367
Edição Especial Prêmio Milton Leite da Costa Edições 2009 e 2010 Florianópolis ISSN 1981-1683 Atuação Florianópolis Edição Especial - Prêmio Milton Leite da Costa 2009/2010 p. 1 - 367 2011

Revista Jurídica Especial - Prêmio Milton Leite da Costa 2009/2010

Embed Size (px)

Citation preview

  • Edio Especial

    Prmio Milton Leite da CostaEdies 2009 e 2010

    Florianpolis

    ISSN 1981-1683

    Atuao Florianpolis Edio Especial - Prmio Milton Leite da Costa 2009/2010 p. 1 - 367 2011

  • Reviso: Tatiana Wippel RaimundoEditorao: Coordenadoria de Comunicao Social do Ministrio Pblico de Santa CatarinaImpresso: jun. 2011

    Pao da Bocaiva R. Bocaiva, 1.750Centro Florianpolis SC

    CEP 88015-904(48) 3229.9000

    [email protected]

    As opinies emitidas nos artigos so de responsabilidadeexclusiva de seus autores.

    Av. Othon Gama DEa, 900, Torre A, 1o andarCentro Florianpolis SCCEP 88015-240(48) 3224.4600 e [email protected]

    Publicao conjunta da Procuradoria-Geral de Justia do Estado de Santa Catarina e da Associao

    Catarinense do Ministrio Pblico.

    Catalogao na publicao por: Clarice Martins Quint (CRB 14/384)

    Endereo eletrnico para remessa de artigo: [email protected]

    Conselho Deliberativo e RedacionalHelen Crystine Corra Sanches

    Eduardo Sens dos SantosIsaac Newton Belota Sabb Guimares

    Maury Roberto VivianiRejane Gularte Queiroz

  • Administrao do Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina

    Procurador-Geral de JustiaLio Marcos Marin

    Subprocurador-Geral de Justia para Assuntos AdministrativosAntenor Chinato Ribeiro

    Subprocurador-Geral de Justia para Assuntos Jurdicos e InstitucionaisJos Galvani Alberton

    Secretrio-Geral do Ministrio Pblico Amrico Bigaton

    Assessoria do Procurador-Geral de Justia Luciano Trierweiller Naschenweng Abel Antunes de Mello Fbio Strecker Schmitt Walkyria Ruicir Danielski

    Colgio de Procuradores de JustiaPresidente: Lio Marcos MarinAnselmo Agostinho da SilvaPaulo Antnio GntherDemtrio Constantino SerratineJos Galvani AlbertonRobison WestphalOdil Jos CotaPaulo Roberto SpeckRaul Schaefer FilhoPedro Srgio SteilJos Eduardo Orofino da Luz FontesHumberto Francisco Scharf VieiraSrgio Antnio RizeloJoo Fernando Quagliarelli BorrelliHerclia Regina LemkeMrio GeminGilberto Callado de OliveiraAntenor Chinato RibeiroNarcsio Geraldino RodriguesJacson CorraAnselmo Jeronimo de OliveiraBaslio Elias De CaroAurino Alves de SouzaPaulo Roberto de Carvalho Roberge

    Tycho Brahe FernandesGuido FeuserPlnio Cesar MoreiraFrancisco Jose FabianoAndr CarvalhoGladys AfonsoPaulo Ricardo da SilvaVera Lcia Ferreira CopettiLenir Roslindo PifferPaulo Cezar Ramos de OliveiraPaulo de Tarso BrandoRicardo Francisco da SilveiraGercino Gerson Gomes NetoFrancisco Bissoli FilhoNewton Henrique TrennepohlHelosa Crescenti Abdalla FreireFbio de Souza TrajanoNorival Accio EngelCarlos Eduardo Abreu S FortesIvens Jos Thives de CarvalhoWalkyria Ruicir Danielski Alexandre Herculano AbreuDurval da Silva Amorim Secretrio

  • Membros Natos Presidente: Lio Marcos Marin Paulo Ricardo da Silva

    Representantes do Colgio de Procuradores Humberto Francisco Scharf Vieira Jacson Corra Representantes da Primeira Instncia Pedro Srgio Steil Antenor Chinato Ribeiro Narcsio Geraldino Rodrigues Vera Lcia Ferreira Copetti Paulo Cezar Ramos de Oliveira Secretrio: Amrico Bigaton

    Administrao do Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina

    Corregedor-Geral do Ministrio PblicoPaulo Ricardo da Silva

    Subcorregedora-Geral do Ministrio PblicoLenir Roslindo Piffer

    Promotor de Justia Secretrio da Corregedoria-Geral Marcelo Wegner

    Promotores de Justia Assessores do Corregedor-Geral Eliana Volcato Nunes Monika Pabst Rafael de Moraes Lima Thais Cristina Scheffer

    Coordenadoria de RecursosFbio de Souza Trajano - Coordenador-Geral da rea cvel Aurino Alves de Souza - Coordenador-Geral da rea criminal

    Promotores Assessores do Coordenador de Recursos Felipe Martins de Azevedo Gustavo Wiggers

    OuvidorGuido Feuser

  • Administrao do Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina

    Centro de Estudos e Aperfeioamento FuncionalHelen Crystine Corra Sanches - Diretora

    Centro de Apoio Operacional da Cidadania e FundaesLuis Suzin Marini Jnior - Coordenador

    Centro de Apoio Operacional do Controle de ConstitucionalidadeWalkyria Ruicir Danielski - Coordenadora-Geral Maury Roberto Viviani - Coordenador

    Centro de Apoio Operacional do ConsumidorMarcelo de Tarso Zanellato - Coordenador

    Centro de Apoio Operacional CriminalOnofre Jos Carvalho Agostini - Coordenador

    Centro de Apoio Operacional da Infncia e JuventudePriscilla Linhares Albino - Coordenadora

    Centro de Apoio Operacional de Informaes e PesquisasOdil Jos Cota - Coordenador-GeralAdalberto Exterktter - Coordenador de Inteligncia e Dados EstruturadosAlexandre Reynaldo de Oliveira Graziotin - Coordenador de Contra-Inteligncia e Segurana Institucional Alexandre Reynaldo de Oliveira Graziotin - Coordenador do GAECO da CapitalFabiano David Baldissarelli - Coordenador do GAECO de ChapecMarcelo Gomes Silva - Coordenador do GAECO de JoinvilleEduardo Paladino - Coordenador do GAECO de CricimaMarcelo Brito de Arajo - Coordenador do GAECO de Lages

    Centro de Apoio Operacional do Meio AmbienteLus Eduardo Couto de Oliveira Souto - Coordenador

    Centro de Apoio Operacional da Moralidade AdministrativaVera Lcia Ferreira Copetti - Coordenadora-GeralDavi do Esprito Santo - Coordenador

    Centro de Apoio Operacional da Ordem TributriaMurilo Casemiro Mattos - Coordenador

  • PresidenteAndrey Cunha Amorim

    Vice-PresidenteRosa Maria Garcia

    1 Secretrio Diego Rodrigo Pinheiro

    2 Secretrio Jos Renato Crte

    Diretor Financeiro Gilberto Polli

    Diretor de PatrimnioMilton Pascoto

    Diretor Cultural e de Relaes PblicasOsvaldo Juvncio Cioffi Jnior

    Diretor AdministrativoBenhur Poti Betiolo

    Diretor da EscolaJorge Orofino da Luz Fontes

    Diretoria da Associao Catarinense do Ministrio Pblico

    Conselho Fiscal Anal Librelato Longo Aurino Alves de Souza

    Cid Luiz Ribeiro Schmitz Luciano Trierweiller Naschenweng

    Valberto Antonio Domingues

    Conselho Consultivo Marcus Vinicius Ribeiro de Camillo

    Fabiano David Baldissarelli Lus Susin Marini Junior

    Jean Pierre Campos Andrey Cunha Amorim Havah Emlia Mainhardt

    Gustavo Mereles Ruiz Diaz Andr Braga De Arajo

    Alexandre Herculano Abreu Raul de Araujo dos Santos

    Ruy Wladimir Soares De Sousa Fbio Fernandes De Oliveira Lyrio

    Leonardo Felipe Cavalcanti Lucchese Mrcia Denise Kandler Bittercourt Massaro

  • SuMRIO

    III PRMIO MILTON LEITE DA COSTA - 2009

    REGuLAMENTO ......................................................................................... 9

    TRAbALhOS VENCEDORES

    CATEGORIA A: PEAS PROCESSuAIS

    1 LuGAR: Sonia Maria Demeda Groisman Piardi ................................. 13

    2 LuGAR: Anal Librelato Longo ........................................................... 33

    2 LuGAR: Lus Suzin Marini Jnior ...................................................... 55

    3 LuGAR: Alexandre Herculano Abreu .................................................. 67

    CATEGORIA B: ARTIGOS

    1 LuGAR: Isaac Sabb Guimares .......................................................... 83

    2 LuGAR: Davi Do Esprito Santo ........................................................ 103

    3 LuGAR: Milani Maurlio Bento ........................................................ 121

  • SuMRIO

    IV PRMIO MILTON LEITE DA COSTA - 2010

    REGuLAMENTO ..................................................................................... 143

    TRAbALhOS VENCEDORES

    CATEGORIA A: PEAS PROCESSuAIS

    1 LuGAR: Luis Eduardo Couto de Oliveira Souto ............................. 147

    2 LuGAR: Marcelo Zanellato ............................................................... 193

    3 LuGAR: Anal Librelato Longo ........................................................ 215

    3 LuGAR: Fbio de Souza Trajano ...................................................... 239

    3 LuGAR: Marcia Aguiar Arend ....................................................... 263

    3 LuGAR: Sidney Eloy Dalabrida ...................................................... 287

    CATEGORIA B: ARTIGOS

    1 LuGAR: Davi Do Esprito Santo e Marilene do Esprito Santo ...... 299

    2 LuGAR: Isaac Sabb Guimares ........................................................ 319

    3 LuGAR: Fbio de Souza Trajano ...................................................... 347

  • 9EDITAL DE REGuLAMENTO

    A ASSOCIAO CATARINENSE DO MINISTRIO PbLICO ACMP, objetivando incentivar o aprimoramento cultural dos membros do Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina, e considerando o disposto nos artigos 2, inciso V1 e 502, do seu Estatuto Social, que pre-vem a realizao de concurso anual premiando o melhor trabalho ou arrazoado forense apresentado pelos Promotores e Procuradores de Justia, RESOLVE lanar o III PRMIO MILTON LEITE DA COS-TA, em homenagem ao seu primeiro Presidente, editando o seguinte regulamento:

    1 Art. 2 A Associao tem por finalidade:

    [...]V - patrocinar concurso, conferindo prmios aos autores dos melhores trabalhos apresentados.

    2 Art. 50. A Associao promover concursos de trabalhos jurdicos e, anualmente, sobre o melhor arrazoado forense, regulamentando-os e conferindo-lhes prmios.

    III PRMIO MILTON LEITE DA COSTA - 2009

  • 10

    Art. 1 - Podero concorrer ao Prmio Milton Leite da Costa, todos os associados da ACMP, exceto os integrantes da Diretoria.

    Art. 2 - O concurso envolve duas categorias: A, relativa a peas processuais e extrajudiciais e b, atinente a artigos jurdicos.

    Pargrafo nico. A critrio de cada Comisso Julgadora, podero ser concedidas menes honrosas, em nmero de at 3 (trs) para cada categoria.

    Art. 3 - Na categoria A, cada interessado poder inscrever somen-te 1 (um) trabalho forense (denncia, petio inicial, parecer ou razes e contra-razes de recursos), que tenha sido efetivamente apresentado em processo judicial, civil ou criminal, no perodo de 17 de junho de 2008 a 30 de junho de 2009, ou pea extrajudicial (portaria de instaura-o, promoo de arquivamento e termo de ajustamento de conduta), elaborada no mesmo perodo e j homologada pelo Conselho Superior do Ministrio Pblico (CSMP), se for o caso.

    Pargrafo nico. A inscrio dever ser feita mediante ofcio en-dereado Diretoria, com indicao do nome do candidato, bem como da Vara, Cmara, Cartrio e nmero do processo no qual se encontra a pea processual inscrita e nmero do Procedimento Administrativo ou Inqurito Civil e cpia do ato de homologao pelo CSMP, no caso de pea extrajudicial, se for o caso.

    Art. 4 - Na categoria b, somente ser aceita a inscrio de 1 (um) artigo jurdico por associado, que conter no mximo 20 (vinte) laudas, a ser redigido de acordo com as normas da ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas).

    Pargrafo nico. A inscrio dever ser feita mediante ofcio en-dereado Diretoria, com indicao do nome do candidato.

    Art. 5 - O trabalho dever ser encaminhado pelos Correios, por correspondncia registrada com Aviso de Recebimento (AR), ou pro-tocolado na Secretaria da ACMP, situada na Av. Othon Gama DEa, 900, Centro Executivo Casa do Baro - Bloco A, 1 andar, Centro, Flo-rianpolis/SC, com 3 (trs) fotocpias impressas e legveis, juntamente com o CD-ROM ou Disquete da pea ou artigo inscrito, AT O DIA 31 DE JULhO DE 2009.

  • 11

    1 - Ser admitida inscrio via e-mail, tambm at o dia 31 de julho de 2009, modalidade em que as vias impressas e o CD-ROM ou Disquete sero dispensados. Neste caso, a ACMP enviar e-mail con-firmando a inscrio, que dever ser conferido, impresso e arquivado pelo candidato.

    2 - Os trabalhos ou artigos recebidos aps esta data estaro automaticamente inscritos para o concurso de 2010.

    3 - Os candidatos podero participar simultaneamente das categorias A e B.

    Art. 6 - Haver uma Comisso Julgadora para cada categoria.

    1 - Para a categoria A, a Comisso Julgadora ser composta pe-los seguintes integrantes: Vidal Vanhoni Filho, Guido Feuser e Pedro Roberto Decomain.

    2 - Para a categoria b, a Comisso Julgadora ser composta pelos seguintes integrantes: Paulo de Tarso Brando, Ricardo Luiz DellAgnollo e Moser Vhoss.

    Art. 7 - Encerrado o prazo de inscrio, as Comisses Julgadoras tero o prazo de 45 (quarenta e cinco) dias para julgar os trabalhos e artigos inscritos.

    Pargrafo nico Na avaliao dos trabalhos e artigos, as Comis-ses Julgadoras levaro em conta os seguintes critrios:

    Forma de apresentao at 2 (dois) pontos

    Correo de linguagem at 2 (dois) pontos

    Contedo Jurdico at 6 (seis) pontos

    Art. 8 - Ficam institudos os seguintes prmios para os trabalhos e artigos classificados em cada categoria:

    1 lugar R$ 1.000,00

    2 lugar R$ 700,00

    3 lugar R$ 500,00

    Pargrafo nico. Aos candidatos vencedores ser entregue ainda placa alusiva premiao.

  • 12

    Art. 9 - A Diretoria da ACMP fica autorizada a publicar os traba-lhos e artigos vencedores, bem como comunicar a concesso do Prmio Corregedoria-Geral do Ministrio Pblico e Procuradoria-Geral de Justia, com a solicitao de anotao nos assentamentos funcionais dos vencedores.

    Art. 10 - Os casos omissos sero resolvidos pela Diretoria da ACMP.

    Florianpolis, 20 de maio de 2009.

    RUI CARLOS KOLb SChIEFLER

    Presidente da ACMP

    LARA PEPLAU

    Diretora Cultural e de Relaes Pblicas

  • 13

    Sonia Maria Demeda Groisman PiardiPromotora de Justia do Ministrio Pblico de Santa Catarina

    III PRMIO MILTON LEITE DA COSTA - 2009Categoria A: Pea Processual - 1 lugar

    EXCELENTSSIMO SENhOR DESEMbARGADOR PRESIDENTE DO TRIbUNAL DE JUSTIA DE SANTA CATARINA

    Ao Originria: 023.08.018436-0Agravo de Instrumento n. 2009.013169-4Agravante: Estado de Santa CatarinaAgravado: Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina

    A Representante do MINISTRIO PBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA, no uso de suas atribuies legais, vem, respeito-samente, presena de V. Exa., apresentar contrarrazes ao Recurso de Agravo de Instrumento interposto pelo Estado de Santa Catarina nos autos de n. 023.08.018436-0, nas formas anexas.

    Florianpolis, 05 de junho de 2009.

    SONIA MARIA DEMEDA GROISMAN PIARDI

    Promotora de Justia

    Atuao Florianpolis Edio Especial - Prmio Milton Leite da Costa 2009/2010 p. 13 - 32 2011

  • 14

    AGRAVANTE: ESTADO DE SANTA CATARINAAGRAVADO: MINISTRIO PbLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA---------------------------------------------------------------------------------------------AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 2009.013169-4AO CIVIL PbLICA DE ObRIGAO DE FAZER C/C PEDIDO DE MEDIDA LIMINARTRMITE EM 1 GRAU: UNIDADE DA FAZENDA PbLICA DA COMARCA DA CAPITAL---------------------------------------------------------------------------------------------CONTRARRAZES EXCELENTSSIMO SENhOR DESEMbARGADOR RELATOR

    1 SNTESE DOS FATOS

    O agravado ajuizou Ao Civil Pblica de Obrigao de Fazer cumulada com pedido de Medida Liminar diante da falta de providn-cias do Estado de Santa Catarina em relao s inmeras irregularidades constatadas pela Vigilncia Sanitria Estadual, em vistorias realizadas no Hospital Regional de So Jos (HRSJ), nos anos de 2004, 2005 e 2007 que deram origem ao Auto de Intimao n. 8867 de fls. 659/669 dos autos principais, datado de 9.8.2007, abarcando 240 irregularidades.

    Persistindo os problemas, mesmo aps inmeras negociaes desenvolvidas pelas Promotorias de Justia de So Jos e a 30 da Capital, objetivando uma composio extrajudicial para a questo, o Ministrio Pblico no teve outra alternativa seno ajuizar a presente actio, requerendo, em liminar, o cumprimento de obrigao de fazer, nos termos do art. 3 da Lei n. 7.347/1985, consistente nas adequaes das irregularidades sanitrias apontadas nos autos de intimao expedido pela prpria Vigilncia Sanitria Estadual.

    O MM. Juzo a quo, s fls. 1119/1123 dos autos, deferiu o pedido liminar para determinar ao ru a correo das irregularidades sanit-rias apontadas no documento das fls. 659/669 (ACP n. 023.08018436-0), constatadas no Hospital Regional de So Jos/SC, no prazo de 1 ano a

  • 15

    contar da intimao, sob pena de multa diria no importe de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), em caso de descumprimento.

    Inconformado, o Estado-ru interps o presente recurso de Agra-vo de Instrumento, objetivando a reforma da deciso agravada, sob os fundamentos que rebato a seguir.

    2 PRELIMINARMENTE

    2.1 Da impossibilidade Jurdica do Pedido

    Como prejudicial de mrito, o agravante sustenta que o feito merece ser extinto face a impossibilidade jurdica do pedido, tendo em vista que as medidas requeridas somam-se a diversas outras demandas com idntico teor ajuizadas simultaneamente para cada uma das unidades hospitalares que compem o complexo hospitalar da Gran-de Florianpolis, citando as ACPs n. 023.08.019571-0, 023.08.018436-0, 023.08.017791-6, 023.08.018461-0 e 023.08.014424-4, as quais tambm incursionariam na competncia para a elaborao de polticas pblicas, que defendem ser exclusiva do Poder Excutivo, e, no cuidando de ile-galidade ou inconstitucionalidade, so prerrogativa deste ltimo e no podem ser passveis de revogao ou alterao pelo Poder Judicirio.

    Tal alegao foi brilhantemente descartada pelo juzo de Primeiro Grau, quando da anlise da contestao, pois est focada numa viso tradicional e inadequada do Estado Democrtico de Direito, no qual o Poder Estatal deve ser visto como uno e divisvel apenas para facilitao e efetivao de suas funes. Existe uma tripartio de competncias precpuas, at para que se evite a perigosa concentrao de poder, pois quem o detm tende a dele abusar.

    Em razo disso, o princpio da autonomia e da independncia entre os poderes da Repblica no est concebido com carter absoluto, tampouco vem para permitir excessos de um, sem o controle de outro, sobre bens relevantes como o caso da vida e da sade. Ao contrrio, a separao e a harmonia entre os poderes foi concebida e estabelecida para potencializar e fiscalizar as aes de um pelos demais, evitando, assim, cometimento de abusos e ilegalidades.

  • 16

    Como bem evidenciou a deciso hostilizada, a alegao de violao Separao dos Poderes no justifica a inrcia do Poder Executivo Estadual em cumprir o seu dever constitucional de garantir sade Populao (fls.1121).

    A Carta Magna, ao abordar o direito sade, assenta:Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido mediante polticas pblicas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doena e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servios para sua promoo, proteo e recuperao.

    Art. 197. So de relevncia pblica as aes e servios de sade, cabendo ao poder pblico dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentao, fiscalizao e controle, devendo sua execuo ser feita diretamente ou atravs de terceiros e, tambm, por pessoa fsica ou jurdica de direito privado.

    Art. 198. As aes e servios pblicos de sade integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

    I descentralizao, com direo nica em cada esfera de governo;

    II atendimento integral, com prioridade para as ativida-des preventivas, sem prejuzos dos servios assistenciais;

    III participao da comunidade.

    1. O sistema nico de sade ser financiado, nos termos do art. 195, com recursos do oramento da seguridade social, da unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, alm de outras fontes.

    Por seu turno, a Constituio Estadual em seu art. 153 ratificou o disposto no art. 196 da CF, tambm elegendo a sade como um direito do cidado e um dever do Estado.

    No presente caso, a provocao judicial feita pelo Ministrio Pblico em defesa de toda a sociedade justifica-se pela comprovao nos autos da omisso do Estado de Santa Catarina em sanar as diversas irregularidades sanitrias constatadas no Hospital Regional de So Jos, cuja soluo no pode ficar indefinidamente merc da convenincia e da oportunidade do Administrador ou do Legislador. Alis, desde 2004 portanto, h 5 (cinco) anos o Ministrio pblico aguarda a opor-tunidade para que o Estado-ru tome as providncias que lhe cabem.

    O Judicirio, por sua vez, no estaria cumprindo sua funo de po-der igual e harmnico se, diante da omisso de outro Poder, igualmente

  • 17

    se omitisse, deixando de examinar o mrito de causa como a em questo. Nessas situaes, o controle jurisdicional se faz imperioso para o equil-brio de foras, pois o administrado possui nos princpios constitucionais a garantia de que no ser oprimido pela envergadura do poder pblico, de modo que no h mais espao para criao do ato administrativo dis-cricionrio desvinculado dos princpios e normas constitucionais.

    Esse o entendimento perfilhado pela jurisprudncia deste Co-lendo Tribunal de Justia:

    Apelao cvel. Representao civil. Programa Social Sen-tinela. Atendimento de criana. Determinao judicial. Possibilidade. Dever do Estado de assegurar os direitos dos infantes. Exegese do art. 227 da CF e arts. 4 e 5 do ECA. Afronta ao princpio da separao dos Poderes no configurada. Sentena confirmada. Recurso desprovido.

    (...)

    A matria dos autos tem sido objeto de inmeros prece-dentes desta Corte, e no raro se firmou o entendimento de que compete Administrao Pblica, calcada no seu poder discricionrio, estabelecer as polticas sociais deriva-das de normas programticas, vedado ao Poder Judicirio interferir nos critrios de convenincia e oportunidade que norteiam as prioridades traadas pelo Executivo, inclusive alguns desses julgados tem a relatoria deste signatrio.

    Contudo, esse posicionamento est sendo reconsiderado e em razo dessa releitura a jurisprudncia da Corte tem entendido que quando o Judicirio efetua o controle das omisses administrativas, em verdade no est infringindo a separao e harmonia entre os Poderes, mas sim cum-prindo o relevante papel de exigir a realizao prtica dos preceitos insertos na Constituio Federal, notadamente no que diz respeito preservao da dignidade da pessoa humana, bem como dos direitos da criana e do adolescen-te. TJSC, Ap.Cv. 2007.064123-0, da Capital, rel. Des. Cid Goulart, j. 30.04.1008. (grifei)

    O Egrgio Superior Tribunal de Justia tambm adota o mesmo en-tendimento quanto ao controle judicial do ato administrativo discricionrio:

    Resp 575998/MG RECuRSO ESPECIAL 2003/0135074-8

    Relator(a) Ministro LuIZ FuX (1122)

    rgo Julgador T1 - PRIMEIRA TuRMA

    Data do Julgamento 07/10/2004

  • 18

    Data da Publicao/Fonte DJ 16/11/2004 p. 191

    Ementa

    PROCESSuAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. COLETA DE LIXO. SERVIO ESSENCIAL. PRESTAO DESCON-TINuADA. PREJuZO SADE PBLICA. DIREITO FuNDAMENTAL. NORMA DE NATuREZA PROGRA-MTICA. AuTO-EXECuTORIEDADE. PROTEO POR VIA DA AO CIVIL PBLICA. POSSIBILIDADE. ESFE-RA DE DISCRICIONARIEDADE DO ADMINISTRADOR. INGERNCIA DO PODER JuDICIRIO.

    1. Resta estreme de dvidas que a coleta de lixo constitui servio essencial, imprescindvel manuteno da sade pblica, o que o torna submisso regra da continuidade. Sua interrupo, ou ainda, a sua prestao de forma des-continuada, extrapola os limites da legalidade e afronta a clusula ptrea de respeito dignidade humana, porquanto o cidado necessita utilizar-se desse servio pblico, indis-pensvel sua vida em comunidade.

    2. Releva notar que uma Constituio Federal fruto da vontade poltica nacional, erigida mediante consulta das expectativas e das possibilidades do que se vai consagrar, por isso cogentes e eficazes suas promessas, sob pena de restarem vs e frias enquanto letras mortas no papel. Ressoa inconcebvel que direitos consagrados em normas menores como Circulares, Portarias, Medidas Provisrias, Leis Ordinrias tenham eficcia imediata e os direitos con-sagrados constitucionalmente, inspirados nos mais altos valores ticos e morais da nao sejam relegados a segundo plano. Trata-se de direito com normatividade mais do que suficiente, porquanto se define pelo dever, indicando o sujeito passivo, in casu, o Estado.

    (...)

    4. A determinao judicial desse dever pelo Estado, no encerra suposta ingerncia do judicirio na esfera da ad-ministrao.

    Deveras, no h discricionariedade do administrador frente aos direitos consagrados, qui constitucionalmente. Nesse campo a atividade vinculada sem admisso de qualquer exegese que vise afastar a garantia ptrea.

    5. um pas cujo prembulo constitucional promete a dis-seminao das desigualdades e a proteo dignidade humana, aladas ao mesmo patamar da defesa da Federa-o e da Repblica, no pode relegar a sade pblica a um plano diverso daquele que o coloca, como uma das mais belas e justas garantias constitucionais.

  • 19

    6. Afastada a tese descabida da discricionariedade, a nica dvida que se poderia suscitar resvalaria na natureza da norma ora sob enfoque, se programtica ou definidora de direitos.

    7. As meras diretrizes traadas pelas polticas pblicas no so ainda direitos seno promessas de lege ferenda, encartando-se na esfera insindicvel pelo Poder Judicirio, qual a da oportunidade de sua implementao.

    8. Diversa a hiptese segundo a qual a Constituio Fe-deral consagra um direito e a norma infraconstitucional o explicita, impondo-se ao judicirio torn-lo realidade, ainda que para isso, resulte obrigao de fazer, com re-percusso na esfera oramentria.

    9. Ressoa evidente que toda imposio jurisdicional Fazenda Pblica implica em dispndio e atuar, sem que isso infrinja a harmonia dos poderes, porquanto no regime democrtico e no estado de direito o Estado soberano submete-se prpria justia que instituiu. Afastada, assim, a ingerncia entre os poderes, o judici-rio, alegado o malferimento da lei, nada mais fez do que cumpri-la ao determinar a realizao prtica da promessa constitucional.

    (...)

    11. Recurso especial provido. (grifei)

    Mais:Processo Resp 948944 / SP RECuRSO ESPECIAL 2007/0101123-6

    Relator(a) Ministro JOS DELGADO (1105)

    rgo Julgador T1 - PRIMEIRA TuRMA

    Data do Julgamento 22/04/2008

    Data da Publicao/Fonte DJE 21/05/2008

    Ementa

    ADMINISTRATIVO. PROCESSuAL CIVIL. RECuRSO ES-PECIAL. AO CIVIL PBLICA. FORNECIMENTO DE REMDIO. DOENA GRAVE. ACRDO FuNDADO EM PRINCPIOS CONSTITuCIONAIS. IMPOSSIBILIDA-DE DE EXAME DO APELO ESPECIAL. VIOLAO DO ART. 535, II, DO CPC. NO-OCORRNCIA.

    1. Cuida-se de ao civil pblica movida pelo Ministrio Pblico do Estado de So Paulo e pelo Ministrio Pblico Federal em face do INSS objetivando garantir criana J. L, acometida da molstia denominada puberdade pre-

  • 20

    coce verdadeira, tratamento mediante fornecimento do medicamento NEODECAPEPTYL.

    (...)

    4. Nesse sentido, destaco do julgado impugnado (fls. 158/159): No caso concreto, possvel que a criana tenha direito a receber tutela jurisdicional favorvel a seu interes-se, com fundamento em princpios contidos na Lei Maior, ainda que nenhuma regra infraconstitucional vigente apresente soluo para o caso. Para a soluo desse tipo de caso, denominado por R. Dworkin como hard case(caso difcil), no se deve utilizar argumentos de natureza po-ltica, mas apenas argumentos de princpio. O pedido de fornecimento do medicamento menor(direito a prestaes estatais stricto sensu direitos sociais fundamentais), tra-duzse, in casu, no conflito de princpios: de um lado, os da dignidade humana, de proteo ao menor, do direito sade, da assistncia social e da solidariedade e, de outro, os princpios democrtico e da separao dos Poderes.

    A concretizao das normas constitucionais implica um processo que vai do texto da norma(do seu enunciado)para uma norma concreta norma jurdica que, por sua vez, ser um resultado intermedirio em direo norma deciso(resultado final da concretizao). (J.J Gomes Ca-notilho e F. Mller).

    Pelo modelo sntese de ponderao de princpios (Alexy), o extremo benefcio que a determinao judicial para fornecimento do medicamento proporciona menor faz com que os princpios constitucionais da solidariedade, da dignidade humana, de proteo sade e a criana preva-leam em face dos princpios democrtico e da separao de poderes, minimamente atingidos no caso concreto.

    5. Recurso especial conhecido em parte e no-provido. Ausncia de

    violao do art. 535, II, do CPC. (grifei)

    Portanto, no h que se falar em invaso do mbito da discricio-nariedade da Administrao, tampouco em violao do princpio da separao dos poderes, pois o direito vida e sade no se tratam de normas meramente programticas e sim de prioridade absoluta, asse-gurados constitucionalmente nos arts. 5, caput, e 196 da Carta Magna.

    Do mesmo modo, no se pode dizer que o Ministrio Pblico pretende determinar polticas pblicas de competncia exclusiva do Poder Executivo ao defender a sociedade da omisso e do descaso em que esto sendo deixados os pacientes do SuS que buscam atendimento

  • 21

    no Hospital Regional de So Jos/SC, face a persistncia das irregula-ridades que representam grande nocividade diante do risco de conta-minao presente no local. Tal situao continuar sendo combatida pelo Ministrio Pblico enquanto a sade for tratada com tal desprezo pelo Administrador, uma vez que est devidamente legitimado pela Constituio Federal.

    Nesse ponto, cabe lembrar a recente interdio da uTI do mesmo Hospital (22/5 a 3/6/2009), em face da propagao de infeco hospita-lar provocada pela presena naquele ambiente da bactria acinetoba-cer desenvolvedora de resistncia a medicamentos que redundou na suspeita de 6 (seis) mortes, suspenso de cirurgias, fechamento de leitos e transferncias de pacientes. Por evidente, a presente atuao Ministerial visa a obstar que tal se repita em outros setores do HRSJ.

    Assim, deve ser afastada a alegao de violao separao dos poderes, vez que o Poder Judicirio no invade a discricionariedade da Administrao quando visa, apenas, a suprir sua omisso no tocante garantia dos direitos fundamentais, cumprindo com seu relevante papel de determinar a realizao prtica dos preceitos constitucionais, mormente quanto obedincia dignidade da pessoa humana como valor supremo. Demonstra-se totalmente descabida, diante de toda a argumentao ex-pendida, a alegao do agravante acerca da impossibilidade jurdica do pedido, no cabendo outra medida seno o seu desacolhimento.

    Finalmente, o Ministrio Pblico do Estado de Santa Catarina no pretende e nunca pretendeu elaborar polticas de sade pblica. Muito pelo contrrio, o Ministrio Pblico atua para que o Estado de Santa Catarina cumpra com as polticas pblicas que a Constituio Federal delineou e o prprio Estado assumiu efetivar. Tanto que a ao objeto deste agravo e as demais referidas s foram ajuizadas aps longas e exaustivas negociaes, com tempo suficiente para que o Estado se organizasse, planejasse e destinasse recursos, de modo a manter o adequado funcionamento dos servios que reconheceu como indispensveis recuperao da sade de seus cidados. No crvel que o ente pblico ponha em funcionamento um hospital do porte do Regional de So Jos e, depois, no promova a manuteno necessria ao seu funcionamento, bem assim a capacitao de seus servidores, e despreze a fiscalizao realizada por seus rgos internos.

  • 22

    3 MRITO

    3.1 Da aplicao da Reserva do Possvel frente o Direito Vida e Sade

    Em suas razes de mrito, aduz o Estado-agravante que a busca da proteo dos direitos fundamentais e at da reduo das desigualdades sociais no se realiza sem a necessria e acurada reflexo de seus im-pactos; que a pretenso como a sub judice somente se materializa dentro da reserva do financeiramente possvel e que no pode ser exigida sem que, em contrapartida, seja feita uma anlise se tais custos encontram respaldo nos limites financeiros do Estado, assim como se existe pre-viso oramentria.

    Ocorre que, em se tratando de direitos fundamentais, precipu-amente tratando da dignidade da pessoa humana da qual decorre o direito vida e sade, dever do Estado, no cabe valorar insuficincia de ordem econmica sem qualquer comprovao que a sustente.

    O bice da falta de previso oramentria, ao contrrio do que pre-tende fazer crer o agravante, no pode servir de pretexto para descum-prir obrigao prestacional direcionada rea da sade, pois o governo possui meios de solucionar tal questo, no podendo os destinatrios dos servios de sade do SuS pagar essa conta com sua prpria vida. A falta de condies sanitrias no Hospital Regional de So Jos uma afronta dignidade de seus usurios, colocando-os em risco de morte.

    Esta a lio retirada dos ensinamentos de Ingo Wolfgang Sarlet:Por mais que os poderes pblicos, como destinatrios precpuos de um direito sade venham a opor alm da j clssica alegao de que o direito sade ( a exemplo dos direitos sociais prestacionais em geral) foi positivado como norma de eficcia limitada os habituais argumentos da ausncia de recursos e da incompetncia dos rgos judicirios para decidirem sobre a alocao e destinao de recursos pblicos, no nos parece que esta soluo possa prevalecer, ainda mais nas hipteses em que est em jogo a preservao do bem maior da vida humana. No nos esqueamos de que a mesma Constituio que consagrou o direito sade estabeleceu evidenciando, assim, o lugar de destaque outorgado ao direito vida uma vedao praticamente absoluta (salvo em caso de guerra

  • 23

    regularmente declarada) no sentido da aplicao da pena de morte (art. 5, inc. XLVII, alnea a). Cumpre lembrar, mais uma vez, que a denegao dos servios essenciais de sade acaba como si acontecer por se equiparar aplicao de uma pena de morte para algum cujo crime foi o de no ter condies de obter com seus prprios recursos o atendimento necessrio, tudo isto, habitual-mente sem qualquer processo e, na maioria das vezes, sem possibilidade de defesa, isto sem falar na virtual ausncia de responsabilizao dos algozes, abrigados pelo anoni-mato dos poderes pblicos. (SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficcia dos Direitos Fundamentais. 7 Edio. RS.Livraria do Advogado/2006, p. 346). Destaquei.

    Esse pensamento est em conformidade com a jurisprudncia do Su-premo Tribunal Federal, como ilustra a ementa da deciso proferida na ao de descumprimento de preceito fundamental (ADPF), a seguir transcrita:

    ARGuIO DE DESCuMPRIMENTO DE PRECEITO FuNDAMENTAL. A QuESTO DA LEGITIMIDADE CONSTITuCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVEN-O DO PODER JuDICIRIO EM TEMA DE IMPLE-MENTAO DE POLTICAS PBLICAS, QuANDO CONFIGuRADA HIPTESE DE ABuSIVIDADE GOVER-NAMENTAL. DIMENSO POLTICA DA JuRISDIO CONSTITuCIONAL ATRIBuDA AO SuPREMO TRI-BuNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBTRIO ESTATAL EFETIVAO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONMICOS E CuLTuRAIS. CARACTER RELATIVO DA CONFORMAO DO LEGISLADOR. CONSIDERA-ES EM TORNO DA CLuSuLA DA RESERVA DO POSSVEL. NECESSIDADE DE PRESERVAO, EM FAVOR DOS INDIVDuOS, DA INTEGRALIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NCLEO CONSuBSTANCIA-DOR DO MNIMO EXISTENCIAL. VIABILIDADE INS-TRuMENTAL DA ARGuIO DE DESCuMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAO DAS LIBERDA-DES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITuCIONAIS DE SEGuNDA GERAO. (ADPF-MC45/DF, relator Min. Celso de Mello, DJ 29/4/2004).

    Do mesmo modo, entende esse Egrgio Tribunal de Justia de Santa Catarina:

    APELAO CVEL AO CIVIL PBLICA FORNE-CIMENTO DE MEDICAMENTOS IMPOSSIBILIDADE FINANCEIRA DIREITO VIDA E SADE INTE-LIGNCIA DOS ARTIGOS 196 DA CARTA MAGNA E 153 DA CONSTITuIO ESTADuAL E DA LEI N 8.080/90 DEVER DO MuNICPIO DE ZELAR PELA

  • 24

    SADE PBLICA DIREITO QuE SuPLANTA QuAL-QuER FORMALIDADE BuROCRTICA Ou INTERESSE FINANCEIRO VISADO PELO ENTE PBLICO (...) (Apela-o Cvel n. 2008.017900-0, de Turvo, Relator Des. Cludio Barreto Dutra, j. Em 6.6.2008).

    Na persecuo da concretizao das garantias fundamentais aqui citadas, o Ministrio Pblico Federal ajuizou a Ao Civil Pblica n. 2008.72.00.012168-4, com intuito de compelir a unio a promover a contratao, por tempo determinado, de pessoal para atender a neces-sidade temporria de excepcional interesse pblico, de ativao de toda a capacidade de leitos atualmente existentes no Hospital universitrio da Universidade Federal de Santa Catarina e, em definitivo, a sua condenao a fazer concurso pblico para o preenchimento definitivo dos cargos a serem temporariamente ocupados por fora da liminar postulada, pretenso essa confirmada pela Justia Federal na deciso cujo trecho se transcreve:

    (...)

    A presente ao tem por escopo o controle da alegada omisso da unio na contratao de pessoal necessrio para manter em regular funcionamento unidades do Hospital universit-rio, vinculado uFSC, bem como a omisso no suprimento do pessoal indispensvel para colocar em funcionamento outras unidades do mesmo nosocmio j inauguradas.

    As omisses combatidas nesta ao (a) colocam em risco e/ou afetam direta e indiretamente a sade da populao; (b) deixam desassistida a sade das pessoas que se utili-zam ou que potencialmente utilizariam o mesmo servio integrado na rede do SuS , uma vez que o Hu s atende por esse sistema. (...)

    Os direitos sociais no tm por objeto uma singela proteo em abstrato, porquanto ensejam um agir do Estado na sua implementao. O direito sade , pois, um direito eminentemente prestacional, vinculado utilizao dos recursos existentes para sua consecuo. Bem por isso, a Constituio Federal de 1988 confere relevncia pblica s aes e servios de sade, nos termos do transcrito art. 197.

    No se olvida que o regramento constitucional do direito sade encerra uma carga de relevncia econmica, pois o Estado no pode oferecer aos seus cidados alm da-quilo que financeiramente possvel, e a soma das aes adotadas para implementar o direito sade representa um custo a repercutir na sua efetivao. Isso esbarra na disponibilidade de oramento pblico e nas regras ora-

  • 25

    mentrias. Sobre o tema, dividem-se a doutrina e a juris-prudncia, porm destaque-se que as ltimas orientaes apontam para uma flexibilizao dos postulados clssicos, curvando-se tese de que, num conflito entre princpios constitucionais, deva-se ponderar para que no haja sacrif-cio para a eficcia e efetividade dos direitos fundamentais, sustentculos da dignidade da pessoa humana.

    (...)

    Pelo visto, tambm no possvel reconhecer que a unio tenha uma limitao de ordem tcnica ou financeira para no implementar integralmente o servio de sade, com a contratao do pessoal necessrio para fazer funcionar in-tegralmente as instalaes do Hu que foram inauguradas.

    Nestes termos, tenho por satisfeito o requisito do fumus boni juris para o deferimento da medida liminar.

    Quanto ao periculum in mora, est caracterizado no preju-zo, de difcil ou impossvel reparao, que os usurios do Hu/uFSC suportaro com a demora na efetiva utilizao de toda a potencialidade daquele hospital, reduzindo as chances de atendimento e cura, sobretudo para pacientes do SuS que necessitem se submeter a intervenes cirr-gicas de maior complexidade e, ainda, a deteriorao que recair sobre o patrimnio pblico no utilizado.

    Ante o exposto, DEFIRO o pedido de antecipao de tutela requerido pelo MPF. (...) (ACP n 2008.72.00.012168-4, Juiz Federal Hildo Nicolau Peron, 2 Vara Federal de Florian-polis, j. em 18.12.2008)

    Cumpre ressaltar que, diante da deciso acima transcrita, a unio assim como fez o Estado ora recorrente interps Agravo de Instru-mento buscando a suspenso da medida liminar concedida pelo juzo a quo, que restou desprovido pelo Tribunal Regional Federal da 4 Regio, em julgamento proferido no dia 20.01.2009 (Autos n. 2009.04.00.001839-1/SC, Rel. Des. Federal Joo Surreaux Chagas).

    Julgados como esse, alm dos j citados e dos ensinamentos de juristas consagrados, deixam clara a lio de que no se pode sobrepor o princpio da previso oramentria (art. 167, inc. II e VI, da CF) ao princpio do atendimento sade (art. 6, 196, 198, inc. II, da CF), pois, tratando-se o direito sade de obrigao estatal, despiciendas as alega-es de ausncia de verbas ou de falta previso oramentria, o direito invocado no pode se sujeitar discricionariedade do administrador, porquanto ao Judicirio compete fazer cumprir as leis.

  • 26

    Assim, no h como o Estado esquivar-se ao cumprimento do dever de adequar as instalaes do Hospital Regional de So Jos s exigncias sanitrias, conforme apontado no documento das fls. 659/669, sob a alegao de que preciso analisar seus impactos financeiros no ente pblico. Medidas para soluo das irregularidades constatadas de-vem ser adotadas com urgncia, frente ao grave risco de contaminao a que esto expostos os usurios dos servios de sade prestados no local, preponderando, sobre esse aspecto, as garantias constitucionais mximas do direito vida e sade.

    Evidencia-se, mais uma vez, que a fiscalizao que deu incio a demanda agravada data de 2004 e que o ajuizamento da Ao Civil P-blica ocorreu em 17 de maro de 2008, lapso temporal mais que suficiente para que o agravante pudesse ter-se programado, destinado recursos e sanado as irregularidades apontadas pela Vigilncia Sanitria Estadual. No cabe, agora, servir-se da prpria omisso para defender-se.

    3.2 Das providncias tomadas pelo Estado quanto s irregu-laridades sanitrias constantes do Auto de Intimao da Vigilncia Sanitria e da razoabilidade na fixao do prazo

    O Estado-agravante destaca que esto sendo realizadas obras em todos os hospitais pblicos da Grande Florianpolis e que, no que concerne ao Hospital Regional de So Jos, o setor de emergncia foi totalmente reformado. Alm disso, juntou documentos referentes realizao, em 2004, de impermeabilizao dos blocos A, D e parte do bloco H em 2005, da readequao da unidade de internao 2 A e 3 e, em 2008, da reforma da rede de esgoto.

    Afirma, ainda, que: esto em obras os setores de nutrio paren-teral, enteral e lactrio, com previso de trmino este ano; o Sistema de Controle da qualidade da Nutrio Parenteral est sendo providencia-do pelo LACEN; est em andamento o projeto de reforma do Centro Cirrgico e do Centro de Materiais Esterelizados, a ser iniciada neste ano; esto em fase de estudos tcnicos a reforma e a adequao do am-bulatrio geral de pediatria e radiologia; e o processo de reforma da farmcia est pronto para a abertura da licitao.

    No mais, alega o agravante que todas as pendncias apontadas no auto de fls. 659/669, que no dependiam de obras, foram sanadas,

  • 27

    e que esto pendentes, to-somente, aquelas que necessitam de obras e que, quanto s pendncias relativas cozinha, foram todas sanadas com a terceirizao do servio, no qual as refeies so preparadas fora do nosocmio e a empresa contratada possui alvar da vigilncia sanitria.

    Desse modo, tendo em vista que a liminar determinou que todas as irregularidades detectadas fossem sanadas no prazo de 1 (um) ano, a contar da intimao, que se deu em 26.02.2009, restam mais de 8 (oito) meses para que todas elas estejam devidamente sanadas e as obras con-cludas, prazo suficiente ante as afirmaes acima transcritas sobre as medidas j adotadas. Efetivamente, o agravado espera que as obrigaes impostas ao Estado-agravante sejam efetivamente cumpridas, inclusive com a concluso de todas as obras, em benefcio da sociedade, que tem direito a atendimento de sade de qualidade, sob pena da aplicao da multa estipulada em caso de descumprimento.

    A alegao e o requerimento do agravante de que necessita de 3 (trs) anos para cumprir as medidas requeridas no podem ser acolhidos. Trata-se de perodo demasiadamente prolongado. Estamos aqui tratando de vidas humanas em situao de risco, face s ms condies em que esto sendo prestados servios essenciais para mantena e recuperao da sade, motivo mais que suficiente para impor medida de eficcia ob-jetiva para resguardar e promover tal interesse do pblico indisponvel.

    Por derradeiro, o prazo de 1 (um) ano fixado pelo D. Magistrado a quo mostra-se razovel tendo em vista que visa a proteger e garantir a preservao de vidas, ainda mais em se tratando de uma instituio como o Hospital Regional de So Jos, que atende um contingente enor-me de pessoas diariamente. Exige-se providncias rpidas e efetivas, sob pena de arriscar-se a integridade de grande nmero de pacientes e at mesmo dos funcionrios.

    De outro lado, a experincia tem demonstrado que a prorrogao do prazo estipulado s contribuir para que outros problemas apare-am nesse nterim, os quais, ento, tero o mesmo tratamento daqueles descritos no Auto das fls. 659/669: o descaso.

    3.3 Da Possibilidade de Fixao de Multa

    O tema sade pblica constitucionalmente vem definido como di-reito de todos e dever do Estado, conforme evidencia o art. 196 da CF/88,

  • 28

    e deve ser garantido mediante polticas pblicas sociais e econmicas comprometidas com a reduo do risco de doenas e outros agravos.

    De outro lado, as aes pblicas voltadas densificao material desse direito de todos integram um sistema nico em todo o pas (art. 198 da CF/88), financiado com recursos do oramento da seguridade social, da unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, bem como de outras fontes.

    A sade como princpio fundante de todo o sistema jurdico a iniciar pelo constitucional vida humana digna espelha e vincula-se ao iderio poltico, social e jurdico predominante no pas, ao mesmo tempo em que, face a sua caracterstica de aderncia, ele opera sobre os comportamentos estatais ou particulares de forma cogente e neces-sria. Por tais razes, tem-se sustentado que: (a) todas as normas do sistema jurdico devem ser interpretadas no sentido mais concordante com esse princpio; (b) as normas de direito ordinrias desconformes Constituio e seus princpios fundacionais (dentre os tais destaco o sob comento) no so vlidas.

    Justifica-se tal postura, porquanto a sade como condio de possibilidade da dignidade da pessoa humana, em verdade, passa a construir o que chamamos de indicador constitucional parametrizante do mnimo existencial, porque se afigura como uma das condies indispensveis: construo de uma sociedade livre, justa e solidria; garantia ao desenvolvimento nacional; erradicao da pobreza e da marginalizao, bem como reduo das desigualdades sociais e regionais; e promoo do bem de todos, sem preconceitos de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao1.

    Na verdade, esses postulados esto dispersos ao longo de todo o Texto Poltico, consubstanciando-se nos direitos e garantias funda-mentais, individuais e coletivos, nos direitos sociais, como a educao, a sade, a previdncia, etc. Por sua vez, os Poderes Estatais e a prpria sociedade civil (atravs da cidadania ou mesmo de representaes institucionais dela) esto ligados a esses indicadores norteadores da Repblica, pois vinculam todos os atos praticados pelos agentes pblicos e pela comunidade, no sentido de v-los comprometidos efetivamente com a implementao daquelas garantias.

    1 LEAL, Rogrio Gesta. Estado, Sociedade e Administrao Pblica: novos paradigmas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005.

  • 29

    Se isso verdade, sustenta-se que qualquer poltica pblica no Brasil tem como funo nuclear a de servir como esfera de intermedia-o entre o sistema jurdico constitucional (e infraconstitucional) e o mundo Republicano, Democrtico e Social que se pretende instituir no pas. Em outras palavras, por meio de aes estatais absolutamente vinculadas/comprometidas com os indicadores, parametrizantes de mnimo existencial previamente delimitados, que vai se tentar diminuir a tenso entre validade e faticidade que envolve o Estado e a Sociedade Constitucional e o Estado e a Sociedade Real no Brasil.

    O Cdigo de Processo Civil prev mecanismos que buscam garantir a efetividade das decises judiciais, autorizando o juiz, de ofcio ou a re-querimento da parte, a aplicar a pena de multa, conforme preceitua o art. 461-A, 3, ex vi do art. 461, 4 e art. 287, todos do mesmo Diploma Legal. Em sede de Ao Civil Pblica, h que se considerar, tambm, o art. 11 da Lei n. 7.347/1985, que igualmente estabelece a fixao da penalidade.

    A jurisprudncia do Egrgio Superior Tribunal de Justia admite expressamente a fixao de multa diria contra o Estado, como forma de compelir o Ente Pblico a cumprir obrigaes como, por exemplo, de fornecimento de medicamentos:

    PROCESSuAL CIVIL. TuTELA ANTECIPADA. FORNE-CIMENTO DE MEDICAMENTOS PELO ESTADO. BLO-QuEIO DE VERBAS PBLICAS. IMPOSSIBILIDADE. 1) cabvel, inclusive contra a Fazenda Pblica, a aplicao de multa diria (astreintes) como meio coercitivo para impor o cumprimento de medida antecipatria ou de sentena definitiva de obrigao de fazer ou entregar coisa, nos termos dos artigos 461 a 461-A do CPC. Nesse sentido a jurisprudncia do STJ, como se pode verificar, por exemplo, nos seguintes precedentes: AgRg no Ag 646240/RS, 1 Turma, Min. Jos Delgado, DJ de 13.06.2005; RESP 592132/RS, 5 Turma, Min. Jos Arnaldo da Fonseca, DJ de 16.05.2005; AgRg no RESP 554776/SP, 6 Turma, Min. Paulo Medina, DJ de 06.10.2003; AgRg no RESP 718011/TO, 1 Turma, Min. Jos Delgado, DJ de 30.05.2005. [...] 4) Recurso Especial provido (RESP n 766475/RS, 1 Turma, Rel. Min. Teori Albino Zavaski, data: 27.09.2005, DJu 10.10.2005, p. 257).

    Por fim, como se no bastasse a segurana constitucional em que todo o cidado brasileiro se ancora para garantir condies mnimas de vida digna, atravs dos direitos fundamentais (dentre eles a sade), a fixao da multa diria, com fulcro no art. 11 da Lei n. 7.347/1985,

  • 30

    medida que se impe, sob pena de valer a pena descumprir os primados constitucionais. Tal penalidade deve consistir em montante significativo, capaz de desestimular o no cumprimento da deciso judicial. Deve se revestir de carter inibitrio, de forma que no seja vantajoso parte desobediente o no atendimento da ordem judicial. Portanto, absolu-tamente possvel a aplicao da multa diria de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), pois se encontra coberta de razoabilidade e cujo o nico objetivo fazer com que o Estado cumpra a obrigao de fazer determinada pelo Juzo s fls. 1119/1123 dos autos principais.

    3.4 Da constitucionalidade da criao do Fundo para Reconsti-tuio dos bens Lesados no Estado de Santa Catarina

    Insurge-se o agravante contra a destinao da multa imposta pelo juzo de Primeiro Grau na concesso da medida antecipatria, ao Fundo para Reconstituio dos Bens Lesados FRBL, conforme requerido pelo Ministrio Pblico na exordial, alegando a inconstitucionalidade do decre-to que o criou em Santa Catarina e requerendo destinao diversa verba.

    O FRBL tem previso no art. 13 da Lei Federal n. 7.347/1985 e foi institudo no Estado de Santa Catarina pelo Decreto n. 1.047/1987, alterado pelos Decretos n. 3.410/1989 e n. 2.666/2004. destinado reparao dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valores artsticos, estticos, histricos e paisagsticos em todo o territrio catarinense.

    O Fundo constitudo por receita decorrente de condenaes ju-diciais pelos danos descritos anteriormente, por doaes, transferncias oramentrias, multas aplicadas em caso de descumprimento de ordens judicial, indenizaes estabelecidas extrajudicialmente em Termos de Ajustamento de Conduta e rendimentos de depsitos bancrios e aplicaes financeiras (observadas as disposies legais pertinentes). gerenciado por um Conselho Estadual, tendo como Presidente um Procurador de Justia, indicado pelo Procurador-Geral de Justia, alm de representantes das Secretarias de Estado da Tecnologia, Energia e Meio Ambiente; da Justia e Administrao; da Procuradoria-Geral do Estado; e trs representantes de associaes de proteo ao meio am-biente, ao consumidor, ordem econmica, livre concorrncia, ou ao patrimnio artstico, esttico, histrico, turstico e paisagstico (redao

  • 31

    dada pelo Decreto Estadual n. 534/1991).

    O agravante embasa a afirmao de que a Lei n. 7.437/1985, que criou o fundo no mbito da unio, no serve para institui-lo nos Estados-membros, em respeito ao princpio federativo e que, portanto, estes devem aprovar leis que venham a criar o Fundo e seu Conselho Gestor para, pos-teriormente, regulament-lo por meio de decreto, sendo inconstitucional a regulamentao de lei federal por via de decreto estadual.

    Carece de razo o Estado-agravante. Isso porque a Lei n. 7.347/1985 estabeleceu linhas gerais sobre a criao e destinao das verbas condenatrias ao Fundo, de acordo com a competncia legislativa de iniciativa da unio conferida pela Constituio Federal em seu art. 165, 9, inc. II, o que no impede que os Estados-membros o regula-mentem por via de decreto, pois no se trata de competncia legislativa exclusiva ou privativa da unio.

    Alis, o prprio texto legal citado anteriormente faz meno ex-pressa gesto do Fundo por Conselho Estadual com participao do Ministrio Pblico e representantes da comunidade e, em nenhum mo-mento, determina que sua criao seja realizada atravs de lei especfica.

    Veja-se:Art. 13. Havendo condenao em dinheiro, a indenizao pelo dano causado reverter a um fundo gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participaro necessariamente o Ministrio Pblico e repre-sentantes da comunidade, sendo seus recursos destinados reconstituio dos bens lesados.

    Pargrafo nico. Enquanto o fundo no for regulamentado, o dinheiro ficar depositado em estabelecimento oficial de crdito, em conta com correo monetria. (grifei).

    Por outro lado, depreende-se da anlise do texto legal acima que ao falar em regulamentao no haveria a necessidade de edio de nova lei para criar o Fundo no mbito de cada unidade da federao, mas sim apenas a sua regulamentao, inclusive atravs de decreto estadual, conforme fez o Decreto n. 1.047/1987.

    Causa, no mnimo, estranheza a tese de insconstitucionalidade incidental do Decreto em referncia, quando a prpria Procuradoria-Geral do Estado nele tem assento, que representado, atualmente, pela Dra. Cristina Maria Caputo, conforme documento anexo.

  • 32

    Por uma questo de coerncia, caso realmente considerasse incons-titucional a norma legal que regulamentou o FRBL de Santa Catarina, a Procuradoria-Geral do Estado no deveria dele participar, muito menos validar as decises tomadas pelo Conselho Gestor, atravs do voto de sua representante.

    Portanto, merece ser afastada a inconstitucionalidade do Fundo para Reconstituio dos Bens Lesados FRBL aventada pelo recorrente.

    4 DOS PEDIDOS

    Diante de todo o exposto, o Ministrio Pblico requer o conheci-mento e desprovimento do Agravo de Instrumento interposto, mantm-se o r. decisum prolatado pelo culto Juzo Monocrtico, que deferiu a me-dida liminar determinando a adequao das irregularidades sanitrias do Hospital Regional de So Jos, de acordo com o Auto de Intimao de fls. 659/669 dos autos principais, no prazo de um ano, bem como a imposio de multa em caso de descumprimento.

    Termos em que,

    Pede Deferimento.

    Florianpolis, 05 de junho de 2009.

    SONIA MARIA DEMEDA GROISMAN PIARDI

    PROMOTORA DE JuSTIA

  • 33

    Anal Librelato LongoPromotora de Justia do Ministrio Pblico de Santa Catarina

    III PRMIO MILTON LEITE DA COSTA - 2009Categoria A: Pea Processual - 2 lugar

    EXCELENTSSIMO JUIZ DE DIREITO DA UNIDADE DA FAZEN-DA PbLICA DA COMARCA DA CAPITAL - SC

    O MINISTRIO PbLICO DO ESTADO DE SANTA CATARI-NA, por meio dos Promotores de Justia infra-assinados, no uso de suas atribuies legais, vem, perante Vossa Excelncia, com fundamento nos artigos 127 e 129, inciso III, ambos da Constituio da Repblica Fede-rativa do Brasil, artigos 1, inciso IV, e 5, ambos da Lei n. 7.347/1985; e artigo 17 da Lei n. 8.429/1992, e com base nos documentos extrados do Procedimento Administrativo Preliminar n. 082/2008/26 PJC, promover a presente

    AO CIVIL PBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

    Atuao Florianpolis Edio Especial - Prmio Milton Leite da Costa 2009/2010 p. 33- 54 2011

  • 34

    em face de

    Constncio Alberto Salles Maciel, inscrito no CPF sob o n. 216.040.539-68, Secretrio Municipal da Administrao, a ser encontrado na Secretaria Municipal da Administrao, localizada na rua Conselheiro Mafra n. 656, Centro, Florianpolis, CEP 88010-102;

    Rosemeri bartucheski berger, inscrita no CPF sob o n. 563.563.669-14, residente na rua Desembargador Pedro Silva n. 3300, Itaguau, Florianpolis-SC, CEP 88080-701;

    Sandro Ricardo Fernandes, inscrito no CPF sob o n. 594.198.579-72, a ser encontrado na Secretaria Municipal de Administrao, loca-lizada na rua Conselheiro Mafra n. 656, Centro, Florianpolis, como tambm em seu endereo residencial, na rua Antnio Jos Duarte n. 260, ap. 303, Coqueiros, Florianpolis, CEP 88080-120;

    Maria Ester Schorn harb, portadora da CI n. 1070811136, a ser encontrada na Secretaria Municipal da Administrao, localizada na rua Conselheiro Mafra n. 656, Centro, Florianpolis, CEP 88010-102;

    Maurcio Jos Espndola, inscrito no CPF sob o n. 485.028.049-87, a ser encontrado na Secretaria Municipal da Administrao, localizada na rua Conselheiro Mafra n. 656, Centro, Florianpolis, CEP 88010-102;

    Mrio Pires, inscrito no CPF sob o n. 044.957.539-08, residente na rua Madalena Barbi n. 39, ap. 502, Centro, Florianpolis, CEP 88015-190;

    Mrio Pires Comrcio ME, inscrita no CNPJ sob o n. 07.378.579/0001-70, na pessoa de seu representante legal, Mrio Pires, inscrito no CPF sob o n. 044.957.539-08, residente na rua Madalena Barbi n. 39, ap. 502, Centro, Florianpolis, CEP 88015-190;

    Inzia Rosa Silveira, inscrita no CPF sob o n. 693.553.809-25, residente na rua Prefeito Dib Cherem n. 2829, ap. 101, Capoeiras, Flo-rianpolis, CEP 88090-000;

    Maria Elizabeth Silveira Pires, inscrita no CPF sob o n. 691.462.099-72, residente na rua Madalena Barbi, n. 39, ap. 502, Centro, Florianpolis, CEP 88015-190, a ser encontrada, tambm, na Inzia Rosa Silveira Ltda. ME tica Master, localizada na rua Felipe Schmidt n. 249, sala 19, Centro Comercial ARS, Centro, Florianpolis, CEP 88010-001;

    Inzia Rosa Silveira ME - tica Mster, inscrita no CNPJ sob

  • 35

    01.862.621/001-47, na pessoa de sua representante legal, Inzia Rosa Silveira, inscrita no CPF sob o n. 693.553.809-25, residente na rua Prefeito Dib Cherem n. 2829, ap. 101, Capoeiras, Florianpolis, CEP 88090-000;

    Jos henrique Lisboa da Silva, inscrito no CPF sob o n. 743.536.409-68, residente na rua Prof. Egdio Ferreira, n. 1100, ap. 106, Bloco 40, Conj. Hab. Panorama, Florianpolis, CEP 88090-500;

    Andria dos Santos, inscrita no CPF sob o n. 835.952.529-34, residente na rua Prof. Egdio Ferreira, n. 1100, ap. 106, Bloco 40, Conj. Hab. Panorama, Florianpolis, CEP 88090-500;

    Mrio Ricardo Pires, inscrito no CPF sob o n. 088.154.880-49, residen-te na rua 1451, n. 100, ap. 203, Centro, Balnerio Cambori, CEP 88330-801;

    J.h.S Comrcio e Importao de Materiais pticos Ltda. ME, inscrita no CNPJ sob o n. 06.169.043/0001-81, na pessoa de seu repre-sentante legal, Jos henrique Lisboa da Silva, inscrito no CPF sob o n. 743.536.409-68, residente na rua Prof. Egdio Ferreira, n. 1100, ap. 106, Bloco 40, Conjunto Habitacional Panorama, Florianpolis, CEP 88090-500;

    Adelmar Assis Cordeiro, inscrito no CPF sob o n. 674.838.019-72, a ser encontrado em seu endereo comercial na rua Felipe Schmidt n. 249, sala 24, Centro Comercial ARS, Centro, Florianpolis, CEP 88010-001 (Adelmar Assis Cordeiro ME tica Veja);

    Adelmar Assis Cordeiro ME - tica Veja, inscrita no CNPJ sob o n. 03.720.577/001-66, com sede na rua Felipe Schmidt n. 249, sala 24, Centro Comercial ARS, Centro, Florianpolis-SC, CEP 88010-001, por seu representante legal, Adelmar Assis Cordeiro, inscrito no CPF sob o n. 674.838.019-72;

    Elenita Nhoatto, inscrita no CPF sob o n. 296.563.629-34, residente na rua 1451, n. 100, ap. 203, Centro, Balnerio Cambori, CEP 88330-801;

    Mrio Nhoatto Pires, inscrito no CPF sob n. 049.069.919-71, residen-te na rua 1451, n. 100, ap. 203, Centro, Balnerio Cambori, CEP 88330-801;

    Centro tico Itapema Ltda. ME, inscrita no CNPJ sob n. 03.328.545/0001-10, com sede na avenida Nereu Ramos n. 3082, sala 2, Meia Praia, Itapema, CEP 88220-000, por sua representante legal, Elenita Nhoatto, CPF 296.563.629-34, residente na rua 1451, n. 100, ap. 203, Centro, Balnerio Cambori, CEP 88330-801;

  • 36

    pelos fatos e fundamentos jurdicos que passa a expor e, ao final, requerer.

    Inicialmente, cabe dizer que o apurado no Procedimento Adminis-trativo Preliminar n. 082/2008/26 PJC demonstrou a prtica de atos de improbidade e condutas delitivas em licitaes ocorridas nos anos de 2006, 2007 e 2008, diante dos vnculos familiares e subjetivos entre os supostos concorrentes com a participao de agentes pblicos (doc. 1 e doc. 2).

    Todos os certames tm em comum o fato de terem sido realizados no mbito da Secretria de Assistncia Social do Municpio de Floria-npolis para a contratao de empresa especializada no fornecimento de armao e lentes de culos de grau ao atendimento dos usurios de Projeto Social, alm da presena constante de alguns particulares.

    Todavia, diante da alternncia de agentes pblicos envolvidos e algumas empresas conluiadas, embora alguns personagens (os articula-dores) sejam comuns nas trs licitaes (2006, 2007 e 2008), optou-se pela ciso dos casos para a propositura da ao a fim de proporcionar uma melhor compreenso dos fatos e mais eficincia na prestao jurisdicional.

    A presente ao, portanto, refere-se ao certame regido pelo edital Convite n. 058/SADM/DLCC, ocorrido no ano de 2007, e os documen-tos que a acompanham foram extrados do PAP n. 082/2008/26PJC.

    1 DA LEGITIMIDADE PASSIVA

    A Lei de Improbidade Administrativa delimita como sujeitos pas-sivos de atos de improbidade, dentre outros, os rgos da Administrao Direta, Indireta ou Fundacional de qualquer dos Poderes da unio, dos Estados, Distrito Federal e dos Municpios, e como sujeitos ativos todas as pessoas que exercem, mesmo que temporariamente ou sem remunerao, por eleio, nomeao, designao, contratao ou qualquer forma de investidura ou vnculo, mandato, cargo, emprego ou funo nos rgos das citadas entidades (arts. 1o e 2o da Lei n. 8.429/1992). As penas da citada Lei so aplicveis, tambm, a todo aquele que, mesmo no sendo agente pblico, induza ou concorra para a prtica de ato de improbidade ou dele se beneficie, direta ou indiretamente (art. 3o do mesmo diploma legal).

  • 37

    Esto no polo passivo da presente Ao Civil Pblica:

    Constncio Alberto Salles Maciel, na poca, Secretrio Municipal da Administrao;

    Rosemeri bartucheski berger, na poca, Secretria Municipal de Assistncia Social.

    Sandro Ricardo Fernandes, na poca, Diretor Central de Licita-es, Contratos e Convnios;

    Maria Ester Schorn harb, na poca, Presidente da Comisso Permanente de Licitao para Materiais e Servios;

    Maurcio Jos Espndola, na poca, membro da Comisso Per-manente de Licitao para Materiais e Servios e presente ao ato de abertura dos envelopes;

    Mrio Pires proprietrio da empresa Mrio Pires Comrcio ME (doc. 3), suposto concorrente da Licitao;

    Inzia Rosa Silveira, proprietria da empresa Inzia Rosa Silvei-ra ME (nome fantasia tica Master), suposta concorrente da Licitao (doc. 4);

    Maria Elizabeth Silveira Pires, gerente da empresa Inzia Rosa Silveira ME (doc. 5);

    Jos henrique Lisboa da Silva e Andria dos Santos, supostos pro-prietrios da empresa J.h.S Comrcio e Importao de Materiais Opticos Ltda. ME, essa, por sua vez, suposta concorrente da Licitao (doc. 6);

    Mrio Ricardo Pires, o verdadeiro proprietrio da empresa J.H.S Comrcio e Importao de Materiais Opticos Ltda. ME (doc. 7);

    Adelmar Assis Cordeiro, proprietrio da empresa Adelmar Assis Cordeiro ME tica Veja, essa, por sua vez, suposta concorrente da Licitao (doc. 8); e

    Elenita Nhoatto e Mrio Nhoatto Pires, proprietrios da empresa Centro tico Itapema Ltda. ME, essa, por sua vez, suposta concorrente na licitao (doc. 9).

  • 38

    2 DOS FATOS

    Em 25 de janeiro de 2007, a Secretaria Municipal de Assistncia Social solicitou a abertura de Processo Licitatrio para contratao de empresa especializada no fornecimento de armao e lentes de culos de grau, acompanhada da pesquisa de mercado (doc. 101, fls. 1209/1212).

    Em 9 de fevereiro de 2007, Sandro Ricardo Fernandes, Diretor de Licitaes, Contratos e Convnios, e Constncio Alberto Salles Maciel, Secretrio Municipal da Administrao, lanaram o Edital Convite n. 058/SADM/DLCC/2007 (doc. 10, fls. 1214/1224), sem Parecer Jurdico Prvio.

    O referido Edital (doc. 10, fls. 1214/1224) no continha exign-cia quanto habilitao jurdica dos participantes (art. 28 da Lei n. 8.666/1993) apresentao do contrato social ou equivalente, embora no item 2.1 estivesse consignado ser possvel a participao de empresas cadastradas ou no no Municpio de Florianpolis.

    Em 16 de fevereiro de 2007, Sandro Ricardo Fernandes, Diretor Central de Licitaes, Contratos e Convnios, fez publicar o Aviso de Licitao n. 58 (doc. 10, fl. 1225).

    Ainda na referida data, a Presidente da Comisso Permanente de Licitao, Maria Ester Schorn harb (doc. 10, fl. 1229), enviou convite s mesmas 3 (trs) empresas convidadas no ano anterior (Convite n. 131/SADM/DLCC/2006 doc. 11): a) Inzia Rosa Silveira ME (doc. 10, fl. 1.226); b) J.H.S Comrcio e Importao de Materiais pticos Ltda. ME (doc. 10, fl. 1.227); c) Mrio Pires Comrcio ME (doc. 10, fl. 1.228).

    Receberam os convites pelas empresas, todos no dia 16 de fevereiro de 2007: a) Inzia Rosa Silveira; b) Jos Henrique Lisboa da Silva; e c) Mrio Pires, respectivamente.

    No dia da abertura dos envelopes, em 1 de maro de 2007, pre-sentes Mria Ester Schorn harb e Maurcio Jos Espndola, Membros da Comisso, nenhum dos representantes das empresas esteve presente reunio (doc. 10, fl. 1.245).

    As evidncias do conluio j se tornam evidentes. Alm do no com-parecimento dos supostos concorrentes, segundo a Ata de Recebimento da Documentao (doc. 10, fl. 1.245), a empresa Inzia Rosa Silveira ME

    1 Os nmeros das folhas referidos aps o doc. 10 referem-se aos nmeros das folhas do PAP n. 082/2008/26.

  • 39

    no apresentou a maioria dos documentos exigidos: Certido Negativa do INSS, Certido da Dvida Ativa da unio, Certido Negativa Fede-ral, Certido Negativa Estadual e Certido de Regularidade do FGTS, motivo pelo qual foi inabilitada.

    A empresa J.h.S Comrcio e Importao de Materiais pticos Ltda. ME, por sua vez, no apresentou sequer o envelope com a docu-mentao habilitatria, somente um envelope contendo sua proposta, o que tambm a tornou inabilitada (doc. 10, fl. 1245).

    No havendo outra alternativa, j que o conluio estava visvel aos olhos de todos, Maria Ester Schorn harb exarou parecer pela repetio da sesso de abertura dos envelopes, estendendo o convite a outras empresas do ramo (fl. 1258), o que foi acatado por Sandro Ricardo Fernandes (doc. 10, fl. 1259).

    Em 2 de abril de 2007, Sandro Ricardo Fernandes, Diretor Central de Licitaes, Contratos e Convnios, fez publicar novamente o Aviso de Licitao n. 58/2007 (doc. 10, fl. 1241).

    Em 2 de abril de 2007, a Presidente da Comisso Permanente de Licitao, Maria Ester Schorn harb, enviou convite a outras duas em-presas no cadastradas no Cadastro de Fornecedores do Municpio: a) Adelmar Assis Cordeiro ME tica Veja (doc. 10, fl. 1.242); b) Centro tico Itapema Ltda. (doc. 10, fl. 1243), e o repetiu ao onipresente Mrio Pires Comrcio ME (doc. 10, fl. 1.244).

    Os convites foram recebidos pelas empresas, todos no dia 2 de abril de 2007 (doc. 10, fls. 1242/1244).

    Na nova data de abertura dos envelopes (12 de abril de 2007), os trs supostos concorrentes foram considerados habilitados, mesmo diante do evidente parentesco, sobrinho e tio, entre Mrio Pires (pro-prietrio da tica Mrio Pires Comrcio ME) e Mrio Nhoato Pires (um dos proprietrios da empresa Centro tico Itapema Ltda), pelos membros da Comisso presentes, Maria Ester Schorn harb e Maurcio Jos Espndola (doc. 10, fl. 1280).

    Estranhamente no h na cpia do Procedimento Licitatrio enviada ao Ministrio Pblico, por meio do Ofcio n. 1093/SADM/08 (doc. 10), cpia do Relatrio de Julgamento. Pelas cpias das Propostas de Preos a vencedora teria sido a empresa Mrio Pires Comrcio ME (a mesma do ano anterior, doc. 11).

  • 40

    Na sequncia de atos e fatos estranhos, h um pedido em 17 de abril de 2007, de Rosemeri bartucheski berger, no sentido de que fosse revo-gado o Processo Licitatrio, por falta de interesse em contratar (doc. 10, fl. 1287), o que foi acatado por Sandro Ricardo Fernandes (doc. 10, fl. 1288).

    Esse pedido particularmente estranho porque no foi oferecida qualquer justificativa para a repentina falta de interesse em contratar, quando previamente esse mesmo interesse e a necessidade do aludido contrato haviam sido sustentados pela Secretaria Municipal de Assistncia Social, fato que deixou, mais uma vez, a populao carente do Municpio desprovida de um importante programa de assistncia social durante o ano de 2007 (o Contrato de 2006 foi durou at fevereiro de 2007).

    3 DO DIREITO

    Visando a dar aplicabilidade ao preceito inscrito no artigo 37, 4, da Constituio da Repblica, o legislador ordinrio editou, em 2 de junho de 1992, a Lei n. 8.429, que dispe sobre as sanes aplicveis aos agentes pblicos nos casos de enriquecimento ilcito no exerccio de mandato, cargo, emprego ou funo na Administrao Pblica Direta, Indireta ou Fundacional, estabelecendo sanes especficas aos atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilcito (art. 9), que causam prejuzo ao errio (art. 10), e que atentam contra os princpios da Administrao Pblica (art. 11).

    As condutas de todos os rus, conforme sero abaixo esmiua-das, amoldam-se s hipteses de improbidade previstas no artigo 10, caput e inciso VIII, e, subsidiariamente, ao art. 11 caput , todos da Lei n. 8.429/1992, como ser a seguir demonstrado, embora com algumas variaes diante da participao de cada um.

    Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa leso ao errio qualquer ao ou omisso, dolosa ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio, apropriao, malbaratamento ou dilapidao dos bens ou haveres das entidades referidas no art. 1 desta lei, e notadamente: VIII - frustrar a licitude de processo licitatrio ou dispens-lo indevidamente; (sem grifo no original)

  • 41

    Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princpios da administrao pblica qual-quer ao ou omisso que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade s instituies, e notadamente:

    I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competncia;

    II - retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofcio;

    A Lei n. 8.429/1992, ao assim dispor, considerou que a frustra-o da licitude da licitao j traz nsita a lesividade decorrente da no oportunizao Administrao Pblica da aquisio da coisa ou a con-tratao dos servios mais vantajosos, sendo, portanto, desnecessria a demonstrao efetiva do prejuzo sofrido pelo errio, nos termos do inciso I do artigo 21 da Lei da Improbidade Administrativa.

    Constncio Alberto Salles Maciel, Secretrio Municipal da Ad-ministrao, fez publicar, em 9 de fevereiro, o edital do Convite n. 058/SADM/DLCC/2007.

    O citado Edital foi publicado sem parecer jurdico prvio.

    A conduta, alm de contrariar o disposto no pargrafo nico do art. 38 da Lei de Licitaes, permitiu que o Convite fosse enviado s mesmas trs empresas participantes do Certame realizado no ano anterior, o que tambm contraria o artigo 22, 6, da j citada Lei de Licitaes:

    Pargrafo nico. As minutas de editais de licitao, bem como as do contratos, acordos, convnios ou ajustes devem ser previamente examinados e aprovadas por assessoria jurdica da Administrao.

    6o Na hiptese do 3o deste artigo, existindo na praa mais de 3 (trs) possveis interessados, a cada novo con-vite, realizado para objeto idntico ou assemelhado, obrigatrio o convite a, no mnimo, mais um interessado, enquanto existirem cadastrados no convidados nas lti-mas licitaes. (Redao dada pela Lei n 8.883, de 1994) (sem grifo no original)

    Como se no bastasse, o referido Edital foi omisso quanto neces-sidade de apresentao de documentao relativa habilitao jurdica pelas empresas no cadastradas. A omisso contrariou o disposto nos

  • 42

    arts. 282 e 40, inc. VI3, da Lei de Licitaes, e teve por fim fazer com que o vnculo de parentesco entre os proprietrios das empresas Mrio Pi-res Comrcio ME e Inzia Rosa Silveira ME e, da mesma forma, num segundo momento, entre os proprietrios das empresas Mrio Pires Comrcio ME e Centro tico Itapema Ltda. ME no fosse facilmente percebido.

    Nos termos do artigo 3 da Lei n. 8666/1993:Art. 3o A licitao destina-se a garantir a observncia do princpio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administrao e ser processada e julgada em estrita conformidade com os princpios bsicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculao ao instrumento convocat-rio, do julgamento objetivo e dos que lhes so correlatos.

    1o vedado aos agentes pblicos:

    I - admitir, prever, incluir ou tolerar, nos atos de convoca-o, clusulas ou condies que comprometam, restrinjam ou frustrem o seu carter competitivo e estabeleam prefe-rncias ou distines em razo da naturalidade, da sede ou domiclio dos licitantes ou de qualquer outra circunstncia impertinente ou irrelevante para o especfico objeto do contrato [...]. sem grifo no original

    As omisses do ru Constncio Alberto Salles Maciel, por si s e ainda que culposas, j so ilegais, como demonstrado acima, e tornam-

    2 Art. 28. A documentao relativa habilitao jurdica, conforme o caso, consistir em: I - cdula de identidade; II - registro comercial, no caso de empresa individual; III - ato constitutivo, estatuto ou contrato social em vigor, devidamente registrado, em se

    tratando de sociedades comerciais, e, no caso de sociedades por aes, acompanhado de documentos de eleio de seus administradores;

    IV - inscrio do ato constitutivo, no caso de sociedades civis, acompanhada de prova de diretoria em exerccio;

    V - decreto de autorizao, em se tratando de empresa ou sociedade estrangeira em funcio-namento no Pas, e ato de registro ou autorizao para funcionamento expedido pelo rgo competente, quando a atividade assim o exigir.

    3 Art. 40. O edital conter no prembulo o nmero de ordem em srie anual, o nome da repar-tio interessada e de seu setor, a modalidade, o regime de execuo e o tipo da licitao, a meno de que ser regida por esta Lei, o local, dia e hora para recebimento da documentao e proposta, bem como para incio da abertura dos envelopes, e indicar, obrigatoriamente, o seguinte:

    [...] VI - condies para participao na licitao, em conformidade com os arts. 27 a 31 desta Lei,

    e forma de apresentao das propostas;

  • 43

    se mais gravosas quando se verifica que assim agiu e se omitiu para ocultar o conluio entre os supostos concorrentes da Licitao. Afinal, Mrio Pires e Inzia Rosa Silveira so av e neto (doc. 2), tendo em comum o vnculo com o Vereador Juarez Silveira, por muito tempo lder do governo na Cmara de Vereadores (doc. 12). Ainda, Mrio Pires e Mrio Nhoato Pires (um dos proprietrios da empresa Centro tico Itapema Ltda.) so sobrinho e tio (doc. 2).

    Rosemeri bartucheski berger j ocupava a Pasta da Assistncia Social desde 2005. No ano de 2006, participou ativamente do Processo Licitatrio Convite n. 131/SADM/DLCC (doc. 11).

    Nesse certame, conforme narrado em outra Ao Civil Pblica, cuja cpia ser oportunamente juntada aos autos, teve conhecimento e aderiu ao conluio entre essas mesmas empresas (Mrio Pires Comrcio ME e Inzia Rose Silveira ME) com seus atos e omisses.

    Na licitao, em questo, estranhamente e imotivadamente, em 17 de abril de 2007, solicitou ao Diretor Central de Licitaes, Contratos e Convnios a revogao do Processo Licitatrio, por falta de interesse (doc. 10, fl. 1287), o que foi acatado por Sandro Ricardo Fernandes (doc. 10, fl. 1288).

    Ouvida no Ministrio Pblico, a R disse no se recordar das razes da revogao (doc. 13).

    Veja-se que sua conduta contraria inicialmente o teor do artigo 49 da Lei n. 8666/1993:

    Art. 49. A autoridade competente para a aprovao do procedimento somente poder revogar a licitao por ra-zes de interesse pblico decorrente de fato superveniente devidamente comprovado, pertinente e suficiente para justificar tal conduta, devendo anul-la por ilegalidade, de ofcio ou por provocao de terceiros, mediante parecer escrito e devidamente fundamentado.

    1o A anulao do procedimento licitatrio por motivo de ilegalidade no gera obrigao de indenizar, ressalvado o disposto no pargrafo nico do art. 59 desta Lei.

    2o A nulidade do procedimento licitatrio induz do contrato, ressalvado o disposto no pargrafo nico do art. 59 desta Lei.

    3o No caso de desfazimento do processo licitatrio, fica assegurado o contraditrio e a ampla defesa.

  • 44

    Por certo, a R em questo viu-se acuada com o cenrio de fraude que mais uma vez se repetia e saltava aos olhos de todos (participao das empresas conluiadas e o xito da empresa Mario Pires Comrcio ME) e preferiu recuar com a adeso ao conluio.

    Todavia, no essa a conduta exigida de um administrador. Tendo conhecimento da fraude no processo licitatrio deveria Rosemeri bar-tucheski berger agir ou comunicar a quem de direito, nos termos dos artigos 87 e 88, incisos II e III da Lei n. 8.666/19934, e no simplesmente omitir-se revogando a licitao como se nada que justificasse tivesse ocorrido.

    Sandro Ricardo Fernandes era o Diretor Central de Licitao, Contratos e Convnios, a quem cabia tomar as devidas providncias, nos termos do j citado Decreto Municipal:

    Art. 3 Ao rgo Central do Sistema de licitaes, contratos e convnios, compete [...]:

    IV - centralizar as licitaes do Poder Executivo Municipal;

    VI - analisar e aprovar previamente os editais de licitao, os contratos e os convnios, quando autorizada a sua de-flagrao pelo Chefe do Poder Executivo;

    4 Art. 87. Pela inexecuo total ou parcial do contrato a Administrao poder, garantida a prvia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanes: I - advertncia; II - multa, na forma prevista no instrumento convocatrio ou no contrato; III - suspenso temporria de partici-pao em licitao e impedimento de contratar com a Administrao, por prazo no superior a 2 (dois) anos; IV - declarao de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administrao Pblica enquanto perdurarem os motivos determinantes da punio ou at que seja promovi-da a reabilitao perante a prpria autoridade que aplicou a penalidade, que ser concedida sempre que o contratado ressarcir a Administrao pelos prejuzos resultantes e aps decorrido o prazo da sano aplicada com base no inciso anterior;

    1o Se a multa aplicada for superior ao valor da garantia prestada, alm da perda desta, res-ponder o contratado pela sua diferena, que ser descontada dos pagamentos eventualmente devidos pela Administrao ou cobrada judicialmente. 2o As sanes previstas nos incisos I, III e IV deste artigo podero ser aplicadas juntamente com a do inciso II, facultada a defesa prvia do interessado, no respectivo processo, no prazo de 5 (cinco) dias teis.

    3o A sano estabelecida no inciso IV deste artigo de competncia exclusiva do Ministro de Estado, do Secretrio Estadual ou Municipal, conforme o caso, facultada a defesa do interessado no respectivo processo, no prazo de 10 (dez) dias da abertura de vista, podendo a reabilitao ser requerida aps 2 (dois) anos de sua aplicao.

    Art. 88. As sanes previstas nos incisos III e IV do artigo anterior podero tambm ser apli-cadas s empresas ou aos profissionais que, em razo dos contratos regidos por esta Lei:

    I - tenham sofrido condenao definitiva por praticarem, por meios dolosos, fraude fiscal no recolhimento de quaisquer tributos;

    II - tenham praticado atos ilcitos visando a frustrar os objetivos da licitao; III - demonstrem no possuir idoneidade para contratar com a Administrao em virtude de

    atos ilcitos praticados.

  • 45

    VII - administrar o cadastro central de materiais, fornece-dores e prestadores de servios;

    VIII - solicitar do rgo executor do Contrato ou Convnio informaes a respeito da sua fiel execuo;

    IX - manter arquivo com cpia de todos os Contratos e Convnios firmados pela Administrao pblica municipal; Pargrafo nico - Sempre que for constatada qualquer irregularidade no cumprimento da contratao ou do convnio, a Diretoria dever, in continenti, relatar formalmente a ocorrncia ao Secretrio da Adminis-trao para as providncias necessrias.

    Sandro Ricardo Fernandes: a) era o responsvel pelo rgo que centralizava (e ainda centraliza) todas as licitaes do Municpio de Florianpolis; b) fez publicar o Edital do Convite n. 058/SADM/DLCC/2007, sem parecer jurdico prvio e com as omisses relativas habilitao jurdica, alm dos Avisos de Licitao n. 58 (doc. 10, fls. 1225 e 1241); c) analisou previamente o Edital do Convite n. 058/SADM/DLCC2007 e, por consequncia, os convites enviados aos trs participan-tes que eram os mesmos participantes do ano anterior; d) tinha conheci-mento que os primeiros trs convidados (J.H.S Comrcio e Importao de Materiais pticos Ltda. ME, Inzia Rosa Silveira - ME e Mrio Pires Comrcio ME) no eram cadastrados, j que era sua funo administrar o cadastro central de fornecedores e, portanto, sabia das cautelas que deveriam ser tomadas (doc. 14); e) tinha conhecimento de que os dois novos participantes convidados, no segundo momento (Adelmar Assis Cordeiro ME tica Veja e Centro tico Itapema Ltda.), igualmente no eram cadastrados at aquela data (doc. 15); f) tinha conhecimento do vnculo subjetivo entre, pelo menos, dois dos participantes, Mrio Pires e Inzia Rosa Silveira; g) permitiu que os novos convites fossem enviados para duas empresas com indiscutvel vnculo de parentesco (Mrio Pires ME e Centro tico Itapema Ltda.), tanto que fez publicar, como j dito acima, o Edital Convite 058/SADM/DLCC/2007, com a omisso relativa habilitao jurdica para que justamente essa vincu-lao no fosse facilmente percebida; h) revogou o processo licitatrio em questo, aparentemente sem motivao (o que contraria o art. 49 da Lei n. 8.666/1993), omitindo-se ao seu dever funcional de, tendo conhe-cimento da fraude, tal qual a Secretria de Assistncia Social, comunicar a quem de direito para aplicao dos arts. 87 e 88 da Lei n. 8.666/1993.

    Maria Ester Schorn harb, na qualidade de Presidente da Comisso

  • 46

    Permanente de Licitaes para Materiais e Servios, enviou os Convi-tes s mesmas empresas convidadas no ano anterior (Convite n. 131/SADM/DLCC/2006 doc. 11): a) Inzia Rosa Silveira EPP (doc. 10, fl. 1.226); b) J.H.S Comrcio e Importao de Materiais pticos Ltda ME (doc. 10, fl. 1.227); e c) Mrio Pires Comrcio ME (doc. 10, fl. 1.228).

    Tal conduta, como j dito, contraria frontalmente o disposto no artigo 22, 6, da j citada Lei de Licitaes e demonstra o animus da R em contribuir para o conluio:

    6o Na hiptese do 3o deste artigo, existindo na praa mais de 3 (trs) possveis interessados, a cada novo con-vite, realizado para objeto idntico ou assemelhado, obrigatrio o convite a, no mnimo, mais um interessado, enquanto existirem cadastrados no convidados nas lti-mas licitaes. (Redao dada pela Lei n 8.883, de 1994)

    Aps, num segundo momento, manteve o Convite empresa Mrio Peres ME (por intermdio de Mrio Pires, um dos grandes ar-ticuladores de todo o esquema) e convidou outras duas empresas no cadastradas: Adelmar Assis Cordeiro ME tica Veja (doc. 10, fl. 1.242) e Centro tico Itapema Ltda. (doc. 10, fl. 1243).

    Como se no bastasse, alm de enviar os referidos Convites, ainda, de posse de toda a documentao apresentada no envelope destinado fase habilitatria, considerou as empresas Mrio Pires Comrcio ME e Centro tico Itapema Ltda. ME habilitadas (doc. 10, fl. 1280).

    uma simples anlise da documentao da empresa Centro tico Itapema Ltda. j chama a ateno: um dos proprietrios Mario Nhoatto Pires (doc. 9).

    Mrio Nhoatto Pires, filho de Mrio Ricardo Pires, que por sua vez av paterno de Mrio Pires (proprietrio da empresa Mrio Pires Comrcio ME) (doc. 2).

    Quando ouvida no Ministrio Pblico, Maria Ester Schorn harb disse no se recordar desta Licitao em especfico, diante do grande nmero de certames realizados pelo Municpio (doc. 16).

    A concluso que exsurge, pelo at ento apurado, que Maria Ester Schorn harb tinha conhecimento do vnculo subjetivo que unia os dois primeiros supostos concorrentes (Mrio Pires e Inzia Rosa Silveira), tanto que aderiu ao conluio repetindo os convites aos mesmos participantes do ano anterior.

  • 47

    Da mesma forma, tinha conhecimento do vnculo subjetivo que unia as empresas Mario Pires ME e Centro tica Itapema Ltda ME: primeiro porque, pela anlise da documentao das empresas, era pos-svel facilmente chegar at tal informao; segundo, porque a empresa Centro tico Itapema Ltda. ME no era cadastrada no Cadastro de Fornecedores do Municpio e, alm disso, localiza-se em Itapema.

    Florianpolis conta atualmente com cerca de, no mnimo, 187 (cento e oitenta e sete) ticas (doc. 17). Por que a R optaria por convidar uma empresa de outro Municpio, em detrimento de todas as que aqui esto localizadas, e justamente uma que possua vnculo de parentesco com Mrio Pires? A resposta no pode ser outra a no ser a de que tinha total conhecimento do conluio e a ele aderiu.

    Nas palavras de Maral Justen Filho5, aplicveis conduta da R e a de Sandro Ricardo Fernandes, quando a administrao optar por convidar sujeito no cadastrado, deve haver evidncia objetiva de que o sujeito con-vidado encontra-se em situao de participar e executar o objeto licitado.

    E continua:No possvel que a Administrao simplesmente invo-que uma competncia discricionria como fundamento de sua deciso de direcionar o convite para um sujeito no cadastrado. Assim, seria viciada a atuao administrativa que se restringisse a verificar nas Pginas Amarelas as empresas existentes no mercado, selecionando algumas delas de modo aleatrio para participarem da licitao. Para escolher os beneficirios do convite, de modo vlido, a Administrao tem de apontar motivos adequados e evidncias objetivas autorizando sua escolha.

    bvio que, ao remeter o convite, a Administrao no necessita fazer constar da correspondncia tais motivos. Mas devero estar consignados nos autos do procedimento administrativo da licitao. A ausncia de motivao da es-colha de um particular no cadastrado para receber o convite autoriza impugnao. Qualqquer dos licitantes cadastrados pode opor-se deciso da autoridade administrativa, cuja au-sncia de motivao autorizar presuno de desvio de poder.

    Portanto, dirigir convite a no cadastrado envolve no apenas a formulao de critrios descriminatrios ade-quados mas a adoo de cautelas satisfatrias para evitar a contratao de um sujeito inidneo.

    5 Comentrios Lei de Licitaes e Contratos Administrativos. 11 ed. So Paulo : Dialtica, 2005. p. 199.

  • 48

    Maurcio Jos Espndola, na qualidade de membro da Comisso Permanente de Licitaes para Materiais e Servios (doc. 10, fl. 1229), inicialmente permitiu, tendo conhecimento, a repetida participao de Inzia Rosa Silveira ME, Mrio Pires ME e J.h.S Comrcio e Importa-o de Materiais pticos Ltda. ME (doc. 10, fl. 1245). Registre-se que o Ru no ano de 2006 era membro da Comisso Permanente de Licitaes para Cadastro e Habilitao e participou ativamente da licitao Convite n. 131/DLCC/SADM, na qual os participantes foram os mesmos (doc. 11 e doc. 18).

    [...] que reconhece como sendo sua a assinatura constan-te na ata de recebimento da documentao e propostas referente ao convite 131/2006, constante na fl. 31; que o depoente assinou a referida ata na qualidade de membro da Comisso Permanente de Licitaes para Cadastro e Habilitao; (doc. 18)

    Nessa oportunidade, em 2006, pode constatar a conduta incom-patvel, de verdadeiros concorrentes, de Inzia Rosa Silveira ME e J.H.S Comrcio e Importao de Materiais pticos Ltda. ME, quando protocolaram os envelopes de documentao no mesmo horrio, no se fizeram presentes ao ato de abertura dos envelopes e, ainda, quando Inzia Rosa Silveira ME no apresentou boa parte da documentao exigida, nitidamente abrindo espao para o neto, Mrio Pires, com sua empresa, Mrio Pires ME, vencer a licitao.

    Na licitao que trata a presente Ao, ocorrida no ano de 2007, o que era dvida passa a restar claro. Maurcio Jos Espndola nitida-mente aderiu ao conluio quando, juntamente com Maria Ester Schorn harb, alm de, num primeiro momento, permitir a repetida participa-o (acima referida), num segundo momento, considerou habilitadas as empresas Mrio Pires Comrcio ME e Centro tico Itapema Ltda., mesmo