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Revista/Portfólio da Maria Comunicação
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MariaPublicação Comemorativa dos 15 Anos da Maria Comunicação / Ano 2010
Pensar o novo! 15 anos da Maria ComunicaçãoPerfilAs artes do reida noite de Brasília
CulturaA eterna resistênciado cinema baiano
EntrevistaJuca Ferreira fala sobreBrasil e grandeza cultural
TecnologiaAutomação do marketingrevoluciona a comunicação
Publicação C
omem
orativa dos 15 Anos da M
aria Com
unicação / Ano 2010
José de Souza Saramago - 16/11/1922 - 18/06/2010
Pensar o novo!
ALEGRIA: É ANIVERSÁRIO DA MARIANo aNo de mil NoveceNtos e NoveNta e ciNco,
Nasceu maria. Quem é maria? ! a mãe de Jesus.
mas também a mãe de João silva. toda mãe a
Quem se deve coNsideração é uma maria. a
empresa de publicidade “maria” Nasceu da
iNspiração de João silva, e tem trazido muitas
alegrias ao seu fuNdador, sócios e, com cer-
teza, seus fuNcioNários e clieNtes. é um Nome
coNhecido No brasil pela sua eficiêNcia, cla-
reza de obJetivos e ética profissioNal. des-
te escritório é de oNde saem as iNspirações
para as belas logomarcas Que dão credibi-
lidade comercial, promoveNdo os produtos
da clieNtela Que o procura. tudo Que é feito
com amor, com dedicação, é belo e graNdio-
so. Quem olhou com ateNção os outdoors
feitos pela empresa maria, espalhados pela
cidade, valoriza a criatividade de um moço
ALEGRIA: É ANIVERSÁRIO DA MARIAcheio de eNergia e iNteligêNcia. Nos pedidos
Que eu faço aos orísa para Que o bem apareça
e permaNeça eNtre Nós, o maior tempo pos-
sível, está iNcluído o trabalho de João, Que
cariNhosameNte é chamado por Nossa comu-
Nidade de “João da maria”. o bom publicitário é
respoNsável pelo crescimeNto de seus clieN-
tes, por isso é Que eu peço pela coNstrução
de belos comerciais, Que dêem lucros aos
clieNtes e à empresa “maria”, sem esQuecer o
compromisso social. QuiNze aNos de trabalho
e sucesso progressivo demoNstram a solidi-
ficação dessa empresa, e eu rogo aos deuses
Que a alegria e a prosperidade (coNstruída
com respoNsabilidade) eNtrem e daNcem No
seu camiNho e Na casa de todos Que estão a
ela viNculados. Ajó bò jò ilé
Mãe Stella de Oxóssi Ilê Axé Opô Afonjá
. .
.
4 Maria
Sum
ário8 58 66
Maria 15 AnosMaria Comunicação festeja 15 anos esbanjando vitalidade, conquistando novos clientes, ampliando a sua ação no país Pág. 8
5 Editorial 16 Aspas 20 Tecnologia mudança de cultura 24 Casos da Maria Jacques Janine 26 Pensar o novo! maria, sai da lata! 30 Empreendedorismo No ritmo do berimbau 36 Perfil Jorge ferreira 40 Casos da Maria governo da bahia 42 Pensar o novo! o brasil mestiço 68 Pensar o novo! brasil na muxima de angola 70 Cultura vida ao cinema baiano 74 Casos da Maria abrigo d. pedro ii 82 Casos da Maria teatro vila velha 84 Causo de como val desasnou 86 Tabuleiro da Maria 88 Crônica zig-zag 90 Humor Nildão
46 João Silva o fundador da maria conta a história de muitos anos de sucesso e quase 1.000 marcas.
62 Maragojipe o carnaval da pequena cidade baiana é patrimônio imaterial da bahia.
76 Juca Ferreira o ministro da cultura do brasil defende uma agenda pró-ativa.
ExpedientePublicação anual da Maria Comunicação.
Edição | Antônio Moreno e iuri RubimTextos | Graça Filadelfo, iuri Rubim e Antonio MorenoProdução | laís FurtadoRevisão | érica SilvaFotografia | Almir bindilatti, Di Souto, jr Major, Ricardo Prado e Graça FiladelfoCapa | Tela de Ed RibeiroIlustração | Cau GomezDesign Editorial | Alan Alves e Daniedson RiosColaboradores | Emmanuel Publio Dias, Valéria Torres, Raimundo lima, Nivaldo lariú e Vicente Cecim (Textos) | Maria Geruza, David Glat, Adenor Gondim, Sérgio Guerra e Pedro Meirelles (Fotos) | lage* e Nildão (ilustração)Impressão | Gráfica Santa bárbara
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo necessariamente a opinião da revista.
* In Memoriam
Salvador/BA – Av. Tancredo Neves, 3343 – Torre A – 11º andar – 71 3341-0520Brasília/DF – SRTVS Quadra 701 – bloco O, nº 110 – 1º andar – 61 3223-9996São Paulo/ SP – Rua Funchal, 418 – 35º andar – Vila Olímpia – 11 3521-7307
Maria 5
Editorial
o sucesso de tudo o que fizemos
nestes 15 anos de maria só foi possível
graças a combinação de três ingredientes
fundamentais: confiança, tesão e trabalho.
foram muitas marcas, inúmeras campanhas
e ações de comunicação que ficaram na
cabeça dos cidadãos brasileiros. isso
porque acreditamos que a peça publicitária
pode e deve fazer mais do que vender.
a comunicação tem que fazer pensar. e
pensar o novo.
há 15 anos, colocávamos em outdoor de
pós graduação da ufba um ator negro, algo
visto como estranho na época, apesar de
a bahia ser o estado mais negro do brasil.
estranho porque todas as instituições de
ensino só utilizavam na sua comunicação, até
então, modelos loiros, de olhos azuis, usando
lap tops em cenários europeus. a maria
ajudou a levar para as ruas a cara da bahia.
hoje, quando vemos na publicidade baiana a
cor da cultura local, nos orgulhamos muito de
poder ter contribuído para isso.
Nos orgulhamos também de ter feito
a campanha: Não deixe o abrigo d.
pedro ii morrer de velho. exatamente
porque acreditamos que pensar o novo é
também cuidar e valorizar a sabedoria e a
experiência dos mais antigos. é trabalhar
para a cidadania, a favor do respeito pelas
mais diferentes formas de pensamento e
em prol da igualdade social.
a primeira edição da revista maria – que
a partir de agora torna-se uma publicação
anual - tem o propósito de reafirmar esses
princípios e comemorar uma trajetória que,
acreditamos, vitoriosa. uma vitória que é de
todos: chegamos até aqui graças ao talento
e cooperação de clientes, fornecedores
e, claro, de nossos colaboradores. sem
a dedicação, postura firme e serena de
pessoas como Jussara e vicente, a maria
não seria a mesma maria.
é uma edição que reúne parceiros de
muitos tempos, como mano, raimundo
lima, vicente cecim, valéria, lariú, lage,
Nildão e cau. Que abre espaço para a arte
de fotógrafos especiais, como adenor,
almir, david, guerra, gerusa, pedro e
ricardo. e que destaca os novos amigos
que a maria fez e passou a admirar, como
Jorge ferreira e marcus hadade, dois
empresários de sucesso.
a impressão em papel reciclado é uma
opção coerente com o compromisso
socioambiental que a maria defende e
recomenda a todos os seus clientes.
a revista é também uma maneira de
preservar a nossa memória. afinal, como já
disse mãe stella: “o que não se registra o
vento leva!” e se ela nos dá a sua benção
é porque estamos no caminho certo. Que
venham novos marcos na trajetória da maria!
João Silva
Sócio-presidente da Maria
Pensar o novo!
Irmandade da Boa morte - CaChoeIra © RicaRdo PRado - www.flickR.com/Photos/RicaRdoPRado8
Irmandade da Boa morte - CaChoeIra © RicaRdo PRado - www.flickR.com/Photos/RicaRdoPRado8
8 Maria
15 Anos
Maria, umaagência diferente!
Ao completar 15 anos, a Maria Comunicação conquista definitivamente espaço no mercado baiano e nacional. E o que é melhor: sem abrir mão do seu jeito muito particular de ser e atuar, transformando pequenas verbas em grandes resultados, atenta para a ética e antenada com as questões mais nobres do interesse coletivo.
João | pequenas verbas resultam em grandes ações
Diretoria | Jussara e Vicente comemoram resultados
Maria 9
amaria cresceu. ao
completar 15 anos
de mercado, com-
prova com idéias e
fatos que veio para
ficar. sua trajetória,
iniciada numa salinha no bairro do
itaigara, em salvador, reflete a matu-
ridade de uma agência que, desde o
início, destacou-se não só pela criati-
vidade posta a serviço do cliente, mas
por sua visão bem particular do que é
ser cliente: aquele que demanda pro-
jetos e soluções; alguém que precisa
ser entendido como parceiro, cujos
anseios devem ser interpretados nos
contextos macros do momento eco-
nômico, do comprometimento social,
das oportunidades e do bom senso.
graças a esta compreensão, a
maria vem fazendo de sua atuação
um diferencial no mercado baiano e
nacional e conseguiu formar um fã
clube de políticos, empresários, ativis-
tas sociais e gestores públicos. para
seus clientes, buscou sempre solu-
ções práticas associadas à pereni-
zação de uma marca, de um projeto.
transformou em capital social peque-
nas verbas. usou da criatividade para
ajudar a construir algo que vai muito
além da peça publicitária: a imagem
institucional. desta forma, ajudou a
pensar novas e – às vezes – inusita-
das estratégias para conseguir atingir
um objetivo. fez pensar o novo!
foi assim que a maria viu a perso-
nalidade transformar-se em seu maior
cartão de visitas. Questões cruciais
como combate ao racismo, respeito
às minorias, tolerância religiosa, de-
fesa do meio ambiente e atenção ao
idoso entram no portfólio da agência
como um trunfo de sua atuação no
mercado, dando suporte às criações
e estruturando a base ética de seu
desempenho. inovação mercadoló-
gica? tendência? o termo pode até
variar, mas o certo é que a maria é
uma agência diferente!
Nova sede | bênção de D. Gregório Paixão
1 – Campanha de outdoors para Maria Comunicação
Andreia Velame e Nilza Barude
Inauguração | festa conta com presenças de José Sérgio Gabrielli, Walter Queiroz...
Começo | entusiasmo da primeira equipe
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10 Maria
O cliente tem razão... em confiar na Maria
maria é João. João é maria. a
associação da agência ao nome do
seu criador, o publicitário João sil-
va, é algo notório desde o começo
dessa história de 15 anos. profis-
sional reverenciado pelo mercado,
conhecido por suas centenas de
marcas – que hoje beiram a casa
de mil, recorde internacional – João
não poderia querer que a agência
surgisse de modo independente da
carreira profissional bem sucedida
que construiu ao longo de déca-
das, em diferentes organizações
do meio publicitário baiano. assim,
ao assumir o novo desafio, trouxe
para a maria um conjunto de boas
realizações que, logo de cara, cre-
denciaram a agência no mercado.
o segundo passo dessa trajetória
foi fazer com que este mercado en-
tendesse, que a maria não era uma
agência como as outras. por sua
estrutura enxuta e o foco máximo
sobre os resultados, a agência des-
tacou-se já nas suas primeiras inves-
tidas profissionais, nos idos de 1995.
para o cliente Jacques Janine, que
enfrentava dificuldades de posicio-
namento, criou uma série de spots
que, baseados mais na criatividade
do que em recursos financeiros, re-
forçou a marca e trouxe de volta uma
clientela que debandava. de cara, a
solução pensada pela maria ganhou
o prêmio de melhor fonograma da
década, gerando reconhecimento e
mídia gratuita para o cliente, ainda
hoje um destaque no top of mind.
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2 – Filme 30” para Fundação Cultural Palmares/AMAFRO; 3 – Filme 30” para Fórum de Entidades Negras da Bahia; 4 – Filme 30” para Hospital Oftalmológico DayHORC; 5 – Filme 30” para Shopping Top Mall; 6 – Filme 90” para Secretaria da Agricultura do Estado
da Bahia; 7 – Cartaz para Promoexport; 8 – Marca para Teatro Vila Velha; 9 – Outdoor para Gelo Pioneiro; 10 – Outdoor para Refrigerante Fricote
Maria 11
para o teatro vila velha, que
renascia para a cultura baiana
após anos de decadência física e
programação de gosto duvidoso,
a maria foi igualmente ousada e
participativa. entrou em cena lite-
ralmente para investir em um novo
conceito que revertesse a imagem
que a casa de espetáculos vinha
tendo junto ao público – no que
pese o seu passado de glórias.
criou campanhas para os novos
espetáculos e, sobretudo, um novo
posicionamento frente à sociedade,
despertando, com a originalidade
de um slogan que pegou, o desejo
do público de voltar à frequentar o
teatro: vá ao vila, velho!
Novos clientes e desafios pon-
tuaram, a partir daí, a trajetória da
maria, sempre expressando a filo-
sofia básica da agência: pensar a
comunicação a partir do simples,
procurando agregar valor às peças e
marcas criadas e, sempre que pos-
sível, indo além das expectativas.
um exemplo disso teve como foco
o cliente promoexport. a demanda
feita pelo então diretor, geraldo ma-
chado, era a criação de uma mar-
ca. rápida e certeira, a maria surgiu
com uma campanha inteira: filme
para televisão, campanha de outdo-
or, anúncio em revista, proposta de
posicionamento da marca. o cliente
levou um susto. mas adorou a ou-
sadia. transformou a maria em sua
agência e, com a ajuda dela, operou
as mudanças que transformaram o
promoexport em centro internacio-
nal de Negócios.
ousadia com oportunidade.
essa dobradinha esteve presente
em outros momentos da maria, que
apesar de ter canalizado os seus
trabalhos para os mais diferentes
segmentos da economia (da cultu-
ra ao turismo, da saúde ao varejo),
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1716
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11 – Filme 30’ para Refrigerante Fricote; 12 – Filme 30” para Prefeitura de Jequié; 13 – Filme 30’ para Promoexport; 14 – Filme 30’ para Tribuna da Bahia; 15 – Filme 30” para Baldacci; 16 – Marca para Fórum de Entidades Negras; 17 – Outdoor para Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia; 18 – Outdoor triplo para Fenagro
12 Maria
nunca abriu mão da confluência de
três vertentes básicas: a questão
racial, o combate à intolerância reli-
giosa e a valorização do idoso. são
elementos que perpassam, aqui e
ali, a sua atuação nesses 15 anos.
definem e consolidam o lastro de
sua personalidade.
“eu sempre achei que a gente
tem obrigação de contribuir com a
sociedade. sem isso, eu acho que
o nosso trabalho não é completo”,
justifica João silva.
Beleza puraatendendo a clientes como o
grupo cultural olodum, fórum
das entidades Negras, ilê aiyê ou
fundação palmares, a maria tem
pontuado o seu posicionamento
a favor da integração do negro e
de sua cultura na sociedade baia-
na, brasileira e mundial. o ponto
de vista da agência é muito claro:
cultura é uma só. as influências
africanas existentes na cultura
brasileira (baiana em particular)
não podem ser entendidas como
partes de um todo. elas se fundi-
ram – e se fundem - de tal forma
às heranças portuguesas e indí-
genas que passaram a represen-
tar uma nova e forte referência
para a sociedade.
Tolerância dez!é ponto pacífico: os homens
precisam aprender a conviver em
suas diferenças religiosas. a ma-
ria entende muito bem isso e co-
locou esse pensamento em pra-
tica em diversas oportunidades.
chamou a atenção a marca que
criou para comemorar o dia mu-
nicipal contra a intolerância re-
ligiosa. uma mandala que expõe
num mesmo espaço, e com igual
CHAPADA DIAMANTINA. AQUI, VOCÊ É NATURALMENTE BEM RECEBIDO.
Destino privilegiado pela exuberância de sua rica natureza, a
Chapada Diamantina tem se consolidado como um local susten-
tável, com serviços à altura dos mais exigentes visitantes. Com o
estímulo e o apoio do Sebrae e seus parceiros no Projeto Turis-
mo Empreendedor, pequenos empresários da região estão
investindo cada vez mais em qualificação para fazer o que a natu-
reza faz sem nenhum esforço: receber bem e conquistar você.
www.ba.sebrae.com.br0800 570 0800
19 – Cartaz para Secretaria de Cultura do Estado da Bahia; 20 – Anúncio para Sebrae - Bahia; 21 – Anúncio para Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia; 22 – Marca para Teatro Castro Alves;
23 – Marca para Unesco/Escritório de Referência do Centro Antigo de Salvador
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Maria 13
destaque, símbolos representati-
vos de várias religiões. a marca fez
tanto sucesso, que a fundação
palmares resolveu adotá-la, dando
à mandala, o status de símbolo de
tolerância religiosa no país.
Velho é o mundo!por acreditar que a experiência
das pessoas mais velhas deve ser
respeitada e valorizada, a maria
comprou a briga pela recuperação
do asilo d. pedro ii, construído no
século XiX, uma das mais antigas
casas de recolhimento de idosos
do país. além de fazer a campa-
nha, propagou a ideia e obteve uma
resposta à altura da importância da
causa: o apoio de todas as mídias
na veiculação das peças criadas
pela agência. a causa logo ganhou
a adesão da própria comunidade,
que se mobilizou em favor da recu-
peração do abrigo. com esse tra-
balho, a maria deu sua parcela de
contribuição em prol de uma cons-
ciência maior de respeito aos mais
velhos, seguindo o exemplo da cul-
tura oriental ou mesmo africana.
24 – Cartaz/Poster para Ministério da Cultura; 25 – Cartaz para Olodum; 26 – Cartaz/Poster para Fundação Cultural Palmares/AMAFRO; 27 – Cartaz para Fórum de Entidades Negras da Bahia; 28 – Cartaz para Vereadora Olívia Santana; 29 – Anúncio para Mural
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26
14 Maria
Os muitos lados da Maria
maria tem diversos lados. e pode
ser entendida por diversos ângu-
los também. ou seja, o portfólio da
agência é rico em exemplos de ações
bem sucedidas nos mais diferentes
campos da economia e das relações
humanas. da cultura ao turismo, da
saúde ao varejo. em cada cliente, um
desafio: descobrir a estratégia ideal,
condizente com sua filosofia e carac-
terísticas particulares, para a solução
das demandas recebidas.
Na área cultural, além do teatro
vila velha e grupos olodum e ilê
aiyê, destaca-se também caderno
2 (projetos de música). No turismo
de negócios, a agência desenvolveu
campanhas e ações para o conven-
tion bureau, sempre destacando as
qualidades e diferenciais de salva-
dor e da bahia como polos de even-
tos e convenções.
No segmento agropecuário, a ma-
ria atuou durante quatro anos junto à
agência de defesa animal do esta-
do da bahia- adab e à secretaria
de agricultura, irrigação e reforma
agrária do estado da bahia/seagri,
ajudando a ampliar a cobertura da
vacinação contra a febre aftosa e de-
mais zoonoses. além disso, desen-
volveu trabalhos para a companhia
30 – Postais para Cantina Cortile; 31 – Anúncio para Iphan; 32 – Outdoor para Cantina Cortile; 33 - Cartaz/Poster para Irmandade da Boa Morte; 34 – Anúncios para Secretaria da Agricultura do Estado da Bahia
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Maria 15
de desenvolvimento e ação regio-
nal - car, para a empresa brasileira
de desenvolvimento agrário/ebda e
para a fenagro.
No varejo, fez a marca do refrige-
rante fricote virar sucesso na bahia e
ajudou a lançar e a projetar shopping
centers, como top mall e Quê park
center, ambos no distrito federal.
finalmente, na área de saúde, a
maria colaborou com o reposiciona-
mento da marca do hospital oftal-
mológico dayhorc, na bahia, e do
hospital anchieta, em brasília, sem-
pre respeitando as orientações do
cremeb no sentido de evitar apelos
de venda e clima de mercantilismo.
35 – Anúncio para Orient Filmes; 36 – Anúncio para Jornal Bahia Hoje; 37 – Anúncio para Salvador Convention Bureau; 38 – Marca para projeto da Fundação Odebrecht; 39 – Marca para Faculdade Católica de Salvador; 40 – Camisa para Bloco Ilê Aiyê; 41 – Anúncio para Salvador Convention Bureau; 42 – Cartaz para Casa de Cinema da Bahia; 43 – Marcas para Secretaria de Cultura e Turismo/Bahiatursa
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16 Maria
“Este é um caso em que Maria é João e João é inspiração, simplicidade, pertinência e empatia com os clientes e suas causas.” Bruno Silveira (Fundação Odebrecht)
“João Silva representa o melhor da criação da Bahia. À frente da Maria Comunicação, ele tem me surpreendido pela facilidade do atendimento, de acesso ao cliente. Os trabalhos da Maria que nós produzimos só têm me dado alegria, porque têm o toque de genialidade do meu amigo João Silva”.Wesley Rangel (WR)
Aspas
“A Maria está completando 15 anos, idade da adolescência, mas, mostra que tem maturidade e conhecimento sobre os assuntos que envolvem o Brasil, sem violentar a cultura negra e sem se isentar da sua responsabilidade social. Mostra que tem ousadia, que sabe pensar em projetos grandiosos, inovando sempre e compreendendo o povo brasileiro e sua cultura.”Olívia Santana - Vereadora de Salvador
“O que me impressiona em João é a sua energia e a parceria profissional. Ele realmente aporta material criativo e sonha junto o sonho do cliente”. Geraldo Machado (Ex-Diretor Superintendente do Promo/BA)
“Falar de João Silva é fácil: talentoso, um dos melhores designers que conheci. Pensa estrategicamente, joga no meu time por isso. Não bastasse, é leal, bom caráter, qualidades hoje em dia, infelizmente, rarefeitas”. Fernando Barros (Propeg)
Maria 17
“A marca do Olodum é sem sombra de dúvidas a marca brasileira mais conhecida lá fora”. Paulo Gaudenzi (Ex-Secretário de Cultura e Turismo da Bahia).
“Quando Maria nasceu o que me deixou entusiasmado foi a escolha do nome da agência: Maria. Curioso, novo e revelador do talento do João, forjado na luta do dia-a-dia pela sobrevivência em busca da construção de uma marca e de um sonho. João e Maria ou Maria e João são vencedores e merecem todo o nosso respeito e admiração”. Sérgio Amado (Grupo Ogilvy no Brasil)
“O trabalho e a criatividade de João Silva, ajudaram a construir a imagem gráfica e de símbolos do Olodum. É importante a criação de instituições com velocidade pra fazer coisas novas e singulares como a Maria. O Bando de Teatro Olodum é um dos grandes beneficiados do talento da Maria”. João Jorge (Olodum)
“João Silva é mais do que um dos melhores publicitários da Bahia, ele faz parte da família Ilê Aiyê e é um dos orgulhos da raça.” Vovô (Ilê Aiyê)
“Conheço muito o João Silva. João é um craque. Diretor de Arte de mão cheia, publicitário de cabeça cheia, João foi dos poucos de nós que resistiu aos apelos do Sul Maravilha. Ainda bem. Assim, ele consegue ter na Bahia uma agência de ponta. João poderia trabalhar onde quisesse. Para o seu bem, ele trabalha na Maria, ele trabalha na Bahia”. Sérgio Valente (DM9DDB)
mIragem © maRiageRusa - www.maRiageRusafotogRafia.com.bR
mIragem © maRiageRusa - www.maRiageRusafotogRafia.com.bR
20 Maria
empresa líder de mercado no país, com
pelo menos o dobro do tamanho do
concorrente mais próximo. dona de
uma carteira de clientes que inclui Na-
tura, carrefour, mitsubishi, coca-cola,
danone, santander, dentre outros. é
com esse lastro que a arizona.com.br provoca mudan-
ças radicais nos processos que envolvem comunica-
ção e marketing no brasil.
o novo padrão para o mundo do marketing está rela-
cionado à colaboração, ao aproveitamento máximo de
todos os ativos digitais (fotos; vídeos; áudios; layouts;
etc.); ao uso intensivo de tecnologia para a gestão des-
ses ativos; e à qualificação da gestão através de com-
preensão holística dos processos de comunicação e
do seu acompanhamento.
através de uma plataforma visto, que integra diver-
sos serviços customizáveis (incluindo armazenamento,
customização de peças; pré-impressão; gestão de flu-
xos; etc.), a arizona tem conseguido ganhos formidá-
veis para seus clientes. “a gente simplesmente deixou
a máquina fazer o trabalho braçal”, diz o presidente da
empresa, marcus hadade.
os números são impressionantes. “o carrefour fazia
700 páginas de tablóide por semana com 45 pessoas,
hoje ele faz 1500 páginas por semana com 23 pesso-
as”, relata hadade. além disso, usando as ferramentas
da arizona, a rede de supermercados reduziu, já no
Mudança de CulturaArizona, a empresa que inaugurou o mercado de gestão de
ativos de marketing no país, preconiza a integração inteligente
das máquinas nas práticas de comunicação.
Hadade | brincando na mesa de bilhar da sede da empresa
© Edu MEndES
Tecnologia
Maria 21
primeiro ano, de 96 para apenas 9, a quantidade de
erros nesses impressos.
mais importante que os ganhos dos clientes é a mu-
dança de conceito promovida pela arizona. No novo
mundo vislumbrado pela empresa paulista, qualquer
investimento gera ativos que poderão ser geridos e uti-
lizados no futuro.
- o fotógrafo tira 20 fotos, aí o cliente usa uma, depois
de um ano quem acha as outras 19? Nem o fotógrafo
guarda. mas você gastou dinheiro para 20 fotos. o carre-
four economizou 473 mil reais em desembolso com foto-
grafia no primeiro ano que a arizona estava lá, comenta o
presidente da empresa.
a robustez dos recursos economizados é, inclusive,
motivo de brincadeira para hadade. “os clientes falam
que não dão todos os dados de economia para a gente
porque acham que a arizona vai subir o preço. (risos) se
eu fizesse um acordo deles me darem metade da eco-
nomia, acho que ganharia o triplo do que a gente ganha
hoje (mais risos).
o episódio da fotografia pode ser aplicado a
todas as outras áreas relacionadas com o marke-
ting. a automação e a digitalização dos processos
transforma a atividade de produzir um anúncio, por
exemplo, em parte de um processo que gera ativos
para a companhia.
dessa forma, fotografias viram bancos de imagens;
layouts viram templates; produtos viram ativos digitais.
“Todo início de ano a gente traça objetivos. Eu preciso aperfeiçoar esse produto, preciso construir
um novo que já sei qual é, e preciso descobrir um novo que
nem sei o que é.”
“A gente simplesmente deixou a máquina fazer
o trabalho braçal.”
22 Maria
além da organização desses ativos, a arizona dá
aos clientes a possibilidade de uma gestão inteligen-
te dos processos de marketing. todos os envolvidos
participam desses processos e é possível realizar cru-
zamentos de informações das atividades, com os re-
sultados de cada cliente.
- antigamente, a mitsubishi chegava para um conces-
sionário de salvador e dizia: “você precisa vender 30 car-
ros por mês”. hoje não. hoje ela vê o que ele faz e diz:
“olha, o cara lá de são luís do maranhão, que é um mer-
cado parecido, está fazendo isso e está vendendo mais.
ou então está caindo a venda e não recomendo a você
fazer. tem muito mais interesse de negócios do que uma
pressão por vender mais – conta marcus hadade.
início tudo começou quando a empresa passou a gerir
os arquivos da Natura. como a demanda por fotos era
constante, surgiu a figura carinhosamente cunhada por
hadade de “jpegman”.
- Naquela época, em 2003/ 2004, era tudo em cd/
dvd. esse rapaz ia lá, buscava o arquivo em nosso
acervo e depois mandava um jpeg para o cliente, por
isso “jpegman”.
por conta da quantidade de arquivos existentes, a
gestão desses arquivos beirava o caos. “aí a gente fa-
lou: peraí, precisamos nos organizar, organizar o fluxo
entre agência e cliente. e isso virou uma baita oportuni-
dade de negócios”, conta marcus hadade.
Nas palavras de seu presidente, “a arizona é hoje uma
empresa que automatiza processos de marketing, fazen-
do a gestão dos ativos de marketing dos clientes”.
como os serviços da arizona participam da confecção e
impressão dos catálogos da Natura, pergunto a marcus
hadade se eles também administram a solução de incluir
nos impressos as fragrâncias da empresa de cosméticos.
- é impossível. Não somos nós, é a Natura, né? mas a
gente tem que pensar nisso, tem que pensar em coisas
que são impensáveis. e é assim que a arizona sempre
cresceu. “ah, mas isso não dá”. “por que é que não dá?
vamos tentar!” – conclui.
internacionalizaçãosegundo o presidente da arizona, executivos da
empresa viajaram o mundo para conhecer soluções
parecidas às que ela oferece. “Não encontramos nada
similar”, diz. e explica:
- você tem um excelente software de armazenamen-
to, excelentes softwares colaborativos, excelentes lo-
gísticas digitais de distribuição, uma série de verticais.
só que você não tem ninguém na horizontal, vindo aqui
desde o briefing, da estratégia da concepção até a aná-
lise, passando pelo armazenamento, fluxo colaborativo,
distribuição; enfim, passando por todas as verticais e
chegando aqui numa análise sobre retorno de investi-
mento – diz marcus hadade.
houve, inclusive, um consultor americano que pediu
para estudar a experiência da arizona. hadade repro-
duz suas palavras.
Maria 23
A Coca-Cola é nosso cliente.
Ela contratou uma empresa fora do
Brasil pra desenvolver uma solução
dela, pra ela usar mundialmente.
O Brasil não só não usa, como
contratou a Arizona.
Quando contratou a Arizona, Atlanta
(a sede da empresa) questionou: Por
quê vocês estão contratando algo
que a gente tem próprio? Aí eles
foram justificar o porquê. Porque a
Arizona atendia e trazia muito mais
benefícios e melhorias do que a
solução própria que eles têm.
É aquela velha história, Coca-Cola
pôs uma solução, ela é estática,
ninguém tá pensando em melhorar,
em evoluir, tem aprendizado em
outros clientes, marketing. Tentou e
conseguiu a aprovação de Atlanta pra
nos contratar.
É um exemplo real.”
Marcus Hadade
“
“Expansão | entrar nos EUA é meta da Arizona
SAIBA MAIS: www.arizona.com.br
© Edu MEndES
Coca-Cola pensa em Arizona.Arizona pensa em soluções
– eu quero até estudar o caso de vocês, porque ele
não conhecia, primeiro porque eu não sabia que exista
uma empresa no brasil que faz isso hoje e, dois, eu não
sabia que você tinha um modelo diferente do que o mun-
do faz hoje – disse o consultor.
a empresa, que possui quatro escritórios no brasil, 214
funcionários, e espera faturar entre 40 e 50 milhões em
2010, tem no horizonte conquistar o mercado externo.
trazer alunos de mba do massachusetts institute of tech-
nology e da Wharton school (estados unidos) para fazerem
estudos na empresa. assim, agrega conhecimento estrangei-
ro e torna-se conhecida pelos profissionais do exterior.
planeja também, comprar uma empresa norte-ameri-
cana para entrar naquele mercado. “a gente pensou, já
que vamos gastar tempo e dinheiro, vamos pro país mais
difícil, vamos pros eua. mas sabemos que é um proces-
so de médio e longo prazo”, explica.
24 Maria
Quando a maria foi cha-
mada pelas empresá-
rias gisele chalub e
eliane dittebrandt, do
centro de estética Jacques Janine,
o cenário era assustador.
o faturamento da empresa
caía em ritmo acelerado, enquanto
a clientela mudava-se para outro
salão na mesma rua. uma antiga
cliente havia aberto a nova loja e
contratado os melhores profissio-
nais do Jacques Janine, motivo da
debandada dos fregueses.
gisele e eliane estavam certas
que uma campanha de tv na princi-
pal emissora do estado, durante 30
dias, resgataria a clientela perdida.
entretanto, o que seria uma sim-
ples campanha de tv tornou-se uma
ação bem mais ousada.
depois de estudar o caso, a ma-
ria sugeriu às empresárias o treina-
Jacques Janine A marca que não sai da cabeça do consumidor.
24 Maria
Casos da Maria
mento imediato de outros dois pro-
fissionais à altura dos que saíram.
com a participação de adriane
Nunes e mônica moura, foi então pla-
nejada uma campanha que associas-
se a marca, Jacques Janine, à quali-
dade e diferenciação.
No lugar da campanha de
30 dias na tv, a agência prefe-
riu distribuir a mesma verba em
12 meses para uma campanha
de rádio, reforçada pelo apoio de
quatro quinzenas de outdoors ao
longo do ano.
os comerciais de rádio, sempre
muito bem humorados, defendiam
o conceito de que “frequentar o
Jacques Janine é in. Não frequen-
tar é out”.
“eu não conheço ninguém que
goste de ser ‘out’”, comenta João
silva, criador da campanha.
além de mobilizar as pessoas
que não queriam ser vistas como
“out”, a campanha obteve outro ga-
nho fundamental: o reconhecimento
deixou de estar ligado a um ou outro
dos profissionais do centro de esté-
tica e passou a ser um ativo da mar-
ca Jacques Janine.
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Anúncio
Maria 25Maria 25
pelos profissionais do seu segmento,
quanto pelo seu público.
a campanha da maria foi pre-
miada como o melhor material de rá-
dio da década; ganhou o iv prêmio
fonograma e o cliente, as páginas
dos jornais e uma enorme visibilida-
de em mídia gratuita e espontânea.
o Jacques Janine venceu seis
edições consecutivas do prêmio
top of mind, na categoria salão
de beleza, uma prova de que sua
marca foi definitivamente fixada na
mente do consumidor.
“Durante nossa longa parceria, a Maria nos ajudou a consolidar nossa marca, o que se refletiu na premiação do Top of Mind por anos consecutivos. Nosso relacionamento sempre foi além do comercial e a Maria passou a fazer parte da nossa família”.
Eliane Dittebrandt - diretora do
Jacques Janine.
o resultado foi o sucesso abso-
luto. além de recuperar os clientes
antigos – seu objetivo inicial –, o
Jacques Janine conquistou e fide-
lizou novos clientes.
tanto que surgiu a necessida-
de da abertura de duas novas uni-
dades na cidade. Nesse período, a
lucratividade da loja baiana só pode
ser comparada à unidade do Jac-
ques Janine do shopping morumbi,
em são paulo.
a marca Jacques Janine passou
a ser respeitada e reconhecida tanto
AnúncioOutdoor
Prêmio Top of Mind
© ARQuIVO / MARIA
26 Maria
Pensar o novo!
eu era pequeno quando mi-
nha mãe trazia para casa
aquela lata de óleo, que
não era uma lata de óleo
qualquer, mas que, estimulada pela
propaganda do tubo mágico das tv´s
de válvulas, tinha uma outra vida, uma
outra leitura, um outro significado. pois
de todas as latas de óleo que existiam,
uma, e apenas uma, tinha uma maria
que podia, a qualquer momento, sair
da lata, sabe-se lá para que, mas com
toda certeza para ajudar minha mãe a
fazer as deliciosas refeições com que
nos encantava todos os dias.
sem nem pensar no que estava
acontecendo, eu simplesmente rea-
gia a uma estratégia de comunicação
que os velhos publicitários da época
elaboraram, criaram e produziram tão
bem, que resiste até hoje.
por isso, muito antes de João
criar a maria, a receita já estava pron-
ta: vamos contar uma boa história e
associá-la a uma marca. depois, é só
criar os comerciais, anúncios, spots,
sites e cartazes.
tanto para a maria da lata e a da
agência, existe uma proposta de co-
municação que prescinde de platafor-
mas, revoluções digitais, tecnologias
e modismos: falar ao coração, excitar
a imaginação e promover o diálogo
baseado nos valores culturais e na-
quele sentimento que o consumidor
tem no mais fundo de seu coração e
que só os mais talentosos profissio-
nais sabem perceber e traduzir.
o que vemos hoje e veremos no
futuro é a busca, cada vez mais difícil
de criar valores relevantes para o con-
sumidor, de forma que ele se sinta gra-
tificado e disposto a retransmitir estes
valores em suas redes sociais, digitais
ou do mundo físico. falamos de uma
“moeda social”, cunhada nas propostas
de comunicação das marcas e que se
tranforma em valor de troca para o con-
sumidor. e à medida que a transmitem,
transmitem também os valores associa-
dos às marcas e produtos anunciantes.
sem maiores segredos: comuni-
cação fundada na cultura popular,
no consciente e inconsciente coletivo
das paixões que são relevantes para
as pessoas; informação útil e hones-
ta; criação e produção desta mensa-
gem com criatividade e talento; uso
de suportes e pontos de contato re-
levantes para o consumidor.
segredos que as marias e Joões
de todos os tempos sabem como
usar. e continuarão sabendo.
EmmanuEl Publio Dias,
Diretor De Assuntos CorporAtivos
DA esColA superior De propAgAnDA e
MArketing (espM)
“maria, sai da lata!”O velho slogan do óleo Maria me vem fácil
à cabeça, quando recebo o pedido de
meus amigos da Maria para escrever
sobre comunicação.
Salvador - Shopping Barra 71 3264-3315 • Shopping Iguatemi 71 3450-0177
amanheCendo - rIo Paraguaçu © adenoR gondim - www.aPenasbahia.bloggeR.com.bR
amanheCendo - rIo Paraguaçu © adenoR gondim - www.aPenasbahia.bloggeR.com.bR
30 Maria
salvador tem in-
contáveis cartões-
postais. desenha-
dos pela natureza
ou nascidos de
traços arquitetôni-
cos, o elevador lacerda, o merca-
do modelo, o porto da barra, a lagoa
do abaeté, o pelourinho, o forte são
marcelo e seculares igrejas, espalham
a fama da cidade emoldurada pela
baía de todos os santos. mas quem
chega a salvador também é seduzido
por outro ícone emblemático: o berim-
bau, instrumento de rica sonoridade
que impulsiona os giros e saltos na
No ritmo do berimbauSímbolo baiano, instrumento une tradição e musicalidade
roda de capoeira, um dos mais fortes
símbolos da cultura afro-brasileira.
No mercado modelo (cidade baixa),
os berimbaus logo atraem o turista. de
r$ 5,00 a r$ 30,00, os vendedores
oferecem desde instrumentos peque-
nos - para crianças - até os adequados
a profissionais. o vendedor miguel dal-
tro trabalha no box à direita da entra-
da principal, há mais de 20 anos. “se
o freguês quiser também levar a capa
do berimbau, o valor passa para r$
50,00”, informa. ele lembra que a maior
parte dos berimbaus é procedente de
fábricas do município de simões filho
e da área suburbana da capital.
em outro box, instalado à esquer-
da, as turistas e irmãs elisa souza
pinto, do rio de Janeiro, e lúcia
martins, moradora de João pessoa,
compravam berimbau numa quarta-
feira ensolarada de maio. elas obser-
vavam a demonstração do vendedor
osmar dos santos, mestre marzi-
nho, de uma família de capoeiristas.
o propósito de elisa era levar dois
berimbaus para os netos cariocas
que fazem capoeira. segundo mar-
zinho, os instrumentos vendidos ali
são produzidos pelo pai, mestre ola-
vo paixão dos santos, no bairro de
santa mônica/ iapi.
Empreendedorismo
© JOãO RAIMundO dEcOM, L.F
Maria 31
Capoeira regionalem outro espaço de salvador, ed-
son luiz ribeiro dos santos, o mes-
tre trovão, repassa conhecimentos
de capoeira regional - eternizada por
mestre bimba – a crianças, jovens
e adultos. vários deles, em oficinas
que chegam a ter 50 participantes,
se interessam pelos segredos da arte
de fabricar berimbau. por dia, nas
aulas, são produzidos cerca de sete
instrumentos. o preço do berimbau,
acompanhado de baqueta e caxixi,
oscila entre r$ 40,00 e r$ 50,00. a
vendagem ajuda a complementar a
renda dos fabricantes.
o ideal para a tonalidade adequa-
da do berimbau é medir sete pal-
mos. “Não basta só formar o arco-
íris. a afinação também depende da
cabaça. e a de tamanho médio é a
melhor”, ensina mestre trovão. as
oficinas constam de aulas teórica
e prática sobre afinação e toques,
sequência de movimentos, treina-
mento de charanga (um berimbau e
dois pandeiros), quadras e corridos
(cânticos), fabricação de berimbau,
pandeiro e caxixi.
A capoeira está se transformando
numa alternativa de renda em Lauro
de Freitas, na Região Metropolitana de
Salvador (RMS). O município ganhou
o Polo de Capoeira, na forma de
cooperativa, que já resultou na criação
de loja temática em moda esportiva
e de praia - inspirada nos trajes
dos capoeiristas -, e na Orquestra
de Berimbaus. Uma novidade é a
pesquisa de um perfume com a
essência extraída da biriba, madeira
usada no fabrico do instrumento.
O superintendente de Promoção da
Igualdade Racial de Lauro de Freitas,
Eriosvaldo Menezes, informa que dos
cerca de quatro mil capoeiristas do
município, 2.800 estão cadastrados
na prefeitura - e 50% deles participam
do Polo de Capoeira. Inaugurada em
setembro de 2006, a loja temática
deixou de funcionar no Complexo
Hoteleiro Costa do Sauípe, primeiro
endereço. Reabre, em dezembro
deste ano, no Centro de Referência da
Cultura Afro-Brasileira, a ser instalado
no Terminal Turístico Mãe Mirinha de
Portão, final de linha do bairro.
A Prefeitura de Lauro de Freitas
e o Serviço Brasileiro de Apoio
às Micro e Pequenas Empresas
(Sebrae) apoiaram a organização
da cadeia produtiva. O Sebrae Bahia
desenvolveu o treinamento para
formar a cooperativa de instrutores
de capoeira e fabricantes de
berimbau. Agora a instituição divulga,
junto ao segmento, a possibilidade
desses profissionais se tornarem
empreendedores individuais.
Quem se registra na condição de
empreendedor individual tem direito
ao Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ) e aos benefícios da
Previdência Social.
Alternativa de renda
©
Variedade | no Mercado Modelo, diversos tamanhos e cores
© GRAÇA FILAdELFO
32 Maria
Ele sempre resistiu em
participar da roda de capoeira.
Seu maior interesse era fazer
berimbau e descobrir sons. Da
dedicação ganhou o nome de
guerra, que incorpora parte da
denominação do instrumento.
Lourival Santos Araújo – Mestre
Lourimbau – tem 61 anos. Ainda
produz berimbau, mas ensina
a arte agora apenas quando
recebe algum pedido. Ele une
ao dom de artesão o talento de
músico, compositor e cantor.
Por onde anda, no Brasil ou
exterior, Lourimbau leva o
instrumento. E vende. Já tocou
no Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná, Alemanha, Suíça...
Personagem emblemático,
autodidata, tocou o instrumento
com a desenvoltura de sempre
na festa que comemorou, 14
anos atrás, no Teatro Vila Velha,
o primeiro ano de atividades da
Maria Comunicação.
Lourimbau conta que fez o
primeiro berimbau quando tinha
10 anos e nunca abandonou
o trabalho de artesão. O
mestre tem condição de fazer,
em média, dez instrumentos
por semana. O preço varia
de R$ 25,00 (mais simples)
a R$ 250,00 (com melhor
acabamento, incluindo verniz).
De 1982 a 1994, Lourimbau teve
atelier no Forte de Santo Antônio
Além do Carmo, onde ensinava
a turmas, em geral, de 25
alunos. Hoje o espaço das aulas
é a casa do cliente. Às vezes a
pessoa quer saber como fazer
um berimbau. Em outras, o
desejo é aprender a tocar.
Lourimbau, eterno artesão
©
Ciência | fabricação depende de um jeito especial.
Sedução | berimbau encanta turistas e baianos famosos como o cantor Tonho Matéria
Fusão | força, equílibrio e ritmo no centro da roda.
© d
IVu
LGA
Çã
O
© AbIMAEL
VÁ AO VILA, VELHO.Av. Sete de Setembro, Passeio Público - Campo Grande , s/n - Salvador - Bahia - Tel: 71 3083.4600 - www.teatrovilavelha.com.br
Lourimbau, eterno artesão
matrIzes © séRgio gueRRa - [email protected]
matrIzes © séRgio gueRRa - [email protected]
36 Maria
Ele é o grande nome da noite de Brasília. Dono de dez
empreendimentos na capital federal, frequentados pelos
políticos e empresários mais poderosos do país, Jorge Ferreira
esbanja uma simplicidade incomum. E sabe disso.
Espelho de Brasília
Ferreira | a simpatia faz as honras da casa
© dI SOuTO
© dIVuLGAÇãO
Perfil
sou um empresário que tem 550 funcio-
nários e não tem escritório. meu escritó-
rio é nos bares. eu não tenho secretária.
minha secretária é o celular, entendeu?
e eu despachava muito lá no feitiço,
debaixo de uma árvore, porque sou um
empresário atípico – diz.
Nossa conversa, portanto, acontece num de seus “es-
critórios”, mais precisamente no mercado municipal , tal-
vez a maior “jóia” da coleção do empresário.
inaugurada em 2006, a casa é inspirada no les halle
de paris e em outros mercados do país, onde se vende
de tudo e, à noite, a boêmia se reúne.
goza do charmoso paradoxo de chamar-se “mer-
cado municipal” no único local do país onde não exis-
tem municípios.
- isso aqui é uma obra de arte – o primeiro no mundo,
acho, a ter um dono só. eu trouxe 40 toneladas de grades
antigas, revitalizei as coisas todas, fiz um pé direito altís-
simo... o mercado é todo dia. me emociona porque virou
um ponto turístico da cidade. eu não imaginava isso.
logo depois de declarar-se ao mercado, Jorge co-
menta que está triste, pois um garçom acabara de que-
brar um vitral de mais de 100 anos. “vou ter que restau-
rar”, comenta, balançando a cabeça.
De repente, empresárioferreira conta que só se tornou empresário “pela in-
compreensão da burguesia”. explica:
- onde eu trabalhava, eu fazia greve, aquelas coisas, e
eu sempre era demitido. então a burguesia não me queria
como trabalhador, né? aí eu tive que arrumar uma forma
Maria 37
© dI SOuTO
de sobrevivência. eu me achei empresário e, de repente,
tem cem, duzentas pessoas dependendo de mim.
para “sobreviver”, Jorge ferreira abre, em 1989, o fei-
tiço mineiro. era a época da primeira eleição presiden-
cial direta após a ditadura, e logo o “feitiço” tornou-se
um ponto de encontro de artistas, intelectuais e políticos
de esquerda. “Não posso falar do meu empreendimento
sem esse caldo cultural”, comenta.
No pequeno palco do restaurante, apresentaram-se
nomes como francis hime, João bosco, beto guedes,
lô borges, Nelson sargento e dona ivone lara. foi lá que
aconteceu o último show de baden powell no brasil – faz
questão de lembrar um emocionado Jorge ferreira.
Nas mesas – literalmente – do feitiço mineiro foi escrita
e editada durante 12 anos a revista literária “tira prosa”,
que chegou a ser considerada uma das três melhores re-
vistas culturais do país.
entre um chope e outro, escreviam na revista 13
pessoas, entre elas, além do próprio Jorge ferreira, no-
mes como val santana, Jaguar e ziraldo. este último,
grande amigo do empresário-artista e responsável por
cerca de metade das marcas dos bares e restaurantes
de Jorge. “ziraldo é um grande amigo, muito presente
na minha vida”, diz.
fundador do pt e da cut quando ainda morava em Juiz
de fora, Jorge ferreira também tem um grande leque de ami-
gos na política, especialmente no campo da esquerda.
tanto que a posse de lula foi comemorada pelo grupo
de José dirceu no bar brasília, outro dos estabelecimen-
tos de ferreira. “eu nunca vi brasília com tanta festa; era
operário, o bar todo cantando... esse foi um momento
muito marcante”, lembra.
o dono da noite brasiliense também é amigo do presi-
dente lula há mais de 20 anos. aliás, de lula.
- agora ele virou presidente. presidente não tem ami-
go. mas as oportunidades que a gente tem de se en-
contrar, é uma coisa muito carinhosa, era uma vida muito
junta antes dele ser presidente – diz.
entretanto, engana-se quem acredita que a proximi-
dade com os poderosos favorece de alguma forma os
Caçula | Bar do Ferreira é destaque do shopping Quê, lançado pela Maria, em Águas Claras (DF)
38 Maria
empreendimentos de Jorge ferreira. “eu tenho uma van-
tagem muito grande: eu nunca vendi nada pra governo,
não vivo do governo, não tenho nada com o governo”,
afirma, enfaticamente, o empresário.
seu mais recente empreendimento é o bar do ferreira,
no shopping Quê (águas claras/df), cuja nome, marca e
lançamento foram responsabilidade da maria comunica-
ção. ao saber disso, ferreira reaje:
- e esse canalha do João silva até hoje não foi lá! fiz
um bar maravilhoso, à altura do nome que ele pensou
para o shopping. é uma mistura do armazém com o bar
brasília. e fiz uma torteria lá também, retomando a raiz
italiana de minha mulher.
brasíliaembora tantas personalidades frequentem seu circuito
gastronômico, ferreira gosta sempre de lembrar que os
bares e restaurantes que administra são feitos para o pú-
blico de brasília.
- fiz o bar, na verdade, pra brasília. Não fiz pro político
que frequenta brasília. eu sempre falo o seguinte, que a
cidade primeiro tem que ser boa pro morador e não pro
turista. todos os meus bares foram feitos para essas pes-
soas que gostam de morar aqui – afirma.
ferreira usa uma expressão de darcy ribeiro, “fazimento”
– o fazer com sentimento –, para caracterizar a relação entre
seu trabalho e os moradores da capital federal. “fazimento”é
também o nome do livro de contos e poemas que o empre-
sário lançou em 2009, quando completou 50 anos.
- foi nesse “fazimento” que eu fui compreendendo a
cidade, e por isso que eu acho os meus bares são cheios,
João (Silva) foi amor à primeira vista. Eu fiquei impressionado como é que uma pessoa pode ter tanta criatividade com tanta energia. Inclusive no primeiro contato que tive com ele, terminei me despedindo: “Ô, João, você é um gênio!’.
Eu fico muito feliz desses 15 anos da Maria, por ter sobrevivido a esse mercado competitivo e essa figura ter mantido uma marca tão forte que é hoje a Maria no Brasil, com presenças que foram marcantes na história brasileira,
com marcas - até discordando ideologicamente -, mas aquela marca do Collor é genial né, foi criada por ele.
Eu acho que é muito bom pro João fazer 15 anos, porque é um momento de repensar, refletir, de tomar rumos. Acho que o João agora tá num momento bom da vida dele, de definir com a sua criatividade e sua personalidade o que é que será a Maria nos próximos 15 anos.
Agora cabe a ele definir esse outro passo, e eu acho que o João
será sem dúvida nenhuma, uma legenda pro publicitário brasileiro, pela criatividade e pela seriedade com que ele trabalha.
Como eu sou contador de casos, tem uma história do João que já virou um “causo” meu. Ele já tá puto comigo, porque conto tudo diferente (risos). É sobre um anúncio que ele fez na Copa de 1986, quando o Duda Mendonça era chefe dele. Eu já tô contando até melhor do que ele!”
Jorge Ferreira
Origem | a aventura de Jorge começou pelo Feitiço Mineiro
são representativos, porque traduzem a alma do brasi-
liense, que é uma alma universal. o brasiliense não é pau-
lista, não é carioca, não é do piauí, ele não é do amapá,
o brasiliense está se formando – diz.
para Jorge, é preciso dissociar a ideia de foco da cor-
rupção nacional da imagem de brasília. “brasília não pode
ser penalizada como se fosse a síntese do mal”, opina.
para definir a capital do país, ferreira evoca novamen-
te darcy ribeiro.
- o darcy ribeiro dizia que tinha brasília como
se fosse um espelho quebrado, refletindo várias ima-
gens e que com o tempo ia se juntando. eu acho que
entrei nesse momento, na montagem desse espelho.
brasília foi a grande epopéia do povo brasileiro. e
acho que agora nós vivemos um grande momento
“Momento de repensar, refletir, tomar rumos!
Maria 39
CASAS DE JorgE FErrEIrA
Bar do Ferreira: Shopping Quê - Águas
Claras, Tel: (61) 3042-5585
Tratoria Peluso: Ac rua 36 norte lote 5
bloco 06 loja 36/37 - Águas Claras
Armazém do Ferreira: SCLN 202 - Bloco A -
Loja 1 - Brasília, DF - Tel: (61) 3327-8342/ 0167
Pizzaria gordeixo: CLN 306 Bloco B, Lojas
13/29 - Asa Norte - Brasília/DF - Tel: (61)
3273-8525
Bar Brahma: 201 Sul, bloco C, loja 33, Asa
Sul - Brasília – DF, Tel: (61) 3224-9313
Mercado Municipal: W3 Sul, Quadra 509,
Brasília, DF, Tel: (61) 3442-4500
Feitiço Mineiro: CLN 306,
Bloco B, Lojas 45/51, Brasília, DF,
Tel: (61) 3272-3032
Bar Brasília: 506 Sul, Bloco A, Brasília, DF,
Tel: (61) 3443-4323
Bar do Brasil: 202 Norte, Bloco A, Loja 21,
Brasília, DF, Tel: (61) 3327-8342
Chopp Brahma Express: 306 Sul, Bloco, A
Loja 2, Brasília, DF, Tel: (61) 3442-4677
Origem | a aventura de Jorge começou pelo Feitiço Mineiro © dI SOuTO
parecido com aquele (referindo-se ao êxito do go-
verno lula).
como este mineiro da pequena cruzília foi morar
lá? perseguindo um grande amor. “algumas pessoas
chegam a brasília porque o pai foi transferido pra cá,
por razões de trabalho, por razões de arquitetura, ou
por qualquer motivo né? eu não, eu vim por amor”,
afirma, orgulhoso.
o motivo de tamanha devoção é a esposa denise,
com quem é casado há 25 anos e tem três filhos, todos
brasilienses. “para mim, três coisas fundamentais mo-
vem a vida de uma pessoa: trabalho, família e amigos. o
resto, eu não me preocupo”, assegura.
empresário, militante, marido, poeta. Jorge ferreira
faz realmente com que todos se sintam em casa. “minei-
ro mantém essa coisa ampla de mundo, da conversa, da
conciliação”, justifica.
e a nossa conversa acaba porque a “secretária” de
Jorge toca. do outro lado da linha, a esposa de um mi-
nistro quer saber qual dos bares vai estar mais animado
para a comemoração do aniversário do marido.
enquanto ferreira disserta calmamente sobre as atrações
da noite em seus bares, José oscar
pelúcio, seu sogro (que acompanhou
boa parte da entrevista), comenta:
“ele não quer isso, mas poderia se
candidatar para depu-
tado que ganhava fá-
cil. tem gente demais
que gosta dele. e de
todos os partidos”.
Num bar de Natal O espaguete não serve meio,só inteiro.E o amor, como será?No meu baré ao dente.Poema do livro “Fazimento”
40 Maria
Casos da Maria
basta a ocorrência de um
caso de febre aftosa para
que toda uma região seja
penalizada com enormes
prejuízos aos pecuaristas e à econo-
mia dos estados produtores e ex-
portadores de animais, carne, leite e
produtos derivados.
em 2001, a bahia obteve a cer-
tificação de zona livre da aftosa
com vacinação. dois anos mais tar-
de, o índice de vacinação no estado
chegou a 93% do rebanho.
entretanto, era necessária a
imunização regular de todo o re-
banho. uma tarefa difícil, especial-
mente a de superar as resistências
dos pequenos produtores, que não
tinham a cultura da vacinação, di-
nheiro para comprar as vacinas nem
eram alcançados e sensibilizados
pela comunicação.
Quando, em 2004, a maria
assumiu as campanhas de vacina-
ção, uma nova estratégia foi esta-
belecida. “a gente percebeu que
boa parte dos produtores rurais
está nos grandes centros, e não
estão na zona rural. e são eles que
dão o tom da vacinação. Quando
o grande produtor está envolvido,
ele influencia o pequeno e médio,
vizinhos da sua propriedade”, con-
ta João silva.
essa constatação gerou a
ideia de fazer um filme de tv com
bois parando uma grande avenida
da cidade. “fizemos a boiada pas-
sar exatamente na faixa de pedes-
tres. os carros paravam e o sinal
governo da bahiaContra a febre aftosa, os bois invadem a cidade.
40 Maria
ficava verde para o boi vacinado”,
explica João.
para fazer o filme, dezenas de
bois nelore foram trazidos de feira
de santana para salvador e foi ne-
cessário construir um curral em ple-
no bairro do comércio, para que os
bois pudessem descansar.
FIlme 30’
Making-of da filmagem
Maria 41Maria 41
destres, reconhecida por eles como
um mata-burro.
apesar de toda a dificuldade, o
filme foi um sucesso.
a campanha foi apoiada num ar-
rojado plano de mídia, com anúncios
nos principais jornais da capital e do
interior, outdoors, busdoors, spots
nas rádios de maior alcance e nas
rádios comunitárias, carros de som,
internet, lembretes em contas de luz
e extratos do banco do brasil, carta-
zes e panfletos.
o esforço de comunicação ga-
nhou cobertura da imprensa e uniu
todo o mundo rural em torno do
mesmo objetivo.
o acerto na escolha da estraté-
gia ficou evidente logo nos primeiros
resultados. após a primeira cam-
panha, o índice de vacinação subiu
para 95%. e, apesar da ocorrência
da doença no mato grosso do sul,
a bahia intensificou suas campanhas
e manteve os criadores mobilizados,
chegando a 97% de cobertura vaci-
nal em 2007, garantindo a certifica-
ção de zona livre da febre aftosa.
“A Maria mostrou que competência e criatividade é o que faz a diferença num mercado tão competitivo”.
Pedro Barbosa – Ex-Secretário
da Agricultura da Bahia.
a produção teve ainda que, li-
teralmente, enxugar o asfalto por
conta da chuva e “convencer” os
animais a passarem pela faixa de pe-
©
Outdoor
42 Maria
este ano, o supremo tri-
bunal federal deve emitir
pronunciamento definidor
a respeito das cotas ra-
ciais para ingresso nas universidades
públicas. trata-se do exemplo mais
conhecido e polêmico das políticas
de ação afirmativa, que vêm sendo
implementadas no brasil, em escala
crescente, ao longo da última déca-
da. o tema é estratégico justamente
porque no fundo diz respeito a nosso
projeto de nação. em texto publicado
recentemente, defendo o argumento
de que um mito nacional se desen-
volveu e se tornou dominante, no
brasil, entre os anos 1920 e o fim da
ditadura de getúlio vargas, em 1945.
esse mito centrou-se na ideia de uma
miscigenação inicial de portugueses,
índios e africanos, para se tornar, ao
longo dos anos, uma asserção bem
mais genérica sobre a habilidade da
cultura brasileira, para a assimilação e
a integração de todo tipo de diferença.
Na construção desse mito nacional,
gilberto freyre participou tanto quanto
os grandes e celebrados modernistas,
mário e oswald de andrade.
Na interpretação gilbertiana do
brasil, a força democratizante não é,
obviamente, política, mas cultural. a
vida política brasileira foi fundada pelo
arbítrio de minúscula elite portugue-
o brasil mestiço: do mito à utopia
sa, assim como a economia assen-
tou suas bases sobre os horrores do
trabalho escravo e da monocultura la-
tifundiária. porém, em sentido contrá-
rio à separação, à violência e à exclu-
são, ter-se-iam forjado, no cotidiano
promíscuo da casa-grande, hábitos,
valores, crenças e sensibilidades mis-
turados, vitalmente contaminados e
impuros. essa tendência para a im-
pureza é o que caracteriza o brasil
mais profundamente, de acordo com
a interpretação de gilberto freyre.
tudo muito próximo ao ideário antro-
pofágico, como muito bem apontou o
mestre José guilherme merquior.
felizmente, gilberto freyre, mário
de andrade e parte da trupe moder-
nista, que, inclusive, assumiu postos
de comando da política cultural na-
cionalizante da era vargas (dentre os
quais, citem-se villa-lobos, carlos
drummond de andrade e rodrigo
melo franco de andrade, além do
próprio mário), ganharam o embate
entre as várias ideologias que nos
anos 1930 concorriam pela definição
do que o brasil havia sido, do que era
e do que deveria vir a ser. graças a
eles, vingou um projeto cultural de
nação não-branco e não-europeu,
que elegeu como valores centrais: o
mestiço e o potencial de plasticidade/
antropofagia. é com esse mito que o
brasil contemporâneo ainda opera.
No entanto, alegam intelectuais e
militantes comprometidos com a cau-
sa negra, eleger a mestiçagem como
valor nacional é um discurso bonito,
mas na prática, não só invisibiliza o
preconceito racial, como dificulta
a articulação de ações efetivas de
combate ao mesmo e de promoção
de uma maior igualdade social entre
as raças. do ponto de vista histórico,
não deixam de ter razão. aliás, não
creio que qualquer dos intelectuais
e artistas modernistas citados acima
fosse ingênuo ou cínico o suficiente
para negar a existência do precon-
ceito racial no brasil. do mesmo
modo, não podem ser simplesmente
tachados de conservadores, elitistas
ou racistas, os intelectuais que con-
temporaneamente se posicionam de
maneira crítica quanto às políticas
de ação afirmativa. a questão le-
vantada pelos críticos da ação afir-
mativa é outra, é séria e precisa ser
honestamente debatida: recuperar a
noção de raça e escolher o caminho
da oposição entre brancos e pretos,
adotado alhures, é mesmo a melhor
solução para resolver o problema do
preconceito racial no brasil?
são vários os argumentos que
nos sugerem cautela e prudência.
abrir mão da mestiçagem como va-
Pensar o novo!
Maria 43
afro-americanos, esse percentual
sobe para 24,7%. os casamentos
interétnicos no brasil atingem uma
taxa de apenas 20% do total de ca-
samentos contraídos na população.
Nos estados unidos, essa taxa é de
apenas 2%.
assim, a reflexão que se levanta
é de ordem estratégica: por que, ao
invés de procurar espelhamento em
um modelo que não solucionou o
racismo e as desigualdade raciais,
o brasil não procura, dentro de sua
própria tradição, formas criativas
para resolver um problema que pa-
rece incomodar os brasileiros em
geral? todos desejamos uma nação
mais justa. mas o brasil com o qual
sonhamos é mesmo um brasil com
brancos de um lado e negros do ou-
tro? creio que o brasil pode escolher
entre acompanhar o ritmo e assumir
a agenda da globalização planejada
por outros, ou pode abraçar o legado
da mestiçagem, da plasticidade, da
antropofagia, não como mito, mas
como caminho para a realização de
uma utopia de fraternidade.
Valéria TorrEs Da CosTa silVa,
Mestre eM AntropologiA soCiAl e ColíDer
Do núCleo De estuDos e pesquisAs eM Cri-
MinAliDADe, violênCiA e polítiCAs públiCAs
De segurAnçA (neps), Do progrAMA De
pós-grADuAção eM soCiologiA DA uFpe.
lor talvez não seja mesmo o melhor
caminho para combater o racismo
ou a desigualdade racial. primei-
ramente, como diz o intelectual e
militante negro paul gilroy, usar o
conceito de raça para combater o
racismo serve para dar sobrevida ao
paradigma que divide a humanidade
em categorias essenciais, conforme
a cor da pele. depois, a opção por
um modelo estrangeiro de combate
ao racismo é complicada, justamen-
te porque tenta ignorar especificida-
des das relações raciais no brasil:
na prática, como separar o que está
misturado, não só biológica, como
social e culturalmente?
por fim, se ao menos se pudes-
se constatar o sucesso estrondoso
do modelo americano de combate
às desigualdades raciais, valeria a
pena reproduzí-lo. No entanto, a
sociedade americana está longe de
ser um protótipo de igualdade racial.
boa parte da população afro-ameri-
cana vive em guetos que se formam
nas principais cidades do país. em
sua ampla maioria eles moram nas
casas mais pobres e estudam nas
piores escolas, e por isso mesmo
têm muito mais dificuldade de che-
gar à universidade. de acordo com
os dados do censo de 2004, 12,7%
da população americana vive abai-
xo da linha de pobreza. entre os
“o Brasil com o qual sonhamos é mesmo
um Brasil com brancos de um lado e negros
do outro?”
A Utopia Brasileira e os Movimentos Negros
Antônio Risério
Editora 34 (440 páginas)
Meu Tempo é Agora
Mãe Stella de Oxossi
Editora EmprEsa gráfica da Bahia (182 páginas)
A Modernidade nos Trópicos: gilberto Freyre e os Debate em Torno do Nacional
Valéria Torres da Costa e Silva
carpE diEm EdiçõEs E produçõEs (422 páginas)
SAIBA MAIS:
Aqui ninguém é branco
Liv Sovik
Editora aEroplano (176 páginas)
44 Maria
Cardume de QuatIngas nos reCIfes do ParCel dos aBrolhos © PedRo meiRelles - www.PedRomeiRelles.com
Maria 45
Cardume de QuatIngas nos reCIfes do ParCel dos aBrolhos © PedRo meiRelles - www.PedRomeiRelles.com
46 Maria
Entrevista
Maria 47
“O que o cliente precisa é de uma boa estratégia”Em entrevista, o publicitário baiano João Silva fala de sua
trajetória no mundo da propaganda, foca seu entusiasmo
à frente da Maria Comunicação – empresa que criou há 15
anos –, relembra histórias do passado e revela suas maiores
expectativas em relação ao futuro.
48 Maria
Como foi sua trajetória no mundo da publicidade
antes da Maria?
João Silva - eu comecei na Engenho, que nessa
época ainda não se chamava engenho Novo. depois
eu fui pra d&e, que era um resultado da fusão entre
a Divisão e a Engenho. entrei para a Propeg no ano
em que nós ganhamos três medalhas de ouro do
prêmio “colunistas Nacional”. foi uma premiação
importante: essas foram as únicas medalhas de ouro
que alguém ganhou fora do eixo rio e são paulo.
saí da Propeg e fui pra dm9, onde eu conheci duda
(mendonça). da dm9 eu voltei pra d&e, que, depois,
fundiu-se com a dm9 e virou ds2000, onde, depois
de dois anos, eu me tornei um dos sócios. em 1995,
saí para fazer a Maria.
Como nasceu a Maria? Quem foram os primeiros
parceiros, onde é que ficava, como era a Maria,
qual era a sua estrutura nesse início?
JS - a Maria começou numa salinha lá no edifício
Joventino silva, no itaigara, e os primeiros parceiros
da Maria foram os fornecedores e veículos do mer-
cado. eu tentei me cercar dos melhores. acreditava
que poderia, com isso, ter um
diferencial. como já me conhe-
ciam, todos tinham interesse
em trabalhar comigo, porque o
que a gente fazia normalmente
dava certo, gerava muita mídia
espontânea. Nós conseguimos
fazer campanhas, transformar em
anunciante muita gente que não
poderia ser anunciante e muito
menos estar usando fornecedo-
res de primeira linha. e tivemos
muita sorte, os primeiros clientes
foram: o teatro vila velha (que
renascia com o espetáculo zumbi
dos palmares), o Jacques Jani-
ne, promoexport, refrigerante
fricote, o shopping top mall e o
hospital anchieta em brasília.
Depois desses primeiros passos
projetando a Maria na cidade,
o que foi feito para consolidar
Lembrança | trajetória da Maria reconstituida
Maria 49
a agência no mercado baiano e
depois no brasileiro?
JS - Nós não tivemos nenhuma
estratégia pré concebida. a gente
imaginava que havia possibilidade
de transformar pequenas verbas em
grandes resultados. sabíamos que
as agências do mercado não teriam
interesse, ou não teriam como
atender essa faixa de mercado, com
a mesma agilidade. sabíamos que
poderíamos oferecer um trabalho
com qualidade, com know-how,
por um custo mais acessível, já que
nossa estrutura era enxuta.
“A melhor marca é a que vou fazer amanhã”
Vila | Márcio Meirelles recebe artistas como Daniela Mercury
Top dos Tops de Marketing | Comemoraçãocom Dinha e Kátia Silveira
Colunistas Nacional | Premiação em Recife
1 - Cartaz para o Teatro Vila Velha
1
Tem uma característica muito
presente nos trabalhos da Maria,
que é essa perenidade, a possibi-
lidade das coisas serem usadas e
reutilizadas. Por quê?
JS - eu convivi com muitos pro-
fissionais talentosos e tive a sorte de
trabalhar com os melhores do brasil
em um mercado, que é a bahia, onde
você tinha que fazer a coisa aconte-
cer. Não tem coisa pior pra mim, não
tem investimento mais jogado fora
do que um anunciante colocar uma
puta grana na mão de uma agência,
ela ir lá fazer um anúncio bonitinho
e no dia seguinte não tem ninguém
que lembra quem era o anunciante. a
propaganda tem que ter a capacida-
de de agregar valor à marca.
© IS
Ab
EL
GO
uV
ÊA
50 Maria
Quais são as marcas criadas por você que
mais fizeram história?
JS - eu costumo dizer que a melhor marca é a que eu
vou fazer amanhã. Já fiz marcas para as mais diversas
áreas, de baiana de acarajé a produtos de consumo e para
uma centena de políticos de todos os partidos. obviamen-
te que tem marcas que ficaram conhecidas, como a do
olodum, a de collor...
Quando João Jorge falou comigo sobre a marca
do olodum, eu pedi a ele um tempo, pois eu estava
pré-produzindo dois filmes. estava gravando com silvia
pfeiffer em são paulo e no dia seguinte iria gravar com
claudia raia, no rio.
fui pro hotel em são paulo pra
dormir um pouco, com a marca do
olodum na cabeça, só lembran-
do da batida do olodum. liguei a
televisão e havia cenas de violência,
se não me engano em paris, onde
estudantes estavam sendo espanca-
dos por policiais. isso me marcou.
No dia seguinte, quando acabei de
gravar com cláudia, voltei para o ho-
tel e vi outra caso de violência, desta
vez na alemanha, também envolven-
do estudantes. essas duas cenas em
Dasafio | melhor marca será feita amanhã
2 – Marca para Olodum; 3 – Outdoor para Olodum
3
2
Maria 51
países distintos e aquela batida do
olodum me marcando....
depois ainda fui a manaus, gravar
o lançamento do Amazonas Shop-
ping Center. Quando eu cheguei a
salvador, recebi a notícia que um
membro do olodum havia sido
baleado por um policial no pelourinho.
o olodum foi em peso pra frente da
secretaria de segurança pública, em
salvador, espalhou todos os tambo-
res e os músicos ficaram agachados,
com a cabeça baixa, em dia de tráfe-
go normal... aquele mar de tambores.
Quando eu vi a foto e o protesto
silencioso eu tive a certeza de que
o olodum precisava de um símbolo
da paz. Na hora me veio a cabeça
o símbolo de paz e amor do festival
de Woodstock, nos anos 60. pensei:
Já o que o Olodum tá indo pra uma
excursão na Europa e já é conheci-
do pela batida do seu tambor, nada
melhor que levar um discurso de paz,
porque isso é que o mundo precisa
no momento. eu só fiz pegar o sím-
bolo de paz e amor e redesenhá-lo,
colocando as cores do movimento
pan-africano, que são o amarelo, o
verde, o vermelho e o preto.
depois João Jorge me ligou pra
dizer que onde o olodum passava
era a primeira página nos principais
jornais, por conta da assimilação
imediata de que as cores do movi-
mento pan-africano estava sendo
enxergado, na europa, como
uma proposta de paz. Quando o
olodum retornou ao brasil, a marca
estava consolidada.
Depois foi usada até
por Michael Jackson....
JS - Quando michael Jackson
esteve aqui com spike lee para
gravar o videoclipe com o olodum,
alguém, não sei se foi da folha ou
do estadão, alguém me perguntou se eu achava que
michael Jackson usara a camisa por conta da marca
ou por conta do olodum... confesso que até hoje eu
fico sem saber, mas prefiro acreditar que foi pelas duas
coisas. a batida do olodum é uma coisa que contagia
todo mundo, claro.... mas é bom lembrar que michael
Jackson naquela época já atuava fortemente com o dis-
curso de paz no planeta. então eu acredito que a marca
do olodum também contribuiu para isto, para esse en-
contro de som, de batida, de coreografia com o discurso
de paz para o mundo. foram as duas coisas, mas acho
que foi um pouco de sorte também, concorda?
Vender mais e ter a sua marca no coração do consumidor é o desafio.
Michael | vestindo a camisa do Olodum
52 Maria
E Collor? Como surgiu essa marca...
JS - em 1986, a convite de duda, atuei nas cam-
panhas de geraldo mello, para governador do rio
grande do Norte e de fernando collor para governa-
dor de alagoas.
as duas campanhas obtiveram sucesso, e eu con-
tinuei ajudando na comunicação estratégica do gover-
no de alagoas. uma das decisões que tomamos, no
primeiro ano de governo, foi pichar as capitais de cada
estado com o nome de seu governador recém eleito
como candidato a presidente e o de collor como vice.
era uma forma de tornar o nome collor conhecido em
todo o brasil. o sucesso foi tão grande no país intei-
ro, que, em 1988, a revista veja fez a matéria de capa
“collor, o caçador de marajás”. eu estava com ele lá na
Collor | marca focada na oportunidade do momento político
gazeta e fui escolher o local para a
foto da capa. Quando terminou a
foto, cláudio humberto e eu fomos
jantar... eu peguei o guardanapo e
desenhei. Na hora, percebi que os
dois o´s e os dois l´s do nome collor
poderiam me dar a configuração do
congresso Nacional. e qualquer pes-
soa, mesmo não alfabetizada, mais
humilde e mais simples, consegue
enxergar no congresso, o símbolo
máximo de poder no brasil.
eu desenhei uma tipologia que
parecia com helvetica italic... e
era italic porque collor era jovem,
dava uma idéia de dinamismo, de
modernidade. lembro que na festa
de entrega de um prêmio colunistas,
em 1989, um ano antes, Nizan me
perguntou: “ô João, porque você
não diz ao brasil inteiro que foi você
que criou os dois eles ( ll ) de
collor?”. eu ri...
duda dizia que essa marca mu-
4 – Marca para Fernando Collor
4
Maria 53
médico enterra seus erros, o mau advogado põe
na cadeia, e o mau publicitário põe na rua. então
eu sempre achei que a gente tem obrigação de
contribuir com a sociedade. isso é verdadeiro, não
é conversa mole não, a gente pratica isso todos os
dias. eu lembro que o primeiro portfólio que a Maria
fez tinha uma citação de huntington: “Faremos aqui
bons navios, com lucro, se possível, com prejuízo
se preciso, mas sempre bons navios”.
Como se dá esta preocupação da Maria com as
questões sociais?
JS - me chocava muito quando eu só via na bahia,
alguns anos atrás, outdoors de faculdades com modelos
loiros, de olhos azuis, com laptop nos alpes, parecendo
que estávamos na suíça. eu achava, e continuo achan-
do, uma irresponsabilidade dos profissionais de comuni-
A gente precisa ter sempre a capacidade de se emocionar
© FOTO ARQuIVO REVISTA VEJA
dou o marketing político nacional,
porque foi a primeira vez que um
candidato teve uma marca tratada
como grife.
O que é a Propaganda
para você?
JS - ser publicitário pra mim é
a mesma coisa de ser engenhei-
ro, de ser arquiteto, advogado...
é profissional como em qualquer
outra área.
a gente precisa ter sempre a
capacidade de se emocionar, de se
envolver com questões sociais e de
colocar a comunicação a serviço
da sociedade. você vai vender o
produto, mas vai vender uma ação,
vai vender um comportamento, vai
vender uma melhoria. isso se aplica
na propaganda para uma calcinha,
um automóvel, ou um político.
tem um amigo meu que dizia
o seguinte: - Olha João, o mau
Collor | marca difundida nos comitês...
...e usada de variadas formas
54 Maria
cação que realizam materiais como esse, como também
dos responsáveis por essas instituições de ensino.....
imagine na bahia, a população com mais de 70% de
negros, vendo branco, de olho azul, em tudo quanto é
outdoor na cidade, como se aqui fosse o paraná ou a
suíça? eu acho isso pouco inteligente. o empresário
que faz isso, porque ele tem que entender que o seu
público-alvo não é aquele. sempre achei que, o cara que
é negro, ele vai ao Shopping, ele consome, ele compra
carro, ele compra celular. isso é óbvio, ele consome, é
ele quem faz a economia girar nessa terra, nessa cidade.
Quer dizer, negão da bahia não estuda, não pode fazer
pós-graduação? é um atraso, eu sinto que a Maria veio
pra poder mostrar esses diferenciais no mercado.
Me chocava muito
quando eu só via na Bahia outdoors
com modelos
loiros, de olhos azuis
Cite um cliente atual
que merece destaque.
JS - todos merecem e têm toda
a atenção da maria. mas temos
uma satisfação especial em aten-
der o sebrae. atender o sebrae da
bahia sempre foi um sonho nosso,
todos os superintendentes que
passaram por lá, sempre me diziam
que adorariam trabalhar com a
Maria, mas nunca acontecia. sérgio
gomes, mizael aguilar, lomanto,
e eu sempre dizia para eles: “é um
absurdo o sebrae fazer licitação
para escolher a agência que vai cui-
dar de sua comunicação e o edital
sempre impedir a participação das
pequenas empresas, e dizia a eles
que isso era no, mínimo, contraditó-
rio, por falta de alinhamento com a
missão do sebrae. o sebrae era um
cliente que muito nos fascinava pela
sua capilaridade e papel relevante
no desenvolvimento das micro e
5 – Anúncio para NPGA/UFBA; 6 – Outdoor para Fórum de Entidades Negras da Bahia
5
6
Maria 55
ontem e a maria sempre está junto com o cliente. hoje,
o nosso sonho é poder ampliar esta nossa experiência e
poder contribuir com o sebrae nacional.
A Maria está entrando em dois mercados altamen-
te competitivos e, ao mesmo tempo, saturados
pela concorrência, que é Brasília e São Paulo. O
que você pensa em lançar mão para a agência se
firmar nesses ambientes?
JS - foram muitos convites pra sair da bahia, e eu
achava que era possível permanecer aqui e trabalhar
para o mundo. e continuo achando e defendendo isso.
óbvio que a gente começou a perceber a necessidade
por conta de estarmos sendo muito solicitados, tanto
em brasília, quanto em são paulo, de abrir um escri-
tório em cada uma dessas praças e passar a conviver
um pouco mais com essas culturas locais – da mesma
forma que podemos fazer com outras praças do país.
pequenas empresas que, na nossa
opinião, precisam de estímulos e es-
tratégias de comunicação arrojadas
neste mercado tão competitivo.
Quando veio a licitação de 2007,
a maria já estava apta. Nos prepa-
ramos, investimos em pesquisas,
levantamentos de dados e cases
em todo o estado e conquistamos a
conta do sebrae bahia, onde atua-
mos com muito afinco e dedicação
por termos uma identificação bas-
tante elevada e conhecimento da
missão do sebrae, além, é claro, da
agilidade e experiência que o atual
superintendente, edival passos, e
sua estrutura de comunicação pre-
cisam. às vezes as coisas são para
7 – Anúncio para Sebrae - Bahia
7
56 Maria
embora sejam os maiores mercados do país, eu não
acho que brasília e são paulo sejam mercados satu-
rados – ainda mais se considerarmos que, segundo a
the economist, o brasil vai ser uma das cinco maiores
economias do mundo em poucas décadas. estamos
levando para brasília e são paulo uma coisa que não
existe, que é uma nova visão de se fazer comunicação.
Quando fizemos a maria é porque não acreditá-
vamos no formato das agências de propaganda que
existiam na época. e continuo hoje afirmando, que
o formato das agências de propaganda tem que se
modificar. esses formatos tradicionais estão falidos. o
cliente precisa é de estratégia, bom conceito e capaci-
dade operacional para produzir o que for feito. e você
pode ter tudo isso sem ter estruturas gigantescas que
onerem os seus custos. acho que essa é a tendência
da comunicação no mundo.
se você é um grande anunciante, um gerente de
marca, se você é uma marca
nacional, eu proponho um desafio:
vamos reduzir entre 10% a 20% do
seu investimento em propaganda
durante um determinado período.
eu lhe garanto um acréscimo nos
seus resultados de venda e que, de-
pois de um ano ou dois de trabalho,
poderemos fazer uma pesquisa que
comprovarar o valor agregado a sua
marca. vender mais, com menor
custo, e ter a sua marca no coração
do consumidor é o desafio.
Por que Brasília e São Paulo?
JS - a intenção é disponibilizar
para todo o brasil, através destes
escritórios, a nossa experiência de
30 anos de atividade e o que a ma-
ria vem fazendo há 15 anos. Quan-
do a maria nasceu, a idéia era criar
três marias: na bahia, em são paulo
e em Nova York. mas quis o destino
que para chegar lá começássemos
por brasília. estamos identificando
parcerias para levar a maria para
onde possamos contribuir.
O que você espera desses dois
mercados?
JS - gostaria de ter como desa-
fio um grande anunciante nacional,
qualquer um, de qualquer área,
seja de varejo, produto ou serviço.
anote aí: depois que eles conhe-
cerem a maria vão crescer com
investimento menor.
Se tivesse que fazer um anúncio
para a Maria, em Brasília ou São
Paulo, qual seria o título?
JS - procura-se empresário que
queira transformar sua marca/produto
ou serviço, em grande sucesso de
vendas, investindo menos do que in-
veste hoje. ou: Quem confia na maria
tem mais chance de sucesso.
o formato das
agências de propaganda tem que se
modificar. Esses
formatos tradicionais
estão falidos
8 – Marcas para Torneio Nacional de Snooker, Promoexport, Shopping Iguatemi de Salvador, Bloco Ca-maleão, Prefeitura de Salvador, Escola Contemporânea de Dança, Amazonas Shopping Center, Minas
Shopping, Restaurante Casa da Dinha, Restaurante Alaíde do Feijão, Hospital Oftalmológico DayHORC.
8
Maria 57
Mas anunciantes nacionais só
querem grandes agências...
JS - os anunciantes sabem
que no mercado competitivo
como o atual, é preciso ter um
bom produto com o melhor pre-
ço, senão perde para a concor-
rência. Já há algum tempo, os
anunciantes vêm se recusando
a pagar a conta que as grandes
agências sempre tiveram, com
estruturas gigantescas e um mon-
te de executivos que na maioria
das vezes não acrescentarão
nada à sua comunicação, além
do “show off”.
a saída é ter uma empresa com
experiência, tesão e que de fato
trabalhe para o negócio do cliente. a
equação é simples: vende-se mais;
paga-se menos e tem a sua marca
melhor identificada com o seu pú-
blico alvo. o trabalho da arizona no
mercado de são paulo, já indica que
o modelo de agência atual está com
seus dias contados.
Isso vale para a comunicação
governamental?
JS - principalmente. até porque
acreditamos que a comunicação
é um instrumento transformador
Destaque | João recebe o prêmio Profissionais do Ano Premiação | refrigerante Fricote no Top de Marketing
e que pode e deve ser tratado com responsabilidade
pelos publicitários, empresários e gestores públicos.
tenho viajado bastante pelo país e o que tenho
percebido é que a maioria dos gestores utiliza muito
mal a comunicação porque esquece que o objeti-
vo principal é informar a população dos serviços
que ela dispõe. um novo hospital, por exemplo,
quando inaugurado, deveria ter como prioridade
informar à população sobre o serviço, onde fica,
quantos leitos, procedimentos executados etc...
isso é comunicação social, mas não é o que se vê
por aí. especialmente aqui na bahia onde o governo
gasta em publicidade para dizer apenas que fez x
hospitais. Qual o ganho que a população tem desta
informação? isso me parece mais um desserviço do
que comunicação social.
do mesmo jeito, quando se fala do patrimônio
público aqui no brasil, tenta-se transferir para o cida-
dão o estado depredado dos equipamentos. repare:
quando alguém diz que o baiano faz xixi na porta de
um prédio, no pelourinho, os governantes vêm logo
com um: “Povo mal educado, sem educação, etc...”
quando o correto seria dizer o seguinte: precisamos
informar a população da importância deste patrimônio
histórico, origem, data, quem morou, o que aconteceu
naquele local, ou seja, precisa promover a educação
patrimonial... tenho certeza que depois disso, a popu-
lação terá consciência que se trata de verdadeiro te-
souro de nossa história e ninguém fará xixi na porta da
casa de rui barbosa. e isso vale para todo o brasil.
o governante que sacar isso estará prestando um ver-
dadeiro serviço à população através da comunicação
A saída é ter empresas com talento, tesão e que de fato trabalhe para o negócio do cliente.
58 Maria
e, com certeza, vai entrar para a história. o governo
federal tem avançado muito neste sentido.
Mais isso não foi sempre assim no País inteiro...
JS - repare, nós estamos em 2010, início do século
XXi , as necessidades e exigências da sociedade mo-
derna também evoluem, antigas práticas não podem
servir de desculpa para os dias atuais. antigamente
se trocava tijolo e dentadura por voto e não acontecia
nada. hoje já acontece. antes uma carta levava até
quinze, vinte dias para chegar ao seu destino; hoje,
com a internet, pode chegar no mesmo instante. por
isso é importante pensar o novo.
São centenas de prêmios conquistados ao longo
da sua vida profissional, dentre regionais, nacio-
nais, internacionais. Isso lhe deixa envaidecido?
JS - Quem não gosta de prêmios? todo mundo gosta
de prêmios, só que a premiação tem que ser o reconheci-
mento por algo que você fez e que alcançou seu objetivo
prioritário que é fazer a máquina registradora do cliente
tilintar, como dizia david ogilvy. agora, um dos títulos mais
importantes com certeza, foi a medalha zumbi dos palma-
res, entregue pela câmara municipal de salvador.
Qual a fórmula para criar sempre
marcas e slogans que fazem tan-
to sucesso e ficam para sempre?
JS - experiência, tesão e trabalho.
Já chegou a Mil Marcas?
JS - faltam poucas...(risos).
Quando chegamos a 500 há dez
anos, ficamos sabendo que este
número poderia ser recorde no
mundo, realizado por uma única
pessoa. aí fizemos contato com
Marco | medalha Zumbi dos Palmares reconhece trabalho
Especialmente aqui na
Bahia onde o governo gasta
em publicidade para dizer
apenas que fez x
hospitais. Qual o ganho que a população
tem desta informação?
o guiness book e eles alegaram
uma série de dificuldades para
aceitar a categoria. uma delas na
época era como catalogar para
proceder a avaliação. agora,
estamos fazendo contato nova-
mente para registrar a milésima
marca, o que deve acontecer nos
próximos meses.
E a Capital Branding, o que faz?
JS - a capital branding é um
serviço de consultoria que nasceu
da evolução natural do negócio
da comunicação, onde a necessi-
dade de agregar valor e inteligên-
cia estratégica às marcas, vem se
consolidando como fundamental
para as decisões de comuni-
cação, porque aumentam as
chances de sucesso. e o melhor
é que o cliente pode contratar os
serviços de consultoria da capital
branding, independente de ter
sua própria agência.
E o futuro?
JS - como está se desenhando
que o brasil será uma grande po-
tência mundial nos próximos anos,
acredito que o papel da comunica-
ção que valorize a criação estraté-
gica será importantíssimo, porque
ninguém vai querer brincar de jogar
dinheiro pela janela. a competi-
tividade será cada vez maior e a
necessidade de redução de custos
também. para enfrentar estes de-
safios, vamos precisar de marcas
fortes, produtos e serviços de
qualidade e de profissionais prepa-
rados para atuar com experiência,
competência e responsabilidade.
a minha maior alegria será poder
contribuir com este processo.
PraIa da redonda © almiR bindilatti - [email protected]
PraIa da redonda © almiR bindilatti - [email protected]
62 Maria
caretas, pierrôs e tantas outras fanta-
sias de um passado um tanto remo-
to, ganham vida quando chega a folia
em maragojipe. ao invés dos trios
elétricos e dos gigantescos blocos
da capital baiana -, a festa nessa cidade, a 133 quilô-
metros de salvador, mistura história, alegria e o colorido
dos mascarados, que seduzem os turistas enchendo de
orgulho os moradores. Único do recôncavo baiano reali-
zado na época oficial, o carnaval de maragojipe passou a
A outra cara do Carnaval da BahiaEm Maragojipe, caretas, pierrôs e colombinas
provam que Veneza também pode ser aqui!
ser patrimônio imaterial da bahia em fevereiro de 2009.
o tombamento como bem intangível foi determinado
pelo governo do estado, após estudos feitos pelo ins-
tituto do patrimônio artístico e cultural da bahia (ipac),
autarquia da secretaria de cultura (secult). as pesquisas
desenvolvidas levaram ao reconhecimento das caracte-
rísticas tradicionais da festa, cultivadas até hoje. a folia
do município, onde residem 43 mil pessoas, é inspirada
no carnaval europeu do século XiX. e também preserva
costumes e cantos afro-descendentes, herdados dos
Patrimônio
Nas épocas da folia carnavalesca – e também
do São João e da Festa de São Bartolomeu
- o comércio triplica as vendas, beneficiando
outros setores e gerando trabalho temporário.
Erialdo Pereira dos Santos, conhecido por Lico,
52 anos, aproveita bem a oportunidade. Ele
desenha e produz fantasias conforme o desejo
do cliente. Também possibilita alternativa de
renda para quatro costureiras auxiliares. Já a
irmã Eronildes Santos da Cruz, a Ninio, 55, e a
sobrinha Milena Marcela, 29, se empenham na
confecção de máscaras.
Um mês antes do Carnaval, Lico já recebe
encomendas. E temas que povoam a
imaginação dos foliões ganham forma. São
noivas, odaliscas e personagens de sucesso
no mundo das telenovelas. As fantasias simples
(mortalhas e pierrôs) saem por R$ 15,00 cada.
As mais trabalhadas custam em média,
R$ 250,00. Na Rua General Pedra, 22, endereço
de moradia e trabalho, ele faz cerca de 60
fantasias por ano. Nos outros meses, borda
tecidos e tapetes, confeita bolos, decora
ambientes para festas e corta cabelos.
Ninio mora na Rua J. J. Calazans, 12. Em casa
se dedica à produção de máscaras, que expõe
na garagem ao lado quando a festa se aproxima.
Qualquer peça em tecido ou malha de algodão
é vendida por R$ 10,00. Careta tradicional,
palhaço e nega maluca são as preferidas. Ela
confecciona geralmente 100 máscaras. Agora
planeja criar caretas no formato de chaveirinho,
que podem se transformar em lembrança da
festa de Maragojipe.
Folia gera trabalho
A mistura de história, alegria e o colorido dos mascarados seduzem os turistas, enchendo de orgulho os moradores.
©
© JR. MAJOR
© JR. MAJOR
escravos que habitaram a região.
com 450 Km² de extensão, maragojipe recebe na
época da folia cerca de 30 mil pessoas, segundo o pre-
feito sílvio santana, 39 anos. como a oferta de pousa-
das na sede não atende a todos que chegam buscando
essa festa original, animada e tranquila, os turistas são
acolhidos em casas de parentes e amigos. outras op-
ções são os leitos da rede de hospedagem nos distritos
- Nagé, coqueiro, guaí, são roque e guapira -, além de
são félix e cachoeira, cidades próximas.
©
64 Maria
Praças e avenidas são ornamentadas e a
programação do Carnaval inclui concursos de
fantasias e de marchinhas. O principal cenário
da festa é a Praça Antônio Rebouças, onde as
atrações locais revivem antigos carnavais ou axé
music dos anos 80. Das filarmônicas Terpsícore
Popular e Dois de Julho nascem artistas que
depois formam bandas. Os grupos musicais
embalam mascarados, travestidos, pierrôs, ou
mesmo quem prefere sair de cara limpa, mas
entregue à animação.
Raimundo Carneiro Carvalho, o “Patrão”, 58
anos, que atualmente trabalha como motorista,
todo ano marca presença, fantasiado ou não. O
gosto pela festa ele herdou do pai. “Se o Carnaval
tivesse acabado por aqui, Maragojipe seria uma
cidade morta”, observa o folião. Ele sai, ao menos
um dia, vestido de “Zorro”. O domingo é o dia
mais animado. Tanto que às 8h tem mascarado
na rua fazendo a alegria até de crianças no colo.
Há 14 anos, todo sábado, o prefeito participa
de um grupo de “baianas”. Na segunda-feira, o
traje é o de mulher grávida. Teve época em que,
inclusive, simulava um parto
em plena festa. Da barriga
onde portava uma grande
bola, “nascia” o anão Marivaldo
Barbosa, o Samuca, 24 anos. Ao
ficar adulto, Samuca desistiu do papel
de bebê. Em Maragojipe nem todos
pagam pela fantasia. Muitos preferem dar
asas à imaginação e improvisar.
© JR. MAJOR
Travestidos, palhaços, pierrôs
© JR. MAJOR
© JR. MAJOR
SAIBA CoMo CHEgAr A MArAgogIPE
Alegria | na praça Antônio Rebouças, todos os mascarados se encontram
Maria 65
O São João, no ritmo pé de
serra, é também animado
em Maragojipe. Até hoje
os moradores cultivam
o costume de receber
visitantes para saborearem
licores e quitutes típicos
da ocasião. O Forró
do Cais, que acontece
próximo do dia 24, se
destaca na programação.
As festividades são
abertas reverenciando
Santo Antônio, no dia 13,
e só terminam na data
consagrada a São Pedro,
29 de junho.
Agosto é reservado
para São Bartolomeu,
o padroeiro da cidade.
A saída do Bando
Anunciador, no primeiro
final de semana, marca
o início da festa. Depois,
as atenções se voltam
para o ritual religioso da
lavagem da igreja; lavagem
das escadarias do templo
– lembrando a Festa do
Bonfim, em Salvador;
missas e procissão. No
último sábado do mês, a
Regata Aratu/ Maragojipe
aumenta a presença
de turistas na cidade.
Os visitantes de origens
diversas chegam de carro,
ônibus e embarcações.
Forró e São Bartolomeu
Participação | festa atraí público de todas as partes, inclusive do exterior
© JR. MAJOR
ladeIra da ConCeIção da PraIa © david glat - www.davidglat.com.bR/PRojetos
ladeIra da ConCeIção da PraIa © david glat - www.davidglat.com.bR/PRojetos
68 Maria
uma constatação empíri-
ca no dia-a-dia do con-
tato com os angolanos
agora passou a ter ca-
ráter científico: o país que eles mais
gostam – depois do seu, é claro - é o
brasil. de acordo com pesquisa reali-
zada pela empresa audit, nosso país
mora na muxima dos moradores da
capital, luanda, especialmente dos
mais jovens. “muxima” significa co-
ração em kimbundo, uma das sete
línguas nacionais que são faladas
em várias regiões (subdivididas em
26 dialetos), paralelamente ao portu-
guês, a língua oficial.
Na geografia do coração dos luan-
denses, o brasil aparece com 17,5%,
seguido de portugal (12,9%), estados
unidos (9,4%), inglaterra (6,8%), ho-
landa (5,5%) e áfrica do sul (5,1%),
de acordo com a pesquisa audit pu-
blicada pelo Jornal de angola.
os homens hierarquizam suas pre-
ferências de modo diferente das mu-
lheres. estas têm o brasil bem mais
perto do coração. entre os homens,
brasil empata com portugal em ter-
mos sentimentais. pela sondagem, a
preferência pelo brasil independe de
nível de escolaridade e condições so-
cioeconômicas. seja rico ou pobre, le-
trado ou não, o verde-amarelo já con-
quistou o coração dos angolanos.
de resto, pode-se dizer que há
um sentimento recíproco: primeiro
estado a reconhecer a independên-
cia de angola. o brasil é um dos
maiores investidores em terras an-
golanas e o único país a instituir a
obrigatoriedade do ensino de histó-
ria da áfrica nos currículos da edu-
cação básica.
ao assumir o governo em 2003,
o presidente luiz inácio lula da silva
ressaltou que o estreitamento das re-
lações com a áfrica constituia para o
brasil uma obrigação política, social,
moral e histórica. e, efetivamente, ele
tem demonstrado que esta tem sido
uma das prioridades da política ex-
terna do seu governo.
o intercâmbio comercial de ango-
la com o brasil intensificou-se tanto
nesta década que, mesmo com uma
queda drástica em função da crise,
a corrente de comércio entre os dois
países no ano passado, foi o terceiro
maior da história, atingindo 1 bilhão
471 milhões de dólares - ficou abai-
xo apenas do valor alcançado nos
dois anos anteriores.
em 2009, as importações de pro-
dutos brasileiros totalizaram us$ 1
bilhão 300 milhões, enquanto as
exportações de produtos angolanos
para o brasil foram de 138 milhões,
com queda de um terço nas impor-
brasil na muxima de angola
tações e de 90 % nas exportações.
de qualquer forma, a mudança do
intercâmbio comercial é significati-
va. lembro que, em 2000, quando
cheguei a luanda para fazer desta
terra minha segunda pátria, o brasil
exportava apenas us$ 106 milhões
por ano para angola. No mesmo
ano, o brasil importou de angola
us$ 31 milhões.
Não obstante a crise econômica
internacional, os recursos da linha de
crédito aberta pelo brasil em favor
de angola foram ampliados em us$
500 milhões, há poucos meses. os
recursos dessa linha são utilizados
no financiamento de projetos esco-
lhidos pelo governo angolano nas
áreas de infra-estrutura física e so-
cial. Nos últimos anos, esse meca-
nismo soma quase us$ 3,5 bilhões
de créditos.
essa linha de crédito constitui
o principal instrumento para a am-
pliação e adensamento constantes
das relações entre os dois países.
porém, além dessa facilidade, os
exportadores brasileiros de bens e
serviços para angola e, consequen-
temente, suas contrapartes angola-
nas podem ter acesso a outros pro-
gramas como o proex, o seguro de
crédito às exportações e o fundo
de garantia à exportação.
Pensar o novo!
Maria 69
mas é bom destacar que, as-
sim como a presença brasileira
tem aumentado cada vez mais
em investimentos em angola,
também tem havido crescimen-
to significativo dos investimen-
tos angolanos no brasil, mesmo
sendo num patamar bem inferior,
evidentemente. o banco central
do brasil registra que, em 2007,
cerca de usd 13 milhões provi-
nham de angola. No ano seguin-
te, já praticamente quadruplicou,
atingindo usd 50 milhões.
entretanto, entendo que ainda
há um bom espaço aberto para
a ampliação das exportações de
serviços do brasil para angola,
bem como para exportações, no
futuro, no sentido inverso. afinal,
em termos de serviços, brasil e
angola são países que têm, ain-
da, uma balança deficitária. Nos
últimos anos, o saldo líquido de
serviços de angola tem sido ne-
gativo em cerca de usd 12 bi-
lhões, enquanto no brasil, foi de
us$ 9 bilhões.
raimunDo lima,
jornAlistA e presiDente DA
AsseMbleiA gerAl DA AebrAn – Asso-
CiAção Dos eMpresários e exeCutivos
brAsileiros eM AngolA
70 Maria
© HEnRIQuE AndRAdE
Cultura
Vida ao cinema baianoNovos longas marcam atual ciclo, trazendo esperança de renascimento
o cinema baiano experimentou vários
ciclos desde que o primeiro curta-
metragem feito no estado foi exibido
em outubro de 1910. o marco
deste século de história é regatas
da bahia, assinado por diomedes
gramacho e José dias da costa. entre períodos de
efervescência e outros de desânimo, a produção teve
momentos áureos – a exemplo da fase imortalizada por
glauber rocha, na década de 60 -, e outros de crise,
como a registrada no início dos anos 90.
a sétima arte na bahia com-
pleta 100 anos vivenciando novo
clico de expansão. além dos fil-
mes Jardim das folhas sagradas,
do cineasta pola ribeiro, e o ho-
mem que Não dormia, de edgard
Navarro, outros longas nasceram
em 2009 e 2010. escutando tom
zé (de Jorge alfredo guimarães),
estranhos (de paulo alcântara),
trampolim do forte, (de João
rodrigo mattos) e os filhos de
João (de henrique dantas) são
alguns títulos.
72 Maria
© dIVuLGAÇãO
Jardim das folhas sagradas, pri-
meiro longa metragem de pola, e o
homem que Não dormia, segundo
longa da carreira de edgard, viajam
no gênero ficção. ambos enveredam
pelo mundo místico, mas abordam
temas distintos. Jardim... fica pronto
em setembro. o diretor se articula
para lançar o filme em 5 de novem-
bro, dia Nacional da cultura. No mo-
mento, o filme passa pelos processos
de mixagem de som, cópia, estraté-
gia de comunicação e distribuição.
após cerca de 40 filmes em su-
per-8, produzir curtas em 35 mm e
realizar o meia a lenda do pai iná-
cio, pola quer levar seu primeiro longa
a salas do brasil e até fora do país.
porém a ideia é fazer isso, gradual-
mente, começando por salvador. de
acordo com ele, quando se fala de
produções mais independentes, um
desafio é driblar os obstáculos nos
sistemas de comunicação, distribui-
ção e exibição.
Visita ao jardima estratégia de divulgação traçada
para o filme inclui o projeto visita ao
Jardim. o objetivo é identificar parcela
da população interessada em ver o fil-
me, mas sem costume de ir ao cinema.
em duas reuniões com representantes
de terreiros, organizações do movimen-
to negro, blocos afro e de samba, além
de afoxés, foi possível saber que 15
mil pessoas desejavam assistir Jardim
das folhas sagradas. “vamos viabilizar
isso”, adianta o cineasta.
o longa - com investimento de
r$ 3 milhões - aborda religiosidade,
preconceito e ecologia. “pedi licença
para trazer isso à tona”, afirma o di-
retor. “Não os segredos do candom-
blé, mas a contribuição da religião a
esse mundo que busca sustentabili-
dade e convivência harmoniosa entre
as pessoas”. o ponto principal das
locações foi o terreiro ilê axé opô
aganjú, em lauro de freitas. ce-
nas também aconteceram no forte
do barbalho (centro da produção),
curuzu, comércio, entre outros lu-
gares de salvador.
o ator antônio godí interpreta
o principal personagem, “miguel
bonfim”, negro baiano que tem a
vida “virada pelo avesso”, confor-
me a sinopse, ao revelar o desejo
de abrir um terreiro de candomblé.
com os espaços disponíveis cada
vez mais raros, ele procura um lugar
na periferia. afastado da tradição e
questionando fundamentos como o
sacrifício de animais, “bonfim” cria
um terreiro moderno e longe das ca-
racterísticas tradicionais. o enredo
se desenvolve ao som de músicas
de gerônimo e ildásio tavares, sob
direção de pedro augusto.
Ação | Pola e Antônio Mendes (diretor de fotografia) em processo de filmagem
Lançamento | cartaz criado pela Maria
Barão desencarnado
© dIVuLGAÇãO
O desejo e esforço de Edgard
Navarro é fazer o lançamento de O
Homem que Não Dormia até o final
deste ano. Em paralelo à busca de
recursos para fechar o orçamento,
a equipe providencia edição de
imagem e som, trilha sonora,
liberação do direito autoral de
músicas não originais e animação.
A primeira versão do roteiro de O
Homem que Não Dormia data de
1978. Nesses 32 anos o processo
de criação evoluiu numa sincronia
com as descobertas interiores
do cineasta.
Diretor de Eu me Lembro – sua
estreia em longa - premiado sete
vezes, no Festival de Brasília de
2005, Edgard recorda experiências
gratificantes na realização do filme,
onde também atua. Conhecer de
perto Luiz Paulino dos Santos,
contemporâneo de Glauber Rocha,
foi um desses momentos especiais.
Os dois interpretam o mesmo
personagem. Edgard faz o “Barão”,
e Paulino o carma dele.
O ator, como elogia Edgard,
proporcionou grande harmonia ao
filme e ao elenco. A trilha sonora
leva a assinatura de Tuzé de Abreu
e André T. Rodado em Igatu, no
município de Andaraí (Chapada
Diamantina), o longa tem orçamento
de R$ 3,6 milhões. Os patrocínios
já obtidos somam pouco mais de R$
2,2 milhões. O diretor espera que o
filme conquiste o público, “mas será
muito gratificante se cumprir essa
promessa, tão antiga, de que vou
encontrar o meu eixo”.
O Homem que Não Dormia
é a parábola, de um barão
desencarnado, simbolizando a
decadência de um coronelismo
escravagista. Numa noite cinco
pessoas, de uma cidadezinha do
interior, têm o mesmo pesadelo
envolvendo um homem sinistro e um
tesouro enterrado. Com a chegada
de um misterioso peregrino, muda a
rotina do vilarejo e os personagens
são lançados em acontecimentos
insólitos. Assim cada um é trazido
à luz e se liberta do jugo das
hipocrisias, medos e doenças.
Lançamento | cartaz criado pela Maria
Casos da Maria
aos 122 anos, o abrigo
é uma das mais antigas
casas de recolhimento
de idosos do país e fun-
ciona num belo conjunto de cinco
casarões coloniais do século XiX,
inspirado no palácio de versailles e
tombado pelo iphaN.
em 2006, veio o grito de so-
corro. o abrigo d. pedro ii, em sal-
vador, estava abandonado e sendo
solapado pelas ondas do mar, que
corroíam a sua estrutura física.
em estado precário, seis das
oito alas do estabelecimento ha-
viam sido interditadas pela defesa
civil. o mofo e os cupins dividiam
o espaço do abrigo com os seus
114 ocupantes, todos com mais
de 60 anos.
a maria reverberou o pedido de
ajuda do abrigo d. pedro ii, transfor-
mando-o numa campanha publicitária.
além de sensibilizar a popula-
ção para as condições precárias
do abrigo, a campanha idealiza-
da pela maria foca na valorização
das pessoas mais velhas enquanto
cia. a campanha foi formulada por
amaral, em conjunto com João sil-
va e contando com a participação
amiga de José armando Nogueira
e maria gerusa.
Nogueira e gerusa não faziam
parte do quadro da maria, mas a
abrigo dom pedro iiO Abrigo que se recusou a morrer de velho.
detentores da experiência e guias
das gerações seguintes.
“as culturas orientais e africa-
na nos ensinam a estimar a ances-
tralidade. daí o conceito ‘respeito
é bom e eu gosto’”, conta vicente
amaral, diretor de criação da agên-
Outdoor
74 Maria
“A iniciativa da Maria em ajudar o Abrigo foi fundamental. Foi a partir dessa iniciativa que o Abrigo teve visibilidade na mídia e assim as contribuições puderam chegar até nós”.
Ana Valéria Souza Santos –
ex-Gerente do Abrigo D. Pedro II.
nobreza da causa determinou o
seu envolvimento na empreitada.
em pouco tempo, a iniciativa
obteve uma resposta à altura do
desafio: a mídia local aceitou vei-
cular gratuitamente as peças pro-
duzidas pela maria.
assim que foi para a rua, a
campanha provocou uma gran-
de mobilização social, envolven-
do desde políticos, até empresas
como construtoras, que se ofere-
ceram a reformar setores da casa
de recolhimento.
hoje, o abrigo d. pedro ii ain-
da enfrenta muitas dificuldades.
deixou para trás, no entanto, a
tristeza da invisibilidade.
Anúncio
Anúncio
Maria 75
76 Maria
Maria: Nos últimos anos, ve-
mos constantemente o Brasil
ocupar um papel de liderança
nos Fóruns internacionais de
cultura. A que o senhor atri-
bui esse protagonismo?
Juca Ferreira - isso reflete, em primeiro lugar, o
crescimento de importância do brasil. o brasil em
poucos anos vai se tornar a quinta economia do mun-
do. a sua importância cultural que já é histórica, a
“Precisamos nos preparar para a grandeza”Desde 2008 à frente do Ministério
da Cultura do Brasil, o sociólogo
Juca Ferreira fala à revista
Maria sobre a liderança da pasta
da cultura no plano internacional.
Nesta entrevista, o ministro da
Cultura que sucedeu Gilberto
Gil explica os motivos dessa
liderança, comenta a imagem que
os outros países têm do Brasil,
as prioridades da cooperação
cultural brasileira e os laços que
vêm sendo construídos, em
especial com a América Latina
e a África. “Esses processos
têm que ser voluntários e
baseados na confiança mútua
e na generosidade, e não na
mesquinharia”, opina.
© RIcARdO PRAdO
Entrevista
Maria 77
música brasileira já é reconhecida no mundo inteiro,
várias práticas culturais brasileiras são reconhecidas
no mundo inteiro como de qualidade.
além disso, e muito importante, temos a presen-
ça do presidente lula no cenário internacional. é um
país que vem, através do seu líder, verbalizando a
necessidade do respeito de negar as práticas preda-
tórias e bélicas.
então o mundo tem um interesse enorme sobre o
brasil, isso é comprovado por qualquer pessoa que
ultrapasse a fronteira do país. às vezes, aqui dentro
– talvez por esse complexo de vira-lata que Nelson
rodrigues falava – nós não temos consciência da im-
portância internacional do brasil.
regional nem se fala. Na america latina, o afeto,
o carinho, a expectativa que o brasil estabeleça uma
relação positiva com os países vizinhos e admiração
pelo brasil é enorme. Nos países africanos também
é enorme. No âmbito da união africana, o brasil foi
definido como um país africano fora do continente.
Numa reunião de ministros da cultura dos países
africanos e da diáspora negra do mundo, o presidente
do senegal me chamou pra ter uma audiência com
ele. e ele me disse o seguinte: “o brasil precisa ocu-
par o seu lugar no mundo. o brasil é muito importan-
te para o hemisfério sul, particularmente para áfrica
- vocês são parte da áfrica. Nós, africanos, quando
olhamos para o brasil, é como se olhássemos pra um
espelho, e a gente gosta da imagem que a gente vê.”.
eu fiquei comovido na hora que o presidente disse
isso. ele ainda recomendou: “vocês precisam ser me-
nos tímidos”.
a bola está quicando pro brasil. mas muitas vezes
eu percebo no país um espírito ainda muito voltado
pra dentro. ou então percebo em alguns empresários
e líderes políticos uma idéia de repetir essa prática
predatória dos grandes países...
Maria: Quer dizer, um império regional, né? O
desejo de ser império regional...
JF - Quer dizer, se tem divergência com a bo-
lívia, aventam logo a possibil idade de invadir a
bolívia; se tem divergência com a venezuela, a
mesma coisa.
Nós sempre fomos um pouco deslumbrados, antes
com a frança e agora com os eua. há uma certa
subserviência. é bom não esquecer a experiência da
alca, como a grande imprensa brasileira quis obrigar
o governo brasileiro a entrar na alca. e é só olhar
agora a consequência que isso teve sobre a econo-
mia do méxico. o méxico está absolutamente subal-
ternizado pelos eua, absolutamente dependente da
economia americana, perdeu parte da sua autonomia
política em função disso.
enquanto isso o brasil cresce, exatamente porque
o presidente lula teve a coragem de liderar o brasil
para não entrar na alca e constituir uma relação di-
versificada com o mundo inteiro. Quando nós come-
çamos esse processo, no início do governo lula, a
grande imprensa brasileira ridicularizava o presidente
por estar constituindo processos comerciais com a
america latina, com a áfrica, com a ásia, dizendo:
“o que é que o presidente quer, será que ele não co-
nhece a economia mundial?”, quando na verdade...
“os interesses culturais do Brasil
ultrapassam as fronteiras brasileiras”.
Latinos | expectativa de atuação positiva do Brasil
78 Maria
Maria: Ele conhecia mais do que a imprensa.
JF - essa diversificação foi o que possibilitou que
de fato o brasil tenha uma estabilidade. porque a crise
dos ricos afeta o brasil, mas afeta menos porque a
gente tem uma diversidade de relações hoje constitu-
ídas nos últimos oito anos.
isso associado a um processo de constituição de
um mercado interno com a inclusão de quase 40 mi-
lhões de brasileiros na economia, na formação dessa
nova classe média, que também é outro paradigma
que o presidente lula quebrou: que desenvolvimento
nada tem a ver com justiça social.
isso não é nem marx, isso é adam smith, é do te-
órico do capitalismo, que dizia que o mercado precisa
da inclusão das pessoas... vai vender pra quem?
Maria: Qual a justificativa para essa ênfase na
atuação internacional do MinC?
JF - Nós tínhamos consciência – e o ministro gil
falou várias vezes sobre isso – de que os interesses
culturais do brasil ultrapassavam as fronteiras brasi-
leiras. Não só no sentido do fluxo de mão dupla (inter-
câmbios bilaterais), como nas grandes instituições de
governança mundial, recolocando a questão cultural e
a necessidade de um reordenamento, de uma redefi-
nição dessas relações.
Nós somos profundamente insatisfeitos com as
relações na área de direito autoral no mundo. o di-
reito autoral das comunidades e povos amazônicos,
por exemplo, é diariamente ferido pela rapinagem das
grandes empresas de biotecnologia que mandam an-
tropólogos – não botânicos nem biólogos pra estudar
a floresta. mandam antropólogos para saber o que
aquelas populações conhecem da biodiversidade. daí
levam o material para fazer estudos genéticos, con-
firmando ou não os efeitos que são do conhecimento
da população local, patenteiam e a partir daquele mo-
mento se torna um ativo econômico dessas grandes
empresas. isso é uma pirataria de um grau de ilegiti-
midade monstruosa. e nós, por um certo academicis-
mo, nunca reconhecemos esse conhecimento adicio-
nal como parte do cabedal da sociedade brasileira.
Internacionalização | cultura brasileira ultrapassa fronteiras
Maria 79
então são questões que inevitavelmente nos levam
a interferir no cenário internacional. Não bastam as
relações geopolíticas e comerciais, as relações cultu-
rais são estratégicas para o mundo e, particularmen-
te, pra um tipo de diplomacia que o brasil faz, que é
construção de um ambiente de paz, de igualdade, de
aceitação do outro, de convivência respeitosa – e não
há aí dimensão mais importante do que a cultural.
Maria: Além do MERCOSUL e da America Lati-
na, o MinC se relaciona bastante com a Comuni-
dade de Países de Língua Portuguesa e também
com alguns outros países da África, não é?
Juca Ferreira: essa é outra cartografia que não
pode ser esquecida. com os países africanos, a liga
é imediata. Na região ali em torno do golfo do benin,
parte dos africanos que vieram ao brasil como escra-
vos vieram dali.
eu estive lá no benin e uma parcela minoritária,
mas significativa da população são de escravos que
retornaram pra lá. e eles se consideram até hoje bra-
sileiros e baianos. teve um que pegou na minha mão
chorando e batia no peito e dizia chorando: “eu sou
baiano”. e com uma ênfase assim, inacreditável, que,
pela característica dolente do baiano, eu não vejo nin-
guém lá falar com tanto orgulho assim que é baiano.
eu estava no mercado tradicional do benin quando
um barraqueiro falou: “você é o ministro da cultura
no brasil? eu lhe vi na televisão. ele pegou na minha
mão, levou pra dentro da barraca e, muito emociona-
do, disse assim: “descobrimos nossos parentes no
brasil, os filhos e netos dos que foram escravos”.
são vínculos inquestionáveis. e fora a presença
africana na nossa cultura, na nossa identidade, na
nossa imagem: carnaval, futebol, em tudo isso eles se
reconhecem e é um cartão de visitas assim, fantásti-
co, independente de outras questões.
ainda tem os países do bric, a índia, a áfrica do
sul, a china... as possibilidades são maiores do que
a capacidade de realização, aí que entra a importân-
cia de aumentar o orçamento do ministério da cultu-
ra. a gente não tem condições de dar atendimento
à demanda de intercâmbio e de contato, é o mundo
inteiro, a europa... tem uma cacetada de pedidos que
a gente não tem condição de atender. vamos atender
alguns, o que for possível. o brasil tem que incorporar
que virou um país importante.
Maria: Parece-me que essa pauta internacional
da cultura acaba levando esses outros países a
fazerem essa revisão conceitual que o Brasil fez a
partir de 2003 também. Isso tem acontecido?
Juca Ferreira: a gente tem exercido uma lideran-
ça. os pontos de cultura abrem os olhos de outros
países de que há uma produção cultural ali no fron-
tline da sociedade, onde a miséria está estabelecida,
onde a pobreza, a exclusão, a violência estão estabe-
lecidas. e, apesar da ausência do estado, essas co-
munidades produzem cultura, se organizam cultural-
mente, pra ter acesso ao deleite estético, à afirmação
cultural, às praticas tradicionais ou contemporâneas.
e nisso o brasil teve o mesmo papel que o revelador
tinha na época da fotografia analógica, o revelador é
que puxava a imagem e lhe dava visibilidade. é mais
ou menos esse o processo: as pessoas percebem
que dentro dos seus países há processos culturais
importantíssimos e que não tinham nenhum atendi-
mento do estado.
© RIcARdO PRAdO
80 Maria
Maria: E quando elas têm essa visão elas se
obrigam também a beber a noção de cultura e
como o Estado trabalha a cultura.
JF - exatamente. amplia o conceito de cultura. o vale
cultura está despertando um interesse monstruoso, por-
que todos esses países têm condições semelhantes de
exclusão cultural, dificuldade de acesso.
então percebem que não basta produzir e finan-
ciar a produção cultural, mas é necessário parale-
lamente financiar o acesso. e percebem que isso é
viável, que o estado pode, que não é despesa, é
investimento. Que roda a economia da cultura do
país, cria possibilidade dos artistas sobreviverem da
sua atividade, cria um vínculo mais forte entre quem
produz e quem consome.
então todos esses processos que estamos vivendo no
brasil estão gerando referências que a gente tem dispo-
nibilizado com a maior delicadeza, porque cada país tem
suas condições, suas realidades, suas institucionalidades.
Maria: O Brasil assume um pouco a respon-
sabilidade por outros países que não têm tanta
capacidade institucional, técnica e de recursos?
JF - é, sem paternalismo, a gente tem ajudado os
países africanos, particularmente os de língua portu-
guesa, e temos tido uma relação muito fraternal com
os países da américa do sul. a gente quer fazer da
assimetria – de tamanho, de importância econômica
– um instrumento de ampliação da cooperação, e não
de hegemonia, de domínio.
então esses processos têm que ser voluntários
e baseados na confiança mútua e na generosidade,
não na mesquinharia. é importante compreender isso
porque o padrão de relação internacional tende a re-
petir os erros do passado. eu já vi, já participei de de-
legações brasileiras com empresários e políticos que
muitas vezes o comportamento não é o melhor, não
está dentro desse contexto para onde o brasil está
tendendo a se definir nas relações internacionais.
portanto, acho que a gente tem que compreender que
precisamos nos preparar para a grandeza. a grandeza
de espírito. Não basta ser poderoso economicamente.
seria péssimo que o brasil do século XXi fosse um país
economicamente forte, povoado por uma comunidade
de boçais. eu acho que a gente tem que fugir disso.
Nós temos que ser povoados de pessoas sofisticadas,
complexas, generosas, espiritualizadas, afetivas com as
outras culturas do mundo e com as necessidades dos
outros povos, principalmente os que estão juntos da
gente aqui na américa do sul, na américa latina, com
os irmãos africanos. eu acho que a constituição dessa
consciência é parte desse brasil que está emergindo,
senão não vai dar certo essa experiência brasileira.
“Seria péssimo que o Brasil do século XXI fosse um país economicamente forte, povoado por uma comunidade de boçais.”
© RIcARdO PRAdO
82 Maria
Casos da Maria
o teatro vila velha ocupa um
lugar especial no imaginário
baiano. símbolo de ousadia
e resistência cultural, o vila
já revelou para o brasil artistas que re-
volucionariam o cenário nacional, como
caetano veloso, gilberto gil, maria be-
thânia, gal costa, tom zé, lázaro ra-
mos, entre outros.
em 1994, o diretor teatral márcio mei-
relles, atual secretário de cultura da bahia,
assume o vila velha e começa a mobiliza-
ção por uma grande reforma no espaço,
que se encontrava em franco abandono.
inaugurada no ano seguinte, a ma-
ria receberia do diretor a sua primeira
“conta”. conta assim, entre aspas, por-
que simplesmente não havia dinheiro
para um contrato.
- márcio meirelles me contou que
havia procurado diversas agências de
publicidade, mas quando ele contava
qual era o negócio dele, um teatro e
tal, e que não havia grana, todo mundo
dizia: tchau. a gente disse seja bem-
vindo! – conta João silva.
a remuneração dos profissionais
da maria, na época, vinha quando o vila
conseguia emplacar um projeto. “toda
vez que márcio conseguia recursos para
um espetáculo, alocava parte dele para a
comunicação”, lembra João silva.
o maior desafio para a maria, na-
quela época, era mobilizar a população
a freqüentar um teatro que, embora bem
conceituado, encontrava-se, literalmente,
em obras. tanto que, constantemente,
artistas como daniela mercury, maria
bethânia, gil, caetano, lucélia santos,
paulo betti e carlinhos brown apresen-
tavam-se no espaço para arrecadar re-
cursos para a compra de cadeiras, luzes,
equipamento de som, etc.
João silva, então, apareceu com a sua
pedra filosofal: o slogan vá ao vila, velho.
gravado por gilberto gil e caetano
veloso em comerciais de 15 segundos,
nos quais os artistas apenas repetiam
essa mesma frase de diversas maneiras
e entonações, o slogan logo tornou-se
mote de toda a campanha pela recupe-
ração do teatro.
teatro vila velhaVá ao Vila, Velho.
até hoje, quinze anos depois, vá ao
vila, velho convoca a população baiana a
frenquentar o famoso teatro.
- às vezes o cliente tem uma gran-
de idéia na mão, mas ele não consegue
enxergar que aquilo é um ativo que vai
render para ele grande recall. No caso do
vila velha, márcio e toda a equipe do tea-
tro perceberam que tinham um poderoso
ativo, que utilizam até hoje com bastante
sucesso – argumenta silva.
desde então, grande parte das
peças promocionais dos espetáculos e
grupos residentes do vila velha passa-
ram a ser produzidas pela maria.
Cartaz
Filme 30’
82 Maria
Maria 83
“Um teatro como o Vila Velha, que tem uma proposta muito maior do que simplesmente abrir pauta para espetáculos, precisava de uma identidade visual. A Maria sabe traduzir visualmente o que a gente faz de uma maneira muito bacana.”.
Márcio Meirelles - ex-diretor
do Teatro Vila Velha
Outdoor
Cartaz
Maria 83
84 Maria
era dia de sexta-feira de
tardinha. e valdelício
bispo dos santos, o val,
tava desmilinguido ali na
janela de sua casa no bairro ma-
chado, agoniado, seco pra comer
água com a galera, mas enfusado
dentro de casa.
é que floripes, a dona encrenca,
tratava ele na corda curta e às vezes
na base do trompaço. a cada vacilo
ele caía na taca. e flor pra ficar vira-
da na porra era daqui prali, a bicha
era carne-de-pescoço.
e tava val nessa consumição
quando flor, que bulia nuns caquei-
ros no quintal, gritou de lá de dentro:
“beinho, dê um salto ali na feira de
são Joaquim e compre uma corda
de caranguejo pra eu fazer um escal-
dado pra você mais eu!”.
“oxente, beinho, só se for agora”,
respondeu val. e flor de lá: “mas ói sua
vida, hem, não vá demorar não senão
eu lhe passo a porra, viu?” e val saiu
picado, pongou no primeiro humilhante
e saltou na feira de são Joaquim.
malmente ele chegou encontrou a
raça: beto bozó, del, das águas, geni-
nho e zé mário. “êta zorra, agora fudeu
maria-preá”, pensou val. “e aí, corrente,
qual é a de mesmo?”, saudou.
e tome a comer rama, dizer dixote
um pro outro e olhar os balaios das
meninas feito abelha de padaria. de
vez em quando uma passarinha ou
um caldo de sururu pra dar sustan-
de como val desasnou(Adaptação do autor)
Causo
Maria 85
de como val desasnou ça. (“Nada de tira-gosto. tira-gosto
pra quê? eu bebo porque gosto!”).
val ficou logo pronto, mas toda mão
dizia que ia se picar. ai zé mário (hum,
zé mário é graça?) vinha com umas
conversas de tomar a saideira, a ante-
penúltima, a de cortesia, a da dolorosa,
a de comemoração, a de Jair, e o tem-
po passando. Quando val viu, já era de
manhã. “ai, meu são longuinho, é hoje
que eu vou me campar! aquela bozen-
ga vai me engarguelar, tá rebocado!”
meio azuado, comprou a corda
de caranguejo e foi pra casa. “hoje
eu me lenho, com certeza, sem
medo de errar! a sacrista vai me pi-
car a porra”, sofria val.
mas no que ele despongou do
buzu ele desasnou. ali defronte da
oficina estrela de vadinho biela, de
junto de sua casa, ele desamarrou
os caranguejos, arranjou uma vari-
nha e foi guiando os bichinhos até
em casa, falando alto pra flor ouvir;
“caranguejo, diabo, rumbora, ôxe,
é por aqui!”. flor, que já esperava
na porta, retada, foi logo dizendo :
“seu descarado, filho de mulé dama,
se prepare que vou lhe bater fixe! e
nem abra a boca, que você calado tá
errado!” e val: “oxen, beinho, você
pensa que é moleza vir de são Jo-
aquim até o bairro machado, na pa-
leta, tangendo essa ruma de caran-
guejo, fazendo o bicho andar pelo
passeio, descer meio-fio, atravessar
rua, correr de cachorro, e parar em
sinaleira? demora como um corno!”
Ô, retchado!...
niValDo lariú
DiCionário De bAiAnês
Comer água e depois pegar um buzú... qual é a de mermo?comer água beber
enfusado preso, limitado
trompaço porrada, pancada
caía na taca apanhava, levava uma surra
virada na porra brava
carne-de-pescoço pessoa difícil, temperamental
corda de caranguejo forma de venda dos
caranguejos, amarrados com
cerca de dez unidades
passo a porra bater, dar porrada
pongou tomou (o ôníbus)
humilhante ônibus
fudeu maria preá acabou-se tudo, me dei mal
corrente amigo
qual é a de mermo tudo bem?
balaios bundas
se picar ir embora, se mandar
vou me campar vou me dar mal
bozenga mulher feia
engarguelar esganar
tá rebocado pode crer, tenha certeza!
picar a porra bater, dar porrada
buzu ônibus
desasnou teve uma boa ideia
oficina estrela oficina pequena, de rua
de junto ao lado, próximo
retada brava
bater fixe bater com força, com firmeza
na paleta a pé
ruma um monte
sinaleira sinal de trânsito
86 Maria
Tabuleiro da Maria
Orixás descem no LouvreO artista plástico baiano Ed Ribeiro, um dos mais
renomados da arte brasileira contemporânea,
dá mais um salto na sua carreira internacional.
De 17 a 19 de setembro, ele integrará a mostra
Exposition Internacionale d´Art Contemporain, que
ocupará as dependências do Museu do Louvre,
em Paris. Em junho, foi condecorado com a Mé-
daile De Vermeil 2010, pela Academia de Artes,
Ciências e Letras de Paris.
Ed Ribeiro é um artista único na Bahia e no Brasil.
Sua arte, carregada de traços da cultura afro-
brasileira, com destaque especial para os orixás e
o sincretismo religioso, é também destaque pelo
uso de uma técnica inovadora, que troca os pin-
céis e espátulas pela tinta derramada sobre teci-
do. Conteúdo e técnica fazem a fama de Ribeiro
- um apaixonado confesso por Jackson Pollock
- inicialmente na Bahia, depois no mundo.
Ed ribeiro - www.edribeiro.com.br
África, moda e criatividadeJimmy Cliff se vestia com ela. Seus panos já fizeram a ambientação do
Itamaraty em recepções internacionais. Painéis de sua autoria com-
põem a decoração de instituições como Fundação Palmares (Brasília) e
The Ford Foundation (Nova Iorque). Está presente em feiras de moda e
vestuário nas cidades mais elegantes do mundo.
Artista Plástica formada pela Escola de Belas Artes da Universidade
Federal da Bahia, com especialização pela Universitá Internazionale
Dell’Arte de Firenze, Itália, Goya Lopes é, sem dúvida, uma das maiores
designers brasileiras. Artista com um pé no empreendedorismo, fundou
a Didara, empresa que tem hoje 23 funcionários e duas lojas em Sal-
vador. Seu grande mérito, no entanto, é ter desenvolvido uma original
linha de criação alimentada pelas raízes culturais africanas sem cair nos
clichês que povoam este segmento.
Didara by goya Lopes – rua gregório de Mattos, Pelourinho,
Salvador – Aeroporto Internacional de Salvador, Salvador
Imagens de uma líderAos 13 anos de idade, Maria Stella de Azevedo
Santos foi iniciada no candomblé. Era o ano de 1925.
Trinta e sete anos depois, ela seria escolhida ialorixá
do tradicional Ilê Axé Opô Afonjá, um dos mais tradi-
cionais terreiros baianos. Hoje, Mãe Stella de Oxóssi
é uma das líderes religiosas mais importantes e
influentes do Brasil (e do mundo).
O passo a passo dessa rica trajetória pode ser
deliciosamente apreciado no livro Mãe Stella de
Oxóssi, escrito pela psicoterapeuta Vera Felicidade,
autora de vasta e conceituada literatura científica.
Trata-se de um relato envolvente feito por quem
entende do assunto – Vera é “filha” do terreiro – e
que procurou analisar, além da personalidade,
aspectos ligados à liderança no Candomblé e à cul-
tura religiosa afro-baiana.
Mãe Stella de oxossi – Perfil de uma liderança
religiosa. Autora: Vera Felicidade de Almeida
Campos/ Jorge Zahar Editora/rJ 92 pgs
Maria 87
É só um jeito de corpoO corpo em sintonia com a saúde, a harmonia interior e a boa forma. O tripé de
benefícios do método Pilates Allegro é, hoje em dia, fato consumado. Por acredi-
tar muito nessa nova forma de cuidar e ver o corpo, a professora baiana Verônica
Fonseca estudou e aplicou o método em Caracas, na Venezuela, durante dez anos.
Agora, retorna a Salvador para fundar o Vero 3 Centro de Movimento, que se desti-
na tanto ao atendimento do público, como à formação de novos profissionais.
Trata-se de um espaço de reeducação corporal, onde são exercitadas técnicas que
buscam o equilíbrio entre o corpo e a mente para alcançar a longevidade e desfrutar a
alegria de viver. Como base, o centro utiliza-se de uma metodologia criativa baseada
nas técnicas ou disciplinas do Pilates Allegro, Feldenkrais e Gyronkinesis.
Vero 3 Centro de Movimento - rua Alexandre Herculano, 18, Esqui-
na Boulevard, loja 02, Itaigara, Salvador - Bahia – Brasil Telefax::71
3351.4536 - [email protected] - www.vero3.com.br
Beleza negra que encanta o mundoDefinitivamente bo-
nito de se ver, o Ilê
Aiyê ganha a Europa
em 2010. De 12 de
junho, até meados
de julho, o primeiro
e mais importante
bloco afro da Bahia
levou sua música e
seu gingado para
Festivais e centros
culturais de cidades como Barcelona, Zaragoza, Granada,
Marselha e Paris. Uma excursão estratégica na trajetória do
grupo não só pelo número de shows programados – cerca
de 15 – como pela importância dos eventos em que parti-
cipa como convidado especial. O Ilê viajou com cerca de
dez componentes, entre músicos, cantores e dançarinos, e
encontrou com mais cinco na Europa, incluindo os mestres
Marivaldo e Mário Pam.
Ilê Aiyê – Senzala do Barro Preto, rua do Curuzu,
62, Liberdade - www.ileaiye.org.br
Ócio criativo dos baianosA fama de preguiçoso dos baianos, difundida Brasil afora, é encarada pelos pró-
prios com a sabedoria de quem considera a tal preguiça um “pecado” necessá-
rio para se viver melhor. Dito isso, fica fácil entender o bom humor que está por
trás do principal guia cultural de Salvador, o Guia do Ócio.
Criado em 1999 pela Companhia de Comunicação, a publicação permanece
ativa no seu propósito de facilitar a vida dos turistas, (também dos baianos),
com informações da programação cultural e de lazer de Salvador e redondezas.
Por ser inteiramente feito por baianos, enumera aqueles locais e atrações que
fogem aos roteiros convencionais, desvendando o que está por trás dos cartões
postais. Além da versão impressa – lançada anualmente – oferece site próprio
com a programação do dia a dia.
guia do Ócio – Autor: Companhia de Comunicação/ Editora Fábrica
das Letras 264pgs - www.guiadoocio.com
Pelas lentes de GlatCarioca de nascimento, baiano de formação e cora-
ção. De tão baiano, o fotógrafo David Glat resolveu
apresentar uma nova e inusitada visão de algumas
das mais conhecidas referências históricas e arqui-
tetônicas da cidade de Salvador. O resultado é a
exposição “Pérolas Imperfeitas”, que depois de es-
trear na capital baiana, segue para diversas cidades
brasileiras ao longo do segundo semestre de 2010.
A programação inclui cidades como Fortaleza (8 de
junho a 25 de julho), São Paulo (19 de junho a 22 de
agosto) e Recife (10 de agosto a 5 de setembro).
A mostra transgride a estética da tradição, propõe
novos olhares sobre a cidade, vista sob efeitos
ilusionistas ou de maneira retorcida.
David glat - www.davidglat.com.br/projetos
88 Maria
Na amazônia, onde nasci,
não temos ladeiras.
vivemos numa
planície, mas
como ela é toda tecida de rios,
e está numa bacia, já nascemos
sabendo descer correntezas.
então, descer eu já sabia.
mas não sabia subir quase como quem
desce. sem cansar. isso aprendi na bahia.
a bahia me ensinou a subir ladeira em zig zag.
a gente não enfrenta a subida de frente, fica indo
de um lado ao outro dela, atenuando a inclinação.
claro que demora bem mais, e se dá muitos
mais passos, e a ladeira parece que vai subir
até o céu, e não acabar nunca.
além disso, a gente vai sentando aqui e ali,
para se restaurar e seguir subindo. é uma
arte que pede paciên-
cia. aliás, artimanha.
sentar em de-
grau de ladeira
é diferente de
sentar no fun-
do de barco
na correnteza:
na ladeira, a
pessoa fica
sen tad inha
onde sen-
tou, não sai do lugar. Na correnteza, a gente des-
cansa em movimento, vendo as margens passar por
nós. e, imóvel, vai indo em frente.
uma vez sentei sozinho no meio de uma ladeira in-
fernal, na bahia. e sonhei que estava descendo uma
correnteza. fiquei tão leve, subi como um balão e num
piscar de olhos, já estava no alto da ladeira.
subir ladeira sonhando que se está descendo correnteza
zig zagPara João da Maria
nos dá a sensa-
ção de que podemos su-
bir qualquer altura: até o alto do
himalaia com o monte fugi por cima.
Quando voltei da bahia para cá, após
13 anos vivendo lá, aprendi a misturar em
mim amazônia e bahia. e usar as subidas
baianas e descidas amazônicas, conforme o
caso.
onde eu quero chegar com essa história, que
não sobe nem desce?
bem.
se vocês querem uma moral da história, fiquem com esta:
- por mais dura ou mole demais que esteja à vida,
subindo ou descendo ao nosso redor, a gente sempre
pode inverter e amolecer ou endurecer as coisas, pas-
sando de fora dos olhos abertos para dentro dos olhos
fechados.
e se imaginar subindo ladeiras descendo correntezas
ou descendo correntezas subindo ladeiras.
a vida pode ser vice versa.
ViCEnTE Franz CECim, esCritor e publiCitário
CeCiMvozesDeAnDArA.blogspot.CoM
Crônica
0800 570 0800 | www.ba.sebrae.com.brA FEIRA DO EMPREENDEDOR - BAHIA FOI ELEITAA MELHOR DO BRASIL PELA SEGUNDA VEZ CONSECUTIVA.
A BAHIA É BICAMPEÃ
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Maria 890800 570 0800 | www.ba.sebrae.com.brA FEIRA DO EMPREENDEDOR - BAHIA FOI ELEITAA MELHOR DO BRASIL PELA SEGUNDA VEZ CONSECUTIVA.
A BAHIA É BICAMPEÃ
Antônio Marcos, Paulo Okamoto e Edival Passos
90 Maria
Humor
m a r i a p r e t a . o r g
AN
O 1 - N
º 1 - JUN
HO
2010 - BR
AS
IL
MariaANO 1 - Nº 1 - JUNHO 2010 - BRASIL
Pensar o novo! 15 anos da Maria ComunicaçãoPerformanceAs artes do reida noite de Brasília
CulturaA eterna resistênciado cinema baiano
EntrevistaJuca Ferreira fala sobreBrasil e grandeza cultural
TecnologiaAutomação do marketing
voluciona a comunicação
José de Souza Saramago, 16/11/1922 - 18/06/2010
Pensar o novo!
Foto
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