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Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo/UEPG

Revista Cenáculo

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Primeira edição da Revista Cenáculo sobre a cultura popular no Paraná

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Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo/UEPG

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Foto: Danilo Schleder

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Trabalho de Conclusão de curso de Jornalismo/UEPG.Reportagem e edição: André PackerFotos: André Packer e Danilo SchlederDiagramação: André PackerIlustração da Capa: Thiago SitOrientação: Karina Janz Woitowicz

EditorialA Revista Cenáculo surge com uma proposta diferente e in-édita no jornalismo cultural do Paraná. Somos a primeira revista virtual que pretende destacar a cultura popular do nosso Estado por meio da valorização da reportagem. Queremos mostrar a diversi-dade cultural do Paraná, dest-acando as produções culturais sem visibilidade e as manifes-tações desconhecidas de grande parte da população. Com isso, olhamos além do que o mercado cultural tradicional diz que é cultura. Adefinição de cultura como algo elitizado e in-acessível a certos setores sociais, ou como produto da indústria da cultura e do entretenimen-to não será encontrada nessas páginas. De modo algum. Aqui, olhamos para a cultura que está nos bares, nas brincadeiras das

crianças, e em tantos outros lugares que costumam passar quase imperceptíveis em meio à vida cotidiana. “Cenáculo” foi o primei-ro de uma incrível tradição de periódicos literários no Paraná. A publicação surgiu em 1985 e, hoje, homenageamos esse veículo com o nome daquele que começou o leque de jornais culturais do Paraná, que ainda contou com os geniais Joaquim e Nicolau. Tema esse que guia a entrevista da primeira edição da revista, com o criador do Rele-vo, Daniel Zanella. Esperamos que todos os pais de santo, quadrinistas, feirantes, artistas, e membros do povo se identifiquem e sin-tam-se representados nas pági-nas da revista. Aproveite a leitura!

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16

Sum

ário

Especial: No fundo do quintal

Ensaio fotográfi-co: Grito Urbano

Entrevista: Daniel Zanella (Editor do Relevo)

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Especial: No fundo do quintal

Perfil: conheça o artista plásti-co hélio leites

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Reportagem: as Hq’s no

ParanáCrítica: 25 anos do álbum Cemitério de Ele-fantes

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Entrevista

Daniel Zanellaé jornalista freelancer da Gazeta do Povo e Revista Ideias, além de editor e criador do Jornal Relevo

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Foto: André Packer

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O encontro foi marcado no Café Arte e Letra, no centro de Curitiba, pon-to de circulação de pessoas envolvidas no meio cultural da cidade. O ex-jogador de futebol e jornaleiro, Daniel Zanella, chega enquanto as caixas de som gritam um jazz. Jornalista freelancer da Gaze-ta do Povo e da Revista Ideias, acadêm-ico de Letras, editor e idealizador do jor-nal literário Relevo, trabalhou durante um ano e meio ensinando literatura para jovens de regiões periféricas de Curitiba. Daniel Zanella, em entrevista à Revis-ta Cenáculo, fala sobre a decadência da crônica, a produção de um periódico lit-erário e a eterna relação de Curitiba com jornais culturais.

Por: André Packer

Entrevista

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Cenáculo: Quando e como começou o Relevo?Daniel Zanella: Ele surgiu em agosto de 2010. Eu estudava na Universidade Positivo e nós tínhamos no 1º semestre de Jornalismo uma disciplina chamada Planejamento Gráfico. Eu sempre escrevi pra impressos, especialmente crônicas, e já tinha experiência com distribuição de jornais, já que antes de começar a faculdade eu era jornaleiro. Aí eu percebi que poderia faz-er a parte da diagramação do jornal, que sempre foi o que me travou em tentativas anteriores de ter um produto jornalístico. Quando aprendi a fazer a diagramação eu pensei: por que não fazer um jornal de literatura próprio? Eu já tinha contatos, eu mesmo já escrevia e já sabia os custos de forma parcial – já que cada formato tem um valor – e pensei: vou tentar fazer isso. Aí acabei fazendo por uns 15 dias a confecção do jornal com amigos que toparam integrar o primeiro número. Aí conversei com mais dois amigos lá de Araucária que tinham empresas, cada um deu 150 reais e consegui levantar o dinheiro da gráfica, que era 300 reais para dois mil exemplares de oito páginas nesse mesmo formato – tabloide e preto e branco. Aí eu comecei a ver que não era tão complicado assim fazer a parte de projeto gráfico. A parte de distribuição eu já fazia, até porque passei 7 anos entregando jornal na rua.

Cenáculo: Como foi seu trabalho como jornaleiro e quando você percebeu que poderia ser jornalista?D.Z.: É uma trajetória bem peculiar minha entrada no mundo jornaleiro, porque eu era jog-ador de futebol antes de trabalhar com entrega de jornal. Eu joguei dos 11 aos 18 anos em Joinville, em 2003, e jogava no time adulto de futsal até que teve um problema na questão de patrocínio da cidade. Acabaram demitindo quase 90% da equipe e voltei para Araucária. Meu pai trabalhava no jornal da cidade, o Jornal Popular, e aí ele perguntou se eu não queria ajudar na madrugada, distribuindo nas bancas, panificadoras e às vezes fazendo panfletagem de semá-foro. Isso foi mais ou menos no início de 2004 e fiquei até 2010 distribuindo jornais. Aí uma namorada me cobrou de fazer o ENEM, como eu trabalhava com distribuição eu não tinha muita dificuldade de provar que eu não tinha dinheiro, então concorri às vagas do Prouni. Aca-bei conseguindo uma das duas vagas da Universidade Positivo pra bolsista de baixa renda. Fiz essa virada de chave que foi sair da função de jornaleiro e comecei a trabalhar com conteúdo jornalístico. E a partir daí eu fundei o Relevo, que foi aquilo que me abriu os caminhos para desenvolver outros trabalhos na área jornalística.

Cenáculo: Qual o principal diferencial do Relevo em relação aos outros jornais de Curitiba do mesmo gênero? Qual a sua relação com esses jornais e revistas, uma vez que você já escreveu

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Entrevistapara a Revista Jandique e trabalhou no Cândido?D.Z.: Curitiba tem um cenário propício para jornais impressos de literatura. Só de levanta-mento parcial temos o Rascunho, que é o maior jornal brasileiro de literatura, já tem 13 anos e é um jornal fantástico, talvez o principal recorte do que é produzido de contemporâneo em literatura. Temos o Cândido, que é um excelente jornal, inclusive trabalhei no Cândido entre 2011 e 2012, e eles têm uma equipe editorial gigante. Temos a Jandique do Otávio Linhares, que é um sujeito que tem um trabalho na cidade muito interessante, ele é escritor, tem trabalho com teatro também e é barista, que é uma coisa muito legal também. Temos também a revista Helena, da Secretaria de Cultura, que é trimestral e é de uma acuidade gráfica impressionante. E de certa forma esses veículos convergem por serem grupos que trabalham com crítica literária. Eu vejo no Relevo, de diferencial, não a questão editorial em si, porque convenhamos que o trabalho editorial que o Rascunho e o Cândido fazem são de uma natureza difícil de querer até se localizar lado a lado. Mas talvez seja a questão de que o Relevo aposta em publicar autores que não tem esse espaço ainda no que, digamos, é o mainstream da literatura. Porque se você publicar no Rascunho significa que você já tem uma existência literária. O Relevo aposta em fazer um caminho um pouco anterior, que é dar o caminho para o escritor que está começando a carreira. Ter um ombudsman que é o ouvidor do leitor, além do Relevo, no Brasil, só a Folha e o Jornal O Povo do Ceará com esse cargo. Ele não participa do dia a dia da redação, mas tem o trabalho de fazer uma análise crítica do jornal e responder algumas questões que o jornal não consegue desenvolver. E por último é o único veículo em preto e branco. É uma escolha estética talvez um pouco antiquada, mas é uma aposta que a gente tem.

Cenáculo: Curitiba possui seis periódicos literários. O que a cidade possui de tão singular para conseguir criar todas essas iniciativas? Qual seria o motivo da criação desse cenário tão forte?D.Z.: Eu acho que tem três pontas que acabam dialogando e justificando parcialmente essa questão. A primeira é a tradição. Nós temos o Joaquim que é a revista que o Dalton Trevisan fez nos anos 40 e foi uma revista que na época teve uma influência nacional e alavancou a carreira do Dalton. Foi um veículo esteticamente muito importante. Nós tivemos o Nicolau no início dos anos 90. Temos também a questão do próprio Rascunho ser daqui e isso, de certa forma, acaba sendo um farol para outros veículos. Nós temos um grande jornal aqui [qual?] e o edi-tor do jornal também é diretor da Biblioteca Pública e ele tem uma visão muito autocentrada do papel que ele tem na cidade. Aí temos também essa questão que, além da tradição, Curiti-ba sempre careceu de existir enquanto cenário literário. Então nós temos basicamente quatro grandes centros de produção literária: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre. E Cu-ritiba tem nomes que vencem prêmios regulares de literatura, mas acaba sentindo uma falta de uma cena um pouco mais pungente. Então, às vezes, essa ausência de uma identidade cultural em Curitiba acaba levando que alguns setores pensem que não vamos mudar essa tradição. Por fim, essa questão de que não é mais tão difícil produzir produtos culturais como outrora. Es-tava esquecendo de mencionar... nós temos um serviço de prestação de contas no jornal e não aceitamos dinheiro público. E ali é possível perceber que os custos não são tão altos como imag-inamos. Com 1500 reais você consegue sustentar um jornal contanto que não almeje sobreviver dele num sentido financeiro e o Relevo não tem essa ambição. Mas se nós temos a ambição de dar espaço para novos autores, consideramos que 1500 reais para a distribuição que ele tem, circula em toda Região Metropolitana, circula em Curitiba, em pontos estratégicos, é um custo baixo. Então acho que são essas três coisas que acabam compondo esse cenário que de certa forma transforma Curitiba hoje na cidade com mais impressos culturais no país.

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Entrevista

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Cenáculo: O Relevo tinha uma proposta inicial de trabalhar exclusivamente com crônicas. O que aconteceu e como você decidiu aceitar novos gêneros?D.Z.: Na verdade eu nunca consegui produzir nada além de crônica e não significa que eu tenha algo aceitável na área de crônica. Mas nunca me aventurei em poesia, conto, romance – não tenho nem fôlego pra isso. Então eu pensei: vamos juntar os cronistas de jornal porque, diga-mos assim, é uma raça que está desaparecendo do cotidiano dos jornais impressos. Nós temos muitos articulistas, isso sim, um veículo como a Folha de S. Paulo tem mais de 120 articulistas. Mas o cronista, o sujeito com uma visão mais poética ou mesmo mais interpretativa do cotidi-ano, sem buscar o convencimento através do argumento, esse tipo de sujeito está em franca decadência, eu diria. Aí eu pensei: “pô, vou reunir uma equipe de cinco ou seis cronistas para a primeira edição”. Mas acontece que fomos recebendo retornos pessoais, por e-mail, que per-guntavam se aceitávamos poesia, romance, artigo, aí acaba sendo uma questão natural mesmo.

Mesmo dentro da crônica existe a discussão do limite da crônica e quando ela passa a ser conto. Você pega um autor como Fernando Sa-bino e não consegue identificar o que existe de ficção e o que é real-idade. E é interessante que seja as-sim. Mas foi uma questão natural de porque não publicar autores de outros segmentos sendo a própria crônica um gênero difícil de en-caixotar.

Cenáculo: Você já teve entre seus colaboradores Miguel Sanches Neto, Bennet, Xico Sá... Quem você ainda gostaria de ver o nome no Relevo?

D.Z.: Esses nomes são do começo da trajetória do jornal, que eu escrevia para os escritores porque eu queria realizar alguns sonhos editoriais. Por exemplo, publicamos uma crônica do Miguel Sanches Neto de 2001 em 2012. Era uma crônica que eu tinha guardado sobre o 11 de setembro. Era uma questão de relicário afetivo até. Mas nunca buscamos ter esses medalhões constantemente. Acontece até de uma forma natural que não percebo. Não é algo programado. Mas se pudesse escolher um autor para publicar no jornal que nunca tive a oportunidade é a Angélica Freitas. Ela é uma poeta paulista que tem dois livros excepcionais, “Rilke Shake” e “O útero é do tamanho de um punho” e é uma poesia mais engajada, quase feminista. E esses dias eu estava pensando... Um dia vou fazer essa proposta pra ela.

Cenáculo: Você começou a publicar seus textos como colaborações de jornais. E o Relevo con-ta com colaboradores. Você vê essa lógica como uma alternativa para o jornalismo cultural?D.Z.: Essa questão das colaborações até me incomoda um pouco no sentido de que de certa forma eu reforço isso que é a lógica de que as pessoas escrevam pra um jornal sem receber pra isso. Porque se elas não recebem pra produzir o que elas fazem, isso já colocará numa situação de amadorismo, porque se você dedica um tempo pra determinada coisa e não é remunerado

Sugestões do entrevistado

MÚSICA: PAULO CÉSAR PINHEIRO & JOÃO NOGUEIRA, álbum de 1994 e QUANDO EU ME CHAMAR SAUDADE, de Nelson Cavaquinho, de 1996.

LITERATURA: 100 CRÔNICAS ESCOLHIDAS, de Rubem Braga, e OUTRAS HISTÓRIAS, de Guimarães Rosa.

CINEMA: 2001, UMA ODISSEIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick, e TEMPOS MODERNOS, de Charlie Chaplin.

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Entrevistapor isso, acaba tendo que se resolver financeiramente de outra forma. E isso infelizmente é uma coisa comum no meio literário e eu até diria no meio cultural.

Cenáculo: Você deixa bem claro que o jornal Relevo não aceita dinheiro público. Em nenhum momento você pensou em procurar um financiamento público? Por que?D.Z.: Porque é uma questão ideológica muito forte minha. Não me considero de esquerda, muito menos de direita, nem de centro, mas uma coisa que sempre me perguntei sobre uso de dinheiro público em cultura é o seguinte: que garantia eu tenho de que o dinheiro gasto, que é o dinheiro do contribuinte, com o produto cultural, ainda mais sendo meu produto cultural, está sendo bem gasto? Eu fico pensando assim de quantas coisas já avaliei de produto cultural que tinha dinheiro publico e eu pensei “esse dinheiro tá sendo mal gasto”. Esse dinheiro não devia estar sendo gasto aqui e sim com coisas mais prioritárias. Eu entendo que nós precisamos de cultura, nós temos uma necessidade espiritual de consumir coisas culturais bacanas. Mas, antes disso, nós temos que pensar que vivemos num país com sérias desigualdades e que as questões de transporte, saúde e educação básica são muito mais complicadas do que o meio cultural. Quando eu vejo atores do meio cultural reclamando da falta de verba eu fico pensando que eles poderiam bater nas empresas e pedir dinheiro pra eles. Você pode muito bem ir lá bat-er à porta de uma empresa e falar: eu tenho um projeto, você não quer investir seu dinheiro no meu projeto? Porque tem que ser dinheiro publico? Porque os artis-tas do meio cultural tem essa necessidade de ser financiados pelo dinheiro do contribuinte? O que acontece é que você acaba integrando um ciclo que não me parece muito benéfico, que é o ciclo do artista que só consegue produzir se estiver no cabedal do dinheiro público, dos editais, dos programas de lei deincentivo. Não é mais interessante investir esse dinheiro em coisas mais prioritári-as, enquanto temos 10% de analfabetos no país? Não vou ser radical de diz-er que não devia existir nenhum tipo de apoio financeiro ao meio cultural, mas me parece que em muitos casos esse dinheiro é mal gasto e as pessoas que acabam se acostumando com esse ciclo de re-ceber dinheiro público são, no fun-do, pessoas acomodadas. Então eu prefiro, se um dia o jornal não se sustentar mais porque está dan-do muito prejuízo, fechar o jornal e pronto. Ninguém vai poder diz-er que esse dinheiro que o governo gastava com o jornal era mal gasto.

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grito urbano “O grafite está para um tex-to assim como um grito está para a voz. O grafite é um berro”, afir-mou Paulo Leminski em palestra na Universidade Federal do Paraná, em algum dos anos do governo de José Sarney como Presidente da República (1985-1990). O poeta, grafiteiro assumido, é responsável por frases que estiveram nas pare-des de Curitiba como “Sentado não tem sentido” e “O torto tem direito”. Leminski aparece como in-

fluência para pichadores e é constan-temente homenageado em paredes pelo Paraná. Foz do Iguaçu é uma das cidades onde mais podemos notar a valorização do grafite por iniciativas como o “Grafite no Via-duto”, a “Ação Poética Tríplice Fron-teira”, além do trabalho de artistas independentes. Esses grupos com-provam uma tese levantada pelo po-eta curitibano: “A parede e a página criam uma incrível ambiguidade”.

Ensaio fotográfico por: André Packer

Grafite independente localizado na Avenida República Argentina

Ensaio

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grito urbanoProjeto “Grafite no Viaduto” é uma iniciativa da Prefeitura Municipal de Foz com o Parque Nacional do Iguaçu e realizado pela Companhia de Teatro Amadeu

Paulo Leminski, figura constante em pixações, grafitado em iniciativa do projeto Ação Poéti-ca Tríplice Fronteira

Ensaio

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Ensaio

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Um dos caminhos para chegar no Paraguai vindo de Foz é pelo viaduto grafitado pela Companhia de Teatro Amadeu

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Ensaio

Pichação do projeto “Grafite no viaduto”

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Pichação do projeto “Grafite no viaduto” se localiza em uma das regiões com maior fluxo de carros da cidade.

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NO FUNDO DO QUINTAL

“A minha família reagiu como se eu fosse uma pessoa louca. Porque mu-dava de voz, mudava a maneira de agir, então eles se assustavam. Me levaram no médico achando que eu tinha problemas mentais”.

Por: André Packer

O Paraná possui hoje 17.898 adeptos de religiões afro-bra-sileiras, segundo o Censo do IBGE de 2010. Tânia Mara é um dos 8.949 paranaenses que pratica tanto Umban-da quanto Candomblé. Aos oito anos Mãe Tânia teve, pela primeira vez,

princípios de incorporação, visões e previsões. Quatro anos depois, muitos, inclusive a família Católica, já rela-cionavam o comportamento dela com a bruxaria. Por sorte, seu pai “muito cabeça aberta” levou Tânia para a Bahia fazer o santo – como chamam o recol-himento de 21 dias realizado no Can-domblé para entrar em comunhão com a religião e os seus santos.

A religiosidade afro-brasilei-ra mostra-se como um elemento de resistência cultural na sociedade brasileira. Durante o século XIX, a polícia atacava terreiros de umban-da e candomblé tentado reprimir as manifestações. Na época, a questão da escravidão ainda era muito forte, além das teorias de “branqueamento” que chegavam da Europa. Por muito tempo

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“Há grupos que se dedicam a discrimi-nar as religiões afro-brasileiras para legitimar suas próprias organizações”

NO FUNDO DO QUINTAL

“A minha família reagiu como se eu fosse uma pessoa louca. Porque mu-dava de voz, mudava a maneira de agir, então eles se assustavam. Me levaram no médico achando que eu tinha problemas mentais”.

A religiosidade afro-brasilei-ra mostra-se como um elemento de resistência cultural na sociedade brasileira. Durante o século XIX, a polícia atacava terreiros de umban-da e candomblé tentado reprimir as manifestações. Na época, a questão da escravidão ainda era muito forte, além das teorias de “branqueamento” que chegavam da Europa. Por muito tempo

a população negra foi impedida de ex-ercer suas práticas – como a proibição do samba e da capoeira - por uma ação policial em um primeiro momento e, posteriormente, por iniciativas da sociedade. “As religiões afro-brasileiras mostram uma questão importante no que tange a construção da identidade, embora a identidade da população ne-gra também se construiu dentro de um

Foto: André Packer

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catolicismo popular”, afirma a integrante do Instituto Sor-riso Negro, Maria Antônia Marçal.O atual cenário de aceitação das religiões afro-brasileiras mostra um retrocesso através de ataques e casos de precon-ceito com instituições e pes-soas. Os casos mais famosos no Paraná aconteceram em Curitiba e Região Metropol-itana. Em 2007, dois homens realizaram uma chacina ao matar ‘Pai Adão’ e mais quat-ro, além de ferir duas pessoas em um terreiro de Umbanda localizado no bairro Fazend-inha. Mais recentemente, em 2013, dois homens mataram o pai de santo Guaraci de Souza Oliveira e um fiel, em São José dos Pinhais.O momento assusta os pais e mães de santo que, com medo, fecham seus terreiros para a sociedade – atendendo apenas grupos de conheci-dos. Atualmente, a maioria dos espaços para prática das religiões afro-brasileiras são em fundos de quintal – ab-rindo mão do espaço dos seus terrenos para, em suas casas, construir um templo. Com o aumento do número de participantes nos terreiros, federações procuram incenti-var a legalização dos espaços, através do registro de um CNPJ, alvará de funciona-mento e estatutos.A busca pela regularização vem crescendo, através da Classificação Brasileira de Profissões (CBO) 2631, que

reconhece ministros de culto, missionários, teólogos e profissionais semelhan-tes como profissões. Assim, possibilita-se o recolhimento do INSS e respaldo jurídico para quando, por ventura, acontecer algo relacionado à intolerância e preconceito. Pais de santo evitam entrevis-tas e passar o endereço e data das atividades religiosas e, mesmo assim, atendem cerca de 146 mil seguidores no Paraná, segundo o Conselho Mediúnico do Brasil (Ce-bras). Enquanto escrevo esta reportagem, os pais de santo seguem, quase escondidos, nos fundos dos seus quintais.

“Preconceito”?

No dia 16 de maio de 2014, a Justiça Federal do Rio de Janeiro emitiu uma sen-tença na qual declara que os cultos afro-brasileiros não são religiões. Quatro dias depois, após pressão da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa, o juiz Eugênio Rosa de Araú-jo voltou atrás da decisão. Os argumentos utilizados pelo juiz, em um primeiro momento, foram de que os cultos afro-brasileiros não seguem um texto-base, não possuem estrutura hierárqui-ca e nem um deus a ser vene-rado. “Nós temos um deus. Oxalá é o nosso deus.

Oxalá é o deus da criação, então esses argu-mentos não são válidos”, diz Mãe Tânia sobre o assunto.A umbanda surgiu em São Gonçalo (RJ), na Rua Floriano Peixo-to, e a

“Poucos dias depois que souberam que eu era pai de

santo fui demitido” Vinicius Cardoso – Pai de santo

Especial

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história centenária começa no antigo terreiro de Zélio de Moraes – espaço que recebeu as primeiras sessões da religião. O local foi ven-

dido e vai se transformar em uma loja de alumínio. A ONG

Projeto Legal pre-

tende in-staurar inquérito civil para apurar sobre o dano ao patrimônio histórico. Enquanto no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ao pesquisar “Igreja Católica” aparecem 473 resultados diferentes, o espaço onde surgiu a primeira religião totalmente brasileira será substituí-do por uma loja – justo na rua que leva o nome do Consolidador da República.“Essas menina aí, ó? Tudo macumbeira. Pode vê que são tudo umas menina nova. Tão tudo aqui pra faze macumba pra ar-ranja marido”, diz o velho umbandista em um canto do terreiro. A Matumba era a batucada dos negros na senzala, quando batiam os tambores, dançavam e cantavam

para os orixás. O termo, além da alteração na grafia, tor-nou-se sinônimo de oferenda, ou feitiço, enquanto o verdadeiro significado é uma homenagem aos orixás, que agradece a ali-mentação, a produção da roça e a saúde.Em 2010 começa no Paraná a campanha “Sim, sou filho de santo” para aumentar

o número de pessoas que ad-mitem ser seguidoras de

religiões af-

ro-brasileiras pelo IBGE. Afinal, há uma diferença de 128 mil pessoas entre os números do Cebras e IBGE. A divergên-cia dos dados divulgados tem relação di-reta com o preconceito e até o medo de se assumir. Como Maria Antônia Marçal, que descobriu que seu pai era umbandista só quanto estava na faculdade. “Perguntei porque ele nunca me levou no terreiro e ele disse que era por causa das cobranças da sociedade”.

A s v e r d a d e i r a s r e l i g i õ e s a f r o - b r a s i l e i r a s Registros de terreiros que funcionavam como pontos de prostituição e distribuição de drogas ajudam a prejudicar a imagem das religiões afro-brasileiras. A atuação de fal-sos praticantes das religiões afro-brasileiras também pode ser apontada como origens do preconceito. “Muitos que se dizem um-bandistas ou outros cultos afros e divulgam cartazes com textos sobre amarração amoro-sa e feitiços, coisa que o verdadeiro religioso não faz”. Porém, como lembra Mãe Tânia, “os terreiros que trabalham com respeito e digni-dade são religião”.

O terreiro Cacique Pena Branca já possui 49 anos de trabalhos e atua tanto no Candomblé quanto na Umbanda. “Tô quase fazendo bo-das de ouro”, brinca Mãe Tânia. As festas são tão cheias, ao ponto de políticos compare-cerem - apenas em anos eleitorais. O terreiro, localizado em Ponta Grossa, é uma referência no Paraná – dentre os 2930 terreiros identifi-cados em 2010 - pois, além das atividades re-ligiosas, desenvolve atividades sociais através da Sociedade Afro-brasileira Cacique Pena Branca. O preconceito contra as religiões afro-bra-

“Poucos dias depois que souberam que eu era pai de

santo fui demitido” Vinicius Cardoso – Pai de santo

Especial

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sileiras, como se pode ver, ocorre até em órgãos oficias e reconhecidos. Outro ex-emplo disso é a matéria de Ensino Religioso, optativa nas escolas estaduais, que: “contribuirá para superar desigualdades étnico-religio-sas, para garantir o direito Constitucional de liberdade de crença e de expressão”, segundo as Diretrizes Curric-ulares da Educação Básica do Paraná. Porém, as religiões afro-brasileiras ainda não são vistas como religiões e car-regam uma repre-

sentação simbóli- ca negativa em setores da sociedade. A professora Maria Antônia

Marçal se diz assustada com posicionamentos tão fer-renhos quanto às religiões afro-brasileiras tanto de alunos quanto de profes-sores. “A gente se pergunta como essa disciplina está sendo ministra-da. De repente estamos fa-zendo

aquele ensino

religioso de 30 anos atrás que só

fala do cristianismo e do catolicismo”.

Em 2009 foi organizado o Fórum Paranaense de Re-ligiões de Matriz Africana (FRPMA) com o objetivo de diminuir o preconceito con-tra as religiões afro-brasilei-ras. O Projeto do Seminário

de Patrimônio Imaterial da Prefeitura de Curitiba, em 2007, regis-trou 58

cen-

tros de umbanda

em Curitiba. Nesse cenário de

aumento de partic-ipantes da religião e, ao

mesmo tempo, um aumento do preconceito, Mãe Tânia mantém a prática de suas atividades religiosas. E a senhora, mesmo com prob-lemas de saúde, mantém-se animada com a proximi-dade do cinquentenário do terreiro e valente contra o preconceito. “Se tiver que levar cassetada e ser presa a gente vai levar, porque a gente só quer praticar a nos-sa religião”.

“Se uma

mãe de sa

nto vai re

zar num h

ospital nã

o pode, m

as o

católico e

o evangé

lico podem

” Tânia M

ara – M

ãe de sant

o

626%é o número do crescimento de denúncias sobre intolerância religiosa no Disque 100 da

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, de 2011 para 2012,.

247 milfoi o número de denúncias com

teor de intolerância religiosa reg-istradas, entre 2006 e 2012, pela ONG SaferNetBrasil através da

Central de Denúncias de Crimes Cibernéticos.

dos países analisa-dos pela Pew Research Center, em

dados de 2012 e 2013, mostr-aram casos de violência ou pressão contra

minorias religiosas

33%

Especial

20 -Revista Cenáculo

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“Cemitério de Elefantes” completa 25 anosO clima sombrio e gelado de Curitiba criou uma atmos-fera facilmente observada no disco, mesmo nas ban-das mais new wave não há nada de ensolarado ou alegre.

Crítica

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A primeira coletânea de bandas da capital paranaense reuniu cinco nomes importantes para quem quer conhecer um pouco sobre o que aconteceu no rock curitibano na segun-da metade da década de 80. O Beijo Aa Força (BAAF), uma formação já veterana em 1989, abre o lado A com o ‘hit’ “Homem de ferro”, letra do escri-tor e poeta Marcos Prado (1961-1996), no lado B “Diário de um palestino” traz referências de funk branco, algo como o A Certain Ratio, entre o pop e a vanguarda. De todas as cinco bandas, o BAAF foi a única a lançar discos próprios, além de participar de outras co-letâneas. “Cemitério de Elefantes” marcou sua primeira inserção em disco e trouxe bons resultados à banda. O Ídolos de Matinée é a única ban-da da coletânea a trazer uma garota na for-mação, a vocalista e tecladista Debora Daroit. A história do Ídolos de Matinée se confunde com a história do BAAF e nos leva ao começo

dos anos 80 com a Contrabanda, umas das primeiras bandas punk de Curitiba. Entretan-to, o Ídolos de Matinée está mais para a new

wave sombria, que os próprios membros preferiam chamar de trendie. Uma

característica curiosa da banda é a sua preocupação com o visual, que trazia sobretudos forrados com estampas floridas, cabelos desgrenhados e armados que os

aproximava do estilo darkwave, ouça “O inimigo” e comprove.

“A Produção das músicas foi re-alizada pelo Ídolos de Matinée e por Marcos

Carneiro, no Estúdio Bidon, em São Paulo. Fizemos uma pré-produção aqui em Curitiba, em um porta-estúdio de 4 canais. Levamos um dia gravando e não tivemos problemas.

“Detesto este disco!”

(Rodrigo Barros, gui-

tarrista e vocalista do Beijo Aa Força)

Banda Beijo Aa Força na Rodoviária de Curitiba. Foto: Peter Lorenzo

Por: Marcelo Mara

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CríticaDias antes da gravação tivemos um problema com o vocalista Mauro Mueller que deixou a banda. O vocal foi assumido pela tecladista Debby, que permaneceu até a dissolução da banda, em 1991. Na época nós não gostávamos da definição que nos deram: éramos chamados de Pós Punk. Achávamos que limitava demais o nos-so som, por termos diversas influências: punk rock, música eletrônica, música clássica e etc. Então resolvemos nos chamar de Trendie, que é um estilo de som que busca estar sempre na frente. E na época, nós tentávamos. O Bons Garotos Vão para o Inferno tem um ótimo nome e sonoridade, a lem-brança de Joy Division é imediata, mas não se trata de mera cópia, a banda mostra per-sonalidade e boas letras, “Alice não mora mais aqui” e “Nunca adormeço” estão entre as mel-hores canções do álbum. “Na aquela época tudo era bem mais difícil de se realizar. E este disco, para nós (e creio que para os outros envolvidos também) foi um marco. A repercussão do disco foi re-

strita, restringido-se às pessoas que acom-panhavam as bandas locais, não atingiu um público mais abrangente. Consequentemente, não houve retorno fi-nanceiro, e pouco tempo depois do lançamento do disco, o Bons Garotos Vão Para o Infer-no se desfez, com cada inte-grante toman-do rumos dif-erentes na vida, como foi o caso do Sérgio, que foi embora do país, e eu, que aban-donei completamente o cenário musical. O que ficou é o fato de o disco ter sido, talvez, um divisor de águas no rock local, um precursor, e por isso é lembra-

“O Ídolos de Matinée foi a maior banda de 1985 a 1991. Tocou nos templos sagrados do rock brasileiro. Se apre-sentou para plateias de seis mil pessoas no Rio de Janeiro e de 80 mil no Paraná. As músicas que fizeram com que a banda fosse respeitada no underground brasileiro fo-ram “Rock Marciano” e “Vamos Separar os Estados Un-idos da América”. As letras não eram convencionais e isso ajudou para que o público desse valor som para o IDM. A marca registrada da banda sempre foi a combinação do teclado e da guitarra, que trocavam notas e não se limitavam a uma marcação rítmica. O baixo era derivado do punk rock e fugia da marcação tradicional, misturando ora sequências melódicas, outras retas. Outra preocupação do Ídolos era o visual. Então visual + música + letras irreverentes levaram o IDM ao posto de maior banda da segunda metade dos anos 80. Tínhamos facilidade em conseguir shows graças a essa tríade” (Fernando Tupan, baixista do Ídolo de Matinée)

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“Éramos uma grande tur-

ma, na qual todos se con-heciam, os shows reuniam mui-

tos amigos. Alguns até se tornaram parte da minha família. Trendie para

nós era algo como “estar à frente do seu tempo”, e também era uma identifi-cação com as bandas inglesas que

nos influenciaram” (Debora Daroit, vocalista

e tecladista do Ídolos de Mat-inée)

Ídolos de Matinée no Graciosa Country Club em 1985. Foto: Arquivo pessoal

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Críticado tanto tempo de-pois, mes-mo sem ter tido a devida, e m e r e c i -da, reper-cussão na época em que foi lançado” (Danilo S i l v e i r a , baixista do Bons Ga-rotos Vão Para o In-ferno) O Te s s á l i a faz um som etéreo

e introspectivo, algo entre Cocteau Twin, Felt e bandas do selo 4AD, característica que chamou a atenção do público e faz do Tessália uma das bandas mais cultuadas da história do

rock curitibano até os dias de hoje. Arran-jos muito bem elaborados em “Melilla”

e “Falset”. O Pós Meridion foi a última banda a entrar no disco, quando o mesmo estava todo gravado. O som é carregado de percussão pesada e groove, de todas as bandas é a que mais se aproxima de uma produção

já ousada por outras bandas bra-sileiras.

“Cemitério de elefantes” saiu

pelo selo paulistano Vinil Urbano, proprie-dade de Rollando Cas-tello Jr, baterista da Pa-trulha do Espaço. Cada

banda produziu suas próprias canções que foram gravadas em estúdios de Curitiba e São Paulo

O projeto gráfico é simples, não traz en-carte, nem fotos ou letras, apenas a ficha téc-nica na contracapa. Lançado unicamente em LP o disco teve excelente repercussão local, e, reza a lenda, se esgotou nas lojas curitibanas em rápidos 15 dias. Não houve reedições, as-sim como todo o catálogo do selo que lançou pequenas tiragens de seus discos.o IDM. A marca registrada da banda sempre foi a com-binação do teclado e da guitarra, que troca-vam notas e não se limitavam a uma marcação rítmica. O baixo era derivado do punk rock e fugia da marcação tradicional, misturando ora sequências melódicas, outras retas.

Marcelo Mara é formado em história na UEPG. Atualmente estuda Jornalismo e é dono do blog de música independente Disco Furado

“Lembro que foi feito na melhor das intenções pelo Rolando Castelo Junior, o batera da Patrulha do Espaço, com as condições disponíveis na época, sob muita pressão e sem muita grana. Gravamos num estúdio em São Paulo, o Quadrophenia, e foi o téc-nico, conhecido como Chimbau, quem deu a triste ideia de gravar “mooooooorrrrrrrttttteeee” no meio da música “Homem de Ferro”. A mixagem e o corte do vinil não ficaram muito bons, é verdade, mas vale pelo registro histórico de uma época do rock curitib-ano. “Diário de Um Palestino” ficou bacana com um dobro gravado em overdub e um rolo de timbales, num clima funk bluesy. A capa foi feita na brodagem pelo Roberto Jubainski e acabamos indo divulgar o vinil até no Mario Vendramel com suas vendrametes (risos)” (Luiz Ferreira, guitarrista do Beijo Aa Força)

“Éramos uma grande tur-

ma, na qual todos se con-heciam, os shows reuniam mui-

tos amigos. Alguns até se tornaram parte da minha família. Trendie para

nós era algo como “estar à frente do seu tempo”, e também era uma identifi-cação com as bandas inglesas que

nos influenciaram” (Debora Daroit, vocalista

e tecladista do Ídolos de Mat-inée)

Ídolos de Matinée no Graciosa Country Club em 1985. Foto: Arquivo pessoal

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“Vi você na TV”, disse um dos frequentadores da feira ao chegar na barraca de Hélio.“Eles são tão fracos de programação que tem que me entrevistar”“É, eu fiquei vendo” (rindo)“Meu filho, 63 anos... Se você olhar pra trás e não tiver uma história pra contar pros outros, ‘benzadeus’. Olha esse aqui. O que você faz com palito de sorvete?”“Jogo fora”.“Aí o idiota aqui pega. Aí eu sonho em cima dele, lavo ele. Lixo e trans-formo num passarinho. Sabe o que é isso? É o sinalizador de TPM. No dia que você usar esse aqui todo mundo vai saber que vocês tão uma ARA-RA de brava. Passou os quatro dias você muda a cor da periquita. Põe a verdinha pra regularizar o trânsito na área”. Durante a história é possível perceber que a barraca do artista é, sem dúvidas, uma das mais movimen-tadas de toda a Feira do Largo.“Pego um palito de sorvete, transfor-mo num passarinho e vendo por 10 reais”, continua Hélio. “Eu não peguei um palito de sorvete e fiz um passa-rinho. Eu peguei um palito de sorvete e transformei em pão. Então todo palito de sorvete que você vê jogado na rua, saiba que embaixo dele tem um saco de pão te esperando”. Durante o século XVIII, a região do atual Largo da Ordem, em Curitiba, foi um centro de compras e vendas para tropeiros, fazendeiros e colonos.

O espaço permaneceu como uma região comercial, até que, em 1973, hippies começaram a Feira do Largo. A feirinha era um centro de escambo, onde cri-anças da cidade reuniam-se para trocar gibis, e poucos anos depois se tornaria o palco de um dos maiores artistas plásticos do Paraná. José Hélio Silveira Leite podia muito bem ser um personagem de Ariano Suassuna – daqueles que possuem uma sabedoria popular incrível e respon-dem qualquer pergunta com um verso rimado. Porém, Hélio Leites, como é mais conheci-do, está em uma das mais de mil barracas na Feira do Largo da Ordem todo domingo das 9 até as 14 horas. O paranaense, nascido na Lapa mas registrado em Apucarana, provoca os fre-

Perfil

Feira abriga arte, sonhos e projetos criativosLargo da Ordem, em Curitiba, é palco do artista miniaturista Hélio Leites

Por: André Packer

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Perfil

Feira abriga arte, sonhos e projetos criativosLargo da Ordem, em Curitiba, é palco do artista miniaturista Hélio Leites

quentadores da feira a conhecerem seu trabalho. Com exposições na Alemanha, Itália, Portugal e Espanha, Hélio

define-se miniaturista. Utiliza como matéria-prima de suas obras materi-

ais recicláveis, como botões, palitos de fósforo queimados, palito de picolé, latas de sardinha, sapatos velhos e poe-

sia. Cada um de seus trabalhos é acompan-

hado de um verso, seja dele ou de grandes

escritores/pensa-dores, como Helena Kolody, Sócrates ou

Confúcio. Além da poesia, o que acompanha todas as

obras de Hélio é um fio de seu cabelo.

“Já vai com meu DNA e meu geno-

ma. Assim ninguém vai falsi-ficar”. Cada um de seus trabalhos é acompanhado de

um verso, seja dele ou de grandes escritores/

pensadores, como Helena Kolody,

Sócrates ou Con-fúcio. Além da poe-

sia, o que acompanha todas obras de Hélio é um fio

de seu cabelo. “Já vai com meu DNA e meu genoma. Assim

ninguém vai falsificar”.

De bancário a artista

Formado em Economia, Hélio trabalhou durante 25, dos seus 63 anos, em um banco. “Eu carimbava

cheque devolvido de pessoa que eu não conhecia. Nunca vi

coisa mais inútil”. O mel-hor dia da vida de Hélio foi quando ele perce-beu que podia sair do banco. Ao abandonar o emprego, começou a contar histórias em escolas porém, sem re-ceber salário, teve que começar a cobrar até para tirar fotos. Cobra-va um real. Atualmente, Hélio não precisa mais co-brar por nada – a não ser suas obras. Sua rotina é “viajar na

maionese” durante a semana para no domingo “fazer o pão de queijo”. O artista já é figura intrínse-ca à Feira. A “corrente sanguínea” da cidade, como Hélio chama a feira, é de onde tira sua inspiração. “Cada embalagem que aparece eu faço uma história dela”. Além das embalagens e materiais recicláveis, Hélio defende que sua maior motivação é a humani-dade. “Porque aqui, meu filho, passa todo tipo de gente. Passa o burro e vira inteligente, passa o doente e fica são, passa o honesto e as vezes passa

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Perfilo ladrão. E a todos eles eu dedico um dedinho da minha atenção”.As obras do feirante variam de dez até mais de 2 mil reais. Um dos trabalhos mais vendidos são as miniaturas realizadas em latas de sardinha. Um deles se chama “Ser-mão aos peixes” e custa 150 reais. “Quando eu consigo vender a peça muda de nome. Deixa de ser o sermão aos peixes e vira o verdadeiro milagre dos peixes. Porque fazer 150 reais com uma lata de sardinha é um verdadeiro milagre”. Hélio Leites, o homem que juntou economia com artes e virou miniaturista.

Invenções criativas

Associação Internacional dos Kin-derovistas, Museu Casa do Botão, Museu do Óculos e Fiu-Fiu Esporte Clube. Todos esses são nomes de projetos e

ideias de-

senvolvidas pelo artesão paranaense. Quan-do questionado sobre seus projetos antigos, Hélio é pessimista: “Minhas ideias, geral-mente, são todas um fracasso. Elas voltaram para o anonimato, onde é o lugar delas”. Ele gostaria que suas ideias chegas-sem a um nível mais elevado. Por exemplo, o Fiu-Fiu Esporte Clube, que trata-se de um clube de assobiadores, Hélio sonha com o dia em que nas escolas do Brasil as crianças, em vez de cantar o hino, só assobiassem. É uma iniciativa para resgatar a tradição do assobio como forma de comunicação e, por fim, fazer um coral de assobiadores. Já a Associação Internacional dos Kinderovistas é uma ideia que surgiu de uma angústia de Hélio. Em 1995, quando o chocolate começou a fazer sucesso no Brasil, o artesão percebeu que nenhum brinquedo que acompanhava o kinder rep-resentava o Brasil. “Lampião e Maria Bonita não tinha. Não tinham os heróis nacionais”. A partir disso, a Associação foi criada para discutir a criação de um Kinder Ovo Na-cional – porém a ideia continua estacionada atualmente.

O ateliê de Hélio nada mais é do que seu quarto, na casa da mãe, que mais

parece uma dispensa por estar sem-pre lotado de latas e palitos. Dali surgiram outras ideias, como o Teatro de Boné: “um jeito de pôr fora da cabeça o que a gente não

tem dentro”. O trabalho é a construção de uma história, através de min-iaturas, feito em cima

de um boné – que Hélio sempre faz

questão de usar na feira. Faltariam páginas

para relatar todos os projetos de Hélio, como

o Museu do óculos, o Museu

Casa do Botão, …. Afinal, uma pessoa que consegue transformar até um estrelador de feijão em obra de arte com frases de Helena Kolody é alguém a quem sobram histórias para contar. “Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem dela um sol outros nem conseg-uem vê-la”.

Artista profissional e popular

“Significador de insignificâncias”, segundo Leminski, e “artesão universitário”, segundo ele mesmo. Hélio é um person-agem indefinível: economista, artesão, min-iaturista, poeta, não faltam profissões que caracterizem o trabalho do, além de tudo, feirante. Hélio já teve um pouco de sua história contada em dois livros, “Pequenas Grandezas” e “Mínimos”, além da partici-pação nos filmes “O que é tristeza pra você” e “Tarja Branca”. “Tanto artista bom que já passou pela feira e não teve um livro. Eu tive sorte”. Em 2010, Hélio se formou em Be-las Artes. Ao se formar, um professor lhe disse: “agora você já pode dizer que é arti-sta plástico”. Hélio respondeu: “agora não quero mais ser”. O Trabalho de Conclusão de Curso de Hélio foi uma miniatura – feita basicamente com palitos de fósforo - que conta a vida de Sócrates. “Até ali minha inteligência sobre Sócrates ia só até o do Corinthians, aí me falaram: você precisa conhecer o grego”. E deu certo. Logo na primeira frase que leu sobre o pensador grego, Hélio “se apaixonou”. “Conhece-te a ti mesmo” e, a partir daí, tirou motivação para fazer seu TCC. Quando o assunto são as artes plásti-cas, Hélio se exalta e afirma que a arte está morrendo. “Eles já não tem mais o que dizer”. Quando as pessoas procuram artes, ninguém mais vai pra academia, mas vão pra feira. “Cada exposição que fazem é mais um prego no caixão das artes plásticas”. No meio do papo chega uma criança com um

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PerfilCasa do Botão, …. Afinal, uma pessoa que consegue transformar até um estrelador de feijão em obra de arte com frases de Helena Kolody é alguém a quem sobram histórias para contar. “Deus dá a todos uma estrela. Uns fazem dela um sol outros nem conseg-uem vê-la”.

Artista profissional e popular

“Significador de insignificâncias”, segundo Leminski, e “artesão universitário”, segundo ele mesmo. Hélio é um person-agem indefinível: economista, artesão, min-iaturista, poeta, não faltam profissões que caracterizem o trabalho do, além de tudo, feirante. Hélio já teve um pouco de sua história contada em dois livros, “Pequenas Grandezas” e “Mínimos”, além da partici-pação nos filmes “O que é tristeza pra você” e “Tarja Branca”. “Tanto artista bom que já passou pela feira e não teve um livro. Eu tive sorte”. Em 2010, Hélio se formou em Be-las Artes. Ao se formar, um professor lhe disse: “agora você já pode dizer que é arti-sta plástico”. Hélio respondeu: “agora não quero mais ser”. O Trabalho de Conclusão de Curso de Hélio foi uma miniatura – feita basicamente com palitos de fósforo - que conta a vida de Sócrates. “Até ali minha inteligência sobre Sócrates ia só até o do Corinthians, aí me falaram: você precisa conhecer o grego”. E deu certo. Logo na primeira frase que leu sobre o pensador grego, Hélio “se apaixonou”. “Conhece-te a ti mesmo” e, a partir daí, tirou motivação para fazer seu TCC. Quando o assunto são as artes plásti-cas, Hélio se exalta e afirma que a arte está morrendo. “Eles já não tem mais o que dizer”. Quando as pessoas procuram artes, ninguém mais vai pra academia, mas vão pra feira. “Cada exposição que fazem é mais um prego no caixão das artes plásticas”. No meio do papo chega uma criança com um

binóculo feito com o papelão do papel higiênico.“O que você vai ser quando crescer?”

“Igual você: artista”Hélio faz uma pausa e diz, com os olhos brilhando: “E aí, o que você fala?”

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Hélio Leites conta um

a de suas histórias enquanto segura uma de suas m

iniaturas. Foto: André Packer

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Paraná assume posição

de destaque na pro-dução de HQs

E s q u e ç a Gotham City e o Batman ou a Nova Iorque do Homem Aranha. Até mesmo Wakanda do Pantera Negra e Metrópolis do Super homem, porque a verdadeira cidade dos heróis dos quadrinhos é Cu-ritiba. O Capitão Gralha desde os anos 40 circula pela capital do estado pelas mãos de Francisco Iwerten e ressurge em 1997 com uma edição especial, para comem-orar os 15 anos da Gibiteca de Curitiba, ao homenagear o (até então) desconhe-cido super-herói curitibano. Na Gibicon (Convenção Internacional de Quadrinhos de Curitiba) 2014, o Gralha voltou a ser homenageado com uma edição especial de quadrinhos e um boneco do herói tu-piniquim. “Por sinal, a Curitiba do Gralha é um personagem à parte em seu univer-so, onde todas as características da ver-dadeira são elevadas à enésima potência”, afirma José Aguiar, um dos criadores da história do super-herói pássaro. Assim como o Brooklyn está para Will Eisner, Curitiba está para o Gralha. O herói é um dos símbolos do cenário dos quadrinhos na capital do estado. O fortalecimento da literatura gráfica na cidade, que mui-

to deve ao Gralha, começa nos anos 70 com uma editora chamada

Grafipar.

Por: André PackerQuadrinhos: André Caliman

Page 29: Revista Cenáculo

Paraná assume posição

de destaque na pro-dução de HQs

Em 1977, durante o regime dita-torial, era um tabu falar sobre sexo, visto que a moral e bons costumes eram os valores máximos pregados pelo governo militar. A Grafipar fez o caminho contrário ao misturar ter-ror, ficção científica, folclore e poli-cial com erotismo, assim a editora se tornou referência dos quadrinhos nacionais. Curitiba moldou o mer-cado dos quadrinhos durante sete anos ao reunir os melhores desenhis-tas e roteiristas da época, como Mo-zart Couto, Rodval Mathias, Watson Portela, Gustavo Machado e Vilachã. Toda a história da editora foi contada no livro “Grafipar: a editora que saiu do eixo”, de Gian Danton. O primeiro diferencial da Grafipar é que foi a primeira editora de porte a sair do eixo Rio-São Paulo. O segundo é que a Grafipar pratica-mente não publicou quadrinhos grin-gos, aliás, publicou apenas no início, e poucos. Assim que Cláudio Seto as-sumiu, ele garantiu que a editora não fosse invadida pelos enlatados. “Toda vez que um agente procurava a Grafi-par com um material (faroeste, por exemplo), ele mandava a equipe pro-duzir algo semelhante, mas com tons de erotismo. Com isso, ele criou um grande mercado para quadrinistas e conseguiu diversos talentos para o seu cast, a ponto de muitos deles se

mu-darem para Curiti-ba”, afirma Gian Danton. A migração desses artistas para Curitiba reuniu diversos deles no bairro São Brás. Eles viviam como hippies – criando seus filhos e desen-hando quadrinhos – e esses artistas chegaram a ser vizinhos de muro, foi o que ficou conhecido como a Vila dos Quadrinistas de Curitiba. Além do Gralha e a Grafipar como grandes marcos do quadrin-ho curitibano, a cidade construiu a primeira Gibiteca do mundo. Em 1982 foi inaugurada a Gibiteca que passa a transformar a cidade em um centro do gibi, ao centralizar pro-duções e eventos. O projeto inicial foi pensado para onde hoje é a Rua 24 horas, mas com uma terrível crise econômica os planos foram muda-dos para um projeto mais modesto. Com 32 anos, o espaço possui um ac-ervo de 33 mil títulos de gibis infan-tis, super-heróis, humor, terror, car-tuns, fanzines, mangás e exemplares estrangeiros. Importantes nomes das HQs brasileiras, como Laerte, Angeli e Glauco, já estiveram na gibiteca para debater a importância do espaço. Toda essa história foi relatada por Key Imaguire Junior, um dos ideal-

Quadrinhos: André Caliman

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Reportagemizadores do projeto, no liv- ro “Gibiteca de Curitiba”. A Gibiteca ajudou a cidade a se con-solidar como um dos centros da HQ nacion-al e trazer eventos como o Festival do Gibi, Mostra Bienal de HQ, cinco Festivais Inter-nacionais de Fanzines, e a Gibicon – que já é o 2º maior evento de quadrinhos do país.

Publicação Independente

Os quadrinistas independentes tem uma nova plataforma para publicação de seus serviços, através do financiamento coletivo, ou “crowd-funding”. Ou seja, os quadrinhos dependem de doações que acontecem de acordo com o inter-esse das pessoas pela proposta da publicação. O site Catarse proporciona que artistas consigam se desvincular de editoras e possam produzir um produto sem vinculações mercadológicas. Em 2011, surgiu o primeiro projeto de quadrinhos por financiamento coletivo no Bra-sil. Eduardo Damasceno e Luis Felipe Garrocho lançaram o livro “Achados e Perdidos” através do crowdfunding. “Isso traz a tona uma discussão extremamente importante de “como se consumir entretenimento”. A partir do momento que a obra só existe se houver interessados o bastante para que isso aconteça toda a relação do autor e dos leitores com a obra muda”, afirma Eduardo que foi precursor na utilização do financiamento coletivo no Brasil. O Catarse possui atualmente 114 projetos de quadrinhos que podem receber doações. Na plataforma, é possível escolher um prazo entre 1 e 60 dias para receber o financiamento, sendo que o Catarse fica com 13% do total arrecadado. Em pesquisa realizada pelo site, 20% do financi-

amento coletivo no país vem da região sul e 74% das pessoas que colaboram ganham até 6 mil reais por mês. O artista André Caliman utilizou o Catarse para a publicação de seu primeiro quadrinho in-dependente, o álbum “Revolta”. Caliman arreca-dou 17 mil e criou uma estratégia para divulgar o catarse: ele saia pelas ruas de Curitiba colando pedaços do quadrinho nas paredes. “Durante al-gum período de tempo o quadrinho no catarse foi a coisa que mais movimentou pessoas e din-heiro. Eu acredito que é porque o quadrinista já sabia fazer quadrinho sem qualquer tipo de apoio, já sabia o jeito de viabilizar. Quando sur-giu o catarse ele potencial-izou”, afirma Caliman. Já o paulista Fe-lipe Cagno conseguiu concretizar três propos-tas pelo catarse – um longa-metragem e dois quadrin- h o s . Nas duas HQs ele ultrapassou as metas de arrec-adação, 15 mil a mais em “Lost Kids” e 11 mil em “3,2,1”. A renda excedente da proposta inicial também é destinada para o produto. No caso de Felipe, as páginas dos livros aumentaram, além de uma 2º edição na HQ “3,2,1”. “A ideia é que quanto mais arrecada melhor fica seu produ-to. É aquela coisa de dar de volta para quem apoiou um produto melhor”, afirma Felipe.

Foto: André Packer

GIBICONA 1º Gibicon aconteceu em 2012 em Curitiba. O evento é bienal e em 2014 já se tornou o 2º maior evento sobre quadrinhos no Brasil

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GIBICONA 1º Gibicon aconteceu em 2012 em Curitiba. O evento é bienal e em 2014 já se tornou o 2º maior evento sobre quadrinhos no Brasil

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AgradecimentosIlustração da capa: Thiago SitDesign da capa: Kelvin VieiraEdição fotográfica: Danilo SchlederCrítica: Marcelo MaraEdição: Karina Janz

Foto: Danilo Schleder