85
REVISTA MOTRICIDADE Revista Técnica e Cientíca da Fundação Técnica e Cientíca do Desporto N.º01 Vol. 03 Janeiro’07 I CORPO EDITORIAL DA MOTRICIDADE Editor-chefe Prof. Doutor Victor Machado Reis (UTAD) Editores Juniores: Dr Felipe José Aidar (UTAD, Portugal) Dr André Carneiro (Funorte-MG, Brasil) Editores Associados: Prof. Doutor António José Silva (UTAD, Portugal) Prof. Doutor José Alberto Duarte (FADE-UP, Portugal) Prof. Doutor Ricardo Jacó Oliveira (UCB-DF, Brasil) Prof. Doutor Jefferson Novaes (UFRJ-RJ, Brasil) Prof. Doutor José Vasconcelos Raposo (UTAD, Portugal) Conselho Editorial: Prof. Doutor António Serôdio (UTAD, Portugal) Prof. Doutor Carlos Albuquerque (ESSV, Portugal Prof. Doutor Estelio Martim Dantas (UCB-RJ, Brasil) Prof. Doutor Francisco Bessone Alves (FMH-UTL, Portugal) Prof. Doutor João Paulo Brito (ESDRM-IPS, Portugal) Prof. Doutor João Paulo Vilas-Boas (FADE-UP, Portugal) Prof. Doutor José Rodrigues (ESDRM, Portugal) Prof. Doutor Leandro Machado (FADE-UP, Portugal) Prof Doutora Maria Dolores Monteiro (UTAD, Portugal) Prof. Doutor Manuel Sérgio (Instituto Piaget, Portugal) Prof. Doutor José Fernandes Filho (EFMG-MG; Brasil) Prof. Doutor Rodolfo Benda (UFMG-MG, Brasil) Prof. Doutor Paulo Dantas (UNIGRANRIO_RG, Brasil) Prof . Doutor Tiago Barbosa (IPB, Portugal) Consultores: Mestre Jaime Tolentino (Funorte-MG, Brasil) Mestre Mário Marques (UPO, Espanha) Mestre António Moreira ((ESDRM_IPS, Portugal)) Dr.ª Ana Maria Almeida Torres (Hospital de São Teotónio de Viseu, Portugal) Dr. José Ramos (centro Nacional de Medecina Desportiva, Portugal) motricidade3vol1111.indd 1 motricidade3vol1111.indd 1 10-06-2007 20:45:13 10-06-2007 20:45:13

REVISTA MOTRICIDADEN.º01 - Revista / Journal …€¦ · O desenvolvimento da profi ciência motora em crianças ciganas e não ciganas: ... deverá fotocopiar o comprovativo e

Embed Size (px)

Citation preview

REVISTAMOTRICIDADE

Revista Técnica e Científi cada Fundação Técnica e Científi ca do Desporto

N.º01 Vol. 03 Janeiro’07

I

CORPO EDITORIAL DA MOTRICIDADE

Editor-chefe Prof. Doutor Victor Machado Reis (UTAD)

Editores Juniores: Dr Felipe José Aidar (UTAD, Portugal)

Dr André Carneiro (Funorte-MG, Brasil)

Editores Associados: Prof. Doutor António José Silva (UTAD, Portugal)

Prof. Doutor José Alberto Duarte (FADE-UP, Portugal)

Prof. Doutor Ricardo Jacó Oliveira (UCB-DF, Brasil)

Prof. Doutor Jefferson Novaes (UFRJ-RJ, Brasil)

Prof. Doutor José Vasconcelos Raposo (UTAD, Portugal)

Conselho Editorial: Prof. Doutor António Serôdio (UTAD, Portugal)

Prof. Doutor Carlos Albuquerque (ESSV, Portugal

Prof. Doutor Estelio Martim Dantas (UCB-RJ, Brasil)

Prof. Doutor Francisco Bessone Alves (FMH-UTL, Portugal)

Prof. Doutor João Paulo Brito (ESDRM-IPS, Portugal)

Prof. Doutor João Paulo Vilas-Boas (FADE-UP, Portugal)

Prof. Doutor José Rodrigues (ESDRM, Portugal)

Prof. Doutor Leandro Machado (FADE-UP, Portugal)

Prof Doutora Maria Dolores Monteiro (UTAD, Portugal)

Prof. Doutor Manuel Sérgio (Instituto Piaget, Portugal)

Prof. Doutor José Fernandes Filho (EFMG-MG; Brasil)

Prof. Doutor Rodolfo Benda (UFMG-MG, Brasil)

Prof. Doutor Paulo Dantas (UNIGRANRIO_RG, Brasil)

Prof . Doutor Tiago Barbosa (IPB, Portugal)

Consultores: Mestre Jaime Tolentino (Funorte-MG, Brasil)

Mestre Mário Marques (UPO, Espanha)

Mestre António Moreira ((ESDRM_IPS, Portugal))

Dr.ª Ana Maria Almeida Torres (Hospital de São Teotónio

de Viseu, Portugal)

Dr. José Ramos (centro Nacional de Medecina Desportiva,

Portugal)

motricidade3vol1111.indd 1motricidade3vol1111.indd 1 10-06-2007 20:45:1310-06-2007 20:45:13

motricidade3vol1111.indd 2motricidade3vol1111.indd 2 10-06-2007 20:45:1410-06-2007 20:45:14

ÍNDICE: Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07

{ INVESTIGAÇÃO{ 270Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literaturaPedaling Cadence in the Ciclism: A ReviewDias, M.; Lima, J. R.; Novaes, J. S.;

{ 279Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asiladosEffect of inspiratory muscles training in maximal inspiratory pressure and funcional autonomy of sheltered elderly peopleCader, s.; Silva, E. B.; vale, R.; Bacelar, S.; Monteiro, M. D.; Dantas, E.;

{ 289O desenvolvimento da profi ciência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.The motor profi ciency development in gypsy and non-gypsy children: a comparative studyFrancisco, J.; Marmeleira, F.;

{ 298Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismo. Characterization of anxiety levels among track and fi eld athletesVasconcelos-Raposo, J.; Lázaro, J.; Mota, M.; Fernades, H.

{ 315Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo.Chronological, morphological and functional markers and maturational stages of students from the northeast of Brazil: a comparative study.Bruch, V.; André Boscatto, A.; Silva, J. B.; Nóbrega, A.; Neto, M.; Medeiros, H. J.; Dantas, P. M.;

Knackfuss, M. I.;

{TÉCNICO {323 A ginástica artística masculina (GAM): observando a cultura de treinamento desde dentro.Top level men artistic gymnastics (MAG): an observation of the training culture from the inside perspective.Bortoleto, M. A.;

{REVISÃO{337Mitos e verdades sobre fl exibilidade: refl exoes sobre o treinamento de fl exibilidade na saúde dos seres humanos. Myths and trues about fl exibility: refl ections about the stretch training in the health of human being

Almeida, T. T.; Jabur, N. M.;

motricidade3vol1111.indd 3motricidade3vol1111.indd 3 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

EDITORIAL: Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07

IV

Os jardins digitais e o sedentarismo

Com a revolução industrial verifi cou-se uma restrição do movimento físico conduzindo, por vezes, a uma anulação quase completa da activi-dade física. Esta redução na actividade física acar-reta, tanto entre jovens como entre indivíduos menos jovens, uma diminuição da qualidade de vida e da aptidão física. A actividade física cons-titui uma importante medida profi lática contra patologias da civilização moderna, como por exemplo o stress. Esta necessidade de exercício do homem actual não é uma moda, mas antes uma iminência exigida pela indesejável adaptação do organismo humano ao modus vivendi actual.A evolução do Homo Sedentaris tem sido feita

a um ritmo alucinante, bem mais rápido do que as espécies que lhe deram origem. Vejamos um exemplo tão caricato quanto triste. Um dos municípios mais importantes de Portugal anun-ciou recentemente a brilhante ideia de apetre-char os seus parques da cidade com Internet sem fi os. Para melhor esclarecer, estamos a falar mesmo de parques verdes, de jardins, com árvores e passarinhos chilreando... Reparem nos novos horizontes que uma medida tão simples pode trazer… Imaginemos os papás e mamãs daquela cidade saindo de casa com as suas crianças num lindo dia de sol e, cada membro da família com o seu portátil na maleta, se instalarem conforta-velmente à sombra de uma árvore e navegarem pelo mundo. Nada de bolas de futebol, cordas de saltar e outros brinquedos…não. Há que educar as criancinhas de acordo com os tempos moder-nos e substituir esses objectos pelo computador! E será que à sombra das árvores não poderão os portáteis padecer de mazelas quando pingar um dejecto de passarinho sobre o teclado ou o ecrã? Bem, o melhor seria talvez eliminar toda a espécie

de aves desses espaços. E mesmo sem pássaros será que a seiva das árvores não poderá igualmente danifi car o instrumento de fruição dos muníci-pes? E que tal, já agora, retirar também as árvores? Como ambas as medidas seriam pouco ecológi-cas e alvos fáceis dos ecologistas, talvez solucionar de uma forma mais simples. Porque não construir uns cubículos nos jardins para os cibernautas? Esta solução até poderia protegê-los da radiação ultra-violeta e poupar assim alguns cancros de pele! Este mero exercício de futurismo, mas não

necessariamente de fi cção, ilustra a ideia de que o sedentarismo nas sociedades moder-nas galga por vezes as margens do razoável.

O EditorVitor Reis

motricidade3vol1111.indd 4motricidade3vol1111.indd 4 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

Sim desejo assinar a revista motricidade durante um ano ( 4.º edições) no valor de €60 para Portugal Continental e Ilhas e €86 para o Brasil, fi ndo a qual a minha assinatura se renovará automaticamente. Se não pretender continuar a receber a Motricidade comunicarei a minha a minha vontade por escrito para a redacção da revista até um Mês antes do limite da assinatura corrente.Pode fotocopiar o Cupão de Assinatura- Por favor recortar e enviar para a Revista Motricidade | FTCD - Rua Eng.º Duarte Pacheco, n.º11 | 4520-225 Santa Maria da Feira.

Nome:Morada: Profi ssão:Código Postal: N.º Contribuinte:Localidade: Contacto telefónico: E-mail:*Oportunidade: Estudantes, mediante envio de fototópia do seu cartão de estudante, benefi ciarão de um desconto de 33,3%, sobre o preço da assinatura Anual.

OPÇÕES DE PAGAMENTOTransferência Bancária mediante envio de fotocópia do comprovativo de transferência para a conta da FTCD - Revista MotricidadeNIB: 0035 0306 00052582930 77 Conta da Caixa Geral de Depósitos - PortugalTransferência internacional por IBAN: PT50 0035 0005 258293077 n.º Fax para envio de comprovativo: 351 256 378 692

Autorização de Débito DirectoIdentifi cação do Credor 101575 N.º de AutorizaçãoEu, , autorizo que por débito da minha conta abaixo indicada procedam ao pagamento das importâncias que lhes forem apresentadas pela FTCD - Fundação Técnica e Científi ca do Desporto.Data (ano/mês/dia): NIB:Assinatura:

Por Cheque: Portugal €60 (estudantes €40). À ordem de FTCD - Fundação Técnica e Científi ca do DesportoN.º Banco:

REVISTA MOTRICIDADE | Rua Eng.º Duarte Pacheco n.º11 | 4520-225 Santa Maria da Feira | Tel 256 378 690 Fax 256 378 692 E-mail: [email protected] | www.ftcd.org/motricidade

FICHA DE ASSINATURA Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07

Sim desejo assinar a revista motricidade durante um ano ( 4.º edições) no valor de €60 para Portugal Continental e Ilhas e €86 para o Brasil, fi ndo a qual a minha assinatura se renovará automaticamente. Se não pretender continuar a receber a Motricidade comunica-rei a minha a minha vontade por escrito para a redacção da revista até um Mês antes do limite da assinatura corrente.Pode fotocopiar o Cupão de Assinatura- Por favor recortar e enviar para a Revista Motricidade | FTCD - Rua Eng.º Duarte Pacheco, n.º11 4520-225 Santa Maria da Feira.

Nome: Fone: Ramal:Instituição a que está vinculado: Profi ssional EstudanteEndereço: Compl: Bairro:Cidade: Estado: CEP:Caixa Postal: E-mail: Profi ssão:

*Oportunidade: Estudantes, mediante envio de fototópia do seu cartão de estudante, benefi ciarão de um desconto de 33,3%, sobre o preço da assinatura

Anual.

OPÇÕES DE PAGAMENTO

Depósito em conta - Banco do Brasil | Conta em: Salomé M B Queiroz | Agência: 0104X | Conta: 41081-0Agência Montes Claros - Rua Gonçalves Figueira, n.º9Contacto telefónico: 38 322 937002Instruções adicionais: Após o depósito na conta, deverá fotocopiar o comprovativo e remeter o referido por carta, para o nosso endereço ou enviado por Fax, para o número 00351 256 378 692

Por Cheque: Portugal €60 (estudantes €40). À ordem de FTCD - Fundação Técnica e Científi ca do DesportoN.º Banco:

REVISTA MOTRICIDADE | Rua Eng.º Duarte Pacheco n.º11 | 4520-225 Santa Maria da Feira | Tel 256 378 690 Fax 256 378 692 E-mail: [email protected] | www.ftcd.org/motricidade

FICHA DE ASSINATURA Revista Motricidade Vol. 03 N.º01 | Janeiro ‘07

RECORTAR

BR

ASI

LP

OR

TUG

AL

motricidade3vol1111.indd 5motricidade3vol1111.indd 5 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

FICHA TÉCNICA DA MOTRICIDADE

Director: Prof. Doutor Victor Machado Reis

Directores Adjuntos: Prof. Doutor Espregueira Mendes (Hospital de São Sebastião)

Mestre Alípio Oliveira ( Comité Olímpico de Portugal)

Director de Redação: Helder Ferreira

Propriedade e Edição: FTCD-Fundação Técnica e Científi ca do Desporto

Design Gráfi co: Mário Cardoso

Paginação: Vera Costa

Impressão e Acabamento: Publidisa

Tiragem: 1000 exemplares

Periocidade: Trimestral

ICS N.º 124607

ISSN N.º ISSN 1646-107X

Depósito legal 222069/05

Assinaturas: Helder Ferreira ([email protected])

Assinaturas Anual: Portugal e Europa: €60 | Brasil e Palop:€80

Outros Países:€25

Preço deste número: Portugal e Europa: €15 | Brasil e Palop: €20

Outros Países:€25

Endereço para correspondência FTCD - Revista Motricidade - Rua Eng. Duarte Pacheco, n.º 11

4520-225 Santa Maria da Feira | Tel 256 378 690 | Fax 256 378 692

E-mail: [email protected] | www.ftcd.org

REVISTAMOTRICIDADE

Revista Técnica e Científi cada Fundação Técnica e Científi ca do Desporto

N.º01 Vol. 03 Janeiro’07

motricidade3vol1111.indd 6motricidade3vol1111.indd 6 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

270 {Investigação

Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias 1,2, Jorge R. Perrout de Lima 3 e Jefferson da Silva Novaes 1,4

1 Universidade Castelo Branco, RJ.2 Faculdade Metodista Granbery, Juiz de Fora, MG.3 Laboratório de Avaliação Motora da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG4 Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ.

Dias, M.; Lima, J. R.; Novaes, J. S.; Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura. Motricidade 3(1): 270-278

Resumo

Após décadas de estudos e inúmeras discussões, ainda não há um consenso sobre a cadência ideal de pedalada no ciclismo. O presente estudo teve o objetivo de revisar, de forma sistematizada, estudos científi cos que investigaram a efi ciência mecânica através das cadências de pedalada no cilcismo. Tais experimentos demonstraram diver-sos fatores que poderiam ser capazes de alterar a cadência de pedalada ideal e preferida, com isso alterar a efi ciência de pedalada. O ponto con-clusivo da literatura defi ne as baixas cadências de pedalada como mais econômicas e efi cientes que as altas. A cadência ideal para a maioria dos prati-cantes é, geralmente, mais baixa do que a cadên-cia preferida pelos ciclistas treinados.

Palavras-Chave: cadência de pedalada, eco-nomia de movimento, efi ciência mecânica e ciclismo.

Data de submissão: Setembro 2006Data de aceitação: Dezembro 2006

Abstract

Pedaling Cadence in the Ciclism: A ReviewAfter decades of studies and innumerable quar-

rels, there is not still a consensus on the opti-mal pedaling rate in the cycling. The present study aimed to review systematically the sci-entifi c studies that investigated the mechanical effi ciency through the pedaling rates in cycling. Such experiments have demonstrated that diverse factors could be capable to modify the optimal pedaling preferred rate and pedaling effi ciency as well. The conclusive point of literature defi nes the low pedaling cadences as more economic and effi cient that the high ones. The ideal cadence for the majority of the practitioners is generally lower than the cadence preferred by the trained cyclists.

Keywords: pedaling cadence, movement econ-omy, mechanics effi ciency and cycling.

motricidade3vol1111.indd 7motricidade3vol1111.indd 7 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

271 {Investigação

Introdução

Ao longo dos tempos, a cadência de pedalada no ciclismo vem sendo alvo de diversos estudos 1,2,3,4,5,6,7,8,9 os quais apresentam diferentes ver-tentes em seus objetivos e metodologias aplica-das 10. Hoje, a grande discussão na literatura de ciclismo é em relação à cadência de pedalada mais econômica 5 e a preferida entre ciclistas 11,12. Há tempos estudos tentam bases científi cas para encontrar a cadência de pedalada ideal, na qual haja um menor gasto energético e uma pedalada mais efi ciente. Com base na literatura disponível, sabe-se que as cadências mais econômicas con-frontam com as preferidas para a maioria dos ciclistas. Diversos fatores como a duração do exercício, o

nível de condicionamento, a particularidade de cada indivíduo e a potência mecânica (watts ou kpm) e relativa (variáveis fi siológicas) alteram a cadência de pedalada ideal e a preferida 11. Outro fator é a distribuição dos tipos de fi bras muscula-res, rápidas e lentas, como importantes determi-nantes para o ritmo de pedalada individual 7,13,14. A relação da potência mecânica com a cadência

de pedalada também é outro ponto importante encontrado na literatura. A potência fi nal alca-nçada pode ser diferente em relação à cadência de pedalada e à posição do corpo na bicicleta, entretanto, a cadência pode afetar a potência fi nal alcançada em um teste ou treino específi co 3. A maioria dos estudos utilizou uma potência mecânica constante para encontrar uma res-posta de outras variáveis, em relação à posição do corpo na bicicleta, há uma diferença na cadência de pedalada quando se pedala sentado ou em pé. Para todas estas variáveis, o conhecimento do

instrumento de avaliação se torna indispen-sável para a aplicação dos resultados. A bicicleta ergométrica e a própria bicicleta individual de ciclismo, usada em laboratórios ou em velódro-mos e competições outdoor, estão sendo alvo de

diversos estudos que relatam as diferenças das respostas mecânicas e relativas da cadência de pedalada no ciclismo 15,16,17,18,19,20.

Sendo assim, o presente estudo teve o objetivo de revisar a literatura científi ca que investigou a efi ciência mecânica através da cadência de pedalada econômica e preferida pelos ciclistas.

Desenvolvmento

A bicicleta como um instrumento de avaliaçãoO cicloergômetro foi criado para identifi car a

capacidade do trabalho muscular dos indivíduos através de testes em laboratórios 15. A bici-cleta ergométrica tem sido o instrumento mais comum para determinar os parâmetros fi siológi-cos e biomecânicos em ciclistas 6,21,22,23,24, e por isso, o ciclismo é um dos exercícios mais utiliza-dos para a avaliação clínica de pacientes e para o desenvolvimento da aptidão cardiorrespiratória. Tal popularização deve-se ao fato do ciclismo envolver a utilização de grandes grupos muscu-lares com um reduzido grau de impacto sobre as articulações 25. O sistema de pedal circular foi desenvolvido

por Pierre Michaux em 1861, e depois de 144 anos, não podemos estar realmente certos qual é o sistema de pedalada ideal. Conseqüentemente, devemos ser cautelosos ao falarmos da otimiza-ção da cadência de pedalada. Durante uma atividade de pedalar, a efi ciência

de um atleta pode ser alterada por fatores mate-riais como altura do banco, o tamanho do pedi-vela, a posição na bicicleta e o uso de sapatilhas de ciclismo. Carvalho et al. 17, a fi m de minimizar os fatores que alteram a pedalada, constataram, em seu estudo com triatletas, uma alta correla-ção nos resultados da potência obtidos entre a bicicleta ergométrica e um ciclossimulador. os

motricidade3vol1111.indd 8motricidade3vol1111.indd 8 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

272 {Investigação

Figura 1: Sistema de pedal não circular – Rotor (1) e sistema de pedal circular – Convencional (2) (Santalla et. al. 20).

Tabela 1: Cadência média de ciclistas profi ssionais

Estágios no plano (largada em massa) Contra-relógio individual Subidas em montanhas

Cadência

(rpm)

Velocidade

(kph)

89 (80 a 99)

44 (38 a 51)

92 (86 a 96)

47 (44 a 50)

71 (62 a 80)

17 (12 a 25)

Fonte: Dados coletados em 1999 (giro, tour e volta). Todos os dados expressam a média, mínimo e máximo.

Os estágios planos têm ~ 188 km, contra-relógio ~ 50 km e subidas em montanhas ~ 180 km 11.

estudos de Santalla et al. 20 em indivíduos não ciclistas, e de Lucia et. al. 28 em ciclistas profi s-sionais, que não encontraram diferenças entre os diferentes sistemas de pedais (rotor e conven-cional) quando medidas as variáveis fi siológicas e mecânicas. Estes estudos somente observaram

uma melhora da efi ciência com o uso do sistema de rotor.

Efi ciência mecânicaA compreensão dos padrões e critérios que o

sistema nervoso utiliza para a realização de deter-minadas funções é fundamental para o entendi-mento da melhoria e efi ciência de movimento 30. Segundo Prilutsky et al. 31, os animais realizam seus movimentos locomotores de uma maneira

otimizada. Assim, em uma corrida de longa dis-tância, o critério seria, então, a economia energé-tica, mas se o objetivo fosse escapar de um opo-

nente, a velocidade seria fator determinante. Gaesser e Brooks 4 defi nem a efi ciência mecâ-

nica como a relação do trabalho realizado com a energia gasta. Considerando-se que no ciclismo o tipo de energia dissipada no pedal é eminen-temente mecânica, o cálculo da energia mecâ-

nica gerada no corpo humano durante a reali-zação da pedalada fornece a efi ciência mecânica no ciclismo. Tais valores de efi ciência mecânica podem caracterizar e diferenciar um bom ciclista ou um indivíduo em potencial, na medida em que uma maior efi ciência está associada a um melhor aproveitamento da energia mecânica gerada para a realização do movimento32. Podemos afi rmar que a habilidade de sustentar

o trabalho é dependente de uma fonte adequada

de O2 aos músculos 22. Um exemplo é a extra-

ção de O2 em músculos dos membros inferiores,

como o vasto lateral, que se mostrou similar em

Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes

motricidade3vol1111.indd 9motricidade3vol1111.indd 9 10-06-2007 20:45:1510-06-2007 20:45:15

273 {Investigação

60 e 100 rpm 33. Já Vecruyssen et al (2005) 34, em um estudo com triatletas mostraram que para diminuir os índices de fadiga muscular deve-se aumentar a cadência de pedalada.Belli e Hintzy 1, pesquisando o VO

2 (ml.kg-1min-

1) e a energia gasta (J. kg-1m-1), reportaram que o consumo de O

2 foi menor nas baixas cadên-

cias (57 rpm), com um alto gasto energético em cadências mais elevadas (101 rpm). Já Sidossis et al. 35 mostraram que a efi ciência total, a uma intensi-dade de 80-90% do VO

2 máx em ciclistas treinados,

foi similar entre as cadências de 60, 80 e 100 rpm, ao contrário do consumo de O

2 que aumentou

com o acréscimo da cadência de pedalada.A concentração de lactato sanguíneo também é

um fator bastante testado para encontrar a cadên-cia de pedalada ideal. Autores tentam correlacio-nar à cadência de maior efi ciência mecânica com a concentração de lactato 8,36. Segundo Denadai et al. 36, que utilizaram indivíduos masculinos de atividade recreacional, a concentração do máximo de lactato em stady-state não é infl uenciada pelas diferentes cadências de pedalada. Isso nos deixa uma lacuna, quando se propõe um treinamento relacionando a cadência e a concentração de lac-tato para ciclistas profi ssionais ou experientes.

As discussões sobre a cadência de pedalada ideal ainda provocam mais controvérsias quando as novas pesquisas têm sido conduzidas utilizando

ciclistas que não são altamente treinados 27 e quando a variação da cadência é usada com um número reduzido de variáveis. A cadência ideal não deve ser a única variável a ser associada com os objetivos e as características individuais dos sujeitos 8. Entretanto, estudos mostraram que trabalhar

em diferentes cadências pode alterar a efi ciên-cia da pedalada 2,37,38. Assim sendo, algumas pes-quisas 21,39,28,40,41,42,43 relataram, em estudos sobre a efi ciência de pedalada, que as baixas cadências de pedaladas (50 a 60 rpm) são mais econômicas e efi cientes que as altas cadências de pedaladas (> 90 rpm). Dessa forma, testes submáximos com indivíduos

ativamente físicos mostram que pedalar em uma mesma potência mecânica, obtida com combi-nações de cadência e carga resistiva diferentes, resulta em respostas da Freqüência Cardíaca, Pressão Arterial, Duplo Produto e Percepção de Esforço diferente, principalmente se a cadência escolhida se encontrar acima da faixa econômica (50 a 60 rpm).Lucia et al. 27 apresentaram os principais achados

sobre as baixas cadências de pedalada testadas em laboratório (tabela 2).

Em contrapartida, outros estudos mostram que o aumento da cadência de pedalada não altera a efi ciência mecânica 42,44. Nickleberry e Brooks

Tabela 2: Vantagens e desvantagens hemodinâmicas e fi siológicas encontradas quando se pedala em baixas

cadências (< 60-70 rpm)

Vantagens Desvantagens

FC e VE

VO2

Economia / efi ciência

Estresse muscular

Fluxo sanguíneo no músculo do quadríceps

Volume de ejeção

Bomba muscularAs conclusões mostradas são baseadas em pesquisa conduzidas em indivíduos não treinados. FC = freqüência

cardíaca; VE = ventilação pulmonar 27.

motricidade3vol1111.indd 10motricidade3vol1111.indd 10 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

274 {Investigação

44 mostraram tais resultados em exercício sub-máximo, tanto em ciclistas profi ssionais quanto em recreacionais. Marsh et al. 42 concluíram que a efi ciência não sofre grandes alterações pela cadência de pedalada comparando ciclistas trei-nados, corredores e indivíduos destreinados.Em suma, este é o ponto divergente da literatura

quando se fala em cadência de pedalada, sendo que, os estudos que mostram que não há alter-ações na efi ciência de pedalada com o aumento da cadência tinham em sua amostra ciclistas alta-mente treinados que realizavam os testes a potên-cias acima de 400 watts 11.

Potência MecânicaA performance das condições fi siológicas no

ciclismo é representada pela potência relativa, que é mensurada através das variáveis fi siológicas de treinamento 27. Para alcançar estas variáveis de trei-namento é utilizada a potência mecânica oferecida pelos cicloergômetros, mensurada em watts (w) 19,27. Testes em laboratórios, usando a potência fi xa,

têm sido o modelo de exercício escolhido por muitos estudos 16,17. Em geral, os testes executados por indivíduos não ciclistas com potência cons-tante (geralmente ≤ 200w), pedalando em baixo ritmo (50 a 70 rpm), resultaram em um menor consumo de oxigênio do que pedalando em ritmo mais elevado (> 90 rpm). Tal escore pode ser con-siderado bom para estes indivíduos, que buscam uma melhora da aptidão física e recreação, e que raramente ultrapassam de 200w. Os ciclistas de elite estão interessados em otimizar a cadência de pedalada e fazer-las mais econômicas e efi cientes, podendo gerar maior potência mecânica por um período mais longo 27. Os indivíduos, quando testados em laboratórios,

são requeridos a pedalarem sentados. O que não retrata algumas situações naturais, como a subida em montanhas na qual se utiliza a posição em pé.

O pico de potência alcançado (POpeak

) no ciclismo é signifi cantemente alterado pela posição do corpo, ou seja, são diferentes quando compa-rados aos testes de laboratório e em condições de treino ou competição em velódromos 22. Faria et al. 22 ainda reportaram, em seu estudo, que o PO

peak em Sprints em velódromos na posição sen-

tada é maior que na posição em pé, quando com-parados aos resultados do laboratório. Bertucci et al. 16 indicaram, em seu trabalho,

que a potência varia substancialmente de acordo com a cadência de pedalada e com um menor efeito com o terreno utilizado. Este achado vai de encontro aos de Millet et al.45 que ao observa-rem ciclistas treinados não constataram diferenças entre as subidas na posição sentada e em pé. Levando em consideração os efeitos das cadên-

cias de pedalada na potência alcançada, Pierre et. al. 38 relataram que os efeitos da cadencia na efi ci-ência total diminui linearmente com a potência, enquanto o efeito da potência aumenta com a cadência em indivíduos ativos. Assim, para girar em uma potência muito alta utilizam-se cadên-cias de pedalada mais baixas.

Cadência de pedalada preferidaParadoxalmente aos relatos da literatura, estudos

com ciclistas mostram a preferência dos indiví-duos em pedalar em altas cadências (90 rpm), consideradas teoricamente menos econômicas e efi cientes 21,39,40,41,45. As altas cadências de pedalada aumentam o gasto energético durante o ciclismo. Entretanto, mesmo que a efi ciência diminua, os ciclistas sentem-se mais confortáveis com as cadências mais altas. Diversas hipóteses são pro-postas para explicar estes dados obtidos, referentes à cadência de pedalada preferida, como o recru-tamento de fi bras ou as modifi cações hemodinâ-micas durante o exercício prolongado 9.Sanderson et al. 46 mostraram que o ritmo de

pedalada mais alto diminui o impulso de distri-

Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes

motricidade3vol1111.indd 11motricidade3vol1111.indd 11 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

275 { Investigação

buição da pressão entre os pés, sapatos e pedal. Entretanto, com os aumentos da carga resistiva tal afi rmativa se torna inversa, ou seja, ao con-trário do ritmo de pedalada, não exerce altera-ções signifi cativas sobre a cinemática de membro inferior 47, nem quando comparado à atividade neuromuscular 48.Quando comparadas às amostras, as respostas

para os aumentos da cadência são similares tanto para ciclistas experientes quanto para os ciclis-tas recreacionais 49. A estabilidade da cadência de pedalada preferida não tem ligação com a fadiga central e periférica 50. Takaishi et al. 51 sugeri-ram que a razão para a preferência dos ciclistas às altas cadências está relacionada com o desen-volvimento da fadiga neuromuscular. Com isso, para minimizar os efeitos do gasto energético em encontrar a cadência preferida, Marsh e Martin 52 não indicam o uso da percepção de esforço para indivíduos treinados.Lucia et al. 27 apresentaram os principais achados

sobre diferentes as cadências de pedalada preferi-das pelos ciclistas profi ssionais testadas em labo-ratório (tabela 3).Faria et. al. 53 em seu estudo com ciclistas expe-

rientes, mostraram que as altas cadências de pedalada não são prejudicadas com uma redução da efi ciência. Dados estes que corroboram com os achados de Lucia et al. 28 que mostraram uma grande efi ciência com altas cadências em ciclistas de ponta.

Conclusão

Há uma conseqüente cautela ao aplicar as con-clusões das pesquisas sobre a efi ciência mecânica em ciclistas altamente treinados. Devido à grande amplitude de variações nas cadências de pedalada, parte dos treinos é realizada com cadências con-sideravelmente fora da faixa econômica. Concluímos que, o sistema de pedal encontrado

em diferentes bicicletas de ciclismo não altera tanto os níveis de atividade muscular de mem-bros inferiores29 quanto as variáveis fi siológicas e mecânicas20,28. Entretanto, a efi ciência mecânica é alterada com o aumento da cadência. As baixas cadências de pedaladas (50 a 60 rpm) são mais econômicas e efi cientes que as altas cadências de pedaladas (> 90 rpm) 21,39,28,40,41,42,43.A potência mecânica é outro fator impor-

tante para a otimização da cadência de pedalada 27. Estudos mostraram claramente a relação da cadência de pedalada com a potência mecânica. A cadência mais econômica (50 a 60 rpm) aumenta a potência mecânica 6,21,37,54, já com os aumen-tos da cadência de pedalada (>90 rpm) a força mecânica aplicada diminui 13,55.Tão logo, a cadência ideal, em termos de con-

sumo de oxigênio, para a maioria de seres huma-nos, é geralmente mais baixa do que a cadência preferida pelos ciclistas treinados (90 rpm).Neste sentido a cadência de pedaladas se mostrou

com um importante fator na performance de ciclistas existindo uma tendência de diferencia-ção entre ciclistas treinados e não treinados.

Tabela 3: Vantagens e desvantagens hemodinâmicas e fi siológicas encontradas quando se pedala em altas

cadências (> 90 rpm)

Desvantagens Vantagens

FC e VE

VO2

Economia / efi ciência

Estresse muscular

Fluxo sanguíneo no músculo do quadríceps

Volume de ejeção

Bomba muscular

As conclusões mostradas são baseadas em pesquisa conduzidas em indivíduos não treinados. FC = freqüência

cardíaca; VE = ventilação pulmonar 27.

motricidade3vol1111.indd 12motricidade3vol1111.indd 12 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

276 { Investigação

Correspondência

Rua Mal. Floriano Peixoto, 937 apto. 402 – CentroJuiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)CEP: 36015-440 - Tel: 55 (32) 9194-0154E-mail: [email protected]ência de pedalada no ciclismo: Uma revisão

de literatura

Referências

1. Belli A, Hintzy F. (2002) Infl uence of pedalling rate on the energy cost of cycling in humans. Eur J Appl Physiol 88(1-2):158-162.2. Coast JR, Cox RH, Welch HG. (1986) Opti-

mal pedaling rate in prolonged bouts of cycle ergometry. Med Sci Sport Exerc 8(2):225-230.3. Pierre S, Nicolas H, Frédérique H. (2006)

Interactions between cadence and power output effects on mechanical effi ciency during sub maximal cycling exercises. Eur J Appl Physiol 97(1):133-139. 4. Gaesser GA, Brooks GA. (1975) Muscular effi -

ciency during steady-rate exercise: effects of speed and work rate. J Appl Physiol 38(6):1132-1139.5. Gotshall RW, Bauer TA, Fahrner SL. (1996)

Cycling cadence alters exercise hemodynamics. Int Sports Med 17(1):17-21.6. Hagberg JM, Mullin JP, Giese MD, Spitznagel

E. (1981) Effect of pedaling rate on submaximal exercise responses of competitive cyclists. J Appl Physiol 51(2):447-451.7. Hintzy F, Belli A, Grappe F, Rouillon JD. (1999)

Optimal pedalling velocity characteristics during maximal and submaximal cycling in humans. Eur J Appl Physiol 79(5):426-432.8. Marais G, Pelayo P. (2003) Cadence and exer-

cise: physiology and biomechanical determinants of optimal cadences – pratical applications. Sports Biomechanics 2(1):103-132.9. Vercruyssen F, Brisswalter J, Hausswirth C,

Bernard T, Bernard O, Vallier JM. (2002). Infl u-

ence of cycling cadence on subsequent running performance in triathletes. Med Sci Sports Exerc 34(3):530-536.10. Rocha EK, Soares DP, Vellado DM, Loss JF.

(2003) Caracterização da escolha da cadência preferida no ciclismo a partir de parâmetros mus-culares. Rev Bras Med Esp 9(6):439-446.11. Lucia A, Hoyos J, Chicharro JL. (2001) Pre-

ferred pedalling cadence in Professional cycling. Med Sci Sport Exerc 33(8):1361-1366.12. Padilla S, Mujika I, Cuesta G, Goiriena JJ.

(1999) Level ground and uphill cycling ability in professional road cycling. Med Sci Sports Exerc 31(6):878-885.13. Umberger BR, Gerritsen KG, Martin PE.

(2006) Muscle fi ber type effects on energetically optimal cadences in cycling. J Biomech 39(8):1472-1479.14. Takaishi T, Yamasoto T, Ono T, Ito T, Moritani

T. (1998) Neuromuscular, metabolic, and kinetis adaptations for skilled pedalling performance in cyclists. Med Sci Sport Exerc 30(3):442-449.15. Astrand PO, Ryhming I. (1954) A nomogram

for calculation of aerobic capacity (physical fi tness) from pulse rate during submaximal work. J Appl Physiol 7(2):218-221.16. Bertucci W, Taiar R, Grappe F. (2005) Differ-

ences between sprint tests under laboratory and actual cycling conditions. J Sports Med Phys Fitness 45(3):277-283. 17. Carvalho Junior ES, Santos ALG, Schneider

AP, Beretta L, Tebexreni AS, Cesar MC, Barros TL. (2000) Análise comparativa da aptidão cardiorres-piratória de triatletas, avaliados em ciclossimula-dor e bicicleta ergométrica. Rev Bras Ciên e Mov 8(3):21-24.18. Lucia A, San Juan AF, Montilla M, V, Canete

S, Santalla A, Earnest C, Perez M, (2004) In Pro-fessional Road Cyclists, low Pedaling Cadences are Less Effi cient. Med Sci Sport Exerc 36(6):1048-1054.

Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes

motricidade3vol1111.indd 13motricidade3vol1111.indd 13 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

19. Padilla S, Mujika I, Cuesta G, Polo JM, Chatard JC. (1996) Validity of a velodrome test for competitive road cyclists. Eur J Appl Physiol 73(5):466-451.20. Santalla A, Manzano JM, Pérez M, Lucia A.

(2002) A new pedaling design: the Rotor-effects on cycling performance. Med Sci Sports Exerc 34(11):1854-1858.21. Coast JR, Welch HG. (1985) Linear increase

in optimal pedaling rate with increased power output in cycle ergometry. Eur J Appl Physiol 53(4):339-344.22. Faria IE, Dix C, Frazer C. (1978) Effect of

body position during cycling on heart rate, pul-monary ventilation, oxygen uptake and work out-put. J Sports Med Phys Fitness 18(1):49-56. 23. Faria IE, Faria EW, Roberts S, Yoshimura D.

(1989) Comparision of physical and physiological characteristcs in elite yonhg and mature cyclists. Res Q Exerc Sport 60(4):388-395. 24. Sjøgaard G. (1984) Muscle morphology and

metabolic potential in elite road racing cyclist dur-ing a season. Int J Sports Med 5(5):250-254. 25. Caputo F, Greco CC, Denadai BS. (2005)

Efeitos do estado e especifi cidade do treinamento aeróbio na relação %VO

2max versus %FC

max durante

o ciclismo. Arq Bras Cardiol 84(1):20-23. 26. Smith MF, Davison RCR, Balmer J, Bird

SR. (2001) Reliability of mean power recorded during indoor and outdoor self-paced 40 km cycling time-trials. Int J Sports Med 22(4):270-274. 27. Lucia A, Earnest C, Hoyos J, Chicarro JL.

(2003) Optimizing the crank cycle and pedaling cadence. In: Burke ER (Ed). High-Tech Cycling. 2ª edição. Champaign: Human Kinetics: 93-118.28. Lucia A, Balmer J, Davison RCR, Pérez M,

Santalla A, Smith PM. (2004) Effects of the rotor pedalling system on the performance of trained cyclists during incremental and constant-load cycle-ergometer tests. Int J Sports Med 25(7):479-

485. 29. Duc S, Villerius V, Bertucci W, Pernin JN,

Grappe F. (2005) Muscular activity level during pedalling is not affected by crank inertial load. Eur J Appl Physiol 95(2-3):260-264.30. Soares D, Rocha E, Candotti CT, Vellado D,

Fraga C, Guimarães AC, Loss J. (2003a) Potên-cia muscular e efi ciência mecânica em diferentes cadências no ciclismo. In: X Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2003, Belo Horizonte (MG). Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecânica: Imprensa Universitária UFMG, 1: 228-232.31. Prilustsky BI, Herzog W, Allinger TL. (1997)

Forces of individual cat ankle extensor muscles during locomotion predicted using static optimi-zation. J Biomech 30(10):1025-1033.32. Soares D, Rocha E, Candotti CT, Vellado

D, Fraga C, Guimarães AC, Loss J. (2003b) Com-paração entre efi ciência mecânica e economia de movimento no ciclismo. In: X Congresso Brasileiro de Biomecânica, 2003, Belo Horizonte (MG). Anais do X Congresso Brasileiro de Biomecânica: Imprensa Universitária UFMG, 1:307-310.33. Ferreira LF, Lutjemeier BJ, Townsend DK,

Barstow TJ. (2005) Effects of pedal frequency on estimated muscle microvascular O

2 extraction. Eur

J Appl Physiol 96(5):558-63.34. Vecruyssen F, Suriano R, Bishop D, Hauss-

wirth C, Brisswalter J. (2005) Cadence selection affects metabolic responses during cycling and subsequent running time to fatigue. Br J Sports Med 39(5):267-272.35. Sidossis LS, Horowitz JF, Coyle EF. (1992)

Load and velocity of contraction infl uence gross and mechanical effi ciency. Int J Sport Med 13(5):407-411.36. Denadai BS, Ruas VD, Figueira TR. (2005)

Maximal lactate steady state concentration inde-pendent of pedal cadence in active individuals. Eur J Appl Physiol 96(4):477-8037. Boning D, Gonen Y, Maaseen N. (1984) Rela-

277 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 14motricidade3vol1111.indd 14 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

tionship between work load, pedal frequency, and physical fi tness. Int J Sport Med 5(2):92-97.38. Pierre S, Nicolas H, Frederique H. (2006)

Interactions between cadence and power output effects on mechanical effi ciency during sub maxi-mal cycling exercises. Eur J Appl Physiol 97(1):133-139.39. Vercruyssen F, Hausswirth C, Smith D, Briss-

walter J. (2001) Effect of exercise duration on optimal pedaling rate choice in triathletes. Can J Appl Physiol 26(1):44-54.40. Marsh AP, Martin PE. (1993) The association

between cycling experience and preferred and most economical cadences. Med Sci Sport Exerc 25(11):1269–1274.41. Marsh AP, Martin PE. (1997) Effect of cycling

experience, aerobic power and power output on preferred and most economical cadences. Med Sci Sport Exerc 29(9):1225–1232.42. Marsh AP, Martin PE, Foley KO. (2000) Effect

of cadence, cycling experience, and aerobic power on delta effi ciency during cycling. Med Sci Sport Exerc 32(9):1630-1634.43. Padilla S, Mujika I, Orbañanos J, Santisteban

J, Ângulo F, Goiriena JJ. (2001) Exercise Inten-sity and Load during Mass-Start Stage Races in Professional Road Cycling. Med Sci Sport Exerc 33(5):796-802.44. Nickleberry BLJ, Brooks GA. (1996) No effect

of cycling experience on leg cycle ergometer effi -ciency. Med Sci Sport Exerc 28(11):1396-1401.45. Millet GP, Tronche C, Fuster N, Candau R.

(2002) Level ground and uphill cycling effi ciency in seated and standing positions. Med Sci Sports Exerc 34(10):1645–1652.46. Sanderson DJ, Hennig EM, Black AH. (2000)

The infl uence of cadence and power output on force application and in-shoe pressure distribution during cycling by competitive and recreational cyclists. J Sports Sci 18(3):173-181. 47. Carpes FP, Mota CB. (2003) Análise cine-

mática do membro inferior em duas diferentes cadências de pedalada no ciclismo. In: 4º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, 2003, Floria-nópolis (SC). Anais – 4º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde, p.191.48. Sarre G, Lepers R, Maffi uletti N, Millet G,

Martin A. (2003) Infl uence of cycling cadence on neuromuscular activity of the knee extensors in humans. Eur J Appl Physiol 88(4-5):476-479.49. Sanderson DJ. (1991) The infl uence of

cadence and power output on the biomechanics of force application during steady-rate cycling in competitive and recreational cyclists. J Sports Sci 9(2):191-203. 50. Sarre G, Lepers R, Van Hoecke J. (2005) Sta-

bility of pedalling mechanics during a prolonged cycling exercise performed at different cadences. J Sports Sci 23(7):693-701. 51. Takaishi T, Yasadua Y, Ono T, Moritani T.

(1996) Optimal pedaling rate estimated from neu-romuscular fatigue for cyclists. Med Sci Sport Exerc 28(12):1492-1497.52. Marsh AP, Martin PE. (1998) Perceived exer-

tion and the preferred cycling cadence. Med Sci Sport Exerc 30(6):942-948.53. Faria IE, Sjøgaard G, Bonde-Petersen F.

(1982) Oxygen cost during different pedalling speeds for constant power output. J Sport Med 22(3):295–299. 54.Seabury JJ, Adams WC, Ramey MR. (1977)

Infl uence of pedaling rate and power output on energy expenditure during bicycle ergometry. Ergonomics 20(5):491-498.55. Faria IE. (1992) Energy expenditure, aerody-

namics and medical problems in cycling: An up-date. Sports Med 14(1):43-63.

Cadência de pedalada no ciclismo: uma revisão de literatura Marcelo Ricardo Dias, Jorge R. Perrout de Lima e Jefferson da Silva Novaes

278 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 15motricidade3vol1111.indd 15 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

Resumo

O presente estudo tem como objetivo avaliar o

efeito do fortalecimento muscular inspiratório sobre

a pressão inspiratória máxima (Pimáx) e a autonomia

funcional de idosos asilados. A amostra foi constituída

de 34 gerontes, divididos em grupo experimental -

GE (n=21, 76,48±2,12 anos) e grupo controle - GC

(n=13, 75,69±2,26 anos). Para avaliação da autonomia

funcional, foi utilizado o protocolo de avaliação fun-

cional do GDLAM. A Pimáx foi aferida em aparelho

próprio denominado Manovacuômetro (Analógico

com intervalo operacional de -150 a +150 cmH2O;

Critical Med/USA-2002). O protocolo de intervenção

consistiu em carga de trabalho instalada gradualmente

(50%-100%); sessões com duração de 20 minutos, com

7 séries de fortalecimento (2 minutos cada) e intervalo

de 1 minuto entre as séries, durante 10 semanas, 3 vezes

na semana. A análise de variância de medidas repetidas

multivariada encontrou diferenças signifi cativas entre as

variáveis Pimáx, autonomia funcional (IG), caminhar

10m (C10m), levantar da posição sentada (LPS), vestir

e tirar a camisa (VTC), levantar da posição decúbito

ventral (LPDV) e levantar e caminhar por locais da casa

(LCLC) apresentadas pelos GC e GE, sendo este último

superior ao primeiro (p=0,00000). Desta forma, pôde-

se concluir que o fortalecimento isolado da musculatura

inspiratória causou aumento da Pimáx e da autonomia

funcional dos idosos asilados analisados.

Palavras-chave: idosos asilados; Pimáx; autonomia

funcional.Data de submissão: Outubro 2006Data de aceitação: Dezembro 2006

Abstract

Effect of inspiratory muscles training in maxi-

mal inspiratory pressure and functional auton-

omy of sheltered elderly people

The main purpose of this study was to access the effect

of inspiratory muscles training in maximal inspiratory

pressure (Pimáx) and functional autonomy of shel-

tered elderly people. The sample consisted of 34 elderly

people, divided in: experimental group - EG (n=21,

76,48±2,12 years) and group control - GC (n=13,

75,69±2,26 years ). The method created by The Latin-

American Development Group for Elderly (GDLAM)

was used to evaluate functional autonomy through suc-

cessive tests. The Pimáx was calibrated in a Manovacu-

ometer device (analogical with interval operational of

150 the +150 cmH2O; Critical Med / USA -2002).

The registry of intervention consisting in : working load

installed bit-by-bit (50%-100%); sessions with duration

of 20 minutes , with 7 sets of training (2 minutes each)

and interval of 1 minute among the sets, for 10 weeks

, 3 times a week. The multivariate analysis of variance

showed signifi cant improvements (p=0,00000) in Pimáx

and the tests that were used to assess functional auton-

omy. In this way, it was concluded that the strengthen-

ing inspiratory muscles improves Pimáx and functional

autonomy of the sheltered elderly people analyzed.

Key-words: sheltered elderly people; Pimáx; func-

tional autonomy.

Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asiladosSamária Cader 1,2, Elirez Bezerra da Silva 3, Rodrigo Vale 4, Silvia Bacelar 1,2,5, Maria Dolores Monteiro 6, Estélio Dantas 1,7

1Universidade do Grande Rio /RJ – Brasil2Hospital Quinta D’or/RJ – Brasil3Universidade Gama Filho/Rio de Janeiro- RJ- Brasil4Laboratório de Biociências da Motricidade Humana da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/ Rio Grande do Norte- RN – Brasil5Instituto do Câncer/RJ- Brasil 6Departamento de Desporto da Universidade de Trás os Montes e Alto Douro/ Vila Real - Portugal7Universidade Castelo Branco/Rio de Janeiro- RJ – BrasilUniversidade do Grande Rio / Rio de Janeiro- RJ – Brasil

Cader, S.; Silva, E. B.; Vale, R.; Bacelar, S.; Monteiro, M. D.; Dantas, E.; Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asilados. Motricidade 3(1): 279-288

279 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 16motricidade3vol1111.indd 16 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

Introdução

Os idosos que residem em instituições de cari-dade, devido ao declínio do organismo, dão prefer-ência às atividades menos exigentes e que requei-ram menor esforço diminuindo, desta forma, suas capacidades físicas o que leva ao aparecimento do sentimento de velhice que, por sua vez, pode cau-sar estresse e depressão1. Vários efeitos deletérios podem prejudicar os

níveis ótimos de autonomia funcional dos geron-tes frente às alterações decorrentes do envelhe-cimento2. Para o grupo WHO3, autonomia fun-cional é a habilidade pessoal para desempenhar as atividades necessárias que assegure o bem-estar, integrando os três domínios funcionais: biológico, psicológico (cognitivo e afetivo) e social. Ter auto-nomia é poder executar independente e satisfa-toriamente suas atividades da vida diária (AVD), continuando suas relações e atividades sociais, e exercitando seus direitos e deveres de cidadão4.Um dos principais fatores que diminuem a auto-

nomia funcional é a dispnéia a qual está relacio-nada à diminuição da força da musculatura inspi-ratória5 . Tal alteração muscular refl etirá em uma menor pressão inspiratória máxima (Pimáx), o que traduz uma diminuição na força da musculatura inspiratória6 e na sua endurance7 . Esse fator asso-ciado à alteração da função pulmonar leva a piora progressiva do condicionamento físico8. Conse-qüentemente, isto pode causar isolamento social e dependência9.A Pimáx e sua correlação com a dispnéia e,

conseqüentemente, com a autonomia funcional têm despertado interesses dos pesquisadores em indivíduos não-saudáveis com: fi brose cística10, doença pulmonar obstrutiva crônica-DPOC11, insufi ciência cardíaca congestiva-ICC12, asma13, sarcoidose14, câncer15, traumatismo raqui-medu-lar-TRM16, tetraplegia17, espondilite anquilos-ante18, osteoporose19, miastenia grave20 e esclerose múltipla21. Entretanto, raros são os estudos que se destinam a estudar a infl uência da diminuição da

Pimáx em idosos assintomáticos, principalmente frente ao sedentarismo22.Desta forma, o presente estudo tem como obje-

tivo avaliar o efeito do fortalecimento muscular inspiratório sobre a Pimáx e a autonomia funcio-nal de idosos asilados.

MetodologiaAmostra

Para este estudo, a amostra foi selecionada por conveniência, de forma não-probabilística, con-stituída de 50 gerontes voluntários, residentes em asilos no bairro de Jacapepaguá, município do Rio de Janeiro, Brasil. Foram divididos em dois grupos: grupo experimental (GE, n=25) e grupo controle (GC, n=25). Entretanto, ao longo da intervenção, houve uma perda amostral de 14 idosos. Desta forma, o trabalho fi ndou em: GE (n=21, 7 homens e 14 mulheres; 76,48±2,12 anos) e GC (n=13, 3 homens e 10 mulheres; 75,69±2,26 anos).Como critério de inclusão, os indivíduos da

amostra deveriam estar aptos fi sicamente para participarem do tratamento experimental e ser autônomos funcionalmente no desempenho das AVD. Os sujeitos não deveriam estar fazendo ativi-dades físicas há pelo menos três meses23, 24.Foi considerado critério de exclusão qualquer

tipo de condição aguda ou crônica que pudesse comprometer ou que se tornasse um fator de impedimento para os testes de autonomia fun-cional, tais como: cardiopatias, diabetes, hiperten-são arterial e bronquite-asmática não controlada; quaisquer condições musculoesqueléticas que pudessem servir de fator interveniente à prática da atividade (osteoartrite, fratura recente, tendinite e uso de prótese); problemas neurológicos; obesi-dade mórbida; indivíduos renais crônicos e aqueles que fi zessem uso de medicamentos que pudesse causar distúrbios da atenção. Os participantes desta pesquisa assinaram o

a

280 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 17motricidade3vol1111.indd 17 10-06-2007 20:45:1610-06-2007 20:45:16

termo de consentimento e os procedimentos experimentais foram executados dentro das nor-mas éticas previstas na Declaração de Helsinque de 1975. O estudo teve seu projeto de pesquisa submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universi-dade Castelo Branco, RJ.

ProcedimentosAs variáveis autonomia funcional e Pimáx foram

avaliadas pré e pós-teste.Avaliação da Autonomia FuncionalPara avaliação da Autonomia Funcional, os ido-

sos foram submetidos a uma bateria composta por cinco testes adotados no protocolo de avaliação funcional do Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM): camin-har 10m - C10m25, levantar-se da posição sentada – LPS26, levantar-se da posição decúbito ventral – LPDV27, levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa - LCLC28 e o teste de vestir e tirar uma camiseta – VTC29, os quais são utilizados para se calcular o Índice de autonomia GDLAM (IG). O menor tempo, em segundos, para a execução das tarefas em duas tentativas foi utilizado como crité-rio de avaliação. Os instrumentos utilizados foram: cadeira de 48 cm de altura; colchonete Hoorn (Brasil); cronômetro da marca Cásio; dois cones e fi ta métrica metálica da marca Sanny (Brasil).

Avaliação da PimaxA Pimáx foi aferida em aparelho próprio denom-

inado Manovacuômetro (Analógico com inter-valo operacional de -150 a +150 cmH

2O; Critical

Med/USA-2002). O equipamento pode ser uti-lizado através de um bocal30 e o nariz do individuo deve ser ocluído (com um clamp nasal). A medida é feita a partir do volume residual e o orifício deve ser ocluído imediatamente no início da inspiração a fi m de gerar uma pressão negativa intratorácica, verifi cada no manômetro6. A inspiração deve durar pelo menos 3 segundos, sendo com o máximo de

força e tempo possíveis. Este procedimento deve ser repetido por três vezes, tomando-se o mel-hor resultado19. A pressão medida corresponde ao somatório da força dos músculos que participam da inspiração, não havendo como selecionar a medida somente do diafragma31. Protocolo de intervençãoO fortalecimento muscular inspiratório foi real-

izado com o aparelho Threshold-IMT (Respi-ronics/USA- 2004), de carga linear pressórica, o qual produz uma resistência à inspiração por meio de um sistema de mola com uma válvula unidi-recional, sendo necessária a utilização do clamp nasal. Durante o ato expiratório não há resistência, pois a válvula unidirecional abre-se; entretanto, na inspiração ela se fecha, tornando-se “endurecida” pela resistência da mola. Quanto mais comprimida estiver a mola, maior será a resistência. É necessário realizar um intervalo de 4 segundos entre uma incursão respiratória e outra, além de manter um período de 2 segundos no ato inspiratório32. Embora exista uma diversidade de protocolos

descritos na literatura33, 34, o protocolo sugerido constituiu de uma carga de trabalho que era insta-lada gradualmente, começando do valor de 50% da Pimáx, sendo acrescido 10% por semana, até a 4ª semana10, 14. A partir da 5ª semana, foi acrescido 5% até completar 100% na 8ª semana. A partir de então, este valor foi mantido nas 2 últimas semanas. As sessões tinham duração de 20 minutos, sendo 7 séries de fortalecimento (2 minutos cada) e um intervalo de 1 minuto entre as séries35, durante 10 semanas, 3 vezes na semana21.O grupo controle se comprometeu em não

realizar nenhuma atividade física sistematizada que envolvesse trabalho de força durante as dez sema-nas de experimento até a realização do pós-teste, mantendo, todavia, seus afazeres diários normais.

EstatísticaA fi m de verifi car a normalidade da amostra, foi

realizado o teste de Shapiro-Wilk. Para testar as

281 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 18motricidade3vol1111.indd 18 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

diferenças entre as Pimax, IG, C10m, LPS, VTC, LPDV e LCLC causadas pelo fortalecimento dos músculos inspiratórios foi utilizada a análise de variância de medidas repetidas multivariada. O nível de p < 0,05 foi adotado para signifi cância estatística36.

Resultados

A estatística descritiva do GE está exposta na tabela 1.

Na tabela 2 encontra-se a estatística descritiva do GC.

A análise de variância de medidas repetidas mul-tivariada mostrou diferenças signifi cativas entre os resultados apresentados pelos grupos controle e experimental (Figura 1). No início do estudo, os grupos controle e experimental apresentaram valores de Pimax muito semelhantes (31,67±11,11 cmH

2O e 32,69±17,03 cmH

2O, respectivamente).

Com o fortalecimento dos músculos inspi-ratórios, realizado somente pelo grupo experi-mental, a Pimax do grupo controle diminuiu para 23,08±10,71 cmH

2O, enquanto que a Pimax do

grupo experimental aumentou para 55,24± 23,26 cmH

2O (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01;

p = 0,00000). O fortalecimento dos músculos inspiratórios

causou também uma melhoria da autonomia fun-cional. No início do estudo, os grupos controle e experimental apresentaram valores de IG muito

semelhantes (40,47±11,17seg e 41,00±15,56seg, respectivamente). Com o fortalecimento dos músculos inspiratórios realizado somente pelo grupo experimental, a autonomia do grupo controle diminuiu com o aumento do IG para 43,51±19,32seg, enquanto que a autonomia do grupo experimental aumentou com a diminuição do IG para 35,46±10,42seg (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000).A maior autonomia do grupo experimental

em relação ao controle, em decorrência do for-

Tabela 1: Estatística descritiva do GE

M EP Md DP CV% p-valor (SW)

pré pós pré pós pré pós pré pós pré pós

idade 76,48 76,48 2,12 2,12 74,00 74,00 9,71 9,71 12,70 12,70 0,202

IMC 25,99 26,02 1,13 1,14 25,95 25,95 5,17 5,22 19,89 20,05 0,578

Pimáx 31,67 55,24 2,42 5,08 35,00 55,00 11,11 23,26 35,07 42,11 0,180

C10m 11,36 9,30 1,02 0,79 9,16 7,61 4,66 3,62 41,04 38,97 0,007

LPS 12,03 9,36 0,58 0,43 12,00 8,90 2,64 1,99 21,96 21,28 0,237

VTC 15,71 14,05 0,66 0,79 16,10 14,02 3,04 3,62 19,35 25,79 0,602

LPDV 8,07 6,65 1,05 0,96 6,58 4,78 4,80 4,40 59,54 66,11 0,045

LCLC 71,58 63,13 6,25 5,02 61,23 54,80 28,65 23,02 40,03 36,46 0,011

IG 40,47 35,46 2,44 2,27 39,16 35,81 11,18 10,42 27,64 29,39 0,287

M: média; EP: erro padrão; Md: mediana; DP: desvio padrão; CV%: percentual do coefi ciente de correlação; SW:

Shapiro-Wilk; IMC: índice de massa corporal; Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS:

levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e

locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM.

Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asiladosSamária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas

282 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 19motricidade3vol1111.indd 19 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

talecimento dos músculos inspiratórios, pôde ser observada em cada uma das provas que compõe o protocolo de avaliação funcional do GDLAM: o C10 m; o LPS; o VTC; o LPDV e o LCLC (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26) = 14,01; p = 0,00000).

Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de auomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM.

Discussão

Um dos aspectos fundamentais que limitam o exercício físico, principalmente frente ao seden-tarismo, é a performance da musculatura inspi-ratória. A perda de força dos músculos respira-tórios é uma alteração reconhecida com o avanço da idade e essa perda pode afetar a performance ventilatória, principalmente durante o exercício.

Vasconcellos et al.22 observaram uma correlação moderada e positiva (r= 0,58, p= 0,006, p<0,05 e r=0,53, p<0,01, respectivamente) entre a força da musculatura inspiratória e a capacidade funcio-nal através do teste de caminhar 6 minutos (TC6). Tais achados vêm dar sustentação aos resultados desta investigação onde na fi gura 1 encontram-se resultados signifi cativos nos testes de autonomia funcional do GDLAM no GE, o qual foi sub-metido ao treinamento, tendo sua força muscular inspiratória otimizada, expressa pelo aumento da Pimáx. Cader et al37, utilizando o protocolo GDLAM,

analisaram o perfi l da autonomia funcional de idosos asilados e encontraram em seus resulta-dos: C10m (13,39 seg), LPS (13,07 seg), VTC (15,70 seg), LPDV (6,15 seg), LCLC (76,60 seg) e IG (47,32 seg). Tais resultados denotam, segundo Vale38, um valor fraco de autonomia funcional. Estes dados vêm corroborar com os dados da atual pesquisa, onde nas tabelas 1 e 2 pode-se observar que tanto no GE como no GC, respectivamente, os testes do GDLAM, com exceção do C10m

Tabela 2: Estatística descritiva do GC

M EP Md DP CV% p-valor (SW)

pré pós pré pós pré pós pré pós pré pós

idade 75,69 75,69 2,26 2,26 77,00 77,00 8,14 8,14 10,75 10,75 0,860

IMC 25,80 26,01 0,79 0,69 26,27 26,14 2,85 2,50 11,05 9,62 0,757

Pimáx 32,69 23,08 4,72 2,97 30,00 20,00 17,03 10,71 52,10 46,42 0,336

C10m 11,08 11,44 1,48 1,83 9,15 9,15 5,33 6,60 48,15 57,69 0,002

LPS 12,40 12,99 1,29 1,28 10,18 11,21 4,66 4,60 37,53 35,40 0,002

VTC 14,43 16,97 0,95 1,46 13,54 16,86 3,42 5,26 23,71 30,99 0,814

LPDV 6,51 7,55 0,64 1,15 5,29 6,58 2,30 4,16 35,34 55,11 0,109

LCLC 75,17 76,14 12,16 13,26 56,84 56,58 43,85 47,80 58,34 62,78 0,000

IG 41,00 43,51 4,31 5,36 35,23 37,21 15,56 19,32 37,94 44,40 0,002

M: média; EP: erro padrão; Md: mediana; DP: desvio padrão; CV%: percentual do coefi ciente de correlação; SW: Shapiro-Wilk; IMC: índice de massa corporal; Pimáx: pressão inspiratória máxima; C10m: caminhar 10m; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; VTC: vestir e tirar uma camiseta; IG: Índice de autonomia GDLAM.

283 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 20motricidade3vol1111.indd 20 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

pós-teste do GE (9,30±0,79 seg), apresentaram um valor considerado fraco.Pereira et al.39 realizaram um estudo em duas

entidades fi lantrópicas. Em ambos asilos, os testes de autonomia funcional apresentaram valores fra-cos: C10m (13,71 seg e 29,57 seg); LPDV (6,36 seg e 10,00 seg) e LPS (18,86 seg e 20,21 seg), respectivamente. Estes dados apontam a mesma tendência para a pesquisa em questão, uma vez que a instituição na qual foi desenvolvida a pesquisa, por ser uma entidade fi lantrópica, não recebendo desta forma qualquer tipo de ajuda ou incentivo do governo estadual, federal e/ou municipal apre-sentou em seus gerontes valores fracos de autono-mia funcional.Um estudo randômico realizado com indivíduos

asmáticos,13 submetidos ao treinamento da muscu-latura inspiratória, revelou: um aumento signifi ca-

tivo da Pimáx (p<0,01); uma diminuição no con-sumo de β2 agonísta (p<0,001) e uma diminuição na escala de percepção da dispnéia (p<0,001). Tais resultados se mostram relevantes para a atual inves-tigação demonstrando não só o aumento da Pimáx com o treinamento, mas também a infl uência positiva deste aumento na dispnéia, o que refl ete em uma maior agilidade na execução dos testes de autonomia funcional.Após um trabalho de fortalecimento muscular

respiratório, Beckerman et al.40 observaram mel-horas signifi cativas na Pimáx e no TC6 (Intra: p<0,05; Inter-grupo: p<0,01). Tais resultados se mostram relevantes para o presente trabalho o qual demonstrou, após o treinamento muscular inspi-ratório, melhoras signifi cativas na Pimáx, no IG e em todos os testes do GDLAM do GE.Uma pesquisa feita por Mador, Kufel & Pineda41

Pimax IG C10m LPS VTC LPDV LCLC

pré

grupo:controle

experimental-10

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

pós

grupo: controle experimental

Figura 1: Análise de variância de medidas repetidas multivariada. Interação das medidas de Pimax, IG, C10m, LPS, VTC, LPDV e LCLC antes e após o fortalecimento dos músculos inspiratórios (Wilks lambda = 0,21; F (7, 26)= 14,00; p = 0,00000). As barras verticais representam o intervalo de confiança de 95%.

Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asiladosSamária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas

284{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 21motricidade3vol1111.indd 21 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

observou que uma queixa comum entre idosos sedentários era de cansaço nos membros inferiores (MmIi), quando submetidos ao esforço. Harms et al.42 demonstraram que a resistência à exaustão de uma musculatura está relacionada ao fl uxo sanguí-neo que ela recebe e que a sobrecarga imposta à musculatura respiratória, no exercício máximo, faz com que haja um maior desvio do fl uxo de sangue em sua direção, ocorrendo diminuição do fl uxo para os MmIi, o que acarreta diminuição na performance do exercício. Tais dados vêm corroborar com a mel-hora encontrada nos testes de C10m e de LCLC do GE, observada nesta pesquisa, pois com a redução do fl uxo sanguíneo para a musculatura inspiratória, os MmIi foram mais vascularizados proporcionando uma melhor performance na caminhada.O aumento da força e da resistência da musculatura

inspiratória, através do treinamento da musculatura respiratória (TMR) foi encontrado em um estudo que comparou o efeito de tal aumento na perfor-mance do exercício físico em ciclistas43. Os autores utilizaram em sua amostra um grupo experimental e um grupo placebo. A coleta de dados comparativos, pré e pós-teste, demonstrou uma melhora signifi ca-tiva na Pimáx (p<0,05) concomitante com a perfor-mance do grupo experimental (p<0,05); entretanto, não houve alterações signifi cativas no grupo placebo. Sheel44 ainda sugere que tal melhora seja atribuída ao aumento da percepção da respiração, do limiar de fadiga da musculatura respiratória e da efi ciência ventilatória. Esses achados assemelham-se com os dados coletados neste trabalho, os quais revelaram, na fi gura 1, uma melhora signifi cativa da Pimáx con-comitante com a performance na execução da bat-eria de testes de autonomia funcional do GDLAM.Os achados da presente investigação a respeito do

aumento da Pimáx e da melhora da autonomia fun-cional após o fortalecimento muscular inspiratório do GE também foram encontrados em pesquisas realizadas com pacientes com ICC. Nestes indi-víduos, a Pimáx obteve uma correlação signifi cativa

com o VO2 (r=0,60, p < 0,001) e com a distância percorrida (r=0,50 , p < 0,001)12. Já Martinez et al.45 tiveram como objetivo avaliar a efi cácia do trein-amento muscular inspiratório na performance da musculatura inspiratória, na dispnéia e na capacidade de exercício. No pós-teste, observaram um aumento da Pimáx (de 78±22 para 99±22cmH

2O), uma

diminuição da dispnéia (p<0,05) e um aumento da distância percorrida no TC6 (de 451±78 para 486±68 metros).As investigações de Jong et al.46, que analisaram a

efi cácia do treinamento muscular inspiratório em indivíduos com Fibrose Cística, e a de Inbar et al.47, em atletas de endurance bem-treinados, vêm con-trapor os achados deste estudo. Apesar dos autores terem encontrado um aumento no valor da Pimáx pós-treinamento (p=0,003 e p < 0,005, respectiva-mente) este resultado não correspondeu à melhora da dispnéia e nem da capacidade de exercício.A fi m de investigar a infl uência do treinamento

muscular inspiratório na capacidade física de indi-víduos com Fibrose cística, Enright et al.10 dividiram, randomicamente, sua amostra em 3 grupos: Grupo de treinamento com 80% da pimáx (G1, n=9), grupo placebo com 20% da pimáx (G2, n=10) e grupo controle (G3, n=10). Em seus resultados, observaram um aumento da Pimáx (p<0,05) no G1 e G2; porém, apenas no G1 houve uma concomi-tante melhora na capacidade do exercício (p<0,05). Estes dados dão sustentação para a presente pesquisa a qual, no GE que utilizou uma carga crescente de 50-100%, foi encontrado um aumento signifi cativo da Pimáx concomitante com a melhor performance na execução dos testes de autonomia funcional, revelados na fi gura 1.Em um estudo realizado em indivíduos com

câncer15, foi observado que, dentre os 135 analisados, 74 (55%) tinham como queixa a dispnéia nas AVD. No subgrupo de indivíduos com moderada a severa dispnéia, observou-se uma correlação da intensidade da dispnéia com a ansiedade (p=0,0318) e a Pimax

285 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 22motricidade3vol1111.indd 22 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

(p=0,018). Uma vez que o aumento da Pimáx se refl ete em uma diminuição da dispnéia, que por sua vez infl uenciará na execução dos testes de autono-mia funcional, estes achados se mostram relevantes para o presente trabalho.Após a análise dos resultados, pôde-se concluir

que o fortalecimento isolado da musculatura inspi-ratória causou aumento da Pimáx e a melhora da autonomia funcional dos idosos asilados analisados, repercutindo em uma maior agilidade no desem-penho dos testes do GDLAM. Especula-se que estes resultados satisfatórios tenham associação com o aumento do limiar de fadiga da musculatura respi-ratória, repercutindo na diminuição da dispnéia e na melhora da efi ciência ventilatória. Tais fatores con-tribuem para uma melhor performance nas AVD.

Agradecimentos

Agradecemos de forma especial aos asilos os quais nos abriram as portas para a execução desta inves-tigação, à saber: Casa da Mãe Pobre; Abrigo Santa Luzia; Retiro dos Artistas e Lar da Velhice Israelita. Neste último obtivemos, de forma signifi cativa, o apoio do fi sioterapeuta e terapeuta ocupacional João Galdino da Silva Neto e da fi sioterapeuta Merlucia Coelho da Costa Silva.

Correspondência

Samária Ali Cader. Rua Jorge Emílio Fontenelle, n. 550/ bl. 2a, apto. 202- Rio de Janeiro- RJ - Brasil. CEP: 22790-140Tel: (0xx21)2437-4916 email: [email protected]

Referências

1. Benedetti, TRB, Petroski, E. L (1996). Levan-tamento das instituições do Estado de Santa Cata-rina. In: 20o Simpósio Internacional de Ciências do Esporte: São Paulo, p. 86.

2. Guimarães LHCT, Galdino DCA, Martins FLM, Abreu, SR, et al (2004). Avaliação da capacidade funcional de idosos em tratamento fi sioterapêutico. Rev Neurociências. 12(3):1-6.3. OMS – divisão de saúde mental – Grupo WHO-

QOL (1998). Versão em português dos instrumentos de avaliação de Qualidade de Vida (WHOQOL). Disponível em: http://www.ufrj.br/psiq/wolqol.hml. Acesso em 18 de Jan. de 2006.4. Abreu FMC, Dantas EHM, Leite WOD, Baptista

MR, Aragão JCB (2002). Perfi l da autonomia de um grupo de idosos institucionalizados. In: Fórum brasileiro de educação física e ciências do esporte. Rev Min Ed Física. 10:455.5. Ide MR, Belini MAV, Caromano FA (2005).

Efect of na aquatic versus non-aquatic respiratory exercise program on the respiratory muscle strength in healthy aged persons. Clinic. 60(2):151-158.6. Green M, Road J, Sieck GC, Similowski T

(2002). Tests of Respiratory Muscle Strength. Am J Respir Crit Care Med. 166 (4):528-5477. Clanton T, Calvery PM, Celli BR (2002). Tests

of Respiratory Muscle Edurance. Am J Respir Crit Care Med. 166(4):559-570.8. Pine MJ, Murphy AJ, Watsford ML (2005). Role

of respiratory system function in the age-related decline of human functional capacity. Aust J Age. 24(3):153-156.9. Steiner MC, Morgan MDL (2001). Enhancing

physical performance in chronic obstructive pulmo-nary disease. Thorax. 56(1):73-77. 10. Enright S, Chatham K, Ionescu AA, Unnithan

VB, Shale DJ (2004). Inspiratory Muscle Training Improves Lung Function and Exercise Capacity in Adults with Cystic Fibrosis. Chest. 126(2):405-411.11. Covey MK, Larson JL, Wirtz SE, Berry JK,

Pogue NJ, Alex CG, et al (2001). High-intensity inspiratory muscle training in patients with chronic obstructive pulmonary disease and severely reduced function. J Cardiopulm Rehabil. 21(4):231-240.12. Laoutaris I, Dritsas A, Brown MD, Manginas

A, Alivizatos PA, Cokkinos DV (2004). Inspiratory

Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asiladosSamária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas

286{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 23motricidade3vol1111.indd 23 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

muscle training using an incremental endurance test alleviates dyspnea and inproves functional status in patients with cronic heart failure. Eur J Cardiovasc Prev Rehabil. 11(6):489-496.13. Weiner P, Magadle R, Beckerman M, Bear-

Yanay N (2002). The relationship among inspira-tory muscle strenght, the perception of dyspnea and inhaled beta2-agonist use in patients with asthma. Can Respir J. 9(5):307-312.14. Brancaleone P, Perez T, Robin S, Neviere R,

Wallaert B (2004). Clinical impact of inspiratory muscle impairment in sarcoidosis. Sarcoidosis Vasc Diffuse Lung Dis 21(3): 219-227.15. Bruera E, Schmitz B, Pither J, Neumann CM,

Hanson J (2000). The frequency and correlates of dyspnea in patients with advanced cancer. J Pain Symptom Manage.19(5): 357-362.16. Liaw MY, Lin MC, Cheng PT, Wong MK, Tang

FT (2000). Resistive inspiratory muscle training: its effectiveness in patients with acute complete cervi-cal cord injury. Arch Phys Med Rehabil. 81(6):752-756.17. Uijl SG, Houtman S, Folgering HTM, Hopman

MTE (1999). Training of the respiratory muscles in individuals with tetraplegia. Spinal Cord. 37(8):575-359.18. Van-Der-Esch M, Van-T-Hul AJ, Heijmans M,

Dekker J (2004). Respiratory muscle performance as a possible determinat of exercise in patients with ankylosing spondylitis. Aust J Physiother. 50(1): 41-45.19. Cimen OB, Ulubas B.; Sahin G, Calikoglu M,

Bagis S, Erdogan C (2003). Pulmonary function tests, respiratory muscle strength and endurance of patients with osteoporosis. South Med J. 96(5):423-426.20. Fregonezi GAF, Resqueti VRR, Guell R, Pra-

das J, Casan P (2005). Effects of 8-week, interval-based inspiratory muscle training and breathing retraining in patients with generalized myasthenia gravis. Chest. 128(3):1524-1530.

21. Klefbeck B, Hamrah-Nedjad J (2003). Effect of inspiratory muscle training in patients with multiple sclerosis. Arch Phys Med Rehabil. 84(7):994-999.22. Vasconcellos J, Papatela MT, Guerra V, Melo

M, et al (2004). Análise da Relação entre Pressões Respiratórias Máximas e Capacidade Funcional em Idosos Assintomáticos. In: 12º Simpósio Internacio-nal de Fisioterapia Respiratória; 2004 Set 29- Out 02; Ouro Preto, Minas Gerais: Associação Brasileira de Fisioterapia p. 27.23. Kraemer WJ, Koziris LP, Ratamess NA, Hak-

kinen K, Triplett-McBride NT, Fry AC, et al (2002). Detraining produces minimal changes in physi-cal performance and hormonal variables in recre-ationally strength-trained men. J Streng Cond Res. 16(3):373-382. 24. Lemmer JT, Hurlut DE, Martel GF, Tracy BL,

Ivey FM, Metter EJ, et al (2000). Age and gender responses to strength training and detraining. Med Sci Sports Exerc. 32(8): 1505-1512.25. Sipilä S, Multanen J, Kallinen M, Era P, Suom-

inen H (1996). Effects of strength and endurance training on isometric muscle strength and walk-ing speed in elderly women. Acta Physiol Scand. 156:457-464.26. Guralnik JM, Simonsick EM, Ferrucci L,

Glynn RJ, Berkman LF, Blazer DG, et al (1994). A short physical performance battery assessing lower extremity function: association with self-reported disability and prediction of mortality and nursing home admission. J Gerontology. 49(2):M85−M94.27. Alexander NB, Ulbrich J, Raheja A, Channer,

D (1997). Rising from the fl oors in older adults. J AmGeriatrics Society. 45(5):564−569.28. Andreotti RA, Okuma SS (1999). Validação de

uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fi sicamente independentes. Rev Paul Educ Fis. 13(1):46-66.29. Dantas EHM, Vale RGS (2004). Protocolo

GDLAM de avaliação da autonomia funcional. Fit Perf J. 3(3):175-183.

287 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 24motricidade3vol1111.indd 24 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

30. Junior JFF, Paisani DM, FrancesHini J, Chia-vegato LD, Faresin SM (2004). Pressões respiratórias máximas e capacidade vital: comparação entre aval-iação através de bocal e de máscara facial. J Bras Pneumol. 30(6):515-520. 31. Volianitis S, McConnell AK, Jones DA (2001).

Assessment of maximum inspiratory pressure: prior submaximal respiratory muscle activity (warm-up) enhances maximum inspiratory activity and attenu-ates the learning effect of repeated measurement. Respiration. 68(1): 22-27.32. Mancini DM, Henson D, La MJ, et al (1995).

Benefi t of selective respiratory muscle training on exercise capacity in patients with chronic congestive heart failure. Circulation. 91(2):320-329.33. De Freitas FGA, Resqueti VR, Guell R, Pradas

J, Casan P (2005). Effects of 8-week, interval-based inspiratory muscle training and breathing retrain-ing in patients with generalized myasthenia gravis. Chest. 128(3):1524-1530.34. Ramirez SA, Orozco LM, Guell R, Barreiro

E, Hernandez N, Mota S, et al (2002). Inspiratory muscle training in patients with chronic obstruc-tive pulmonary disease: structural adaptation and physiologic outcomes. Am J Respir Crit Care Med. 166(11):1491-1497.35. Sturdy G, Hillman D, Green D, Jenkins S, Cecins

N, Eastwood P (2003). Feasibility of High-Inten-sity Interval-Based Respiratory Muscle Training in COPD. Chest. 123(1):142-150.36. Thomas JR, Nelson JK (2002). Métodos de

pesquisa em atividade física. (3 ed). Porto Alegre: Artmed.37. Cader SA, Guimarães AC, Rocha CAQC, Vale

RGS, Pernambuco CS, Dantas EHM (2006). Perfi l da qualidade de vida e da autonomia funcional de idosos asilados em uma instituição fi lantrópica no município do Rio de Janeiro. Fit Perf J. 5(4):256-261.38. Vale RGS (2005). Avaliação da autonomia fun-

cional do idoso. Fit Perf J. 4(1):4.

39. Pereira IC, Abreu FAC, Vitoreti AVC, Líbero GA (2003). Perfi l da autonomia funcional de idosos institucionalizados na cidade de Barbacena. Fit Perf J. 2(5):285-288.40. Beckerman M, Magadle R, Weiner M, Weiner

P (2005). The effects of 1 year of specifi c inspira-tory muscle training in patients with COPD. Chest. 128(5):3177-3182.41. Mador MJ, Kufel TJ, Pineda LA (2000). Quad-

riceps and Diaphragmatic reaction after Exhaustive Cycle exercise in the Healthy Elderly. Am J Respir Crit Care Med. 162(5):1760-1766.42. Harms GA, Wetter TJ, Croix CM, Pegelow DF,

DEmpsey JA (2000). Effects of respiratory muscle on exercise performance. J Appl Physiol. 89(1):131-138.43. Holm P, Sattler A, Fregosi RF (2004). Endur-

ance training of respiratory muscles improves cycling performance in fi t young cyclists. BioMed Central Physiol. 4(9):1472-1494.44. Sheel AW (2002). Respiratory muscle training

in healthy individuals: physiological rationale and implications for exercise performance. Sports Méd. 32(9):567-581.45. Martinez A, Lisboa C, Jalil J, Munoz V, Diaz

O, Casanegra P, Corbalan R, Vasquez AM, Laiva A (2001). Selective training of respiratory muscles in patients with chronic heart failure. Rev Med Chil. 129(2):133-139.46. Jong W, Van-Aalderen WMC, Kraan J, Koeter

GH, Van-Der-Schans CP (2001). Inspiratory muscle training in patients with cystic fi brosis. Respir Med. 95(1):31-36.47. Inbar O, Weiner P, Azgad Y, Rotstein A, Weins-

tein Y (2000). Specifi c inspiratory muscle training in well-trained endurance athletes. Med Sci Sports Exerc. 32(7):1233-1237.

Efeito do treino dos músculos inspiratórios sobre a pressão inspiratória máxima e a autonomia funcional de idosos asiladosSamária Cader, Elirez Bezerra da Silva, Rodrigo Vale, Silvia Bacelar, Maria Dolores Monteiro e Estélio Dantas

288{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 25motricidade3vol1111.indd 25 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

Resumo

O objectivo deste trabalho foi o de estudar pos-síveis infl uências da etnia sobre o desenvolvim-ento motor. Para tal foi constituída uma amostra de 60 crianças de ambos os géneros com 7, 8 e 9 anos de idade: 30 crianças ciganas que frequen-tavam uma escola do 1º ciclo em Moura; 30 cri-anças não ciganas que frequentavam uma escola do 1º ciclo em Lisboa. Para estudo e comparação dos níveis de desenvolvimento motor dos dois grupos da amostra, foi utilizada a forma reduzida do Teste de Profi ciência Motora de Bruininks-Oseretsky. Concluiu-se que as crianças não ciga-nas em comparação com crianças de etnia cigana, apresentavam valores signifi cativamente superi-ores da motricidade global (p=0,015), da motri-cidade fi na (p=0,000) e da própria profi ciência motora (p=0,005).

Palavras-chave: profi ciência motora, meio sócio-cultural, etnia cigana

Data de submissão: Março 2006

Data de aceitação: Dezembro 2006

Abstract

The motor profi ciency development in gypsy and non-gypsy children: a compara-tive studyThe objective of this study was to investigate

possible infl uences of ethnicity on motor devel-opment. The sample comprised 60 children of both genders with 7, 8 and 9 years of age: 30 gypsy children who attended an elementary school in Moura; 30 non-gypsy children who attended an elementary school in Lisboa. The short form of the Bruininks-Oseretsky Test of Motor Profi -ciency was used to study and compare the motor development level of the sample groups. We concluded that the non-gypsy children in com-parison to the gypsy children, revealed signifi ca-tive superior results in gross motor performance (p=0,015), fi ne motor performance (p=0,000) and in motor profi ciency (p=0,005).

Key words: motor development, sociocultural background, gypsies

O desenvolvimento da profi ciência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.José Francisco Filipe Marmeleira 1 e João Paulo Abreu 1

1Universidade de Évora, Portugal

Francisco, J.; Marmeleira, F.; O desenvolvim-ento da profi ciência motora em crianças ciga-nas e não ciganas: um estudo comparativo.Motricidade 3(1): 289-297

289 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 26motricidade3vol1111.indd 26 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

Introdução

Em Portugal vários estudos têm investigado a infl uência de meios sócio-culturais diferenciados no desenvolvimento motor das crianças, designa-damente os efeitos da residência em meio urbano ou meio rural 2,17,19,20. Há, no entanto, uma lacuna de estudos sobre a infl uência de outras variáveis sócio-culturais no desenvolvimento motor, entre elas as relacionadas com a etnicidade.Alguns trabalhos realizados noutros países têm

estudado a importância da origem étnica em fac-tores como os padrões de actividade física e/ou a aptidão física 8,9,14,16. No entanto, e no que se refere à etnia cigana, não foi encontrado qualquer estudo no âmbito do desenvolvimento motor. Provavelmente, tal situação terá a ver com o facto dos ciganos continuarem a ser considerados pelos não ciganos pouco acessíveis, o que se têm tra-duzido num conhecimento limitado sobre as suas características sócio-culturais 24.Em Portugal, a comunidade cigana é constituída

por cerca de 50 000 indivíduos3. Na sua maioria, a mesma é sedentária ou semi-nómada pelo que o número da população itinerante tem vindo a diminuir13. A integração escolar da comunidade cigana é

muitas vezes difícil e as crianças apresentam uma taxa elevada de insucesso e abandono escolar em Portugal 3. A maior presença de alunos de etnia cigana verifi ca-se ao nível do 1º ciclo (10,9% de todos os alunos provenientes de minorias étnicas) 13. Entre a comunidade cigana a brincadeira e o

jogo parecem ter algumas características particu-lares. Segundo Levinson7 a brincadeira cumpre uma importante função cultural entre a comuni-dade cigana, preparando as crianças para o futuro e transmitindo-lhes instrumentos indispensáveis ao seu contexto sócio-económico. Segundo o autor, as crianças raramente estão sozinhas, pas-sando muito tempo integradas em grupos de

idades diferenciadas, o que tem um impacto mar-cante no tempo para brincar bem como no tipo de brincadeiras. Refere, ainda, que a realização de actividades intergeracionais é comum durante os momentos recreativos e de trabalho.Entre os ciganos há muitas vezes uma expecta-

tiva de que as crianças devem contribuir desde muito cedo para a família. Tal facto, pode ser con-siderado uma desvantagem na medida em que determinadas formas de brincar se tornam um luxo inacessível, mas, por outro lado, uma vanta-gem porque as crianças ciganas podem usufruir de uma posição mais relevante na vida familiar e comunitária que advém das responsabilidades assumidas 7. Levinson7 refere que encontrou poucos brinque-

dos entre as crianças ciganas. Relata que observou muitas vezes as crianças a brincar com objectos que na sociedade mais abrangente seriam pouco conotados com a recreação mas mais com o mundo do trabalho. Considera, ainda, que entre a comunidade cigana não existe uma clara distin-ção entre trabalho e lazer como nas economias modernas. Thomson e Soós 24 realizaram um estudo sobre

as atitudes dos jovens ciganos em relação ao des-porto, em duas instituições de ensino secundário na Hungria especialmente vocacionadas para o ensino da cultura cigana. Concluíram que os estudantes de etnia cigana (i) não apresentavam uma atitude tão positiva em relação ao desporto e à actividade física quanto os outros jovens hún-garos, (ii) tinham um nível de prática desportiva fora da escola relativamente baixo, (iii) considera-vam a melhoria da saúde e aptidão física como o principal objectivo do desporto, (iv) aceitavam na sua maioria a noção de que muitos desportos são específi cos para determinado género. No presente trabalho, os grupos da amostra

viviam em meios com características urbanísti-

290{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 27motricidade3vol1111.indd 27 10-06-2007 20:45:1710-06-2007 20:45:17

cas muito diferenciadas. Segundo Neto 11 as alte-rações ao nível do desenvolvimento motor são mais vincadas nos grandes meios urbanos, onde a procura de um melhor nível de vida leva a uma alteração ou adaptação dos comportamentos e hábitos do quotidiano. Estas alterações são mais visíveis na motricidade infantil, em que as capa-cidades de mobilidade e exploração corporal na vida das crianças estão comprometidas devido à escassez de espaços 11,18. De facto, no meio urbano, a densidade habitacional e de tráfego, os estilos de vida da família e a gestão do tempo das crianças, difi cultam o seu acesso aos espaços da rua e aos grandes espaços verdes 12,22. Alguns estudos têm comparado a performance

motora em função do meio (urbano versus rural), tendo sido encontrados resultados signifi cativa-mente superiores entre crianças do meio rural na coordenação geral19,20 e no lançamento em dis-tância 20,21. Apenas um estudo 19 refere um item onde registou performances signifi cativamente superiores das crianças que habitavam no meio urbano, no caso a coordenação fi na. Moreno & Vasconcelos 10 encontraram valores

signifi cativamente superiores nas provas de dina-mometria manual e de corrida com mudança de direcção entre adolescentes do sexo feminino que habitavam no meio rural Costa4 encontrou várias diferenças estatistica-

mente signifi cativas num estudo comparativo do desenvolvimento motor de crianças oriundas de países africanos de expressão portuguesa com o de crianças caucasianas de nacionalidade portu-guesa: as primeiras tinham performances supe-riores nas provas de equilíbrio, de força inferior, média e superior; as segundas apresentavam valo-res superiores na agilidade e coordenação.Alguns estudos realizados noutros países com-

pararam a aptidão física de grupos de crianças ou jovens provenientes do meio rural e urbano. Ozdirenc et al.15 encontraram níveis signifi cativa-

mente inferiores de fl exibilidade e de resistência muscular entre as crianças que residiam em áreas urbanas; Taks et al.23 não encontraram diferenças entre raparigas adolescentes; Tsimeas et al.23 con-cluíram que o local de residência não tem um impacto marcante na aptidão física das crianças.Quanto à prática desportiva, alguns estudos indi-

cam que a mesma é signifi cativamente superior entre as crianças e jovens que habitam em zonas urbanas 14,23. Também foram encontrados maio-res níveis de performance motora entre crianças com maior estatuto sócio-económico 6,14 e que participavam em desportos fora da escola 14.Neste contexto, o presente estudo pretendeu

estudar a infl uência da etnia sobre o desenvolvi-mento motor. Deste modo, procedeu-se à com-paração da profi ciência motora de um grupo de crianças ciganas com a de um grupo de crianças não ciganas.

Metodologia

AmostraA amostra foi constituída por 60 crianças com

idades compreendidas entre o 7 e os 9 anos, cons-tituída por dois grupos com idades similares: 30 crianças ciganas (16 rapazes e 14 raparigas) que frequentavam a Escola Básica do 1º ciclo, Nº 3 de Moura; 30 crianças não ciganas (15 rapazes e 15 raparigas) que frequentavam a Escola Básica do 1º ciclo, N.º 111 de S. João de Brito, no cen-tro da cidade de Lisboa. O quadro n.º1 faz uma pequena caracterização da amostra.

291 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 28motricidade3vol1111.indd 28 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

As crianças de etnia cigana habitavam em bar-racas nos arredores da cidade de Moura (Alentejo interior), num meio geográfi co em que dispun-ham de um grande espaço físico livre onde refer-iram realizar diversas actividades lúdicas (jogo da apanhada, jogo das escondidas, jogar à bola, etc.). Uma parte substancial do seu tempo livre era ocupada com diversas actividades relaciona-das com a ajuda aos mais velhos na realização de tarefas da vida diária. Esta caracterização vai de encontro ao referido por Levinson7, já citado na revisão bibliográfi ca. Por sua vez, as crianças não ciganas (caucasianas

com excepção de uma criança), habitavam num meio urbano, caracterizado pela grande limitação de espaços livres, fazendo com que as suas brinca-deiras se confi nassem mais a pequenos largos, ao passeio, ou ao próprio interior da casa (jogos de computador, consolas, ver televisão, etc.). Quanto à prática de actividades físico-desportivas no âmbito escolar, o grupo de crianças não ciga-nas que vivia em Lisboa, tinha Educação Física (EF) duas vezes por semana sob a orientação de um professor da especialidade. O grupo de cri-anças ciganas que vivia em Moura não chegava a ter, em média, uma aula de EF por semana, a qual era leccionada pelo próprio professor titular. Fora do âmbito escolar, 23 crianças não ciganas referi-ram praticar actividades desportivas regularmente (2 a 3 vezes por semana), na sua maioria natação, ginástica e futebol. Nenhuma criança de etnia cigana referiu a prática regular de actividades físicas desportivas.

ProcedimentosNeste trabalho, para efeito comparativos do

nível de desenvolvimento motor dos grupos da amostra, foi utilizado o Teste de Profi ciência Motora de Bruininks-Oseretsky (TPMBO) na sua forma reduzida. A aplicação do TPMBO decorreu durante uma

semana em cada uma das escolas seleccionadas, tendo sido utilizados para o efeito espaços cober-tos e fechados. A amostra foi distribuída em sub-grupos de 3 ou 4 crianças, as quais foram avalia-das individualmente em cada uma das provas. Em ambas as escolas metade das crianças realizaram as provas durante o horário escolar da manhã e a outra metade durante o horário escolar da tarde.A forma reduzida do TPMBO estuda três com-

ponentes da profi ciência motora: motricidade global, composta e fi na. No total são realizadas 14 provas (itens) que integram 8 sub-testes: corrida de velocidade/agilidade, equilíbrio, coordenação bilateral, força, coordenação dos membros supe-riores, velocidade de reacção, visuomotricidade e dextralidade. De referir que Bruininks1 defi ne profi ciência motora como um termo genérico que se refere à performance obtida numa vasta gama de testes motores.Os valores obtidos em cada um dos itens foram

convertidos em pontos segundo o manual do TPMBO1. Os valores da motricidade fi na, global e composta, resultaram da soma da pontuação obtida nos itens que as constituem. Os valores de profi ciência motora resultaram da soma da pon-tuação de todos os itens.O TPMBO foi desenvolvido para estudar as

Quadro n.º 1: Caracterização dos grupos

GrupoIdade em anos

(Média ± DP)

N.º de crianças por

géneroMeio

Crianças ciganas 8,33 ± 0,89 16 M., 14 F. Moura

Crianças não ciganas 8,00 ± 0,59 15 M., 15 F. Lisboa

O desenvolvimento da profi ciência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu

292 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 29motricidade3vol1111.indd 29 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

aquisições motoras de crianças e jovens, não só avaliando funções e disfunções motoras, como inclusivamente atrasos de desenvolvimento. A sua aplicação pode ser feita em crianças entre os 4,5 e o 14,5 anos1. É um teste credível e de ampla aplicação, quer na psicologia, quer na educação5.

EstatísticaPara efeitos de comparação entre os grupos da

amostra, e uma vez que não se verifi cou a nor-malidade da distribuição dos resultados na grande maioria das variáveis estudadas, procedeu-se à utilização do teste não paramétrico de Mann-Whitney. Foi utilizado um nível de signifi cância de p<0,05.O tratamento estatístico foi efectuado através do

programa SPSS para Windows, Copyright SPSS© Inc., versão 13.0

Resultados

Foram encontradas diferenças estatisticamente signifi cativas entre os resultados obtidos pelos grupos da amostra em muitas das variáveis da profi ciência motora. Os resultados encontram-se no Quadro nº2, destacando-se, desde logo, o facto da amostra de crianças ciganas apresentar valores signifi cativamente inferiores para dois dos três grupos de habilidades analisadas: motricidade global (p=0,015) e motricidade fi na (p=0,000).Ao efectuar-se uma análise por item, verifi -

caram-se na Motricidade Global melhores des-empenhos das crianças não ciganas no equilíbrio (p=0,00 para o equilíbrio unipedal) e na corrida de agilidade (p=0,021). Na Motricidade Fina as crianças não ciganas revelaram um controlo visuo-motor superior, mais concretamente no desenho da linha (p=0,035) e na cópia de fi guras (p=0,000 para cópia de lápis sobrepostos). Apre-sentaram, ainda, maior destreza manual na marca-ção de pontos (p=0,000).

NS: Não Signifi cativoEm todos os outros itens não foram encontra-

das diferenças estatisticamente signifi cativas, no entanto, e à excepção de um teste da motricid-ade composta (lançamento da bola a um alvo) e de um teste de motricidade fi na (velocidade de resposta), as crianças não ciganas obtiveram sem-pre resultados médios iguais ou superiores aos das crianças ciganas.Na sequência dos dados já apresentados, o nível

global de Profi ciência Motora foi signifi cativa-mente superior (p=0,005) entre o grupo de cri-anças não ciganas.

Discussão

Em alguns estudos têm sido referidas diferenças em determinadas variáveis do desenvolvimento motor das crianças, em função da proveniên-cia geográfi ca - meio rural versus meio urbano 15,19,20,21. No entanto, os resultados apontam uma tendência oposta ao verifi cado neste estudo, i.e., quando detectadas diferenças as crianças que vivem em meio rural estão, frequentemente, numa posição vantajosa. Para explicar tal facto têm sido apontados factores como a acessibi-lidade aos espaços para brincar, as características dos mesmos, e os estilos de vida relacionados com a gestão do tempo de trabalho e de lazer 12,22.Porque razão as crianças ciganas, que têm maio-

res vantagens na acessibilidade aos espaços físicos abertos e livres, apresentam resultados inferiores na performance motora? De um modo geral poucos trabalhos publicados estudaram apro-fundadamente a cultura da população cigana, designadamente nos seus hábitos de lazer. No entanto, os que existem e que foram referidos na introdução, apontam para diferenças substanci-ais na forma como a população de etnia cigana entende o lazer e a própria brincadeira. Esta parece ter, desde cedo, um papel característico

293 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 30motricidade3vol1111.indd 30 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

na preparação das crianças para o futuro, trans-mitindo-lhes instrumentos indispensáveis ao seu contexto sócio-económico. Segundo Levinson7 as crianças ciganas estão

muitas vezes em grupos de idades diferenciadas, passam pouco tempo sozinhas e utilizam poucos dos brinquedos típicos da sociedade moderna. Na opinião do autor, entre a etnia cigana não existe uma distinção muito vincada entre trabalho e

lazer como sucede nas economias modernas. Levinson & Sparkes (2003) citados por Levin-son 7 referem que as crianças agem como adultos desde muito jovens para ganhar estatuto social.Todas estas especifi cidades estabelecem dis-

tinções óbvias com a maioria das crianças não ciganas, pelo que, mesmo na escola, é comum encontrarem-se nos recreios as crianças ciganas separadas das outras crianças, muitas vezes por sua

Quadro n.º 2: Pontuação (Média ± DP) obtida pelo grupo de crianças ciganas e pelo grupo de crianças não

ciganas nos itens avaliados pela forma reduzida do TPMBO. Valores signifi cativos de p para a comparação

entre grupos obtido através do teste Mann-Whitney.

Crianças ciganas

Crianças não ciganas

p

Motricidade Global

Corrida de Agilidade

Equilíbrio Unipedal: equil. sobre uma trave Equilíbrio

Dinâmico: andar sobre uma trave

Coordenação Bilateral: batim MI c/ círculos MS

Coordenação Bilateral: salto c/ palmas

Força: salto em comprimento sem balanço

Motricidade Composta

Coordenação Manual: agarrar uma bola

Coordenação Manual: lanç.bola ao alvo

Motricidade Fina

Velocidade de resposta

Controlo Visuo-Motor: desenhar uma linha

Controlo Visuo-Motor: copiar círculos

Controlo Visuo-Motor: copiar lápis sobrepostos

Dextralidade: distribuir cartas

Dextralidade: marcar pontos

Profi ciência Motora

24,73 ± 4,72

8,47 ± 1,31

4,30 ± 1,75

2,83 ± 1,49

0,13 ± 0,35

1,97 ± 0,62

7,03 ± 2,13

4,73 ± 1,36

2,43 ± 0,94

2,30 ± 0,79

17,87 ± 3,92

4,90 ± 2,43

3,17 ± 1,15

1,17 ± 0,59

0,43 ± 0,68

3,80 ± 1,13

4,40 ± 1,00

47,33 ± 8,93

27,60 ± 3,05

9,30 ± 1,15

5,67 ± 1,06

3,17 ± 1,09

0,13 ± 0,35

2,27 ± 0,52

7,07 ± 1,36

4,47 ± 1,04

2,43 ± 0,68

2,03 ± 0,77

21,47 ± 2,80

4,77 ± 1,22

3,63 ± 0,72

1,60 ± 0,56

1,27 ± 0,87

4,33 ± 1,16

5,87 ± 1,20

53,53 ± 5,70

0,015

0,021

0,000

NS

NS

NS

NS

NS

NS

NS

0,000

NS

0,035

NS

0,000

NS

0,000

0,005

O desenvolvimento da profi ciência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu

294 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 31motricidade3vol1111.indd 31 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

própria opção7. Comum entre muitas das crianças ciganas é a ideia de que o conhecimento apren-dido em casa é mais importante do que aquele aprendido na escola 7. Outra diferença substancial que pode estar na

origem das diferenças encontradas, prende-se com o facto das crianças não ciganas terem um acesso mais facilitado à educação físico-motora e a vivências desportivas multidisciplinares, o que pode potenciar um maior desenvolvimento motor. Na amostra deste estudo, essas diferenças situa-

vam-se não apenas em termos de EF escolar mas também em termos de actividades para além do espaço escolar. É importante relembrar que os alunos ciganos tinham, em média, menos de uma aula de EF por semana (dada pelo próprio pro-fessor titular), enquanto as outras crianças tinham EF duas vezes por semana sob a orientação de um professor licenciado na Área. Fora do âmbito escolar, a maioria das crianças não ciganas (76,7%) praticavam actividades desportivas regularmente (2 a 3 vezes por semana), enquanto nenhuma criança de etnia cigana o fazia. O facto da maio-ria das crianças do meio urbano praticarem des-porto nos seus tempos livres, vai de encontro ao referido por Neto12, de que a crescente institu-cionalização dos tempos livres das crianças das cidades se tem tornado uma alternativa ao jogo livre e espontâneoÉ importante salientar que, como consequência

do abandono escolar precoce de muitas crianças ciganas, o acesso a actividades físico-desportivas praticadas na escola e mesmo fora desta, está bas-tante comprometido. Por exemplo, no 3º ciclo do ensino básico e, sobretudo, no ensino secundário, a presença de jovens de etnia cigana é quase ine-xistente 13.Vários estudos referem que o nível de prática

desportiva é inferior entre as crianças que habi-tam num meio rural 12,14,23 e entre crianças com

um estatuto sócio-económico inferior 6,14. Ambos os factores são, de algum modo, característicos das crianças do grupo de etnia cigana, o que também ajuda a explicar os valores nulos de prática des-portiva regular. A relação da etnia cigana com o desporto

carece também de investigação. No único estudo encontrado sobre o assunto, Thomson e Soós 24 referem que, entre os jovens húngaros de etnia cigana que frequentavam duas escolas secundá-rias (com uma maioria de alunos de etnia cigana), existia uma atitude menos positiva em relação ao desporto e à actividade física que entre os outros jovens húngaros. Referem, ainda, que os mesmos tinham um nível de prática desportiva fora da escola relativamente baixo. A temática abordada neste trabalho permitiu

levantar algumas questões que seria importante aprofundar em futuras investigações no âmbito do desenvolvimento motor da comunidade de etnia cigana. Por exemplo, seria pertinente estu-dar o nível de desenvolvimento motor em função da idade biológica das crianças; do mesmo modo, seria importante caracterizar de forma mais siste-matizada as actividades desenvolvidas pelas crian-ças ciganas no seu tempo de lazer. Neste estudo, procedeu-se à comparação do

desenvolvimento motor de crianças ciganas com o de crianças não ciganas. Destacam-se as seguin-tes conclusões:• Quando comparadas com crianças ciganas, as

crianças não ciganas apresentam valores signifi -cativamente superiores na motricidade global, na motricidade fi na e na profi ciência motora.• As mesmas diferenças signifi cativas são verifi -

cadas para diversos sub-testes da bateria utilizada: corrida de agilidade, equilíbrio unipedal, dex-tralidade - marcação de pontos, controlo visuo-motor - cópia de lápis sobrepostos e desenho de uma linha. • O acesso privilegiado das crianças nas cidades a

295{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 32motricidade3vol1111.indd 32 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

práticas físico-motoras devidamente estruturadas e regulares (educação física e desporto extra-cur-ricular) poderá ser um dos factores mais impor-tantes na origem das diferenças encontradas.• Outro factor poderá ser a especifi cidade sócio-

cultural da população de etnia cigana, que se tra-duz num estilo de vida com características dife-renciadas designadamente no que diz respeito aos hábitos de lazer.

Correspondência

José Marmeleira. Rua Marechal Francisco da Costa Gomes, lote

1, 7080-019 Vendas [email protected]

Referências

1. Bruininks R. (1978). Bruininks-Oseretsky Motor Profi ciency Test (BOMPT): Examiner´s manual. Minnesota: American Guidance Services.2. Carvalho A. (1994). Desenvolvimento, capa-

cidades motoras e rendimento motor: a infl uen-cia dos contextos rural e urbano. Dissertação de Mestrado não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.3. Comissão Europeia contra o Racismo e a

Intolerância (2002). Segundo relatório sobre Portugal. Estrasburgo: Conselho da Europa.4. Costa A. (1991). Desenvolvimento motor:

análise comparativa de dois grupos étnicos, mas-culinos e femininos, de crianças dos 7 aos 9 anos. Boletim da Sociedade Portuguesa de Educação Física. 2-3:139-158.5. Fonseca V, Dinis A, Moreira N. (1994). Profi -

ciência em crianças normais e com difi culdades de aprendizagem: estudo comparativo e correla-tivo com base no Teste de Profi ciência Motora de Bruininks-Oseretsky. Rev Ed Esp Reabilitação. 2:7-41.6. Krombholz H. (1997) Physical performance

in relation to age, sex, social class and sports activities in kindergarten and elementary school. Perceptual and Motor Skills. 84(3 Pt 2):1168-70.7. Levinson MP. (2005). The role of play in the

formation and maintenance of cultural identity: gypsy children in home and school contexts. J Cont Ethnography. 34(5):499-532.8. McKenzie TL, Sallis JF, Elder JP, Berry CC,

Hoy PL, Nader PR, Zive MM, Broyles SL. (1997). Physical activity levels and prompts in young children at recess: a two-year study of a bi-ethnic sample. Res Quart Exerc and Sport. 68(3):195-202.9. McKenzie TL, Sallis JF, Nader PR, Broyles SL,

Nelson JA. (1992). Anglo- and Mexican-Ameri-can preschoolers at home and at recess: activity patterns and environmental infl uences. J Dev and

O desenvolvimento da profi ciência motora em crianças ciganas e não ciganas: um estudo comparativo.José Francisco Filipe Marmeleira e João Paulo Abreu

296{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 33motricidade3vol1111.indd 33 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

Beh Ped. 13(3):173-80.10. Moreno D, Vasconcelos O. (2003). Aptidão

física, estatuto maturacional e indicadores bios-sociais: estudo em adolescentes do sexo feminino de dois meios distintos (rural e urbano). In: Con-gresso Internacional mulheres e desporto: agir para a mudança. Porto.11. Neto C. (1979). A criança, o Espaço e Desen-

volvimento Motor. Ludens. 3(2/3):35-45.12. Neto C. (2003). Tempo e espaço de jogo para

a criança: rotinas e mudanças sociais. In Carlos Neto (ed.), Jogo & desenvolvimento da criança. Lisboa: edições FMH. p. 10-22.13. Observatório Europeu para o Racismo e a

Xenofobia (2004). Migrants, minorities and educa-tion: documenting discrimination and integration in 15 member states of the European Union. Luxembourg: offi ce for offi cial publications of the European Communities.14. O’Loughlin J, Paradis G, Kishchuk N, Bar-

nett T, Renaud L. (1999). Prevalence and cor-relates of physical activity behaviors among elementary schoolchildren in multiethnic, low income, inner-city neighborhoods in Montreal, Canada. Ann Epidem. 9(7):394-6.15. Ozdirenc M, Ozcan A, Akin F, Gelecek N.

(2005). Physical fi tness in rural children com-pared with urban children in Turkey. Ped Int. 47(1):26-31.16. Patrick K, Norman GJ, Calfas KJ, Sallis JF,

Zabinski MF, Rupp J, Cella J. (2004). Diet, physi-cal activity, and sedentary behaviors as risk factors for overweight in adolescence. Arc Ped Adol Med. 158(4):385-90.17. Peixeiro R. (1995). Desenvolvimento das

capacidades físicas em crianças dos 6 aos 9 anos de idade no meio rural, misto e urbano: um estudo comparativo. Dissertação de Monografi a não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.18. Pimentel J. (1985). Os dados psicológicos:

espaço e seu signifi cado no desenvolvimento da criança segundo H. Wallon. Ludens. 9(3):39-43.19. Pimentel J, Oliveira J. (2003). Infl uência

do meio no desenvolvimento da coordenação motora global e fi na: estudo com crianças de 9 e 10 anos da cidade do Porto e da Beira Alta. Horizonte. 18(105):34-37.20. Pissarra M. (1993). Desenvolvimento motor e

envolvimento social: estudo do crescimento e desenvolvi-mento das capacidades motoras em crianças dos 7 aos 9 anos de idade nos meios rural e urbano. Dissertação de Mestrado não publicada. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.21. Serra M. (1992). Desenvolvimento motor, jogo

e contexto cultural: estudo comparativo da actividade de crianças com 6,7,8 e 9 anos pertencentes a Meios Socioculturais diferenciados. Dissertação de Mes-trado não publicada. Lisboa: Faculdade de Motri-cidade Humana.22. Serrano J, Neto C. (2003). As rotinas de vida

diária das crianças com idades compreendidas entre os 7 e os 10 anos nos meios rural e urbano. In Carlos Neto (ed.), Jogo & desenvolvimento da criança Lisboa: edições FMH. p. 206-225.23. Taks M, Renson R, Beunen G, Claessens

A, Colla M, Lefreve J, Ostyn M, Schueremans C, Simons J, Van Gerven D, Vanreusel B. (1991). Sociogeographic variation in the physical fi tness of a cross-sectional sample of Flemish girls 13 to 18 years of age. Am J Hum Biol. 3(5):503-513.24. Thomson RW, Soós I. (2005). Rroma cul-

ture and physical culture in hungary. International review for the sociology of sport. 40(2):255-263.25. Tsimeas, P.D., Tsiokanos, A.L., Koutedakis,

Y., Tsigilis, N. & Kellis, S. (2005). Does living in urban or rural settings affect aspects of physical fi tness in children? An allometric approach. Brit J Sports Med. 39(9):671-674.

297{ Investigação

motricidade3vol1111.indd 34motricidade3vol1111.indd 34 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

Resumo

Com este estudo pretendemos caracterizar os níveis de ansiedade dos lançadores e saltadores iniciados e juvenis portugueses. A amostra foi constituída por 147 atletas (89 masculinos e 58 femininos). Foram subdivididos em grupos de acordo com as variáveis independentes a serem testadas, nomeadamente: escalão (61 iniciados e 86 juvenis), especialidade (78 saltos e 69 lança-mentos), top ten (17 masculinos e 26 femininos). Para os propósitos do estudo utilizámos o Ques-tionário de Auto-avaliação (CSAI-2) e o ICPC. Os procedimentos estatísticos foram: cálculos de frequências e o coefi ciente de correlação Produto – momento de Pearson. No geral, os resultados tendem confi rmar os encontrados nos estudos de referência e sugerem que o ICPC, se utilizado de forma sistemática, é bom instrumento para os treinadores aprofundarem os seus conhecimentos sobre os atletas.

Palavras-chave: ansiedade, comportamentos pré-competitivos, CSAI-2 e Inventário de Com-portamentos Pré-competitivos (ICPC).

Data de submissão: Novembro 2006Data de aceitação: Janeiro 2007

Abstract

Characterization of anxiety levels among track and fi eld athletesThe purpose of this study was to characterize

the levels of anxiety among young track and fi eld athletes. The sample consisted of 147 athletes (89 males and 58 females). These were divided according to the independent variables defi ned for the present study, namely: competitive age-group, sport and ranking. The4 instruments used were the CSAI-2 and ICPC. The statistical pro-cedures used were the descriptive and correlation techniques. In general the results confi rmed those obtained in prior studies. The results further sug-gested that the systematic use of the ICPC by coaches may be an adequate way to better know the athletes they work with.

Key-words: anxiety, pre-competitive behav-iour, CSAI-2 and Inventory of Pre-competitive Behaviours (ICPC).

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo1, João P. Lázaro1, Carla Teixeira1, Maria P. Mota1 e Hélder M. Fernandes1

1 Centro de Estudos em Desenvolvimento Humano, Actividade Física e Saúde, da Universidade de Trás-os-montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal.

Vasconcelos-Raposo, J.; Lázaro, J.; Mota, M.; Fernades, H.; Caracterização dos niveis de an-siedade em praticantes de atletismo. Motricid-ade 3(1): 298-314

298 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 35motricidade3vol1111.indd 35 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

Introdução

O desporto, a qualquer nível que seja praticado, é gerador de intensos níveis de stresse, quer do ponto de vista psicológico como do fi siológico. Perante tais experiências, os atletas e treinadores procuram encontrar formas que, de alguma maneira, lhes permitam exercer um maior con-trolo sobre os processos que imediatamente ante-cedem a competição. Ambas as partes concordam que o período de pré-competição requer alguns cuidados adicionais para que o estado de pron-tidão competitiva não seja negativamente infl u-enciado. A forma como os atletas se envolvem com os seus pensamentos, emoções e compor-tamentos em geral pode determinar a diferença entre o sucesso e o fracasso competitivo 14.O período pré-competitivo requer uma prepa-

ração específi ca, quer a nível físico quer mental. Presentemente, o grau de conhecimentos sobre teoria e metodologia do treino desportivo é de tal forma sofi sticado que os atletas chegam aos momentos da competição bem preparados fi si-camente. Por esta razão, mais do que nunca, a preparação mental é assumida pelos treinadores e atletas como da maior importância. Porém, a psicologia do desporto nem sempre tem tomado em consideração as necessidades práticas destes agentes desportivos, para quem a validade dos conceitos e dos contributos científi cos só fazem sentido se encontram eco nas suas práticas diárias. Assim, a psicologia do desporto deverá assumir este requisito como um dos critérios para avaliar a sua importância para o rendimento desportivo. A preparação mental para os momen-

tos que antecedem a competição é da maior importância para os resultados fi nais. O treino mental requer, entre outras coisas, que os atle-tas aprendam e desenvolvam um conjunto de habilidades que visam aumentar o autocontrolo em processos como: concentração, foco da aten-ção, controlo emocional, relaxação, defi nição de

objectivos, pensamentos positivos, visualização, e rotinas pré-competitivas, com o objectivo de manter um sistema de reforço capaz de promover o estado psicológico ideal para a competição.Da revisão da literatura que realizámos para a

elaboração deste trabalho, foi-nos possível con-statar que o período pré-competitivo tem mer-ecido pouca atenção por parte dos psicólogos. O pouco material encontrado sugere que os estudos tendem a centrar-se nos aspectos ritualísticos ou comportamentos supersticiosos2,3,9,10,17. Quando a preocupação se centra ao nível das emoções, nomeadamente da ansiedade, o número das pub-licações aumenta de uma forma acentuada 11,20,21. São praticamente inexistentes os estudos que

abordam os comportamentos pré-competitivos. Entre outras razões, talvez possamos destacar aquelas que se nos apresentam como mais evi-dentes: 1) os comportamentos a serem observa-dos são de um foro mais íntimo do que aqueles que normalmente são estudados pelos psicólo-gos que recorrem aos testes de lápis e papel; 2) pela razão atrás referida, torna-se necessário que quem queira estudar estes comportamentos tenha que investir numa relação em que as dinâmicas a observar são as típicas das que são estabelecidas entre psicólogo e atleta; 3) é reduzido o número de psicólogos que para além das suas actividades académicas também estão envolvidos directa-mente na preparação mental dos atletas em que se fundamentam para a elaboração dos trabalhos a serem publicados.Atletas e treinadores empenham-se na procura

de informação e apoio de psicólogos com o intuito de promover as condições necessárias à construção do estado ideal de prestação. Para se conseguir tal estado, é da maior importância que os atletas identifi quem as condições e os compor-tamentos associados às suas melhores prestações 5,29,33,34. Os comportamentos que nos são dados

299 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 36motricidade3vol1111.indd 36 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

a observar nos períodos pré-competitivos servem múltiplos propósitos para a preparação mental dos atletas para a competição: 1) manter a concent-ração; 2) organizar os estímulos internos e exter-nos; 3) promover um espaço onde o atleta se sinta em controlo do que lhe rodeia; 4) implementar um sistema de feedback que concomitantemente reforce o sentimento de auto-efi cácia, assim como de controlo sobre os processos em curso.Enquanto Keating e Hogg 14 realçam a importân-

cia dos comportamentos ritualisticos, Sherman 26 argumenta que há riscos na utilização dos rituais quando estes são implementados de uma forma rígida, uma vez que qualquer erro que ocorra na sequência dos comportamentos e gestos, aumenta as probabilidades para o indivíduo entrar num estado psicológico em nada condizente com os requisitos e rigores impostos pelo rendimento desportivo.Julgamos pertinente esclarecer que quando nos

referimos aos comportamentos pré-competi-tivos temos como referência que há diferença entre rotinas pré-competitivas e comportamen-tos supersticiosos. As primeiras são o resultado de um processo de aprendizagem e alicerçam-se nas estratégias cognitivas que são intencionalmente utilizadas pelos atletas, com o objectivo de facili-tar a prestação competitiva que se lhes segue 4,18. Os comportamentos supersticiosos, por sua vez, refl ectem o sistema de crenças do atleta que o leva a acreditar que forças externas a si podem infl uenciar o resultado das competições em que vão participar. Exemplos do que consideramos rotinas incluem a prática da visualização, técnicas de relaxação, técnicas de controlo atencional, etc., e que tendem a estar relacionadas com bons níveis competitivos, assim como com bons resultados nas competições 7,12,19;28.No nosso estudo procuramos identifi car os com-

portamentos que estão intimamente associados

aos processos de autocontrolo 1,24, uma vez que sabemos que esses são os que mais directamente se relacionam com o sucesso desportivo.Com o nosso estudo pretendemos verifi car quais

são os níveis de ansiedade evidenciados pelos atletas, iniciados e juvenis, nas especialidades de lançamentos e saltos. Constatar se existem dife-renças estatisticamente signifi cativas entre rapazes e raparigas, assim como se há diferenças entre os escalões referidos e entre estes e os praticantes que se qualifi cam no top ten da modalidade. Por fi m, ver se há diferenças por especialidade.

Metodologia

AmostraA nossa amostra foi constituída por 147 atle-

tas, dos quais 78 eram saltadores e 69 lançadores, tendo todos eles participado em provas organiza-das pela Federação Portuguesa de Atletismo ou pelas Associações Regionais da referida modali-dade.Dos 147 atletas inquiridos, 58 eram do género

feminino e 89 do género masculino, pertencendo 61 ao escalão de iniciados e 86 ao escalão juvenil. Do total de atletas estudados 43 estavam cotados no “Top Ten” do ranking nacional (quadro 1).

ProcedimentosPara a elaboração do nosso estudo aplicámos o

Questionário de Auto-avaliação (CSAI-2), elab-orado por Martens, Vealey e Burton 16. O CSAI-2 é um instrumento de medida multidimensional, composto por 27 afi rmações/questões, que tem como objectivo diagnosticar e quantifi car 3 variáveis psicológicas: ansiedade cognitiva (9 itens), ansiedade somática (9 itens) e autoconfi -ança (9 itens). Respeitamos a estrutura da escala original que apresenta três possibilidades de res-posta.

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

300 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 37motricidade3vol1111.indd 37 10-06-2007 20:45:1810-06-2007 20:45:18

Utilizámos ainda o Inventário Comportamen-tal Pré-competitivo (ICPC), que nos possibilitou caracterizar os comportamentos pré-competiti-vos da amostra. Este inventário foi elaborado por Rushall 22,23. É constituído por 42 questões que visam determinar os comportamentos pré-com-petitivos dos atletas. Na versão portuguesa, cada questão apresenta cinco hipóteses de resposta, estando cada uma delas quantifi cada numa escala do tipo Likert de 1 a 5 da seguinte forma: (1) nunca; (2) raramente; (3) às vezes; (4) frequent-emente; (5) sempre. Ambos os instrumentos foram traduzidos e vali-

dados para português em estudos anteriores.

EstatísticaPara sabermos qual a percentagem de respos-

tas por cada variável comportamental pré-com-petitiva dada pelos elementos da nossa amostra recorremos à estatística descritiva. Para sabermos qual a associação entre as variáveis do ICPC e do CSAI-2 calculámos o coefi ciente de correlação Produto – momento de Pearson.

Resultados

Com o propósito de possibilitar a comparação dos valores obtidos no presente estudo com os de outros trabalhos já publicados, apresentamos os valores médios obtidos através da aplicação do CSAI-2.

Médias observadas em ambos os grupos no CSAI-2Passaremos, de seguida, a apresentar as médias

observadas no CSAI-2 (quadro 1).

Pudemos verifi car, da observação do quadro 1, que o valor médio mais elevado, apresentado pelos atletas por nós estudados, diz respeito à

autoconfi ança com 25,7; de seguida, aparece-nos a ansiedade cognitiva com 24,1, apresentando a ansiedade somática o valor mais baixo, com 22,1. No quadro 2 apresentamos os coefi cientes de

correlação existentes entre a autoconfi ança e as variáveis do ICPC. Verifi cámos que as variáveis comportamentais pré-competitivas apresentadas no quadro 2 e a autoconfi ança apresentaram cor-relações estatisticamente signifi cativas, contudo deveremos salientar os itens: “o atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição” e “quando perde a confi ança antes da prova, o atleta sabe o que fazer para a recuperar”, por serem as mais signifi cativas (p≤0,001).Encontramos correlações negativas entre a

autoconfi ança e as questões “atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição”, “quando a com-petição acaba o atleta sente que podia ter dado mais”, “o atleta sente que o facto de os especta-dores o chatearem continuamente antes da prova afecta a sua performance e “antes das provas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma que à mínima coisa se irrita”, os valores obtidos foram os seguintes: – 0,267; -0,165; -0,177 e -0,185, respectivamente. Com as restantes questões veri-fi camos uma correlação positiva, ou seja a auto-confi ança é tanto maior quanto maiores forem os valores apresentados pelas questões: “O atleta gosta mais de competir do que de treinar”; “quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se acalmar”; “quando perde a con-fi ança antes da prova, o atleta sabe o que fazer para a recuperar”; “o atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono”.No que concerne à correlação existente entre a

autoconfi ança e a ansiedade somática e cognitiva verifi cámos que estas apresentaram coefi ciente de correlação negativo, com r = – 0, 163 para a correlação autoconfi ança – ansiedade cognitiva e r = – 0,174 para a correlação autoconfi ança

301 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 38motricidade3vol1111.indd 38 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

– ansiedade somática (quadro 3).O facto de as correlações serem negativas leva-

nos a pressupor que, quanto mais elevados forem os níveis de ansiedade somática e cognitiva, menor será o nível de autoconfi ança dos atletas, tal como preconizado pela teoria.Pela análise do quadro 4 verifi cámos que o coe-

fi ciente de correlação entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC é signifi cativo para as questões: “o atleta fi ca tenso e nervoso antes de uma competição importante”, “o atleta sente necessidade de ter um plano de prova para situa-ções inesperadas”, ”o atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a sua performance, “o atleta ensaia mentalmente os seus planos de prova”, “o atleta pensa durante a prova no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta quando se sente cansado tenta com mais força”,

“o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova”, “o atleta gosta que o treinador lhe relembre a estratégia competitiva antes da prova”, “o atleta suporta as pressões na parte fi nal de uma competição”, “quando os espectadores antes da prova o perturbam contin-uamente a sua performance é afectada”, “a tensão antes da competição é tal que a mínima coisa o irrita” e “no intervalo das provas o atleta revê o plano relativo à que se segue”.As correlações mais signifi cativas são entre a

ansiedade somática e as questões: “o atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição”, “durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força”, “o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova”, “atleta gosta que o treinador lhe

Quadro 1: Valores médios e desvios padrão ao CSAI-2

Variáveis CSAI-2 Média ±S.D.

Ansiedade Cognitiva 24,1 ±4,4

Ansiedade Somática 22,1 ±4,2

Autoconfi ança 25,7 ±4,3

Quadro 2: Coefi ciente de correlação e signifi cância estatística entre a autoconfi ança e os itens comportamen-

tais pré-competitivos

Variável Descrição do comportamento r p ≤0,05

ICPC1 O atleta gosta mais de competir do que de treinar 0,198* 0,016

ICPC5 O atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição -0,267** 0,001

ICPC19 Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado mais -0,165* 0,046

ICPC27 Quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se acalmar 0,185* 0,025

ICPC28 Quando perde a confi ança antes da prova, o atleta sabe o que fazer para a recuperar 0,273** 0,001

ICPC30 O atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sono 0,206* 0,012

ICPC34 O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente antes da prova afecta a sua performance -0,177* 0,032

ICPC40 Antes das provas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma que à mínima coisa se irrita -0,185* 0,025

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

302 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 39motricidade3vol1111.indd 39 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

recorde a estratégia de competição para a prova”, “o atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse)” e “no intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que se segue”. De salientar que as correlações entre a ansiedade

somática e as questões “o atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força” e “o atleta durante a fase fi nal de uma competi-

ção importante suporta bem as pressões (stresse) ” foram negativas.Para além das correlações referidas, verifi cámos

que, entre a ansiedade somática e a questão “o atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que fazer para se acalmar” há uma correla-ção negativa, ou seja, existe uma relação inversa entre o referido comportamento e a ansiedade somática.

Quadro 4: Coefi ciente de correlação e signifi cância estatística entre a ansiedade somática e os itens compor-

tamentais pré-competitivos

Variável Descrição do comportamento r p.

ICPC5 Os atletas fi cam tenso e nervoso antes da competição 0,395** 0,000

ICPC10O atleta sente necessidade de ter um plano de prova para

situações inesperadas0,164* 0,048

ICPC11O atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de

afectar a sua performance0,181* 0,028

ICPC12 O atleta ensaia mentalmente os seus planos de prova 0,176* 0,033

ICPC14 Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar 0,280** 0,000

ICPC17O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com

mais força-0,225** 0,006

ICPC25O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a

prova0,274** 0,001

ICPC27O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que

fazer para se acalmar-0,164* 0,040

ICPC29O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia de

competição para a prova0,335** 0,000

ICPC33O atleta durante a fase fi nal de uma competição importante

suporta bem as pressões (stresse)-0,219** 0,008

ICPC34Quando os espectadores antes da prova o perturbam

continuamente a sua performance é afectada0,171* 0,039

ICPC40 A tensão antes da competição é tal que a mínima coisa o irrita 0,209* 0,011

ICPC41 No intervalo das provas o atleta revê o plano relativo à que se segue 0,213** 0,009

* P ≤0,05 ** P≤ 0,01

Quadro 3: Coefi ciente de correlação e signifi cância entre a autoconfi ança e a ansiedade somática e a ansie-dade cognitiva.

Autoconfi ança

Variáveis do CSAI-2 r p

Ansiedade cognitiva - 0,163 0,949

Ansiedade somática - 0,174 0,035

303 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 40motricidade3vol1111.indd 40 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

No que diz respeito às correlações entre a ansie-dade somática, a ansiedade cognitiva e a auto-confi ança o coefi ciente de correlação é negativo, sugerindo que quanto mais baixo for o nível da ansiedade cognitiva e da autoconfi ança, maior será o nível da ansiedade somática (quadro 5). Estes resultados evidenciam a necessidade de se

realizarem outros estudos de forma a melhor compreendermos esta relação.As correlações estatisticamente signifi cativas

entre a ansiedade cognitiva e as questões com-portamentais pré-competitivas podem ser anali-sadas no quadro 6.Assim, verifi camos uma correlação estatistica-

mente signifi cativa entre a ansiedade cognitiva e as questões:” atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição”, “o atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua presta-ção seja a melhor se está preocupado antes da prova”, “o atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova quando a competição não está a correr como o esperado”, “o atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a sua performance”, “o atleta ensaia mental-mente os planos antes da prova”, “durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar”, “o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova”, “quando perde a confi ança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”, “o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição

da prova” e “o atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta bem as pressões (stressee)”Foram encontradas correlações negativas entre a

autoconfi ança e as questões “o atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preocupado antes

da prova”, “quando perde a confi ança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”, “o atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta bem as pressões (stressee) ”, “o atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o afecte sem fazer comentários” e ”quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem que nada o dis-traia”.No que concerne às correlações existentes entre

a ansiedade cognitiva, a autoconfi ança e a ansie-dade somática (quadro 7), verifi cámos que: 1- Há uma correlação muito signifi cativa entre a ansie-dade cognitiva e a ansiedade somática (p&0,0001); 2- que em relação à autoconfi ança, verifi cámos que existe uma correlação negativa (r = -0,163). Assim sendo, quanto mais baixa for a autoconfi -ança, maior será a ansiedade cognitiva

Quadro 5: Coefi ciente de correlação e signifi cância entre ansiedade somática a autoconfi ança e a ansiedade

cognitiva.

Ansiedade somática

Variáveis do CSAI-2 R Sig. de p.

Ansiedade cognitiva - 0,420 0,000

Autoconfi ança - 0,174 0,035

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

304{Investigação

motricidade3vol1111.indd 41motricidade3vol1111.indd 41 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

Quadro 6: Coefi ciente de correlação e signifi cância estatística entre a ansiedade cognitiva e os itens compor-

tamentais pré-competitivos

Itens do ICPC Descrição do comportamento R P

ICPC5 O atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição 0,296** 0,000

ICPC8O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua

prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova)-0,164* 0,047

ICPC10O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova

quando a competição não está a correr como o esperado.0,225** 0,006

ICPC11O atleta antes de uma prova importante distrai-se ao ponto de afectar a

sua performance0,190* 0,021

ICPC12 O atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova 0,182* 0,027

ICPC14 Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar 0,223** 0,007

ICPC19O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da

prova0,172* 0,037

ICPC28Quando perde a confi ança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para

a recuperar-0,173* 0,036

ICPC29O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia de competição

para a prova.0,251** 0,002

ICPC33O atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta bem

as pressões (stresse)-0,192* 0,020

ICPC34O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente

antes da prova afecta a sua performance0,163* 0,049

ICPC35O atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o afecte

sem fazer comentários-0,176* 0,033

ICPC38Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue concentrar-se,

sem que nada o distraia.-0,183* 0,027

ICPC40Antes de provas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma

que à mínima coisa se irrita0,207* 0,012

Quadro 7: Coefi ciente de correlação e signifi cância entre ansiedade cognitiva a autoconfi ança e a ansiedade

somática.

Ansiedade cognitiva

Variáveis do CSAI-2 R P

Ansiedade somática 0,420 0,000

Autoconfi ança - 0,163 0,049

305 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 42motricidade3vol1111.indd 42 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

Discussão

Ao longo deste capítulo iremos comparar os nossos resultados com os dados relativos a estudos similares ao nosso, nomeadamente o realizado por Jones, Hanton e Swain 13. Este trabalho teve como objectivo verifi car quais as diferenças exis-tentes entre a direcção e a intensidade dos sinto-mas da ansiedade pré-competitiva em função do nível de performance dos jogadores de Cricket. Faremos também referência ao estudo desen-volvido por Teixeira e Vasconcelos-Raposo27, realizado com nadadores pré-juniores portu-gueses, que teve como objectivo normalizar os valores das variáveis do CSAI-2 para o referido escalão etário.Para além destes dois estudos, analisaremos tam-

bém os dados obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8 no seu estudo com nadadores juniores portugueses, que teve como objectivo avaliar os níveis de ansiedade assim como caracterizar os comportamentos pré-competitivos dos jovens nadadores.EST-1 = Jones & Swain (1994); EST-2 = Teix-

eira & Vasconcelos-Raposo (1997): EST-3 = Fer-raz & Vasconcelos-Raposo (1997); EST-4 = Pre-sente estudoNo quadro 8 poderemos observar os resultados

relativos aos estudos sobre a ansiedadeVerifi cámos que em relação ao estudo realizado

por Jones Hanton e Swain13, os valores apresen-tados pela nossa amostra foram superiores para as três variáveis em questão. No que diz respeito à autoconfi ança, a média dos nossos atletas foi mais elevada em 3,7 pontos. Em relação à ansiedade somática os nossos atletas apresentaram 2,1 pon-tos acima e, fi nalmente, no que concerne à ansie-dade cognitiva a diferença foi de 3,1 pontos.Deveremos salientar que da amostra de Jones,

Hamton e Swain 13 faziam parte jogadores de cricket (desporto colectivo), enquanto que da nossa amostra faziam parte saltadores e lançadores (desporto individual) e, segundo Martens15 e Cruz 6 existem diferenças entre os níveis de autocon-fi ança, ansiedade somática e ansiedade cognitiva em função dos atletas e do tipo de modalidade que praticam, sendo de esperar que os atletas de desportos individuais, tal como acontece no nosso estudo, apresentem níveis signifi cativamente mais elevados de ansiedade do que os praticantes de desportos colectivos.No que diz respeito aos dados obtidos por Teix-

eira e Vasconcelos-Raposo27, verifi cámos que os nossos resultados são mais uma vez superiores nas três variáveis. Comparando os resultados do nosso estudo com

os de Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, constatá-mos que o valor da autoconfi ança foi um pouco

Quadro 8: Comparação dos valores médios e desvios padrão relativos às variáveis dos CSAI-2 dos estudos

desenvolvidos por Jones e Swain (1994), Ferraz e Vasconcelos-Raposo (1997) e o presente estudo.

EST-1 EST-2 EST-3 EST-4

Não Elite Elite Nadadores Nadadores Sal. Lanc.

Variáveis do CSAI-2 M ±SD M ±SD M ±SD M ±SD M ±SD

Autoconfi ança 21,3 ± 4,5 22,5 ± 4,9 24,8 ± 4,5 26,2 ± 4,3 25,7 ± 4,3

Ansiedade cognitiva 22,9 ± 4,5 22,4 ± 5,0 21,0 ± 4,4 21,5 ± 5,3 24,1 ± 4,4

Ansiedade somática 18,9 ± 4,6 19,2 ± 4,9 21,4 ± 4,5 18,9 ± 4,8 22,1 ± 4,2

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

306 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 43motricidade3vol1111.indd 43 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

mais elevado nos nadadores e que a ansiedade somática e a ansiedade cognitiva foi mais elevada nos lançadores/saltadores da nossa amostra. O facto de os valores médios encontrados para

a autoconfi ança serem superiores aos encontra-dos por Jones, Hanton e Swain 13 e por Teixeira e Vasconcelos-Raposo 27 é um bom indicador na medida em que os atletas de elite quando com-parados com os restantes parecem apresentar níveis de autoconfi ança mais elevados. Viana e Cruz 32 acrescentam que os atletas autoconfi antes apresentam-se bem preparados para responder às exigências da modalidade, confi antes, têm objec-tivos específi cos para cada competição e sabem integrar positivamente as experiências da com-petição. Contudo, segundo Vasconcelos-Raposo 30, esta interpretação não é linear pois os atletas que apresentam elevados índices de autocon-fi ança poderão, erradamente, pensar que não necessitam de se mentalizar ou de “treinar duro” para obter uma boa performance. (quadro 9)O facto dos valores de ambas as dimensões da

ansiedade serem baixos poderão sugerir que os atletas da nossa amostra percepcionam a com-petição de forma pouco ameaçadora. Contudo, também pode ser o resultado do método uti-lizado no preenchimento dos inquéritos.Os resultados obtidos relativamente às cor-

relações entre os itens do ICPC e as escalas do CSAI-2 permitem a treinadores, psicólogos e atletas identifi car os comportamentos que ser tomados em consideração nos momentos que imediatamente antecedem a competição e assim contribuírem para o processo de controlo com-portamental desejável no contexto competitivo e que tende a estar associado às melhores per-formances.Quando comparamos os nossos resultados com

os de Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, verifi cá-mos que somente duas questões são comuns: “O atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição”

e “quando perde a confi ança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer para a recuperar”.De acordo com os valores apresentados será

conveniente que os treinadores dos atletas das modalidades estudadas através da nossa amostra trabalhem conjuntamente com os seus atletas no desenvolvimento de rotinas pré-competiti-vas com o objectivo de: (1) diminuir os níveis de excitação e nervosismo do atleta antes das provas, que poderá passar pela implementação de técni-cas de auto-conhecimento; relaxamento e ensaio mental; (2) redireccionar a atenção dos atletas dos espectadores na medida em que as acções desen-volvidas por estes distraem e irritam os atletas. No quadro 10 podem ser observados os dados

obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8 e no presente estudo no que concerne à correlação existente entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC.Tendo por base as correlações positivas encon-

tradas, no presente esstudo, entre a ansiedade somática e as questões ICPC 17 (O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com mais força), IPCC 25 (O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a prova), IPCC 27 (O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que fazer para se acalmar) e IPCC 33 (O atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse)), podemos afi rmar que o facto de o atleta se sentir cansado durante a competição, de se preocupar com o quanto lhe vai custar o esforço, de se sentir muito excitado antes da prova, de conseguir suportar o stresse da parte fi nal das competições contribuem para o aumento da ansiedade somática.Verifi camos, ainda, pelas correlações negativas

entre a ansiedade somática e as questões ICPC 3 (O atleta gosta de ter o treinador consigo durante a competição), ICPC 5 (O atleta fi ca tenso e ner-voso antes da competição), ICPC 29 (O atleta

307 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 44motricidade3vol1111.indd 44 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

Quadro 9: Coefi ciente de correlação existente entre a autoconfi ança e as variáveis do ICPC/PC

Variável Descrição do comportamento FVR Presente

ICPC1 O atleta gosta mais de competir do que de treinar ns -0,191

ICPC2 O atleta prefere fazer o aquecimento sem falar com os outros atletas0,250 ns

ICPC5 O atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição -0,370 0,267

ICPC7 O atleta preocupa-se com os outros atletas antes da prova -0,251 ns

ICPC8 O atleta sabe como diminuir a preocupação antes da prova 0,396 ns

ICPC12 O atleta ensaia mentalmente os planos antes da prova 0,225 ns

ICPC13 O atleta consegue concentrar-se nos períodos que antecedem a prova0,377 ns

ICPC16O atleta durante a prova guarda energia de forma a saber que vai ter

um bom fi nal 0,238 ns

ICPC17 O atleta quando se sente cansado tenta ainda com mais força 0,249 ns

ICPC19 Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado maisns 0,165

ICPC23 O atleta sente-se mais confi ante com os planos de prova detalhados0,280 ns

ICPC24 O atleta usa situações desfavoráveis para testar o melhor esforço0,270 ns

ICPC27Quando excitado antes da prova o atleta sabe o que fazer para se

acalmar ns -0,185

ICPC28Quando perde a confi ança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer

para a recuperar 0,310 -0,273

ICPC30 O atleta deita-se de forma a poder ter pelo menos oito horas de sonons -0,209

ICPC31 O atleta treina coisas no aquecimento que irá fazer ao longo da prova0,295 ns

ICPC34O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear continuamente

antes da prova afecta a sua performance ns 0,172

ICPC36O atleta produz sempre o seu melhor esforço independentemente das

probabilidades 0,263 ns

ICPC37O atleta após uma má prestação tenta ainda com mais força na prova

seguinte 0,232 ns

ICPC38 O atleta consegue concentrar-se sem que nada o distraia 0,370 ns

ICPC40Antes de provas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma

que à mínima coisa se irrita ns 0,185

ICPC41 O atleta no intervalo das provas revê o plano relativo à que se segue0,405 ns

FVR = Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8.

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

308 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 45motricidade3vol1111.indd 45 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da competição da prova), ICPC 40 (Antes de pro-vas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma que à mínima coisa se irrita) e ICPC 41 (No intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que se segue), que à medida que a ansiedade somática aumenta os atletas da nossa

amostra sentem necessidade de ter o treinador presente e que este lhes recorde as estratégias defi nidas para a prova, de serem possuidores de um plano de prova, de os reverem no intervalo entre as competições e de ensaiarem mental-mente os planos de competição antes da prova. Para além disso, quando a ansiedade aumenta,

Quadro 10: Coefi ciente de correlação existente entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC/PC.

Variável Descrição do comportamento Est 1 Presente

ICPC3 O atleta gosta de ter o treinador consigo durante a competição ns -0,177

ICPC5 O atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição 0,675 -0,395

ICPC6 O atleta gosta de estar sozinho antes da competição 0,275 ns

ICPC7 O atleta preocupa-se com os outros atletas antes da prova 0,246 ns

ICPC8 O atleta sabe como diminuir a preocupação antes de uma prova -0,239 ns

ICPC10O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a

prova quando a competição não está a correr como o esperado ns -0,177

ICPC11O atleta sente que antes duma prova importante pode ser

distraído ao ponto de afectar a sua performance 0,227 -0,181

ICPC12O atleta ensaia mentalmente os planos de competição antes da

prova ns -0,192

ICPC13O atleta consegue concentrar-se durante os períodos que

antecedem aprova -0,230 ns

ICPC14 Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custarns -0,311

ICPC17O atleta quando começa a sentir-se cansado tenta ainda com

mais força ns 0,225

ICPC25O atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço durante a

prova ns- 0,299

ICPC27O atleta se se sente muito excitado antes da prova sabe o que

fazer para se acalmar -0,339 0,164

ICPC28 O atleta sabe como recuperar a confi ança antes de uma prova -0,310 ns

ICPC29O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da

competição da prova ns -0,333

ICPC33O atleta durante a fase fi nal de uma competição importante

suporta bem as pressões (stresse) -0,244 0,214

ICPC34O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear

continuamente antes da prova afecta a sua performance ns -0,174

ICPC38 O atleta consegue concentrar-se sem que nada o distraia -0,257 ns

ICPC40Antes de provas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal

forma que à mínima coisa se irrita 0,383 -0,209

ICPC41No intervalo entre as provas o atleta revê o plano relativo à que

se segue ns -0,238

309 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 46motricidade3vol1111.indd 46 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

os atletas da nossa amostra, antes da prova, fi cam mais tensos e nervosos. Durante a prova pensam mais intensamente no quanto o esforço lhes irá custar.Como sabemos, o facto de sermos conhecedores

das varáveis que têm correlação com a ansiedade somática permite-nos contemplá-las como pri-oritárias para a preparação dos atletas para a com-petição de forma a potenciar as probabilidades de obterem, de forma consistente, uma melhor performance. Os resultados obtidos no nosso estudo assim

como os obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, no que diz respeito à correlação entre a ansiedade somática e as variáveis do ICPC, poderão ser observados no quadro 11.De entre as questões que apresentam relação

estatisticamente signifi cativa devemos salientar as questões “o atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição”, “o atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova quando a competição não está a correr como o esperado”, “durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar” e “o atleta gosta que o trei-nador lhe recorde a estratégia da competição da prova”, por serem as que apresentam associações mais signifi cativas (p≤0,0001). As associações apresentadas são todas positivas, o que signifi ca que há uma relação directa entre as variáveis.Comparando os resultados obtidos por Ferraz e

Vasconcelos-Raposo 8 com os nossos temos que as questões ICPC5 (O atleta fi ca tenso e ner-voso antes da competição), ICPC8 (O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a sua prestação seja a melhor se está preo-cupado antes da prova), ICPC11 (O atleta sente que antes duma prova importante pode ser dis-traído ao ponto de afectar a sua performance), ICPC33 (O atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta bem as pressões (stresse)) , ICPC38 (Quando uma prova se está a

aproximar o atleta consegue concentrar-se, sem que nada o distraia) e ICPC40 (Antes de pro-vas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma que à mínima coisa se irrita) são comuns aos dois estudos.Verifi camos que a correlação existente entre a

autoconfi ança, a ansiedade cognitiva e a ansie-dade somática é muito signifi cativa. Quando comparados os resultados por nós obti-

dos com os obtidos por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, constatamos que os resultados por nós obtidos são, para as três variáveis em questão, mais baixos (Quadro 12). Tal facto leva-nos a supor que os atletas da

nossa amostra não vêm a competição de uma forma tão assustadora como os atletas que ser-viram de amostra para os estudos supracitados, pois, segundo Sewell & Edmondson 25, o facto de haver uma correlação elevada entre as três variáveis poderá estar relacionados com a forma como o atleta encara a competição.Como base na associação das variáveis do IPCC

e do CSAIS – 2, para a nossa amostra, podemos concluir que há uma diminuição da autocon-fi ança se o atleta perde a confi ança sem saber como a recuperar e se fi ca tenso e nervoso antes da competição.Quando os atletas da nossa amostra fi cam ner-

vosos antes da competição, pensam durante a prova no quanto o esforço lhes irá custar, não suportam o stresse na fase fi nal da competição, não revêem o plano de prova no intervalo antes da competição e os níveis de ansiedade somática aumentam.Quando os atletas são possuidores de um plano

de prova, quando sabem quanto lhes vai custar o esforço e o treinador lhes recorda, antes da com-petição, a estratégia defi nida, há uma diminuição dos índices de ansiedade cognitiva dos atletas da nossa amostra.Quanto mais reduzidos forem os valores da

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

310 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 47motricidade3vol1111.indd 47 10-06-2007 20:45:1910-06-2007 20:45:19

Quadro 11: Coefi ciente de correlação existente entre a ansiedade cognitiva e as variáveis do ICPC/PC

Variável Descrição do comportamento Est 1 Presente

ICPC5 O atleta fi ca tenso e nervoso antes da competição 0,607 -0,296

ICPC6 O atleta gosta de fi car sozinho antes da competição 0,275 ns

ICPC7 O atleta preocupa-se com os outros competidores antes da prova 0,246 ns

ICPC8O atleta sabe como se preparar psicologicamente de modo a que a

sua prestação seja a melhor se está preocupado antes da prova -0,239 0,164

ICPC10O atleta sente necessário ser possuidor de um plano para a prova

Quando a competição não está a correr como o esperado ns -0,228

ICPC11O atleta sente que antes duma prova importante pode ser distraído

ao ponto de afectar a sua performance 0,227 -0,190

ICPC12O atleta ensaia mentalmente os planos de competição antes da

prova ns -0,198

ICPC13O atleta consegue concentrar-se nos períodos que antecedem a

prova -0,230 ns

ICPC14 Durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar ns -0,246

ICPC19 Quando a competição acaba o atleta sente que podia ter dado maisns -0,185

ICPC27O atleta se está muito excitado antes da prova sabe o que fazer para

recuperar -0,339 ns

ICPC28Quando perde a confi ança antes da prova, o atleta, sabe o que fazer

para a recuperar ns 0,173

ICPC29O atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia da

competição da prova ns -0,256

ICPC33O atleta durante a fase fi nal de uma competição importante suporta

bem as pressões (stresse) -0,244 0,190

ICPC34O atleta sente que o facto de os espectadores o chatear

continuamente antes da prova afecta a sua performance ns -0,167

ICPC35O atleta aceita um erro cometido pelo árbitro, mesmo que este o

afecte sem fazer comentários ns 0,169

ICPC38Quando uma prova se está a aproximar o atleta consegue

concentrar-se, sem que nada o distraia -0,257 0,194

ICPC40Antes de provas o atleta sente que os seus nervos fi cam de tal forma

que à mínima coisa se irrita 0,383 -0,207

Quadro 12: Comparação dos coefi cientes de correlação das três variáveis do CSAI-2 obtidas nos estudos

realizados por Ferraz e Vasconcelos-Raposo 8, Sewell & Edmondson 25 e no presente estudo

Estudo de Ferraz & Raposo 8Vealey in Sewell e

Edmondson 25 Estudo presente

Associações Coef.de corr Coef.de corr Coef.de corr

Aconf – AnsCog -0.51 -0,64 -0,163

Aconf - AnSom -0,49 -0,60 -0,174

AnsCog – AnSom -0,56 0,63 0,420

311 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 48motricidade3vol1111.indd 48 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

ansiedade cognitiva e da ansiedade somática mais elevado será o valor da autoconfi ança.Finalmente podemos afi rmar que os compor-

tamentos pré-competitivos que melhor se rela-cionaram com a autoconfi ança, na nossa amostra, foram: ICPC28 (o atleta sabe como recuperar a confi ança antes de uma prova); ICPC26 (o atleta usa a informação e a experiência adquirida para melhorar); ICPC5 (o atleta fi ca tenso e nervoso antes de uma competição importante); ICPC30 (o atleta dorme oito horas, no mínimo, antes de uma competição).Os que mais se associaram com a ansiedade

somática, na nossa amostra foram: ICPC5 (o atleta fi ca tenso e nervoso antes de uma competição importante); ICPC25 (o atleta preocupa-se com o quanto vai doer o esforço da prova); ICPC29 (o atleta gosta que o treinador lhe relembre a estratégia competitiva antes da prova); ICPC32 (o atleta está sempre a horas para as competições), ICPC17 (o atleta quando se sente cansado tenta com mais força) e ICPC41 (O atleta no intervalo das provas revê o plano relativo à prova que se segue); ICPC 30 (O atleta dorme oito horas (no mínimo) antes de cada competição importante).Os que mais se associaram com a ansiedade cog-

nitiva, no presente estudo, foram: ICPC5 (o atleta fi ca tenso e nervoso antes de uma competição importante); ICPC10 (o atleta sente necessidade de ter um plano de prova para situações inespera-das); ICPC38 (o atleta concentra-se numa prova sem que nada o distraia); ICPC29 (o atleta gosta que o treinador lhe recorde a estratégia competi-tiva antes da prova); ICPC14 (durante a prova o atleta pensa no quanto o esforço lhe irá custar) e ICPC35 (o atleta aceita sem comentários um erro do juiz ou do árbitro).O facto de algumas destas associações encon-

tradas contradizerem as teorias propostas para a compreensão da infl uência da ansiedade no

contexto desportivo leva-nos a concordar com Vasconcelos-Raposo 28,29,31 quando este alerta para as limitações do conceito de ansiedade no desporto. De acordo com este autor, o conceito de ansiedade actualmente utilizado no desporto é inadequado, e para melhor compreendermos as repostas fi siológicas presentes no desporto e as emoções que lhes acompanham é fundamen-tal abandonar o conceito e a forma como este tradicionalmente tem sido concebido e aplicado à competição.

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

312 {Investigação

motricidade3vol1111.indd 49motricidade3vol1111.indd 49 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

Correspôndência:

José Jacinto Vasconcelos RaposoUniversidade de Trás-os-montes e Alto Douro

– UTADDep. Educação e Psicologia, Apartado 1013,

5000Vila Real, [email protected]

Referências

1 Bleak JL, Frederick CM. (1998). Supersti-tion behavior in sport: levels of effectiveness and determinants of use in three collegiate sports. J Sport Behavior. 21(1):1-5.2 Bucker J. (1975). Superstition in sport. Int J

Sport Psychol. 6(3):148-152.3 Buhrmann HG, Brown B, Zaugg M. (1982).

Superstitious beliefs and behavior. A compari-son of male and female basketball players. J Sport Behavior. 4:175-185.4 Cohn PJ. (1990). Preperformance routines in

sport: Theoretical support and practical applica-tions. Sport Psychol. 4:301-312.5 Cox RH. (1990). Sport psychology: Concepts of

applications. (2 ed.). Dubuque: Wm C. Brown.6 Cruz J. (1996). Stresse, ansiedade e competências

psicológicas nos atletas de elite e de alta competição: um estudo da sua relação e impacto no rendimento e no sucesso desportivo. Braga: Centro de estudos em Educação e Psicologia. Universidade do Minho.7 Eklund RC, Gould D, Jackson SA. (1993).

Psychological foudations of Olympic wresting excellence: Reconciling individual differences and nomothetic characterization. J Appl Sport Psychol. 5:35-47.8 Ferraz PC, Vasconcelos-Raposo J. (in press).

Identifi cação dos comportamentos pré-competitivos em jovens nadadores. Vila Real: SDE- UTAD. 9 Gregory CJ. (1979) Taking advantage of a

“lucky” situation. Coaching Review. 2(7):32-39.10 Gregory J, Petrie B. (1975) Superstition of

Canadian intercollegiate athletes: An inter-sport comparison. Int Rev Sport Soc. 10:59-68.11 Hall MK, Kerr A, Mathews J. (1998) Pre-

competitive anxiety in sport: The contribution of achievement goals and perceptionism. J Sport & Exerc Psychol. 20(2):194.12 Hogg J. (1995) Mental Skills for swim coaches. A

313 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 50motricidade3vol1111.indd 50 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

Caracterização dos niveis de ansiedade em praticantes de atletismoJosé Vasconcelos-Raposo, João P. Lázaro, Carla Teixeira, Maria P. Mota e Hélder M. Fernandes

coaching text on the psychologycal aspects of competi-tive swimming. Canada: Sport Excel Publishing.13 Jones G, Hanton S, Swain AB. (1994) Inten-

sity and interpretation of anxiety symptoms in elite and non-elite sports performers. Person and Ind Differ. 17:657-663.14 Keating J, Hogg J. (1995) Precompetitive

preparation in professional hockey. J Sport Psychol. 18(4):270-286.15 Martens R. (1987) Coaches guide to sport psy-

chology. Champaign: Human Kinetics.16 Martens R, Vealey RS, Burton D. (Eds.)

(1990). Competitive anxiety in sport. Champaign: human Kinetics.17 Neil G, Anderson R, Sheppard W. (1981)

Superstitions among male and female athletes at various levels of involvement. J Sport Behavior. 4(3):137-148.18 Orlick T. (1980) In pursuit of excellence-how to

win sport and life through mental training. Champa-ing: Human Kinetics.19 Ravizza K, Osborne T. (1991) Nebraska’s 3-

R’s: One-play-at-a-time preperformance routine for collegiate football. Sport Psychol. 5:256-265.20 Ryska TA. (1993) Coping styles and response

disfontion on self-report inventories among high school athletes. J Psychol. 127(4):409-449.21 Ryska TA. (1998) Cognitive behavioral strat-

egies and frre-competitive anxiety among recre-ational atheletes. Psychol Rev. 48(4):697-705.22 Rushall B. (1979) The psychological prepara-

tion for serious competition in sport. London: Pelham Books. 23 Rushall B. (1983) On-site psychological

preparation for athletes. Mental training for coaches and athletes. Alberta: The coaching Association of Canada (p. 140 – 149).24 Schmid A, Peper E. (1986) Techniques for

training concentration. In: Williams J (Ed). Applied sport psychology: personal growth to peak performance.

314 { Investigação

Mayfi eld: Publishing Company Mountain View (p. 271 – 284).25 Sewell D, Edmondson A. (1996) Relation-

ships between fi eld position and pre-mach com-petitive state anxiety in soccer and fi eld hockey. Int J Sport Psychol. 27(2):159–172.26 Sherman CA. (1988) Superstitions and you:

The vulnerable athlete. Modern Athlete and Coach, Oct.,7-10.27 Teixeira C, Vasconcelos-Raposo J. (1997)

Ansiedade cognitiva, somática e autoconfi ança em nadadores. (Monografi a de Graduação). Vila Real: UTAD. 28 Vasconcelos-Raposo J. (1993) Os factores

psico-socio-culturais que infl uenciam e determinam a busca pela excelência pelos atletas de elite portugueses. Tese de doutoramento. Vila Real: UTAD-SDE.29 Vasconcelos-Raposo J. (1994a) Explorando os

limites do conceito de ansiedade no desporto. (Comu-nicação apresentada) Zamora: Congresso Inter-nacional de Treinadores de Natação.30 Vasconcelos-Raposo J. (1994b) Manual de tre-

ino mental: Natação. Vila Real: UTAD.31 Vasconcelos-Raposo J. (1995) Motivação

para a competição e treino – o caso das selecções portuguesas de natação. Rev Natação. 27:3-19.32 Viana F, Cruz J. (1996) Autoconfi ança e o

rendimento na competição desportiva. In: Cruz J (Ed.) Manual de psicologia do desporto. Braga: Luso-grafe (p. 265 – 286). 33 Williams J. (1986) Applied sport psychology:

Personal growth to peak performance. Palo Alto: Mayfi eld.34 Williams J. (1996) Psicologia aplicada al deporte.

Madrid: Biblioteca Nueva.

motricidade3vol1111.indd 51motricidade3vol1111.indd 51 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

Resumo

O objetivo deste estudo centra-se na analise dos indicadores cronológico, morfológico e funcional de escolares da cidade de Mossoró-RN, a partir dos estágios maturacionais. O estudo caracterizou-se como uma pesquisa descritiva, com tipologia com-parativa, a amostra limitou-se a N= 305 divididos em n = meninos 153 e n = meninas 152, de nove a 17 anos. Os protocolos utilizados foram IMC, soma-tória de dobras, salto horizontal e o teste de 30 m. A estatística utilizada foi à descritiva. Os resultados apontam para o desenvolvimento que estará sem-pre atrelado ao crescimento. A existência do com-portamento de modifi cação das variáveis estudadas, dentro de um caminho cronológico, mas com o corte maturacional, constitui-se em uma estratégia interessante de observação, permitindo, levar-se em conta a intervenção natural oriunda do crescimento e desenvolvimento dos indivíduos. Recomenda-se portanto que sejam levados em conta não somente o comportamento cronológico das variáveis interve-nientes no crescimento e desenvolvimento humano, mas o comportamento maturacional, como também a utilização de instrumentos de indicação hereditária e genética.

Palavras-chave: maturação, qualidades físicas básicas, crescimento e desenvolvimento.

Data de submissão: Outubro 2006Data de aceitação: Dezembro 2006

Abstract

Chronological, morphological and functional markers and maturational stages of students from the northeast of Brazil: a comparative study.The aim of this study was to analyse chronologi-

cal, morphologic and functional markers of stu-dents in the city of Mossoró-RN, in Brazil, taking into account the maturational stages. The study was classifi ed as a descriptive comparative research. The sample was composed of 305 children divided in two groups: n = masculine 153 and n = feminine 152, from nine to 17 years. The protocols used were Body Mass Index, Skinfolds addiction, horizontal jump and the 30 m test. We used a descriptive statistical analysis. The results pointed to a development that will always be linked to the growth. The existence of behavior of modifi cation of the studied variables, into a chrono-logical way, but with the maturational cut, consists in an interesting strategy of observation, and it permit to take in account the natural intervention of the growth and development of the individuals. So, it is recom-mended that not only the chronological behavior of the intervening variables in the growth and human development be taken in account, but the matura-cional behavior, as well as, the use of instruments of hereditary and genetic indication.

Key-words: maturation, basic physical qualities, growth and development.

Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativoVera Lúcia Bruch1, André Boscatto1, João Batista da Silva1, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto1, Humberto Jefferson de Medeiros1,2, Paulo Moreira da Silva Dantas1,3 e Maria Irany Knackfuss1,4

1 - Laboratório de Biociências da Motricidade Humana-UFRN-RN2 - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte-RN3 - UNIGRANRIO-RJ4 - Universidade Federal do Rio Grande do Norte-RN

315{ Investigação

Bruch, V.; André Boscatto, A.; Silva, J. B.; Nóbrega, A.; Neto, M.; Medeiros, H. J.; Dantas, P. M.; Knackfuss, M. I.; Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativo. Motricidade 3(1): 315-322

motricidade3vol1111.indd 52motricidade3vol1111.indd 52 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

Introdução

A escola em nosso país possui divisões bastante caracterizadas. O ensino público, seja municipal, estadual ou federal, é distinto do privado e estas diferenças fi cam claras em diversos setores: econô-mico, social, estrutural e organizacional. Tais dife-renças infl uenciam sob maneira não só na quali-dade do ensino, como no resultado oriundo desta escola 1. Em consonância com tais afi rmações, está a reali-

dade das populações que se servem destas institui-ções, caracterizadas por diferentes camadas sociais, e que não permitem aos estudos a generalização das observações.Medeiros1 aponta que os indicadores ligados a

saúde, vem despertando interesse de pesquisadores nas diferentes áreas de atuação, e os escolares tor-nam-se a população mais visada para desenvolver estes estudos.Este tipo de estudo se faz necessário, principal-

mente na comunidade escolar, onde os instru-mentos utilizados, os testes de qualidade física e a composição corporal, são alguns dos indicadores para avaliar o estado de saúde e o desenvolvimento físico destes escolares, clientela onde frequente-mente tem-se observado indivíduos com sobre-peso ou obesidade. Estes dois fatores são preocupantes porque estão

associados a doenças como hipertensão, diabetes, doenças coronarianas, acidente vascular cerebral, osteoporose e altos níveis de colesterol sangüíneo 2,3.Pena, Bacallao4 salientam que a redução na prá-

tica de exercícios físicos, decorrente da falta de oportunidade de praticá-los de modo regular e da ausência de informações no tocante aos benefícios associados e a modifi cação qualitativa na dieta das populações urbanas, com aumento no consumo de gorduras e redução no consumo de fi bras, o que contribui para o aumento da prevalência de obesidade na população de baixa renda.

Observando as tendências epidemiológicas, fi ca evidente a necessidade de intervenção nesse rele-vante agravo à saúde, nos planos, coletivo e indi-vidual, abordando-se os principais fatores que modulam seu aparecimento, especialmente a ati-vidade física e os hábitos alimentares 5.O contexto aqui exposto constitui-se como

indicativo a realização do estudo proposto, indo ao encontro da necessidade da investigação quanto as variáveis relacionadas tanto a composição corporal como as capacidades funcionais do jovem escolar, constituindo-se portando o objetivo deste estudo, a analise dos indicadores cronológico, morfológico e funcional de escolares da cidade de Mossoró-RN, a partir dos estágios maturacionais estabele-cidos por Medeiros1 para escolares da região do estado do Rio Grande do Norte, que utilizou estágios maturacionais de Tanner.

Metodologia

AmostraO estudo se caracterizou como uma pesquisa

descritiva, com tipologia comparativa, sendo os sujeitos distribuídos em grupos de acordo com as tabelas normativas do estágio da maturidade proposto por Medeiros1, para escolares do Rio grande do norte, estabelecendo como critério de analise, os pelos pubianos.A amostra, de caráter não probabilístico inten-

cional, limitou-se a 305 sujeitos (Meninos =153 e meninas =152), matriculados nas escolas, da rede estadual, localizadas na zona urbana do município de Mossoró, do estado do Rio Grande do Norte, Brasil. Foram incluídos neste estudo, escolares de 5a a 8a serie, numa faixa etária de 9 a 17 anos, participantes das aulas de Educação Física, que de forma voluntária, se disponibilizaram em parti-cipar dos procedimentos avaliativos; autorizados por seus responsáveis e que não apresentavam

316 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 53motricidade3vol1111.indd 53 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

algum tipo de enfermidade não foram inseridos neste estudo.Os procedimentos usados neste estudo respei-

tam as normas internacionais de experimentação com humanos (Declaração de Helsínque, 1975) e do Comitê de Ética do Conselho nacional de Saúde do Brasil 196/96 . (colocar estes parágrafo na amostra).

ProcedimentosOs protocolos utilizados foram de Quetelet para

determinação do IMC e Lohman para a somató-ria de dobras tricipital e subscapular referida em Fernandes Filho6. Na avaliação do desempenho motor foi utili-

zado o salto horizontal para medir a força dos membros inferiores7, e o teste de 30 m para men-surar a velocidade8.Para os cortes maturacionais por estágios uti-

lizou-se o estudo de Medeiros1, que utilizou o Auto Tanner, validado por Matsudo9, dividindo os grupos em (1) pré-púbere, (2) púberes e (3) pós-púberes, esta divisão em três classes visou diminuir o erro interno.A estatística utilizada foi à descritiva observando

os valores de tendência central e seus derivados, associada a um teste de normalidade de Komo-gorov-Smirnov e Shapiro-Wilk. Para as compa-rações utilizou-se a Anova one-way e como post-hoc o teste de scheffe para grupos de quantitativos diferentes. Objetivando-se a medição dos testes, o presente trabalho se pauta em consonância às considerações básicas do tratamento estatístico, a fi m de manter-se a cientifi cidade da pesquisa, em que se considere o nível de signifi cância de p < 0,05, isto é, 95% de probabilidade para as afi rmativas e/ou negativas, denotadas durante as investigações.

Resultados

As Tabelas 1 e 2 demonstram-se os resultados de idade, estatura e massa, do masculino e feminino respectivamente.Nas Tabelas 3 e 4, ao observar-se conjuntamente

o IMC e a Soma das dobras de tríceps e subsca-pular, testes de Salto horizontal e corrida de 30 metros no masculino e feminino.

Discussão

As Tabelas 1 e 2 demonstram o comportamento esperado de aumento da idade tanto no mascu-lino quanto para o feminino, independente do descritor de tendência central. Chama-se a aten-ção que houve sempre tendência a idades supe-riores no masculino, indicando maior aceleração das meninas quanto ao processo maturacional, o que corrobora com a literatura9,1,10 confi rmando que a divisão nos três estágios obedeceu, Medei-ros1, e que os resultados médios de entrada, saída e permanência nos estágios púberes, coadunam-se com o referido autor.A estatura e massa no masculino, obedece ao

esperado quanto aceleração mais acentuado da saída da puberdade para pós-pubere, o que pode ser um indicado de maior manifestação das características secundárias masculinas oriundas de um grande aporte hormonal masculino11, e o feminino indica um comportamento proporcio-nalmente menor mais acentuado pelo aumento do peso.Nas Tabelas 3 e 4, ao observar-se conjuntamente

o IMC e a Soma das dobras de tríceps e subs-capular no masculino e feminino, fi ca evidente nos grupos observados que a maior intervenção das características secundárias masculinas e femi-ninas manifestam-se especialmente no aumenta da gordura dos compartimentos demonstrada nas espessura das dobras no feminino, já que, o IMC

317 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 54motricidade3vol1111.indd 54 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

Tabela 1: Masculino

estagio idade estatura massa

1.00 Mean 9.9545 1.4086 38.8636

N 22 22 22

Std. Devitation 0.21320 0.05401 9.77507

Median * 10.0000 1.4000 34.5000

2.00 Mean 11.9655 1.4902 41.7931

N 87 87 87

Std. Devitation 0.70626 0.103967 11.18987

Median *12.0000 1.4700 *39.0000

3.00 Mean 14.9545 1.6251 54.0682

N 44 44 44

Sta. Devitation 1.01052 0.09587 12.18157

Median *15.0000 1.6350 52.5000

Total Mean 12.5359 1.5173 44.9020

N 153 153 153

Std. Devitation 1.84970 0.12089 12.69468

Median 12.0000 1.5000 44.0000

*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.Existência de diferenças para p<0,01: Idade entre todos os estágios; estatura entre todos os estágios e massa (1/3 e 2/3).

Tabela 2: Feminino

estagio idade estatura massa

1.00 Mean 10.0000 1.3972 39.1111

N 18 18 18

Std. Devitation 0.0000 0.06182 9.42393

Median * 10 0000 1.3950 38.5000

2.00 Mean 12.4286 1.4972 42.8295

N 105 105 105

Std. Devitation 1.47320 0.07878 9.56755

Median *12.0000 *1.4800 *41.000

3.00 Mean 13.3793 1.5483 49.4138

N 29 29 29

Sta. Devitation 0.49380 0.05305 9.46994

Median *13.000 1.5500 *46.000

Total Mean 12.3224 1.4951 443.6454

N 152 152 152

Std. Devitation 1.55091 0.08316 9.94878

Median 12.0000 1.4900 42.0000

*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.Existência de diferenças para p<0,01: Idade entre todos os estágios; estatura entre todos os estágios e massa (1/3 e 2/3).

318 { Investigação

Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativoVera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss

motricidade3vol1111.indd 55motricidade3vol1111.indd 55 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

guarda muito mais a relação de volume em qui-logramas por metro quadrado, do que indicativo evidenciando um aumento ponderal signifi ca-tivo. Tais afi rmativas corroboram com a literatura quanto ao aumento ponderal e discordam com a mesma quanto à utilização do IMC de maneira isolada como indicativo de maior obesidade12. Fica assim marcada para o grupo em foco que existe no feminino uma tendência acentuada do aumento ponderal e estabilização do mesmo para o masculino.Ainda nas Tabelas 3 e 4, quanto a força e velo-

cidade, avaliadas respectivamente pelos testes de Salto horizontal e corridade30 metros.Observa-se maior evolução da qualidade força no mascu-

lino, o que pode ser a confi rmação da manifesta-ção hormonal masculina já assinalada em outras características secundárias do grupo, reforçada por um aumento menos marcado do feminino13, já a velocidade não acentua esta diferença o que pode ser um indicativo de maior intervenção coorde-nativa, já que, o deslocamento em velocidade requer maiores níveis de atributos Motores14.Quanto à existência ou não de diferenças sig-

nifi cativas, nas meninas somente nas caracterís-ticas cronológicas e morfológicas observa-se tais diferenças estatísticas, o que poderia ser mais um indicativo de aceleração maturacional antes assi-nalada15, em tempo é bom que se diga que a não existência de uma diferença signifi cativa não é

Tabela 3: Masculino

estagio IMC somaTRSE saltoH Velocidade

1.00 Mean 19.4273 20.4545 1.4536 6.1614

N 22 22 22 22Std.

Devitation4.17763 8.30219 0.23579 0.61803

Median * 17.600 20.0000 1.4000 6.1200

2.00 Mean 18.5276 16.7011 1.5544 5.9495

N 87 87 87 87Std.

Devitation3.37269 6.96188 0.22401 0.66105

Median *17.900 *16.000 1.5600 *6.140

3.00 Mean 14.9545 1.6251 54.0682

N 44 44 44 44Sta.

Devitation3.22283 6.01302 0.25180 1.35424

Median *19.850 *16.0000 1.7050 *5.4600

Total Mean 19.850 12.5359 1.5173 44.9020

N 153 153 153 153Std.

Devitation3.52042 6.98685 0.25220 0.90776

Median 18.3000 16.0000 1.5900 6.0600

*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.

Existência de diferenças para p<0,01: IMC (2/3); Salto Horizontal(1/3 e 2/3).

319 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 56motricidade3vol1111.indd 56 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

indicativa de estagnação de comportamento de uma variável. No masculino tanto nas variáveis cronológicas quanto morfológicas e funcionais foi observada a existência de diferenças, o que em linhas gerais e corroborando com a afi rma-tiva anterior, demonstra maior cinesia quanto ao efeito hormonal do crescimento masculino.Os resultados parecem apontar que o desenvol-

vimento estará sempre atrelado ao crescimento, pois não existem compartimentos estanques, ao se referenciar o ser humano. Por essa razão, a individualidade biológica é o marco destas obser-vações e quanto mais instrumentos poderem ser utilizados neste caminho menos serão as chances de equívocos.O estudo ora apresentado responde aos ques-

tionamentos inseridos em seus objetivos, ou seja,

observa-se um comportamento de aceleração no masculino e frenagem no feminino, quanto as variáveis indicativas de performance na execução de tarefas motoras, ditadas por maior força, esta-tura, e conseqüente maior aceleração feminina e frenagem masculina, quanto a características de aumento da massa gorda, diferenças estas em grande parte induzidas pelos hormônios sexuais.A existência do comportamento de modifi ca-

ção das variáveis estudadas, dentro de um cami-nho cronológico, mas com o corte maturacio-nal, constitui-se em uma estratégia interessante de observação, permitindo, levar-se em conta a intervenção natural oriunda do crescimento e desenvolvimento dos indivíduos.Recomenda-se portanto que sejam levados em

conta não somente o comportamento cronoló-

Tabela 4: Feminino

estagio IMC somaTRSE saltoH Velocidade

1.00 Mean 19.8889 28.6667 1.2983 7.0856

N 18 18 18 18Std.

Devitation3.75184 15.63923 0.15120 0.75641

Median 19.6500 *24.000 1.2750 7.1050

2.00 Mean 18.5276 16.7011 1.5544 5.9495

N 105 105 105 104Std.

Devitation3.10161 11.17406 0.22706 0.85899

Median *18.800 *22.000 *1.3100 *6.5700

3.00 Mean 20.5931 22.5172 1.4490 6.5190

N 29 29 29 29Sta.

Devitation3.93173 11.47239 0.25981 0.70988

Median *19.300 *19.000 1.4700 6.5200

Total Mean 19.3605 24.8750 1.3628 6.7723

N 152 152 152 151Std.

Devitation3.39575 11.86252 0.22942 0.83063

Median 19.0000 21.0000 1.3350 7.0000

*As variáveis dentro das classes após o teste de normalidades foram consideradas não paramétricas.

320 { Investigação

Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativoVera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss

motricidade3vol1111.indd 57motricidade3vol1111.indd 57 10-06-2007 20:45:2010-06-2007 20:45:20

gico das variáveis intervenientes no crescimento e desenvolvimento humano, mas o comporta-mento maturacional, como também a utiliza-ção de instrumentos de indicação hereditária e genética.

Correspondência

Vera Lúcia BruchRua Marechal Serejo 601 b.07/202Jacarepaguá/RJ – Brasil. CEP: [email protected]

Referências

1. Medeiros HJ, Santos DB, Rego SAJS, Mila ASB; Farias AS; Knackfuss MI; Fernandes Filho J. (2005) Características dermatoglífi cas dos esco-lares nos diferentes estágios maturacionais no Estado do Rio Grande do Norte. . In: Novena Jornada de Educacion Física del Mercosur 2005. 55:89-93.2. Benetti M; Rebelo FPV; Carvalho T. (2000)

Regressão da aterosclerose coronariana. Rev Bras Ativ Fís Saúde. 5(3):58-75.3. Blake GJ; Ridker PM. (2002) Infl ammatory

bio-markers and cardiovascular risk prediction. J Intern Med. 252(4):283-294.4. Peña M, Bacallao J. (2000) La obesidade en la

pobreza: um problema emergente em lãs americas. In: la obesidade en la pobreza: un nuevo reto para la salud pública Organización Panamericana de la Salud –OPS. 576:3-12.5. Vasconcelos VL, Gisela AP. (2003) Overweight

and obsity prevalences in male adolescentes in northcast Brazil, 1980 – 2000. Cad Saúde Pública. 19(5):1445–51.6. Fernandes Filho J. (2003) A prática da avalia-

ção física: Testes, medidas e avaliação física em escola-res, atletas e academias de ginástica. (2a ed). Rio de Janeiro: Carpe. 7. Matsudo VKR. (1987) Testes em Ciências do

Esporte. (4º ed). São Caetano do Sul: Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul.8. Matsudo VCR. (1982) Testes em ciências do

esporte. São Paulo: Centro de Estudos do Labora-tório de Aptidão Física de São Caetano do Sul.9. Matsudo SMM; Matsudo VKR. (1991) Vali-

dade da auto-avaliação na determinação da matu-ração sexual. Rev Bras Ciênc Mov. 5(2):18-35. 10. Alonso LV; SILVA Dantas PM. et al. (2003)

Perfi l somatotípico e dermatoglífi co de tipologia de fi bra muscular de atletas mirins da equipe de futsal do clube de regatas Vasco da Gama - RJ.

321 { Investigação

motricidade3vol1111.indd 58motricidade3vol1111.indd 58 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

Rev Bras Ciênc Mov. 11(4):121-123.11. Tourinho Filho H; Tourinho LSPR. (1998)

Crianças, adolescentes e atividade física: aspectos maturacionais e funcionais. Rev paul Educ Fís. 12(1):71-84.12. Giugliano R; Melo ALP. (2004) Diagnosis of

overweight and obesity in schoolchildren: utili-zation of the body mass index international stan-dard. J. Pediatr. 80(2):129-34.13. Thomas JR, Nelson JK. (2002) Métodos de

pesquisa em atividade física. Porto Alegre: Artmed. 14. Klein CMO; Fernandes Filho J. (2003) Rela-

ção entre a dermatoglifi a, as qualidades físicas e o nível maturacional de escolares adolescentes de ambos os sexos. Fit & Perform J. 2(6):321-329. 15. Tsukamoto MHC; Nunomura, M. (2003)

Aspectos maturacionais em atletas de ginástica olímpica do sexo feminino. Motriz. 9(2):119-26.

322 { Investigação

Indicadores cronológico, morfológico e funcional e os estágios da maturidade em escolares do nordeste do Brasil: um estudo comparativoVera Lúcia Bruch, André Boscatto, João Batista da Silva, Asdrúbal Nóbrega, Montenegro Neto, Humberto Jefferson de Medeiros, Paulo Moreira da Silva Dantas e Maria Irany Knackfuss

motricidade3vol1111.indd 59motricidade3vol1111.indd 59 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

Resumo

Este artigo apresenta um estudo etnográfi co realizado no Ginásio de treinamento de Ginástica Artística Masculina do Centro de Alto Rendi-mento de Sant Cugat del Vallès (Barcelona - Espanha). O objetivo principal desta pesquisa consistiu em desvelar as características principais da cultura de treinamento de uma sala de alto rendimento a partir de uma incursão de campo (de um ano e meio de duração) orientada pelos fundamentos teóricos da antropologia simbólica e dentro do marco metodológico da etnografi a. Neste artigo destacamos o contexto institucional, alguns condicionantes temporais da preparação dos ginastas, aspectos da estrutura social do grupo, além de indicadores do universo simbólico que caracteriza a atividade no interior da sala. Entre as observações mais relevantes podemos destacar o Ginásio como uma microcultura caracterizada por várias cerimônias rituais, onde os técnicos tem o poder da palavra e os ginastas se limitam a escutar e intervir quando são solicitados (obe-decer). Desta forma o funcionamento da sala se fundamenta no respeito à hierarquia de mandos e no cumprimento da programação das atividades e das regras.

Palavras-chave: Ginástica Artística Masculina (GAM), alto rendimento, cultura de treinamento, etnografi a.

Data de submissão: Janeiro 2006Data de aceitação: Dezembro 2006

Abstract

Top level men artistic gymnastics (MAG): an observation of the training culture from the inside perspective.This paper presents an ethnographic study that

took place at a high level training gym of Men´s Artistic Gymnastics, at the Olympic Training Center of Sant Cugat del Vallés (Barcelona – Spain). The main goal of this study was to reveal the training culture characteristics of a high level training gym through a fi eld observation (lasting one and a half year) by using the theoretical fun-daments of the symbolic anthropology and the ethnographic methodology. We also highlight in this paper the institution context, some of the timing conditioning preparation of the gymnas-tics, some aspects of the social structure of the group and the universe symbolic indicators that characterize the activities inside the gym. Among the most relevant observation we detach the gym as a micro culture characterized by many ritual ceremonies, where the coaches have the power of the speech and the gymnasts are limited only to hear and execute whenever necessary. In this way the functioning of the gym follows a hierar-chal respect of the orders and the responses of the activities and rules.

Keywords: Men’s Artistic Gymnastics (MAG), high level, training culture, ethnography.

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho BortoletoFaculdade de Educação Física (Universidade Estadual de Campinas – Brasil)Grupo de Pesquisa em Ginástica Geral (FEF – UNICAMP, CNPQ)Grupo de Estudos Praxiológicos – GEP (Instituto Nacional de Educação Física da Catalunha – INEFC - Universidade de Lleida - Espanha)

Bortoleto, M. A.; A ginástica artística masculi-na (GAM): observando a cultura de treinamento desde dentro. Motricidade 3(1): 323-336

323 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 60motricidade3vol1111.indd 60 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

Introdução

Como diriam alguns antropólogos, todo texto (lógica interna) possui um contexto (lógica externa) que lhe atribui sentido e signifi cação1. Neste sentido a Ginástica Artística Masculina (GAM), enquanto prática esportiva de alto rendi-mento, se desenvolve em dois contextos distintos: a competição formal e a preparação para a com-petição (treinamento). Em função de suas carac-terísticas e necessidades particulares esta modali-dade encontrou nos Ginásios o espaço idôneo para desenvolver o processo de treinamento que prepara os ginastas para a competição. De este modo, o Ginásio constitui o “contexto de trein-amento” representando assim um lugar essen-cial para a evolução da GAM na sua vertente de alto nível2 que alberga grande parte dos saberes necessários para poder compreender este esporte desde uma perspectiva contextualizada, segundo descrevem Escalera in Medina e Sánchez3. Dife-rentemente do contexto competitivo, o de trein-amento consiste uma realidade quase desconhe-cida, já que, além dos ginastas e técnicos, poucas são as pessoas que têm a oportunidade de con-hecer seu funcionamento desde dentro.Considerando o Ginásio como o contexto

onde o ginasta se prepara para a competição, é imprescindível conhecer seu funcionamento em profundidade. Para conhecer esta realidade empreendemos uma descrição etnográfi ca das características mais representativas do funciona-mento e da cultura de treinamento (ou de prepa-ração) dos ginastas, no caso particular do Ginásio de GAM do Centro de Alto Rendimento (CAR) de Sant Cugat del Vallès, na província de Barcelona (Catalunha, Espanha). Uma sala onde treinam diariamente vários ginastas da seleção espanhola de alto rendimento, e que por tanto,

possui alta representatividade tanto no âmbito nacional como no internacional.Os resultados desta pesquisa elucidam parte

da complexa cultura de treinamento da GAM, destacando alguns dos aspectos que infl uenciam na sua dinâmica. Além de representar um impor-tante “feedback” para os próprios protagonistas também signifi cam um primeiro passo para a realização de futuros estudos comparativos sobre distintos Ginásios, em diferentes localidades ou países, e seus modos particulares de preparar os ginastas.Esta pesquisa justifi ca-se ademais pela escassez

de antecedentes antropológicos no campo do esporte, especialmente sobre a GAM. A maior parte dos estudos realizados até o momento foram enfocados em modalidades massivas, como o futebol por exemplo, descrevendo principal-mente problemas de grande impacto social como a violência e as questões de gênero.Um marco importante para o desenvolvim-

ento da Antropologia do Esporte foi a criação, em 1974, da “Associação Antropológica para o estudo do esporte e o jogo”4, precedida por um signifi cativo incremento dos estudos sobre a vio-lência no esporte, sobre a participação da mulher no esporte e os problemas de gênero, sobre os esportes de aventura, sobre os aspectos ecológicos do esporte, além da masculinidade, a política e o espetáculo esportivo, a etnicidade e a identidade gerada pelo esporte.O futebol, maior expressão do fenômeno

esportivo moderno, é a modalidade que mais atrai a atenção dos antropólogos. Por outro lado, o Boxe e o Rugby também vem sendo pesquisados a partir do enfoque sociológico-antropológico. Nesta área devemos fazer uma menção especial às

324 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 61motricidade3vol1111.indd 61 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

obras de Joseph L. Arbena (org.) de 1988, titulada “Sport and Society in Latin America”, de Jeremy MacClancy (ed.) de 1996, titulada “Sport, iden-tity and ethnicity” e a recente publicação espan-hola de 2003, titulada “Culturas en juego: ensayo de antropología del deporte en España”3. Além destas, queremos citar o “dossier” publicado em 1994 pelo Instituto Catalão de Antropologia sob a coordenação de Manuel Delgado, no qual apa-recem textos muito interessantes de Vincenzo Padiglione, Norbet Elias e Daniel Denis; assim como a edição monográfi ca da revista francesa “Ethnologie Française” publicada em 1985 (n.º 4), dedicada exclusivamente ao desporto.Depois de realizar uma rigorosa revisão bib-

liográfi ca não encontramos antecedentes em antropologia do esporte sobre a GAM nem sobre os Ginásios de treinamento nesta modalidade. Apenas logramos acessar alguns estudos rele-vantes sobre esta temática: o primeiro sobre um Ginásio de boxe nos EUA22, outros dois sobre a cultura da Ginástica Rítmica na França30,32, um sobre a Ginástica Artística Feminina no Brasil34, e por último um sobre a cultura do Vôlei de praia na Espanha33.

Metodologia

Do ponto de vista da Antropologia Simbólica o Ginásio pode ser considerado uma microcultura com características peculiares, as quais podem ser descritas a partir do signifi cado que seus próprios protagonistas lhes atribuem5. Para a descrição da cultura de treinamento optamos por um estudo etnográfi co, método que segundo Rodríguez et al.6, permite conhecer “el modo de vida de una unidad social concreta”, neste caso do Ginásio e de seus usuários. Conseqüentemente, realiza-mos uma viajem até o ambiente prático, através de uma pesquisa de campo7. Devido a escassez de antecedentes metodológicos tivemos que

embasar-nos nos fundamentos metodológicos da etnografi a aplicada ao contexto escolar, como por exemplo os oferecidos por Ogbu8, Wolcott9, Wil-cox10, Woods11 e Woods12, e também em alguns modelos utilizados para o estudo de realidades socioculturais mais complexas13.A presença no Ginásio se prolongou durante

um ano e meio (2003-2004) aproximadamente, e permitiu utilizar vários procedimentos de coleta de dados, de acordo com as indicações de Rodrí-guez et al.6. Atendendo as orientações de André14, Mata15 e Triviños16 os dados necessários para a descrição foram obtidos consultando diferentes fontes:- Documentos escritos: Projeto de tecnifi ca-

ção da Federação Catalana de Ginástica (FCG); Programa anual de treinamento; Normativas de condutas para os residentes e usuários do CAR de Sant Cugat; Texto introdutório sobre o CAR; etc.;- Testemunhos orais dos ginastas, técnicos e

outros protagonistas: oito entrevistas gravadas em cassete;- Observação participante das atividades cotidi-

anas do Ginásio: 70 sessões, com um total aproxi-mado de 300 horas de observação registradas num diário de campo;Imagens: aproximadamente 100 fotografi as real-

izadas periodicamente durante as distintas fases da pesquisa, acompanhando a evolução dos períodos de treinamento.Tendo em conta a complexidade implícita em

todo estudo etnográfi co, os limites temporais e os objetivos da tese de doutoramento que origi-nou este artigo e fundamentalmente os limites espaciais desta publicação, decidimos delimitar a descrição da cultura de treinamento concen-trando nossa atenção nas seguintes dimensões e indicadores:a) o Ginásio como instituição;

325 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 62motricidade3vol1111.indd 62 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

b) os imperativos temporais da preparação ginástica;c) o mundo social do Ginásio (os ginastas);d) o mundo simbólico do Ginásio (o Ginásio

como um templo amorosiano).A análise dos dados foi realizada, segundo o

critério que defi ne Geertz17, ou seja, como um “ato de estranhar o comum e aceitar o estranho”. Considerando que “el análisis de datos es visto por algunos como una de las tareas de mayor difi -cultad en el proceso de investigación cualitativo” buscamos ser altamente rigorosos nesta fase da pesquisa6 respaldando-nos em diferentes procedi-mentos de validação e certifi cação (triangulação de especialistas, revisão dos próprios sujeitos implicados, etc.). O processo analítico-interpreta-tivo utilizado foi dividido nas seguintes etapas: a) leitura inicial; b) transcrição das notas de campo e entrevistas; c) redução do texto e categorização dos dados; e d) redação do relatório fi nal.Como acontece normalmente nos estudos desta

natureza, a análise não foi um procedimento pos-terior à coleta de dados, muito menos estático. Durante todo o desenvolvimento da pesquisa de campo fomos confeccionando o texto descri-tivo, somando ao seu conteúdo às informações que conseguimos e aperfeiçoando diariamente este texto a partir de uma compreensão mais aprofundada dos sucessos. Depois de um ano de observações, e motivados pelas férias dos espor-tistas, redigimos uma versão preliminar do texto descritivo, a qual foi submetida a uma revisão e avaliação dos orientadores da tese e também de um consultor externo especialista em GAM. Posteriormente, retomamos as observações de campo para clarifi car os aspectos ainda confusos da pesquisa e completar alguns temas que ainda estavam escassos de dados. Esta última visita ao cenário nos permitiu elaborar a versão fi nal do texto descritivo com maior riqueza de detalhes.

Resultados

O Ginásio como instituiçãoA atividade no interior do Ginásio atende às dir-

etrizes que seu contexto institucional, ou seja, seu funcionamento está rigidamente regulado pelas estruturas sociais e suas respectivas leis, políticas, valores morais e éticos (imagem 1).

Imagem 1. Ginastas descansando.

Do ponto de vista legal, em 1968 o governo espanhol editou o “Plan ideal de apoyo al desar-rollo de la actividad deportiva”, segundo resen-ham García Ferrando et al4. Em 1978, o Con-selho Superior do Esporte (CSD) criou o plano de tecnifi cação para o esporte de alto nível, medida que deu origem à construção dos Cen-tros de Alto Rendimento (CAR), além de outros centros menores destinados ao esporte de com-petição. No entanto, foi com o artigo de lei “ok-10/1900” que o governo deste país defi niu as competências e responsabilidades dos Centros de Alto Rendimento e a possibilidade do apoio dos governos estaduais (autonômicos) a estas insti-tuições, impulsionando as atividades neste setor. Na atualidade apenas dois Centros de Alto Ren-dimento, o de Madrid e o de Sant Cugat, ofe-recem treinamento em GAM. Particularmente

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho Bortoleto

326 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 63motricidade3vol1111.indd 63 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

o CAR de Sant Cugat, onde desenvolvemos nosso estudo (imagem 2), iniciou suas atividades em 1987, no entanto sua inauguração ofi cial somente foi realizada em novembro de 1990. Defi nido como uma empresa que presta serviços na área do esporte de alto nível o CAR de Sant Cugat possui uma organização e administração própria, além de autonomia jurídica. Este centro está vinculado aos organismos públicos por meio do Conselho Executivo da Catalunha e da Sec-retaria de Educação deste estado. Esta instituição se mantém com o dinheiro de patrocínios, ajudas econômicas de fundações, da propaganda de algu-mas empresas além da ajuda da Secretaria Geral do Esporte da Catalunha (SGE) e do Conselho Superior do Esporte (CSD). A pesar de possuir um estatuto legal próprio segue as normativas políticas do Conselho Catalão do Esporte, órgão de maior autoridade esportiva no estado, estabel-ecendo como objetivo principal a formação de esportistas de alto nível, pondo ao ser serviço os melhores meios materiais, técnicos, pedagógicos, científi cos e humanos necessários e disponíveis, além de velar sempre por sua formação integral e por transmitir à sociedade os conhecimentos gerados por estas atividades35.

Imagem 2. Ginasta colocando magnésio nas mãos.

O CAR de Sant Cugat está dividido em quatro unidades básicas: unidade técnica: instalações e coordenação de técnicos; unidade de direção

e administração; unidade acadêmica: escola e tutoria; unidade de pesquisa: controle médico, acompanhamento e processos de treinamento, psicologia, biomecânica, nutrição-fi siologia, fi sioterapia e desenvolvimento de projetos de pesquisa. Suas instalações o convertem no maior centro de treinamento esportivo da Catalunha, especializado em esportes individuais, que acolhe aproximadamente 500 esportistas, sendo 300 em regime de internato na sua própria residência. Seu funcionamento está a cargo de uma equipe de 150 profi ssionais. Este centro está estrategi-camente situado fora de Barcelona e ao mesmo tempo perto deste grande centro urbano (capital do estado) facilitando assim o acesso ao trans-porte (aeroporto, estações de trem, rodovias) e aos grandes centros sanitários (hospitais). O CAR concentra um grande número de

pessoas com um objeto comum, pessoas que compartilham diferentes faces da vida, como a acadêmica (estudos), residência e atividades de lazer-recreação. Esta mesma instituição trata de regular seu funcionamento e o comportamento de seus usuários a partir de uma normativa de conduta (regras) própria. Por conseguinte, com o decorrer do tempo este centro passou a gerar um grande sentimento de pertinência e de amizade entre seus usuários, uma identidade comum, um sentimento de associacionismo ou de “coletivi-dade social”, circunstâncias que nos permitem, do ponto de vista antropológico, tratar esta insti-tuição como uma “comunidade”.Sobre a temporalidade do treinamentoA preparação dos ginastas obedece uma tempo-

ralidade específi ca. Nos referimos, em primeiro lugar, a umas condições de tempo que podem ser expressas da seguinte maneira: uma jornada diária de duas sessões, totalizando 5-6 horas de treinamento, seis dias por semana e aproxi-madamente 300 dias ao ano. Trata-se de uma dedicação altamente absorvente interrompida

327 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 64motricidade3vol1111.indd 64 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

por dois períodos de férias (descanso) de 15 dias aproximadamente durante todo o ano, que apenas permitem realizar outras atividades, como por exemplo, estudar, estar com a família, ver os amigos ou passear. Com uma perspectiva mais ampla, podemos esboçar o “ciclo vital” (termo inspirado nos escritos de Husserl) do ginasta, um marco temporal que ajuda a entender a carreira esportiva típica de este esporte. Este processo de preparação dos ginastas normalmente começa no CAR ao redor dos 11-12 anos, no entanto a prática da GAM se inicia anteriormente nos clubes catalães por volta dos 7-8 anos. Um itin-erário esportivo que pode estender-se ao longo de aproximadamente 13 anos, fi nalizando aos 25 anos na media. Além disso, vimos que para lograr resultados expressivos no âmbito de alto rendi-mento esportivo os ginastas podem esperar até 10 anos. Em sumo, o treinamento é um longo período no qual se intercalam muitos momen-tos difíceis, como lesões e/ou derrotas, e no qual somente uns poucos chegaram ao fi nal com o êxito esperado. Uma rigorosa disciplina marcada pelo cansaço, mas que todos insistem em dizer que são conscientes das difi culdades e são felizes a pesar de tudo isso.Ao mesmo tempo, ao presenciar os treinos

entendemos que a atividade realizada na sala acontece de forma lenta e pausada, formando uma rotina cotidiana de repetições, milhares de repetições, sem a menor pressa (ao menos apar-entemente), porém que devem cumprir os obje-tivos (programa) de cada uma das sessões. Este ritmo “lento” do treino tem um signifi cado claro: todos sabem que estão imersos em um processo longo, de vários anos e qualquer falho pode atra-palhar os planos a longo prazo, por isso é impor-tante treinar com calma, com muita paciência e dar o tempo necessário para que o corpo assimile as informações. Também dizem que este clima de tranqüilidade e aparente lentidão propicia

um treino seguro e controlado e permite que o corpo técnico controle detalhadamente tudo que acontece na sala, evitando acidentes ou falhos durante o processo de aprendizagem.Diariamente os ginastas se intercalam nos apa-

relhos realizando cada um os exercícios que seu técnico solicitou. Entre cada repetição aprovei-tam para descansar e sutilmente para conversar ou para fazer algum comentário sobre os exercícios. Evidentemente, mostrar-se cansado (deitando no chão por exemplo), falar alto, brincar, reclamar ou descansar muito tempo não são comportamentos bem vistos na sala. Por isso, todo mundo trata de respeitar de forma estrita o pacto oral que regula a dinâmica de funcionamento da sala.A utilização dos aparelhos é planejada com

antecedência pelos técnicos para que os diferentes grupos de ginastas não usem os mesmos setores (ou aparelhos) da sala de forma simultânea. No entanto, nem sempre é possível evitar este con-tato. Quando acontece, os ginastas mais velhos têm prioridade para usar. Todos dizem que esta aproximação é positiva pois permite por um lado aos ginastas mais novos aprender dos mais velhos. Ao mesmo tempo destacam que estas situações podem provocar uma diminuição do ritmo de treino (mais conversa, mais tempo de descanso, etc.). Eventualmente os ginastas mais velhos rec-lamam que os mais novos atrapalham seu trein-amento, e reciprocamente os mais novos dizem que de vez em quando os mais velhos zombam deles. Estes confl itos raramente são notados, pois a tranqüilidade deve imperar na sala, e quando algo não funciona bem os técnicos tratam de intervir e chamar a atenção dos ginastas.

A estrutura social do GinásioObservando o fl uxo cotidiano de pessoas na sala

constatamos, em primeiro lugar, a existência de um grupo de 24 protagonistas “ofi ciais”, ou seja, pessoas que freqüentam diariamente o Ginásio

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho Bortoleto

328 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 65motricidade3vol1111.indd 65 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

com um compromisso declarado com o centro e com a Federação Catalana de Ginástica (FCG). Por outra parte, a sala recebe a visita quase diária de outras pessoas, como por exemplo funcionários, ex-ginastas, visitantes do centro, amigos e também das ginastas e os técnicos (as) de GAF que treinam na sala ao lado. Quantifi car com precisão este fl uxo de pessoas era uma tarefa complicada e nos conformamos em saber que freqüentam a sala dia-riamente entre 25 e 30 pessoas, e que centramos a atenção no grupo regular.O grupo dos ginastas está formado por 19 atle-

tas com idades compreendidas entre 12 e 26 anos. Um coletivo de jovens, com um ideal (objetivo) comum e que optaram de forma precoce e “vol-untariamente” por uma vida dedicada ao trein-amento de alto nível. Em termos de Caillois in Lüschen e Weis18, a opção voluntária pela prática signifi ca, ao menos em teoria, que estas pessoas podem decidir livremente o momento em que desejam interromper sua atividade esportiva. Esta liberdade é cada vez menor no esporte profi s-sional, dado que se controla as decisões dos espor-tistas mediante contratos e penalizações federativas ou econômicas.Por outra parte, o corpo técnico está formado por

três técnicos, um auxiliar técnico e um psicólogo, profi ssionais que, exceto no caso do psicólogo, estão contratados diretamente pela FCG. Os téc-nicos são os que possuem o maior grau de proxim-idade com os ginastas e, além de cumprir com seu labor técnico, atuam como maestros-orientadores a nível pessoal, adquirindo um laço profundo de intimidade e amizade com os ginastas. Coincidi-mos com Anzieu e Martín19 quando afi rmam que os técnicos representam os líderes do grupo e car-regam com toda a responsabilidade de tomar as decisões mais importantes para a preparação dos ginastas.Os 19 ginastas representam o coletivo mais numer-

oso. Deles, 17 estão ofi cialmente incorporados às

atividades da sala e os outros dois se encontram em processo de incorporação. Os ginastas incorpora-dos estão subdivididos em quatro categorias de idade: infantis (5), juvenis (4), juniores (3) e seniors (5). Segundo contaram os técnicos, esta classifi ca-ção por franjas etárias obedece as normativas de competição da FCG, assim como da RFEG e da FIG. Conforme a “Normativa técnica de GAM” da Real Federação Espanhola de Ginástica, as cat-egorias competitivas são: “benjamín” (10 anos ou menos), “alevín” (11 e 12), infantil (13 e 14), juve-nil (15 e 16), junior (17 e 18) e senior (19 ou mais). A divisão dos membros do grupo por faixa etárias pode ser considerada um aspecto comum a todas as sociedades, facilitando a atribuição dos papéis, sua função no grupo e seu grado hierárquico. No caso do esporte, particularmente da GAM, esta divisão busca igualar as condições das competições em virtude das diferenças de rendimento respeito al desenvolvimento corporal. Além disso, pretende estabelecer normativas específi cas para cada grupo evitando excessos por parte dos técnicos e das fed-erações, segundo destaca a Federação Internacio-nal de Ginástica20.Os ginastas infantis são os mais jovens do grupo

e, por conseguinte, os que se incorporaram mais recentemente. Têm entre 12 e 13 anos e apesar de serem novatos na sala, todos possuem uma ante-rior experiência de treino de GAM em clubes catalães, com uma média de 5 anos (3-7 anos) de prática. Segundo a obra de Leglise21, os ginastas acostumam iniciar a prática da GAM ao redor dos 5-7 anos de idade, coincidindo com o que obser-vamos no CAR. Começaram a treinar no CAR há dois de média (1-4 anos), o que indica que se incorporaram em anos distintos. Os quatro ginas-tas juvenis têm entre 14 e 15 anos, e uma média de 10 anos praticando ginástica, sendo os últimos 3 no CAR. Os três ginastas juniores têm entre 16 e 17 anos, estão treinando há 9 anos de média, sendo os últimos 4 no CAR. Os ginastas destes três gru-

329 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 66motricidade3vol1111.indd 66 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

pos conformam o que se denomina na sala “os menores” (mais novos em espanhol) ou, em oca-siões, os “pequenos”. O emprego destas expressões não agrada aos ginastas juniores, porque neste faixa etária os jovens se identifi cam (ou assim querem que pareça) mais com os seniores que com os mais jovens (infantis e juvenis). Fato que revela uma fase de transição de categoria competitiva e também de atitudes e idéias.Os cinco ginastas seniores, denominados pelo

grupo de “mayores” (mais velhos) ou “adultos”, têm entre 18 e 26 anos e treinam ginástica de oito a 20 anos, com 10 anos de média (8-12) no CAR. Por último, os dois ginastas em processo de incor-poração pertencem à categoria infantil, e têm entre 12 e 13 anos de idade respectivamente.Este reduzido número de ginastas indica, por

um lado, a necessidade de manter o Ginásio com uma densidade populacional relativamente baixa, que facilita o controle exaustivo das atividades e que refl ete um modelo de treinamento freqüente-mente utilizado pelos países onde não existe tanta tradição ginástica (volumem de praticantes), nos quais os organismos reguladores e os responsáveis buscam extrair o melhor resultado possível dos poucos ginastas que conseguem ser admitidos nos programas de alto rendimento. Ademais, este fator demonstra indiretamente a difi culdade que existe na atualidade catalana e espanhola de captar gin-astas com o potencial para treinar neste Ginásio, a pesar de sua excelente infra-estrutura.Todos os ginastas foram selecionados pela FCG e,

ao menos de momento, não existe nenhum trein-ando de forma independente, ou seja, pagando ao CAR para poder usar as instalações, a pesar de que o regulamento da instituição permita este tipo de atividade. Estes ginastas que treinam no CAR con-tinuam representando seus clubes de origem nas competições estaduais ou inter-clubes. A política atual da FCC inclui ajudas econômicas (bolsas simbólicas) aos clubes por cada ginasta aportado

ao CAR, reconhecendo de alguma forma sua importância no processo de formação de base (ini-ciação) da GAM e na captação de novos ginastas no âmbito escolar.Dado os limites deste artigo os detalhes da for-

mação e experiência dos profi ssionais que formam o corpo técnico não foram incluídos29. Todos os técnicos trabalham diariamente na sala, tanto na sessão da manhã como pela tarde. A pesar de que desde o primeiro dia de sua incorporação na sala os técnicos tentem preparar os ginastas para que sejam capazes de treinar de forma autônoma e seguindo estritamente o programa, sua presença é imprescindível. No caso de que um dos técnicos não possa estar presente um dos seus companhei-ros assume a responsabilidade do seu grupo de ginastas, mantendo as atividades planejadas pelo técnico original. Em poucas oportunidades pres-enciamos a ausência de um dos treinadores, no entanto, nos momentos que isso ocorreu a apar-ente autonomia dos ginastas se demonstrou frágil e relativa. Esta difi culdade em treinar de forma autônoma contraria o discurso dos técnicos e dos demais membros do corpo técnico. Talvez este seja um dos aspectos que deveriam ser melhorados na dinâmica de treinamento. Tomando emprestadas as palavras de um ginasta junior:“Entrenar con nuestro entrenador es mucho

mejor, sin él es diferente. Con él nos sentimos más orientados, aunque conocemos muy bien la planifi cación, aquella que está colgada en el tablón. Además, él está para cobrar empeño, marcar los fallos, así que particularmente prefi ero que esté presente.”Em suma, a estrutura social do Ginásio está

organizada hierarquicamente e nela todos sabem exatamente o papel de devem desempenhar, assim como seus poderes, deveres, responsabilidades, etc.O mundo simbólico: o Ginásio como um tem-

plo amorosiano

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho Bortoleto

330 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 67motricidade3vol1111.indd 67 10-06-2007 20:45:2110-06-2007 20:45:21

Da mesma maneira que muitos estádios de futebol são considerados espaços sagrados pelos jogadores e/ou torcedores, segundo afi rma Mor-ris23, o Ginásio é considerado pela maior parte de seus usuários um “santuário” ou um “território sagrado”. O conceito de “santuário” não pode ser confundido com o utilizado por Wacquant22, apesar de que, de certa forma o Ginásio de GAM também funciona como um lugar de “pacifi ca-ção e proteção” tratado com respeito por seus usuários.Para entender esta concepção, devemos refl e-

tir sobre a origem dos Ginásios, momento em que estes lugares eram “proibidos” para a maior parte da população, um espaço que reunia os militares e a aristocracia civil e que agora alberga a elite esportiva. Neste sentido, a sociedade vê com “admiração” aqueles que logram entrar no interior dos Ginásios de treinamento, seja como guerreiros nos séculos anteriores ou como esportistas na atualidade, pois se convertem em representantes da nação e alguns deles chegam a atingir status de ídolos sociais, como comenta Padiglione24. Além disso, a sala é sagrada porque representa um espaço fundamental para o desen-volvimento da GAM e também para a vida de seus protagonistas (espaço onde passam a maior parte de seu tempo), um lugar respeitado por seus usuários como se fosse sua própria casa.A sala é freqüentada quase exclusivamente pelos

ginastas e pelo corpo técnico, um lugar de difícil acesso a qualquer outra pessoa que não pertença a este coletivo. Trata-se de um lugar que repre-senta um ícone para a GAM catalana e espan-hola, um refúgio para a elite deste esporte, um espaço destinado a uns poucos privilegiados e ao que muitos desejam poder incorporar-se. Uma sala localizada dentro de uma instituição de refer-ência internacional, como é o caso do CAR de Sant Cugat, e que conseqüentemente possui um status privilegiado no contexto ginástico espan-

hol. Um espaço “fechado”, “semi-público” por limitar o acesso de pessoas alheias, protegido do mundo exterior tanto arquitetonicamente como política e simbolicamente, impregnado por um peculiar cheiro de magnésio, repleto de aparelhos ginásticos ofi ciais e alternativos destinados única e exclusivamente à preparação dos esportistas. Uma “bolha” (“burbuja” em espanhol), conforme relatam seus próprios protagonistas, que durante longos anos “isola” estas pessoas buscando dar a tranqüilidade e a intimidada necessária para alca-nçar seu grande objetivo: a forja de campeões.“El Gimnasio es como una burbuja para mi,

esto es una burbuja. Porque esto me ha sacado de muchos problemas, me ha desconectado mucho de ellos. Le llamo burbuja al centro por-qué cuando sales hay otro ambiente, esto es, otra vida.” (Jonny, pseudônimo de um dos ginastas seniores. Nota extraída do Diário de Campo).O isolamento produzido pelo Ginásio não é um

fenômeno contemporâneo. Francisco Amorós e seus colaboradores defendiam, desde o principio do reinado dos Ginásios, como espaço ideal para o adestramento corporal e moral do homem (soldado, obreiro ou esportista, a importância de que a sala tivesse esta característica, protegendo e defendendo seus membros das “tentações” do mundo exterior e ao mesmo tempo fazendo-lhes submergir nos valores da cultura militar26. Uma posição semelhante à defendida pelo exér-cito na atualidade27,28. A tranqüilidade desejada pelos fundadores do império dos Ginásios fecha-dos segue cobrando vida na sala que tivemos a oportunidade de estudar. Este “isolamento”, na opinião das pessoas que dão vida a este espaço representa um aspecto positivo que torna pos-sível o desenvolvimento normal das atividades de treinamento, mesmo ao tornar-se uma situa-ção difícil de assimilar e que provoca um grande impacto na personalidade dos internos conside-rando as necessidades humanas de relação com

331 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 68motricidade3vol1111.indd 68 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

o mundo exterior. Por tudo isso, podemos dizer que a domesticação do homem esportista, neste caso do ginasta, se faz também pela delimitação do espaço, pela instauração de um “ghetto” ou de um “círculo seleto” de pessoas, protegido contra as interferências do mundo exterior e que evolui a partir de “unas experiencias producidas den-tro del propio grupo”, segundo nos contaram os protagonistas.Um século e meio depois da aparição dos

primeiros ginásios para o “adestramento mili-tar”29, nos deparamos com uma realidade na qual o Ginásio continua sendo um espaço regido pelos valores da centenária cultura ginástica. As raízes militares desde tipo ambiente ainda sus-tentam a dinâmica de funcionamento do Ginásio do CAR, e conseqüentemente as atividades no seu interior continuam marcadas pela repetição incansável, pela luta contra a preguiça, e pela necessidade de vencer os limites.O treinamento brinda diariamente uma hom-

enagem à disciplina que envolve a ginástica desde seu nascimento, controlando o espaço, o tempo, os corpos e as condutas de forma estrita, da mesma forma que observou Bailleau30 na Ginástica Rítmica.Tudo isso nos leva a relembrar que a origem

deste esporte se embasou nos princípios da edu-cação marcial, nutrindo-se da pedagogia militar e da racionalização. Um modelo que, conforme pudemos comprovar “in situ”, continua impe-rando apesar da “desmilitarização” que viveu o esporte ao longo do século XX31. Estes argumen-tos se ilustram mais claramente quando testemun-hamos como alguns aparelhos usados na prepara-ção dos ginastas, como a corda fi xada no teto da sala, os espaldares ou o próprio cavalo com alças (inspirado no animal símbolo do adestramento marcial), resistiram ao passo do tempo, tratando de mostrar à modernidade que parte fundamen-tal da essência da ginástica é o conservadorismo,

ou seja, a importância da tradição e de um trab-alho fundamentado por um método consolidado e respaldado pela experiência acumulada.Contrapondo o notório avanço tecnológico viv-

ido nos últimos 50 anos pela GAM (tanto a nível material como técnico), que teve como expoente máximo a invenção das “plataformas” modernas de salto, a cultura de preparação ginástica vivida dentro do Ginásio estudado manteve diversas características típicas da cultura militar. A titulo ilustrativo podemos mencionar alguns resquícios da formalidade marcial especialmente referente ao trato (relação) interpessoal, como por exem-plo, o comprimento (saudação) “espontâneo” (um aperto de mãos) que os ginastas realizam ao cruzar com um companheiro mais velho ou com um técnico, ou na necessidade de solicitar a autorização do técnico para poder exercitar-se, beber água ou ir ao banheiro (casa de banho). Apesar de que utilizamos o termo “espontâneo”, o comprimento que realizam os ginastas respeito aos técnicos e/ou a seus companheiros mais vel-hos parece ter muito pouco de espontaneidade, sendo um comportamento que obedece a uma regra (pacto oral) “imposta abertamente” na sala, conforme afi rma um dos técnicos ao ser entrev-istado. Lembramos que os militares são obriga-dos a cumprimentar (ou reverenciar) os mandos e as autoridades de maior graduação, um com-portamento semelhante ao observado na sala28. Mencionar também que, “contrato social” é um termo inspirado em Rousseau, uma normativa oral que organiza a atividade na sala e que deve ser obedecida de maneira estrita.Esta pesquisa também revela que o treinamento

consiste num processo altamente individualizado, embasado na reprodução obediente e pouco refl exiva, sob um modelo “impositivo” de ensino (inspirado na terminologia de Muska Mosston), uma estratégia empregada nos contextos milita-res descritos por Zulaika28 e Anta27.

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho Bortoleto

332 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 69motricidade3vol1111.indd 69 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

Finalmente, comentar que a labor dos treina-dores, representa uma verdadeira pedagogia da conduta motora (termo cunhado por Pierre Parlebas), concentrando todos seus esforços em aproximar a conduta motora dos ginastas aos estereótipos motores que estabelece o regula-mento da GAM. Uma formação que modifi cará para sempre a personalidade de todos os impli-cados neste processo e que pode inclusive, desde a perspectiva competitiva, hiper-especializar os ginastas em um ou dois aparelhos seguindo a tendência deste esporte na atualidade.

Discussão

“Los gimnastas se preparan para ser máquinas. Para ser buenos gimnastas cuando más máqui-nas mejor. No hay que tomar decisiones, no hay que pensar, hay que reproducir un mismo patrón técnico de movimiento. Cuanto más exacto lo vas haciendo en el entrenamiento mejor, más parecido al patrón; siempre igual” (Joaquim, psicólogo).Depois de séculos de evolução, o Ginásio conti-

nua sendo um contexto fundamental e legítimo para a prática da GAM, um espaço encarregado de preservar a hegemonia e a tradição do sistema de valores que formam a cultura ginástica. Obvi-amente devemos considerar que vivemos novos tempos, com distintas ofertas esportivas, expec-tativas sociais também diferentes, rápidos avanços tecnológicos e uma importante evolução da cul-tura esportiva em geral, e, por estes motivos, os espaços fechados, como é o caso do Ginásio do CAR de Sant Cugat, resultam pouco atrativos, e talvez uma barreira para o processo de incorpora-ção de novos adeptos, como já mencionamos.Isto não signifi ca que negamos a conveniência e

a idoneidade do Ginásio como espaço destinado à prática da GAM. Obviamente somos conscien-tes que a lógica deste esporte exige que os ginas-

tas treinem diariamente em condições excelentes, com certa reserva de intimidade e tranqüilidade, algo que o Ginásio oferece sem sombra de dúvida. No entanto, para aqueles ginastas que freqüentam a sala diariamente se poderia, por exemplo, pro-gramar alguns treinamentos fora da sala, em espa-ços abertos, com outro ambiente e com estímu-los motivacionais novos, atividades que em Sant Cugat os técnicos começam a realizar com êxito, ainda que em menor quantidade da que acredita-mos necessária.A pesar que a direção impositiva vêm sendo

hegemônica até este momento na forma de con-duzir os treinamentos ginásticos, entendemos que se poderia lograr uma melhor comunicação entre os protagonistas, estimulando as situações refl exivas e a conscientização da lógica de todo o processo ao que estão submetidos e suas con-seqüências. Em sumo, defendemos que podem existir sistemas de treinamento mais fl exíveis, ao menos nos aspectos comunicativos, que permi-tam certas atitudes refl exivas (mais humanas, sen-síveis e menos mecânicas-racionais), que logrem os mesmos resultados que o modelo impositivo vem conseguindo atualmente.Vimos que a carga simbólica que ressalta a cul-

tura ginástica é uma autêntica homenagem a tradição, ao conservadorismo e a formalidade. O treinamento é uma prática engendrada pela razão, infl uenciada pelo conhecimento científi co, que modela a motricidade dos ginastas de forma positiva, que pretende construir um corpo mus-culoso, um homem máquina e ao mesmo tempo elegante.Para concluir queremos dizer que num futuro

próximo pretendemos seguir aperfeiçoando este “modelo de leitura e compreensão” da cultura de treinamento da GAM e posteriormente poder aplicá-lo em Ginásios de diferentes localidades e/ou países e assim estabelecer comparações com a realidade que acabamos de apresentar. Também

333 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 70motricidade3vol1111.indd 70 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

vislumbramos a possibilidade de estudar este fenômeno em distintos níveis de prática, como por exemplo no esporte de base, e também na modalidade feminina, para poder estabelecer diferentes tipos de comparações e paralelismos.

Correspondência:

Marco Antonio Coelho BortoletoRua Domingos Bonato, 57bJardim Santa Genebra IICampinas – SP - CEP: 13084-785 - Brasil

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho Bortoleto

334 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 71motricidade3vol1111.indd 71 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

Referências

1. Geertz, C. (1989b). La interpretación de las culturas. Editora Gedisa, Barcelona.2. Smoleuskiy, V. e Gaverdouskiy, I. (1991). Tra-

tado General de Gimnasia Artística Deportiva. Editora Paidotribo, Barcelona: 22.3. Medina, F. X. e Sánchez, R. (eds.) (2003).

Culturas en juego: ensayos de antropología del deporte en España. Instituto Catalão de Antro-pologia (ICARIA), Barcelona: 31.4. García Ferrando, M., Puig, N. e Lagardera, F.

(org.) (2002). Sociología del deporte. 2º edição actualizada, Editora Alianza, Madrid.5. Acuña, A. D. (1994): Fundamentos sociocul-

turales de la motricidad humana y el deporte. Universidad de Granada, Granada.6. Rodríguez, G. G. et. al. (1996): Metodología

de la Investigación Cualitativa. 2º ed., Editora Aljibe, Archidona (Málaga): 23.7. Blanchard, K., e Taylor, A. C. (1986): Antropo-

logía del deporte. Editora Bellaterra, Barcelona.8. Ogbu, John U. (1981). Etnografía escolar: una

aproximación a nivel múltiple. Anthropology and Education Quarterly, Vol. XII, nº 1: 3-29.9. Wolcott, H. F. (1985): Sobre la intención

Etnográfi ca. Revista Educational Administration Quarterly, Vol. XXI, nº 3: 187-203.10. Wilcox, K. (1982). La etnografía como

una metodología y su aplicación al estudio de la escuela: una revisión. In Spindler, G. (1982): Doing the Ethnography of Schooling. Educa-tional Anthropology in Action, Holt, Rinehart and Winston, NY: 465-488.11. Woods, P. (1986). La escuela por dentro: La

etnografía en la investigación educativa. Editora Paidós, Barcelona.12. Woods, T. S. (1998). Investigación Etnográ-

fi ca en la escuela. Editora Paidos, Madrid.

13. Elias, N. (1987): El proceso de la civilización. Investigaciones sociogenéticas y psicogenéticas, México, DF.14. André, M. D. A. (1995): Etnografi a da Prática

Escolar. Editora Papirus, Campinas.15. Mata, D. (2001): Hacia una especialización en

antropología de campo: la etnografía del deporte. Revista Apunts, INEFC Barcelona, n. 63, p.6-14.16. Triviños, A. S. (1992): Introdução à Investig-

ación em Ciências Sociais: A Investigación Cuali-tativa em Educação; O Positivismo, A Fenome-nologia e o Marxismo. Editora Atlas, São Paulo.17. Geertz, C. (1989a). El antropólogo como

autor. Editora Paidós Ibéria, Barcelona.18. Lüschen, G. e Weis, K. (1976). Sociología del

deporte. Editora Miñon, Valladolid.19. Anzieu, D. e Martin, J. (1971). La dinámica

de los grupos pequeños. Editora Kapelusz, Bue-nos Aires. 20. Féderation International de Gymnastique

(FIG) (1985). Symposium International Sur Le Jury. FIG, Roma, junho: 24-26.21. Leglise, M. (1985). Some medical observa-

tions on the development of high level gymnas-tics. Revista World Gymnastics, FIG and AIPS Press, Budapest, n. 23: 27.22. Wacquant, L. J. (1995). Protección, disciplina

y honor. Una sala de boxeo en el ghetto ameri-cano. Tese de doutorado, University of Berkeley: 9.23. Morris, D. (1982): El deporte rey. Editora

Argos Vergara, Barcelona: 19, 31.24. Padiglione, V. Antropología del deporte y del

ocio. In: Prat, J. e Martínez, A. (1996). Ensayos de antropología Cultural. Editora Ariel, Barcelona: 395-405.25. Bortoleto, M. A. C. (2004). La lógica interna

de la Gimnasia Artística Masculina (GAM) y estudio etnográfi co de un Gimnasio de alto ren-

335 {Técnico

motricidade3vol1111.indd 72motricidade3vol1111.indd 72 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

336 {Técnico

dimiento. Tese de doutorado. INEFC, Universitat de Lleida.26. Soares, C. L. (1994). Educação Física – Raízes

Européias e Brasil. Editora Autores Associados, Campinas.27. Anta, J. F. (1990). Cantina, garita y cocina:

Estudio antropológico de soldados y cuarteles. Editora Siglo XXI, Madrid.28. Zulaika, J. (1989). Chivos y soldados: la mili

como ritual de iniciación. La primitiva Casa Baroja, Madrid.29. Soares, C. L. (1998). Imagens da Educação

no Corpo. Autores Associados, Campinas.30. Bailleau, L. (2004). La construction de

l´Ensemble France, approche ethnographique en gymnastique rythmique. Anais do 4. Colloque International de l´Afraga. Universidad de Picar-die, Amiens: 26.31. Simonet, P. et. al (2003). L´empreinte de

Joinville: 150 ans de sport 1852-2002. INSEP, Paris.32. Bailleau, L. (2001). La culture gimnique: une

ethnographie d´un groupe de haut niveau. Dis-sertação de mestrado. Universidade de Orleans.33. Mata, D. (2004). Un estudio etnográfi co

sobre el voley playa. Revista Apunts Educación Física, INEFC Barcelona, nº. 75, Barcelona, p. 5-19.34. Rubio, K. (2001). O atleta e o mito do herói:

o imaginário esportivo contemporáneo. São Paulo, Editora Casa do Psicólogo.35. Generalitat de Catalunya (2003). Catalu-

nya, un país esportiu. Generalidad de Cataluña, Departamento de Cultura, Barcelona.

A ginástica artística masculina (GAM) de alto rendimento: observando a cultura de treinamento desde dentro.Marco Antonio Coelho Bortoleto

motricidade3vol1111.indd 73motricidade3vol1111.indd 73 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

337 {Revisão

Mitos e verdades sobre fl exibilidade: refl exoes sobre o treinamento de fl exibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida1 e Marcelo Nogueira Jabur1

1 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) – Ribeirao Preto- São Paulo- Brasil.

Almeida, T. T.; Jabur, N. M.; Mitos e verdades sobre fl exibilidade: refl exoes sobre o treinamento de fl exibilidade na saúde dos seres humanos. Motricidade 3(1): 337-344

Resumo

Este artigo procura observar o posicionamento da comunidade científi ca sobre o tema fl exi-bilidade e alongamento, no que diz respeito às questões de efi ciência na preparação para execu-tar exercícios físicos, no processo de recuperação após treinos intensos e, a discussão sobre a inter-ferência do treinamento desta capacidade na rea-bilitação ósteo-músculo-articular. Inúmeros são os estudos realizados que afi rmam diversos bene-fícios e prejuízos dos exercícios de alongamento e ganhos de fl exibilidade. Quanto à prevenção de lesões, muitos são os autores que defendem a idéia de que o alongamento tem uma importante ação preventiva. Porém, podemos observar que a maioria dos que são a favor desta idéia, destacam o alongamento como parte importante do trei-namento e não como sendo apenas alguns exercí-cios preparatórios antes do treino. Em se tratando de exercícios de alongamento após esforços físi-cos, parece que o ideal são exercícios moderados de alongamento para evitar um encurtamento muscular, não devendo, portanto, serem utilizados exercícios visando ganhos de fl exibilidade, pois o músculo fatigado não pode responder pronta-mente ao refl exo de proteção. No tratamento das lesões do tecido conjuntivo, o alongamento está indicado para recuperação do comprimento nor-mal do tecido, não sendo mencionada nenhuma vantagem em grandes ganhos de fl exibilidade.

Palavras-chave: alongamento, fl exibilidade, hipomobilidade, hipermobilidade.

Data de submissão: Setembro 2005Data de Aceitação: Dezembro 2006

Abstract

Myths and trues about fl exibility: refl ec-tions about the stretch training in the health of human beingThis article aims to address the views of the

scientifi c community in regard to fl exibility and stretching concerning the effi ciency of prepara-tion to perform physical exercises, the recovery process after intense training activities, and the analysis of the infl uence of training such skills on osteomuscular and articulatory rehabilitation. Innumerable studies have been conducted which demonstrate the benefi ts and harms of stretching and fl exibility-gain exercises. In regard to the pre-vention of lesions, a number of authors maintain that stretching plays an important preventive role. However, it can be noticed that most of those who support this idea highlight stretching as an important part of training, instead of just a few preparation exercises prior to training. As far as stretching following physical strain is concerned, it seems that moderate stretching is ideal in order to prevent adaptive muscle shrinking. Therefore, stretching strained muscles with a view to gain-ing fl exibility should not occur because fatigued muscles cannot promptly respond to the protec-tive refl ex. In treating lesions of the connective tissue, stretching is recommended for recovery of its normal length, whereas no advantages to fl ex-ibility gains are reported.

Key words: stretching, fl exibility, hipomobility, hipermobility.

motricidade3vol1111.indd 74motricidade3vol1111.indd 74 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

Introdução

Alongamento é o termo usado para descrever os exercícios físicos que aumentam o comprimento das estructuras dos tecidos moles e, conseqüente-mente, a fl exibilidade. O autor também considera fl exibilidade como a capacidade física responsável pela máxima amplitude de movimento músculo-articular de uma ou mais articulações sem o risco de lesão 1.A fl exibilidade é tão importante para atletas como

para pessoas sedentárias. Uma vez que a amplitude articular de determinada articulação esteja compro-metida, alguma limitação se manifestará e poderá comprometer o desempenho esportivo, laboral ou de atividades diárias. Os exercícios de alongamento tendem a restabelecer níveis satisfatórios de mobi-lidade articular e reduzir tensões musculares, resul-tando numa melhor mecânica articular 2.No indivíduo sadio, a amplitude articular é

infl uenciada pelos ligamentos, comprimento dos músculos e tendões, e tecidos moles. Já em pessoas com limitações patológicas, os problemas podem ser agravados por processos infl amatórios, redução da quantidade de líquido sinovial, presença de cor-pos estranhos na articulação e lesões cartilaginosas 2.Os hábitos posturais estão intimamente ligados

à limitação da amplitude articular, da extensibili-dade dos músculos e da plasticidade dos ligamen-tos e tendões. A correção postural e o aumento da amplitude articular, além de ter efeito relaxante, colaboram na tomada de atitudes corporais mais confortáveis tanto na prática de exercícios quanto nos movimentos diários naturais além de promover o alívio de tensões musculares. Segundo a Associa-ção Americana de Medicina Desportiva, exercícios de alongamento provocam o relaxamento mus-cular, o que faz aliviar dores causadas pelo estresse muscular do treinamento, além de aumentar a sensação de bem-estar melhorando o humor dos indivíduos 3.Baseado nos dados contraditórios apresentados

com relação à efi ciência e ao papel da fl exibilidade sobre o tratamento de algumas lesões, os efeitos recuperadores dos alongamentos pós-exercícios, bem com, da possível interferência do treinamento de fl exibilidade sobre a prevenção de lesões, res-salta-se o objectivo deste trabalho como sendo o de analisar, através de um trabalho de revisão de literatura, os efeitos dos exercícios de alongamento sobre a saúde dos seres humanos, procurando esclarecer a verdadeira importância e quais os reais ganhos que tais exercícios podem proporcionar.

Alongamento e prevenção de lesõesO uso de exercícios de alongamento para aumen-

tar a fl exibilidade é, geralmente, baseado na idéia de que ele pode diminuir a incidência, a intensidade ou a duração da lesão músculo tendinosa e arti-cular. Uma extensibilidade articular mínima parece ser vantajosa em alguns esportes e atividades para prevenir a distensão muscular. Em outras palavras, parece ser uma amplitude de fl exibilidade ideal ou favorável que irá prevenir a lesão quando os mús-culos e articulações forem superalongados aciden-talmente 4.Estudos realizados com jogadores de futebol 5,

não encontraram relações estatisticamente signifi -cativas entre fl exibilidade estática e lesões de todos os tipos. Diversos estudos e revisões, não puderam estabelecer uma correlação entre a fl exibilidade e a prevenção de lesões nos esportes 5. Os estudos são confl itantes, mas isso não quer dizer que não exista uma contribuição nesse sentido. É importante saber que as lesões esportivas decorrem de uma série de factores. Para alguns autores 6 o trabalho da fl exibi-lidade auxilia na prevenção das lesões. Uma grande amplitude de movimento, além de prevenir lesões, economiza energia 7.O alongamento protege as juntas e músculos con-

tra danos, pois melhora o suprimento sanguíneo nessas estructuras mantendo-as saudáveis, além de ajudar a aquecer os músculos preparando-os para

338 {Revisão

motricidade3vol1111.indd 75motricidade3vol1111.indd 75 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

exercícios mais intensos 18. Entretanto, aconselha-se não realizar alongamentos, passivos, próximo de um esforço, pois, eles são fontes de pernas “moles”, “pesadas” e de lesões 8. Porém, é importante lem-brar que tal resposta (esse enfraquecimento mus-cular) é de curta duração, pois, a longo prazo, além de não haver diminuição de força muscular com os exercícios de alongamento, estes podem favorecer os exercícios de força 9.O alongamento dos músculos retraídos após seu

aquecimento geral é uma das precauções a serem tomadas para reduzir o risco de lesão (distensão muscular), pois um programa destinado a prevenir distensões musculares deve incluir exercícios com pesos, fl exibilidade balanceada, aquecimento e atenção aos níveis de fadiga 10. Um grupo muscular forte e alongado é mais funcional, podendo traba-lhar mais intensamente com menos possibilidade de lesões 9. Porém, os exercícios de alongamento que envolvem forte tensão muscular podem tor-nar-se prejudiciais, caso as estructuras de suporte de uma articulação e a força dos músculos ao seu redor sejam insufi cientes para mantê-la estável. E ainda ressalta que tais exercícios provocam defor-mação plástica não devendo ser realizados diaria-mente, pois requerem tempo para recuperação do tecido 9.O alongamento é utilizado como um dos facto-

res para prevenção de lesões 11. Dados combinados de cinco estudos que comparavam o alongamento e outros caminhos para prevenir danos no treina-mento concluiu que pessoas que alongavam, não estavam nem mais nem menos suscetíveis a sofrer danos que a fl exibilidade aumentada suposta-mente prevenia; porém, outra pesquisa, citada pelo mesmo autor, demonstrou que o aquecimento, que aumenta o fl uxo de sangue através do músculo e o torna mais pronto para responder ao exercício, pode reduzir o risco de lesões, assim como o forta-lecimento e o treino balanceado 12.Não foram encontradas evidências sufi cientes

para comprovar que o alongamento previne lesões,

mas, destaca-se a importância do alongamento no dia-a-dia de pessoas que passam muito tempo em frente ao computador ou dentro do carro paradas 13.Um estudo feito com 901 recrutas da Força mili-

tar do Japão, concluiu que o alongamento estático diminui a incidência de lesões musculares e tendi-nosas bem como lesões por overuse, porém, neste mesmo texto, o autor cita um artigo de revisão sobre este tema cuja conclusão foi que o alonga-mento antes do exercício não reduz a incidência de lesão muscular 14.Pode ser um efeito meramente psicológico que

faz com que a maior parte das pessoas envolvidas com esporte acredite que o aumento da fl exibi-lidade diminui as lesões. Talvez seja um sincero desejo de acreditar em alguma coisa que faça sen-tido. Porém deve ser reiterado que estudos contro-lados que comprovem que o aumento da fl exibili-dade previne lesões não existe 15.Todavia, no treinamento de sedentários e atletas,

com o aumento da fl exibilidade e da resistência muscular localizada, os riscos de lesões em algumas articulações diminuem consideravelmente, apesar do aumento da carga de trabalho a que aquelas pessoas são submetidas em função do progresso do treinamento 15. Portanto, observa-se que, basicamente, os autores

que partiram de experiências de laboratório dis-cordam da idéia de que o alongamento previne lesões, ao passo que os autores que puderam contar com a vivência prática são árduos defensores do contrário 15.

Alongamento pós-exercícioNa década de 60 foram realizados inúmeros expe-

rimentos por meio de alongamento estático, após exercícios físicos e verifi cou-se redução da ativi-dade eletromiográfi ca e da dor muscular 9. Porém, um estudo realizado em 1989, não confi rma os resultados benéfi cos do alongamento estático ou do aquecimento na dor muscular tardia. O esforço

339 {Revisão

motricidade3vol1111.indd 76motricidade3vol1111.indd 76 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

físico provoca isquemia e esta, ao menos em parte, ocasiona a dor muscular. Entretanto, somente a isquemia não causa dor e o acúmulo de ácido lático não parece ocasionar a dor, pois pessoas com sín-drome de MacCardle, incapazes de produzir ácido lático pela defi ciência de miofosfolirase, apresen-tam dor isquêmica numa extensão maior que pes-soas normais 9.Os exercícios de alongamento no fi nal do esforço

físico tem por objectivo evitar o encurtamento muscular, devido às fortes e sucessivas contrações musculares ocasionadas pelo treinamento, enquanto que antes do esforço físico, o alongamento tem a fi nalidade de preparar o conjunto músculo-articu-lar para efetivar o alcance habitual de movimento. Porém, há um consenso entre os pesquisadores de que ocorre aumento da sensibilidade dos fusos musculares após os esforços máximos desportivos. Isso sugere que não se utilize o método de fl exi-bilidade ativo após o esforço físico pois, além de o cansaço infl uir na redução da força dos mús-culos agonistas, ocorrem mudanças no tráfego do impulso neuromotor com prejuízo na coordenação de direcção, o que enfraquece a técnica do exercí-cio de alongamento. E ainda, o músculo fatigado não pode responder prontamente ao refl exo de proteção neuro-muscular. Mesmo assim, há autores que preconizam 5 a 10 minutos de resfriamento após esforços intensos, com exercícios físicos leves de corrida e ciclismo, terminando o treino com exercícios de alongamento 16.

Hipermobilidade e hipomobilidadeCom o passar dos anos, o nível de fl exibilidade

tende a diminuir e com isso aumentam os riscos de lesões (como distensões musculares), dores, pro-blemas posturais, e a realização de atividades diárias 2. Porém, a fl exibilidade excessiva pode provocar instabilidade articular gerando: entorses articulares, osteoartrite e dores articulares 2.A hipermobilidade pode ser tão incapacitante

quanto a hipomobilidade. Ela pode manifestar-se

em resposta a um segmento ou região relativa-mente menos móvel (rigidez relativa) levando a uma movimentação excessiva que não pode mais ser controlada pelos músculos. Neste caso exercí-cios de estabilização que tentam limitar e controlar o movimento excessivo devem ser aplicados 17. Hipermobilidade deve ser diferenciada da instabi-

lidade. A primeira se refere à frouxidão ou compri-mento excessivo de um tecido, enquanto a segunda é uma amplitude de movimento excessivo para a qual não existe controle muscular de proteção. Uma precaução importante que deve ser adotada ao tra-tar áreas de hipermobilidade consiste em garantir a identifi cação das áreas de fl exibilidade relativa. As técnicas de estiramento (alongamento) destinadas a aprimorar a mobilidade em uma área hipomó-vel podem aumentar a hipermobilidade em uma área adjacente. As atividades devem progredir de conformidade com a capacidade do indivíduo em controlar os limites da estabilidade 10. A hiperfl exibilidade pode ser benigna ou maligna.

Será considerada benigna se não houver o sintoma de dor. Se for maligna ou desenvolvida às custas de microlesões e/ou instabilidade músculo articular, pode afastar o esportista do desempenho e con-duzir a problemas ortopédicos e degenerativos, por suas conseqüências músculo-esqueléticas. Entre-tanto, esse tipo de problema não é muito comum na prática de esportes de alto nível, pois, esses esportistas acabam sendo eliminados antes de seu desenvolvimento completo, por lesão ou por defi -ciência no desempenho esportivo. Outra desvanta-gem consiste no facto de pessoas com articulações lassas apresentarem difi culdade no controle corpo-ral, além de menor percepção corporal. Para essas pessoas recomenda-se exercícios de alongamento somente como um meio de aquecimento 9.

Tratamento através do alongamentoQuando uma pessoa inicia um programa de

treinamento de fl exibilidade, os possíveis benefí-cios são potencialmente ilimitados. A qualidade e

Mitos e verdades sobre fl exibilidade: refl exoes sobre o treinamento de fl exibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur

340 {Revisão

motricidade3vol1111.indd 77motricidade3vol1111.indd 77 10-06-2007 20:45:2210-06-2007 20:45:22

a quantidade desses benefícios são determinados pelos objectivos do indivíduo e pelos métodos e técnicas usados para atingir esses objectivos 4.O movimento limitado produz restrições fun-

cionais ou incapacidades observáveis, porém a dor produz limitações funcionais e incapacidade que nem sempre podem ser observadas por quem não está familiarizado. Ela é um componente da maio-ria das condições músculoesqueléticas. A dor aguda está associada com distensões musculares, tendinite, contusões ou lesões ligamentares, e costuma ser de curta duração. A dor crônica não é de curta dura-ção e produz profundas alterações nos aspectos físi-cos, psicológicos e sociais na vida do paciente. Em geral a dor crônica é um grande componente de problemas como fi bromialgia, síndrome de fadiga crônica, síndrome de dor miofascial e lombalgia 10. É necessário exercitar-se quando se sofre de dor

crônica pois o exercício pode diminuir problemas como: infl exibilidade, perda de mobilidade ou fraqueza, que contribuem para a dor; prevenir as complicações musculoesqueléticas secundárias da dor, como fraqueza adicional, imobilidade e fl e-xibilidade em outras articulações, entre outros. O tratamento da dor crônica é dirigido a fonte de dor e a quaisquer defi ciências ou limitações funcionais músculo-esqueléticas, bem como a quaisquer pro-blemas que podem ser prevenidos, identifìcados durante o processo de avaliação 10. O alongamento tem sido usado para diminuir dor e dureza mus-cular 18.O exercício também pode ser executado como

uma estratégia de abstenção para reduzir ou preve-nir o estresse indesejado. E, assim como o exercí-cio foi verifi cado como sendo, imensuravelmente, terapêutico para muitas pessoas, provas empíricas indicam que programas de treinamento de fl exi-bilidade individualizados podem ser benéfi cos da mesma forma 4.Os traumatismos podem causar um ciclo dor-

espasmo que ativam os nociceptores. Estes detectam a dor que produz uma atividade muscular refl exa

que, se for prolongada, resulta em isquemia muscu-lar. A isquemia excita os nociceptores musculares que perpetuam o espasmo muscular. A liberação de substâncias químicas no momento da lesão ou com o resultado da infl amação também pode esti-mular os nociceptores. A vasoconstricção associada com a resposta simpática ou aquela que resulta do espasmo muscular pode produzir dor 10.

No tratamento de problemas relacionados à coluna vertebralA impossibilidade de movimentar uma articula-

ção por causa da dor pode resultar em perda da mobilidade. Se um segmento da coluna vertebral se apresenta hipomóvel em virtude de uma lesão, o segmento é mais rígido e impõe mais resistên-cia ao movimento que as articulações adjacentes. Quando se torna necessária a fl exão, extensão ou rotação, as articulações adjacentes produzem a maior parte do movimento por causa da resis-tência a movimentação da articulação hipomóvel. Também, a rigidez dos músculos isquiotibiais é compensada com freqüência pela movimentação da coluna lombar, que irá exercer mais carga sobre a coluna. O alongamento dos músculos isquioti-biais minimiza o estresse exercido sobre a coluna e constitui a base para o estiramento dos isquiotibiais, uma abordagem usada por pessoas para combater a lombalgia. A menor mobilidade no quadril contri-bui para a lombalgia. A dor resulta da compressão dos elementos posteriores da coluna vertebral e subseqüente infl amação ao redor das raízes ner-vosas. Neste exemplo, os elementos de base são o encurtamento dos fl exores e da cápsula articular do quadril exercendo tração sobre a pelve em uma inclinação anterior e o alongamento e enfraque-cimento dos músculos abdominais, que se tornam incapazes de proporcionar uma contra-força sufi -ciente. Nessa situação deve ser instituída uma inter-venção capaz de aumentar o comprimento dos fl exores do quadril e reduzir a rigidez na cápsula articular do quadril e de aprimorar o acionamento

341 {Revisão

motricidade3vol1111.indd 78motricidade3vol1111.indd 78 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

neuromuscular e a resistência muscular dos múscu-los abdominais 10. O alongamento e o fortalecimento são uma

medida preventiva e um tratamento para a dor lombar baixa 19. Ocorre também a diminuição da dor lombar baixa e ainda alívio do desconforto associado a osteoartrite e ciatalgia com exercícios de alongamento 18. Nas escolioses doloridas do adulto o alonga-

mento muscular se revela extremamente útil para o benéfìco efeito antálgico (contra a dor muscular); o exercício de alongamento ainda revelou, além disso, bons resultados nos casos de hipercifose dor-sal rígida 20.

No tratamento da fi bromialgiaSão sugeridos exercícios de alongamento como

parte no tratamento de indivíduos com fi bromial-gia 10 (síndrome reumática, de etiologia desconhe-cida, caracterizada por dor músculo-esquelética difusa e crônica e por sítios anatômicos específi cos dolorosos à palpação 21). A efi cácia dos exercícios de alongamento muscular na melhora do sintoma de dor e maior facilidade para a realização de ati-vidade de vida diária em pacientes com fi bromial-gia são comprovados 22, porém, ainda permanece a sensibilidade dolorosa nos “tender points” (irritação nervosa local, que leva a uma contratura muscular acompanhada de dor de caráter duradouro) e con-clui que a associação das terapias de TENS (estimu-lação elétrica nervosa transcutânea) e alongamento muscular, mais a melhora da consciência corpo-ral, permitem melhorar, além da dor, a rigidez e a infl exibilidade encontrada nesses pacientes 21. Toda-via, um estudo realizado na Reumatologia da Uni-fesp mostra que a simples caminhada pode ajudar essas pessoas mais do que o alongamento, que é o exercício físico mais indicado no tratamento con-vencional. De acordo com o autor, todas as pacien-tes, com o alongamento, tiveram uma melhora em algum aspecto. Já as que caminharam, melhoraram em todos os aspectos. Concluiu ainda que, o con-

dicionamento físico aeróbio é superior ao alon-gamento na melhora da depressão, ansiedade, dor, função e qualidade de vida 23 .

No tratamento das lesões dos tecidos conjuntivosO alongamento deve ser incorporado se o com-

primento muscular é insufi ciente para as demandas impostas à unidade músculotendinosa 10. Nos casos de recuperação após uma lesão tendinosa aguda, o alongamento é crítico para restaurar o compri-mento normal do tecido 10. Ainda mais, o alonga-mento é um estímulo nos estágios iniciais de cica-trização para o alinhamento correto do colágeno. No tecido em fase de cicatrização, o alongamento delicado destinado a proporcionar um estímulo para a orientação das fi bras sem ruptura do colá-geno imaturo facilita o processo de remodelagem. Porém deve-se usar de muita cautela pois, o mesmo autor afi rma que a amplitude de movimento e o alongamento passivo não são processos benignos e estão contra indicados caso o movimento afete o processo de cicatrização 10. Em se tratando de um programa de introdução à reabilitação, após reduzir as respostas agudas à lesão, o programa deve pros-seguir com a amplitude precoce de movimento e exercícios ativos de fortalecimento e treinamento proprioceptivo, enfatizando necessidade de respei-tar o ritmo de cicatrização de cada indivíduo 24. Parece que o alongamento nesses casos está mais para recuperação de amplitude de movimento fun-cional do que para verdadeiros ganhos (aumentos) de amplitude articular 24.

Discussão

Podemos perceber que os termos alongamento e fl exibilidade são bem controversos a começar pelas suas defi nições. Há autores que consideram alon-gamento apenas como exercícios para manutenção da amplitude articular ou como parte de um aque-cimento antes de se iniciar uma atividade física,

Mitos e verdades sobre fl exibilidade: refl exoes sobre o treinamento de fl exibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur

342 {Revisão

motricidade3vol1111.indd 79motricidade3vol1111.indd 79 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

outros já acreditam que o alongamento é uma forma de aumentar ou ganhar amplitude articular.Muitas das idéias a respeito dos diferentes assuntos

que envolvem os efeitos dos exercícios de alonga-mento e ganho de fl exibilidade, como prevenção de lesões, alívio de dor, alongamento pós-exercí-cio, ainda não estão concluídas. Em se tratando de exercícios de alongamento após esforços físicos, parece que o ideal são exercícios moderados de alongamento para evitar um encurtamento mus-cular, não devendo, portanto, serem utilizados exer-cícios visando ganhos de fl exibilidade, pois o mús-culo fatigado não pode responder prontamente ao refl exo de proteção. Quanto à prevenção de lesões, muitos são os autores que defendem a idéia de que o alongamento é efi ciente neste sentido, assim como outros defendem que não existe comprovação científi ca neste assunto. Porém, podemos observar, que a maioria dos que são a favor da primeira idéia, destacam o alongamento como parte importante do treinamento e não como sendo apenas alguns exercícios preparatórios antes do treino. Para pessoas com hipermobilidade ou hiperfl exi-

bilidade, os exercícios de alongamento devem se resumir a apenas um meio de aquecimento.Nos casos de problemas relacionados à coluna

(lombalgias, ciatalgias, escolioses), o alongamento mostra-se um importante factor de contribuição no equilíbrio músculo-esquelético desta, redu-zindo as dores provenientes de um desequilíbrio entre força e alongamento muscular. No tratamento das lesões do tecido conjuntivo,

o alongamento está indicado para recuperação do comprimento normal do tecido, não sendo men-cionada nenhuma vantagem em grandes ganhos de fl exibilidade principalmente em se tratando da fase de cicatrização do tecido, onde se preconiza apenas um alongamento delicado para direccionar o alinhamento correto das fi bras de colágeno; em caso contrário, o alongamento não é considerado benigno.

No tratamento da fi bromialgia parece haver um consentimento geral de que o alongamento é bené-fi co no alívio da dor, porém há autores que acredi-tam que exercícios aeróbios são mais efetivos.Apesar dos inúmeros estudos e pesquisas nesta

área ainda são necessários muitos outros a fi m de proporcionar ferramentas precisas para educadores físicos trabalharem com segurança e alcançarem os resultados desejados na obtenção de saúde, reabi-litação de determinadas patologias, performance esportiva e uma melhor qualidade de vida, pois, quando se trata de alongamento e fl exibilidade, ainda existem muitas questões não esclarecidas devido a falta de estudos ou a resultados con-traditórios dos estudos já existentes. O desenvol-vimento de novos trabalhos científi cos torna-se fundamental, no sentido de propiciar aos profi s-sionais envolvidos com o treinamento da fl exibi-lidade, um maior repertório de informações que os possa tornar mais críticos com relação à pres-crição dos treinamentos de fl exibilidade nas mais diversas áreas de atuação da Educação Física.

Correspondência

Tathiane Tavares de AlmeidaRua Arnaldo Victaliano n.1800 apto.11Iguatemi – Ribeirão [email protected]

343 {Revisão

motricidade3vol1111.indd 80motricidade3vol1111.indd 80 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

Referências

1. Achour Júnior A. (1996) Bases para Exercícios de Alongamento Relacionado com a Saúde e no Desempe-nho Atlético. Londrina: Midiograf.2. Marchand EAA.(2002) Condicionamento de

fl exibilidade. Disponível em: <http: //www.efdepor-tes.com/ > Revista Digital – Buenos Aires. 8(53). Octubre. Acesso em: 3 mar. 2004.3. Primo D. (2004) Relação entre o treinamento de

força e treinamento de fl exibilidade. Disponível em: <http://www.cdof.com.br/along7.htm>. Acesso em: 3 mar. 2004. 4. Alter MJ. (1999) Ciência da Flexibilidade. Porto

Alegre: Artmed.5. Farinatti PTV. (2000) Flexibilidade e esporte:

uma revisão de literatura. Rev Paul Ed Fís. 14(1):85-96. 6. Wilson GJ. (2004) Muscle: Stiffness and Flexibility:

Implications for Performance Enhancement and Injury Prevention. Disponível em: <http://www.sportsci.org>. Acesso em: 3 mar. 2004.7. Cunha FA. (2004) Características, importância e

treinamento da fl exibilidade no futebol. Disponível em: < http://www.cdof.com.br/futebol5.htm>. Acesso em 10 mar. 2004.8. Geoffroy C. (2001) Alongamento para todos. São

Paulo: Manole.9. Achour Jr A. (2004) Flexibilidade e Alongamento:

Saúde e Bem-estar, São Paulo : Manole.10. Hall CM; Brody LT. (2001) Exercício Terapêu-

tico na Busca da Função. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan .11. Gomes AC; Monteiro GA; Vianna PM. (1997)

Alongamento. Treinamento Desportivo. 2:91-94.12. (2004). Study fi nds no evidence that stretching pre-

vents injuries. Medical Letter on the CDC & FDA 25:24.13. Deardorff J. (2004) When Stretching, Take It

Easy, Don’t Simple Let’er Rip. Knight Ridder / Tri-bune News Service. April 16.14. Amako M; Oda T; Masuoka K; Yokoi H; Cam-

pisi P. (2003). Effect of Static Stretching on Pre-vention of Injuries for Military Recruits. Mil. Med. 168.

15. Dantas EHM. (2003) A Prática da Preparação Física. Rio de Janeiro: Shape.16. Achour Júnior A. (1997) Avaliando a fl exibili-

dade: manual de instruções. Londrina: Midiograf.17. Kisner C; Colby LA. (1998) Execícios Terapêuti-

cos. São Paulo: Manole. 18. Bradford M. (2004) Lifestyle: The benefi ts of

stretching. Europe Intelligence Wire 5.19. Yessis M. (2004) Getting Spine – Specifi c With

Stretching And Strengthening. Run & FitNews. 5(1):22.20. Tribastone F. (2001) Tratado de Exercícios Cor-

retivos Aplicados à Reeducação Postural. São Paulo: Manole.21. Gashu BM; Marques AP; Ferreira EAG; Mat-

sutani LA. (2001) Efi cácia da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) e dos exercícios de alongamento no alívio da dor e na melhora da qualidade de vida de pacientes com fi bromialgia. Rev. Fisioter. Univ. São Paulo. 8:57-64.22. Marques AP; Mendonça LLF; Cossermelli W.

(1994) Alongamento muscular em pacientes com fi bromialgia à partir de um trabalho de reeduca-ção postural global (RPG). Rev .Bras. Reumatol. 34:232-4.23. Valim V. (2004) Estudo dos efeitos do condiciona-

mento aeróbio e do alongamento na fi bromialgia. Dis-ponível em: <http: //bases.bireme.Br/cgibin/wxislind.exe/iah/online>. Acesso em:10 mar. 2004.24. Andrews JR; Harrelson G L; Wilk KE. (2000)

Reabilitação Física nas Lesões Desportivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan .

Mitos e verdades sobre fl exibilidade: refl exoes sobre o treinamento de fl exibilidade na saúde dos seres humanos. Tathiane Tavares de Almeida e Marcelo Nogueira Jabur

344{Revisão

motricidade3vol1111.indd 81motricidade3vol1111.indd 81 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

1. TIPOS DE PUBLICAÇÃO.

A Motricidade publica trabalhos relativos a todas as áreas das Ciências do Desporto e Ciências da Saúde ligadas com a actividade física, o desporto e o bem-estar físico e psíquico. São aceites os seguintes formatos para publicação: Artigo de Investigação, Artigo de Revisão, Estudo de Caso, Artigo Técnico e Artigo de Opinião. Para publica-ção de estudos de caso, a metodologia seguida deverá ser rigorosa e expressa no manuscrito.

2. PREPARAÇÃO E ENVIO DOS MANUSCRI-TOS.

Os artigos submetidos à Motricidade deverão conter dados originais, teóricos ou experimen-tais, e a parte substancial do trabalho não deverá ter sido publicada anteriormente. Se parte do trabalho foi já publicado ou apresentada pub-licamente deverá ser feita referência a esse facto na secção de Agradecimento. Os artigos serão, numa primeira fase, avaliados pelo Editor – chefe e terão como critérios iniciais de aceita-ção o cumprimento das normas de publicação, a relação do tópico tratado com as Ciências do Desporto e Ciências da Saúde e o seu mérito científi co. Depois desta análise, o artigo, se for considerado pertinente, será avaliado por 2 revi-sores independentes e sob a forma de análise “duplamente cega”. A aceitação do mesmo por parte de um revisor e a rejeição por parte de outro obrigará a uma 3ª consulta. Concluído o processo de revisão, o autor principal será infor-mado do resultado do processo. Três resultados são possíveis: aceitação, aceitação com alter-ações e rejeição. Os artigos deverão ser tão objectivos quanto

possível e evitar o uso da especulação. Os artigos

serão rejeitados quando escritos em português de fraca qualidade linguística. O formato digital será obrigatoriamente em Microsoft Word do Windows XP. Os manuscritos deverão ser escri-tos em página A4 com 3 cm de margem, em letra Arial 12, com espaço de 1,5 linhas e com formata-ção justifi cada sem avanços ou espaçamentos de parágrafos. Não deverá ser usada letra maiús-cula e as secções devem ser realçadas a negrito (bold). Tanto o texto quanto os quadros e fi guras deverão ser a preto e branco. As páginas deverão ser numeradas sequencialmente, sendo a página de título a nº1. Os manuscritos não deverão con-ter notas de rodapé. Os Manuscritos deverão ser submetidos em suporte digital no formato acima descrito via correio electrónico. Para todos os tipos de publicação aplicar-se-ão estas regras de preparação e envio dos manuscritos. A sub-missão deve ser acompanhada por uma declara-ção que indique que caso o trabalho seja aceite para publicação, os autores do mesmo cedem os direitos de autor à Motricidade. Esta declaração deve igualmente atestar que o artigo nunca foi previamente publicado.

3. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTI-GOS DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE CASO.

Os manuscritos deverão obrigatoriamente con-ter as seguintes secções.

Página de título, contendo:• Indicação do tipo de publicação.• Título (conciso mas sufi cientemente informa-

tivo).• Título abreviado (limite de 45 caracteres).

{ NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS

1. TIPOS DE PUBLICAÇÃO2. PREPARAÇÃO E ENVIO DOS MANUSCRITOS3. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO E ESTUDOS DE CASO4. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE REVISÃO E ARTIGOS TÉCNICOS5. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTIGOS DE OPINIÃO6. ENDEREÇOS

motricidade3vol1111.indd 82motricidade3vol1111.indd 82 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

• Nomes dos autores por extenso (nome próprio e até dois sobrenomes) sem referência a graus académicos.• Afi liação académica ou profi ssional dos

autores (instituição de trabalho).• Nome e morada do autor para onde toda a cor-

respondência deverá ser enviada.

Página de resumo, contendo:• Dois resumos: um em Português e um em

Inglês (Abstract), ambos com um limite de 200 palavras.• Três a seis palavras-chave (Key words no caso

do Abstract).• No resumo e abstract, indicar os objectivos

do estudo, a metodologia usada, os resultados mais importantes e as conclusões do trabalho (referências da literatura e abreviaturas devem ser evitadas). • Antes do abstract deverá ser indicado o título

do trabalho em Inglês.

Introdução• Deverá ser sufi cientemente compreensível,

explicitando claramente o objectivo do trabalho e relevando a importância do estudo face ao estado actual do conhecimento.• A revisão da literatura não deverá ser exaus-

tiva (aconselha-se um limite de 30 referências para artigos de investigação e estudos de caso).

Metodologia• Esta secção deverá ser dividida em três sub-

secções: Amostra, Procedimentos e Estatística.• Nesta secção deverá ser incluída toda a infor-

mação que permite aos leitores realizarem um trabalho com a mesma metodologia sem contac-tarem os autores.• Os métodos deverão ser ajustados ao objectivo

do estudo; deverão ser replicáveis e com elevado grau de fi abilidade.• Quando utilizados humanos deverá ser

indicado que os procedimentos utilizados respei-tam as normas internacionais de experimenta-ção com humanos (Declaração de Helsínquia de 1975) ou que os mesmos foram aprovados por um Comité de Ética• Quando utilizados animais deverão ser utiliza-

dos todos os princípios éticos de experimentação animal e, se possível, deverão ser submetidos a um Comité de Ética.• Todas as drogas e químicos utilizados deverão

ser designados pelos nomes genéricos, princípios activos e dosagem.• A confi dencialidade dos sujeitos deverá ser

estritamente mantida.• Os métodos estatísticos utilizados deverão ser

referidos. • Fotos de equipamento ou sujeitos deverão ser

evitadas.

Resultados• Os resultados deverão apenas conter os dados

que sejam relevantes para a discussão e serem apresentados preferencialmente sob a forma de quadros (tabelas) ou fi guras.• O texto só deverá servir para realçar os dados

mais relevantes e nunca replicar informação contida nos quadros (tabelas) ou fi guras.• Os quadros (tabelas) e fi guras deverão ser

numerados em numeração árabe na sequên-cia em que aparecem no texto. Os quadros não podem conter linhas verticais e devem ocupar a largura total do espaço de impressão da página.• O título dos quadros (tabelas) deverá aparecer

no cabeçalho dos mesmos e o título das fi guras aparecer no rodapé das mesmas. As abreviaturas usadas deverão ser explicadas em rodapé (em letra Arial tamanho 10) para ambos os casos.• Os quadros (tabelas) e fi guras deverão ser

submetidas com qualidade gráfi ca que possibil-ite a redução das suas dimensões e preferencial-mente a preto e branco. • Os quadros (tabelas) e fi guras deverão ser

colocados no manuscrito.• As fi guras deverão igualmente ser submetidas

em fi cheiros separados (um fi cheiro por fi gura) em formato TIF ou JPEG com tamanho máximo de 200kb por fi cheiro.• Unidades, quantidades e fórmulas deverão

observar o Sistema Internacional (SI). • Todas as medidas deverão ser referidas em

unidades métricas.

Discussão• Os dados novos e os aspectos mais impor- {

NO

RM

AS

PAR

A P

UB

LIC

ÃO

DE

TRA

BA

LHO

S

motricidade3vol1111.indd 83motricidade3vol1111.indd 83 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

tantes do estudo deverão ser indicados de forma clara e concisa e não deverão ser repetidos os resultados já apresentados.• Deverá ser efectuada uma comparação com a

literatura.• As especulações não suportadas pelos méto-

dos estatísticos deverão ser evitadas.• Sempre que possível, deverão ser incluídas

recomendações.• A discussão deverá ser completada com um

parágrafo fi nal onde são realçadas as principais conclusões do estudo.

AgradecimentosSe o artigo tiver sido parcialmente apresentado

publicamente deverá aqui ser referido o facto. Qualquer apoio fi nanceiro ao trabalho deverá igualmente ser referido.

Referências• As referências deverão ser citadas no texto

por número (índice superior à linha), compiladas alfabeticamente e ordenadas numericamente na listagem fi nal. Para Artigos de Revisão com mais do que 30 referências e para Artigos de Opin-ião, as referências poderão ser ordenadas pela sua citação no texto e não por ordem alfabética. Apenas quando for indispensável será aceite a indicação dos autores no texto. Neste caso, nas referências com mais do que dois autores será indicado apenas o nome do primeiro autor seguido da abreviatura “et al.”.• Na lista fi nal de referências usadas todos os

autores deverão ser indicados.• Os nomes das revistas deverão ser abreviados

conforme as normas internacionais de indexação das mesmas.• Apenas artigos publicados ou em impressão

(in press) poderão ser citados. Dados não publi-cados deverão ser utilizados só em casos excep-cionais sendo assinalados como “dados não pub-licados”.• A utilização de um número elevado de resu-

mos ou de artigos de publicações que não sejam sujeitas a um sistema de revisão científi ca (peer-reviewed) será uma condição de não-aceitação.

Exemplos de referênciasArtigo de revistaHeugas AM, Brisswalter J, Vallier JM (1997).

Effet d´une période d´entraînement de trois mois sur le Défi cit Maximal en Oxygen chez des sprinters de haut niveau de performance. Can J Appl Physiol 22 :171-181.

Livro completoAltman DG (1995). Practical statistics for medi-

cal research. London: Chapman and Hall.

Capítulo de um livroHermansen L, Medbø JI (1984). The relative

signifi cance of aerobic and anaerobic processes during maximal exercise of short duration. In: Marconett P, Poortmans J, Hermanssen L (Eds). Physiological Chemistry of Training and Detrain-ing. Basel: Karger, 56-67.

4. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTI-GOS DE REVISÃO E ARTIGOS TÉCNICOS.

Aplica-se o disposto anteriormente para os out-ros formatos de artigo, com excepção da orga-nização por secções que deverá ser a seguinte.

• Página de Título• Resumo e Abstract• Introdução• Desenvolvimento• Conclusões• Agradecimentos• Referências

Para a página de título, resumo, abstract, introdução, agradecimentos e referências, bem como para a inclusão de quadros e fi guras, aplica-se o disposto anteriormente.

Desenvolvimento• O título desta secção ou de várias subsecções

que a componham, deve ser específi co para a temática que é apresentada e de livre escolha por parte dos autores.

motricidade3vol1111.indd 84motricidade3vol1111.indd 84 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23

• Nesta secção é apresentada a informa-ção essencial que o artigo permite transmitir. Pode socorrer-se de informação já publicada (obrigatório no caso de artigo de revisão) e apre-sentar informação própria dos autores não pub-licada (apenas admissível no caso de artigo téc-nico). Aconselha-se um limite de 30 referências para artigos de técnicos e de 60 referências para artigos de revisão. Aconselha-se igualmente um mínimo de 30 referências para artigos de revisão. O uso de citações integrais deverá ser evitado. Quando usado este tipo de citação, o parágrafo deverá estar tabulado a 3 cm para a direita e em letra Arial estilo itálico e tamanho 10. Nos artigos técnicos, embora não seja exigida a confi rmação pelo método científi co da informa-ção apresentada, é aconselhável que os autores evitem uma linguagem especulativa e procurem objectividade na informação transmitida. A infor-mação em texto pode ser completada com quad-ros ou fi guras (sendo obrigatória a identifi cação da fonte quando não se tratem de originais). O título deste capítulo ou dos vários sub-capítu-los que o compõem, deve ser específi co para a temática que é apresentada e de livre escolha por parte dos autores.

Conclusões• Nesta parte os autores devem apresentar uma

súmula da informação transmitida, realçando a utilidade prática do trabalho e eventuais reco-mendações técnicas que derivem da informação que é apresentada.

5. NORMAS DE PUBLICAÇÃO PARA ARTI-GOS DE OPINIÃO.

Os artigos de opinião serão da autoria exclu-siva de convidados pelos Editores da revista e versarão temáticas associadas com o Desporto. A sua organização em secções não é imposta aos autores e a sua avaliação será feita pelos directores da revista. Poderão socorrer-se ou basear-se em dados resultantes de investigação formal ou informal e de referências da literatura (aplicando-se neste caso as normas anterior-mente defi nidas). Neste formato, não é exigido o Resumo e o Abstract, embora se estimule os autores à sua apresentação.

Endereço electrónico para envio de [email protected]

Endereço para correspondênciaFTCD – Fundação Técnica e Cientifi ca do Des-

portoRevista da FTCDRua Eng. Duarte Pacheco, 114520-225 Sta. M.ª FeiraPortugalTel. 256 378 690 | Fax 256 378 692 | www.ftcd.

org

{NO

RM

AS

PAR

A P

UB

LIC

ÃO

DE

TRA

BA

LHO

S

motricidade3vol1111.indd 85motricidade3vol1111.indd 85 10-06-2007 20:45:2310-06-2007 20:45:23