24
Revista-laboratório do Curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA Ano 1 número 1 - abril de 2009 A DITADURA DA tatuagem

REVISTA EU

Embed Size (px)

DESCRIPTION

A DITADURA DA Revista-laboratório do Curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA Ano 1 número 1 - abril de 2009

Citation preview

Page 1: REVISTA EU

Revista-laboratório do Curso de Jornalismo do CEULP/ULBRAAno 1 número 1 - abril de 2009

A DITADURA DA tatuagem

Page 2: REVISTA EU

sumário

ArtigoViolência urbana: a roda viva de um discurso social desfragmentado

CrônicaO mundo teen

PolíticaO novo movimento estudantil

economia&negóciosEmpreender para trilhar o caminho do sucessoPrimeiro emprego: difi culdades e acessibilidades

saúde&doençaEm busca do corpo perfeitoMagreza ideal pode virar pesadelo

mundo atualLonge dos pais, e agora?

músicaA nova era da música: questões da contemporaniedade

estilo

religião: qual é a sua?

AlegriaRemédio que cura o corpo e a alma

sexo de luxo

Perfi lO homem gastrossexual

TendênciaTatuagem como pele barata: a popularização da arte e a visão da juventude no modismo corporal

ComportamentoPor que sou tão tímido(a) !?

03

0405

06

070910

1113

16

18

Ao longo do semestre, a prepa-ração e a produção de EU mobilizaram um grupo unido, talentoso, cheio de empolgação. A revista, pensada para ser semestral, órgão laboratorial do curso de Jornalismo do CEULP/ULBRA, ganhou um nome curto, curioso, “diferente”, dis-seram alguns. E por um bom motivo se chamará assim. O leitor deste tipo de produção, dizem os estudiosos, se iden-tifi ca com o que lê, carrega o exemplar da revista debaixo do braço, esconde no banheiro(principalmente na adolescên-cia), guarda como documento histórico, porque aquele material(a revista) se torna parte dele. É como se fosse um pedaço dele(ou de mim) em tantas páginas. A primeira edição de EU esco-lheu falar para jovens. E foi feita por jo-vens aprendizes, a maioria na faixa de 20 a 22 anos, ansiosos por abordar temas que fazem parte do seu cotidiano, da nova modernidade. Olhar o presente e tentar com-preendê-lo foi uma das principais mo-tivações da equipe que participou da produção. Escolher temáticas que inte-ressassem ao leitor jovem foi um desafi o. Nas primeiras reuniões, surgiram pautas diversas. A maioria foi realizada. Uma ou duas se perderam no semestre. Entre idas e vindas, com o texto sendo esmiuçado, melhorado, depurado, o tempo passou. As tarefas exigiam disposição, dedicação, espaço nas agendas cheias de quem tra-balha e estuda à noite. Mas valeram. Eles sabem que sim. Ao longo do caminho, neste primeiro trilhar, a turma descobriu que é preciso vencer a timidez, o medo da abordagem de temas complexos, en-frentar o desconhecido e aprender. É importante estar pronto ainda para en-frentar os “nãos” da vida, as caras feias de quem não quer falar sobre aquele assun-to. Sem empenho e compromisso não tem resultado. É também preciso arriscar. Texto de revista está longe de ser tradicional, nos moldes que habitual-mente teimamos em ensinar nos bancos da universidade. Está entregue. O fi lho é nosso. Cuidemos bem de EU, para que cresça, amadureça. Seja inteligente, atraente. As-sim, será sempre nosso também o orgu-lho de dizer: - eu, sou mais EU.

Jocyelma santanajornalista e professora

editorial

Eu é a revista-laboratório do Curso de Jornalismo do Ceulp/Ulbra. Produzida e editada pelos alunos da disciplina Produção Jornalística 2 – Revista, sob orientação da professora-mestre Jocyelma Santana dos Santos Martins de Oliveira. Ano 1. Nº 1.

diretor-geral do Ceulp/ulbra: Marcos LiemerCoordenadora de Comunicação social ‒ Jornalismo:Profa. Msc. Irenides Teixeira

editora-chefeProfa. Msc. Jocyelma Santanarepórteres e fotógrafos: Ana Lúcia Amaral, Cássia Eliane Miranda, Fábio Souza, Iris Silva , Jaciara França, Karina Francis, Najara Barros, Tamyra Pinheiro, Wagner Quintanilha, Projeto Gráfi co:Bruce Ambrósio Costaex

pedi

ente

Page 3: REVISTA EU

editorial

Wagner quintanilha

vioLênciA urbAnA: arodavivadeumdiscursosocialdesfragmentadoPermito-me neste artigo tentar apresentar um pouco do que me chama atenção enquanto simples expectador das inúmeras facetas da violência urbana, que vem atingindo a sociedade brasileira. Dessa forma sou, ou melhor, somos cúmplices desse fenômeno que atinge a comunidade não importando o nível social, cultural, nem credo, raça e cor. O que fi ca mesmo estabel-ecido é que o problema é real, a situação caótica; e de cúmplices passamos também a reféns de um apocalíptico momento.

Diante dessa violência, vários são os questionamentos a respeito das causas, sim, já que tudo que gera uma reação foi motivado por uma ação. Se-ria o próprio espaço urbano, motivado pelo crescimento populacional? A falta de políticas públicas voltadas para a segurança? O crescimento das favelas? O desemprego? A falta de incentivo à educação? Ou talvez a maléfi ca e san-guinária distribuição de renda do nosso país? Posso afi rmar que todos esses fatores citados se entrelaçam e junta-mente com outros e outros, propiciam o crescimento desenfreado da violên-cia no seio da nossa sociedade. Outra questão um tanto quanto discutida é se a pobreza em si, teria uma parcela de contribuição para essa violência. Partic-ularmente acredito que não, e compar-

tilho do mesmo pensamento do sociól-ogo Luiz Antonio Francisco de Souza “a pobreza não é a causa da violência, mas quando aliada à difi culdade dos gov-ernos em oferecer melhor distribuição dos serviços públicos, torna os bairros mais pobres mais atraentes para a crimi-nalidade e a ilegalidade.” E o refl exo maior dessa violência urbana recai principalmente nos nossos jovens. Digo isso porque sou parido de uma geração, que apesar de ter pas-sado pelas amarras da ditadura, tinha seu espaço. Éramos viciados nas brinca-deiras dançantes dos clubes sociais, nos festivais, nas reuniões noturnas que se discutiam contos e causos, cada dia na casa de um colega, um vizinho. As rodas de violão eram puras, quando muito, um vinho era a bebida da vez. Hoje, nossos jovens de bem, em

sua maioria, estão trancafi ados no bom sentido da palavra, em seus quartos, atrás de uma tela do computador, que lhes proporciona uma falsa liberdade, mas que algumas vezes também é in-strumento usado pelos vampiros da so-ciedade cibernética. Situação imposta pelos próprios pais que temem expor seus fi lhos perante a temível realidade. Vivemos diariamente o medo do “monstro” chamado violência ur-bana, que tem no crime organizado o poder de lançar seus tentáculos em busca de novas vítimas e adeptos, en-gordando assim as estatísticas, que nos impressionam com a velocidade de crescimento. Conforme números da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Brasil há cerca de 30 homicídios para cada 100 mil habitantes. Alarmante,

3Revista Eu

Page 4: REVISTA EU

pois a média mundial em países sem guerra civil é de seis vezes menor. Esses números nos deixam perplexos. Quando tabulados nos apresentam que, do total de homicídios 62% das vítimas têm entre 15 e 27 anos, ou seja, adolescentes ou que há pouco deixaram esta fase da vida. Volto à questão da juventude, afirmando que o “monstro” está de boca aberta e escancarada, aguardando novas oportunidades; as drogas lícitas e ilícitas são portas para um possível caminho sem volta. Por isso, é preciso urgentemente que a sociedade civil organizada comece a cobrar de seus governantes, políticas públicas direcionadas para todos esses fatores de subversão, que miram a nossa comunidade de jovens, alvos aparente-mente fortes, mas absurdamente frágeis, inocentes e inconscientes. Sabemos que protegendo essa classe, estaremos enfraquecendo o “mon-stro” da convulsão social. Pois, como di-zia meu saudoso pai: “o mal se corta pela raiz”. Educação de qualidade, qualifi-cação, segurança pública e o apoio emo-cional da família, são algumas das ações que posso apontar como sendo de suma importância para o sucesso dessa nossa busca. Quem sabe assim acabando de vez, ou pelo menos minimizando os es-tragos desse voraz “monstro” que nos at-erroriza e ramifica a violência urbana.

4 Revista Eu

Page 5: REVISTA EU

Eu tenho 24 anos, faço faculda-de de jornalismo e não participo de ne-nhum movimento estudantil ou coisa do tipo. Esta não é só a minha realidade, mas a de muitos jovens. Assim, pergun-to: mudaram os ideais, os movimentos estudantis ou os jovens? Sim, ainda exis-tem jovens considerados por muitos como obstinados e idealistas que se so-brepõem às dificuldades e continuam lutando, mostrando que a história do movimento estudantil está ligada, so-bretudo, à resistência. No ano de 1960, participar do movimento estudantil no Brasil era, acima de tudo, correr riscos. De per-der a vida, de perder a liberdade. Na-quela época, a União Nacional dos Estudantes(UNE) reforçava os ideais e incentivava a busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Já em 1984, o slogan dos movi-mentos sociais, entre os quais, os estu-dantis, foi outro. “Um, dois três, quatro, cinco mil queremos eleger o presidente do Brasil!!!” Era o grito das “Diretas Já!” e também o de toda a nação brasileira, junto com participação efetiva dos es-tudantes e de parte da classe política, pedia eleições diretas para presidente da República. Não muito tempo depois, em 1992, sucessivas manifestações nas ruas contra a corrupção no governo deu voz aos “Caras Pintadas”, e resultaram no impeachment de presidente Fernando Collor de Melo. Em abril de 2008, os movimen-tos estudantis ressurgiram na grande mídia com a invasão da reitoria da Uni-versidade de Brasília(UNB), o que cul-minou com a renúncia do então reitor Timothy Mullholand, suspeito de usar recursos de pesquisa na reforma de um apartamento funcional. De acordo com historiadores, o movimento só renasceu porque mudou o discurso e se afastou da UNE, que em 1980 partidarizou e, nos últimos anos,

aderiu ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No Tocantins, exis-tem vários grêmios e representações estudantis em escolas e faculdades. Buscando identificar as novas bandeiras dos movimentos estudantis, a revista Eu Jovem localizou alguns integrantes da diretoria do grêmio da Escola Técnica Federal de Palmas(ETF). Ele divide o tempo entre o curso de Informática na ETF e a presidência do Grêmio. Yuri de Souza Ribeiro, 17, acre-dita que os grêmios e os movimentos estudantis vão ainda mais longe. Para o jovem líder, os movimentos estudantis permitem uma discussão critica que en-volve a profissão, muitas vezes esqueci-da na grade curricular dos cursos. “É im-portante que o estudante participe dos movimentos estudantis”, diz ele. Ribeiro também conta que esta

“foi uma maneira que encontrei para aplicar meus conhecimentos adquiri-dos ao longo do curso e construindo algo junto à população”.

Marcos de Souza Lima, 24, es-tudante do curso de Edificações acre-dita que o grêmio serve para incentivar ações entre os estudantes. “Pra mim os movimentos tem que ter objetivos e os jovens lutando por condições de me-lhorias no âmbito social e cultural”, de-fende. No processo político geralmen-te os jovens mais “populares” ou tidos como os mais mobilizadores são cobi-çados pelos partidos políticos. Mas o grêmio da ETF busca não se envolver com política partidária, e sim com a po-lítica estudantil, diz o presidente. “Bus-camos apoio diretamente nos órgãos responsáveis, mas não a políticos mal intencionados. Não temos o interesse de sair candidatos em eleições futuras, mas temos o interesse sim de buscar apoios que possam sustentar nossos projetos a fim de alcançar nossas metas” responde. A estudante de turismo da ETF, Amanda Souza, 28, sente falta de de-bates que discutam o papel do grêmio nas escolas, faculdades e nas comuni-dades. Ela diz que falta empenho dos estudantes e dos grêmios e um acom-panhamento para que os alunos se in-teressem mais. “Hoje com esta reforma educacional os alunos não têm interes-se nem para estudar e muito menos para se interessar em ajudar a escola ou a comunidade, “comenta. Outro que também critica a falta de discussão nos grêmios estudantis é uma é Pablo Almeida, 22, do curso de Gestão Pública. Ele acredita que atu-almente os grêmios e os movimentos estão preocupados muito mais em or-ganizar festas fugindo assim do seu pa-pel perante sociedade “Alguns sim, mas a grande maioria acha que os grêmios só servem para organizar campeonatos e festas, acho sim, que falta mais discus-são sobre questões relevantes com os alunos” completa.

Os mOvimentOs estudantisestão mudando?

POLITICA

Fábio Souza

5Revista Eu

Page 6: REVISTA EU

Íris Silva

empreenderPArA TrILhAr O CAmInhO dO suCessOPensar, criar, persistir, montar estratégias, capacitar: essas são algumas palavras chaves para quem deseja montar seu próprio negócio e sair vencedor.

Foi ralando, cozinhando muito num fogão a lenha, no fundo do quin-tal, que Aurilene Rodrigues de Souza Lourenço, 42 anos, moradora da região sul de Palmas, se tornou uma empre-sária de sucesso. A história de Aurilene começou com a necessidade de ajudar o marido a complementar a renda da família e criar os quatro filhos. Ela pre-parava alimentos feitos com produtos naturais, para vender porta a porta na cidade. Em 2005, teve a idéia de partici-par do prêmio Sebrae Mulher Empreen-dedora. Esta decisão mudou completa-mente a vida dela. Aurilene venceu o prêmio e ganhou um curso de capacita-ção de alimentos no Rio de Janeiro. Vol-tando, recebeu consultoria do Sebrae e montou um empreendimento, que atu-almente emprega oito funcionários. Ela conta que, apesar das dificuldades en-contradas no inicio, hoje é uma vence-dora. Para “realizar um sonho é preciso buscar conhecimentos, capacitar, mos-trar interesse, nunca desistir, persistir e acreditar sempre”, reforça. No inicio desta luta, ela liderou um grupo de mulheres dos Jardins Au-renys, que não tinham emprego nem

renda, e conseguiu montar a Associa-ção dos Microagroindustriais de Palmas (Agrop), e se tornou também a primeira presidente da instituição. Todos os alimentos produzidos na entidade são naturais, tendo como matéria-prima: abóbora, mandioca pol-vilho, amendoim, cana-de-açúcar, entre outros. Aquele grupo conseguiu supe-rar os problemas e viver melhor, mas além dessa força de vontade pessoal, uma decisão foi importante para a equi-pe: procurar capacitação e qualificação profissional. Uma das responsáveis pelo departamento de Gestão do Conheci-mento do Sebrae/TO, Simone Santos Soares, diz que os futuros empresários recebem noções sobre o que é e como abrir um empreendimento. Outra história de sucesso é a de Lidiane de Mello Giordani Maracaipe, de 29 anos, que conseguiu montar sua loja de perfumes e se destacar no ramo. O tino para os negócios, ela tem des-de a adolescência quando já gostava de vender. Fazia pirulitos de chocolate para vender no colégio, no clube e na época da faculdade de Administração de Empresas comercializava lingerie e

semi-jóias. Mas, foi através de uma feira, por intermédio do marido, que a vida desta jovem se modificou. “Em um dos corredores da Feira do Empreendedor montada em Goiás, em 2001, Rogério Maracaipe, meu esposo, conheceu a FATOR 5, uma empresa que comercia-liza perfumes pelo sistema de venda direta. Rogério comprou dois perfumes: um para ele e outro para mim”. A partir desse presente, ela relata feliz da vida

economia e negócios

que tudo mudou, foi o que precisava para engatar o sucesso tão sonhado. Primeiro a jovem tinha em mãos algo que gostava muito, que era per-fume. Depois, a empresa estava preci-sando de alguém que quisesse vender perfumes da marca. Foi aí que viu uma oportunidade bater à porta. Entrou em contato com a empresa, fez o cadastro como revendedora autônoma e come-çou a negociar os produtos. Foi ven-dendo e indicando amigas para serem revendedoras também. Como o negocio só crescia, Li-diane teve que deixar o emprego numa empresa privada. A bolsa já era peque-na para tanto produto, então conta ela, “compramos um armário de aço, que teve que ficar ao lado da geladeira na cozinha. Depois compramos um arqui-Lidiane

6 Revista Eu

Page 7: REVISTA EU

Najara Barros

empreenderPArA TrILhAr O CAmInhO dO suCessO

vo, para controlar as vendas e cadastros. Mudamos a ‘mini-distribuidora’ para uma kitinet”, relembra com entusiasmo. A batalhadora Lidiane queria mais. Então, continuou vendendo e se capacitando, fez um cur-so direcionado ao empreendedorismo, registrou sua empresa em 2003 e se mudou para um ponto comercial. A empresária lembra que, nesse período, passou por difi culdades. “Estávamos com 53% de inadimplência. Fiz o curso de ‘Crédito e Cobrança’ do Sebrae e vi que estávamos trabalhando de forma er-rada”, afi rma. Com a mudança de estratégia tudo deu certo. Hoje, ela tem loja com sede própria, quase mil revendedores, e ainda pode contar com os revende-dores máster, que estão formando mini-equipes. As-sim como ela fez no início. Felismar Carneiro da Costa Soares 37 anos, casado e pai de dois fi lho foi outro que não se aco-modou. Mesmo sem procurar orientação dos órgãos voltados para esta área, ou sem ter participado da fei-ra, resolveu investir na experiência deixada pelo pai. O ex-motorista que tinha uma renda mensal de R$ 600 agora ganha mais de R$ 2mil como autônomo.Felismar, lembra que trabalhava há seis anos de mo-torista, tinha problemas de saúde, ganhava pouco e trabalhava em média oito horas por dia, sem esque-cer que às vezes não dormia direito, porque tinha as contas à pagar e o dinheiro não dava. Então, para reverter essa situação, ele resol-veu arriscar. Deixou a profi ssão de motorista e in-vestiu na de artesão, ocupação de seu pai. No inicio, também foi difícil. Agora faz tudo com madeira, uti-liza máquinas próprias e molda com as mãos: porta--retratos, porta e guadanapos, cestas, vasos, quadros, bancos entre outros objetos artesanais. São cerca de 200 peças por mês. Além disso, o ex-motorista minis-tra cursos em todo o Tocantins e em breve irá fechar um contrato com uma empresa dos Estados Unidos.

primeirO EMPREGO: difi culdades e acessibilidades

Há quatro meses, a estudante do primeiro módu-lo de Hospedagem da ETF, Leidiane da Silva, 17 anos, procura emprego. Ela conta que já tem cadastro em todos órgãos de encaminhamento para o mercado de trabalho mas, como centenas, mil-hares de outros jovens, está na fi la de espera pelo primeiro posto de trabalho. O primeiro emprego é para o jovem um teste de qualidade de si mesmo, a experiência prática naquilo que decidiu que seria sua car-reira profi ssional. O sonho e o medo de todos os jovens é o estágio, mas se um emprego não está fácil para quem é formado, tampouco é para quem ainda está cursando uma faculdade ou só con-cluiu o ensino médio. Um levantamento fei-to pelo Departamento Inters-indical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese) mostra que no Brasil cerca de 31% dos jovens entre 18 e 24 anos estão a procura do primeiro emprego. Apesar de haver um incentivo por parte do Gov-erno Federal com o Pro-grama Nacional de Estímulo ao Primeiro Emprego(PNPE) que incentiva as empresas a contratarem jovens pagando uma ajuda fi nanceira a cada vaga criada para maiores de 16 anos, o aumento da procu-ra pelo primeiro emprego é crescente e as vagas limita-das. Por motivos diver-sos os jovens continuam a receber vários ‘nãos’ até gan-haram a primeira chance. As

alegações dos empresários é que os candidatos não têm experiência, mas “como ter experiência se não há uma oportunidade?”, diz Auster de Paiva, 16 anos, estudante do ensino médio integrado habilitado em Informática da Escola Técnica Federal de Palmas (ETF). Ele reclama que mesmo que haja um incen-tivo ainda é pouco. Os projetos que in-centivam as empresas priva-das já mostram um grande avanço e uma diminuição na taxa de jovens desemprega-dos, porém o preconceito e a falta de incentivos a cursos de capacitação são ainda grandes obstáculos. Além disso, há um entendimento equivocado que qualquer coisa se enquadra como ex-periência, como estágio. Não é raro ouvir casos em que a vaga oferecida é para estagiário de jornalismo/direito e quando se percebe o cargo a ser ocupado é o de at-endente-secretário. Foi o que aconteceu com o estudante de Edifi cações da ETF, Jaime de Paula, 18 anos. Ele conta que foi selecionado para ocu-par uma vaga de estágio e quando chegou lá, não era nada do proposto. “Cheguei lá e era para trabalhar como assistente em uma empresa de materiais de construção e queriam que eu carregasse materiais, cimento e tudo mais”. O primeiro emprego é substancial para qualquer pessoa. Mas o sistema impede que a conquista do primeiro emprego seja tranqüila para a maioria.

Felismar Carneiro da Costa Soares7Revista Eu

Page 8: REVISTA EU

LOnge dOs pais, e agora?

Morar sozinho, independência, ser dono do próprio nariz. Sair da casa dos pais, ganhar experiência. Mas também quem resolve encarar esta nova realidade, enfrenta responsabilidades, principalmente quando se é es-tudante. Saber que não tem mais “ninguém” para dar ordens, direcionar a vida, pode trazer medo. Muitos exemplos desta nova condição moram na Casa do Estudante de Palmas, projetada para abrigar jovens de baixa renda de outras cidades que estudam na capital. A entrada do apartamento de Moisés Coelho Gusmão, 26 anos, não deixa dúvida da condição de “longe de casa”. Duas camas-beliche, materiais de escola espalhados e alguns calçados no chão. Moisés encontrou na Casa o apoio para continuar os estudos. “Uma casa como esta cria condições para estudar. Não adianta passar no vestibular e não ter um lugar para morar”. Moisés veio de Ananás, a 520 km de Palmas.

O estudante Giullyano de Souza Bordin, 19 anos, mora há oito meses em Palmas, desde que saiu de Cristalândia(TO). Ele conta que no começo foi difícil, pois nunca tinha mo-rado sozinho. Agora, tem que cuidar de tudo, inclusive lavar a própria roupa. Mas, o que é mais difícil para Giullyano é a distância da família. Para matar a sau-dade, ele recorre ao telefone “meus pais sempre ligam, geralmente chegam a ligar mais de duas vezes no final de se-mana”. Já Marcos Willer, 32, veio de longe em busca dos estudos. Ele saiu de Boa Esperança (MG) para se formar em Direito e diz que só vai voltar para sua cidade depois que concluir os es-tudos. Mesmo estando acostumado a morar só, pois já saiu outras vezes de casa, Marcos diz que morar em Palmas está sendo uma experiência única. “No início, não foi fácil, demorei a me adap-tar com a cultura daqui”, conta. Agora, bem acostumado, ele lembra que ao tomar a decisão de vir estudar não re-cebeu apoio dos pais, mas perseverou e não se arrepende da escolha que fez. Outro rapaz que veio de longe foi Leandro Steckanbauer Costa, 19, que há 10 anos mora no Tocantins. Ele veio de São Paulo e desde 2005 mora só na capital. Há três meses entrou para a Casa do Estudante. Quando terminar Ciência da Computação (7º período), Leandro

quer fazer o curso dos sonhos: Direito. Como está acostumado a morar só (desde os 16 anos) foi fácil à adaptação na nova casa. Além de estudar, Leandro também trabalha como garçom numa pizzaria. Exemplos de jovens que lutam por um sonho, que vão atrás de mel-hores condições, através dos estudos não faltam. Eles moram sozinhos, divi-dem kitinetes com amigos, moram com algum parente. É o caso de Alexandre Almeida Barbosa, 17 anos, que mora em Palmas desde 2006. Ele veio de Mi-racema, 80 km da capital, para estudar e mora com a tia. Cursa o 3º ano do en-sino médio na Escola Técnica Federal e faz curso técnico de informática. É a primeira vez que Alexandre mora sem a companhia dos pais e diz que sente mais falta da família e dos amigos. “Con-heci mais gente nesses dois anos e meio aqui em Palmas do que nos quinze anos em Miracema” diz. Do Amazonas direto para a capi-tal do Tocantins. Essa foi à trajetória de Maxwell Souza dos Santos, de 19 anos. Ele está em Palmas há três anos e mora com amigos em uma quitinete. Cursa o 2º período do curso técnico em In-formática na ETF e diz que a maior di-ficuldade no início foi conseguir um emprego. Superada essa fase, desde 2007 trabalha na Rensoftware, empresa de automação de serviço. Quando ter-

minar o curso técnico, quer ingressar em Sistema Web(curso superior tec-nológico). Sobre voltar à sua terra natal, diz: “penso em voltar para o Amazonas, quero aprender aqui algo novo para tentar disputar com os profissionais de lá”. Aos 17 anos, Renata Santana Lima cursa o 3º ano médio na Escola Estadual Tiradentes, em Palmas. Ela está na capital há quase três anos, desde que sua irmã Raquel Santana Lima, 21, pas-sou no vestibular para Direito. O irmão mais velho, Rafael, 22, também veio de Lagoa Formosa (MG). Renata, Raquel e Rafael nasceram em Marabá (PA) a 600 km de Palmas. Rafael e Raquel estudam juntos desde o começo da vida estudantil, da pré-escola até o mesmo curso na Uni-versidade. Já Renata pensa em fazer vestibular para Psicologia no final do ano. “Sempre ligo para os meus pais, sou muito apegada a família” diz Re-nata, a filha mais nova. Ela fala que foi fácil à adaptação em Palmas, o mais difícil foi quando morou em Minas, por causa da distância, mas de todos os lu-gares por onde passou adquiriu algo de novo. “Aprendi várias culturas, até perdi o sotaque de paraense”, brinca. Os pais sempre apoiaram a decisão dos filhos de morarem longe.

mundo Atual

Ana Lúcia Amaral

Maxwell deixou o Amazonas para estudar no Tocantins

8 Revista Eu

Page 9: REVISTA EU

Karina Francis

a nOva era da música: questões da contemporaneidade

A músicA vAi AcAbAr? você AindA comprA cd? bAixAr músicA é crime? o que é mp3? As perguntAs mudArAm e As respostAs tAmbém

Entretodasasfacilidadesqueatecnologiaoferece,apossibilidadedebaixarmúsicasdegraçapelaInternetésemduvidaumadasmaisusadas.Todaessaondadeconvergênciapossibilitouode-senvolvimentodenovastecnologiasesuadifusãonomercadodoméstico,desencadeandoumcon-flitoentreideologiademercadoerealidadecultural. Éassimqueapesquisadoraemcomunicaçãoecultura,MarieSantine,discute“Propriedadeintelectualdamusicaon-line:conflitosentreculturaemercado”.Paraelaaconvergênciadosmeiospossibilitouumcompartilhamentodeprodutosautorais.“Atecnologiadigital,conjugadacomaInter-net,tornoumuitofácilacópiaeadistribuiçãodomaterialprotegidopelodireitoautoral”,afirma. Hoje,teracessoaumaobraecompartilhá-lacomoutraspessoas,semquesepaguealgumcusto,ficou fácil.Porum ladoa tecnologiade fazercópiasevoluiue dificultoua imposiçãoda lei,tornando-aatépoucoeficaz.Poroutro,acópiaonlineabriutambémnovosespaçosdedivulgação.

Com redes de compartilhamento como a Peer-to-Peer (P2P) ficou simples compartilhar ar-quivos digitais. A rede P2P possibilita o intercâm-bio, a distribuição e a reprodução de produtos culturais sob a forma de arquivos digitais, que cir-culam por meio da Internet com recurso livre. Além disso, o software livre, o Copyleft possibilita que os indivíduos possam ter a liberdade de ex-ecutar programas sem qualquer restrição e re-distribuir cópias deles. Programas como Emule e Lime Wire são exemplos de distribuição de arquiv-os gratuitos. Com o Copyleft qualquer pessoa pode ter acesso e fazer alterações nos programas da rede, essa é a principal diferença para o software propri-etário – o Copyright - que já tem em seu significa-do os direitos de reprodução. Quando o símbolo

© aparece, o programa ou arquivo está protegido pela lei de patentes. Santine diz ainda que para uma grande quanti-dade de pessoas chamadas de ciber-ativistas, re-stringir o acesso à música na Internet, é uma forma inaceitável que descaracteriza a rede virtual. E este é um pensamento comum entre adolescentes, ainda que verbalizado de outra forma. “A internet não teria graça nenhuma, se não pudesse ouvir as músicas que gosto. Para mim ouvir o que eu quero e na hora que eu quero, sem ter que comprar um CD é uma das maiores vantagem da internet” diz a estudante Caroline Almeida, 14 anos. A estudante ainda reforça que ter o direito de selecionar as músicas de um CD, podendo ou-vir somente as que gosta, é outra vantagem. No entanto, as gravadoras estão tentando

música

9Revista Eu

Page 10: REVISTA EU

criar um sistema com base em assinatu-ras de baixo custo, para distribuição de músicas na Internet. Desta forma, o mer-cado de compartilhamento da música digital seria regulamentado pelos inter-esses de grandes corporações. Isso, mil-hares de internautas não querem. Muitos artistas como Madonna, Bono Vox e o brasileiro Lobão já deram apoio ao download gratuito. E o que parece motivá-los a defender o copyleft é que a principal fonte de renda do ar-tista é a venda de ingressos para shows e apresentações na mídia e não a venda de discos, reforçando assim o movi-mento ‘pro-download’. Muitos pesquisadores estão pensando em soluções para esse prob-lema. Um deles é o professor de direito da Universidade de Standfor(USA), Law-ernce Lessig que criou em 2001 o Crea-tive Commons, um programa virtual que cria uma alternativa para o termo legal de direitos reservados. No progra-ma, artistas e autores podem autorizar a utilização de sua obra para o público ao disponibilizar sua obra na rede da entidade. O artista decide quais obras terão seus direitos reservados, e quais serão disponibilizadas a outras pessoas. Pode participar do programa qualquer produtor cultural, músicos, cineastas, fotógrafos, escritores entre outros. No Brasil, o Creative Commons vem sendo adaptado por grupos especialistas da escola de direito da FGV-RJ desde 2003.

mas e o mp3 Muitos artistas divulgam suas obras na rede da Internet, e provavel-mente continuarão, sem intermédio de gravadoras, utilizando somente arquiv-os digitais como o MP3. A maioria dos músicos inde-pendentes gastava muito dinheiro distribuindo gravações, tentando as-sim, fazer com que alguém ouvisse suas músicas. No entanto com o MP3, o custo é praticamente nulo, além da vantagem de divulgar para um grande número de usuários. O músico e publicitário Caio Brettas, 27, é um dos adeptos desta mo-dalidade. O músico toca instrumentos, como bateria, contrabaixo, desde os 11 anos, fez conservatório e sempre inves-tiu na carreira musical sempre tocou em bandas independentes. Em 1999, Caio gravou um Cd, mas por falta de apoio

cultural e do alto custo das prensagens, não conseguiu fazer divulgação do ma-terial. Em 2008, utilizando os arquivos digitais em MP3 e a divulgação de ma-terial gratuito na Internet, ele e a banda se tornaram mais conhecidos por meio de sites onde é possível fazer o cadastro gratuitamente. Segundo Caio, a rede possibil-itou a expansão da divulgação, mas a qualidade sonora das gravações em es-túdio ainda prevalece, apesar do custo mais elevado “Eu acho que poder dis-ponibilizar o material na internet é sem dúvida o recurso mais viável de divul-gação a baixo custo. No entanto, acred-ito que o CD, produzido pelas gravado-ras é ainda de suma importância, afinal para quem realmente gosta de música, o CD original é uma relíquia, como o vinil foi”, acredita. Do ponto de vista de uma gra-vadora, os arquivos em MP3 não signifi-cam somente que o usuário vai arqui-var as músicas que gosta em cd, para que outras pessoas copiem ao invés de comprar o mesmo cd na loja. O que real-mente preocupa a indústria fonográfica é que os novos músicos não tenham mais interesses em utilizar a gravação tradicional, por encontrarem na Internet um meio econômico. O que as gravadoras estão tentando fazer é criar mecanismos para que os músicos tenham que pagar para disponibilizar seus trabalhos na rede, obrigando assim a passar pelas grava-doras.

Há também quem seja contrário à prática de baixar músicas pela Internet, de graça. Estes entendem como um ex-ercício de violação dos direitos autorais. É o que pensa a estudante de Turismo e Hospitalidade da Escola Técnica Federal de Palmas, Poliana Pedroza , 23, que afir-ma que prefere pagar para obter uma música na rede. “Sou a favor de comprar o CD, e acho uma atitude bacana os sites que cobram para baixar músicas na Internet, porém sou totalmente contra aquelas que violam os direitos autorais”. A estudante diz ainda que “não é certo, uma vez que aquilo teve um custo pra alguém. Não baixo de graça, quando quero ouvir algo, eu compro o CD ou a música”. Ainda não se tem uma “solução” para esta situação desencadeada pela tecnologia. A resposta talvez não deva ter como objetivo defender a gratui-dade da cultura e da informação na Internet e nem por sua privatização a favor das grandes empresas, como gra-vadoras e portais da rede. Nem mesmo favorecer a pirataria. Uma das saídas é pensar em um novo pacto social que reconcilie o direito dos autores de viv-er de seus trabalhos com o direito do acesso universal a cultura, isto é, um pacto em torno dos interesses do públi-co e dos criadores e não em torno dos grandes grupos de mídia.

10 Revista Eu

Page 11: REVISTA EU

estilo

A turma que compõe a UTI da Alegria, isso mesmo, Unidade de Trata-mento Intensivo da Alegria, um projeto que existe há sete anos, leva solidarie-dade, apoio e humanização aos hospi-tais. O grupo é formado por jovens que usam a terapia do riso para auxiliar na recuperação dos pacientes hospitali-zados, envolvendo as mães, acompan-hantes e profissionais de saúde no hos-pital. O grupo ligado ao Departamen-to de Infância e Juventude da Federação Espírita do Estado do Tocantins. O vol-untário Galtiere Alves de Sousa Lopes se empolga ao falar sobre o trabalho. “Gos-to muito do que faço e tento propor-cionar a essas pessoas a iluminação de cada ser, pois tem que existir amor entre as criaturas, ser um amor incondicional”. Para “aplicar” a terapia, os jovens são ca-pacitados em cursos especiais. Na rotina deles, tem reunião uma vez por semana. Depois, o grupo

segue para o hospital Dona Regina. Lá cantam, brincam, fazem apresentações. No repertório das atividades têm dobra-duras de balões, trava-língua, pinturas, conversação. Tudo para interagir e des-pertar a participação das pessoas pre-sentes. Quem coordena o grupo é Dan-iel Araújo. Ele conta que o vestuário faz parte da intenção de levar alegria. “Vestidos com roupas coloridas, jalecos brancos e rostos pintados caracteriza-dos de palhaço”, diz o coordenador, os ‘doutores’ usam uma “linguagem lúdica, da fantasia, da arte no processo de hu-manização do ambiente hospitalar e na recuperação do indivíduo”. Outro grupo que também se envolve com filantropia é o Ágape, da Igreja Católica São José, em Palmas. Fun-dado há três anos e seis meses, os mais de 50 componentes se reúnem todos os finais de semana para levar alegria. Com este objetivo, eles visitam

a Casa de Marta – de apoio às adoles-centes grávidas, a Casa Abrigo Raio de Sol – onde estão crianças e adoles-centes em situação de risco pessoal e social, o Abrigo de Idosos João XXIII, em Porto Nacional e o Hospital Dona Regi-na, na capital. A coordenadora do grupo Célia Regina, 23 anos, diz que com o trabalho voluntário, eles vão se sensibilizando “com a vida de cada um”. Levam Deus ou uma “palavra amiga” a pessoas que precisam. “Muitas pessoas reclamam da vida e quero que eles possam amar seu irmão cada vez mais e ajudar nos mo-mentos em que eles mais precisam”, diz a jovem. Outra atividade desenvolvida pelo grupo é o bazar feito nos bairros carentes de Palmas, como o Jardim Taquari. Para realizar a ação, os jovens ar-recadam roupas, móveis usados como camas, colchões, fogão, brincos, colares, sapatos, bolsas. Depois, eles fazem uma campanha de divulgação e por fim ven-dem por um preço simbólico, que não ultrapassa R$10. Também doam cestas básicas para serem distribuídas. Célia afirma ainda que “o que mais me motiva é ver as pessoas sorrindo, felizes, parece que renasce a esperança. A gente se sente bem em ver o outro bem”.

aLegriaREMÉDIO QUE CURA O CORPO E A ALMA

Respeitável público!!! É quase sempre assim que começa um espetáculo de circo, com palhaços, brincadeiras, muito barulho. Também é assim, que uma turma especial leva a terapia do riso para crianças internadas nos hospitais de Palmas. Participar de um projeto como voluntário pode ser o primeiro passo para alguém desenvolver uma ação que ajude outras pessoas. E tem muita gente que achou lugar neste mundo de filantropia. A palavra é meio estranha, mas é sinôn-imo de ação individual, coletiva ou institucional de doar dinheiro ou outros bens em favor de pessoas ou entidades que desenvolvam atividades de cunho social, cultural, religioso e científico. Aqui no Tocantins a filantropia também está pre-sente através do envolvimento de centenas de pessoas, de inúmeras instituições.

Cássia Queiroz

11Revista Eu

Page 12: REVISTA EU

Ser autêntico, original, fazer as próprias escolhas e principalmente carregar bandeiras ideológicas são características que podem resumir o jovem contemporâneo. É nesse momento de construção dos próprios conceitos e valores é que a juventude brasileira acaba se deparando com uma das questões mais controversas da sociedade, a religião. O fato é que em se tratando de Religião, não há verdade e tudo uma questão de fé. A religião é o conjunto de crenças relacionado ao que se considera sagrado. É por meio da religião que se expressam as práticas de adoração ao ser escolhido como alvo da fé. Parece uma longa e confusa explicação teológica, mas na voz de inúmeros jovens é traduzida apenas como “um estilo de vida”.

eu sou apaixonado por deus

Ele fala com conheci-mento de causa. Usa palavras que são comuns na lingua-gem de jovem. Mas isto por-que ele, o pastor, também é jovem. Aos 32 anos de idade, casado e pai de uma fi lha, João Novaes Santos Junior lidera a Rede de Jovens da Igreja Videira em Palmas, a denominação religiosa que reúne o maior número de jo-vens na capital. Atualmente são aproximadamente 2,5 mil participando regularmente das atividades, nos cultos de sábado, voltado especial-mente para esse público. A igreja chega a receber 3 mil pessoas. “Eu creio que há uma grande necessidade no in-terior de cada ser humano e principalmente o jovem tenta preencher o vazio da existência através de drogas, amizades e coisas que ele

chama de ‘curtir a vida’, en-quanto na realidade isso só pode ser preenchido com Deus”, afi rma João Novaes, que também garante que essa necessidade é o que leva as pessoas a procurarem a igreja. “A igreja tem um lado social muito importante, aqui percebemos que muitas pes-soas que estavam sem rumo na vida e vão se endireitando dizem ‘eu tenho que encon-trar uma religião’ é porque ele sabe que ali eles vão en-contrar um lugar de seguran-ça”. Na Videira, a idéia é se “apaixonar” por Deus, as-sim como se apaixonam os jovens por aquele garoto ou garota dos sonhos. O traba-lho em conjunto supre a ne-cessidade espiritual, propor-ciona uma inclusão social. A igreja serve como base para que o jovem fortaleça a fé a ponto de mudar a postura diante da sociedade e as-

sumir todas as práticas em nome de Deus. “Na igreja le-vamos esse jovem a se apai-xonar por Deus a ponto dele fazer tudo por amor a Ele, as-sim como alguém apaixona-do é capaz de jogar fl ores de helicóptero para sua amada e fazer declaração públicas, en-fi m fazer muitas coisas por-que são apaixonados”.

eu sou um militante

“Minha religião repre-senta o eixo da minha vida, o principal material de cons-trução das minhas atitudes”, afi rma com segurança a jor-nalista de 25 anos, Aline So-ares. Ao contrário da maioria das mulheres, Aline se casou cedo, há seis meses atua jun-tamente com seu esposo Rei-naldo Junior Brabo, 25 anos, como líderes de um grupo de jovens casais da igreja. Ela recebeu orienta-ção religiosa dos pais, tam-

bém cristãos evangélicos, mas afi rma que sempre teve liberdade para fazer suas escolhas. “Aprendi a ler as escrituras sagradas e vi nas palavras da Bíblia a paz, o con-forto, a esperança, o amor, a força que me completava, que me faziam seguir adian-te e ter uma vida diferente da dos meus amigos, uma vida muito melhor”. Sobre militância reli-giosa Aline optou pela discri-ção, mas sem esconder suas convicções “Falo das coisas boas que aconteceram co-migo depois que aprendi a praticar os ensinamentos das escrituras cristã, procuro não ser inconveniente além do aceitável, mas falar de amor é sempre bom”. Segundo a Ordem de Pastores e Ministros Evangé-licos de Palmas(OMEP), há cerca de 300 igrejas evangéli-cas na capital e todas desen-volvem trabalhos voltados

Qual é a sua?reLi

giÃO

12 Revista Eu

Page 13: REVISTA EU

exclusivamente para o público jovem. As igrejas católicas também oferecem atividades específi cas para grupos de jovens. Em Palmas, há ainda uma fe-deração espírita e não existem dados ofi ciais sobre a representatividade de muçulmanos, judeus e praticantes de religiões politeístas. Pámela Oliveira Carvalho, 19 anos, estudante de informática na Esco-la Técnica Federal de Palmas é católica desde criança, mas se inclui no grupo dos que passaram a ver a crença além da “opção intelectual” para viver a prá-tica da religião há apenas dois anos. “Eu comecei a perceber que as coisas na mi-nha vida estavam só piorando, foi ai que eu decidi participar da igreja com mais freqüência e então eu vi que as coisas começaram a mudar”. O conforto espiritual refl etiu nas atitudes práticas. “Eu mudei muito na minha forma de agir, tenho mais paci-ência, vejo as coisas com bons olhos e não com maldade, procuro fazer boas ações e mudei minha maneira de pen-sar em relação a muitas coisas que eu vivo no dia-a-dia”, diz a estudante. Res-postas talvez ela não tenha encontrado todas ainda, mas Pámela não esconde que o receio em relação ao desconhe-cido também é um motivador de sua busca. “Eu busco conhecer e estar mais perto de Deus para alcançar a salvação e garantir que eu vou pro céu quando morrer”. Apesar de representar uma mi-noria, alguns jovens acreditam ter su-perado esse medo do ‘desconhecido’, mesmo sem acreditar na existência de um ser superior. Eles defendem a cons-trução de conceitos baseados total-mente na racionalidade, são os ‘ateus’.

eu não acredito em nada

Mesmo cercado de inúmeras opções de crenças e com o respaldo da liberdade de expressão religiosa do nosso país, muitos jovens acham difícil escolher um único caminho e mesmo não duvidando da existência de Deus optaram por abster-se das convicções e práticas religiosas. “Eu sou da religião dos que não têm religião”, afi rma sem receio, Marina Sena de Oliveira, 19 anos e estudante do Ensino Médio Integrado da Escola Técnica Federal de Palmas. Posturas como a de Marina justifi cam o resultado da pesquisa alemã, que no fi m das contas mostra que 90%, pelo me-nos, admitem a existência de um Deus. “Mesmo que seus pais não te le-vem à igreja e não te digam o que você tem que seguir nós temos uma infl uên-cia que nos leva a alguma crença”. Ela conta que quando tomou de quem é Deus e o que Ele representa para as re-ligiões “decidi não ter uma religião defi -nida”. A estudante já freqüentou igrejas católicas, evangélicas de várias denomi-nações e, até mesmo, a Federação Espí-rita. “ Em todas elas eu vi que não existe religião perfeita”. Sobre o porquê de tanta difi -culdade para seguir uma religião já que acredita na existência de Deus, Mari-na admite que o problema pode estar nela. “Eu não consigo aceitar as falhas. Eu não crítico ninguém que vai à igre-ja, mas eu nunca consegui me adequar, esse é meu verdadeiro problema”. Ela, no entanto, não perde a oportunidade de defender suas convicções. “Eu sou totalmente aberta pra conversar a res-peito de tudo, mas na minha vida mes-mo a religião não interfere em nada, eu acho que eu sou muito melhor do que

as pessoas que vão à igreja, mas são hi-pócritas”, conclui. Bem menos radical do que Mari-na, o jornalista Whebert Araújo, 26 anos, também optou apenas por abster-se das práticas religiosas em uma igreja, mas declara-se cristão. Araújo defende o conhecimento das religiões e admira as práticas em diversas culturas. “Acho que a vida cristã se dá pelo esforço diá-rio de sermos pessoas boas e ajudar os outros, não necessariamente realizando tudo de forma coletiva, em igrejas ou grandes aglomerações de manifestação religiosa e de fé”. Whebert recebeu educação das tias, mas foi na adolescência que bus-cou seu próprio caminho e segundo ele esse é um ciclo comum “A juventude é a fase da vida em que estamos sempre buscando algo e abertos para tudo, tal-vez por isso a religião infl uencie tanto na formação pessoal dos jovens, o que eu considero isso muito positivo”. Ele analisa que o jovem está sempre em busca de algo que não consegue tocar ou ver e isso, na opinião dele, “deve ser o sentimento da fé, que está presente na vida de todos”. O jornalista acredita que “temos muito a aprender com o judaís-mo, o islamismo, o cristianismo, enfi m, com diversas formas de amar o mesmo Deus”. A posição de Whebert parece, entre todas, a mais simplista, no entan-to essa discussão está longe de ter uma conclusão, pois assim como o elemento que sustenta inúmeros jovens em suas práticas religiosas é a fé no imprová-vel racionalmente, também nenhuma explicação humana conseguiu, até o momento, provar a inexistência de um Deus.

O conhecimento intelectual, o sucesso profi ssional e fi nanceiro não foram sufi ciente para dar a Joelson Pereira, 26 anos as respostas que buscava “Eu acreditava na auto-sufi ciência do homem, que o homem era senhor do seu destino, era um adolescente cético a os estudos na faculdade de economia veio a consolidar meu ateísmo, tudo que negasse a existência de Deus me despertava interesse”. Ateu convicto viu-se infeliz mesmo tendo adquirido tudo que almejou. “Entendia que conseguiria realizar meus ‘sonhos’ e de fato realizei meus desejos materiais, mas descobri que isso é fútil e efêmero, não satis-faz o íntimo da natureza humana, não preenche o espírito e a alma”. Ele parece fi losófi co, mas consegue traduzir com palavras bem-humoradas tudo seu relacionamento com Deus. “A partir daí percebi que o homem é muito mais complexo do que eu imaginava e que tinha algo além do visível. Não perdi tempo, busquei a Deus e o encontrei, foi massa!” O descontraído Joelson, hoje, se considera “muito feliz e realizado”. Ao ser questionado sobre militância, Joelson defende veemente a propagação do evangelho e não perde oportunidade de declarar sua crença pessoal. “Após ser um crítico ferrenho do proselitismo cristão, me declaro orgulhosamente um militante e defensor altivo do evangelho bíblico-cristão, onde tenho oportuni-dade falo sobre a verdade que liberta, pois creio que só há um caminho para a salvação e para a vida eterna que é a fé em Jesus Cristo”.

de ateu a miLitante

13Revista Eu

Page 14: REVISTA EU

seXO de luxo

Elas são novas, bonitas, bem produzidas, maquiadas, com roupas e sapatos caros e de marcas famosas. Dinheiro na maioria das vezes não é problema, e as festas e contato com pessoas da alta sociedade fazem parte da rotina. Com elas cruzamos nas ruas, festas e corredores das faculdades, e na maioria das vezes, não há como evitar. Surge espaço para algum comentário, seja pela beleza, produção ou pela forma que levam a vida. Se por estas descrições você achou que estávamos falando de alguma menina rica, fi lhinha de papai, ou patricinha como dizem por aí, se enganou. Estamos falando de garotas de programa de luxo.

Talvez você já tenha ouvido falar ou até já tenha cru-zado com alguma destas “profi ssionais” sem perceber tantos detalhes. O preconceito ainda constrange as pessoas e talvez por isso nenhuma destas garotas saia espalhando aos quatro ventos a forma como conseguem manter um padrão de vida que outras tantas gostariam, mas nem todas conseguem. Encontrar mulheres que se prostituem nas ruas, esquinas e até em avenidas de Palmas, não é raro. Alguns locais já fi -caram caracterizados como o ponto delas. Vestindo-se com roupas extravagantes, fazem dos pontos a sua vitrine de ofer-ta. Como um mercado popular. No caso das garotas de programas de luxo o mercado seria de “grife”. E nos bastidores deste mercado existem até agenciadores. Por isso, o cachê cobrado por elas é bem mais alto. Apesar do preconceito e da repressão, casos de ga-rotas que levam esse tipo de vida estão cada vez mais co-muns na classe média e muitos dos próprios acadêmicos que freqüentam as mesmas faculdades que as garotas de progra-ma logo as reconhecem.

“Na faculdade que eu estudo já ouvi as pessoas co-mentarem de várias meninas que fazem isso”, relata o es-tudante de fi sioterapia, Lucas Rezende, 24 anos. Ela diz que de “algumas eu tenho certeza que fazem mesmo, e outras só vejo as pessoas falarem”. O estudante conta que desconfi a quando uma colega não trabalha e consegue levar uma vida de luxo. “E se o pai não tiver dinheiro para sustentar a gente fi ca se perguntado. Outras eu mesmo já vi saindo com caras conhecidos, que as buscam na faculdade” conta Rezende. Morena magra e com 28 anos, uma estudante do curso de Direito que não quis ser identifi cada, é uma destas moças que dividem seu tempo entre o trabalho “ofi cial” em uma loja de roupas e nas horas vagas ou fi ns de semana faz “programas”. Para ela, os programas geram um renda extra que aju-da a pagar a faculdade e ainda a sustentar a fi lha de oito anos. “O salário que eu ganho na loja é pouco e para conseguir pa-gar a minha faculdade e tentar sair dessa vida, eu preciso fazer programas”, conta. Os casos em que a prostituição se inicia por falta de

Fábio de Souza e Tamyra Pinheiro

14 Revista Eu

Page 15: REVISTA EU

dinheiro são os mais comuns. Mas, a venda do corpo não é apenas para conseguir dinheiro para as necessidades básicas. O que muitas tam-bém querem é andar sempre bonitas, comprar em lojas de grife, freqüentar festas de luxo, os melhores bares e restaurantes. Foram estes motivos que levaram Renata (nome fi ctício), 22 anos, a se tornar uma garota de programa ou acompanhante. De família hu-milde, ela trabalhou de empregada doméstica e o dinheiro que ganhava não era sufi ciente para sustentar suas vaidades. O contato com outras moças do mesmo ramo também incentivou. “Conheci umas meninas que já faziam progra-mas e depois de um tempo fi quei interessada. Vi que elas não saiam com qualquer pessoa e que conseguiam ganhar bem fazendo isso. En-tão um dia resolvi fazer um programa” conta.A primeira vez, segundo ela, aconteceu quando tinha 19 anos com um homem mais velho, na faixa dos 40 anos. Se fi cou nervosa?! Disse que sim, mas soube superar e continuou. Os programas de Renata custam R$ 240, e parte de suas amigas também cobra valor parecido. O dinheiro é gasto com roupas, calçados, jóias, viagens. Também ajuda a pagar a faculdade e às vezes até sobre para auxiliar a família. A maior parte dos clientes são homens mais maduros e experientes, e a quantidade de programas varia, mas segundo Renata, o pro-grama não é com qualquer um. “As vezes eu tenho vários programas na semana, e as vezes faço poucos. Isso justamente porque não saio com qualquer pessoa. E depois de um tempo também a gente tem uns clientes que sem-pre procuram” diz. Ela faz questão de dizer que a vida como garota de programa não é fácil, como muitos dizem, mas “um trabalho como outro qualquer”.“Eu escolhi fazer isso porque não tenho proble-mas em fazer sexo”. Um caso famoso é o da ex-prostituta, Bru-na Surfi stinha, cujo nome verdadeiro é Raquel Pacheco. Com uma vida tranquila sustentada pelos pais, ela estudou em colégios particulares, teve aulas de inglês e mordomias de menina de classe média. Mas o desentendimento em casa abriu espaço para que começasse a usar drogas, roubar dinheiro e jóias da mãe, até sair de casa e começar a vender o corpo. Bruna atendia clientes em bairros no-bres de São Paulo, e levou a vida de prostituição por mais de três anos. Suas intimidades em mais de mil programas foram abertas para quem quisesse ler seu blog e no livro, “O Doce Veneno de Escorpião”. A trajetória da ex-prostituta de luxo chamou a atenção e ganhou os holofotes da sociedade e da imprensa.

Na Suécia a profi ssão prostituta é considerada uma atividade normal e assim como em outras profi ssões paga im-posto. Isso porque em 1999 foi aprovada a lei que determina ser legal vender sexo, mas não pagar por sexo. Os homens que pagam por sexo com uma prostituta e também cafetões e donos de bordéis estão sujeitos a mul-tas ou a penas de até seis meses de prisão, além da humil-hação decorrente da exposição pública. á na Holanda, desde 1988 as prostitutas são reconhe-cidas legalmente e podem exercer sua função em locais pré-determinados pelas autoridades. Os profi ssionais do sexo pa-gam impostos desde 1996 e a partir de 2001 os bordéis foram legalizados. Nos locais liberados para as prostitutas trabalharem encontram-se verdadeiras ruas que são chamadas de distrito vermelho. Nesses locais, as mulheres alugam quartos que tem uma grande janela que são as “vitrines do sexo”. Lá elas fi cam expostas, vestidas com roupas intimas a espera de seus cli-entes.

curiOsidade

15Revista Eu

Page 16: REVISTA EU

“Uga-uga”! Um termo que ficou eternizado pelo saudoso capitão Caverna, o desenho animado que tomou o mundo nos anos de 1980 e que tinha como protagonista um ser diferenciado, que levava consigo uma clava. Instrumento que os pri-matas usavam em suas caçadas. Abatiam, arrastavam e preparavam a comida.

Gastrossexual

Com a passar dos anos e séculos e com as descobertas que foram acontecendo, a cena de homens no preparo da comida foi se perdendo. A divisão de funções e o machismo egoísta foram afastando os homens (que já não eram das caver-nas) das cozinhas. E assim seguiu o rumo da história, que teve no início do século passado o surgimento dos primeiros “chefs” de cozinha, homens que começaram a fazer do ato de cozinhar uma profissão. Porém, mesmo com o surgimento desses homens da cozinha, a arte da culinária sempre teve em seu suporte as mulheres. Mas a contemporaneidade e as influências globais nos apresentam diariamente novos costumes, sem preconceitos. Com isso, uma nova geração masculina utiliza a arte de cozinhar para impressionar parceiras e amigos, trata-se da tribo dos gastrossexuais.

Este novo homem, no entanto, não é, nem um pouco parecido com o me-trossexual, que surgiu no fim dos anos 90 e tem como característica a grande im-portância que dá à própria aparência. O apelido gastros-sexual foi dado pela Future

Foundation, uma instituição inglesa que faz estudos de mercado. Segundo uma recen-te pesquisa da instituição na Inglaterra, 48% dos entre-vistados disseram que saber cozinhar torna a pessoa mais atraente. A mesma pesquisa

aponta que muitos vão para a cozinha com segundas in-tenções, ou seja, para tentar seduzir uma parceira No Brasil, em função da velocidade dos compro-missos e tarefas desenvolvi-das por homens e mulheres, saber cozinhar se tornou

quase regra. Mas tanto lá na Europa como aqui, o fato de o homem cozinhar bem, pode servir como arma de sedução. “Diferente dos meus outros irmãos eu ficava per-guntando para minha mãe, o nome e para que era cada

Por: Wagner Quintanilha

16 Revista Eu

Page 17: REVISTA EU

Homens usam a cozinha para conquistar mulheresGastrossexual

tempero” . Esta era a mania de menino do radialista Beto Palaci, 41 anos, que é um exemplo deste estereótipo. Apaixonado pela arte de co-zinhar desde criança, apren-deu com a mãe o gosto pelo cozer, “ela gostava de fazer pratos diferentes para a fa-mília, principalmente aos do-mingos”. Hoje, o radialista e dublê de cozinheiro prepara pratos diferentes, é um pes-quisador assíduo de novos temperos. “caprichar em um almoço ou jantar é a melhor tática para impressionar, não só os amigos, mas principal-mente as mulheres”, diz. As habilidades na co-zinha do administrador de empresas Luiz Cláudio, 34 anos, dão inveja a qualquer chef. Ele mantém em casa um arsenal que inclui facas com fio específico para cada tipo de corte. Luiz Claudio possui também pegadores de fio de macarrão, sapatos que só são usados na cozi-nha e vários talheres. Para o administrador “cozinhar é uma arte que dá muito pra-zer, não só pra mim, mas para minha noiva, que adora tudo que eu preparo”. Ludmila, a noiva, acredita que “foi amor à primeira comida”, diz, brin-cando com a situação. Os dois estão juntos há sete me-ses. “Ele é muito atencioso e adora preparar as minhas so-bremesas preferidas”. Mas como tudo na vida tem seus prós e contras, existem aqueles que não se

identificam, ou até mesmo odeiam essa parte da resi-dência apelidada cozinha. “Não gosto de cozinhar, não gosto da cozinha, só apareço por lá pela necessidade de beber água e fazer minhas refeições”. O engenheiro de telecomunicações Antonio Ernani é do tipo que tem aversão ao ato de cozinhar. “Gosto de ir a bons restau-rantes, conheço um pouco de vinho, mas não gosto de comentar a respeito do tema comida, gosto de comer”. Em síntese, o mundo da gastronomia é fascinante, mas, não é para qualquer um. Mesmo que o homem quei-ra usar desse artifício para ser um sedutor, ele precisa ter vontade e disciplina para

dar seus primeiros passos e acima de tudo não ter pre-conceitos e também saber se safar dos mesmos. Há bem pouco tempo ninguém tinha coragem de dizer que era “cozinheiro” pra seduzir.Foi assim que o troglodita da pré-história evoluiu, deixou a clave e empunhou facas, panelas e talheres especiais, qualificou-se e se especiali-zou em receitas diferencia-das e fez da arte da culinária um sentido de prazer em sua vida. Hoje a “caça” da espé-cie evoluída é outra. Para os homens que fazem parte da tribo dos gastrossexuais a fê-mea é o motivo. Mas, mesmo que em proporções e épo-cas diferentes, este homem

continua querendo mesmo é chamar a atenção do sexo oposto. O homem gastros-sexual começou a ganhar a força há cerca de cinco anos; tem idade estimada entre 25 e 45 anos; impressiona as mulheres por se mostrar in-teressado em agradá-las na cozinha; mas não tem o mes-mo entusiasmo para tarefas domésticas como lavar rou-pa ou varrer a casa.

cLavaÉ um tipo de taco ou bastão, mais grosso

numa das extremidades e geralmente feito de algum material sólido. Podendo ser de madeira, pedra ou metal. Normal-

mente utilizado para fins de necessária força física ou em batalhas. Varia de

tamanho, peso, material e manuseio, podendo causar danos leves ou pesados para quem leva um golpe de um instru-

mento como este.

Beto

Pala

ci

17Revista Eu

Page 18: REVISTA EU

tatuagem cOmO peLe barataapopularizaçãodaarteeavisãodajuventudenomodismocorporal

Tendências

Karina Francis

O que a tatuagem signifi ca para você? Bem, a sua resposta talvez dependa muito da época em que você nasceu, da educação que recebeu e dos valores que acredita serem importantes. Talvez você considera tatuagem uma arte com valor histórico agregado ao movimento rebelde e underground. Ou você acha simplesmente que esta é uma forma de expressão bonita, ‘bacana’ como se fosse um acessório a mais na sua pele. É certo que também tem quem nunca se veja com uma tatuagem. Por vários motivos (que vão ser apresentados daqui a pouco) a tatuagem está deixando de ser uma prática de “rebel-dia”. E ganha cada vez mais a característica de modismo, de momento. Esta arte se popularizou ou mantém o mesmo status de dez, quinze, vinte anos atrás? Não é tão simples responder, mas é possível analisar e refl etir.

A arte que virou moda

Para muitos amantes desta arte corporal, a tatua-gem exprime muito mais do que apenas a técnica. É cons-truir uma personalidade dife-rente, criar uma imagem so-bre si mesmo. Ou seja, é uma escolha relacionada a ideolo-gia, a visão de mundo, a um signifi cado que faz daquele símbolo uma personifi cação de um sentimento. Vários fatores contri-buíram para a popularização desta arte, como o apare-cimento cada vez mais fre-qüentes de personagens em

novelas, fi lmes, e em outros produtos da mídia com tatu-agens dos mais diversos mo-delos. Assim, se por um lado separou a imagem que se tinha de tatuagem de rebel-dia, também provocou o im-pacto no preço cobrado para reproduzir uma imagem ou fi gura sobre a pele. Para um grande gru-po de pessoas esta popu-larização foi negativa, pois descaracterizou a arte de se tatuar como uma ideologia, e a transformou numa questão de modismo. É justamente o que muitos amantes da tatu-agem não querem. Para eles,

o ‘bacana’ está justamente em ser diferente, em ser no-tado, observado. É o caso da jornalista Carlla Morena, 25 anos. Para ela, a tatuagem está ligada a valores ideológi-cos profundos “Desde muito cedo eu sempre gostei mui-to da arte de escrever no cor-po aquilo que é importante na minha vida, usar a pele como uma espécie de diá-rio e marcar aquilo que me defi ne, que me é estimado”. A jornalista também diz que faz tatuagem “por acreditar no valor milenar da arte, co-mumente usada pelas tribos pra expressar as passagens

de fases e de eras, e por achar que devo carregar comigo símbolos para me lembrar sempre quem sou e o cami-nho que procuro seguir”. Carlla ainda diz que é possível distinguir os aman-tes da arte e as pessoas que fazem isso por uma questão estética. “As pessoas que uti-lizam a arte como enfeite são facilmente diferenciadas de quem conhece a arte a fun-do e a usa por ideologia ou estilo de vida. Você não vê alguém que realmente ama a arte fazer uma tatuagem num lugar do corpo apenas para expô-la enquanto é jo-

18 Revista Eu

Page 19: REVISTA EU

tatuagem cOmO peLe barata vem e bonito” diz a jornalista. Para Tabita Evangelis-ta ,25 , que é estudante do curso de turismo e hospita-lidade da Escola Técnica Fe-deral a tatuagem virou uma questão de beleza e se des-prendeu da sua ideologia cul-tural. “Tenho três tatuagens, a primeira fiz em homenagem ao meu filho, mas não foi uma questão somente artística. Acho que tatuagem hoje está mais ligada a moda, a estética, acho bonito”, afirma. A estudante acredita ainda que está popularização é benéfica, porque rompeu barreiras com o preconcei-to social, por se tornar mais popular as pessoas foram se acostumando a não achar es-tranho com o passar do tem-po. “Não acho que acabou de vez o preconceito, mas como tem ficado uma coisa normal e muita gente tem feito as pessoas já não se assustam tanto”. Pensamento que é compartilhado pelo técni-co de segurança eletrônica Sebastião Vieira, 27. “Hoje é normal ter uma tatuagem, nunca sofri preconceito, acho que a sociedade evoluiu em

relação a isso” fala. Vieira tem várias tatuagens espalhadas pelo corpo e diz que cobriu a pele com imagens porque gostava, não foi levado pela moda. “Eu fiz porque queria, não foi por uma questão es-tética, queria ter uma marca, mas o modismo é algo que está crescendo , influências da moda, tendências, muitas pessoas não tem noção do que é uma tatuagem” conclui.O ‘não ter noção’ do que é uma tatuagem, ainda é co-mum. A estudante Angélica Soares de 16 anos reconhece. Ela nunca gostou muito deste tipo de arte, na verdade nem acha muito legal. “Eu tinha uma visão preconceituosa de tatuagem, mas me apaixonei e meu namorado me pediu para fazer como prova do nosso amor, mesmo sendo contra aceitei e logo nosso relacionamento acabou”. Ela até hoje se arrepende. “Por ter feito isso porque outra pessoa quis, quanto por ter feito algo da qual eu não gosto. E o pior de toda essa situação é saber que uma tatuagem é diferen-te de um namorado, ela é pra sempre”, lamenta.

e tudO cOmeçOu assim Registros da arte rupestre comprovam que a tatuagem era uma prática comum nos povos pré-históricos. Os motivos eram diversos: proteção espir-itual, rituais, diferenciação entre outros. Já na Idade Média, a tatuagem era considera-da uma pratica demoníaca, sendo até proibida pela Igreja Católica e banida na Europa. Foi lá pelo século XVIII, quando a Europa iniciou suas explorações no Oceano Pacífico, os marinheiros ingleses se tatuavam com imagens relacionadas a vida no mar (âncoras, peixes, facas) e isso começou a ser incorporado por outras pessoas, principalmente nativos da Polinésia. Por isso que no início do século XX, a tatuagem ainda era vista como costume de marinheiros, marginais, presidiários e prostitutas. Essa visão só foi mudar na década de 1970, quando jovens da Califórnia(EUA) começaram a desenhar nos braços e costas símbolos da cultura popular americana. Foi nesta época tam-bém que os surfistas aderiram a moda tornando a tatuagem mais jovial. A tatuagem (também referida como tattoo na sua forma em inglês) ou dermopigmentação é uma das formas de modificação do corpo mais conhecid-as e cultuadas do mundo. Este desenho que é perma-nente devido a aplicação subcutânea obtida através da introdução de pigmentos por agulhas, acabou vi-rando moda para muitas pessoas. A motivação para os colecionadores dessa arte é ser uma obra de valor eterno. Aqui no Brasil a tatuagem não é uma arte antiga, chegou em meados dos anos 1960 na cidade de Santos pelo dinamarquês “Knud Harld Likke Gregersen” também conhecido como Lucky Tattoo. Sua loja era estrategicamente lo-calizada em um ponto que ligava diversos tipos de pessoas.

tatuagem digitaL Uma nova técnica de tatuagem já está fase de teste em outros países. É a digital, que consiste em um display monocromático implantado sob a pele que poderá mostrar, informações médicas, o nome de quem está chamando no celular ou imagens interati-vas. Batizado de “Digital Tatoo Interface”, o dispositivo consistirá em uma fina tela composta de silício e sili-cone e formará imagens na superfície da tela, visíveis através da pele como uma tatuagem dinâmica e in-terativa. O que é mais é curioso em tudo isso é que o “combustível” eletrônico virá do próprio sangue do usuário.

19Revista Eu

Page 20: REVISTA EU

Quem não conhece a história bíblica de Davi e Golias, exemplo de coragem diante do desafi o?. A você que mesmo já tendo ouvido essa história, mas não sabe em quais circunstâncias ela sucedeu, se trata de um interessante episódio. Durante o reinado de Saul, os israelitas entraram em guerra contra os fi listeus. Certo dia, saiu do arraial dos fi listeus, o guerreiro Golias, com três metros de altura e fortemente armado, desafi ou o exército israelita a escolher um homem que pudesse enfrenta-lo. Aquele que na pe-leja prevalecesse, teria o exército inimigo sob sua servidão. Ouvindo o rei e os seus soldados isto, fi caram espantados e com muito medo.

Davi, o menor de seus ir-mãos, naquele dia se encontrava no campo de batalha, ao ouvir a afronta do grande soldado, fi cou sabendo também que ao que vencesse o fi listeu, o rei enrique-ceria, faria livre sua família dos impostos e além disso, daria sua fi lha em casamento. Intrépido, Davi logo se prontifi cou a enfren-tar Golias. Isso mesmo. O rei quis convencê-lo de que era loucura, visto que ele ainda era um ado-lescente e Golias, homem expe-riente na guerra. Mas Davi não desistiu, vendo o rei a coragem do jovem, o deixou ir. Pôs nele sua armadura, mas como Davi nunca tinha experimentado tal vestimenta, mal conseguia andar. Então se despiu daquilo, tomou o seu cajado e a funda (uma espé-cie de estilingue a moda antiga) na mão, escolheu algumas pedri-nhas e foi ao encontro de Golias. Ao se aproximarem, ven-do Golias a Davi, o desprezou, pois era muito jovem e de gentil presença. Davi, no entanto correu ao combate, pôs a mão no alforje, e tirou dali uma pedrinha e com a funda a atirou, ferindo Golias na testa, o matou. E foi assim, que o pequeno Davi venceu o gigan-te Golias. Agora você pode estar pensando, legal, mas é história pra criança. Não mesmo. Quem nunca teve medo de encarar um desafi o como se expor em pú-blico, por exemplo, que atire a primeira pedra. Brincadeirinha a parte, estamos conversando so-bre uma vilã que há tempos nos espanta, limitando muitas vezes nosso comportamento. Senhoras e senhores lhes apresento a timi-dez. Do grego deos que sig-nifi ca medo, ser tímido é o mes-mo que ser medroso. Segundo o dicionário Aurélio é ter temor,

receio, ser retraído, acanhado. A Psicologia através da Teoria Comportamental, entende que este é “um determinado tipo de comportamento aprendido atra-vés da forma como o sujeito re-cebe as infl uencias de seu meio e a partir de como ele processa tais infl uencias pela sua capaci-dade de aprendizagem” explica a psicóloga Juliana Pinto Gorgo-zinho. Para ela “A timidez é um repertório comportamental que foi aprendido pelo sujeito nos ambientes onde freqüenta e re-forçado pelas pessoas com as quais ele relaciona. Neste contex-to, diz a psicóloga, este compor-tamento “se consolida a partir do momento que não há mudanças ambientais que estimulem ou-tros tipos de comportamento”. Parece complicado? Não é. Uma vez aprendida, a timidez passa a ser uma atitude habitual tomada diante de tudo. A relação da timidez com o medo, também é explicada por esta teoria a partir de um proces-so chamado 'esquiva'. Ou seja, “o sujeito ao estar diante de determinadas situações acaba aprendendo que para diminuir seu medo em relação à não acei-tação das pessoas para com ele é melhor se fechar” diz Juliana. Em outras palavras, na tentativa de se proteger da rejeição, o tímido muitas vezes, nem se arrisca a fa-lar. Comportamento comum no ambiente escolar e que a estu-dante de Sistemas para Internet da Escola Técnica Federal (ETF) Mayra Francielle Marques (20), entende como a manifestação “do medo de não ser aceito”, ela que por muitas vezes deixou de responder a uma pergunta feita em sala pelo professor, por receio de se expor mesmo sabendo a

resposta correta. Do mesmo es-quivamento compartilha Allan Kleber Sousa Pereira (21) “tenho vergonha de perguntar o que já deveria saber, prefi ro perguntar ao colega do lado do que fazer uma pergunta talvez boba ao professor”confessa o egresso de Secretariado (ETF) e agora estu-dante de Economia na Universi-dade Federal do Tocantins (UFT). O receio de estar sendo inadequado, que inibe uma res-posta ou uma pergunta, pode ser considerado um comporta-mento disfuncional, que difi culta o estabelecimento de novas rela-ções sociais. É o que retrai Samuel Carvalho Gomes (17) “fi co des-concertado quando tenho que me relacionar com pessoas des-conhecidas” diz o estudante do 3° ano do Ensino Médio (ETF). Se esse transtorno for um “sofrimen-to proporcionado pela questão de não conseguir se expressar, de não conseguir se posicionar é prejudicial ao trazer empecilhos a vida social do indivíduo” afi rma a psicóloga Juliana. Comportamento mode-lado e reforçado pelo meio que se vive, a timidez muitas vezes é uma postura tomada diante da vida. Quantas vezes deixamos de expressar nossa opinião ou sim-plesmente discordar da maio-ria, de conquistar novos amigos, daquela prova, do vestibular, do novo. Intimidados por pen-samentos do tipo “e se não der certo”. Não lembrando as vezes, que os pensamentos amedron-tadores são apenas ameaças que impedem o tímido de ir além, pois limita sua visão. Desafi os que enfrentados, é certo que levarão ao outro lado, que pode ser bem melhor do que o lugar onde se estava, que o diga Davi!pO

r Qu

e SO

UTÃ

OTÍM

IDO

(A)!?

Com

porta

men

to

Por E

liane

Mira

nda

20 Revista Eu

Page 21: REVISTA EU

Começou como protesto e ganhou status de arte. É assim que o graf-fi ti (ou grafi te em portu-guês) é reconhecido hoje no meio artístico. Uma arte moderna que expressa muita mais do que os ol-hos podem ver. Mas ainda sim ex-iste um paralelo que per-meia essa discussão: é a diferença e a associação que as pessoas fazem entre grafi te e a pichação, estet-icamente parecidos e ape-sar de terem nascido na clandestinidade, enquanto a pichação continua a car-regar uma conotação de marginalidade, o grafi te já é reconhecido como uma forma de manifestação artística. “Ainda existem pessoas que não consid-eram o grafi te como arte, não entendem que se trata de uma pintura, a diferen-ça é que ao invés de usar-mos telas usamos paredes, seja pichador ou grafi teiro somos pintores também” esse é o pensamento de Salomão Teodorio Barros Junior,30, que é grafi teiro há mais de quinze anos em Palmas(TO). Segundo Júnior, como é mais conhecido, o mercado para o grafi te

em Palmas é pequeno. Mas ele se mantem com este trabalho e tem até uma equipe composta por mais três grafi teiros, que diz ele, são “os melhores da capital”. No começo, Júnior partiu de desenhos em 3D, quando desejou fazer pin-turas em parede. Apesar das limitações encontra-das, conta, ele consegue viver bem de seu trabalho, apesar da associação que ainda é feita entre grafi te e pichação. A renda mensal média do artista é de R$ 6 mil reais. Junior conta que raramente consegue al-gum apoio do poder público ou de empresas privadas. Seus trabalhos são particulares, pessoas que gostam e admiram este tipo de arte. “O grafi te é um tipo de cultura, e muita gente faz parte deste grupo. Além disso é prazeroso trabalhar com isso. Eu adoro o meu trabalho, é muito bom poder fazer o que se gosta, inovar, evoluir dentro do que se acredita ser uma profi ssão tão importante quanto qualquer outra”, fi -naliza.

Moro em uma casa com quatro mulheres, e ape-sar de já não sermos mais meninas, às vezes ainda rola umas crises de juventude. Converso sempre com a min-ha mãe e ela costuma dizer que o bom da vida é que na juventude o ontem é sempre melhor que o hoje, e que de-sejamos que o amanhã refl ita o que foi bom no ontem. Aff ! Complicado tudo isso, não é? Simplifi cando: é que os jovens gostam de analisar o ontem com palavras difíceis, sentimentos intensos e, falas conturbadas com gostinho de saudade. Lá em casa, domingo com chuva é sinônimo de fi lme, pipoca, sorvete e muitas lembranças. Sempre que nos reunimos, os papos de anti-gamente vêm à tona, apesar de “ANTIGAMENTE” signifi car nada mais que três anos atrás. Nós, intituladas por mim pós-adolescentes, analisamos as diferenças da vivência e com-paramos nossas experiências com as vividas hoje, neste modernismo desmedido. Até bem pouco atrás brincávamos de pique-esco-la, pega-pega, salve latinha, amarelinha, e cai no poço, e aos 12 anos de vestidinhos e sandálias da Xuxa, nem imag-inávamos em dar o primeiro beijo, como se fala hoje éra-mos “BV” (Boca Virgem) sem nenhuma vergonha. Coisa que agora é “mico” total. Se hoje ser “BV” aos doze é “mico”, imagina ser virgem aos quinze? Nem preciso dizer em que idade

as “meninas” abandonam as bonecas, se é que elas ainda curtem bonecas. Hoje a pré-adolescência é sinônimo de iniciação nas festinhas, aos 11, freqüentam lugares “badala-dos”, mas ainda com o cordão umbilical ligado aos pais, que abandonam o posto de pais para assumir o de motoristas. Quando se auto-consideram adolescentes,interpretam como um “King-Kong” (algo muito superior a um “mico”) serem vistos na nigth acom-panhados pelos pais. É nesta hora que ser pai e mãe se iguala a ser além de motor-ista, um caixa-rápido (24h) e um chato de galocha, sendo ainda chamados de “coroas”. Ah, e a ‘bendita’ primeira vez, o “tadinho” do meu namorado teve que es-perar quase dois míseros anos para conquistar o tão son-hado “prêmio”. Jesus acende à luz! É um absurdo como os valores mudam. Hoje, a virgin-dade é praticamente leiloada e os namoros possuem carac-terísticas que na minha época eram vulgares. Diante de uma socie-dade em que a idade para namorar se compara a idade que larguei as bonecas, onde a iniciação sexual se iguala ao primeiro beijo, e onde muitas meninas já têm o terceiro fi l-ho com a idade em que perdi a minha tão preciosa virgin-dade, procuro não pensar na possibilidade de ser mãe. Eu sei que tudo isso, que para mim é hiper-moderno, será passado morto e enterrado para os meus fi lhos.

O graFFiti e a picHaçÃOmarginais ou artistas

O mundOPor Karina Francis Por Najara Barros

21Revista Eu

Page 22: REVISTA EU

saúde

A maioria dos jovens que procura as academias está à procura de um corpo perfeito. Foi o que confessou Walker Danny, instrutor de uma academia de Palmas. Segundo ele, quando os alunos chegam, querem logo fi car com um corpo bem defi nido. Mas ele alerta que para alcançar este objetivo é preciso cautela. E dá três dicas importantes: ter uma alimentação saudável, ter uma boa quantidade de sono e treinamento físico intenso, sem exageros.

Quem segue à risca as orientações do profi ssion-al é Ricardo Mascarenhas, 23 anos, aluno do 4º período de Sistemas Elétricos da Es-cola Técnica Federal(ETF). O jovem sempre praticou es-portes e viu na academia da ETF a oportunidade de con-tinuar mantendo a forma.”Eu sempre pratiquei esportes porque gosto e por questão de estética, por isto faço aca-demia”, disse. O jovem também faz uma observação impor-tante para quem pretende ou está ingressando numa academia. Conforme Ricardo, somente um profi ssional irá dizer através dos exames mé-dicos se a pessoa está apta ou não a praticar atividade física. O ideal, segundo ele, é procurar uma nutricionista, e não montar um cardápio sem orientação. Na academia da ETF, os alunos só conseguem vaga depois de apresentar atestado médico. Segundo o professor Francisco Balbé, 36 anos, “isso é muito bacana, e ajuda evitar problemas fu-turo”. Ele começou a treinar com 13 anos, e aos 18 já era instrutor de musculação, no Rio Grande do Sul. Há seis anos na capital e um na ETF, ele diz que entrou numa aca-demia para “melhorar a força e ter um corpo legal”. Monalisa Menezes

Ferreira, 15 anos, aluna de Eventos I é vaidosa, se preo-cupa com a aparência, mas não descuida da saúde. Ela diz que tem facilidade para ganhar peso e a perda dos quilos em excesso fez com que fi casse mais contente com a vida, ultimamente. Monalisa entrou na academ-ia por orientação do técnico de handebol, porque dessa forma melhoraria o desem-penho nos treinos. E também foi orientada por uma nutri-cionista a adequar o cardá-pio para evitar novamente os quilinhos indesejáveis. Desta forma, ela mu-dou a alimentação e capri-cha nos exercícios. “Eu comia muito doce, agora estou mais moderada, faço os exercícios. Por isso, perdi peso, incrivel-mente!”, disse feliz da vida. Mas, por outro lado, diferentes destes jovens, out-ros estão procurando alter-nativas pouco saudáveis para ganhar massa muscular, con-quistar um corpo “sarado”, ou “bombado”. A estratégia perigosa é o uso de substân-cias proibidas (drogas) como os esteróides anabolizantes, chamados apenas de anab-olizantes ou de bomba, com-posto por testosterona mas-culina. Esse tipo de medica-mento, conforme a derma-tologista Alda Conti, 41 anos, causa problemas irreversíveis

à saúde, desde deformação na pele até a morte. De acor-do com Alda, os principais riscos de utilizar os anaboli-zantes são: a diminuição da libido(que é o apetite sexual), na mulher pode ter o apare-cimento das características sexuais masculinas - pêlos e diminuição da mama - in-sônia, diminuição do humor, do crescimento, infecção no local, tumores.Os jovens que utilizam anab-olizantes querem um corpo musculoso e com menos gorduras, por isso utilizam drogas, muitas vezes adquiri-das em academias, farmácias ou em outros lugares, de for-ma ilícita. Ricardo Mascarenhas diz que é contra esta prática. “Eu não uso, estou consci-ente dos riscos. Eu tenho a minha opinião. E a minha é não usar. Agora quem usa, somente quando aparecer as conseqüências, é que irão arrepender do ato inconse-qüente. Aí será tarde demais”, afi rmou.

Perigo real

M.C.A., 25 anos, usou anabolizante animal injetável, e como conseqüência quase morre. Teve que fi car interna-do vários dias, e depois fazer uma peregrinação médica para tratar da lesão. O jovem

quase fi ca sem uma parte do corpo e carrega marcas que jamais desaparecerão. Hoje, se arrepende de ter us-ado. “Eu queria ganhar massa muscular. Mas, comigo não deu certo, agora me arre-pendo”, queixou, mostrando o local lesionado. Dona Maria Raimun-da Ferreira, 55 anos, mãe de oito fi lhos fala da angústia ao ter um dos seus no leito de um hospital. A dona de casa conta que foi um dos mo-mentos mais difíceis da sua vida. “Ele fi cou com a aparên-cia feia, amarelo, quase perde o braço. Mas, graças a Deus e o que ele viveu quase per-dendo a vida, largou esse mal”. O instrutor de aca-demia Walker Danni diz que quando um aluno ganha peso muito rápido é um dos sinais de que ele está usando anabolizantes.

em busca dOem busca dOem busca dOcOrpO perFeitOcOrpO perFeitOcOrpO perFeitONão é em vão que a maioria das pessoas procuram as academias. Elas buscam: barriguinha perfeita, curvas defi nidas, corpo

belo e sarado. Mas muito cuidado!excesso e substâncias inadequadas podem causar problemas sérios e levar até a morte.

EM CAMINHOS QUE LEVAMÀ MORTE

Por Ana Lúcia de Amaral

22 Revista Eu

Page 23: REVISTA EU

Corpo esbelto, sem celulite, sem barriga, tudo em seus devidos lugares. Que mulher não sonha com um corpo assim, não é mesmo? Não precisa ser top ou estar nas passarelas, apenas que-rem um corpo bonito, sem aquelas in-desejáveis gordurinhas ou pneuzinhos.É saudável a preocupação com a apa-rência, mas, e quando essa preocupa-ção se torna obsessão? Aí é hora de rever o conceito daquilo que se chama beleza. Essa compulsão pela magreza, magreza mesmo, só a pele e os ossos (em alguns casos) pode tornar-se uma doença – a anorexia.

A anorexia é um transtorno ali-mentar em que a pessoa se priva de comida, e emagrece progressivamente. Inicia em mulheres jovens, geralmente na infância. Elas têm plena convicção de que são gordas e a idéia de virem a ga-nhar gramas, as apavora e gera angús-tia. Para a psicóloga Lunna Sousa Dias, a pessoa anoréxica vê a própria imagem distorcida. “É uma doença que, em casos mais avançados, leva até a morte” diz. Casos de jovens que desenvol-veram a doença são mais comuns no mundo da moda. Há dois anos, o país acompanhou o caso da jovem Caroli-na Reston, top model de 21 anos, que morreu vítima de anorexia. Ela media 1,72 metro de altura, e chegou a pesar apenas 40 quilos. Lunna alerta quanto aos sinto-mas da doença, em decorrência de uma

má alimentação. Perda de peso, queda de cabelo, isolamento da família e da sociedade, rompimento da menstrua-ção, tonturas, pele seca, tristeza, altera-ção de humor, ansiedade, diminuição da pressão arterial, o coração bate cada vez mais devagar. A maioria das mortes é provocada por parada cardíaca. E mais! A psicóloga explica como as jovens tentam enganar a famí-lia na hora de comer. “A adolescente co-meça a mentir para os pais dizendo que vai comer fora com os amigos e diz para os amigos que já comeu em casa. Tem garotas que passam o dia somente com alface e vinagre”, relata. Outra obsessão são os exercícios físicos, que chegam a ser praticados em exagero para acelerar a perda de peso. . De acordo com o médico en-docrinologista, Carlos Eduardo Amaral, a anorexia é de origem genética, mas há situações que favorece o desenvol-vimento da doença, como: pressão dos pais, da sociedade, mídia, problemas neurológicos, imagem corporal distor-cida. “A adolescente vive em função de seu corpo, de não engordar e mesmo sendo magra, há uma insatisfação cons-tante com a aparência física”, diz. Essa obsessão acaba vitimando 10% das jo-vens. Amaral também explica que a maioria dos pacientes sofre com a do-ença pelo resto da vida, acarretando problemas como osteoporose (falta de cálcio nos ossos), parada no crescimen-to, problemas gastrointestinais. O endocrinologista ainda anali-sa a personalidade das anoréxicas: “São pessoas introvertidas, perfeccionistas, submissas, e geralmente são mulheres jovens solteiras e intelectualmente su-periores”.Já o termo bulimia deriva do grego e signifi ca (acreditem) fome tão grande que poderia levar uma pessoa a comer um boi. Na Roma antiga, os homens ali-mentavam-se tanto nos banquetes que

depois vomitavam em um local espe-cífi co, chamado: vomitorium, para não engordar. Segundo Amaral, a pessoa bulí-mica pode chegar a ingerir seis mil calo-rias de uma vez, e em seguida induzir o vômito, ou toma laxantes para liberar o intestino. O médico alerta que a família deve fi car atenta ao perceber o compor-tamento da criança ou do adolescente. “A família deve fi car de olho, caso a ado-lescente recuse sempre a se alimentar na presença de outros e procurar logo uma orientação de especialistas”, acon-selha. O endocrinologista enumera as conseqüências da bulimia, que vão des-de problemas dentários, sangramentos, difi culdades renais até gastrointestinais. Ou seja, afeta o estômago, causando úlceras, na garganta há dor e irritação, destruição do esmalte dos dentes, pro-blemas de gengiva, sensibilidade dos dentes para alimentos quentes e frios, além de cáries. A bulimia tem mais chance de cura do que a anorexia, desde que seja feito acompanhamento, fi naliza o médi-co.

Por Ana Lúcia de Amaral

23Revista Eu

Page 24: REVISTA EU