92
Maria Publicação Comemorativa dos 15 Anos da Maria Comunicação / Ano 2010 Pensar o novo! 15 anos da Maria Comunicação Perfil As artes do rei da noite de Brasília Cultura A eterna resistência do cinema baiano Entrevista Juca Ferreira fala sobre Brasil e grandeza cultural Tecnologia Automação do marketing revoluciona a comunicação

Revista Maria

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Revista/Portfólio da Maria Comunicação

Citation preview

Page 1: Revista Maria

MariaPublicação Comemorativa dos 15 Anos da Maria Comunicação / Ano 2010

Pensar o novo! 15 anos da Maria ComunicaçãoPerfilAs artes do reida noite de Brasília

CulturaA eterna resistênciado cinema baiano

EntrevistaJuca Ferreira fala sobreBrasil e grandeza cultural

TecnologiaAutomação do marketingrevoluciona a comunicação

Publicação C

omem

orativa dos 15 Anos da M

aria Com

unicação / Ano 2010

José de Souza Saramago - 16/11/1922 - 18/06/2010

Pensar o novo!

Page 2: Revista Maria

ALEGRIA: É ANIVERSÁRIO DA MARIANo aNo de mil NoveceNtos e NoveNta e ciNco,

Nasceu maria. Quem é maria? ! a mãe de Jesus.

mas também a mãe de João silva. toda mãe a

Quem se deve coNsideração é uma maria. a

empresa de publicidade “maria” Nasceu da

iNspiração de João silva, e tem trazido muitas

alegrias ao seu fuNdador, sócios e, com cer-

teza, seus fuNcioNários e clieNtes. é um Nome

coNhecido No brasil pela sua eficiêNcia, cla-

reza de obJetivos e ética profissioNal. des-

te escritório é de oNde saem as iNspirações

para as belas logomarcas Que dão credibi-

lidade comercial, promoveNdo os produtos

da clieNtela Que o procura. tudo Que é feito

com amor, com dedicação, é belo e graNdio-

so. Quem olhou com ateNção os outdoors

feitos pela empresa maria, espalhados pela

cidade, valoriza a criatividade de um moço

Page 3: Revista Maria

ALEGRIA: É ANIVERSÁRIO DA MARIAcheio de eNergia e iNteligêNcia. Nos pedidos

Que eu faço aos orísa para Que o bem apareça

e permaNeça eNtre Nós, o maior tempo pos-

sível, está iNcluído o trabalho de João, Que

cariNhosameNte é chamado por Nossa comu-

Nidade de “João da maria”. o bom publicitário é

respoNsável pelo crescimeNto de seus clieN-

tes, por isso é Que eu peço pela coNstrução

de belos comerciais, Que dêem lucros aos

clieNtes e à empresa “maria”, sem esQuecer o

compromisso social. QuiNze aNos de trabalho

e sucesso progressivo demoNstram a solidi-

ficação dessa empresa, e eu rogo aos deuses

Que a alegria e a prosperidade (coNstruída

com respoNsabilidade) eNtrem e daNcem No

seu camiNho e Na casa de todos Que estão a

ela viNculados. Ajó bò jò ilé

Mãe Stella de Oxóssi Ilê Axé Opô Afonjá

. .

.

Page 4: Revista Maria

4 Maria

Sum

ário8 58 66

Maria 15 AnosMaria Comunicação festeja 15 anos esbanjando vitalidade, conquistando novos clientes, ampliando a sua ação no país Pág. 8

5 Editorial 16 Aspas 20 Tecnologia mudança de cultura 24 Casos da Maria Jacques Janine 26 Pensar o novo! maria, sai da lata! 30 Empreendedorismo No ritmo do berimbau 36 Perfil Jorge ferreira 40 Casos da Maria governo da bahia 42 Pensar o novo! o brasil mestiço 68 Pensar o novo! brasil na muxima de angola 70 Cultura vida ao cinema baiano 74 Casos da Maria abrigo d. pedro ii 82 Casos da Maria teatro vila velha 84 Causo de como val desasnou 86 Tabuleiro da Maria 88 Crônica zig-zag 90 Humor Nildão

46 João Silva o fundador da maria conta a história de muitos anos de sucesso e quase 1.000 marcas.

62 Maragojipe o carnaval da pequena cidade baiana é patrimônio imaterial da bahia.

76 Juca Ferreira o ministro da cultura do brasil defende uma agenda pró-ativa.

ExpedientePublicação anual da Maria Comunicação.

Edição | Antônio Moreno e iuri RubimTextos | Graça Filadelfo, iuri Rubim e Antonio MorenoProdução | laís FurtadoRevisão | érica SilvaFotografia | Almir bindilatti, Di Souto, jr Major, Ricardo Prado e Graça FiladelfoCapa | Tela de Ed RibeiroIlustração | Cau GomezDesign Editorial | Alan Alves e Daniedson RiosColaboradores | Emmanuel Publio Dias, Valéria Torres, Raimundo lima, Nivaldo lariú e Vicente Cecim (Textos) | Maria Geruza, David Glat, Adenor Gondim, Sérgio Guerra e Pedro Meirelles (Fotos) | lage* e Nildão (ilustração)Impressão | Gráfica Santa bárbara

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a opinião da revista.

* In Memoriam

Salvador/BA – Av. Tancredo Neves, 3343 – Torre A – 11º andar – 71 3341-0520Brasília/DF – SRTVS Quadra 701 – bloco O, nº 110 – 1º andar – 61 3223-9996São Paulo/ SP – Rua Funchal, 418 – 35º andar – Vila Olímpia – 11 3521-7307

[email protected]

Page 5: Revista Maria

Maria 5

Editorial

o sucesso de tudo o que fizemos

nestes 15 anos de maria só foi possível

graças a combinação de três ingredientes

fundamentais: confiança, tesão e trabalho.

foram muitas marcas, inúmeras campanhas

e ações de comunicação que ficaram na

cabeça dos cidadãos brasileiros. isso

porque acreditamos que a peça publicitária

pode e deve fazer mais do que vender.

a comunicação tem que fazer pensar. e

pensar o novo.

há 15 anos, colocávamos em outdoor de

pós graduação da ufba um ator negro, algo

visto como estranho na época, apesar de

a bahia ser o estado mais negro do brasil.

estranho porque todas as instituições de

ensino só utilizavam na sua comunicação, até

então, modelos loiros, de olhos azuis, usando

lap tops em cenários europeus. a maria

ajudou a levar para as ruas a cara da bahia.

hoje, quando vemos na publicidade baiana a

cor da cultura local, nos orgulhamos muito de

poder ter contribuído para isso.

Nos orgulhamos também de ter feito

a campanha: Não deixe o abrigo d.

pedro ii morrer de velho. exatamente

porque acreditamos que pensar o novo é

também cuidar e valorizar a sabedoria e a

experiência dos mais antigos. é trabalhar

para a cidadania, a favor do respeito pelas

mais diferentes formas de pensamento e

em prol da igualdade social.

a primeira edição da revista maria – que

a partir de agora torna-se uma publicação

anual - tem o propósito de reafirmar esses

princípios e comemorar uma trajetória que,

acreditamos, vitoriosa. uma vitória que é de

todos: chegamos até aqui graças ao talento

e cooperação de clientes, fornecedores

e, claro, de nossos colaboradores. sem

a dedicação, postura firme e serena de

pessoas como Jussara e vicente, a maria

não seria a mesma maria.

é uma edição que reúne parceiros de

muitos tempos, como mano, raimundo

lima, vicente cecim, valéria, lariú, lage,

Nildão e cau. Que abre espaço para a arte

de fotógrafos especiais, como adenor,

almir, david, guerra, gerusa, pedro e

ricardo. e que destaca os novos amigos

que a maria fez e passou a admirar, como

Jorge ferreira e marcus hadade, dois

empresários de sucesso.

a impressão em papel reciclado é uma

opção coerente com o compromisso

socioambiental que a maria defende e

recomenda a todos os seus clientes.

a revista é também uma maneira de

preservar a nossa memória. afinal, como já

disse mãe stella: “o que não se registra o

vento leva!” e se ela nos dá a sua benção

é porque estamos no caminho certo. Que

venham novos marcos na trajetória da maria!

João Silva

Sócio-presidente da Maria

Pensar o novo!

Page 6: Revista Maria

Irmandade da Boa morte - CaChoeIra © RicaRdo PRado - www.flickR.com/Photos/RicaRdoPRado8

Page 7: Revista Maria

Irmandade da Boa morte - CaChoeIra © RicaRdo PRado - www.flickR.com/Photos/RicaRdoPRado8

Page 8: Revista Maria

8 Maria

15 Anos

Maria, umaagência diferente!

Ao completar 15 anos, a Maria Comunicação conquista definitivamente espaço no mercado baiano e nacional. E o que é melhor: sem abrir mão do seu jeito muito particular de ser e atuar, transformando pequenas verbas em grandes resultados, atenta para a ética e antenada com as questões mais nobres do interesse coletivo.

João | pequenas verbas resultam em grandes ações

Diretoria | Jussara e Vicente comemoram resultados

Page 9: Revista Maria

Maria 9

amaria cresceu. ao

completar 15 anos

de mercado, com-

prova com idéias e

fatos que veio para

ficar. sua trajetória,

iniciada numa salinha no bairro do

itaigara, em salvador, reflete a matu-

ridade de uma agência que, desde o

início, destacou-se não só pela criati-

vidade posta a serviço do cliente, mas

por sua visão bem particular do que é

ser cliente: aquele que demanda pro-

jetos e soluções; alguém que precisa

ser entendido como parceiro, cujos

anseios devem ser interpretados nos

contextos macros do momento eco-

nômico, do comprometimento social,

das oportunidades e do bom senso.

graças a esta compreensão, a

maria vem fazendo de sua atuação

um diferencial no mercado baiano e

nacional e conseguiu formar um fã

clube de políticos, empresários, ativis-

tas sociais e gestores públicos. para

seus clientes, buscou sempre solu-

ções práticas associadas à pereni-

zação de uma marca, de um projeto.

transformou em capital social peque-

nas verbas. usou da criatividade para

ajudar a construir algo que vai muito

além da peça publicitária: a imagem

institucional. desta forma, ajudou a

pensar novas e – às vezes – inusita-

das estratégias para conseguir atingir

um objetivo. fez pensar o novo!

foi assim que a maria viu a perso-

nalidade transformar-se em seu maior

cartão de visitas. Questões cruciais

como combate ao racismo, respeito

às minorias, tolerância religiosa, de-

fesa do meio ambiente e atenção ao

idoso entram no portfólio da agência

como um trunfo de sua atuação no

mercado, dando suporte às criações

e estruturando a base ética de seu

desempenho. inovação mercadoló-

gica? tendência? o termo pode até

variar, mas o certo é que a maria é

uma agência diferente!

Nova sede | bênção de D. Gregório Paixão

1 – Campanha de outdoors para Maria Comunicação

Andreia Velame e Nilza Barude

Inauguração | festa conta com presenças de José Sérgio Gabrielli, Walter Queiroz...

Começo | entusiasmo da primeira equipe

1

© R

. SO

TER

R. S

OTE

RO

Page 10: Revista Maria

10 Maria

O cliente tem razão... em confiar na Maria

maria é João. João é maria. a

associação da agência ao nome do

seu criador, o publicitário João sil-

va, é algo notório desde o começo

dessa história de 15 anos. profis-

sional reverenciado pelo mercado,

conhecido por suas centenas de

marcas – que hoje beiram a casa

de mil, recorde internacional – João

não poderia querer que a agência

surgisse de modo independente da

carreira profissional bem sucedida

que construiu ao longo de déca-

das, em diferentes organizações

do meio publicitário baiano. assim,

ao assumir o novo desafio, trouxe

para a maria um conjunto de boas

realizações que, logo de cara, cre-

denciaram a agência no mercado.

o segundo passo dessa trajetória

foi fazer com que este mercado en-

tendesse, que a maria não era uma

agência como as outras. por sua

estrutura enxuta e o foco máximo

sobre os resultados, a agência des-

tacou-se já nas suas primeiras inves-

tidas profissionais, nos idos de 1995.

para o cliente Jacques Janine, que

enfrentava dificuldades de posicio-

namento, criou uma série de spots

que, baseados mais na criatividade

do que em recursos financeiros, re-

forçou a marca e trouxe de volta uma

clientela que debandava. de cara, a

solução pensada pela maria ganhou

o prêmio de melhor fonograma da

década, gerando reconhecimento e

mídia gratuita para o cliente, ainda

hoje um destaque no top of mind.

2

3

4

5

6

8

109

7

2 – Filme 30” para Fundação Cultural Palmares/AMAFRO; 3 – Filme 30” para Fórum de Entidades Negras da Bahia; 4 – Filme 30” para Hospital Oftalmológico DayHORC; 5 – Filme 30” para Shopping Top Mall; 6 – Filme 90” para Secretaria da Agricultura do Estado

da Bahia; 7 – Cartaz para Promoexport; 8 – Marca para Teatro Vila Velha; 9 – Outdoor para Gelo Pioneiro; 10 – Outdoor para Refrigerante Fricote

Page 11: Revista Maria

Maria 11

para o teatro vila velha, que

renascia para a cultura baiana

após anos de decadência física e

programação de gosto duvidoso,

a maria foi igualmente ousada e

participativa. entrou em cena lite-

ralmente para investir em um novo

conceito que revertesse a imagem

que a casa de espetáculos vinha

tendo junto ao público – no que

pese o seu passado de glórias.

criou campanhas para os novos

espetáculos e, sobretudo, um novo

posicionamento frente à sociedade,

despertando, com a originalidade

de um slogan que pegou, o desejo

do público de voltar à frequentar o

teatro: vá ao vila, velho!

Novos clientes e desafios pon-

tuaram, a partir daí, a trajetória da

maria, sempre expressando a filo-

sofia básica da agência: pensar a

comunicação a partir do simples,

procurando agregar valor às peças e

marcas criadas e, sempre que pos-

sível, indo além das expectativas.

um exemplo disso teve como foco

o cliente promoexport. a demanda

feita pelo então diretor, geraldo ma-

chado, era a criação de uma mar-

ca. rápida e certeira, a maria surgiu

com uma campanha inteira: filme

para televisão, campanha de outdo-

or, anúncio em revista, proposta de

posicionamento da marca. o cliente

levou um susto. mas adorou a ou-

sadia. transformou a maria em sua

agência e, com a ajuda dela, operou

as mudanças que transformaram o

promoexport em centro internacio-

nal de Negócios.

ousadia com oportunidade.

essa dobradinha esteve presente

em outros momentos da maria, que

apesar de ter canalizado os seus

trabalhos para os mais diferentes

segmentos da economia (da cultu-

ra ao turismo, da saúde ao varejo),

11

12

13

14

15

1716

18

11 – Filme 30’ para Refrigerante Fricote; 12 – Filme 30” para Prefeitura de Jequié; 13 – Filme 30’ para Promoexport; 14 – Filme 30’ para Tribuna da Bahia; 15 – Filme 30” para Baldacci; 16 – Marca para Fórum de Entidades Negras; 17 – Outdoor para Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia; 18 – Outdoor triplo para Fenagro

Page 12: Revista Maria

12 Maria

nunca abriu mão da confluência de

três vertentes básicas: a questão

racial, o combate à intolerância reli-

giosa e a valorização do idoso. são

elementos que perpassam, aqui e

ali, a sua atuação nesses 15 anos.

definem e consolidam o lastro de

sua personalidade.

“eu sempre achei que a gente

tem obrigação de contribuir com a

sociedade. sem isso, eu acho que

o nosso trabalho não é completo”,

justifica João silva.

Beleza puraatendendo a clientes como o

grupo cultural olodum, fórum

das entidades Negras, ilê aiyê ou

fundação palmares, a maria tem

pontuado o seu posicionamento

a favor da integração do negro e

de sua cultura na sociedade baia-

na, brasileira e mundial. o ponto

de vista da agência é muito claro:

cultura é uma só. as influências

africanas existentes na cultura

brasileira (baiana em particular)

não podem ser entendidas como

partes de um todo. elas se fundi-

ram – e se fundem - de tal forma

às heranças portuguesas e indí-

genas que passaram a represen-

tar uma nova e forte referência

para a sociedade.

Tolerância dez!é ponto pacífico: os homens

precisam aprender a conviver em

suas diferenças religiosas. a ma-

ria entende muito bem isso e co-

locou esse pensamento em pra-

tica em diversas oportunidades.

chamou a atenção a marca que

criou para comemorar o dia mu-

nicipal contra a intolerância re-

ligiosa. uma mandala que expõe

num mesmo espaço, e com igual

CHAPADA DIAMANTINA. AQUI, VOCÊ É NATURALMENTE BEM RECEBIDO.

Destino privilegiado pela exuberância de sua rica natureza, a

Chapada Diamantina tem se consolidado como um local susten-

tável, com serviços à altura dos mais exigentes visitantes. Com o

estímulo e o apoio do Sebrae e seus parceiros no Projeto Turis-

mo Empreendedor, pequenos empresários da região estão

investindo cada vez mais em qualificação para fazer o que a natu-

reza faz sem nenhum esforço: receber bem e conquistar você.

www.ba.sebrae.com.br0800 570 0800

19 – Cartaz para Secretaria de Cultura do Estado da Bahia; 20 – Anúncio para Sebrae - Bahia; 21 – Anúncio para Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia; 22 – Marca para Teatro Castro Alves;

23 – Marca para Unesco/Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador

19

20

22

23

21

Page 13: Revista Maria

Maria 13

destaque, símbolos representati-

vos de várias religiões. a marca fez

tanto sucesso, que a fundação

palmares resolveu adotá-la, dando

à mandala, o status de símbolo de

tolerância religiosa no país.

Velho é o mundo!por acreditar que a experiência

das pessoas mais velhas deve ser

respeitada e valorizada, a maria

comprou a briga pela recuperação

do asilo d. pedro ii, construído no

século XiX, uma das mais antigas

casas de recolhimento de idosos

do país. além de fazer a campa-

nha, propagou a ideia e obteve uma

resposta à altura da importância da

causa: o apoio de todas as mídias

na veiculação das peças criadas

pela agência. a causa logo ganhou

a adesão da própria comunidade,

que se mobilizou em favor da recu-

peração do abrigo. com esse tra-

balho, a maria deu sua parcela de

contribuição em prol de uma cons-

ciência maior de respeito aos mais

velhos, seguindo o exemplo da cul-

tura oriental ou mesmo africana.

24 – Cartaz/Poster para Ministério da Cultura; 25 – Cartaz para Olodum; 26 – Cartaz/Poster para Fundação Cultural Palmares/AMAFRO; 27 – Cartaz para Fórum de Entidades Negras da Bahia; 28 – Cartaz para Vereadora Olívia Santana; 29 – Anúncio para Mural

24

27

25

28

29

26

Page 14: Revista Maria

14 Maria

Os muitos lados da Maria

maria tem diversos lados. e pode

ser entendida por diversos ângu-

los também. ou seja, o portfólio da

agência é rico em exemplos de ações

bem sucedidas nos mais diferentes

campos da economia e das relações

humanas. da cultura ao turismo, da

saúde ao varejo. em cada cliente, um

desafio: descobrir a estratégia ideal,

condizente com sua filosofia e carac-

terísticas particulares, para a solução

das demandas recebidas.

Na área cultural, além do teatro

vila velha e grupos olodum e ilê

aiyê, destaca-se também caderno

2 (projetos de música). No turismo

de negócios, a agência desenvolveu

campanhas e ações para o conven-

tion bureau, sempre destacando as

qualidades e diferenciais de salva-

dor e da bahia como polos de even-

tos e convenções.

No segmento agropecuário, a ma-

ria atuou durante quatro anos junto à

agência de defesa animal do esta-

do da bahia- adab e à secretaria

de agricultura, irrigação e reforma

agrária do estado da bahia/seagri,

ajudando a ampliar a cobertura da

vacinação contra a febre aftosa e de-

mais zoonoses. além disso, desen-

volveu trabalhos para a companhia

30 – Postais para Cantina Cortile; 31 – Anúncio para Iphan; 32 – Outdoor para Cantina Cortile; 33 - Cartaz/Poster para Irmandade da Boa Morte; 34 – Anúncios para Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia

30

32

33

34

31

Page 15: Revista Maria

Maria 15

de desenvolvimento e ação regio-

nal - car, para a empresa brasileira

de desenvolvimento agrário/ebda e

para a fenagro.

No varejo, fez a marca do refrige-

rante fricote virar sucesso na bahia e

ajudou a lançar e a projetar shopping

centers, como top mall e Quê park

center, ambos no distrito federal.

finalmente, na área de saúde, a

maria colaborou com o reposiciona-

mento da marca do hospital oftal-

mológico dayhorc, na bahia, e do

hospital anchieta, em brasília, sem-

pre respeitando as orientações do

cremeb no sentido de evitar apelos

de venda e clima de mercantilismo.

35 – Anúncio para Orient Filmes; 36 – Anúncio para Jornal Bahia Hoje; 37 – Anúncio para Salvador Convention Bureau; 38 – Marca para projeto da Fundação Odebrecht; 39 – Marca para Faculdade Católica de Salvador; 40 – Camisa para Bloco Ilê Aiyê; 41 – Anúncio para Salvador Convention Bureau; 42 – Cartaz para Casa de Cinema da Bahia; 43 – Marcas para Secretaria de Cultura e Turismo/Bahiatursa

35 36

37

42

43

38 39 40

41

Page 16: Revista Maria

16 Maria

“Este é um caso em que Maria é João e João é inspiração, simplicidade, pertinência e empatia com os clientes e suas causas.” Bruno Silveira (Fundação Odebrecht)

“João Silva representa o melhor da criação da Bahia. À frente da Maria Comunicação, ele tem me surpreendido pela facilidade do atendimento, de acesso ao cliente. Os trabalhos da Maria que nós produzimos só têm me dado alegria, porque têm o toque de genialidade do meu amigo João Silva”.Wesley Rangel (WR)

Aspas

“A Maria está completando 15 anos, idade da adolescência, mas, mostra que tem maturidade e conhecimento sobre os assuntos que envolvem o Brasil, sem violentar a cultura negra e sem se isentar da sua responsabilidade social. Mostra que tem ousadia, que sabe pensar em projetos grandiosos, inovando sempre e compreendendo o povo brasileiro e sua cultura.”Olívia Santana - Vereadora de Salvador

“O que me impressiona em João é a sua energia e a parceria profissional. Ele realmente aporta material criativo e sonha junto o sonho do cliente”. Geraldo Machado (Ex-Diretor Superintendente do Promo/BA)

“Falar de João Silva é fácil: talentoso, um dos melhores designers que conheci. Pensa estrategicamente, joga no meu time por isso. Não bastasse, é leal, bom caráter, qualidades hoje em dia, infelizmente, rarefeitas”. Fernando Barros (Propeg)

Page 17: Revista Maria

Maria 17

“A marca do Olodum é sem sombra de dúvidas a marca brasileira mais conhecida lá fora”. Paulo Gaudenzi (Ex-Secretário de Cultura e Turismo da Bahia).

“Quando Maria nasceu o que me deixou entusiasmado foi a escolha do nome da agência: Maria. Curioso, novo e revelador do talento do João, forjado na luta do dia-a-dia pela sobrevivência em busca da construção de uma marca e de um sonho. João e Maria ou Maria e João são vencedores e merecem todo o nosso respeito e admiração”. Sérgio Amado (Grupo Ogilvy no Brasil)

“O trabalho e a criatividade de João Silva, ajudaram a construir a imagem gráfica e de símbolos do Olodum. É importante a criação de instituições com velocidade pra fazer coisas novas e singulares como a Maria. O Bando de Teatro Olodum é um dos grandes beneficiados do talento da Maria”. João Jorge (Olodum)

“João Silva é mais do que um dos melhores publicitários da Bahia, ele faz parte da família Ilê Aiyê e é um dos orgulhos da raça.” Vovô (Ilê Aiyê)

“Conheço muito o João Silva. João é um craque. Diretor de Arte de mão cheia, publicitário de cabeça cheia, João foi dos poucos de nós que resistiu aos apelos do Sul Maravilha. Ainda bem. Assim, ele consegue ter na Bahia uma agência de ponta. João poderia trabalhar onde quisesse. Para o seu bem, ele trabalha na Maria, ele trabalha na Bahia”. Sérgio Valente (DM9DDB)

Page 18: Revista Maria

mIragem © maRiageRusa - www.maRiageRusafotogRafia.com.bR

Page 19: Revista Maria

mIragem © maRiageRusa - www.maRiageRusafotogRafia.com.bR

Page 20: Revista Maria

20 Maria

empresa líder de mercado no país, com

pelo menos o dobro do tamanho do

concorrente mais próximo. dona de

uma carteira de clientes que inclui Na-

tura, carrefour, mitsubishi, coca-cola,

danone, santander, dentre outros. é

com esse lastro que a arizona.com.br provoca mudan-

ças radicais nos processos que envolvem comunica-

ção e marketing no brasil.

o novo padrão para o mundo do marketing está rela-

cionado à colaboração, ao aproveitamento máximo de

todos os ativos digitais (fotos; vídeos; áudios; layouts;

etc.); ao uso intensivo de tecnologia para a gestão des-

ses ativos; e à qualificação da gestão através de com-

preensão holística dos processos de comunicação e

do seu acompanhamento.

através de uma plataforma visto, que integra diver-

sos serviços customizáveis (incluindo armazenamento,

customização de peças; pré-impressão; gestão de flu-

xos; etc.), a arizona tem conseguido ganhos formidá-

veis para seus clientes. “a gente simplesmente deixou

a máquina fazer o trabalho braçal”, diz o presidente da

empresa, marcus hadade.

os números são impressionantes. “o carrefour fazia

700 páginas de tablóide por semana com 45 pessoas,

hoje ele faz 1500 páginas por semana com 23 pesso-

as”, relata hadade. além disso, usando as ferramentas

da arizona, a rede de supermercados reduziu, já no

Mudança de CulturaArizona, a empresa que inaugurou o mercado de gestão de

ativos de marketing no país, preconiza a integração inteligente

das máquinas nas práticas de comunicação.

Hadade | brincando na mesa de bilhar da sede da empresa

© Edu MEndES

Tecnologia

Page 21: Revista Maria

Maria 21

primeiro ano, de 96 para apenas 9, a quantidade de

erros nesses impressos.

mais importante que os ganhos dos clientes é a mu-

dança de conceito promovida pela arizona. No novo

mundo vislumbrado pela empresa paulista, qualquer

investimento gera ativos que poderão ser geridos e uti-

lizados no futuro.

- o fotógrafo tira 20 fotos, aí o cliente usa uma, depois

de um ano quem acha as outras 19? Nem o fotógrafo

guarda. mas você gastou dinheiro para 20 fotos. o carre-

four economizou 473 mil reais em desembolso com foto-

grafia no primeiro ano que a arizona estava lá, comenta o

presidente da empresa.

a robustez dos recursos economizados é, inclusive,

motivo de brincadeira para hadade. “os clientes falam

que não dão todos os dados de economia para a gente

porque acham que a arizona vai subir o preço. (risos) se

eu fizesse um acordo deles me darem metade da eco-

nomia, acho que ganharia o triplo do que a gente ganha

hoje (mais risos).

o episódio da fotografia pode ser aplicado a

todas as outras áreas relacionadas com o marke-

ting. a automação e a digitalização dos processos

transforma a atividade de produzir um anúncio, por

exemplo, em parte de um processo que gera ativos

para a companhia.

dessa forma, fotografias viram bancos de imagens;

layouts viram templates; produtos viram ativos digitais.

“Todo início de ano a gente traça objetivos. Eu preciso aperfeiçoar esse produto, preciso construir

um novo que já sei qual é, e preciso descobrir um novo que

nem sei o que é.”

“A gente simplesmente deixou a máquina fazer

o trabalho braçal.”

Page 22: Revista Maria

22 Maria

além da organização desses ativos, a arizona dá

aos clientes a possibilidade de uma gestão inteligen-

te dos processos de marketing. todos os envolvidos

participam desses processos e é possível realizar cru-

zamentos de informações das atividades, com os re-

sultados de cada cliente.

- antigamente, a mitsubishi chegava para um conces-

sionário de salvador e dizia: “você precisa vender 30 car-

ros por mês”. hoje não. hoje ela vê o que ele faz e diz:

“olha, o cara lá de são luís do maranhão, que é um mer-

cado parecido, está fazendo isso e está vendendo mais.

ou então está caindo a venda e não recomendo a você

fazer. tem muito mais interesse de negócios do que uma

pressão por vender mais – conta marcus hadade.

início tudo começou quando a empresa passou a gerir

os arquivos da Natura. como a demanda por fotos era

constante, surgiu a figura carinhosamente cunhada por

hadade de “jpegman”.

- Naquela época, em 2003/ 2004, era tudo em cd/

dvd. esse rapaz ia lá, buscava o arquivo em nosso

acervo e depois mandava um jpeg para o cliente, por

isso “jpegman”.

por conta da quantidade de arquivos existentes, a

gestão desses arquivos beirava o caos. “aí a gente fa-

lou: peraí, precisamos nos organizar, organizar o fluxo

entre agência e cliente. e isso virou uma baita oportuni-

dade de negócios”, conta marcus hadade.

Nas palavras de seu presidente, “a arizona é hoje uma

empresa que automatiza processos de marketing, fazen-

do a gestão dos ativos de marketing dos clientes”.

como os serviços da arizona participam da confecção e

impressão dos catálogos da Natura, pergunto a marcus

hadade se eles também administram a solução de incluir

nos impressos as fragrâncias da empresa de cosméticos.

- é impossível. Não somos nós, é a Natura, né? mas a

gente tem que pensar nisso, tem que pensar em coisas

que são impensáveis. e é assim que a arizona sempre

cresceu. “ah, mas isso não dá”. “por que é que não dá?

vamos tentar!” – conclui.

internacionalizaçãosegundo o presidente da arizona, executivos da

empresa viajaram o mundo para conhecer soluções

parecidas às que ela oferece. “Não encontramos nada

similar”, diz. e explica:

- você tem um excelente software de armazenamen-

to, excelentes softwares colaborativos, excelentes lo-

gísticas digitais de distribuição, uma série de verticais.

só que você não tem ninguém na horizontal, vindo aqui

desde o briefing, da estratégia da concepção até a aná-

lise, passando pelo armazenamento, fluxo colaborativo,

distribuição; enfim, passando por todas as verticais e

chegando aqui numa análise sobre retorno de investi-

mento – diz marcus hadade.

houve, inclusive, um consultor americano que pediu

para estudar a experiência da arizona. hadade repro-

duz suas palavras.

Page 23: Revista Maria

Maria 23

A Coca-Cola é nosso cliente.

Ela contratou uma empresa fora do

Brasil pra desenvolver uma solução

dela, pra ela usar mundialmente.

O Brasil não só não usa, como

contratou a Arizona.

Quando contratou a Arizona, Atlanta

(a sede da empresa) questionou: Por

quê vocês estão contratando algo

que a gente tem próprio? Aí eles

foram justificar o porquê. Porque a

Arizona atendia e trazia muito mais

benefícios e melhorias do que a

solução própria que eles têm.

É aquela velha história, Coca-Cola

pôs uma solução, ela é estática,

ninguém tá pensando em melhorar,

em evoluir, tem aprendizado em

outros clientes, marketing. Tentou e

conseguiu a aprovação de Atlanta pra

nos contratar.

É um exemplo real.”

Marcus Hadade

“Expansão | entrar nos EUA é meta da Arizona

SAIBA MAIS: www.arizona.com.br

© Edu MEndES

Coca-Cola pensa em Arizona.Arizona pensa em soluções

– eu quero até estudar o caso de vocês, porque ele

não conhecia, primeiro porque eu não sabia que exista

uma empresa no brasil que faz isso hoje e, dois, eu não

sabia que você tinha um modelo diferente do que o mun-

do faz hoje – disse o consultor.

a empresa, que possui quatro escritórios no brasil, 214

funcionários, e espera faturar entre 40 e 50 milhões em

2010, tem no horizonte conquistar o mercado externo.

trazer alunos de mba do massachusetts institute of tech-

nology e da Wharton school (estados unidos) para fazerem

estudos na empresa. assim, agrega conhecimento estrangei-

ro e torna-se conhecida pelos profissionais do exterior.

planeja também, comprar uma empresa norte-ameri-

cana para entrar naquele mercado. “a gente pensou, já

que vamos gastar tempo e dinheiro, vamos pro país mais

difícil, vamos pros eua. mas sabemos que é um proces-

so de médio e longo prazo”, explica.

Page 24: Revista Maria

24 Maria

Quando a maria foi cha-

mada pelas empresá-

rias gisele chalub e

eliane dittebrandt, do

centro de estética Jacques Janine,

o cenário era assustador.

o faturamento da empresa

caía em ritmo acelerado, enquanto

a clientela mudava-se para outro

salão na mesma rua. uma antiga

cliente havia aberto a nova loja e

contratado os melhores profissio-

nais do Jacques Janine, motivo da

debandada dos fregueses.

gisele e eliane estavam certas

que uma campanha de tv na princi-

pal emissora do estado, durante 30

dias, resgataria a clientela perdida.

entretanto, o que seria uma sim-

ples campanha de tv tornou-se uma

ação bem mais ousada.

depois de estudar o caso, a ma-

ria sugeriu às empresárias o treina-

Jacques Janine A marca que não sai da cabeça do consumidor.

24 Maria

Casos da Maria

mento imediato de outros dois pro-

fissionais à altura dos que saíram.

com a participação de adriane

Nunes e mônica moura, foi então pla-

nejada uma campanha que associas-

se a marca, Jacques Janine, à quali-

dade e diferenciação.

No lugar da campanha de

30 dias na tv, a agência prefe-

riu distribuir a mesma verba em

12 meses para uma campanha

de rádio, reforçada pelo apoio de

quatro quinzenas de outdoors ao

longo do ano.

os comerciais de rádio, sempre

muito bem humorados, defendiam

o conceito de que “frequentar o

Jacques Janine é in. Não frequen-

tar é out”.

“eu não conheço ninguém que

goste de ser ‘out’”, comenta João

silva, criador da campanha.

além de mobilizar as pessoas

que não queriam ser vistas como

“out”, a campanha obteve outro ga-

nho fundamental: o reconhecimento

deixou de estar ligado a um ou outro

dos profissionais do centro de esté-

tica e passou a ser um ativo da mar-

ca Jacques Janine.

Anúncio Outdoor

Anúncio

Page 25: Revista Maria

Maria 25Maria 25

pelos profissionais do seu segmento,

quanto pelo seu público.

a campanha da maria foi pre-

miada como o melhor material de rá-

dio da década; ganhou o iv prêmio

fonograma e o cliente, as páginas

dos jornais e uma enorme visibilida-

de em mídia gratuita e espontânea.

o Jacques Janine venceu seis

edições consecutivas do prêmio

top of mind, na categoria salão

de beleza, uma prova de que sua

marca foi definitivamente fixada na

mente do consumidor.

“Durante nossa longa parceria, a Maria nos ajudou a consolidar nossa marca, o que se refletiu na premiação do Top of Mind por anos consecutivos. Nosso relacionamento sempre foi além do comercial e a Maria passou a fazer parte da nossa família”.

Eliane Dittebrandt - diretora do

Jacques Janine.

o resultado foi o sucesso abso-

luto. além de recuperar os clientes

antigos – seu objetivo inicial –, o

Jacques Janine conquistou e fide-

lizou novos clientes.

tanto que surgiu a necessida-

de da abertura de duas novas uni-

dades na cidade. Nesse período, a

lucratividade da loja baiana só pode

ser comparada à unidade do Jac-

ques Janine do shopping morumbi,

em são paulo.

a marca Jacques Janine passou

a ser respeitada e reconhecida tanto

AnúncioOutdoor

Prêmio Top of Mind

© ARQuIVO / MARIA

Page 26: Revista Maria

26 Maria

Pensar o novo!

eu era pequeno quando mi-

nha mãe trazia para casa

aquela lata de óleo, que

não era uma lata de óleo

qualquer, mas que, estimulada pela

propaganda do tubo mágico das tv´s

de válvulas, tinha uma outra vida, uma

outra leitura, um outro significado. pois

de todas as latas de óleo que existiam,

uma, e apenas uma, tinha uma maria

que podia, a qualquer momento, sair

da lata, sabe-se lá para que, mas com

toda certeza para ajudar minha mãe a

fazer as deliciosas refeições com que

nos encantava todos os dias.

sem nem pensar no que estava

acontecendo, eu simplesmente rea-

gia a uma estratégia de comunicação

que os velhos publicitários da época

elaboraram, criaram e produziram tão

bem, que resiste até hoje.

por isso, muito antes de João

criar a maria, a receita já estava pron-

ta: vamos contar uma boa história e

associá-la a uma marca. depois, é só

criar os comerciais, anúncios, spots,

sites e cartazes.

tanto para a maria da lata e a da

agência, existe uma proposta de co-

municação que prescinde de platafor-

mas, revoluções digitais, tecnologias

e modismos: falar ao coração, excitar

a imaginação e promover o diálogo

baseado nos valores culturais e na-

quele sentimento que o consumidor

tem no mais fundo de seu coração e

que só os mais talentosos profissio-

nais sabem perceber e traduzir.

o que vemos hoje e veremos no

futuro é a busca, cada vez mais difícil

de criar valores relevantes para o con-

sumidor, de forma que ele se sinta gra-

tificado e disposto a retransmitir estes

valores em suas redes sociais, digitais

ou do mundo físico. falamos de uma

“moeda social”, cunhada nas propostas

de comunicação das marcas e que se

tranforma em valor de troca para o con-

sumidor. e à medida que a transmitem,

transmitem também os valores associa-

dos às marcas e produtos anunciantes.

sem maiores segredos: comuni-

cação fundada na cultura popular,

no consciente e inconsciente coletivo

das paixões que são relevantes para

as pessoas; informação útil e hones-

ta; criação e produção desta mensa-

gem com criatividade e talento; uso

de suportes e pontos de contato re-

levantes para o consumidor.

segredos que as marias e Joões

de todos os tempos sabem como

usar. e continuarão sabendo.

EmmanuEl Publio Dias,

Diretor De Assuntos CorporAtivos

DA esColA superior De propAgAnDA e

MArketing (espM)

“maria, sai da lata!”O velho slogan do óleo Maria me vem fácil

à cabeça, quando recebo o pedido de

meus amigos da Maria para escrever

sobre comunicação.

Page 27: Revista Maria

Salvador - Shopping Barra 71 3264-3315 • Shopping Iguatemi 71 3450-0177

Page 28: Revista Maria

amanheCendo - rIo Paraguaçu © adenoR gondim - www.aPenasbahia.bloggeR.com.bR

Page 29: Revista Maria

amanheCendo - rIo Paraguaçu © adenoR gondim - www.aPenasbahia.bloggeR.com.bR

Page 30: Revista Maria

30 Maria

salvador tem in-

contáveis cartões-

postais. desenha-

dos pela natureza

ou nascidos de

traços arquitetôni-

cos, o elevador lacerda, o merca-

do modelo, o porto da barra, a lagoa

do abaeté, o pelourinho, o forte são

marcelo e seculares igrejas, espalham

a fama da cidade emoldurada pela

baía de todos os santos. mas quem

chega a salvador também é seduzido

por outro ícone emblemático: o berim-

bau, instrumento de rica sonoridade

que impulsiona os giros e saltos na

No ritmo do berimbauSímbolo baiano, instrumento une tradição e musicalidade

roda de capoeira, um dos mais fortes

símbolos da cultura afro-brasileira.

No mercado modelo (cidade baixa),

os berimbaus logo atraem o turista. de

r$ 5,00 a r$ 30,00, os vendedores

oferecem desde instrumentos peque-

nos - para crianças - até os adequados

a profissionais. o vendedor miguel dal-

tro trabalha no box à direita da entra-

da principal, há mais de 20 anos. “se

o freguês quiser também levar a capa

do berimbau, o valor passa para r$

50,00”, informa. ele lembra que a maior

parte dos berimbaus é procedente de

fábricas do município de simões filho

e da área suburbana da capital.

em outro box, instalado à esquer-

da, as turistas e irmãs elisa souza

pinto, do rio de Janeiro, e lúcia

martins, moradora de João pessoa,

compravam berimbau numa quarta-

feira ensolarada de maio. elas obser-

vavam a demonstração do vendedor

osmar dos santos, mestre marzi-

nho, de uma família de capoeiristas.

o propósito de elisa era levar dois

berimbaus para os netos cariocas

que fazem capoeira. segundo mar-

zinho, os instrumentos vendidos ali

são produzidos pelo pai, mestre ola-

vo paixão dos santos, no bairro de

santa mônica/ iapi.

Empreendedorismo

© JOãO RAIMundO dEcOM, L.F

Page 31: Revista Maria

Maria 31

Capoeira regionalem outro espaço de salvador, ed-

son luiz ribeiro dos santos, o mes-

tre trovão, repassa conhecimentos

de capoeira regional - eternizada por

mestre bimba – a crianças, jovens

e adultos. vários deles, em oficinas

que chegam a ter 50 participantes,

se interessam pelos segredos da arte

de fabricar berimbau. por dia, nas

aulas, são produzidos cerca de sete

instrumentos. o preço do berimbau,

acompanhado de baqueta e caxixi,

oscila entre r$ 40,00 e r$ 50,00. a

vendagem ajuda a complementar a

renda dos fabricantes.

o ideal para a tonalidade adequa-

da do berimbau é medir sete pal-

mos. “Não basta só formar o arco-

íris. a afinação também depende da

cabaça. e a de tamanho médio é a

melhor”, ensina mestre trovão. as

oficinas constam de aulas teórica

e prática sobre afinação e toques,

sequência de movimentos, treina-

mento de charanga (um berimbau e

dois pandeiros), quadras e corridos

(cânticos), fabricação de berimbau,

pandeiro e caxixi.

A capoeira está se transformando

numa alternativa de renda em Lauro

de Freitas, na Região Metropolitana de

Salvador (RMS). O município ganhou

o Polo de Capoeira, na forma de

cooperativa, que já resultou na criação

de loja temática em moda esportiva

e de praia - inspirada nos trajes

dos capoeiristas -, e na Orquestra

de Berimbaus. Uma novidade é a

pesquisa de um perfume com a

essência extraída da biriba, madeira

usada no fabrico do instrumento.

O superintendente de Promoção da

Igualdade Racial de Lauro de Freitas,

Eriosvaldo Menezes, informa que dos

cerca de quatro mil capoeiristas do

município, 2.800 estão cadastrados

na prefeitura - e 50% deles participam

do Polo de Capoeira. Inaugurada em

setembro de 2006, a loja temática

deixou de funcionar no Complexo

Hoteleiro Costa do Sauípe, primeiro

endereço. Reabre, em dezembro

deste ano, no Centro de Referência da

Cultura Afro-Brasileira, a ser instalado

no Terminal Turístico Mãe Mirinha de

Portão, final de linha do bairro.

A Prefeitura de Lauro de Freitas

e o Serviço Brasileiro de Apoio

às Micro e Pequenas Empresas

(Sebrae) apoiaram a organização

da cadeia produtiva. O Sebrae Bahia

desenvolveu o treinamento para

formar a cooperativa de instrutores

de capoeira e fabricantes de

berimbau. Agora a instituição divulga,

junto ao segmento, a possibilidade

desses profissionais se tornarem

empreendedores individuais.

Quem se registra na condição de

empreendedor individual tem direito

ao Cadastro Nacional de Pessoa

Jurídica (CNPJ) e aos benefícios da

Previdência Social.

Alternativa de renda

©

Variedade | no Mercado Modelo, diversos tamanhos e cores

© GRAÇA FILAdELFO

Page 32: Revista Maria

32 Maria

Ele sempre resistiu em

participar da roda de capoeira.

Seu maior interesse era fazer

berimbau e descobrir sons. Da

dedicação ganhou o nome de

guerra, que incorpora parte da

denominação do instrumento.

Lourival Santos Araújo – Mestre

Lourimbau – tem 61 anos. Ainda

produz berimbau, mas ensina

a arte agora apenas quando

recebe algum pedido. Ele une

ao dom de artesão o talento de

músico, compositor e cantor.

Por onde anda, no Brasil ou

exterior, Lourimbau leva o

instrumento. E vende. Já tocou

no Rio de Janeiro, São Paulo,

Paraná, Alemanha, Suíça...

Personagem emblemático,

autodidata, tocou o instrumento

com a desenvoltura de sempre

na festa que comemorou, 14

anos atrás, no Teatro Vila Velha,

o primeiro ano de atividades da

Maria Comunicação.

Lourimbau conta que fez o

primeiro berimbau quando tinha

10 anos e nunca abandonou

o trabalho de artesão. O

mestre tem condição de fazer,

em média, dez instrumentos

por semana. O preço varia

de R$ 25,00 (mais simples)

a R$ 250,00 (com melhor

acabamento, incluindo verniz).

De 1982 a 1994, Lourimbau teve

atelier no Forte de Santo Antônio

Além do Carmo, onde ensinava

a turmas, em geral, de 25

alunos. Hoje o espaço das aulas

é a casa do cliente. Às vezes a

pessoa quer saber como fazer

um berimbau. Em outras, o

desejo é aprender a tocar.

Lourimbau, eterno artesão

©

Ciência | fabricação depende de um jeito especial.

Sedução | berimbau encanta turistas e baianos famosos como o cantor Tonho Matéria

Fusão | força, equílibrio e ritmo no centro da roda.

© d

IVu

LGA

Çã

O

© AbIMAEL

Page 33: Revista Maria

VÁ AO VILA, VELHO.Av. Sete de Setembro, Passeio Público - Campo Grande , s/n - Salvador - Bahia - Tel: 71 3083.4600 - www.teatrovilavelha.com.br

Lourimbau, eterno artesão

Page 34: Revista Maria

matrIzes © séRgio gueRRa - [email protected]

Page 35: Revista Maria

matrIzes © séRgio gueRRa - [email protected]

Page 36: Revista Maria

36 Maria

Ele é o grande nome da noite de Brasília. Dono de dez

empreendimentos na capital federal, frequentados pelos

políticos e empresários mais poderosos do país, Jorge Ferreira

esbanja uma simplicidade incomum. E sabe disso.

Espelho de Brasília

Ferreira | a simpatia faz as honras da casa

© dI SOuTO

© dIVuLGAÇãO

Perfil

sou um empresário que tem 550 funcio-

nários e não tem escritório. meu escritó-

rio é nos bares. eu não tenho secretária.

minha secretária é o celular, entendeu?

e eu despachava muito lá no feitiço,

debaixo de uma árvore, porque sou um

empresário atípico – diz.

Nossa conversa, portanto, acontece num de seus “es-

critórios”, mais precisamente no mercado municipal , tal-

vez a maior “jóia” da coleção do empresário.

inaugurada em 2006, a casa é inspirada no les halle

de paris e em outros mercados do país, onde se vende

de tudo e, à noite, a boêmia se reúne.

goza do charmoso paradoxo de chamar-se “mer-

cado municipal” no único local do país onde não exis-

tem municípios.

- isso aqui é uma obra de arte – o primeiro no mundo,

acho, a ter um dono só. eu trouxe 40 toneladas de grades

antigas, revitalizei as coisas todas, fiz um pé direito altís-

simo... o mercado é todo dia. me emociona porque virou

um ponto turístico da cidade. eu não imaginava isso.

logo depois de declarar-se ao mercado, Jorge co-

menta que está triste, pois um garçom acabara de que-

brar um vitral de mais de 100 anos. “vou ter que restau-

rar”, comenta, balançando a cabeça.

De repente, empresárioferreira conta que só se tornou empresário “pela in-

compreensão da burguesia”. explica:

- onde eu trabalhava, eu fazia greve, aquelas coisas, e

eu sempre era demitido. então a burguesia não me queria

como trabalhador, né? aí eu tive que arrumar uma forma

Page 37: Revista Maria

Maria 37

© dI SOuTO

de sobrevivência. eu me achei empresário e, de repente,

tem cem, duzentas pessoas dependendo de mim.

para “sobreviver”, Jorge ferreira abre, em 1989, o fei-

tiço mineiro. era a época da primeira eleição presiden-

cial direta após a ditadura, e logo o “feitiço” tornou-se

um ponto de encontro de artistas, intelectuais e políticos

de esquerda. “Não posso falar do meu empreendimento

sem esse caldo cultural”, comenta.

No pequeno palco do restaurante, apresentaram-se

nomes como francis hime, João bosco, beto guedes,

lô borges, Nelson sargento e dona ivone lara. foi lá que

aconteceu o último show de baden powell no brasil – faz

questão de lembrar um emocionado Jorge ferreira.

Nas mesas – literalmente – do feitiço mineiro foi escrita

e editada durante 12 anos a revista literária “tira prosa”,

que chegou a ser considerada uma das três melhores re-

vistas culturais do país.

entre um chope e outro, escreviam na revista 13

pessoas, entre elas, além do próprio Jorge ferreira, no-

mes como val santana, Jaguar e ziraldo. este último,

grande amigo do empresário-artista e responsável por

cerca de metade das marcas dos bares e restaurantes

de Jorge. “ziraldo é um grande amigo, muito presente

na minha vida”, diz.

fundador do pt e da cut quando ainda morava em Juiz

de fora, Jorge ferreira também tem um grande leque de ami-

gos na política, especialmente no campo da esquerda.

tanto que a posse de lula foi comemorada pelo grupo

de José dirceu no bar brasília, outro dos estabelecimen-

tos de ferreira. “eu nunca vi brasília com tanta festa; era

operário, o bar todo cantando... esse foi um momento

muito marcante”, lembra.

o dono da noite brasiliense também é amigo do presi-

dente lula há mais de 20 anos. aliás, de lula.

- agora ele virou presidente. presidente não tem ami-

go. mas as oportunidades que a gente tem de se en-

contrar, é uma coisa muito carinhosa, era uma vida muito

junta antes dele ser presidente – diz.

entretanto, engana-se quem acredita que a proximi-

dade com os poderosos favorece de alguma forma os

Caçula | Bar do Ferreira é destaque do shopping Quê, lançado pela Maria, em Águas Claras (DF)

Page 38: Revista Maria

38 Maria

empreendimentos de Jorge ferreira. “eu tenho uma van-

tagem muito grande: eu nunca vendi nada pra governo,

não vivo do governo, não tenho nada com o governo”,

afirma, enfaticamente, o empresário.

seu mais recente empreendimento é o bar do ferreira,

no shopping Quê (águas claras/df), cuja nome, marca e

lançamento foram responsabilidade da maria comunica-

ção. ao saber disso, ferreira reaje:

- e esse canalha do João silva até hoje não foi lá! fiz

um bar maravilhoso, à altura do nome que ele pensou

para o shopping. é uma mistura do armazém com o bar

brasília. e fiz uma torteria lá também, retomando a raiz

italiana de minha mulher.

brasíliaembora tantas personalidades frequentem seu circuito

gastronômico, ferreira gosta sempre de lembrar que os

bares e restaurantes que administra são feitos para o pú-

blico de brasília.

- fiz o bar, na verdade, pra brasília. Não fiz pro político

que frequenta brasília. eu sempre falo o seguinte, que a

cidade primeiro tem que ser boa pro morador e não pro

turista. todos os meus bares foram feitos para essas pes-

soas que gostam de morar aqui – afirma.

ferreira usa uma expressão de darcy ribeiro, “fazimento”

– o fazer com sentimento –, para caracterizar a relação entre

seu trabalho e os moradores da capital federal. “fazimento”é

também o nome do livro de contos e poemas que o empre-

sário lançou em 2009, quando completou 50 anos.

- foi nesse “fazimento” que eu fui compreendendo a

cidade, e por isso que eu acho os meus bares são cheios,

João (Silva) foi amor à primeira vista. Eu fiquei impressionado como é que uma pessoa pode ter tanta criatividade com tanta energia. Inclusive no primeiro contato que tive com ele, terminei me despedindo: “Ô, João, você é um gênio!’.

Eu fico muito feliz desses 15 anos da Maria, por ter sobrevivido a esse mercado competitivo e essa figura ter mantido uma marca tão forte que é hoje a Maria no Brasil, com presenças que foram marcantes na história brasileira,

com marcas - até discordando ideologicamente -, mas aquela marca do Collor é genial né, foi criada por ele.

Eu acho que é muito bom pro João fazer 15 anos, porque é um momento de repensar, refletir, de tomar rumos. Acho que o João agora tá num momento bom da vida dele, de definir com a sua criatividade e sua personalidade o que é que será a Maria nos próximos 15 anos.

Agora cabe a ele definir esse outro passo, e eu acho que o João

será sem dúvida nenhuma, uma legenda pro publicitário brasileiro, pela criatividade e pela seriedade com que ele trabalha.

Como eu sou contador de casos, tem uma história do João que já virou um “causo” meu. Ele já tá puto comigo, porque conto tudo diferente (risos). É sobre um anúncio que ele fez na Copa de 1986, quando o Duda Mendonça era chefe dele. Eu já tô contando até melhor do que ele!”

Jorge Ferreira

Origem | a aventura de Jorge começou pelo Feitiço Mineiro

são representativos, porque traduzem a alma do brasi-

liense, que é uma alma universal. o brasiliense não é pau-

lista, não é carioca, não é do piauí, ele não é do amapá,

o brasiliense está se formando – diz.

para Jorge, é preciso dissociar a ideia de foco da cor-

rupção nacional da imagem de brasília. “brasília não pode

ser penalizada como se fosse a síntese do mal”, opina.

para definir a capital do país, ferreira evoca novamen-

te darcy ribeiro.

- o darcy ribeiro dizia que tinha brasília como

se fosse um espelho quebrado, refletindo várias ima-

gens e que com o tempo ia se juntando. eu acho que

entrei nesse momento, na montagem desse espelho.

brasília foi a grande epopéia do povo brasileiro. e

acho que agora nós vivemos um grande momento

“Momento de repensar, refletir, tomar rumos!

Page 39: Revista Maria

Maria 39

CASAS DE JorgE FErrEIrA

Bar do Ferreira: Shopping Quê - Águas

Claras, Tel: (61) 3042-5585

Tratoria Peluso: Ac rua 36 norte lote 5

bloco 06 loja 36/37 - Águas Claras

Armazém do Ferreira: SCLN 202 - Bloco A -

Loja 1 - Brasília, DF - Tel: (61) 3327-8342/ 0167

Pizzaria gordeixo: CLN 306 Bloco B, Lojas

13/29 - Asa Norte - Brasília/DF - Tel: (61)

3273-8525

Bar Brahma: 201 Sul, bloco C, loja 33, Asa

Sul - Brasília – DF, Tel: (61) 3224-9313

Mercado Municipal: W3 Sul, Quadra 509,

Brasília, DF, Tel: (61) 3442-4500

Feitiço Mineiro: CLN 306,

Bloco B, Lojas 45/51, Brasília, DF,

Tel: (61) 3272-3032

Bar Brasília: 506 Sul, Bloco A, Brasília, DF,

Tel: (61) 3443-4323

Bar do Brasil: 202 Norte, Bloco A, Loja 21,

Brasília, DF, Tel: (61) 3327-8342

Chopp Brahma Express: 306 Sul, Bloco, A

Loja 2, Brasília, DF, Tel: (61) 3442-4677

Origem | a aventura de Jorge começou pelo Feitiço Mineiro © dI SOuTO

parecido com aquele (referindo-se ao êxito do go-

verno lula).

como este mineiro da pequena cruzília foi morar

lá? perseguindo um grande amor. “algumas pessoas

chegam a brasília porque o pai foi transferido pra cá,

por razões de trabalho, por razões de arquitetura, ou

por qualquer motivo né? eu não, eu vim por amor”,

afirma, orgulhoso.

o motivo de tamanha devoção é a esposa denise,

com quem é casado há 25 anos e tem três filhos, todos

brasilienses. “para mim, três coisas fundamentais mo-

vem a vida de uma pessoa: trabalho, família e amigos. o

resto, eu não me preocupo”, assegura.

empresário, militante, marido, poeta. Jorge ferreira

faz realmente com que todos se sintam em casa. “minei-

ro mantém essa coisa ampla de mundo, da conversa, da

conciliação”, justifica.

e a nossa conversa acaba porque a “secretária” de

Jorge toca. do outro lado da linha, a esposa de um mi-

nistro quer saber qual dos bares vai estar mais animado

para a comemoração do aniversário do marido.

enquanto ferreira disserta calmamente sobre as atrações

da noite em seus bares, José oscar

pelúcio, seu sogro (que acompanhou

boa parte da entrevista), comenta:

“ele não quer isso, mas poderia se

candidatar para depu-

tado que ganhava fá-

cil. tem gente demais

que gosta dele. e de

todos os partidos”.

Num bar de Natal O espaguete não serve meio,só inteiro.E o amor, como será?No meu baré ao dente.Poema do livro “Fazimento”

Page 40: Revista Maria

40 Maria

Casos da Maria

basta a ocorrência de um

caso de febre aftosa para

que toda uma região seja

penalizada com enormes

prejuízos aos pecuaristas e à econo-

mia dos estados produtores e ex-

portadores de animais, carne, leite e

produtos derivados.

em 2001, a bahia obteve a cer-

tificação de zona livre da aftosa

com vacinação. dois anos mais tar-

de, o índice de vacinação no estado

chegou a 93% do rebanho.

entretanto, era necessária a

imunização regular de todo o re-

banho. uma tarefa difícil, especial-

mente a de superar as resistências

dos pequenos produtores, que não

tinham a cultura da vacinação, di-

nheiro para comprar as vacinas nem

eram alcançados e sensibilizados

pela comunicação.

Quando, em 2004, a maria

assumiu as campanhas de vacina-

ção, uma nova estratégia foi esta-

belecida. “a gente percebeu que

boa parte dos produtores rurais

está nos grandes centros, e não

estão na zona rural. e são eles que

dão o tom da vacinação. Quando

o grande produtor está envolvido,

ele influencia o pequeno e médio,

vizinhos da sua propriedade”, con-

ta João silva.

essa constatação gerou a

ideia de fazer um filme de tv com

bois parando uma grande avenida

da cidade. “fizemos a boiada pas-

sar exatamente na faixa de pedes-

tres. os carros paravam e o sinal

governo da bahiaContra a febre aftosa, os bois invadem a cidade.

40 Maria

ficava verde para o boi vacinado”,

explica João.

para fazer o filme, dezenas de

bois nelore foram trazidos de feira

de santana para salvador e foi ne-

cessário construir um curral em ple-

no bairro do comércio, para que os

bois pudessem descansar.

FIlme 30’

Making-of da filmagem

Page 41: Revista Maria

Maria 41Maria 41

destres, reconhecida por eles como

um mata-burro.

apesar de toda a dificuldade, o

filme foi um sucesso.

a campanha foi apoiada num ar-

rojado plano de mídia, com anúncios

nos principais jornais da capital e do

interior, outdoors, busdoors, spots

nas rádios de maior alcance e nas

rádios comunitárias, carros de som,

internet, lembretes em contas de luz

e extratos do banco do brasil, carta-

zes e panfletos.

o esforço de comunicação ga-

nhou cobertura da imprensa e uniu

todo o mundo rural em torno do

mesmo objetivo.

o acerto na escolha da estraté-

gia ficou evidente logo nos primeiros

resultados. após a primeira cam-

panha, o índice de vacinação subiu

para 95%. e, apesar da ocorrência

da doença no mato grosso do sul,

a bahia intensificou suas campanhas

e manteve os criadores mobilizados,

chegando a 97% de cobertura vaci-

nal em 2007, garantindo a certifica-

ção de zona livre da febre aftosa.

“A Maria mostrou que competência e criatividade é o que faz a diferença num mercado tão competitivo”.

Pedro Barbosa – Ex-Secretário

da Agricultura da Bahia.

a produção teve ainda que, li-

teralmente, enxugar o asfalto por

conta da chuva e “convencer” os

animais a passarem pela faixa de pe-

©

Outdoor

Page 42: Revista Maria

42 Maria

este ano, o supremo tri-

bunal federal deve emitir

pronunciamento definidor

a respeito das cotas ra-

ciais para ingresso nas universidades

públicas. trata-se do exemplo mais

conhecido e polêmico das políticas

de ação afirmativa, que vêm sendo

implementadas no brasil, em escala

crescente, ao longo da última déca-

da. o tema é estratégico justamente

porque no fundo diz respeito a nosso

projeto de nação. em texto publicado

recentemente, defendo o argumento

de que um mito nacional se desen-

volveu e se tornou dominante, no

brasil, entre os anos 1920 e o fim da

ditadura de getúlio vargas, em 1945.

esse mito centrou-se na ideia de uma

miscigenação inicial de portugueses,

índios e africanos, para se tornar, ao

longo dos anos, uma asserção bem

mais genérica sobre a habilidade da

cultura brasileira, para a assimilação e

a integração de todo tipo de diferença.

Na construção desse mito nacional,

gilberto freyre participou tanto quanto

os grandes e celebrados modernistas,

mário e oswald de andrade.

Na interpretação gilbertiana do

brasil, a força democratizante não é,

obviamente, política, mas cultural. a

vida política brasileira foi fundada pelo

arbítrio de minúscula elite portugue-

o brasil mestiço: do mito à utopia

sa, assim como a economia assen-

tou suas bases sobre os horrores do

trabalho escravo e da monocultura la-

tifundiária. porém, em sentido contrá-

rio à separação, à violência e à exclu-

são, ter-se-iam forjado, no cotidiano

promíscuo da casa-grande, hábitos,

valores, crenças e sensibilidades mis-

turados, vitalmente contaminados e

impuros. essa tendência para a im-

pureza é o que caracteriza o brasil

mais profundamente, de acordo com

a interpretação de gilberto freyre.

tudo muito próximo ao ideário antro-

pofágico, como muito bem apontou o

mestre José guilherme merquior.

felizmente, gilberto freyre, mário

de andrade e parte da trupe moder-

nista, que, inclusive, assumiu postos

de comando da política cultural na-

cionalizante da era vargas (dentre os

quais, citem-se villa-lobos, carlos

drummond de andrade e rodrigo

melo franco de andrade, além do

próprio mário), ganharam o embate

entre as várias ideologias que nos

anos 1930 concorriam pela definição

do que o brasil havia sido, do que era

e do que deveria vir a ser. graças a

eles, vingou um projeto cultural de

nação não-branco e não-europeu,

que elegeu como valores centrais: o

mestiço e o potencial de plasticidade/

antropofagia. é com esse mito que o

brasil contemporâneo ainda opera.

No entanto, alegam intelectuais e

militantes comprometidos com a cau-

sa negra, eleger a mestiçagem como

valor nacional é um discurso bonito,

mas na prática, não só invisibiliza o

preconceito racial, como dificulta

a articulação de ações efetivas de

combate ao mesmo e de promoção

de uma maior igualdade social entre

as raças. do ponto de vista histórico,

não deixam de ter razão. aliás, não

creio que qualquer dos intelectuais

e artistas modernistas citados acima

fosse ingênuo ou cínico o suficiente

para negar a existência do precon-

ceito racial no brasil. do mesmo

modo, não podem ser simplesmente

tachados de conservadores, elitistas

ou racistas, os intelectuais que con-

temporaneamente se posicionam de

maneira crítica quanto às políticas

de ação afirmativa. a questão le-

vantada pelos críticos da ação afir-

mativa é outra, é séria e precisa ser

honestamente debatida: recuperar a

noção de raça e escolher o caminho

da oposição entre brancos e pretos,

adotado alhures, é mesmo a melhor

solução para resolver o problema do

preconceito racial no brasil?

são vários os argumentos que

nos sugerem cautela e prudência.

abrir mão da mestiçagem como va-

Pensar o novo!

Page 43: Revista Maria

Maria 43

afro-americanos, esse percentual

sobe para 24,7%. os casamentos

interétnicos no brasil atingem uma

taxa de apenas 20% do total de ca-

samentos contraídos na população.

Nos estados unidos, essa taxa é de

apenas 2%.

assim, a reflexão que se levanta

é de ordem estratégica: por que, ao

invés de procurar espelhamento em

um modelo que não solucionou o

racismo e as desigualdade raciais,

o brasil não procura, dentro de sua

própria tradição, formas criativas

para resolver um problema que pa-

rece incomodar os brasileiros em

geral? todos desejamos uma nação

mais justa. mas o brasil com o qual

sonhamos é mesmo um brasil com

brancos de um lado e negros do ou-

tro? creio que o brasil pode escolher

entre acompanhar o ritmo e assumir

a agenda da globalização planejada

por outros, ou pode abraçar o legado

da mestiçagem, da plasticidade, da

antropofagia, não como mito, mas

como caminho para a realização de

uma utopia de fraternidade.

Valéria TorrEs Da CosTa silVa,

Mestre eM AntropologiA soCiAl e ColíDer

Do núCleo De estuDos e pesquisAs eM Cri-

MinAliDADe, violênCiA e polítiCAs públiCAs

De segurAnçA (neps), Do progrAMA De

pós-grADuAção eM soCiologiA DA uFpe.

lor talvez não seja mesmo o melhor

caminho para combater o racismo

ou a desigualdade racial. primei-

ramente, como diz o intelectual e

militante negro paul gilroy, usar o

conceito de raça para combater o

racismo serve para dar sobrevida ao

paradigma que divide a humanidade

em categorias essenciais, conforme

a cor da pele. depois, a opção por

um modelo estrangeiro de combate

ao racismo é complicada, justamen-

te porque tenta ignorar especificida-

des das relações raciais no brasil:

na prática, como separar o que está

misturado, não só biológica, como

social e culturalmente?

por fim, se ao menos se pudes-

se constatar o sucesso estrondoso

do modelo americano de combate

às desigualdades raciais, valeria a

pena reproduzí-lo. No entanto, a

sociedade americana está longe de

ser um protótipo de igualdade racial.

boa parte da população afro-ameri-

cana vive em guetos que se formam

nas principais cidades do país. em

sua ampla maioria eles moram nas

casas mais pobres e estudam nas

piores escolas, e por isso mesmo

têm muito mais dificuldade de che-

gar à universidade. de acordo com

os dados do censo de 2004, 12,7%

da população americana vive abai-

xo da linha de pobreza. entre os

“o Brasil com o qual sonhamos é mesmo

um Brasil com brancos de um lado e negros

do outro?”

A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros

Antônio Risério

Editora 34 (440 páginas)

Meu Tempo é Agora

Mãe Stella de Oxossi

Editora EmprEsa gráfica da Bahia (182 páginas)

A Modernidade nos Trópicos: gilberto Freyre e os Debate em Torno do Nacional

Valéria Torres da Costa e Silva

carpE diEm EdiçõEs E produçõEs (422 páginas)

SAIBA MAIS:

Aqui ninguém é branco

Liv Sovik

Editora aEroplano (176 páginas)

Page 44: Revista Maria

44 Maria

Cardume de QuatIngas nos reCIfes do ParCel dos aBrolhos © PedRo meiRelles - www.PedRomeiRelles.com

Page 45: Revista Maria

Maria 45

Cardume de QuatIngas nos reCIfes do ParCel dos aBrolhos © PedRo meiRelles - www.PedRomeiRelles.com

Page 46: Revista Maria

46 Maria

Entrevista

Page 47: Revista Maria

Maria 47

“O que o cliente precisa é de uma boa estratégia”Em entrevista, o publicitário baiano João Silva fala de sua

trajetória no mundo da propaganda, foca seu entusiasmo

à frente da Maria Comunicação – empresa que criou há 15

anos –, relembra histórias do passado e revela suas maiores

expectativas em relação ao futuro.

Page 48: Revista Maria

48 Maria

Como foi sua trajetória no mundo da publicidade

antes da Maria?

João Silva - eu comecei na Engenho, que nessa

época ainda não se chamava engenho Novo. depois

eu fui pra d&e, que era um resultado da fusão entre

a Divisão e a Engenho. entrei para a Propeg no ano

em que nós ganhamos três medalhas de ouro do

prêmio “colunistas Nacional”. foi uma premiação

importante: essas foram as únicas medalhas de ouro

que alguém ganhou fora do eixo rio e são paulo.

saí da Propeg e fui pra dm9, onde eu conheci duda

(mendonça). da dm9 eu voltei pra d&e, que, depois,

fundiu-se com a dm9 e virou ds2000, onde, depois

de dois anos, eu me tornei um dos sócios. em 1995,

saí para fazer a Maria.

Como nasceu a Maria? Quem foram os primeiros

parceiros, onde é que ficava, como era a Maria,

qual era a sua estrutura nesse início?

JS - a Maria começou numa salinha lá no edifício

Joventino silva, no itaigara, e os primeiros parceiros

da Maria foram os fornecedores e veículos do mer-

cado. eu tentei me cercar dos melhores. acreditava

que poderia, com isso, ter um

diferencial. como já me conhe-

ciam, todos tinham interesse

em trabalhar comigo, porque o

que a gente fazia normalmente

dava certo, gerava muita mídia

espontânea. Nós conseguimos

fazer campanhas, transformar em

anunciante muita gente que não

poderia ser anunciante e muito

menos estar usando fornecedo-

res de primeira linha. e tivemos

muita sorte, os primeiros clientes

foram: o teatro vila velha (que

renascia com o espetáculo zumbi

dos palmares), o Jacques Jani-

ne, promoexport, refrigerante

fricote, o shopping top mall e o

hospital anchieta em brasília.

Depois desses primeiros passos

projetando a Maria na cidade,

o que foi feito para consolidar

Lembrança | trajetória da Maria reconstituida

Page 49: Revista Maria

Maria 49

a agência no mercado baiano e

depois no brasileiro?

JS - Nós não tivemos nenhuma

estratégia pré concebida. a gente

imaginava que havia possibilidade

de transformar pequenas verbas em

grandes resultados. sabíamos que

as agências do mercado não teriam

interesse, ou não teriam como

atender essa faixa de mercado, com

a mesma agilidade. sabíamos que

poderíamos oferecer um trabalho

com qualidade, com know-how,

por um custo mais acessível, já que

nossa estrutura era enxuta.

“A melhor marca é a que vou fazer amanhã”

Vila | Márcio Meirelles recebe artistas como Daniela Mercury

Top dos Tops de Marketing | Comemoraçãocom Dinha e Kátia Silveira

Colunistas Nacional | Premiação em Recife

1 - Cartaz para o Teatro Vila Velha

1

Tem uma característica muito

presente nos trabalhos da Maria,

que é essa perenidade, a possibi-

lidade das coisas serem usadas e

reutilizadas. Por quê?

JS - eu convivi com muitos pro-

fissionais talentosos e tive a sorte de

trabalhar com os melhores do brasil

em um mercado, que é a bahia, onde

você tinha que fazer a coisa aconte-

cer. Não tem coisa pior pra mim, não

tem investimento mais jogado fora

do que um anunciante colocar uma

puta grana na mão de uma agência,

ela ir lá fazer um anúncio bonitinho

e no dia seguinte não tem ninguém

que lembra quem era o anunciante. a

propaganda tem que ter a capacida-

de de agregar valor à marca.

© IS

Ab

EL

GO

uV

ÊA

Page 50: Revista Maria

50 Maria

Quais são as marcas criadas por você que

mais fizeram história?

JS - eu costumo dizer que a melhor marca é a que eu

vou fazer amanhã. Já fiz marcas para as mais diversas

áreas, de baiana de acarajé a produtos de consumo e para

uma centena de políticos de todos os partidos. obviamen-

te que tem marcas que ficaram conhecidas, como a do

olodum, a de collor...

Quando João Jorge falou comigo sobre a marca

do olodum, eu pedi a ele um tempo, pois eu estava

pré-produzindo dois filmes. estava gravando com silvia

pfeiffer em são paulo e no dia seguinte iria gravar com

claudia raia, no rio.

fui pro hotel em são paulo pra

dormir um pouco, com a marca do

olodum na cabeça, só lembran-

do da batida do olodum. liguei a

televisão e havia cenas de violência,

se não me engano em paris, onde

estudantes estavam sendo espanca-

dos por policiais. isso me marcou.

No dia seguinte, quando acabei de

gravar com cláudia, voltei para o ho-

tel e vi outra caso de violência, desta

vez na alemanha, também envolven-

do estudantes. essas duas cenas em

Dasafio | melhor marca será feita amanhã

2 – Marca para Olodum; 3 – Outdoor para Olodum

3

2

Page 51: Revista Maria

Maria 51

países distintos e aquela batida do

olodum me marcando....

depois ainda fui a manaus, gravar

o lançamento do Amazonas Shop-

ping Center. Quando eu cheguei a

salvador, recebi a notícia que um

membro do olodum havia sido

baleado por um policial no pelourinho.

o olodum foi em peso pra frente da

secretaria de segurança pública, em

salvador, espalhou todos os tambo-

res e os músicos ficaram agachados,

com a cabeça baixa, em dia de tráfe-

go normal... aquele mar de tambores.

Quando eu vi a foto e o protesto

silencioso eu tive a certeza de que

o olodum precisava de um símbolo

da paz. Na hora me veio a cabeça

o símbolo de paz e amor do festival

de Woodstock, nos anos 60. pensei:

Já o que o Olodum tá indo pra uma

excursão na Europa e já é conheci-

do pela batida do seu tambor, nada

melhor que levar um discurso de paz,

porque isso é que o mundo precisa

no momento. eu só fiz pegar o sím-

bolo de paz e amor e redesenhá-lo,

colocando as cores do movimento

pan-africano, que são o amarelo, o

verde, o vermelho e o preto.

depois João Jorge me ligou pra

dizer que onde o olodum passava

era a primeira página nos principais

jornais, por conta da assimilação

imediata de que as cores do movi-

mento pan-africano estava sendo

enxergado, na europa, como

uma proposta de paz. Quando o

olodum retornou ao brasil, a marca

estava consolidada.

Depois foi usada até

por Michael Jackson....

JS - Quando michael Jackson

esteve aqui com spike lee para

gravar o videoclipe com o olodum,

alguém, não sei se foi da folha ou

do estadão, alguém me perguntou se eu achava que

michael Jackson usara a camisa por conta da marca

ou por conta do olodum... confesso que até hoje eu

fico sem saber, mas prefiro acreditar que foi pelas duas

coisas. a batida do olodum é uma coisa que contagia

todo mundo, claro.... mas é bom lembrar que michael

Jackson naquela época já atuava fortemente com o dis-

curso de paz no planeta. então eu acredito que a marca

do olodum também contribuiu para isto, para esse en-

contro de som, de batida, de coreografia com o discurso

de paz para o mundo. foram as duas coisas, mas acho

que foi um pouco de sorte também, concorda?

Vender mais e ter a sua marca no coração do consumidor é o desafio.

Michael | vestindo a camisa do Olodum

Page 52: Revista Maria

52 Maria

E Collor? Como surgiu essa marca...

JS - em 1986, a convite de duda, atuei nas cam-

panhas de geraldo mello, para governador do rio

grande do Norte e de fernando collor para governa-

dor de alagoas.

as duas campanhas obtiveram sucesso, e eu con-

tinuei ajudando na comunicação estratégica do gover-

no de alagoas. uma das decisões que tomamos, no

primeiro ano de governo, foi pichar as capitais de cada

estado com o nome de seu governador recém eleito

como candidato a presidente e o de collor como vice.

era uma forma de tornar o nome collor conhecido em

todo o brasil. o sucesso foi tão grande no país intei-

ro, que, em 1988, a revista veja fez a matéria de capa

“collor, o caçador de marajás”. eu estava com ele lá na

Collor | marca focada na oportunidade do momento político

gazeta e fui escolher o local para a

foto da capa. Quando terminou a

foto, cláudio humberto e eu fomos

jantar... eu peguei o guardanapo e

desenhei. Na hora, percebi que os

dois o´s e os dois l´s do nome collor

poderiam me dar a configuração do

congresso Nacional. e qualquer pes-

soa, mesmo não alfabetizada, mais

humilde e mais simples, consegue

enxergar no congresso, o símbolo

máximo de poder no brasil.

eu desenhei uma tipologia que

parecia com helvetica italic... e

era italic porque collor era jovem,

dava uma idéia de dinamismo, de

modernidade. lembro que na festa

de entrega de um prêmio colunistas,

em 1989, um ano antes, Nizan me

perguntou: “ô João, porque você

não diz ao brasil inteiro que foi você

que criou os dois eles ( ll ) de

collor?”. eu ri...

duda dizia que essa marca mu-

4 – Marca para Fernando Collor

4

Page 53: Revista Maria

Maria 53

médico enterra seus erros, o mau advogado põe

na cadeia, e o mau publicitário põe na rua. então

eu sempre achei que a gente tem obrigação de

contribuir com a sociedade. isso é verdadeiro, não

é conversa mole não, a gente pratica isso todos os

dias. eu lembro que o primeiro portfólio que a Maria

fez tinha uma citação de huntington: “Faremos aqui

bons navios, com lucro, se possível, com prejuízo

se preciso, mas sempre bons navios”.

Como se dá esta preocupação da Maria com as

questões sociais?

JS - me chocava muito quando eu só via na bahia,

alguns anos atrás, outdoors de faculdades com modelos

loiros, de olhos azuis, com laptop nos alpes, parecendo

que estávamos na suíça. eu achava, e continuo achan-

do, uma irresponsabilidade dos profissionais de comuni-

A gente precisa ter sempre a capacidade de se emocionar

© FOTO ARQuIVO REVISTA VEJA

dou o marketing político nacional,

porque foi a primeira vez que um

candidato teve uma marca tratada

como grife.

O que é a Propaganda

para você?

JS - ser publicitário pra mim é

a mesma coisa de ser engenhei-

ro, de ser arquiteto, advogado...

é profissional como em qualquer

outra área.

a gente precisa ter sempre a

capacidade de se emocionar, de se

envolver com questões sociais e de

colocar a comunicação a serviço

da sociedade. você vai vender o

produto, mas vai vender uma ação,

vai vender um comportamento, vai

vender uma melhoria. isso se aplica

na propaganda para uma calcinha,

um automóvel, ou um político.

tem um amigo meu que dizia

o seguinte: - Olha João, o mau

Collor | marca difundida nos comitês...

...e usada de variadas formas

Page 54: Revista Maria

54 Maria

cação que realizam materiais como esse, como também

dos responsáveis por essas instituições de ensino.....

imagine na bahia, a população com mais de 70% de

negros, vendo branco, de olho azul, em tudo quanto é

outdoor na cidade, como se aqui fosse o paraná ou a

suíça? eu acho isso pouco inteligente. o empresário

que faz isso, porque ele tem que entender que o seu

público-alvo não é aquele. sempre achei que, o cara que

é negro, ele vai ao Shopping, ele consome, ele compra

carro, ele compra celular. isso é óbvio, ele consome, é

ele quem faz a economia girar nessa terra, nessa cidade.

Quer dizer, negão da bahia não estuda, não pode fazer

pós-graduação? é um atraso, eu sinto que a Maria veio

pra poder mostrar esses diferenciais no mercado.

Me chocava muito

quando eu só via na Bahia outdoors

com modelos

loiros, de olhos azuis

Cite um cliente atual

que merece destaque.

JS - todos merecem e têm toda

a atenção da maria. mas temos

uma satisfação especial em aten-

der o sebrae. atender o sebrae da

bahia sempre foi um sonho nosso,

todos os superintendentes que

passaram por lá, sempre me diziam

que adorariam trabalhar com a

Maria, mas nunca acontecia. sérgio

gomes, mizael aguilar, lomanto,

e eu sempre dizia para eles: “é um

absurdo o sebrae fazer licitação

para escolher a agência que vai cui-

dar de sua comunicação e o edital

sempre impedir a participação das

pequenas empresas, e dizia a eles

que isso era no, mínimo, contraditó-

rio, por falta de alinhamento com a

missão do sebrae. o sebrae era um

cliente que muito nos fascinava pela

sua capilaridade e papel relevante

no desenvolvimento das micro e

5 – Anúncio para NPGA/UFBA; 6 – Outdoor para Fórum de Entidades Negras da Bahia

5

6

Page 55: Revista Maria

Maria 55

ontem e a maria sempre está junto com o cliente. hoje,

o nosso sonho é poder ampliar esta nossa experiência e

poder contribuir com o sebrae nacional.

A Maria está entrando em dois mercados altamen-

te competitivos e, ao mesmo tempo, saturados

pela concorrência, que é Brasília e São Paulo. O

que você pensa em lançar mão para a agência se

firmar nesses ambientes?

JS - foram muitos convites pra sair da bahia, e eu

achava que era possível permanecer aqui e trabalhar

para o mundo. e continuo achando e defendendo isso.

óbvio que a gente começou a perceber a necessidade

por conta de estarmos sendo muito solicitados, tanto

em brasília, quanto em são paulo, de abrir um escri-

tório em cada uma dessas praças e passar a conviver

um pouco mais com essas culturas locais – da mesma

forma que podemos fazer com outras praças do país.

pequenas empresas que, na nossa

opinião, precisam de estímulos e es-

tratégias de comunicação arrojadas

neste mercado tão competitivo.

Quando veio a licitação de 2007,

a maria já estava apta. Nos prepa-

ramos, investimos em pesquisas,

levantamentos de dados e cases

em todo o estado e conquistamos a

conta do sebrae bahia, onde atua-

mos com muito afinco e dedicação

por termos uma identificação bas-

tante elevada e conhecimento da

missão do sebrae, além, é claro, da

agilidade e experiência que o atual

superintendente, edival passos, e

sua estrutura de comunicação pre-

cisam. às vezes as coisas são para

7 – Anúncio para Sebrae - Bahia

7

Page 56: Revista Maria

56 Maria

embora sejam os maiores mercados do país, eu não

acho que brasília e são paulo sejam mercados satu-

rados – ainda mais se considerarmos que, segundo a

the economist, o brasil vai ser uma das cinco maiores

economias do mundo em poucas décadas. estamos

levando para brasília e são paulo uma coisa que não

existe, que é uma nova visão de se fazer comunicação.

Quando fizemos a maria é porque não acreditá-

vamos no formato das agências de propaganda que

existiam na época. e continuo hoje afirmando, que

o formato das agências de propaganda tem que se

modificar. esses formatos tradicionais estão falidos. o

cliente precisa é de estratégia, bom conceito e capaci-

dade operacional para produzir o que for feito. e você

pode ter tudo isso sem ter estruturas gigantescas que

onerem os seus custos. acho que essa é a tendência

da comunicação no mundo.

se você é um grande anunciante, um gerente de

marca, se você é uma marca

nacional, eu proponho um desafio:

vamos reduzir entre 10% a 20% do

seu investimento em propaganda

durante um determinado período.

eu lhe garanto um acréscimo nos

seus resultados de venda e que, de-

pois de um ano ou dois de trabalho,

poderemos fazer uma pesquisa que

comprovarar o valor agregado a sua

marca. vender mais, com menor

custo, e ter a sua marca no coração

do consumidor é o desafio.

Por que Brasília e São Paulo?

JS - a intenção é disponibilizar

para todo o brasil, através destes

escritórios, a nossa experiência de

30 anos de atividade e o que a ma-

ria vem fazendo há 15 anos. Quan-

do a maria nasceu, a idéia era criar

três marias: na bahia, em são paulo

e em Nova York. mas quis o destino

que para chegar lá começássemos

por brasília. estamos identificando

parcerias para levar a maria para

onde possamos contribuir.

O que você espera desses dois

mercados?

JS - gostaria de ter como desa-

fio um grande anunciante nacional,

qualquer um, de qualquer área,

seja de varejo, produto ou serviço.

anote aí: depois que eles conhe-

cerem a maria vão crescer com

investimento menor.

Se tivesse que fazer um anúncio

para a Maria, em Brasília ou São

Paulo, qual seria o título?

JS - procura-se empresário que

queira transformar sua marca/produto

ou serviço, em grande sucesso de

vendas, investindo menos do que in-

veste hoje. ou: Quem confia na maria

tem mais chance de sucesso.

o formato das

agências de propaganda tem que se

modificar. Esses

formatos tradicionais

estão falidos

8 – Marcas para Torneio Nacional de Snooker, Promoexport, Shopping Iguatemi de Salvador, Bloco Ca-maleão, Prefeitura de Salvador, Escola Contemporânea de Dança, Amazonas Shopping Center, Minas

Shopping, Restaurante Casa da Dinha, Restaurante Alaíde do Feijão, Hospital Oftalmológico DayHORC.

8

Page 57: Revista Maria

Maria 57

Mas anunciantes nacionais só

querem grandes agências...

JS - os anunciantes sabem

que no mercado competitivo

como o atual, é preciso ter um

bom produto com o melhor pre-

ço, senão perde para a concor-

rência. Já há algum tempo, os

anunciantes vêm se recusando

a pagar a conta que as grandes

agências sempre tiveram, com

estruturas gigantescas e um mon-

te de executivos que na maioria

das vezes não acrescentarão

nada à sua comunicação, além

do “show off”.

a saída é ter uma empresa com

experiência, tesão e que de fato

trabalhe para o negócio do cliente. a

equação é simples: vende-se mais;

paga-se menos e tem a sua marca

melhor identificada com o seu pú-

blico alvo. o trabalho da arizona no

mercado de são paulo, já indica que

o modelo de agência atual está com

seus dias contados.

Isso vale para a comunicação

governamental?

JS - principalmente. até porque

acreditamos que a comunicação

é um instrumento transformador

Destaque | João recebe o prêmio Profissionais do Ano Premiação | refrigerante Fricote no Top de Marketing

e que pode e deve ser tratado com responsabilidade

pelos publicitários, empresários e gestores públicos.

tenho viajado bastante pelo país e o que tenho

percebido é que a maioria dos gestores utiliza muito

mal a comunicação porque esquece que o objeti-

vo principal é informar a população dos serviços

que ela dispõe. um novo hospital, por exemplo,

quando inaugurado, deveria ter como prioridade

informar à população sobre o serviço, onde fica,

quantos leitos, procedimentos executados etc...

isso é comunicação social, mas não é o que se vê

por aí. especialmente aqui na bahia onde o governo

gasta em publicidade para dizer apenas que fez x

hospitais. Qual o ganho que a população tem desta

informação? isso me parece mais um desserviço do

que comunicação social.

do mesmo jeito, quando se fala do patrimônio

público aqui no brasil, tenta-se transferir para o cida-

dão o estado depredado dos equipamentos. repare:

quando alguém diz que o baiano faz xixi na porta de

um prédio, no pelourinho, os governantes vêm logo

com um: “Povo mal educado, sem educação, etc...”

quando o correto seria dizer o seguinte: precisamos

informar a população da importância deste patrimônio

histórico, origem, data, quem morou, o que aconteceu

naquele local, ou seja, precisa promover a educação

patrimonial... tenho certeza que depois disso, a popu-

lação terá consciência que se trata de verdadeiro te-

souro de nossa história e ninguém fará xixi na porta da

casa de rui barbosa. e isso vale para todo o brasil.

o governante que sacar isso estará prestando um ver-

dadeiro serviço à população através da comunicação

A saída é ter empresas com talento, tesão e que de fato trabalhe para o negócio do cliente.

Page 58: Revista Maria

58 Maria

e, com certeza, vai entrar para a história. o governo

federal tem avançado muito neste sentido.

Mais isso não foi sempre assim no País inteiro...

JS - repare, nós estamos em 2010, início do século

XXi , as necessidades e exigências da sociedade mo-

derna também evoluem, antigas práticas não podem

servir de desculpa para os dias atuais. antigamente

se trocava tijolo e dentadura por voto e não acontecia

nada. hoje já acontece. antes uma carta levava até

quinze, vinte dias para chegar ao seu destino; hoje,

com a internet, pode chegar no mesmo instante. por

isso é importante pensar o novo.

São centenas de prêmios conquistados ao longo

da sua vida profissional, dentre regionais, nacio-

nais, internacionais. Isso lhe deixa envaidecido?

JS - Quem não gosta de prêmios? todo mundo gosta

de prêmios, só que a premiação tem que ser o reconheci-

mento por algo que você fez e que alcançou seu objetivo

prioritário que é fazer a máquina registradora do cliente

tilintar, como dizia david ogilvy. agora, um dos títulos mais

importantes com certeza, foi a medalha zumbi dos palma-

res, entregue pela câmara municipal de salvador.

Qual a fórmula para criar sempre

marcas e slogans que fazem tan-

to sucesso e ficam para sempre?

JS - experiência, tesão e trabalho.

Já chegou a Mil Marcas?

JS - faltam poucas...(risos).

Quando chegamos a 500 há dez

anos, ficamos sabendo que este

número poderia ser recorde no

mundo, realizado por uma única

pessoa. aí fizemos contato com

Marco | medalha Zumbi dos Palmares reconhece trabalho

Especialmente aqui na

Bahia onde o governo gasta

em publicidade para dizer

apenas que fez x

hospitais. Qual o ganho que a população

tem desta informação?

Page 59: Revista Maria

o guiness book e eles alegaram

uma série de dificuldades para

aceitar a categoria. uma delas na

época era como catalogar para

proceder a avaliação. agora,

estamos fazendo contato nova-

mente para registrar a milésima

marca, o que deve acontecer nos

próximos meses.

E a Capital Branding, o que faz?

JS - a capital branding é um

serviço de consultoria que nasceu

da evolução natural do negócio

da comunicação, onde a necessi-

dade de agregar valor e inteligên-

cia estratégica às marcas, vem se

consolidando como fundamental

para as decisões de comuni-

cação, porque aumentam as

chances de sucesso. e o melhor

é que o cliente pode contratar os

serviços de consultoria da capital

branding, independente de ter

sua própria agência.

E o futuro?

JS - como está se desenhando

que o brasil será uma grande po-

tência mundial nos próximos anos,

acredito que o papel da comunica-

ção que valorize a criação estraté-

gica será importantíssimo, porque

ninguém vai querer brincar de jogar

dinheiro pela janela. a competi-

tividade será cada vez maior e a

necessidade de redução de custos

também. para enfrentar estes de-

safios, vamos precisar de marcas

fortes, produtos e serviços de

qualidade e de profissionais prepa-

rados para atuar com experiência,

competência e responsabilidade.

a minha maior alegria será poder

contribuir com este processo.

Page 60: Revista Maria

PraIa da redonda © almiR bindilatti - [email protected]

Page 61: Revista Maria

PraIa da redonda © almiR bindilatti - [email protected]

Page 62: Revista Maria

62 Maria

caretas, pierrôs e tantas outras fanta-

sias de um passado um tanto remo-

to, ganham vida quando chega a folia

em maragojipe. ao invés dos trios

elétricos e dos gigantescos blocos

da capital baiana -, a festa nessa cidade, a 133 quilô-

metros de salvador, mistura história, alegria e o colorido

dos mascarados, que seduzem os turistas enchendo de

orgulho os moradores. Único do recôncavo baiano reali-

zado na época oficial, o carnaval de maragojipe passou a

A outra cara do Carnaval da BahiaEm Maragojipe, caretas, pierrôs e colombinas

provam que Veneza também pode ser aqui!

ser patrimônio imaterial da bahia em fevereiro de 2009.

o tombamento como bem intangível foi determinado

pelo governo do estado, após estudos feitos pelo ins-

tituto do patrimônio artístico e cultural da bahia (ipac),

autarquia da secretaria de cultura (secult). as pesquisas

desenvolvidas levaram ao reconhecimento das caracte-

rísticas tradicionais da festa, cultivadas até hoje. a folia

do município, onde residem 43 mil pessoas, é inspirada

no carnaval europeu do século XiX. e também preserva

costumes e cantos afro-descendentes, herdados dos

Patrimônio

Page 63: Revista Maria

Nas épocas da folia carnavalesca – e também

do São João e da Festa de São Bartolomeu

- o comércio triplica as vendas, beneficiando

outros setores e gerando trabalho temporário.

Erialdo Pereira dos Santos, conhecido por Lico,

52 anos, aproveita bem a oportunidade. Ele

desenha e produz fantasias conforme o desejo

do cliente. Também possibilita alternativa de

renda para quatro costureiras auxiliares. Já a

irmã Eronildes Santos da Cruz, a Ninio, 55, e a

sobrinha Milena Marcela, 29, se empenham na

confecção de máscaras.

Um mês antes do Carnaval, Lico já recebe

encomendas. E temas que povoam a

imaginação dos foliões ganham forma. São

noivas, odaliscas e personagens de sucesso

no mundo das telenovelas. As fantasias simples

(mortalhas e pierrôs) saem por R$ 15,00 cada.

As mais trabalhadas custam em média,

R$ 250,00. Na Rua General Pedra, 22, endereço

de moradia e trabalho, ele faz cerca de 60

fantasias por ano. Nos outros meses, borda

tecidos e tapetes, confeita bolos, decora

ambientes para festas e corta cabelos.

Ninio mora na Rua J. J. Calazans, 12. Em casa

se dedica à produção de máscaras, que expõe

na garagem ao lado quando a festa se aproxima.

Qualquer peça em tecido ou malha de algodão

é vendida por R$ 10,00. Careta tradicional,

palhaço e nega maluca são as preferidas. Ela

confecciona geralmente 100 máscaras. Agora

planeja criar caretas no formato de chaveirinho,

que podem se transformar em lembrança da

festa de Maragojipe.

Folia gera trabalho

A mistura de história, alegria e o colorido dos mascarados seduzem os turistas, enchendo de orgulho os moradores.

©

© JR. MAJOR

© JR. MAJOR

escravos que habitaram a região.

com 450 Km² de extensão, maragojipe recebe na

época da folia cerca de 30 mil pessoas, segundo o pre-

feito sílvio santana, 39 anos. como a oferta de pousa-

das na sede não atende a todos que chegam buscando

essa festa original, animada e tranquila, os turistas são

acolhidos em casas de parentes e amigos. outras op-

ções são os leitos da rede de hospedagem nos distritos

- Nagé, coqueiro, guaí, são roque e guapira -, além de

são félix e cachoeira, cidades próximas.

©

Page 64: Revista Maria

64 Maria

Praças e avenidas são ornamentadas e a

programação do Carnaval inclui concursos de

fantasias e de marchinhas. O principal cenário

da festa é a Praça Antônio Rebouças, onde as

atrações locais revivem antigos carnavais ou axé

music dos anos 80. Das filarmônicas Terpsícore

Popular e Dois de Julho nascem artistas que

depois formam bandas. Os grupos musicais

embalam mascarados, travestidos, pierrôs, ou

mesmo quem prefere sair de cara limpa, mas

entregue à animação.

Raimundo Carneiro Carvalho, o “Patrão”, 58

anos, que atualmente trabalha como motorista,

todo ano marca presença, fantasiado ou não. O

gosto pela festa ele herdou do pai. “Se o Carnaval

tivesse acabado por aqui, Maragojipe seria uma

cidade morta”, observa o folião. Ele sai, ao menos

um dia, vestido de “Zorro”. O domingo é o dia

mais animado. Tanto que às 8h tem mascarado

na rua fazendo a alegria até de crianças no colo.

Há 14 anos, todo sábado, o prefeito participa

de um grupo de “baianas”. Na segunda-feira, o

traje é o de mulher grávida. Teve época em que,

inclusive, simulava um parto

em plena festa. Da barriga

onde portava uma grande

bola, “nascia” o anão Marivaldo

Barbosa, o Samuca, 24 anos. Ao

ficar adulto, Samuca desistiu do papel

de bebê. Em Maragojipe nem todos

pagam pela fantasia. Muitos preferem dar

asas à imaginação e improvisar.

© JR. MAJOR

Travestidos, palhaços, pierrôs

© JR. MAJOR

© JR. MAJOR

SAIBA CoMo CHEgAr A MArAgogIPE

Alegria | na praça Antônio Rebouças, todos os mascarados se encontram

Page 65: Revista Maria

Maria 65

O São João, no ritmo pé de

serra, é também animado

em Maragojipe. Até hoje

os moradores cultivam

o costume de receber

visitantes para saborearem

licores e quitutes típicos

da ocasião. O Forró

do Cais, que acontece

próximo do dia 24, se

destaca na programação.

As festividades são

abertas reverenciando

Santo Antônio, no dia 13,

e só terminam na data

consagrada a São Pedro,

29 de junho.

Agosto é reservado

para São Bartolomeu,

o padroeiro da cidade.

A saída do Bando

Anunciador, no primeiro

final de semana, marca

o início da festa. Depois,

as atenções se voltam

para o ritual religioso da

lavagem da igreja; lavagem

das escadarias do templo

– lembrando a Festa do

Bonfim, em Salvador;

missas e procissão. No

último sábado do mês, a

Regata Aratu/ Maragojipe

aumenta a presença

de turistas na cidade.

Os visitantes de origens

diversas chegam de carro,

ônibus e embarcações.

Forró e São Bartolomeu

Participação | festa atraí público de todas as partes, inclusive do exterior

© JR. MAJOR

Page 66: Revista Maria

ladeIra da ConCeIção da PraIa © david glat - www.davidglat.com.bR/PRojetos

Page 67: Revista Maria

ladeIra da ConCeIção da PraIa © david glat - www.davidglat.com.bR/PRojetos

Page 68: Revista Maria

68 Maria

uma constatação empíri-

ca no dia-a-dia do con-

tato com os angolanos

agora passou a ter ca-

ráter científico: o país que eles mais

gostam – depois do seu, é claro - é o

brasil. de acordo com pesquisa reali-

zada pela empresa audit, nosso país

mora na muxima dos moradores da

capital, luanda, especialmente dos

mais jovens. “muxima” significa co-

ração em kimbundo, uma das sete

línguas nacionais que são faladas

em várias regiões (subdivididas em

26 dialetos), paralelamente ao portu-

guês, a língua oficial.

Na geografia do coração dos luan-

denses, o brasil aparece com 17,5%,

seguido de portugal (12,9%), estados

unidos (9,4%), inglaterra (6,8%), ho-

landa (5,5%) e áfrica do sul (5,1%),

de acordo com a pesquisa audit pu-

blicada pelo Jornal de angola.

os homens hierarquizam suas pre-

ferências de modo diferente das mu-

lheres. estas têm o brasil bem mais

perto do coração. entre os homens,

brasil empata com portugal em ter-

mos sentimentais. pela sondagem, a

preferência pelo brasil independe de

nível de escolaridade e condições so-

cioeconômicas. seja rico ou pobre, le-

trado ou não, o verde-amarelo já con-

quistou o coração dos angolanos.

de resto, pode-se dizer que há

um sentimento recíproco: primeiro

estado a reconhecer a independên-

cia de angola. o brasil é um dos

maiores investidores em terras an-

golanas e o único país a instituir a

obrigatoriedade do ensino de histó-

ria da áfrica nos currículos da edu-

cação básica.

ao assumir o governo em 2003,

o presidente luiz inácio lula da silva

ressaltou que o estreitamento das re-

lações com a áfrica constituia para o

brasil uma obrigação política, social,

moral e histórica. e, efetivamente, ele

tem demonstrado que esta tem sido

uma das prioridades da política ex-

terna do seu governo.

o intercâmbio comercial de ango-

la com o brasil intensificou-se tanto

nesta década que, mesmo com uma

queda drástica em função da crise,

a corrente de comércio entre os dois

países no ano passado, foi o terceiro

maior da história, atingindo 1 bilhão

471 milhões de dólares - ficou abai-

xo apenas do valor alcançado nos

dois anos anteriores.

em 2009, as importações de pro-

dutos brasileiros totalizaram us$ 1

bilhão 300 milhões, enquanto as

exportações de produtos angolanos

para o brasil foram de 138 milhões,

com queda de um terço nas impor-

brasil na muxima de angola

tações e de 90 % nas exportações.

de qualquer forma, a mudança do

intercâmbio comercial é significati-

va. lembro que, em 2000, quando

cheguei a luanda para fazer desta

terra minha segunda pátria, o brasil

exportava apenas us$ 106 milhões

por ano para angola. No mesmo

ano, o brasil importou de angola

us$ 31 milhões.

Não obstante a crise econômica

internacional, os recursos da linha de

crédito aberta pelo brasil em favor

de angola foram ampliados em us$

500 milhões, há poucos meses. os

recursos dessa linha são utilizados

no financiamento de projetos esco-

lhidos pelo governo angolano nas

áreas de infra-estrutura física e so-

cial. Nos últimos anos, esse meca-

nismo soma quase us$ 3,5 bilhões

de créditos.

essa linha de crédito constitui

o principal instrumento para a am-

pliação e adensamento constantes

das relações entre os dois países.

porém, além dessa facilidade, os

exportadores brasileiros de bens e

serviços para angola e, consequen-

temente, suas contrapartes angola-

nas podem ter acesso a outros pro-

gramas como o proex, o seguro de

crédito às exportações e o fundo

de garantia à exportação.

Pensar o novo!

Page 69: Revista Maria

Maria 69

mas é bom destacar que, as-

sim como a presença brasileira

tem aumentado cada vez mais

em investimentos em angola,

também tem havido crescimen-

to significativo dos investimen-

tos angolanos no brasil, mesmo

sendo num patamar bem inferior,

evidentemente. o banco central

do brasil registra que, em 2007,

cerca de usd 13 milhões provi-

nham de angola. No ano seguin-

te, já praticamente quadruplicou,

atingindo usd 50 milhões.

entretanto, entendo que ainda

há um bom espaço aberto para

a ampliação das exportações de

serviços do brasil para angola,

bem como para exportações, no

futuro, no sentido inverso. afinal,

em termos de serviços, brasil e

angola são países que têm, ain-

da, uma balança deficitária. Nos

últimos anos, o saldo líquido de

serviços de angola tem sido ne-

gativo em cerca de usd 12 bi-

lhões, enquanto no brasil, foi de

us$ 9 bilhões.

raimunDo lima,

jornAlistA e presiDente DA

AsseMbleiA gerAl DA AebrAn – Asso-

CiAção Dos eMpresários e exeCutivos

brAsileiros eM AngolA

Page 70: Revista Maria

70 Maria

© HEnRIQuE AndRAdE

Cultura

Page 71: Revista Maria

Vida ao cinema baianoNovos longas marcam atual ciclo, trazendo esperança de renascimento

o cinema baiano experimentou vários

ciclos desde que o primeiro curta-

metragem feito no estado foi exibido

em outubro de 1910. o marco

deste século de história é regatas

da bahia, assinado por diomedes

gramacho e José dias da costa. entre períodos de

efervescência e outros de desânimo, a produção teve

momentos áureos – a exemplo da fase imortalizada por

glauber rocha, na década de 60 -, e outros de crise,

como a registrada no início dos anos 90.

a sétima arte na bahia com-

pleta 100 anos vivenciando novo

clico de expansão. além dos fil-

mes Jardim das folhas sagradas,

do cineasta pola ribeiro, e o ho-

mem que Não dormia, de edgard

Navarro, outros longas nasceram

em 2009 e 2010. escutando tom

zé (de Jorge alfredo guimarães),

estranhos (de paulo alcântara),

trampolim do forte, (de João

rodrigo mattos) e os filhos de

João (de henrique dantas) são

alguns títulos.

Page 72: Revista Maria

72 Maria

© dIVuLGAÇãO

Jardim das folhas sagradas, pri-

meiro longa metragem de pola, e o

homem que Não dormia, segundo

longa da carreira de edgard, viajam

no gênero ficção. ambos enveredam

pelo mundo místico, mas abordam

temas distintos. Jardim... fica pronto

em setembro. o diretor se articula

para lançar o filme em 5 de novem-

bro, dia Nacional da cultura. No mo-

mento, o filme passa pelos processos

de mixagem de som, cópia, estraté-

gia de comunicação e distribuição.

após cerca de 40 filmes em su-

per-8, produzir curtas em 35 mm e

realizar o meia a lenda do pai iná-

cio, pola quer levar seu primeiro longa

a salas do brasil e até fora do país.

porém a ideia é fazer isso, gradual-

mente, começando por salvador. de

acordo com ele, quando se fala de

produções mais independentes, um

desafio é driblar os obstáculos nos

sistemas de comunicação, distribui-

ção e exibição.

Visita ao jardima estratégia de divulgação traçada

para o filme inclui o projeto visita ao

Jardim. o objetivo é identificar parcela

da população interessada em ver o fil-

me, mas sem costume de ir ao cinema.

em duas reuniões com representantes

de terreiros, organizações do movimen-

to negro, blocos afro e de samba, além

de afoxés, foi possível saber que 15

mil pessoas desejavam assistir Jardim

das folhas sagradas. “vamos viabilizar

isso”, adianta o cineasta.

o longa - com investimento de

r$ 3 milhões - aborda religiosidade,

preconceito e ecologia. “pedi licença

para trazer isso à tona”, afirma o di-

retor. “Não os segredos do candom-

blé, mas a contribuição da religião a

esse mundo que busca sustentabili-

dade e convivência harmoniosa entre

as pessoas”. o ponto principal das

locações foi o terreiro ilê axé opô

aganjú, em lauro de freitas. ce-

nas também aconteceram no forte

do barbalho (centro da produção),

curuzu, comércio, entre outros lu-

gares de salvador.

o ator antônio godí interpreta

o principal personagem, “miguel

bonfim”, negro baiano que tem a

vida “virada pelo avesso”, confor-

me a sinopse, ao revelar o desejo

de abrir um terreiro de candomblé.

com os espaços disponíveis cada

vez mais raros, ele procura um lugar

na periferia. afastado da tradição e

questionando fundamentos como o

sacrifício de animais, “bonfim” cria

um terreiro moderno e longe das ca-

racterísticas tradicionais. o enredo

se desenvolve ao som de músicas

de gerônimo e ildásio tavares, sob

direção de pedro augusto.

Ação | Pola e Antônio Mendes (diretor de fotografia) em processo de filmagem

Lançamento | cartaz criado pela Maria

Page 73: Revista Maria

Barão desencarnado

© dIVuLGAÇãO

O desejo e esforço de Edgard

Navarro é fazer o lançamento de O

Homem que Não Dormia até o final

deste ano. Em paralelo à busca de

recursos para fechar o orçamento,

a equipe providencia edição de

imagem e som, trilha sonora,

liberação do direito autoral de

músicas não originais e animação.

A primeira versão do roteiro de O

Homem que Não Dormia data de

1978. Nesses 32 anos o processo

de criação evoluiu numa sincronia

com as descobertas interiores

do cineasta.

Diretor de Eu me Lembro – sua

estreia em longa - premiado sete

vezes, no Festival de Brasília de

2005, Edgard recorda experiências

gratificantes na realização do filme,

onde também atua. Conhecer de

perto Luiz Paulino dos Santos,

contemporâneo de Glauber Rocha,

foi um desses momentos especiais.

Os dois interpretam o mesmo

personagem. Edgard faz o “Barão”,

e Paulino o carma dele.

O ator, como elogia Edgard,

proporcionou grande harmonia ao

filme e ao elenco. A trilha sonora

leva a assinatura de Tuzé de Abreu

e André T. Rodado em Igatu, no

município de Andaraí (Chapada

Diamantina), o longa tem orçamento

de R$ 3,6 milhões. Os patrocínios

já obtidos somam pouco mais de R$

2,2 milhões. O diretor espera que o

filme conquiste o público, “mas será

muito gratificante se cumprir essa

promessa, tão antiga, de que vou

encontrar o meu eixo”.

O Homem que Não Dormia

é a parábola, de um barão

desencarnado, simbolizando a

decadência de um coronelismo

escravagista. Numa noite cinco

pessoas, de uma cidadezinha do

interior, têm o mesmo pesadelo

envolvendo um homem sinistro e um

tesouro enterrado. Com a chegada

de um misterioso peregrino, muda a

rotina do vilarejo e os personagens

são lançados em acontecimentos

insólitos. Assim cada um é trazido

à luz e se liberta do jugo das

hipocrisias, medos e doenças.

Lançamento | cartaz criado pela Maria

Page 74: Revista Maria

Casos da Maria

aos 122 anos, o abrigo

é uma das mais antigas

casas de recolhimento

de idosos do país e fun-

ciona num belo conjunto de cinco

casarões coloniais do século XiX,

inspirado no palácio de versailles e

tombado pelo iphaN.

em 2006, veio o grito de so-

corro. o abrigo d. pedro ii, em sal-

vador, estava abandonado e sendo

solapado pelas ondas do mar, que

corroíam a sua estrutura física.

em estado precário, seis das

oito alas do estabelecimento ha-

viam sido interditadas pela defesa

civil. o mofo e os cupins dividiam

o espaço do abrigo com os seus

114 ocupantes, todos com mais

de 60 anos.

a maria reverberou o pedido de

ajuda do abrigo d. pedro ii, transfor-

mando-o numa campanha publicitária.

além de sensibilizar a popula-

ção para as condições precárias

do abrigo, a campanha idealiza-

da pela maria foca na valorização

das pessoas mais velhas enquanto

cia. a campanha foi formulada por

amaral, em conjunto com João sil-

va e contando com a participação

amiga de José armando Nogueira

e maria gerusa.

Nogueira e gerusa não faziam

parte do quadro da maria, mas a

abrigo dom pedro iiO Abrigo que se recusou a morrer de velho.

detentores da experiência e guias

das gerações seguintes.

“as culturas orientais e africa-

na nos ensinam a estimar a ances-

tralidade. daí o conceito ‘respeito

é bom e eu gosto’”, conta vicente

amaral, diretor de criação da agên-

Outdoor

74 Maria

Page 75: Revista Maria

“A iniciativa da Maria em ajudar o Abrigo foi fundamental. Foi a partir dessa iniciativa que o Abrigo teve visibilidade na mídia e assim as contribuições puderam chegar até nós”.

Ana Valéria Souza Santos –

ex-Gerente do Abrigo D. Pedro II.

nobreza da causa determinou o

seu envolvimento na empreitada.

em pouco tempo, a iniciativa

obteve uma resposta à altura do

desafio: a mídia local aceitou vei-

cular gratuitamente as peças pro-

duzidas pela maria.

assim que foi para a rua, a

campanha provocou uma gran-

de mobilização social, envolven-

do desde políticos, até empresas

como construtoras, que se ofere-

ceram a reformar setores da casa

de recolhimento.

hoje, o abrigo d. pedro ii ain-

da enfrenta muitas dificuldades.

deixou para trás, no entanto, a

tristeza da invisibilidade.

Anúncio

Anúncio

Maria 75

Page 76: Revista Maria

76 Maria

Maria: Nos últimos anos, ve-

mos constantemente o Brasil

ocupar um papel de liderança

nos Fóruns internacionais de

cultura. A que o senhor atri-

bui esse protagonismo?

Juca Ferreira - isso reflete, em primeiro lugar, o

crescimento de importância do brasil. o brasil em

poucos anos vai se tornar a quinta economia do mun-

do. a sua importância cultural que já é histórica, a

“Precisamos nos preparar para a grandeza”Desde 2008 à frente do Ministério

da Cultura do Brasil, o sociólogo

Juca Ferreira fala à revista

Maria sobre a liderança da pasta

da cultura no plano internacional.

Nesta entrevista, o ministro da

Cultura que sucedeu Gilberto

Gil explica os motivos dessa

liderança, comenta a imagem que

os outros países têm do Brasil,

as prioridades da cooperação

cultural brasileira e os laços que

vêm sendo construídos, em

especial com a América Latina

e a África. “Esses processos

têm que ser voluntários e

baseados na confiança mútua

e na generosidade, e não na

mesquinharia”, opina.

© RIcARdO PRAdO

Entrevista

Page 77: Revista Maria

Maria 77

música brasileira já é reconhecida no mundo inteiro,

várias práticas culturais brasileiras são reconhecidas

no mundo inteiro como de qualidade.

além disso, e muito importante, temos a presen-

ça do presidente lula no cenário internacional. é um

país que vem, através do seu líder, verbalizando a

necessidade do respeito de negar as práticas preda-

tórias e bélicas.

então o mundo tem um interesse enorme sobre o

brasil, isso é comprovado por qualquer pessoa que

ultrapasse a fronteira do país. às vezes, aqui dentro

– talvez por esse complexo de vira-lata que Nelson

rodrigues falava – nós não temos consciência da im-

portância internacional do brasil.

regional nem se fala. Na america latina, o afeto,

o carinho, a expectativa que o brasil estabeleça uma

relação positiva com os países vizinhos e admiração

pelo brasil é enorme. Nos países africanos também

é enorme. No âmbito da união africana, o brasil foi

definido como um país africano fora do continente.

Numa reunião de ministros da cultura dos países

africanos e da diáspora negra do mundo, o presidente

do senegal me chamou pra ter uma audiência com

ele. e ele me disse o seguinte: “o brasil precisa ocu-

par o seu lugar no mundo. o brasil é muito importan-

te para o hemisfério sul, particularmente para áfrica

- vocês são parte da áfrica. Nós, africanos, quando

olhamos para o brasil, é como se olhássemos pra um

espelho, e a gente gosta da imagem que a gente vê.”.

eu fiquei comovido na hora que o presidente disse

isso. ele ainda recomendou: “vocês precisam ser me-

nos tímidos”.

a bola está quicando pro brasil. mas muitas vezes

eu percebo no país um espírito ainda muito voltado

pra dentro. ou então percebo em alguns empresários

e líderes políticos uma idéia de repetir essa prática

predatória dos grandes países...

Maria: Quer dizer, um império regional, né? O

desejo de ser império regional...

JF - Quer dizer, se tem divergência com a bo-

lívia, aventam logo a possibil idade de invadir a

bolívia; se tem divergência com a venezuela, a

mesma coisa.

Nós sempre fomos um pouco deslumbrados, antes

com a frança e agora com os eua. há uma certa

subserviência. é bom não esquecer a experiência da

alca, como a grande imprensa brasileira quis obrigar

o governo brasileiro a entrar na alca. e é só olhar

agora a consequência que isso teve sobre a econo-

mia do méxico. o méxico está absolutamente subal-

ternizado pelos eua, absolutamente dependente da

economia americana, perdeu parte da sua autonomia

política em função disso.

enquanto isso o brasil cresce, exatamente porque

o presidente lula teve a coragem de liderar o brasil

para não entrar na alca e constituir uma relação di-

versificada com o mundo inteiro. Quando nós come-

çamos esse processo, no início do governo lula, a

grande imprensa brasileira ridicularizava o presidente

por estar constituindo processos comerciais com a

america latina, com a áfrica, com a ásia, dizendo:

“o que é que o presidente quer, será que ele não co-

nhece a economia mundial?”, quando na verdade...

“os interesses culturais do Brasil

ultrapassam as fronteiras brasileiras”.

Latinos | expectativa de atuação positiva do Brasil

Page 78: Revista Maria

78 Maria

Maria: Ele conhecia mais do que a imprensa.

JF - essa diversificação foi o que possibilitou que

de fato o brasil tenha uma estabilidade. porque a crise

dos ricos afeta o brasil, mas afeta menos porque a

gente tem uma diversidade de relações hoje constitu-

ídas nos últimos oito anos.

isso associado a um processo de constituição de

um mercado interno com a inclusão de quase 40 mi-

lhões de brasileiros na economia, na formação dessa

nova classe média, que também é outro paradigma

que o presidente lula quebrou: que desenvolvimento

nada tem a ver com justiça social.

isso não é nem marx, isso é adam smith, é do te-

órico do capitalismo, que dizia que o mercado precisa

da inclusão das pessoas... vai vender pra quem?

Maria: Qual a justificativa para essa ênfase na

atuação internacional do MinC?

JF - Nós tínhamos consciência – e o ministro gil

falou várias vezes sobre isso – de que os interesses

culturais do brasil ultrapassavam as fronteiras brasi-

leiras. Não só no sentido do fluxo de mão dupla (inter-

câmbios bilaterais), como nas grandes instituições de

governança mundial, recolocando a questão cultural e

a necessidade de um reordenamento, de uma redefi-

nição dessas relações.

Nós somos profundamente insatisfeitos com as

relações na área de direito autoral no mundo. o di-

reito autoral das comunidades e povos amazônicos,

por exemplo, é diariamente ferido pela rapinagem das

grandes empresas de biotecnologia que mandam an-

tropólogos – não botânicos nem biólogos pra estudar

a floresta. mandam antropólogos para saber o que

aquelas populações conhecem da biodiversidade. daí

levam o material para fazer estudos genéticos, con-

firmando ou não os efeitos que são do conhecimento

da população local, patenteiam e a partir daquele mo-

mento se torna um ativo econômico dessas grandes

empresas. isso é uma pirataria de um grau de ilegiti-

midade monstruosa. e nós, por um certo academicis-

mo, nunca reconhecemos esse conhecimento adicio-

nal como parte do cabedal da sociedade brasileira.

Internacionalização | cultura brasileira ultrapassa fronteiras

Page 79: Revista Maria

Maria 79

então são questões que inevitavelmente nos levam

a interferir no cenário internacional. Não bastam as

relações geopolíticas e comerciais, as relações cultu-

rais são estratégicas para o mundo e, particularmen-

te, pra um tipo de diplomacia que o brasil faz, que é

construção de um ambiente de paz, de igualdade, de

aceitação do outro, de convivência respeitosa – e não

há aí dimensão mais importante do que a cultural.

Maria: Além do MERCOSUL e da America Lati-

na, o MinC se relaciona bastante com a Comuni-

dade de Países de Língua Portuguesa e também

com alguns outros países da África, não é?

Juca Ferreira: essa é outra cartografia que não

pode ser esquecida. com os países africanos, a liga

é imediata. Na região ali em torno do golfo do benin,

parte dos africanos que vieram ao brasil como escra-

vos vieram dali.

eu estive lá no benin e uma parcela minoritária,

mas significativa da população são de escravos que

retornaram pra lá. e eles se consideram até hoje bra-

sileiros e baianos. teve um que pegou na minha mão

chorando e batia no peito e dizia chorando: “eu sou

baiano”. e com uma ênfase assim, inacreditável, que,

pela característica dolente do baiano, eu não vejo nin-

guém lá falar com tanto orgulho assim que é baiano.

eu estava no mercado tradicional do benin quando

um barraqueiro falou: “você é o ministro da cultura

no brasil? eu lhe vi na televisão. ele pegou na minha

mão, levou pra dentro da barraca e, muito emociona-

do, disse assim: “descobrimos nossos parentes no

brasil, os filhos e netos dos que foram escravos”.

são vínculos inquestionáveis. e fora a presença

africana na nossa cultura, na nossa identidade, na

nossa imagem: carnaval, futebol, em tudo isso eles se

reconhecem e é um cartão de visitas assim, fantásti-

co, independente de outras questões.

ainda tem os países do bric, a índia, a áfrica do

sul, a china... as possibilidades são maiores do que

a capacidade de realização, aí que entra a importân-

cia de aumentar o orçamento do ministério da cultu-

ra. a gente não tem condições de dar atendimento

à demanda de intercâmbio e de contato, é o mundo

inteiro, a europa... tem uma cacetada de pedidos que

a gente não tem condição de atender. vamos atender

alguns, o que for possível. o brasil tem que incorporar

que virou um país importante.

Maria: Parece-me que essa pauta internacional

da cultura acaba levando esses outros países a

fazerem essa revisão conceitual que o Brasil fez a

partir de 2003 também. Isso tem acontecido?

Juca Ferreira: a gente tem exercido uma lideran-

ça. os pontos de cultura abrem os olhos de outros

países de que há uma produção cultural ali no fron-

tline da sociedade, onde a miséria está estabelecida,

onde a pobreza, a exclusão, a violência estão estabe-

lecidas. e, apesar da ausência do estado, essas co-

munidades produzem cultura, se organizam cultural-

mente, pra ter acesso ao deleite estético, à afirmação

cultural, às praticas tradicionais ou contemporâneas.

e nisso o brasil teve o mesmo papel que o revelador

tinha na época da fotografia analógica, o revelador é

que puxava a imagem e lhe dava visibilidade. é mais

ou menos esse o processo: as pessoas percebem

que dentro dos seus países há processos culturais

importantíssimos e que não tinham nenhum atendi-

mento do estado.

© RIcARdO PRAdO

Page 80: Revista Maria

80 Maria

Maria: E quando elas têm essa visão elas se

obrigam também a beber a noção de cultura e

como o Estado trabalha a cultura.

JF - exatamente. amplia o conceito de cultura. o vale

cultura está despertando um interesse monstruoso, por-

que todos esses países têm condições semelhantes de

exclusão cultural, dificuldade de acesso.

então percebem que não basta produzir e finan-

ciar a produção cultural, mas é necessário parale-

lamente financiar o acesso. e percebem que isso é

viável, que o estado pode, que não é despesa, é

investimento. Que roda a economia da cultura do

país, cria possibilidade dos artistas sobreviverem da

sua atividade, cria um vínculo mais forte entre quem

produz e quem consome.

então todos esses processos que estamos vivendo no

brasil estão gerando referências que a gente tem dispo-

nibilizado com a maior delicadeza, porque cada país tem

suas condições, suas realidades, suas institucionalidades.

Maria: O Brasil assume um pouco a respon-

sabilidade por outros países que não têm tanta

capacidade institucional, técnica e de recursos?

JF - é, sem paternalismo, a gente tem ajudado os

países africanos, particularmente os de língua portu-

guesa, e temos tido uma relação muito fraternal com

os países da américa do sul. a gente quer fazer da

assimetria – de tamanho, de importância econômica

– um instrumento de ampliação da cooperação, e não

de hegemonia, de domínio.

então esses processos têm que ser voluntários

e baseados na confiança mútua e na generosidade,

não na mesquinharia. é importante compreender isso

porque o padrão de relação internacional tende a re-

petir os erros do passado. eu já vi, já participei de de-

legações brasileiras com empresários e políticos que

muitas vezes o comportamento não é o melhor, não

está dentro desse contexto para onde o brasil está

tendendo a se definir nas relações internacionais.

portanto, acho que a gente tem que compreender que

precisamos nos preparar para a grandeza. a grandeza

de espírito. Não basta ser poderoso economicamente.

seria péssimo que o brasil do século XXi fosse um país

economicamente forte, povoado por uma comunidade

de boçais. eu acho que a gente tem que fugir disso.

Nós temos que ser povoados de pessoas sofisticadas,

complexas, generosas, espiritualizadas, afetivas com as

outras culturas do mundo e com as necessidades dos

outros povos, principalmente os que estão juntos da

gente aqui na américa do sul, na américa latina, com

os irmãos africanos. eu acho que a constituição dessa

consciência é parte desse brasil que está emergindo,

senão não vai dar certo essa experiência brasileira.

“Seria péssimo que o Brasil do século XXI fosse um país economicamente forte, povoado por uma comunidade de boçais.”

© RIcARdO PRAdO

Page 81: Revista Maria
Page 82: Revista Maria

82 Maria

Casos da Maria

o teatro vila velha ocupa um

lugar especial no imaginário

baiano. símbolo de ousadia

e resistência cultural, o vila

já revelou para o brasil artistas que re-

volucionariam o cenário nacional, como

caetano veloso, gilberto gil, maria be-

thânia, gal costa, tom zé, lázaro ra-

mos, entre outros.

em 1994, o diretor teatral márcio mei-

relles, atual secretário de cultura da bahia,

assume o vila velha e começa a mobiliza-

ção por uma grande reforma no espaço,

que se encontrava em franco abandono.

inaugurada no ano seguinte, a ma-

ria receberia do diretor a sua primeira

“conta”. conta assim, entre aspas, por-

que simplesmente não havia dinheiro

para um contrato.

- márcio meirelles me contou que

havia procurado diversas agências de

publicidade, mas quando ele contava

qual era o negócio dele, um teatro e

tal, e que não havia grana, todo mundo

dizia: tchau. a gente disse seja bem-

vindo! – conta João silva.

a remuneração dos profissionais

da maria, na época, vinha quando o vila

conseguia emplacar um projeto. “toda

vez que márcio conseguia recursos para

um espetáculo, alocava parte dele para a

comunicação”, lembra João silva.

o maior desafio para a maria, na-

quela época, era mobilizar a população

a freqüentar um teatro que, embora bem

conceituado, encontrava-se, literalmente,

em obras. tanto que, constantemente,

artistas como daniela mercury, maria

bethânia, gil, caetano, lucélia santos,

paulo betti e carlinhos brown apresen-

tavam-se no espaço para arrecadar re-

cursos para a compra de cadeiras, luzes,

equipamento de som, etc.

João silva, então, apareceu com a sua

pedra filosofal: o slogan vá ao vila, velho.

gravado por gilberto gil e caetano

veloso em comerciais de 15 segundos,

nos quais os artistas apenas repetiam

essa mesma frase de diversas maneiras

e entonações, o slogan logo tornou-se

mote de toda a campanha pela recupe-

ração do teatro.

teatro vila velhaVá ao Vila, Velho.

até hoje, quinze anos depois, vá ao

vila, velho convoca a população baiana a

frenquentar o famoso teatro.

- às vezes o cliente tem uma gran-

de idéia na mão, mas ele não consegue

enxergar que aquilo é um ativo que vai

render para ele grande recall. No caso do

vila velha, márcio e toda a equipe do tea-

tro perceberam que tinham um poderoso

ativo, que utilizam até hoje com bastante

sucesso – argumenta silva.

desde então, grande parte das

peças promocionais dos espetáculos e

grupos residentes do vila velha passa-

ram a ser produzidas pela maria.

Cartaz

Filme 30’

82 Maria

Page 83: Revista Maria

Maria 83

“Um teatro como o Vila Velha, que tem uma proposta muito maior do que simplesmente abrir pauta para espetáculos, precisava de uma identidade visual. A Maria sabe traduzir visualmente o que a gente faz de uma maneira muito bacana.”.

Márcio Meirelles - ex-diretor

do Teatro Vila Velha

Outdoor

Cartaz

Maria 83

Page 84: Revista Maria

84 Maria

era dia de sexta-feira de

tardinha. e valdelício

bispo dos santos, o val,

tava desmilinguido ali na

janela de sua casa no bairro ma-

chado, agoniado, seco pra comer

água com a galera, mas enfusado

dentro de casa.

é que floripes, a dona encrenca,

tratava ele na corda curta e às vezes

na base do trompaço. a cada vacilo

ele caía na taca. e flor pra ficar vira-

da na porra era daqui prali, a bicha

era carne-de-pescoço.

e tava val nessa consumição

quando flor, que bulia nuns caquei-

ros no quintal, gritou de lá de dentro:

“beinho, dê um salto ali na feira de

são Joaquim e compre uma corda

de caranguejo pra eu fazer um escal-

dado pra você mais eu!”.

“oxente, beinho, só se for agora”,

respondeu val. e flor de lá: “mas ói sua

vida, hem, não vá demorar não senão

eu lhe passo a porra, viu?” e val saiu

picado, pongou no primeiro humilhante

e saltou na feira de são Joaquim.

malmente ele chegou encontrou a

raça: beto bozó, del, das águas, geni-

nho e zé mário. “êta zorra, agora fudeu

maria-preá”, pensou val. “e aí, corrente,

qual é a de mesmo?”, saudou.

e tome a comer rama, dizer dixote

um pro outro e olhar os balaios das

meninas feito abelha de padaria. de

vez em quando uma passarinha ou

um caldo de sururu pra dar sustan-

de como val desasnou(Adaptação do autor)

Causo

Page 85: Revista Maria

Maria 85

de como val desasnou ça. (“Nada de tira-gosto. tira-gosto

pra quê? eu bebo porque gosto!”).

val ficou logo pronto, mas toda mão

dizia que ia se picar. ai zé mário (hum,

zé mário é graça?) vinha com umas

conversas de tomar a saideira, a ante-

penúltima, a de cortesia, a da dolorosa,

a de comemoração, a de Jair, e o tem-

po passando. Quando val viu, já era de

manhã. “ai, meu são longuinho, é hoje

que eu vou me campar! aquela bozen-

ga vai me engarguelar, tá rebocado!”

meio azuado, comprou a corda

de caranguejo e foi pra casa. “hoje

eu me lenho, com certeza, sem

medo de errar! a sacrista vai me pi-

car a porra”, sofria val.

mas no que ele despongou do

buzu ele desasnou. ali defronte da

oficina estrela de vadinho biela, de

junto de sua casa, ele desamarrou

os caranguejos, arranjou uma vari-

nha e foi guiando os bichinhos até

em casa, falando alto pra flor ouvir;

“caranguejo, diabo, rumbora, ôxe,

é por aqui!”. flor, que já esperava

na porta, retada, foi logo dizendo :

“seu descarado, filho de mulé dama,

se prepare que vou lhe bater fixe! e

nem abra a boca, que você calado tá

errado!” e val: “oxen, beinho, você

pensa que é moleza vir de são Jo-

aquim até o bairro machado, na pa-

leta, tangendo essa ruma de caran-

guejo, fazendo o bicho andar pelo

passeio, descer meio-fio, atravessar

rua, correr de cachorro, e parar em

sinaleira? demora como um corno!”

Ô, retchado!...

niValDo lariú

DiCionário De bAiAnês

Comer água e depois pegar um buzú... qual é a de mermo?comer água beber

enfusado preso, limitado

trompaço porrada, pancada

caía na taca apanhava, levava uma surra

virada na porra brava

carne-de-pescoço pessoa difícil, temperamental

corda de caranguejo forma de venda dos

caranguejos, amarrados com

cerca de dez unidades

passo a porra bater, dar porrada

pongou tomou (o ôníbus)

humilhante ônibus

fudeu maria preá acabou-se tudo, me dei mal

corrente amigo

qual é a de mermo tudo bem?

balaios bundas

se picar ir embora, se mandar

vou me campar vou me dar mal

bozenga mulher feia

engarguelar esganar

tá rebocado pode crer, tenha certeza!

picar a porra bater, dar porrada

buzu ônibus

desasnou teve uma boa ideia

oficina estrela oficina pequena, de rua

de junto ao lado, próximo

retada brava

bater fixe bater com força, com firmeza

na paleta a pé

ruma um monte

sinaleira sinal de trânsito

Page 86: Revista Maria

86 Maria

Tabuleiro da Maria

Orixás descem no LouvreO artista plástico baiano Ed Ribeiro, um dos mais

renomados da arte brasileira contemporânea,

dá mais um salto na sua carreira internacional.

De 17 a 19 de setembro, ele integrará a mostra

Exposition Internacionale d´Art Contemporain, que

ocupará as dependências do Museu do Louvre,

em Paris. Em junho, foi condecorado com a Mé-

daile De Vermeil 2010, pela Academia de Artes,

Ciências e Letras de Paris.

Ed Ribeiro é um artista único na Bahia e no Brasil.

Sua arte, carregada de traços da cultura afro-

brasileira, com destaque especial para os orixás e

o sincretismo religioso, é também destaque pelo

uso de uma técnica inovadora, que troca os pin-

céis e espátulas pela tinta derramada sobre teci-

do. Conteúdo e técnica fazem a fama de Ribeiro

- um apaixonado confesso por Jackson Pollock

- inicialmente na Bahia, depois no mundo.

Ed ribeiro - www.edribeiro.com.br

África, moda e criatividadeJimmy Cliff se vestia com ela. Seus panos já fizeram a ambientação do

Itamaraty em recepções internacionais. Painéis de sua autoria com-

põem a decoração de instituições como Fundação Palmares (Brasília) e

The Ford Foundation (Nova Iorque). Está presente em feiras de moda e

vestuário nas cidades mais elegantes do mundo.

Artista Plástica formada pela Escola de Belas Artes da Universidade

Federal da Bahia, com especialização pela Universitá Internazionale

Dell’Arte de Firenze, Itália, Goya Lopes é, sem dúvida, uma das maiores

designers brasileiras. Artista com um pé no empreendedorismo, fundou

a Didara, empresa que tem hoje 23 funcionários e duas lojas em Sal-

vador. Seu grande mérito, no entanto, é ter desenvolvido uma original

linha de criação alimentada pelas raízes culturais africanas sem cair nos

clichês que povoam este segmento.

Didara by goya Lopes – rua gregório de Mattos, Pelourinho,

Salvador – Aeroporto Internacional de Salvador, Salvador

Imagens de uma líderAos 13 anos de idade, Maria Stella de Azevedo

Santos foi iniciada no candomblé. Era o ano de 1925.

Trinta e sete anos depois, ela seria escolhida ialorixá

do tradicional Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradi-

cionais terreiros baianos. Hoje, Mãe Stella de Oxóssi

é uma das líderes religiosas mais importantes e

influentes do Brasil (e do mundo).

O passo a passo dessa rica trajetória pode ser

deliciosamente apreciado no livro Mãe Stella de

Oxóssi, escrito pela psicoterapeuta Vera Felicidade,

autora de vasta e conceituada literatura científica.

Trata-se de um relato envolvente feito por quem

entende do assunto – Vera é “filha” do terreiro – e

que procurou analisar, além da personalidade,

aspectos ligados à liderança no Candomblé e à cul-

tura religiosa afro-baiana.

Mãe Stella de oxossi – Perfil de uma liderança

religiosa. Autora: Vera Felicidade de Almeida

Campos/ Jorge Zahar Editora/rJ 92 pgs

Page 87: Revista Maria

Maria 87

É só um jeito de corpoO corpo em sintonia com a saúde, a harmonia interior e a boa forma. O tripé de

benefícios do método Pilates Allegro é, hoje em dia, fato consumado. Por acredi-

tar muito nessa nova forma de cuidar e ver o corpo, a professora baiana Verônica

Fonseca estudou e aplicou o método em Caracas, na Venezuela, durante dez anos.

Agora, retorna a Salvador para fundar o Vero 3 Centro de Movimento, que se desti-

na tanto ao atendimento do público, como à formação de novos profissionais.

Trata-se de um espaço de reeducação corporal, onde são exercitadas técnicas que

buscam o equilíbrio entre o corpo e a mente para alcançar a longevidade e desfrutar a

alegria de viver. Como base, o centro utiliza-se de uma metodologia criativa baseada

nas técnicas ou disciplinas do Pilates Allegro, Feldenkrais e Gyronkinesis.

Vero 3 Centro de Movimento - rua Alexandre Herculano, 18, Esqui-

na Boulevard, loja 02, Itaigara, Salvador - Bahia – Brasil Telefax::71

3351.4536 - [email protected] - www.vero3.com.br

Beleza negra que encanta o mundoDefinitivamente bo-

nito de se ver, o Ilê

Aiyê ganha a Europa

em 2010. De 12 de

junho, até meados

de julho, o primeiro

e mais importante

bloco afro da Bahia

levou sua música e

seu gingado para

Festivais e centros

culturais de cidades como Barcelona, Zaragoza, Granada,

Marselha e Paris. Uma excursão estratégica na trajetória do

grupo não só pelo número de shows programados – cerca

de 15 – como pela importância dos eventos em que parti-

cipa como convidado especial. O Ilê viajou com cerca de

dez componentes, entre músicos, cantores e dançarinos, e

encontrou com mais cinco na Europa, incluindo os mestres

Marivaldo e Mário Pam.

Ilê Aiyê – Senzala do Barro Preto, rua do Curuzu,

62, Liberdade - www.ileaiye.org.br

Ócio criativo dos baianosA fama de preguiçoso dos baianos, difundida Brasil afora, é encarada pelos pró-

prios com a sabedoria de quem considera a tal preguiça um “pecado” necessá-

rio para se viver melhor. Dito isso, fica fácil entender o bom humor que está por

trás do principal guia cultural de Salvador, o Guia do Ócio.

Criado em 1999 pela Companhia de Comunicação, a publicação permanece

ativa no seu propósito de facilitar a vida dos turistas, (também dos baianos),

com informações da programação cultural e de lazer de Salvador e redondezas.

Por ser inteiramente feito por baianos, enumera aqueles locais e atrações que

fogem aos roteiros convencionais, desvendando o que está por trás dos cartões

postais. Além da versão impressa – lançada anualmente – oferece site próprio

com a programação do dia a dia.

guia do Ócio – Autor: Companhia de Comunicação/ Editora Fábrica

das Letras 264pgs - www.guiadoocio.com

Pelas lentes de GlatCarioca de nascimento, baiano de formação e cora-

ção. De tão baiano, o fotógrafo David Glat resolveu

apresentar uma nova e inusitada visão de algumas

das mais conhecidas referências históricas e arqui-

tetônicas da cidade de Salvador. O resultado é a

exposição “Pérolas Imperfeitas”, que depois de es-

trear na capital baiana, segue para diversas cidades

brasileiras ao longo do segundo semestre de 2010.

A programação inclui cidades como Fortaleza (8 de

junho a 25 de julho), São Paulo (19 de junho a 22 de

agosto) e Recife (10 de agosto a 5 de setembro).

A mostra transgride a estética da tradição, propõe

novos olhares sobre a cidade, vista sob efeitos

ilusionistas ou de maneira retorcida.

David glat - www.davidglat.com.br/projetos

Page 88: Revista Maria

88 Maria

Na amazônia, onde nasci,

não temos ladeiras.

vivemos numa

planície, mas

como ela é toda tecida de rios,

e está numa bacia, já nascemos

sabendo descer correntezas.

então, descer eu já sabia.

mas não sabia subir quase como quem

desce. sem cansar. isso aprendi na bahia.

a bahia me ensinou a subir ladeira em zig zag.

a gente não enfrenta a subida de frente, fica indo

de um lado ao outro dela, atenuando a inclinação.

claro que demora bem mais, e se dá muitos

mais passos, e a ladeira parece que vai subir

até o céu, e não acabar nunca.

além disso, a gente vai sentando aqui e ali,

para se restaurar e seguir subindo. é uma

arte que pede paciên-

cia. aliás, artimanha.

sentar em de-

grau de ladeira

é diferente de

sentar no fun-

do de barco

na correnteza:

na ladeira, a

pessoa fica

sen tad inha

onde sen-

tou, não sai do lugar. Na correnteza, a gente des-

cansa em movimento, vendo as margens passar por

nós. e, imóvel, vai indo em frente.

uma vez sentei sozinho no meio de uma ladeira in-

fernal, na bahia. e sonhei que estava descendo uma

correnteza. fiquei tão leve, subi como um balão e num

piscar de olhos, já estava no alto da ladeira.

subir ladeira sonhando que se está descendo correnteza

zig zagPara João da Maria

nos dá a sensa-

ção de que podemos su-

bir qualquer altura: até o alto do

himalaia com o monte fugi por cima.

Quando voltei da bahia para cá, após

13 anos vivendo lá, aprendi a misturar em

mim amazônia e bahia. e usar as subidas

baianas e descidas amazônicas, conforme o

caso.

onde eu quero chegar com essa história, que

não sobe nem desce?

bem.

se vocês querem uma moral da história, fiquem com esta:

- por mais dura ou mole demais que esteja à vida,

subindo ou descendo ao nosso redor, a gente sempre

pode inverter e amolecer ou endurecer as coisas, pas-

sando de fora dos olhos abertos para dentro dos olhos

fechados.

e se imaginar subindo ladeiras descendo correntezas

ou descendo correntezas subindo ladeiras.

a vida pode ser vice versa.

ViCEnTE Franz CECim, esCritor e publiCitário

CeCiMvozesDeAnDArA.blogspot.CoM

Crônica

0800 570 0800 | www.ba.sebrae.com.brA FEIRA DO EMPREENDEDOR - BAHIA FOI ELEITAA MELHOR DO BRASIL PELA SEGUNDA VEZ CONSECUTIVA.

A BAHIA É BICAMPEÃ

Antônio Marcos, Paulo Okamoto e Edival Passos

Page 89: Revista Maria

Maria 890800 570 0800 | www.ba.sebrae.com.brA FEIRA DO EMPREENDEDOR - BAHIA FOI ELEITAA MELHOR DO BRASIL PELA SEGUNDA VEZ CONSECUTIVA.

A BAHIA É BICAMPEÃ

Antônio Marcos, Paulo Okamoto e Edival Passos

Page 90: Revista Maria

90 Maria

Humor

Page 91: Revista Maria

m a r i a p r e t a . o r g

AN

O 1 - N

º 1 - JUN

HO

2010 - BR

AS

IL

MariaANO 1 - Nº 1 - JUNHO 2010 - BRASIL

Pensar o novo! 15 anos da Maria ComunicaçãoPerformanceAs artes do reida noite de Brasília

CulturaA eterna resistênciado cinema baiano

EntrevistaJuca Ferreira fala sobreBrasil e grandeza cultural

TecnologiaAutomação do marketing

voluciona a comunicação

Page 92: Revista Maria

José de Souza Saramago, 16/11/1922 - 18/06/2010

Pensar o novo!

Foto

: blo

g.es

tada

o.co

m.b

r