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Revista eletrônica nº 6 | Setembro 2015 EDUCAÇÃO INTEGRAL

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Revista eletrônica nº 6 | Setembro 2015

EDUCAÇÃOINTEGRAL

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Editorial“É preciso toda uma aldeia para educar uma criança.”

(Provérbio Africano)

Sem dúvida, cada vez mais, faz-se necessário que o poder público articule diferentes atores sociais para qualificar e garantir uma Educação de Qualidade, em diferentes tempos e espaços educativos.

Nesse sentido, é importante lembrar que a Rede Municipal de Educação de Porto Alegre tem, em sua história, a marca da Educação Integral. Já nos anos 80 foram construídos os CIEMs – Centros Integrados de Educação Municipal – voltados a uma educação de tempo integral. Posteriormente a Rede trabalhou com os “complementos curriculares”, que se constituíam em projetos e atividades desenvolvidas por professores das áreas de Artes, Educação Física e Língua Estrangeira, visando ampliar as vivências e aprendizagens dos estudantes.

Hoje em Porto Alegre – Cidade Educadora – a Educação Integral qualifica os processos pedagógicos e educacionais, no tempo ampliado de permanência dos alunos, em diversos espaços de conhecimento ofertados tanto na educação infantil, quanto no ensino fundamental, seja na sua Rede própria, seja com Instituições parceiras conveniadas. A tônica do trabalho é o desenvolvimento das diferentes dimensões do Ser Humano.

A Qualidade e a Diversidade de ações e propostas serão conhecidas nos relatos, apaixonados e comprometidos, que compõem esta edição da Revista {CONHECER} e que ilustram o rico trabalho de Educação Integral em nossa Rede.

Uma boa leitura!

Cleci Maria JurachSecretária de Educação

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Sumário5 Cidade

EscolaUma proposta de Educação Integral para Porto Alegre

Uma melodia que encanta e transforma: Orquestra Villa-Lobos

Luciano Elias Bruxel Giane Lúcia Santos Silveira Everton Silveira Cecília Rheingantz Silveira

Tecendo aEducação Integral

na EMEF Décio Martins Costa

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12Jussara Bernardi

32Projeto Cidade Escola:

Equipe do Cidade Escola da SMED

Equipe do CESMAR

parceria a serviço da transformação social

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Integralização EMEF José Mariano Beck: “INTEGRA-AÇÃO” para um Mariano maior e melhorJaques Buzatto de Oliveira Cleiton Bittencourt Barazzutti

Associação Beneficente AMURT-AMURTEL

Educação em Tempo Integral: trajetórias da EMEF Professora Ana Íris do Amaral

Maria Elaine Pilz Evelise Antonello Cardoso da Silva Marilice Claus Eliana Zouain Campos Alibio Mauro Guilherme Riegel Cláudia Viola Matzenbacher Cleuza Iara Campello dos Santos Ângela Natalina Tonon Lourenço Maria Leonor Prates Araújo Silva Marilaine Amaro Chaves Maria Luci de Mesquita Prestes

Educação Integral na Educação Infantil de Porto AlegreEquipe de Educação Infantil da SMED

Educação Integral na EMEF Chapéu do Sol: o nascimento de um sonho

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Das utopias Se as coisas são inatingíveis... ora!Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não foraA presença distante das estrelas

(Mario Quintana, Espelho Mágico, 2005)

Somos uma sociedade que se movimenta, agrega e desperta para constantes mudanças. Em especial, as cidades com sua gente, seus fazeres, suas expectativas e seus conhecimentos estão descobrindo novas formas de viver, de pensar, de criar outros saberes e outras interações. A educação é precursora destas transformações. Alargar os espaços do aprender e do ensinar supõe repensar a nossa cidade e redimensionar as práticas educacionais e pedagógicas das escolas municipais. Na busca de uma educação abrangente, deparamo-nos com o desafio da Educação Integral. A ideia de uma escola que contemple os alunos em suas pluralidades remonta a um passado com antecessores que olhavam com o mesmo desvelo para os estudantes.

Cidade Escola Uma proposta de

Educação Integral para Porto Alegre

Equipe do Cidade Escola da SMED

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A Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre tem, na sua trajetória, a marca da Educação Integral. Inicialmente foram construídos Centros Integrados de Educação Municipal, os CIEMs, visando a implementação de uma escola de tempo integral. Esta iniciativa teve continuidade com os projetos ou atividades complementares, com professores da RME, nas áreas da Educação Física, Artes e Línguas Estrangeiras. Durante muito tempo estas atividades ou complementos curriculares foram oferecidos aos alunos como forma de ampliar suas experiências escolares.

Mais tarde com o objetivo de implementar uma escola em tempo integral com o conceito de Educação Integral iniciou-se uma discussão administrativa-pedagógica que oportunizou a implantação do Projeto Cidade Escola numa perspectiva que extrapola o espaço escolar. Neste momento a escola escolhida foi a EMEF Neuza Goulart Brizola, localizada no Bairro Cavalhada. Atualmente a Educação Integral é realidade em todas as Escolas de Ensino Fundamental com percentuais diferentes, sendo quatro totalmente integralizadas.

Desde sua implementação, o Projeto Cidade Escola concretizou a Educação Integral em Porto Alegre e viabilizou aprendizagens necessárias às crianças e adolescentes da Rede Municipal de Ensino, por meio da ampliação das horas dos alunos nas escolas ou nas instituições conveniadas, para além da escolarização. Essa ampliação das horas oportuniza ações que refletem sobre as aprendizagens da infância e da adolescência na relação com seus tempos, seus grupos e suas relações sociais, suas trajetórias e seus processos formativos. Ações referenciadas nas políticas e legislação educacionais federais e municipais, LDB - Lei nº 9.394, de 23 de dezembro de 1996, a Lei Orgânica do Município, de 03 de abril de 1990, Art. 179/§ 2º, o Decreto nº 7.083 de 27 de janeiro de 2010 e a Lei nº 13.005, de 25 junho de 2014, que aprovou o Plano Nacional de Educação para o decênio 2014-2024 e a Lei nº 11.858, de 25 de junho de 2015, que Institui o Plano Municipal de Educação (PMEPOA) para o decênio 2015-2025.

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Com o objetivo de consolidar a Educação Integral na Rede Municipal de Ensino, a SMED publicou a Instrução Normativa 01/2015*, no Diário Oficial de Porto Alegre, em 06 de janeiro de 2015, a qual dispõe sobre os procedimentos relativos à ampliação da jornada escolar e à oferta de Educação integral nas Escolas de Ensino Fundamental da RME e dá outras providências, tema deste texto.

O espaço no Projeto Cidade Escola extrapola o condicionante geográfico e físico. Assim, a aprendizagem não está vinculada, estritamente, a um delimitador de experiências que só ocorreria no espaço físico de cada escola. Esse espaço se abre a ações no turno inverso da escola, ou em outros espaços culturais e de aprendizado da cidade. Neste sentido, Porto Alegre tem buscado alternativas para implementar com qualidade esta política. Uma possibilidade encontrada foi conveniar as instituições com trabalho reconhecido na área educacional.

A jornada escolar ampliada, a partir da concepção da Educação Integral, objetiva vincular as experiências dos estudantes aos diversos locais e tempos da cidade. As ações do Projeto promovem uma rede integrada e múltipla que propicia a construção do conhecimento e a formação integral deste aluno a partir de serviços e de uma política pública que contemplam as práticas educacionais e sociais das escolas em suas inserções na sociedade, ocupando campos de futebol, museus, teatros, ginásios de esportes, instituições conveniadas, associações de bairro, cinemas entre outros. São espaços diferenciados, ricos em oportunidades, que propiciam aos alunos vivências singulares àquelas vivenciadas na escola.

As escolas interagem com as instituições conveniadas, adequando o espaço escolar para as atividades com educadores, ou proporcionando ao aluno o deslocamento para os espaços oferecidos pelos convênios. Estes são espaços qualificados, com educadores sociais e o olhar atento dos professores e dirigentes destas instituições. Da mesma forma ocorre uma supervisão pedagógica e administrativa pela Smed.

*Para conhecer a Instrução Normativa 01/2015 na íntegra:http://dopaonlineupload.procempa.com.br/dopaonlineupload/1310_

ce_20150108_executivo.pdf p.21

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Universalizar a educação significa incluir com qualidade, observando as potências de cada aluno e de cada comunidade, sem excluí-los do processo, percebendo-lhes as capacidades, incentivando-os para novas possibilidades. A proposta de Educação Integral da SMED estimula o protagonismo de crianças, adolescentes, famílias e comunidades nas ações desenvolvidas nas escolas. Estas ações buscam a constituição de um projeto educativo integrado, pois prevê a constituição de um currículo de escola de tempo integral focado nas necessidades e expectativas da infância e da adolescência, e objetiva, ao manter o aluno por mais tempo nos espaços educacionais, garantir o processo de inclusão, de permanência, de efetiva aprendizagem e de conclusão do Ensino Fundamental na idade prevista.

Além de contemplar a escolarização de forma integral, propomos repensar a possibilidade de aprendizagens que contemplem o ser humano na sua totalidade e na sua complexidade. São pensados, organizados e implementados projetos que extrapolam as fronteiras das escolas nas áreas de:

Alfabetização, Letramento, Matemática, Robótica, Educação Ambiental,

Diversidade Cultural e Racial, Música, Alfabetização

Audiovisual e Direitos Humanos.

Letramento e Numeramento ocupam um lugar de destaque nesta organização, uma vez que um terço deste tempo ampliado destina-se a estas áreas. No entanto, este trabalho deve ser desenvolvido com ênfase no lúdico.

Outros projetos motivam e mobilizam nossos alunos, levando-os em torneios e viagens de reconhecimento pelos trabalhos desenvolvidos. No esporte, há a participação dos alunos em campeonatos de tênis, que se constituem em novos olhares para a perspectiva da inclusão. Yoga e xadrez, igualmente têm sido desafios constantes para os educandos que participam, não somente dos jogos, mas complementam seus processos cognitivos através de regras, de enfoques que permitem interação entre os jogadores, respeitando princípios de convivência.

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O aluno, sujeito de direito e foco do processo educacional, além do aprendizado qualificado, poderá expandir os saberes para as comunidades e os familiares. Deste modo, todos poderão se sentir incluídos e contemplados nas práticas educacionais. A presença das comunidades é garantida a partir da participação de todos os segmentos da comunidade escolar na elaboração, implementação e avaliação do Projeto Político Pedagógico. O PPP é o documento no qual estão expressos todos os movimentos, ações e concepções pedagógicas das escolas municipais. Este documento define a função social da educação e orienta a ação pedagógica de cada instituição, ao contemplar as especificidades de cada comunidade escolar e articular seus projetos, concebendo a escola em sua integralidade e dinâmica de espaços e tempos. A Educação Integral, obrigatoriamente, deve ser parte do Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada escola.

É importante ressaltar a aceitação das famílias à proposta de Educação Integral, pois esta estimula a adesão e frequência das crianças e dos adolescentes nas atividades promovidas em escolas e instituições conveniadas. Para esta articulação ocorrer efetivamente são organizados encontros, reuniões com as famílias nas escolas e visitas às instituições, para amplo conhecimento das ações de integralização.

Da mesma forma, a política de Recursos

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Humanos articula ações de promoção da Educação Integral. Para atender a esta demanda todas as escolas de Ensino Fundamental têm no seu quadro de RH o Coordenador do Projeto Cidade Escola, com carga horária específica para esta finalidade. A Secretaria disponibiliza, também, professoras com carga horária de 40 h, para turmas integralizadas de 1º Ciclo, pois entende que a criança estabelecerá um vínculo afetivo e efetivo com mais propriedade. A integralização das turmas do 1º Ciclo constitui-se uma iniciativa para priorizar o atendimento dos estudantes já nos anos iniciais de escolarização com a intenção de criar o hábito nesta fase e também potencializar sua aprendizagem, especialmente o Letramento/Alfabetização e Numeramento. São disponibilizadas, ainda, horas para projetos pedagógicos aprovados pela escola e avaliados anualmente pela Secretaria e organizados espaços para a formação dos educadores dos convênios e dos professores das escolas.

O financiamento para a Educação Integral ocorre por meio da autonomia financeira e cada escola recebe trimestralmente um valor per capta por aluno integralizado. Este recurso é planejado pela escola na compra de materiais pedagógicos destinados às múltiplas atividades previstas.

Outra iniciativa de extrema relevância é a mudança na alimentação escolar. Cada aluno recebe cinco refeições diárias: café, lanche da manhã, almoço, lanche da tarde e janta. Elaboradas por pessoal qualificado, conforme critérios nutricionais com supervisão de nutricionista e de técnicos de nutrição.

O que foi, a princípio, uma caminhada cautelosa consolidou-se na união dos esforços e nas articulações, oportunizadas por esta Secretaria. Agrega-se a isto a eficiência com que os professores e educadores dinamizam o processo de inclusão e de universalização da educação. Reportamo-nos aos protagonistas, que somos todos nós, para enfatizar que é também por meio da educação e com as suas possibilidades que poderemos pensar em um mundo mais justo e solidário.

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O ensino e o direito à educação, os conhecimentos e as aprendizagens, se potencializam nas conexões do poder público, da sociedade, das comunidades, das famílias, dos estudantes e dos professores. É na constituição desta rede de pessoas e instituições que os projetos de integralização educacional, em especial, se efetivam e buscam uma escola menos excludente, mais acolhedora e que contribua na formação integral de nossos estudantes.

A Educação Integral trouxe de volta a emoção de vivências surpreendentes para crianças e adolescentes das Escolas Municipais de Ensino Fundamental. O toque de uma tecla de piano, o dedilhar de uma corda de violoncelo, o saque com uma raquete de tênis, o deslizar de um taco de hóquei, o contato da sapatilha no linóleo, o foco na lente da câmera. E o mais importante, trouxe a estes estudantes a confiança na sua capacidade de aprender, pois é a aprendizagem de nossos alunos a razão primeira de todo o trabalho desenvolvido.

ReferênciasBRASIL, Lei nº 13.005, de 25 junho de 2014, que aprovou o Plano Nacional de Educação/PNE, 2014.BRASIL, Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, MEC, 2013.BRASIL, Decreto nº 7.083, de 27 de janeiro de 2010.BRASIL, Lei nº 9.394, de 23 de dezembro de 1996.PORTO ALEGRE, Lei Orgânica do Município, de 03 de abril de 1990, Art. 179/§ 2º.PORTO ALEGRE, Lei nº 11.858, de 25 de junho de 2015, que institui o Plano Municipal de Educação de Porto Alegre, 2015.

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Uma melodia que encanta

e transforma: Orquestra

Villa-LobosLuciano Elias Bruxel

Giane Lúcia Santos Silveira Everton Silveira

Cecília Rheingantz Silveira

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Queremos neste artigo coletivamente contar como tudo acontece na relação que se estabelece entre a Orquestra, oficinas de música, a Escola, a região da Mapa e Lomba do Pinheiro, o convênio entre ICSFA-CPCA* com SMED e o lugar que um projeto de tal relevância ocupa dentro da educação integral, no Projeto Cidade Escola.

Tudo começou em 1992, nas aulas da professora de música da escola, Cecília Rheingantz Silveira, que empenhou muito trabalho, confiança e dedicação ao grupo de flautas doce da época que, somados a vários outros instrumentos, vem a ser hoje a magnífica Orquestra Villa-Lobos. Poucos sabem quanto trabalho e articulação existem para que se realize um trabalho artístico de tamanha qualidade.

A inspiração na realidade

* O Centro de Promoção da Criança e do Adolescente São Francisco de Assis é mantido pelo Instituto Cultural São Francisco de Assis da Ordem dos Frades Menores do Rio Grande do Sul (OFM).

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Heitor Villa-Lobos é o nome da Escola Municipal de Ensino Fundamental da Vila Mapa, zona leste de nossa capital. A Vila Mapa, na Lomba do Pinheiro, é um lugar típico da periferia de Porto Alegre, que acolheu muita gente simples do interior do estado do Rio Grande do Sul, como também dos deslocamentos populacionais decorrentes dos processos de estruturação desordenada do mundo urbano. Tal comunidade foi crescendo com muitas dificuldades e com os problemas comuns às regiões mais pobres do nosso País. Rotineiramente, ela é notícia nos meios de comunicação seja pela falta de infra-estrutura pública adequada, seja pelo elevado índice de violência. O próprio projeto Orquestra Villa-Lobos desempenha um papel importante dentro dessa relação de proteção e diminuição dos índices de violência e já viveu lutos pela juventude. Também tem muitas histórias de superação e transformação que precisam ser contadas.

Surpreende a todos, positivamente, o nome da Escola Municipal. Lá no início, quando a fundaram, com toda certeza, muitos da comunidade nem sabiam quem era o Heitor Villa-Lobos – grande maestro brasileiro, prestigiado e reconhecido em salas de concerto de grandes centros mundiais e mesmo que em sua obra o folclore e as manifestações populares da cultura brasileira estivessem muito presentes, sempre foi pouco conhecido nos meios populares. Infelizmente, vivemos em um país no qual a arte, em todas as suas diferentes expressões, sempre foi acessada por aqueles com maior poder aquisitivo. Que bom que o Villa-Lobos chegou à Vila Mapa, na Lomba do Pinheiro, e muita gente simples hoje o conhece, também pela Orquestra Villa-Lobos.

A parceria do CPCA

O CPCA entra nessa bonita história em 2006, em um momento de dificuldade que passava a Escola em executar as oficinas de música que davam sustentação para a constante renovação da orquestra. Na época, a professora Cecília procurou a instituição, que já tinha uma experiência de apoio a ações socioeducativas, para ser parceira neste trabalho. Primeiro com a execução, por doze meses, de um projeto com o Ministério da Educação, depois, mais um ano, com o apoio do projeto Criança Esperança (Rede Globo e UNESCO). Ainda havia uma constante insegurança na manutenção do projeto. Já na época atendíamos mais de trezentas crianças e adolescentes em formação musical. Naquele momento intensificamos com a Secretaria Municipal da Educação, uma discussão sobre a relevância deste trabalho e o quanto seria importante que esta possibilidade de formação musical pudesse sair dos limites da Escola Villa-Lobos para outras escolas e espaços da comunidade, garantindo o acesso a educação musical e com tudo o que ela traz. E foi o que aconteceu ao longo dos anos através dos aditamentos de convênio. Graças à sensibilidade e o reconhecimento da Secretaria da Educação, em valorizar o potencial da música como uma ferramenta educativa de integração social e de promoção humana, contribuindo decisivamente no processo de desenvolvimento integral dos envolvidos.

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Nas casas de atendimento socioeducativos da Sede, da Casa São Francisco e da Casa Santa Clara são oferecidas oficinas de

Flauta Doce; Gaita Ponto; Grupo de Cordas;

Iniciação Musical; Percussão; Samba e Pagode;

Sócio-musical; Violão; Viola, Violino e Violoncelo.

A diversidade musical

Hoje, através do Projeto Orquestra Villa-Lobos, oferecemos, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Heitor Villa-Lobos, as oficinas de:

Cavaquinho; Contrabaixo elétrico;

Coral Adulto e Infanto Juvenil; Expressão Corporal; Flauta Doce;

Piano; Percussão; Prática de Orquestra;

Teoria e Percepção Musical; Violão; Viola;

Violino e Violoncelo.

Nas Escolas Municipais de Educação Infantil, na Maria Marques Fernandes, Vila Mapa II, na Vila Nova São Carlos são desenvolvidas as oficinas de

Musicalização Infantil.

Elemento importante na proposta é a questão multicultural que se apresenta por meio do diálogo dos elementos culturais diferenciados da música erudita, popular e folclórica em âmbito local e universal. Por isso a variedade tão grande de oficinas. O repertório musical, ponto de partida de todo o trabalho, é eclético e parte de referências estéticas que, de certa forma, rompe com padrões estabelecidos, estratificados e conceituais da música orquestral européia. Nesta visão, a educação musical de qualidade destinada às classes populares estaria exclusivamente atrelada à reprodução destes padrões eruditos. Como se a boa música também não existisse no âmbito popular e não fosse também uma necessidade formar musicistas competentes para este meio. A Orquestra Villa-Lobos vem quebrar esta lógica, não se restringindo apenas à formação da música sinfônica. O trabalho desenvolvido no projeto, mais do que isso, cumpre uma função catalizadora e aberta à criatividade e a inovações. Destaque para os arranjos inéditos, elaborados pelos educadores-músicos do projeto, em que, por exemplo, pandeiro dialoga com violoncelos, violinos com tamborins e flautas doces com cavaquinho e piano. Nada de tão excepcional, mas de muito significado e que legitima este trabalho como uma referência em educação musical em todo o país.

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O número de educandos por oficina varia conforme a metodologia empregada, considerando as especificidades de cada instrumento musical e o processo de aprendizagem individual e de grupo. Assim, temos seis oficinas que fazem atendimento individualizado, até grupos com mais de 40 (quarenta) participantes. A média de atendimento mensal, reunindo as escolas e as casas socioeducativas em meio aberto, fica entre 950 (novecentos e cinquenta) a 1100 (mil e cem).

Todo esse trabalho é realizado por um conjunto de educadores musicais de alto nível que contam com apoio de inúmeros monitores que auxiliam na formação das diferentes modalidades de oficinas. É importante ressaltar que alguns inclusive são oriundos do próprio projeto e toda esta experiência vivencial ajuda-os a ter uma maior sensibilidade e competência metodológica para trabalhar nesta área tão especifica. A coordenação e regência estão a cargo da professora Cecília Rheingantz Silveira que é a grande idealizadora do Projeto Orquestra Villa-Lobos. A organização das oficinas, da agenda, dos concertos, do repertório e dos espetáculos é realizada de forma profissional e responsável pela Professora Cecília.

A espiritualidade

O CPCA é uma entidade banhada pela Espiritualidade Franciscana. São Francisco de Assis é nossa inspiração, ensinou-nos a amar aos mais pobres, àqueles que têm menos espaço, valorização e reconhecimento na sociedade. São Francisco de Assis queria fazer a vida brilhar em todos, promovendo assim a paz, o bem e a integridade da criação. É por isso que na missão institucional do CPCA está o reconhecimento da sacralidade do ser humano, independente do seu credo, dedicando todo cuidado e reverência a cada ser humano e a toda criação. Nossa entidade tem priorizado, em seu leque de projetos e ações, investir energia em tudo que promova a vida, o desenvolvimento integral e a promoção de uma cultura de paz. Nós reconhecemos que este projeto, por vários motivos, torna-se uma potente ferramenta para alcançarmos esses objetivos, principalmente em nosso contexto atual de mundo, de periferia, de fragilidade no âmbito das relações interpessoais, com tanta falta de limites e de rupturas na convivência humana.

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A música

O objeto de toda a ação do Projeto Orquestra Villa-Lobos é a música.

E a música faz bem à alma! É capaz de nos arrancar, mesmo que por alguns momentos, do sufoco do aqui e do agora de nossas vidas. Ajuda-nos a fazer uma experiência de transcendência. Por que ela tem força de educar nossa sensibilidade e

nossa percepção estética. A beleza da arte nos auxilia no equilíbrio e na harmonia. É um fator de integração social, de inclusão e de reconhecimento. A música, como elemento de integração e fortalecimento de vínculos, é talvez uma das ações mais significativas que as oficinas produzem. Essa perspectiva de arte vincula-se à política estabelecida pelo SUAS (Sistema Único de Assistência Social) que tem sua centralidade no fortalecimento dos

vínculos familiares e comunitários. Este foco da assistência alinha-se bem com a perspectiva de uma educação integral, posto que também é desafio da educação estabelecer a socialização e a convivência no exercício do respeito mútuo, criando as condições necessárias para um desenvolvimento cognitivo nas diferentes áreas do conhecimento e também – e talvez principalmente – na formação dos valores da pessoa humana.

A educação musical na escola A educação musical implementada na escola, e que serve de base para as demais ações pedagógico-musicais do projeto, brotou do principal

traço cultural da comunidade. A Vila Mapa carrega tradicionalmente uma ligação estreita com a música, principalmente com o carnaval. Os sons das batucadas ecoam pelas esquinas e invadem o pátio e os corredores da escola. Em meio a tantas adversidades da vida da comunidade, era fundamental perceber o valor agregador da arte. A música constituiria a ponte necessária ao estabelecimento do processo dialógico entre escola e comunidade, possibilitando a essa a construção de uma nova identidade. A musicalidade surgia da vivência nas ruas. Na escola, ela se potencializaria com intencionalidade metodológica, oportunizando o acesso ao conhecimento musical e interagindo com os elementos da cultura local. O diagnóstico educativo indicava a aposta no potencial das crianças e jovens da comunidade, propondo um trabalho pedagógico e artístico intenso e contínuo que viria a agregar novos e diversificados saberes.

O foco principal do projeto, desde seu início, é o prazer em fazer música em grupo, considerando que a prática musical é prioritária para que o aluno possa compreender e elaborar os conceitos musicais e, ainda, desenvolver a sensibilidade, a percepção e o senso de coletividade. Desta forma, a metodologia parte de princípios da educação musical que agrega à prática pedagógica, aspectos da sociologia e psicologia da música, em todas as suas dimensões estéticas e criativas. Entre eles, a importância do educador aproveitar as experiências musicais do cotidiano do aluno e conceber o conhecimento como algo dinâmico, construído a partir de trocas de saberes, proporcionando condições para que o aluno compreenda o que se passa no plano da expressão e no plano do significado quando ouve ou executa música.

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O fortalecimento dos vínculos

Aqui tem algo transformador que as oficinas de música produzem e que talvez venha responder a uma necessidade da educação e que está no cerne dos serviços de apoio socioeducativo: criar vínculos de uma forma leve e agradável, mas, sobretudo, duradouros e consistente. A atividade musical em grupo amplia o campo de possibilidades da expressão pessoal e coletiva, auxiliando no desenvolvimento da comunicação interpessoal, percepção, coordenação psicomotora e concentração, do fortalecimento da identidade pessoal e cultural, do reconhecimento da alteridade e respeito à diversidade. O processo de educação musical – ao trabalhar naturalmente a sensibilidade, o ritmo, a harmonia, a melodia – vai fazendo com que gradativamente a criança internalize regras, no gozo de dominar um instrumento e de fazê-lo em grupo, ela experimenta um processo de socialização fantástico. Essa socialização vivida no processo de formação musical é altamente exigente por um lado, por outro, é altamente prazeroso pelo resultado final. Esta transformação trabalha muitas dimensões do ser humano, o que com toda certeza ajuda no desenvolvimento das estruturas lógicas internas de cada um e também na elaboração de novas atitudes frente ao inusitado que são as relações interpessoais. Entendemos que hoje se consome muita energia na administração de conflitos, na construção do cuidado com os espaços físicos, nos processos de aprendizagens defasados. Temos professores e outros profissionais da educação em estresse emocional, que afeta o seu desempenho profissional e o resultado do seu trabalho. Entendemos que um dos problemas da educação está na fragilidade dos vínculos entre alunos e professores, principalmente quando o aluno vem de um grupo familiar cujas relações estão fragilizadas. Por força das circunstâncias, o modus operandi da escola tem se pautado com a família muitas vezes por meio de uma agenda e pauta negativas. Os responsáveis são chamados à escola para escutarem pareceres sobre seus filhos que, muitas vezes, são negativos ou não bem interpretados pelo grupo familiar, fazendo com que a relação aluno-escola-professor-família fique cada vez mais fragilizada.

Por outro lado, temos tido a alegria em perceber o orgulho e a felicidade dos pais em assistir seus filhos nas diferentes apresentações artísticas, de modo especial da Orquestra Villa Lobos, dos diferentes grupos e espaços onde acontecem as oficinas. Aqui com certeza acontece um fortalecimento da auto-estima dos educandos e da própria família que também sai mais forte em seus vínculos, o que podemos chamar de uma intervenção de agenda positiva.

O êxito do trabalho também se confirma na produção demais de mil concertos

(capital, interior do RS, Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, Salvador/BA, João Pessoa/PB, Córdoba/Argentina e Montevidéu/Uruguai)

para público superior a 230 mil pessoas,

assim como pela conquista de menções importantes como:

PRÊMIO ARTÍSTICO LUPICÍNIO RODRIGUES, da Câmara Municipal de Porto Alegre; TROFÉU DE DEFESA DE DIREITOS HUMANOS NO RIO GRANDE DO SUL pela UNESCO/Assembleia Legislativa/Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho; PRÊMIO LÍDERES & VENCEDORES, concedida duas vezes pela Federasul e Assembleia Legislativa do RS, como Destaque Comunitário (2009) e Referência Educacional (2013); CERTIFICAÇÕES PELO MINISTÉRIO DA CULTURA, COM O SELO PRÊMIO CULTURA VIVA E PELO PRÊMIO ITAÚ UNICEF DE 2011, como iniciativa reconhecida pelo seu caráter inovador e impactante na vida da comunidade; PRÊMIO EDUCAÇÃO SINPRO – RS 2013; e o maior reconhecimento da música gaúcha, o PRÊMIO AÇORIANOS DE MÚSICA COMO MENÇÃO ESPECIAL (2009) e indicação de melhor DVD, espetáculo e arranjadores (2013).

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Uma outra possibilidade

Não é só a autoestima e o vínculo que favorece uma vida plena, pois muito nos tem preocupado a violência urbana que, como sabemos, tem muitas razões, uma delas, muito bem argumentada pelo renomado especialista no fenômeno, Dr. Luis Eduardo Soares, que com muita fineza nos mostra que um dos principais fatores que aumentam a violência em nossa periferias é o sentimento de menos valia, de invisibilidade vivido por muitas crianças, por adolescentes e por jovens que não encontrando um viés positivo de reconhecimento social, vão emergir no seu grupo social pelo negativo.

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A pulsão da agressividade assim vista, nas formas de expressão violenta, desde a verbal, desde ao ataque físico, podem muitas vezes ser um grito, um apelo à existência. Nós que atuamos na educação, em projetos sociais, sabemos o quanto muitas crianças agressivas, com o comportamento fora do padrão são o centro de muitas conversas nas salas dos professores, nos serviços de orientação e supervisão pedagógicas e na própria direção. Estas crianças passam a existir muito pelo negativo. As atividades artísticas não resolvem de todo o problema,

mas em muitos casos torna-se o espaço saudável do reconhecimento, do existir pelo positivo. Como disse o próprio Luis Eduardo Soares aqui em Porto Alegre: “nós precisamos fazer que cada criança tenha seu palco, seu reconhecimento”. Quando isso acontece, tende a baixar a violência e agressividade. Esta mesma constatação nos vem do teórico da CNV- Comunicação Não Violenta, Marshall Rosenberg. Ele afirma que toda violência esconde necessidades não atendidas, uma das mais importantes é a do reconhecimento, do

sentir-se valorizado. Por outro lado, Lena Vania Pinheiro releva que a arte é um dos elementos essenciais na constituição da sociedade, sendo instrumento essencial para o desenvolvimento da consciência humana. Diz ela que “a convergência do trinômio arte, educação e sociedade pode sustentar a formação individual e social, norteadora da consciência e propulsora da inclusão social.” (PINHEIRO, 2005, p.54)

PINHEIRO, Lena Vania. Educação da sensibilidade - informação em arte e tecnologias para inclusão social. Inclusão Social, Brasília, v.1, n.1, p. 51-55, out/mar 2005.

Por fim, participar do Projeto Cidade Escola – SMED, desta ação

integradora de tantas entidades, com iniciativas diversificadas que

passa pelo esporte, dança, teatro, música e muito mais, enriquece nossa

instituição e engrandece nossa cidade. Esta integração de escolas públicas

municipais com entidades comunitárias no esforço de construir uma

educação integral, com certeza, tem construído sig nificativos processos

de transformação da vida de muitas crianças, adolescentes, bem como

suas famílias, fortalecendo nossas comunidades. Hoje a Vila Mapa na

Lomba do Pinheiro pode demarcar um antes e um depois do projeto,

nossas comunidades são muito fortalecidas pela promoção da arte, da

música e de tudo o que ela nos traz.

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Tecendo aEducação Integral

na EMEF Décio Martins Costa

Jussara Bernardi

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Conceber a escola como um ambiente educativo sócio-cultural de tempo integral, significa instituí-la como um espaço que ofereça mais tempo para a construção do conhecimento, oportunizando o desenvolvimento de habilidades artísticas, expressivas e criativas através de atividades diferenciadas. Um ambiente que objetive o crescimento pleno do aprendiz.

O ensino integral precisa ser entendido como equalização inestimável de oportunidades de vida e melhoria de aprendizagem para todas as crianças e adolescentes. Conforme Yus (2002), a educação integral objetiva a ampliação de todas as potencialidades humanas: intelectual, emocional, social, física, artístico-estética, criativa e espiritual.

Instituir a Educação Integral como formação do homem, em todas as suas dimensões biopsicossocioculturais, exige uma composição de estratégias e alternativas políticas e pedagógicas que visem reestruturar o modo de funcionamento das instituições educativas, com o objetivo de colocá-las a favor da inclusão e da formação integral das crianças e dos adolescentes.

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Décio

Martins Costa pauta sua ação educativa a partir do

Projeto Político Pedagógico, fundamentando nos

princípios da universalização de igualdade de acesso,

permanência e sucesso, da obrigatoriedade da Educação

Básica e da gratuidade escolar. Preocupando-se não apenas com a permanência do aluno

na instituição educacional durante o dia todo, mas com

a realização de atividades que possibilitem a aprendizagem e a ampliação de competências inerentes ao desenvolvimento

da cidadania.

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Para iniciar este relato de experiência sobre a implantação da Educação Integral na EMEF Décio Martins Costa, apresento uma imagem muita significativa do trabalho realizado pelo Projeto LIAU que, além de ilustrar o poema acima de Rubem Alves, revela uma nova configuração dos espaços escolares planejados para acolher os estudantes que permanecem na escola em turno integral; uma sala de aula ao ar livre.

O espaço educativo é um componente fundamental no processo de construção do conhecimento devendo ser elemento de atenção na relação dinâmica entre aprendizes e ambiente. Portanto, as questões pertinentes à interação entre espaço físico, atividades pedagógicas, comportamento humano, devem ser consideradas prioritárias no processo de implantação da Educação Integral.

O planejamento, a reestruturação e a composição dos espaços destinados ao atendimento dos estudantes que permanecem em turno integral é um desafio constante a ser vencido pelos professores, gestores e coordenadores pedagógicos, uma vez que a escola atende atualmente 1022 alunos em turno regular, divididos em turnos manhã e tarde, ocupando a totalidade de salas de aula existentes na escola.

Entrelaçando os fios e desafios do trabalhoHá escolas que são gaiolas e há escolas que são asas.Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do vôo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-los para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em voo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o voo, isso elas não podem fazer, porque o voo já nasce dentro dos pássaros. O voo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado. Rubem Alves

Monitores e professora do Projeto LIAU

A preocupação por incluir áreas livres, parte ensolarada, parte sombreada, existentes na escola e, ao mesmo tempo, criar um ambiente apropriado para o desenvolvimento das atividades dos projetos da Cidade Escola, levou em consideração as condições físicas e ambientais de cada espaço. Considerando que a harmonia ambiental: condições térmicas, luminosas e acústicas interferem significativamente no bem-estar e no aproveitamento didático dos alunos que estejam nesses ambientes.

Por outro lado, garantir o direito à educação de qualidade, na atualidade, vai além da sala de aula. Não podemos pensar, organizar e vivenciar a Educação Integral com a ideia milenar de constituição de sala de aula, um atrás do outro, quadro e professor à frente. Assim, como a diversificação das atividades oferecidas, demanda outros espaços de trabalho para professores e alunos.

Da mesma forma, existe a inquietação latente com a qualificação do tempo vivido pelos educandos em sua permanência na escola, denotando que, mais que a ampliação quantitativa do tempo, também se objetiva dar significado às novas vivências escolares dos alunos. A ampliação da jornada escolar instiga à reflexão em relação ao tempo destinado para a aprendizagem e não, somente, ao tempo proposto para o ensino.

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Os retalhos da colchaA EMEF Décio Martins Costa vem oferecendo a Educação Integral desde 2010. Atualmente os alunos são atendidos através dos Projetos Cidade

Escola (FECI, LIAU, CORAL, LENUM e DANÇA) e pelo projeto piloto da Escola de Educação Integral (Turma JA1, A14 e A21). Abaixo descrevemos um pouco de cada um desses projetos.

Projeto FECIA Educação Integral na EMEF Décio iniciou com o Projeto FECI, no ano de 2010. Neste projeto, os alunos participam de oficinas de letramento e

numeramento, atividades esportivas e culturais, desenvolvendo diversas habilidades. Têm auxílio e orientação para realizarem as tarefas escolares, contribuindo para uma melhora no rendimento escolar.

O Projeto FECI atende 100 alunos das turmas do primeiro, segundo e terceiro ciclo (A30, B10, B20, B30 e C10), divididos em quatro grupos que são atendidos em dois turnos. As turmas de FECI01 e FECI02 são atendidas no turno da manhã das 10h às 13h, recebem lanche na chegada e almoço ao término do projeto e cursam o turno regular à tarde. O grupo FECI02 e FECI03, faz o turno regular pela manhã e participa do projeto à tarde das 13h15min às 16h15min, recebendo lanche ao final do projeto.

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Projeto LIAUPautando ações como reorganização do Laboratório de Ciências e dos seus materiais, constituição de grupos de alunos, com encontros semanais,

para conhecimento, análise, discussão e intervenção no ambiente escolar e no seu entorno imediato, promoção e divulgação de ações de alfabetização científica e consciência ecológica junto à Comunidade Escolar, no ano de 2012, foi implantado o projeto LIAU na EMEF Décio Martins Costa.

Cerca de 138 estudantes do primeiro, segundo e terceiro ciclo são beneficiados com o projeto LIAU. Atualmente atende quatro grupos com intuito de formação de monitoria através de encontros semanais. Também vem realizando um trabalho de ação ambiental nas turmas integralizadas com atendimentos semanais.

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Projeto MúsicaEm 2012, foi iniciado o trabalho com a musicalização infanto-juvenil com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento de comunicação e expressão

em música, proporcionando momentos de apreciação, escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical, além de difundir a música como produto cultural e histórico. O projeto de música atende crianças da Educação Infantil, primeiro e segundo ciclo do Ensino Fundamental, visando a musicalização infantil através de atividades que envolvem jogos e brincadeiras sonoras, rítmicas e musicais para apresentar os conteúdos de forma concreta, tendo a ludicidade como fio condutor de todo o trabalho com as turmas integralizadas

O trabalho realizado com os alunos das turmas de A30, B10 e B20, volta-se à formação do Coral Décio Encanto. Nas aulas semanais são desenvolvidas atividades didático pedagógicas visando o desenvolvimento da teoria musical, percepção, ritmo, desinibição, comunicação oral, expressão facial e corporal, criatividade, entre outros. O coral já realizou diversas apresentações dentro e fora da escola.

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Projeto Dança

O projeto Dança na escola possibilita aos educandos o despertar da consciência de suas potencialidades, através de vivências que exploram as emoções, a imaginação e a capacidade criadora. Esta consciência é estimulada pelo sentir, pelo pensar e pelo agir. Através da dança os alunos podem expressar as suas necessidades e anseios, no sentido de criar e recriar sua visão de mundo percebendo como veículo para tais manifestações: as linguagens artísticas, corporais e culturais.

A oficina de Dança objetiva desenvolver um conhecimento coletivo num trabalho de criação e recriação, oportunizando o direito de pensar, produzir e dirigir este conhecimento. O projeto dança trabalha temas como: dança no contexto escolar; consciência corporal; relação ritmo e movimento; relação espaço e movimento; expressão e criatividade.

As atividades pedagógicas são realizadas por cerca de 92 estudantes oriundos do primeiro, segundo e terceiro ciclo. Estas atividades abordam também o desenvolvimento de um trabalho de relaxamento, improvisação, criação e composição coreográfica.

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Projeto LENUM

O Projeto LENUM – letramento e numeramento – foi implantado no ano de 2014 com o objetivo de auxiliar os alunos que apresentam defasagens e dificuldades nos processos de alfabetização e numeralização. A proposta pedagógica visa proporcionar vivências lúdicas para que os estudantes progridam em suas hipóteses de leitura e escrita, alcançando o nível alfabético e proporcionar o desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático e a aquisição de conceitos matemáticos através de jogos e brincadeiras.

No primeiro momento, o LENUM priorizou o atendimento de alunos do 2º ciclo que necessitam concluir o processo de apropriação da leitura e da escrita.

Também foram convidados a participarem do projeto os alunos do 1º ciclo, turmas de A30, que foram mantidos em 2013. Os alunos somente recebem o convite para participarem do projeto após indicação e encaminhamento das professoras referências das turmas.

Os alunos são atendidos no turno inverso da aula, duas vezes na semana. Foram constituídos dois grupos, ou seja, duas turmas para o desenvolvimento do projeto. Uma turma é atendida no horário das 9h às 11h e a outra, no horário das 11h às 13h. Sendo que esta última turma recebe o almoço da escola, permanecendo para o turno regular da aula à tarde.

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Turmas Integralizadas

Objetivando a promoção e a melhoria qualitativa e quantitativa da oferta da educação em tempo integral, visando o acesso, a permanência, a socialização e o êxito dos alunos, a EMEF Décio Martins Costa implantou no ano de 2013, um projeto piloto com a Turma A11, integralizada. No ano de 2014, atendemos três turmas integralizadas, sendo elas: turma JA1, turma A14 e turma A21 que era a turma A11, integralizada em 2013. Salientando que a turma A21 está no seu segundo ano de integralização.

Os alunos das turmas integralizadas chegam à escola às 10h e 30 min e são acompanhados pelos seus professores até o refeitório para receberem um lanche. Após a realização do lanche, as turmas participam de oficinas pedagógicas. Depois do almoço, é proporcionado um momento de descanso aos alunos com direito a colchonetes e sessão de vídeos. Às 13h e 15 min os alunos são conduzidos às suas salas de aula para o cumprimento do turno regular. As turmas integralizadas perfazem uma jornada diária de 7h e 15min.

O projeto é desenvolvido de segunda a sexta-feira em turno inverso ao do ensino regular, com interligação pedagógica entre ambos e oferta de almoço para os educandos. Assim, no programa de ensino em tempo integral, um dos turnos é reservado para atividades de ensino aprendizagem dos temas gerais e o outro é preenchido com a parte diversificada do currículo através de projetos especiais, tais como: Educação Ambiental, Arte Culinária, Artes, Oficinas de Literatura Infantil, Dança, Informática Educacional, Música, Teatro e atividades esportivas, além de atividades de Letramento e Numeramento.

A Educação Integral garante aos estudantes o desenvolvimento de suas potencialidades: cognitiva, afetiva, corporal e espiritual, contribuindo para o crescimento integral de crianças e adolescentes, formando cidadãos conscientes e interferindo no desenvolvimento do país.

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Alinhavando o futuro

O compromisso com o presente e a responsabilidade com o futuro nos conduz à reflexão de que a Educação Integral não pode ser abordada como apenas mais tempo e mais espaço para aprender. Ela precisa ser concebida como

“significando uma educação escolar ampliada em suas tarefas sociais e culturais com o objetivo de reconstrução das bases sociais para o desenvolvimento democrático, o qual só poderia se dar a partir de indivíduos intencionalmente formados para a cooperação e a participação”. (CAVALIERE , 2000, p 1).

Prima-se, acima de tudo, por mais qualidade na educação e não quantidade de horas que o educando permanece dentro da escola. Significa idealizar uma Educação Integral através de uma qualificação das práticas pedagógicas e da reestruturação do espaço educativo a fim de garantir um espaço apropriado para o desenvolvimento dos projetos do Cidade Escola.

Acreditando nessa concepção de Educação Integral, a EMEF Décio Martins Costa enfrentou desafios e dificuldades relacionados à questão da reorganização dos espaços e dos tempos escolares durante a implantação do ensino integral. Apesar da estrutura física do prédio escolar não favorecer, possuíamos uma área ampla não construída destinada à circulação de alunos e uma área verde ociosa. Articular estes espaços escolares e torná-los adequados às necessidades de cada atividade a ser desenvolvida foi uma estratégia indispensável para a operacionalização dos projetos.

Outro desafio a ser considerado durante a ampliação da jornada escolar enfrentado pela Escola Décio foi a sensibilização e a conscientização da comunidade escolar sobre a necessidade e a importância da permanência dos alunos em tempo integral. Para equacionar esta questão, foram realizadas reuniões com pais, palestras, vídeos, conversas com famílias carentes e em situação de vulnerabilidade social e com responsáveis de alunos que passam parte do tempo sozinhos em casa.

Em contrapartida, transcorridos quatro anos desde a implantação da Educação Integral na nossa escola, já podemos vislumbrar o sucesso obtido. Houve a consolidação da cultura da Educação Integral na comunidade escolar da Décio. Como prova disso, tivemos no início do ano letivo de 2014, uma grande procura para inscrição de alunos nos diferentes projetos oferecidos pela escola. Este interesse foi manifestado tanto por parte das famílias (pais ou responsáveis) quanto por parte dos estudantes que, autonomamente, fizeram suas inscrições e levaram para a família assinar. No projeto FECI, por exemplo, as inscrições superaram as 100 vagas oferecidas e constituiu-se uma fila de espera. A cada ano a Escola Décio avança e amplia a oferta da Educação Integral. Atualmente a integralização contempla turmas da Educação Infantil, primeiro, segundo e terceiro ciclo do Ensino Fundamental, somando 175 alunos em tempo integral, ou seja, 17% da totalidade de alunos da escola.

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ReferênciasALVES, Rubem. Para uma educação romântica. Papirus, 2008. p.29-31.CAVALIERE, Ana Maria. Educação integral: uma nova identidade para a escola brasileira. Educação e Sociedade, Campinas, v.23, n.81, p.247-270, dez. 2002.YUS, Rafael. Educação integral: uma educação holística para o século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Nas avaliações realizadas junto aos pais, responsáveis e educandos que participam dos projetos do Cidade Escola, observou-se um nível de satisfação muito grande em relação à oportunidade de participar das atividades diversificadas possibilitadas pelos projetos. Num depoimento de um pai que possui quatro filhos atendidos pela Educação Integral (a menina menor na turma JA1 (integralizada), sua irmã na turma A21 (integralizada) e seus dois irmãos no projeto FECI), o mesmo apontou que está muito contente por ter conseguido colocar as crianças na Educação Integral e que seus filhos são muito bem atendidos. Afirma ainda que notou uma melhora no rendimento escolar dos filhos, que estão mais organizados e autônomos.

Dessa forma, consolida-se a necessidade de continuidade da oferta da Educação Integral aos alunos da EMEF Décio Martins Costa. Convém também destacar que grande parte do sucesso obtido na implementação de turmas integralizadas está no oferecimento para as turmas de Educação Infantil e primeiro ano do Ensino Fundamental, prolongando-se nos anos seguintes, criando, assim, uma cultura de ensino integral.

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Projeto Cidade Escola: parceria a serviço da transformação social

Cesmar | Centro Social Marista de Porto Alegre

Localizado no bairro Mario Quintana, o Centro Social Marista de Porto Alegre (Cesmar) atende crianças, adolescentes, jovens e adultos revivendo a proposta educativa de São Marcelino Champagnat, fundador do Instituto Marista, que contribui para o desenvolvimento de uma sociedade livre, justa, fraterna e participativa. O Cesmar possui um espaço com mais de 78 mil m², e em 2014 completou 15 anos de atividades. A unidade é chamada também de complexo, pois é composta por diversos setores que atendem diferentes demandas. São eles: o Colégio Marista Irmão Jaime Biazus, que oferece, desde 2012, formação para estudantes do 1º ao 3º anos do Ensino Médio, o Polo Marista de Formação Tecnológica, que promove educação técnica e profissional para jovens no campo da tecnologia, o Atendimento Socioeducativo, que oferece formação diferenciada a crianças e jovens no turno inverso ao da escola ou em horários específicos da semana, e a Área Social, que é composta por núcleos de psicologia e assistência social, buscando dar amparo às famílias da região.Equipe do Cesmar

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No papel de complexo, assim como ressalta o diretor da unidade, Ir. Odilmar José Civa Fachi, o Cesmar possui missão formativa enquanto “lugar de acolhida, formação e inserção de crianças, adolescentes e jovens. Tudo isso em um espaço aberto, ecológico e agradável à convivência e ao desenvolvimento de atividades lúdicas e de aprendizagens adequadas a cada realidade dos atendidos”. O complexo está situado na região norte e nordeste de Porto Alegre, que abriga uma população de aproximadamente 97 mil habitantes, a maioria de baixa renda. De acordo com dados da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, os loteamentos Wenceslau Fontoura e Timbaúva e os bairros Mario Quintana e Rubem Berta, todos pertencentes à região, são as localidades que apresentam os piores indicadores sociais da cidade.

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No total, essa região é formada por quase 30 assentamentos recentes, em situação irregular, a maioria deles de porte médio. Desde os anos 80, o Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB) realiza na região os reassentamentos da população removida pelo poder público de áreas de risco ou ocupações mais centrais na cidade, da população de rua e dos despejados por ações de reintegração de posse. Claramente, os serviços de infraestrutura urbana e equipamentos sociais não acompanharam o mesmo ritmo da expansão e ocupação territorial. Nesse cenário, o Cesmar é uma entidade filantrópica, mantida pela União Sul Brasileira de Educação e Ensino (USBEE), que luta pela melhoria da comunidade do bairro Mario Quintana desde abril de 1997, quando iniciou suas atividades na região, mas principalmente a partir de agosto de 1999, quando, em sua inauguração, já realizava trabalhos de parceria com a comunidade dos loteamentos Timbaúva, Wenceslau Fontoura e adjacentes, oportunizando às crianças e jovens momentos de educação na área do fazer-aprender e cursos técnicos, garantidos pela ação efetiva do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

A unidade oferece formação integral a crianças e adolescentes em uma dimensão humana e cristã, desenvolvendo valores para uma cidadania participativa, bem como lideranças políticas que visem a construção de uma sociedade justa e fraterna. A comunidade do bairro Mario Quintana e a Rede Marista assumiram como desafio estender a proposta na área educacional e social para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. O tempo e a comunidade são testemunhas vivas que esta parceria com o Cesmar, de contínuo diálogo e participação, é responsável direta por transformações significativas que trouxeram melhorias qualitativas e quantitativas para as crianças e adolescentes da região. Outros programas e incentivos sociais foram se estabelecendo no decorrer desse processo, assim como outras instâncias governamentais e federais foram se somando ao contínuo esforço de diminuir as diferenças sociais e oferecer oportunidades.

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O Projeto Educativo do Brasil Marista na proposta do Projeto Cidade Escola

Na perspectiva da educação integral, os programas desenvolvidos visam a promoção dos direitos, a partir de ações complementares à atuação da família e da escola. Proporcionar ao público atendido condições para o desenvolvimento da cultura da solidariedade, oportunizando formação integral e agregando diferencial ao atendimento da escola, oferecer atividades lúdicas e culturais que buscam a aprendizagem enriquecedora e transformadora no contra turno escolar, a fim de preparar agentes de transformação social, são as missões do Projeto Educativo do Brasil Marista. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), esses valores estão em consonância com as diretrizes do Plano Nacional de Educação do Governo.

O investimento em ações complementares ao processo de escolarização é proposta de enfrentamento à distorção série-idade, potencializando o aprendizado por meio de metodologia e recursos alternativos. Por meio de oficinas diversificadas e que respondam às necessidades dos educandos, o Cesmar atua para a concretização dos quatro pilares da educação: ser, conviver, fazer e aprender. O Projeto Educativo do Brasil Marista adota a perspectiva da educação integral, para além da ampliação do tempo de estudo, de forma a proporcionar ao educando uma experiência educativa total, considerando-o em todas as dimensões da pessoa humana, na sua integralidade e inteireza – do corpo, da mente, do coração e do espírito. Ele tem a sociedade não como destino final, mas como o ponto de partida para uma trajetória transformadora.

Sendo assim, percebidas como meio e não como finalidade, as oficinas culturais e artísticas que ocorrem no Cesmar têm foco no desenvolvimento corporal e afetivo, fortalecendo a autoestima e autoimagem dos educandos, evidenciando sua capacidade de criar, interpretar e produzir cultura. A valorização da cultura local colabora para o desenvolvimento do sentimento de pertença ao contexto social onde está inserido, demonstrando que a parceria da unidade com o projeto funciona como catapulta para o desenvolvimento dos jovens atendidos. Além disso, a análise crítica das diferentes formas de expressão cultural – de músicas, letras e coreografias presentes no universo infanto-juvenil, que exploram a questão do gênero de forma pejorativa, que incitam a violência, a agressividade e que fazem apologia ao uso de drogas – necessita de uma abordagem que foge de um conservadorismo ou moralismo e leve o educando a tomar consciência, analisar criticamente e chegar a conclusões próprias.

Revista Conhecer | Edição nº 6

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Atendimento a crianças

O Atendimento Socioeducativo da unidade é conhecido por toda a comunidade como Cesmar, porque, desde o início, desenvolve a proposta de formação de crianças e jovens da região. Este foi o primeiro intuito com o surgimento da unidade. Hoje, o Socioeducativo é uma das três unidades que constituem o complexo, realizando cerca de 750 atendimentos por dia.

Quando o Projeto Cidade Escola iniciou no Cesmar, em 2009, beneficiava 120 crianças da região do entorno do Centro Social Marista. Um ano após a parceria, devido à grande demanda da comunidade pelo serviço, o número de atendimentos foi ampliado, chegando ao marco de 540 crianças e jovens atendidos por dia, entre os turnos manhã e tarde, por meio do convênio com a Smed.

São objetivos da unidade, que os torna realidade na prática diária:• Atender crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, no turno

inverso ao da escola, por meio de oficinas culturais, esportivas e de aprendizagem;• Prestar auxílio escolar nas áreas de matemática e língua portuguesa;• Explorar e constituir, através das relações, as diferentes situações

afetivas, fazendo uso dos conflitos que se estabelecem a fim de que os mesmos sejam elaborados e resolvidos, proporcionando o desenvolvimento cognitivo e o ensinamento de valores e princípios culturais;

• Articular junto aos jovens a cultura da educação das potencialidades de forma criativa, consciente e competente, para que os mesmos apresentem hábitos e posturas convenientes, preponderando os aspectos pedagógicos sobre os aspectos produtivos;

• Educar para pensar e agir de acordo com uma sociedade cidadã e fraterna; • Proporcionar espaços de atividades que respeitem a capacidade de

apropriação dos educandos;• Participar de jogos cooperativos, afetivos e corporais;• Desenvolver momentos de recreação buscando valorizar a coletividade de

todos os educandos.

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No atendimento, os educandos recebem formação diversificada, abrangendo diversas áreas do conhecimento e estimulando as mais diferentes habilidades. Saiba quais são as oficinas oferecidas em 2015 aos jovens:

• Informática e Cultura Digital• Arte e Sucata• Esportes Olímpicos• Capoeira• Dança e Cultura Gaúcha• Culinária• Educação Física e Recreação• Escolinha de Futebol• Hip-Hop e Grafite• Oficinas de Aprendizagem (Letramento e Numeramento)• Música• Banda Marcial• Patinação• Percussão• Teatro• Dança Cênica e Balé

De acordo com a coordenação pedagógica, a escolha das oficinas vai além da escolha pedagógica. Ela diz respeito ao gosto de cada educando que participa da proposta. O planejamento das atividades é feito com a participação da coordenação, dos educadores e dos próprios educandos envolvidos no processo por meio de assembleias e avaliações diversas. O vínculo que se solidificou entre o Cesmar e as escolas municipais do entorno se apresenta como um aprimoramento na rede de atendimento da criança e do adolescente dessa região e possibilita uma importante ferramenta rumo à concretização da educação integral em tempo integral.

Cada oficina trabalhada na unidade busca desenvolver a criança, entendendo-a como um ser em constante crescimento pessoal. Sendo assim, estão sempre inseridos nas oficinas temas como o conhecimento sociocultural, de acordo com as observações obtidas no grupo, valores étnicos, econômicos e ações do meio onde vivem os educandos. Além disso, são desenvolvidos aspectos como a integração das oficinas e das áreas do conhecimento, com a intenção de possibilitar uma atuação na totalidade do ser.

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Atualmente, a parceria ocorre, na maioria dos casos, com as Escolas de Ensino Municipal Grande Oriente do Rio Grande do Sul, Wenceslau Fontoura e Timbaúva. Dependendo do turno que o educando estuda nessas escolas, no turno inverso ele frequenta o Cesmar para receber o que – de acordo com Paulo Freire – seria o fechamento do ciclo de formação integral. Carlos Alberto Mariani, coordenador pedagógico da Gerência Social da Rede Marista, ressalta que a bandeira de Paulo Freire permeia as relações intraescolares e reflete diretamente no desempenho do educando. Segundo Mariani “A educação integral que buscamos tem um cunho ‘freiriano’, valoriza os saberes que acompanham nossos educandos, busca

sempre a excelência ciente de nossas carências, sabendo de seu importante papel na concretização do sonho de nosso fundador, São Marcelino Champagnat, e constantemente “refresca” a ideia de que o amor aos educandos é o caminho para uma boa e enraizada educação da qual nossa atual conjuntura carece”, explica.

Uma das oficinas realizadas para esse público no Cesmar é a de Dança Cênica. Ela ocorre de segunda à quinta-feira, atendendo crianças e adolescentes de 7 a 15 anos. Segundo a educadora da oficina, Silvana Maciel, sua metodologia é inspirada em Kurt Jooss, precursor da Dança Cênica.

De acordo com a educadora, o surgimento da oficina veio ao encontro de uma necessidade dos educandos da região: expressar-se. “Notando a falta de interesse dos educandos por qualquer atividade física, percebi a necessidade de criar uma nova modalidade de dança, voltada para o desenvolvimento global, favorecendo todo o tipo de aprendizagem, desenvolvendo habilidades criadoras em seus aspectos emocionais, sociais, intelectuais e físicos, exteriorizando o modo de ser, agir e pensar, motivando os educandos bailarinos a praticarem dança, descobrindo os inúmeros benefícios que ela traz à vida de cada um”, relata a educadora.

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Na prática, o educando aprende, mais do que agir, a refletir sobre os atos e o seu impacto na sociedade. “A arte da dança é tratada como forma de conhecimento, assim, sua prática – a construção da técnica no corpo levando em conta seus aspectos motores, cognitivos e expressivos – é acompanhada pela reflexão teórica, que permite contextualizar historicamente a produção artística e desenvolver a capacidade de reflexão crítica dos educandos diante da arte e da sociedade. Assim, a dança cumpre sua função, indo além de uma prática corporal, para inserir-se no conjunto de ferramentas de intervenção ética, criativa e solidária no campo social”, salienta. Com um trabalho integrado entre o Cesmar e as Escolas, os educandos são protagonistas e recebem, cada vez mais, resultados significativos.

A educanda Emily dos Santos participa das diversas oficinas realizadas na unidade e é uma das beneficiadas com a parceria. Para ela, integrar esse espaço de formação é uma porta que se abre para o seu futuro. “Participar do Cesmar é dar início aos grandes objetivos que pretendemos alcançar. Devemos aproveitar enquanto estamos aqui. Além do que, aqui dentro, eu admiro muito o respeito, o carinho e a educação que os educadores e diretores passam para a gente”, diz.

Parte do carinho citado por Emily é resultado da missão marista na prática e dos ensinamentos de São Marcelino Champagnat aplicados no dia a dia com cada educando. A educadora Silvana Maciel complementa, salientando que, na prática, esse se torna o grande diferencial do Centro Social Marista: “Nos baseamos em uma escala de valores, entre eles estão harmonizados cultura e fé, vida à luz da transcendência, desenvolvendo no educando um conjunto de potencialidades, trabalhando diariamente o espírito de família, comunitário e democrático, a simplicidade, o diálogo, o senso crítico e a criatividade”, finaliza.

O acolhimento se torna, no contexto do Cesmar e da região, a palavra que distingue a unidade. O educador de Dança Gaúcha, Marcelo Veiga, também cita o carisma marista como diferencial. “O educando marista tem um modo diferenciado de ser e de se relacionar com o próximo. É a nossa forma de educar que leva a essa compreensão, pela forma de acolhimento com abraço, conversa, presença do educador nas oficinas e nos recreios e encaminhamento para a saída. Com certeza, isso reflete em seu contexto familiar”, ressalta.

A educanda Greice Kelly também integra o grupo de crianças transformadas pela iniciativa. Para ela, que frequenta o Cesmar desde os 6 anos, participar das atividade é inspirador. “Acredito que, estando no Cesmar, terei uma formação diferente de outros locais. Aqui consigo conversar e me sentir mais à vontade com as pessoas. Aqui o jeito de fazer com que as pessoas se integrem é diferente. Consegui fazer muitas amizades”, complementa..

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Atendimento aos jovens

A partir do desenvolvimento das atividades e da percepção de que a parceria do Projeto Cidade Escola no Cesmar representava uma ação transformadora, uma nova demanda surgiu para a região: beneficiar jovens com algum tipo de dificuldade especial, dando a eles formação para o mundo do trabalho e para a vida. Nesse contexto, desde março de 2014, no Polo Marista de Formação Tecnológica, jovens de 14 a 24 anos participam do Projeto Capacitando para a Vida e as Tecnologias (CVTec). No período de contra turno de suas escolas regulares, os jovens participam de aulas que trabalham diversas áreas do conhecimento, como a criatividade e a lógica.

“Nossa missão é atender jovens em situação de risco ou vulnerabilidade social, acreditar que este jovem é capaz e formá-lo tecnicamente para o mundo do trabalho. Além disso, queremos que este espaço, principalmente, seja um laboratório de experiências significativas que os ajudarão na vida. Quando o Cidade Escola abre este viés em seu atendimento, e oficializa esta parceria com o Polo, está somando, validando e mostrando sua real e expressiva preocupação com uma educação para além dos bancos escolares”, explica a coordenadora geral do Polo Marista de Formação Tecnológica, Márcia Beatris Broc.

No caso do CVTec, o atendimento é especial, pois oferece formação a jovens que normalmente não são contemplados em outras iniciativas. “O atendimento é prioritário a jovens oriundos das salas de integração que apresentam funcionamento intelectual deficiente, o que significa uma expressiva parcela do público desta região onde estamos inseridos. A metodologia orquestrada entre o Polo e as escolas demandantes aponta aos adolescentes e jovens uma alternativa, quando estes estão praticamente no final do Ensino Fundamental. Neste momento da vida deles, ocorre uma transição para um espaço que foi pensado e organizado para atendê-los e que, de certa forma, oferece as condições necessárias para permanência”, explica Márcia.

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Após a formação que recebem no Polo, os educandos que possuem autismo, síndrome de down, deficiência intelectual, entre outros, terminam o contrato com vínculo empregatício em diferentes empresas de Porto Alegre. “Eles serão contratados por empresas de Porto Alegre com contrato formal de trabalho (CLT), ocupando vagas que lhes são de direito”, explica a coordenadora.

O trabalho desenvolvido com os educandos, assim como explica a coordenadora pedagógica do Polo Marista de Formação Tecnológica, Vanessa Mulet, é pensado de forma multidisciplinar, capacitando os jovens para a vida e as tecnologias, com foco na aprendizagem profissional. “Dessa forma, busca-se o desenvolvimento de forma integral, atuando como atividade complementar em parceria com as escolas. Essa parceria nos permite conhecer melhor o jovem no seu espaço escolar, o que é muito importante para o nosso trabalho, fazendo com que o Polo e a escola atuem juntos na preparação desse jovem para o mundo do trabalho e para a vida”, salienta.

O planejamento das atividades realizadas com os jovens é feito de maneira semanal pelo educador, sendo acompanhado pela coordenação pedagógica a cada nova programação. O pedagogo referência na atuação do CVTec, Marcos Vieira, explica que o planejamento é feito de forma cuidadosa e de acordo com a realidade de cada educando. “Determinamos o planejamento de acordo com a individualidade de cada um, sempre olhando para o lado social, o modo de vida e o histórico familiar e pessoal. Abordo de um modo geral questões relacionadas às práticas no ambiente de trabalho, não deixando de lado temas como cidadania, higiene, socialização e hábitos no dia a dia. Não formamos aqui um operário padrão. Buscamos um

aprendizado para a formação humana e social, estruturando ações de desenvolvimento para que tenhamos cidadãos conscientes e formadores de opinião”, explica.

Educador do Polo e de educandos do CVTec, Felipe Santos salienta que a formação dada tem potencial transformador. “Jovens que, em sua maioria, chegam muito tímidos e desacreditados acabam dominando os conhecimentos propostos no curso e os expõem com enorme fluência e desinibição. Isso é fruto da certeza de que suas capacidades têm valor social e do entendimento de que são agentes capacitados a ingressar no universo do trabalho contribuindo com um mundo melhor”, ressalta o educador.

Apesar de nova – existente desde março de 2014 –, a iniciativa tende cada vez mais ao sucesso total, conforme explica a coordenadora geral Márcia Broc. “Funciona com muito vigor e é motivo de orgulho e certeza de estar fazendo a diferença. Participar de um projeto como o Cidade Escola nos torna membros de um corpo que precisa continuar em pé, disposto e ativo em defesa da pessoa, da educação, da cidadania e da vida”, finaliza.

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Jaques Buzatto de Oliveira Cleiton Bittencourt Barazzutti

Integralização EMEF José Mariano Beck: “INTEGRA-AÇÃO” para um Mariano maior e melhor

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A EMEF José Mariano Beck fica localizada na zona leste de Porto Alegre, na Vila Fátima Pinto, Bairro Bom Jesus. A escola atende 750 alunos de Educação Infantil, Ensino Fundamental e EJA funcionando nos três turnos.

Nossa escola é composta de uma comunidade carente, localizada num espaço que não possui parques e praças no seu entorno. Os espaços para manifestações culturais também são escassos e os recursos financeiros das famílias não possibilitam o deslocamento dos alunos para outros espaços culturais na cidade. Por isso é quase tão somente no espaço escolar que pais e alunos têm acesso ao lazer e à cultura.

Tal realidade de vida traz novas demandas e exigências para o

ambiente escolar onde nem sempre os recursos humanos e físicos são ou estão adequados para receber e contemplar essas necessidades.

E é esta, talvez a mais importante missão do projeto Cidade

Escola: desacomodar os ambientes escolares, fazendo com que novas possibilidades de pensar e fazer a educação surjam dentro do espaço escolar público.

Assim, quanto mais expostos a movimentos que incentivem

as manifestações culturais e emocionais, os jovens, adolescentes e adultos poderão se reconhecer como seres humanos sensíveis, criativos, pensantes e responsáveis pela melhoria do ambiente em que vivem.

Inicialmente o projeto trouxe certa desestabilização ao cotidiano

escolar, principalmente devido às dificuldades em adaptar esse novo currículo aos espaços e tempos já sacramentados na Escola. Além disso, muitos outros fatores desafiadores foram surgindo, como por exemplo: a escolha e avaliação das oficinas e dos recursos humanos para atuarem nas mesmas, a seleção e aquisição de material

adequado, a mobilização da comunidade, o acompanhamento dos alunos envolvidos no projeto entre outros fatores que contemplam um eficaz Planejamento de Atividades.

A partir desta desestabilização inicial, a escola precisou começar a pensar em outras formas de ação a fim de atender às novas demandas que foram surgindo com a Educação Integral.

Foi a partir das dificuldades iniciais que duas grandes questões

foram priorizadas para que a organização dos projetos que fazem parte do Cidade Escola, na EMEF José Mariano Beck, trouxesse respostas e enfrentamento aos desafios.

Tais questões foram: como fazer com que essa nova forma de

educar dialogasse com a organização curricular existente na escola e como melhor contemplar as necessidades de jovens e adolescentes – oriundos de uma comunidade carente – que a partir de então ficariam os dois turnos dentro da escola.

Consideramos esses questionamentos primordiais para

construção e continuidade do projeto em nossa escola, pois eles moveram as ações que foram acontecendo no decorrer do tempo. A partir de então, as respostas foram sendo percebidas no envolvimento da comunidade nas oficinas e nas atividades que integram o Projeto Cidade Escola na EMEF José Mariano Beck.

Pensando em todos estes aspectos, a nossa escola busca, através

de seus projetos, a ampliação dos saberes dos alunos através de várias ações, tais como: mobilização e sensibilização para a participação em ações que auxiliem na modificação e melhoria do espaço onde vivem, incentivo a ações coletivas com práticas significativas as quais sejam consolidadas, compartilhadas e transmitidas para outros jovens.

Atualmente, quase a metade dos alunos matriculados na escola

participam das oficinas e atividades do Projeto Cidade Escola, assim constituído:

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Turmas de turno integral A EMEF José Mariano Beck possui turmas do 1º Ciclo com

atividades durante o turno da manhã e tarde, com mais de 7h/aula diárias, abrangendo, além das Atividades Curriculares, Dança, Leitura, Informática, Esportes e Música. No ano de 2014 as turmas atingidas pela integralização são de A10 e A20.

FECI (Fundação de Educação e Cultura do Sport Club Internacional) Atividades de Letramento/Matemática e Dança (hip hop e Street Dance)

Mais EducaçãoOficina Literária – utiliza ações de leitura e criação literáriaXadrez e Jogos de Tabuleiro – despertam o raciocínio e lógica através dos jogos;Judô; Percussão; Artesanato e Cultura Afro.

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Fundação Tênis Porto AlegreA EMEF José Mariano Beck foi uma das primeiras parceiras

deste projeto, que contempla seus participantes com a oportunidade de crescimento através da valorização de ações de cooperação e responsabilidade.

Cursos profissionalizantes

No Centro de Educação Profissional São João Calábria, os cursos profissionalizantes possibilitam uma formação profissional diferenciada aos alunos a partir de 14 anos, nas áreas de Auxiliar Administrativo, Marcenaria, Auxiliar de Padaria, Corte, Costura e Customização em Modas, Técnico de Manutenção em Informática e Rede, além de Web Designer.

Projeto EsportesHandebol, Voleibol e Basquetebol nas modalidades masculino e feminino.

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Ainda temos muitos desafios e dificuldades a serem enfrentadas. Há muito a ser feito, há muito a ser mudado, mas consideramos que o Projeto Cidade Escola da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre, através da Educação Integral veio, junto com outras ferramentas já existentes, auxiliar a escola de hoje nas suas dificuldades, fazendo com que a mesma seja repensada e aos poucos reconstruída.

LIAU (Laboratório de Inteligência doAmbiente Urbano)Diferenciado dos projetos tradicionais de Educação Ambiental,

o Projeto LIAU atende às demandas modernas de preservação e racionalização dos recursos naturais, além de criar uma cultura de combate ao desperdício e consumismo, atuando especialmente, através do protagonismo juvenil.

Robótica Educacional

Implantada nesta escola desde 2007, desperta a curiosidade às tecnologias de robótica, com experimentação em Kits Lego e criação de brinquedos com sucatas tecnológicas. Possui destaque na Rede Municipal de Ensino, através da participação constante em projetos e competições de âmbito municipal, estadual e nacional. Desde o início de 2014, o projeto de iniciação à robótica contempla as turmas integralizadas da escola.

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Associação Beneficente AMURT-AMURTEL

No principio tudo era apenas um sonho, a meta de plantar as primeiras sementes, que germinariam pequenos frutos no futuro.

O projeto Cidade Escola foi construído através dessa motivação comunitária, institucional e humanista de uma Entidade e sua Equipe, em interface com uma Política Pública que garanta direitos e promova a expressão da cidadania.

Os sonhos têm como objetivo e ousadia, criar algo novo, trazer esperança. Eles inspiram o educador, animam os educandos, abrem a inteligência de cientistas, colaboram para criação de novas ciências. Todas as grandes mudanças na humanidade no campo social, político, emocional, tecnológico e espiritual surgiram por causa dos grandes sonhos.

Este artigo foi feito a muitas mãos e corações.

Educação Integral na EMEF Chapéu do Sol:

o nascimento de um sonho

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A partir dessas premissas, se materializa o projeto de uma Escola que abrange toda a cidade, que se comunica através de uma rede educacional fortalecida pela participação da Sociedade Civil em parceria com o poder público, capilarizando e dinamizando o direito à educação integral de crianças e adolescentes.

E para realizar e concretizar esse sonho foi necessário um envolvimento e entrega total nessa experiência, pois cada educando é único e possui em si múltiplas potencialidades, cabendo ao espaço educativo ser sensível para que estas potencialidades se expressem. Para isso o trabalho em equipe teve início desde a elaboração da proposta, o Plano de Trabalho inicial e as constantes revisões e reflexões acerca do nosso fazer educacional.

A AMURT-AMURTEL, através de sua Equipe, busca o contínuo aprimoramento, trabalhando com muita atenção os aspectos profundos do desenvolvimento da criança e do adolescente como um todo, trabalhando a inspiração dentro de princípios e ideias que respeitam a individualidade de cada educando, e ao mesmo tempo a sua ligação com a família, a comunidade e o meio ambiente, criando uma metodologia de ensino alinhada a valores humanos universais, para formação de um ser humano que se preocupe com o planeta, com a sociedade e que valorize/reivindique seu espaço e suas conquistas.

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O cotidiano do Cidade Escola e sua potencialidade emancipatória

Heller (2008), já apontava o cotidiano como o centro do acontecer histórico, imbuído da potencialidade alienatória, e ao mesmo tempo, da potencialidade emancipatória e reflexiva. O processo emancipatório deste cotidiano se dá, segundo a autora, através da educação, da arte, da cultura e da ciência. Tudo o que nos eleva para fora do senso comum.

Por isso nossa prática cotidiana parte da captação da real necessidade de cada educando, solicitando dos educadores e oficineiros bastante estudo, pesquisa e experimentos inovadores, proporcionando atividades de qualidade, que contribuam para o aprendizado escolar.

As atividades são focadas no currículo escolar e nas demandas da Escola Parceira (em nosso caso a Escola Municipal de Ensino Fundamental Chapéu do Sol) , através de encontros periódicos, trocas e construções coletivas, garantindo um alinhamento conceitual entre Escola e Entidade. A Escola Parceira nos garante o suporte e a informação de forma eficiente sobre o desenvolvimento de cada educando, a partir destas informações a equipe cria as estratégias necessárias para o incremento do processo de aprendizagem. Essa troca de informações e vivência é essencial para obter o êxito esperado e ver na prática a evolução do educando, que consegue melhorar seu rendimento escolar em vários aspectos, não só com notas, mas com o aumento da frequência escolar, se sentido mais preparado para realizar suas atividades. Como relata um dos nossos educandos:

“O Cidade Escola me mudou muito, antes eu incomodava e era muito agitado não conseguia prestar atenção em nada, mas agora venho para o projeto e me divirto. (...) quando eu tiver 8 anos vou ser um aluno melhor, pois estou aprendendo muitas continhas de matemática”. Educando Cidade Escola - 7 anos

O nosso fazer pedagógico busca proporcionar novas experiências e descobertas prazerosas nos conteúdos já vistos no âmbito escolar, sendo apresentando de maneira criativa e em interface com profissionais especializados em Arte e Esporte, compondo e articulando com os educadores de Letramento e Numeramento, na realização de aulas inventivas, reflexivas e divertidas.

Os desafios são muitos, no entanto, são superados com sabedoria e esforço, dentro de uma organização mútua, com profissionais capacitados e preocupados em auxiliar de forma eficiente o aprendizado de cada educando, atentos as dificuldades de aprendizagem apresentadas e criando estratégias para a intervenção caso a caso.

Objetivamos ao participar do Cidade Escola, a criação de uma cultura que supere o pensamento de que “estudar é um fardo”, que a Matemática e o Português “são chatos”, “são difíceis”, para uma cultura de encantamento dos saberes, da percepção que tudo é matemática, que esta permeia a vida de diversas maneiras, desde a música que escutamos a luz elétrica em nossas casas, ao alimento que comemos. A matemática está por traz de todas as conquistas históricas da humanidade.

E o português? O mundo das letras, dos livros, o mundo comunicacional. O nosso processo educacional desperta nos educandos a percepção de que o aprendizado do português é um dos pontos fundamentais para a compressão do mundo e dos seus sistemas de comunicação. É através da linguagem falada e/ou escrita que nos apresentamos como seres pensantes, prenhes de emoção, de vontades e principalmente como cidadãos de direitos e deveres. Como relata nosso educador:

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Como educador de letramento tenho a satisfação de abrir um mundo novo... O mundo das letras. Palavras. O projeto Cidade Escola fez com que meu olhar sobre os diferentes níveis de aprendizagem escolar fossem um desafio, sendo assim o letramento nada mais é que práticas de leitura e escrita e que se faz necessária para desenvolvimento intelectual do aluno e para que o letramento seja eficaz é necessário a prática diária de leitura e escrita. Felipe Barreto - Educador de Letramento

Apreender o português é conquistar a vida e seus signos, é não somente ler o mundo, mas interpretá-lo de forma crítica e reflexiva, sabendo que o papel de cada um é transformá-lo em um lugar melhor para todos. Para isto a arte vem ao encontro, por ser uma ferramenta revolucionária, que tira todos de sua “zona de conforto” e desperta a criatividade latente em cada um. O projeto Cidade Escola cria situações pra fomentar e aguçar a capacidade de argumentação e interpretação em diversas ocasiões.

Como exemplos destacamos a brincadeira denominada “Tribunal dos contos de fada”, onde começamos com a leitura dos livros de conto de fadas, estimulando os nossos educandos a desenvolverem o hábito de ler, utilizando a Literatura dos irmãos Grimm, Monteiro Lobato e outros autores, onde os participantes encenam uma peça que tem como cenário principal um tribunal dos personagens, sendo estes personagens defendidos diante do juiz, com o uso de argumentação e apresentando novos pontos de vista sobre a história já conhecida.

Será que o vilão é mesmo um vilão? As meninas sempre precisam de um príncipe encantado para salvá-las? Toda madrasta é má? O que significa ser uma bruxa? Perguntas que mudam a visão de uma história, pois neste momento o educando argumenta as novas possibilidades; o que nos ensinaram pode ser visto de novos pontos de vista. Este é o processo emancipatório da educação.

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São estabelecidos fortes vínculos entre educadores e educandos, vínculos de solidariedade, acolhida e escuta, ampliando o conhecimento ao agregar aos Planejamentos Pedagógicos as ideias vindas dos educandos. Ideias incríveis, criativas, interessantes, que dão ao “Cidade Escola” a dimensão da riqueza de sabedoria que emerge das crianças e adolescentes participantes. Dentre as atividades sugeridas pelos educandos destacamos: um jornal de notícias, script de seriados, criação de um grupo de dança que trabalha numeramento dentro das batidas e ritmos, páginas e grupos em redes sociais, jogos confeccionados e elaborados por eles mesmos.

O Esporte também dialoga com a realidade e o imaginário: o jogo do urso que ensina a ler as horas em um relógio de ponteiro, o jogo das bolas que ensina a contagem decimal, as corridas com letras que propõem a construção de palavras por equipe, ou seja, o mundo se mostrando bonito, divertido, alegre, cheio de possibilidades. Novamente A cidade é a Escola e a Escola é a Cidade.

Por estarmos no Extremo Sul de Porto Alegre a AMURT-AMURTEL conta, em suas instalações, com um espaço natural privilegiado, onde as crianças e os adolescentes podem fazer as suas atividades tanto em

nossas salas preparadas para o “Cidade Escola”, quanto ao ar livre, correndo e brincando, abraçando árvores de todos os tamanhos, pisando com o pé na grama fresca, sentindo o orvalho aquecido ao sol.

Também prezamos por uma alimentação saudável, lacto-vegetariana, com o cardápio elaborado por uma nutricionista que garante almoço e lanche adequados para a formação de um corpo e uma mente saudáveis. A AMURT-AMURTEL tem o histórico de atendimento na cidade baseada nos princípios de uma educação para a Paz, com atividades que estimulam o lado mais sutil, compassivo e amoroso de cada um.

E esta sutileza é também traduzida no cuidado com este educador através de formações constantes, de escuta, por parte da equipe gestora, das necessidades dos trabalhadores do “Cidade Escola”, pois acreditamos que só cuida quem está sendo cuidado, sendo necessária a criação de um espaço acolhedor, formador e desafiador para os educadores também. Nas palavras nossa educadora:

Durante esse período, trocamos experiências e saímos mais sábios dessas vivências, com esse amor somos capazes de nos reconstruir e vivenciar um momento que será marcante em toda nossa vida. Esse projeto (Cidade Escola) dentro de uma instituição como a AMURTEL-AMURTEL, tem me proporcionado aprendizados constantes e tem permitido agir de acordo com os meus valores, que são essenciais na minha vida. Acredito que na vida nada é por acaso e que essa etapa que estou vivendo na minha vida, dentro desse projeto tão desafiador, veio como resposta para grandes anseios, que minha alma de sonhadora tem buscado durante muitos anos, que é a oportunidade de tocar corações e realizar sonhos. Fabiana Moraes - Educadora de Numeramento

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Somos todos “Intérpretes de Sonhos”O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudo começa com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventre vazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antes de serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistas em amor: intérpretes de sonhos. Rubem Alves

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O Projeto Cidade Escola nos proporciona diariamente experiências fantásticas e marcantes e já conseguimos ver que as primeiras sementes que foram plantadas estão criando forma, crescendo e se desenvolvendo como uma raiz muito forte. Os educandos falam do projeto dentro da escola para os seus colegas, os professores da Escola Parceira nos trazem os relatos da melhora do aprendizado em consonância com o depoimento dos pais.

Meu filho melhorou muito de comportamento ele não briga mais com sua irmã, esta mais sociável comigo e com meu marido. Suas notas estão muito boas. Ele gosta muito dos professores e colegas.

Depoimento da Mãe de um educando

Os educandos descrevem a instituição como sua segunda família, um lar que os orienta e os escuta, proporcionando experiências proveitosas, que estão lhe facilitando a enfrentar os desafios na escola e na vida. Sabemos que é árdua a tarefa de ensinar, mas é neste ato que nos realizamos e nos reinventamos como seres inteiros, nos comprometendo com os desafios e sem temer os obstáculos, acreditando no futuro mesmo que o presente ainda não seja o ideal que almejamos. Como disse: Augusto Cury, no livro Pais brilhantes professores fascinantes , “Educar é semear com sabedoria e colher com paciência”.

Esse é o caminho para nos tornarmos “Intérpretes de Sonhos”: o amor como a base do aprendizado, a educação integral como um direito que deve ser garantido a todos, o acolhimento e o reconhecimento do educador como partícipe imprescindível no processo educativo, a Sociedade Civil comprometida e alinhada a uma Política Pública emancipatória e a Criança e o Adolescente: por quem concretizamos sonhos, a quem dedicamos cada ação educativa e a causa de toda nossa esperança de transformar e melhorar Cidades e Escolas.

Namaskar!Esta saudação significa:

o bem que habita em mim, saúda o bem que habita em você

com toda a força da minha mente e todo amor do meu coração.

ReferênciasHELLER, Agnes. O cotidiano e a história. 8 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 2 ed. São Paulo: Ars Poética, 1994.CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante, 2003.

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Educação em Tempo Integral:trajetórias da EMEF Professora Ana Íris

Maria Elaine Pilz Evelise Antonello Cardoso da Silva

Marilice Claus Eliana Zouain Campos Alibio

Mauro Guilherme Riegel Cláudia Viola Matzenbacher

Cleuza Iara Campello dos Santos Ângela Natalina Tonon Lourenço Maria Leonor Prates Araújo Silva

Marilaine Amaro Chaves Maria Luci de Mesquita Prestes

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A escola

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Ana Íris do Amaral, localizada no bairro Protásio Alves, em Porto Alegre/RS, caracteriza-se por funcionar, desde a sua fundação, em 1989, integrada à natureza que a cerca − resultado de projetos e ações diversas envolvendo a constituição do ser humano e a sua existência em seu meio, com base em ações sustáveis.

Nela busca-se sempre valorizar a qualificação do convívio entre educandos, trabalhadores em educação e comunidade escolar, já que, devido a sua localização peculiar, não está inserida em uma comunidade específica, mas atende a uma clientela proveniente de diversos territórios: Morro Santana, Alto Petrópolis, Chácara da Fumaça, Mário Quintana, Vila Estrutural, Vila Safira, arredores da Av. Manoel Elias, Av. Protásio Alves e Av. Ary Tarragô, entre outros. A busca do diálogo acolhedor e integrador com essa clientela diversificada tem sido um constante desafio.

Embora a escola já oferecesse, a um número reduzido de alunos, alguns projetos realizados por professores no turno inverso, a oportunidade da adesão ao projeto Mais Educação chegou, e foi aceita pela maior parte do coletivo dos profissionais como uma nova oportunidade a ser experimentada.

Entrada da Escola: Seja bem-vindo!

“O Programa Mais Educação foi instituído pela Portaria Interministerial n.º 17/2007 e integra as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como uma estratégia do Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e organização curricular, na perspectiva da Educação Integral”.(BRASIL, 2007).

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Trajetórias na educação integral

No segundo semestre de 2008, a EMEF Profª Ana Íris do Amaral foi convidada a entrar no programa Mais Educação. Houve a desistência de uma outra escola, e, mesmo não apresentando IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) baixo, a Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre (SMED-POA) avaliou que, pelo tamanho, espaço físico, trabalho diferenciado − reconhecido em toda a Rede Municipal de Ensino (RME) −, a escola seria um local propício para a implantação do turno integral.

Após reunião de professores, houve aceitação da maioria à proposta. Decidiu-se que a coordenadora seria a professora Marilice Claus.

A diretora da época, Eneida Porto, e a coordenadora eleita estudaram o programa, participaram de reuniões na SMED, montaram a equipe de trabalho, e, na medida do possível, passavam as informações para o restante do grupo.

Pátio da escola: espaço de vivências e de aprendizagem.

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Para essa equipe, Marilice convidou Maria Elaine Pilz, lotada na SMED, para atuar na escola e auxiliar na implantação desse novo projeto. Não foi muito fácil a sua liberação, pois estava lotada na assessoria das creches conveniadas, demanda também importante da Mantenedora; porém, pela determinada empolgação da professora diante do desafio de um novo projeto, somada ao empenho da direção, da coordenação da escola e da SMED, viabilizou-se essa ação.

Outros professores foram convidados a participar da equipe de trabalho por terem alguma carga horária disponível na Escola ou já possuírem oficinas constituídas; outros ampliaram seu regime de horas para compor o turno integral. Montamos e efetivamos o projeto com a participação dos professores envolvidos. Também contratamos nove monitores para o Mais Educação e, no ano seguinte, mais dois.

No dia 02 de outubro de 2008, fizemos duas Assembleias de Pais, em que explicamos a ideia do turno integral e o programa Mais Educação.

Maria Elaine, recém-chegada à escola, saiu pela comunidade em busca dos espaços físicos para a execução do trabalho, aproveitando seu horário para conhecer o entorno da escola. Descobriu a casa do pastor da Igreja Evangélica Assembleia de Deus e a do então

presidente da associação de moradores, um antigo colega de trabalho. Depois de muitas caminhadas, alguns locais foram viabilizados. Então, Marilice, depois do seu horário de aula, foi conhecer o Salão da Igreja e as dependências da sede da Associação de Moradores. Já a casa de uma funcionária da escola (Tânia) foi ofertada a Marilice, e a casa da Dona Ângela (mãe de quatro alunos da escola) foi oferecida na reunião com os pais – esta última, com um aparente problema estrutural (rachadura), que foi avaliado como irrelevante por uma técnica do setor de engenharia, a convite pessoal da Maria Elaine.

Robótica: o futuro é hoje, e a gente é quem faz.

Leitura: diversão e conhecimento, semente de vida.

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Foram abertas inscrições para preenchermos 100 vagas, mas, a partir da demanda, 150 alunos foram atendidos. Nesse momento percebeu-se que o projeto vinha para ficar.

A FAPA (Faculdade Porto-Alegrense), oportunamente, fez a doação de cadeiras com braços, que foram colocadas nos quatro locais das oficinas.

Marilice reuniu-se, em sua residência, com Maria Elaine para pensar o número de alunos por grupo e a divisão em onze grupos, a partir das turmas regulares − houve o cuidado em procurar deixar os colegas de ano ciclo no mesmo grupo. Depois, Marilice iniciou a organização de horário (o que, a propósito, faz e refaz até hoje) para os onze grupos de oficinas, que foram batizados com nomes das principais constelações do céu do Hemisfério Sul e de estrelas mais brilhantes (atualmente são planetas).

Além desses grupos, havia mais seis, que funcionavam com sistema de inscrição por oficina: Dança, Robótica, Vôlei, Jornal e Beleza Negra (Etnias).

Iniciamos as atividades no dia 14 de outubro de 2008, funcionando, diariamente, das 10h30min às 13h e das 12h às 14h30min para os onze grupos, e duas vezes por semana para os demais.

Em 2009, resolvemos que permaneceríamos dentro da escola, por questões de segurança e praticidade. O funcionamento seria das 7h30min às 17h45min, acompanhando o horário do ônibus da linha alimentadora que transporta os alunos.

Aproveitamos verba que veio do Governo Federal para adaptação de espaço, e iniciamos a construção do “condomínio MECE” (Mais Educação/Cidade Escola ), que precisava ser feita de forma rápida, sem infringir a regra até então vigente de que nada poderia ser construído no terreno em que a escola se localiza, por ser este de propriedade da FAPA. Obtivemos autorização para construir quatro “volantes” − construções rústicas de madeira, mais conhecidas hoje como “casinhas”.

Horizontes ampliados: o Mundo no mundo da Escola.

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Os oficineiros faziam seus intervalos em tempos que nem sempre eram os melhores, e os alunos circulavam pelo pátio em momentos que interferiam em outras atividades da escola. Professores de Educação Física acabavam reclamando por espaço, e os demais, pelo barulho. Ou seja, de qualquer forma não tínhamos uma solução que contemplasse a todos. Naquele tempo, entendíamos que não podíamos colocar, no recreio, os alunos das oficinas junto aos do restante da escola, porque o pátio ficaria pequeno. Somente quando uniformizamos o horário do recreio a situação foi solucionada.

A convite de Jaqueline Moll, coordenadora do programa Mais Educação no Ministério da Educação (MEC), em março de 2009, Marilice Claus esteve em Brasília, participando de um seminário para gestores, em que relatou o funcionamento do turno integral na escola. Depois desse convite, outros vieram. Marilice participou de grupos de trabalho e de seminário em Cachoeirinha. Recebemos várias visitas na escola, com os visitantes tentando implantar em seus municípios e escolas o projeto de turno integral.

O barulho, a falta de espaço, o tumulto de alunos em horário estendido, com equipe de trabalho nem sempre suficiente, causaram desgaste a todos. Mesmo assim, o turno integral tornou-se reconhecido na escola, sendo percebido como necessário, importante, e apresentando bons resultados para a comunidade e para os alunos, que passaram a gostar muito de estarem no ambiente escolar.

Trabalhamos todo 2009 desbravando espaços e possibilidades. Atendemos 180 alunos em quatro grupos das 7h30min às 17h45min, sete grupos das 10h às 13h15min e seis grupos das 12h às 17h45min, criando novas alternativas, tabelas e formas de funcionamento. Como o trabalho era muito novo, só contávamos com regras amplas vindas da SMED e do MEC. No dia a dia, íamos desenvolvendo novas estratégias a partir do surgimento das necessidades.

Por várias vezes, necessitamos explicar nossas possibilidades de atendimento para a Secretaria de Educação, pois a quantidade de turmas, oficinas e tempos ampliados saia dos padrões estabelecidos em outras escolas.

Observação de astros: conhecendo melhor o mundo e conhecendo-se melhor.

Dança: espetáculo de

desenvolvimento do corpo e da

mente.

Cultura popular: conhecimento também é festa.

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No final de 2009, foi necessário fazer um enxugamento no quadro, pois não poderíamos mais contar com muitos professores no projeto, somente com aqueles que teriam alguma carga horária sobrando, além daqueles cujos projetos já haviam sido aprovados pela Secretaria: Rádio, Robótica, Dança, Etnias e LIAU (Laboratório de Inteligência do Ambiente Urbano).

Em 2010, passamos a contar com educadores da FECI (Fundação do Esporte Clube Internacional). Devido à desistência de uma outra escola, fomos convidados a formar uma parceria, que até hoje mantemos. Essa parceria veio a suprir a lacuna deixada pelos professores que haviam saído das oficinas e contribuir no trabalho. A princípio, receberíamos quatro educadores indicados pela FECI, mas, depois de muitas tratativas entre Marilice e Leonardo Menezes (coordenador geral da FECI), o número foi ampliado para seis, sendo três indicados por ele e três pela escola.

Em uma visita da Secretária de Educação, Srª Cleci Maria Jurach, em resposta à entrevista de um aluno, Ariel Adonai, repórter da rádio escolar, ela revelou admiração pelas iniciativas empreendidas e demonstrou seu apoio aos trabalhos desenvolvidos na escola.

No dia 1º de setembro de 2010, após um lamentável acidente na escola, Marilice entrou em licença. Com o turno inverso funcionando “a todo vapor”, não era possível parar. Então, Maria Elaine foi indicada pela então equipe diretiva da escola para assumir a coordenação do Projeto Cidade Escola, pois, segundo a avaliação geral, era a pessoa que conhecia seu funcionamento, além de estar engajada, desde o início, na valorização do tempo ampliado das crianças na escola.

Em dezembro de 2010, Maria Elaine Pilz e Evelise Antonello Cardoso da Silva assumiram, respectivamente, a direção e a vice-direção da EMEF Ana Íris do Amaral, com o propósito de buscar uma integração das práticas escolares, avançar nas questões pedagógicas e construir uma escola integralizada. Uma nova equipe assumiu, foram reformuladas algumas práticas e remanejadas pessoas para dar conta dessa ação. Marilice retornou em 2011 para continuar na coordenação, ainda com apenas 20 horas para essa função.

Mãos que cultivam a terra: plantar e colher para a vida.

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No ano de 2011, precisamos diminuir o número de monitores do Mais Educação, pois a verba do MEC destinada a eles havia sido reduzida. Através da parceria com a FECI, pudemos manter a maioria dos componentes da equipe que já trabalhava na escola e agregar os demais. Conseguimos adequar oficinas, horários, pessoas. Porém, o número de alunos por turma na escola e a função de todos no horário intermediário era “um agito só”, e as reclamações e o descontentamento de muitos professores da escola conseguiam fazer mais barulho ainda.

O horário estendido de atividades, das 7h30min às 17h45min, sempre causou necessidades de recursos humanos que dificilmente eram resolvidas; então, quem se dispôs a trabalhar no turno integral sempre trabalhou muito. Entretanto, a preocupação com a qualidade do trabalho e a crença na importância do turno integral fez com que os avanços continuassem.

Para dar conta das demandas, sentimos a necessidade de envolver cada vez mais o coletivo dos professores da escola. Foram realizadas reuniões, mostras de atividades, explicando inicialmente o contraturno e suas vantagens. Algumas divergências apareceram, foram avaliadas, e, à medida do possível, reformuladas. Mas o coletivo montou o projeto de integralização da escola. Garantimos espaço no PPP (Projeto Político-Pedagógico). No momento em que mais professores passaram a entender melhor o turno integral e até a se envolverem mais com ele, as reclamações e o “ranço” com os demais oficineiros diminuíram. Nessa nova configuração, as “sobras” de carga horária dos professores eram bem-vindas, e poucos projetos já constituídos anteriormente puderam manter a carga horária.

No final de 2011, conseguimos a ampliação da carga horária da Coordenação do Cidade Escola com dedicação exclusiva. Sendo assim, a partir de 2012, Marilice passou de 20 para 40 horas na coordenação do projeto. Conseguimos também a ampliação da carga horária das oficinas de Dança e de Robótica.

Compostagem: praticando o plantio sustentável.

Plantas medicinais: cultivando saúde.

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No verão 2011/2012, fizemos a 1ª colônia de férias na escola, projeto voltado ao meio ambiente − sucesso total. Em 2012/2013 e 2013/2014, nossos alunos participaram da colônia de férias organizada pela SMED, em outros espaços da cidade.

Estamos sempre dispostos a participar, ao recebermos convites, de seminários da FAPA, gincanas, promoções de teatro, cinema, espetáculos e eventos culturais diversos para mostrar nosso trabalho, e recebemos, com alegria, as visitas daqueles que querem conhecer nossas conquistas.

Participamos da Feira do Livro de Porto Alegre, em 2011, no Asteróide da EPA − Escola Municipal Porto Alegre, que atende crianças e adolescentes que vivem nas ruas do Centro de Porto Alegre, excluídos da escolarização formal. Alguns de nossos oficineiros deslocaram-se para lá, com pequenos grupos de alunos, todos os dias em que ocorreu a feira, com o propósito de realizar oficinas variadas com os visitantes. Essa parceria foi muito boa e gratificante.

Fizemos apresentações de canto, no final de 2011, em evento organizado pela SMED no prédio da Prefeitura Municipal de Porto Alegre; em 2012 cantamos novamente − dessa vez, na escadaria da Igreja das Dores; em 2013, no Paço Municipal. Além dessas apresentações, participamos, em novembro de 2011, do 1º En(Canto) Musical e Mostra de Trabalhos do Cidade Escola, no Ginásio Gigantinho, com números musicais. Foram momentos fantásticos, emocionantes.

Por conta de todo nosso esforço, no final de 2012, recebemos da Secretária Cleci Jurach uma notícia que estávamos aguardando há muitos anos: que as negociações entre a Prefeitura e a FAPA haviam avançado, favorecendo-nos. Com isso, poderíamos permanecer no terreno. Assim, conseguiríamos algumas melhorias nos prédios existentes e ganharíamos mais um prédio, com oito salas de aula e um conjunto de banheiros, além de ampliação do terreno da escola. Ficamos muito alegres, mas cientes da complexidade do processo.

Mãos na massa: preparando alimentos, preparando-se para a vida.

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Mesmo sem o prédio, adaptamos, inventamos, revitalizamos espaços e iniciamos o ano letivo de 2013 com a nossa primeira turma de Educação Infantil, uma turma de Jardim B integral, bem como integralizamos todo o 1º Ciclo e uma turma de 2º Ciclo. Na verdade, foram oito turmas de uma só vez. Essas turmas integralizadas ocupam as salas de aula e possuem professores com 40h. Para completar a extensa carga horária das crianças na escola, contamos também com a presença de professores de áreas especializadas, educadores sociais da FECI e de monitores do Mais Educação.

Conquistamos, junto à Mantenedora, uma coordenação pedagógica específica para a integralização, assumida por Roselaine Azambuja Machado, que veio para contribuir nessa implantação e organização dos tempos. A professora Marilaine Amaro Chaves contribuía no SOE, onde articulava as demandas e lograva a agilidade dos encaminhamentos necessários.

Após adaptar-nos a essa nova configuração, montamos mais três grupos, compostos por alunos das turmas que não integralizaram. Esses grupos utilizam as “casinhas”, o pátio e alguns espaços da escola que não estejam sendo ocupados em determinados momentos (Robótica, Informática, Biblioteca).

Passamos a servir, para todos alunos, o café da manhã e o jantar, além do almoço e de dois lanches, que já servíamos nos anos anteriores.

Os meses de março e abril de 2013 não foram fáceis. Adaptamos horários onze vezes para conseguirmos cumprir normas da SMED e da FECI. Optamos por modificar o horário de saída das crianças depois de verificarmos, com os pais e o coletivo da escola, a conveniência de diminuir o intervalo entre o fim do turno da manhã e o início do da tarde. Nosso horário ainda está dividido oficialmente em entrada a partir das 7h10min, com café da manhã; aula das 7h30min até 12h; intervalo com descanso orientado até 13h; e saída às 17h30min.

Ampliamos nossos atendimentos ano a ano. Atualmente, a maior parte dos alunos permanece na escola das 7h30min às 17h30min. Portanto, dos 400 alunos, quase 300 participam do turno integral, e os demais, de atividades complementares.

Nossa tentativa, desde o início do turno integral, é de aproximar as práticas de professores e de oficineiros, para termos, cada vez mais, um trabalho integralizado; porém, normas estabelecidas por outras instâncias impedem reuniões, planejamentos e conselhos de classe coletivos, o que acaba por retardar nossa meta. Os professores-referência repassam informações e orientações importantes aos educadores na informalidade, quando são minimizadas muitas dificuldades.

Em 2014, Roselaine se aposentou. Para substituí-la, Claudia Viola (SOP) teve sua carga horária ampliada. Neste ano, está sendo construída uma parceria entre os serviços de SOE/SOP com Mauro Guilherme Rieger (SOE). Dessa forma, o atendimento de orientação pedagógica às crianças e às famílias é feito em todo o período escolar.

“Condomínio MECE”:

Estamos de portas

abertas, esperando

você!

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A rotina das turmas é acompanhada de perto pela vice-diretora, Evelise, a partir da entrada do primeiro aluno até a saída da última criança. Tudo precisa ser muito organizado: o cuidado com a alimentação; o acolhimento, por vezes individualizado; o carinho e a atenção no tratamento com cada criança, com cada familiar.

O cardápio das cinco refeições é muito estudado entre a direção e a equipe de nutrição, considerando-se o equilíbrio na oferta, as adaptações necessárias, a variedade e a qualidade dos itens. É um trabalho de promoção de saúde incontestável.

As trocas de pessoal e os horários são acompanhados por Marilice. O diálogo sobre os planejamentos e as práticas pedagógicas é feito por Cláudia, com professoras, educadores sociais e monitores. O atendimento às crianças é feito por Mauro, bem como as parcerias de encaminhamento com os serviços da SMED, ATAR (Assessoria Técnica e Articulações em Redes) e rede de atendimentos da saúde.

O auxílio assertivo de Cleuza Iara Campello dos Santos, a reflexão propositiva da Angela Tonon, que trabalham nas oficinas e ao mesmo tempo fazem parte da equipe diretiva, somam-se ao olhar direcionador, objetivo, de Leonor Prates Silva nos casos mais complexos.

A secretária atual, Eliana Alibio, diversifica sua prática informativa, incluindo-se Cristina Oliveira (secretária antiga) em uma prática administrativa eclética. Trabalha junto à equipe no atendimento com alunos, realiza interfaces com pais e Mantenedora, contribuindo no entendimento e no bom andamento do trabalho.

A alternância de momentos de alimentação mesclados com formação de hábitos e atitudes, cuidados de higiene, momentos de relaxamento para o “refazimento” físico, atividades recreativas a partir do café da manhã, tudo é feito com finalidade pedagógica, pois acreditamos na articulação entre as áreas do conhecimento e a vida, no necessário estudo da teoria em exercício pela prática, viabilizados pelo pensamento e pela ação para uma satisfatória superação dos desafios. As novidades são ótimas. Percebe-se que os alunos

realmente aproveitam o oferecido, apresentando maior conhecimento em todas as áreas do conhecimento; porém, demonstram cansaço a partir do meio da tarde. Nessa perspectiva, pensamos em diminuir um pouco o tempo de permanência na escola e o horário das turmas integralizadas. Estamos em estudos minuciosos junto aos alunos e à comunidade escolar.

Atualmente, continuamos com oficinas oferecidas por professores da RME: Robótica, LIAU, Dança, Esporte, Horta, Religiosidade e Astrolab (Laboratório de Astronomia).

O trabalho da SIR (Sala de Integração e Recursos), iniciado em 2011 e realizado por Claírton Elsenbach, se integra às práticas da escola, com atendimentos pontuais para alunos com deficiências. Possui uma proposta favorável à inclusão dos alunos, alternando o trabalho individualizado com o realizado em pequeno e em grande grupo; faz acompanhamento dos alunos nas salas de aula e no recreio; viabiliza reuniões para estudo de casos, com a direção, a supervisão, os professores e a Mantenedora; orienta manejos e atividades pedagógicas especializadas; acompanha a equipe na realização de intervenções em algumas salas no sentido de neutralizar brincadeiras pejorativas; além de dispor-se a falar com o grupo de professores sobre temas relevantes.

O Laboratório de Aprendizagem, realizado por profissionais da RME, este ano, está em um espaço adaptado e repaginado para melhor atender os alunos com outras necessidades, sem diagnóstico, mas que apresentam defasagens em seu conhecimento.

Cada vez mais, aprendemos a fazer com criatividade e solucionamos problemas como ninguém. Porém, como o “agito” é grande, algumas vezes, num questionamento da validade de todo esforço, reafirmamos a intenção de aprimorar cada vez mais nossa prática. Buscamos angariar mais simpatizantes pelo trabalho desenvolvido, que tem por finalidade o desenvolvimento pleno das nossas crianças, com as quais contamos para fazer a diferença neste mundo, em consequência do sonho que se realiza de educação integral, em tempo integral.

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ReferênciasBRASIL. Ministério da Educação. Programa Mais Educação passo a passo. Brasília: MEC, 2007. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf>. Acesso em: 19 jun. 2014.BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica. Brasília: MEC, 2013. Disponível em: <file:///C:/Users/pc/Downloads/diretrizes_curiculares_nacionais_2013.pdf >. Acesso em: 19 jun. 2014.ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUNDAMENTAL PROFESSORA ANA ÍRIS DO AMARAL. Projeto Político-Pedagógico. Porto Alegre: EMAIA, 2014.PORTO ALEGRE. Secretaria Municipal de Educação. Projeto Cidade Escola. Porto Alegre, SMED, 2006. Disponível em: <http://www2.portoalegre.rs.gov.br/smed/default.php?p_secao=268>. Acesso em: 19 jun. 2014.

Evoluímos no entendimento da construção da escola. Hoje pensamos em espaços físicos adaptados para cada ano ciclo. Esperamos ansiosamente por uma construção respeitando as nossas características.

Para concluir, em março de 2014, fomos convidados pela SMED a representar as escolas da RME no 1º Fórum Educação que Dá Certo, realizado na FIERGS, pelo exemplo de escola em que nos constituímos. Nesse encontro, deixamos claro que todo sucesso que temos obtido até agora com os alunos se deve ao trabalho dentro da simplicidade, provavelmente pela inspiração proveniente da natureza circundante, somada à proposta pedagógica que transcende às limitações e é realizada em equipe, pelo coletivo de profissionais da escola, que são obstinados pela crença de que é possível adaptar, transformar e ousar na educação, iniciando pela valorização de pequenos detalhes, como o brilho dos olhos das crianças e as suas histórias de “seres invisíveis” que frequentariam a escola.

Conquistamos muitas coisas, mas temos que avançar, porque sonhamos com a escola unida, forte, alegre e dinâmica, com um centro pluricultural de estudos dialógico e sistêmico, em que os alunos utilizem sua capacidade transformadora de maneira comprometida, construindo um aprendizado efetivo.

Não podemos deixar de destacar que tudo na integralização só é possível graças ao coletivo formado por professores − cuja formação e qualificação se devem destacar − funcionários, educadores sociais, monitores e demais membros da comunidade escolar. Não temos aqui como nomeá-los um a um, mas manifestamos a todos nossa consideração e nosso agradecimento.

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Educação Integral na Educação Infantil de Porto Alegre

Equipe de Educação Infantil da SMED

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A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, vem ganhando destaque no cenário nacional, tanto do ponto de vista teórico como do ponto de vista legal.

O Município de Porto Alegre tem como prioridade garantir às crianças de 0 a 6 anos de idade uma educação infantil de qualidade realizada em tempo integral, no horário das 7h às 19h. Desenvolver política pública de educação integral para as crianças pequenas implica compreender que é preciso pensar no funcionamento da escola como um todo e em especial, no modo como as crianças e as famílias serão acolhidas e quais serão as experiências organizadas para garantir a aprendizagem, sabendo que a educação infantil trabalha com a formação do sujeito em sua integralidade física, emocional, cognitiva, cultural e social. Sendo assim, compreende-se a criança como um sujeito de direitos, com potencialidades e diferentes modos de ser e a escola como um espaço de vida coletiva no qual se aprende na experiência, sobre si, sobre o outro e sobre o mundo.

A Escola de Educação Infantil é um espaço de experiências fundamentais no processo de aprendizagem e desenvolvimento das crianças, complementando a ação da família e da comunidade. Ao compartilhar com as famílias a educação formal, a Secretaria Municipal de Educação (SMED) assume a responsabilidade pela educação coletiva das crianças, produzindo e divulgando uma cultura de defesa das infâncias.

Na Escola Infantil, espaço de vida coletiva, a criança experimenta relações que vão além do contexto familiar. É nesse tempo e espaço que a criança faz suas principais aquisições do ponto de vista do desenvolvimento, das relações e das experiências da primeira vez, articulando seus conhecimentos e saberes cotidianos com o patrimônio histórico-cultural construído pela humanidade, produzindo culturas infantis e vivenciando experiências éticas, políticas e estéticas.

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A política de educação integral para as crianças pequenas da cidade de Porto Alegre tem por objetivo oportunizar uma experiência educativa positiva em uma etapa extremamente importante de desenvolvimento das crianças. Além disso, a garantia desse direito às crianças é a possibilidade de muitas mães exercerem o seu direito de trabalhar. Portanto, as Escolas de Educação Infantil pertencentes à Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre (RME) acolhem desde os bebês até as crianças maiores. Destaca-se que os bebês são compreendidos como sujeitos competentes, ativos por si próprios, com iniciativas para agir e mover-se e com interesse por tudo que os rodeia. Sendo assim, a orientação pedagógica da SMED para as Escolas Infantis é de que a escola é um lugar de produção de novos conhecimentos a partir da interação com o outro e com o mundo, do estabelecimento de diferentes relações, de experiências, de elaboração de hipóteses, de busca de respostas às inquietações e curiosidades infantis.

A criança é o centro do planejamento curricular

O currículo das escolas infantis é desenvolvido por meio das interações e brincadeiras. Em todas as Escolas de Educação Infantil pertencentes à RME, o espaço, o tempo e os materiais são planejados cuidadosamente de modo a garantir boas experiências para as crianças.

Educar e cuidar são ações indissociáveis. Portanto, nas escolas infantis os profissionais que lá atuam acompanham toda a jornada escolar da criança, garantindo ações de atendimento às suas necessidades físicas, emocionais e cognitivas. Além de compreendê-las em todas as suas potencialidades, inventividades e singularidades, estando disponíveis para uma relação intensa e profunda com as crianças.

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A jornada nas Escolas de Educação Infantil de nossa Rede, com todos os acontecimentos que fazem parte do cotidiano das pessoas que nela convivem, é planejada e organizada, visando o bem-estar e a proteção das crianças em um ambiente que promova a produção de conhecimentos e culturas, dos relacionamentos, o exercício da autonomia, da cooperação, do respeito a diversidade e a valorização do meio ambiente.

Sendo assim, no cotidiano das Escolas

de Educação Infantil pertencentes à Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre, as crianças são acolhidas, brincam, interagem, realizam atividades em pequenos e grandes grupos, vivenciam diferentes experiências corporais de cuidado, se alimentam e são alimentadas, se relacionam com outras crianças e com os adultos, entram em contato com a natureza, se experimentam e vivenciam práticas desafiadoras, narram e são narradas, ouvem histórias, cantam, dançam, aprendem a conversar, se encantam, choram, se inquietam, aprendem a resolver conflitos e disputas, vivenciam ensaios estéticos instigantes e se experimentam na produção gráfico-plástica, brincam de faz de conta, assumem papéis, se experimentam nas mídias digitais, sobem em árvores, brincam na areia e no pátio de terra, dentre tantas outras possibilidades de ser e estar no mundo. É assim que o Município de Porto Alegre desenvolve a educação Integral em tempo integral, compreendendo o sujeito como um todo.

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Prefeitura de Porto AlegreSecretaria Municipal de EducaçãoRua dos Andradas, 680 | Centro Histórico CEP 90020-004 - Porto AlegreRio Grande do Sul | Brasil

Revista Eletrônica ConhecerTelefone: (51) 3289.1840

Expediente

CIP – DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO – BRASIL

SMED CONHECER: Revista Eletrônica. – v. 1, n. 1, (2011-). – Porto Alegre : Prefeitura de Porto Alegre ; Secretaria de Educação, 2011-.

Irregular (2011-). Descrição baseada em: n. 6, setembro 2015. Disponível na versão online em: http://websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/conhecer/ ISSN 2316-4204 1. Educação Integral. 2. Rede Municipal de Ensino. 3. Porto Alegre.Catalogação elaborada pela Biblioteca da Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre/SMED

Conselho EditorialCélia Trevisan TeixeiraGiane ZacherSalete Campos de Moraes Silvio CapaverdeValéria Carvalho de Leonço

RevisãoCélia Maria Trevisan TeixeiraSalete Campos de Moraes

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Autores

Ângela Natalina Tonon Lourenço | Licenciada em Educação Física; Pós Graduada em Dança.Cecília Rheingantz Silveira | Licenciada em música, especialista em educação, idealizadora, coordenadora e regente da Orquestra Villa-Lobos.Cláudia Viola Matzenbacher | Licenciada em História; Pós Graduada em Linguagem e Letramento.Cleiton Bittencourt Barazzutti | Licenciado em Geografia; Pós-graduado em Metodologia de Ensino de Geografia; Diretor e Coordenador do Cidade Escola da EMEF José Mariano Beck.Cleuza Iara Campello dos Santos | Licenciada em Matemática; Mestre em Educação.Eliana Zouain Campos Alibio | Licenciada em Ed. Artística; Bacharelado Interdisciplinar em Artes; Pós Graduada em Educação Psicomotora; Pós Graduada em Projetos Sociais e Culturais.Evelise Antonello Cardoso da Silva | Licenciada em Letras - Língua Estrangeira; Pós Graduada em Língua Espanhola. Everton Silveira | Licenciado em matemática e psicopedagogo. É professor da Rede Municipal de Ensino de Viamão e Diretor Pedagógico do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente – CPCA.Giane Lúcia Santos Silveira | Licenciada em filosofia, psicopedagoga e assessora pedagógica do projeto Orquestra Villa-Lobos.Jaques Buzatto de Oliveira | Licenciado em Educação Física; Pós-graduado em Psicomotricidade; Professor de Educação Física da EMEF José Mariano Beck; Coordenador do Cidade Escola. Jussara Bernardi | Licenciada em Matemática; Especialista em Educação Infantil; Mestre em Educação.Luciano Elias Bruxel | Religioso da Ordem Menor dos Franciscanos do RS, licenciado em filosofia e teologia, e é diretor geral do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente – CPCA.Maria Elaine Pilz | Licenciada em Educação Física; Pós Graduada em Educação Psicomotora.Maria Leonor Prates Araújo Silva | Licenciada em Pedagogia; Pós Graduada em Psicopedagogia; Pós Graduada em Educação Inclusiva; Mestre em Aconselhamento Psicopedagógico.Maria Luci de Mesquita Prestes | Licenciada Letras - Língua Portuguesa; Pós Graduada em Língua Portuguesa; Mestre em Linguística Aplicada; Doutora em Estudo da Linguagem.Marilaine Amaro Chaves | Licenciada em Pedagogia; Pós Graduada em Currículo por Atividade.Marilice Claus | Licenciada em Pedagogia; Pós Graduada em Educação Pré-Escolar.Mauro Guilherme Riegel | Licenciado em Ciências Biológicas; Bacharel em Terapia Ocupacional; Especialista em Educação Especial Infra e Superdotados.

Associação Beneficente AMURT-AMURTEL Equipe do Cesmar | Centro Social Marista de Porto Alegre Equipe do Cidade Escola da SMEDEquipe da Educação Infantil da SMED

SMED | Diretoria PedagógicaCidade EscolaCoordenação Cidade Escola: Maria Cristina GaraveloFone: (51) 3289.1841

Projeto Gráfico e DiagramaçãoRosane Dias González

FotografiasAcervo das escolasWillian Baldon

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