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Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ISSN 1413-4969 ./ / 200 Publicação Trimestral Ano XVII - Nº 3 Jul Ago. Set. 8 Revista de Dinâmica de uso da terra em resposta à expansão da cana-de-açúcar no Cerrado Pág. 31 Agronegócio Brasil _ Japão Pág. 17 O melhoramento genético da cana-de-açúcar ante o novo cenário energético mundial Ponto de Vista Pág. 88 Transmissão de preços do algodão nos mercados interno e externo Pág. 5 Transmissão de preços do algodão nos mercados interno e externo

Revista de Política Agrícola nº 3/2008

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Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

ISSN 1413-4969

./ / 200

Publicação TrimestralAno XVII - Nº 3

Jul Ago. Set. 8

Revista de

Dinâmica deuso da terraem respostaà expansão dacana-de-açúcarno Cerrado

Pág. 31

AgronegócioBrasil

_Japão

Pág. 17

O melhoramentogenético dacana-de-açúcarante o novo cenárioenergético mundial

Ponto de Vista

Pág. 88

Transmissão de preços doalgodão nos mercados

interno e externo

Pág. 5

Transmissão de preços doalgodão nos mercados

interno e externo

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ISSN 1413-4969Publicação Trimestral

Ano XVII – Nº 3Jul./Ago./Set. 2008

Brasília, DF

SumárioCarta da Agricultura

Plano agrícola e pecuário 2008/2009 ............................... 3Edilson Guimarães

Transmissão de preços do algodãonos mercados interno e externo ........................................ 5Eliane Pinheiro de Sousa / Antônio Carvalho Campos

Agronegócio Brasil–Japão .............................................. 17Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros / Karlin Saori Ishii

Dinâmica de uso da terra em respostaà expansão da cana-de-açúcar no Cerrado..................... 31Geraldo B. Martha Jr.

O mercado internacional sucroalcooleiro para o Brasil ... 44Rogério Edivaldo Freitas / Marco Aurélio Alves de Mendonça

Relação entre os preços da borrachanatural nos mercados doméstico e internacional ................ 51Naisy Silva Soares / Márcio Lopes da Silva / João Eustáquio de Lima /Patrícia Lopes Rosado

Análise da política fiscal sobre a competitividadeda carne ovina em Mato Grosso do Sul .......................... 64André Sorio / Mayra Batista Bitencourt Fagundes

Análise das exportações diretasdas cooperativas brasileiras ............................................ 75Marcos Antonio Matos / Evandro Scheid Ninaut /Flávia de Andrade Zerbinato Martins / Rodrigo Chaer Caiado

Ponto de VistaO melhoramento genético da cana-de-açúcarante o novo cenário energético mundial ......................... 88Sizuo Matsuoka

Conselho editorialEliseu Alves (Presidente)

Edilson GuimarãesElísio ContiniHélio Tollini

Antônio Jorge de OliveiraBiramar Nunes LimaPaulo Magno Rabelo

Secretaria-GeralRegina M. Vaz

Coordenadoria editorialMarlene de Araújo

Cadastro e atendimentoGlauco A. N. de Andrade

Foto da capaArquivo do Mapa

Embrapa Informação Tecnológica

Tratamento editorial

Revisão de textoRafael de Sá Cavalcanti

Normalização bibliográficaVera Viana dos Santos

Projeto gráfico e capaCarlos Eduardo Felice Barbeiro

Impressão e acabamentoEmbrapa Informação Tecnológica

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 2

Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

Revista de política agrícola. – Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . – Brasília: Secretaria Nacional de Política Agrícola, Companhia Nacionalde Abastecimento, 1992-

v. ; 27 cm.

Trimestral. Bimestral: 1992-1993.Editores: Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, 2004- .Disponível também em World Wide Web: <www.agricultura.gov.br>

<www.embrapa.br>ISSN 1413-4969

1. Política agrícola. I. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Secretaria de Política Agrícola. II. Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

CDD 338.18 (21 ed.)

Interessados em receber esta revista, comunicar-se com:

Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoSecretaria de Política Agrícola

Esplanada dos Ministérios, Bloco D, 7º andarCEP 70043-900 Brasília, DF

Fone: (61) 3218-2505Fax: (61) 3224-8414

[email protected]

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaSecretaria de Gestão e Estratégia

Parque Estação Biológica (PqEB), Av. W3 Norte (final)CEP 70770-901 Brasília, DF

Fone: (61) 3448-4159Fax: (61) 3347-4480

www.embrapa.brMarlene de Araújo

[email protected]

Esta revista é uma publicação trimestral da Secretaria dePolítica Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, com a colaboração técnica da Secretariade Gestão e Estratégia da Embrapa e da Conab, dirigida atécnicos, empresários, pesquisadores que trabalham como complexo agroindustrial e a quem busca informaçõessobre política agrícola.

É permitida a citação de artigos e dados desta Revista, desdeque seja mencionada a fonte. As matérias assinadas nãorefletem, necessariamente, a opinião do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

Tiragem7.000 exemplares

Representantes da RPA nas Universidades

A Coordenação Editorial da Revista de Política Agrícola (RPA) do Ministérioda Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) criou a função derepresentante nas universidades visando estimular professores eestudantes a discutir e escrever sobre os temas relacionados à políticaagrícola brasileira. Os representantes que estão citados abaixo são aquelesque expressaram a sua concordância em apresentar a Revista de PolíticaAgrícola aos seus alunos. Os demais professores terão os seus nomespublicados assim que a coordenação editorial da RPA receber suasrespectivas autorizações.

Dr. Vitor A. OzakiDepartamento de Ciências Exatas

Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)Universidade de São Paulo (USP)Av. Pádua Dias 11, Caixa Postal 9

CEP 13418-900, Piracicaba, SP

Prof. Dr. Yolanda Vieira de AbreuCoordenadora do Curso de Economia

Universidade Federal do Tocantins (UFT)Av. NS 15, ALCNO 14, Bl. II, Campus de Palmas, Centro

CEP 77020-000, Palmas, TO

Tânia Nunes da SilvaCentro de Estudos e Pesquisa em Agronegócios (Cepan)

Programa de Pós-graduação em AgronegóciosUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Rua Washington Luiz, 855CEP 90010-460, Porto Alegre, RS

Geraldo Sant'Ana de Camargo BarrosCentro de Estudos e Pesquisa em Economia Agrícola (Cepea)

Av. Pádua Dias, 11, Caixa Postal 132CEP 13400-970, Piracicaba, SP

Maria Izabel NollInstituto de Filosofia e Ciências Humanas

Av. Bento Gonçalves, 9500, Bloco III,Prédio 43311, Sala 104b, Campus do Vale

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)Caixa Postal 15055

CEP 91509-900, Porto Alegre, RS

Lea Carvalho RodriguesCurso de Pós-Graduação em Avaliação de Políticas Públicas

Universidade Federal do Ceará (UFC)Campus do Pici, Bloco 826, Caixa Postal 12.140

CEP 60455-970, Fortaleza, CE

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Com o objetivo de viabilizar o aumento daprodução agrícola sustentável, o Plano Agrícolae Pecuário para a Safra 2008/2009 (PAP 2008/2009)foi pensado de forma a garantir o fortalecimentoe expansão do setor agropecuário nacional e aconsolidação de suas funções tradicionais deabastecer o mercado interno, além de gerar em-prego, renda e divisas.

Anualmente, a equipe da Secretaria dePolítica Agrícola (SPA) propõe mudanças quevisam o aprimoramento dos instrumentos depolítica agrícola e sua adequação ao compor-tamento dos mercados interno e externo e aocenário macroeconômico, sempre em harmo-nia com as demais políticas públicas. Dessaforma, temos garantido o apoio adequado aosetor, permitindo seu crescimento sustentávele assegurando liquidez ao produtor.

O desempenho do setor agropecuário bra-sileiro tem sido atestado por safras recordes ecrescimento constante na produção de carnes.Além disso, a acentuada expansão de suas ex-portações tem dado importante contribuiçãopara o processo de retomada do crescimentoda economia brasileira. Desde 2005, após en-frentar dois anos de crise marcados por proble-mas climáticos e um cenário de custos e pre-ços adversos, a produção de grãos no Brasilretomou sua tendência ascendente. A safra re-corde de 143,7 milhões de toneladas, registra-da em 2007/2008, deverá se repetir nesta safraque se inicia (2008/2009), em consonância comas perspectivas positivas para o setor.

Plano agrícola epecuário 2008/2009

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O Brasil está entre os maiores produtorese exportadores mundiais de produtos agrope-cuários e tem se destacado por sua crescenteinserção no mercado agrícola internacional.O País também está em posição vantajosa naprodução de energia limpa por meio do etanol,cuja expansão se faz sem comprometer a pro-dução de alimento e a preservação do meio am-biente. Assim, as perspectivas de crescimentoda agricultura brasileira são favoráveis. Nessesentido contribuem as oportunidades ditadas pelocenário internacional de preços elevados dascommodities e aumento da demanda agrícola.

A agenda prioritária do Governo Federalvisa dar condições ao Brasil de aproveitar essecenário e o PAP 2008/2009 surge como suportepara que essa meta seja atingida.

Objetivos do PAP 2008/2009:

• Estimular a expansão da produçãoagropecuária.

• Intensificar o apoio à produção ecomercialização de alimentos para for-mar estoques de segurança.

• Melhorar liquidez do produtor (por meiode medidas que incluem a reestruturaçãoda dívida rural).

• Reduzir o impacto do aumento no custode produção.

• Incentivar a recuperação de áreas de-gradadas.

1 Secretário de Política Agrícola.

Edilson Guimarães1

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• Incentivar a adoção de sistemas sus-tentáveis de produção e manejo, emsintonia com a legislação ambiental.

• Ampliar a cobertura do seguro ruralcomo ferramenta de gestão de risco.

• Aumentar investimentos em infra-estru-tura.

Para atingir esses objetivos, as diretrizesdo PAP 2008/2009 englobam medidas como acriação do Programa de Estímulo à ProduçãoAgropecuária Sustentável (Produsa), a reestrutu-ração da dívida agrícola, a expansão do volu-me de recursos do crédito rural, o aumento dos

recursos destinados ao Programa de Subven-ção ao Prêmio do Seguro Rural e o fortaleci-mento dos produtores de médio porte por meiode alterações no Programa de Geração de Em-prego e Renda Rural (Proger Rural).

Mas o grande aliado do PAP é o espíritoempreendedor do produtor rural de nosso país, quevem enfrentando crises com idéias inovadoras,ganhos de produtividade e incremento nas açõesde gerenciamento. A reestruturação da dívida –que dará tratamento a R$ 75 bilhões da dívidarural brasileira – dará fôlego ao produtor para queele possa investir e aproveitar a conjuntura alta-mente favorável em que nos encontramos.

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Transmissão depreços do algodãonos mercados internoe externo

Resumo: Este artigo pretende verificar a relação entre os preços internos e externos no mercadode algodão, buscando testar se a Lei do Preço Único foi válida nesse mercado, no período dejulho de 1996 a janeiro de 2008. Utilizou-se dados mensais extraídos do Centro de Estudos Avançadosem Economia Aplicada (Cepea) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) /Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGVDADOS). A metodologiaadotada é constituída pelo teste de raiz unitária, pelo teste de co-integração de Johansen, pelaestimação da função impulso-resposta, pela decomposição da variância dos erros de previsão epela estimação e análise do modelo vetorial de correção de erro (VEC). Os resultados mostraramque as variações nos preços internacionais do algodão foram completamente transmitidas para omercado doméstico em longo prazo, ou seja, na ausência de restrições. No entanto, não se podeafirmar que esses mercados são perfeitamente integrados, tendo em vista que a hipótese de per-feita integração entre os mercados foi rejeitada quando foram impostas restrições ao coeficientede relacionamento de longo prazo. Dessa forma, a Lei do Preço Único não foi perfeitamenteverificada no mercado de algodão no período analisado.

Palavras-chave: co-integração de preços, Lei do Preço Único, mercados de algodão.

Abstract: This article intends to verify the relationship between the internal and external prices inthe cotton markets in order to test the validity of the Law of One Price over the July, 1996 toJanuary, 2008 period. Monthly data were extracted from the Center of Advanced Studies for AppliedEconomy (Cepea) of Esalq / USP and from the Getúlio Vargas Foundation (FGVDADOS). The timeseries tests included the tests for unitary root and Johansen’s co-integration. Besides, the analyticalframework also includes impulse-response function, the decomposition of the variance of theforecasting error and the vector error correction model (VEC). The results showed that the long-runvariations in the international prices of cotton were fully transmitted to the domestic market.However, under constraints, the domestic and foreign markets are not perfectly integrated. Thus,these findings rejected the hypothesis of perfect integration between these markets. Therefore, theLaw of One Price is not perfectly verified for the cotton markets in that period.

Keywords: price co-integration, Law of One Price, cotton markets.

Eliane Pinheiro de Sousa1

Antônio Carvalho Campos2

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Professora Adjunta da Universidade Regionaldo Cariri (URCA). E-mail: [email protected]

2 Ph.D. em Economia e Professor Titular da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: [email protected]

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IntroduçãoO cultivo do algodão no Brasil apresen-

tou um quadro estável até o final dos anos 1980,quando a produção nacional era suficiente paraatender à demanda doméstica. No início dadécada de 1990, com a abertura da economia,essa cultura começou a deparar-se com umasevera crise de produção, e o País chegou aimportar cerca de 60 % do seu consumo do-méstico. Nos últimos anos, o cultivo do algo-dão no País vem passando por profundas trans-formações, em especial no que diz respeito aganhos de produtividade pela implementaçãode um novo modelo produtivo que incorporatecnologias modernas. Em decorrência dessastransformações, o País está novamente recupe-rando sua capacidade produtiva, já que os atu-ais níveis de produção já atendem ao consumodoméstico como ocorria no passado, verifican-do-se ainda a formação de excedentes expor-táveis (COLSERA, 2002).

Essa mudança na cotonicultura nacional éconfirmada pela Ruralnews (2007), que ressaltaque, depois de grandes investimentos no setor,com modernização das lavouras, aquisição demaquinário pesado e significativo aumento naárea cultivada, o Brasil passou a ser o quinto mai-or produtor mundial. Além de o Brasil despontarcomo quinto produtor mundial de algodão com1,24 bilhão de toneladas, ele está no terceiro lu-gar como maior exportador mundial dessa fibra,com 440 mil toneladas (AQUINO, 2004).

O cenário das exportações brasileiras dealgodão debulhado mudou a partir de 2001,haja vista um aumento de 72 %, depois de pra-ticamente inexistir entre 1998 e 2000. Em 2005,o algodão debulhado representou 70 % das ex-portações nacionais de algodão em pluma3, asquais, por sua vez, registraram aumento de11 % em relação a 2004, somando US$ 449,7milhões4. Já as importações tiveram queda decerca de 75 %. Como resultado, o saldo da ba-

lança comercial do algodão aumentou 67,5 %,o equivalente a US$ 408 milhões, em compa-ração com os US$ 243 milhões alcançados em2004 (RAMOS; MARTINS, 2006).

De acordo com a Conab (2008), a ofertanacional de algodão em caroço poderá totalizar4,0 milhões de toneladas, 2,1 % superior ao regis-trado na temporada passada. Dessa quantidade,39,0 % (1,56 milhão de toneladas) são de pluma e61,0 % (2,4 milhões de toneladas), de caroço.

Segundo Colsera (2002), dados compara-tivos entre a produção de algodão no Brasil enos EUA mostram que, enquanto os produtoresbrasileiros aumentaram esse rendimento, osamericanos não apresentaram nenhuma modi-ficação. Segundo trabalho do InternationalCotton Advisory Committee (Icac)5, dentre ospaíses com os maiores níveis de rendimento porunidade de área, o Brasil é o que apresenta osegundo mais baixo custo de produção, perden-do apenas para a China.

Entretanto, de acordo com Ruralnews(2007), o desenvolvimento dessa atividade ain-da apresenta alguns problemas no Brasil.O principal deles está ligado ao beneficiamentoda produção, pois o mercado – tanto o nacio-nal quanto o internacional – prefere pagar me-lhor por algodão beneficiado, ou seja, o algo-dão em pluma. Mesmo assim, a capacidade debeneficiamento da produção no mercado inter-no ainda é insuficiente, o que faz com que mui-tos produtores vendam o algodão antes dobeneficiamento (algodão em caroço) e, por essarazão, consigam preços até três vezes inferio-res ao do algodão em pluma. No entanto, a di-nâmica de formação dos preços do algodãomodificou-se com a diminuição da intervençãogovernamental e com o crescimento da influ-ência das variáveis externas sobre os preçosinternos (COELHO, 2004).

Em face desses aspectos que envolvem oalgodão nos mercados brasileiro e externo, pre-

3 Segundo a classificação da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o grupo algodão em pluma é composto por: algodão não-debulhado, algodão debulhadoe outros tipos de algodão.

4 Cifra em dólar Free On Board (FOB), que corresponde ao preço do algodão no porto de exportação, livre de impostos e taxas.5 O Icac é uma associação de 43 países com interesse na cultura do algodão.

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tende-se, neste artigo, verificar a relação entreos preços domésticos e internacionais, buscan-do identificar se a determinação de preços en-tre esses mercados é interdependente, ou seja,se alterações de preços em um mercado sãotransmitidas aos preços em outros mercados. Por-tanto, busca-se testar se a Lei do Preço Único éválida para o mercado brasileiro de algodão.

Metodologia

Modelo teórico

O modelo teórico empregado neste tra-balho baseia-se na Lei do Preço Único (LPU).Segundo Krugman e Obstfeld (2005), pela Leido Preço Único, nos mercados com concorrên-cia, na ausência de custos de transporte e bar-reiras oficiais ao comércio, bens idênticos ven-didos em países diferentes devem ser vendidospelo mesmo preço, quando seus preços são ex-pressos na mesma moeda.

A validade da Lei do Preço Único estádiretamente relacionada com o processo de ar-bitragem internacional, o qual, em longo pra-zo, tende a igualar os preços nos dois merca-dos (doméstico e externo). A arbitragem induza uma elevação do preço no país com preçobaixo, em razão do aumento da quantidade de-mandada, e implica queda de preço no país compreço alto, por causa do excesso da quantida-de ofertada. O processo de arbitragem conti-nua até o momento em que os preços nos doispaíses sejam igualados. Portanto, caso a Lei doPreço Único seja válida, os preços domésticosde determinado produto devem ser iguais aosque prevalecem no mercado internacional(BARBOSA et al., 2002). Nesse sentido, Sextonet al. (1991), citados por Nogueira et al. (2005),mencionam que a falha de duas ou mais regi-ões em aderir à LPU pode ser explicada poruma ou por mais das seguintes considerações:

• As regiões não estariam ligadas por ar-bitragem, isto é, elas representariammercados autárquicos.

• Haveria impedimentos a arbitragenseficientes, tais como barreiras comer-ciais, informação imperfeita ou aversãoao risco.

• Haveria competição imperfeita em umou mais dos mercados.

Portanto, a análise da integração forne-ceria evidência sobre a competitividade dosmercados, efetividade da arbitragem e eficiên-cia do processo de determinação de preço,apesar de ser difícil identificar precisamentequal dessas causas se aplicaria a cada situa-ção (FAMINOW; BENSON, 1990 citados porNOGUEIRA et al., 2005).

Matematicamente, a LPU pode ser repre-sentada por

Pit = + Pjt + ut (1)

em que Pit e Pjt são preços de determinadacommodity nos mercados de dois países i e j, emdado período de tempo t; , constante (ou inter-cepto); e o coeficiente , elasticidade do preçodoméstico cotado em dólar em relação ao inter-nacional, ou seja, é a sua elasticidade de trans-missão de preço. Quando seu valor for igual aum, significará que variações no âmbito interna-cional serão plenamente transmitidas ao merca-do interno; quando for igual a zero, implicará quevariações do preço internacional não conduzirãoa qualquer tipo de reação do preço doméstico.Esse valor de geralmente permanece entre zeroe um, refletindo a política comercial adotada pelopaís ou algum outro tipo de restrição imposta aomercado (BARBOSA et al., 2002).

Modelo analítico

Conforme Buongiorno e Uusivuori (1992),as estimativas da equação (1) realizadas pormeio dos procedimentos estatísticos convencio-nais, como os Mínimos Quadrados Ordinários,podem não ser confiáveis em virtude de duasrazões básicas:

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1) Os preços Pit e Pjt seriam determinadossimultaneamente em mercados integrados, logo,Pjt não seria independente de ut e a aplicaçãodos Mínimos Quadrados Ordinários resultariaem estimativas viesadas e inconsistentes.

2) As séries de preços Pit e Pjt seriam ge-ralmente não-estacionárias.

Quando as variáveis individuais não são es-tacionárias, mas uma combinação linear delas éestacionária, então se diz que essas variáveis sãoco-integradas (ENGLE; GRANGER, 1987). Paratestar a co-integração entre as séries de preçosde algodão no Brasil e em Nova Iorque, deve-seinicialmente determinar a ordem de integração,o que é feito por meio do teste de raiz unitária.Neste trabalho, empregou-se o teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF), que contempla mode-los auto-regressivos de ordem superior a um, con-forme indicado pela seguinte expressão, descritapor Enders (1995):

Yt = 0 + Yt-1 + i Yt-i+1 + t (2)

em que = -(1- i) e i = j, sendo que 0 é

o intercepto; , ordem do modelo auto-regressi-vo que descreve o comportamento da série tem-poral; Y, variável dependente; , operador dediferença; e t, estrutura do erro, que é idênticae independentemente distribuída.

O parâmetro de interesse nas regressões(sem intercepto e sem tendência; com somenteintercepto; com intercepto e tendência) é , sen-do que se = 0, a série conterá uma raiz unitá-ria. Nesse teste, compara-se o resultado da es-tatística t com os valores apropriados reporta-dos por Dickey-Fuller para determinar se acei-ta ou se rejeita a hipótese nula = 0. Essa hipó-tese nula será rejeitada se o valor calculado daestatística t for maior do que o valor crítico deDickey-Fuller, indicando que a série é estacio-nária; caso contrário, a série será não-estacio-nária.

Após a identificação da ordem deintegração, se todas as séries possuírem a mes-ma ordem de integração I(d), e existir um vetor(=0), em que a combinação linear dessas va-

riáveis seja de ordem d – b, Zt = ’ Xt~I(d – b),b>0, poder-se-á afirmar que Yt é um vetor deco-integração de ordem (d, b), denotada comoXt ~ CI (d, b) (ENGLE; GRANGER, 1987).

Existem diversos procedimentos para tes-tar a existência de co-integração. Segundo Junge Doorodian (1994), citados por Lima eBurnquist (1997), o procedimento de Engle eGranger (1987) para co-integração é limitado,por não considerar a existência de problemasde simultaneidade causados pela expressãoconjunta de mais de uma variável endógena aum sistema. Para Hamilton (1994), citado porLima e Burnquist (1997), o método de Johansenconsidera que todas as variáveis são explicita-mente endógenas e sua utilização não é limita-da pela existência de endogeneidade doregressor (relação causal no sentido da variá-vel dependente para a variável explicativa).Esse procedimento utiliza a Máxima Verossi-milhança para estimar os vetores de co-integração e permite testar e estimar a presen-ça de vários vetores e não só de um único vetorde co-integração (COELHO, 2004).

Após essas considerações, optou-se, nesteestudo, pelo procedimento de Johansen paratestar a presença de co-integração, conformeindicado em Verbeek (2000).

Assim, considera-se o seguinte vetor auto-regressivo (VAR) de ordem p, representada por

Yt = + 1Yt-1 + ... + pYt-p + t (3)

em que cada j é uma matriz de parâmetros kx k; e t é um vetor k-dimensional de termosruído branco com matriz de covariância .

Conforme Mayorga et al. (2007), esses co-eficientes não consideram as relações entre asvariáveis expressas no modelo VAR. Assim, osimpactos das inovações podem ser avaliados a

p

i=2

p

i=1

p

j=1

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partir da função impulso-resposta, que delineiao comportamento das séries incluídas no mo-delo VAR em resposta a choques ocasionadospor variáveis residuais.

Na concepção de Margarido et al. (2000),citados por Margarido (2004), outra forma decaracterizar o inter-relacionamento dinâmicoentre as variáveis do modelo pode ser dada peladecomposição da variância dos erros de previ-são para k períodos à frente. Esse instrumentalpermite separar a variância do erro de previ-são para cada variável em componentes quepodem ser atribuídos pelas demais variáveisendógenas isoladamente, ou seja, revela, emtermos percentuais, qual o efeito que um cho-que não antecipado sobre determinada variá-vel tem sobre as demais variáveis pertencen-tes ao sistema.

A equação (3) pode ser reparametrizadaem termos de um modelo vetorial de correçãode erro (VEC), descrito por

Yt = + 1 Yt-1 + ... + p-1 Yt-p+1 + Yt-1 + t (4)

em que = ’ e as combinações lineares ’Yt-1

representam as r relações de co-integração.

De acordo com Banerjee (1993), citado porBarbosa et al. (2002), o modelo de correção deerro torna-se importante por permitir a ligaçãoentre aspectos relacionados com a dinâmica decurto prazo com os de longo prazo. Portanto, osmecanismos de correção de erro fornecem umcaminho para combinar as vantagens de mode-lar tanto em nível quanto nas diferenças. Nessemodelo, tanto a dinâmica do processo de ajusta-mento de curto prazo quanto a de longo prazosão modeladas simultaneamente.

O número de vetores de co-integraçãodepende do posto ou rank (r) da matriz . Emtermos de vetores de co-integração, têm-se trêspossibilidades conforme Harris (1995), citadopor Barbosa et al. (2002): se o posto de forcompleto, então as variáveis Yt serão I(0), ouseja, isso significa que qualquer combinação li-

near entre as variáveis será estacionária e o ajus-te do modelo deverá ser efetuado com as variá-veis em nível. Se o posto de for zero, então nãohaverá relacionamento de co-integração e o mo-delo deverá ser ajustado com as variáveis em di-ferença, e quando tiver posto reduzido, haverár vetores de co-integração, que é a possibilidadeque interessa.

Enders (1995) descreve que o rank de umamatriz é igual ao número de raízes caracterís-ticas diferentes de zero e destaca dois testesestatísticos capazes de determinar o número deraízes características. O primeiro deles é o tes-te do traço, que testa a hipótese nula de que onúmero de vetores de co-integração distintosseja menor ou igual a r, contra a hipótese alter-nativa de que o número desses vetores sejamaior do que r, podendo ser definido por

trace (r) = -T ln (l - ’i) (5)

em que ’i são os valores estimados das raízescaracterísticas obtidos da matriz , e T, o nú-mero de observações.

O segundo teste é o do máximo autovalor,que testa a hipótese nula de que o número devetores de co-integração é r, contra a hipótesealternativa de existência de r+1 vetores de co-integração, expresso por

max (r, r+1) = -T ln (l- ’r+1) (6)

O presente trabalho também leva em consi-deração testes de hipótese sobre os parâmetros .Coelho (2004) ressalta que os testes sobre osparâmetros são essenciais à análise das caracte-rísticas da integração entre os mercados de algo-dão, pois permitem testar quais mercados efetiva-mente fazem parte do equilíbrio de longo prazo ese a integração entre estes mercados pode ser con-siderada perfeita, ou seja, se uma variação no pre-ço de um mercado é transmitida de maneira com-pleta ao outro mercado em longo prazo.

n

i=r+1

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As hipóteses sobre os parâmetros betatomam a seguinte forma, conforme Johansen eJuselius (1990), citados por Costa e Ferreira Fi-lho (2000): H1: =H , em que H representa umamatriz de dimensões (p x s), e s, o número decoeficientes , que não estão restritos (alterna-tivamente, define-se a matriz H* quando omodelo de co-integração contém um termoconstante). A matriz é uma matriz (s x r) deparâmetros a serem estimados, envolvendo rvetores de co-integração. O teste razão de ve-rossimilhança é dado pela expressão

r = T ln[(1- *i)/(l- i), para i = 1, ..., r. (7)

A presença de asteriscos (não-asteriscos)gera modelos com (sem) a imposição de restri-ção nos testes. Nesse caso, a análise envolveum espaço I(0), condicionado sobre um núme-ro de relações de co-integração (r) seleciona-do previamente.

Neste trabalho, testa-se as seguintes hi-póteses nulas (H0):

Brasil = 0 (8)

Nova Iorque = 0 (9)

Brasil = Nova Iorque (10)

As hipóteses nulas descritas em (8) e (9)buscam testar se o mercado brasileiro e o mer-cado norte-americano podem ser consideradosintegrados no período analisado. Ademais, tes-ta-se o grau de integração entre os mercadosdo Brasil e de Nova Iorque a partir da hipótesecontida na equação (10).

Fontes dos dados

Os dados empregados neste estudo foramas séries mensais de preços de algodão em plu-ma, mercado físico, no período de julho de 1996a janeiro de 2008. Para representar o preço inter-

no da pluma, foram utilizados os preços do algo-dão em pluma no posto de São Paulo, provenien-tes do Centro de Estudos Avançados em Econo-mia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agri-cultura Luiz de Queiroz (Esalq) / Universidade deSão Paulo (USP), e os preços do algodão no mer-cado internacional foram representados pela sé-rie de preços da bolsa de Nova Iorque, obtidos dobanco de dados da Fundação Getúlio Vargas(FGVDADOS). Ambas as séries de preços foramexpressas em dólar e transformadas emlogaritmos, e os coeficientes obtidos referem-seàs elasticidades de transmissão de preços.

Resultados e discussõesPara verificar se as séries em estudo são

não-estacionárias, empregou-se o teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF). Os resultados (Tabela 1)sinalizam que ambas as séries de preços do algo-dão não são estacionárias, tendo em vista que osvalores calculados são menores em módulo queseus respectivos valores críticos de 1 % e 5 % emtodos os modelos analisados, ou seja, a hipótesenula de raiz unitária não pode ser rejeitada paraessas séries consideradas. No entanto, observa-se que essas séries passam a ser estacionárias emprimeira diferença, o que indica que apenas umadiferenciação é suficiente para torná-las estacio-nárias. O fato de elas serem integradas de mesmaordem constitui um pré-requisito para examinarse as séries são co-integradas, o que é identifica-do por meio do teste de Johansen, com o intuitode verificar se elas possuem relacionamento delongo prazo.

Antes da realização do teste de co-integração, é necessário determinar o número dedefasagens mais adequado ao modelo VAR. Combase nas informações (Tabela 2), seguindo o cri-tério de Schwarz, o modelo deve possuir uma de-fasagem; já o critério da razão de verossimilhan-ça (LR) indica que o lag mais adequado seria sete,enquanto os critérios de Akaike e Hannan-Quinnindicam que devem ser consideradas duas defa-sagens. A escolha do número de defasagens domodelo VAR neste trabalho levou em conta essesdois últimos critérios referenciados, seguindo, por-tanto, a sugestão de duas defasagens.

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Em se tratando do modelo VAR, é impor-tante apresentar os resultados relativos às fun-ções de impulso-resposta e a decomposição davariância dos erros de previsão. A Tabela 3 apre-senta os resultados das elasticidades da funçãode impulso-resposta, indicando as respostas dasvariáveis LPINT e LPEXT a dado impulso sobre

a própria variável e sobre a outra. Pelos dados,verifica-se que um desvio-padrão em LPINThoje causará, respectivamente, 0,0392 e 0,0173desvios-padrão sobre ela própria e sobre LPEXT,no 12º mês. Raciocínio análogo pode ser feitopara os impactos de choques de LPEXT sobre sipróprio e sobre LPINT.

Tabela 2. Determinação do número de defasagens do modelo VAR.

(1) Indica a ordem selecionada pelo critério.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

NA

440,9780

13,5456

4,3076

7,9143

6,3536

3,0558

11,8901(1)

7,3189

LRDefasagem

-1,5514

-5,0447

-5,0927(1)

-5,0656

-5,0697

-5,0615

-5,0253

-5,0685

-5,0720

Akaike (AIC)

-1,5066

-4,9103(1)

-4,8688

-4,7521

-4,6666

-4,5688

-4,4430

-4,3966

-4,3106

Schwarz (SC)

-1,5332

-4,9901

-5,0017(1)

-4,9382

-4,9059

-4,8613

-4,7887

-4,7955

-4,7626

Hannan-Quinn (HQ)

Tabela 1. Resultados do teste de ADF em nível e em primeira diferença para as séries mensais de preços doalgodão no Brasil (LPINT) e em Nova Iorque (LPEXT), de julho de 1996 a janeiro de 2008.

(1) P-valores da tendência = 0,7885.(2) P-valores da tendência = 0,3809.

LPINT

LPEXT

DLPINT

DLPEXT

Sem intercepto e sem tendênciaApenas com interceptoCom intercepto e tendência(1)

Sem intercepto e sem tendênciaApenas com interceptoCom intercepto e tendência(2)

Sem intercepto e sem tendênciaApenas com interceptoCom intercepto e tendência

Sem intercepto e sem tendênciaApenas com interceptoCom intercepto e tendência

ModeloEstatística do teste ADF

-1,9432-2,8823-3,4429

-1,9431-2,8831-3,4437

-1,9432-2,8826-3,4442

-1,9432-2,8831-3,4434

Série

-0,3982-2,0438-1,5853

-0,4187-2,3468-2,3453

-9,9841-9,9556-5,7599

-4,7254-4,7174-6,2474

tcal

-2,5819-3,4785-4,0264

-2,5818-3,4796-4,0279

-2,5819-3,4785-4,0290

-2,5823-3,4796-4,0275

=0,01 =0,05

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Tabela 3. Elasticidades da função de impulso-resposta de LPINT e LPEXT, de julho de 1996 a janeiro de2008.

1

3

6

9

12

0,0612

0,0644

0,0533

0,0454

0,0392

LPINTPeríodo

0,0000

0,0218

0,0209

0,0192

0,0173

LPEXT

Efeitos de choques de LPINT sobre

0,0190

0,0251

0,0348

0,0363

0,0344

LPINT

0,0705

0,0464

0,0319

0,0239

0,0191

LPEXT

Efeitos de choques de LPEXT sobre

Esses resultados indicam que um choquenão-antecipado sobre os preços do algodão, nomercado doméstico ou no mercado externo,gera pequenos efeitos em curto prazo. Assim,verifica-se que, tanto no mercado interno quan-to no externo, os desequilíbrios transitórios sãocorrigidos lentamente. Essa análise de curtoprazo é corroborada por Barbosa et al. (2002),que revelam a existência de uma longa defa-sagem temporal no mercado de algodão até queo equilíbrio de longo prazo seja restabelecido.

Em relação aos resultados referentes à de-composição da variância dos erros de previsãode LPINT, a Tabela 4 mostra que, após 12 me-ses da incidência de um choque não-antecipa-do sobre essa variável, aproximadamente 88,7 %da sua decomposição da variância dos errosde previsão deve-se a ela própria, sendo o res-

Tabela 4. Decomposição da variância dos erros de previsão em percentagem de LPINT e LPEXT, de julho de1996 a janeiro de 2008.

1

3

6

9

12

100,00

93,62

90,93

89,55

88,69

LPINTPeríodo

0,00

6,38

9,07

10,45

11,31

LPEXT

Decomposição da variância doserros de previsão de LPINT

6,81

11,84

24,30

34,27

41,03

LPINT

93,19

88,16

75,70

65,73

58,97

LPEXT

Decomposição da variância doserros de previsão de LPEXT

tante atribuído à variável LPEXT. Quanto à de-composição da variância dos erros de previsãode LPEXT, os dados indicam que, decorridos 12meses após o choque inicial não-antecipadosobre essa variável, cerca de 59 % do seu com-portamento é decorrente dela própria, e 41 %,à LPINT. Portanto, verifica-se que os erros deprevisão são mais explicados pela própria va-riável, porém essa participação é bem maisexpressiva quando se considera o preço do al-godão no mercado interno do que o seu preçono mercado externo.

Em seguida, procede-se à realização doteste de co-integração, mas, para isso, deve-seatentar para a escolha do modelo de estimação.Eviews (2004) destaca que há cinco modelos pos-síveis de tendência determinística considerado porJohansen (1995), que são os seguintes:

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1) Os dados em nível não possuem ten-dências determinísticas e as equações de co-integração não têm intercepto.

2) Os dados em nível não possuem ten-dências determinísticas e as equações de co-integração apresentam intercepto.

3) Os dados em nível possuem tendên-cias determinísticas lineares, mas as equaçõesde co-integração têm somente intercepto.

4) Os dados em nível e a equação de co-integração possuem tendências determinísticaslineares.

5) Os dados em nível possuem tendên-cias quadráticas e as equações de co-integraçãotêm tendências lineares.

Observando os valores das probabilida-des do componente de tendência (Tabela 1),constata-se que esses termos não são significa-tivos em ambas as séries de preço, o que indi-ca que essas séries não possuem tendênciasdeterminísticas; logo, pode-se aplicar os doisprimeiros modelos sugeridos. Seguindo aespecificação de Barbosa et al. (2002), optou-se pelo caso 1, isto é, a constante está incorpo-rada dentro do termo de correção de erro.

Feita essa escolha, determina-se o testede Johansen para identificar o número devetores de co-integração que serão obtidos pe-los testes do traço e do máximo autovalor, cujosresultados e valores críticos estão contidos naTabela 5.

Como se pode verificar pelos resultadosdo teste do traço e do máximo autovalor, a hi-pótese nula de que não há nenhum vetor deco-integração foi rejeitada em nível de 5 %. As-

sim, as séries de preço do algodão considera-das neste estudo contêm um único vetor de co-integração, contrastando com os resultados re-velados por Costa e Ferreira Filho (2000), quenão encontraram relação de co-integração en-tre as séries de algodão analisadas no períodode janeiro de 1990 a junho de 1998.

A Tabela 6 apresenta o vetor de co-integração. Nesse caso, na normalização efe-tuada considerou-se que o valor da estimativado coeficiente da variável preço no Brasil erade 1. A estimativa do coeficiente , para a vari-ável preço em Nova Iorque, indica que99,91 % das variações nos preços internacio-nais do algodão são transmitidas para o preçono Brasil no longo prazo. Esse resultado é idên-tico ao obtido por Barbosa et al. (2002), queanalisam a elasticidade de transmissão de pre-ços no mercado brasileiro de algodão, no perí-odo de janeiro de 1985 a dezembro de 2000.

Tabela 5. Resultados do teste de co-integração de Johansen para as séries mensais de preços do algodãono Brasil e em Nova Iorque, de julho de 1996 a janeiro de 2008.

r=0

r 1

16,4174(1)

0,2317

Teste do traçoHipótese nula

12,3209

4,1299

Valor crítico (5 %)

16,1857(1)

0,2317

Teste do máximoautovalor

11,2248

4,1299

Valor crítico (5 %)

(1) Indica rejeição da hipótese nula a 5 % de significância.

Tabela 6. Estimativa do parâmetro de longo prazo para as séries mensais de preços do algodão noBrasil (LPINT) e em Nova Iorque (LPEXT), de julho de1996 a janeiro de 2008.

Preço noBrasil

Preço emNova Iorque

1,00000

-0,99910(0,00385)(1)

Estimativa do parâmetrode longo prazo

Série

(1) Desvio-padrão em parêntese.

De posse desse resultado, pode-se dizerque a Lei do Preço Único prevalece nos mer-cados brasileiro e americano. Com o intuito de

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confirmar essa afirmativa, Barbosa et al. (2002)sugerem que sejam impostas restrições ao coe-ficiente , para verificar se essa lei se mantém,ou seja, se ela é perfeitamente válida para omercado de algodão.

A necessidade da realização de testes de hi-póteses sobre os parâmetros , para testar sua signi-ficância e a interação entre os preços, também éevidenciada por Coelho (2004), que menciona quea simples existência de um vetor de co-integraçãonão pode ser considerada condição suficiente paradeterminar a perfeita integração de mercado, nempara garantia da participação de todas as séries noequilíbrio de longo prazo.

Com base nos resultados da Tabela 7,pode-se proceder à rejeição da hipótese nulasobre os parâmetros Brasil e Nova Iorque. Assim, osmovimentos de preços no mercado brasileiro eno mercado norte-americano são significativa-mente relevantes no estabelecimento do padrãode equilíbrio de longo prazo. Ademais, essesmercados podem ser considerados como inte-grados, de forma que choques ocorridos em ummercado são repassados para o outro merca-do, em longo prazo.

Tendo em vista que esses mercados sãointegrados, busca-se testar a hipótese de per-feita integração entre eles. A rejeição dessa hi-pótese significa dizer que a alteração de pre-ços em um mercado não é completamentetransmitida ao outro, em longo prazo. Portanto,a partir desse resultado, constata-se que a Leido Preço Único não é perfeitamente verificadano mercado de algodão, no período analisado.Esse resultado é corroborado no estudo de Bar-bosa et al. (2002). Entretanto, contrasta com osencontrados por Coelho (2004), que verificouque o mercado brasileiro e o mercado norte-americano podem ser considerados perfeita-mente integrados, no período de janeiro de 1982a setembro de 2001.

A estimação do Vetor de Correção de Erro(VEC) objetiva analisar os ajustamentos de cur-to prazo que ocorrem nas séries co-integradas,que são as relações de equilíbrio em longo pra-zo (NOGUEIRA et al., 2005).

Na Tabela 8, pode-se inferir que 10,29 %do desequilíbrio de curto prazo, referente à tra-jetória de longo prazo, é corrigida a cada mês,o que indica que seriam necessários, em mé-dia, dez meses para corrigir o desequilíbrio, ouseja, esses desequilíbrios transitórios são corri-gidos lentamente. Ademais, os dados do coefi-ciente do preço do algodão no mercado inter-no, com defasagem de um período, evidenci-am que a variação no preço do algodão de 1 %nesse mês terá como repercussão uma varia-ção de 14,68 % no mês seguinte. Da mesmaforma, tem-se que uma variação de 1 % no preçodo algodão na bolsa de Nova Iorque, no mês t-1,causará uma variação de 19,02 % nos preçosnacionais no mês seguinte.

Tabela 8. Estimação do VEC referente à variável preço do algodão no Brasil, de julho de 1996 a janeiro de 2008.

ut-1

Preço no Brasil t-1

Preço em Nova Iorquet-1

-2,2637

1,7345

2,5529

Estatística tHipótese nula

0,0455

0,0846

0,0745

Desvio-padrão

-0,1029

0,1468

0,1902

Coeficiente estimado

Tabela 7. Testes de significância de restrição aoparâmetro de longo prazo ( ) do vetor de co-integração.

Brasil = 0

Nova Iorque = 0

Brasil = Nova Iorque

15,92(1)

15,94(1)

15,93(1)

Razão deverossimilhança

Hipótese nula

(1) Indica rejeição a 5 % de significância.

3,84

3,84

3,84

Valor crítico(5 %)

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ConclusõesOs resultados demonstram a existência de

relações de equilíbrio de longo prazo entre ospreços no Brasil do algodão em pluma e os pre-ços cotados em Nova Iorque, ou seja, essasvariáveis são co-integradas.

As elasticidades da função de impulso-resposta mostraram que há grande defasagemtemporal até que o equilíbrio de longo prazoseja restabelecido, isto é, os desequilíbrios tran-sitórios são corrigidos lentamente em ambos osmercados de algodão. A decomposição davariância dos erros de previsão indica que oserros de previsão são mais explicados pela pró-pria variável, porém essa participação é bemmais expressiva quando se considera o preçodo algodão no mercado interno do que seu pre-ço no mercado externo.

Ademais, a elasticidade de transmissãode preços nesses mercados indica que varia-ções nos preços internacionais do algodão, emlongo prazo, foram repassadas completamentepara o mercado doméstico no período de julhode 1996 a janeiro de 2008, revelando que a Leido Preço Único prevaleceu nesse mercado. Noentanto, não se pode afirmar que esses merca-dos sejam perfeitamente integrados, conside-rando que a hipótese de perfeita integraçãoentre eles foi rejeitada. Dessa forma, a Lei doPreço Único não é perfeitamente verificada nomercado de algodão, no período analisado.

Por fim, é válido destacar que este traba-lho aferiu o grau de integração dos mercadosinterno e externo de algodão utilizando apenasseus preços. No entanto, em estudos posterio-res sugere-se que sejam analisados outros fato-res que influenciam o comportamento dos pre-ços internos no mercado de algodão, como, porexemplo, o impacto de variações das cotaçõesda taxa de câmbio nesse mercado.

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AgronegócioBrasil–Japão

Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros1

Karlin Saori Ishii2

Resumo: O Brasil e o Japão possuem laços de cooperação principalmente em relação aos recur-sos humanos iniciados há cem anos. Outra característica importante é a complementaridade dasduas economias, pois o Brasil possui uma grande extensão de área agricultável e, portanto, con-segue produzir alimentos a custos menores que o Japão, enquanto o Japão é especializado emprodutos de tecnologia mais alta. Apesar dessas características, o Brasil não tem conseguidoaumentar suas exportações para o Japão e isso vem ocorrendo graças ao aumento do comércioentre os países da Ásia e a conseqüente exclusão dos países ocidentais. Em relação ao agronegócio,o saldo comercial vem aumentando somente em conseqüência do aumento das exportações, poisas importações estão estagnadas. As possibilidades de aumento da integração comercial entre oBrasil e Japão existem, porém há a necessidade de aumentar o empenho no estabelecimento deacordos sanitários e fitossanitários para o mercado de carnes. Há ainda a necessidade de firmarparcerias para o aumento da demanda de biocombustíveis (etanol).

Palavras-chave: cooperação, integração comercial, mercado exterior.

Abstract: Brazil and Japan have a history of cooperation in relation mainly to human resources initiateda hundred years ago. Another important feature is the complementarity of the two economies, sinceBrazil has a large area for agriculture and can therefore produce food with lower costs than Japan,while Japan is specialized in higher technology products. Despite these characteristics, Brazil has notincreased its exports to Japan. This fact stems from the increased trade between Asian countries and theconsequent exclusion of Western countries. The agribusiness trade balance is increasing as a resultonly of increase in exports, since imports are stagnant. There are possibilities of increasing tradeintegration between Brazil and Japan, but it is necessary to increase the commitment to the establishmentof sanitary and phytosanitary agreement for the meat market. Moreover, it is necessary to establishpartnerships to increase the Japanese demand for biofuels (ethanol).

Keywords: cooperation, trade integration, foreign trade.

1 Doutor em Economia pela North Carolina State University, Professor Titular e Coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). E-mail: [email protected]

2 Mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá, Pesquisadora do Cepea. E-mail: [email protected] O número de imigrantes japoneses ao Brasil seria de mais de um quarto de milhão no século 20 (BRASIL, 2005).

IntroduçãoBrasil e Japão possuem laços históricos

de cooperação para o desenvolvimento, no quetange tanto ao comércio como aos investimen-tos estratégicos e, também, no campo dos re-cursos humanos3, particularmente no processo

migratório iniciado há cem anos. Hoje se sabeque a abertura ao intercâmbio externo, nessastrês dimensões, é muito importante para o cres-cimento econômico.

Os dois países não tinham rendas percapita muito diferentes ao final da Segunda

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Guerra; porém, por terem seguido estratégiasdiferentes de desenvolvimento e por possuíremgrande diferença de capital humano, o cresci-mento japonês permitiu transformar o Japão emum país desenvolvido em poucas décadas, en-quanto o Brasil, após um arranque nas décadasde 1950, 1960 e 1970, praticamente estagnou-se, perdendo enorme terreno em termos decrescimento (Fig. 1). Dentro desse contexto, oinvestimento japonês no Brasil pode ajudar asuperar o gap que hoje prevalece.

O interesse japonês pelo agronegócio bra-sileiro vem pelo menos desde a época do cafée do algodão no início do século 20, por meiode compras de produtos e investimentos. Taisinvestimentos, especificamente no agronegócio,se salientaram em 1978, por ocasião do Pro-grama Brasil-Japão de Cooperação para o De-senvolvimento do Cerrado (Prodecer) (UNIVER-SIDADE DE SÃO PAULO, 2008), que visava,entre outras coisas, por meio do desenvolvimen-to dos cerrados brasileiros, oferecer alternati-vas (aos EUA) de suprimento de farelo de sojaao Japão. No geral, porém, o investimento ja-ponês no Brasil em períodos recentes tem sidooscilante, alcançando US$ 1.350 milhões em2003 e caindo para US$ 650 milhões em 2006.

Na Fig. 2 percebe-se que, em 2006, o Ja-pão foi apenas o décimo investidor estrangeirono Brasil. Parcela relativamente pequena e ins-tável de seus investimentos tem se destinadoespecificamente ao agronegócio: apenas 1 %em 2003 contra 11 % em 2006 (Fig. 3).

Fig. 1. PIB per capita no Pós-Segunda Guerra.Fonte: University of Pennsilvania (2008).

Fig. 2. Investimentos estrangeiros no Brasil, 2006.Fonte: Banco Central do Brasil (2008).

Fig. 3. Investimentos do Japão no Brasil, 2002–2006.Fonte: Banco Central do Brasil (2008).

A abertura comercial japonesa focada nasexportações, com intensa associação entre oEstado e o setor privado, foi estratégica no iní-cio do vertiginoso crescimento do país após aSegunda Guerra. Ao mesmo tempo, o Brasil tam-bém experimentava altas taxas de crescimen-to baseado num sistema alternativo – mas tam-bém fortemente vinculado ao setor público –de substituição de importações. Mais recente-mente, face à intensificação globalizada da mo-vimentação financeira – e, assim, dos investi-mentos diretos –, o comércio já não tem sidoessencial para os países mais desenvolvidos, à

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200819

medida que suas empresas investem em paísesantes importadores. Para o Brasil, porém, queoptou pela abertura comercial significativa maistardiamente – nos anos 1990 –, ele ainda é es-sencial para seu crescimento. Mesmo assim, oBrasil já é um importante investidor externo, in-clusive para algumas cadeias produtivas doagronegócio, como a da carne, por exemplo.

Segundo Government of Japan (2004), o de-senvolvimento econômico asiático foi alcançadopelo avanço da liberalização multilateral feita pormeio de negociações sucessivas no Acordo Ge-ral sobre Tarifas e Comércio (GATT) e na Organi-zação Mundial do Comércio (OMC) que propor-cionaram aumentos de comércio em nível mun-dial, principalmente na Ásia. Nos anos recentes,após a crise asiática de 1997–1998, as iniciativaspara a liberalização têm se realizado por meiodo estabelecimento de acordos de livre comér-cio entre países específicos, dada a dificuldadenas negociações multilaterais, como destacadopor Peng-Hong (2006) e Miyazaki (2005).

Dentre os tipos de integração econômica, omais comum adotado pelo Japão é o estabeleci-mento de áreas preferenciais de comércio peque-nas, pois a negociação com grupos pequenos érelativamente mais rápida e simples, como é o casodos acordos bilaterais. Além disso, eles são bemmais aceitos, pois os países podem continuar pro-tegendo setores econômicos sensíveis (como oagrícola). Dentro desse contexto, criou-se a Asian-Pacific Economic Cooperation (Apec), da qual oJapão faz parte. O Japão ainda estabeleceu umacordo bilateral com Cingapura (Japan-SingaporeEconomic Agreement for a New Age Partnership)firmado em 2002 e um com o México (Japan-Mexico Economic Partnership Agreement) em2003. Esses acordos são mais amplos que os acor-dos preferenciais de comércio, pois incluem inves-timento, desenvolvimento de recursos humanos,propriedade intelectual, compras governamentais,além de comércio e procedimentos aduaneiros ele-trônicos. Esse fenômeno de estabelecimentos deacordo nos anos 2000 tem sido chamado de “novoregionalismo asiático”.

Ressalta-se que a maior dificuldade do Ja-pão em firmar acordos comerciais relaciona-secom o setor agrícola. Apesar de a agricultura e da

pesca serem setores pequenos na economia, sãode grande peso político (HARVIE; HOON LEE,2002; LLOYD, 2002). Além disso, há o fato de quea segurança alimentar é uma questão muito im-portante para o Japão. Sendo assim, esse paísprioriza a auto-suficiência na produção de alimen-tos e, conseqüentemente, a minimização de suaimportação (HOMNA, 2000). Graças a essesfatores, que culminaram com a intensificação doprocesso de abertura comercial dentro da Ásia, ocomércio entre o Brasil e o Japão não tem au-mentado nos últimos anos.

O comércio Brasil–JapãoO Japão é um país em que a população e

o PIB são grandes, mas que, face à escassez deterras agricultáveis, depende muito da impor-tação de produtos agrícolas. Dessa forma, tor-na-se um mercado bastante atrativo para paí-ses exportadores de produtos agrícolas, comoo Brasil. Porém, historicamente, segundo Oli-veira (1999), o desenvolvimento do comércioentre esses dois países deveu-se principalmen-te às iniciativas japonesas, pois, na maior partedas vezes, o Brasil priorizou o desenvolvimen-to do mercado de países ocidentais.

O grande comprador dos produtos brasilei-ros é a União Européia, com 22 %, seguida dosEstados Unidos, com 20 % e, posteriormente, porArgentina e China. O Japão está em sexto lugar,comprando 3,6 %. Por outro lado, o Japão forneceao Brasil 4,85 % de nossas importações (Tabela 1).

Entre os estados brasileiros, os que maisexportaram para o Japão foram os estados deMinas Gerais (24 %), Pará (23 %) e São Paulo(15 %). O maior importador é o Estado de SãoPaulo, que totaliza quase metade das importa-ções brasileiras originárias do Japão. MinasGerais exporta minério de ferro, café, papel ecelulose, enquanto o Pará exporta principal-mente alumínio e minério de ferro, e São Pauloexporta suco de laranja, cátodos de níquel,café, ácido glutâmico, álcool etílico e soja. Emrelação às importações, São Paulo é o princi-pal comprador, importando peças de automó-veis, aviões e aparelhos mecânicos (Tabela 2).

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 20

Tabela 1. Exportações e importações brasileiras, 1996–2008.

Estados Unidos

Argentina

Holanda

China

Alemanha

Japão

Itália

México

Bélgica

Chile

Reino Unido

França

Espanha

Rússia

Venezuela

Coréia do Sul

Canadá

Paraguai

Colômbia

Uruguai

Demais

Estados Unidos

Argentina

Alemanha

China

Japão

Itália

França

Nigéria

Coréia do Sul

Argélia

Reino Unido

Chile

Espanha

Canadá

Arábia Saudita

Suíça

Taiwan

México

Suécia

Índia

Demais

PaísPaís

19,68

10,45

8,23

5,37

4,85

3,87

3,32

2,88

2,62

2,12

2,12

2,10

1,86

1,70

1,65

1,63

1,55

1,44

1,33

1,06

20,15

Importação (%)

20,03

9,10

5,48

4,81

4,53

3,57

3,12

3,06

2,62

2,59

2,44

2,31

1,98

1,97

1,89

1,41

1,36

1,30

1,19

0,97

24,29

Exportação (%)

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

Fonte: Brasil (2008).

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

Tabela 2. Exportações e importações do Japão segundo Unidade da Federação, 1996–2008.

Minas Gerais

Pará

São Paulo

Rio Grande do Sul

Santa Catarina

Paraná

Espírito Santo

Maranhão

Bahia

Mato Grosso

Alagoas

Goiás

Mato Grosso do Sul

São Paulo

Rio de Janeiro

Rio Grande do Sul

Paraná

Amazonas

Minas Gerais

Espírito Santo

Bahia

Santa Catarina

Pernambuco

Maranhão

Ceará

Mato Grosso do Sul

EstadoEstado

43,64

8,98

7,86

6,93

6,57

5,42

5,33

3,98

2,75

1,46

1,34

1,14

1,00

Importação (%)

24,71

22,91

15,66

6,64

6,24

5,62

5,55

2,79

2,45

2,22

1,19

1,15

0,72

Exportação (%)

Continua...

Page 22: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200821

Tabela 2. Continuação.

Rio de Janeiro

Amapá

Ceará

Paraíba

Piauí

Pernambuco

Amazonas

Distrito Federal

Rondônia

Rio Grande do Norte

Tocantins

Roraima

Sergipe

Acre

Distrito Federal

Goiás

Pará

Mato Grosso

Paraíba

Rio Grande do Norte

Sergipe

Alagoas

Rondônia

Piauí

Tocantins

Amapá

Acre

Roraima

EstadoEstado

0,90

0,88

0,51

0,40

0,22

0,18

0,17

0,17

0,05

0,04

0,04

0,04

0,01

0,01

Importação (%)

0,65

0,50

0,36

0,14

0,13

0,13

0,07

0,05

0,05

0,04

0,02

0,00

0,00

0,00

Exportação (%)

Fonte: Brasil (2008).

A intensidade das relações comerciais doBrasil com o Japão tem aumentado nos últimosanos. Por exemplo, comparando fevereiro de2008 com fevereiro de 2002, as importações eexportações cresceram mais de 200 %. Fora osanos de 1998 e 2001, a balança comercialmanteve-se equilibrada entre os dois paises (Fig.4). Porém, na Fig. 5, verifica-se que as exporta-ções brasileiras para o Japão cresceram menosque o total das exportações no período de 2002a 2008 e, por outro lado, as importações au-mentaram mais que o total.

Fig. 4. Exportações, importações e saldo comercialentre Brasil e Japão.Fonte: Brasil (2008).

Fig. 5. Exportações e importações do Japão e totais.Fonte: Brasil (2008).

Porém, quando se analisa o comércio re-lativo entre o Brasil e o Japão, verifica-se umaredução nesse período. Em 1996 as exportaçõespara o Japão eram mais de 6 % do total expor-tado e as importações chegavam também qua-se a 6 %; porém, em 2007, a importância doJapão no comércio brasileiro reduziu para qua-se a metade (Fig. 6). As exportações do Japãopara o Brasil mantiveram-se estáveis. Todavia,as importações provenientes do Brasil reduzi-ram. Isso ocorreu por causa, em grande medi-da, do aumento do comércio entre Japão e ospaíses asiáticos que passaram pelo processo deabertura comercial ou, ainda, que firmaram ou

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 22

estão em negociações de acordos bilaterais decomércio (Fig. 7). Segundo o Government ofJapan (2004), as importações da Ásia, especial-mente da China, têm aumentado a partir dadécada de 1990, principalmente de produtos dosetor vestuário e alimentos. Esses dados mos-tram que o Brasil não conseguiu se beneficiardo crescimento do volume do comércio japo-nês com o mundo. Mais do que isso, o Brasiltem seguido uma tendência de perda de parti-cipação no mercado japonês.

Fig. 6. Participação do Japão nas exportações eimportações do Brasil.Fonte: Brasil (2008).

Fig. 7. Participação do Brasil nas exportações eimportações do Japão.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Essa tendência é sentida também pelosoutros países fora da Ásia (Fig. 8 a 14). Obser-vando-se o comércio japonês com os diversoscontinentes, ressalta-se o comportamento da Eu-ropa (Fig. 8) e da América do Norte (Fig. 9),que são parceiros tradicionais, que perderam a

participação no comércio do Japão, enquantoa Ásia aumentou de forma considerável o co-mércio com o Japão. Nas décadas de 1990 a2000, do total de produtos comercializados peloJapão, houve um incremento de 20 % para ospaíses asiáticos (Fig. 10).

Fig. 8. Comércio Japão–Europa.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Fig. 9. Comércio Japão–América do Norte.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Fig. 10. Comércio Japão–Ásia.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Page 24: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200823

cipalmente sobre os principais produtos de in-teresse do agronegócio: cereais (121 %), laticí-nios, ovos e mel (96 %), calçados (78 %) e pro-dutos da indústria de moagem (73 %) (Fig. 15).

As tarifas para a maioria dos produtosimpostas pelo Brasil encontram-se entre 10 %e 20 %. Calçados com 27,1 % e veículos e aces-sórios com 27 % são os maiores (Fig. 16). Sen-do assim, o Japão possui maior barreira tarifáriaà entrada de produtos brasileiros do que o con-trário.

O agronegócioEm relação ao comércio entre o Brasil e o

Japão, verifica-se que há uma forte relação decomplementaridade: o Brasil exporta matérias-primas e alimentos e o Japão exporta produtos

Fig. 11. Comércio Japão–Oceania.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Fig. 13. Comércio Japão–África.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Além da abertura comercial dos paísesasiáticos, que fez com que houvesse mudan-ças em relação à importância dos países nocomércio japonês em favor da Ásia, há, segun-do a Sebrae (2008), dificuldades de entrar nomercado japonês causadas por normas e regu-lamentos (barreiras técnicas). Pois as normasjaponesas são particulares e, portanto, diferen-tes das internacionais; ou ainda, há uma faltade harmonização com os padrões internacio-nais. Uma grande quantidade de frutas, vege-tais e produtos alimentícios em geral tem difi-culdade de entrada graças às restrições de ca-ráter sanitário e fitossanitário e de saúde ani-mal e, além disso, a política de certificação detratamento contra pestes também é rigorosa.Além das normas técnicas, o Japão impõe tari-fas altas para a entrada de produtos estrangei-ros. No caso do Brasil, tais tarifas recaem prin-

Fig. 14. Comércio Japão–América Central e do Sul.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Fig. 12. Comércio Japão–Oriente Médio.Fonte: Ministry of Finance Japan (2008).

Page 25: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 24

Fig. 15. Tarifas impostas aos produtos brasileiros pelo Japão.Nota: Tarifa para o ano de 2007, somente produtos com 20 % ou mais de tarifas.Fonte: United Nations Conference on Trade and Development (2008).

Fig. 16. Tarifas impostas aos produtos japoneses pelo Brasil.Nota: Tarifa para o ano de 2007, somente produtos com mais de 20 % ou mais de tarifas.Fonte: United Nations Conference on Trade and Development (2008).

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200825

manufaturados, com os dois países aproveitan-do suas vantagens comparativas. De 1996 a2008, entre os produtos mais exportados peloBrasil estão os metalúrgicos e do agronegócio.Os destaques são o minério de ferro e alumínioe – no agronegócio – aves, café, celulose e soja,que, juntos, totalizam mais de 80 % das expor-tações (Fig. 17).

Fig. 17. Participação relativa dos principais produtosexportados do Brasil para o Japão, 1996–2008.Fonte: Brasil (2008).

Pela Tabela 3, nota-se que dentre os pro-dutos do agronegócio, os mais exportados doBrasil para o Japão foram carnes, com 22 %,em primeiro lugar, com destaque para aves;café vem a seguir, com 14 %, e, posteriormen-te, papel e celulose, com 13 %, mormente apasta química de papel. Salientam-se ainda a

soja e o suco de laranja, além de madeiras emgeral. Esses agregados mencionados somammais de 70 % das exportações para o Japão.

Entre os produtos importados do Japão, des-tacam-se os de maior valor agregado, como má-quinas e implementos, que representam 55,7 %do valor importado, e papel e celulose, que re-presentam 24 % (Tabela 4).

O volume exportado para o Japão não temevoluído como o volume total exportado peloagronegócio brasileiro. Nas Fig. 18 e 19, é apre-sentada a evolução de indicadores relaciona-da às exportações do agronegócio brasileiro, ondenota-se que as exportações cresceram 350 % emvolume – Índice de Volume de Exportação (IVE)– de 1989 a 2007; nota-se também que os pre-ços em dólar – Índice de Preço de Exportação(IPE) – dessas exportações tiveram um períodode alta na segunda metade da década de 1990,seguido de uma fase de queda nos primeirosanos de 2000. Como as variações cambiais fo-ram mais acentuadas, o resultado foi que ospreços em Real – Índice de Atratividade dasExportações (IAT) – tiveram comportamentooposto aos preços em dólar: baixa nos anos1990 e alta nos anos 2000. Atualmente ambosos indicadores de preço estão em torno do ní-vel do início da década de 1990.

No caso das exportações ao Japão (Fig.20), o volume exportado (IVE) oscilou bastantee terminou no mesmo nível de 1989. Esse volu-me cresceu bastante com a desvalorização de1999 a 2003, mas refluiu desde então, com avalorização do Real. Os preços em dólar (IPE)dos produtos do agronegócio exportados parao Japão tiveram um comportamento cíclico compicos em meados dos anos 1990 e no final doperíodo. Conjugando-se o comportamento dospreços com o da taxa de câmbio, nota-se, comexceção do último ano, uma tendência de ele-vação dos preços das exportações doagronegócio ao Japão quando convertidos emReal (IAT).

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Tabela 3. Valor em dólar e participação do agronegócio dos agregados nas exportações brasileiras para o Japão,de 1989 a 2007.

Carne e miudezas comestíveis

Café, chá, mate e especiarias

Celulose e papel

Sementes e frutos oleaginosos

Preparações de produtos hortícolas e de frutas

Madeira e mobiliário

Preparações alimentícias diversas

Bebidas, líquidos alcoólicos e vinagre

Fumo (tabaco)

Indústria têxtil e vestuário

Resíduos e desperdícios

Peixes e crustáceos

Produtos químicos

Gorduras e óleos animais ou vegetais

Fabricação de calçados

Cacau e suas preparações

Preparações de carne, peixes ou crustáceos

Cereais

Leite, laticínios, ovos e mel

Açúcares

Produtos hortícolas

Preparações à base de cereais

Máquinas e implementos

Gomas, resinas e outros sucos e extratos

Outros produtos de origem animal

Plantas vivas e floricultura

Frutas

Materiais para entrançar

Produtos da indústria de moagem

Fertilizantes

Animais vivos

Borracha natural

Defensivos

Agregado

4.495.594.806

2.872.782.270

2.670.365.614

1.991.043.493

1.509.928.361

1.007.502.610

812.760.910

768.557.813

733.264.542

726.707.272

478.584.244

469.225.802

301.404.383

280.371.068

260.108.228

177.756.634

136.889.958

129.977.257

76.505.479

47.205.242

37.134.650

33.458.745

31.523.939

28.908.547

21.636.924

13.702.492

10.375.452

4.084.738

3.525.263

1.401.708

196.818

1.022

0

Valor (US$)

Fonte: Cepea (2008).

22,3

14,3

13,3

9,9

7,5

5,0

4,0

3,8

3,6

3,6

2,4

2,3

1,5

1,4

1,3

0,9

0,7

0,7

0,4

0,2

0,2

0,2

0,2

0,1

0,1

0,1

0,1

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Participação no totalexportado (%)

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200827

Tabela 4. Valor em dólar e participação do agronegócio nas importações brasileiras do Japão, de 1989 a 2007.

Máquinas e implementos

Celulose e papel

Sementes e frutos oleaginosos

Produtos químicos

Indústria têxtil e vestuário

Fabricação de calçados

Resíduos e desperdícios

Preparações alimentícias diversas

Preparações à base de cereais

Gomas, resinas e outros sucos e extratos

Açúcares

Gorduras e óleos animais ou vegetais

Bebidas, líquidos alcoólicos e vinagre

Fertilizantes

Madeira e mobiliário

Peixes e crustáceos

Preparações de carne, peixes ou crustáceos

Preparações de produtos hortícolas e de frutas

Outros produtos de origem animal

Café, chá, mate e especiarias

Produtos hortícolas

Plantas vivas e floricultura

Borracha natural

Produtos da indústria de moagem

Cacau e suas preparações

Cereais

Animais vivos

Materiais para entrançar

Frutas

Leite, laticínios, ovos e mel

Carne e miudezas comestíveis

Fumo (tabaco)

Defensivos

Agregado

463.962.827

207.656.699

54.244.230

21.164.065

15.415.328

13.198.736

10.933.617

9.916.843

6.018.925

5.318.611

4.486.273

3.392.584

2.921.434

2.685.594

2.082.143

1.752.424

1.750.584

1.665.948

1.494.996

1.299.389

408.830

365.465

343.527

159.608

117.261

112.194

110.254

56.128

42.647

36.960

50

8

0

Valor (US$)

Fonte: Cepea (2008).

55,7

24,9

6,5

2,5

1,9

1,6

1,3

1,2

0,7

0,6

0,5

0,4

0,4

0,3

0,3

0,2

0,2

0,2

0,2

0,2

0,1

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

0,0

Participação no totalimportado (%)

Page 29: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 28

Fig. 18. Índice de Preço de Exportação do Agro-negócio (IPE-Agro) e Índice de Atratividade dasExportações do Agronegócio (IAT-Agro).Fonte: Cepea (2008).

Fig. 19. Índice de Volume de Exportação do Agro-negócio (IVE-Agro).Fonte: Cepea (2008).

Fig. 20. Índices de Exportação do Agronegócio IPE-Agro/Cepea (Japão), IVE-Agro/Cepea (Japão) e IAT-Agro/Cepea (Japão).Fonte: Cepea (2008).

Em relação ao valor do agronegóciocomercializado entre os dois países, o Brasil ex-portou US$ 20.132.486.284 de 1989 a 2007 eimportou US$ 833.114.112 também nesse mes-mo período, ou seja, as exportações foram 24vezes superiores às importações do agronegócio,denotando um fluxo altamente favorável ao Bra-sil (Fig. 21).

O saldo comercial do agronegócio Brasil-Japão tem aumentado no período observado e issose deve, na maior parte, ao aumento das exporta-ções brasileiras, já que o valor das importaçõesmanteve-se estável durante todo o período. Essesaldo positivo era esperado, pelas reconhecidasvantagens competitivas do agronegócio brasilei-ro, em que pese o fato já mencionado de que talevolução vis-à-vis ao Japão esteja aquém daque-la envolvendo a totalidade das transações inter-nacionais do agronegócio brasileiro.

Fig. 21. Exportações e importações (Brasil–Japão) do agronegócio em dólar.

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Já o etanol não esbarra diretamente em tal com-petição, à medida que a cana se expande sobreáreas de pastagens degradadas. Japão e Brasil de-veriam engajar-se em processo de parceria fun-dado na mútua credibilidade lastreada em sua lon-ga e bem-sucedida história comum: o Japão po-deria acelerar o processo de inclusão mais pro-nunciada do etanol em sua matriz energética –indo além da autorização de adição de 3 % àgasolina –, e o Brasil, assumir em parceria com ocapital japonês as iniciativas empresariais com-patíveis com as metas estabelecidas pelo Japão.

AgradecimentosOs autores agradecem ao acadêmico Gabriel

Caldas Santos pela colaboração na pesquisa.

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Possibilidades a serem exploradasO comércio entre Brasil e Japão, assim como

os investimentos entre esses dois países, certa-mente está muito aquém do seu potencial. Por umlado, o Japão é a segunda economia mundial, comum mercado muito amplo; por outro, o Brasil gozade significativas vantagens numa gama de pro-dutos e serviços que, em princípio, interessariamao mercado japonês. O investimento, além depouco expressivo, não tem correspondido ao po-tencial do agronegócio brasileiro.

Os maiores interesses do Brasil, em termosde agronegócio, recaem de imediato sobre o seg-mento de carnes e o de biocombustíveis.

No primeiro caso, trata-se de incrementaro comércio de produtos de maior valor agregado,que integram as cadeias de grãos e carnes (bovi-nas, de aves e suínas). São produtos em que oBrasil é praticamente imbatível em termos de cus-tos, o que tem beneficiado muito os importadores,oportunidade que o Japão vem perdendo. As car-nes bovina e suína enfrentam a exigência de au-sência de aftosa sem vacinação. Com isso, 80 %da demanda japonesa de carne bovina são aten-didos pela importação, predominantemente daAustrália. Evidentemente, o avanço aqui depen-de do empenho dos dois países no sentido de es-tabelecer um amplo acordo sanitário e fitossani-tário que leve em conta as condições efetivas daprodução nacional, inclusive a heterogeneidadedeste país de dimensões continentais. Para tal, oBrasil conta com alta eficiência no campo e comagroindústrias de grãos e carnes de alto padrãoadministrativo e tecnológico. Falta ao Brasil cui-dar das deficiências de infra-estrutura e de seuaparato na área sanitária. São duas deficiênciasque envolvem o setor público, de quem devempartir iniciativas de parcerias com o setor privadoque acelerem a superação desses obstáculos.

No segundo caso, também se trata de seg-mento de inegáveis vantagens brasileiras, comono caso do etanol e, possivelmente, dobiodiesel. Este último enfrenta a vivaz concor-rência da demanda por óleos comestíveis, desorte que suas perspectivas ficam em suspenso.

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Dinâmica de uso daterra em resposta àexpansão da cana-de-açúcar no Cerrado

Geraldo B. Martha Jr.1

Resumo: As necessidades de alimento de uma crescente população, mais urbana e de maior renda, eas fortes projeções de aumento na demanda por biocombustíveis, impulsionadas por questões ambientaise políticas, vão intensificar o debate sobre o uso da terra para a produção de alimentos vis-à-vis à debiocombustíveis. Neste artigo, discutimos a relevância dos argumentos que permeiam esse debateconsiderando as escalas global, nacional e local e seus possíveis efeitos sobre o desenvolvimento doCerrado e o avanço da fronteira agrícola em direção à Amazônia.

Palavras-chave: alimento, biocombustíveis, desenvolvimento, desmatamento, pastagem, soja.

Abstract: The food needs of a growing and urbanizing population with rising incomes and thestrong projected growth in demand for biofuels, driven by environmental and political reasons,will intensify the ongoing debate on the food-versus-fuel land-use decisions. In this article, wediscuss the relevance of the arguments behind this debate considering global-, country- and local-scales and their possible effects on the development of the Cerrado region and on the advance ofthe agricultural frontier toward the Amazon.

Keywords: food, biofuels, development, deforestation, pasture, soybean.

IntroduçãoNas próximas quatro décadas, para aten-

der o aumento na demanda de alimentos emresposta a uma crescente população, mais ur-bana e de maior renda, será necessário aumen-tar a produção agrícola em pelo menos 50 %frente aos níveis de 2000 (SOUTHGATE et al.,2007). Paralelamente, questões ambientais (re-duzir as emissões de gases do efeito estufa) e

políticas (diminuir a dependência do petróleoproveniente de regiões sociopoliticamente ins-táveis, como o Oriente Médio e a Venezuela)relacionadas à produção de energia crescemem importância e aumentam a demanda porbiocombustíveis, alterando, conseqüentemente, adinâmica de uso da terra. Azar e Larson (2000)indicaram que, em meados do século 21, a áreadestinada à produção de bioenergia poderá atin-gir de 0,4 a 1,0 bilhão de hectares, sinalizando

1 Doutor em Agronomia (Ciência Animal e Pastagens), Pesquisador da Embrapa Cerrados. E-mail: [email protected]

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pressão pelo uso da terra se as extensas áreas depastagens não forem alocadas para a produçãode alimentos e de bioenergia.2

Aumentar a oferta energética por meio detecnologias mais limpas, e a preços competitivos,é passo prioritário para garantir o desenvolvimentoem bases sustentáveis. Entretanto, se a amplia-ção da área destinada à produção debiocombustíveis ocorrer em detrimento da áreapara a produção de alimentos, e se esta não seexpandir e/ou se não forem verificados ganhoscompensatórios na produtividade agropecuária,haverá diminuição ou crescimento insuficiente naoferta dos produtos agrícolas e, conseqüentemen-te, aumento nos preços. Não deixa de ser interes-sante notar que a tendência de redução nos pre-ços das commodities agrícolas, à parte asdistorções no mercado provocadas pelos diferen-tes governos (subsídios, taxas, tarifas etc.), é forteindicativo de que a fome no mundo vem sendoprogressivamente reduzida (SOUTHGATE et al.,2007). Entretanto, taxas de crescimento mais ace-leradas na demanda de alimentos em relação àstaxas de aumento na oferta poderão levar à para-lisação ou, em um cenário extremo, à inversãona tendência de taxas decrescentes de fome nomundo observadas desde meados do século pas-sado.3

Como resultado, para as próximas déca-das espera-se que o debate sobre a dinâmicade uso da terra com relação à produção de ali-mentos vis-à-vis à de biocombustíveis fiquecada vez mais intenso. Alguns aspectos dessecomplexo cenário, com foco nos impactos daexpansão da cana-de-açúcar sobre o uso daterra e sobre o desenvolvimento do Cerrado,são abordados neste artigo. O trabalho foiestruturado em três partes, a primeira sendo estaintrodução. Na segunda seção, apresentamosos principais drivers relacionados às mudançasno uso da terra e trazemos para discussão ospossíveis desdobramentos da expansão da

cana-de-açúcar no Cerrado sobre a dinâmicade uso da terra e sobre o desenvolvimento re-gional. Numa terceira e última parte tecemosalgumas considerações finais.

Dinâmica de uso da terra edesenvolvimento regional

Drivers relacionados àsmudanças em ecossistemas

Ecossistemas podem ser definidos como sis-temas compreendendo organismos vivos, seuambiente e as interações entre os componentesbióticos e abióticos desse sistema (COMMON;STAGL, 2005). Agroecossistemas, por sua vez, sãoecossistemas manejados, em diferentes intensida-des, pelo homem.

Os fatores, naturais ou humanos, que diretaou indiretamente induzem mudanças noecossistema (ou agroecossistema) são normal-mente referenciados como drivers. Um fatorindutor indireto seria aquele que opera de manei-ra mais difusa, alterando pelo menos um fator di-reto, que, por sua vez, influencia diretamente osprocessos do ecossistema (NELSON et al., 2005).Os fatores indiretos mais importantes são aquelesde cunho demográfico, econômico, sociopolítico,científico e tecnológico, cultural e religioso; osfatores diretos de maior relevância seriam as mu-danças climáticas, mudanças no uso da terra(como o desmatamento), eficiência de uso de nu-trientes pelas plantas e a incidência de pragas ede doenças (NELSON et al., 2005).

Os fatores que interferem nas mudançasno uso da terra apresentam-se em escalas lo-cal, nacional e global (Fig. 1). Determinar a im-portância relativa de cada fator indutor – ou dasinterações entre eles – sobre os impactos ob-servados em uma dada localidade é, no entan-

2 De acordo com a FAO (2006), a área com lavouras é de 1,4 bilhão de hectares, enquanto a área com pastagens permanentes agregaria outros 3,4 bilhões de hectares.3 Conforme discutido por Johnson (2000), durante o século 17 até o início do século 18, a humanidade tinha à sua disposição algo entre 1.650 e 2.000 kcal diárias. Tal

nível foi mantido relativamente constante até meados do século 20 (entre 1948 e 1952, o autor estimou que a disponibilidade média per capita foi de cerca de1.700 kcal), passando para aproximadamente 2.000 kcal per capita no início dos anos 1960. Em meados da década de 1990, Alexandratos (1999) estimou a disponibilidadecalórica média per capita em 2.580 kcal e ressaltou que a parcela da população vivendo com menos de 2.200 kcal/dia, chegando perto de 56 % na década de 1960,foi reduzida para aproximadamente 10 % no final do século 20.

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to, difícil (HAZELL; WOOD, 2008). Nãoobstante, as estratégias para responder a even-tuais mudanças indesejáveis serão bastante in-fluenciadas pela habilidade de os agentes lo-cais influenciarem esses fatores de mudança.Desse modo, à parte as dificuldades, é impor-tante manter o foco, ainda que em linhas ge-rais, dos fatores que mais parecem estar influ-enciando oportunidades e desafios em nívellocal (HAZELL; WOOD, 2008).

tendimento das mudanças no uso da terra numadada localidade.

Extensificação versus intensificação

As mudanças no uso da terra, em última aná-lise, são efetivadas por meio de duas estratégias:extensificação ou intensificação. A extensificaçãoimplica expansão da área cultivada. Já a intensi-ficação envolve o aumento da produtividade emáreas já desmatadas, como resultado do uso demaiores quantidades de insumos industriais, po-dendo ou não haver reordenação do portfólio detecnologias e das atividades agrícolas.

As críticas contra a extensificaçãocentram-se na inevitável perda da vegetaçãonatural que acompanha essa estratégia. Nessesentido, além do comprometimento dabiodiversidade, é possível – e, na verdade, atéprovável – que sejam gerados impactos nega-tivos sobre os recursos e qualidade do solo, daágua e do ar. A intensidade desses impactosdepende das tecnologias agrícolas adotadas,que passam a ser relevantes por uma ótica so-cial. Com a adoção de sistemas agrícolas sus-tentáveis, pode-se, com o tempo, reverter, emlarga medida – ou, no caso de alguns atributos,pode-se até melhorar –, a perda de qualidadede alguns dos recursos naturais observada coma alteração da vegetação nativa4.

Deve-se ter em mente, porém, que os fa-tores – e as interações entre eles – que influen-ciam e, em última análise, determinam qualestratégia de uso da terra será predominante –extensificação ou intensificação – variam como contexto de cada época. Por exemplo, ospaíses desenvolvidos, séculos atrás, pautadosfortemente em aspectos econômicos e políticos decurto e médio prazo, praticamente eliminaram suavegetação nativa com o objetivo de aumentar a pro-dução agrícola. É certo que o conhecimento avan-ça, o contexto e os conceitos mudam; todavia, não

Fig. 1. Alguns fatores diretos e indiretos que atuamem escalas local, nacional e global influenciando adinâmica de uso da terra.Fonte: Elaboração do autor, a partir de Hazell e Wood (2008).

A Fig. 1 ilustra importantes fatores eco-nômicos, e alguns sociopolíticos, influencian-do a dinâmica de uso da terra com vistas aouso agrícola. Deve-se ter em mente, porém, queoutros importantes fatores influenciam de ma-neira decisiva as mudanças no uso da terra. Emparticular, aqueles de cunho ecológico (porexemplo, clima, aptidão do solo e biodiversi-dade), político (por exemplo, aspectos agráriose reservas indígenas) e humano (por exemplo,fatores culturais, preferências e aversão ao ris-co) devem ser considerados para um maior en-

4 Exemplificando, à parte o benefício dos ecossistemas de pastagens na transformação de alimentos sem utilidade para consumo humano (forragens, resíduos) emalimentos de elevado valor biológico (carne, leite), a partir de áreas muitas vezes de baixa aptidão agrícola, a planta forrageira e seu agroecossistema provêem outrosserviços ambientais importantes ao homem. Dentre outros, cita-se o aumento na matéria orgânica do solo, determinando maior taxa de infiltração e armazenamentode água no solo e, conseqüentemente, menor perda por escorrimento superficial e por erosão. Verifica-se outros serviços ambientais em pastagens bem manejadase produtivas, como a possibilidade de esse agroecossistema ser utilizado para a assimilação de resíduos, como esterco ou lodo de esgoto, ou de desempenhar papelpositivo sobre a qualidade do ambiente por meio da captura do CO2 da atmosfera e estocagem desse carbono no solo (MARTHA JÚNIOR et al., 2006).

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deixa de ser surpreendente o fato de que apenas0,3 % das florestas originais européias ainda exis-tam, embora sejam evidentes os esforços dessespaíses para estimular o reflorestamento com fins tu-rísticos e comerciais (MIRANDA, 2007). Essas me-didas, sem dúvida positivas pela ótica ambiental,são contrabalançadas em escala global por fatorespolíticos: as políticas agrícolas dos países da Orga-nização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE) – um importante fator indutorglobal – impactam o desenvolvimento e a dinâmicade uso da terra, em escala nacional e local, de di-versos países em desenvolvimento. Isso aconteceem razão da concorrência desleal gerada por essaspolíticas distorcedoras que, ao longo das últimas dé-cadas, têm determinado a redução dos preços deimportantes commodities agrícolas no mercado in-ternacional e anulado as vantagens comparativasde muitos países em desenvolvimento.

Ainda na questão da extensificação, é im-portante lembrar que os erros dos outros não po-dem ser utilizados para justificar os nossos. E, nãoobstante alguns casos de práticas de produçãoagropecuária inegavelmente inadequadas e no-civas ao ambiente, justificando as críticas da co-munidade internacional e nacional, deve-se ob-servar que o Brasil é hoje uma potência agrícolaque vem sustentando sua agricultura com um graude moderado a baixo de antropização de seusbiomas.5 Tal constatação foi feita em recente le-vantamento (Projeto Probio) coordenado pelo Mi-nistério do Meio Ambiente (BRASIL, 2007). Deacordo com esse estudo, em 2002, o grau deantropização nos biomas Amazônia, Pantanal,Caatinga, Cerrado, Pampa e Mata Atlântica erade 9,50 %, 11,54 %, 36,28 %, 38,98 %, 48,70 % e70,95 %, respectivamente.

Esses níveis relativamente baixos deantropização refletiram o desenvolvimento detecnologias para a produção agropecuária emambiente tropical que determinaram ganhos con-

sistentes em produtividade da agricultura brasilei-ra nas últimas décadas.6 Entre as safras de 1976/1977 e 2006/2007, a área destinada à produçãode grãos e oleaginosas aumentou 24 %; entre-tanto, a produção aumentou 180 %, em respostaa um ganho de produtividade de 126 % (Fig. 2).No caso da cultura da cana-de-açúcar, os resul-tados foram igualmente positivos; apenas nosúltimos 16 anos (1990–2006), a produtividademédia brasileira cresceu vigorosos 22 %, pas-sando de 61 t/ha para 74 t/ha de colmos (Fig. 3).

Entretanto, a intensificação dos sistemasde produção agropecuários tem sido encara-da, em diversas situações, com duras críticas.As justificativas baseiam-se em argumentosvariados, como a redução de postos de traba-lho no campo, aumento na demanda energéticae no consumo de fontes não-renováveis deenergia na extração, manufatura e aplicaçãodos insumos modernos, possibilidade de essesinsumos, quando mal utilizados, impactarem ne-gativamente o ambiente e a saúde. É interes-sante constatar, porém, que os críticos da in-tensificação geralmente concordam que a ten-dência de redução no preço das commoditiesagrícolas observada ao longo das últimas dé-cadas não foi ruim, pelo contrário, foi positivana medida em que minimizou pressões inflaci-onárias e favoreceu os segmentos mais pobresda população, que têm significativa proporçãoda renda comprometida com a alimentação.

Com efeito, os grandes beneficiários dapesquisa agrícola brasileira foram os consumi-dores, tanto em razão da queda nos preços re-ais dos alimentos – entre 1975 e 2000, a taxade redução média nos preços dos produtos dacesta básica foi de 5,25 % ao ano –, como emrazão da redução no risco de variabilidade noabastecimento e da melhoria na qualidade dosprodutos (BARROS et al., 2001). E os preços re-ais dos alimentos somente continuarão a cair se

5 Deve-se ter em mente que as análises do grau de antropização em escala de bioma, embora imprescindíveis, são insuficientes para explicar os impactos que ocorremem nível regional e local. Exemplificando, apesar de cerca de 60 % do Cerrado permanecer não-antropizado, em partes do sul desse Bioma a cobertura vegetal naturalsitua-se entre 13 % e 30 % e não forma áreas contínuas expressivas (SANO, 2008), fatos obviamente preocupantes.

6 Gasques et al. (2008) estimaram que a produtividade total dos fatores da agricultura brasileira, no período de 1975 a 2007, cresceu a uma expressiva taxa anual de3,27 %; no período 2000-2007, a taxa anual de crescimento da produtividade total dos fatores da agricultura brasileira foi ainda maior, chegando a 4,27 %. Nas últimastrês décadas, a produtividade total dos fatores foi responsável por cerca de 91 % do crescimento do produto agropecuário.

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Fig. 2. Índice de evolução da área, produção e produtividade de grãos e oleaginosas no Brasil entre as safras1976/1977 e 2006/2007.(1)Média de 1976/1977 = 100.Fonte: Elaboração do autor, a partir de Conab (2007).

Fig. 3. Evolução do índice de produtividade da áreapoupada pelos ganhos de produtividade na culturada cana-de-açúcar entre as safras 1990 e 2006.(1) Índice de produtividade em 1990 = 1,00.Fonte: Elaboração do autor, a partir de Conab (2007).

a taxa de crescimento na oferta continuar supe-rando as taxas de aumento na demanda, o quenas últimas décadas foi viabilizado, prioritaria-mente, pela intensificação da produção agrícola(Fig. 2).

Ademais, na nossa opinião, é inegável quea intensificação, pelo seu efeito “poupador de ter-ra”, tem sido um fator majoritário que contribuiupositivamente para objetivos econômicos, soci-ais e ambientais. Estamos muito melhor hoje, comoresultado desses ganhos de produtividade, do quese eles não tivessem ocorrido. Infelizmente, essebenefício da intensificação, no calor de muitasdiscussões, tem sido recorrentemente esquecido.Vamos lembrá-lo: se a produtividade de grãos tives-se permanecido nos níveis de 1976/1977 (1,3 t/ha),teria sido necessário desmatar cerca de 58,3 mi-lhões de hectares para acomodar a produção bra-sileira de grãos e oleaginosas de 2006/2007, de131,4 milhões de toneladas (Fig. 4). No caso dacana-de-açúcar, 1,34 milhões de hectares foram“poupados do cultivo” entre 1990 e 2006 em res-posta aos ganhos em produtividade (Fig. 3).Assim, é inevitável ponderar: qual o benefícioambiental de se ter evitado o desmatamento decerca de 60 milhões de hectares, por exemplo,em termos de preservação das florestas, da

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Fig. 4. Evolução da área cultivada e da área “poupada” pelos ganhos em produtividade das lavouras de grãose oleaginosas no Brasil no período de 1976/1977 a 2006/2007.Fonte: Elaboração do autor, a partir de Conab (2007).

biodiversidade e de outros recursos naturais?E pelo lado econômico, como estaria o País setivesse sido necessário investir cerca deUS$ 300,00/ha para desmatar essa área toda?

Não obstante os ganhos em produtivida-de agropecuária e os níveis de antropizaçãobaixos a moderados dos biomas Amazônia eCerrado, parece quase inevitável que em umfuturo próximo iremos nos ver às voltas com bar-reiras não-tarifárias às exportações brasileirasde soja e de carne bovina (e possivelmente deoutros produtos agrícolas) provenientes de re-giões de fronteira agropecuária. Isso apesar dobaixo grau de antropização e densidadepopulacional dessas localidades, e do fato de odesenvolvimento local estar sendo fortementefavorecido pela agricultura.

Em parte, isso reflete a posição de certosagentes que acabam por sensibilizar equivo-cadamente a sociedade menos informada. A ques-tão da soja na Amazônia é emblemática: é ine-gável que a pesquisa agrícola tropical possibili-tou que a soja fosse cultivada em latitudes cada

vez menores, atingindo, atualmente, localidadesna fronteira do Cerrado com a Amazônia. Acon-tece que, por questões políticas, estados como oMato Grosso e o Tocantins, de elevada propor-ção de Bioma Cerrado, fazem parte da Amazô-nia Legal; e isso tem gerado calorosas discussõessobre a “soja na Amazônia” e, com esse pano defundo, vem o desconforto das comunidades inter-nacional e nacional com o plantio de soja em la-titudes mais baixas.

O trabalho de Vera-Diaz et al. (2008) ébastante ilustrativo nesse aspecto. Esses auto-res, apesar de reconhecerem que a AmazôniaLegal não considera as características ecoló-gicas do Bioma Amazônia – que é apenas umadivisão política –, criticaram duramente as po-líticas do Brasil que acabam por estimular aprodução de soja na região da Amazônia Le-gal, como, por exemplo, políticas de fomento àadequação da infra-estrutura de transportes.Sem nos estendermos nessa discussão, essesautores apresentaram mapas de produtividade ede resultado econômico potencial para a soja queclaramente mostraram a inviabilidade bioeconô-

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mica da cultura no Bioma Amazônia. Ficou pa-tente, no entanto, o robusto potencial de produ-ção de soja nas áreas de Cerrado da AmazôniaLegal; e é exatamente nessas partes do Cerradoe, em menor escala, na fronteira desse bioma como Bioma Amazônia que se apóia a argumentação– em larga medida infundada – de que “a sojaestá destruindo a Amazônia”.

Uso da terra: alimentosversus biocombustíveis

A recente alta no preço dos alimentos (esti-mativas do Fundo Monetário Internacional (FMI),por exemplo, indicaram que esses preços subi-ram 48 % desde o final de 2006 e cerca de 80 %nos últimos três anos) tem suscitado debates emdiferentes frentes, como as pressões inflacionári-as decorrentes desse cenário e a insegurança ali-mentar que pode surgir e/ou se agravar nos paí-ses/regiões mais pobres. Num tom por vezes alar-mista, surgem argumentos de que essa elevaçãonos preços é resultado do aumento na produçãode biocombustíveis em escala global e, por essalógica, deve-se conter a expansão da área culti-vada com biocombustíveis.

Vamos aos fatos: os biocombustíveis e, deespecial interesse para este artigo, o etanol pro-veniente da cana-de-açúcar de maneira algumatêm sido o grande vilão por trás da alta no preçodos alimentos! Outros fatores – problemas climá-ticos em importantes países exportadores de pro-dutos agropecuários; forte expansão da demandano mundo, em particular na Ásia; alta no preçodo petróleo; baixos estoques mundiais de alimen-tos; movimentos especulativos em resposta à cri-se imobiliária americana; desvalorização do dó-lar –, em adição à recente expansão da área plan-tada com biocombustíveis, vêm contribuindo for-temente para os maiores preços das commoditiesagrícolas e, conseqüentemente, para as pressõesinflacionárias pelo mundo e para o agravamen-to da segurança alimentar nos países/regiõesmais pobres. Vale lembrar que o grande res-ponsável pela elevação no preço dos alimen-tos nos últimos anos, no que concernebiocombustíveis, tem sido a expansão da área

destinada à produção de etanol de milho nosEstados Unidos.

E como fica a questão de alimentos versusbiocombustíveis? Diversos agentes defendema tese de que, embora seja possível um eventu-al conflito alocativo entre esses diferentes usosda terra em escala global, no Brasil, tal compe-tição não será relevante.

Com relação à primeira assertiva, que tratada competição de alimentos versus biocombustí-veis em escala global, ela parece estar se confir-mando. Estudo recente da Universidade de Iowa(FABIOSA et al., 2008) indicou que a expansão daprodução de etanol nos Estados Unidos teria efei-tos globais na alocação de terras, na medida emque os maiores preços de grãos e oleaginosasseriam transmitidos aos mercados globais. Demaneira semelhante, Johansson e Azar (2007)avaliaram cenários para os Estados Unidos, parao ano de 2030, encontrando que, com taxas decarbono de US$ 20,00/t de carbono (C), apenasterras de melhor qualidade, cultivadas com grãos,seriam destinadas à produção de biocombustíveis.As terras de pastagem de melhor qualidade eaquelas de pior qualidade – nesse último casocom capacidade de produzir 40 % da produ-ção obtida em terras de cultura – somente seri-am deslocadas para a produção de biocombus-tíveis quando o valor das taxas de C atingissemUS$ 40,00/t e US$ 150,00/t, respectivamente. Taldinâmica alocativa no uso da terra ocasionariaaumento no preço dos grãos. McNew e Griffith(2007) ratificaram essa tendência, mostrando au-mento nos preços dos grãos de até US$ 0,125/bushel (um bushel de milho equivale a 25,397 kg)nas áreas próximas às usinas de álcool, verifican-do estímulos positivos nos preços até uma distân-cia de cerca de 110 km da usina.

Isso nos leva à questão de como fica acompetição pelo uso da terra entre alimentosversus biocombustíveis no Brasil. Pelos estudosdisponíveis até o momento, observa-se que,embora exista a possibilidade de conflitoalocativo entre alimentos e biocombustíveis em

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escala global, possivelmente tais questões serãomenos relevantes no Brasil. As razões? Ainda háespaço para, em caso de necessidade, expandira área agrícola do País. Contudo, é na verdadede importância destacada o fato de não ser nemmesmo necessário promover novos desmata-mentos, dada a possibilidade de se aumentar aoferta agrícola, quer seja para a produção de ali-mentos ou de biomassa para a produção de ener-gia, por meio de realocação no uso da terra,marcadamente pelo deslocamento de pastagensde baixa produtividade no Cerrado.

Aceita-se, com certa naturalidade, que taldinâmica de uso da terra ocorrerá prioritariamenteno Cerrado, graças à localização e disponibilida-de de recursos (insumos, infra-estrutura etc.) daregião a esse reordenamento no uso da terra. Re-forçando essa tendência, tem-se o baixo retornoeconômico projetado para a pecuária extensivae a considerável área de pastagens em degrada-ção – algo ao redor de 35 milhões de hectares –,que encorajam a ocupação dessas áreas com al-ternativas de uso da terra mais eficientes(MARTHA JÚNIOR et al., 2007). Nessa proposta,ter-se-ia, portanto, uma situação ganha-ganha, emque a oferta de produtos agrícolas e de bioenergiaseria aumentada, sem promover novosdesmatamentos, ao mesmo tempo em que áreasde pecuária de baixa produtividade ou degrada-das seriam recuperadas por atividades agrícolas“mais eficientes”, como lavouras de grãos, cana-de-açúcar ou uma pecuária produtiva.

Essas modificações no uso da terra nãoafetarão apenas o meio rural; possivelmente al-terarão, também, a configuração dos espaçosurbanos. Desse modo, além das questões rela-cionadas ao uso da terra no meio rural, outrosdesafios se colocam ao desenvolvimento regi-onal, como um possível estímulo que o setoragropecuário pode gerar sobre a indústria e ocomércio, e o crescimento de todos esses seto-res, de forma conjunta, sobre questões sociais(renda, empregos etc.) e ambientais (no campoe no meio urbano). Como contraponto, as ativi-dades deslocadas podem exercer pressãoambiental e causar conflitos sociais indesejá-

veis na fronteira agrícola e, na região de ex-pansão de biocombustíveis, desestruturação dascadeias produtivas sobrepujadas pela nova di-nâmica de uso da terra.

Expansão de biocombustíveisversus uso da terra no Cerrado

Analisando em um primeiro momento aquestão da produção agrícola, considere queas áreas de pastagem serão substituídas porgrãos e/ou por cana-de-açúcar – por um lado,pelo fato de essas lavouras serem potencial-mente mais rentáveis ao produtor rural e, poroutro, em resposta às maiores facilidades parao financiamento da produção de lavouras emcomparação à pecuária. O próximo passo se-ria prospectar qual atividade teria uso preferen-cial do solo, ou seja, a produção de alimentosou a de bioenergia.

Conforme discutido por Johansson e Azar(2007), se a alocação de terra for feita por pro-dutores/empresas rurais, a expectativa é queesses agentes – agindo como maximizadores delucro – escolherão o tipo de terra potencialmen-te mais rentável. E, a priori, não há razão parapensar que a terra degradada/em degradação,de baixa qualidade, será a mais rentável.

Azar e Larson (2000), considerando a Re-gião Nordeste, focaram na questão da qualidadeda terra versus a tomada de decisão para a pro-dução de biocombustíveis (eucalipto para produ-ção de energia). Os autores encontraram que aexpectativa de melhor retorno econômico para aprodução de eucalipto em terras de melhor quali-dade mais do que compensou os custos adicio-nais para adquirir essas áreas em comparação àsterras mais baratas e de pior qualidade. Em outraspalavras, o preço da terra não foi suficientementeelevado para desencorajar a produção debioenergia em terras de melhor qualidade, indi-cando que não se observou a expectativa de aprodução de biocombustíveis ser ferramenta paraa recuperação de áreas degradadas.

Se a dinâmica de uso da terra no Cerradoresponder à lógica relatada nos trabalhos de

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Johansson e Azar (2007) e de Azar e Larson(2000), seria de se esperar que a cana-de-açúcardeslocasse, em um primeiro momento, áreas desoja e milho em terras de melhor qualidade nasproximidades do principal centro de produçãoe processamento de açúcar e álcool no País ecom infra-estrutura mais adequada – o Estadode São Paulo. Em curto prazo, as regiões po-tencialmente mais afetadas por essa expansãoda cana-de-açúcar para o Cerrado,7 como defato já se vem observando pelo avanço de no-vos projetos de usinas, seriam o Triângulo Mi-neiro, o sul-sudoeste goiano e o centro-leste doMato Grosso do Sul (Fig. 5).

atividade agrícola que mais absorveu área –0,97 milhão de hectares –, seguida pela soja epelas florestas plantadas (eucalipto e pinus), quedeslocaram outros 0,20 milhão e 0,21 milhãode hectares, respectivamente. As pastagens fo-ram a cultura que mais cedeu área – 1,0 mi-lhão de hectares –, seguida pelas culturas domilho, do feijão, do café, do arroz e do citrus(0,193 milhão, 0,054 milhão, 0,0320 milhão,0,0217 milhão, e 0,0212 milhão de hectares,respectivamente).

Contudo, ao longo da última década, in-dústrias de processamento de grãos e de olea-ginosas, de aves e de suínos se instalaram nes-sas regiões do Cerrado próximas a São Paulo,como o sudoeste goiano, em busca de preçosde matérias-primas mais competitivos e, no casoda avicultura e suinocultura, também como es-tratégia para redução de risco sanitário. Espe-ra-se que essas empresas adotem estratégiaspara não perder as vantagens competitivas dopólo industrial instalado nessas regiões, que ficapotencialmente posto em risco pelo avanço dacana-de-açúcar. Portanto, paralelamente à pres-são da cana-de-açúcar para substituir áreas degrãos e de pasto em terras de melhor qualida-de, haverá crescente pressão para que áreasde pastagem sejam substituídas, nessas regiões,pelas lavouras de grãos em expansão ou “de-salojadas” pela produção de bioenergia.

Ademais, os elevados preços da soja e domilho, nos últimos meses, têm dificultado o deslo-camento dessas culturas pela cana-de-açúcar:essas lavouras – cana-de-açúcar e grãos – vêm,no entanto, exercendo forte pressão para deslo-car áreas de pastagens. Não obstante, as proje-ções de crescente urbanização e de aumento narenda da população indicam aquecimento nademanda por carnes, o que, potencialmente, vaiexacerbar ainda mais esse eventual conflitoalocativo entre os diferentes usos da terra.

7 De acordo com a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), a área cultivada com a cultura da cana-de-açúcar, em 2006-2007, foi de 6,3 milhões de hectares.Para os anos de 2010-2011, 2015-2016 e 2020-2021, a Unica projeta que a área ocupada com cana-de-açúcar será de 8,5 milhões, 11,4 milhões e 13,9 milhões dehectares, respectivamente (Marcos Jank, comunicação pessoal, palestra ministrada no I Workshop do Observatório do Setor Sucroalcooleiro, auditório da Faculdadede Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA/USP), campus de Ribeirão Preto, SP, 10 de abril de 2008). Com esses valores, calcula-se que a áreacom cana-de-açúcar aumentaria a uma taxa anual de 5,65 % ao ano (2006-2007 a 2020-2021), correspondente a uma expansão de 7,6 milhões de hectares no finaldo período.

Fig. 5. Zonas de expansão prioritária da cana-de-açúcar no Cerrado.

O trabalho de Camargo et al. (2008), comdados do Estado de São Paulo, suporta essa hi-pótese de que a expansão da cana-de-açúcarse dará prioritariamente sobre áreas de pasta-gens. Com base no período de 2001 a 2006, osautores mostraram que a cana-de-açúcar foi a

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Com a substituição da área de pastagenspor grãos ou por cana-de-açúcar, espera-seuma tendência de valorização da terra, sendoinevitável questionar quais os impactos sobre aprodução pecuária na região do Cerrado quefaz divisa com São Paulo e que representa amaior extensão de elevada concentração debovinos no Brasil. Duas possíveis alternativasseriam: a) intensificação da produção pecuá-ria, com permanência da atividade nessas re-giões de maior valor da terra;8 b) deslocamentoda atividade de pecuária para regiões adjacen-tes a essa zona de expansão que faz divisa comSão Paulo e, eventualmente, para a região defronteira agrícola, exercendo pressão para au-mentar as taxas de desmatamento (MARTHAJÚNIOR et al., 2007).

No primeiro caso, seria necessário inten-sificar o uso de capital na pecuária, o que nãotem sido fácil nos últimos anos em razão da re-dução no poder de compra do setor, reflexo determos de troca desfavoráveis e de ganhos in-suficientes em produtividade (BARROS et al.,2004). Apesar da virada no ciclo pecuário nofinal de 2007, a concomitante alta nos insumos– em particular dos fertilizantes – deixa um aler-ta com relação aos termos de troca para a in-tensificação em sistemas pastoris não inseridosna integração lavoura-pecuária.

Na segunda opção – deslocamento de gran-des efetivos bovinos Cerrado adentro, em dire-ção à Amazônia –, aumentar-se-ia possivelmen-te a instabilidade social na região de fronteira agrí-cola, marcadamente no arco do desmatamento,com possíveis implicações ambientais negativas.Ademais, é importante notar uma terceira opçãono caso do deslocamento de pastagens pela cana-de-açúcar ou pelas lavouras de grãos no Cerradopróximo a São Paulo: a permanência da pecuáriana região, porém, às custas de novos desmata-mentos ou em áreas paulatinamente mais margi-

nais – em ambos os casos, “minerando” os recur-sos naturais.

E quais seriam os efeitos advindos dessaterceira possibilidade? A questão daextensificação já foi abordada em certo deta-lhe, valendo a pena ressaltar que parte consi-derável das regiões nessa zona de expansãoda cana-de-açúcar apresenta níveis de cober-tura vegetal natural entre 13 % e 30 % e nãoforma áreas contínuas expressivas (SANO,2008), fatos obviamente preocupantes. Comrelação ao agravamento no quadro de degra-dação das pastagens, chama-se atenção parao importante papel dessa zona de expansão dacana-de-açúcar na manutenção da ofertahídrica nacional, marcadamente da Bacia doParaná-Paraguai, que abastece uma das prin-cipais regiões produtoras de grãos da Américado Sul. As extensas áreas de pastagens em de-gradação causam, potencialmente, impactonegativo sobre o ciclo da água das principaisbacias hidrográficas brasileiras, em razão daredução no potencial de recarga hídrica.

Deve-se considerar, como contraponto,que os solos de baixa fertilidade do Cerrado,ao longo de décadas, têm sido transformadosde “terra de segunda, de baixa qualidade” em“terra de primeira”, mediante investimentos decapital (REZENDE, 2002; LOBATO; SOUSA,2004). Essa dinâmica tem permeado o sucessoda produção de grãos no Cerrado e podeviabilizar o aumento na oferta de terras de me-lhor qualidade, a partir da renovação/recupe-ração de pastagens degradadas via integraçãolavoura-pecuária (MARTHA JÚNIOR et al.,2007). O aumento na oferta de terras de melhorqualidade teria efeito positivo para as lavouras– que, em rotação, vêm em seqüência às pas-tagens –, ao melhorar, por exemplo, a eficiên-cia de uso de nutrientes, e poderia minimizareventuais conflitos alocativos com relação ao

8 A área total de pastagens cultivadas no Cerrado, em 2002, foi estimada em 54 milhões de hectares (SANO, 2008). Nossos cálculos preliminares, com base emcomunicação pessoal de E. Sano, apontaram que na área de expansão da cana-de-açúcar indicada na Fig. 5 (Triângulo Mineiro, sul-sudoeste goiano e leste de MatoGrosso do Sul), a área de pastagem cultivada, em 2002, era de 15 milhões a 16 milhões de hectares. Assim, ainda há certo espaço para acomodar a expansão de grãose de cana-de-açúcar em áreas de pastagem nessas partes do Cerrado, pelo menos em curto prazo; presume-se, com base nos elementos disponíveis atualmente, queas atividades agropecuárias menos competitivas (lavouras e pecuária de baixa produtividade e de resultado econômico pouco atraente) serão paulatinamenterealocadas para as partes do Cerrado adjacentes à essa zona de expansão que faz divisa com São Paulo e, eventualmente, para a fronteira desse bioma com o BiomaAmazônia.

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uso da terra no Cerrado que faz fronteira comSão Paulo.

Também interessante é o fato de os ganhosem produtividade das lavouras e da pecuária, naintegração lavoura-pecuária, poderem, potenci-almente, reduzir a pressão para a abertura denovas áreas – pressão esta direta ou indiretamen-te verificada em resposta à produção de alimen-tos ou de biocombustíveis. A inclusão de florestasnesses sistemas constitui opção interessante paraaumentar, adicionalmente, o aporte de recursosao empreendimento, tanto pela venda direta deprodutos florestais como pela possibilidade decomercialização de créditos de carbono. Soma-se a isso o fato de a diversificação de atividadesser alternativa interessante para reduzir os riscosde produção e para tornar menos volátil a rendana propriedade, no tocante a variações de preçose de produtividades entre anos.

Expansão de biocombustíveisversus setor urbano (indústriae serviços) no Cerrado

Além das questões relacionadas ao uso daterra no meio rural, outros desafios se colocam aodesenvolvimento regional, como, por exemplo, asquestões sociais e de geração de renda, e o efeitomultiplicador ou o valor adicionado das culturase das diferentes alternativas de uso da terra. Nes-se processo, ainda é importante considerar aspec-tos relacionados aos investimentos para uma even-tual adaptação da infra-estrutura necessária ànova atividade, com a obsolescência de capitaisespecíficos presentes nas regiões e voltados paraas atividades que serão sobrepujadas. Do pontode vista social, esse capital que se tornaria obso-leto deveria ser considerado como custo no pro-jeto de investimento da nova atividade.

Ademais, com a mudança no fluxo derecursos via tributos com a substituição de umaagroindústria por outra, torna-se necessárioquantificar, adequadamente, quais serão asperdas e ganhos dos municípios. Por exemplo,é possível que com a substituição de frigorífi-cos por usinas de álcool, a arrecadação de im-

postos diretos seja reduzida. Todavia, o efeitoglobal sobre as receitas dos municípios e o bem-estar de sua população vai depender do estí-mulo – positivo ou negativo, direto ou indireto– que a cadeia da cana-de-açúcar poderá ge-rar, inclusive sobre outros setores econômicos.E esse efeito tem sido, geralmente, bastantepositivo. Desse modo, a comparação para aavaliação das melhores alternativas tanto parao indivíduo como para a região (avaliação so-cial) devem considerar o conjunto de custos ede benefícios de diferentes alternativas, umavez que a expansão não se dará em um vazioeconômico e afetará sistemas econômicos esociais estabelecidos.

Contudo, em face dos atuais preços ele-vados do milho e da soja, que devem persistirpor alguns anos, e da recente recuperação dospreços dos produtos da pecuária bovina, é pos-sível pensar – até certo ponto – em uma convi-vência de várias agroindústrias, como aquelasligadas à pecuária, aos grãos e à cana-de-açú-car, nessas zonas de expansão canavieira. Emparte dessas áreas de Cerrado nas quais a cana-de-açúcar vem avançando, ainda há espaçopara essa convivência, o que certamente é bas-tante positivo, pois pode reduzir o avanço defrentes agropecuárias em áreas na fronteira coma Amazônia.

Uma outra questão a ser considerada emrelação à expansão da agricultura (alimentos eenergia) refere-se ao impacto macroeconômico,denominado por alguns autores como a “doençaholandesa”. Tal fenômeno seria resultado de umamplo sucesso na produção e exportação decommodities que acabaria levando à valorizaçãocambial e à pressão para desindustrialização daeconomia (NAKAHODO; JANK, 2006). Para ve-rificar se o desempenho econômico favorável dascommodities agrícolas proporcionaria esse efei-to, é importante avaliar como a expansão agro-pecuária gera demanda por um conjunto de pro-dutos industriais (bens de capital, fertilizantes etc.)e como a ampla oferta de insumos agrícolas podeinduzir novos produtos. No caso da cana, porexemplo, pode-se pensar no amplo setor de bensde capital, serviços de engenharia, fornecedo-

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res das usinas e as potencialidades de desen-volvimento dos setores de alimentos, de bebi-das, alcoolquímico e de fármacos, entre outros.Igual raciocínio seria aplicável ao impacto daprodução de grãos sobre as cadeias de carnede frango e suína. Dessa forma, o efeito da ex-pansão e do sucesso da agricultura sobre a in-dústria é incerto, podendo tanto penalizá-la pelavalorização cambial como estimulá-la pelo in-cremento na demanda por produtos industriaisou pela oferta de insumos a custos mais baixose competitivos.

Considerações finaisConforme a escala (global, nacional ou

local) e o horizonte temporal (curto, médio elongo prazo) de análise, o conflito alocativoentre a produção de alimentos e de biocom-bustíveis pode ser mais ou menos relevante.Diversos drivers estarão atuando nas próximasdécadas no sentido de estimular a expansão daprodução de alimentos e de bioenergia no Cer-rado e tal dinâmica invariavelmente influenci-ará o grau de intensificação dos sistemas deprodução e a magnitude do avanço da frontei-ra agrícola em direção à Amazônia.

Os níveis de antropização baixo a mode-rado dos biomas Amazônia e Cerrado indicamque parcela importante do patrimônio do Paíscontinua preservada. Assim, para que as ex-pressivas transformações negativas que ocor-reram em partes desses biomas não sejam re-petidas em outras localidades, são indispensá-veis planejamento, investimento (capital e hu-mano) e ações multidisciplinares e coordena-das, por vezes envolvendo diferentes agentesde visões conflitantes sobre um dado assunto,no sentido de equacionar os diferentes desafiosque se acumulam nas esferas econômica, soci-al e ambiental. Somente assim a agricultura ga-rantirá seu papel como indutora do desenvolvi-mento em bases sustentáveis.

No recente debate sobre os benefíciosambientais dos biocombustíveis, os ganhos

energéticos resultantes desses produtos vêmsendo questionados, com o pleito de que estu-dos mais antigos não computaram integralmenteo balanço (energético) global associado à produ-ção, ao processamento e ao transporte desses pro-dutos. A dinâmica de uso da terra direta ou indire-tamente associada à produção de biocombus-tíveis, pouco mencionada até então, deverá sercomputada em análises futuras. E quando isso éfeito, ações de desmatamento negam eventuaisbenefícios energéticos aos biocombustíveis ou, namelhor das hipóteses, postergam balanços positi-vos de energia no sistema em décadas(RIGHELATO; SPRACKLEN, 2007; SEARCHINGERet al., 2008). Ainda que se reconheça o “jogo po-lítico” por trás de algumas das argumentações decertos agentes e setores da sociedade, é inegávelque a opção de expandir a produção agropecuáriae de bioenergia, pela promoção de novosdesmatamentos, deverá enfrentar crescente resis-tência.

Portanto, a estratégia para acomodar ali-mentos e biocombustíveis deverá se centrarprioritariamente na intensificação e no aumen-to da eficiência global desses sistemas. E nessecontexto, as análises dos impactos da expan-são de biocombustíveis em escala nacional,embora imprescindíveis, são insuficientes paraexplicar mudanças no uso da terra e no desen-volvimento em nível regional e local; mais ele-mentos são necessários para entender o cará-ter complexo e multidisciplinar, mas ainda in-certo, desses impactos.

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O mercadointernacionalsucroalcooleiropara o Brasil

Rogério Edivaldo Freitas1

Marco Aurélio Alves de Mendonça2

Resumo: O objetivo deste trabalho foi discutir as possibilidades e restrições para os produtoresbrasileiros nos mercados internacionais de açúcar e etanol. A metodologia constituiu-se de análi-ses descritivas das principais oportunidades existentes nos respectivos mercados. Discutiram-seas prováveis novas oportunidades associadas às necessidades de fontes alternativas de energia, eos impactos decorrentes da mudança no regime açucareiro europeu. No caso do açúcar, o Brasilpode aproveitar-se de um bom momento porque há uma nova articulação internacional no setor,associada às mudanças na União Européia. Ao mesmo tempo, o uso do etanol está alinhado comas disciplinas do Protocolo de Kyoto. Assim, por certo, o mix de produção açúcar/etanol é incerto.Ele depende dos preços do etanol e do açúcar nos mercados doméstico e internacional, e estaráassociado às decisões de países terceiros de substituir o petróleo como principal fonte de energia.

Palavras-chave: açúcar, comércio internacional, etanol.

Abstract: This work aimed to discuss the possibilities and restrictions in the international marketsof sugar and ethanol for Brazilian producers. The methodology employed descriptive analyses ofthe main opportunities in the respective world markets. The likely new opportunities associated toneeds of alternative sources of energy and the impacts related to changes in the European Union’ssugar regime were discussed. In general, the sugar/alcohol sector in Brazil faces good prospectsin global markets of sugar and ethanol. In the case of sugar production, Brazil can take advantageof the moment because there is a new international articulation in sector, associated to changes inthe European Union. Concurrently, the use of ethanol is aligned with the Kyoto Protocol disci-plines. Surely the final mix of sugar/ethanol production is uncertain. It depends on the sugar andethanol prices in domestic and foreign markets, and it will be tied to decisions of third countries insubstituting oil as main energetic source.

Keywords: sugar, international trade, ethanol.

1 Doutor em Ciências (Economia Aplicada) pela Universidade de São Paulo (USP), técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa EconômicaAplicada (Ipea). E-mail: [email protected].

2 Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), técnico deplanejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). E-mail: [email protected].

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IntroduçãoObserva-se hoje um intenso movimento

no setor sucroalcooleiro brasileiro, motivado pordois outros fatores. Em primeiro lugar, aiminência de consolidação do mercado inter-nacional de etanol (álcool etílico de biomassa)como principal alternativa de combustível àcrescente escassez relativa de petróleo, tendên-cia que deve se acentuar nas próximas duasdécadas. Como segundo ponto, as perspectivasde melhoria nos preços mundiais do açúcar, porconta do processo de reforma do regime açu-careiro europeu. A União Européia (UE), queaté então tem praticado uma política de prote-ção doméstica e intervenção maciça na suaprodução e exportação de açúcar, está agindono sentido de cumprir as disciplinas de redu-ção de subsídios determinadas pela Organiza-ção Mundial do Comércio (OMC).

Um menor nível de intervenção da UE sig-nificará um espaço para maiores vendas de açú-car brasileiro àquela região e, sobretudo, uma ele-vação dos preços mundiais do produto por contade queda nas exportações européias de açúcar.

Ao mesmo tempo, projeta-se um cresci-mento da renda mundial no período 2005–2014,com impactos positivos sobre a demanda deaçúcar nos mercados globais. Sobre esse pon-to, observe-se a Fig. 1.

No Brasil, tais acontecimentos têm umaimportância crucial para as estratégias do se-tor produtor de cana-de-açúcar e setores adja-centes. Tanto por conta da reconhecida capa-cidade brasileira de produção de cana-de-açú-car como pelo desenvolvimento de tecnologiae know-how nacionais para a obtenção de di-versos tipos de açúcares e diferentes tipos dealcoóis a partir da cana. Esse pano de fundo é ocontexto de inspiração para o presente texto.

O objetivo aqui é discutir as possibilidades erestrições que se apresentam nos mercados inter-nacionais de açúcar e etanol para os produtoresbrasileiros do setor. O trabalho contemplará cincoseções, além desta introdução. A segunda seçãoapresenta a metodologia e dados. A terceira seçãoreporta uma apresentação do setor sucroalcooleirono Brasil. A quarta parte discute os mercados inter-nacionais e o suprimento de parte dessa demandapela produção brasileira. Na quinta parte, apresen-tam-se alguns elementos acerca da capacidade deexpansão da produção sucroalcooleira no Brasil.A última seção finaliza o texto e aborda as possibi-lidades e restrições que se apresentam para o setorsob o contexto aqui analisado.

Metodologia e dadosComo estratégia metodológica, foram em-

pregadas análises descritivas e qualitativas dasprincipais oportunidades em curso nos merca-dos internacionais de açúcar e etanol, bemcomo acerca das dificuldades e escolhas pre-sentemente à frente dos produtores brasileiros.

Para tal, foram utilizados dados da OECDe FAO (2005) e diversas análises discutindo asprováveis novas oportunidades associadas aouso de outras fontes de energia que não o pe-tróleo, assim com dados do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE, 2007) e da As-sociação Nacional dos Fabricantes de Veícu-los Automotores (ANFAVEA, 2007).

O setor sucroalcooleiro no BrasilA cana-de-açúcar é parte da história eco-

nômica do Brasil e foi localmente aproveitada

Fig. 1. Taxa média projetada de crescimento anualda renda e da população, 2005–2014.Fonte: OECD e FAO (2005).

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como fonte primária de energia na produçãode combustível alternativo à gasolina quandodos choques do petróleo na década de 1970.

A longa trajetória do País na produção decana-de-açúcar e os maciços investimentos noProálcool constituíram-se nos pilares para odesenvolvimento de tecnologia e conhecimen-tos suficientes para expandir de forma signifi-cativa a produção de cana-de-açúcar no Bra-sil, ainda que a cultura tenha se mantido emtorno de 11 % de toda a área plantada com la-vouras permanentes entre 1990 e 2006.

Nesse mesmo intervalo de tempo, a quan-tidade produzida cresceu 74 %, enquanto aárea de cultura expandiu-se em 63 %. O au-mento de produtividade da terra no período foide cerca de 7 % e esteve associado basica-mente à melhoria de insumos, aos tratos cultu-rais, às novas variedades, e ao manejo. Sobreesses números, observe-se a Fig. 2 a seguir.

No momento, as unidades produtoras, porvia de regra, trabalham em regime misto, ouseja, produzem açúcares e alcoóis. A combina-ção de açúcar e álcool não é livre e depende devários fatores, como teor de sacarose da cana,presença de chuvas no período de produção, ca-racterísticas tecnológicas da planta industrial decada usina e destilaria, estratégias dos grupos deprodutores, e contratos de entrega já firmados nomercado internacional. Em média, cerca de85 % da produção de cana-de-açúcar já estádirecionada para açúcares ou alcoóis, enquanto15 % estão abertos à escolha do produtor.

No cenário internacional, há pelo menosdois grandes mercados de etanol que podem seconsolidar brevemente. De um lado, há a pers-pectiva de crescentes aquisições do produto comofonte combustível alternativa ao petróleo, em li-nha com as disciplinas e incentivos estabeleci-dos no Protocolo de Kyoto, sobretudo no caso dospaíses desenvolvidos. Ao mesmo tempo, é bas-tante provável que a China se torne uma grandeimportadora de fontes energéticas alternativas,seja em decorrência de seu dinamismo econômi-co, seja por suas restrições de segurança alimen-tar em ocupar áreas agrícolas para produzir cana-de-açúcar e, posteriormente, etanol.

No que se refere ao açúcar, vários traba-lhos já avaliaram o caráter protecionista históricodesse produto nos países ricos (BOUËT, 2000;GIBSON et al., 2001; JANK et al., 2002; FREITAS,2004). Esse condicionante sempre se traduziu emrestrições à importação por parte dos mercadosde maior renda e em deslocamento da produçãode açúcar de países como Brasil e Austrália, re-conhecidamente competitivos no produto.

Os recentes desdobramentos do painel doaçúcar na OMC e a reforma do regime açucarei-ro europeu devem significar aumento dos preçosinternacionais do produto e maior acesso ao mer-cado euro-comunitário. Trata-se de oportunidadesde ganho de mercado (UE)3 para o Brasil emelhoria de receita de exportações, por via deaumento dos preços internacionais do produto.

Fig. 2. Quantidade produzida e área plantada de cana-de-açúcar, 1990–2006.Fonte: IBGE (2007).

Ao mesmo tempo, a atividade deprocessamento de cana-de-açúcar viveu uma eta-pa de aperfeiçoamento no processo de obtençãodos derivados da cana, com repercussões sobrea tecnologia presente nas respectivas usinas edestilarias. Esse movimento foi particularmentemais intenso a partir de 1990, com a redução doaporte de subsídios públicos para o setor.

3 É significativa a produção de açúcar a partir de beterraba no Velho Mundo. O custo de produção de uma tonelada de açúcar a partir da beterraba estava, em2004, ao redor de US$ 686 na UE, enquanto o custo de produção de uma tonelada de açúcar a partir da cana-de-açúcar situava-se em US$ 98 nas usinas doCentro-Sul do Brasil (RECONSTRUÇÃO..., 2004).

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Internamente, observa-se um aquecimen-to no mercado de veículos movidos a álcool,conforme a Fig. 3.

senvolvidos (em especial os EUA, a UE e o Ja-pão), além de Coréia do Sul e China, os princi-pais candidatos às aquisições de grandes volu-mes de etanol brasileiro.

Segundo Gomes (2004), a demanda poten-cial pela simples adição de etanol à gasolina naproporção de 3 % implicaria uma demanda extrade 5,928 bilhões de litros por ano desse tipo deálcool5. Esse dado reforça a necessidade de seconsolidar um mercado internacional do produ-to, no qual a presença de outros ofertantes dêliquidez ao mercado e propicie ao Brasil exercero papel de principal fornecedor. Além disso, nãose pode perder de vista a estrutura logística (trans-porte e estocagem) que essa demanda adicionalpelo etanol brasileiro significaria.

Também é preciso assinalar que os EUAe a UE já implantaram diversos programas paraexpandir suas produções de etanol a partir decereais, notadamente milho e trigo. É razoávelacreditar que em curto e médio prazos essesmercados se apresentem mais resistentes àcompra direta de etanol nos mercados mundi-ais, em favor das produções locais e de seusobjetivos estratégicos específicos.

Entretanto, são áreas que não dispõem denovas terras para a expansão agrícola, e, nocaso europeu, há também interesses de aquisi-ção de etanol para cumprimento das metas as-sumidas no Protocolo de Kyoto.

No caso dos países asiáticos, suas restri-ções específicas apontam para a constituiçãode acordos bilaterais de fornecimento do etanolbrasileiro. É importante negociar os acordos e,paralelamente, estabelecer parcerias e infra-estrutura que viabilizem as condições objeti-vas para o comércio. Tais mercados merecemser trabalhados com afinco, especialmente por-que outros dois grandes produtores de cana-de-açúcar (Austrália e Tailândia) localizam-se pró-ximos de tais mercados e a Tailândia têm feitoinvestimentos direcionados à ampliação de suacapacidade de produzir etanol.

Fig. 3. Produção de veículos de passageiros movidosa álcool, 1999–2006.Fonte: Anfavea (2007).

Ademais, há também um incremento dedemanda por etanol em decorrência dos mo-delos flex fuel. Existem, inclusive, sinais de quea procura por automóveis bicombustíveis já é aprincipal parcela de demanda das montadorasno mercado brasileiro.

Tal quadro impossibilita dizer qual será o mixetanol/açúcar que a produção de cana-de-açúcargerará nos próximos anos. Todavia, diversos fato-res já estimulam a expansão da atividade. Em umintervalo de tempo mais amplo4, os preços do açú-car e do etanol dentro e fora do País serão fatoresdeterminantes do destino final da cana-de-açúcar.

Mercados internacionaise suprimento de demandapela produção brasileira

O caso do etanol

A gradual substituição do petróleo por fon-tes alternativas de energia faz dos países de-4 Tempo que contemple a maturação de investimento em novas usinas, destilarias e estruturas logísticas capazes de atender à nova demanda por meio de

contratos regulares de fornecimento do produto final.5 Levando em conta somente os mercados do Japão, da China, da Alemanha, da Itália, da França, da Espanha e da Holanda.

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O caso do açúcar

Segundo a OECD (2005), o açúcar conti-nua entre os produtos agropecuários mais in-tensamente defendidos nos países desenvolvi-dos. Este trabalho estima que, para o conjuntodos países da OCDE, as políticas de suporte aoaçúcar – inclusive pagamento por produção cor-rente – geram para os produtores locais umaremuneração aproximadamente 54 % superioraos preços internacionais do produto.

Grandes mercados importadores continu-am razoavelmente fechados ao ingresso de im-portações, inclusive protegidos por tarifas es-pecíficas6. É o caso do Canadá, da Índia, doJapão, da UE, da Argentina e dos EUA (OECD;FAO, 2005).

Dentre esses países, os maiores impactospositivos devem advir das reformas planejadas eimplementadas na UE, principalmente porqueimplicarão menor volume de açúcar exportadocom subsídio, em favor de aumentos do preço dacommodity no mercado mundial. Isso tambémdeve propiciar maior oportunidade de acesso aomercado euro-comunitário. Sob esse aspecto, osetor parece caminhar para um menor patamarde intervenção comercial em médio prazo, dadaa grande importância relativa da UE no mercadointernacional de açúcar, seja como produtora, sejacomo exportadora.

Outro ponto favorável está no fato de que ataxa média (2004–2014) projetada de crescimen-to da produção de açúcar nos países desenvolvi-dos está abaixo da respectiva taxa de crescimen-to do consumo. Logo, supõe-se que os países emdesenvolvimento serão complementares para oatendimento da (sobre)demanda dos países ricos.Observe-se a Fig. 4.

Feitas tais considerações, uma perguntaque resta é: qual é o espaço para ampliação daprodução de cana-de-açúcar no Brasil? O pró-ximo item abordará essa questão.

Capacidade de expansão daprodução sucroalcooleira no Brasil

Três são os candidatos naturais a restrin-gir uma maior produção de cana-de-açúcar ede seus derivados no País: a oferta de terras,disponibilidade de insumos (mudas, fertilizan-tes e agroquímicos), e restrições tecnológicas.

No caso da cana, o Brasil possui hoje pes-quisadores com amplo conhecimento da cultu-ra, herança marcada pelas pesquisas desenvol-vidas no âmbito do Instituto do Açúcar e do Ál-cool (IAA) e das universidades que dele foramparceiras em inúmeros projetos do Proálcool.

De fato, o melhoramento genético dacana está presente já de longa data no Brasil.O IAA foi pioneiro nesse trabalho, gerando va-riedades com maior teor de sacarose e adaptá-veis às diversas condições climáticas e de solo.No momento, as pesquisas caminham no senti-do de transformar a cana-de-açúcar em fonteprimária de plástico, papel, ração, fertilizantes,tecidos, proteínas, próteses, colágeno, vacinase plasma sanguíneo (A EXPLOSÃO..., 2005). Éum trabalho paralelo ao de produção da canatransgênica, processo que atualmente reúneuniversidades no Brasil e no exterior, além deinstituições como a Fundação de Amparo àPesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a

6 As tarifas específicas são aquelas impostas na forma de um valor monetário cobrado para certa quantidade da mercadoria importada. Já as tarifas ad valoremcorrespondem a taxas que são impostas como fração do valor do bem importado. A proteção nominal conferida por uma tarifa específica é, por via de regra,maior que a proteção associada a uma tarifa ad valorem (FREITAS, 2005).

Fig. 4. Taxa média projetada de crescimento anualpara o consumo e a produção de açúcar, 2004–2014.Fonte: OECD e FAO (2005).

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), a Monsanto, e as próprias usinas daprodução sucroalcooleira nacional. Assim,pode-se falar em uma expertise brasileira naprodução de cana-de-açúcar, de açúcar, e deálcool etílico de biomassa (etanol).

Em contraparte, a ampliação do número deusinas e destilarias também não é imediata. Exis-te um intervalo de tempo e de investimento míni-mos a serem cumpridos antes da exploração co-mercial de uma nova área ou unidade produtiva.

Há 40 novas usinas em construção naRegião Centro-Sul do Brasil, com forte tendên-cia de expansão de atividades no oeste paulista,no norte de Brasília, no sul de Goiás, em MatoGrosso do Sul, e em Mato Grosso (A EXPLO-SÃO..., 2005). Muitas dessas novas unidadescontam com participação de investimento es-trangeiro, majoritário ou societário7. Nesseâmbito, destacam-se os grupos franceses Tereos(fusão das empresas Beghin-Say e Union DAS)e Louis Dreyfus, o conglomerado japonês Mitsuie Mitsubishi, além de já manifestas intençõesde aporte de capital das alemãs Südzucker eNordzucker, grandes produtoras de açúcar naUE (NASTARI, 2004; A EXPLOSÃO..., 2005).

Já a possibilidade de ocupar novas terraspassa por condicionantes ambientais, e excluiáreas já homologadas, como reservas indígenas.Segundo Manzatto et al. (2002), o País possui umimenso potencial agrícola, pois dispõe de 5,55 mi-lhões de km2 (555 milhões de hectares) de terraspara lavouras. Para esses autores, a área atual-mente ocupada com lavouras é relativamentepequena se comparada com a área potencial deque o País dispõe para esse uso, considerandoapenas os aspectos do solo, especialmente noCentro-Oeste. Contini et al. (2002) reforçam essaidéia e argumentam que mais de 80 milhões dehectares de cerrados podem ainda ser incorpora-dos ao processo produtivo.

Nessa discussão, é importante ressaltarque o melhor desenvolvimento da cultura da

cana-de-açúcar se dá nos chamados latossolosescuros (brunos ou vermelhos), tipo de solo do-minante em todas as regiões do Brasil, inclusi-ve na Região Centro-Oeste, na qual respondepor 53 % da área total.

Em que pese a disponibilidade de área parapronta expansão territorial da cultura, não se podedeixar de considerar aspectos paralelos para oseu adequado desenvolvimento, a saber:

• As novas áreas precisam dispor dascondições hídricas minimamenterequeridas.

• A ocupação de novas áreas deve evi-tar o comprometimento dos recursoshídricos originais.

• É necessário que sejam viabilizados es-truturas e modos de transporte e arma-zenagem específicos às característi-cas do açúcar e/ou do etanol, de modoa inclusive não agravar os problemaslogísticos correntes quando do escoa-mento da cultura da soja no Centro-Oeste, por exemplo.

Para fechar esse tópico, deve-se estar ci-ente de que as áreas hoje disponíveis à expan-são da cana-de-açúcar são igualmente dispu-tadas por outras atividades de reconhecido di-namismo na agropecuária brasileira, como asoja, o algodão, o milho e a avicultura.

Os preços desses produtos finais e de seusinsumos, assim como a disponibilidade de im-plantação das respectivas tecnologias, são oselementos primários que conduzirão àhegemonia dessa ou daquela atividade na ocu-pação de novas áreas.

Considerações finaisEm síntese, o setor sucroalcooleiro do País

se defronta com boas perspectivas nos mercadosmundiais de açúcar e de etanol. Ambos os mer-cados se encontram em expansão e a iniciativaprivada local está atenta e mostra disposição paraos desafios de um mercado globalizado. Essa

7 Esses investimentos não se limitam às unidades produtivas, mas direcionam-se também à logística de transporte e embarques do etanol (NASTARI, 2004;GOMES, 2004).

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disposição é confirmada pelas inúmeras pesqui-sas hoje co-financiadas (público-privadas) com vis-tas à obtenção da cana transgênica e ao aprovei-tamento dos resíduos da cultura.

Outro ponto refere-se ao fato de que a ener-gia e a tecnologia associadas à cultura da cana-de-açúcar estão cada vez mais alinhadas às ini-ciativas do Protocolo de Kyoto, isto é, redutorasda emissão de resíduos poluentes na atmosfera.

Contudo, é prudente avaliar tais argumen-tos à luz de algumas reflexões. Em relação aoetanol, exige-se atenção na negociação de acor-dos que conduzam à formação de um mercadoglobal para o produto. Esse mercado não pode tero Brasil como única fonte de oferta. Nesse senti-do, há de se atentar para a simultânea criação decondições objetivas de armazenagem e transpor-te para escoamento do combustível, o que devedemandar uma refinada articulação entre os agen-tes privados e governamentais diretamente liga-dos ao assunto.

Na produção de açúcar, o Brasil podeaproveitar-se do momento de rearticulação in-ternacional do setor e buscar maior penetraçãonas vendas de açúcar branco, de maior valor agre-gado, com objetivo implícito de ocupar os flancosabertos pela União Européia.

O mix de produção resultante em termosde açúcar e etanol é incerto. Dependerá dos pre-ços do açúcar e do etanol dentro e fora do País, eestará atrelado à opção de países terceiros desubstituir o petróleo enquanto fonte energéticaprincipal. Desenha-se, portanto, uma trajetóriaque irá requerer coordenação governamentalpara evitar situações de escassez sobre o merca-do doméstico.

Quanto à expansão da área de cultura dacana-de-açúcar, a principal limitação deve-se an-tes à disponibilidade de insumos e capacidade dereplicação de unidades produtivas (usinas e desti-larias) que propriamente à oferta de novas áreaspara o cultivo da cana. Não obstante, essa expan-são territorial está condicionada também pela ren-tabilidade de outras atividades agropecuárias e pelonão-comprometimento dos recursos hídricos dasterras incorporadas àquele cultivo.

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Relação entre ospreços da borrachanatural nos mercadosdoméstico einternacional

Naisy Silva Soares1

Márcio Lopes da Silva2

João Eustáquio de Lima3

Patrícia Lopes Rosado4

Resumo: Este trabalho teve como objetivo analisar a relação entre os preços da borracha naturalnos mercados doméstico e internacional, de janeiro de 2000 a maio de 2007. Para isso, foramutilizados os testes de raiz unitária e de co-integração de Johansen e a estimação e análise domodelo de correção de erro vetorial (VEC). Os resultados obtidos indicaram que um grandepercentual das variações nos preços da borracha natural na Malásia, em longo prazo, foi repassa-do para o mercado doméstico no período de janeiro de 2000 a maio de 2007, e que a Lei do PreçoÚnico não é perfeitamente verificada para o mercado de borracha natural.

Palavras-chave: borracha natural, co-integração, produto florestal, relação entre preços.

Abstract: This work aimed to analyze the natural rubber price relation between international anddomestic markets, from January 2000 to May 2007. For this, Johansen’s co-integration test and unitroost test were used, as well as the estimation and analysis of vector error correction model (VEC).The results indicated that a huge percentage of variations of natural rubber prices in Malaysia, inthe long term, were transferred to the domestic market, in the period from January 2000 to May2007, and that the Law of One Price is not perfectly verified in the natural rubber market.

Keywords: natural rubber, co-integration, forest product, relation between prices.

1 Economista, Doutoranda em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: [email protected] Doutor em Engenharia Florestal, Professor do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: [email protected] Doutor em Economia Rural, Professor do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa (UFV). E-mail: [email protected] Doutora em Economia Aplicada, Professora do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). E-mail: [email protected]

IntroduçãoA borracha natural é obtida a partir do

látex que é fornecido pela seringueira. Essaplanta pertence ao gênero Hevea, com 11 es-pécies, das quais a Hevea brasiliensis é a única

plantada e explorada comercialmente por ser amais produtiva e possuir látex de qualidade supe-rior às demais. Como o próprio nome indica, aHevea brasiliensis é originária do Brasil, maisprecisamente da região Amazônica. Graças àssuas propriedades, como elasticidade, flexibili-

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dade, isolante de eletricidade, resistência àabrasão e à corrosão, impermeabilidade e fáciladesão a tecidos e ao aço, a borracha dessa ár-vore é uma excelente matéria-prima para váriossetores industriais, como: hospitalar/farmacêutico,de brinquedos, de calçados, da construção civil,de maquinário agrícola, industrial e de auto-pe-ças (PEREIRA et al., 2000; BEGA, 2004; BORRA-CHA NATURAL BRASILEIRA, 2007). Embora aborracha sintética tenha quase a mesma compo-sição química da borracha natural, suas proprie-dades físicas são inferiores na produção de mui-tos produtos. Esse fato reforça a importância daborracha natural no mundo, limitando o grau desubstituição pela borracha sintética (MERA, 1977;SANTOS; MOTHÉ, 2007).

O Brasil, no início do século 20, detinhao monopólio da produção mundial de borrachanatural. Mas o sistema de produção extrativista,a ausência de subsídio governamental à extra-ção de borracha na região Amazônica, a inci-dência do fungo Microcyclus ulei nessa regiãoe o fato de os plantios novos entrarem em pro-dução somente a partir do sexto ano acabaramprejudicando a expansão da cultura no País(BEGA, 2004).

O Brasil passou de exportador a importa-dor líquido de borracha natural. Em 2005, porexemplo, o país importou 203.927 toneladas de bor-racha natural – o equivalente a US$ 269.222 mi-lhões – principalmente da Tailândia (45,8 %), daIndonésia (29,8 %) e da Malásia (21,8 %). A pro-dução nacional de borracha natural foi de, apro-ximadamente, 102 mil toneladas (peso seco)em 2004, sendo que a Região Sudeste respondeupor 60,9 % da produção brasileira de borrachanatural (látex coagulado), seguida pelas regiõesCentro-Oeste (21,4 %), Nordeste (14,6 %), Norte(2,6 %) e Sul (0,5 %). Os estados brasileiros commaior produção foram São Paulo (53,5 %), MatoGrosso (18,5 %) e Bahia (12,6 %) (FNPCONSULTORIA E COMÉRCIO, 2007).

Com relação ao consumo nacional de bor-racha natural, este foi da ordem de 297.000 t (pesoseco) em 2005 (FNP CONSULTORIA E COMÉR-CIO, 2007).

Conforme observaram Soares et al. (2007),nos últimos anos aumentou a importância rela-tiva da borracha natural em relação à sintéticano Brasil. Segundo os autores, o consumo, aprodução e as importações nacionais do pro-duto cresceram a uma taxa média de 5,5 %,3,8 % e 7,5 % ao ano, respectivamente, no pe-ríodo de 1965 a 2005.

A heveicultura gera no país cerca de 80 milempregos diretos. O setor de pneus, por exem-plo, contribui para a geração de, aproximada-mente, 20 mil empregos diretos e 100 mil em-pregos indiretos. Por ser uma cultura intensivaem mão-de-obra, apresenta-se como uma al-ternativa na tentativa de promover a permanên-cia do homem no campo, assim como de au-mentar a renda do produtor. Além disso, aheveicultura contribui para a redução dos ga-ses de efeito estufa por proteger o solo e osmananciais e por fixar carbono (BORRACHANATURAL BRASILEIRA, 2007).

Segundo Silveira (2004), o conhecimen-to das relações existentes entre os preços dosmercados interno e internacional de umacommodity é de grande importância para a for-mulação de políticas governamentais para osetor em que a commodity está inserida e paraa tomada de decisão por parte dos seus agen-tes sobre produção e comercialização. Alémdisso, o autor menciona que o conhecimentodas relações existentes entre os preços dosmercados interno e internacional de umacommodity, quando os preços do mercado in-ternacional são representados pelas cotaçõesdas bolsas de futuros, é importante para identi-ficar o potencial que as cotações dos contratosfuturos dessas bolsas têm para serem utilizadoscomo referência dos preços a vigorarem nomercado físico doméstico.

Sendo assim, já foram realizados, até omomento, muitos trabalhos analisando a rela-ção entre os preços de uma commodity agríco-la nos mercados doméstico e internacional(AGUIAR, 1995; COELHO, 1996; MESQUITAet al., 2000; COSTA; FERREIRA FILHO, 2003;SILVEIRA, 2004; DIEHL; BACCHI, 2006;

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BRUNETTI; BITTENCOURT, 2007). Porém, naárea florestal, não se tem evidências de traba-lhos com esse objetivo nem no Brasil e nem noexterior.

Uma vez que o Brasil tem se configuradocomo um importador líquido de borracha naturale, dada a grande importância do setor para o País,bem como do conhecimento das relações exis-tentes entre os preços dos mercados doméstico einternacional de uma commodity, torna-se neces-sário investigar como os preços nesses mercadosde borracha natural se relacionam.

Nesse contexto, este trabalho visa analisara relação entre os preços da borracha natural nosmercados doméstico e internacional no períodode janeiro de 2000 a maio de 2007. Especifica-mente, pretende-se verificar se alterações de pre-ços em um mercado são transmitidas aos preçosdo outro mercado. Logo, procura-se testar se aLei do Preço Único é válida para o mercado bra-sileiro de borracha natural.

Material e método

Referencial teórico

Tomou-se como referência a teoria da Leido Preço Único (LPU), segundo a qual bens idên-ticos serão vendidos pelo mesmo preço indepen-dente da moeda na qual os preços são cotados. Aarbitragem assegura que a LPU se mantenha, ig-norando custos de transporte, barreiras ao comér-cio e outras restrições (YARBROUGH;YARBROUGH, 1991 citados por AGUIAR, 1995;KRUGMAN; OBSTFELD, 2005).

Se a LPU for válida, em longo prazo, ospreços domésticos de determinado produto de-vem ser iguais àqueles que prevalecem nomercado internacional. O processo de arbitra-gem internacional que tende a igualar os pre-ços nos mercados doméstico e externo, pois,leva a uma elevação do preço no país com pre-ço baixo, em função do aumento da quantida-de demandada, enquanto provoca queda depreço no país com preço alto, graças ao exces-

so da quantidade ofertada. O processo de arbi-tragem continua até os preços se igualarem nosdois países (BARBOSA et al., 2002).

Segundo Aguiar (1995), a relação básicausada para expressar a LPU, no caso de doispaíses diferentes, é a equação (1),

Pdt = Pit.Et.St (1)

em que Pdt = preço doméstico de equilíbrio delongo prazo do bem em análise; Pit = preço in-ternacional do bem, em moeda externa; Et =taxa de câmbio do país; St = variável que re-presenta a política tributária em relação ao bemanalisado.

Considerando Pit = Pit.Et, o preço interna-cional convertido em moeda doméstica, tem-se aequação (2):

P*dt = Pit.St (2)

Para que os coeficientes sejam as elasti-cidades, aplica-se logaritmo na equação (2). As-sim, tem-se a equação (3).

p*dt = pit + st + ut (3)

A equação (3) pode ser representadacomo equação (4):

p*dt = + pit + t (4)

O coeficiente é a elasticidade do preçodoméstico em relação ao internacional, ou seja,é a sua elasticidade de transmissão de preço.Quando seu valor é igual a um, isso significaque variações no âmbito internacional são ple-namente transmitidas ao mercado interno, equando seu valor é igual a zero, isso indica quevariações do preço internacional não condu-zem a qualquer tipo de reação do preço do-méstico.

Page 55: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 54

De acordo com Fackler e Goodwin (2000),citados por Rosado (2006a), existe a LPU fraca,que ocorre quando se verifica a condição de ar-bitragem espacial; a LPU forte, que presume queo comércio seja contínuo e a condição de arbi-tragem é garantida com regularidade; e a LPUagregada, enunciada em termos de índice de pre-ço e conhecida como Paridade do Poder de Com-pra. A LPU forte é um teste para a integração per-feita e é a mais utilizada e testada. Para a LPUforte, a integração perfeita acontece quando atransmissão de preços entre as localidades é iguala um.

Ressalta-se que a presença de custo detransporte e barreiras tarifárias ou não-tarifáriaspara o comércio impede a realização da lei dopreço único (YARBROUGH; YARBROUGH,1991 citados por COELHO, 1996).

Referencial analítico

Teste de raiz unitária

Para analisar a co-integração entre o pre-ço da borracha natural nos mercados domésticoe internacional, primeiro foi determinada a ordemde integração da série de preços por meio do tes-te de raiz unitária. Se for constatado que as sériespossuem a mesma ordem de integração, pode-seproceder ao teste de co-integração (NOGUEIRA,2001). Assim, utilizou-se no presente trabalho oteste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF) para arealização do teste de raiz unitária nas séries ana-lisadas. O referido teste foi aplicado nas seguin-tes formas, conforme Seddighi et al. (2000):

• Sem constante e sem tendência:

Xt = Xt-1 + i Xt-i + ut (5)

• Com constante e sem tendência:

Xt = 1 + Xt-1 + i Xt-i + ut (6)

• Com constante e com tendência:

Xt = 1 + 2t + Xt-1 + i Xt-i + ut (7)

Análise de co-integração

O conceito de co-integração procura iden-tificar se duas ou mais variáveis integradas demesma ordem possuem uma relação de equilí-brio de longo prazo (MARGARIDO, 2001).

Os dois métodos mais utilizados para testara existência de co-integração são o procedimen-to de Engle e Granger e o de Johansen. Este últi-mo testa a presença de mais de um vetor de co-integração e promove testes de razão de verossi-milhança sobre os vetores de co-integração, soba ótica de sistema de variáveis, ao contrário doteste de Engle e Granger (BITTENCOURT; BAR-ROS, 1996).

Segundo Buongiorno e Uusivuori (1992), asestimativas da equação (4) por procedimentos es-tatísticos convencionais, como os Mínimos Qua-drados Ordinários, não são confiáveis, pois: ospreços Pit e Pdt são determinados simultaneamen-te em mercados integrados, logo Pjt não é inde-pendente de ut e a aplicação dos Mínimos Qua-drados Ordinários resultaria em estimativasenviesadas e inconsistentes; e as séries de preçosPit e Pdt são geralmente não-estacionárias.

Assim, o procedimento de Johansen é o uti-lizado no presente trabalho. Esse procedimentotem como ponto de partida o modelo auto-regres-sivo vetorial (VAR). Em outras palavras, antes darealização do teste de co-integração, deve-sedeterminar o número de defasagens adequadopara o modelo VAR.

O referido modelo de ordem p com K vari-áveis pode ser representado como a equação (8):

Yt = 1Yt-1 + 2Yt-2 + 3Yt-3 + ... + pYt-p + BXt + t (8)

em que Yt é um vetor p x 1 de variáveis I(1); t

são matrizes de parâmetros k x k; e t é um vetork-dimensional de termos ruído branco.

m

i=1

m

i=1

m

i=1

Page 56: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200855

A equação (8) na forma reparametrizadaé dada pela equação (9):

Yt = 1 Yt-1 + 2 Yt-2 + ... + p-1 Yt-(p-1) + Yt-1 + t (9)

Após a determinação do número de de-fasagens adequado para o modelo VAR, deve-se proceder à escolha do modelo de estima-ção. Eviews (2004) destaca os seguintes mode-los possíveis de estimação:

i) Os dados em nível não possuem ten-dências determinísticas e as equações de co-integração não têm intercepto.

ii) Os dados em nível não possuem ten-dências determinísticas e as equações de co-integração apresentam intercepto.

iii) Os dados em nível possuem tendên-cias determinísticas lineares, mas as equaçõesde co-integração têm somente intercepto.

iv) Os dados em nível e a equação de co-integração possuem tendências determinísticaslineares.

v) Os dados em nível possuem tendên-cias quadráticas e as equações de co-integraçãotêm tendências lineares.

Em seguida, realiza-se o teste de Johansenpara determinar o número de vetores de co-integração, o que pode ser feito pela análise doposto (r) da matriz .

Os testes do traço e do máximo autovalordeterminam o posto (r) da matriz . O primeirotesta a hipótese nula de existência de no máximor vetores de co-integração e o segundo, a exis-tência de exatamente r vetores de co-integraçãocontra a alternativa de existência de r+1 vetores(COELHO, 2004). Os testes do traço e do máxi-mo autovalor são definidos pelas equações (10) e(11), respectivamente (ENDERS, 1995):

trace(r) = -T ln(1- i) (10)

em que i são os valores estimados das raízescaracterísticas obtidos da matriz e T é o nú-mero de observações; e

tmax (r, r+1) = -T In(1- r+1) (11)

Então, parte-se para a estimação do Vetorde Correção de Erro (VEC), descrito conformea equação (12), que tem por objetivo analisaros ajustamentos de curto prazo que ocorrem nasséries co-integradas, que são as relações deequilíbrio em longo prazo (NOGUEIRA et al.,2005):

Yt = 1 Yt-1 + 2 Yt-2 + ... + p-1 Yt-(p-1) + ’Yt-1 + t (12)

em que ’Yt-1 = relações de co-integração que defi-nem a trajetória de longo prazo entre as variáveis; = matriz dos coeficientes de ajustamento para oequilíbrio de longo prazo; e i = matriz de coeficien-tes que definem a dinâmica de curto prazo.

Teste de hipótese sobre os parâmetros

Coelho (2004) menciona que a simplesexistência de um vetor de co-integração nãopode ser considerada condição suficiente paradeterminar a perfeita integração de mercadonem para a garantia da participação de todas asséries no equilíbrio de longo prazo. Assim, se-gundo o autor, é necessário a realização de tes-tes de hipóteses sobre os parâmetros , testandosua significância e a interação entre os preços.

Os testes de hipótese sobre os parâmetrospermitem testar quais mercados efetivamentefazem parte do equilíbrio de longo prazo e se aintegração entre esses mercados pode ser con-siderada perfeita, ou seja, se uma variação nopreço de um mercado é transmitida de manei-ra completa ao outro mercado em longo prazo(COELHO, 2004).

Conforme Johansen e Juselius (1990), citadospor Coelho (2004), as hipóteses sobre os parâmetros assumem a forma da equação (13):

-2logQ(H0) = -T log ,

para i = 1, ..., r. (13)

n

i=r+1

^

^

^

(1- *i)(1- i)

r

i=1

Page 57: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 56

Neste trabalho, são testadas as seguinteshipóteses nulas (H0):

a) Brasil = 0 (14)

b) Malásia = 0 (15)

c) Brasil = Malásia (16)

As hipóteses nulas (14) e (15) testam se osmercados nacional e internacional podem serconsiderados integrados no período analisado.Além disso, testa-se o grau de integração entreos referidos mercados a partir da hipótese (16).

Com relação ao parâmetro , a significân-cia indica que a variável preço não é exógenafraca com relação ao parâmetro de longo pra-zo – – e vice-versa. A exogeneidade fracasignifica que a variável não reage ante a mu-danças na relação de equilíbrio de longo pra-zo. As hipóteses sobre os parâmetros tam-bém assumem a forma da equação (13)(HARRIS, 1995). As seguintes hipóteses nulas(H0) são testadas:

a) Brasil = 0 (17)

b) Malásia = 0 (18)

c) Brasil = Malásia (19)

As hipóteses nulas (17) e (18) testam aexogeneidade e a hipótese (19) testa a igualda-de na velocidade de resposta das variáveis auma dada situação de desequilíbrio de curtoprazo no processo de ajuste de longo prazo.

Fonte de dados

Os dados utilizados são provenientes deséries temporais mensais que englobam o perío-do de janeiro de 2000 a maio de 2007.

Os preços da borracha natural no Brasilsão representados pelo Estado de São Paulo,maior produtor nacional, e foram obtidos noAgrianual e na Associação Paulista de Produ-tores e Beneficiadores de Borracha (Apabor).

Já os preços da borracha natural no merca-do internacional são relativos aos contratos futurosde SMR 10 negociados na Malaysian RubberExchange (MRE). A SMR 10 é a principal borrachada Malásia. Esses preços foram obtidos no site daMRE e referem-se às cotações ao meio-dia.

As séries de preços estão em US$/kg eforam transformadas em logaritmo para que oscoeficientes encontrados expressem as elasti-cidades de transmissão de preços.

Resultados e discussãoPara se ter uma idéia do comportamento

e da relação entre os preços da borracha natu-ral no Brasil e na Malásia, é relevante observaro esboço do gráfico com as duas séries men-sais de preço (Fig. 1).

Nota-se, na Fig. 1, que os preços da borra-cha natural no Brasil e na Malásia estão aumen-tando. O aquecimento da demanda, com o cresci-mento da economia mundial, pode explicar esseaumento dos preços. Um outro fator que contribuiupara esse aumento foi a criação da CorporaçãoInternacional Tripartite da Borracha (ITRC), em2002, pela Tailândia, Malásia e Indonésia, paísesque detêm aproximadamente 90 % do volume ex-portado de borracha natural no mundo. O objetivoda ITRC é aumentar os preços da borracha por meioda retenção da oferta (PIZZOL, 2004).

Observa-se na Fig. 1 que as séries de pre-ços mensais da borracha natural movimenta-ram-se juntas no período analisado. Então, apa-rentemente, tais séries seriam co-integradas, ouseja, haveria uma relação de equilíbrio de lon-go prazo entre elas.

Todavia, essa afirmação deve ser examinadacriteriosamente. Sendo assim, procedeu-se à verifi-cação econométrica da co-integração dos merca-dos de borracha natural do Brasil e da Malásia.

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Fig. 1. Preços mensais de borracha natural no Brasil e na Malásia, em US$/kg, de janeiro de 2000 a maio de 2007.Fonte: FNP Consultoria e Comércio (2001, 2004, 2007), Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha (2007) e Malaysian Rubber Exchange (2007).

Teste de raiz unitária

Nessa sessão, apresentam-se os resulta-dos do teste de Dickey-Fuller Aumentado (ADF)na série de preços da borracha natural do Bra-sil e da Malásia. Os resultados do teste de ADFem nível para as séries mensais de preços daborracha natural no Brasil e na Malásia, de ja-neiro de 2000 a maio de 2007, são apresenta-dos na Tabela 1.

Os resultados descritos na Tabela 1 sina-lizam que as séries de preços da borracha na-tural não são estacionárias, tendo em vista queos valores calculados são menores em móduloque seus respectivos valores críticos em todosos modelos analisados. Mas observa-se que

essas séries passam a ser estacionárias em pri-meira diferença, indicando que elas são inte-gradas de ordem um, isto é, apenas uma dife-renciação é suficiente para torná-las estacio-nárias (Tabela 2).

Sintetizando, os testes de raiz unitária re-velam que a série de preço do Brasil e da Malásiapossuem a mesma ordem de integração. Elas, sãointegradas de ordem 1, ou seja, são I(1).

Testes de Johansen para co-integração

Segundo os critérios razão de verossimilhan-ça (LR), Akaike, Schwarz e Hannan-Quinn, o mo-delo VAR deve possuir uma defasagem (Tabela 3).

Tabela 1. Resultados do teste de ADF em nível para as séries mensais de preços da borracha natural noBrasil e na Malásia, janeiro de 2000 a maio de 2007.

Com intercepto e tendência(1)

Somente com intercepto

Sem intercepto e sem tendência

-4,07

-3,51

-2,59

1 %Modelo

-3,46

-2,89

-1,94

5 %

Valor crítico

-1,36

1,04

1,92

Preço no Brasil

-2,02

1,16

1,56

Preço na Malásia

Valor calculado

(1) P-valores da tendência na série de preços do Brasil = 0,0088; P-valores da tendência na série da Malásia = 0,0154.

Page 59: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 58

Com relação à escolha do modelo de esti-mação, aplicou-se o que considera tendênciasdeterminísticas lineares nos dados em nível, masequações de co-integração somente com inter-cepto, pois os p-valores do componente de ten-dência apresentados na Tabela 1 são significa-tivos nas duas séries de preço analisadas.

Os resultados do teste de Johansen paradeterminar o número de vetores de co-inte-gração, obtidos pelos testes do traço e do má-ximo autovalor, estão na Tabela 4.

Verifica-se, na Tabela 5, que a hipótese nulade que não há nenhum vetor de co-integração foirejeitada em nível de 5 %. Em função desse resulta-do, pode-se inferir que as séries de preço da borra-cha natural apresentam um vetor de co-integração.

A Tabela 5 apresenta o vetor de co-integração. A normalização foi efetuada conside-

Tabela 3. Determinação do número de defasagens do modelo VAR.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

-35,8042

210,6465

212,9108

216,0967

217,2753

219,8909

221,6915

223,7807

228,4100

LogLLag

NA

474,645800(1)

4,249044

5,821107

2,095368

4,520771

3,023216

3,404628

7,315428

LR

0,008718

2,19e-05(1)

2,29e-05

2,33e-05

2,51e-05

2,60e-05

2,75e-05

2,89e-05

2,86e-05

FPE

0,933437

-5,053001(1)

-5,010144

-4,990042

-4,920379

-4,886196

-4,831889

-4,784709

-4,800247

AIC

0,992559

-4,875634(1)

-4,714533

-4,576186

-4,388279

-4,235852

-4,063301

-3,897876

-3,795170

SC

0,957158

-4,981839(1)

-4,891541

-4,823998

-4,706893

-4,625269

-4,523522

-4,428900

-4,396997

HQ

(1) Ordem selecionada pelo critério.

Tabela 2. Resultados do teste de ADF em primeira diferença para as séries mensais de preços da borrachanatural no Brasil e na Malásia, janeiro de 2000 a maio de 2007.

Com intercepto e tendência

Somente com intercepto

Sem intercepto e sem tendência

-4,07

-3,51

-2,59

1 %Modelo

-3,46

-2,89

-1,94

5 %

Valor crítico

-6,82

-6,13

-5,84

Preço no Brasil

-4,54

-4,09

-2,62

Preço na Malásia

Valor calculado

rando-se que o valor da estimativa do coefici-ente da variável preço no Brasil assumiu valorigual à unidade. A estimativa do coeficiente delongo prazo para a variável preço na Malásiamostra que 92,37 % das variações nos preçosinternacionais da borracha natural, em longoprazo, são transmitidas para o preço no Brasil.

Tabela 4. Resultados do teste de co-integração deJohansen para as séries mensais de preços daborracha natural no Brasil e na Malásia, de janeirode 2000 a maio de 2007.

r=0

r 1

Hipótesenula

26,6552(1)

0,0327

Teste dotraço

15,4947

3,8414

Valorcrítico(5 %)

26,6224(1)

0,0327

Teste domáximoautovalor

14,2646

3,8414

Valorcrítico(5 %)

(1) Rejeição da hipótese nula a 5 % de significância.

Page 60: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200859

Tabela 6. Teste de significância de restrição sobreo parâmetro de longo prazo ( ) do vetor de co-integração.

Brasil = 0

Malásia = 0

Brasil = Malásia

10,97(1)

15,54(1)

14,20(1)

Razão deverossimilhança

Hipótese nula

(1) Indica rejeição a 5 % de significância.

3,84

3,84

3,84

Valor crítico(5 %)

Tabela 5. Estimativa do parâmetro de longo prazo( ) para as séries mensais de preços da borrachanatural no Brasil e na Malásia, de janeiro de 2000 amaio de 2007.

Preço no Brasil

Preço na Malásia

Série

1,00000

-0,92370(0,13578)(1)

Estimativa do parâmetro delongo prazo ( )

(1) O valor entre parênteses indica o desvio-padrão.

Como esses mercados são integrados, foitestada a hipótese de perfeita integração entre osmesmos, verificando-se a rejeição dessa hipóte-se. Assim, pode-se dizer que a alteração de pre-ços em um mercado não é completamente trans-mitida ao outro mercado em longo prazo. Portan-to, constata-se que a Lei do Preço Único não éperfeitamente verificada para o mercado de bor-racha natural no período analisado.

Observando a Tabela 7, pode-se dizerque 11,07 % do desequilíbrio de curto prazoreferente à trajetória de longo prazo são corri-gidos a cada mês, indicando que seria neces-sário nove meses para corrigir o desequilíbrio.Verifica-se, então, que esses desequilíbrios tran-sitórios são corrigidos lentamente.

A ineficiência da política de preços praticada pelogoverno, no período analisado, pode ter favoreci-do a influência das cotações internacionais sobreos preços domésticos. Durante toda a vigência doprograma de subvenção da borracha, eram cons-tantes os atrasos no pagamento do subsídio. Umoutro problema era a não-publicação do preço dereferência da borracha natural pelo Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento. Esses fato-res representavam prejuízos para o produtor, le-vando o mercado a atuar livremente (ROSADO etal., 2006b).

Com base nos resultados apresentados naTabela 6, observa-se que a hipótese nula sobreos parâmetros Brasil e Malásia pode ser rejeitada.Assim, os movimentos de preços no Brasil e nomercado futuro da Malásia são significativa-mente relevantes no estabelecimento do padrãode equilíbrio de longo prazo. Além disso, essesmercados podem ser considerados como integra-dos de modo que choques ocorridos em um mer-cado são repassados para o outro em longo prazo.

Os testes de hipótese sobre o parâmetro revelam que, na série de preços do Brasil, a

hipótese de exogeneidade fraca é rejeitada, istoé, os níveis dos preços no Brasil reagem adesequilíbrios transitórios que ocorrem nos ní-veis de preços da Malásia. Já a série de preçosda Malásia se revela exógena fraca com res-peito ao equilíbrio de longo prazo. Em outraspalavras, como era esperado, as cotações dabolsa da Malásia influenciam os níveis de pre-ços no Brasil. Além disso, constatou-se queambos os mercados retornam a um dadodesequilíbrio a velocidades estatisticamenteiguais (Tabela 8).

Decomposição da variânciados erros de previsão

Para melhor avaliar a relação existenteentre o preço da borracha natural no Brasil e

Tabela 7. Estimação do VEC referente à variávelpreço da borracha natural no Brasil, de janeiro de2000 a maio de 2007.

ut-1 0,02911

Estatística tVariávelexplicativa

-3,80456

Desvio-padrão

-0,110754

Coeficienteestimado

Page 61: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 60

Tabela 8. Teste de significância de restrição sobreo parâmetro do vetor de co-integração.

Brasil = 0

Malásia = 0

Brasil = Malásia

13,41(1)

1,49(2)

3,44(2)

Razão deverossimilhança

Hipótese nula

(1) Rejeição a 5 % de significância.(2) Aceitação a 5 % de significância.

3,84

3,84

3,84

Valor crítico(5 %)

na Malásia, apresenta-se a decomposição davariância dos erros de previsão do preço daborracha natural nesses dois países e a funçãoimpulso-resposta.

Observando a Tabela 9, nota-se, por umlado, que os preços da borracha natural no Brasilexplicam uma parcela muito pequena do erro deprevisão. Por outro lado, verifica-se que o preçoda borracha natural no País sofre influência con-siderável do preço na Malásia. Sendo assim, aanálise da decomposição da variância tambémconfirma o resultado do teste de significância derestrição sobre o parâmetro .

Pelas Fig. 2 e 3, percebe-se que uma varia-ção nas cotações da borracha natural na bolsa da

Tabela 9. Decomposição da variância dos erros de previsão do preço da borracha natural.

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

100,00

99,93

99,81

99,64

99,44

99,22

98,98

98,74

98,50

98,25

Preço na Malásia

Mês

0,00

0,06

0,18

0,35

0,55

0,77

1,01

1,25

1,49

1,74

Preço no Brasil

Decomposição da variânciada Malásia (%)

0,935605

0,528746

0,853196

1,997831

4,007165

6,869307

10,511990

14,808670

19,593750

24,683260

Preço na Malásia

99,06440

99,47125

99,14680

98,00217

95,99284

93,13069

89,48801

85,19133

80,40625

75,31674

Preço no Brasil

Decomposição da variânciado Brasil (%)

Fig. 2. Resposta dos preços da borracha natural na MREa uma inovação de um desvio-padrão nas variáveis.

Fig. 3. Resposta dos preços da borracha natural no Brasila uma inovação de um desvio-padrão nas variáveis.

Page 62: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200861

Fig. 5. Função de Autocorrelação Parcial (FACP) aplicada sobre os resíduos do VEC.

Fig. 4. Função de Autocorrelação (FAC) aplicada sobre os resíduos do VEC.

Malásia provoca variações no preço do Brasil apartir do segundo mês. Porém, variações expres-sivas no preço do Brasil acontecem no 20º mês.Tais variações não tendem a se dissipar com cer-ta rapidez, uma vez que, após 30 meses do cho-que inicial na Malásia, os preços começam aretornar ao seu estado de equilíbrio.

Avaliação do VEC

Com relação à avaliação do VEC, verifi-cou-se que o comportamento médio dos seusresíduos foi satisfatório, obtendo resíduos pró-ximos a um ruído branco (Fig. 4 e 5). Destarte,pode-se dizer que os modelos apresentam-sesatisfatórios para as estimações realizadas.

ConclusãoCom base nos resultados encontrados,

conclui-se que um grande percentual das vari-ações nos preços da borracha natural na bolsada Malásia, em longo prazo, foi repassado parao mercado doméstico no período de janeiro de2000 a maio de 2007. Constatou-se que essesmercados não são perfeitamente integrados,uma vez que a hipótese de perfeita integraçãoentre os mesmos foi rejeitada. Assim, a Lei doPreço Único não é perfeitamente verificadapara o mercado de borracha natural no referi-do período. Os preços no Brasil são influencia-dos pelos preços na bolsa da Malásia. Porém, ocontrário não é verdadeiro.

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AgradecimentosAo Conselho Nacional de Desenvolvi-

mento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo fi-nanciamento e à Universidade Federal de Vi-çosa pelo fornecimento da estrutura e pessoal.

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Análise da políticafiscal sobre acompetitividadeda carne ovina emMato Grosso do Sul

André Sorio1

Mayra Batista Bitencourt Fagundes2

Resumo: Este estudo tem o objetivo de demonstrar se a política fiscal adotada por Mato Grosso doSul para apoiar a ovinocultura conseguiu provocar os efeitos positivos planejados. Foi feita umapesquisa qualitativa, por meio de entrevistas com elementos-chave da cadeia produtiva, observa-ção direta dos estágios da cadeia e uso de informações de fontes secundárias. Podem ser observa-dos avanços na organização da cadeia produtiva da ovinocultura em Mato Grosso do Sul, comoo aumento da organização dos produtores, aumento da quantidade de frigoríficos aptos a abate-rem ovinos e aumento do abate com inspeção sanitária. No entanto, os incentivos concedidosnão incorporam mecanismos de estímulo à modernização tecnológica, nem ao treinamento damão-de-obra. Os programas existentes não possuem mecanismos capazes de estimular a incor-poração do desenvolvimento tecnológico nem a busca de atuação coordenada por parte dosprodutores e indústria locais.

Palavras-chave: abate clandestino, carne ovina, competitividade, política fiscal.

Abstract: This research aims to show whether the incentives policy adopted by Mato Grosso doSul to support sheep husbandry has caused the positive effects planned. A qualitative researchwas made through interviews with production chain key elements, direct observation of the chainstages and use of secondary sources of information. Progress can be seen in the sheep husbandryproductive chain organization in Mato Grosso do Sul, such as producers organization improvementand the increase of both industries and slaughter with health inspection. However, the existentprograms do not seem to have mechanisms able to stimulate the technology incorporation nor thesearch for coordinated action by both local producers and companies.

Keywords: clandestine slaughter, lamb meat, competitiveness, fiscal policy.

1 Mestrando em Agronegócios pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), engenheiro agrônomo. E-mail: [email protected] Doutora em economia aplicada, professora titular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). E-mail: [email protected]

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IntroduçãoOs diagnósticos existentes sobre o siste-

ma agroindustrial (SAG) da ovinocultura geral-mente focalizam o assunto sobre o aspecto doimpacto econômico da produção agrícola so-bre o setor. No que se refere aos segmentosprocessamento, indústria, atacado e varejo, osindicadores de viabilidade econômica ecompetitividade não estão disponíveis com amesma facilidade (SILVA, 2002).

Raras vezes foram realizados no Brasilestudos contemplando as políticas fiscais desti-nadas ao setor. Como saber, então, quais os efei-tos dessas políticas fiscais nos diversos elos dacadeia produtiva da ovinocultura de corte?

Essa é uma resposta que ajudará a definiras ações do SAG do produto, particularmenteaos agentes formuladores de políticas públicas.Afinal, por ser uma atividade ainda incipientee com grande potencial de crescimento, é im-portante definir quais são as medidas fiscais quetêm a possibilidade de incentivar o crescimen-to da ovinocultura no Brasil.

Existem em Mato Grosso do Sul três fri-goríficos com inspeção sanitária federal autori-zados a abater ovinos. Estão distribuídos emregiões distintas – Campo Grande, Cassilândiae Nova Andradina. Também já existem diver-sos frigoríficos com inspeção sanitária federalem cidades próximas a Mato Grosso do Sul, nosestados de Goiás e São Paulo. Conforme Silva(2002), é uma característica da indústria deabate de ovinos no Brasil trabalhar com ociosi-dade alta, sempre acima de 50 % da capacida-de instalada. Isso garante um mercado fortemen-te comprador para a produção local.

O Estado de Mato Grosso do Sul é tradi-cional produtor de carne bovina. De acordocom IEL (2000), citando fontes diversas, 85,03 %dos estabelecimentos agropecuários que sededicam à produção de bovinos em Mato Grossodo Sul têm menos de 1.000 hectares. E 50,37 %têm área de até 100 hectares.

Fapec e Sebrae (2006a) demonstram que,em Mato Grosso do Sul, as propriedades que

exploram a bovinocultura de corte, para obterníveis de rentabilidade que cubram os eleva-dos custos fixos inerentes à atividade, devemter entre 1.222 ha e 1.777 ha de pastagem, de-pendendo do sistema de produção adotado. Ouseja, somente as propriedades maiores, quecontam com uma escala de produção adequa-da, conseguem sobreviver nessa atividade.

Sendo assim, é necessário buscar alter-nativas de diversificação e aumento da efici-ência produtiva para as propriedades pecuá-rias de Mato Grosso do Sul, principalmente pe-quenas e médias, que não conseguem mais so-breviver explorando a bovinocultura.

Com as possibilidades advindas da expan-são da ovinocultura e por suas característicasagroindustriais, abre-se uma perspectiva impor-tante, que se enquadra no programa de desen-volvimento de longo prazo de Mato Grosso doSul. Iplan (2001) afirma que, apesar da pujançaprodutiva da agropecuária regional, o valoragregado de sua produção não lhe permiteampliar as condições de competitividade nosmercados nacional e internacional. E apontacomo uma das soluções o apoio às indústriasregionais para agregar outros produtos da ca-deia produtiva e incorporar novos sistemas decomercialização. O mesmo documento apre-senta, entre vários projetos estruturadores delongo prazo para Mato Grosso do Sul, o fomen-to à pecuária de pequeno porte, isto é, ovinos,caprinos, suínos e aves.

Sebrae (2006) aponta o desenvolvimento doagronegócio da ovinocultura como estratégia parao desenvolvimento rural, que pode gerar um gran-de impulso para a economia do País. Fapec eSebrae (2006b) afirmam que a ovinocultura é se-tor emergente em Mato Grosso do Sul, com gran-de potencial de crescimento, principalmente porse situar perto do grande mercado consumidor queé o Estado de São Paulo.

Muitas iniciativas estão ocorrendo com ointuito de reforçar a ovinocultura em Mato Gros-so do Sul. Pode-se citar, entre elas, a fundação deCâmara Setorial Consultiva estadual específica noano de 2003, a instalação pela Embrapa do Nú-

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cleo Centro-Oeste de Caprinovinocultura emCampo Grande no ano de 2005 e, também, a in-tenção do Ministério da Integração Nacional deconstruir bases para a elaboração de arranjos pro-dutivos da ovinocultura em Campo Grande e emPonta Porã a partir de 2007.

Para o criador, as características zootéc-nicas dos ovinos levam a uma maior aceleraçãoda produção em relação à bovinocultura. A ges-tação da ovelha dura 5 meses, as fêmeas jovensestão aptas à reprodução com 8 meses e os cor-deiros podem ser abatidos com idade variandoentre 90 e 150 dias e com peso em torno de 15 kgde carcaça. Ou seja, o período de recria é pe-queno e os machos estão prontos para o abaterapidamente. Dessa forma, é possível a explora-ção de rebanhos grandes em áreas relativamentepequenas. Portanto, é possível se obter uma es-cala econômica de produção mesmo em proprie-dades menores (SORIO, 2003).

O Estado de Mato Grosso do Sul conta comum rebanho de quase 440 mil cabeças de ovinos,em crescimento ininterrupto desde o início dadécada de 1990. Atualmente, detém o oitavomaior rebanho ovino entre os estados brasileirose o maior da Região Centro-Oeste. Por outro lado,o rebanho ovino brasileiro decresceu a partir de1990, principalmente por causa da crise que di-minuiu a demanda por lã no mercado internacio-nal, e atingiu seu efetivo mais baixo em 1998, vol-tando a crescer novamente a partir daí. Em con-seqüência disso, a participação do rebanho deMato Grosso do Sul no total nacional aumentoucontinuamente, chegando a 2,82 % no ano de2005 (IBGE, 2007).

Ainda conforme a mesma fonte, somente64.170 ovinos (14,59 % do total) foram tosquiadospara obtenção de lã em Mato Grosso do Sul em2005, o que mostra um rebanho destinado princi-palmente para a produção de carne.

Com essas características de ovinoculturadestinada à produção de carne, Serviço de Ins-peção Federal (2008) mostra que Mato Grossodo Sul é atualmente o estado com a terceiramaior quantidade de abates com inspeção fe-deral, atrás de Rio Grande do Sul e Bahia.

As tentativas do Estado de Mato Grossodo Sul para normatizar o comércio da carneovina remontam a 1975, ainda na época doMato Grosso uno, com o Convênio ICM 35/75,que estende à saída de gado ovino e carnesovinas o tratamento tributário estabelecido parao gado bovino e carnes bovinas. Após essa pri-meira legislação específica, os ovinos sempreforam atrelados à legislação tributária de bovi-nos, tanto para movimentação de animais pu-ros como de animais em pé ou paracomercialização de carne, como pode ser vis-to nos Convênios ICM 35/77, ICM 68/86, ICM23/87, ICMS 70/92, ICMS 36/99, ICMS 27/2002e ICMS 89/2005. Também tratam do assunto,sempre ligado à normatização da carne bovi-na, o Código Tributário Estadual, e várias Porta-rias, Instruções Normativas e Decretos.

Justamente um Decreto, o 11.176, de 11 deabril de 2003, depois complementado com o De-creto 11.269 do mesmo ano, criou o Programa deAvanços na Pecuária de Mato Grosso do Sul(Proape), visando a expansão e o fortalecimentoda bovinocultura, da suinocultura, da ovinocapri-nocultura e da piscicultura. Dentre os objetivosgerais que mais interessam à ovinocultura, foidescrito: aumentar o desfrute dos rebanhos, ele-var o nível de produtividade do sistema de produ-ção de carnes especiais, ampliar a produção decouro de qualidade e desenvolver e incentivar omercado de carne de qualidade.

Como forma de atingir os objetivos doProape, estava previsto em sua criação a im-plantação de ações visando a produção de ani-mais de qualidade, estímulo às formasorganizativas de produção, cadastramento deprodutores nos projetos de qualidade, presta-ção de assistência técnica, credenciamento defrigoríficos e concessão de incentivos fiscais.Existe um objetivo explícito no Proape, que é ode cadastrar o rebanho ovino, pois até entãonão havia dados confiáveis em poder da Se-cretaria de Receita e Controle.

São também metas do Proape, dentro dosubprograma de apoio à criação de ovinos ecaprinos: formar 20 núcleos de produtores no

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estado, cadastrar quatro indústrias, cadastrar200 produtores e abater 25 mil cordeiros cominspeção sanitária.

Como forma de incentivo ao cadastro deprodutores no Proape, o governo ofereceu umincentivo fiscal, na forma de crédito outorga-do, de 50 % do valor do ICMS incidente sobreas operações que o produtor realizar com ovi-nos e caprinos prontos para abate destinados aestabelecimentos industriais cadastrados emMato Grosso do Sul ou para operações interes-taduais. E esse valor assume a forma de créditopresumido se o destinatário for uma indústriainstalada no Mato Grosso do Sul.

Sendo assim, este estudo tem a finalida-de de demonstrar se a política de incentivosadotada por Mato Grosso do Sul para apoiar aovinocultura conseguiu provocar os efeitos po-sitivos planejados na cadeia produtiva da car-ne ovina do estado.

Referencial teóricoDe acordo com a escola clássica, a

competitividade era vista sob o prisma das vanta-gens comparativas. Já na visão neoclássica, acompetitividade é definida segundo um parâmetrode competição perfeita, sendo o resultado de umprocesso de interação entre agentes econômicos.

Segundo esse modelo, todos os agentestêm igual acesso à informação e o conhecimentotecnológico é acessível, passível de decodifica-ção e perfeitamente transmissível. Ou seja, atecnologia é considerada como um fator per-feitamente disponível para todos os agenteseconômicos, e esta não é considerada comoum fator de diferenciação competitiva, deixan-do de ser um instrumento de capacitação em-presarial e passando a ser considerada um fa-tor estático e conhecido, exógeno ao processocompetitivo (POSSAS, 2002). Como o ideárioneoclássico considera que a competitividade éresultado do processo de interação anônimaentre os agentes econômicos e que as forçasde mercado encarregam-se de regular esse pro-cesso, qualquer tipo de intervenção regulado-

ra por parte de entidades governamentais éconsiderada como um fator de distorção aomodelo.

Schumpeter (1982) questiona o modelo te-órico neoclássico de competitividade. Segundoesse autor, a competição é um processo dinâmi-co e evolutivo. A vantagem competitiva conquis-tada em um determinado momento no tempo ésuperada num momento subseqüente. Os agen-tes econômicos estão em constante interação. Apartir dessa visão dinâmica de competitividade,as inovações tecnológicas assumem importânciafundamental, passando a ocupar o centro da teo-ria de desenvolvimento econômico.

Porter (1993) desenvolveu um conceito devantagem competitiva, inserindo-a num contextomacroeconômico de nação. Assim, a vantagemcompetitiva de uma região é resultante do con-junto de vantagens competitivas obtidas pelas in-dústrias daquela região. Ou melhor, uma deter-minada região é competitiva quando as empre-sas baseadas naquela região são competitivas.Quatro atributos modelam o ambiente no qual asempresas competem, sendo responsáveis pelavantagem competitiva de um determinado local.São eles: a) condições de fatores, caracterizadospelo posicionamento da região com relação aosfatores de produção; b) condições de demanda,caracterizada pela natureza da demanda internapara os produtos ou serviços da indústria; c) in-dústrias correlatas e de apoio, aqui entendidocomo a existência na região de indústrias forne-cedoras e correlatas que sejam competitivas;d) estratégia, estrutura e rivalidade das empresas,entendidas como as condições que governam amaneira pela qual as empresas são criadas, orga-nizadas e dirigidas, bem como a natureza da ri-validade interna.

Esse conceito de competitividade englo-ba, ainda, uma nova definição de papéis dosagentes econômicos e do aparato político-institucional, os quais são fundamentais para ageração de um ambiente que venha a estimu-lar a manutenção da vantagem competitiva dasempresas de uma determinada região. As açõesgovernamentais podem influenciar positiva ounegativamente cada um dos quatro fatores

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determinantes da vantagem competitiva. Aspolíticas bem-sucedidas funcionam nas indús-trias onde os determinantes subjacentes da van-tagem nacional estão presentes e onde o go-verno os reforça.

Possas (2002) ressalta que aspectosregulatórios, de infra-estrutura, sociais emacroeconômicos agem de forma decisiva paracalibrar a intensidade do processo competitivoe eventualmente reforçar a competitividade dasempresas ali atuantes. A implicação mais claradessas considerações é que a concorrência e acompetitividade não surgem de forma espontâ-nea, mas dependem da adequação das condi-ções ambientais e, por extensão, das medidasde política econômica.

Pelo pacto federativo, os estados brasi-leiros podem dispor de normas tributáriasindutoras, visando regular a ordem econômi-ca, instituindo benefícios e/ou agravamentoscom o objetivo de realizar comportamentosdesejáveis pelos agentes econômicos. Os in-centivos fiscais são os instrumentos hábeis naconcessão de benefícios que visem incentivarações esperadas e devem ser utilizados para aconcretização dos princípios constitucionaisque garantem os direitos fundamentais dos ci-dadãos. Podem ser mencionados os seguinteselementos relacionados às figuras de incenti-vos fiscais: a) as subvenções, que constituemum benefício de natureza financeira; b) os cré-ditos presumidos, que ora apresentam-se comosubsídio, ora como subvenção e ora como re-dução da base de cálculo dos tributos; c) ossubsídios, que podem ser estímulos de nature-za fiscal ou comercial, para promover determi-nadas atividades econômicas por períodos tran-sitórios; d) as isenções tributárias, que evitam onascimento, por lei, da própria obrigação tribu-tária; e) o diferimento, que representa uma isen-ção condicionada (ELALI, 2005).

No entanto, Bonelli (2001) afirma que aprincipal preocupação da política decompetitividade praticada pelos diferentes es-tados no Brasil parece ser a de atrair empresas.Trata-se, portanto, muito mais de uma tentativa

de oferecer vantagens com a finalidade de des-locar o fluxo de investimento do que efetiva-mente criar condições para melhorar acompetitividade das empresas já existentes.

Quando os impostos são utilizados comoinstrumentos de modernização do setor pecuá-rio, geralmente dão-se incentivos, por via de re-dução de impostos, para a adoção de determina-das tecnologias. No entanto, o que a experiênciatem mostrado é que o impacto da redução tarifáriaacaba sendo pequeno, em função da grandezado abate clandestino (IEL, 2000).

Em Mato Grosso do Sul, a adoção de políti-cas de incentivo visando aumentar acompetitividade da ovinocultura também esbar-ra no fato de o abate clandestino ser uma práticarecorrente. No entanto, identificar os avanços queforam obtidos dentro do SAG da carne ovina éinformação importante para o aperfeiçoamentodos instrumentos de política pública adotados.

MetodologiaEste estudo possui características citadas

por Aaker et al. (2001) como sendo de uma pes-quisa qualitativa: a) interpretação de fenôme-nos e a atribuição de significados; b) ambientenatural como fonte dos dados e o pesquisadorcomo instrumento-chave; c) análise de dadosindutivamente; d) os focos principais de abor-dagem sendo o processo e seu significado.

O enfoque proposto é caracterizado por trêselementos principais: a) o uso maximizado de in-formações de fontes secundárias; b) observaçãodireta dos estágios da cadeia estudada; c) a con-dução de entrevistas informais e semi-estruturadascom elementos-chave que a compõem.

Resultados e discussãoAlém do ICMS, imposto estadual, vários

tributos federais também incidem sobre a ca-deia produtiva da ovinocultura de corte brasi-leira e sul-mato-grossense. Os principais estãodemonstrados na Tabela 1.

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Tabela 1. Principais tributos incidentes na cadeia da carne ovina.

PIS/Cofins

CPMF

CSLL

ITR

Funrural

ICMS

7,65

0,38

8,00

0,03 a 20,00

2,30

0,00 a 12,00

Alíquota (%)Tributo

Fonte: Adaptado de IEL (2000).

Faturamento

Movimentação bancária

Lucro líquido

Valor da terra nua

Faturamento

Valor agregado

Base de cálculo

Pessoas jurídicas

Pessoas físicas e jurídicas

Pessoas jurídicas

Produtor primário

Produtor primário

Empresas

Incidência na cadeia

O principal tributo incidente sobre a produ-ção da cadeia da carne historicamente foi o ICMS.No entanto, com as sucessivas reduções de basede cálculo, situações de isenção e concessão dediferimentos, o imposto mais significativo passoua ser um imposto federal, o PIS/Cofins.

Na cadeia da carne ovina, o ICMS ficadiferido nas operações internas do pecuaristapara a indústria abatedora. O diferimento é atransferência do lançamento, bem como o pa-gamento do imposto para a etapa posterior dacadeia produtiva. Ou seja, não cabe aopecuarista recolher o imposto. No entanto, aredução da base de cálculo e o crédito presu-mido são concedidos ao frigorífico.

Com o Decreto 12.056, de 2006, foiestabelecida uma redução da base de cálculopara 7 %, que ainda está em vigor em Mato Gros-so do Sul. Portanto, em animais para abate, ocor-reria uma incidência de ICMS de R$ 6,30 (7 % deR$ 90 – Tabela 2) por cabeça. Com o Proape, o

produtor cadastrado fica creditado em R$ 3,15,e recebe esse valor diretamente da indústria,junto com o pagamento dos animais abatidos.

As alíquotas do ICMS variam entre os esta-dos brasileiros. Cada estado possui uma legisla-ção específica que disciplina a concessão dediferimento, as situações de isenção, a reduçãoda base de cálculo e o crédito presumido, o queresulta em alterações de alíquotas de estado paraestado.

Pecuaristas e frigoríficos têm, de formarecorrente, proposto a redução e modificaçãoda sistemática de cobrança do ICMS. Um dosproblemas relativos à tributação diz respeito àfixação da pauta sobre a qual incide o ICMS. Ocálculo do ICMS é feito em uma base fixa, cha-mada de preço de pauta (IEL, 2000). Muitasvezes esse valor é estabelecido acima dos pre-ços praticados no mercado, como forma deaumentar a arrecadação.

Tabela 2. Pauta fiscal para ovinocultura em Mato Grosso do Sul.

Ovino macho/fêmea para cria

Ovino macho/fêmea para abate

Ovino macho/fêmea controlado para cria/recria

Ovino macho/fêmea registrado para cria/recria

Ovino macho/fêmea até 2 meses (cordeiro)

Descrição

Fonte: Mato Grosso do Sul (2007).

Cabeça

Cabeça

Cabeça

Cabeça

Cabeça

Unidade

100,00

90,00

600,00

1.100,00

9,00

Valor (R$)

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 70

A pauta fiscal para a ovinocultura emMato Grosso do Sul está estabelecida da formademonstrada na Tabela 2, conforme Mato Gros-so do Sul (2007).

Para os outros estados do Centro-Oeste, apauta fiscal está demonstrada na Tabela 3. Anali-sando essa tabela, em conjunto com a Tabela 2,fica clara a disparidade que existe entre os esta-dos do Centro-Oeste no estabelecimento de suaspautas fiscais, característica que também é apon-tado como um dos problemas da política tributá-ria brasileira. Até mesmo a classificação dos ani-mais é feita de forma distinta.

Foi realizado levantamento dos preçospraticados em Mato Grosso do Sul por dois fri-goríficos, como pode ser visto na Tabela 4 e naTabela 5. Essas duas plantas são responsáveispela maior quantidade de abates no estado edeve ser notado que os valores estabelecidosna pauta fiscal (Tabela 2) são superiores àque-les que o mercado pratica.

Um efeito que se espera da redução doICMS é a queda do abate clandestino. Contu-do, esse é um efeito cuja dimensão ainda estápor ser medida. Deve-se observar que a clan-destinidade não está vinculada apenas à co-brança de ICMS, mas também à cobrança deoutros tributos e, principalmente, aos custos re-lativos ao cumprimento da legislação sanitária(IEL, 2000).

Conforme Fapec e Sebrae (2006a), a clan-destinidade do abate configura-se em um sérioproblema. Além de diminuir a arrecadação tri-butária do País, gera problemas para a indús-tria frigorífica legalizada.

Silva (2002) afirma que é difícil precisaro consumo de carne ovina no Brasil, em fun-

Tabela 3. Pauta fiscal para ovinocultura, Goiás e Mato Grosso.

Ovino macho/fêmea para abate

Ovino macho/fêmea para cria

Descrição

Fonte: Goiás (2007) e Mato Grosso (2007).

Cabeça

Cabeça

Unidade

40,00

30,00

GOInterna

Valor (R$)

45,00

34,00

GOInterestadual

Valor (R$)

103,00

77,00

MTValor(R$)

Tabela 4. Preço do ovino ao produtor no frigoríficoTatuibi, em Cassilândia, MS, dezembro de 2007.

Animais com 10 kg a20 kg de carcaça

Animais fora do padrão

Descrição

75,00

65,00

Preço(R$ por @)

ção do elevado nível de autoconsumo nas pro-priedades rurais. Estima-se entre 0,6 kg e 1 kgpor habitante por ano o consumo brasileiro decarne ovina (SILVA, 2002; SEBRAE, 2006). Poroutro lado, segundo Neto (2004), há uma ten-dência de declínio do autoconsumo nas propri-edades, crescendo a comercialização em su-permercados e açougues.

Assumindo-se o valor mais baixo demons-trado acima, pode-se estimar um consumo de cer-ca de 113 mil toneladas. Campos (1999), citandodiversos autores, mostra que o tamanho médio dacarcaça de ovino no Brasil é de 14 kg. Então, oconsumo de carne ovina no Brasil equivale àscarcaças de aproximadamente 8,1 milhões de

Tabela 5. Preço do ovino ao produtor no frigoríficoJS, em Campo Grande, MS, dezembro de 2007.

Ovelha magra

Ovelha gorda

Borrego

Cordeiro

Descrição

60,00

70,00

80,00

93,50

Preço(R$ por @)

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200871

cabeças. Nesse sentido, a importação do Uruguaiequivale a cerca de 334 mil cabeças, conformeBrasil (2008). Portanto, o abate nacional deveriachegar a 7,737 milhões de cabeças, ou 49,6 %do rebanho total. Esse valor está próximo doque Couto (2003), utilizando dados da FAO,mostrou que vem sendo observado no merca-do mundial, onde o abate chegou a 489,1 mi-lhões de cabeças em 2002, significando 47,3% do rebanho total.

Se for acompanhado o resultado brasilei-ro de abate de 49,6 % do rebanho anualmente,para o rebanho de 439.782 cabeças que o IBGE(2007) estima para Mato Grosso do Sul, tem-seque são encaminhados para abate 218.132 ani-mais por ano nesse estado, dos quais somente8,5 % é abatido com inspeção sanitária.

Na Tabela 6 pode ser vista a evoluçãodos abates de ovinos inspecionados em MatoGrosso do Sul, desde o decreto que criou oProape, em 2003, de acordo com o Serviço deInspeção Federal (2008). Conforme a AgênciaEstadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal(2007), não existem estabelecimentos com ins-peção sanitária estadual autorizados a abaterovinos em Mato Grosso do Sul. Ocorreu umincremente expressivo do abate fiscalizadoapós a inauguração do frigorífico especializa-do em 2003, em Campo Grande.

Portanto, existe uma quantidade aproxi-mada de 200 mil animais que é utilizada paraautoconsumo nas propriedades rurais, que éenviada para abate nos estados vizinhos e quealimenta o abate clandestino.

O frigorífico Margem, de Rio Verde, GO,tem 19,4 % do abate de ovinos oriundos de MatoGrosso do Sul, o que significou 1.733 cabeçasentre janeiro e agosto de 2006 (SANTOS, 2007).Mesmo sem contar com frigoríficos com inspe-ção federal, o Estado do Paraná levou 545 ani-mais de Mato Grosso do Sul para abate cominspeção estadual (SILVA, 2004).

Ainda que não se disponha de informa-ções a respeito de quantos animais foram leva-dos para abate no Estado de São Paulo, pode-se ver que, em relação ao tamanho do rebanhode Mato Grosso do Sul (439.782 cabeças), épequena a quantidade de ovinos abatida de for-ma legal nos estados vizinhos.

Sendo assim, pode-se inferir que a maiorparte dos ovinos vendidos em Mato Grosso doSul sai do estado sem emissão de guia de trân-sito animal ou então entram no mercado localde forma clandestina.

Como cada animal abatido deveria geraruma receita de R$ 6,30 ao estado, somente nes-sa etapa existe uma perda estimada emR$ 1.336.570,02. Isso sem contar o que deixade ser gerado com o ICMS oriundo da comer-cialização da carne, que é gravada em 3 %para operações dentro do estado e 4 % paraoperações interestaduais.

Ao mesmo tempo, o produtor que vende seusanimais para o abate clandestino deixa de recebero valor correspondente ao crédito do Proape, ge-rando prejuízos também no setor primário.

Em Campo Grande, Sorio et al. (2007)3

encontraram 22,2 % dos estabelecimentos va-rejistas vendendo carne ovina oriunda do aba-te clandestino. Esses estabelecimentos sempresão abastecidos diretamente por algum criadorque faz o abate em sua propriedade rural e não

3 SORIO, A.; FAGUNDES, M. B. B.; LEITE, L. R. R. Oferta de carne ovina no varejo de Campo Grande (MS): uma abordagem de marketing. 2007. 25 p. Não publicado.

Tabela 6. Evolução dos abates de ovinos cominspeção federal no Brasil e em Mato Grosso do Sul,entre os anos 2003 e 2007.

2003

2004

2005

2006

2007

Ano

Fonte: Serviço de Inspeção Federal (2008).

0,00

0,00

0,42

3,78

6,93

Abate em MatoGrosso do Sul

(%)

79.036

135.076

162.221

228.516

267.533

Abate noBrasil

0

0

687

8.645

18.544

Abate emMato Grosso

do Sul

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Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 72

por um abatedouro sem registro. E os cortesnesses estabelecimentos são vendidos cerca de14 % mais baratos do que nos locais onde acarne vendida provém de locais com inspeçãosanitária do abate.

Esses fatos corroboram o que dizem Fapece Sebrae (2006b), que afirmam que muitos cria-dores do Mato Grosso do Sul abatem animais clan-destinamente, entregando-os diretamente paraaçougues, como forma de aumentar suas margens.

Analisando especificamente as metas dosubprograma de apoio à criação de ovinos e caprinosem Mato Grosso do Sul, chega-se a algumasconstatações, que podem ser vistas na Tabela 7.

São Gabriel do Oeste, totalizando dez núcleos.Ainda existem alguns núcleos informais, forma-dos por 2 a 4 produtores, em vários locais deMato Grosso do Sul. Antes da instituição doProape, havia somente um núcleo de produto-res, justamente em Campo Grande. Apesar dosignificativo crescimento na organização dosprodutores, alcançou-se somente 50 % da metaestabelecida.

O cadastro dos frigoríficos no Proape atin-giu duas indústrias das três que abatem ovinos cominspeção sanitária em Mato Grosso do Sul. O fri-gorífico não cadastrado, em Cassilândia, possi-velmente é reflexo do fato de não haver núcleosde produtores em sua região de influência.

Finalmente, o abate inspecionado alcan-ça 63,9 % da meta, sendo o resultado mais con-sistente do Proape. Deve ser registrado, no en-tanto, que a maior quantidade desses abatesocorrem em uma única planta frigorífica,estabelecida em Campo Grande.

ConclusõesEfetuando-se uma análise das característi-

cas dos incentivos concedidos ao longo dosúltimos anos para a ovinocultura, observa-se queesses incentivos não parecem incorporar meca-nismos de estímulo à modernização tecnológicadas empresas, nem ao treinamento e aperfeiçoa-mento técnico da mão-de-obra empregada. Es-ses incentivos não prevêem, também, a induçãoda interação entre empresas, clientes e fornece-dores nem possuem mecanismos de estimulo àcriação de vantagens competitivas dinâmicaspermanentes para Mato Grosso do Sul.

Nesse sentido, cabe ressaltar que mesmo oProape, que condiciona a obtenção de bene-fícios de ICMS pelo produtor considerando fato-res como nível tecnológico da exploração e ado-ção de boas práticas de produção, não parecepossuir mecanismos capazes de estimular aincorporação do desenvolvimento tecnológiconem a busca de atuação coordenada por partedos produtores e empresas locais.

Tabela 7. Resultados obtidos pelo Proape emrelação às metas de 2007.

Núcleos deprodutores

Produtorescadastrados

Indústriascadastradas

Abateinspecionado

Descrição

10

78

2

15.978

Resultado(quantidade)

20

200

4

25.000

Meta(quantidade)

50,0

39,0

50,0

63,9

Resultado(% da meta)

Dos 1.248 produtores que são cadastradosna Associação Sulmatogrossense de Criadores deOvinos (Asmaco), somente 78 criadores estãocadastrados para receber os incentivos oriundosdo Proape. Ou seja, atingiu-se 39 % da meta de200 produtores estabelecida em 2003.

Isso demonstra que a simples concessãode incentivos fiscais não foi capaz de estimularos produtores locais a se integrarem a um pro-grama de apoio à cadeia produtiva.

Existem núcleos oficializados de produ-tores nos seguintes municípios: Anaurilândia,Campo Grande, Corumbá, Coxim, Dourados,Eldorado, Miranda, Ponta Porã, Três Lagoas e

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Por outro lado, apesar de as metasestabelecidas para o Proape estarem distantesde serem alcançadas, é inegável que ocorreuum avanço na organização da cadeia produti-va da ovinocultura em Mato Grosso do Sul apósa implantação desse programa. Isso pode servisto com o aumento dos núcleos de produto-res em todo o estado e com o aumento do aba-te com inspeção sanitária. De qualquer manei-ra, a quantidade de produtores cadastrados noProape é muito pequena se for comparada àquantidade de associados da Asmaco, demons-trando que a concessão de incentivos fiscais,por si só, não consegue atrair os agentes do SAG.

No entanto, a evolução dos abatesinspecionados em Mato Grosso do Sul coinci-de com a inauguração do frigorífico especializa-do em Campo Grande, o que dificulta avaliaraté que ponto o Proape teve efeito indutor comoprograma de política pública para o setor.

O sistema atual de tributação é apontadocomo um fator que favorece a existência do abateclandestino, que é muito grande em Mato Grossodo Sul, sendo várias vezes superior ao abate ins-pecionado. Isso provoca uma perda de receita sig-nificativa e causa riscos à saúde da população.

Para que se consiga estabelecer melhor oimpacto das políticas fiscais destinadas àovinocultura, é necessário determinar a quanti-dade de ovinos que tem como destino o abate emoutros estados da federação, para poder precisaro tamanho do abate clandestino em Mato Grossodo Sul e os prejuízos causados por ele.

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Análise dasexportações diretasdas cooperativasbrasileiras

Marcos Antonio Matos1

Evandro Scheid Ninaut2

Flávia de Andrade Zerbinato Martins3

Rodrigo Chaer Caiado4

Resumo: O cooperativismo brasileiro apresenta relevante importância significativa na economia,graças ao alinhamento do desenvolvimento econômico ao social. Nesse contexto, os estudospara a análise quantitativa do cooperativismo se tornam necessários. O presente estudo tem oobjetivo de analisar as exportações diretas das cooperativas e, para tanto, considerou-se o seudesempenho frente aos fatores macroeconômicos, avaliando-se os principais produtos, os paísesde destino e a representação dos principais estados. Segundo os resultados obtidos em 2007, asexportações foram no valor de US$ 3,30 bilhões com a liderança das cooperativas do ramoagropecuário, sendo o setor sucroalcooleiro, o complexo soja e o segmento das carnes os princi-pais produtos.

Palavras-chave: cooperativas, desenvolvimento, economia, indicadores.

Abstract: The Brazilian cooperatives show economic importance due to the alignment of thesocial and economic development. In this context, the studies for cooperatives quantitative analysisbecome important. This study aims to examine the cooperatives’ direct exports and to achieve thisaim, this performance was considered facing macroeconomic factors, examining the main productssold, the destination countries and the major states’ representation. According to the results in2007, exports added up to US$ 3.30 billion with the leadership of agricultural cooperatives, andthe main products exported were derived from the sugarcane sector, the soybean complex andthe meat segment.

Keywords: cooperatives, development, economics, indicators.

1 Eng. Agrônomo, M.Sc em Agronomia, Técnico de Nível Superior da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). E-mail: [email protected] Economista, Especialista em Gestão de Cooperativas, Gerente de Mercados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). E-mail: [email protected] Economista, Técnica de Nível Superior da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). E-mail: [email protected] Graduando em Economia, Estagiário da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). E-mail: [email protected]

IntroduçãoAs cooperativas brasileiras apresentam

relevante papel na economia, graças às exporta-

ções de seus produtos, aos empregos gerados eao alinhamento do desenvolvimento humanocom o desenvolvimento sustentável. SegundoBialoskorski Neto (2002), as cooperativas apre-

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sentam duas dimensões: a econômica, combase nos resultados, e a social, com foco noassociado e na comunidade.

O movimento cooperativista brasileiro édiversificado, dividido em 13 ramos de ativida-des distintas, sendo eles: agropecuário, educaci-onal, crédito, saúde, infra-estrutura, habitação,transporte, turismo e lazer, produção, especial,mineral, consumo, e trabalho (OCB, 2004). Deacordo com Braga (2002), esse conglomeradocooperativo tem papel significativo no desenvol-vimento da sociedade, promovendo benefícioscomo o acesso a crédito, saúde, educação, mo-radia e ao mercado de trabalho, com responsabi-lidade social e ambiental.

Mesmo com os desafios impostos para aprodução e exportação dos produtos, destacan-do-se a valorização do Real, os elevados custosdos fretes, a deficiente infra-estrutura portuária eos entraves nos sistemas de armazenamento, ascooperativas apresentaram receitas cambiaiscrescentes, com participação significativa nasexportações brasileiras (MATOS; NINAUT, 2008).

Considerando-se a influência econômica docooperativismo no Brasil, os estudos para a suaanálise quantitativa se tornam necessários. Nes-se contexto, a análise das exportações diretas dascooperativas torna-se de fundamental relevânciapara a avaliação da sua importância na receitacambial brasileira, considerando-se o seu desem-penho, os mercados consumidores e os produtoscomercializados. Para tanto, a análise foi realiza-da a partir dos dados da Secretaria de ComércioExterior do Ministério do Desenvolvimento, Indús-tria e Comércio Exterior, considerando-se as ex-portações realizadas diretamente pelas coopera-tivas brasileiras.

Resultados e discussãoOs resultados das exportações das coo-

perativas estão apresentados em quatro etapasdistintas. A primeira etapa analisou o desempe-nho das exportações considerando-se os fato-res macroeconômicos e a segunda foi voltadapara a identificação dos países importadores dos

produtos das cooperativas. A terceira etapa pro-curou avaliar os produtos exportados pelas co-operativas e a quarta, a participação docooperativismo segundo o estado da federação.

Desempenho das exportaçõese fatores macroeconômicos

Dentre os fatores macroeconômicos queafetam o desempenho das exportações das co-operativas, destacam-se o comportamento dodólar frente ao real e as projeções de cresci-mento das economias no mundo. Segundo ocenário, a Fig. 1 mostra a evolução das expor-tações das cooperativas ao longo dos anos, bemcomo a série anual do dólar no período.

Fig. 1. Evolução das exportações das cooperativas coma consideração das cotações do dólar.Fonte: Brasil (2008) e Cepea (2008).

A valorização cambial afetou a balançacomercial brasileira e pode resultar em impac-tos negativos para as vendas externas das coo-perativas, por causa do seu efeito de atenuar avalorização das commodities no âmbito inter-nacional. As exportações diretas das coopera-tivas, no acumulado de janeiro a dezembro de2007, somaram US$ 3,30 bilhões, enquanto, em2006, foram US$ 2,83 bilhões. A variação en-tre os anos de 2006 e 2007 demonstra um cres-cimento de 16,50 % no total exportado. Ressal-ta-se que foram observadas 185 cooperativasexportadoras no ano de 2007, considerando-seas centrais e as respectivas filiais.

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Os valores exportados e a cotação do dó-lar apresentaram tendências inversas de compor-tamento, pois, mesmo com os desafios impostospara a exportação da produção, destacando-se avalorização do Real de 36,58 % entre 2003 e 2007(cotação média em 2003: 3,07 R$/US$; cotaçãomédia em 2007: 1,95 R$/US$), as cooperativasapresentaram receitas cambiais crescentes, comparticipação significativa nas exportações brasilei-ras. É importante ainda destacar que, embora nãoseja observada a influência direta do câmbio na re-dução da evolução das exportações, as cooperati-vas deixaram de faturar montantes significativamentesuperiores na moeda brasileira, caso a mesma esti-vesse desvalorizada em um ponto de equilíbrio queincentivasse as exportações (Fig. 1).

Em relação ao quantum exportado pelascooperativas, no acumulado de janeiro a de-zembro de 2007, atingiu-se o montante de8,12 milhões de toneladas, enquanto em 2006foram embarcados 7,53 milhões de toneladas,apresentando um aumento de 7,84 % (Fig. 2).

mista – devido à valorização das commoditiesno cenário internacional –, as quantidadescomercializadas mostraram números mais mo-destos. Tal fato pode ser explicado pelos entra-ves logísticos e pelo excesso de burocratizaçãoportuária, bem como pela elevada carga tribu-tária no País. Dessa forma, são de fundamentalimportância os investimentos em infra-estrutu-ra para melhoria das rotas de comercializaçãoe a ampliação dos modais logísticos, além daprofissionalização da gestão portuária. Tais fa-tores são requisitos básicos para consolidar ocooperativismo brasileiro no comércio interna-cional, com destaque para a agregação de va-lor aos seus produtos.

A Fig. 3 apresenta as taxas de crescimentodos valores monetários exportados no Brasil e nascooperativas no período compreendido entre osanos de 2004 e 2007. As variações observadasnas exportações das cooperativas foram superio-res em relação às médias brasileiras em 2004 eem 2006. No ano de 2005, o crescimento dasexportações brasileiras foi de 22,63 % e o dascooperativas, 12,54 %. Analisando-se o ano de2007, foram observados incrementos semelhan-tes na evolução das exportações.

As exportações totais brasileiras em 2007somaram US$ 160,65 bilhões, representandoum aumento de 16,6 % em relação ao acumu-lado de janeiro a dezembro de 2006, contra16,5 % das cooperativas (Fig. 3).

Fig. 2. Evolução das exportações das cooperativasbrasileiras.Fonte: Brasil (2008).

De acordo com os dados analisados nasFig. 1 e 2, os valores exportados mostraram umincremento de 14,50 %, enquanto as quantidadescomercializadas, 7,84 %. Isso se deve ao aqueci-mento dos preços das commodities, tais como osprodutos do complexo soja, milho, trigo e as car-nes, principalmente.

Embora as exportações diretas das coo-perativas tenham apresentado desempenho oti-

Fig. 3. Evolução das exportações das cooperativasbrasileiras.Fonte: Brasil (2008).

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A análise da balança comercial do coope-rativismo em valores totais e a respectiva taxa decrescimento é visualizada na Fig. 4.

do complexo soja, do setor sucroalcooleiro e dascarnes. A China, a Alemanha e os Emirados Ára-bes aparecem na seqüência, com participaçõesde 8,87 %, 8,26 % e 7,32 %, respectivamente.Em relação à China, as compras de produtos docomplexo soja sustentaram os incrementos dasvendas externas, com destaque para as coopera-tivas do Estado do Paraná. Analisando-se as ex-portações para a Alemanha, o complexo soja, ascarnes e o café verde foram os principais produ-tos da pauta.

Os Estados Unidos foram os primeiros co-locados em 2006, com uma participação de11,23 %. Em 2007, o país está na quinta posição,com um total de 5,58 % das exportações das coo-perativas, resultado de uma redução de 42,13 %nos valores das vendas externas. Destaca-se quea redução citada configura-se como desafio a sersuperado, uma vez que aquele país destaca-seno comércio internacional e está consolidadocomo o maior mercado importador para os de-mais países. A redução da participação dos Esta-dos Unidos nas exportações das cooperativas bra-sileiras pode representar um desalinhamento comas tendências do comércio internacional.

Ainda se deve ressaltar a representação de43,86 % dos demais países, o que demonstra a

Fig. 4. Balança comercial das cooperativas brasileiras.Fonte: Brasil (2008).

As cooperativas brasileiras importaram US$293,25 milhões em 2007, registrando um superá-vit da balança comercial de US$ 3,01 bilhões.O superávit do segmento cooperativista apre-sentou um aumento de 14,41 % em relação a2006. Destaca-se a preponderância das expor-tações das cooperativas sobre as importações,fato esse demonstrado pelo resultado da balan-ça comercial do cooperativismo. Destaca-seque a maior taxa de crescimento da balançafoi registrada no ano de 2004, com um incre-mento total de 57,76 % em relação ao ano an-terior (Fig. 4).

Principais mercados de destino

O estudo do direcionamento das vendasexternas das cooperativas brasileiras é de fun-damental relevância para a determinação dosmercados conquistados, bem como os merca-dos potenciais de crescimento. Observa-se naFig. 5 a participação dos países importadoresde produtos das cooperativas no ano de 2007.

Os Países Baixos destacaram-se nas im-portações dos produtos comercializados pelascooperativas, representando 10,78 % do totaldas exportações no ano de 2007. A elevaçãodas exportações para os Países Baixos resultoudo incremento das vendas externas de produtos

Fig. 5. Direcionamento das exportações dascooperativas brasileiras com a representação de cadapaís em 2007.Fonte: Brasil (2008).

Page 80: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200879

pulverização das exportações para aproximada-mente 20 países importadores, incluindo Espanha,Canadá, Reino Unido, Bélgica, França, Itália epaíses africanos e latino-americanos (Fig. 5).

O detalhamento dos países importadores dosprodutos das cooperativas brasileiras ao longo dosdois últimos anos, 2006 e 2007, é visualizado naTabela 1.

Tabela 1. Direcionamento das exportações das cooperativas brasileiras, nos períodos de 2006 e 2007.

Países Baixos

China

Alemanha

Emirados Árabes

Estados Unidos

Rússia

Japão

Arábia Saudita

Espanha

Hong Kong

Irã

Canadá

Reino Unido

Nigéria

África do Sul

Argélia

Bélgica

França

Marrocos

Itália

Índia

Argentina

Venezuela

Jamaica

Tailândia

Coréia do Sul

Indonésia

Gana

Demais países

Total

País importador

204.308,13

215.977,14

180.934,71

280.409,77

318.203,33

161.906,49

117.453,83

124.626,26

85.373,14

66.316,83

102.903,47

43.017,78

36.232,26

48.389,17

68.743,84

23.831,12

32.413,88

44.759,52

33.442,31

51.025,37

13.004,17

29.149,91

5.029,77

6.550,94

12.755,10

27.962,88

9.263,18

8.168,07

480.739,10

2.832.891,46

Valor(milharesde US$)

404.676,51

918.355,71

544.958,96

835.066,14

449.030,92

156.870,10

99.175,64

338.447,29

499.147,64

65.833,54

589.289,06

112.324,32

62.001,80

157.638,50

175.511,37

48.663,14

35.513,37

154.787,27

106.376,80

117.453,15

24.271,71

46.679,37

8.277,04

13.079,23

55.347,64

140.995,50

18.798,72

20.381,95

1.329.008,75

7.527.961,12

Quantidade(milhares detoneladas)

2006

355.724,01

292.846,12

272.612,24

241.655,60

184.143,34

180.067,23

166.081,61

160.196,74

140.872,60

99.898,58

95.305,19

76.850,96

72.757,26

72.750,97

65.591,23

63.035,93

56.644,67

54.959,22

48.527,48

41.406,80

32.337,28

30.035,37

28.015,16

24.580,87

22.274,59

21.728,12

21.449,17

17.326,35

361.537,32

3.301.212,01

Valor(milharesde US$)

731.961,52

1.001.934,39

614.465,47

932.050,26

263.026,86

218.948,56

187.749,92

661.879,80

518.635,80

75.272,27

419.271,89

264.270,80

81.640,51

237.475,67

139.574,32

134.414,30

53.806,46

184.091,56

192.273,39

77.655,88

87.097,99

9.018,17

7.707,09

46.788,53

58.097,11

57.529,07

58.831,31

52.426,58

750.113,62

8.118.009,08

Quantidade(milhares detoneladas)

2007

74,11

35,59

50,67

-13,82

-42,13

11,22

41,40

28,54

65,01

50,64

-7,38

78,65

100,81

50,35

-4,59

164,51

74,75

22,79

45,11

-18,85

148,67

3,04

456,99

275,23

74,63

-22,30

131,55

112,12

-24,80

16,53

Valor

80,88

9,10

12,75

11,61

-41,42

39,57

89,31

95,56

3,90

14,34

-28,85

135,27

31,67

50,65

-20,48

176,21

51,51

18,93

80,75

-33,88

258,85

-80,68

-6,89

257,73

4,97

-59,20

212,95

157,22

-43,56

7,84

Quantidade

Variação observada (%)

Exportação das cooperativas brasileiras

Fonte: Brasil (2008).

Page 81: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 80

De acordo com a Tabela 1, os Estados Uni-dos apresentaram um significativo decréscimo naparticipação dos valores exportados pelas coo-perativas (-42,13 %), seguido pela Coréia do Sul(-22,30 %) e pelos Emirados Árabes (-13,82 %). Aqueda acentuada das importações pelos EstadosUnidos era esperada, pois os americanos estãoampliando a sua produção doméstica de etanol apartir da cultura de milho.

As evoluções observadas entre os anosde 2006 e de 2007 foram dos Países Baixos(74,11 %), China (35,59 %) e Alemanha (50,67 %),os três primeiros colocados nas vendas exter-nas das cooperativas em 2007.

A Venezuela e a Jamaica, embora comuma pequena participação nas vendas das co-operativas em valores absolutos, apresentaramas maiores oscilações ao longo dos dois anos,atingindo 456,99 % e 275,23 %, o que reflete apolítica externa brasileira de direcionamentodos percentuais de exportação para os merca-dos não-tradicionais nos últimos anos. As vari-ações descritas das exportações das coopera-tivas para a Venezuela são explicadas pelasvendas de leite em pó, com um montante totalde US$ 25,71 milhões, tendo as cooperativasmineiras a principal parcela (91,63 %). Em re-lação à Jamaica, as importações de álcool fo-ram as responsáveis pela participação da pau-ta, sendo as cooperativas paulistas de álcool(US$ 14,47 milhões) e as cooperativasparanaenses (US$ 8,33 milhões) as represen-tantes (Tabela 1).

Produtos exportados

Para a análise da competitividade das co-operativas brasileiras frente ao mercado inter-nacional, torna-se necessário o detalhamento dosprodutos exportados e o grau de agregação devalor. A Fig. 6 mostra a participação percentualdos produtos exportados em função dos montan-tes obtidos, fixando-se o ano de 2007.

O complexo sucroalcooleiro – quecorresponde aos açúcares e ao álcool etílico –e o complexo soja – que engloba o grão, o óleo

e o farelo – apresentaram preponderância so-bre os demais itens. Para o complexosucroalcooleiro, a participação nos valores ob-tidos com as vendas externas foi de 32,79 % epara o complexo soja, 25,91 %. Dessa forma,os produtos citados são considerados os princi-pais produtos da pauta.

Em relação ao complexo soja, tradicio-nal produto exportado pelas cooperativas, aselevações nas cotações internacionais dacommodity pressionaram os preços dos produ-tos e dos subprodutos, como o óleo e o farelo. Aelevação nas cotações relatadas a partir dosegundo semestre de 2007 pode ser explicadapela utilização de milho para a produção deetanol nos Estados Unidos, como uma projeçãoda utilização de 110 milhões de toneladas docereal na safra 2008/2009 para esse fim. Comoconseqüência, foi observada uma redução daárea plantada para as commodities, com des-taque para a soja.

A questão da agroenergia – associada aoaquecimento da demanda de produtosagropecuários em ordem mundial – resultou naselevações de preços e, conseqüentemente, pre-ocupações quanto aos impactos nas taxas de

Fig. 6. Participação dos produtos exportados pelascooperativas brasileiras em 2007.Fonte: Brasil (2008).

Page 82: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200881

inflação e nos preços de alimentos básicos daalimentação nos países. As carnes e o café fi-guram na seqüência, com representações de17,76 % e 8,32 %, respectivamente (Fig. 6).

As Fig. 7 a 9 mostram o detalhamento dosprodutos pertencentes às classes complexo soja,sucroalcooleiro e carnes.

Para o complexo soja, os grãos representam58,31 % do total, seguido pelo farelo (29,26 %) epelo óleo (12,43 %). Mesmo com a isenção doICMS sobre produtos primários e semi-elabora-dos exportados, o aumento dos custos doprocessamento da soja no mercado interno(entre produtores e esmagadoras) justificou ocrescimento das exportações de grãos de soja,em detrimento ao farelo e ao óleo, produtos ob-tidos a partir da industrialização da oleaginosa(Fig. 7).

Em relação às carnes, as aves representa-ram 68,82 % das vendas externas das cooperati-vas em 2007, caracterizada como principal pro-duto dessa natureza. As carnes suína e bovinaapresentaram uma participação de 26,81 % e de4,37 %, respectivamente. Destaca-se o embargoda União Européia à carne bovina brasileira, porperíodo indeterminado, o que comprometerá asvendas externas, que foi de US$ 34,59 milhõesem 2007 (Fig. 8). Em relação ao complexosucroalcooleiro, os açúcares possuem destaque,

com uma participação de 70,33 % nesse setor ede 23,06 % no total exportado. O álcool tem umaparcela de 29,67 % no setor sucroalcooleiro e de9,73 % no total comercializado pelas cooperati-vas, respectivamente (Fig. 9).

Fig. 7. Componentes do complexo soja em 2007.Fonte: Brasil (2008).

Fig. 8. Componentes das carnes em 2007.Fonte: Brasil (2008).

Fig. 9. Componentes dos produtos do setor sucro-alcooleiro em 2007.Fonte: Brasil (2008).

O detalhamento dos produtos exportadospelas cooperativas brasileiras é apresentado naTabela 2. O setor sucroalcooleiro mostrou maiorimportância dentre os produtos exportados pelascooperativas, atingindo um total de US$ 1.082,53milhões, uma redução de 7,31 % em relação a2006. Em 2006, os açúcares lideraram a pauta,com um total de US$ 800,37 milhões, passan-do para US$ 761,36 milhões em 2007, fato as-

Page 83: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 82

sociado à redução da sua cotação no cenáriointernacional.

Outro produto do setor sucroalcooleiro éo álcool etílico, que apresentou oscilação nosvalores exportados pelas cooperativas. Paraesse produto, o mercado encontra-se em umperíodo de ajuste na oferta e na demanda, oque afetou as suas cotações no mercado. Con-tudo, considerando-se as projeções devidas àspreocupações ambientais, associadas às por-centagens de misturas de combustíveisrenováveis exigidas nos Estados Unidos, naUnião Européia, no Brasil e em diversos outrospaíses, o produto brasileiro de procedência dascooperativas tem vantagens competitivas, po-dendo consolidar-se nos mercados tradicionaise, concomitantemente, alcançar aqueles mer-cados potenciais. Nos anos de 2005 e 2006, asexportações do complexo soja mostraram re-duções, o que é explicado pela crise da agri-cultura no Brasil devida à queda nos preços,que afetou as exportações das cooperativas doramo agropecuário.

As carnes mostraram crescimento contí-nuo no período analisado, passando deUS$ 248,86 milhões em 2003 para US$ 662,72milhões no ano de 2007 – crescimento de166,30 %. Outros produtos que apresentaram

elevações nos valores exportados no ano de2007 foi o café (US$ 274,67 milhões) e o milho(US$ 145,23 milhões). No caso do café, o cres-cimento foi contínuo, passando de US$ 82,66milhões em 2003 para US$ 274,67 milhões em2007 – elevação de 232,26 % no intervalo es-tudado. Para o milho, o crescimento foi acele-rado, com a exceção do ano de 2005.

Os produtos selecionados na Tabela 2 noano de 2007 apresentaram um faturamento to-tal de US$ 2.997,90 milhões em captação dedivisas, representando 90,81 % do total expor-tado pelas cooperativas. Considerando-se o anode 2006, a participação foi de 95,96 %.

Estados exportadores

As exportações das cooperativas têmcomo origem os estados do Brasil, conforme évisualizado na Fig. 10.

Considerando-se o ano de 2007, o Estadode São Paulo mostrou maior participação,apesar de uma concentração no setorsucroalcooleiro, com um total exportado deUS$ 1.073,09 milhões – ou seja, 32,51 % dototal. As cooperativas do Estado do Paraná, osegundo maior exportador, possuem uma ex-portação total de US$ 1.052,91 milhões, parti-cipação de 31,89 %. No Estado de Minas Gerais,

Tabela 2. Produtos exportados pelas cooperativas, considerando-se os valores totais ao longo dos anos.

Setor sucroalcooleiro

Complexo soja

Carnes

Café

Milho

Algodão

Trigo

Outros

Total das cooperativas

Produto

274.947,47

581.620,92

248.864,94

82.664,92

72.914,45

6.389,54

4.687,38

31.749,89

1.303.839,50

2003

Exportação total (milhares de US$)

411.022,85

850.024,03

366.561,88

133.813,31

86.757,27

13.011,70

83.273,60

58.137,14

2.002.601,78

2004

698.041,73

633.468,40

520.193,80

202.616,85

18.156,00

75.979,39

8.017,00

97.345,89

2.253.819,05

2005

1.167.921,19

615.927,46

519.628,24

206.140,97

129.395,10

43.119,76

25.603,43

124.750,23

2.832.486,37

2006

1.082.546,81

855.181,24

662.716,81

274.666,01

145.229,63

35.551,86

18.401,09

226.918,57

3.301.212,01

2007

Fonte: Brasil (2008).

Page 84: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 200883

as exportações foram de US$ 356,98 milhões, parti-cipação de 10,81 %. As cooperativas desse estadomostraram a maior taxa de evolução das vendas ex-ternas, passando de US$ 209,94 milhões em 2006para US$ 356,98 milhões – crescimento de 70,04 %.

Os três estados citados somados represen-taram 75,21 % dos valores e 79,45 % das quanti-dades exportadas pelas cooperativas brasileirasno ano de 2007 (Fig. 10).

A análise das exportações das cooperati-vas em todos os estados brasileiros, consideran-do-se os anos de 2006 e de 2007 e as variaçõesobtidas, é apresentada na Tabela 3.

Fig. 10. Estados brasileiros de origem das exportaçõesdas cooperativas em 2007.Fonte: Brasil (2008).

Tabela 3. Estados brasileiros exportadores nos anos 2006 e 2007 e as variações observadas no período.

São Paulo

Paraná

Minas Gerais

Santa Catarina

Rio Grande do Sul

Mato Grosso do Sul

Goiás

Mato Grosso

Pernambuco

Tocantins

Bahia

Rio Grande do Norte

Pará

Rondônia

Rio de Janeiro

Espírito Santo

Acre

Maranhão

Paraíba

Alagoas

Ceará

Roraima

Estado exportador

1.118.012,42

852.885,83

209.942,32

196.176,87

143.971,99

79.302,35

90.743,16

59.052,37

18.493,25

35.699,42

12.575,05

4.817,24

3.790,35

4.331,58

60,93

1.212,69

647,28

143,51

71,88

199,01

0,72

761,25

Valor(milharesde US$)

3.182,84

2.814,61

100,32

364,17

324,53

452,84

105,19

135,29

11,33

16,03

9,21

5,36

1,47

0,43

0,03

0,17

0,91

0,05

0,00

0,05

0,00

3,15

Quantidade(milhares detoneladas)

2006

1.073.089,90

1.052.909,88

356.983,92

251.224,98

248.892,39

89.475,10

70.148,75

61.492,25

31.354,18

28.801,63

12.186,61

9.345,40

5.613,91

5.151,50

1.984,19

1.647,83

579,90

191,81

74,83

63,08

-

-

Valor(milharesde US$)

3.587,41

2.648,70

213,35

350,19

501,11

420,84

233,46

109,44

14,25

13,78

6,45

14,39

1,85

0,78

0,65

0,53

0,76

0,06

0,00

0,01

-

-

Quantidade(milhares detoneladas)

2007

-4,02

23,45

70,04

28,06

72,88

12,83

-22,70

4,13

69,54

-19,32

-3,09

94,00

48,11

18,93

3.156,35

35,88

-10,41

33,66

4,11

-68,30

-

-

Valor

12,71

-5,89

112,67

-3,84

54,41

-7,07

121,96

-19,10

25,76

-14,07

-29,96

168,61

26,14

82,85

2.497,82

218,82

-16,76

21,51

2,51

-71,21

-

-

Quantidade

Variação observada (%)

Fonte: Brasil (2008).

Page 85: Revista de Política Agrícola nº 3/2008

Ano XVII – Nº 3 – Jul./Ago./Set. 2008 84

Diversos estados mostraram crescimentoabrupto nos valores exportados pelas cooperati-vas no período estudado, com destaque para oRio de Janeiro (3.156,35 %), Rio Grande do Norte(94,00 %), Rio Grande do Sul (72,88 %), MinasGerais (70,04 %) e Pernambuco (69,54 %). Aindaanalisando a Tabela 3, em relação aos estadosque apresentaram reduções nas exportações, des-tacam-se Alagoas (-68,30 %), Goiás (-22,70 %),Tocantins (-19,32 %) e Acre (-10,41 %).

As cooperativas dos estados de São Pau-lo, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e RioGrande do Sul são, tradicionalmente, as princi-pais exportadoras. É uma tendência que se deveà maior expressão do cooperativismo nas regi-ões Sul e Sudeste do Brasil, o que é explicadopela cultura cooperativista. Dessa forma, asações da Organização das Cooperativas Brasi-leiras (OCB) estão voltadas para o fortalecimen-to do sistema e para a formação de aliançasestratégicas no setor. Em relação às regiõesCentro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, osesforços da OCB são direcionados para promo-ver o sistema por meio da educaçãocooperativista e da visualização da importân-cia e do papel do cooperativismo para o de-senvolvimento social e econômico local.

A intersecção dos dados relativos aos pro-dutos exportados pelas cooperativas nos esta-

dos brasileiros foi realizada considerando-se oscinco principais estados: São Paulo, Paraná,Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande doSul. As exportações das cooperativas dos cin-co estados estudados representam 90,36 % dosvalores totais comercializados no ano de 2007.

Estado de São Paulo

As cooperativas do Estado de São Pauloapresentaram liderança em relação aos valo-res exportados, com destaque para o setorsucroalcooleiro. A Fig. 11 mostra os principaisprodutos exportados pelas cooperativas nos doisúltimos anos, 2006 e 2007.

O setor sucroalcooleiro representou 86,19 %das exportações paulistas em 2006 e 89,11 % em2007, destacando-se as vendas externas de açú-car, atingindo o montante de US$ 690,81 milhõesno mesmo ano, uma redução de 7,89 % em rela-ção a 2006. A redução visualizada foi explicadapela queda na cotação do açúcar, uma vez queas quantidades comercializadas mostraram umcrescimento de 26,05 %, passando de 2,21 mi-lhões de toneladas em 2006 para 2,79 milhões noano de 2007. O álcool etílico apresentou um totalde US$ 265,39 milhões em 2007, o que represen-tou um crescimento de 24,24 % em relação aoano anterior.

Fig. 11. Exportações das cooperativas do Estado de São Paulo.Fonte: Brasil (2008).

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Para o complexo soja, a sua participaçãofoi de 11,43 % do total comercializado pelas coo-perativas de São Paulo em 2006 e de 7,63 % noano seguinte, com destaque para o grão e ofarelo da leguminosa (Fig. 11).

Estado do Paraná

Os produtos exportados pelas cooperativasparanaenses são observados na Fig. 12. As car-nes apresentaram um faturamento de US$ 334,09milhões com as vendas externas no ano de2007, representando 31,73 % do total exporta-do pelas cooperativas. Os valores observadosem 2007 foram 66,81 % superiores em relaçãoao ano de 2006, quando foram comercializadosUS$ 200,28 milhões.

O complexo soja mostrou uma participa-ção de 45,49 % do total exportado em 2007 e33,83 % do montante em 2006. O incrementoda participação da soja foi explicado pelos va-lores exportados do grão (US$ 223,56 milhões)e do farelo (US$ 185,93 milhões), consideran-do-se o aquecimento dos seus preços no mer-cado internacional.

O setor sucroalcooleiro mostrou uma par-ticipação de 23,11 % em 2006 e 11,97 % nototal exportado em 2007. Considerando-se o anode 2006, as exportações de álcool lideraram

esse setor, com um total de US$ 153,92 milhões;para 2007, o açúcar possuiu a maior parcela,com um faturamento das vendas externas deUS$ 70,25 milhões. A redução da participaçãodo setor sucroalcooleiro é explicada pela que-da nas cotações do açúcar e do álcool, devidoao cenário macroeconômico para esses doisprodutos (Fig. 12).

Estado de Minas Gerais

Os produtos exportados pelas cooperativasdo Estado de Minas Gerais são observados naFig. 13. O Estado de Minas Gerais é o maior pro-dutor de café do Brasil, cuja produção está con-centrada no Sul, no Triângulo Mineiro e na Zonada Mata. Como reflexo, as exportações das tradi-cionais cooperativas do setor cafeeiro mostraramrelevante importância, representando 93,72 % dototal das vendas em 2006 (US$ 196,75 milhões) e74,62 % no ano de 2007 (US$ 266,40 milhões).

Embora o faturamento com as vendasexternas de café tenha crescido ao longo dosúltimos dois anos, a sua participação foi redu-zida graças ao crescimento das vendas de lei-te e de produtos lácteos na pauta das exporta-ções das cooperativas. Dessa forma, os produ-tos dos laticínios representaram 5,74 % do totaldas exportações em 2006 e 18,59 % em 2007.

Fig. 12. Exportações das cooperativas do Estado do Paraná.Fonte: Brasil (2008).

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Estado de Santa Catarina

As exportações das cooperativas do Estadode Santa Catarina são visualizadas na Fig. 14.Destaca-se que as carnes foram os principais pro-dutos exportados pelas cooperativas, com umtotal comercializado de US$ 129,74 milhões em2006 e de US$ 194,83 milhões em 2007. Dessaforma, as carnes apresentaram uma participa-ção de 66,13 % do total exportado em 2006 e77,55 % no ano de 2007.

O complexo soja apresentou significati-va participação na pauta dos produtos exporta-

dos em Santa Catarina, com uma parcela de31,88 % nas vendas externas em 2006 e de10,19 % em 2007. A redução visualizada dasexportações se deve à queda de 68,18 % nasquantidades exportadas, reflexo da redução dopreço da soja e dos derivados do complexo.

Estado do Rio Grande do Sul

Os produtos exportados pelas cooperativasdo Estado do Rio Grande do Sul são apresentadosna Fig. 15. O complexo soja mostrou uma partici-pação de 50,62 % do total exportado em 2007 e

Fig. 13. Exportações das cooperativas do Estado de Minas Gerais.Fonte: Brasil (2008).

Fig. 14. Exportações das cooperativas do Estado de Santa Catarina.Fonte: Brasil (2008).

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42,59 % do montante em 2006. O incremento daparticipação da soja foi explicado pelos valoresexportados do grão (US$ 82,67 milhões) e do óleo(US$ 28,76 milhões), considerando-se o aqueci-mento dos seus preços.

As carnes apresentaram um faturamento deUS$ 84,42 milhões com as vendas externas, repre-sentando 33,92 % do total exportado pelas coope-rativas no ano de 2007. Os valores observados em2007 foram 26,87 % superiores quando compara-dos aos do ano de 2006, considerando que foramcomercializados US$ 66,54 milhões naquele ano.

Considerações finaisComo considerações finais, um cenário oti-

mista está sendo estruturado, com destaque paraas cooperativas ligadas ao agronegócio, principal-mente os grãos – graças à demanda aquecida –, osetor sucroalcooleiro – em função da agroenergiae das preocupações ambientais –, e o setor cafeei-ro, sendo o Brasil o maior produtor, exportador e,em alguns anos, consumidor de café no mundo.

A elevação nos preços das commodities,como a soja e o milho, e aumento das vendas decarnes promoverão oportunidades para as coo-perativas exportarem seus produtos, aumentando

o faturamento do setor. Nesse sentido, as aten-ções são voltadas para as barreiras não-tarifárias,para as variações cambiais e para a elevação doscustos de produção, destacando-se o incrementodos preços dos fertilizantes e dos agroquímicos.

ReferênciasBIALOSKORSKI NETO, S. Estratégias e cooperativasagropecuárias: um ensaio analítico. In: BRAGA, M. J.; REIS, B.dos S. (Org.). Agronegócio cooperativo: reestruturação e es-tratégias. Viçosa, MG: Universidade Federal de Viçosa, 2002.p. 77-97.BRAGA, M. J.; REIS, B. dos S. (Org.). Agronegócio cooperati-vo: reestruturação e estratégias. Viçosa, MG: UniversidadeFederal de Viçosa, 2002. 305 p.BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comér-cio. Indicadores estatísticos: balança comercial docooperativismo. Disponível em: <www.desenvolvimento.gov.br>. Acesso em: 31 jan. 2008.CEPEA. Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada.Mercado agropecuário. Disponível em: <www.cepea.esalq.usp.br>. Acesso em: 29 jan. 2008.MATOS, M. A.; NINAUT, E. S. Análise logística com ênfase noagronegócio brasileiro. Brasília, DF: Organização das Coo-perativas Brasileiras, 2008. 23 p. (Informativo Técnico Infotec,16). Disponível em: <http://www.brasilcooperativo.coop.br /GERENCIADOR/ba/arquivos/16_analiselogisticabrasil_2.pdf>.Acesso em: 26 maio 2008.OCB. Organização das Cooperativas Brasileiras. O coope-rativismo brasileiro: uma história. Brasília, DF: Versão Br.Comunicação e Marketing, 2004. 150 p.

Fig. 15. Exportações das cooperativas do Estado do Rio Grande do Sul.Fonte: Brasil (2008).

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O melhoramentogenético da cana-de-açúcar ante o novocenário energéticomundial

Historicamente, nos países tropicais, aagroindústria da cana-de-açúcar foi uma das prin-cipais atividades econômicas durante o períodocolonial e marcou profundamente a formaçãosociocultural e econômica de cada um desses pa-íses. Após a independência das colônias, essaagroindústria continuou sendo um dos principaismotores da economia e continua sendo, ainda hoje,um segmento importante e até mesmo essencialpara muitos países. Essas mesmas consideraçõesse aplicam perfeitamente ao Brasil, visto que hojeé o maior produtor e exportador de açúcar, comotambém, de forma pioneira, passou a produzir umcombustível líquido renovável que se tornou a co-queluche do momento - o etanol.

A matéria-prima, que permitiu que o homemdescobrisse a possibilidade de fabricação do açú-car, foi uma planta dos trópicos contendo suco açu-carado e que ocorre em locais úmidos da regiãoda Nova Guiné e que, mais tarde, denominou-se“cana-de-açúcar”, botanicamente classificadacomo a espécie Saccharum officinarum. Ao longodo tempo, várias formas naturais dessa espécie ouhíbridos naturais com outras espécies do mesmogênero foram sendo selecionados e plantados,concomitantemente à evolução dos processos deextração do caldo e do fabrico do açúcar. Entre-tanto, como acontece com qualquer planta que o

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homem retira da natureza e passa a cultivar emextensas áreas e por longo tempo, surgiram pro-blemas que passaram a afetar as lavouras dessaplanta, especialmente problemas de sanidade. Pre-midos por tais problemas, visionários holandesesque trabalhavam na colônia de Java – hojeIndonésia – vislumbraram que seria necessário epossível se criar artificialmente formas resistentesàqueles males. Com muita perseverança, experi-mentaram cruzar aquele tipo suculento e relativa-mente delicado com outras espécies bastante rús-ticas, embora essas não contivessem muito açú-car. Esse denodado trabalho iniciou-se na últimadécada do século 19; portanto, antes mesmo daredescoberta das leis genéticas de Mendel, o quese deu em 1900. Porém, apenas ao início da se-gunda década do século 20 é que obtiveram resul-tados de valor comercial desse primeiro processode melhoramento genético de plantas que se temnotícia. Seguindo esse exemplo bem-sucedido,vários outros programas de melhoramento genéti-co de cana-de-açúcar se estabeleceram em ou-tros centros canavieiros do mundo e a criação devariedades adaptadas aos mais diversos ambien-tes e ao manejo agrícola em grande escala – alémde resistentes às doenças – permitiu que aagroindústria canavieira não apenas não sucum-bisse como, muito pelo contrário, se expandisse

1 Doutor em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Diretor da CanaVialis S.A. E-mail: [email protected]

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no mundo e se firmasse como uma importante fon-te de riqueza ao longo de todo o último século.

Nas últimas décadas do século 20, o Brasildeu um grande exemplo ao mundo – provou a pos-sibilidade de se utilizar a cana-de-açúcar comomatéria-prima para a fabricação em larga escalade um combustível líquido renovável, o etanol. Eno início deste novo século 21, o etanol acabou setornando uma coqueluche, não apenas por ser umcombustível renovável, mas também limpo e me-nos poluente do que a gasolina, numa época emque a preocupação com o ambiente e com o aque-cimento global se sobressaltou, ao mesmo tempoem que a demanda da humanidade por energiaestá crescendo num ritmo acelerado.

Estamos agora num momento em que trêsgrandes fatores colocam em xeque a matrizenergética mundial baseada no petróleo: primei-ro, o alto preço que ele atingiu, o qual ainda cres-cerá no futuro próximo; segundo, o grande volumede CO2 residual que o seu uso coloca na atmosfe-ra, sendo assim um dos maiores vilões do efeitoestufa; terceiro, o seu caráter não-renovável, finito.Esses e outros fatores adjacentes não citados tra-zem grande insegurança energética ao mundo, deforma que, ao mesmo tempo em que trazem ex-pectativa de grandes transformações no futuro su-primento de energia no planeta, eles conduzemao esforço na busca de formas alternativas viáveise conseqüentes investimentos em Pesquisa e De-senvolvimento (P&D). Diversas tecnologias inova-doras estão sendo estudadas e cada país terá queadequar a sua matriz energética ante as possibili-dades de que dispõe, porém certamente diminuin-do paulatinamente o petróleo como núcleo bási-co. Essa nova plataforma exigirá grandes transfor-mações socioeconômicas e, por isso mesmo, mu-danças em sistemas regulatórios nacionais e inter-nacionais e inovações tecnológicas na produçãoe no consumo, criando novas e grandes demandasde governança da economia e da sociedade. Nabase de tudo isso, requerer-se-á grandes investi-mentos em ciência e tecnologia.

Um grande desafio que surge é como de-senvolver uma plataforma energética que atenda

o crescente desenvolvimento mundial sem com-prometer a sustentabilidade do planeta. Nesse con-texto, a bioenergia passa a ser uma grande alter-nativa, especialmente por se tratar de energiarenovável, muito embora essa opção enfrente gran-de questionamento: como produzir ambos energiae alimentos em quantidade suficiente, sem amea-çar a sustentabilidade do planeta?

Esse é um grande desafio que se coloca paraa agricultura mundial, cuja discussão se sobressal-tou nos últimos meses graças à constatação de quea demanda mundial por alimentos está crescendomais do que a produção, com conseqüente eleva-ção de preços. Aqui também, como sempre acon-teceu na história da humanidade, o homem teráque colocar toda a sua capacidade no desenvolvi-mento de tecnologias que permita conciliar as duasdemandas – alimento e energia.

Na última metade do século passado, o de-senvolvimento tecnológico na área agrícola – ondeo melhoramento genético teve papel preponderante– permitiu que a produção de alimentos mundialpusesse por terra a teoria malthusiana de que ha-veria falta de alimentos por causa do crescimentogeométrico da população mundial contra um cres-cimento apenas aritmético da produção de alimen-tos. Desta feita, o avanço biotecnológico – tantopor meio do melhoramento convencional per seou com a interação desse com as técnicasmoleculares de manipulação gênica – deverá serum dos fatores a auxiliar no enfrentamento do novodesafio. Obviamente, em cima dessa plataforma,tal como aconteceu no passado citado, novastecnologias agrícolas e industriais terão que serdesenvolvidas para completar o enfrentamento.

No caso específico da cana-de-açúcar, vis-lumbra-se uma janela de oportunidade muito gran-de na exploração como uma das plantas essenci-ais nessa plataforma bioenergética. Isso porque elaé uma planta notável: é uma das mais eficientes naconversão da energia solar em compostoscarbônicos, oferecendo ao homem compostos or-gânicos que podem ser facilmente transformadosem produtos úteis – as moléculas de açúcar, assimcomo de celulose, de hemicelulose e de lignina.

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A sua eficiência de transformação energéticase traduz, portanto, em dupla utilidade: nãoapenas oferece-nos alimento, o açúcar, comotambém oferece a energia que se pode extrairtanto do próprio açúcar – quando o transforma-mos em etanol – como também das suas fibras.Estas podem ser utilizadas para a produção devapor e de energia elétrica, diretamente pelasua queima, referindo-se apenas a uma tecno-logia bastante primária aplicada hoje. Ou ain-da, por meio de tecnologias mais avançadas,poder-se-á produzir o etanol também da fibra,bem como outros combustíveis, além de pro-dutos químicos que, juntamente com aqueles,entrarão numa cadeia de transformações embiorrefinarias ou centrais alcoolquímicas quesubstituirão inúmeros produtos que hoje se fa-bricam a partir do petróleo. Portanto, a energiadas fibras passará agora a ser o grande alvo,maior até do que o açúcar.

O melhoramento genético da cana-de-açú-car está, portanto, num segundo grande divisor deáguas neste novo início de século: enquanto du-rante 100 anos buscou-se maior produtividade deaçúcar, agora o novo modelo de cana deverá aten-der a demanda por fibra. Para se entender melhor:na planta há a partição dos sintetizados para açú-car e para fibra, um se opondo ao outro, de formaque se aumentamos o conteúdo de sacarose, dimi-nuir-se-á o conteúdo de fibra. O caminho inversode aumento da produtividade em fibra, portanto,obrigatoriamente diminui proporcionalmente a pro-dutividade de açúcar, mas isso é um requerimentoque a demanda ditará. A vantagem de se produzirmais fibra em detrimento do açúcar é que as plan-tas serão mais rústicas, ou seja, menos exigentesem solo, clima, água e nutrientes, além de maisresistentes a pragas e doenças. Daí advêm óbvias

vantagens ambientais: poderão ser plantadas emáreas de solo e clima piores do que aqueles reser-vados para a produção de alimentos, e requererãomenos aplicação de defensivos, esses que são umdos grandes agressores do ambiente e da saúdehumana, diretamente, ou na sua cadeia de síntesee produção comercial. Assim, curiosamente, quan-do aqueles visionários cientistas cruzaram plantassuculentas com plantas fibrosas para destas se apro-veitarem os genes de rusticidade, agora as plantasfibrosas deverão ser utilizadas de novo – dessa vez,porém, almejando a seleção de plantas menos su-culentas ou até mesmo sem nenhum suco. Paraque isso seja feito, a natureza novamente dará asua essencial contribuição: as espécies e gênerosancestrais que há milhões de anos permitiram aevolução para formas hoje exploradas pelo homemdeverão se constituir na base para a obtenção donovo tipo de cana energética. Para tanto, um ban-co de germoplasma contendo todas as formas an-cestrais é essencial, pois constitui-se na fonte degenes que permitirão a evolução no melhoramen-to genético da nova planta.

Durante o último século, os geneticistasmundiais de cana-de-açúcar, também visionários,desenvolveram o meritório trabalho de coletar ecolecionar as mais diferentes formas ancestrais dacana-de-açúcar. Foi um trabalho de provisão degenes para futuro uso. Esse tempo chegou e agoraessa coleção está sendo introduzida no Brasil pelaCanaVialis, num cuidadoso processo quarentenário,aprovado e supervisionado pelo Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Gran-de parte já foi introduzida e, a partir do próximoano, já será possível executar os primeiros cruza-mentos. Com a produção dessas novas plantas,espera-se contribuir com o País e com o mundo noestabelecimento da nova plataforma de bioenergia.

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1. Tipo de colaboração

São aceitos, por esta Revista, trabalhos que se enquadrem nasáreas temáticas de política agrícola, agrária, gestão e tecnologiaspara o agronegócio, agronegócio, logísticas e transporte, estudosde casos resultantes da aplicação de métodos quantitativos equalitativos aplicados a sistemas de produção, uso de recursosnaturais e desenvolvimento rural sustentável que ainda não forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim,dentro das seguintes categorias: a) artigos de opinião; b) artigoscientíficos; d) textos para debates.

Artigo de opinião

É o texto livre, mas bem fundamento sobre algum tema atual e derelevância para os públicos do agronegócio. Deve apresentar oestado atual do conhecimento sobre determinado tema, introduzirfatos novos, defender idéias, apresentar argumentos e dados,fazer proposições e concluir de forma coerente com as idéiasapresentadas.

Artigo científico

O conteúdo de cada trabalho deve primar pela originalidade, istoé, ser elaborado a partir de resultados inéditos de pesquisa queofereçam contribuições teórica, metodológica e substantiva parao progresso do agronegócio brasileiro.

Texto para debates

É um texto livre, na forma de apresentação, destinado à exposiçãode idéias e opiniões, não necessariamente conclusivas, sobretemas importantes atuais e controversos. A sua principal carac-terística é possibilitar o estabelecimento do contraditório. O textopara debate será publicado no espaço fixo desta Revista,denominado Ponto de Vista.

2. Encaminhamento

Aceitam-se trabalhos escritos em Português. Os originais devemser encaminhados ao Editor, via e-mail, para o endereç[email protected].

A carta de encaminhamento deve conter: título do artigo; nomedo(s) autor(es); declaração explícita de que o artigo não foi enviadoa nenhum outro periódico para publicação.

3. Procedimentos editoriais

a) Após análise crítica do Conselho Editorial, o editor comunicaaos autores a situação do artigo: aprovação, aprovaçãocondicional ou não-aprovação. Os critérios adotados são osseguintes:

• adequação à linha editorial da revista;

• valor da contribuição do ponto de vista teórico, metodológico esubstantivo;

• argumentação lógica, consistente, e que ainda assim permitacontra-argumentação pelo leitor (discurso aberto);

• correta interpretação de informações conceituais e de resultados(ausência de ilações falaciosas);

• relevância, pertinência e atualidade das referências.

b) São de exclusiva responsabilidade dos autores, as opiniões eos conceitos emitidos nos trabalhos. Contudo, o editor, com aassistência dos conselheiros, reserva-se o direito de sugerir ousolicitar modificações aconselhadas ou necessárias.

c) Eventuais modificações de estrutura ou de conteúdo, sugeridasaos autores, devem ser processadas e devolvidas ao Editor, noprazo de 15 dias.

d) A seqüência da publicação dos trabalhos é dada pela conclusãode sua preparação e remessa à oficina gráfica, quando entãonão serão permitidos acréscimos ou modificações no texto.

e) À Editoria e ao Conselho Editorial é facultada a encomenda detextos e artigos para publicação.

4. Forma de apresentação

a) Tamanho – Os trabalhos devem ser apresentados no programaWord, no tamanho máximo de 20 páginas, espaço 1,5 entre linhase margens de 2 cm nas laterais, no topo e na base, em formatoA4, com páginas numeradas. A fonte é Times New Roman, corpo12 para o texto e corpo 10 para notas de rodapé. Utilizar apenasa cor preta para todo o texto. Devem-se evitar agradecimentos eexcesso de notas de rodapé.

b) Títulos, Autores, Resumo, Abstract e Palavras-chave (key-words) – Os títulos em Português devem ser grafados em caixabaixa, exceto a primeira palavra ou em nomes próprios, com, nomáximo, 7 palavras. Devem ser claros e concisos e expressar oconteúdo do trabalho. Grafar os nomes dos autores por extenso,com letras iniciais maiúsculas. O resumo e o abstract não devemultrapassar 200 palavras. Devem conter uma síntese dos objetivos,desenvolvimento e principal conclusão do trabalho. É exigida,também, a indicação de no mínimo três e no máximo cinco pala-vras-chave e key-words. Essas expressões devem ser grafadasem letras minúsculas, exceto a letra inicial, e seguidas de doispontos. As Palavras-chave e Key-words devem ser separadaspor vírgulas e iniciadas com letras minúsculas, não devendo conterpalavras que já apareçam no título.

c) No rodapé da primeira página, devem constar a qualificaçãoprofissional principal e o endereço postal completo do(s) autor(es),incluindo-se o endereço eletrônico.

d) Introdução – A palavra Introdução deve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda. Deve ocupar, no máximoduas páginas e apresentar o objetivo do trabalho, importância econtextualização, o alcance e eventuais limitações do estudo.

e) Desenvolvimento – Constitui o núcleo do trabalho, onde que seencontram os procedimentos metodológicos, os resultados dapesquisa e sua discussão crítica. Contudo, a palavra Desenvol-vimento jamais servirá de título para esse núcleo, ficando a critériodo autor empregar os títulos que mais se apropriem à natureza doseu trabalho. Sejam quais forem as opções de título, ele deve seralinhado à esquerda, grafado em caixa baixa, exceto a palavrainicial ou substantivos próprios nele contido.

Em todo o artigo, a redação deve priorizar a criação de parágrafosconstruídos com orações em ordem direta, prezando pelaclareza e concisão de idéias. Deve-se evitar parágrafos longosque não estejam relacionados entre si, que não explicam, quenão se complementam ou não concluam a idéia anterior.

f) Conclusões – A palavra Conclusões ou expressão equivalentedeve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda dapágina. São elaboradas com base no objetivo e nos resultadosdo trabalho. Não podem consistir, simplesmente, do resumo dosresultados; devem apresentar as novas descobertas da pesquisa.Confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas na Introdução, sefor o caso.

Instrução aos autores

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g) Citações – Quando incluídos na sentença, os sobrenomes dosautores devem ser grafados em caixa-alta-e-baixa, com a dataentre parênteses. Se não incluídos, devem estar também dentrodo parêntesis, grafados em caixa alta, separados das datas porvírgula.

• Citação com dois autores: sobrenomes separados por “e”quando fora do parêntesis e com ponto-e-vírgula quando entreparêntesis.

• Citação com mais de dois autores: sobrenome do primeiro autorseguido da expressão et al. em fonte normal.

• Citação de diversas obras de autores diferentes: obedecer àordem alfabética dos nomes dos autores, separadas por ponto-e-vírgula.

• Citação de mais de um documento dos mesmos autores: não hárepetição dos nomes dos autores; as datas das obras, em ordemcronológica, são separadas por vírgula.

• Citação de citação: sobrenome do autor do documento originalseguido da expressão “citado por” e da citação da obraconsultada.

• Citações literais que contenham três linhas ou menos devemaparecer aspeadas, integrando o parágrafo normal. Após o anoda publicação acrescentar a(s) página(s) do trecho citado (entreparênteses e separados por vírgula).

• Citações literais longas (quatro ou mais linhas) serão desta-cadas do texto em parágrafo especial e com recuo de quatroespaços à direita da margem esquerda, em espaço simples,corpo 10.

h) Figuras e Tabelas – As figuras e tabelas devem ser citadas notexto em ordem seqüencial numérica, escritas com a letra inicialmaiúscula, seguidas do número correspondente. As citaçõespodem vir entre parênteses ou integrar o texto. As Tabelas eFiguras devem ser apresentadas no texto, em local próximo aode sua citação. O título de Tabela deve ser escrito sem negrito eposicionado acima desta. O título de Figura também deve serescrito sem negrito, mas posicionado abaixo desta. Só são aceitastabelas e figuras citadas efetivamente no texto.

i) Notas de rodapé – As notas de rodapé devem ser de naturezasubstantiva (não bibliográficas) e reduzidas ao mínimo necessário.

j) Referências – A palavra Referências deve ser grafada comletras em caixa-alta-e-baixa, alinhada à esquerda da página. Asreferências devem conter fontes atuais, principalmente de artigosde periódicos. Podem conter trabalhos clássicos mais antigos,diretamente relacionados com o tema do estudo. Devem sernormalizadas de acordo com a NBR 6023 de Agosto 2002, daABNT (ou a vigente).

Devem-se referenciar somente as fontes utilizadas e citadas naelaboração do artigo e apresentadas em ordem alfabética.

Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomadoscomo modelos:

Monografia no todo (livro, folheto e trabalhos acadêmicospublicados).

WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. Trad. de LeônidasHegenberg e Octany Silveira da Mota. 4. ed. Brasília, DF: EditoraUnB, 1983. 128 p. (Coleção Weberiana).

ALSTON, J. M.; NORTON, G. W.; PARDEY, P. G. Science underscarcity: principles and practice for agricultural researchevaluation and priority setting. Ithaca: Cornell University Press,1995. 513 p.

Parte de monografia

OFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation.In: LINDBERG, L. (Org.). Stress and contradictions in moderncapitalism. Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p. 125-144.

Artigo de revista

TRIGO, E. J. Pesquisa agrícola para o ano 2000: algumasconsiderações estratégicas e organizacionais. Cadernos deCiência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 9, n. 1/3, p. 9-25, 1992.

Dissertação ou Tese

Não publicada:

AHRENS, S. A seleção simultânea do ótimo regime dedesbastes e da idade de rotação, para povoamentos depínus taeda L. através de um modelo de programaçãodinâmica. 1992. 189 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federaldo Paraná, Curitiba.

Publicada: da mesma forma que monografia no todo.

Trabalhos apresentados em Congresso

MUELLER, C. C. Uma abordagem para o estudo da formulação depolíticas agrícolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA, 8., 1980, Nova Friburgo. Anais... Brasília: ANPEC,1980. p. 463-506.

Documento de acesso em meio eletrônico

CAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. SantaMaria: PRONAF, 2003. 19 p. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/ater/Docs/Bases%20NOVA%20ATER.doc>.Acesso em: 06 mar. 2005.

MIRANDA, E. E. de (Coord.). Brasil visto do espaço: Goiás eDistrito Federal. Campinas, SP: Embrapa Monitoramento por Satélite;Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. 1 CD-ROM.(Coleção Brasil Visto do Espaço).

Legislação

BRASIL. Medida provisória nº 1.569-9, de 11 de dezembro de1997. Estabelece multa em operações de importação, e dá outrasprovidências. Diário Oficial [da] República Federativa doBrasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p.29514.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 42.822, de 20 de janeiro de1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo,v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

5. Outras informações

a) O autor ou os autores receberão três exemplares do númeroda Revista no qual o seu trabalho tenha sido publicado.

b) Para outros pormenores sobre a elaboração de trabalhos aserem enviados à Revista de Política Agrícola, contatar acoordenadora editorial, Marlene de Araújo ou a secretária ReginaVaz Margulhão em:

[email protected]: (61) 3448-4159 (Marlene)Telefone: (61) 3218-2209 (Regina)

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

CG

PE7210

Colaboração

Ministério daAgricultura, Pecuária

e AbastecimentoSecretaria de

Política Agrícola