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A política comercial agrícola para o desenvolvimento brasileira · A segunda e terceira tratam da política comercial agrícola brasileira, seus objetivos e instrumentos para o

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A política comercial agrícola para o desenvolvimento brasileira:

Objetivos e Instrumentos

VIEIRA, Adriana Carvalho Pinto1

1) Introdução

Nos últimos anos o comercio mundial de grãos tem tido um crescimento

de produção modesto, seguido de redução dos estoques, resultando numa

expansão da oferta inferior à demanda e em acentuada elevação dos preços

dos produtos agrícolas. Este cenário se conforma com os dados apresentados

pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),

visto que a produção agrícola global cresce 1,5% ao ano, porcentagem inferior

quando comparado ao período entre 1960 a 1990 com uma taxa de 2,8%.

Houve redução dos rendimentos na produção de cereais. Entretanto, quando

analisada a produtividade total dos fatores de produção – indicador de

produtividade – nos países emergentes este índice foi crescente, como no caso

do Brasil. (MAPA, 2013b)

Os preços agrícolas também se acentuaram a partir da ultima década,

culminando com a crise de 2008, sendo considerado o valor mais elevado dos

últimos trinta anos. Assim, a política de apoio à comercialização, cujos

instrumentos foram aprimorados no sentido de reduzir a intervenção do

Governo no mercado e a necessidade de recursos públicos, é de particular

relevância para as regiões relativamente mais afastadas dos principais

mercados consumidores e dos portos, cuja competitividade é fortemente

afetada pelos custos de transporte.

O presente relatório tem como objetivo identificar e analisar os objetivos

e os instrumentos da política comercial agrícola brasileira empregados para

alcançar o desenvolvimento sustentável, uma vez que esta política é um

instrumento para o desenvolvimento, redução das desigualdades, para a

1 Professora Doutora do Programa de Pós-Graduação Desenvolvimento Socioeconômico da Universidade Extremo Sul Catarinense (PPGDS/UNESC)), Coordenadora da Agência de Desenvolvimento, Inovação e Transferência de Tecnologia da Universidade Extremo Sul Catarinense (ADITT/UNESC), Pesquisadora Colaboradora do INCT/PPED/UFRJ. Email: [email protected]

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gestão dos recursos naturais e para a expansão da participação do país no

mercado internacional de produtos agrícolas.

A metodologia empregada será empreendida basicamente a partir da

revisão de documentos oficiais do governo brasileiro e do seu aparato legal

(leis, decretos, resoluções etc.) trabalhos acadêmicos, tais como dissertações e

teses de doutorado, artigos científicos entre outros materiais. Desse modo, a

pesquisa estará apoiada apenas em fontes secundárias de dados.

O trabalho está estruturado da seguinte maneira. A primeira parte é esta

introdução. A segunda e terceira tratam da política comercial agrícola brasileira,

seus objetivos e instrumentos para o mercado interno e externo. Por ultimo as

considerações finais.

2) Apresentação da Política Comercial Agrícola Brasileira – passado

recente.

Desde final da década de 1980 a política de comercialização agrícola

tem passado por mudanças substanciais. As reformas comerciais externas

acentuaram o caráter liberal de comércio, afetando o sistema de intervenção da

política de estoques públicos. A crise fiscal que ocorreu durante todo o período

também contribuiu para o desmonte do sistema, uma vez que os recursos

financeiros passaram a ficar cada vez mais escassos.

Conforme pondera Conceição (2009), a partir da década de 1990 foi

criado um quadro distinto do que ocorreu nas décadas anteriores, com a

restrição do ponto de vista fiscal. Este fator ainda estava associado à

consolidação do processo de abertura comercial, sinalizando um movimento de

desenvolvimento menos intervencionista e mais liberal, com modificações

substanciais na condução da política agrícola.

Para Bressan Filho (1999), as políticas de formação de estoques e de

importação ganharam consistência, entretanto, eram controladas pelo governo.

Com a abertura da economia, as importações ocorreram não obstante

existência de volumosos estoques públicos de alimentos. E a importação

ocorria somente quando não havia estoques suficientes.

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3) A Política Comercial Agrícola: Objetivos e Instrumentos

Diante deste contexto a partir da metade da década de 90, à

desmontagem do Sistema de Garantia de Preços Mínimos, teve como

convicção que a abertura ao mercado externo não seria suficiente para a

garantia de abastecimento interno, prescindindo, portanto, da formação de

estoques públicos de alimentos. (CONCEIÇÃO, 2009)

Delgado (1995) aponta que a partir de 1995, a política para os mercados

agrícolas de produtos da cesta básica perseguiu os objetivos da estabilização

de preços finais sem intervenções diretas. Os efeitos da abertura praticamente

liquidaram o intento de coordenação simultânea do mercado de produtor e

mercado de atacado.

A crescente integração da economia brasileira à economia mundial

provocou transformações no setor agrícola nacional. Foram necessárias

diversas modificações estruturais nas instituições do setor. A principal ocorreu

dentro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a qual

foi criada a Secretaria de Política Agrícola (SPA) que atua no planejamento e

execução de medidas de apoio à produção agrícola em três pilares básicos.

Primeiro, na oferta de recursos para o financiamento do agronegócio,

aperfeiçoamento e apoio à produção. Segundo, no apoio e sustentação dos

preços agropecuários por meio de aquisições governamentais e equalizações

de preços. E, por último, no aperfeiçoamento da gestão de risco por meio da

subvenção ao prêmio do seguro rural, do Programa de Garantia da Atividade

Agropecuária (Proagro) e do Zoneamento Agrícola de Risco Climático. (MAPA,

2013d)

Cabe à SPA coordenar a elaboração do Plano Agrícola e Pecuário

(PAP), que é um instrumento de planejamento e gestão de políticas públicas

para a agropecuária brasileira. O PAP consolida ações, programas e diretrizes

governamentais para o setor, fundamentais para a tomada de decisão dos

produtores rurais e demais agentes econômicos comprometidos no

agronegócio. (MAPA, 2013d)

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A SPA conta com três departamentos que concorrem no

desenvolvimento de suas atribuições: o Departamento de Economia Agrícola

(DEAGRI), o Departamento de Comercialização e de Abastecimento Agrícola e

Pecuário (DEAGRO) e o Departamento de Gestão de Risco Rural (DEGER). O

Deagri programa e acompanha a aplicação de recursos públicos e privados na

agropecuária. Acompanha a legislação e o desempenho do crédito rural, com

base em dados e estatísticas públicos e privados. Ao Deagri também compete

observar a conjuntura econômica nacional e internacional em suas relações

com o agronegócio. Monitora ainda os mercados de insumos agropecuários,

como fertilizantes, defensivos, máquinas e implementos agrícolas. O Deagro

tem por atribuição estabelecer políticas e ações voltadas à garantia do

abastecimento assegurando ao produtor rural preços compatíveis com sua

atividade por meio de aquisições de produtos e equalização dos preços

agrícolas consolidada na Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM). Já o

Deger encarrega-se do desenvolvimento de estudos para a formulação e

implementação das políticas gerenciais de riscos do setor agropecuário

relacionadas com o seguro rural, o Proagro e o Zarc. (MAPA, 2013d)

O Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) viabiliza o

acesso do produtor ao seguro rural mediante o pagamento pelo governo de

parte do prêmio de seguro rural contratado pelo produtor nas modalidades

agrícola, pecuária, aquicola e de floresta. O Proagro é uma garantia ofertada

pela União, principalmente para o pequeno e médio produtores, e se destina ao

pagamento do crédito tomado no banco pelos produtores, além de indenizar os

recursos próprios aplicados no empreendimento, na hipótese de ocorrência de

eventos climáticos que gerem perdas em suas lavouras. Por sua vez, o

Zoneamento Agrícola tem como objetivo indicar os períodos de plantio por

município e por cultura, relacionados ao ciclo das cultivares e aos tipos de

solos, a fim de que eventuais eventos climáticos adversos não coincidam com

as fases mais sensíveis das lavouras. (MAPA, 2013d)

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a. Mercado Interno

Segundo apontam alguns autores (DELGADO, 1995; CONCEIÇÃO,

2010), a partir de 1995, foi realizada uma reformulação total nos instrumentos

de apoio à comercialização pelo Governo, com a criação de novos

instrumentos e o uso de instrumentos antigos somente para casos especiais,

tais como:

Aquisições do Governo Federal (AGF) –

Consiste na venda, pura e simples, da produção ao Governo. Seu

objetivo é garantir o Preço Mínimo (PM) para os produtos agrícolas a fim de

manter o nível de renda dos produtores. Por meio deste instrumento, o

Governo adquire os excedentes em anos de safras abundantes para posterior

retorno ao mercado em anos de escassez. Funciona, assim, como um

mecanismo de equilíbrio entre oferta e demanda de uma safra para outra –

ora atendendo aos produtores ora aos consumidores.

A AGF é importante porque por intermédio dela, o Governo garante,

efetivamente, o PM quando os preços de mercado estão abaixo dele. Mas tem

uma desvantagem: se os preços de mercado sobem depois de vendida a

produção ao Governo, o agricultor não pode mais se beneficiar da alta. Hoje, é

um instrumento utilizado principalmente para atender aos pequenos produtores

e apoiar produtos regionais.

Empréstimo do Governo Federal (EGF) –

É um mecanismo de financiamento à estocagem que permite ao

produtor aguardar uma melhor época para a venda da produção, evitando-se,

assim, o excesso de oferta na época da colheita, o que induziria quedas

bruscas nos preços. É também objetivo deste empréstimo propiciar capital de

giro para que as indústrias possam adquirir de produtores e de suas

cooperativas, a preços nunca inferiores aos mínimos vigentes, a matéria-prima

necessária ao desempenho de suas atividades.

O EGF é mais vantajoso que a AGF, já que o agricultor não vende a

produção, mas, apenas vincula como penhor do empréstimo que recebe. O

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prazo do EGF varia de acordo com o produto e a época da contratação.

Durante o período de financiamento, o produtor poderá, a qualquer momento,

quitar o empréstimo e realizar a comercialização se os preços de mercado se

apresentar compensadores.

Segundo o Plano Safra 2012/2013 (MAPA, 2013b), foi estabelecido uma

linha de crédito que concede financiamento aos produtores, cooperativas e

agroindústrias, com base no preço mínimo, para estocagem do produto pelo

tomador até 40 dias, reduzindo a concentração de oferta no período na

colheita.

Similar a EGF, há a Linha Especial de Crédito à Comercialização (LEC),

sendo que sua principal diferença está no preço base e para a operação pode

ser diferente do preço mínimo, condição obrigatória no EGF. Ainda, este

instrumento possibilita uma operação de financiamento para carregamento de

estoques, mesmo se o preço mínimo estiver defasado, sem implicar

necessariamente sua alteração. (MAPA, 2013b)

Preço Mínimo de Garantia (PMG) –

São os preços definidos pelo Governo que sinalizam o momento

adequado para o apoio governamental na comercialização, que pode ocorrer

por meio de operações de compra, de equalização de preços ou de

financiamento.

Conceição (2009) argumenta que o que ocorreu foi uma substituição do

modelo de garantia dos preços, passando a ser utilizado um método de seguro

sem compra de excedentes, com pagamentos diferenciais entre o preço

mínimo e o preço de mercado, consubstanciados nos novos instrumentos de

comercialização:

Contratos de Opção de Venda (COV) –

Título ofertado em leilões, pelo Governo, a produtores rurais e

cooperativas a um preço determinado (preço de exercício), com data de

exercício futuro. O contrato de opção assegura ao seu detentor o direito de

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entregar ao Governo a quantidade de produto vinculada à operação no seu

vencimento, desde que atendidas as especificações definidas no contrato.

Quando há exercício destes contratos, o produto irá compor os estoques

públicos. Tem o potencial de indicar aos agentes do mercado a expectativa

governamental de preços futuros, ao mesmo tempo em que representa um

seguro de preços aos produtores e cooperativas. (MAPA, 2013a)

Para Conceição (2010), para o governo o objetivo da criação dos

contratos de opção foi o de instituir um mecanismo que conseguisse sustentar

preços sem que houvesse a necessidade de o governo adquirir estoques. Isto

representaria uma economia de recursos e transferiria para a iniciativa privada

a tarefa de carregar os estoques.

Ainda, aponta a autora que o ideal é que os preços de mercado, na

época de liquidação dos contratos, sejam suficientemente atrativos para que os

produtores vendam seus produtos no mercado, sem a necessidade da compra

dos produtos pelo governo, ao preço de exercício. Neste caso, o governo teria

conseguido sustentar preços a um custo mínimo. No caso da liquidação do

contrato, o governo incorreria no custo, dado pela multiplicação do volume

negociado pelo preço de exercício. (CONCEIÇÃO, 2010)

Recompra ou Repasse de Contrato de Opção de Venda –

O contrato de opção de venda obriga o Governo a adquirir a produção

correspondente às opções adquiridas pelo produtor, caso o preço do mercado

esteja abaixo do preço de exercício. Como alternativa para desonerar o

Governo dessa obrigatoriedade (quando não é conveniente receber o produto),

sem prejuízo dos interesses dos seus detentores (produtores e cooperativas),

utilizasse um leilão de recompra. Essa operação corresponde a uma reversão

dos contratos de opção, mediante a oferta de subvenção financeira,

equivalente à diferença entre o preço de exercício e o preço de mercado. No

leilão de repasse há substituição do Governo – o lançador original do contrato

de opção – por um agente privado que recebe a subvenção. O arrematante no

leilão de repasse assume as obrigações do Governo com os produtores e

cooperativas detentoras dos contratos de opções. (MAPA, 2013a)

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Contrato Privado de Opção de Venda e Prêmio de Risco de Opção Privada

(PROP) –

O instrumento funciona de modo similar ao Contrato de Opção de Venda

ao Governo. Tem o objetivo de sustentar as cotações de determinado produto

e de sinalizar ao mercado a trajetória futura de preços. A principal diferença é

que, nesse caso, quem lança as opções é o setor privado, mediante o arremate

de um prêmio de risco, ofertado pelo Governo, para assumir a operação. Esse

risco é representado pela obrigação de receber o produto quando o preço de

mercado estiver abaixo do preço de exercício.

Portanto, o lançador das opções se expõe ao risco de ser obrigado a

pagar um preço superior ao vigente no mercado. Para limitar o risco da

empresa lançadora dos contratos, o Governo promove, num primeiro momento,

a oferta de um Prêmio de Risco de Opção Privada (PROP) aos promitentes

agentes privados lançadores dos contratos, os quais se comprometem a

ofertar, aos produtores, os contratos de opção de venda, num segundo

momento. As cooperativas têm a vantagem de atuar em duas pontas: como

lançadora de contratos de opção privada para produtores ou como compradora

de contratos de opção lançados por empresas privadas. (MAPA, 2013a)

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Fonte: MAPA (2013b)

Nota: cooperativas, criadores de aves e suínos, industrias de ração e alimentos, exportadores, etc.

1. O Governo realiza um leilão de PROP para dividir entre as empresas e cooperativas compradoras da produção agrícola o montante de recursos alocados na operação;

2. As empresas que arrematam o PROP obrigam-se a realizar leilão de Contratos Privados de Opção de Venda;

3. Ofertam os contratos aos produtores. Os compradores dos contratos pagam um premio ao lançador;

4. Os produtores que compram as opções podem utiliza-las no momento do exercício.

Prêmio e Valor de Escoamento de Produto (PEP e VEP) –

O PEP é um instrumento que permite ao Governo garantir ao produtor

ou à cooperativa o preço mínimo, sem que haja necessidade de adquirir o

produto. Por meio de leilão, ocorre o pagamento da diferença entre o preço

mínimo e o preço de mercado. Pode ser utilizado para complementar o

abastecimento em regiões deficitárias a partir de estoques privados. A mesma

finalidade tem o VEP, porém o produto escoado é originário de estoque

público. (MAPA, 2013a)

Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (PEPRO) -

Assim como o PEP, o PEPRO permite ao Governo garantir um patamar

de preço ao produtor, que tanto pode ser o mínimo quanto outro definido (preço

de referência). A principal diferença é o pagamento do prêmio diretamente ao

produtor que participa do leilão. Igualmente, desonera o Governo de adquirir o

produto e viabiliza o escoamento de produto para complementar o

abastecimento nas regiões consumidoras. A operação oferece ao produtor ou

cooperativa a diferença entre o preço de mercado e o preço de referência.

(MAPA, 2013a)

Financiamento para estocagem –

Linhas de crédito que concedem um financiamento a produtores,

cooperativas e agroindústrias, com base no preço mínimo, para estocagem do

produto pelo tomador, por até 240 dias, reduzindo a concentração de oferta no

período da colheita. A taxa de juros é de 6,75% ao ano. (MAPA, 2013a)

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Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) –

Segundo Delgado (1978), o primeiro órgão governamental criado com o

propósito de definir e dirigir a política de preços mínimos para a agricultura

brasileira foi a Comissão de Financiamento da Produção (CFP), subordinada

ao Ministério da Fazenda (Decreto-Lei 5.212, de 23.01.1943). Porém, apenas

em 1951 é que se estabeleceu uma política efetiva de preços mínimos, em que

os produtores e as cooperativas eram os que, preferencialmente, usufruíam

desse benefício.

Sua criação se deu em 1966 e, exerce papel importante no contexto

social e econômico agropecuário, por definir um parâmetro de preço de

garantia, calculado com base no custo variável das culturas, com o apoio do

Governo ao produtor no momento da comercialização. Este instrumento tem

como objetivo contribuir para mitigar a volatilidade dos preços, auxiliando nas

decisões de plantio dos produtores.

Para dar suporte à PGPM o orçamento proposto para 2013 foi de R$ 5,4

bilhões, sendo R$ 2,3 bilhões para aquisição de produtos e manutenção dos

estoques e R$ 3,1 bilhões para equalização de preços2. (MAPA, 2013b)

Fica sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (MAPA) garantir o abastecimento nacional com alimentos de

qualidade e assegurar ao produtor preços que permitam sua manutenção na

atividade rural. Todos os anos, são elaboradas as diretrizes da Política de

Garantia de Preços Mínimos (PGPM), os quais são coordenadas, elaboradas,

acompanhadas e avaliadas para garantir segurança alimentar e a

comercialização dos produtos agropecuários. (MAPA, 2013a)

O instrumento ganhou importância a partir dos anos oitenta, em razão

das dificuldades apresentadas pelo crédito rural no final da década anterior,

com a redução dos recursos e dos subsídios devido ao processo de aceleração

2 Foi anunciado pelo governo que para a safra de 2013/2014 o Plano Agrícola e Pecuário brasileiro terá um orçamento de 140 bilhões de reais para financiar o plantio, a comercialização e os investimentos. É um crescimento de 21,5% em relação ao total disponibilizado na safra anterior. Deste montante, 25 bilhões serão destinados para ampliação das estruturas de armazenagem no campo, com objetivo de minimizar o déficit de armazéns no país.

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da inflação e a consequente necessidade de uma política mais restritiva por

parte do Governo Federal.

O financiamento da estocagem, a armazenagem, a venda de estoques

públicos de produtos agropecuários e a equalização de preços e custos são

alguns dos mecanismos de que o MAPA se responsabiliza para a garantia do

abastecimento e comercialização dos produtos agrícolas. (MAPA, 2013a)

O excedente de produtos agrícolas pode ser comercializado, por meio

de leilões eletrônicos monitorados pelo governo, de forma a abastecer regiões

deficitárias e, ao mesmo tempo, garantir aos produtores um preço que lhes

permita manter-se na atividade rural. (MAPA, 2013a)

Segundo Buainain et al (2007), dois fatores foram decisivos para a

introdução de um programa de apoio à agricultura familiar na década de 90.

Um, as reivindicações dos trabalhadores rurais, que voltaram a ter voz na

Constituição de 1988, ganharam destaque nas famosas “Jornadas Nacionais

de Luta”, ocorridas na primeira metade da década de 90, e conquistaram

espaço e força política junto ao Governo Federal. Outro, os estudos realizados

conjuntamente pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e

Alimentação (FAO) e pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

(INCRA) mostraram, com maior precisão, a importância da agricultura familiar

para o desenvolvimento do meio rural brasileiro, municiando e dando maior

objetividade às reivindicações dos trabalhadores.

Em 1996, com o desdobramento do Provap, surgiu o Pronaf, que se

firmou como a principal política pública de apoio aos agricultores familiares.

Dois fatos importantes devem ser registrados: primeiro, em 1995, apenas as

ações relativas ao crédito de custeio foram implementadas; segundo, a

ampliação do programa para as áreas de infraestrutura e de capacitação só

ocorreu a partir de 1996, quando o Pronaf ganhou maior dimensão e passou a

operar nacionalmente. (BUAINAIN et al, 2007)

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF)3 -

3 O Brasil é um dos poucos países da América Latina que mantém um grande programa público de crédito rural e um Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), criado em 1965 (Lei

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É um instrumento que financia projetos individuais ou coletivos, que

gerem renda aos agricultores familiares e assentados da reforma agrária. O

programa possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos rurais, além

das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do País.

(MAPA, 2013d)

Portanto, tem como objetivo geral o Pronaf fortalecer a agricultura

familiar, contribuindo para gerar emprego e renda nas áreas rurais e urbanas e

para melhorar a qualidade de vida dos produtores familiares, rompendo com o

racionamento de crédito e assegurando recursos a custos reduzidos e

compatíveis com a realidade da agricultura brasileira (BUAINAIN e SOUZA

FILHO, 2001).

As contratações do Pronaf, segundo MDA (2013c) apresentam

crescimento sustentado ao longo dos anos. Em 1999/2000, o Pronaf abrangia

3.403 municípios, passando para 4.539 em 2001, o que representou um

aumento de 33% na cobertura de municípios, ou seja, a ampliação de mais de

1.100 municípios em apenas um ano. A ampliação de municípios atendidos

continuou em cada ano agrícola, sendo que em 2005/2006 houve a inserção de

quase 1.960 municípios em relação a 1999/2000. Em 2007/2008, foram

atendidos 5.379 municípios, o que representou um crescimento de 58% em

relação a 1999/2000, com a inserção de 1.976 municípios. (MDA, 203c)

O montante disponibilizado aos agricultores também cresceu. Em

1999/2000, foram disponibilizados pouco menos de R$ 3,3 bilhões com uma

execução de 66%. No ano agrícola de 2003/2004, houve o primeiro grande

incremento no montante, com um crescimento de 65% em relação a

1999/2000, sendo ofertados R$ 5,4 bilhões aos agricultores e com uma

execução de 83% do valor disponibilizado. Em 2006/2007, o montante

disponibilizado para financiamento do Pronaf chegou a R$ 10 bilhões,

representando um crescimento em relação a 1999/2000 de 205% e com uma

taxa de execução de 84%. (MDA, 2013c)

n° 4.829). O Manual de Crédito Rural (MCR) consolidou as diretrizes do SNCR, entre elas as modalidades principais do crédito – custeio, comercialização e investimento –, e definiu como público-alvo os produtores rurais e suas cooperativas. No início do SNCR, as principais fontes de recursos eram o Tesouro Nacional e as exigibilidades bancárias (recursos obrigatórios). (BUAINAIN et al, 2007)

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O comportamento da taxa referente à contratação efetiva do crédito

frente ao valor disponibilizado já indica que o montante de crédito contratado

pelos agricultores do Pronaf tem crescido ano a ano. A primeira grande

evolução no montante financiado pelos agricultores familiares foi em

2003/2004, fechando uma contratação de R$ 4,49 bilhões, representando uma

evolução de 109% em relação a 1999/2000. Nos anos seguintes, o crescimento

manteve-se sustentado. Em 2004/2005 foi de 185%, representando um

financiamento de R$ 6,13 bilhões. Em 2005/2006, foram financiados R$ 7,61

bilhões com uma evolução de 254%, sendo que em 2007/2008 rompeu-se a

casa dos 300%, perfazendo um financiamento de R$ 9 bilhões. (MDA, 2013c)

Segundo Buainain et al (2007) o Pronaf segmenta os agricultores

familiares em cinco categorias de beneficiários. Essa categorização decorreu

de um estudo realizado no âmbito do convênio FAO/Incra27, em 1999, que

identificou distintos grupos de agricultores familiares de acordo com o nível da

renda bruta familiar anual. Os cinco grupos nos quais está segmentado o

público-alvo potencial do Pronaf são os produtores: (i) estabilizados

economicamente (grupos D e E); (ii) com exploração intermediária, mas com

bom potencial de resposta produtiva (grupo C); (iii) com baixa produção e

pouco potencial de aumento da produção (grupo B); e (iv) assentados pelo

processo de reforma agrária (grupo A). Essa classificação diferenciada dos

agricultores permitiu que as regras de financiamentos fossem mais adequadas

à realidade de cada segmento social, reduzindo os encargos financeiros e os

rebates para os produtores mais pobres e com maiores dificuldades de

produção.

Segundo o Plano Safra 2012/2013 para agricultura familiar (MDA,

2013d), foram destinados os seguintes valores para: Crédito Pronaf: R$ 18

bilhões; Seguro da Agricultura Familiar – SEAF: R$ 480 milhões + R$ 5 bilhões

em produção segurada; Programa Garantia-Safra: R$ 411,8 milhões; Programa

de Garantia de Preços da Agricultura Familiar (PGPAF) R$ 90 milhões; PAA –

R$ 1,2 bilhão em compras da agricultura familiar; MDA: R$ 148 milhões + MDS:

R$ 1,08 bilhão; PNAE – R$ 1,1 bilhão em compras da agricultura familiar

(FNDE); Assistência Técnica e Extensão Rural - R$ 542 milhões; Programa de

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Garantia de Preço Mínimo – PGPM | R$ 347 milhões; Fomento às atividades

produtivas rurais do Plano Brasil sem Miséria: R$ 81 milhões (MDS).

Segundo MDA (2013d) para a safra 2012/2013 o valor total para a

agricultura familiar será de R$ 22,3 bilhões, com ações de ampliação dos

serviços de assistência técnica e extensão rural, do crédito, da cobertura de

renda no seguro, de garantia de preços, comercialização e organização

econômica. O valor destinado ao crédito é um recorde. Os agricultores e

agricultoras familiares terão à disposição R$ 18 bilhões para as linhas de

custeio, investimento e comercialização do Programa Nacional de

Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Em 2012, o crédito do Pronaf foi concedido da seguinte maneira,

segundo apontamentos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA,

2013), apresentado na Tabela 1.

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Tabela 1: Financiamentos rurais concedidos no Pronaf/Brasil (ano base 20112) – valores em Reais (R$)

AGRICOLA

PECUÁRIA TOTAL

Custeio investimento custeio

Investimento custeio investimento

fontes de recursos

contrato valor contrato valor contrato valor contrato valor contrato valor contrato valor

BRASIL 469.972 5.349.317.025,48 408.852 4.017.370.532,46 188.875 2.092.068.651,53 756.011 4.900.221.943,65 658.347 7.411.385.677,01 1.164.86 8.917.592.476,11

FAC 1.562 24.490.389,07 0 0 1.112 17.809.940,69 0 0 2.674 42.300.329,76 0 0

FAT 28.681 300.052.950,46 17.644 659.523.498,56 7.231 86.151.891,99 12.171 419.094.783,56 35.912 386.204.842,45 0 0

FCO 3.661 75.611.536,36 2.212 34.999.742,91 17.340 246.584.337,72 14.672 44.371,51 21.001 322.195.874,08 16.884 415.322.573,99

FNE 5.526 39.464.085,71 251.690 799.687.890,89 30.261 111.377.860,46 526.798 1.109.844.371,51 35.787 150.841.946,17 778.488 1.909.532.262,40

FNO 939 21.456.688,43 11.364 104.983.099,85 328 3.873.812,41 37.113 418.566.983,41 1.267 25.330.500,84 48.477 523.550.083,26

FUNCAFE 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

IHCD 0 0 82.715 1.392.840.297,77 0 0 95.334 1.415.675.164,57 0 0 178.049 2.808.515.462,34

MCR6.2 93.089 1.406.950.815,26 2.438 61.898.199,23 14.853 249.038.478,88 3.929 81.806.578,37 107.942 1.655.989.294,14 6.397 143.704.777,60

P.PLURAL 331.141 3.408.204.711,82 32.543 886.132.319,78 116.335 1.366.793.584,28 51.567 1.008.843.439,77 447.496 4.774.998.296,10 84.110 1.894.975.759,55

RPL 3.892 68.731.482,53 0 0 404 6.050.570,45 108 868.000,00 4.296 74.782.052,98 108 868.000,00

RTN 981 4.354.365,84 8.246 40.305.483,47 991 4.388.174,65 14.319 65.199.791,38 1.972 8.742.540,49 22.565 10.505.274,85

Fonte: MDA (2013e)

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O Pronaf esta dividido nas seguintes linhas e grupos, e por categorias de

faixas, conforme Quadro 1.

Quadro 1: Pronaf – linhas e grupos /categorias de faixas

Linhas e Grupos Faixa I Faixa II Faixa III

Pronaf Custeio Até R$ 10mil juros de 1,5% a.a.

Mais de R$ 10mil até 20mil juros de 3% a.a

Mais de R$ 20mil até 80 mil juros de 4% a.a.

Pronaf Investimento (mais alimentos)

Até R$ 10mil juros de 1 % a.a.

Mais de R$ 10mil até 130 mil juros de 2% a.a.

Microcrédito rural

Investimento até R$ 2,5 mil por operação juro de 0,5% a.a bônus de adimplência de 25% até os primeiros R$ 7,5 mil

Custeio: nas condições estabelecidas MCR 10.4.2.a

Pronaf Agroecologia Ate R$ 10mil juros de 1% a.a

Mais de R$ 10 mil até R$ 30mil juros de 2% a.a

Pronaf Mulher até R$ 2,5 mil juro de 0,5% a.a para os grupos A, A/ e B

Até R$ 10mil juro de 1% a.a Mais de R$ 10mil e até 130 mil, juros de 2% a.a. Para o

Grupo V

Pronaf Eco Ate R$ 10mil juros de

1% a.a Mais de R$ 10 mil até R$ 30mil juros de 2% a.a

Pronaf Eco Dendê Até R$ 8mil/há Até 10 mil juro de 1% a.a. Acima de R$10mil e até 80

mil por mutuário juros de 2% a.a.

Pronaf Agroindústria

Individual até R$ 130 mil, Cooperativas e associações até R$ 1 milhão, respeitando o limite individual de até R$ 10mil. Juro de 1%a.a.

Individual acima de R$ 10mil e até R$ 130mil, cooperativas e associações acima

de R$ 1 milhão e até R$ 30 milhões, respeitando o limite individual de até R$

40mil. Juros de 2% a.a.

Pronaf Semiárido Até R$ 18mil, juro de 1% a.a.

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Pronaf Jovem Até R$ 15mil, juro de 1% a.a

Pronaf Floresta Até R$ 35 mil, juro de 1% a.a

Pronaf Custeio e Comercialização de Agroindústria Familiares

Individual até R$ 10 mil; Empreendimento familiar rural - até R$ 210 mil; Associações - até R$ 4 milhões; Cooperativas até R$ 10 milhões

e Cooperativas Centrais R$ 30 milhões; Juros de 4% a.a.

Pronaf Cota-Parte Individual - até R$ 20mil; Cooperativa até R4 20 milhões; Juros de

4% a.a.

Pronaf Investimento para Reforma Agrária

Até R$ 20mil mais R$ 1,5 mil para ATER, Juro 0,5% a.a. Bônus de adimplência de 44,18%

Pronaf Custeio para Reforma Agrária

Até R$ 5mil por operação; até 3 operações; Juros de 1,5% a.a.

Fonte: MDA (2013c)

Conceição (2010) aponta em seu trabalho que nas décadas de 90 e

inicio de 2000 não houve mudanças substanciais na politica de comercialização

agrícola brasileira. No entanto, destaca como uma importante iniciativa que foi

a criação do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)4 –

Criado em 2003, é uma ação do Governo Federal para colaborar com o

enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e, ao mesmo tempo, fortalecer a

agricultura familiar. O programa utiliza mecanismos de comercialização que

favorecem a aquisição direta de produtos de agricultores familiares ou de suas

organizações, estimulando os processos de agregação de valor à produção.

(MAPA, 2013b)

São modalidades do PAA, conforme Tabela 2:

Tabela 2: Modalidades do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)

4 O PAA foi instituído pela Lei no 10.696/2003, criado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e é desenvolvido em parceria com governos estaduais e municipais e com a CONAB. Os recursos para o programa vêm sendo ampliados a cada ano. O PAA é uma nova modalidade de comercialização.

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Modalidade Fonte de Recurso

Limites Executor Forma de Acesso

Compra direta MDS/MDA RS 8mil CONAB Individual, cooperativa e associação

Formação de estoque

MDS RS 8mil CONAB Cooperativa e associação

Compra direta com doação simultânea

MDS R$ 4,5 mil (individual)

R$ 4,8 mil (cooperativa/associação)

CONAB, estabecimentos

e municípios

Individual, cooperativa e associação

Incentivo à Produção e

ao Consumo de Leite

MDS R$ 4 mil por semestre Estados do Nordeste e

norte de MG

Individual, cooperativa e associação

Compra Institucional

Recursos do

proponente

Recursos do proponente O próprio proponente

Cooperativa e associação

Fonte: MDA (2013b)

Na criação do Programa Fome Zero, conforme aponta Conceição

(2010), foram estabelecidos três grandes objetivos: a) constituição de um polo

institucional de demanda por alimentos dirigida à agricultura familiar; b)

provisão de subvenções ao consumo de alimentos às populações em situações

de risco alimentar – nutricional e, c) que estas funções fossem atendidas

mediante ação integrada da política agrária e de segurança alimentar e

nutricional. Conclui a autora que, neste contexto o programa atua em dois

segmentos: de um lado, comprando alimentos, proporcionando trabalho e

renda aos pequenos agricultores e, de outro, cuidando de pessoas em situação

de maior vulnerabilidade social.

Neste sentido, os novos instrumentos direcionados ao PAA são

adaptações de inovações comerciais e financeiras existentes e praticadas pela

Política Agrícola convencional (CONCEIÇÃO, 2010). A exemplo, a autora cita o

contrato de compra e venda antecipada que foi inspirado no pré-EGF, pela

antiga Companhia de Financiamento da Produção (CFP) na década de oitenta.

O que é inovador é que tais instrumentos são direcionados para a agricultura

familiar. (CONCEIÇÃO, 2010).

Delgado, Conceição e Oliveira (2005), em seu estudo apresentam que

os recursos da PGPM - estoques públicos e os recursos da PGPM – estoques

públicos e os recursos do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza

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(subvenção ao consumo de alimentos) são disputados para outros usos, como

quaisquer recursos fiscais. Afirmam que é necessário ter clareza nos rumos

para que seja estabelecida a prioridade no gasto público, de tal forma que se

possa desenhar a engenharia financeira de longo prazo para o PAA.

Assim, pode ser considerado o PAA como um programa estratégico,

tendo em vista que ele desenvolve a possiblidade de geração de excedentes e,

a possibilidade de comercialização deste excedente é que dará melhores

condições à agricultura familiar.

No entanto, conforme conclui Conceição (2010) para que o PAA se

transforme de fato em uma política de inserção da agricultura familiar na esfera

produtiva, outras ações ainda são necessárias, tais como assistência técnica,

pesquisa, alguns casos cooperativismo, certificação do produto – qualidade,

entre outras.

Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) –

Esta modalidade garante às famílias agricultoras que acessam o Pronaf

Custeio ou o Pronaf Investimento, em caso de baixa de preços no mercado, um

desconto no pagamento do financiamento, correspondente à diferença entre o

preço de mercado e o preço de garantia do produto.

O governo federal criou em 2006 o Programa de Garantia de Preços da

Agricultura Familiar (PGPAF), com objetivo de evitar problemas semelhantes

ao encontrado na safra 2005/06. O programa funcionou em um sistema de

equivalência-produto. Caso o preço de mercado do produto agrícola financiado

esteja abaixo do preço de referência, o agricultor receberá um rebate no valor

do financiamento referente a essa diferença. (NUNES, 2007)

A partir da safra 2006/07, portanto, conforme aponta Nunes (2007) os

agricultores puderam utilizar dois instrumentos de política agrícola contra

perdas provocadas pelo clima e pelo mercado. Se as perdas fossem

provocadas pelas condições climáticas, os agricultores poderiam solicitar o

amparo do Proagro5 e Proagro Mais6. Se as perdas fossem devido às

5 O Proagro foi criado pela Lei 5.969/1973 e regido pela Lei Agrícola 8.171/1991, ambas regulamentadas pelo Decreto 175/1991. Suas normas são aprovadas pelo Conselho Monetário

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condições de mercado, os agricultores poderiam utilizar o PGPAF, cujo bônus

é limitado à R$ 3.500 por beneficiário. Caso as perdas sejam devido à

condições climáticas e de mercado, os agricultores deverão encaminhar

primeiro a solicitação de pedido de Proagro e aguardar o resultado da

solicitação. Caso a indenização seja total, não haverá mais condições de

recorrer ao PGPAF, mas se ela for parcial, os agricultores poderão solicitar

bônus sobre o valor restante do financiamento através do PGPAF.

b. Mercado Externo

O agronegócio nacional esteve fora do mercado externo por muito

tempo, conforme Machado (2009, p.76) “até 1990, o Brasil era outro país. Sua

economia era fechada para o mundo e a agricultura era voltada para o

mercado interno.” Sem a necessária divulgação do produto nacional no

exterior, a exportação no agronegócio não recebia atenção e abertura para que

se passasse a atuar no campo do comércio internacional.

O MAPA, a partir do início da década de noventa, passou a ter uma

crescente estruturação burocrática para lidar com negociações agrícolas

internacionais que culminou, em 2005, na criação da Secretaria de Relações

Internacionais do Agronegócio, passando a instituição ser demandada pelo

setor privado agrícola. (MACHADO, 2009)

O crescimento da produtividade e competitividade do setor agrícola

brasileiro, fez com que o mercado externo se tornasse uma grande

oportunidade de incremento de renda para o agronegócio nacional. Isso fez

com que as instituições do setor se organizassem, entre elas o MAPA, para

que houvesse um auxilio maior na abertura dos mercados e providenciasse os

Nacional - CMN e codificadas no Manual de Crédito Rural (MCR-16), que é divulgado pelo Banco Central do Brasil. O instrumento visa atender aos pequenos e médios produtores, e garante a exoneração de obrigações financeiras relativas a operação de crédito rural de custeio, cuja liquidação seja dificultada pela ocorrência de fenômenos naturais, pragas e doenças que atinjam rebanhos e plantações, na forma estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional - CMN. (MAPA, 2013c) 6 “Proagro Mais” foi criado em 2004, um seguro público destinado a atender os pequenos produtores vinculados ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF) nas operações de custeio agrícola, que passou a cobrir também as parcelas de custeio rural e investimento, financiadas ou de recursos próprios, na forma estabelecida pelo CMN, conforme estabelecido pela Lei nº 12.058/2009. (MAPA, 2013c)

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mecanismos formais necessários para efetivação das exportações.

(MACHADO, 2009)

À medida que representantes do agronegócio nacional passaram a se

organizar passaram também “a solicitar, a partir de meados da década de

1990, políticas governamentais voltadas ao comércio exterior de produtos

agrícolas e a acompanhar mais de perto as negociações no âmbito do regime

multilateral de comércio”. (MACHADO, 2009)

Para Machado (2009) com a organização do setor do agronegócio

voltado para a promoção da exportação de seus produtos passou-se a exigir

maior comprometimento por parte do governo em oferecer políticas capazes de

inserir os produtos do agronegócio no mercado internacional. Assim, após a

criação da OMC em 1996, o Ministério da Agricultura criou Secretaria de

Política Agrícola (SPA) e a Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS) – com

atribuições de acompanhamento e implementação de políticas e acordos

internacionais.

A SDA é responsável pela execução das ações de Estado para

prevenção, controle e erradicação de doenças animais e de pragas vegetais.

Visa assegurar a origem, a conformidade e a segurança dos produtos de

origem animal e vegetal destinados à alimentação humana ou animal e

também a idoneidade dos insumos em uso na agricultura e pecuária. (MAPA,

2013d)

Sua atuação é importante para a oferta de alimentos seguros, evitando

possíveis riscos à saúde do consumidor e práticas desleais de comércio. A

qualidade e a segurança dos produtos de origem animal e vegetal dependem

do cumprimento de boas práticas de fabricação, da fiscalização oficial e da

correta aplicação de normas e padrões técnicos estabelecidos. Para o

cumprimento de sua missão, a SDA dispõe de estruturas centrais de direção e

normatização e também de projeções nos estados para execução e

coordenação das ações de sua competência. (MAPA, 2013d)

A SDA também contribui para a formulação da política agrícola.

Compete planejar, normatizar, coordenar e supervisionar as atividades de

defesa agropecuária em todo o território nacional. É responsável pela

coordenação do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária

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(Suasa), do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, do

Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal e do Sistema

Brasileiro de Inspeção de Insumos Agropecuários. (MAPA, 2013d)

No setor de produção animal, a secretaria responde pelas ações de

vigilância sanitária e combate a doenças veterinárias. Inspeciona a

industrialização de produtos de origem animal, a fabricação de medicamentos

veterinários e a comercialização de sêmem para inseminação artificial de

animais domésticos. Fiscaliza e classifica os produtos, subprodutos e resíduos

animais de valor econômico. (MAPA, 2013d)

Na produção vegetal responde pela vigilância fitossanitária, inspeciona

e fiscaliza a produção de sementes, mudas, fertilizantes, corretivo, inoculantes,

estimulantes e biofertilizantes. Controla registro, classificação e fiscalização do

comércio de bebidas e da produção de uvas, vinho e derivados. Inspeciona a

utilização de agrotóxicos e seus componentes, além de fiscalizar e classificar

os produtos, subprodutos e resíduos vegetais de valor econômico. (MAPA,

2013d)

Conforme aponta Machado (2009), a reestruturação do MAPA foi ampla

e atingiu todo o Ministério. Dois novos órgãos, cujos assuntos nunca haviam

integrado as competências do MAPA, foram inseridos em sua estrutura, são

eles: a assessoria de Gestão Estratégica, ligada ao Gabinete do Ministro, e a

Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio – SRI. A Assessoria de

Gestão Estratégica foi criada com o intuito de promover a gestão estratégica do

Ministério, incluindo a realização de planejamento estratégico, prospecção de

cenários e consolidação institucional.

Criada em 2005, a Secretaria de Relações Internacionais do

Agronegócio (SRI) promove a interface do Mapa com o mercado externo7. A

secretaria é responsável pela elaboração de propostas para negociações de

acordos sanitários e fitossanitários com outros países e também por analisar as

7 Além da criação da SRI, outro fenômeno pôde ser observado na reestruturação de 2005: a multiplicação de referências a atribuições internacionais em grande parte dos Departamentos do Ministério. Dezoito Departamentos fizeram constar em seus regimentos a atribuição de “formular propostas e participar de negociações de acordos, tratados ou convênios internacionais .. em articulação com os demais órgãos do Ministério” - apesar da criação da SRI para exercer tal função.

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deliberações relativas às exigências fitossanitárias que envolvam interesses do

setor produtivo brasileiro. (MAPA, 2013d)

Seus representantes têm como atribuições intermediar negociações em

fóruns bilaterais e multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio

(OMC), Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e Codex Alimentarius.

Além disso, acompanham e participam das decisões tomadas pela Câmara de

Comércio Exterior (Camex) e atuam diretamente em negociações no Mercosul.

(MAPA, 2013d)

A SRI é responsável por articular ações de promoção dos produtos e

serviços do agronegócio brasileiro e também estimular a sua comercialização

externa, consolidando a imagem do Brasil como provedor de alimentos seguros

e de qualidade. (MAPA, 2013d)

O foco nas exportações por parte dos representantes do agronegócio

nacional e também por parte do Governo colaboraram no desenvolvimento do

país frente ao mercado internacional, consolidando o país em uma posição de

um dos maiores produtores e exportadores de alimentos e produtos agrícolas,

comercializando sua produção em mais de 200 países, conforme pode ser

verificado na Tabela 3, que demonstra a posição do Brasil no Ranking Mundial

da Produção e Exportação de produtos agrícolas em 2011.

Tabela 3: Posição do Brasil no Ranking Mundial da Produção e Exportação Agrícola em 2011 Principais Produtos

Produção Exportação Número de Mercados

Principal Comprador

Açúcar 1° 1° 126 Rússia

Café 1° 1° 133 EUA

Suco de Laranja

1° 1° 68 Bélgica

Complexo Soja

2° 2° 95 China

Carne Bovina 2° 3° 135 Rússia

Álcool 2° 1° 34 EUA

Carne de Frango

3° 1° 145 Japão

Milho 4° 4° 48 Irã

Carne Suína 4° 4° 74 Rússia

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Fonte: MAPA (2013b) Conforme o Plano Safra Agrícola e Pecuário 2012-2013 (MAPA, 2013b)

o bom desempenho nas exportações, “aliado ao fato de a agricultura brasileira

ser autossuficiente, com baixos níveis de importação, resulta em importante

contribuição do setor para os crescentes superávits da balança comercial.”

Sensível à importância dessa contribuição, a política agrícola brasileira

foi profundamente reformulada nos anos 1990, como parte de um amplo

programa de ajustamento da economia brasileira, e tem sido sucessivamente

aprimorada para garantir níveis adequados de apoio ao produtor rural,

principalmente por meio das políticas de apoio à comercialização, seguro rural

e de crédito rural, cuja oferta de recursos com taxas de juros abaixo das

praticadas pelo mercado tem sido crescente em relação ao aumento da

produção, em termos físicos e monetários.

4) Considerações finais

Atualmente, não será mais possível ao Brasil retomar as políticas

agrícolas e comerciais anteriores, em decorrência da abertura comercial e

estabelecimento de novos relacionamentos dos mercados internos e externos.

Hoje se tem a integração dos mercados, especialmente o agrícola, e a

formação de preços não depende mais apenas do mercado interno. Diante

deste cenário, a realidade dos dias atuais é diferente, pois há a necessidade de

se levar em consideração o mercado externo nas políticas de comercialização,

principalmente no que se refere a questão da formação dos preços, caso

contrario está cada vez mais fadada ao fracasso. (CONCEIÇÂO, 2010)

Aponta a autora que, na realidade, a restrição do ponto de vista fiscal

associada à consolidação do processo de abertura comercial, na década de

1990, criaram um quadro completamente distinto do que ocorria nas décadas

anteriores. Este fator sinaliza um modelo de desenvolvimento mais liberal e

menos intervencionista, com modificações substanciais na condução da política

agrícola. (CONCEIÇÃO, 2010)

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Referência bibliográfica

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