28
carnívoros: o topo da cadeia precisa de ajuda tratamento vip aqui e em todo o lado 125 anos pela natureza MAGAZINE SEMESTRAL Nº 9 · MAIO 2009

Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista semestral Jardim Zoológico Lisboa . Portugal

Citation preview

Page 1: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

carnívoros: o topo da cadeia precisa de ajuda

tratamento vip

aqui e em todo o lado

125 anos pela natureza

MAGAZINE SEMESTRAL Nº 9 · MAIO 2009

Page 2: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Ficha técnica › COORdENAçãO Serviço de Marketing › CONTEúdOS Marta Lopes › dESIGN Serviço de Marketing › TIRAGEM 30.000 exemplares

Page 3: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

{5} Editorial

em evolução

{6} campanha 2009

mais perto de todos

{7} EaZa 2009

carnívoros: o topo da cadeia precisa de ajuda

{10} os mais antigos

urso de ouro tratamento vip

{17} animais saudávEis

tratar-lhes da saúde

{18} a mais Famosa atracção

estrelas do mar

{20} 125 anos dE jardim Zoológico

125 anos pela natureza

{24} Fora dE portas

aqui e em todo o lado

{26} agEnda

de maio a outubro

{27} EmprEsas QuE apoiam o jardim Zoológico

obrigado

{sumário}

Page 4: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009
Page 5: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

{em evolução}São 125 anos em constante ebulição. 125 anos sempre em evolução.Já passou mais de um século desde o nascimento do Jar-dim Zoológico, mas este, como casa viva que é, nunca dei-xou de mudar. As melhorias são visíveis: instalações cada vez mais selvagens e adequadas às necessidades dos nos-sos habitantes, técnicas veterinárias e de tratamento em constante actualização, aumento dos espaços verdes. Irá, nestas páginas, conhecer a história do seu Jardim Zoológi-

co, desde a criação até ao papel que desempenha nos dias de hoje. Esta é uma história que poderia ser acrescentada todos os dias, já que o Zoo se transforma a cada minuto que passa – exactamente como a Natureza.

Neste número comemorativo, fazemos uma espécie de visita guiada ao Jardim Zoológico, mostrando-lhe aquilo que os visitantes normalmente não vêem. Damos-lhe a conhecer, por exemplo, alguns dos mais antigos tratadores, que têm um dos papéis principais no bem-estar dos animais e no bom funcionamento do Zoo. Explicamos-lhe como funciona o nosso Hospital Veterinário, essencial para manter a saúde de todas as espécies. Não poderíamos deixar de contar também a história do Centro de Vida Marinha, onde se situa um dos mais famosos espaços do Jardim: a Baía dos Golfinhos. É aí que acontecem as tão apreciadas apresentações de animais marinhos, que têm como principal missão transmitir a importância de cada um de nós na preservação da Natureza.

É precisamente na área da preservação da Natureza que o Jardim Zoológico tem uma actuação de enorme importância. Mais do que um espaço privilegiado de entre-tenimento e educação, o Zoo tem sido um motor na protecção do meio ambiente e dos animais ameaçados. Irá conhecer melhor essas acções específicas nesta revista. Levamo-lo numa viagem à roda do mundo para lhe mostrar os programas de conser-vação que contam com o contributo do Jardim e apresentamos-lhe a EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) que, este ano, tem as atenções viradas para os carnívo-ros ameaçados. A cooperação internacional é fulcral para que consigamos combater a destruição dos habitats e, assim, salvar uma grande quantidade de espécies da ex-tinção.

Esta é a grande missão do Jardim Zoológico. A acção humana tem sido, infeliz-mente, nefasta para os outros animais que connosco coabitam no planeta Terra, por isso, tem de ser também a mão humana a lutar para que a situação se inverta e se afaste da catástrofe natural que, de vez em quando, se avista no horizonte. Daqui a 125 anos, as notícias serão certamente melhores. O Jardim Zoológico compromete-se com a Natureza, de que fazemos todos parte, a continuar a cumprir o seu papel: ser uma verdadeira Arca de Noé, onde cada um de nós é convidado a viajar.

Mais uma vez, quero agradecer a todos aqueles que têm contribuído para que a Missão do Jardim Zoológico seja cumprida: funcionários do Jardim, visitantes, parcei-ros, voluntários e amigos. A todos um Muito Obrigado!

Francisco Naharro PiresPresidente

{5}Jardim Zoológico

Editorial

Page 6: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

A campanha pretende divulgar um Zoo com o mesmo espírito que lhe deu um lugar de honra no imaginário português, mas em constante mudança. São grandes e muito visíveis as alterações que sofreu: a modernização dos espaços, a melhoria do bem-estar e da qualidade de vida animal, um bilhete único para toda a oferta disponível.

Serão diversos os veículos desta campanha, que será completada com acções de rua, em espaços como as praias, centros comerciais, Metro e no aeroporto de Lisboa. Desta forma, faz-se a todos um convite directo para conhecer (ou voltar a conhecer) o “velho novo Jardim Zoológico”. A cada dia mais selvagem, o Zoo tem para a nova campanha um mote mais do que apropriado: “125 anos cheios de vida”.∞

mais perto de todos

{6} Jardim Zoológico

campanha 2009

Em 125 anos, o Zoo cresceu, mas, ao contrário dos Homens, não envelheceu. Está, antes, cada vez mais jovem. “O novo Jardim Zoológico de sempre” é o conceito da nova campanha publicitária para os 125 anos do Zoo, desenvolvi-da pela agência MSTF Partners.

Gravação do spot publicitário.

Page 7: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Um dos principais motores da luta pela conservação da Natureza na Europa é a EAZA – Associação Eu-

ropeia de Zoos e Aquários. Os fundos angariados pelas campanhas desta associação são directamente aplicados em projectos de conservação in situ. Também o Jardim Zoológico pertence à EAZA e, como tal, cumpre a estraté-gia mundial para a conservação, definida pela Associação Mundial de Zoos e Aquários (WAZA), pelo Grupo de Es-pecialistas de Reprodução para a Conservação (CBSG) e pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

Este ano, a atenção vai para os animais carnívoros. Lobos, Ursos, Linces e outros enfrentam há muito tempo

um grave problema: na Europa, dificilmente se encontram áreas naturais intocadas pelo Homem. E é mesmo dessas áreas que os carnívoros dependem. Mas, mostrando que são resistentes, estas espécies estão a regressar ao nosso continente. Já que são as populações humanas que alte-ram, às vezes de forma trágica, as paisagens e a vida dos animais que nelas habitam, cabe também ao Homem me-ter mãos à obras para restaurar o equilíbrio. No caso dos carnívoros, o grande desafio está nos números: enquanto umas espécies se expandem, outras estão em perigo de extinção. É para alterar esse grave estado das coisas que a EAZA dedica a sua Campanha de 2009 a estes animais: está em marcha o SOS Carnívoros.

lobito

carnívoroso topo da cadeia precisa de ajuda

Pensamos em animais em vias de extinção e lembramo-nos de elefantes mor-tos a tiro nas savanas africanas ou de Ursos-polares a quem o aquecimento global destrói o habitat de gelo. Mas, afinal, também há espécies em perigo aqui, muito perto de nós.

Page 8: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

{8} Jardim Zoológico

Fora dE portas

sos por toda a europaOs animais da ordem Carnívora vão desde a Doninha de 80 gramas até ao Urso-polar de 800 kg. Une-os o facto de te-rem todos patas com quatro ou cinco dedos que terminam em garras, dentes afiados, maxilas fortes e, infelizmente, as vidas postas em perigo pela ameaça Humana. Os maio-res conflitos entre carnívoros e Homens dão-se ao nível do alimento e do espaço. A falta de alimento na Natureza leva os animais a saciar a fome entre o gado, que o Homem ten-ta defender abatendo os predadores. As soluções podem passar por cercas eléctricas e o uso de cães de gado. Mas o principal desafio é diminuir a caça dos alimentos naturais dos carnívo-ros que, apesar de muitas vezes ile-gal, continua a ser estimulada pelo mercado das peles. Por outro lado, a expansão humana tem fragmentado os territórios dessas espécies, que vêem assim dificultada a reprodu-ção e a sobrevivência. Para colmatar esta falha, a gestão do território deve ser feita através do desenvolvimento sustentável: construção sim, mas planeada, criando corredores que permitam aos animais não estarem confinados a uma área restrita.

Uma das espécies mais afectadas pela procura de peles para vestuário é a Raposa-vermelha. A sua caça é legal na maioria dos países europeus, embora a sua existência seja essencial para a agricultura: como se alimenta de coelhos, lebres, ratos e insectos, acaba por controlar as populações de roedores. A caça também afecta o Lince-euroasiático, o

maior dos Linces, apesar de este ser tão avesso ao contacto com o Homem, que raramente é avistado. Mas o principal desafio para a sua sobrevivência é a redução do habitat dis-ponível, devido à desflorestação e à fragmentação do territó-rio causada pelas actividades humanas.

Nas histórias, tem sempre “Mau” como segundo nome: é invariavelmente o vilão. Mas, na realidade, o Lobo-cinzento enfrenta um grave perigo de extinção. No século XIX, quando passou a ser o “mau da fita”, esta espécie foi exterminada em quase todos os países do Norte e Centro

da Europa. Além do abate directo pelo Homem, a desflorestação também tem posto entraves à sobrevivência deste animal, que tem uma orga-nizada vida em alcateia, com uma rígida hierarquia e uma grande de-dicação às crias. Essa forma de viver talvez seja a razão pela qual o Lobo está, apesar de tudo, a recuperar e a

aparecer de novo na paisagem europeia.Por último, o maior carnívoro do continente. O Urso-

pardo existe apenas em pequenas populações: menos de 20 espécimes divididos por duas populações nos Pirinéus, 40 a 50 nas montanhas Appenine, em Itália, e 30 a 40 nos Alpes. Infelizmente, o seu volumoso tamanho não é sufi-ciente para fazer frente à caça ilegal e à destruição do habi-tat. É pela vida do Urso-pardo e de todos os outros animais em perigo que se bate a Campanha 2009 da EAZA, espalha-da por toda a Europa.

O principal desafio para a sua sobrevivência é a redução do habitat dis-ponível, devido à desflo-restação e à fragmentação do território causada pelas actividades humanas.

© P

eter

Cai

rns

© A

stri

d Sc

hute

© A

stri

d Sc

hute

Page 9: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

uivos em portuguêsEm Portugal, a EAZA apoia “O Lobo e o Homem: Parceiros na sobrevivência”, um projecto de conservação do Lobo-ibérico. Esta sub-espécie do Lobo-cinzento tem a sua sobrevivência seriamente posta em causa. Existem cerca de 2.000 na Natu-reza, 300 deles no norte do nosso país e os restantes em Es-panha. Além do medo, que leva os Homens a abater os Lobos sempre que os avistam perto do gado ou de povoações, há ain-da que lidar com a caça dos animais que servem de alimento a esta espécie e com a fragmentação e destruição do habi-tat, causadas pela má gestão dos territórios. Para resolver, estes problemas, o projecto, apoiado pela Faculdade de Ciências de Lisboa e o Clube do Cão de Castro Laboreiro, pretende reduzir a quantidade de es-tragos provocados por Lobos no gado, com a divulgação de algumas técni-cas de segurança. Irá ainda informar sobre a coexistência com os Lobos e procurar melhorar os sistemas de in-demnização de prejuízos dos criadores de gado.

O Lobo não é o único carnívoro a precisar de ajuda em Portugal. O caso mais conhecido é, provavelmente, o do Lince-ibérico. E há uma forte razão para isso: é o felino mais ameaçado do mundo. Existem apenas cerca de 200 es-pécimes, em Espanha, já que a sua presença em Portugal não está confirmada. Uma das principais razões para este sério e muito real risco de extinção é a diminuição do Co-elho-europeu (menos 95% desde 1950), que compõe quase totalmente a alimentação do Lince-ibérico. Além da excessi-

va caça ao coelho, o Homem tem contribuído para este pro-blema também com as armadilhas que monta para outras espécies, onde muitas vezes caem linces. Frequentemente, encontram-se ainda crias atropeladas.

Talvez seja uma surpresa, mas também no mar há car-nívoros e alguns enfrentam graves riscos de extinção. É o caso da Foca-monge-do-mediterrâneo, cuja população mundial não ultrapassa os 500 animais. Em 2008, foi fundada a Aliança In-ternacional para a Conservação da Foca-monge-do-mediter-râneo, cuja acção já se sente, nomeadamente no Arquipélago

da Madeira. De lá, chegam boas notícias: existem 30 focas e a tendência é para aumentar. Ainda no mar, encontramos em perigo o Golfinho-roaz. Em Portu-gal, um dos poucos países do mundo onde esta espécie de golfinho vive per-to do Homem, podemos encontrá-lo no estuário do rio Sado, por exemplo. Tan-to no caso do Golfinho-roaz como no

da Foca-monge-do-mediterrâneo, os perigos vêm sobretudo da poluição dos oceanos, da circulação dos barcos, do aprisio-namento acidental em redes de pesca e da sobre-exploração pesqueira, que tem originado uma escassez de alimento.

Os mamíferos carnívoros estão no topo da cadeia ali-mentar, mas têm caído patamares no que toca à pirâmide da sobrevivência. Ajudá-los é também ajudar o trabalho humano: sem estes predadores, coelhos, ratos, aves, rép-teis e insectos podem tornar-se pragas para a agricultura. É urgente uma coexistência pacífica. Para bem de todos.∞

O medo leva os homens a abater os lobos sempre que os avistam perto do gado ou de povoações. A caça dos animais que servem de ali-mento a esta espécie é tam-bém uma grande ameaça.

{9}Jardim Zoológico

EaZa 2009

© P

arqu

e N

atur

al d

a M

adei

ra

Page 10: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

urso de ouroNo Jardim Zoológico, há um animal que está lá há mais tempo que os outros. Não tem um nome registado, mas ninguém se esquece dele. O animal mais antigo do Zoo é um Urso-pardo macho, com 23 anos e 14 filhos.

Page 11: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Cientificamente, chama-se Ursus arctos, pertence à or-dem Carnívora e à família dos Ursídeos. É um animal

grande, de corpo pesado e robusto, cauda curta e patas fortes com cinco garras, que utiliza para escavar o solo em busca de alimento ou abrigo, para pescar, trepar e defender-se. O seu tamanho pode tornar-se um pouco assustador, apesar do focinho comprido e das orelhas curtas e redondas de desenho animado. Mas na verdade, um Urso ‘de pé’, por exemplo, apoiado apenas nas patas posteriores, não está em postura agressiva, mas sim curioso ou vigilante.

Os Ursos-pardos podem encontrar-se em grupos relativamente pacíficos, em locais onde haja alimento em abundância, mas são maioritariamente animais solitários. Marcam o seu território com raspagens nas cascas das ár-vores, onde esfregam as costas e deixam pêlos e odores. São animais omnívoros, como os Homens, mas sobretudo vegetarianos. As suas ementas são compostas por herbá-ceas, frutos, raízes, sementes, insectos, mel, peixe (como truta e salmão), ovos e juvenis de aves, roedores, veados, renas, alces ou gado doméstico. A caça de animais não é, no entanto, muito frequente. Falta saber se afinal o alimento favorito é mesmo o mel...

É entre Maio e Julho, no perío-do mais quente, que se reproduzem. Os machos lutam pelas fêmeas e formam-se casais de curta duração. O embrião resultante do acasa-lamento fica perto de 5 meses no útero da mãe, sem se desenvolver. A gestação propriamente dita dura apenas 60 dias. Por isso, as crias de Urso são, de entre os mamíferos, as mais pequenas comparativamente ao tamanho adulto: nascem apenas com 400 a 500 gramas! Os pequenos Ursos são desmamados com cerca de um ano e meio e ficam com a mãe até terem aprendido as técnicas de sobrevivência necessárias, por volta dos três a quatro anos de idade. Atingem a maturidade sexual entre os quatro anos e meio e os sete anos, embora os machos só cheguem ao tamanho necessário para se tornarem reprodutores, entre os oito e os dez anos.

Durante o Verão e o Outono, a meta é engordar. É aqui que atingem o peso máximo, podendo chegar mes-mo aos 780 Kg, no caso dos machos. É que, quando chega o Inverno, os Ursos param. Recolhem-se numa cavidade subterrânea forrada com vegetação seca e ali ficam silen-ciosamente num estado letárgico. Nesta altura do ano, o alimento é escasso e por isso o Urso precisa de ter uma grande quantidade de energia acumulada, de forma a man-ter a temperatura do corpo. Esta, de qualquer forma, é re-duzida, assim como a velocidade dos batimentos cardíacos e a taxa metabólica, para poupar o máximo de energia.

É neste Inverno adormecido que as fêmeas têm as crias no útero, sem desenvolvimento. Apesar de não terem qualquer tipo de actividade fisiológica, os Ursos-pardos em estado de letargia podem acordar facilmente para se defenderem de eventuais predadores. É este o motivo que leva muitos especialistas a não chamar hibernação a esta fase.

Felizmente, ainda se podem encontrar bastantes Ursos-pardos. Mas, apesar de esta espécie não estar ame-açada, a sua área de distribuição actual é muito restrita. Antes, existia numa enorme superfície, desde as Ilhas Britânicas e a Península Ibérica, até à ilha de Hokkaido, no Japão, na América do Norte e no Norte de África. Agora, já não existem no continente africano e na América encon-tram-se principalmente em áreas protegidas. Na Rússia ainda são relativamente abundantes, mas têm visto os seus habitats destruídos e reduzidos pela exploração no leste da Sibéria. Vivem em florestas de coníforas (uma espécie de árvores e arbustos), em regiões montanhosas e na tundra (vegetação que aparece no período de degelo da estação ‘quente’ das regiões de clima polar). O Urso-pardo é um ani-mal curioso, com uma dieta versátil e rápido na aprendiza-

gem, o que o torna muito adaptável, mas a baixa densidade populacional e a lenta maturação sexual dificul-tam a recuperação das populações. Além disso, esta espécie necessi-ta de muito espaço para manter a variedade genética, mas a maioria das reservas não é suficientemente grande. Por falta de experiência de

sobrevivência das fêmeas e das crias, os Ursos-pardos são animais difíceis de reintroduzir.

Em habitat natural, esta espécie dura entre 20 e 25 anos. O Urso-pardo do Jardim Zoológico já carrega 23, mas, sob cuidados humanos, ainda estará ali certamente para o vermos durante mais alguns anos. E nem precisa de nome. Basta dizer que é o animal mais antigo do Zoo. ∞

... as crias de Urso são, de entre os mamíferos, as mais pequenas comparati-vamente ao tamanho adul-to: nascem apenas com 400 a 500 gramas!

{11}Jardim Zoológico

os mais antigos

Page 12: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

É deles que vem a comida, a água, a limpeza. Mas é também deles que vem a atenção, o carinho, a preocupação – talvez mais importantes que tudo o resto para os animais. Falamos dos tratadores. Aqui, conhecemos quatro dos mais antigos: António Marques, Arminda Dias, Carlos Alberto e Valter Elias. Quatro histórias de dedicação; quatro exemplos da entrega de todos os que trabalham no Zoo.

tratamento vip

{12} Jardim Zoológico

os mais antigos

Page 13: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

António Marques na instalação dos rinocerontes-indianos

Page 14: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

a amiga dos primatasA mudança da idade de reforma não a assusta nem lhe causa grande transtorno. Arminda Dias tem 60 anos e continuar como tratadora no Jardim Zoológico por mais uns tempos é, na verdade, algo que faz com muito gosto. São já 45 anos de trabalho e a dedicação não é nem um pouco menor.

Gorilas, orangotangos, chimpanzés e lémures: sejam grandes ou pequenos, Arminda trata de todos os primatas. Mas nem sempre foi assim. Recorda: “quando soube que o Jardim Zoológico estava a precisar de pessoal, vim cá e entrei logo no dia seguinte”. Lembra-se perfeitamente da data: 14 de Setembro de 1964. A sua primeira função foi prestar serviço auxiliar, depois passou para o sector das

aves e finalmente para os primatas. Neste sector fez grandes amigos.

Não falamos apenas das pessoas com quem trabalha, mas principalmente dos animais. “Somos todos amigos”, conta Arminda, “Claro que é preciso ter cuidado, mas eles gostam muito de nós”. A tratadora fala com especial carinho da Gorila Baki, que, em peque-

na, a acarinhava com beijinhos. “É a menina dos meus olhos”, confessa. Apesar de lidar com animais que podem impôr algum respeito, como os Gorilas, Arminda sente-se em perfeita segu-rança. Era precisamente com um Gorila, o Matias, que passeava num carrinho pelo Zoo. Recorda um episódio caricato: “a dada altura, quando começou a crescer, ele agarrava-se às pernas das pessoas. Uma vez agarrou-se à perna de um senhor e ras-gou-lhe as calças!” Arminda percebeu que o Matias, apesar de sempre amigável, já era demasiado crescido para poder andar por entre os visitantes. “A partir daí, deixou de sair”, conclui. A tratadora sentiu grande pesar quando o Jardim Zoológico perdeu este simpático Gorila. “Ele já era velhote”, lembra, “mas

acima de tudo, amor.De olhos atentos e walkie-talkie no bolso, António Marques, de 47 anos, não tem dúvidas: “ser tratador no Jardim Zooló-gico tem muito que se lhe diga...” Responsável pelas áreas dos herbívoros, este tratador está todos os dias antes das 8h, pronto para as suas tarefas: começa por ir verificar os rinocerontes, depois os bisontes e todos os outros animais. Se alguma fêmea está para parir, o cuidado é redobrado – há que ver se a cria nasceu e garantir que tudo correu bem. O tratador tem de ter também um pouco de adivinho, no que toca à saúde dos animais. “Eles não vêm dizer que lhes dói uma pata ou um dente. Às vezes fico preocupado se vejo um animal um pouco triste”, explica. Este traba-lho é fundamental para o bem-estar dos inquilinos do Zoo, já que, como diz António Marques, “há coisas que só um tratador, que está com eles todos os dias, é que consegue descobrir”. E são os tratadores que chamam a atenção dos veterinários quando alguma coisa parece estar mal.

Às vezes, as notícias não são mesmo as melhores. Foi o caso da Margarida, uma cria de Rinoceronte-indiano, a espé-cie favorita de António. O tratador recorda que passou 65 dias praticamente dedicado a esta pequena rinoceronte doente; fazia mesmo visitas durante a noite para lhe dar leite. Apesar de todo o esforço, quando a operavam a um quisto no olho, Margarida não resistiu e morreu. Apesar de a perda de um animal ser sempre motivo de tristeza, esta tocou mais fundo em António: “não tenho vergonha de dizer, dessa vez chorei”.

Já passaram 33 anos, mas ainda se emociona. António Marques começou a trabalhar no Jardim Zoológico, onde o pai era motorista, com apenas 14 anos, nos barcos junto à entrada. Ao longo de todo este tempo, o tratador tem notado grandes melho-rias na vida do Zoo. Além das insta-lações que cada vez se assemelham mais aos habitats naturais, também “os tratadores são mais empenhados no tratamento do animal”. E isso é, para si, o mais importante. Apesar de alguns acidentes, como da vez em que quase foi marrado por uns chifres de quase 1,50m ou foi empurrado pela tromba de um elefante que acordou assus-tado, António não deixa de gostar muito dos animais. Afinal, explica, “temos é de saber estudar os animais, ver até onde podemos ir e sentir a sua confiança. Apesar de estarem sob cuidados humanos, são selvagens na mesma”.

Nada dá mais prazer a este tratador, do que chegar de manhã e ver que todos os animais estão bem e com saúde. Sejam zebras, girafas, impalas, camelos, rinocerontes ou outras espécies menos conhecidas, o fundamental é o apre-ço que lhes tem. “Temos de gostar muito dos animais e pas-sarmos para eles esse amor. Eles precisam de o sentir”.

Apesar de a perda de um animal ser sempre motivo de tristeza, esta tocou mais fundo em António: “não te-nho vergonha de dizer, des-sa vez chorei”.

{14} Jardim Zoológico

os mais antigos

Arminda Dias com os Lémures-de-cauda-anelada.

Page 15: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

chorei bastante. É como se fosse uma pessoa da nossa família. Nós criamo-los pequeninos, depois choramos por eles.”

Arminda gosta tanto do seu trabalho, que chega sempre mais cedo. “Gosto de vir cedo. Há muitos anos, vinha com o meu marido, que também trabalhava cá. Agora sou viúva, mas continuo a vir. Habituei-me.”, conta. Quando chega, cuida ime-diatamente da limpeza das instalações e da alimentação dos animais. A tratadora, tal como os outros funcionários do Jar-dim Zoológico, faz tudo o que é necessário ao bem-estar dos primatas, desde dar medicamentos até alimentar à colher algum animal debilitado.

Após tantos anos ao serviço dos animais, Arminda Dias nota grandes melhorias: “o Jar-dim está lindo, para nós e para os visitantes. Está lindo!” O que não mudou foi o afinco com que se cuida dos animais. Para a tratadora, eles estão como sempre foram: muito bem tratados. E isto porque a cum-plicidade entre tratadores e animais é grande. Arminda conta: “nós fala-mos com eles e eles percebem tudo o que dizemos. Só lhes falta falar!” E, se pudessem falar, o que diriam a estes pro-fissionais dedicados? Provavelmente, “obrigado”.

como a palma da mãoAprendeu com os sul-africanos a chegar a casa e escrever tudo o que se passou no seu dia. Tem em papel (escrito e fotografado), com a ideia de um dia publicar um livro, mui-tas lembranças que já não cabem na memória. É que são já 53 anos. Não a sua idade, essa é 74, mas a quantidade de anos de trabalho no Jardim Zoológico. Falamos de Carlos Alberto, o tratador mais antigo do Zoo.

Chega por volta das 6:30 para fazer a habitual ronda. “Vejo se há algum animal que precise de ajuda, para depois avisar o meu chefe ou os serviços veterinários”, conta. Depois, seja no parque ou no Hospital, está onde é preciso. As suas fun-ções, ao longo de todos estes anos, foram inúmeras. Quan-do entrou, aos 21 anos, foi jardineiro, função que cumpriu durante um ano. Também foi carroceiro, no tempo em que ainda não havia camionetes para transportar o estrume. “Até fui vaqueiro!”, lembra. “Antes tínhamos uma vacaria, onde tirávamos leite para dar aos chimpanzés e ao restaurante”.

Apesar de, ao fim de tanto tempo, ter apreço a todos os animais, não hesita se lhe perguntam qual o favorito: “os

chimpanzés!”, diz com convicção. Prin-cipalmente um, Dari. “Fui buscá-lo ao Algarve quando era pequenino, tinha uns 8 ou 10 anos”, explica. O peque-no Dari estava nas mãos de um casal algarvio, que, quando o animal cresceu e ganhou força, deixou de conseguir cuidar dele. Carlos Alberto recorda o momento: “para o apanhar foi um

castigo. Ele não dava a mão e mordia. Tivemos de pôr umas bananas num bidão de petróleo e esperar que ele entrasse”. Os chimpanzés eram também os seus companheiros nas viagens até à Praça de Espanha, quando ainda era permitida a saída de animais do Zoo. Ia deixá-los no Teatro Aberto para as gravações do Fungagá da Bicharada, programa infan-til apresentado por Júlio Isidro. Uma vez, chegou mesmo a levar um elefante!

Mas Carlos Alberto viajou até bem mais longe. Foi ele que levou a famosa Rinoceronte-preta Shibula de volta ao habitat natural, na África do Sul, onde vive em liberdade com as suas quatro crias.

Ia deixar os animais ao Tea-tro Aberto para as gravações do Fungagá da Bicharada, programa infantil apresen-tado por Júlio Isidro. Uma vez, cheguei mesmo a levar um elefante!

Carlos Alberto junto da instalação dos elefantes.

Page 16: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

O tratador acredita que agora os profissionais do Jardim Zooló-gico estão mais habilitados para o seu trabalho: “Antigamente não tínhamos formação nenhuma”, explica, “Também eram só meia dúzia de bichos...”. Contador de histórias, recorda uma de quando os tempos eram diferentes: “Estávamos a transportar um Babuíno. Pelo caminho, partiu a gaiola e abalou. Ao pé do Hospital de Santa Maria havia uma vacaria e o macaco entrou lá para dentro. Ele andava lá de volta dos vitelos! O vaqueiro ofereceu-nos uma forquilha, mas nós apanhámo-lo com uma rede na porta.”

Mas um ou dois sustos e as mudanças não impedem que conheça o Jardim como a palma da sua mão. Viu nascer mui-tas crias, assistiu ao seu crescimento, sentiu saudades quan-do as viu partir para os seus habitats naturais ou para o outro lado da vida. Carlos Alberto é que permanece, naquela que é a sua segunda casa.

dedicação totalValter Elias não tem animais preferidos, mas não evita o entusiasmo na voz quando fala de Nazaré, a Baleia-pilo-to que deu à costa nessa cidade e foi entregue aos cuidados do Zoo. No fim do ano, irá para outro delfinário, mais espaçoso, onde a esperam animais da mesma espécie. No entanto, as sau-dades já apertam. “A gente já vai cho-rando nos cantinhos”, confessa Valter, “chora um pouco aqui, um pouco ali, para se ir conformando”. Para o tratador, este animal é “um milagre” e os milagreiros foram os profissio-nais, como ele, que chegaram a dormir várias noites ao lado da Baleia.

É sempre com dedicação que Valter Elias exerce as suas funções de treinador. Essa entrega vem do amor que tem aos animais; um amor que apareceu muito cedo, no Brasil, onde nasceu. “Fui criado numa pequena fazenda e sempre tive animais domésticos e outros que não eram tão domésticos, como cobras...” Valter trabalhou como jardineiro, motorista, segurança, polícia, esteve até numa fábrica de calçado e numa agência funerária! Mas foi quando começou a trabalhar no Oceanário São Vicente que entrou no caminho que lhe estava destinado. Mais tarde, integrou a equipa da empresa Mundo

Aquático e veio a Portugal com os “Golfinhos de Miami”, es-pectáculo itinerante que animou o Zoo durante seis meses. Depois de uma passagem pelo Zoo Marine, no Algarve, aceitou a proposta do Jardim para ficar como treinador de golfinhos.

Já lá vão 21 anos a preparar o peixe, a alimentar os animais, a dar-lhes vitaminas, a preparar e fazer as apre-sentações. No que toca aos treinos dos Golfinhos e Leões-marinhos, sabe muito bem do que fala: “a primeira parte do nosso trabalho, que é a mais demorada, é sempre ganhar a confiança dos animais. [Depois], é a teoria de Pavlov – um sistema de troca, um reforço, muito carinho e brincadeira”. Valter faz questão de frisar que os animais não são obriga-dos a fazer as suas proezas, mas tudo é ensaiado em tom de festa. O tratador desvenda um pouco dos mistérios dos Gol-finhos: “o que as pessoas vêem é um espectáculo. Mas, se prestarmos atenção, os comportamentos que fazemos com eles são mais ou menos os que eles fazem em liberdade. Para nós e para os animais, aquilo é um exercício, uma ma-

neira de mantê-los tanto física como mentalmente bem, porque um ani-mal numa piscina, só a ser alimenta-do, seria um pouco stressante.”

A ajudar ao seu trabalho há as melhorias que surgiram ao longo dos anos, desde o tratamento da água à própria construção das piscinas, que são cada vez mais fundas e parecidas

com o habitat natural. Além disso, o tratamento dos animais antes era feito de forma mais intuitiva; não chegavam sequer a pesá-los. Agora, os tratadores trabalham com medicina pre-ventiva, fazendo análises regulares aos habitantes da Baía dos Golfinhos. O que nunca mudou foi a dedicação. Valter recorda a noite de Natal que passou dentro de uma piscina, com um animal nos braços: “enquanto todo o mundo comemorava, eu estava a segurá-lo e a tentar salvá-lo”. Quando os animais do-entes não conseguem resistir e partem, o tratador afirma: “é um pedacinho da gente que vai embora”.

A Baía dos Golfinhos é um dos maiores sucessos do Zoo e isso é também consequência da afeição que as pessoas facil-mente sentem pelos Golfinhos. Valter Elias explica: “é um ani-mal que parece que está sempre a sorrir, sempre bem disposto”. E, com tratadores assim, tem todas as razões para isso.∞

“A primeira parte do nosso trabalho, que é a mais de-morada, é sempre ganhar a confiança dos animais. É a te-oria de Pavlov – um sistema de troca, um reforço, muito carinho e brincadeira.”

Valter Elias numa das apresentações da Baía dos Golfinhos.

Page 17: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Duas salas de cirurgia e um observatório, um laboratório para análises e reprodução assistida, salas para Raio-X e ecografias, salas de tratamento e uma enfermaria dividida por espécies de animais – as infraestruturas e equipamen-tos de qualidade ajudam a que a EAZA (Associação Europeia de Zoos e Aquários) reconheça o Hospital como o melhor dos Zoos europeus.

Claro que a qualidade de um serviço não depende só de bom material; são as pessoas que realmente o fazem. Todo o nosso corpo técnico trabalha para que tudo fun-cione na perfeição. Os dias são imprevisíveis, já que os animais são todos muito diferentes. São sempre novas situações para as quais os veterinários têm de encontrar novas soluções.O bem-estar dos animais depende sobretudo de um bom

trabalho de equipa. As rondas diárias dos veterinários não são suficientes para verificar todos os animais, por isso dependem muito dos tratadores, que têm uma posição privilegiada para perceber se alguma coisa está errada. De facto, não seria possível estar sempre junto aos animais, já que o Hospital requer muita atenção. Cabe à equipa de veterinários a gestão do serviço, que inclui toda a logística, como a recepção de material e equipamento.

O Hospital Veterinário é um dos principais veículos de comunicação com os outros Zoos. Congressos, apresenta-ção de casos e publicação de artigos garantem que a infor-mação circule entre a comunidade veterinária mundial. A troca de problemas e soluções permite assim que os ve-terinários estejam preparados para os casos que possam surgir.∞

tratar-lhes da saúdeSem ele, não seria possível ter um Jardim Zoológico repleto de animais saudáveis que, às vezes, quase parecem sorrir a quem os visita. Esse é um sorriso muitas vezes garantido pelo Hospital Veterinário.

Os veterinários do Jardim Zoológico, Rui Bernardino e Teresa Lobo Fernandes durante uma cirurgia para remoção de um abcesso na pata de uma tartaruga áligator (Macroclemys temminckii).

Page 18: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Nada poderia ter acontecido sem a veterinária Arle-te Sogorb. Nascida no Brasil, veio para Portugal em

1989 onde acabou por ficar até hoje. Tinha chegado a altura de criar o que agora é a Baía

dos Golfinhos. Um consultor finlandês e dois americanos juntaram-se ao Departamento de Arquitectura do Zoo, que havia definido como cenário uma vila piscatória. Todas as cabeças se uniram para criar esta enorme obra. Os barcos, as redes, as piscinas, tudo foi cuidado de modo a criar o melhor ambiente para os animais. Só faltavam mesmo as estrelas. Foi dos EUA, de Chicago e da Florida, que vieram os primeiros inquilinos do novo delfinário: quatro Golfinhos e os cinco Leões-marinhos. Nascia a Baía dos Golfinhos.

Preservar, preservarA Vila Piscatória como cenário foi o incentivo perfeito para se criar as histórias para os espectáculos de Golfinhos e Leões-marinhos. As histórias já passaram por várias ver-sões, mas o objectivo permanece o mesmo: alertar para a importância da preservação e conservação das espécies. As apresentações dos animais marinhos, tal como todas as outras, têm como propósito não só transmitir conhecimen-tos sobre as espécies mas, principalmente, mostrar qual a missão do Jardim Zoológico e a melhor atitude que deve-mos ter perante a Natureza.

Para cumprir o que diz, o Zoo sai da Baía dos Golfi-nhos e trabalha na rua. Mais concretamente, no rio Sado,

estrelas do marA Baía dos Golfinhos é uma das mais famosas atracções do Jardim Zoológico. Além da simpatia natural dos animais marinhos e da afinidade que os seres humanos facilmente criam com os Golfinhos, as apresentações diárias impres-sionam dos mais novos aos mais velhos. Mas nem sempre existiu o famoso espectáculo. Esta é uma história para contar.

Page 19: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

onde há uma população de Golfinhos em risco de desa-parecer. Este é um problema sempre abordado nas apre-sentações, não só porque foi a mão humana a responsável por ele, mas também porque são os próprios Homens que o podem resolver.

É o que está a tentar fazer o Jardim Zoológico, em parceria com o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB).

Também tem como missão ajudar Nazaré, a Baleia-piloto que deu à costa na cidade com o mesmo nome e que acabou por ser entregue pelo ICNB aos cuidados do Zoo. Visto o Instituto ter considerado que o Nazaré não é reintroduzível no seu habitat natural, o objectivo

agora é transferi-lo para uma instituição que, tal como o nosso Jardim, pertence à Alliance of Marine Mammals Parks and Aquarium. Nessa instituição, a Baleia-piloto irá juntar-se a um grupo de animais da mesma espécie, onde poderá aprender comportamentos da sua espécie e, eventualmente, reproduzir-se. Deixará saudades, mas o seu bem-estar é o mais importante para o jardim Zo-ológico.

O Nazaré terá uma história com final feliz, assim como têm todas as outras: a que se conta na Vila Piscatória e a da grande aventura que foi construir a famosa Baía dos Golfi-nhos. No que toca à preservação na Natureza, cabe-nos a todos dar um final feliz a cada história.∞

Page 20: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

125 anos pela natureza

Shibula é um Rinoceronte-preto fêmea. Tem quatro crias e vive em liberdade na África do Sul. Um casal de Ádax, mamíferos em vias de extinção, juntou-se a um grupo da mesma espécie em Hannover, na Alemanha, e hoje vive no seu habitat de origem. Tanto Shibula como os Ádax foram entregues pelo Jardim Zoológico.Contribuir para a protecção de espécies ameaçadas, recuperando-as e devolvendo-as ao seu habitat natural, é apenas uma das suas missões. Muito mais se faz aqui: investigação científica, programas de enriquecimento ambiental, educação e, claro, entre-tenimento.

Page 21: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

melhoria constanteFoi em 1884 que Pedro van der Laan, José Thomaz Sousa Martins e o Barão de Kessler, entre outros, apoiados pelo Rei D. Fernando II e por Bocage (que, além de poeta, era zo-ólogo), inauguraram o primeiro parque com fauna e flora da Península Ibérica. O Jardim Zoológico de Lisboa, inicialmen-te situado no Parque de São Sebastião da Pedreira, mudou-se, em 1905, para parte da Quinta das Laranjeiras, morada fixa até hoje. Enviados pelas ex-províncias portuguesas em África e no Brasil, muitos dos animais do Jardim Zoológico eram exóticos, de espécies desconhecidas e, por isso, muito atractivos. Os governadores das colónias tiveram uma con-tribuição fundamental para que o Zoo possuísse uma das co-lecções de animais mais vastas e diversificadas do mundo. A curiosidade teve como resultado uma enorme afluência de pessoas para conhecerem aquelas estranhas espécies.

O sucesso do Jardim Zoológico, que recebeu a Medalha de Ouro da cidade de Lisboa em 1954, sofreu uma crise a partir de 1974. A queda do Estado Novo trouxe uma for-te diminuição de apoios e a independência das colónias impediu que continuassem a chegar animais de lá. Como consequência, houve também um enorme decréscimo de visitantes. O Jardim pedia uma nova estratégia para poder ganhar outro fôlego e rejuvenescer. Essa brisa de mudança veio nos anos 80, com Felix Naharro Pires, que tomou posse da gestão e criou diversas áreas de trabalho com vista a melhorar os cuidados veterinários e de alimentação dos animais e ainda serviços comerciais, de marketing e re-lações públicas. O objectivo desde logo foi modernizar o espaço e os serviços. Foi nesta década que começaram as obras de melhoramento do Jardim. Gaiolas antigas deram lugar a novas instalações, mais naturalistas, e alguns es-

{21}Jardim Zoológico

125 anos dE jardim Zoológico

Page 22: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

paços foram mesmo reconstruídos de forma a respeitar melhor as características das espécies. Diversos animais viram também a sua “casa” melhorada com a substitui-ção do pavimento de cimento por terra, a introdução de mobiliário, plataformas, cordas, correntes e outras estru-turas próprias para estimular o seu comportamento na-tural. Isto foi apenas o começo de uma restruturação que continua até hoje num Zoo cada vez mais rejuvenescido e selvagem.

missão: educar para conservarA aposta nos cuidados dos animais e na relação com as empresas foi acompanhada de um forte investimento na área da educação. A actividade educativa nasceu em 1992 com o programa de Visitas Guiadas, que levou mais longe o abundante conhecimento que já se adquiria só de ver e conhecer os animais. Em 1994, foi aprovado o primeiro “Pro-jecto Global dos Serviços Pedagógi-cos” e, dois anos depois, construído o Centro Pedagógico. No mesmo ano de 1996, abriu a Quintinha, um espaço onde as crianças podem interagir com animais do-mésticos, aprender com os tratadores sobre as espécies e a respeitar a Natureza em geral. Ter uma “aula ao ar livre” ganha um novo significado, quando a sala de aulas é o Jardim Zoológico, cuja colecção de animais que só se vêem em livros e na televisão, torna a aprendizagem mui-to apetecível. As “aulas” das visitas guiadas são comple-mentadas com programas de animação de tempos livres realizados durante as férias.

As políticas educativas do Jardim seguem o caminho dos Zoos mundiais, que têm como objectivo informar os vi-sitantes, em especial as novas gerações, no sentido de pro-mover o respeito pela Natureza. De facto, actualmente, os

Zoos deixaram de ser meros espaços expositivos. Têm como grande missão a protecção e preservação dos animais, com maior relevo para as espécies ameaçadas, garantindo o seu bem-estar e as condições necessárias para a reprodução. Esta missão não se cumpre apenas dentro dos muros dos Zoos, mas também nos habitats naturais, onde se tenta rein-troduzir os animais sempre que possível.

A acção do Jardim Zoológico na protecção animal é bastante concreta: das mais de 360 espécies que aqui habi-tam, 66 estão protegidas por EEPs (Programas Europeus de Espécies Ameaçadas), que têm como objectivo criar condi-ções para a reprodução de espécies ameaçadas pelo ser humano. O Jardim iniciou a sua participação nos EEP’s no início dos anos 90, com quatro programas. Também é um

elemento activo de Studbooks, livros de registos de pedigree relativos a uma determinada população de uma espécie animal sob cuidados huma-nos. É inclusivamente coordenador dos Studbooks da Impala-de-face-negra, da Niala e da Tartaruga-es-pinhosa. A investigação estende-se ainda a acções in situ, ou seja, nos

habitats naturais. Estes projectos de investigação não se-riam possíveis sem a colaboração intensa que o Zoo man-tém com universidades nacionais e internacionais, com quem promove estágios e projectos nas áreas da etologia, biologia e medicina veterinária. É de destacar que foi com a Estação Zootécnica Nacional que o Jardim Zoológico fez a primeira inseminação artificial a uma fêmea de Tigre-da-sibéria.

Estas acções completam-se com os projectos cria-dos e implementados pela Comissão de Enriquecimento Ambiental e com a reintrodução de espécies no seu ha-bitat natural, de que são exemplos a Rinoceronte-preta Shibula e o casal de Ádax. Acontece com frequência, ani-

Os zoos têm como grande

missão a protecção e preser-

vação dos animais (...) ga-

rantindo o seu bem-estar e as

condições necessárias para a

reprodução.

1884É inaugurado o Jardim Zoológi-co, o primeiro parque com fauna e flora da Península Ibérica.

1905O Jardim Zoológico muda-se para a Quinta das Laranjeiras, morada fixa até hoje.

1954O Jardim Zoológico recebe a Medalha de Ouro da cidade de Lisboa.

1974Queda do Estado Novo.

{22} Jardim Zoológico

125 anos dE jardim Zoológico

Page 23: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

mais feridos ou doentes serem entregues aos cuidados do Zoo, que, depois de os tratar e recuperar, entrega-os ao Serviço Nacional de Parques e Florestas, para regressa-rem à vida em liberdade. O Jardim é também o porto de abrigo de muitos animais apreendidos, com a colaboração da CITES (Convenção Internacional sobre o Comércio de Animais). É ainda fundamental a participação do nosso Zoo nas campanhas de conservação da EAZA, de que são

exemplos um projecto em Madagáscar e outro na Aus-trália, para protecção dos Koalas [pode ler mais sobre os projectos EAZA nesta revista].

Todos os esforços do Jardim Zoológico de Lisboa, des-de há 125 anos, fazem dele o melhor veículo para uma das mais importantes mensagens do mundo actual: a da con-servação da Natureza. E essa é uma luta que está nas mãos de cada um de nós. ∞

1995É construída a Baía dos Golfi-nhos.

1996São inaugurados o Centro Pe-dagógico e a Quintinha.

2007Inaugurado o Vale dos Tigres.

2006Inaugurado o Templo dos Primatas.

{23}Jardim Zoológico

125 anos dE jardim Zoológico

Page 24: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Madagáscar é a primeira paragem. Esta ilha, terra de filmes animados povoados de imagens paradisíacas

e animais selvagens, tem uma taxa de endemismo de 75%, ou seja, possui inúmeras espécies que não existem em mais nenhum lugar do mundo. No entanto, estes animais, tal como a flora, encontram-se quase todos ameaçados, devido ao constante desaparecimento da floresta tropical que cobria originalmente Madagáscar quase na totalidade. Hoje em dia, apenas permanecem 5 a 8% dessa floresta.

A Floresta de Farankaraina é uma das últimas intactas, tendo sido, por isso, a escolhida pelo Jardim Zoológico e pelo Zoo de Doué-la-Fontaine, em França, para um programa de conservação. Já se construíram quatro barragens e a House of Sahongongno, no parque que acolhe o projecto de conser-vação da Rã-tomate, e um ecolodge está a caminho da sua conclusão. Realizou-se ainda o documentário Earth from Above e a Festa do Lémure, animal cujas diversas espécies habitam Madagáscar, algumas mesmo em exclusivo.Se se atravessar o mar para a África continental, encon-tram-se outros projectos financiados pelo Jardim Zoológico.

É o caso do programa de conservação in situ dos Gorilas, nos Camarões, e de um programa do mesmo género para a protec-ção dos Okapis, na vizinha República Democrática do Congo.

Cruzamos o Atlântico e chegamos à América Lati-na. Pomos os pés na Colômbia, terra do Saguim-cinzento. É esta espécie em perigo o objecto de mais um programa de conservação no habitat natural que o Zoo financia e que co-ordena, tendo ganho o prémio de melhor centro de conser-vação in situ a nível mundial. Este programa inclui um estudo das causas de mortalidade do Saguim, um censo dos animais existentes em estado selvagem e a criação de uma área pro-tegida. Promove-se também uma melhoria das condições dos centros de acolhimento oficiais, onde se faz uma selecção dos animais que estão prontos para ser libertados e dos que irão integrar um programa de reprodução na Colômbia. Até agora, já foram estabelecidos 16 casais reprodutores e foram também 16 os animais já nascidos, dos quais apenas quatro não sobreviveram. Uma das tarefas fundamentais dos progra-mas de conservação do Jardim Zoológico é educar as popu-lações locais no sentido de protegerem a fauna e flora que as

aqui e emtodo o ladoO Jardim Zoológico é de Lisboa, mas chega a todos os cantos do mundo. São muitos os projectos de conservação que o Zoo coordena ou financia no estrangeiro. Vai uma viagem?

{24} Jardim Zoológico

Fora dE portas

Page 25: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

rodeiam. Distribuição de folhetos, workshops – são várias as acções educativas que ali são promovidas para sensibilizar os habitantes para a protecção do Saguim-cinzento.

A acção do Jardim Zoológico continua, um pouco mais a sul, no Brasil. Aí, financia o programa de conservação in situ dos Micos-leões, que implementa, por exemplo, corredores de floresta para ligar as várias áreas onde existem animais desta espécie. Ainda no nosso país-irmão, o Zoo financia um programa de conservação dos Macacos-capuchinho e outro do Saguim-bicolor. Este último, que incluiu Estudos de Ecolo-gia e Genética, foi implementado em 2002 em Manaus e con-tou com um técnico do Jardim na equipa de investigadores.

Acabamos a viagem bem longe, do outro lado do mun-do. Primeiro, com uma visita à Indonésia. A ilha de Flores é uma das quatro ilhas onde existe o Dragão-de-komodo. As outras três ilhas, Komodo, Rinca e Gilli Motang, são áreas protegidas, ao contrário do que acontece com Flores. É aí que está a decorrer um programa de conservação pelo Zoo de Roterdão, com o apoio financeiro de vários países euro-peus, entre os quais o Jardim Zoológico.

Numa ilha ali bem perto, o Bornéu, vive em condições muito precárias o Rinoceronte-do-bornéu, uma subespécie do Ri-noceronte-de-sumatra. É uma das subespécies de grandes mamíferos mais ameaçadas do mundo (estima-se que já só existam cerca de 30 animais em estado selvagem, todos na ilha do Bornéu). Foi para ajudar o Rinoceronte-do-bornéu que um técnico do Zoo se deslocou à ilha, inserido no projecto de con-servação in situ da fundação SOS Rhino.

A última paragem é a Austrália, a casa de Cangurus e Koalas. São estes simpáticos animais, “abraçadores” de árvores, que precisam de ajuda, já que 80% do seu habitat natural foi destruído pelo ser humano e os restantes 20% praticamente não têm protecção. Por isso, o Jardim Zooló-gico apoia a Australian Koala Foundation, uma organização não governamental sem fins lucrativos que procura, atra-vés da demarcação de uma área de protecção dos Koalas e de acções educativas, garantir a conservação in situ desta espécie.

Viagem terminada, voltamos ao nosso Jardim Zoológico, sabendo agora que ele é, afinal, muito maior do que parece. ∞

Foto

grafi

a Sa

guim

-cin

zent

o ©

Fer

nand

o A

rbel

áez,

Fun

daci

ón B

ioD

iver

sa C

olom

bia

Page 26: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

dE 30 dE maio a 1 dE junho

festa da criançaComo não podia deixar de acontecer, o Jardim Zoológico irá associar-se a mais uma Festa da Criança, no âmbi-to da comemoração do Dia da Crian-ça. O evento irá decorrer no Museu da Electricidade, em Lisboa.

31 dE maio

o noddy no jardim zoológicoO Jardim Zoológico vai juntar-se à celebração do Dia da Criança no dia 31 de Maio. E para não queremos dei-xar passar este dia sem uma progra-mação muito especial, no domingo, o Zoo vai receber a visita de um amigo muito querido... O Noddy, que faz 60 anos este ano, vai juntar-se à festa no Jardim Zoológico!

{agenda}

O Jardim Zoológico já tinha recebido o Ruca em 2008, e o público agrade-ceu. Este ano, o espectáculo prome-te muitas surpresas, por isso esteja atento ao site do Zoo para saber tudo sobre o mini-espectáculo do Ruca no Jardim Zoológico!

22 dE junho

atl de verãoDe 22 de Junho a 4 de Setembro, as crianças vão poder participar em mais um ATL de Verão! Junta-te a nós e se-rás um explorador da natureza!

26 dE julho

dia nacional dos avósPorque a experiência da vida deve ser celebrada, o Jardim Zoológico vai-se juntar às comemorações do dia na-cional dos avós e proporcionar um dia inesquecível a todas as famílias. Afinal, queremos reconhecer o valor de todos os avós!

28 dE julho

dia nacional da conservação da naturezaO número de espécies em vias de ex-tinção é cada vez maior. Afinal, o que podemos fazer para reverter esta situação? O Jardim Zoológico dá voz às espécies em vias de extinção e ce-lebra o Dia Nacional da Conservação da Natureza.

4 dE outubro

dia do animalÉ pelos mamíferos, aves, répteis e por todas as espécies em vias de extinção que o Jardim Zoológico celebra o Dia Internacional do Animal.Este é o dia para festejar os habitantes do parque, de lembrar como os devemos tratar, de aprender tudo o que estes nos podem ensinar e, principalmente, de proteger a biodiversidade!

{26} Jardim Zoológico

agEnda

maio · junho · julho agosto · setembro · outubro

21 dE junho

ruca no zoo

Page 27: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

{obrigado} O Jardim Zoológico agradece a todas empre-sas e instituições que o apoiam, sem as quais não seria possível alcançar os objectivos da sua Missão.

{27}Jardim Zoológico

EmprEsas QuE apoiam o jardim Zoológico

Page 28: Revista do Jardim Zoologico | Maio 2009

Estrada de Benfica, 158/1601549-004 LISBOA

T.: +351 217 232 900Fax: +351 217 232 901

[email protected]

www.zoo.pt