelhecer. O fonoaudiólogo tem muito a
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dizer, a fazer e a pesquisar também nesse universo, uma vez que várias questões relacionadas à
saúde, no processo de envelhecimento, dizem respeito à atuação fonoaudiológica: problemas
auditivos, de motricidade orofacial, de voz e de linguagem, oriundos – simultaneamente ou
não – de causas orgânicas, psíquicas e sociais.
pois bem, os dados apresentados, como também as discussões e apontamentos
realizados – com base nos dados e nas referências teóricas utilizadas – permitem a indicação de
algumas tendências, de desafios, potencialidades e necessidades do trabalho fonoaudiológico
no campo da Saúde pública. As dimensões apontadas a seguir compõem um quadro provisório
e parcial, pois o processo continua em curso e a Fonoaudiologia terá sempre muito a conquistar
na atuação e do ponto de vista teórico-metodológico em sua trajetória na Saúde pública.
Conclusivamente, entende-se que a entrada mais efetiva da Fonoaudiologia no
SUS exigiu que sua reflexão e produção científica fossem pautadas e, aos poucos, se organizassem
em função de parâmetros e condicionantes do sistema de saúde brasileiro. tal fato convoca os
fonoaudiólogos a deslocamentos e reorientações em suas posições teóricas e em sua atuação,
colocando em questão convicções e características arraigadas na área, criando possibilidades
extraordinárias para que a Fonoaudiologia abra-se ainda mais ao diálogo interdisciplinar e
intersetorial no campo da saúde e em outros que lhe são fronteiriços.
Essa ampliação de horizontes, tal como os dados permitiram ver, além de
proporcionar um adensamento à produção e à reflexão dos fonoaudiólogos, conferindo-lhes
maior consistência, pode contribuir e, de fato, vem contribuindo para a superação de posições
calcadas em visões disciplinares estritas e em especialidades fechadas sobre si mesmas.
O diálogo e a maior proximidade com a Saúde pública parecem favorecer, ao
menos como tendência, a assunção, pelo fonoaudiólogo, de sua condição de profissional de
saúde, para além da especialidade e das características intrínsecas à profissão.
Essas tendências evidenciam que a Saúde pública é uma área angular à
Fonoaudiologia, seja por concernir diretamente às políticas públicas de saúde, estabelecendo,
portanto, os parâmetros técnicos e normativos aos profissionais dessa área, seja porque
corresponde a um enorme mercado de trabalho e importante campo de pesquisa a ser
conquistado pelos fonoaudiólogos.
A produção da Fonoaudiologia na Saúde pública mostrou-se importante e
contínua, ao longo dos quinze anos pesquisados, ainda que relativamente tímida. isso indica
que, embora mais frequentes, as ações fonoaudiológicas em formação para o SUS, em educação,
em saúde, promoção, prevenção e reabilitação são ainda insuficientes para cobrir as demandas
fonoaudiológicas da população assistida pelo Sistema. isto demonstra a existência de um campo
aberto a ser explorado nesses e em outros planos da atuação e da produção científica, como na
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epidemiologia, por exemplo, no qual pode contribuir para identificar fatores de risco e índices
de prevalência dos distúrbios fonoaudiológicos para populações e regiões do país. Com isso,
os agravos à saúde atinentes à fonoaudiologia serão mais visíveis, indicando necessidades de
inserção do fonoaudiólogo nos serviços e nas equipes de saúde.
Esses profissionais têm tomado consciência do desafio e da necessidade de se
aproximar da Saúde pública, também no plano conceitual e político, pois está longe de dar
conta dessas discussões, em quantidade e qualidade suficientes para ampliar sua participação
e influência no SUS. isto indica, ao contrário do que poderia parecer à primeira vista, uma
tendência otimista, pois a Saúde pública é campo profícuo, ainda possuindo muitos espaços ao
estudo e às realizações fonoaudiológicas.
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Recebido em 8.11.2009 e aprovado em 11.2.2011.
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