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e s p e c i a l revista ponto movel cidade do saber ponto movel cidade do saber Barra do Pojuca 1

Revista Ponto Móvel Cidade do Saber N°01

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Revista Ponto Móvel Cidade do Saber, traz em suas edições, matérias específicas sobre localidades de Camaçari. A publicação integra uma coletânea voltada para apresentação das histórias, do cotidiano e das tradições de diversas comunidades pertencentes ao território de Camaçari, contadas pela ótica e versão dos próprios habitantes destes lugares.

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e s p e c i a l

r e v i s t a

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cidade do saber

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cidade do saber

Barra do Pojuca

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SABERES EFAZERES

BARRA DO POJUCA ESPAÇO

VERDE

NOSSAGENTE

MOVIMENTOARTÍSTICO

GENTE QUEFAZ

PERSONAGENSHISTÓRICOS

DICAS CULTURAIS

PAINELCRIATIVO

LAZER

AÇÃOGOVERNAMENTAL

SABOR DA TERRA

LÁ VEMHISTÓRIA

QUEM CONTAUM CONTO

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Essa publicação segue as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, em vigor desde janeiro de 2009.

Consolidada em Camaçari como um celeiro de saberes e de oportunidades, a Cidade do Saber – Instituto Professor Raimundo Pinheiro – conta com uma nova estrutura itinerante, para levar ainda mais conhecimento aos moradores que vivem fora do centro do município, onde fica a sede da instituição.

O projeto, que une cultura, esporte e educação para a inclusão social, adquiriu mobilidade e, em um caminhão-baú

Editorial

adaptado e chamado de Ponto Móvel Cidade do Saber, percorre o litoral, pulverizando informação e fortalecendo os saberes e tradições de cada localidade, além de revelar talentos artísticos, num show de calouros denominado Palco da Cidade.

Como via de aproximação e trocas mais intensas com as comunidades da orla de Camaçari, esta revista – seguida das edições que contemplam sete outras localidades – conta um pouco da origem, da cultura, do cotidiano e das tradições de Barra do Pojuca. A publicação integra as diretrizes da Cidade do Saber, que busca também

registrar, preservar e divulgar a cultura local.

Esse material é uma contribuição da Cidade do Saber para disseminar fragmentos da riqueza da cultura e da história dessas comunidades, tão bem narradas pelos personagens que colecionam “causos” para contar e encantar as novas gerações e os visitantes.

Mergulhe também no universo cultural de Monte Gordo, Barra do Jacuípe, Jauá, Arembepe, Areias, Vila de Abrantes e o povoado de Cordoaria (remanescente quilombola).

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Boa leitura!

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Jauá

AreiasCordoaria

Vila de Abrantes

Arembepe

Barra do Pojuca1Camaçari

Sede CamaçariCidade do Saber

Monte Gordo

Distrito deMonte Gordo

Distrito de Abrantes

Sejam bem vindos

Barra do Jacuípe

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Principal anfitriã de Barra do Pojuca, é a natureza quem se encarrega de dar as boas vindas aos visitantes dessa localidade de Camaçari, que também já foi chamada de Ipojuquinha e Pojuquinha. Além das riquezas naturais, Barra do Pojuca é conhecida pelo povo simples e acolhedor.

O Rio Pojuca, com destacada importância para os moradores, está situado entre a reserva de Sapiranga e o subdistrito de Barra do Pojuca, na comunidade da Cachoeirinha, onde mora grande parte dos pescadores da região.

A pesca e a mariscagem feita com jererés e covos (armadilhas) estão entre as principais atividades, sendo a base da alimentação e sustento das famílias.

Um lugar para viver e sentirA presença marcante da atividade pesqueira é evidenciada na culinária, que apresenta pratos com influências portuguesa, indígena e africana. As receitas à base de farinha e da folha da mandioca, o uso do azeite de dendê e o preparo de doces e licores com frutas diversas são exemplos do legado cultural deixado por esses povos.

Legado cultural

É por essas e outras características que há muito o que se descobrir em Barra do Pojuca. Os antepassados, dos que hoje habitam o lugar, deixaram uma herança de ricas manifestações. E muitas dessas tradições sobrevivem para valorizar e reproduzir a identidade cultural, como as tradicionais brincadeiras (folguedos,

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ternos, folias e reisados) que foram preservadas.

Manifestações socioculturais como os reisados, semelhantes ao bumba-meu-boi, fazem parte da tradição local. Reis do Boi é o nome dado pelos moradores de Barra do Pojuca a uma de suas manifestações culturais. Até o ano de 1940, após o Reis do Boi, era comum prosseguir os festejos com o Terno da Mangaba.

Tanta história contada e cantada remonta a uma época de forte valorização das expressões culturais, presentes hoje nos ternos do Espermacete e o da Mangaba. Na Cachoeirinha ainda resistem o Terno do Bumba-Meu-Boi, liderado por Manoel Bochecha, e o Reisado do Guará, comandado por Dona Joaninha.

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Nos reisados dos bois existem duas figuras: o boi e o

caboclo, que é encarregado de “dividir” e “vender” o boi. A brincadeira começa

quando o pandeiro anuncia o canto:

“Deus lhe dê uma boa noite, boa noite venho dar” .

Se os donos da casa demoram a atender, eles insistem:

“Abre a porta senão eu morro, abre a porta que eu já morri”.

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Conforme conta Manoel Bochecha, em Cachoeirinha havia duas famílias: a do senhor José Marques Teixeira e a família Dias, que muito contribuíram com a cultura local. A família Dias era dona da maior parte das terras do povoado e divulgadora das folias na região. Há outros representantes das manifestações de Barra do Pojuca, como os mestres Nildes Pereira da Conceição, Manoel Conceição Filho e Luis de Jesus, que ajudou a fundar o reisado do Guará Mirim.

Formado por alunos da Escola Ambiental, o Guará Mirim da Tiririca é uma esperança para a comunidade de que os reisados não se extinguirão e que os ternos continuarão a alegrar o povoado. O grupo faz apresentações em diversas localidades e até já gravou um CD. Por sua vez, o

Espermacete, liderado por mestra Nildes, já realizou apresentações até fora do estado, mantendo viva e divulgando a tradição.

Todas essas manifestações fazem parte de uma vivência, de um conto ou da recriação de algum morador que ajudou a fundar Barra do Pojuca. Assim aconteceu com o Terno do Zé do Vale, por exemplo, que foi difundido, na localidade, por volta de 1940, sendo mantido por mais duas décadas.

O folguedo mostra o esforço da família de Zé do Vale para convencer o presidente a soltá-lo. Ele foi preso porque seu cavalo comia em pastos alheios e por ter matado muita gente no sertão. Nesse folguedo, a família conta os sofrimentos que o acusado passou.

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Manoel Bochecha

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Itacimirim também é Barra do PojucaUma das mais belas praias do Litoral Norte da Bahia, Itacimirim é um balneário revelado pelos seus rios, mangues, piscinas naturais de águas mornas e ondas de até três metros. Seu nome, que já foi Tacimirim, significa “formiga pequena” em tupi-guarani. Um paraíso tropical formado a partir de uma vila de pescadores. Esse recanto de Barra do Pojuca fica a apenas 48km da capital baiana. É a última praia da Estrada do Coco, que corta a região conhecida como Costa dos Coqueiros e fica a 6km da Praia do Forte, onde começa a Linha Verde.

Com rio de água clara e morna e paisagens naturais, de clima seco e sub-húmido, a localidade de Itacimirim é praticamente formada pelas casas dos moradores, pousadas e hotéis, além das casas de veraneio.

Igreja da Cachoeirinha

NÃO DEIXE DE VISITAR:

Localizada na Cachoeirinha, a Cascatinha dos Prazeres é ideal para o lazer de crianças

e adultos. As corredeiras do Rio Punhai também

favorecem a pesca do pitu.

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As cinco praias de Itacimirim são o maior atrativo turístico e se destacam por belas paisagens:

Praia do Porto

Suas águas são tranquilas e resguardadas por uma barreira de corais que formam uma piscina natural. De lá, dá para ver as outras três primeiras praias e os visitantes têm a oportunidade de tomar banho de mar ao lado das tartarugas marinhas que se alimentam no local.

Praia da Espera

Está entre as mais visitadas. A movimentação de barcos de passeio e de pesca compõe o cenário de um porto peculiar. Suas piscinas naturais são formadas por arrecifes de corais e delicadamente coloridas por diversas espécies de peixes. A prática de mergulho, surf, kitesurf, windsurf, canoagem, futebol, frescobol, vôlei e pesca com anzol são muito comuns.

Entre os meses de dezembro e fevereiro, a Praia da Espera assiste à desova das tartarugas marinhas e, entre agosto e setembro, ao espetáculo das baleias Jubarte. O nome, segundo pescadores, deve-se ao fato de a praia ser o único “porto certo” de toda a região, por causa das virações das demais barras. Foi nessa praia que o navegador Amyr Klink aportou em 1984, após viagem solitária de cem dias, em um barco a remo, entre a África do Sul e o Brasil.

Praia do Peru

É considerada uma das melhores praias para a prática do surf em toda a Costa dos Coqueiros e frequentemente sedia campeonatos. Abriga, inclusive, uma escola para treinar novos atletas. Além de ser um ponto privilegiado para se contemplar o pôr-do-sol, seus restaurantes e barracas são um atrativo à parte para quem aprecia boas iguarias gastronômicas, a partir de um cardápio

recheado de frutos do mar.

Praia das Ondas

O nome revela a principal característica: ondas propícias ao surf. A areia macia faz um irrecusável convite para caminhadas à beira-mar.

Praia da Barra

Formada pela foz do Rio Pojuca, rodeada por areias, coqueirais e manguezais. Sua água doce é morna e rica em pitus, ingrediente de um dos pratos típicos mais procurados pelos visitantes. Através de passeios de barco, é possível vislumbrar as corredeiras.

A exuberância da natureza, a hospitalidade dos moradores e a riqueza das manifestações culturais fazem de Barra do Pojuca um lugar singular aos olhos dos visitantes e motivo de orgulho para o seu povo.

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As cinco praias de Itacimirim são um

atrativo à parte para visitantes de Barra do

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Nossa Gente

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Revista Ponto Móvel - A família Marques foi uma das fundadoras de Cachoeirinha. O senhor pode contar um pouco dessa história?

Sr. Ramiro: Minha família e eu nascemos e nos criamos aqui. Éramos oito irmãos - dois homens e seis mulheres. Quando eu completei 15 anos, meu pai ficou paralítico por causa de um derrame e morreu 24 anos depois. Eu cursava o quarto ano primário e tive que sair da escola para cuidar do meu pai, por que eu era o mais velho dos

irmãos. Acabei criando todas as minhas seis irmãs. Naquele tempo era difícil fazer feira, porque por aqui não tinha nada para vender. Tínhamos que ir para Mata de São João. Toda semana eu ia às compras e também vendia coco e peixe. Meu pai era freguês dos pescadores de Itacimirim e eu ia com ele desde os meus dois anos. Quando ele adoeceu, tinha comprado uma carga grande e precisava conservar com sal grosso batido no pilão. Minhas mãos ficavam cheias de calo. Assim que meu pai ficou doente, eu assumi as compras da casa. Nas viagens,

fui fazendo a minha freguesia com os próprios vendedores de peixe que eram os fornecedores de meu pai. Tomei uns calotes e quase perdi tudo. Passei a vender apenas coco, de 15 em 15 dias, em Pojuca de Cima, Camaçari (sede) e até em Candeias.

RPM: E como o senhor transportava os cocos?

Sr. Ramiro: Eu ia com os animais. Tinha pasto por lá. Eu saía daqui e ia para a sede de Camaçari. Passava a noite e ia para Candeias. Nisso eu dei umas 30 viagens. Depois, passei a ir a Feira de Santana, época em que eu já tinha carro. Passei uns 25 anos em Feira de Santana. E, assim, minha vida foi trabalhar. Eu botava roça de cinco ou seis tarefas. Era um mundo de roça, daqui até a Cascata, tudo era roça minha. Continuo trabalhando até hoje. Todo dia de manhã vou para a roça, faço a minha caminhada e depois tomo um banho na Juerama.

RPM: Então o senhor criou seus irmãos e depois os seus filhos?

Ele foi subdelegado e juiz de paz de Barra do Pojuca. Por lá, é conhecido como seu Ramiro da Cachoeirinha, apelido carinhosamente atribuído pelos moradores do povoado que sua família ajudou a fundar e onde ele nasceu. Sua esposa, Dona Marina, filhos e netos são importantes referências e inspiração de sua vida, cuja trajetória de 84 anos é contada durante esta entrevista à Revista Ponto Móvel da Cidade do Saber. Conheça Ramiro Marques, esse personagem-símbolo da comunidade de Barra do Pojuca.

“E, assim, minha vida foi trabalhar”

Entrevista:

Ramiro Marques

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RPM: Além de trabalhar, qual era a sua distração?

Sr. Ramiro: Eu era muito festeiro e aqui tinha muita festa. Eu tinha um cavalo. Ia até Mata de São João para a Festa do Bonfim. No dia 1º de janeiro tinha Jordão, em Monte Gordo. Ia pra Torre, pra Malhadas e até Pedra do Salgado. Aqui, quando era tempo de rezar, meu pai rezava São José, ou quando rezava pra outro santo o pessoal fazia aquele samba. Em tempo de Reis faziam o boi, a gente abria as casas, tinha aquela bebida pra servir, dava um dinheirinho pra eles levarem, e tinha essa distração de casa em casa.

Sr. Ramiro: Meus irmãos, filhos e sobrinhos, pois tive uma irmã que morreu jovem. Carlinhos, o vereador Carlos Marques, eu criei até os 12 anos. Além dos meus sobrinhos, criei também outras crianças, uma delas foi um menino de uma senhora no Areial. Peguei outro menino depois. Tive dez filhos legítimos. Tenho tantos netos que nem sei o total. Tem hora que Marina [esposa] se apavora.

RPM: Quantos anos de casado o Sr. e D. Marina têm?

Sr. Ramiro: Temos 56 anos juntos. Eu vou fazer 84 anos e ela 74.

Seu Ramiro e Dona Marina com filhos e

netos

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Saberes e Fazeres

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Barra do Pojuca já abrigou diversos Ternos de Reis. Na década de 70, era muito comum ver um deles pelas ruas no mês de janeiro. No entanto, o Terno do Espermacete Japonês é hoje um dos mais atuantes na região. É comandado por mestra Nildes Pereira Bonfim, uma apaixonada pelos ternos e por samba também. “Conversando com minha prima Dominguinhas ela disse que tinha um terno que ela ainda não tinha me ensinado, que já veio de vovô, de minha

tia, que foi o Espermacete, que era como eles chamavam”, relembra Nildes.

Em 1994, as duas resolveram dar vida à brincadeira. Elas saíam de chapéu de palha, com um espelhinho do lado e fitinhas amarradas. A bandeira tinha um sol e uma lua.

Mestra Nildes trouxe para Barra do Pojuca essa manifestação que se originou na Vila de Santo Antonio, em Porto do Sauípe. Antes, em 1991, ela e a prima Dominguinhas já haviam reavivado o “Silivera”, outro tipo de terno, um samba também. Eram umas meninas vestidas de baiana e um rapaz vestido de espantalho. Cantavam o reisado na porta e depois vinha o samba. Em 1992, elas reativaram,

também, a “Mangaba”.

Na liderança dos grupos Espermacete e Mangaba, Nildes conta com a colaboração da sua mãe, Dona Arlinda, 85 anos, que tem passado os saberes de uma chegança (outro tipo de terno) para que ela desenvolva um trabalho com os jovens do lugar. Durante a brincadeira da Mangaba, as mulheres seguem pelas ruas cantando: “Apanhar mangaba no oiteiro liso, eu só tenho medo do nego fugido. Apanhar a mangaba no galho de dentro, vamos moquear pra ver o presidente”. Atualmente, o terno da Mangaba é revivido por mulheres de três gerações que trabalham para preservar a cultura local: Dona Arlinda, mestra Nildes e Mila (filha da mestra).

Mestra Nildes e o Espermacete Japonês “Espermacete japonês, eu nunca vi por aqui, o temporal foi muito forte, deu na costa do brasi...”

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Contatos para apresentação do

Espermacete:Mestra Nildes: (71) 9633-3327 (71) 8147-4844

Espermacete Japonês? Mas... o que é isso?

“A história do Espermacete é a história de um navio vindo do Japão que naufragou aqui e

isso juntou os nativos, que começaram a achar especiarias. Além disso, começou a aparecer

na praia uma substância como uma borra de vela, que era o espermacete, uma substância da

baleia, que tava (sic) na carga do navio. E daí, quando os nativos se juntavam para fazer as

tranças (de palhas), juntavam aqueles mutirões de mulheres para fazer os trançados. E começa-

ram a cantar as músicas, que, resumindo, deu no Espermacete”.

Mestra Nildes Pereira Bonfim

Três gerações: D. Arlinda,

mestra Nildes e Mila

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Saberese Fazeres

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O artesão Luis de Jesus cria móveis, objetos de decoração e os mais variados utensílios tendo como matéria-prima a talisca (parte mais fina do caule) do dendê. A coleta do material é feita mata adentro, com o cuidado de não causar danos às palmeiras. Para tanto, Seu Lula conta com a ajuda de alguns colaboradores.

Conhecido na Cachoeirinha como Seu Lula, ele desenvolveu uma técnica de amarração das taliscas do dendê que resulta em arte. “Faço luminárias de tudo quanto é tipo, abajur, jogo americano, cestinha de petisco, porta-guardanapo, bandejas. Também faço esteiras de portas”,

A arte em taliscas de Seu Luladiz Seu Lula, que já fez trabalhos para muitas pousadas, restaurantes e cafés em toda a Linha Verde.

Mas o artesão não quer apenas continuar fazendo arte. O que deseja mesmo é ensinar a técnica a novas gerações. Pensando nisso, já tentou montar uma unidade para aumentar a produção e transmitir o que aprendeu, mas ainda não conseguiu levar a ideia adiante. “Eu nem posso expor na internet porque não tenho gente qualificada pra abraçar um pedido grande”, admite. “Meus meninos ajudam quando têm uma folga, mas esse trabalho é meu, foi trocado pela cachaça quando eu deixei de beber”, revela.

Para adquirir uma peça de Lula Arte é preciso fazer uma encomenda. Ele faz

apenas um pedido por vez e conta que, aos poucos, foi aperfeiçoando e o próprio trabalho lhe trouxe novas ideias.

Além do artesanato, Seu Lula também vive a arte de outro jeito. Durante muito tempo, foi o caboclo do Terno do Guará da Cachoeirinha e depois ajudou a fundar o Terno do Guará Mirim na Escola Ambiental de Barra do Pojuca.

São essas figuras populares que contribuem para a manutenção da cultura local e principalmente para deixar um legado de saberes e fazeres que possa se estender aos discípulos, familiares e todos aqueles que entendam a arte e a cultura como elementos de preservação da identidade de um povo.

“Deus foi meu professor, eu não aprendi com ninguém”.

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Contato para encomendas:

Seu Lula(71) 9924-2846

Seu Lula quer ensinar e perpetuar

sua arte

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Quem Conta um Conto?

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“No tempo em que a minha avó era menina, uma época muito antiga, ela contava que existia uma lagoa no caminho da praia. Era o único caminho para se chegar à beira da lagoa chamada Lagoa da Ave da Pomba. Ali, se batia o pé na beira do riacho e uma ilhazinha de capim levava o visitante ao outro lado. Quem subia não podia cair nem para um lado nem para o outro, para não ser comido pela gigante sucuri. No retorno da praia, à tarde, depois de pescar, novamente se batia o pezinho na beira da lagoa e a ilhota vinha pegar do lado de cá e levava para outra direção. Misteriosamente, não se sabe quem conduzia essa ilhota. Se é um causo, lenda, verdade ou mentira, não se sabe. Eram os mais velhos que assim contavam”.

Por Manoel Conceição Filho

A Lagoa Encantada

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“Contam que os africanos trouxeram o curuca, um tipo de camarão, pra jogar no Rio Pojuca. Ele veio parar aqui através dos escravos que o trouxeram porque era um camarão rico em proteínas. Contam também que era muito utilizado pelas mulheres africanas recém-paridas, que o acrescentavam ao leite para dar de mamar aos filhos e para terem saúde para trabalhar. Os escravos perceberam que o rio era perene, muito forte, de correntezas, de boa adaptação para o camarão. Trouxeram as matrizes, soltaram no rio e elas desapareceram porque eram poucas. Não deu para povoar. Com o tempo, deu uma cheia muito grande e esses camarões, que já tinham se reproduzido, povoaram o Rio Pojuca. Hoje, no Brasil, nós só temos quatro rios com esse camarão curuca, todos são matrizes levadas daqui. É possível encontrá-los também em alguns trechos do Rio São Francisco. Foram camarões que seguiram através do Rio Salitre, da nascente subterrânea paralela ao Rio Pojuca. Hoje, o Rio Salitre é um dos transmissores de curuca para o Rio São Francisco”.

Por José Domingos Barbosa dos Santos

A viagem do curuca

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Movimento Artístico

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Criado pelo Núcleo de Produção do Teatro Cidade do Saber para revelar talentos locais através de pequenos concursos, o Projeto Palco da Cidade apresenta uma programação diversificada, levando cultura e entretenimento às comunidades mais distantes da sede de Camaçari.

São apresentações de variadas linguagens artísticas (música, dança, teatro, literatura, poesia, arte circense, humor, entre outras) realizadas por candidatos que participam de seletivas (nas localidades da orla) e finais no Teatro Cidade do Saber.

São de Barra do Pojuca dois dos 18 finalistas do Palco da Cidade: Mailson Santos Pereira, 24 anos, e Carlito Figueiredo, 35 anos, que participaram nas categorias de poesia e música.

Mailson Pereira foi selecionado com a poesia “Armário”. Estudante de Psicologia e assistente administrativo em Barra do Pojuca, Mailson diz que começou a escrever aos 14 anos, no ensino médio, por influência da professora de Filosofia e dos sentimentos vivenciados à época.

Segundo o jovem escritor, ele conheceu a Cidade do Saber na sua inauguração. Primeiro como um empreendimento e investimento da Prefeitura de Camaçari e depois por estar ligado à área de educação desde 2006. Ele conta que via as notícias no site e ficava inquieto pelo fato de os moradores da orla não participarem por causa da distância. Ao ser inaugurado o Ponto Móvel, procurou o Núcleo de Produção para se inscrever no Palco da Cidade.

Palco da Cidade

Dança de rua na primeira seletiva do

Palco da Cidade

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O Poeta do Armário(Mailson Pereira)

Armário aberto, armário / Armário aberto, aberto / Quantas coisas você tem no armário? / Uma? Nenhuma? / Algumas? Armário fechado, armário / Armário fechado, fechado / Você se mostrou no armário, / Você se perdeu trancado /

Ah!, meu armário, minha vida / Espaço interno de mim mesmo / Espaço oculto a mim mesmo / Armário aberto, desespero / Armário fechado, desespero / Queria mostrar meu armário para o mundo / Queria um armário perfeito

Mas meu armário é um lixo / Armário com cara de desespero / Tenho medo e vergonha de mostrar meu armário / Mas me pego deixando a porta aberta do mesmo / O que os outros vão dizer de mim, se virem meu armário? / Quem serei se descobrirem a face oculta de mim mesmo?

Armário, desespero / Queria apenas arejar o meu armário / Queria apenas deixar um raio de sol invadir a minha vida / Meu armário, meu espelho / Onde me vejo e me perco / Onde sou (não sou) eu mesmo.

Por que tanto medo?

Por que o desespero?

Ser armário aberto eis o meu desejo / Preciso sair do armário de minha vida e encarar a verdadeira alegria de ser eu mesmo / Meu armário, meu segredo.

Mailson

Pereira: poesia selecionada

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O outro finalista do Palco da Cidade em Barra do Pojuca foi Carlito Figueiredo. Ao passar pela praça, ele viu um caminhão que lhe chamou a atenção. Foi assim que conheceu o Ponto Móvel e o Palco da Cidade, inscrevendo-se no concurso na categoria música.

Surpreso, Carlito afirmou que custou a acreditar que um menino do subúrbio de Simões Filho estaria entre os finalistas

com uma música de autoria própria, três anos após começar a tocar violão. Satisfeito, conta que muita coisa mudou depois da sua participação no Palco da Cidade: Carlito chegou a dar entrevistas para a TV, internet e rádio.

Ao descrever o que sentia, Carlito disse que estava feliz duas vezes: por saber que sua obra o levou ao palco e pelo fato de ter levado a mãe a um teatro pela primeira vez.

Música na praça

Movimento Artístico

Carlito Figueiredo:

entre os finalistas

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Mandacaru Carlito Figueiredo

Como mandacaru você feriu meu coração

Me deixou na solidão sem razão para viver

Você partiu de mala e cuia desse sertão

De longe acenou com a mão nem quis saber

O que eu sentia por você.

Lararundé derundé lararundé

Mesmo com seu desprezo o meu apego

É muito grande por ti

Ai, eu peço ao meu bom Jesus que a conduza para mim.

Lararundé derundé lararundé ééééééé´.

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AçãoGovernamental

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Valorizar as potencialidades culturais e econômicas das localidades da orla de Camaçari, para cumprir o papel do Estado no que diz respeito ao desenvolvimento social, mas também para reforçar a pertença destes lugares à esfera do Município e integrar a população do centro e do litoral. Com esses objetivos, a administração pública municipal vem ampliando as políticas governamentais, para garantir a sua acessibilidade aos diversos grupos populacionais, independentemente da área que habitem. Desde 2005, o foco é cuidar das pessoas.

Em Barra do Pojuca as ações também seguem esse propósito. A Escola Municipal Américo Ferreira, por exemplo, foi equipada com refeitório, biblioteca e laboratório de informática. Também foram realizadas melhorias nas estradas que ligam a área central de Barra do Pojuca aos povoados mais

distantes, como Tiririca, Lodo, Lagoa Seca e Baratas. A iniciativa dinamiza o transporte urbano, favorece a coleta de lixo, a circulação de ambulância e outros veículos, beneficiando cerca de 3.000 pessoas.

Ainda entre as obras realizadas pela Prefeitura de Camaçari estão a ampliação do posto do Programa de Saúde da Família (PSF), a disponibilização de uma ambulância 24 horas para atender aos moradores da região, além da implantação do atendimento odontológico e Centro de Referência de Assistência Social (Cras).

Casas populares foram construídas e o executivo municipal apoiou a construção de novo posto policial, reformou o Centro Comercial (Mercado de Barra do Pojuca), dotou de sistema de encanamento de água o povoado de Tiririca e recuperou a Casa de Farinha de Lodo.

ATIVIDADES ECONôMICAS O incentivo à agricultura familiar, meliponicultura, atividades de pescadores, marisqueiros e agroextrativistas também estão entre as prioridades do governo, nas localidades onde estas atividades podem representar uma ferramenta para inclusão social e geração de renda. Além disso, essas práticas têm um forte valor cultural e histórico e podem ser realizadas de forma integrada à preservação ambiental. Cadastramento dos produtores e programas criados pelo próprio município, como o Peixe Bom e Barato e o Pronaf (do governo federal), têm contribuído para a capacitação dos trabalhadores e inserção das mercadorias de Barra do Pojuca em feiras livres e bairros da cidade.

O trabalho integrado entre as esferas públicas e ONGs, junto com as ações de empreendedorismo social da iniciativa privada, revelam a consolidação de bases sólidas para um futuro de desenvolvimento sustentável nas comunidades da orla de Camaçari.

Gente que cuida da gente

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Espaço Verde

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Edenilson da Silva, mais conhecido como Seu Damasceno, é morador de Barra do Pojuca há 25 anos. Já formou muitos alunos na atividade que desenvolve na região.

Nascido em Teodoro Sampaio, foi para Barra do Pojuca fazer um curso profissionalizante. Por lá ficou. “Hoje dou aulas, coordeno grupos de trabalho na área de meliponicultura, dou consultorias no Baixo Sul, em Valença, Nilo Peçanha, Cairu e Grapiúna”, conta. O seu principal objetivo é ver a meliponicultura se desenvolver, fazendo com que todos saibam o que é uma abelha sem ferrão.

Segundo Seu Damasceno, durante muito tempo, por falta de informação, espécies

As abelhas de Seu Damascenode abelhas nativas estiveram ameaçadas. A extração predatória causou destruição, por causa do tipo de colheita do mel, a partir da queima dos enxames. “O pessoal queimava para tirar o mel e destruía os enxames. Eles pensavam que eram abelhas com ferrão”, diz.

À frente de uma associação na comunidade de Jóia de Rio II, ele resolveu pesquisar, ministrar cursos e conscientizar as pessoas sobre a coleta, implantando os meliponários. “Toda a Bahia hoje está avançando na meliponicultura, que é o resgate do mel orgânico, que cura várias doenças, da abelha sem ferrão. É uma herança dos índios”.

Ele explica que a maioria dos apicultores tem preferência pelas abelhas com ferrão

(também conhecidas como africanizadas)por causa da produtividade. “Enquanto elas produzem entre 45 e 50 litros, as nativas produzem apenas quatro litros”. A diferença, no entanto, está nas propriedades terapêuticas do mel nativo, que chega a custar R$100 por litro.

Seu Damasceno, que já chegou a ter 100 enxames, hoje mantém cerca de 40. Parte da sua renda vem da meliponicultura e da apicultura. “Monto meliponários. Meu trabalho é reproduzir essas [abelhas] rainhas pra evitar uma devastação no meio ambiente. Há 10 anos, a gente não encontrava esses enxames de abelha no mato, nas matas, e hoje, com o trabalho de conscientização, nós encontramos”.

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E meliponicultura, o que é? Trata-se da criação racional de abelhas sem

ferrão (meliponíneos). Embora existam cente-nas de espécies no Brasil, as principais abelhas indígenas (sem ferrão) são a uruçu verdadeira, uruçu amarela, jataí, mandaçaia e tiúba ama-rela. O mel das abelhas sem ferrão é saboroso,

diferenciado e reconhecido por suas impor-tantes propriedades medicinais.

Saiba mais: www.meliponicultura.com.br

www.cpatu.embrapa.br/meliponicultura

Palestras, cursos e implantação de

meliponários:

Seu Damasceno (71) 9901-5812 (71) 8605-2007

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quituteiras de Barra do Pojuca (receita ao lado).

Por viverem quase que exclusivamente da pesca, as famílias enfrentam uma queda na sua produção durante o inverno pelo aumento da frequência das chuvas. Por se tratar de um rio com muitas pedras e fortes correntezas, as cascatinhas que se formam prejudicam a atividade na época das cheias, quando são arrastadas as armadilhas (covos) colocadas pelos pescadores.

Diante da importância do Rio Pojuca para a sobrevivência das famílias, a manutenção da pesca artesanal, com a preservação do período do defeso, está entre as maiores preocupações dos ribeirinhos, uma vez que a pesca predatória representa uma ameaça às espécies.

Saborda Terra

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A pesca artesanal é uma das atividades extrativistas mais importantes em Barra do Pojuca. O pitu – uma espécie de camarão de alto valor comercial – está entre as maiores riquezas da região e pode ser encontrado no Rio Pojuca. No seu entorno está quase a totalidade dos ribeirinhos, que vivem basicamente da pesca.

Além do pitu, o curuca é um outro tipo de camarão encontrado no lugar. As duas espécies, juntamente com peixes que descem o rio, são fonte de renda para as inúmeras famílias que vivem no local.

Vendido a restaurantes locais, o pescado é transformado em saborosos pratos preparados também de forma artesanal. O toque especial fica por conta das mãos cuidadosas das

No cardápio, o pitu e o curuca

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Por Noemia Pereira da Conceição

1/2 kg de curuca (camarão)Suco de 1 limão1/2 xíc. de café de azeite de dendê2 cebolas médias em rodelas1/2 xíc. de chá de coentro1/2 xíc. de chá de salsa picada2 cebolinhas verdes cortadas3 tomates em rodelas1 vidro de leite de coco e sal

Limpe o camarão (curuca) e tempere com sal e suco de limão. Reserve. Refogue os temperos por 15 minutos no azeite de dendê.Acrescente os camarões e cozinhe por 5 minutos com a panela tampada. Por último, o leite de coco.

Moqueca de curuca

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Gente que Faz

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Criada pelo maestro Fred Dantas em 1997, a Fundação Ecoeducativa é uma escola ambiental que une a preservação do ecossistema e ação social. Voltada para crianças e adolescentes, fica num trecho da restinga e da Mata Atlântica, a 10km da foz do Rio Pojuca, na estrada da Tiririca. Segundo definição do próprio maestro, “é uma Arca de Noé em meio à ocupação humana, à expansão imobiliária e a interesses vários”.

Além de manter intacto todo o cenário natural do entorno, a fundação oferece alimentação, educação formal e a música como ferramenta para o desenvolvimento dos alunos. A fundação conta com dois grandes e decisivos parceiros: a Prefeitura Municipal de Camaçari e o Projeto Conexão Vida. O

Fundação Ecoeducativa Fred Dantasprimeiro fornece professores, merenda escolar e material pedagógico. O segundo, os recursos mensais que permitem tocar as atividades nas áreas de assistência social e arte.

Fred Dantas diz que o começo foi bastante difícil, mas o sonho de assegurar educação de qualidade a crianças e adolescentes foi realizado. “Quando eu criei a escola, queria que tivesse arroz, feijão e carne para o aluno comer todo dia, que ensinasse a ler e escrever de verdade e que tivesse música, por conta da minha profissão”, relembra. Nessa época, as escolas da região estavam paradas, com exceção de uma que funcionava em Cachoeirinha, na sede da associação, mas a parede havia desabado.

O maestro pensou numa escola para 30 crianças, mas no primeiro dia já eram 60. Na segunda semana, 120 crianças. Ele diz que recorreu ao Projeto Ágata Esmeralda (atual Conexão Vida) e pediu ajuda ao padre Giane Bôscoli.

Foi à Secretaria da Educação de Camaçari e conseguiu três professores, o que ainda não era suficiente, pois não contemplava a pré-escola. Ele próprio criou um pré-escolar e o custeou por dois anos, até que a Prefeitura de Camaçari assumiu.

A partir daí, Fred Dantas pôde investir também na Filarmônica e no Terno Guarazinho, que é uma tradição recuperada. Houve a necessidade de se criar uma fundação, que hoje leva o nome de Fundação Ecoeducativa Fred Dantas.

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FundaçãoEcoeducativaFred Dantas:

(71) 3626-0651

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Idealizado por Werther Farias, natural de Vitoria da Conquista, o Projeto Manguezal assiste atualmente 80 crianças e 17 adultos em Barra do Pojuca. O empresário, que viveu em Israel, chegou ao local em 2003 para se instalar e abrir um restaurante.

Começou a observar as crianças do povoado próximo ao restaurante e viu que a meninada chegava ao ensino fundamental sem saber ler nem escrever. “Uma vez, peguei uma menina da 5ª série e fiz uma lista de supermercado. Queria ter certeza se ela entendia minha caligrafia e ela não sabia ler. Disso veio a minha iniciativa”, conta.

Ele resolveu oferecer ajuda através de um reforço escolar, o que tomou uma proporção inesperada. Começou com 20, passou para 30 e depois para 40 alunos. Em 2005, com a projetista Carla

Projeto Manguezal Sabiá, montou um projeto de reforço escolar e educação ambiental para buscar apoiadores. Até então, mantinha tudo com recursos próprios. “Consegui uma pousada em Itacimirim que me prometeu ajudar em uma parte do projeto. Assim, tudo começou”, lembra.

Investigando o rendimento das crianças no ensino formal e depois de uma conversa com a diretora de uma escola pública, Farias constatou que os alunos do Projeto Manguezal tinham boa aprovação e média. A partir daí, estendeu as atividades e foi procurado por adultos, entre 40 e 82 anos, em busca de alfabetização.

O Projeto Manguezal mantém reforço escolar para alunos do maternal à 5ª série. Também oferece aula de informática, com computadores ligados à internet, e dispõe de uma biblioteca,

fruto de doações dos parceiros. Durante dois anos, o projeto recebeu milhares de alunos das escolas públicas, que assistiam a uma palestra sobre ecossistema de manguezal e também tinham uma aula prática. Através de uma parceria com a Secretaria de Educação de Camaçari, entre 40 e 50 alunos chegavam lá toda segunda-feira.

Em 2008, alunos de ecoturismo do município de Camaçari foram recebidos para fazer estágio. Alguns acabaram ministrando as palestras de educação ambiental e tornaram-se agentes multiplicadores.

Nos finais de semana, alguns artesãos da região expõem seus produtos (em coco, palha, crochê, tricô e bordado) na sede do projeto. Isso faz do Manguezal uma referência cultural e também de lazer para a comunidade ribeirinha.

Gente que Faz

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ProjetoManguezal

Werther Farias(71) 9944-5730(71) 3626-1035

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Lá vem História

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Batizado com o nome de uma árvore da Mata Atlântica, o município de Camaçari tem origem nos primeiros anos da colonização do Brasil. Uma história com primeiro registro na fundação da Aldeia do Divino Espírito Santo pelos jesuítas, em 1558.

Nove anos antes, o governador Tomé de Souza havia desembarcado com a incumbência de fundar a primeira capital do Brasil e ocupar definitivamente a colônia. Os jesuítas, que tinham como missão principal catequizar os índios tupinambás, se estabelecem nas margens do Joanes, a cerca de 40 km ao norte de Salvador.

Não se sabe a localização exata do primeiro aldeamento em Camaçari, mas uma epidemia, que vitimou também um dos seus fundadores, motivou os jesuítas a buscarem um novo lugar, próximo ao mar,

onde ergueram a primeira versão em taipa da atual igreja de Vila de Abrantes.

O aldeamento desempenhou papel estratégico como refúgio na resistência às tropas holandesas, que tomaram Salvador em 1624. Em 200 anos de presença dos jesuítas, o povoado esteve inserido na economia colonial, no cultivo de terras sob o domínio dos herdeiros das sesmarias.

Com a expulsão dos jesuítas, em 1758, o povoado foi elevado à categoria de vila, denominada “Vila do Espírito Santo de Nova Abrantes”. Daí em diante, passou por algumas trocas de nome e teve também como sede o arraial de Parafuso, depois da construção da ferrovia no final do século XIX. Foi chamado de Montenegro, por influência política de um dos herdeiros de suas terras, mas, em 1938, passou definitivamente a ser denominado Camaçari.

O cultivo da terra pelos jesuítas, com a utilização da mão-de-obra tupinambá, a economia da cana-de-açúcar movida pelos escravos, a pesca artesanal e a agricultura de subsistência deixaram como herança elementos das culturas indígena e negra, presentes no artesanato, na comida e na religião, principalmente em localidades remanescentes de quilombos, a exemplo de Cordoaria.

Até o final dos anos 60, a economia de Camaçari baseava-se na pecuária e na agricultura de subsistência A mudança radical aconteceu na década de 70, com o início da implantação do maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul. Desde então, não só Camaçari, mas a Bahia, passam a ter um novo perfil econômico, quando a indústria assume a ponta como setor mais importante da economia.

Tudo começou nas margens do Joanes

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Para saber mais sobre a história de Camaçari, consulte

Camaçari, Sua História, Sua Gente, de Sandra Parente; e

Abrantes, Berço da Civilização Brasileira, de Eduardo

Cavalcanti.

Praça Desembargador

Montenegro

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Personagens Históricos

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Chegou à Bahia em 1549, na caravela de Tomé de Souza, o primeiro governador geral do Brasil. Recebeu de D. João III uma grande sesmaria (cerca de 60 léguas quadradas), onde está situado o município de Camaçari. Edificou a Casa da Torre, que teve uma importante função na defesa das terras ocupadas, sendo o quartel general do Conde Bagnuolo, comandante das tropas luso-espanholas, na época da invasão holandesa em 1630. Trouxe de Portugal as pedras e o óleo de baleia para construir uma torre que reproduzisse o castelo onde viveu em Santa Isabel, Portugal. Garcia D’Ávila trouxe também o gado e a cana-de-açúcar. Próximo à casa, construiu uma olaria, um curral e uma igreja dedicada a Nossa Senhora do Monte Serrat.

Primo de Tomé de Souza, dom Antonio de Athaíde foi o primeiro Conde da Castanheira. Dono de vastas terras que faziam limite com os domínios da Casa da Torre, em Tatuapara, dom Antonio recebeu do governador geral algumas sesmarias. Uma delas tinha a área que correspondia ao tamanho da Ilha de Itaparica (Itamarandiva). O grande patrimônio da Casa da Castanheira foi passado até a sexta geração de condes desta família, que nunca veio ao Brasil. Mantinham suas propriedades administradas por procuradores. Por meio dos casamentos e heranças, essas glebas passaram ao domínio do Marquês de Cascais e foram transferidas no começo do século XIX para o Marquês de Niza.

Garcia D’ávila Conde da Castanheira

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Esposa e herdeira do Marquês de Niza, dona Eugênia Maria José Xavier Teles de Castro Gama Athaíde Noronha Silveira e Souza era uma nobre ociosa que vivia entre Paris e Lisboa. Suas propriedades eram administradas pelo português Tomaz da Silva Paranhos. Até hoje, em alguns lugares da orla da Camaçari, algumas pessoas ainda usam a expressão “terras da Marquesa de Niza” em referência às terras que vão de Arembepe a Abrantes.

Marquesa de Niza

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Dicas Culturais

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São Francisco de Assis é o padroeiro de Barra do Pojuca e cultuado como o santo dos pescadores. Sua festa é celebrada no segundo ou terceiro final de semana do mês de janeiro. No primeiro dia, as baianas puxam o cortejo da tradicional procissão da Lavagem de Barra do Pojuca, abrindo os festejos da orla de Camaçari.

As comemorações religiosas começam no sábado, com missas e batizados. No domingo, uma celebração homenageia o padroeiro e, na segunda-feira, tem procissão marítima, quando os pescadores levam a imagem até a Praia da Espera.

A festa, que acontece há mais de 100 anos, reúne caboclos, cavaleiros, grupos de capoeira e moradores. As comemorações atraem turistas e aquecem a economia local. O número de barracas e ambulantes aumenta significativamente nesses dias para atender à demanda.

História

Após renunciar à riqueza em 1206, Francisco fez penitência durante dois anos e lançou-se a pregar em linguagem simples e ardorosa. Ele amava e respeitava todas as pessoas, ao mesmo tempo

em que protegia os animais e plantas, chamando-os carinhosamente de irmãos.

Para ele, a chuva, o vento e o fogo deveriam ser reverenciados como irmãos. São Francisco é respeitado por várias religiões pela sua mensagem de paz. Ficou famosa uma oração atribuída a ele que começa com os dizeres: “Senhor, fazei-me instrumento de Vossa paz...”. Embora não haja confirmação de sua autoria, a oração reflete os ensinamentos e a vida desse homem, reconhecido como santo no mundo todo e adotado como patrono da ecologia e da paz.

Conheça as festas dos padroeiros Barra do PojucaSão Francisco de Assis

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A festa de Nossa Senhor Sant’ Ana, contra-padroeira da Cachoeirinha, acontece no segundo ou terceiro final de semana do mês de setembro.

História

Além de ser avó do Menino Jesus, Sant’Ana foi mãe quando já estava com idade para ser avó. Todos os dias, o casal Ana e Joaquim (padroeiros dos avós) pedia um filho a Deus. Para os hebreus,

A festa do São Sebastião é comemorada no primeiro final de semana do mês de janeiro, na localidade da Cachoeirinha, em Barra do Pojuca. De sexta a domingo, a comunidade canta e dança ao som de vários ritmos musicais em homenagem ao padroeiro. Durante os três dias de festa, milhares de pessoas lotam o Largo de São Miguel.

História

São Sebastião nasceu na França, em 256, e morreu com apenas 30 anos. Originário de Narbonne e cidadão de Milão, foi um

um casal sem herdeiros era considerado digno de castigo e motivo de grande desprezo por parte dos parentes.

Um dia, Joaquim se levantou, fez suas orações com Ana e os dois pediram novamente um filho a Deus. No trabalho, Joaquim sentou-se à sombra de um cipreste e comeu a comida preparada pela esposa. Depois, inclinou a cabeça, dormiu e sonhou que Ana dera à luz uma linda menina. Acordou feliz, rascunhou um bilhete,

mártir e santo cristão, morto durante a perseguição levada a cabo pelo imperador romano Diocleciano. O seu nome deriva do grego sebastós, que significa divino, venerável (que seguia a beatitude da cidade suprema e da glória altíssima).

De acordo com Actos apócrifos, atribuídos a Santo Ambrósio de Milão, Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 (depois da Era Comum) com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das torturas. Era querido dos imperadores Diocleciano

Nossa Senhora Sant’Ana

contando o sonho, amarrou na perna de um pombo-correio e enviou à esposa.

Em casa, Ana também sonhara com o nascimento de uma filha. Rabiscou um bilhete para o marido, também o amarrou ao pé de um pombo-correio. As duas aves cruzaram-se no meio do caminho. Alguns meses depois, nascia aquela que o anjo chamou de Maria, bendita entre todas as mulheres. Por isso, São Joaquim e Sant’Ana são padroeiros dos avós.

e Maximiliano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar-se de um cristão e, por isso, o designaram capitão da sua guarda pessoal - a Guarda Pretoriana.

Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas. Foi dado como morto e atirado no rio. Encontrado e socorrido por Irene (Santa Irene), foi depois levado novamente diante de Diocleciano, que ordenou então a sua a morte.

Cachoeirinha

São Sebastião

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Painel Criativo

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Ponto MóvelAlém de garantir a pulverização das atividades de inclusão social promovidas pela Cidade do Saber, o Projeto Ponto Móvel leva cultura, diversão e descobre talentos nas localidades visitadas, promovendo cidadania.

A cada três meses, o caminhão-baú totalmente adaptado muda seu roteiro, contemplando comunidades mais distantes da sede de Camaçari, onde funciona a Cidade do Saber. Em sua estrutura, o caminhão do Ponto Móvel dispõe de acervo bibliográfico, computadores com acesso à internet, TV LCD, DVD e uma brinquedoteca. Na parte externa, um palco para realização de diversas atividades, a exemplo do Palco da Cidade.

Os primeiros lugares visitados, entre julho e outubro de 2009, foram Barra do Pojuca, Monte Gordo, Barra de Jacuípe e Areias, com um total de 1.213 alunos matriculados. Lá, nos turnos matutino e vespertino,

foram realizadas oficinas de música, brinquedos, teatro, dança, criação literária, percussão, patchwork, técnica de pintura em tecido, palestras, campeonatos de futebol e futsal.

Voltadas para crianças, jovens e adultos, as atividades funcionam como um instrumento de promoção de arte, educação e esporte. Os trabalhos desenvolvidos nas oficinas ajudam a despertar habilidades até então desconhecidas ou adormecidas, promovendo a valorização pessoal.

E assim, levando cultura, arte e promovendo inclusão social, o Ponto Móvel segue seu roteiro e seu propósito de fortalecer a cidadania e educar através da arte e esporte, contribuindo para formar cidadãos em bases democráticas e de respeito aos valores sociais e coletivos.

De malas prontas, vamos aos próximos destinos!

Alunos de Barra do Pojuca em

Mostra Coletiva no Teatro Cidade

do Saber

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Daiane, aluna da oficina de

Criação Literária

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LazerBarra do

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Caça-palavrasAlguns verbetes em Tupi-guarani:

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ExpedienteCIDADE DO SABER

Diretora geral: Ana Lúcia SilveiraDiretor de infraestrutura: Utilan CoroaDiretor do saber: Arnoldo ValenteDiretora do teatro: Osvalda Moura

COORDENAçÃO DO PROJETO REVISTA PONTO MóVEL CIDADE DO SABER

Assessoria de Comunicação daCidade do Saber (ASCOM)

Responsável: Carolina DantasPesquisa: Bárbara FalcónFotos Ascom: Daniel Quirino e Clemente JuniorEquipe Ascom: Bárbara Falcón, Carolina Dantas, Clemente Junior, Daniel Quirino, Elba Coelho, Tediarlen Silva Fotos da orla: Nelinho OliveiraFotos de arquivo: Arquivo Público Municipal de Camaçari

REALIzAçÃO

AG Editora

Diretora executiva: Ana Lúcia MartinsExecutiva de projetos: Júlia SpínolaTextos: Joana LopoEdição: Ana Cristina BarretoFotos: Paulo MacedoRevisão: José EgídioColaborou: Marcus GusmãoEndereço: Rua Coronel Almerindo Rehem, 82, sala 1207. Ed. Bahia Executive Center, Caminho das Árvores. CEP: 41.820-768 - Salvador-BA Tel: (71) 3014-4999

Projeto gráfico: Metta Comunicação Editoração: Jean Ribeiro e João SoaresIlustrações e arte: Jean Ribeiro

Tiragem: 2.000 exemplares - distribuição gratuita

Agradecimentos: Noemia da Conceição (Noca) e Ana Cláudia Oliveira Almeida ( Arquivo Público de Camaçari)

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Parceiros Cidade do Saber: Mantenedor:

Executor do Projeto

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Barra do Pojuca