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Processo de tomada de decisão do investidor individual brasileiro no mercado acionário nacional: um estudo exploratório enfocando o efeito disposição e os vieses da ancoragem e do excesso de confiança Tecnologia social de inclusão de jovens pelo trabalho: uma análise da experiência de um consórcio de ONGs no desenvolvimento de ação intersetorial com empresas e governo Estrutura de capital na América Latina e nos Estados Unidos: uma análise de seus determinantes e efeito dos sistemas de financiamento A influência do ambiente competitivo nas estratégias das subsidiárias estrangeiras de multinacionais brasileiras O comportamento do consumidor insatisfeito pós-compra: um estudo confirmatório Curso de administração da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM: a percepção dos professores e alunos sobre o tema “práticas pedagógicas” Atuação estratégica da área de gestão de pessoas em organizações de saúde: um estudo à luz da percepção dos profissionais da área ISSN 1808-5792 ISSN 1808-5792 Universidade Municipal de São Caetano do Sul Universidade Municipal de São Caetano do Sul Processo de tomada de decisão do investidor individual brasileiro no mercado acionário nacional: um estudo exploratório enfocando o efeito disposição e os vieses da ancoragem e do excesso de confiança Tecnologia social de inclusão de jovens pelo trabalho: uma análise da experiência de um consórcio de ONGs no desenvolvimento de ação intersetorial com empresas e governo Estrutura de capital na América Latina e nos Estados Unidos: uma análise de seus determinantes e efeito dos sistemas de financiamento A influência do ambiente competitivo nas estratégias das subsidiárias estrangeiras de multinacionais brasileiras O comportamento do consumidor insatisfeito pós-compra: um estudo confirmatório Curso de administração da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM: a percepção dos professores e alunos sobre o tema “práticas pedagógicas” Atuação estratégica da área de gestão de pessoas em organizações de saúde: um estudo à luz da percepção dos profissionais da área Volume 24 – número 71 – edição especial - XI Semead - out/2008 Volume 24 – número 71 – edição especial - XI Semead - out/2008 Felipe Bogea Lucas Ayres Barreira de Campos Barros Silvia Pires Bastos Costa Francisco Antônio Barbosa Vidal Veronica Favato Pablo Rogers Felipe Mendes Borini Edson Renel da Costa Filho Moacir de Miranda Oliveira Júnior Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia Shalimar Gallon Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues Aniele Fischer Brand Suzana da Rosa Tolfo Maurício Fernandes Pereira Martinho Isnard Ribeiro de Almeida Felipe Bogea Lucas Ayres Barreira de Campos Barros Silvia Pires Bastos Costa Francisco Antônio Barbosa Vidal Veronica Favato Pablo Rogers Felipe Mendes Borini Edson Renel da Costa Filho Moacir de Miranda Oliveira Júnior Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia Shalimar Gallon Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues Aniele Fischer Brand Suzana da Rosa Tolfo Maurício Fernandes Pereira Martinho Isnard Ribeiro de Almeida

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Processo de tomada de decisão doinvestidor individual brasileiro no mercadoacionário nacional: um estudo exploratório

enfocando o efeito disposição e os viesesda ancoragem e do excesso de confiança

Tecnologia social de inclusão de jovens pelotrabalho: uma análise da experiência de umconsórcio de ONGs no desenvolvimento deação intersetorial com empresas e governo

Estrutura de capital na América Latinae nos Estados Unidos: uma análise de

seus determinantes e efeito dossistemas de financiamento

A influência do ambiente competitivonas estratégias das subsidiárias

estrangeiras de multinacionais brasileiras

O comportamento do consumidorinsatisfeito pós-compra: um estudo

confirmatório

Curso de administração da UniversidadeFederal de Santa Maria/UFSM: a percepção

dos professores e alunos sobre o tema“práticas pedagógicas”

Atuação estratégica da áreade gestão de pessoas em

organizações de saúde:um estudo à luz da percepção dos

profissionais da área

ISSN 1808-5792ISSN 1808-5792

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Universidade Municipal de São Caetano do SulUniversidade Municipal de São Caetano do Sul

Processo de tomada de decisão doinvestidor individual brasileiro no mercadoacionário nacional: um estudo exploratório

enfocando o efeito disposição e os viesesda ancoragem e do excesso de confiança

Tecnologia social de inclusão de jovens pelotrabalho: uma análise da experiência de umconsórcio de ONGs no desenvolvimento deação intersetorial com empresas e governo

Estrutura de capital na América Latinae nos Estados Unidos: uma análise de

seus determinantes e efeito dossistemas de financiamento

A influência do ambiente competitivonas estratégias das subsidiárias

estrangeiras de multinacionais brasileiras

O comportamento do consumidorinsatisfeito pós-compra: um estudo

confirmatório

Curso de administração da UniversidadeFederal de Santa Maria/UFSM: a percepção

dos professores e alunos sobre o tema“práticas pedagógicas”

Atuação estratégica da áreade gestão de pessoas em

organizações de saúde:um estudo à luz da percepção dos

profissionais da área

Volume 24 – número 71 – edição especial - XI Semead - out/2008Volume 24 – número 71 – edição especial - XI Semead - out/2008

Felipe BogeaLucas Ayres Barreira de Campos Barros

Silvia Pires Bastos CostaFrancisco Antônio Barbosa Vidal

Veronica FavatoPablo Rogers

Felipe Mendes BoriniEdson Renel da Costa FilhoMoacir de Miranda Oliveira Júnior

Ricardo Jato, Reginaldo Braga LucasMilton Carlos Farina, Paulo HenriqueTentrin e Mauro Neves Garcia

Shalimar GallonCláudia Medianeira Cruz Rodrigues

Aniele Fischer BrandSuzana da Rosa TolfoMaurício Fernandes PereiraMartinho Isnard Ribeirode Almeida

Felipe BogeaLucas Ayres Barreira de Campos Barros

Silvia Pires Bastos CostaFrancisco Antônio Barbosa Vidal

Veronica FavatoPablo Rogers

Felipe Mendes BoriniEdson Renel da Costa FilhoMoacir de Miranda Oliveira Júnior

Ricardo Jato, Reginaldo Braga LucasMilton Carlos Farina, Paulo HenriqueTentrin e Mauro Neves Garcia

Shalimar GallonCláudia Medianeira Cruz Rodrigues

Aniele Fischer BrandSuzana da Rosa TolfoMaurício Fernandes PereiraMartinho Isnard Ribeirode Almeida

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DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP)

Gestão & Regionalidade / [Publicação do] Programa de Mestrado de Administração da

Universidade Municipal de São Caetano do Sul – v.22, nº 61, 2005 - São Caetano

do Sul : USCS, 2005.

Quadrimestral

Apresenta Bibliografia

Resumo em inglês e português

Publicada como Revista IMES, v. 1-17, n. 1-48, 1983-2000

Publicada como Revista IMES Administração, v. 17-21, n.49-60, 2000-2004

ISSN 1808-5792

1. Administração – Periódicos I. Universidade Municipal de São Caetano do Sul

CDU 658(05)

CDD 658.05

Pede-se permuta

Pidese canje

We ask for exchange

On demande échange

Wir bitten um austaush

Si richiede lo scambio

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Solicitar fascículo pelo e-mail: [email protected]

RG71capa71.p65 17/2/2009, 08:302

1

universidade

Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

MISSÃO

A revista Gestão & Regionalidade tem como missão contribuir para a geração e disseminação de conhecimento na área deAdministração de Empresas, considerando-se as sub-áreas tradicionais desta área de conhecimento, acrescidas da área denominadaEstudos da Regionalidade.

PERFIL TEMÁTICO E OBJETIVOS DA PUBLICAÇÃO

A revista Gestão & Regionalidade tem como público professores, pesquisadores, alunos de graduação e pós-graduação e parcelarelevante da comunidade empresarial.

Trata-se de um periódico generalista na área de Administração, mas que incorpora e busca se aprofundar em temas que associam gestãoempresarial à regionalidade. Os estudos desta sub-área voltam-se para a análise da articulação de esforços conjuntos de organizações eoutros segmentos da sociedade no espaço de uma região – que pode ser geográfico, administrativo, econômico, político, social e cultural.

Os artigos publicados na revista Gestão & Regionalidade devem ser elaborados com bases nos princípios de construção científica doconhecimento, devem tratar de tema relevante para a área de Administração no contexto atual e utilizar referencial teórico-conceitualque reflitam o estado da arte do conhecimento na área. Os trabalhos devem ainda esclarecer quais são os impactos de seus resultados econclusões na teoria e prática administrativa.

As áreas temáticas da revista Gestão & Regionalidade são: Administração da Informação, Administração Pública e Gestão Social,Contabilidade, Estratégia em Organizações, Estudo e Pesquisa em Administração e Contabilidade, Estudos Organizacionais, Finanças,Gestão de Ciência, Tecnologia e Inovação, Gestão de Operações e Logística, Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho, Marketing.

MECANISMO DE AVALIAÇÃO DE ARTIGOS

Os artigos originais submetidos à revista Gestão & Regionalidade que atenderem às normas de submissão serão avaliados por trêsavaliadores ad hoc na forma triple blind review. Os critérios de avaliação dos artigos são: tema atual, relevante e oportuno; objetivo dotrabalho está claro e bem definido; abordagem é criativa e inovadora; estrutura do texto é clara e adequada a um trabalho científico;linguagem é clara e concisa; leitura é fluida e agradável; base teórico-conceitual é consistente, adequado e bem estruturado; metodologiade pesquisa é clara e aderente os objetivos do trabalho; análise dos resultados permeada pelas informações obtidas na pesquisa e pelosconceitos apresentados no referencial teórico; conclusão é coerente, clara e objetiva; o trabalho representa contribuição científica ouprática para o campo da Administração ou da Contabilidade.

TIPOS DE PUBLICAÇÕES:

Artigos, Ensaios, Resenhas e Casos em Administração.

NORMAS PARA SUBMISSÃO DE ARTIGOS

• Devem ser enviados dois arquivos MS Word 6.0 ou posterior:

1. O primeiro arquivo deve trazer o título do artigo e os dados do autor e autores - nome, função acadêmica, instituição quepertence, endereço completo para correspondência, e-mail, telefone e um breve curriculum vitae;

2. O segundo arquivo deve conter o texto integral, sem identificação do(s) autor(es). Deve ter entre 5.000 e 8.000 palavras. O textodeve ter letra tamanho 12 e tipo Times New Roman, espaço simples e 2,5 centímetros de margens. Após o título, deve serapresentado um resumo em português e outro em inglês, não devendo ultrapassar 150 palavras. Devem ser apresentadas nomínimo três palavras-chave, também em português e em inglês. As referências devem ser apresentadas no final do artigo, emordem alfabética, obedecendo às normas da ABNT NBR 6023/00.

• Os artigos devem ser inéditos, ou seja, não publicados em outro veículo de comunicação.

• Os artigos podem ser enviados em português, espanhol e inglês.

• Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es).

• Os direitos, inclusive os de tradução, são reservados.

• Os artigos devem ser enviados por e-mail: [email protected]

Gestão & RegionalidadeUniversidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS

Rua Santo Antônio, 50 - Centro - São Caetano do Sul - SP - CEP 09521-160Telefone: (11) 4239-3200 (ramal 3443)

e-mail: [email protected]: www.uscs.edu.br/revistasacademicas

REVISTA GESTÃO & REGIONALIDADE

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Gestão & Regionalidade

Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

Vol. 24 – NO 71 – edição especial contendotextos selecionados do evento XI Semead -Seminários de Administração da FEA/USP

(ocorrido em julho 2008)Periodicidade: Quadrimestral

Fechamento desta edição: outubro/2008

ReitorSílvio Augusto Minciotti

Pró-Reitor Administrativo e FinanceiroMarcos Sidnei Bassi

Pró-Reitor de GraduaçãoJosé Turíbio de Oliveira

Pró-Reitor de Pós-Graduação e PesquisaEduardo de Camargo Oliva

Pró-Reitor Comunitárioe de Extensão

Joaquim Celso Freire Silva

Diretor da Área de AdministraçãoDuílio Humberto Pinton

Gestor do Programa deMestrado em Administração

Mauro Neves Garcia

Coordenador EditorialMarco Antonio Pinheiro da Silveira

Gestor da Comissão dePublicações AcadêmicasMarcos Antonio Gaspar

Jornalista ResponsávelRoberto Elísio dos Santos

MTb 15.637

Conselho Editorial Celso Cláudio de Hildebrand e Grisi

Universidade de São Paulo FEA/USP

Fabio Lotti OlivaUniversidade de São Paulo FEA/USP

José Eduardo Rodrigues de SouzaPUC-Campinas - Pontíficia Universidade

Católica de Campinas

EXPEDIENTE

Revista Gestão & Regionalidade - Uma publicação da USCS - Universidade de São Caetano do Sul

José Francisco SalmUDESC - Universidade doEstado de Santa Catarina

Lindolfo Galvão de AlbuquerqueUniversidade de São Paulo - FEA/USP

Luciano A. Prates JunqueiraPUC-SP - Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo

Marcio Antonio TeixeiraFundação de Ensino Eurípides Soares

da Rocha Marília

Marcos Artêmio Fischbom FerreiraUNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul

Marinho José ScarpiUNIFESP - Universidade Federal de São Paulo

Martinho Isnard Ribeiro de AlmeidaUniversidade de São Paulo - FEA/USP

Moisés Ari ZilberUniversidade Presbiteriana Mackenzie

Noelio Dantas SpinolaUniversidade Salvador - UNIFACS

Membros internacionais

Bertrand FrédéricI.A.E. de Grenoble

Université Pierre Mendès FranceGrenoble, France

Enrique OgliastriINCAE Business School, Costa Rica

Hubert DrouvotI.A.E. de Grenoble

Université Pierre Mendès FranceGrenoble, France

James J. BilesWestern Michigan UniversityKalamazoo, Michigan, USA

Laforet EdwigeI.A.E. de Grenoble

Université Pierre Mendès FranceGrenoble, France

Sima Montame-SarmadianCentre for the Studies of Emerging Markets,

Westminster Business SchoolUniversity of Westminster, London, UK

Bukard SieversUniversidade de Wuppertal, Alemanha

Conselho TécnicoProfessores e Pesquisadores da Pós-Graduação em

Administração da USCS e de outrasInstituições de Ensino Superior

RevisãoPáginas & Letras Editora e Gráfica Ltda.

Editoração e impressãoPáginas & Letras Editora e Gráfica Ltda.

Data de impressão: dezembro 2008Tiragem: 1.000 exemplares

Veiculação virtualwww.uscs.edu.br/revistaacademicas

IndexaçãoA revista Gestão & Regionalidade

é indexada pelos sistemas:

LATINDEX - Sistema Regional deInformación em Línea para Revistas

Científicas de América Latina,el Caribe, España y Portugal

http://www.latindex.unam.mx

SUMARIOS - Sumários de RevistasBrasileiras - Fundação de Pesquisas

Científicas de Ribeirão Preto - FUNPEC-RPhttp://www.sumarios.org

Gestão & RegionalidadeUniversidade Municipal deSão Caetano do Sul - USCS

Rua Santo Antônio, 50 - CentroSão Caetano do Sul - SP - CEP 09521-160

Telefone: (11) 4239-3200 (ramal 3443)e-mail: [email protected]

web: www.uscs.edu.br/revistasacademicas

A Universidade USCS, em seus cadernos e revistas, res-

peita a liberdade intelectual dos autores, publica integral-

mente os originais que lhe são entregues, sem com isso

concordar necessariamente com as opiniões expressas.

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universidade

Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

ED

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L O XI Semead (Seminários em Administração, organizados pelo Programa dePós-Graduação em Administração da FEA-USP), realizado nos dias 28 e 29 de agostode 2008, foi promovido pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidadeda Universidade de São Paulo - FEA-USP, em parceria com a Universidade Municipalde São Caetano do Sul - USCS e a Universidade Nove de Julho - Uninove. Os organi-zadores ofereceram aos participantes a oportunidade de ter seus trabalhos publicadosem revistas produzidas pelas três instituições. Dentre os trabalhos apresentados noevento, 30 foram indicados pelos avaliadores para ser selecionados pelos periódicos:Revista de Gestão - Rege/USP, Revista de Administração e Inovação - RAI/Uninove eGestão & Regionalidade - USCS.

A Revista Gestão & Regionalidade recebeu 21 trabalhos para a serem selecio-nados com o propósito de publicação na edição especial Semead. A escolha dosartigos foi realizada por professores do Programa de Mestrado em Administração daUSCS, sob coordenação deste editor.

Visando a valorizar os trabalhos e a estimular os autores, os professores daUSCS escolheram 11 artigos para a edição especial. Todavia, como já havia sidoempenhado o recurso da edição especial com um número específico de páginas, ostrabalhos escolhidos para publicação tiveram que ser divididos em duas edições, umaespecial e outra mista, com os artigos do XI Semead e artigos encaminhados parapublicação diretamente à G&R.

A edição de número 71 apresenta sete artigos do XI Semead e os outros quatroserão publicados na edição de número 72. Os artigos são das seguintes áreas: trêsde Estratégia e Organizações, dois de Finanças, dois de Gestão de Pessoas, um deOrganizações do Terceiro Setor, um de Marketing e Comunicação, um de Ensino deAdministração e um de Administração Geral.

Deseja-se agradecer, em primeiro lugar, aos realizadores do evento, seus parceirose apoiadores. Em segundo lugar, a todos os que enviaram seus trabalhos para participardo XI Semead. Em terceiro, a todos os avaliadores dos referidos trabalhos do XISemead, pois foram responsáveis pela qualidade dos mesmos , além de terem indicadoos que participariam da lista de artigos a serem escolhidos pelos periódicos que secomprometeram a publicar aqueles que se enquadravam na linha editorial de suasrevistas.

Prof. Dr. Marco Antonio Pinheiro da SilveiraEditor

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ARTIGOS

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PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUAL BRASILEIRO NOMERCADO ACIONÁRIO NACIONAL: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ENFOCANDO OEFEITO DISPOSIÇÃO E OS VIESES DA ANCORAGEM E DO EXCESSO DE CONFIANÇA

Felipe Bogea e Lucas Ayres Barreira de Campos Barros

TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO: UMA ANÁLISEDA EXPERIÊNCIA DE UM CONSÓRCIO DE ONGS NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÃOINTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNO

Silvia Pires Bastos Costa e Francisco Antônio Barbosa Vidal

ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS: UMAANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

Veronica Favato e Pablo Rogers

A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIAS DASSUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA:UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas, Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/UFSM: APERCEPÇÃO DOS PROFESSORES E ALUNOS SOBRE O TEMA “PRÁTICAS PEDAGÓGICAS”

Shalimar Gallon e Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues

ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS EM ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE:UM ESTUDO À LUZ DA PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA

Aniele Fischer Brand, Suzana da Rosa Tolfo, Maurício Fernandes Pereira e Martinho Isnard Ribeiro de Almeida

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ARTICLES

DECISION PROCESS OF THE BRAZILIAN INDIVIDUAL INVESTOR IN THE NATIONAL STOCK

MARKET: AN EXPLORATORY STUDY FOCUSING THE DISPOSITION EFFECT AND THE

ANCHORING AND OVERCONFIDENCE BIASES

Felipe Bogea e Lucas Ayres Barreira de Campos Barros

TECHNOLOGY AND SOCIAL INCLUSION OF YOUNG PEOPLE AT WORK: AN ANALYSIS OF

THE EXPERIENCE OF A CONSORTIUM OF NGOS IN THE DEVELOPMENT OF INTERSECTORAL

ACTION WITH COMPANIES AND GOVERNMENT

Silvia Pires Bastos Costa e Francisco Antônio Barbosa Vidal

CAPITAL STRUCTURE IN LATIN AMERICA AND UNITED STATES:AN ANALYSIS OF

ITS DETERMINANTS AND EFFECT OF FINANCIAL SYSTEMS

Veronica Favato e Pablo Rogers

THE INFLUENCE OF COMPETITIVE ENVIRONMENT ON STRATEGIES

OF FOREIGN SUBSIDIARIES OF BRAZILIAN MULTINATIONAL COMPANIES

Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

POST-PURCHASE BEHAVIOR OF THE DISSATISFIED CONSUMER:

A CONFIRMATORY STUDY

Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas, Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia

ADMINISTRATION COURSE AT UNIVERSIDADE FEDERAL OF SANTA MARIA/UFSM:

THE TEACHERS AND STUDENTS PERCEPTION OF “PEDAGOGICAL PRACTICES”

Shalimar Gallon e Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues

ACTIVITY AREA OF STRATEGIC MANAGEMENT OF PEOPLE IN HEALTH CARE

ORGANIZATIONS: A STUDY OF THE PROFESSIONALS’ PERCEPTION OF THE AREA

Aniele Fischer Brand, Suzana da Rosa Tolfo, Maurício Fernandes Pereira e Martinho Isnard Ribeiro de Almeida

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PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUAL BRASILEIRO NO MERCADO ACIONÁRIO NACIONAL:UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ENFOCANDO O EFEITO DISPOSIÇÃO E OS VIESES DA ANCORAGEM E DO EXCESSO DE CONFIANÇA

PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUALBRASILEIRO NO MERCADO ACIONÁRIO NACIONAL: UM ESTUDOEXPLORATÓRIO ENFOCANDO O EFEITO DISPOSIÇÃO E OS VIESES DAANCORAGEM E DO EXCESSO DE CONFIANÇADECISION PROCESS OF THE BRAZILIAN INDIVIDUAL INVESTOR IN THE NATIONAL

STOCK MARKET: AN EXPLORATORY STUDY FOCUSING THE DISPOSITION EFFECT

AND THE ANCHORING AND OVERCONFIDENCE BIASES

Felipe BogeaMestrado em Administração de Empresas. Universidade Presbiteriana Mackenzie, Mackenzie, Brasil

Lucas Ayres Barreira de Campos BarrosProfessor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e do Centro deCiências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie

ABSTRACTRESUMO

Este trabalho tem como objetivo conhecer e obter maioresinformações sobre possíveis falhas cognitivas exibidas peloinvestidor individual brasileiro durante seu processodecisório. Especificamente, buscou-se responder àsseguintes perguntas: há evidências do efeito disposição edos vieses da ancoragem com ajustamento insuficiente edo excesso de confiança no processo decisório do investidorbrasileiro? De que maneira tais comportamentos poderiamestar relacionados com características pessoais dosinvestidores? Para a análise do processo decisório dosinvestidores, foi desenvolvido um questionário compostopor 38 perguntas, sendo 27 relacionadas às falhascognitivas e 11, às características pessoais dos investidores.Após a exclusão dos questionários não-válidos, obteve-seuma amostra de 512 indivíduos. Os resultados encontradosevidenciaram a ocorrência das falhas cognitivas pesqui-sadas, mas não constataram associações sistemáticas entreestas e as características pessoais dos investidores. Estesresultados contribuem no sentido de confirmar as evi-dências encontradas em outros países, mostrando que osinvestidores brasileiros também estão sujeitos a tais padrõesde comportamento. Embora o instrumento de pesquisaempregado careça de validação formal, ele contribui nadireção de se estabelecer um instrumento simples, de fácilaplicação e capaz de identificar falhas cognitivaspossivelmente prejudiciais aos investidores brasileiros.

Palavras-chave: efeito disposição, ancoragem, excessode confiança.

The current research aims to recognize possiblecognitive illusions shown by the Brazilian individualinvestor in their decision process. More specifically,this work proposes to answer the following ques-tions: is there evidence of the disposition effect andof the biases of anchoring with insufficient adjus-tment and overconfidence in the decision processof the Brazilian investor? How could these behaviorsbe related to personal traits of investors? In order toanalyze the decision process of the investors, it wasdeveloped a questionnaire composed of 38 ques-tions, being 27 related to biases and 11 to personaltraits of investors. After the exclusion of non-validquestionnaires, there remained a sample of 512 indi-viduals. The results of this research are evidence ofthe presence of the disposition effect, of anchoringwith insufficient adjustment and of overconfidence,but they do not prove their connection to the per-sonal characteristics of the investors. The resultsobtained contribute to confirm evidence from othercountries, showing that the Brazilian investor is alsosubject to such behavior. Although the research ins-truments lack formal validation, they contribute tothe establishment of simple, easily applicable ins-truments that may identify cognitive illusions detri-mental to Brazilian investors.

Keywords: disposition effect, anchoring, over-confidence.

Recebido em: 07/07/2008Aprovado em: 15/10/2008

Endereços dos autores:

Felipe BogeaAv. Higienópolis 578, HIgienópolis, São Paulo-SP - CEP 01238-000. e-mail: [email protected]

Lucas Ayres Barreira de Campos BarrosRua da Consolação, 896 - 2º andar - sala 213 – Consolação - CEP 01302-907 - Sao Paulo-SP - Brasil. e-mail: [email protected]

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Felipe Bogea e Lucas Ayres Barreira de Campos Barros

1. INTRODUÇÃO

Uma das vertentes de estudos sobre finançascomportamentais é a identificação de como as emo-ções e as falhas cognitivas podem influenciar o pro-cesso de decisão de investidores e como esses com-portamentos podem determinar mudanças no mer-cado. Segundo Baker & Nofsinger (2002), um melhorentendimento e a delimitação das falhas cognitivasindividuais possibilitariam aos investidores melhorarsua capacidade decisória, evitando falhas no processode alocação de ativos.

No entanto, pouca pesquisa científica foi realizadasobre o comportamento do investidor individual,conhecendo-se ainda pouco sobre os fatores queinfluenciam seu processo decisório (CLARK-MURPHY &SOUTAR, 2005). No mercado de ações, raros estudosanalisaram atitudes, opiniões e atividades ligadas aoseu processo de tomada de decisão. No Brasil, osestudos sobre finanças comportamentais são escassose praticamente inexistentes sobre o comportamentodo investidor pessoa física. Mesmo empiricamente,conhece-se muito pouco sobre como o investidorindividual brasileiro forma seu modelo mental durantesuas transações no mercado de capitais.

Por outro lado, a relevância do investidor individualvem crescendo significativamente no mercadoacionário brasileiro. Em 2005, sua participação novolume transacionado total correspondeu a 25,4%e, das 20 ofertas públicas iniciais que ocorreram noano, participaram mais de 38 mil investidores pessoafísica (BOVESPA, 2006). Na medida em que sua partici-pação no mercado aumenta, torna-se mais relevantea compreensão das motivações e dos estilos deprocesso decisório destes agentes.

Para melhor compreensão desse segmento demercado, faz-se necessário pesquisar o processo detomada de decisão do investidor individual, possibi-litando maior exploração desse nicho e o desenvolvi-mento das teorias de finanças comportamentais.Levando-se em consideração as diferenças culturaisexistentes entre os diversos povos e seu reflexo sobreos padrões de comportamento, é importante verificarcomo o investidor brasileiro procede nas suas transaçõesno mercado acionário, pois as pesquisas estrangeiraspodem não refletir a realidade nacional.

Esta pesquisa espera contribuir para a literatura definanças comportamentais, principalmente na compre-

ensão de certos padrões de comportamento doinvestidor pessoa física. Objetiva-se investigar, espe-cificamente, se o investidor individual brasileiro sesujeita ao efeito disposição e aos vieses da ancoragemcom ajustamento insuficiente, além do excesso deconfiança e suas possíveis relações com característicassociodemográficas dos investidores. A literaturacentífica apresenta uma série de evidências da susceti-bilidade dos investidores aos padrões comportamen-tais escolhidos. A pesquisa de Lintz (2004), no mercadobrasileiro de câmbio, encontrou evidências de âncoraspsicológicas em 67% dos entrevistados. SegundoBarros (2005), existe robusta literatura sugerindo oexcesso de confiança como um dos mais importantesvieses quando se lida com fenômenos financeiros. ParaMacedo (2003), pesquisar o efeito disposição é rele-vante, pois esta falha cognitiva é um dos principaismotivadores de redução da rentabilidade dos investi-dores pessoas físicas na bolsa de valores.

Os resultados encontrados evidenciaram a ocor-rência das falhas cognitivas pesquisadas, mas nãoconstataram associações entre estas e as caracte-rísticas pessoais dos investidores. No Brasil, até ondese sabe, ainda não havia sido verificada sua presençaem uma amostra composta por investidores atuantesno mercado acionário nacional. Portanto, os resulta-dos obtidos contribuem no sentido de confirmar asevidências encontradas em outros países, mostrandoque os investidores brasileiros também estão sujeitosa tais padrões de comportamento. Embora o instru-mento de pesquisa desenvolvido careça de validaçãoformal, ele contribui na direção de se estabelecerum instrumento simples, de fácil aplicação e capazde identificar falhas cognitivas possivelmente preju-diciais aos investidores brasileiros.

O restante do trabalho está dividido da seguintemaneira: a seção 2 apresenta o referencial teórico; aseção 3 relata a metodologia do estudo; a seção 4discorre sobre os resultados obtidos; e, na seção 5,são tecidos os comentários finais.

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Ancoragem com ajustamento insuficiente

Para Tversky & Kahneman (1974), em muitassituações incertas, indivíduos fazem estimativas a par-tir de um valor inicial que é ajustado, levando à res-

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8 Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUAL BRASILEIRO NO MERCADO ACIONÁRIO NACIONAL:UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ENFOCANDO O EFEITO DISPOSIÇÃO E OS VIESES DA ANCORAGEM E DO EXCESSO DE CONFIANÇA

posta final. Este valor inicial, ou ponto de partida,pode ser sugerido pela formulação do problema, oupode ser o resultado de uma estimativa parcial. Emambos os casos, os ajustes são normalmente insu-ficientes. Dessa maneira, diferentes pontos de partidainduzem a diferentes estimativas, sendo estas envie-sadas na direção do valor inicial. Estes autores de-nominaram este efeito como ancoragem com ajus-tamento insuficiente.

Kruger (1999) relacionou este viés com o esforçoenvolvido em fazer ajustes a partir da âncora. Paraeste autor, o ajuste insuficiente é reflexo da tendênciadas pessoas a minimizar seu esforço cognitivo. Poroutro lado, Chapman & Johnson (1999) acreditaramque a âncora atua como uma sugestão, possibilitandoque informações consistentes com a âncora fiquemmais disponíveis na memória. Embora os mecanismosmotivadores da ancoragem não estejam claramenteestabelecidos, os seus efeitos foram verificados pordiversas pesquisas.

Para Mussweiler & Englich (2005), a influência doefeito da ancoragem não apenas foi verificada emvárias situações laboratoriais e do cotidiano, comotambém se mostrou bastante robusta. Em particular,o efeito da ancoragem pode ser verificado mesmona presença de possíveis fatores atenuantes, taiscomo: presença de âncoras claramente não-informa-tivas, como aquelas obtidas aleatoriamente (TVERSKY& KAHNEMNAN, 1974) ou presença de âncoras extre-mamente deslocadas do valor real (CHAPMAN & JOHN-SON, 1994). Mussweiler & Englich (2005) concluíramque a ancoragem é um fenômeno bastante robusto,sendo difícil de evitar.

No campo dos investimentos, a colocação doponto de referência ou âncora afeta a codificaçãodos resultados como ganhos ou perdas e a compa-ração com outras opções de investimentos (KAHNE-MAN, 1992). Para os investidores, o preço lembradomais recentemente de um ativo atua como ponto dereferência. Pode-se citar, também, como âncora psico-lógica, o patamar mais próximo de um índice notório,como o Ibovespa (Índice da Bolsa de Valores de SãoPaulo) ou o Nasdaq (North American SecuritiesDealers Automated Quotation System).

No Brasil, Lintz (2004) pesquisou o comportamentode executivos no mercado de câmbio, constatando autilização de âncoras psicológicas em 67% dos entre-

vistados. Cabe ressaltar que o autor empregou apenasduas questões para mensurar a presença das âncorase pode-se argumentar que as perguntas não medemde forma específica a presença do viés de ancoragemcom ajustamento insuficiente.

Carmo (2005) procurou, em seu estudo, verificardiferenças do viés da ancoragem com ajustamentoinsuficiente entre investidores institucionais (profissio-nais que trabalham em bancos comerciais, bancosde investimento e assets independentes) e investido-res individuais (investidores privados que utilizam aInternet como meio para executar suas transaçõesna Bovespa). Com aproximadamente 30 graus deliberdade e intervalo de confiança de 95%, ele nãoencontrou diferenças estatisticamente significantesentre os dois grupos. Não obstante, os resultadosforam obtidos a partir de uma única pergunta.

2.2. Excesso de confiança

Diversos estudos evidenciam que a maior partedas pessoas se considera acima da média com relaçãoàs suas habilidades como motorista, senso de humor,relacionamento com outras pessoas e capacidade deliderança. Quando se trata de investidores, a maioriaconsidera a sua habilidade de vencer o mercado comoacima da média. Para Bukszar (2003), as evidênciassobre o excesso de confiança são extensas e robustas,amparadas por uma literatura ampla e uma vastagama de pesquisas científicas sobre o tema.

Excesso de confiança tem sido mais evidenciadoem homens e em atividades percebidas como mas-culinas. Além disso, este viés é mais presente quandoo feedback é demorado ou inconclusivo. Sendo assim,mercados financeiros, nos quais a maior parte dosparticipantes é homem e o feedback é controversoconstituem cenário ideal para o excesso de confiança(BARBER & ODEAN, 2001). Ainda segundo Odean(1998a), a maioria dos indivíduos que compram ouvendem ativos financeiros tenta escolher aquelesativos que obterão retornos superiores a ativossimilares. Esta é uma escolha bastante difícil, e justa-mente em tarefas difíceis os indivíduos tendem aapresentar maior grau de excesso de confiança.

Para Barber & Odean (1999), o excesso de con-fiança induziria os investidores a um padrão maisativo de gestão porque este viés os levaria a confiar

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excessivamente nas suas opiniões e a não considerarsuficientemente as opiniões alheias. Ademais, paraestes autores, investidores excessivamente confiantespercebem seus investimentos com menor grau derisco do que a realidade sugere. Para Kimura (2003),este viés poderia induzir o investidor a acreditar quepossui vantagens comparativas na escolha dos seusinvestimentos em relação ao mercado, levando, dessamaneira, à manutenção de posições perdedoras.Ademais, o excesso de confiança poderia induzir auma excessiva concentração de recursos em poucosativos e, por conseguinte, a uma diversificaçãoinadequada dos investimentos.

Barber & Odean (2001) verificaram um maiorexcesso de confiança nos homens em comparaçãocom as mulheres quando se trata de investimentos.Em sua pesquisa, este viés supostamente levou oshomens a negociarem 45% mais do que as mulherese, por conseqüência dos custos de transação, oretorno líquido das suas carteiras foi, aproxima-damente, 1% menor.

Li, Chen & Yu (2006), ao compararem o excessode confiança entre cidadãos chineses e cidadãos deSingapura, constataram um maior grau de excessode confiança no último grupo. Para os autores, apesarde estes grupos possuirem uma grande proximidadecultural, a educação em Singapura possui um padrãobastante ocidentalizado, sendo esta diferença edu-cacional responsável pelo maior excesso de confiança,na opinião dos autores.

Ao estudar excesso de confiança em profissionaisde finanças brasileiros, Ferreira & Yu (2003) encon-traram evidência deste viés. Ademais, perceberamdiferentes graus de excesso de confiança dentro daamostra estudada. Neste trabalho, homens apre-sentaram maior excesso de confiança. Além disso,profissionais com maior tempo de atuação na área eaqueles com maior idade evidenciaram um maiorgrau do viés. Segundo estes autores, ainda não estáclara na literatura a relação entre experiência eexcesso de confiança.

Já o estudo de Carmo (2005), investigando in-vestidores individuais e institucionais, a partir de umquestionário, não apresenta evidências claras sobrea presença de excesso de confiança em ambos osgrupos. Lintz (2004), estudando agentes econômicosatuantes no mercado de câmbio brasileiro, encontrou

evidência de excesso de confiança em apenas 25%dos entrevistados.

2.3. Efeito disposição

Kahneman & Tversky (1979) desenvolveram ummodelo descritivo de escolha em condições de risco,denominando como Teoria da Perspectiva (TP), comoalternativa à TUE (Teoria da Utilidade Esperada). Den-tre os principais princípios desta teoria, destaca-se ofato de os indivíduos não analisarem os resultadosde uma decisão com base no estado final de riqueza(como postulado pela TUE), mas em relação a umponto de referência escolhido pelo indivíduo no mo-mento da decisão. A percepção de ganho ou perdaestará associada a variações em torno deste ponto.Outro princípio fundamental da TP relaciona a pro-pensão ao risco com o resultado da escolha. Caso oresultado de uma escolha esteja acima do ponto dereferência, ele levará à percepção de um ganho,conduzindo o indivíduo a uma atitude avessa ao risco.Todavia, caso o resultado esteja abaixo do ponto dereferência, sendo percebido como uma perda, o indi-víduo tenderá a uma atitude propensa ao risco.

A aversão ao risco no domínio dos ganhos, asso-ciada à tendência de busca pelo risco no domíniodas perdas, foi denominada por Kahneman & Tversky(1979) como “efeito reflexo”. Em outras palavras,quando os resultados de um evento são estruturadoscomo ganhos ou como perdas, as preferências derisco dos pesquisados se alteram, passando de aves-sos ao risco no domínio dos ganhos para propensosao risco no domínio das perdas.

Segundo Shefrin & Statman (1985: 779), “a Teoriada Perspectiva sugere a hipótese segundo a qual osinvestidores possuem uma disposição a vender açõesvencedoras (com lucro em relação ao preço de com-pra) e manter ações perdedoras (com perda em rela-ção ao preço de compra)”. Para estes autores, caso uminvestidor tenha preferências descritas pela função devalor da Teoria da Perspectiva, ele tenderá a apresentaresta tendência, conhecida como “efeito disposição”.

Odean (1998b: 1.797) analisou os registros de tran-sações de 10 mil investidores, buscando evidênciasdo efeito disposição. O autor concluiu que “os inves-tidores individuais demonstram uma preferência signi-ficativa em vender ações vencedoras e manter ações

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perdedoras, exceto em dezembro, quando as vendasmotivadas por razões fiscais (abatimento do Impostode Renda) prevalecem”. Barber & Odean (1999)testaram hipóteses alternativas ao efeito disposiçãopara justificar a manutenção de ações perdedoras e avenda das ganhadoras. Não obstante, os autoresapontaram o efeito disposição como a explicação maisplausível para o comportamento observado.

O efeito disposição tem sido verificado em dife-rentes circunstâncias. Por exemplo, Grinblatt & Kelo-harju (2001) encontraram evidências do efeito dis-posição ao analisarem as compras e as vendas deinvestidores individuais e institucionais no mercadoacionário finlandês; Jordan & Diltz (2004) pesqui-saram transações de day trade (transações de comprae venda efetuadas no mesmo dia) no mercado acio-nário norte-americano, encontrando evidências doefeito disposição em 65% dos investidores.

Dentre as pesquisas brasileiras, Macedo (2003)verificou que os pesquisados (estudantes universi-tários) apresentavam efeito disposição nas suas de-cisões. Mineto (2005), também estudando o efeitodisposição em estudantes universitários, corroborouo estudo de Macedo (2003), encontrando evidênciasdo efeito disposição. Todavia, o estudo de Mineto(2005) constatou que a intensidade do efeitodisposição depende do gênero do decisor, bem comodo ponto de referência adotado.

Karsten, Battisti & Pacheco (2006), empregandodiferentes medidas do efeito disposição, mostraramevidências deste fenômeno nos investidores comoum todo. Todavia, ao realizarem testes segmentandoos investidores entre pessoa física, pessoa jurídicainstitucional e pessoa jurídica não–institucional, ape-nas os investidores pessoa física apresentaram clara-mente o viés. Dessa maneira, os pesquisadores con-cluíram que a segmentação por tipo de investidorpermite contribuições significativas na investigaçãodo efeito disposição.

Para Feng & Seasholes (2005), uma parte daliteratura sobre o efeito disposição considera a hipó-tese de que determinados grupos de investidoresseriam mais propensos a exibir este comportamento.Entretanto, estes autores, ao estudarem indivíduoscom diferentes níveis de experiência e sofisticação,não encontraram evidências de que estas caracterís-ticas alteraram a presença do efeito disposição nos

diferentes indivíduos. Já Costela & Fernandez (2006)verificaram a presença do efeito disposição eminvestidores venezuelanos, mas não encontraramrelação entre este comportamento e a experiênciados investidores.

3. METODOLOGIA

3.1. Instrumento de pesquisa

Para a análise do processo decisório dos inves-tidores, foi desenvolvido um instrumento de pesquisaespecífico. O questionário desenvolvido pode sersegmentado em duas partes: a primeira, contendoas questões 1 a 28, objetivou identificar as falhascognitivas dos respondentes; a segunda parte, con-tendo as questões 28 a 39, objetivou analisar o perfildos respondentes. O instrumento baseou-se emperguntas fechadas de escolha dicotômica, múltiplae escala, sendo submetido previamente a uma análisesemântica. O questionário completo pode ser dispo-nibilizado pelos autores a pedido.

Ao se analisarem as respostas das questões sobreexcesso de confiança, ficou evidente que uma parcelados investidores não respondeu a ele com seriedadeou não entendeu as instruções do questionário.Assim, foram analisadas as respostas de cada respon-dente e, quando, constatado que o investidor respon-deu aleatoriamente a alguma pergunta do questio-nário, este foi excluído da amostra final. Foram res-pondidos 670 questionários, sendo que 59 respon-dentes foram excluídos, correspondendo a 8,80%da amostra total. A taxa de resposta da pesquisa foide, aproximadamente, 3%. Este baixo índice deresposta pode estar associado à ausência de incen-tivos para o preenchimento do questionário e à pos-sível inatividade de uma parcela dos endereços ele-trônicos atribuídos aos pesquisados.

O método de comunicação adotado consistiu noquestionamento virtual dos respondentes. A amostraé composta por indivíduos cadastrados no InstitutoNacional de Investidores (INI), localizados em dife-rentes Estados do Brasil, sendo que a grande maioriadestas pessoas investe ou já investiu no mercadoacionário nacional.

Para a programação do questionário virtual e odesenvolvimento do sítio da Internet que hospedou

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o questionário, contratou-se uma empresa de infor-mática especializada. O código-fonte do questionáriovirtual (conjunto de linhas de programação queconstituem a programação) será disponibilizado, sesolicitado, para que outros pesquisadores possamutilizar, na íntegra ou parcialmente, o trabalho desen-volvido, desde que citem esta fonte. Além disso, bus-cou-se realizar a programação do questionário emuma linguagem de programação gratuita (Java), demaneira a não restringir o uso da programação.

Para cada uma das falhas cognitivas estudadas,foi formulado um conjunto de perguntas específicas,as quais buscavam encontrar evidências das mesmase permitir testar as seguintes hipóteses (alternativas):

• H1,1

: os investidores apresentam evidências doviés da ancoragem com ajustamento insuficienteem seu processo decisório;

• H1,2

: os investidores apresentam evidências doviés do excesso de confiança em seu processodecisório.

• H1,3

: os investidores apresentam evidências doefeito disposição em seu processo decisório.

Para alguns autores, tais como Paese & Feuer(1991), indivíduos podem ter mais cuidado ao tomardecisões do que ao fazer julgamentos hipotéticos,levando, por conseguinte, a uma maior precisãoquando tomam decisões. Bukszar (2003), ao estudaro excesso de confiança, constatou uma diminuiçãodo grau do viés quando os indivíduos efetivamentetomavam uma decisão em comparação a um julga-mento hipotético. Assim, como a presente pesquisase baseou em julgamentos hipotéticos, e não emdecisão reais, os resultados e generalizações devemser interpretados com cautela.

3.2. Identificação das falhas cognitivas

Para a identificação do viés da ancoragem comajustamento insuficiente, foram extraídas perguntasda literatura comportamental e desenvolvidas outras,sendo que, em ambos os casos, uma das sentençasda questão continha um valor arbitrário não-relacio-nado com o valor da pergunta em si. O objetivo foiverificar se estas informações não-relacionadas àsperguntas atuariam como âncoras para os inves-tidores, na medida em que os respondentes sub-metidos a âncoras maiores fizessem previsões com

valores superiores aos respondentes submetidos aâncoras de menor valor.

Para viabilizar a comparação entre as diferentesâncoras, foram gerados dois conjuntos de perguntas:um conjunto com valores de âncoras maiores (conjunto“a”) e outro com valores de âncoras menores(conjunto “b”). O instrumento de pesquisa foi desen-volvido para, automaticamente, alternar o conjuntode perguntas a ser respondido por cada pesquisado.Assim, ao final, foram formados dois grupos: um querespondeu ao conjunto “a” e o outro, ao conjunto“b”. A seguinte questão exemplifica o processo uti-lizado onde um grupo de questões continha a âncorabaixa (R$ 30) e o outro a âncora alta (R$ 75): “Umanova empresa que opera na Internet fez, recente-mente, sua oferta pública inicial, passando a ter açõesnegociadas em bolsa de valores. Na abertura, as açõesforam vendidas a R$ 30 cada uma. O concorrentemais próximo dessa empresa fez sua oferta públicainicial há um ano, também ao preço de R$ 30 poração. Agora, a ação deste concorrente está cotada aR$ 75 (grupo de respondentes “a”) ou a R$ 30 (grupode respondentes “b”). Quanto valerá a ação da novaempresa daqui a um ano?”.

Para as perguntas relativas à ancoragem comajustamento insuficiente, o número de respostasválidas variou para cada questão. Isto decorre dapossibilidade de os respondentes optarem pelaalternativa “sem opinião”. Esta alternativa foi faculta-da aos respondentes para tentar evitar que os mesmosrespondessem com um número totalmente aleatório,apenas para continuar o preenchimento do ques-tionário. Aparentemente, algumas perguntas deman-davam um maior esforço cognitivo e, conseqüen-temente, obtiveram um número bastante inferior derespostas quando comparadas com outras perguntasde ancoragem.

Foram empregados testes de hipóteses para acomparação das médias obtidas nas diferentesperguntas. Para tanto, foi empregado o teste unicau-dal com a hipótese nula: “a média das respostasencontrada para um dos grupos é igual à média dooutro grupo”. Sendo a hipótese alternativa: “a médiadas respostas encontrada para o grupo dos respon-dentes submetidos às âncoras altas (μ

1) é superior a

média das respostas encontrada para o grupo dosrespondentes submetidos às âncoras baixas (μ

2)”.

Como as variâncias das amostras e o número de

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respondentes variaram para cada conjunto de res-postas, foi empregado o teste t de Welch para acomparação de médias.

O viés da ancoragem com ajustamento insufi-ciente foi mensurado utilizando-se cinco conjuntosde perguntas. É interessante notar que os resultadosdeste viés são analisados em relação ao conjunto daamostra; portanto, verifica-se o viés no conjunto dosinvestidores, e não para cada um dos investidores.

Existem diferentes metodologias para se verificaro excesso de confiança, porém duas têm sido empre-gadas com maior freqüência em diversas áreas deestudo: perguntas com duas alternativas de respostase estimativas de intervalos. Segundo Klayman et al.(1999), a variável que mais influencia na magnitudedo excesso de confiança é a metodologia empregadapara mensurar o viés. Questionários utilizando esti-mativas de intervalo apresentaram um grau bemmaior de excesso de confiança quando comparadosdiretamente com instrumentos que adotaram per-guntas com duas alternativas, sendo que, em ambosos casos, os estímulos para os respondentes foramos mesmos. Estes autores, ao compararem as me-todologias para mensuração do excesso de confiança,afirmaram que “perguntas com formato de duas al-ternativas não são promissoras para coletar infor-mações sobre o viés”.

Para se mensurar o viés do excesso de confiança,adotou-se a metodologia de estimativa de intervalo,sendo utilizadas dez perguntas. Com o intuito detransportar as perguntas para uma realidade maispróxima do cenário brasileiro e do mercado acionário,foram elaboradas algumas perguntas com dadosnacionais e outras foram extraídas da literaturainternacional. Por exemplo, solicitou-se aos respon-dentes que estimatimassem “o lucro líquido da BrasilTelecom durante o ano de 2006”.

Para cada pergunta, o investidor deveria estimaro valor da sua resposta, um limite inferior e um limitesuperior, com 90% de confiança no intervalo estima-do. No questionário, antes de os respondentes come-çarem a responder às perguntas de excesso de con-fiança, foi explicado o conceito de 90% de confiança.Para cada investidor, calculou-se o número de res-postas corretas. Se o indivíduo acertou menos doque nove respostas, considera-se que ele apresentouevidência da utilização do viés durante seu processo

de tomada de decisão. Logo, o percentual de investi-dores que apresentarem excesso de confiança seráconsiderado como o indicador da presença do viés.

Considerando que existe ampla literatura relacio-nando o efeito disposição (disposição a vender açõesvencedoras e manter ações perdedoras) ao efeito reflexo(aversão ao risco no domínio dos ganhos e propensãoao risco no domínio das perdas), o questionário buscouidentificar os dois efeitos nos investidores.

O efeito disposição foi mensurado com a combi-nação das respostas de duas questões. Para cadainvestidor, obteve-se uma resposta evidenciando ounão a presença deste efeito. Logo, obteve-se o per-centual dos respondentes que apresentaram evidên-cia do efeito disposição, sendo este percentual umindicador da presença do fenômeno.

As questões empregadas para identificar o efeitodisposição seguiram o mesmo raciocínio empregadopor Kahneman & Tversky (1979), mas trazendo asperguntas para a realidade do mercado acionário.Neste sentido, buscou-se verificar como o investidorreagiria quando estivesse obtendo ganhos e quandoestivesse obtendo perdas em uma situação hipotéticano mercado acionário. Caso o investidor optasse pormanter ou comprar mais ações perdedoras e, ao mes-mo tempo, escolhesse vender suas ações ganhadoras,ele estaria demonstrando o efeito disposição.

Quatro perguntas foram empregadas na mensu-ração do efeito reflexo. Considerou-se a presença desteefeito no processo decisório somente para aquelesindivíduos com, pelo menos, três respostas compatíveiscom este padrão comportamental. As questões paramensurá-lo foram extraídas (e adaptadas) de Kahne-man & Tversky (2000). As perguntas possibilitavamao pesquisado escolher uma entre duas alternativaspara uma situação hipotética de perda ou ganho. Asquestões tinham três enfoques diferentes:

(i) analisaram se o investidor optava por umaescolha avessa ao risco no domínio dos ganhose, ao mesmo tempo, optava por uma escolhapropensa ao risco no domínio das perdas (destamaneira, o pesquisado demonstraria umamudança de preferência de risco quando aquestão passasse de “ganho” para “perda”):

Imagine que você se defronta com o seguintepar de decisões concorrentes. Primeiro, exa-

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mine ambas as decisões e, em seguida, indiqueas opções preferidas.

Decisão I – escolher entre:

a) um ganho certo de R$ 250,00;

b) 25% de chance de ganhar R$ 1.000,00 e75% de chance de ganhar nada.

Decisão II – escolher entre:

c) uma perda certa de R$ 750,00;

d) 75% de chance de perder R$ 1.000,00 e25% de chance de perder nada;

(ii) se ele optava por uma opção com menor valoresperado (mas com menor risco) no domíniodos ganhos, mostrando aversão ao risco;

(iii) e optava por uma opção com menor valoresperado (mas com maior risco) no domíniodas perdas, demonstrando propensão ao risconeste domínio, por exemplo:

Qual das seguintes opções você prefere?

a) 80% de chance de perder R$ 4.000,00 e20% de não perder nada;

b) uma perda certo de R$ 3.000,00.

Buscou-se, por fim, relacionar os fenômenos doexcesso de confiança e do efeito disposição comcaracterísticas pessoais dos investidores. Para tal, foramcomputadas regressões lineares simples e múltiplaspelo método dos mínimos quadrados (com errospadrão robustos a formas arbitrárias de heteros-cedasticidade dos erros do modelo, utilizando o esti-mador de White). Dessa forma, é possível avaliar seexiste ou não alguma uniformidade nos resultados doestudo, em função do perfil do investidor-respondente.

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. Perfil do investidor

Na presente pesquisa, a grande maioria dos res-pondentes (97,09%) é do gênero masculino. Já a idadedos respondentes variou bastante, sendo a idademínima de 17 anos, a máxima de 77 e a média de 39anos. Destes, aproximadamente 30% possuem menosde 30 anos e 50%, entre 30 e 50 anos. Os respondentesapresentaram um alto grau de escolaridade, sendo que45,60% deles possuíam formação superior e 39,58%,

pós-graduação. A maioria dos respondentes (63,9%)declarou ser casado ou com união estável. Com relaçãoà atividade profissional, aproximadamente 56% dosinvestidores são empregados; 21%, autônomos; 13%,empresários; e 9%, aposentados.

A primeira pergunta sobre investimento questio-nava há quanto tempo o indivíduo investia no mer-cado acionário. A primeira opção de resposta era“ainda não comprei/ não vendi nenhuma ação”.Assim, as respostas daqueles que optaram por estaalternativa (99) foram analisadas separadamente. Asdemais respostas mostram que, aproximadamente,metade daqueles que já realizaram transações decompra e venda de ações possuem até cinco anosde experiência. É interessante notar que, pelo tempode investimento, a maioria destes investidores apenasvivenciou um mercado acionário em alta, pois, desde2003 a Bovespa apresenta resultados anuais positivos.Quanto ao estilo de investidor, 49,5% dos que já reali-zaram transações se consideram grafistas; 39,6%,fundamentalistas; e 10,8% optaram por nenhumadas opções. Com relação à diversificação da carteirade ações, os investidores parecem estar pouco diver-sificados, pois 58,4% deles possuíam até cinco açõesna sua carteira quando participaram da pesquisa.Dentre os respondentes, 25% realizaram mais de 24transações de compra no ano, representando, assim,mais de duas transações por mês, em média.

4.2. Ancoragem com ajustamento insuficiente

A Tabela 1 resume os resultados referentes ao viésda ancoragem com ajustamento insuficiente. Estatabela apresenta, para cada pergunta, as âncoras altase baixas, o número de respondentes, a média dasestimativas e os resultados dos testes de hipóteses.

Quatro dos cinco testes estatísticos fornecemevidências, no nível de 5% de significância, de queos investidores foram ancorados pelos valores apre-sentados nos enunciados das questões, apresen-tando, portanto, evidências do viés. Ademais, a in-fluência das âncoras pode ser observada na médiadas estimativas, pois, para todas as perguntas, asmédias das estimativas submetidas às âncoras altasforam superiores às médias das estimativas subme-tidas às âncoras baixas. Portanto, os resultados en-contrados levam à rejeição da hipótese nula de queos investidores não apresentam evidência da anco-

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ragem com ajustamento insuficiente, permitindosugerir a presença pronunciada deste viés nos in-vestidores brasileiros.

Cabe mencionar que uma parte das variaçõesencontradas nos valores das estatísticas, entre osdiferentes grupos de perguntas, pode ser decorrentedas diferenças no tamanho das amostras. Umaamostra menor pode conduzir a um maior erro padrãoe, por conseguinte, a um menor valor da estatística.

O último conjunto de perguntas (“Sem fazer ocálculo de fato, faça uma rápida estimativa (em cincosegundos) da seguinte multiplicação...”) foi extraído doestudo de Tversky & Kahneman (1974). Estes pes-quisadores também encontraram diferenças signifi-cativas entre as médias das respostas dos grupos derespondentes. Entretanto, é interessante notar que asmédias das respostas obtidas na presente pesquisa,39.986 e 30.356, são bastante superiores e maispróximas do valor correto (40.320) do que as respostasencontradas por Tversky & Kahneman (1974), 2.250 e512. Apesar de as perguntas serem iguais em ambosos estudos, existem diferenças relevantes no perfil dosrespondentes. Tversky & Kahneman (1974) aplicarameste teste em estudantes de segundo grau, enquanto,no presente estudo, a maioria dos participantes possuicurso superior e uma média de idade de 39 anos.Portanto, uma possível explicação para a diferençaabsoluta nas estimativas de respostas pode estarassociada às diferenças nos grupos de respondentes.

4.3. Excesso de confiança

Os respondentes apresentaram extremo excessode confiança. Dos 512 investidores, apenas cinco

(0,98%) não apresentaram o viés, ou seja, estesinvestidores acertaram pelo menos nove estimativas.Além disso, o nível médio de acerto foi de 2,41questões ou 24,1%. Como a maioria dos investidoresapresentou excesso de confiança nas suas respostas,rejeita-se com folga a hipótese nula de que osinvestidores não apresentam evidências de excessode confiança.

Uma das razões para o alto nível deste viés, napresente pesquisa, pode estar relacionada com oformato do questionário. Segundo Winman, Juslin& Hansson (2004), questionários com estimativas deintervalo produzem extremo excesso de confiançaquando comparados com questionários com duasalternativas. Os resultados de Klayman et al. (1999)corroboram esta idéia, pois, ao se compararem asduas metodologias, fornecendo os mesmos estí-mulos, aponta-se para um maior excesso de confiançanas estimativas de intervalo.

Não obstante, os resultados encontrados mos-tram um maior excesso de confiança quandocomparados com outras pesquisas que também utili-zaram estimativas de intervalo. Russo & Schoemaker(1992), ao solicitarem para gerentes estimativas,com 90% de confiança, observaram aproxima-damente 50% de respostas corretas. Já Klayman etal. (1999), solicitando 90% de confiança numaamostra de estudantes universitários, observaram42% de estimativas corretas.

Para Klayman et al. (1999: 218), “é amplamenteconhecido que o excesso de confiança é mais pronun-ciado em conjunto de perguntas difíceis”. Dessamaneira, o grau de dificuldade das perguntas poderia

Tabela 1: Resumo dos resultados das análises estatísticas de ancoragem com ajustamento insuficiente

Núm. de respond.* Média das respostas*

Pergunta Âncora

Âncora Âncora Teste 1*

Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa

Quanto valerá a ação da nova empresa daqui a um ano? 75 35 102 115 66 37 11,21

Em quantos pontos deverá estar o índice DAX no final de 2008? 80000 60000 136 152 9.956 8.741 3,37

Qual sua estimativa para a receita bruta da Perdigão parao ano de 2006? 45 19 35 39 2.602 1.316 1,74

Qual sua estimativa de pontos para a bolsa de valores daArgentina em dezembro de 2006? 28000 12000 59 44 13.436 11.264 0,97

1x2x3x4x5x6x7x8 -e- 8x7x6x5x4x3x2x1 239 224 39.986 30.350 1,82

* Estes valores excluem os investidores classificados como outliers.

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Felipe Bogea e Lucas Ayres Barreira de Campos Barros

explicar o maior grau de excesso de confiança quandose compara a presente pesquisa com o trabalho deKlayman et al. (1999), os quais utilizaram um ques-tionário com perguntas de diferentes níveis de difi-culdade. Segundo estes autores, estudos mostraramdiferenças significativas na mensuração do viés entrequestionários com perguntas fáceis e questionárioscom perguntas difíceis.

Ademais, talvez a maneira de veiculação possater influenciado o grau de enviesamento observado.Nos estudos anteriores, os pesquisados responderamaos questionários com a presença dos pesquisadores,sendo a maioria dos questionários veiculada em meioimpresso. Entretanto, no presente estudo, os pes-quisados responderam ao questionário pela Internete sem a presença de um pesquisador. Assim, possivel-mente, os respondentes, ao tentarem minimizar oesforço cognitivo para responder ao questionário,determinaram um intervalo muito próximo da suaestimativa inicial, levando, por conseguinte, a ummaior excesso de confiança.

Realizou-se uma série de regressões (não reporta-das), buscando relacionar o excesso de confiança comcaracterísticas sociodemográficas dos pesquisados.Todavia, estas análises não revelaram associaçõessistemáticas entre o viés e as características dos inves-tidores. Alguns fatores podem ter contribuído paraeste resultado. Primeiramente, a escala utilizada paraa mensuração do excesso de confiança não foi origi-nalmente desenvolvida objetivando relacionar seuresultado com outras características, mas apenasdetectar a presença do viés. Além disso, as variáveisadotadas como proxies para as características dosinvestidores podem não ter capturado adequada-mente as características de interesse ou, ainda, po-dem não ter segregado os investidores de maneira aevidenciar a relação destas variáveis com o viés. Por-tanto, possíveis limitações na mensuração das va-riáveis podem ter contribuído para a falta de signi-ficância estatística observada nas regressões.

Ademais, é possível que a amostra não seja hete-rogênea o suficiente para capturar diferenças no graude enviesamento dos respondentes como função desuas características sociodemográficas, uma vez queenfoca apenas a subpopulação dos investidores ouindivíduos cadastrados no INI. É plausível supor queo fato de todos os respondentes pertencerem a esta

subpopulação exerça uma influência de primeiraordem sobre os resultados, fazendo com que elesexibam graus de excesso de confiança suficiente-mente próximos, a ponto de impedir a detecção dediferenças relevantes entre subgrupos da amostra.

4.4. Efeito disposição e efeito reflexo

Dentre os investidores participantes da pesquisa,198 (38,7%) apresentaram evidência do efeitodisposição. Outros estudos também verificaram apresença do efeito disposição em apenas uma partedas suas amostras. Todavia, a parcela de investidoresque exibiram a falha cognitiva é maior do que overificado na presente pesquisa. Jordan & Diltz (2004)constataram que aproximadamente 65% dos daytraders (investidores que realizam uma transação decompra e venda de uma ação dentro de um mesmodia) exibiram a falha. Dhar & Zhu (2006) verificarama presença do efeito disposição numa parcela aindamaior: 80,3% dos investidores.

Apesar de o número de investidores que exibiramefeito disposição ser inferior ao reportado em outraspesquisas, o percentual de respondentes exibindo oviés, aproximadamente 40%, sugere a presença doefeito disposição em uma parcela significativa dosinvestidores, levando, portanto, à rejeição da hipótesenula de que os investidores não apresentam evidên-cias do efeito disposição.

As análises realizadas nesta pesquisa não eviden-ciam relações claras entre o efeito disposição e ascaracterísticas dos investidores (com base em regres-sões não reportadas, mas cujos resultados podem serdisponilizados pelos autores). Estes resultadoscorroboram as evidências de Wong, Carducci & White(2006) e Costela & Fernandez (2006), os quais nãoverificaram relações entre efeito disposição e caracte-rísticas pessoais. Por outro lado, Feng & Seasholes(2005) e Dhar & Zhu (2006) encontraram relações entrecertas características sociodemográficas e o efeitodisposição. Já Mineto (2005) verificou diferença entreos gêneros quando o ponto de referência é o últimopreço da ação, mas não verifiou diferença quando opreço de referência é o preço de compra da ação.

Aproximadamente 37% dos respondentes exibi-ram o efeito reflexo. É interessante notar que o per-centual de investidores que exibiu o efeito reflexo

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PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUAL BRASILEIRO NO MERCADO ACIONÁRIO NACIONAL:UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ENFOCANDO O EFEITO DISPOSIÇÃO E OS VIESES DA ANCORAGEM E DO EXCESSO DE CONFIANÇA

(36,9%) foi muito próximo daquele que revelouefeito disposição (38,7%).

Foram considerados investidores sujeitos ao efeitoreflexo somente aqueles indivíduos para os quais pelomenos três respostas (de um total de quatro per-guntas) mostravam evidência do referido comporta-mento. Entretanto, se o critério para caracterizar apresença do efeito reflexo fosse de duas ou maisrespostas compatíveis com este comportamento,aproximadamente 75% da amostra exibiria tal efeito.De qualquer maneira, considerando-se que pelomenos 37% dos investidores mostraram evidênciasmais claras do efeito nas suas respostas, pode-seconcluir por sua relevância.

Segundo Mineto (2005), o efeito disposição éconseqüência do efeito reflexo e do ponto de referên-cia da TP. Todavia, ao se tentar relacionar o efeitodisposição ao efeito reflexo, não se verificou umarelação estatisticamente significante. Entretanto,quando se estimou a mesma regressão, mas conside-rando-se como exibindo o efeito reflexo aquelesinvestidores com duas ou mais respostas relacionadasao mesmo, verificou-se um aumento da estatística t.Ademais, o sinal do coeficiente ficou positivo (emboraainda não significante nos níveis usuais), sugerindoa relação no sentido esperado, ou seja, que umamaior propensão ao efeito reflexo levaria a umamaior propensão ao efeito disposição.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo principal da pesquisa foi verificar a pre-sença do efeito disposição e dos vieses de ancoragemcom ajustamento insuficiente e excesso de confiançaem uma amostra de investidores atuantes no mercadoacionário nacional. Os resultados encontrados levaramàs seguintes constatações: (i) quatro dos cinco conjuntosde perguntas de ancoragem com ajustamentoinsuficiente mostraram evidências estatisticamentesignificantes da presença do viés; (ii) a grande maioriados investidores apresentou excesso de confiança nassuas estimativas; (iii) o efeito disposição foi verificadoem apenas uma parcela dos investidores (38,7%).

Além do objetivo principal, buscou-se relacionaro excesso de confiança e o efeito disposição a carac-terísticas dos investidores, tais como idade ou genêro.

Contudo, as análises estatísticas não mostraram rela-ções significantes. Assim, verificou-se a presença dasfalhas, mas não foram encontradas evidências de as-sociações entre as falhas e as referidas características.Ademais, não foi possível relacionar estatisticamenteo efeito reflexo com o efeito disposição.

Pesquisas anteriores verificaram a presença da anco-ragem com ajustamento insuficiente em diferentesgrupos de indivíduos (estudantes, executivos, médicos).Porém, até onde se sabe, nenhuma pesquisa anteriorverificou a presença do viés em uma amostra compostapor investidores individuais no mercado acionário.Portanto, os resultados encontrados corroboram aliteratura e contribuem na medida em que verificarama presença deste viés em investidores.

A presença do excesso de confiança tem sidoamplamente verificada na literatura. Os resultadosdesta pesquisa corroboram estas evidências. Nãoobstante, a intensidade do viés verificada na presentepesquisa diverge de outras pesquisas que tambémutilizaram estimativas de intervalo.

O efeito disposição foi identificado em investido-res, mas a intensidade da sua presença variou entreos estudos. Ademais, a relação entre o efeito dispo-sição e características pessoais dos investidores aindanão foi claramente estabelecida na literatura. Nestesentido, os resultados encontrados (presença da falhacognitiva, mas ausência de relação) corroboram osestudos anteriores. Costela & Fernandez (2006), em-pregando uma amostra de investidores venezuelanos,encontraram resultados bastante semelhantes.

A ocorrência de falhas cognitivas no processodecisório dos investidores tem sido documentada emdiferentes países e situações. Todavia, no Brasil, atéonde se sabe, ainda não havia sido verificada a pre-sença da ancoragem com ajustamento insuficiente,excesso de confiança e efeito disposição em umaamostra composta por investidores atuantes nomercado acionário nacional. Portanto, os resultadosda presente pesquisa contribuem no sentido deconfirmar as evidências encontradas em outros paí-ses, mostrando que os investidores brasileiros tambémestão sujeitos a estes comportamentos.

Novas pesquisas são necessárias para se buscar avalidação formal do instrumento desenvolvido nestetrabalho. Embora o instrumento de pesquisa empre-

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Felipe Bogea e Lucas Ayres Barreira de Campos Barros

gado careça de validação formal, ele contribui nadireção de se estabelecer um instrumento simples,de fácil aplicação e capaz de identificar falhas cog-nitivas possivelmente prejudiciais aos investidoresbrasileiros. Existem ainda inúmeras possibilidades parao desenvolvimento de outros instrumentos de pes-quisa capazes de analisar o comportamento doinvestidor.

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PROCESSO DE TOMADA DE DECISÃO DO INVESTIDOR INDIVIDUAL BRASILEIRO NO MERCADO ACIONÁRIO NACIONAL:UM ESTUDO EXPLORATÓRIO ENFOCANDO O EFEITO DISPOSIÇÃO E OS VIESES DA ANCORAGEM E DO EXCESSO DE CONFIANÇA

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Silvia Pires Bastos Costa e Francisco Antônio Barbosa Vidal

TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO:UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIA DE UM CONSÓRCIO DE ONGS NODESENVOLVIMENTO DE AÇÃO INTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNOTECHNOLOGY AND SOCIAL INCLUSION OF YOUNG PEOPLE AT WORK: AN ANALYSIS

OF THE EXPERIENCE OF A CONSORTIUM OF NGOS IN THE DEVELOPMENT OF

INTERSECTORAL ACTION WITH COMPANIES AND GOVERNMENT

ABSTRACTRESUMO

A colaboração intersetorial apresenta-se, nos últi-mos anos, como uma estratégia efetiva de suporteà promoção de políticas de inclusão social. Umaspecto importante do desenvolvimento social pro-piciado pela atuação das organizações não-gover-namentais é a articulação interinstitucional por meioda constituição de parcerias – a tendência que induzà formação de associações para estabelecer ligaçõese para cooperar. A presente pesquisa investigou umaexperiência de inserção laboral de jovens em situaçãode pobreza no mercado de trabalho, com base nagestão em rede, capitaneada por uma agência detrabalho juvenil administrada por uma organizaçãonão-governamental, que articulou, por intermédiode ações intersetoriais com empresas e entespúblicos, oportunidades de inserção laboral para 700jovens no Estado do Ceará. A descrição das dinâ-micas funcionais e a sistematização da memóriagerencial da agência de trabalho juvenil foramdelineadas sob o modo de investigação do estudode caso sob a égide da técnica da pesquisa-açãoinstitucional. A presente pesquisa gerou como re-sultado uma tecnologia social de inclusão de jovenspelo trabalho com elementos norteadores de suareplicabilidade em outras regiões do País.

Palavras-chaves: inclusão social, organizaçõesnão-governamentais, trabalho juvenil.

Intersectoral collaboration has been presented inthe last years as an effective strategy to supportand promote the social inclusion policies. Animportant aspect of the social development favoredby the action of the non-governmental organizationsis the inter-institutional articulation by means of theconstitution of partnerships – the trend that leadsto the formation of associations to establish linksand to cooperate.The present study investigates anexperience of labor insertion of (socio-economic)impoverished young people in the labor market,with a management of networks, headed by anagency administered by an NGO, which in the yearof 2006, articulated across sectors with companiesand public entities giving opportunities of work to700 young people from Ceará. The study describesthe functional dynamics and the systems of thememory management of the Agency of Youth workwhich were delineated under a model of inves-tigation of case studies under the protection of thetechnique of the institutional research-action. Thepresent studies managed as a result a social tech-nology and social inclusion of young people at workwith elements guided for replications in otherregions of the country.

Keywords: social inclusion, non-governmentalorganizations, young people work.

Recebido em: 07/07/2008Aprovado em: 15/10/2008

Endereços dos autores:

Silvia Pires Bastos CostaAv. Antonio Sales, 2.371, sala 105 - Fortaleza-CE - CEP: 60135-101. e-mail: [email protected]

Francisco Antônio Barbosa VidalAv. Antonio Sales, 2.371, sala 105 - Fortaleza-CE - CEP: 60135-101. e-mail: [email protected]

Silvia Pires Bastos Costa

Mestre em Administração / UECE - Universidade Estadual do Ceará

Francisco Antônio Barbosa Vidal

Mestre em Administração/Universidade de Fortaleza

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TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIADE UM CONSÓRCIO DE ONGS NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÃO INTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNO

1. INTRODUÇÃO

Para Gohn (2005), as atuais políticas neoliberaisderam espaço para o desenvolvimento da economiainformal, o que flexibilizou o papel do Estado naoferta dos serviços públicos, ficando o mesmo comogestor e controlador dos recursos, em virtude detransferir responsabilidades para organizações dasociedade civil organizada via programas deparcerias em projetos e programas sociais comONGs.

A presente pesquisa constitui-se de um estudoteórico-empírico, cujo objeto de análise refere-se àsdinamicidades e especificidades da parceria inter-setorial entre um consórcio de ONGs, governo e em-presas na execução de uma política pública socialvoltada para a inserção laboral de jovens em situaçãode pobreza. Para Thompson (1997), a percepção vi-gente para as ONGs é a de que sua capacidade depressão e mobilização social, reivindicação e pro-posição de novos caminhos cede lugar à pressão pelaprofissionalização de sua estrutura e suas ações,adquirindo um caráter predominante de prestadorade serviços ao Estado e ao mercado.

O estudo teórico-empírico desenvolvido caracte-riza-se, em sua dinâmica, como uma pesquisa or-ganizacional balizada pelo processo etnográfico daobservação participante sob a égide da pesquisa-açãoinstitucional. Buscou-se, neste estudo, descrever aexperiência gerencial em rede de uma agência detrabalho juvenil capitaneada por um consórcio deONGs que, por intermédio de ações intersetoriaiscom governos e empresas, possibilitou a inserção nomercado de trabalho de 700 jovens em situação depobreza no Estado do Ceará.

A pesquisa deu-se na ambiência organizacionaldo consórcio social de ONGs que, financiado peloMinistério do Trabalho e Emprego, executou o Pro-grama Primeiro Emprego, do governo federal, nacidade de Fortaleza, no período de abril a novembrode 2006, adotando como princípio norteador de seufuncionamento uma gestão em rede. O principalpropósito da agência era articular parceria com em-presas e governo para promover a inserção laboralde jovens egressos de um programa de qualificaçãosocial e profissional, capitaneado por organizaçõesnão-governamentais.

2. ONGS E FORMAÇÃO DE REDES SOCIAIS

Um aspecto importante do desenvolvimento socialpropiciado pela atuação das organizações não-governamentais é a articulação interinstitucional pormeio da constituição de parcerias – a tendência queinduz a formação de associações para estabelecerligações, para viver dentro de outro organismo e paracooperar. Nas comunidades humanas, parceria sig-nifica democracia e poder pessoal, pois cada membroda comunidade desempenha um papel importante.Combinando o princípio da parceria com a dinâmicada mudança e do desenvolvimento, pode-se utilizaro tempo da co-evolução, de maneira metafórica, nascomunidades humanas. À medida que uma parceriase processa, cada parceiro passa a entender melhoras necessidades dos outros. Numa parceria verda-deira, confiante, ambos os parceiros aprendem emudam – eles co-evoluem (CAPRA, 1997).

O que diferencia redes de outros tipos de coor-denação social, sobretudo o mercado e as orga-nizações, são algumas características que parecemganhar cada vez mais relevância no mundo contem-porâneo (WEYER, 2000: 5-10). Enquanto mercadossão coordenados por meio de mecanismos de preço,de uma forma específica e espontânea, e orga-nizações o são por intermédio de regras formais, deuma forma não-específica e baseada em regula-mentos, redes sociais são normalmente coordenadaspor meio de discurso, fomentando relações deconfiança mútua.

Por outro lado, o conceito de rede veio ganharuma dimensão mais profunda, como chave inter-pretativa de grandes tendências do processo históricoem curso. Nessa direção, vem sendo apontada aexpansão penetrante das redes como a nova mor-fologia social das sociedades contemporâneas, nosentido de que as funções e os processos dominantesestão cada vez mais organizados em torno de redes(CASTELLS, 1999).

Para Castells (1999), a diversidade, uma pluralidadede componentes realmente divergentes, só podemanter-se coerente em uma rede. Nenhum outroesquema – cadeia, pirâmide, árvore, círculo ou eixo –consegue conter uma verdadeira diversidade funcio-nando como um todo. E, diferentemente de cadeiaslineares de causa e efeito, as relações entre os compo-nentes de uma rede envolvem múltiplos laços derealimentação (CAPRA, 1997), como se fossem agentes

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Silvia Pires Bastos Costa e Francisco Antônio Barbosa Vidal

e reagentes, a ponto de perderem sentido as idéiasde origem e destino, emissão e recepção.

Redes facilitam um comportamento coordenado,sem a necessidade de aceitar a rigidez de organiza-ções inflexíveis e burocráticas. A rede se mostra comoa única estrutura de ação capaz de cumprir duas fun-ções básicas: primeiro, a função estratégica de reduzirincerteza com relação ao comportamento de outrosatores, como competidores ou parceiros; segundo,a função instrumental de melhoria da performance,isto é, o aumento de resultados produzidos. Na esferaeconômica, as redes são consideradas formas supe-riores de organização por serem “mais flexíveis e me-lhor adaptadas à natureza volátil da nova economiaglobal” (RIFKIN, 2001: 23). Além disso, parecem pre-servar a autonomia dos parceiros e aumentar suacapacidade de aprendizagem.

Neste sentido, redes sociais podem ser compreen-didas como formas independentes de coordenaçãode interações. Sua marca central é a cooperação, basea-da em confiança entre atores autônomos e interde-pendentes, os quais trabalham em conjunto por umperíodo limitado de tempo, levando em consideraçãoos interesses dos parceiros e estando conscientes deque esta forma de coordenação é o melhor caminhopara alcançar seus objetivos particulares. É em funçãodessa capacidade de agregação que redes têm umgrande potencial para instigar processos de apren-dizagem e são defendidas para a implementação deprojetos de inovação, nos casos em que os riscos en-volvidos se apresentarem altos demais para cada umdos parceiros sozinho (WEYER, 2000: 11).

Para Melo Neto & Froes (2002: 82), a importânciada tecnologia de formação de redes sociais justifica-se pelos seguintes aspectos:

a) cria novas interações entre as pessoas, for-talecendo laços de amizade, familiares e no-vas opções de trabalho e recreação;

b) ajuda a moldar as práticas e valores indi-viduais, grupais e coletivos, aguçando a per-cepção e a visão social das pessoas;

c) conecta indivíduos, grupos, regiões e or-ganizações;

d) ajuda a construir novas formas de con-vivência;

e) contribui para a superação de problemassociais, por meio da definição coletiva de

objetivos, articulação de pessoas e insti-tuições;

f) disponibiliza “saberes distintos” e os colocaa serviço do interesse coletivo;

g) constrói vínculos mais fortes e consistentesentre as pessoas, grupos e instituições;

h) promove acordos de cooperação e alianças;

i) cria e amplia alternativas de ação.

O binômio concentração de poder/rede tem im-plicações diretas no debate sobre desenvolvimento, umavez que não se acredita que um processo de desen-volvimento possa ser sustentável em longo prazo se nãohouver horizontalidade no processo e no empodera-mento dos atores responsáveis por conduzi-lo.

Segundo Paternostro Melo & Fischer (2004), enten-de-se por interorganizações as relações estabelecidasentre organizações que resultam na consolidação derelações interorganizacionais necessárias para o al-cance de determinados objetivos. Ademais, conside-ram-se as interorganizações enquanto espaços de con-fluência e interseção de organizações. A obra de Alter& Hage (1993, apud PATERNOSTRO MELO & FISHER, 2004)é uma referência no campo das interorganizações.Esses autores relacionaram algumas teorias que bus-cam explicar a formação de redes interorganizacionais.Primeiramente, destacaram a Teoria da Ecologia Popu-lacional. Esta perspectiva busca explicar por que asorganizações crescem ou declinam ao longo do tempo,de acordo com mudanças ambientais.

Para as autoras mencionadas, uma estratégiainterorganizacional balizada em rede corresponde aopadrão total de inter-relações entre um aglomeradode organizações que se entrelaçam num sistemasocial para atingir metas coletivas e de auto-interesseou para solucionar problemas específicos numapopulação-alvo.

3. COLABORAÇÃO INTERSETORIAL:EIXOS DELINEADORES

Rosa Maria Fisher (2002) sinalizou que a propostade colaboração intersetorial entre as organizaçõesda sociedade civil e as organizações de mercadoemerge de uma convergência de opiniões sobre anecessidade de integrar agentes econômicos e sociais,no esforço de promover o desenvolvimento diante

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TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIADE UM CONSÓRCIO DE ONGS NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÃO INTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNO

das mazelas sociais que podem ser contabilizadasnesses anos de predomínio de políticas neoliberais.Para a referida autora, as necessidades e as carênciasdas populações em situação de exclusão ampliam-see aprofundam-se com tal intensidade e velocidadeque superam, em muito, qualquer possibilidade deatendimento vindo, exclusivamente, da atuação deórgãos governamentais ou das organizações dasociedade civil (FISHER, 2002: 29).

Na visão de Fisher (2002), para concretizar a idéiade colaboração entre as organizações sociais e omundo dos negócios em uma sociedade capitalista,é preciso assegurar que ambos os parceiros da aliançasejam legítimos e estejam enriquecidos em sualegitimidade política e institucional.

No final do século XX, a cena na qual se desen-rolou o debate acerca do desenvolvimento sustentadono Brasil foi sendo, gradativamente, ocupada por umamultiplicidade de atores: as ONGs, que reassumiramsua posição de defesa de direitos e interesses; as asso-ciações, principalmente aquelas que agregam comu-nidades populares; as entidades beneficentes e filan-trópicas; e, surpreendentemente, as empresas, as asso-ciações empresariais, as fundações e os institutos vin-culados a corporações (FISHER, 2002: 43).

Para Fisher (2002: 154-155), a construção de alian-ças organizacionais vem se apresentando como a for-ma de viabilizar a cooperação intersetorial, que sefaz necessária para fortalecer a sociedade civil nasuperação dos problemas criados pelos problemaseconômicos: a complexidade dos problemas sociaisenfrentados pela humanidade sinaliza a seguintedireção: organizações de diversas inserções setoriaisterão de otimizar as oportunidades para trabalharem conjunto, combinando suas competências espe-cíficas, de modo a obterem resultados efetivos dedesenvolvimento social.

Autin (2001 apud FISHER, 2002: 160) destacoucinco elementos importantes no processo de estabele-cimento de alianças: compreender a natureza e osestágios de cada aliança de cooperação; superar asbarreiras à conectividade de organizações perten-centes a diferentes setores; descobrir e consolidarpontos de compatibilidade entre os parceiros; asse-gurar que a cooperação gera valor para as orga-nizações aliadas; construir bases de confiança entreos parceiros.

A efetivação de parcerias fundamenta projetos deinclusão social da atualidade, protagonizados pelasorganizações sociais. A formação de redes de ONGsé uma realidade na execução de políticas públicasnão-estatais. Os convênios com o Estado não neces-sariamente legitimam uma atuação em rede, pois háentraves e burocracias, além de um marco legal injus-to. As alianças com empresas são embrionárias epodem ser potencializadas. A preocupação é com afibra ética desse processo, a transparência e o res-peito à autonomia dos espaços institucionalizadosda sociedade civil.

4. PERCURSO METODOLÓGICO

A presente pesquisa contempla o arcabouço deestudo teórico-empírico cujo objeto de análise cons-titui-se da descrição das especificidades de atuaçãoe de gestão de uma agência de trabalho juvenil que,em rede, promoveu a inserção laboral de mais de700 jovens cearenses no mercado de trabalho, noano de 2006. A agência em rede promovia a inserçãolaboral de jovens qualificados social e profissional-mente por um consórcio de ONGs financiadas peloMinistério do Trabalho e Emprego, e tinha como eixoprincipal de sua tecnologia social de inclusão pelotrabalho a “ação intersetorial” por intermédio daformação de parcerias e alianças com entes públicose privados. A presente pesquisa também se carac-teriza, em sua dinâmica, como um estudo orga-nizacional contextualizado sob a égide da pesquisa-ação institucional.

De acordo com Barbier (apud HAGUETTE, 1987:142), a pesquisa-ação institucional é um tipo parti-cular de pesquisa-ação, cujo objeto refere-se ao cam-po institucional no qual gravita o grupo em questão.Trata-se de desconstruir, por meio de um métodoanalítico, a rede de significações das quais a instituiçãoé portadora, enquanto célula simbólica. A pesquisa-ação institucional é levada a empregar conceitosfundamentais, como os de transversalidade, implica-ção, analisador, grupo-sujeito e grupo-objeto.

O universo da presente pesquisa contemplou aarticulação em rede da agência de trabalho juvenil eas 42 ONGs integrantes de uma rede social de ONGsque executou, em Fortaleza e região metropolitana,uma política pública de inserção social de jovensprovenientes de famílias de baixa renda no mundo

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do trabalho, por meio de projetos sociais de qualifi-cação social, profissional e de intermediação para omercado, além das interfaces interinstitucionais comempresas e organizações integrantes do conselhoconsultivo. No ano de 2006, a rede de ONGs com osuporte da agência de trabalho juvenil em rede aten-deu a 2,1 mil jovens residentes na cidade de Fortalezae região metropolitana.

Quanto aos meios, classifica-se esta pesquisa comoestudo de caso. O estudo de caso possibilita a inves-tigação profunda de uma organização, com o objetivode testar a validade das hipóteses ou questões depesquisas construídas a partir de um referencial teó-rico (GIL, 1996; YIN, 2001). A captação de dados deu-se de acordo com o Quadro 1, descrito abaixo.

A construção teórica apresenta os argumentos dosautores sobre as temáticas abordadas, “discutidas”junto às evidências da práxis vivenciada. Uma análisepropositiva gerou este estudo de caso, buscandocontribuir para novas visões sobre a gestão sócio-organizacional no terceiro setor, sob a égide da pers-pectiva da ação intersetorial, que pode ser útil a muitasoutras iniciativas de inclusão de jovens em situaçãode pobreza no mundo do trabalho.

5. ESTUDO DE CASO: A EXPERIÊNCIA DEINCLUSÃO SOCIAL PELO TRABALHO DEJOVENS EM SITUAÇÃO DE POBREZA, NUMAAÇÃO INTERSETORIAL PROTAGONIZADAPOR UMA AGÊNCIA DE TRABALHO JUVENILEM REDE

O Consórcio Social da Juventude de Fortaleza foigerido sob uma configuração estrutural em rede, ten-do como eixo norteador de suas ações duas instân-cias: a governança institucional, que contemplava umconselho gestor e um conselho consultivo, e a or-questração em rede implementada por ONGs execu-toras que desenvolvem os projetos de qualificação

profissional e de inserção cidadã no mundo dotrabalho, tendo como parceiros o setor privado, ogoverno e organismos de financiamento e de co-operação. Esta ação intersetorial visava à qualificaçãosocial e profissional e à inserção no mercado de tra-balho de jovens de ambos os sexos, entre 16 e 24anos, em situação de desemprego, com renda fami-liar de até meio salário mínimo. A seleção dos jovenspriorizou os egressos do sistema penal, os portadoresde deficiências, afro-descendentes, indígenas eindivíduos em situação de vulnerabilidade social.

A gestão em rede baliza os processos de eficiência,eficácia e efetividade dos projetos de qualificação e deinserção social de jovens carentes pelo trabalho,desenvolvidos pelas ONGs que integraram o ConsórcioSocial da Juventude no Ceará. Com o objetivo de seinstituir um núcleo gestor e articulador em rede, queproporcionasse uma interlocução com o setor privado,órgãos públicos e entidades do terceiro setor, no sentidode potencializar a intermediação de jovens carentes parao mercado de trabalho, foi criada, durante a execuçãodo CSJ 2004, a Agência Social de Inserção em Rede deJovens no Mercado de Trabalho (Agir), que integra aconfiguração estrutural do Consórcio Social da Juven-tude no Ceará. O aperfeiçoamento e a ampliação dasatividades da Agir deu-se através da efetivação de novosparceiros e de um Projeto Macro de SustentabilidadeInstitucional, que possibilitou o alcance de metas exitosasde inserção nos anos de 2004 a 2006.

No primeiro semestre de 2004, 1.063 jovens ca-rentes foram qualificados e 442 inseridos no mercadode trabalho nas seguintes tipologias: empregoformal, menor aprendiz, estágio social de Ensino Mé-dio e empreendedorismo juvenil. No ano de 2005, 2mil jovens foram qualificados e 715, inseridos. Noano de 2006, 2,1 mil jovens foram qualificados emais de 800, inseridos.

O objetivo estratégico da agência é proporcionara jovens carentes orientação vocacional, cursos

Quadro 1: Mapeamento do percurso metodológico

Propósito da Captação Técnica aplicada

1) Descrever a dinâmica processual e a configuração estrutural da Diagnose macro sob a égide da pesquisa-ação institucional, análiseagência de trabalho juvenil que deu suporte à execução de uma documental e observação participante.política pública de inclusão social de jovens.

2) Analisar aspectos processuais das interações interinstitucionais Pesquisa-ação institucional, observação direta; observaçãoem rede com foco na efetividade de um programa social. participante.

Fonte: elaborado pelos autores a partir da revisão de literatura metodológica.

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profissionalizantes e intermediação para o mercadode trabalho, realizando em rede a captação de vagasno mercado formal e/ou potencializando o empreen-dedorismo juvenil sob a égide da economia solidária,sensibilizando as organizações dos setores público,privado e do terceiro setor a aderirem socialmenteao Programa Primeiro Emprego, por meio das políticasdo jovem aprendiz, do programa de apoio aos porta-dores de deficiência (PPD), do estágio social de EnsinoMédio e da contratação formal via responsabilidadesocial ou do apoio à criação de empreendimentosjuvenis, voltados para a geração de trabalho e rendapor conta própria de forma individual ou cooperada.

A missão da Coordenação de Mercado de Trabalhoe Inclusão Social – CIMT é desenvolver e implementarestratégias de inclusão social pelo trabalho dos jovenscapacitados através do Consórcio Social da Juventude,no Ceará, captando oportunidades no mercado pormeio de articulação social com empresas e instituiçõese, a partir do construto social da experiência vivenciada,gerar conhecimento e tecnologia apropriada a enfrentarcom eficiência e eficácia o desemprego juvenil. ACoordenação, que capitaneou a agência de trabalhojuvenil em rede, apresentava as seguintes competências:

a. promover estratégias que visem ao aumentoda oferta de empregos formais para os jovensenvolvidos nas ações do Consórcio;

b. desencadear, em conjunto com a DelegaciaRegional do Trabalho, parcerias com o intuitode criar oportunidades de ocupação para osjovens, incluindo emprego formal via respon-sabilidade social, jovem aprendiz, estágio socialde Ensino Médio, Lei de Pessoas Portadorasde Deficiências e empreendedorismo juvenil /economia solidária;

c. assessorar as entidades executoras na concep-ção e na implementação de estratégias deinserção no mercado de trabalho dos jovensque estão sendo qualificados social e profissio-nalmente por intermédio do Consórcio Socialda Juventude (CSJ);

d. orquestrar em rede as dinâmicas de parceria ede captação de vagas/oportunidades das enti-dades executoras, promovendo encontrosmensais com os agentes de inserção para pla-nejar ações, conceber estratégias e avaliar pro-cessos de eficiência, eficácia e efetividade daárea de inserção do CSJ – CE.

e. disponibilizar às executoras instrumentais e in-formações sobre a rede de parcerias e deconvênios realizados, no sentido de poten-cializar as ações de inserção de jovens do CSJno mercado de trabalho;

f. realizar convênios macro e alianças estratégicascom o setor produtivo local, esferas de governoe sociedade civil;

g. articular parcerias entre assessoria técnica, cré-dito jovem, tutoriais no mercado via responsa-bilidade social para viabilizar os empreendi-mentos juvenis que emergirão do ConsórcioSocial da Juventude;

h. realizar um grande evento para a entrega doTroféu Visão Social e divulgação das ações doPNPE/CSJ em Fortaleza, região metropolitanae interior;

i. organizar e articular as reuniões do ConselhoConsultivo do CSJ em Fortaleza e região metro-politana, em parceria com a coordenação dearticulação institucional, bem como potencia-lizar parcerias com seus integrantes;

j. estruturar um sistema de informações sobre omercado de trabalho para jovens e um bancode empregos juvenis em rede (Rede Fortalezade Trabalho Jovem). Vale ressaltar que a articu-lação sinérgica da rede cearense de inserçãosocial de jovens pelo trabalho, formada pelasentidades executoras, o Conselho Consultivoe os parceiros, foi de extrema importância parao êxito das ações.

A Coordenação Geral da Agir facilitou os pro-cessos globais das quatro áreas estratégicas daagência: telemarketing e agentes de inserção; pro-cessos seletivos e talentos juvenis; empreendedo-rismo juvenil e monitoramento e contratos. Durantea execução do projeto de qualificação, psicólogasda Agir realizaram oficinas de mapeamento detalentos juvenis e de orientação profissional, atin-gindo 1,2 mil jovens participantes do CSJ. A aproxi-mação CIMT/AGIR e entidades executoras facilitouo processo de conquista de novas empresas par-ceiras, que possibilitaram o alcance da meta de in-serção. A transferência da tecnologia social de in-serção laboral às ONGs executoras, por intermédiode programas específicos de capacitação e encon-tros propositivos, bem como o monitoramento de

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resultados, contribuíram para a eficácia do projeto.A disseminação da Agir junto aos jovens do CSJ2006 foi outro aspecto relevante no processo deinserção. Vários jovens, antes de serem encami-nhados para as seleções nas empresas, foram orien-tados pela equipe técnica de recrutamento e seleçãoda Agir, preparando-se melhor para enfrentar osdesafios do mercado de trabalho.

A Coordenação da Área de Mercado de Trabalhoe Inclusão Social do Consórcio Social da Juventudeno Ceará atuou sob a égide da dinâmica funcionalda Agir, isto é, constituindo uma agência detrabalho juvenil e articulando-a em rede com asentidades executoras e parceiros, de modo apropiciar oportunidades de inserção laboral dosjovens participantes. A estrutura de funcionamentoapresentou a configuração explicitada a nos itensseguir.

5.1. Coordenação de talentos juvenis(recrutamento e seleção)

• acompanhar o desenvolvimento humano daequipe da Agir;

• capacitar as entidades executoras e instru-mentá-las com fluxos de processos de recruta-mento e seleção, ficha de abertura de vaga,ficha de acompanhamento do desenvolvi-mento do aluno;

• visitar os projetos das executoras e do Ateliêda Juventude (1.740 jovens), realizando oficinasde orientação profissional e preenchendo aficha de talentos juvenis;

• visitar o setor de RH de empresas e instituiçõesque atuam no Ceará;

• articular, por meio de uma força-tarefa, visitasdos jovens às empresas com a possibilidadede assistirem a palestras ministradas pelosprofissionais de RH;

• realizar tour pelos projetos com os parceirose/ou visitas do RH (principalmente de quemfaz seleção) das empresas aos projetos;

• gerenciar banco de dados;

• otimizar os processos seletivos;

• realizar monitoramento pós-inserção;

• sistematizar o arquivamento dos contratos,alimentando o mapa de inserção.

5.2. Assessoria de gestão

• mapear demandas dos setores;

• dar suporte à execução dos processos internose de interface entre as coordenações e as enti-dades executoras;

• facilitar a comunicação entre a Coordenaçãoda Área de Mercado de Trabalho e InclusãoSocial e as coordenações do ateliê;

• facilitar a comunicação interna;

• produzir relatório mensal de resultados porsetores (telemarketing, agentes de inserção,recrutamento e seleção, monitoramento/ bancode dados);

• gerenciar o relacionamento com e entre osagentes de inserção das entidades executoras.

5.3. Agentes de telemarketing

• planejar estratégias de marketing;

• prospectar listas/ Internet / base de dados deempresas e instituições;

• divulgar o CSJ e suas modalidades de inserção;

• agendar visitas para os agentes;

• difundir uma visão de responsabilidade socialjunto a empresas e instituições contatadas;

• elaborar relatórios semanais de empresas/instituições contatadas;

• planejar ligações;

• dar retorno das visitas realizadas pelos agentesde inserção;

• manter um marketing de relacionamento;

• elaborar campanha script / fax-campanha/e-mail-campanha;

• divulgar relatório de vagas captadas X jovensinseridos a partir da ação do telemarketing.

5.4. Agentes de promoção social do trabalho(agentes de inserção)

• analisar os cursos/ perfil de jovens x prospecçãode mercado;

• manter carteira de empresas e instituiçõesparceiras;

• promover marketing de relacionamento;

• cumprir meta de adesões (termo de adesão) eabertura de vagas (ficha de abertura de vagas);

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TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIADE UM CONSÓRCIO DE ONGS NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÃO INTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNO

• divulgar os resultados (jovens inseridos);

• planejar visitas;

• produzir relatório semanal de empresas e insti-tuições visitadas;

• visitar as entidades executoras;

• promover campanha de responsabilidadesocial;

• apresentar relatório mensal de empresas visita-das X vagas captadas X jovens inseridos.

5.5. Articulação interinstitucional

• realizar convênios e protocolos de parcerias;

• promover articulação macro com instânciaspúblicas e grandes empresas;

• direcionar articulação para captação de vagas;

• cumprir meta mensal de convênios de adesão;

• apresentar relatório mensal de articulaçõesrealizadas X jovens inseridos.

5.6. Monitoramento e contratos

• acompanhar processos seletivos;

• elaborar contratos;

• sistematizar o arquivamento de contratos;

• dar suporte às operações de recrutamento eseleção;

• monitorar o desempenho de inserção dasentidades executoras;

• monitorar os jovens inseridos.

5.7. Banco de dados

• consolidar relatórios de visitas mensais poragentes X vagas captadas X número de jovensinseridos;

• consolidar mapa de empresas visitadas xempresas que assinaram o termo de adesão Xempresas que contrataram jovens;

• consolidar produtividade da área de recruta-mento e seleção: número de jovens inseridosX vagas captadas X número de jovens encami-nhados;

• consolidar mapa de inserção das entidadesexecutoras;

• consolidar o mapa geral de inserção que seráenviado ao Ministério do Trabalho e Emprego;

• alimentar o banco de dados de empregadores;• gerenciar o banco de dados dos jovens (com

perfil socioprofissional e foto digitalizada).

5.8. Empreendedorismo juvenil

• assessorar as entidades executoras que traba-lham com empreendedorismo;

• conceber estratégias de inserção e estímulo àelaboração de planos de negócio;

• articular crédito e acesso ao mercado;

• captar oportunidades de trabalho por meio daprestação de serviços.

Entre as importantes ações de articulação empre-endidas, destacam-se os significativos convêniosassinados pela Agir na perspectiva da colaboraçãointersetorial, abrangendo associações empresariais,institutos com foco no encaminhamento de jovenspara o mercado de trabalho e governos estadual emunicipal. Estas ações oportunizaram vagas de quali-ficação técnica com experiência laboral e contrataçãocomo jovens aprendizes, além de vagas para estágiosocial, fundamentais para o êxito do projeto.

Outro fator importante a ser considerado é o apoiode grandes e médias empresas que atuam no Cearáao Consórcio, por intermédio da inserção laboral dosjovens qualificados, fruto do empenho dos agentesde inserção e da ação estratégica da Coordenaçãoda Área de Mercado de Trabalho e Inclusão Social.

Um aspecto importante da inserção laboral dejovens em situação de pobreza e sem experiência é apossibilidade concreta da abertura de portas para omercado de trabalho por meio do estágio social. Em2006, o CSJ inseriu 196 jovens por intermédio destamodalidade de ocupação. O estágio social possibilitaaos jovens o desenvolvimento de competências ad-quiridas durante a qualificação profissional, haven-do oportunidades concretas de efetivação após otérmino do contrato de estágio.

O estágio configura-se como um conjunto deatividades de caráter técnico, social e cultural. Aosestudantes, proporciona a aplicação dos conheci-mentos teóricos, por meio da vivência em situaçõesreais do exercício de uma profissão. É um períodoindispensável para a sua qualificação como futurosprofissionais, permitindo integrar a teoria à prática.O estágio tem por finalidade possibilitar ao aluno

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Silvia Pires Bastos Costa e Francisco Antônio Barbosa Vidal

conhecer a disciplina do trabalho coletivo em direçãoa um objetivo comum, observando o que é feito epor que, pensando em tudo o que deveria fazer,descobrindo a admiração, as grandezas e as adversi-dades das relações do mercado de trabalho. O pro-grama de estágio para estudantes de escola públicado Ensino Médio está fundamentado nos seguintesdocumentos legais: Lei nº 6.494, de 07/12/1977;Decreto nº 87.497, de 18/08/1982; Decreto nº89.467, de 21/03/1984; Ofício Circular SRT nº 11/85, de 09/09/1985; Decreto nº 914, de 06/09/1993,Medida Provisória de 1998, Lei nºo 8.859, de 23/03/1994, Resolução CNE/CEB, de 21/01/2004; e Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394,de 20 de dezembro de 1996).

O estágio social é, para a empresa, uma oportu-nidade de desenvolver a sua responsabilidade socialpor meio da inserção de jovens no mundo do tra-balho. É também uma forma de recrutar jovens talen-tos. A atividade permite que a organização antecipea preparação e a formação de um quadro qualificadode recursos humanos, preparando-se para os desafiosdo futuro. Além disso, com a concessão do estágio,a organização cria e mantém um espírito de reno-vação e oxigenação de seus recursos humanos.

O estágio, na perspectiva social e do desenvol-vimento humano, propicia ao jovem experimentaçãoprática, levando-o a assumir a responsabilidade porfazer com que as coisas aconteçam, em conjuntocom os outros. Assim, o jovem ganha confiança emsi mesmo e conquista a confiabilidade dos colegas.Há a convergência de habilidades, conhecimentos eprocedimentos metodológicos, tendo em vista aconstrução social de seu desempenho profissional.

Um crescimento significativo de inserção dosjovens egressos do CSJ 2006 aconteceu na modali-dade emprego formal: foram 294 aprendizes e 95empregos formais, totalizando 389 jovens com car-teira assinada. Somando-se à modalidade de estágio,são 587 jovens sem experiência, tendo o seu primeirocontato com o mercado de trabalho formal. Na mo-dalidade FAGR (formas alternativas de geração detrabalho e renda: empreendedorismo informal, eco-nomia solidária), 136 jovens conseguiram inserçãolaboral mediante o trabalho por conta própria.

O empreendedorismo juvenil e as formas alterna-tivas de geração de renda são caminhos efetivos para

a inserção laboral de jovens, mas exigem, para a suaeficácia, um aparato sistêmico de políticas públicas esuportes estruturantes (crédito, acesso a mercado,sustentabilidade).

No ano de 2006, as seguintes ocupações delinea-ram a inserção laboral na modalidade FAGR: costurae customização de roupas, marcenaria, alimentação,serigrafia, surfwear, produção cultural, agricultura episcicultura. A formação de cooperativas e a constitui-ção formal de grupos associativos de produçãocompostos por jovens foi um avanço observado nestamodalidade de inserção em relação ao ano anterior.

As seguintes atividades foram realizadas pelaCoordenação de Empreendedorismo Juvenil da Agir:

• reuniões com as entidades executoras paratransferência de conhecimentos sobre empreen-dedorismo juvenil;

• visitas às entidades e suporte aos grupos pro-dutivos;

• envio de manual de orientações e checklist decomprovações e exigibilidades na área da FAGR;

• realização de seminários estruturantes;

• consultoria aos grupos produtivos formados porjovens;

• articulação para obtenção de crédito e acessoao mercado.

A Agir apresentou as seguintes áreas processuais,durante seu funcionamento no CSJ-2006, discrimi-nadas nos itens abaixo.

I – Mercado e parcerias

Foco: abrangência de empresas/instituições.

Ações:

a) prospecção, banco de dados/cadastro de em-presas e instituições e agenda de captação;

b) capacitação/nível motivacional dos agentes edas operadoras de telemarketing;

c) conhecimento dos agentes sobre perfil doscursos/jovens: captação direcionada ou deoportunidades; parceria mais próxima com osprojetos;

d) articulação com o mercado/ capilaridade eabrangência; estratégias de captação de vagaspela Internet/ integração de parceiros;

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TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIADE UM CONSÓRCIO DE ONGS NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÃO INTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNO

e) avaliação mensal de desempenho.

Documentos:

• termo de adesão e/ou associação;

• ficha de abertura de vaga;

• kit de divulgação;

• mapa de visitas;

• relatório mensal de desempenho dos agentes:número de empresas visitadas, adesões realiza-das, vagas captadas, jovens inseridos;

• termos de parceria;

• modelos de convênio;

• carta de solicitação de parcerias.

II – Articulação em rede com as ONGs exe-cutoras

Foco: impulsionar captação de vagas.

Ações:

a) seminário introdutório;

b) capacitação dos agentes;

c) reunião de planejamento;

d) realização de agenda propositiva;

e) reuniões mensais de acompanhamento;

f) consultoria;

g) agenda de visitas em parceria.

Documentos:

• manual de inserção/plano de inserção.

III – Banco de dados, recrutamento e seleção

Foco: atuação em rede, eficiência, qualidade,capilaridade.

Ações:

a) formação de multiplicadores em R&S nas ONGsexecutoras, bem como aporte de técnicas demonitoramento de jovens inseridos/relacio-namento com parceiros;

b) empoderamento juvenil por meio das OPs(oficinas de orientação profissional)/ entregade cartilhas de orientação para o mercado detrabalho;

c) implantação de um sistema de recrutamentoe seleção em rede com as ONGs executoras;

d) filtro de empresas que adotam práticasantiéticas;

e) banco de talentos juvenis;

f) orientação às ONGs, no sentido de aportaremtecnologias de empoderamento juvenil edesenvolverem simulações preparatórias paraprocessos de R&S;

g) integração dos processos de R&S do Consórcioem rede com as ONGs aos processos de seleçãodas empresas/instituições que ofertam vagas;

h) desenvolvimento de tecnologia de recruta-mento e seleção de talentos juvenis;

i) adoção de práticas de excelência no relacio-namento com empresas, agregando valor,transferindo competências, habilidades ecapital intelectual;

j) acompanhamento dos jovens inseridos.

Documentos:

• ficha de abertura de vaga;

• ficha de desenvolvimento socioprofissional dojovem/ mapa de talentos;

• mapa de processos seletivos (eficiência eeficácia);

• mapa de acompanhamento dos jovens inseridos.

IV – Empreendedorismo juvenil

Foco: captar oportunidades em curto prazo.

Ações:

a) integração entre políticas/ articulação com oCTA (Centro do Trabalhador Autônomo) doSine1;

b) captação de oportunidades para trabalho autô-nomo, acesso a mercado e a crédito paraempreendimentos juvenis individuais e/oucoletivos;

c) consultoria às ONGs executoras/pré-incubação/plano de negócio;

d) realização de Seminário de EmpreendedorismoJuvenil;

e) definição de comprovação de inserção;

f) consultoria de grupo com os jovens partici-pantes de projetos de empreendedorismo;

g) central de serviços/ locação em rede.

1 Sistema Nacional de Empregos.

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29Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

Silvia Pires Bastos Costa e Francisco Antônio Barbosa Vidal

Documentos:

• relatório de desempenho mensal dos projetos;

• quadro de captação de oportunidades;

• instrumentais: comprovações das FAGR juntoao MTE.

Os principais eventos realizados pela Agir, em2006, com foco em ações intersetoriais, foram osseguintes:

• participação, por meio de stand e palestras sobretrabalho juvenil, em congressos/eventos locais;

• realização da Reunião do Conselho Consultivodo Consórcio Social da Juventude de 2006, cons-tituído por representantes do governo, de em-presas e da sociedade civil;

• realização do Seminário de Inserção para asONGs executoras;

• realização de curso de formação de agentes deinserção;

• realização do Seminário sobre Recrutamento eSeleção, com a participação das entidadesexecutoras;

• promoção da II Reunião do Conselho Consultivoe anúncio dos Embaixadores da Juventude2006;

• solenidade de entrega do Troféu Visão Social a36 empresas que inseriram mais de cinco jovensdo CSJ e do certificado Empresa Cidadã a 230empresas que inseriram até quatro jovens. Oevento contou com a participação de mais de500 convidados.

Uma estratégia utilizada pelo CSJ 2006/Cimt/Agirpara incentivar as empresas a contratarem jovensegressos do CSJ e estabelecerem parcerias foi a reali-zação da segunda edição do Troféu Visão Social e anominação dos Embaixadores da Juventude.

O Troféu Visão Social é o reconhecimento públicoaos empresários e gestores que acreditaram naresponsabilidade social e participaram do programa.Cada empresário foi homenageado por ter inseridocinco ou mais jovens no mercado de trabalho cea-rense. Foram empresas que, cientes de seu papel paraa melhoria da qualidade de vida da sociedade, tiveramvisão e aderiram à responsabilidade social.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar e implementar uma política seletiva depromoção do emprego é uma das tarefas principaisdo Consórcio Social da Juventude, em virtude do perfildos jovens atendidos (egressos do sistema penal,jovens em cumprimento de medidas socioeducativas,portadores de deficiências, negros e indígenas).

A inserção no mercado de trabalho, particular-mente para os jovens em situação de vulnerabilidadesocial, exigiu a adoção dos seguintes princípios me-todológicos:

• favorecimento à elevação da escolaridade:estimular o jovem a investir no seu processo deaprendizagem, possibilitando momentos de diá-logo, acompanhamento e articulação de políti-cas públicas de elevação de escolaridade. É fun-damental para a inserção dos jovens no mercadode trabalho;

• complementaridade com projetos de inclu-são social: o jovem a ser inserido, em virtudede sua particularidade social, deve ser estimuladoa participar de outros projetos governamentaisou não de inclusão social, ampliando assim achance real de superação da miséria e pobreza.O engajamento da família e a interface com ou-tros programas de transferência de renda é im-portante neste processo de elevação da auto-estima e cidadania;

• articulação em rede: a inserção torna-sefactível em virtude da capacidade de ampliar econsolidar uma rede de relacionamento comempresas e instituições sociais, assim como umapolítica integrada de diversos programas e pro-jetos de geração de trabalho e renda, particu-larmente aqueles dirigidos aos jovens;

• indução ao desenvolvimento pessoal eprofissional: o jovem precisa ser estimulado adesenvolver uma visão de futuro, ou seja, aformular um projeto de vida. A definição de umplano de desenvolvimento pessoal e profissional,orientado por profissionais, é um instrumentoessencial para tratar o processo de inserção dosjovens como uma perspectiva libertária.

A principal estratégia de inserção no mercadode trabalho dos jovens atendidos pelo Consórcio

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30 Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

TECNOLOGIA SOCIAL DE INCLUSÃO DE JOVENS PELO TRABALHO: UMA ANÁLISE DA EXPERIÊNCIADE UM CONSÓRCIO DE ONGS NO DESENVOLVIMENTO DE AÇÃO INTERSETORIAL COM EMPRESAS E GOVERNO

Social consistiu em fortalecer e consolidar a Agir(Agência de Inserção em Rede), criada pela entidadeâncora para aportar conhecimento, tecnologia earticulações empresariais ao Consórcio Social. Aconstituição dos agentes de inserção e de articulaçãode parcerias fortaleceu a identificação e a captaçãode vagas no mercado de trabalho. Esses agentesconstituem-se num canal permanente e siste-matizado de diálogo com o empresariado, tornandomais produtiva e eficaz a colocação dos jovensqualificados.

REFERÊNCIAS

Observou-se, com o estudo de caso delineado,que sistematizou por intermédio da pesquisa-açãoinstitucional (diagnose e conexões) a memória e aexperiência de uma tecnologia social de inclusão dejovens em situação de pobreza no mercado de tra-balho através de articulações intersetoriais, queexperiências de promoção humana capitaneadas peloTerceiro Setor colaboram para a efetividade de polí-ticas públicas, comprovando que a colaboração inter-setorial governo-ONGs-empresas é o caminho parao desenvolvimento social com cidadania.

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Veronica Favato e Pablo Rogers

ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:

UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE

FINANCIAMENTO

CAPITAL STRUCTURE IN LATIN AMERICA AND UNITED STATES:AN ANALYSIS

OF ITS DETERMINANTS AND EFFECT OF FINANCIAL SYSTEMS

ABSTRACTRESUMO

Esse artigo tem como objetivo investigar, em nívelmicroeconômico, a influência de atributos teóricosrelevantes, sugeridos pela Pecking Order Theory (POT)e pela Static Tradeoff Theory (STT), sobre a estruturade capital das empresas na América Latina e nos EstadosUnidos. Concomitantemente, em nível macroeco-nômico, busca-se analisar o efeito dos sistemasfinanceiros sobre a estrutura de capital das empresas.Foram consideradas, no estudo, 769 empresas não-financeiras de capital aberto de cinco países – Ar-gentina, Brasil, Chile, México e Estados Unidos –, comdados retirados do sistema Economática® no períodocompreendido entre 1996 a 2005. A partir de trêsvariáveis de endividamento, foram estimados modelos,por meio dos Mínimos Quadrados Ordinários comerros padrão consistentes à heteroscedasticidade,conforme White, relacionando variáreis proxies inde-pendentes dos atributos investigados e uma dummy,com intuito de mensurar o impacto dos sistemas definanciamento sobre a estrutura de capital. Em linhasgerais, os resultados obtidos corroboram o forteimpacto dos sistemas de financiamento, e algumashipóteses da POT e da STT em relação à influência dotamanho da empresa, a oportunidades de crescimento,à tangibilidade dos ativos, à lucratividade e aos riscosenvolvidos sobre a estrutura de capital das empresasna América Latina e nos EUA.

Palavras-chave: estrutura de capital, financiamento,América Latina.

This article aims to investigate in a microeconomiclevel, the influence of relevant theoretical attri-butes, suggested by the Pecking Order Theory(POT) and the Static Tradeoff Theory (STT), on thecapital structure of companies in Latin Americaand the United States. Accordingly, in a macro-economic level, it seeks to examine the effect offinancial systems on the capital structure of com-panies. 769 non-financial open capital companiesfrom five countries were considered: Argentina,Brazil, Chile, Mexico and the United States, withdata from the Economatica® system in the periodfrom 1996 to 2005. Based on three variables ofdebt models were estimated, through the OrdinaryLeast Squares, with the standard errors accordingto White´s heteroscedasticity, relating proxy va-riables independent from the attributes and adummy in order to measure the impact of thefinancial systems on the capital structure. The re-sults corroborate the strong impact of the financialsystems, and some cases of POT and STT relatedto the size of the company, opportunities to grow,asset tangibility, profitability and risks involved onthe capital structure of companies in Latin Americaand USA.

Keywords: capital structure, financing, LatinAmerica.

Recebido em: 07/07/2008

Aprovado em: 15/10/2008

Endereços dos autores:

Veronica FavatoRua Frei Caneca 348, ap. 74, Consolação - CEP 01307-000 - São Paulo-SP - e-mails: [email protected] ou [email protected]

Pablo RogersRua Rondon Pacheco, 4.315 - Bloco D - Apto 302, Conj. Bandeirantes - CEP 368400-766 - Uberlândia-MG - e-mail: [email protected]

Veronica FavatoMestre em Administração - Universidade Federal de Urbelândia

Pablo RogersProfessor na área de Finanças e Econometria da Faculdade de Gestão e Negócios da Universidade Federal de Uberlândia

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ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

1. INTRODUÇÃO

Estrutura de capital é uma área extremamentecontroversa em finanças. Pesquisas nos últimos 40anos, baseadas no Modelo Tradicional, no Modelode Modigliani & Miller (MM), na Pecking Order Theory(POT) e na Static Tradeoff Theory (STT), gerarampoucas orientações sobre como escolher entre debte equity. A despeito da polêmica em torno da exis-tência de uma estrutura ótima de capital, embateeste travado principalmente entre o Modelo Tradi-cional e o Modelo de MM, a abordagem produzidapela POT e pela STT sugerem que as empresas es-colhem sua estrutura de capital de acordo com deter-minados atributos teóricos relevantes, tais como ta-manho da empresa, oportunidades de crescimentodo negócio, tangibilidade dos ativos, lucratividade eriscos envolvidos, entre outros. A relevância dessesatributos sobre a decisão de financiamento derivados impactos que eles seriam capazes de exercersobre os custos e benefícios associados à emissão deações ou de dívida. Dessa forma, não haveria umaestrutura de capital ótima, mas uma estrutura decapital mais apropriada a cada perfil de empresa.

Além do impacto destes determinantes em cadaempresa, ainda existem fatores indutores do endivi-damento, inerentes à especificidade de cada país,condicionados aos modelos de financiamento especí-ficos, sejam eles baseados em crédito, sejam no mer-cado de capitais. Ressalta-se, ainda, para cada modelode financiamento, o papel dos governos quanto aosincentivos e às restrições de crédito, além do interessecrescente, perante privatizações, crises de dívida eglobalização dos mercados financeiros, emdesenvolver o mercado de capitais, particularmentenos países em desenvolvimento. Assim, a questãomicroeconômica dos fatores que definem as escolhasdas empresas com relação à sua estrutura de capitalnão pode estar desvinculada da questão macro-econômica, sobre a escolha do modelo mais eficientede sistema financeiro a fim de promover o desenvol-vimento econômico.

A maior parte dos trabalhos empíricos tem seconcentrado em países desenvolvidos, em particular,nos Estados Unidos. Neste artigo, discute-se a tam-bém a estrutura de capital na América Latina e con-fronta-se o papel dos sistemas financeiros comodeterminantes da estrutura de capital em alguns paí-ses da região e nos Estados Unidos. Os países da

América Latina são particularmente interessantes,pois, além de serem economias em desenvolvimento,atravessaram ambientes macroeconômicos diferentesem um período de tempo relativamente curto. Se oambiente econômico é importante para as decisõesde estrutura de capital, é provável que a AméricaLatina tenha sentido tais efeitos.

Assim, o artigo tem como objetivo responder àsseguintes questões: (1) em nível microeconômico– qual a influência dos determinantes de estruturade capital na América Latina e nos Estados Unidos?;(2) em nível macroeconômico – qual o impactode diferentes sistemas financeiros sobre a estruturade capital de cada país?

A próxima seção é dedicada à fundamentaçãoteórica por detrás do estudo. A metodologia é enfo-cada na seção três, onde são explicitados a amostrae os aspectos metodológicos utilizados. Na seçãoquatro, são abordados e analisados os resultados doestudo. Finalmente, na seção cinco, são apontadasconclusões do estudo.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com o ponto de vista do Modelo Tradi-cional, uma combinação ótima de capital de terceirose capital próprio pode ser obtida e deve ser buscadapelas empresas como forma de maximizar seu valorde mercado. A maximização de valor opera-se pormeio da minimização do custo total do capital empre-gado pela firma para financiar suas atividades. Durand(1952) foi um dos pioneiros na investigação destaspossibilidades. Segundo ele, se os investidores con-cordarem com um método de precificação da empre-sa baseado em seu fluxo de caixa esperado, trazidoa valor presente, será possível, mantido constante ofluxo de caixa esperado, aumentar o valor da firmapor intermédio da redução da taxa de desconto, ouseja, do custo de oportunidade do capital empre-gado. Entretanto, ele admitiu não ser necessariamen-te possível reduzir o custo do capital por meio demudanças nas proporções de capital próprio e deterceiros no passivo da empresa.

Contrapondo-se ao modelo de Durand (1952),Modigliani & Miller (1958 e 1959) contribuíram parao entendimento de questões relacionadas ao financia-mento. Sob as hipóteses de um mercado perfeito

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Veronica Favato e Pablo Rogers

(ausência de custos de falência, todas as empresassituam-se na mesma faixa de risco, ausência de tribu-tação pessoal, ausência de crescimento dos fluxosde caixa nas empresas, ausência de assimetria deinformações e custos de agência), não existiria umaestrutura de capital ótima, ou seja, todas as combina-ções possíveis entre dívida e capital próprio levariama empresa ao mesmo custo médio ponderado decapital e ao mesmo valor.

Entretanto, havendo a dedução dos juros no im-posto pago, o valor de mercado de uma empresacresceria à medida que ela se endividasse, já que oaumento do endividamento implicaria em aumentodo benefício fiscal apurado. Assim, todas as empresasdeveriam financiar-se unicamente com recursos deterceiros. Modigliani & Miller (1963) reconheceram,em trabalho posterior, que, quanto maior for o graude endividamento, maior a economia de imposto derenda, e, portanto, maior o valor da empresa.

Adicionalmente, coloca-se que, na prática, a assi-metria de informações afeta as escolhas entre finan-ciamento externo e interno, e entre emissão de ações(equity) e empréstimos (debt). Estas escolhas sãoabordadas pela Pecking Order Theory (POT), inicial-mente mencionada por Myers (1984). Em seu artigo,Myers (1984) tentou identificar o que leva as empre-sas a estabelecer sua estrutura de capital. Ele contra-pôs duas correntes: a primeira, chamada de StaticTradeoff Theory (STT), a qual supõe que a empresapossui uma meta de endividamento e caminha emsua direção, e a POT, pela qual toda empresa segueuma seqüência hierárquica de financiamento.

Na abordagem de STT, tal meta seria estabelecidacomo resultado do confronto entre o custo e o bene-fício da dívida, onde o custo de falência se contra-poria ao benefício fiscal. Por essa teoria, vários testesforam realizados, na tentativa de se encontrarem pos-síveis determinantes da meta de endividamento.Titman & Wessels (1988) testaram diversas variáveis,tais como lucratividade, benefícios fiscais, composiçãodos ativos, oportunidades de crescimento, diferen-ciação de produtos, segmento industrial, tamanho evolatilidade dos lucros (risco). Como resultado, asvariáveis não explicaram as estruturas escolhidas. Ape-nas lucratividade e diferenciação explicaram baixosníveis de endividamento. Também foi constatado queempresas menores têm maior dificuldade em con-

seguir recursos de longo prazo; assim, o tamanhodefiniu a escolha entre endividamento de curto elongo prazo.

Já na abordagem de POT, ao estabelecer suaestrutura de capital, a empresa segue uma seqüênciahierárquica de financiamento. Inicialmente, a empre-sa daria preferência ao financiamento interno, por meioda utilização de lucros retidos. Caso necessite definanciamento externo, a seqüência seria da emissãode debêntures e títulos conversíveis (endividamento),antes de optar pela emissão de ações. Assim, asempresas mais lucrativas são menos endividadas, poispodem financiar seus novos projetos sem ter que seendividar ou emitir ações. A relutância em emitir novasações deve-se, principalmente, à sua subprecificaçãopelo mercado, pela menor informação detida pelosinvestidores potenciais, em relação aos administra-dores, sobre os fluxos esperados pelos ativos daempresa, ou seja, pela assimetria de informações. Asubprecificação levaria ao subinvestimento, uma vezque, caso ocorresse a emissão de ações a preçosdesfavoráveis aos acionistas correntes, haveria umatendência de transferência de riqueza dos investidoresantigos para os novos. Esse problema poderia sercontornado, caso a empresa utilizasse recursos geradosinternamente, como os lucros retidos.

A STT e a POT divergem em seus preceitos básicos,quanto aos determinantes da estrutura de capital deuma empresa: lucratividade, tangibilidade dos ativos,oportunidades de crescimento, tamanho da empresae riscos do negócio.

Para a STT, maiores lucros levam a um maiorendividamento, devido ao benefício dos juros dedu-tíveis do imposto. Isto é o oposto do que determinaa POT, em que maiores lucros levam à diminuição doendividamento, já que esses lucros, caso não sejamdistribuídos, se tornam a melhor fonte de geraçãode recursos. Assim, a STT prevê uma relação positivaentre lucratividade e endividamento, enquanto quea POT prevê o contrário.

Quanto à tangibilidade dos ativos, espera-se queempresas com ativos mais tangíveis apresentem maiornível de endividamento, devido à possibilidade deestes ativos serem utilizados como garantia paraempréstimos. Logo, o sinal esperado para essa variávelé positivo para a STT. Já para a POT, empresas compoucos ativos fixos teriam maiores problemas de

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ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

assimetria de informações, levando-as a se endivi-darem mais, já que a emissão de ações somente seriapossível com a subprecificação das mesmas. Já em-presas com elevados valores nesta variável sãogeralmente maiores, que conseguem emitir ações apreços justos, não necessitando recorrer à emissãode dívidas para financiar seus investimentos. Assim,a relação esperada, segundo a POT, é negativa.

Sobre as oportunidades de crescimento, arelação esperada pela STT é negativa, uma vez queníveis elevados de endividamento poderiamcomprometer o crescimento futuro esperado. Para aPOT, firmas com grandes oportunidades de cresci-mento tenderiam a manter um nível de endivida-mento baixo para não prejudicarem sua capacidadede crédito. Entretanto, este crescimento requer inves-timentos que normalmente são feitos com contraçãode novas dívidas. Assim, as oportunidades de cres-cimento, para a POT, poderiam ter uma relação posi-tiva ou negativa com o nível de endividamento.

Sobre o tamanho, a STT define que, quanto maiora empresa, maior a possibilidade de se endividar, poismenor é a probabilidade de falência. Empresas maio-res são mais diversificadas, com melhor reputação emenores custos de assimetria de informações. Portan-to, há uma relação, segundo a STT, positiva entre otamanho da empresa e seu nível de endividamento.Já para a POT, quanto maior a empresa, mais sujeita

aos efeitos de seleção adversa, devido às suas maioresinstalações. Entretanto, a assimetria de informaçõesé menor para empresas maiores, induzindo-as a obtermaior endividamento.

Quanto ao risco, empresas que apresentam menorvolatilidade em seus resultados deveriam ser menospropensas a dificuldades financeiras, o que tornariamais barato o custo do endividamento, e portanto, astornariam mais propensas à contração de dívidas. ParaMyers (1984), firmas com maior risco tenderiam amenores empréstimos, devido aos custos de falênciainerentes ao negócio. O Quadro 1 resume a relaçãode cada uma dessas variáveis com a estrutura de capital,de acordo com a STT e a POT, e apresenta algumasevidências empíricas no Brasil e no mundo que acorrobora.

Entretanto, não só fatores microeconômicos,específicos de cada firma, influenciam a estrutura decapital. Demirgüç-Kunt & Maksimovic (1996) explora-ram empiricamente os efeitos do desenvolvimentodos mercados financeiros sobre as escolhas definanciamento das firmas. Eles compararam a relaçãoentre as escolhas de estrutura de capital da firmacom o desenvolvimento do mercado financeiro emcada país. Assim, a estrutura de capital é influenciadapor fatores macroeconômicos, nível de desenvol-vimento dos mercados financeiros e fatores espe-cíficos a cada firma.

Quadro 1: Relação entre o endividamento e os determinantes de estrutura de capital segundo a Pecking Order

Theory (POT) e a Static Tradeoff Theory (STT)

Teoria STT POT

Variável Relação Autores Relação Autores

Myers (1984), Donaldson

Lucratividade Positiva Marsh (1982) Negativa (1961), Brealey & Myers(2000), Myers & Majluf (1984),

Soares & Procianoy (2000)

Titman & Wessels (1988), Rajan Frank & GoyalTamanho Positiva & Zingales (1995), Gomes & Negativa (2003),

Leal (1999), Scott & Martin (1975) Myers (1984)

Oportunidade Kayo & Fama (1997), Gomes & Positivade Negativa Leal (1999), McConell & ou Brealey & Myers (2000)

crescimento Servaes (1990) negativa

Tangibilidade Positiva Lumby (1991), Thies & Klock Negativa Harris & Haviv (1991)(1992), Rajan & Zingales (1995)

Drobetz & Fix (2003), Bradley, Donaldson (1961),Risco Negativa Jarrel e Kim (1984), Long & Malitz Negativa Myers (1984)

(1983), Williamson (1981)

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Veronica Favato e Pablo Rogers

Zysman (1983) associou as escolhas de estrutura decapital das firmas aos sistemas de financiamento de cadapaís, elaborando três modelos de sistema financeiro. Oprimeiro é baseado no mercado de capitais, ou seja, emequity, uma vez que o sistema bancário não mantémrelação de prazo mais longo com as firmas e não atua nomercado de capitais, que é o lugar central de alavancagemda empresa. Por intermédio dos empréstimos de curtoprazo e dos mercados de capitais, os bancos e asinstituições financeiras administram portfolios serelacionando com empresas. Visando ao retorno na formade dividendos, o investidor trabalha com um horizontede curto prazo, desenvolvendo o mercado secundário decapitais, que permite um mecanismo de exit, ou fuga decapitais rápida para investimentos de maior retorno(HIRSCHMAN, 1970). Mayer (1990) denominou esse modelocomo “anglo-saxão”, em que a atuação do governo ébastante limitada, uma vez que os benefícios e custos dofinanciamento são dados pelo mercado. Este modelo ébaseado em uma estrutura de propriedade diluída,havendo uma separação entre propriedade e gestão, alémde uma grande pressão dos mercados de capitais sobre aadministração das empresas.

O segundo é baseado em crédito, de contextofavorável à atuação do governo, que pode intervirpor meio de políticas de concessão de crédito oubenefícios fiscais, e favorecer determinado setor ouempresas individuais. Nesse modelo, os credores ten-dem a reagir procurando a alternativa de voice (HIRS-CHMAN, 1970), ou seja, aumentar o grau de controlee monitoramento dos administradores em umasituação de dificuldade financeira da empresa. É ummodelo comum na França e no Japão, onde ocorremaior concentração da propriedade e uma baixaliquidez do mercado de capitais. Os bancos desem-penham um papel importante no financiamento e nomonitoramento das grandes empresas. No Japão, obanco que possui a maior participação acionária e omaior montante de dívidas desenvolve uma relaçãopróxima com a alta administração da empresa. Emmuitos casos, as relações com os bancos acabam sendointernas aos grandes conglomerados japoneses,denominados de keiretsu, sendo um grupo econômicoassociativo (HITT, IRELAND & HOSKISSON, 2001).

O terceiro modelo também é baseado em crédito,tendo as instituições financeiras grande poder demercado, podendo fixar preços e influenciar as em-presas através dos mercados. As finanças cumprem

um papel importante e as instituições financeiras ope-ram como aliadas do governo como base para for-mação de barganhas sociais. Este modelo está pre-sente na Alemanha, onde a estrutura patrimonial ébem mais concentrada do que nos Estados Unidos eno Reino Unido (LOPEZ-DE-SILANES, 2002).

Na América Latina, a estrutura de financiamentotem caráter incipiente, e seus mercados acionários emodelos de financiamento são baseados em crédito.Entretanto, há uma tentativa dos governos em pro-mover o mercado de capitais. Taxas de juros altas, ainstabilidade financeira, o caráter pouco desenvolvidode suas fontes externas de financiamento, a crisedas instituições de crédito do Estado e a tentativa deevitar dívidas externas levam estes países a buscarfontes via equity (SINGH, 1993).

Para Petrelli (1996), quando se analisa a capa-cidade de resposta da estrutura de financiamentode um determinado país capitalista, não se pode dizerque apenas os bancos detêm uma posição funda-mental na determinação do crescimento econômico.É preciso considerar o conjunto da estrutura finan-ceira, sendo “global”, ao fundir várias formas deriqueza que ultrapassam os limites nacionais.

A visão de Zonenschain (1998) sobre crescimentoinsustentável destaca o papel vital dos governos nocrescimento econômico, capazes de impulsionar setoresindustriais e manufatureiros através do crédito. Paraele, a experiência asiática mostra que a intervenção dogoverno na alocação de crédito pode ser impulsionadorado processo de industrialização. A Coréia, por exemplo,atingiu um crescimento “milagroso”, caracterizado porgrande intervenção governamental na alocação docrédito e na promoção das exportações.

O governo também age no sentido de impulsionaro mercado acionário. O argumento de Singh (1993) éque, nos países em desenvolvimento, têm crescido omercado acionário, desde os anos 1980, relacionadoàs políticas governamentais. A crise da dívida, asprivatizações, a procura das empresas públicas porcapitais privados, as tendências à desregulamentaçãoe à globalização explicariam o empenho dos governosem promover o desenvolvimento do mercado acionário.

Nesse ponto, permite-se o seguinte questionamento:qual modelo de financiamento seria mais adequado?Baseado no mercado de capitais ou em crédito?Segundo Zonenschain (1998), a “avaliação dos prós e

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ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

contras dos dois modelos não chega a ser conclusiva,principalmente porque o desempenho dos países queadotam cada um dos modelos não é uniforme ao longodo tempo”. Um exemplo é o caso dos países do LesteAsiático. Nestes países, o excesso de alavancagemfinanceira, seguindo o modelo baseado em crédito,resultou em taxas de crescimento econômico elevadaspor muitos anos, e com isso promoveu-se um cresci-mento tecnológico e socioeconômico rápido. Entre-tanto, o excesso de crédito também levou à instabilidadefinanceira, resultando em uma crise, o que fez comque o próprio modelo fosse contestado.

3. METODOLOGIA

Foram consideradas, no estudo, empresas de capitalaberto não-financeiras de cinco países: Argentina,Brasil, Chile, México e Estados Unidos. Utilizaram-sedados do período compreendido entre 1996 a 2005.O ano de 1995 foi excluído da análise por menor volu-me de dados no Economática®. Inicialmente, foramconsideradas 1.844 empresas, incluindo a Colômbiae a Venezuela; entretanto, as empresas desses paísesforam excluídas posteriormente por menor volume dedados. Também foram excluídas da análise empresasque não possuíam mais de quatro dados (anos) du-rante o período considerado, restando, assim, 1.283empresas. Na medida em que se foram construindoas variáveis proxies da pesquisa, notou-se que muitasinformações não estavam disponíveis, principalmenteaquelas para a construção da proxy de risco, o que,no final, fez com que ficassem apenas 769 empresas.A amostra final, selecionada de acordo com a dispo-nibilidade de informações no banco de dados utilizado,contou com 35 empresas localizadas na Argentina,154 empresas brasileiras, 87 no Chile, 59 no Méxicoe 434 nos Estados Unidos.

As variáveis foram construídas por ano, conside-rando sua posição no final do ano. Especificamenteem relação à variável risco, foram necessários dadostrimestrais para sua construção. Depois de construídasas variáveis para, no mínimo, seis, dos dez anos estu-dados, retirou-se a média dos valores, de forma a obterdados cross-section no período 1996-2005. Todas asinformações foram extraídas dos balanços patrimo-niais, demonstrações do resultado e demonstração deorigem e aplicação dos recursos apresentados pelasempresas no encerramento do exercício. Os valoresforam considerados em dólar, para efeito de homoge-

neidade de moedas entre os diferentes países. OQuadro 2 resume as variáveis consideradas na pesquisa.

Depois de obtidas as variáveis da pesquisa para cadaempresa i no ano t, procedeu-se às médias do períodopara serem usadas nos modelos. Como existem trêsproxies de endividamento, foram construídos três mo-delos. Desse modo, os modelos finais a serem estimadospara análise dos atributos influenciadores da estruturade capital resumem-se nas equações 1 a 3.

Quadro 2: Resumo das variáveis da pesquisa

Variável Descrição Conceitual

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Veronica Favato e Pablo Rogers

Os três modelos foram estimados por MínimosQuadrados Ordinários (MQO) com erros consistentesà heteroscedasticidade, conforme White. Os sinaisesperados de cada coeficiente β

k ão discutidos na

revisão da literatura e resumidos no Quadro 1. Naanálise, fez-se uso simultaneamente dos softwaresEviews 5.0 e SPSS 13.0.

4. RESULTADOS

As Tabelas 1 e 2, nessa seção, e as Tabelas 4 e 5, noapêndice, procuram evidenciar algumas estatísticasdescritivas das variáveis em análise. As tabelas dessa

seção mostram as médias e os desvios padrão dasvariáveis por países, e as do apêndice acrescentam asestatísticas de mediana, máximo e mínimo, entretantoagregadas para a América Latina e os EUA. A diferençada Tabela 1 para a Tabela 2 e da Tabela 4 para a 5, éque, nas últimas, são apresentadas as estatísticas semoutliers. Procedeu-se, depois de retiradas as médias dasvariáveis no período, à padronização pelo z-escore, eforam encontradas 29 empresas discrepantes (acimade 3 e abaixo de -3 z-escore), que estavam afetandoconsideravelmente a amostra. Como exemplo, cita-seo caso da Argentina: uma única empresa retirada baixoua média da variável END1 de 2,22 para 1,3, e o desvio

Tabela 1: Média e desvio padrão das variáveis do estudo por países (c/ outliers)

PAÍS (N)

Argentina (35) Brasil (154) Chile (87) México (59) EUA (434) Total (769)

Média Desvio Média Desvio Média Desvio Média Desvio Média Desvio Média Desvio

padrão padrão padrão padrão padrão padrão

END1 2,22 5,86 3,85 11,69 0,88 0,78 1,20 1,19 1,84 6,12 2,10 7,14

END2 0,43 0,50 0,52 1,74 0,28 0,33 0,43 0,70 0,45 0,68 0,44 0,96

END3 0,51 0,18 0,63 0,20 0,38 0,17 0,49 0,19 0,33 0,18 0,42 0,22

RISCO 0,03 0,02 0,03 0,02 0,03 0,03 0,03 0,01 0,04 0,03 0,04 0,03

LUCRAT 0,11 0,07 0,11 0,07 0,10 0,11 0,12 0,06 0,11 0,12 0,11 0,10

TAM 12,64 1,70 12,97 1,73 12,22 1,64 13,38 1,52 15,03 1,42 14,06 1,90

OPCRESC 1,02 0,27 1,09 0,85 2,26 9,46 35,71 265,51 2,26 1,54 4,54 73,60

TANG 0,53 0,25 0,42 0,20 0,53 0,18 0,48 0,19 0,34 0,23 0,40 0,23

Tabela 2: Média e desvio padrão das variáveis do estudo por países (s/ outliers)

PAÍS (N)

Argentina (34) Brasil (147) Chile (86) México (56) EUA (417) Total (740)

Média Desvio Média Desvio Média Desvio Média Desvio Média Desvio Média Desvio

padrão padrão padrão padrão padrão padrão

END1 1,30 2,20 1,88 2,67 0,91 0,72 1,20 1,01 1,48 1,72 1,46 1,87

END2 0,44 0,51 0,49 0,43 0,31 0,23 0,43 0,38 0,41 0,31 0,42 0,35

END3 0,50 0,17 0,62 0,19 0,38 0,18 0,49 0,18 0,33 0,18 0,41 0,21

RISCO 0,03 0,02 0,03 0,02 0,03 0,01 0,03 0,01 0,04 0,02 0,04 0,02

LUCRAT 0,11 0,07 0,11 0,07 0,11 0,06 0,12 0,06 0,13 0,07 0,12 0,07

TAM 12,69 1,69 13,01 1,73 12,25 1,63 13,39 1,54 15,07 1,33 14,10 1,87

OPCRESC 1,02 0,28 1,09 0,86 1,24 0,43 1,13 0,36 2,17 1,34 1,72 1,21

TANG 0,53 0,26 0,42 0,20 0,53 0,18 0,48 0,20 0,35 0,23 0,41 0,23

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ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

padrão de 5,86 para 2,20 (Tabelas 1 e 2). As variáveismais afetadas com as informações discrepantes foramEND1 e OPCRESC: sendo em relação à primeira aArgentina e o Brasil os países mais afetados, e emrelação à segunda o México. Nos EUA, houve o maiornúmero de empresas outliers (17). Devido à significativainfluência dos outliers, analisam-se descritivamente asvariáveis de endividamento apenas das Tabelas 2 e 5.

As médias das variáveis de endividamento daTabela 2 evidenciam, de uma forma geral, que o Brasilé o país com maior índice de endividamento, seguidopor Argentina e México na América Latina. No conti-nente latino-americano, o Chile é o país com menoríndice de endividamento, sendo que, em relação àvariável END3, torna-se comparável ao EUA. Apenasem relação à variável END1 os EUA apresentam altaparticipação de terceiros: em relação a essa variável,os EUA fica abaixo somente do Brasil. Quando seconsidera a variável END3, os EUA apresentam o me-nor índice de endividamento, seguidos por Chile, Mé-xico/Argentina e Brasil. A explicação mais contunden-te dos menores valores da variável END3 para o Chilee os EUA são os altos valores de mercado das em-presas no período em análise, principalmente devidoà melhor performance econômica desses países.

Quando se comparam apenas a América Latina eos EUA (Tabela 5), nota-se que, em relação as variáveisde endividamento, (a) a média e mediana da variávelEND1 dos EUA é ligeiramente maior que da AméricaLatina, entretanto os EUA possuem desvio padrão eamplitude menor; (b) as médias da variável END2 eEND3 da América Latina são maiores do que dos EUA.Sobre as outras variáveis, identifica-se, em relação àsmédias e medianas, que as empresas norte-americanaspossuem maior risco, lucratividade, tamanho, oportu-nidades de crescimento e menor tangibilidade.

A Tabela 3 apresenta os modelos estimados apartir das equações 1, 2 e 3. Inicialmente, foram con-sideradas todas as 769 empresas; entretanto, depoisde se analisarem os resíduos padronizados numa pri-meira estimação, notou-se que havia algumas em-presas discrepantes. Desse modo, o MOD1 foi esti-mado como 743 empresas; o MOD2, com 748; e oMOD3, com 765 empresas. Analisando-se as estatís-ticas de equação global, conclui-se pelo bom ajustedos modelos: estatística F de significância conjuntade todos os coeficientes mostrou-se muito signifi-cativa (1%) e o R2 ajustado valores altos (55,5%,

20,6% e 51,2%, respectivamente para o MOD1,MOD2 e MOD3), dado ser uma amostra cross-section.Apesar de o teste K-S rejeitar a hipótese de norma-lidade dos resíduos nos MOD1 e MOD2, o tamanhoda amostra é assintoticamente grande para se firmarno teorema do limite central. Observa-se, ainda, queapenas nos MOD2 e MOD3 as equações foram esti-madas com uma constante, pois, no MOD1, a cons-tante não se mostrou significativa.

Como esperado, as variáveis dummy de controleSETOR mostraram-se significativas. Por simplificação,na Tabela 3 apresenta-se apenas o somatório doscoeficientes. O teste Wald da hipótese de que, noconjunto, as variáveis dummy SETOR são iguais à zeromostrou-se significativo em nível de 1% em todosos modelos. Além das variáveis dummy SETOR, saltamaos olhos, em todos os modelos, as significânciasdas variáveis RISCO e TAM. Sobre a primeira variável,a relação negativa encontrada com as variáveis deendividamento corrobora as hipóteses tanto da STTquanto da POT. Segundo essas teorias, empresas queapresentam menor volatilidade em seus resultadosdevem ser menos propensas a dificuldades finan-ceiras, o que torna mais barato o custo do endivida-mento, e, portanto, mais propensas à contração dedívidas: firmas com maior risco tendem a menoresempréstimos, devido aos custos de falência inerentesao negócio. Esse achado também foi corroboradopor Titman & Wessels (1988), Bradley, Jarrel & Kim(1984) e Thies & Klock (1992).

A variável TAM, em todos os modelos, apresentou-se significativa e com relação positiva com o nível deendividamento. Esse achado corrobora a hipótese daSTT de que, quanto maior a empresa, maior a possibi-lidade de se endividar, pois menor a probabilidadede falência. Segundo a STT, empresas maiores sãomais diversificadas, com melhor reputação e menorescustos de assimetria de informações; portanto, háuma relação positiva entre o tamanho da empresa eseu nível de endividamento. Cabe ressaltar que essavariável, em todos os modelos, foi a única queapresentou alto valor para o fator inflação da variância(VIF), superando o valor limite de 10. À primeira vista,indica-se que a variável TAM possui colinearidade altacom as demais; entretanto, esse fato parece não serproblemático, uma vez que a mesma não apresentouerro padrão alto (GUJARATI, 2000: 334). A análise doscoeficientes padronizados (DFBeta) dessa variável

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Veronica Favato e Pablo Rogers

Tabela 3: Modelos considerando cada variável de endividamento do estudo

Modelo VariávelDependente independente Coeficiente DFBeta Erro Padrão t-Estatístico VIF

PAIS -0,214*** -0,085 0,128 -1,887 4,315MOD1 RISCO -7,518* -0,185 1,860 -4,006 3,260

LUCRAT -0,755 -0,061 0,614 -1,203 2,660N = 743 END1 TAM 0,178* 1,340 0,024 7,465 32,134

Adj. R2 = 0,555 OPCRESC 0,000 -0,006 0,000 -0,963 1,037F = 41,23* TANG -0,526*** -0,128 0,325 -1,729 9,906

K-S = 4,354* ΣSETOR -9,173* – – 48,638♣ –

(constante) 0,352* – 0,107 3,270 –MOD2 PAIS -0,172* -0,314 0,026 -6,386 2,216

RISCO -0,332 -0,032 0,400 -0,829 1,240N = 748 END2 LUCRAT 0,035 0,013 0,098 0,360 1,157

Adj. R2 = 0,206 TAM 0,035* 0,244 0,006 5,228 1,935F = 9,42* OPCRESC 0,000* 0,015 0,000 2,949 1,035

K-S = 2,616* TANG -0,320* -0,270 0,064 -4,927 2,531ΣSETOR -4,001* – – 124,061♣ –

END3 (constante) 0,617* – 0,067 9,081 –MOD3 PAIS -0,179* -0,404 0,016 -10,819 2,207

RISCO -2,815* -0,352 0,280 -10,039 1,272N = 765 LUCRAT -0,640* -0,299 0,060 -10,530 1,190

Adj. R2 = 0,512 TAM 0,013* 0,113 0,004 3,042 1,942F = 35,81* OPCRESC -0,000* -0,045 0,000 -10,968 1,033K-S = 0,908 TANG 0,065 0,067 0,041 1,541 2,471

ΣSETOR -2,440* – – 167,843♣ –

Significância: * 1%; **2%; ***10%.♣ Teste Wald da hipótese de que as variáveis dummy SETOR são, no conjunto, igual a zero, baseado na estatística Qui-quadrado. O coeficiente apresentado natabela evidencia a soma das estimativas de cada variável dummy.Nota: em todos os modelos, foram estimados erros padrão consistentes à heteroscedasticidade, conforme White. A coluna DFBeta apresenta os coeficientespadronizados das variáveis independentes. No modelo 1 (MOD1), a constante foi eliminada devido à sua insignificância. N representa o tamanho da amostradepois de ajustada pelos outliers; Adj. R2 representa o coeficiente de determinação ajustado dos modelos, e a estatística F testa a significância conjunta domodelo. K-S representa o teste Kolmogorov-Sminorv de normalidade dos resíduos (a hipótese nula é de que os resíduos provenham de uma população normal).VIF indica o fator inflação da variância (medida para detectar colinearidade entre as variáveis).

Tabela 4: Estatísticas descritivas das variáveis do estudo – EUA e América Latina (c/ outliers)

América Latina (335) EUA (434) Total (769)

Média MedianaDesvio

Máximo Mínimo Média MedianaDesvio

Máximo Mínimo MédiaMediana

Desvio Máximo Mínimopadrão padrão padrão

END1 2,44 1,03 8,27 97,28 -4,47 1,84 1,19 6,12 116,72 -6,68 2,10 1,11 7,14 116,72 -6,68

END2 0,43 0,36 1,24 17,36 -11,30 0,45 0,35 0,68 11,36 0,01 0,44 0,35 0,96 17,36 -11,30

END3 0,53 0,51 0,21 1,00 0,03 0,33 0,30 0,18 0,90 0,02 0,42 0,40 0,22 1,00 0,02

RISCO 0,03 0,03 0,02 0,27 0,00 0,04 0,03 0,03 0,31 0,00 0,04 0,03 0,03 0,31 0,00

LUCRAT 0,11 0,11 0,08 0,32 -0,75 0,11 0,12 0,12 0,41 -0,80 0,11 0,12 0,10 0,41 -0,80

TAM 12,81 12,82 1,71 17,79 9,05 15,03 14,92 1,42 19,96 11,02 14,06 14,23 1,90 19,96 9,05

OPCRESC 7,48 1,01 111,522.040,54 0,15 2,26 1,71 1,54 11,52 0,99 4,54 1,35 73,60 2.040,54 0,15

TANG 0,47 0,49 0,21 0,92 0,00 0,34 0,29 0,23 0,91 0,00 0,40 0,39 0,23 0,92 0,00

Tabela 5: Estatísticas descritivas das variáveis do estudo – EUA e América Latina (s/ outliers)

América Latina (323) EUA (417) Total (740)

Média MedianaDesvio

Máximo Mínimo Média MedianaDesvio

Máximo Mínimo MédiaMediana

Desvio Máximo Mínimopadrão padrão padrão

END1 1,44 1,01 2,05 21,49 -4,47 1,48 1,19 1,72 16,54 -6,68 1,46 1,10 1,87 21,49 -6,68

END2 0,43 0,35 0,39 2,42 -1,39 0,41 0,35 0,31 2,84 0,01 0,42 0,35 0,35 2,84 -1,39

END3 0,52 0,51 0,21 1,00 0,03 0,33 0,31 0,18 0,90 0,02 0,41 0,40 0,21 1,00 0,02

RISCO 0,03 0,03 0,02 0,08 0,00 0,04 0,03 0,02 0,11 0,00 0,04 0,03 0,02 0,11 0,00

LUCRAT 0,11 0,11 0,06 0,32 -0,09 0,13 0,12 0,07 0,34 -0,18 0,12 0,12 0,07 0,34 -0,18

TAM 12,84 12,84 1,71 17,79 9,05 15,07 14,95 1,33 18,76 12,04 14,10 14,31 1,87 18,76 9,05

OPCRESC 1,13 1,01 0,65 7,85 0,15 2,17 1,70 1,34 9,65 0,99 1,72 1,35 1,21 9,65 0,15

TANG 0,47 0,50 0,21 0,92 0,00 0,35 0,29 0,23 0,91 0,00 0,41 0,39 0,23 0,92 0,00

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ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

evidencia um outro achado interessante, tambémcorroborado por Perobelli & Famá (2003): empresasmaiores privilegiam o endividamento de longo prazo,empresas menores utilizam mais o endividamentode curto prazo, provavelmente por não obteremtaxas atrativas no primeiro mercado.

A proxy do atributo tangibilidade do ativo (TANG)foi significativa, em nível de 1%, quando se relacionacom a variável de endividamento de curto prazo(END2). Entretanto, quando a TANG se relaciona comas variáveis de endividamento de longo prazo (END1e END3), não mostra muito significativa: apenas signi-ficativa em nível de 10% no MOD1. Os resultadosindicam que a tangibilidade dos ativos parece nãoafetar o nível de endividamento de longo prazo. Logo,a possibilidade de os ativos serem utilizados comogarantia para empréstimos ou o fato de empresascom poucos ativos fixos terem maiores problemasde assimetria de informações, parece afetar apenaso nível de endividamento de curto prazo das empre-sas latino-americanas e norte-americanas. A despeitodessa evidência empírica, ressalta-se uma importanteobservação: a variável TANG pode estar sofrendocolinearidade com as variáveis dummy SETOR, umavez que as mesmas buscam captar efeitos seme-lhantes. Dessa feita, pode-se dizer que não há evidên-cia suficiente para rejeitar que a tangibilidade dosativos também não afeta o nível de endividamentode longo prazo, uma vez que a variável dummy SETORpretende captar várias características estruturais daempresa, tais como barreiras à entrada de novos con-correntes, condições de mercado e composição dosativos, inclusive tangibilidade (JORGE & ARMADA, 1999).

Em relação à variável LUCRAT, os resultados foramsignificativos apenas quando se considera o nível deendividamento a valores de mercado (END3). Esseachado corrobora as hipóteses da POT: maiores lucroslevam à diminuição do endividamento, já que esseslucros, caso não sejam distribuídos, se tornam a melhorfonte de geração de recursos. Booth et al. (2001)ressaltaram que a importância da lucratividade estárelacionada com problemas de agência e assimetriainformacional dos países em desenvolvimento, bemcomo ao fato de seus mercados de capitais não seremtão desenvolvidos como nos EUA.

Sobre as oportunidades de crescimento(OPCRESC), não houve conclusão contundente. Essavariável não foi significativa no MOD1, porém

significativa nos MOD2 e MOD3. Entretanto, adespeito da significância estatística da variávelOPCRESC, essa parece não ter significância econômica.Quando se analisa o modelo com a variável deendividamento teoricamente mais correta, END3, porlevar em consideração os valores de mercado,encontra-se uma relação negativa, corroborando umadas hipóteses da POT. Para a POT, firmas com grandesoportunidades de crescimento tenderiam a manterum nível de endividamento baixo para não prejudicarsua capacidade de crédito. Entretanto, quando seexamina o modelo com a variável de endividamentode curto prazo (END2), a relação mostra-se positiva,também confirmando uma das hipóteses da POT, queo crescimento requer investimentos que normalmentesão feitos com contração de novas dívidas. Caberessaltar que Perobelli & Famá (2003), corroborandoos resultados encontrados, encontraram evidênciasde que empresas com maior potencial de crescimentoapresentam menor propensão ao endividamento decurto prazo.

Por fim, a significância da variável dummy decontrole PAIS em todos os modelos (significativa em10% no MOD1) evidencia o impacto dos sistemas definanciamento sobre a estrutura de capital das em-presas. Ademais, o coeficiente negativo dessa variávelrevela o menor endividamento das empresas norte-americanas, de forma a comprovar que o sistemafinanceiro dos Estados Unidos é baseado em equity eo dos países da América Latina, baseado em debt.Adicionalmente, o exame dos coeficientes padro-nizados traz resultados interessantes. Desconsiderandoa variável TAM do MOD1, por suspeita de altacolinearidade com as demais, e considerando omodelo MOD3 em vez do MOD2, por relacionar avariável de endividamento de longo prazo teorica-mente mais correta (valores de mercado), nota-se queo impacto do sistema financeiro (PAIS) parece ser oprincipal determinante da estrutura de capital dasempresas: os DFBetas da variável PAIS são, em valoresabsolutos, maiores que os demais tanto no MOD2quanto no MOD3. As diferenças do sistema de finan-ciamento entre os países parecem impactar mais oendividamento de longo prazo do que de curto prazo.Além do mais, fatores microeconômicos, como ta-manho e tangibilidade, aparentam afetar mais oendividamento de curto prazo, e o risco do negócio ea lucratividade da empresa, afetar mais o endivi-damento de longo prazo.

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41Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

Veronica Favato e Pablo Rogers

5. CONCLUSÃO

A despeito da controvérsia entre o Modelo Tradi-cional e o Modelo de Modigliani & Miller (MM) sobreuma estrutura ótima de capital, a Pecking OrderTheory (POT) e a Static Tradeoff Theory (STT) discutemque as decisões de financiamento das empresasderivam dos impactos que alguns atributos teóricosexercem sobre os custos e benefícios associados àemissão de ações ou de dívida. Desse modo, a POT ea STT sugerem que não haveria uma estrutura decapital ótima, mas uma estrutura de capital mais apro-priada a cada perfil de empresa. Além do mais, ateoria e algumas pesquisas empíricas comprovam queexistem fatores indutores do endividamento, ineren-tes às especificidades históricas e macroeconômicasde cada país, condicionados a modelos de finan-ciamento particulares: baseados em crédito ou nomercado de capitais.

Sobre esses aspectos, esse artigo teve comoobjetivo, em nível microeconômico, analisar comoatributos importantes discutidos pela STT e pela POT– tamanho da empresa, oportunidades de cres-cimento do negócio, tangibilidade dos ativos, lucra-tividade e riscos envolvidos – afetam a estrutura decapital das empresas na América Latina e nos EUA.Adicionalmente, em nível macroeconômico, buscou-se discutir a influência dos sistemas de financiamento(equity X debt) sobre a estrutura de capital das em-presas latinas e norte-americanas.

Pela metodologia empregada, foi possível corroboraralgumas hipóteses das teorias enfatizadas, tais como:(a) relação negativa entre o nível de endividamento e orisco do negócio, como apregoam a STT e a POT; (b)relação positiva entre o tamanho da empresa e o nívelde endividamento, como prevê a STT; (c) quando seconfronta a tangibilidade dos ativos com a variável deendividamento de curto prazo, nota-se uma relaçãonegativa, como discute a POT; (d) sobre a relação entrea proxy de lucratividade e o nível de endividamento,considerando valores de mercado, foi possível constatarum relacionamento inverso, como estima a POT; (e)apesar de pouca significância econômica, constatou-sesignificância estatística da proxy de oportunidades decrescimento em explicar o nível de endividamento, comoapregoam a STT e a POT.

Por fim, os resultados indicaram que o impactode fatores indutores do endividamento inerentes àsespecificidades de cada país, condicionados diantede diferentes modelos de financiamento, parece sero principal determinante da estrutura de capital dasempresas na América Latina e nos EUA. Adicional-mente, discute-se que as diferenças do sistema definanciamento entre os países parecem impactar maiso endividamento de longo prazo do que de curtoprazo, e os fatores microeconômicos, tamanho etangibilidade, aparentam afetar mais o endividamentode curto prazo, e o risco do negócio e a lucratividadeda empresa, afetar mais o endividamento de longoprazo.

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ESTRUTURA DE CAPITAL NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS:UMA ANÁLISE DE SEUS DETERMINANTES E EFEITO DOS SISTEMAS DE FINANCIAMENTO

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIAS DAS

SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

THE INFLUENCE OF COMPETITIVE ENVIRONMENT ON STRATEGIES

OF FOREIGN SUBSIDIARIES OF BRAZILIAN MULTINATIONAL COMPANIES

ABSTRACTRESUMO

O problema a ser tratado no artigo é “como as sub-sidiárias estrangeiras de empresas multinacionaisbrasileiras avaliam o ambiente externo nos paísesem que atuam?” Além disso, qual a influência doambiente competitivo na criação de valor das sub-sidiárias de multinacionais brasileiras? O objetivo édiagnosticar os atributos da perspectiva ambiental,identificar quais são importantes e sugerir estratégiaspara as empresas. Foram analisadas por survey 66subsidiárias em 22 países, divididos entre membrosda OCDE (42%) e, posteriormente, regionais (45%).O Modelo Diamante, de Porter, e a Teoria das Multi-nacionais Regionais, de Rugman, foram usados co-mo referencial teórico. As inferências estatísticas em-basaram os seguintes resultados: existe uma avalia-ção diferenciada e mais positiva do ambiente com-petitivo para as subsidiárias localizadas em paísesda OCDE e em países distantes geograficamentedo Brasil; existe associação entre o ambiente externoe a criação de valor no exterior, sendo que o dospaíses-membros da OCDE é mais forte e positivopara as competências de inovação (P&D), ao passoque o ambiente externo de subsidiárias regionaisou em países não-membros da OCDE é mais fraco,o que não sustenta a formação de criação de valor.

Palavras-chave: ambiente competitivo, estratégiasde regionalização, subsidiárias de empresas mul-tinacionais.

The problem being addressed in this article is “howforeign subsidiaries of Brazilian multinationalcompanies assess the external environmentabroad?” Which is the influence of the competitiveenvironment in the creation of value of the subsi-diaries of Brazilian multinational companies?Thegoal is to diagnose the attributes of the environ-mental perspective, identify which are importantand suggest strategies. It was analyzed by survey66 subsidiaries in 22 countries, divided betweenOECD members (42%), and regional (45%). TheDiamante Model of Porter and the Theory of Mul-tinational Regional RUGMAN were used as theo-retical reference. The statistical inferences confirmedthe following results. There is an evaluation diffe-rentiated and more positive of the competitiveenvironment for the subsidiary geographicallylocated in countries of the OECD and in distantcountries of Brazil There is association between theexternal environment and value creation abroad,and the one from OECD member countries is eva-luated as stronger and more positive for innovation(R&D). While the external environment of regionalsubsidiaries or in non-OECD countries is weaker,what does not sustain the FSA obtaining abroad.

Keywords: competitive environment, regionali-zation strategies, subsidiaries of multinationalcompanies.

Recebido em: 07/07/2008Aprovado em: 15/10/2008

Endereços dos autores:

Felipe Mendes BoriniRua Quintana, 311 - CEP 04569-010 - São Paulo-SP - e-mail: [email protected]

Edson Renel da Costa FilhoAv. Prof. Luciano Gualberto, 908, sala E 116 - Cidade Universitária - CEP 05508-010 - São Paulo-SP - e-mail: [email protected]

Moacir de Miranda Oliveira JúniorAv. Prof. Luciano Gualberto, 908, sala E 116 - Cidade Universitária - CEP 05508-010 - São Paulo-SP - e-mail: [email protected]

Felipe Mendes BoriniProfessor da ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing

Edson Renel da Costa FilhoGraduando em Relações Internacionais pela USP

Moacir de Miranda Oliveira JúniorProfessor da FEA/USP - Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo

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Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

1. INTRODUÇÃO

No contexto do pós-guerra, as economias doTerceiro Mundo costumavam criar barreiras para ofluxo de produtos e serviços estrangeiros, o que geravamercados em diferentes níveis de tecnologia ecompetitividade. Em decorrência, as multinacionais dospaíses desenvolvidos encontraram na instalação defiliais locais uma estratégia para acessar tais mercadospouco permeáveis, variando a tipologia conforme ograu de defasagem. Logo, o modelo geral de umamultinacional previa a concentração de P&D1 na matrize uma comunicação vertical e praticamente unidire-cional com suas filiais, reprodutoras locais de bens jámaduros no Primeiro Mundo. Tal heterogeneidadeconferia uma estratégia predominantemente multi-doméstica (BARTLETT & GHOSHAL, 1992; CHESNAIS, 1992).

Com a crise do petróleo, o Plano Marshall e a as-censão do Japão, o modelo multidoméstico enfra-queceu. Novas mudanças tecnológicas e políticasposteriores recrudesceram a competição internacional,facilitando a abertura comercial e o surgimento de novoscentros comerciais. Conseguintemente, o modelomultidoméstico se tornava ainda mais obsoleto, e asempresas o substituíram, revendo o papel de suas sub-sidiárias. Por intermédio de canais multidirecionais, estaspassaram a operar como scanning units (PORTER, 1990),unidades de acesso ao fluxo de conhecimento tácito eao desenvolvimento tecnológico locais.

Esse fenômeno trouxe um novo desafio: identi-ficar, desenvolver e administrar efetivamente ganhosno ambiente externo das subsidiárias e levá-los paraa corporação (FROST, BIRKINSHAW & ENSIGN, 2002), oque não é diferente para as multinacionais dos paísesemergentes, cuja internacionalização visa a explorare aprender novos recursos e métodos (MATHEWS,2006). Embora sejam estudados outros países, esseartigo focaliza o desafio sob a perspectiva das mul-tinacionais brasileiras, analisando que característicasdo ambiente externo são importantes e quais as suasconseqüências para a atuação da subsidiária.

Portanto, o problema a ser tratado nessa pesquisainsere-se em duas questões: como as subsidiáriasestrangeiras de empresas multinacionais brasileirasavaliam o ambiente competitivo nos países em que atuame qual a influência do ambiente competitivo na criaçãode valor das subsidiárias de multinacionais brasileiras.

Para trabalhar o problema, seguem as seções derevisão da literatura, em que vai ser explicada breve-mente a Teoria do Diamante da Vantagem Competi-tiva Nacional (PORTER, 1990), o Triângulo AAA (GHEMA-WAT, 2007) e Teoria das Multinacionais Regionais, deRugman (2004).

2. REVISÃO DA LITERATURA

Lacerda (2000) entendeu que o processo de inter-nacionalização das empresas brasileiras resulta tam-bém das medidas liberalizantes adotadas desde oPresidente Collor. O argumento defende que, ao seexpor as companhias brasileiras à competição inter-nacional, são desenvolvidas competências estraté-gicas e inovações tecnológicas de nível internacional(ARRUDA, GOULART & BRASIL, 1996). Com vantagenscompetitivas amadurecidas, estas impulsionaram suainternacionalização por possíveis ganhos de escala,de novas competências, de acesso a recursos em ou-tras redes de negócios (OLIVEIRA JÚNIOR. & CYRINO, 2003)e de superação de barreiras comerciais e técnicas(BCG, 2007). Ou, mesmo, um passo na evolução dasempresas, ainda que de decisão tardia e ágil, aprovei-tando oportunidades e variando de ordem estraté-gica, de mercado e financeira (FLEURY et al., 2007).

Apesar das outras temáticas, é focalizado o estí-mulo advindo do conjunto de capacidades residentesno mercado de destino (KOGUT & ANAND, 1997; FROST,BIRKINSHAW & ENSIGN, 2002; FROST, 2001). Identificar eassimilar recursos externos obtidos pela internacio-nalização também constituem uma questão críticapara pesquisadores, sendo uma fronteira identificarcomo as estratégias, as capacidades e os compor-tamentos da firma são moldados pelo contexto ins-titucional em que se opera (FROST, 2001).

2.1. A perspectiva ambiental

A perspectiva ambiental (BIRKINSHAW, HOOD & JONSSON,1998; BIRKINSHAW, HOOD, 1998) defende que o dinamismolocal propicia uma oportunidade latente para amultinacional assimilar os benefícios do aprendizado edo conhecimento autóctone. É comumente aceito queseu desenvolvimento é contigenciado por sua habilidadede obter recursos de seu ambiente (ANDERSSON, FORSGREN& HOLM, 2002; FROST, 2001), principalmente se essaacessar o fluxo de conhecimento tácito em redes denegócios (FROST, BIRKINSHAW & ENSIGN, 2002).1 Pesquisa e desenvolvimento.

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

Além da perspectiva ambiental, a literatura con-sidera outras duas para a formatação da subsidiária(BIRKINSAW, HOOD & JONSSON, 1998; BIRKINSHAW & HOOD,1998): uma determinada pela tipologia que a matrizdesenvolve na corporação, é chamada de “poder damatriz” (BARTLETT & GOSHAL 1992; FROST, BIRKINSHAW &ENSIGN, 2002; NOHRIA & GOSHAL, 1997); outra, emba-sada na liderança e no empreendedorismo duranteo próprio processo de aprendizado e propagação decompetências, é chamada de “iniciativa da subsi-diária” (BIRKINSHAW, HOOD & JONSSON, 1998).

2.2. A perspectiva ambiental e o Modelo Diamante

Trabalhos importantes na área de negócios inter-nacionais (FROST, BIRKINSHAW & ENSIGN, 2002; BIRKINSHAW,HOOD & JONSSON, 1998; ROTH & MORRISON, 1992) opta-ram por decompor essa variável segundo as caracte-rísticas abordadas pelo “Modelo Diamante da Van-tagem Nacional” (PORTER, 1990) para representar ainfluência do contexto competitivo e institucional nasestratégias das subsidiárias estrangeiras.

Consagrando seu trabalho para avaliar porquedeterminados países reúnem atributos, que, isolados esistematicamente, permitem a construção da vantagemnacional sustentada na inovação constante e nacompetição empresarial, Porter (1990) defendeu que ainovação e a competição são estimuladas por uma basedoméstica constituída de quatro elementos – condiçõesdos fatores; condições da demanda; setores correlatose de apoio; e estratégia, estrutura e rivalidade dasempresas –, organizados nas quatro arestas do quePorter chamou de “diamante da vantagem nacional”.

O primeiro atributo do diamante se refere às “con-dições de fatores”, ou seja, à posição do país quantoaos fatores de produção, como mão-de-obra qualificadae infra-estrutura. Consideram-se de maior valorestratégico fatores que envolvem investimentos vulto-sos e exigem especialização, isto é, elementos escassos,de difícil imitação e que exigem investimentos sustentadospara sua criação. Por isso, sua capacidade é criada,sobretudo, construída para converter circunstânciasdesfavoráveis em vantagem competitiva. Dessa maneira,opta-se por considerar essa primeira subdivisão naperspectiva ambiental, pois terá forte impacto nacapacidade e no desenvolvimento de uma subsidiária.

O segundo atributo é denominado “condições dedemanda”. A composição, a intensidade e a naturezada demanda doméstica permitem que as empresas

percebam com antecedência as necessidades doscompradores; o que dinamiza e acelera as atividadesde inovação. O importante é determinar a naturezados compradores domésticos. Se as exigências inter-nas são altas e se elas são semelhantes às internacionais,o país está mais propenso a ser competitivo internacio-nalmente. Logo, a demanda interna afeta o modocomo as empresas percebem, interpretam e respondemàs necessidades, possibilitando desenvolver-se maisrapidamente e com características diferenciadas.

Por seu turno, o terceiro atributo corresponde àpresença de “setores correlatos e de apoio” no país.Fornecedores mais bem qualificados e inseridos den-tro de uma competição internacional fornecem insu-mos com menor custo, maior rapidez e de formapreferencial, assim como ensejam uma interaçãomutuamente vantajosa e auto-revigorante, pois a pro-ximidade promove um fluxo de conhecimento tácitoe um constante intercâmbio de idéias e inovações.As empresas no país auferirão, pois, maioresbenefícios quando forem providas por setores fortese competentes.

O último atributo é a “estratégia, estrutura e rivalidadedas empresas”. A competitividade existente dentro deum determinado setor de um país depende tanto daspráticas gerenciais e dos modelos organizacionaisadotados como dos objetivos das empresas, da qualidadee do comprometimento da força de trabalho, além dapresença de rivais poderosos. A presença de rivais locaispoderosos é um último e poderoso estímulo à criação eà preservação da vantagem competitiva, pois despertamaior agressividade e inovação. Logo, a circunstância eo contexto nacionais têm forte influência no desempenhoda subsidiária.

O que significa dizer que esses quatro atributos,quando presentes e articulados, garantem a cons-trução de um ambiente competitivo e institucionalapropriado para a criação de valor das empresas. Sub-sidiárias estrangeiras migram em busca desses dia-mantes a fim de auferir maior grau de valor nas suasoperações no exterior e internalizar esse valor na suacadeia produtiva mundial (FROST, BIRKINSHAW & ENSIGN,2002; FROST, 2001; DOZ, SANTOS & WILLIANSONS, 2001;BIRKINSHAW & MOORE, 1998). Frost (2001) mostrou aforte associação das características favoráveis doambiente externo com a criação de inovação(pesquisa e desenvolvimento) em subsidiáriasestrangeiras.

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Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

Embasada nesse raciocínio está a primeira reflexãodesse artigo. As subsidiárias estrangeiras de multina-cionais brasileiras que têm acesso a ambientes cujodiamante nacional é forte e dinâmico têm tambémmaior probabilidade de criar valor no estrangeiro,além de explorar o mercado. Segue, pois, a primeirapergunta que orienta a pesquisa: (1) existe algumaassociação entre a avaliação do ambiente ex-terno e a criação de valor no exterior?

Seguindo Frost (2001), mas com as adaptaçõesaos dados disponíveis, a criação de valor é medidapor meio da inovação, caracterizada pela auto-ava-liação das subsidiárias quanto à sua competência empesquisa e desenvolvimento.

2.3. A perspectiva ambiental e o estágio dedesenvolvimento das nações

Apesar de o modelo de Porter (1990) assumir aexistência de diamantes das nações em diferentespartes do mundo, os países desenvolvidos detêmmaior probabilidade de desenvolver políticas com-petitivas para o incremento de diamantes nacionais,com ênfase, principalmente, no apoio à inovação tec-nológica (ALEM, 1999). Como exemplo, a União Euro-péia investe em fundos estruturais (SILVA, 2000), cujosdestinos são infra-estrutura, recursos humanos e in-vestimento produtivo (COMITÊ DAS REGIÕES, 1999).

Isso embasa a literatura que sugere os mercadosinternacionais não só como laboratórios de apren-dizado (HITT, HOSKISSON & KIM, 1997, HITT, LI & WORT-HINGTON IV, 2005), mas também como meios de acessoao conhecimento (DOZ, SANTOS & WILLIAMSON, 2001).Para as multinacionais emergentes, os países desen-volvidos oferecem recursos críticos necessários paracompetir contra rivais globais no país e no estrangeiro(LUO & TUNG, 2007); e, assim, internacionalizam-se,visando a criar valor no Primeiro Mundo.

Essa idéia está coerente com a perspectiva deresource-seeking (DUNNING, 1993), em que os merca-dos desenvolvidos oferecem uma plataforma superiorpara a criação de valor. As economias desenvolvidas,sejam elas indústrias transformadoras, sejam de ser-viços, estão dotadas de um melhor know-how, emambos os processos e produtos. Por isso, as subsi-diárias situadas nestes mercados podem servir comocentro de acabamento de produtos de baixo custo,fabricados no país de origem, ou seja, incrementa oproduto nos países desenvolvidos para produzir nos

subdesenvolvidos. Em conseqüência, duas novasperguntas são feitas: (2) existe diferença na ava-liação das subsidiárias estrangeiras brasileirasentre o ambiente competitivo dos países daOCDE e dos não-membros da OCDE?; (3) a dife-rença de avaliação quanto ao pertencimento daOCDE tem reflexos também nas competênciasde inovação (P&D) atribuídas pelas subsidiáriasestrangeiras brasileiras?

2.4. A perspectiva ambiental mediada peloescopo geográfico

De acordo com a Teoria das Vantagens da Mul-tinacional, de Rugman (1981), as multinacionais po-dem auferir as vantagens de localização no país es-trangeiro (Country Specific Advantages – CSA) e asvantagens da firma (Firm Specific Advantages – FSA).As FSA são capacidades únicas das organizações, talcomo o desenvolvimento de produtos ou a capila-ridade da distribuição. As CSA são baseadas em re-cursos naturais, apoiadas pela força de trabalho epor fatores culturais do país em questão. Se o con-ceito de CSA for estendido e atualizado de modo aabarcar mais atributos para além da mão-de-obra, épossível dizer que as CSA são baseadas no “diamanteda vantagem nacional” supracitado.

Com base nos dois tipos de vantagem, Rugman(1981) apresentou a matriz analítica CSA versus FSA. Asmultinacionais atuam de maneira diferenciada com forteCSA e fraca FSA, tal como as empresas de commoditiesfocadas na exploração de mercados ou produção emescala (GHEMAWAT, 2007), ou fraca CSA e forte FSA, típicadas empresas com estratégia de diferenciação (PORTER,1980), focadas na adaptação aos mercados locais(GHEMAWAT, 2007), ou, ainda, multinacionais com forteFSA e CSA, que conseguem explorar em conjunto asestratégias genéricas (WRIGHT, 1987; HILL, 1988) maisvoltadas para estratégias internacionais de arbitragem(GHEMAWAT, 2007), explicadas a seguir.

Com isso, a matriz se encontra em diversosdilemas. Ela pode explorar as CSA de forma isoladaou articulada; pode propagar a FSA original parapaíses estrangeiros ou, mesmo, criar FSA nas suassubsidiárias. Além do problema entre FSA e CSA, háum outro dilema subjacente, que se refere à crise deconfiança no exterior, em especial, mas não exclu-sivamente, das multinacionais emergentes (RUGMAN

& OH, 2008).

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

O país estrangeiro representa um risco adicional,devido às singularidades econômicas, políticas, sociais eculturais associadas à entrada num mercado totalmentedesconhecido (RUGMAN & VERBEKE, 2004). Por conta dessacrise de confiança, embora outras CSA possam trazermelhores oportunidades, grande parte das multinacionaisprocuram conduzir suas filiais em mercados regionais,com maior similaridade e menor incerteza psicológica(RUGMAN & VERBEKE, 2004; JOHANSON & WIEDERSCHEIM-PAUL,1975; JOHANSON & VAHLNE, 1977). Esse fenômenoacontece nos países da tríade Estados Unidos, Japão eEuropa Ocidental, (MOORE & RUGMAN, 2003; RUGMAN,2000; LI, 2004; GROSSE, 2004) e também nos países forada tríade, chamados, por vezes, de emergentes (YIN &CHOI, 2004; OH & RUGMAN, 2007). Desse modo, ad-mitindo-se que a internacionalização das multinacionaistem um escopo geográfico muito mais regional do queglobal, outras duas perguntas são colocadas: (4) aavaliação do ambiente externo sofre alteraçõesquando são comparadas as atuações dassubsidiárias de multinacionais brasileiras naAmérica do Sul (região fronteiriça e mais próximageograficamente) com aquelas em regiões maisdistantes geograficamente?; (5) essa avaliaçãodiferenciada tem impacto na formação de FSA noexterior, representada pela criação de valor pormeio das competências em P&D nas subsidiárias?

2.5. Triângulo AAA

As conclusões deste trabalho sobre a avaliação dassubsidiárias quanto às arestas do Modelo Diamante,atribuídas ao ambiente local, serão eventualmentesubsidiadas pelas idéias de Ghemawat (2007). Neste artigo,ele defendeu que a principal meta de qualquer estratégiaglobal deve ser a gestão das grandes diferenças registradasnas fronteiras, sejam estas de caráter geográfico ou não.Para além das premissas convencionais de sopeso entreeconomias de escala e adaptação local, o referido autorapresentou um novo arcabouço para a abordagem daintegração global, o “Triângulo AAA”, em que cada “A”tem um tipo de estratégia global, a seguir explicitadas:

1) adaptação: busca maximizar a relevância localda empresa para turbinar sua receita e parti-cipação de mercado, o que configura uma or-ganização centrada no país. Comum entre em-presas com alto investimento em publicidade;

2) agregação: tenta gerar economias de escalacom operações regionais ou, às vezes, globais.

Aqui, há certa padronização de produtos ouserviços e aglutinação de processos de desen-volvimento e de produção, ou seja, agrupa-mento transfronteiriço, divisões de negóciosglobais, divisões de produtos, estruturas regio-nais, contas globais. Comum em empresas cujoalto investimento em P&D força certo agrupa-mento para diluir os custos fixos;

3) arbitragem: é a exploração de diferenças entremercados de nações ou regiões centrais distin-tas, em geral com a distribuição da cadeia desuprimento por vários locais. Seja uma organi-zação vertical, seja funcional, seu objetivo é oequilíbrio entre a oferta e a demanda dentrode fronteiras organizacionais. Comum em em-presas de uso intensivo de mão-de-obra.

Finalmente, há certa tensão em cada abordagem,e, entre elas, não basta indicar a opção por todas astrês. A escolha estratégia requer certo grau de priori-zação, pois, para cada tipo de estratégia, há um des-dobramento diferenciado na vantagem competitiva,na configuração das operações internacionais, nasvariáveis a serem controladas, no monitoramento doâmbito interno e na diplomacia empresarial. Emboraalgumas abordagens possam mesclar mais de ummodo de atuação, a maioria das empresas dará des-taque a um só “A” em distintos momentos de suaevolução na arena global.

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1. Tipo de pesquisa

Dois tipos de survey foram desenvolvidos para asmatrizes das 46 maiores multinacionais brasileiras; eoutro, para suas respectivas subsidiárias estrangeiras(total de 94). Logo, a configuração da pesquisa équantitativo-descritiva (CRESWELL, 1994), capaz deobservar, registrar, analisar e correlacionar fatos semmanipulá-los (CERVO & BERVIAN, 2002).

Por fim, para a constituição do survey, foram uti-lizadas questões fechadas, estruturadas e escalona-das, segundo o modelo de Likert, cuja escala de uma cinco pontos indica “discordo fortemente” até“concordo fortemente”.

3.2. Seleção da amostra e coleta de dados

O universo da pesquisa compreende uma lista de46 empresas de diferentes setores, identificadas no final

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do ano de 2006. Destas, oito são do setor de serviçosde engenharia e de TI (as oito responderam ao ques-tionário); 38, das seguintes subdivisões: indústrias ba-seadas em recursos naturais (quatro no universo dapesquisa; três respondentes), produtoras de insumosbásicos (11; sete), produtoras de materiais para cons-trução (três; zero), produtoras de bens de consumo(sete; duas), produtoras de componentes e subsistemas(oito; seis) e montadoras de sistemas (seis; quatro).

A distribuição das multinacionais brasileiras (MNBRs)na cadeia produtiva mostra que o maior número destastrabalha com insumos básicos, seguido por partes,componentes e subsistemas. Observa-se, assim, que apresença das MNBRs não está restrita às indústriasbaseadas em recursos naturais, nem ao caso excepcionalda Embraer. A presença brasileira é significativa, especial-mente nas indústrias de base metal-mecânica.

O trabalho de aplicação e follow-up do surveyatingiu 30 entre 46 (65,2%) matrizes e 66 entre 94(70,2%) subsidiárias. Algumas empresas preferiramresponder ao survey da subsidiária de maneira agregada,preenchendo apenas um questionário para váriasunidades. O único setor que não gerou respostas foi oda indústria de insumos para a construção civil.

3.4. Construção das variáveis

3.4.1. Variáveis do agrupamento dos países

A primeira divisão sobre a avaliação do “Diamanteda Vantagem Competitiva Nacional” foi feita em funçãodos países em que atuam as 66 subsidiárias das MNBRsrespondentes, localizando-se nos seguintes 22 países:África do Sul (2% das respondentes), Alemanha (2%),Angola (2%), Argentina (15%), Bolívia (2%), Canadá(5%), Chile (6%), China (6%), Colômbia (6%),Emirados Árabes Unidos (2%), Equador (2%),Eslováquia (2%), Espanha (2%), EUA (17%), França(2%), Itália (2%), México (8%), Paraguai (2%), Peru(6%), Portugal (8%), Uruguai (5%) e Venezuela (3%).

Logo, as subsidiárias estão localizadas principal-mente na América Latina (55%), sendo que, indivi-dualmente, as maiores concentrações encontram-senos EUA, na Argentina, no México e em Portugal. AChina já constitui um destino importante na análise.A predominante proximidade geográfica e culturalda concentração regional e individual reforça a idéiade internacionalização para regiões com menordistância psíquica, conforme o argumento da Escola

de Uppsala e da regionalização das multinacionais.Contudo, não se podem desprezar os drivers de mer-cado e estratégicos, para além das barreiras culturais.

Para conferir maior praticidade à pesquisa, as loca-lidades foram agrupadas conforme seu pertencimentoà Organização para a Cooperação e DesenvolvimentoEconômico (OCDE). Seus países-membros sãoconhecidos oficialmente por serem comprometidos comuma série de príncipios da democracia representativa eda economia de livre mercado, mas, por seus 30 membrosproduzirem mais da metade da riqueza do mundo, aorganização também é conhecida como Grupo dos Ricos.Desses 30 países, as subsidiárias respondentes encon-tram-se em oito (Alemanha, Canadá, Espanha, EUA,França, Itália, México e Portugal), representando 42%da amostra. As demais 58% se localizam nos paísesnão-membros da lista de respondentes (África do Sul,Angola, Argentina, Bolívia, Chile, China, Colômbia,Emirados Árabes Unidos, Equador, Eslováquia, Paraguai,Peru, Uruguai e Venezuela).

Finalmente, para avaliar as perguntas sobre FSA eCSA, os países foram divididos em outras duas cate-gorias: (1) regionais – 45%, Argentina, Bolívia, Chile,Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Vene-zuela; e (2) globais – 55%.

3.4.2. Variáveis dos atributos do ambiente competitivo

O primeiro atributo do diamante (PORTER, 1990) serefere às condições dos fatores. Sua caracterização éfeita pelas respostas obtidas, em uma escala de uma cinco, indicando “discordo” ou “concordo forte-mente”, para os seguintes critérios: existência de im-portantes centros de pesquisa contribuintes para odesenvolvimento dos negócios; qualificação, especia-lização e nível de pagamento da mão-de-obra local.O segundo atributo é a condição da demanda. Osrespondentes foram convidados a qualificar, na mes-ma escala de um a cinco, se os consumidores locaisexigiam padrões elevados e se a demanda de mercadocrescia rapidamente nos negócios da unidade. Oterceiro atributo, por sua vez, corresponde à presençade setores correlatos e de apoio no país. Utilizando amesma escala de um a cinco, são qualificadas ascapacidades e qualidades dos fornecedores; a forçado relacionamento com estes; e o suporte de outrasinstituições para os negócios. Por último, o atributoda estratégia, estrutura e rivalidade das empresas.Sua operacionalização é desenvolvida em perguntas

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

igualmente escalonadas, que caracterizam a proati-vidade do governo quanto ao apoio ao investimentoe ao crescimento industrial, o nível de competiçãono país e a velocidade da inovação dos competidores.

3.4.3. Variáveis do atributo da criação de valor

Finalmente, para auferir a criação de valor pormeio de inovação, uma variável mede a atribuiçãoda competência de P&D das subsidiárias em relaçãoà matriz e a outras unidades de da rede (BIRKINSHAW,HOOD & JONSSON, 1998), numa escala de cinco pontos.

4. RESULTADOS E ANÁLISES

4.1. A relação do ambiente externo com acriação de valor no exterior

Esta seção inicia-se com o objetivo de responder àprimeira pergunta levantada no referencial teórico: (1)existe alguma associação entre a avaliação doambiente externo e a criação de valor no exterior?

Transformando as variáveis componentes das qua-tro arestas do diamante numa única variável em escalade Likert de um a cinco pontos com Alpha de Con-brach (0.859), e com base na variável da compe-tência em P&D das subsidiárias brasileiras no exterior,a correlação de Pearson se mostra positivamentesignificativa (p = 0,01) e de moderada força (0,504).Esses dados confirmam a associação das arestas doambiente competitivo com as atividades de maiorvalor no exterior. Ou seja, subsidiárias brasileiras comforte competência em P&D tendem a fazer uma ava-liação positiva das condições do ambiente competi-tivo do país em que a empresa está localizada, mos-trando a importância do “Diamante Nacional”.

4.2. A avaliação do diamante de países daOCDE vs. não-membro da OCDE

A análise prossegue com as duas questões le-vantadas no artigo, elencadas a seguir: (2) existediferença na avaliação das subsidiárias estran-geiras brasileiras entre o ambiente competitivodos países da OCDE e dos não-membros daOCDE?; (3) a diferença de avaliação quanto aopertencimento da OCDE tem reflexos tambémnas competências de inovação (P&D) atribuídaspelas subsidiárias estrangeiras brasileiras?

Uma analise estatística por meio de teste T Studentmede a diferença significativa das variáveis do ambientecompetitivo em subsidiárias instaladas em países da

OCDE em relação aos países não-membros da OCDE(Tabela 1). Os resultados apontam que, considerando-se o diamante das nações genericamente, existe umadiferença significativa entre a avaliação das subsidiáriasem países da OCDE e aquelas em países não-membrosda OCDE. As primeiras avaliam mais positivamente odiamante do que as últimas (p = 0,01). Portanto, ins-talar-se em países da OCDE garante acesso a um am-biente competitivo mais estruturado.

4.2.1. Condições de demanda

Avaliando os fatores isoladamente, a aresta dademanda mostra uma diferença significativa entreas subsidiárias na OCDE e fora dela. A estratificaçãorevela que 85,7% das subsidiárias de MNBRs instala-das em países-membros da OCDE concordam queos consumidores locais são exigentes, contra 48,6%das que operam em países não-membros da OCDE.Essa análise fortalece o debate, ainda mais quando éidentificado que a demanda cresce mais rapidamenteem países não-membros da OCDE (72,9% con-cordam, contra 46,4% não-OCDE).

As empresas são mais propensas a se tornarcompetitivas em setores em que a demanda internapropicia a antecipação das necessidades e tendênciasdos demais compradores. Tanto melhor será se asofisticação e a exigência pressionarem para padrõese tendências internacionais, o que configura umcenário de “indicadores preliminares”. Logo, é reco-mendável buscar se instalar nos países-membros daOCDE, pois haverá maior força a inovar e melhoraros produtos e serviços da empresa.

O problema nesse ponto é que os países desen-volvidos são os que têm os mercados mais exigentes.Sendo assim, nesse ambiente é que estarão os maisrecentes e elevados padrões de consumo, mas, também,é o mercado em que a demanda cresce de maneiramenos acelerada, comparada aos países não-membrosda OCDE. O resultado é uma competição acirrada queeleva o padrão de consumo do mercado e o nível daconcorrência por uma qualidade superior.

Isso torna mais dispendioso o preparo paracompetir nesses mercados, principalmente enquantose atua no mesmo. Ou, ainda, instalar-se nesse am-biente para buscar antecipar as tendências pode serpouco prudente para empresas que não estruturaramsuas ações a fim de absorver e propagar esse vetor.Como uma das alternativas, pode-se pensar em um

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Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

movimento mais gradual, investindo em mercadosintermediários a fim de amadurecer um conjunto decompetências importantes para, finalmente, instalar-se em bases mais exigentes.

Desse modo, pois, as estratégias que privilegiamo fator da demanda devem buscar uma maior ponde-ração no que tange à adaptação, ou seja, buscarmaximizar a relevância local da empresa para turbinarsua receita e participação de mercado. Contudo, casoa atuação não seja de exclusividade no país, há apossibilidade de organizar-se estratégia de modoregional, isto é, a estratégia de agregação, com certaspadronizações de produtos, serviços e métodos deprodução (GHEMAWAT, 2007).

4.2.2. Setores correlatos e de apoio

Quanto ao atributo “setores correlatos e deapoio”, constituído pelas respostas referentes àexistência de boas instituições de suporte aos negó-cios, ao nível das capacidades e qualidades dos for-necedores e à força do relacionamento entre com-

Variáveis N Mean Std. Dev. t df Sig.

Diamante Nacionalnão OCDE 37 3,1792 0,6234 -2,462 50,14 0,017

OCDE 28 3,6246 0,78907

Os consumidores locais exigem não OCDE 34 3,65 0,981 -2,285 55,391 0,026

padrões elevados OCDE 28 4,25 1,076

A demanda de mercado está não OCDE 36 3,97 0,878 2,532 53,192 0,014

crescendo rapidamente OCDE 28 3,36 1,026

Há boas instituições de suporte não OCDE 37 2,92 0,983 -1,8 54,533 0,077

aos negócios OCDE 28 3,39 1,1

As capacidades e qualidades dos não OCDE 35 3,2 0,901 -2,648 56,728 0,01

fornecedores são elevadas OCDE 28 3,82 0,945

O relacionamento entre compradores não OCDE 36 3,58 0,692 -0,944 47,38 0,35

e fornecedores é forte OCDE 28 3,79 0,957

Existem importantes centros não OCDE 33 2,27 0,761 -1,301 58 0,198

de pesquisa OCDE 27 2,63 1,334

A Mão-de-Obra é barata não OCDE 37 3,08 0,894 4,519 63 0

OCDE 28 1,89 1,227

O ambiente politico não OCDE 26 3,31 1,283 -2,742 62 0,008

OCDE 28 4,14 1,113

O governo nacional é altamente pró-ativo não OCDE 37 3,24 1,362 -0,24 60,642 0,811

OCDE 28 3,32 1,249

A competição no país é intensa não OCDE 34 4,26 0,994 -0,516 58,526 0,608

OCDE 28 4,39 0,956

A velocidade na inovação de produtos não OCDE 30 3,4 1,133 -0,199 53,404 0,843

dos competidores é alta OCDE 28 3,46 1,319

Tabela 1: Comparativa dos atributos do diamente OCDE vs. não-membro da OCDE

Dem

an

da

Seto

res

Fato

res

Co

mp

eti

ção

Fonte: autores.

pradores e fornecedores, fica evidente a diferençasignificativa quanto às capacidades dos fornecedores(p = 0,01) e instituições de suporte (p = 0,10).

A presença de fornecedores domésticos compe-titivos internacionalmente facilita a criação de van-tagens para as empresas, mas não de maneira auto-mática. Muito mais do que acesso aos componentes,é o forte e constante intercâmbio de conhecimentoque apóia a melhora técnica e a inovação. Isso leva aponderar o aspecto sobre a proximidade como o maisimportante na composição desse atributo. Nessa óti-ca, 60,7% dos respondentes da OCDE concordamque, na OCDE, há uma forte relação com os forne-cedores, e, nos países não-membros, as empresassomam exatamente 50%.

Os recortes indicam que as condições das insti-tuições nos países não-membros da OCDE são dequalidade mediana em relação aos da OCDE, mastêm um nível de relacionamento quase que com-parável aos da OCDE, que, por sua vez, possuemmelhores fornecedores.

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

Caso as opções estratégicas da empresa equacio-nem a importância de fornecedores locais, as subsi-diárias localizadas em países da OCDE têm maiorchance de ponderar a possibilidade de abordar pelaarbitragem, seja de modo funcional, seja vertical, como intuito de equilibrar oferta e demanda dentro dasfronteiras organizacionais (GHEMAWAT, 2007).

4.2.3. Condições de fatores

Quanto às condições dos fatores ao analisar ascaracterísticas da mão-de-obra (MDO) (p = 0,01), sãodistinguidas duas posições. Para MDO qualificada,57,1% das subsidiárias instaladas em países da OCDEconcordam, enquanto 34,2% fazem o mesmo parapaíses não-membros da OCDE. Ao mesmo tempo,para MDO barata, os países da OCDE recebem apenas14,3% de “concordo” por parte das subsidiárias,enquanto sobe para 34,2% nos países não-membrosda OCDE. Logo, a MDO é mais qualificada nos paísesdesenvolvidos e mais barata nos subdesenvolvidos.

Esse cenário favorece um tipo de estratégia paraa MNBRs, a arbitragem, ou seja, a exploração de dife-renças entre mercados de nações ou regiões cen-trais distintas, em geral com a distribuição da cadeiade suprimento por vários locais voltada ao equilíbriode oferta e demanda dentro de fronteiras organi-zacionais (GHEMAWAT, 2007). Dependendo do uso edo tipo de mão-de–obra, as MNBRs podem se instalarem países da OCDE (caso busquem desenvolver novastecnologias) ou em não-membros da OCDE, no casode objetivarem redução de custos. Essa estratégialeva a uma diplomacia empresarial mais preocupadacom os sindicatos dos países locais, para evitarcontratempos com o emprego da MDO.

Quanto ao ponto sobre a estabilidade do ambientepolítico (p = 0,01), ele é analisado em 78,6% pelassubsidiárias instaladas na OCDE e em 54% nas inseridasem países não-membros da OCDE. A recomendaçãofica mais em função da proximidade da MNBRs com ogoverno do que com sua estabilidade diretamente: asque são mais dependentes de políticas públicas devembuscar governos mais proativos, que se encontram nospaíses que não são membros da OCDE. Por outro lado,a estabilidade não é tão segura como nos países daOCDE, o que leva a uma análise, segundo a qual podeser necessário utilizar recursos que previnam riscos não-comerciais, como os oferecidos pela Agência Multilateralpara Garantias de Investimento (Miga), órgão do GrupoBanco Mundial.

4.2.4. Estratégia, estrutura e rivalidade dasempresas (competição)

O atributo “estratégia, estrutura e rivalidade” foiconstituído pelas avaliações acerca da intensidadeda competição no país, da velocidade da inovaçãode produtos dos competidores e da proatividade eapoio do governo para o crescimento industrial einvestimentos. A priori, 65,8% das subsidiárias loca-lizadas em países não-membros da OCDE concordamque a competição é intensa, que a velocidade nainovação é alta e que o governo nacional é altamenteproativo, ao passo que 60,8% das empresas em paí-ses-membros da OCDE qualificam da mesma maneiraos critérios supracitados. Logo, não foi verificada umadiferença significativa entre os grupos de países.

4.2.5. O ambiente competitivo da OCDE e não-OCDE e a criação de valor

Realizada a análise dos atributos separadamente,resta verificar se existe alguma associação das ativi-dades de maior valor (P&D) com as características doambiente separado por subsidiárias em países daOCDE e fora da OCDE. O resultado (Tabela 2) mostraque, quando a subsidiária se encontra na OCDE,existe uma forte e significativa associação com com-petências de P&D, diferentemente das subsidiáriasem países da não-OCDE, em que a associação é fracae não-significativa. Finalmente, o resultado embasaque, para as subsidiárias de multinacionais brasileiras,a estratégia de entrada e localização em países daOCDE está associada com o desempenho de ativi-dades de maior valor agregado (P&D).

4.3. A avaliação do diamante regionalvs. as global

A segunda parte dos resultados investiga asquestões quatro e cinco, levantadas no referencialteórico: (4) a avaliação das características doambiente sofre alterações quando são compa-radas as atuações das subsidiárias de multina-cionais brasileiras na América do Sul (regiãofronteiriça e mais próxima geograficamente) comaquelas em regiões mais distantes geografi-camente?; (5) essa avaliação diferenciada temimpacto na formação de FSA no exterior, repre-sentada pela criação de valor por meio dascompetências em P&D nas subsidiárias?

A Tabela 3 mostra a avaliação das característicasdo diamante pelas subsidiárias com escopo geo-

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Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

Tabela 2: Correlação P&D e avaliação do diamante na OCDE vs. não-OCDE

Correlations Pesquisa e Desenvolvimento

Diamante membro da OCDECorrelation Coefficient 0,723

Sig. 0,001Spearman’s rho

Diamante não-membro da OCDECorrelation Coefficient 0,179

Sig. 0,401

Fonte: autores.

Variáveis N Mean Std. Dev. t df Sig.

Diamante NacionalRegional 29 3,11 0,63764 -2,72 63 0,008

Global 36 3,582 0,73682

Os consumidores locais exigem Regional 27 3,48 0,975 -3,04 60 0,003

padrões elevados Global 35 4,26 1,01

A demanda de mercado está Regional 29 3,93 0,842 1,707 62 0,093

crescendo rapidamente Global 35 3,51 1,067

Há boas instituições de suporte Regional 29 2,86 1,026 -1,83 63 0,073

aos negócios Global 36 3,33 1,042

As capacidades e qualidades dos Regional 28 3,21 0,833 -2,02 60,97 0,048

fornecedores são elevadas Global 35 3,69 1,022

O relacionamento entre compradores Regional 29 3,59 0,682 -0,78 61,33 0,437

e fornecedores é forte Global 35 3,74 0,919

Existem importantes centros Regional 26 2,23 0,71 -1,3 58 0,200

de pesquisa Global 34 2,59 1,258

A Mão-de-Obra é barata Regional 29 2,97 0,906 2,488 63 0,016

Global 36 2,25 1,317

O ambiente politico Regional 28 3,07 1,331 -3,64 62 0,001

Global 36 4,14 1,018

O governo nacional é altamente Regional 29 3,14 1,329 -0,77 59,38 0,447

pró-ativo Global 36 3,39 1,293

A competição no país é intensa Regional 26 4,15 1,084 -1,13 46,74 0,266

Global 36 4,44 0,877

A velocidade na inovação de produtos Regional 22 3,18 1,22 -1,22 44,07 0,228

dos competidores é alta Global 36 3,58 1,204

Fonte: autores.

Dem

an

da

Seto

res

Fato

res

Co

mp

eti

ção

Tabela 3: Comparativa dos atributos do diamante e escopo geográfico

gráfico regional vs. as subsidiárias em países fora daAmérica do Sul.

Os resultados mostram que existe uma diferençasignificativa (p = 0,01) entre a avaliação do diamantedas subsidiárias regionais e globais tomadas porescopo geográfico de atuação. Atuar regionalmente,embora seja uma estratégia que envolva menos riscoe minimize a crise de confiança no exterior, não ga-rante necessariamente acesso às melhores condiçõescompetitivas, estruturais e institucionais.

4.3.1. Condições de demanda

Assim como para a diferença entre os países-

membros da OCDE e os não-membros da OCDE, osresultados chamam atenção para a aresta da de-manda. As subsidiárias em mercados mais afastadosgeograficamente têm um ambiente muito mais com-petitivo, em virtude da demanda acirrada (p = 0,10)e, conseqüentemente, ao maior nível de competiti-vidade e um padrão de exigência superior.

4.3.2. Setores correlatos e de apóio

Quanto aos setores correlatos, instituições de apoioe parceiras regionais são avaliadas como maisdeficientes (p = 0,05 e 0,10) quando comparadas àsde regiões mais afastadas, devido ao fato de serem

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

mais desenvolvidas. Porém, é interessante ressaltar queestratégias regionais, ainda que minimizem a distânciapsíquica e o risco, nem sempre são as mais adequadaspara a arbitragem, mas talvez para a integração ouadaptação dos mercados, já que a demanda se apre-senta mais aquecida nos mais vizinhos.

4.3.4. Condições dos fatoresQuanto às condições dos fatores (p = 0,01), a dife-

rença significativa permanece no que tange à mão-de-obra e ao ambiente político. Apesar de as globaisse localizarem também no Leste Europeu, no OrienteMédio, no Pacífico da Ásia e na China, a avaliaçãoainda é influenciada pelos países da OCDE. Entretanto,a crescente instabilidade política da região sul-ameri-cana, atrelada a condições de trabalho pouco quali-ficadas, pesam negativamente na avaliação. Não é maiso simples trade off entre mão-de-obra mais barata,pois o custo para acessá-la pode ser maior que o custodo risco de se aventurar além das fronteiras regionais.

4.3.4. Estratégia, estrutura e rivalidade dasempresas (competição)

Os resultados mostram que não existe uma dife-rença significativa em relação específica à compe-tição. Ainda que as subsidiárias em países não-regionais façam uma avaliação mais positiva destefator, mostrando que é melhor operar nestes países,a diferença não pode ser notada como significativa.

4.3.5. O ambiente competitivo da OCDE e não-OCDE e a criação de valor

A Tabela 4 mostra a correlação de Spearman paracriação de valor FSA, por meio das competências emP&D nas subsidiárias.

O resultado mostra que existe uma moderada esignificativa associação com competências de P&Dquando as subsidiárias se encontram além do âmbitoregional. Em oposição, as subsidiárias regionais têmuma associação fraca e não-significativa. Logo, a es-tratégia regional pode ser um driver para a exploraçãode mercado e crescimento, mas não para a cons-tituição de estratégias de desenvolvimento de FSA noexterior. Esse tipo de dado tende a levar para umaestratégia de internacionalização entre a arbitragem,caso se opte pelos mercados globais, e a adaptação,no contexto regional.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Tabela 5 é uma síntese dos resultados obtidospor meio das respostas às perguntas levantadas.

Os resultados da pesquisa mostram que as subsi-diárias de multinacionais brasileiras avaliam o am-biente competitivo exterior de maneira positiva emgeral. Isto é importante, dada a associação das boascondições do contexto competitivo e institucional

Tabela 4: Correlação P&D e avaliação do diamante quanto ao escopo geográfico

Correlations Pesquisa e Desenvolvimento

Diamante RegionalCorrelation Coefficient 0,311

Sig. 0,208Spearman’s rho

Diamante GlobalCorrelation Coefficient 0,496

Sig. 0,016

Fonte: autores.

Tabela 5: Principais resultados

1) Existe alguma associação entre a avaliação do ambiente externo e a criação de valor no exterior? Sim e Positiva

2) Existe uma diferença de avaliação das subsidiárias estrangeiras brasileiras quanto a avaliação do Sim e positiva para asambiente competitivo dos países da OCDE em comparação aos países não pertencentes a OCDE? subsidiárias na OCDE

3) A diferença de avaliação do ambiente tem reflexos também nas competências de inovação Sim e positiva para as(P&D) atribuídas pelas subsidiárias estrangeiras brasileiras? subsidiárias na OCDE

4) A avaliação das características do ambiente sofre alterações quando comparado a atuação Sim e positiva para asdas subsidiárias de multinacionais brasileiras na América do Sul (região fronteiriça e mais subsidiáriaspróxima geograficamente) e em regiões mais distantes geograficamente? não regionais

5) Essa avaliação diferenciada tem impacto na formação de FSA no exterior, representada pela Sim e positiva para as

criação de valor por meio das competências em P&D nas subsidiárias? subsidiárias não regionais

Fonte: autores.

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Felipe Mendes Borini, Edson Renel da Costa Filho e Moacir de Miranda Oliveira Júnior

com o desenvolvimento de atividades de maior valoragregado nas subsidiárias, como as competências emP&D. Entretanto, algumas ressalvas devem serponderadas.

Quando as subsidiárias estão instaladas em paísesda OCDE, a avaliação do ambiente é superior do quenaquelas subsidiárias instaladas fora dos países daOCDE, sendo que a atenção recai em especial pelaassociação forte e positiva de um ambiente maduroem países da OCDE, proporcionando o desenvolvi-mento de competências superiores em P&D. Logo,se a multinacional brasileira procura se internacio-nalizar para desenvolver novas tecnologias, adquirircompetências de alto valor e ter um impulso advindodos fornecedores e dos consumidores, os países-membros da OCDE devem ser priorizados.

Outro ponto que tange as investigações percor-ridas diz respeito ao escopo geográfico de atuaçãodas subsidiárias brasileiras. Aquelas em mercados sul-americanos têm uma avaliação mais fraca e não-associada à criação de competências de valor nassubsidiárias, em contraposição às subsidiárias globais,cuja avaliação está associada à criação de atividadesde maior valor agregado. Esse fenômeno, aliado àposição geográfica do Brasil, impele um esforço con-tra a tendência de regionalização das multinacionais,comum nos países da tríade. A simples expansão parafronteiras geográficas, embora garanta estratégiasde exploração de mercados e recursos (GHEMAWAT,2007), inibe a formação de FSA para a exploraçãoglobal, como ditado pelas estratégias de arbitragem.

Em última instância, antes de optar por essas reco-mendações ou avaliar a importância dos atributosdo Modelo Diamante, os decisores das empresasdevem ter algumas questões em mente: a empresaestá disposta e tem recursos para enfrentar o riscoque as distâncias geográficas trarão? O conjunto decompetências que se está mobilizando atende e éatendido pela estrutura e estratégia que estão sendo

arquitetados? A empresa tem a flexibilidadenecessária para se ajustar à demanda e aosfornecedores locais? Há canais de comunicação quepermitam a transferência de conhecimento entre asunidades e ganhos efetivos para toda a corporação?Finalmente, há competências e estruturas suficientespara manter a referida empresa em expansãointernacional e solidificação local?

Essas são algumas das perguntas freqüentes emprocessos de internacionalização. Mas não são as únicas.Cada caso tem suas particularidades, pois pretendeexplorar determinadas oportunidades, ou expandirdeterminadas competências das empresas. Isso leva aoprimeiro limite dessas análises. A generalidade com queforam tratados os atributos e feitas as conclusões deveser considerada nas formulações estratégicas.

Outro limite se refere à amostra. Foram analisadas66 subsidiárias de diversos setores. Isso pode diluirdiferenças interessantes que gerariam análises maisfocadas e mais precisas. Como cada setor tem suasparticularidades, as diferenças seriam equalizadas notratamento dos dados. Outro limite depende da vontadeda própria matriz em explorar o meio externo. Umquarto limite seria que os respondentes foram altosdirigentes das unidades. Além do fato de haver, entreestes, aqueles com menor tempo na empresa ecapacidade analítica, há também a possibilidade dehaver distorção nas avaliações para favorecer a atuaçãodas subsidiárias em relação a outras unidades da matriz.

Finalmente, há uma necessidade de serem desen-volvidos mais estudos nessa área. Para as futuras pes-quisas, fica um espaço entre a importância da perspectivaambiental em conjunto com as demais, ou seja, com aforça da matriz e da iniciativa da própria subsidiária, assimcomo uma necessidade de se avaliar se há outras variáveisque influenciem o processo decisório e que não per-tençam às fronteiras nacionais, por exemplo, a atuaçãode financiamento e garantia do Grupo Banco Mundialou as análises técnicas da Unctad.

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A INFLUÊNCIA DO AMBIENTE COMPETITIVO NAS ESTRATÉGIASDAS SUBSIDIÁRIAS ESTRANGEIRAS DE MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

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O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA: UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA:

UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

POST-PURCHASE BEHAVIOR OF THE DISSATISFIED CONSUMER:

A CONFIRMATORY STUDY

RESUMO

Em um mercado cada vez mais competitivo, no qual empresas deixaram de competir localmente paracompetir globalmente, entender e prever o comportamento dos consumidores torna-se uma obrigaçãopara a sobrevivência de qualquer negócio. A compreensão do comportamento dos consumidores auxilia asempresas na definição de suas estratégias mercadológicas, a fim de ofertar ao mercado produtos e serviçosque satisfaçam seus clientes. Para tanto, além de compreender o comportamento do consumidor noprocesso de decisão de compra, faz-se necessário compreender também como agem os consumidorespós-compra, em especial quando estão insatisfeitos com as trocas efetuadas. Este trabalho apresenta osresultados de uma pesquisa quantitativo-descritiva, realizada por meio de levantamento de campo junto a336 respondentes, na qual foi utilizado como instrumento um formulário contendo 47 assertivas que,embasado em revisão da literatura e com o uso da técnica multivariada análise fatorial, identificou açõescomportamentais de consumidores insatisfeitos pós-compra. Estas ações foram classificadas em cincodiferentes comportamentos: (a) reclamar com a loja ou o fabricante; (b) parar de comprar a marca ou naloja; (c) promover comunicação boca a boca negativa; (d) reclamar com órgãos privativos ou governamentais;e (e) iniciar processo jurídico.

Palavras-chave: comportamento do consumidor, processo pós-compra, insatisfação.

Recebido em: 07/07/2008Aprovado em: 15/10/2008

Endereços dos autores:

Ricardo JatoRua Leone Angeli, 119 - Rudge Ramos, São Bernardo do Campo-SP - CEP 09613030 - e-mail: [email protected]

Reginaldo Braga LucasAl. Dona Tereza Cristina, 692 - Nova Petrópolis - São Bernardo do Campo-SP - CEP 09770-330 - e-mail: [email protected]

Milton Carlos FarinaRua João Pessoa, 601- Centro - São Bernardo do Campo-SP - CEP 09715-000 - e-mail: [email protected]

Paulo Henrique TentrinRua Rui Barbosa, 361, apto.84 - B. Boa Vista, Santo André-SP - CEP 09190-370 - e-mail: [email protected] / [email protected]

Mauro Neves GarciaRua Santo Antônio, 50 - Centro - São Caetano do Sul-SP - Brasil - e-mail: [email protected]

Ricardo JatoProfessor do Curso de Administração Universidade Metodista de São Paulo UMESP

Reginaldo Braga LucasProfessor do Curso de Administração - Faculdade de São Bernardo - FASB

Milton Carlos FarinaProfessor de Administração Mercadológica, curso de Administração - Faculdade de São Bernardo do Campo - FASB

Paulo Henrique TentrinProfessor de Ciências Exatas/ Faculdade São Bernardo do Campo - FASB

Mauro Neves GarciaGestor do Programa de Mestrado da Universidade Municipal de São Caetano do Sul - USCS e professor de seu PMA

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ABSTRACT

In a more and more competitive market, in which companies no longer compete locally to compete globally,understanding and foresing the consumers’ behavior becomes an obligation for the survival of any business.The comprehension of the consumer behavior helps the companies in the definition of their marketingstrategies, in order to offer to the market products and services that satisfy their customers. Therefore,besides the comprehension of the consumer behavior in the purchase decision process, it is also necessary tocomprehend how the consumers act post-purchase, especially when they are dissatisfied with the businessdone. This study presents the results of a quantitative-descriptive survey applied to 336 respondents, inwhich it was used as instrument a form with 47 assertions that, based on the literature review and with theuse of the multivariate factor analysis technique, has identified post-purchase behavior actions of the dissatisfiedconsumers. These actions have been classified into five different behaviors: a) complain with the store or themanufacturer; b) stop buying the brand or in the store; c) promote a negative word-of-mouth; d) complainwith private or government organism and; e) start law action.

Keywords: consumer behavior, post-purchase process, dissatisfaction.

1. INTRODUÇÃO

Em um mercado cada vez mais competitivo, noqual empresas deixaram de competir localmente paracompetir globalmente, entender e prever o comporta-mento dos consumidores torna-se uma obrigaçãopara a sobrevivência de qualquer negócio. Os clientesestão cada vez mais exigentes, mais difíceis de seragradados, mais conscientes e inteligentes, perdoammenos e são assiduamente abordados pelos concor-rentes, com ofertas iguais ou melhores (KOTLER, 2000).

Tão importante quanto entender o comportamen-to dos consumidores no que diz respeito às decisõesna compra de produtos e serviços, é compreendercomo estes mesmos consumidores se comportamcom relação às reclamações pós-compra. Afinal, gran-de parte do sucesso de uma empresa depende dasatisfação de seus consumidores com seus produtose serviços. Diante deste contexto, coloca-se a seguintequestão: que comportamento os consumidoresassumem quando insatisfeitos com um produtoou serviço?

Este artigo aborda o comportamento dos con-sumidores pós-compra e tem como objetivo identi-ficar ações comportamentais de consumidores quan-do insatisfeitos com a aquisição de um produto oude um serviço. É continuação do trabalho desenvol-vido por Polloni et al. (2004), que realizaram umapesquisa qualitativa para conhecer o processo de re-clamação pós-compra dos consumidores em relação

a bens e serviços. Apresenta os resultados quantita-tivos do comportamento do consumidor quando in-satisfeito, resultados estes que receberam tratamentoestatístico, visando à identificação de fatores quedeterminam o comportamento de reclamação dosconsumidores pós-compra.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

A decisão de compra de um produto ou serviçopode parecer algo corriqueiro ou até mesmo auto-mático, algo que o indivíduo faz sem se dar conta;entretanto, trata-se de um processo complexo, quesegue vários estágios até sua efetivação.

Segundo Engel, Blackwell & Miniard (2000), a tomadade decisão do consumidor tem os seguintes estágios:

1. reconhecimento de necessidade – percepçãoda diferença entre a situação desejada e asituação real;

2. busca de informação – informação armazenadana memória ou oriunda do ambiente externo;

3. avaliação de alternativa pré-compra – opçõesem termos de benefício esperado e alternativapreferida;

4. compra – aquisição da alternativa preferida oude uma substituta;

5. consumo – utilização da alternativa comprada;

6. avaliação de alternativa pós-compra – satisfa-ção que a experiência de consumo produziu;

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O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA: UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

7. despojamento – descarte do produto não-con-sumido ou do que dele restou.

Os referidos autores destacaram que a tomadade decisão do consumidor é influenciada por diversosfatores, que podem ser divididos em três categorias:(1) diferenças individuais, englobando os recursos doconsumidor, seu conhecimento, suas atitudes, suamotivação, sua personalidade, seus valores e seu estilode vida; (2) influências ambientais, englobando cultu-ra, classe social, influência pessoal, família e situação;(3) processos psicológicos, englobando processamen-to de informação, aprendizagem, mudança de atitudee comportamento.

Engel, Blackwell & Miniard (2000) afirmaram queo envolvimento pessoal é o fator mais importante quemolda o tipo de comportamento de processo decisó-rio que será seguido. Quanto maiores forem o tempoe a energia despendidos na aquisição de um produtoou serviço, maior será a expectativa gerada no consu-midor em relação à satisfação com o bem adquirido.

Dentre os diversos fatores de influência no compor-tamento do consumidor, a satisfação merece conside-ração por sua relevância. A importância da satisfação docliente foi destacada por Drucker (1973), ao afirmar queo propósito de todo negócio é criar e manter clientessatisfeitos. O mesmo tema foi abordado por Kotler(2000), o qual reconheceu que boa parte da teoria eprática de marketing das empresas concentra-se naatração de novos clientes, em vez de concentrar-se naretenção dos clientes existentes, e enfatiza que o instru-mento para retenção de clientes é a satisfação destes.

Neste mesmo sentido, Sheth, Mittal & Newman(2001) destacaram que um dos maiores desafios dasempresas é entender por que seus clientes se sentemsatisfeitos ou insatisfeitos. A satisfação ou insatisfaçãose dá após a experiência adquirida com o uso de umproduto/serviço e a percepção de valor recebido comessa experiência. Para Churchill & Peter (2005), aavaliação pós-compra concentra-se no fato de osconsumidores terem ou não recebido um bom valor.

Para Solomon (2002), a satisfação ou insatisfaçãodo consumidor é determinada pelas sensações gerais,ou atitudes, que as pessoas têm em relação a umproduto depois de comprá-lo. A satisfação freqüen-temente é determinada pelo quanto o desempenhode um produto é coerente com as expectativasprévias do consumidor sobre seu funcionamento.

O tema satisfação do consumidor tem atraídopesquisadores no Brasil, dada a sua importância parao entendimento de variáveis que influenciam o com-portamento de consumidores (ROSSI & SLONGO, 1997;FARIAS & SANTOS, 1998; URDAN & RODRIGUES, 1998; MAR-CHETTI & PRADO, 2001; LARÁN & ROSSI, 2006).

Neste contexto, o grau de expectativa e o nívelde satisfação do consumidor com relação aos produ-tos e serviços merecem destaque.

2.1. O modelo de quebra de expectativas

Uma das teorias relativas ao desenvolvimento dasatisfação e da insatisfação do consumidor é a do modelode quebra de expectativas (MOWEN & MINOR, 2005).

Esse modelo estabelece que os consumidoresdesenvolvem expectativas referentes a como deveriaser o desempenho do produto adquirido. Se o desem-penho real do produto, ou a percepção do clientecom relação à qualidade esperada, ficar abaixo dasexpectativas, o resultado será insatisfação emocionalcom o produto. Se o desempenho do produto ficaracima do esperado, haverá satisfação emocional.Havendo equilíbrio entre o desempenho esperado eas expectativas do cliente, o resultado será aindiferença, ou seja, o consumidor não exprime deforma consciente sua satisfação.

Outro fator de influência na geração de expectati-vas nos clientes são as campanhas de marketing. Con-forme observaram Sheth, Mittal & Newman (2001),se a comunicação e outros elementos do compostode marketing prometem demais, podem criarexpectativas que o produto ou serviço não conseguesatisfazer, correndo o risco de causar insatisfação docliente. As empresas precisam encontrar um pontode equilíbrio, a fim de comunicar objetivamente osatributos reais de seus produtos, sem, contudo, gerarexpectativas irreais em seus clientes.

2.2. Insatisfação e comportamento doconsumidor

Um dos pontos importantes a serem monitoradospelas empresas é a insatisfação de seus consumidores,que não necessariamente reclamam sobre seus de-sagrados com relação aos produtos adquiridos. Se-gundo Goodman (2006), ao atender às expectativasdos consumidores revertendo suas reclamações em

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Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas, Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia

satisfação, uma empresa pode aumentar a lealdadedos clientes. Uma das maneiras de se garantir a satis-fação dos clientes é fornecer a estes informações eesclarecimentos sobre os produtos e serviços rece-bidos (HUANG & LIN, 2005).

Para Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007), quan-do um consumidor está insatisfeito, a conseqüênciamais favorável é comunicar essa insatisfação à em-presa, pois isto alerta a empresa para os problemas,permite correções e minimiza a comunicação boca aboca negativa.

A questão de satisfação, ou insatisfação, não estárelacionada apenas ao valor dos produtos ou serviços.Day (2002) observou que, para algumas situaçõesde compra, a qualidade se mostra mais importantedo que o preço pago, como nas questões ligadas àsaúde, incluindo médicos e hospitais, por exemplo.

Apesar da necessidade de toda empresa se preo-cupar em manter clientes satisfeitos, não se pode des-considerar a existência de clientes desonestos, dispostosapenas a obter vantagens das empresas, conformeapontaram os estudos de Reynolds & Harris (2005).Faz-se necessário, portanto, conhecer seus clientes paragarantir satisfazê-los em suas legítimas reclamações.

O trabalho de um profissional de marketing, por-tanto, não termina quando o consumidor adquire umproduto disponível no mercado, mas estende-se a fimde avaliar a satisfação e as ações do consumidor apóso consumo (KOTLER, 2000). Compreender como os con-sumidores agem após a compra e o consumo dos pro-dutos permite às empresas direcionarem suas ações,objetivando garantir a satisfação dos consumidores.

Para Solomon (2002), a satisfação ou insatisfação doconsumidor é determinada pelas sensações gerais ouatitudes em relação a um produto depois de comprá-lo.

Mowen & Minor (2005) afirmaram que o processopós-compra é composto por cinco estágios: (1) utili-zação ou consumo do produto; (2) satisfação ou insa-tisfação do consumidor; (3) comportamento de re-clamação do consumidor; (4) disposição dos produtos;e (5) formação de fidelidade à marca. Após o consumodo produto, o consumidor pode sentir-se satisfeito ouinsatisfeito com a compra. Ocorrendo satisfação, oconsumidor está mais propenso a tornar-se fiel à mar-ca, bem como a efetuar novas compras; caso contrário,diante da insatisfação, ocorrerá o comportamento de

reclamação. O comportamento de reclamação doconsumidor envolve as diferentes ações que osconsumidores tomam quando estão insatisfeitos comuma compra (MOWEN & MINOR, 2005).

Para Sheth, Mittal & Newman (2001), o processopós-compra é seguido de algumas reações do consu-midor: (1) o consumidor confirma sua decisão; (2) ava-lia sua experiência; (3) conclui sua satisfação ou insa-tisfação; e (4) formula sua resposta ou sua ação futura,que pode estar relacionada com o ato de abandonara marca ou o produto, reclamar ou desenvolver leal-dade ao produto, serviço ou fornecedor.

No que diz respeito à insatisfação, Engel, Blackwell& Miniard (2000) afirmaram que o consumidor,quando insatisfeito, pode agir de diferentes maneiras,como manifestar-se verbalmente no ponto de venda,promover comunicação boca a boca negativa ou pro-curar seus direitos por meio de processos legais, porexemplo.

Estas mesmas ações do consumidor também fo-ram citadas por Solomon (2002). Segundo este autor,três são as respostas do consumidor frente à situaçãode insatisfação em relação a uma compra: (1) recla-mação expressiva, que é a reclamação para o lojista(ou fabricante), visando à compensação; (2) respostaparticular, que é a manifestação para amigos sobre ainsatisfação com a loja ou com o produto; e (3)resposta de terceiro, que é a busca por medidas legaiscontra a situação.

Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007) propu-seram um modelo abrangendo cinco opções de açãopara um consumidor insatisfeito que deseja agir,conforme mostra a Figura 1.

Neste modelo, a ação de um consumidor insatis-feito pode estar nos itens seguintes:

1 – reclamar com a loja ou com o fabricante;

2 – parar de comprar a marca ou na loja;

3 – fazer propaganda boca a boca negativa;

4 – reclamar com órgãos privativos ou gover-namentais;

5 – iniciar um processo jurídico.

Por parecer um modelo mais detalhado do com-portamento do consumidor insatisfeito, o modeloproposto por Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007)foi adotado para as análises da presente pesquisa.

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O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA: UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

Figura 1: Resposta à insatisfaçãoFonte: Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007).

Insatisfação

Agir Não Agir

Atitude menosfavorável

Reclamarcom a loja ouo fabricante

Parar decomprar a marca

ou na loja

Boca aboca

negativo

Reclamar comórgãos privativos

ou governamentais

Iniciarprocessojurídico

3. MÉTODOS E PROCEDIMENTOS

O presente estudo é continuação dos trabalhosdesenvolvidos por Polloni et al. (2004). Trata-se deuma pesquisa descritiva realizada por meio de levan-tamento de campo, na qual foi utilizado como ins-trumento um formulário contendo 47 assertivas, utili-zando-se escala tipo Likert de concordância com cincopontos, construído a partir da base da pesquisa ex-ploratória realizada por Polloni et al. (2004), na qualos autores buscaram conhecer o processo de recla-mação dos consumidores da cidade de São Pauloem relação a bens e serviços.

Os 336 participantes da amostra, selecionada porconveniência, estão distribuídos em homens e mu-lheres, com faixa etária entre 18 e 30 anos, mora-dores da região do Grande ABC paulista e circun-vizinhança. A amostra por conveniência foi adotadapor permitir a verificação e ou a obtenção de idéiassobre determinados assuntos de interesse (MATTAR,2007), neste caso, o comportamento do consumidorpós-compra quando insatisfeito.

Os resultados obtidos nesta pesquisa foramsubmetidos à técnica de análise fatorial exploratória,objetivando-se associar as assertivas obtidas porPolloni et al. (2004) às opções de ação propostas porHawkins, Mothersbaugh & Best (2007), conformemostra a Figura 1. Para a realização das análises esta-tísticas, foi utilizado o software SPSS (StatisticalPackage for the Social Sciences) versão 13.0.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O projeto original, desenvolvido por Polloni et al.(2004), considerou os achados de Day & Burbon(1978) para retratar o comportamento dos partici-pantes da discussão em grupo sobre como procederquando insatisfeitos, resultando em um conjunto deassertivas. O presente trabalho tomou como basetais assertivas, bem como as contribuições de Engel,Blackwell & Miniard (2000), e analisou o processode compra sob a ótica da reclamação. A pesquisa decampo realizada forneceu subsídios para validar otrabalho de Polloni et al. (2004), confirmando asassertivas que se relacionam ao comportamento dereclamação pós-compra.

Neste sentido, o uso da análise fatorial buscouencontrar os fatores que representam, possivelmente,os tipos de comportamentos que os consumidorespossam apresentar, em conformidade com o modeloproposto por Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007).

A matriz de correlação apresentou várias correla-ções expressivas, com valores superiores a 0,30, o quejustifica o uso de análise fatorial. A medida de adequaçãoda amostra (KMO) apresentou o valor 0,749, superiora 0,5, e o teste Bartlett de esfericidade rejeitou a hipótesede a matriz de correlação ser igual à matriz identidade.Todas as assertivas, de forma individual, apresentaramvalores de adequação da amostra superior a 0,5 e, dessaforma, todas foram mantidas na análise. Os valores sãoapresentados na Tabela 1.

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Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas, Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia

A análise fatorial identificou seis fatores com ei-genvalues superiores a 1, e a rotação Varimax apre-sentou os valores que constam da Tabela 2, a seguir,que são as cargas fatoriais. Segundo Hair et al. (2005:109), o pesquisador tenta designar algum significado

para o padrão de cargas fatoriais, e as assertivas comcargas mais altas são consideradas mais importantespara se nomear o fator. Neste trabalho, optou-se pornomear e comparar os fatores, conforme o modeloproposto por Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007).

A primeira opção proposta por Hawkins, Mother-sbaugh & Best (2007), no que diz respeito às açõesdos consumidores, é reclamar com a loja ou com ofabricante. Os resultados da análise fatorial confir-mam a utilização desta opção pelos entrevistados.As assertivas que se ajustaram a esta primeira opçãosão apresentadas no Quadro 1.

Para o consumidor que ficou insatisfeito com acompra realizada e pretende tomar algum tipo de

Tabela 1: Análises KMO e teste de Bartlett

Kaiser-Meyer-Olkin Measure of Sampling

Adequacy. ,749

Bartlett’s Test of Approx. Chi-Square 963,217

Sphericity df 171

Sig. ,000

Fonte: dados da pesquisa.

Tabela 2: Análise fatorial – Rotação Varimax

Rotated Component Matrix a

Extraction Method: Principal Component Analysis.Rotation Method: Varimax with Kaiser Normalization.a. Rotation converged in 8 iterations.Fonte: dados da pesquisa.

Component

Quadro 1: Reclamar com a loja ou com o fabricante

V3 Evito usar o Serviço de Atendimento ao Consumidor, prefiro ir ao ponto de venda.

V8 Para reclamações sobre produtos alimentícios, vou primeiro ao ponto de venda.

V27 Se o produto for importante, sempre vou reclamar diretamente na loja.

V38 Evito usar o Serviço de Atendimento ao Consumidor, prefiro ir diretamente ao fabricante.

V41 Para efetuar uma reclamação, ligo primeiro para o ponto de venda para verificar como devo proceder.

V42 É mais fácil reclamar diretamente no ponto de venda do que com o fabricante.

V43 Costumo reclamar primeiro na loja, por causa do nível de relacionamento.

Fonte: dados da pesquisa.

atitude, a opção de reclamar com a loja ou com ofabricante do produto parece ser uma reaçãonatural ou menos complexa de ser levada adiante.Os consumidores julgam que a empresa temobrigação de zelar pelo bem-estar de seus clientes,tanto por razões legais como por razões morais.A empresa parece ser o lado mais forte, o que lheconfere poderes superiores aos dos consumidores,e também deveres (GIGLIO & CHAUVEL, 2002).

Para Sheth, Mittal & Newman (2001), o pro-cesso pós-compra é seguido de algumas reaçõesdo consumidor, sendo que reclamar ou desen-volver lealdade ao produto, serviço ou fornecedorfazem parte das opções disponíveis ao con-sumidor.

Os resultados da pesquisa mostram que a op-ção de reclamação é mais utilizada pelos parti-cipantes da pesquisa, o que pode ser consideradoimportante para as empresas, pois, conformeobservaram Hawkins, Mothersbaugh & Best(2007), permite correções e minimiza a comuni-cação boca a boca negativa.

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O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA: UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

A falta de cuidado, por parte da empresa, em ge-renciar as reclamações dos clientes, bem como a faltade preocupação com clientes insatisfeitos, pode levar aempresa a perder clientes, fato que pode ser comprovadopor meio dos resultados das análises efetuadas. Asegunda opção proposta por Hawkins, Mothersbaugh& Best (2007), no que diz respeito às ações dos con-sumidores, é parar de comprar a marca ou parar decomprar naquela loja. As assertivas que se ajustaram aesta segunda opção são apresentadas no Quadro 2.

A análise fatorial indica que os consumidores tam-bém utilizam esta opção quando estão insatisfeitoscom os produtos e serviços adquiridos. Dentre osvariados comportamentos que o consumidor podeadotar, talvez este seja o mais nocivo para a empresa,pois não permite a ela identificar as causas de insa-tisfação de seus clientes.

Mesmo após ter reclamado à loja ou à empresa,e mesmo após ter recebido algum tipo de soluçãopor parte da loja ou da empresa, o consumidor aindapoderá sentir-se insatisfeito. Cabe, portanto, à empre-sa buscar contentá-lo com a resposta esperada, pois,caso contrário, este consumidor poderá ter comporta-mentos negativos, como comunicação negativa bocaa boca e mudança de marca (SANTOS, 1997).

Fazer propaganda boca a boca negativa é a terceiraopção de ação dos consumidores insatisfeitos, conformepropuseram Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007). Asanálises estatísticas não apresentaram agrupamentos deassertivas associadas a esta opção; entretanto, os autoresentenderam que a variável V7 (“Quando minhas recla-mações não são resolvidas, manifesto-me publicamente– “quebro o pau” – na loja em que efetuei a compra”)pode ser classificada como um comportamento dereclamação negativa boca a boca.

Esta afirmação considera o fato de que a variávelV7 expressa o desejo dos clientes de manifestarem-se publicamente, permitindo inferir que tal comporta-

Quadro 2: Parar de comprar a marca ou na loja

V4 Não volto a contratar serviços dos quais reclamei.

V12 Ao comprar produtos de alto valor que apresentam defeitos, deixo de comprar a marca.

V21 Apesar de não reclamar, não volto a comprar na mesma loja.

V34 Deixo de utilizar marcas de produtos que me deram problemas.

V39 Ao comprar produtos do dia-a-dia que apresentam defeitos, deixo de comprar a marca.

Fonte: dados da pesquisa.

mento pode ser enquadrado como a opção “boca aboca negativo”, do modelo proposto por Hawkins,Mothersbaugh & Best (2007).

A propaganda boca a boca negativa parece seruma ação de fácil adoção quando se considera quea comunicação contrária chama mais a atenção dosindivíduos (LOUREIRO et al. 2003).

Sheth, Mittal & Newman (2001) afirmaram que,quanto maior a insatisfação do consumidor, maior aprobabilidade de ele engajar-se em comportamentosde reclamação, como a comunicação boca a bocanegativa, por exemplo. Para estes autores, essaprobabilidade pode variar em função de diferentesaspectos situacionais e individuais, como o envol-vimento do consumidor no contexto, bem como como produto ou serviço adquirido.

Considerando que as reclamações dos consu-midores são valiosas para aperfeiçoamentos neces-sários ao produto e que, freqüentemente, represen-tam necessidades ainda não satisfeitas e, ainda, for-necem subsídios para se estabelecerem melhoriasjunto às empresas (SANTOS, 1997), pesquisar as razõesde um comportamento de comunicação contrária de-ve ser umas das prioridades das empresas.

Conforme observaram Loureiro et al. (2003), osconsumidores, após a experiência positiva com umserviço ou produto, são menos vulneráveis a comu-nicações verbais negativas, sinalizando para asempresas a importância do investimento na satisfaçãode seus clientes.

Consumidores insatisfeitos podem também recla-mar com órgãos privativos ou governamentais, aquarta opção proposta por Hawkins, Mothersbaugh& Best (2007).

A variável V13 (“Os consumidores sabem comoproceder legalmente para fazer suas reclamações”),embora contenha a expressão “proceder legal-mente”, parece expressar as opções disponíveis para

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Ricardo Jato, Reginaldo Braga Lucas, Milton Carlos Farina, Paulo Henrique Tentrin e Mauro Neves Garcia

os consumidores que desejam reclamar com órgãosprivativos. Isto implica dizer que os consumidorespodem recorrer aos órgãos públicos na tentativa defazer valer seus direitos sem, contudo, iniciar umprocesso judicial. Neste contexto, a imprensa pareceser uma das opções disponíveis aos consumidores.

Para Giglio & Chauvel (2002), a relação socialentre cliente e empresa, pautada nos valores dereciprocidade, lealdade, justiça, responsabilidade legale moral, pode levar os consumidores a recorrerem àimprensa, a fim de trazer essa relação idealizada paraa realidade, defendendo, assim, suas idéias a respeitodo que a empresa deveria ser e, também, adotandopráticas que buscam sua transformação.

Mesmo recorrendo a órgãos públicos, os quaisnão necessariamente possuem força jurídica para fa-zerem valer as reivindicações dos consumidores, háainda a possibilidade de estes buscarem auxílio jurí-dico, conforme apontam os resultados das análisesda pesquisa. Iniciar um processo jurídico foi a quintaopção proposta por Hawkins, Mothersbaugh & Best(2007). As assertivas que se ajustaram a esta quintaopção são apresentadas no Quadro 3.

A análise fatorial das assertivas indica que osconsumidores também utilizam esta opção quando estãoinsatisfeitos com os produtos e serviços adquiridos.

Os consumidores brasileiros têm à sua disposiçãoinstrumentos jurídicos que lhes garantem seus direitosnas relações de consumo. De acordo com Menezes(2003), a legislação brasileira é avançada, comportaum nível complexo de defesa dos interesses dos con-sumidores, traz um excelente instrumental na defesaindividual e coletiva dos interesses da comunidadeconsumidora.

Apesar do aparato jurídico à disposição dos con-sumidores, não são todos que têm plena consciênciade seus direitos, e, desta forma, deixam de exercerseus direitos. Para Pajoli (1994), a questão da edu-cação é ponto fundamental para tornar o consumidormais crítico e preparado para exercer hábitos de con-sumo de padrões mais elevados.

Esta afirmação foi corroborada por Menezes (2003).Para esta autora, a sociedade brasileira ainda estáaprendendo a lidar com os instrumentos colocados àsua disposição, uma vez que grande parte da popula-ção está excluída do processo produtivo e das relaçõesde consumo, seja pelos níveis de miséria que assolamo País, seja por desconhecimento dos instrumentosdisponíveis ou pela descrença na justiça, o que provocaum desestímulo na luta pelos direitos. Sem educação,ressaltou a autora, uma nação não desenvolve umaconsciência de cidadania ativa e participativa.

A falta de consciência de cidadania talvez seja umdos fatores que levam os consumidores a recorrer àjustiça apenas como uma das últimas alternativas.

5. CONCLUSÃO, RECOMENDAÇÕES ELIMITAÇÕES DA PESQUISA

Um dos objetivos de qualquer empresa é, por meioda oferta de produtos e serviços, satisfazer as neces-sidades de clientes. Para tanto, além de monitorar o nívelde satisfação dos clientes, entender como se comportamconsumidores insatisfeitos pode auxiliar as empresas noredirecionamento de suas estratégias e na adoção deações de melhoria. Neste sentido, o presente estudocorrobora o modelo de resposta à insatisfação propostopor Hawkins, Mothersbaugh & Best (2007).

Os resultados da pesquisa mostram que os con-sumidores, uma vez insatisfeitos, podem agir de dife-rentes maneiras, a saber: (1) reclamar com a loja oucom o fabricante; (2) parar de comprar a marca ouna loja; (3) promover comunicação boca a boca nega-tiva; (4) reclamar com órgãos privativos ou governa-mentais; e (5) iniciar um processo jurídico. Emboraapresentado em um formato linear e excludente, ouseja, pode-se adotar uma ação ou outra, as açõesdos consumidores insatisfeitos, propostas por Haw-kins, Mothersbaugh & Best (2007), nem sempre sãoobservadas na realidade, havendo, por vezes, umahierarquização para início do processo – “reclamaçãono ponto de venda” – e a adoção de múltiplas açõespara a solução do problema. Isto implica dizer que

Quadro 3: Iniciar processo jurídico

V28 Ao reclamar, sempre tenho a intenção de processar a empresa.

V30 Utilizo sempre um advogado para acelerar a resolução das minhas reclamações.

Fonte: dados da pesquisa

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O COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR INSATISFEITO PÓS-COMPRA: UM ESTUDO CONFIRMATÓRIO

os consumidores insatisfeitos podem optar por umaou mais ações, isoladas ou simultâneas.

Os resultados apresentaram dois fatores com ummaior número de assertivas agrupadas: (a) reclamarcom a loja ou com o fabricante; e (b) parar de comprara marca ou na loja. Não se pode afirmar que estesfatores são os mais significativos no que se refere aocomportamento do consumidor brasileiro quandoinsatisfeito; entretanto, observa-se que o número deassertivas associadas a eles são maiores do que nosdemais fatores. Talvez este fato indique uma tendênciade se recorrer, num primeiro momento, ao ponto devenda ou ao fabricante para efetivar a reclamação e,numa segunda opção, deixar de comprar o produtoou serviço ou, mesmo, a marca, caracterizando a hierar-quização citada. O formato da pesquisa não previuidentificar a priorização dada pelo consumidor comrelação às suas ações quando insatisfeito, tema esteque pode ser explorado em futuros trabalhos.

O presente estudo, embasado em revisão da lite-ratura e na utilização da análise fatorial cumpriu seuobjetivo principal, que foi o de identificar ações com-portamentais dos consumidores quando insatisfeitoscom a aquisição de um produto ou serviço. Conside-ra-se, entretanto, a necessidade de realização de pes-quisas adicionais, uma vez que determinadas ações,como a comunicação boca a boca negativa e a recla-mação com órgãos privativos ou governamentais não

apresentaram agrupamento significativo de assertivas.Os autores consideraram a possibilidade de estes doisfatores terem sido pouco explorados quando darealização dos grupos de discussão conduzidos porPolloni et al. (2004), o que não permitiu um númeromais expressivo de assertivas para medição de taisfatores. De acordo com Malhotra (2006), os gruposde discussão tendem a ser confusos, pois a naturezanão-estruturada das respostas torna a codificação, aanálise e a interpretação difíceis, fato que pode terinfluenciado na formação do conjunto de assertivasutilizadas no formulário de pesquisa.

Recomenda-se, portanto, a realização de pesqui-sas adicionais, visando a melhor explorar as diferentespossibilidades de ações dos consumidores quandoinsatisfeitos, bem como a ampliar a amostra de indiví-duos, de forma a torná-la mais representativa emrelação à diversidade de consumidores encontradano mercado.

Compreender como agem consumidores quandoinsatisfeitos permite às empresas corrigir eventuaisfalhas em seus produtos e serviços; para tanto, faz-se necessário estabelecer um canal entre empresa eclientes. Conforme observaram Wright, Kroll & Par-nell (2000), o sucesso da administração depende dacriação de um elo entre a empresa e seu ambienteexterno, por meio de atividades de análise ambiental.Espera-se que os resultados da presente pesquisapossam contribuir para o estabelecimento deste elo.

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CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/UFSM: A PERCEPÇÃODOS PROFESSORES E ALUNOS SOBRE O TEMA “PRÁTICAS PEDAGÓGICAS”

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DESANTA MARIA/UFSM: A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES E ALUNOSSOBRE O TEMA “PRÁTICAS PEDAGÓGICAS”ADMINISTRATION COURSE AT UNIVERSIDADE FEDERAL OF SANTA MARIA/UFSM:

THE TEACHERS AND STUDENTS PERCEPTION OF “PEDAGOGICAL PRACTICES”

RESUMO

Nos últimos anos, percebe-se o crescimento doscursos de Administração no Brasil e, conseqüen-temente, um quesito importante a considerar é aqualidade dos mesmos. Este estudo foi desenvol-vido junto à Universidade Federal de Santa Maria– UFSM/RS, tendo como objetivo identificar as prá-ticas pedagógicas utilizadas no curso de Adminis-tração como embasamento para a contextualizaçãoda relação ensino-aprendizagem. Foi realizada umasurvey no primeiro semestre do ano de 2007,envolvendo (i) professores que estavam atuandono curso de Administração da UFSM (28 profes-sores de um total de 32) e (ii) uma amostra estra-tificada de 216 alunos, de um total de 471 matric-ulados no curso (105 alunos do diurno e 111 alunosdo noturno). Dentre os resultados apurados, pode-se dizer que as práticas pedagógicas mais utilizadaspelos professores são as seguintes: aulas exposi-tivas, trabalhos em grupo e debates e/ou estudosde caso. A busca da adequação ao conteúdo e àárea foi fator determinante para 89% dos profes-sores quando indagados sobre os fatores que in-fluenciam a escolha da prática pedagógica. A maio-ria dos alunos revelou insatisfação em relação àexagerada ênfase na abordagem teórica e à falta,por parte dos docentes, de vivências empresariaiscomo forma de articular teoria e prática.

Palavras-chave: práticas pedagógicas, curso deAdministração, ensino-aprendizagem.

Endereços dos autores:

Shalimar GallonRua do Acampamento, 60/83, Centro - CEP 97050-000 - Santa Maria-RS - e-mail: [email protected]

Cláudia Medianeira Cruz RodriguesRua Floriano Peixoto, 1184 - Prédio da Antiga Reitoria - Sala 502 - CEP 97015-372 - Santa Maria-RS - e-mail: [email protected]

Shalimar GallonGraduanda em Administração - Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Cláudia Medianeira Cruz RodriguesProfessora da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM - Departamento de Ciências Administrativas

ABSTRACT

In the recent years, it has been noticed the growthin the Administration courses in Brazil and, conse-quently, an important matter to consider is thequality of it. This study was developed along withthe Universidade Federal de Santa Maria-UFSM/RS,and its objective was to identify the pedagogicalpractices used in the Administration courses asfoundation to the contextualization of the teaching-learning relation. A survey was realized in the firstsemester of 2007, it involved: (i) professors that wereacting in the Administration course at UFSM (28professors of a total of 32) and, (ii) stratifiedsampling of 216 students, of a total of 471subscribed in the course (105 students duringdaytime and 111 during the night). Among theresults, it was able to notice that the pedagogicalpractices that were more used by the professorsare: exhibition classes, works in group and debatesand/or case studies. The search for the appropriationof the content and the area was a determinant factorto 89% of the professors when asked about thefactors that influence in the choice of pedagogicalpractice. Most of the students revealed dissa-tisfaction in relation to the exaggerated emphasisin the theoretical approach and the lack, on thepart of the teachers, of business existences as formof articulating the theory and practice.

Keywords: pedagogical practices, Administrationcourse, teaching-learning.

Recebido em: 07/07/2008Aprovado em: 15/10/2008

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Shalimar Gallon e Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues

1. INTRODUÇÃO

Os cursos de Administração no Brasil têm umahistória muito curta, principalmente se ela for com-parada com a dos Estados Unidos, onde os primeiroscursos surgiram em 1881, aparecendo no Brasil 60anos mais tarde. Hoje, o curso é oferecido em maisde 1,2 mil instituições de Ensino Superior em todo oBrasil, totalizando cerca de 700 mil alunos, o quedemonstra a acirrada concorrência (Federação Na-cional dos Estudantes de Administração, s/d1).

No curso de Administração, a adequação das prá-ticas pedagógicas ao objetivo de qualificar o alunoganha maior relevância, tendo em vista que o cursoengloba matérias que fazem parte das Ciências Admi-nistrativas Humanas, Sociais e Exatas que, em con-junto, buscam formar uma nova ciência. Assim, comocitaram Andrade & Amboni (2006), os professores doscursos de graduação em Administração têm um grandedesafio pela frente, ou seja, independentemente doseu campo de formação, terão de trabalhar os conteú-dos de forma interligada para que tais conteúdosadquiram significado, relevância, utilidade e aplica-bilidade. Ainda na visão dos autores mencionados, osprofessores devem ter a capacidade de formar a teiae, principalmente, de demonstrar para o aluno a visãodo todo interconectado a partir de uma perspectivahistórica, para explicar de forma contextualizada omomento atual e as tendências da área.

Entretanto, esse problema de adequação das prá-ticas se torna pequeno, quando as instituições depa-ram-se com um problema maior, qual seja, as práticaspedagógicas utilizadas pelos professores, sejam elespertencentes ou não ao curso de Administração, estãomuitas vezes defasadas, acabando por comprometer demaneira direta o nível de qualificação dos alunos. Assim,este artigo tem como objetivo geral identificar aspráticas pedagógicas adotadas no curso de Admi-nistração da UFSM/RS, como embasamento paracontextualizar a relação ensino-aprendizagem.

Para tanto, a estrutura do artigo está assim cons-tituída: primeiramente, apresentam-se as notas intro-dutórias e, a seguir, o referencial teórico constituídodas seguintes seções: “panorama dos cursos deAdministração no Brasil” e “práticas pedagógicas”.Na terceira seção, aborda-se a metodologia utilizadapara desenvolver a pesquisa. Na quarta seção, apre-

sentam-se os resultados encontrados e, por fim, asprincipais conclusões do estudo.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Panorama do Ensino Superior brasileiro edos cursos de Administração

De acordo com o Censo do Ensino Superior, reali-zado pelo Inep, em 2006, a expansão das instituiçõesde Ensino Superior (IES), no Brasil, é expressiva a partirda segunda metade da década de 1990, chegando em2006 a 2.270 IES. Em 2006, existiam 4.676.646 alunosmatriculados em cursos de graduação, sendo que, dessetotal, 775.201 estavam matriculados nos cursos deAdministração, representando 16,6% do universo dealunos matriculados nesse nível de ensino no Brasil.

Outro fator a destacar é a diferença entre o nú-mero de concluintes e a quantidade de matrículas,no ano de 2006: dos 775.201 alunos matriculados,somente 16% concluíram o curso.

A Tabela 1 apresenta os dados, revelando, de ummodo geral, o contexto histórico dos cursos de Ad-ministração no País.

A Tabela 2 apresenta o total de instituições deacordo com a categoria administrativa, onde se per-cebe que o maior número concentra-se em institui-ções de Ensino Superior de origem privada (89,1%).Em relação aos cursos de Administração, 90,1% con-centram-se em IES privadas.

Na Tabela 3, apresenta-se o total de vagas ofere-cidas, inscrições e ingressos nos cursos de Adminis-tração, de acordo com os tipos de instituições. Das462.712 vagas oferecidas, predomina o número devagas nas faculdades, escolas e institutos, com 47,1%,seguido pelas universidades, com 28,1%. Em relaçãoàs inscrições, 42,4% ocorrem nas universidades e37,5% em faculdades, escolas e institutos. No quetange aos ingressos, 43,9% ocorrem nas faculdades,escolas e institutos, e 31,4% nas universidades.

De um modo geral, nota-se um crescimento deIES no Brasil, desde 1960, como se pode visualizarna Tabela 1. Os dados apresentados demonstram apredominância do ensino privado sobre o público.Em relação à categoria administrativa, nas IES públicas,predominam as instituições federais, embora compouca diferença para as estaduais e municipais. NasIES privadas, há uma grande predominância das ins-tituições particulares sobre a comunitária/ confes-sional/ filantrópica, conforme mostra a Tabela 2.1 Disponível em:<http://www.fenead.org.br>.

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CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/UFSM: A PERCEPÇÃODOS PROFESSORES E ALUNOS SOBRE O TEMA “PRÁTICAS PEDAGÓGICAS”

2.2. Práticas pedagógicas

O desafio de escolher e/ou definir que práticaspedagógicas utilizar no processo ensino-aprendizagemfaz parte de cada área de conhecimento e é peculiaraos sujeitos que nelas estão inseridas. O tema é emer-gente e leva constantemente as instituições de ensinoa repensarem acerca de métodos, técnicas e recursosque possam auxiliar a aprendizagem escolar, tendoem vista que aprender faz parte do cotidiano de todosos envolvidos, sejam eles alunos, sejam professoresou gestores institucionais. As práticas pedagógicasadotadas nos cursos de Administração devem estarde acordo com o Projeto Pedagógico do Curso e como perfil dos alunos, para, assim, serem obtidos me-lhores resultados (ANDRADE & AMBONI, 2006).

A seguir, apresentam-se alguns exemplos de prá-ticas pedagógicas adotadas no curso de Admi-nistração.

(1) Aula expositiva: é uma apresentação oral de

Tabela 1: Resumo da evolução dos cursos de

Administração no Brasil

ANO IESMatrícula Concluintes Concluintesem ADM em ADM x matrículas

Antes de 19602 2 N/I N/I –

1960 31 N/I N/I –

1970 164 66.829 5.276 7,9%

1980 247 134.742 21.746 16,1%

1990 320 174.330 22.394 12,8%

19973 900 237.671 29.045 12,2%

1998 973 257.743 31.666 12,3%

1999 1.097 286.454 2.969 1,0%

20004 1.180 339.363 35.726 10,5%

2001 1.391 404.771 39.231 9,7%

2002 1.637 494.390 54.748 11,1%

2003 1.859 578.020 64.910 11,2%

2004 2.013 643.635 88.718 13,8%

2005 2.165 709.301 109.840 15,5%

2006 2.270 775.201 123.816 16,0%

Fonte: MEC/Inep, Sinopse Estatística da Educação Superior (2006).

Tabela 2: Instituições de acordo com a categoria administrativa

Categoria administrativa

Pública Privada

Federal Estadual Municipal ParticularComunit./ Confes./

Filantrópica

N N N N N

IES 2.270 105 83 60 1.583 439

Cursos de Adm. 2.893 116 105 64 1.749 859

Matrículas em Adm. 775.201 26.577 23.676 20.546 462.873 241.529

Concluintes em Adm. 123.816 3.808 3.538 3.202 77.328 35.940

Fonte: MEC/Inep. Sinopse Estatística da Educação Superior (2006).

2 Para se obterem os dados anteriores a 1960-1990, estes foram retirados do site do CFA – Conselho Federal de Administração.Disponível em: <http://www.cfa.org.br/arquivos/index.php>.

3 Para se obter o total de cursos de Administração de 1999 a 1997, foram englobados três cursos: Administração, Administração Rurale Administração de Recursos Humanos. Fonte: MEC/Inep. Sinopse Estatística da Educação Superior, 2006

4 Para se obter o total de cursos de Administração de 2006-2000, foram utilizados dois grupos: Comércio e Administração (cursos gerais)

Tabela 3: Vagas oferecidas, inscrições e ingressos nos cursos de Administração, de acordo com os tipos de instituições

Ano 2006

Tipos

Vagas oferecidas Inscrições Ingressos

N % N % N %

Universidades 130.236 28,1 296.955 42,4 81.781 31,4

Centros universitários 66.482 14,4 87.009 12,4 41.088 15,8

Faculdades integradas 21.708 4,7 24.416 3,5 11.300 4,3

Faculdades, escolas, institutos 217.985 47,1 262.259 37,5 114.430 43,9

Centros de educação tecnológica 26.301 5,7 29.293 4,2 12.114 4,6

Total 462.712 100 699.932 100 260.713 100

Fonte: MEC/Inep. Sinopse Estatística da Educação Superior (2006).

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71Gestão & Regionalidade - Vol. 24 - Nº 71 - edição especial - XI Semead 2008 - out/2008

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um assunto estruturado de maneira lógica (ANDRADE

& AMBONI, 2006). Essa é a prática pedagógica maisutilizada para expor os conteúdos aos alunos, em razãode o seu custo ser menor que o das outras formas deensino, e também pela maneira como o professoraborda os assuntos. A aula expositiva mostra a capa-cidade de elaboração e comunicação do professor emrelação aos conteúdos. O desafio maior desta técnicaé o fato de que este tipo de aula é ainda de caráterreprodutivo, “fruto, geralmente, de professores malpreparados, desestimulados e cansados, além de am-bientes muito contraditórios, nos quais predomina arelação comercial em educação”. Para que uma aulaseja boa, ela precisa ser elaborada, precisa estar com-prometida com a aprendizagem de quem dá aula ecom a aprendizagem de quem escuta a aula, precisaser atraente ou, pelo menos, suportável, não podeabusar da atenção dos ouvintes, precisa ser envolventee precisa ser curta (DEMO, 2005). No entender deAntunes (2008: 23), ”uma das formas de se identifi-carem professauros transvestidos em professor é bus-car saber quantas situações de aprendizagens conhecee aplica, e aferir se, nas mesmas, é o aluno que aprendee não o professor que pensa que ensina”.

(2) Trabalhos em grupo: tem como objetivos fa-cilitar a construção coletiva do conhecimento; favo-recer o debate e a crítica; possibilitar a prática dacooperação para conseguir um fim comum; permitira troca de idéias e opiniões, além de favorecer aparticipação de alunos que, muitas vezes, não o fazemno grupo maior (ANDRADE & AMBONI, 2006). Os trabalhosem grupos funcionam como uma importante ferra-menta de aprendizado, pois proporcionam aos alunosuma situação de interdependência na tentativa derealização de objetivos comuns. A tentativa da reali-zação desses objetivos cria, no grupo, um processode interação entre pessoas que se influenciam reci-procamente, possibilitando aos integrantes discutiridéias, trocar experiências e divergir de opiniões5.

(3) Seminários: é um grupo reduzido que inves-tiga ou estuda um tema. Os membros não recebeminformações já elaboradas, mas investigam com seuspróprios meios, em um clima de colaboração recí-proca. Os resultados ou conclusões são de respon-sabilidade de todo o grupo, e o seminário se concluicom uma sessão de resumo e avaliação (ANDRADE &AMBONI, 2006)

(4) Estudo de casos: é uma situação real denegócios vivida por uma empresa em um deter-

minado momento, apresentando informações relati-vas à situação a ser analisada, tais como dados sobrea empresa e o setor, histórico da empresa e do pro-blema a ser analisado. Posteriormente, apresentaquestões específicas que induziram ao desenvolvi-mento do caso e que devem ser objetivo de aná-lise. “O objetivo da metodologia de estudo de casonão é dar exemplos ou ilustrar práticas administra-tivas menos ou mais bem-sucedidas, mas sim depa-rar-se com situações-problema reais que exigem acapacidade de análise e decisão técnica”. (ANDRADE

& AMBONI, 2006: 29)

(5) Dinâmicas de grupo: não substitui o conhe-cimento ou qualquer conteúdo, “apenas auxilia suaassimilação através da dinamização do trabalho pe-dagógico” (ANDRADE & AMBONI, 2006: 31)

(6) Simulações empresarial ou jogo de empre-sas: são modelos matemáticos computadorizados quesimulam uma determinada realidade empresarial, e oseu uso no meio acadêmico destina-se a complementara formação dos alunos com uma experiência prático-simulada de administração empresarial. A característicaprincipal de um jogo de empresas é o aspecto com-petitivo da personalidade do ser humano, pelo qual elese sente estimulado a concorrer com outras pessoas,

e Gerenciamento e Administração. Em Comércio e Adminis-tração (cursos gerais) apresentavam-se como subgrupos Co-mércio, Negócios e Administração, Negócios Internacionais ePlanejamento Administrativo. Já em Gerenciamento e Admi-nistração, englobavam-se os seguintes cursos: Administração,Administração Bancária, Administração da Produção Industrial,Administração de Agronegócios, Administração de Cooperativas,Administração de Empresas, Administração de Recursos Hu-manos, Administração de Sistemas de Informações, Adminis-tração dos Serviços de Saúde, Administração em Análise deSistemas / Informática, Administração em Comércio Exterior,Administração em Marketing, Administração em Micro e Pe-quenas Empresas, Administração em Prestação de Serviços, Ad-ministração em Turismo, Administração Financeira, Adminis-tração Hospitalar, Administração Hoteleira, Administração In-dustrial, Administração Mercadológica, Administração Pública,Administração Rural, Ciências Gerenciais, Empreendedorismo,Formação de Executivos, Gestão Ambiental, Gestão da Infor-mação, Gestão da Produção, Gestão da Produção de Vestuário,Gestão da Segurança, Gestão de Cidades, Gestão de Comércio,Gestão de Empresas, Gestão de Escritório, Gestão de Imóveis,Gestão de Negócios, Gestão de Negócios Internacionais, Gestãode Organizações, Gestão de Pessoal / Recursos Humanos,Gestão de Qualidade, Gestão de Recursos de Informática,Gestão de Serviços, Gestão de Supermercados, Gestão do Lazer,Gestão Financeira e Gestão Logística. Fonte: MEC/Inep. SinopseEstatística da Educação Superior, 2006.

5 Disponível em: <http://www.inepad.org.br/ensino/>.

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CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/UFSM: A PERCEPÇÃODOS PROFESSORES E ALUNOS SOBRE O TEMA “PRÁTICAS PEDAGÓGICAS”

utilizando-se de todas as ferramentas possíveis paravencer o confronto (ANDRADE & AMBONI, 2006: 30)

No contexto de ensino-aprendizagem, Perrenoud(2000) citou dez principais competências dos docentespara ensinar: (1) organizar e dirigir situações de apren-dizagem, o que significa despender energia e tempo edispor de competências profissionais necessárias paraimaginar e criar novos tipos de situações de aprendi-zagem; (2) administrar a progressão das aprendizagens,visto que não se podem programar as aprendizagenshumanas como a produção de objetos industriais; (3)conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.A situação de aprendizagem deve ser “ótima” para cadaaluno; (4) envolver os alunos em suas aprendizagens eem seu trabalho; (5) trabalhar em equipe; (6) participarda administração da escola, fazendo com que hajaenvolvimento maior do professor; (7) informar e envolveros pais; (8) utilizar novas tecnologias, novas ferramentasde trabalho; (9) enfrentar os deveres e os dilemas éticosda profissão; (10) administrar sua própria formaçãocontínua. Uma vez construída, nenhuma competênciapermanece adquirida por simples inércia. Deve, nomínimo, ser conservada por seu exercício regular.

Logo, o ensinar é um desafio constante na vida doeducador, tendo em vista que ele lida com diferentessituações de aprendizagem e com diferentes perfis dealunos. O despertar do interesse do aluno em relaçãoos conteúdos ministrados faz-se necessário. Vascon-cellos (2002: 41) indagou: o que se deseja em relaçãoaos conhecimentos? No seu entender, o conhecimentodeve estar baseado nos seguintes critérios:

– significativo: que corresponda às reais necessi-dades dos educandos e que esteja relacionadocom suas representações mentais prévias; buscado que é relevante;

– crítico: que não se conforme com o que está dadona aparência, com aquilo que é manifestaçãoimediata; que ajude a explicar o que se vive;

– criativo: que possa ser aplicado, transferido paraoutras situações; que possa fazer avançar o conhe-cimento; que seja ferramenta de transformação;

– duradouro: algo que se incorpora no sujeitocomo visão de mundo, que passa a fazer partedele porque significativo e bem aprendido (nomomento certo, da forma adequada), de talforma que, em qualquer situação de sua vida,o sujeito esteja apto a interferir na realidade.

Para o autor citado, o “como ensinar” era a grandepreocupação pedagógica, mudando o foco para o“como o aluno aprende”. Neste sentido, Andrade &Amboni (2006) referiram que muitos professores acre-ditam que o aprimoramento dos procedimentos deensino-aprendizagem representa o principal elementopara uma aula efetiva, e, no entender destes autores,isso não é verdadeiro, tendo em vista que existem outrosrequisitos importantes, como o conhecimento que oprofessor tem do conteúdo em questão, a reflexãopermanente sobre a prática docente, o relacionamentocom os alunos, a contextualização dos conteúdos, ademonstração da utilidade e da aplicabilidade a fim deque o conteúdo tenha sentido para os alunos e ainterdisciplinaridade, entre outros.

Neste contexto, reforçou-o Antunes (2008), aomencionar que um professor pode dizer que produzaprendizagem quando (i) considera a realidadeobjetiva ou as circunstâncias que envolvem seu aluno,ou seja, quem este aluno é, o que sabe, o que buscasaber, onde pretende levá-lo com a aprendizagem;(ii) quando confronta essa realidade com saberesescolares da disciplina que trabalha: e, por fim, (iii)quando observa as associações que seu aluno podefazer, relacionando suas circunstâncias e os saberesacessados, e levando em conta suas experiênciasindividuais e as regras sociais existentes.

Tais experiências, no entender de Bordenave & Perei-ra (2007: 84), exigem certos insumos educativos na formade influências do ambiente que atuam sobre ele. “Daparte do professor, a forma de oferecer ao aluno opor-tunidade para viver as experiências desejadas é estruturaratividades, isto é, estabelecer ou promover situações deensino-aprendizagem, em que haja uma alta proba-bilidade de que ditas experiências realmente aconteçam”.Dito de outra forma, entendem-se como os métodosprocedimentos ou técnicas de ensino, sendo que métodoé o conjunto organizado de técnicas e procedimentos.A palavra atividade tem conotação mais dinâmica quemétodo ou técnica, já que indica que o aluno terá quefazer algo, estando ativo. “A seleção de atividades deensino-aprendizagem é importantíssima, porque deladependerá o aluno crescer ou não como pessoa”(BORDENAVE & PEREIRA, 2007: 84).

3. METODOLOGIAO curso de Administração da UFSM tem duração

de quatro anos para o turno diurno e de cinco anospara o turno noturno. O currículo integra disciplinas de

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diversas áreas do conhecimento, como Economia, So-ciologia, Marketing, Gestão de Pessoas, AdministraçãoFinanceira e Direito, entre outras. O curso já passoupor oito exames nacionais de cursos do MEC (Provão),sendo estes já com resultados divulgados, onde o cursoobteve em todos o conceito “A”. Na avaliação do Ena-de6 de 2006, o curso ficou com o conceito 5.7

O Departamento de Ciências Administrativas contacom um quadro de 21 professores: 18 em atividade;dois em afastamento em busca de titulação (dou-torado) e um em afastamento para tratar de interes-ses pessoais, além de contar com dois professoressubstitutos (DCA, 2008).

Neste trabalho, como estratégia de pesquisa, ométodo utilizado foi o estudo de caso, com um en-foque exploratório e descritivo. A pesquisa foi realiza-da junto aos alunos matriculados no primeiro semes-tre do ano de 2007 e a professores do curso deAdministração da UFSM. Dos 471 alunos matricula-dos no referido semestre, foi calculada uma amostraestratificada de 216 alunos. Dos 32 professores lota-dos no Departamento de Ciências Administrativas,28 participaram da presente pesquisa. O instrumentode coleta de dados utilizado para os alunos foi um

questionário constando de 16 questões abertas euma fechada. Para os professores, foi utilizado umquestionário constando de 17 questões fechadas.Para as questões fechadas, utilizou-se uma escala dotipo Likert, conforme demonstrado no Quadro 1, aseguir. Cabe salientar que ambos os instrumentospossuíam o mesmo teor de perguntas e escalas, afim de facilitar a comparação.

A coleta de dados junto aos alunos foi realizadadiretamente nas salas de aula, no período de maio ajunho de 2007. Para os professores, os instrumentosde coleta de dados foram entregues e, posteriormen-te, mediante agendamento, eram devolvidos aos pes-quisadores. Os dados foram analisados quantitativa-mente e processados no programa SPSS 10, contem-plando as seguintes categorias de análises:

As variáveis analisadas na pesquisa foram divididasnas seguintes seções: perfil do aluno e do professor,resultados pedagógicos, infra-estrutura e acervo dabiblioteca, freqüência do uso das práticas pedagó-gicas, satisfação em relação ao uso das práticaspedagógicas, práticas pedagógicas adotadas pelocorpo docente e aptidão para enfrentar o mercadode trabalho.

6 Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes.7 Disponível em: <http://www.ufsm.br/adm>.

Quadro 1: Categoria de análise

Categorias Variáveis Escala utilizada

Perfil dos alunos Sexo, faixa etária, tipo de escola, curso, semestre, freqüência de estudo, Múltipla escolhafreqüência de participação de eventos e meios de atualização.

Sexo, faixa etária, titulação, tempo de profissão, enquadramento funcional,Perfil dos professores área da disciplina, periodicidade de publicação, freqüência de participação Múltipla escolha

de eventos e meios de atualização.

Infra-estrutura Livros da biblioteca, laboratório de informática, datashow, retroprojetores, 1 – Sempresala dos professores, sala de aula, restaurante universitário e xérox. 2 – Freqüentemente

3 – Raramente4 – Nunca5 – Não sei

Disponibilidade de Datashow, aulas expositivas, palestras, visitas em empresas, estudos de caso, 1 – Sempreuso das práticas retroprojetor, trabalhos em grupos, vídeos, dinâmicas, biblioteca, seminários, 2 – Freqüentemente

simulações e laboratório de informática. 3 – Às vezes4 – Raramente5 – Nunca6 – Não sei

Freqüência do Datashow, aulas expositivas, palestras, visitas em empresas, estudos de caso, 1 – Sempreuso das práticas retroprojetor, trabalhos em grupos, vídeos, dinâmicas, biblioteca, seminários, 2 – Freqüentemente

simulações e laboratório de informática. 3 – Às vezes4 – Raramente5 – Nunca6 – Não sei

Satisfação com Datashow, aulas expositivas, palestras, visitas em empresas, estudos de caso, 1 – Muito insatisfeitoa aprendizagem retroprojetor, trabalhos em grupos, vídeos, dinâmicas, biblioteca, seminários, 2 – Insatisfeito

simulações e laboratório de informática. 3 – Indiferente4 – Satisfeito5 – Muito satisfeito

Fonte: Elaborado pelos autores.

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Gráfico 1: Resultados Pedagógicos

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1. Perfil dos entrevistados

Como perfil geral do corpo docente (N = 28) queatuou no primeiro semestre de 2007, observou-se umapredominância do sexo masculino, 57% (N = 16); faixaetária entre 30 e 37 anos, 36% (N = 10); seguidos defaixa etária entre 54 e 61 anos, 25% (N = 7); titulaçãode doutores e mestres, 39% cada (N = 11); predomi-nância da faixa acima de 25 anos como tempo deprofissão, 29% (N = 8); enquadramento funcional comoadjunto, 54% (N = 15). Dentre esses professores, 64%(N = 18) são do curso de Administração, sendo que39% (N = 7) destes têm como foco de atuação a áreada Administração Geral. Verificou-se, também, que 29%(N = 8) dos docentes publicam semestralmente e 54%(N = 15) freqüentam eventos de uma a três vezes porano. Os principais meios de atualização de informaçõessão a Internet e livros, 86% cada um (N = 24); artigos,64% (N = 18); e periódicos, 54% (N =1 5).

Em relação ao perfil dos alunos do curso de Admi-nistração da UFSM (N = 216), tem-se uma predomi-nância do sexo masculino, 58% (N = 125); faixa etáriaentre 20 e 23 anos, 51% (N = 110); 54% (N = 117)estudaram em escola pública; 33% (N = 71) encon-tram-se no quinto ou no sexto semestre, sendo quehá um equilíbrio entre alunos do curso diurno e docurso noturno. Dentre esses alunos, 48% (N = 104)estudam somente em época de provas; 31% (N =66) participam de um a três eventos por semestre; e30% (N = 64), de um a três eventos por ano. Comoprincipais meios de atualização de informações, 98%(N = 212) utilizam a Internet; jornais, 81% (N = 175);e televisão, 75% (N = 161).

4.2. Dados específicos da pesquisa

Os dados específicos da pesquisa foram divididosnas seguintes seções: resultados pedagógicos, infra-estrutura e acervo da biblioteca, freqüência do usodas práticas pedagógicas, satisfação em relação aouso das práticas pedagógicas, práticas pedagógicasadotadas pelo corpo docente e aptidão para en-frentar o mercado de trabalho.

4.2.1. Resultados pedagógicos

Em relação aos resultados pedagógicos, há umapequena discordância entre os docentes quanto àquestão que pergunta se as notas refletem o nível deconhecimento dos alunos. Foi constatado que 46%dos professores acreditam que, freqüentemente, as

notas refletem o nível de conhecimento dos alunos,enquanto 42% responderam que às vezes isso acon-tece. A questão que se refere à utilização das melhorespráticas para a transmissão do conhecimento apontouuma freqüência de 54% das situações, enquanto 29%responderam que isso ocorre às vezes.

Por sua vez, a questão que indaga se os professoresexploram de maneira satisfatória as práticas utilizadasrevelou que metade dos docentes respondeu que essasituação ocorre freqüentemente, enquanto 32%mencionaram que, às vezes, as práticas pedagógicassão exploradas de modo satisfatório. A última questãoda série demonstrou que 82% dos professores acre-ditam que sempre ou freqüentemente, ao se con-siderar a área em que a disciplina está inserida, o tipode prática utilizada afeta o resultado apresentado.

Quando indagados sobre os resultados pedagó-gicos, 50% dos alunos entrevistados consideraramque, às vezes, as notas refletem o nível de conhe-cimento adquirido; 49% dos entrevistados apontaramque as práticas adotadas pelos professores, às vezes,são as melhores para transmitir o conhecimento eque estas são também, às vezes, bem exploradaspor parte dos professores, representando a opiniãode 44% dos entrevistados. Considerando a área emque a disciplina está inserida, a maioria dos entrevis-tados opinou que, sempre ou freqüentemente(39% e 42%, respectivamente), o tipo de práticautilizada influencia o resultado pedagógico.

O Gráfico 1, a seguir, apresenta os resultados pormeio da média obtida em cada questão e a médiageral das questões, onde se percebe que os pro-fessores estão mais satisfeitos com os resultados pe-dagógicos do que os alunos.

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Shalimar Gallon e Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues

4.2.2. Infra-estrutura e acervo da biblioteca

Em relação ao acervo da biblioteca, foi verificadoque mais de 80% dos professores consideram queos livros estão em boas condições de uso. Entretanto,há uma divisão com relação à questão se os livrosconseguem atender à demanda, pois 44% dos pro-fessores revelaram acreditar que os livros conseguematender à demanda freqüentemente, e 44% afir-maram que raramente eles conseguem atender atal objetivo. Foi constatado também que uma par-cela significativa dos professores (60%) considerouque as condições das suas salas não atendem de for-ma completa às suas necessidades.

Quanto às salas de aula, foram citadas por 60% dosprofessores como detentoras de boas condições para aprática do ensino. Uma questão que chamou a atençãoé com relação ao laboratório de informática. Verificou-se que 70% dos professores disseram acreditar que olaboratório não é de fácil acesso aos alunos; 85% afir-maram que a quantidade de computadores não é sufi-ciente para a demanda; e 80% responderam que oscomputadores não apresentam condições satisfatórias.

Em relação ao grau de disponibilidade de infra-estrutura/ materiais necessários para a utilização depráticas pedagógicas, os resultados dos alunos apre-sentaram um alto grau de disponibilidade, sendo con-sideradas disponíveis sempre ou com freqüênciaas seguintes práticas: aulas expositivas, trabalhos emgrupo, debates/estudos de caso. As práticas que apre-sentaram um baixo grau de disponibilidade, sendoconsideradas como às vezes, raramente ou nuncadisponíveis, foram as seguintes: visitas em empresa,palestras, vídeos, dinâmicas e seminários.

Quanto à infra-estrutura, dos acadêmicos do cursode Administração entrevistados, 48% afirmaram queraramente os livros da biblioteca atendem à demandae, por outro lado, 53% afirmaram que estes se encontramfreqüentemente em boas condições. A respeito dolaboratório de informática, 34% consideraram que rara-mente ele é de fácil acesso para uso; quanto à quanti-dade de computadores, 33% consideraram que estesatendem raramente à demanda, e 40% dos acadê-micos apontaram que as condições dos computadoressão raramente satisfatórias. As condições do xérox docentro foram apontadas por 39% como sendo rara-mente satisfatórias e, a respeito do restaurante uni-versitário, 42% desconheciam suas condições e 28%consideraram-nas satisfatórias.

Com relação à quantidade de datashow, 30% dosdiscentes entrevistados consideraram-nos freqüen-temente disponíveis. Os retroprojetores mostraram-se freqüentemente disponíveis e em boas condiçõesna opinião da maioria, obtendo percentuais de, res-pectivamente, 37% e 36% dos entrevistados. Quan-to às salas dos professores, 30% consideraram queestas raramente são satisfatórias, e outros 30% con-sideraram-nas freqüentemente satisfatórias.

De acordo com o Gráfico 2, apesar de a médiageral ter sido baixa – abaixo de três pontos –, tantopara os alunos como para os professores, estes últi-mos se mostraram mais críticos, pois verificou-se umgrande diferencial nas respostas entre as duas cate-gorias entrevistadas, como em relação ao uso dolaboratório de informática ou sobre as condições e aquantidade de computadores, por exemplo.

4.2.3. Freqüência do uso das práticas pedagógicas

Com relação à freqüência de uso das práticas pe-dagógicas, na opinião dos professores são adotadas,basicamente, três práticas: (i) aulas expositivas, (ii)trabalhos em grupo e (iii) debates/estudos de caso.A primeira citada, segundo os professores, é sempreadotada ou freqüentemente utilizada em 78% dassituações; a segunda, em 55%, e a última, em 45%dos casos. As demais práticas apresentaram um baixoíndice de utilização, como palestras, que foram rara-mente ou nunca utilizadas em 62% das ocasiões;dinâmicas com um índice de 60%; visitas em empresascom um índice de 55%; vídeos com 55%. Chama aatenção o fato de que as simulações-jogos de empre-

Gráfico 2: Infra-estrutura

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CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA/UFSM: A PERCEPÇÃODOS PROFESSORES E ALUNOS SOBRE O TEMA “PRÁTICAS PEDAGÓGICAS”

Gráfico 3: Freqüência de Uso das Práticas Pedagógicas

sas tiveram um alto índice de respostas “nunca”,sendo esta válida para 48% das situações.

Em relação aos alunos, na freqüência de uso daspráticas pedagógicas atualmente empregadas pelosprofessores destaca-se o datashow, que às vezes éutilizado, representando 38% dos entrevistados, efreqüentemente utilizado na opinião de outros,34%. Pode-se observar que as aulas expositivas emquadro são sempre ou freqüentemente utilizadas,representando, respectivamente, a opinião de 37%e 47% dos entrevistados. As palestras destacaram-se por ser raramente utilizadas na opinião de 51%dos entrevistados. Visitas em empresas raramenteacontecem na opinião de 51%, e outros 41% julga-ram que nunca aconteceram.

O uso de retroprojetores e os trabalhos em grupodestacaram-se por ser freqüentemente utilizadosna opinião de, respectivamente, 50% e 56% dosentrevistados. A apresentação de vídeos foi consi-derada como raramente ou nunca utilizada na opi-nião de, respectivamente, 48% e 31% dos acadê-micos entrevistados. Na opinião de 46%, dinâmicasde grupo são raramente empregadas nas aulas e31% consideraram que, às vezes, elas são utilizadascomo práticas pedagógicas.

Na opinião dos entrevistados, a biblioteca é rara-mente ou nunca utilizada com prática por parte dosprofessores, correspondendo a, respectivamente, 34%e 36% dos acadêmicos entrevistados. Seminários foramapontados por 32% como sendo às vezes utilizados, epor 37% como raramente empregados. Ficou evidentea não-utilização de simulações empresariais, apontadapor 59% dos entrevistados, e, a respeito do uso do la-boratório de informática, 53% consideraram sua utiliza-ção raramente empregada como prática pedagógica.

De modo geral, como mostra o Gráfico 3 ao lado, amédia geral dos alunos (3,1) foi mais alta que a dosprofessores (2,4). Os professores ainda se mostrarammais críticos e cuidadosos nas suas respostas, o que podeser comprovado pelo grande diferencial nas respostasentre as duas categorias entrevistadas, como em relaçãoà freqüência de uso de dinâmicas, palestras, laboratóriode informática e retroprojetores, por exemplo.

4.2.4. Satisfação em relação ao usodas práticas pedagógicas

Com relação à satisfação quanto ao uso das práticaspedagógicas, quando utilizada determinada prática

pedagógica, verificou-se que os professores se sentemsatisfeitos em 54% dos casos em que utilizam debates/estudos de caso; em 53% das situações nas quais sevalem das aulas expositivas; e em 47% das oportuni-dades em que utilizam palestras como prática peda-gógica. Cabe destacar o percentual apresentado pelosseminários, totalizando 40% de satisfação quando uti-lizados; pelas visitas em empresas e pelo uso dodatashow, que apresentaram 36% de satisfação quandoutilizados. Por sua vez, práticas como palestras, uso deretroprojetores, exibição de vídeos e dinâmicas apresen-taram índices de satisfação na faixa dos 30%.

Em relação ao grau de satisfação dos alunos diantedas diversas práticas adotadas, observou-se que 60%estão satisfeitos com o uso de datashow; comrelação às aulas expositivas, 34% se mostraram in-diferentes e 44% revelaram estar satisfeitos como uso desta prática. A respeito das palestras, 44%ficaram satisfeitos com sua utilização e 30% mos-traram-se indiferentes; 38% consideraram que,quando ocorrem viagens a empresas, ficam muitosatisfeitos. Debates e estudos de caso em sala deaula foram considerados por 43% dos entrevistadoscomo uma atividade que os deixa satisfeitos com oaprendizado e os que se consideraram muito satis-feitos correspondem a um percentual de 26%.

Com relação ao uso de retroprojetores, 41% mos-traram-se indiferentes e 29% consideraram-se satis-feitos com o aprendizado; 52% consideraram-se satis-feitos com os trabalhos em grupo e, com referência adinâmicas, 41% apontaram que ficam satisfeitos como aprendizado decorrente de sua realização. A exposição

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Shalimar Gallon e Cláudia Medianeira Cruz Rodrigues

de vídeos foi vista por 35% dos entrevistadoscomo uma prática que gera satisfação e, paraoutros 30%, seu uso é indiferente.

A respeito de seminários, 36% consideraram-se satisfeitos com o aprendizado e 33%mostraram-se indiferentes. Com simulaçõesempresariais, 27% mostraram-se indiferentes,25% consideraram-se muito satisfeitos e 21%

pedagógica a ser adotada pelos professores são osseguintes: (i) a adequação ao conteúdo e à área; e(ii) disponibilidade de materiais/ infra-estrutura. Umaspecto que se destacou foi o índice de 50% apre-sentado pelo fator de facilidade de aplicação emrelação à disposição do professor, o que demonstracerto comodismo dos mesmos e influência de ques-tões externas/ ambientais, pois, como citaram An-drade & Amboni (2006), ensinar exige do profes-sor, acima de tudo, bom senso e comprometimento.

4.2.6. Aptidão para o mercado de trabalho

Quando os alunos foram questionados quanto aosentimento de estarem preparados para o mercadode trabalho, caso tivessem que exercer a sua profissão,independentemente do semestre em que se encon-travam, a maioria dos acadêmicos (61%) considerou-se apta em parte para enfrentar o mercado de tra-balho; 21% deles consideraram-se aptos; e 16% não

Gráfico 4: Satisfação de Uso das Práticas Pedagógicas

Gráfico 5: Práticas Pedagógicas Adotadas

ficaram satisfeitos com seu aprendizado. Para 35%, ouso do laboratório de informática é indiferente e, paraoutros 32%, seu uso é satisfatório para o aprendizado.

Um aspecto que ficou evidenciado foi o fato de aspráticas que possuem maior nível de satisfação juntoaos professores serem aquelas mais utilizadas por eles.Apesar das novas tecnologias, as práticas mais simplescontinuam predominando na satisfação do desem-penho do aprendizado, que, para os professores, sãoas aulas apresentadas no quadro, com a maior médiade todas as práticas (3,4), enquanto que, para os alunos,apesar de o quadro ter obtido uma média de 3,3, asque mais se destacam são os estudos de casos e o usode datashow, como mostra o Gráfico 4.

4.2.5. Práticas pedagógicas adotadaspelo corpo docente

O Gráfico 5 evidencia que os dois principais fato-res levados em consideração na escolha da prática

se consideraram aptos a enfrentá-lo. Nestesentido, foi também solicitado que eles justifi-cassem a sua resposta. Os acadêmicos que seconsideraram em parte ou não-aptos paraenfrentar o mercado de trabalho ressaltarama dificuldade de relacionar a teoria e a prática.Outro ponto a destacar foi que grande partedos alunos que se consideraram aptos paraenfrentar o mercado de trabalho estavam noprimeiro ou segundo semestre do curso, e afir-maram que possuíam essa segurança paratrabalhar, pois o curso deveria dar suporte edesenvolver as habilidades de administradoresnos alunos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao se finalizar este estudo, tem-se a pos-sibilidade de relacionar a opinião de profes-sores e alunos acerca do processo ensino-aprendizagem e de que forma as práticas pe-dagógicas utilizadas influenciam o desenrolar

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do curso, de modo a facilitar e otimizar tal relação.Pode-se, também, verificar na prática, por intermédiodos questionamentos, a relação com os constructosteóricos adotados, como os de Antunes (2008),Bordenave & Pereira (2007), Andrade & Amboni(2006) e Vasconcellos (2002), entre outros.

O estudo evidenciou que as práticas pedagógicasmais utilizadas pelos professores são as seguintes: (i)aulas expositivas; (ii) trabalhos em grupo; e (iii) de-bates e/ou estudos de caso. Existem duas possíveisexplicações para que isso ocorra: a primeira encontra-se no fato de serem fáceis de ser exploradas nomomento em que há a necessidade de poucosrecursos, como sala de aula e quadro-negro. Práticascomo a exibição de vídeos ou o uso do datashownecessitam de outros recursos para ser exploradas,como computadores e televisão. A segundaexplicação encontra-se no fato de aquelas práticasserem de fácil aplicação por parte do professor,exigindo um nível menor de envolvimento e pesquisaextraclasse. Isto pode ser corroborado quando selevantou que cerca de 50% dos professores adotamdeterminada prática pedagógica de acordo com afacilidade de aplicação e da sua disposição de adotara mesma.

Verificou-se que as práticas mais utilizadas pelosprofessores apresentaram índice de satisfação juntoaos alunos de 40%. Uma possível explicação paraessa situação reside no fato de essas práticas peda-gógicas proporcionarem um baixo nível de integraçãoentre teoria e prática. Um aspecto que ratifica essaafirmação foram as respostas dadas pelos alunos,quando indagados se estavam aptos a enfrentar omercado de trabalho: mais de 75% se consideraramaptos em parte ou não se consideraram capazes,sendo parte significativa das respostas ligadas à faltade relação teoria-prática. Desta forma, acredita-seque uma maior utilização de práticas que propor-cionem aos alunos o estabelecimento de relaçõesentre o que é aprendido na sala de aula e as situaçõesda realidade seja de suma importância.

Acredita-se que o tema abordado neste trabalhoé de suma importância a ser explorado pelo curso epela instituição. Faz-se necessário um repensar sobrea questão da capacitação pedagógica, incluindo nestaa questão das práticas pedagógicas, onde caberia àUniversidade estimular a prática da inovação em salade aula, estabelecendo, assim, um processo de apren-dizagem significativo, crítico, criativo e duradouro,como referiu Vasconcellos (2002).

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Aniele Fischer Brand, Suzana da Rosa Tolfo, Maurício Fernandes Pereira e Martinho Isnard Ribeiro de Almeida

ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS EM ORGANIZAÇÕESDE SAÚDE: UM ESTUDO À LUZ DA PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREAACTIVITY AREA OF STRATEGIC MANAGEMENT OF PEOPLE IN HEALTH CARE

ORGANIZATIONS: A STUDY OF THE PROFESSIONALS’ PERCEPTION OF THE AREA

RESUMO

Atualmente, há uma discussão sobre a necessidade demudança do papel das pessoas nas organizações,especialmente por parte dos profissionais de gestão depessoas. Na “moderna gestão de pessoas”, os indivíduosnão são mais vistos como mero “recurso” ou “patrimô-nio” da organização, mas como “parceiro” ou “colabo-rador” no alcance dos resultados organizacionais. O ob-jetivo do estudo é apresentar os resultados de uma pes-quisa sobre a percepção de profissionais de gestão depessoas de unidades de saúde de Florianópolis a respeitoda sua área de atuação. A pesquisa caracterizou-se comoexploratória e descritiva, sendo um estudo predominan-temente qualitativo. A população da pesquisa compreen-deu profissionais de organizações do setor de saúde deFlorianópolis, públicas e privadas, com prestação de serviçosnas áreas hospitalar, clínica, de diagnóstico e laboratorial,além da gestão pública de saúde. Os resultados da pesquisapermitem demonstrar que os profissionais de recursoshumanos das organizações pesquisadas percebem a suaárea como de relevância estratégica para todo o funcio-namento organizacional, à medida que trata das questõesdos clientes internos e consumidores. Porém, tambémrevelaram que esse papel estratégico ainda é poucoreconhecido pelos gestores das organizações, sejam elaspúblicas, sejam privadas.

Palavras-chave: gestão de pessoas, estratégiaorganizacional, organizações de saúde.

Aniele Fischer Brand

Professora do Departamento de Ciências da Administração da UFSC

Suzana da Rosa Tolfo

Professora Adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina - Centro de Filosofia e Ciências Humanas,Departamento de Psicologia Campus Universitário - CFH -Departamento de Psicologia

Maurício Fernandes Pereira

Professor Adjunto IV da Universidade Federal de Santa Catarina

Martinho Isnard Ribeiro de Almeida

Professor do departamento de Administração da FEA/USP

ABSTRACT

Currently, there is a debate regarding the necessityfor change in the vision of the area of humanresources and the role of the personnel managerwithin an organization. In the ‘modern manage-ment of people’ the people are not seen as a‘resource’ or a ‘patrimony’ of the organization. butas a ‘partner’ in the reach of organizational results.The objective of the study is to present the resultsof a research about the professionals’ perceptionof personnel management in the organizationsinvolved in the study regarding its area perfor-mance. The research is characterized as exploratoryand descriptive, being a predominantly qualitativestudy. The results of the study allow to demonstratethat the professionals of human resources of thesearched organizations, perceive its area as stra-tegic importance for all the organizational func-tioning. However, they had also disclosed that thisstrategic role is still little recognized by themanagers of the organizations.

Keywords: people management, organizationalstrategy, health organizations.

Recebido em: 07/07/2008Aprovado em: 15/10/2008

Endereços dos autores:

Aniele Fischer BrandAv. Des. Pedro Silva, 2034, bloco 01 apt. 12. Coqueiros, Florianópolis-SC - CEP 88080-701 - e-mal: [email protected]

Suzana da Rosa TolfoSala 12 - Trindade - CEP 88040-970 - Florianópolis-SC - Brasil - e-mail: [email protected]

Maurício Fernandes PereiraTrindade - CEP 88040-970 - Florianópolis-SC - Brasil - e-mail: [email protected]

Martinho Isnard Ribeiro de AlmeidaRua Rita Joana de Souza, 138 - Campo Belo - São Paulo-SP - CEP 04601-060 - e-mail: [email protected]

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ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS EM ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE:UM ESTUDO À LUZ DA PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA

1. INTRODUÇÃO

A área de Gestão de Pessoas desempenha umafunção estratégica nas organizações. A gestãoestratégica de pessoas destaca-se como requisito paraalinhar as pessoas à estratégia da organização.Todavia, às vezes essa importância não é devidamenteobservada pelos profissionais que nela atuam(BOSQUETTI & ALBURQUEQUE, 2005).

Tradicionalmente, quando se fala o termo “recur-sos humanos” em administração, pensa-se em plane-jamento, capacitação, seleção, plano de cargos esalários, dentre outras práticas comuns à área. Con-tudo, esse conceito tem evoluído para adequar-se àstransformações do ambiente das organizações. Emdecorrência da necessidade de as empresas adap-tarem-se às pressões externas, inclusive revendo seusmodelos de gestão, ocorrem muitas mudanças nomodo de pensar e de agir dos profissionais da áreade recursos humanos, que enfrentam desafios ebuscam modificar a visão acerca das pessoas quefazem parte do corpo funcional de uma organização.

As mudanças que afetam as empresas, fazendocom que elas tenham que responder às demandasdo mercado competitivo, têm se caracterizado peloestabelecimento de estruturas mais flexíveis, pro-cessos decisórios descentralizados, transformaçõesdinâmicas de tecnologia, envolvimento de todos ossetores da organização na busca por resultados, alémde formas mais integradas e dinâmicas das relaçõesde trabalho. Para implementar essas transformações,os modelos de gestão precisam também ser mo-dificados, destacando-se que a gestão dos recursoshumanos passa a ser orientada por novas premissas,como referiu Dutra (2002: 16-17) ao abordar o novoconceito de gestão de pessoas:

(...) a gestão de pessoas deve ser integrada, e oconjunto de políticas e práticas que a formamdeve, a um só tempo, atender aos interesses eexpectativas da empresa e das pessoas. Somentedessa maneira será possível dar sustentação auma relação produtiva entre ambas. A concilia-ção de expectativas está relacionada ao com-partilhamento de responsabilidades entre a em-presa e a pessoa. À empresa cabe o papel deestimular e dar o suporte necessário para queas pessoas possam entregar o que têm de me-lhor, ao mesmo tempo em que recebem o quea organização tem de melhor a oferecer-lhes.

Nesta perspectiva, percebe-se uma tendência nosentido de que as pessoas não sejam mais vistas comoinsumos ou recursos a serem controlados pela em-presa para a ela servirem sem o envolvimento real einteresse com o trabalho, mas como parceiros diantede um objetivo comum de busca por resultados quevenham também atender às suas necessidades e aosseus interesses individuais e profissionais.

Para que essa visão de parceria se estabeleça nasorganizações, torna-se necessário romper com o pas-sado, deixar de lado alguns conceitos e experiênciastradicionais, e buscar soluções criativas, ampliando-sea atuação da área de gestão de pessoas para umaperspectiva estratégica. Esta visão tem sido amplamentediscutida pelos especialistas da área, que entendem aspessoas como a dimensão que fará a diferença paratodos os tipos de organização na nova era do conhe-cimento e da inteligência competitiva (GIL, 2001; TA-CHIZAWA, FERREIRA & FORTUNA, 2001; CARDWELL & TICHY,2003; NANUS, 2000; SULL, 2003; TICHY & COHEN, 1999).

Nas organizações de saúde, este quadro não édiferente. Com a exigência maior por qualidade naprestação de serviços, o aperfeiçoamento tecnológicoe a concorrência do setor, as organizações de saúdetambém se preocupam em aperfeiçoar suas políticasde gestão, implementando ações no sentido deotimizar o desempenho dos seus colaboradores egarantir um maior grau de satisfação dos clientes.

Com o intuito de identificar melhor as práticas degestão de pessoas em face dos argumentos quanto aoseu papel estratégico na atualidade, buscou-se, nesteartigo, caracterizar a percepção de profissionais de gestãode pessoas de organizações vinculadas ao setor de saúdede Florianópolis, a respeito da sua área de atuação.

2. ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS

A competitividade, cada vez mais acirrada noambiente empresarial, gerada por fatores comomudanças tecnológicas e globalização da economia,fez com que organizações de todos os setores pas-sassem a implantar modelos de gestão mais flexíveis,baseados na participação dos trabalhadores, na buscada satisfação dos clientes, em processos decisóriosdescentralizados, no envolvimento de todos os setoresda organização na busca por resultados, além deformas mais integradas e dinâmicas das relações detrabalho (ALBUQUERQUE, 2002; DUTRA, 2002). Nesse

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Aniele Fischer Brand, Suzana da Rosa Tolfo, Maurício Fernandes Pereira e Martinho Isnard Ribeiro de Almeida

aspecto, verificou-se que as transformações ocorridasnos modelos de gestão administrativa influenciarama forma de gerenciar pessoas, alterando o perfil exigidopelas empresas e priorizando a busca por um profis-sional autônomo, empreendedor, participativo e envol-vido com o sucesso do negócio da empresa na qualatua (DUTRA, 2001). Sendo assim, a administração daspessoas passou a ter um caráter estratégico, comomeio para a promoção de mudanças que auxiliem asempresas, no sentido de uma atuação mais eficaz eefetiva no mercado competitivo.

O conceito de estratégia foi adotado pela teoriadas organizações para discutir formas de alcançarobjetivos organizacionais. Tradicionalmente, falar emestratégia significa reportar-se aos cenários nos quaisa organização atua, ou seja, a partir das característi-cas e da interpretação desse cenário, a organizaçãopode precisar rever e reformular estratégias de ação,objetivos, tecnologias ou modelos de gestão, a fimde responder aos desafios e às demandas impostaspelo ambiente (CARVALHO, 1995).

Para Porter (1986), desenvolver uma estratégiacompetitiva significa definir uma “fórmula” amplasobre o modo como a empresa vai competir, deli-neando suas metas e as políticas necessárias para im-plementá-las. Ao vincular o conceito à competitividade,o autor entendeu estratégia como a busca de umaposição competitiva favorável em uma indústria, aarena fundamental onde ocorre a concorrência.

A partir das definições das Escolas da Estratégiade Mintzberg, Ahlstrand & Lampel (2000) e de algunsaspectos em comum nelas identificados, Albuquerque(2002) indicou características que podem auxiliar naformação do conceito de estratégia, uma vez que asdefinições encontradas na literatura parecem nãocontemplar seus diferentes significados. Este autordestacou que a estratégia se caracteriza pelos seguin-tes aspectos: dar a direção da empresa; resultar doprocesso de decisão; abranger a relação da empresacom o ambiente; buscar resultados em longo prazopara a empresa; e envolver “questões de conteúdoe de processo”. Em um sentido mais amplo, o con-ceito de formulação estratégica é identificado comoum processo que inclui a análise do ambiente daempresa, com o reconhecimento das ameaças e dasoportunidades, a definição dos objetivos a serem al-cançados e as estratégias que garantam a vantagemcompetitiva da empresa junto ao mercado.

A vantagem competitiva almejada pelas empresasse distingue, de acordo com as discussões observadasna atualidade, por uma concepção tradicional, quedefine como maior objetivo da organização a ma-ximização da riqueza e o retorno máximo para seusacionistas; e por uma visão transformadora, cujo prin-cípio é de que a organização tem como objetivo aten-der aos interesses e às necessidades de todos os seusstakeholders – acionistas, empregados, consumidores/clientes – e da sociedade em geral. Neste sentido,torna-se desafio para a empresa conseguir articulartodos esses grupos na direção dos propósitos orga-nizacionais (MOHRMAN & LAWLER III, 1995).

Os desafios nas três dimensões (ambientais, or-ganizacionais e individuais) a que estão sujeitas asorganizações precisam ser por elas enfrentados paraque se tornem efetivas no mercado em que atuam;sobretudo, para que consigam estabelecer uma novapostura em relação aos seus colaboradores, uma açãodirecionada à gestão de pessoas, estimulando o com-prometimento de todos com os resultados da orga-nização. Historicamente, a vinculação do papel dagestão de pessoas às estratégias da empresa ganhouforça, à medida que se percebeu que os processosclássicos da área, da contratação à definição debenefícios e salários, passando pelas práticas de treina-mento, tendiam a influenciar aspectos do compor-tamento e da motivação humana e, por conseqüência,afetar o desempenho do empregado no trabalho. Poroutro lado, os desafios ambientais impostos às em-presas, tais como a globalização da economia, a evo-lução da comunicação, a abertura e competitividadede mercados, também demonstraram, ao longo dotempo, a necessidade de que a área passasse a terum novo perfil institucional e comportamental, apro-priando-se não apenas de novos processos de gestãodas pessoas, mas também dos recursos da tecnologiada informação, dos novos conhecimentos e meto-dologias geradas na própria área e fora dela, e dasreformulações legais que estabelecem novos modelosde relações de trabalho (MOHRMAN & LAWLER III, 1995).

Segundo Gil (2001), consoante essa nova visão, agestão de pessoas deverá preparar-se para mudanças,a fim de adotar um caráter mais consultivo e preven-tivo, voltado à ação estratégica, além de buscar parce-rias e atuar na direção da mudança cultural. Essa mu-dança deve levar a área a estabelecer-se em estru-turas mais enxutas que atuam na direção dos negóciosda organização sob a orientação de planejamento de

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ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS EM ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE:UM ESTUDO À LUZ DA PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA

longo prazo, o que exigirá que os profissionais degestão de pessoas assumam novas responsabilidades.

Para assumir as novas responsabilidades, os pro-fissionais que atuam com gestão de pessoas precisamadquirir ainda novas competências conceituais, técnicase humanas, sistematizadas em um novo perfil, de acordocom o qual sejam capazes de atender tanto aos usuáriosinternos como aos externos à organização. Também sãonecessários outros aspectos, quais sejam: abertura paraas novas tecnologias administrativas, capacitação emotivação dos empregados, ações voltadas à qualidadede vida no trabalho e agregação de valor aos em-pregados, à empresa e aos clientes. O gestor de pessoastambém deve ser capaz de atuar como agente de mu-danças, de modo a desenvolver a capacidade daorganização de aceitar a mudança e com ela capitalizar-se. Ele precisa, principalmente, reconhecer as pessoascomo parceiras da organização, proporcionando com-petitividade à empresa, e basear-se em comportamentoséticos e socialmente responsáveis.

Segundo Lefèfre (2001), no setor de saúde, as políticasde gestão de pessoas têm características peculiares, queas diferenciam dos outros setores da administração. Osrecursos humanos são vistos, em uma perspectivamoderna de gestão, como a riqueza e o patrimônio daadministração. No setor da saúde, especialmente, asrelações entre o cliente e a equipe de trabalho sãoimportantes para que sejam alcançados os objetivos daorganização, pois os profissionais precisam estarmotivados, preparados, e ser capazes de desenvolversuas tarefas, haja vista que eles lidam diariamente comvidas de pessoas. Nesse caso, os recursos humanos sãocompreendidos como sendo meios, e não fins, para aobtenção de melhores resultados. Sendo assim, ostrabalhadores devem estar conscientes de sua res-ponsabilidade e possuir uma formação sólida, a fim deque consigam atender a todas as necessidades dacomunidade para a qual trabalham, pois, com as alte-rações que as relações sociais vêm sofrendo ao longodo tempo, fizeram com que a população passasse a teruma visão e uma postura muito mais críticas em relaçãoaos serviços que lhe são oferecidos.

De acordo com Cornetta (2001), na atividadeorganizacional moderna, a gestão de pessoas com-preende um amplo conjunto de complexas atividades,todas voltadas para o pleno desenvolvimento dastarefas que a organização se propõe a realizar e asmetas que pretende atingir. Para isso, o autor desta-

cou que a nova proposta gerencial exige que a gestãode pessoas envolva tarefas que se iniciem com aprocura de pessoas que se incorporem à organização,com sua integração e permanência, com seu desen-volvimento pessoal e funcional, com a forma de con-duzir as atividades dos integrantes da organização ecom a pesquisa e a busca por melhores formas deconseguir sua crescente integração e maior partici-pação na vida da empresa. Segundo o mesmo autor,para ser eficaz, o planejamento de recursos humanosprecisa articular-se com o planejamento global daorganização, a fim de que possam ser obtidas as in-formações necessárias para a definição de suas dire-trizes operacionais. Nesse sentido, o setor de gestãode pessoas não existe isolado dentro da organização,devendo sempre manter um relacionamento dinâ-mico com os demais setores existentes.

Para Pereira (2001), o desenvolvimento da gestãode pessoas se faz principalmente na vivência do co-tidiano, acompanhada, supervisionada e transforma-da em situações de aprendizagem, cabendo ao gerentedescobrir o que seu grupo pensa ou percebe, e querepresentações e aspirações tem a respeito de seupróprio desempenho e do papel que a organizaçãodesempenha nesse contexto. A autora destacou, queo gerente de gestão de pessoas não é mais aqueletécnico responsável apenas por um setor de pessoalcujas obrigações restringem-se ao registro de ocorrên-cias nos prontuários dos trabalhadores. Ele deve aliarà sua capacidade administrativa e ao seu conheci-mento técnico um alto grau de sensibilidade, que lhepermita enxergar necessidades, expectativas, potencia-lidades e desejos de seus trabalhadores, bem como asnecessidades da realidade social na qual estão inseridose para qual se destina o produto de seu trabalho.

O funcionário, por sua vez, deve ser capacitadopara o exercício de funções mais complexas, demaneira que possa, com isso, aspirar um crescimentopessoal e profissional que lhe traga maior satisfaçãodiante das suas expectativas pessoais e motivaçãopara que haja uma maior integração com a organi-zação. No ambiente organizacional da saúde, por-tanto, por se tratar de organizações prestadoras deserviço, essas demandas e a atualidade não podemestar distantes do dia-a-dia dos profissionais, sendonecessário, então, que as pessoas sejam cada vezmais capacitadas e comprometidas com o trabalho ea função que exercem. Além disso, o novo papel degestão de pessoas não deve se limitar a mudar de

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foco operacional para estratégico, mas sim identificar,aprender e dominar os papéis múltiplos e complexosque a gestão de pessoas deve ter na empresa, tantoem nível operacional quanto estratégico, bem comonas dimensões de processos e de pessoas.

Assim, a visão de parceria que se estabelece entreorganização e funcionário está vinculada aos princípiose valores que sustentam uma determinada política ouprática junto aos empregados. É por isso que se tornanecessário conhecer a percepção dos gestores depessoas, que representam a organização, acerca do “serhumano” que atua na empresa, pois é a forma como aorganização “percebe” seus colaboradores quedemonstrará se a empresa atua sob uma perspectiva degestão de “pessoas” ou gestão de “recursos”, o que éexpresso nas suas políticas e práticas de ação.

3. ASPECTOS METODOLÓGICOS

Em termos metodológicos, a pesquisa caracteri-zou-se como exploratória ao estudar um tema aindapassível de conhecimento sistematizado (VERGARA,1998). É também descritiva, pois apresentou a per-cepção de profissionais de gestão de pessoas sobrea área em que atuam. Como delineamento, carac-terizou-se como um estudo múltiplo de casos, poisfocalizou uma realidade específica ao examinar oproblema inserido em seu contexto atual, diferentedo método histórico que aborda o passado. O estudofoi predominantemente qualitativo, tendo em vistao caráter do tema escolhido e os procedimentos uti-lizados na coleta e na análise dos resultados.

A população da pesquisa compreendeu organiza-ções do setor de saúde de Florianópolis, públicas eprivadas, com prestação de serviços nas áreashospitalar, clínica, de diagnóstico e laboratorial, alémda gestão pública de saúde. A definição da amostradeu-se de forma não-aleatória, intencional e poracessibilidade, ou seja, considerando o acesso e ascaracterísticas das organizações a serem envolvidas,segundo os objetivos do estudo. A amostra foi for-mada por profissionais que atuavam em dez organi-zações, vinculadas ao setor de saúde de Florianópolis,que apresentavam unidades de atuação específicasjunto aos recursos humanos em sua estrutura orga-nizacional. Assim, fizeram parte da amostra desteestudo profissionais de uma organização de gestãopública de saúde – quatro de serviço assistencial(hospitalar-ambulatorial); quatro de diagnóstico (labo-

ratorial e radiotecnológico); e uma de clínica médica.Dessas organizações, quatro são públicas, cinco sãoprivadas e uma tem natureza filantrópica.

As informações foram coletadas por meio de en-trevistas semi-estruturadas com profissionais da área degestão de pessoas das organizações envolvidas naamostra. Foram realizadas 13 entrevistas (na organiza-ção responsável pela gestão pública de saúde, foramentrevistadas quatro pessoas), com o auxílio de um ins-trumento que serviu de roteiro para a descrição das res-postas dos entrevistados. Este instrumento continhaperguntas abertas, fechadas e um quadro com indica-dores de freqüência que orientou os entrevistados nasrespostas sobre temas específicos relacionados ao ob-jetivo da pesquisa. Ainda como elementos de coleta dedados e informações para o desenvolvimento do estudo,foram utilizadas fontes secundárias, como bibliografiase documentos relacionados ao setor de saúde.

Os dados obtidos nas entrevistas foram organiza-dos de duas formas: em relação às questões fechadasdo instrumento de pesquisa, procedeu-se à análisede freqüência de respostas, a fim de que se pudesseobter a informação objetiva a respeito do perfil dosprofissionais de recursos humanos e as característicasdo setor em que atuam. Já no que diz respeito àsquestões subjetivas e que envolviam as percepçõesdos entrevistados, as informações foram analisadasde forma descritiva com o auxílio de procedimentospreliminares de análise de conteúdo e sob a orien-tação do referencial teórico, no sentido de responderàs perguntas da pesquisa, previamente formuladas.

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOSRESULTADOS

4.1. Percepção dos profissionais quanto àatuação da área de gestão de pessoas naorganização

As áreas de gestão de pessoas das organizações desaúde envolvidas na pesquisa estão estruturadas, nagrande maioria, no nível tático de atuação. Ou seja,definem a forma como as políticas de gestão de pessoassão desenvolvidas, porém sem uma atuação direta nadecisão sobre que políticas devem ser implantadas.

Nas organizações ligadas ao setor público, a áreade gestão de pessoas segue as determinações daspolíticas estaduais de administração de recursos hu-manos, notadamente no que diz respeito à gestão de

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pessoal. Além disso, a referida área também precisaseguir as políticas de recursos humanos da Secretariada Saúde, vinculada ao Sistema Estadual de RecursosHumanos. Neste sentido, a ação do setor de gestãode pessoas na organização que atua diretamente comos profissionais de saúde se caracteriza pela poucaautonomia em termos de inovação nas práticas degestão ou mudanças nos modelos de recursos huma-nos. Estruturalmente, o setor é vinculado à direção-geral ou gerência administrativa do órgão em que sesitua e, política e tecnicamente, à Diretoria de RecursosHumanos (DRH) da Secretaria de Estado da Saúde.

Já na esfera privada, a maioria dos setores de ges-tão de pessoas está subordinada à gerência admi-nistrativa ou à direção-geral da organização. Nesse caso,destaca-se que tais organizações apresentam uma es-trutura típica de empresas privadas, e a área de recur-sos humanos tem um papel estratégico na organização,atuando tanto no nível decisório quanto na implemen-tação das políticas do setor. Este tipo de vínculo foiespecialmente observado em uma das organizaçõespesquisadas, na qual os profissionais têm um papelestratégico na definição e no desenvolvimento de ativi-dades que extrapolam a gestão de pessoas tradicional.Sua atuação é de assessoria e consultoria interna, oque demonstra as novas tendências para as quais sevolta a área de gestão de pessoas das organizações.

Em relação à estrutura de gestão de pessoas dasorganizações estudadas, vale ressaltar, entretanto, que,na maioria das vinculadas ao setor privado, a área serestringe à pessoa do profissional de gestão de pes-soas. Isto é, o setor de gestão de pessoas não é for-malizado na estrutura da empresa, mas sim o profis-sional, que está vinculado à direção da mesma. Estedado também pode ser associado a uma visão maiscontemporânea de gestão de pessoas, na qual a árease estabelece de forma descentralizada, à medida quese considera que “todos os gestores são gestores depessoas”, cabendo ao especialista da área dar suportepara que os demais atuem dentro deste princípio.

Apesar disso, o que se observou também, emdepoimentos de alguns profissionais entrevistados, foiuma grande dificuldade de se disseminar uma novaidéia de gestão e o princípio de que as pessoas podemser o diferencial dentro da organização de saúde, des-de que se desenvolvam políticas adequadas às suasnecessidades demandadas das relações de trabalho.Considerando que, nessas organizações, a direção, emsua maioria, é assumida por profissionais da área mé-

dica, é comum perceber-se o seu despreparo e desco-nhecimento acerca de princípios básicos de gestãoadministrativa, notadamente na gestão das pessoas.Exemplo disso é a constatação sobre a dificuldade emserem aprovados programas de capacitação, reali-zação de cursos e capacitações para os funcionáriosque necessitam aperfeiçoar-se, de modo a melhorexecutarem seu trabalho. Por terem uma visão muitotécnica, os dirigentes parecem não perceber tal ne-cessidade, bem como a importância na modificaçãode rotinas e definição de ações voltadas às pessoas,que seriam básicas e essenciais para melhorar o seudesempenho, mas que são por eles negadas.

Em relação às características dos setores de gestãode pessoas nas organizações estudadas, pode-se dizerque foram identificadas duas situações ao mesmotempo contrastantes e contraditórias. No setor públi-co, a área de gestão de pessoas é formalizada naestrutura dos órgãos de saúde, tem atribuições espe-cíficas, porém ainda conservadoras e centralizadas,com o predomínio de funções operacionais.

Já no setor privado, onde poderiam ser identi-ficadas estruturas flexíveis e baseadas em princípiosque definissem a gestão de pessoas de uma formamais estratégica, encontrou-se, em sua maioria, orga-nizações com áreas pouco estruturadas e pouca auto-nomia, com atribuições clássicas da administraçãode recursos humanos e não-formalizadas no contextoda estrutura da organização de saúde. Tal quadropode decorrer do tamanho da organização e do graude profissionalização administrativa em que tal orga-nização se encontra, bem como pelo modo comoestá estruturada em termos de natureza do negócio:normalmente, são constituídas por vários sócios, pro-fissionais da área médica que mantêm a cultura daclínica ou do consultório particular, não percebendoque sua empresa tem toda uma complexidade a sergerenciada para que possa funcionar adequadamentee alcançar os resultados esperados.

Em relação ao perfil dos profissionais de saúdeenvolvidos na pesquisa, na análise dos dados dapesquisa de campo foi possível verificar que osprofissionais de gestão de pessoas das organizaçõesde saúde abordadas neste estudo possuem um perfilbem diversificado. Observou-se que, dos 13 entrevis-tados, apenas quatro possuem graduação em Admi-nistração. A formação dos demais está distribuídanas áreas de Psicologia, Medicina, Ciências Sociais,Serviço Social, Filosofia, Enfermagem, Agronomia

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e licenciatura em Geografia. Apesar da supostadiscrepância na relação entre formação acadêmicae função profissional, destaca-se que oito entre-vistados têm cursos de pós-graduação em nível deespecialização em gestão de pessoas, além dos quese especializaram em áreas diretamente ligadas àgestão de organizações e à área hospitalar. Um en-trevistado tem formação em nível de mestrado.

Esse quadro demonstra que a gestão de pessoasnas organizações não está necessariamente exigindouma formação específica em Administração, no casodas organizações de saúde pesquisadas. Existe umacerta flexibilidade e abertura para o acesso a outrascategorias profissionais neste tipo de trabalho, espe-cialmente no setor público, em que o sistema de as-censão a determinados cargos administrativos nãopressupõe uma formação técnica específica na área.Todavia, sabe-se que o conhecimento do setor emque se atua como gestor de pessoas torna-se funda-mental para uma análise mais consubstanciada da rea-lidade, para o planejamento e a tomada de decisões.

No caso de profissionais eminentemente técnicose sem nenhum tipo de formação administrativa, agestão de pessoas tende a limitar-se ao controle maisburocrático ou a práticas essencialmente operacio-nais, sem a necessária abordagem de outros aspectosque são necessários para a integração dos cola-boradores à missão organizacional, como os progra-mas de compensação, benefícios, treinamento ouremuneração. Como ilustração dessas questões, foimencionado que profissionais graduados na áreamédica, por exemplo, por possuírem uma visão muitotécnica e não terem clareza quanto às especificidadesda gestão administrativa, tendem a dificultar asatividades diárias da área de gestão de pessoas, comodemonstraram três participantes:

(...) é difícil trabalhar com pessoas com visãotécnica, mais fechada, como médicos, bioquí-micos etc. (...) (Entrevistado 1);(...) o RH não tem apoio da direção (médicos), quenão percebem (sic) que são as pessoas que vãogerar lucros para empresa (...) (Entrevistado 2);(...) há dificuldades de se trabalhar porque adireção não entende a importância do setorde recursos humanos (...) (Entrevistado 3).

Um outro aspecto ligado ao perfil dos profissionaisque atuam nos setores de gestão de pessoas é o

tempo de serviço no referido setor. Dos entrevistados,três estão na área há menos de um ano, sete atuamentre um ano e meio e sete anos, um respondentehá oito anos e meio e dois há mais de dez anos.

Constatou-se, também, que 61,54% dos profis-sionais têm mais de 36 anos de idade. Isso podeexplicar as razões de a maioria das referidas organi-zações ainda estar atuando sob um enfoque degestão de pessoas mais tradicional ou operacional.Os profissionais não desenvolveram uma visão maisholística para gerir os recursos humanos da empresa,pois já assumiram uma cultura que pode não aceitarmuito facilmente as mudanças, uma vez que, paraestas se consolidarem, precisam ser quebradosconceitos que até então foram por eles adotados.

Dessa forma, pode-se afirmar que o perfil do gestorde pessoas também influencia as formas decomportamento organizacional. Caso não estejampreparados para enfrentar e desencadear as mudançasnecessárias com o passar dos anos, a organização po-derá apresentar limitações no seu funcionamento inter-no, seja pela ineficiência das rotinas desenvolvidas nossetores de gestão de pessoas, seja pelas dificuldadesde relacionamento organizacional ou, até mesmo, pelafalta de motivação dos seus colaboradores.

Em termos das atividades desenvolvidas pelossetores de gestão de pessoas nas organizaçõespesquisadas, pode-se distinguir entre o setor públicoe o privado. No setor público, as práticas sãoinstituídas e padronizadas segundo as políticaspúblicas de administração de recursos humanos,caracterizando-se, principalmente, como operacionaise de controle. Nesse sentido, são desenvolvidasatividades típicas dos tradicionais setores de pessoal,como controle da vida funcional do trabalhador,controle de ponto, férias, organização e controle dehora-plantão, escala de trabalho, vale-transporte evale-alimentação, projetos e controle de programasde estágio e orientações ou encaminhamentos àsáreas da psicologia e médica.

Ainda no setor público, é atribuição da área degestão de pessoas a coordenação de atividades deeducação continuada e treinamento. Porém, segundoos depoimentos, as políticas para estas atividadesencontram-se cada vez mais limitadas, assim como ébastante restrita a participação dos funcionáriosquando os programas de treinamento acontecem.

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Já nas organizações de caráter privado, as práticasde gestão de pessoas são mais abrangentes. A maioriados setores de gestão de pessoas atua em todos osprocessos ligados à área, responsabilizando-se desdea admissão do funcionário até o seu desligamento daorganização. Nesse sentido, desenvolve atividades derecrutamento, seleção, avaliação de desempenho, pro-gramas de treinamento e desenvolvimento, programasde benefícios e remuneração, além das ações voltadasà qualidade de vida e à melhoria da satisfação e daprodutividade no trabalho.

Destacou-se, dentre as organizações privadas en-volvidas na pesquisa, uma que tem no setor de ges-tão de pessoas o principal suporte em termos degestão organizacional. A área atua em todas as fren-tes da organização, enquanto consultoria interna ede caráter estratégico, descentralizando a função epreparando outros gerentes para atuar como gestoresde pessoas. Nessa perspectiva, essa organização, emtermos de gestão de pessoas, é um dos exemplos daaplicação da visão dos colaboradores como parceiros,e não como recursos.

Nas organizações do setor público, fatores comoa centralização do poder, a má qualificação de pessoasque ocupam cargos estratégicos, o desvio de função,o desinteresse por parte da direção com relação àimportância do setor de recursos gestão de pessoas,dentre outros, contribuem para uma avaliação nega-tiva da gestão de pessoas.

Em algumas organizações privadas abordadas, poroutro lado, pôde-se constatar, na prática, que quasesempre os funcionários são vistos como colaboradoresque trabalham em equipes, existindo a interdepen-dência entre os colegas e as equipes de trabalho; oconhecimento, a inteligência e o talento individualsão valorizados na organização; a prioridade é o aten-dimento e a satisfação dos clientes, e o funcionáriodeve atuar vinculado à missão e à visão da orga-nização, com o reforço da ética e da responsabilidadesocial dentro da empresa. Porém, alguns fatoresapresentados na teoria, que dizem caracterizar a visãode pessoas como recursos, também são observadosem algumas dessas instituições, tais como: o funcio-nário é subordinado e dependente da chefia; há gran-de preocupação acerca do cumprimento de normase regras; os horários são rigidamente estabelecidose controlados.

Em termos da percepção dos profissionais quantoaos objetivos, às funções e à importância da área na

organização, a maioria dos profissionais entrevistadosreconhece o setor de gestão de pessoas como o maisimportante da organização. Eles percebem que o de-sempenho eficiente da organização, a motivação e asatisfação dos funcionários, e o clima organizacionalfavorável só se estabelecem se houver uma gestão depessoas bem estruturada e que trabalhe em conjuntocom os níveis estratégicos e gerenciais da organização.Nesse sentido, constataram-se três manifestações:

(...) se não tiver uma gestão de pessoas bemestruturada, vinculada com a direção (gestãode pessoas estratégica), participando ativamen-te das decisões da empresa, isso gera funcio-nários insatisfeitos e, conseqüentemente, podegerar um atendimento com pouca qualidade(Entrevistado 4);(...) o RH é todo o suporte da organização (...)(Entrevistado 8);(...) o RH é a mola propulsora dentro daempresa (Entrevistado 12).

Em relação às atividades desenvolvidas pelossetores de gestão de pessoas, os entrevistados dosetor público manifestaram-se no sentido de que,na maioria das organizações públicas, não são atin-gidos os reais objetivos da área. Dentre as justificativaspara essa manifestação, estão as seguintes: a centra-lização, tanto administrativa como de recursos, queimpede o investimento em ações mínimas de gestãode pessoas; a falta de preocupação dos dirigentescom o setor, não dando a ele a importância necessária;a falta de profissionais com qualificação adequadapara exercerem cargos estratégicos na área; e aausência de estrutura adequada para se capacitaradequadamente os funcionários, sendo alguns cargosmais beneficiados do que outros em relação à capa-citação de recursos humanos.

No setor privado, por sua vez, a maioria dosprofissionais percebe que, por meio das suas ativida-des desenvolvidas, consegue atingir seus objetivos, poiscada colaborador possui a sua meta, o que permite aobservação concreta dos resultados da política implan-tada e da sua operacionalização pela organização. Aspessoas são adequadamente distribuídas nos cargos,na medida do possível respeitando-se seu perfil e suacompetência. Há, ainda, uma boa comunicação da áreacom os funcionários. Nesse setor, apenas profissionaisde duas organizações privadas relataram não conseguiratingir os reais objetivos do setor, em decorrência deuma área de gestão de pessoas ainda mal estruturada

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e cercada pelas restrições gerenciais e pela falta de apoiopor parte da direção.

5. CONCLUSÕES

As informações obtidas na pesquisa permitemdemonstrar que a percepção dos profissionais nemsempre demonstra a realidade como é tratada a áreade gestão de pessoas nas organizações de saúde.Por se tratar de organizações de natureza técnica evoltadas à produção de serviços, observa-se umamaior preocupação com os resultados (a qualquerpreço) do que com o processo. Nesse aspecto, osprofissionais de gestão de pessoas demonstraramque, apesar de perceberem a área como sendo defundamental importância, as organizações (direçãoou setores/pessoas a que a área de gestão de pessoasencontra-se diretamente ligada), em sua maioria, têma visão dos funcionários ainda como recursos, queestão ali somente para produzir e dar retorno finan-ceiro para a empresa, o que vem prejudicar a atuaçãoda referida área.

Todavia, eles também revelaram que essa percep-ção vem mudando, de maneira que as áreas de gestãode pessoas precisam cada vez mais reforçar a im-portância das pessoas para o sucesso da organização,à medida que são envolvidas e reconhecem a neces-sidade de atuar na direção da missão organizacional.Os profissionais revelaram ter consciência da influên-cia que o setor de gestão de pessoas exerce na orga-nização como um todo. Por isso, percebem a impor-tância de se investir em cursos de capacitação e desen-volvimento, estabelecer um ambiente de trabalhoagradável para que as pessoas se sintam motivadas,estimular a realização de programas de qualidadede vida e a definição de benefícios que recompensemos trabalhadores pelas metas alcançadas.

Para esses profissionais, mesmo considerando aslimitações que enfrentam dentro de seus própriossetores de trabalho, a área de gestão de pessoasprecisa atuar no sentido de que os funcionários sejamvistos como colaboradores essenciais da organização,os agentes que podem fazer a diferença na relaçãoentre o cliente externo e a própria empresa.

Apesar dessa compreensão, os profissionais degestão de pessoas das organizações pesquisadasdemonstraram não conseguir, por vezes, executar ta-refas que julgam essenciais para o desenvolvimentode seus colaboradores e da própria organização.

Isso ocorre principalmente no setor privado, ondeos profissionais técnicos que ocupam cargos dedireção entendem que a área de gestão de pessoasdeve limitar-se a controlar o cartão de ponto, recrutar,punir e fazer outras tarefas “mecânicas”. No setorpúblico, os maiores problemas são os seguintes: acentralização do poder, a burocracia e as especi-ficidades das políticas do SUS.

Qualquer que seja a natureza do setor abordado,público ou privado, o que se pode concluir é que háuma enorme carência de profissionalização no geren-ciamento dos setores de gestão de pessoas das orga-nizações de saúde. São raras aquelas que já criaramprogramas ou estruturas próprias para a gestão daspessoas, e mais raro ainda que essa gestão se desen-volva sob uma perspectiva de parceria entre colabo-radores e organização, descentralização das ações evalorização efetiva das pessoas.

Sendo assim, acredita-se que seja necessária umarevisão na forma como as organizações de saúdeestão gerenciando seus colaboradores, considerando-os como os elementos principais no estabelecimentodas relações com a sociedade e com os consumidoresdos seus serviços.

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ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS EM ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE:UM ESTUDO À LUZ DA PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA

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organizações de saúde:um estudo à luz da percepção dos

profissionais da área

Volume 24 – número 71 – edição especial - XI Semead - out/2008Volume 24 – número 71 – edição especial - XI Semead - out/2008

Felipe BogeaLucas Ayres Barreira de Campos Barros

Silvia Pires Bastos CostaFrancisco Antônio Barbosa Vidal

Veronica FavatoPablo Rogers

Felipe Mendes BoriniEdson Renel da Costa FilhoMoacir de Miranda Oliveira Júnior

Ricardo Jato, Reginaldo Braga LucasMilton Carlos Farina, Paulo HenriqueTentrin e Mauro Neves Garcia

Shalimar GallonCláudia Medianeira Cruz Rodrigues

Aniele Fischer BrandSuzana da Rosa TolfoMaurício Fernandes PereiraMartinho Isnard Ribeirode Almeida

Felipe BogeaLucas Ayres Barreira de Campos Barros

Silvia Pires Bastos CostaFrancisco Antônio Barbosa Vidal

Veronica FavatoPablo Rogers

Felipe Mendes BoriniEdson Renel da Costa FilhoMoacir de Miranda Oliveira Júnior

Ricardo Jato, Reginaldo Braga LucasMilton Carlos Farina, Paulo HenriqueTentrin e Mauro Neves Garcia

Shalimar GallonCláudia Medianeira Cruz Rodrigues

Aniele Fischer BrandSuzana da Rosa TolfoMaurício Fernandes PereiraMartinho Isnard Ribeirode Almeida

RG71capa71.p65 17/2/2009, 08:301