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Revista Ordem dos Médicos Nº114 Dezembro 2010

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Revista Ordem dos Médicos Ano 26 - Nº114 Dezembro 2010

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Page 1: Revista Ordem dos Médicos Nº114 Dezembro 2010
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Recursos médicos parao funcionamento deurgências pediátricas

10 Exame de Titulação

em Medicina Intensiva

12 Carta dos Directores

de Serviço da SESARAMà OM

14 Carta aos Directores de

Serviço da SESARAM

Juramentos de Hipócrates

23 Centúrias de Curas

Medicinais

O meu Amigo JacintoSimõespor António Rendas

31 A saúde e o alentejano

– ou uma história em doiscapítulospor Carlos Costa Almeida

34 A Organização Interna

e a Governação dosHospitais Documentoa Discussão Públicapor António Gentil Martins

36 Um desafio contínuo…

por José Luís Fernandes

Ideias em Medicina – 2ª de2 partes

CONTOS

Exposição fotográfica doProf. Aureliano da Fonseca

45 Livros

Publicação dos relatórios deauditoria das contas da OM

HISTÓRIAS DA HISTÓRIA38

CULTURA44

INFORMAÇÃO10

ACTUALIDADE16

RELATÓRIOS DE AUDITORIA47

NOTA DE ABERTURA04

S U M Á R I O

Ano 26 – N.º 114 – Dezembro 2010

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordem

dos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151

1749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produção

e Serviços de Publicidade:

Av. Almirante Gago Coutinho, 151

1749-084 Lisboa

E-mail: [email protected]

Tel.: 218 437 750 – Fax: 218 437 751

Director:

Pedro Nunes

Directores-Adjuntos:

José Moreira da Silva

José Ávila Costa

João de Deus

Directora Executiva:

Paula Fortunato

E-mail: [email protected]

Redactores Principais:

José Ávila Costa,

João de Deus e Paula Fortunato

Secretariado:

Miguel Reis

Dep. Comercial:

Helena Pereira

Dep. Financeiro:

Maria João Pacheco

Dep. Gráfico:

CELOM

Impressão:

SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.

Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Depósito Legal: 7421/85

Preço Avulso: 1,60 Euros

Periodicidade: Mensal

Tiragem: 40.500 exemplares

(11 números anuais)

Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alínea

a do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99

Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dosautores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos.

Ficha TécnicaFicha Técnica

OPINIÃO30

MédicosOrdem dos

REVISTA

ELEIÇÕES 2011-201306

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2 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

NOTA DE ABERTURA

Os resultados das eleições para osdiferentes órgãos da Ordem dosMédicos revelam uma perigosa ten-dência – o aprofundamento da abs-tenção – suficiente para que se agi-tem consciências ou, no mínimo, seaconselhe uma reflexão cuidadosa.Os números são claros: mais de 76por cento dos médicos registados –mesmo admitindo que nem todos osregistos correspondem a médicosainda vivos ou a trabalhar em Por-tugal – não votaram nas eleições emque se escolheriam todos os órgãosdirigentes da estrutura da OM.Neste quadro não foram poucosnem irrelevantes os ecos, nomeada-mente mediáticos, dos resultadospelo seu lado menos positivo, justa-mente o da tímida participação elei-toral, até porque os dados disponí-veis para comparação acentuam aconclusão.Restringida à eleição do Presidenteda Ordem dos Médicos, na primeiravolta, uma análise quantitativa e com-parativa do nível de abstenção en-tre as eleições que agora decorreme as que se disputaram há exacta-mente três anos, conclui-se que hácerca de 2360 votos a menos e queem apenas uma das Secções Regio-nais, a do Centro, a votação subiude 2007 para 2010.

Propostas eleitorais exigemvotação mais elevada

De facto, na Secção Regional do Cen-tro, votaram agora 2265 médicos,num universo eleitoral de 6879, quan-do, há três anos, tinham votado 2211.No campo oposto está a Secção Re-gional do Norte, onde votaram esteano 2539 médicos, muito aquém dos4176 que tinham usado o seu direi-to de voto há três anos. No Sul, em-bora com menor expressão tambémse regista uma redução do númerode votos efectivos de cerca de 200.Estes valores absolutos, quer noNorte quer no Sul, traduzem, deresto, uma abstenção ainda mais ele-vada do que parece, uma vez quehouve também um significativo au-mento do universo de votantes nes-tes três anos.Poderá dizer-se que a diferença de2360 votos a menos não é relevan-te para o apuramento dos resulta-dos – de facto não é – mas revelauma atitude geral que pode ser mui-to prejudicial às causas da Ordemdos Médicos e fragilizadora da solu-ção democrática que sair da segun-da ronda eleitoral, cuja votação emurna está marcada para o próximodia 19 de Janeiro de 2011.Se não, vejamos: os candidatos queganharam o direito de disputar a se-gunda volta defendem nos seus pro-gramas uma revisão do Estatuto da

Ordem, nomeadamente no que dizrespeito à área disciplinar. Como éclaro, atribuem até a esse objectivouma importância transcendente nocontexto das competências da Or-dem e da melhoria significativa daresposta que a OM deve dar à soci-edade. Apontam essa aposta comovital, imprescindível para o reforçodos meios de autorregulação da pro-fissão.É por demais conhecido que entreas fragilidades que são frequente-mente atribuídas à Ordem está a dopoder disciplinar. Não há jornal, re-vista, rádio ou canal de televisão quejá não tenha questionado a eficiên-cia do poder disciplinar da Ordem esempre, nessas circunstâncias, o ac-tual Bastonário tem referido tam-bém a absoluta necessidade de re-ver o Estatuto Disciplinar.Sabe-se também que a revisão doEstatuto só é possível com o agenda-mento parlamentar e respectivaaprovação das alterações ao Dec-Lei respectivo. Ora, se destas elei-ções sair uma solução que reveleaumento do desinteresse dos médi-cos na eleição do mais alto respon-sável da sua organização de autor-regulação, dificilmente haverá um cli-ma político com abertura suficientepara que o Governo e os deputa-

Em Janeiro de 2008 votaram quase 15 mil médicos

Em Dezembro de 2010 não chegaram a 9 mil

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3Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

dos se decidam pela mudança da le-gislação que a Ordem pretende.O mesmo se passará com as hipó-teses de sucesso que terão outraspropostas de ambos os candidatos,como sejam a da elaboração e apro-vação de uma Lei do Acto Médicoou a da extinção da Entidade Regu-ladora da Saúde, por exemplo.De resto, o contexto já não é amigá-vel para a Ordem dos Médicos. Têm-se agudizado os ataques directos ouvelados às ordens de uma maneirageral, mas em particular à Ordemdos Médicos. Para citar apenas doiscasos, há poucos meses o constitu-cionalista Vital Moreira acusou a Or-dem de não cumprir os seus deve-res disciplinares atempadamente ecom eficácia e, há menos de um mês,o ministro da Ciência e do EnsinoSuperior, Mariano Gago, ao discur-sar nas Jornadas Parlamentares doPS, atacou as ordens que defendema qualidade do ensino das suas pro-fissões, acusando-as de corporativis-tas e de quererem apenas manterprivilégios que lhes são garantidospela escassez de profissionais.O ministro Mariano Gago é o mes-mo que criou os novos cursos deMedicina do Algarve e de Aveiro, quetêm merecido contestação da Or-dem e também justificaram dos di-versos candidatos violentas críticas,por considerarem que estes cursos,nomeadamente o do Algarve – cujafase de ensino já começou este anolectivo –, não garantem a mesmaqualidade de ensino dos cursos deMedicina que são leccionados no

Porto, em Braga, em Coimbra, naCovilhã ou em Lisboa.Há um certo clima de braço-de-fer-ro que o poder tem forçado porrazões exclusivamente financeiras.Isto é, grassa a tese – e colhe apoiosna política – de que quanto maismédicos houver mais disponível es-tará a mão-de-obra e, consequen-temente, mais cómoda será acontratação, entenda-se mais fácil emais barata.Coloca-se este objectivo como a so-lução das dificuldades do Serviço Na-cional de Saúde, que passará então aser gerido com mais margem paraos outros dislates que são cometi-dos.Mas para que a Ordem possa de fac-to ter um papel mais interventivo,para que a profissão médica possainfluenciar de forma mais séria opoder, é absolutamente necessárioque a instituição e os seus dirigen-tes não se fragilizem. Claramente, ese as respostas em democracia ain-da contam pela sua consistência, apróxima liderança da Ordem devecongregar a capacidade pessoal e ada instituição, sustentadas no refor-ço da resposta colectiva que fordada na segunda volta das eleições.E assinalo que os números que com-parei entre as eleições de há trêsanos e as de 2010 se referem exclu-sivamente à primeira volta, porque,na segunda volta disputada em Janei-ro de 2008, foram quase 15 mil mé-dicos a votar, portanto mais 5 mil epoucos do que os que votaram nes-ta primeira volta. Na Secção Regio-

Envie de imediato o seu voto por correspondência

ou vá votar presencialmente a 19 de Janeiro

nal do Norte votaram, então, nes-sas eleições de Janeiro de 2008, pra-ticamente 5 mil médicos; no Cen-tro, mais de 2500; e no Sul, quase7300.Repetir esse nível de votação seriaa resposta adequada aos que têmcomo projecto forçar a Ordem dosMédicos a aceitar soluções que des-credibilizam os médicos e a Medici-na e que se repercutem negativa-mente na qualidade dos cuidadosprestados aos doentes. Seria tam-bém reforçar os argumentos dosque apontam ineficácia à competên-cia disciplinar, mas, sobretudo, seriair aos poucos deixando os doentessozinhos no seu caminho pelos cui-dados de saúde quando deles neces-sitam.Restarão poucas dúvidas que o bra-ço-de-ferro está a decorrer, que hásinais de perda e ameaças de ser usa-da mais força contra a organizaçãodos médicos e que, com uma fragili-zação da liderança, a Ordem podede facto começar a ver o seu esta-tuto na sociedade em risco, comperda efectiva de atribuições e com-petências.Receber o voto em casa e enviá-lo deimediato pode ser uma maneira fácilde contrariar este rumo ameaçador.Não enviando o voto, será aconselhá-vel que os médicos disponham de umpouco do seu tempo, no dia 19 de Ja-neiro, e se desloquem aos locais devotação, para exercerem o direito devoto presencialmente.

Diamantino Cabanas

NOTA DE ABERTURA

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4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

ELEIÇÕES 2011-2013

Geografia do voto nas eleiçõespara BastonárioA distribuição do voto

por todo o país esteve

longe de ser homogé-

nea região a região.

Como se pode ver no

mapa, José Manuel Silva

foi o candidato mais

votado em 9 dos Distri-

tos Médicos, com parti-

cular relevância de to-

dos os Distritos da S. R.

Centro.

Isabel Caixeiro contabi-

lizou mais votos em 11

dos Distritos Médicos,

com preponderância a

Norte e a Sul, e Manuel

Brito foi o candidato

mais votado na Madei-

ra.

Page 6: Revista Ordem dos Médicos Nº114 Dezembro 2010

5Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

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1ª Volta – 15/12/2010

ELEIÇÕES 2011-2013

Quadro de resultados da votaçãopara Presidente

Os resultados determinaram a disputa de uma segunda voltaentre os dois candidatos mais votados – José Manuel Silva eIsabel Caixeiro –, uma vez que nenhum deles conseguiu mai-oria absoluta de votos.

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6 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

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Secção Regional do Sul

Secção Regional do Centro

Secção Regional do Norte

ELEIÇÕES 2011-2013

Quadros de Resultados da votação paraos Conselhos Regionais e Distritais

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8 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

«Chegou ao conhecimento da Direc-ção do Colégio de Pediatria, que al-guns Conselhos de Administração Hos-pitalares, no actual contexto de con-tenção económica, estarão a pressio-nar os Directores dos Serviços de Pe-diatria para reduzir as equipas de ur-

Recursos médicos para o funcionamento

de urgências pediátricas

I N F O R M A Ç Ã O

O Conselho Nacional Executivo homologou na sua reunião de 19 de Outubro

de 2010 o parecer do Colégio da Especialidade de Pediatria sobre Recursos

médicos para o funcionamento de urgências pediátricas que se transcreve:

gência pediátricas, designadamente du-rante o período nocturno.A Direcção do Colégio de Pediatria, deci-diu assim emitir o seu parecer de que onúmero mínimo de médicos especialistasem Pediatria em presença física simultâ-nea nunca deverá ser inferior a dois (24

horas por dia), para que um hospitalpossa manter um serviço de urgênciade Pediatria aberto e uma Maternidadeem funcionamento. De outra forma, nãoestão reunidas as condições mínimaspara garantir qualidade do serviço pres-tado e a segurança dos doentes.»

Os candidatos que preencham os requisitos previstos do Documento Orientador de Formação em Medicina Inten-siva (ver Site da Ordem dos Médicos em www.ordemdosmedicos. pt), podem solicitar, até ao dia 31 de Janeiro de2011, a sua admissão a exame mediante requerimento dirigido ao Conselho Nacional Executivo da Ordem dosMédicos. O exame escrito realizar-se-á no dia 1 Março de 2011 em locais e hora a definir após verificação daadmissibilidade dos candidatos. As provas práticas terão lugar nos hospitais seleccionados para esse fim, depois decompleta a lista de candidatos aprovados no teste.

Exame de Titulação em Medicina Intensiva

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SeminárioA Saúde dos Médicos e de Outros

Profissionais de Saúde21 de Janeiro de 2011

Nome:

Profissão: Médico Médico Dentista Enfermeiro

Telemóvel:

E-mail:

Enviar para: Saúde dos Médicos – SeminárioA/c Paula Fortunato/CELOMAv. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa

Em alternativa, enviar dados por e-mail para:[email protected]

Outros (p.f. indique)

Ficha de inscrição (gratuita)

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10 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

Carta dos Directores de Serviçoda SESARAM à OM

I N F O R M A Ç Ã O

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11Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

I N F O R M A Ç Ã O

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12 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

Exmºs Colegas,

Acuso a recepção da carta dos Cole-gas e registo o V. desagrado. Tal desa-grado, compreensível dado que acei-taram ser nomeados directores de ser-viço e, como tal, responsáveis perantequem os nomeou, não pode, comocompreenderão, ser motivo para altera-ção das decisões tomadas ponderada-mente e por unanimidade pelo Con-selho Nacional Executivo da Ordemdos Médicos.Por se tratar de um assunto sério, comoacertadamente referem, é que a deci-são da Ordem foi ponderada, pruden-te, e tomada após esgotadas múltiplastentativas de resolução atempada dosproblemas.Infelizmente a V. carta traduz uma apre-ciação enviesada do que se terá passa-do e, permitam-me a critica, uma per-da de tempo e de oportunidade paraa real resolução do problema actual edaquele com que futuramente se po-derão confrontar.A Ordem dos Médicos tem cometidaa tarefa de garantir a qualidade da for-mação médica, em cada momento eem cada ponto do território nacional.Tal, pressupõe que só razões de forma-ção podem ser ponderadas quando to-madas de decisões nesta matéria. As-sim são difamatórias quaisquer suspei-tas de que, subjacente à tomada de de-cisão da Ordem dos Médicos, existi-am matérias como a legislação sobrereceitas.Tal matéria, de enorme gravidade, nãomereceu ainda da parte dos colegas aatitude firme de demarcação e criticaque seria de esperar de médicos res-ponsáveis perante esta coarctação dedireitos dos doentes, de risco para asaúde pública e de insulto aos médi-

Carta aos Directores de Serviço da SESARAMPor deliberação do Conselho Nacional Executivo publica-se a carta enviada

pela Ordem dos Médicos aos Directores de Serviço da SESARAM em 30 de

Novembro de 2010.

cos que exercem na Região Autóno-ma da Madeira.Se não vos levou a tomar posição, pormotivo que desconhecemos, tambémnão levou a Ordem dos Médicos amisturar com assuntos de igual serie-dade como seja o dos internatos mé-dicos.No que respeita a este apenas e sóse passou o que têm obrigação desaber:Múltiplas informações, algumas veicu-ladas pela comunicação social e porresponsáveis políticos da RegiãoAutónoma da Madeira reportaramproblemas existentes no funcionamen-to do Centro Hospitalar do Funchal.Verdadeiros ou falsos, são problemas.Com impacto ou sem ele sobre a for-mação, cabe à Ordem analisar e maisfacilmente o faria se pudesse contarcom a colaboração dos colegas quetrabalham na Região e com uma ati-tude colaborante por parte dos res-ponsáveis.Durante o mês de Julho, após mesesde tentativas de sensibilizar todos parao exigível bom senso, decidiu o CNEinstituir uma Comissão Extraordináriade Avaliação de Idoneidade.Tal comissão que integrava elementosde vários Colégios permitiria uma pro-posta de resolução rápida, a tempo denão perturbar a atribuição das capa-cidades formativas para 2011.Não tendo percebido a boa intençãoda Ordem dos Médicos, a SecretariaRegional perdeu-se e fez perder pre-cioso tempo colocando questões eexigências de natureza administrati-va que pareciam apenas destinadas aimpedir o processo de avaliação pre-conizado.Neste enquadramento poderia, efecti-vamente e por uma questão de pru-

dência, a Ordem ter retirado a idonei-dade a todos os serviços fazendo ces-sar os internatos na RAM.Se não o fez foi por acreditar que tudose resolveria rapidamente e era possí-vel evitar o enorme transtorno, para aRegião e para os médicos que aí fre-quentam o Internato, de tal atitude.Estamos certos que muitos dos servi-ços do hospital mantêm as condiçõespara a frequência do internato, mastemos razões para acreditar que al-guns outros irão perder a idoneidadee os internos desses serviços terão efec-tivamente de ser deslocados.Como os internos não são mão-de-obra mas sim médicos em formação,por certo que o Governo da RegiãoAutónoma encontrará forma de pres-tar à população os cuidados de saú-de a que se obriga contratando espe-cialistas para tal fim. Igualmente quenão temos dúvidas que existem noPaís capacidades formativas para co-locar os internos a que a Madeira te-nha negado condições para a sua for-mação.Lamentamos que os colegas que ago-ra têm a responsabilidade de dirigir osserviços em vez de perderem tempo asubscrever cartas, a que não podere-mos dar qualquer seguimento dado orisco de violação dos deveres ineren-tes nos cargos que ocupamos, não pro-curem identificar os problemas exis-tentes e resolvê-los de forma a não sernecessária a tomada de decisão quese for o caso não deixaremos de to-mar.

Com os melhores cumprimentos,

O Presidente

Dr. Pedro M. H. Nunes

I N F O R M A Ç Ã O

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14 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

A C T U A L I D A D E

Juramentos de HipócratesRealizaram-se, no dia 24 de Novembro e 18 de Dezembro, respectivamente,

as cerimónias de Juramento de Hipócrates da SR Sul e da SR Norte da OM,

simbolizando a entrada dos jovens médicos na profissão. O Juramento de

Hipócrates da SR Centro terá lugar apenas no dia 26 de Fevereiro de 2011.

Decorreu no passado dia 24 de Novem-bro, na Aula Magna da Reitoria da Uni-versidade de Lisboa, a cerimónia de Ju-ramento de Hipócrates de mais de cin-co centenas de médicos que se inscre-veram na Secção Regional do Sul da OM.Isabel Caixeiro, presidente do Conse-lho Regional do Sul, que deu as boasvindas aos novos Colegas, apelou à par-ticipação no Conselho Nacional doMédico Interno mas referiu-se igual-mente ao desafio de «forçar a substi-tuição da gestão empresarial impostana saúde por um modelo que privile-gie uma gestão suportada na governa-ção clínica» e à necessidade da «defe-sa da inviolabilidade da prescrição mé-dica», salientando que o caminho des-tes profissionais não será isento de di-ficuldades.Seguiu-se no dia 18 de Dezembro oJuramento de Hipócrates dos mais de

400 médicos que se inscreveram naSecção Regional do Norte. TambémJosé Pedro Moreira da Silva, presiden-te do Conselho Regional do Norte daOM acolheu os jovens Colegas refe-rindo alguns problemas que os profis-sionais de medicina têm que enfren-tar: «Teremos muitas vezes de não ce-der à tentação de ir pelo caminho maisfácil, mais técnico, mas de ir pelo cami-nho mais correcto e mais qualificadoe mais humano. Teremos muitas vezesde desempenhar as nossas funções emlocais menos dignos, mas não esque-cendo, que temos a obrigação de con-tinuarmos a lutar, sempre por maise melhores condições, sem nunca nosacomodarmos. Teremos muitas vezesde lutar contra interesses instalados,mas não instalados no interesse da boaprática médica, nem no interesse dosdoentes», referiu.

As duas cerimónias foram presididaspelo Bastonário, Pedro Nunes, que, àsemelhança dos anos anteriores, fez ques-tão de efectuar o mesmo discurso paraacolher todos os novos médicos, inde-pendentemente da região do país em queos mesmos se inscreveram, e nele sali-entou a relevância deste juramentomilenar: «Ele é um código de conduta,um grito contra a falta de consciência,contra o abuso do conhecimento usa-do de forma perversa, contra acharlatanice ao serviço dos interessesmateriais. Escrito há mais de dois mil equinhentos anos ele é um libelo contrao egoísmo, o desrespeito pelo outro, opragmatismo ao serviço da ganância».Em seguida publicamos os discursosproferidos nas duas cerimónias de Ju-ramento de Hipócrates pelos presiden-tes dos Conselhos Regionais e peloPresidente da Ordem dos Médicos.

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15Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

Caros Colegas,

Há 18 anos um jovem especialista, re-cém-chegado à Ordem num processode mudança teve a ideia de propor arealização de um dia especial de aco-lhimento aos novos médicos.Simbolizado no milenar Juramento deHipócrates, com o texto actualizado deGenebra, mas acima de tudo uma jor-nada de festa, de confraternização, deretribuição à família e aos que torna-ram possível o percorrer do caminho,enfim, uma cerimónia iniciática abertae transparente como é próprio dos mé-dicos.Tratava-se acima de tudo de restaurarum «marco miliar» de dizer em vozbem alta, aqui estou, contem comigo,a partir de hoje o grupo é mais forteporque tem mais um.Ao longo destes dezoito anos nunca acerimónia do «Juramento de Hipó-crates», rapidamente adoptada em to-das as Secções Regionais, deixou decrescer, de ser acarinhada pelos maisnovos, de representar aquilo para quefoi imaginada.Esse jovem especialista que os acasosdo destino fez continuar na Ordem dosMédicos até daqui a poucas semanas,hoje está mais velho, talvez menos en-tusiasmado, talvez mais desiludido, masseguramente mais sabedor da vida edos homens.Hoje esse já não tão jovem colega con-

tinua a acreditar que esta cerimóniavale a pena.Porque vale a pena viver a vida comdestino e objectivo. E destino e objec-tivo para um médico não pode sertransformar-se num acrítico prestadorde serviços remunerados como se debiológica mecânica se tratasse, comose o órgão, a função, o sistema, se de-sintegrassem na sua complexidade bi-oquímica, do ser humano completoque os integra e os transporta.Porque a medicina é um acto solidário,vale a pena afirmar alto o compromissode ser médico, em plenitude, em dedica-ção ao todo holístico do vosso concida-dão que os acasos da fortuna tornoudoente e se encontra ao vosso cuidado.Fazê-lo no momento simbólico do pri-meiro dia perante os mais velhos, peran-te os colegas, perante a família e amigosé assumir um compromisso público, tes-temunhado por milhares, incontornável.Um compromisso para a vida.Porque a vida, meus caros amigos e

jovens colegas, é breve, a tarefa é imen-sa para quem a quer viver em plenitu-de, e nela não cabe, não pode caber, avã cobiça, a vaidade da tão transitória«Gloria Mundi».Em cada dia da Vossa vida ir-se-ão con-frontar com as oportunidades imen-sas que o poder do conhecimento Vostrará. E o que hoje é a incerteza e afragilidade do desconhecido que Vosaguarda nos hospitais e centros de saú-de, amanhã, muito brevemente, pode-rá ser a arrogância autoconvencida dosque detêm o saber e o poder.Lembrem-se que a esmagadora mino-ria dos erros e a criminosa negligênciaque mata, que estorpia, que coarctadireitos de cidadania, não é cometidapor jovens e inexperientes, mas pormédicos no esplendor da vida e da car-reira auto confiantes, desatentos e ar-rogantemente convencidos.Ao recordarem pela vida fora o dia dehoje façam com que ele seja um alerta;que ele seja o compromisso da humil-dade que se descanta do juramentoque dentro em pouco irão fazer – sin-tam-no.Não deixem que a vossa desatenção ea vossa auto-suficiência um dia o fa-çam violar. Usem-no para se sentiremmembros de um imenso corpo mun-dial de homens livres, seguros da suaciência, desconfortáveis na sua inca-pacidade, mas totalmente dedicadosnas vitórias e nas derrotas à causa dahumanidade.Da humanidade que não é o homemcom letra grande do domínio da Terra.Da humanidade que não é o ser hu-mano mitológico feito à imagem de umDeus ou das incomensuráveis forçasda Natureza.Da humanidade que para cada médi-

A C T U A L I D A D E

Discurso do Bastonário

Ao recordarem pela vida fora o dia de hoje

façam com que ele seja um alerta;

que ele seja o compromisso da humildade que se

descanta do juramento que dentro em pouco

irão fazer – sintam-no.

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co é cada homem. Que é cada ser hu-mano individual e irrepetível, binómiode grandeza e miséria como cada umde nós nesta sala.Viverão a vossa vida pessoal e profis-sional num mundo de incerteza. A ga-nância mais uma vez pôr em causa,agora à escala global, os direitos dosmais fracos da sociedade.Como aprendiz de feiticeiro que nãose cansa de ser, como atrevido quenunca aprende, o Homem mais umavez conjurou forças que não conse-gue dominar.O Mundo solidário que as democraci-as da Europa Ocidental na sequênciade um conflito de violência imensurávelcontinuam a arriscar a sua destruição.O tremendo sobressalto moral, que oreconhecimento da responsabilidadede todos nas chaminés de Auschwitz enos cemitérios de Estalinegrado pro-vocou, deu origem ao mundo que nósconhecemos e julgávamos imutável.O Mundo dos filhos planeados, felizese educados nas Universidades e nosaber.O Mundo da segurança pública de umasociedade regulada no império da Leie da Ordem.O mundo das liberdades democráti-cas do direito à opinião e à manifesta-ção de vontades unicamente limitadapelo igual direito dos outros.O Mundo da solidariedade de todospara com todos mediado pelo Estadosocial, protector e democrático.O Mundo do Serviço Nacional de Saú-de universal, geral, gratuito no momen-to da prestação.Em Mundo do rosto humano em queo médico tantas vezes ocupou o lugardo ministro da religião, da família au-sente no trabalho, do confidente e

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amigo na solidão existencial da gran-de cidade, esse mundo pode estar aacabar.Pode estar a transformar-se num mun-do de competidores num mercado glo-bal em que a lógica do lucro tudo de-terminará.Poderão, meus caros colegas, viver nummundo em que a lógica, sabe se lá iló-gica, do que eufemisticamente se cha-ma mercados, tudo poluirá.Nessa lógica não há lugar para a soli-dariedade de rosto humano mas só-mente para a optimização do proces-so produtivo.Nesse Mundo novo cada vez menosadmirável porque cada vez mais o ad-mirável mundo de Huxley não há lu-gar para Juramentos de Hipócrates.Não há lugar para o apoio solidário epara palavras de conforto quando secontratualiza a consulta nos sete ounos dez minutos e se discute o núme-ro diário desses actos impessoais.Não há lugar para o segredo profissionale a reserva da intimidade que cada do-ente tem direito quando quem gere quersaber a minudência de cada momentodo dia profissional para melhor poderdespi-lo do que considere supérfluo.Neste Mundo novo não há lugar paraa partilha do conhecimento, da dúvi-da, da inovação. Porque a dúvida per-turba a imagem pondo em causa o mar-keting e a marca tão longamente ela-borada, e o conhecimento tem valorde mercado que a patente garante sóestar disponível a quem tiver poderpara o comprar.Neste Mundo novo em que a procurado interesse pessoal no tal espaço delivre troca tudo define e tudo subver-te não há espaço para as palavras ju-radas que mandam respeitar cada ho-

mem e cada mulher na sua singulari-dade, independentemente do género,da liberdade ou da escravidão, do terou do ser.Neste Mundo novo que todos os diasnos é vendido como o Alfa e o Ómegados nossos desejos, como determinanteda nossa existência, a forma indiscutí-vel que nos formata e a que urge con-formarmo-nos, neste Mundo novo nãohá lugar para a poesia do Juramentoque aqui vieram fazer.E contudo ele é um código de conduta,um grito contra a falta de consciência,contra o abuso do conhecimento usadode forma perversa, contra a charlataniceao serviço dos interesses materiais.Escrito há mais de dois mil e quinhen-tos anos ele é um libelo contra o ego-ísmo, o desrespeito pelo outro, o prag-matismo ao serviço da ganância.Ao jurá-lo, milhares de anos depoisestamos a assumir a verdade implícitaque o homem é imutável, só mudandoa sua circunstância.Ao jurá-lo integramo-nos não no exér-cito actual dos que estão do lado soli-dário da barricada, mas no exércitomilenar de que outros estiveram nomesmo lado, lutando contra os que sobdiferentes bandeiras estavam do ou-tro lado.Ao jurá-lo meus caros e jovens cole-gas estão a tomar partido.Se algum dia na Vossa vida o violaremestarão a perjurar perante Vós mesmo.É dentro de Vós que encontrarão acritica mais dura, o juíz mais irredutívelo perseguidor mais tenaz.Está na altura de decidirem se o irãojurar!Este momento é definitivo e determi-nante. A partir de hoje o caminho nãotem retorno.Pensem no que vão fazer e depois as-sumam-no. As portas deste auditóriocontinuam abertas para que possamsair os que não tiverem coragem.Aos que ficarem, aos que agora peçopara se levantarem e comigo lerem oJuramento da nossa profissão, desejoa vida feliz que só os coerentes consi-go próprios conseguem usufruir.

Pedro Nunes

E contudo ele [Juramento de Hipócrates] é um

código de conduta, um grito contra a falta de

consciência, contra o abuso do conhecimento

usado de forma perversa, contra a charlatanice

ao serviço dos interesses materiais

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e as dificuldades também as rudezaspróprias do caminho que escolheram.Escolheram um trajecto profissionalsem igual, onde o quotidiano será umdebate permanente entre razão e emo-ção. Dias bons e menos bons, algunsmesmo dramáticos e extenuantes ecom frustrações várias, mas muitos tam-bém humanamente compensadores. Éeste reconhecimento que muitas ve-zes não esperamos que vos dará, den-tro de pouco tempo, a energia de quenecessitam para manter vivos os prin-cípios que hoje aqui vão jurar.Começarão por dizer, nesse juramen-to, que consagram a vossa vida ao ser-viço da Humanidade e dirão tambémdepois que a vossa primeira preocu-pação será a saúde do doente; e vãoterminar com uma declaração da vos-sa liberdade e da vossa vontade: «Façoestas promessas solenemente, livremen-te e sob minha honra».

Caros jovens colegas,

A Medicina, que decidiram abraçar, éisso mesmo, um exercício de vontade,de liberdade, de humanidade e de hon-ra, acima de todos os conhecimentostécnicos essenciais.Estou certa que só mais tarde poderão

perceber em toda a sua a dimensão aimportância do juramento, mas é porisso que o fazem, para que as vossasdecisões sejam reflexo destes princípi-os e para que as dúvidas e hesitaçõessejam resolvidas e esclarecidas neste su-porte ético de que nos orgulhamos.Sintetizamos nas palavras que vamosproferir os valores que, para nós e paraos doentes, são inultrapassáveis pelasconjunturas, pelas modas ou pelo po-liticamente correcto ou, ainda, pelascrises e indefinições que ciclicamenteabalam as sociedades.Sabemos que as crises, económicas, so-ciais ou políticas, abrem oportunidadespara a violação dos princípios éticos, e énessas circunstâncias que precisamosmais das nossas âncoras, que precisa-mos de mais rigor ético, que precisamosmais de nos unirmos para defender acausa essencial dos nossos doentes.Mesmo com os nossos princípios bemvivos nas consciências, com o rigor danossa prática e mesmo com o sucessodas nossas intervenções, é fundamen-tal que a nossa missão seja partilhada,que tenhamos respeito uns pelos ou-tros que nos permita criar um forte es-pírito de corpo com os nossos colegas,que garanta a defesa dos valores daMedicina e dos Médicos na sociedade.Sejam, pois, os primeiros defensores dosdoentes, sejam rigorosos, sejam segu-ros dos princípios, sejam inabaláveis doponto de vista ético, mas procurem orespeito dos vossos pares, dos vossoscolegas mais velhos e mais novos eunam-se em torno desta causa comum.Apostem em fazer parte de um grupocoeso com interesses essenciais comunse, nesse plano, exorto-vos a seremparticipativos na Ordem dos Médicos,instituição que muitos de vós conhece-ram esta tarde com mais pormenor eque representa todos os Médicos. A OMé o reduto da defesa dos nossos princí-pios e valores e primeiro e decisivoapoio para enfrentarem as dificuldadesque irão encontrar pelo caminho.Temos a responsabilidade de defenderna sociedade a imagem de uma profis-são que é um esteio, que assegura dia-riamente a confiança dos doentes, da-queles que nas nossas mãos deposi-

Caros futuros colegas, exmos. familia-res e amigos;Exmos. colegas;Minhas senhoras e meus senhores;

Cabe-me a honra, como Presidente doConselho Regional do Sul, de vos daras boas-vindas nesta cerimónia quetanto significa para todos nós.Estamos nesta sala de tanta tradição ede forte simbolismo universitário, ex-celente local para os que aqui hoje vãoprestar o Juramento de Hipócrates da-rem o primeiro passo de saída das suasescolas em direcção ao trabalho árduoque vos aguarda.Gostava de salientar a entrega do Pré-mio Manuel Machado Macedo aos doismelhores alunos das duas faculdadesde Medicina de Lisboa, a que já assisti-mos, alunos esses que receberão aquihoje a sua cédula profissional. É a pri-meira vez que tal acto é integrado nestacerimónia, o que faz jus à memória detão ilustre Bastonário da Ordem dosMédicos e figura da Medicina, comofoi o Prof. Manuel Machado Macedo.As minhas palavras destinam-se, emparticular, aos jovens colegas que hojesolenemente prestam o juramento deuma vida, mas também aos seus famili-ares e amigos, salientando a delicadeza

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Discurso da Presidente

do CRS

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tam receios, ambições, expectativas,alegrias, tristezas e, até, a sua vida.Mas esta imagem, que pode ser abala-da por constantes ataques, é um valorque devemos saber guardar e a quedevemos saber dar cada vez mais con-teúdo. E para tanto, precisamos, comovos disse, de nos unirmos e tambémde nos juntarmos em torno da Ordem,como única forma de garantirmos quea nossa profissão se mantém fiel aosprincípios, mesmo que todos os prin-cípios estejam a ruir à nossa volta.Como espaço de todos os médicos, aOM tem que se assumir como o balu-arte da defesa de cada médico e damedicina, dos seus valores e tradiçõesmilenares, mas também da moderni-dade, da renovação e da inabalávelesperança no futuro.Sempre defendi a participação activade todas as gerações, espero saber sen-sibilizar-vos para serem o sangue novode que precisamos.

Caros jovens colegas,

Normalmente, as agruras começamcedo, desde a prova de seriação, reali-zada em ambiente de ultra-segurançapróprio de uma cimeira da NATO, atéàs trapalhadas que sistematicamentetêm surgido no acesso às vagas de in-ternato, com a divulgação tardia domapa de vagas e na falta de condiçõesde trabalho que depois têm que en-frentar. No entanto, apesar de tantaconfusão anualmente repetida, os mé-dicos, sobretudo quando são jovens,adaptam-se a circunstâncias extremase têm conseguido, até agora, cumprira sua formação sem défice e prestarcuidados de saúde de qualidade aoscidadãos portugueses.Mas a verdade é que estamos no limiarde maiores dificuldades. Por quase todoo mundo e particularmente no nossopaís, não têm sido boas as notícias maisrecentes para a nossa profissão.

A evolução social nacional e interna-cional está suspensa nas incertezas eco-nómicas e de desenvolvimento.Na saúde, aos riscos já conhecidossomam-se outros abruptamente cria-dos pelas debilidades económicas.Sociedades com aumento de pobrezaserão populações em risco, com ca-rências de saúde e maior probabilida-de de doença.A globalização em que vivemos torna-nos permeáveis a novas ameaças emsaúde, que nos exigem enquanto mé-dicos que sejamos capazes de respon-der adequadamente e, acima de tudo,actuar também na minimização da an-siedade e fragilidade que se geram emmomentos como estes.Esta é também a responsabilidade queassumimos com o nosso juramento.Não fazemos apenas uso das capaci-dades de aplicar o melhor conhecimen-to disponível para prevenir a doençae promover a saúde. Temos também aresponsabilidade ética da melhor utili-zação dos recursos disponíveis.Enquanto médicos, estamos mobiliza-dos e organizados para intervir na so-ciedade que nos rodeia na defesa daequidade na prestação de cuidados desaúde e da dignidade da pessoa hu-mana nas unidades de saúde, públicasou privadas, centros de saúde, hospi-tais, consultórios ou unidades de cui-dados continuados.Temos demonstrado publicamente apreocupação com a qualidade da for-mação, que começa agora a dizer-vosrespeito, dado o défice de médicos quese vai acentuando, o que tornará cadavez mais difícil encontrar disponibilida-de para orientar a vossa especialização.Mais grave ainda é que a obsessão daprodutividade, contabilizada no imedi-ato em números de consultas ou inter-venções cirúrgicas, faz esquecer, porvezes, que o país e a saúde dos portu-gueses precisam que as novas geraçõesde médicos tenham uma formação es-pecializada de qualidade.Está na altura de corrigir a falta de vi-são estratégica que alguns responsá-veis manifestam ao encararem a for-mação como um encargo e não comoum investimento no futuro.

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Não fazemos apenas uso das capacidades de

aplicar o melhor conhecimento disponível para

prevenir a doença e promover a saúde. Temos

também a responsabilidade ética da melhor

utilização dos recursos disponíveis.

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A C T U A L I D A D E

Pela minha parte, defenderei sempre umaformação médica especializada de qua-lidade, que respeite escrupulosamente oscritérios de idoneidade e capacidadeformativa definidos pelos Colégios deEspecialidade e a participação dos cole-gas em especialização na definição doseu próprio percurso formativo.Apelo também ao vosso dinamismo –à participação no Conselho Nacionaldo Médico Interno, à criação de nú-cleos de internos nas vossas especiali-dades. O vosso empenho ajudará de-cisivamente a consolidação do nossomodelo de formação e criará mais difi-culdades aos que querem destruí-lo porrazões meramente economicistas ou deinteresse financeiro ou comercial.Há também outra realidade contra aqual é imprescindível opormo-nos: a cri-ação de novas faculdades de Medicina.Pela minha parte, tenciono opor-me comfirmeza à proliferação de mais faculdadese de modelos de ensino desadequados.Os médicos querem continuar a seruma força de desenvolvimento do Ser-viço Nacional de Saúde e da qualidadedos cuidados prestados aos portugue-ses. Todos vocês, que encetam agora avossa carreira, merecem as melhorescondições de aprendizagem, para seremno futuro os melhores médicos.É preciso serenidade e assentar as po-líticas no rigor. Pela minha parte, a Or-dem estará disponível para participaractivamente num estudo rigoroso so-bre o número de médicos em activida-de, as suas especialidades, os défices nosistema público e as necessidades nofuturo, que sirva de base a políticas sé-rias de recursos humanos na saúde.Não se podem desbaratar as expecta-tivas de tantos jovens, como já se fezem tantas outras áreas de formação.

Caros colegas,

A partir de hoje vão começar a perce-ber melhor os problemas que enfren-tamos. Há três décadas, a minha gera-ção de médicos ajudou a criar o Servi-ço Nacional de Saúde, demos o nossomelhor para que Portugal passasse aexibir níveis de saúde do primeiromundo. Assistimos agora a medidas

centradas numa redução acrítica decustos, em cortes nos direitos dos do-entes, sem demonstração de eficáciaou racionalidade e que têm merecidoa nossa crítica.O desafio para todos é forçar a substi-tuição da gestão empresarial impostana saúde por um modelo que privile-gie uma gestão suportada na governa-ção clínica. Em vez de números, linhasde produção e meras estatísticas, deveser respeitada a decisão médica cen-trada no doente. A Ordem precisa tam-bém neste caso do vosso contributo,de uma participação que se vá manifes-tando nos vossos locais de trabalho.Na verdade, com mais ou menos hos-pitais EPE, Agrupamentos de Centrosde Saúde, maior ou menor inovação nagestão, maiores ou menores tentativasde reduzir o acto médico a um númerofrio e inexpressivo, o que é facto é quecontinuam a ser os médicos o garanteda saúde e o rosto de confiança que osdoentes vêem diariamente.Temos consciência que muito há ain-da a fazer; e contamos convosco e como vosso entusiasmo para matériascomo a definição da Lei do Acto Médi-co, como salvaguarda da saúde e se-gurança dos cidadãos e para clarificaros espaços de intervenção e a lideran-ça médica das equipas multidisciplina-res em saúde.Contamos convosco para a defesa dainviolabilidade da prescrição médicaporque «A Saúde do nosso doente seráa nossa primeira preocupação» e ele me-rece que lhe seja dada essa segurança.Contamos convosco para reconstruiras Carreiras Médicas, que permitamum desenvolvimento profissional con-tínuo ao longo da vida.

Termino com as boas notícias.

Acredito que as novas gerações demédicos, de que fazem parte a partirde hoje, irão mudar e melhorar o futu-ro da saúde no nosso país.A criatividade e inconformismo de quesão portadores, aliado ao saber e prá-tica dos mais experientes, constituemo melhor seguro para um sistema desaúde orientado para as reais necessi-dades dos doentes.Para todos nós, hoje assinala-se ummomento de vitalidade e esperança.Para a Ordem dos Médicos é motivode satisfação contar com cada um dosnovos médicos e, para eles, direccionaros nossos esforços e apoio nos mo-mentos necessários.A Ordem dos Médicos pertence-vos dehoje em diante. A partir de agora a nossacasa é a vossa casa, a OM é a vossa Or-dem, o emblema que vos foi distribuído éo símbolo da camisola que hoje vestem.Da parte de todos os colegas médicos dopaís, e em nome dos mais de 20 mil re-presentados nesta Secção Regional do Sul,trago-vos o empenho e disponibilidadeem vos acolher e convosco partilhar osensinamentos de experiência feitos.Os jovens médicos de hoje são os no-vos porta-vozes de uma profissão quediariamente tem uma palavra a dizer amilhares de portugueses.A todos os jovens médicos os votosrenovados dos maiores sucessos pes-soais e profissionais.

Contamos convosco.

Obrigada por terem vindo juntar-se a nós.

Isabel Caixeiro

Contamos convosco para a defesa da

inviolabilidade da prescrição médica porque

«A Saúde do nosso doente será a nossa primeira

preocupação» e ele merece que lhe seja dada

essa segurança.

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profissão médica, trocando experiên-cias e absorvendo conhecimentos quepossam ser úteis para todos.Não posso deixar este tema, sem daruma palavra sobre a criação de novasFaculdades de Medicina em moldes,que no mínimo poderemos apelidar deabstractos.Contrariando o nosso Governo, nãoposso deixar de lembrar que no inicioda década foi feito um estudo muitointeressante pelo Prof. Doutor AlbertoAmaral, que conclui, que apesar de naaltura a idade da reforma ser ainda aos60 anos, não seriam precisos formarem Portugal mais de 1000 médicos porano. Como sabem hoje formamos cer-ca de 1600.Somos cerca de 40000 médicos o quejá está acima da maior parte das mé-dias dos países europeus. Um verda-

deiro disparate, que vai levar a curtoprazo, a um desemprego médico.Falando dos problemas que iremos de-bater nos próximos tempos, diria queé certamente importante poupar, com-bater o desperdício e gerir melhor osdinheiros públicos, mas não se deveperder de vista, a necessidade de huma-nizar os serviços e de prestar os me-lhores cuidados médicos, independen-temente dos custos e da capacidadeeconómica dos doentes.Apercebi-me, das condições por vezesprecárias e difíceis em que muitos cole-gas trabalham, não só ao nível de insta-lações como também de equipamentos.A Ordem dos Médicos tem que teruma palavra importante, sobre esse es-quecimento do poder político, paracom os médicos, mas também para comos doentes, pois alguns dos locais sãoindignos para a prática de uma medi-cina que se quer de qualidade.Vós, os futuros Médicos Internos tereisde estar preocupados com as condiçõesde formação, sendo importante que nosajudem com as vossas criticas e suges-tões a salvaguardar que a nossa Ordematravés dos Colégios da Especialidade,tenha uma palavra definitiva sobre aidoneidade e qualidade dos serviços,como também do local e das condiçõesonde os internatos são realizados.Gostaria ainda de vos dizer que temosde ser nós, os médicos, aproveitandoa nossa posição privilegiada na rela-ção médico-doente, a promover umapostura mais rigorosa e humanista jun-to destes, nas explicações dos actosmédicos, nos consentimentos informa-

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Exmas./os Senhoras/osExmos. ConvidadosCaros Colegas e Familiares

Muito obrigado pela vossa presençaneste dia de tão grande significado paratodos nós. Hoje é um dia importantepara os médicos recém-licenciados pe-las Faculdades de Medicina Portugue-sas (Porto, Braga, Coimbra, Covilhã eLisboa), assim como os outros alunosportugueses licenciados em Faculda-des não nacionais.A ocasião, que nos leva a estar aqui hoje,a comemorar este dia, é que, a partir deagora, vão deixar a vida de estudantes.Terão agora de estar preparados paraabraçar a profissão que escolheram quetem muito de científico, técnico mas tam-bém de relações humanas.Este é um momento importante da vidade um médico, pois hoje iremos jurarem conjunto e perante a opinião pú-blica, que passaremos a ter como ob-jectivo o bem-estar dos nossos doen-tes, a humanidade com que os tratare-mos, a qualidade que iremos impor atodos os nossos actos e a paciênciaque teremos de ter para os ouvir, tra-tar e acarinhar.Como referi em anos anteriores temosde saber acabar com espartilhos e unir-mos esforços no pré e pós graduado.Temos de partilhar com as Faculdadesos saberes para que o ensino pré gra-duado seja cada vez mais adequado à

Discurso do Presidente

do CRN

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Centúrias deCuras Medicinais

A C T U A L I D A D E

Cada uma das «Centúrias» apresentacem curas, ou, como se diz hoje em dia,100 casos clínicos relatados com minúcia,incluindo idade do doente e uma des-crição exacta do caso, da doença e tera-pêutica prescrita por Amato Lusitano. Adescrição é de tal forma detalhada quepermite ter uma ideia do mundo no sé-culo XVI quer em termos médicos querquanto a hábitos alimentares, práticasquotidianas, guerras, tensões económi-cas e políticas, hierarquias sociais, etc.Como se pode ler na introdução de

Integrada na cerimónia solene do Juramento de

Hipócrates do Conselho Regional do Norte da OM,

realizou-se no dia 18 de Dezembro a apresentação

da edição da obra ‘Centúrias de Curas Medicinais’

de Amato Lusitano. José Luís Doria, médico, docen-

te na FCM e membro fundador do Núcleo de His-

tória de Medicina da OM, apresentou a obra e o

autor realçando passagens do juramento de Amato.

Pedro Nunes, presidente da Ordemdos Médicos: «Possam agora os médi-cos do século XXI desfrutar com pra-zer a saborosa prosa de um colega queviveu há quinhentos anos. Colega quelutou como nós hoje contra a doençae a morte, com armas das quais hojenos rimos, com resultados que hoje nosconfrangem mas com a mesma vonta-de, a mesma ânsia de conhecer, o mes-mo empenho do bem fazer e a mesmaperplexidade e revolta perante o des-conhecido que hoje assumimos.

dos, os quais evitarão, com toda a cer-teza, alguns atritos e conflitos.Como já todos perceberam durante oCurso de Medicina, cada doente é umcaso, e na génese de cada doença hávários problemas que teremos deequacionar. Problemas do doente, dafamília e de todos os que com eles serelacionam.Teremos muitas vezes de não ceder àtentação de ir pelo caminho mais fácil,mais técnico, mas de ir pelo caminhomais correcto e mais qualificado e maishumano.Teremos muitas vezes de desempenharas nossas funções em locais menos dig-nos, mas não esquecendo, que temosa obrigação de continuarmos a lutar,sempre por mais e melhores condi-ções, sem nunca nos acomodarmos.Teremos muitas vezes de lutar contrainteresses instalados, mas não instala-dos no interesse da boa prática médi-ca, nem no interesse dos doentes.Esperando que as condições para umdesempenho digno das funções conti-nuem a melhorar, desejo-lhes as maio-res felicidades para a vossa carreira queagora dá os primeiros passos mas tam-bém uma palavra de apreço aosprestigiados Professores que vos acom-panharam na construção do caminho,que se quer em desenvolvimento segu-ro, sustentado na humanização, respon-sabilidade, honestidade e cidadania.Gostava de terminar, transmitindo-vosas nossas felicitações por este dia edesejar as maiores felicidades para umacarreira que agora começa.Aproveito a oportunidade para me des-pedir e agradecer a todos os colabora-dores, pois este foi o meu último actopúblico como Presidente do ConselhoRegional do Norte.Quero aproveitar esta oportunidade paracumprimentar o Dr. Miguel Guimarães,Presidente eleito e toda a lista da SRN,assim como o Sr. Bastonário que em bre-ve cessará funções, aos membros eleitose aos que cessam funções, das outrasSecções Regionais aqui presentes.

Festas felizes e um bom ano de 2011.

J. Pedro Moreira da Silva

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«Agradeço o convite para apresentaraqui a nova edição das «Centúrias deCuras Medicinais» de Amato Lusitanoque, em boa hora, a Ordem dos Médi-cos promoveu, por impulso do nossoBastonário, o Dr. Pedro Nunes. Culmi-na assim o longo trajecto de váriosanos, por que se arrastou este renova-do esforço.

Amato Lusitano (1511-1568), ou sejao Dr. João Rodrigues era natural deCastelo Branco, estudou Medicina emSalamanca, exerceu primeiro, por pou-co tempo, em Portugal e deambuloudepois pela Europa, em parte fugindoda Inquisição, por ser judeu, mas tam-bém com o desejo de alargar os seusconhecimentos pelo contacto com ou-tras gentes e diferentes práticas. Este-ve em Antuérpia, junto da colónia se-fardita portuguesa e depois em Ferra-ra (1541) onde ensinou. Exerceu tam-bém em Veneza, Ancona (1547), Roma,Florença (1551) e Pesaro (1555), cru-zou o Adriático até Ragusa (1556), aactual Dubrovnic, vindo a morrer em1568, em Salónica, então uma cidadedo Império Otomano.Foi médico do Papa, de nobres e degovernantes, de comerciantes e ban-queiros, mas também de gente simplesdo povo. Escorraçado do seu país, nãohesitou em adoptar, depois, o nome deAmato Lusitano, que exibia com orgu-lho, denunciando a sua origem quesempre honrou.Escreveu sobre plantas medicinais, mastambém sobre a prática clínica, e estareuniu em conjuntos de 100 casos, queconstituem as suas sete «Centúrias de

Curas Medicinais»,redigidas entre 1546e 1561, que agora oCentro Editor Livrei-ro da Ordem dosMédicos (CELOM),reeditou.

Foi particularmentefeliz a escolha destedia e local para vosapresentar esta ree-dição das sete «Cen-túrias» de Amato Lu-

sitano. Estamos hoje aqui, fundamen-talmente, para o «Juramento» dos no-vos médicos, um acto que os vincula-rá ética e deontologicamente para todoo seu futuro profissional.A palavra ética, que vem do grego «eti-kon», significa costumes, e deontologiaexprime a prática profissional, o exer-cício do dever, o «deontos». Pois bem,quer pela sua vida quer pela sua activi-dade médica, poucos, melhor do queo Dr. João Rodrigues de Castelo Bran-co, poderiam apadrinhar o aconteci-mento que hoje nos reúne.Na edição «princeps» da sétima e últi-ma «Centúria de Curas Medicinais»,Amato Lusitano incluiu o texto do seu«Juramento», redigido em Salónica, em1559, ou seja no «ano 5.319 da exis-tência do Mundo», como anotou. Sãoreflexões que resumem a sua vida pro-fissional, um texto com o qual esco-lheu encerrar a sua obra escrita. Con-juntamente com o Juramento de Hipó-crates, a Prece de Moisés Maimónidese o Juramento Médico de Montpellier,o de Amato Lusitano foi também umdos textos inspiradores da Declaraçãode Genebra, adoptada pela AssembleiaGeral da Associação Médica Mundialem 1948, texto que hoje serve, na suaúltima revisão, para modelo da con-duta dos médicos de todo o Mundo. Anova edição das «Centúrias» dá-nos,agora logo de início e antecedendo o«intróito do médico ao doente», umacópia fac-similada desse Juramento deAmato. Dele extraí, desordenadamente,algumas passagens:«Juro, ... que sempre tratei os meus do-entes com igual cuidado, fossem po-

bres ou nascidos em nobreza, sem pro-curar saber se eram hebreus, cristãosou sequazes da lei maometana».«Sempre tive diante dos olhos, para osimitar, os exemplos de Hipócrates e deGaleno, dos Pais da Medicina, não des-prezando as obras de outros excelen-tes Mestres na Arte Médica. ... Fui sem-pre diligente no estudo e nenhuma ocu-pação me desviou da leitura dos bonsautores. ... Aos meus discípulos, sempreos ensinei com sinceridade e para quese inspirassem nos bons exemplos».«... Em tudo exigi sempre a verdade.Nos prognósticos sempre disse o quesentia. Na minha clínica e como autorde escritos médicos, nada tive mais apeito do que promover para que a féintacta das coisas chegasse ao conhe-cimento dos vindouros, sem outraambição que não fosse a de contribuir... para a saúde da humanidade, semnada fingir, acrescentar ou alterar ...»«Nunca divulguei um segredo a mimconfiado. ...Nas minhas consultas e vi-sitas médicas nunca pratiquei a me-nor torpeza, ... e jamais fiz coisa de quese envergonhasse um médico precla-ro e egrégio.»«Nunca administrei poção venenosa.... Não provoquei a doença. ... Não fa-voreci um farmacêutico mais do queoutro, ... e ao receitar sempre atendiàs possibilidades pecuniárias, usandode ponderação nos medicamentosprescritos.»«Quanto a honorários que se costumamdar aos médicos, fui sempre parcimoniosono pedir, tendo tratado muita gente commediana recompensa e muita outra gra-tuitamente. Rejeitei grandes salários, ten-do sempre mais em consideração que osdoentes recuperassem a saúde do queem tornar-me rico pelos seus dinheiros.»Em resumo, Amato Lusitano transmi-te-nos o respeito pela formação médi-ca e a necessidade de uma permanen-te actualização. Transmite-nos a obri-gação na igualdade do tratamento dosdoentes, cuja saúde estará sempre aci-ma de quaisquer interesses sejam eles,de raça, religiosos, políticos, económi-cos, pecuniários ou individuais. Trans-mite-nos também a importante neces-sidade em acautelar o segredo profis-

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23Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Dezembro 2010

sional. São estes os valores universaisonde se funda a independência e a li-berdade da prática médica, que o mes-mo é dizer a salvaguarda da saúde e aliberdade dos doentes, todos eles va-lores frequentemente ameaçados masque as sucessivas gerações de médi-cos têm sabido preservar. Compromis-sos antigos que aqui, hoje, transmiti-mos a uma nova geração.

A dado passo da sua obra Amato Lusi-tano escreveu ainda: – «Nesta nossaprofissão, como muito bem sabem quantosa exercem, ... temos que estar atentos atodos os pormenores e aos mais peque-nos sinais». É disso que se faz a Medici-na. Foram também esses pormenorese sinais particulares que ele coligiu nassuas sete Centúrias, relatos de umaactividade em muitos aspectos com pio-neirismo e inovação, que fizeram deleum dos principais e mais esclarecidosmédicos do século XVI.Logo na primeira Centúria, concluidaem 1549, mas só publicada em 1551(em Florença), divulga-se a existênciadas válvulas venosas, que Amato des-cobrira na veia ázigos e cujo efeito hi-drostático comprovou experimental-mente. Uma descoberta importanteque, no século seguinte, levaria ao cor-recto esclarecimento do mecanismo dacirculação sanguínea.Ainda nessa Centúria, Amato esclare-ce que o útero humano tem uma sócavidade, mesmo nos casos de gesta-ções gemelares, fossem os gémeos domesmo sexo ou não, quebrando assimum longo mito.Também na 1ª Centúria, revela-nos atécnica das escarificações dos mem-bros, como um método depurativo desangrar, um tratamento conhecido emPortugal mas ignorado pelos médicositalianos.A segunda «Centúria» (terminada emRoma, em Abril de 1551, é impressaem Veneza, em 1552), fornece descri-ções pioneiras da encefalite letárgica, ouo «mal de modorra», conforme Amatodesignou essa entidade nosológica.Na terceira «Centúria» (terminada em1552, mas só impressa em 1555), oDr. João Rodrigues dá, pela primeira

vez, uma clara exposição sobre a púr-pura fulminante, a que deu o nome de«morbus pulicaris».A quarta «Centúria», de 1553 (concluidaem Ancona, a 17 de Setembro de 1553e impressa no mesmo ano, em Veneza),aborda, como as outras, diversas situa-ções clínicas e, de entre elas, o curiosométodo de extracção de um corpo es-tranho introduzido na bexiga.Na quinta «Centúria» revela-se o tra-tamento inovador da fenda palatina,utilizando uma prótese em ouro, paraauxiliar a deglutição e a fala.A sexta «Centúria», (datada 1558 massó publicada depois, em Salónica) con-ta-nos a prática médica de Amato Lu-sitano na Républica de Ragusa, emDubrovnic. Entre outros, descreve os«ferimentos na cabeça, com o crânio des-coberto» e discute o seu tratamento.Por fim, a sétima e última Centúria, todaescrita em Salónica e aí impressa, em1561. Transmite-nos igualmente váriosaspectos curiosos e outros inovado-res, como a explicação acerca da nu-trição do feto através dos vasos umbi-licais, a interpretação sobre o meca-nismo fisiológico do riso, temas de pa-tologia psiquiátrica e psicológica, comoa bulimia, referências à raiva e ao téta-no, a doenças exantemáticas e derma-tológicas, a vermes, como a filária e aascáris lumbricoide, a intoxicações ali-mentares, a doenças profissionais edoenças provocadas pelo clima, ao be-nefício das águas termais e aos efeitosdos sismos sobre a saúde...

À distância de cinco séculos, as expo-sições e tratamentos descritos porAmato Lusitano fazem-nos por vezessorrir. É certo que a medicina evoluiuentretanto, com progressos incomen-suráveis e é certo também que o «erromédico» tem agora uma outra dimen-são. Todavia, o médico actual deve co-nhecer que o saber médico foi cons-truído com muitos «passos em falso»,que se não devem repetir, porém, háainda muito por esclarecer.A humildade deverá estar sempre pre-sente no dia-a-dia de qualquer médi-co, como Amato o acentuou, escreven-do: «Como médico nunca abandono um

doente mesmo que saiba que vai morrer,porque às vezes dão-se surpreendentesmilagres e eu já tenho verificado alguns»,pois «... até se diz que a Medicina temmuito de Divino ...». Ontem como hoje!

Mas as sete «Centúrias de Curas Me-dicinais», não se limitam à abrangênciada Medicina e transmitem-nos uma ima-gem integral do Mundo no século XVI,quando outros portugueses o abriamà «globalização». Nas «Centúrias» hámúltiplas referências à geografia, à his-tória política, a guerras e tensões socio-culturais, a hábitos e vivências da so-ciedade..., assuntos que interessampara além da cultura médica.

Esta prodigiosa obra de um médicoportuguês com excepcional valor, este-ve durante muito tempo arredada doconhecimento da maioria dos seus com-patriotas, pesem embora as quase seisdezenas de reedições e traduções emvárias línguas. Escritas originalmente emlatim, tiveram, no entanto, apenas tra-duções e publicações parcelares emportuguês, até que, por 1946-1956, cominiciativa do médico albicastrense JoséLopes Dias, e tradução de Firmino Cres-po, professor de português e latim, astrês primeiras Centúrias vêm a lume,em versão portuguesa, nos Arquivos doInstituto de Oncologia. Quinze anos de-pois, segue-se a publicação das restan-tes quatro Centúrias, nos Anais do Ins-tituto de Higiene e Medicina Tropical(1971). Todavia, faltava uma edição emportuguês, completa e em livro, o quesó aconteceu em 1980, numa iniciativado Professor Ferraz de Oliveira e daDisciplina de História da Medicina daFaculdade de Ciências Médicas, em edi-ção dos Serviço Gráficos da Universi-dade Nova de Lisboa, com tiragens en-tre os 2000 (volume I – 1ª Centúria evolume II – 2ª e 3ª Centúrias) e os 1500exemplares (volume III – 4ª e 5ªCentúrias e volume IV – 6ª e 7ªCentúrias), que logo, em curtíssimo tem-po se esgotaram.A efémera duração da Gráfica daUniversidade Nova de Lisboa inviabili-zou uma nova edição, que por isso sóagora surge, decorridos 25 anos, por

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via da Ordem dos Médicos, obtido oassentimento, primeiro do ProfessorLeopoldo Guimarães e depois do Pro-fessor António Bensabat Rendas, quelhe sucedeu como Reitor da Universi-dade Nova.

Deixem-me terminar esta apresenta-ção das «Centúrias», com as palavrasdo próprio Amato Lusitano, retiradasda conclusão da centésima cura da sé-tima Centúria, onde escreveu: «... To-das estas matérias saíram primeiro dodivino Hipócrates, pai de todos os filóso-fos e médicos... Quanto a mim vou termi-nar... Tu, porém, ... não deixes de me pro-curar em breve, pela tua invulgar formade espírito culto e cortês.» Assim o es-pero; não deixem de visitar a Obra.Que esta iniciativa gráfica da Ordemdos Médicos venha colmatar um dese-jo manifestado por muitos, assim comoconcorra para divulgar melhor AmatoLusitano. 2011 celebra o quinto cen-tenário do seu nascimento!»

Ordem dos Médicos, Porto, 18 de

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Dezembro de 2010

José Luís Doria

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A figura de Jacinto Simões acompa-nhou-me durante a adolescência e oinício da idade adulta, através de algu-mas frases de meu Pai, preocupado emtransmitir a um jovem estudante demedicina a importância do trabalhoclínico em equipa, exemplificado, pelaestreita colaboração entre ele, umurologista, e «o Jacinto», um nefrolo-gista. Com o tempo apercebi-me dasoutras cumplicidades traduzidas emlongas conversas em Colares, que nun-ca testemunhei mas que, vim a saberpor ambos, em fases diferentes da vida,lhes eram do maior agrado. Creio queforam dois bons amigos.Estávamos a viver a década de sessen-ta e o início da seguinte, numa Lisboajá cosmopolita, que fervilhava de mo-vimentos sociais, culturais e cívicos,bem patentes nas lutas estudantis, que

O meu Amigo Jacinto SimõesPara o Bernardo e para o Nuno

Abstenção

Nunca me abstive

Isto é deixei de estar

Nunca morei só por fora,

E minha casa é cá dentro.

Em mais de metade,

Do meu quinhão de vida que já há muito se esvaiu

Só mostrei tantas vezes

Aquilo que não era proibido de mostrar

Mas tenho a secreta esperança

De ter guardado o eu

Com uma pureza de criança.

In, Recaídas, Jacinto Simões, Hugin, 2000

vim a encontrar na Faculdade de Me-dicina de Lisboa, quando lá entrei, vin-do do Liceu Camões, onde Jacinto Si-mões também estivera, algumas déca-das antes.Esse ambiente proporcionou à minhageração, os privilegiados que chegaramao ensino superior, crescer e adquirirvalores, de democracia e de justiça,num ambiente de alguma abertura po-lítica do regime. Foi também um perío-do de grandes lutas pelo futuro damedicina portuguesa que culminoucom a publicação, em 1961, do «Rela-tório sobre as carreiras médicas».Durante esse período pouco ou nadasoube de Jacinto Simões, tal era a ci-são entre o Hospital de Santa Maria eos Hospitais Civis de Lisboa, exceptopela notoriedade que atingiu como clí-nico durante a doença de Salazar, numa

atitude coerente e enraizada no Jura-mento de Hipócrates, e por ter sidopioneiro numa especialidade, a nefro-logia, que ajudou a criar em Portugal.Mas, não tenhamos qualquer dúvida,Jacinto Simões era, acima de tudo, umclínico com talentos únicos, fruto desi próprio e da Escola que sempre de-fendeu nos Hospitais Civis de Lisboa.Era o «Médico dos Hospitais» e da Ci-dade.Claro que não me escaparam notíciasacerca do seu trabalho, pioneiro nodomínio do transplante renal, com im-plicações para o desenvolvimento detantas outras especialidades, da reani-mação à imunologia. Tudo isto era fei-to no Hospital de Curry Cabral, emcondições precárias e quase heróicas,mas com grande sucesso e reconheci-mento nacional e internacional, sem-pre com o apoio, merecido, da Funda-ção Calouste Gulbenkian.Em Janeiro de 1974 minha vida seguiuoutros rumos e embora sabendo davida de Jacinto Simões, sempre por meuPai, só vim a encontrá-lo, verdadeira-mente, quando voltei do estrangeiro,em 1979. Em primeiro lugar no Hos-pital dos Capuchos e depois no Hos-pital de Santa Cruz, já como Professorda Faculdade de Ciências Médicas.Nessa altura os nossos laços começa-ram a estreitar-se. Fui, com muito gos-to, professor dos seus dois netos. O

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mais velhofoi mesmomeu monitorna Faculda-de de Ciên-cias Médicasdurante al-guns anos,antes de op-tar, com al-guma relu-tância doAvô, pela es-

pecialidade de psiquiatria. São hojedois excelentes médicos que orgulha-riam decerto Jacinto Simões, sempremuito empenhado na educação deambos.Jacinto Simões viveu uma vida multifa-cetada e dava a poucos o privilégio deconhecerem essas facetas. Foi para mimuma honra ter-me deixado conhecê-

las! Partilhei, durante as duas últimasdécadas, em muitos domingos à noite,a sua casa, a sua família, os seus ami-gos, as suas alegrias e tristezas. E fuificando, inebriado pelo convívio comuma das personalidades mais fascinan-tes que até agora conheci.

Como muito bem escreveu a seu res-peito Fernando Dacosta no prefáciodo livro Recaídas:«Independente e tolerante, solidário e dis-creto, determinado e subtil, paciente e iró-nico, disponível e perplexo, encetou o seucaminho acima das correntes circundantes– na ideologia e na inteligentsia. A lealda-de, a lucidez tornaram-se-lhe balizas ina-movíveis. Sem recuos enfrentou amargu-ras, decepções, desamores, desesperos,cansaços, vazios, ludíbrios. Hoje é um es-pírito de muitas memórias, de muitos con-vívios, de muitas interioridades, de muitas

excepcionalidades.»Quando cheguei à sua vida, já muitotinha acontecido e foi esta a figura, ri-quíssima, que encontrei. Fica-me o con-solo de nunca mais ter de lá saído!Não posso homenagear o grande Mé-dico porque nunca fui seu discípulo,embora tivéssemos um pensamentocomum sobre a medicina. Também nãodevo homenagear o grande Democra-ta, porque nunca lutámos juntos, emcampo aberto, pelas causas da liber-dade, embora estivéssemos sempre domesmo lado da barricada. Outros, quemuito lhe devem, farão isso melhor doque eu.Para mim resta-me a memória do Ami-go e do Homem a quem não devo nadae a quem devo tudo.Até sempre Professor Jacinto Simões!

Cascais, 7 de Dezembro de 2010

Capítulo I – A Saúde

Com o Serviço Nacional de Saúde e osHospitais como eles eram há 6 ou 7 anos,e as Carreiras Médicas, Portugal estavacolocado em 12º lugar no Mundo emtermos de cuidados de saúde, 6º na Eu-ropa, país pobre ombreando com os ri-cos nesse aspecto. E gastando muitomenos do que eles, 10% do PIB mas com

A saúde e o alentejano– ou uma história em dois capítulos

a menor despesa per capita de todos ospaíses da comunidade europeia.Nesse contexto tínhamos uma medi-cina estruturada, com uma hierarquiatécnica hospitalar bem estabelecida,base duma formação pós-graduada econtínua estimulada e continuamenteavaliada, que levou a que médicos dereconhecida capacidade e ambiçãoprofissional se decidissem a deixar osgrandes centros e os grandes hospi-tais para se dirigirem ao interior dopaís e nele produzirem todo o traba-lho de que eram capazes. Bons hospi-tais, centrais e periféricos, com profis-sionais satisfeitos por lhes ser reconhe-cido o mérito profissional objectivadopelo trabalho produzido e as provasprestadas, escalonados pela competên-cia demonstrada, assegurando nessascondições a gestão clínica dos seusHospitais, Serviços e Unidades.Nessa organização hospitalar assenta-va grandemente o próprio SNS, e elapermitia a prática, sustentada porque

transmitida com naturalidade de gera-ção médica em geração médica, dumamedicina de qualidade, e que por issomesmo ia saindo ao mais baixo custo.«Esse» Serviço Nacional de Saúde foisem dúvida a maior e melhor realiza-ção estatal e social do Portugal pós-25 de Abril, e colocou a Saúde fora dalista dos grandes problemas do Paísdurante 3 décadas, com reconheci-mento internacional desse facto, comoaquelas classificações cabalmente de-monstravam em 2002.Mas de repente apareceu alguém cla-mando que não havia sustentabilidadefinanceira para esse modelo, que erapreciso por isso modificar toda a estru-tura hospitalar, vigiar o desperdício dosmédicos, controlar a despesa que fazi-am. A gestão clínica feita era despesista,havia que a administrar do ponto devista económico-financeiro, os médicosnão tinham preparação para tal, daí osgastos, que nessa altura passaram a serconsiderados insustentáveis.

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António Rendas

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A gestão administrativa tomou entãoconta dos hospitais, arredando do seucaminho a gestão clínica. Os médicossó não foram postos totalmente foraporque sempre faziam falta para o tra-balho que justifica a existência dos hos-pitais. Mas a maneira encontrada de osafastar foi a sua desierarquização, foi oretirar dos lugares de responsabilidadee gestão os que a eles tinha chegadopor capacidade demonstrada e provasdadas, e substitui-los por outros. Pormuitos que nunca nos seus momentosde maior euforia haviam sonhado se-quer em serem-lhes atribuídas funçõesde liderança e direcção. Que decisões,estratégias, opções se poderiam depoisesperar? As melhores?! Muitos dos maiscapazes e experientes ficaram saturadoscom isto, foram empurrados assim paraa reforma antecipada ou para institui-ções privadas, ao mesmo tempo queapareciam nos hospitais-empresa con-tratos milionários – com as respectivasreformas mais tarde – sem qualquerrazão aparente a não ser a arbitrarie-dade e o oportunismo.As Carreiras Médicas foram feitas desa-parecer, ficou um amontoado de médi-cos, donde são escolhidos os que chefi-am e dirigem por critérios que não têmem muitos casos objectivamente nada aver com a sua preparação, experiênciaou conhecimentos, mas donde avulta asua capacidade para concordar com oque lhes digam para concordar.A desierarquização hospitalar chega aatingir foros de ridícula, e a ser motivode riso amargo, quando se nomeiam di-rectores ou chefes de equipa aqueles aquem ninguém se lembrará de recorrerem caso de complicações ou dificulda-des. Mas sobretudo deixou de haverqualquer estruturação credível, no pre-sente ou que se perspective no futuro,que garanta a qualidade, a formaçãoprofissional e a progressão de cada mé-dico desde esse ponto de vista dentro

destes hospitais EPE (que continuam aser estatais). O que não tarda afectarátambém, inexoravelmente, a qualidadee o futuro dos internatos médicos.Contrataram-se mãos-cheias de admi-nistradores e administradores-like, quegastaram balúrdios em gadgets admi-nistrativos e informáticos, desviandorecursos que poderiam naturalmenteser usados na actividade clínica. Fecha-ram-se urgências, centros de saúde,centros de atendimento permanente,maternidades, hospitais, serviços hos-pitalares. Puseram-se os doentes a an-dar de ambulância dum lado para ooutro. Fundiram-se hospitais, que é umaoutra forma, disfarçada, de fechar al-guns, reduzindo-se com isso o númerode médicos, de enfermeiros e de doen-tes, mas criando necessidade de maisadministradores, para encher essas no-vas enormes instituições hospitalares.Portugal classificado em 27º na Saúdeda Europa comunitária, e a descer. De-pois de trinta e cinco anos, manifesta-ções nas ruas de cidadãos desconten-tes, preocupados e temerosos pela suasaúde e dos seus filhos.E o aspecto financeiro? Depois distotudo, como está o aspecto financeirodo Serviço Nacional de Saúde? Com umprejuízo enorme e que não pára de cres-cer. Um défice que começa a serparalisante de todo o sistema, levandoa medidas restritivas e de poupançacada vez mais marcadas, isto apesar dequase 50% dos cuidados de saúde nonosso país já se calcular que sejam pres-tados agora por instituições privadas,que se multiplicam como cogumelosnum terreno húmido. A par da falênciatécnica de muitos dos hospitais EPE,grandes responsáveis pelo descalabrodas finanças da Saúde. E onde se redu-zem equipas médicas abaixo do que éconsiderado aceitável em termos de se-gurança profissional e dos doentes, eda formação médica; onde começa a

faltar material clínico e meios de diag-nóstico e tratamento; onde se fecharamconsultas e se dificulta o acesso aosdoentes, empurrando-os duns hospitaispara os outros, em nome duma apre-goada rentabilização que soa fortementea restrição, com acumulação de servi-ços cada vez mais longe dos pacientes.A que se junta a descomparticipaçãototal em muitos medicamentos e a ten-tativa de obrigatoriedade de prescre-ver apenas os mais baratos, retirandoaos médicos e aos doentes a possibili-dade de escolha por outro critério.Enfim, tudo o que sugere a real faltade sustentabilidade financeira do SNS.Que não é consequência do défice fi-nanceiro nacional, antes veio contri-buir largamente para ele.

Capítulo II – O alentejano

Um alentejano chegou a casa ao fim datarde e não encontrou a mulher.A casa estava toda desarrumada e porlimpar, os filhos choravam com fome.Procurou comida para lhes dar, e paraele próprio, não havia nada preparadoe a despensa estava vazia. Quis mudar afralda ao filho mais novo, não havia fral-das, procurou uma camisa lavada parasi próprio, estavam todas para lavar.Durante duas horas esperou, tentan-do acalmar os filhos e o estômago, semo conseguir, ansioso e preocupado. Fi-nalmente a mulher chegou.– Mulher, onde é que estiveste? A casadesarranjada, nada para comer, os filhosa chorar, um suplício, onde é que foste?!– perguntou-lhe ele com ansiedade.– Homem, fui ao cabeleireiro, precisa-va de ir ao cabeleireiro sem falta.– Mas pra quê? Pra que é que foste aocabeleireiro? – interrogou o maridosofredor.– Ora, pra ficar bonita!– Mas então por que é que não ficas-te?!...

O P I N I Ã O

Page 32: Revista Ordem dos Médicos Nº114 Dezembro 2010

Centúrias de Curas MedicinaisVolume I e IIAutor: Amato Lusitano

Tradução: Firmino Crespo

PVP: 50 €

Preço de lançamento: 30 €(portes de envio não incluídos)

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Comentários:

Pagina 5. Volta a dizer-se que o «Privado e o Social» só sótêm Convenções em áreas em que o SNS não tem capaci-dade de resposta suficiente. E quando fazem as mesmascoisas ao menor preço?? E sobretudo se o Estado vier a darresposta…… acabam as Convenções com o Privado e oSocial?? Será honesto para quem investiu naqueles secto-res? Isto é um erro de base:Estado, Social e Privado devem ser tratados em pé de igual-dade e pagos por um Fundo Nacional de Seguro de Saúde,para oi qual devem contribuir todos proporcionalmente ássuas possibilidade (competindo ao Estado pagar pelos quenão o possam fazer).Se a prestação de cuidados deixou de ser da responsabili-dade única do Médico, é bom que fique claro que os Médi-cos serão sempre o factor preponderante nas decisões desaúde, embora com a colaboração de outros profissionais,como Enfermeiros e Técnicos, e o conselho financeiro deAdministradores.As Unidades Coordenadoras Funcionais da Saúde da Mu-lher e da Criança (só há pouco nasceram e não foram elasque levaram o nosso País a valores da mortalidade infantildas melhores do mundo.), mas sim a existência do SNS(com as suas condições de trabalho) e sobretudo a quali-dade dos Obstetras e Pediatras Neo-natalogistas portugue-ses.

Pagina 10. Bom era que se deixasse de tratar, na Saúde, asPessoas como «Clientes»!

Pagina 15. ……a satisfação das necessidades de cada umdos Doentes deve passar por cada um ter o «Seu» Médico,coordenador do que seja necessário (como numa Orques-tra será sempre essencial ter um Maestro! para que toqueda melhor maneira).……não limitar os locais autorizados a executar determi-nados tratamentos em função das competências já disponí-veis…… Qual será a posição do Privado e Social nesteesquema teórico?Não é elementar considerar que o Sistema de Saúde não seesgota no SNS? Na avaliação das necessidades epidemio-lógicas só considera a existência dos Serviços do Estado(SNS)? É um erro de base fundamental!

A Organização Interna e a Governação dos Hospitais

Documento a Discussão Pública

Pagina 16. …… a satisfação das necessidades de cada umdos Doentes……exige, seguramente, que cada um tenha oseu Médico de confiança e livre escolha (o que é sistemati-camente omitido no importante documento em discussão).

Página 19. …… Espero não ter voltado ao PREC! Ouvir osDoentes, com certeza; colocá-los nos Conselhos de Admi-nistração de modo algum!

Página 20. …… A opinião do Doente deve ser critério ma-ximamente valorizado na avaliação… Por isso é que o Doentedeve ter a livre escolha dos Serviços ou Profissionais a quese entrega, e sem que isso o penalize financeiramente. Tantapreocupação com a avaliação e os seus métodos (e buro-cracia envolvente…) quando a forma mais barata e realistaé deixar os Doentes escolherem ! S’aí já se poupava bas-tante…

Página 21. …… Não defendo as Parcerias Publico/Priva-das mas sim Serviços Privados e Sociais e Serviços doEstado, cada um com a sua autonomia própria e os seusdeveres, colocados em pé de igualdade perante o paga-dor nacional (o tal Seguro Nacional de Saúde, indepen-dente do OGE), competindo aos cidadãos a escolha en-tre eles.Também me parece infeliz falar em «stakeholders» quandoa Medicina não deve ser encarada como um «comércio»mas como um Serviço que tem custos (e nunca pode ser,nem sequer, tendencialmente gratuito, para toda a gente!)O que querem, exactamente, significar quando referem«processos integrados de prestação de cuidados de saú-de»?

Página 22. …… Será que estruturas intermédias de gestãonão irão burocratizar ainda mais os Serviços (mais Admi-nistradores/Gestores, mais Secretárias, etc.) e porque nãose mantem a simples Direcção Médica dos Serviços e tentacriar um triunvirato em que o Médico está em minoria (quan-do ele deverá ser sempre, e de facto, o principal responsá-vel).

Página 23. …… Lideranças competentes… O Director deServiço pode até dever ser, ocasionalmente, substituído. Nãodeve ser lugar vitalício…

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Página 25 – Era bom definir melhor o que se entende porunidades integradas multidisciplinares e qual a sua vanta-gem sobre os Serviços monovalentes, mais especializados.Incentivos ás organizações prestadoras de cuidados????…… «Os incentivos podem ser financeiros ou outros»…Mas: será que os incentivos financeiros podem facilmenteser substituidos só por melhores condições de trabalho oupela ida a Congressos? ou será apenas abrir a porta para osincentivos se limitarem às últimas soluções?

Página 26. … falar que os incentivos se irão usar «para aformação dos mais jovens» e para «sair da pouco desejáveldependência dos critérios da industria farmacêutica» e maisuma vez o Estado procurar demitir-se da sua obrigaçãoformativa. Pós-graduada e nisso ser até deselegante e injus-to para com a Indústria, mesmo que esta esteja também adefender os seus interesses.

Página 34. …… Como se pensa fazer a avaliação do desem-penho ? haverá exames, nas Carreiras (estas indispensáveis,mas passadas quase em claro, numa omissão indesculpável,só aflorada no ponto 15 das Considerações finais).

Página 39. E para quê uma Entidade Reguladora da Saúde,se já existe uma DGS e Ordens dos Médicos, Enfermeiros,etc.)?…Mais burocracia? Mais duplicações de competências?

Página 42. … a avaliação tem que ter consequências práti-cas…………… Se deixarem o Doente escolher, ele faz asua avaliação, a mais imporatnte, e resolve todos os proble-mas. Vai a outro lado, onde se sinta melhor……

É interessante ver como os incentivos……… não podem

implicar um aumento do orçamento dos Hospitais, São ounão os incentivos dependentes da actuação e como tal emi-nentemente variáveis? É obvio que sim. Então como sãogarantidos? Ou é só fazer de conta que existirão, para osProfissionais «se portarem bem»?

Página 43. Os «requisitos específicos e próprios», referidosno ponto 15, são decididos por quem? Isto, dado que po-dem não ser sobreponíveis aos que integram a evoluçãonas «carreiras» profissionais. Aqui a amizade o confiançapessoal contam??

Finalmente o mais importante:

É completamente omitida a liberdade do Doente escolher,sem ser financeiramente penalizado, o Serviço de Saúde, oProfissional ou a Instituição em que confia (pública, privadaou social), e parece aceitar-se que os Profissionais e as Ins-tituições não Estatais só existirão quando e onde o Estadoentender conveniente.E qual o papel destinado á epidemiologia e aos seus previ-síveis cálculos, em todo este contexto? Onde está a comple-mentaridade Publico, Privado e Social , e já que estas ulti-mas não são apenas «tapa buracos»? …

Prof. Dr António Gentil MartinsOM SRS 7442Ex-Presidente da Ordem dos Médicos e da AssociaçãoMédica Mundial

Lisboa, 28 de Julho de 2010

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Vinte e dois anos depois de ter inicia-do a minha escolaridade (no 1º anodo ensino básico), percebo melhor queos meus familiares e amigos (que pro-vavelmente simbolizam a sociedade),não andavam longe da realidade.Os doentes esperam dos seus médi-cos que tenham sempre a solução cor-recta para os seus problemas de saú-de. Para isso, e tendo em conta a cele-ridade do desenvolvimento científicoe das invenções tecnológicas no do-mínio da medicina, o médico tem deser um «estudante permanente».Ao médico cabe a função de promo-ver a Saúde e tratar as doenças, comhumanidade e competências científicae técnica. Para atingir estes objectivos,terá que cumprir três fases distintas: afase pré-graduada, a fase pós-gradua-da (vulgo internato) e a fase de forma-ção médica contínua.À fase pré-graduada, que termina coma licenciatura/mestrado integrado numadas Faculdades de Medicina, segue-sea fase pós-graduada, que culmina naespecialização numa das áreas da Me-dicina (Hospitalar, Medicina Geral e

Um desafio contínuo…«Vais ter que estudar a vida toda». Era o comentário prontamente proferi-

do por familiares e amigos quando ainda criança dizia que, no futuro, queria

ser médico. Estava, e provavelmente também eles, longe de compreender o

alcance de tal afirmação.

Familiar ou Saúde Pública).Se na fase pré-graduada a organizaçãodas acções de formação é da responsa-bilidade, sobretudo da própria facul-dade, na fase pós-graduada essa res-ponsabilidade dispersa-se, sendo queno caso da Medicina Geral e Familiar,são os orientadores de formação, asCoordenações de Internato e a Asso-ciação Portuguesa de Médicos de Clí-nica Geral (APMCG) a assumir papelde destaque.Por fim segue-se a última fase, que ten-de a prolongar-se enquanto durar aactividade clínica e que se designa porFormação Médica Contínua (FMC).Esta, assume especial importância, umavez que é consensual que o conjuntode conhecimentos adquiridos por cadamédico na fase pré e pós-graduada(num total de 10 a 12 anos de forma-ção orientada) é manifestamente insu-ficiente para enfrentar mais de 30 a40 anos de vida profissional activa.É objectivo desta fase assegurar a com-petência profissional dos médicos ac-tualizando os seus conhecimentos epráticas específicas. Para atingir esseobjectivo, têm-se assistido, em váriospaíses desenvolvidos, a um crescimentorápido do número de programas deformação médica contínua (vulgarmen-te designados por CME).Nos EUA foi criado, em 1948 pela actu-al American Academy of Family Phy-sicians (AAFP), o primeiro sistema for-mal de formação médica contínua base-ado em créditos1. Este iniciou-se comoum sistema voluntário para atender ànecessidade de actualização dos médi-cos, hoje reconhecida como imperativoético para o exercício profissional.Posteriormente vários países europeusimplementaram sistemas semelhantes,

alguns deles em que a participação évoluntária (Espanha, Reino Unido) enoutros em que é obrigatória (França,Itália e Alemanha). Na maioria destespaíses, a aquisição de créditos é utiliza-da apenas para a progressão da car-reira. Contudo no Reino Unido está jáa ser introduzida como parte do pro-cesso de recertificação dos médicos2,3.Entre os diversos países existem dife-renças em relação aos tipos de activi-dades acreditadas para FMC, poden-do incluir participações em palestras,conferências telegravadas, cursos, me-sas redondas, seminários, actividadesclínicas com auditoria, simulações clí-nicas informatizadas e/ou leituras espe-cializadas, entre outras.Em Portugal, a FMC é (ainda) apenasuma designação quase simbólica, semgrande representatividade real na va-lorização dos médicos portugueses.É certo que se tem assistido a uma pro-liferação de reuniões, com várias desig-nações: Congressos, Conferências, Reu-niões médicas, Cursos, etc. Na área daMedicina Geral e Familiar, não há so-ciedade científica, serviço hospitalar,centro de saúde, indústria farmacêuti-ca que não queira organizar a sua ac-ção de formação para os Médicos deFamília. No entanto a ausência de pla-nificação global e de certificação daqualidade destes eventos são notóriase o resultado na melhoria da qualida-de da medicina exercida pelos partici-pantes é de difícil avaliação.Neste contexto é fundamental a cria-ção de uma entidade, a nível nacional,com competência de certificação e acre-ditação das acções de formação o queresultaria numa inevitável melhoria daqualidade científica das reuniões, e con-sequentemente numa maior atracção

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de participantes, em contraste com odescrédito em relação a vários even-tos/reuniões que se realizam actual-mente. Esta entidade deveria integraras organizações médicas existentes(Ordem dos Médicos, Colégio da Es-pecialidade de MGF, APMCG, Faculda-des de Medicina).Uma vez que subsistem dúvidas sobrea eficácia da implementação de um sis-tema obrigatório de formação médicacontínua na melhoria do comporta-mento clínico, uma opção alternativapoderia passar por associar a forma-ção médica contínua à progressão dacarreira e à remuneração, como princi-pais incentivos ao investimento namesma.Como referi anteriormente, um dos ti-pos possíveis de formação médica con-tínua é a leitura de artigos científicos,com a posterior avaliação dos conhe-cimentos adquiridos pela resolução deum questionário de escolha múltipla.Na área da Medicina Geral e Familiar,

a nível nacional, este tipo de formaçãocontínua estava disponível na ediçãoportuguesa das revistas PostGraduateMedicine e American Family Physician (AFP).Em relação a esta última revista, assisti-mos recentemente à sua descontinua-ção «por razões de mercado»4, termi-nando assim também um programa deformação médica contínua (da respon-sabilidade da AAFP e da APMCG), quese revelou uma mais-valia na FMC demuitos Médicos de Família portugue-ses. Esta situação levou a que váriosmédicos (sobretudo internos) de Me-dicina Geral e Familiar criassem o «Mo-vimento das 500 assinaturas da AFP»com o objectivo de angariar o núme-ro mínimo de assinaturas necessáriosà manutenção da revista e consequen-temente do programa de FMC. Verifi-cou-se o interesse de um elevado nú-mero de Médicos de Família, no en-tanto não suficiente para alcançar oobjectivo proposto, pelo que na au-sência de apoio por parte das organi-

zações médicas e científicas, a revistafoi mesmo descontinuada e com elaum programa de formação contínuade qualidade reconhecida (não fosse aAAFP a associação científica com mai-or experiência em formação contínuaa nível mundial). E assim vai a nossaformação contínua…

Referências bibliográficas1 – Costa A; Hemelryck FV; Aparicio A; et al.

Continuing medical education in Europe: To-wards a harmonised system. European Jour-

nal of Cancer 2010; 46; 2340-2343

2 – Maisonneuve H; Matillon Y; Negri A; et al.Continuing medical education and Professional

revalidation in Europe: five case examples.

Journal of Continuing Education in the HealthPrpfessions 2009; 29(1); 58-62

3 – Garattini L; Gritti S; Compadri PD; et al.

Continuing Medical Education in six Europeancountries: A comparative analysis. Health Policy

2010; 94; 246-254

4 – Rebelo L, Quatro Anos de American FamilyPhysician. A escrita lembrada. American Family

Physician (edição portuguesa), 6 (6), 249-250

e 270.

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Introdução. A modernização dos iní-cios do séc. XIX inspira-se em áreas,para lá da astrologia grega (hipocra-tica) ou mesmo da astronomia euro-peia, ambas minuciosas a descrevermas limitadas a intervir. AugusteCompte, filosofo do séc. XIX introduzuma nova dimensão com «Science d’oùprévoyance; prévoyance d’où action».A metodologia actuante de ClaudeBernard (1813-1878), marca o rumocientificou ainda hoje essencial. Con-ta-se mesmo ter sido responsabilizadopela presença de um cão nas imedia-ções do Hotel-Dieu com um tubo ab-dominal. Explicou ao chefe de políciaestar intrigado com as oscilações deglicémia nas supra e infrahepáticas emfunção da alimentação. A ciência exi-bia novos parâmetros, a França era ocentro das coisas e Paris a cidade-luz,mas a investigação já surgia em nãopoucos países. Pavlov (1849-1956)descreve o reflexo gástrico alimentare antes dele um americano WilliamBeaumont tratara um índio com umafístula gástrica (por arma de fogo), com-primida durante as refeições de modoa evitar que a secreção gástrica ver-tesse para o exterior e na Indonésiaum holandês C. Fijkman descobriria osortilégio da vitamina B

1.

As pontes entre o sintoma e a lesão

Ideias em Medicina – 2ª de 2 partes

A. Coutinho de Miranda

orgânica multiplicam-se nos fins do séc.XIX com novas referências da clínicae da linguagem, bem como da acústi-ca, química, luz, lentes e radiações. Aestatística já relacionara algumas situ-ações em meados do século: o escor-buto com a falta de citrinos por JamesLind; a sobrevivência dos feridos deguerra ingleses com a limpeza, alimen-tação e renovação do ar por FlorenceNightingale; a sobrevivência das grávi-das de Viena por Ignaz Semmelweiscom simples mudança de rotinas; atransmissão hereditária nas ervilhas dejardim por um monge moldavo Mendel.Inédita fora já a descoberta da vacinano séc. XVII por um médico de pro-víncia inglês Edward Jenner a quem aluz brotou ao espírito com a letra dacantiga de jovem leiteira «não me im-porta a varicela de vaca nas mãos(chicken pox); assim não vou ter a va-ríola (small pox).

Prestação da Geometria e da Fí-sica. No início do séc. XX Portugalacompanhava com brio o que se faziana Europa e sob impulso de MiguelBombarda, médico do H. S. José, temlugar no Palácio do Campo de Santana,construído para enquadrar o 6.º Con-gresso Internacional de Medicina(1906), a consagração internacional doHospital de S. José e da sua EscolaMédico-Cirúrgica.Eram também os tempos da correla-ção anátomo-clínica-radiológica casualda mão da Senhora Roentgen com osossos, partes moles e o anel de casa-mento. Em 1901 Einthoven concebeu«ein neues Galvanometer» em Leydenpara registo da actividade eléctrica docoração, a partir do «triângulo» (vérti-ces nas axilas e pubis esquerdo). Oinglês William Harvey estabelecera como «circulo» uma concepção geométri-ca da circulação, e era já conhecidoser com o «quadrado» e o «circulo»que melhor se definem as proporçõesdo homem. O tambor circular deMarey ao fixar numa única chapa a

corrida dum atleta, criou a esperançade se poder racionalizar o treino mili-tar; as chapas como meio de arte seri-am doadas por um americano aoMoMa de Nova-York. Sistema similarpermitiu a Eithoven o registo eléctricoda actividade cardíaca como linha em«zig-zag» ou 1.º electrocardiograma; osacidentes de curva foram designadospor letras a partir do nome do Senadode Roma ou Senatus Populuscus queRomanus. A observação despertou ointeresse dum americano HaroldPardee (1920), que encontrou um des-tino célebre ao invento e à notação deEithoven. Na época a palavra «angorpectoris», escondia realidades diferen-tes no coração, no pâncreas, vesículae outros órgãos, o que ainda podeconfundir o clínico mais avisado.Pardee observou com pertinácia umasérie de doentes com o Galvanómetro,estudou os acidentes descritos, elabo-rou uma espécie de dicionário e fezem vida e pela primeira vez o diagnós-tico do «enfarto agudo da parede infe-rior do coração», e a descrição da«curva de Pardee»; foi rastilho para umnão mais acabar de descrições de do-enças cardíacas. Pardee também trou-xe à medicina do coração grande avan-ço à nosologia ao acrescentar à Etio-logia e Patologia novas alíneas como aCitologia, Anatomia Radiológica, Fisio-logia e a Electrocardiografia. Foi relatordurante 40 anos de importante obrasobre a metodologia da doença cardí-aca e estimulou novos métodos de es-tudo na área da Medicina Interna. Nasúltimas décadas do século XX aecografia, tomografia, biologia e a ge-nética alargaram a Nosologia e o pró-prio Electrocardiograma passou a dis-por de novas modalidades de registo(a longa distancia ou em ambulatório).No Hospital Curry Cabral o DirectorRui Proença há c. de 40 anos tornouo ECG um meio de rotina como o ter-mómetro na infecciologia e alguns anosdepois o Eco como meio disponível decabeceira com precisão geométrica e

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precocidade ao diagnóstico inimagi-náveis.

Prestação da Química. Ehrlich(1854-1914), discípulo de Koch, tro-cou Berlim por Frankfurt onde alargouo estudo serologico, enveredou por no-vos caminhos e conceitos como dosreceptores celulares, toxina, antitoxina,anticorpo, organo e etiotropismo e in-troduziu os primeiros antisifilíticos(Salvarsan e Neosalvarsan) no iníciodo século XX. Fundou a 1.ª Sociedadede Terapêutica e recebeu importanteembaixada cientifica inglesa que terácolocado alguma reticência à «obses-são» da sua investigação científica.Alertava os colaboradores para os 4G– Geduld, Geshick, Geld und Gluck –Paciência, Persistência, Dinheiro e Sor-te. Teve em Ata um colaborador japo-nês persistente, recomendado por Shi-saburo, descobridor do soro antite-tânico e colega dos tempos de Berlim.A Alemanha derrotada em 1918 dedi-cava muito do seu esforço à divida deguerra. Um dos seguidores G. Domagk,ao rever o ficheiro químico de Ehrlichdescobriu um antibiótico sulfamídico,já revolucionário ainda antes da 2.ªguerra mundial. A tipagem dos eritro-citos de Landsteiner (austríaco da Fun-dação Rockfeller) também nas véspe-ras da guerra de 39 vinha a tempo desalvar milhões de vidas nos anos seguin-tes. As ideias de tipagem conduziramJean Dausset ao Sistema HLA, mais ela-borado que a ideia original tornandopossível a escolha de dadores de ór-gãos nos anos 60. Contribuição germâ-nica mais antiga vem, dos tempos docasamento da rainha Vitória com o Prín-cipe Alberto e um séquito com altasindividualidades da aristocracia e daciência. O célebre laboratório inglês ICIfoi fundado com importante contribui-ção alemã. Também importante para aciência inglesa foi a emigração para In-glaterra de cientistas alemães, um delesChain, co-autor do Prémio Nobel comFleming e Florey. Um outro químico,Krebs, «identificou» o ciclo com seu no-me e a que deve a co-autoria do PrémioNobel de 1953. Outro refugiado dosnazis foi o psicanalista austríaco Freud.

A plena realização da mulher deve àMedicina um contributo não pequenocom o conhecimento das glândulas de«secreção interna» e a identificação docortisol por autores americanos na 2.ªguerra. Não se confirmou que fosse ar-ma estratégica mas mostrou possuir omesmo núcleo pentano fenantrénicoe partilhar com a testosterona um efei-to anovulatório. Este detalhe foi mes-mo ponto de partida para o investiga-dor Gregory Princus e o clínico de Bos-ton, Jonh Rock estudarem o efeito ano-vulatório da testosterona no tratamen-to da infertilidade, ou assim nos sur-preende a história. Uma feminista aten-ta e bem relacionada Margaret Sanger(1883-1996) pressentiu o paradoxo enão largou os investigadores até à ob-tenção da primeira pílula anticoncep-cional em 1959. A década de 60 foiincessante em inovação: guerras doVietnam e em 4 frentes no ultramarportuguês; guerra fria, crise dos mís-seis de Cuba, assassinato de Kennedye L. King; progresso com casas maiscómodas, máquinas de lavar, secar,cozinhar e massificação da T. V. a tem-po da chegada do Homem à lua e domundial de futebol em Londres. Mo-vimentação juvenil incluindo Lisboa eParis, da juventude americana emWoodstock e em Londres com osBeatles e a moda da «miniskirt», emLisboa um tremor de terra e uma inun-dação importantes, a «queda da cadei-ra», a Ponte 25 de Abril, emigração ma-ciça para França. Pílula anticoncepci-onal e tempos de ouro dos medicamen-tos, antibióticos, vitaminas, corticóides,melhores conhecimentos de farmaco-logia e ajustamento da química à fun-ção com os B-bloqueantes cardíacos;o desastre da talidomide interrompe ooptimismo e introduz nova filosofia te-rapêutica. O papel dos EUA no evo-luir destes acontecimentos cimentoua vanguarda americana.A divulgação da Deontologia em finsde 60 e anos depois da Ética Médicas,vem do Julgamento de Nurembergacom o imbróglio jurídico interessantede serem mais os casos a julgar do queas leis aplicáveis ou como dizem os ju-ristas sem leis não há julgamento, «null

e legis, sine lege». Contudo e incluin-do as normas hipocraticas, o julgamen-to chegou a bom termo e certos prin-cípios vêm desta data como a infor-mação esclarecida, consentimento in-formado e critérios de exclusão dosensaios clínicos. A declaração de «Nu-remberga» recordada na ROM no seucinquentenário teria sido «aparente-mente» deixada pelo juiz inglês comcaracterística displicência nos bancosdo tribunal. Então o julgamento vinhaperdendo a actualidade com a «guer-ra fria» e a declaração acabou por nãoser assinada por diversos países; nadajustificava o prolongamento depois dacondenação dos 22 grandes crimino-sos em 11 meses (até 1946) e de 200outros proeminentes em 3 anos (até1949). A indústria farmacêutica anglo-saxónica vivia em euforia e muito pres-tígio. A pneumonia, a tuberculose (1.ªe 2.ª causa de morte) e as pestilenciasdo passado cediam terreno à clínica,como a cólera, 50 anos antes. Por estaaltura viveu-se uma hora portuguesainternacional com voz brasileira napropositura do Prémio Nobel de Me-dicina a Egas Moniz. Num congres-so de neurologistas em sessão noscláustros do H. de Santa Marta; e atri-buído em 1949.

Prestação Hospitalar. A prestaçãohospitalar é o verdadeiro «hub» da ac-tuação médica. Prevalecendo-se da suasituação como editor do «Cecil», tra-tado americano de autoria múltiplaPaul Besson faz a comparação de 2 edi-ções da obra (1927 e 1975), e avaliana edição de 1980 as dimensões e es-sência das ideias e progresso médicos.Na Medicina Interna (Infecciologia,Cardiovascular, Hematologia, Gastroin-testinal e Sistema Nervoso) a inova-ção reflecte-se em «novas atitudes eactuações»: balanço hidroelectrolítico,diálise renal e cuidados do transplan-tado, respiração assistida, gases do san-gue, tratamento pulmonar agudo, res-piração assistida do pulmonar cróni-co, monitorização das arritmias, insufi-ciência cardíaca precoce, implantaçãode pacemaker, massagem cardíaca pre-coce, estenose, deambulação precoce,

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oxigenoterapia hiperbárica t. por isó-topos, imunoestimulação nas neopla-sias e leucoses, plasmaferese, uso defracções do sangue, factores de trans-ferência, interferon, substituição medu-lar. O sucesso mais significativo é o daárea infecciosa; «espectacular» com asnovas vacinas (difteria, tosse convulsae tétano e antivirais da polio, febre ama-rela, sarampo e parotidite) e antibióti-cos. Nas outras especialidades médi-cas os resultados variam entre «grati-ficantes» (cardiologia) de «sucesso» oude «pouco sucesso» nas outras áreas.Os «avanços» obtidos devem-se á in-dústria farmacêutica; cirurgia; e inter-nista (por esta ordem). A partir de1927 «desaparecem» entidades comodoença do leite, dispepsia primária, vis-ceroptose, apendicite crónica, febre efé-mera e suprimem-se as indicações daSolução de Fowler (trioxido de arsé-nico) na tuberculose e pelagra, iodetode potássio no angor pectoris, estric-nina na doença de Addison, purga comóleo de ricino na hemorragia pulmo-nar e no derrame pericárdio. O artigode 150 páginas é uma referência clás-sica da medicina, suas ideias e seu pro-gresso.

Prestação do SNS. A importânciadum serviço nacional de saúde foi tal-vez sentida pelos ingleses de modo im-perativo em pelo menos três ocasiões:a primeira com o sistema de esgotos,que resolveu em definitivo a endemiade cólera londrina do fim do séc. XIXcom mais de 10 anos proposta por JonhSnow, médico, anestesista e obstetra daRainha Victoria. Uma 2.ª vez na guerrade 14-18 quando W. Churchill estabe-leceu como prioridade bélica a cons-trução naval; impressionado com asprecárias condições físicas dos traba-lhadores dos estaleiros desafiou o jo-vem economista William Beveridge aavaliar a situação e propor um refor-ço mesmo económico como solução.Na 2.ª guerra o mesmo estadista re-correu ao mesmo economista agoracom a construção de aviões, a novaestratégia. O resultado foi um «blue-

print» apresentado ao parlamento em1942, ou «Beveridge report», documen-to fundador do SNS inglês. O proble-ma foi reequacionado depois da guer-ra com a chegada ao poder dos con-servadores. Por esta altura os ânimosdemocráticos estavam exacerbadoscom «gastos» e «desperdícios» com«dentaduras» e «óculos» pois cada in-glês através do serviço criado propu-nha-se comprar coisas a dobrar «à cau-tela». Há alguma ironia dos que consi-deram em Inglaterra ser Bismark o «fun-dador do SNS inglês» quando o chan-celer de ferro proclamava os benefíciosda unificação alemã «dê ao trabalha-dor o direito de trabalhar enquantotiver saúde, cuide dele quando adoe-cer e tome conta dele quando enve-lhecer». O projecto pode ser sempremelhorado e o SNS inglês já foi sub-metido a várias reformulações.Em Portugal Salazar prometeu maslesto esqueceu a realização de «elei-ções tão livres como na livre Inglater-ra»; mas criou alguns anos depois osServiços Médico Sociais, um 1.º passopara um Serviço Nacional de Saúde(SNS). Com o 25 de Abril foi criado o«verdadeiro» SNS mas os médicos, pes-soal e edifícios eram de raiz salazarista,o preço dos medicamentos beneficia-va de grandes descontos e, nos anos60, a hospitalização tornou-se gratuitacom a extensão (caetanista) às faixasda população mais desfavorecidas.Quem trabalhou nos Serviços MédicoSociais terá testemunhado o desempe-nho denodado do pessoal (enferma-gem, social, administrativo). Nunca tivelimitações técnicas à minha actuaçãocomo médico da antiga previdência, doADSE e ocasionalmente outros siste-mas (correios, bancários, jornalistas, jui-zes e outros profissionais) no domicí-lio, nas consultas de medicina ou decardiologia, na obtenção de análises ouexames radiológicos e no internamentoda grávida e do doente cirúrgico a par-tir de fins dos anos 60. Pouco faltariapara levar a assistência ao nível inglês«from the cradle to the grave» (do ber-ço à sepultura). Ignorar estas conside-

rações é esquecer que tratar doentesimplica apoio continuado e não um cir-cunstancionalismo político de uma vezpor outra. A melhoria dos principaisparâmetros de saúde desde os anos60 não se compadece com a duplici-dade Orwelliana do presente. AntónioBarreto com a colaboração de ClaraValadas Preto que estudaram os índi-ces de saúde de 1960-1995. A décadade 60 é considerada de «ouro» comvalores de PIB superior a 6% (váriosanos sup. a 8% e numa ocasião sup. a11). A mortalidade infantil desce navertical para valores «quasi aceitáveis»(de 176,5 em 1960 para 10,8 em1991), a esperança de vida a nascençaaumenta (de 35,8 para 70,3 no mes-mo intervalo); o número de médicosaumenta (de 7.000 em 1960 para30.000 em 1995); o número de habi-tantes por médico passa de 1.256 para341 no mesmo intervalo. É também co-nhecido que a esperança de vida – du-plica de fins do séc. XVIII (de 20 para40), e volta a duplicar de 1900 a 2000(c. de 40 para 80).

Prestação Clínica antes do 25 de

Abril. Era forte a coesão profissionalpela história, formação universitária ehospitalar, postura cívica e moral, apoiomilitar médico de tropas portuguesasnas guerras mundiais e do ultramar,criação dum ministério próprio nosanos 50 além de jornais de assuntosmédicos e paramédicos, sociedadescientíficas e outros factores. A Ordemdos Médicos em 1938, substitui a As-sociação Nacional dos Médicos Por-tugueses de 1898 responde perante ogoverno e é um factor de apuramentoda sensibilidade profissional. Como éconhecido os Hospitais Civis de Lis-boa (HCL), um alfobre de médicos, sãodesde o séc. XIX o principal fornece-dor de médicos em quantidade e qua-lidade para os Hospitais, Serviços e Clí-nicas privadas.As primeiras especialidades vinhamdos sécs. XVIII e XIX, e eram em regraverticais como as do internista cirur-gião ou pediatra. A Medicina Legal é

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da mesma altura bem como a Psiquia-tria, a Oftalmologia de grande cargabíblica e a Otorrino de grande morta-lidade além da Obstetrícia e Pediatria.Na reforma hospitalar do início do séc.XX, Curry Cabral pressentiu a impor-tância da infecciologia, criou o hospi-tal que hoje ainda tem o seu nome econstituiu um bom tampão de surtosepidémicos. O conceito de hospital evo-luiu durante o século, vindo a ganharnovas valências, algumas das quais úni-cas no país, como a Nefrologia (JacintoSimões), Fisiatria (Edite Ribeiro) e Trans-plantações (Rodrigues Pena), além daInfecciologia e outros Serviços.As Escolas Médico-Cirurgicas dos H.S. José e Sto. António modernizaram oensino numa nova perspectiva aná-tomo clínica, citologica e bacteriológica,sendo integrados depois nas Universi-dades criadas nas duas cidades pelaRepublica. Depois da inauguração doH. Santa Maria, em 1953 o HospitalSanta Marta foi restituído aos Hospi-tais Civis de Lisboa, nova designaçãorepublicana dos Hospitais da capital.depois desta data criaram-se as espe-cialidades «horizontais» ou de órgão(cardiologia p.e.) seguida de uma ter-ceira onda de especialidades «a cava-lo» em 2 especialidades tradicionais p.e.«cardiologia-pediátrica», ainda antesdo 25 de Abril e já ditada pela tecno-logia, palavra grega para «estudo dasartes». Certos cursos post 25 de Abriltêm origem nas cadeiras básicas comoa Fisiologia, Bioquímica, Biologia e Ge-nética e poderão ter uma formaçãomédica e clínica. Desde fins da 2.ª guer-ra a profissão médica adquiriu umacomponente deontológica, ética, huma-nista e jurídica que decorrem da suaprática, estilo e mesmo das suas raízespré-científicas. Não surpreenderá anecessidade da sua evolução para ser-viço público depois de uma primeirareunião no Hospital dos Capuchosdesencadeada pelos internos e com apresença de 700 médicos dos HCL em1964; o movimento continuou com ainclusão de representantes do Porto eCoimbra e terminou com elaboração

do Relatório das Carreiras Médicas deMiller Guerra aprovado numa últimareunião. Reeditado pela OM (2007),iniciativa do bastonário Pedro Nunes.É um documento notável com impor-tantes ideias como a melhor instala-ção dos doentes o que sempre mere-ceu a atenção dos médicos dos HCL.Outras ideias que nunca mereceram aatenção devida incluem a hierarquia,remuneração e concursos.

Prestação Clínica no Pós 25 de

Abril. É corrente dizer-se que da boapreparação post graduada depende aboa assistência médica. O período doInternato, tem 3-4 níveis (geral e com-plementar) e conduz ao grau de Assis-tente Hospitalar e Chefe de Serviço eeventual agregação ao mesmo ou ou-tro hospital pelos 40 anos. Em Portu-gal e no post 25 de Abril o sistemasofreu profunda distorção pois quemconfere as passagens e a avaliação (porexame, concurso ou entrevista) é no-meado a partir das estruturas partidá-rias. Em Inglaterra a avaliação é pro-fissional através dos Royal College comjuris e objectivos não politizados em-bora o «internship» não seja essenci-almente diferente do «internato» emduração e finalidade. Mantém as de-signações de House Physician (inter-no geral), Registrar (interno comple-mentar) e Fellow (ou especialista), aptoa ser provido e agregado com ou semconcurso publico num serviço de espe-cialidade. Em Portugal os responsáveispolíticos nunca compreenderam, mes-mo repetentes funcionais, a delicadezae importância da metodologia que nãoé uma qualquer originalidade médicaportuguesa. Na Alemanha usam-se ex-pressões Ausbildung para a formaçãoprévia e Fortbildung para a formaçãoposterior. A instabilidade do 25 deAbril trouxe ao sistema português in-convenientes colaterais de vária ordem– a autenticidade profissional dilui-se,a responsabilidade diminui, o exercí-cio torna-se vulnerável, e o erro inevitá-vel. A insistência desenfreada na com-putorização que vem dos fins dos anos

80 de um interesse indiscutível trouxealguns efeitos colaterais – a consultapode perder os tempos «próprios» dehumanização, pelas esperas, amputa-ção da informação e pontuada por umsilêncio cada vez maior e ausência desecretariado. A palavra articulada naentrevista corre riscos de extinção embenefício do clicar inoperante do com-putador. Outra área delicada é a pres-crição, hoje feita num cartão de con-cepção ministerial, bastante mais caroque a tradicional folha de papel emque a prescrição cede espaço que lheé consagrado à taxa moderadora e ma-labarismos contabilisticos. Possui ain-da uma estampilha de prescrição ouvinheta que vem dos fins da décadade 80, com riscos de violação da priva-cidade do doente e do perfil prescritordo médico.Quando do 25 de Abril o voto nãodeixou ninguém indiferente e no cha-mado PREC introduziu-se o sistema de«todos a votar em tudo e todos». Asituação não se manteve e os médicosperderam o direito de voto, v.g. para aescolha do Director do Hospital e doDirector Clínico. No tempo da M. Ma-ria de Belém, antiga profissional hos-pitalar, foi retomado o direito de votomas três anos depois a democraticidadeera de novo esquecida pelos Ministrosseguintes. Nos primeiros meses do anocomeçou uma acção nefasta com oagravamento do valor das taxas mo-deradoras e da inscrição nas consul-tas, receituário mais caro. A situaçãoagudizou-se com perda do poder decompra e dificuldades no internamentoda grávida. A manifestação de milha-res de pessoas no norte do país, emAnadia, nos princípios do ano, consti-tui um paradigma de reacção demo-crática à situação complexa então vi-vida. Outra fonte de dificuldades foi aexperiência do dia-a-dia hospitalar comfragmentação das equipes médicas, im-possibilidade de apresentação e discus-são dos temas profissionais e desvalo-rização da discussão diagnóstica e te-rapêutica e ignorância de tempos mé-dicos consagrados. A vivência clínica

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também se modificou como a essênciae estilo da profissão nas ultimas déca-das. Houve mesmo uma intromissão ri-dícula ministerial sobre aspectos téc-nicos da profissão como o «lavar dasmãos», não obstante o papel históricona assistência às grávidas, na vida hos-pitalar e uma técnica própria de exe-cução.

No decurso dos últimos anos o médicotem-se confrontado com a palavra «rigor»não uma qualidade propriamente médica,mas sim do «gestor» por inerência própria.Vitruvio (c. 27 AC) foi um engenheiro ro-mano de forte influência ateniense quese interessou pela arquitectura e constru-ção de hospitais e que se preocupava comas proporções do homem que definiu pe-las suas relações com o círculo e o qua-drado em simultâneo.Traduzir em desenho a ideia de Vitruvio foio desafio de Leonardo e outros renascen-tistas. Leonardo pôs em causa as propor-ções propostas para o Homem que sedemarca das figuras geométricas (o círcu-lo e o quadrado), o ser humano e represen-tado em ortostatismo com os braços afas-tados apoiados assim como a cabeça atrês dos lados do quadrado e as pernasestendidas e encostadas á parte inferiordo círculo. Outros autores como Cesarianointerpretaram o comentário de Vitrúvio co-locando o quadrado dentro do círculo e ohomem dentro do quadrado com braços epernas afastados, os pés e mãos muitoaumentados e encostados aos 4 vérticesda figura, havendo quem considerasse sermais simiesca do que o humana, não propor-cionada, nem agradável à vista.Em contrapartida a interpretação de Leo-nardo é mais agradável à vista e com umafolha de papel pode-se confirmar que asdistâncias suprapubiana e infrapubiana sãoiguais assim como o span e a altura, comoos livros médicos de semiologia referenciam.Assim, a figura de Leonardo é hoje maisfrequentemente reproduzida que a deMona Lisa, e é perfeita na sua verdade eharmonia e rigorosa do ponto de vistamédico. A figura de Cipriano é distorcida,desagradável e reflecte o falso rigor – semproposições ou propósito.

O homem de Vitruvio e a noção dasproporções na medicina e na gestão

H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

Um outro impedimento foi a extinçãodos Hospitais Civis de Lisboa à cercade um ano.

O presente e o futuro

Talvez não seja muito difícil resolveros problemas do genoma ou da euta-násia, bem como do envelhecimento,queda da natalidade e da medicalização

da sociedade, cronicidade e resistên-cia aos medicamentos; os genéricosproduzidos por sociedades anónimaspoderão ser problema bem como aprivacidade dos doentes e super-espe-cialização de hospitais e médicos. Etambém dificuladdes com a falta deautoridade e responsabilidade profis-sionais médicas.

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É bem conhecida, de entre os dermato-logistas, a alta qualidade das fotografi-as clínicas que o Professor Aurelianoda Fonseca sempre apresentava nasreuniões da Sociedade Portuguesa deDermatologia e Venereologia e nosmúltiplos eventos em que participava.Recordamos que, em 1967, obteve o1º prémio no concurso internacionalda fotografia «La peau lesée», promo-vido pelo Laboratório Ciba por oca-sião do XII Congresso Internacional deDermatologia realizado em Munique,com a fotografia de um melanoma ma-ligno plantar (doente apresentado nareunião da SPDV, em Coimbra, a 26de Novembro de 1967 e cuja fotogra-

Exposição fotográficado Prof. Aureliano da Fonseca

De 15 a 31 de Outubro passado teve lugar no Porto, na sede regional da

Ordem dos Médicos, uma exposição de fotografias da autoria de Aureliano

da Fonseca, Professor aposentado de Dermatologia e Venereologia das Facul-

dades de Medicina da Universidade do Porto (1955-1977) e da Universidade

do Estado de S. Paulo, em Campinas, no Brasil (1977-1985).

fia foi publicada nos «Trabalhos» – Mar-ço 1968) e que, em 1993, ganhou igual-mente o VI concurso de FotografiaDermatológica da SPDV.

As fotografias, num total de 220, comas dimensões de 25x35 cm, agrupa-vam-se em dois temas: – «Fotografiasde Dermatopatias (Para observação demédicos)» e «Fotografias de Ocasião(Olhei – Gostei – Fotografei)».As fotografias da patologia cutânea,formando um conjunto de 140 , abran-giam uma extensa variedade de entida-des clínicas muito expressivas seja pe-los pormenores morfológicos seja pelaintensidade lesional, algumas delas pe-las suas dimensões exuberantes e járaramente observadas (volumosos car-cinomas basocelulares, extensos lúpuseritematoso fixo, lupus tuberculoso, ti-nha favosa,...), muitas vezes sublinha-das e valorizadas pelo aspecto da pelecircundante ou pela expressão dodoente (fig.1).

As «Fotografias de Ocasião», um con-junto de 80, foram para mim uma muitoagradável surpresa. As qualidades dasfotografias clínicas também aqui estãopresentes: a notável qualidade técnica,o enquadramento das imagens, as co-res, a expressividade dos temas. Estessão de uma extrema diversidade (fig.2),desde paisagens (Rio Douro, Ria deAveiro, Veneza, Findar do dia, Portocom nevoeiro,...), objectos dos mais va-riados (Seixos, Melões e Balança, Lou-

ça rústica, Casca de árvore, Folhas deOutono,...), figuras humanas (Vagabun-do, Dormindo a Seta, O Papa João Pau-lo, Pescadores conversando,...), animais(Corvos na montanha, Urso a descan-sar, Araras vermelhas,...), cidades e po-voações (Varandas de Miragaia, Ribei-ra-Porto, A noite do cais de Gaia eRibeira,...) e muitos outros.

Relembremos, a propósito desta expo-sição, o escrito do Professor JuvenalEsteves sobre o «registo fotográficocomo método de estudo cientifico, clí-nico e pedagógico». Afirma que o em-prego da imagem fotográfica na der-matologia «adquire valor documentalpraticamente insubstituível, que porvezes se sobrepõe à própria realida-de» e «revela factos, valoriza porme-nores e perpetua-os, permitindo fácilcomparação no espaço e no tempo».Mais acrescenta que constitui comoobjectivo principal «a acentuação domotivo, a eliminação de todo o aces-sório, concentrando-se nele, preen-chendo com ele a quase totalidade daimagem, tornando assim a leitura ime-diata e alcançando portanto elevadograu de eficácia quanto à informaçãoque nela se transmite e com fidelidadeao pensamento que a motivou. Temosassim neste caso o exemplo da lingua-gem perfeita em virtude da escolha doassunto adequado e de excelência naexecução». Afirma também «que o ca-rácter artístico nunca se deve sobre-por ao valor científico da imagem, masFig.1 – Eczema atópico

C U L T U R A

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aquele pode ser utilizado para a acen-tuação da ênfase» («Trabalhos da SPDV»,

Ano XXVI, nº 1, 56-58, 1968).Estas considerações aplicam-se total-mente ao trabalho fotográfico de lon-gos anos do Professor Aureliano daFonseca, não apenas no domínio dapatologia cutânea que já bem conhe-cíamos, mas também nas «Fotografiasde ocasião».Deve ser sublinhado que a selecção ea preparação das fotografias expostasfoi da total responsabilidade do autor,o que bem demonstra que, no seu caso,

os anos não tem anos...Estamos bem certos que oseu extenso e valioso arqui-vo iconográfico dermatoló-gico, ao qual devemos tam-bém juntar as «fotografias deocasião» focando os mais va-riados temas, é já parte dahistória da dermatologia por-tuguesa.

Felicitemos o Professor Aureliano daFonseca, ilustre Colega e PresidenteHonorário da SPDV.

A. Poiares Baptista

Fig. 2

C U L T U R A

Envie-nos os seus artigosPara que a revista da Ordem dos Médicos possa ser sempre o espelho da opinião dos profissionais de todo o país,agradecemos a colaboração de todos os médicos que desejem partilhar as suas opiniões, experiências ou ideias com oscolegas, através do envio de artigos para publicação na Revista da Ordem dos Médicos. Os artigos devem ser acompa-nhados de uma fotografia do autor (tipo passe) e poderão ser enviados para os contactos que se encontram na fichatécnica (morada da redação e/ou respectivo e-mail).

O livro «Novos Tipos de Família, Pla-no de Cuidados», Editado pela Impren-sa da Universidade de Coimbra, quetem como autores Hernâni Caniço,Pedro Bairrada, Esther Rodríguez eArmando Carvalho, foi recentementeapresentado no Teatro Académico GilVicente, em Coimbra.Armando Porto, Professor jubilado daFaculdade de Medicina da Universida-de de Coimbra, realçou que «o maiorproblema talvez seja o de os pais, comgrandes ânsias educativas, não respei-tarem a liberdade dos filhos ou, comsentido redutor da noção de liberdade,verdadeiramente não os educarem».

Novos tipos de famíliaComo explicou Hernâni Caniço, umdos autores da obra: «está é uma obraem famililogia, porque representa oestudo da família, com sentido crítico,em originalidade, autenticidade e sig-nificado, e em familisofia, que repre-senta a ciência, a racionalidade, e por-que não, a serenidade e a elegância. Apublicação apresenta 34 tipos de fa-mília, todas com plano de cuidados,dos quais 30 tipos estavam retratadosem literatura dispersa que foi devida-mente citada bibliograficamente eaprofundados na sua caracterização, e4 novos tipos de família criados e iden-tificados pela primeira vez: a famíliagrávida, a família consanguínea e a fa-mília múltipla, quanto à estrutura e di-nâmica global, e a família centrada nospais, quanto à relação parental.A acção dos médicos de família, apli-cando conceitos e práticas de estudoe ciência da família, tem reflexos napopulação em geral: pode gerar inter-

Livrosvenção na ajuda à família, acção nacrise económica, prevenção da dis-função afectiva e estrutural, da violên-cia doméstica e da criminalidade ge-ral.»

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C U L T U R A

Cancro da Mama: Respostas Sem-

pre à Mão

A Associa-ção Laço e aLidel – Edi-ções Técni-cas lançaram,com o apoioda Direcção-Geral da Saú-de, a obraCancro daMama: Res-postas Sem-

pre à Mão. A obra foi lançada em Ou-tubro – mês em que se assinala a lutamundial contra o Cancro da Mama. Tra-ta-se de um livro de fácil consulta quetem como objectivo dar resposta a maisde 350 questões que surgem a quemvive de perto esta doença. Apresentaainda conselhos práticos sobre comoter uma vida mais saudável, dicas so-bre como gerir as relações com ami-gos e família, assim como indicaçãode locais onde se pode obter ajuda. Olivro é adaptado à realidade portuguesae contou com a revisão técnica de Ma-ria João Cardoso, Cirurgiã MamáriaOncoplástica do Hospital da Trindadeno Porto, Professora Auxiliar de Cirur-gia na Faculdade de Medicina da Uni-versidade do Porto e Investigadora doINESC Porto (Grupo Breast Research).Emma Penery, Directora Clínica na or-ganização de beneficência BreastCancer no Reino Unido; Val Speechley,Enfermeira Oncológica Certificada eresponsável pelo apoio e informaçãoda Macmillan para a rede Oncológicado Sudoeste Londrino e Maxine Ro-

Livros

senfield, Radioterapeuta, Formadora eConsultora são as autoras da versãooriginal (inglesa) do livro.

Vivências de um Médico

Foi lançada a obra Vivências de um Mé-dico. Trata-se de um conjunto de his-tórias em que um relator conta o que«um doutor» pensa, sente e vive, ques-tionando e questionando-se, interpre-tando o que sente e o que sentem osvários intervenientes na vida no sec-tor da saúde. O autor, Armando Pinto,nasceu no Porto, nos anos cinquentado século XX. Fez a instrução primá-ria, o curso liceal, os estudos universi-tários, o internato médico geral, o ser-viço médico à periferia e o internatode especialidade de Pediatria nas regi-ões do Porto e Aveiro Norte, com umasaída do país para Bordéus onde fezum estágio também no âmbito da Pe-diatria. Actualmente exerce OncologiaPediátrica integrado no Serviço de Pe-diatria do Instituto Português de On-cologia do Porto. Conforme explica oautor: «Os médicos oncologistas pediá-tricos são frequentemente confronta-dos, pelos seus colegas, familiares, ami-gos e conhecidos, com questões dogénero: ‘Vocês têm uma vida difícil!’,‘Como é que aguentam!?’, ‘Conseguem

dormir sossegados?’, ‘Quando os vos-sos filhos adoecem… pensam logo queé cancro, não é!?’. Também os familia-res dos doentes abordam este tema,por vezes logo na primeira entrevista.Não pretendo neste livro responderdirectamente a essas perguntas. Masquero exprimir como vivencio esta re-alidade: a minha visão, a minha versão,a minha paixão, a minha culpa, a mi-nha vaidade, a minha tristeza, a minhafrustração, a minha alegria, a minha dor,a minha esperança».

O Sono

Este livro visa chamar a atenção paraa importân-cia de terum bomsono, focan-do os efei-tos adversosque a suap r i v a ç ã opoderá pro-vocar no or-ganismo. Olivro «O So-

no – Efeitos da sua privação sobre asdefesas orgânicas» da autoria do neu-rologista Ângelo Soares é uma ediçãoLidel, composta por casos reais retira-dos da prática clínica do autor, queilustra a influência de diversos hábitosinstalados ao longo da vida, os quais,ao interferirem na qualidade do sono,predispõem o indivíduo para doenças.Após definir o sono, assinala o efeitode toda a actividade cerebral enquan-to se dorme e evidencia o trabalho dosneurónios e respectivos neurotrans-missores, quer na aquisição de funçõescomo a memória, a capacidade criati-va e o pensamento abstracto, quer napreservação da imunidade, essencial àsdefesas do organismo. O conteúdo in-clui, entre outros capítulos: sinais deperturbação do sono, os mitos, activi-dade cerebral durante o sono, fases dosono, sonhos e pesadelos, efeitos daprivação do sono, tipo de alimentação,situações clínicas ligadas ao sono, etc.

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Reunião do Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos

Lisboa, 10 de Março de 2009

Acta

Aos dez dias do mês de Março de dois mil e nove, pelas dez horas e trinta minutos, na sede da Ordem dos Médicos, sitana Av. Almirante Gago Coutinho, 151, em Lisboa, reuniu o Conselho Nacional Executivo com as seguintes presenças: Dr.Pedro Nunes, Dr. Álvaro Beleza, Dr. António Araújo, Dra. Fátima Oliveira, Dr. Fernando Gomes, Dra. Isabel Caixeiro, Dr.José Ávila Costa, Dr. José Manuel Silva e Dr. José Pedro Moreira da Silva.(…)O Presidente pôs à discussão dos presentes todos os pontos da Ordem de Trabalhos e foram as seguintes as deliberações tomadas:(…)1.14 Apreciação do Relatório de Actividades, Contas, Plano de Actividades e Orçamento do CNEForam aprovados na generalidade o relatório de Actividades e Contas relativos a 2008 e o Plano de Actividades eOrçamento para 2009 que deverão ser presentes para apreciação do Plenário dos Conselhos Regionais.

Plenário dos Conselhos RegionaisLisboa, 19 de Junho de 2009

Acta

Aos dezanove dias do mês de Junho de dois mil e nove, pelas 11 horas, reuniu na sede da Ordem dos Médicos, sita na Av.Almirante Gago Coutinho, nº 151 em Lisboa, o Plenário dos Conselhos Regionais com a seguinte Ordem de Trabalhos:

1. Informações.2. Apreciação e aprovação da Acta do Plenário de 26 de Setembro de 2008.3. Apreciação e aprovação da Acta do Plenário de 20 de Março de 20094. Apreciação do Relatório de Actividades e Contas do Conselho Nacional Executivo referentes ao ano de 2008.5. Apreciação do Plano de Actividades e Orçamento do Conselho Nacional Executivo para o ano de 2009.6. Alteração ao Regulamento de Inscrição na Ordem dos Médicos e Regulamento da Prova de Comunicação Médica7. Apreciação e aprovação do Regulamento sobre acompanhamento e responsabilidade do anestesiologista pelodoente submetido a actos médicos de anestesia ou sedação.8. Apreciação e aprovação do Regulamento sobre os profissionais médicos seropositivos e a prática de procedimentos invasivos.9. Alteração do Regulamento Geral de Colégios10.Assuntos pendentes e diversos.

Procedeu-se de seguida à constituição da mesa, que ficou como se segue:

Presidente da Ordem dos MédicosSenhor Dr. Pedro NunesSecção Regional do SulSenhora Dra. Isabel CaixeiroSecção Regional do CentroSenhor Prof. Doutor José Manuel SilvaSecção Regional do NorteSenhor Dr. José Pedro Moreira da Silva

O Senhor Presidente iniciou a sessão, agradecendo a presença de todos e anunciando que existia quórum para que avotação fosse considerada válida. De seguida pôs à discussão a Ordem de Trabalhos.(…)4. Apreciação do Relatório de Actividades e Contas do Conselho Nacional Executivo referentes ao ano de 2008(…)Após votação, o Relatório de Actividades e Contas do Conselho Nacional Executivo referentes ao ano de2008 foram aprovados por maioria, com um voto contra e uma abstenção.

Nota da ROM: assinaram a sua presença, participando nos trabalhos e votações, 97 médicos delegados ao Plenário.

Relatórios de auditoria das contasExtractos das Actas de Aprovação das contas da OM de 2008

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