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Assistência Estudantil REVISTA Junho de 2015 Programa Bolsa de Complementação Educacional Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG A história de criação e transformação da Bolsa de Complementação Educacional Memória e identidade do programa através da experiência de bolsistas e orientadores Entrevista com o economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann ISSN: 2446-6107

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AssistênciaEstudantil

revista

Junho de 2015

Programa Bolsa de Complementação Educacional

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais - CEFET-MG

A história de criação e transformação da Bolsa de Complementação Educacional

Memória e identidade do programa através da experiência de bolsistas e orientadores

Entrevista com o economista e presidente da Fundação Perseu

Abramo, Márcio Pochmann

ISSN: 2446-6107

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equipe da secretaria de Política estudantil

secretaria de Política estudantilMárcia Cristina Feres Nelson Nunes Filipe Salles Michelle Simone Barcelos

CPe - Campus i - BHMaria de Fátima Souza - Assistente Social Cláudia Lommez de Oliveira - PsicólogaLívia Dantas Neder Rosa - NutricionistaMateus Cattabriga de Barros - Assistente AdministrativoRaquel Mendonça Macedo Degano - Assistente Administrativo

CPe - Campus ii - BHAna Isabel Silva Lemos - Assistente SocialMarta Venutto Bittencourt de Oliveira - NutricionistaÉrica Kneipp Dias Vieira - Assistente Administrativo Raquel Cristina Teixeira Freitas - Psicóloga

CPe - LeopoldinaCamila Gonçalves Guimarães - Assistente SocialEduardo Rocha Benini - Psicólogo

CPe - araxáAlessandra de Morais Silva - PsicólogaMiriam Maria Coelho - Assistente Social Ana Caroline de Oliveira Silva - Nutricionista

CPe - DivinópolisAna Paula Gaspar Alvarenga - Assistente SocialPedro Eduardo C. A. Ribeiro - Psicólogo

CPe - timóteoJeysa Vanessa Rocha Magalhães Reis - PsicólogaVânia Bevenuti Barbosa - Assistente Social

CPe - varginhaRegiane Gueli Furtado de Mendonça - Assistente SocialRoselene Dalcin - Psicóloga Andreza Campos Ferreira de Figueiredo - Nutricionista

CPe - NepomucenoLudmila Eleonora Gomes Ramalho - PsicólogaMariana Coelho Silveira - Assistente Social

CPe - CurveloAnderson Marques da Silva - Assistente Social Crisley Mara de Azevedo Ferreira - Nutricionista

CPe - ContagemDilene Pinheiro da Silva - Assistente Social Flávia Costa Mendes Peradeles - Nutricionista

Revista Assistência Estudantil / Centro Federal de EducaçãoTecnológica de Minas Gerais, Secretaria de Política Estudantil, Programa Bolsa de Complementação Estudantil – Vol. 1, n.1 (jun. 2015) – Belo Horizonte : CEFET-MG, 2015-

Periodicidade irregular.

ISSN: 2446-6107

1. Assistência ao Estudante. 2. Política de Educação. 3. Proje-tos Educacionais. I. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais. Secretaria de Política Estudantil.

CDD 379

R454

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Campus I – CEFET-MG

DiretOr-GeraLProf. Márcio Silva Basílio

viCe-DiretOrProf. Irlen Antônio Gonçalves

CHefe De GaBiNeteProfa. Heloísa Helena de Jesus Ferreira DiretOr De eDUCaÇÃO PrOfissiONaL e teCNOLÓGiCaProf. James William Goodwin Júnior

DiretOra De GraDUaÇÃOProfa. Ivete Peixoto Pinheiro Silva

DiretOr De PesQUisa e PÓs-GraDUaÇÃOProf. Flávio Luis Cardeal Pádua

DiretOr De PLaNeJaMeNtO e GestÃOProf. Felipe Dias Paiva

DiretOr De eXteNsÃOProf. Eduardo Henrique Rocha Coppoli secretário de Comunicação - seCOMLuiz Eduardo Pacheco

secretário de Governança da informação - sGiMarcos Fernando dos Santos

secretária de Política estudantilMárcia Cristina Feres

secretária de relações internacionaisMaria Inês Gariglio

JOrNaLista resPONsÁveLNelson NunesMTB MG07944

revisÃOAndré Luiz Silva

DesiGNLeonardo W. GuimarãesSetor de Comunicação Visual - SECOV

iMPressÃOGráfica O Lutador

PeriODiCiDaDe e tiraGeMSemestral - 500 exemplares

COrresPONDÊNCiaCentro Federal de Educação Tecnológica deMinas Gerais - CEFET-MGSecretaria de Política Estudantil (SPE)Av. Amazonas, 5.253 - Nova SuíçaBelo Horizonte - MG - CEP 30.421-169TEL: (31) 3319-7096E-mail: [email protected]

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Sumário

6 Apresentação

8 Editorial

10 A história de criação e transformação da Bolsa de Complementação Educacional

16 Entrevista - Marcio Pochmann: Uma visão além dos dados e das estatísticas sobre trabalho, educação e políticas sociais

26 Quatro cabeças, dois projetos e inovações

30 Atividade permite integração com alunos de diversos níveis acadêmicos

31 BCE como primeira experiência profissional

32 Busca da permanência aliada à experiência profissional

34 “Entrei no CEFET-MG um e saí outro, graças ao BCE”

36 Equipe desenvolve manual com regras para gerenciamento de resíduos

40 Relação afinada entre orientador e bolsistas

42 Aprimoramento e amadurecimento profissional

44 Tranquilidade para desenvolvimento dos estudos

45 Pesquisa visa encontrar substituto de carvão mineral para alto-forno

46 Para saber o tempo do jogo: placar eletrônico sem fio

50 Soluções eficientes para destinação do lixo eletrônico

52 Participação na BCE transcende os objetivos técnicos e sociais

54 Parceria em busca de conhecimento

56 Monitoramento socioeconômico já contou com oito bolsistas da BCE

60 Bolsistas implantam NEAB na Unidade de Leopoldina

62 Oportunidade de aproximar o mundo empírico do teórico

64 Um lugar para aprender, socializar e pesquisar

68 Projeto proporciona realização profissional e pessoal

69 Abrindo as portas de um novo mundo

70 Quebrando distâncias para conectar-se a redes neurais

71 Marca da BCE

73 Ensaios

78 Depoimentos

26 5646 64

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A Assistência Estudantil, no âmbito da política institucional e nacional, tem, nos últimos anos, con-quistado avanços significativos, tanto em sua concepção do direito à permanência enquanto po-lítica vinculada à política de educação, quanto à compreensão de seu papel na interseção do tripé ensino, pesquisa e extensão.

Os programas de bolsas se inserem na Política de Assuntos Estudantis do CEFET-MG no eixo dos programas que visam assegurar a permanência dos estudantes por meio de apoio financeiro, denominado assistência prioritária.

O programa Bolsa de Complementação Educacional procura aliar esse apoio à permanência à oportunidade de inserção desses estudantes nas experiências de iniciação científica e de aprofun-damento em conteúdos de seu curso.

A trajetória desse programa reflete os avanços conceituais aqui citados. Denominado originalmen-te como Bolsa de Trabalho, com legislação e recursos específicos, reduziu, ao longo dos anos, a perspectiva do trabalho como contrapartida aos valores recebidos, descaracterizando ou mesmo desconsiderando a concepção do direito do estudante à permanência qualificada.

Tal perspectiva possui resquícios na atualidade em diversas IFES, o que tem sido pauta de recomen-dações e avaliações em nível nacional que vêm refletindo nas revisões de políticas governamentais e institucionais nesse campo.

Mudanças nas legislações, implantação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que trata do tra-balho infantil e de jovens, bem como avanços nas proposições e implementação de políticas de permanência em nível nacional e institucional na perspectiva dos direitos sociais, alteraram e con-solidaram também o foco da atual Bolsa de Complementação Educacional.

Dessa forma, o programa passa a privilegiar a complementação da formação dos estudantes em projetos voltados à sua área de estudos, preferencialmente projetos de iniciação científica.

A proposta de documentar aqui esse programa, resgatando sua história, visa registrar também, para além dos experimentos, as experiências, para além dos resultados objetivos de projetos, os impactos nos sujeitos; o despertar nos estudantes de suas potencialidades, da sua curiosidade, da sua autoconfiança; o estabelecimento de novas relações com o conhecimento, com seus pares, professores e com a Instituição.

Mudanças também nas concepções dos orientadores dos projetos, que, ao aceitar o desafio, se veem muitas vezes na condição de aprendizes diante de uma nova experiência e da possibilidade de desconstruir expectativas negativas, redescobrir seu papel de educador e de acompanhar as mudanças promovidas por essa experiência. Experiências estas mais difíceis de serem mensuradas em seus impactos e alcances, mas não menos sentidas pelos envolvidos.

Entretanto, restam-nos ainda inúmeros desafios. O maior deles é a ruptura com a cultura da exclu-são, do impedimento prévio e da expectativa do fracasso dirigida ao público prioritário do progra-ma. É a validação do direito à permanência desses estudantes, tanto material quanto simbólica, e à sua formação de qualidade. Direito de estar e de participar da vida acadêmica em todas as suas possibilidades.

Se, como disse o filósofo, há escolas que são gaiolas e há escolas que são asas, cabe-nos abrir as gaiolas, encorajar o voo e, por que não, voar junto.

Márcia Cristina FeresSecretária de Política Estudanti

Apresentação

NELSON NUNES

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A Bolsa de Complementação Educacional – BCE – concede aos bolsistas o direito de estudar, permanecer e concluir o curso com qualidade. Esta revista desvela a memória do programa que possui uma história impar no CEFET-MG e faz parte do percurso de alunos, professores e profissionais da assistência estudantil desde a sua criação, em 1999, até hoje. A afinidade com a pesquisa e com a área técnica es-colhida cresce dentro dos discentes durante o desenvolvi-mento dos projetos, e o que no começo seria uma maneira de manter-se, torna-se um caminho a ser trilhado para o restante da vida.

Pessoalmente, as dificuldades básicas com transporte, mora-dia e alimentação são suplantadas e, para alguns, o recurso permite ainda investir em um curso de língua estrangeira, de aperfeiçoamento ou até ajudar nas despesas familiares. Pro-fissionalmente, é a oportunidade de conhecer novos aspec-

tos do curso, adentrar na seara da pesquisa e obter respostas práticas para o ensino teórico adquirido em sala de aula.

Entre as centenas de histórias do programa, narramos nes-ta publicação 19 delas, que contam a participação de per-sonagens de todos os campi do CEFET-MG que já viveram ou ainda vivem a experiência da BCE. Nelas, orientadores e estudantes discorrem sobre a qualidade dos projetos, a re-lação humana e técnica entre ambos e os resultados sociais, acadêmicos e científicos advindos dos trabalhos.

A gênesis do programa é contada por documentos e pelas profissionais da assistência estudantil que participaram desde a elaboração do projeto inicial, passando pelas rees-truturações e do acompanhamento dos trabalhos ao longo desses 15 anos. Depoimentos de arquivo de bolsistas que passaram pelo programa e textos que contam a experiên-

cia de profissionais que orientaram projetos também com-põem a edição.

Na entrevista, o professor de Economia da Unicamp e pre-sidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, fala sobre trabalho, assistência estudantil, ensino no Bra-sil e questões enfrentadas no mundo contemporâneo por trabalhadores e estudantes, sempre com uma visão huma-nista e de quem se debruça sobre os dados para analisar a realidade nacional.

O objetivo desta publicação, como de outras que serão lan-çadas pela Secretaria de Política Estudantil (SPE), é de que o legado construído por servidores e estudantes do CEFET-MG não fique apenas nas gavetas ou na memória daqueles que vivenciaram a história. Há de se compartilhar o que foi

produzido nessa centenária instituição para que possamos contemplar o passado com seus limites e avanços e aperfei-çoar o presente por meio desses exemplos.

Esse material contou com a participação de toda equipe de assistência estudantil do CEFET-MG em todos seus campi. Todos reviraram seus arquivos, passaram os contatos de professores e alunos e ajudaram o máximo possível. Desta-que para a contribuição dos servidores Mateus Cattabriga, Raquel Mendonça e Érica Kneipp, que lidaram com o gran-de volume histórico que abarca os campi de Belo Horizonte.

Esperamos que aproveite a leitura.

Nelson NunesEditor

Editorial

8 Revista Assistência Estudantil Revista Assistência Estudantil 9

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A história de criação e transformação da Bolsa de ComplementaçãoEducacionalPrograma, criado em 1999, dá aos bolsistas direito de estudar e permanecer na instituição com qualidade e adentrar nas áreas acadêmica e científica

O Programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) iniciou suas ati-vidades no CEFET-MG em 1999, no campus I, quando foram selecionados e integrados os primeiros estudantes. Em 2015, o programa atende, em todas as unidades da instituição, alunos do ensino médio técnico e da graduação. Nesses anos, a bolsa passou por obstáculos financeiros e culturais, mudou e superou as dificuldades para se firmar como um dos projetos mais importantes da assistência estudantil.

A iniciativa do programa foi fruto de projeto elaborado pelas assistentes sociais da então Seção de Assistência Estudantil (SAE), Maria do Carmo Santos, Regina Rita de Cássia Oliveira e Savana Diniz Gomes Melo. A proposta tinha o intuito de substituir a Bolsa de Trabalho, programa criado e financiado pelo Governo Federal.

O apoio financeiro continuado aos bolsistas integrado à complementação da aprendizagem em áreas do conhecimento correlatas ao curso permite que es-tudantes de baixa condição socioeconômica tenham o direito tanto de per-manecer quanto de participar ativamente da vida acadêmica. Os projetos, se-lecionados por meio de edital, são propostos por servidores da instituição, e o tempo de permanência do bolsista no programa é de no máximo dois anos.

Visando implantar o programa com viés social e pedagógico, pautado no trabalho de alunos, investigaram-se as possíveis opções de respaldo legal existentes. As responsáveis pela elaboração do projeto buscaram conhecer as experiências similares de outras instituições federais de ensino superior (Ifes) e a legislação pertinente.

“Ficamos durante um bom tempo trabalhando em uma pesquisa documen-tal. Após formatar o programa, marcamos uma entrevista com uma fiscal do trabalho, no Ministério do Trabalho, para sentar com ela e ver se aquele de-senho estava em conformidade com a legislação, se iria ferir algum aspecto”, lembrou Regina Rita Oliveira. Segundo a assistente social, naquela reunião encontrou-se como alternativa viável a utilização da lei do estágio.

Após essas investigações, o programa foi implantado com base na Lei 6.494, de 7 de dezembro de1977, regulamentada pelo Decreto 87.497, de 18 de agosto de 1982, alterado pelo Decreto 89.467, de 21 de março de 1984, e pela Lei 8.859, de 23 de março 1994, que tratam do estágio, observando a Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Implantação foi precedida de pesquisa minuciosa sobre legislaçõestrabalhistas e estudantis

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Regina Rita Oliveira, chefe da SAE em 1999, recordou que a maior adversidade para a implantação da BCE foi a libera-ção dos recursos necessários que, no início, provinham do orçamento do CEFET-MG, oriundos da fonte 250, elemento de despesa 18 – Auxílio financeiro a estudante.

Para tentar resolver o problema, foi enviado um ofício (em 16 de setembro de 1999) à diretora do Departamento de Apoio às Atividades de Ensino (DAAE), professora Elizabete de Fáti-ma Costa Rossete. No documento, a SAE argumenta que “o período de execução indicado e os recursos financeiros dis-ponibilizados para a implantação (...) apresentam-se aquém do previsto como necessário à implantação da experiência em condições de obter sucesso”.

Para que o programa começasse a operar ainda em 1999, foi proposto pela Seção de Assistência ao Estudante um plano inicial de aplicação dos recursos já disponibiliza-dos, “distribuindo 11 bolsas mensais, no valor de 80% do salário mínimo, por um período de seis meses, no campus I, podendo o número de bolsas vir a ser ampliado a partir de novos aportes de recursos, no decorrer do desenvolvi-mento do programa”.

A partir da resolução das questões financeiras, foram sele-cionados 21 alunos dos cursos técnicos, que iniciaram suas atividades em novembro daquele ano. Em 2000, passou a contemplar também discentes dos cursos superiores de Belo Horizonte.

Luta por recursos

A próxima etapa foi a de sensibilizar a comunidade para o estabelecimento do programa, dado que ele comportava resquícios da Bolsa de Trabalho. “Fizemos várias reuniões com os coordenadores de cursos para que eles compre-endessem e sensibilizassem os demais professores dos la-boratórios para que o aluno possuísse uma oportunidade de complementar a sua educação”, disse Maria do Carmo Santos, mais conhecida como Carminha.

Regina Rita Oliveira reiterou que a resistência inicial foi vencida, apesar dos obstáculos normais que envolvem mudanças de hábito. “Era um desafio ter uma seleção so-cioeconômica e colocar um aluno, que na época era consi-derado carente, para trabalhar dentro de uma área técnica. Ele não poderia ser selecionado pelo professor. Teria que ser selecionado por nós dentro da prioridade que estávamos estabelecendo. Foi uma mudança de cultura muito grande. No início da implantação, foi difícil, mas víamos que o cres-cimento desses alunos era enorme”, frisou.

A psicóloga da Coordenação de Política Estudantil (CPE) do campus I, Cláudia Lommez de Oliveira, esteve à frente da BCE cerca de cinco anos, durante os anos 2000. Apesar de ter encontrado o programa consolidado, ela mencionou que um dos contratempos foi o fato de que nem todos conseguiam entender plenamente o espírito acadêmico-científico da bolsa.

Nova cultura institucional

Quando a constituição foi promulgada, foi feita uma limpeza nos decretos que a contrariavam e um desses foi o da Bolsa de trabalho. Partindo disso, tínhamos o desafio de pesquisar e montar outro programa que não contrariasse a legislação e que pudesse atender os alunos.

Muitos voltam para nos visitar quando se formam e nos relatam a importância dessa bolsa na vida deles. Não só do ponto de vista acadêmico ou no mundo do trabalho, mas pessoalmente, subjetivamente, e isso me deixa muito satisfeita.

“Quando entrei, o programa tinha no máximo cinco anos de existência. Ainda existia uma cultura de que aquele estudante dito ‘carente’ poderia desenvolver qualquer ati-vidade dentro da instituição, porque ele estava recebendo uma bolsa para isso. O projeto ficava desqualificado no meu entendimento”, salientou, explicando que para mudar a mentalidade institucional conversou com todas as partes, principalmente os orientadores, uma vez que são os res-ponsáveis pelas atividades dos discentes.

A assistente social da CPE do Campus I Maria de Fátima Sou-za acompanha os trabalhos desenvolvidos no campus desde 2011. A profissional argumentou que coordenar o programa requer grande empenho para que os preceitos da BCE sejam seguidos pelos diferentes personagens que nela orbitam. “Exi-ge muita dedicação profissional, porque temos que ficar no controle tanto dos projetos quanto na participação dos profes-sores, na atuação dos estudantes e também no ambiente onde os projetos são desenvolvidos”, listou.

Regina Rita

Cláudia Lommez

exige muita responsabilidade, participação, compromisso e pró-atividade dos estudantes. temos assistido a coisas fantásticas que têm acontecido com muitos dos estudantes que depois retornam e contam as conquistas que tiveram fora do Cefet-MG advindas da BCe.

Maria de Fátima Souza

NELSON NUNES

NELSON NUNES

ARqUivO PESSOAL

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A Bolsa de Trabalho foi instituída pelo Decreto 69.927, de 13 de janeiro de 1972, e revogada em 1991. O projeto era ligado aos ministérios da Educação e Cultura e do Trabalho e Previdência Social e tinha como objetivo “proporcionar a estudantes de todos os níveis de ensino oportunidades de exercício profissional em órgãos ou entidades públicas ou particulares, nos quais possam incorporar hábitos de traba-lho intelectual ou desenvolver técnicas de estudo e de ação nas diferentes especialidades”.

A assistente social Maria Salete Guimarães Moreira parti-cipou da Bolsa de Trabalho por dois anos e seis meses, de 1981 a 1983, como aluna de Edificações. Como estudante, cumpriu seu período na gráfica, o que representou o segun-do contato com o mundo do trabalho e a primeira expe-riência em processo de trabalho coletivo, na produção em série. O auxílio efetivava a proposta de manter os discentes na escola e permitir que priorizassem a vida acadêmica.

“Ser bolsista representou ter apoio para permanecer de for-ma mais ‘leve’. Deixei de fazer longas caminhadas de casa para a escola, de comer marmita fria (aquecia no setor), tive condições de melhorar a minha alimentação, de adquirir material escolar e acesso ao empréstimo de material de

Origem da BCE começa com a Bolsa de Trabalho

O projeto inicial foi respaldado na legislação de estágio do país, o que lhe conferiu características singulares. Em 2009, foram realizadas modificações no regulamento interno do programa e instituídas, pela então Coordenação Geral de Desenvolvimento Estudantil (CGDE), normas de funciona-mento. Essas alterações objetivaram adequar a BCE à Lei 11.788, de 25 de setembro de 2008, que dispõe sobre o estágio de estudantes e, ao mesmo tempo, qualificar o pro-grama e enfatizar seu aspecto acadêmico-científico. Assim, instituiu-se a seleção dos projetos propostos pelos servido-res por meio de editais.

A psicóloga Simone Pinto Vasconcellos, que participou da reestruturação, salientou que a transição foi bem-sucedida, pois o programa passou a contar com parceiros que pos-suíam capacidades intrínsecas para avaliar se um trabalho seria relevante para a formação técnica do estudante. “Bus-camos, em 2009, a ajuda dos profissionais que trabalhavam com pesquisa e extensão. Eles nos ajudaram a elaborar o edital, e a assistência estudantil começou a selecionar os projetos com o suporte de um grupo de professores que ti-nham conhecimentos específicos nas áreas de atuação, nos diversos campos de conhecimento”, explicou.

Entre as profissionais da assistência estudantil que traba-lharam com a Bolsa de Complementação Educacional há um consenso de que o programa cumpre os objetivos so-ciais, acadêmicos e científicos apresentados. Ao acompa-nhar a trajetória de bolsistas e orientadores, presenciam metamorfoses que transcendem as portas da instituição.

Regina Rita Oliveira observa que havia uma melhoria no rendimento escolar e na questão acadêmica dos alunos atendidos pelo programa. As avaliações eram feitas duran-te o acompanhamento realizado pela pedagoga Vera Lúcia Cardoso e pelos professores. “Eles passavam a ter um con-tato maior com equipamentos, uma vivencia maior dentro da escola com a pesquisa e isso estava melhorando o rendi-mento escolar dos meninos”, concluiu.

Para Simone Vasconcellos, nos relatos, os alunos demons-tram que aprofundam seus conhecimentos e adquirem novos saberes no decurso da experiência. “Eles têm um aprendizado tanto em termos de formação humana como em adquirir responsabilidades profissionais, cumprir pra-zos, planejar tarefas, se relacionar, conviver com pessoas diferentes e de diferentes posições hierárquicas, cumprir tarefas tendo afinidade pessoal ou não. Esse aprendizado que a BCE proporciona é muito importante”, analisou.

De acordo com Cláudia Lommez, as mudanças ocorrem em di-versas perspectivas, entre as quais do ponto de vista subjetivo do bolsista. “Conseguimos perceber como o estudante entra e depois como ele sai, sobretudo quando fica um ano e meio dois anos. Conseguimos perceber um amadurecimento em vários aspectos, sobretudo porque o estudante de baixa con-dição socioeconômica que tem essa oportunidade se empo-dera para estar minimamente em pé de igualdade com outros estudantes que já têm essa condição atendida”, ponderou.

Mudanças no programa em sintonia com a Lei do Estágio

Ganho nos desempenhos acadêmico e pessoal

entendo que é uma via de mão dupla. Da mesma forma que o estudante aprende, o professor também pode se enriquecer com esse processo de orientação. aquele indivíduo que chega sem conhecimento tem um olhar diferente sobre a situação. Às vezes, ele está mais curioso a certas questões que o profissional mais experiente”.

ser bolsista representou ter apoio para permanecer de forma mais ‘leve’. tive condições de melhorar a minha alimentação, de adquirir material escolar e acesso ao empréstimo de material de desenho e apostilas na sae.

Simone Pinto Vasconcellos

Maria Salete Guimarães Moreira

desenho e apostilas na SAE. O trabalho não atrapalhava os estudos, pois em época das avaliações o setor nos liberava para estudar”, observou Salete Guimarães.

Apesar da ajuda financeira, faltava a qualificação nas tare-fas executadas. Não havia um controle sobre o trabalho dos bolsistas, que, em vez de participarem de projetos na área dos cursos, acabavam em espaços aleatórios. “Quando che-guei ao CEFET-MG, em 1983, a maioria estava em setores administrativos como secretários. Essa bolsa não tinha mui-to critério ou um acompanhamento das atividades que os alunos estavam desenvolvendo”, recordou Carminha.

A partir da extinção da Bolsa de Trabalho, o CEFET-MG se propôs a manter o auxílio com o mesmo nome e com recur-sos próprios. No decorrer desse tempo, houve a mobilização do setor responsável pela assistência estudantil para alterar o caráter e a denominação do programa. “Não concordáva-mos com o nome, mas durante muito tempo a instituição entendia a necessidade de manutenção do nome anterior”, disse Carminha, ressaltando que ao criar a BCE foi possível a mudança da mentalidade institucional que seguia com a antiga alcunha.

entendíamos que deveria ser algo que realmente complementasse, já que se esse estudante, para se manter no Cefet-MG, necessitava de uma ajuda financeira que era vinculada a uma contrapartida, que ela fosse voltada para o curso que ele estava fazendo”.

Maria do Carmo Santos

NELSON NUNES

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Uma visão além dos dados e das estatísticas sobre trabalho, educação e políticas sociais

O economista Marcio Pochmann, 52 anos, conversa com desenvoltura sobre números e dados, mas prefere mesmo discorrer sobre os desafios para o desenvolvimento do Brasil e de como a alma e o corpo de trabalhadores e estudantes convivem com os desafios do mundo contemporâneo e suas exigências. “Estamos diante de questões desafiadoras que exigem uma mudança bastante profun-da na forma de entendermos o trabalho em relação à vida”, disse.

Pochmann é professor de economia da Uni-versidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde é pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) e presidente da Fundação Perseu Abramo (en-tidade criada pelo Partido dos Trabalhadores em 1996). Em entrevista à revista Assistência Estudantil, o intelectual, que é autor de mais de 40 livros sobre economia, desenvolvi-mento e políticas públicas, fala a respeito do presente e das perspectivas para o futuro do Brasil analisando fatos históricos, estatísticas e a situação econômico-social.

Nascido em Venâncio Aires (Porto Alegre), pesquisador-visitante em universidades na França, Itália e Inglaterra, com pós-doutora-do nos temas de relações de trabalho e po-líticas para juventude. O acadêmico já parti-cipou de diversas esferas da vida brasileira, incluindo uma candidatura à prefeitura de Campinas em 2012, atuação como secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidarieda-de da Prefeitura de São Paulo (2001-2004) e presidente do Instituto de Pesquisa Eco-nômica Aplicada (Ipea) (2007-2012), entre outros.

Entrevista

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Como estão as relações trabalhistas no século XXI e o que houve de avanço e retrocesso desde o século passado?

De maneira geral, estamos vivendo uma transição no mundo do trabalho. Uma transição em que anteriormente predominava o chamado trabalho material, que é um trabalho associado à indús-tria, à agricultura, à construção civil, que permitia que os esforços intelectual e manual do homem e da mulher gerassem algo concreto, palpável, tangível, como o trabalho na indústria de calçado, vestimenta, automóvel e assim por diante. Esse mundo do trabalho material predominou, se a gente considerar a evolução do mundo pela perspectiva cristã, praticamente vinte séculos, seja na sociedade agrária, seja na sociedade urbano-industrial. Ao mesmo tempo, o que verificamos é uma transição dessa sociedade para o predomínio do chamado trabalho imaterial, que é um trabalho no setor terciário da economia – serviços e comércio. No caso brasileiro, temos hoje mais de 70% dos postos de trabalho gerados no setor terciário. Essas atividades laborais no serviço são atividades cujos esforços físico e mental do homem e da mulher não produzem algo concreto, pal-pável, porque são serviços. Estamos falando, portanto, dessa imaterialidade do resultado do tra-balho. Isso coloca, evidentemente, em xeque muitas teorias interpretativas e, ao mesmo tempo, a perspectiva de como organizar esse trabalho num contexto em que o ser humano está vivendo cada vez mais. A ideia do trabalho material se consolidava numa expectativa de vida de 60 anos. A pessoa começava a trabalhar aos 15, 16 anos de idade, permanecia durante 30, 35 anos no seu local de trabalho e, posteriormente, se aposentava, ficando 5, 10 anos aposentada e encerrava seu ciclo de vida. Nessa abertura do século XXI, estamos diante de uma possibilidade de o ser huma-no viver cerca de cem anos de idade e tendo como principal atividade o trabalho imaterial, que é vinculado cada vez mais à informação, ao conhecimento e, porque não dizer, à educação. Por conta disso que muda, completamente, ao meu modo de ver, a relação do trabalho com a vida. Estamos diante de questões desafiadoras que exigem uma mudança bastante profunda na forma de entendermos o trabalho em relação à vida.

Quais são essas principais mudanças?

Ao meu modo de ver, dentro do mundo do trabalho há um desconforto e um estranhamento bas-tante significativos, que não resultam em uma tensão e em um confronto maior dado ao predo-mínio de certa alienação disseminada entre os trabalhadores que não conseguem perceber o grau de intensificação do trabalho a que estão submetidos. As pesquisas, especialmente sobre saúde e condições de trabalho, revelam um desconforto dos trabalhadores pelo regime de trabalho a que estão submetidos. Talvez, guardadas as proporções, poderemos relacionar com o desconforto que os trabalhadores passaram a ter quando viveram a transição da sociedade agrária para a so-ciedade urbano-industrial. Na sociedade agrária, as pessoas viviam cerca de 35, 40 anos de idade, trabalhavam na agricultura, na pecuária e na lavoura. Começavam a trabalhar aos 4, 5 anos de idade, aprendendo com o pai e com a mãe, e iam trabalhar praticamente até morrer, já que não existia sistema educacional, sistema de previdência social como conhecemos hoje. Ao mesmo tempo, o trabalho na agricultura em geral aproveita muito a iluminação natural, então significava que as pessoas trabalhavam 14, 15, 16 horas por dia a partir do surgimento do sol até o seu desa-parecimento. Estamos falando de uma condição de 70% do tempo de vida comprometido com o trabalho. Quando se transita para a sociedade urbano-industrial, com a presença da indústria, da máquina, da mecanização, que o ritmo do trabalho é dado pela máquina temos a máquina con-duzindo e fazendo com que o homem se transforme num apêndice do processo produtivo. E ele continua sendo submetido às regras de trabalho que vinham da sociedade agrária: trabalhar 16

horas por dia, começar a trabalhar aos 4, 5 anos de idade na indústria, especialmente olhando a situação europeia. Isso gera um desconforto e em algum momento se torna elemento de tensão, confronto, conflitos, surgimento de instituições sindicais. Temos condições de estabelecer conco-mitantemente a essa transição para o trabalho urbano-industrial um novo sistema de proteção das relações de trabalho. Aí que vão ter importância uma série de demandas dos trabalhadores aprovadas na forma de contrato coletivo e, posteriormente, na forma de lei, como a redução da jornada de trabalho – não de 56, 60 ou 70 horas semanais, mas de 40 horas semanais –, a introdu-ção de um salário mínimo para um parâmetro mínimo de remuneração, a proibição do trabalho até os 14 anos de idade.

Essas conquistas aconteceram por meio de mobilizações?

Esse padrão civilizatório do trabalho se dá a partir de uma série de reivindicações de organização dos interesses dos trabalhadores. O que estamos vendo hoje, no século XXI, é um desconforto, porque as pessoas estão tendo que se submeter ao trabalho imaterial no serviço com as mesmas regras que são originárias da sociedade do trabalho material. Quando a gente analisa o que é o trabalho imaterial, sobretudo com a presença da tecnologia de informação, com computador, internet e celular, todos sabemos que esses instrumentos de tecnologia de informação nos faz levar o trabalho para além do local em que estamos associados. A gente termina levando trabalho para casa, sonhando com o trabalho, dormindo com o trabalho, trabalhando sábado, domingo, à noite, de madrugada, ou seja, você parece estar conectado, plugado no trabalho 24 horas por dia. Há um regime de intensificação do trabalho e, ao mesmo tempo, a sua extensão. Isso gera um desconforto, problemas de doenças profissionais de vários tipos: karoshi (do japonês), burnout

“se houvesse oportunidade de postergação de ingresso no mercado de trabalho seria extremamente importante para melhorar a qualidade da educação.

“acredito que no mercado de trabalho que estamos vivendo hoje com grandes mudanças e oscilações é cada vez mais necessário a pessoa se formar para a vida, porque melhor preparada ela vai lidando com as diferenças do mercado de trabalho.

NELSON NUNES

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(do inglês) e a depressão. Recente pesquisa do Ministério do Trabalho e Emprego comprovou o crescente uso de antidepressivos em função desse desconforto de um trabalho tão intensivo e alienante, não obstante as possibilidades que temos hoje de se viver de uma forma muito di-ferente do que temos visto. Isso significaria um conjunto de mudanças nas relações de trabalho, começando pelo fato de o ingresso no mercado de trabalho ocorrer a partir de ter sido comple-tado o ensino superior, ou seja, ingressar no mercado de trabalho aos 22, 23 anos de idade, que é a perspectiva que se oferece tendo em vista que as pessoas vão viver hoje em torno de cem anos de idade. O jovem deve começar mais preparado, assim como fazem os filhos dos ricos no Brasil, que dificilmente começam a trabalhar muito cedo. Iniciam o trabalho para ocupar as melhores vagas, após ter concluído seu ensino superior ou após ter feito curso de pós-graduação e assim por diante. A questão colocada, primeiramente, é como vamos gerar condições adequadas para que todos possam ter essa oportunidade de escolher chegar mais tardiamente ao mercado de tra-balho. Em segundo lugar, é como a pessoa vai continuar se preparando, se qualificando ao longo da vida. Hoje, a ideia da educação não é mais algo circunscrito apenas a crianças e adolescentes. No trabalho material, as pessoas começavam a trabalhar aos 14, 15 anos de idade, abandonavam a educação e não estudavam mais. O adulto praticamente ia ler um livro, um romance, quando muito. Hoje, sabemos claramente que mesmo o adulto e até o idoso vão precisar continuar estu-dando dada a complexidade da vida e do trabalho. São mudanças, a meu modo de ver, possíveis e que estão no nosso horizonte, mas que exigem a conformação de uma maioria para poder chegar a essa situação.

O que teria que mudar na questão do ensino brasileiro para que o jovem pudesse adentrar mais tarde no mercado de trabalho?

Temos que começar reconhecendo que educação não é como uma fábrica de salsicha: você colo-ca carne e no final a salsicha sai pronta. Educação é algo mais complexo, as pessoas precisam ter condições adequadas para estudar. Vamos olhar a situação dos jovens brasileiros que estudam: na sua maior parte, são jovens que também trabalham, são verdadeiros heróis. A começar pelo fato que estão 8 horas trabalhando por dia, gastam, dependendo do lugar onde residem, de 2 a 4 horas de deslocamento e ainda têm uma carga horária escolar de 4 horas por dia. Quando você soma o tempo de trabalho, o de deslocamento e o de frequência escolar, são cerca de 16 horas por dia. É humanamente impossível o jovem ler um livro, estudar, se preparar. Essa é uma questão muito importante. Se a educação é a base de todo país, é necessário elevar a escolaridade, dando condições mais adequadas para que o jovem possa de fato ter chance de se aprofundar e desen-volver o que a educação oferece.

Como uma instituição de educação tecnológica teria que lidar com essas questões de forma-ção profissional para a vida dos jovens?

Parece-me um diferencial importante que a democracia ofereceu no Brasil num período recente, especialmente desde o governo da década passada, que olhou a educação como um meio mais concreto de oferecer a todos oportunidades que, de certa maneira, estavam quase que monopo-lizadas por determinados seguimentos sociais. Vamos lembrar que somos um país que ingres-sou na republica em 1889 e levou praticamente 100 anos para universalizar o acesso ao ensino fundamental. Somente começamos a universalizar esse acesso a partir da constituição de 1988 e terminamos fazendo uma universalização com a abertura de escolas e contratação de profes-sores, mas sem aumentar os recursos para a educação. Foi uma universalização quantitativa e

não qualitativa. Temos problema de qualidade no sistema educacional brasileiro e isso precisa ser enfrentado de uma forma bastante decisiva; por isso a ampliação das escolas técnicas. Os Ifets (Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia) representam um novo olhar a respeito da educação nessa transição da educação para o trabalho, mas não apenas trabalho sem conectar com educação. Não há dúvidas de que durante o período de ensino-aprendizagem é importante ter experiências concretas com a prática, com o trabalho, o que não significa a pessoa trabalhar no modelo que temos hoje, o chamado trabalho heterônimo – a pessoa trabalha para poder ter uma renda para viabilizar o financiamento de seus custos. Não temos estudantes que trabalham, temos trabalhadores que estudam e isso faz a diferença. Criar condições para que a universidade, o ensino superior e os ifets possam ter condições de unir a experiência prática com o aprendizado técnico-teórico é a melhor experiência, olhando inclusive a relação internacional, como temos na Alemanha, que é uma experiência exitosa dessa dualidade entre aprender e ter a experiência no mesmo local de trabalho.

O que pode nos dizer mais sobre essa experiência alemã?

A Alemanha tem um sistema centenário, com a Suíça e o Japão, que é de trazer para dentro da es-cola essa experiência do exercício do trabalho. O estágio ou formas que vinculem a aprendizagem teórica a essa experiência concreta nos parece bastante importante. As experiências que temos nesse tipo de estágio são relativamente pequenas para a universalidade de alunos que temos. O modelo que temos do sistema S é interessante, mas desloca o trabalho para uma aprendizagem fora do local de trabalho. Não temos muito bem resolvido a experiência de trabalho e a experi-ência prática com o sistema educacional. A Alemanha criou um modelo que me parece bastante interessante de ser considerado para o Brasil.

A verticalização do ensino está alinhada com suas propostas para que os jovens estudem mais tempo até entrar no mercado de trabalho?

Não tenho dúvida, acho que esse é o desafio maior. Se houvesse oportunidade de postergação de ingresso no mercado de trabalho isso seria extremamente importante para melhorar a quali-dade da educação. De maneira geral, há uma resistência a entrar mais tardiamente no mercado de trabalho diante da pressão por elevação de renda e ampliação de consumo. Estamos aqui tratando também de uma perspectiva cultural. Como as pessoas mudam sua cultura da vida? Vamos imaginar, alguém que vai viver cem anos de idade deverá ter dormido durante 30 anos. As pessoas não planejam sua vida numa perspectiva tão longa, não planejam seu sono. Estamos falando na necessidade de haver um projeto de vida de cada um e que ele alie com a educação, com a qualidade de vida, com a possibilidade do trabalho, com a sustentabilidade do planeta e da própria vida do ponto de vista da sua qualidade humana.

Em alguns textos você cita “A elevação dos níveis de exploração do trabalho humano”. Mudar essa rotina depende uma revolução individual ou coletiva?

A impressão que eu tenho é de que as pessoas estão desconfortáveis, só que esse desconforto individual não se transforma em uma agenda coletiva, porque de certa maneira há uma espécie de uma névoa que dificulta perceber que os problemas que eu tenho na educação ou no trabalho são equivalentes ao teu problema ou a de um conjunto maior. Aí que percebemos a ausência de instituições de representação de interesse que teriam esse papel de unir as insatisfações indivi-

“O mundo do trabalho é um espaço de produção e reprodução da desigualdade. No mercado de trabalho, especialmente no brasileiro, ainda há muita discriminação, desigualdade entre sexo, raça e diferentes seguimentos etários.

“O futuro do Brasil é o de um país com maior miscigenação e para que não tenhamos mais desigualdades é preciso uma afirmação das políticas públicas mais intensa.

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duais num projeto coletivo. Uma transformação dos problemas individuais em soluções coletivas. Esse é o papel das instituições estudantis, dos sindicatos dos trabalhadores, dos partidos políticos, mas estamos diante de certo descolamento das instituições de representação de interesse. Não só no Brasil, esse é um problema mais amplo e, ao mesmo tempo, esse desconforto individual. Isso talvez seja resultado dessa perspectiva alienadora em que o individualismo se transformou, cada vez mais numa perspectiva sem a possibilidade de conviver de forma conjunta e coletiva. Se você perguntar do ponto de vista individual “como você acha que vai ser o teu futuro?”, em geral as pessoas vão dizer: “o meu futuro vai ser bom”. “Mas e o futuro do país?” Vão dizer: “o dos outros vai ser ruim”. Elas têm uma visão otimista a partir da perspectiva individualista, quando nós sabemos que é impossível todos vencermos de forma isolada num regime tão competitivo como é a eco-nomia capitalista. Essa tarefa de termos a possibilidade de ter mais pesquisas, investigações que mostrem a realidade tal como ela se apresenta, seria uma ferramenta importante para aproximar as instituições de representação de interesse desse público, desse seguimento que emerge no Brasil e que quer estudar mais, ter condições melhores de trabalhar, ter acesso a uma condição de vida superior a que se tem hoje.

O fato de as instituições representativas não conseguirem captar a insatisfação dos seus re-presentados faz parte da contemporaneidade ou sempre foi assim?

Na história, há momentos em que se aceleram as coisas. Ninguém imaginava as manifestações que ocorreram em julho de 2013, foi uma ebulição. O que se percebe é que temos duas circuns-tâncias para analisar o que está ocorrendo hoje. Uma é que poderíamos pensar que há um proble-ma de direção das instituições, dos quadros que dirigem as instituições estudantis, de trabalhado-res, sindicatos e partidos políticos. São direções descoladas do que está ocorrendo na sociedade. É uma hipótese. Se isso for verdadeiro, talvez seja até mais fácil, porque em algum momento vão mudar essas direções e as novas direções talvez sejam mais conectadas com o que está ocor-rendo hoje no mundo do trabalho. A outra, pode ser que as instituições que temos hoje já não dão mais conta dessa sociedade tão complexa. Se formos olhar a transição do século XIX para o século XX vamos ver que no século XIX predominavam os chamados sindicatos de ofício que representavam os trabalhadores que tinham educação, formação e um ofício. No entanto, esses trabalhadores que tinham ofício eram uma minoria diante do conjunto dos demais trabalhado-res. Eles constituíram sindicatos, eram muito aguerridos, mas eram minoria. Era uma aristocracia operária, como dizia Lenin. Foi necessário haver uma mudança nos sindicatos – sair de sindicatos de ofício para sindicatos gerais – para poder representar um conjunto maior de trabalhadores. Ao fazer esse movimento, passou-se a ter mais o fortalecimento dos sindicatos que criaram partidos políticos, que lutaram para a redemocratização dos países e pelas eleições e foram fazendo mu-danças institucionais de grande magnitude. Tenho aqui duas hipóteses: não sei se é um problema das lideranças das instituições que representariam os trabalhadores e os jovens aqui no Brasil ou se é um problema mais profundo, que é o das próprias instituições que não são mais adequadas para representar esse tipo de sociedade mais complexa.

As instituições têm conseguido reconhecer o potencial de seus funcionários e utilizá-lo am-plamente ou o importante é cumprir bem a função ao que foi determinada?

Temos visto mudanças importantes na forma de preparação e formação continuada, como a pre-sença das grandes empresas transnacionais que constituem as chamadas universidades corpora-tivas, para dar preparação e qualificação ao longo da vida daqueles trabalhadores empregados.

Essa é uma demonstração que está na nossa trajetória, uma educação ao longo da vida. Acredito que no mercado de trabalho que estamos vivendo hoje, com grandes mudanças e oscilações, é cada vez mais necessário a pessoa se formar para a vida, porque melhor preparada ela vai lidando com as diferenças do mercado de trabalho. Formar-se apenas por uma realidade momentânea, se isso se alterar, nos próximos anos, ela vai ficar defasada. Então, vai precisar continuar estudando a vida toda.

Como a exclusão social que ainda existe em diversos aspectos se reflete no mundo trabalho?

O mundo do trabalho é um espaço de produção e reprodução da desigualdade. No mercado de trabalho, especialmente no brasileiro, ainda há muita discriminação, desigualdade entre sexo, raça e diferentes faixas etárias. Ainda é muito presente no Brasil, mas não apenas aqui, o fato de as mulheres, mesmo estando mais escolarizadas, ocupando postos de trabalho equivalente aos dos homens terminam com remuneração inferior. No Brasil, sabemos e as pesquisas demonstram que a cor da pele pode definir um salário maior ou menor ou um tipo de trabalho. Por exemplo, quando vamos a um restaurante, dificilmente encontramos um garçom negro, mas, se formos à cozinha, veremos muitos cozinheiros negros. Essa diferenciação no Brasil é certamente um resul-tado da nossa origem escravista, mas que termina fazendo com que o mercado de trabalho seja esse potencial gerador de desigualdades, apesar das mudanças e do esforço feito nos últimos anos para redução da desigualdade.

Qual o papel do poder público na diminuição da desigualdade social?

O poder público é chave nesse sentido, se olharmos tanto o papel da justiça, quanto do legislativo e do executivo. A justiça, pela própria aplicação do que a Constituição assegura, que é justamente a igualdade entre homens e mulheres. Temos visto que há desigualdades que, de certa maneira, a justiça poderia ter um papel muito mais ativo do que teve até o presente momento. O mesmo não podemos negar em relação ao legislativo, que tem o papel de construção de leis que regula-mentam e organizam a vida humana. O legislativo tem a sua contribuição que não pode ficar em segundo plano. Vamos olhar a desigualdade que há na própria representação. No Brasil, segundo o IBGE, 52% da população se declara não branco, negro, pardo, preto, mameluco etc. e, quando vamos olhar a representação no parlamento, a maior parte dos nossos representantes é branca; então há uma desconexão nessa forma de representação. Por fim, o próprio Poder Executivo. Cabe ao governo, às administrações das cidades, dos estados e da própria União políticas afirmativas que se demonstram cada vez mais necessárias, especialmente quando olhamos um Brasil em que nos próximos anos que predominará muito mais a presença de uma população não branca. Isso, tendo em vista a queda da taxa de fecundidade que faz com que as mulheres tenham cada vez menos filhos, embora as mulheres brancas tenham cada vez menos filhos comparativamente às mulheres não brancas. O futuro do Brasil é o de um país com maior miscigenação e, para que não tenhamos mais desigualdades, é preciso uma afirmação das políticas públicas mais intensa.

O governo ampliou, nos últimos anos, os recursos para a assistência estudantil no Brasil, mas, apesar disso, ainda precisa subir esses números muito mais para atender a todos os que ne-cessitam. Qual a sua opinião sobre esse investimento na área da assistência estudantil?

Sou otimista, porque acredito que o governo atual fez um esforço gigantesco para segurar recur-sos para os próximos anos adicionais aos já existentes. Isso viria justamente da divisão do fundo

“Portanto, essa perspectiva de dar melhores condições ao jovem é fundamental para que ele tenha a possibilidade de ter tanto a experiência pratica no local quanto um subsídio, um recurso que dá a ele a possibilidade de, uma vez ingressado no ensino superior, se manter até o final porque isso é um problema.

“a se manter essa perspectiva de crescimento, como está estabelecido pelo projeto atual do governo, poderemos chegar em 2020 sendo a quinta economia do mundo e resolvido problemas como a pobreza, que é uma marca do Brasil.

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originário do pré-sal – da exploração do petróleo na camada de pré-sal – que vai dar para um re-curso adicional e permitirá chegarmos a 10% do PIB com a educação, que é algo bastante amplo. Temos que considerar que temos no Brasil tão somente 14% dos jovens de 18 a 24 anos matricu-lados no ensino superior. Temos que ter alguma coisa em torno de 70% a 80%. Temos um desafio enorme, que é aumentar as vagas para ascender os jovens ao ensino superior. Ensino superior não é só sala de aula, ele pressupõe um complexo, além da educação, pesquisa, extensão universitária e relação da universidade e do instituto técnico com a comunidade. Portanto, para dar essa pers-pectiva de melhores condições ao jovem, é fundamental que haja a possibilidade de ter tanto a experiência prática no local quanto um subsídio, um recurso que dê a ele a possibilidade de, uma vez no ensino superior, se manter até o final, porque isso é um problema – os alunos se inscrevem e não conseguem terminar o ano muitas vezes por problema da escassez econômica, falta de recursos. Existe um espaço de construção de uma ação mais concreta de maneira a garantir ao jovem as condições ideais de estudo.

Você participou da publicação “O Atlas da Exclusão Social no Brasil – Dez Anos Depois”, que foi lançada este ano. Quais aspectos do livro podem ser destacados?

O “Atlas...” é uma produção coletiva feita com diferentes pesquisadores de várias universidades. Ele é a aplicação de uma metodologia que foi desenvolvida no início dos anos 2000, que tentou olhar a questão social de uma forma mais abrangente, não apenas pelo lado da desigualdade e da pobreza, mas também considerando aspectos relacionados à violência, ao problema da educação no Brasil, da fragilidade e vulnerabilidade dos jovens. É um conjunto de indicadores que permite olhar a realidade de cada município no Brasil, nos estados, nas grandes regiões geográficas e no país como um todo. Ao aplicar esse mesmo método aos dados 2000 do censo demográfico, a gen-te pode perceber um Brasil diferente de dez anos atrás. Um país que reduziu de forma importante a desigualdade social e melhorou as condições de vida de uma forma muito significativa. Esse atlas permite ver o grau de exclusão por município e saber em que medida eles melhoram ou até retrocedem em relação ao conjunto Brasil.

Saberia dizer quais regiões melhoraram e quais estão estagnadas?

Tivemos uma melhora mais rápida nas regiões dos municípios mais pobres do Brasil. A região nordeste-norte-centro-oeste foi a que mais avançou comparativamente à média do Brasil. No entanto, isso ainda não foi o suficiente para fazer com que tivéssemos um país homogêneo. Ainda há diferenças em relação à região sudeste-sul, um diferencial que resulta de uma herança históri-ca de um tempo que a desigualdade não era enfrentada de forma direta e objetiva.

Quais os principais aspectos que levaram a melhora nessa região? O Bolsa Família tem algo a ver com isso?

Certamente (o Bolsa Família) é um componente importante, mas não é suficiente. Temos uma centralização dos investimentos públicos na região nordeste em estrutura, portos, rodovias, fer-rovias, petroquímicas. Tudo isso foi permitindo que, ao descentralizar os investimentos, pudés-semos gerar mais oportunidades econômicas nessa região e, ao mesmo tempo, isso foi deter-minante na própria expansão do emprego. O bolsa família é uma injeção mais circunscrita aos miseráveis e a sua presença mostrou que justamente as regiões mais pobres foram as que mais receberam esse benefício. Como os pobres gastam tudo que ganham, ganhando esse adicional

de renda, eles transformam isso em consumo, portanto realimentam o comercio local. Com isso tivemos uma pujança importante dos municípios mais pobres das regiões mais pobres do Brasil como reação às políticas públicas implementadas desde a década de 2000.

Qual a perspectiva para o Brasil nos próximos anos em relação à educação, e ao trabalho?

Estamos vivendo um momento parecido com que o Brasil viveu nas décadas de 1880 e 1930. Fo-ram períodos de crise internacional e que o Brasil se reposicionou no mundo. Tivemos a primeira depressão mundial entre 1873 e 1896, e o Brasil fez uma série de reformas: aprovou a ilegalidade da escravidão, em1888, fez uma reforma de governo, saiu do império e foi para a república, em 1889, fez uma reforma eleitoral, em 1881, e estabeleceu uma nova constituição, em 1891. Isso fez com que o Brasil desse um salto do ponto de vista de estabelecer um projeto que ainda era asso-ciado à agricultura e à economia cafeicultora. O segundo momento importante ocorreu na déca-da de 1930. Com a crise de 1929, o Brasil construiu um projeto urbano-industrial e deu adeus à sociedade agrária. Getúlio Vargas montou uma industrialização pujante, ainda que, infelizmente, pela ausência de democracia, não conseguiu combinar desenvolvimento econômico com desen-volvimento social. Em 1980, era a oitava economia do mundo, no entanto era o terceiro país mais desigual do mundo. Desde a década de 2000, estamos vivendo uma crise internacional e o Brasil vem, de certa maneira, se recolocando no mundo. De 2008, quando se iniciou essa crise interna-cional, até 2013, conforme dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o mundo teria destruído 62 milhões de empregos, enquanto o Brasil gerou 11 milhões de empregos. Estamos conseguindo enfrentar a realidade internacional com ações muito concretas, que faz com que o Brasil hoje seja referência mundial em termos de enfrentamento da pobreza e geração de empre-go. A se manter essa perspectiva de crescimento, como está estabelecido pelo projeto atual do governo, poderemos chegar em 2020 sendo a quinta economia do mundo e resolvido problemas como a pobreza, que é uma marca do Brasil. Estamos diante de um momento de decisão política, e cabe ao povo tomar a decisão de que tipo de país ele sonha e quer vir a ter nos próximos anos.

Isso passa pela eleição?

É a primeira vez, olhando as crises do capitalismo internacional e as reações brasileiras – na dé-cada de 1880 e 1930, fizemos isso sem democracia no país –, que estamos tentando fazer isso de forma democrática, o que nos dá o otimismo de podermos resolver os problemas de uma maneira mais adequada, pelo diálogo, pela tolerância e pela formação das políticas públicas.

Um governo neoliberal mudaria essa perspectiva?

Certamente. Já tivemos a experiência neoliberal nos anos 1990. Naquela ocasião convivemos, in-felizmente, com alguns sinais de regressão, que foram o aumento do desemprego, a redução dos salários, o Brasil cresceu muito pouco; éramos a oitava economia e passamos a ser a 13º. A opção neoliberal abre a perspectiva para uma parcela muito pequena da população. Talvez no Brasil, um terço teria condições satisfatórias de viver adequadamente dentro da proposta neoliberal, que é o que a gente vê na Europa e mesmo nos Estados Unidos, que são países que não tem um futuro a oferecer de uma forma mais decente ao conjunto de seu povo, embora uma parte seja até privilegiada. O neoliberalismo, a meu modo de ver, é um retrocesso do ponto de vista de oferecer soluções para o conjunto de brasileiros.

(Entrevista realizada no dia 20/10/2014)

“educação não é como uma fábrica de salsicha: você coloca carne e no final a salsicha sai pronta. educação é algo mais complexo, as pessoas precisam ter condições adequadas para estudar.

“No Brasil, sabemos e as pesquisas demonstram: a cor da pele pode definir um salário maior ou menor ou um tipo de trabalho.

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Quatro cabeças, dois projetos e inovações Bolsistas de Mecatrônica de varginha trabalham em projeto com mecânica, elétrica e metalurgia e criam dois equipamentos de soldagem

Os alunos de Mecatrônica do campus Varginha Bruno Vinícius da Silva Cardoso, Max Felipe Silva, Plínio Mar-cos Lemos Silva e Taylor Oliveira Fidelis, orientados pelo professor Carlos Alberto Carvalho Castro, desenvolveram equipamentos que podem revolucionar o mercado de soldagem. A partir de dois projetos do programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE), os quatro bol-sistas obtiveram recursos para suas necessidades básicas enquanto se integravam no mundo da pesquisa e da inovação.

No projeto “Desenvolvimento de um equipamento de soldagem vertical para GMAW e FCAW”, a dupla de bol-sistas Max Silva e Taylor Fidelis construiu, com materiais de baixo custo, um aparelho controlado remotamente empregado em indústrias metalúrgicas para utilização em gasoduto, estaleiros, tanques de ácido e outros locais de difícil acesso ou de risco para a saúde dos soldadores.

Taylor Fidelis explicou que o modelo é aproximadamen-te cinquenta vezes mais barato do que os existentes no mercado. “Um equipamento equivalente a esse, que faz o mesmo processo com o mesmo mecanismo, está cus-teado em mais ou menos em R$ 50 mil. Porém, constru-ímos um protótipo que fica cerca de R$ 1 mil”, observou. O professor Carlos Alberto reiterou o sucesso do projeto. “Os alunos tiveram oportunidade de desenvolver algo que no mercado tem um valor alto de comercialização e fizemos um com baixo custo e grande valia para a área industrial”, constatou.

Já no projeto “A influência da vibração em relação à geo-metria do cordão de solda”, foi construída uma máquina que simula vibrações. Para utilizar o equipamento, no su-porte, é afixado um corpo de prova no qual a tocha passa soldando enquanto acontece o movimento vibratório. No final, é executada a metalografia para verificar em quais propriedades a vibração pode ter influenciado em relação à geometria do cordão de solda. Bruno Cardoso argumentou que, na indústria, o soldador tende a tremer durante a execução do cordão, e isso pode influenciar tanto positivamente quanto negativamente no produto final. Assim, é essencial fazer o teste para analisar se essa influência é negativa ou positiva.

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Segundo o professor Carlos Alberto, a entrada no programa BCE se deu por causa da demanda de projetos para o Laboratório de Soldagem e Inovação Tecnológica. “A inscrição ocorreu no mo-mento em que já contávamos com as máquinas de soldas, mas era necessário incrementar os processos e também desenvolver novos equipamentos”. Outro motivador, conforme o docente, foi a constatação de que alguns alunos da sua turma tinham necessidades de recursos para per-manência.

O projeto “Desenvolvimento de um equipamento de sol-dagem vertical para GMAW e FCAW” foi selecionado para participar do 34º Eskom Expo for Young Scientists, na Áfri-ca do Sul, porém, os altos custos impediram a viagem. De acordo com o professor Carlos Alberto, a seleção é impor-

tante para o bolsista, que tem a oportunidade de ver o mérito do seu trabalho reconhecido, e para o CEFET-MG, “pois está sendo levado o seu nome para outro país e o re-conhecimento do trabalho que o mesmo faz para os seus alunos”, constatou.

Por causa da aprovação no CEFET-MG, Bruno Cardoso e Max Silva mudaram para Varginha. O primeiro é de Três Corações e o segundo de Conceição do Rio Verde. Ao deixar a resi-dência dos pais, os desafios para permanecer estudando na nova cidade foram se acumulando.

“Consegui me encaixar em uma república e a bolsa me aju-da a custear essa moradia, pagar as contas de água e luz e também o transporte dentro de Varginha e de Varginha até minha cidade. Quando não tinha, o restaurante me ajudava com a alimentação, já que a aula é no período integral e ficávamos na escola o dia todo”, disse Max Silva.

Já Bruno Cardoso mudou sua rotina duas vezes para perma-necer na instituição. A BCE, que ajudava no deslocamento, passou a custear a moradia do estudante. “No início, vinha de van e a bolsa era necessária para pagar esse transporte e minha alimentação no CEFET-MG, mas como ficou inviável tive que me mudar para cá. Agora, a bolsa ajuda na manu-tenção do meu lar, que é a república”, contou.

A despeito de residir em Varginha, Taylor Fidelis também contou com os recursos da BCE para se manter na institui-ção e dedicar-se somente à vida acadêmica. “Os recursos ajudaram-me na parte de ir e vir e de comer. No caso, a pas-sagem de ônibus, a comida, já que antes não tinha o restau-rante. Ajudo ainda um pouco em casa, no caso da comida e em outras coisas”, comentou.

• Projeto: A influência da vibração em relação à geometria do cordão de solda & Desenvolvimento de um equipamento de soldagem vertical para GMAW e FCAW

• Orientador: Carlos Alberto Carvalho Castro• Campus: Varginha• Ano: 2012, 2013 e 2014• Bolsistas: Bruno Vinícius da Silva Cardoso

Max Felipe Silva Plínio Marcos Lemos Silva Taylor Oliveira Fidelis

Durante as pesquisas, os alunos aplicaram teorias relacionadas às disciplinas de sala de aula e aprenderam novos temas. Entre os conceitos utilizados estão os de Física, Metrologia, Mecânica Técnica e Resistência dos Materiais, Soldagem, Desenho Técnico, Elétrica e Eletrônica.

Entre as atividades desenvolvidas pelas bolsistas estão:

• projetar e construir um mecanismo que possibilite soldar na posição vertical;• fazer os testes de qualidade da solda em relação às seguintes variáveis: tensão, corrente, veloci-

dade de soldagem e ângulo da tocha;• verificar, por meio das metalografias, as microestruturas formadas pela solda na posição vertical

em relação à plana;• fazer ensaios mecânicos e verificar as durezas geradas, no material, na ZTA (Zona Termicamente

Afetada).

Taylor Fidelis entendeu que, de todo o aprendizado, um dos destaques foi o trabalho em grupo. Apesar de serem dois projetos, os quatro bolsistas se ajudavam mutuamente e estudavam juntos os conteúdos. “Aprendi a me relacionar com pessoas da área no trabalho em equipe”, frisou.

Demanda e necessidade dos alunos Seleção para evento na África do Sul

Bolsa proporciona dedicação integral ao estudo

Multidisciplinaridade nas atividades

se não existisse a bolsa, eu teria que arrumar algum serviço para trabalhar no período da noite ou tentar arrumar um dinheiro a mais para não ficar tão apertado para minha família.

sem a bolsa inviabilizaria minha permanência no curso, porque teria que me dedicar a algum emprego ou a alguma atividade fora do Cefet-MG para ganhar dinheiro, porque a manutenção aqui não fica barata.

a bolsa foi uma grande ajuda para essa complementação do curso, nos ajudando a dedicar mais ao Cefet-MG, em tempo integral, e não nos preocupando na parte financeira.

Max Silva

Bruno Cardoso

Taylor Fidelis

““ “NELSON NUNES NELSON NUNES

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A participação em um projeto que contava com estudantes de cursos técnico, superior e de pós-graduação do CEFET-MG foi o diferencial para o aluno de Mecânica do Proeja Roberto Wagner de Oliveira Elias, 22 anos, ao participar do programa de Bolsa de Complementação Educacional (BCE). Ao encontrar novos desafios e um supervisor e colegas dispostos a parti-lhar o saber, o discente pôde tanto contribuir quanto aprender com a pesquisa.

Roberto Wagner participou do BCE de 2010 a 2012, supervisionado pela professora do Depar-tamento de Engenharia de Materiais Elaine Carballo Siqueira Corrêa, no projeto “Elaboração de material didático para análise micrográfica a ser empregado nas aulas de metalografia”.

No desenvolvimento do trabalho, o ex-bolsista realizou, entre outras atividades, trabalhos de tratamento térmico, metalografia, tomou parte em dois artigos baseados na pesquisa e viajou a Santa Catarina para apresentação em um congresso. Durante o projeto, trabalhou com estudantes tanto da graduação quanto da pós-graduação do CEFET-MG. “Ter contato com quem tem mestrado e doutorado é um diferencial”, observou.

Atividade permite integração com alunos de diversos níveis acadêmicosex-Bolsista do ensino técnico ressalta o ganho em trocar experiência com estudantes de graduação e de pós-graduação durante pesquisa

Em 2014, depois do estágio supervisionado pelo CEFET-MG na empresa Mannesmann, Roberto Wagner foi admitido como funcionário. Ele entende que a participação no programa e os co-nhecimentos adquiridos tiveram influência direta na sua contratação. O discente destaca que houve ganhos tanto do lado profissional quanto do individual na sua trajetória como bolsista.

“Participar da BCE ajudou muito porque o contato com os professores foi importante e aju-dou a entender algumas matérias. Meu pai tem uma empresa de pequeno porte e sempre tive que ajudá-lo (financeiramente). Dava para ajudar lá em casa e ainda ajudo. E a escola me oferecia recursos para que eu viesse todos os dias e me dedicasse”, disse o egresso.

• Projeto: Elaboração de Material Didático para Análise Micrográfica a ser Empregado nas Aulas de Metalografia

• Orientador: Elaine Carballo Siqueira Corrêa• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2010 a 2012• Bolsista: Roberto Wagner de Oliveira

Tranquilidade financeira para estudar

a escola me oferecia recursos para que eu viesse todos os dias e me dedicasse.

“a BCe ofereceu-me suporte financeiro para manter os estudos.foi a primeira oportunidade para eu começar a me desenvolver, adquirir experiência, abrir portas para outras possibilidades e um auxilio que na época foi essencial para eu continuar estudando.

“Stael Maria José, moradora do bairro Jatobá IV, concluiu o curso técnico de Eletromecânica no CEFET-MG em 2006. Em 2014, com 29 anos, trabalha em uma multinacional do ramo de au-topeças. Para a ex-aluna, a participação no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) foi o primeiro passo para iniciar no ofício escolhido. “Foi a partir da BCE que comecei a me desenvolver como profissional”, contou.

Após a conclusão do curso técnico, Stael Maria continuou estudando e se formou em Enge-nharia Mecânica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). As esco-lhas de vida tomaram uma nova direção após a atuação como bolsista. “A BCE, com certeza, teve influência na minha formação, porque foi a primeira oportunidade para eu começar a me desenvolver, adquirir experiência, abrir portas para outras possibilidades e um auxílio que, na época, foi essencial para eu continuar estudando”, disse.

BCE como primeira experiência profissionalDo mesmo modo que a maioria dos alunos que passa pela bolsa, a participação de stael Maria foi a primeira no mundo do trabalho

Segundo Stael Maria, a bolsa proporcionou suporte financeiro para mantê-la nos estudos. Quando participou do programa, ela utilizava os recursos principalmente para gastos aca-dêmicos, mas também tentava conciliar uma parte com os afazeres particulares. “Custeava minhas despesas com transporte, xerox e algum gasto pessoal, já que essa era minha única fonte de renda na época”, explicou.

Mesmo ressaltando o lado técnico do programa, Stael Maria lembra com carinho das relações humanas desenvolvidas durante o percurso como bolsista. “As melhores lembranças vêm das pessoas mais próximas, como o professor Joel Romano, o eletricista Aroldo, o serralheiro Cé-lio e meu colega de BCE Edvaldo Ciriaco. O ambiente era muito bom”, recordou, ressaltando a importância do docente na sua formação prática. “Minha relação com o professor Joel sem-pre foi muito boa. Eu não tinha nenhuma experiência anterior e ele me ensinou muitas coisas que serviram de base para meu conhecimento técnico”, frisou.

• Projeto: Revisão e manutenção do sistema elétrico do laboratório de produção mecânica• Orientador: Pedro Alexandrino Bispo Neto• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2004 e 2005• Bolsista: Stael Maria José

Xerox, transporte e ótimas lembranças

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De Ribeirão das Neves até o CEFET-MG, o trajeto era longo: dois ônibus para ir e dois para voltar. Além da distância, quatro passagens por dia pesam no orçamento familiar. Porém, ao entrar no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE), a aluna do curso técnico de Mecânica de Belo Horizonte Franciele Coimbra Pereira, 22, conseguiu sua primeira expe-riência profissional e recursos para permanecer estudando. “A bolsa pagava a minha passa-gem, que ficava muito cara. E meus pais não tinham condições de me ajudar”, disse.

Formada em 2013, no curso noturno, Franciele Coimbra já atuou profissionalmente na em-presa Tecnohidráulica. Em 2014, faz estágio pelo CEFET-MG na AngloGold Ashanti, em Saba-rá, e cursa Engenharia Mecânica no Centro Universitário UNA, em Contagem.

A egressa do CEFET-MG ressalta que a participação na BCE contou como primeira experiência profissional e aproximação da realidade do curso de Mecânica. “Quan-do participei da bolsa, ainda não tinha experiência alguma na área. A bolsa de complementação era uma opção com a qual eu aprenderia coisas relacionadas ao meu curso, teria tempo para estudar e uma ajuda financeira. Foi de extrema im-portância; foi por causa dela que tive condições de continuar no curso”, observou.

O professor Ivan José de Santana e o técnico-administrativo Marcelo Ferreira orien-taram Franciele Coimbra nas atividades do projeto. Para a ex-aluna, era um mo-mento de descoberta da instituição e da sua área e a oportunidade de explorar esse novo mundo fez com que ela definisse seus ideais profissionais. “Eu tinha total acesso aos laboratórios e, hoje, uma das áreas que mais me agradam na Mecânica, apesar de ainda não trabalhar nela, é a de metalografia e tratamento térmico de matérias na qual fui bolsista”, contou.

As melhores lembranças, segundo a ex-bolsista, são das amizades conquistadas. Outro fator que marcou bastante a passagem de Franciele pela instituição foi a possibilidade proporcionada pelo programa de ter como única meta o aprendi-zado acadêmico. “Não foi fácil terminar o curso, foi preciso muita garra. O curso noturno é muito mais longo, e eu via meus amigos estudarem e trabalharem para se manterem no CEFET-MG. Como participava da bolsa, podia me dedicar mais aos estudos sem me desgastar”.

• Projeto: Programa de Manutenção Mecânica • Orientadores: Marcelo Ferreira e Ivan José de Santana• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2008 e 2009• Bolsista: Franciele Coimbra Pereira

Busca da permanência aliada à experiência profissionalPara ex-aluna do Cefet-MG, a bolsa serviu tanto como apoio financeiro quanto para que entendesse melhor o potencial do curso

Primeiras impressões do curso vieram com a BCE

Bolsa permitia dedicação aos estudos

Hoje, uma das áreas que mais me agradam na Mecânica, apesar de ainda não trabalhar nela, é a de metalografia e tratamento térmico de matérias na qual fui bolsista.

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Uma instituição de ensino se propõe a ser um lugar de mu-dança e passagem, onde o conhecimento é compartilhado por um período, e o estudante transformado perenemente. O ex-aluno do curso técnico de Meio Ambiente Erick Márcio de Oliveira Pereira, 21, é a personificação desse propósito. Ao participar do programa Bolsa de Complementação Educacio-nal (BCE), ele amadureceu pessoal e profissionalmente.

De acordo com Erick Márcio, o dia mais importante em todo o processo foi o da entrevista com as servidoras da então Se-ção de Assistência ao Estudante (SAE). “O ‘não’ representaria iniciar o curso, mas não finalizar. Quando elas deram o ‘sim’ para mim, foi como se tivessem me dado o diploma. É um dos poucos programas sociais que mudam a nossa vida. Entrei no CEFET-MG um e saí outro, graças à BCE”, relatou.

“Entrei no CEFET-MG um e saí outro, graças à BCE”segundo erick Márcio, a participação no programa proporcionou mudanças profundas nas suas concepções acadêmicas e pessoais

O professor Joel Lima moldou-me profissionalmente e passou a mim uma visão profissional e acadêmica que nem meu pai conseguiria.

Erick Márcio estudou no CEFET-MG de 2011 a março de 2013, no curso subsequente noturno. O egresso morava na Vila Cristina, em Betim, e em 2014 foi estudar Geologia na Universidade Federal do Ceará, onde é bolsista de iniciação científica Pibic-Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Antes de ir para o nordeste do país, trabalhava na empresa Multigeo Engenharia Mineral Geologia e Meio Ambiente.

Ao desenvolver o trabalho “Diagnóstico Ambiental do Laboratório de Fundição”, o estudan-te entende que sua perspectiva de mundo se ampliou. “No programa BCE, de uma maneira indireta, pude conhecer meu supervisor, o professor Joel Lima. Ele moldou-me profissional-mente e passou a mim uma visão profissional e acadêmica que nem meu pai conseguiria”, relembrou.

A atividade realizada no Departamento de Engenharia de Materiais também proporcionou a oportunidade de intercâmbio com o projeto Coleta Seletiva Solidária, no qual Erick Márcio prestava apoio.

Os recursos da bolsa estimularam a melhora tanto de Erick Márcio quanto da família – o pai e o irmão mais velho. A partir de então, a casa prosperou. “O CEFET-MG melhorou minha vida pessoal em todos os ângulos. O meu pai pôde parar de investir em mim para investir em casa. Isso melhorou a atmosfera familiar”, disse.

• Projeto: Diagnóstico Ambiental do Laboratório de Fundição• Orientador: Joel Lima• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2011 e 2012• Bolsista: Erick Márcio de Oliveira Pereira

Orientador moldou bolsista

Família

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Equipe desenvolve manual com regras para gerenciamento de resíduosDocente encontrou no BCe caminho para promover pesquisas acerca do tratamento e destinação de substâncias que restam após as operações químicas

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Dos estudos, surgiu o material pedagógico “Manual de Laboratório de Química”, que in-clui experimentos com redução na quantidade de reagentes consumidos e de resíduos gerados. O documento pretendia suprir a falta de bibliografia específica para o curso de graduação então recém-criado. “Para atingir o objetivo de reduzir a quantidade de resíduos, nasceu o segundo projeto. Para isso, foi necessária a criação de um material di-dático específico para o curso atendendo essas novas exigências”, salientou a professora Sandra Vaz.

O livro apresenta experimentos que podem ser executados facilmente por pessoas pou-co experientes de forma econômica e segura, até mesmo em laboratórios com infraes-trutura e recursos limitados. Indica onde e como cada resíduo pode ser descartado e como comprar vidrarias adequadas às práticas.

“A apostila traz o gerenciamento de reagentes e resíduos e também as práticas renova-das, principalmente evitando resíduos perigosos e desperdícios com um número menor de resíduos. Ela traz ainda, ao final de cada prática, a questão da colocação do resíduo daquela prática específica”, ressaltou a orientadora.

A obra é destinada a um curso de graduação introdutório sobre Química Básica para estudantes de engenharia. Os experimentos visam reforçar o aprendizado de conceitos fundamentais de Química e correlacioná-los ao cotidiano de um engenheiro. Além disso, proporciona aos estudantes noções básicas sobre segurança de trabalho no laboratório, conhecimentos sobre utilização de aparelhagem e funcionamento de equipamentos e

Para os bolsistas, o projeto ofereceu a oportunidade de aplicar os conhecimentos adquiridos na disciplina de Laboratório de Química Básica. Os alunos pesquisaram a maneira correta de arma-zenar produtos e de aplicar rotulagem quanto à periculosidade dos produtos, classificaram os resíduos obtidos nas práticas e pensaram em soluções para aperfeiçoar o uso do laboratório.

De acordo com a professora Sandra Vaz, grande parte do mérito se deve ao trabalho e estudo dos estudantes. “Participaram muito no sentido de dizer o que poderia dar certo, o que poderia não dar certo. Aprenderam a desenvolver um projeto, a pesquisar, a filtrar as informações e a fechar um trabalho”, relatou.

A docente destacou que o projeto cumpriu seu objetivo e que, no percurso, tanto ela quanto os bolsistas apresentaram crescimento pessoal e acadêmico. Segundo a orientadora, o modelo da BCE é uma experiência impar na vida do CEFET-MG. “Acho que é um dos programas mais impor-tantes nesse tempo que estou aqui, porque ele tem outras características, principalmente a de melhorar a oportunidade para pessoas que possuem maiores carências sociais”, disse.

• Projeto: Destino final dos resíduos químicos produzidos durante as aulas de laboratório de Química Básica

• Orientador: Sandra Vaz Soares Martins• Campus: Divinópolis• Ano: 2011, 2012 e 2013• Bolsistas: Gabriel Aparecido Fonseca

Lucas Prates Fiuza

A professora de Química e diretora do Campus Divinópolis, Sandra Vaz Soares Martins, visualizou um problema e buscou no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) estudantes que a ajudassem a resolvê-lo. A união com os alunos de Engenharia Me-catrônica Gabriel Aparecido Fonseca e Lucas Prates Fiuza resultou na solução da questão e ainda na criação de um manual que poderá ser utilizado por outras turmas e cursos.

A professora Sandra Vaz explicou que a necessidade surgiu a partir do início letivo do curso superior na Unidade de Divinópolis. “Em 2008, começamos a ofertar Engenharia Mecatrônica e, quando assumi as aulas de Química Básica e de Laboratório de Química Básica, senti a necessidade de preparar um programa de gerenciamento para os resíduos gerados durante as aulas”. Consequentemente, nasceu o projeto “Destino final dos resí-duos químicos produzidos durante as aulas de laboratório de Química Básica”.

O trabalho se iniciou com o propósito de relacionar as substâncias que restam após as operações químicas, classificá-las quanto à periculosidade e promover pesquisas acerca do correto tratamento para a destinação delas. A intenção era aplicar o princípio 3 R’s – reduzir, reutilizar e reciclar –, empregado no segmento de gerenciamento de resíduos. Também descartar os rejeitos de acordo com as leis vigentes, evitando danos ao meio ambiente.

Manual para ingressantes de engenharia Parceria bem-sucedida com o programa BCE

O que a gente ensina em uma aula teórica, tradicional, é como se tivesse tempo de validade. faz a prova e pronto. Um trabalho desses é para sempre na memória, nas atitudes. Na área de Meio ambiente, a pessoa vai levar para sempre essa consciência crítica.

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O professor Arnaldo Prata Mourão já participou com diversos projetos no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE). Desde a década de 1980, na época do extinto “Bolsa de Trabalho”, o docente leva a pesquisa aos bolsistas da assistência estudantil. “Sempre achei im-portante o apoio do CEFET-MG aos alunos que necessitam por meio de contrapartida”, disse.

Segundo Arnaldo Prata, o programa permite que o estudante se insira no mundo da ciência ao desenvolver o trabalho proposto. O objetivo do professor ao propor a participação desses alunos é “desenvolver um projeto de pesquisa científica e dessa forma permitir a eles conhe-cer o processo de pesquisa científica, a elaboração de relatório científico, a participação em eventos para apresentação de trabalhos científicos, a leitura de artigos científicos, etc.”.

Foi o que aconteceu com a aluna de Engenharia Elétrica Tamires Santos de Souza, que par-ticipou, em 2013 e 2014, do projeto “Estudo da qualidade da imagem digital”. “O professor Arnaldo tem outros alunos de iniciação. Nossa convivência é de muita harmonia e todos nos ajudamos nas nossas dificuldades. É uma experiência muito interessante, pois trabalhamos em equipe”, contou.

Relação afinada entre orientador e bolsistasDocente se propõe, por meio dos projetos da bolsa de complementação, ensinar aos alunos o bê-á-bá da pesquisa

Tamires Souza acredita que a relação com “o supervisor é de extrema importância para nos orientar nos trabalhos, tirar nossas dúvidas e avaliar nossas sugestões. Mas, além disso, o supervisor precisa ser compreensivo e flexível, o que o professor Arnaldo sempre demonstra ser”. A bolsista lembra que muitas vezes é preciso compreensão de ambas as partes para conciliar todas as atividades acadêmicas e pessoais.

Na primeira fase do projeto, foi feita a aquisição das imagens por tomografia computa-dorizada. De acordo com o professor Arnaldo Prata, o início dos trabalhos requer apren-dizados básicos para que a pesquisa seja bem-sucedida. “Os alunos estão pesquisando e aprendendo sobre o tema do projeto, a forma de fazer pesquisa com avaliações quanti-tativas e o processo de aquisição de dados”.

Da sala de aula para o laboratório, o discente pode aperfeiçoar e testar teorias vistas antes apenas no quadro negro. O orientador do BCE explica que, durante o trabalho, serão utilizados recursos que constam na grade acadêmica dos cursos e outros que se-rão incorporados somente pelos bolsistas. “Em qualquer pesquisa quantitativa, os alunos utilizam a manipulação estatística de dados, métodos de deduções matemáticas e utili-zação de observação espacial. A utilização de novos programas computacionais para a obtenção dos resultados obtidos e de ferramentas estatísticas para a consolidação dos dados adquiridos”.

• Projeto: Estudo da qualidade da imagem digital• Orientador: Arnaldo Prata Mourão• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2012• Bolsista: Tamires Santos de Souza

Convivência acadêmica e pessoal saudável

Recursos teóricos e práticos

O supervisor é de extrema importância para nos orientar nos trabalhos, tirar nossas dúvidas e avaliar nossas sugestões.

(O objetivo) é desenvolver um projeto de pesquisa científica e, dessa forma, permitir a eles conhecer o processo de pesquisa científica, a elaboração de relatório científico, a participação em eventos para apresentação de trabalhos científicos, a leitura de artigos científicos, etc”“

NELSON NUNES

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Conny Cerai Ferreira, 27, é doutoranda em Química do Petróleo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Essa é apenas parte da história que promete um belo desenvolvimento nas próxi-mas páginas, mas que já conta com um capítulo especial propiciado pela participação da egressa do CEFET-MG no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE).

Entre deixar sua cidade natal, Betim, para o Rio de Janeiro, onde vive atualmente, Conny Cerai con-cluiu o curso técnico de Química no CEFET-MG, no início de 2006, graduou-se e se tornou mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Nesse percurso, obtive grande aprimoramen-to, conheci pessoas fantásticas e amadureci profissionalmente. Outro fator de suma importância é que o curso no CEFET-MG me deu capacidade de ser aprovada no vestibular da UFMG, que, na época, era muitíssimo concorrido. Enfim, tudo o que tenho hoje é devido à formação que obtive no CEFET-MG e isso só foi possível porque vocês me ajudaram a me manter no curso”, observou.

De acordo com a ex-aluna, sua base profissional tem como sustentação a etapa que passou como bolsista de complementação educacional. “A BCE teve uma grande importância na minha vida profissional, pois com ela eu consegui me manter no curso técnico. Com esse curso, adquiri gran-de experiência de laboratório para minha profissão – sou Química – e ainda tive a oportunidade de atuar no mercado de trabalho como técnica durante aproximadamente quatro anos”, disse.

Aprimoramento e amadurecimento profissionalO caminho da ex-aluna de Química do Cefet-MG, do curso técnico ao doutorado, ganhou sustentação na BCe

Também na vida pessoal, a BCE foi essencial na trajetória de Conny Cerai. Quando bolsista, utilizava os recursos para pagar passagem de Betim ao CEFET-MG, em Belo Horizonte, e a alimentação durante o período que permanecia na insti-tuição, das 11h às 23h. “A bolsa permitiu que, com a minha profissão, eu melhorasse minha condição socioeconômica, intelectual, profissional, além de inúmeros outros benefí-cios não somente para minha vida, como também para a vida da minha família”, ressaltou.

A supervisão da BCE foi realizada pela professora do Depar-tamento de Química Jeannette Magalhães Moreira Lopes. Segundo a ex-aluna, a docente é lembrada com carinho e respeito pela transmissão de conhecimento técnico e pe-las lições de vida transmitidas. “Ela foi a primeira pessoa a despertar em mim as preocupações em relação às questões ambientais e ao tratamento de resíduos de laboratório quí-mico, e contribuiu muito com conselhos e ensinamentos para melhorar minhas relações interpessoais e amadureci-mento pessoal”, recordou.

No doutorado, a ex-aluna do CEFET-MG decidiu percor-rer outros territórios da Química. Atualmente, desenvolve trabalhos na área de Recuperação Avançada de Petróleo (EOR), pesquisando o desenvolvimento de aditivos polimé-ricos para essa aplicação.

Conny Cerai participou da XIX Mostra Específica de Trabalhos e Aplicações (Meta), que ocorreu em 2005, com o projeto “Cimento de escória ativada com silicatos”. “Nosso trabalho foi premiado e ganhamos uma viagem junto com os outros grupos laureados para uma visita à Escola Politécnica da USP, onde ocorreu a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace)”.

• Projeto: Cimento de escória ativada com silicatos• Orientador: Jeannette Magalhães Moreira Lopes• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2005• Bolsistas: Conny Cerai Ferreira

Apoio permite crescimento em diversas áreas

Participação na XIX METAas melhores lembranças que tenho da BCe foram, sobretudo, o aprimoramento técnico obtido, a oportunidade de trabalhar com pessoas muito profissionais e intelectuais, bem como todos os frutos que colhi e tenho colhido por ter conseguido permanecer e concluir meu curso.

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O projeto do professor do Campus de Timóteo Carlos Frederico Campos de Assis visa analisar biomassas que possuam menor potencial poluidor do que carvão mineral e possam ser utilizadas em altos-fornos. O docente inscreveu o trabalho no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) “com intuito de proporcionar oportunidade em pesquisa para os alu-nos do técnico”.

O trabalho “Estudar a viabilidade de utilizar resíduo carbono-hidrogenado para injeção em alto-forno” tem como objetivo examinar a possibilidade de empregar carvão vegetal, casca de arroz, bagaço de cana, casca de café, casca de eucalipto e resíduos de pneu e plástico como materiais para inje-ção em alto-forno.

Esses materiais substituiriam o carvão mineral, que é pulverizado em mais de 400 altos-fornos em todo o mundo, contudo é um material não renová-vel e causador de grande impacto ambiental na sua extração. Para analisar a viabilidade de injetá-los em alto-forno, as técnicas utilizadas são classifi-cação granulométrica, Análise Termogravimétrica (TGA), poder calorífico, análise química imediata e elementar.

Participaram da pesquisa dois alunos da BCE – Diandra Lacy de Oliveira Pinto, de Metalurgia, e Iully Dutra Ribeiro, de Química – e dois da Bolsa de Iniciação Científica Júnior (BIC-Jr). De acordo com o professor Carlos Frede-rico, na prática, os bolsistas puderam aprender mais sobre análise química imediata e aprofundar o conhecimento em alto-forno.

• Projeto: Estudar a viabilidade de utilizar resíduo carbono-hidrogenado para injeção em alto-forno

• Orientador: Carlos Frederico Campos de Assis• Campus: Timóteo• Ano: 2012 e 2013• Bolsistas: Diandra Lacy de Oliveira Pinto

Iully Dutra Ribeiro

Pesquisa visa encontrar substituto de carvão mineral para altos-fornosDocentes de todas as áreas apresentam projetos com as mais variadas concepções, visando oferecer trabalhos de qualidade aos alunos

inscrevi o projeto com intuito de proporcionar oportunidade em pesquisa para os alunos do técnico.

A aluna de Edificações do Campus Timóteo Isabela de Freitas Nunes viu na Bolsa de Complemen-tação Educacional (BCE) uma chance de aliar a permanência na instituição ao desenvolvimento de um projeto. “Interessei-me em participar pela oportunidade de crescer academicamente e ain-da receber a ajuda financeira que foi importante para a minha continuidade no curso”, explicou.

A estudante participou do projeto “Construção de um banco de dados de sequências problemáti-cas em textos”. O objetivo do trabalho era a construção de um banco de dados para catalogação de ocorrências e/ou sequências problemáticas em textos produzidos por alunos do ensino médio. Um armazenamento de informações que relaciona imagens de propostas de produção de textos, imagens de textos produzidos (em suas diferentes versões) e trechos digitalizados dos textos e das intervenções realizadas pelo professor-corretor.

Na pesquisa, Isabela Nunes cumpriu atividades como auxiliar na estruturação de um banco de dados relacional; incluir registros no banco de dados; realizar operações de back-up; participar da identificação das ocorrências e sequências textuais consideradas problemáticas; auxiliar na pesquisa e na editoração de material didático; participar na análise dos fatos linguísticos encon-trados; produzir relatórios, artigos e apresentações referentes à temática do projeto.

Tranquilidade para desenvolvimento dos estudosao participar de um projeto da área de humanas, bolsista abriu novos horizontes que foram importantes no seu curso técnico

Segundo Isabela Nunes, ao participar da BCE houve uma abrangência natural de seus conheci-mentos acadêmicos, principalmente pelo fato de a pesquisa ser relacionada a uma área diferente. “Proporcionou-me ganho de experiência e influência na área acadêmica. Pude me dedicar mais aos estudos. Senti-me mais tranquila por isso”.

A egressa do curso de Edificações destaca que sem a Bolsa a possibilidade de manter-se na ins-tituição seria menor. “Com a BCE, pude pagar meu transporte e alimentação, custos que antes eram pagos por dinheiro conquistado em outros serviços informais”, disse Isabela Nunes, que atualmente é estudante de engenharia na Universidade Federal de Juiz de Fora.

• Projeto: Construção de um banco de dados de sequências problemáticas em textos• Orientador: Aurélio Takao Vieira Kubo• Campus: Timóteo• Ano: 2012• Bolsista: Isabela de Freitas Nunes

Ganho de experiência acadêmica

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Para saber o tempo do jogo: placar eletrônico sem fioProjeto utiliza sistema aberto e foi configurado para quatro tipos de esportes demandou árdua pesquisa dos bolsistas

Ver seu tento digitalizado e observado por jogadores e público; saber quantos minutos de partida ainda res-tam para virar a partida ou segurar seu adversário. Esses dilemas podem ser resolvidos por um placar eletrônico, porém são poucos os ginásios e quadras escolares que possuem o equipamento, ainda mais um que funcione com uma rede sem fio. A partir dessa premissa, profes-sores e alunos da Unidade de Nepomuceno trabalha-ram para transformar essa ideia em realidade.

Segundo um dos orientadores da pesquisa, o professor Alan Mendes Marotta, os bolsistas empregaram duran-te a pesquisa elementos teóricos assimilados em sala de aula. “Os alunos aplicaram seus conhecimentos e ti-veram uma experiência prática, implementando e tes-tando o projeto desenvolvido. Vários conhecimentos novos foram aprendidos, entre eles, comunicação wi-fi entre computadores, endereçamento e segurança em rede”, disse.

Para Camila Aparecida dos Santos, ex-aluna de Eletrotéc-nica, que atualmente cursa Engenharia Elétrica na Uni-versidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), participar do programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) fez toda diferença no seu percurso acadêmico. “O CEFET-MG é muito teórico, então o projeto serviu para que eu visse, na prática, aquela teoria que tínhamos dentro de sala. Eu via muito mais sentido naquilo que aprendíamos dentro de sala e fazia o curso ficar muito mais interessante. Me fez querer continuar naquela área que eu escolhi no curso técnico”, lembrou.

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O projeto “Placar eletrônico multimídia sem fio para poliespor-tivos em sistema aberto” é composto por um ou mais módulos de visualização e pela mesa de controle. Os módulos projetados empregam um sistema aberto Linux, cujos programas se comu-nicam através de uma rede sem fio. O placar foi preparado com configurações prévias para futsal, voleibol, basquetebol e han-debol, além das funções de marcação da pontuação e de falta de cada time. O equipamento também mostra cronômetro do jogo (progreesivo ou regressivo, conforme o esporte), a hora real e o estágio da partida.

A metodologia empregada foi a exploratória, visto que o objeto do projeto (placar) existe no mercado, porém foi adotada tam-bém uma metodologia experimentativa para inovar o equipa-mento projetado. Foi adicionado o sistema de controle sem fio e um sistema aberto, possibilitando a inserção de diferentes tipos de mídias, que são novidades nesse tipo de dispositivo.

Durante um ano e meio de projeto, o trabalho envolveu múl-tiplas disciplinas, como eletrônica digital e analógica, aciona-mentos, microcontroladores, circuitos elétricos e desenho téc-nico. Entre as atividades das alunas estavam implementações, simulações e testes com os periféricos e programação individual em linguagem C; integração para os módulos de visualização; adequação e ajustes no software; desenhos dos gabinetes da mesa de controle e dos módulos de visualização no AutoCAD.

Ao iniciar o projeto, as bolsistas ainda não havia tido con-tato com as disciplinas que as auxiliariam na pesquisa, por isso tiveram que aprender durante o processo. “No começo, elas tiveram que estudar bastante, pois não ti-nham conhecimento prévio sobre programação e desen-volvimento das telas”, relatou o professor Alan Marotta.

Juciele Aparecida Silva, ex-aluna de Mecatrônica, que foi bolsista no projeto, explica que os conteúdos eram assimilados durante a execução das tarefas e na sala de aula simultaneamente. “No começo foi meio complica-do, mas depois foi ficando mais fácil. Quando começou o projeto, eu não entendia muito, mas depois foi se en-caixando dentro da matéria”, observou.

A trajetória de Juciele Silva e Camila Santos se encontrou durante o projeto. Para a primeira, os recursos da bolsa tinham como destino, essencialmente, a vida acadêmica. “Como ficávamos o dia inteiro na escola fazendo trabalhos, nós imprimíamos apostilas e nos alimen-távamos”. Já para a segunda, auxiliava a permanência na instituição e na cidade. “Eu morava em república, e o recurso me ajudou para que me mantivesse em Nepomuceno”.

Camila Santos relembra a convivência com os demais integrantes, professores e discentes. Para a ex-bolsista, as felicidades e agru-ras do trabalho em equipe fizeram parte do seu amadurecimento acadêmico e pessoal. “Quando você trabalha em grupo, aprende a respeitar mais as pessoas, aprende os limites delas e conhece os seus. E o aprendizado técnico eu vou levar para a minha vida toda”, salientou.

• Projeto: Placar eletrônico multimídia sem fio para poliesportivos em sistema aberto

• Orientador: Alan Mendes Marotta e Cíntia Ribeiro Andrade• Campus: Nepomuceno• Ano: 2012• Bolsistas: Camila Aparecida dos Santos

Juciele Aparecida Silva Maria Elisa Santos de Souza

O placar foi implementado nos jogos Intercampi do CEFET-MG em 2012, uma vez que a disputa aconteceu na quadra de Nepomuce-no. Para o teste, foi utilizada uma versão do protótipo em Windows. Além disso, o trabalho a participou da II Mostra de Trabalhos de Cursos Técnicos, promovida pelo Colégio Técnico da Universidade Estadual de Campinas (Cotuca) no mesmo ano. De acordo com Ca-mila Santos, no evento houve troca de informações acadêmicas e científicas. “Pudemos demonstrar o que fizemos, conhecer outros trabalhos e ver que as pessoas achavam qualidades naquilo que fi-zemos”, relatou.

Novidades na pesquisa

Processo de pesquisa por etapas

Necessidades acadêmicas e sociais

Intercampi

O programa BCe permite, além de auxiliar o aluno com a bolsa de complementação, aproximá-lo da pesquisa e desenvolvimento.

as meninas foram muito boas, a bolsa é um incentivador muito grande, e elas eram muito dedicadas ao projeto. elas foram caminhando passo a passo e no final alcançaram o objetivo que queríamos que era o desenvolvimento técnico do projeto.

Professor Alan Marotta

Professora Cíntia Andrade

NELSON NUNES

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Encontrar soluções de baixo custo, não poluentes e eficazes para a destinação do lixo eletrôni-co. Esse é o objetivo do projeto “Reciclagem de Resíduos Eletroeletrônicos – REE – descartados”, do professor do curso de Eletrônica do CEFET-MG Joel Augusto dos Santos, realizado em 2013. O trabalho contou com a participação de dois bolsistas do Programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) do campus I.

Segundo o professor Joel Santos, o projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) é direcionado para novas metodologias de reciclagem dos resíduos sólidos provenientes de equipamentos ele-trônicos descartados. “O objetivo final é a implantação de uma pequena usina modelo de recicla-gem no CEFET-MG, que servirá de referência para o Estudo de Viabilidade Técnica e Econômica – E.V.T.E – do projeto”, disse.

A participação dos discentes nos projetos de pesquisa é essencial, conforme avalia o professor Joel Santos. Para o docente, o estudante torna-se agente ativo e não apenas passivo na construção dos seus próprios saberes. “O aspecto mais importante é fomentar o interesse pela pesquisa e inovação tecnológica nos alunos. Conseguir propiciar ao aluno a oportunidade de não apenas absorver co-nhecimentos, mas construir conhecimentos a partir de uma base adquirida”, observou.

Soluções eficientes para destinação do lixo eletrônico Pesquisa sobre reciclagem de resíduos sólidos promoveu integração entre alunos de engenharia de Materiais e eletrônica

Participaram do trabalho pelo programa BCE os discentes Raissa Nayara Terra de Almeida, de Engenharia de Materiais, e Lucas Ayrton de Souza Vivas, do curso técnico de Eletrônica. De acordo com o orientador, a pesquisa envolvia diversos campos do conhecimento e, por isso, necessitava de uma equipe multidisciplinar. As atividades eram específicas, mas ao mesmo tempo entravam na área alheia possibilitando um intercâmbio de informações.

“A reciclagem de REE envolve diversas áreas do conhecimento em suas diversas fases. A aná-lise qualitativa e quantitativa dos materiais envolvidos, a definição dos melhores processos para separação dos metais e não-metais encontrados especialmente nas placas de circuitos eletrônicos que é a base de todos os equipamentos”, explicou o professor Joel Santos.

Entre outros objetivos do projeto estão:• desenvolver processos e equipamentos de reciclagem com baixo volume de efluentes e

baixa liberação de dioxinas para placas de circuitos eletrônicos;• criar uma estrutura modular composta por células de processamento que sejam capazes

de evoluir em eficiência no reaproveitamento dos inúmeros insumos encontrados no lixo eletrônico;

• possibilitar a criação e treinamento de novas frentes de trabalho especializadas na coleta e reprocessamento do lixo eletrônico;

• diminuir o impacto causado ao meio ambiente pelo descarte inadequado de equipamentos e módulos eletrônicos por pessoas físicas e empresas;

• colocar o CEFET-MG e a capital mineira na posição de vanguarda na tecnologia de gestão e reprocessamento adequado do lixo eletrônico, tecnologias ainda não desenvolvidas no país.

• Projeto: Reciclagem de Resíduos Eletroeletrônicos – REE – descartados• Orientador: Joel Augusto dos Santos• Campus: II – Belo Horizonte• Ano: 2013• Bolsistas: Raissa Nayara Terra de Almeida

Lucas Ayrton de Souza Vivas

Equipe multidisciplinar

a participação dos bolsistas foi fundamental para dar o suporte necessário às atividades, dada a complexidade do projeto que envolveu pesquisa, preparação do material para ensaios, definição de processos, entre outras demandas.

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O projeto “Sistema web de avaliação de docentes por discentes”, da ex-aluna da Unidade Leo-pol dina Amanda Ferreira de Castro, transcendeu o âmbito social e técnico a que se destina o programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE). Gerou permanência, prêmios e aprendi-zado além da sala de aula. O trabalho, desenvolvido durante os anos de 2008 e 2009, venceu na categoria “Engenharia e suas aplicações” da XXI Mostra Específica de Trabalhos e Aplicações do CEFET-MG (Meta), em 2010.

Orientado pelo professor da Unidade Leopoldina José Antônio Pinto, o projeto também partici-pou da 25ª Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), que aconteceu em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.

Segundo Amanda Castro, o que a levou a participar do programa foi a necessidade de experiência profissional para acrescentar no currículo mesclada à ajuda de custo. “Foi uma experiência gratifi-cante; é muito bom ver que eu me dediquei e que meu trabalho foi reconhecido. A BCE foi muito importante para a minha condição financeira; sem ela seria muito difícil me manter na escola”, disse.

Participação na BCE transcende os objetivos técnicos e sociaisPesquisa vence uma das categorias da XXi Meta e permite que bolsista participe de outras feiras científicas

Com o mesmo orientador, Amanda Castro também participou do projeto da BCE “Sistema web de avaliação de docentes por discentes”. Ainda fez parte do trabalho da Bolsa de Iniciação Científica Júnior (BIC-Jr.) “Ferramenta web para detecção de plágio exato”, orientada pelos professores José Geraldo Ribeiro Júnior e Carlos Henrique de Oliveira Monteiro.

Em 2014, Amanda Castro é analista de sistemas júnior em uma empresa de Tecnologia da Informação e cursa Ciência da Computação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Para a egressa, a participação no projeto da BCE proporcionou benefícios em diversos âmbitos. “Na vida acadêmica, con-tribuiu para o meu crescimento profissional e para que eu pudesse ingressar em uma faculdade de qualidade; na vida pessoal, ajudou-me na tarefa de relacionar com as pessoas e trabalhar em equipe”, observou.

• Projeto: Sistema web de avaliação de docentes por discentes• Orientador: José Antônio Pinto• Campus: Leopoldina• Ano: 2008 e 2009• Bolsista: Amanda Ferreira de Castro

BCE despertou gosto pela pesquisa

O que me levou a participar foi a necessidade de experiência profissional para acrescentar no currículo e, é claro, a ajuda de custo.

Meu supervisor foi o José antônio Pinto e ele teve uma importância elevada no meu desenvolvimento na BCe.

ARqUivO CEFET

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O professor e diretor da Unidade Araxá Henrique José Avelar desejava participar do Programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE). Para tal, inscreveu seu projeto no edital de se-leção e foi selecionado pela Coordenação de Política Estudantil do campus. O passo seguinte foi incentivar seus alunos do curso de Engenharia de Automação Industrial a também partici-par. “Fiquei sabendo desse programa e queria contribuir de alguma forma, no caso, com um projeto que qualquer aluno pudesse participar”, disse.

Quem atendeu o chamado, no início de 2013, para tomar parte da pesquisa foi a aluna Daiane Souza Frazão. ”Tomei conhecimento da BCE através do aviso dado pelo professor Henrique em sala de aula. Interessei-me pelo programa pelo fato de não estar realizando nenhum trabalho re-munerado no momento. Além disso, vi que participar me traria muitos conhecimentos”, contou.

O objetivo do trabalho é a construção de uma carga eletrônica, baseada em um conversor boost e um banco de resistores de potência, para absorver uma corrente contínua, constante ou com variação controlada/programada, de fontes de energia renováveis sob teste. O contro-le será feito por meio de circuito microcontrolado (PIC ou Arduino ou ARM), permitindo a au-tomatização de testes em fontes de energia renováveis para obtenção de suas características de funcionamento.

Parceria em busca de conhecimentoProfessor incentiva alunos a participar de projeto e encontra bolsista disposta a encarar novos desafios

Os termos específicos da área e a compreensão das atividades foram desafios que Daiane Frazão gostou de enfrentar. Em parceria com o orientador, a aluna conseguiu agregar e pro-cessar as informações necessárias. “Dependo totalmente da orientação do professor Henri-que, pois não tenho muitos conhecimentos na área da eletrônica. Mas, sob a orientação dele, tenho conseguido agregar muitos conhecimentos com as pesquisas que ele me solicita, com as bibliografias fornecidas e, claro, com as explicações dele”.

Segundo o professor Henrique Avelar, os conhecimentos de controle e de microprocessador foram passados por ele, uma vez que a bolsista estava no início de sua trajetória letiva. O aprendizado contou tanto com informações que ainda seriam lecionadas em sala de aula, quanto outras que não estão na grade do curso. “Os conhecimentos adquiridos no projeto serão úteis ao longo do curso. Já os conhecimentos de conversores DC-DC são novos, não sendo ministrados nas disciplinas”, observou.

Daiane Frazão reiterou as palavras do orientador. “Estou tendo noções de projeto, aplicando na prática muitos conhecimentos adquiridos em sala de aula e adquirindo conhecimentos que ainda serão vistos no curso de Engenharia de Automação Industrial”.

Em agosto de 2014, um novo bolsista, Ma-theus Melo Borges, também de Engenharia de Automação Industrial, deu continuidade à pesquisa. “Ele está terminando a disciplina de microprocessadores, o que permite avançar mais rápido no projeto. Já concluiu a fase de simulação do conversor boost (que será utili-zado na carga eletrônica) e vamos passar para o projeto e confecção dos indutores de filtro da carga eletrônica”.

• Projeto: Carga eletrônica para testes de equipamentos de energia renovável

• Orientador: Henrique José Avelar• Campus: Araxá• Ano: 2013 e 2014• Bolsistas: Daiane Souza Frazão

Matheus Melo Borges

Com os recursos advindos da Bolsa de Com-plementação Educacional, Daiane Frazão conseguiu reorganizar sua vida acadêmica e pessoal e ainda se capacitar e aperfeiçoar como estudante. “Pago as passagens do trans-porte público, minhas refeições no CEFET-MG (almoço, jantar e lanches), a mensalidade da internet, despesas com material escolar (xerox e outros quando necessário) e outras despesas pessoais (como remédios). Com essa remune-ração, pretendo fazer um curso especializado em AutoCAD, visto que esse curso vai ser mui-to bom para o meu currículo. Antes eu não tinha condição de fazê-lo”, ressaltou.

Novos aprendizadosNovo bolsista

Recursos possibilitamcapacitação e aperfeiçoamento

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Monitoramento socioeconômico já contou com oito bolsistas da BCEPesquisa sobre o setor de vestuário de Divinópolis existe há quatro anos e já se tornou referência

Natália Lourenço da Silva, 19 anos, aluna de Produção de Moda, desce do ônibus no Centro de Divinópolis e entra em uma loja de vestuários. É recebida com um sorriso prontamente correspondido. Conversa, anota, despede-se e repete a cena em outros estabelecimentos. Essa rotina faz parte do projeto da estudante no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE), no qual números, relações pessoais e pesquisa convergem com a possibilidade de permanência no CEFET-MG.

A discente participa do projeto “Monitoramento socioeconômico do setor vestuário de Divinópolis”. O trabalho, orientado pelo professor Antônio Gui-marães Campos, é ligado ao Núcleo de Pesquisas do Vestuário (Nupev) da Unidade Divinópolis. O objetivo é desenvolver pesquisas e estudos relaciona-dos ao setor do vestuário e unir o ensino, a pesquisa e a extensão, com o intui-to de estabelecer uma maior integração entre a academia e as necessidades sociais e econômicas da região.

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No decorrer do projeto, Natália Silva conta que começou a entender o setor de vestuário e suas minúcias, o que faz enorme diferença no seu curso. A bolsista entende sobre a di-ferença de preços em produtos iguais, sobre maquinário e insumos como, linhas, botões, zíperes. E a pesquisa já está sendo utilizada pela estudante na sala de aula. “O nosso pla-no de negócios é abrir uma empresa. As pesquisas que fazemos no Nupev possibilitam levar os dados para dentro da sala para fazer um balanço do que precisamos, do quanto vamos gastar para abrirmos a empresa”, esclareceu.

Ao entender as particularidades e a realidade do setor de vestuário de Divinópolis, o orientador acredita que há um avanço tanto no aspecto acadêmico, quanto individual por parte dos estudantes. “Observamos que na BCE esses alunos envolvidos no processo conseguiram crescer e se desenvolver tanto pessoal quanto tecnicamente, de conhecer com mais detalhe o setor”.

Segundo o professor Antônio Campos, o projeto foi moti-vado pela falta de dados do setor confeccionista e de ves-tuário do município. “A ideia é que o CEFET-MG se torne uma referência na pesquisa para instituições públicas e privadas no que tange ao desempenho desse importan-te setor para economia de Divinópolis, que é responsável por 30% do Produto Interno Bruto (PIB) da economia da cidade”, explicou.

O monitoramento começou em agosto de 2010. Desde então, já passaram outros oito bolsistas da BCE, incluindo Natália Silva, todos do curso de Produção de Moda. Para o docente, ao realizar as atividades propostas, os participan-tes tiveram a oportunidade de se desenvolver na área da pesquisa.

“Coletaram dados primários sobre os fornecedores para os empresários do setor de confecção; dados de maquinários, de aviamentos e tecidos nas lojas da cidade que fornecem para as empresas de confecção. E também coletam dados primários sobre preços de artigos de vestuário diretamente nas lojas de varejo”, explanou o professor Antônio Campos.

No projeto, são acompanhadas as informações do desem-penho do setor de vestuário com dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística (IBGE), o saldo médio de empregos; salário médio pago nas confecções, índice de preço ao consumidor e índice de preços de artigos de vestuários masculinos e femininos.

• Projeto: Monitoramento socioeconômico do setor vestuário de Divinópolis

• Orientador: Antônio Guimarães Campos• Campus: Divinópolis• Ano: 2010 a 2014• Bolsista: Natália Lourenço da Silva

Dominando as características do setor

Bolsa de Complementação Educacional desde o início

Com o dinheiro da bolsa, pago minha van e o que gasto na escola, como materiais e almoço.

vimos no programa BCe uma importante oportunidade para que os alunos estivessem envolvidos com atividades importantes do curso e é uma forma de eles crescerem e terem outras experiências extracurriculares.

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A implantação do Núcleo de Pesquisa e Estudos Afro-Brasileiros (NEAB) na Unidade Leopoldina contou com a participação do programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE). Segundo a professora de História Margareth Cordeiro Franklin, o intuito foi ter bolsistas que pudessem con-tribuir com o início das atividades do Núcleo. Os estudantes executaram

tarefas que permitiram identificar, resgatar e valorizar as manifestações da cultura afro-brasileira presentes na região e conhecer melhor a história dos povos africanos, sua diáspora e a dolorosa experiência da escravidão, especialmente as características e dimensões assumidas na Zona da Mata mineira.

A professora Margareth Franklin utilizou quatro bolsistas do BCE no projeto “Valorização e pro-moção da cultura afro-brasileira”. Foram dois em 2011 – Douglas Bulho Zuqueto, de Informáti-ca, e Regiany Luiza de Ornellas e Souza, de Eletrotécnica – e dois em 2012 – Isaque Douglas da Cruz, de Informática, e Queiscila Correa dos Santos, de Mecânica. Para a docente, os estudantes que participaram do projeto, ao estudarem e se aproximarem da temática proposta, obtiveram ganhos acadêmicos, pessoais e sociais. “Aplicaram conhecimentos nas matérias de cultura geral, principalmente em História, Literatura, Sociologia e Filosofia e ampliaram a consciência e a prática da cidadania”, disse.

A exemplo de núcleos e grupos afins presentes em outras instituições, o NEAB é voltado para o estudo, a pesquisa e as ação comunitária na área dos estudos afro-brasileiros e das ações afirma-tivas em favor das populações afrodescendentes, bem como na área dos estudos das línguas e civilizações africanas.

Bolsistas implantam NEAB na Unidade Leopoldinaatuação dos alunos ligados à BCe foi essencial para que o núcleo iniciasse os trabalhos na unidade

Isaque Douglas, 20 anos, que ingressou no curso de Engenharia de Con-trole e Automação do CEFET-MG, em 2013, atuou como bolsista quando ainda era aluno do curso técnico de Informática. O estudante relatou que a participação contribuiu para sua formação pessoal e acadêmica, além de possibilitar a viabilidade financeira de seus estudos. “Aprendi muitas coi-sas com o projeto, como a importância da documentação, preservação e valorização das nossas raízes, contato com diferentes culturas, religiões e costumes. Considero-me muito mais comunicativo e seguro para falar em publico depois da participação no projeto”.

Entre os resultados da implantação estão a construção e consolidação do NEAB na Unidade Leopoldina; a realização de palestras e seminários; a criação de um grupo de capoeira no campus; o estímulo ao interesse dos alunos para a história e a cultura africanas e afrodescendentes; a criação de um blog www. neab-cefet. blogspot.com e de um grupo no Facebook e a aprovação de um projeto de pesquisa e extensão, com recursos da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig), que está em curso e resultará em uma publicação para realizar um trabalho sobre a memória e o patrimônio afrodescendente em Leopoldina

O NEAB tem como objetivo central a produção e difusão de saberes e a promoção de atividades no campo das relações étnico-raciais. O órgão tem como marcos referenciais o trabalho interdisciplinar relacionado ao campo de estudos afro-brasileiros e africanos, além da participação em ações con-trárias à discriminação e demais formas de intolerância. O marco legal do Núcleo é a Lei nº 10.639/2003, que prevê que o conteúdo programático das escolas inclua a “história da África e dos africanos, a luta dos negros no Bra-sil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição da população negra nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”.

• Projeto: Valorização e promoção da cultura afro-brasileira• Orientadora: Margareth Cordeiro Franklin• Campus: Leopoldina• Ano: 2011 e 2012• Bolsistas: Douglas Bulho Zuqueto

Regiany Luiza de Ornellas e Souza Isaque Douglas da Cruz Queiscila Correa dos Santos

Participei da BCe desenvolvendo projetos do NeaB orientado pela professora Margareth Cordeiro franklin, que sempre se dedicou e demonstrou total interesse pelo núcleo e pelos projetos.

Cada bolsista acompanhou uma destas atividades: as manifestações culturais afro-brasileiras em Leopoldina e região; a história da escravidão na região; leitura, análise crítica e difusão de literaturas africanas em língua portuguesa; participação em ações afirmativas voltadas para a população afrodescendente na comunidade escolar.

Preservação das raízes e segurança para falar em público

O que é o NEAB?

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Isaque Douglas

Professora Margareth Franklin

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O então aluno de Eletrotécnica da Unidade Leopoldina Maico da Silva Lima se inscreveu para participar do Programa BCE. Quando foi chamado, hesitou, pensou, aceitou e não se arrependeu. “Na hora, fiquei com um pouco de dúvida se devia aceitar ou não, mas analisei melhor a situação e percebi que era realmente interessante o projeto. Recebia o benefício da Bolsa Permanência e não tinha certeza se queria substituí-la, mas optei por trocar e hoje vejo a oportunidade que bateu em minha porta”, observou.

Maico Lima fez parte, durante dois anos, do trabalho “Documentação e manutenção de laborató-rios do curso de eletrotécnica e levantamento das instalações elétricas do CEFET-MG campus III”, e o resultado foi que a teoria didática se encontrou com a aplicação no campo prático. “O projeto da BCE proporcionou-me um maior conhecimento na minha área de formação. “Eu tentava levar as teorias aprendidas em salas de aulas para o projeto e as via acontecer, na maioria das vezes, na prática. Isso me ajudou muito”, disse.

No projeto, os alunos desenvolveram atividades como revisão dos conceitos de desenho auxi-liado por computador e instalações elétricas para o desenvolvimento das atividades e também levantamento, diagnóstico e atualização das plantas de instalações elétricas. Para o bolsista, as ações realizadas lhe proporcionam um amplo conhecimento na área de eletrotécnica.

O trabalho foi orientado pelos professores Laércio Simas Mattos, Janison Rodrigues de Carvalho e Olga Moraes Toledo. “Eles foram peças fundamentais no meu projeto BCE de 2012, pois, a todo o momento que gerava dúvidas na execução de alguma tarefa, podia contar com a ajuda deles, que me auxiliavam de forma eficaz”, contou Maico Lima.

Segundo o estudante, financeiramente, a BCE foi essencial para sua permanência na institui-ção. “As despesas acadêmicas e pessoais são altas, por isso tenho que afirmar que dependo muito do dinheiro recebido como bolsista”. Na área pessoal, Maico Lima também observa ganhos advindos do programa. “Depois que comecei atuar como bolsista, tornei-me uma pessoa mais madura e responsável. Hoje, apesar da idade ainda reduzida (18 anos), conside-ro-me uma pessoa muito responsável e com capacidade de pegar compromissos e atividades tendo a certeza de que sou capaz de fazer o possível para resolver a questão”.

Investindo na sua capacitação, o ex-bolsista relatou que também fez um curso de inglês com os recursos da BCE. “No período em que estudei no CEFET-MG, meus pais não tinham muita condição de pagar o curso para mim. As despesas eram bem altas. O projeto me ajudou mui-to nessa questão”, ressaltou.

Maico Lima cumpriu seu estágio supervisionado na empresa Energisa, em Cataguases. Ago-ra, aprovado no segundo semestre de 2014 para o vestibular de Engenharia de Controle e Automação, começou outra etapa no CEFET-MG.

• Projeto: Documentação e manutenção de laboratórios do curso de eletrotécnica e levantamento das instalações elétricas do CEFET-MG Campus III

• Orientadores: Laércio Simas Mattos, Janison Rodrigues de Carvalho e Olga Moraes Toledo

• Campus: Leopoldina• Ano: 2012 e 2013• Bolsistas: Maico da Silva Lima

Regiany Luiza de Ornellas e Souza

Oportunidade de aproximar omundo empírico do teórico“eu tentava levar as teorias aprendidas em salas de aulas para o projeto e as via acontecer, na maioria das vezes, na prática”

Amadurecimento como parte do processo

Penso que o processo de seleção leva em conta também o perfil do aluno e isso me deixa muito motivado, pois faço parte de uma equipe de dez pessoas, ou seja, vejo que o BCe está sendo uma ponte entre mim, o mercado de trabalho e a experiência profissional.

Com a bolsa, eu consegui, nesses dois anos, pagar todas as minhas contas, curso, internet e ainda economizar um pouco. foi fundamental.

FOTOS: ARqUivO PESSOAL

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Um lugar para aprender, socializar e pesquisaralunos de edificações de Curvelo, que participaram do projeto “telhado verde”, constituíramna BCe parceria pessoal e acadêmica

Os “parceiros”, como se chamam Mateus Alves da Rocha Araujo e Paulo Victor Franafon da Silva, têm muito mais em comum que os 19 anos ou o curso de Edificações no CEFET-MG Curvelo. Ambos participaram do pro-jeto “Execução de um telhado verde com a utilização de materiais de bai-xo custo e com plantio de ArachishypogaeaL e Deipomoea batatas” pelo programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE) e concluíram a passagem pela instituição conscientes da plena dedicação aos estudos.

Um dos fatores de motivação para os jovens em participar da bolsa foi a oportunidade de fazer parte de um projeto de pesquisa. “No momento em que fiquei sabendo da BCE fiquei muito interessado, pois seria uma grande oportunidade de ampliar meus conhecimentos. Além de poder firmar no meu currículo a participação em um projeto de iniciação cien-tifica pelo CEFET-MG”, disse Mateus Araújo. Paulo Franafon demonstrou a mesma empolgação. “Fiquei muito interessado já que sempre tive von-tade de participar na elaboração de um projeto cientifico no CEFET-MG”, contou.

O resultado do ingresso no programa, de acordo com os estudantes, foi plenamente satisfatório. “A participação no projeto só me trouxe bene-fícios, tanto na vida acadêmica, quanto na pessoal, mas um dos maiores foi aprender a interagir e a trabalhar melhor em grupo”, analisou Mateus Araújo, apoiado por Paulo Franafon, que também destacou o esforço acadêmico em conjunto. “Foi uma experiência bastante produtiva. Eu e o meu parceiro de projeto tivemos um grande aprendizado. Foram muitos estudos, pesquisas e tentativas que agregaram bastante conhecimento”.

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O trabalho tem como objetivo a construção de uma estrutura de telhado verde com ma-teriais reutilizáveis e de baixo custo, tendo como foco as habitações de interesse social que utilizam telhas de fibrocimento (composto de cimento com 10 a 15% de fibra de amianto). Foram confeccionados protótipos de estrutura simples a partir de materiais de baixo custo (garrafas plásticas de refrigerante), visando diminuir os custos de implanta-ção e a geração de alimento.

Os materiais escolhidos possibilitam, ainda, a utilização para consumo de plantas culti-vadas no sistema. No experimento, plantou-se feijão (plantio de comparação). O sistema pode ser utilizado em comunidades carentes, pois além possibilitar os diversos benefí-cios de uma cobertura vegetal, pode gerar alimentos em uma área da edificação antes não utilizada.

• Projeto: Execução de um telhado verde com a utilização de materiais de baixo custo e com plantio de ArachishypogaeaL e Deipomoea batatas

• Orientador: Geraldo Magela Damasceno • Campus: Curvelo • Ano: 2013 e 2014• Bolsistas: Mateus Alves da Rocha Araujo

Paulo Victor Franafon da Silva

A oportunidade de estudar e o direito de se manter na instituição foram permitidos a ambos por meio da bolsa. Paulo Franafon, que é de Três Marias, ainda está no CEFET-MG, agora cur-sando Engenharia Civil. O ex-bolsista entende que o recurso foi fundamental para que sua trajetória na instituição tivesse começo, meio e fim. “Vim de uma cidade vizinha para estudar, então a BCE foi de grande valia na minha manutenção financeira, auxiliando-me em moradia, alimentação, transporte. Ajudando-me a me manter na instituição”, lembrou.

Já Mateus Araújo cursa Engenharia Florestal na Universidade Federal de São João del-Rey (UFSJ). Durante o curso de Edificações, o estudante pode se dedicar exclusivamente ao proje-to e às disciplinas graças à BCE. “Esse auxílio do projeto me ajudou nas despesas de transpor-te e alimentação, além de outras despesas diárias”, frisou.

Recursos garantem permanência e dedicação Projeto de baixo custo e resultados efetivos

foi uma experiência bastante satisfatória, pois consegui aprender muito com esse tempo de convivência com o meu parceiro de projeto, os professores e os demais funcionários que nos auxiliaram.

Mateus Araújo

a participação no projeto ampliou meus conhecimentos e me trouxe benefícios em todos os aspectos, tanto na minha vida acadêmica, quanto na pessoal. essa experiência abriu um leque de possibilidades de novos projetos e expandiu minha perspectiva sobre o campo de pesquisa.

Paulo Franafon

FOTOS: ARqUivO PESSOAL

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O percurso de amadurecimento e realização profissional de Juliana Santos Silva, 21 anos, começou com seu ingresso no curso técnico de Transporte e Trânsito do CEFET-MG, mas a estrada era sinuosa e a condução onerosa. Com a participação no programa Bolsa de Complementação Educacional (BCE), o caminho se tornou mais seguro e a sinalização indicou qual rumo traçar.

Com os recursos da bolsa, Juliana Santos pagava a passagem do ônibus e o lanche. For-mada em 2011, no CEFET-MG, a egressa que mora em Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, entende que a BCE foi decisiva na sua colocação profissional. “Traba-lho com sinalização viária e utilizo o software AutoCAD, que foi o mesmo software que usei no programa de complementação”, disse.

Além do horizonte da sala de aula, existe um lugar para aprender e compartilhar conhecimentos. Esse local, segun-do o professor do Departamento de Computação e Cons-trução Civil de Varginha Luiz Pinheiro da Guia, é a pesquisa.

O docente orientou os projetos “Sistematização de material de ensino e aprendizagem para cursos técnicos em Edifi-cações” e “Verificação da qualidade de tijolos utilizados na construção civil baseado em normas brasileiras – uma análi-se dimensional e de resistência” pela Bolsa de Complemen-tação Educacional (BCE), durante os anos de 2009 e 2010.

Durante esse percurso, contou com três bolsistas no primei-ro projeto e dois no segundo. Luiz da Guia observou que o envolvimento dos discentes com a pesquisa proporcionou um tipo destreza que não se adquire diante do quadro-negro. “Para o aluno, esses programas de bolsas são im-portantes, pois ele entra em um mundo que normalmente não entraria. O dia a dia da sala de aula é diferente do da pesquisa”, disse.

Conforme o orientador, os ganhos dos bolsistas ao partici-par de uma investigação vão desde o aprendizado até a tro-ca de informações com outros pesquisadores. “É bom que os alunos nos projetos de pesquisa, pois é uma iniciação à ciência. E não é só a pesquisa sobre o assunto, mas também aprendem como preparar um documento técnico, elabo-rar um relatório e podem apresentar o trabalho em algum evento ou congresso da área técnica”, enumerou.

• Projetos: “Sistematização de material de ensino e apren-dizagem para cursos técnicos em Edificações” e “Verificação da qualidade de tijolos utilizados na construção civil baseado em normas brasilei-ras – uma análise dimensional e de resistência”.

• Orientador: Luiz Pinheiro da Guia• Campus: Varginha• Ano: 2009 e 2010• Bolsistas: Ismaily Willian de Paiva Carvalho

Mayra Felipe Francisco Milena Abreu Ávila

Projeto proporciona realizaçãoprofissional e pessoal

Abrindo as portas de um novo mundo

“Comecei a ter mais senso de responsabilidade e foi quando comecei minhas amizades atuais. todos fazíamos parte de algum programa de bolsas”

Para docente que orientou três alunos na BCe, participação no programa possibilita obtenção de conhecimentos para além das fronteiras da sala de aula

A ex-aluna trabalhou na empresa Beta Engenharia e Arquitetura como técnica em Trans-porte e Trânsito e agora está na Strata Engenharia. Se profissionalmente a participação na BCE produziu resultados inquestionáveis, na vida pessoal, a atuação como bolsista também originou efeitos que podem ser atestados ainda hoje. “Comecei a ter mais senso de responsabilidade e foi quando comecei minhas amizades atuais. Todos fazíamos par-te de algum programa de bolsas”, lembra.

Em 2009, participou da XXI Mostra Específica de Trabalhos e Aplicações (Meta) com o projeto “Estudo de aplicativos computacionais utilizados em projetos viários”, orientado pelo professor do Departamento de Transporte e Trânsito Chan Kou Wha. “A relação era boa e sempre que surgiam dúvidas marcávamos uma reunião quando possível”, obser-vou.

• Projeto: Estudo de aplicativos computacionais utilizados em projetos viários• Orientador: Chan Kou Wha• Campus: I – Belo Horizonte• Ano: 2009 e 2010• Bolsista: Juliana Santos Silva

Senso de responsabilidade

ARqUivO PESSOAL

NELSON NUNES

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A atual marca do programa foi desenvolvida pelo servidor do Setor de Comunicação Visual (SECOV), Fabrício Henrique da Sil-va Passos em 2009. Na versão anterior do logo, era utilizado um desenho contendo um círculo com o nome do programa e um livro no centro.

Os conceitos utilizados para criação da nova marca do programa Bolsa de Complementação Educacional foram determinados a partir de suas características e objetivos: conceder aos estudan-tes do ensino médio/profissional e da graduação regularmente matriculados no CEFET-MG, suporte financeiro e complementa-ção de aprendizagem, possibilitando assim a permanência e a conclusão do estudante na instituição.

• Apoio, Aprendizado e AperfeiçoamentoComplementação do aprendizado. Aperfeiçoamento técnico científico, cultural e social.

• Alcançar Objetivos e Ampliar HorizontesSuporte para permanência e conclusão do curso. Desenvolvimento das atividades acadêmicas de extensão e pesquisa. Projetar e ampliar os patamares de qualidade.

Marca incorpora conceitos do programa

Conceitos utilizados

Marca anterior

Marca atual

SPE

Cerca de 400 quilômetros separavam Nelson Ferraz Neto do seu objetivo. A primeira barreira a ser quebrada foi passar no vestibular para se tornar aluno de Engenharia Mecatrô-nica do CEFET-MG. A segunda foi se mudar de Várzea da Palma, no Norte de Minas Gerais, e se manter em Divinó-polis, no Centro-Oeste do Estado, com poucos recursos. Se na primeira fase o esforço individual foi preponderante, na seguinte, por meio do programa de permanência Bolsa de Complementação Educacional (BCE), o bolsista conseguiu tranquilidade para viver longe da família e estudar.

Nelson Ferraz conta que logo que chegou à nova cidade soube da bolsa e fez sua inscrição. De acordo com ele, os re-cursos financeiros da BCE o “ajudam em praticamente tudo”. Com o dinheiro, paga o aluguel da república onde mora, co-mida, locomoção e o que mais necessitar.

O estudante destaca ainda a importância da participação no projeto “Análise de tensões em peças mecânicas utili-zando redes neurais”. O trabalho o levou a conhecer novas matérias e áreas e se aprofundar nas do seu curso. “Acade-

micamente, me envolvi muito na parte de mecânica, que é a base do meu curso. Já redes neurais é uma nova tec-nologia e tem na disciplina optativa Inteligência Artificial”, salientou.

Nelson Ferraz frisou além do mais que “ter descoberto esse ramo da engenharia” ampliou o interesse pelo curso e abriu novas possibilidades dentro dos estudos. O bolsista expli-cou que a investigação mescla tanto a utilização de con-ceitos já ratificados, quanto a de novos. “O projeto consiste em simulações mecânicas que analisam tensões. Além de utilizar o software de elementos finitos, geralmente usados, as análises são feitas através de redes neurais, um tipo de inteligência artificial”, explicou.

• Projetos: Análise de tensões em peças mecânicas utili-zando redes neurais

• Orientador: Luiz Claudio Oliveira• Campus: Divinópolis• Ano: 2013 e 2014• Bolsista: Nelson Ferraz Neto

Quebrando distâncias para se conectar a redes neuraisBolsista veio do Norte de Minas para o Centro-Oeste do estado e conseguiu se manter no curso com os recursos da BCe

O curso e o projeto estiveram interligados durante todo o tempo.

NELSON NUNES

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Ensaios

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Ludmila Eleonora Gomes Ramalho Psicóloga da Coordenação de Política Estudantil de Nepomuceno

Este trabalho tem como objetivo relatar a experiência como supervisora de um projeto de Bolsa Complementação Edu-cacional (BCE), vinculado à Secretaria de Política Estudantil (SPE), que busca discutir a importância do desenvolvimen-to de habilidades sociais na educação profissional. Habili-dades sociais podem ser descritas como formas de com-portamento e de interação interpessoal que contribuem para um adequado desempenho em diversos aspectos da vida. O projeto “Habilidades sociais no contexto do ensino profissional”, iniciado em janeiro de 2014 e atualmente em andamento na Unidade Nepomuceno, visa discutir em que medida o desenvolvimento desses tipos de competências podem favorecer a vida estudantil, o desempenho acadê-mico, o aprimoramento pessoal e, posteriormente, a vivên-cia de situações profissionais.

O Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) tem como compromisso expresso

[...] formar e qualificar profissionais no âmbito da educa-

ção tecnológica, nos diferentes níveis e modalidades de

ensino, para os diversos setores da economia, bem como

realizar pesquisa aplicada e promover o desenvolvimen-

to tecnológico de novos processos, produtos e serviços,

em estreita articulação com os setores produtivos e a so-

ciedade, especialmente de abrangência local e regional,

oferecendo mecanismos para a educação continuada

(CEFET-MG, 2014, p. 11).

Além disso, propõe também como objetivo institucional e função social a formação integral de seus estudantes (CE-FET-MG, 2012). Nesse aspecto, podemos destacar o projeto de Bolsa Complementação Educacional como uma possi-bilidade de complementação da aprendizagem de alunos com baixa condição socioeconômica (CEFET-MG, s/d), ex-pandindo suas oportunidades formativas. Favorecer o es-tudo e o desenvolvimento de habilidades sociais, no caso

Projeto de Complementação Educacional sobre Habilidades SociaisUnidade Nepomuceno

específico do projeto em foco, também é uma forma de ir além do desenvolvimento de competências técnicas e pro-fissionais, nesse contexto, abrangendo o aspecto humano e interpessoal.

O projeto “Habilidades sociais no contexto do ensino profis-sional” tem como objetivo principal introduzir e incentivar a discussão sobre a importância do desenvolvimento de habilidades sociais na formação tecnológica. A literatura especializada (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2005) aponta que um indivíduo que possui um repertório rico desse tipo de habilidade pode modular sentimentos, pensamentos e ati-tudes, de forma condizente com o contexto, a fim de me-lhorar seu desempenho em uma tarefa, sua autoimagem e a qualidade das suas relações pessoais. Sendo assim, é interessante incentivar a discussão sobre a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades sociais direcionadas aos alunos, no intuito de agregar conhecimentos úteis a sua vida acadêmica e ocupacional.

Para tal, o trabalho é desenvolvido a partir de estudos re-lacionados ao tema, visando reunir conhecimentos sobre algumas habilidades principais pertinentes aos alunos do ensino técnico, como assertividade, empatia, autocontrole, capacidade de solucionar problemas etc. Além de pesquisa

NELSON NUNES

teórica, as alunas bolsistas planejam e executam oficinas so-bre as habilidades consideradas, direcionadas à comunida-de discente interessada, além de serem incentivadas a refle-tir e exercitar as suas próprias habilidades sociais. De forma geral, a ideia do projeto é sistematizar as informações sobre o tema, possibilitar o acesso a este tipo de conhecimento às estudantes bolsistas, incentivar a sua reflexão e a aplicação prática, bem como disseminar o conhecimento adquirido para a comunidade discente da Unidade Nepomuceno do CEFET-MG.

Sendo assim, a vinculação das alunas bolsistas a este projeto de Bolsa Complementação Educacional permite um aperfei-çoamento social paralelo às atividades educacional, porém que incide diretamente no seu desempenho acadêmico. O próprio Ministério da Educação reconhece e pretende esta-belecer melhor, por meio de financiamento de projetos, o impacto de competências socioemocionais no aprendizado escolar (FAJARDO, 2014).

Este projeto justifica-se pela grande exigência de demandas originadas pelo ingresso e permanência no ensino profissio-nal, no que se refere a comportamentos e atitudes dos estu-dantes, no sentido acadêmico e vivencial. O conhecimento sobre habilidades sociais pode propiciar aos estudantes bol-sistas e aos demais a reflexão sobre a própria conduta, no sentido avaliativo, e a busca pelo desenvolvimento de com-petências sociais exigidas nessa etapa escolar e no percurso profissional futuro. Sendo assim, o projeto é relevante por propiciar a complementação da aprendizagem dos alunos envolvidos em conhecimentos importantes para o seu de-senvolvimento acadêmico e, sobretudo, interpessoal.

A tarefa de supervisionar um projeto de Bolsa de Com-plementação Educacional parte do pressuposto do en-tendimento da assistência estudantil como uma política relevante no sentido de minimizar desigualdades sociais e democratizar as oportunidades de aprendizagem. Assim, o supervisor e demais envolvidos na execução de projetos dessa natureza devem estar comprometidos com a forma-ção integral dos estudantes bolsistas, com a minimização das dificuldades acadêmicas e com o incentivo a vivências inovadoras educativas. Acompanhar o aluno sistematica-mente nas ações propostas e dar o suporte necessário pos-sibilitam a percepção de um desenvolvimento significativo tanto na postura do estudante, quanto no seu domínio dos conhecimentos trabalhados. Além disso, o projeto também

permite a aprendizagem dos supervisores de novos mo-delos de interação, de disseminação de informações, de acompanhamento e avaliação da aprendizagem.

No caso do projeto “Habilidades sociais no contexto do en-sino profissional”, foi possível perceber a relevância do tema e a necessidade de maior divulgação desse tipo de informa-ção na educação tecnológica. Além de profissionais com-petentes tecnicamente, é desejável a formação de cidadãos habilidosos na vivência emocional e social, no sentido de favorecimento do próprio bem-estar, no enriquecimento das relações interpessoais e no domínio de estratégias que favoreçam o alcance dos objetivos profissionais.

Como resultados preliminares do projeto, podemos apon-tar a identificação de uma classe de habilidades relevantes para o ensino profissional, o desenvolvimento pessoal das estudantes envolvidas diretamente no projeto e a realização de oficinas de disseminação do conhecimento para demais alunos. Até o momento, foi possível perceber um aprimora-mento das competências sociais, principalmente das alunas bolsistas, no sentido da aquisição de maior desenvoltura em situações interpessoais de forma geral, o que contribui para outros avanços pessoais em diversos aspectos da vida.

REFERÊNCIAS

CEFET-MG. Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) 2011-2015. Organizadores: OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sa-les; BAPTISTELLA, Anadel Aparecida; FERRÃO, Ramon Au-gusto. Belo Horizonte, 2012.

CEFET-MG. Relatório de Gestão do Exercício de 2013. Belo Horizonte, 2014.

CEFET-MG. Regulamento do Programa Bolsa de Comple-mentação Educacional. s/d.

DEL PRETTE, Zilda A P.; DEL PRETTE, Almir. Psicologia das Habilidades Sociais na Infância: Teoria e Prática. Petrópo-lis, RJ: Vozes, 2005.

FAJARDO, Vanessa. G1/ Educação. MEC Vai Criar Bolsa para Estudar Competências Emocionais dos Alunos. São Paulo, 25/03/14. Disponível em: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2014/03/mec-vai-criar-bolsa-para-estudar-compe-tencias-emocionais-dos-alunos.html. Acesso: 19/09/14.

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Joel Lima Professor do Departamento de Engenharia de Materiais

Minha história com a Bolsa de Complementação Educacio-nal (BCE) iniciou-se antes da própria BCE. Sou professor da escola há 24 anos (entrei em 1991). Desde que tive a opor-tunidade de ter bolsistas de trabalho dentro do Laboratório de Fundição, apresentei projetos para tê-los comigo. Antes, não era necessário apresentar um projeto, precisava sim-plesmente solicitar o bolsista. Hoje, temos uma modalidade onde você apresenta um projeto que é julgado para depois, se aprovado, você receber o bolsista.

Esse programa é muito interessante, porque o aluno é se-lecionado em função de fatores socioeconômicos. Quando estudante do CEFET-MG, na década de 1980, tinha muita dificuldade em me manter. Estudava no curso diurno, vim de uma família muito pobre e muitas vezes passava o dia no CEFET-MG mal alimentado, sem condições de alimentação. Se na minha época tivéssemos um programa como esse, certamente minha formação seria outra, meu aproveita-mento escolar seria outro e a própria vida da minha família seria mais facilitada. Muitas vezes, tive que andar grande distância a pé, porque usava o dinheiro que tinha para o ônibus em um lanche. Tinha que optar: ou lanchava ou an-dava a pé. Muitas vezes optei por andar a pé para lanchar.

O que posso falar nesses anos de experiência é que a bolsa tem mudado a vida de muitos bolsistas, que atualmente re-cebem um valor (R$ 520,00) que muitas vezes excede aqui-lo que é o ganho da família, do pai ou da mãe. Além disso, ele tem alimentação no CEFET-MG. É um programa muito interessante pra os alunos que têm dificuldades econômi-cas, mesmo que momentâneas. É um valor financeiro que vem suprir as necessidades do aluno e algumas vezes até de sua família. Por outro lado, ele tem a oportunidade de de-senvolver atividades no laboratório que vão aproximá-lo da realidade do que irá fazer na sua vida profissional dentro do que está estudando. No nosso caso, as áreas de Mecânica, Eletromecânica e também Mecatrônica, que normalmente são as bolsas oferecidas no Laboratório de Fundição, apesar de hoje termos também bolsistas da área ambiental, que desenvolvem um projeto de adequação ambiental do labo-

ratório à legislação e às boas práticas ambientais.

Muitos alunos, ao desenvolver esse trabalho, passam a ter a convicção de que realmente escolheram a área certa, ou acabam descobrindo no curso uma afinidade maior com áreas relacionadas às atividades durante o tempo de bolsa.

A maioria desses bolsistas desenvolveu trabalhos que nos permitem ter um laboratório em pleno funcionamento. Os alunos foram responsáveis pelo cuidado e reparo de muitos equipamentos que estavam parados ou necessitavam de manutenção corretiva. O laboratório ganhou, o CEFET-MG ganhou e os alunos que têm o setor em pleno funciona-mento também ganham com isso. Temos vários exemplos em que o bolsista desenvolveu uma atividade fundamental para preservar o equipamento e o laboratório.

Direito de se dedicar ao aprendizado

Vou exemplificar situações em que houve uma transforma-ção do bolsista BCE durante a passagem pelo programa. Há alguns anos, tivemos um aluno que tinha a idade acima da média do curso, cerca de 36 anos, numa turma com média de 18 anos. Esse estudante tinha todo um histórico profis-sional de atividades braçais e profissões sem qualificação específica e ele enxergou que o curso técnico poderia ser uma forma de mudar sua vida. Quando entrou no curso, abandonou o mercado de trabalho para estudar e passou a ter dificuldades para se manter. A dificuldade foi percebida por professores, coordenadores e pelo pessoal da Seção de Assistência Estudantil (SAE, antiga nomenclatura da Coor-denação de Política Estudantil – CPE). O aluno foi colocado em um projeto no laboratório e, além de atualizar e cuidar da manutenção do local, teve tempo para se dedicar aos estudos. Era um discente que apresentava dificuldades de compreensão das disciplinas técnicas, porque há muito dei-xara de estudar e, a partir do momento em que foi inserido no programa passou a ter um recurso financeiro para sua manutenção e a conciliar o trabalho com os estudos, dedi-cando maior tempo aos estudos, mesmo quando estava em atividade dentro do laboratório. Esse aluno, posteriormen-te, saiu daqui com a oportunidade de estágio já na função de técnico de mecânica.

Um laboratório e alunos transformados pela Bolsa de Complementação Educacional

Tivemos ainda o caso de um aluno que veio de família muito humilde. A mãe era servente de escola municipal na Grande Belo Horizonte, e o pai ele não conhecia. Esse aluno também tinha dificuldade em se manter na escola. Essa dificuldade foi detectada pela CPE e o estudante foi encaminhado para o projeto. Ele trabalhou durante dois anos pela BCE e mais algum tempo como voluntário e hoje é um profissional téc-nico trabalhando em uma multinacional com um salário aci-ma da média, porque, segundo a própria empresa, tem um diferencial em relação aos demais profissionais e ex-alunos formados na mesma época. Acredito que esse diferencial é o trabalho realizado aqui. Trabalhos que envolvem, muitas vezes, a manutenção, trabalhos operacionais, mas que são sempre precedidos de planejamento, sempre é necessário le-vantamento de custos, contatos externos com fornecedores de peças e equipamentos e elaboração de relatórios. E nesse aspecto o bolsista se dedicava bastante. Outro detalhe é que o laboratório recebe, com frequência, visitantes, muitos de outros países. Esse estudante sentiu a necessidade de falar inglês. Estudava inglês numa escola de periferia, mas apro-veitava o tempo na bolsa para estudar, além das disciplinas do curso, inglês. E toda vez que recebíamos um visitante que se comunicava na língua inglesa pedia a oportunidade de apresentar o laboratório. Tenho a grata surpresa de saber que ele recebe visitantes de outros países na empresa atual e isso dá a ele um destaque maior do que o que tem por desem-penhar bem suas funções e por ser um técnico diferenciado.

Há também o caso de recém-formados que, por passar pela bolsa, quando colocados em atividades diferentes dentro das organizações, muitas vezes demonstram ter uma preparação maior do que as empresas estão acostumadas a perceber nos demais técnicos. Aqui, eles têm essas outras atividades que estão correlacionadas com as de manutenção e organi-zação do laboratório. Isso dá ao estudante uma visão maior do que é o mercado de trabalho e aproxima-o da realidade do mercado. Claro que o aluno que é bem-sucedido nessas atividades acaba levando essa capacidade de resolver esses tipos problemas também nas organizações onde atua.

Outro aspecto interessante na BCE é que o aluno que tem problemas socioeconômicos, mesmo que sejam ocasionais, temporários, tem muita dificuldade de apresentar esse tipo de problema dentro da sociedade e da escola. Ele normal-mente está com a autoestima muito baixa, mas, quando tem a oportunidade de entrar no programa BCE, percebemos ni-tidamente que a autoestima se eleva e, quando ela se eleva,

ele ganha forças inclusive para superar essas dificuldades históricas ou momentâneas, porque passa a ter um recur-so e se sentir útil. O que temos visto ao longo desses anos é a bolsa transformando. O emocional e o psicológico ficam melhor e, com isso, o aproveitamento desse estudante e seu relacionamento com a sociedade são melhores. E, com certe-za, esse aluno que passa por dificuldades financeiras ganha força para mudar sua condição. Ele tem a oportunidade de desenvolver e atuar no curso que vai lhe dar uma profissão e tem uma oportunidade de fazer isso de uma forma bem feita.

Também é necessário que o objetivo da bolsa e sua moda-lidade (Bolsa de Trabalho) sejam enfatizados. O perfil e a condição do aluno normalmente exigem uma atenção que o professor pesquisador nem sempre está preparado para dar. Temos como lema que a prioridade do bolsista BCE é estudar, estudar, estudar e, consequentemente, ter um bom desempenho escolar. O projeto é desenvolvido sem conflito com sua formação/estudos, pois exige a aplicação de vários conteúdos do curso que, se bem compreendidos, serão mais bem aplicados. Temos informações de alunos do curso técnico que foram bolsistas e hoje são graduados em engenharia com mestrado e respeitados profissionalmente.

O projeto tem que ser bem divulgado, pois quem passa por dificuldades socioeconômicas muitas vezes têm dificuldade em se manifestar, de apresentar e declarar essa dificuldade para os demais. A CPE tem que fazer um trabalho de pros-pecção, de achar essas pessoas em dificuldade para propi-ciar-lhes uma oportunidade de mudança.

Na BCE, somos orientadores/supervisores e temos que estar atentos ao aluno, ao estudante, ao ser humano com carên-cias socioeconômicas, problemas familiares e emocionais e que precisam de apoio para estudar e adquirir boa forma-ção profissional e diretrizes para uma mudança de vida.

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Depoimentos Depoimentos

2004Michael do Nascimento – BH, 3 de setembro de 2004

A Bolsa de Complementação Educacional teve fundamental importância em minha formação, pois realizei diversas atividades correlatas ao meu curso, servindo como aprimoramento das disci-plinas curriculares. Tive a oportunidade de uma melhor interação com os professores e funcioná-rios, o que contribuiu em melhoria na minha relação interpessoal, uma vez que já venho buscan-do me preparar para o mercado de trabalho que a cada dia se torna mais competitivo.

Outro fator relevante é a ajuda financeira, que teve grande importância para minha permanência e manutenção no curso, pois, por estudar no período diurno, não tive oportunidade de estágio.

Esse programa ajudou muitos, ajudou-me e espero que ainda ajude outros, que, passando por dificuldades, encontrem nele uma forma de amenizar os problemas, seguindo com grande afinco na conquista de seus ideais.

No mais, agradeço e parabenizo toda a equipe do SAE, juntamente com os professores Wanderlei F. de Freitas, Ezequiel de Souza C. Júnior e Joel Romano Brandão pelo acompanhamento durante minha estada no estágio.

Júlio Rodrigo Freira da Silva – Transporte e Trânsito

Entrei no programa no fim de agosto de 2002, quando fui selecionado para estagiar na Coorde-nação de Transportes [...]. Nesse período em que estive estagiando na coordenação, tive a opor-tunidade de atuar diretamente na realização da II Semana de Trânsito do CEFET-MG e realizar dois cursos básicos relacionados à topografia, sendo um de Topograph (programa de desenho topográfico) e um de levantamento topográfico por GPS (Global Position System).

Pontos positivos:• otimização de aprendizagem dentro da instituição e fora dela;• oportunidade de conhecer novas pessoas como alunos e profissionais;• oportunidade de concluir meu curso, pois, se não tivesse sido contemplado pelo programa, teria

sérias dificuldades em fazê-lo.

Portanto, o programa contribuiu para mais um cidadão ter acesso a oportunidades no campo pessoal e profissional.

Ao se desligar da Bolsa de Complementação Educacional (BCE), os bolsistas avaliam a própria participação no programa. Garimpamos alguns depoimentos que exem-plificam como a trajetória na BCE pode mudar a perspectiva de vida dos envolvidos.

Guilherme Oliveira Souza – Informática – 24 de março de 2004

A participação no programa Bolsa de Complementação Educacional foi de fundamental impor-tância para minha história no CEFET-MG, já que, se não fosse ela, minha permanência na institui-ção seria dificultada e, possivelmente, interrompida, por falta de condições econômicas. Prova-velmente, eu não concluiria meu curso de Informática Industrial.

A Bolsa de Complementação Educacional me concedeu suporte financeiro, além de ampliar a re-lação entre conhecimento teórico e sua aplicação. Com um programa de atividades correlatas ao curso foi possível desenvolver vários projetos e atividades aperfeiçoando o conhecimento técnico.

Joubert Cristiano Alves da Silva – Eletromecânica

Em um ano e três meses presenciei alguns aspectos desse programa que contribuíram direta ou indiretamente na trajetória de minha vida. Posso destacar alguns pontos positivos e negativos, mas nunca conseguirei documentar as experiências vividas nesse período.

Rendimento mais acentuado em sala de aula:No começo do curso, trabalhava em uma empresa que consumia todo o tempo do meu dia, não deixando espaço para uma dedicação diária para o curso. O desgaste aumentava com o passar do tempo, resultando em um péssimo rendimento em sala de aula. Os principais sintomas do cansa-ço eram sonolência durante as aulas, dentro do ônibus e estresse. Confesso que cheguei a dormir várias vezes no ônibus e passar do ponto de destino, necessitando pagar outra passagem para chegar em casa. Quando comecei a fazer parte do programa, os resultados foram surpreendentes, com ótimo rendimento no curso.

Pesquisa:Trata-se de um projeto desenvolvido no decorrer do programa. Esse projeto ampliou meus conhe-cimentos, acrescentou novas experiências, o que eu não teria conseguido durante o curso técnico de Eletromecânica, por exigir uma fundamentação teórica maior e análises práticas desenvolvidas em laboratório.

2005Marcelli Cristina de Oliveira Correia – Turismo

Através da SAE, tive a oportunidade de trabalhar na Seção de Atividades Culturais do CEFET-MG (SAC), colocando em prática o que aprendi dentro de sala, pois, por ser estudante de turismo, uma das funções é trabalhar com eventos. Dentro desse setor, fiquei responsável pelo marketing e relações públicas, ou seja, teria que divulgar os eventos, receber convidados, organizar o evento no dia de sua realização e, às vezes, sair para alguma área externa do CEFET-MG para resolver questões relacionados a ele.

Cada evento realizado era um aprendizado, pois pude desenvolver técnicas que eu mesma nem sabia que tinha, como liderança de equipe, flexibilidade, visibilidade, responsabilidade e obediên-cia no trabalho.

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Por se tratar de um setor que trabalha diretamente com pessoas, tive um pouco de dificuldade por ser tímida, mas, com o passar do tempo, fui me desinibindo e hoje não tenho dificuldades em falar em público e nem ao telefone. No setor, participei da organização (cerimonial) de palestras, recitais, lançamentos de livros, projetos, jornal e site, exibições de cinema comentado, teatros, exposições, oficinas e shows.

Giovanni Gomes da Silva – Informática- 1º de março de 2005

Meu objetivo ao ingressar no curso técnico de Informática Industrial do CEFET-MG era vencer a di-ficuldade que uma pessoa sem experiência profissional tem de se inserir no mercado de trabalho. Estou realizando o curso cheio de perspectivas em relação a isso, pois essa Instituição de ensino tem grande reconhecimento na formação de técnicos.

Um dos motivos pelo qual posso comemorar essa etapa importantíssima da minha vida é a par-ticipação nos programas da SAE, principalmente o Bolsa de Complementação. Esse programa é muito importante, pois auxilia os alunos carentes com dificuldades de se manter estudando (o que não é nada barato), ao mesmo tempo em que propicia o contato direto com as práticas pro-fissionais do seu curso. Porém, quem participa desse auxílio tem uma agenda um pouco apertada e, possivelmente, suas notas terão uma queda devido à falta de tempo para se dedicar mais aos estudos. Isso é um problema muito pequeno se comparado aos problemas que enfrentaríamos caso a bolsa não existisse.

Gostaria de agradecer a Cláudia pela paciência e amizade e a Vera pela grande atenção que dis-pensa aos bolsistas. Desejo que o programa continue atendendo a muitos outros alunos, até que um dia não seja necessário esse tipo de auxílio no nosso país.

Fernando Araújo Lana – Meio Ambiente – agosto de 2005

São tantos os benefícios que obtive durante esse período de bolsista que não será possível nume-rar todos. Porém, entre eles, podem ser destacados:

• crescimento profissional, principalmente pelo fato de ter sido minha primeira experiência pro-fissional;• aperfeiçoamento das relações interpessoais, visto ter sido preciso trabalhar com pessoas de di-

ferentes personalidades e nível econômico, social, cultural e profissional;• aumento da responsabilidade, visto que o estágio é uma preparação para o mercado de trabalho

e hoje me considero mais apto a entrar nele do que antes de começar o estágio;• aperfeiçoamento técnico-científico, porque foi uma oportunidade de aprender na prática muito

do que é visto em sala de aula (mesmo assim, superficialmente);• aprendizagem de como trabalhar com pesquisas, devido ao fato de essa ter sido a principal

atividade desenvolvida;• paciência e persistência diante das situações enfrentadas, vários obstáculos a serem transpostos

para conseguirmos nossos objetivos.

Danilo César Leite Silva – Eletrônica

Minhas atividades como bolsista de complementação começaram em 24 de outubro de 2003 e se estenderam até 12 de fevereiro de 2005. Nesse período, minha vida profissional mudou comple-tamente diante das experiências que a bolsa me proporcionou, entre as quais, posso citar:

• ajuda de custo em relação às atividades escolares: possibilitou minha permanência na institui-ção no quesito financeiro;• contato íntimo com o lado profissional: foram-me apresentadas oportunidades para o aprendi-

zado e aperfeiçoamento em técnicas que carecem em muito de experiência prática que adquiri no meu curso, vindo, portanto, a complementá-las;• aprendizagem geral: aprendi o que hoje no mercado de trabalho se torna cada vez mais impres-

cindível, o foco no cliente. No laboratório, meus “clientes” eram os alunos usuários, onde a inte-ração e o auxílio eram imprescindíveis bem como postura e estrutura moral ante as dificuldades. Este, com certeza, foi um dos maiores aprendizados: Inteligência Emocional em relacionamentos “não-pessoais, mas coorporativos”;• contato com a estrutura administrativa e de prestação de serviços do CEFET-MG;• por último, mas não menos importante, os amigos que fiz entre os usuários, entre os bolsistas

e o coordenador do laboratório Araújo (a intimidade nos impede de tratá-lo como José Araújo).

Stael Maria José – Eletromecânica

A Bolsa de Complementação Educacional é uma forma de ajudar o aluno financeiramente e, ao mesmo tempo, permitir que ele aprenda mais sobre os conteúdos relacionados com seu curso. E o curto horário de trabalho não o atrapalha a estudar. Posso definir a bolsa como a melhor coisa que me aconteceu no CEFET-MG. Apareceu para mim no momento certo, pois estava com apenas um mês de curso e seria quase impossível conseguir um estágio, e assim não conseguiria cumprir com as despesas de passagens de ônibus, xerox e, principalmente, a obrigação de ajudar um pouco em casa.

Através da bolsa, conheci muitas pessoas, convivi com professores, funcionários e aprendi muitas coisas de elétrica e mecânica, ganhei um pouco de experiência, mas também me aprendi a rela-cionar melhor com as pessoas.

Depois de 14 meses, estou saindo da Bolsa de Complementação para aplicar um pouco do que aprendi no meu primeiro estágio. Fico grata a todo mundo que me ajudou de alguma forma e espero, sinceramente, que muitos alunos ainda possam ter a oportunidade de participar do pro-grama.

2006Wellington Júnior Camargo – Química

Em todo o período que estive na Bolsa de Complementação Educacional, no laboratório de Mi-neralogia, superei muitas dificuldades, como, por exemplo, a de falar em público. Tudo graças ao professor Pierre de Brot, meu orientador. Pela sua enorme experiência de vida me ensinou a ser uma pessoa mais organizada e responsável.

Depoimentos Depoimentos

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Thiago Martins Cunha – Química

A participação no programa Bolsa de Complementação Educacional, oferecido pela SAE, propor-cionou-me condições para continuar meus estudos e de apresentar um bom desempenho nas atividades estudantis.

A participação no programa propiciou também uma melhor aprendizagem em todos os segui-mentos da química, principalmente em Química Orgânica (setor de atuação) onde, no cumpri-mento das atividades da bolsa, tive a oportunidade de estudar, aprofundadamente, as reações de caracterização de compostos orgânicos com o fim de reuni-las em uma apostila a ser usada no módulo II do curso técnico em Química do CEFET-MG.

Isabel Maria Dias – Eletrônica – 1º de junho de 2006

Participar desse programa foi importantíssimo para mim, pois, além do auxílio financeiro do qual eu passei a precisar em certo período do curso, pude ampliar os conhecimentos que adquiri em sala de aula. Foi interessante ter que lidar com as responsabilidades a mim atribuídas devido à condição de aluna bolsista. Com isso, foi possível saber como é um ambiente de trabalho e qual é a postura de um estagiário diante de seu supervisor e demais colegas.

Tenho certeza de que a experiência que adquiri durante esse período irá contribuir e muito para meu desempenho em um estágio regular. Isso não se deve somente ao crescimento pessoal que tive, mas também à familiarização com as técnicas e trabalhos que se deve ter ao abrir e manipu-lar um equipamento a ser reparado.

Ao término das minhas atividades como aluna bolsista, posso dizer que me sinto satisfeita e feliz por ter sido beneficiada por esse programa e por saber que ele vai continuar ajudando outros alunos.

Deivisson Paulo Almeida – Eletrotécnica – 4 de dezembro de 2006

As atividades executadas como bolsista contribuíram para uma grande experiência prática na linha de minha formação profissional. Durante esse período de um ano e três meses, tive um grande crescimento profissional e pessoal. Aprendi a respeitar e obedecer às ordens de meus orientadores e supervisores, mesmo que eu não concordasse.

Minha participação como bolsista contribuiu para que o ponto de vista e as necessidades dos alunos fossem vistas, discutidas e resolvidas na visão de um próprio aluno e não somente por professores, técnicos-administrativos e pelo coordenador. Como na ordem hierárquica eu era o último, aprendi a ter um grande jogo de cintura para que minhas opiniões e sugestões fossem implementadas.

Agradeço todas aquelas pessoas que conviveram comigo e que me ajudaram de uma forma direta ou indireta. Que DEUS abençoe a todos.

Depoimentos

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