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ARTIGO ORIGINAL
UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS PARA AVALIAR AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE BUCAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIA
Camila de Ataíde e Ferraza
Cristiane Simões Barrosa
Liza Barreto Vieirab
Resumo
O objetivo deste trabalho foi demonstrar a importância da aplicação de
instrumentos para avaliar atividades coletivas em saúde bucal. Os instrumentos utilizados,
especialmente elaborados para este fim por graduandos do curso de Odontologia da
Universidade de Fortaleza (Unifor) durante suas atividades curriculares, foram aplicados em
uma Unidade Básica de Saúde e em uma escola do município de Fortaleza. Os instrumentos,
em forma de questionários ilustrados, foram aplicados antes e depois da realização das ações
educativas, a fim de se obter informações a respeito do conhecimento prévio dos participantes
sobre os temas, bem como avaliar o grau de conhecimento adquirido por eles ao final de
todas as atividades. Antes da realização de uma palestra educativa, 41,8% dos participantes
responderam que se deve ir ao dentista frequentemente e 11,4%, apenas em casos de dor
de dente, em oposição, respectivamente, aos 81,7% e 4,7% após a realização das atividades.
Quanto à indagação sobre o que é cárie, 59,4% dos alunos responderam corretamente,
enquanto 87,8% passaram a responder corretamente após a atividade desenvolvida,
demonstrando assimilação do conhecimento pela maioria dos participantes. Percebeu-se
que o uso desses instrumentos foi um recurso importante e alternativo para a avaliação do
aprendizado nas atividades realizadas.
Palavras-chave: Saúde bucal. Educação em saúde. Avaliação. Aprendizagem.
a Cirurgiãs-dentistas graduadas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR).b Cirurgiã-dentista. Mestre em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora de Saúde Coletiva da UNIFOR.
Endereço parra correspondência: Rua Dr. Gilberto Studart, 1369, apto. 702, Cocó, Fortaleza, CE. CEP: 60 190-750. [email protected]
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THE USE OF INSTRUMENTS TO ASSESS ORAL HEALTH EDUCATIVE ACTIONS: REPORT OF AN ACADEMIC EXPERIENCE
Abstract
The aim of this study was to show the importance of instruments to assess oral
health educative actions. These instruments were developed by students from Fortaleza University
Dentistry School, during their academic activities and were applied in a Basic Health Unit and
in a public school at the city of Fortaleza. The instruments, developed as questionnaires with
visual stimuli, were applied before and after the educative health actions, in order to obtain
information related to participants’ previous knowledge about the issues, as well as to evaluate
the level of knowledge they had acquired by the end of all activities. Before the educative action,
41.8% answered that one must go to the dentist frequently and 11.4% said that only in tooth
ache situations, in opposition to, respectively, 81.7% and 4.7% after the accomplishment of the
activity. As to the question on what tooth decay is, 59.4% of the subjects answered correctly before
the action, while 87.8% happened to answer correctly at the end of the activity, demonstrating
knowledge assimilation by most of the participants. As it seems, the use of these instruments is
an important and alternative resource for the assessment of the activities accomplished.
Key words: Oral health. Health education. Assessment. Learning.
INTRODUÇÃO
A concepção de saúde/doença como processo histórico e social caracteriza a
percepção do paciente de forma mais integral. Assim, a educação em saúde torna-se um dos
pilares da odontologia moderna na busca da integralidade de suas ações.1 Segundo alguns
autores,1,2 a educação é um instrumento de transformação social que busca a reformulação
de hábitos; quando fundamentada na criatividade, pode resultar num processo de reflexão
sobre a realidade. Desta forma, as ações em saúde, tanto educativas quanto curativas, visam
proporcionar benefícios para a saúde do paciente, bem como permitir melhoria na qualidade
de vida da população em que são aplicadas. Quando bem desenvolvidas, são capazes de
permitir a identificação das causas reais dos problemas, ao mesmo tempo em que mostram
caminhos para mudanças. Para isso, as ações educativas planejadas devem ser integradas
às atividades desenvolvidas pela equipe de saúde, pois a coerência entre o pensar e o fazer
profissional é fundamental para motivar a mudança de atitude dos pacientes.3
Buscando avaliar as ações educativas realizadas, com o intuito de saber se
o aprendizado em cada ação foi consolidado, alguns instrumentos podem ser aplicados.
Comumente, mapas de produção diária, fichas clínicas, relatórios, questionários com
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perguntas sobre o assunto abordado, ou ainda indagações orais e debates com o público-alvo
são utilizados. No entanto, para se realizar uma boa avaliação, os registros dos dados devem
ser feitos de maneira correta e funcional. Muitas vezes, esse material, ao ser preparado por
pessoas não envolvidas com as ações coletivas, termina por conter itens inadequados ou
em excesso. Portanto, usar poucos formulários, montar relatórios com itens similares aos das
atividades e perguntar aos usuários se estão satisfeitos com o processo em desenvolvimento
são algumas orientações que, ao serem seguidas, costumam ter sucesso. 4
O objetivo deste trabalho foi demonstrar a importância da avaliação de
atividades educativas em saúde bucal através da utilização de instrumentos especialmente
elaborados para este fim. O presente trabalho relata a experiência vivenciada por acadêmicos
graduandos do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor).
MATERIAIS E MÉTODOS
Durante o estágio extramural da disciplina de Saúde Bucal Coletiva do 10º
semestre do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), foram realizadas
atividades visando a promoção de saúde da população escolar da Escola Castelo do Rei e
de usuários da Unidade da Básica de Saúde (USB) Janival de Almeida, ambas localizadas no
bairro Passaré do município de Fortaleza. Este estágio capacita o aluno a atuar na Estratégia
de Saúde da Família com base no referencial epidemiológico, demográfico e sociocultural da
população abrangida pelo serviço, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população,
através da promoção de saúde.
As atividades foram realizadas no período de setembro a novembro de 2007,
após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob registro nº 08-145, e
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes ou responsáveis.
Tais atividades foram planejadas de acordo com a metodologia da problematização, através
da análise de situações-problema.5 Foi utilizado o Método do Arco para a observação da
realidade, o levantamento dos pontos-chave, a teorização, a formulação de hipóteses e
soluções e a aplicação à realidade.6
Assim, para o público escolar, as atividades consistiram em palestras
educativas sobre saúde bucal, traumatismos dentários, bem como realização de escovação
supervisionada, aplicação tópica de flúor gel e levantamento epidemiológico em saúde
bucal. Este foi realizado com o objetivo de avaliar as necessidades em saúde bucal dos
escolares e, para isso, foi utilizada uma ficha padronizada da UNIFOR para levantamento
epidemiológico. Nesta ficha os pacientes foram classificados de acordo com quatro tipos
de perfis — perfil zero, um, dois e três —, os quais caracterizavam o paciente como sem
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atividade de cárie e sem necessidade restauradora, com atividade de cárie e ausência de
necessidade restauradora, sem atividade e com necessidade restauradora e com atividade e
com necessidade restauradora, respectivamente. Além da determinação do perfil, o paciente
foi classificado quanto à necessidade de exodontia e tratamento endodôntico ou periodontal.
Instrumentos de avaliação foram elaborados contendo perguntas objetivas
com alternativas de respostas ilustrativas sobre todos os temas que seriam abordados em
cada encontro. Optou-se por ilustrações para as alternativas das respostas ao invés de frases
escritas, pelo fato da idade das crianças variar dos 4 aos 12 anos e haver crianças ainda não
alfabetizadas (Figura 1). Assim, para que o mesmo questionário pudesse ser aplicado a todos
os alunos, os acadêmicos liam as perguntas e aguardavam que todos as respondessem, para
só então passar para a pergunta seguinte. Aos que ainda não sabiam ler, além da leitura
de cada pergunta, foi realizada a orientação de cada subgrupo de quatro escolares para
a marcação das respostas, que deviam ser circuladas ou assinaladas, mantendo sempre a
imparcialidade do acadêmico na escolha das respostas pelos escolares. O mesmo questionário
foi aplicado em dois momentos distintos, no primeiro e no último dia de visita na escola, a
fim de obter, inicialmente, informações a respeito do conhecimento prévio dos escolares e,
posteriormente, com o objetivo de avaliar o grau de conhecimento adquirido por eles ao final
de todas as atividades, mostrando, assim, a relevância das atividades realizadas e a influência
das ações educativas em saúde no desenvolvimento de hábitos mais saudáveis e na melhoria
da qualidade de vida das crianças. Além do questionário, outros métodos de avaliação do
aprendizado foram utilizados na escola, como indagações individuais e coletivas e atividades
práticas que demonstrassem uma determinada situação-problema e estimulassem os alunos
a desenvolver soluções. Diante das respostas obtidas, tais soluções eram confirmadas ou
corrigidas, demonstrando, de forma simplificada, o porquê de cada uma delas.
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Figura 1. Instrumentos de avaliação das atividades realizadas na Escola Castelo do Rei. Fortaleza (CE), 2007
Para a Unidade Básica de Saúde também foram desenvolvidas atividades
educativas de prevenção das doenças mais prevalentes daquela área, tais como dengue,
hipertensão e diabetes, bem como de orientação de saúde bucal da gestante e do bebê. No
caso específico da dengue, utilizou-se ilustrações retiradas do site do Ministério da Saúde.7
Como o público-alvo da Unidade variava a cada semana, resolveu-se desenvolver para cada
atividade um instrumento de avaliação específico, o qual era aplicado antes do início das
atividades e logo após a realização delas, objetivando, da mesma forma como na escola, saber
o grau de conhecimento prévio e adquirido pelos usuários sobre o tema abordado em cada
atividade, além de tentar despertar o interesse da população em desenvolver hábitos mais
saudáveis e ter cuidados para prevenção de doenças. Também foram utilizadas ilustrações,
possibilitando a participação de toda a população, inclusive dos não-alfabetizados ou com
necessidade de correção visual (Figura 2 e Figura 3).
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Fonte: site do Ministério da Saúde, 2007.
Figura 2. Instrumentos de avaliação da atividade sobre prevenção da dengue aplicado na UBS Janival de Almeida. Fortaleza (CE), 2007
Fonte: site do Ministério da Saúde, 2007.
Figura 3. Instrumentos em que a metodologia da problematização foi aplicada na UBS Janival de Almeida. Fortaleza (CE), 2007
RESULTADOS
Na UBS, durante todos os dias de atividades, cerca de 40 pessoas estiveram
presentes. Na escola foram avaliadas 148 crianças de ambos os sexos, com idades entre 4 e
12 anos.
Após a realização do levantamento epidemiológico em saúde bucal dos
escolares, observou-se que a maioria das crianças avaliadas apresentava atividade de
cárie e necessidade restauradora, o que as enquadrava, portanto, ao perfil 3 (Tabela 1 e
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Tabela 2). Este resultado evidenciou a necessidade da realização de atividades educativas de
promoção de saúde na escola, para que essas condições fossem melhoradas. As crianças que
apresentaram necessidades de tratamento odontológico foram encaminhadas à UBS para
serem tratadas.
Tabela 1. Levantamento epidemiológico em saúde bucal dos alunos da Escola Castelo do Rei. Fortaleza, CE, 2007
Tabela 2. Levantamento de necessidades odontológicas dos alunos da Escola Castelo do Rei. Fortaleza, CE, 2007
Em relação às atividades em saúde bucal planejadas para o público escolar,
pôde-se observar, após a análise da frequência das respostas obtidas pela aplicação dos
instrumentos de avaliação, que o grau de conhecimento adquirido pelos escolares ao
final de todas as atividades foi relevante (Tabela 3), pois antes da realização destas, 41,8%
responderam que se deve ir ao dentista frequentemente e 11,4%, apenas em casos de dor
de dente, em oposição, respectivamente, aos 81,7% e 4,7% após a realização das atividades.
Quanto à indagação do que é cárie, 59,4% dos alunos responderam corretamente, enquanto
87,8% passaram a responder corretamente após a atividade desenvolvida. Diante de uma
lista ilustrativa de diferentes tipos de alimento, 72,2% dos alunos selecionaram apenas
alimentos saudáveis para a saúde bucal na primeira aplicação do questionário, enquanto
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93,9% passaram a escolhê-los posteriormente. Em relação ao que fazer diante de uma avulsão
dentária, metade deles, inicialmente, mostraram que tomariam decisões erradas, porém, após
explicação sobre o tema, esse número foi reduzido para 9,4%. Por fim, quando questionados
sobre a visão que tinham do dentista, inicialmente 4,7% sentiam-se assustados diante desse
profissional. Após o período das visitas esse número caiu para 0% (Tabela 4).
Tabela 3. Análise do instrumento de avaliação das atividades na Escola Castelo do Rei. Fortaleza, CE, 2007
Tabela 4. Análise da visão dos alunos da Escola Castelo do Rei sobre o dentista. Fortaleza, CE, 2007
Na Unidade Básica de Saúde, observou-se também a efetividade das ações
educativas, pois, após as respostas serem comparadas, percebeu-se que o objetivo de cada
ação foi alcançado. No caso específico da atividade sobre a dengue, ficou evidente que
alguns meios de prevenção dessa doença eram negligenciados ou desconhecidos por parte
da população, como, por exemplo, o controle do acúmulo de água em bandejas abaixo da
geladeira, dos vidros em cima de muros utilizados para segurança do domicílio e recipientes
de água para animais domésticos. Notou-se que meios de prevenção como o uso de velas
de andiroba e citronela eram também desconhecidos por grande parte da população. Após
as instruções dadas pelos alunos, estas passaram a ser conhecidas como mais um método
para prevenção da picada do mosquito e os pacientes foram estimulados a ter maior cuidado
com a água acumulada em locais que antes eram ignorados, evitando, assim, a proliferação
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do mosquito e o desencadeamento da doença. Da mesma forma, quando foram abordados
aspectos importantes sobre hipertensão e diabetes, os usuários passaram a perceber a
necessidade do acompanhamento médico, da prática frequente de exercícios e do controle
da dieta. A palestra sobre a gestante e o bebê trouxe às mães maior motivação em cuidar de
sua saúde bucal e de seu filho, pois elas conheceram a real necessidade da escovação dos
dentes da criança, da higienização oral do recém-nascido e da melhoria de sua saúde bucal, a
fim de evitar problemas dentários futuros.
DISCUSSÃO
Uma condição indispensável no processo educativo em saúde bucal é
ouvir e entender o paciente. Conhecendo melhor a realidade em que ele vive, torna-
se possível ajudá-lo a buscar saúde. No entanto, para isso, não basta explicar as causas
das doenças e como evitá-las; há necessidade de criar a vontade de aprender, despertar
atenção, estimular o desejo de atingir os resultados previstos, para desenvolver condições
favoráveis à aprendizagem.3 Assim, um método baseado no reconhecimento do problema,
análise da situação, prescrição educacional, ação, revisão dos resultados e avaliação da
atividade realizada é sugerido.6,8 Por esse motivo, surgiu o interesse no desenvolvimento
de instrumentos que pudessem ser aplicados tanto na escola quanto na Unidade Básica de
Saúde, para avaliar se cada ação teve seu objetivo atingido ou se havia necessidade das ações
serem aperfeiçoadas, bem como seus métodos de aplicação. De acordo com alguns autores,4
o acompanhamento e a avaliação constituem fases essenciais do planejamento, não só porque
permitem saber se o que foi previsto está sendo corretamente realizado, como também por
possibilitar a introdução de ajustes e correções para atividades futuras.
A avaliação em saúde pode ser definida como o procedimento pelo qual se
determina o grau de êxito alcançado na execução de objetivos predeterminados;9 uma vez
que a comunidade e as pessoas que a compõem são o alvo de toda a política de saúde, cabe-
lhes um papel avaliador fundamental e decisivo.
Instrumentos padronizados têm sido cada vez mais utilizados como auxiliares
no diagnóstico e na avaliação da eficácia da ação realizada,10 no entanto, instrumentos de
avaliação de crianças têm algumas peculiaridades em relação aqueles de avaliação de adultos
e devem apresentar versões específicas para diferentes faixas etárias.11 Daí o auxílio dos
acadêmicos na aplicação dos questionários e a utilização de ilustrações para as alternativas das
respostas, ao invés de frases escritas, já que as ações foram aplicadas a crianças de faixa etária
e grau de escolaridade diferentes.
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Após a análise dos instrumentos de avaliação aplicados no presente estudo,
percebeu-se que houve assimilação do conhecimento por parte dos participantes,
demonstrando a efetividade da utilização desses instrumentos na avaliação das atividades
realizadas.
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Recebido em 17.4.2008 e aprovado em 26.3.2009.
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