10
204 ARTIGO ORIGINAL UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS PARA AVALIAR AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE BUCAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIA Camila de Ataíde e Ferraz a Cristiane Simões Barros a Liza Barreto Vieira b Resumo O objetivo deste trabalho foi demonstrar a importância da aplicação de instrumentos para avaliar atividades coletivas em saúde bucal. Os instrumentos utilizados, especialmente elaborados para este fim por graduandos do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor) durante suas atividades curriculares, foram aplicados em uma Unidade Básica de Saúde e em uma escola do município de Fortaleza. Os instrumentos, em forma de questionários ilustrados, foram aplicados antes e depois da realização das ações educativas, a fim de se obter informações a respeito do conhecimento prévio dos participantes sobre os temas, bem como avaliar o grau de conhecimento adquirido por eles ao final de todas as atividades. Antes da realização de uma palestra educativa, 41,8% dos participantes responderam que se deve ir ao dentista frequentemente e 11,4%, apenas em casos de dor de dente, em oposição, respectivamente, aos 81,7% e 4,7% após a realização das atividades. Quanto à indagação sobre o que é cárie, 59,4% dos alunos responderam corretamente, enquanto 87,8% passaram a responder corretamente após a atividade desenvolvida, demonstrando assimilação do conhecimento pela maioria dos participantes. Percebeu-se que o uso desses instrumentos foi um recurso importante e alternativo para a avaliação do aprendizado nas atividades realizadas. Palavras-chave: Saúde bucal. Educação em saúde. Avaliação. Aprendizagem. a Cirurgiãs-dentistas graduadas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). b Cirurgiã-dentista. Mestre em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora de Saúde Coletiva da UNIFOR. Endereço parra correspondência: Rua Dr. Gilberto Studart, 1369, apto. 702, Cocó, Fortaleza, CE. CEP: 60 190-750. [email protected] Revista Baiana v33 n2 2009.indd 204 Revista Baiana v33 n2 2009.indd 204 12/3/2010 09:36:49 12/3/2010 09:36:49

ARTIGO ORIGINAL - files.bvs.brfiles.bvs.br/upload/S/0100-0233/2009/v33n2/a006.pdf · sobre os temas, bem como avaliar o grau de conhecimento adquirido por eles ao final de ... 41,8%

  • Upload
    dinhanh

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

204

ARTIGO ORIGINAL

UTILIZAÇÃO DE INSTRUMENTOS PARA AVALIAR AÇÕES EDUCATIVAS EM SAÚDE BUCAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA UNIVERSITÁRIA

Camila de Ataíde e Ferraza

Cristiane Simões Barrosa

Liza Barreto Vieirab

Resumo

O objetivo deste trabalho foi demonstrar a importância da aplicação de

instrumentos para avaliar atividades coletivas em saúde bucal. Os instrumentos utilizados,

especialmente elaborados para este fim por graduandos do curso de Odontologia da

Universidade de Fortaleza (Unifor) durante suas atividades curriculares, foram aplicados em

uma Unidade Básica de Saúde e em uma escola do município de Fortaleza. Os instrumentos,

em forma de questionários ilustrados, foram aplicados antes e depois da realização das ações

educativas, a fim de se obter informações a respeito do conhecimento prévio dos participantes

sobre os temas, bem como avaliar o grau de conhecimento adquirido por eles ao final de

todas as atividades. Antes da realização de uma palestra educativa, 41,8% dos participantes

responderam que se deve ir ao dentista frequentemente e 11,4%, apenas em casos de dor

de dente, em oposição, respectivamente, aos 81,7% e 4,7% após a realização das atividades.

Quanto à indagação sobre o que é cárie, 59,4% dos alunos responderam corretamente,

enquanto 87,8% passaram a responder corretamente após a atividade desenvolvida,

demonstrando assimilação do conhecimento pela maioria dos participantes. Percebeu-se

que o uso desses instrumentos foi um recurso importante e alternativo para a avaliação do

aprendizado nas atividades realizadas.

Palavras-chave: Saúde bucal. Educação em saúde. Avaliação. Aprendizagem.

a Cirurgiãs-dentistas graduadas pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR).b Cirurgiã-dentista. Mestre em Odontologia Preventiva e Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Professora de Saúde Coletiva da UNIFOR.

Endereço parra correspondência: Rua Dr. Gilberto Studart, 1369, apto. 702, Cocó, Fortaleza, CE. CEP: 60 190-750. [email protected]

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 204Revista Baiana v33 n2 2009.indd 204 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

205

Revista Baiana

de Saúde Pública

abr./jun. 2009v.33, n.2, p. 204-213

THE USE OF INSTRUMENTS TO ASSESS ORAL HEALTH EDUCATIVE ACTIONS: REPORT OF AN ACADEMIC EXPERIENCE

Abstract

The aim of this study was to show the importance of instruments to assess oral

health educative actions. These instruments were developed by students from Fortaleza University

Dentistry School, during their academic activities and were applied in a Basic Health Unit and

in a public school at the city of Fortaleza. The instruments, developed as questionnaires with

visual stimuli, were applied before and after the educative health actions, in order to obtain

information related to participants’ previous knowledge about the issues, as well as to evaluate

the level of knowledge they had acquired by the end of all activities. Before the educative action,

41.8% answered that one must go to the dentist frequently and 11.4% said that only in tooth

ache situations, in opposition to, respectively, 81.7% and 4.7% after the accomplishment of the

activity. As to the question on what tooth decay is, 59.4% of the subjects answered correctly before

the action, while 87.8% happened to answer correctly at the end of the activity, demonstrating

knowledge assimilation by most of the participants. As it seems, the use of these instruments is

an important and alternative resource for the assessment of the activities accomplished.

Key words: Oral health. Health education. Assessment. Learning.

INTRODUÇÃO

A concepção de saúde/doença como processo histórico e social caracteriza a

percepção do paciente de forma mais integral. Assim, a educação em saúde torna-se um dos

pilares da odontologia moderna na busca da integralidade de suas ações.1 Segundo alguns

autores,1,2 a educação é um instrumento de transformação social que busca a reformulação

de hábitos; quando fundamentada na criatividade, pode resultar num processo de reflexão

sobre a realidade. Desta forma, as ações em saúde, tanto educativas quanto curativas, visam

proporcionar benefícios para a saúde do paciente, bem como permitir melhoria na qualidade

de vida da população em que são aplicadas. Quando bem desenvolvidas, são capazes de

permitir a identificação das causas reais dos problemas, ao mesmo tempo em que mostram

caminhos para mudanças. Para isso, as ações educativas planejadas devem ser integradas

às atividades desenvolvidas pela equipe de saúde, pois a coerência entre o pensar e o fazer

profissional é fundamental para motivar a mudança de atitude dos pacientes.3

Buscando avaliar as ações educativas realizadas, com o intuito de saber se

o aprendizado em cada ação foi consolidado, alguns instrumentos podem ser aplicados.

Comumente, mapas de produção diária, fichas clínicas, relatórios, questionários com

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 205Revista Baiana v33 n2 2009.indd 205 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

206

perguntas sobre o assunto abordado, ou ainda indagações orais e debates com o público-alvo

são utilizados. No entanto, para se realizar uma boa avaliação, os registros dos dados devem

ser feitos de maneira correta e funcional. Muitas vezes, esse material, ao ser preparado por

pessoas não envolvidas com as ações coletivas, termina por conter itens inadequados ou

em excesso. Portanto, usar poucos formulários, montar relatórios com itens similares aos das

atividades e perguntar aos usuários se estão satisfeitos com o processo em desenvolvimento

são algumas orientações que, ao serem seguidas, costumam ter sucesso. 4

O objetivo deste trabalho foi demonstrar a importância da avaliação de

atividades educativas em saúde bucal através da utilização de instrumentos especialmente

elaborados para este fim. O presente trabalho relata a experiência vivenciada por acadêmicos

graduandos do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (Unifor).

MATERIAIS E MÉTODOS

Durante o estágio extramural da disciplina de Saúde Bucal Coletiva do 10º

semestre do curso de Odontologia da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), foram realizadas

atividades visando a promoção de saúde da população escolar da Escola Castelo do Rei e

de usuários da Unidade da Básica de Saúde (USB) Janival de Almeida, ambas localizadas no

bairro Passaré do município de Fortaleza. Este estágio capacita o aluno a atuar na Estratégia

de Saúde da Família com base no referencial epidemiológico, demográfico e sociocultural da

população abrangida pelo serviço, objetivando a melhoria da qualidade de vida da população,

através da promoção de saúde.

As atividades foram realizadas no período de setembro a novembro de 2007,

após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa, sob registro nº 08-145, e

assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos participantes ou responsáveis.

Tais atividades foram planejadas de acordo com a metodologia da problematização, através

da análise de situações-problema.5 Foi utilizado o Método do Arco para a observação da

realidade, o levantamento dos pontos-chave, a teorização, a formulação de hipóteses e

soluções e a aplicação à realidade.6

Assim, para o público escolar, as atividades consistiram em palestras

educativas sobre saúde bucal, traumatismos dentários, bem como realização de escovação

supervisionada, aplicação tópica de flúor gel e levantamento epidemiológico em saúde

bucal. Este foi realizado com o objetivo de avaliar as necessidades em saúde bucal dos

escolares e, para isso, foi utilizada uma ficha padronizada da UNIFOR para levantamento

epidemiológico. Nesta ficha os pacientes foram classificados de acordo com quatro tipos

de perfis — perfil zero, um, dois e três —, os quais caracterizavam o paciente como sem

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 206Revista Baiana v33 n2 2009.indd 206 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

207

Revista Baiana

de Saúde Pública

abr./jun. 2009v.33, n.2, p. 204-213

atividade de cárie e sem necessidade restauradora, com atividade de cárie e ausência de

necessidade restauradora, sem atividade e com necessidade restauradora e com atividade e

com necessidade restauradora, respectivamente. Além da determinação do perfil, o paciente

foi classificado quanto à necessidade de exodontia e tratamento endodôntico ou periodontal.

Instrumentos de avaliação foram elaborados contendo perguntas objetivas

com alternativas de respostas ilustrativas sobre todos os temas que seriam abordados em

cada encontro. Optou-se por ilustrações para as alternativas das respostas ao invés de frases

escritas, pelo fato da idade das crianças variar dos 4 aos 12 anos e haver crianças ainda não

alfabetizadas (Figura 1). Assim, para que o mesmo questionário pudesse ser aplicado a todos

os alunos, os acadêmicos liam as perguntas e aguardavam que todos as respondessem, para

só então passar para a pergunta seguinte. Aos que ainda não sabiam ler, além da leitura

de cada pergunta, foi realizada a orientação de cada subgrupo de quatro escolares para

a marcação das respostas, que deviam ser circuladas ou assinaladas, mantendo sempre a

imparcialidade do acadêmico na escolha das respostas pelos escolares. O mesmo questionário

foi aplicado em dois momentos distintos, no primeiro e no último dia de visita na escola, a

fim de obter, inicialmente, informações a respeito do conhecimento prévio dos escolares e,

posteriormente, com o objetivo de avaliar o grau de conhecimento adquirido por eles ao final

de todas as atividades, mostrando, assim, a relevância das atividades realizadas e a influência

das ações educativas em saúde no desenvolvimento de hábitos mais saudáveis e na melhoria

da qualidade de vida das crianças. Além do questionário, outros métodos de avaliação do

aprendizado foram utilizados na escola, como indagações individuais e coletivas e atividades

práticas que demonstrassem uma determinada situação-problema e estimulassem os alunos

a desenvolver soluções. Diante das respostas obtidas, tais soluções eram confirmadas ou

corrigidas, demonstrando, de forma simplificada, o porquê de cada uma delas.

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 207Revista Baiana v33 n2 2009.indd 207 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

208

Figura 1. Instrumentos de avaliação das atividades realizadas na Escola Castelo do Rei. Fortaleza (CE), 2007

Para a Unidade Básica de Saúde também foram desenvolvidas atividades

educativas de prevenção das doenças mais prevalentes daquela área, tais como dengue,

hipertensão e diabetes, bem como de orientação de saúde bucal da gestante e do bebê. No

caso específico da dengue, utilizou-se ilustrações retiradas do site do Ministério da Saúde.7

Como o público-alvo da Unidade variava a cada semana, resolveu-se desenvolver para cada

atividade um instrumento de avaliação específico, o qual era aplicado antes do início das

atividades e logo após a realização delas, objetivando, da mesma forma como na escola, saber

o grau de conhecimento prévio e adquirido pelos usuários sobre o tema abordado em cada

atividade, além de tentar despertar o interesse da população em desenvolver hábitos mais

saudáveis e ter cuidados para prevenção de doenças. Também foram utilizadas ilustrações,

possibilitando a participação de toda a população, inclusive dos não-alfabetizados ou com

necessidade de correção visual (Figura 2 e Figura 3).

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 208Revista Baiana v33 n2 2009.indd 208 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

209

Revista Baiana

de Saúde Pública

abr./jun. 2009v.33, n.2, p. 204-213

Fonte: site do Ministério da Saúde, 2007.

Figura 2. Instrumentos de avaliação da atividade sobre prevenção da dengue aplicado na UBS Janival de Almeida. Fortaleza (CE), 2007

Fonte: site do Ministério da Saúde, 2007.

Figura 3. Instrumentos em que a metodologia da problematização foi aplicada na UBS Janival de Almeida. Fortaleza (CE), 2007

RESULTADOS

Na UBS, durante todos os dias de atividades, cerca de 40 pessoas estiveram

presentes. Na escola foram avaliadas 148 crianças de ambos os sexos, com idades entre 4 e

12 anos.

Após a realização do levantamento epidemiológico em saúde bucal dos

escolares, observou-se que a maioria das crianças avaliadas apresentava atividade de

cárie e necessidade restauradora, o que as enquadrava, portanto, ao perfil 3 (Tabela 1 e

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 209Revista Baiana v33 n2 2009.indd 209 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

210

Tabela 2). Este resultado evidenciou a necessidade da realização de atividades educativas de

promoção de saúde na escola, para que essas condições fossem melhoradas. As crianças que

apresentaram necessidades de tratamento odontológico foram encaminhadas à UBS para

serem tratadas.

Tabela 1. Levantamento epidemiológico em saúde bucal dos alunos da Escola Castelo do Rei. Fortaleza, CE, 2007

Tabela 2. Levantamento de necessidades odontológicas dos alunos da Escola Castelo do Rei. Fortaleza, CE, 2007

Em relação às atividades em saúde bucal planejadas para o público escolar,

pôde-se observar, após a análise da frequência das respostas obtidas pela aplicação dos

instrumentos de avaliação, que o grau de conhecimento adquirido pelos escolares ao

final de todas as atividades foi relevante (Tabela 3), pois antes da realização destas, 41,8%

responderam que se deve ir ao dentista frequentemente e 11,4%, apenas em casos de dor

de dente, em oposição, respectivamente, aos 81,7% e 4,7% após a realização das atividades.

Quanto à indagação do que é cárie, 59,4% dos alunos responderam corretamente, enquanto

87,8% passaram a responder corretamente após a atividade desenvolvida. Diante de uma

lista ilustrativa de diferentes tipos de alimento, 72,2% dos alunos selecionaram apenas

alimentos saudáveis para a saúde bucal na primeira aplicação do questionário, enquanto

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 210Revista Baiana v33 n2 2009.indd 210 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

211

Revista Baiana

de Saúde Pública

abr./jun. 2009v.33, n.2, p. 204-213

93,9% passaram a escolhê-los posteriormente. Em relação ao que fazer diante de uma avulsão

dentária, metade deles, inicialmente, mostraram que tomariam decisões erradas, porém, após

explicação sobre o tema, esse número foi reduzido para 9,4%. Por fim, quando questionados

sobre a visão que tinham do dentista, inicialmente 4,7% sentiam-se assustados diante desse

profissional. Após o período das visitas esse número caiu para 0% (Tabela 4).

Tabela 3. Análise do instrumento de avaliação das atividades na Escola Castelo do Rei. Fortaleza, CE, 2007

Tabela 4. Análise da visão dos alunos da Escola Castelo do Rei sobre o dentista. Fortaleza, CE, 2007

Na Unidade Básica de Saúde, observou-se também a efetividade das ações

educativas, pois, após as respostas serem comparadas, percebeu-se que o objetivo de cada

ação foi alcançado. No caso específico da atividade sobre a dengue, ficou evidente que

alguns meios de prevenção dessa doença eram negligenciados ou desconhecidos por parte

da população, como, por exemplo, o controle do acúmulo de água em bandejas abaixo da

geladeira, dos vidros em cima de muros utilizados para segurança do domicílio e recipientes

de água para animais domésticos. Notou-se que meios de prevenção como o uso de velas

de andiroba e citronela eram também desconhecidos por grande parte da população. Após

as instruções dadas pelos alunos, estas passaram a ser conhecidas como mais um método

para prevenção da picada do mosquito e os pacientes foram estimulados a ter maior cuidado

com a água acumulada em locais que antes eram ignorados, evitando, assim, a proliferação

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 211Revista Baiana v33 n2 2009.indd 211 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

212

do mosquito e o desencadeamento da doença. Da mesma forma, quando foram abordados

aspectos importantes sobre hipertensão e diabetes, os usuários passaram a perceber a

necessidade do acompanhamento médico, da prática frequente de exercícios e do controle

da dieta. A palestra sobre a gestante e o bebê trouxe às mães maior motivação em cuidar de

sua saúde bucal e de seu filho, pois elas conheceram a real necessidade da escovação dos

dentes da criança, da higienização oral do recém-nascido e da melhoria de sua saúde bucal, a

fim de evitar problemas dentários futuros.

DISCUSSÃO

Uma condição indispensável no processo educativo em saúde bucal é

ouvir e entender o paciente. Conhecendo melhor a realidade em que ele vive, torna-

se possível ajudá-lo a buscar saúde. No entanto, para isso, não basta explicar as causas

das doenças e como evitá-las; há necessidade de criar a vontade de aprender, despertar

atenção, estimular o desejo de atingir os resultados previstos, para desenvolver condições

favoráveis à aprendizagem.3 Assim, um método baseado no reconhecimento do problema,

análise da situação, prescrição educacional, ação, revisão dos resultados e avaliação da

atividade realizada é sugerido.6,8 Por esse motivo, surgiu o interesse no desenvolvimento

de instrumentos que pudessem ser aplicados tanto na escola quanto na Unidade Básica de

Saúde, para avaliar se cada ação teve seu objetivo atingido ou se havia necessidade das ações

serem aperfeiçoadas, bem como seus métodos de aplicação. De acordo com alguns autores,4

o acompanhamento e a avaliação constituem fases essenciais do planejamento, não só porque

permitem saber se o que foi previsto está sendo corretamente realizado, como também por

possibilitar a introdução de ajustes e correções para atividades futuras.

A avaliação em saúde pode ser definida como o procedimento pelo qual se

determina o grau de êxito alcançado na execução de objetivos predeterminados;9 uma vez

que a comunidade e as pessoas que a compõem são o alvo de toda a política de saúde, cabe-

lhes um papel avaliador fundamental e decisivo.

Instrumentos padronizados têm sido cada vez mais utilizados como auxiliares

no diagnóstico e na avaliação da eficácia da ação realizada,10 no entanto, instrumentos de

avaliação de crianças têm algumas peculiaridades em relação aqueles de avaliação de adultos

e devem apresentar versões específicas para diferentes faixas etárias.11 Daí o auxílio dos

acadêmicos na aplicação dos questionários e a utilização de ilustrações para as alternativas das

respostas, ao invés de frases escritas, já que as ações foram aplicadas a crianças de faixa etária

e grau de escolaridade diferentes.

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 212Revista Baiana v33 n2 2009.indd 212 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49

213

Revista Baiana

de Saúde Pública

abr./jun. 2009v.33, n.2, p. 204-213

Após a análise dos instrumentos de avaliação aplicados no presente estudo,

percebeu-se que houve assimilação do conhecimento por parte dos participantes,

demonstrando a efetividade da utilização desses instrumentos na avaliação das atividades

realizadas.

REFERÊNCIAS 1. Petry PC. Conceito amplo de prevenção e saúde – doença como processo.

In: Puricelli E. 1º molar permanente: uma biografia da odontologia. São Paulo: Artes Médicas; 1998. p. 29-32.

2. Resende ALM. Saúde dialética do pensar e do fazer. São Paulo: Cortez; 1986.

3. Petry PC, Pretto SM. Educação e motivação em saúde bucal. In: Kringer L. Aboprev: promoção de saúde bucal. 3ª ed. São Paulo: Artes Médicas; 2003. p. 371-385.

4. Pinto VG. Saúde bucal coletiva. 4ª ed. São Paulo: Santos; 2000.

5. Goulart LMHF, Erichsen ES, Piancastelli CH, Ribeiro CMP, Noronha FSM. Aprendizagem baseada em problemas e microbiologia no Curso de Medicina da UFMG. R Brasil. Educ. Méd. set./dez. 2001;25(3):22-7.

6. Bordenave JD, Pereira AM. Estratégias do ensino-aprendizagem. 19ª ed. Petrópolis: Vozes; 1998.

7. Brasil. Ministério da Saúde. Portal da saúde. Extraído de [http://portal.saude.gov.br/saude/area], acesso em [14 de abril de 2008].

8. Scotney N. Educação para a saúde - manual para pessoal de saúde da zona rural. 2ª ed. São Paulo: Paulinas; 1981. (Coleção Saúde e Comunidade).

9. Oliveira DR. Planejamento estratégico - conceitos, metodologias, práticas. São Paulo: Atlas; 1997.

10. Streiner DL. Thinking small: research designs aprorpiate for clinical practice. Can J Psychiatr. 1998;43(7):737-41.

11. Duarte CS, Bordin IAS. Instrumentos de avaliação. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):55-8.

Recebido em 17.4.2008 e aprovado em 26.3.2009.

Revista Baiana v33 n2 2009.indd 213Revista Baiana v33 n2 2009.indd 213 12/3/2010 09:36:4912/3/2010 09:36:49