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Revista Movimento Médico Nº 07

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Revista das entidades médicas de Pernambuco, - Ano II - Nº 7 - Jun / Jul / Ago 2006

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reportagem de capa da sétima edição da revistaMovimento Médico traz todos os detalhes do Plano deCargos, Carreiras e Vencimentos da categoria médicaaprovado pela Assembléia Legislativa do Estado. Umaconquista histórica de todos os médicos pernambucanos.

Movimento Médico traz também uma entrevista com o novopresidente do Conselho Regional de Medicina de Pernambuco, CarlosVital. A cada cinco anos, os médicos pernambucanos escolhem, poreleição direta, o corpo de conselheiros. E, por disposição regimental, acada dois anos e meio ocorrem eleições internas para renovação ou con-tinuidade da diretoria. No dia 31 de março passado, Vital, que era o vice-presidente de Ricardo Paiva, assumiu a presidência e Paiva passou a sercoordenador de Projetos Sociais. A vice-presidência ficou com AndréLongo (abaixo foto com a nova diretoria). Na sua entrevista comopresidente do Cremepe, Carlos Vital dá a dica sobre o seu novo papel àfrente do Conselho: “Nosso grupo seguirá a mesma linha de plane-jamento definida há dois anos e meio, já que de fato não existe uma velhaou nova gestão. Ou seja, apenas a continuidade de trabalhos anteriores,com uma coordenação renovada”.

E você vai ler ainda nesta edição de Movimento Médico um perfil euma entrevista com Alex, colunista do Jornal do Commercio, sobre aexperiência dele nos mais de cinqüenta anos de carreira como jornalista.A revista traz ainda uma novidade: a coluna História da MedicinaPernambucana, que vai mostrar os primórdios das várias especialidadesmédicas e as curiosidades que marcaram o início delas no estado.

EXPEDIENTE

Conselho EditorialCremepe Presidente: Carlos VitalVice-presidente: André LongoAssessoria de Imprensa: Joane Ferreira - DRT/PE 2699

Carla Leão - DRT/PE 3680

SimepePresidente: Mário Fernando LinsVice: Antônio JordãoAssessoria. de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268

AmpePresidente: Jane LemosVice: Bento BezerraAssessoria de Imprensa: Elisabeth Porto - DRT/PE 1068

FecemPresidente: Assuero GomesAssessoria de Imprensa: Evelyne Oliveira - DRT/PE 3456

APMRPresidente: Adriana MarquesVice: Marizon Armstrong

TraumaCoordenação: João Veiga e Fernando Spencer

Damuc/UFPECoordenação: Berta Maria Brunet e Maria Pirauá A. GonçalvesDA/UPECoordenação: Renan Eboli Lopes e Carlos Tadeu Leonidio

Redação, publicidade, administração e correspondência:Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro, CEP 52.020-030 - Recife, PEFone: 81 3241.5744

Edição Geral: VERBO Assessoria de Comunicação. Fone 81 3221.0786. - [email protected]. Jornalistas responsáveis: Beto Rezende e Lula Portela

Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054 Reportagem: Nathalia Duprat, Joane Ferreira, CarlaLeão, Evelyne Oliveira, Elizabeth Porto, Chico Carlos eDébora Lobo

Tiragem: 15.000 exemplaresImpressão: Intergraf

Coordenador Editorial: José Brasiliense HolandaCavalcanti Filho

Todos os direitos reservados.

Copyright © 2006 - Conselho Regional de MedicinaSeção Pernambuco

Nº 07 • Ano 02 •Jun/Jul/Ago 2006

Editorial

A Capa: Foto de Hans Manteuffel

Da esq. para a dir.: Luiz Antônio Wanderley Domingues, Nair Cristina Nogueira deAlmeida, José Carlos Barbosa de Alencar, André Longo Araújo de Melo, Carlos VitalTavares Corrêa Lima, Helena Carneiro Leão e Silvia da Costa Carvalho Rodrigues

Page 4: Revista Movimento Médico Nº 07

Sumário

Seções

4

10

14

32

Entrevista

Editorial 01

Opinião 03

Entrevista 04

Capa 07

História 10

Científica 14

Cremepe 16

Simepe 22

Ampe 26

História da MedicinaPernambucana 30

Trauma 32

Diretórios 34

Fecem 35

Cultura em Foco 36

Humor 39

Última página 40

Carlos Vital fala dos planos para ofuturo à frente do Cremepe

CapaPCCV: conquista históricados médicos

HistóriaZeppelin e o Recife: uma tradiçãoainda de pé

CientíficaÍndice de Mortalidade Maternaainda é alto no Brasil

22Sindicato75 anos do Simepe: há muito paracomemorar

TraumaO modelo do sistema de saúdepública do Canadá

36Cultura em focoCinqüenta anos depois, o Rockcontinua fazendo sucesso

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modelo atual de Resi-dência Médica deve serrepensado para adequar-seaos novos tempos. Tempos

onde não cabem soluções improvisadas,médicos-residentes acomodados e obje-tivos ambíguos.

Ao surgir, a Residência Médica tinhapor objetivo proporcionar ao jovem recém-formado vivência prática do exercício damedicina, sob a orientação de um médicoexperiente. Esta experiência internacionalfoi adotada pelos cirurgiões, seguida pelospediatras. Tal modelo resultou em quedada mortalidade dos pacientes internos, re-solubilidade eficaz e um médico mais ca-pacitado.

O Brasil importou esse tipo de for-mação, mas atrelou o programa pedagó-gico ao serviço hospitalar do professor.Assim, nascia a Residência Médica hospi-talocêntrica, evidenciada em comentáriosde colegas: “fiz minha residência no serviçodo Professor tal’’ ou “fui médico-residenteno hospital X‘’ - significando : “fui muitobem treinado”.

Nenhum curso médico tem caráterterminal, somos eternos aprendizes. Maspodemos fixar metas a serem cumpridasgradualmente e definidas por estas ques-

tões: O que queremos? Para quem? Quaisnecessidades por especialidade nos próxi-mos 10 anos? Que modelo adotar? Hospi-talocêntrico, apenas ambulatorial ou ummisto de hospital/ambulatório? Todas asespecialidades médicas hoje oferecidas sãomesmo residenciáveis?

A interiorização é fundamental, masdeve ser feita de forma responsável, prepa-rando-o para o exercício da profissão comdignidade, humanidade, seriedade, respeitoao próximo. A concentração de grandesparques tecnológicos obriga o recém-for-mado a dispensar o raciocínio clínico, re-sultando em insegurança e afastando-o darealidade interiorana. Agimos como se ape-nas nos grandes centros houvesse doença esomente os aparelhos pudessem diagnos-ticá-las. Defendo a tecnologia de ponta, masinsisto na atenção primária à saúde ou àdoença. Nos Estados onde há interiori-zação, ela é tímida e o treinamento poucoprocurado, exceto em alguns programas doSudeste, que devem ser imitados.

Questiono a “teorização’’ dos conteú-dos programáticos de residência médica.No treinamento em serviço, o programateórico com 10 ou 20% da carga horária éde bom tamanho. Caso contrário, perde-sea oportunidade de aprender praticando.

Precisamos formar com prática supervisio-nada. É na figura do supervisor e do pre-ceptor que os médicos residentes hão deespelhar-se.

A apatia do médico residente causa-meprofunda irritação. Esse período de suavida é a base do sucesso profissional. Épreciso largar a idéia de residência médicameramente pautada em bolsa, em comple-mentação salarial e mergulhar de fato naqualificação. Faço aqui uma deferênciaespecial à minoria dos residentes que levamà frente o movimento de sua categoria.

O tempo para o residente é curto, umasemana ou meses representam imensoprejuízo na formação. É preciso menosmarasmo e mais agilidade nas decisões.Com isto ganham a Instituição, o resi-dente e a sociedade. No mundo globali-zado, o jeitinho brasileiro da improvisaçãonão é mérito, é incompetência. O resi-dente deve assumir seu papel de aprendiz;as Instituições, o de órgão formador e osmantenedores, a função de financiadorvoltado para as necessidade do modelo desaúde instalado.

*Coordenadora dos Programas de ResidênciaMédica da FCM/UPECoordenadora da Região Nordeste III pelaComissão Nacional de Residência Médica

Residência médicanum Brasil de todos

OpiniãoValdecira Lucena*

Cartas

Aos Editores daMovimento Médico,

Como estudante quero parabenizar a revista Movimento Médico pelo seu conteúdodiversificado e sua linguagem clara e objetiva, assim facilitando a leitura dos jovensinteressados. Não posso esquecer de ressaltar a parte humorística, a qual me identifiqueibastante com a sua descontração.

Ana Sofia Alburquerque Melo

Aluna da 2a série do Ensino Médio

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4 Movimento Médico

Com intuito de manter e ampliaros projetos criados pelo CREMEPE,o presidente Carlos Vital acredita noinvestimento de um profissional maisético e responsável. Ressaltando a res-ponsabilidade da entidade em preser-var o bem comum e o bem estar social,o médico que dedicou sua vida aoexercício da medicina busca conquis-tar, junto ao Sindicato dos Médicos edemais entidades médicas, uma me-lhor condição de trabalho e remunera-ção para a categoria. O novo repre-sentante dos médicos em Pernambucotambém avalia, em entrevista, pontospertinentes para os profissionais dacategoria e demonstra como a Enti-dade deverá ser norteada nos pró-ximos dois anos.

Quais são os projetos definidos poresta nova gestão?

Os atuais conselheiros do Cre-mepe estão na metade do seu man-dato, com período de 5 (cinco) anosna gestão institucional, em busca de

uma prática médica valorizada, efi-ciente, humana e paritária. Os seusprojetos são conhecidos e já definidos,desde o início da gestão deste grupoconselhal, há dois anos e meio, sob acoordenação do Dr. Ricardo Paiva, deforma consensual e coerente com asatividades precípuas da entidade. Emvirtude das orientações regimentais doÓrgão e da nossa filosofia de conduta,há uma nova coordenação detrabalhos a serem realizados nos pró-ximos dois anos e meio, sob a minharesponsabilidade. Esta coordenação,de perfil semelhante à que lhe an-tecedeu, será desenvolvida de modoobstinado pela consecução dos resul-tados desejados, com autonomia, semsubserviências a receios e sem velei-dades de acréscimos ou reformas dosprojetos.Todos os projetos, o da Cara-vana, os do CEAC, os judicantes, ospedagógicos, os dedicados aos porta-dores de especificidades, os políticos eos de fiscalização, estão em fase opera-cional, dimensionados para implan-

tação e consolidação no transcurso doexercício institucional, sem detrimentodos planos de incentivo às Comissões,Câmaras Técnicas, Delegacias eRepresentações Regionais.

Que visão o senhor acha que acategoria médica tem do Cremepe?

Os esforços envidados para pre-servação do prestígio da medicina edo bom conceito dos médicos são al-mejados e bem compreendidos peloconjunto da categoria. As campa-nhas promovidas pelo Sindicato dosMédicos, em sinergia de ações como Cremepe e apoiadas pelas demaisentidades médicas, configuram-seem conquistas relevantes ao reconhe-cimento profissional. Exemplos maisrecentes são: a progressiva inserçãoda CBHPM como referência de ho-norários, o Plano de Cargo e Car-reira e os aumentos salariais dos mé-dicos no Estado. Acredito que acategoria médica, consciente daimportante participação da Insti-

Carlos Vital e as Perspectivaspara o Cremepe

ascido em 17/08/1950, Carlos Vital concluiu o curso de medicina no ano de 1975 naFaculdade de Ciências Médicas (UPE), fez pós-graduação em medicina do trabalho eexerce clínica médica em consultório e através de vínculo com a Secretaria Estadual deSaúde. É sócio fundador da Sociedade Brasileira de Bioética e da Associação Brasileira

de Direito Médico. Exerceu os cargos de Consultor da Fundação Interiorana de Apoio Municipal(FIAM), de Médico do Trabalho nos Grupos BASF, Bosch-Siemens e Norberto Odebrecht. FoiCoordenador dos Comitês de Especialidades e da Comissão de Ética da Unimed Recife, Membroda Comisão de Ética e do Conselho Fiscal da Cooperativa de Clínicos (Coopeclin) e Membro doConselho Fiscal da Sociedade de Medicina de Pernambuco. No CREMEPE, exerceu os cargos deCoordenador das Comissões de Defesa Profissional e de Divulgação de Assuntos Médicos, deCorregedor e Vice-Presidente, tendo assumido a presidência da Entidade em 31 de março desteano. Entrevista ao jornalista Edwilson Ruas

CARLOS VITAL TAVARES CORRÊA LIMA

ENTREVISTA

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tuição nas conquistas em seu be-nefício e da sociedade, tenha umaboa visão do Conselho, mas, a res-posta a esta pergunta deverá serobtida em breve, com maior legiti-midade, em uma ampla pesquisa deopinião dos médicos.

O engajamento do Cremepe juntoà sociedade civil, às vezes é visto comouma extrapolação de suas funções. Deque forma o Senhor avalia estapostura?

As autarquias federais estãosubmetidas às disposições do artigo 37da nossa Carta Magna, nas quais lhessão determinadas o zelo pelos prin-cípios da moralidade e da legalidadena República. O bem comum e o bemestar social são questões de lei e moral.

Posto que, por ordem constitucional,as ações solidárias e políticas doCremepe, uma autarquia federal, sãoparte integrante e fundamental às suasfunções conselhais.

Como será a relação do Cremepecom o CFM nesses próximos doisanos e meio da sua coordenação?

Essa relação interinstitucional, emalguns aspectos com vinculação hie-rárquica de caráter legal, será pautadapelo respeito mútuo e consideração,independência financeira, adminis-trativa e política.

Como está a tramitação no Con-gresso Nacional, do projeto de lei queregula a relação entre médicos eOperadoras de Planos de Saúde?

A inércia de um sistema legislativoconturbado pela corrupção e sujeito àspressões dos grandes capitais, bem co-mo os obstáculos levantados pelaANS, dificultam a tramitação desseprojeto de lei no Congresso Nacional.Não obstante as dificuldades, aCBHPM, paulatinamente, está sendoadotada nas negociações feitas em todoo País. As operadoras de Planos eSeguros de Saúde não detêm mais opoder de império! Na intensificação daluta por mais rápidos e significativosavanços, há de se ter união, como disseo Padre Antônio Vieira no célebresermão de Santa Engrácia: “sem uniãonão haverá mister de mãos para nós,nem a nós nos hão de valer as nossas”.

Qual a sua avaliação do Sistema deSaúde Estadual, tendo em vista pro-blemas com superlotação de hospitais,ausência de vagas para UTI's, eincapacidade de prestar atendimentoresolutivo à demanda? Há algum pro-jeto oferecido pela Secretaria deSaúde?

O Brasil constitui a 11ª economiamundial e ocupa, de maneira para-doxal, a 70ª posição em investimentosde recursos financeiros na área desaúde. Em face dos parcos recursosinvestidos, todos os sistemas governa-mentais de saúde evidenciam-se comogerência de uma inadequação entre ademanda assistencial e a oferta de ser-viços, com reflexos mais negativos naatenção às assistências de comple-xidade secundária e terciária. Os re-cursos financeiros insuficientes, osdesvios de verbas, as estratégiaspredatórias do sistema privado sobre osistema público, a ineficácia auditorial,a falta de controle social e de progra-mas inter municipais em consórciossem disputas político-partidárias decausas menores, conduzem os projetosexistentes, entre os quais os da Se-cretaria Estadual de Saúde, à pers-pectivas de pouca resolubilidade.

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Os esforçosenvidados parapreservação doprestígio dosmédicos sãoreconhecidos

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Fachada do Cremepe

6 Movimento Médico

ENTREVISTA

O Cremepe realizou a primeira Intervenção Ética em umhospital de Pernambuco. Em que circunstância se dá umaIntervenção Ética em um hospital?

A interdição nosocomial, decorrente de diligência doCremepe, se limita à suspensão do exercício profissional dosmédicos no hospital e se materializa em circunstâncias extremasde precárias condições ambientais, técnicas ou de recursoshumanos, incompatíveis com a observação dos ditames de seuCódigo de Ética.

Que contribuição a Caravana do Cremepe, que já percorreu,em sua primeira fase, sessenta municípios e agora voltou aoInterior, poderá trazer para a população de Pernambuco?

A Caravana do Cremepe é dirigida ao conhecimento maispreciso do índice de desenvolvimento humano dos nossosmunicípios e território. Procura identificar as prevalências epide-miológicas e as carências sócio-econômicas de cada um deles,como elementos de base à diagnose indispensável aos projetos deassistência à saúde e à dignidade humana. Sem diagnóstico não hátratamento metodológico.

Como funcionará e quais os objetivos da recém criada Escolade Ética Médica do Cremepe?

A Escola Superior de Ética Médica do Conselho (ESEM),criada pela Resolução Cremepe 03/2005, de 05/12/2005, temdois principais objetivos pedagógicos:

•O primeiro desses objetivos é o preenchimento de umespaço vazio na formação acadêmica do médico, desprovida deprivilégios ao aprendizado deontológico, bioético e do DireitoMédico, necessários à uma atividade profissional desempenhadacom domínio das suas implicações jurídicas, éticas e morais;

•O segundo objetivo, não menos estimulante, é o de interagircom o Poder Judiciário e o Ministério Público, oferecendo-lhescursos específicos aos interesses comuns de justiça.

A prática médica sob a disciplina do Código de Defesa doConsumidor, Lei 8.078/90, é analisada à luz de novas doutrinasjurídicas que contrariam mais de dois mil anos de DireitoRomano com fulcro no instituto da culpa. Confirmam-se, muitasvezes, as previsões de Esculápio, de que os seus discípulos seriamjulgados pelas causalidades do destino. Com magnitude eprioridade social, o Direito e a Medicina foram as primeirasciências a serem ensinadas nas escolas medievais e por terem prin-cípios analógicos, a sua interação, de característica hermenêutica,é recomendável a uma melhor interpretação e aplicação dasnormas à realidade hipocrática contemporânea. Os cursos daESEM deverão ser ministrados em nível de pós-graduação emlato senso, por meio de convênios e intercâmbios culturais comSecretarias de Saúde, Ministério Público, Tribunal de Justiça,Associações e Escolas de Magistratura, Sociedades de Espe-cialidades, Cooperativas e Escolas Médicas.

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uarta-feira, dia 29 demarço. O sol por teste-munha sobre o prédio daAssembléia Legislativa

de Pernambuco (Alepe). O relógiomarcava 14h30. No pátio externo, osservidores públicos se aglomeram nasentradas que dão acesso às galerias daCasa de Joaquim Nabuco para acom-panhar a votação do projeto de lei doPlano de Cargos, Carreiras e Venci-mentos (PCCV) dos servidores daSaúde, Detran e Universidade de Per-nambuco (UPE). Expectativa eangústia pairam no ar.

A polêmica gira em torno de umaemenda complementar ao projeto delei nº 1258 elaborada pelo deputadoestadual Isaltino Nascimento (PT)que tinha por objetivo de equiparar a

progressão dos benefícios salariais demédicos e demais servidores da saúde,incluindo enfermeiros, farmacêuticos,psicólogos, fisioterapeutas. Indigna-dos, muitos servidores e estudantes li-gados a essas profissões, criticavamabertamente a categoria médica. Ou-tros inconformados exibiam faixassobre o 4º cargo e o Ato Médico. Con-fundiam alhos com bugalhos.

Contrário à emenda, o Sindicatodos Médicos de Pernambuco – Sime-pe – mobilizou a categoria, através denota oficial, e, ao mesmo tempo, co-brou bom senso aos parlamentaresintegrantes das Comissões de Justiça,Saúde, Administração e Finanças paraa manutenção do projeto originalenviado pelo Executivo. Os médicosdenunciaram que, na prática, teriam

os seus salários reduzidos de R$ 1,4mil para R$ 900,00 e chamaram aproposta do petista de equivocada einconstitucional. Começa a sessão naCasa de Joaquim Nabuco. Galeriaslotadas. Profissionais de imprensaocupam seu espaço.

Diante da polarização e bate-bocaentre alguns parlamentares, o presi-

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Conquista histórica da categoria médica de Pernambuco

Chico Carlos*

PCCV mobiliza médicos

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Deputados em plenário

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8 Movimento Médico

Representantes do Cremepe e do Simepeacompanharam a votação

Movimento grande do lado de fora daAssembléia legislativa

Parlamentares no momento da discussão do projeto

dente da Alepe, o deputado RomárioDias interveio e chamou aslideranças partidárias para uma brevereunião em plenário. Em seguida,avisou que projetos seriam votadosnaquela tarde. O líder da bancada daoposição, Isaltino Nascimento (PT),acabou retirando a matéria antes davotação e alegou a falta de diálogocom o Governo do Estado em buscade uma solução negociada. Foi con-testado pelos deputados Pedro Eu-rico (PSDB) e Sílvio Costa (PMN),que afirmaram que a emenda nãotinha sustentação legal e consti-tucional para ser aprovada. O climaficou ainda mais tenso.

Depois de mais duas horas dedebates, os deputados aprovaram, porunanimidade, o projeto de lei nº 1258,com substitutivo do deputado Se-bastião Oliveira (PL), que garante osmesmos direitos do PCCV aos traba-lhadores da saúde que tenhamatividade no SUS fora da SecretariaEstadual de Saúde. O PCCV estipulaajustes salariais e regras para cres-cimento na carreira dos médicos quevão continuar com uma tabela salarial

diferente da dos outros profissionaisde nível superior

O então presidente do Sindicatodos Médicos/PE, André Longo,comentou a importância da aprovaçãodo projeto enviado pelo Executivo àAssembléia Legislativa e reafirmouque o PCCV não é o ideal, no entanto,é um avanço para os médicos dacarreira SUS. “A unificação dasgratificações em nosso salário-base foiconseguida após muitos anos de luta enunca passou pelo confronto com asdemais categorias profissionais doserviço público, reconhecendo a lutade todos por melhores condições detrabalho e salários” acrescentou.

Fim de tarde. Depois da votação,reina a tranqüilidade. Servidorespúblicos se retiram. As manifestaçõese o clima de agitação foram esquecidosnas galerias da Alepe. Não hávencidos, nem vencedores. A luta pelavalorização dos servidores no ServiçoPúblico é permanente e deve serpautada pelo entendimento, liberdadee autonomia sindical de cada entidade.

*Chico Carlos é jornalista

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Movimento Médico 9

o mês de abril, os servidores da Saúde do Estado de Pernambuco tiveram uma vitória coma aprovação do projeto de Lei 1258/06, que concede o Plano de Cargos, Carreiras e

Vencimentos (PCCV) para os servidores das categorias. O PCCV contempla cargos de nívelauxiliar, médio e superior integrantes do Quadro Próprio de Pessoal Permanente do PoderExecutivo, que estejam em exercício, em funções inerentes ao Sistema Único de Saúde (SUS),nos hospitais universitários estaduais, nas instituições privadas, sem fins lucrativos, prestadores deserviços de assistência à saúde e nas Secretarias Municipais de Saúde do Estado de Pernambuco.

A única emenda aprovada para o projeto-de-lei foi aelaborada por mim, justamente a que prevê que o PCCVseja estendido aos servidores da Saúde que estão lotados emoutros órgãos, desde que estejam a serviço do SUS. Areferida emenda vem para possibilitar que os servidoresefetivos integrantes das carreiras de saúde, que se encontremem exercício nos hospitais universitários estaduais, nasinstituições privadas, sem fins lucrativos, prestadores deserviços de assistência à saúde e nas Secretarias Municipaisde Saúde do Estado de Pernambuco possam usufruir dosbenefícios do PCCV.Os Planos de Cargos, Carreiras e Vencimentos (PCCV) deque trata a emenda estabelecem a nova estrutura de cargos,funções, vencimentos e institui instrumentos e critérios paraa progressão, que possibilitem um melhor desempenhofuncional do servidor, considerando aspectos de qualificaçãoe de titulação para o ingresso e desenvolvimento nascarreiras. A criação dos Planos de Cargos, Carreiras eVencimentos tem por objetivo dinamizar a estrutura dascarreiras dos servidores, destacando a sua profissionalização,valorização e qualificação, elevando a auto-estima de formaadequada, visando à melhoria da qualidade dos serviçosprestados à sociedade.Cada PCCV vem para valorizar a carreira dos servidores,

dotando o órgão ou entidade de uma ordem de cargoscompatíveis com a respectiva estrutura organizacional, além de estabelecer mecanismos einstrumentos que regulem o desenvolvimento funcional e remuneratório. Para adotar osprincípios da habilitação, do mérito e da avaliação de desempenho para o desenvolvimento nacarreira. Os dos Planos de Cargos, Carreiras e Vencimentos manterão o corpo profissional comalto nível, dotado de conhecimento, valores e habilidades compatíveis com a responsabilidadepolítico-institucional do órgão ou entidade. E por fim, integrar o desenvolvimento profissional deseus servidores ao desenvolvimento das missões institucionais do órgão ou entidade.

*Deputado Estadual do PL e médico

A aprovação do PCCV

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Sebastião Oliveira*

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o dia 22 de maio de 1930, era o nomede Júlio Prestes, recém proclamadoPresidente da República, que tomavaconta da imprensa nacional. No Recife,

porém, os jornais locais estampavam em suas capasuma notícia que provocava muito mais rebuliço en-tre a população: a chegada do Graf Zeppelin na ci-dade. O interesse tinha uma justificativa: era a pri-meira vez que o dirigível atracava em um país daAmérica do Sul.

Foram os ventos contrários que trouxeram oGraf Zeppelin a Pernambuco. Com suas marchasretardadas, o destino original, Rio de Janeiro, pre-cisou ser modificado. Coube ao seu comandante,Hugo Eckener, tomar a decisão de desviar a rota

10 Movimento Médico

HISTÓRIA

Foi decretado feriado municipal quando o Graff Zeppelin atracou, pela primeira vez na cidade do Recife

Com 70 anos de existência, a Torre doJiquiá aguarda restauro da Fundarpe

Nathalia Duprat*

NA dança silenciosa dos Zeppelinsna Torre do Jiquiá

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Movimento Médico 11

para Recife – onde o assunto já haviase tornado o preferido entre o povo –e entrar de vez para a história dacidade.

Logo começou o corre-corre paraa chegada da mais luxuosa aeronavejá vista até então. O prefeito Fran-cisco da Costa Maia decretou feriadomunicipal e todas as autoridades seempenharam nos preparativos para arecepção da tripulação e dos passa-geiros. Quando o Graf Zeppelin des-pontou sobre a cidade, mais de 15mil pessoas já estavam reunidas,aplaudindo em direção ao céu. Eram

19h35 quando o dirigível atracou naTorre do Jiquiá e foi recebido pelosociólogo Gilberto Freyre – entãochefe de gabinete do GovernadorEstácio Coimbra – que desejou asboas vindas em nome do povo per-nambucano.

ESTRUTURA – A torre em queo Graf Zeppelin atracou começou aser montada apenas algumas sema-nas antes de sua chegada, no Campodo Jiquiá, pela equipe de ErnestBesch, engenheiro da companhia aé-rea. Sua estrutura metálica media

16,5m de altura e pesava cerca de 3,5toneladas. Além do mastro, a in-fraestrutura criada para receber diri-gíveis de grande porte contava aindacom uma plataforma para as opera-ções de atracação, abastecimento degás, eletricidade e água, sala de em-barque e despacho de carga e cor-respondência, dormitório, cantina,posto de assistência médica, estaçãode rádio-telegrafia e fábrica de gáshidrogênio e gasômetro.

Em 1936, seis anos após suaconstrução, a Torre do Jiquiá cedeu.Como Recife era o principal ponto

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Tombada pela Fundarpe e aguardando restauro, a torre no campo de Jiquiá é a única no mundo que ainda está de pé

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de escala na América do Sul para osdirigíveis vindo da Europa, logouma outra foi montada em seu lugar.Com três metros a mais que a anterior,a nova torre foi erguida com peçasvindas da Alemanha e tinha capacida-de para atracar, além dos Zeppelin, osnovos modelos Hindenberg que esta-vam sendo lançados na época.

A nova Torre do Jiquiá, entretan-to, só funcionou ativamente duranteum ano. Em 1937, nos EstadosUnidos, depois que um raio atingiuum Hindenberg – que explodiu noar, matando 37 pessoas – o trans-porte por dirigíveis foi suspenso emais de cem aeronaves do tipo foramretiradas de uso em todas as partesdo mundo.

TEMPO – Dispensadas de suafunção, as bases para atracação de di-rigíveis aos poucos foram sendo de-sativadas. A Torre do Jiquiá é a únicaainda existente no mundo. Em 1983,foi tombada pela Fundação do Patri-mônio Histórico e Artístico de Per-nambuco (Fundarpe). A ação dotempo, porém, prejudicou sua estru-tura de ferro, severamente corroídapela ferrugem.

Em 2003, a Fundarpe, junto aoMinistério Público, deu início a umprocesso de restauração da Torre doJiquiá. Segundo Jobson Figueiredo,restaurador e artista plástico que coor-dena o projeto, um laudo técnico e umplano de trabalho já foram feitos.“Infelizmente, o processo burocrático

é muito lento. Estamos aguardandoresoluções para que possamos, enfim,dar início às obras”, desabafou.

Setenta anos após sua construção, aTorre do Jiquiá não desperta mais osolhares de outrora, quando reunia emtorno de si dezenas de visitantes, entu-siasmados com a presença dos imen-sos charutos prateados no céu. Suaforça histórica, no entanto, não desa-pareceu; permanece depositada em ca-da centímetro de sua estrutura, aguar-dando apenas um mínimo de atençãodas autoridades, para poder testemu-nhar, silenciosamente, as cenas quetanto presenciou: a dança compassadae graciosa dos antigos zeppelins.

*Natalia Duprat é jornalista.

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HISTÓRIA

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Muitas fotos registram apassagem dos Zeppelis pelacidade do Recife, um dosmais importantes pontos depouso e partida da AméricaLatina.

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Movimento Médico 13

Os dirigíveis da companhia Zeppelin foramcriados no final do século XIX, na Alemanha, peloconde Ferdinand von Zeppelin. O vôo inaugural daprimeira aeronave do tipo foi feito no dia 2 de julhode 1900, sob o Lago Constança. Sua estrutura emforma de cilindro era feita de alumínio, revestida deum tecido de seda envernizada, com capacidadepara transportar em média nove toneladas de carga,20 passageiros e 26 tripulantes.

O Graf Zeppelin que pousou no Recife media235m de comprimento, 33,5m de altura e 30,5m dediâmetro. Sua velocidade podia atingir no máximo130km/h, voando a cerca de 150m a 200m do solo.No primeiro vôo que fez para o Recife, o dirigívelchegou à marca, considerada espantosa na época,

de 110km/h e a viagem foi considerada um grandesucesso: conseguiu fazer a travessia do Atlântico notempo recorde de três dias. A partir dali, o GrafZeppelin faria incontáveis viagens entre o Brasil e aEuropa, passando quinzenalmente pela Torre doJiquiá, no Recife.

Parece uma baleia se movendo no ar! Parece um navio avoando nos ares! Credo, isso é invenção do cão! Ô coisa bonita danada! Viva seu Zé Pelin! Vivaôôô.

(Ascenso Ferreira)

Pequena trajetória do Zeppelin

O condeFerdinand vonZeppelin quecriou o dirigívelfoi um dospioneiros daaviaçãocomercial

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14 Movimento Médico

s índices da Mortalidade Materna (MM)sofreram uma pequena diminuição no Brasil,mas mesmo assim é considerado alto para aOrganização Mundial da Saúde (OMS).

Grávidas, principalmente com idades entre 20 e 30 anos,acabam falecendo por falta de assistência obstétricaadequada, quer seja no pré-natal, parto ou no puerpério,transformando este problema em um dos mais graves dopaís, além da diferença social. De acordo com aClassificação Internacional de Doenças (CID), de 1994, éconsiderado Morte Materna quando a mulher falece “oudurante a gravidez ou dentro de um período de 42 dias apóso término da gestação”, podendo ainda ser estendido esteperíodo até um ano do final da gestação. Isso porquealgumas mulheres adoecem no ciclo grávido-puerperal, massomente morrem algumas semanas ou meses após ascomplicações iniciadas no período. Para a médica dohospital das clínicas da UFPE, Sandra Valongueiro, muitos

casos de MM poderiam ser evitados. “A morte materna,evitável em mais de 90% dos casos, revela a falência daassistência à saúde reprodutiva e representa uma violaçãodos direitos humanos das mulheres.” – ressaltou.

Muitas questões, além da assistência obstétrica ineficaz,estão ligadas à MM. Uma delas está relacionada com a faltade acesso à informação e à pobreza. Aqui no Brasil,específicamente, à criminalização do aborto. O aborto entrana lista das causas de morte materna porque por ser ilegal, equando realizado é de forma insegura, expõe as mulheres amaiores riscos.

Uma outra questão importante é a subnotificação dasmortes maternas. O Banco Mundial tem registros demortes maternas por causa de malária, principalmente noNorte do país, cujos dados não aparecem no sistema deinformação do SUS (Sistema Único de Saúde). No inícioda década de 90, em Pernambuco, foram observados váriosesforços no sentido de implementar o Sistema de

Assistência materna é ineficaz no Brasil

CIENTÍFICA

OCarla Leão*

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Movimento Médico 15

Muitas questões, além da assistência obstétrica ineficaz,estãoligadas à MM. Uma delas está relacionada com a falta deacesso à informação e à pobreza. Aqui no Brasil,especificamente, a criminalidade é a maior responsável.

Ocorrência de óbito em mulher entre 10 e 49 anos

Declaração de Óbito ; Unidades de Saúde; PSF; PACS; População; Imprensa.

Investigação Confidencial do Óbito pelo Setor de Mortalidade

(SIM)

Discussão dos Óbitos

- em domicílio, unidades de saúde, serviços de necrópsia; - envolvimento de Núcleos de Epidemiologia Hospitalar, Comiss ões Hospitalares de Estudo da Mortalidade Materna.

Notificação

Comitê Municipal de Estudo da Mortalidade Materna Unidades hospitalares Distritos Sanitários

Processamento Análise dos Dados Divulgação e Uso da informação

SMS

Relatório de Caso Perfil Epidemiológico

INÍCIO: 1994

Ano Òbitos

maternos Nascidos

vivos RMM 1994 27 28429 94,97 1995 16 28079 56,98 1996 15 27540 54,47 1997 27 27197 99,28 1998 23 26152 87,95 1999 17 27565 61,67 2000 18 25428 70,79 2001 10 25140 39,78 2002 15 24191 62,01 2003 21 24550 85,54 2004 21 22841 91,94 2005* 10 20758 48,17

Informação sobre Mortalidade – SIM– no entanto, elevados níveis de sub-registro e sub-informação ainda sãoidentificados, em óbitos maternos.

A Secretaria Estadual de Saúde dePernambuco, juntamente com oComitê Municipal de Estudos sobreMorte Materna do Recife, com o apoiodo Cremepe, definiu através da PortariaEstadual (SES-PE, 1995), que os óbi-tos de mulheres em idade reprodutivadeveriam passar pela investigação dosdepartamentos de epidemiologia de to-dos os municípios. Assim, em 1996,técnicos de epidemiologia foram capa-citados para a investigação de óbitosmaternos sob a coordenação da antigaDivisão de Saúde da Mulher e Ado-lescente e do Departamento de Infor-mações da SES-PE. A finalidade éimplantar um sistema de vigilância daMM.

De acordo com o manual doscomitês de MM, há duas formas deidentificar se determinado caso éconsiderado morte materna ou não.São as chamadas mortes diretas,

quando são causadas por doençasprovenientes da gravidez, comoexemplo a pré-eclâmpsia. E mortesindiretas, quando a mulher portadorade determinada doença, esta se agravadurante a gestação ou parto, como olupus eritematoso sistêmico.

Os Comitês de Estudos sobre aMorte Materna foram criados com oobjetivo de “melhorar a qualidade dainformação sobre MM” mapearmedidas que possam envolver osprofissionais de saúde de forma efetiva.

Uma parceria firmada entre o Co-mitê Municipal, Gerência de Atençãoà Saúde da Mulher, Vigilância à Saú-de/SMS realiza um conjunto de tra-balho constante para o combate àMM, como seminários e visitas nasunidades onde acontece algum óbitoou onde a mulher foi atendida. Nosencontros, são entregues relatórioscom a intenção de sensibilizar osgestores das unidades para o problema,além de divulgar o trabalho do ComitêMunicipal de Estudos sobre MorteMaterna.

CAUSAS - No Nordeste, em 2002,60% das causas de MM foramhipertensão na gravidez, hemorragias,infecções, doenças cardiovasculares eaborto, é o que confirmam dados doSIM/DATASUS. Um outro dado in-teressante é que em Pernambuco o óbi-to materno apresenta uma estabilidadeem relação aos outros estados do Nor-deste. Já que, estados como Rio Grandedo Norte, Paraíba e Alagoas tendem àqueda e estados como Bahia, Sergipe eCeará os índices crescem.

Mesmo com todos os esforços emmelhorar a qualidade das informaçõessobre a MM, é incerto o número exatode mortes maternas. A tabela mostraaproximadamente os óbitos maternosentre os anos de 1994 e 2005. Além dofluxograma sobre passo a passo dainvestigação dessas mortes.

*Carla Leão é jornalista.Com informações retiradas das Metas de De-senvolvimento do Milênio - Região Nordeste;De Sandra Valongueiro e Gertrudes Monteiro.Julho/2005 (Prelo); Informações do site:http://www.scielosp.org.br

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16 Movimento Médico

CREMEPE

Humanização em Saúde:sucesso já na primeira edição

participação de mais de700 pessoas durante o ICongresso Pernambuca-no de Humanização da

Área de Saúde mostrou que o temaatrai, cada vez mais, pessoas interes-sadas em melhorar e tornar maishumanas as condições de atendimentoe cuidados com a saúde da população.

Realizado pelo Centro de EstudosAvançados do Cremepe, entre os dias16 e 18 de março, no Centro de Con-venções de Pernambuco, o eventocontou com a presença de repre-sentantes de entidades ligadas à áreada humanização de todo o país.

Durante três dias, foram abor-dados 18 temas em mesas redondas.Entre eles “Convivendo com as singu-laridades humanas”, que abordou di-versidades e conquistas da cidadania ea linguagem dos sinais. Para Manoel

Aguiar, coordenador da Superinten-dência Estadual de Apoio à Pessoacom Deficiência (SEAD), a discussãode temas como esse é muito impor-tante para que os profissionais saibamlidar melhor com as diversidades daspessoas. “Discutir o tema é uma formade conscientizar o profissional da áreade saúde que deve ser bastante huma-nizado para saber lidar com a diver-sidade e a singularidade humana”,enfatizou Aguiar.

Outros temas debatidos foram“Humanização em saúde: dádiva e re-ciprocidade”, “Lidando com as per-das, cuidando do paciente terminal”,“Estresse no profissional de saúde” e“Políticas de Humanização e a reali-dade cotidiana nos serviços de saúde”.Desse último, participou o coordena-dor nacional da política de huma-nização do Ministério da Saúde, o

Humaniza SUS. Adail Rollo parabe-nizou a iniciativa pernambucana pelarealização do Congresso. “O Centrode Estudos do Cremepe saiu na frenteem todo o país. Pernambuco agoraestá na vanguarda do Brasil com a rea-lização de um evento como esse. Seriamaravilhoso se todos os estados pu-dessem realizar um congresso com es-se tema para passar aos profissionaisde saúde as vivências em humani-zação, expandindo ainda mais essetrabalho que é feito para o bem de to-da a população”, comentou.

Nos intervalos das mesas redondaseram realizados momentos sócio-cul-turais, onde foram mostrados vídeos –como o do espetáculo Menina Abu-sada, contra o abuso e a exploração se-xual de crianças e adolescentes, e odocumentário do médico WilsonFreire Uma Cruz, uma História, uma

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Evento organizado pelo CEAC contou com a participação derepresentantes de diversas entidades ligadas ao tema

AJoane Ferreira*

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Movimento Médico 17

Caravana volta a percorrer Pernambuco

té o mês de julho a Caravana doCremepe/Sindicato dos Médi-

cos e Secretaria Estadual de Saúde vaipercorrer 50 municípios de todas asregiões de Pernambuco, para fazerum levantamento sobre diversosserviços prestados à população.

O trabalho da Caravana 2006 se-gue a mesma linha das ações desen-volvidas durante a primeira Caravana,no ano passado. Estão sendo reali-zadas fiscalizações nos hospitais e uni-dades de saúde das cidades visitadas,além de encontros com prefeitos,secretários municipais e conselheirosde saúde, juízes e promotores dosmunicípios.

Os representantes da Caravanatambém colhem opiniões dos mora-dores das cidades sobre diversos as-pectos sociais dos municípios (edu-cação, projetos sociais, saneamentobásico e violência) com ênfase nosserviços de saúde. As cartilhas dedireitos do paciente e de huma-nização são distribuídas durante asvisitas.

Outra ação da Caravana é a apre-sentação do Grupo de Teatro RodaMundo, com o espetáculo Menina

Abusada, contra o abuso e a exploraçãosexual de crianças e adolescentes.

Depois de passar por todos osmunicípios, será elaborado umrelatório com os dados coletados. Apartir daí as entidades envolvidas vãoaos poderes federais, estaduais emunicipais mostrar e pedir soluçõespara os problemas encontrados.

* Da Assessoria de Imprensa do Cremepe

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Estrada. Também houve poesia,música, teatro, coral, dança do ventre,de salão e a Dança de Cadeirantes daParaíba, que emocionou o públicocom as suas evoluções.

O I Congresso Pernambucano deHumanização também ofereceu aosparticipantes oficinas, sessões de fil-mes e documentários, trocas de ex-periências em humanização e apre-sentação de pôsteres, trabalhos, pes-quisas de iniciação científica e pro-jetos de extensão.

Os integrantes do grupo dehumanização do CEAC, Adrião Al-buquerque, Jurandir Brainer, Rober-ta Villachan, Suzana Azoubel e TâniaLago-Falcão estavam à frente da or-ganização do evento.

SUCESSO - Com as inscriçõesesgotadas dois dias antes do início doCongresso, os coordenadores já co-meçaram a pensar como será feito osegundo Congresso. Segundo Juran-dir Brainer, para o próximo eventoserá necessário um lugar ainda maiorpara atender a todos os interessados.“Na realidade, nós não esperávamostanta gente. Quando formos montar opróximo evento teremos que pensargrande e tentar organizar o II Con-gresso em um lugar onde possamosreceber todas as pessoas que queiramse inscrever”, finaliza Brainer.

* Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.

O coordenador da Caravana, RicardoPaiva, em reunião com representantes daSecretaria Municipal de Saúde, ConselhoMunicipal de Saúde e Conselho Tutelar, naCâmara Municipal de Terra Nova.

Paisagem de Santa Maria da Boa Vista, uma das cidades visitadas

Ônibus que levou a Caravana do Cremepepelas cidades na primeira fase.Muita gente prestigiou o evento

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uma decisão inédita, o Cremepeinterditou o Hospital de Rio

Formoso, na Mata Sul do Estado.Após mais de 40 dias fechado, umadecisão judicial determinou que, coma reabertura, o hospital ficasse sob aadministração da Secretaria de Saúdedo Município. De acordo com a se-cretária de Saúde do Município,Maiena Tenório, o Hospital de RioFormoso poderá realizar partos nor-mais e internamentos. Cirurgias comocesarianas não estão ainda sendo feitasporque o Cremepe interditou o blococirúrgico.

A Secretaria de Saúde de Rio For-moso denunciou em fevereiro, aoCremepe, a precária situação dohospital. O Cremepe acionou a Vi-gilância Sanitária, que oficializou ofechamento da unidade. A equipe defiscalização do conselho foi ver deperto como os pacientes estavam sen-

do atendidos pelos profissionais. Deacordo com os inspetores do Cre-mepe, havia 14 pacientes internados,mas sem assistência. “O hospital esta-va numa situação muito crítica e nãohavia médicos de plantão” – ressaltouJosé Carlos Alencar, coordenador dafiscalização do Cremepe.

Ainda de acordo com Alencar,nenhum profissional apareceu na trocade plantão. “E o que compareceu foichamado às pressas e não estava esca-lado para aquele dia e só possuía regis-tro no Cremal (Conselho Regional deMedicina de Alagoas)” – contou.Outros problemas, como enfermariasem refrigeração adequada, macas ecamas enferrujadas, falta de medica-mentos e criança sem acompanha-mento diário de um profissional foramconstatados. Entre plantonistas na es-cala, apenas um possuía o registro noCremepe. Havia também desfalque

na escala de plantonistas aos do-mingos.

Outras Interdições – AlgunsConselhos Regionais também fizeraminterdições éticas em hospitais. Entreeles, estão os Conselhos de Medicinado Rio Grande do Norte e do RioGrande do Sul, além de São Paulo. OCremern fechou o hospital de Pes-cadores, que é uma unidade mu-nicipal, devido à falta de registro. Masa prefeitura já regularizou a situaçãojunto à entidade.

Já no Cremers, a unidade de SaúdePequena Casa da Criança foi fechadaporque estava havendo fornecimentode receitas para remédios controladossem consulta médica, além da falta desegurança aos médicos que traba-lhavam no local. Além disso, foi feitauma reforma cujo custo foi de R$ 65mil para melhor atender os pacientes.Hoje em dia a unidade atende 100pacientes por dia.

No Espírito Santo o ConselhoRegional de Medicina (Cremes) en-caminhou à imprensa, MinistérioPúblico e à Vigilância Sanitária adenúncia de que os hospitais públicosde Vitória São Lucas, Infantil, DórioSilva e HABF estavam em péssimascondições de atendimento, mas nãochegou a fechar essas unidades.

Em São Paulo, foi diferente. OCremesp fez interdição ética na SantaCasa de Misericórdia de Franca, emjaneiro. O motivo foi que a direção daunidade não aceitou a posse do mé-dico escolhido através de processoeleitoral, Walter Oliveira, e nomeouMarcelo de Pádua, desobedecendoassim a resolução do Conselho Fe-deral de Medicina (CFM), nº1.481/97, que determina ser a escolhado Diretor Técnico feita através deprocesso eleitoral.

18 Movimento Médico

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Com 14 pacientes internados e sem nenhumaassistência, hospital estava em situação crítica

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Cremepe interditahospital de Rio Formoso

Fachada do hospital

Page 21: Revista Movimento Médico Nº 07

pós a denúncia, feita por médicosque atuam no Hospital Dom

Malan (HDM), em Petrolina, ospresidentes do Cremepe e do Simepe,Carlos Vital e Mário Fernando Lins,respectivamente, foram constatar deperto as dificuldades enfrentadas nãosó pelos profissionais, como tambémpelos pacientes que precisam daunidade. Além disso, reuniram-se commembros do Ministério Público, daSecretaria Municipal de Saúde e docorpo clínico do hospital em busca desoluções para os problemas confir-mados pela vistoria.

Entre as dificuldades enfrentadaspela unidade, de acordo com o relatórioda Delegacia Regional do Cremepe emPetrolina, há falta de medicamentos ede materiais básicos, além da escassezde recursos humanos. Um outro pro-blema é que as Unidades de TerapiaIntensiva (UTIs) precisam de manu-tenção e o ambiente não está devida-mente climatizado.

Com isso, os médicos dobram acarga de trabalho e os pacientes ficam

sem medicamentos e o acompanha-mento necessário. Segundo CarlosVital, alguns pacientes têm decomprar os remédios em função dodesabastecimento, o que acontececom freqüência. Segundo Vital asaúde do povo merece mais atenção.“É lastimável que óbitos venhamocorrendo devido à falta de sensibili-dade política para com a ética daresponsabilidade social” - disparou.

Para o presidente do Sindicato dosMédicos de Pernambuco (Simepe),Mário Fernando Lins, além dos pro-blemas relacionados com a saúde dapopulação, verificou-se, na ocasião, quenão existiam vínculos empregatícios daPrefeitura de Petrolina com osmédicos; os contratos eram virtuais. “Éimperativo que o gestor municipalencaminhe de imediato um Plano deCargos, Carreiras e Vencimentos(PCCV) que contemple o corpo clínicodo Hospital Dom Malan” acentuou. APrefeitura de Petrolina pretende abrirum novo hospital. Mas, ainda sem datamarcada.

Movimento Médico 19

Conselho Regional de Medicina - CREMEPE

Publicação de Penalidades PúblicasRef. Processo Ético Profissional n.º 12/00

EDITAL DE APLICAÇÃO DE PENALIDADEDE CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃOOFICIAL

PENA DISCIPLINAR APLICADA À MÉDICADRA. CRISTIANE CARLOS DEALBUQUERQUE VIEIRA SANTOS -CREMEPE n.º 9.240

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DOESTADO DE PERNAMBUCO - CREMEPE, nouso de suas atribuições que lhe confere a Lei n.º

3.268/57, regulamentada pelo Decreto n.º44.045/58, e em conformidade com o Acórdãoproferido nos autos do PEP n.º 12/00, julgadoem Sessão Plenária da 1.ª Câmara do TribunalSuperior de Ética, realizada em 13 de Setembrode 2005, vem aplicar à médica DRA.CRISTIANE CARLOS DE ALBUQUERQUEVIEIRA SANTOS - CREMEPE n.º 9.240, a penade CENSURA PÚBLICA EM PUBLICAÇÃOOFICIAL, prevista na letra “c”, do art. 22, da Lei3.268/57, por ter a mesma cometida asinfrações previstas nos arts. 2.º, 29, 33, 34, 57 e62 do Código de Ética Médica.Recife, 24 de janeiro de 2006.

Ricardo de Albuquerque PaivaPresidente do CREMEPE

Parecer jurídico

Médicos denunciam oHospital Dom Malan

Toma possenova Diretoria

do CremepeAo dia 31 de março de 2006 o

Conselheiro Carlos Vital assumiua presidência do Conselho Regional deMedicina de Pernambuco na gestão2006 – 2008. “Nosso grupo seguirá amesma linha de planejamento definidahá dois anos e meio, já que de fato, nãoexiste uma velha ou nova gestão.Apenas, a continuidade de trabalhosanteriores, com uma coordenaçãorenovada. Com o natural acréscimo deações destinadas a consecução dosnossos compromissos éticos e sociais. AEscola Superior de Ética Médica, aCaravana do Cremepe, os empreendi-mentos do Centro de Humanização, en-tre outros projetos, serão objetos dosnossos maiores esforços”, comentouVital.

Para ele “o Cremepe é hoje uma en-tidade de relevância à nossa SociedadeCivil organizada onde, atualmente, sãofeitas diligências em áreas além doâmbito judicante e fiscalizador do nossoexercício profissional”.

A nova diretoria fica assim composta:Carlos Vital Tavares Corrêa Lima -PresidenteAndré Longo Araújo de Melo - Vice-PresidenteNair Cristina Nogueiira de Almeida - 1ªSecretáriaJosé Carlos Barbosa de Alencar - 2ºSecretárioHelena Carneiro Leão - TesoureiraLuiz Antônio Wanderrley Domingues -CorregedorSilvia da Costa Carvalho Rodrigues -Corregedora Adjunta

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Page 22: Revista Movimento Médico Nº 07

20 Movimento Médico

CREMEPE

Carreata contra violência no Estado mobilizou mais de 500 veículos

arreata, bandeiras pretas e buzi-nas. Esses foram os instrumentos

utilizados pelos colaboradores doInstituto Antônio Carlos Escobar(IACE) para o protesto contra a vio-lência. A mobilização aconteceu emfevereiro, dois meses depois do assassi-nato do médico-psicanalista AntônioCarlos Escobar, num semáforo em BoaViagem, após tentar impedir um assal-to a duas pessoas que estavam numcarro parado à frente do dele.

Mais de 500 veículos participaramda carreata. A concentração foi naPraça de Casa Forte. De lá seguirampara Boa Viagem e a manifestaçãoterminou na frente do Palácio dasPrincesas, onde foram colocadas cercade três mil bandeiras pretas, que sim-

bolizaram o luto pelas vítimas daviolência.

A carreata foi bastanteorganizada e pacífica, mas mesmoassim, houve a intervenção policial,tentando impedir que osmanifestantes chegassem próximoao Palácio do Governo na praça daRepública. No final do protesto, osparticipantes gritavam em voz alta“Segurança, Sim. Omissão, Não!”.

Assim como familiares e amigos dopsicanalista, vítimas da violência tam-bém participaram do protesto. A viúvade Antônio Carlos Escobar, MariaTereza Guimarães, disse que a carreatafoi bastante positiva e cumpriu o papelde protestar contra a violência emPernambuco .

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IACE faz protesto contra violênciaProtesto - manifestantes na frente do Palácio

Luto pelas vítimas da violência

Mais de 500 carros estavam no protesto

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Page 23: Revista Movimento Médico Nº 07

Movimento Médico 21

Estudo contra AIDS ameaçado

No Laboratório de Imuno KeisoAsami – LIKA/UFPE, na cidadeUniversitária, aconteceu em fevereiro amobilização do Fórum de ArticulaçãoAIDS. O ato, que teve o apoio doCremepe, reivindicou continuidade doexperimento de vacina anti-AIDS.

Um estudo feito em 21 pacientesvoluntários, pela Universidade Federal dePernambuco (UFPE) em setembro de2001, comprovou que os efeitos colateraisnesses voluntários diminuíram. A segundafase dos testes, que estava prevista paramarço deste ano foi transferida paraoutubro por falta de recursos.

O conselheiro do Cremepe, RicardoPaiva disse que o Cremepe vai encaminharuma carta ao presidente Luiz Inácio Lula

da Silva, pedindo a verba necessária para acontinuidade do experimento.

O Ministério de Ciência e Tecnologialiberou para as linhas de pesquisa no BrasilR$ 791,7 milhões, porém, os estudos noRecife não foram comtemplados. Para acontinuidade dos testes na cidade, sãonecessários R$ 5 milhões.

Cremepe pede verba para osDireitos Humanos

Em visita ao Recife, o ministro-chefeda Secretaria Especial dos DireitosHumanos da Presidência da República(SEDH), Paulo Vannuchi, foi recebidopelo presidente do Cremepe Carlos Vital epelo conselheiro Ricardo Paiva.

Na ocasião, Vital e Paiva pediram aliberação de verbas para a intensificação dacampanha contra o abuso e exploraçãosexual infantil e ao trabalho escravo noEstado. Além disso, Ricardo Paiva pediuao ministro que marcasse uma reuniãocom o presidente Lula para que asentidades engajadas no movimentopossam mostrar os projetos elaborados.

O ministro elogiou a iniciativa doCremepe em criar a peça teatral MeninaAbusada. A idéia surgiu com a Caravana

do Cremepe, que encontrou elevado índicede prostituição infantil nas cidades dointerior pernambucano. A peça teatral nãotem fim lucrativo. Vannuchi garantiu queeste ano serão liberados R$ 120 milhõespara investimentos em programas voltadospara os direitos humanos.

Legistas fazem paralisação

O movimento feito em março peloslegistas de atrasar as necrópsias, levou oentão governador do Estado, JarbasVasconcelos, a colocar a polícia militardentro do Instituto de Medicina Legal(IML).

A partir disso, os legistas alegaram quenão iriam trabalhar sob pressão da polícia,já que não havia greve, mas sim ummovimento-padrão de lentidão na entregados corpos.

A categoria reivindicou a implantaçãoimediata do percentual de gratificação defunção policial, dos atuais 165% para225% em cumprimento à decisão judicial;pagamento em folha do valor retroativoalusivo à gratificação policial do 13º mês edos meses de dezembro de 2005 e janeiro,fevereiro e março, entre outros itens.

Notas do Cremepe

História do Mercado de São Josécontada em livro

Lançado no último dia 10 de março o livroMercado de São José: História e Cultura Popular.De autoria de Sinésio Roberto (foto), locatáriohá meio século, e também presidente daComissão Permanente do Mercado.

No livro o autor agradece o incentivo darevista Movimento Médico – que em maio do ano passado publicoua reportagem “Tem de tudo no Mercado de São José”, mostrando ariqueza e variedade dos produtos comercializados no lugar, além dashistórias dos locatários mais antigos.

O Mercado de São José completa 131 anos no próximo mês desetembro. O livro pode ser encontrado nas grandes livrarias e noMercado de São José.

Page 24: Revista Movimento Médico Nº 07

uta e reivindicação pelosdireitos da classe médica emtodo o Estado. Assim é mar-cada a história do Sindicato

dos Médicos de Pernambuco (Sime-pe), que sempre atuou junto aos pro-fissionais médicos e buscou humani-zar ainda mais a medicina. Historica-mente, o Simepe é o segundo Sindi-cato do Brasil e foi fundado no dia 14de outubro de 1931, às 20 horas, naSala de Reuniões do Departamento deSaúde Pública. Naquela ocasião, umaAssembléia, reunindo 33 médicos eliderada por uma comissão eleita pelaSociedade de Medicina de Pernam-buco composta pelos médicos –Barros Lima, Edgar Altino, AgeuMagalhães, Geraldo de Andrade eJorge Lobo – fundou o Sindicato dosMédicos de Pernambuco, tendo comoseu primeiro presidente o professorJoão Marques, que viria renunciar por

motivos pessoais em 17 de maio de1932.

Este ano, as comemorações nãosão apenas pelas conquistas ao ladodos profissionais sindicalizados. A fes-ta tem mais um motivo: os 75 anos dainstituição. Com as bodas de diamantedo Simepe vieram também algumasnovidades. Uma delas foi a criação danova logomarca do Sindicato. Pro-duzida pela Raio Propaganda, o novosímbolo traz um design moderno e di-ferenciado. E as mudanças não para-ram por aí. Esse também foi o ano daseleições para renovação daa DiretoriaExecutiva e Diretores Sindicais deBase. A chapa única intitulada “Dig-nidade Médica – A Luta Continua”

teve como presidente Mário Fernandoda Silva Lins e como vice AntônioJordão de Oliveira Neto.

Há seis anos atuando na Diretoriado Simepe, Mário Lins, participou devárias conquistas e transformações daentidade sindical. “O Simepe teveatuação expressiva junto à categoriamédica. Um exemplo disso foi em re-lação ao salário dos profissionais. Sónesse período em que estive aqui con-seguimos que ele aumentasse mais de100%. Outras lutas memoráveis forampela implantação da CBHPM, par-ticipação na Caravana do Cremepe, aimplantação do Plano de Cargos, Car-reira, Vencimentos e Salários da Saúde(PCCVS), no âmbito estadual do

22 Movimento Médico

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75 anos de lutas e conquistasSindicato dos Médicos é referência no Estado e no país

Chico Carlos e Débora Lobo*

Page 25: Revista Movimento Médico Nº 07

m clima de alegria e emoção, foi empossada, na noitedo dia 20 de abril, a nova diretoria do Sindicato dos

Médicos de Pernambuco (Simepe). A cerimônia aconteceunas dependências da Arcádia do Paço Alfândega (Edifício-garagem do Paço, na Avenida Alfredo Lisboa) e contoucom a presença de personalidades das mais representativasdo mundo social, político e sindical. Uma festa em grandeestilo. Os médicos André Longo (ex-presidente) e MárioFernando Lins (presidente empossado) realizaram a trans-missão de posse e depois apresentaram seus discursos,enfocando, principalmente, a trajetória, a importância e ocompromisso histórico do Simepe que completa em 200675 anos de luta em defesa da categoria médica.

Em seguida, houve uma sigela homenagem ao ex-presidente André Longo, por sua atuação combativa e deter-minada à frente do Sindicato em duas gestões. O médi-co/vereador Mozart Sales representou os dirigentes sindicaisque estiveram ao lado de André Longo nos últimos quatroanos no Simepe. Foi exibido um vídeo, mostrando toda aação sindical realizada pelo ex-presidente. Emoção eentusiasmo tomaram conta de todos. Por fim, os presidentesda Fenam, Héder Murari, e Carlos Vital, do Cremepe,entregaram a medalha e o certificado de mérito sindical aAndré Longo e destacaram sua atuação e responsabilidadeno movimento sindical médico.

O presidente Mário Lins tem alguns projetos em pauta:a luta em defesa da valorização do trabalho médico, comsalário digno e a implantação do Plano de Cargos, Carreiras,Vencimentos e Salários da Saúde (PCCVS), no âmbitomunicipal do SUS; ampliação da Defensoria Médica e dosserviços, visando maior apoio à atividade do profissionalmédico; dar apoio integral ao movimento estudantil, aosmédicos residentes e aos médicos inativos. Além darealização de congressos, simpósios, seminários, jornadas edebates, entre outros; sempre em aliança com a AMPE, oCremepe, a Fecem, as Unimeds e outras entidadesrepresentativas. A nova diretoria do Simepe terá uma gestãode dois anos (biênio 2006/2008) e teve como meta inicialpromover o Seminário de Planejamento de Gestão, no mêsde junho, com a participação de diretores e funcionários.Estão previstas também, comemorações festivas e culturaisdurante a semana de aniversário do Simepe em outubropróximo.

SUS; apoio na criação do InstitutoAntonio Carlos Escobar – IACE. Tu-do isso fez com que o Simepe venhaocupando a posição de segundo Sindi-cato dos Médicos do país em credi-bilidade, segundo recente pesquisapromovida pelo Conselho Federal deMedicina (CFM)”

Para a nova gestão, ele tem algunsprojetos, como por exemplo: a lutaem defesa da valorização do trabalhomédico, com salário digno e a im-plantação do Plano de Cargos, Car-reira, Vencimentos e Salários da Saú-de (PCCVS), no âmbito municipaldo SUS; dar apoio integral ao movi-

mento estudantil e aos médicos resi-dentes, pela defesa dos hospitais pú-blicos e universidades públicas dequalidade, pela defesa do AtoMédico e da Emenda Constitucional29, além da realização de congressos,seminários, debates, entre outros. Anova diretoria do Simepe progra-mou, inclusive, a realização doSeminário de Planejamento deGestão, que acontece em maio, ondeparticipam diretores e funcionários.Também está prevista uma semanade comemorações quando do ani-versário do Simepe, ou seja, no dia14 de outubro.

Vale destacar que desde a suafundação até os dias de hoje, oSindicato tem papel decisivo namobilização dos profissionais deSaúde, principalmente, dos pro-fissionais médicos. Vale destacar queos nomes mais expressivos damedicina de Pernambuco transfor-maram-se em sindicalistas, empu-nhando a bandeira do Simepe comotrincheira de luta. Eles fizeramnossa história consolidar-se ao lon-go de décadas.

Chico Carlos - jornalista/Simepe

Débora Lobo - estagiária de jornalismo/Simepe

Divu

lgaçã

o

Seminário de Planejamento de Gestãofoi uma das metas iniciais

E

Empossada a novadiretoria do Simepe

Movimento Médico 23

Posse em clima de alegria e emoção

Page 26: Revista Movimento Médico Nº 07

SIMEPE

24 Movimento Médico

Sindicato dos Médicos dePernambuco (Simepe) após

ter recebido centenas de reclama-ções dos médicos associados, no quediz respeito à TVS – Taxa deVigilância Sanitária – a qual foicobrada juntamente com o ISS dosprofissionais autônomos, foi à lutaem defesa da categoria.

Em conjunto com a Diretoria doCremepe marcou uma reunião comos secretários de Saúde, GustavoCouto e de Finanças, Elísio Soares,da Prefeitura da Cidade do Recife,com o objetivo de encontrar uma so-lução negociada para resolver o im-passe. Após ampla discussão se che-gou ao consenso de que a referidaTVS somente deve ser cobrada daspessoas jurídicas ou de estabele-cimentos. De imediato, o prefeito doRecife, João Paulo, prorrogou parao segundo semestre de 2006 a co-brança da Taxa em tela, bem comouma Comissão específica para solu-cionar o problema.

A Comissão concluiu os traba-lhos encaminhando proposta deacréscimo e modificação do 137 do

Código Tributário Municipal, aqual deve ser encaminhada pelo Po-der Executivo à Câmara Municipaldo Recife para apreciação e apro-vação. Essencialmente, a alteraçãodetermina que a TVS será devidapor estabelecimentos (consultóriosmédicos) independentemente donúmero de profissionais que neletrabalhem, assim como a não inci-dência no caso de profissional autô-nomo que preste serviços exclusi-vamente no domicílio dos clientes.Essa Comissão é presidida pelosecretário de Finanças, Elísio Soa-res, representantes do Simepe, Cre-mepe, CRO e da Vigilância Sani-tária do Recife. O presidente doSimepe, Mário Fernando Lins e oadvogado da Defensoria Médica,Diógenes Junior, participaram dasdiscussões junto à Prefeitura daCidade do Recife. Na opinião dopresidente do Simepe, foi impor-tante a mobilização das entidadesmédicas, no sentido de pressionar amunicipalidade a discutir o pro-blema e encontrar uma respostasatisfatória para os médicos.

ODiretoria do Simepe e Cremepe em reunião com o vereador Mozart Sales

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Eleição do HUOCA chapa 1 “Avançando HUOC – Uniãoe Participação” liderada pelo médico Ri-cardo Coutinho e pela enfermeira AdrianaConrado venceu às eleições para diretor evice, respectivamente,do Hospital Uni-versitário Oswaldo Cruz (HUOC). Foivitoriosa nos segmentos dos professores,alunos e funcionários, em pleito realizadono último dia 10 de março. Parabéns!

Prêmio SimepeOs estudantes Alfredo de Oliveira Neto eCarla Rezende de Araújo, concluintes docurso de Medicina da UFPE receberamem janeiro passado o Prêmio SIMEPEde Participação Coletiva/2005 pelo reco-nhecido trabalho às causas estudantis.Este prêmio, foi instituído pelo Sindicatodos Médicos de Pernambuco em 1995.

Inexpressivo O Simepe classificou como inexpressivo osalário-base de R$ 797,12 oferecido pelaPrefeitura do Paulista à categoria médica,através de Concurso Público a ser rea-lizado no mês de abril deste ano. O Sin-dicato negocia reajuste salarial e melhorescondições de trabalho junto à Prefeiturado Recife e ao Governo do Estado. Ondeestão as promessas de valorização dosmédicos e demais profissionais doPaulista?

Gradil do pólo médicoO Sindhosp, a SDS e a Prefeitura daCidade do Recife, assinaram um convêniode cooperação para a construção de umposto avançado da Polícia Militar loca-lizado embaixo do Viaduto João Paulo II,na Ilha Joana Bezerra. Como tambémpara a instalação do gradil na área demanguezal entre o Real Hospital Portu-guês e o Hospital Esperança/Hope. Aobra visa coibir os constantes assaltos noentorno do pólo médico e custará cerca deR$ 30 mil aos cofres da PCR.

De olho na notíciaTaxa de VigilânciaSanitária é adiada

TVS passa a ser cobrada somente de pessoasjurídicas e estabelecimentos cadastrados

Page 27: Revista Movimento Médico Nº 07

Sindicato dos Médicos de Per-nambuco participou da Audiên-

cia Pública realizada em fevereiro peloMinistério Público – Promotoria deJustiça e Cidadania da Comarca dePaulista – com a finalidade de discutirsobre Curso Técnico de Óptica Oftál-mica ministrado pelo Instituto Opto-métrico de Pernambuco (IOPE), nomunicípio do Paulista. Depois de maisde duas horas de discussões, compedidos de informações e esclareci-mentos dos interessados, a promotoraMaria de Fátima de Araújo Ferreira,encaminhou procedimento adminis-trativo, com o anexo de dossiês ematerial da audiência.

A promotora oficializou pedido àSecretaria Estadual de Educação,

Universidade Federal Rural de Per-nambuco e ao próprio IOPE, reque-rendo grade curricular do cursotécnico de óptica oftálmica (carga ho-rária, nomes, titulação dos professorese número de alunos matriculados). Foisolicitado ainda informações à Vigi-lância Estadual Sanitária e do Mu-

nicípio do Paulistasobre o funciona-mento do curso,com visita ao local eelaboração de laudono prazo de 30 dias.

Participaram daaudiência pública,os representantesdo Conselho Brasi-leiro de Oftalmo-

logia, da Sociedade Brasileira deOftalmologia, da Sociedade Pernam-bucana de Oftalmologia, do Con-selho Regional de Medicina, Insti-tuto Optométrico de Pernambuco,da Secretaria Estadual de Ciência eMeio Ambiente e da Secretaria deSaúde do Paulista.

Movimento Médico 25

Entidades lutam em defesa doProcape, HUOC e Cisam

Oftalmologistas reagem contra curso técnico

epresentantes do Simepe, Cremepe, Afuoc, D.A de Medicina/UPE, Adupe e daComissão de Saúde da Câmara de Vereadores do Recife foram à Assembléia

Legislativa de Pernambuco solicitar empenho do presidente Romário Dias e dos deputadosSérgio Leite, Teresa Leitão e Pedro Eurico para aprovação do Projeto de Lei enviado peloGoverno do Estado ao Poder Legislativo durante o período de convocação extraordinária,assegurando a realização do Concurso Público da Universidade de Pernambuco (UPE) em2006 antes do período eleitoral. Eles também estiveram reunidos no gabinete do secretáriode Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, Cláudio Marinho. Dias depois foi anunciada apublicação do edital do Concurso Público a ser realizado no mês de abril do ano em curso.Além da transferência de 207 profissionais do setor de Cardiologia do Oswaldo Cruz parao Procape, o que deve possibilitar a abertura da Emergência da unidade antes mesmo daseleção e a contratação de 290 terceirizados para as áreas de limpeza, cozinha e vigilância.Vale salientar que o Concurso Público destina-se ao preenchimento de 1.481 vagas docomplexo hospitalar da UPE que envolve o HUOC, Procape e Cisam.

R

O

Balanço da DefensoriaMédica (jan/fev de 2006)

Audiências: 53Audiência Cível: 10Audiência Cremepe: 27Audiência Criminal: 4Audiência Trabalhista: 12

Consultas: 265Consulta Cível: 80Consulta Cremepe: 31Consulta Criminal: 18Consulta Trabalhista: 136

Petições: 46Petição Cível: 16Petição Cremepe: 18Petição Criminal: 0Petição Trabalhista: 12

Homologações: 37

Diligências Externas: 66Diligência Externa Cível: 15Diligência Externa Cremepe: 10Diligência Externa Criminal: 2Diligência Externa Trabalhista: 39

Total Geral: 467

Entidades defendem na Alepe concurso público antes das eleições

Oftalmologistas durante audiência pública

Page 28: Revista Movimento Médico Nº 07

alta sociedade não existemais. Há, apenas, novosricos vivendo com muitocuidado para não serem

assaltados, devido ao aumento daviolência no País. Quem garante isto éo jornalista José de Sousa Alencar,que adotou o pseudônimo de Alex, há50 anos, foi crítico de cinema e é pio-neiro do colunismo social do Jornal doCommercio de Pernambuco, ondepermanece atuando.

Alex nasceu em Alagoas na cidadede Água Branca. Filho único de Filo-mena de Sousa Alencar também ala-goana, conhecida como Dona Sinháque morreu há 14 anos. Alex que entreseus familiares é chamado de Zito, falasobre sua mãe com muito amor, admi-ração e saudade. Porém, ao relembrarseu pai Joaquim Aureliano Alencar, fa-lecido, que era um homem rico do ser-tão alagoano afirma que o relacio-

namento com ele não foi bom. Na fachada de frente da casa onde

Alex mora, na Rua Dom Bosco, desde1946 está escrito: Casa de Dona Sinháem homenagem a sua mãe. No pri-meiro andar da sua residência há umaexposição de mais de 40 quadros pe-queninos de artistas plásticos famosos,como o de Gil Vicente, FranciscoBrennand, João Câmara, entre outros.Entrando um pouquinho mais na suacasa (está sendo reformada) há qua-dros pintados por Alex e num cantinhode uma das salas uma máquina de es-crever antiga, ainda, utilizada por ele.Alex não se apaixonou pela informá-tica. Há também muitos livros, revis-tas, jornais, papeis e imagens de santosbelíssimas em toda parte da sua casaantiga. É o seu espaço amado e reser-vado com “cheiro” de tradição.

Alex que além de jornalista é advo-gado formado pela Faculdade de Di-

reito do Recife, poderia parar de traba-lhar e viver viajando, ou só pintandoseus quadros ou lançando mais um li-vro de crônicas. Mas seu prazer é con-tinuar escrevendo. Revela que já viajoumuito. Conhece a Europa, EstadosUnidos e o Japão. Sente-se bem e útileditando sua coluna no JC.

Numa conversa informal, em suacasa, Alex falou para MovimentoMédico sobre sua vida pessoal eprofissional, de sua admiração poratrizes das décadas de 30 e 40, da suadecepção na entrega do Oscar desseano, e explicou porque, num momentomuito difícil da sua vida, decidiu dei-xar sua coluna social para outro colegae ficar com um espaço menor no Jornaldo Commércio.

Por que você não ficou com a suapágina social inteira no JC?

Há nove anos tive câncer de prós-tata. Ninguém na redação, na época,ficou sabendo. Tirei férias normais efui operado em São Paulo. Fiquei cu-rado. Mas decidi não fazer mais a pá-gina social. Quando voltei das fériasfalei com o editor geral Ivanildo Sam-paio sobre o meu problema e pedi paraescrever numa coluna menor. Indiqueio nome de Orismar Rodrigues paraser meu substituto. Ivanildo concor-dou e eu fiquei com 1/4 de páginacomo eu queria. Também decidi nãocolocar na minha coluna nova fotos decasamento, de bodas e de 15 anos.

Você começou sua carreira nojornalismo escrevendo como crítico decinema. Como nasceu a sua dedicaçãocom o cinema?

Quando eu tinha 7 anos em Ma-ceió fui vizinho de um homem quetinha um cinema. Com o consenti-mento da minha mãe ia com ele assistiros filmes dos anos 40. Gostava muitodos filmes de piratas com Erol Flin.Também não perdia os filmes com omito Greta Garbo. Foi essa paixão pelocinema desde a minha infância que metransformou em crítico de cinema.

26 Movimento Médico

AMPE

Jornalista fala de suas dificuldades e conquistas docinema e da sociedade Elizabeth Porto*

Alex sentencia: a AltaSociedade morreu

A

JC Imagens

Page 29: Revista Movimento Médico Nº 07

Você admirava outras atrizes?Sim. Marilyn Monroe, Katherine

Hepburn, Bette Davis e a mais ele-gante das atrizes daquela época AudreyHepburn.

Tem algum ator preferido?Marcello Mastroianni.

E cineasta?Ettore Scola.

Quais os jornais que trabalhoucomo crítico de cinema?

Comecei escrevendo no Diario dePernambuco. Depois o Jornal do Com-mércio me convidou para ser o titular dasua coluna sobre cinema e eu aceitei.Eu estudava Direito em 1952 e já es-crevia sobre cinema. Também partici-pei, como assistente de direção do filmeCanto do Mar, de Alberto Cavalcanti,conhecido internacionalmente.

Para você como vai o cinema hoje?Em fase de decadência. A entrega

do Oscar deste ano foi horrível. De-ram três prêmios para King Kong na 3ªversão da história de um macaco. UmOscar para o melhor som: a pedracaindo na cabeça de King Kong. Foiterrível. Fiquei decepcionado.

E o cinema brasileiro vai bem ?O cinema brasileiro até que está in-

do bem. Mas, na minha opinião aindanão pode concorrer com Hollywood.Gostei muito do Jardineiro Fiel, de Fer-nando Meirelles, um brasileiro comtalento que foi contratado para fazerum filme estrangeiro. Seu filme conse-guiu o Oscar de melhor atriz coadjuvante para Raquel Weisz. Gostei.Também admiro o trabalho de WalterSalles.

Destaca algum cineasta emPernambuco?

Não conheço nenhum cineasta dedestaque atualmente. Mas posso lem-brar que em 1927 Pernambuco produ-ziu filmes mudos excelentes que pode-

riam ser comparados as produções deHollywood.

Você vai muito ao cinema ?Ia muito. Mas com o aumento da

violência no Recife e a falta de edu-cação das pessoas, principalmente dosjovens, dentro das salas de cinema, ho-je, prefiro locar o DVD e assistir o fil-me na minha casa. Fui obrigado amudar de hábito. Outro problema queeu vejo na produção cinematográfica éo exagero de filmes de violência e desexo explicito.

Você gosta de teatro?Gosto muito. Mas também consi-

dero o teatro em fase de decadência.Posso citar como exemplo a decepcio-nante peça A Casa dos Budas Ditososcom a filha de Fernanda Montenegrofalando e exibindo com gestos tudoque faz no sexo com os homens.

Quando você começou a escrevercomo colunista social?

No começo dos anos 50 começa-ram a surgir no Rio de Janeiro os colu-nistas sociais Ibrahim Sued e JacintoThormes, e em São Paulo, o pernam-bucano José Tavares de Miranda.Faziam um colunismo diferenciado.No Recife era famoso Altamiro Cu-

nha, no jornal Diário da Noite. Dr. Pes-soa de Queiroz de início não quisaceitar a coluna social no JC mas de-pois concordou através dos argumen-tos positivos do secretário de redaçãoEsmaragdo Marroquim. Eu fui entãoconvidado para ser o titular da coluna.Altamiro já estava com idade avançadae eu comecei a ser o referencial docolunismo social em Pernambuco.

Você foi colunista social antes deJoão Alberto?

Sim. Quando João Alberto come-çou no colunismo social a minha colu-na já existia há 15 anos.

É verdade que fez escola nonordeste?

Sim. Jota Epifânio, no Rio Grandedo Norte, Lúcio Brasileiro, em For-taleza, Cândida Palmeira, em Alagoase Pergentino Holanda em São Luisforam alguns dos meus seguidores.

Quando a televisão chegou noRecife nos anos 60 você tinha um pro-grama. Poderia falar sobre sua atuaçãona TV?

Quando a televisão chegou no Re-cife fui eu que fiz toda recepção dainauguração da TV. Tive um pro-grama Hora do Coquetel que entre-vistava personalidades sociais e artistas.O programa era ao vivo e era precisoter muito jogo de cintura.

Você também escolhia as 10mulheres mais elegantes do Recife?

Sim. Há 20 anos, era fácil escolhermulheres elegantes. Mas hoje, depoisdessa moda fashion é impossível. Asmulheres variam demais na maneira devestir.

Na época da ditadura você sofreualgum problema por divulgar algumanotícia indesejável para os militares?

Comigo ocorreu um problema. Di-vulguei na minha coluna que o presi-dente da República marechal CasteloBranco, viúvo, estava para casar nova-

Movimento Médico 27

Repr

oduç

ão A atrizAudreyHepburn

Page 30: Revista Movimento Médico Nº 07

28 Movimento Médico

AMPE

mente com uma professora da Uni-versidade Federal de Pernambuco. Ocoronel Hélio Ibiapina não gostou emandou me prender. Fiquei dois dias àdisposição dos militares. Mas depois opróprio Castello Branco telefonou paramim com delicadeza e disse que estavaa minha disposição em Brasília.

Você teve boa convivência comseus pais?

Quando meu pai casou comminha mãe já era viúvo e tinha 10filhos. O casamento não deu certo.Quando minha mãe pediu aseparação meu pai falou que ela podiair embora mas também não darianenhuma ajuda financeira para ela eolhando para mim (com 7 anos deidade) disse: nem para esse aí. Nãoteve nenhum gesto de afeto comigo.A minha convivência com minhamãe foi ótima.Ela sempre ficou domeu lado. Fui amado pela minha mãeque trabalhou muito para me criar.Foi muito doloroso para mim quandoela morreu.

Você morou em Maceió?Depois da separação dos meus pais

eu e minha mãe deixamos o sertãoalagoano e fomos morar em Maceió.Eu tinha 8 anos. Fiquei em Maceió atécompletar 16 anos de idade. Estudeino Colégio Guido, de padres. Nessecolégio fundei uma revista chamadaMocidade. Eu tinha 16 anos e já de-monstrava minha habilidade para es-crever. Mas nesse mesmo períodominha mãe decidiu vir morar no Re-cife. Eu também tinha um irmãoadotivo, mais velho, que faleceu háalguns anos.

Para você a alta sociedade nãoexiste mais. Como são os novos ricos?

Existem novos ricos que merecemdestaque. Sabem se comportar comclasse, com categoria. Posso citar comoexemplo a família Bezerra de Melo.Mas a maioria dos novos ricos têmapenas dinheiro.

Como vivia a alta sociedade e comoera sua convivência com a elite?

Até a década de 60 os clubes Inter-nacional e Português eram freqüen-tados por famílias da alta sociedade. ORotary Clube do Recife era seletivo.Hoje tem Rotary clube em todo lugar.Perdeu o referencial. Tudo realmentefoi decaindo. Naquela época eu ia aoclube Internacional como convidadode pessoas da alta sociedade. Iam parao Internacional as famílias Pessoa deQueiroz, Batista da Silva, CarneiroLeão e de Dulce Sampaio entre outras.Existia no clube Internacional UmaNoite de Carnaval freqüentado só pelaalta sociedade. Hoje a decadência totaldos clubes Internacional e Português éuma realidade cruel.

Naquela época as festas decasamento da elite eram realizadas nasmansões da família da noiva?

Sim. Era na casa da noiva. Fui aocasamento de Cídia Maranhão, filha deLídia Maranhão. A festa foi belíssimana sua mansão. Fui também aos 4casamentos das filhas de Jorge Batistada Silva. Até a comida servida naquelaépoca era diferente porque era feita porcozinheiras que vinham de usinas en-genhos e fazendas que sabiam preparardoces e salgados com perfeição. Hojeesses buffês contratados para os casa-mentos dos novos ricos não oferecem amesma qualidade das cozinheiras dasmansões de antigamente.

Você já viajou muito para Europa.Qual o país europeu que consideramais bonito ?

A Itália. É na Itália que conhecicidades belíssimas como Veneza,Florença, Milão, Nápoles. A França élimitada. Só admiramos Paris.

Você já teve uma paixão muitogrande por alguém ?

Tive. Só não revelo o nome. Fuimuito apaixonado por uma pessoa.Não deu certo. Sofri. Mas passou.Estou bem.

Como é a solidão para você?Minha solidão é consentida.

Tenho liberdade. Saio sempre quetenho vontade. Na segunda metadeda vida (não falo em datas, ano,nada com o calendário) os sonhos,os fatos, as aventuras, tudo ficasurgindo e desaparecendo a cadamomento. Basta ter criatividade.Ou vou brincar horas seguidas como caleidoscópio, rodando sempre,vendo as variedades de pedras, co-res e o brilho intenso. É fantástico.Às vezes as pessoas pedem para vero caleidoscópio e eu tenho deconfessar que não tenho maisnenhum, ficaram na minha infância.A capacidade de inventar beleza é oque salva e o que importa em nossasvidas.

*Elizabeth Porto é jornalista

O cronista Alex em programa de TV nos anos 60

Page 31: Revista Movimento Médico Nº 07

Movimento Médico 29

Repr

oduç

ão

Assédiomoral e

violência noambiente de

trabalho

o ponto de vista do direito dotrabalho, o assédio moral por

afetar a vítima, desencadeando umasérie de distúrbios, os quais poderãoser determinantes e consideradosdoenças profissionais ou ocupacio-nais é definido como sendo todo tipode ação, gesto ou palavra que atinja,pela repetição, a auto-estima e asegurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência,implicando em dano ao ambiente detrabalho e à evolução de sua carreiraprofissional.

Os estudiosos têm conceituadoeste tipo de assédio, como a exposiçãode um indivíduo a situações humi-lhantes, constrangedoras, repetitivase prolongadas durante a jornada detrabalho e no exercício de suas fun-ções, em ambientes onde predo-minam condutas negativas, relaçõesantiéticas e desumanas de chefes quetêm hierarquia autoritária, geral-

mente dirigida a um subordinado,desestabilizando a relação da vítimacom o ambiente de trabalho.

O assediado moral é hostilizado,ridicularizado, inferiorizado, culpadoe desacreditado diante dos seuscolegas, fato que caracteriza violênciabastante perversa e que vem ocor-rendo nos mais diversos ambientes detrabalho no Brasil. As pessoas quepadecem desse tipo de assédioquando não abandonam o empregosofrem vários danos psicológicos,apresentando-se pessimistas, tornan-do-se ineficientes, deprimidas edesestimuladas. Carreiras brilhantes,construídas inegavelmente por mé-rito, são arrasadas de forma im-pressionante.

O assunto é profundo e, muitasvezes, difícil de comprovação. Já foidiscutido por juristas e advogadostrabalhistas e as regras sobre o as-sunto encontram-se regulamentadas

na Lei nº 8.213/91, enfrentandodificuldades e grandes resistênciasem se fazer cumprir senso neces-sário, para levar a sério a batalhacontra o assédio moral. Espera-seconsenso dos governantes, entida-des sindicais de trabalhadores e dopatronato, advogados, juízes, médi-cos do trabalho e órgãos da mídia afim de se unirem no intuito de com-bater a degradação deliberada dascondições de trabalho que leva a ví-tima a perder a sua dignidade comotrabalhador e como pessoa. É pre-ciso resgatar o ambiente de traba-lho, tornando-o saudável, saneadode riscos e de violência, e que sejasinônimo de solidariedade, identi-dade e cidadania, pois respeitar éum dever e ser respeitado, umdireito à personalidade.

*Conselheira do Cremepe e

3ª Vice-Presidente da Ampe

Assunto é profundo e, muitasvezes, de difícil comprovação

Sirleide Lira*

D

Page 32: Revista Movimento Médico Nº 07

30 Movimento Médico

HISTÓRIA DA MEDICINA PERNAMBUCANA

escola de Neuropsiquiatriaque surgiu em Pernambucona primeira metade do séculoXX foi de grande importân-

cia para o desenvolvimento das Neurociên-cias no Brasil. Aliás, das terras de Pernam-buco nasceram grandes homens que muitocontribuíram para o desenvolvimento daMedicina Nacional.

Alguns estudiosos sustentam que aSanta Casa de Olinda foi a primeira Ins-tituição do Brasil a prestar assistência à saú-de para nossa população (1539). Comoexistem apenas indícios históricos, “oficial-mente” se considera como a primeira aSanta Casa de Misericórdia de Santos.Outros falam que a Irmandade da SantaCasa de Misericórdia de Olinda foi a pri-meira do Brasil (1540) e seu hospital foifundado em 1560, situando-se nas proximi-dades da Sé e do Colégio dos Jesuítas (hojeconhecido como Seminário de Olinda).

Desde o século XVII, durante o pe-ríodo da ocupação holandesa, a então capi-tania de Pernambuco tornou-se o espaçoonde se realizaram os primeiros trabalhosde pesquisa científica no Brasil, de autoria

dos naturalistas Guilherme Piso (médico dacolônia batava) e George Marcgraf; citadospor Leduar de Assis Rocha como pais danossa medicina, iniciadores da literaturamédica e fundadores da história naturalbrasileira. Octávio de Freitas chama Pisocomo o mais antigo médico e naturalistaque possuímos, cuja obra descreveu as do-enças da época em Pernambuco, consi-derando ainda o Recife como o berço incon-teste da Medicina brasileira. O primeirolivro sobre medicina brasileira, e prova-velmente das Américas, foi De MedicinaBrasiliensi, publicado por Piso e editado emAmsterdã em 1648, juntamente comHistoria Naturalis Brasi-liae, do naturalista GeorgeMarcgrave.

A participação de per-nambucanos no ensinomédico e na criação das es-pecialidades Neurologia eNeurocirurgia é por dizersurpreendente. Foi umpernambucano de Goiana,José Corrêia Picanço, ofundador do Ensino

Médico no Brasil. Como era médico dacorte real, influenciou D. João VI na criaçãodas duas primeiras escolas de medicina(Bahia e Rio de Janeiro), em 1808.

Em Pernambuco, uma das primeirasiniciativas voltadas para o ensino médicodata do ano de 1817, por ocasião daRevolução Pernambucana. Nesta época foicriado o Hospital Militar em Recife, ondefuncionou uma Escola de Cirurgia Prática.

Outro pernambucano ilustre, o Prof.Antônio Austregésilo Rodrigues Lima,nascido no Recife, é considerado o “pai daNeurologia Brasileira”. Diplomou-se pelaFaculdade Nacional de Medicina em 1899,

e em 1912 assumia aCátedra de Neurologia,criada pela primeira vez noBrasil como disciplinaindependente, na Faculdadede Medicina do Rio deJaneiro. Homem de umacultura geral louvável, foimembro da AcademiaBrasileira de Letras. OProf. Antônio Austregésilotambém contribuiu de uma

Neurologia e Neurocirugia Marcelo Moraes Valença*

AEquipe médica da Clínica Neurológica e Neurocirúrgica do Hospital Pedro II, UFPE. 1, Luiz Ataíde; 2, Célio Spinelli; 3, Guilherme Abath; 4,Manoel Caetano de Barros; 5, Salustiano Gomes Lins; 6, José Grinberg; 7, Mussa Hissa Hazin; 8, Alcides Codeceira

Page 33: Revista Movimento Médico Nº 07

Movimento Médico 31

maneira fundamental na criação daespecialidade em Neurocirurgia no Brasil.Em 1928, convidou Alfredo AlbertoPereira Monteiro, brilhante cirurgião-gerale catedrático em Anatomia, e o ainda jovemJosé Ribe Portugal para criar aespecialidade no Brasil. O Ribe Portugalconsiderava Antônio Austregésilo o estimu-lador e o pai espiritual da Neurocirurgia nonosso País.

Muitos foram os que se destacaram naárea da Neuropsiquiatria em Pernambucona primeira metade do século XX, porém afigura do Prof. Ulysses Pernambucano deMelo Sobrinho foi o destaque maior.Ocupou a cadeira de Semiologia Neuropsi-quiátrica da antes chamada Faculdade deMedicina do Recife, quando Manoel Gou-veia de Barros era catedrático de Neuro-logia e Alcides d'Ávila Codeceira da Ca-deira de Psiquiatria. Após a morte de Ma-nuel Gouveia de Barros, Ulysses Pernam-bucano assumiu a respectiva cadeira. Foi ocriador, em 1938, da revista Neurobiologia,a mais antiga revista da área neuropsi-quiátrica em circulação da América Latina.

Sucedendo Ulysses Pernambucano,seu filho Jarbas Pernambucano de Melo,foi aprovado em concurso com a Tese Es-tudo anátomo-clínico das atrofias cerebe-lares. Jarbas Pernambucano criou a ClínicaNeurológica da Enfermaria São Miguel doHospital D. Pedro II. Após a morte deJarbas Pernambucano, em 1958, ManoelCaetano Escobar de Barros, um ano após,faz concurso para a cátedra de Neurologiacom a tese Contribuição ao Estudo daImpressão Basilar Associado à Mal-Formaçãode Arnold-Chiari.

Como afirma o neurocirurgião Ian

Pester, grande interessado na história daNeurocirurgia no nosso estado, foi o Prof.Manoel Caetano de Barros o primeiro mé-dico que, em 1947, decidiu se dedicar ex-clusivamente à Neurocirurgia no Nordestedo Brasil. Por sua vez, o Prof. Manoel Cae-tano convence e motiva o então estagiárioMussa Hissa Hazin para se especializar emNeurocirurgia e, em 1957, juntam-se aogrupo Célio F. Spinelli e Aluízio Freire. Em1989, o Prof. Wilson Farias da Silva passa aser o Professor Titular com a tese EstudoComparativo entre Aspectos Clínicos da Enxa-queca Clássica e Comum. O Prof. WilsonFarias houvera defendido em 1974, a tesede Docência-Livre Contribuição ao Estudodos Eletroencefalogramas Intercríticos nas Cefa-léias Vasculares. O Professor Wilson, grandecefaliatra, tem uma extensa produção cien-tífica, com publicação de vários livros naárea da cefaléia (incluindo o primeiro livrode cefaléia no Brasil). Recentemente rece-beu o título de Professor Emérito.

O ensino em Neurologia e Neuro-cirurgia também recebeu grande influênciada Faculdade de Ciências Médicas de Per-nambuco, fundada em 1950, hoje chamadaUniversidade de Pernambuco (UPE). EstaInstituição tinha à frente da Disciplina deNeurologia I eII Zacarias Maciel e PacíficoPereira. Houve participação de outrosgrandes neurologistas como José AlbertoMaia, Alcides Codeceira Jr e Luiz Ataíde,este último regeu a cadeira, chegando a sercatedrático das duas disciplinas até 1993. OProf. Alcides Codeceira Jr foi agraciado como título de Professor Emérito recentemente.O Professor Hildo Rocha Cirne deAzevedo Filho é atualmente o ProfessorTitular em Neurocirurgia da UPE.

Pernambuco também se destaca na áreada Neurofisiologia Clínica. O ProfessorSalustiano Gomes Lins foi o pioneiro daepileptologia e eletroencefalografia e é refe-rido como o criador do primeiro laboratóriopara o estudo do sono no Brasil.

Alguns neurologistas pernambucanosocuparam a presidência da AcademiaBrasileira de Neurologia, como: ManoelCaetano de Barros (1966-1968), AmauriBatista da Silva (1976-1978) e Luiz Ataíde(1980-1982). Mais recentemente o Prof.Gilson Edmar Gonçalves e Silva foi eleitopresidente do próximo Congresso daAcademia Brasileira de Neurologia, a serrealizado no Recife em 2006.

O Prof. Othon Coelho Basto Filho pu-blicou em 2002 o livro História daPsiquiatria em Pernambuco e outras Histórias,que de uma forma elegante bem descrevecomo psiquiatras do estado de Pernambucose destacaram no cenário científico nacional.Não cabe aqui repetir o que nas páginasdesse livro é narrado. Vale aqui lembrar queo primeiro Instituto de Psiquiatria do Brasilfoi fundado em Recife em 1922 e que oprimeiro Departamento de Psiquiatria daAmérica do Sul com clínica ambulatorialativa foi também aqui inaugurada em 1932.

Com estas escassas palavras tentamosescrever “um pouco” da história da Neu-rologia e Neurocirurgia de Pernambuco;Porém, muitos são os nomes de homens emulheres que não foram mencionados,mas, que muito contribuíram para aformação desta grande Academia de Neu-rociência que temos em nosso estado.

* Marcelo Moraes Valença é médico.

Foto

s: Re

prod

ução Da esq. para a

direita os médicosCorrêia Picanço,Manoel Gouveiade Barros, UlyssesPernambucano deMelo Sobrinho eseu filho JarbasPernambucano deMelo

Page 34: Revista Movimento Médico Nº 07

endo em vista o interessedespertado pelo artigo ant-erior acerca do sistema desaúde do Canadá, a revista

Movimento Médico convidou-mepara falar especificamente sobre oAtendimento ao Trauma. Apesar daprevenção ser importante e ter ênfaseem vários programas locais (e.g.: usode álcool), o assunto será omitido des-te relato devido ao limite de espaço.

A partir da ocorrência de um trau-ma, o pré-hospitalar é acionado pelotelefone 911. Dirigem-se para o localuma unidade de bombeiros, uma am-bulância e uma de polícia, cada umcom uma função específica. Caso oacidente ocorra nas rodovias, usa-seambulância aérea (helicóptero). Nolocal, prestam-se os primeiros cuida-dos. As ambulâncias aéreas têm su-porte médico, dando orientação aossocorristas por rádio ou menos fre-

quentemente no local. Os socorristasdas ambulâncias aéreas tem bom trei-namento e são capazes de entu-bar/ventilar com uso de drogas, inserirlinhas intravenosas, realizar punçãopara descompressão de pneumotoraxhipertensivo, imobilizar/transportar einiciar medidas para hipotermia. Deacordo com a gravidade do acidente,os pacientes são transportados para: a)o hospital mais próximo para trata-mento definitivo; b) hospital maispróximo para realização de pro-cedimento (ex: drenagem torácica)seguido de transporte para o Centrode Trauma; c) Centro de Trauma.Sempre há comunicação prévia com ocentro receptor.

A maioria dos doentes trauma-tizados de baixo risco no país é aten-dida por médicos de emergência emhospitais mais próximos do trauma.Eles têm treinamento específico

32 Movimento Médico

TRAUMA

Atendimento aotrauma – O modelocanadense

Sistema público degestão privada: o modelo de saúdecanadense preza

pela qualidade

Fernando Spencer*

TRe

prod

ução

Page 35: Revista Movimento Médico Nº 07

Movimento Médico 33

(ATLS e pré-requisito) e são eficien-tes. Apenas os mais gravemente trau-matizados vão para os Centro deTrauma. No Centro de Trauma elessão atendidos pela Equipe de Trauma.Esta é formada por um líder (nãonecessariamente cirurgião) e profis-sionais nas diversas especialidades. NoSunnybrook Hospital (o maior centrode trauma do Canadá), obrigato-riamente fazem parte do atendimentoinicial o líder, um anestesista, dois resi-dentes de cirurgia, um residente deortopedia, duas enfermeiras (uma sópara anotar os dados e outra para aten-dimento direto) e um técnico de RX.Esta equipe pode crescer de acordocom a complexidade do caso. Nestehospital só há 2 leitos para o aten-dimento inicial e os doentes são dire-cionados a outro local depois da ava-liação inicial: UTI, semi-intensiva,enfermaria, sala de operação ou outrosetor da emergência. Então a sala detrauma é limpa e preparada para opróximo paciente.

Na Equipe de Trauma, todos temfunção definida e o líder coordena asações do grupo. Medidas de proteção

universal contra doenças infecciosassão usadas rotineiramente e cada um eresponsável por descartar adequada-mente os perfuro-contusos que usou(de enfermeiro a cirurgião).

Para trauma fechado, cada vez sefaz menos radiografias e mais tomo-grafias. Basicamente se faz RX dotórax e pélvis no exame primário (veri-ficando ventilação e circulação) e deextremidades caso seja necessário.Ultrassonografia do abdôme e peri-cárdio (avaliação da circulação) e ro-tina em todo paciente. Caso estável ecomum o doente ser “tomografado”da cabeça a pelve (crânio, colunacervico-toráco-lombar, torax e ab-domen). Todo o processo de tomo-grafia é em torno de 15-20 minutosincluindo transporte para o local etransferência entre as macas.

Nas enfermarias o time é real-mente multidisciplinar. Há enfermei-ras apenas responsáveis por otimizar ofluxo de procedimentos, para que estessejam feitos o mais breve possível. Asequipes de assistência social, fisiote-rapia e reabilitação são fortes. Muitasvezes o paciente é encaminhado para

outros hospitais para reabilitação ouatendimento domiciliar de forma a en-curtar a ocupação em leitos de altacomplexidade. Mais importante detudo: há um coordenador de traumacom com dois assistentes para coletardados e colocá-los no computador afim de gerar estatísticas que possamser usadas em estudos científicos e namelhora do atendimento aos pa-cientes.

Quando se compara a estruturaque é montada com o número anualde pacientes de trauma recebidos nestehospital (cerca de 1.100 por ano) é quepercebe-se a atenção local para estaentidade em relação ao nosso es-tado/país. Levando-se em conta inci-dência, morbidade e mortalidade de-vido ao Trauma em Pernambuco, tor-na-se claro que a necessidade de me-lhoria das instalações e estrutura deatendimento público e urgente.

Fernando Spencer é médico pernambucano

em pós-graduaçãoo em Cirurgia do Trauma no

Sunnybrook and Women's College Health

Sciences Centre, Universidade de Toronto -

Canadá.

No Sunnybrook Hospital (omaior centro de trauma doCanadá), obrigatoriamentefazem parte do atendimentoinicial o líder, um anestesista,dois residentes de cirurgia,um residente de ortopedia,duas enfermeiras (uma sópara anotar os dados e outrapara atendimento direto) eum técnico de RX

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34 Movimento Médico

DIRETÓRIOS ACADÊMICOS

um projeto que tem comobase o mesmo tripé quefundamenta o currículo mé-dico: a pesquisa, o ensino e a

extensão. Dentro desse âmbito, vê-seque há, notoriamente, uma supressãoda extensão dentro dos espaços dasligas e uma hipertrofia da pesquisae/ou do ensino.

O que temos percebido é o des-conhecimento do que é extensão e emcomo fazer extensão dentro da univer-sidade. Diversos projetos de ligasclassificam como extensão cursos deeducação continuada voltada para acomunidade acadêmica, atendimentoambulatorial e atividades meramenteassistencialistas.

Outro problema está no âmbito doensino nas faculdades que estão emtransformação curricular e há resis-tência de alguns docentes ao processocriando assim, um apêndice da disci-plina fora do currículo, privilegiandoapenas a poucos um ensino completo ede qualidade em relação a essa disci-plina ministrada dentro do curso. Essadisputa leva a uma descrença por partedos estudantes em relação ao currículo

em transformação, encontrando nasligas um mecanismo de fuga e meio de“tapar buracos” do seu aprendizado.

Outro ponto a ser abordado é asuper-especialização do estudantedentro da graduação que fere um dosparadigmas das diretrizes curricularesque é a formação do médico gene-ralista. Observa-se a criação de ligascada vez mais específicas e estudantesse responsabilizando com serviços deatendimento em enfermaria ou ambu-latório o que toma muito do seutempo, fazendo-o, muitas vezes, des-privilegiar o espaço curricular – aulasteóricas e práticas – para se dedicar àsatividades da liga.

Além disso, em muitos lugares háum domínio das indústrias farmacêu-ticas o que dificulta a imparcialidadedas pesquisas realizadas pela liga, umavez que é fato o quanto a indústriafarmacêutica manipula e mascara osdados das pesquisas com objetivos cla-ramente mercadológicos: o lucro. Poresse motivo ela investe bilhões de dóla-res por ano em propaganda direcio-nada para médicos. Outro fato é quedos 90% de dinheiro investido em pes-

Ligas AcadêmicasIdéia é fortalecer o tripé ensino-pesquisa-extensãopara construção do conhecimento científico

É

quisa apenas 10% atendem às neces-sidades da população.

Diante dessas problemáticas, aidéia de Ligas Acadêmicas vem sendodeturpada e desviada do seu caminhoreal. Extensão não é assistencialismo esim uma troca de saberes entre a co-munidade e os estudantes inseridosnessa realidade em busca de resolu-tividade para as dificuldades encon-tradas. Ensino é uma busca de edu-cação continuada com a promoção deseminários, discussão de casos clínicosou simpósios com uma visão ampliadade saúde, abordando não só a biome-dicina, mas também as concepçõesbiopsicossociais do sujeito enquantoator do processo saúde-doença. E aPesquisa deve surgir como umanecessidade observacional do ambi-ente em estudo, problematizada equestionada para a busca de um co-nhecimento que possa ser aplicado naprática e esse ambiente possa se bene-ficiar desse estudo.

Por isso trabalhar verdadeiramenteligas acadêmicas é fortalecer o tripéensino-pesquisa-extensão no seu con-ceito amplo para assim construir o co-nhecimento científico como aprendi-zado para a comunidade acadêmica,para a própria universidade comotambém para a comunidade par-ticipante.

*Shirlene Mafra - Diretório AcadêmicoJosué de Castro

Shirlene Mafra*

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Movimento Médico 35

dia 11 de Abril de 2006foi uma data importantepara a Federação das Clí-nicas Médicas de Per-

nambuco – Fecem. Contando com re-presentantes das principais entidadesmédicas atuantes no estado, chegou-sea um consenso sobre que rumosseriam dados a Fecem.

O primeiro passo foi a criação deuma chapa de consenso os seguintesnomes: para o cargo de presidênciaDr. Assuero Gomes da Cooperativade Serviços Médicos Pediátricos dePernambuco (Copepe); para o cargode tesoureiro o Dr. Carlos Japhet daCooperativa dos médicoscardiologistas de Pernambuco(Coopecardio); para a administraçãoDra. Aspásia Pires da Cooperativados médicos ginecologistas e obstetra(Copego) e o Dr. Alexandre Queirozda Cooperativa dos médicos deespecialidades clínicas (Coopeclin); eo Dr. Antonio Barreto da Cooperativados cirurgiões (Coopecir).

A preocupação da chapa a sereleita é resgatar a credibilidade daFecem diante das federadas e doambiente médico. “O cooperativismoestá passando por um momento dedificuldade porque o governosobrecarregou demais a açãocooperativa com impostos e maisimpostos, além do momento de criseque vive a sociedade em geralrefletindo na área de atuação médica,com a população tendo que deixar amedicina privada pelo alto custo esuperlotando o sistema SUS, jáprecário. Por isso queremos buscarparcerias que ajudem a aumentar ocampo de trabalho do médico; masnosso primeiro passo será justamente

resgatar a credibilidade da força daFecem”, diz o doutor Assuero Gomes,candidato à presidência. A votaçãoserá feita por meio de AssembléiaGeral marcada para o dia 18 de maio.

Cooperativas ligadas a Fecem:Coopecir - Cooperativa dos médicoscirurgiões de Pernambuco. Fundadaem dezembro de 1993, conta hojecom 680 médicos cooperados habi-litado em 20 especialidades cirúrgico,e possui cerca de 30 empresas deplanos e seguros de saúdeconveniados.Av. Agamenon Magalhães nº 4775,14º andar - sala 1401 - Tel: 2125-7483Coopecardio - Cooperativa dosMédicos Cardiologistas do Estadode Pernambuco. Fundada em Marçode 1995, conta com 320 médicoscooperados e 30 convênios.Av. Agamenon Magalhães, 4775salas 1407/1408 - Ilha do Leite.Coopeclin - Cooperativa dosmédicos de especialidades clínicas dePernambuco. Fundada em dezembrode 1996, possui 455 médicoscooperados e quase 30 convênios.Av. Agamenon Magalhães, 4775Salas 309/310 - Empresarial ThomasEdison - Ilha do Leite - Recife, PE.Copego - Cooperativa dos médicosginecologistas e obstetras dePernambuco. Fundada em outubrode 1993, conta atualmente com 355médicos cooperados.Rua Benfica, 352, Madalena, Fone:3446.1220 - [email protected] - Cooperativa de serviçospediátricos de Pernambuco. Fundadaem novembro de 1994, conta commais de 300 médicos cooperados.

FECEM resgata credibilidade

OCooperativas parceiras da Fecem são as maiores

FECEM

Evelynne Oliveira

Cooperativas realizam eleiçõespara diretoria

Em Assembléia Geral Ordinária, trêscooperativas vinculadas a FECEMrealizaram no mês de março, eleições parao quadro da diretoria. A Copego(Cooperativa dos médicos ginecologistas eobstetras) reelegeu sua diretoria, quecontinua com os seguintes componentesaté 2007: Na presidência Doutora AspásiaPires; como vice-presidente DoutoraEliane Girão de Souza; Primeiro secretário:George Meira Trigueiro, e como segundasecretária Doutora Maria José de SouzaFerrera.

A Copepe (Cooperativa dos médicospediatras) também reelegeu sua diretoria,com os seguintes integrantes: na presidên-cia Doutor Assuero Gomes; na diretoriaadministrativa Doutora Ana Lira MoraesPimentel; como diretor financeiro doutorArmando José Franco Teixeira;

E no quadro da Coopecir(Cooperativa dos Cirurgiões) ficaram osseguintes nomes: na presidência DoutorAntônio Barreto de Miranda; na direçãoadministrativa doutor Mauro PedroChaves Sefer; suplentes: Pedro Geraldode Souza Passos, Armando Cahen Sol,Roberto Santos Wanderley, LindolfoSimões Costa. As Assembléias foramrealizadas respectivamente nas seguintesdatas: Copego dia 28 de Março de 2006;Copepe dia 31 de Março de 2006 e aCoopecir dia 13 de Março de 2006,permanecendo esta diretoria até o ano de2007.

Av. Agamenon Magalhães, 4775salas 1409 - Ilha do Leite - Recife,PE - [email protected]

* Evelynne Oliveira é jornalista.

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ara quem vivia dizendo que“espero morrer antes deficar velho”, conforme bra-dava Roger Daltrey do The

Who na canção “My Generation” oRock continua vivo e bulindo, jápassando dos cinqüenta. Desde que elearrebatou as rádios e as vitrolas com oprimeiro compacto de Elvis Presley, emjulho de 1954, nunca teve o espaço tãodisputado quanto agora. O rock pegouna veia de todo o mundo – especial-mente da juventude que naquele pós-guerra pródigo buscava formas maisespontâneas e informais de existência,em oposição ao moralismo e aopuritanismo de seus pais.

É inegável que o rock é um dosestilos mais abrangentes da música. Orock tem variantes criadas no mundotodo, mas, nasceu nos Estados Unidos.Os principais instrumentos utilizadosoriginalmente no rock eram: guitarra,bateria e contrabaixo. Trata-se de um

gênero musical que surgiu nos EstadosUnidos, nos anos 50, misturandoelementos da música negra (blues erhythm'n'blues) à dos brancos (countrye folk music). Logo alcança reper-cussão mundial. A partir da segundametade da década de 60 o rock, queinicialmente era uma música feitaexclusivamente para dançar, começou aevoluir técnica e musicalmente, passoua assimilar elementos de outras músicase culturas, formando, em seus estágiosmais avançados, uma só unidade. Osmais sábios dizemque rock é umestado de espírito,uma atitude. In-discutível.

Entenda- s epor Rock’n’Roll ummix de vários estilos mu-sicais, em contínuo de-senvolvimento com te-máticas comportamentais,

políticas e existenciais; e, ao mesmotempo, movimenta bilhões de dolárescomo mais um bem cultura na culturade consumo do sistema capitalista,movimentando milhões de adeptos emtodo o planeta. O rock foi a trilhasonora da contracultura, que se in-surgiu contra costumes e conceitos vis-tos pelos jovens como superados.Quebrou preconceitos. Nos anos 60 orock explodiu pela primeira vez. Ainquietação dos anos 50 era indi-vidualista, sexual e epidérmica. A dos

anos 60 era coletiva, cere-bral e transcendente. Umaoutra geração. O rock des-dobrou-se para atender àessas novas demandas. Jáem 1967 os Beatles troca-ram o estilo pseudo-ingê-nuo dos álbuns iniciais porum bem mais elaborado eousado, cheio de sons disso-nantes, imagens surreais e

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CULT

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O Rock cinqüentãoApesar da idade, gênero continua atraindo multidões conforme demonstrado

nas recentes turnês dos Rolling Stones e U2

PIm

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prod

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Chico Carlos e Luiz Arraes

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crítica social, como faria também BobDylan, vindo do popular folk ame-ricano. Grupos mais agressivos, comuma sonoridade e uma atitude muitomarcantes, como os Rolling Stones,foram tomando espaço. Janis Joplingravou o standard “Summertime” emversão rascante e alucinada. JimiHendrix, vindo do blues, deu em1970 o famoso show em Berkeley,fazendo literalmente o diabo com aguitarra. No rastro dos Beatles sur-giram dezenas de minirrevoluções: es-téticas, comportamentais, políticas etc.

Ao mesmo tempo em que osBeatles – que têm a mesma impor-tância dos Stones na história do rock –eram considerados bem-comportados,bons moços, de trajes e cabelos impe-cáveis, os Stones eram feios, sujos emal-educados. Agressivos, não tinhamreceio de mostrar que usavam drogas,mas eram acima de tudo ousados, econseguiam falar a uma juventudemarcada pela política imperialista dosEstados Unidos na guerra do Vietnã eo conservadorismo da época, pré-erade Aquário, da revolução e liberdadesexuais.

Época de transformação - Era orock também instrumento de contes-tação, inclusive política, como em“Street Fighting Man”, que traziareferências (“pés marchando”, “horade lutar”) às manifestações que come-çavam a ocorrer naquele período. Maso caminho poderia ser individualtambém. “O que pode fazer um

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O Rock através das décadas

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O rock na década de 1950 : primeirospassosÉ a fase inicial deste estilo, ganhando asimpatia dos jovens que se identificavam como estilo rebelde dos cantores e bandas. Surgenos EUA e espalha-se pelo mundo em poucotempo. No ano de 1954, Bill Haley lança ogrande sucesso Shake, Rattle and Roll. No anoseguinte, surge no cenário musical o rei dorock Elvis Presley. Unindo diversos ritmoscomo a country music e o rhythm & blues. Oroqueiro de maior sucesso até então, ElvisPresley lançaria o disco, em 1956,Heartbreaker Hotel, atingindo vendasextraordinárias. Nesta década, outrosroqueiros fizeram sucesso como, porexemplo, Chuck Berry e Little Richard.

O rock na década de 1960 : rebeldia etransgressãoEsta fase marca a entrada no mundo do rockda banda de maior sucesso de todos ostempo : The Beatles. Os quatro jovens deLiverpool estouram nas paradas da Europa eEstados Unidos, em 1962, com a música Loveme do. Os Beatles ganham o mundo e osucesso aumentava a cada ano desta década.A década de 1960 ficou conhecida comoAnos Rebeldes, graças aos grandesmovimentos pacifistas e manifestações contraa Guerra do Vietnã. O rock ganha um caráterpolítico de contestação nas letras de BobDylan. Outro grupo inglês começa a fazergrande sucesso : The Rolling Stones.No final da década, em 1969, o Festival deWoodstock torna-se o símbolo desteperíodo. Sob o lema "paz e amor", meiomilhão de jovens comparecem no concertoque contou com a presença de Jimi Hendrix eJanis Joplin.Bandas de rock que fizeram sucesso nestaépoca : The Mamas & The Papas, Animals,The Who, Jefferson Airplane, Pink Floyd, TheBeatles, Rolling Stones, The Doors.

O rock nos Anos 70 : disco music, poprock e punk rockNesta época o rock ganha uma cara maispopular com a massificação da música e o

surgimento do videoclipe. Surge também umabatida mais forte e pesada no cenário dorock. É a vez do heavy metal de bandas comoLed Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple.Por outro lado, surge uma batida dançanteque toma conta das pistas de dança domundo todo. A dance music desponta com ossucessos de Frank Zappa, CreedenceClearwater, Capitain Beefheart, Neil Young,Elton John, Brian Ferry e David Bowie.Bandas de rock com shows grandiososaparecem nesta época : Pink Floyd Genesis,Queen e Yes.

Anos 80 : um pouco de tudo no rockA década de 1980 foi marcada pelaconvivência de vários estilos de rock. O newwave faz sucesso no ritmo dançante dasseguintes bandas: Talking Heads, The Clash,The Smith, The Police.Surge em Nova York uma emissora de TVdedicada à música e que impulsiona aindamais o rock. Esta emissora é a MTV, dedicadaa mostrar videoclipes de bandas e cantores.Começa a fazer sucesso a banda de rockirlandesa chamada U2 com letras de protestoe com forte caráter político. Seguindo umestilo pop e dançante, aparecem MichaelJackson e Madonna.

O rock na década de 1990 : fusões eexperimentaçõesEsta década foi marcada por fusões de ritmosdiferentes e do sucesso, em nível mundial, dorap e do reggae. Bandas como Red Hot ChiliPeppers e Faith no More fundem o heavymetal e o funk, ganhando o gosto dosroqueiros e fazendo grande sucesso.Surge o movimento grunge em Seattle, naCalifornia. O grupo Nirvana, liderado porKurt Cobain, é o maior representante destenovo estilo. R.E.M., Soundgarden, Pearl Jam eAlice In Chains também fazem sucesso nocenário grunge deste período.O rock britânico ganha novas bandas como,por exemplo, Oasis, Green Day e Supergrass.

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garoto pobre além de tocar numabanda de rock and roll?”, cantavam osStones na mesma faixa, comparável a“Revolution”, dos Beatles.

Então o rock se multiplicou ou sedividiu: vieram os movimentos – punk,metal, progressivo etc. – e, embora qua-se toda banda de rock “pesado” tenhafeito algumas baladas lentas e lindas oumesmo canções violentas, mas densas(Led Zeppelin, Black Sabbath, DeepPurple, The Doors, The Clash), asutileza foi sumindo do mapa. Surgiramtambém bandas “alternativas”, comoPink Floyd, Emerson, Lake & Palmer,King Crimson, Moody Blues, Yes,Focus e outras, que com o tempo foramsaindo de cena. Mas, mesmo assim, nãopor acaso, alguns dos melhores discosque ainda são chamados de Rock’n’Roll– ou seja, uma mistura de batida ebalada, em que a articulação vigorosaentre ritmo e melodia predomina sobrea harmonia – são hoje feitos porveteranos, por nomes como Lou Reed,David Bowie e Neil Young, que já estãona estrada faz tempo.

E que grandes ídolos do passado,como Paul McCartney, U2 e RollingStones, continuam a atrair multidões –para ouvir principalmente, seus “clás-sicos”, não suas composições mais re-

centes. Exemplo recente: os Stones,misturam riffs mais contemporâneos,modernos, mas nunca deixando asraízes de lado. Talvez seja esse o se-gredo de uma longevidade nessa bandarepleta de conflitos de egos, crises ereviravoltas. Os “gêmeos brilhantes” –,como é conhecida a dupla Jagger eRichards, também têm a sua parcela de“culpa” nessa história. É claro que háboa música de rock, ou pop-rock, sen-do feita por bandas novíssimas comoWhite Stripes, Strokes, e Franz Ferdi-nand; por outras que já surgiram háalgum tempo, Aerosmith, Guns N’Roses, Oasis, RadioHead, Blur eColdplay. Nos anos 80 é que secomeçou a falar mais ostensivamenteem pop para designar a música comer-cial pós-rock, normalmente estru-turada em bandas jovens compostas deguitarra, bateria, baixo e vocal, que nas-ciam como cogumelos em garagens domundo inteiro. No Brasil, o chamado“roquinho nacional” – Paralamas,Titãs, Barão Vermelho, Ultraje a Rigor,Lulu Santos – parecia mais umamistura de pop americano com MPB.

Nos anos 90, apesar de sucessoscomo o Nirvana (cujo vocalista, KurtCobain, suicidou-se em 1994 por nãoquerer ser estrela). De certo modo, o

que diz Neil Young, “Hey, hey, my, my/Rock’n’Roll will never die”, é verda-deiro: o rock nunca vai morrer, porqueserá sempre uma referência de juven-tude e porque já deixou um bomnúmero de canções – de entrelaça-mentos de letras e notas que podemcaptar um espírito de época e injetarum amor pela vida intensa, emcontraposição ao futuro sempre adiado.O rock é uma porrada na sensibilidade.

Depois de cinco décadas, os ecosdessa explosão musical continuammartelando nossos ouvidos. Resistiu aotempo e as imposições daditadura de modismos, doconsumismo descartável.Sobreviveu aos novos usosda tecnologia do som,sintetizadores, samplers etransformadores de voz. Emverdade, o rock vive umaera de vigor. Está maisvivo do que nunca. Talveznunca deixe de estar,enquanto selembrar dafórmula mágicada perpétuatransformação.We Love TheRock!

Robert Plant e Jimmy Page,do Led Zeppelin dividem omicrofone. Abaixo, KurtCobain, do Nirvana, que sesuicidou aos 30 anos, cheioda vida de rico

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Movimento Médico 39

os grotões do Nordeste émuito comum os paisbotarem nos filhos nomesde ilustres americanos.

São muitos os exemplos: JohnKennedy, Washington Luiz,Franklin, Roosevelt (assim mesmo,separados) e tantos outros.

Pois bem, certa uma vez umadessas mães estava num consultóriomédico, na capital, aguardando asua vez de ser chamada. A sala cheiade outros pacientes. A secretária domédico chegou com a ficha dogaroto na mão e falou em alto e bomsom: “WALDISNEI???”. Nasegunda vez, aumentou ainda maiso tom “WALDISNEI?????????”.

Terceira, quarta e nada!!!! De repente, ela resolveu chamar

por dona Maria do Socorrro, a mãedo “Valdisnei”, que prontamente selevantou. “Eu chamei tanto por seufilho e a senhora nem respondeu?”.Dona Socorro, bem humilde,

respondeu: “Me desculpe, mas eunão ouvi a senhora chamar por meufilho”. Chamei, sim, olha aqui“Waldisnei”. E dona Socorro, umpouco chateada, procurou escla-recer a situação: “O nome do meufilho, escolhido por mim e meu ma-rido, é Walt Disney e não Waldisnei,como a senhora falou”.

*O médico chega para o paciente:“Eu tenho duas notícias para lhe

dar, uma boa e outra ruim!”“Qual é a ruim?”“Vamos ter que lhe amputar as

duas pernas.”“Ai, meu Deus! Qual é a boa?”“Tem um enfermeiro do turno

da noite que está querendo compraros seus sapatos!”

*Era alta madrugada e dois bêba-

dos iam para casa no maior porre domundo e de repente, sem que perce-

bessem, começaram a andar pela li-nha do trem. Um deles, já meiocansado, falou: “Que escada maiscomprida”. Ao que o outro retru-cou: “E o corre-mão é bembaixinho”.

*Outra de bêbado. Depois de

tomar quase uma garrafa de pinga,o cidadão entrou no ônibus esentou-se ao lado de um padre. Nosacolejo do ônibus, caiu várias vezespor cima do padre, deixando-obastante irritado. Num certomomento, tentou puxar conversacom o representante da igreja eperguntou: “Padre, artrite mata?”.E o padre, aproveitando o gancho,desceu a lenha: “Mata, sim. Mataprincipalmente quem bebe. Nãoimporta a quantidade”. E o bêbado,com os olhos cheios de lágrimas,olhou para o padre e disse:

“Estou morrendo de pena dopapa porque o jornal de hoje tádizendo que ele está com artrite”.

*Por falar em padre, a gafe de

Toninho Cerezo ficou na história.Ao desembarcar em Belém, capitaldo Pará, o craque do futebol brasi-leiro beijou o chão e disse para todaa mídia paraense que o aguardavaouvir: “Que satisfação descer naterra onde Jesus nasceu”.

*Apolo Albuquerque se despede

desta vez com uma pérola de pára-choque de caminhão: “Queminventou a distância não sabe o queé a saudade”.

HUMOR

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Apolo Albuquerque

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Gentil Porto

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Num lugar do passado

ostumo dizer que ninguém é dono da vida – a vida é realmente dona da gente. Assim,por ela fui levado para vários lugares e deles guardo lembranças imorredouras – Brejoda Madre de Deus, onde nasci; Caruaru, onde me criei; Recife, onde estudei e meformei; Floresta, onde trabalhei, e Petrolina, onde também exerci o meu ofício.

Considero-me um nômade telúrico.Faltava, entretanto, falar em Pesqueira, terra dos meus antepassados maternos, do meu avô

Gumercindo Saraiva Duque, tabelião da cidade, gourmet por vocação, poeta consumado. Lembro-me do seu caminhar pelas ruas e praças daquela cidade, sempre de paletó, bogari na lapela, charutoentre os dedos.

E é de Pesqueira a história que vou contar, repassada pela minha tia Aliete Duque de Miranda,espírito folgazão, moleca de carteirinha.

Pesqueira do meu tempo de criança era aquela cidade circundada por serras. Na parte mais alta,as fábricas Peixe da família Brito, o Colégio das Dorotéias e, mais embaixo, a formosa Catedral deSt'Águeda, o Colégio Cristo Rei, o Clube dos 50 e as praças do entorno. Para se deslocar da partemais alta para a parte mais baixa, usava-se um bonde movido a burros, alegria da criançada do meutempo. Nas proximidades da praça, existia (e acho que ainda existe) uma sorveteria que tambémfuncionava como bar. Ponto de reunião dos intelectuais, boêmios, lugar do “disse-me-disse” dacidade.

Certa feita, conforme me contou tia Aliete, numa roda “movida” à cerveja, a conversa, que seiniciou amistosa, degringolou para grossa discussão. Daí para a pancadaria generalizada foi umpasso. Empurra p'ra cá, empurra p'ra lá, sopapos, bofetões, copos quebrados, cadeiras ao chão. Umdos valentões estava literalmente incontrolável. A polícia foi chamada e imediatamente segurou o“tranca-rua”, que aos gritos exigia: “me larga, me larga!”. Não sendo atendido, soltou a tradicional“vocês sabem com quem estão falando?”. A polícia estacou e o beberrão com a maior firmeza: “eusou irmão da rapariga do cabo de Sanharó!” (pequena cidade das adjacências). Haja autoridade!

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GENTIL ALFREDO MAGALHÃES DUQUE PORTO nasceuno Brejo da Madre de Deus, em julho de 1940. É formado emmedicina pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)desde 1963. Passou a infância em Caruaru. Ocupou várioscargos importantes na área de Saúde como a direção dohospital Álvaro Ferraz, em Floresta, Hopsital Dom Malan, emPetrolina (onde morou boa parte de sua vida) e a VII diretoriaRegional de Saúde. Além disso, Gentil fundou o jornal "O Leãoda Floresta". Trinta anos depois de viver no Sertão, tranferiu-se para oRecife, onde foi admitido como membro da AcademiaRecifense de Letras. Também é membro da SociedadeBrasileira de Médicos Escritores – Sobrames, da UniãoBrasileira de Escritores (UBE) e colaborador do Jornal doCommercio. Atualmente, Gentil Porto exerce o cargo deSecrtário Executivo de Assistência à Saúde da SecretariaEstadual de Saúde.

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DIGNIDADE É O MELHOR REMÉDIO

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