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REVISTA ELETRÔNICA IB@MA MAIO DE 2011 Edição nº 02

Revista eletrônica nº 1

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Revista eletrônica do Ibama

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R E V I S T A E L E T R Ô N I C A

I B @ M A

MAIO DE 2011Edição nº 02

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IB@MAREVISTA ELETRÔNICA

Projeto gráfico, capa e diagramaçãoRicardo R. Maia

EdiçãoSandra Sato e Jucier Costa Lima

Revisão de textoJucier Costa Lima

Redação da AscomAntonio Carlos Lago, Dilamar Pires,

Francisco José Pereira, Janete Porto, João de Deus Vieira, José Vitor Barbosa,

Jucier Costa Lima, Luciana V. Araújo, Luís Lopes, Ricardo R. Maia, Sandra Sato, Talitha Monfort, Hermínio Lacerda (fotos)

RealizaçãoAssessoria de Comunicação do Ibama

Contatos+55 61 3316-1015www.Ibama.gov.br

[email protected]

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Ministra do Meio AmbienteIzabella Teixeira

Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisCurt Trennepohl

DiretoresEdmundo Soares do Nascimento Filho

(diretor de Planejamento, Administração e Logística)Fernando da Costa Marques

(diretor de Qualidade Ambiental)Gisela Damm Forattini

(diretora de Licenciamento Ambiental)João Carlos Nedel

(diretor-substituto de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas)Luciano de Meneses Evaristo(diretor de Proteção Ambiental)

Procuradoria Federal EspecializadaVinicius de Carvalho Madeira

AuditoriaJorge Ribeiro Soares

Assessoria de Comunicação SocialSandra Sato

SuperintendentesDiogo Selhorst (AC)

Sandra do Carmo de Menezes (AL)Mário Lúcio da Silva Reis (AM)Geraldo Roberto B. Pinto (AP)

Célio Costa Pinto (BA)José Wilson Uchôa do Carmo (CE)

Luiz Eduardo Leal de Castro Nunes (DF)Reginaldo Anaissi Costa (ES)Ary Soares dos Santos (GO)

Alberto Chaves Paraguassu (MA)Alison José Coutinho (MG)

David Lourenço (MS)Ramiro Hofmeister de Almeida Martins Costa (MT)

Sérgio Noriyuki Suzuki (PA)Ronilson José da Paz (PB)

Ana Paula Cavalcante de Pontes (PE)Romildo Macedo Mafra (PI)

Hélio Sydol (PR)Adilson Pinto Gil (RJ)

Alvamar Costa de Queiroz (RN)César Luiz da Silva Guimarães (RO)

Nilva Cardoso Baraúna (RR)João Pessoa Riograndense Moreira Júnior (RS)

Kléber Isaac Silva de Souza (SC)Manoel Rezende Neto (SE)

Analice de Novais Pereira (SP)Joaquim Henrique Montelo Moura (TO)

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S U M Á R I OS U M Á R I O

Gestão estratégica e política ambiental 06

Gestão Diplan 2010: transformando desafios em oportunidades 08

A gestão do conhecimento 10

Proconve: contribuindo para a melhoria da qualidade do ar 12

Gestão compartilhada: sustentabilidade X cidadania 14

Alteração do Código Florestal: necessidade ou retrocesso? 17

Gestão por competências no Ibama: por que não? 21

Projeto de educação ambiental sensibiliza comunidade para as questões ambientais 24

Espécies da flora e da fauna selvagem em perigo de extinção 26

O poder de polícia administrativa e a ação do agente ambiental 32

Qualidade ambiental: reflexões sobre o conceito 36

Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio 40

Conhecimento e responsabilidade compartilhada 42

Mitigação e adaptação a variações climáticas: avanços e entraves 44

Novos paradigmas de gestão 48

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Uma boa leitura!ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

C A RTA A O L E I TO RC A RTA A O L E I TO R

Mais um instrumento de comunicação pública é levado ao servidor do Ibama. Trata-se da Revista Eletrônica IB@MA, com veiculação exclu-siva pelo Ibamanet, que reúne artigos dos servidores contando fatos, aspectos ou histórias de suas rotinas de trabalho. Este é o primeiro número, lançado em 2011, com o objetivo de consolidar-se em espaço de circulação de informações permanente sobre ações desenvolvidas pelos analistas e técnicos à frente de suas atividades no Ibama.

Em geral, não se sabe o que o colega próximo ou o de outras diretorias e superintendências e centros especializados está produzindo. Autores e leitores estão convidados a usufruir desse novo ambiente virtual, a dividir e a conhecer experiências de trabalho no Ibama.

Os interessados em colaborar com as futuras edições devem enviar artigo de, no máximo, três laudas (espaço simples, corpo 12), currí-culo resumido e uma foto para [email protected], identificando no assunto: Revista Eletrônica IB@MA.

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Gestão estratégica e política ambiental

Gestão estratéGica e política ambiental Gestão estratéGica e política ambiental Gestão estratéGica e política ambiental Gestão estratéGica e políti-

Há 26 anos, quando recebi minhas primei-ras tarefas de analista ambiental no Ibama, tinha somente uma vaga ideia dos grandes desafios enfrentados por aqueles que esco-lhem fazer da defesa do meio ambiente seu dia a dia. Em meados da década de 1980, havia ainda poucas pessoas, até mesmo entre as que integravam os quadros do instituto, com uma noção precisa das proporções que a causa ambiental ganharia no rol das questões planetárias emergentes.

A presidenta Dilma Rousseff, em seu dis-curso de posse, traçou, a meu ver, as diretri-zes básicas para o fortalecimento da política ambiental brasileira ao afirmar que o Brasil tem todas as condições que nos “permitem um projeto inédito de país desenvolvido com forte componente ambiental”. O governo sinaliza for-temente a nova dimensão que deve ser dada à política ambiental no quadro geral.

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Izabella TeixeiraMinistra de Estado do Meio Ambiente

Brasiliense, bióloga com mestrado em Pla-nejamento Energético e doutorado em Pla-nejamento Ambiental pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), é servidora de carreira do Ibama desde 1984, tendo exerci-do cargos de direção na autarquia, no MMA (secretária-executiva, de 2008 a 2009) e no governo do estado do Rio de Janeiro (subse-cretária de Meio Ambiente, de 2007 a 2008).

Especialista em avaliação ambiental estratégi-ca com perfil gerencial e executivo reconhe-cido internacionalmente, é também professo-ra de MBA em cursos de gestão ambiental da Escola Politécnica da UFRJ.

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Isso não é pouco, notadamente, no momento em que a nação luta para manter uma taxa de crescimento de 5% ao ano e muitos insistem em considerar as normas ambientais entraves ao avanço da economia.

Nós, da área de meio ambiente, temos atua-do como obstáculos intransponíveis a qualquer modelo de desenvolvimento que não pressu-ponha a sustentabilidade. Estamos, portanto, sintonizados com o pensamento do nosso novo governo. Energia limpa, defesa dos recursos da biodiversidade e mais investimentos na preserva-ção da natureza estão presentes na mensagem da presidenta à nação. A novidade, a meu ver, é que o discurso retira o meio ambiente de seu tra-dicional e desconfortável papel de coadjuvante e remete a política ambiental a um status de vetor do programa de desenvolvimento do país.

Mesmo já tendo atuado nos últimos anos em várias funções dentro e fora do Ibama, foi duran-te os últimos meses, depois que assumi o MMA em substituição ao ministro Carlos Minc, que pude mensurar a dimensão real dos desafios e as perspectivas políticas e econômicas que estão colocadas para as próximas décadas.

Isso é realidade tanto para os brasileiros quanto para as demais nações do planeta, prin-cipalmente, no que tange a mudanças climáti-cas, biodiversidade e economia verde. Da Rio92 para a Rio+20, nosso próximo desafio para 2020, o Brasil toma para si a responsabilidade de potência ambiental.

Isso depende de todos nós mas se impõe aos órgãos ambientais como tarefa precípua. Ao ser confirmada no cargo pela presidenta, foi-me colocado o imenso desafio de formular os parâmetros para um novo pacto ambiental, que implica o diálogo com os mais amplos seto-res da sociedade brasileira. Na prática, esse diálogo vem-se constituindo o melhor e o mais eficiente instrumento para a implementação da política ambiental. A tônica é a negociação e ela será reforçada.

O Ibama tem-se constituído, no âmbito da política de controle e dissuasão da degrada-ção ambiental, no braço forte da sociedade em defesa da Constituição. Tem procurado, ao longo de sua história, defender o artigo 225,

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que preconiza: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. A nós, integrantes do poder público, defender o patrimônio ambiental da nação é uma imposi-ção, pura e simples, da Carta. E precisamos nos preparar o tempo todo para essa tarefa.

Teremos, à frente, o desafio de consolidar e, ao mesmo tempo, dar maior dinamismo e modernidade ao Ibama. Os caminhos para isso passam, necessariamente, por uma reestrutu-ração interna e uma reavaliação estratégica do papel do instituto e, evidentemente, da capaci-tação de seus quadros para a implementação da política ambiental.

Em tese, já está madura a discussão sobre a compatibilização entre crescimento econômi-co e preservação ambiental, que muito marcou os 40 anos de Ibama. é a partir desse amadu-recimento que o órgão deve buscar mecanis-mos para dar respostas eficientes e eficazes à sociedade. E isso não implica, de forma nenhuma, ser menos rigoroso em sua defesa da natureza. Quadros qualificados e motiva-dos, principalmente, nas áreas de fiscaliza-ção e licenciamento, são fundamentais nesse processo. Investir em capacitação é outro dos pilares da gestão estratégica que está sendo pensada para o Ibama.

Está em curso a definição de um modelo de gestão estratégica para o “novo” Ibama. O debate é amplo e aberto, envolvendo todos os setores do órgão e o MMA. Um dos focos é a gestão de pessoas, área que enfrenta problemas críticos, como o da alta rotatividade. Na área de licenciamento, por exemplo, 65% dos egressos do último con-curso acabaram pedindo exoneração.

Há, ainda, a necessidade de ampliação dos quadros e reposição das vagas de apo-sentarias. Isso revela um problema estrutu-ral, que já está sendo enfrentando pelo minis-tério. A expectativa por uma definição sobre a carreira é grande. Existem propostas coloca-das sobre a mesa e os entendimentos com o Ministério do Planejamento estão em curso. Já assumi, publicamente, e reitero aqui meu compromisso de perseguir esse objetivo enquanto ocupar o cargo de ministra.

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Ações educativas para preservação da arribaçã

Desde que assumimos a superintendência Ibama, em 2005, a caça predatória da arribaçã tem sido uma preocu-pação permanente haja vista ser uma espécie fortemen-te caçada como fonte de proteína para as populações pobres do Nordeste. Com a quantidade de programas sociais do governo federal no combate à fome, porém, essa caça virou um apreciado petisco, até no sul do país, e, dessa forma, se transforma em uma fonte de lucro para atravessadores, que usam segmentos pobres da popula-ção nos entornos dos pombeiros para efetuá-la.

A maior experiência que tivemos com a arribaçã antecede a nossa gestão no Ibama. Foi ainda quan-do administrávamos a Estação Ecológica do Seridó, pertencente à Secretaria Especial do Meio Ambiente (Sema): essa unidade fazia parte de um GT ligado ao Cemav e muitas ações nós conseguimos executar a partir daquela unidade em cooperação com outros par-ceiros, inclusive de outros estados.

Antes de executarmos qualquer ação de educação e de controle da arribaçã, procuramos entender os hábitos dessa espécie com relação a sua alimentação e desendentação assim como seus deslocamentos (por isso, é chamada de “ave de arribaçã”, conhecida tam-bém como avoete, pomba de bando, por populações do nordeste brasileiro).

Alvamar Costa de Queiroz

É superintendente do Ibama no Rio Grande do Norte. Graduado em Ge-ografia/Licenciatura Plena (1978), especialista em Desertificação (UFPI – 1993) e Educação Ambien-tal Ambiental (UnB – 1988), mestre em Educação (UFRN – 1997) e dou-tor em Educação (UFRN – 2002), administrou a Estação Ecológica do Seridó (de 1986 a 1994) e atuou como professor convidado na pós-graduação da UFRN e da Univer-sidade Potiguar (UNP), nas quais participou como orientador em bancas examinadoras. É membro atuante do DEPAC – Departamento de Cientistas da BSGI (Brasil Soka Gakkai Internacional) – e trabalhou na reorientação curricular de esco-las públicas.

Zenaida auriculata noronha

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Nossa primeira preocupação foi buscar conhecer a cultura dessa região tão inóspita (sertão e agreste nor-destinos) quanto ao hábito de se alimentar com essa espécie, nos diversos segmentos da sociedade, sem nos esquecermos de que essa caça é apreciada tam-bém no sul do pais como um petisco bastante caro.

Com nosso paciente trabalho, percebemos que o uso dessa espécie não se restringia apenas à obten-ção da fonte de proteína escassa, pois segmentos com maior poder aquisitivo também se alimentavam da ave.

Há uma crença segundo a qual a espécie, vindo da África, se não capturada na ocasião propícia, voltaria para o continente de origem, perdendo-se, assim, a oportunida-de de se saciar a fome (de alguns) e o deleite propiciado pelo petisco (de outros).

Diante desse quadro, uma vez sendo da cultura de um povo, caber-nos-ia entender melhor a espécie, seus hábi-tos, costumes, origem, pois era de fundamental importân-cia, antes de reprimir seu uso, esclarecer a população e informar da importância de preservá-la.

Iniciamos nossa empreitada visitando os pombeiros, dialogando com especialistas do Cemave sobre a espécie, conversando com as pessoas do povo, pois era necessário um diagnóstico, pelo menos, para nós, que está-vamos atuando em um órgão que tem como carro-chefe o controle e a fiscalização.

Na região do Seridó, e, com especial aten-ção, no pombeiro de Jadaíra, na região do Mato Grande, onde diversos pombeiros se instalavam e a caça da arribaçã era praticada largamente, vendida e apreciada por parcela significativa da população. Desta forma, não era fácil partir para o controle e a preservação dessa espécie sem antes pensar em uma prá-tica educativa.

Entendemos que a arribaçã Zenaida auri-culata noronha é uma espécie migratória, emi-nentemente nordestina, que, após as primeiras chuvas no sertão e após a floração de diversas espécies arbus-tivas, fonte de sua alimentação, elas migram para essas áreas, normalmente, inóspitas, com muitos arbustos espinhentos, principalmente, a macambira, o rompe gibão, além dos solos pedregosos.

Com o objetivo de conter a caça a partir de ações edu-cativas, passamos a fazer palestras e oficinas próximo às áreas de pombeiros (áreas de postura). O objetivo da ofi-cina visava a construir, a partir da realidade dos sujeitos,

atores sociais locais, instrumentos e mecanismos que possibilitassem elevar o grau de consciência das populações no entorno dos pombeiros e dos técnicos (atores institucionais) responsáveis pela execução da Política Nacional do Meio Ambiente com o intuito de se estruturar um plano de traba-lho que vise à preservação, à conservação dessa espécie e a seu manejo sustentável.

Embora se saiba que, nos últimos tempos, tem havido um acréscimo na reprodução da arribaçã, segundo dados do Cemave, a caça predatória e o comércio ilegal têm, fortemente, prejudicado o ciclo reprodutivo dessa espécie.

é de fundamental importância manter os pombais sob vigilância permanente, não somen-te em função da perpetuação da espécie mas também por possibilitar uma grande teia alimen-tar que, sobremaneira, é vital para a manuten-ção da biodiversidade e da sustentabilidade dos ecossistemas de caatinga.

Construir um plano de manejo é impera-tivo uma vez que essa espécie sempre foi fonte de proteína das populações carentes do sertão, além de que, nos últimos anos, com o agravamento dos períodos de seca e desnudamento da cobertura vegetal, a caça comercial clandestina tem-se ampliado con-sideravelmente, transformando a espécie em exótico tira-gosto de finos restaurantes de regiões distantes do Nordeste, consumidas por classes sociais mais abastadas.

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Outra iniciativa seria trabalhar com a população local, atores sociais coletivos, principalmente, no entorno dos pombeiros visando à construção de uma massa crítica para que possamos ampliar o nosso leque de ação mediante a implementação de um plano piloto com vistas ao repasse para o controle social das ações de manejo da referida espécie.

Não guardamos nenhuma ilusão porquanto somos conscientes de que as nossas ações fisca-lizatórias não têm dado conta da preservarão da espécie, principalmente, com a entrada maciça de novos atores sociais com poder de destruição avas-saladoramente maior que o do pobre sertanejo que caça para sobreviver.

A metodologia usada foi pautada pela dialogici-dade, usando-se a abordagem problematizadora, e teve como referencial teórico e prático o Programa Nacional de Educação Ambiental (Pronea), em que os atores sociais envolvidos serão sujeitos da ação educativa.

As oficinas e encontros foram sempre pauta-dos pela dialogicidade, como já falamos, e pela construção de conhecimento a partir da realidade socioambiental local dos sujeitos envolvidos. Para tanto, usamos, como instrumento norteador, os três momentos pedagógicos, que são: estudo da realida-de (ER), organização do conhecimento (OC) e apli-cação do conhecimento (AC), roteiro este referen-ciado pelo Grupo de Estudo e Práticas Educativas em Movimento (Gepem/UFRN).

Para orientar o nosso trabalho, montamos um roteiro a partir dos três momentos pedagógicos como instrumento orientador e questão geradora como roteiro a ser seguido pelos pessoal envolvido nas oficinas.

Questão Geradora:

Por que a arribaçã está sendo proibida por lei federal? Continua sendo caçada e comercializada?

a) O que sabemos sobre arribaçã?

b) O que você gostaria de saber sobre arribaçã?

c) Como você vê a caça da arribaçã na sua região?

O estudo da realidade é uma forma de conduzir o processo, saber de onde devemos começar e

aonde queremos chegar. é também uma maneira de se levantarem informações sobre a arribaçã a partir da fala dos sujeitos com base na realidade dos diversos atores sociais locais.

Todas as falas advindas dos atores sociais precisam ser valorizadas e problematizadas.

A problematização é de fundamental importância para que possamos perceber a capacidade de limites dos atores sociais em relação ao assunto.

No item “C” do estudo da realidade, é fundamental induzir a discussão do uso sustentável da arribaçã. O importante é termos as falas dos atores sociais explici-tadas sobre a questão.

A organização do conhecimento é o momento ideal para que todos tomem conhecimento da realidade cientifica a fim de vencerem as limitações do senso comum e reorganizarem o conhecimento a partir de bases científicas.

Para tanto, na OC, os atores sociais farão leitura de textos que visa a dirimir dúvidas que foram levantadas por ocasião do ER.

Os textos disponbilizados foram os seguintes:

Texto I Arribação como problema socioambiental

Texto II Arribação e legislação ‒ Relação conflituosa

Texto III Arribação ‒ Biologia da espécie

Texto IV Arribação ‒ Portaria em estudo

a) Apresente um ou mais motivos que impedem que se estabeleça a situação ideal de manejo da espécie.

b) Com base na sua experiência e nos novos conhecimento que agora você possui, descreva uma ou mais ações que contribuirão sobrema-neira para o uso sustentável da espécie. Use a Portaria como documento de referência.

Toda a produção realizada a partir dos três momen-tos pedagógicos deve ser transformada em relatórios a ser usados para fundamentar uma proposta de uso sustentável da espécie Zenaida auriculata, assim como sua preservação.

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Capacitação interna sobre mata atlântica

Costumamos falar, com certa frequência, sobre a necessidade de capacitação continuada dos servidores públicos, e o Ibama, em especial, como órgão executor da Política Nacional do Meio Ambiente, depara-se, usualmente, com novas atri-buições definidas em lei sem que haja um preparo dos servidores para atender a estas demandas. Um exemplo é o Decreto n.° 6.660/08, que regulamenta a Lei da Mata Atlântica (Lei 11.428/06), que, em seu Art. 19, atribui ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis a necessidade de fornecer anuência prévia para a supressão de vegetação primária ou secundária em estágio médio ou avançado de regeneração quando ultrapassar os limites estabelecidos: 50 hectares por empreendimento, isolada ou cumula-tivamente, ou três hectares por empreendimento, isolada ou cumulativamente, quando localizada em área urbana ou região metropolitana.

Isis Akemi Morimoto

Analista ambiental do Ibama desde 2002 e atua no Núcleo de Educa-ção Ambiental da superintendência do órgão em São Paulo, é gradua-da em Ecologia (Unesp/Rio Claro) e em Direito (Unisal/Lorena), mes-tre na área de Política, Legislação e Educação Ambiental (USP/Esalq/Piracicaba), com ênfase em Popu-larização do Direito Ambiental, e, atualmente, cursa o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ci-ências Ambientais da Universidade de São Paulo (Procam/USP).

Neste contexto, a Divisão Técnica (Ditec) da Superintendência do Ibama/SP, através do Núcleo de Educação Ambiental (NEA), resolveu buscar capacitação de seus servido-res para a elaboração de laudos, pareceres, anuências, relatórios etc. em áreas da Mata Atlântica. Documentos estes que, para serem elaborados, demandavam, no mínimo, um conhecimento básico sobre fisionomias e está-gios de regeneração do referido bioma.

O primeiro passo, então, foi buscar um parceiro especialista no tema que pudesse ministrar aulas para o Ibama sem custos para o órgão. Conversamos com uma especialista na área, servidora do Instituto Florestal, que concordou em ministrar o curso, sugerindo que o fizéssemos em três módulos: um módu-lo teórico, um módulo prático no litoral e outro módulo prático no interior. Precisávamos arcar

uma iniciativa contemplada

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apenas com os custos das diárias da instrutora e um assistente, em ações fora da cidade de São Paulo.

Traçado este panorama, precisávamos agora obter os recursos. Para tal, elaboramos um peque-no projeto, justificando a necessidade do curso, prevendo a quantidade de participantes e as diárias necessárias para os servidores da superintendência (Supes) e dos escritórios regionais (ESREGs), além do material didático (impressão de apostila e CD para copiar as palestras) e as diárias de colaborador eventual, que permitiria custear a ida de instrutores às localidades das aulas práticas.

A proposta do curso, então, foi encaminhada para a superintendente de São Paulo, que deu todo o apoio à iniciativa, encaminhando o processo para o setor de Recursos Humanos e solicitando recursos financeiros para as diretorias pertinentes.

Os trâmites levaram cerca de seis meses, o que não impediu que ações paralelas fossem encaminhadas,

tais como a indicação de dois participantes de cada ESREG e de setores interessados da Supes, a dispo-nibilização de material para leitura, estudo de legislação correlata, agendamento com unidades de conserva-ção, cotações de hotéis etc.

Liberados os recursos, a capacitação inti-tulada “Análise de Estágios Sucessionais e Fitofisionomias da Mata Atlântica” ocorreu de acordo com programação específica que levou em conta o público-alvo (servidores do Ibama da Supes/SP e de unidades descentralizadas), a carga horária (primeiro módulo: 12h – teórico; e segundo módulo: 20h – prático) e o encontro para sistematização e avaliação do aprendizado (8 horas), perfazendo-se o total de 40 horas.

O resultado: 25 servidores mais prepara-dos e seguros para enfrentar situações de campo e elaborar pareceres técnicos, avalia-ção positiva dos alunos pela oportunidade de aperfeiçoamento e atualização, divulgação do trabalho do Ibama em diversos meios de comunicação e, o mais importante, motivação para que outras iniciativas de busca por capa-citação sejam futuramente contempladas.

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Célio Costa Pinto

Analista ambiental e superintendente do Ibama no estado da Bahia, é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) com especia-lização em Planejamento e Gestão Am-biental pela Faculdade de Tecnologias e Ciências (FTC), de Salvador/BA.

Tel. cel. (71) 8182-5441

Tel. Ibama: (71) 3172-1652, 3172-1650

Fax: (71) 3172-1750

E-mail: [email protected]

[email protected]

Em 2012, o Brasil sediará a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), após 20 anos da Rio92, momento em que políticos, cientistas, ambientalistas, empresários e sociedade civil discutirão os rumos do planeta, o modelo de desenvolvimento, o futuro das próximas gerações. é necessário mobilizar os brasilei-ros para este debate haja vista a urgência que a humanida-de tem de encontrar o caminho do equilíbrio, do desenvolvi-mento sustentável (conceito surgido em 1987).

Em 2012, diferentemente de 1992, o cenário para o debate é melhor, a temática ambiental cresceu de impor-tância em todos os setores, bem como o Brasil vem cres-cendo a taxas anuais acima de 5%. Hoje, o tema meio ambiente constitui preocupação central da humanidade, pois os efeitos cumulativos das ações humanas na Terra já ultrapassaram os muros da academia e são perceptíveis

Meio Ambiente x Desenvolvimento

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ao cidadão comum, fazendo com que este assunto venha ganhando importância no Brasil e no mundo.

No entanto, em nosso país, ainda persiste o falso dile-ma: meio ambiente x desenvolvimento. Falso porque o desenvolvimento é necessário para melhorar a qualidade de vida de milhões de brasileiros, visando à geração de emprego e renda, que favorecerá a erradicação da pobre-za mas precisa estar em sintonia com a política nacional de meio ambiente, com a necessária lucidez de que com-partilhamos o planeta com cerca de 10 a 100 milhões de espécies vivas distintas, entre plantas, animais e bactérias,

das quais somente uma parte foi identificada e classificada pelos cientistas, sendo a maior parcela ainda desconheci-da da ciência.

Temos uma legislação ambiental muito abrangente e que contempla aspectos específicos do saber ambiental, tais como: Sisnama (Sistema Nacional do Meio Ambiente) (1981), instrumentos consagrados na Constituição Federal (1988), Lei das Águas (1997), Lei dos Crimes Ambientais (1998), Lei da Educação Ambiental (1999), das Unidades de Conservação (2000), da Mata Atlântica (2006), da Gestão de Florestas Públicas (2006), da criação do Instituto Chico Mendes (2007), das Mudanças Climáticas (2009), dos Resíduos Sólidos (2010).

Assim, podemos olhar para trás e ver como a legislação ambiental avançou no Brasil embora exista a necessidade de modernizar alguns de seus aspectos. Destaque para competências claras dos órgãos ambientais dos entes da federação (União, estados, Distrito Federal e municípios), para o financiamento do Sisnama (ICMS e IPTU ecológico, TCFA compartilhada etc.), para planejamento territorial com participação social, pesquisa científica e aplicação de conhecimento técnico de ponta, fazendo-se o casamento com outras políticas específicas e demonstrando-se que é possível compatibilizar o que aparentemente é contraditó-rio: desenvolver e conservar o meio ambiente.

Campeão mundial em biodiversidade (variabilidade e variedade existentes entre organismos vivos e as com-plexidades ecológicas nas quais elas ocorrem), o Brasil tem papel de destaque nessa discussão. Para alcançar o desenvolvimento sustentável, o meio ambiente tem de ser,

cada vez mais, tratado como tema transver-sal e incorporado em todos os programas e projetos governamentais e privados. Afinal, sairá mais barato e seguro, no futuro, uma intervenção cautelosa e embasada na melhor técnica disponível: elevar o grau de educa-ção ambiental da população e fazer com que a legislação ambiental seja respeitada por todos; aumentar investimentos em manuten-ção da biodiversidade e geração de energia

limpa; planejar e utilizar o patrimônio natural, que é de todos, de forma igualitária e para os fins mais nobres de desenvolvimento do nosso país; possuir órgãos ambientais capa-citados e eficientes na fiscalização de infra-ções e crimes ambientais; e licenciar obras e empreendimentos com qualidade técnica e prazo reduzido. Assim, alcançar também justiça ambiental.

Enfim, quando os desastres ambientais acontecem, eles afetam milhares de pesso-as, causam dor e sofrimento, além de sangrar os cofres públicos na remediação de inter-venções inadequadas no meio ambiente. Na Rio+20, o tema mudanças climáticas estará, mais uma vez, em evidência mas repartindo as atenções com a perda de biodiversidade e os incentivos econômicos ambientais.

No Brasil, já se discute o pagamento por serviços ambientais, valorização da função ecológica da floresta, dos recursos hídri-cos etc., assunto que já se encontra em pauta no Congresso Nacinoal. Portanto, todos nós devemos levantar uma discus-são séria, ética e oportuna: acabar com a falsa dicotomia entre desenvolvimento e meio ambiente e mostrar ao mundo, na Rio+20, que isso é possível.

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o futuro se faz hoje

O prOgrAmA gespúblicAnA superintendênciA dO ibAmA nO riO de JAneirO

Planejamento e gestão. Duas palavras cheias de significado mas, ao mesmo tempo, simples e de apli-cação cotidiana. Quem não planeja o dispêndio de seu salário ou aquelas férias sonhadas? Quem não gere seu tempo no trabalho e em casa? Sim, muitas vezes, o planejamento não é bem feito ou a gestão falha (lembra daquele fim de mês quando ficou no aperto ou daquele outro em que perdeu mais tempo brigando sozinho com o Sistema de Concessão de Diárias e Passagem (SCDP) do que com aquele relatório impor-tante?), mas o que quero deixar claro é que os verbos gerir, administrar e planejar são conjugados no nosso dia a dia e são necessários ao nosso bem-estar.

Se essas práticas são reconhecidamente necessá-rias em nossa esfera individual, o que dirá em nossas equipes de trabalho, nossos setores e nossa organi-zação? E será que, nesse campo maior, também não acontecem tentativas e erros? Uma boa notícia é que

José Luiz Seabra Filho

É analista do Ibama lotado na Supes/RJ. Mestre em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atua como autoridade julgadora desde junho de 2009 e coordena o Núcleo de Gestão Estratégica (NIGET) bem como o Comi-tê interno do programa Gespública des-de janeiro de 2010.

existe toda uma ciência consolidada em admi-nistração que permite aprimorar essas práticas e tornar mais provável o resultado favorável e nos informa que o erro faz até parte do aprendi-zado, que o grave não é errar e sim não procurar melhorar sempre.

Para os autores clássicos, administrar ou gerir envolve planejar, organizar, coordenar, liderar e controlar . Essa decomposição é feita numa ordem lógica. Primeiramente, é preciso saber o que deve ser feito, imaginar um futuro desejável e prever os passos necessários para alcançá-lo. Quando se sabe quais os elementos materiais e humanos que serão necessários, é preciso organizar as equipes e dividir o tra-balho de forma racional. Não basta as equipes estarem constituídas e o material distribuído: coordenar a atuação de todos é indispensável

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ao sucesso. Além de coordenar, quem gere deve também estimular as equipes, dar exemplo, con-duzi-las da maneira mais direta na direção certa, e, ao final, tudo isso de nada adiantaria se não se soubesse o que foi feito, se não houvesse a medição e o controle.

Planejamento é a base da gestão. Considerando que, se não planejarmos, alguém o fará por nós, para nós e, às vezes, até con-tra nós, um grupo de analistas ambientais do Rio de Janeiro resolveu desenvolver um plano de gestão para aquela superintendência. Um plano que fosse sistêmico e não apenas setorial, de longo prazo e não incidental. Na busca por ferramentas que os auxiliassem nessa elabora-ção, eles encontraram o modelo do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização – GesPública.

Esse programa representa a evolução de diversas iniciativas, desde o famoso Programa Nacional de Desburocratização, de 1979, até a denominação atual, que foi dada pelo decreto federal n.º 5.378, de 2005. Em sua forma atual, ele consolida diversas práticas de sucesso na iniciativa privada que podem ser transpostas para a gestão pública.

O GesPública trabalha com um modelo de exce-lência de enfoque sistêmico no qual os critérios de liderança, planos/estratégias, cidadãos, socieda-de, informação, pessoas, processos e resultados espelham as áreas sensíveis da organização, onde práticas e ações devem ser focadas.

O critério liderança avalia a forma de atuação da alta administração da organização, como ela move e inspira as pessoas, como se relaciona com os demais atores sociais, como conversa e responde aos anseios da sociedade, dos cida-dãos e da força de trabalho. Qualquer processo de melhoria que não conte com o comprome-timento dos gestores oficiais da organização enfrenta sérias dificuldades.

A seguir, os planos/estratégias abordam como a organização se prepara face às incertezas do futuro, programando-se para cumprir sua missão e atingir sua visão, e como desdobra tudo isso em metas e ações específicas.

O critério referente aos cidadãos verifica como a organização interage com os usuários

diretos e indiretos de seus serviços, adequando, quando possível, sua prestação a seus anseios mas sempre procurando melhorar a comunicação bilateral, o feedback vital à melhoria contínua. Serviço público é servir ao público.

Ao mesmo tempo, pela sociedade, deve ser exer-cido o controle social, a participação na gestão, e, da organização, é cobrada sua responsabilidade peran-te os impactos sociais derivados de sua atuação.

A informação é o que sustenta o modelo de exce-lência. Sem informação, não se podem ter boas práticas, pois elas estariam baseadas em opiniões, sentimentos, e não em fatos, comprometendo-se o processo decisório. Esse critério verifica a existên-cia de balizas internas e externas para o desempe-nho organizacional e como é adquirido, tratado e disseminado o conhecimento internamente.

O critério pessoas envolve o trato com a força de trabalho, as práticas gerenciais que fomentem um melhor desempenho, o bem-estar, que identi-fiquem as necessidades de capacitação, reconhe-çam o mérito e selecionem os mais competentes para os cargos gerenciais.

Processos, que não se referem aos autos materiais, em papel, mas sim à série de atos que transforma entradas em saídas com um valor agregado, são o critério que examina como a organização gerencia e melhora seus principais processos finalísticos e de apoio.

Ao final, são medidos os resultados, ou seja, os indicadores e metas que revelam que a organi-zação atua com eficiência, eficácia e efetividade, cumprindo sua missão institucional.

Nesses termos, o grupo informal que se tinha formado na superintendência em maio de 2009 resolveu que seria interessante aderir formalmente ao programa e convenceu o superintendente para que formalizasse o ato, o que ocorreu em 20 julho de 2009. A partir daí, o grupo oficialmente consti-tuído por ordem de serviço passou a se preparar e reunir informações para a autoavaliação.

A autoavaliação é a pedra angular do processo de melhoria. Representa um diagnóstico atual da organização. Ela é feita através de questionários cujas perguntas procuram verificar as práticas e sua adequação. Exemplo: Como as principais deci-sões são tomadas, comunicadas e implementadas

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“A informação é o que sustenta o modelo de excelência. Sem informação, não se podem ter boas práticas, pois elas

estariam baseadas em opiniões, senti-mentos, e não em fatos, comprometendo-

se o processo decisório.”

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pela alta administração? A resposta a essa pergunta é avaliada e pontuada.

é importante ressaltar que a avaliação é feita por pessoas da própria casa, com os decorrentes bene-fícios de autoconhecimento e senso de realidade, em contraposição aos custosos e nem sempre benéficos produtos oferecidos por consultorias privadas.

A metodologia de avaliação foi passada ao grupo em oficina ministrada por voluntários do núcleo regional do programa em nosso estado. Foram três dias de aprendizado e prática, em agosto de 2009, no Jardim Botânico, onde pudemos adiantar bastan-te o trabalho da avaliação.

O caderno de campo da avaliação foi sendo com-pletado com informações adicionais até sua finaliza-ção em outra oficina de dois dias, em setembro de 2009. O término da avaliação nos permitiu elaborar o grande produto: o Plano de Melhoria da Gestão. Esse plano, naturalmente, flui das respostas ao questio-nário, pois as omissões ou as falhas nas respostas apontam oportunidades de melhorias, que deman-dam práticas adequadas a respostas melhores.

Naturalmente, dado o baixo nível de maturidade de gestão de nossa superintendência, muitas eram as oportunidades de melhorias, mas o grupo traba-lhou com um apurado senso de realidade e escolheu criteriosamente 50 ações de base que seriam funda-mentais à otimização organizacional. Essas ações, de custo muito baixo ou nulo, consistindo, muitas vezes, em reorganização de processos, foram transpostas em planilhas que indicavam claramente quem faria o que, quando, como e quanto custaria.

O plano foi aprovado pelo superintendente em 4 de dezembro de 2009, tendo sido validado posterior-mente pelo núcleo estadual do programa, e deve ser executado no prazo de um ano e três meses, ao final do qual será feita nova avaliação e novo plano.

Em 30 de março de 2010, foi realizado um evento para debate sobre o plano, que foi aprovado unani-memente, objeto dos maiores elogios.

Entre as inovações dele decorrentes, esta-va a criação do Núcleo de Gestão Estratégica e Cooperação Interinstitucional (NIGET) e do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), este último, infelizmente, até o momento, não concretizado, apesar de servidores já terem participado de cur-sos específicos para tanto.

Foi prevista também a utilização de ferramentas como a Carta de Serviços ao Cidadão e Pesquisas de Satisfação Interna e Externa.

A Carta de Serviços é um documento elaborado por uma organização pública que visa a informar aos cidadãos quais os serviços prestados por ela, como acessar e obter esses serviços e quais são os com-promissos de atendimento estabelecidos. A da supe-rintendência no Rio de Janeiro já está pronta para publicação após validação dos setores que oferecem serviços diretos ao público.

A pesquisa interna de satisfação foi realizada mais recentemente, juntamente com o levantamento das necessidades de capacitação, e ambas as iniciativas foram muito bem recebidas pelos servidores, que se sentiram, pela primeira vez, consultados sobre seu bem-estar e seus anseios.

Os membros do comitê interno do programa na superintendência, grupo que sucedeu o de avalia-ção em janeiro de 2010, capacitaram-se em cursos da Enap e da rede GesPública bem como, repre-sentando o Ibama, em seminários e congressos, disseminando pela casa a cultura da inovação e da qualidade no serviço público, consagrada em outras instituições mais avançadas no programa. O reco-nhecimento pelo trabalho do grupo veio quando, face às dificuldades e resistências enfrentadas, nova reu-nião foi convocada em 4 de novembro de 2010, com todos os servidores, quando, mais uma vez, eles reforçaram seu apoio à manutenção do programa e do comitê, contrariando as previsões do sistema Gesboa (Gestão por boatos).

Diante do que poderia ser feito com o devido apoio, as diversas ações do programa na superin-tendência do Rio de Janeiro podem parecer pouco, mas é o pouco que permanece e que pode permitir que algo maior venha depois. Nossa mascote é o líquen, um organismo simbiótico, e, como ele, esta-mos sobre pedra nua, preparando o solo, criando o susbtrato da sucessão ecológica. A resistência é uma vitória e um estímulo a todos os colegas de outras superintendências e da sede para que os servidores possam construir seu futuro hoje, com qualidade nos serviços prestados, valorização do servidor, diálogo com a sociedade, cooperação com os parceiros e obtenção de resultados que possam contribuir para nossa missão de deixar o Brasil melhor.

Para saber mais: www.gespublica.gov.br

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Marcos Antônio Camargo Ferreira

Mestre em Ecologia e Conservação da Biodiversidade e doutorando em Ciências Florestais (Universidade de Brasília, Faculdade de Tecnologia, De-partamento de Engenharia Florestal), é engenheiro florestal lotado na Coorde-nação Geral de Autorização do Uso da Flora e Floresta (Cgaaf), da Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas (DBFlo), do Ibama.

E-mail: [email protected]

manejo florestal sustentável de

florestas nativas

O manejo florestal sustentável foi reconhecido pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (ECO-92) como a mais importante contribuição que o setor florestal pode dar a qualquer ini-ciativa de desenvolvimento sustentável de qualquer país.

A preocupação global em relação à destruição exten-siva de áreas florestais tem levado a iniciativas nacionais e internacionais de criação de critérios e indicadores (C&I) para o manejo florestal sustentável. Os critérios e indicadores constituem um conjunto hierárquico de itens: princípios, critérios, indicadores e verificadores, ligados entre si. A informação acumulada ao nível hierárquico mais baixo (verificador) é usada para avaliar os itens rela-cionados aos níveis mais altos e mais abstratos. Destes itens, a ferramenta de vistoria técnica normalmente rea-lizada pelas Divisões Técnicas do Ibama (DITECs) se utiliza dos verificadores a fim de avaliar se as diferentes atividades estão sendo executadas dentro de padrões de sustentabilidades ou de acordo com a legislação vigente.

Os princípios fornecem a estrutura primária para manejar florestas sustentavelmente. Eles também fornecem a justificativa para os crité-rios, indicadores e verificadores. O principio é entendido como “uma verdade ou lei funda-mental como base do raciocínio ou da ação”. Os critérios são, portanto, os pontos interme-diários aos quais a informação fornecida pelos indicadores pode ser integrada numa avaliação interpretável. O indicador é, consequentemen-te, um atributo descritivo, quantitativo e qualita-tivo, que, quando medido ou monitorado perio-dicamente, pode indicar o correspondente nível do manejo da floresta. Por verificador, entende-se o conjunto de dados ou informações que destacam a especificidade ou a facilidade de avaliação de um indicador. No quarto nível de especificidade, os verificadores proporcionam, portanto, detalhes que podem indicar ou refletir uma condição desejada de um indicador.

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manejo florestal sustentável deNesses conceitos, os critérios e indicadores que

avaliam a sustentabilidade do manejo florestal se apre-sentam como importantes ferramentas para subsidiar a disseminação e a implementação de coerentes siste-mas de ordenação, administração e de manejo flores-tal em florestas tropicais, como expressão natural do desenvolvimento sustentável.

Uma parceria entre as instituições Embrapa, Cifor e Ibama objetivou o desenvolvimento de procedimentos de campo para a vistoria de planos de manejo florestal sustentável com fins madeireiros na Amazônia brasilei-ra bem como para a emissão dos respectivos laudos de vistorias, desenvolvendo verificadores correspon-dentes para avaliação da adoção de técnicas para efe-tivo manejo florestal sustentável.

Assim, para avaliar cada etapa e cada aspecto dos planos de manejo florestal, foram definidos 140 verificadores e, para cada um destes, foi desenvolvida

uma correspondente metodologia de avaliação em campo como também ficaram estabelecidos limites quantitativos para facilitar a interpretação das infor-mações levantadas com respeito à avaliação final das operações pertinentes.

Estes verificadores foram corporificados em legislação federal por meio da Norma de Execução n.º1, do Ibama, publicada no Diário Oficial da União em 18 de dezembro de 2006, na qual se propõe a avaliação dos seguintes aspectos: macrozonea-mento, delimitação e identificação da área, inven-tário florestal, corte de cipós, instalação da infraes-trutura, derrubada, arraste, silvicultura pós-colheita e monitoramento, operações de pátio, transporte, proteção da floresta, segurança no trabalho e a infraestrutura do acampamento. Os itens verifica-dos em campos têm sua avaliação enquadrada nas seguintes categorias:

Categoria de Avaliação Sigla Descrição

Ação Corretiva AC/PS Providências relacionadas ao verificador que devem ser cumpri-das até a próxima safra.

Ação Corretiva Urgente AC60 Providências relacionadas ao verificador que devem ser cumpri-das em um prazo máximo de 60 dias.

Ação Corretiva Urgente AC30 Providências relacionadas ao verificador que devem ser cumpri-das em um prazo máximo de 30 dias.

Sujeito a Suspensão SS Não conformidade que implica suspensão do PMFS.

Sujeito a Cancelamento SC Não conformidade que implica cancelamento do PMFS.

Recomendação R Recomendação relacionada à execução do PMFS que não impli-ca ação corretiva ou sanção administrativa.

Nenhuma Ação Corretiva NAC O verificador foi atendido em sua totalidade, não sendo aplicável nenhuma ação corretiva ou sanção.

Não se aplica NO O verificador não se aplica no momento da coleta de dados.

Para analisar o inventário florestal, são utilizados 17 verificadores. Deve ser sempre possível localizar as árvores inventariadas por meio de sua colocação nos mapas das unidades de trabalho. De um modo geral, o mapa é essencial aos inventários florestais, assim como as etiquetas das arvores inventariadas, que devem ser sempre confeccionadas em material durá-vel que assegure a permanência das informações.

Sobre o corte de cipós, três verificadores são apli-cados, devendo ser uma prática em planos de manejo. A não realização de corte de cipós implica maior risco de acidentes na exploração, podendo causar a queda

de outras arvores e, por vezes, na derruba aciden-tal de arvores que deveriam ser mantidas como remanescentes.

Sobre a instalação da infraestrutura de estra-das e pátios, são aplicados 22 verificadores. Em área de manejo na Amazônia, não deve ocorrer a obstrução de cursos d’água por estradas nem entupimento de bueiros ao longo destas. As estra-das principais e secundárias, de um modo geral, devem possuir largura de leito trafegável dentro dos limites legais estabelecidos para planos de manejo conforme previsto na legislação. A fim de

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contribuir para a conservação das estradas florestais, os estados estabeleceram um período de restrição ao corte e ao arraste no período chuvoso mas não ao transporte na estrada principal da área de manejo. Os pátios de estocagem de madeira na Amazônia devem se localizar em áreas mais planas possíveis, e as dimensões recomendadas não devem ser superiores a 500 m², a não ser que particularidades do projeto justifiquem dimensões diferentes.

Avaliam-se, também, os desperdícios relacionados com técnicas de derrubada, traçamento e arraste: muitas árvores jovens de valor comercial podem ser danificadas desnecessariamente nessas operações e sabe-se que é possível orientar a derrubada, controlar o tamanho de clareira e, com isso, garantir uma suces-são florestal similar à original.

Deve-se cuidar para que as árvores abatidas não atin-jam áreas de preservação permanentes, não devendo essas áreas apresentar sinais de invasão ou exploração.

Na operação de derruba, deve haver o controle das árvores abatidas, necessitando este possibilitar o rastreamento da origem das toras. As plaquetas de identificação do inventário são afixadas ao toco das arvores após serem abatidas. As equipes de derruba devem utilizar mapas para localizar as árvores e dire-cionar quedas, ocasionando, desta maneira, menores danos possíveis.

São avaliadas operações de arraste em função de as mesmas envolverem uso de equipamento pesado que possa vir a danificar árvores remanescentes e a

regeneração natural, causando, desta forma, alterações e prejuízos tanto na economia quanto na estrutura e na composição da flo-resta quando a operação é mal executada.

O planejamento pré-exploratório das estra-das, ramais de arraste e pátios de estocagem é essencial para promover acesso às áreas de trabalho e aos indivíduos marcados para extração assim como para minimizar os dis-túrbios no solo e proteger os cursos d’água. O arraste só deve se iniciar após o término da construção da infraestrutura de estradas e pátios. Deve haver cuidado para que as tri-lhas de arraste não cruzem APP.

A avaliação dessa atividade se estende aos operadores do trator florestal/skidder se eles usam o mapa de corte para localizar as árvores cortadas e seguem o caminho previa-mente sinalizado.

O monitoramento pós-colheita é uma etapa essencial para a verificação da regene-ração da floresta. Para tanto, são instaladas parcelas permanentes, onde deve ocorrer mensuração da regeneração natural da flo-resta, pelo menos, a cada três anos ou con-forme legislação estadual.

O transporte dentro da área de manejo flo-restal, no que diz respeito às contenções das toras, é feito utilizando-se cabos de aço para se evitarem acidentes.

Outro ponto avaliado é o cuidado com a destinação de lixo orgânico: durante a ava-liação, não devem ser encontrados resíduos orgânicos com destinação inadequada.

Todas as motosserras devem possuir todos os itens de segurança em perfeito funcionamento, e os funcionários de campo, operadores de trator florestal, ajudantes de motosserristas e motosserristas devem utili-zavam capacetes, botas adequadas, pernei-ras e equipamentos de proteção individual conforme sua função. As operações de abas-tecimento de combustível devem ser realiza-das por pessoas treinadas, devendo haver preocupação com locais para esses abasteci-mento e estocagem de material combustível, óleos e graxas. Deve haver, também, planos de segurança no trabalho, com sinalização ou placas informando, em distância adequa-

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da, as áreas de risco e os cuidados a serem tomados em áreas onde a operação florestal está acontecendo.

Para capacitar analistas ambientais do Ibama e dos Oemas que atuam nas divisões técnicas, a DBFlo e a Dicap, através dos técnicos da Coordenação de Normatização Florestal, têm realizado treinamentos e curso de análises de PMFS e vistorias de áreas de manejo florestal. O público-alvo tem sido os analistas ambientais do Ibama, do ICMBio e dos órgãos esta-duais de meio ambiente que atuam diretamente com analise de PMFS e vistorias de áreas manejadas. Além das técnicas aplicadas em campo, o curso inclui o uso de tecnologias para a realização de análises técnicas como ferramentas de geoprocessamento e análises por meio de planilhas eletrônicas bem como a fundamentação legal da atividade.

Turma do curso “Aplicação da Legislação e de Técnicas de Análises de PMFS e Vistoria em Áreas Submetidas ao Regime de Manejo Florestal Sustentável”, realizado pelo Ibama (DBFlo/Dicap) entre 28 de novembro e 3 de dezembro de 2010 na Floresta Nacional do Jamari, no estado de Rondônia.

Por fim, a estrutura conceitual do manejo florestal sustentável é fundamentada no desenvolvimento sustentável, sendo que, para que seja bem-suce-dido, deve perseguir três objetivos indispensáveis: crescimento econômico, desenvolvimento social e melhoria das características ambientais e vitalidade dos ecossistemas. O manejo florestal sustentável, do ponto de vista conceitual, só ocorre quando estas três metas são alcançadas.

As áreas de florestas manejadas são, de certa forma, áreas protegidas por determinado período de tempo em função das exigências legais para a atividade. Estas não podem ser desmatadas e não contribuem com a emissão de gases do efeito estufa (GEEs). Ao contrário, são reconhecidas como sumidouro de CO2. Cerca de dois terços do carbono global são sequestrados pelo processo de crescimento (regeneração) e plantio de florestas.

Assim, o sucesso do manejo florestal sus-tentável depende de políticas, estratégias e programas que apoiem e utilizem os critérios e indicadores para avaliar e intervir nas práticas de manejo a fim de que este atinja o objetivo final, o desenvolvimento sustentável, conforme proposto pela ECO 92.

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A experiência de Tangará da Serra/MT

O cerrado brasileiro é um mosaico de savanas moldadas pela diversidade de regimes de fogo. Esta característica foi aproveitada pelas comunidades indí-genas que habitam a região durante milhares de anos, manejando este ecossistema por meio de queimadas periódicas com o objetivo de potencializar o aprovei-tamento dos recursos naturais e diminuir os riscos de incêndios violentos. Este imenso bioma, berço de grandes rios e rico em biodiversidade e endemismos, é o que vem sendo mais rapidamente desmatado no Brasil devido a sua conversão em pastagens cultiva-das e lavouras agrícolas de grãos.

Praticamente, todas as áreas naturais restantes estão fragmentadas e invadidas por espécies exó-ticas. Dentre as últimas áreas preservadas deste bioma, destacam-se as terras indígenas (T.Is.) do oeste do Mato Grosso, que somam 1,5 milhão hec-tares de áreas naturais contínuas. Cobertas por uma vegetação aberta sob um regime de verão úmido e inverno seco (Clima Aw – Koeppen), estas áreas estão sistematicamente submetidas a um intenso regime

Rodrigo de Moraes Falleiro

Analista ambiental do Ibama (supe-rintendência de Sergipe), é gradua-do em Agronomia (1999) pela Uni-versidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestre em Fitotecnia (2002) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), de Minas Gerais. Atua como coordenador do Prevfogo na-quele estado desde 2009 (Coorde-nação de Combates Ampliados de Incêndios Florestais / Nível de Acio-namento III).

antrópico de fogo. Com o objetivo de diminuir os incêndios e os danos causados, o Prevfogo/Ibama/Cuiabá e a Funai/Tangará da Serra ela-boraram um programa de controle, implantado nas T.Is. Abaixo:

• Terra Indígena Tirecatinga: etnia Nambikwara. População: 165 habitantes. Área: 186.000 hectares. Vegetação: cerra-do (57,74%) e floresta estacional (42,26%). Topografia plana.

• Terra Indígena Paresi: etnia Paresi. População: 1.350 habitantes. Área: 558.000 hectares. Vegetação: Cerrado (76,45%) e Campo (23,55%). Topografia plana.

• Terra Indígena Utiariti: etnia Paresi. População: 249 habitantes. Área: 412.304. Vegetação: cerrado (64,1%) e floresta esta-cional (35,39%). Topografia plana.

• Terra Indígena Myky: etnia Myky. População:

Colaboração de César Augusto Chirosa Horie, Martins Toledo, Mauro Vieira Baldini, Maristella Aparecida Correa, Luiz Gustavo Gonçalves e Jocelita Giordani Tozzi

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108 habitantes. Área: 47.094 hectares. Vegetação: flo-resta estacional (100%). Topografia plana.

• Terra Indígena Irantxe: etnia Manoki. População: 385 habitantes. Área: 45.074 hectares. Vegetação: cerra-do (99,77%) e floresta estacional (0,23%). Topografia plana.

Isolados nas últimas ilhas de cerrado da região, cerca-dos por grandes plantações e dependendo, cada vez mais, de recursos financeiros, estas populações vêm dedicando a maior parte de seu esforço para gerar renda, ampliar a participação no estudo formal e consumir bens e serviços. Dentro desse contexto, o manejo tradicional destas áreas de cerrado foi praticamente abandonado e o conhecimen-to relacionado a ele perdido. A falta deste manejo resultou na ocorrência de incêndios, cada vez mais, intensos com grandes impactos sobre os ecossistemas em razão da grande concentração de material combustível e de sua ocorrência em períodos de maior suscetibilidade e menor resistência para a vegetação.

Os programas de controle até então implantados em outras T.Is. semelhantes no Mato Grosso se restringiram à formação de brigadas comunitárias nas aldeias (aplica-ção de cursos de brigadistas padronizados e distribuição de equipamentos de combate). Uma vez constatado que estas brigadas fracassaram em todas as T.Is. onde foram criadas, optou-se por um programa mais amplo e comple-xo dividido em quatro etapas:

1 Oficinas participativas (40 horas/aldeia): palestras (associativismo/cooperativismo e legislação), elabora-ção de diagnóstico socioambiental e realização de um plano de ação para resolver os problemas levantados. Paralelamente à oficina, foi realizado um diagnósti-co sobre o uso do fogo, com palestras sobre o tema e levantamento do conhecimento tradicional. Nesta fase, realizou-se um estudo profundo da relação da comunidade com o fogo e o resgate de seu uso como instrumento de manejo do cerrado, principalmente, entre os integrantes mais idosos. As lendas, as his-tórias, os costumes, os rituais e as práticas utilizados até hoje ou abandonados foram levantados para compreender a relação destas comunidades com este fenômeno.

2 Cursos de Brigadista (40 horas/brigada): capacita-ção em prevenção e combate aos incêndios flores-tais e elaboração de um plano de proteção da área. Denominado de Plano Operativo de Controle do Fogo, este documento foi elaborado participativamente, conjugando as técnicas consagradas de prevenção e o combate com o manejo tradicional do cerrado com fogo, proposto por cada comunidade.

3 Implementação das brigadas (2 anos/brigada): criação

de brigadas comunitárias (60 briga-distas nas T.Is. Tirecatinga, Paresi e Utiariti) e de brigadas contratadas (25 brigadistas nas T.Is. Irantxe e Myky). Foram distribuídos equipamentos e ferramentas, mas apenas as contra-tadas receberam salário.

4 Avaliação dos resultados (3 anos): por meio de focos de calor, relatórios, entrevistas e verificação in loco.

Durante as oficinas, as comunidades demonstraram grande interesse em dimi-nuir os danos causados pelos frequen-tes incêndios florestais que assolam a região. Foram relatados problemas de saúde, perdas econômicas, alteração da vegetação e diminuição das frutas e da fauna. As comunidades declararam que a utilização do fogo como ferramenta de modificação da paisagem sempre foi comum, sendo aplicado de forma precisa para se conseguirem os resultados dese-jados. Tal conhecimento corrobora com aquele verificado nas publicações cientí-ficas sobre os efeitos do fogo nas matas e cerrados. Cabe ressaltar que este patri-mônio está basicamente concentrado nos anciãos, indicando que não foi repassado aos mais jovens, ampla maioria nestas comunidades.

Durante os cursos, os alunos foram eficientes nas aulas práticas, mas apre-sentaram dificuldade nas teóricas, pro-vinda do baixo grau de escolaridade e até mesmo da compreensão do idioma português. Conhecedores dos cerrados e convivendo desde a infância com os incêndios, foram precisos na avaliação do comportamento do fogo e no seu combate, apresentando bom potencial de apoio a outras brigadas. Na elabora-ção dos planos operativos observou-se diferenças interessantes entre as estra-tégias propostas. As etnias provenien-tes do cerrado (Paresis e Nambikwaras) demonstraram grande interesse no manejo do cerrado com fogo. Entretanto, as etnias provenientes de regiões de mata (Irantxes e Mykys) rejeitaram esta proposta, optando pela erradicação do fogo em suas áreas (exceto as queima-das das roças de subsistência). Além do fator ecológico, o fato de serem apicul-

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tores também influenciou nesta decisão (perda das floradas que ocorrem na época propícia ao manejo). Nas comunidades onde foi decidido aplicar o manejo com fogo, as épocas e a distribuição temporal foram cuidadosamente descritas, com algumas pequenas diferenças. Em geral, optou-se por um regime de queima a cada 3 ou 4 anos e por evitar o uso do fogo entre julho e dezembro, devido ao risco de incêndios violentos e aos danos a fauna e flora. Os ciclos das plantas e animais importantes foram meticulosa-mente descritos e avaliados, para determinar os períodos críticos (florescimento, frutificação, postura, nascimento e amamentação). Em geral, os planos operativos tiveram custos iniciais de implantação entre R$ 200.000,0 e 350.000,0, diminuindo 60% no ano seguinte. A tarefa mais difícil (aceiramento) demandaria cerca de 3 a 4 meses de trabalho anual em cada T.I.

A implementação do programa apresentou algu-mas diferenças. Conforme a metodologia utilizada nas brigadas comunitárias, houve a capacitação, a disponibilização de equipamentos de combate (aba-fadores, bombas costais e queimadores) e de um caminhão. Por outro lado, as brigadas contratadas receberam a capacitação, os equipamentos de com-bate, de proteção individual (EPIs), um veículo 4x4 e os respectivos salários.

Os resultados obtidos indicam que as brigadas comunitárias não conseguiram controlar o fogo em suas áreas. O interesse em combater os incêndios, demonstrado nas oficinas e cursos, diminuiu rapi-damente após as primeiras atividades não remu-neradas, resultando no abandono do programa. Os argumentos usados para explicar a passividade do pessoal capacitado em relação às grandes colu-nas de fogo que devastavam suas terras foram: resistência do cerrado ao fogo, culpabilidade do causador e necessidade de realizar outras ativida-des para conseguir comida e dinheiro (ausência de remuneração). Em geral, não foi observada nenhu-ma ação no sentido de o plano operativo ser leva-da a cabo. As queimas de roças continuaram a ser realizadas individualmente e parte dos incêndios teve origem na própria comunidade, sem nenhum monitoramento ou combate.

Nas brigadas contratadas, o programa foi eficiente e a ocorrência de incêndios foi praticamente erradica-da. As roças foram todas queimadas conjuntamente e nenhuma delas fugiu ao controle. As contratações dos brigadistas geraram divisas à comunidade, tiran-do muitos integrantes dos trabalhos informais nas fazendas próximas. Este aspecto social e econômico do programa está apresentado no gráfico 4.

Observou-se excelente relação com as outras etnias contratadas, gerando-se ajuda mútua nas queimadas e incêndios. Entretanto, quando houve o trabalho conjunto das brigadas comunitárias e contratadas, ocorreram diversos conflitos. Em geral, as brigadas comunitárias tiveram fraca par-ticipação nos combates, mesmo sendo dentro de suas terras. Por outro lado, as brigadas contrata-das ficavam insatisfeitas com a baixa dedicação dos próprios causadores e principais interessados em controlar o incêndio.

A análise dos focos de calor demonstra redução após o início do trabalho (gráficos 1 e 2). Apesar da ocorrência de invernos mais úmidos em 2008/09, a conscientização das comunidades foi um fator decisivo para diminuir o número de incidentes. Entretanto mais de 90% destes focos se concen-traram nos meses mais secos (julho a outubro), indicando que os incêndios ainda predominam sobre as queimadas de manejo.

Na comparação entre as brigadas, os dados de focos de calor não demonstram a efetividade do programa verificada in loco. Nas T.Is. Tirecatinga e Paresi, a redução foi resultado da diminuição do combustível disponível após os grandes incên-dios de 2007, baixando o risco de fogo nos anos seguintes embora a melhoria na conscientização destas comunidades também tenha sido um fator importante. A T.I. Irantxe foi a única que pratica-mente não apresentou diminuição devido ao fato de já controlarem os incêndios antes de 2008 e ao aumento das roças tradicionais, que geram muitos focos de calor. Nas T.Is. com brigadas contratadas, todos os focos de calor registrados após 2008 foram originados de queimadas controladas, rea-lizadas de forma conjunta e segura, sem nenhum registro de incêndio florestal que não foi rapida-mente controlado.

Gráfico 1: Focos de calor (média/ano) captados via satélites (todos), antes e depois do trabalho.

126,7

15,5

6,7

11,3

374,7849,7

6,52,0

269,0

340,0

1

10

100

1000

Paresi Utiariti Tirecatinga Myky Irantxe

2005/06/07 2008/09

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Gráfico 2: Redução de focos de calor (%) nas Terras Indígenas (conforme o gráfico 1).

88 82

60

28

3

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Tirecatinga Myky Paresi Utiariti Irantxe

As entrevistas demonstraram que o trabalho de educação surtiu grande efeito, com 100% dos entre-vistados declarando que o programa foi positivo para toda a comunidade, assim como aumentou a conscientização quanto aos problemas causados pelo fogo e os cuidados na sua utilização (exceção à T.I. Paresi/Aldeia Nova Esperança, com 57,1%). Percebeu-se muita satisfação com a diminuição dos incêndios e da fumaça, além da grande produção de frutos em 2009 (principalmente o pequi - Caryocar brasiliense), que garantiu o abastecimento das comu-nidades e franca comercialização nas cidades próxi-mas. Apesar do relativo sucesso do programa, as comunidades ainda não consideram as brigadas ple-namente capazes de controlar os incêndios nessas imensas áreas (gráfico 3). Segundo relatado, a falta de veículos, contrato remunerado (comunitárias), ampliação do número de brigadistas (contratadas), equipamentos de combate e EPIs de reserva são as principais limitações. Nas brigadas contratadas foram determinados outros benefícios do programa para a comunidade, além do aspecto ambiental, apontados no gráfico 4.

Gráfico 3: Avaliação pelas comunidades da capacidade da brigada implantada de controlar o fogo dentro da sua res-pectiva Terra Indígena (%).

36

64

33

67

0

100

0

100

0

100

0

20

40

60

80

100

Myky Irantxe Paresi Utiariti Tirecatinga

SIM NÃO

Gráfico 4: Percepção dos Mykys e Irantxes sobre a importância das brigadas contratadas pelos brigadistas e membros da comunidade (%).

18

28

59

40

22

33

0

10

20

30

40

50

60

ECONÔMICO AMBIENTAL SOCIAL

Comunidade Brigadistas

A metodologia aplicada nos trabalhos propor-cionou a ampla compreensão do contexto social da comunidade, acima dos problemas geralmente avaliados nos planos de controle de incêndios. Um dos resultados mais importantes foi a demonstração de que as prioridades estão voltadas a sua inserção na sociedade circundante, o que exige dedicação e recursos. Sendo assim, as atividades tradicionais de coleta e caça, bem como o manejo com fogo que era utilizado para potencializá-las, foram relegadas a segundo plano e praticamente ignoradas pela parcela mais jovem. Uma estratégia de controle dos incêndios que respeite e preserve a cultura destas populações deve obrigatoriamente resgatar estes costumes ao mesmo tempo em que ofereça alterna-tivas de remuneração, garantindo o esforço neces-sário à aplicação das atividades de prevenção, combate e manejo, definidas nos planos operativos de proteção ao fogo.

Desta forma, com o devido aporte de recursos e a resolução dos problemas levantados, essas comunidades estarão preparadas para conseguir equilibrar o manejo tradicional do cerrado com as tendências atuais da sociedade de conservar solo, água, atmosfera, vegetação e fauna.

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Programa Permanente de Proteção à Fauna do Ibama/SP

Colaboração de Isis Akemi Morimoto T. de Oliveira, Margarida Conceição C. Sturaro, Elói Norberto Venturini Junior, Luis Antonio Gonçalves de Lima, Erika Pires Ramos e Verbena Maria de Moura Fé

Vincent Kurt Lo, biólogo com espe-cialização em Controle Ambiental (Faculdade de Saúde Pública/USP), é analista ambiental do Ibama desde 2002 (trabalha na Divisão Técnica e de Fauna da Supes/SP, atuando, es-pecialmente, em centros de triagem e áreas de soltura). Profundo observa-dor de aves, possui cerca de 15 arti-gos publicados sobre fauna silvestre.

Orgulho ou vergonha?O Brasil é conhecido e reconhecido por sua

biodiversidade. Entretanto, apesar de ser um país megadiverso e com novas espécies constantemente sendo descobertas, a lista de animais ameaçados de extinção também não para de crescer. Atualmente, a lista nacional de espécies ameaçadas (MMA, 2003) possui cerca de 400 espécies, sem contar peixes e invertebrados. A ornitofauna brasileira, por exemplo, é a segunda maior em riqueza de espécies de aves no mundo. Por outro lado, é o primeiro lugar em número de espécies ameaçadas.

Lembramos que a fauna representa importantíssi-mo papel ecológico com a polinização, a dispersão e o controle de pragas. Cerca de 80% das espécies vege-tais de florestas tropicais e em torno de 50% das espé-cies de florestas subtropicais são disseminadas pela ação de fauna conhecida como zoocoria. Infelizmente, a constante pressão de captura de animais silvestres contribui para o declínio e extinções locais ou regio-nais de determinadas espécies mais visadas. Calcula-se que o número de animais silvestres apreendidos

por ano no Brasil possa chegar a 100 mil indi-víduos, número que representa apenas uma pequena parcela do que é realmente traficado.

Campanha Nacional de Proteção à Fauna (Ibama/SP)

Como parte da Campanha Nacional de Proteção à Fauna que a Coefa/DBFlo/Ibama-sede deflagrou em outubro de 2008 juntamente com o Ministério do Meio Ambiente, a superin-tendência do Ibama/SP lançou seu Programa de Proteção à Fauna, de caráter permanente, no final de março de 2009, abrindo-se o pro-cesso 02027.000493/2009-51.

O Programa Permanente de Proteção à Fauna do Ibama/SP foi batizado de P3F e mobiliza os diferentes setores do órgão, como Educação Ambiental, Fiscalização, Procuradoria Federal (Jurídica), Divisão Técnica de Fauna, Assessoria de Comunicação e o próprio gabinete da superintendência para o objetivo comum de alertar a sociedade acer-ca da problemática do tráfico de animais sil-

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vestres. Recentemente, houve a formalização deste grupo de trabalho interdepartamental com a emissão da Ordem de Serviço 028/2010.

O P3F/SP vem realizando capacitações por meio de seminários (dentro e fora do órgão) e a distribuição de material como cartazes, folders, cartilhas educati-vas e CDs. Com o recebimento de algum material ela-borado de forma esplendorosa pelos colegas do NEA/Ibama/Piauí, a Supes/SP tem procurado parcerias para impressão de mais material.

Com a utilização do slogan “Isso acontece porque você compra – Denuncie o comércio ilegal de animais silvestres” e de fotos impactantes em alguns cartazes, procura-se sensibilizar a sociedade quanto à proble-mática do tráfico e de suas consequências. A campa-nha tem esse importante viés educativo, em uma ação preventiva para se evitar a aquisição pela população de animais retirados ilegalmente de seus habitats. O material está sendo exposto em locais estratégicos, como escolas, estações de metrô, aeroportos, par-ques, zoológicos, eventos etc. Diversos órgãos estão sendo convidados a participar da campanha.

Dentro do objetivo de fortalecimento do Sisnama, uma das atuais prioridades do Ibama é a parceria com as prefeituras do estado de São Paulo, visando à imple-mentação da campanha nos municípios através das secretarias municipais de Meio Ambiente, Educação, Turismo, Segurança e/ou Saúde. Outras áreas de poten-cial interesse são os meios de comunicação e o Poder Judiciário. é fundamental o envolvimento de outras instituições locais como ONGs, associações de bairro, universidades, Guarda Civil/Ambiental, zoológicos etc.

Algumas ações: período de 2009/2010 Três treinamentos internos (na Supes/SP) para

servidores e terceirizados (com a participação total de 96 funcionários do Ibama) nos dias 31/03/2009, 12/05/2009 e 24/09/2010.

Um workshop para a mídia, com a participação de 35 pessoas ligadas aos meios de comunicação (02/04/2009).

Apresentações de fauna no curso de formação da 1.ª Guarda Ambiental Municipal de Guarulhos (14/05/2009).

Seminário de Fauna Silvestre do Ibama no Tribunal Regional Federal (15/06/2009).

Impressão de 5o mil folders (modelo ao lado), distribuídos nas praças de pedá-gio da Rodovia Federal Presidente Dutra em Agosto de 2009.

Distribuição de material para unidades descentra-lizadas do Ibama e de outras instituições:

a) Diferentes setores da Supes/SP: Dijur, DPA, Fauna, NEA, Ascom, recepção/protocolo, Sispass, GAB, Diaf, auditório;

b) escritórios regionais de Araçatuba, Assis, Barretos, Bauru, Caraguatatuba, Presidente Epitácio, Ribeirão Preto, Santos;

c) Instituto Chico Mendes: APA-CIP/Esec Tupiniquins (Iguape), Esec Tupinambás (São Sebastião), E.E. Mico Leão Preto, Flona de Lorena, Flona de Ipanema, Cenap;

d) centros de triagem do estado de São Paulo;

e) áreas de soltura do estado de São Paulo;

f) Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE);

g) Ministério Público Federal (MPF);

h) Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo – Centro de Fauna Silvestre;

i) 40 zoológicos no estado de São Paulo.

Apresentação de cartazes, banners, vídeos e entrega de material da Campanha de Proteção à Fauna no parque Trianon, av. Paulista, no Dia Mundial dos Animais (04/10/2009), com 1.120 itens distribuídos.

Seminário de fauna na Advocacia Geral da União AGU/SP (15/10/2009).

P a l e s t r a sobre a c a m p a -nha na

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Semana Voando com as Aves – DEPAVE – Parque Ibirapuera (21/10/2009).

Seminário de Fauna Silvestre na ESALQ (14/10/2010).

2.º Seminário de Fauna na Unimesp/Piracicaba (17/12/2010).

Programa atualObjetivo geral: a capacitação tem por objetivo

formar multiplicadores para a difusão da proteção à fauna silvestre e para o combate ao tráfico de animais silvestres, mostrando o impacto à biodiversidade, os maus-tratos, o risco de zoonoses e acidentes às pessoas com animais irregulares, o comprometimento dos processos ecológicos pela redução das popu-lações nativas e a ameaça de extinção de diversas espécies em decorrência da captura ilegal.

Público-alvo: formadores de opinião que serão multiplicadores em sua área de atuação técnicos e profissionais das áreas de meio ambiente, educa-ção, saúde e fiscalização ambiental da prefeitura ou do estado, professores, educadores, ambientalistas, juristas, organizações não governamentais, estudan-tes universitários das áreas ambientais, meios de comunicação locais etc.

Conteúdo: a proposta da capacitação envolve, no mínimo, dois encontros:

1) seminário com apresentação de palestras, com tempo entre as exposições para discussões, e esclarecimento de dúvidas sobre:

– legislação de fauna;

– tráfico de animais silvestres e fiscalização;

– problemas de animais silvestres em cativeiro irregular;

– possibilidade de reintrodução de fauna;

– educação ambiental em fauna e campanha de proteção.

2) Após seis meses do seminário, uma apresenta-ção dos projetos realizados pelos grupos forma-dos no primeiro encontro.

Portanto, após assistirem ao seminário, os partici-pantes são divididos em grupo de cinco a oito pesso-as e elaboram ou escolhem (veja exemplos abaixo) um projeto na sua área de atuação, com o prazo de seis meses para implantá-lo, período após o qual devem remeter ao Ibama o relatório de atividades. Em

um segundo evento, promove-se a apresentação dos projetos realizados, entrega dos certificados e, eventualmente, a escolha/premiação de alguns que se destacaram, com a divulgação na mídia (interna e externa).

Exemplos de projetos:

– levantamento de patrocinadores para impres-são de material (gibis e cartazes);

– ministração de palestra + teatro sobre o tema;

– ministração de palestra + evento (ex.: des-truição de gaiolas, gaiola gigante etc.);

– ministração de palestra + visita a um centro de triagem ou zoológico;

– ministração de palestra + vídeos + redação sobre o tráfico de animais;

– ministração de palestra + vídeos + concurso de desenhos ou de fotos sobre o tráfico;

– impressão e colocação de cartazes em agên-cias dos Correios, pet shops etc.;

– elaboração de artigos para jornais e revistas;

– criação de recursos audiovisuais ou tecnoló-gicos. Ex.: vídeos, curtas, sites, HQs etc.

ConclusãoConsiderando-se que a mola propulsora do

comércio ilegal é o consumo, a redução da deman-da de mercado certamente representa um grande impacto aos traficantes. Apesar da patente responsa-bilidade dos órgãos ambientais em proteger a fauna, a Constituição Federal de 1988 prevê, em seu artigo 225, a participação conjunta da sociedade:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologica-mente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futu-ras gerações. (grifo nosso).

Esperamos, com tais ações, contribuir para a mudança de comportamento da sociedade, para que aprenda a contemplar os animais soltos na natureza e, deste modo, possibilite melhor prote-ção à rica fauna silvestre brasileira. Quem conhece valoriza. Quem valoriza protege.

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Orquídeas do Brasil

Ao criar, no âmbito do Ibama, o projeto Orquídeas do Brasil, foi possível dedicar-me ao estudo das orquí-deas brasileiras e, ao mesmo tempo, satisfazer minha dependência emocional relativa à planta.

Por haver contribuído, frequentemente, com tra-balhos de identificação de orquídeas no Brasil nos últimos anos, o Ibama me concede um status muito especial. Depois que me tornei bem conhecida no exterior, as portas, no Brasil, se abriram para mim. Vale salientar que a publicação de livros é o ponto alto da coroação do projeto Orquídeas do Brasil.

Projeto

aproximando povos e pessoas

Lou Christiam de Carvalho Menezes (L. C. Menezes) é engenheira florestal, ana-lista ambiental e bióloga com habilita-ção em ecologia e botânica.

Trabalha no Ibama/sede, em Brasília/DF, e, como conservacionista, tem-se dedi-cado ao estudo da flora brasileira de or-quídeas. Chefia o Orquidário Nacional do Ibama e coordena o projeto Orquíde-as do Brasil, que tem como carro-chefe a produção de livros voltados para orqui-dólogos e orquidófilos.

É autora dos livros Cattleya labiata, Cat-tleya warneri, Laelia purpurata, Genus Cyrtopodium, Cattleya labiata autumna-lis, Orquídeas do Planalto Central Brasi-leiro, Laelia purpurata – A Rainha (seu livro mais recente), além de um grande número de publicações na forma de arti-gos, em revistas especializadas, no Bra-sil e no exterior. Atualmente, dedica-se à compilação do livro Cattleya walkeria-na, a ser editado em março de 2011.

As constantes viagens aos habitats, em todo o Brasil, são fundamentais para o desen-volvimento das pesquisas. Por outro lado, o Orquidário Nacional do Ibama é a infraestrutu-ra do projeto, obviamente, funcionando como abrigo para cultivo das coleções.

A participação dos orquidófilos é de grande importância para o projeto porque representa uma outra fonte de descobertas e monitora-mento do território nacional. Uma andorinha só não faz verão: também no exterior, conto com

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amigos orquidólogos e orquidófilos, sem os quais os meus trabalhos ficariam incompletos. Muitas vezes, é domínio desses colaboradores a revisão da literatura pertinente às orquídeas, sem a qual não é possível a compilação de bons trabalhos.

Com o advento do melhoramento genético das espécies e, consequentemente, a produção de orquí-deas em grande escala comercial, a pressão humana sobre os habitats diminuiu consideravelmente e isso levou as coleções e o comércio de orquídeas a serem o fiel da balança na preservação. Laelia purpurata foi a primeira espécie a ser preservada fora de seu habitat. Outro exemplo notável se dá agora com a Cattleya walkeriana, a espécie brasileira da atualidade no mundo. Meu livro sobre essa maravilha do planalto central será apresentado à comunidade orquidófila (brasileira e internacional) em junho de 2011, o qual será acrescentado ao legado que deixarei às gerações futuras, o que constitui, por si, uma forma de preserva-ção. Também está por vir meu segundo livro sobre o gênero Cyrtopodium uma vez que novas espécies já surgiram após minha primeira publicação.

Infelizmente, no contexto da preservação envol-vendo entidades governamentais, não vejo empe-nho ou interesse. Tudo depende da luta individual dos amantes das orquídeas. A tal ponto que, junta-mente com manifestações de apoio ao projeto do Orquidário Nacional do Ibama, algumas preocupa-ções se manifestam quanto a seu futuro, quando eu não mais estiver à frente dos trabalhos. Contudo, em resposta, tenho dito que a semente já foi lança-da e que o orquidário seguirá seu rumo.

é difícil destacar espécies ou gêneros favoritos como linha de frente de meus trabalhos publicados, pois essa paixão arrebatadora por orquídeas me torna dependente de toda a família Orquidaceae. Mas não posso negar que o gênero Cyrtopodium me escravi-zou num trabalho que ainda muito vai durar. Destaco ainda que Cattleya labiata e Laelia purpurata são joias da coroa de minhas publicações.

Ressalte-se que sempre haverá espécies novas e tudo depende do acaso. O mundo das micro e das terrestres está à espera de estudiosos abnegados. Há questões envolvendo mudanças na nomenclatura dos gêneros de Orquidaceae, o que é algo complexo, e as alterações vão e voltam surpreendentemente. Veja-se o caso da Laelia purpurata, a qual já foi, por cinco vezes, rebatizada.

Gostaria de esclarecer que o conceito de “planti-nha campeã” é de uma pobreza de espírito chocante e, lamentavelmente, parece que, na orquidofilia, tudo

gira em torno dessa falácia. As entidades orqui-dófilas precisam, com urgência, estabelecer programas de educação ambiental, pois, sem educação, não vamos a lugar algum.

A maior orquídea do mundoExibindo porte arbustivo e flores majestosas

exalando suave perfume, floriu, no Orquidário Nacional do Ibama, o Grammatophyllum specio-sum, orquídea nativa da Malásia e portadora do título “A maior orquídea do mundo”. Com 2,5m de altura, a planta torna-se mais grandiosa e fascinante por causa de suas 19 hastes florais que atingem 3m, parecendo, em seu conjunto de flores, coroar a planta como uma rainha no exílio brasileiro.

A pequena notável, bem cultivada a pleno sol, desenvolveu-se e adaptou-se aos rigores climáticos do Planalto Central e, ao fim de 5 anos, atingiu a maturidade e a tão esperada flo-ração, nunca imaginada tão esplendorosa.

Aproveitando o momento propício, apressei-me em pôr em prática meu conhecimento gené-tico e realizei o cruzamento entre a espécie asi-ática – o Grammatophyllum speciosum – e uma espécie brasileira do cerrado – o Cyrtopodium brandonianum –, dando o sinal de partida para o nascimento futuro de uma nova criatura híbri-da, um Grammatopodium, cujo nome de batis-mo ainda não foi escolhido.

A magnífica planta, que me foi doada, ainda pequena, pelo famoso orquidófilo pernambu-cano Odilon Cunha, colaborador do Orquidário Nacional do Ibama (projeto Orquídeas do Brasil) e proprietário de uma riquíssima coleção de orquídeas, que inclui espécies de todo o pla-neta, tem atraído a atenção de pessoas do mundo inteiro, especialmente, da embaixadora da Malásia, Sudha Devi, que visitou a sede do Ibama em 11/02 para ver, in loco, a flor originá-ria de seu país: “Fico encantada em saber que uma flor contribuiu para aproximar dois países e propiciar uma maior cooperação. Com a orquí-dea, o Brasil poderá conhecer mais sobre a Malásia”, disse a ilustre visitante.

é sabido que as flores aproximam as pes-soas. Assim, continue. O projeto Orquídeas do Brasil tem feito sua parte.

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Colaboração: Diogo Faria, Neyton Oliveira, Robson Czaban e Danielle Ianuzzi (do Nufas/Cetas/Ibama/AM) e Willer Pinto (do Aquabio/Ibama//AM)

No intuito de contribuir com o planejamento de ações para a conservação de espécies da fauna ameaçadas de extinção, a Superintendência do Ibama no Amazonas, por meio do Núcleo de Fauna Silvestre, realizou um levantamento de recebimento, triagem e destinação de felinos (família Felidae) mantidos sob a responsabilida-de do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas/Ibama/AM) no período de 2006 a 2010.

O levantamento serviu para diagnosticar e mapear felinos com registros de resgates bem como apre-ensões ou entregas voluntárias desses animais por municípios e regiões, buscando-se, assim, referenciar as ações de planejamento e a integração de esforços locais e regionais para a proteção dessas espécies.

Os dados levantados revelaram que, de 2006 a 2010, passaram pelo Cetas/Ibama/AM 29 feli-nos, sendo oito onças-pintadas (Panthera onca), quatro onças-pardas (Puma concolor), dez jaguati-ricas (Leopardus pardalis), quatro gatos-maracajás (Leopardus weidii), dois gatos- mouriscos (Herpailurus yaguaroudi) e um espécime sem registro de identifi-

Natália Aparecida Souza Lima

Analista ambiental do Ibama desde 2003, é graduada em Ciências Biológi-cas e mestre em Botânica pela Univer-sidade Federal de Viçosa (UFV/MG). Lotada na Supes/Ibama/AM – Centro de Triagem de Animais Silvestres (Ce-tas) / Núcleo de Fauna Silvestre (Nufas) –, atua em projetos de manejo e gestão de recursos naturais, educação e fisca-lização ambiental na Amazônia.

cação, estando todos eles na lista de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. A maioria foi destinada a zoológicos e mantenedo-res de fauna silvestre. Nenhum dos 29 animais foi destinado a soltura devido à dificuldade de se realizar esse procedimento com esse grupo animal em função de questões ecológicas, bio-lógicas e comportamentais dos felinos, além da dificuldade de se desenvolverem projetos espe-cíficos de soltura para eles.

Aliás, um dos principais problemas de felinos em centros de triagem é justamente sua destina-ção, pois os locais autorizados a manter esses animais (zoológicos, criadores conservacionis-tas, instituições de pesquisa etc.) já estão com um número muito elevado deles em cativeiro. Normalmente, os felinos passam longos períodos nos Cetas até que se lhes consiga uma destina-ção adequada. Atualmente, o Cetas/Ibama/AM mantém três jaguatiricas, uma delas, há mais de dois anos, aguardando um local para destinação.

no período de 2006 a 2010

Registro de felinos recebidos no Cetas/Ibama/Amazonas

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A espacialização dos dados dos felinos no período estu-dado foi realizada recorrendo-se a técnicas de geoproces-samento, gerando-se mapas temáticos, o que permitiu uma melhor visualização dos municípios de maior e menor ocor-rência. Os dados referentes ao período de 2006 a 2010 foram compilados e sistematizados em banco de dados Excel e o mapeamento dos espécimes foi feita com o uso do softwa-re ArcGis/ESRI. Pelo fato de não se ter a localização exata da captura de cada espécie, optou-se por utilizar a análise espacial por área. No caso, o município foi escolhido para representar a área espacial para geração dos mapas de dis-tribuição dos espécimes registrados.

Abaixo, os mapas gerados com base no levantamento realizado:

Figura 1 – Mapa dos municípios de origem de felinos que passaram pelo Cetas/Ibama/AM no período de 2006 a 2010.

Figura 2 – Mapa dos municípios de origem de onças-pintadas (Panthera onca) que passaram pelo Cetas/Ibama/AM, de 2006 a 2010.

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O levantamento registrou 18 municípios de origem das espécies de felinos que pas-saram pelo Cetas/Ibama/AM (Figura 1), a maioria adjacente à calha dos rios Solimões/Amazonas e Negro. Os municípios com maior número de felinos registrados foram Coari e Presidente Figueiredo, sendo Coari o municí-pio com maior número de onças-pintadas (3) no levantamento (Figura 2).

A situação se revela mais crítica quando se considera que, para cada felino que passou pelo Cetas/Ibama/AM (muitos deles têm his-tórias de vida semelhantes), provavelmente, um adulto foi morto já que, normalmente, os felinos são capturados ainda filhotes após o abate da mãe. Há casos em que os caçadores criam os filhotes como se fossem animais de estimação, não raro, mantendo-os presos com uma coleira; outras vezes, em recintos impro-visados e inadequados. Consequentemente, quando atingem a fase reprodutiva, começam a ter alterações comportamentais, tornam-se mais agressivos, consomem mais alimento e começam a dar mais despesas devido ao alto custo de sua alimentação (carnívora).

No caso dos felinos de grande porte, como onças, passa a haver necessidade de melhores condições para sua manutenção, requerendo-se, para isso, infraestrutura e investimentos financeiros para a construção de recintos seguros. é, muitas vezes, nes-ses momentos que o Ibama é chamado a “resolver” o problema.

Há, também, registros de peles apreendi-das ou entregues (em 2010, foi uma pele de jaguatirica e uma de onça-pintada e, em 2011, uma pele de onça).

Além da caça, outras ameaças acometem esses animais, como a destruição do habitat natural provocada pelo desmatamento e a utilização da terra para agricultura e pecuária, o conflito com fazendeiros, o preconceito e a desinformação. Muitas vezes, a pressão antró-pica das populações do interior do Amazonas, traduzida pela caça de subsistência ou mesmo caça predatória, faz com que a população de animais que seriam naturalmente presas de felinos (tatus, pacas, capivaras, catitus, aves etc.) diminua drasticamente. Isso faz com que haja menos disponibilidade de alimento para os felinos em vida livre, o que os leva a procurar contato com populações humanas

Registro de felinos recebidos no Cetas/Ibama/Amazonas

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em busca de animais domésticos que possam ser consumidos (cães, galinhas, bezerros etc.). Isso, inevitavelmente, traz conflitos entre as populações humanas e as populações de felinos, muitas vezes, acarretando o abate de onças e de médios e pequenos felinos.

Infelizmente, grande parte da população vê os felinos como ameaça, desconhecendo que, como predadores de topo da cadeia alimentar, eles ajudam a regular os outros níveis tróficos e a manter, direta ou indiretamente, o equilí-brio das populações de outros mamíferos e de outros grupos de animais presentes em suas áreas de ocorrência. Em outras palavras, aju-dam no equilíbrio ecológico.

é importante ressaltar que a multa mínima para crimes de captura e abate desses animais é de, no mínimo, R$ 5 mil. Entretanto o flagrante de capturas e abates é difícil, o que dificulta a aplica-

ção das sanções, ainda mais quando se consideram as dimensões do estado do Amazonas e as dificulda-des de fiscalização.

Diante desta realidade, fazem-se necessários o envolvimento e o planejamento integrado de ações no âmbito dos órgãos públicos em suas diferentes esfe-ras (municipal, estadual e federal), das instituições de ensino e pesquisa, da iniciativa privada, da imprensa e da sociedade em geral no sentido de se buscarem caminhos para a conservação in situ e ex situ dessas espécies, especialmente, na região amazônica, onde a ocorrência desses problemas tem sido acentua-da. Ações como gerenciamento de “conflitos” entre gente e felinos em áreas de ocorrência das espécies, campanhas educativas incisivas, apoio a pesquisas científicas sobre a biologia e o comportamento das espécies, implementação de unidades de conserva-ção e ações de monitoramento, controle e fiscalização podem colaborar na mitigação desse problema.

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Manejo florestal e agroflorestal em matas ciliares

Diogo Feistauer

Analista ambiental do Ibama desde 2006, é graduado em Agronomia (2004) pela Uni-versidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialis-ta em Gestão Ambiental em Sistemas Agrícolas (2009) pela Universidade Federal de Lavras (UFLA) e mestrando em Agroecossistemas (2010) pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Evandro Carlos Selva

Analista ambiental do Ibama desde 2005, é graduado em Engenharia Florestal (2002) e mestre em Agricultura Tropical (2005) pela Universidade Fe-deral de Mato Grosso (UFMT).

Augusto Cesar da Costa Castilho

Analista ambiental do Ibama des-de 2005, é graduado em Ciências Biológicas (2003) pela Universi-dade Federal de Mato Grosso (UFMT), especialista em Docên-cia do Ensino Superior (2007) pela Faculdade Afirmativo e mes-tre em Ecologia e Conservação (2005) pela UFMT.

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O manejo florestal sustentável deve servir ao uso continuado dos recursos florestais (madeireiros e não madeireiros), conduzindo-se a exploração contínua no tempo e no espaço sem que haja diminuição dos recursos exploráveis. Esta estratégia baseia-se principalmente na exploração por um período compatível com a regenera-ção dos recursos. Segundo Gama et. al (2005), a garantia da produção contínua de madeira, associada à conserva-ção de florestas nativas como as da Amazônia, pode ser alcançada mediante o manejo florestal sustentável.

A publicação do Código Florestal Brasileiro de 1965 (Lei n.o 4.771/65) – e de suas alterações – fortaleceu a prática da atividade de manejo florestal no Brasil com a institucionalização da reserva legal e o desen-volvimento exclusivo da atividade de manejo florestal neste espaço especialmente protegido da propriedade rural, criando, assim, uma alternativa econômica para a floresta sem a necessidade do desmate.

A Lei 11.284/2006 (VI, Art. 3.o) define manejo flo-restal como a “administração da floresta para a obten-ção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múl-tiplas espécies madeireiras, de múltiplos produtos e subprodutos não madeireiros, bem como a utilização de outros bens e serviços de natureza florestal”.

Silva et. al (2009) apontam que a vegetação exis-tente às margens dos rios (matas ciliares, também denominadas de ecossistemas ripários) promove uma elevada gama de serviços ecológicos essenciais à qualidade ambiental de uma bacia hidrográfica. Os autores consideram esses ecossistemas estratégicos

em termos de conservação ambiental uma vez que sua degradação desencadeia uma série de conse-quências ambientais locais e regionais de ordem hidrológica, perda de solo por erosão e perda de biodiversidade. Portanto o tipo de manejo florestal dado a tais ecossistemas torna-se extremamente relevante à manutenção dos serviços ecológicos prestados pelas áreas de matas ciliares ou de vár-zeas, muito evidentes na Amazônia.

Silva et al (2007) estudaram o tipo de manejo uti-lizado em áreas de matas ciliares de diversas bacias hidrográficas do estado de São Paulo. Segundo o estu-do, apenas 16% das áreas apresentaram a floresta natural remanescente. A maioria das áreas compunha-se de pastagens (51%) de produtos agrícolas e reflo-restamento (22%). Estes dados demonstram que tais áreas não apenas são desconsideradas para o manejo florestal mas também estão sendo degradadas e suprimidas totalmente para o uso agrícola, situações, inclusive, não permitidas pela legislação ambien-tal brasileira (BRASIL, 1965; BRASIL, 1998), salvo em casos excepcionais previstos em lei ou regulamentação específica.

Segundo Allan (2004), o principal pro-blema associado ao manejo inadequado dado à vegetação de floresta natural existente nas margens dos córregos é relacionado com o controle da erosão do solo e com as questões hidrológicas (pro-dução regular de água). Entre os benefí-cios promovidos do manejo das florestas ciliares, estão a formação de corredores ecológicos e a disponibilidade de habitats

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para a fauna (terrestre/aquática), muitos dos quais são dissemi-nadores de sementes florestais (Naiman & Décamps, 1997).

Gama et. al (2005) estudaram diferentes opções de colhei-ta de madeira em bases sustentadas de florestas de várzea e ripárias no estado do Pará, na Amazônia. Foram identificadas mais de 44 espécies arbóreas com DAP acima de 45 cm, entre as quais, 06 comerciais, 10 potenciais e 28 não comer-ciais. Estas últimas, apesar de não serem vendidas comer-cialmente para fins madeireiros, destacam-se pela utilização por parte dos ribeirinhos na construção de casas, barcos e madeira para combustível.

Outra espécie identificada com ótimo potencial foi o palmito de açaí (Euterpe oleracea), que alcançou um potencial pro-dutivo de 772,4 ind./ha. Os autores propuseram um cenário

de manejo florestal que maximize os lucros e, ao mesmo tempo, mantenha a diversidade genética da flora e

da fauna deste ecossistema dentro dos limites ambientalmente aceitáveis. Tal manejo con-

templa a remoção de 30% da área basal de espécies madeireiras, gerando um lucro ao produtor rural de U$ 445,90 por hectare com a madeira em pé e com a colheita do palmito.

De acordo com Naiman & Décamps (1997), inovações no manejo das matas ciliares têm resultado na melhoria de mui-tos aspectos ecológicos relacionados com a qualidade ambiental. Isto porque as matas ciliares desempenham um papel essencial na qualidade dos recursos hídri-cos, na restauração dos sistemas aquá-ticos e na reciclagem de nutrientes da interface de ambientes (aquático/terrestre), além de servir como barreira física e filtro contra erosão, sedimentos e agrotóxicos utilizados nas culturas agrícolas. Para os

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autores, o manejo florestal ideal indicado para as matas ciliares com sustentabilidade em longo prazo seria aquele que imitasse, da melhor forma, o ecossistema natural destas áreas. Para cumprir com este objetivo, os autores sugerem, além do corte seletivo e direcionado do componente florestal, a manu-tenção permanente de vegetação arbórea por, ao menos, dez metros de largura e arbus-tos e árvores formando uma vegetação de, no mínimo, quatro metros de altura total.

Ribeiro et al. (2004) estudaram a potencia-lidade de sistemas de manejo florestal e agro-florestal em áreas de matas ciliares e várzeas no bioma amazônico do estado do Pará. Os resultados indicam um elevado potencial pro-dutivo e econômico dos produtos florestais não madeireiros, principalmente, o açaí (Euterpe oleracea e Mauritia flexuosa) e também os produtos madeireiros pelo uso das espécies arbóreas como matéria-prima na construção de moradias, portos, barcos e lenha.

Os dados são semelhantes aos encontra-dos por Gama et. al (2003), segundo os quais as espécies inventariadas mais importantes para o manejo de regeneração natural de florestas de várzea no estado do Pará, região amazônica, foram a Virola surinamensis, a Euterpe oleracea, a Astrocaryum murumuru, a Geonoma laxiflora e a Guarea guidonia. Os autores indicam o manejo silvicultural que beneficie especialmente o desenvolvi-mento das espécies de Virola surinamensis e Euterpe oleracea, pois são as espécies comerciais mais valorizadas na região do estudo. O manejo florestal de outras espécies não comerciais também agrega valor à flores-ta e fornece madeira, lenha e outros produtos de subsistência para os ribeirinhos.

Portanto o manejo de um ecossistema flo-restal oferece diferentes produtos e serviços às comunidades humanas, podendo ser conduzi-do em diferentes fases de sucessão, asseme-lhando-se a alguns tipos de sucessão florestal ou agroflorestal com espécies não nativas. A composição florística e a estrutura da vegeta-ção são alteradas pelas atividades extrativistas seguindo a noção de resiliência e equilíbrio do ecossistema, ou seja, sua capacidade de retornar à condição original, o que não significa necessariamente sua degradação ambiental (MORAN e OSTROM, 2009 pp. 57-8).

Segundo os autores, a tomada de decisão por parte dos ato-res sociais (agricultores ou agroextrativistas) parte de alguns pressupostos. O primeiro é que eles conhecem (têm informação) profundamente o ecossistema florestal a ser manejado. O segun-do é que cada ator social possui preferências individuais em relação aos produtos a serem manejados. Em terceiro, realiza-se um tipo de cálculo de custo-benefício e viabilidade sobre o uso do recurso florestal (Idem, ibidem, pp. 61-4).

Rocha et. al (2005) estudaram o uso e o manejo das matas ciliares por ribeirinhos no estado do Maranhão e identifica-ram que parte significativa da dieta alimentar dos moradores da região do estudo, principalmente, dos mais pobres e das crianças, provém do manejo florestal das matas ciliares. Entre os produtos não madeireiros, estão o coco, o babaçu, o ingá, o tucum, o marajá, o jenipapo, a juçara, o buriti e o bacaba, além das frutas para a produção de sucos e vinhos. Há também produtos comercializados pelos agricultores, como o palmito, a juçara em caroço, o óleo de andiroba, o azeite de babaçu, a polpa de buriti e o pó de urucum. A extração de madeira é também muito utilizada, sendo que a obtenção de renda em dinheiro é o principal fator para a tomada de decisão sobre o uso deste tipo de recurso florestal.

Apesar da importância das áreas de floresta localizadas nas matas ciliares, pode-se dizer que ainda há pouco incentivo político e econômico na perspectiva do manejo conservacionista. A legis-lação ambiental brasileira limita sobremaneira o manejo florestal e agroflorestal para estas áreas nas propriedades rurais, conduzindo a gestão florestal em conformidade com um sistema de comando e controle (Newman & Loch, 2001).

Apesar de nos últimos anos ter havido certos avanços da legis-lação ambiental brasileira no que se refere a uso e manejo destas áreas florestais, principalmente, pelos agricultores familiares e ribeirinhos (resoluções do Conama n.°s. 425/2010, 429/2011, 406/2009 e 369/2006; instruções normativas do MMA n.°s. 04 e 05/2009), ainda há poucos estudos científicos sobre o manejo sus-tentável desses ecossistemas haja vista sua elevada importância para a manutenção de diversas comunidades rurais que sobrevi-vem destes recursos florestais – seja pela obtenção de produtos (alimentos, produtos madeireiros e não madeireiros) para o consu-mo familiar, seja pela comercialização de excedentes.

Levando-se em conta que um dos objetivos da sustenta-bilidade ecológica é expresso em termos de manutenção da cobertura florestal e da biodiversidade do ecossistema, uma das soluções propostas por Michel Arnold & Ruiz Pérez (2001) é considerar o conhecimento local de forma separada das ques-tões e políticas ambientais globais. Ou seja, avançar da macro para a microescala de análise quando se discutem políticas públicas de manejo e conservação dos ecossistemas florestais.

A ideia é criar mecanismos de proteção que possam ser ado-tados pelos próprios atores locais, com sistema de avaliação e controle compatíveis com o entendimento dos agricultores e

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ribeirinhos, o qual possa estar a seu alcan-ce. Dessa forma, a estratégia pode mudar de um sistema de comando externo para outro com proteção orientada pelo uso e pelo manejo dos recursos florestais, ou seja, com sistemas sustentáveis direcionados para a produção de produtos e serviços dos atores locais que conservem, não descaracterizem, a cobertura vegetal e, da mesma forma, não prejudiquem a função ambiental da área ou dos recursos florestais locais. Esse parece ser um dos caminhos para a melhoria da ges-tão ambiental dessas áreas.

Em pequena propriedade, ou posse rural familiar, não é coerente acreditar que os agricultores, ribeirinhos ou populações tra-dicionais, isto é, os próprios beneficiários, degradem os recursos florestais uma vez que a renda e a sobrevivência das famí-lias provêm justamente destes recursos. Por outro lado, mesmo considerando-se a perspectiva do manejo florestal de zonas ripárias em populações tradicionais (ribeiri-nhos e pequenos agricultores), é notório que a maior parte dos grandes agricultores ou agropecuaristas não dependem (na prática ou na lógica do imediato) de obtenção de recursos em áreas ripárias. A liberação (ou a inclusão) destas no bojo de áreas passíveis de exploração é tão somente o aumento da área explorável para se desenvolver agricul-tura. Consequentemente, há um aumento de demanda dos órgãos ambientais, os quais, sabemos, não dispõem dos recursos neces-sários ao controle efetivo em sua totalidade.

O controle e a fiscalização atual das áreas passíveis de exploração por manejo florestal ou desmate ainda é ineficaz uma vez que, apesar da queda, de forma geral, nos índices de desmatamento, há continuidade de des-mate em áreas onde permanece certa incer-teza da posse da terra e em áreas de terras públicas, notadamente, aquelas sob assen-tamentos rurais. Isso só nos mostra o quanto temos de avançar com responsabilidade e competência sobre as questões agrárias, não só no controle e na fiscalização como também no fortalecimento das instituições federais e estaduais – ou mesmo no desen-volvimento de outras opções de comando, controle e gestão ambiental.

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Fernando da Costa Marques

Graduado em Arquitetura e Urbanismo (1982) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos/RS), é diretor de Qualidade Ambiental do Ibama, onde já exerceu os cargos de superintenden-te no Rio Grande do Sul (2006/2010) e assessor do diretor de Licenciamento em Brasília (2003/2006). Também, foi asses-sor e chefe de gabinete do presidente da Fundação Estadual de Proteção Am-biental do RS – Fepam – (1999/2002) e chefe da equipe de Combate e Controle da Poluição Visual da Secretaria Munici-pal de Meio Ambiente de Porto Alegre (1995-1999). Antes, atuou como profis-sional liberal (RS 1982/1995).

Telefone: (61) 9209-2873

E-mail: [email protected]

A Diretoria de Qualidade Ambientalem 2010

A preservação, a melhoria e a recupera-ção da qualidade ambiental são os princi-pais objetivos da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n.º 6938, de 31 de agosto de 1981), que visa a assegurar, no país, condi-ções ao desenvolvimento socioeconômico e minimizar os impactos diretos e indiretos sobre a qualidade ambiental.

Em 2007, na nova estrutura regimental do Ibama, a Diretoria de Licenciamento e Qualidade Ambiental (Dilic) foi desmem-brada e foram criadas duas diretorias, a Diretoria de Qualidade Ambiental (Diqua) e

a Diretoria de Licenciamento Ambiental (Dilic), com suas respectivas competências.

Nesse contexto, a Diretoria de Qualidade Ambiental foi incumbida de coordenar, controlar, supervisionar, normatizar, monitorar e orientar a exe-cução das ações federais referentes à avaliação e ao controle de resíduos, emissões e substâncias quími-cas, propor critérios, padrões, parâmetros e indicado-res de qualidade ambiental, gerenciar os cadastros técnicos federais de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental e de Atividades Potencialmente Poluidoras ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais e elaborar o Relatório de Qualidade do Meio Ambiente.

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em 2010

Resultados da qualidade ambiental em 2010

O trabalho em equipe foi o desafio principal da Diretoria de Qualidade Ambiental (Diqua) em 2010, quando não só os analistas mas também todos os servidores contribuíram com os resultados positivos para com a instituição e com a sociedade.

A Coordenação Geral de Qualidade Ambiental (CGQUA), além da rotina diária, obteve avanços sig-nificativos no controle de substâncias, nos limites de emissões, na proposição de resoluções, leis, enfim, nas ações que contribuíram significativamente no controle dos impactos ambientais, como:

1. a realização de ciclo de debates, com troca de experiências, compartilhamento, com toda a diretoria, de informações sobre inovações nos setores que geram impacto ambiental – suas atividades econômicas, ações antrópicas;

2. o estabelecimento de duas instruções norma-tivas: IN n.° 4/2010, que estabelece requisitos técnicos e de homologação para sistemas de detecção de deterioração ou falha do equipamento para controle de emissões em motores a diesel (fase PROCONVE-P7); e IN n.° 6/2010, que regulamenta a avaliação de veículos em uso (programas de inspeção e manutenção veicular);

3. a participação na regulamentação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10), especialmente, no que tange à logística rever-sa e à responsabilidade compartilhada;

4. o contato com técnicas para gerenciamento de áreas contaminadas e de elaboração de inventário de gases de efeito-estufa, conheci-mentos estes muito valiosos para a rotina do setor e, principalmente, para a concepção de novos projetos nestas áreas;

5. a utilização do Infoserv, sistema informati-

zado para análise e emissão de Licenças para Veículos Automotores e Motos (LCVM e LCM) que, por meio da internet, diminuin-do o tempo de análise, agilizará o banco de dados e proporcionará um ganho ambiental ao país com o fim do uso de papel nos pro-cessos de licenciamento;

6. a modernização do CTF (Cadastro Técnico Federal): está em andamento a moderniza-ção da gestão do Cadastro Técnico Federal e do Relatório Anual de Atividades, tanto para o usuário interno como para o usuário externo. Foi realizado um seminário com a participação de todas as diretorias e supe-rintendências para realizar um diagnóstico e propor melhorias ao CTF;

7. a assinatura de termo de cooperação técnica e portaria Ibama/Inmetro sobre o ARLA 32, que objetiva a implementação de procedi-mentos para produção, comercialização e fis-calização do uso do aditivo redutor líquido de óxidos de nitrogênio (NOx) no Brasil a partir de 2012. O uso deste aditivo se faz necessá-rio devido a nova tecnologia de controle de emissão que equipará os novos veículos com motores a óleo diesel para atendimento da fase P7 do Proconve (resoluções 403/08 do Conama). Fase P7: novos limites máximos de emissões de poluentes para os motores do ciclo diesel destinados a veículos automoto-res pesados novos, nacionais e importados;

8. a edição de portaria conjunta Ibama/Inmetro para unir o Nota Verde do Ibama, que con-trola as emissões de poluentes, e o Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular do Inmetro, que objetiva permitir que o consumidor com-pare a eficiência energética de veículos (con-sumo de combustível). Tem o objetivo tam-bém de definir novos critérios de fixação do percentual do IPI para veículos automotores, com base em indicador ambiental/eficiência energética em estudo no MF;

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9. a assinatura do termo de cooperação técni-ca Selo Ruído IBAMA/INMETRO para dar continuidade à implementação do programa Silêncio e desenvolver normas, métodos e ações que possibilitem o controle do ruido excessivo que interfere na saúde e no bem-estar da população;

10. a assinatura de termos de cooperação para repasse de TCFA (com 9 estados: BA, MG, SC, RJ, PI), tendo sido encaminhados termos para assinatura de MS e PE e feitos contatos iniciais com GO e RN;

11. a assinatura de termo de cooperação IBAMA/MDIC/DNPM para integração e troca de infor-mações a fim de aumentar a confiabilidade dos dados do CTF;

12. a realização, em conjunto com a ANP, de análise e fiscalização na cadeia regulada de óleos lubrificantes;

13. a ação de combate ao tráfico ilegal de resídu-os, com devolução de 22 toneladas de resí-duos sólidos urbanos à República Tcheca;

14. a publicação da IN 03, de 30 de março de 2010, sobre o controle do Ibama acerca da Resolução Conama 401/2008 (pilhas e baterias);

15. a publicação da IN 01, de 18 de março de 2010, sobre o controle do Ibama para a Resolução Conama 416/2009 (pneus). Desenvolvimento do sistema de relatório de pneumáticos para fins de controle da destina-ção de pneumáticos inservíveis;

16. a análise de 29 solicitações de importação de mercúrio metálico. Movimentação trans-fronteiriça: 126 análises de solicitação de importação, 20 de exportação e 25 de trân-sito de resíduos;

17. a capacitação RQMA:

17.1 confecção do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente/RQMA (lei n.º 6 . 9 3 8 /PNMA) – A Diqua realizou, no período de 28 a 30 de setembro de 2010, trei-namento para promover nivelamento conceitual, definições de proces-sos e instrumentos metodológicos a ser utilizados pelo corpo técnico que atuará na construção do RQMA;

17.2 participação internacional:

● KOREIA: 6° Curso Internacional Especializado em Tecnologias Ambientais: realizado na cida-de de Incheon, Coreia, a convite do Ministério do Meio Ambiente da Coreia, voltado ao con-trole, à mitigação e ao tratamento da poluição de resíduos sólidos, atmosféricos e líquidos (efluentes industriais e efluentes domésticos) e para tecnologias de recirculação de recur-sos por meio de reciclagem, reúso de água da chuva e de água cinza;

● JAPãO: Curso de Reciclagem de Veículos, ministrado pela JICA 20;

● MéXICO: participação na 30.ª Reunião de Composição Aberta das Partes do Protocolo de Montreal;

● PARAGUAI. participação, em parceria com a Receita Federal do Brasil, na reunião sobre Prevenção e Combate ao Comércio Ilícito sobre Substâncias Controladas pelo Protocolo de Montreal;

● TAILÂNDIA: participação na 22ª Reunião das Partes do Protocolo de Montreal;

● SUíÇA: participação na 7ª Reunião do Grupo de Trabalho Aberto da Convenção de Basileia;

● PANAMÁ: Inventário de Mercúrio da UNEP;

18. publicação: 1º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários.

Na Coordenação Geral de Avaliação de Substâncias Químicas (CGASQ), obtivemos, tam-bém, avanços significativos como:

1. portaria conjunta Ibama/Inmetro n.º 01/10, que estabelece critérios para credenciamento, por parte do Inmetro, de laboratórios nacionais e reconhecimento de laboratórios estrangeiros que realizam estudos físico-químicos, toxi-cológicos e ecotoxicológicos para avaliação ambiental de produtos químicos, bioquímicos e biotecnológicos, exigidos pelo Ibama, de acor-do com as BPL (Boas Práticas Laboratoriais);

2. RET II: modernização do Sistema de Registro Especial Temporário de Agrotóxicos (SISRET) para analisar e controlar os requerimentos de registro especial temporário (RET) de agrotóxi-cos, seus componentes e afins;

3. melhora de substâncias químicas: melhorar as condições de avaliação e controle de

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substâncias químicas e produtos perigosos, aumentando a velocidade de resposta quanto à conclusão dos pleitos através de sistema informatizado;

4. agrotóxicos: sistema informatizado para entre-ga e análise de relatórios de controle de impu-rezas de agrotóxicos que permita mais agilida-de na obtenção das informações para o correto gerenciamento dessas substâncias;

5. ação de fiscalização em industrias de agrotóxi-cos no Paraná, em São Paulo e Minas Gerais;

6. n.º de registros agrotóxicos: avaliação de peri-culosidade – 115 avaliações concluídas, sendo 88 deferidas, 16 arquivadas por insuficiência ou inconformidade dos dados e 11 indeferidos. Alterações de registro: 303 concluídas, sendo 271 deferidas e 32 indeferidas. Registro espe-cial temporário de agrotóxicos : 1007 emitidos. Avaliação de produtos remediadores: 12; ava-liações de eficiência para agrotóxicos de uso não agrícola: 7; Avaliações de produtos preser-vativos de madeira: 9;

7. capacitação EUA: curso de capacitação na Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA), por meio de sua Divisão de Efeitos e Impactos Ambientais (EFED), da Diretoria de Agrotóxicos, no período de 1 a 5 de novembro de 2010, em Washington D.C., voltado para avaliação de risco de agrotóxi-cos;

8. participação Internacional: no Grupo de Avaliação Conjunta de Pesticidas e no Grupo da OECD (OECD Working Group on Pesticides and Joint Review Meeting), na França;

9. remediadores: publicação da IN 05, de 17 de maio de 2010, que estabelece procedimen-tos e exigências para o registro de remedia-dores ambientais;

10. publicação: Produtos agrotóxicos e afins comercializados em 2009 no Brasil.

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