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1 31 de julho 2015 Índice Sumário Índice ....................................................................................................................................................................... 1 Diálogo inviável ......................................................................................................................................................... 4 Há uma diferença tão abissal entre o que os ex-presidentes FHC e Lula pensam hoje para o País que uma conversa entre os dois tornou-se impossível ........................................................................................................................ 4 A turma de Dilma no eletrolão .................................................................................................................................. 9 Investigação do esquema de propinas chega às elétricas e se aproxima personagens muito próximos da presidente, como o ministro Aloizio Mercadante, a antiga auxiliar Erenice Guerra e o diretor da Eletrobras, Valter Cardeal .................................................................................................................................................................. 9 O almirante põe a Marinha na Lava Jato .................................................................................................................. 12 Considerado uma referência em estudos sobre o uso de combustível nuclear, Othon Pinheiro, preso na última semana acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina, leva a força naval ao epicentro do Petrolão .................. 12 Os fantasmas de agosto .......................................................................................................................................... 14

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Revista Isto é, de 31.07.2015

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31 de julho 2015

Índice

Sumário Índice ....................................................................................................................................................................... 1

Diálogo inviável ......................................................................................................................................................... 4

Há uma diferença tão abissal entre o que os ex-presidentes FHC e Lula pensam hoje para o País que uma conversa

entre os dois tornou-se impossível ........................................................................................................................ 4

A turma de Dilma no eletrolão .................................................................................................................................. 9

Investigação do esquema de propinas chega às elétricas e se aproxima personagens muito próximos da

presidente, como o ministro Aloizio Mercadante, a antiga auxiliar Erenice Guerra e o diretor da Eletrobras, Valter

Cardeal .................................................................................................................................................................. 9

O almirante põe a Marinha na Lava Jato .................................................................................................................. 12

Considerado uma referência em estudos sobre o uso de combustível nuclear, Othon Pinheiro, preso na última

semana acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina, leva a força naval ao epicentro do Petrolão.................. 12

Os fantasmas de agosto .......................................................................................................................................... 14

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Mês trágico para a política brasileira pode selar o destino da presidente Dilma, que enfrentará a abertura de CPIs

no Congresso, o julgamento de suas contas no TCU e uma manifestação recorde em favor do impeachment ..... 14

O apagão das pesquisas científicas .......................................................................................................................... 16

Governo corta 75% das verbas para a pós-graduação, ameaça o trabalho de pesquisadores e coloca em risco a

evolução acadêmica do País ................................................................................................................................ 16

O matador americano ............................................................................................................................................. 18

Ao executar o leão símbolo nacional do Zimbábue após pagar US$ 55 mil, dentista dos EUA se torna o inimigo

público número um ............................................................................................................................................. 18

Uma medida que para São Paulo ............................................................................................................................. 20

Por que a polêmica redução das velocidades nas marginais não irá melhorar o trânsito nem reduzir os acidentes

na maior cidade do país. Apenas atrapalhará ainda mais a vida do paulistano ..................................................... 20

A degradação de Roma............................................................................................................................................ 23

Uma das cidades mais visitadas do mundo sofre com a decadência dos serviços públicos, escândalos de corrupção

e até uma infestação de ratos na lendária Fontana di Trevi ................................................................................. 23

Sorte nos negócios e no amor ................................................................................................................................. 25

O olhar oblíquo de Isabeli Fontana, espécie de sua marca registrada, está, agora, mais focado do que nunca. É que

ela vai realizar dois sonhos antigos: ser escritora e empresária ............................................................................ 25

Olimpíada 'tipo' Lego ............................................................................................................................................... 25

O Comitê Olímpico Internacional vai recomendar que as próximas cidades-sede da Olimpíada sigam o modelo de

"Arquitetura Nômade", aplicado no Rio, palco do evento no ano que vem .......................................................... 25

arem as máquinas ................................................................................................................................................... 26

Uma nobre igual ao povão - pelo menos, na implacável passagem do tempo. A Duquesa de Cambridge, Kate

Middleton, está no centro de uma polêmica iniciada pelo antigo cabeleireiro da princesa Diana, Nicky Clarke .... 26

POW! BANG! SOC!................................................................................................................................................... 26

As duas maiores lutadoras do UFC, a brasileira Bethe "Pitbull" Correia e a americana Ronda Rousey se enfrentam

também fora do octógono ................................................................................................................................... 26

"A paisagem do Brasil é essa" .................................................................................................................................. 27

A rainha da MPB Maria Bethânia virou súdita: "Para mim, Dona Ivone é como Nelson Cavaquinho, como Cartola

............................................................................................................................................................................ 27

Meditação para aplacar o vício do fumo .................................................................................................................. 27

Pesquisas - entre elas uma brasileira - comprovam que a terapia é capaz de fortalecer o autocontrole e impedir a

volta da dependência .......................................................................................................................................... 28

A vacina que o mundo esperava .............................................................................................................................. 30

O anúncio do primeiro imunizante 100% eficaz contra o Ebola renova a esperança de que não haja mais

epidemias ............................................................................................................................................................ 30

O risco chinês .......................................................................................................................................................... 31

Tombo na bolsa de valores de Xangai acende o alerta para a desaceleração da maior economia do mundo ........ 31

Crianças e adolescentes viajando sozinhos .............................................................................................................. 34

Eles podem, sim, voar desacompanhados. Mas os pais precisam ficar atentos à documentação necessária e aos

serviços de acompanhamento das companhias aéreas para evitar frustrações na hora do embarque.................. 34

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Obama cutuca a África ............................................................................................................................................ 35

Em viagem de cinco dias ao continente, o presidente americano critica a corrupção, a falta de democracia e o

tratamento dado às mulheres ............................................................................................................................. 35

Arte nos celulares .................................................................................................................................................... 36

Museus dos EUA se valem de aplicativos e memes para despertar o interesse dos jovens pelos mestres da pintura

............................................................................................................................................................................ 36

Os pais da Guerra Fria ............................................................................................................................................. 37

Livro de historiador americano analisa os seis meses de 1945 que redesenharam a geopolítica mundial e

conduziram Estados Unidos e União Soviética a protagonizar um tenso e longo conflito ..................................... 37

Nas letras da fé ....................................................................................................................................................... 39

Um dos arautos brasileiros da Teologia da Libertação, corrente filosófica cristã que prega a opção pelos mais

pobres, Frei Betto lança dois livros distintos, mas com a religião e a espiritualidade como eixo em ambos .......... 39

Atormentado garoto da praia .................................................................................................................................. 41

Com previsão de estreia para 6 de agosto, o filme "Love & Mercy" conta a turbulenta história de Brian Wilson,

líder do grupo californiano Beach Boys ................................................................................................................ 41

Meu nome é Cait ..................................................................................................................................................... 42

Depois de se assumir publicamente como uma mulher transgênero, Caitlyn Jenner, antes chamada de Bruce,

estreia "I am Cait", série de oito episódios no canal E! que acompanha os passos da sua transformação, no dia 2

de agosto ............................................................................................................................................................ 42

Batuque pernambucano .......................................................................................................................................... 42

"De Baile Solto", lançado pela Ybmusic, é o segundo álbum solo do pernambucano Siba e vem para torcer a língua

de quem diz que a música brasileira já não tem a mesma criatividade ................................................................. 42

Ela estará entre nós ................................................................................................................................................. 43

Em sua primeira passagem pelo Brasil, Carla Bruni apresenta o quarto álbum de sua carreira, "Little French

Songs", em show no dia 26 de agosto, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Os ingressos vão de R$ 160 a R$ 480 . 43

Leonardo/Chagall/Cartas ......................................................................................................................................... 44

Confira os destaques da semana ......................................................................................................................... 44

Gênios da lâmpada .................................................................................................................................................. 45

Exposição faz um panorama da arte contemporânea mundial a partir de um passeio pela história da ciência nos

últimos 150 anos ................................................................................................................................................. 45

Novos navios negreiros ........................................................................................................................................... 47

Africa Africans/ Museu Afro Brasil, SP/ até 30/8 .................................................................................................. 47

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Diálogo inviável Há uma diferença tão abissal entre o que os ex-presidentes FHC e Lula pensam hoje para o

País que uma conversa entre os dois tornou-se impossível Sérgio Pardellas ([email protected])

No final da década de 70, FHC e Lula eram tão afinados que pareciam

tocar de ouvido. Mas a radicalização do comportamento do petista, nos

últimos tempos, aprofundou as divergências entre eles tornando-as

inconciliáveis

Forjados no mesmo berço político, a esquerda paulista, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz

Inácio Lula da Silva são uma espécie de irmãos Karamázov da política brasileira. Como os personagens do

romance de Dostoiévski, FHC e Lula reuniram predicados e exibiram visões de mundo que os aproximaram

no passado. Em 1978, primeiro ano das greves do ABC, Lula chegou a participar da campanha de FHC ao

Senado. O então líder sindical foi quem apresentou o acadêmico às portas de fábrica. Juntos, panfletaram

pelas ruas de São Paulo. Embora estivessem unidos no começo de suas vidas públicas, os dois, como os

irmãos Karamázov, nunca mais convergiram na forma de pensar política. Há pelo menos duas décadas, FHC e

Lula trilham caminhos opostos e defendem idéias e projetos completamente distintos para o País. Nos últimos

tempos, distanciaram-se de tal maneira que inviabilizou qualquer diálogo entre os dois sobre o futuro do

Brasil, como o imaginado e proposto há duas semanas por Lula.

Os reais propósitos do petista, ao planejar o encontro, ilustram bem o abismo existente hoje entre os dois

principais líderes do País. Atualmente, enquanto Fernando Henrique apresenta alternativas para livrar o Brasil

da crise política e econômica e demonstra preocupação com a manutenção do equilíbrio entre os poderes e

com a saúde das instituições, Lula manda às favas as boas práticas republicanas. O petista articula nos

bastidores toda a sorte de pressões sobre órgãos do Legislativo e Judiciário, como o TCU e o STF, onde o

destino da presidente Dilma Rousseff será jogado no próximo mês. No Instituto Lula, transformado em

bunker desde sua saída do poder, o ex-presidente orienta correligionários a trabalhar no Parlamento contra a

rejeição das contas de 2014 do governo, caso o TCU as reprove e o assunto ganhe o rumo do Congresso, foro

capaz de propor o impeachment de Dilma. A reunião com FHC faz parte deste contexto. Hoje, o pretenso

diálogo buscado por ele com a oposição tem como único e real objetivo a tentativa de salvar a pele de Dilma,

às voltas com a ameaça de afastamento, e a de si próprio. Diante de um erro tão surpreendente quanto

primário do petista, qual seja, o de apresentar uma proposta com evidentes traços oportunistas num momento

de fragilidade de uma presidente que ele próprio legou ao País, coube a FHC elevar o patamar do debate. “O

momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não

pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo”, afirmou o tucano.

Curiosamente, as trajetórias de Lula e FHC contrastam na imagem apresentada e deixada por eles durante a

chegada ao Planalto e o desembarque do poder. O ex-presidente Lula saiu da Presidência muito maior do que

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entrou. Depois de vencer as desconfianças iniciais, recuperou a credibilidade do País, consolidou os pilares

macroeconômicos e aprofundou o processo de inclusão social, saindo do Planalto com uma popularidade

colossal – a maior registrada entre os presidentes no pós-redemocratização. O apoio da população à sua gestão

se traduziria nas urnas com a eleição da escolhida por ele para ser a sua sucessora, a presidente Dilma

Rousseff. Com FHC deu-se o inverso. Sociólogo respeitado e eficiente ministro da Fazenda de Itamar Franco,

o tucano elegeu-se sem necessidade de segundo turno na esteira do retumbante sucesso do Plano Real,

responsável pelo fim da inflação e estabilização da economia. O conturbado processo de aprovação da emenda

à reeleição, com fortes indícios de compra de votos, somado às controversas medidas adotadas pela área

econômica para manter a paridade entre o real e o dólar até a nova eleição foi proporcional à crise provocada

pela consequente brusca desvalorização da moeda. Resultado: em 2002, FHC deixou o País à beira de uma

crise. Portanto, menor do que entrou. Na campanha, o designado para sucedê-lo, então ministro da Saúde, José

Serra, temendo perder votos, não se constrangeu em escondê-lo do programa eleitoral na TV. O resto da

história todos sabem. Na eleição, o sucessor de FHC foi derrotado por Lula.

Em 1978, o líder sindical participou ativamente da campanha do acadêmico para

o Senado. Os dois panfletaram juntos pelas ruas de São Paulo Hoje, aos 84 anos, FHC se redime de equívocos passados. Distinguindo-se de Lula no modo de pensar e agir,

como também nos projetos desenhados para o País, o presidente de honra tucano comporta-se como estadista

que, até pouco tempo, o petista parecia ser. Mesmo sem exercer cargo público há 12 anos, Fernando Henrique

tornou-se uma das vozes mais equilibradas e lúcidas da atualidade. Desde 2007, integra a The Elders,

colegiado idealizado por Nelson Mandela e composto por figuras de renome internacional como o ex-

presidente dos EUA, Jimmy Carter, o ex-secretário da ONU, Kofi Annan e o bispo anglicano Desmond Tutu.

O grupo destina-se a promover a defesa dos direitos humanos e buscar caminhos para a paz mundial. No

Brasil, FHC ministra palestras e, em seu Instituto, comanda debates onde busca alternativas para o País e a

América Latina. Em artigo publicado no último mês, conclamou o PSDB a se aprumar à esquerda, ao

condenar a aproximação do partido com as forças conservadoras do Congresso. Ao analisar um possível

pedido de impeachment contra a presidente Dilma, ponderou. “Em sã consciência, nenhum líder político

responsável deve propor como objetivo um impeachment. Por outro lado, também serão inconseqüentes se,

diante do aumento do protesto e do aparecimento de uma base jurídica, os líderes não assumirem a

responsabilidade de encaminhá-lo”, disse em recente entrevista. A oposição, para FHC, precisar ser

propositiva e apontar direções para o Brasil. “A oposição deve apoiar medidas do ajuste fiscal que lhe

parecerem necessárias. Ao mesmo tempo construir caminhos para a política econômica e para o jogo do

poder”. Do outro lado da trincheira, Lula, vidrado no objetivo de perpetuar no poder ele e sua obra, apequena-

se a cada átimo de tempo. Na eleição do ano passado, Lula manchou sua biografia ao endossar uma campanha

de baixíssimo nível baseada em mentiras e difamações. Num dado momento da refrega política, chegou ao

ponto de subir num palanque para insinuar que o adversário de Dilma tinha o costume de bater em mulher.

Na última semana, Lula ocupou as páginas do noticiário nacional e internacional emoldurando a notícia de

que passou a ser investigado pelo Ministério Público por tráfico de influência, depois de deixar a Presidência.

“Há sempre um problema no fato de um ex-presidente usar seus contatos, seu poder, para ajudar determinados

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interesses. Isso em si já traz implicações éticas”, diz Alejandro Salas, diretor de Américas da Transparência

Internacional. A interlocutores, recentemente, o petista admitiu temer ser preso em meio às investigações da

Lava Jato. Pessoas próximas a Lula já se encontram atrás das grades. De tão surrados, seus discursos já não

emocionam como em outros tempos. Pelo contrário. São recebidos com indignação por parcela expressiva da

população, tamanha a desfaçatez com que é pronunciado. As recentes pesquisas de intenção de voto mostram

a deterioração de sua imagem pública. Antes favoritíssimo para 2018, Lula figura a dez pontos percentuais

atrás do senador tucano, Aécio Neves – algo impensável até pouco tempo atrás. Para protegê-lo, o PT

prometeu repetir o tom belicista da campanha de 2014 no retorno do recesso do Congresso esta semana.

Atribuem as investigações do MP a uma ação orquestrada para atingir Lula. Das tribunas da Câmara e Senado,

os petistas planejam atacar governadores de oposição e cobrar que a Lava Jato também aprofunde

investigações sobre a relação das empreiteiras com governos do PSDB.

O comportamento mostra como o diálogo apregoado por Lula é implausível na atual circunstância política do

País. Mesmo assim, manifestações dos ministros Jaques Wagner, da Defesa, Edinho Silva, da Comunicação

Social, e Pepe Vargas, de Direitos Humanos, transmitiram a impressão de que o Palácio do Planalto avalizava

o movimento. “Sou plenamente favorável (ao encontro) e acho que isso deveria acontecer mais no Brasil. Nos

Estados Unidos, é a coisa mais normal do mundo ex-presidentes se reunirem, inclusive, a convite do

presidente em exercício”, disse Edinho. “Apesar da última campanha dura, não podemos deixar consolidar na

alma brasileira, e na política brasileira, uma dicotomia que não se conversa. Países que seguiram esse rumo

não tiveram grande destino”, fez coro Wagner. Como, na sequência, FHC colocou uma pá de cal no assunto,

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Dilma, em reunião no Planalto, classificou as articulações para o encontro com o tucano de “absurda”, numa

tentativa de demonstrar que nunca trabalhou por ele ou sequer almejou uma aproximação. A ser verídica esta

versão, trata-se de mais uma trombada entre Dilma e Lula, entre tantas colecionadas este ano.

A linha que hoje separa FHC e Lula e os acomodam em campos diametralmente opostos já foi tênue. Quando

debutaram na política, os dois pareciam tocar de ouvido, de tão afinados. Além de integrarem a mesma

campanha, no fim da década de 70, FHC e Lula dividiram mesas de bar e, entre risadas e perorações sobre o

futuro do País, até desfrutaram de um fim de semana numa casa de praia em Picinguaba, Ubatuba, litoral norte

de São Paulo, ao lado de suas respectivas mulheres. Antes de fundar o PT, em 1980, Lula discutiu com FHC a

criação de um partido socialista. A ideia não frutificou e cada um foi para um lado. Mesmo com o

recrudescimento dos discursos, e o antagonismo que marcou as disputas entre o PSDB e o PT nas últimas

quatro eleições, houve quem defendesse a união das duas legendas. Em 2005, o filósofo Renato Janine

Ribeiro, atual ministro da Educação, evocou a “grande coalizão” na Alemanha Ocidental de 1966, quando a

direita se aliou ao SPD (Partido Social-Demorata), para aventar a possibilidade de uma aliança entre PT e

PSDB – FHC e Lula. Em 2011, o embaixador Rubens Barbosa propôs a união entre tucanos e petistas durante

os cem primeiros dias de governo, para a aprovação de uma agenda mínima na qual os demais partidos

agregariam os votos para a formação de maioria qualificada de modo a aprovar reformas essenciais ao País

como a política, tributária, trabalhista e da previdência social. Mal sabia o embaixador, na ocasião, que quem

desceria ao nível mais rasteiro do debate, três anos depois, tornando inviável qualquer forma de entendimento

futuro, seria o ex-presidente petista, no vale-tudo pela reeleição de Dilma. Para o cientista político, Gaudêncio

Torquato, é por essas e outras que Lula revela incoerência ao propor um diálogo com os tucanos. “Durante

anos e anos, os petistas execraram o governo Fernando Henrique. Agora que o governo do PT se encontra

num ringue e a imagem da Dilma se deteriora cada vez mais, o Lula sugere um encontro com FHC?”,

questionou.

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A sórdida campanha de 2014 não seria o primeiro episódio em que Lula e o PT colocariam seus projetos

pessoais e de poder acima de interesses nacionais e do bom e salutar debate republicano. Em 1984, quando

percebeu que a emenda Dante de Oliveira, que decidiria sobre o restabelecimento das eleições diretas para

presidente da República no Brasil após 20 anos de regime militar, não seria aprovada no Congresso, as

principais lideranças política se aliaram em torno de Tancredo Neves, a quem coube liderar uma transição. O

PT preferiu ficar de fora.

A cena se repetiu na Constituinte de 1988, em 1993, quando os partidos se uniram em torno do vice Itamar

Franco, após o impeachment de Collor, e durante a concepção do Plano Real, quando petistas não só

opuseram resistência à nova moeda como ingressaram com ações na Justiça para inviabilizá-la. “Não é

possível que os brasileiros se deixem enganar por esse golpe que as elites aplicam na forma de um novo plano

econômico”, afirmou o ex-ministro Gilberto Carvalho na ocasião. Apostando no quanto pior melhor e

preocupado com as eleições seguintes, Lula seguiu na mesma toada. “Esse plano não tem nenhuma novidade.

Suas medidas refletem as orientações do FMI. Os trabalhadores terão perdas salariais de no mínimo 30%.

Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral, mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo

com o plano, haverá condições”. A história mostrou quem estava ao lado do País e quem defendia interesses

mais mesquinhos. Não à toa, as divergências, hoje, entre FHC e Lula são inconciliáveis. Como aquelas

nutridas pelos Karamázov.

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Colaborou Ludimilla Amaral

Fotos: Frederic Jean, Adriano Machado - Ag. Istoé, Nacho Doce/REUTERS; Wellington Pedro/Imprensa MG

A turma de Dilma no eletrolão Investigação do esquema de propinas chega às elétricas e se aproxima personagens muito

próximos da presidente, como o ministro Aloizio Mercadante, a antiga auxiliar Erenice

Guerra e o diretor da Eletrobras, Valter Cardeal Claudio Dantas Sequeira ([email protected])

Em julho de 2007, a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, reuniu alguns ministros num comitê que

tinha como missão fixar novas metas para o programa nuclear brasileiro. Aficionada às questões do setor

elétrico, Dilma puxou para si o papel de coordenadora do grupo. O trabalho resultou num plano que previa,

dentre tantas metas ambiciosas, a conclusão das obras da usina nuclear de Angra 3, paralisadas nos anos 80.

No comando operacional da empreitada estava o presidente da Eletronuclear, almirante Othon Pinheiro da

Silva, que se tornou na semana passada o principal alvo da 16ª fase da Operação Lava Jato. Othon, que estava

licenciado do cargo desde abril, quando surgiram os primeiros indícios de irregularidades, foi preso pela

Polícia Federal sob acusação de receber R$ 4,5 milhões em propinas pagas por empreiteiras integrantes do

consórcio responsável pela obra. Embora o militar tenha surgido como a face mais visível do esquema, a PF

tem elementos que podem fazer com que as investigações atinja outras personagens muito próximos da

presidente Dilma. “É possível que a gente chegue aos políticos”, disse o delegado Igor Romario de Paula.

NA ANTE-SALA DO PLANALTO

Aloizio Mercadante, Erenice Guerra e Valter Cardeal (da esq. para dir.)

deverão estar entre os investigados no Eletrolão Chegar aos políticos é quase um eufemismo. Ao mergulhar no setor elétrico, a PF vai bater na porta do

Palácio do Planalto. Não há um só projeto no setor elétrico que Dilma não tenha acompanhado de perto. Se

como presidente do Conselho da Petrobras a presidente alega que não tinha informações completas sobre o

que acontecia na estatal, dificilmente poderá dizer que desconhecia os rolos em Angra 3 ou na usina de Belo

Monte, os dois maiores investimentos do governo em geração de energia. Em ambos os casos, os

investigadores já têm indícios de envolvimento de gente de confiança da petista. Há informações, por

exemplo, de que boa parte dos contratos de equipamentos da mega hidrelétrica que está sendo construída na

bacia do rio Xingu era antes negociada num escritório de advocacia – ou lobby – abrigado num imponente

edifício de linhas modernistas e fachada de concreto na quadra 8 do Lago Sul, bairro nobre de Brasília.

O imóvel está situado a apenas uma quadra do escritório de advocacia de Erenice Guerra. E não é mero acaso.

Além da ex-ministra de Dilma, segundo investigadores, também frequenta o local o advogado Joaquim

Guilherme Pessoa e o empresário Marco Antonio Puig, ligado à empresa LWS envolvida numa investigação

de fraudes em contratos de informática nos Correios. Puig teria relação com o diretor da Eletrobras Valter

Cardeal, outro apadrinhado de Dilma.

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O consórcio construtor de Belo Monte é liderado pela Andrade Gutierrez em parceria com Odebrecht,

Camargo Correa, Queiroz Galvão e OAS, as mesmas do clube do bilhão, além de outras cinco menores. A PF

sabe que no mesmo local também eram negociados projetos para captação de investimento de fundos de

pensão e acertos para a anulação de multas fiscais no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), que

já é alvo de outra operação. Erenice, dizem os investigadores, também atuou na comercialização de energia.

Ela chegou a se associar informalmente ao ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau e ao lobista

Alexandre Paes dos Santos no Instituto de Desenvolvimento de Estudos e Projetos Econômicos.

O caso da usina de Belo Monte, orçada em R$ 30 bilhões, segundo um procurador da Lava Jato, se relaciona

diretamente com o de Angra 3. A força-tarefa obteve os primeiros indícios de que o esquema do Petrolão se

alastrara para o setor elétrico quando apreendeu com o doleiro Alberto Youssef a planilha de 750 obras

federais. Mais recentemente, em delação premiada, o ex-presidente da Camargo Corrêa Dalton Avancini

revelou detalhes sobre o superfaturamento das obras e pagamento de R$ 20 milhões em propinas a políticos,

por meio de empresas de fachada. Avancini citou como um dos beneficiários do esquema o diretor da

Eletronorte Adhemar Palocci, irmão do ex-ministro Antonio Palocci, que já é investigado em outro

procedimento da Lava Lato e foi um dos coordenadores da campanha de Dilma em 2010 – além de sministro

da Casa Civil. Adhemar era considerado intocável. Seu nome surgiu em 2009 na Operação Castelo de Areia.

Avancini também envolveu o nome de Flávio David Barra, presidente global da Andrade Gutierrez Energia,

que era seu interlocutor nas obras de Belo Monte. Barra foi preso com Othon na semana passada. A PF

cumpriu ainda 30 mandados de busca e apreensão na sede da Eletronuclear e outros imóveis residenciais e

comerciais em Brasília, Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo e Barueri. As prisões se basearam em

movimentações bancárias de empresas envolvidas no esquema e no depoimento de Avancini, que revelou a

existência de um acerto para pagamento de propinas ao PMDB e a funcionários da Eletronuclear em relação

às obras de Angra 3. Ele contou detalhes de uma reunião feita em agosto de 2014 e apontou Flávio Barra

como “o representante da Andrade Gutierrez que discutia valores a respeito da propina de Angra 3”, segundo

o procurador Athayde Ribeiro Costa.

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As obras civis de Angra 3 começaram em 1984, mas ficaram paralisadas por 25 anos. Foram retomadas em

2009 com previsão de aportes de R$ 7 bilhões. Nessa época, o presidente da Eletronuclear – que segundo a

Lava Jato já recebia propinas – defendia a retomada do contrato com a Andrade Gutierrez, mas o projeto

antigo não considerava uma série de parâmetros de segurança adotados mundialmente após o acidente nuclear

de Three Mile Island, na Pensilvânia (EUA), em 1979. As falhas de projeto foram denunciadas por ISTOÉ e

levaram os órgãos de controle a pressionarem o governo por uma reformulação do projeto.

Em última análise, foi necessário o lançamento de uma nova licitação. A concorrência foi vista pelas

empreiteiras do clube do bilhão como uma oportunidade para acertarem um novo negócio, elevando o custo

da obra de R$ 7 bilhões para R$ 15 bilhões. Segundo o MPF, a propina alcançaria o valor de 1% dos

contratos. No despacho que determinou as prisões, o juiz Sérgio Moro ressaltou que Othon Pinheiro da Silva

era ao mesmo tempo presidente da Eletronuclear e proprietário da Aratec Consultoria e Representações,

configurando um conflito de interesses.

Outro provável foco de irregularidades na área sob controle de Othon é o projeto do submarino nuclear, o

Prosub. Coube ao presidente da Eletronuclear a elaboração do projeto de aquisição de submarinos franceses.

O pacote orçado em R$ 28 bilhões inclui a compra de quatro Scorpéne de propulsão a diesel e o

desenvolvimento conjunto com a estatal DCNS de um modelo de propulsão nuclear, que será montado num

estaleiro em Itaguaí, no Rio. A Odebrecht foi escolhida pela Marinha para construir o estaleiro, mas não

houve licitação. Esse negócio foi conduzido por outro militar, o coronel Oswaldo Oliva Neto, irmão do

ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

A investigação do MPF reúne indícios de que Oliva Neto possa ter atuado como operador de Mercadante, que

ao assumir a pasta de Ciência e Tecnologia pressionou para a realização de uma nova licitação para Angra 3.

Coronel reformado, Oliva Neto ocupou até 2007 o cargo de chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos (NAE)

da Presidência. Desde então, ele reativou a Penta Prospectiva Estratégica e passou a prestar consultoria em

todos os grandes projetos do governo do PT na área de defesa, não só na compra dos submarinos, mas dos

helicópteros franceses EC-725 e em projetos da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Em 2010, Penta se

uniu à Odebrecht Defesa e Tecnologia, criando a Copa Gestão em Defesa. Depois foi adquirida a Mectron,

que igualmente firmou sem concorrência contrato com a Amazul Tecnologias de Defesa, estatal de projetos

criada por Dilma para atuar no Prosub. A Lava Jato puxará agora o fio desse novelo que pode levar a

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identificar possível tráfico de influência de Mercadante e eventual uso da empresa de consultoria de seu irmão

para recebimento de propina.

Foto: Regina Santos/Norte Energia

O almirante põe a Marinha na Lava Jato Considerado uma referência em estudos sobre o uso de combustível nuclear, Othon

Pinheiro, preso na última semana acusado de receber R$ 4,5 milhões em propina, leva a

força naval ao epicentro do Petrolão Claudio Dantas Sequeira ([email protected])

Nova personagem da investigação da Lava Jato, a Marinha havia sido mencionada pela primeira vez no

esquema numa negociata articulada pelo doleiro Alberto Youssef com o ex-deputado petista André Vargas. O

projeto de sociedade entre a Labogen, a EMS e o Laboratório da Marinha, para a produção de um “viagra

genérico”, previa investimento total de R$ 150 milhões. Renderia a ambos dinheiro suficiente para alcançar a

“independência financeira”, conforme revelou o doleiro numa mensagem de celular ao então parlamentar.

Descoberto, o plano fez água. Na época, a força-tarefa da Lava Jato debruçava-se sobre a atuação do petista e

do doleiro sem se preocupar com os motivos que levaram a Marinha a entrar naquele barco. Meses depois, a

Polícia Federal descobriu que o irmão de Vargas era sócio oculto de uma empresa que fechou mais de R$ 87

milhões em contratos com órgãos públicos, como Serpro, Caixa e o Ministério da Saúde, a IT7 Sistemas. Ante

estas constatações, procuradores e delegados passaram a se questionar quem estaria por trás da participação

militar no Petrolão. A prisão, na terça-feira 28, do almirante Othon Pinheiro da Silva ajuda a responder essa

pergunta. Mas também fazem surgir outras questões. Por que um militar de alta patente, aposentado, com uma

longa folha de importantes serviços prestados ao País, se envolveria nessa complexa rede de corrupção

revelada pela Lava-Jato?

OUTRA VERSÃO

Fontes da Marinha dizem que os R$ 4,5 milhões em propina

para Othon Pinheiro podem ser recursos destinados a ações

secretas de inteligência naval no exterior

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Na Marinha, segundo apurou ISTOÉ, fala-se que Othon delinqüiu para conseguir a tão sonhada tecnologia de

navegação do submarino nuclear para embutir o reator brasileiro. “Para fazer uma omelete é preciso quebrar

alguns ovos”, disse à reportagem um militar próximo ao programa nuclear. Ainda corre a versão, de acordo

com fontes da Marinha, de que os R$ 4,5 milhões pagos à Aratec, empresa em nome de Othon cujo nome é

inspirado no centro de pesquisas de Aramar, não foram propina provenientes de contratos de obras da Usina

Angra 3, no Rio de Janeiro., como afirmou a Polícia Federal ao prendê-lo na última semana. Os recursos

teriam sido destinados ações secretas de inteligência naval no exterior. Basicamente, dinheiro usado para

pagar informantes.

Se isso for verdade, a questão extrapolaria o âmbito do crime de corrupção para ganhar feições de um

escândalo envolvendo a segurança nacional. Claro que isso precisa ser bem investigado, pois pode apenas

tratar-se de uma estratégia de defesa do almirante. Seria uma espécie de releitura do que ocorreu no fim da

década de 70 e início dos anos 80 com o chamado programa nuclear paralelo, que tinha como objetivo a

construção de uma bomba atômica. Othon, que concebeu o projeto das ultracentrífugas de enriquecimento de

urânio, pertencia ao seleto grupo do programa, coordenado pelo cientista Rex Nazareth, o “pai da bomba”,

que no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ocupar uma cadeira no

Gabinete de Segurança Institucional da Presidência. Para financiar o programa nuclear paralelo, a Marinha

desviou recursos para contas bancárias secretas, as chamadas “contas Delta”, e realizou atividades de

espionagem no exterior – que incluíram EUA, Inglaterra, Alemanha, França e Holanda.

Formado em engenharia nuclear pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), Othon chefiou a

Coordenadoria para Projetos Especial da Marinha (Copesp) por 15 anos. Como se sabe, o Brasil não chegou a

desenvolver a “bomba”, mas conseguiu dominar o ciclo de produção do combustível atômico para uso

pacífico. No governo do ex-presidente Itamar Franco, surgiram novos indícios de problemas na administração

de verbas públicas. Não houve acusações. Em 1994, o almirante completou seu tempo de serviço militar e

entrou para a reserva. Voltou em 2005, pelas mãos de Lula, para presidir a Eletronuclear. Era intocável. Othon

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promoveu o plano de aquisição do Scorpéne, pois considerava como a última oportunidade para concluir seu

antigo projeto. A posição favorável ao submarino francês, porém, tinha forte oposição dentro da própria

Marinha. Um dos críticos, curiosamente, também foi preso anos atrás por suposto envolvimento em notório

caso de corrupção. O almirante Euclides Duncan Janot de Matos caiu na Operação Luxo da Polícia Federal,

acusado de usar sua influência para fraudar licitações na Marinha e na Petrobras, em prol do grupo Inace e

empresas coligadas. O esquema envolveria o uso de empresas laranjas sediadas nos EUA. Janot Matos chefiou

o Estado Maior da Marinha e foi cotado para comandante, mas acabou transferido para a reserva por Lula,

sendo substituído por Julio Soares de Moura Neto, que chegou ao comando em 2007 e lá ficou até 2015.

Enquanto Moura Neto e Othon preferiam a compra dos submarinos do estaleiro francês DCNS, Janot de

Matos liderava o grupo que defendia a compra de submarinos alemães. O Brasil chegou a contratar projetos

alemães, mas a experiência foi malsucedida. Se condenado, Othon pode ser julgado novamente pelo Superior

Tribunal Militar, correndo o risco de perder a patente e os benefícios salariais. Segundo o STM, Othon

responderá pelo procedimento administrativo conhecido como “Representação para declaração de indignidade

ou incompatibilidade para o oficialato”.

Colaborou Josie Jeronimo

Fotos: Fernando Frazão/Agencia Brasil; JOÃO LAET/AG. O DIA /ESTADÃO CONTEÚDO

Os fantasmas de agosto Mês trágico para a política brasileira pode selar o destino da presidente Dilma, que

enfrentará a abertura de CPIs no Congresso, o julgamento de suas contas no TCU e uma

manifestação recorde em favor do impeachment Josie Jeronimo ([email protected])

No que dependesse dos políticos brasileiros, o mês de agosto poderia ser eliminado do calendário nacional.

Ao longo da história, nos 31 dias do oitavo mês do ano, o País viveu grandes infortúnios na seara política. Em

24 de agosto de 1954, o presidente Getúlio Vargas se suicidou com um tiro no coração. Sete anos e um dia

depois, foi a vez de o presidente Jânio Quadros renunciar ao cargo. Em 1976, o dia 9 de agosto ficou marcado

pelo trágico acidente de carro, na rodovia Presidente Dutra, que ceifou a vida do ex-presidente Juscelino

Kubitschek. Os desgostos de agosto não cessaram com redemocratização do País. Em 16 de agosto de 1992,

os caras-pintadas foram às ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor, numa mobilização

decisiva para sua saída do poder. E, no dia 13 de agosto do ano passado, o ex-governador de Pernambuco e

então presidenciável Eduardo Campos morreu aos 49 anos, vítima de um acidente aéreo em Santos (SP).

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MÊS DO DESGOSTO

Pode estar em jogo, nas próximas semanas, o mandato de Dilma Rousseff

Este ano, o mês do mau agouro pode complicar ainda mais a situação da presidente Dilma Rousseff. Às voltas

com uma crise político-econômica interminável, Dilma enfrentará uma quadra decisiva para sua permanência

na Presidência. Na próxima semana, ela terá de encarar um Congresso conflagrado. O presidente da Câmara,

Eduardo Cunha, sedento de vingança após ter sido alvejado pelas investigações da Lava Jato, marcou para 6

de agosto a instalação da CPI do BNDES e ofereceu amplo apoio à criação da CPI dos Fundos de Pensão.

Ambas as investigações tiram o sono do governo. Na volta do recesso, Cunha vai analisar, ainda, 11 pedidos

de impeachment que mandou desarquivar. Entre eles, o documento assinado por Carla Zambelli, fundadora e

Porta Voz do Movimento Nas Ruas. O pedido de afastamento redigido pelo movimento se apoiará nas

irregularidades da prestação de contas do governo, em análise no TCU. As armadilhas contra o governo

passam por uma sabotagem ao pacote de ajuste fiscal. Entre os projetos estão a correção do Fundo de Garantia

por Tempo de Serviço (FGTS) e modificações no projeto que reduz as desonerações na folha de pagamento.

Antes da segunda quinzena, o TCU vai julgar as contas do governo de 2014. O tribunal já deu todos os sinais

de que pretende rejeitar os argumentos do Planalto sobre as manobras fiscais utilizadas no exercício anterior

para maquiar o mau desempenho da economia. Na terça-feira 28, Eduardo Cunha anunciou que vai tirar da

frente a lista de projetos pendentes e votar as contas dos governos de 1992, 2002, 2006 e 2008 que ainda não

foram analisadas. O objetivo é limpar a pauta para a apreciação das contas de Dilma de 2014. Caso o TCU as

reprove, o destino é o Congresso. Para piorar o quadro para Dilma, a análise das contas públicas e a instalação

de CPIs coincidirão com a grande manifestação agendada para o dia 16 de agosto cujo mote é o impeachment

da presidente, mesma data em que estudantes foram às ruas pedir a saída de Collor em 1992. O protesto

promete ser o maior desde a reeleição da petista.

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A previsão de dias turbulentos fez Dilma mobilizar sua tropa de choque. Na segunda-feira 27, ela reuniu 12

ministros e o vice-presidente Michel Temer para discutir estratégia de diálogo direto com o Congresso. A

intenção do Planalto é evitar intermediários nas conversas com a base aliada para reduzir a influência de

Cunha enquanto o presidente da Câmara estiver em clima de guerra com o governo. “Os parlamentares são

capazes de verificar o que pode prejudicar e ajudar o País”, afirmou Michel Temer. Dentro dessa estratégia

para amansar o Congresso, Dilma liberou R$ 1 bilhão em emendas e distribuiu mais de 500 cargos nos

Estados. Na quinta-feira 30, a presidente reuniu os governadores no Planalto. Era a última cartada de Dilma na

tentativa de escapar ilesa pelas próximas semanas. Mas seus objetivos não foram alcançados. Além de não

conseguir o apoio dos chefes dos Executivos estaduais para barrar possíveis pedidos de impeachment, Dilma

conseguiu desagradá-los ainda mais ao falar o que eles não queriam ouvir. Em seu pronunciamento, disse que

a situação vivida pelo País era responsabilidade de todos. Ou seja, tentou associá-los à crise criada e agravada

pelo governo de Dilma. O único consenso do encontro foi o apoio do governadores às medidas do ajuste

fiscal, que ainda precisam passar pelo Congresso. Muito pouco para o que almejava Dilma.

Fotos: Alan Marques/Folhapress; Agência ISTOÉ; Antonio Lucio/AE

O apagão das pesquisas científicas Governo corta 75% das verbas para a pós-graduação, ameaça o trabalho de pesquisadores e

coloca em risco a evolução acadêmica do País Camila Brandalise ([email protected])

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Até 2014, o Brasil vivia um salto científico. Em 20 anos, passou do 24º para o 13º lugar entre os países com

maior número de pesquisas produzidas, tendo passado à frente de nações como Suíça, Suécia e Holanda.

Alcançou visibilidade no meio acadêmico internacional e pavimentava um futuro ainda mais animador. Um

ano depois, essa perspectiva está abalada. No âmbito do contingenciamento financeiro na pasta da educação,

universidades brasileiras têm sofrido com um corte de 75% na verba federal destinada ao custeio das

pesquisas em cursos de mestrado e doutorado, chegando ao cúmulo de os próprios pesquisadores precisarem

comprar material de laboratório, como luvas e reagentes químicos. Além disso, a diminuição do repasse

compromete outras necessidades na formação de mestres e doutores, como subsídio ao trabalho de campo e

participação em congressos e verba de convites para formação de bancas. “Os últimos anos foram de

incentivos. Mas, hoje, vivemos uma turbulência”, afirma Isac Almeida de Medeiros, presidente do Fórum de

Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa (Foprop). A perspectiva é que as consequências sejam sentidas em

dois ou três anos, tempo médio de produção de uma pesquisa. “Se o corte persistir, vamos ficar para trás.”

PANE

Alan Ambrosi, doutorando em Engenharia Química: "É triste ver que a

pós-graduação brasileira tenha entrado nesse colapso" O corte no repasse atinge diretamente o Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap), administrado via

universidade e subsidiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A

diminuição de 75% anunciada pela Capes em julho pegou as administrações das federais de surpresa, uma vez

que as instituições trabalham com um planejamento financeiro para o ano com base nos gastos e na previsão

de repasse do governo. Há, inclusive, casos extremos, como a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Lá, o

repasse diminuiu de R$ 4,27 milhões para R$ 1,07 milhão. Somente os gastos já empenhados somam R$ 2,02

milhões, o que deixa a instituição no vermelho. Sem encontrar outra saída, a decisão foi paralisar as pesquisas.

Em outras universidades, o dinheiro, que normalmente era enviado no mês de fevereiro ou março, nem

chegou. “Os programas que obtiveram nota 6 da Capes ainda não receberam recurso algum neste ano”, afirma

Edilson Silveira, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a contenção é tamanha que as defesas de tese e

dissertação não têm mais verba para pagar diárias de professores de fora da instituição para participação em

banca, sendo que ter pelo menos um discente externo é item obrigatório na maioria dos cursos. A solução tem

sido realizar conferências via Skype. Aluno de doutorado em engenharia química na mesma universidade,

Alan Ambrosi, 30 anos, viajou para Boston, nos Estados Unidos, para apresentar um trabalho em um

congresso. O auxílio financeiro no valor de R$ 3.822,67 havia sido aprovado para ele e outra colega, mas seria

repassado somente após a viagem. “Tivemos a infelicidade de retornar e ouvir que não havia sinais de

ressarcimento do valor aprovado. As contas de inscrição, passagens, diárias chegam e nos desdobramos para

poder pagá-las”, afirma. A bolsa para um doutorando é de R$ 2,2 mil e, para mestrando, é de R$ 1,5 mil. Mas

esses valores são destinados a gastos pessoais básicos, como moradia, alimentação e transporte. Para

Guilherme Rollim, coordenador geral da associação de pós-graduandos da UFRGS, uma vez que existe a

exigência de apresentar trabalhos em eventos para concluir a formação, o corte de verbas para viagens

comprometerá a conclusão de trabalhos, além de impedir pesquisas de campo. “Pagaremos para trabalhar.”

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Em nota, a Capes assegura o repasse de R$ 2,52 bilhões para o fomento do sistema nacional de pós-graduação

em 2015. Cerca de R$ 2 bilhões serão destinados às bolsas, que não sofrerão nenhum arrocho. Os 8% a menos

no repasse da Capes são referentes justamente ao corte nas verbas de custeio, os 75% a menos que têm tirado

o sono de mestrandos e doutorandos, segundo o Foprop. “Entendemos que o governo preferiu manter as

bolsas em detrimento do custeio da pós-graduação, mas esses gastos são imprescindíveis”, afirma Gustavo

Henrique Rigo Canevazzi, 27 anos, aluno de doutorado em ciências fisiológicas da Universidade Federal de

São Carlos (Ufscar) e diretor da Associação Nacional de Pós-Graduandos. �

Foto: Marcos Nagelstein/Ag. Istoé

O matador americano Ao executar o leão símbolo nacional do Zimbábue após pagar US$ 55 mil, dentista dos EUA

se torna o inimigo público número um Helena Borges ([email protected])

Em uma só ação de barbárie, o americano Walter Palmer eliminou um símbolo nacional, prejudicou a ciência

e provocou uma imensa onda de indignação contra ele, que se tornou o inimigo público número um. Dentista,

Palmer teve que fechar seu consultório no Minnesota, Estados Unidos, por causa das ameaças de morte, e

poderá ser extraditado para a África. O americano matou o leão Cecil, símbolo nacional no Zimbábue, depois

de pagar US$ 55 mil (R$ 185 mil) ao fazendeiro Honest Ndlovuum para atirar no animal com uma besta

(arma com um arco de flechas acoplado), rastreá-lo por 40 horas, acertá-lo com uma pistola, remover sua pele

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e guardar a cabeça como troféu. As investigações apontam que os caçadores usaram carne fresca para atrair

Cecil para fora do perímetro do parque nacional onde vivia. O leão, de 13 anos, usava um colar com GPS

porque era parte importante de uma pesquisa científica da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Foi criada

uma petição nos EUA, onde as regras da Casa Branca determinam que os pedidos que atingem cem mil

assinaturas em menos de um mês requerem uma resposta oficial do governo. O da extradição de Palmer

contabilizou 150 mil assinaturas em apenas dois dias.

O leão Cecil deixou seis leoas viúvas e 24 filhotes. Segundo David Macdonald, diretor da Unidade de

Conservação de Vida Selvagem da Universidade de Oxford, que monitorava os movimentos do animal, na

estrutura social dos leões a morte de um macho desencadeia uma guerra entre os outros bichos que querem

tomar o seu lugar e isso pode levar à extinção dos seus filhotes. Países da África e dos Estados Unidos

regulamentaram a caça a partir de um código de ética, que delimita as áreas, os períodos e os animais que

podem ser abatidos. O americano não cumpriu nenhum requisito. Em sua defesa, disse: “Não fazia ideia de

que o leão que abati era um favorito local e parte de um estudo. No meu conhecimento, tudo sobre essa

viagem era legal.” Diante do fato irreversível, a questão que aflora é a legitimidade ou não de se matar bichos

por divertimento. No Brasil, o esporte é proibido.

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Uma medida que para São Paulo Por que a polêmica redução das velocidades nas marginais não irá melhorar o trânsito nem

reduzir os acidentes na maior cidade do país. Apenas atrapalhará ainda mais a vida do

paulistano Mais do que a linha dos prédios espelhados da avenida Paulista, a imagem que os visitantes têm de São Paulo

é a de duas vias castigadas com congestionamentos diários, seguindo o curso de rios infestados de poluição e

emparedados pelo concreto. Não é de se estranhar, portanto, que o prefeito da capital, Fernando Haddad, tenha

criado uma celeuma quando resolveu diminuir o limite de velocidade das marginais Tietê e Pinheiros, as mais

importantes da cidade. A prefeitura diz que baixou a máxima em até 20 km/h para fazer cair o número de

acidentes. Além do benefício em vidas, as autoridades justificam que batidas, despesas médicas e perda de

produtividade jogaram fora R$ 189 milhões nos últimos três anos. A população, porém, está longe de se

convencer com os argumentos. A seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entrou com ação

civil pública na Justiça e o Ministério Público abriu inquérito contra a mudança. Qualquer que seja o resultado

das iniciativas, de acordo com especialistas de trânsito ouvidos pela ISTOÉ, a redução não é a melhor maneira

de alcançar os efeitos desejados. “Entendo que essa medida foi tecnicamente incorreta”, afirma o engenheiro

Decio Assaf, membro da comissão de segurança veicular da SAE Brasil, associação especializada em

mobilidade no País. O fato é que, diante de um sistema de transporte público falho e uma política de

mobilidade equivocada, muitos paulistanos usam carros, mas têm sido penalizados pela administração

municipal.

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As marginais já são vias seguras em comparação com o restante da cidade. Campeãs de movimento e de

acidentes fatais no município, em termos proporcionais, no entanto, a figura é diferente. Estima-se que 1

milhão de veículos passem por lá diariamente. Todos os dias, 13% da frota paulistana viaja pelas duas

avenidas expressas, mas só 5% dos acidentes com morte aconteceram ali em 2013. Velocidades menores

fazem a gravidade dos choques diminuir, mas a experiência com ruas que sofreram redução durante a

administração de Gilberto Kassab, o prefeito anterior, mostra que as mortes apenas crescem menos nesses

casos. Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), das 50 avenidas que mais matam na cidade, os

acidentes fatais em vias que tiveram limite reduzido aumentaram 7% de 2010 a 2014. Nas demais, a subida foi

de 15%. O número de problemas não caiu, apenas cresceu um pouco menos. “Se quisermos acabar com todos

os mortos é só tornar a velocidade zero. Temos que pensar é nos motivos que aumentam o numero de

fatalidades”, diz Assaf.

Em 2010, foi proibida a entrada de motos na pista expressa da Marginal Tietê – apesar de muitos motociclistas

desobedecerem essa regra. Desde então, as batidas com mortes diminuíram de 56 para 39 em 2014, uma

queda de 30% (nas outras vias houve aumento médio de 10%). Na Marginal Pinheiros, a proibição não existe

e o número de mortos subiu de 23 para 33 (mais 43%). Ou seja, ampliar determinações existentes melhora

mais a situação do que implementar novas mudanças. Motociclistas costumam, ainda, desrespeitar os limites,

já que muitos radares não os multam. Nas marginais, só 8 de 65 deles flagram motos entre faixas. “Eles

ficaram com sensação de impunidade”, afirma Geraldo Simões, diretor da escola de pilotagem Academia

Brasileira de Trânsito (Abtrans).

SINAL VERMELHO

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Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad: decisão de reduzir a velocidade

nas vias expressas está contrariando a população

Um estudo conduzido pelo Hospital das Clínicas em 2013 concluiu que, em 23% dos casos de batidas de

motos, os condutores não têm sequer habilitação. Em 71%, eles estão acima da velocidade. A prefeitura

justificou a redução das marginais como uma forma de proteger os mais vulneráveis, que além das motos

incluía pedestres. As vítimas seriam os ambulantes que vendem produtos em congestionamentos. “Faltou

pesquisar os locais de maior atuação e bloquear o acesso”, afirma Assaf. De que adianta alterar as leis se quem

provoca boa parte dos acidentes já desrespeita as regras sem medo da fiscalização?

Para reduzir o número de batidas em São Paulo, é preciso estimular a educação através de incentivos, não de

punições, afirmam os especialistas em trânsito. Um exemplo seria dar descontos nos impostos veiculares aos

condutores que não levassem multas nem se envolvessem em choques. Habilitação, fiscalização e bons

exemplos precedem a penalidade, mas nada disso parece ser prioridade para as autoridades municipais,

estaduais e federais. “A educação de uma cidade é mostrada pelo número de semáforos e lombadas. Você

precisa forçar o cidadão a se comportar. Tem lugares em que praticamente não há farol. Já o número de sinais

em São Paulo não é normal”, afirma Simões, da Abtrans.

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A degradação de Roma Uma das cidades mais visitadas do mundo sofre com a decadência dos serviços públicos,

escândalos de corrupção e até uma infestação de ratos na lendária Fontana di Trevi Paula Rocha ([email protected])

Uma das sequências mais famosas da história do cinema, o banho da atriz sueca Anita Ekberg (1931-2015) na

Fontana di Trevi, no filme “La Dolce Vita” (1960), de Federico Fellini (1920-1993), ajudou a cristalizar na

imaginação de muita gente uma imagem romântica da capital italiana, Roma. O belo cenário onde a loura se

banhou, enquanto chamava o galã Marcello Mastroianni (1924-1996), no entanto, atrai hoje visitantes bem

menos nobres. No auge do verão europeu, a fonte, um dos principais pontos turísticos da cidade, foi invadida

por ratos, que assustam os milhares de turistas que a visitam diariamente. À infestação de roedores somam-se

outros problemas romanos, como o excesso de lixo nas ruas, por conta da ineficiência dos serviços públicos,

os atrasos no transporte coletivo e os inúmeros escândalos de corrupção na administração da capital, que

parece viver um dos piores momentos de sua história recente.

Em julho, quem passeasse pelos parques da cidade ficaria surpreso com o estado de desleixo desses locais.

Uma denúncia de corrupção na licitação responsável pela contratação de empresas para a manutenção de

parques levou o prefeito Ignazio Marino a suspender o serviço. No mesmo mês, milhares de turistas e

cidadãos romanos foram prejudicados por uma ação do sindicato de metroviários, que atrasou o intervalo

entre os trens para protestar contra uma possível privatização. Em maio, um incêndio no aeroporto

internacional Fiumicino, principal porta de entrada da Itália, fechou alas, que continuam inativas até hoje. Os

três episódios são sintomas da degradação recente de Roma. Uma pesquisa da Comissão Europeia de 2013

aponta que a cidade figura em último lugar entre as 28 capitais europeias no quesito de eficiência dos serviços

públicos. Já no aspecto qualidade de vida, alcança o 27º lugar, à frente apenas de Atenas, na Grécia.

“Roma está à beira do colapso”, diz Giancarlo Cremonesi, presidente da câmara de comércio da capital. “É

inaceitável que uma grande cidade que se auto-intitula desenvolvida se encontre em tal estado de

deterioração.” A mesma opinião parece ser partilhada por parte da população. No blog “Roma Fa Schifo”

(“Roma é uma merda”, em tradução), cidadãos denunciam o excesso de lixo, obras malfeitas e outras mazelas

da cidade. “Roma está a quilômetros de distância dos padrões de civilidade e decoro do Oeste”, diz

Massimiliano Tonelli, fundador do site. “Vivemos em uma combinação de má administração, corrupção e

burocracia.”

A corrupção, aliás, paralisou boa parte da administração pública. No início deste ano, um escândalo tornou

público o fato de que vários contratos de licitação de serviços municipais teriam sido manipulados por

membros da máfia, que desviaram milhões de euros do orçamento da capital. Até agora, trinta contratos, que

abrangem desde a limpeza pública até a construção de abrigos para refugiados, estão sob investigação e

devem ser cancelados e colocados novamente para licitação. Em 2014, em parte por causa dos desvios da

máfia, Roma registrou um déficit orçamentário de 14 bilhões de euros (R$ 51 bi) e foi salva da falência graças

a um fundo emergencial do estado. Muitas das denúncias de corrupção datam do mandato do prefeito anterior,

Gianni Alemanno, que está sendo investigado. O atual prefeito Marino, no entanto, reconheceu em uma carta

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enviada ao jornal italiano “Corriere della Sera” que uma parcela da administração pública está

“substancialmente contaminada”.

A situação, que já não é a ideal, pode piorar no próximo ano. Em 2016, a cidade espera receber 25 milhões de

peregrinos em resposta ao chamado do papa Francisco para o Ano Sagrado, um dos eventos mais importantes

do calendário da Igreja Católica. Em 2014, Roma foi visitada por 10,6 milhões de turistas estrangeiros, menos

do que os 11 milhões de 2013, e nem sempre esses visitantes saem de lá com uma boa impressão. Apesar de

ser uma das cidades mais procuradas da Europa, a capital italiana apresenta um dos menores índices de visitas

repetidas.

Sobre a invasão de ratos na fonte mais famosa da cidade, o município garantiu que está adotando medidas

para minimizar a infestação, e culpou a chegada dos desagradáveis visitantes ao calor extremo que o país

enfrentou em julho, quando os termômetros chegaram a marcar 37 graus Celsius, e às obras de revitalização,

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bancadas pela grife de luxo italiana Fendi, que devem durar até outubro deste ano. Até lá, turistas e moradores

esperam que a opulência dos monumentos, igrejas e fontes romanos não tenha mais de conviver lado a lado

com os problemas que enfeiam uma das cidades mais belas do mundo. “Roma hoje é bem parecida com a

Nova York dos anos 1990, suja e corrupta”, diz Massimiliano Tonelli. “Mas é possível mudar. Essa situação

não é irreversível.”

Fotos: ANDREAS SOLARO/AFP

Sorte nos negócios e no amor O olhar oblíquo de Isabeli Fontana, espécie de sua marca registrada, está, agora, mais

focado do que nunca. É que ela vai realizar dois sonhos antigos: ser escritora e empresária Gisele Vitória

O olhar oblíquo de Isabeli Fontana, espécie de sua marca registrada, está, agora, mais focado do que nunca. É

que ela vai realizar dois sonhos antigos: ser escritora e empresária. A modelo se debruçou sobre suas

memórias para narrar em um blog, que estreia essa semana, suas experiências em 18 anos de profissão.

“Sempre tive vontade de escrever e contar meu dia a dia.” Nos negócios, vai abrir a própria marca - até aqui,

emprestava seu nome a coleções de grifes como a Morena Rosa, da qual é uma das estrelas da campanha

“Verão 16”. “Por termos contratuais, ainda não posso dar detalhes, mas vamos desenvolver produtos que eu

uso e gosto”, conta. Para coroar o momento onírico, ela faz uma declaração definitiva ao noivo, o músico Di

Ferrero: “Eu estou apaixonada como nunca estive antes.”

Olimpíada 'tipo' Lego O Comitê Olímpico Internacional vai recomendar que as próximas cidades-sede da

Olimpíada sigam o modelo de "Arquitetura Nômade", aplicado no Rio, palco do evento no

ano que vem Gisele Vitória

O Comitê Olímpico Internacional vai recomendar que as próximas cidades-sede da Olimpíada sigam o

modelo de “Arquitetura Nômade”, aplicado no Rio, palco do evento no ano que vem. Isso, porque as

estruturas utilizadas são concebidas como as peças do jogo Lego, em que se desmonta e remonta tudo em

novos formatos. Exemplo? As duas piscinas do Estádio Aquático poderão ser levadas para outras cidades e

servir a outros eventos. A ideia do prefeito carioca Eduardo Paes nasceu ao observar os filhos brincando com

os clássicos bloquinhos plásticos.

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arem as máquinas Uma nobre igual ao povão - pelo menos, na implacável passagem do tempo. A Duquesa de

Cambridge, Kate Middleton, está no centro de uma polêmica iniciada pelo antigo

cabeleireiro da princesa Diana, Nicky Clarke Gisele Vitória

Uma nobre igual ao povão - pelo menos, na implacável passagem do tempo. A Duquesa de Cambridge, Kate

Middleton, está no centro de uma polêmica iniciada pelo antigo cabeleireiro da princesa Diana, Nicky Clarke,

que odiou a falta de retoque de tintura na raiz das madeixas da inglesa. “Kate precisa se livrar de seus cabelos

grisalhos. Até a mulher ser realmente velha, não pode ser vista com nenhum cabelo branco”, disparou o expert

das tesouras. O debate segue com muitas divergências.

POW! BANG! SOC! As duas maiores lutadoras do UFC, a brasileira Bethe "Pitbull" Correia e a americana

Ronda Rousey se enfrentam também fora do octógono Gisele Vitória

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As duas maiores lutadoras do UFC, a brasileira Bethe “Pitbull” Correia e a americana Ronda Rousey se

enfrentam também fora do octógono. Bethe provocou, no Instagram, dizendo que a concorrente treinava

muito, mas para ser atriz (referindo-se às participações dela em filmes como “Velozes e Furiosos”). Em

entrevista à GENTE, a americana rebateu: “Eu vivo de treinamento em treinamento, sempre na academia. O

cinema me ajuda a relaxar.” A brasileira também falou à coluna: “Ela é uma iludida pela mídia à sua volta. A

arrogância é sua característica.”

"A paisagem do Brasil é essa" A rainha da MPB Maria Bethânia virou súdita: "Para mim, Dona Ivone é como Nelson

Cavaquinho, como Cartola Gisele Vitória

A rainha da MPB Maria Bethânia virou súdita: “Para mim, Dona Ivone é como Nelson Cavaquinho, como

Cartola. É importante que fique claro, definitivamente, que a paisagem do Brasil é essa!” Foi assim o

emocionante encontro entre as duas divas na Cidade das Artes, no Rio, em novembro, durante a gravação do

Sambabook de Dona Ivone Lara, que a Musickeria lança agora. Aos 94 anos, a sambista canta lindamente

“Sonho Meu” e sua voz vai, aos poucos, se misturando à de seus mais de 30 convidados, como Zeca

Pagodinho, Caetano Veloso, Martinho da Vila e Elba Ramalho. Coisa de gente nobre, mesmo.

Meditação para aplacar o vício do fumo

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Pesquisas - entre elas uma brasileira - comprovam que a terapia é capaz de fortalecer o

autocontrole e impedir a volta da dependência Cilene Pereira ([email protected])

Apenas 7% das pessoas que se dispõem a parar de fumar conseguem ficar longe do cigarro por mais de um

ano. Por esta razão, multiplicam-se os esforços para encontrar meios eficientes de cortar a dependência. Na

última semana, pesquisadores da Texas Tech University e University of Oregon, nos Estados Unidos,

relataram os benefícios da meditação para aplacar os vícios do fumo. O método mostrou-se eficaz

principalmente para fortalecer o autocontrole, fator fundamental na luta contra a compulsão.

Estudos recentes já demonstraram que os fumantes apresentam atividade reduzida em áreas cerebrais

associadas ao autocontrole. “Estamos começando a aprofundar nossas pesquisas para entender como o uso

repetido de substâncias que levam à dependência afeta estas regiões”, explicou a cientista Nora Volkow,

diretora do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos e coordenadora do trabalho. “O

objetivo é criar opções que atuem nesses mecanismos.”

Há várias técnicas de meditação. Durante a prática, o que se quer é aquietar a mente, cessando o fluxo de

pensamentos, o que ajuda o indivíduo a pensar no momento presente. Seus benefícios para a saúde física e

mental têm sido cada vez mais constatados pela ciência. O método vem sendo usado como terapia

complementar em tratamentos de câncer, estresse pós-traumático e doenças psiquiátricas como ansiedade e

depressão.

O time de pesquisadores das instituições americanas decidiu testar o poder do mindfulness – uma das técnicas

de meditação. Foram selecionados sessenta estudantes (27 fumantes e 33 não fumantes). Eles foram divididos

em dois grupos. O primeiro submeteu-se a sessões de relaxamento, enquanto o restante participou de sessões

de meditação.

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O experimento foi feito ao longo de duas semanas, em dez sessões de cerca de trinta minutos cada. Antes de

seu início e também após o seu final, os voluntários foram submetidos a exames de imagem cerebral,

registraram seus hábitos em relação ao cigarro e tiveram medido o nível de dióxido de carbono em seus

pulmões. O resultado mostrou que entre aqueles que fizeram as sessões de meditação houve redução de 60%

no consumo de cigarros. “Os estudantes modificaram seus hábitos sem se darem conta”, contou à ISTOÉ o

professor Yi-Yuan, da Texas Tech University e co-autor da pesquisa. “A meditação pode melhorar o déficit de

autocontrole presente nos fumantes.”

No Brasil, a psicóloga Isabel Weiss conduz um trabalho com resultados igualmente positivos. O uso da

meditação para ajudar contra o cigarro é tema de sua tese de doutorado, em desenvolvimento na Universidade

Federal de São Paulo. Mais de oitenta pessoas passaram pelo tratamento. Elas fizeram oito sessões, de duas

horas cada, e foram orientadas a praticar em casa. Ainda não há números finais, mas os dados colhidos até

agora revelam a eficácia do método. “A maioria está conseguindo se manter sem fumar por mais de um ano”,

informa Isabel.

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O trabalho da psicóloga é o primeiro do gênero no Brasil. Ela começa a difundir o método pelo País com base

em sua experiência e em evidências obtidas em trabalhos como o de Nora Volkow e Yi-Yuan. Em uma

revisão da literatura a respeito do tema publicada recentemente, Isabel e outros especialistas verificaram que,

de modo geral, a meditação contribui para a saúde mental, o que ajuda a se livrar da dependência.

Na opinião do americano Yi-Yuan, é difícil estabelecer quantas sessões são necessárias para o sucesso do

tratamento. “Quanto mais longo o período de prática, melhores os efeitos”, afirmou. “Mas é preciso lembrar

que a reação de cada fumante é diferente. Por isso, deve-se avaliar as pessoas individualmente.” �

Colaborou Fabíola Perez

A vacina que o mundo esperava O anúncio do primeiro imunizante 100% eficaz contra o Ebola renova a esperança de que

não haja mais epidemias Cilene Pereira ([email protected])

O mundo finalmente comemorou, na semana passada uma boa notícia contra o Ebola, responsável por matar

mais de 11 mil pessoas e infectar outras 28 mil desde 2014 na África. Uma vacina contra o vírus mostrou

eficácia de 75% a 100%, resultado considerado um divisor de águas na história contra a doença. Até hoje, não

havia se chegado a nada igual. “É uma descoberta extremamente promissora”, disse Margaret Chan, diretora

da Organização Mundial da Saúde.

PROTEÇÃO

Os testes foram feitos na Guiné, um dos países mais atingidos pela epidemia de 2014

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Os detalhes do experimento com a vacina foram divulgados na última edição da revista The Lancet, uma das

mais respeitadas publicações científicas do mundo. O produto, feito com um fragmento do ebola e um outro

vírus inofensivo, o imunizante foi aplicado em cem pacientes e em pessoas próximas. Os cientistas queriam

formar o “anel protetor” (tentativa de impedir que o vírus se espalhe para além dos círculos de pessoas nos

quais está presente).

Cem pacientes foram vacinados. Os indivíduos mais próximos foram imunizados imediatamente após o

diagnóstico ou três semanas depois. Entre as mais de duas mil pessoas que receberam a vacina em seguida,

não houve casos. Entre as imunizadas mais tarde, foram registrados 16 casos.

O outro grupo que está sendo vacinado é o de profissionais da organização humanitária Médicos Sem

Fronteiras. Seu diretor médico, Bertrand Draguez, afirmou que, diante dos resultados, a vacina deveria ser

levada a outros países em risco. “Os anéis de proteção seriam multiplicados”, disse. Por enquanto, porém, o

plano é estender a vacinação a adolescentes de treze a dezessete anos e provavelmente a crianças de seis a

doze anos.

Foto: AFP PHOTO / CELLOU BINANI

O risco chinês Tombo na bolsa de valores de Xangai acende o alerta para a desaceleração da maior

economia do mundo Mariana Queiroz Barboza ([email protected])

Faz um ano que o mercado financeiro começou a viver seu momento de ouro e se tornar mais atraente para a

nova classe média chinesa concentrada nos centros urbanos. Nesse período, as corretoras se multiplicaram e

dobraram o volume de ativos que negociam. Apesar da desaceleração da economia, os juros baixos, a fraca

remuneração das aplicações tradicionais e a ampla propaganda estatal estimularam tanto a entrada de novos

investidores que, nos 12 meses até junho, a bolsa de Xangai acumulou alta de 150%. Desde então, porém, ela

já perdeu um terço de seu valor, puxando a desvalorização das empresas listadas em mais de US$ 3 trilhões. O

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baque piorou na segunda-feira 27, quando o principal índice da bolsa de Xangai caiu 8,5%, o maior recuo

diário desde 2007. Naquele dia, o centro nacional de estatísticas havia anunciado que o lucro da indústria, que

subiu em abril e maio, havia caído em junho. Os sinais confusos enviados pela maior economia do mundo

colocaram os analistas em alerta para o estouro de uma bolha.

DESPESPERO

Investidores lamentam a queda das ações: perdas de US$ 3 trilhões

O governo chinês, como fez com a recente ameaça de bolsa imobiliária, tentou intervir. Comprou mais ações,

suspendeu temporariamente novas aberturas de capital (IPOs na sigla em inglês), criou um fundo bilionário de

estabilização do mercado e proibiu alguns acionistas de vender seus papéis nos próximos seis meses. “A

regulação permite ao Estado fazer intervenções que consideraríamos inaceitáveis no Brasil”, afirma o

economista Mauro Rochlin, professor da Fundação Getúlio Vargas. “As bolsas ocidentais refletem muito mais

as expectativas dos agentes econômicos do que a vontade política de um governo. Na China, acontece o

oposto.” Um relatório do Banco Mundial, divulgado no começo de julho, concluiu que o Estado foi além de

seu papel como regulador e apontou a necessidade urgente de reformas. “O sistema financeiro não tem mais

contribuído efetivamente para o crescimento da economia”, diz o diagnóstico. Na terça-feira 28, a Comissão

Reguladora de Valores Mobiliários do país abriu uma investigação para apurar se o tombo foi coordenado de

forma “maliciosa” por um grupo de grandes investidores individuais. Na quinta-feira 30, porém, as ações

continuaram em baixa em Xangai e Shenzen.

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Na China, dois terços dos novos investidores não têm o Ensino Médio completo. Ann Lee, especialista em

economia chinesa e professora da Universidade de Nova York, os compara com frequentadores de cassinos

em busca de ganhos de curto prazo. “A elite investe no mercado imobiliário e em private equity e venture

capital”, disse à ISTOÉ. “Os acionistas da bolsa são, em geral, menos sofisticados e pouco versados em

demonstrações e modelos financeiros.” Por isso, Ann acredita que as oscilações do mercado de agora podem

ter consequências mais duradouras. Sem experiência nem capital para resistir a grandes desvalorizações, é

provável que os chineses vendam suas ações na baixa e nunca mais retornem ao mercado. Mesmo assim, isso

corresponde a uma pequena parcela da população, o que limita também o possível impacto que o colapso da

bolsa teria no consumo das famílias. Além disso, o setor financeiro não chega a um terço do Produto Interno

Bruto (PIB), uma fração muito menor que em países desenvolvidos.

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Como a participação de estrangeiros nas bolsas chinesas é limitada – só 1,5% das ações estão nas mãos deles

–, o risco de contágio para outros países ainda é pequeno. Para alguns economistas, porém, há o que temer.

Qualquer crise na China, maior importadora de commodities do Brasil e do resto do mundo, pode afetar o

preço de produtos vitais para balança comercial brasileira, como soja e minério de ferro. Isso já está

acontecendo. A sensação de que a economia chinesa está menos aquecida (o PIB deve avançar 6,8% em 2015,

segundo o Fundo Monetário Internacional) ajudou a desvalorizar as moedas emergentes, incluindo o real, e a

encarecer o dólar. Para piorar, a receita das exportações à China tem caído. No acumulado até junho, ela foi

22,6% enor do que no mesmo período do ano passado. Esse pode ser só o início do risco chinês.

Foto: AP Photo/Mark Schiefelbein

Crianças e adolescentes viajando sozinhos Eles podem, sim, voar desacompanhados. Mas os pais precisam ficar atentos à

documentação necessária e aos serviços de acompanhamento das companhias aéreas para

evitar frustrações na hora do embarque por Ludmilla Amaral ([email protected])

A rotina agitada dos adultos faz com que, muitas vezes, os filhos viajem de avião desacompanhados para

aproveitar as férias. Normalmente tudo transcorre muito bem, mas um incidente no domingo 19, em São

Paulo, aterrorizou os pais que relutam em soltar seus pequenos sozinhos numa aeronave. Por uma falha de

uma companhia aérea nacional, uma criança de 7 anos foi deixada no portão de embarque errado e perdeu o

voo. “Esse foi um caso à parte”, afirma a advogada Lourdes Balsamão Esteves Almeida, do Nogueira, Elias,

Laskowski e Matias – Nelm Advogados. “Mas é importante os pais ficarem atentos e conversarem com o

funcionário que fará o encaminhamento da criança.” No Brasil, as empresas ainda não oferecem um

funcionário para ficar com o menor durante o voo, mas disponibilizam uma pessoa que o acompanha até o

embarque e após o desembarque. Apesar de a legislação não exigir uma idade mínima para viajar

desacompanhado, as empresas aéreas só liberam voos para passageiros acima de 5 anos. Confira o que é

necessário para menores de idade viajarem sem um adulto e algumas dicas para que casos como esse não se

repitam e a criançada viaje em segurança.

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Obama cutuca a África Em viagem de cinco dias ao continente, o presidente americano critica a corrupção, a falta

de democracia e o tratamento dado às mulheres Filho de queniano, Barack Obama fez na semana passada sua terceira e provavelmente última viagem pelo

continente africano enquanto presidente dos Estados Unidos. Se, em 2009, ele prometeu uma virada (nunca

cumprida) nas relações entre EUA e África, e, em 2013, levou um pacote para o setor elétrico, desta vez

Obama se dedicou às críticas. Num discurso histórico na sede da União Africana em Adis Abeba, capital da

Etiópia, o democrata reconheceu os recentes avanços econômicos dos países do continente, mas enfatizou que

eles poderiam ser maiores se não fosse pelo “câncer da corrupção”. “Isso não é algo único da África. A

corrupção existe no mundo todo, inclusive nos EUA”, disse. “Mas aqui a corrupção suga bilhões de dólares de

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economias que não podem se dar ao luxo de perder bilhões de dólares que poderiam ser usados para criar

empregos, construir hospitais e escolas.” Obama saiu do local ovacionado.

PROVOCADOR

Obama questionou líderes do continente em discurso

na sede da União Africana, na Etiópia As provocações do presidente americano tiveram alvo certo em alguns momentos, como quando declarou: “O

progresso democrático da África também está em risco quando líderes se recusam a se afastar quando seus

mandatos acabam.” Há duas semanas, o presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, conquistou seu terceiro

mandato no primeiro turno de eleições contestadas por observadores internacionais. Considerada

anticonstitucional, sua candidatura provocou uma série de manifestações duramente reprimidas pelo governo.

O mesmo senso crítico faltou quando Obama se referiu ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam

Desalegn, como democraticamente eleito. Em maio, sua coalizão, que está no poder desde 1991, recebeu

100% dos votos.

Nos cinco dias que passou entre o Quênia e a Etiópia, Obama colocou na agenda a defesa dos direitos

humanos. Citando as filhas, Sasha e Malia, o americano reafirmou que as garotas têm que ser tratadas com

igualdade e que as tradições nem sempre são boas. Obama disse isso porque, em diversos países africanos, as

mulheres passam por mutilação genital, são forçadas a se casar ainda crianças e são impedidas de frequentar a

escola. A mensagem talvez não tivesse a mesma força se tivesse sido transmitida por algum de seus

antecessores. Obama tem o mérito, afinal, de ser visto como um deles.

Foto: AFP PHOTO / SAUL LOEB

Arte nos celulares Museus dos EUA se valem de aplicativos e memes para despertar o interesse dos jovens

pelos mestres da pintura Se a maioria dos jovens não descola os olhos da tela do celular, a direção do Museu de Arte Blanton, na

Universidade do Texas, nos EUA, encontrou um método capaz de fazer com que essa parcela da juventude

passe a conhecer as obras clássicas das artes plásticas sem que precise desviar a atenção do mundo digital que

tanto a apaixona. Em outras palavras: por que enfrentar tais jovens se é possível aliar-se a eles e transmitir-

lhes cultura na linguagem e no código que mais os atiça no campo cognitivo? A dona da ideia chama-se Alie

Cline, tem 24 anos e adora redes sociais – claro, nada melhor que uma “igual” para falar com sucesso a seus

“iguais”. Ela disse “sim”, sem titubear, quando foi convidada a ser a primeira funcionária contratada pelo

museu para cuidar de sua imagem e de sua programação na internet. Nesse momento, na cabeça de Alie já se

desenhara a vontade de enviar fotos das obras aos celulares, todas elas com frases engraçadas sobrepostas e

dotadas da característica de se autodestruírem após um dia. Alie se vale para isso do aplicativo de celular

Snapchat. “Como os snaps desaparecem logo, podemos ser mais alegres e utilizar na rede referências à cultura

pop”, diz ela. “O importante é que o público jovem se interesse e compreenda a arte”.

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SEM PURISMO

Obras clássicas se unem ao mundo digital: boa cultura híbrida

Esse mesmo caminho de se aproveitar de uma ferramenta que não sai das mãos da juventude, justamente para

levá-la a se interessar pelo nada tecnológico mundo dos quadros, também está sendo trilhado pelo Museu de

Arte Contemporânea de Los Angeles (LACMA). Seja por meio do aplicativo Snapchat, seja pelo Instagram, o

museu espalha seus memes com as obras que compõem o acervo. Na verdade, o que está em jogo são dois

mundos culturais completamente distintos, mas que não têm necessariamente de se chocarem – ao contrário,

podem até se complementarem se partirmos do princípio que ambos estão na realidade sem hierarquia de “o

melhor” ou “o pior”. Foi assim que a direção do Museu Blanton radicalizou, e com sucesso: por meio da redes

sociais pediu para que os internautas lhe enviassem fotos, posando eles como os personagens de quadros.

Foram tantas as imagens, que a brincadeira se tornou concurso que deve agora se repetir anualmente. Mais: os

museus em todo o mundo se queixam do baixo número de visitantes. Nesses tempos de cultura digital, o certo

é que eles só vão lotar se também se conectarem, valendo-se das novas ferramentas. E isso é possível sem que

signifique um ultraje aos clássicos.

Os pais da Guerra Fria Livro de historiador americano analisa os seis meses de 1945 que redesenharam a

geopolítica mundial e conduziram Estados Unidos e União Soviética a protagonizar um

tenso e longo conflito Raul Montenegro ([email protected])

Em fevereiro de 1945, poucos meses antes do fim da 2ª Guerra Mundial, uma conferência juntou Josef Stálin,

Franklin Roosevelt e Winston Churchill, os líderes de União Soviética, Estados Unidos e Reino Unido. Ali, os

“Três Grandes” decidiram os caminhos do mundo depois do conflito e iniciaram os tensos anos da Guerra

Fria. Os novos alicerces da comunidade internacional foram fundados no meio ano que se seguiu àquela

reunião, a fase explorada pelo historiador e jornalista americano Michael Dobbs em seu livro “Seis Meses em

1945 – Roosevelt, Stálin, Churchill e Truman da Segunda Guerra à Guerra Fria” (Companhia das Letras), que

acaba de chegar às livrarias do País. Durante esse curto período, houve o suicídio de Adolf Hitler, explodiu a

bomba atômica e o planeta foi redividido. Com a derrota do fascismo, comunismo e liberalismo disputaram

para se tornar a ideologia dominante. Após aqueles dias a humanidade deixou para trás a idade da catástrofe e

experimentou uma era de ouro de conquistas tecnológicas e pujança econômica, ainda que temperada com as

tensões da Guerra Fria e o receio de uma hecatombe nuclear. As mudanças abriram a brecha para a falência do

velho colonialismo e o deslocamento dos homens rurais rumo à cidade.

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ENCONTRO

Churchill, Roosevelt e Stalin na Conferência de Yalta, em fevereiro de 1945

Apesar de abrir foco sobre o meio ano que se seguiu à Conferência de Yalta, na Crimeia, à beira do Mar

Negro, em fevereiro, onde Stálin, Roosevelt e Churchill se sentaram à mesa de negociações, Dobbs centra a

obra nas discussões palacianas que redesenharam o mapa-múndi. Ganham destaque as maquinações do

ditador soviético, que buscava manter a zona de influência do regime comunista. Era um embate que ele não

poderia perder, já que dominava militarmente o Leste Europeu após ter feito recuar as tropas alemãs. Em boa

parte das questões abordadas em Yalta, foi Moscou que ditou os termos.

Um exemplo se deu com a Polônia. Foi a invasão do país pelo exército nazista que desencadeou a 2ª Guerra.

Churchill considerava o abandono do país pela União Soviética moralmente condenável, mas pouco pôde

fazer ante o acordo entre o presidente americano e Stálin, que, segundo Dobbs, a via como um inimigo

perpetuamente tramando contra a Rússia, um corredor para invasões estrangeiras e conduíte da ideologia

ocidental. Não que o primeiro-ministro britânico fosse refratário à crua política do período. Em troca dos 90%

de influência sobre a Grécia concedidos à Grã-Bretanha, Churchill concordou com uma participação só de

10% nos assuntos da Romênia.

TRAMA

O livro do historiador e jornalista americano Michael Dobbs mostra

os bastidores das ações dos grandes líderes daquela época

Enquanto Stálin expandia seu poderio, os líderes ocidentais enfrentavam problemas caseiros. Roosevelt era

um homem doente, afetado pela poliomielite que o prendia à cadeira de rodas. Já Churchill preocupava-se

com a sucessão, que de fato perdeu para o trabalhista Clement Attlee. O resultado da eleição saiu durante a

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conferência de Potsdam, realizada entre julho e agosto de 1945. A reunião selou o acordo final entre os

vencedores do conflito, mas antes de seu fim o primeiro-ministro conservador foi substituído por Attlee. Harry

Truman entrou no posto de Roosevelt, que morrera em abril daquele ano.

O autor finaliza o livro com os ataques atômicos dos EUA contra as cidades de Hiroshima e Nagasaki, em

agosto, o derradeiro ponto final da 2ª Guerra. Como muitas das variadas mudanças que se seguiram à era da

catástrofe, o balanço de poderes após o conflito foi definido pelo avanço da ciência. Com a conclusão, Dobbs

mostra que apesar de construir a obra em torno de figuras proeminentes, não considera que a Guerra Fria só

tenha existido por obra de Stálin, Churchill, Roosevelt e Truman. Segundo o historiador americano, todos

estavam atados pela realidade de seus países e, mais do que isso, pela roda dos acontecimentos. De acordo

com o autor, a história às vezes possui uma mente própria que se move contrariamente à decisão das

personalidades mais carismáticas.

Nas letras da fé Um dos arautos brasileiros da Teologia da Libertação, corrente filosófica cristã que prega a

opção pelos mais pobres, Frei Betto lança dois livros distintos, mas com a religião e a

espiritualidade como eixo em ambos Ana Weiss ([email protected])

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Um dos arautos brasileiros da Teologia da Libertação, corrente filosófica cristã que prega a opção pelos mais

pobres, Frei Betto lança dois livros distintos, mas com a religião e a espiritualidade como eixo em ambos. Na

edição ampliada de “Paraíso Perdido - Viagens ao Mundo Socialista” (ed. Rocco, 528 páginas), relata

andanças por países socialistas como China, Rússia e Cuba, entre outros, de 1979 a 2012, quando atuava

assessorando governos na tentativa de reaproximar Estado e Igreja. Também dá seu testemunho sobre a

participação em eventos históricos, como a queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria. Já em “Um Deus

Muito Humano - Um Novo Olhar Sobre Jesus” (ed. Fontanar, 136 páginas), fala sobre Jesus Cristo e seus

ensinamentos. Profícuo escritor, aos 70 anos Frei Betto já tem 60 livros publicados.

+5 livros de Frei Betto

Diário de Fernando (2009)

Anotações do frade dominicano Fernando de Brito, preso no período da ditadura

Cartas da Prisão (2008) Reúne mensagens escritas por Frei Betto na época em que foi preso político do regime militar

A Mosca Azul (2006) Em primeira pessoa, traça o panorama social do País que levou à eleição de Lula em 2002

Alucinado Som de Tuba (1993) Ficção, conta a história de Nemo, um jovem negro que perde a família e passa a viver nas ruas

Batismo de Sangue (1982) Aborda a morte de Carlos Marighella e denuncia métodos de tortura da ditadura. Virou filme em 2006 (foto)

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Atormentado garoto da praia Com previsão de estreia para 6 de agosto, o filme "Love & Mercy" conta a turbulenta

história de Brian Wilson, líder do grupo californiano Beach Boys Ana Weiss ([email protected])

Assista ao trailer

Com previsão de estreia para 6 de agosto, o filme “Love & Mercy” conta a turbulenta história de Brian

Wilson, líder do grupo californiano Beach Boys. Na montagem, Paul Dano e John Cusack vivem Brian na

juventude e na vida adulta, respectivamente. Das brilhantes criações da década de 1960 ao tratamento para

problemas mentais e para vícios em drogas relatados 20 anos depois, a história revela um lado pouco

conhecido de um dos grandes nomes da música pop mundial. Mostra ainda a produção do clássico álbum “Pet

Sounds”.

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Meu nome é Cait Depois de se assumir publicamente como uma mulher transgênero, Caitlyn Jenner, antes

chamada de Bruce, estreia "I am Cait", série de oito episódios no canal E! que acompanha

os passos da sua transformação, no dia 2 de agosto Ana Weiss ([email protected])

Depois de se assumir publicamente como uma mulher transgênero, Caitlyn Jenner, antes chamada de Bruce,

estreia “I am Cait”, série de oito episódios no canal E! que acompanha os passos da sua transformação, no dia

2 de agosto. Na décima temporada do reality “Keeping Up With the Kardashians”, do qual também participa

por ter sido casada com a matriarca Kris, Cait já adiantou uma parte da sua história. Capa da revista “Vanity

Fair”, tem chamado a atenção pela militância a favor da visibilidade trans.

Batuque pernambucano "De Baile Solto", lançado pela Ybmusic, é o segundo álbum solo do pernambucano Siba e

vem para torcer a língua de quem diz que a música brasileira já não tem a mesma

criatividade Ana Weiss ([email protected])

“De Baile Solto”, lançado pela Ybmusic, é o segundo álbum solo do pernambucano Siba e vem para torcer a

língua de quem diz que a música brasileira já não tem a mesma criatividade. Apesar de usar ritmos de rua de

seu Estado natal, faz letras em um contexto mais amplo, universal e, por vezes, político. Guitarra e maracatu

de baque solto - ritmo regional vindo do interior de Pernambuco - se misturam ao sotaque cadencioso. Na

primeira música, “Marcha Macia”, junta ironia à letra e mostra a receita de como fazer um trabalho original.

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Ela estará entre nós Em sua primeira passagem pelo Brasil, Carla Bruni apresenta o quarto álbum de sua

carreira, "Little French Songs", em show no dia 26 de agosto, no Teatro Bradesco, em São

Paulo. Os ingressos vão de R$ 160 a R$ 480 Ana Weiss ([email protected])

Assista ao clipe da música que dá título ao novo trabalho

Em sua primeira passagem pelo Brasil, Carla Bruni apresenta o quarto álbum de sua carreira, “Little French

Songs”, em show no dia 26 de agosto, no Teatro Bradesco, em São Paulo. Os ingressos vão de R$ 160 a R$

480. O grande destaque da apresentação será a voz suave e sensual de Bruni, que lhe consagrou em discos

anteriores, como o primeiro “Quelqu’un M’a Dit”, de 2002. Nas letras, suas próprias experiências se tornam

matéria-prima. Fala, por exemplo, sobre seu casamento com o ex-presidente da França Nicholas Sarkozy na

canção “Mon Raymond”. Também brinca com sua condição de artista na música “Pas Une Dame”. Franco-

italiana, Bruni ainda homenagem suas origens em “Dolce Francia”.

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Leonardo/Chagall/Cartas Confira os destaques da semana Ana Weiss ([email protected])

Leonardo da Vinci

(Tribunal de Contas da União, em Brasília, até 27/9)

Exposição com projetos, desenhos e maquetes do gênio italiano, destacando seu lado inventor

Chagall e La Fontaine

(Centro Cultural Correios Rio de Janeiro, até 20/9) Mostra traz gravuras em metal feitas pelo russo Marc Chagall inspiradas nas fábulas de Jean de La Fontaine

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Cartas Libanesas

(Teatro Livraria da Vila, em São Paulo, até 27/9)

Jovem libanês vem para o Brasil com o plano de ganhar dinheiro e voltar para o Líbano. Anos depois, decide

ficar e convencer a mulher a morar com ele

Gênios da lâmpada Exposição faz um panorama da arte contemporânea mundial a partir de um passeio pela

história da ciência nos últimos 150 anos por Paula Alzugaray

Invento – As Revoluções que nos Inventaram/ Oca, SP/ de 5/8 a 4/10 A lâmpada elétrica incandescente, essa brilhante invenção de Thomas Edison que iluminou lares, fábricas e

cabeças durante todo o século 20 e que em 2015 chega ao fim de sua comercialização no mercado brasileiro,

ganha um obituário à altura de sua relevância, na exposição “Invento”, em cartaz em São Paulo, a partir de

quarta 5. O triste fim das lâmpadas com filamento incandescente é o tema da obra “Crepúsculo”, que o artista

francês Christian Boltanski realiza especialmente para a exposição, a convite dos curadores Marcello Dantas e

Agnaldo Farias. “Existe um homem que fez quase toda sua obra baseada na morte. Ele é Christian Boltanski.

Estava na hora dele fazer uma homenagem a um objeto que vai morrer”, diz Marcello Dantas. A obra é

composta por 480 lâmpadas que queimarão uma a uma, de hora em hora, durante toda a duração da exposição,

até 10 de outubro. Esta é, sem dúvida, uma grande ideia – uma entre as 35 (obras) de 30 artistas e inventores,

que estão expostas na Oca. “Invento” reúne as grandes invenções dos últimos 150 anos, desfuncionalizadas ou

reinventadas por alguns dos mais geniais artífices da arte moderna e contemporânea. A obra mais antiga – e

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talvez mais emblemática – da exposição é “Gift”, realizada em 1921 pelo surrealista Man Ray. Trata-se de um

ferro de passar, invenção de 1882, que tem sua função subvertida por uma linha de pregos afiados. Televisão,

rádio, telefone, telefone celular, elevador, máquina de escrever, automóveis, aparelho de barbear, avião, asa

delta, sistemas de vigilância, raio-x e guitarra elétrica tampouco passam incólumes pelo crivo da arte.

ARTISTA INVENTOR

"Rádios Pescando", obra de Guto Lacaz, realizada em 1986, subverte função de objetos

OBJETO SURREAL

"Gift", realizado por Man Ray em 1921, é obra precursora na exposição

Um dos trabalhos mais esperados é a alternativa criada pelo artista mexicano Pedro Reyes para uma das

maiores invenções do século 20, a psicanálise. Reyes montará dentro da Oca um complexo de ambientes

terapêuticos, inspirados em métodos de Paulo Freire, Lygia Clark e Augusto Boal, aberto ao público para

sessões coletivas de análise. Um sucesso garantido, na linha das sessões do Método de Marina Abramovic,

ministradas no Sesc Pompéia no começo do ano. Destaque também para “Little Sun”, criação do artista-

inventor Olafur Eliasson, lâmpadas de energia solar, concebidas com o objetivo de favorecer populações que

não tem acesso à eletricidade. Resta saber se o voraz mercado de arte internacional vai permitir que o objetivo

se cumpra, sem inflacionar o preço de maneira irreversível. Entre os artistas, não poderia faltar, é claro, Guto

Lacaz, o Professor Pardal da arte brasileira, com sua já célebre invenção “Rádios Pescando”, de 1986,

instalação com um conjunto de rádios colocados em linha para um fim inusitado: a pesca com antenas.

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YING YANG

"O Bem e o Mau Entendido", realizado em 1986 por Jarbas Lopes, faz releitura do automóvel

Novos navios negreiros Africa Africans/ Museu Afro Brasil, SP/ até 30/8 Paula Alzugaray

Num momento em que a África está na agenda internacional da arte – com a Bienal de Veneza sob a tutela de

um curador africano por primeira vez em 120 anos de história –, e se mantém à berlinda da pauta geopolítica –

com um assustador crescimento de mortes de refugiados naufragados no mar Mediterrâneo – vale atentar para

uma mostra de arte contemporânea africana que o Museu Afro Brasil, em São Paulo, apresenta até o final de

agosto.

Com curadoria de Emanoel Araújo, diretor do museu e dono de importante coleção de arte africana que fica

permanentemente ao alcance do público, a exposição “Africa Africans” é irregular. Tem momentos altos,

como a apresentação de “Skylines” (2008), escultura monumental de El Anatsui, ganês radicado na Nigéria e

vencedor do Leão de Ouro na 56ª Bienal de Veneza, em cartaz até 22/11. Trata-se de uma excelente

oportunidade de entrar em contato com a obra de um artista de importância reconhecida, que trabalha

materiais flexíveis e reciclados, que se adaptam visualmente a cada instalação. A presente obra assemelha-se

não apenas a uma paisagem urbana, mas a um imenso e luxuoso manto tribal.

Outra obra de interesse é “The British Library”, de Yinka Shonibare MBE (foto). Nascido na Nigéria e

residente em Londres, ele tem o pós-colonialismo e a imigração entre seus temas de pesquisa. Composta por

6.225 livros encapados por tecidos tradicionais africanos e dispostos em prateleiras, a instalação ganha

intensidade e sentido se o visitante atentar aos vídeos dispostos em monitores sobre mesas. São extratos de

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documentários e reportagens produzidos pela televisão britânica sobre desaparecimentos no mar durante

travessias ilegais. Trágicas histórias e depoimentos de sobreviventes ou familiares de vítimas desses que são

hoje autênticos navios negreiros. Mas nesta mostra que se apresenta como um panorama da produção visual

do continente, lamenta-se a ausência de nomes relevantes como Romuald Hazoumé, do Benim, que realiza

uma obra de forte acento crítico sobre a miserável realidade africana, que atira seus habitantes para o mar, em

busca de uma vida mais digna.

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"Instituto Lula se diz vítima de atentado político"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Uma bomba caseira de baixo potencial foi lançada no final da noite da quinta-feira 30 contra a sede do

Instituto Lula, em São Paulo. Ninguém se feriu, e o artefato, que teria sido arremessado por ocupantes de um

automóvel, danificou somente a porta da garagem. O Instituto classificou o episódio como “atentado político”,

pedindo a responsabilização criminal de seus autores – imagens do circuito de segurança interno de tevê

poderão auxiliar na identificação do carro e das pessoas. Na manhã da sexta-feira, o secretário da Segurança

Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes, comunicou o fato por telefone ao ministro da Justiça, José

Eduardo Cardozo, e a polícia deu início aos trabalhos de perícia no local. Atentados, em quaisquer

circunstâncias, são acontecimentos graves. Se de fato ficar provado que o Instituto foi vítima de um ataque,

em um momento de instabilidade e radicalismo como o atual, a temperatura dessa gravidade subirá e

exacerbará ainda mais a própria crise política.

"População do Brasil diminuirá em 2100"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

A população brasileira é aproximadamente de 207 milhões de habitantes. Daqui a 85 anos, no entanto, o País

terá apenas 200 milhões. É o que revelou o relatório “Perspectivas da População Mundial”, divulgado na

quarta-feira 29 pela ONU. Enquanto o número de pessoas em todo o mundo deve crescer 53% até 2100,

saltando de 7,3 bilhões para 11,2 bilhões, o Brasil viverá o oposto.

"MP, OAB, juiz e STF: todos são contra a convocação da advogada"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

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A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o Poder Judiciário Federal estão dando uma aula de

competência e legalidade ao longo da Operação Lava Jato. Quanto à CPI da Petrobras, se está disposta a

auxiliar, ótimo. Mas o que se viu na terça-feira 28, no entanto, só faz desviar o foco ao se propor

inconstitucionalidades: manter a convocação da advogada Beatriz Catta Pretta para argui-la sobre a origem

dos recursos que compõem seus honorários. Outro ponto inconstitucional surgiu na quarta-feira: a proposta de

que sejam vedados salários compostos com dinheiro de origem duvidosa. Os operários da Petrobras teriam

então de ter seus contracheques suspensos quando corria solta a propinagem? A melhor proposta da CPI para

o Brasil, nesse momento, é a de transformar a corrupção em geral (também de políticos portanto) em crime

hediondo. No início da quinta-feira, o Ministério Público Federal (assim como o juiz Sérgio Moro e a OAB)

se posicionou contrário a convocação.

Imigração ilegal

"O túnel dos desesperados"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Na semana passada foi o Eurotúnel, que une a França à Grã-Bretanha em seus 50,5 quilômetros de extensão

sob o Canal da Mancha, o caminho do desespero de imigrantes africanos e também europeus que querem

ingressar clandestinamente na Inglaterra. Até a sexta-feira 31, por exemplo, cerca de cinco mil pessoas

tentaram atravessar o túnel, e isso em apenas 48 horas – houve pelo menos cinco mortes. O Ministério do

Interior da França reforçou o policiamento em Passo de Calais, onde há a maior concentração de pessoas.

Mais: essa região francesa é um dos termômetros do quanto segue grave a questão migratória. Desde janeiro,

cerca de 38 mil pessoas foram interceptadas quando tentavam atravessar o túnel, mas nos últimos dias a

situação se agravou devido a diversas greves na empresa que o administra. Isso facilitou para muita gente a

possibilidade de viajar escondido sob o chassi de caminhões, ainda que se corra alto risco de morte com tal ato

de desespero.

"Brasileiro consome bebida alcoólica acima da média mundial"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Estudo da OMS revela: brasileiros adultos bebem anualmente, em média, 8,7 litros de álcool puro (bebida

alcoólica não combinada com refrigerantes, água, energéticos). A média mundial é de 6,2 litros por ano. Entre

países pesquisados nas Américas, o Brasil está na nona posição do ranking. Segundo a OMS, bebidas

alcoólicas estão presentes em cerca de 200 enfermidades – como cirrose hepática, doenças infecciosas e

câncer.

As bebidas mais consumidas

Cerveja....................55%

Uísque e vodca.........30%

Vinho.......................15%

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"Dilma se atem a meta "

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Agora sim ficou clara a posição do governo federal sobre o Pronatec Aprendiz: “não vamos colocar meta.

Vamos deixar a meta aberta, mas, quando atingirmos a meta, vamos dobrar a meta”, declarou Dilma sobre a

meta na terça-feira 28.

testosterona a mais

"Cai a lei do hormônio"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Deixou de valer na quarta-feira 29, por decisão do Tribunal Arbitral do Esporte, a regra que definia se uma

mulher podia ou não participar de competições, nas mais diversas modalidades, na categoria feminina: se seu

organismo produzisse mais de dez nanomoles de testosterona, ela estaria vetada. Não se incluiria em categoria

masculina, é claro, por não ser homem; mas também não era considerada mulher. Alegava-se que,

naturalmente, leva vantagens em relação às concorrentes. A decisão do tribunal abrange todas atletas, e se deu

pontualmente no caso da indiana Dutee Chand, 18 anos, campeã asiática júnior dos 200 metros. Com base na

regra que acaba de ser derrubada (chamada lei do hiperandrogenismo), a Federação Internacional de Atletismo

queria lhe tirar o título. Agora ele será mantido.

Defesa

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"A taxa de juros ameaçou derrubar os caças suecos"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

O negócio de US$ 5,4 bilhões, fechado no ano passado entre Brasil e Suécia na aquisição para a FAB de 36

caças Gripen NG, quase ruiu na última semana. Motivo: devido ao ajuste fiscal, o ministro da Defesa, Jacques

Wagner, falou em diminuir a taxa de juros do financiamento das aeronaves, já acordada em 2,54% ao ano. Ele

queria 1,98%. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi mais radical ainda: sua proposta era de 1,54%. Na

quarta-feira 29 chegou-se a uma solução. Segundo Wagner, valerá a taxa que estiver vigorando na assinatura

do contrato (se fosse na própria quarta-feira, ela ficaria em 2,19%). A entrega do primeiro caça está prevista

para 2019.

aliado de Osama Bin Laden

"Líder do Talibã está morto há dois anos"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Autoridades do Afeganistão revelaram na quarta-feira 29 que o mulá Mohammed Omar, líder do Talibã e um

dos principais aliados de Osama Bin Laden, morreu há dois anos em um hospital do Paquistão “em

circunstâncias misteriosas”. A informação foi dada à Rede BBC. Omar não era visto em público desde 2001 e

o anúncio de sua morte redesenha o poder no interior do próprio Talibã. Se ficarão mais fáceis ou mais

difíceis as negociações de paz, isso somente o futuro mostrará.

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"Judeu ultraortodoxo esfaqueia seis pessoas em parada gay"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

O judeu ultraortodoxo Yishai Schlissel ficou dez anos preso em Israel depois que feriu a facadas em 2005

diversos participantes da parada do orgulho gay em Jerusalém. Deixou a prisão há três semanas. Na quinta-

feira 30 ele repetiu a ação: feriu seis pessoas em Jerusalém novamente, e também novamente na parada gay.

Schlissel tirou de seu casaco a faca, apontou-a para o céu e na sequência iniciou o ataque. O primeiro-ministro

Binyamin Netanyahu condenou o ato, definindo-o como um “grave incidente”. O presidente Reuven Rivlin

declarou que o fato se traduz em “terrível crime de ódio”. Apesar da intolerância dos ultraortodoxos, Israel

contempla os gays com direitos civis (a proibição de relações sexuais entre pessoas do mesmo sexo deixou de

ser proibida no país em 1988).

"MP denuncia o empresário Bené"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

O Ministério Público Federal em Brasília denunciou à Justiça o empresário Benedito Rodrigues Oliveira Neto,

conhecido por Bené e ligado a campanhas do PT. A denúncia pede que ele responda pelos crimes de peculato

e fraude em licitação na organização de 14 eventos promovidos pelo Ministério das Cidades. O empresário é

investigado também no STJ por supostas ilicitudes no financiamento e prestação de contas da campanha em

Minas Gerais do governador petista Fernando Pimentel. Mais: o TER mineiro determinou o prosseguimento

da tramitação da ação de investigação judicial que pede a cassação de Pimentel sob a acusação de abuso

econômico.

"R$ 100 mil"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

R$ 100 mil, entre todo o montante da propina que ao longo das gestões petistas chegou às mãos do ex-diretor

da Petrobras Renato Duque, foi roubado por assaltantes nas proximidades da sede da estatal, no Rio de

Janeiro. Esse valor, em espécie, estava sendo transportado pelo executivo João Antônio Bernardi Filho. Essa

dinheirama da gatunagem do andar de cima do petrolão anda em poder da gatunagem rastaquera.

"5 países"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

5 países, e somente 5 países, estão exportando menos que o Brasil em proporção ao PIB que apresentam – isso

numa lista de 150 nações. O Brasil está à frente apenas de Burundi, República Centro-Africana, Sudão,

Afeganistão e Kiribati. As exportações brasileiras têm em relação ao PIB o índice proporcional de 11,5%. A

média mundial é de 29,8%

Alerta

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"Dopping em campeonatos de videogame"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Para aumentar o seu rendimento em competições esportivas, alguns atletas burlam a lei e fazem uso de

substâncias ilícitas. É o doping. Agora ele começa a chegar também aos campeonatos internacionais de

videogames, famosos por distribuírem prêmios milionários. O fato veio à tona com o ciberatleta americano

Kori Friesen. Na semana passada ele declarou que sua equipe valeu-se recentemente de medicações indicadas

para déficit de atenção em um campeonato de vídeo games. A notícia correu o mundo e serviu de alerta para

as entidades que organizam os torneios: agora haverá exames antidoping também em competidores de

certames virtuais.

"A Vale volta a lucrar"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Após arcar com prejuízo de US$ 3,118 bilhões no primeiro trimestre de 2015, a Vale anunciou na quinta-feira

30 lucro líquido de US$ 1,675 bilhão entre os meses de abril e junho. Redução de despesas e maiores preços

na venda de minério de ferro respondem pela lucratividade que ultrapassou.

Lucros e prejuízos da Vale (em bilhões)

2º trimestre de 2015

+ R$ 5,144

1º trimestre de 2015

– R$ 9,538

4º trimestre de 2014

– R$ 4,761

3º trimestre de 2014

– R$ 3,381

2º trimestre de 2014

+ R$ 3,187

contra a corrupção

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"500 dias de luta contra a corrupção"

por Antonio Carlos Prado e Elaine Ortiz

Na quinta-feira 30 a Operação Lava Jato completou 500 dias de existência – e a cada etapa de seu

cumprimento vem se consolidando como a maior ação contra a corrupção já realizada no País. Se lembrarmos

que há 500 dias ela deu seu primeiro passo quando a PF invadiu com ordem judicial um posto de gasolina em

Brasília no qual se “lavava” dinheiro (vem daí o nome da operação), é difícil imaginar que a Lava Jato

chegaria onde chegou. Deve o pódio anticorrupção ao trabalho da PF de Curitiba, à força-tarefa do Ministério

Público Federal e ao corajoso juiz federal Sérgio Moro. Em números, nesses 500 dias, a Lava Jato se traduz

em:

R$ 2,4 bilhões bloqueados pela Justiça

R$ 870 milhões já recuperados

48 prisões preventivas decretadas

46 prisões temporárias efetivadas

53 mandados de busca e apreensão cumpridos

138 envolvidos denunciados

30 réus condenados