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Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

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Revista acadêmica de Medicina Uma revista eletrônica de científico e acadêmico que tem o intuito de transmitir conhecimentos nas diversas áreas afins da Medicina.

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Page 1: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina
Page 2: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Ao leitor

Caríssimos leitores, estamos na nossa 1° Edição da

Revista eletrônica quinzenal da Liga de Acadêmicos

em Medicina. Desejamos que todos apreciem

nossas matérias, pois foram pesquisadas como

muitíssimo esmero e dedicação.

Atualmente precisamos buscar mais academicismo,

não de forma exacerbada, mas como uma meio de

enriquecimento a este tão esplendoroso curso que

é a Medicina.

A medicina é uma das muitas áreas do

conhecimento ligada à manutenção e restauração

da saúde. Ela trabalha, num sentido amplo, com a

prevenção e cura das doenças humanas num

contexto médico.

E esta busca de conhecimento, dependerá muito do

esforço acadêmico de cada aluno. Com isto

desejamos que todos vejam nesta Liga Acadêmica

uma somatória de esforços mútuos, com a nossa

participação e dos mestres conseguiremos obter

êxitos, sem a necessidade de atropelar outros, pois

a humanidade precisa de médicos mais

competentes e dedicados a esta tão nobre

profissão.

Charles Farah - Redação

Page 3: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

O Brasil quer está no

patamar nas pesquisas

de ponta do vírus ZIKA

Karina Toledo e Samuel Antenor | Agência

FAPESP – Enquanto os cientistas brasileiros

se preparavam para uma eventual epidemia de

chikungunya e desenvolviam métodos para

diagnosticar rapidamente a doença,

considerada altamente debilitante, o vírus Zika

– até então visto como benigno e causador de

uma espécie de “dengue light” – foi se

espalhando no país de forma quase

despercebida.

Somente quando veio à tona sua possível

associação com os crescentes casos de

microcefalia na região Nordeste, em 2015, as

atenções do país e do mundo se voltaram ao

patógeno originário da Floresta de Ziika, em

Uganda.

O fato de o Brasil ter sido surpreendido por

essa epidemia pode ter ao menos um aspecto

positivo: a criação de mecanismos para agilizar

o financiamento de pesquisas científicas no

país. A avaliação foi feita pelo professor do

Instituto de Ciências Biomédicas da

Universidade de São Paulo (ICB-USP) Paolo

Zanotto, que no último mês de dezembro

ajudou a articular a chamada Rede Zika, uma

força-tarefa para pesquisar e combater o vírus

no Estado de São Paulo.

Segundo Zanotto, quando a FAPESP, em

dezembro de 2015, aprovou em questão de

dias aditivos para projetos em andamento – de

forma que parte das atividades fosse

redirecionada para responder questões

emergenciais relacionadas com a epidemia de

Zika (Leia mais em: agencia.fapesp.br/22671/)

– criou uma reação em cadeia em outros

agentes indutores de pesquisa no Brasil.

“A Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento

de Pessoal de Nível Superior] viu o que a

FAPESP fez ao aprovar rapidamente os

aditivos para projetos já vigentes, o que encurta

muito a velocidade de indução, irrigando com

recursos o que precisa ser irrigado, e está

buscando agilizar o processo. O Ministério da

Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)

acompanhou esse processo e quer fazer o

mesmo, em uma modalidade com

financiamento fast track via FAPs [as

fundações de amparo à pesquisa dos diversos

estados] e via INCTs [Institutos Nacionais de

Ciência e Tecnologia], ou seja, todos

entenderam que não temos tempo a perder”,

afirmou Zanotto.

Se ao final da experiência o saldo for positivo,

avaliou o professor do ICB-USP, pode surgir

uma nova modalidade na indução de ciência no

Brasil: um modelo fast track para casos

emergenciais, acelerando processos de

pesquisa e desenvolvimento

“Quando temos problemas exponenciais, as

respostas têm que ser exponenciais. E isso

começou a ser bem entendido pelos gestores

de ciência e saúde no Brasil”, disse.

Esse e outros temas relacionados aos

crescentes casos de Zika e de microcefalia no

Brasil foram comentados por Zanotto em

entrevista à Agência FAPESP.

Page 4: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Agência FAPESP – Quais temas de pesquisa

foram definidos como prioritários pela Rede

Zika?

Paolo Zanotto – Temos uma visão parecida

com a da União Europeia e do National

Institutes of Health [NIH, principal órgão de

pesquisa dos Estados Unidos]: o ponto crucial

neste momento é criar ferramentas para

diagnóstico rápido, capazes de discriminar o

vírus Zika de outros arbovírus, como o da

dengue. A parte de ácidos nucleicos [exames

do tipo PCR, que identificam o DNA viral no

sangue e servem para a fase aguda] está muito

bem desenvolvida, mas precisamos de

diagnósticos sorológicos [que identificam

anticorpos contra o vírus mesmo após a fase

aguda]. A segunda questão é entender essa

relação do vírus com a microcefalia. São os

dois temas fundamentais do ponto de vista da

urgência. Depois há outros aspectos também

importantes, como o desenvolvimento de uma

vacina, estudos de entomologia, para entender

a genética do mosquito e sua capacidade de

infectar as pessoas. E tem a parte de controle

biológico associado à entomologia. A BR3, uma

empresa do Centro de Inovação,

Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) da

USP, vem trabalhando com o Bacillus

thuringiensis (BTI), uma bactéria cujo esporo

acumula quatro toxinas letais para o Aedes.

Isso é conhecido desde os anos 1980, mas o

grande problema era como fazer o esporo

sobreviver no ambiente. A BR3 criou uma

estrutura chamada bio-oca. É uma pastilha que

quando jogada na água vai para o fundo do

criadouro e forma uma espécie de iglu, que aos

poucos libera os esporos. Com a quantidade

correta de pastilhas, cerca de 50% das larvas

do mosquito morrem nas primeiras cinco horas

e, depois, o nível de letalidade de 100% é

mantido por 120 dias. Mas a questão do

controle biológico, inclusive a produção de

mosquitos transgênicos, enfrenta um problema

de escalonamento. Ainda não há capacidade

de produzir o material em quantidade elevada

para atender a demanda. Outra parte

importante do trabalho da rede é acompanhar o

espalhamento do vírus. Pretendemos isolar os

vírus circulantes, sequenciar e depois estudar a

distância evolutiva entre eles em uma árvore de

família para saber de onde vêm. Tem ainda a

parte de genética humana: investigar fatores

que podem influenciar na gravidade da doença.

E a última tarefa, que é crucial do ponto de

vista de saúde pública, é o acompanhamento

de coortes de caso-controle, ou seja, no

momento em que é confirmada uma gestação,

fazemos o teste para o vírus Zika e

continuamos acompanhando a mãe e o feto

para ver o que acontece. Isso está sendo feito

em Jundiaí, São José do Rio Preto, Ribeirão

Preto e aqui em São Paulo. À medida que

alguma das gestantes é infectada, muda a

forma de seguimento. Depois que tiver ocorrido

alguns ciclos completos de gravidez nessas

populações vamos começar a entender, por

exemplo, qual é o risco de uma mãe infectada

por Zika ter um filho com microcefalia. Pode

haver influência genética ou de exposição a

outros agentes durante a gravidez, outros vírus.

Agência FAPESP – A relação entre o vírus

Zika e a microcefalia já está confirmada? Já se

sabe como o vírus afeta o sistema nervoso?

Zanotto – O anúncio feito pela Organização

Mundial da Saúde (OMS) sugeriu que o vírus é

culpado até provado inocente. É um raciocínio

extremamente racional, mas inverte a forma

como a ciência funciona. Geralmente, tentamos

estabelecer a relação causal para depois

determinar o que acontece em nível do

processo. O que estamos tentando fazer: pegar

o vírus Zika, jogar no sistema animal e mostrar

Page 5: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

que só com a exposição ao vírus ocorre

desenvolvimento de doença equivalente à

microcefalia. Depois infectamos células do

sistema nervoso e avaliamos se o vírus sozinho

causa um determinado tipo de morte celular.

Em seguida, vamos destrinchando o problema

e entendendo qual é o papel do Zika no tecido.

A ciência progride assim. Mas, numa situação

de risco, a gente tem de inverter um pouco as

coisas. Quando há um problema em que a vida

das pessoas está em risco é preciso tomar uma

decisão de ação, assumir que o vírus é culpado

até provado inocente. Há uma superposição

espaço-temporal muito boa entre os casos da

doença e, em seguida, os casos de

microcefalia, tanto na Polinésia Francesa como

no Brasil. No entanto, a presença do Zika no

cérebro de um feto com microcefalia, abortado,

foi demonstrada.

Agência FAPESP – Os casos de microcefalia

que estão sendo associados ao vírus Zika são

semelhantes aos associados a citomegalovírus

(CMV), sífilis e outras doenças?

Zanotto – Parece haver um padrão próprio do

vírus Zika, com algumas características

semelhantes à da infecção por parvovírus B19

[causador de virose conhecida como eritema

infeccioso], como as calcificações no tecido.

Também há fatores semelhantes aos já

observados na infecção por CMV, como a

liquefação do tecido nervoso ocorrendo

tardiamente na gravidez. Por volta do sétimo,

oitavo mês, ocorre uma aparente destruição do

tecido nervoso. O córtex, a parte de cima do

cérebro, praticamente desaparece. Nos casos

que estamos acompanhando, comprovamos

que não houve infecção por CMV. Levamos em

consideração todos os fatores de risco para

malformação congênita.

Agência FAPESP – Crianças pequenas

também são suscetíveis a danos neurológicos

se infectadas?

Zanotto – Não há evidência nesse sentido.

Mas é preciso ficar atento, pois existe sempre o

fator demográfico. À medida que mais pessoas

são infectadas, manifestações severas

começam a ser observadas. Não posso dizer

com certeza que “não”.

Agência FAPESP – Existe um período

gestacional em que a infecção pode ser mais

prejudicial?

Zanotto – Tenho conversado com pediatras e

obstetras no Recife e parece haver certas fases

críticas de desenvolvimento do cérebro. Por

volta de 29 semanas, as células progenitoras

de neurônios começam a se diferenciar em

neurônios de forma muito rápida e esses

neurônios começam a construir sinapses com

outros neurônios. Ao mesmo tempo, os

neurônios que não estão fazendo sinapses

começam a sofrer apoptose [morte celular

programada]. Estamos deduzindo, pelas

observações de múltiplos casos, que essa

semana 29 é importante. Isso precisa ser

estudado com mais detalhes para saber qual é

a janela de tempo que temos para entrar com

uma terapia, por exemplo. Inicialmente,

tínhamos a ideia de que talvez um evento que

acontecesse no primeiro trimestre da gestação

fosse mais perigoso. Depois, começamos a

observar relatos de pessoas que faziam o

exame morfométrico no sexto ou sétimo mês e

a criança aparentemente não tinha problema.

De repente, o cérebro literalmente se

desmanchava. Sabemos também que a pessoa

pode ter sido infectada no primeiro trimestre da

gravidez e a complicação fetal surgir bem mais

tarde. Precisamos entender como ocorre esse

dano tardio.

Agência FAPESP – O senhor acredita haver

alguma relação entre a microcefalia e a vacina

contra rubéola ou entre o surto de Zika com os

Page 6: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

mosquitos transgênicos como tem sido

aventado em redes sociais?

Zanotto – O surto de Zika associado ao

mosquito transgênico é uma fábula

interessante, porque há alguma relação com

uma pseudociência, mas vale ressaltar que o

mosquito transgênico é macho e o macho não

é portador do vírus e não infecta ninguém, pois

ele não pica e se alimenta apenas em flores.

Portanto, não faz sentido. O segundo aspecto

também é falso, porque desconsidera

completamente certos aspectos fundamentais

em epidemiologia. Há uma questão espaço-

temporal importante que precisa ser observada.

Os lotes de vacina usados na Polinésia

Francesa e no Brasil não foram os mesmos. E

no Brasil, no caso de microcefalia registrado

em São Paulo, há o histórico da paciente, que

foi atendida na mesma Unidade Básica de

Saúde (UBS) desde o seu nascimento, ou seja,

sabemos quais vacinas lhe foram aplicadas e

quando. No caso de surtos de dengue, por

exemplo, há um espalhamento em gradiente.

Para haver relação com a vacina, o mesmo lote

tem que ser repassado de Pernambuco para

Sergipe, Bahia, até São Paulo, da mesma

maneira como os casos estão sendo

registrados, e isso não está acontecendo desse

modo. Se olharmos o padrão de microcefalia e

ou síndrome de Guillain-Barré na Nova

Caledônia, na Polinésia Francesa e no Brasil,

os registros são de espalhamento viral. É

questão de usar bom senso e ter mecanismos

para poder argumentar de forma lúcida sobre

esses aspectos.

Agência FAPESP – O que já se sabe sobre

outras possíveis formas de contágio além da

picada de mosquitos do gênero Aedes?

Zanotto – Já existem dois casos identificados

de transmissão por transfusão de sangue em

Campinas. Na saliva, conseguimos detectar o

vírus mais facilmente que no sangue. Na urina

ele persiste mais tempo que no sangue. Mas

casos de transmissão por essas vias ainda não

foram confirmados. Existem três casos

fortemente associados com transmissão

sexual. São pessoas que viajaram para países

onde há casos de Zika, manifestaram os

sintomas quando regressaram ao país de

origem, no qual não há o vetor, e infectaram o

cônjuge. Então pode sim haver transmissão

sexual. Mas a gente tem que tentar entender

qual é a importância disso do ponto de vista

epidemiológico. Se for um fator importante

muda completamente o cenário. Mas também

pode ser uma exceção, algo sem muito impacto

na dinâmica de espalhamento.

Agência FAPESP – O senhor acredita que a

realização dos Jogos Olímpicos no Brasil pode

contribuir para disseminação do vírus pelo

mundo?

Zanotto – Tenho um pensamento ambíguo em

relação a isso. Assim como a Copa do Mundo,

a Olimpíada acontece no inverno e, em

temperaturas mais baixas, os vetores têm

dificuldade para manter populações suficientes

para sustentar surtos. Claro que isso não vale

para os estados do Nordeste e Norte, onde não

há essa limitação climática. O número de

picadas que a pessoa recebe no inverno

também é muito mais baixo do que no verão e

isso está diretamente relacionado com a

probabilidade de infecção. Mas, por causa do

fenômeno El Niño, estamos em um ano atípico,

com muita precipitação, muita flutuação de

temperatura. Esse é um fator que precisa ser

considerado. Há outra questão importantíssima

que é saber quais vetores o vírus está usando

no país, se é apenas o Aedes aegypti ou

também o A. albopictus ou outras espécies de

mosquitos. Esses estudos começaram há

pouco tempo.

Page 7: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Agência FAPESP – Já há alguma evidência

que mostre que o pernilongo ou algum outro

inseto podem transmitir o vírus Zika?

Zanotto – Na árvore de família dos flavivírus

tem um grupo que é vetorado

pelo Culex [gênero ao qual pertence o

pernilongo], como o vírus da encefalite

japonesa, o vírus do Oeste do Nilo e o vírus da

encefalite de São Luís. Em outro braço da

família estão os vírus associados ao Aedes,

como os causadores de Zika, dengue e febre

amarela. No caso da dengue, não há evidência

de transmissão por Culex, então eu não

esperaria que fosse um problema no caso do

Zika. Mas é preciso testar. Já o A.

albopictuspode ser problemático. É uma das

grandes preocupações dos países do

hemisfério norte. Ele poderia espalhar o vírus

em toda a região continental americana e

entrar acima dos Pirineus e dos Alpes na

Europa.

Agência FAPESP – Por que o calor favorece

os surtos de dengue, Zika e outras

arboviroses?

Zanotto – O metabolismo do Aedes se acelera

à medida que a temperatura ambiente sobe.

Um aumento de 5 graus Celsius pode dobrar a

velocidade de replicação do mosquito e fazer

com que ele produza mais vírus em um menor

tempo. Mas o vírus Zika é uma zoonose com

comportamento atípico. No Senegal, tem sido

observada sua presença ao longo de todo o

ano desde a década passada. Na África, está

sendo investigado qual é esse mecanismo de

manutenção. Pode ser a transmissão vertical

[quando a fêmea do mosquito põe ovos já

infectados com o vírus] ou a presença de

reservatórios virais com ciclos de reprodução

mais rápidos, que não estão sendo detectados.

Na África, há várias espécies

de Aedes infectadas com o vírus Zika e

percebemos que o patógeno se adapta

rapidamente a cada vetor. É um vírus

extremamente plástico, com capacidade

adaptativa adequada para se tornar

pandêmico.

Agência FAPESP – O Brasil hoje tem

condições para controlar o Aedes?

Zanotto – O ministro da Saúde foi criticado por

dizer que o Brasil está perdendo a guerra

contra o Aedes, mas, na verdade, o mundo

está perdendo essa guerra. Se olharmos o

espalhamento do mosquito no globo,

percebemos que ele conquistou toda a parte

equatorial e tropical do planeta. Isso é um

problema mundial, incluindo os países mais

avançados. Talvez se possa pensar na

eliminação do vetor, mas o mais adequado

seria pensar no controle em locais onde seja

possível diminuir significativamente a

infestação, porque a diminuição significa

número menor de surtos. Isso aconteceu, por

exemplo, no Guarujá, em 2013, quando

encontramos focos e fizemos intervenções,

colapsando o surto causado pelo vírus dengue

do sorotipo 4. Existem maneiras de se fazer

intervenção em tempo real, detectar as

pessoas virêmicas, incluindo sua localização

espacial, criando mecanismos de ação

localizados. É caro, mas é mais caro não fazer

isso. Então existem mecanismos que podem

ser feitos localmente, mas envolvendo a

iniciativa privada, a academia, o governo e a

sociedade.

Agência FAPESP – Além dos quatro vírus

mais associados ao Aedes, há possibilidade de

transmissão de outros, como o Mayaro e o

Oropouche?

Zanotto – Sim, são vírus que estão no Brasil e

têm um espalhamento razoável. Ao todo, são

dois milhões de tipos de febres que ocorrem na

região da Amazônia e não estão esclarecidos.

Page 8: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

A quantidade de agentes é gigantesca.

O Aedes e sua proximidade com os demais

vírus originários da África pode nos levar a ter

que lidar no futuro com uma lista imensa de

vírus, alguns deles extremamente perigosos.

Atualmente, esses vírus já são bastante

estudados. Nossa experiência com o Zika vai

ser útil para pesquisas a serem desenvolvidas

como parte de um convênio entre a USP, a

Fiocruz e o Instituto Pasteur, que já tem

inclusive uma área alocada na USP de São

Paulo. Uma das atuações que teremos com o

grupo com o qual colaboramos na África será

começar, de forma proativa, a ter plataformas

montadas de detecção molecular e sorológica

desses vírus no Brasil. Se tivéssemos nos

preparado para o Zika há dez anos, talvez a

história fosse diferente. Precisamos aprender

com essa situação. Esse momento nos fez

mudar o entendimento sobre a importância de

acompanhar os vírus de forma proativa, mesmo

que eles não estejam no Brasil.

Agência FAPESP – No caso do chikungunya,

que já provocou morte no Brasil, há

possibilidade de um surto grande como o do

Zika?

Zanotto – Para o vírus da febre chikungunya,

por exemplo, já estávamos mais preparados do

que para o Zika. Existem métodos comerciais

de detecção disponíveis. Parte disso é porque

as manifestações desse vírus são muito mais

severas. Há sete meses, acreditava-se que o

Zika não seria um problema, pois a maior parte

dos casos é assintomática. Mas a microcefalia

mudou totalmente o patamar de gravidade

desse agente. Sabemos de interações entre

chikungunya e Zika, de cocirculação e

sobreposição em várias partes da Ásia e do

Pacífico, então é preciso entender melhor isso.

Agência FAPESP – Se a maior parte das

manifestações de Zika não é percebida, como

uma mulher grávida pode lidar com essas

informações? É possível pensar em um teste já

no pré-natal?

Zanotto – Nesse momento, temos um pedaço

da proteína do vírus que é útil para discriminar

o Zika dos outros flavivírus. Esse material está

chegando agora da África e sendo sintetizado

pelo prof. Luis Carlos Ferreira, no ICB da USP,

que está iniciando a produção de proteínas em

bactérias para testar a reação do soro de

nossos pacientes infectados por Zika. Se tudo

funcionar bem, poderemos ter, em breve, um

sistema para teste imunológico rápido. E isso

pode ser extremamente importante, pois a

mãe, no acompanhamento, poderá saber se já

foi infectada algum dia por Zika. O cenário

confuso gradualmente vai se dissipando,

porque temos conseguido avançar rapidamente

no estado, inclusive com bancos de sangue já

reportando a presença de vírus (Leia mais

em: agencia.fapesp.br/ 22657/). Enquanto não

temos um ensaio simples e rápido que

discrimine o Zika de outros arbovírus, somos

obrigados a usar um teste mais demorado e

soroneutralização, no qual infectamos as

células com os vírus junto com soro de

pacientes que, se neutralizarem a infecção,

indicam que eles foram infectados por

Zika. Temos feito muitas confirmações em

termos acadêmicos, mas ainda não podemos

fazer isso em massa para a população. Por

isso, a chegada desses peptídeos e sua

produção na USP pode nos ajudar a criar

testes diagnósticos rápidos para todos.

Agência FAPESP – A visibilidade que essa

questão dá aos atores envolvidos propicia uma

projeção internacional à pesquisa brasileira?

Zanotto – Há duas maneiras de medir esse

avanço. Uma é a produção científica, que

depende de acesso a materiais e recursos,

inclusive físicos, para desenvolver os trabalhos.

Page 9: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Há dificuldades, mas estamos nos

organizando. A Anvisa [Agência Nacional de

Vigilância Sanitária] está auxiliando, facilitando

a entrada de recursos e de materiais, como

reagentes, que está funcionando bem. Temos

um potencial enorme de geração de ciência no

Estado de São Paulo. Por outro lado, tem um

segundo componente crucial, que é o controle

da epidemia. O fato de estarmos gerando

esses dois componentes, conhecimento

científico e controle, é importante. O Brasil vai

dar uma grande contribuição, até porque é aqui

que temos a maior quantidade de casos.

Percebo, atualmente, pelas várias propostas

que estão surgindo, as modalidades de

interação, de financiamento da comunidade

europeia, financiamento no NIH, que estão

levando em consideração esse aspecto de que

eles têm parceiros aqui, o que é muito bom

para todos. No nosso caso, a postura é a de

parceria, colaboração. A comunidade científica

brasileira é desenvolvida e tem capacidade de

lidar bem com isso, dadas as circunstâncias de

uma boa estrutura, com a academia

funcionando, bom financiamento, boas

articulações entre as instituições para um

trabalho em rede, e boas articulações

internacionais, que são necessárias até pela

velocidade de evolução de certas soluções

fundamentais.

Agência FAPESP – O que tem sido feito para

acelerar os estudos relacionados à epidemia de

Zika?

Zanotto – Estamos acompanhando alguns

casos de microcefalia em São Paulo e

pretendemos desenvolver pesquisa

básica totalmente inserida num contexto de

utilidade pública quase que imediata. Qualquer

coisa encontrada, potencialmente útil, deve ser

disponibilizada, pois pode ter repercussão no

diagnóstico, no acompanhamento das mães.

Nesse sentido, a Capes viu o que a FAPESP

fez ao aprovar rapidamente aditivos para

projetos já vigentes, o que encurta muito a

velocidade de indução, irrigando com recursos

o que precisa ser irrigado, e está buscando

agilizar o processo. O Ministério da Ciência

Tecnologia e Inovação acompanhou esse

processo e quer fazer o mesmo em uma

modalidade com financiamento via FAPs e

INCTs, ou seja, todos entenderam que não

temos tempo a perder. Se fôssemos fazer os

trâmites nos prazos convencionais, não

teríamos tempo. A Capes está atenta a isso e

quer tentar uma modalidade de fast track. A

FAPESP fez isso e causou uma reação em

cadeia em outros agentes indutores da

pesquisa no Brasil. Isso é muito importante,

pois criou mecanismos de agilização. Se isso

tudo funcionar e tivermos no final dessa

experiência um resultado positivo, podemos

estar criando uma nova modalidade de atuação

na indução de ciência no Brasil. Porque quando

temos problemas exponenciais, as respostas

têm que ser exponenciais. E isso começou a

ser bem entendido pelos gestores de ciência e

saúde no Brasil.

FOSFOETANOLAMINA : A droga

brasileira que promete curar o

câncer.

Fonte : Revista Época

Page 10: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Segundo a legislação, para que a Agência

Nacional de Vigilância Sanitária reconheça

uma droga como um medicamento legal,

permitindo assim sua fabricação e

comercialização, é preciso que o produto,

através de comprovação científica e de análise,

“seja reconhecido como seguro e eficaz para o

uso a que se propõe, e possua a identidade,

atividade, qualidade, pureza e inocuidade

necessárias”.

Tratando-se de um medicamento novo, é

exigido que sejam oferecidas “amplas

informações sobre a sua composição e o seu

uso, para avaliação de sua natureza e

determinação do grau de segurança e eficácia

necessários”. Essa aprovação só pode ser

alcançada após a realização detestes em

seres humanos, que servirão como base para

a comprovação de que

os benefícios do medicamento superam seus

eventuais riscos.

A complexidade de formas, variações, reações

e transformações através das quais uma

doença como o câncer se manifesta torna

improvável a ideia uma cura definitiva para

essa doença. Ainda assim,

a fosfoetanolamina, composto químico

sintetizada por um brasileiro, que

supostamente possui função antitumoral,

apresentando resultados relevantes no

combate ao câncer, tem colocado a

comunidade médica e os pacientes em natural

polvorosa.

Um tratamento menos invasivo e

debilitador, levando quem sabe à cura dessa

doença, pode

estar na esquina da história, aguardando

somente o cumprimento desses testes e

burocracias para poder ser enfim colocado no

mercado e na corrente sanguínea dos que mais

precisam.

A fosfoetanolamina é um composto orgânico,

presente no organismo de diversos mamíferos,

que ajuda a formar as membranas celulares e

possui ainda função sinalizadora, informando

ao organismo processos e situações

atravessadas pelas células.

No final da década de 1980, uma versão

artificial desse composto foi sintetizada pelo

químicoGilberto Orivaldo Chierice, então

professor do Instituto de Química de São

Carlos (IQSC), hoje aposentado. Por sua

alegada eficiência em combater, reduzir e até

curar tumores, naturalmente que a procura pela

droga por pacientes foi desde então intensa.

Por mais de 20 anos, o químico distribuiu

gratuitamente e por iniciativa própria a

fosfoetanolamina para diversos pacientes que,

em sua maioria, relataram melhoras

significativas e até a cura da doença. Uma

portaria da USP, universidade a qual o IQSC é

ligado, no entanto, proibiu em 2014 a

Page 11: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

distribuição do medicamento, justamente pela

falta de testes, pesquisas, registro e

autorização da Anvisa.

A universidade afirmou não possuir meios para

a realização dos testes nem para a produção

em larga escala. Desde então, diversas

liminares foram concedidas pela justiça para

permitir a pacientes o acesso ao medicamento.

Contudo, a fosfoetanolamina não possui

registro na Anvisa e, por isso, ainda não pode

ser comercializada no Brasil.

Trata-se de um dilema labiríntico e angustiante

para os que têm pressa de cura. Para

conseguir o registro e, assim, sua autorização,

o medicamento precisa ter sido testado tanto

em não humanos quanto em humanos, e

cumprir uma série de exigências e

procedimentos documentais. É claro que tais

processos possuem fundos sanitários e de

segurança importantíssimos, mas sua

realização pode ser demorada e caríssima.

Sem tais testes, no entanto, é impossível

afirmar com segurança que um medicamento

seria realmente eficiente, e que não seria uma

ameaça para pacientes em estado terminal, por

exemplo.

Segundo entrevista do próprio Chierice

a EPTV, filiada da Rede Globo, a substância

não teria ainda chegado ao mercado por má

vontade das autoridades. O químico afirma

que procurou por diversas vezes a Anvisa,

que alegou que faltavam dados clínicos em sua

pesquisa, já publicada em diversas das

principais revistas científicas do mundo.

Page 12: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

A ausência de dados clínicos, segundo ele, não

impediu que outros medicamento fossem

aprovados no Brasil. “Essa é a alegação de

todo mundo, mas está cheio de remédios

nesse país que não tem dados clínicos”,

afirma o cientista. A agência nega qualquer

contato por parte de Chierice.

Uma das consequências apontadas por

Chierice dessa demora será o interesse de

outros países pelo desenvolvimento do

remédio. “Nós poderemos ter que comprar

esse medicamento a custo de mercado

internacional”, diz Chierice. “Mas, se não for

possível aqui, a melhor coisa é outro país fazer,

porque beneficiar pessoas não é por bandeira”,

afirma, para em seguida categoricamente

enunciar que a fosfoetanolamina é sim uma

possível cura para o câncer.

É inevitável cogitar sobre interesse escusos de

grandes laboratórios em impedir o surgimento

de um medicamento que torne obsoletos os

caríssimos tratamentos contra o câncer já

aprovados e utilizados não só no Brasil, como

em todo mundo, ameaçando as gigantescas

cifras da chamada “indústria do desespero”.

Mexer com tais valores, especialmente em um

mercado tão urgente e, ao mesmo tempo, de

fiscalização tão técnica e especializada

(deixando qualquer aval, proibição, ou até

mesmo entendimento real nas mãos das

agências e especialistas), é necessariamente

adentrar um processo caudaloso.

Negar o poder de fogo do lobby da indústria

farmacêutica seria ingenuidade leviana em

questão tão sensível para a população – o que

pode natural e intuitivamente nos levar a

questionar inclusive os métodos da Agência

para a aprovação de um novo medicamento.

Segundo o testemunho de uma pessoa que

preferiu não se identificar (parente de uma

paciente de câncer, que chegou a utilizar o

medicamento, também apresentando melhoras

significativas), o acesso à fosfoetanolamina

hoje enfrenta problemas similares a qualquer

produto vendido pelo mercado negro. “O custo

é alto e sem controle, e os riscos envolvem não

só a ameaça pela qualidade do produto, como

pela ilegalidade e o perigo do roubo e da

violência, visto que o interesse pelo remédio

por parte da população é imenso”. A incidência

de roubos seria proporcional ao interesse e ao

alto custo da medicação.

Page 13: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Na internet são diversos os relatos de pessoas

que, mesmo com liminares para o recebimento

do medicamento, tiveram dificuldades em

retirar o produto nos correios ou mesmo em

encontrar a encomenda.

Em nota técnica emitida em 2015, a Anvisa

esclarece que não há qualquer registro

concedido ou pedido de registro sequer para

medicamentos com o princípio ativo

fosfoetanolamina, nem mesmo para fins de

pesquisa envolvendo seres humanos. Assim, a

agência não poderia reconhecer, “por absoluta

falta de dados científicos”, segundo a nota, a

eficácia da fosfoetanolamina para o tratamento

do câncer, e por isso não recomenda o uso ou

muito menos a substituição de tratamentos já

prescritos e estudados por um medicamento

ainda não avaliado.

São diversas as academias de medicina,

profissionais e entidades especializadas que se

posicionam de forma semelhante, não

recomendando o uso de uma substância sem

que ela tenha sido devidamente testada e

aprovada pela Anvisa.

Alguns relatos sobre o efeito da droga, no

entanto, podem ser lidos até mesmo pelo

Facebook. Uma usuária, moradora da

Alemanha, conta através de um post que

recebeu a doação da USP e, “para total

espanto dos médicos, o tumor regrediu 3

cm e eu senti melhor do que nunca”.

Segundo a postagem, seu ânimo e apetite

melhoraram sensivelmente, e seu médico

alemão teria recomendado que ela continuasse

o tratamento. Ela, entretanto, afirma que não

pôde mais receber o medicamento e, com isso,

o tumor teria voltado a crescer. “Minha única

chance atualmente é a Fosfo”, ela escreve.

“Minha vida está nas mãos de quem pode ou

não liberar as liminares e aumentar a

produção”.

Em São Paulo, os testes serão realizados em

cinco hospitais da rede estadual, com

participação de até 1000 pacientes. Segundo

David Uip, secretario estadual de saúde do

estado, em paralelo à elaboração dos padrões

para a realização dessas pesquisas, será

enviada uma solicitação à USP e a Gilberto

Chierice, pois a fosfoetanolamina é uma droga

patenteada por Chierice. Os critérios para a

seleção de pacientes envolvidos na pesquisa

ainda não foram divulgados, mas a ideia é

contemplar diversos tipos da doença, para

justamente medir a atuação do medicamento

sobre as variações de atuação do câncer no

corpo humano.

Page 14: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

O fato é que, para além de nossas esperanças

e nossos desejos, até que se realizem tais

testes, a fosfoetanolamina é somente uma

promessa aparentemente boa mas ainda muito

arriscada e perigosa. Se essa é uma falsa

promessa ou se o medicamento se tornará de

fato um marco ou até mesmo o ponto de

chegada na busca pela cura do câncer, isso só

os resultados desses testes poderão

responder. Mas é fundamental que os

motivos, os processos e as decisões ao

redor da avaliação do medicamento sejam

objetivos e transparentes.

Da mesma forma, é de suma importância que

as razões de ser de qualquer que seja cada

decisão tomada pela Anvisa e pelos

laboratórios e instâncias governamentais

envolvidas daqui pra frente se deem não em

nome do dinheiro ou do poder, mas sim, das

conquistas científicas e do bem estar da

população como um todo – independentemente

da aprovação ou não do medicamento.

Hipertensão

Um mal silencioso

A hipertensão arterial ou pressão alta é uma

doença caracterizada pela elevação dos níveis

tensionais no sangue. É uma síndrome

metabólica geralmente acompanhada por

outras alterações, como obesidade. Cerca de

20% da população brasileira é portadora de

hipertensão, sendo que 50% da população com

obesidade tem a doença. A hipertensão pode

acontecer quando nossas artérias sofrem algum

tipo de resistência, perdendo a capacidade de

contrair e dilatar, ou então quando o volume se

torna muito alto, exigindo uma velocidade

maior para circular. Hoje, a hipertensão é a

principal causa de morte no mundo, pois pode

favorecer uma série de outras doenças.

Quando o seu coração bate, ele contrai e

bombeia sangue pelas artérias para o resto do

seu corpo. Esta força cria uma pressão sobre as

artérias. Isso é chamado de pressão arterial

sistólica, cujo valor normal é 120 mmHg

(milímetro de mercúrio). Uma pressão arterial

sistólica de 140 ou mais é considerada

hipertensão. Há também a pressão arterial

diastólica, que indica a pressão nas artérias

quando o coração está em repouso, entre uma

batida e outra. Um número normal de pressão

arterial diastólica é inferior a 80, sendo que

igual ou superior a 90 é considerada

hipertensão.

Tipos

A hipertensão pode ser dividida em três

estágios, definidos pelos níveis de pressão

arterial. Esses números, somados a condições

relacionadas que o paciente venha a ter,

como diabetes ou histórico de AVC ,

determinam se o risco de morte cardiovascular

do paciente é leve, moderado, alto ou muito

alto. Além disso, quanto mais alta a pressão

arterial, maior a chance de o paciente precisar

usar medicamentos.

Page 15: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

• Estágio I: hipertensão acima de 140 por

90 e abaixo que 160 por 100

• Estágio II: hipertensão acima de 160 por

100 e abaixo de 180 por 110

• Estágio III: hipertensão acima de 180

por 110.

Fatores de risco

A hipertensão é herdada dos pais em 90% dos

casos. Em uma minoria, a hipertensão pode ser

causada por uma doença relacionada, como

distúrbios da tireoide ou em glândulas

endocrinológicas, como a suprarrenal.

Entretanto, há vários outros fatores que

influenciam os níveis de pressão arterial, entre

eles:

• Fumo

• Consumo de bebidas alcoólicas

• Obesidade

• Estresse

• Grande consumo de sal

• Níveis altos de colesterol

• Falta de atividade física

• Diabetes

• Sono inadequado.

Além desses fatores de risco, sabe-se que a

incidência da hipertensão aumenta com a

idade. Isso porque com o passar do tempo

nossas artérias começam a ficar

envelhecidas, calcificadas, perdendo a

capacidade de dilatar - são chamados

de vasos menos complacentes. Com isso

a hipertensão arterial é mais fácil de

acontecer - cerca de 70% dos adultos

acima dos 50 ou 60 anos possuem a

doença.

Diagnóstico de Hipertensão

O diagnóstico de hipertensão é feito pela

medida da pressão. A forma mais comum é a

medida casual, feita no consultório com

aparelhos manuais ou automáticos. A

hipertensão também pode ser diagnosticada

por aparelhos que fazem aproximadamente 100

medidas de pressão durante 24 horas.

Tratamento de Hipertensão

A hipertensão não tem cura, mas tem

tratamento para ser controlada. Somente o

médico poderá determinar o melhor método

para cada paciente, que depende das

comorbidades e medidas da pressão. É

importante ressaltar que o tratamento para

hipertensão nem sempre significa o uso

de medicamentos - mas se estes forem

indicados, ela deve aderir ao tratamento e

continuar a tomá-lo mesmo que esteja se

sentindo bem. Mas mesmo para quem faz uso

de medicação é imprescindível adotar um estilo

de vida saudável:

• Manter o peso adequado, se necessário,

mudando hábitos alimentares

• Não abusar do sal, utilizando outros

temperos que ressaltam o sabor dos

alimentos

• Praticar atividade física regular

• Aproveitar momentos de lazer

• Abandonar o fumo

• Moderar o consumo de álcool

• Evitar alimentos gordurosos

Page 16: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

• Controlar o diabetes e outras

comorbidades.

Medicamentos para Hipertensão

Os medicamentos mais usados para o

tratamento de hipertensão são:

• Aldactone

• Apresolina

• Aradois

• Atenolol

• Atenolol + Clortalidona

• Atensina

• Besilato de Anlodipino

• Benicar

• Clortalidona

• Co-Pressotec

• Captopril

• Captopril + Hidroclorotiazida

• Carvedilol

• Concor

• Diovan

• Diurix

• Doxazosina

• Duomo

• Enalapril + Hidroclorotiazida

• Enalapril

• Espironolacton

• Furosemida

• Hidroclorotiazida

• Higroton

• Indapen SR

• Lasix

• Lisinopril

• Losartana Potássica

• Losartana Potássica +

• Hidroclorotiazida

• Metildopa

• Nebilet

Somente um médico pode dizer qual o

medicamento mais indicado para o seu

caso, bem como a dosagem correta e a

duração do tratamento. Siga sempre à

risca as orientações do seu médico e

NUNCA se automedique. Não interrompa

o uso do medicamento sem consultar um

médico antes e, se tomá-lo mais de uma

vez ou em quantidades muito maiores do

que a prescrita, siga as instruções na

bula.

Complicações possíveis

As principais complicações da hipertensão são

AVC, por infarto agudo do miocárdio ou

doença renal crônica. Além disso, a hipertensão

pode levar a uma atrofia do músculo do

coração, causando arritmia cardíaca. É

importante ressaltar que qualquer combinação

de fatores de risco é sempre muito mais grave,

pois o risco das comorbidades é multiplicado.

Em média, uma pessoa com hipertensão que

não controla o problema terá uma doença mais

grave daqui 15 anos.

Prevenção

Pessoas em idade adulta meçam a pressão pelo

menos uma vez por ano como forma de

acompanhamento (a medidas que vamos

envelhecendo a pressão vai aumentando). Além

disso, outros hábitos de vida saudáveis podem

ser adotados para prevenir a hipertensão:

Page 17: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

• Evite ficar parado: caminhe mais, suba

escadas em vez de usar o elevador

• Diminua ou abandone o consumo de

bebidas alcoólicas

• Tente levar os problemas do dia a dia de

maneira mais tranquila

• Mantenha o peso saudável: procure um

profissional de saúde e peça orientação

quanto à sua alimentação

• Tenha uma alimentação saudável

• Diminua o sal da comida.

fontes e referências

• Ministério da Saúde

• Weimar Sebba Barroso, cardiologista

presidente do Departamento de

Hipertensão da SBC – Sociedade

Brasileira de Cardiologia;

• Marly Uellendahl, cardiologista do

Lavoisier Medicina Diagnóstica;

Eutanásia: A favor

ou contra?

De um lado estão aqueles que

defendem a vida como bem supremo.

De outro, os que sustentam a

liberdade de escolha como direito

inerente. Por trás deste embate está

um pensamento dualista que opõe

vida e morte e não distingue viver de

sobreviver.

A eutanásia tornou-se uma questão central nos

debates de Bioética na atualidade. Em geral,

distingue-se a eutanásia da ortotanásia e da

distanásia. Por eutanásia entende-se a conduta

médica que apressa a morte de um paciente

incurável e em terrível sofrimento.

Por ortotanásia designa-se a suspensão dos

meios medicamentosos ou artificiais de

manutenção da vida de um paciente em coma

irreversível. E, por distanásia, aponta-se o

emprego de todos os meios terapêuticos

possíveis, inclusive os extraordinários e

experimentais, num paciente terminal.

Enquanto com a ortotanásia se aceita o

processo natural de morrer, com a distanásia,

pela obstinação terapêutica, se provocam

distorções. Num caso, permite-se ao paciente ir

ao encontro da morte; no outro, a ele se impõe

um tratamento insistente, desnecessário e

prolongado, sem nenhuma certeza de sua

eficácia.

Com a eutanásia, adianta-se a morte,

atendendo à vontade expressa e manifesta do

paciente, no sentido de evitar sofrimentos que

ele julga insuportáveis ou de encurtar uma

existência que acredita penosa e sem sentido.

Vista por alguns como um suicídio assistido, a

eutanásia inscreve-se numa situação em que o

paciente quer morrer, mas, por incapacidade

física, não consegue realizar sozinho o seu

Page 18: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

desejo. Aliás, no seu sentido etimológico,

eutanásia significa "boa morte". Ela se

diferencia radicalmente da distanásia, que

importa em submeter o paciente a quaisquer

condições para mantê-lo vivo.

Mas também se diferencia da ortotanásia que,

chamada às vezes de eutanásia por omissão,

implica decidir não conservar a vida do

paciente por meios artificiais. Distinguem-se

ainda diversos tipos de eutanásia: ativa, se a

morte é provocada, ou passiva, se ela advém

por omissão; voluntária, quando o paciente

expressa e manifesta a vontade de morrer, ou

involuntária, quando um indivíduo, grupo ou

sociedade decide pôr fim à vida do paciente,

sem que este exprima e manifeste a sua

vontade (é o caso, por exemplo, de deficientes

mentais, dementes ou inconscientes).

Entre nós, aceita-se a distanásia; no direito

brasileiro, não se considera, neste caso, a

conduta médica ilícita nem culpável. Admite-se,

sob condições, a ortotanásia; julga-se a

conduta médica lícita do ponto de vista jurídico,

quando não significa a redução do período

natural de vida do paciente nem caracteriza

abandono do incapaz. Rejeita-se

categoricamente a eutanásia; como conduta

típica, ilícita e culpável, ela caracteriza

homicídio, sendo indiferente que o paciente

com ela concorde ou mesmo por ela implore.

"Se quiseres poder suportar a vida, fica

pronto para aceitar a morte"

FREUD

Na antiguidade greco-romana, reconhecia- se o

direito de morrer; era o que permitia aos

doentes desesperançados pôr fim à própria

vida, contando por vezes com o auxílio de

outrem. Com o cristianismo introduziu-se a

noção de sacralidade da vida, passando-se a

concebê-la como um dom de Deus a ser

preservado; foi o que levou à extinção das

práticas dos antigos.

No século XVII, com Francis Bacon, a questão

da eutanásia migrou para o domínio da

medicina; começou-se a usar o vocábulo para

expressar a ideia de que cabia ao médico

aliviar os sofrimentos dos doentes tanto para

curá-los quanto para proporcionar-lhes uma

morte tranquila.

Mas com o direito moderno, a eutanásia

assume caráter criminoso, uma vez que viola a

proteção irrecusável da vida. Concebendo-se a

vida como o bem jurídico mais valioso, o bem

inalienável e intransferível por excelência,

entende-se que ela é o direito primeiro da

pessoa humana, direito esse que se deve

proteger acima de todos os demais. Tutelado

pelo Estado até contra a vontade do indivíduo,

julga-se tratar-se de um direito absolutamente

indisponível.

Ora, impondo-se como dogma, "a vida a

qualquer preço", contribui bem mais para

encerrar a discussão do que para promovê-la.

Não quero dizer com isso que julgo ilegítimo ou

inadequado recorrer aos valores religiosos para

refletir sobre a questão da eutanásia. Pretendo

apenas assinalar que não é o meu propósito

aqui levá-los em conta.

Vida como dever

Page 19: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Seja por julgar que se deve preservar um dom

de Deus ou por entender que se tem de fazer

jus à dignidade humana, há quem defenda que

toda vida humana merece ser vivida.

Ora, tomar a vida como bem supremo implica

não só proibir categoricamente a eutanásia,

impedindo o paciente de pôr termo a

sofrimentos insuportáveis, como também aderir

à distanásia, impondo a ele sofrimentos ainda

maiores causados pelos tratamentos fúteis e

pela obstinação terapêutica.

Considerar a vida o direito primeiro da pessoa

humana implica, também, que não se permita

que tomem parte da discussão acerca da

eutanásia todos os que são por ela afetados

(além do paciente, os familiares e amigos, os

grupos e segmentos sociais).

E seria possível ainda argumentar que, em

nossa sociedade, o "valor sagrado da vida" não

evitou que se aceitassem as guerras, a pena

de morte e a legítima defesa, sem falar no

extermínio dos animais.

É preciso ainda notar que, ao defender "a vida

a qualquer preço", adota-se um modo de

pensar dualista, opondo-se a vida à morte.

Privilegia-se um dos termos da oposição em

detrimento do outro, dispondo-se a tudo fazer

pela vida contra a morte. Excluindo-se o seu

contrário, converte- se então o direito de viver

em dever.

Defensores da eutanásia, por sua vez,

argumentam em favor do direito de morrer.

Usa-se, atualmente, esta expressão para

remeter a situações variadas; a ela se recorre

inclusive para referir-se ao direito do paciente

de recusar-se às terapias que julgue

inapropriadas ou inoportunas e de solicitar

medicamentos que lhe aliviem as dores ainda

que corram o risco de abreviar-lhe a vida.

O direito de morrer se basearia antes de

qualquer coisa no princípio de autonomia. Toda

pessoa tem o direito de tomar decisões acerca

da própria vida; é capaz de decidir o que ela

quer fazer e o que quer que outrem lhe faça.

Não cabe, pois, à lei vir tolher tal direito nem

limitar a sua liberdade; ninguém sabe melhor

do que ela o que lhe convém.

Este mesmo argumento valeria para o aborto

provocado e para o suicídio; constituiria um

desrespeito ao princípio de autonomia

penalizar criminalmente quem decidisse

provocar um aborto ou tentasse o suicídio.

Assim, toda pessoa gozaria, dentre os seus

direitos, do privilégio de dispor de sua

existência em quaisquer circunstâncias, desde

que, por livre e espontânea vontade, desistisse

de viver.

E ainda mais nos casos de doença incurável,

acrescida de dores insuportáveis e sofrimentos

inúteis. Há quem argumente, porém, que uma

coisa é deixar morrer e outra é matar.

Entendem por matar qualquer ação ou omissão

que vise a pôr termo à vida; e entendem por

deixar morrer a não aplicação ou interrupção

de um tratamento desproporcional e oneroso,

de modo que a natureza possa seguir o seu

curso.

Dessa perspectiva, a ortotanásia seria

admissível, mas a eutanásia intolerável. Em

que pese a atuação de grupos que hoje

reivindicam, em vários países, mudanças legais

Page 20: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

que permitam a sua prática, tendo em vista

sempre a eutanásia voluntária, não haveria por

que descriminalizá-la.

Importa frisar que, ao distinguir entre matar e

deixar morrer, parte-se mais uma vez deste

dualismo primeiro, que opõe a vida à morte.

Por isso mesmo, torna-se preciso investigar

mais de perto o que está em causa quando se

fala da vida. E, ainda que o apelo às definições

possa parecer, aos olhos de alguns, uma

exigência escolar, é imprescindível recorrer a

elas para situar o terreno em que se dá a

discussão.

Aqui, uma distinção se faz necessária: a que se

estabelece entre viver e sobreviver. Lançando

mão do pensamento de Nietzsche, não seria

desmedido dizer que é a vida, ela mesma, que,

vencida, se reduz à sobrevivência, quando não

suporta a doença nem tolera a dor. Dessa

óptica, apressar a morte de um paciente

incurável e em terrível sofrimento, atendendo à

sua vontade expressa e manifesta, não

equivaleria a tirar-lhe a vida, mas a abreviar-lhe

a sobrevivência.

Estudiosos colocam, em outros termos, essa

questão, ao distinguir entre estar vivo, no

sentido biológico da palavra, e ter vida, na

acepção biográfica da expressão. Sustentam

que a saúde do paciente não se limita à

dimensão físicocorporal de sua existência, mas

abrange também seu estilo de vida, seus

valores e suas crenças.

Advogam a ideia de que a conduta médica

deve levar em conta essas duas dimensões e

empenhar-se em aliar a processos da natureza

biológica a dignidade de uma história pessoal.

Nesse contexto, matar não significaria pôr fim

ao estar vivo, mas pôr termo à vida.

Ao trabalhar com duas dimensões da

existência humana, essa maneira de ver acaba

por pensar o homem como um composto de

corpo e mente, aceitando, assim, a distinção

que Descartes estabeleceu entre pensamento

(res cogitans) e matéria (res extensa).

Enquanto aqui se trata de tentar juntar o que

Descartes havia separado, no quadro do

pensamento de Nietzsche importa antes de

qualquer coisa recusar todo e qualquer

dualismo. Em todo caso, tanto a distinção entre

ter vida e estar vivo quanto aquela outra entre

viver e sobreviver nos remete à questão acerca

da qualidade de vida.

Num mundo marcado pela crise de valores,

amplia-se o debate entre os que advogam o

caráter sagrado da existência humana e os que

defendem os seus aspectos qualitativos.

Enquanto uns julgam que a medicina tem de

estar a serviço da vida, outros entendem que

ela deve prezar antes de tudo a pessoa. Se

aqueles condenam a eutanásia, estes podem

vir a admiti-la.

Page 21: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

Cabe lembrar,

porém, que é a

partir dos anos

1970 que a

questão da

qualidade de vida

se impõe. Entre

nós, sua

emergência

coincide com o

momento em que

a medicina de

ponta começa a

migrar da esfera

pública para o

setor privado.

Os hospitais beneficentes, que eram

praticamente os únicos centros de excelência

no País, cedem lugar às empresas de saúde.

Com a crescente incorporação tecnológica,

deixa-se de conceber a medicina como um

serviço a ser prestado; passa-se a vê-la como

um negócio a ser realizado.

De ação filantrópica, ela converte- se em

contrato comercial. Torna-se comum discutir,

nas ações médicas, a relação de custo e

benefício. Entende-se por custos de uma

determinada intervenção, antes de qualquer

coisa, os financeiros, não se levando em conta

os emocionais e psicológicos, os sociais e

éticos que possam dela advir.

Entende-se por benefícios acima de tudo os

percebidos pela empresa de saúde, relegando-

se a segundo plano os que possam reverter

para o paciente, os familiares e amigos, os

grupos e segmentos sociais. Fazendo- se do

paciente um cliente, a ele se oferece, como

bens de consumo, a saúde e até mesmo a

vida. Aprofunda-se, assim, o abismo que

separa saúde e doença, vida e morte.

A eutanásia no Brasil

No Brasil, a eutanásia é considerada uma

forma de homicídio. A lei não faz qualquer

referência específica a ela, mas a prática é

julgada de acordo com o artigo 121 do Código

Penal, que pune crimes de homicídio com

penas de seis a 20 anos de reclusão. Há

projetos tramitando no Congresso para mudar

tal situação.

Um deles faz parte da própria reforma do

Código Penal. Parte do anteprojeto que está

sendo elaborado para dar lugar à legislação

penal atual prevê a alteração de dispositivos do

Código Penal, legislando sobre a eutanásia em

dois itens do artigo 121. No parágrafo 3º,

buscando reduzir a pena de reclusão, caso o

autor do crime tenha agido por compaixão e a

pedido da vítima. No 4º, tentando

descriminalizar o ato de deixar de manter a

vida de alguém por meios artificiais, caso a

morte tenha sido atestada como iminente e

inevitável, desde que solicitado pelo paciente

ou parentes próximos

Lado financeiro

Daí, o impasse teórico em que nos

encontramos hoje. Ou advogamos o valor

sagrado da existência humana e acabamos

atrelados a posições dogmáticas, que

encerram a discussão em vez de promovê-la,

ou então defendemos a qualidade de vida e,

embora talvez mais aparelhados para refletir

sobre questões que se impõem hoje nos

A palavra eutanásia foi

introduzida pelo filósofo

Francis Bacon (1561-1626),

no seu Organon (1623),

com o sentido de "boa

morte" - suave e sem

sofrimento. Não está ligada

à acepção atual

Page 22: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

debates de Bioética, como a da eutanásia,

corremos o risco de engrossar o discurso das

empresas de saúde.

E, assim, nos vemos outra vez prisioneiros de

um modo de pensar dualista que, ao que

parece, não nos deixa alternativa. Ora, a meu

ver, se a ideia de que a vida é um dom de Deus

a ser preservado nos impede de levar adiante a

discussão acerca da eutanásia, a questão da

qualidade de vida só merece ser posta se

alertarmos para a apropriação que dela fazem

os interesses privados.

Atualmente, a morte torna-se um tema a ser

evitado. Inexorável, ela representa para o

homem, que se quer senhor e dominador da

natureza, o maior desafio. Obriga-o a deparar-

se com a própria fragilidade; contrange-o a

defrontar-se com a finitude. Nos nossos

tempos, a situação agrava-se. Na sociedade

em que vivemos, o ser humano que está à

morte é tido por um insucesso. Nesta

sociedade que preconiza a produtividade e o

lucro, que prega a eficácia a qualquer preço,

que promove o espírito de competição e a

lógica da exclusão, o moribundo é visto como

um malogro.

É recente na história da medicina a ideia de

que é preciso levar a vida biológica custe o

que custar até o limite

Imersos nessa atmosfera cultural, é comum

que os profissionais da saúde, em particular os

médicos, julguem que se deve evitar a morte a

todo custo. Estranha à vida, ao ocorrer, ela

evidencia um fracasso.

Nesse contexto, compreende-se que os

médicos se sintam tentados a abandonar os

pacientes terminais, uma vez que a morte foge

de seu âmbito de atuação. Compreende-se

igualmente que procurem minimizá-la,

disfarçando-a graças à tecnologia de ponta.

Compreende-se, por fim, que recorram a

tratamentos fúteis, considerando o paciente

uma oportunidade terapêutica, um desafio

clínico ou mesmo um

caso rentável.

Imbuídos da ideia de que

a medicina tem por

objetivo principal sanar

enfermidades, em geral

eles se deixam nortear

bem mais pelo

diagnóstico da doença

do que por seu

prognóstico. Ocorre,

também, que lancem

mão de tratamentos que,

situados por vezes na

fronteira entre o

experimental e o já

consolidado, não

chegam a contribuir para

melhorar as condições

encontradas.

Desse modo, são levados a cuidar de

pacientes terminais guiados bem mais pela

tecnologia de ponta do que pelas preferências

que estes possam manifestar. Não é raro que,

nas suas decisões, tenham em conta a

situação socioeconômica dos que estão sob

seus cuidados, acentuando com isso a

Cenas do filme "Mar

Adentro" mostram

protagonista antes e

depois de se tornar

tetraplégico.

Sabendo que sua

condição era

irreversível, ele

decide morrer e

tenta conseguir

ajuda para realizar

tal ato

Page 23: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

discrepância entre os rentáveis e os não

rentáveis.

Mas não é raro tampouco que sejam

pressionados por pacientes, que só se sentem

tratados quando submetidos aos expedientes

modernos mais invasivos, que se limitam a

prolongar o processo da morte.

Voltando-se para o sucesso da cura, o avanço

médico-tecnológico não tem como contribuir

para uma reflexão sobre a morte. Por isso

mesmo, cumpre avaliar os benefícios e

malefícios por ele produzidos, investigando os

aspectos éticos presentes nas situações por

ele geradas

Em vez de conceber a morte como um

acontecimento a evitar a qualquer preço, torna-

se imprescindível inscrevê-la em situações

econômico-político-sociais determinadas e em

contextos culturais precisos. Torna-se

igualmente indispensável discutir a questão da

eutanásia, levando em conta aspectos de

ordem cultural, social, política e econômica.

É recente na história da medicina a ideia de

que é preciso levar a vida biológica custe o que

custar até o limite. Tratando a fase terminal

como uma luta a qualquer preço contra a

morte, tende-se hoje a condenar inúmeros

enfermos a um sofrimento sem perspectiva.

Recorrendo a procedimentos desproporcionais

aos resultados esperados, acabase por

confiná-los em centros de terapia intensiva.

Optando por prolongar indefinidamente o

processo de morte por que estão passando,

criam-se situações desumanas. Pensando

segundo categorias abstratas, tais como a

saúde e a normalidade, e operando segundo

uma lógica dualista, venera-se a vida.

Isolamento

E assim a idolatria da vida acaba por revelar

sua outra face; ela é uma verdadeira "cultura

da morte". Nas sociedades ditas mais

avançadas, impregnadas pela ideia de

eficiência, a "cultura da morte" configura-se

pelo confinamento das pessoas idosas e

debilitadas.

Excluídas do convívio familiar e social, elas

acabam com frequência isoladas, relegadas

aos cuidados de profissionais treinados para

lidarem com vidas desprovidas de valor. Na

nossa sociedade, a "cultura da morte"

manifesta-se antes de qualquer coisa no

descaso pela vida.

E não me refiro aqui aos que morrem no âmbito

médico-hospitalar, mas aos milhares de

indivíduos a quem se nega o direito de viver.

Refiro-me à morte imposta a todos aqueles que

se acham abaixo da linha de pobreza.

É notável, pois, a discrepância entre a idolatria

da vida de que se beneficiam alguns e a cultura

da morte a que se condenam tantos. No limite,

são faces da mesma moeda. Se o direito

brasileiro considera a eutanásia um crime, por

reputar o respeito à vida um valor fundamental,

em nosso país há muitos que parecem não se

orientar por esse mesmo princípio.

Ignorando a disparidade econômica entre os

diferentes segmentos de nossa sociedade, eles

não hesitam em pôr em prática uma política de

exclusão, que colide justamente com os valores

Page 24: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

fundamentais que estruturam o seu

ordenamento jurídico.

Mas por que não perseguir a utopia de que,

numa outra sociedade, todo ser humano teria

assegurado o seu direito a uma morte digna,

porque veria antes respeitado o seu direito a

uma vida digna? Então, aceitando a condição

humana em sua fragilidade e finitude, não mais

se pensaria em vida e morte como termos

opostos. E, nesse quadro, a questão da

eutanásia talvez não se colocasse mais em

primeiro plano nos debates de Bioética.

Por Scarlett Marton

MEDICINA COMO VOCAÇÃO

OU PROFISSÃO?

O estudo da vocação médica abrange desde a

história da profissão, até a personalidade do

profissional, com seus aspectos conscientes e

inconscientes, variáveis como a família, a

origem, a raça e a classe social, além do perfil

econômico. O maior obstáculo para a sua

realização é a inexistência de um instrumento

capaz de abranger todos esses aspectos e,

tampouco, de algum que possa detectar,

especificamente, a vocação médica. Além

disso, é possível que o conceito de vocação

médica seja tão abstrato que comprometa sua

expressão – ou seja, estaria incluído na

categoria dos conceitos inefáveis, assim como

acontece com os sentimentos, dos quais todos

sabem o significado, mas ninguém é capaz de

defini-los, contentando-se em descrever as

situações em que se tornam presentes.

E por que estudar vocação e gênero seria

interessante? Desde a Grécia Antiga proibiu-se

a presença de mulheres na profissão, com

raras exceções. No século XIX uma mulher

surpreendeu a todos ao dar um exemplo de

vocação médica: simulou ser homem para ser

admitida como cirurgiã no exército britânico e

só teve a verdadeira identidade revelada após

sua morte, depois de ter realizado uma carreira

de sucesso!

Com o intuito de estudar a vocação médica e

sua relação com o gênero, realizamos uma

pesquisa com estudantes do primeiro ano da

Faculdade de Medicina da Universidade de

São Paulo (FMUSP). A grande dificuldade que

enfrentaram para ser aprovados no vestibular,

demonstra, a princípio, a existência de uma

forte determinação para estudar Medicina.

Evidentemente, tal determinação não garante

que todos sejam possuidores de vocação

médica. Além disso, por estarem no início do

curso, esses alunos ainda não haviam sido

influenciados pela faculdade e, por isso, o

aspecto vocacional “puro” poderia ser

observado com maior clareza.

No estudo foram utilizados quatro diferentes

Page 25: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

instrumentos de pesquisa, aplicados em 30

alunos e em 30 alunas da FMUSP, com idade

entre 17 e 21 anos. Optou-se por uma

metodologia mista, quantitativa e qualitativa, o

que possibilitou observar a questão vocacional

por diferentes ângulos e a realização de um

estudo de gênero. Inicialmente, aplicou-se um

questionário socioeconômico, seguido de

entrevista sobre a escolha da profissão e de

um teste de personalidade (16 PF). E, no final,

um teste projetivo capaz de detectar aspectos

inconscientes que poderiam estar ligados à

escolha da profissão (TAT – Teste de

Apercepção Temática).

A média de idade foi em 18,5 anos, todos

brasileiros e solteiros, predominando os

nascidos em São Paulo (capital), de religião

católica. Chama a atenção o fato de que 32%

dos alunos declararam-se ateus. A maioria dos

pais e mães desses alunos possui curso

superior e pertence à classe média. Apenas um

dos pesquisados cursou o segundo grau em

escola pública. Aproximadamente 63% dos

alunos têm algum médico na família, apenas

27% conseguiram passar no vestibular em sua

primeira tentativa e poucos (5%) iniciaram,

antes disso, um outro curso superior.

Em geral, alunos de ambos os gêneros optam

pela Medicina precocemente, enquanto que um

número maior de alunos do gênero masculino

identificou-se com alguém para a escolha da

profissão. Quanto às motivações conscientes

para a escolha da profissão, alunos e alunas

destacaram o altruísmo, a curiosidade

intelectual, o interesse pela relação humana e o

perfil da profissão. A maioria procurou obter

informações sobre o curso médico antes do

vestibular, enquanto que 1/3 foi desencorajado

a estudar Medicina por familiares ou amigos,

mas não desistiram. Embora apenas 10%

possuam uma imagem inteiramente favorável

da profissão e acreditem que terão a vida

privada afetada pelo cotidiano profissional, em

geral, as expectativas são otimistas.

Também acham que, durante o curso, terão

dificuldades quanto à falta de tempo, à relação

médico-paciente, ao excesso de matérias, ao

estudo, ao estresse e ao exame de residência.

Para eles o bom médico deve ser altruísta em

primeiro lugar. Além de humano, esforçado,

responsável, humilde, calmo e honesto,

também deve ser habilitado tecnicamente, ter

boa relação com o paciente e gostar da

profissão.

O teste projetivo mostrou que alunos de ambos

os gêneros são altruístas, possuem bom

contato com a realidade, estão elaborando as

perdas inerentes à adolescência, têm uma

expectativa ligada principalmente à realização

profissional e ao reconhecimento pessoal, são

perseverantes e possuem um superego tenaz.

Alunos do gênero feminino possuem maior

maturidade emocional e boa capacidade de

insight, buscam corresponder às expectativas

parentais, possuem grande necessidade de

serem amadas e apresentam uma leve

tendência a quadros depressivos. Por sua vez,

alunos do gênero masculino apresentam maior

dificuldade em lidar com o seu mundo mental,

principalmente com impulsos agressivos, que

são mais intensos, possuem grande

necessidade de diferenciação do pai, são mais

competitivos e ambiciosos, porém inseguros

quanto à própria capacidade.

Page 26: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

O teste de personalidade mostrou que as

alunas tendem a ser mais sensíveis, delicadas

e empáticas, enquanto os alunos são mais

práticos, independentes, objetivos e criativos.

Porém, quando se leva em conta todos os

fatores de personalidade estudados, não há

diferença entre os dois grupos. Os dois grupos

estudados apresentaram poucas diferenças e

demonstraram que possuem uma verdadeira

predisposição altruísta hipocrática, que os

levou à escolha da profissão médica.

Conclui-se, finalmente, que a vocação médica

transcende o gênero. No início do século XXI,

quando as atenções estão dirigidas cada vez

mais para os avanços tecnológicos da

Medicina, ficando os aspectos humanísticos em

segundo plano, torna-se premente dar

continuidade ao estudo da vocação médica.

Como perspectiva, seria interessante realizar

estudos comparativos em diferentes escolas

médicas, com alunos de outras áreas e,

também, com vestibulandos.

Mulheres na Medicina

Médicas engravidam tardiamente e têm menor

número de filhos do que o restante da

população, participam menos da vida

acadêmica e de publicações científicas

Até o século XIX, as mulheres eram

consideradas incapazes para o exercício da

profissão médica, possivelmente por suas

características de personalidade, consideradas

frágeis para essa função. Ainda no final do

século XIX, começaram a surgir faculdades de

Medicina exclusivas para mulheres.

Segregadas, era como se não existissem...

O preconceito em relação a elas era tanto que

para ter chance de concorrer a prêmios

científicos, enviavam trabalhos com

pseudônimos masculinos porque as

sociedades médicas não as aceitavam. Além

disso, as cátedras das universidades eram

ocupadas exclusivamente por homens,

médicas não eram admitidas nos bons

hospitais e tampouco em especialidades como

cirurgia, ortopedia e urologia entre outras.

Foi apenas a partir da segunda metade do

século XX que, gradativamente, as mulheres

tornaram-se mais presentes na Medicina.

Porém, apesar de apresentarem desempenho

acadêmico tão bom quanto os homens,

continuam a ser alvo de preconceito até os dias

de hoje. A leitura de extensa bibliografia para

elaborar a tese sobre a vocação médica,

permitiu conhecer um pouco sobre as

condições em que as mulheres exercem a

Medicina. Felizmente, não foi mais preciso

chamar a polícia para que pudessem assistir às

aulas, mas são boicotadas em muitas

especialidades, ganham menos do que seus

colegas homens e raramente exercem funções

de destaque no mundo acadêmico.

Para piorar, não é raro que sejam vistas com

maior desconfiança pelos pacientes quando

exercem determinadas especialidades, como a

cirurgia. Sobrecarregadas, engravidam

tardiamente e têm menor número de filhos do

que o restante da população, participam menos

da vida acadêmica e de publicações científicas,

Page 27: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

recebem menos apoio de seus superiores e

progridem, diante disso tudo, mais lentamente

na profissão. É interessante observar que,

enquanto em outras áreas já se discute o

impacto que as conquistas das mulheres

provocaram na população masculina, há,

ainda, na profissão médica, uma grande

resistência para aceitar as mulheres, sem

discriminá-las.

LIGA

Você vê uma modelo linda e magra desfilando

e quer ter aquele corpo. Para isso, deixa de

comer ou vomita tudo o que você come.

Quando isso acontece, está na hora de

procurar ajuda de um médico, pois o problema

pode ficar sério. Alguns hábitos alimentares

são considerados doentios, pois causam

problemas na saúde física, emocional e mental

da pessoa. E engana-se quem pensa que os

distúrbios alimentares são transtornos

modernos. A anorexia, por exemplo, começou

a ser identificada na Idade Média, onde várias

moças deixavam de comer para entrar em

comunhão com Deus e por isso eram

santificadas.

No livro Do altar às passarelas da anorexia

santa à anorexia nervosa , a psicanalista

Cybelle Weinberg e o psiquiatra Táki Cordas,

autores do livro, relatam que depois da Idade

Média, a Igreja começou a ver com maus olhos

o caso das santas jejuadoras e o hábito caiu

em desuso. Histórias à parte, esses transtornos

afetam hoje cerca de 1% da população

mundial, sobretudo mulheres adolescentes.

Anorexia:

A endocrinologista do Centro Clínico da

PUCRS, Patrícia Santafé, explica que a

anorexia ocorre mais frequentemente em

adolescentes e jovens que estão em fase de

busca de sua personalidade. Geralmente,

neste período, o adolescente tem dificuldade

em definir o corpo. Este distúrbio ocasiona um

medo incontrolável de engordar. As meninas

deixam de comer mesmo estando magras ,

diz. O quadro consiste na perda voluntária de

peso. Pessoas com anorexia nervosa sempre

possuem o peso abaixo do normal e recusam-

se a se alimentar de forma correta, negando os

riscos que correm na ausência de uma

alimentação saudável. Para avaliar esta perda

exagerada de peso, usa-se o cálculo do IMC

(índice de massa corpórea, que é igual ao peso

dividido pela altura ao quadrado). Por exemplo,

uma mulher normal o índice varia de 18 a 25, já

no anoréxico o número pode ser abaixo de 17,

ou seja, é gravíssimo. A palavra que define a

anorexia é medo. Medo de engordar ou de ficar

igual a alguém da família que tenha sobrepeso

leve. E até mesmo para se inserir em um grupo

Page 28: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

de amigos, que não aceitam a 'gordura' ,

lembra. A médica explica que o tratamento

para o distúrbio não é fácil, mas pode dar

resultado: não existe um tratamento objetivo.

Não há medicações específicas para curar a

anorexia e, sim, um tratamento multidisciplinar,

que abrange psicólogos, endocrinologistas e

nutricionistas , explica. Em alguns casos, a

psicoterapia pode ajudar a melhorar a visão

que se tem do seu próprio corpo, mas é um

transtorno que exige paciência, cautela e

perseverança, já que na cabeça do anoréxico,

é certo não comer . A anorexia pode causar

vários problemas de saúde como:

• Palidez;

• Pele seca e amarelada;

• Desnutrição;

• Tonturas;

• Alterações hormonais;

• Perda do apetite sexual;

• Queda de cabelo;

• Maior chance de ter infecções devido a

falta de nutrientes no organismo;

• Alteração na memória;

• Amolecimento dos dentes;

• Infertilidade.

É bom lembrar que a reintrodução dos

alimentos na dieta dos anoréxicos deve ser

gradativa, principalmente pelo fato do equilíbrio

calórico da nova dieta. Aconselha-se, às vezes,

que seja feita a internação hospitalar, para que

a ingestão das calorias sejam acompanhadas

por um nutricionista.

Bulimia:

Neste caso, não é a magreza excessiva que

chama atenção, muitas vezes é exatamente o

contrário. Alguns bulímicos comem grandes

quantidades de calorias. Uma pessoa normal,

por exemplo, come, em média, 2 mil calorias

durante o dia, já um bulímico, pode,

aproximadamente, comer até 4 mil calorias em

uma única refeição, o que é muito , explica

Patrícia. Quem sofre com este problema,

ingere uma quantidade exagerada de comida e,

logo em seguida, vomita o que comeu. Devido

ao grande volume alimentar, a pessoa não

conseguem eliminar 100%, não ocorrendo

necessariamente perda ou ganho de peso

diz. E isso pode acontecer por vários fatores

como explica a endocrinologista: Às vezes

acontecem alguns fatos na vida desta pessoa e

ela acaba descontando na comida aquele

problema que deixou ela em desequilíbrio, em

depressão e ansiosa , explica. Se a palavra

que define a anorexia é medo de comer, no

caso da bulimia, é compulsão alimentar

seguida de culpa. Culpa por comer demais e

por engordar. Mas as meninas bulímicas

muitas vezes tem um peso normal ou estão

com sobrepeso . O uso indiscriminado de

laxantes e diuréticos, o não tratamento de

distúrbios depressivos, de ansiedade, vômitos

autoinduzidos e, em alguns casos, auto-

mutilação são alguns dos sintomas da doença.

A especialista afirma que o tratamento para a

bulimia é mais fácil do que a anorexia.

Geralmente é feito com terapias e uso de

medicamentos como ansiolíticos,

antidepressivos e remédios para evitar esta

compulsão alimentar , diz.

A prevenção da bulimia e anorexia pode ser a

melhor maneira de a combater, no entanto,

ninguém sabe a melhor maneira de prevenir

Page 29: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

estes distúrbios alimentares. Mas algumas

regras de estilo de vida podem fazer reduzir o

risco de uma pessoa desenvolver a doença,

pois muitos factores podem influenciar o

desenvolvimento o seu desenvolvimento,

incluindo a genética que não se escolhe.

Comer saudavelmente e manter uma boa

saúde mental é fundamental. Ter um equilíbrio

saudável na vida significa que uma pessoa é

capaz de equilibrar o trabalho / escola na sua

vida pessoal, deve-se conciliar uma

alimentação saudável e exercício com uma

quantidade apropriada de descanso e

relaxamento.

A educação e estar consciente sobre os

distúrbios alimentares podem ajudar a

identificar precocemente os problemas e

oferecer mais probabilidades no tratamento de

distúrbios alimentares.

Como fazer a prevenção da bulimia e

anorexia:

• Ter uma educação e sensibilização para a

doença e os riscos associados

• Ter um conhecimento e hábitos alimentares

saudáveis

• Cultivar uma imagem positiva do corpo

• Sentir-se bem psicologicamente

• Reduzir os factores de stress

• Conciliar o descanso com a escola ou o

trabalho.

• Desenvolver amizades

Pais, familiares e amigos podem prevenir

um distúrbio alimentar, tomando estas

medidas:

• Não inserir tendências que leve ao

perfeccionismo

• Gostar do seu filho incondicionalmente

• Elogiar o seu talento e capacidades

• Não enfatizar a boa aparência como a coisa

mais importante na vida

• Monitorizar os tempos stressantes na vida do

seu filho

• Apoiar os seus sonhos e esperanças

• Incentivar a praticar actividades ou passantes

que o seu filho mostre interesse

• Promova uma boa saúde, que inclui uma dieta

sensata, exercícios e actividades agradáveis.

• Tentar compreender o seu filho enquanto é

jovem

• Ter uma intervenção precoce se os factores de

risco foram identificados

• Os disturbios alimentares muitas vezes

afectam os indivíduos com baixa auto-

estima e uma auto-confiança baixa, e

que se sentem reprimidos pela vida.

Essas pessoas muitas vezes fazem

corresponder a magreza e o físico como

sucesso.

• Se sentes ou sabes de alguém que pode

ser susceptível a um distúrbio alimentar

deves contactar o seu médico ou um

profissional de saúde mental qualificado

para obter mais informações e

aconselhamento.

Page 30: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

HUMOR MÉDICO

MEU CORPO, SUAS REGRAS.

A QUESTÃO DO ABORTO.

No Brasil, o aborto é crime. A prática só é

admitida (não é punida) em casos de estupro

ou riscos à vida da mulher. A descriminalização

vem sendo reivindicada pelo movimento de

mulheres e outras forças sociais. Mas a

proposta está longe do consenso. Setores da

sociedade ligados a diversas religiões são

contrários à idéia e vão mais além: defendem o

aprofundamento das punições e a proibição da

prática, inclusive em casos de estupro.

O debate é acirrado e tem se caracterizado por

posições que oscilam entre o direito à vida do

feto e o direito à autonomia reprodutiva da

mulher. A questão é delicada e as reflexões se

multiplicam, envolvendo concepções de valores

morais e religiosos, o funcionamento do

sistema público de saúde e o desenvolvimento

de políticas sociais . No centro das discussões

estão premissas jurídicas e científicas e o

ponto de vista da genética e da medic

"O aborto gera mais desacordo político e social

do que qualquer outro assunto", diz o diretor-

geral da Federação Internacional de

Planejamento Familiar (IPPF, na sigla em

inglês) no relatório Morte e Negação:

Abortamento Inseguro e Pobreza, divulgado em

maio de 2007 no Brasil. Para ele, o tema é

singularmente passional e complicado em

muitos países, às vezes sem espaço para a

discussão equilibrada. "É necessária e urgente

a discussão aberta e informada para resolver

as injustiças que fundamentam as causas e

conseqüências do abortamento inseguro",

defende, na introdução do mais recente

panorama mundial sobre o assunto.

O abortamento inseguro é reconhecido pela

comunidade internacional como um grave

problema de saúde pública desde a década de

1990. O termo "inseguro" é definido pela

Organização Mundial da Saúde (OMS) como o

procedimento para interromper a gravidez não

Page 31: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

desejada realizado por pessoas sem as

habilidades necessárias ou em um ambiente

que não cumpre com os mínimos requisitos

médicos, ou ambas as condições. Segundo o

relatório, ocorrem aproximadamente 211

milhões de gravidezes anuais em todo o

mundo; 87 milhões de mulheres engravidam de

maneira não intencional e, desse total, 31

milhões resultam em abortamentos

espontâneos ou em natimortos; 46 milhões de

gravidezes terminam em abortamento induzido,

sendo que 19 milhões são feitos de forma

insegura, implicando 70 mil mortes maternas.

Ainda de acordo com o estudo feito pela

entidade, mais de 96% das mulheres mortas ou

prejudicadas por abortos inseguros vivem nos

países mais pobres do mundo.

A América Latina registra 17% do total de

abortos clandestinos realizados no mundo

inteiro, a África, 58%. O Brasil aparece no

relatório com uma das maiores taxas da

ocorrência entre os países em vias de

desenvolvimento. O estudo da IPPF não

apresenta números absolutos de mortes

maternas decorrentes de aborto no Brasil, em

razão da subnotificação. Baseado em

estimativas, o documento aponta que o aborto

inseguro é responsável por 9,5% das mortes

maternas diretamente relacionadas à gravidez

no país. Dados do Ministério da Saúde

mostram que o aborto é a quarta causa de

óbito materno e a curetagem (raspagem uterina

feita após abortos), o segundo procedimento

obstétrico mais praticado no Sistema Único de

Saúde (SUS), superado apenas pelos partos.

Em 2004, cerca de 240 mil mulheres foram

atendidas nos hospitais públicos por

complicações derivadas de abortos. Em 2006,

o SUS registrou 2.200 abortos e 220 mil

curetagens. Segundo o ministro da Saúde,

José Gomes Temporão, não é possível saber

quantos desses procedimentos foram

resultantes de aborto em situação insegura,

mas o número indica que o assunto tem de ser

discutido dentro de uma política de direitos

sexuais e reprodutivos (veja quadro Política

nacional de planejamento familiar). O ministro

tem insitado a sociedade brasileira a debater o

tema como problema de saúde pública. Em

abril de 2007, defendeu a realização de um

plebiscito para decidir se essa prática deveria

ou não ser legalizada.

O Projeto de Lei (PL) que propõe a

descriminalização do aborto é o 1.135/91, de

autoria dos ex-deputados petistas Eduardo

Jorge e Sandra Starling. O projeto revoga o

artigo 124 do Código Penal, que prevê

detenção de um a três anos para "a gestante

que provocar aborto em si mesma ou consentir

que outro o faça". Junto a esse PL estavam

dezesseis outras proposições que foram

desapensadas, permanecendo apenas o PL

176, de 1995, proposto pelo deputado José

Genoíno (PT/SP), que permite o aborto por

livre opção da gestante até o nonagésimo dia

de gravidez e obriga a rede hospitalar pública a

realizar o procedimento.

Em 2007, o PL 1.135/91 foi discutido em três

audiências públicas na Comissão de

Seguridade Social e Família (CSSF). Em

novembro, o relator do PL, deputado Jorge

Tadeu Mudalen (DEM-SP) apresentou parecer

rejeitando a proposta. Depois de ser votado

pela (CSSF), o projeto seguirá para a

Comissão de Constituição e Justiça e irá para

Page 32: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

votação no plenário da Câmara dos Deputados,

onde tramita há 17 anos (veja quadro Projetos

de Lei).

O RECENTE ESTUDO

Abortamento, um grave problema de saúde

pública e justiça social, elaborado pela

Organização não-governamental Ipas (o que

é?) e o Instituto de Medicina Social da

Universidade Estadual do Rio de Janeiro

(IMS/UERJ), avaliou a magnitude desse

procedimento no Brasil e reuniu informações

sobre onde e para quem o abortamento

inseguro representa um grave risco à saúde.

Realizado pelos pesquisadores Leila Adesse,

mestre em Saúde da Mulher e da Criança e

diretora da Ipas/Brasil, Mário F.G. Monteiro,

Ph.D. em Demografia Médica e professor

IMS/UERJ, e Jacques Levin, analista de

sistema do Datasus e doutorando em Saúde

Coletiva do IMS, o estudo mostra a incidência

do aborto nas diferentes regiões e evidencia as

diferenças socioeconômicas, culturais e

regionais. Revela, por exemplo, que, em

comparação com as mulheres do Sul, as que

vivem no Nordeste e Centro-Oeste estão

expostas ao dobro de riscos de seqüelas e de

mortalidade em conseqüência do aborto

clandestino, e a população de mulheres negras

e pardas está submetida a um risco de

mortalidade em conseqüência de abortamento

inseguro três vezes maior em relação ao que

acomete as mulheres brancas.

Segundo os pesquisadores, as mulheres em

situação de aborto incompleto ou com

complicações, geralmente, sentem

constrangimento e/ou medo em declarar a

situação nos serviços de saúde, resultando em

subnotificação. Não é difícil presumir que, ao

juntar tal constrangimento à falsa idéia de que

abortar é sangrar, muitas mulheres enfrentam

graves hemorragias, não procuram um serviço

de saúde e sangram até morrer. A pesquisa

mostra que entre os fatores de maior risco

estão quedas, socos, atividades físicas

excessivas, substâncias cáusticas (cloro, cal,

sais de potássio) inseridas na vagina e objetos

pontiagudos (arame, agulhas de tecer, cabides,

entre outros) inseridos no útero.

O ESTUDO CONSTATOU que a tipificação do

aborto como um delito não desestimula o

procedimento. Pelo contrário, as práticas de

risco prosseguem e se intensificam, como

declarou o Comitê sobre a Eliminação da

Discriminação contra a Mulher das Nações

Unidas (Comitê) (CEDAW), em sua 39.ª

sessão, realizada em Nova York em agosto de

2007. Os autores da pesquisa sugerem que o

problema da gravidez não desejada seja

enfrentado por políticas públicas que

reconheçam os direitos humanos reprodutivos

das mulheres. "Que se incluam aí os homens",

dizem eles, e criem, nos municípios brasileiros,

a cultura de ações de educação sexual e de

atenção à anticoncepção.

Segundo a socióloga Dulce Xavier, integrante

da coordenação da entidade Católicas pelo

Direito de Decidir (CDD), criminalizar a mulher

por interromper uma gravidez indesejada é

uma grande injustiça, considerando que, na

maioria das vezes, as condições não permitem

que ela se utilize de quaisquer meios para se

prevenir. "O acesso à informação e aos

métodos contraceptivos não estão garantidos;

o índice de violência doméstica e sexual é

Page 33: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

muito alto - a cada segundo uma mulher sofre

alguma forma de violência no Brasil -, o

mercado de trabalho simplesmente descarta

mulheres com filhos, o Estado não garante o

apoio para o cuidado e educação. Diante disso,

a descriminalização do aborto é uma questão

de justiça social", defende.

"Do ponto de vista religioso, entre os valores

cristãos mais propagados e aceitos estão o não

julgamento, o amor ao próximo e a

solidariedade. Baseadas nisso, acreditamos

que a mulher - personagem de um contexto

social tão desigual e injusto como o nosso -

não precisa de julgamento e/ou cadeia, e sim

de acolhimento e respeito, com a atenção

digna que todo ser humano merece", sustenta

a socióloga. Ela acredita que uma forma de

reduzir as mortes por aborto e o próprio

procedimento é oferecer condições para que as

mulheres sejam atendidas no sistema de saúde

público e tenham uma prática de planejamento

da reprodução.

A personalidade civil começa com o

nascimento, mas os seus direitos estão

garantidos desde a concepção

EM SEU VOTO

A favor da liberação desses estudos, na sessão

do SFT de 5 de março, o ministro Carlos Ayres

Britto, relator da Adin, foi objetivo: "O embrião é

o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é

a pessoa humana", e "não há pessoa humana

embrionária, mas embrião de pessoa humana".

Ele definiu o conceito de criança, citando o

Estatuto da Criança e do Adolescente, que

afirma ser criança a pessoa que ainda não

atingiu os 12 anos de idade, a contar "do

primeiro dia de vida extra-uterina".

Esse assunto, porém, não é consensual no

meio jurídico. A Associação Brasileira dos

Magistrados Espíritas (Abrame) - que congrega

ministros dos Tribunais Superiores,

desembargadores, juízes federais e estaduais

de todo o Brasil, defende o direito à vida como

o primeiro dos direitos naturais com base em

argumentos, de acordo com seu

presidenconsagrados por legislações de todos

os povos civilizados. Baseado no artigo 5.º da

Constituição e nos artigos 1.º e 2.º do Código

Civil, ele afirma que "a personalidade civil

começa com o nascimento, mas os seus

direitos estão garantidos desde a concepção,

exatamente como proclama o pacto de São

José da Convenção Americana sobre Direitos

Humanos, ratificado pelo Brasil, em 1992".

Segundo o juiz, o artigo 1798 da Lei Civil

dispõe que a pessoa já concebida legitima-se,

tal qual a pessoa nascida, no momento da

abertura da sucessão. "Nascido ou não

nascido, o ser humano, como pessoa, é sujeito

de direitos. A pessoa não nascida pode receber

doação; ser reconhecida como filho antes do

nascimento; tem direito à indenização por dano

moral, no caso de ofensa à sua integridade

física e moral; tem, enfim, direito a alimentos, à

imagem e à honra."

SALVAGUARDAR os direitos do nascituro não

significa conferir-lhe capacidade processual,

tampouco elevá-lo à condição de pessoa",

disse a professora Samantha Buglione, mestra

em direito e membro do Comitê Latino-

Americano e do Caribe para a Defesa dos

Direitos da Mulher (CDD) em artigo publicado

Page 34: Revista Liga de Acadêmicos em Medicina

no jornal Correio Braziliense, em 26 de

novembro de 2007. Segundo explicou, o que a

lei faz é assegurar que os genitores possam

defender possíveis direitos do nascituro. "Trata

se, na verdade, de uma conseqüência dos

direitos reprodutivos dos genitores. Quem tem

o direito é a mulher, o homem ou o casal, e não

o feto; ele só tem expectativa de direito",

assegura.

"O Código Civil não trata de um 'direito à vida',

tampouco define que o feto tem personalidade

jurídica; ele se refere apenas à proteção de

direitos que estão condicionados ao

nascimento com vida. Isso é completamente

diferente do reconhecimento de uma

personalidade apenas pelo critério da

existência da potencialidade de nascer. O

ponto é que não há consenso na doutrina

jurídica sobre o início da vida, tampouco há

norma jurídica que traga essa definição. O

direito não informa o que é a vida, apenas

define o que é morte: morte é a morte

encefálica, conforme a Lei 9.434/97 (Lei de

Transplantes)", sustenta a mestra em direito.

"Como avaliar a definição de vida entre um

embrião ou feto e uma mulher? questiona o

teólogo Leonardo Boff , no artigo O processo

da vida e o aborto, publicado em 19 de março,

no site da CDD, em que diz: "Se inserirmos a

vida no processo global da evolução, não nos

podemos contentar com essa visão assumida

oficialmente pela Igreja nos dias atuais".

"Na Idade Média, não era assim, pois para

Tomás de Aquino a humanização começava

apenas após 40 dias da concepção. A Igreja,

para efeito de sua ética interna, pode

estabelecer um momento da concepç

aziliense, em 26 de

novembro de 2007. Segundo explicou, o que a

lei faz é assegurar que os genitores possam

defender possíveis direitos do nascituro. "Trata-

se, na verdade, de uma conseqüência dos

direitos reprodutivos dos genitores. Quem tem

mulher, o homem ou o casal, e não

o feto; ele só tem expectativa de direito",

"O Código Civil não trata de um 'direito à vida',

tampouco define que o feto tem personalidade

jurídica; ele se refere apenas à proteção de

direitos que estão condicionados ao

nascimento com vida. Isso é completamente

diferente do reconhecimento de uma

sonalidade apenas pelo critério da

existência da potencialidade de nascer. O

ponto é que não há consenso na doutrina

jurídica sobre o início da vida, tampouco há

norma jurídica que traga essa definição. O

direito não informa o que é a vida, apenas

que é morte: morte é a morte

encefálica, conforme a Lei 9.434/97 (Lei de

Transplantes)", sustenta a mestra em direito.

"Como avaliar a definição de vida entre um

embrião ou feto e uma mulher? questiona o

teólogo Leonardo Boff , no artigo O processo

a e o aborto, publicado em 19 de março,

no site da CDD, em que diz: "Se inserirmos a

vida no processo global da evolução, não nos

podemos contentar com essa visão assumida

oficialmente pela Igreja nos dias atuais".

"Na Idade Média, não era assim, pois para

Tomás de Aquino a humanização começava

apenas após 40 dias da concepção. A Igreja,

para efeito de sua ética interna, pode

ncepção da

vida humana. Mas ela deve estar consciente de

que está entrando num campo no qual não tem

competência específica, o campo da ciência.

Se entendermos a vida como um processo

cósmico que culmina na fecundação do óvulo,

então devemos cuidar de todos os processos

necessários para a emergência da vida, como

a infra-estrutura ambiental e social. (...) Nã

para pensar a vida humana fora do contexto

maior da vida em geral, da biosfera e das

condições ecológicas que sustentam o

processo inteiro", discorreu o teólogo.

E assim, na difícil tarefa de abordar o assunto,

tenta-se analisar todos os lados da moed

chegar nunca a um consenso ou julgamento

adequado que possa ser embasado em uma lei

que assegure o direito da mulher e do feto. O

tabu do aborto está longe de ser solucionado,

seja no campo moral ou na prática social.

CAFÉ DO

Alejo Garcia - Al lado del Mini CentroCiudad del Este +595 39 393939

vida humana. Mas ela deve estar consciente de

que está entrando num campo no qual não tem

etência específica, o campo da ciência.

Se entendermos a vida como um processo

cósmico que culmina na fecundação do óvulo,

então devemos cuidar de todos os processos

necessários para a emergência da vida, como

estrutura ambiental e social. (...) Não dá

para pensar a vida humana fora do contexto

maior da vida em geral, da biosfera e das

condições ecológicas que sustentam o

processo inteiro", discorreu o teólogo.

E assim, na difícil tarefa de abordar o assunto,

se analisar todos os lados da moeda sem

chegar nunca a um consenso ou julgamento

adequado que possa ser embasado em uma lei

que assegure o direito da mulher e do feto. O

tabu do aborto está longe de ser solucionado,

seja no campo moral ou na prática social.

Al lado del Mini Centro

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