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Revista Enntrelinha Revisada - Frispit · centro de umbanda até os porme-nores da maçonaria. A pauta inclui ainda o ateísmo em Caxias do Sul e a nem tão conhecida filosofia Wicca

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Todo mundo crê em algo. Pode até ser que não se con-siga dar um nome, explicar

com todas as letras ou mensurar o tamanho daquilo que se acredi-ta, mas que a fé faz parte da vida de cada um não resta dúvidas. A religião existe para dar sentido à existência, para que o ser huma-no não se sinta perdido e deses-perado entre os tantos encontros e desencontros que acontecem ao longo da jornada que é viver. É confortável saber que um Deus – seja ele qual for – está sempre a postos para ajudar.

Sempre se teve a necessidade de um “ser superior”, seja para ex-plicar fenômenos ditos sobrenatu-rais ou como um instrumento de controle pelos mais poderosos. Logo, o tema religião é, ao mesmo tempo, antigo e contemporâneo. No auge de uma sociedade ca-pitalista e, portanto, materialista, a necessidade de se “voltar para dentro” é quase palpável.

Esta edição da revista Entrelinha traz a fé sob os mais variados as-pectos, sem preconceitos e – mui-to menos – censura. A reportagem

percorreu universos religiosos dis-tintos, que englobam desde um centro de umbanda até os porme-nores da maçonaria. A pauta inclui ainda o ateísmo em Caxias do Sul e a nem tão conhecida filosofia Wicca. A matéria especial conta como são os rituais de diversas re-ligiões e crenças.

Somos seres feitos de carne, osso e alma. A espiritualidade é tão vital quanto o pão e o vinho. Apesar disso, ainda continua um mistério para boa parte de nós. Desejamos uma boa leitura!

Editorial

Expediente

Reitor: Evaldo Antonio Kuiava

Diretora do Centro de Ciências Sociais: Maria Carolina Rosa Gullo

Coordenador do Curso de Jornalismo:Alvaro Benevenutto Junior

Professora: Ana Laura Paraginski

Alunos:Adroir da SilvaAlana Michelli BofArthur Monteiro Chiapinotto

Clariana Grando ZanattaDiúlit Bernart OldoniFranciele Masochi LorenzettIvone Maria MontanariJonathan ZanottoJuliana GirelliKamila Giazzon MendesLucas BorbaLucas Demeda dos SantosMaria Luiza Grazziotin BritesMayara ZanellaPriscilla Breda PanizzonRitieli Nunes FernandesRodrigo de MarcoSchaiane Maria do Sacramento

Esta revista é o produto final da disciplina de Design de Notícia -

2º Semestre de 2014

Foto: Matheus Magnani

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SumárioJuventudeO envelhecimento da Igreja Católica ......4.......................

........Ao som do coração .....6

A cultura de paz no ensino cristão ....8O céu é a meta .........12..............................Castidade ....14

RituaisCaminhos para o transcedental .......16Mistério da janela ...... 20Homens de fé ....22

ComunidadeUmbanda sem medo ..... 24Em nome de Jesus .......................26......................................... ..........O Budismo na Serra Gaúcha ..... 30

O sagrado que aqui habita .... 32........................................Povo de Jeová ....34Gaúcho sem Deus ....36

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entrevista ao Jornal do Comércio que uma de suas bandeiras era “reaproxi-mar a juventude à Igreja Católica”. Ao ser perguntado sobre a perda de fiéis e como ele pretenderia aproximar os jovens da congregação, Dom Jaime Spengler respondeu: “esta é uma re-alidade da Igreja hoje, é uma questão que nos preocupa, a ser discutida e es-tudada. Nós temos uma juventude ex-pressiva, um grande número de jovens que convivem com o que chamamos de uma experiência autêntica de Jesus Cristo. A Jornada Mundial da Juven-tude deixou um legado para nós, um espírito muito bom no ar, mas precisa-mos dar continuidade a esse trabalho. Espero encontrar meios para ir ao en-contro dessa juventude, de me aproxi-mar mais dos jovens e com eles fazer uma caminhada marcada pela experi-ência de Jesus Cristo”.

O envelhecimento da Igreja Católica

Grupos de Jovens católicos coordenados pela Diocese de Caxias do Sul buscam valorizar a conexão com a comunidade

Quando entrei na igreja do Bairro Santa Catarina para a habitual missa das quatro horas da tarde, vi o que se-

ria a proposta desta matéria. Estaria a Igreja Católica no Brasil envelhecen-do? Na sua grande maioria, os fiéis ali presentes eram da terceira idade, idosos, participavam da “Benção da-Saúde”. O caso do envelhecimento dos fiéis e a pouca renovação deles já é história contada no continente eu-ropeu e norte-americano. O próprio Papa Francisco, em discursos recentes e principalmente na Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro no ano passado, disse que pretende tra-zer os jovens de volta à igreja. O Arce-bispo Metropolitano de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, quando empos-sado de seu novo cargo, afirmou em

Juventude

ARThuR [email protected]

Foto: Paulo Pinto

Mudando a situação

Conversando com o responsável pela área da Juventude na Igreja, o Pa-dre Rudinei Zorzo, foram explicadas as diferentes “frentes”, através das quais a Igreja Católica busca aproximar a juventude. O Padre Rudinei é encar-regado da Comissão Jovem, a qual tem como diretriz a integração da ju-ventude da Diocese de Caxias do Sul. A mobilização visa unificar os jovens que atuam nos diversos segmentos da Igreja, bem como trazer ao enga-jamento juvenil todos os que se senti-rem chamados por Jesus para também serem missionários.

A atuação do braço jovem da Igreja se dá em visitas às regiões pastorais da diocese e pelo site, Facebook e Youtu-

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be. Em outras palavras, essa comuni-cação visa mostrar ao jovem o que é a Igreja e suas atuações.

A mais importante ferramenta da “ComMissão”, segundo o Padre Ru-dinei, são os Grupos de Jovens que atuam nas principais cidades da dio-cese. Os grupos estão presentes nas cidades de: Antônio Prado, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Nova Araçá, Nova Bassano, Nova Prata, Paraí e Veranópolis. Esses grupos possuem subdivisões, perten-centes a bairros das cidades em que se encontram.

Essas organizações se definem como “grupo de orações”, nos quais os jovens são convidados a discutir questões da Igreja e a realizar ações comunitárias. De acordo com o Padre Rudinei, os grupos seguem calendá-rios próprios e se formam através de retiros ou por grupos de amigos, situ-ação “supra-paroquial”.

“Os grupos de jovens escolhem a adoração e discussão de um aspecto de Cristo e são formados por amigos ou por retiros feitos pela paróquia a qual eles pertencem. Eles servem também, assim como a Comissão Jo-vem, para mostrar o trabalho da Igre-ja Católica para a juventude e trazê-la para dentro”, disse o Padre Rudinei.

Para o religioso, o envelhecimento e o menor número de fiéis é uma re-alidade. Anteriormente, a Igreja con-tava com um grande número de fiéis, mas sem conexão com a Igreja. Para ele, é preferível a realdade atual com número menor e maior participação. Padre Rudinei entende que passou a época do proselitismo onde o dis-curso era de que todos deveriam ser católicos.

“Em uma época de maior liberdade religiosa e presença de múltiplas fés, a Igreja Católica deve aproximar-se e trazer para o convívio uma sociedade participativa de seus dogmas”, afir-mou.

Essas medidas de 2012, que visam reaproximar a juventude da Igreja Ca-tólica, chamadas de “Nova Evangeliza-ção”, precisarão de tempo para surtirem efeito.

O certo é que a maior pluralidade religiosa forçou a fé católica a uma re-adequação. Resta, para os interessados nos movimentos históricos, observar com atenção os próximos desdobra-mentos.

A Igreja e as mudanças socias

Padre José Mussoi pensa que aindaé possível acreditar em um mundo melhor

Para o padre José Mussoi, que atende dez comunidades no município de Farroupilha, alguns fatores relacionados principalmente às mudanças sociais que aconteceram nos últimos tempos têm influenciado decisivamente para a diminuição da presença dos jovens nas igrejas. Entre as mudanças, Mussoi cita o crescimento do individualismo, do egoísmo, e da indiferença do ser humano diante dos fatos.

“A sociedade neoliberal está contribuindo cada vez mais para a destruição do espírito comunitário. O ser humano nunca teve tantos meios e facilidades para se comunicar, porém nunca na história esteve tão isolado e tão triste”, ressaltou.

Ainda na opinião do padre, a Igreja precisa passar por uma transformação profunda para atrair os jovens.

“Precisamos incentivar a juventude para que busque Deus, pois isso tem um reflexo direto na sociedade. Quando se tem Deus no coração, a tendência é o afastamento dos vícios e das drogas e, por consequência, de todos os ma-les que isso ocasiona. Só assim podemos criar uma sociedade mais humana, unida e menos indiferente com seu irmão”, disse.

Mussoi conclui enfatizando que é possível mudar a juventude e as pessoas a partir da valorização do ser: “precisamos lutar mais em todos os sentidos para combater o ter e valorizar o ser. Precisamos de lideranças comprometidas com as pessoas, gente de transformação e de alegria, que vibre pela vida. Quando o ser humano aprender a viver o respeito à humildade e alegria que os animais transmitem teremos uma sociedade mais humana, de paz, fraternidade.”

Foto: Adroir Fotógrafo

Padre José Mussoi nasceu em Flores da Cunha ehá cinco anos atende comunidades de Farroupilha

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Ao som do coraçãoMúsica religiosa dá novo tom à vida de jovens caxienses e reforça a fé em um

mundo melhor, regado por melodias que alegram a alma

KAMILA [email protected]

Após a Jornada Mundial da Ju-ventude (JMJ), em 2013, um novo olhar se formou para milhares de jovens católicos.

Os conselhos do Papa Francisco, que esteve pela primeira vez no Brasil, serviram de estímulo para a busca de um mundo melhor. Com a fé e a es-perança renovadas, era hora de fazer a diferença.

Mas antes mesmo da JMJ, esse sentimento de mudança já havia to-cado o coração de Lucas Nunes, 19 anos. Ele participa de um grupo de jovens da Diocese de Caxias do Sul e utiliza a música como instrumento de transformação social. “Tem um ditado que diz: quem canta, ora duas vezes. Tocar o coração das pessoas não tem preço que pague. A música religiosa

toca a alma através da emoção”, afir-ma Lucas.

O som que sai do violão do jovem, que aos 12 anos já fazia parte de um coral, é o ritmo da sua própria jorna-da. Desde que entrou para o grupo de jovens, um universo de boas energias se abriu na sua frente. “Através das pa-lavras, a música religiosa, além de fa-lar sobre Deus e a fé, também diz que é preciso acreditar em si mesmo para

Foto: Kamila MendesJuventude

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a tua vida valer a pena. Se você sou-ber aproveitar esse conteúdo musical, tudo vai acontecer para o seu bem”, diz Lucas ao explicar o poder transfor-mador dos cantos da igreja.

há dois anos, Letícia Espindola, 18, descobriu por acaso que tinha o dom de cantar. Aos poucos, passou a exer-citá-lo dentro da sua religião e princi-palmente dentro do grupo de jovens que frequenta. “Muita coisa mudou desde que passei a me envolver com a música. Criei mais responsabilida-de e passei a enxergar a música não apenas como melodia para os ouvi-dos, mas como uma forma diferente de linguagem para nutrir o coração e a alma”, afirma a jovem, que partici-pou da JMJ 2013 e viu de perto o Papa Francisco.

Letícia já sabe que tem a missão de distribuir bons sentimentos através da sua voz. É desta maneira que ela afir-ma que Deus se faz presente na sua vida. “A música religiosa é e sempre será o modo mais rápido de tocar o coração de um jovem. A partir do mo-mento em que ele se sentir tocado, seja pela letra, pela melodia ou pela

Música na Igreja

mensagem que a música passa, ele vai saber que é na igreja que as suas dú-vidas serão respondidas. As respostas certas podem transformar e dar sen-tido para a sua vida”, explica Letícia.

Além do amor pela igreja e pelo dom em cantar e tocar o coração das pessoas, Lucas e Letícia contam que essa ligação com Deus é capaz de dar um novo sentido aos caminhos dos jovens. “A música é arte, ela eleva a alma e traz um novo significado para a vida”, define Lucas. “A mudança co-meça por nós mesmos e se valoriza-mos a música que exalta a vida, talvez os nossos preceitos culturais e morais sejam evidenciados, fazendo a mu-dança acontecer na vida de cada um”, diz Letícia.

Para o Padre Gilmar Marchesini, 46, natural de Nova Prata e pároco da Diocese de Caxias do Sul, a música religiosa tem a função de ser sinal de louvor, de meditação e de reflexão so-bre a existência humana. Ela é expres-são de gratuidade, alegria, harmonia,

distensão e êxtase. “O ato de cantar torna célebre a própria experiência humana, desperta para avaliação da realidade e mobiliza para as esperan-ças e utopias que dinamizam a vida, a libertação e a intersolidariedade hu-mana”, explica Gilmar, que desde pe-queno participa dos cantos religiosos.

Atualmente, a Igreja Católica bus-ca formas de se aproximar dos jovens, afinal de contas eles são o futuro da sociedade. Com a música cada vez mais presente nos momentos de ora-ção, o laço entre eles torna-se mais forte e prazeroso. “Os jovens são, por excelência, os que fazem a experiên-cia da gratuidade, da festa, do jogo do corpo e têm a necessidade de apre-sentar os papéis sociais e religiosos. Nesse contexto existencial, a música, na expressão da melodia e da poesia, é capaz de mobilizar os segredos de amor que estão no coração da juven-tude, as utopias, as expectativas e o projeto de vida”, afirma o Padre Gil-mar ao comentar que a música é arte educativa e que exerce uma ação pe-dagógica no processo de transforma-ção integral dos jovens.

Letícia Espindola canta e encanta nas celebrações religiosas

Padre Gilmar Marchesini leva a palavra de Deus em forma de música aos fiés da sua paróquia

Lucas Nunes utiliza os cantos católicos para alegrar os momentos de oração

Foto: Arquivo Pessoal Foto: Arquivo Pessoal Foto: Arquivo Pessoal

A Jornada Mundial da

Juventude lançou novo CD e

DVD em dezembro de 2014.

Os discos “uma Jornada de

Esperança” são duplos e estão

disponíveis em lojas do país

inteiro. No material consta a

cobertura completa da JMJ

2013 no Rio de Janeiro, além

de músicas da Via Sacra e da

Vigília.

Foto: Catedral Santa Tereza / divulgação

Diocese de Caxias do Sul, onde Lucas e Letícia participam do grupo de jovens, é berço da fé católica da cidade

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A cultura de paz no ensino cristãoColégio de Bento Gonçalves é o típico exemplo de ensino regrado pelo

catolicismo. Porém, mais que religião, enxerga no ensino o futuro do bom convívio

No começo do século XXI, dentre as religiões profes-sadas pela população brasi-leira, o Catolicismo continua

a ter o maior número de seguidores entre os habitantes do país. Tal pre-dominância é decorrente da presença da Igreja Católica em toda a formação histórica brasileira. “A Igreja tem nos lábios a sílaba fulgurante, o Verbo de Deus, o seu primeiro poder é o ma-gistério”. Essas palavras estão na Car-ta do Episcopado Brasileiro, escritas em 1890. A Igreja teria uma missão educativa, com a finalidade de cons-truir no povo uma consciência cidadã e resgatar, por meio das escolas, do ensino primário e secundário, a he-gemonia. Não é à toa que as escolas católicas estão presentes em todo o território nacional, e são consideradas uma das maiores forças educacionais do Brasil, indo do ensino infantil até o superior.

As escolas católicas, em sua gran-de maioria de ensino privado, carac-terizam-se pela forma educacional, muitas vezes rígida. Para a diretora do colégio Scalabriniano Nossa Senhora Medianeira de Bento Gonçalves, Irmã Isaura Paviani, o principal diferencial das escolas católicas é o regime pe-dagógico. “Os nossos diferenciais pe-dagógicos, digo das escolas privadas, são a formação de professores, a qua-lidade do material didático, a huma-nização da educação no seu todo e,

Juventude

JONAThAN [email protected]

JuLIANA [email protected]

por humanização, que é um dos gran-des valores, nós entendemos que é dar condições aos alunos, educandos e educadores com linguagem apropria-da, que lhes dão autonomia pessoal

coletiva”, ressalta. Segundo a Irmã, a educação científica é provida de pala-vras e linguagens adequadas, por isso é de entendimento da educação cristã uma formação mais de humanização.

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Quebra de paradigmas

Isaura lembra que o Colégio Medianeira tem por identidade ser uma escola cristã, que respeita toda a diversidade religiosa e cultural que está presente na sociedade. Apesar disso, a Irmã lembra que a busca é sempre pelo bem, e a característica se mantém em levar a palavra de Je-sus para uma sociedade carente de boa justiça e ética. “Precisamos de uma conversão pessoal e coletiva muito rápida, porque se observar-mos para onde estão indo nossos jovens hoje, nós até nos assustamos, porque começam cedo demais uma vida social e o que eles encontram, muitas vezes, não é orientado e muito menos pregado numa esco-la católica. Então, nós temos que ter um referencial muito claro, que para nós é a pessoa de Jesus Cristo com seus valores. Estão claros na palavra de Deus, inclusive, todos os princí-

pios de subsidiariedade, de valor de respeito, e todo o corpo docente, funcionários, direção e até as famí-lias. Necessitamos muito ser teste-munhas daquilo que falamos e da-quilo que nós apresentamos a eles”, esclarece Isaura.

A busca do bem coletivo

Segundo Isaura, muitas vezes os pais querem se tornar amigos dos fi-lhos e enquanto amigos eles deixam de exercer seu papel de pai e mãe. “Eu diria que falta uma hierarquia, que aqui na escola nós tentamos co-locar, através da própria espirituali-dade, pois esta espiritualidade é que vai dar sustentação e vai fazer com que eles percebam que a realidade social, familiar e educacional fica obscurecida se a gente não enfren-tar com esperança, com fé as adver-

sidades que aparecem”, analisa.A reunião e confraternização de

todos é um dos pilares defendidos pelo colégio. A diretora lembra que todos os meses de agosto é realiza-da a semana da família, com pales-tras para pais e alunos e com um tra-balho inclusive com os avós. “Além disso, quando se percebe alguma coisa, dialoga-se com os pais, por-que a educação religiosa não pode ser separada do que a pessoa sente, das emoções, do seu caráter, então ela é trabalhada desde pequena”, explica Isaura.

A irmã faz questão de esclarecer sobre educação religiosa e dissociá--la da Igreja. “Quando se fala em educação religiosa, geralmente as pessoas têm em mente que a reli-gião está ligada com a Igreja, mas não é. Educação religiosa é o que há de mais profundo dentro do nosso ser, cuja palavra correta é espirituali-dade, que se manifesta nas atitudes, comportamento e valores”, afirma.

Fotos: Jonathan Zanotto

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Equilíbrio da fé com o ensino da ciência

“O equilíbrio entre fé e ciência só será possível se a instituição tiver ba-ses sólidas, se realmente tiver clareza do que é essencial numa educação. A escola tem como compromisso social o desenvolvimento do conhecimento científico, “tem de ficar claro que inte-grar a fé e a educação para formar ci-dadãos cristãos, comprometidos com o senso de humanidade, traduz-se numa urna eletrônica, por exemplo. Isso é compromisso da escola. O do-cumento da Igreja diz que a fé e a ra-zão constituem duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para con-templar a verdade. O nosso fundador, João Batista Scalabrini, dizia que a razão e a fé são filhas do mesmo pai e são duas palavras que partem da mesma luz e da mesma fonte”, acredi-ta a diretora, que ainda cita o cientista Albert Einstein. “Ele diz assim: que a fé sem a religião é morta e a ciência

sem a fé é cega. Então, não tem como dissociar a fé, religião e ciência. A fé e a ciência se complementam porque, na verdade, o ser humano só encontra plenitude na sua vida, na existência da própria identidade, que é Deus. En-tão, é muita ignorância o homem que acha que pode fazer ciência sem fé, sem religião, porque a ciência explora a natureza como tal, mas a fé e a reli-gião exploram algo que não é palpá-vel”, explica.

A diretora finaliza falando que, com regras, atitudes e clareza nas ações, outro sentido pode ser dado à vida das famílias. “As famílias estão sem saber como agir, é verdade, de fato hoje os pais correm muito para sobreviver e isso tudo traz prejuízo do pensar, pensar na formação in-tegral de seus filhos, desde o ventre materno, para que eles sejam pessoas sólidas, autônomas, e que sejam real-

A capela do colégio está sempre aberta a disposição de alunos e funcionários

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Por que optar por um colégio religioso?

Para o presidente da Associação de Pais e Mestres do Colégio Medianeira, César Rubechini, os pais enxergam no ensino cristão, principalmente, os va-lores morais e éticos. Segundo Rube-chini, a religiosidade traz consigo um convívio social educado e de bem--estar. Porém, afirma que não vê mui-ta diferença se comparado ao ensino público. “hoje em dia, vejo que todas as escolas têm essa preocupação em proporcionar aos seus alunos esses valores éticos e morais que a gente busca pra ensinar as nossas crianças. A diferença de um colégio particu-lar pra um colégio público, digamos assim, eu acho que é a possibilidade de a gente ter uma intimidade maior com a escola e com os gestores da es-

mente cidadãos, não de Bento, mas do mundo”, conclui.

cola”, alega.Apesar de todas as interferências

que a escola faz na educação das crianças e jovens, para Rubechini as duas instituições, escola e famí-lia, devem ter uma relação bastante estrita. “A escola, na verdade, ajuda as famílias a educarem seus filhos. Quem tem a principal meta de edu-car seus filhos são os próprios pais. Não se pode esperar que a esco-la faça todo o trabalho. A escola tem que ter meios de poder corri-gir eventuais desvios de crianças e adolescentes que não tenham uma conduta adequada ao convívio es-cola, ao convívio em comunidade”, conclui.

A história da Instituição pode ser vista pendurada nas paredes da escola. Anti-gos quadros (imagem abaixo) de forma-turas estão expostos

O ano de 2014 foi muito especial para o Colégio Media-neira que completou um século de funcionamento, sendo a Instituição de ensino mais antiga de Bento Gonçalves

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O céu é a metaJovens católicos integram projetos para a evangelização de outros jovens: do adolescente ao universitário

Jornada que impulsionou os números

Juventude

FRANCIELE [email protected]

Foto: Divulgação Comunidade Católica Oásis

A juventude é o período em que a necessidade de assumir uma postura e tomar decisões se

manifesta com mais veemência. A Igreja Católica, através das palavras de diversos Papas, demonstra a confian-ça que deposita no jovem quando lhe pede que “não se contente com nada menos do que os mais altos ideais”, como declarou São João Paulo II du-rante o seu pontificado.

No prefácio do Youcat (Ca-tecismo Jovem da Igreja Católica), o Papa Emérito Bento XVI enfatiza a confiança que tem na busca da juven-tude pela Doutrina da Igreja e pelo próprio catecismo. “Muitas pessoas me dizem: os jovens de hoje não se interessam por isso. Duvido de que isto seja verdade e estou certo do que digo”, declarou.

Para o jovem que anseia os mais altos ideais, é preciso tomar decisões eternas no curto tempo em que cami-nha na Terra. São João Bosco, o santo da juventude, deixa isso claro quan-do diz que é preciso caminhar com os pés na Terra, mas estar com o coração no céu.

A praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, contou com cerca de 3,7 mi-lhões de pessoas em 2013, que parti-ciparam da missa de envio da Jornada

Mundial da Juventude (JMJ), segundo a Arquidiocese do Rio de Janeiro. O evento surgiu durante o pontificado de São João Paulo II, na década de 80, e prevê a cada dois ou três anos um encontro internacional dos jovens com o Papa, que dura aproximada-mente uma semana.

João Paulo II esclarece o intuito da JMJ em uma carta remetida ao Carde-al Eduardo Francisco Pironio, na oca-sião do Seminário sobre as Jornadas Mundiais da Juventude, organizado na Polônia. “O principal objetivo das Jornadas é fazer da pessoa de Jesus o centro da fé e da vida de cada jo-vem, para que Ele possa ser seu ponto de referência constante e também a inspiração para cada iniciativa e com-promisso para a educação das novas gerações”, explica.

Jovens que integram o GOU Servos por Amor, a Comunidade

Oásis e o Projeto Crescer

Fotos: Franciele Lorenzett e Pablo Müller

Retiro “Up: Rumo ao Céu!” na Comunidade Católica Oásis com jovens a partir de 14 anos

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Jovem católico na prática

“Será que sou amado?” Essa é uma dúvida de grande importância na vida do jovem, segundo Pablo Müller da Silva, 27 anos, integrante da Comunidade Católica Oásis. Através de um contato direto com a juven-tude que participa das atividades no local, Pablo se lembra da época em que, gradualmente, foi conhecendo mais sobre a Igreja e o que é, de fato, ser católico. “Nesse processo, quanto mais eu conhecia, mais eu me sentia atraído”, destaca.

A estudante de Direito Karen Ro-drigues Dorneles, 22 anos, conta que em certas ocasiões as pessoas são muito resistentes a conhecer Cristo e têm vergonha daquilo que os outros podem pensar. Karen é coordenado-ra do Grupo de Oração universitário (GOu) Servos por Amor, que se reúne no bloco E da universidade de Ca-xias do Sul (uCS), toda terça-feira, às 18h45. Os encontros duram cerca de meia hora e ela destaca que o prin-cipal objetivo é formar profissionais cristãos à luz do Evangelho, para que não fiquem fechados em si mesmos.

O GOu faz parte do Ministério universidades Renovadas e o seu foco é o público que circula no ambiente acadêmico, como alunos, professores e funcionários. No Brasil, são mais de 500 GOus, além de estarem presentes em outros países.

Já a Comunidade Oásis conta com ações como a Experiência Missionária, onde o jovem reside no local por um período determinado e vivencia as di-mensões de convivência, oração e tra-balho missionário. O jovem também recebe formação específica durante o período, conforme Pablo. Na Comu-

Foto: Franciele Lorenzett

Sítio do Projeto Crescer em Garibaldi - RS

nidade, existem ainda outras opções voltadas para a juventude, como o Youcat School, que são encontros se-manais sobre o Catecismo Jovem da Igreja Católica, e os retiros, que con-sistem em cerca de três dias de ati-vidades, oração, dinâmicas e partilha. Segundo Müller, cada retiro recebe cerca de 80 jovens.

Pela necessidade de criar ativida-des saudáveis para quem termina o período da catequese, surgiu o Proje-to Crescer, em Garibaldi - RS. De acor-do com um dos integrantes do proje-to, Damian Paulo Chiesa, 31 anos, os jovens participam de um encontro no final da catequese e depois podem in-gressar em um dos grupos de jovens da cidade, que são acompanhados pelo Crescer. Após, outros encontros são realizados unindo os grupos que fazem parte da iniciativa, com o obje-tivo de caminharem juntos e amadu-recerem na fé. O núcleo do projeto é formado por 15 pessoas e a sede se desenvolve no sítio Crer Ser, localiza-do no bairro Borghetto. “O Crescer re-cebe cerca de 100 jovens por ano, que vêm da Paróquia de Garibaldi”, estima Chiesa.

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Coordenadora do GOU Servos por Amor e estudante de Direito, Karen Dorneles. Acima, membros da Comunidade Oásis, do GOU e do Projeto Crescer

Grupo de Oração universitário Servos por Amor

Bloco E da uCS, terças-feiras, às 18h45

www.facebook.com/goucaxias

Projeto CrescerPara jovens entre 13 e 17 anos

www.grupo-crescer.blogspot.com.br

Comunidade Católica OásisExperiência Missionária: a partir de 18 anos

Youcat School: aos sábados às 20h www.comunidadeoasis.com

Para conhecer mais:

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CastidadeJovens que resolveram esperar

RITIELI [email protected]

A castidade antes do casamen-to é vista por muitas religiões como uma forma de virtude moral. Para a Igreja Católica,

a castidade é promessa de imortalida-de. É a forma de mostrar ao discípulo como seguir e imitar aquele que nos escolheu como seus próprios amigos. Os católicos acreditam que a castida-de antes do casamento é uma forma de conhecer o outro em sua plenitu-de. Para o budismo, a castidade é vista como a maneira de alcançar a liberta-ção dos sofrimentos e das decepções humanas.

A jovem católica praticante Ana

Claúdia Muterlle, 21 anos, explica porque optou pela castidade até o ca-samento: “é muito complexo de falar, pois são muitos motivos. O principal é para conhecer melhor o outro e a mim mesma, e não somente o prazer que cada um pode oferecer ao outro A castidade ajuda a proporcionar co-nhecimento integral do outro”.

“Tudo começa na amizade. A gen-te coloca em primeiro lugar o ato de se conhecer, ver se a gente se dá bem. Coloca em primeiro lugar eu saber o que a Ana gosta, como eu posso fazer ela feliz através do que ela é, do que ela gosta, do que a gente gosta, dos nossos planos, nossos sonhos. Então, parte-se do princípio de que, antes

das intimidades, a gente procura viver a amizade”, diz o namorado de Ana, Damian Chiesa, 31 anos.

Ana e Damian namoram há 3 anos e 8 meses e também contabilizam 6 meses de amizade. Eles se conhece-ram em um grupo de jovens. “Eu te-nho 21 anos, participo do grupo de jovens desde os meus 11 anos. A gen-te se conheceu quando eu tinha 17, e ele 27, ele tem 10 anos de diferença. Eu estava organizando um retiro de jovens, ele é de Garibaldi e eu con-videi o grupo de jovens dele pra vir. A gente ficou se falando por um mês para organizar, sem se conhecer, eu chamava ele de Damião, o nome dele é Damian, (risos). E aí, quando a gen-

Juventude

Foto: Arquivo Pessoal

Ana e Damian casaram em abril de 2015. Desejamos que sejam muito felizes!

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te se conheceu, eu senti algo especial. Depois, a gente ficou conversando uns 6 meses, e a gente não ficou antes de namorar, a gente já decidiu namo-rar. Muito por essa ideia, de que não é o prazer que eu ofereço pra ele, mas é o que eu sou. É a ideia da gente cons-truir algo”, conta Ana.

Jovens que escolhem a castidade optam por este modelo para serem vistos pelo outro como é o seu ser. Muitas vezes, as mulheres são vistas pelos homens como um objeto des-cartável, que eles utilizam e depois quando cansam, trocam por outra e assim fazem a vida toda. Muitos ho-mens e mulheres casam todos os dias, mas também é grande o número de casais que se separam todos os dias. Frequentemente, a separação aconte-ce por não haver esse amor e conhe-cimento pelo ser, há um amor somen-te carnal, que não dura muito tempo. Quando um dos parceiros não pode mais oferecer esse prazer, o amor aca-ba.

Foi ouvindo e conhecendo os ensinamentos da Igreja que a jovem optou pela castidade até o casamen-to. Eles optaram por uma forma de namoro mais sadio, como eles mes-mos definem. “Eu me sinto amada por completo, porque ele conhece meu íntimo, meu ser e me ama assim. Ele já decidiu por mim. É um namoro muito criativo, muito rico nesse sentido de demonstrar carinho”, conta ela.

Muitos jovens católicos estão op-tando por essa tradição, considerada antiga. “Primeiro, por não se conten-tar com os relacionamentos que a gente vê. A Ana teve outro relaciona-mento mais curto e eu tive um outro namoro mais longo. Normalmente, eu me voltava para mim mesmo, eu bus-cava na outra pessoa algo pra me sa-ciar, também pra fazê-la feliz, mas não em primeiro lugar. Por ter vivido essa experiência, eu queria viver algo mais profundo, algo com sentido diferen-te, com sentido maior. A gente optou por esperar, por não achar um senti-do profundo para o que a gente está acostumado a ver. Desde o começo do namoro, a gente conversou assim, que a gente buscaria viver um namoro de acordo com esses princípios, com esses valores em primeiro lugar”, res-salta Damian.

Os dois jovens ansiavam por al-guém que pudesse compreender os ensinamentos da Igreja e querer ver-dadeiramente viver isso. Viver a cas-tidade por entender seus benefícios

sempre foi a vontade de Ana. “Eu quero ter um relacionamento assim, eu quero ser respeitada, não quero que o homem me veja como um beijo ou que me veja como um prazer. Meu ex-namorado, ele parecia não querer viver muito isso, e a gente terminou logo, foi um namoro super curto, porque tu via que ele não tinha esse olhar mesmo. Eu entendia muito as-sim, que esses conselhos da Igreja são iguais regra de trân-sito, tu podes passar no sinal vermelho, tu podes estacionar em lugar proibido, só que quem vai sofrer as consequências é tu. Deus não deixa de amar se a gente erra, Deus nos ama sempre. Eu sem-pre entendi que a Igreja não impõe isso, que a Igreja deixa uma escolha livre, tu aderes se tu queres ou não”, salienta a jovem.

Castidade x Virgindade

Não podemos confundir castidade com virgindade. Ser casto é uma op-ção, uma escolha de vida. Mesmo não sendo mais virgem, uma pessoa pode ser casta. Segundo o glossário do site Catecismo na Igreja Católica, a casti-dade comporta uma aprendizagem do domínio de si que é uma pedago-gia da liberdade humana. A alternati-va é clara: ou o homem comanda suas

paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz. “Para muitas pessoas, a castidade é um momento de encontrar o sentido da vida. É um momento de conheci-mento do ser, momento que pode ser vivido em casal, um conhecendo o ou-tro sem o uso de relação sexual. Será que é isso mesmo? Eu me questiona-va qual era o relacionamento verda-

deiro, no que está pautado. Então, eu fiquei algum tem-po sem namorada, me conhecendo

melhor para poder estar de bem co-migo mesmo, pra poder fazer alguém feliz. Eu vejo que é uma virtude, por-que para tudo na vida a gente precisa ter um autodomínio. A castidade é a virtude que traz esse domínio sobre mim mesmo. Não que a gente não tenha vontade de ter o ato sexual, a gente tem, tem muita vontade, mas a gente busca refletir, busca conversar sobre isso, busca entender que por mais que a gente tenha vontade, mes-mo no casamento vão ter momentos que a mulher não vai poder ter o ato sexual ou o homem não vai poder ter o ato sexual, então cabe a compre-ensão do casal de saber se respeitar. Se a gente não treina isso no namoro, depois no casamento fica mais difícil”, enfatiza Damian.

Sem possessão, sem ciúmes

A castidade também é uma forma de obter o controle de si, é uma forma de preservar o relacionamento, é também um instrumento de preservar a fidelidade do casal. É bom para os filhos, pois qual

filho não quer ter um pai e uma mãe que sejam fiéis? Às vezes têm mitos, não se tem a compreensão, mas é uma coisa muito normal, muito sadia, muito bela, “ explica Damian.

“A gente não tem ciúme. Claro que queremos cuidar um do outro, mas assim como a gente é tão fiel ao que a gente se colocou, a nossa meta, tão fiel a nós, a gente se controla, se acontecer uma situação que eu sei que ele vai ter o domínio de si pra não me trair. Então é um na-moro bem leve, sem ciúmes, sem possessão. Eu deixo ele sair com os amigos, eu também saio com as minhas amigas. Não tem essa coisa de, ‘Onde é que tu tava? Que horas tu voltou? Por que que tu saiu?’ É um noivado bem fecundo, a gente dedica muito tempo aos outros, ao grupo de jovens, aos amigos, à família, à igreja, ao trabalho, aos retiros, a gente dedica o nosso tempo também para os outros”, declara Ana.

Ana e Damian contam que surgem comentários, brincadeirinhas so-bre a escolha desse modelo de namoro. Mas como eles convivem bas-tante com o grupo de jovens, com amigos que também frequentam a Igreja, eles têm apoio e admiração dos amigos. O casal fala sobre o as-sunto em retiros e na própria faculdade, onde Ana cursa Jornalismo.

* Eles se casaram em abril de 2015. Que sejam felizes para sempre!

“Tudo começa na amizade”

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Rituais

Caminhos para o transcedental

Fotos: Lucas Demeda

Aliança com o divino celebrada pela eucaristia

é o ponto alto dascelebrações católicas

Com papel central na prática religiosa, rituais perpassam todas as crenças e ajudam a entender a natureza do ser humano

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um grupo de pessoas se reú-ne para uma celebração. Or-denadamente, pão e vinho são repartidos entre os pre-

sentes. Os alimentos, considerados sagrados, são então consumidos de forma respeitosa.

Essa cena descreve, de forma ge-nérica, a prática católica da eucaris-tia, mas palavras parecidas já foram usadas para relatar homenagens ao deus grego Dionísio, entre outras di-vindades do mundo antigo.

Mais abrangente ainda é o ato da comunhão. “Comer junto” em me-mória a um antepassado morto é um costume que pode ser detectado até em tribos indígenas brasileiras.

Rituais como esse estão presentes nos vários aspectos da vida humana e se confundem com a invenção da própria linguagem. Como explica o antropólogo Rafael José dos Santos, “a linguagem funda a cultura, é nessa hora que o ser humano entra na or-dem do simbólico”.

Mas é na religião que os ritos se tornam protagonistas. De acordo com Rafael, isso ocorre por causa da própria natureza dos mitos reli-giosos. “O ritual é uma performance na qual as pessoas que participam

dramatizam de alguma maneira uma história que se repete. É a afirmação simbólica da crença”, define.

A eucaristia, por exemplo, reconta o mito da Última Ceia, no qual Jesus, considerado o filho de Deus, ofere-ce seu corpo e sangue aos apóstolos por meio dos alimentos citados, ce-lebrando uma aliança com eles antes de sua morte.

Em cada missa, o relato é repetido simbolicamente: o sacerdote aben-çoa uma hóstia – pão ázimo, assado sem fermento – e um cálice de vinho, para então distribuir o alimento entre os fiéis. “A eucaristia é o ponto alto da vida cristã”, pontua o bispo da Diocese de Caxias do Sul, Dom Ales-sandro Ruffinoni.

Sua importância é tanta que se faz presente durante cada marco religio-so da existência dos adeptos, numa permanente renovação da aliança milenar com o divino, e pressupõe a realização de rituais anteriores para ocorrer. “Para chegar ali (na eucaris-tia), é necessário preparação, para entender melhor o sacramento. É o recebimento da graça de Deus”, re-força o bispo.

Troca com o divinoEntender é fundamental para que

o ritual ultrapasse a mera represen-tação abstrata e comunique algo aos

O muçulmano Yunus, 17 anos, realiza uma de suas cinco orações diárias na mesquita

de Caxias do Sul

LuCAS [email protected]

envolvidos em cada prática. E isso é especialmente importante no can-domblé. Os adeptos da religião afro--brasileira mantêm uma forma mais literal do ofício sagrado entre seus ritos: o sacrifício animal.

A manutenção dessa prática na sociedade contemporânea soa des-locada, ao menos até nos aprofun-darmos um pouco nos preceitos da crença. Conforme o babalorixá (sa-cerdote) Roberto de Almeida, o can-domblé é um culto à natureza. “Res-peitamos desde o mineral, os animais, as plantas. Mas existem alguns rituais da tradição iorubana (etnia africana) que devem ser respeitados”.

Nas celebrações privadas do can-domblé, cada orixá – divindade re-lacionada a um aspecto da natureza – tem seu próprio rito e deve ser ho-menageado com oferendas. É aí que, em alguns casos, entra o sacrifício. O sangue vermelho é considerado sa-grado, assim como a seiva de plantas ou o sangue branco de um determi-nado caracol, entre outras substân-cias. São fontes de “axé”, energia vital que precisa ser transferida para que o rito tenha sucesso.

Em seguida, o alimento prepara-do para os orixás é consumido pe-los participantes da cerimônia. “E no meu caso, eu condiciono e dou em

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um lugar onde as pessoas tenham necessidade. No candomblé, nada é jogado fora”, acrescenta Roberto. O animal escolhido também não pode sofrer durante o processo, para que a oferenda seja aceita.

Para o babalorixá, que esclarece ser vegetariano, a prática não está tão distante de outras religiões. Os judeus, por exemplo, só consomem a carne bovina de animais cujo abate obedece à lei religiosa. A preparação de carne também é preocupação dos muçulmanos, que só a consomem mediante uma ritualística de purifica-ção no preparo.

“Nós estamos fazendo isso den-tro da nossa fé. A galinha que você compra no supermercado também passou por um sacrifício, num aviário dá pra ver o que ela passa”, compara o babalorixá.

Dentro da prática do candomblé, também ocorre a incorporação dos orixás, quando participantes do rito atuam como veículos para a mani-festação das entidades. “Esse orixá é saudado e as pessoas têm a possibi-lidade de chegar perto do seu deus. Mas o fundamental é a fé. Não existe

Lembrete diárioChegar perto do transcendental

é objetivo comum nos rituais religio-sos. Para alcançá-lo, os participantes da sanga (grupo budista) de Caxias do Sul se utilizam de práticas de me-ditação que trabalham a respiração, visualização de deidades e recitação de mantras.

Carliza Vettorato Timm ministra oficinas semanais para participantes do grupo, que seguem o budismo ti-betano vajraiana. Ela define os exer-cícios executados como um caminho para a iluminação.

“Cada aspecto tem um simbolis-mo, um significado. Isso quem ensina são os lamas (professores)”. É como se cada elemento servisse para lem-brar o praticante do caminho a per-correr. “Nessa realidade, a gente pre-cisa de simbolismo, métodos, cores. São todas representações para lem-brar do que se quer alcançar”, afirma.

Lembretes desse tipo são fre-quentes em outra religião com forte presença no oriente: o islamismo. O

Meditação, cores e símbolos ajudam os budistas a alcançarem seus objetivos

estudante Jonathan da Silva Ferrari, 17 anos resume a visão dos fiéis: “o islã é uma religião completa”.

Em uma sala no centro de Caxias, onde se vê apenas uma estante, al-guns livros e um carpete com linhas indicando a direção de Meca, o jo-vem – batizado pelos companheiros de crença de Yunus – se prepara para uma de suas cinco orações diárias. “A oração é essencial para o muçulma-no. É o momento de estar se comu-nicando diretamente com Deus, sem intercessor, sem ninguém”, conta.

A pequena mesquita logo enche com a chegada de outros fiéis, entre os quais estão vários imigrantes se-negaleses recém-chegados à cidade. Todos se purificam, fazem suas ora-ções voltados para a cidade que con-sideram sagrada e se preparam para um debate dos ensinamentos do islã.

Após a prática, Fernando Augusto Bender, professor de Engenharia Elé-trica de 37 anos, reflete sobre o papel dos rituais na religião. “Em resumo, a prática é externa, a crença é interna. um precisa do outro. A prática é uma lembrança para ti mesmo daquilo que tu é”, salienta Bender.

Para os muçulmanos, oração é o momento de conversar

diretamente com Deus

ritual que te faz melhor, o que te faz melhor é a crença”, conclui.

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Diferenças que aproximam

O nono mês do calendário lunar islâmico é especial para os muçulma-nos. Denominado Ramadã, consiste num período de reflexão, renúncia e esforço nas práticas sagradas. É nes-sa época que os adeptos da religião praticam o jejum ritual durante o dia.

Os adeptos de outra religião, co-mumente associados a uma posição antagônica ao islã e a um longo con-flito político-ideológico no Oriente Médio, curiosamente protagonizam uma celebração parecida. O Shabat (sábado) representa o sétimo dia da criação do mundo para os judeus. “É um dia para descansar, refletir sobre os nossos atos e fortalecer a conexão com o Sagrado”, explica o Rosh (líder) Elazar ben Elisha, da Congregação Israelita da Nova Aliança de Caxias. Na data, os judeus se abstêm das atividades costumeiras e se dedicam a orações e ao estudo da Torá, livro sagrado da religião.

Perguntado sobre a sensação de participar do Ramadã, o jovem muçulmano Yunus abre um sorriso. “Depois de passar o dia inteiro sem comer, chega a hora de quebrar o jejum, a gente fica quase jubilante, pensando: ‘eu fiz isso por Deus, me esforcei para Deus’”.

A resposta se confunde com a descrição de Elazar sobre o Shabat: “Toda semana o celebramos e ansia-mos por sua chegada”, diz. “Nossos sábios costumam falar que ‘o Shabat é uma ilha no tempo’. É como se um

dia a cada sete nos transportássemos para uma ilha e ali nos afastássemos totalmente do nosso cotidiano”.

um padrão fica claro. Embora tenham aspectos muito diferentes, as religiões apresentam lógicas pa-

recidas. E nenhuma representa o conceito de diversidade melhor do que a umbanda. Segundo Saul de Medeiros, presidente da Associação umbanda Caxias, a crença brasileira nasceu sincrética, com elementos do catolicismo, hinduísmo, africanismo e espiritismo.

“Ela (a umbanda) se considera cristã, acredita nos orixás e na re-encarnação, e trabalha na dialética entre o plano físico e astral”, declara. Nas celebrações públicas da religião, é realizado o passe, em que espíri-tos são consultados pelos presentes, com o auxílio de elementos como ve-las, incensos, cânticos e o toque dos atabaques - instrumentos de percus-são africanos.

A umbanda também cultua a ima-gem de santos católicos como orixás, mas tenta trazer a tradicional figura de um deus celestial para mais perto das pessoas. “As religiões afro-bra-sileiras percebem que há elementos divinos dentro de cada ser humano. O objetivo desses rituais é fazer com que possamos aflorar essa condição. É um processo de autoconhecimento e crescimento”, pondera Saul.

Involuntariamente, o estudo dos rituais religiosos acaba cumprindo papel semelhante para a sociedade. No fim, a compreensão de cada prá-tica, por mais diversa que seja, não ressalta nossas diferenças. Na ver-dade, revela que somos todos muito parecidos. E esse é um passo funda-mental para a consolidação da tole-rância religiosa.

“Embora tenham aspectos muito diferentes, as

religiões apresentam lógicas

parecidas”

Fiel recebe auxílio dos espíritos durante celebração umbandista na cidade

Judeus caxienses se reúnem para a tevilah, ritual para a expiação dos pecados

Foto: Acervo pessoal

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Rituais

Mistério da JanelaAs diversas versões sobre a possessão de uma moradora das redondezas do Santuário de Caravaggio, em Farroupilha, ainda são um mistério para todos

MARIA LuIZA GRAZZIOTIN BRITES [email protected]

Na Igreja Católica, no ritual do exorcismo, os padres não de-vem, em princípio, acreditar que uma pessoa encontra-se

sobre possessão demoníaca. Apenas os bispos podem autorizar um sa-cerdote a fazer exorcismos. uma das histórias mais inusitadas sobre o tema aconteceu na Serra Gaúcha, mais pre-cisamente em Farroupilha, Rio Grande do Sul.

O cenário foi o Santuário de Nos-sa Senhora de Caravaggio. Moradores da localidade afirmam que a história pertence a uma mulher que foi amal-diçoada por seu ex-marido. A jovem casou-se com outro homem e a partir daí começou a ter comportamentos fora do comum, ou seja, estaria pos-suída.

Para trazer a tranquilidade de volta para a jovem, o padre Teodoro Porto-lan, ex-reitor do Santuário, procurou o bispo Dom José Barea para traçar um plano de exorcismo. O ato aconteceu não propriamente na igreja, mas sim em uma capela do Santuário. A lenda conta que, quando o padre concluiu o exorcismo, o diabo saiu por uma jane-la lateral entortando os ferros e mes-mo anos depois trocando as grades, elas voltaram a entortar.

De acordo com o padre Fábio Pia-sa, que diz que o próprio padre que fez o exorcismo foi quem contou a história a ele, Teodoro Portolan havia recebido a mensagem do diabo de que seria amaldiçoado. A partir daí, muitas ameaças aconteceram na vida do padre. “O padre Teodoro estava mexendo em um pequeno motor-zinho, quando enroscou a batina no aparelho, o que o deixou em um es-tado bastante lamentável, pois assim

quebrou o braço”, conta Piasa.

Da igreja para os livros

O evento ocorreu no sexto ano do paroquiato de Portolan, fazendo com que o povo visse nele um homem de Deus, um religioso forte na fé. As dife-rentes versões que rodeiam o Santu-ário são várias, sem muitas testemu-nhas vivas para esclarecer os fatos. No ano passado, o escritor farroupilhen-se Guálter Pasa lançou o livro “Padre Theodoro Portolon: Santuário de Ca-ravaggio”, com o intuito de apresentar mais sobre a história do padre e do Santuário.

Segundo o livro, o depoimento mais preciso sobre a história foi deta-lhado pela irmã Leonor Pasinatto, que participou do exorcismo junto com o padre Theodoro e mais três irmãos da escola Nossa Senhora de Caravaggio. Leonor comentou que a persona-gem principal era uma mulher que foi amaldiçoada por um ex-namorado. A maldição jogada pelo homem foi: “Você vai se casar, mas não vai ser fe-liz”.

No final da década de 30, quando seria realizada cerimônia de casamen-to da mulher, ela começou a apresen-tar sintomas estranhos, como des-maios, medo constante e falar muitas blasfêmias.

“Após esses sintomas, levamos a mulher até o padre Theodoro e ele percebeu que ela estava possuída,. Dessa forma, praticou o exorcismo deixando-a livre de todo mal. Depois desse dia, nenhum outro sinal estra-nho foi percebido nela, seguiu sua vida feliz e tranquila” (Relato da irmã Leonor no livro, pág. 52).

Mas essa versão não foi confir-mada pelo padre Fábio. Segundo ele, no dia do ocorrido todos os presen-tes assinaram em um livro que nunca relatariam o fato com os nomes dos presentes, por isso diz não poder falar claramente.

há mais de seis décadas como pa-roquo, o padre Fábio afirma que acre-dita no ato exorcista e ele próprio já realizou um. Outros não possuem a mesma opinião. Gilnei Fronza, padre reitor de Caravaggio, pensa de forma contrária. “Pelo exorcismo é a Igreja que age, em nome de Jesus, para li-bertar uma pessoa ou um objeto que está sob a influência do Maligno. É o

Foto: Maria Luiza Brites

SChAIANE [email protected]

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Mistério da JanelaCristo que tem autoridade sobre os demônios; é, portanto, em seu nome que a Igreja ordena esses espíritos maus a abandonarem aqueles que eles possuem. O exorcismo só pode ser praticado por um padre e com a permissão do bispo”.

há dois anos como reitor do San-tuário, Gilnei acredita que há forças maiores, mas do bem. Para ele, o Dia-bo não existe.

“Para mim, o diabo não existe, apenas forças

maiores e, do bem, só Deus existe, ele é o

poder superior”

“um mal obscuro está presente na existência e na história humana desde as suas origens. O Ritual dos Exorcis-

mos previne contra a imaginação de alguns, que podem ser levados a crer que são presas do demônio. Em todos os casos, é preciso verificar que aque-le que se diz possuído pelo demônio realmente o esteja. O texto recomen-da distinguir entre uma verdadeira intervenção diabólica e a credulida-de de alguns fiéis, que pensam ser o objeto de malefícios ou de maldições. Não se deve recusar uma ajuda espi-ritual, mas não se deve praticar um exorcismo a qualquer preço”. Com um pensamento menos descrente, Gilnei não vê o exorcismo de Caravaggio como um fato real e sim como uma crença que é passada de geração em geração.

‘’A Igreja tomou uma postura de prudência e de discernimento, ter presente que a força do mal está pre-sente e atua na existência humana e na historia. Rejeitar toda banaliza-ção. Não fazer dele um espetáculo. O

exorcismo deve realizar-se de modo que se manifeste a fé da Igreja e não possa ser considerado por ninguém como ação mágica ou supersticiosa’’, destaca.

A história que é contada por mais de 80 anos deixa muitas perguntas sem resposta. As poucas testemunhas que ainda estão vivas preferem não comentar sobre o assunto, apenas ressaltam que o padre Theodoro foi um grande homem de fé que partici-pou de boa parte da evolução do San-tuário. Nascido em 1908, padre The-odoro Portolan obteve grandes feitos em sua vida. Após o exorcismo, ele foi afastado do Santuário em 26 de maio de 1968. Segundo comentam, o padre estava tendo alucinações devido ao exorcismo e permaneceu recluso para um descanso. Aos 72 anos, ele faleceu no município de Farroupilha, levando consigo a verdadeira história sobre o exorcismo em Caravaggio.

“A Igreja Católica perdeu muita credibilidade com o passar dos anos, dessa forma muitos não acreditam tão intensamente como antes. Não acredito em exorcismo e nem em possessão, creio que vai de pessoa pra pessoa”.

Cleiton Venturini, 23 anos.

“Quando me perguntam se acredito no exorcismo em Caravaggio eu digo que não, pois para mim as grades entortadas foram latrocínio. Muitas vezes, aquele local foi alvo de bandidos ou arruaceiros. Forças maiores podem sim possuir al-guém, mas não fazer daquela forma”.

Zélia Galafassi, 52 anos.

“Penso que vai da cabeça de cada um, pois há pessoas mais fracas na fé que podem atrair energias negativas e até serem possuídas. Temos que acreditar em algo maior, acreditar em Deus para mim é fundamental”.

Luís Strapazzon, 56 anos.

“Acredito no bem e mal e que existem forças malignas que podem levar ao exorcismo, mas não sou tão crente. Vivo a vida sem pensar nessas hipóteses”.

Patrícia Müller, 26 anos.

E você, acredita em exorcismo?Fotos: Maria Luiza Brites

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Homens de fé

Para muitos, a fé e a religião não passam apenas de uma crença que já não é seguida há mui-to tempo. Mas esse fato não é

levado em consideração por outros. Muitas pessoas acreditam no poder de Deus e que é por meio da fé que se deve seguir para almejar coisas boas para a vida de cada um.

Para o pastor Alcemir herthis, de 43 anos, a religião sempre foi algo muito presente em sua família. Ele lembra que na juventude não dava muita importância, mas que hoje seu pensamento mudou. “Quando somos jovens não somos ligados em religião ou fé, mas esse pensamento mudou depois que me casei e começamos a seguir a palavra de Jesus, o que nos trouxe paz e alegria para o nosso lar”.

há 17 anos na religião evangélica, Alcemir é o pastor responsável pela Assembleia de Deus do bairro Primei-ro de Maio, em Farroupilha. Além de cuidar da igreja, ele e a esposa Raquel estão sempre auxiliando aos irmãos que necessitam, seja com roupas, ali-mentos ou orações. Em todos esses anos, o pastor conta que já presen-ciou muitos casos de possessão den-tro e fora da igreja.

Os evangélicos não utilizam o ter-mo “exorcismo” e sim expulsão de de-mônios. O pastor comenta que não há um ritual específico para ser rea-lizado. O pastor que irá realizar deve ser alguém devoto e livre de pecados para que a expulsão seja completa. O jejum, a oração, a fé e a palavra de Je-sus são os primeiros passos para ser um servo do Senhor. Dessa forma, mal algum resiste.

“A expulsão é realizada por meio do poder

concebido por Jesus” “É preciso estar puro e firme na pa-

lavra, como é dito na passagem de Lu-cas 10-20: quando chegar o momento Deus dará a vocês o que devem falar. Porque as palavras que disserem não serão de vocês mesmos, mas virão do Espírito do Pai de vocês, que fala por meio de vocês”, destaca Alcemir.

Além de ter presenciado algumas expulsões, o pastor já realizou um “exorcismo”. Ele relembra que foi cha-mado por um senhor que foi até sua casa dizendo que sua filha estava pos-suída. Após o relato, Alcemir dirigiu--se até a casa do homem, constando que a menina estava agindo de forma estranha.

“A menina gritava e estava com os olhos arregalados, além de estar es-pumando e gritando blasfêmias assim que notou que eu estava com a bíblia nas mãos. Fiz a leitura do Salmo 91 e a garota começou a andar e se deba-ter feito uma cobra. Foi preciso reali-zar mais uma leitura e dizer com toda minha força: em nome de Jesus eu te repreendo. Ela se contorceu mais uma vez, mas acabou sendo liberta”.

Ele comenta que, uma vez a pessoa possuída, se ela não seguir o caminho do bem e a palavra de Cristo pode novamente ser tomada por espíritos

malígnos. Ele também comenta que cada vez mais, a população está descrente e sem fé nas coi-sas, mas que é preciso se agarrar a Deus não importando a religião, pois o verdadeiro caminho é o que está escrito na bíblia e não o que algumas pessoas pregam.

“Como está no evangelho de Mateus 24: porque aparecerão fal-sos profetas e falsos messias, que farão milagres e maravilhas para enganar, se possível, até o povo es-colhido de Deus.”

Para Alcemir, a distinção de bem e mal é bem clara. Ele ressalta que o caminho que ele escolheu lhe rendeu bons frutos com uma família, trabalho e satisfação por auxiliar o próximo de alguma maneira e levar a palavra de Deus para aqueles que ainda não en-contraram o caminho.

“Mas temos que lembrar o que Je-sus disse: Eu sou o caminho, a verda-de e a via, ninguém vai ao Pai a não ser por mim. Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bon-doso e tenho um coração humilde, e vocês encontrarão o descanso. Os de-veres que eu exijo de vocês são fáceis, e a carga que eu ponho sobre vocês é leve”, Mateus 11-29:30.

“O bem é Deus nossa força maior e o mal é o

demônio que está sempre vagando pela terra”

Assim como Alcemir, o pastor El-ton Pereira, de 45 anos sempre teve a fé presente em sua vida e da família. há seis anos no comando da igreja Templos de Semear, Elton também já presenciou casos de possessão demo-níaca. “Temos que fazer o que Jesus ordenou ide por todo mundo curai os enfermos e expulsai os demônios.

A prática da expulsão de forças malignas é realizada desde a Idade Média

MARIA LuIZA GRAZZIOTIN BRITES [email protected]

SChAIANE [email protected]

Foto: Schaiane Sacramento

Rituais

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Foto: Schaiane Sacramento

A bíblia diz que desde o começo satanás quis roubar a adoração que pertence somente a Deus e ele tem feito de tudo para tirar a atenção, levando o ser humano a se distanciar cada vez mais de Deus”, destaca.

Ele também comenta que o caminho para a salvação

é por meio dos passos de Jesus e que mesmo com tantas notícias envolven-do a religião ainda há adoradores e fieis na fé.

“A Igreja Evangélica tem provado e

comprovado que a existência de de-mônios em determinadas pessoas é real. Algumas das possessões ocor-rem em pessoas que nos visitam pela primeira vez, mas também já ocorreu em nossos fiéis mais antigos”

Para ele, é uma enorme benção os visitantes, pois os que estão perdidos no caminho irão poder encontrar a paz e amor de Cristo. “João 10:10, neste capí-tulo e versículo diz que satanás vem para roubar matar e destruir. Tem roubado sonhos, matado os projetos e destruído a confiança do homem. Mas no mesmo versículo está escrito que Jesus veio para dar vida e vida em abundância“.

“Sou uma pessoa abençoada por ter uma família que segue os caminhos de Jesus, além de poder auxiliar o próximo de alguma forma. É dessa

maneira que sigo cada dia com todas as tentações que nos rodeiam, por

meio da fé”

Da igreja para as telas de cinemahá cerca de 40 anos, ía às telas de cinema dos Estados unidos o longa-

-metragem que ficou marcado como um dos maiores filmes de terror de todos os tempos: O Exorcista, filme dirigido por William Friedkin que aborda a pos-sessão de uma adolescente de 12 anos pelo demônio. O roteiro foi baseado em livro de sua própria autoria, inspirado no exorcismo de um garoto de 14 anos, em Mount Rainier, no estado de Maryland (EuA), documentado em 1949. O exorcismo ainda é considerado um tema atual, tanto que ganhou novamente destaque nas telas. Dessa vez no Brasil, em São Paulo, do cineasta e rotei-rista Renato Siqueira. Ele desejava explorar esse tema pouco visto na mídia. Foi então que, depois de anos de pesquisas, ele desco-briu as histórias de padre Lucas Vidal, um dos maiores exorcistas da América Latina. Dessa forma, iniciou o roteiro de Diário de um exorcista.

Foto: Divulgação

Foto: Arquivo Pessoal

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o local para que espíritos de negros e índios pudessem praticar a caridade através da incorporação.

Umbanda de Linha Branca

De acordo com o médium JSN, do Centro de umbanda Pai José de Aruanda, o objetivo da Linha Branca é libertar as pessoas de obsessões, curar sofrimentos de origem ou liga-ção espiritual, desmanchar trabalhos de Magia Negra e preparar um am-biente favorável aos adeptos. “Muitas pessoas procuram o Centro em busca de entendimento pessoal, harmoniza-ção do lar, ajuda no ramo profissional e afetivo, afastamento de males como a bebida, drogas, inveja e outros pro-blemas que afetam o corpo físico e espiritual”. Ele acrescenta que algu-mas pessoas, mesmo conhecendo a reputação do local procuram o mes-mo para a feita de, trabalhos, como amarração, feitiçaria e outros males. Neste caso, a pessoa é orientada à prática do bem e do perdão, evitando que dê seguimento a má conduta. Ele ressalta a importância da verdadeira caridade. “Desde criança, frequento o Centro Pai José de Aruanda e há seis

Umbanda sem medo A religião que traz a caridade como principal característica

Para muitas pessoas, o assunto ainda é tabu. Para os pratican-tes, uma fonte de energia, lim-peza e conhecimento profundo

da alma. O fato é que a umbanda sem-pre foi tema de curiosidade entre as pessoas que desconhecem a religião.

Conheça a origemhistoriadores contam que a cren-

ça foi trazida ao Brasil em meados do século XVI, quando negros originários de diversas regiões da África chega-vam ao Brasil. Após chegados ao ter-ritório, foram misturados entre eles, sem importar a cultura ou etnia e le-vados para as senzalas da Bahia, Per-nambuco, Minas Gerais, Rio de Janei-ro, São Paulo e pelo sul do país. Eles,

mesmo afastados de suas origens, cultivaram a crença em um Deus úni-co (Oludumare), de seus deuses (Ori-xás) e da divisão do plano material e espiritual.

Em meados de 1908, Zélio de Mo-raes, um jovem de 17 anos, enfrenta-va sérios problemas de saúde. Ele foi encaminhado há um centro kardecista onde, pela primeira vez, incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Foi neste momento que a umbanda foi criada e anunciada no Brasil. Este seria

Comunidades

CLARIANA [email protected]

anos trabalho como médium na casa que foi fundada há 54 anos pelo Sr. Ataíde Silva, hoje com 89 anos. Tenho orgulho de dizer que todo o atendi-mento é prestado em forma de ca-ridade, sem visar lucro. Recebemos doações espontâneas em forma de dinheiro ou materiais utilizados, como velas, defumadores, produtos de lim-peza e outros. É sempre importante lembrar que qualquer lugar que se dispõe a fazer o mal ou receber valor pelas consultas ou trabalhos não está praticando a essência da umbanda Branca”, ressalta JSN.

Pesquisadores falam que os so-frimentos e dificuldades da vida são provações que devemos passar e os filhos de umbanda, em seu exercício, devem auxiliar as pessoas, e, princi-palmente, evitar que o mal o desvie do caminho designado.

Entidades

As entidades têm como função tra-zer as mensagens, a vontade e a força dos Orixás e, assim, de Deus. São espí-ritos chamados de guias e protetores.

Na página ao lado, conheça alguns deles:

Fotos: Clariana Zanatta/Ervanária Central

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Fotos: Clariana Zanatta/Ervanária Central

Os Pretos Velhos: em grande parte (mas não totalidade), são es-píritos de negros escravos, que após anos de sofrimento, retornam para a evolução espiritual, auxi-liando com humildade e sabedo-ria daqueles que buscam ajuda.

Os caboclos: representam a for-ça e a coragem do negro adulto, do guerreiro e do índio. habitan-tes das matas, vêm com a força da natureza e vasto conhecimen-to das ervas medicinais, que po-dem curar as doenças físicas e espirituais. Em seus conselhos en-sinam o respeito com o próximo.

As crianças (ibejis): são a alegria contagiante da umbanda. São espí-ritos que, na última vida, desencar-naram muito novos. Eles brincam, aprontam, gostam que lhe contem histórias infantis e adoram doces e guloseimas. Muito respeitadas, elas representam a pureza e a inocência da criança, porém não são tolas, e identificam muito bem as falhas hu-manas, orientando principalmente em casos familiares e de gravidez.

Espírito Kiumba: são espíritos de baixo astral, conhecidos também como obsessores, que se aprovei-tam da fragilidade humana para satisfazerem seus vícios, ou até mesmo são procurados por pesso-as que queiram prejudicar alguém. Eles acompanham e influenciam os encarnados por pura vontade de co-meter o mal, induzindo ao consumo do álcool, cigarro, drogas ou sexo.

Experiência da repórterQuinta-feira, 09 de outubro de 2014, dispus-me a ir conhecer um Centro

de umbanda. Assunto desconhecido para mim até então, que fui batizada e crismada na religião católica. Ao subir a escada daquela casa desconhecida, um certo anseio pelo que iria encontrar, mas logo fui surpreendida pelo corri-queiro: crianças, jovens de várias idades, avós, pessoas sorridentes e algumas mais sérias, mas não vi ou senti nenhuma energia ruim. Logo no início do en-contro uma palestra e as palavras daquela jovem senhora entraram suave em meus ouvidos e a sensação de calma foi anulando meu nervosismo. Ao fim da palestra todos aqueles vestidos de branco (médiuns) se encaminharam para a sala ao lado, pedindo silêncio e bons pensamentos. Ao som de batuques, palmas e passos pesados eles cantavam diversas músicas, depois entendi que aquele ritual era para que as entidades pudessem chegar. Pouco a pouco, os auxiliares, chamavam as pessoas por grupos para a hora do passe coletivo. Neste momento, entrei na sala com mais quatro ou cinco pessoas e preferi ficar com os olhos fechados. Não resisti por muito tempo, claro, a curiosidade me fez espiar três ou quatro vezes o que acontecia. Eram palavras mais pareci-das com orações, estalar de dedos e gestos rápidos, como se estivessem lim-pando qualquer coisa de ruim que pudesse ter em meu corpo. Após o passe, resolvi fazer a consulta com as entidades. Sempre imaginei que uma pessoa quando incorporada, ficava com feições torcidas, feia, voz assustadora, algo relacionado com o “capeta”, você que conhece a religião pode rir, mas quem desconhece imagina diversas coisas estranhas e de dar medo.

Nada disso aconteceu, fui atendida por um Preto Velho, que com a voz bai-xa e palavras difíceis de entender falou dos meus bons e maus pensamentos e o que isso atraía para minha vida, de meus trejeitos e da minha família. um senhor que falou “não precisa tê medo fiá (filha) o que o Pai vai falar é prô seu bem”. Com tantos conselhos e palavras de conforto, minha vontade era de abraçar aquele senhor que nunca tinha visto! Me contive!

A consulta acabou e no caminho de volta para casa, era como se meu coração não batesse dentro do peito, fui tomada por uma sensação de leveza e de paz , e eu, que escolhi a umbanda como tema de meu trabalho, tenho a certeza também de que encontrei uma religião paralela à católica para seguir.

Experiência no Centro de umbanda Maria Conga

Guias e cores

Branca de Oxalá – Jesus CristoAmarela de Oxum – Nossas Senhoras

Azul – IemanjáVerde – Caboclos – São Sebastião

Verde Vermelha e Branca – Ogum – São Jorge

Marrom – Xango – São Jeronimo Branca e Preta – Pretos VelhosLaranja – Iansã – Santa BarbaraVermelha – Bara – Santo Antônio

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Foto: Maria Rezende

Todos os dias, centenas de pessoas participam dos cultos realizados na Igreja Universal do Reino de Deus

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Comunidades

Em nome de Jesus

No ano de 1977, em um co-reto na cidade do Rio de Ja-neiro, os bispos Edir Macedo e Romildo Ribeiro Soares

iniciaram as primeiras reuniões da sua recém-fundada igreja. hoje, quase 40 anos depois, a Igreja universal do Rei-no de Deus é o maior grupo evangéli-co do país. Conta com 1,8 milhões de seguidores e possui mais de seis mil templos em todo o Brasil. Em Caxias do Sul, a catedral (templo principal) é um prédio enorme, com capaci-dade para cerca de três mil pessoas, localizado na área central da cidade. Com cultos todos os dias da semana, em horários variados e com uma fi-nalidade definida, os membros - fiéis batizados que participam de todas as reuniões - comparecem em massa. De jovens a idosos, todos se reúnem para ouvir o pastor dar voz as suas angús-tias.

Os fiéis enxergam a igreja como um lugar para descargo de seus pro-blemas. Todos que a procuram estão buscando ajuda para livrar-se de algo, seja isso um vício, uma doença ou simplesmente um sentimento ruim. Para que isso aconteça, há uma estru-tura montada, composta por obreiros

Livrai-nos do malTerminada a primeira oração, o

pastor convida aqueles que se sentem incomodados por algo para se apro-ximarem dele. Os primeiros a serem chamados são os que são afetados por qualquer tipo de vício. Quando todos se encontram em frente ao al-tar, o pastor e os obreiros iniciam a oração pela libertação das almas dos viciados. Aos gritos de “sai desgraça-do do inferno, em nome de Jesus”, os “encostos” são mandados embora, um por um. O ritual se repete com aqueles que já praticaram magia ne-gra, que têm ódio no coração e que estão sofrendo com alguma doença. A psicóloga Solange Pieri, 32 anos, afirma que a igreja e o pastor, muitas vezes, substituem o papel da família na constituição do sujeito, principal-mente a figura paterna.

A universal trata os males com placebo, de uma maneira quase psi-cológica. De acordo com Solange, os seguidores têm uma falha em sua constituição. “Numa linguagem arqui-tetônica, é como se fosse a falta de um pilar em um prédio, e a igreja torna-se este pilar”, explica. O ambiente para a “cura” é preparado com rigor, fazen-do com que os fiéis entrem em transe durante a oração. Com os olhos cer-rados e as mãos para o céu, em coro uníssono, a igreja expurga todos os distúrbios e sofrimentos, mas não sem cobrar algo em troca.

Uma rifa em promoção, de R$ 50 por R$ 10, dá boas-vindas a quem adentra o grande salão da Igreja Universal do Reino de Deus de Caxias do Sul

MAYARA ZANELLA [email protected]

PRISCILLA [email protected]

e pastores, responsáveis pelo aten-dimento espiritual. A estudante de marketing Jéssica Giacometti Borges, 21 anos, frequenta a igreja desde criança por influência de sua mãe. há sete anos, Jéssica é um dos 220 obrei-ros atuantes na cidade. “Nossa função é servir a Deus. Durante os cultos, po-demos auxiliar na retirada do mal, so-mos ungidos para isso”, afirma.

“Nossa função é servir

a Deus”Apesar do auxílio dos obreiros, os

únicos com autonomia pra conduzir o rito são os pastores e bispos, que são a autoridade maior dentro da igreja. Jéssica explica que o trabalho realiza-do por eles é totalmente voluntário. “Todos recebem o suficiente para se manter”, aponta. Também há uma ro-tatividade entre os quase 10 mil pas-tores atuantes no país, que tendem a mudar de cidade frequentemente. Sem aviso prévio, o pastor escolhido para realizar o culto inicia sua oração. Impostando sua voz, com música ao fundo, faz com que todos os fiéis vi-rem-se para o altar e o acompanhem durante a reza. Com essa introdução, começa a primeira parte do encontro, a da libertação.

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Tributo DivinoFinalizados os descarregos, to-

dos voltam aos seus lugares e o cul-to se encaminha para a parte final. A universitária Prislana Bianchi, 23 anos, é uma entre os muitos fiéis que parti-cipam dos ritos. há seis meses Prisla-na frequenta a universal e conta que procurou a igreja por problemas com más companhias e drogas. “Sinto-me muito bem vinda à igreja, sinto real-mente que aqui me encontrei”, relata. Ela frequenta as reuniões quase todos os dias.

Em questão de segundos, os obrei-ros colocam um grande baú em cima de uma mesa que está em frente ao al-tar. O pastor começa, então, a discursar orientações para que cada um escreva a sua maior angústia e coloque den-tro de um envelope, que será entregue depois. Os envelopes e todas as dores dos fiéis, reitera o orador, serão lança-dos ao abismo nos cânions do Itaim-bezinho, em Cambará do Sul. Dito isso, centenas de envelopes são distribuídos

ao redor do baú, enquanto a voz que sai do alto falante avisa que uma nota de R$ 100 deve vir junto das aflições. Valores menores, como R$ 20, são me-nosprezados. Fica claro que quanto maior a fé, maior a oferta a Deus.

um, dois, três... Dezenas de fiéis se levantam e vão até à mesa retirar o en-velope que, conforme o pastor, trará a solução para o problema ali deposita-do. Passam-se minutos e a maioria já está com ele em mãos.

“Quanto maior a fé, maior a

oferta a Deus”Para Prislana, é normal a contribuição em dinheiro à igreja, uma vez que a crença evangélica não é a única que

pede apoio financeiro. “Acho normal contribuir com 10% do meu salário para o dízimo”, destaca. Entre tantos, um fiel vestindo uma camiseta com uma imagem do Templo de Salomão volta ao seu lugar.

O baú sai de cena e entram obrei-ros segurando grandes sacos verme-lhos. O pastor faz questão de ressaltar que os céus também aceitam cartão de crédito. Dessa vez, até moedas de R$ 1 são bem-vindas. Novamente o alvo-roço, novamente centenas de fiéis se levantam e se direcionam aos operá-rios da fé que recolhem os presentes. Para aqueles que doam, o pastor é ca-tegórico em afirmar que não vai faltar mais nada em suas vidas. Benção final, dica para candidatos às eleições des-te ano e os fiéis voltam às suas casas. Para aqueles que ficam, é hora de var-rer o chão e organizar o salão. Amanhã cedo tem culto de novo. Afinal, a fé não pode parar.

Foto: Mayara Zanella

Após o culto, o pastor fica à disposição dos fiés que precisam de atendimento espiritual particular

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EBI

O espaço da Educação Bíblica Infanto-juvenil (EBI) está presente em todos os templos da Igreja univer-sal. O serviço é oferecido a meninos e meninas entre zero e 10 anos de idade, nos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal. Cerca de 40 mil educado-res utilizam vídeos, leituras, brincadeiras didáticas e outras atividades para atrair a atenção e educar os pequenos para a palavra de Deus. Fazem parte do projeto a Revista do Educador e a Folhinha universal. Mais informações no site ebiuniversal.com.br.

Turminha da Fé – TF Teen

Turminha da Fé é um grupo formado dentro da universal desde 2002 que se dedica aos pré-adoles-centes com idade entre 11 e 14 anos. Mais de seis mil conselheiros voluntários orientam, ao redor do Brasil, os mais de 170 mil integrantes do grupo. Desenvol-vem projetos como Conexão Teen, EsporTEEN, high Church Musical, Juntos Contra o Bullying, TF Teen News, TransFormados e Tribos. São realizadas ativida-des como dinâmicas, acampamento, partidas de vídeo game e aula de maquiagem para meninas. Os encon-tros acontecem duas vezes por semana. Mais informa-ções no site tfteen.com.br.

Força Jovem Universal

O Força Jovem universal (FJu) existe desde a fun-dação da universal e conta com milhões de jovens em todo o Brasil. A faixa etária é dos 15 aos 30 anos. O grupo desenvolve trabalhos de prevenção às drogas e ao vazio interior, a partir dos ensinamentos de Jesus Cristo. Para isso, são desenvolvidas atividades cultu-rais, sociais, esportivas e espirituais, tais como Projeto Arcanjo, VPR (Visão, Planejamento e Realização), uni-força e Força Jovem universitários (FJuni). Mais infor-mações em conexaocaxias.com.br.

As Fases da Fé

Foto: Maria Rezende

Foto: ebiuniversal.com.br

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O Budismo na Como uma tradição oriental de 15 mil anos, criada por um príncipe hindu,

“Assim eu ouvi”... É dessa forma que começam os sutras – escrituras de ensinamentos budistas. Isso por-que as mesmas palavras podem ser interpretadas de maneira diversa por pessoas diferentes. Para além das múltiplas interpretações, o fato é que, apesar de pouco conhecido no oci-dente comparado a outras religiões, o budismo tem 15 mil anos de tradi-ção. Os cerca de 84 mil ensinamentos de Buda histórico, Sidarta Gautama, já passaram pela vida de milhões de pessoas, que adotaram o budismo seja como religião, filosofia, ou mes-mo estilo de vida.

Nascido na Índia do século VI, o budismo encanta pela sua trajetória, que passa por palácios, riqueza, misé-ria, luz, escuridão e busca pela sabe-doria. A paz de espírito e os exemplos de solidariedade transmitidos pelos mestres budistas atravessaram os sé-culos e chegaram a uma região do sul do Brasil, onde o guru Rinpoche decidiu construir um templo, no alto de uma montanha da cidade de Três Coroas.

E foi também nessa região que o budismo chegou à vida de Vera Lúcia Damian e Kalinka Susin.

Melong, que hoje realiza suas reuniões quatro vezes por semana, no edifício Alvorada.

“Minha vida é muito mais leve, mais feliz, hoje em dia”, comenta Vera sobre o efeito do budismo. Ela diz que aprendeu a desenvolver o amor, a bondade e a compaixão. Entre os en-sinamentos, cita a importância de fa-zer coisas pelos outros, e não só por si mesmo. Como disse o mestre budista Shantideva, “a fonte de toda a felici-dade está em querer a felicidade do outro.”

“Quando encontro pessoas em di-ferentes partes do mundo, lembro-me sempre de que somos basicamente parecidos: somos todos seres huma-nos”. Foram essas palavras, proferidas pelo Nobel da Paz Dalai Lama, que despertaram a professora de Ioga e tradutora Kalinka Susin para o budis-mo.

Segundo ela, essa frase é capaz de derrubar qualquer argumento que possa estimular o preconceito.

Nascida em Caxias do Sul, Kalinka teve seu primeiro contato com o bu-dismo por meio da literatura. Criada

Comunidades

ALANA [email protected]

A administradora Vera Lucia Da-min passou por diversas religiões an-tes de chegar ao budismo. Em 1996, conheceu Lama Samten, o responsá-vel pela vinda do guru Shagdud Rin-poche para o Rio Grande do Sul. Já no primeiro contato com o budismo, ela descobriu que tinha encontrado o que passou tantos anos buscando. Nessa época, o templo de Três Coroas começou a ser construído.

Mesmo morando em Caxias, Vera passou a praticar o budismo no tem-plo, com viagens frequentes a Três Coroas. Com o passar do tempo, aju-dou a fundar um grupo de práticas budistas em Caxias, nomeado Yeshe

Viagens e aprendizados

Outras escolasCerca de 100 anos após a morte de

Sidarta Gautama, o budismo começou a se dividir em correntes.

As mais conhecidas são a Vajraya-na, da qual faz parte o templo de Três Coroas, a Theravada e a Mahayana.

A empresária Silvia Pereira segue os ensinamentos do buda Nichiren Daishonin, da corrente Mahayana. As-sim como Vera Lucia, Silvia passou por

na religião católica, ela passou a se identificar com o budismo por enten-der que ele promove um diálogo en-tre fés. O interesse cresceu, e Kalinka foi visitar o templo de Três Coroas. “Sempre senti aquele lugar como es-pecial, uma sensação de respeito, um lugar sagrado”, relata.

Coincidência ou destino, Kalinka precisou passar um mês na Índia, para concluir seu mestrado em Estu-dos Globais. Teve a oportunidade de conhecer Dalai Lama, foi visitar a ci-dade de Dharansala, sede do governo do Tibet em exílio, e lá ficou por três meses. Durante esse tempo, apren-deu tibetano e passou a receber ensi-namentos budistas de um monge.

Mais tarde, para desenvolver seu trabalho de mestrado, a professora foi fazer um estágio no governo do Butão, pequeno país no sul da Ásia que, ao invés de medir o desenvolvi-mento por índices econômicos, utiliza como parâmetro o nível de felicidade de seus habitantes. “Passei seis meses no Butão, que é um país budista. Nes-se período, visitei muitos lugares sa-grados, o que fortaleceu o meu laço com essa prática”, explica.

Kalinka voltou ao Brasil no início de 2014. Desde então, frequenta o centro de práticas budistas de Caxias e o templo de Três Coroas. “É uma fortuna ter tão próximo daqui um lu-gar de práticas de uma linha de sabe-doria tão antiga e genuína”. Sua meta, no entanto, é voltar a morar no Butão.

Nova visão de mundo

Fotos: Alana Bof

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Serra Gaúchachegou ao Rio Grande do Sul e transformou a vida de três mulheres caxienses

diversas religiões até ser apresentada ao budismo, em 2002, por meio de um colega de trabalho.

“O que mais me identifica é o ideal do Budismo de levar felicidade a to-das as pessoas no momento presente e não em um futuro distante ou em qualquer céu”, justifica.

Silvia frequenta as reuniões que consistem na leitura e debate do Sutra de Lotus, escritura dos ensina-mentos dos últimos anos de vida do buda histórico. Além disso, ela leva os ensinamentos do budismo para o seu dia a dia.

O Buda histórico nasceu na Ín-dia no século VI a.C e recebeu o nome de Sidarta Gautama. Seu pai, Sudodana, governava o reina-do dos Shakias.

Sidarta foi cercado por uma vida de riquezas, dentro dos mu-ros do palácio.

Com o passar dos anos, ele pe-diu ao pai para sair e conhecer o mundo exterior. Apesar dos esfor-ços do rei, nesse passeio, Sidarta se deparou pela primeira vez com a miséria humana. Nos passeios seguintes, deparou-se com um doente, um idoso e um cadáver.

Determinado a encontrar o ca-minho da liberdade do sofrimento humano, ele abandonou a vida de príncipe aos 29 anos e passou os próximos seis seguindo mestres indianos.

Sem encontrar respostas com-pletas, partiu para um vilarejo cha-mado Gaia, onde passou 49 dias e noites meditando embaixo de uma árvore, até alcançar o estado iluminado e tornar-se Buda.

O Khadro Ling, localizado no topo da montanha da cidade de Três Co-roas, é a sede do Chagdud Gonpa Brasil, organização sem fins lucrativos dedicada à prática do budismo tibetano. Lá fica o templo budista La Kang, aberto à visitação pública gratuita. Segundo o site <chagdu.org>, o Kha-dro Ling também abriga uma comunidade de praticantes de budismo, que lá vivem e constituem família. O local, fundado por Shagdud Rinpoche, tem hoje como diretora espiritual a viúva do guru, Chagdud Khadro.

O Templo de Três Coroas

“Somos pessoas comuns com o objetivo de alcançar a paz mundial”, ressalta. Esse sentimento altruísta pa-rece ser o que move os budistas. Pois seja qual for a escola, no Butão ou no Brasil, nas cerimônias ou no cotidiano, a busca do budismo pela paz, sabe-doria e felicidade para todos, sem ex-clusão, aparenta ser o que gera iden-tificação em tantas pessoas. É isso que faz com que os ensinamentos sejam repassados por séculos. É essa postu-ra solidária que Vera, Kalinka e Silvia transmitem. “Assim eu ouvi”.

Imagem do Buda Sidarta Gautama localizada no Templo de Três Coroas

A origem do budismo

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O sagrado que aqui habita

Comunidades

Você já deve ter visto um pentagrama ou ter ouvido algo sobre Wicca. Mas você sabe o que

eles são e o que representam? Sabe quão forte é a conexão entre a humanidade e a natureza?

POR DIÚLIT [email protected]

Fotos: Diúlit Oldoni

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Em um dos episódios do seria-do Os Simpsons, a personagem Lisa, membro mais cético da família Simpson, encontra um

trio de garotas Wiccanianas em uma floresta. Interessada nesta religião, ela vai para casa e realiza uma bus-ca na internet. Então, depara-se com o “WiccapediA”. Seu irmão, Bart, logo entra no quarto e entende o que está acontecendo, apesar de deduzir que “há algo errado” quando avista um pentagrama na página do site. No decorrer da história, vários fatos cir-cundam a Wicca, como o vizinho Ned Flanders que flagra Lisa com uma es-pécie de capa e faz um comentário preconceituoso, ou como a comuni-dade de Springfield, que culpa o trio de wiccanianas por uma série de ca-sos de cegueira, que na verdade era apenas um problema com água.

Ficção à parte, é fato que a Wicca é um tanto desconhecida pelo público. Basta fazer o teste: pergunte a qual-quer pessoa sobre a religião. A res-posta é, na maioria das vezes, uma re-ação de estranhamento, ou algo vago relacionado à bruxaria – em tom de desaprovação ou espanto. Entretanto, assim como todas as demais religiões – porém de uma maneira singular – a Wicca tem suas divindades e cultos, e até mesmo a explicação para as ques-tões que não podem ser respondidas.

“Sem prejudicar ninguém, realize a sua vontade”Este é o lema da Wicca. Nela, os

adeptos são livres para fazer o que desejam, desde que isso não seja pre-judicial a ninguém. A Wicca é uma religião que, basicamente, honra o Planeta e à Gaia, na busca por uma conexão com a natureza. A magia se faz presente nela não de forma so-

brenatural, como costuma-se deduzir, mas sim como uma intenção de entrar em contato com o Sagrado que cada adepto tem dentro de si, e de asso-ciar-se às forças externas da natureza.

Os Wiccanos costumam dividir-se em covens, que são grupos ou con-gregações de adeptos que praticam a Wicca a partir de dinâmicas próprias, ou de acordo com a Tradição seguida. Cada coven pode cultuar diferentes deuses – chamados de Panteões -, como os já conhecidos deuses gregos ou nórticos, por exemplo.

A alteração do nome de seus pra-ticantes é outro ponto interessante acerca da religião. A bruxa Wakanda Layuth Mahtab não é Wiccaniana, mas entende de suas práticas. Ela ex-plica que a troca simboliza um passo fundamental para o autoconhecimen-to e é relacionado à energia necessá-ria para que seu portador complete sua jornada.

As celebrações da Wicca, segun-do Wakanda, baseiam-se na Roda do Ano e no Calendário Lunar, que con-têm oito Sabbats e 13 Esbats. Os Sab-bats são festivais sazonais solares rea-lizados ao longo do ano, enquanto os Esbats são rituais feitos em cada lua cheia e lua nova. Além destas, cada coven tem a liberdade de promover outras reuniões para honrar seus Pan-teões.

Cinco pontas e muitas dúvidas

um dos símbolos utilizados pela Wicca é o pentagrama. Todos o co-nhecem e grande parte das pesso-as o tem como “algo do mal”, assim como no comentário de Bart Simpson à sua irmã. Entretanto, este precon-ceito – assim como todos os outros – provém do medo ou insegurança com o que é desconhecido. O penta-grama é uma associação ao planeta Vênus, que significa que o homem é o complemento simétrico da natureza. Suas cinco pontas representam o ar, o fogo, a terra, a água e o espírito. É por este motivo que os adeptos da re-ligião devem levá-lo sempre consigo, já que ele representa sua relação com o reino visível e invisível dos quatro elementos da natureza.

Qualquer pessoa que tenha inte-resse em conhecer a Wicca, certamen-te irá se deparar com algumas ques-tões que não podem ser respondidas com tanta facilidade. Wakanda afirma que esta opção por omitir – tempo-rariamente – as informações aos não--adeptos não significa que a religião possua segredos. “Penso que tanto na religião Wicca quanto na Bruxaria, existem ligações que não podem ser explicadas, não por serem segredo, mas por não ser possível descrever no mundo real e mundano o Sagrado ali existente”, esclarece a Bruxa.

A Wicca é natureza e sabedoria. Espera-se que, assim como no final do episódio de Os Simpsons, a comuni-dade entenda que os princípios desta religião em nada se relacionam com os preconceitos existentes. Como po-deria, afinal, a pureza da natureza es-tar ligada a um mundo de maldades?

Primeiramente, para aderir à Wicca, o iniciado deve estar disposto a promover o bem e honrar a natureza. Após isso, é fundamental que ele estude e trace um caminho até os deuses. A filosofia, teolo-gia e a liturgia são alguns dos assuntos que deverão ser explorados pelos novos wiccanos, até que eles alcancem um alto grau de conhecimento. O neó-

fito – como é chamado o iniciante – pode seguir uma carreira solitária, levando adiante seus estudos e praticando os princípios da religião, ou unir-se a um coven. De qualquer forma, é fundamental que ele não esqueça de que é parte do universo, e que isso significa, ao mesmo tempo, liberdade e amor ao próximo.

O CAMINhO DOS DEUSES

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As Testemunhas de Jeová seguem a Bíblia e o método ensinado por Je-sus Cristo aos seus doze apóstolos, que eram designados em duplas para levar a mensagem de porta em porta e a todo lugar habitado. Esse modelo segue até os dias de hoje, os prega-dores se reúnem no salão do Reino e após considerações Bíblicas saem em dupla para levar a mensagem às pes-soas visitadas. Ao chegarem nas ca-sas, levam a esperança de que o Rei-no de Deus é a única solução para a humanidade, que em breve destruirá o atual sistema iníquo de coisas, in-cluindo todos os governos humanos, e produzirá um novo sistema em que prevalecerá a justiça. Para isso, tam-bém levam as revistas, já conhecidas por muitas pessoas, Sentinela e Des-

Povo de JeováPregando de porta em porta, testemunhas de Jeová espalham sua crença na Bíblia. No caso da proibição do livro sagrado à transfusão sanguínea,

buscam-se alternativas

Esse povo é uma Sociedade Cristã mundial de pessoas que dão ativa-mente testemunho sobre Jeová, Deus e seus propósitos para com a humani-dade. Baseia suas Crenças unicamente na Bíblia. Acredita que a Bíblia inteira é inspirada pela Palavra de Deus e, em vez de aderir a uma crença baseada na tradição humana, apega-se à Bíblia como fonte para todas as suas cren-ças. Acredita que Jesus Cristo não é parte de uma Trindade, mas que, con-forme diz a Bíblia, é o Filho de Deus, o primeiro das criações de Deus, e que sua vida humana perfeita oferecida em sacrifício torna possível a salvação com perspectiva de vida eterna para aqueles que exercem fé. Para esse povo, Cristo atua na qualidade de Rei sobre toda terra, desde 1914, detendo autoridade divinamente concedida.

Pregando de porta em porta

Comunidades

IVONE MARIA MONTANARI [email protected]

Fotos: Ivone Montanari

pertais, as quais trazem temas atuais sob a ótica da Bíblia.

O povo prega que o propósito ori-ginal de Deus para com a terra será cumprido, e que a terra será com-pletamente povoada por adoradores de Jeová, que poderão usufruir vida eterna em perfeição humana, além da grandiosa esperança de que os mortos serão ressuscitados para ter a oportu-nidade de compartilhar essas bênçãos.

A irmã Ivanir Camargo nasceu numa família cristã. Aos cinco anos, viu seus pais serem batizados em 1960. Ela é batizada há 46 anos e diz não se ver de outra forma, pois seu modo de vida está dentro dos propósitos de Jeová. Para a irmã, Jeová é a criatura mais presente que tem diariamente, servir a

Em 2014, congresso reuniu cerca de 3,5 mil pessoas em Caxias do Sul

Experiência nos dias atuais

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Jeová é o melhor caminho para ela, e sua alegria foi ter criado os filhos den-tro da organização.

Já o irmão Gaudino Ribeiro, 82 anos, fala que em Caxias do Sul ha-via uma congregação, com média de 44 pessoas, que ficava em frente ao quartel militar. Segundo ele, era uma época difícil de pregar, e levavam em média três anos para completar o ter-ritório designado. Ele e sua esposa se batizaram na cidade de Canela há 51 anos, e falam da alegria de servir a Jeová por todo esse tempo.

Caxias do Sul atualmente tem 39 salões do Reino. Além do português, utilizam a língua de sinais, Francês, Es-panhol e italiano.

O Salão do Reino é a casa de ado-ração que as Testemunhas de Jeová usam para suas reuniões religiosas. há dezenas de milhares de Salões do Reino no mundo inteiro. Toda sema-na, mais de 105 mil congregações das Testemunhas de Jeová se reúnem nes-ses salões.

O Salão do Reino possui um audi-tório, onde são realizados programas de estudo da Bíblia e se fazem dis-cursos. Na maioria dos auditórios, há uma plataforma com uma tribuna, da qual as reuniões são dirigidas. O sa-lão normalmente acomoda de 100 a 300 pessoas. Esses espaços de reunião também podem ter uma ou mais salas adicionais para instrução bíblica, um escritório e uma pequena biblioteca com publicações baseadas na Bíblia e obras de referência, que podem ser usadas por qualquer pessoa da con-gregação que deseja fazer alguma pesquisa. Assim, o nome Salão do Rei-no, que foi adotado na década de 30, descreve apropriadamente o objetivo desses edifícios: promover a verda-

deira adoração e servir como centro de atividades relacionadas à pregação das “boas novas do reino”.

A Bíblia proíbe a recepção san-guínea por qualquer via. Assim, esta religião defende que não se deve aceitar sangue total ou seus compo-nentes primários, ou como alimento ou em uma transfusão. Isso é mais uma questão religiosa do que médi-ca. Tanto o Velho como o Novo Testa-mento claramente ordenam a absten-ção de sangue.

No passado, a comunidade mé-dica costumava encarar as opções terapêuticas a transfusões de sangue como extremistas, ou até mesmo sui-cidas. Mas isso tem mudado nos úl-

timos anos. Por exemplo, em 2004, um artigo publicado em uma revista médica declarou que “muitas técnicas desenvolvidas para pacientes Teste-munhas de Jeová em breve se torna-rão procedimentos-padrão”.

um artigo na revista heart, Lung and Circulation disse em 2010 que “a cirurgia sem sangue não deveria se li-mitar apenas às Testemunhas de Jeo-vá, mas fazer parte integral da prática cirúrgica básica”.

Milhares de médicos em todo o mundo usam técnicas de conservação de sangue para realizar cirurgias com-plexas sem transfusão. Essas opções terapêuticas são usadas até mesmo em países em desenvolvimento e são solicitadas por muitos pacientes que não são adeptos dessa religião.

Salão do Reino

Não à transfusão de sangue

239 Países

7.965.954 Testemunhas de Jeová

113.823 Congregações

A presença no mundo

Durante os três dias de congres-so, tiveram 51 discursos, preparados por 50 pessoas. uma peça teatral bí-blica na sexta e outra no domingo, esta última intitulada “Não falhou nem uma única palavra”. Além disso, foram distribuídas cinco literaturas: um DVD, um folheto, duas brochu-ras e um livro. No final de cada dia, cada um dos presentes puderam le-var um exemplar de cada para sua casa.

Experiência do irmão Oséias Ribeiro

Nasceu numa família de Teste-munhas de Jeová. Segundo ele, os valores morais que fora da organiza-ção são normais, resguardam muitos

desapontamentos dentro do Salão do Reino, e quem adere à religião, acima de tudo, se torna uma pessoa melhor. Oséias é servo ministerial da congregação Madureira. Ele concilia seu trabalho com o serviço de Jeo-vá, por fazer arranjos realistas, nos quais sempre coloca em primeiro lu-gar os interesses do Criador - Jeová.

No final da tarde de domingo, o irmão Fabiano Fernandes, repre-sentante de Betel (sede das Teste-munhas de Jeová no Brasil), encer-rou com o discurso “Nunca fique ansioso, continue a buscar primeiro o Reino de Deus”. Comunicou a to-dos os presentes a aquisição de uma rotativa moderna e para transportá--la serão necessários 40 containers. Segundo Fabiano, os operadores dessa rotativa foram fazer curso no exterior para poder operá-la.

Resumo do Congresso

Saiba mais:jw.org

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Comunidades

Gaúcho sem Deus

Depoimentos de não religiosos que nasceram e cresceram no contexto católico

de Caxias do Sul e região, e que ecoam vozes crescentes em respeito à toda crença

ou à descrença

LuCAS [email protected]

Segundo uma pesquisa publica-da na revista Mundo Estranho no começo do ano, o Brasil é o quarto no ranking dos paí-

ses com maiores índices de crença religiosa, com 137 milhões de fiéis (73% da população) só ficando atrás do México, com 96 milhões (76%); das Filipinas, 80 milhões (75%) e da Itália, 53 milhões (90%). Ainda assim, a Associação Brasileira de Ateus e Ag-nósticos (ATEA) conta mais de 13 mil associados.

Já em 2011, em entrevista ao site Sul21, o então presidente da ATEA, Daniel Sottomaior, afirmou que, da-das as proporções, o Rio Grande do Sul tinha quase o dobro de asso-ciados se equivalesse no tamanho populacional ao estado com maior número de membros: São Paulo. Os números continuam crescendo. Dada a predominante tradição católica no Rio Grande do Sul, como explicar o aumento da não religiosidade mes-mo nessa região?

Estrada longínquaPara o redator publicitário Rafael

Rodrigues, caxiense formado em Fi-losofia e ateísta assumido, o cresci-mento e a visibilidade da descrença é extensão de um fenômeno global.

Rodrigues aponta que, ao seu ver, sempre houve um número conside-rável de ateus, mas o cenário social, segundo ele, não permitia a decla-ração desse posicionamento: “acho que um dos fatores para o crescente surgimento do ateu é a possibilida-de que ele tem de sair do armário”, explica o redator. Rodrigues também observa a presença de outros fatores, como o impacto cultural de um mun-do globalizado, a democratização do conhecimento científico e o acesso a outros universos de significação: acredito ser importante comentar que antes do mundo globalizado não existia a tendência de se questionar bases religiosas dadas como absolu-tas, mas com o impacto cultural da globalização temos outras crenças religiosas sendo jogadas na nossa cara o tempo inteiro”, diz ele.

Em termos de criação, o reda-tor conta que sua família sempre foi bastante variada no que diz respeito à religião, de evangélico a espírita, passando por religiões de matriz afri-cana, além de apresentar sincretis-mos como astrologia e numerologia. Apesar do cenário familiar, Rodrigues acredita que nunca foi um real crente em Deus: “Quando você é criança, dá como certo aquilo que seus pais são e fazem. Ou seja, pra mim Deus existia

porque meus pais diziam que existia, mas em minha adolescência passei a questionar muita coisa sobre minhas tradições, e isso incluiu também a questão religiosa”. O filósofo afirma ter se declarado ateu com o adven-to das redes sociais virtuais: “percebi que as pessoas religiosas, que são a esmagadora maioria, costumavam ser bastante injustas com ateus, inclusive

Foto Arquivo pessoal

Rafael Rodrigues

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os que poderiam ser considerados re-ligiosos moderados”, relata o redator, que, nos poucos lugares pelo Brasil que diz ter visitado, viu essa realida-de como uma constante. “As pessoas reagem diferente quando sabem que você é ateu”, declara ele. Quanto à visão de sua cidade natal acerca do ateísmo, Rodrigues sustenta que só poderá dizer que Caxias está mais aberta a esse posicionamento, bem como aos agnósticos, quando houver um político ou um grande formador de opinião da mídia declaradamente adepto desse meio: “essa é uma es-trada que o país inteiro ainda está um tanto longe de trilhar”, complementa.

A convivência

Casos de discriminação na região a quem não tem uma crença religiosa também não passam despercebidos ao ateu Vagner Barreto, estudante de Jornalismo da uCS, natural de Ca-choeira do Sul. Embora o preconceito ao ateísmo não seja algo recorrente em sua vida, Barreto afirma conhecer histórias de pessoas recriminadas no trabalho, na universidade ou na es-cola. O estudante recorda um caso recente, de um menino que proces-

sou certa escola por sofrer represália de professores devido à sua recusa em rezar o Pai Nosso antes das aulas: “o incidente veio à tona numa esco-la pública, que, em tese, deveria ser laica”, observa Barreto. Residente em Caxias, ele reflete que a cidade pos-sui diversas escolas que pertencem a ordens religiosas: “acredito que ser ateu em uma instituição assim deve ser bem complexo”, comenta.

Em caráter pessoal, Barreto lem-bra de casos como jantares familiares de Natal ou Ano Novo, quando, com uma maior junção de pessoas, surgi-ram situações constrangedoras: “eu não rezo. Respeito. Fico em silêncio. Mas não rezo. Já senti alguns olhares recriminatórios de primos, religiosos fervorosos. Mas não vou fazer algo que me agride para que eles se sin-tam bem”, declara. O estudante ex-plica que convive com pessoas que pensam de forma semelhante, que são ateus ou que não discutem ou se preocupem com isso.

Segundo Barreto, sua família não é do tipo que frequenta igrejas: “nos-sa mãe nos batizou na Igreja Cató-lica, por ser algo bem comum entre as famílias. E fiz comunhão”, resgata.

O jovem acrescenta que alguns dos seus irmãos são espíritas, e que ele, como acredita ser o caso de muitos outros, foi levado a benzedeiras e “coisas parecidas” durante a infância: “somos um país com bastante sincre-tismo religioso”, observa. Segundo o estudante, sua família respeita muito as mais diversas práticas religiosas e nunca houve manifestações de pre-conceito em sua casa. “Tenho uma tia que é católica, vai em missas, parti-cipa de novenas e almoços na igreja, enfim, vive a religião de forma muito intensa. Do lado da casa dela, tem um terreiro. Ela convive e se relacio-na de um modo muito amigável com os vizinhos. Isso resume bastante a forma como encaramos a religião na minha casa”, exemplifica Barreto.

Quanto a assumir sua posição ateísta, o jovem diz que o fez na pré--adolescência. O estudante depõe que, após fazer a primeira comunhão, co-meçou a questionar o catolicismo até abandoná-lo de vez ao constatar que a religião, para ele, não fazia sentido. “Respeito muito a religiosidade, que me parece algo bem importante para algumas pessoas, mas nunca foi essen-cial na minha formação”, esclarece.

Foto Franciele Lorezentt

Professora de Filosofia Fátima Martinato diz que, em nível local,

ainda existe certo preconceito com relação ao ateísmo

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Choque culturalBarreto já era ateísta assumido an-

tes de se mudar para Caxias aos de-zessete anos, após prestar o vestibular. hoje com vinte e três anos, percebe uma grande diferença na receptivida-de de Caxias ao ateísmo em relação à sua cidade natal. Em Cachoeira, se-gundo ele, a religião não era algo mui-to importante no seu ponto de vista, salvo alguns casos. A maioria dos seus amigos, afirma o estudante, mesmo que não se considerassem ateus não tinham envolvimento direto com ne-nhuma religião: “alguns iam em mis-sas, cultos e etc. esporadicamente, mas no geral não era algo presente no dia--a-dia”, explica. Em Caxias, entretanto, o jovem aponta que quase todos os eventos envolvem religião em algum nível: “ainda me surpreendo como Deus é citado em eventos ligados ao poder público”, repara Barreto. O estu-dante também declara que, na univer-sidade, chama a sua atenção algumas discussões pontuadas pela religiosi-dade ou crenças, algo que o ateu diz nunca ter presenciado antes de vir para a cidade: “de vez em quando ocorrem conflitos, já me retirei de uma aula na universidade onde a professora falava sobre Deus, pois não creio que seja apropriado e comentei com essa pro-fessora como me sinto incomodado quando o tema é levantado”, protesta

o jovem. Outro exemplo apresentado por Barreto diz respeito a almoços de colônia, nos quais observa que as pes-soas rezam antes de comer: “Não lem-bro de ter rezado antes de almoçar em nenhum evento comemorativo antes de morar em Caxias”, relata. O estudan-te ainda lembra que, logo ao chegar na cidade, foi a uma apresentação da Or-questra Sinfônica da PuC, na Igreja dos Capuchinhos, e viu uma lista enorme de futuros casamentos. Visão que, para ele, foi assustadora, um choque cultural: “depois comentei com algumas pesso-as daqui e me falaram que era algo co-mum”, acrescenta o ateu.

Também para a ateia e professora de Filosofia da uCS por mais de vinte anos, Fátima Martinato, em nível local ainda existe um certo preconceito em relação ao ateísmo. “É verdade que o preconceito ao ateu diminuiu, embora não de todo, e o número de ateístas vem crescendo segundo as pesqui-sas, mas alguns religiosos ainda des-confiam do caráter de alguém que se declare ateu”, argumenta Fátima. No que tange ao contínuo aumento do número de ateístas aos olhos do pú-blico, a filósofa atribui o fenômeno à redução do preconceito, ao ritmo cada vez mais corrido da realidade contem-porânea. “Com a vida tão apressada, as pessoas têm menos tempo para se de-ter em questões existenciais”, defende a docente.

No que tange ao contínuo aumento do número de

ateístas aos olhos do público, a

filósofa Fátima Martinato atribui

o fenômeno, à redução do

preconceito, ao ritmo cada vez

mais corrido da realidade

contemporânea. “Com a vida

tão apressada, as pessoas têm menos tempo para se deter em questões existenciais”,

comenta.

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