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Porta-Luvas

Revista Porta Luvas - Edição 13

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Revista editada pela empresa Emana - Imagem e Cultura e patrocinada pela OHL Brasil, concessionária de rodovias que administra estradas de várias regiões do Brasil

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ExpedienteDistribuição Gratuita - Tiragem de 180.000 exemplares Proibida a reprodução total ou parcial dos textos, fotografias e ilustrações sem autorização da Emana Imagem & Cultura Ltda. www.emana.art.br - orkut: Revista Porta-Luvas - twitter: @portaluvas fecebook: Editorial Portaluvas Editora/ Administrativo/ Financeiro: Emana Imagem & Cultura Ltda. Editor/ Redator: Fernando Bueno (Milagre do Verdo Editora Ltda. ME) Fotos: Katia Fanticelli (Emana Imagem) Colaboradores: Claudio Carvalho, Marcos Garcia e Eduardo Begnami Editoração: Cadu Fernandes (Mídia13 Propaganda e Marketing) / Emana Futura

SUMÁRIO04 Editorial

05 Cartas

06 Mapeamento Cultural CidadesbeneficiadaspelaRevistaPorta-Luvas

08 História AsCapelasnasfazendasdeTorrinha

14 Resgate Cultural ProjetoClowmpira

18 Teatro TeatrodeÓperaMinaz

22 Literatura EntrevistacomIgnáciodeLoyolaBrandão-35anosdelançamentodoLivro“Zero”

26 Patrocinador Livro-CaminhosdoPatrimônioCultural

30 Conto CarlinhoseoQI

Realização:Patrocínio:

www.ohlbrasil.com.br

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Beleza do interior

A cada edição da Revista Porta-Luvas somos surpreendidos. As belezas do interior de São Paulo são “pratos cheios” a serem saboreados. O cardápio é realmente infinito. Esta 13ª edição resgata a história das capelas de Torrinha, um verdadeiro show de imagens. Em Pirassununga, a história do palhaço Jeca é uma lição de vida e amor pela arte. Confira a trajetória de Reinaldo Facchini, o palhaço Jeca na página 14.

Quer assistir um belo espetáculo de ópera e não quer ir para São Paulo? Então não pode deixar de ler a matéria da página 18, do Teatro Minaz, em Ribeirão Preto e saber como um casal de visionários conseguiu essa proeza. Entrevistamos o araraqua-rense Ignácio de Loyola Brandão, que nos relatou importantes momentos de sua vida e da história do nosso país. Simplesmente incrível e imperdível.

Com o objetivo de resgatar os patrimônios históricos do interior do estado, a OHL Brasil patro-cinou o livro “Caminhos do Patrimônio Cultural – 3 Roteiros em São Paulo”. Cidades como Piracicaba, Rio Claro, Brotas, Araras, São Carlos, Ribeirão Preto, Franca e Sertãozinho fazem parte desta viagem histórica e cultural pelo interior. Saiba mais na página 26.

Saboreie mais essa edição da revista Porta-Luvas e mantenha contato conosco pelo e-mail [email protected] ou pelo nosso twitter @portaluvas

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>> cartasMoro em uma cidade com poucas opções de lazer para os jovens. Não temos teatro, cinema, galerias, entre outros. Acredito que a leitura de uma revista como essa pode enriquecer o conhecimento, bem como despertar neles, jo-vens, o gosto pela arte de uma maneira geral.

Célia Aparecida Monteiro - Santa Rita do Araguaia-GO

Resposta:Obrigadopelaspalavras,ficamosgratosemsaberquearevistaestáchegandotãolongeeoferecendoaosjovensumaopçãodelazereen-riquecimentocultural.

Tenho feito passeios muito interessantes baseando-me nas informações en-contradas na Revista Porta-Luvas, no final do ano fui com minha família e meu pai até Bebedouro visitar o Museu local que foi objeto de reportagem na Revista Porta Luvas. Foi bem proveitoso. Parabéns

José Meciano Filho - Campinas-SP

Resposta:Quebomquearevistaestáproporcionandoissoaosleitores,sãodepoimentoscomooseuquenosfaztrabalharmaisemaisparalevarculturaeopçõesdeentretenimentoemnossointerior.

Foi com imensa satisfação que recebi em minha casa mais um exemplar desta conceituada revista voltada exclusivamente para um tema que está quase em extinção neste nosso país - a cultura. Oxalá outras empresas que tivessem contato direto com o grande público pudessem direcionar parte de suas verbas para seguir este grande exemplo. Minha maior satisfação foi ver na página 15 (edição 12) uma foto da festa de Dois Córregos com as pes-soas do nosso Grupo de Danças Folclóricas e a placa com o nome da minha cidade - Porto Ferreira. Mostrei ao nosso pessoal e todos ficaram muito con-tentes. Sou o coordenador deste Grupo e já participamos varias vezes deste concurso.

Benedito Inacio Americo da Silva - Porto Ferreira-SP

Resposta:Esteseudepoimentoéumaalegriamuitograndeparaagente,principalmenteemsaberqueestamosdivulgandoascoisasboasnonossointeriorpaulista.Continuemtrabalhandoemproldaculturaeconteconosco.

FALE CONOSCO: Envie cartas ou e-mails ([email protected]) para esta seção com nome, RG, endereço e telefone. A Revista Porta-Luvas se reserva o direito de, sem alterar o conteúdo, resumir e adaptar os textos publicados.

ERRATA: Diferentemente do que foi escrito na edição 12 da revista Porta-Luvas, na matéria da página 16, a grafia correta da palavra é curau e não cural.

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>> História

A fé na simplicidade do campo

MilenaArthur

Capelas em fazendas deTorrinha contam a história e a religiosidade dohomemdocampo

Cadeiras brancas sob a sombra de uma imensa figueira centenária. A noiva, em um ves-tido singelo, segue por um caminho ladeado por flores campestres. A cena pitoresca do casamento em uma capelinha de fazenda habita o imaginário de muitas pessoas como sinônimo de uma vida pacata e livre da correria da vida moderna nas grandes cidades. Muito além da beleza das cerimônias bucólicas, na origem das capelas rurais repousa uma história de busca pela necessidade de expressar a fé. As pessoas que habitavam as propriedades rurais mais distantes dos centros urbanos tinham dificuldade em comparecer às cerimônias e cultos religiosos com frequência, uma vez que deixar a fazenda e ir à cidade significava se afastar da lavoura por um longo período. Era comum então o fazen-deiro construir uma capela para o uso de sua família e dos empregados. Além de resolver o problema da distância, ter uma capela em seu domínio conferia um status social diferen-ciado ao proprietário, até porque ela receberia periodicamente a visita do padre, pastor ou outra autoridade religiosa.

Outro motivo muito usual para se construir uma capela – e presenciado até hoje – era o paga-mento de uma promessa: o resta-belecimento da saúde de um ente familiar, a passagem de uma praga pela colheita, e por aí vai.

Torrinha: história e patrimônio cultural preservados Quando um grupo de alunos da oitava série se envolveu em um projeto despretensioso na Escola Lázaro Franco de Moraes, em 2001, eles não imaginavam que aquele seria o embrião de um dos mais significativos registros do patrimônio histórico, cultural e religioso já realizados no município. A ideia inicial era pesquisar as imagens sacras entalhadas em madeira nas igrejas da cidade. Mas a partir dos relatos dos alunos que residiam na área rural, o projeto ganhou corpo e se transformou no livro “Capelas Rurais de Torrinha”, que registra em detalhes a história por trás de 50 capelas da região. Kátia Buzatto, professora e autora do livro, ressalta que a princi- pal contribuição deste trabalho foi a possibilidade de aproximar o con- teúdo teórico da vivência dos jovens, “dar um passo além do currículo

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Capela no Mosteiro do Paraíso: religiosidade como apoio ao trabalho no campo

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escolar, tirar o aluno da sala de aula e colocá-lo em contato com a sua realidade.” O reconhecimento veio por meio do prêmio “Educador Nota 10”, conferido pela Fundação Victor Civita a iniciativas de valorização da educação básica.

Crianças, gafanhotos e missionários Umas são pequenas, pare-cidas com casinhas de boneca. Outras são como igrejas. Mas em todas elas, passar porta adentro é uma viagem no tempo, é envolver-se em uma história. Esse sentimento está presente de maneira marcante nas paredes da minúscula Capela Santos Anjos, construída em 1955 próximo ao sítio da família Batistela. Segundo relatos da família, foram enterradas no local várias crianças que não chegaram a ser batizadas. Todos os dias, ao cair da noite, contam que um senhor que morava perto do local levava um lampião e um terço e rezava para as crianças. Depois de algum tempo, a própria comunidade se uniu e ergueu a capela em homenagem aos anjinhos. Todo dia 02 de Outubro, a capela recebe a Celebração dos Santos Anjos. Seguindo adiante, a estrada de terra reserva um encontro ecumênico. Ali ao lado, contem-plando um amplo vale, repousa a Igreja Presbiteriana dos Três Saltos. Foi construída em 1907 seguindo os padrões norteamericanos com fachada e decoração interna rigoro-samente despojadas. Um fato importante sobre esta capela é que Torrinha foi povoada em grande parte por imigrantes italianos, ou seja, católicos romanos.

A doutrina presbiteriana chegou à cidade por meio de Jerônimo Martins Coelho, dono das terras onde hoje está a capela e personagem decisivo na fundação da cidade. Ele tinha contato com o primeiro missionário presbiteriano a chegar ao Brasil, Aslbel Green Simonton, e se converteu à religião, bem como sua família e empregados. Segundo Maria Lúcia Baltieri, bacharel em Turismo, “o Presbiteri-anismo só sobreviveu em Torrinha porque era defendido por pessoas de grande poder econômico e muito influentes na sociedade.” Se é verdade que a fé não tem limites, a Capela Santa Cruz dos Gafanhotos é uma prova disso. Em 1918, preocupado com o ataque de uma praga de gafanhotos nas lavouras locais, o Sr. Régeo Scatulin prometeu erguer uma capela se os insetos fossem embora. Graça atendida, promessa cumprida. No local também foram construídas uma escola e um salão de festas onde são realizadas anualmente a Festa da Comunidade, o Grito dos Excluídos e a Romaria de Santa Cruz.

Ponto de Informações Turísticas – (14) 3656.3075 Av. Antonio Amalfi, s/n ao lado da Rodoviária www.turismotorrinha.blogspot.com

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Ponto de Informações Turísticas – (14) 3656.3075 Av. Antonio Amalfi, s/n ao lado da Rodoviária www.turismotorrinha.blogspot.com

A capela Santa Cruz dos Gafanhotos é fruto de uma promessa

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Capela Santos Anjos: em memória de crianças

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Agromonges no Paraíso Visitar o Mosteiro do Paraíso é conhecer de perto como é a vida no campo. O nome faz jus ao lugar. Em meio à natureza, há uma capela imponente e bem preservada: São José do Paraíso. Por todo o mosteiro podem ser vistos candelabros, aran-delas e lustres feitos com garrafas azuis de vidro que ressoam pelo vale um delicado som, similar aos mensageiros dos ventos. De dentroda capela surge um monge em trajes franciscanos – em sua sim-plicidade e despojamento, o padre Nilton Antonio Marques demonstra que é a pessoa responsável pela espiritualidade tão evidente no local. O trabalho ali desenvolvido pelos sacerdotes e religiosos é um exemplo prático deste conceito. O grupo de agromonges, como são conhecidos, é formado também pelospadres Carlos e Rogério, que atuam junto às famílias de produtores rurais procurando desenvolver através da evangelização uma integração entre os moradores deste bairro rural, que também auxiliam trabalhando na manutenção do mosteiro.

Para o padre Nilton, a vida em comunidade é também um exercício de fé. “Quando a religião, de qualquer credo, funciona como fator de unificação de grupos, as pessoas ficam mais resistentes para vencer as dificuldades da vida rural. Além disso, a religiosidade ajuda a manter as tradições culturais e familiares”, lembra ele. Esse pensa-mento de Nilton se manifesta nas celebrações dominicais, quando a capela fica repleta. Uma caminhada pelo mos- teiro revela outras edificações: o Oratório do Encontro e o San-tuário da Figueira, este um local de contemplação onde é celebrada a Festa do Cio da Terra, sempre no último domingo do mês.

Mosteiro do Paraíso (14) 3656.7100 Vicinal Torrinha-São Pedro, km 12 - Bairro do Paraíso Torrinha/SP www.mosteirodoparaiso.com.br

Sob a sombra da figueira, uma pausa para a contemplação

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>> Resgate cultural

Uma vida por trás de seu personagem que mais parece também ser real. Reinaldo Facchini é o palhaço Jeca, o palhaço caipira de Pirassununga, interior de São Paulo, que vive no espetáculo “Esperando na Rodô”, apresentado nos mais varia-dos espaços pelo Brasil afora, acontecimentos que se confun-dem entre a ficção e a realidade do artista. “A rodoviária é o ponto de chegada e partida, um local de encontro e desencontro. E nela, Jeca, sozinho, espera partir para o sucesso e a fama da cidade grande”, conta o ator e palhaço. E foi exatamente assim, que Reinaldo partiu em busca do seu sonho, fugindo do anonimato. O espetáculo “Esperando na Rodô”, como outros módulos são elementos de uma pesquisa para a criação de um projeto ousado e inédito, o Projeto Clowmpira. A concepção de Reinaldo objetiva, não só resgatar, como também valorizar o ser caipira e o palhaço, não como características estereotipadas e vazias, mas como estado de espírito com sua estética e poética correspondentes.

O Projeto Clowmpira con-templa duas oficinas de teatro, uma para adultos “Flor do Campo“, e outra para crianças “Brincando do Quintal”, uma Intervenção “Terra e Asfalto”, a exposição “Lembranças”, o Almanaque do Jeca e uma Literatura de Cordel. Estes três últimos finalizados e a espera de apoio financeiro para se concretizarem. O palhaço Jeca também difunde sua cul-tura caipira por sua morada vir-tual, o seu site, o Sítio do Jeca Caipira na cidade grande O ator e palhaço precisou ir ao Rio de Janeiro para descobrir-se caipira e perceber que a riqueza cultural não é a exclusividade que a grande mídia divulga e patrocina em suas publi-cações. Descobriu uma estrutura valiosa de suas origens e trouxe à tona o seu palhaço, impregnado da poesia e da ingenuidade do homem da roça. Desta forma, Reinaldo, por meio do Jeca consegue difundir os ensinamen-tos adquiridos de seus mestres de palhaçaria, fazendo de suas

Palhaço faz da arte a transformação de vidas

TatianeMartinsBarreto

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virtudes e principalmente de suas imperfeições, a matéria-bruta do ridículo tornar-se arte no exercício da arte de ser palhaço. O palhaço caipira Jeca fez sua escola junto à Trupe Circulante de Leme(SP), com Henrique Andrielli, no Rio de Janeiro, com os mestres Marcio Libar, Luis Carlos Vasconcelos e Juliana Jardim, além dos grupos Teatro de Anônimo, Valdevinos de Oliveira, com Léo Carnevale, Fabiana Poppius e Fabio Freitas.“Quando se descobre palhaço aprende a rir dos próprios ridículos, começa a se ver como caricatura. Sabe aquele nariz que você tenta esquecer que é grande. Então, você o assume e pior, o usa para chamar a atenção e fazer sucesso. Quando se aprende o ver-dadeiro significado de palhaço, se descobre também que o bem e o mal ocupam o mesmo espaço, porém a intensidade de cada um quem dá somos nós e só depende da gente decidir qual desses dois eternos companhei-ros alimentaremos melhor”, fala. E no caso do Jeca o alimento vai para o bem. Profissional também integrante de outras

ações sociais, como o Projeto Jequi tinhonha e o Projeto Amazonas, ambos idealizados pelo Instituto São José de Edu-cação e Instrução de Pirassu-nunga e apoiado pela Congrega-ção dos Missionários do Sagrado Coração, o palhaço apresenta às comunidades do Vale do Jequiti-nhonha, Vale do Mucuri e tribos indígenas, a iniciativa voluntária de missionários que contribui para a melhoria e desenvolvi- mento mútuo da qualidade de vida nas áreas da saúde, educação, cultura, meio ambi- ente e lazer dos habitantes daquelas localidades.

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Os palhaços são todos iguais? Reinado esboça que o olhar do palhaço sobre o mundo é pelo coração e cada ser com sua própria identidade, mas sendo o figurino, o seu revelador. “O palhaço tem suas roupas largas ou curtas demais porque as vestimentas e sapatos são doados, não pertencem ao palhaço, abrimos mão do que somos. Já o nariz é vermelho, pois quando choramos ou nos emocionamos, ele é desta cor. Se bebemos ou caímos, o nariz também sinaliza enrubescido”, descreve. Intermináveis são os tipos de palhaços que existem ou ainda existirão, pois são como a vida: inusitados, loucos, apaixonantes e incomuns. Para as crianças, o palhaço é uma face de sua própria identificação, um prêmio para alma, imagem que permanece no seu mundo, um cúmplice. “O palhaço seatrapalha, ele não sabe, ele erra. Então a criança ri porque se identifica, e ao mesmo tempo começa a exercitar seu olhar crítico. Rindo, a criança se sente inserida no mundo das regras”, fala. O palhaço pode significar uma porção de coisas. Para alguns, apenas um idiota pintado, para outros, um artista que faz rir. Mas ele significa muito mais que isso. O palhaço não representa, ele é. “Para ser um bom palhaço, você tem que saber quem você é. E foi isso que eu fiz, busquei minhas ori-gens e me descobri diferente. Caipira”, completa.

Nestes projetos, Reinaldo leva seu personagem para o desconhecido, aonde adultos e crianças ainda não saborearam a figura alegre causadora de sorriso e risos espontâneos por onde passa. “Boa parte da minha pesquisa de criação do Projeto Clowmpira partiu destas experi-ências maravilhosas que passei.

Nosso ser necessita das lagrimas e dos sorrisos, do belo e do feio, da alegria e da tristeza, do ba-rulho e do silêncio. E lá vivenciei tudo isso com pessoas simples, que em sua maioria, conheceram o estado de viva satisfação do palhaço depois de mais de meio século de vida”, descreve com emoção.

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Projeto Clowmpira – Palhaço Jeca Espetáculo: Esperando na Rodô (19) 9129-7608 Pirassununga/SP e-mail:[email protected] www.sitiodojeca.com

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>> Teatro

Parecia açougue, teve corpo de cinema, mas alma mesmo de teatro de ópera

PatriciaMouraeFernandoBueno

O título desta matéria bem que poderia ser “Como um casal de visionários, seus filhos com nomes russos, alunos e cantores subverteram a lógica dominante e fizeram o que parecia impossível: criaram um teatro de ópera, com público cativo, no Interior de São Paulo”. Ok, ficou longo demais, mas descreve, com certa ironia e muita verdade, a mágica gerada pela maestrina Gisele Ganade e pelo produtor cultural, publici- tário, cenógrafo e tudo-mais-que precisar-ser-para-colocar-a- ópera-no-palco Ivo Rinhel D’Acol em Ribeirão Preto.

A Companhia de Ópera Minaz nasceu no longínquo 1990 e hoje está instalada em espaço próprio, com salas de aula e de formação musical, ao lado da própria casa e do Teatro Minaz. O sonho que deu certo tem 266 lugares, fosso de or-questra, palco com 10m de boca de cena e 12m de profundidade, camarins, sala de 100m2 com es-pelhos, sala de costura, cabine técnica e foyer. O edifício, erguido em 1963, foi durante os anos de ouro do cinema nacional o Cine Cairo, encravado no Jardim Paulista.

Obra de Dermot, Rado e Ragni, “Hair, o Musical” teve coreografia de Fernandes Nascimento e banda ao vivo

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A fachada desta esfinge multicultural, sei lá, tinha uma cara de açougue, imagem fixada em muitos, até na dupla maestrina e produtor, pela porta-grade que suscitava devaneios na imagina-ção de quem estivesse pela rua Carlos Chagas. Muitos devem ter sonhado diversos projetos para o lugar, mas foi Ivo quem colocou o seu em prática. Passando em frente, olhou pelas frestas da porta, local há muito abandonado e esquecido, e fez uma pergunta-profecia à esposa Gisele: “Ima-gina um teatro aí dentro?”. Era 1998, mesmo ano em que alugaram o antigo cinema e se puseram a ocupar o espaço com ensaios da companhia e dos diversos coros – e depois destes, sempre quicavam uma bola, grupo dividido em dois, traves improvisadas e jogavam memo-ráveis peladas na nave do futuro teatro. E nisso se foram 10 anos. Somente para a reforma e implantação do teatro foram necessários cerca de R$ 900 mil, captados junto à iniciativa privada via ProAc (Programa de Ação Cultural, da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo), por meio da rubrica do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Os arquitetos Marcelo Carlucci e Marcela Petenusci foram os artífices do novo local. Entre 2008 e 2009, o antigo Cine Cairo foi dando lugar ao Teatro Minaz. A reconversão, por assim dizer, quase um renascimento, inverteu em 180 graus seu in-terior. Onde ficava a tela virou o

mezanino. Onde era o fundo da platéia tornou-se palco e coxias. As cadeiras foram compradas, em concorrência pública, da Pre-feitura de Ribeirão Preto. Eram do Teatro Municipal. Na reforma deste foram parar em depósito inapropriado. E salvas dos cupins ou das fogueiras. Em 3 de setembro de 2009, na inauguração do Teatro Minaz, a cantata “Carmina Burana”, do alemão Carl Orff, cuja concepção cênica e a iluminação estourada e colorida impressionaram, fez as vezes de recepcionista imaterial. Depois desta já vieram, entre outros espetáculos, “Hair, o Musical”, letras de James Rado e Gerome Ragni para as músicas de Galt Mac Dermot, com coreo-grafia de Fernandes Nascimento e banda ao vivo; e “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, com direção cênica de André Cruz e direção musical de Gisele Ganade.

O produtor cultural Ivo D’Acol e maestrina Gisele Ganade

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E tudo começou com uma revista A fugaz, porém reluzente e marcante, revista Minaz foi de onde tudo começou. Durou apenas três números (e deve ser reeditada em breve), mas foi o veículo de ex-pressão dos que faziam arte, para os que pensavam a sociedade e queriam construir e democratizar a cultura. A revista estabeleceu um intercâmbio cultural nacional e inter-nacional que resultou na publicação de textos poéticos, crônicas, cartuns, desenhos e fotos. Dela nasceu a marca Minaz e a certeza de que era possível reunir pessoas em torno da música. E foi ela que uniu Gisele e Ivo. Ele vendia exemplares de mão em mão. Um dia vendeu uma para ela, que passou a ser colaboradora da publicação. Daí para o casamen-to e os projetos foi um pulo. Se Minaz quer dizer amea-çador, aquilo ou aquele que põe medo, foi pondo e sentindo medo todo dia, de que tudo desse e não desse certo, que eles foram des-bravando o sertão dos patrocínios. “Hoje, a tendência é que as empre-sas invistam os recursos que iriam para os governos para fomentar a cultura. São organizações que dão valor à arte e ao futuro, que sabem que o resultado baterá a sua porta”, salienta Ivo D’Acol. Na sede ao lado do teatro funcionam salas de canto, de pre-paração para vestibular de música, de piano. “Hoje temos mais de 30 ex-alunos, formados aqui, em universi-dades de música. Em 2008 e 2009,

houve 9 aprovados na Universidade de São Paulo. A grande maioria aca-ba ficando na cidade, porque abri-mos um mercado que não existia antes”, diz a cantora lírica e maestri-na Gisele Ganade, que estudou em Campinas e São Paulo, com Niza de Castro Tank e Leila Farah. Este material humano é preparado para atuar, primeiro, na própria com-panhia. O coro infantil, com crianças entre 7 e 13 anos, tem 60 vozes. O juvenil, entre 14 e 25 anos, também tem 60. E o adulto, tem 80 vozes, com adolescentes de voz formada a partir dos 15 anos até membros com idade madura.

Ópera mais perto do povo As características da Companhia de Ópera Minaz são facilmente percebidas nos espetáculos. Estes conseguem apaixonar o público e atualizar o gênero musical. É um jeito novo de se fazer ópera. A técnica, a linguagem, o cenário, o con-teúdo artístico, embora se fun-damentem no mais sagrado da música erudita, têm um viés de contemporaneidade. “Se a músi-ca é a expressão artística mais acessível e aceitável a todos, a ópera é a sua mais completa per-sonificação. Por que excluir se podemos aproximar?”, pergunta Gisele. O repertório é vasto e in-clui, até, ações de Ópera Estúdio: “A Flauta Mágica”, de Wolfgang Amadeus Mozart, e “O Bar-beiro de Sevilha”, de Gioacchino

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Rossini, foram traduzidas para o português e tiveram seu tempo reduzido para agradar crianças e pessoas não familiarizadas com o gênero. Ah!! Os filhos com nomes russos? Mítia, de 21 anos, maestro formado pela Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto, rege o Madrigal da com-panhia e é o diretor de Projetos do Teatro Minaz. Sacha, de 19, segue os passos do irmão mais

velho a partir de 2010. E Ulrich, de 16 anos, ainda cursa o Ensino Médio, mas está totalmente inte-grado ao cotidiano da companhia. Casa de ferreiro, espeto de ferro.

“Ópera do Malandro”, de Chico Buarque, teve direção cênica de André Cruz e direção musical de Gisele Ganade

Teatro Minaz www.minaz.com.br Rua Carlos Chagas, 259/273 Jd. Paulista - Ribeirão Preto - SP (16) 3941-2722

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>> Literatura

Um prosaico sanduíche e um rato definiram uma vida. Na São Paulo dos anos 1960, o então jornalista Ignácio de Loyola Brandão já era apaixona-do por cinema – viu “Oito e Meio”, de Federico Fellini, 108 vezes. Entre uma mordidela e outra no pão com coisa qualquer, no pouco tempo de almoço, olhos postos na telona, ouviu um crepitar inoportuno na poltrona ao lado, onde descansara parte respeitável do almoço. Uma rata-zana gorducha e peludenta se banqueteava. Na saída, recla-mou. “Ninguém quer matar os ratos daqui, seu moço”, contou um funcionário. O personagem central de “Zero” – obra primeira deste araraquarense, um dos mais importantes retratos dos absurdos da ditadura militar na-cional – ganhava ali uma vida, e Brandão, o mundo. José mata ratos em um cinema poeira há 35 anos. Mas primeiro fez isso no exterior. “Zero” foi publicado pela Editora Feltrinelli, de Milão, na Itália, em 1974. Somente no ano seguinte deu as caras por aqui, pela

Editora Brasília. Em novembro de 1976, teve a venda proibida pelo Ministério da Justiça por ser “um atentado à moral e aos bons cos-tumes”. Em 1979, foi liberado. Até agora foram 10 edições no Brasil, além das traduções para alemão, coreano, espanhol, húngaro, inglês e italiano. Em 31 de julho de 2010, aniversário de Brandão, a Global Editora lançou uma edição comemorativa do livro, que sempre figura entre os 100 mais importantes do século 20. Estão lá as 20 capas de todas as edições publicadas no exterior e um making off, 100 páginas sobre como e por que “Zero” foi escrito.

José mata ratos em um cinema poeira há 35 anos

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Censura na gaveta “A vida acontece e se incorpora à literatura. Não há uma única palavra inventada em ‘Zero’. Vi e vivi tudo aquilo”, disse o escritor, em junho, na 10ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto (SP). O livro foi gestado quando ele era secretário gráfico do “Última Hora”, jornal criado por Samuel Wainer. Com o golpe militar de 1964, o veículo ficou fechado 15 dias. Ao reabrir veio com um censor, figurinha fácil nas redações pelo país afora, forma de o regime impedir a liberdade de expressão. Como a função de Brandão era coordenar as matérias entre as editorias e seus pares, era também para ele que voltava o material cortado, censurado das edições diárias. Tudo ia para a gaveta. Quando 1964 acabou, juntou e levou para casa. Ao rever aquilo se deu conta que havia um Brasil que o Brasil não via e não sabia, um retrato oculto. Foi lavrando tudo o que a censura havia proi-bido, remexendo, trabalhando. Contos, romances, novelas foram nascendo, morrendo, sendo reescritos. A primeira versão de “Zero”, finda entre 1972 e 1973, era um catatau de 4.000 páginas escritas em papel de pão e sulfite branco e rosa.

Reprodução da capa da edição comemorativa pelos 35 anos de “Zero” pela Global Editora

Reprodução da primeira capa brasileira de “Zero publicado aqui em 1975 pela Editora Brasília -divulgação-Global Editora

Reprodução da capa italiana de “Zero publicado, em 1974, pela Editora Feltrinelli -divulgação- Global Editora.

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Bakhtiniano O dramaturgo Jorge Andrade, em viagem para a Itália para entrevistar o escritor Murilo Mendes, pediu a Brandão algo para ler, mostrar, discutir. Levou “Zero”. E não devolveu. O original foi parar nas mãos da agente Luciana Stegagno Picchio e, de lá, para a Feltrinelli. Seu tradutor foi Toni Trabucci, com quem o autor chegou a trabalhar pessoalmente, encon-trando juntos formas de contar e retratar em outra língua a irracio-nalidade de um período do Brasil. O livro chegou a vir com um dicionário com cerca de 120 páginas. A escrita anticonven-cional rompeu com as tradições da literatura nacional. Os críticos diziam, à época, que “Zero” foi bakhtiniano antes mesmo de Baktin chegar ao Brasil – uma

referência ao teórico e linguista russo Mikhail Mikhailovich Bakhtin (1895-1975), para quem o romance era o gênero mais completo, porque aglutina todos em um só. Brandão usou gibi, música, literatura, grafismos e outros recursos para que “Zero” traduzisse aqueles tempos – a violência, a tortura, o esquadrão da morte, a sexualidade, a luta armada, a repressão, a vida sem liberdade. “Zero” trouxe, preto no branco, aquilo que se via nas ruas e pelas janelas, dos desman-dos da ditadura aos beijos nas esquinas. José, o mais brasileiro e simbólico dos nomes, aquele que tinha o mais ínfimo e baixo dos empregos, é o retrato do homem só contra o mundo. Sua Rosa, seu amor – nome dado em homenagem a uma tia que

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Brandão adorava – ele conheceu na Paimi (Primeira Agência Inter-nacional de Matrimônios e Infor-mações), em atividade há mais de 50 anos do Brasil. O pavor de José era ter um aneurisma, medo que o autor trouxe da cobertura da morte de Cacilda Becker pelo “Última Hora”, acometida pelo mal encenando “Esperando Godot”, de Samuel Becket. Travessura do destino, Brandão teve, em 1996, um aneurisma da artéria cerebral direita. Da experiência nasceu o livro “Veia Bailarina”, “júbilo de se descobrir vivo”, como contou o autor.

Araraquara por toda vida “Não sou saudosista. Sou memorialista. Não quero voltar ao passado. O meu tem-po é este”, fala um enfático Ignácio de Loyola Brandão.

Apesar disso, não reclama do passado, que lhe deu material para livros consagrados. Alguns dos mais fundamentais têm morada no sol de Araraquara, sua terra natal. O infanto-juvenil “O Menino que Vendia Palavras”, que levou o Jabuti de Livro do Ano de Ficção de 2008, é ele próprio, malandro, que fazia as tarefas dos amigos – “Com alguns erros, para que não tives-sem melhor nota que eu” – em troca de recompensas, alicerçado pelo dicionário que pegou na biblioteca do pai operário. “O Menino que não teve Medo do Medo” fala dos “cachorros loucos” que as mães usavam para fazer os filhos ficarem em casa. Até a “gloriosa Ferroviária de Esportes” está lá em “Dentes ao Sol”.

Ignácio de Loyola Brandão (à esq.) na 10ª Feira do Livro de Ribeirão Preto, junto ao também escritor Menalton Braff

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Bens arquitetônicos im-portantes na formação do Estado de São Paulo e patrimônios culturais inestimáveis compõem o livro “Caminhos do Patrimônio Cultural – 3 Roteiros em São Paulo”, patrocinado pela OHL Brasil com incentivos fiscais da Lei Rouanet e editado pela Editora Via das Artes. Escrito e produzido por Ana Maria Xavier e Luís Antonio Magnani, o livro foi lançado no dia 23 de junho na Livraria Cul-tura do Bourbon Shopping São Paulo. De relevância cultural para vários municípios, o livro pretende garantir informação e lazer para moradores e visitantes das regiões retratadas, além de incentivar o turismo. Uma de suas características mais marcantes é a iniciativa dos autores de priori-zar as edificações que têm rele-

vância, principalmente, para o cotidiano das comunidades onde estão inseridas. Assim podem promover também a cidadania, a valorização e a auto-estima das populações desses locais. Com textos curtos e fotos exclusivas de especialistas em retratar projetos arquitetônicos, a publicação apresenta um histórico que contextualiza essas edificações econômica e socialmente. “Foram mais de seis meses de pesquisa, que nos possibilitaram mostrar a repre-sentatividade de alguns espaços para a comunidade, entre eles as igrejas, as estações ferroviárias, as praças e as escolas”, comenta Ana Maria. “Dessa forma, o livro alerta para o patrimônio que ainda não é valorizado como deveria e divulga a riqueza histórico-cultural das cidades que compõem os roteiros”.

OHL Brasil patrocina livro sobreroteiros culturais

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www.caminhospatrimoniocultural.com.br

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Ana Maria Xavier atua há mais de 20 anos na área de Patrimônio Cultural e participou, inclusive, da implantação da Comissão de Patrimônio Cultural da Univer-sidade de São Paulo (USP). Já coordenou diversas publicações na área e participou de várias iniciativas de valorização do patrimônio cultural. Uma delas foi o Programa Monumenta, através do qual elaborou o Projeto para Normas de Preservação do “Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Pirenópolis/GO” para a UNESCO.

Luís Antonio Magnani é ar-quiteto, com especializações em Restauração e Conservação de Monumentos e Conjuntos Históri-cos, e Restauro de Monumentos pelo Colégio de Engenheiros da Toscana, Florença (Itália). Co-au-tor do livro “Complexo do Gasô-metro, a Energia de São Paulo” e curador da exposição “Ver Za-nine”, no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ), elaborou projetos de restauração da Estação da Luz, Gasômetro de São Paulo, Planetário do Ibirapuera, “Correio Velho” de Iguape, entre outros.

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Modernização sem esquecer as raízes Desde que as conces-sionárias estaduais da OHL entraram em operação, a quali-dade e a segurança das rodovias do interior de São Paulo por elas administradas melhoraram. A viagem tranquila proporcionada pela modernização das rodovias é uma forma de trazer benefícios para os municípios lindeiros e um deles é a chegada de capital proporcionada pelo Turismo. A divulgação de todo tipo de riqueza regional, seja ela histórica, cultural, ambiental ou de entretenimen-to estimula a visitação a essas cidades. Assim, o livro incentiva que os bens arquitetônicos sejam visitados tanto pelos próprios habitantes dos municípios men-cionados quanto por turistas de cidades próximas e de metró-poles, como São Paulo. Além de contar a história de espaços de convivência, o livro traz informações breves so-bre diversos patrimônios, como o Museu Casa de Cândido Por-tinari, em Brodowski; a Má-quina do Café e a Antiga Usina de Brotas; o Teatro D. Pedro de Ribeirão Preto; o Engenho Cen-

tral e o Museu da Água de Piraci-caba; o Museu da Energia, em Rio Claro; a Antiga Santa Casa de Jaú; a Catedral de São Carlos Borromeu, em São Carlos; a Estação Ferroviária de Ara-raquara; o Museu Zequinha de Abreu, em Santa Rita do Passa Quatro; e o Monumento aos Heróis de 1932, em Ribeirão Preto, entre vários outros. Na opinião de Ana Maria, é necessário cultivar entre as novas gerações o hábito de valo-rizar o passado, para que a identi-dade da região seja reforçada. “O que difere uma cultura de outra? Os hábitos, as expectativas, as expressões e as manifestações espirituais nos permitem conhe-cer um povo. O patrimônio cul-tural é parte de nossa herança e, com o livro, queremos contribuir para sua valorização”, ressalta Ana Maria. Com apresentação de Marly Rodrigues, historiadora que atua na área de Patrimônio Cultural e Memória há mais de 20 anos, as 196 páginas do livro são resultado de uma extensa pes-quisa que situa, historicamente, 80 bens em 21 cidades paulistas.

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Adriano de Lourenço Correa (OHL Brasil), Ana Maria Xavier (escritora) e Angelo Rizzieri de Souza Ferreira (Autovias) no lançamento do livro.

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Carlinhos e o QI Marcos Bulzara é comerciante, publicitário e escritor.

É autor do livro “O Arquiteto do Esquecimento” - www.bulzara.com.br

Carlinhos saiu da cama naquela segunda lá pelas dez. Tomou café requentado com adoçante e comeu meio pacote de bolacha água e sal enquanto revirava a bolsinha de moedas da mulher até encontrar o que procurava. Saiu cantarolando uma música do Roberto. Comprou a Folha na banca da esquina e foi para o bar. Pediu um “bafo de onça” e iniciou a leitura do periódico. Aos quarenta e nove anos - casado há mais de vinte e morando há dez na casa da sogra -, vivia mais tempo procurando emprego do que trabalhando. Já havia sido auxiliar de escritório, bancário, ajudante de produção, corretor de imóveis, agente funerário, balconista de boliche, garçom... Também já vendeu de tudo. Enciclopédia, consórcio, cosmético, automóvel usado, ferro velho, lona de caminhão etc. Atualmente ele está procurando emprego. Há duas semanas foi despedido da empresa metalúrgica onde era motorista de empilhadeira. Não que ele seja um mau funcionário, dizem os patrões. - É que o Carlinhos é meio... sei lá, sabe?A mulher e a sogra são o calvário dele. - Seu inútil! Você não toma jeito, vagabundo?!- Arruma um emprego decente, traste! Vai prestar concurso público, hômi! Ele não ligava. Continuava sua vidinha do mesmo jeito, embora também sentisse que algo estava errado. Mas naquela segunda, ao abrir o jornal procurando a seção dos classificados, deparou-se com a notícia que mudaria sua vida: “Estudo divulgado na Inglaterra mostra que o QI dos homens é, em média, cinco pontos mais alto que o das mulheres”. Ele ficou durante alguns minutos analisando aquilo. - Arrá!! - gritou. Sabia que ali tinha mais do que uma simples constatação científica. Claro, era isso! Finalmente se deu conta de qual era o seu problema. Vivia num lugar com dois seres desprezíveis. Eram elas as culpadas. Aquele maldito QI inferior das duas era como um vírus que desgraçava a sua vida e o mantinha preso numa condição que não era sua própria. - Cinco pontos são bastante – matutou com aquele olhar emblemático arqueando levemente uma sobrancelha ao olhar na direção do horizonte que se perdia entre as árvores. Por isso aquelas bruacas ignorantes não entendiam a sua situação. Sabia agora que de nada adiantaria arrumar mais um emprego. Seria apenas mais um. Enquanto estivesse naquele antro, naquele covil infestado de ignorância, nada mudaria. Era uma sina, não havia nada a fazer. Decidido, fechou o jornal e virou a cachaça num trago só estalando os beiços e fazendo uma careta medonha. Enrolou a Folha embaixo do sovaco e rumou na direção da praça num trote rápido. – Se eu correr ainda dá tempo de pegar a primeira rodada de truco – pensou.

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