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Ano I Número 1 Agosto de 2012 R$ 10,00 Noite na Lapa O Rio que não dorme Carlinhos de Jesus O novo malandro da Lapa Velha Guarda da Portela Grupo de samba completa 40 anos Selarón Arte nas ruas Entrevista: Prefeito Eduardo Paes – A Lapa virou bairro

Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

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Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

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Page 1: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

Ano I • Número 1 • Agosto de 2012 • R$ 10,00

Noite na LapaO Rio que não dorme

Carlinhos de JesusO novo malandro da Lapa

Velha Guarda da PortelaGrupo de samba completa 40 anos

SelarónArte nas ruas

Entrev i s ta : Prefe i to Eduardo Paes – A Lapa v i rou bairro

Page 2: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

A Cidade Maravilhosa sempre foi o berço de manifes-tações culturais que influenciam comportamentos, moda eque estimulam investimentos. A Lapa representa um poloexportador de costumes, ideias e modismos que repercutempara a cidade e em seguida para todo o país.

O bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, conhecido comoberço da boemia carioca e ponto de referência para osamantes da vida noturna, conta, a seu modo, um poucodessa história de crescimento da cidade e do seu potencialde desenvolvimento econômico, cultural e artístico. Umadas características marcantes do bairro é o seu patrimônioarquitetônico, onde tradição e modernidade convivem emharmonia com as mais diversas tribos musicais, numa per-feita tradução do espírito carioca.

Cerca de 60 mil pessoas circulam na Lapa, nos finais desemana, no horário entre 22 horas e 5 da manhã. Falar daLapa é, portanto, falar do Rio de Janeiro que deu certo, queainda tem muito a crescer e do qual nos orgulhamos muito.

Com o início do projeto de revitalização da ZonaPortuária, anunciado pela Prefeitura, Lapa Legal Rio sepropõe a ser um observador atento desse processo detransformação do Centro da Cidade e, mais particularmentedessa região, que uma vez recuperada, se integrará à Lapacomo grande centro artístico, cultural e de lazer da CidadeMaravilhosa.

Nos anos 50, a Lapa era conhecida como “MontmartreCarioca”, uma comparação com o famoso bairro boêmio deParis. Em fins da década de 90, o bairro passou por umprocesso de revitalização e renasceu junto com as novascasas noturnas onde se ouve samba, rock, chorinho, showscom artistas nacionais e internacionais, música eletrônica,hip hop, funk etc., em espaços como o Circo Voador e aFundição Progresso.

A revista terá agendas culturais, dicas gastronômi-cas, personalidades que serão convidadas a escreveremsobre diversos temas, humor, crítica de cinema, música,teatro, bastidores da história do bairro, poesia e muitomais. A finalidade da Revista LAPA LEGAL será informar,além de divertir e divulgar a cultura da cidade do Rio deJaneiro e do bairro da Lapa, que reúne artistas, boêmios,agitadores culturais e é hoje um dos pontos de fulgordas noites cariocas.

Jô A. RamosEditora

Rio de Janeiro, known as The Wonderful City, hasalways been a cradle of cultural currents that influencefashion and trends and pave the way for investments. Laparepresents a nexus for the export of new ideas, styles, andfashions that then radiate throughout the city andsubsequently to the rest of the country.

The Lapa district in Rio de Janeiro is known as thebirthplace of cariocan bohemia and as a reference point fornightlife aficionados, and it recounts its own part of boththe city´s history and its potential for economic, cultural,and artistic growth. One of the notable characteristics ofthis neighborhood is its architectural heritage wheretradition and modernity flourish alongside each other,surrounded by diverse musical enclaves, in a perfectexpression of the carioca spirit.

Nearly 60,000 people spend their evenings in Lapaduring the weekend, going from 11pm to 5am in themorning. To talk of Lapa is to talk of a Rio de Janeiroheaded in the right direction, one that we can speakabout with pride and at the same time acknowledge itsfurther room for growth.

With the mayor´s announcement of the plan to revitalizethe shipping and harbor district of Rio de Janeiro, LapaLegal Rio proposes to act as an attentive observer duringthis transformation of the city center, and especially in aregion which, once recovered, will join Lapa as a vibrantcenter for artistic, cultural, and recreational pursuits in theWonderful City.

In the 1950s Lapa was known as the ‘cariocanMontmarte’, an allusion to the famous bohemian district inParis. At the end of the 1990s, Lapa underwent a processof revitalization and rebirth as nightclubs opened theirdoors to fans of samba, rock, chorinho, Brazilian andinternational stars, electronic, hip hop, funk, to name but afew, in locales such as CircoVoador (‘The Flying Circus’)and Fundição Progresso (‘The Progress Foundry’).

Our magazine will include cultural calendars,gastronomic tips, music features, and celebrity columnistsinvited to write about numerous topics, including humor,film reviews, theater, historical lore, poetry, and muchmore. The objective of Lapa Legal Rio is to provideinformation, to entertain, and to promote the culture of Riode Janeiro, and in particular the Lapa district as a gatheringplace for artists, bohemians, and cultural innovators and asthe pulse of radiant cariocan nightlife.

Editorial

Tels. (21) 2256-6467 | 9968-8114 • E-mail: [email protected]: Jô A. Ramos | Editor Assistente: Thiê Rock | Repórteres: Gabriela Anastácia, Camila Santos, Marcelo Vieira

Design: Julio Lapenne | Caricaturista: Roberto Netto | Colunistas: Tom Leão, Sergio Santeiro, Chico Junior

Ano I Número 1

Agosto de 2012Sumário4 Arte popular de Selarón

5 Velha Guarda da PortelaGrupo de samba completa 40 anos

6 Carlinhos de JesusNosso malandro carioca conquista a Lapa

8 Prefeito Eduardo Paes:A Lapa virou bairro

10 Noite na Lapa

12 Cinema: Sergio SanteiroAnchieta José do Brasil

14 Crítica: Jô A. RamosXingu – O filme

15 Música: Tom LeãoJack White – O último guitar hero

16 Gastronomia: Chico JuniorPratos e petiscos com o jeito do Rio

17 Lapa: da boemia para os ateliês de moda

18 Roberta BarretoA educadora que mudou a Baixada

21 Novos museus ajudam a revitalizar a zona portuária

22 Família Gomes comemora 40 anos à frente do Bar e Restaurante Urca

23 Movimento de mulheres sacode o Rio de Janeiro

24 Agência digital AM4 presente na Lapa com a cara do Rio

26 Banda Lion HeartDonos do Bordel

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LDO

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Page 3: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

Com uma história marcada pelo pioneirismo

no mundo do samba, a Velha Guarda da Portela acaba

de completar 40 anos. Considerada um dos pilares da

cultura do samba da mais pura linhagem, é responsável

por um precioso roteiro de músicas dos compositores e

por impulsionar o renascimento das Velhas Guardas das

outras escolas. “Estamos velhos, mas ainda não morre-

mos”, canta o Hino da Velha Guarda.

O grupo original era composto por grandes nomes:

Ventura, Aniceto, Alberto Lonato, Francisco Santana,

Antônio Rufino dos Reis, Mijinha, Manacéa, Alvaiade,

Alcides Dias Lopes, Armando Santos e Antônio Caetano.

Com o passar do tempo, a formação foi mudando, inte-

grantes idosos foram sendo substituídos, obedecendo a

um valoroso critério fundamental de manutenção das suas

principais características musicais. Segundo o compositor

Monarco, para ingressar na Velha Guarda é preciso “ter

passado”, e a escolha de novos componentes segue a

tradição até hoje. “Tem que ser portelense e ter uma

história na escola para ‘vestir o fardão’”, completa Iranette

Ferreira Barcelos, mais conhecida como Tia Surica.

O primeiro CD da Velha Guarda, “Portela Passado

de Glória”, foi lançado em 1970. Quase três décadas

depois, a cantora Marisa Monte produziu o CD “Tudo

Azul”, onde estão gravados preciosos sambas de terreiro

da escola. Junto aos antigos sambistas da escola, partici-

param outros portelenses apaixonados pela azul e branco

de Madureira: Paulinho da Viola, Marisa Monte, Zeca

Pagodinho e Cristina Buarque. Além desses, Diogo No-

gueira, Beth Carvalho e Teresa Cristina também fecham

parceria e abraçam a VG.

Fonte de inspiração para livros e filme, hoje o grupo

tem 10 componentes ativos em shows: as pastoras Áurea

Maria, Surica e Neide Santana; os compositores Monar-

co e Davi do Pandeiro; e os músicos, Guaracy 7 Cordas,

Serginho Procópio, Marquinhos, Timbira e Dinho. O

objetivo da Velha Guarda da Portela é dar continuidade

à proposta inicial, que é “não deixar morrerem os sam-

bas despretensiosos, sem intenção comercial”, conta

Serginho, o caçula da Velha Guarda. •

Velha Guarda da PortelaGrupo de samba completa 40 anos

5Agosto de 2012Edição 01

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A escadaria do Convento de Santa Teresa, tam-

bém chamada de Escadaria Selarón, foi transformada

num gigantesco mosaico, pelo escritor chileno Jorge

Selarón que é pintor e ceramista autodidata radicado no

Brasil. Depois de percorrer mais de 50 países, escolheu a

Lapa, bairro boêmio carioca, para se instalar. O artista

recolheu mais de dois mil azulejos de todas as partes do

mundo na cor da bandeira brasileira, e aplicou nos 215

degraus e 125 metros da escada que se transformou num

ponto turístico da Lapa e está situada no final da Rua

Teotônio Regadas. Em 2005, a escadaria foi tombada

pela prefeitura da cidade e Selarón recebeu o título de

cidadão honorário do Rio de Janeiro. •

Arte popular de Selarón

Foto

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4 Agosto de 2012Edição 01 ARTE SAMBA

Page 4: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

A noite carioca estava mesmo precisando

preencher o espaço deixado pelos malandros de outrora,

e Carlinhos de Jesus nascido no subúrbio de Marechal

Hermes e criado em Cavalcante, caiu como uma luva no

personagem feito sob medida para ele. Chegou com a

dança de salão, de terno branco, chapéu e camisa listra-

da, rodopiando com suas partners pelos salões do Brasil.

Foi durante 11 anos coreógrafo da comissão de

frente da Escola de Samba Mangueira, voltando a ocu-

par o cargo em 2009, arrasta multidões com o seu

“Bloco dois prá lá dois prá cá” no carnaval e ainda tem

tempo para cuidar da casa

Lapa 40º. Carlinhos investe

na noite carioca sem perder

de vista a sua arte: A

DANÇA. A Cia de dança

Carlinhos de Jesus tem

como filosofia manter a

fidelidade à dança de salão,

mesclando elementos cêni-

cos na composição de suas

coreografias.

Apresenta trabalhos rea-

lizados em cinema, teatro,

TV, workshops e realiza

oficinas de dança no Brasil e

no exterior. Desde sua ori-

gem, em fevereiro de 1991,

o Bloco Dois Pra Lá Dois

Pra Cá une a irreverência e

alegria do Carnaval Carioca

à magia da dança de salão,

atraindo anualmente mais de quatro mil pessoas, entre

artistas, turistas nacionais e internacionais, políticos,

entre outros. O bloco mostra uma performance inédita

no carnaval misturando o samba de salão com o pagode

e muito samba no pé, se tornando o único bloco de

dança de salão do país.

A Lapa, o bairro mais boêmio do Rio de Janeiro,

recebeu de braços abertos a mais nova casa de show –

Lapa 40º – que veio com um presente extra: o coreó-

grafo e dançarino Carlinhos de Jesus, a nossa mais nova

tradução do malandro carioca... no bom sentido, claro.

Sinuca, gafieira, música ao vivo, cerveja, whiskeria,

cardápio variado e internet sem fio em todos os andares

– tudo isso num só endereço. Lapa 40º – Sinuca e

Gafieira, que já é considerada a maior casa de sinuca do

Brasil, com mais de 22 mesas de sinuca variadas – oficial,

bilhar e no formato pool, com caçapas maiores, própria

para os leigos. A capacidade total da casa é de 1.500 pes-

soas e 80 barris de chope gelado por dia, garantidos por

uma câmara frigorífica de 12m2.

O térreo, um imenso calçadão com pedras portugue-

sas que remetem ao calçadão de Copacabana, abriga

mesas de bar, com pequeno

palco para shows de ban-

quinho e violão. O segundo

andar é o espaço reservado

para os verdadeiros amantes

da sinuca. A gafieira fica no

terceiro andar com palco

para pocket-shows de músi-

ca brasileira com acústica e

sonorização de primeira

linha, com capacidade para

600 pessoas. Ali, Carlinhos

de Jesus usa seu know how

no showbizz para levar ar-

tistas para se apresentar na

gafieira, bem como mostrar

seu gingado nas noites de

sábado, quando o espaço é

reservado para a prática da

dança de salão, onde ele

pode exibir tudo que sabe e

olha que não é pouco, deslizando no salão com suas pupilas

e mostrando o seu sorriso, marca registrada do artista.

A infraestrututra da casa foi cuidadosamente prepa-

rada, visando aliar num mesmo ambiente conforto, cul-

tura e qualidade, oferecendo 1.749 m2 de área construída

e 1.344 m2 de espaço destinado ao público, além de ele-

vador, rampas de acesso e banheiros para portadores de

necessidades especiais.

As paredes têm revestimento acústico de poliuretano.

Carlinhos, cerveja, sinuca e muita música, alguém pre-

cisa de mais alguma coisa? Nem eu. •

Nosso malandro cariocaconquista a Lapa

Carlinhos de JesusTexto JÔ A. RAMOS | Fotos CARLOS LEITÃO

7Agosto de 2012Edição 01PERSONALIDADE

Page 5: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

Prefeito, com a Lei sancionada pelo Senhor, transformando a Lapa em bairro, muda alguma coisa?

A Lapa faz parte da história do Rio de Janeiro e, até agora, não era legitimada como bairro. Esta área tem um

charme muito peculiar e nunca esteve tão estruturada quanto está hoje. A partir de agora, deixa de ser apenas conhe-

cida como reduto boêmio para ser um bairro reconhecido geograficamente na cidade. Recentemente, foi muito mais

do que revitalizada. O novo bairro começa na Rua André Cavalcanti e segue até a Glória, incluindo o Passeio Público

e indo quase até a Praça Tiradentes.

A Lapa virou bairro

Podemos esperar melhorias no bairro?

É claro que ainda temos uma série de problemas a

serem resolvidos. Aos poucos, vamos melhorar ainda

mais. Temos o Programa Lapa Legal, que cuida do reor-

denamento da região e da preservação do patrimônio

arquitetônico do Rio Antigo. Recentemente, entregamos

a reforma da Praça Cardeal Câmara, junto aos Arcos.

Outras duas praças e cinco ruas também receberam me-

lhorias. A Secretaria de Obras fez a revisão na rede de

drenagem e a pavimentação de pistas e calçadas, acessi-

bilidade e paisagismo, além da modernização da ilumi-

nação. Agora, precisamos da ajuda da população para

continuar preservando este investimento realizado.

A Lapa recebe mais de 60 mil pessoas nos fins de

semana. A segurança será reforçada?

Com a revitalização da Lapa, a segurança já foi

reforçada. O Governo do Estado está fazendo seu papel

colocando UPPs nas comunidades do entorno e agindo

nas ruas do bairro. Além disso, da nossa parte, investimos

em nova rede de iluminação e vamos ajudar a ordenar o

espaço implantando uma Unidade de Ordem Pública ali.

O Senhor já pensou linkar a Lapa com o Porto

Maravilha oferecendo algum tipo de transporte para

os turistas que desembarcam nos navios? Quem

sabe, a Revista Lapa Legal Rio possa circular como

veículo de informação sobre o Centro / Lapa / Porto

para os turistas nacionais e internacionais.

Tanto a Lapa quanto a região do Porto Maravilha são

dois ícones da história do Rio de Janeiro. A Lapa vive um

momento de renascimento. Enquanto isso, a região do

Porto também está passando por um processo de revitali-

zação. Tanto a Lapa quanto o Porto vivem momentos de

ampliação dos espaços públicos para a melhoria da quali-

dade de vida dos moradores. Já existe a previsão da cons-

trução de VLTs que ligarão o Centro do Rio ao Porto faci-

Prefeito Eduardo Paes:

litando o deslocamento na região. Assim que todo o com-

plexo do Porto estiver pronto, a Riotur vai estudar a me-

lhor maneira de oferecer novos roteiros onde os turistas

possam conhecer as belezas da Lapa e os pontos turísticos

da nossa cidade num mesmo dia, por exemplo. Contamos

com a ajuda da Revista Lapa Legal nesse sentido.

A preservação de patrimônios históricos situados

na Lapa passará por reformas e preservação? Existe

algum projeto?

A Lapa abrange duas áreas de Proteção do Am-

biente Cultural, como trechos do Corredor Cultural e

a APAC Cruz Vermelha. Todo este entorno foi contem-

plado com a revitalização no Programa Lapa Legal. Fo-

ram quase sete hectares de obras. Este mesmo projeto

fez importantes restaurações de bens tombados, como

a dos Arcos da Lapa, patrocinada pelo Banco Santander,

e a da igreja Nossa Senhora do Carmo da Lapa do Des-

terro, apoiada pelo BNDES, por meio de lei de incen-

tivo. A recuperação do Hotel Bragança, na Rua Vis-

conde de Maranguape, está em andamento e também é

fruto da preocupação do patrimônio municipal da re-

gião. Como uma cidade histórica, temos uma preocu-

pação grande com a preservação do patrimônio. Por

isso, a subsecretaria de Patrimônio trabalha de forma

intensa para pensar nas melhores formas de valorizar

esta cultura. Nosso trabalho nesta região é constante.

Quais são os seus planos para o novo bairro?

A partir da agora, como um bairro, a Lapa ganha

uma importância ainda maior dentro do cenário de ação

da Prefeitura do Rio. Queremos que a Lapa continue

sendo parte importante da produção cultural carioca e

preserve seu lado boêmio, além de ser um lugar agradá-

vel para a visitação turística e também para os próprios

moradores. A Lapa é a cara do Rio e sempre estará entre

as nossas prioridades. •

ENTREVISTA 9Agosto de 2012Edição 018

Texto JÔ A. RAMOS | Foto J.P. ENGELBRECHT

O Prefeito do Rio, Eduardo Paes, sancionou no dia 18 de maio oprojeto de lei que transforma a Lapa no mais novo bairro da cidade.

Page 6: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

O verso do poeta Vinícius de Moraes – “De

manhã escureço, De dia tardo, De tarde anoiteço, De

noite ardo” cabe muito bem para definir a Lapa. Este

bairro boêmio de diferentes sons, diferentes nacionali-

dades, diferentes cheiros, tão mesclado na sua com-

posição só poderia resultar nesse enorme sucesso. Na

Lapa circula uma multidão anônima que celebra a vida

nos bares, restaurantes, nas ruas estreitas e perigosas

desprovidas de infraestrutura, mas, nem por isso per-

deu seu charme.

A capacidade de reinventar do carioca é constante.

Estamos sempre procurando novos lugares para exercer a

boemia e festejar a vida, somos o que somos, sem muita

explicação e quando a noite cai ardemos como brasas,

acompanhados ou na solidão, como o poeta.

A Lapa cresce e une o Centro do Rio formando um

corredor cultural com velhos casarões e suas sacadas,

ladeiras de paralelepípedo, prédios iluminados e moder-

nos, teatros, museus, bares, restaurantes, etc. Lá vai a

Lapa descendo a ladeira. Lapa11Agosto de 2012

Edição 01

Noite na

LapaNoite na

Texto JÔ A. RAMOS Fotos CARLOS LEITÃO

Herivelto Martins e Benedito Lacerda

cantavam o bairro:

A Lapa

Está voltando a ser

A Lapa

A Lapa

Confirmando a tradição

A Lapa

É o ponto maior do mapa

Do Distrito Federal

Salve a Lapa!

O bairro das quatro letras

Até um rei conheceu

Onde tanto malandro viveu

Onde tanto valente morreu

Enquanto a cidade dorme

A Lapa fica acordada

Acalentando quem vive

De madrugada

A Lapa bate lata, bate tambor, bate coração, bate

bumbo, bate pé, nela cabe tudo e todos em perfeita har-

monia e o melhor é que toda essa fauna está misturada,

não se divide em tribos. Ali, o sincretismo da alma cario-

ca acontece plenamente. É o melhor e o pior da geleia

geral brasileira.

Ficamos imaginando Portinari, que tinha ali seu

ateliê e Manuel Bandeira que sempre morou na área,

passeando pelo bairro maravilhados com as novas trupes.

A alma do carioca há muito mudou de endereço, e acre-

dite, é lá onde foi criar a nova morada. •

A Lapa canta e dança até o sol raiarA Lapa canta e dança até o sol raiar

Page 7: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

12 Agosto de 2012Edição 01

Estampo aqui a resenha que fiz na Filme/Cultura, 1978, sobre ofilme “Anchieta José do Brasil”, de Paulo Cesar Saraceni.

A TERRA, O CÉU, O MAR, O HOMEMEspaços amplos, céus, terra, mares, tempos largos, assim se carac-

terizam os elementos com que contou Paulo Cesar Saraceni para con-tar uma de nossas primeiras estórias, um descobrimento. Ao contráriodo que se pode supor, por tratar-se de um tema ou fatos acontecidosverdadeiramente, de domínio de uma tradição historiográfica, algo daordem, digamos, da objetividade, é, no entanto, nas mãos deste poetada subjetividade, a estória de um descobrimento em qualquer tempo,e não só a daquele de há quatrocentos anos.

Espremido nas concepções de um mundo parado, Anchieta anseia,ao ingressar na Companhia de Jesus, não pela existência do claustro, nãopela reclusão da alma, mas pelo seu contágio com o mundo. A fé e seuapostolado terão representado, como representam ainda cada vez mais,basta verificarmos a experiência presente do papel da Igreja no Brasil: umespaço de revelação da existência social no mundo e não a segregação deseus postulantes no esoterismo de rituais tidos como sagrados.

Viver o profano, mesmo se delegado do sagrado, é o que fez Anchietacruzar os mares, e fez, na América Latina, Camilo Torres mergulhar nasselvas, ou o nosso Frei Tito ou o Padre Penido atravessarem o martírio.

Quando se dispôs a contar esta estória da colonização, tenho comocerto, e bem o demonstra o filme, que Saraceni tinha os olhos no nossotempo, redescobrindo o passado não como algo distante e frio, mas comoa prática do tempo presente; infelizmente, ou não, a história é um con-ceito, ninguém a vive de fato porque a vida humana contida pela mortepode, no máximo, ser uma experiência biográfica. Ou seja, em todos ostempos, cada homem vive e “experiencia” unicamente a sua biografia. Oque nela houver de significativo, a superação e transformação de simesmo, embora ilustrado pela vida de outros que nos antecederam, éinequivocamente determinado pelo aqui e agora dos seres e não pelatranscendência, seja a materialista, histórica, ou a espiritual, religiosa.

Quanto foi profano o nosso Anchieta e quanto foi sagrado, o quetinha em si e o que lhe vinha de fora, a educação, a formação, a crença,

este é o panorama que, junto ao nascer de uma civilização, discorre ofilme. Quem saberá as formas que tinha essa existência inaugural emum mundo ainda não parado pelo tempo dos homens, esse despotismode espaço, de vida, de terra, em que o confronto do Velho Mundo e doNovo Mundo permitiria uma nova síntese para a humanidade.

Nós, que viemos bem depois, que sobrevivemos, sabemos que nãoresultou na melhor das soluções. O velho, como ainda hoje, mata onovo, porque a experiência de vida apenas tem ensinado a malícia, umasobrevivência tem valido, a despeito de quaisquer racionalizações ide-ológicas, o extermínio de coletividades, foi o que sobrou historica-mente daquele confronto.

Um olhar crítico que não queira ver o real mas apenas legitimar-seteoricamente dirá, ou diria, que a operação jesuítica, trágica já nesteprimeiro patamar da vida brasileira, só viria a se agravar com o correrdos tempos. É verdade, e é justo. Certamente, toda vez que à vidaimpõe-se um código de normas e regras, acaba-se com ela. Esta, noentanto, pode ser a prova dos nove para os indivíduos, que nenhumcabe em qualquer ortodoxia e, ao invés de legitimá-la, pode empenhar-seconcretamente em superá-la, tal seria o Anchieta visto pelo talvezmenos ortodoxo dos cineastas, pelo autor que justamente terá sempreaberto sua sensibilidade além dos determinismos ideológicos, guiadopelo plasmar por seus sentimentos a descrição da vida a sua volta.

Em plena ebulição política dos anos sessenta, o filme de estreia dePaulo Cesar, que tanta impressão causou, sobretudo em nós, mais jovensna época, ainda não determinados politicamente pela prática, aindaabertos à revelação do mundo, o “Porto das Caixas”, em 1962, aponta-va entre as consideradas prioridades sociais, a experiência livre do ser quese liberta da opressão, manifestada não necessariamente ao nível das mas-sas mas ao nível primeiro do indivíduo. Exagerando-lhe a proposta, etomando a mim a frase, diria que a libertação coletiva passa, ou nãoexiste, pela libertação individual. Isto que hoje é banal, no momento emque surgiu no seu filme poderia ser, e talvez tenha sido, visto como umaheresia. A libertação do jugo entre os seres, em sua própria convivênciahumana, antecede a consciência da luta de classes. Quem pensava outra-mente teve que sofrer a surpresa dos anos que se seguiram.

Nos anos que se seguiram, foi o mesmo Paulo Cesar Saraceni o rein-ventor do cinema político, tornado mais tarde, nos setenta, como sempreque lhe bota as mãos o poderio da metrópole, um vezo bobo de consumocomercial de massa em suas versões italianas, e mais recentemente, pas-mem, no que ridiculamente se batizou de novo cinema americano. Aexperiência de “O Desafio” (1965) de Paulo Cesar, talvez inédita na

13Agosto de 2012Edição 01

Sobre a terra, o céu,o mar, o homem ePaulo Cesar Saraceni

Por Sergio Santeiro

história do cinema, a de retratar logo após o golpe, a crise existencial quepudemos dolorosamente atestar e testemunhar até nossos dias, vinha pre-nunciada em um filme de improviso, de incertezas, mas guardando aesperança que os primeiros tempos de resistência ensejavam, como nohistórico espetáculo “Opinião”, não por acaso documentado e parte inte-grante de sua narrativa fílmica. O cinema foi, então, mais do que hoje é,um pulmão que respirou quando ar não houve, o sentimento de que haviavida mesmo no apagar das luzes, agora tênue e toscamente reacendidas.

Tampouco em sua época de negras sombras pôde aparecer comclareza o toque de vida que havia em “O Desafio”, cujo título diz tudo.Não era o fim mas era um atravessar de tempos difíceis quando o amorde ontem era a mentira de hoje. Nessa trajetória do autor que se con-funde com a de seus companheiros e com a própria vida e históriarecente do país, o que iremos ver é uma pronunciada descoberta de umcaminho, o da escavação de si mesmo, desdobrando-se na experiênciada vida. A vida acima do conhecido, do sabido, que o levaria desafiante-mente a dançar o carnaval de rumbeiro em Amor, Carnaval e Sonho(1974), novamente um filme de improviso onde o que conta não é odesencanto mas, pelo contrário, um reencanto com suas próprias possi-bilidades porque ainda vivas. A não reclusão em nossas perdas, em nossaalienação do mundo, mas o abrimento para o que der e vier.

Por outro lado, a experiência do sagrado, ou melhor dizendo, o seumistério, é outra, me parece, das coordenadas do pensamento que PauloCesar aplica aos filmes que faz. A convivência e admiração que nutre poralgo que chamaríamos de uma tradição quase subterrânea na culturabrasileira, a dos artistas católicos profanos, como Lúcio Cardoso, seu par-ceiro de “Porto das Caixas” e guia existencial na “Crônica da CasaAssassinada” (1971), este painel terrível da vida confinada nas alcovas dafamília burguesa, certamente o inspirou para entender além da religiãoum misticismo básico, talvez o mesmo do homem frente ao infinito, masapesar disso capaz e sujeito de sua, pelo menos, biografia.

É com esta bagagem que se volta para descrever os tempos primitivosda terra brasileira e este desvendar da fé arcaica do frágil europeu, tomadopela maleita, febril mas imbatível em sustentar sua missão, a que se deu dealma mas, sobretudo, de corpo. A pacificação do gentio, embora minadapelos males da civilização que inevitavelmente trazia consigo, e a defesa desua proteção contra os colonos escravagistas nestes primórdios de coloniza-ção; em outras palavras, a implantação de um mundo pronto nesta imen-sidão quase vazia, teve no seu apostolado um marco referencial iniludível,transformando o evangelista das selvas, como o chamou o poetaFagundesVarella, em um evangelizado pelas selvas nessa visão do filme.

Talvez seja esta a operação básica a que procede Saraceni no que serefere às relações do jesuíta com a terra. A descoberta de um mundoprimitivo, suponhamos, natural, faz retroceder o império da razão e dafé a um estágio anterior, quando tudo ainda estava por fazer, e con-ferindo a esta vida um caráter inaugural de existência sem a noção depecado que chega a contagiar os próprios colonos.

Claro, quando se trata dos colonos e não dos índios, a ausência depecado é quase, como diríamos, mais de ordem prática, quer dizer, a ausên-cia de interditos, a ausência de autoridades, a ausência de repressão institu-cional, destacando-se então o papel da Igreja na defesa e, lamentavelmente,na educação dos naturais da terra como a única presença da lei e da tradiçãoante a presa fácil que eram os primitivos, a despeito de seu poder de guer-ra, aos olhos dos aventureiros, salteadores e piratas que infestaram a terra.

Mais uma vez, o paralelo com a situação atual no Brasil Central não é e nemfoi mero acaso. Talento do cinema esta possibilidade de olhar com olharespresentes o passado, mas também de rever no presente a permanência destesmomentos originais da confrontação violenta entre estilos de vida e domi-nação que, ainda por muito tempo, parece, nos caberá testemunhar.

Felizmente, um filme apesar de gestado pela individualidade de seuautor é uma experiência coletiva de expressão, muitas vezes poucoaparentes, mas muitas vezes também da maior eloquência. Neste caso, odo Anchieta José do Brasil é notável como se pode acompanhar umsucesso de equipe, um equilíbrio do trabalho de muitos, onde osdestaques se equivalem desde o suave tom, eu diria, inaugural de umafotografia delicadamente receptiva à luz do novo mundo.

Esta capacidade revelada pelo trabalho de Marco Bottino, mais ori-entada para os limites de registro da cor do que para uma tentativa dedeterminar-lhe através da iluminação massiva os contornos, que é aprática tradicional de um certo tecnicismo fotográfico, resulta extra-ordinária repetindo na parte a operação do todo. O que faz o filme é oque faz a fotografia. É quase como se o negativo importado, fabricadocomo o pensamento europeu, se dobrasse à majestade da vista nova, daluz nova, da cor nova. Em outros momentos, de enorme contribuiçãodramática, como o duelo verbal no combate à heresia calvinista à luz dearchotes, por sobre as sombras da noite e da grade, temos a impressãonítida de que a cena ilumina-se pelo calor que vem de Anchieta, emmagistral e dedicada interpretação de Nei Latorraca ou quando vem deJean de Solès, vivido com o conhecido talento de Paulo Cesar Pereio.

Já em outros momentos, se pudermos falar apenas de alguns,como a invenção do teatro pelo índio vivido por Joel Barcelos, eminesquecível criação a partir do zero de uma forma de representar comona, suponho, “Festa de São Lourenço” (1583), tida como a mais notá-vel das contribuições teatrais anchietanas, em que o índio, quer dizer,o ator ensaia descobrir a expressão e o significado de seus gestos edicção, como se sabe, sem passado.

Este trabalho de equipe, de conjunto, de criação coletiva repontatambém na concepção cenográfica e vestuário por Ferdy Carneiro, a umsó tempo despojada e preciosa, sem os desperdícios das produções caras eincompetentes que geralmente associamos aos dramas históricos. Aquestão da produção ou da reconstituição histórica de ambientes merece-ria uma análise certamente mais fina que a que podemos apresentar nomomento, mas é importante sublinhar-se que a sua inspiração se medenão pelas pedrarias mas pela adequação ao espaço e tempo de seus per-sonagens. O que aí vai dito, refere-se por exemplo à recriação dos espaçosde vida dos colonos, como entre eles no episódio de João Ramalho.

Nestes momentos, uma igual despretensão aparente da narrativa sófaz acentuar a elegância geral de movimentos em todo o filme, que é deresto uma das características mais evidentes no estilo de Saraceni, a seumodo lembrando sua admiração pelo cinema humanista de Rosselini.

A configuração deste tempo novo na história da humanidade quefoi a possibilidade, como sabemos, desperdiçada, de reinventar a vida,ganha no cinema brasileiro, em que já contávamos com o“Pindorama”, de Arnaldo Jabor (1970) e com o “Como Era GostosoO Meu Francês”, de Nelson Pereira dos Santos (1972), uma inspiradís-sima versão que se não foi bem acolhida, certamente deve-se mais àpobreza dos tempos em que vivemos do que à generosidade com queos artistas se têm dedicado a descobrir o país.

Anchieta José do Brasil

Sergio Santeiro Cinema

Page 8: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

14 Agosto de 2012Edição 01 15Agosto de 2012

Edição 01

Xingu – O filme

Jô A. Ramos Crítica

Jack White: O último guitar hero

Tom Leão Música

Um dos artistas mais genuínos, inquietos, agitadores

e defensores do rock nos dias de hoje é o cantor e guitar-

rista americano Jack White, que conhecemos através de

sua banda The White Stripes (já veio duas vezes ao

Brasil, numa delas, Jack aproveitou para tocar no Teatro

Amazonas, e se casou por lá, com uma modelo gringa!),

que fez um bom barulho na década passada e deixou um

legado de meia dúzia de ótimos álbuns, sendo difícil

destacar só um deles. Da estreia com 'White Stripes'

(1999), passando pelo genial 'De Stijl' (2000) e o

arrebatador 'White Blood Cells' (2001), foi uma trinca

de álbuns que poucas bandas novas conseguem lançar

com o mesmo fôlego. Então, a consagração definitiva

chegou com 'Elephant' (2003), um disco que já pode

ser chamado de clássico. Todos estes primeiros trabalhos

do White Stripes podem ser encontrados em relança-

mentos recentes do selo Lab 344, para quem perdeu o

bonde quando ele passou.

Desde antes do fim do WS, em 2011, o hiperativo

White (que, nas 'horas vagas', é um requisitado produtor

e, às vezes, também ator) já arquitetava, na paralela, com

outros dois projetos: primeiro, a partir de 2006, com o

The Raconteurs – ao lado de Brendan Benson –, que faz

uma espécie de rock retrô, com pegadas e cores do som

psicodélico dos anos 1960, e um toque do hard rock dos

70’s. Pouco depois, em 2009, Jack entrou em outra barca,

a da banda The Dead Weather, que tem nos vocais a can-

tora da dupla The Kills, Allison Mosshart. Nesta banda,

Jack voltava às suas origens, as baquetas. Apesar de ser um

exímio guitarrista (elogiado até por Jimmy Page, do Led

Zeppelin, com quem divide a cena no documentário “It

might get loud / Aumenta o som!”, junto com The Edge,

do U2), ele começou a carreira musical tocando bateria,

como o faz no DW. Difícil saber em qual instrumento

(também toca piano) ele é melhor.

E, depois de mais uma década com o White Stripes

– e uns tantos anos nestes projetos paralelos – , final-

mente o camarada nascido John Anthony Gillis, há 36

anos, em Detroit, lançou o seu primeiro disco solo, o

aclamado ‘Blunderbuss’, em abril de 2012 (já editado

aqui pela Sony Music). Nele, Jack destila toda a sua

herança bluegrass, com um disco gravado usando ape-

nas instrumentos vintage (antigos), e contando com

duas bandas diferentes de apoio: uma, composta só

por mulheres; outra, só com homens. Ele cai na estra-

da com as duas e, dependendo da vibe da noite, toca

com uma ou outra. Mais um toque excêntrico deste

cara que é dono de seu nariz, já que comanda a sua

própria gravadora, a Third Man Records, cuja loja de

discos, em Detroit, só vende vinis!

TOM LEÃO editou, por 22 anos, a coluna de cultura pop “Rio Fanzine”, nojornal O Globo, onde também foi crítico de música e cinema. Atualmente écomentarista de cultura do programa Estudio i, da Globonews. Blog pessoal:Na cova do Leão (www.nacovadoleao.blogspot.com)

Três irmãos e um único destino: preservar vidas, as

indígenas. É assim que vejo a missão dos Villas-Bôas,

abrindo a mata, cortando estradas, cruzando rios e se

defrontando com a morte diariamente. O filme gira

sobre uma ótica: para alguém viver, muitos morrerão e

foi assim na construção do Parque Nacional do Xingu

em 1961, um parque ecológico e uma reserva indígena

do tamanho da Bélgica.

Os irmãos Villas-Bôas se alistam na Expedição

Roncador-Xingu e partem para desbravar a área Central

do Brasil iniciando pela travessia do Rio das Mortes. Já

nessa cena, vemos a maravilhosa fotografia de Adriano

Goldman, com uma luz que só os deuses criam. A mão

firme do Cao Hamburger segura o filme do início ao

fim, mantendo a tensão e o clima de luta quase como

uma narrativa, é a alma do filme.

“Nós somos o antídoto e o veneno” essa é a frase dita

pelo ator Jõao Miguel que vive um dos irmãos (Cláudio

Villas-Bôas) dando o tom e a cor do que vem pela frente.

Mortes, doenças e traições políticas. Jõao Miguel é um

ator extraordinário e se destaca de imediato pela atuação,

deu um show de interpretação. Carregou todas as emo-

ções do personagem e da trama e despejou na tela.

Os atores Felipe Camargo e Caio Blat se equilibram

na interpretação limpa e correta, dosando emoção e ter-

nura. Por falar nisso, vale dizer que o afeto está sempre

presente naquele ambiente hostil e perigoso onde a

morte ronda e está sempre a espreita de alguém.

O filme é fiel à história real com uma ressalva: senti

falta de ver na tela uma presença mais forte da mulher

indígena e da companheira de Orlando (vivido pelo ator

Felipe Camargo), a enfermeira Marina Villas-Bôas.

Marina, interpretada pela atriz Maria Flor, passa pelo

filme sem voz, quase invisível. Conheceu o Orlando em

um consultório médico, e como precisava de uma enfer-

meira para a expedição que chefiava, resolveu convidá-la.

Ela aceitou participar e ficou cerca de 15 anos trabalhan-

do pela missão indígena. “Nesse tempo contraí malária

15 vezes e Orlando pelo menos umas 200”, conforme

diz. Marina chegou ao parque do Xingu em 1963 e logo

no início enfrentou uma epidemia de gripe, além de

cuidar de muitos casos de malária. “Os índios tinham o

organismo puro, e pegavam com facilidade as doenças de

branco, mas conseguimos êxito rapidamente”.

Os Villas-Bôas contribuíram para preservar vidas hu-

manas e a cultura indígena. Garantiram a sobrevivência de

nações inteiras no Parque Nacional do Xingu ao consolidá-lo

como espaço, com a orientação humanista do marechal

Cândido Mariano da Silva Rondon, e o apoio do antropó-

logo Darcy Ribeiro e do sanitarista Noel Nutel. Foram

indicados para o prêmio Nobel da Paz em 1976.

Sem ter completado o segundo grau, a vivência no Xingu

permitiu que Orlando publicasse, em co-autoria com seu ir-

mão Cláudio, 12 livros e inúmeros artigos em jornais e revis-

tas internacionais, como a National Geographic Magazine.

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Page 9: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

O mais novo bairro do Rio de Janeiro é conhecido por sua boemia e por

ser um dos principais pontos turísticos da cidade. Além da cultura, do samba,

da vida noturna, dos bares e dos arcos. A Lapa é o cenário preferido dos profis-

sionais de moda, seja para buscar inspiração ou produzir ensaios fotográficos.

A estilista Silvinha Oliveira, idealizadora da marca Retalhos Cario-

cas, pautou o bairro como parte do tema de sua monografia. Descreveu

e comentou a boemia irreverente e a vanguardista massa modernista

que transita pelo bairro. A estilista enfatiza que a Lapa sempre foi um

lugar de grande influência em seus trabalhos: “nossa ideia é criar peças

confortáveis e com materiais que possam envolver de alguma forma o

trabalho com reaproveitamento. Também sempre enfatizando a beleza

e a força da mulher brasileira nas modelagens e cores”.

Pensando no elemento urbano e cultural que envolve a Lapa,

Silvinha, não teve dúvidas ao escolher a região para ser o cenário do

primeiro ensaio fotográfico realizado pela grife. O ensaio aconteceu nas

escadarias do chileno Selarón, aproveitando as cores e identidades que

compõem o ambiente. “Duas das modelos convidadas são, na verdade,

cantoras com nossos figurinos. Ambas possuem muita brasilidade e

força em seus trabalhos, então achamos que seria o cenário perfeito”.

Outra grife que tem apostado nos elementos urbanos e gráficos

que são um marco visual da região é a Mycool25. A equipe é formada

por Isabella Rocha, Gabriela RM, Marielle Javarys e Pedro Esteves que

se conheceram na escola e planejaram criar um trabalho paralelo às

suas funções diárias.

Os jovens empreendedores buscam, nas ruas, modelos anônimos

para divulgar suas coleções. Conseguiram reunir uma média de 40 a 50

pessoas em sete ensaios fotográficos. Os idealizadores da marca acredi-

tam que a moda na Lapa desperte interesse por ter a característica de

ser plural e mais democrática do que outros lugares da cidade. “Parece

uma válvula de escape em alguns momentos, onde todos podem desli-

gar-se de suas atividades como trabalho e apenas curtir o momento.

Pode existir um aspecto mais lúdico que nos interessa” diz Gabriela

RM, diretora criativa da Mycool25.

Os ensaios acontecem como um quase-improviso onde a equipe

convida pessoas que estejam passando pela rua ou sentadas em bares

para serem fotografadas com as blusas. O cenário que serve de fundo

para as fotos é planejado especificamente para proporcionar o visual e

a estética desejada no momento, como paredes grafitadas ou repletas

de pôsteres, da Rua Mem de Sá.

Com o retorno positivo do público, a marca já está na terceira

coleção. Além de ir às ruas, investem também na divulgação pela inter-

net. Todos que se prontificam modelar para a marca recebem um cartão

de visitas com o contato da equipe, e podem compartilhar as fotos

tiradas em suas redes sociais e receber descontos em futuras compras.

A Lapa, além de remeter a sinônimos como lazer, descontração e

diversão, contém características múltiplas na moda e na expressão. Essa

tendência tem influenciado artistas plásticos, músicos e, principalmen-

te, estilistas. Reúne diferentes pensamentos e ideais em uma mesma re-

gião, sendo ao mesmo tempo democrática, mas sem ser específica. •

Lapa:da boemia para os ateliês de

modaTexto GABRIELA ANASTÁCIA | Fotos GABRIELA RM

Pratos e petiscos com o jeito do Rio

Para mim, o conceito de restaurante bom é

simples: é aquele ao qual eu quero voltar. Da

mesma forma, prato ou petisco bom é aquele que

eu quero comer de novo, quase sempre associado a

um bar ou restaurante. Destaco aqui alguns pratos e

petiscos que têm um jeito carioca de ser, pela criativi-

dade, pelo sabor, pelo local onde é servido.

Um desses pratos está chegando à Lapa: o joelho de porco assado

do Enchendo Linguiça, que eu comi pela primeira vez há uns dois

anos, quando fui, levado pelo meu amigo Guilherme Studart, autor do

Guia Rio Botequim, ao Enchendo Linguiça do Grajaú. O tal

joelho de porco, com tempero e sabor pra lá de especi-

ais, é assado lentamente nesses grandes fornos onde

se assam frangos, também conhecidos como tele-

visão de cachorro. Quem ainda não provou, não

perca a oportunidade.

Ainda na Lapa, outro ícone carioca é o cabrito

assado com arroz de brócolis do Nova Capela, na

Mem de Sá, falado e aprovado pelos frequentadores, assí-

duos ou não, do tradicional restaurante do Rio de Janeiro.

E por falar em tradicional, daremos um pulo, sem sair da Lapa, ao

Cosmopolita, que está ali na Travessa do Mosqueira desde 1926, para

apreciar outro símbolo carioca, que é o filé à Oswaldo Aranha, nasci-

do ali mesmo no restaurante, criação do então senador

Oswaldo Aranha, que juntou um filé alto mal passado,

com alho frito por cima, acompanhado por arroz e

batatas portuguesas. Misturava tudo, com exceção

do filé, e se deliciava. Nós também. Mas recomen-

do ainda os filés à Oswaldo Aranha do Lamas, no

Catete, e o do Filé de Ouro, no Jardim Botânico,

para mim o melhor dos três.

O Centro da cidade ainda nos revela o sabor da

sensacional costela de boi cozida com feijão-man-

teiga do Escondidinho, no Beco dos Barbeiros, Pra-

ça XV. O prato mais pedido da casa é simplesmente

uma delícia e bem servido, dá para três pessoas.

Sardinha, recomendo duas: a cozida com molho

escabeche do espanhol Shirley, no Leme, e a sardinha assada do

Cantinho das Concertinas, no cinquentenário Cadeg, em Benfica,

belo programa de final de semana, para fazer compras e/ou comer os

petiscos e pratos de seus vários bares e restaurantes. O Cadeg (Centro

de Abastecimento do Estado da Guanabara), diga-se de pas-

sagem, recebeu recentemente da prefeitura o status de

mercado municipal.

Daí vamos para a Zona Sul experimentar, na

minha opinião, os dois melhores sanduíches de

pernil do Rio e o famoso e badalado sanduíche de

filé mignon com abacaxi do Cervantes, em

Copacabana. Sobre os de pernil, elejo o do Jobi e o

do Bracarense, ambos no Leblon. Do Bracarense desta-

co ainda a deliciosa carne seca desfiada com cebola, molhadi-

nha, no ponto. E do Jobi, a sua empadinha de camarão. Ah, e por falar

em empada, não deixem de provar a de camarão servida como entrada

nas refeições do Mosteiro, na Praça Mauá.

Termino com a feijoada, emblema do Rio de Janeiro,

prato carioca por excelência. Aos sábados e domingos

são muitos os bares e restaurantes da cidade que

servem fartas e gostosas feijoadas. Ultimamente

tenho preferido, e comido, a da Academia da

Cachaça, saborosa, não muito gordurosa e que

serve muito bem duas pessoas, quem sabe três.

Bom apetite!

Chico Junior Gastronomia

16 Agosto de 2012Edição 01 MODA

Page 10: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

Roberta Barreto é professora de história, foi deba-

tedora do programa “Manhã da Globo” na rádio Globo do Rio de

Janeiro durante 8 anos e hoje participa do programa “Botequim da

Globo” com Loureiro Neto. Especialista em gestão escolar e gerência

de projetos trabalha na rede estadual e municipal onde foi diretora

do Ciep Marie Curie. Sempre lutou pela democracia na educação e

acaba de levar para o município de Duque de Caxias a UERJ (Uni-

versidade do Estado do Rio de Janeiro).

A carreira profissional e a formação acadêmica de Roberta se

consolidaram após uma série de outras atividades como consultora

em Educação. Em 1997, assumiu a Secretaria Municipal de Educação

de Duque de Caxias, onde ficou até 2004. Neste período, a pasta

tornou-se referência nacional em vários projetos como a Educação

Especial e na criação do programa de formação continuada para pro-

fessores da rede municipal. Ocupou a função de secretária executiva

e assessora especial da Fundec (Fundação para o Desenvolvimento

Tecnológico e Políticas Sociais), em janeiro de 2009. Em 2010, ela

foi promovida à presidente da Fundação. Depois de implantar 27

cursos gratuitos e mais de 7 projetos que atendem jovens do municí-

pio, a professora voltou a ocupar o posto de Secretária de Educação

de Duque de Caxias, no mesmo ano.

Como secretária levou para a Baixada Fluminense o Campos

Universitário da UERJ e agora prepara-se para inaugurar o Centro

de Referência em Educação Integral que vai atender mais de 400

alunos, no horário de 8 às 17h, com atividades esportivas e cultu-

rais, salas de leitura e salas de informática. Tudo gratuito. Por tudo

isso o Movimento Defesa da Mulher vai homenagear Roberta

Barreto com a entrega do troféu “Mulheres em Ação - Educação

2012”, no final de maio.

Roberta, como foi implantar uma nova meto-dologia de ensino em Caxias há 10 anos?

Duque de Caxias foi vanguarda em conheci-mento e estratégias no processo ensino-aprendiza-gem. A pesquisa implementada pelo grupo de pro-fessores com nomes de notório saber proporcionoua formação permanente da equipe e dos professoresregentes. Imagine que em 1997 implantamos osprofessores auxiliares em LIBRAS (Língua Brasi-leira de Sinais) para incluirmos os alunos com defi-ciência auditiva no ensino regular. Após 10 (dez)anos, o MEC determinou que a educação inclusivaseria política pública nacional.

Como você encontrou o sistema de ensino?Os desafios não eram apenas estruturais, mas,

também no campo das ideias. Encontramos umarede com aproximadamente sessenta escolassucateadas. Os estudantes compravam materialescolar e didático e os professores faziam greve pormelhores salários. Porém, o pior de tudo, foi encon-trar milhares de crianças em idade escolar fora dasala de aula. Esse era o desenho da nossa cidade.

Fale dos primeiros projetos implantados porvocê quando foi secretária de educação pelaprimeira vez?

Fui secretária de educação de Duque de Caxiasnas duas gestões do prefeito José Camilo Zito de1997 a 2004. Assumi a SME (Secretaria Municipalde Educação) aos 25 anos e muitos pensavam queeu não tinha experiência suficiente para gerenciar ofuturo dos filhos dos trabalhadores de minha terra.Comecei meu romance com a educação muitocedo. Aos 14 anos já era professora e lecionava. Fizfaculdade de História e me especializei em gestãoescolar. Aos 21 anos, como professora concursadada rede estadual, já era diretora do CiEP MarieCurie. Aceitei o convite feito pelo prefeito e tive asorte e sabedoria divina de montar uma equipeempreendedora da educação, que fez toda diferençana construção de uma educação pública de quali-dade. Foi uma época de ousadia e determinação,como já disse, uma administração de vanguardapara várias políticas públicas atuais. Posso citarcomo exemplo o transporte escolar gratuito e opasse livre do estudante implantados em 1998,garantindo o acesso e permanência dos estudantesna sala de aula. A condição de igualdade, consti-tuindo a eficácia da escola, passou a ser referenciadana entrega de milhares de kits escolares contendouniforme e material completo. Implantamos os me-diadores de leitura e informática, distribuímos livrosdidáticos e cuidamos da escola em movimento

19Agosto de 2012Edição 01

Roberta BarretoA educadora que mudou a Baixada

Texto JÔ A. RAMOS | Foto EVERTON BARSAN

GENTE QUE BRILHA

Page 11: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

como um balanço contínuo de formação dos professores e gestores.Construímos mais de 50 escolas em 8 anos e criamos também o conceitode escola padrão, assim o número de matrículas duplicou e em 2004 deixa-mos aproximadamente 100 mil alunos em sala de aula. Várias ações con-juntas colocaram a educação municipal de Duque de Caxias entre as dezmelhores do estado do Rio de Janeiro naquele período. No terceiro gover-no Zito iniciado em 2009 fui presidente da Fundec - Fundação de PolíticasPúblicas e Educacionais de Duque de Caxias e em 2011 fui novamenteconvidada pelo prefeito para gerenciar a Secretaria de Educação, com a mis-são de retomar a qualidade do ensino que no período de 2005 a 2008 foiavaliada entre as dez piores do Rio de Janeiro.

Roberta, a Baixada mudou? Existe um novo olhar para a cidadede Caxias?

Sim, a Baixada mudou e muito. Éramos conhecidos como cidadesdormitório e com a marca da violência, acrescida pelo lendário TenórioCavalcante. Hoje, Duque de Caxias vive um cenário de investimento edesenvolvimento econômico. Muitas empresas se fixaram na cidade já queestamos no maior eixo rodoviário do estado e com vias exclusivas para oarco metropolitano. Assim, em 2011, Duque de Caxias se tornou a cidadeque mais gerou empregos no estado do Rio de Janeiro. Nossa cidade possuiobras culturais de grande relevância como o Teatro Raul Cortez e aBiblioteca Leonel de Moura Brizola, obra do arquiteto Oscar Niemeyer.Estamos a 20 minutos da capital e o investimento em lazer e entretenimen-to constitui hoje a fixação da população na cidade. São mais de 100 praçasreformadas e adaptadas para o esporte local, ruas asfaltadas, iluminadas,ampliando a segurança e o bem estar.

Lembro que o nível de repetência e evasão escolar antes de vocêassumir era altíssimo, como conseguiu mudar esta realidade?

A evasão era o retrato de falta de compromisso dos governos que nosantecederam. A repetência era o resultado da falta de acompanhamento, deapoio ao estudante e ao professor, desde a formação à infra-estruturapedagógica. Os índices eram alarmantes! Chegamos com 13% de evasãoescolar e 8% de repetência. Algumas soluções foram brilhantes e contamoscom apoio de toda a rede e posso destacar a organização do ensino funda-mental em 9 anos, em 1999. Lembro que o MEC só determinou essa orga-nização nacional como obrigatória em 2004. Além disso, instituímos osciclos de alfabetização e o segundo ciclo do primeiro segmento. A distorçãosérie - idade foi corrigida ao longo do tempo com a criação de turmas deaceleração no contra turno. Medidas simples como o investimento na for-mação dos orientadores pedagógicos e educacionais fortaleceram as relaçõesno chão da escola, promovendo projetos pedagógicos de acordo com cadarealidade e avançando na construção do conhecimento. Outra medidaimportante foi a valorização do profissional da educação, elevando a remu-neração do professor e garantimos que fosse a melhor do Estado e uma dasmelhores do pais. Hoje, um professor em início de carreira recebe R$1.800,00 para 15h de trabalho semanais.

Fale um pouco sobre sua formação?Sou professora de história pós-graduada em gerência escolar pela

UNIABEU e em gerência de projetos pelo SENAI. Sou professora da redepública municipal de Duque de Caxias e da rede estadual do Rio de Janeiro.

Agora, na sua segunda gestão à frente da secretaria de educaçãoquais foram os projetos implantados?

Foi uma gestão rápida, um filho que nasceu de 7 meses! Assumi emagosto de 2011 e pedi afastamento em abril de 2012 para me dedicar aconstrução do planejamento de governo, função que muito me orgulha.Hoje, também sou assessora do gabinete da atual secretária de educação,professora Rachel Barreto. Mas, conseguimos implantar o Programa Pro-fessor Garantia de Sucesso (formação do professor nas áreas de português,matemática e contextualização) e fizemos a Provinha Caxias, um diagnósti-co prévio para a Prova Brasil e que norteou as ações pedagógicas de cadaunidade escolar. Ação inédita na rede de Duque de Caxias. O programa dealimentação escolar foi reforçado com ações de inclusão para todos os estu-dantes. Chamamos de Alimentação Inclusiva: cardápio balanceado e espe-cial para alunos portadores de diabetes ou sobrepeso.

Recebemos recentemente o convite para expor nosso trabalho noEncontro de Nutrição Internacional a ser realizado no final de maio naEspanha. O grande desafio foi adaptar e customizar a rede para educaçãointegral, assim, houve um esforço coletivo para crescer as atividades do MaisEducação e Escola Aberta, preparando nossos estudantes e professores. Aescola de educação integral que batizamos de Centro de Referência emEducação Integral (CREI) será inaugurada e será a base para um grandelaboratório na edificação da escola pública de qualidade, formadora docidadão crítico, empreendedor e principalmente conhecedor.

Quais são os planos do prefeito José Camilo Zito para educação?O prefeito pretende resgatar a qualidade do ensino implantando na

rede a educação integral, ampliando o número de escolas CREI e demo-cratizando o acesso à educação infantil, ampliando a rede de creches.Quanto ao profissional do ensino o prefeito tem um compromisso públi-co em manter a marca de melhor remuneração do estado. Além disso, iráimplantar a gestão democrática com eleição de dirigentes escolares.

Fale sobre a implantação do Campus da UERJ?O Campus Universitário Duque de Caxias é uma grande obra da

PMDC para ampliar a oferta de cursos superiores na cidade. Um cam-pus de padrão internacional e já aprovado pelo COI e COB como cen-tro de treinamento olímpico que irá garantir mais uma universidadepública à disposição dos jovens. Serão oferecidos cursos de educaçãofísica (auto rendimento) e engenharia. Ao longo dos próximos 4 anosserão atendidos até 1.500 alunos. É uma obra referencial no estado doRio de Janeiro localizada nas margens da rodovia Washington Luiz noterceiro distrito de Duque de Caxias.

O que você espera que mude na educação no Brasil? O queestá faltando?

Eu espero que a nação aprove, respeite e implante o novo Plano Nacio-nal de Educação que está prestes a ser aprovado. Isso vai corrigir distorçõeshistóricas de acesso, permanência e valorização da escola pública, da educa-ção infantil ao ensino superior. Espero também que governantes entendamde uma vez por todas que educação não é gasto e sim investimento, porquecuidar do direito de aprender das nossas crianças e jovens é dever daquelesque desejam um país mais próspero, justo e digno. Para encerrar, digo quese começasse a estudar agora, faria tudo de novo e seria professora!•

20 Agosto de 2012Edição 01

Texto CAMILA SANTOS | Fotos DIVULGAÇÃO

Uma corrida de obstáculos acontece no Rio de Janeiro antes mesmodas Olimpíadas. A cidade se encontra em meio a construções diversas egera transtornos para os cariocas. TransOeste, TransCarioca, Maracanã,Parque Olímpico e Porto Maravilha são alguns dos projetos que causam ocaos dos moradores. Olhar tudo por esse lado pode parecer realmente umafábrica urbana de problemas, mas todos podem se beneficiar no finaldessas obras. Além da melhora na infraestrutura para abrigar eventos inter-nacionais, a cidade vai ganhar dois novos museus na área portuária, umlocal que, por muitos anos, esteve abandonado. A criação desses dois novospolos culturais, o Museu do Amanhã e o Museu de Arte do Rio, faz partedo programa Porto Maravilha Cultural, idealizado pela Companhia deDesenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro(CDURP) e tem parceria com a Fundação Roberto Marinho.

O Museu do Amanhã, localizado no Píer Mauá, já começa com umahistória cultural na concepção do seu projeto de arquitetura pelo renoma-do Santiago Calatrava. O espanhol é também engenheiro por formação ecria prédios que parecem esculturas gigantes. Calatrava já idealizou outrasgrandes construções pelo mundo que ajudaram a revitalizar áreas deca-dentes, como o Museu Guggenheim, na Espanha, e a Estação do Oriente,em Portugal. Além disso, um terminal grandioso também está previstopara o local que abrigava as torres gêmeas, nos Estados Unidos. No Rio,o sofisticado museu, que tem características sustentáveis e previsão deinauguração para 2014, ajudará também na recuperação estética daempobrecida zona portuária.

Os recursos naturais disponíveis no local serão utilizados de formainteligente, visando o não desperdício de água e uma relação equilibradacom o meio ambiente. Águas da chuva serão tratadas e aproveitadas nairrigação dos jardins. A Baía de Guanabara também será fonte para aclimatização do interior do museu, espelho d’água, e ainda está previstoa captação de energia solar através de estruturas de aço no telhado daconstrução. Todas essas medidas visam a conquista da certificação deLiderança em Energia e Projeto Ambiental (Leed, em inglês), concedidapelo Green Building Council (USGBC).

Tendo como proposta a exploração de possibilidades no universocientífico, esse novo espaço tem a curadoria do físico e doutor em cos-

mologia Luiz Alberto Oliveira e promete criar uma nova geração demuseus. Ambientes audiovisuais, instalações interativas e jogos serão osmeios para desfrutar de todo conteúdo proposto. Entre as inúmerasmaneiras de utilização do local, o público poderá manipular as tendên-cias da atualidade e imaginar futuros possíveis para os próximos 50anos. O questionamento e a reflexão serão testados a cada atividade. “Éum conteúdo científico para desafiar a mente, uma abordagem artísti-ca para envolver os nossos sentidos e uma interpretação cultural daciência para tocar as nossas emoções”, explica Oliveira.

A estrutura do conteúdo foi concebida pelo curador em parceria como jornalista e professor de cultura brasileira Leonel Kaz e dividida em trêseixos: a polaridade entre as Ciências Cósmicas e as Ciências Terrestres; asdimensões da existência terrestre, que inclui a história das formações damatéria, os desdobramentos da organização da Vida e a emergência dopensamento; e o comportamento humano e a ética. Essa divisão foi a basepara a organização dos espaços de experimentação.

Já o Museu de Arte do Rio (MAR) será um espaço de educação earte, na Praça Mauá, e terá uma composição arquitetônica curiosa: ajunção do tradicional Palacete Dom João VI, tombado como patrimôniocultural, com um moderno prédio que originalmente era umarodoviária. O primeiro abrigará as oito salas de exposição do museu e osegundo uma escola de arte. Apesar de ter perfis heterogêneos, as cons-truções do complexo cultural que formam a instituição serão unidas poruma praça, uma passarela envidraçada e uma cobertura em forma deonda. O que a um primeiro momento pode parecer uma mistura estra-nha, acaba se transformando em uma obra-prima harmônica. •

Novos museusajudam a revitalizar a zona portuária

Page 12: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

23Agosto de 2012Edição 01

O Rio de Janeiro não é só

badalação é luta pelos direitos

também, e para provar isso temos

as mulheres na ponta dos movi-

mentos sociais liderando a área

política. No Rio de Janeiro, houve

434 ocorrências de estupro em

março de 2011. Já em março de 2012, foram 545, um

aumento de mais de 20%. Apenas 14% das vítimas desse

tipo de agressão registram o fato na polícia. Somente em

18% dos casos, o autor do estupro usou algum tipo de

arma – o que sugere proximidade e facilidade em abordar

a vítima. 47% das vítimas tinham menos de 18 anos, o que

sugere que o agressor tinha sobre ela algum tipo de autori-

dade. 35% dos casos acontecem dentro da casa da vítima,

e 44%, em vias públicas. O número de casos aumenta nos

fins de semana, especialmente a partir das 18 horas.

Defesa da Mulher é um movimento que quer incluir to-

dos e todas que acreditem no direito da mulher em ter liber-

dade, direito de viver suas vidas sem medo de violência ou

intimidação. Que as mulheres possam constituir suas famílias

dignamente, sem ameaça de doença, fome e pobreza. Que

elas estejam aptas a procurar ajuda sem preju-

dicá-las e que elas obtenham-na. As mulheres

querem e merecem ter uma posição de igual-

dade com os homens. Isto não é apenas um

problema das mulheres, é um problema da

sociedade. Um mundo seguro para as mu-

lheres é um mundo seguro para todos.

O movimento está realizando o projeto

VIVA MULHER que é um documentário

com mulheres de várias cidades do Brasil

sobre violência, principalmente a doméstica,

levando informações sobre direito, cidada-

nia e formas de defesa para as mulheres, com

palestras e debates. O documentário de 60 minutos vai

registrar tudo em um período de 6 meses. Será lançado nas

casas de apoio às mulheres, nos centros, nos abrigos, e onde

for dada a oportunidade de mostrar este trabalho.

Complementando o projeto será lançado o livro “Violên-

cia Contra Mulheres. Dê um Basta!” e cópias do documen-

tário serão distribuídas para cine clubes e bibliotecas. A

intenção é alcançar pequenas cidades, onde o acesso à

informação é mais precário. As ativistas estão à procura de

patrocínio, parceria e apoio.

No Superior Tribunal de Justiça (STJ), a quantidade de

processos sobre violência doméstica contra as mulheres é cres-

cente – em 2006, foram 640; em 2011, chegou a 1.600, o que

representa um aumento de 150%. Isso ocorre nas grandes

cidades. O movimento quer falar com mulheres que não pos-

suem acesso a delegacias da mulher, a centros de atendimen-

to, a casas de abrigo etc., por medo ou simplesmente por sua

cidade não possuir órgãos e nenhuma entidade de ajuda.

Acompanhem o Blog: http://wjdwdefesadamulher.

blogspot.com.br e o e-mail para participar do movimento

é [email protected]. O telefone é 9968-8114

e Facebook.com/defesadamulher

Movimento de mulheressacode o Rio de Janeiro

NA CIDADE

Texto JÔ A. RAMOS | Foto ZL COMUNICAÇÃO

22 Agosto de 2012Edição 01

Especializado em frutos do

mar e cozinhas brasileira e por-

tuguesa, o Bar e Restaurante

Urca é um dos mais tradicionais

da cidade do Rio de Janeiro. Em

2012 a família Gomes come-

mora 40 anos à frente do negócio, desde quando o Seu

Gomes entrou para a sociedade, em 1972. Um livro com

histórias do Seu Gomes, lançamento de novos petiscos e

uma programação especial de eventos estão em organiza-

ção para o segundo semestre, de acordo com o sócio

Armando Gomes Filho.

Ele afirma que a morte do Seu Gomes no mês de

junho reforça o compromisso com a comemoração da

data. Afinal, – foi a visão de negócio, a persistência, o

compromisso com a qualidade do meu pai que permitiu

que neste período tenhamos conquistado espaço na

preferência de cariocas e turistas, com nossos petiscos

(pastéis, bolinho de bacalhau, empadas, casquinhas e

caldo de frutos do mar, sardinha frita e etc.) e a cerveja

sempre gelada. Temos obrigação de registrar essa herança

que ele nos deixou–.

Além desses atrativos, Armando Gomes, destaca o

charme, a tranquilidade e segurança do bairro da Urca

como “ingredientes permanentes do bar e restaurante”.

Segundo Armando, o objetivo da equipe do Bar Urca

é oferecer os melhores serviços, o melhor atendimento,

os melhores pratos e o melhor ambiente. Ele lembra que

esta busca tem sido reconhecida pelos clientes e se reflete

em diferentes prêmios que o negócio tem conquistado

junto à imprensa especializada, como os oferecidos pelas

revistas Veja Rio, e Época e o jornal O Globo, além de

presença em veículos especializados, como o Guia Danu-

sia Bárbara e o Rio Botequim. “Esses prêmios nos incen-

tivam a continuarmos com o trabalho que fazemos para

os nossos clientes dia após dia”.

O Bar e Restaurante Urca conta com uma localização

privilegiada à margem da Baía de Guanabara, e tem vista

para uma das mais belas paisagens do Rio de Janeiro. •

Família Gomes comemora 40 anos à frente doBar e Restaurante Urca

Serviço / Bar e Restaurante Urca

Endereço: Rua Cândido Gaffrée, 205, Urca.

Telefone: (21) 2295.8744 | www.barurca.com.br

Funcionamento: o restaurante abre de segunda a sábado

das 11h30 às 23h e domingo, das 11h30 às 19h.

O bar funciona de segunda a sexta, de 7h às 23h,

sábados de 8h até 23h e no domingo, das 8h às 20h.

Aceita todos os cartões de crédito (exceto American Express),

débito, e vale-refeição TR.

Foto

DIV

ULG

ÃO

BAR

Page 13: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

25Agosto de 2012Edição 01

A agência digital AM4 – a principal do estado e ter-

ceira do país – está presente na Lapa com um escritório

dentro da Fundição Progresso. São mais de 200 metros

quadrados de puro design em homenagem à cidade do

Rio de Janeiro. Paredes de pedra bruta e piso de tábuas

envelhecidas contrastam com elementos gráficos cariocas

e piso de resina desenhado, além de peças de design

espalhadas por todos os ambientes, numa mistura de

rústico e arquitetura contemporânea.

O espaço está planejado para receber metade dos 120

funcionários da empresa, hoje divididos entre o Rio, São

Paulo, Campinas e a matriz em Barra Mansa. Marco

Aurélio Carvalho, sócio da AM4 explica a escolha da

localização: “O bairro é o retrato do Rio de Janeiro. A

criatividade aliada à história que nos dá o diferencial no

atendimento, na percepção das necessidades dos clientes

e nas soluções a que chegamos. A ocupação empresarial

desse pedaço do Rio é uma realidade e nós quisemos

chegar logo.”

A AM4 é uma agência interativa full service que uti-

liza o canal online para o desenvolvimento de soluções

criativas, com o uso da inteligência digital. Oferece

serviços como criação de websites, plataformas de e-

commerce, intranets e extranets; marketing interativo:

Agência digital AM4presente na Lapa com a cara do Rio

Foto

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e-marketing, propaganda interativa, planejamento de

mídia online, search engine marketing, e-mail marketing,

campanhas promocionais e virais, análises, pesquisas e

presença online. Cria também ferramentas interativas

para relações públicas e assessoria de imprensa e

soluções em mobile-marketing – além de marketing

interativo para construir uma presença virtual forte e

melhorar o relacionamento entre as empresas clientes e

seus consumidores.

A empresa foi fundada há 12 anos em Barra Mansa

e atende a mais de 150 clientes. Entre eles, 42 shoppings,

pertencentes a quatro dos maiores integrantes de

shoppings do país (BRMalls, Multiplan, Grupo Igua-

temi e Aliansce), a Vale, EBX, Acciona, FMC, Coppe,

Claro, MPB FM, O Boticário, Audi, Multishow,

Brahma e Editora Objetiva, Globo Filmes e a casa de

shows Miranda e a Unimed Rio. Em 2011 a empresa,

teve faturamento na casa de R$ 8milhões, o que

motivou as previsões de investimentos para 2012 na

casa dos R$ 3 milhões.

Essa atividade reflete a crescente importância das

agências digitais, que unem a tecnologia da informação

às ferramentas da publicidade. É um mercado virtual em

expansão e que atrai como clientes empresas de dife-

rentes segmentos. A internet, lembra Marco Aurélio, já

ocupa a terceira posição no ranking do faturamento

publicitário, atrás da TV aberta e dos jornais: “Nós, com

a AM4 estamos presentes nesse mercado e participamos

da expansão, com soluções desenvolvidas sob medida

para cada cliente e diferentes plataformas, como por

exemplo a criação de diferentes aplicativos, como jogos

para o Facebook.” •

NEGÓCIOS

Page 14: Revista Lapa Legal - Ano I Numero I

A banda que é sinônimo do underground cariocaestá de disco novo. Às vésperas de completar 10 anos deestrada, a Lion Heart lança seu terceiro álbum. Dona doBordel vem na seqüência do ótimo Viver Pra Detonar(2009), trazendo cinco sons que já estão na ponta da lín-gua do povo que não perde as sempre divertidas e ani-madas apresentações do quarteto, que além dos eternosThiê (voz) e Brandon (guitarra), agora conta com a pre-cisão de Stanley Fersen no baixo e Allan Argollo tocan-do bateria como se fosse destruí-la.

Logo nos primeiros acordes da faixa-título dá pranotar que, em comparação ao que já estávamos habitua-dos a ouvir, o som está mais cru, flertando com o hardrock dos anos 70 e início dos anos 80. A gravação em sitraz uma aura “old school” que promete agradar aos queainda têm preconceito com a farofa purpurinada. Naseqüência, “Eu Quero Acreditar” traz um refrão dignode levantar a turma do gargarejo em uníssono. Sua letratraz aquela mensagem positiva, típica da Lion Heart, abanda que não quer ver ninguém deprimido.

Sabe aquela breve oração que os jogadores de futebolfazem no vestiário antes de subirem a campo para a partida?“Sempre Juntos” é praticamente isso, “Vamos lá, vamosarrebentar”. Sem contar o compromisso que é assumido norefrão, “No palco até morrer”: esse é o espírito. E pra quem

estava com saudades do açúcar do cd“Coração de Leão” (2005), “Menina de Copacabana”cumpre o papel de balada romântica – apesar da menina emquestão ter seu “jeito sacana” escancarado, a suavidade éginasiana.

O nome já diz tudo: “Brigue por Você” é outra músi-ca de incentivo. Nesta aqui, a banda põe pra fora algumasbelas verdades; assustadoras, porém reais no dia a dia dequem batalha por um espaço, tocando em condiçõesadversas, sujeitos a determinações de produtores sangues-sugas e plateias nem sempre tão amigáveis. Ah sim, o solode guitarra é o melhor em todo o disco. Encerramento per-feito, letra digna de reflexão. Agora é torcer por um feed-back positivo em matéria de vendas e novas datas de shows,pois estes caras aqui dão o sangue por aquilo que fazem. •

Banda Lion HeartDonos do BordelTexto MARCELO VIEIRA | Fotos DIVULGAÇÃO

Youtube da Lion: http://www.youtube.com/lionheartvideos (Videoclipes, entrevistas e trechos de shows ao vivo)Lion Heart no Myspace: http://www.myspace.com/bandalionheartSite da Lion Heart: http://www.lionheart.com.br (Baixe lá os dois cds da Lion)Comunidade da Lion Heart: http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=183421Fotolog da Lion Heart: http://www.fotolog.com.br/banda_lionheartTwitter: http://twitter.com/bandalionheartFacebook: http://pt-br.facebook.com/people/Lion-Heart/100001134381445Reverbnation: http://www.reverbnation.com/bandalionheartOi Novo Som: http://www.oinovosom.com.br/bandalionheartE-mail: [email protected] (Comprar o cd, contratar a banda)

ROCK