REVISTA ÂMBITO JURÍDICO A tutela penal e os crimes nas ... · PDF fileResumo: Ao abordar as relações de consumo, bem como os direitos do consumidor, ... XXXII - o Estado promoverá,

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  • REVISTA MBITO JURDICO

    A tutela penal e os crimes nas rela?s de consumo

    Resumo: Ao abordar as relaes de consumo, bem como os direitos do consumidor, surge uma gama de direitos e obrigaes ao consumidor final.Na rea do direito penal buscar-se- analisar os crimes que podem ser cometidos em detrimento do consumidor, previstos na Lei 8.078 de 11 deSetembro de 1.990, bem como da relao de consumo previsto na Lei 8.137 de 27 de Dezembro de 1.990.

    Sumrio: 1 Introduo. 2 A Evoluo e Efeitos das Relaes de Consumo e a Proteo Legal e Jurdica dos Consumidores. 3 Princpios einstrumentos reguladores das relaes de consumo. 4 Crimes contra as Relaes de Consumo e seus Sujeitos Penais. 5 Crimes contra a sadepblica. 6 Concluso. 7 Referncias.

    1 Introduo

    A Constituio da Repblica Federativa do Brasil promulgada no ano de 1.988, j previa a defesa do consumidor como uma de suas clusulasptreas decorrentes dos direitos e garantias fundamentais de todo cidado previsto em seu artigo 5.

    Assim, em 1990 na busca de garantir a eficcia constitucional dada ao instituto e dada a necessidade de regulamentao por ser um instrumentoslido que pouco a pouco ganhou sua autonomia foi editado o Cdigo de Defesa do Consumidor regulando as relaes de consumo e garantindo abusca da tutela jurisdicional com maior peso e fora.

    A razo de ser do direito penal garantir a segurana jurdica protegendo os bens jurdicos das condutas ofensivas tidas em nossa sociedade.

    O Cdigo de Defesa do Consumidor e as relaes de consumo reguladas pelas Leis 8.078 e 8.137 de 1.990 ganharam campo na busca da tutelajurisdicional, quando o cidado atravs de leis concretas e aps a queda do militarismo teve no seu direito constitucional de ao o instrumento eficazna busca dos direitos at ento pouco invocados e emanados de certos receios e entraves de todo um processo ps-ditadura.

    A Lei 8.078 de 11 de Setembro de 1.990 que institui o Cdigo de Defesa do Consumidor hoje com quase 17 anos de vigncia tornou-se econcretizou-se o mais importante meio para se provocar e buscar a defesa dos interesses, sejam estes individuais ou coletivos. No entanto, domesmo modo que a sua vinda foi definitiva inmeros incidentes e entraves aparecem como conseqncia das diversas formas de interpretaes dalei aplicada aos casos concretos, cada vez mais presentes das relaes do homem para com o meio em que vive.

    No entanto, alm da Lei 8.078/90 tratar em seus artigos 61 a 80 dos crimes contra as relaes do consumo, bem como a Lei 8.137/90 regularespecificadamente a matria, encontramos ainda outros previstos nas Leis 1.521/51, 4.591/64 6.766/79, sem esquecer aqueles tradicionais doCdigo Penal, capitulados no Captulo III, que trata "Dos Crimes contra a Sade Pblica".

    2 A Evoluo e Efeitos das Relaes de Consumo e a Proteo Legal e Jurdica dos Consumidores

    As relaes de consumo sempre fizeram parte de nosso cotidiano, pois, seremos eternos consumidores e sempre teremos a necessidade dosfornecedores sejam direitos ou indiretos que manipulam o fornecimento dos produtos indispensveis a nossa subsistncia.

    Indubitavelmente que as relaes de consumo evoluram e muito, e conseqentemente aumentaram as questes a serem tratadas decorrentes destaevoluo, que so disciplinadas e recepcionadas pelas Leis 8.078 e 8.137/90.

    Os instrumentos utilizados nas relaes de consumo foram gradativamente dando lugar ao comodismo e indstria da modernidade que transformouas trocas de mercadorias e produtos pelo leasing, importaes, operaes estas que, conforme j exposto, retiram a pessoalidade das relaes epassam a deix-las impessoais movidas pelas importaes e no identificao do fornecedor, movimentando grande quantidade de produtos eservios, bem como grande soma de ganhos destas relaes.

    Essa evoluo das relaes de consumo deu lugar aos efeitos indesejados, como:

    a) Consumismo

    b) Superendividamento: caso em que a pessoa tem a soma das suas rendas montante inferior aos valores que o mesmo tem de dbito para comseus credores, que pode ocorrer por casos fortuitos, ou simples descontroles nas contas do indivduo causando reflexos em sua vida e suasdespesas essenciais e rotineiras.

    c) Desequilbrio ambiental

    d) Doenas relacionadas ao consumo (oniomania)

    e) Aumento da violncia

    Essas modificaes nas relaes de consumo geraram a necessidade de busca da tutela jurisdicional por parte do consumidor que teve queexperimentar e gozar de seu direito de ao para fazer valer seus direitos, sendo, por conseguinte, reflexos destas modificaes que at entoseriam previsveis, na evoluo das relaes de consumo.

    Comentando sobre o tema Nelson Nery Junior (2010, p. 55):

    O surgimento dos grandes conglomerados urbanos, das metrpoles, a exploso demogrfica, a revoluo industrial, o desmesuradodesenvolvimento das relaes econmicas, com a produo e consumo de massa, o nascimento dos cartis, holdings, multinacionais e dasatividades monopolsticas, a hipertrofia da interveno social e econmica, o aparecimento dos meios de comunicao de massa, e, com eles, ofenmeno da propaganda macia, entre outras coisas, por terem escapado do controle do homem, muitas vezes voltaram-se contra ele prprio,repercutindo de forma negativa sobre a qualidade de vida atingindo inevitavelmente os interesses difusos. Todos esses fenmenos, que seprecipitaram num espao de tempo relativamente pequeno, trouxeram a lume a prpria realidade dos interesses coletivos, at ento existentes deforma latente, despercebidos.

    A proteo legal e jurdica dos consumidores se consubstancia atravs da Lei Maior que a Constituio Federal, atravs da legislao especficasobre o assunto que o cdigo de defesa do consumidor e pelas Leis esparsas que auxiliam a regular a matria.

    A Constituio Federal disps sobre os direitos do consumidor no artigo 5 XXXII, artigo 170, inciso V e artigo 48 da ADCT, que rezam:

    Artigo 5 Todos so iguais perante a lei, sem distino de qualquer natureza, garantindose aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Pas ainviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade, segurana e propriedade, nos termos seguintes:

    XXXII - o Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor;

    Art.170 A ordem econmica, fundada na valorizao do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existncia digna,conforme os ditames da justia social, observados os seguintes princpios:

    V defesa do consumidor;

  • Art. 48 - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgao da Constituio, elaborar cdigo de defesa do consumidor.

    Dadas as modificaes nas relaes de consumo, com reflexos nos interesses difusos e coletivos gerou a necessidade e a busca pelo consumidorpela tutela jurisdicional com vistas a regulamentar essas relaes garantindo a defesa e a melhora no fornecimento de produtos e servios.

    Joo Batista de Almeida (1993, p.10) leciona que o cdigo de defesa do consumidor antes de versar da Poltica Nacional de Proteo e Defesa doConsumidor, trata da Poltica das Relaes de consumo, dispondo sobre objetivos e princpios que devem ser norteados, e que a defesa doconsumidor deve ser encarada como meio de compatibilizar e harmonizar os interesses dos envolvidos e no como instrumento de confronto entreproduo e consumo. O autor dispondo ainda sobre o cdigo de defesa do consumidor nos remete ao objetivo principal das relaes de consumo (p.10):

    [...] o atendimento das necessidades dos consumidores objetivo principal das relaes de consumo - , mas deve preocupar-se tambm com atransparncia e harmonia das relaes de consumo, de molde a pacificar e compatibilizar interesses eventualmente em conflito. O objetivo do Estadoao legislar sobre o tema no ser outro que no o de eliminar ou reduzir tais conflitos, sinalizar para a seriedade do assunto e anunciar sua presenacomo mediador, mormente para garantir proteo parte mais fraca e desprotegida. Objeto importante dessa poltica tambm a postura do Estadode garantir a melhoria da qualidade de vida da populao consumidora, quer exigindo o respeito sua dignidade, quer assegurando a presena nomercado de produtos e servios no nocivos vida, sade e segurana dos adquirentes e usurios, quer, por fim, coibindo os abusos praticadose dando garantias de efetivo ressarcimento no caso de ofensa a seus interesses econmicos.

    Os direitos dos consumidores e s relaes de consumo so reguladas pelo direito penal do consumidor, ramo do direito que tem por finalidade aproteo penal relao de consumo, como bem jurdico imaterial, supra individual e difuso.

    O direito penal do consumidor tem carter subsidirio, bem como o direito penal econmico ao qual um ramo deste, pois, a sano s aplicadaquando esgotados todos meios de aplicao desta sano.

    O cdigo de defesa do consumidor, Lei n 8.078 de 11 de Setembro de 1.990 trata em seu Ttulo II nos artigos 61 a 80 das infraes penais nasrelaes de consumo, sem prejuzo do disposto no cdigo penal e leis especiais que tratam da matria como a Lei 8.137/90, elencando as condutastipificadas alusivas ao consumidor na defesa de seus direitos.

    J a Lei 8.137 de 27 de Dezembro de 1.990 regula os crimes contra a ordem tributria, econmica bem como as relaes de consumo capitulando edispondo os tipos penais decorrentes destas relaes de consumo complementando as disposies do cdigo de defesa do consumidor.

    O cdigo penal brasileiro por sua vez ir em contrapartida regular e dar proteo legal aos crimes praticados contra a sade pblica, patrimnio e fpblica em sua parte especial, que possam a vir causar danos ao consumidor mesmo que indiretamente.

    3 Princpios e instrumentos reguladores das relaes de consumo

    O cdigo de defesa do consumidor em seu ttulo I e captulo II artigos 4 e 5 tratam da Poltica Nacional de Relaes de Consumo e dispem dosprincpios e instrumentos norteadores:

    Artigo 4 - A Poltica Nacional das Relaes de Consumo tem por objetivo o at