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REVISTA DA FACULDADE DO SUDESTE GOIANO - FASUGPIRES DO RIO – GO, VOLUME 12, Nº 1, 2015/1 1

REVISTA DA FACULDADE DO SUDESTE GOIANO ... com todos que submeteram seus escritos para que esta edição viesse à luz, cujos textos diversificados representam verdadeiro esforço

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  • REVISTA DA FACULDADE DO SUDESTE GOIANO - FASUGPIRES DO RIO GO, VOLUME 12, N 1, 2015/1

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  • FASUG FACULDADE DO SUDESTE GOIANO - FASUG

    Av. Lino Sampaio, 79, Centro, Pires do Rio GO. E-mail:[email protected]

    Site: www.fasug.edu.br Telefones: (64) 3461-1891/Fax (64) 3461-3417

    ADMINISTRAO

    Diretor Geral Pedro Jos Martins de Arajo

    Secretria Fernanda Aparecida Mendona

    Coordenadora Acadmica e Pedaggica Matildes Jos de Oliveira

    Coordenador de Pesquisa, Ps-Graduao e Ao Comunitria

    Rubson Marques Rodrigues

    Coordenador do Curso de Administrao Matildes Jos de Oliveira

    Coordenador do Curso de Cincias Contbeis

    Matildes Jos de Oliveira

    Coordenadora do Curso de Direito Helena Beatriz de Moura Belle

    TRILHOS

    REVISTA DA FACULDADE DO SUDESTE GOIANO ISSN (IMPRESSO): 1808 - 1827

    CONSELHO EDITORIAL

    Presidente Pedro Jos Martins de Arajo Editor-Chefe Rubson Marques Rodrigues Editora-Adjunta Matildes Jos de Oliveira Membro Helena Beatriz de Moura Belle Membro Paulo Alberto da Silva Sales Linha Editorial: A Revista Trilhos est disponvel para a publicao de trabalhos cujo objeto de suas reflexes seja as reas de conhecimento Administrao, Cincias Contbeis, Direito e reas afins, com vistas a promover a verticalizao do fenmeno educativo que atravessa os saberes promovidos na FASUG.

    Trilhos: - Revista do sudeste Goiano/Faculdade do Sudeste Goiano. v. 12, n. 1 (2015) Pires do Rio GO: Grfica Pires do Rio, 2015 v. 7, (2015/1) v.: Il. Color. Anual ISSN 1808 1827 1Faculdade do Sudeste Goiano Fasug Peridicos

    CDU 001 (12)

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    http://www.fasug.edu.br/

  • EDITORIAL

    com muito entusiasmo que colocamos disposio dos leitores o volume 12, nmeros 1 e 2, da Revista TRILHOS, da Faculdade do Sudeste Goiano FASUG, correspondente ao ano 2015. A nossa alegria imensa, porque estas duas edies privilegiam a produo cientfica dos nossos estudantes.

    E este contentamento tem razo de ser. Trata-se da socializao de conhecimentos adquiridos pelos nossos estudantes, resultado de pesquisas diligentes em diversas reas de conhecimento, pois que a Revista Trilhos de feio multidisciplinar. E neste particular, e dada a relevncia destas edies, ficamos orgulhosos dos nossos estudantes, ao tempo em que agradecemos os nossos professores, pois que no mediram esforos em favor da orientao dos estudantes.

    O empenho da Equipe Editorial em analisar criteriosamente as produes cientficas e literrias publicadas uma tnica do nosso compromisso de oferecer aos leitores a possibilidade de escalarem a difcil e escarpada montanha do saber. Evidentemente, a par desse fato, no descuramos da certeza de que ele o caminho orientador da credibilidade deste veculo de informao da FASUG.

    Por tudo isso, podemos afirmar que, em verdade, a Revista Trilhos caminha de mos dadas com o compromisso de produzir e disseminar conhecimentos, em consonncia com os princpios da Faculdade do Sudeste Goiano, ou seja:

    Incessante busca da educao com qualidade socialmente referenciada;

    Empenho deliberado em suscitar discusses em torno do fenmeno educativo e, simultaneamente, disponibilizar espao para registro e divulgao de saberes, via Revista Trilhos.

    Congratulamos com todos que submeteram seus escritos para que esta edio viesse luz, cujos textos diversificados representam verdadeiro esforo de reflexo de conhecimentos concernentes com a linha editorial desta revista. Ao ensejo desse regozijo, agradecemos aos colaboradores e renovamos o convite para que continuem disponibilizando aos nossos leitores os seus saberes, por meio de artigos, trabalhos, refutao de ideias, sugestes e outros, por ocasio das futuras publicaes da Revista Trilhos. Segurana no trabalho com ferramenta de apoio para preveno de acidentes.

    Conselho Editorial

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  • Sumrio EDITORIAL ................................................................................................................................................ 3

    A REVOLUO DIGITAL E AS SUAS CONSEQUNCIAS PARA OS DIREITOS SOCIAIS ................................ 5

    Abner Lemuel Rosa de Oliveira Gonalves Pereira Flvia de Oliveira Fornari

    A IMPORTNCIA DO TRABALHO DO PERITO CONTADOR ..................................................................... 17

    Meire Jhanne Pereira Edna Ferreira

    A VISO DOS PRIMEIROS VIAJANTES EUROPEUS SOBRE A MULHER GOIANA NO SCULO XIX ........... 34

    MATEUS, Jeferson Carvalho SILVA, Slvia Martins de Assis

    A IMPORTNCIA DA MOTIVAO PARA O SUCESSO EMPRESARIAL .................................................... 45

    Hernany Lopes Castro Gabriela Rodrigues Felipe

    O SISTEMA DE COTAS NO BRASIL: UMA ANLISE DA SITUAO DO AFRODESCENDENTE .................. 60

    Pamella Natividade de Oliveira Gloriete Marques Alves Hilrio

    SEGURANA NO TRABALHO COM FERRAMENTA DE APOIO PARA PREVENO DE ACIDENTES ......... 75

    Marcelo Henrique Correa Pimenta Gabriela Rodrigues Felipe

    RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: UM ESTUDO EM EMPRESAS DAS CIDADES DE ITABERA E ITAGUARI ............................................................................................................................................... 98

    Dionys Cabral dos Santos Lorranny Carmo da Silva

    Maria Raimunda Pinto Cardozo LEGALIZAO DO TRABALHADO INFORMAL ATRAVS DA LEI DO MICROEMPREENDEDOR INDIVIDUAL EM SO MIGUEL DO PASSA QUATRO-GO ........................................................................................... 113

    Mizana Cunha Barbosa Joviano dos Reis de Oliveira

    REDUO DA MAIORIDADE PENAL ..................................................................................................... 134

    Edivaldo dos Santos Silva Carlos dos Santos Silva

    NORMAS EDITORIAIS DA REVISTA TRILHOS ........................................................................................ 135

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  • A REVOLUO DIGITAL E AS SUAS CONSEQUNCIAS PARA OS DIREITOS SOCIAIS

    Abner Lemuel Rosa de Oliveira Gonalves Pereira1

    Flvia de Oliveira Fornari2 RESUMO: Este estudo almeja correlacionar a Revoluo Digital, ocorrida na segunda metade do sculo XX, aos movimentos populares deste ano de 2013. Os direitos fundamentais e sociais, a discusso acerca das obrigaes prestacionais do Estado na promoo de polticas que consubstanciem os direitos de 2 dimenso, mormente os direitos sociais oriundos de normas cuja aplicao nem sempre imediata so, desse modo, assuntos apresentados pelo artigo. Ademais, formula-se uma explanao dos movimentos populares j solidificados na histria e h ntida busca quanto aos desafios do maquinrio de um Estado Democrtico de Direito, o qual se constitui no pice da democracia. Logo, so reveladas bases concluso de que os direitos de 4 dimenso (democracia direta, informao e pluralismo) so exaltados pela Revoluo Digital e proporcionam aos direitos de 2 dimenso um aparato cumulativo destinado eficcia vertical dos direitos fundamentais. PALAVRAS-CHAVE: Revoluo Digital, Direitos Sociais, Estado Democrtico de Direito.

    THE DIGITAL REVOLUTION AND ITS IMPLICATIONS FOR SOCIAL RIGHTS

    ABSTRACT: This study aims to correlate the Digital Revolution, which occurred in the second half of the twentieth century, to the popular movements of this year 2013. The fundamental and social rights, the discussion about the obligations state in promoting policies to substantiate the rights of the 2nd dimension, especially social rights - derived from rules whose application is not always immediate - are thus matters showed by Article. Moreover, formulates a explanation of the movements already solidified in history and there is clear search on the challenges of the machinery of a democratic state, which constitutes the apex of democracy. Soon, bases are revealed to the conclusion that the rights of the 4th dimension (direct democracy, pluralism and information) are exalted by Digital Revolution and provide rights of 2nd dimension cumulative apparatus for the efficacy vertical of fundamental rights. KEYWORDS: Digital Revolution, Social Rights, Democratic State.

    1. APRESENTAO

    As inovaes tecnolgicas dos mais diversos escopos, notavelmente, introduzem transformaes em nossas vidas atravs dos processos e produtos multimiditicos3 e transmiditicos4. Assim, mister se faz o estudo dos impactos da

    1 Graduando em Direito - Faculdade do Sudeste Goiano (FASUG). 2 Advogada, professora e mestra em Direito Pblico. 3 De acordo com Borges (2010), a multimdia (mltiplos meios) comeou com a convergncia de suportes e de tcnicas de comunicao via texto, som e imagem, permitindo apresentar ou recuperar as informaes de modo multissensorial. 4 Enquanto que a transmdia, segundo Borges (2010), uma cultura participativa. Engloba narrativas que podem ser comentadas manuseadas ou at remixadas. Existe uma flexibilidade de lidar com contedos fragmentados

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  • comunicao (direito difuso, coletivo, de carter transindividual) sobre a ocorrncia de manifestaes pblicas e busca pelo genuno Estado Democrtico de Direito.

    Os elementos do povo so os titulares dos direitos e das garantias fundamentais consagrados nos arts. 5 ao 17 da Constituio Federal -, enquanto a figura do destinatrio concentra-se no Estado, em especial nos seus deveres positivos (prestacionais) ou negativos (absentestas), garantindo ao indivduo a tutela de seus direitos, os quais apresentam colossais dimenses/geraes.

    Por oportuno, ressalta-se a influncia do pensamento liberal-burgus com relao primeira dimenso; a Revoluo Industrial europeia do sculo XIX, o marxismo e a ecloso da 1 Grande Guerra (1914-1918) esto no contexto do surgimento dos direitos de 2 dimenso; o desenvolvimento tcnico-cientfico e a ideia de humanidade e universalidade contidas na terceira dimenso.

    Alm disso, o mapeamento do genoma humano e a engenharia gentica originando a quarta dimenso; e, por fim, o direito paz, uma dimenso autnoma de acordo com Paulo Bonavides, porquanto apregoa a supremacia da dignidade da pessoa humana.

    notria, em consonncia com os pargrafos supra, a perspectiva de que de uma dimenso de direitos abarca, em seu seio, algum tipo de revoluo, seja liberal, social, tcnico-cientfica, biotecnolgica ou ligada aos direitos da humanidade.

    Como consigna Branco (2012) em seu magistrio: Essa distino entre geraes dos direitos fundamentais estabelecida apenas com o propsito de situar os diferentes momentos em que esses grupos de direitos surgem como reivindicaes acolhidas pela ordem jurdica. Deve-se ter presente, entretanto, que falar em sucesso de geraes no significa dizer que os direitos previstos num momento tenham sido suplantados por aqueles surgidos em instante seguinte. Os direitos de cada gerao persistem vlidos juntamente com os direitos da nova gerao, ainda que o significado de cada um sofra o influxo das concepes jurdicas e sociais prevalentes nos novos momentos. Assim, um antigo direito pode ter o seu sentido adaptado s novidades constitucionais. Entende-se, pois, que tantos direitos a liberdade no guardem, hoje, o mesmo contedo que apresentavam antes de surgirem os direitos de segunda gerao, com as suas reivindicaes de justia social, e antes que fossem acolhidos os direitos de terceira gerao, como o da proteo ao meio ambiente. Basta que se pense em como evoluiu a compreenso do direito propriedade, desde a Revoluo Francesa at a incorporao s preocupaes constitucionais de temas sociais e de proteo do meio ambiente. Os novos direitos no podem ser desprezados quando se trata de definir aqueles direitos tradicionais.

    Pode ocorrer, ainda, que alguns chamados novos direitos sejam apenas os antigos adaptados s novas exigncias do momento. Assim, por exemplo, a garantia contra certas manipulaes genticas muitas vezes traz baila o clssico direito vida, confrontado, porm, com os avanos da cincia e da tcnica.

    A viso dos direitos fundamentais em termos de geraes indica o carter cumulativo da evoluo desses direitos no tempo. No se deve

    mltiplos, abrindo espaos para que o usurio possa reconstruir e recombinar estrias, dando asas sua criatividade.

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  • deixar de situar todos os direitos num contexto de unidade e indivisibilidade. Cada direito de cada gerao interage com os das outras e, nesse processo, d-se compreenso.

    Destarte, mediante o alicerce alado neste estudo, infere-se que a Revoluo

    Digital suscita, por meio de suas inovaes, transformaes na vida de uma sociedade e, consequentemente, das comunidades nela inseridas.

    Segundo Nicolacci da Costa (2002), o ser humano capaz de ter acesso a inmeras transformaes, atravs de relatos dos mais velhos, livros, filmes, viagens, etc., com os modos de vida de pocas e lugares em que uma ou outra tecnologia ainda era desconhecida. Esse tipo de contato com o antes de determinada tecnologia torna fcil perceber as transformaes por ela geradas no depois.

    Ou seja, o homem plenamente capaz de buscar e compreender no ventre histrico e nem precisa ser historiador acontecimentos marcantes que mudaram a histria de sua vida. Os estudos acerca da Revoluo Francesa (1789), por exemplo, fazem do homem um ser mais crtico e analista e, ento, conduzem-no percepo de que o acontecido em sculos volvidos torna-se crucial no atual momento histrico em que se vive.

    Desta forma, o homem, cada vez mais, requer o que seu por direito e se utiliza de ferramentas virtuais, uma vez que as atividades humanas esto se tornando cada vez mais dependentes da internet, e, portanto, suscetveis s suas vulnerabilidades.

    Tais vulnerabilidades ligam-se ao fato de que o homem se expe sobremaneira atravs de redes sociais, correndo riscos relacionados tanto aos vrus disseminados quanto s suas informaes pessoais. Consequentemente, torna-se abertura vivel aos exploradores a utilizao de informaes de alto relevo em contraponto figura do simples usurio.

    Entrementes, nesse contexto, levando-se em conta que, na maioria dos casos, so as redes sociais (twitter, facebook, bate-papos) que ambicionam e provocam o desejo pela concentrao de pessoas s ruas, sempre com um objetivo comum, torna-se oportuno um estudo que responda seguinte questo: Como a Revoluo ou Sublevao Digital iniciada, de fato, nos acontecimentos da Guerra Fria, de um mundo bi polarizado influencia a realizao de manifestaes e a conscincia poltica dos manifestantes?.

    2. REVOLUO DIGITAL E COMUNICAO

    Aspectos modernos aliados ideia de evoluo tecnolgica infirmam o conservadorismo e norteiam os pases a um processo de globalizao e comunicao rpida, instantnea, imediata, a qualquer tempo, quando se queira. Todos reconhecem que inovaes tecnolgicas introduzem profundas alteraes na vida humana.

    O certo que a tecnologia tem um papel fundamental em processos que instauram mudanas, e, desse modo, tais processos conduzem crena de que a nossa forma de ver o mundo evolui ao mesmo tempo em que o mundo que nos cerca tambm objeto dessa evoluo, a partir dos avanos cientficos e tecnolgicos.

    Quem no sabe que, antes de existir a energia eltrica, a famlia reunia-se ao redor do piano? Quem desconhece que, depois da energia eltrica, o piano foi substitudo pelo rdio e, ainda mais recentemente, pela televiso? Quantos de ns, acostumados que estamos s calculadoras de bolso, ainda sabemos fazer contas de cabea ou na ponta do lpis? (NICOLACI-DA-COSTA, 2002).

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  • Malgrado as novas tecnologias serem de fcil deteco, fortalecendo, destarte, a alterao de hbitos e formas de agir, bem mais difcil registrar que algumas tecnologias tambm podem alterar radicalmente nosso modo de ser. No que tange ao ponto de vista da psicologia, essa dificuldade torna-se preocupante em um momento mpar, como o que estamos vivendo neste incio de sculo XXI, em que as novas Tecnologias da Informao de expandem, penetrando todo o tecido social e transformam o planeta na Aldeia Global preconizada por Marshall McLuhan (NICOLACI-DA-COSTA, 2002).

    Corroborando os ensinamentos de Rodriguez e Ferrante (2000, p. 43), voltando um pouco histria da Revoluo Cientfica:

    A teoria do conhecimento humano muito antiga, sendo possvel estabelecer a sua origem nas ideias e formas de Plato de 428 a 348 a.C. e do seu mestre, Scrates, a partir das quais comeou a se desencadear o processo evolutivo do conhecimento humano. Com o desenvolvimento do mecanicismo, seguindo a linha de ideias inicialmente desenvolvidas por Plato e Scrates, j no perodo de 151 a 127 a.C. Ptolomeu deu incio ao desenvolvimento da astronomia. Pouco depois, Aristteles definiu como paradigma que a Terra era o centro do Universo. Somente um sculo e meio depois de Aristteles, no perodo de 1473 a 1543 j na idade moderna -, Nicolau Coprnico desenvolve sua teoria, afirmando que o Sol era o centro do Universo.

    A utilizao do termo cincia constitui, sobretudo, a busca pelo conhecimento. Assim, segue uma tabela explicitando as principais mudanas no final do sculo XIX e no sculo XX. Tabela 1. Algumas invenes fundamentais

    ANO INVENO

    1893 Carro a gasolina por Henry Ford

    1895 Raio X pelo fsico Wilhelm Conrad Roentgen e Cinema por Auguste e Louis Lumire

    1896 Caminho motorizado por Gottieb Daimler

    1901 Rdio AM pelo italiano Guglielmo Marconi

    1912 Rdio FM por Edwin Howard Armstrong

    1925 Televiso preto e branco pelo escocs John Logie Baird

    1931 nibus pelo ingls Walter Hancock

    1941 Aero nave a jet por Frank Whittle

    1945 Bomba atmica pelo fsico Julius Robert Oppenheimer

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  • 1955 Televiso a cores por David Sarnoff

    1962 Videogame por Steve Russel

    1975 Microcomputador pela Intel

    1981 Internet

    1983 Telefone celular

    1997 Lanado no mercado o Bichinho Virtual que simula o ciclo de vida de um animal de estimao

    Nota. Fonte: Adaptado de RODRIGUEZ, Martius V.; FERRANTE, Augustin Juan. (2000). Tecnologia da informao e gesto empresarial (p. 42-43). Traduo: Washington Luiz Salles e Louise Anne N. Bonitz. Rio de janeiro: E-Papers.

    Contudo, tendo em vista o Direito e os seus institutos, essas questes tecnolgicas atrelam-se mxime com relao aplicabilidade das normas, sua eficcia, e, pode-se inferir, veementemente, que ensejam alteraes no cenrio jurdico brasileiro por meio de processos preconizadores de democracia (direta), visto que a Carta Magna brasileira (1988) firma-se em uma democracia semidireta, ou melhor, semi-indireta ou quase indireta, porquanto possui apenas alguns mecanismos que se destinam ao exerccio de uma efetiva democracia direta pelos povos (os quais constituem a nao), dentre eles: referendo, plebiscito e iniciativa popular; alm da ao popular, tida como remdio constitucional. Assim, os manifestos vm ressaltar o que j foi dito, demonstrando, ento, a fora do povo em um Estado Democrtico de Direito o qual est enaltecido no prembulo constitucional e, outrossim, no art. 1 do Texto Supremo. A tecnologia, a internet em especial, vem a ser um ferrenho instrumento concretizao da vontade dos manifestantes atravs do exerccio de uma democracia direta relembrando, um pouco, o modelo jus naturalista grego, que at hoje influencia escolas jurdicas, em que a voz do povo assaz ouvida. Os mecanismos para o exerccio plenamente democrtico so, sobretudo, atinentes a mecanismos constitucionais que ensejam a soberania popular, quais sejam, a iniciativa popular, o referendo, o plebiscito e a ao popular, j citados neste trabalho. Alm disso, a comunicao torna-se aliada a todo esse mecanismo.

    O direito comunicao relativamente recente, e as primeiras discusses a esse respeito remontam ao final da dcada de 1960. Tal conceito ainda no foi incorporado s leis internacionais, porm alguns pases j reconhecem o direito de acesso da sociedade civil aos meios de comunicao, como o caso de Espanha e Portugal. A discusso encontra-se em um estgio incipiente no Brasil. Existe um entendimento minoritrio de que o direito de comunicao j est previsto na Constituio Federal de 1988, no seu art. 220, que dispe sobre a proibio de restries manifestao do pensamento e liberdade de expresso e informao. Na prtica, no entanto, muito pouco ou nada se faz, por parte do Estado, para a efetivao desse direito, no obstante os esforos realizados por diversas organizaes da sociedade civil (BRITTOS; COLLAR, 2008, p.72).

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  • Tais esforos so os que proporcionam populao a liberdade de entrar em suas redes sociais com fins de protestos e de convocao para os mesmos (atravs de pginas do facebook e twitter, principalmente). Efetuando-se, nesse caso, a mobilizao rumo a um objetivo comum, qual seja, mudanas na estrutura poltica do Estado, quer seja na busca por maior responsabilidade prestacional do Estado no cumprimento de seus deveres em prol do bem comum, quer seja em movimentos de carter anticorrupo na esfera poltica. Logo, essa Sublevao Digital corrobora na populao esse direito intrnseco de agir, de se unir, de se aliar, de buscar o melhor de modo conjunto, de se ater coletividade, humanidade, universalidade, mediante aes coordenadas que visem ao progresso, desconsiderando quaisquer clivagens e, por muitas vezes, no tendo a tecnologia a seu favor (pela questo da acessibilidade, de sua falta), porm, fazendo-a um alicerce ao seu lado.

    3. MOVIMENTOS POPULARES E LUTAS SOCIAIS As manifestaes populares por democracia pelo mundo e no Brasil so aspectos indispensveis a serem enfocados. Destarte, algumas importantes foram: Movimento negro (EUA), apartheid (frica do Sul), Panelao (Argentina, 2001), protestos em Mianmar (2007), protestos contra Ahmadinejad (Ir, 2009), protestos contra o presidente da Gergia (2007), Camisas Vermelhas (Tailndia, 2010), manifestaes contra Bem Ali (Tunsia, 2011), protestos contra Hosni Mubarak (Egito, 2011). Ademais, protestos no Brasil: Revolta da Vacina (1904), Passeata dos 100 mil (1968), Comcio das Diretas J (1984), Impeachment de Collor (1992). De incio, a causa afroamericana (dcada de 1960) na busca por direitos civis e igualdade para a comunidade afroamericana dos Estados Unidos da Amrica teve como expoente Martin Luther King, lder evanglico na batalha contra o senso comum, e, at hoje, motiva discusses acerca do tema, quais sejam, as cotas em universidades pblicas. De acordo com Azevedo (2004, p. 52):

    O movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos fez da desigualdade negra uma questo nacional. Durante cerca de dez anos desenvolveu-se intensa atividade no sentido da desmontagem do sistema segregacionista vigente no sul do pas Alm de combater in loco a segregao nos espaos pblicos e sua doutrina respectiva a doutrina do separado, mas no igual -, militantes negros e brancos envolveram-se em aes diretas para assegurar o direito de voto ao negro, at ento recusado atravs dos muitos subterfgios inventados pelos membros racistas dos escritrios de registro eleitoral.

    Outro exemplo de cida segregao racial foi a poltica do apartheid, oficializada em 1948, cuja oposio de Nelson Mandela suscitou efeitos na dcada de 1990, tendo como marco principal o fim do drstico regime e um Prmio Nobel da Paz (1993). No caso da Argentina, o terrvel fracasso do projeto neoliberal, a profunda crise econmica, e poltica caracterizada pelo esgotamento tanto do modelo instalado desde o segundo ps-guerra quanto da democracia representativa, fornecem os elementos que permitem explicar a dinmica da rebelio e a emergncia dos movimentos polticos e sociais (HOPSTEIN, 2007, p. 18).

    J os protestos contra o governo que comearam em Mianmar foram realizados no ciberespao e tambm nas ruas. O medo da transparncia foi a principal razo da severa represso digital contra os manifestantes, no outono de 2007. A solidariedade pelos manifestantes foi estimulada por imagens perturbadoras como a de um fotojornalista japons

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  • morto pelos soldados do governo, o qual continuou fotografando enquanto morria na rua (BENNIS et. al., 2008, p. 141). Os protestos eleitorais contra o presidente eleito Mahmoud Ahmadinejad no Ir, em 2009, demonstraram a permanncia da diviso entre reformistas e tradicionalistas no pas e motivaram-se por acusaes de fraude eleitoral: antes do pleito presidencial, pesquisas indicavam a possibilidade de um segundo turno entre Ahmadinejad e Mir Hossein Mousav. Todavia, Ahmadinejad sagrou-se vitorioso com 68% dos votos ainda no primeiro turno. Outro interessante protesto aconteceu na Gergia, em 2007, tambm tomado por motivao eleitoral, em consonncia com o protesto iraniano. Pois bem, o alvo era o presidente Mikhail Saakashvili, e, as reivindicaes dos manifestantes oriundos de 10 partidos - eram claras: convocao das eleies parlamentares antecipadas, constituio de uma Comisso Eleitoral Central sobre bases paritrias, liberao de todos os presos polticos. A manifestao pblica ocorrida na Tailndia em 2010 foi denominada Camisas Vermelhas, porquanto era a cor da camisa dos manifestantes os quais exigiam a renncia do governo. Os protestos duraram mais de uma semana, parou a cidade e o nmero de mortos excedeu 30 pessoas.

    Na Tunsia, aps a revoluo e destituio do ex-presidente Bem Ali, depois de 23 anos no poder, o governo interino anunciou eleies, a terem lugar em 24 de julho de 2011, destinadas eleio dos membros de um conselho de representantes que ter como objetivo rever a Constituio. Uma vez eleito, o Conselho Constitucional poder nomear um governo ou, em alternativa, pedir ao atual executivo para continuar at s eleies presidenciais ou legislativas (BANCO AFRICANO PARA O DESENVOLVIMENTO et. al., 2011).

    No mesmo sentido, os egpcios apregoaram a sada do presidente Hosni Mubarak, h 30 anos no poder. Dessa maneira, o governo bloqueou servios como internet e telefonia, no obstante, os protestos continuaram pela capital egpcia, Cairo. Aps a revoluo contra o regime de Mubarak, a populao foi s ruas no primeiro referendo constitucional. Os eleitores, ento, aprovaram as reformas constitucionais. No Brasil, uma campanha de vacinao obrigatria (1904), autoritria, forada, e, tambm, uma crise econmica e reforma urbana a qual retirou a populao pobre do centro da cidade ocasionaram manifestaes populares nas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Claramente, o povo mostrou a sua fora, uma vez que a lei da vacinao obrigatria fora revogada pelo presidente Rodrigues Alves. E os Cem Mil manifestao popular de protesto contra a ditadura militar no Brasil, ocorrida em 26 de junho de 1968 -, a princpio, foi uma grande manifestao, com ampla participao, porque foram mais artistas, mais pessoas de destaque, mais secundaristas e, sobretudo, mais gente da classe mdia. E os pais foram. Foi uma manifestao em que os pais compareceram (DA-RIN, 2007, p. 182). Com relao ao Comcio das Diretas J:

    Governo de Figueiredo, crepsculo do regime militar, movimento das Diretas J. Incipiente em 1983, pega fogo de janeiro a abril de 1984. Presena e participao populares recordes da histria do pas. Cansados da ditadura e da crise, tomados por irresistvel desejo de mudana, os brasileiros vo rua pela democracia e pela liberdade.

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  • Com emoo de arrepiar e muita alegria, sem medo algum. Sonham, pedem, desafiam, gritam, riem, choram, aplaudem e vaiam, cantam e encantam, exigem: Diretas J! e Quero votar pra presidente!. Milhares, depois milhes. Vasta massa movida a esperana e sonho mostra quem deveria ser o dono do pas. Inunda os espaos pblicos em busca de seus direitos (LEONELLI; OLIVEIRA, 2004, p. 25).

    Pois bem, o acontecimento decisivo para que a sociedade se revoltasse contra o governo de Fernando Collor de Melo, no ano de 1992, foi a denncia e comprovao de um esquema de corrupo envolvendo o presidente do Brasil. A Unio Nacional dos Estudantes (UNIE), a Unio Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), DCEs, centros acadmicos, grmios livres reuniram-se com a finalidade de impeachment do atual presidente. O vice-presidente Itamar Franco assumiu a presidncia e terminou o mandato em vigor, aps a votao do impeachment de Collor (aprovado por 441 votos favorveis a 38 contrrios).

    Portanto, as manifestaes populares so a expresso mxima de que os cidados podem inundar a esfera poltica do pas para fins de que seus direitos sejam tomados em considerao, e tambm ensejam o desenvolvimento da democracia atravs da soberania popular.

    Vale consignar que a democracia direta, onde os cidados votam e discutem as principais questes referentes sociedade (na Grcia Antiga havia reunies democrticas na gora, local pblico), perdeu em muito o seu espao devido organizao social cada vez mais complexa, ou seja, as sociedades encontram-se numericamente superiores quelas antigas, tornando-se, destarte, difcil a oitiva de todos, sendo, ento, necessrio um sistema de democracia indireta, representativa, em que o voto se configura como essencial atividade de representao poltica do cidado - muito embora possa haver mecanismos os quais proporcionam a democracia sob o ngulo direto.

    4. OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E SOCIAIS

    Os direitos fundamentais so consagrados no Ttulo II da Lei Maior de 1988, tendo como subttulos (captulos) abarcados os direitos individuais e coletivos (art. 5), os direitos sociais (arts. 6 ao 11), cujo enfoque o primordial em nosso estudo, a questo da nacionalidade (arts. 12 e 13), os direitos polticos (arts. 14, 15 e 16) e os partidos polticos (art. 17).

    Direitos fundamentais estes que, na sistematizao proposta por Alexy (1997), podem ser compreendidos como direitos a algo, liberdades e competncias.

    Nessa senda, a necessidade de fundamentao dos direitos humanos faz-se crucial, contudo, sendo respeitadas algumas variveis, quais sejam, a tica, a lgica, a teoria e o pragmatismo (ideias claras).

    As normas que sistematizam os direitos sociais possuem carter programtico, isto , so normas cuja aplicabilidade comporta-se como mediata, reduzida, diferida, porque estabelecem as diretrizes permanentes a serem seguidas pelo Estado, tendo como bases alguns programas constitucionais. A valer, so normas de eficcia relativa complementvel, ou simplesmente, limitada.

    Desta forma, pode-se dizer que a Constituio brasileira caracteriza-se, quanto finalidade, como Constituio Dirigente (voltada para o futuro) e Garantia (negativa), pois

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  • se encontra nela uma gama de normas de eficcia limitada, visto que h dependncia dos detentores do poder poltico consolidao das normas programticas positivadas via instrumento constitucional, alm disso, prev normas garantidoras de direitos individuais e coletivos.

    5. MOVIMENTOS POPULARES DE 2013: PERSPECTIVAS E OBJETIVOS

    O estopim para a ecloso de movimentos populares neste ano, de incio, foi o aumento das tarifas de transporte pblico. Outrossim, os protestos iniciais ganharam fora em todo o territrio nacional e a abrangncia de temas expostos tornou-se densa: gastos exacerbados com competies internacionais (Copa das Confederaes e Copa do Mundo), a corrupo dos polticos, a ineficincia do maquinrio estatal ao lidar com os direitos sociais: educao, moradia, trabalho, segurana, dentre outros.

    Objetiva-se, porm, por meio destes movimentos impulsionados pela tecnologia, a adoo de medidas prestacionais por parte do Estado no tocante melhoria administrativa de todo o maquinrio que fundamenta a figura do Estado, grosso modo, distribuir melhor as riquezas nacionais, dando suporte a quem realmente (e de direito) necessita.

    Uma caracterstica marcante desses movimentos foi o surgimento de grupos que se autointitulam, como o caso dos Black Blocs, os quais apregoam grande questionamento quanto ao sistema vigente e se utilizam de mscaras de gs e roupas pretas para dar corpo e impacto ao que almejam.

    Deveras, a celeuma social parece estar apenas comeando, visto que os ilustres ministros do Supremo Tribunal Federal, por deciso dividida, aceitaram novo julgamento de partes das denncias envolvendo o mensalo5, o que culminou em grandes rumores e perspectivas de manifestos ainda mais incisivos dos distintos segmentos sociais.

    6. ANOMIA E ANATOMIA DO MAQUINRIO ESTATAL

    O Estado , por muitos, considerado a apoteose, o verdadeiro pice, de uma sociedade, porquanto visa efetivao de objetivos atinentes sociedade, a qual um conjunto de comunidades.

    Em um escopo sociolgico, o Estado constitudo de trs elementos primordiais: povo, territrio e poder poltico. So materiais os elementos territrio e povo, e formal, o poder poltico (soberania).

    De acordo com Carvalho (2008), tem-se questionado, todavia, a reduo do Estado a seus elementos, considerados, por alguns, como condies de sua existncia e no como definidores de sua essncia.

    No entanto, a anomia, ou melhor, falta de harmonia e desrespeito tica do maquinrio estatal, conduz a sociedade falncia de direitos e garantias que so de responsabilidade prestacional do Estado.

    Assim, a anlise em conjunto da interrogao inerente ao Princpio da Reserva do Possvel e o mnimo existencial , de fato, uma busca terica do que o Estado capaz de fazer e uma ambio prtica daquilo que o mesmo faz e far.

    5 O mensalo, termo descrito em linhas volvidas, foi um esquema revelado sociedade, mostrando que os polticos recebiam o dinheiro do povo para os prprios bolsos.

    13

  • 7. DESAFIOS AO ESTADO DEMOCRTICO DE DIREITO: SEGURANA JURDICA E ECONOMIA

    O Estado Democrtico de Direito aquele que se amolda na democracia, na participao popular ampla, no poder emanado pelo povo. Alm disso, a segurana jurdica em lato sensu diz respeito aos direitos fundamentais, segurana de que eles sejam cumpridos de modo eficiente.

    E, dentro desta linha de raciocnio, ento, cumpre-se ressaltar que os recursos financeiros do Estado so limitados, apreendendo-se a necessidade de uma gesto administrativa responsvel, que faa valer o Princpio da Reserva de Consistncia como tambm a segurana jurdica a toda a populao sob a gide da Constituio6.

    8. CONCLUSO

    A busca pela democracia (direta), a conscincia da populao (em muito influenciada pelos alcances da era digital e a globalizao, comunicao e informao instantneas), os abusos de poder poltico, a m gesto de recursos financeiros (principalmente os provenientes de tributos pagos pelos cidados), enfim, esses temas polmicos se inter-relacionam de forma simbitica e foram merecedores deste estudo, dado o relevo construo da histria do sculo XXI.

    Portanto, necessrio inferir que os direitos de 4 dimenso (democracia direta, informao e pluralismo) so exaltados pela Revoluo Digital e proporcionam aos direitos de 2 dimenso um aparato cumulativo destinado eficcia vertical dos direitos fundamentais tema muito estudado pelas Cincias Econmicas, Cincias Polticas, Cincia do Direito, devido ao seu valor imprescindvel vida da populao brasileira.

    Sabe-se que o Direito uma cincia cosmolgica no sentido de que abarca uma infinidade de temas e estuda a evoluo das relaes humanas, sempre tendo como viga-mestra a lgica dentica, da qual se absorvem as normas que cominam em obrigao, permisso e faculdade no mbito jurdico. Em consonncia com o magistrio de Pacheco (2012?) acerca da Cincia do Direito:

    Quanto Cincia do Direito, nos fenmenos humanos, o cientista do direito no se contenta em explic-los, vai mais longe e procura compreend-los. Quando assim dispe o seu esprito investigativo, ou melhor, aplicativo, o cientista interfere intuitivamente no sentido dos fenmenos, pois os valora. Nessa medida, necessrio que haja um mtodo prprio que seja ele mesmo validado pelo referencial axiolgico e que lhe d sentido, validando-o segundo valores individuais, sociais, culturais, ideolgicos e histricos.

    6 O preclaro autor Ferdinand Lassale (1933/2010) indaga um exemplo hipottico, qual seja: um grande incndio irrompeu e nele queimaram-se todos os arquivos do Estado de maneira que no fosse possvel achar um nico exemplar das leis do pas. Suponhamos isto. O legislador poderia elaborar leis em consonncia com o seu modo de pensar? No, porquanto a essncia da Constituio de um pas configura-se na soma dos fatores reais de poder que regem um pas, isto , so essa fora ativa e eficaz que informa todas as leis e instituies jurdicas da sociedade em apreo, determinando que no possam ser, em substncia, a no ser tal como elas so.

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  • Conclui-se, por fim, de modo primoroso, por meio de uma citao a um importante fragmento do relatrio do Ministro Ayres Britto, o qual consta da Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 153, de 29 de abril de 2010 - logo nas fases propeduticas - elaborado por Adolf Hitler:

    A humanidade no o homem para se dar a virtude do perdo. A humanidade tem o dever de odiar os seus ofensores, odiar seus ofensores, odiar seus ofensores, porque o perdo coletivo falta de memria e de vergonha. Convite masoqustico reincidncia.

    9. REFERNCIAS ALEXY, Robert. Teoria de los derechos fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997. AZEVEDO, Clia Maria Marinho de. Antirracismo e seus paradoxos: reflexes sobre cota racial, raa e racismo. So Paulo: Annablume, 2004. BANCO AFRICANO PARA O DESENVOLVIMENTO; CENTRO DE DESENVOLVIMENTO ORGANIZAO PARA A COOPERAO E DESENVOLVIMENTO ECONMICOS; PROGRAMA DAS NAES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO; COMISSO ECONMICA PARA A FRICA. Perspectivas econmicas em frica: frica e os seus parceiros emergentes. 2011. p. 78. Disponvel em: . Acesso em: 31/08/2013. BENNIS, Warren; GOLEMAN, Daniel; OTOOLE, James; BIEDERMAN, Patricia Ward. Transparncia: como criar uma cultura de valores essenciais nas organizaes. Traduo de Thereza Ferreira Fonseca. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. BORGES, Marlise. Produtos multi e transmiditicos: caractersticas estticas, contrapontos e convergncias. 2010. Disponvel em: . Acesso em 22/09/2013. BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. In: MENDES, Gilmar Ferreira; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de direito constitucional. 7 ed. So Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 153. 29/04/2010. 266 f. Disponibilizada pelo Prof. Me. Cludio Gonalves Pacheco aos acadmicos de Direito da Faculdade do Sudeste Goiano (FASUG). BRITTOS, Valrio Cruz; COLLAR, Marcelo Schmitz. Direito comunicao e democratizao no Brasil. In: SARAVIA, Enrique; MARTINS, Paulo Emlio Matos; PIERANTI, Paulo Pena (Orgs.). Democracia e regulao dos meios de comunicao de massa. Rio de janeiro: FGV, 2008. 276 p. CARVALHO, Kildare Gonalves. Direito constitucional. 14 ed., rev. atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2008. DA-RIN, Silvio. Hrcules 56: o sequestro do embaixador americano em 1969. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007.

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  • HOPSTEIN, Graciela. A Rebelio Argentina: assembleias de bairro, piqueteros e empresas recuperadas. Rio de Janeiro: E-papers, 2007. 150 p. LASSALE, Ferdinand. O que uma constituio? Campinas, SP: Servanda Editora, 2010. 48 p. LEONELLI, Domingos; OLIVEIRA, Dante de. Diretas J: 15 meses que abalaram a ditadura. Rio de Janeiro: Record, 2004. NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. Revolues tecnolgicas e transformaes subjetivas. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. 2002, vol.18, n.2, pp. 193-202. ISSN 0102-3772. Disponvel em: . Acesso em 31/08/2013. ______. Quando o velho esconde o novo: antigas palavras, novos significados. Psic.: Teor. e Pesq. [online]. 2009, vol.25, n.1, pp. 109-117. ISSN 0102-3772. Disponvel em: . Acesso em 31/08/2013. PACHECO, Cludio Gonalves. Conhecimento cientfico versus conhecimento jurdico. (2012?). 18 f. Artigo concedido aos estudantes de Direito da Faculdade do Sudeste Goiano (FASUG) pelo Prof. Me. Cludio Gonalves Pacheco. RODRIGUEZ, Martius V.; FERRANTE, Augustin Juan. Tecnologia da informao e gesto empresarial. Traduo: Washington Luiz Salles e Louise Anne N. Bonitz. Rio de janeiro: E-Papers, 2000. 448 p.

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    http://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n2/a09v18n2.pdfhttp://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n1/a13v25n1.pdf

  • A IMPORTNCIA DO TRABALHO DO PERITO CONTADOR

    Meire Jhanne Pereira1 Edna Ferreira2

    RESUMO: A percia contbil destacada como um dos principais ramos da contabilidade, que visa esclarecer determinadas questes ou fatos com apresentao do laudo, que elaborado pelo perito contador. Na realidade uma das atividades desempenhadas pelo contador da mais alta importncia e que exige muito conhecimento, tanto da prpria contabilidade, quanto de outras cincias afins, alm de ser tico em qualquer momento ou circunstncia. Quando no exerccio da sua funo, o contador tem a obrigao de demonstrar todos os empenhos possveis atravs da verdade dos fatos, mencionando no laudo pericial todos os resultados que alcanou aps a realizao do exame, buscando agir sempre com absoluta tica e o mximo de independncia possvel. Percia contbil um instrumento tcnico cientfico de constatao, demonstrao ou prova, quanto veracidade dos fatos ligados ao patrimnio de pessoas e empresas. O objetivo da percia responder aos quesitos pertinentes a um processo judicial, elucidando os questionamentos. Este estudo visa focar principalmente o trabalho do perito contador e sua importncia na tomada de deciso do juiz em um determinado caso. Na pesquisa sero destacados alguns objetivos como: Analisar o trabalho do perito contador, especificar o trabalho do perito em relao tomada de deciso do juiz, analisar ainda os passos para elaborao de um laudo pericial, identificar falhas ocasionadas pelo perito. E como objetivo principal a importncia do trabalho do perito contador em relao ao laudo pericial na deciso de um processo.

    Palavras-chave: Percia contbil, Perito contador, O trabalho do perito, Laudo pericial.

    ABSTRACT: Theforensic accountingishighlighted asone of themain branchesof accounting, which aims toclarifycertain issuesoreventswithpresentationof the report, which isprepared by theexpertaccountant. In reality it isone of theactivities performed by theall-importantcounterand requiresmuch knowledge, bothown accounts, and in otherrelated sciences, in addition to beingethicalinany timeor circumstance. Whenthe exercise ofits function, theaccountantis required todemonstrateall possibleendeavorsbytrue facts, citing theexpert reportall the resultsachievedafterthe exam, seekingalways actwith absoluteethics andmaximum independencepossible. Forensic accountingis ascientific and technicalinstrument ofobservation, demonstration or proof, as to the veracityof the factsrelatedto the assetsof individuals and companies. Thegoalis to respondto relevantexpertiseto prosecutionquestions, clarifying the questions. This studyaims tofocus mainly onthe work of theexpertaccountantand its importancein the decisionof the judgein agiven case. In the researchare highlightedassome goals: To analyze the work ofan expertaccountant, specifythe expert's workin relationto decision-makingjudgealsoanalyzethe steps forpreparation of anexpert report, identify gapsoccasionedby the expert. Andas main objective theimportant work of theexpertaccountantin relation toexpert opinionin the decisionprocess.

    Keywords: Accounting Expertise, Expert Accountant, The work of the expert, expert Report.

    INTRODUO

    A percia contbil atualmente vem se destacando na rea da contabilidade, apesar de muitos autores acreditarem que sua literatura seja um pouco escassa e que suas

    1 Graduanda do Curso de Cincias Contbeis da Faculdade do Sudeste Goiano FASUG. [email protected] 2 Professora da Faculdade do Sudeste Goiano

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  • classificaes so feitas de formas diferentes pelos que estudam o tema, a mesma vem sendo utilizada como elemento de prova judicial.

    Um conceito aplicado percia contbil define-se por Hoog (2012, p. 55) como:

    [...] conjunto de procedimentos tcnicos e cientficos destinados a levar instncia decisrias elementos de prova necessrios a subsidiar a justa soluo do litgio, mediante laudo pericial contbil, e ou parecer pericial contbil, em conformidade com as normas jurdicas e profissionais, e a legislao especifica no que for pertinente.

    A Percia Contbil constituise de um conjunto de procedimentos utilizados por um profissional que domina profundamente contabilidade, com o intuito de fornecer informaes sobre o patrimnio de entidades fsicas ou jurdicas.

    O procedimento da percia contbil utilizado em vrias situaes presentes nas empresas, porm para que a mesma funcione corretamente deve existir a figura do perito contador. O perito contador deve ser pessoa confivel e de aceitao incontestvel.

    Quando um profissional nomeado pelo juiz para desempenhar o papel de perito judicial, deve elaborar um planejamento e determinar o objetivo a ser esclarecido, utilizando as tcnicas cientficas e as habilidades tcnicas exigidas pela Justia.

    Para a execuo dos trabalhos periciais (laudo pericial contbil ou parecer pericial contbil), o peritocontador e o peritoassistente utilizam duas grandes ferramentas: a experincia profissional e o conhecimento de normas jurdicas, profissionais e de legislao atinentes matria periciada.

    Em muitas situaes no h a necessidade da percia elaborada no campo judicial, pois as partes envolvidas podem solicitar a intervenincia de profissional contbil, com habilidade para esclarecer a disputa, atravs da arbitragem, uma forma simplificada da percia contbil.

    O objetivo geral da pesquisa analisar o trabalho do perito contador e mostrar sua importncia de modo geral, nas solues de controvrsias. O perito encarregado de exercer a percia mediante exames, anlises e investigaes a fim de mostrar a verdade dos fatos trazida pelas partes por meio da prova contbil documental.

    Este trabalho justifica-se pela importncia do tema para contadores e acadmicos desta rea profissional, pois o contador deve fazer parte de um mundo novo, pesquisando, atualizando-se e sendo competente e tico para com seus clientes na sociedade.

    E para nortear a pesquisa sero utilizados autores como: Antnio Lopes de S (2007), Martinho Mauricio Gomes de Ornelas (2003), Antnio de Deus Farias Magalhes (2006), Valder Luiz Palombo Alberto (2002) e Wilson Alberto Zappa Hoog (2004).

    A importncia do trabalho do perito contador um tema que estar sempre na atualidade, pois o papel do perito contador na percia contbil fundamental para a tomada de deciso do juiz num determinado caso.

    Este estudo tem como propsito mostrar a importncia do trabalho do perito contador na elaborao do laudo pericial, utilizando-se de dados para solucionar conflitos entre as partes. Sendo assim, o trabalho consiste em estudo bibliogrfico, realizado principalmente por meio de materiais j elaborados, tais como: livros, revistas e artigos de internet buscando referncias para dar mais contedo e foco no tema proposto.

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  • ASPECTOS RELEVANTES AO TRABALHO DO PERITO CONTADOR Ser abordada uma fundamentao terica desta pesquisa. Um breve histrico

    da contabilidade; o surgimento da percia contbil; seus aspectos histricos; seu conceito; a evoluo da percia no Brasil; e os tipos de percia, sendo estas de quatro tipos: percia judicial, percia extrajudicial, percia sem judicial e percia arbitral; os aspectos relevantes funo pericial e figura do perito contador e do perito contador assistente, alm disso, sero destacadas as questes ticas que envolvem o desempenho de tais agentes, considerando a importncia de atitudes ticas para qualquer profissional, como tambm para o perito, profissional este que dever resguardar as informaes com as quais ter contato. Tambm ser abordado o laudo pericial; seu conceito; e seus tipos, sendo estes de cinco tipos: laudo pericial, laudo de louvao, laudo arbitral, relatrio de vistoria e parecer pericial;

    1.1 ASPECTOS HISTRICOS

    A contabilidade surgiu com a necessidade de preencher as limitaes da

    memria humana de acordo com um processo de classificao e registro que lhe deixasse recordar com facilidade as variaes sucessivas de determinadas grandezas, para que em qualquer momento pudesse saber sua dimenso. Assim sendo, na medida em que a contabilidade pode facultar a qualquer momento o conhecimento da situao da empresa e o andamento dos seus negcios, progressivamente ela se transforma numa grande fonte de informaes.

    A Contabilidade cada dia mais vem se evoluindo em funo de diversos estudos que permitem o surgimento de novas e melhores formas de controlar o patrimnio atravs de um sistema de informaes que possibilitam a tomada de iniciativas mais racionais com a finalidade de garantir a continuidade e o sucesso de muitas organizaes.

    As manifestaes sobre a verdade dos fatos encontradas por meios contbeis so muito antigas, e elas j apareciam entre os sumrios, babilnios; com o aprimoramento do saber, a tcnica de examinar para fazer avaliao de eventos transformou-se ao longo do tempo em uma tecnologia ajustada a grandes progressos.

    Alberto (2002, p.46):

    Definido que o objeto da cincia contbil o patrimnio, j podemos, logicamente, intervir que a percia contbil ser de natureza contbil sempre que recair sobre elementos objetos, constitutivos, prospectivos ou externos, do patrimnio de quaisquer entidades, sejam elas fiscais ou jurdicas formalizadas ou no, estatais ou privadas.

    Segundo a comparao de Alberto (2000) no se pode afirmar que a percia

    contbil surgiu juntamente com os primrdios da civilizao, assim como se supe em relao Contabilidade. Porm, a necessidade da verificao sobre a verdade dos fatos, tambm, vem desde muitos anos.

    Almeida (1990 apud ALBERTO, 2000, p. 21) relata que

    19

  • [...] vamos encontrar vestgios de percia registrados e documentados na civilizao do Egito antigo, e, do mesmo modo, na Grcia antiga, com o incio da sistematizao dos conhecimentos jurdicos, observando-se, poca, a utilizao de especialistas em determinados campos para proceder verificao e ao exame de determinadas matrias.

    No Brasil a percia contbil surgiu com maior intensidade no incio do sculo

    XX, com a publicao de alguns trabalhos. O mais lembrado foi classificado por inmeros autores da poca como uma obra histrica, foi o trabalho de Joo Luiz dos Santos, Percia em Contabilidade Comercial, editado no Rio de Janeiro pelo Jornal do Brasil, no ano de 1921.

    O Cdigo de Processo civil (CPC) de 1939 j estabelecia vagas regras sobre percia, somente com o Decreto Lei n 9.295/46, que se criou o conselho Federal de Contabilidade e foi institucionalizada a Percia Contbil, no Brasil.

    1.2 PERCIA CONTBIL

    A Percia contbil pode ser definida como um conjunto de procedimentos

    tcnicos e cientficos propostos a levar elementos de prova a auxiliar na soluo de litgios, mediante laudo pericial contbil em conformidade com as normas profissionais e jurdicas.

    Antnio Lopes de S (2007, p.14) reala-se que a:

    Percia contbil a verificao de fatos ligados ao patrimnio individualizado visando oferecer opinio, mediante questo proposta. Para tal opinio realizam-se exames, vistorias, indagaes, investigaes, avaliaes, arbitramentos, em suma todo e qualquer procedimento necessrio opinio.

    No parecer de Lopes de S (2007), a expresso percia contbil traz as

    seguintes ideias bsicas: 1. Necessidade de conhecimento de uma opinio verdadeira em matria ligada ao

    patrimnio individualizado; 2. Opinio gerada por quem entende de Contabilidade; 3. Indagao confivel que gerou igualmente um parecer sobre o qual se busca

    decidir ou tomar conhecimento sobre fatos sucedidos, ou por suceder, em relao a fenmenos patrimoniais aziendais. Ornelas (2003, p.30), expe que, a percia contbil inscreve-se em um dos

    gneros de prova pericial, ou seja, uma das provas tcnicas disposio das pessoas naturais ou jurdicas.

    O Conselho Federal de Contabilidade, por sua vez, define percia contbil pela Resoluo CFC n 858/99, da seguinte forma (NBC T 13, item 13.1.1):

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  • A percia contbil constitui o conjunto de procedimentos tcnicos e cientficos destinados a levar instncia decisria elementos de prova necessrios a subsidiar justa soluo do litgio, mediante laudo pericial contbil e/ou parecer pericial contbil, em conformidade com as normas jurdicas e profissionais, e a legislao especfica no que for pertinente.

    Considerando-se que a contabilidade, como cincia social, tem como elemento

    principal de estudo o patrimnio, torna-se evidente que a percia contbil, dentre os diversos gneros de prova pericial, destinada exclusivamente para solucionar conflitos entre duas partes envolvidas, sejam elas pessoas fsicas ou jurdicas, mediante prova pericial.

    Assim sendo a percia ser voltada contabilidade quando referir-se a exames, vistorias, indagaes, avaliaes, arbitramento, situaes, coisas ou fatos que tenham como objetivo o patrimnio de qualquer pessoa fsica ou jurdica e que possa servir de grande relevncia a sociedade. Portanto o trabalho do perito contbil fica voltado para trazer a verdade de algo que est sendo discutido por partes interessadas, envolvendo valores, auxiliando o juiz na tomada de deciso.

    Magalhes, (2006) entende que a percia reveste-se de alguns aspectos gerais que a caracterizam:

    Surge de um conflito latente e manifesto que se quer esclarecer;

    Constata, prova ou demonstra a veracidade de alguma situao, coisa ou fato;

    Fundamentam-se em requisitos tcnicos, cientficos, legais, psicolgicos, sociais, profissionais; e deve materializar, segundo forma especial, instncia decisria, a transmisso da opinio tcnica ou cientfica sobre a verdade ftica, de modo que a verdade jurdica corresponda quela.

    O objetivo da percia contbil demonstrar atravs de anlises de documentaes a verdade dos fatos, demonstrando transparncia nos trabalhos executados.

    A percia por meio de verificaes, anlises de provas e documentos existe para beneficiar a sociedade num determinado conflito entre duas partes.

    Conforme Alberto (2000, p. 51) o maior objetivo da percia contbil a verdade sobre o objeto examinado, a transferncia da verdade contbil para o ordenamento da instncia decisria.

    A percia contbil constitui uma das mais importantes vertentes da Contabilidade, para ter um bom entendimento, necessrio entender seu objeto, o objetivo e a funo, ou seja, se temos o objeto, a prova de um ato ou fato, se materializa o laudo pericial, com o objetivo de fornecer a verdade, chegando soluo de conflitos.

    A percia contbil tem por finalidade levar elementos de prova ao juiz, mediante laudo pericial, obtidos atravs de exames, vistoria e investigaes. Tem por objetivo tambm basear as informaes demandadas, aparecendo verdade dos fatos de forma justa e merecedora de f, tornando-se elementos de prova para o juiz de direito solucionar as questes propostas.

    A percia contbil nada mais do que um conjunto de normas em forma de lei que atua como uma pea que ajuda a solucionar litgios para trazer ao ordenamento decisrio, judicial ou extrajudicial a verdade cientificamente demonstrada, a aplicao da cincia

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  • contbil expressa de modo especial para que o direito possa ser plenamente exercido em bases seguras e verdadeiras. instrumento de cidadania, medida que auxilia a perfeita compreenso, avaliao e julgamento das interferncias que os fatos econmicos tm na vida das pessoas e coletividade.

    1.3 OS TIPOS DE PERCIA CONTBIL

    So muitos os casos de aes judiciais que necessitam da percia contbil. A

    percia especfica, como eficcia de prova, juntamente com outros dados que provam como os documentos, a escrita contbil, entre outros, essas provas so na maioria das vezes decisivas nos julgamentos. Aonde se envolvem fatos patrimoniais de empresa, instituies e pessoas, portanto, onde haja dvida, a percia aparece como auxiliar.

    Segundo Alberto (2000) a percia possui espcies distintas, que so identificadas e avaliadas de acordo com a atuao em cada ambiente. Esses locais de atuao que define as caractersticas em linhas gerais, e podem ser classificadas como judicial, extrajudicial, sem judicial e arbitral.

    1.3.1 Percia Judicial

    A percia judicial realizada pelo Poder Judicirio, e tem de servir de prova

    deixando claro ao juiz assuntos em litgio para que faa jus a seu julgamento. Alm disso, a percia judicial deve ser executada por um profissional habilitado e capacitado nomeado pelo Magistrado. Ela se origina de acordo com a necessidade do juiz em depender do conhecimento especializado ou tcnico desse profissional no momento de decidir.

    Hoog (2007, p.163) relata que o perito ilumina os leigos e ser nomeado pelo Juiz, constituindo-se no olho tecnolgico e cientfico do Magistrado, a mo longa da justia, enfim, o apoio cientfico ao ilustre condutor judicial.

    Ao realizar estas percias o profissional, dever ficar atento ao objeto de maneira clara e objetiva, pois em qualquer que for o caso a percia ter fora de prova, logo o perito assume responsabilidades e responder quer civil, quer criminal.

    1.3.2 Percia Extrajudicial

    aquela concretizada fora do judicirio, de acordo com a vontade das partes.

    Seu objetivo comprovar a verdade ou no de um fato em questo, comprovar fraudes, demonstrar interesses das pessoas envolvidas no conflito, desvios, simulao.

    De acordo Alberto (2000), a percia extrajudicial concretizada fora do Estado Poder, contratada livremente de acordo com a necessidade e escolha das partes envolvidas e o perito.

    1.3.3 Percia Sem judicial

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  • Alberto (2000), diz que a percia sem judicial realizada no meio estatal, mas fora do Poder Judicirio, com a inteno de servir de prova nos ordenamentos institucionais normais. Alm disso, ela executada nos mbitos parlamentar nas comisses parlamentares de inqurito, policial nos inquritos e administrativo-tributria nas administraes pblicas ou conselhos de contribuintes.

    1.3.4 Percia Arbitral

    A percia arbitral no determinada pelo juiz, ela criada pela vontade das

    partes que escolhem as regras que sero aplicadas, entretanto, realizada pelo perito. Pode se dizer que a arbitragem , portanto, um processo extrajudicial para

    soluo de conflitos, cujo rbitro cumpre uma funo parecida do juiz estatal. Para Alberto (2002, p.53), percia arbitral

    [...] aquela percia realizada no juzo arbitral da instncia decisria, criada pela vontade das partes, no sendo classificvel em nenhuma das anteriores por suas caractersticas especialssimas de atuar parcialmente como se judicial e extrajudicial.

    1.4 CARACTERSTICAS DO PROFISSIONAL PERITO

    O perito contador o profissional encarregado de exercer os trabalhos

    periciais, ele quem traz a verdade dos fatos, auxiliando no meio judicial ou no na resoluo de litgios, alm disso, ele exerce um papel muito importante perante a sociedade por meio de verificaes, anlises de provas e documentos, sendo o perito contador um profissional que deve buscar de forma incessante a verdade diante de qualquer fato.

    Para S (2007, p. 21): O perito precisa ser um profissional habilitado, legal, cultural e intelectualmente, e exercer virtudes morais e ticas com total compromisso com a verdade.

    Na funo de perito, o contador deve conservar apropriado estado de competncia profissional, mantendo-se sempre atualizado sobre as Normas Brasileiras de Contabilidade, alm das tcnicas contbeis, principalmente as aplicadas em percia, alm disso, o perito deve manter-se sempre atualizado e comprovar a participao em cursos assim determina o CFC n 1.243 (2009, p. 5), O perito, no exerccio de suas atividades, deve comprovar a participao em programa de educao continuada, na forma a ser regulamentada pelo Conselho Federal de Contabilidade. Com isso podemos observar que a profisso exige que o profissional contbil esteja sempre estudando e buscando o conhecimento no podendo ficar para traz, pois o mercado de trabalho do contador muito amplo e muda de cenrio constantemente.

    S (2007, p. 22) menciona que a qualidade do trabalho do perito espelha-se na prpria confiana que seu relato e opinio despertam-nos que vo utilizar de sua opinio.

    O perito contador deve sempre manter sigilo sobre qualquer litgio por ele aceito, no passando informaes sobre o caso para nenhuma das partes nem para qualquer

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  • outra pessoa, mesmo que ele venha a sair dos trabalhos antes do termino da percia, mostrar-se- algum dado da prova pericial s se houver obrigao judicial.

    De acordo com Alberto (2002, p. 103),

    [...] o perito contador, em obedincia ao cdigo de tica profissional do contabilista, deve-se respeitar e assegurar o sigilo do que apurar-se durante a execuo de seu trabalho, proibida a sua divulgao, salvo quando houver obrigao legal de faz-lo. Esse deve perdura depois de entregue o laudo pericial contbil ou o parecer pericial contbil.

    Buscando assim um pleno embasamento de informaes apuradas que possa

    esclarecer e convencer qualquer dvida que venha a surgir exigindo assim um grau de profissionalismo muito grande por parte do perito contador em questo, para que a percia no fique obscura.

    Um profissional como o perito deve possuir algumas qualidades essenciais para exercer sua profisso, Lopes de S (1997, p.20) destaca:

    a) Capacidade Legal deve possuir o ttulo de bacharel em Cincias Contbeis ou equiparao legal e o registro no Conselho regional de Contabilidade;

    b) Capacidade Profissional se caracteriza pelo conhecimento geral e terico da contabilidade e conhecimentos afins, conhecimento prtico das tecnologias contbeis, experincias em percias, perspiccia, perseverana, sagacidade, ndole criativa e intuitiva;

    c) Capacidade tica cabe ao profissional obedecer ao Cdigo de tica Profissional do Contador, bem como s Normas do Conselho Federal de Contabilidade;

    d) Capacidade Moral observa as atitudes pessoais do profissional.

    A atividade pericial contbil em seu exerccio uma atribuio especfica do

    bacharel em Cincias Contbeis que devidamente estiver registrado no CRC e obter profundos conhecimentos tcnico-cientficos para o exerccio de sua funo, segundo Resoluo 731/92, que aprova a NBC T 13 da percia contbil.

    Determinao essa que tambm est adquirida no artigo 145 do CPC da Lei n 5.869 de 11 de janeiro de 1973 que preceitua o seguinte:

    Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento tcnico ou cientfico, o juiz ser assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.

    1 Os peritos sero escolhidos entre profissionais de nvel universitrio, devidamente inscritos no rgo de classe competente, respeitado o disposto no Captulo Vl, seo Vll, deste Cdigo.

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  • 2 Os peritos comprovaro sua especialidade na matria sobre que devero opinar, mediante certido do rgo profissional em que estiverem inscritos.

    3 Nas localidades onde no houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos pargrafos anteriores, a indicao dos peritos ser de livre escolha do juiz.

    De acordo com o artigo acima no somente os bacharis em cincias contbeis

    podem atuar como perito. Dependendo da necessidade de cada localidade, poder nomear o juiz a pessoa que tenha preparo legal ou conhecimento tcnico cogente para auxiliar na soluo do litgio.

    A escolha do perito nica e exclusiva do Juiz de Direito Presidente do Processo, que tem absoluta autonomia para escolher perito sempre que achar imprescindvel a ajuda de tal profissional que possa auxilia-lo a julgar o litgio em questo, como prescreve o art. 421 do CPC:

    Art. 421. O juiz nomear o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo.

    1 Incumbe s partes, dentro de cinco dias, contados da intimao do despacho de nomeao do perito:

    I - indicar o assistente tcnico;

    II - apresentar quesitos.

    Segundo Moraes (2000, p. 109) a primeira comunicao do perito com os

    autos ocorre aps a nomeao. As partes podem tambm nomear um profissional que tenha conhecimentos

    tericos e tcnicos exclusivos para ajudar na soluo da ao, esse profissional deve ser chamado de assistente tcnico.

    O assistente tcnico a pessoa de confiana da parte, um profissional qualificado e competente, capaz de solucionar pontos e dvidas contestadas em discusso nos litgios judiciais e nas percias extrajudiciais.

    Para Hoog (2007, p.82):

    [...] os profissionais, denominados assistentes tcnicos esto sujeitos s mesmas normas e sanes previstas aos peritos, inclusive podendo o mesmo, a pedido da parte ou do Juzo, ser intimado para prestar esclarecimentos em audincias.

    O perito contador assistente para realizao dos trabalhos periciais deve seguir

    as mesmas regras que o perito contador segue. Conforme a Resoluo do CFC n 1.244 (2009, p. 3), Perito-contador assistente o contratado e indicado pela parte em percias contbeis, em processos judiciais e extrajudiciais, inclusiva arbitral..

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  • Ainda de acordo com a Resoluo do CFC n 1.244 (2009, p. 4) com relao ao perito contador assistente.

    A indicao ou contratao para o exerccio da atribuio do perito contador assistente, em processo extrajudicial, devem ser consideradas como distino e reconhecimento da capacidade e da honorabilidade do contador, devendo este recusar os servios sempre que reconhecer no estar capacitado a desenvolv-los, contemplada a utilizao de servios de especialistas de outras reas, quando parte do objeto do seu trabalho assim o requerer.

    A contratao do assistente tcnico necessria quando as partes tm a

    necessidade de acompanhamento do trabalho que est sendo realizado pelo perito, a fim de detectar lhe equvocos tcnicos, omisses e defeituosa apreciao dos documentos ou fatos.

    Pode-se dizer ento que o perito o auxiliar do juiz, ajudando-o a esclarecer todas as dvidas para uma tomada de deciso aps a emisso do laudo feita pelo perito, enquanto o assistente tcnico um auxiliar da parte que o contrata.

    O Conselho Federal de Contabilidade pela Resoluo n 803, de 10 de outubro de 1996, aprovou o Cdigo de tica Profissional do Contabilista que, em seu art. 5 descreve os deveres do contador, quando atuar como perito, assistente tcnico, rbitro ou auditor, como segue:

    Art. 5. O Contador, quando perito, assistente tcnico, auditor ou rbitro, dever:

    I - recusar sua indicao quando reconhea no se achar capacitado em face da especializao requerida;

    II - abster-se de interpretaes tendenciosas sobre a matria que constitui objeto de percia, mantendo absoluta independncia moral e tcnica na elaborao do respectivo laudo;

    III - abster-se de expender argumentos ou dar a conhecer sua convico pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou da justia da causa em que estiver servindo, mantendo seu laudo no mbito tcnico e limitado aos quesitos propostos;

    IV - considerar com imparcialidade o pensamento exposto em laudo submetido a sua apreciao;

    V - mencionar obrigatoriamente fatos que conhea e repute em condies de exercer efeito sobre peas contbeis objeto de seu trabalho, respeitado o disposto no inciso II do art. 2;

    VI - abster-se de dar parecer ou emitir opinio sem estar suficientemente informado e munido de documentos;

    VII - assinalar equvocos ou divergncias que encontrar no que concerne aplicao dos Princpios de Contabilidade e Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC;

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  • VIII - considerar-se impedido para emitir parecer ou elaborar laudos sobre peas contbeis, observando as restries contidas nas Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo Conselho Federal de Contabilidade;

    IX - atender Fiscalizao dos Conselhos Regionais de Contabilidade e Conselho Federal de Contabilidade no sentido de colocar disposio desses, sempre que solicitado, papis de trabalho, relatrios e outros documentos que deram origem e orientaram a execuo do seu trabalho.

    No necessrio ao perito somente a responsabilidade intelectual e moral, ele

    possui tambm responsabilidades civil e criminal. Segundo o artigo 147 do Cdigo de Processo Civil, caso o perito no cumprir suas obrigaes legais, lhe sero aplicadas aprovaes penais e civis, alm de sanes pelo conselho de classe:

    Art. 147. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informaes inverdicas, responder pelos prejuzos que causar parte, ficar inabilitado, por dois anos, a funcionar em outras percias e incorrer na sano que a lei penal estabelecer.

    Argumenta Hoog (2005, p.59) que atualmente, a legislao no Brasil atribui

    ao perito a responsabilidade pelo pagamento de indenizao aos prejuzos que causar por dolo ou culpa, a ser atribuda pelo Juiz, proporcional ao prejuzo causado.

    Ainda existem outras punies que podem ser aplicadas ao perito que no cumprir com suas obrigaes, a aplicao de multas e substituio nos autos como prescreve o art. 424, do CPC um exemplo:

    Art. 424. O perito pode ser substitudo quando:

    I - carecer de conhecimento tcnico ou cientfico;

    II- sem motivo legtimo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado.

    Pargrafo nico. No caso previsto no inciso II, o juiz comunicar a ocorrncia corporao profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possvel prejuzo decorrente do atraso no processo.

    Podemos dizer assim que para cumprir com o desempenho de perito contbil

    so indispensveis vrios requisitos subjetivos e objetivos, pode-se destacar alguns como, em primeiro lugar ser bacharel em Cincias Contbeis, encontrar-se adequadamente inscrito no CRC e, em segundo lugar, ser profissional, moral e tico.

    No instante em que o contador designado perito de um processo ele incide a ter vrias responsabilidades ticas e civis que se no forem cumpridas podero proceder em sanes penais e civis, alm de multa e desligamento no respectivo conselho de classe.

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  • 1.5 LAUDO PERICIAL A prova pericial um documento muito importante, pois atravs dele

    possvel estabelecer a verdade, relacionada a fatos que ocorrem e que por algum motivo necessitam de solues. atravs de informaes colhidas, testemunhos, documentos e outras informaes que o perito contador dar incio a produo de prova pericial, que se far por meio da elaborao do laudo pericial.

    O laudo a concluso do trabalho pericial e pode se destacar sob dois aspectos importantes, ou seja, laudo a concretizao do trabalho pericial elaborado pelo perito contbil, e laudo a prpria prova pericial.

    O laudo pericial contbil na sua elaborao deve ser uma pea de exclusividade da percia contbil, tendo como finalidade apurar os fatos existentes na contabilidade com o intuito de trazer a verdade para os que usam dela para esclarecer fatos. Alm disso, o resultado final exposto pelo perito, que assim deve demonstrar os acabamentos da percia que daro dados para que o juiz possa decidir sobre o litgio em questo.

    De acordo com as normas CFC 858/99 Normas Brasileiras de Contabilidade NBT T13.4.1, da Percia Contbil. possvel conhecermos o conceito de laudo pericial contbil:

    O laudo pericial contbil a pea escrita na qual o perito contador expressa de forma circunstanciada, clara e objetiva, as snteses do objeto da percia, os estudos e as observaes que realizou as diligncias realizadas, os critrios adotados e os resultados fundamentados, e as suas concluses.

    O laudo pericial deve ser uma pea de alta responsabilidade que deve ter

    clareza, qualidade, preciso de suas informaes e atender a todos os requisitos no que for pertinente. Um laudo bem elaborado evita erros e fraudes, para isso o perito contador deve selecionar com muito rigor seus auxiliares nos quais possa confiar, tambm uma condio para que a qualidade da opinio seja a melhor possvel.

    De acordo com DAuria (1962, p.167) existe uma explicao bastante clara e completa a respeito de como um laudo pericial deve ser elaborado, como segue:

    Feito um exame pericial, em estrita concordncia com os quesitos propostos pela parte interessada ou por ambas as partes em litgio, e anotados os dados e todas as particularidades a eles referentes, - eis que o perito est habilitado a elaborar o laudo pericial.

    Nas informaes a prestar, nas respostas a dar e nas opinies a manifestar, o profissional ter sempre em vista a letra e as intenes das questes formuladas, circunscrevendo a elas a sua elaborao.

    A redao das respostas deve ser em linguagem clara e precisa, tendo como norma a repetio das mesmas expresses das proposies e perguntas, quando a elas tenha de referir-se, transcrever ipsis verbis as partes examinadas que interessarem, e nada omitir ou aditar quilo que limitado nos quesitos.

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  • Um laudo na sua elaborao no pode ser baseado em suposies, mas somente em fatos reais estabelecendo respostas que consumam os assuntos dos quesitos e que necessitem mais de esclarecimento. Quando um quesito incompleto em sua redao, mas tem objetivo correto das razes que motivam a percia, conveniente ao perito complementar a resposta para que no aja nenhuma dvida. Para Ornelas (2008, P.95),

    Organizar e desenvolver o contedo do Laudo Pericial Contbil de forma lgica e tecnicamente correta obriga o perito a pensar criativamente em como oferecer uma pea tcnica inteligvel para seus leitores, com qualidade tcnica impecvel, a qual permita, por meio de sua leitura, entender os contornos do processo, os fatos controvertidos que ensejam o prprio pedido ou determinao das provas tcnicas, bem como a certificao positiva ou negativa desses mesmos fatos.

    O laudo pericial muito importante na realizao do processo de investigao,

    que ir servir como meios de prova para elucidar conflitos. Um laudo pericial contbil no pode ser baseado apenas em opinies ou testemunhas de terceiros, devendo sempre se basear tambm em materialidade da percia contbil.

    De acordo com o item 80 das Normas Brasileiras de Contabilidade da TP 01, de 10 de dezembro de 2009, descreve o que o laudo pericial contbil e o parecer pericial contbil devem conter, como segue:

    80. O laudo pericial contbil e o parecer pericial contbil devem conter, no mnimo, os seguintes itens:

    (a) identificao do processo e das partes;

    (b) sntese do objeto da percia;

    (c) metodologia adotada para os trabalhos periciais;

    (d) identificao das diligncias realizadas;

    (e) transcrio e resposta aos quesitos: para o laudo pericial contbil;

    (f) transcrio e resposta aos quesitos: para o parecer pericial contbil, onde houver divergncia, transcrio dos quesitos, respostas formuladas pelo perito-contador e as respostas e comentrios do pe-rito-contador assistente;

    (g) concluso;

    (h) anexos;

    (i) apndices;

    (j) assinatura do perito: far constar sua categoria profissional de contador e o seu nmero de registro em Conselho Regional de Contabilidade, comprovada mediante Declarao de Habilitao Profissional -DHP. permitida a utilizao da certificao digital, em consonncia com a legislao vigente e as normas estabelecidas pela Infraestrutura de Chaves Pblicas Brasileiras - ICP-Brasil.

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  • Ainda com relao aos aspectos alistados estrutura do laudo, S (2002, p.45) cita que deve conter no mnimo:

    Prlogo de encaminhamento; Quesitos; Respostas; Assinatura do perito; Anexos; e Pareceres (se houver); A prpria estrutura de apresentao do laudo deve ser direcionada para atender aos objetivos que o reclamaram.

    Pode se concluir com isso que existem algumas sugestes a respeito das formalidades para elaborao do laudo pericial contbil. Essas formalidades servem como medida de segurana, bem como, para ter uma prova materializada, aconselha-se ao profissional perito que ao apresentar o laudo obedea a algumas formalidades recebidas, pois, no arbitramento dos honorrios periciais, considerado no apenas a extenso do laudo, mas tambm a avaliao de outros fatores tais como: 1 a qualidade do trabalho; 2 tempo gasto pelo perito; 3 a qualidade do mesmo; etc.. (TRT 2 Regio, 1994)

    O perito contbil por meio do seu trabalho pericial, para fins judiciais, deve responder a quesitos elaborados ou pelo magistrado ou pelas partes ou por ambos.

    Segundo Ornelas (1995, p.69) os quesitos podem ser determinados da forma seguinte:

    So as perguntas de natureza tcnica ou cientifica a serem respondidas pelo perito contbil. So, em geral, apreciadas pelo magistrado e pelas partes no sentido de se evitarem indagaes impertinentes, fora do mbito da lide proposta, bem como diligencias desnecessrias ou impertinentes. Os primeiros tm por objetivo esclarecer as questes tcnicas contbeis. Os impertinentes abordam, geralmente, aspectos no relacionados com os que se debate nos autos do processo, ou ento so perguntas que buscam do perito contbil opinio fora de sua competncia legal.

    Ainda existem quesitos suplementares, alm dos quesitos pertinentes e

    impertinentes, que so uma complementao dos outros quesitos e tem finalidade de explicar situaes novas e ressaltantes relacionadas com a causa em questo.

    O artigo 425, do CPC, prescreve que: Art.425. Podero as partes apresentar, durante a diligncia, quesitos suplementares. Da juntada dos quesitos aos autos dar o escrivo cincia parte contrria.

    Depois de cumprir com todas as diligncias indispensveis a realizao da percia e anlise dos documentos expostos, ter o perito assim condies de elaborar o laudo pericial, com o objetivo de servir de prova tcnica e auxiliara o juiz em relao a sua tomada de deciso.

    O perito contador responsvel por imitir o laudo pericial contbil que deve ser elaborado de forma clara e objetiva, devendo conter respostas que esgotem os assuntos presentes nos quesitos de maneira que no necessitem de mais esclarecimentos. Existem ainda

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  • cinco espcies de laudos diferentes, sendo eles: laudo pericial, laudo de louvao, relatrio de vistoria, parecer pericial e laudo arbitral que so aplicados de acordo com a finalidade e a tcnica utilizada em cada um.

    Laudo Pericial o mais predominante, pois sua aplicao constante na percia contbil, procede da necessidade de examinar se o conflito possui verdade ou no dos fatos. Este laudo distingue-se dos demais por ser destinado principalmente a meio de prova, manifestar opinies tcnicas e prestar informaes.

    Laudo de Louvao necessrio quando envolve questes de avaliao de bens, crditos e direitos. Este tipo de laudo demanda elaborao do quadro de descrio e avaliao, com acompanhamento de justificativa dos critrios de trabalhos que foram aproveitados por outras pessoas. Os peritos que fazem o uso desse tipo de laudo so chamados geralmente de louvados ou vistores.

    Relatrio de Vistoria este tipo de laudo sempre utilizado em determinada circunstncia, de acordo com as condies e momento em que a percia se realiza. Uma caracterstica fundamental o rigor descritivo que esse tipo de laudo utiliza, como as reprodues, desenhos, fotografias, de quem ou do que foi vistoriado na investigao da lide.

    Parecer Pericial um tipo de laudo elaborado pelo perito contador assistente onde sero emitidas opinies sobre as diligncias realizadas no processo de litgio.

    O parecer pericial quando utilizado na esfera judicial ir servir como meio de auxlio ao juiz e as partes interessadas, e tambm como analisar de forma tcnica e cientifica o laudo pericial contbil.

    Laudo Arbitral um laudo muito importante e muito utilizado na percia contbil. Embora exponha caractersticas gerais, nesse tipo de laudo so utilizados relatrios e fundamentos, assemelhando se h algumas caractersticas da sentena judicial. Sendo assim, o laudo arbitral na verdade a decorrncia do trabalho de um rbitro, em alguns casos, este trabalho mais apropriado para peritos, contudo deve ser considerado com uma instncia decisria e no como uma atividade pericial.

    CONSIDERAES FINAIS

    Com este trabalho pode-se evidenciar a importncia do trabalho pericial, que se constata e se confirma em cada questo resolvida, seja no mbito judicial ou no extrajudicial. que cada caso resolvido representa um passo no caminhar do Direito e outro no longo caminho percorrido pela Cincia Contbil, proporcionando o bem estar comum.

    O perito beneficia a sociedade com a anlise tcnica na resoluo de litgios. Com sua participao nos processos judiciais, o juiz tem maior segurana no momento de proferir sua sentena.

    No obstante o Perito Contador deve estar atento s suas responsabilidades no exerccio da atividade pericial, devendo agir com zelo, com princpio tico e moral e mantendo o sigilo profissional. Tambm deve o perito contador, agir com honestidade, ter notrio, saber reputao ilibada e bom relacionamento com o mercado.

    Sendo assim, o perito deve realizar um trabalho competente, srio e imparcial, utilizando tcnicas contbeis especialmente as aplicveis percia. Alm disso, de

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  • responsabilidade do perito estar atualizado, focado nos acontecimentos atuais, na legislao vigente, entre outros fatores.

    Nos dias atuais o avano tecnolgico e a globalizao da economia servem como estmulo ao aperfeioamento da cincia contbil e, consequentemente, da percia, como ramo de atividade dessa cincia. O contador, estando na funo pericial, tem relevante importncia, j que o resultado de sua atuao prova valiosa e em sua grande maioria decisiva para a aplicao da justia e que concorre primordialmente para os interesses da sociedade de um modo geral. A certeza e a segurana pericial servem para confirmar ou negar afirmaes constantes dos autos, da a suma importncia do trabalho do Perito Contador.

    Portanto, fundamental que o contador, quando no exerccio da atividade pericial, jamais utilize a honrosa misso de auxiliar a justia ou uma das partes envolvidas para receber benefcio prprio ou para proveito pessoal, pois a classe contbil somente ter o seu reconhecimento, perante a sociedade, quando todos os contadores se conscientizaram de que uma classe depende do valor individual de seus integrantes. indispensvel que cada um assuma a responsabilidade de exercer a profisso com dignidade, zelo, competncia tcnico profissional e, acima de tudo, com uma elevada conscincia tica.

    Dessa forma, o presente trabalho abordou de modo simples e de fcil entendimento a percia contbil, suas espcies e sua importncia como meio de prova judicial, assim como a finalidade do instrumento, que devido busca incessante pela verdade real dos fatos, se constitui como um importante aliado a deciso cnscia do juiz.

    REFERNCIAS ALBERTO, Valder Luiz Palombo. Percia contbil. 3. ed. So Paulo: Atlas, 2002. ____________. Percia Contbil. So Paulo: Atlas, 2000. BRASIL, Decreto-Lei n. 9.295, de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho Federal de Contabilidade, define as atribuies do Contador e do Guarda-livros, e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio. Braslia, DF, 28 de maio de 1946. Disponvel em: . Acesso em: 17 out. 2014. ____________. Lei n. 5.869, de 11 de janeiro de 1973, publicado no Dirio Oficial da Unio de 17/01/1973. CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Cdigo de tica. Resoluo CFC n. 803, de 10 de outubro de 1996. _____________. Normas brasileiras de contabilidade: NBC-T-13 da percia contbil; NPC-P-2 Normas profissionais do perito contbil, 1992. ______________. Resoluo CFC n. 858, de 21 de outubro de 1999. Reformula a NBC T 13 DA PERCIA CONTBIL. ______________. Resoluo CFC n. 1.243 de 18 de Dezembro 2009. Reformula a NBC T13 Da Percia Contbil. Documentada, /Braslia, Dezembro. 2009. _______________. Resoluo CFC n. 1.243, de 10 de dezembro de 2009. Aprova a NBC TP 01 Percia Contbil. Disponvel em: . Acesso em: 04 nov. 2014.

    32

    http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:decreto.lei:1946-05-09;9245http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1234.doc

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    http://www.cfc.org.br/sisweb/sre/docs/RES_1244.dochttp://www.trt4.jus.br/potal/portal/trt4/home

  • A VISO DOS PRIMEIROS VIAJANTES EUROPEUS SOBRE A MULHER GOIANA NO SCULO XIX

    MATEUS, Jeferson Carvalho1 SILVA, Slvia Martins de Assis2

    RESUMO: Este artigo apresenta algumas reflexes sobre a imagem da mulher goiana no sculo XIX, a partir das percepes dos primeiros viajantes europeus que passaram pela provncia de Gois. Acreditamos que este estudo possa trazer reflexes para estudos futuros, uma vez que, o tema gera interesse e h uma carncia de referncias quanto ao mesmo. A elaborao deste estudo surgiu por meio do nosso interesse e inquietao com a imagem feita sobre a mulher goiana do sculo XIX, pelos relatos dos viajantes estrangeiros e reproduzidos pela historiografia goiana no decorrer dos anos. Esperamos que, a partir deste trabalho, possam surgir novas reflexes e anlises e assim, desmistificar ideias e conceitos etnocntricos sobre a imagem e identidade da mulher de Gois.

    Palavras-chave: Gois, Mulher, Viajantes, Sculo XIX.

    ABSTRACY: This article presents some Reflections on the Image Gois woman not nineteenth century, from the perceptions of the First European travelers passed que For the Province of Gois. We believe that this study can bring Reflections for Future Studies, Once, the topic generates interest and there is a lack of references At the SAME. The preparation of this study arose through our interest and caring for Image Made about Gois woman of the nineteenth century, those REPORTS Travelers Foreign and reproduced by historiography Gois not over DOS year. We hope that from this work, may arise New Reflections and analyzes is thus demystify ideas and concepts ethnocentric About Image and Identity of Gois woman.

    KEY WORDS: Gois, Woman, Travelers, Nineteenth Century.

    INTRODUO

    O estudo desse artigo intitulado: A Viso dos Primeiros Viajantes Europeus

    Sobre a Mulher Goiana no Sculo XIX nos ajudou a pensar a trajetria de vida e luta das mulheres brasileiras nos sculos passados e seus desafios para os prximos sculos. Pensar os desafios enfrentados pelas mulheres brasileiras implica variados fatores, e, entre eles, interessou-nos refletir sobre o papel de mulher submissa que vivia sobre a gide do pai, irmo e marido, para assumir o papel de mulher i