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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto - rpcd.fade.up.pt · Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro) Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas) ... Luiz Cláudio

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Publicação quadrimestral da Faculdade de Desporto da Universidade do PortoVol. 7, Nº 3, Setembro·Dezembro 2007ISSN 1645-0523 · Dep. Legal 161033/01

DirectorJorge Olímpio Bento (Universidade do Porto)

Conselho editorial [Editorial Board]Adroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul, Brasil)António Prista (Universidade Pedagógica, Moçambique)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia, Alemanha)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina, Bélgica)Go Tani (Universidade São Paulo, Brasil)Ian Franks (Universidade de British Columbia, Canadá)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa, Portugal)Jorge Mota (Universidade do Porto, Portugal)José Alberto Duarte (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel)Neville Owen (Universidade de Queensland, Austrália)Rafael Martín Acero (Universidade da Corunha, Espanha)Robert Brustad (Universidade de Northern Colorado, USA)Robert M. Malina (Universidade Estadual de Tarleton, USA)

Editores Chefe [Chief Editors]António Teixeira Marques (Universidade do Porto, Portugal)José Oliveira (Universidade do Porto, Portugal)

Editores Associados [Associated Editors]Amândio Graça (Universidade do Porto, Portugal)António Ascensão (Universidade do Porto, Portugal)António Manuel Fonseca (Universidade do Porto, Portugal)João Paulo Vilas Boas (Universidade do Porto, Portugal)José Maia (Universidade do Porto, Portugal)José Pedro Sarmento (Universidade do Porto, Portugal)Júlio Garganta (Universidade do Porto, Portugal)Maria Adília Silva (Universidade do Porto, Portugal)Olga Vasconcelos (Universidade do Porto, Portugal)Rui Garcia (Universidade do Porto, Portugal)

Design gráfico e paginação Armando Vilas BoasImpressão e acabamento Multitema

Assinatura Anual Particulares: Portugal e Europa 40 Euros; Brasil e PALOP 47,50 Euros; outros países 60 EurosInstituições: 100 EurosPreço deste número 20 Euros

Tiragem 500 exemplaresCopyright A reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitida com autorização escrita do Director

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700; Fax: +351–225500689www.fade.up.pt – [email protected]

Consultores [Consulting Editors]Alberto Amadio (Universidade São Paulo)Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro)Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas)Anthony Sargeant (Universidade de Manchester)António José Silva (Universidade Trás-os-Montes e Alto Douro)António Roberto da Rocha Santos (Univ. Federal Pernambuco)Carlos Balbinotti (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia)Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa)Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro)Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina)Duarte Freitas (Universidade da Madeira)Eduardo Kokubun (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)Eunice Lebre (Universidade do Porto, Portugal)Francisco Alves (Universidade Técnica de Lisboa)Francisco Camiña Fernandez (Universidade da Corunha)Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa)Francisco Martins Silva (Universidade Federal Paraíba)Glória Balagué (Universidade Chicago)Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa)Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia)Helena Santa Clara (Universidade Técnica Lisboa)Hugo Lovisolo (Universidade Gama Filho)Isabel Fragoso (Universidade Técnica de Lisboa)Jaime Sampaio (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon)Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga)João Barreiros (Universidade Técnica de Lisboa)José A. Barela (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)José Alves (Escola Superior de Desporto de Rio Maior)José Luis Soidán (Universidade de Vigo)José Manuel Constantino (Universidade Lusófona)José Vasconcelos Raposo (Univ. Trás-os-Montes Alto Douro)Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina)Jürgen Weineck (Universidade Erlangen)Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho)Lilian Teresa Bucken Gobbi (Univ. Estadual Paulista, Rio Claro)Luis Mochizuki (Universidade São Paulo)Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa)Luiz Cláudio Stanganelli (Universidade Estadual de Londrina)Manoel Costa (Universidade de Pernambuco)Manuel João Coelho e Silva (Universidade de Coimbra)Manuel Patrício (Universidade de Évora)Manuela Hasse (Universidade Técnica de Lisboa)Marco Túlio de Mello (Universidade Federal de São Paulo)Margarida Espanha (Universidade Técnica de Lisboa)Margarida Matos (Universidade Técnica de Lisboa)Maria José Mosquera González (INEF Galiza)Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina)Mauricio Murad (Universidade Estado Rio de Janeiro e Universo)Ovídio Costa (Universidade do Porto, Portugal)Pablo Greco (Universidade Federal de Minas Gerais)Paula Mota (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro)Paulo Farinatti (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)Paulo Machado (Universidade Minho)Pedro Sarmento (Universidade Técnica de Lisboa)Ricardo Petersen (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa)Silvana Göllner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul)Valdir Barbanti (Universidade São Paulo)Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa)Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança)Víctor Matsudo (CELAFISCS)Wojtek Chodzko-Zajko (Universidade Illinois Urbana-Champaign)

A Revista Portuguesa de Ciências do Desporto está indexada na plataforma SciELO Portugal - Scientific Electronic Library Online(http://www.scielo.oces.mctes.pt), no SPORTDiscus e no Directório e no Catálogo Latindex – Sistema regional de informação em linha

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto[Portuguese Journal of Sport Sciences]

Vol. 7, Nº 3, Setembro·Dezembro 2007

ISSN 1645-0523, Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃO [RESEARCH PAPERS]

291 Estudo da relação entre variáveis fisiológicas, biomecânicas e o rendimento de corredores portugueses de 3000 metrosStudy the relationships between physiological profile, biomechanicalbehaviour and performance of middle-distance Portuguese runnersJosé A. Bragada, Tiago M. Barbosa

299 Esforço percebido durante o treinamento intervalado na natação em intensidades abaixo e acima da velocidade críticaPerceived exertion during swimming interval training at intensities below and above critical velocityFlavio G. Suzuki, Nilo M. Okuno, Adriano E. Lima-Silva, Luiz A.B. Perandini,Eduardo Kokubun, Fábio Y. Nakamura

308 Electromiographic signal reliability analysis duringmaximum and submaximum knee isometric actionsAnálise da reprodutibilidade do sinal electromiográfico durante acçõesisométricas máximas e submáximas dos extensores do joelhoMichel A. Brentano, Eduardo M. Silva, Eduardo L. Cadore, Luiz F.M. Kruel

313 Uso de células de carga para mensuração da forçados membros inferiores em nado ondulatórioUse of load cells to measurements of underwater dolphin kicki force in swimming tetheredMarcelo Papoti, Ricardo Vitório, André B.Velosa, Sergio A. Cunha, Adelino S.R. da Silva,Luiz E.B. Martins, Claudio A. Gobatto

319 Efeitos da ingestão de diferentes soluções hidratan-tes nos níveis de hidratação e na frequência cardía-ca durante um exercício de natação intervaladoEffects of intake of different hydrating solutions on the hydration levels and heart rate during a swimming exerciseFabrícia G. Ferreira, Graciene L. de Almeida, João Carlos B. Marins

328 Efeitos da frequência de feedback na aprendizagemdo saque do voleibolEffects of the extrínsic feedback frequency in serve of volleyball learningIvan W. Tertuliano, Alessandra A.C. Ugrinowitsch,Herbert Ugrinowitsch, Umberto C. Corrêa

336 Estrutura de prática na aquisição de uma tarefa detiming coincidente com desaceleração do estímulovisual

Practice schedule in the acquisition of a coincident timing task with deceleration of the visual stimulusJoão de Paula Pinheiro, Umberto C. Corrêa

347 Estabilidade da aptidão física na transição da infância (7-9 anos) para a puberdade (15 anos): o Estudo Morfofuncional da Criança VianenseTracking physical fitness from childhood (7-to-9 years old) to late puberty (15 years-old): the Estudo Morfofuncional da Criança VianenseLuis Paulo Rodrigues, Sérgio Angélico, Linda Saraiva, Pedro Bezerra

358 Os estudos dos esportes na natureza: desafios teóricos e conceituaisStudies of sports in the environment: conceptuals and theoretical challengesCleber A.G. Dias, Victor A. de Melo, Edmundo de D. Alves Junior

368 A imprensa e a memória do futebol BrasileiroThe press and the memory of the Brazilian soccerAntonio J.G. Soares, Tiago L. Bartholo, Marco S. Salvador

TUTORIAL [TUTORIAL]

379 Uma ajuda na análise e interpretação de informaçãoda aptidão física de crianças e jovens provenientesde amostras de grande dimensão. Um tutorial cen-trado na modelação hierárquica ou multinívelHelping in analyzing and interpreting information from physical fitnessof children gathered in large samples. A tutorial based on hierarchicalor multilevel modellingJosé A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra,Vítor Lopes, Simonete Silva, AlcibíadesBustamante, Rogério C. Fermino, Duarte Freitas,António Prista, Cássio Meira Jr

ENSAIO [ESSAY]

393 Uma aproximação estética ao corpo desportivoSporting body aesthetics: an overviewTeresa O. Lacerda

ARTIGO DE REVISÃO [REVIEW]

401 A investigação sobre os modelos de ensino dos jogos desportivosResearch on models for teaching gamesAmândio Graça, Isabel Mesquita

A RPCD tem o apoio da FCTPrograma Operacional Ciência,Tecnologia, Inovação do Quadro

Comunitário de Apoio III

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Nota editorialAcerca das reformas em curso na Universidade1

Jorge Bento

1. “Tudo se encontra em estado de mudança. Nadafica como está. Nós não buscamos a permanência” –eis um axioma que provém da antiguidade clássica econtinua pleno de vigor na actualidade. O tempo –todo o tempo – impõe reflexões, reformas e mudan-ças em todas as esferas da vida. Por isso mesmo oespaço universitário, sendo por definição um campovarrido pelo vento refrescante da abertura e renova-ção das ideias, não deve deixar-se atrair pela misturasedutora de astúcia e cinismo com que o imobilismocritica, rejeita e desencoraja toda e qualquer trans-formação. As instituições, tal como as pessoas, nãopodem nem devem ser sempre iguais. É no tempo enos tempos que se forjam, desenvolvem e são prova-das. Por não estarem nunca conclusas e terminadas,carecem de mudar e de se transformar, de evoluir emelhorar. É esse o seu destino, é essa a missão queas justifica, aprimora e exalta. São transformadorasna medida em que se transformam.Nesta conformidade eu desejo que a UP não sejasempre igual, que nunca se dê por concluída e satis-feita, que se coloque continuamente desafios emetas, visando uma forma nova e superior. Desejoque não se acomode – e, muito menos, perca - nestetempo! Para tanto é forçoso que eu deseje tambémque, nesta hora e antes de tudo, a UP reflicta acercada sua missão, daquilo que já é e do mais que querser, das ‘coisas’ intangíveis e da medida dos valoreshumanos e universais em que se revê. Que, em pri-meiro lugar, fale dos fins que a determinam, da mis-são e incumbência que lhe toca cumprir, dos quadrosque visa formar. Só depois é pertinente falar dos ins-trumentos e meios. Edifícios, laboratórios, acervosbibliográficos, estruturação, ordenamentos jurídicosetc. são importantes, mas são fugazes, não duram

para sempre. Duradoira é a herança recebida e quedeve ser reforçada, reavivada e transmitida: o apegoa princípios e valores, ao saber e à racionalidade, àreflexão e ao debate, ao uso do pensamento e darazão, ao cultivo da liberdade e da ética, à rejeiçãodo fácil e falso, das ideias feitas, das ideologias, dosslogans e das palavras de ordem, da manipulação ealienação, do populismo e demagogia.2. Ademais deve iluminar a nossa reflexão o postula-do magistral de Ortega y Gasset (1888-1935): “Eusou eu e a minha circunstância. Se a não salvo a ela, nãome salvo a mim”. Esta não será uma boa circunstância para nós, se anão tornarmos boa para a Universidade, se a nãofizermos conforme aos nossos desejos. Logo aUniversidade será boa ou má consoante a modela-rem os seus professores, estudantes e funcionários.Eu quero continuar a ter a convicção profunda deque uns e outros não recuarão diante do empreendi-mento que lhes é confiado, não consentirão queenferruje e feneça nas suas mãos o instrumento deaprimoramento espiritual, racional, cívico, estético ecultural dos cidadãos, que a Universidade consubs-tancia. Não ficarão quedos e mudos perante uma cir-cunstância que não está a ser boa para aUniversidade. Não se acomodarão perante a tentati-va tresloucada de malbaratar o património intelec-tual e moral, nacional e internacionalmente amealha-do por esta instituição.Não é defensável conceber a Universidade à margemdo tempo, isolada e referenciada a si mesma, indife-rente à sociedade, aos seus problemas e necessidades.Mas é, igualmente, inaceitável domesticá-la e subordi-ná-la às corporações e aos interesses que tomaramconta do mundo. Ela deve ser pensada à luz da exce-

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lência académica e da relevância social, enquanto ins-tituição com elevado sentido de performance emtodos os seus domínios e fins, ao serviço das causasda Humanidade, do país, da cidade e região.3. Há algo inevitável e de inegável importância paraa melhoria do papel da Universidade: a necessidadede renovar permanentemente os processos de ensinoe aprendizagem, as modalidades e finalidades da for-mação e os caminhos da sua missão, sob pena denos mumificarmos. A ênfase renovadora deve cuidarde aumentar o prestígio da tradição e da herançasecular e não contribuir para o destruir e sepultar.Todavia essa reforma só é possível se não estivermosconstantemente a debater-nos com a angústia deprovermos à manutenção das instituições.Podem tentar apoucar-nos com a redução dos orça-mentos e com a campanha difamatória movida comum aparelho mediático conivente e arregimentado.Mas não terão força suficiente para nos estrangularna garganta o grito de protesto, nascido na cons-ciência das obrigações para com a nossa dignidade.A Universidade tem uma longa história de farol daliberdade, ocupada e incumbida de clarear cami-nhos; não será agora que vai capitular e tornar-secúmplice da escuridão e da passividade. Contandocom a nossa lucidez e coragem, ela é capaz de pro-dígios divinos.Há no mundo, por certo, milhares de Universidades;algumas usufruem de excelente reputação. Mas mui-tas centenas delas têm à sua disposição recursosfinanceiros superiores, de longe, aos da UP e que-dam-se numa posição muito inferior à nossa nosdiversos rankings internacionais. Olho para trás,vejo os números do crescimento na pós-graduação eprodução científica, assim como na procura por estu-dantes estrangeiros e não posso deixar de admirar anotável ascensão da UP nas duas últimas décadas.Claro que se pode melhorar ainda mais, mas estaconstatação e vontade não justificam o criticismo e onegativismo de algumas apreciações.4. O estado de alma da UP face à actual conjunturanão é, bem o sei, igual em todas as áreas. As diferen-ças são notórias e não podem ser iludidas. Como sesabe, a formação específica de cada um de nós é pro-pensa a enraizar e privilegiar determinados modelos,princípios, valores, saberes, convicções, crenças emitos. Por isso mesmo as diversas formações são

parcelares e relativas; nenhuma confere um olharabrangente do mundo e uma visão integral dos pro-blemas, antes apela à complementaridade de umascom as outras. Por exemplo, a formação de enge-nheiro e o modelo inglês são importantes; mas nãopodem ser exclusivas e exaustivas, até porque nem aadesão ao ‘paradigma’ da gestão está a produzir ummundo melhor, nem as universidades inglesas (eoutros serviços públicos do país de Sua Majestade)passaram a viver num mar de rosas, após a entradaem vigor do modelo neoliberal.Como quer que seja, isto dá para perceber o facto dea UP não ter tomado posições públicas nos últimosanos; de não ter, por exemplo, reagido ao modofunesto da implementação indígena do Processo deBolonha. O Processo foi manifestamente pervertido.É provável que isto não perturbe as áreas afins à tec-nologia e aquelas que contam com uma Ordem pararegular o exercício profissional. Mas é altamente pre-judicial para as outras.Não é agradável de dizer, mas é necessário afirmarque a UP não tem, nos últimos anos, primado pelacoragem. Pelo contrário, a omissão e mesmo o opor-tunismo e a cobardia têm dado sinais de vida. Nãoobstante o apelo do Magnífico Reitor a comentáriosacerca da LRJIES-Lei do Regime Jurídico dasInstituições de Ensino Superior, a imensa maioria daUP optou pelo silêncio e acomodamento, talvez commedo de afrontar o Ministério e de não apanharalgumas migalhas sobrantes da mesa da capital, oureceosa de abrir o jogo de intenções e acções emrelação ao futuro. Seja como for, agora não se sabe oque a maioria das Faculdades pensa acerca do orde-namento jurídico da UP e era bom que se soubesse,que uns não estivessem de peito aberto e outros ajogar à defesa, com cartas desconhecidas. Não é aceitável que, em nome do combate a basis-mos e populismos de que enfermava a anterior legis-lação das Universidades, a actual LRJIES tenha con-sagrado um basismo bem maior e mais gravoso:agora o Conselho Geral, que escolhe o Reitor, é elei-to por voto quase universal. Mais ainda, se assim oentenderem as grandes unidades orgânicas ligadas àsáreas tecnológicas, a maioria das unidades orgânicasfica arredada da participação na condução dos desti-nos da Universidade. Ora isto não acontece poracaso ou por distracção do legislador!

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5. Estamos obrigados a um exigente exercício deresponsabilidade, que implica precisamente o contrá-rio de um jogo de leviana competição por suprema-cias da irracionalidade. Isto reclama transparêncianas intenções e frontalidade nos gestos e palavras.Por isso afirmo sem rodeios e concessões: aquilo queé aplicável nalgumas partes pode fragilizar as outrase afectar o todo. Ora isto recomenda ponderação eequilíbrio nas decisões. Se importar para a sua confi-guração o paradigma hoje vigente no país e nomundo – “os ricos cada vez mais ricos e os pobrescada vez mais pobres” –, a UP debilitará a sua estru-tura, minará a sua unidade, a sua independência, asua autonomia, a sua missão e a sua imagem e pro-jecção. E, não por último, prestará um péssimo ser-viço - para não dizer traição - à cidade e à região.Não pode ser ignorada a possibilidade, bem eviden-te, de a maior universidade do país, por força dereorganizações insanas, se converter numa pequenauniversidade, sem dimensão nem relevância paracompetir internacionalmente. Os rankings existentesmostram que quanto mais diminuta é a universidademenos ‘chances’ ela tem de vir a integrá-los. E, destemodo, vê-se desmentido um dos argumentos cimei-ros do reformismo.Enfim os interesses, visões e conveniências de algu-mas áreas, departamentos, institutos e docentes nãodevem determinar o superior interesse da UP, nemsobrepor-se a ele. O que hoje se destruir não seráfácil de reconstruir amanhã.6. Devo à UP a honra culminante de uma vida deobreiro obscuro. Por mais que eu durasse, nenhumaoutra teria o fulgor que esta me concedeu, de sair danoite para o dia, da penumbra para a luz, do nevoei-ro para o sol, do anonimato opaco para a cidadaniaesclarecida. Estou, pois, imensamente grato à UP. E,por isso mesmo e em nome dela, ouso afirmar que asociedade em que vivemos está ainda demasiada-mente aquém da medida humana, aquém do queprecisa vir a ser. Também por isto atrevo-me a dizerque as mudanças que estão a ser imprimidas, pelogoverno e pelos arautos do neoliberalismo, às uni-versidades e a outras instituições públicas não serevêem na medida humana, mas tão somente numamedida de gestão perversa, ou seja, numa visão dis-torcida que promove os meios e instrumentos àcategoria de fins.

A Universidade não vive do recolhimento e darenúncia ao mundo. Tem valores próprios, mas não éaceitável que se enclausure neles. É imperioso queesteja no mundo ao lado de outros protagonistas eque participe de modo responsável e empenhado darealidade. Com todos os outros parceiros e, quandonecessário, contra eles. Porque é essa a sua vocaçãosuprema e a maneira superior de cumprir a sua ina-lienável obrigação.Assim não é curial ‘reformar’ a Universidade para asujeitar ao serviço de interesses espúrios; precisa,sim, de ser melhor formatada como centro compro-metido com as causas primeiras da sociedade eHumanidade. Não deve servir mais ninguém.Em suma, merece empenhamento entusiasta e apoioactivo tudo quanto sublinhe, enfatize, alimente, for-taleça e engrandeça a missão humanista e cultural daUniversidade; e deverá contar com a nossa antipatia,igualmente activa, tudo quanto a iluda, diminua,debilite e enfraqueça.7. Que lugar está reservado para a ciência?Respondo, servindo-me de uma citação de AntónioBracinha Vieira: “Um lugar bastante decadente por-que a chamada Logociência, que era admirável, quenos mostrava os confins do universo, a evolução dohomem, a origem da linguagem, o comportamentodos animais, que estava cheia de enigmas, deixou deter investimento, como hoje se diz. Então o que sedesenvolve? A tecnociência. A biotecnologia. Asciências que vão reforçar a indústria e aumentar oslucros das grandes sociedades. A sociedade que podesubsidiar a ciência, subsidia aquela que lhe vai darvantagem. É um círculo vicioso, que vai cortar aciência da verdadeira fonte que a alimenta – alargaro horizonte de conhecimentos”.2

O mesmo autor constata um regresso da barbárie, ajunção “do pior dos primatas com o pior das térmi-tas”, o avanço da manipulação fácil e da passividadecrítica, a emergência do indivíduo incaracterístico,frio, ávido, timorata, um escravo terrivelmentedegradado, sem princípios e sem escrúpulos, a der-rota dos gregos pelos bárbaros “sem pensamento,sem ética, sem estética, sem horizonte, sem projec-to, sem reflexão”. E acusa que, por já estarem noestádio da linguagem enfraquecida, temos doutora-dos e professores “que dizem parvoíces”. “E comonão sabem falar também não sabem pensar. E então

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há uma queda do nível da razão, toda essa irraciona-lidade emerge e é premiada pela sociedade, pelaAbsurdidade”. A gravidade da acusação vai maislonge: o incaracterístico “tornou-se a norma e está bas-tante invisível, ou seja, as pessoas convivem com elee já o abrigam, não o vêem. Julgo que o papel da filo-sofia é justamente dar a ver aquilo que é visível masque as pessoas normalmente não vêem ou não que-rem ver, não podem, não conseguem”. Pois é, mas a filosofia e tudo quanto lhe é correlatoestão postergados, sofrem o exílio e o ostracismo.Sim, “que dizer – alerta Daniel Sampaio – do apaga-mento progressivo da Filosofia ou da menorização dashumanidades, para já não falar da ideia agora namoda de que às escolas compete servir as empresas?”Responde o mesmo autor: “A esperança está, comosempre, nas novas gerações. Oxalá estejam atentas eainda a tempo de evitar a barbárie”.3

8. É isto que me encoraja, num exercício de cinismoe humor negro, a tecer elogios ao vento que passa. Há quem tenha saudades do passado. Eu, ao invés,tenho saudades do futuro. De um futuro que colhaos frutos deste aliciante presente.Em tempos idos não se usava camisinha para fazeramor. O resultado está à vista; e não me estou a refe-rir à transmissão e proliferação de doenças infecto-contagiosas. Penso sim na existência – que bempodia ter sido evitada - de alguns personagens queandam por aí, em funções de chefia e decisão, a ata-zanar-nos a vida de uma maneira que ninguém ima-ginaria até há pouco, tendo em conta aquilo que pro-palavam aos quatro ventos e as filiações ideológicasque ardilosamente ainda ousam afirmar para iludir osingénuos e incautos. Resta-nos a esperança de queeles doravante façam uso cuidado do preservativo –ou então que enveredem por outros caminhos – paraver se os actores do futuro têm outra matriz genéticae, sobretudo, ética.Mais, a língua portuguesa no passado era muito rígi-da e taxativa. Chamava-se mentiroso a um indivíduopor faltar à verdade. Agora o nosso idioma é muitomais flexível; está em franca evolução, tornou-semais dúctil e proteico. Os mentirosos já não o sãomais; apenas têm opiniões diferentes e apresentamversões não coincidentes com as dos outros, quandomuito dizem inverdades ou coisas que nunca aconte-ceram. Por isso chamar mentiroso a um aldrabão é

hoje sinal de agressividade e rudeza, falta grave decivismo, de educação, de boas maneiras.A traição também mudou de significado. Agora ostraidores não traem; antes revelam abertura e flexibi-lidade, espírito de inovação, reforma, mudança eadaptação aos desafios desta era. Do mesmo modo osautores de barganhas passaram a ser gente sagaz,viva, esperta.A honra era uma obrigação; hoje não, porquanto éinquestionável. A honorabilidade que, no passado,tinha que ser conquistada e exibida, agora é umdireito natural que não pode ser posto em causa.Tal como o carácter. Antes era um bem escasso quenem todos logravam alcançar; agora é uma dasmaiores dádivas da demo-cracia4 nos últimos tem-pos; é algo generosamente distribuído a rodos,todos o têm, de tal maneira que já não se perguntapor ele, mesmo quando se ausenta constantementedo espaço público.Também as qualidades da honradez, integridade edecência perderam o significado e a dimensão quetinham. Além de não haver vantagem em falar nelas,exibi-las e reclamá-las, elas deixaram de ser notáveise de conferir respeitabilidade a quem as ostenta. Pelocontrário, os seus cultores são uns grandes tansos,trouxas e idiotas.Antes havia conhecimento a menos e desejava-sesaber mais. Aprendia-se com esforço, disciplina, rigore dificuldade; exigia-se muito e era custoso e árduo.Hoje há saber acumulado, mas sumiu a necessidadede aprender tanto e de despender energias com essefim. Por isso veio em boa hora o Processo deBolonha, para fixar o que é útil e o que é dispensávele obrigar as Universidades a não ‘desperdiçar’ recur-sos com assuntos inconvenientes ao mercado. Emvez de ‘humanistas’ passamos a ter ‘profissionais’técnicos sem qualquer teor intelectual do que têm adizer ou fazer, idiotas avessos à dor e ao fastio dereflectir e aptos a aceitar e seguir, sem pensar, o pri-meiro condutor que surgir. O perfil dos novos quadrosdeve ser vazio de sonhos, ideais, utopias, causashumanas e universais. Como disse Max Weber, numaantevisão deste tempo, chegou a hora dos “especia-listas sem espírito, sensualistas sem coração”. Maisainda, continua o vaticínio, “esta nulidade imaginahaver atingido um nível de civilização nunca dantesalcançado”.

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Vamos formar (?!) gente incapaz de fazer perguntas,de se interrogar, de ter rebates e inquietações, dúvi-das e perplexidades da consciência e da alma, delevantar questões, de fundar argumentos e convic-ções, de reagir às manipulações e perversões, de seindignar perante os agravos infligidos à sua e univer-sal humanidade. O futuro vai ser, pois, fácil e cómo-do, sem as angústias e ansiedades do presente, tran-quilo, ledo e quedo como no melhor dos mundos.Não admira, portanto, que no tocante a saudade mevolte para o horizonte vindouro e queira esquecer opassado que tanto trabalho e canseiras me deu.

1 Este texto comporta, no essencial, uma mensagem enviada aosmembros do Senado da Universidade do Porto, em 9.10.2007,acrescida de outros considerandos. 2 VIEIRA, António Bracinha: Somos todos escravos do Incaracterístico.In: Pública, 18.11.2007.3 SAMPAIO, Daniel: A barbárie. In: Pública, 25.11.2007.4 Democracia é o governo do povo, segundo a etimologia grega dotermo. Aqui a palavra surge separada para evidenciar o poder dodemo.

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ARTIGOS DEINVESTIGAÇÃO

[RESEARCH PAPERS]

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Rev Port Cien Desp 7(3) 291–298 291

Estudo da relação entre variáveis fisiológicas, biomecânicas e o rendimento de corredores portugueses de 3000 metros

José A. BragadaTiago M. Barbosa

Departamento de Ciências do Desporto e Educação FísicaInstituto Politécnico de BragançaPortugal

RESUMOO objectivo do presente estudo foi investigar as relações entreo perfil fisiológico, a resposta biomecânica e o rendimento des-portivo de corredores de meio-fundo portugueses. Dezoito atle-tas foram submetidos a um protocolo incremental de 5 patama-res de 3 minutos em tapete rolante sem qualquer inclinação.Em cada patamar a velocidade foi constante e os incrementosforam de 1,45 km.h-1. Durante todo o protocolo, o consumo deoxigénio e outros parâmetros bioenergéticos foram avaliadosrespiração-a-respiração através de oximetria directa. Foram cal-culadas a potência metabólica (Pmet), o custo energético (C), avelocidade de deslocamento (v), a frequência gestual (FG) e adistância de ciclo (DC). Foi determinado em prova oficial (cor-rida de 3000 metros) o rendimento desportivo. Verificou-seuma relação positiva e significativa entre a Pmet e a v (R2=0,78;p<0,01). As relações entre o C e a FG ou a DC não foram signi-ficativas. A relação entre a v e a FG (R2=0,34; p<0,01) e entrea v e a DC (R2=0,87; p<0,01) foram positivas e significativas.Verificou-se uma relação significativa entre o rendimento e aPmet a 16 km.h-1 (R2=0,23; p=0,05). Em conclusão, verifica-seuma dependência moderada do rendimento dos meio-fundistasportugueses relativamente ao seu perfil fisiológico e este deforma ténue face à resposta biomecânica.

Palavras-chave: Atletismo, rendimento, custo energético, distân-cia de ciclo, frequência gestual, velocidade

ABSTRACTStudy the relationships between physiological profile, biomechan-ical behaviour and performance of middle-distance Portugueserunners

The aim of this investigation was to study the relationships betweenphysiological profile, biomechanical behaviour and performance of mid-dle-distance Portuguese runners. Eighteen runners were submitted to anincremental protocol of 5 trials of 3 minutes in treadmill without incli-nation. At each step, velocity was constant and between steps velocityincreased by 1,45 km.h-1. Through the protocol, oxygen up-take andother bioenergetical parameters were evaluated breath-by-breath withdirect oximetry. It was measured the metabolic power (Pmet), the ener-gy cost (C), the running velocity (v), the stride frequency (FG) and thestride distance (DC). It was also recorded the performance in officialcompetition (3.000-m event). It was verified a significant and positiverelationship between Pmet and v (R2=0,78; P<0,01). The relation-ships between C and FG or DC were no-significant. The relationshipsbetween v and FG (R2=0,34; p<0,01), as well as, between v and DC(R2=0,87; p<0,01) were statistically significant and positive. It wasobserved a significant relationship between performance and Pmet at16 km.h-1 (R2=0,23; p=0,05). In conclusion, for portuguese middle-distance runners, it seems to exist a moderate dependence of perform-ance from physiological profile and this one, from the biomechanicalbehaviour.

Key-words: running, performance, energy cost, gait length, gait fre-quency, velocity

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INTRODUÇÃONo estudo da locomoção, a avaliação do custo ener-gético (C) é um dos parâmetros mais investigados jáque representa a energia dispendida para percorreruma determinada unidade de distância(19, 35).Conhecendo a potência metabólica do sistema bioló-gico (Pmet) e a velocidade de deslocamento docorpo (v)(5):

(1)

Tem sido descrito para diversas formas de locomo-ção no meio terrestre, aquático e aéreo que existeuma relação entre o custo energético (C), o traba-lho mecânico total (Wtot) e a eficiência do sistema(η)(3, 16):

(2)

Ou seja, verifica-se o estabelecimento de pontesentre a Mecânica Clássica com a Termodinâmica e aBioenergética(5). Estas pontes pressupõem o entendi-mento do organismo biológico, como um sistematermodinâmico e o desempenho desportivo comouma emergência de processos optimizados de aporteenergético, repercussão das características biomecâ-nicas desse sistema. Com efeito, o C tem sido descrito como um dosmelhores preditores da distância percorrida pelalocomoção humana em meio terrestre e aquático(3,

19, 42, 43).Na maioria das actividades desportivas orientadaspara o rendimento, como o Atletismo, o objectivofinal da sua prática é a obtenção do melhor resultadodesportivo possível em contexto competitivo. Nestamodalidade, o carácter claramente temporal e espa-cial do seu rendimento permite uma quantificação(bio)energética e (bio)mecânica precisa.Portugal apresenta há algumas décadas um númerosubstancial de atletas de meio-fundo e de fundo deelevado nível internacional. Nesta modalidade, a pardo que acontece noutras, o rendimento desportivo éum fenómeno multifactorial. Existem vários domí-nios que poderão afectar a resposta fisiológica doatleta de meio fundo, como por exemplo, as determi-nantes de ordem biomecânica(13, 39). Esta relação está

largamente descrita noutras modalidades desporti-vas, como é o caso da natação pura desportiva(6, 37),das actividades náuticas(32) ou da marcha(3, 21). Noentanto, o interesse que os atletas de meio-fundo efundo despertam na comunidade científica portugue-sa, parece centra-se quase exclusivamente na carac-terização do seu perfil fisiológico(p.e., 9, 14, 31, 33, 34).No Atletismo, as provas de meio-fundo e fundo sãotidas como actividades cíclicas cujo intuito é percor-rer a distância pré-definida no menor intervalo detempo possível. Logo, assumir uma elevada velocida-de média de deslocamento durante a prova é umpré-requisito para aceder a um melhor rendimentodesportivo. Enquanto actividade cíclica que é, meca-nicamente, a velocidade média de deslocamento (v)pode ser determinada com base na frequência ges-tual (FG) e na distância de ciclo (DC)(40):

(3)

Na literatura sugere-se a existência de uma relaçãonão-linear entre a Pmet e a FG ou a DC(29, 36). Existeum valor mínimo de FG e de DC às quais se reportao valor mínimo de Pmet. A diminuição ou o aumentode um dos elementos mecânicos do ciclo gestualtende a incrementar a Pmet. Aparentemente, os valo-res mínimos da Pmet ocorrem quando os sujeitosadoptam espontânea e livremente a FG e a DC(30, 38,

39). Presumivelmente, esta auto-optimização é adqui-rida por intermédio de feedback interno(12, 41). Algunsmotivos parecem sustentar este facto(4): (i) o aumen-to da DC poderá incrementar a propulsão e induziruma maior variação intra-cíclica da posição verticaldo centro de massa do corredor; (ii) o aumento daFG promoverá incrementos do trabalho mecânicointerno devido à maior variação da posição dos cen-tros de massa parciais do corpo tendo como referên-cia do centro de massa total. Em todo o caso, a FGparece ser a variável que apresenta uma relação maisconsistente com a Pmet(36).O aumento da v é descrita como sendo induzido pormudanças características na FG e na DC e de formaindividualizada(13, 28). A v mais reduzidas, o incre-mento decorre fundamentalmente do aumento daDC, após o que este parâmetro tende a estabilizar eo contínuo aumento da v decorre, desta feita, do

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Pmetv

C =

v = FG·DC

Wtot

ηC =

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aumento da FG(18, 25). O facto dos dois parâmetros,FG e DC serem relativamente independentes, masrelacionados com a v, sugere que esta última é avariável “crítica” em torno da qual a locomoção seorganiza(25). Por outro lado, sugere-se que corredo-res de melhor nível competitivo apresentam valoresde DC superiores a sujeitos de nível inferior parauma mesma v (11).A economia de corrida tem sido aceite como um cri-tério fisiológico da eficiência e da eficácia em compe-tição. Aliás, é considerado como um factor associadoao rendimento em provas de média e longa duração(15, 20) e estando correlacionadas de formasignificativa(17, 24, 29). Inclusive, alguns grupos deinvestigação sustentam a possibilidade de ser possí-vel predizer o rendimento, em contexto competitivo,com base em diversas características fisiológicas doscorredores, incluindo a economia da corrida(7).Foi objectivo deste trabalho estudar as hipotéticasrelações entre o perfil fisiológico, a resposta biome-cânica e o rendimento desportivo de corredores demeio-fundo portugueses.

MATERIAL E MÉTODOSAmostraForam avaliados 18 atletas do sexo masculino(20,06±3,24 anos de idade, 64,33±5,93 kg de massacorporal; 1,74±0,05 metros de altura; 6,06±3,78anos de treino; 80,50±31,50 km de volume de trei-no semanal) especialistas em provas de meio-fundode nacionalidade portuguesa. Todos os procedimen-tos respeitaram a Declaração de Helsínquia parainvestigação com humanos.

ProcedimentosOs atletas foram submetidos a um protocolo contí-nuo de intensidade progressiva de 5 patamares de 3minutos em tapete rolante (PPS 55 Sport – I,Woodway, Alemanha) sem qualquer inclinação. Emcada patamar a velocidade foi constante e os incre-mentos entre patamares foram de 1,45 km.h-1 (0,40m.s-1). A escolha dos patamares foi realizada indivi-dualmente para cada corredor, no sentido da veloci-dade do último coincide-se com a velocidade a queocorre uma concentração de 4 mmol.L-1 de lactatosanguíneo. Para a totalidade da amostra foram ava-liados 90 patamares (18 corredores x 5 patamares).

Recolha dadosAo longo de todo o protocolo, o consumo de oxigé-nio e outros parâmetros bioenergéticos foram avalia-dos respiração-a-respiração, através de oximetriadirecta, utilizando um analisador de gases portátil(Metalyzer 3B, Cortex Biophysik, Alemanha). A potên-cia metabólica (Pmet) foi expressa com base no con-sumo de oxigénio líquido (VO2 net) no últimominuto de cada patamar. O cálculo da Pmet foi efec-tuado de acordo com os procedimentos descritos porDaniels e Daniels(17) e por Brisswalter e Legros (10).Foi calculado o valor individual da Pmet à velocidadede 16 km.h-1 (4,44 m.s-1), por meio de interpolaçãoou extrapolação dos valores da recta de regressãoindividual. O C foi calculado com recurso à equa-ção(1). O C foi convertido em unidades SI sabendoque 1 mlO2 equivale a 20,1J(27).A v, a FG e a DC foram calculadas no último minutode cada patamar. A v real do ergómetro foi determi-nada conhecendo o perímetro do tapete rolante (P),no caso 3,42 m, e o intervalo de tempo (t)(13) paraefectuar 25 revoluções:

(4)

A FG foi determinada avaliando o intervalo de tempo(t) necessário para o sujeito efectuar 25 ciclos ges-tuais completos:

(5)

A DC foi calculada conhecendo a v e a FG, tal comodescrito na equação (3).O rendimento desportivo foi determinado em provaoficial de meio fundo (corrida de 3000 metros) comum intervalo nunca superior a uma semana (pré-competitiva ou pós-competitiva) à aplicação do pro-tocolo.

Procedimentos estatísticosApós a verificação das propriedades dos estimadoresdos mínimos quadrados, foram comparados modelosde regressão linear e não linear. Dado que em todas ascircunstâncias os modelos lineares apresentaram umCoeficiente de Determinação mais elevado e um erroda estimativa inferior, serão apresentados os modelosde regressão linear simples: (i) entre as variáveis fisio-

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25·Pv

v =

t25

FG =

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lógicas (Pmet e C) e as variáveis biomecânicas (v, FG eDC); (ii) entre a v e os parâmetros mecânicos do ciclogestual (FG e DC); (iii) individuais para interpolaçãoe/ou extrapolação da Pmet a uma dada v; (iv) entre aPmet a dada v e o rendimento desportivo. O nível designificância foi definido em p ≤ 0,05. A análise esta-tística (SPSS, versão 9.0, Chicago, Illinois, EUA) e aprodução dos gráficos (StatView, versão 4.53, Berkley,Califórnia, EUA) foram efectuadas em programasinformáticos específicos.

RESULTADOSA figura 1 apresenta a relação entre a Pmet, definidaa partir do VO2 net, e a velocidade média de desloca-mento. Verificou-se uma relação positiva, elevada esignificativa (R2=0,78; p<0,01) onde o incrementoda v promoveu um aumento da Pmet.

Figura 1. Relação entre o consumo de oxigénio (VO2) e a velocidade de deslocamento (v).

A figura 2 e 3, respectivamente, apresentam a relaçãoentre o C e os parâmetros mecânicos do ciclo gestual.Em ambos os casos, as relações entre a variável bio-energética e as variáveis biomecânicas não apresenta-ram valores estatisticamente significativos.

Figura 2. Relação entre o custo energético (C) e a distância de ciclo (DC).

Figura 3. Relação entre o custo energético (C) e a frequência gestual (FG).

As figuras 4 e 5 apresentam as relações verificadasentre as três variáveis mecânicas do ciclo gestualadoptadas. Observaram-se resultados significativosquer para a relação entre a v e a FG (R2=0,34;p<0,01), quer para a relação entre a v e a DC(R2=0,87; p<0,01). Nesta circunstância, aumentosda v parecem decorrer de incrementos da FG, mascom maior consistência da DC.

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Figura 4. Relação entre a velocidade de deslocamento (v) e a frequência gestual (FG).

Figura 5. Relação entre a velocidade de deslocamento (v) e a distância de ciclo (DC).

A figura 6 apresenta a relação entre o rendimentodesportivo dos atletas portugueses de meio-fundo,em prova de 3000 metros e a economia de corrida,definida através da interpolação e/ou extrapolaçãodos valores de Pmet das rectas individuais para avelocidade de 16 km.h-1. Observou-se uma relaçãomoderada, mas significativa onde o melhor rendi-mento estava relacionado com um menor dispêndioenergético à velocidade definida (R2= 0,23; p=0,05).Isto é, para a amostra estudada, 23% do rendimentona prova de 3000 metros foi explicada pela economiade corrida dos atletas.

Figura 6. Relação entre o rendimento desportivo em prova de 3000 metros e a economia de corrida.

DISCUSSÃOO objectivo do presente estudo foi investigar as rela-ções entre o perfil fisiológico, a resposta biomecâni-ca e o rendimento desportivo de corredores de meio-fundo portugueses. Verificou-se uma dependênciamoderada do rendimento dos meio-fundistas relati-vamente ao seu perfil fisiológico e este de formaténue face à resposta biomecânica.No que se concerne à relação entre variáveis bio-energéticas e biomecânicas, observou-se uma relaçãopositiva e significativa entre a Pmet e a v, tal como éfrequentemente descrito na literatura(16, 23, 26). Já asrelações entre o C e a FG ou a DC não foram estatis-ticamente significativas.Tem sido descrita uma relação não linear entre aPmet com a FG e a DC onde a diminuição ou oaumento de um dos elementos mecânicos do ciclogestual tende a incrementar a variável bioenergéti-ca(29, 36). Sugere-se uma explicação deste fenómenocom base em diversos processos de controlo motor.A FG é modulada por um mecanismo particularassumido pelo sistema nervoso central(44). A mudan-ça na frequência segmentar está associada commudanças de rigidez global dos segmentos em fasenão propulsiva, sugerindo que a FG é alterada pelamudança da actividade tónica dos músculos dacadeia cinemática em fase não propulsiva(8). O siste-ma nervoso central tenderá a modular a coactivaçãodos músculos antagonistas durante a manipulaçãoda FG. Sabendo que a coactivação é metabolicamentedispendiosa, o aumento da FG irá repercutir-se

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aumentando o C. Já Anderson(4) defende que a varia-ção da DC poderá induzir uma maior variação intra-cíclica da posição vertical do centro de massa do cor-redor e consequentemente o C.Outro mecanismo explicativo da minimização do C éconsiderar a locomoção humana a partir de modelodo pêndulo. Assumindo toda a massa do sujeito con-centrada no seu centro de massa total e os seusmembros inferiores como segmentos rígidos demassa negligenciável, a velocidade do centro demassa é definida através de uma função sinusoidal.Ao longo do ciclo gestual, essa variação intra-cíclicada velocidade é explicada pela transferência sucessi-va de energia cinética e de energia potencial gravíticaao longo do ciclo gestual(1). Já num modelo matemá-tico mais realístico, assume-se que igualmente, oarmazenamento e recuperação de energia mecânicaem estruturas elásticas alongadas, tal como emmolas, terá um efeito determinante na minimizaçãodo C(1, 26).Contudo, o presente estudo não identificou relaçõessignificativas entre as variáveis em discussão. Aexplicação será: (i) a amplitude de velocidades estu-dadas ter sido mais reduzida do que as dos autoressupra-citados, o que matematicamente dificulta oajuste de uma função matemática do tipo propostapor eles e; (ii) se ter optado pelo estudo da relaçãodo C com os parâmetros biomecânicos, o que já eli-mina o efeito multicolinear da v. Kraemer e Eck(23)

acrescentam um outro motivo para a ausência derelação. A v superiores ou inferiores à auto-selecio-nada, ocorrerá uma alteração na cinemática angulardos principais centros articulares do membro infe-rior com repercussões no momento de inércia, bemcomo, na oscilação vertical do centro de massa e,portanto, no C.Curiosamente, ao efectuar uma análise individualdos corredores da amostra verificou-se que cada umdeles apresentava uma estratégia individual de maxi-mização da sua eficiência ao longo do protocolo.Diversos atletas apresentaram diminuições do C como aumento da FG e estabilização ou ligeira diminui-ção da DC e outros a estratégia oposta. Isto significa-rá que o constrangimento a uma auto-selecção, emi-nentemente individual, da estratégia técnica a adop-tar terá como repercussão não uma diminuição do Cmas antes no seu aumento(21).

Diversas técnicas de locomoção terrestre foram des-critas como apresentando uma relação polinomialentre a v e a FG ou a DC(p.e., 22, 26, 40). Contudo, nopresente estudo verificou-se um maior ajuste e ummenor erro de estimativa ao adoptarem-se modeloslineares. Presumivelmente, a menor amplitude de vestudadas do que a literatura, teve como consequên-cia um maior ajuste de funções lineares.Relativamente à relação entre as variáveis mecânicasdo ciclo gestual, a relação entre a v e a FG, assimcomo, entre a v e a DC foram positivas, significativase, respectivamente, modera e elevada. O facto dadeterminação da v face à FG e à DC apresentaremgraus diferentes (moderada e elevada) confirma ofacto dos dois parâmetros, serem relativamente inde-pendentes, mas relacionados com a v. Isto sugereque a v é a variável “crítica” em torno da qual a loco-moção se organiza(25). Diversos estudos já tinhamdescrito estratégias individualizadas dos sujeitospara aumentar a v através de incremento ora da FG,ora da DC(18, 25). Com efeito, este é um fenómenoque extravasa a realidade da espécie humana, tendosido também descrita para outras espécies que sedeslocam pontualmente na posição bípede(2).De forma ténue, sustenta-se que é possível associare predizer o rendimento em provas de meio-fundo efundo com base na economia de corrida(7, 17, 24, 29).No presente estudo, observou-se uma relação mode-rada, mas significativa onde o melhor rendimentoestava relacionado com um menor dispêndio energé-tico à velocidade definida. Para a amostra estudada,23% do rendimento na prova de 3000 metros foiexplicada pela economia de corrida dos atletas.Contudo, sendo o rendimento desportivo um fenó-meno multifactorial, não deixa de ser interessanteconstatar que os parâmetros bionergéticos têm umacapacidade preditiva da locomoção humana em meioterrestre satisfatória(3, 19, 42).Em conclusão, verificou-se uma relação determinísti-ca entre as variáveis estudadas, onde: (i) os parâme-tros mecânicos do ciclo gestual (FG e DC) foram pre-ditores respectivamente moderado e elevado da v;(ii) a v foi uma elevada preditora da Pmet e; (iii) aeconomia de corrida foi uma moderada preditora dorendimento desportivo. Ou seja, genericamente,verificou-se uma dependência moderada do rendi-mento dos meio-fundistas portugueses relativamen-

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te ao seu perfil fisiológico e este de forma elevadaface à resposta biomecânica. Assim sugere-se que,quer treinadores, quer atletas, passem a dar umamaior atenção ao padrão técnico de corrida já quenele poderá residir o alicerce para um melhor rendi-mento desportivo.

CORRESPONDÊNCIATiago M. Barbosa Instituto Politécnico de BragançaDepartamento de Ciências do Desporto e Educação Física Campus de Sta. ApolóniaApartado 11015301-856 BragançaPortugalE-mail: [email protected]

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José A. Bragada, Tiago M. Barbosa

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Esforço percebido durante o treinamento intervalado na natação em intensidades abaixo e acima da velocidade crítica

Flavio G. Suzuki 1

Nilo M. Okuno 1

Adriano E. Lima-Silva 3

Luiz A. B. Perandini 1

Eduardo Kokubun 4

Fábio Y. Nakamura 1,2

1 Grupo de Estudo das Adaptações Fisiológicas aoTreinamento (GEAFIT). Centro de Educação Física eDesportos, Universidade Estadual de Londrina, Brasil

2 Grupo de Estudo e Pesquisa em Metabolismo, Nutrição e Exercício. Centro de Educação Física e Desportos.Universidade Estadual de Londrina, Brasil

3 Laboratório de Pesquisa Morfo-Funcional, Universidadedo Estado de Santa Catarina, Brasil

4 Instituto de Biociências, Departamento de EducaçãoFísica, Universidade Estadual Paulista, Brasil

RESUMOO objetivo deste estudo foi verificar os efeitos das pausas e dasintensidades na resposta de esforço percebido durante o treina-mento intervalado na natação. Oito indivíduos realizaram ini-cialmente repetições de 100, 200 e 400 m para a determinaçãoda velocidade crítica (VC) e capacidade de trabalho anaeróbio(CTA). Em outras ocasiões, os sujeitos foram submetidos aquatro sessões de treinamento intervalado realizando repeti-ções de 200 m. Foram realizadas duas sessões a 95% e outrasduas a 110% da VC. A única diferença entre as sessões namesma intensidade de exercício foram os intervalos das pausas,de 20 ou 40 s. Ao final de cada repetição de 200 m, os partici-pantes reportavam o esforço percebido por meio da escala deBorg. A 95% da VC não foi verificada diferença significativa nocomportamento do esforço percebido entre os regimes de pau-sas de 20 e 40 s. Em contraste, a 110% da VC houve diferençassignificativas no esforço percebido reportado e no número derepetições realizadas (40 s = 5,7 ± 2,1 repetições; 20 s = 4,0± 1,0 repetições) entre os regimes de pausas. Dessa forma, opossível mecanismo explicativo para as respostas do esforçopercebido abaixo e acima da VC em diferentes regimes de pau-sas parece ser a utilização ou não da CTA.

Palavras-chave: natação, velocidade crítica, esforço percebido.

ABSTRACTPerceived exertion during swimming interval training at intensi-ties below and above critical velocity

The aim of the present study was to verify the effects of rest intervalsand intensities in perceived exertion responses during swimming inter-val training. Eight individuals performed initially 100, 200 and 400m bouts for the critical velocity (VC) and anaerobic work capacity(CTA) estimation. Additionally the subjects were submitted to four ses-sions of interval training comprised by 200 m bouts. It was conductedin two sessions at 95% and 110% of VC. The only difference betweenthe sessions at the same intensity of exercise was the rest intervals of20 or 40 s. At the final of each 200 m bout, the participants reportedthe perceived exertion through Borg scale. At 95% of VC there was notsignificant difference in perceived exertion responses between the 20and 40 s rest intervals regimes. Nonetheless, at 110% of VC there weresignificant differences in the perceived exertion reported and in numberof performed bouts (40 s = 5.7 ± 2.1 bouts; 20 s = 4.0 ± 1.0bouts) between the rest intervals regimens. Therefore, the possiblemechanism for the perceived exertion responses below and above theVC under different rest intervals regimens seems to be the utilization ornot of CTA.

Key-words: swimming, critical velocity, perceived exertion.

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INTRODUÇÃOTrabalhos de Wakayoshi et al.(32,33,34) foram os pri-meiros a aplicar o modelo de velocidade crítica (17,18)

à natação e a investigar seu significado fisiológico.Nesse contexto, a determinação do parâmetro foirealizada em swimming flume(32). Wakayoshi etal.(33,34) e outros(8,10,15) também testaram protocolosem piscinas. Não foram encontradas diferenças entreos valores de velocidade crítica (VC) determinadosnas duas formas de nado(33). Em adição, a VC estavaaltamente correlacionada com o limiar anaeróbioobtido por concentração fixa de 4 mM de lactatosangüíneo(15,32,33,34), além de se aproximar da veloci-dade de nado com máximo estado estável de lacta-to(15,34). Do ponto de vista prático, técnicos e atletas freqüen-temente não têm acesso a medidas de VC e respos-tas de lactato ao exercício. Dessa forma, prescrevemos treinamentos em função de percentuais dedesempenhos máximos nas distâncias, e/ou combase na percepção subjetiva do atleta.Tradicionalmente, o esforço percebido apresentarelação direta simples com as intensidades de exercí-cio(5). Recentemente, atribuiu-se ao esforço percebi-do um papel relevante na modulação da tolerânciaao exercício. Essa variável é entendida como umarepresentação central, complexa e integrada(6), dasdiversas funções corporais modificadas agudamentepela atividade muscular(30), sendo também influen-ciada por experiências de exercício acumuladas nopassado(1). Assim, o esforço percebido pode serfonte de informação importante para apontar oslimites de tolerância ao esforço, protegendo dedanos sistemas fisiológicos importantes, como o car-diovascular(22). Caso essa resposta possa ser relacio-nada a parâmetros de sobrecarga, as escalas de per-cepção de esforço poderiam ser utilizadas com maisfreqüência no contexto do planejamento e prescriçãodo treinamento de nadadores.Combinando os pressupostos do modelo de veloci-dade crítica com as noções mais atuais de esforçopercebido, foi proposto, recentemente, o limiar deesforço percebido (LEP)(19,20). Em tese, o LEP corres-ponde ao máximo estado estável de percepção deesforço, além de apresentar alta correlação com apotência crítica, VC e com um indicador do máximoestado estável do consumo de oxigênio(19,20), sendo

desta forma um demarcador de transição metabólicaentre o domínio intenso e severo de exercício(9).Adicionalmente, foi observado nesses dois estudosque em intensidades superiores a VC, o esforço per-cebido aumentava em função do tempo a uma taxaproporcional à intensidade. Uma possível explicaçãopara o fenômeno seria que o esforço percebido nasintensidades severas(9) seria regulado pela velocidadede utilização da capacidade de trabalho anaeróbio(CTA). Esse segundo parâmetro do modelo é repre-sentativo da capacidade de transferência energética apartir dos estoques de fosfagênios e da glicóliseanaeróbia(7,17,18). Assim, o esforço percebido emintensidades acima da VC seria uma conseqüênciados distúrbios periféricos associados à depleção defosfagênios e acidose metabólica, concomitante àmobilização crescente da atividade neuromotora efe-rente(6). Portanto, uma previsão lógica dessas inter-pretações recentes do modelo, é a ausência deaumento do esforço percebido em cargas retangula-res ou intervaladas abaixo da VC, porque nessascondições a CTA não seria modificada. Cabe ressal-tar que outros fatores não fisiológicos, relacionadosa fatores psicológicos e situacionais, bem comoexpectativas com relação à duração e/ou distância aserem percorridas, podem afetar a percepção subjeti-va de esforço(1,2,27). Isso motivou alguns autores aproporem escalas subjetivas de estimativas de temporemanescente de esforço.Foi elaborada a hipótese de que treinamentos inter-valados realizados em intensidades inferiores à VCseriam completadas sem alterações significativas noesforço percebido ao longo do tempo, uma vez queelas estariam associadas a intensidades inferiores aoLEP, e que a duração das pausas entre as repetiçõesnão influenciaria nessa resposta psicofísica, já que aCTA não seria utilizada. Já em intensidades maioresque a VC, a mobilização da CTA levaria à ausênciade estado estável nas respostas de esforço percebido,já que estariam associadas a intensidades superioresao LEP. Além disso, pausas mais curtas entre osesforços ocasionariam maiores respostas perceptivasdo que pausas mais longas. Isso porque, nessas con-dições mais severas de intensidade, o grau de utiliza-ção acumulado de CTA, sem a devida recuperação,deve interferir na modulação da tolerância ao esforçona natação.

Flavio G. Suzuki, Nilo M. Okuno, Adriano E. Lima-Silva, Luiz A.B. Perandini, Eduardo Kokubun, Fábio Y. Nakamura

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Dessa forma, foi objetivo deste trabalho verificar osefeitos das pausas e das intensidades na resposta deesforço percebido durante treinamento intervalado nanatação. A confirmação das hipóteses mencionadasacima permitiria a proposição de novas interpretaçõesacerca do significado fisiológico e das inter-relaçõesteóricas entre os parâmetros do modelo de velocidadecrítica e respostas de esforço percebido no exercício.

MÉTODOSSujeitosFizeram parte deste estudo oito adolescentes dosexo masculino (n=6) e feminino (n=2), com 15,6± 0,5 anos de idade, que participavam de competi-ções de nível estadual e treinavam cinco vezes porsemana. A experiência dos atletas em competiçõesvariava entre dois e cinco anos. Todos os partici-pantes e seus responsáveis foram informados sobreos procedimentos do estudo e assinaram termo deconsentimento livre e esclarecido aprovado peloComitê de Ética em Pesquisa da UniversidadeEstadual de Londrina.

Determinação dos parâmetros do modelo de velocidade críticaPreviamente aos testes para determinação dos parâ-metros do modelo de velocidade crítica, todos ossujeitos realizaram aquecimento habitual sem con-trole direto dos investigadores. O aquecimento nãofoi monitorado pelos avaliadores, pois foi o técnicoquem aplicou o aquecimento diário para os treina-mentos. Após o aquecimento, os sujeitos foram ins-truídos a reportar o momento em que se sentiampreparados para iniciar cada teste. A piscina em queo estudo foi conduzido tinha 25 m de comprimento.As distâncias utilizadas para os testes foram de 100,200 e 400 m(11,16). Houve aleatoriedade na ordem deimposição dos testes, os quais foram aplicados emdias diferentes, e individualmente. A orientação erapara que os nadadores percorressem as distâncias nomenor tempo possível. O tempo do desempenho foiregistrado por meio de um cronômetro manual,sendo realizada a aproximação em décimos desegundo. Para estimativa da VC e CTA foi utilizada a equação:[Tempo = (Distância – CTA) / VC]. A equação(Distância = VC x tempo + CTA) não foi utilizada

pois segundo pressupostos matemáticos, a variávelindependente deve ser colocada no eixo x. Dessaforma, as variáveis foram realocadas, de modo a dis-tância ficar no eixo x. Os parâmetros foram calcula-dos por meio de regressão linear.

Treinamentos intervalados abaixo e acima da velocidade críticaApós terem a VC e CTA estimadas, os nadadoresrealizaram mais quatro sessões de testes. Essas qua-tro sessões foram treinamentos intervalados, daseguinte forma: (A) duas sessões com intensidadeequivalente a 95% da VC (abaixo da VC) e (B) duassessões com intensidade equivalente a 110% da VC(acima da VC). Tanto em (A) quanto em (B), solici-tou-se que os participantes realizassem o maiornúmero possível de repetições de 200 m na velocida-de pré-estabelecida, com 20 ou 40 s de pausas fixasentre os esforços. A seqüência dos treinamentos foialeatória, por meio de sorteio a priori da ordem a serseguida. Tanto em (A) como em (B) os participantesrealizaram até dez repetições. O controle da velocidade se deu por meio de sinaissonoros emitidos pelo avaliador durante todo o per-curso, mas, sobretudo nas viradas, com informaçõesadicionais realizadas com gestos manuais referentesàs diferenças entre o tempo real e o previsto, paraque a duração final das repetições se aproximassedos tempos a serem atingidos. As informações reali-zadas por gestos manuais eram obtidas pelo nadadorna primeira respiração realizada após o impulso davirada. A faixa de tolerância para erros no ritmo erade até 92,5% da VC em (A), e de 105% da VC em(B). Essas faixas de tolerância foram adotadas paraque não houvesse uma grande variação na intensida-de dos testes, na qual poderia comprometer a análisedos dados quando comparado os regimes de 20 e 40s. Não houve necessidade de controle da faixa supe-rior de erro porque raramente os nadadores realiza-vam as repetições em intensidades mais altas que aspré-definidas, com exceção da primeira, em todos ostreinamentos. Em (B), o limite inferior foi menosrigoroso porque a manutenção da velocidade pré-determinada era mais difícil, em função da altaintensidade. Depois de cada repetição, era dada ainformação do tempo total despendido na distância,para que o nadador pudesse realizar ajustes na

Esforço percebido e treinamento intervalado

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intensidade nas repetições subseqüentes em caso deerro. Caso repetisse performances aquém da faixa detolerância por duas vezes consecutivas, o treinamen-to era interrompido, e a última repetição era excluí-da da análise posterior. Ao final de cada repetição de 200 m, os participantesreportavam o esforço percebido por meio da escalade Borg de 15 pontos(5). Cabe ressaltar que os parti-cipantes não conheciam as hipóteses que estavamsendo testadas, mas tinham conhecimento de qualera o regime de treinamento intervalado a ser reali-zado no dia.

Tratamento estatísticoOs resultados de performance nos esforços máximosde 100 m, 200 m e 400 m, assim como a VC e aCTA, foram reportados mediante estatística descriti-va. Anteriormente a análise dos dados, foi realizadoo teste Kolmogorov-Smirnov (com correção deLilliefor´s) a fim de verificar a normalidade dosdados. A comparação entre as respostas de esforçopercebido durante os treinamentos intervalados,tanto a 95% quanto a 110% da VC, foi realizada apartir de ANOVA two-way para medidas repetidas,tendo como fatores regime de pausas (20 ou 40 s) eseqüência de repetições, e como variáveis dependen-tes tempos ou esforço percebido. O teste post hoc deNewman-Keuls foi utilizado para a identificação dasdiferenças pontuais entre as médias. Foi adotadoteste t para amostras pareadas na comparação donúmero de repetições realizadas em cada regime depausas, separadamente nas duas intensidades aserem atingidas. O nível de significância pré-estabe-lecido em todas as análises foi de p < 0,05.

RESULTADOSAs médias dos tempos da amostra estudada para asdistâncias de 100 m, 200 m e 400 m foram respecti-vamente de 76,8±12,1; 174,7±31,3 e 379,1±70,0 s.Os valores médios dos parâmetros VC e CTA dosnadadores foram iguais a 1,00±0,17 m.s-1 e 24,6 ±4,5 m, respectivamente. O valor médio de R2 foi de1,0±0,0, mostrando bom ajuste dos dados de perfor-mance à equação prevista pelo modelo. A Figura 1mostra o ajuste da equação prevista pelo modelo develocidade crítica aos resultados de um nadador daamostra.

Figura 1. Relação distância-tempo de um nadador pertencente à amostra.

Conforme mostrado na Figura 2, houve estabilidadedo tempo necessário para realização das repetiçõesde 200 m em intensidade equivalente a 95% da VC.Apenas um indivíduo não foi capaz de cumprir ameta de dez repetições, interrompendo, tanto compausas de 20 s quanto com pausas de 40 s, o treina-mento intervalado na 5ª repetição. Esse sujeito foieliminado da análise nessa etapa do estudo, por nãoacompanhar o comportamento do restante do grupo.Em ambas as situações, a 1ª repetição foi realizadaabaixo do tempo previsto. Todavia, nas repetiçõessubseqüentes os atletas conseguiram desempenharbastante próximos da intensidade a ser atingida.

Figura 2 – Tempos nas repetições de 200 m realizados a 95% da VC, com 20 e 40 s de pausas.

* diferença significante (p < 0,05) comparadas as repetições seguintes.

Na Figura 3, observa-se que não houve estabilidadedo desempenho nas repetições acima da VC. Noentanto, uma diferença significante entre os regimesde pausas só ocorreu na 3ª repetição. A análise foi

Flavio G. Suzuki, Nilo M. Okuno, Adriano E. Lima-Silva, Luiz A.B. Perandini, Eduardo Kokubun, Fábio Y. Nakamura

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limitada estatisticamente às três primeiras repetiçõesporque parte dos nadadores não conseguiu realizaros esforços seguintes. Os tempos nas últimas repeti-ções, associados à exaustão dentro de cada protoco-lo, não foram diferentes (p>0,05) quando compara-dos os treinamentos com 20 s (202,4±38,1 s) e 40 s(201±38,6 s).

Figura 3. Tempos nas repetições de 200 m realizadas a 110% da VC, com 20e 40 s de pausas.

* diferença significante (p < 0,05) na repetição entre os regimes de pausas. Obs.: Houve diferença significante entre todos as repetições realizadas den-tro do mesmo regime de pausas, com exceção da 2ª para a 3ª repetição do

regime com pausas de 40 s.

Com relação ao esforço percebido, não houve dife-renças (P>0,05) entre os regimes de pausas de 20 se de 40 s entre as repetições conduzidas a 95% daVC, apesar de tendência visual para que com pausasmais longas o esforço percebido fosse menor (figura4). Não houve estado estável de esforço percebido aolongo das repetições abaixo da VC. A tendência eraque os valores da segunda metade do treinamentofossem maiores que os valores da primeira metade.

Figura 4. Comportamento do esforço percebido em repetições de 200 m rea-lizadas a 95% da VC, com 20 e 40 s de pausas.

Obs.: Não houve diferença significante entre os regimes de pausas emnenhuma repetição.

A 110% da VC, em contraste com a intensidadeabaixo da VC, houve diferenças (p<0,05) no esforçopercebido reportado entre os regimes de pausas emtodos as repetições (Figura 5). Além disso, nova-mente, não houve estado estável do esforço percebi-do em quaisquer das condições.

Figura 5– Comportamento do esforço percebido em repetições de 200 mrealizadas a 110% da VC, com 20 e 40 s de pausas. * diferença significante

(p<0,05) em as repetições equivalentes, com 40 s de pausa. Obs.: Houve diferença significante (P<0,05) entre todos as repetições dentro

do mesmo regime de pausas.

Na comparação do número de repetições realizadasem intensidade acima da VC em cada regime depausa (Tabela 1), houve diferença significante(p<0,05), sendo maior com 40 s (5,7±2,1 repeti-ções) do que com 20 s (4,0±1,0 repetições).

Tabela 1. Número de repetições de 200 m em intensidades acima da VC com pausas de 20 e 40 s, para todos os sujeitos.

Pausas Número de repetições de 200 m

Sujeito Sujeito Sujeito Sujeito Sujeito Sujeito Sujeito 1 2 3 4 5 6 7

20 s 3 5 3 5 3 4 540 s 3 7 3 7 8 7 5

DISCUSSÃONossos resultados apontaram que dos oito compo-nentes da amostra estudada, sete conseguiram per-correr um total de 2000 m (10 x 200 m) sem exaus-tão em intensidade abaixo da VC (95%), e sem dife-renças nas respostas de esforço percebido entre asrepetições correspondentes, com pausas de 20 e 40 s. A explicação desses resultados se deve à VC ser con-siderada a maior intensidade que pode ser mantida

Esforço percebido e treinamento intervalado

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por um longo período de tempo sem a ocorrência dafadiga(17). Além disso, essa variável está relacionadaao máximo estado estável de lactato e consumo deoxigênio(15,18,29,34). Quando o indivíduo realiza exercí-cios acima da VC, há a utilização da CTA para com-plementar a demanda necessária do exercício quenão consegue ser suprida pelo sistema aeróbio, equando ocorre o esgotamento dessa reserva, o indiví-duo entra em exaustão. Alguns estudos têm demons-trado que CTA está relacionada ao máximo déficitacumulado de oxigênio(7,14). Esses pressupostos con-firmam parte das previsões inicialmente delineadaspara este estudo baseadas em nossos estudos recen-tes(19,20), em que observamos que a taxa de aumentodo esforço percebido, em cargas severas de traba-lho(9), era proporcional à intensidade do exercício. Aextrapolação da relação linear entre a taxa de aumen-to do esforço percebido (ordenada) com a intensida-de do exercício (abscissa) forneceu um intercepto noeixo x em que, teoricamente, o esforço percebidoteria seu máximo estado estável. Essa intensidade,correspondente ao LEP, o qual não foi diferente daVC e potência crítica(19,20). Dessa forma, a nossahipótese de explicação era de que a CTA seria ummodulador sensorial e perceptivo dos limites de tole-rância do exercício. Em situações de utilização daCTA, o esforço percebido aumentaria até o indivíduoentrar em exaustão. Como em intensidade abaixo daVC (95%) não há utilização da CTA, diferentes tem-pos de pausas entre as repetições teoricamente nãoinfluenciariam na resposta perceptiva dos indivíduos.Já em relação à intensidade de 110% da VC, osresultados mostraram que com 20 s de pausa entreas repetições o esforço percebido era significante-mente maior nas três primeiras repetições, quandocomparado com os valores obtidos no treinamentointervalado com 40 s de pausa. O mecanismo responsável pelo comportamento doesforço percebido na condição supracitada seria arelação diferenciada entre utilização e reposição daCTA. De acordo com o modelo de LEP, a taxa deaumento do esforço percebido seria proporcional àmobilização do metabolismo anaeróbio (acúmulode H+, depleção de fosfagênios), e em pausasmenores de treinamento intervalado acima da VC,a recuperação da CTA seria menor. É provável queesse fato tenha determinado o comportamento do

esforço percebido nas situações de 20 s e 40 s depausas, e também na tolerância ao esforço emambas as condições (20 s=4,0±1,0 repetições; 40s=5,7±2,1 repetições). Trabalho recente de Seiler e Hetlelid(27) demonstra-ram que corredores bem treinados submetidos a trei-namento intervalado em esteira, objetivando a manu-tenção da maior velocidade média possível durante6x4 min, não apresentaram diferenças de esforço per-cebido em cada uma das repetições quando eram per-mitidas pausas de um, dois, ou quatro minutos entreos esforços. Eles sustentaram velocidades médiasentre 83-85% da velocidade associada ao VO2max. Éprovável que essa intensidade tenha sido escolhidaem todos os regimes de pausa por se aproximar daintensidade de limiar anaeróbio(29), ou VC.A questão principal a ser investigada seria a origemdos estímulos aferentes de aumento do esforço per-cebido nessa condição de ausência de mobilização daCTA. Estudo de Baldwin et al.(4) apresenta evidên-cias de que o construto governador central poderiaatuar nessa condição, sendo a principal fonte deretroalimentação e integração central um mecanismode glicostato(26). Ele teria propriedade de monitoraros estoques musculares de glicogênio e modular oritmo de exercício em atividades com metas de dis-tâncias fixas. Assumiu-se que as reservas de glicogê-nio não seriam repostas nos intervalos de pausas de20 ou 40 s. A reposição parece demandar minutos(até uma hora) para ocorrer de formasignificativa(14).Dessa forma, a utilização (acima da VC) ou não(abaixo da VC) da CTA parece modular as respostasperceptivas aos exercícios intervalados.Particularmente na 1ª repetição do treinamentoacima da VC, não se esperava diferença no esforçopercebido (figura 5), já que os tempos não diferiram(figura 3). Uma explicação provável para o fenômenoseria que os nadadores sabiam a priori a intensidade eo regime de pausas a que seriam submetidos. Assim,por experiência prévia(1), teriam condições de elabo-rar resposta antecipatória (feed forward), “forçando” amaiores níveis de percepção de esforço no regimemais pesado em função das menores pausas (20 s).Neste estudo, tanto na intensidade abaixo da VCquanto acima da VC, estabeleceu-se um limite supe-rior de dez repetições de 200 m, que perfaziam um

Flavio G. Suzuki, Nilo M. Okuno, Adriano E. Lima-Silva, Luiz A.B. Perandini, Eduardo Kokubun, Fábio Y. Nakamura

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total de 2000 m. Esse limite foi estabelecido paranão sobrecarregar excessivamente os atletas avalia-dos. Contudo, abaixo da VC, praticamente todos oscomponentes da amostra conseguiram completar asdez repetições. Já acima da VC, nenhum deles conse-guiu completar mais de oito repetições, sendo amédia de repetições menor com 20 s de pausa entreos esforços do que com 40 s (20 s: 4,0±1,0 repeti-ções; 40 s: 5,7±2,1 repetições) (Tabela 1). Na inten-sidade acima da VC, a exaustão ocorreu por falta decondições para que o ritmo pré-estabelecido pudesseser mantido pelo nadador. Dessa forma, o critériopara finalização das séries nas diferentes intensida-des foi diferente. Segundo trabalho recente de Baden et al.(3), as res-postas perceptivas ao esforço são dependentes daforma como se dá o estabelecimento de meta parasua finalização. Nesse estudo, uma amostra foi leva-da a se exercitar sob três condições, todas a 75% davelocidade de pico obtida em protocolo incrementalna esteira. Em uma das situações (A), recebiam ainstrução de que correriam por 20 min nessa inten-sidade. Em outra (B), não havia informação sobre aduração, mas ela se mantinha em 20 min. Na tercei-ra situação (C), os sujeitos eram enganados, porquerecebiam a informação de que correriam por dezminutos, mas ao final desse período eram informa-dos de que teriam que correr mais dez minutos.Entre o 10° e o 11° minutos, houve aumento abruptodo esforço percebido em (C), o qual persistiu até o17° minuto maior que em (A) e (B). Esse esforçopercebido aumentado estava associado a experiên-cias emocionais negativas como raiva, frustração edesconfiança. Isso mostra que a forma de estabeleci-mento de meta para o exercício pode interferir nasrespostas perceptivas.De acordo com Ulmer(31), sinais motores eferentespara os músculos em atividade não incluem apenascomandos de parâmetros espaço-temporais para ocontrole dos movimentos. Eles contêm também infor-mações para controle extracelular da taxa metabólicasustentável no exercício. A realização freqüente deexercícios não propiciaria somente retenção de melho-res padrões mecânicos de controle motor, mas tam-bém de padrões de regulação e controle dos ajustesagudos ao desgaste energético. Isso poderia evitar afadiga precoce, ou perturbação danosa da homeostase.

Os mecanismos de controle central do ritmo deexercício foram coletivamente chamados de teleoan-tecipação(31). Os mecanismos de teleoantecipação,em tese, permitem a realização de projeções imedia-tas de performance tendo como base estimativas dareserva metabólica, taxa metabólica atual e a distân-cia para a meta final. Atuam também as experiênciasprévias com exercício(1). Dessa forma, de acordo como modelo de Ulmer(31), o esforço percebido pode servisto como uma ferramenta útil para acessar asestratégias teleoantecipatórias empregadas peloorganismo. Além disso, pode permitir o estabeleci-mento de critérios operacionais para definir algumasvariáveis do treinamento intervalado, sobretudo rela-cionadas à intensidade.Em contraste com o modelo de teleoantecipação,que foi revisto e proposto pelo grupo de Noakes emtorno do conceito de governador central, o de veloci-dade crítica se enquadra dentre os que Noakes e StClair Gibson(25) consideram modelos “catastróficos”.Modelos “catastróficos” são aqueles que pressupõemque o limite de tolerância a esforços com diferentescaracterísticas de intensidade/duração é estabelecidopor eventos bioquímicos de degradação de substra-tos (glicogênio, fosfagênios) e/ou acúmulo de meta-bólitos (ácido lático) até níveis críticos, que resultamem ruptura da homeostase celular, precipitando aexaustão voluntária. De certa forma, os pressupostosdo modelo de velocidade crítica são eminentementeenergéticos/catastróficos, na medida em que expli-cam a exaustão em atividades severas(9) medianteaumento da taxa metabólica acima da VC de forma aprovocar depleção da reserva anaeróbia. Portanto, oevento catastrófico seria a utilização total da CTA.Noakes e seus colaboradores, no entanto, apresen-tam fortes argumentos contra esse paradigma clássi-co da área. Os argumentos remontam os trabalhosseminais de A.V. Hill, e podem ser encontrados emNoakes(21), Noakes et al.(22) e principalmente emNoakes e St Clair Gibson(24).O modelo de governador central, apresentado comoalternativa aos modelos catastróficos, prevê que osriscos de isquemia cardíaca e distúrbios excessivosdo estado energético em nível muscular, assim comooutras possíveis informações aferentes importantes,são constantemente monitorados pelo sistema ner-voso central, modulando alterações na ativação neu-

Esforço percebido e treinamento intervalado

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romuscular, sobretudo na iminência de qualquerdano a órgãos ou sistemas fisiológicos. Dessa forma,o exercício realizado sob hipóxia, por exemplo,induz uma menor atividade eletromiográfica no exer-cício máximo, bem como redução do débito cardíacomáximo(22). Essas respostas são complexas, poisenvolvem tanto retroalimentação quanto pré-alimen-tação por parte do governador central, e a relaçãoentre ambas determina a tolerância e a percepção aoesforço conduzido sob diversas condições.Segundo Baldwin et al.(4), ao final de um exercícioaté o limite de tolerância a cerca de 70% doVO2max, não houve redução da reserva de nucleotí-deos de adenina (ATP + ADP + AMP) ou modifica-ção na concentração dos intermediários do Ciclo deKrebs. Isso ocorreu tanto com depleção prévia ounão de glicogênio muscular. Ou seja, não houve evi-dência de evento “catastrófico”. Em adição, segundoNoakes et al.(23), a condição com depleção prévia deglicogênio aumentou o esforço percebido a uma taxamaior que a condição sem depleção. O tempo detolerância foi menor no primeiro. Porém, quando osdados eram plotados em relação ao percentual dotempo total de manutenção do esforço, havia sobre-posição das duas funções lineares. Esse achado foiutilizado como argumento de que o esforço percebi-do teria capacidade de projeção, por intermédio dogovernador central, do tempo de tolerância até aocorrência da exaustão. Sua principal fonte de infor-mação, nesse caso, seriam os estoques de glicogênioremanescentes. Isso explicaria o aumento do esforçopercebido nos protocolos realizados abaixo da VCque, inicialmente, não era prevista neste estudo.A maior limitação deste estudo foi o número de par-ticipantes. Portanto, ele se apresenta como estudoexploratório, já que as implicações teóricas dosresultados voltarão a ser testadas em trabalhos futu-ros, quiçá com atletas mais experientes e comdesempenho competitivo melhor. Ainda assim, espe-ram-se respostas similares, pois os mecanismos deteleoantecipação em atletas com mais anos acumula-dos de treinamento devem ser mais consistentes.Dessa forma, os resultados do presente estudo apon-tam que o esforço percebido apresenta comporta-mento diferenciado em intensidades abaixo e acimada VC. Em treinamento intervalado com diferentespausas (20 ou 40 s) em intensidade inferior à VC,

não há diferença na resposta perceptiva entre asrepetições correspondentes. Por outro lado, emintensidade superiores à VC, intervalos menoresentre as repetições provocam maior percepção deesforço do que pausas mais longas, propondo comomecanismo explicativo a utilização ou não da CTA.

CORRESPONDÊNCIAFábio Yuzo NakamuraGrupo de Estudo das Adaptações Fisiológicas ao TreinamentoCentro de Educação Física e DesportosUniversidade Estadual de LondrinaRod. Celso Garcia Cid, km 380Campus UniversitárioCEP 86051-990 - LondrinaPR - BrasilE-mail: [email protected]

Flavio G. Suzuki, Nilo M. Okuno, Adriano E. Lima-Silva, Luiz A.B. Perandini, Eduardo Kokubun, Fábio Y. Nakamura

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Esforço percebido e treinamento intervalado

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Rev Port Cien Desp 7(3) 308–312308

Electromiographic signal reliability analysis during maximum and submaximum knee isometric actions

Michel A BrentanoEduardo M SilvaEduardo L CadoreLuiz FM Kruel

Exercise Laboratory ResearchPhysical Education SchoolFederal University of Rio Grande do SulBrazil

ABSTRACTThe objective of this paper was to verify the reliability of theamplitude of the EMG signal of the vastus lateralis muscle(VL) in the right thigh, in different occasions, during maxi-mum and submaximum knee extensors isometric actions.Three people performed the following protocol: execution of 3maximum voluntary isometric contractions (MVCs) during 3 seach, with later execution of submaximum actions (20, 40, 60and 80% of the MVC), calculated considering the MVC of thehighest torque peak. Each submaximum contraction (SC) last-ed 4 s and was kept through a visual feedback (oscilloscope).Between each MVC and among the SC a 2 min gap was given.Parallel to the actions, EMG signal of the VL muscle wasobtained through the surface electrodes put on the muscle ven-ter longitudinally to the direction of the fibers. A referenceelectrode was positioned in the tuberosity of the tibia. To attestthe same position among the sampling the site of the elec-trodes was marked with a pen for retroprojector. The same pro-tocol was performed after 48hs for reliability analysis. Suchanalysis was made through Pearson correlation, with signifi-cance p<0.05. After signal processing and comparison of rootmean square values, obtained in the test and re-test, it wasfound a high correlation among these values (r=0.972,p<0.01). These results suggest the reliability of the EMG sig-nal, which would make its usage available for investigationsthat aim at comparing its amplitude in acquisitions performedin different occasions.

Key-words: electromiography, reliability, isometric actions.

RESUMOAnálise da reprodutibilidade do sinal electromiográfico duranteacções isométricas máximas e submáximas dos extensores do joelho

A amplitude do sinal eletromiográfico (EMG) tem sido utilizada pararelacionar a ativação das unidades motoras com sua produção de força,durante um período de treinamento. A validade dessas mensurações édiscutida devido algumas limitações da técnica, da eletromiografia desuperfície, que acarretariam na dificuldade de reproduzir o sinal EMG,em diferentes aquisições. Assim, o objetivo do estudo foi verificar areprodutibilidade da amplitude do sinal EMG do músculo vasto lateral(VL) da coxa direita, em diferentes ocasiões, durante ações isométricasmáximas e submáximas, dos extensores do joelho. Três indivíduos reali-zaram o seguinte protocolo: execução de 3 contrações voluntárias iso-métricas máximas (CVMs), durante 3 s cada, com posterior execuçãode contrações submáximas (20, 40, 60 e 80% da CVM), calculadas apartir da CVM de maior pico de torque. Cada contração submáxima(CS), teve a duração de 4 s e foi mantida através de um feedbackvisual (osciloscópio). Entre cada CVM e entre as CS foram ministrados2min de intervalo. Paralelamente às contrações, o sinal EMG do mús-culo VL foi obtido através de eletrodos de superfície colocados no ventremuscular, longitudinalmente à direção das fibras. Um eletrodo de refe-rência foi posicionado na tuberosidade da tíbia. Para certificar o mesmoposicionamento entre as coletas, o local dos eletrodos foi marcado comcaneta tipo “retroprojetor”. O mesmo protocolo de teste foi realizadoapós 48hs para análise da reprodutibilidade. Tal análise foi realizadaatravés da correlação de Pearson, com significância, p<0,05. Após oprocessamento do sinal e comparação dos seus valores root mean squa-re, obtidos no teste e re-teste, verificou-se uma alta correlação entreesses valores (r=0,972, p<0,01). Esses resultados sugerem a reprodu-tibilidade do sinal EMG, o que possibilitaria a sua utilização em inves-tigações que visem à comparação de sua amplitude em aquisições reali-zadas em diferentes ocasiões.

Palavras-chave: eletromiografia, reprodutibilidade, ações isométricas

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INTRODUCTIONEletromiography (EMG) is the study of the muscularfunction through the electric signal sent by the mus-cle(2). The Surface Electromiography Technique hasbeen broadly used in the search of quantification ofthe total amount of the potentials of muscle action,represented by the amplitude of the EMG signal andby its correlations to the process of muscle strengthgeneration(3,9).It is well known that the amplitude of the EMGsignal is related to a certain extent to the strengththat the muscle can produce. The characteristic ofthis relationship between strength x EMG is notcompletely understood. Moritani and DeVries(11),Woods and Ritchie(18), Lawrence and De Luca(10),Narici et al.(12) and Sbricolli et al. (16), registereda linear correlation between the values of theamplitude of the EMG signal and the isometricstrength of muscles such as the biceps brachii, thevastus lateralis, the soleous among others. On theother hand, Wood and Richtie (17) and Lawrenceand DeLuca(9) identified a curvilinear relationshipto muscles such as the triceps brachii and thedeltoid. So, it seems that the characteristic of theexisting relationship between the amplitude of theEMG signal and the strength is directly dependenton the evaluated muscle.Considering the existing relationship between thestrength and the EMG signal, several authors startedto use the Surface Electromiography technique tothe study of neuromuscular adaptations, during aperiod of strength training(5,6). Once the amplitudeof the EMG signal is determined by the frequency ofmuscular activation and by the number of recruitedmotor units, the increase in the amplitude of theEMG signal after training might suggest the exis-tence of neural adaptations occurred with the train-ing(7). However, the validity of this analysis is widelydisputed due to some limitations of the technique,which would make the reproducibility of the EMGsignal difficult(3).That being so, the objective of this study was to ver-ify the possibility of reproducing the EMG signalduring maximum and submaximum isometricactions of the knee extensors in the vastus lateralis(VL) of the right thigh.

MATERIALS AND METHODSSubjectsThree young physically active individuals, of 20, 22and 25 years of age, without skeletal-muscle limita-tions, currently studying at the Physical EducationSchool of the Federal University of Rio Grande doSul (UFRGS) were invited to take part in the study.

Preparation of the individualsIn a first moment, the individuals were gathered inthe Laboratory of Research in Exercise at UFRGSwhere the experimental procedures were explainedand doubts were solved.Later on, in order to acquire the EMG signal, shav-ing and cleaning the skin with cotton moisted inalcohol gel was necessary for the applying of theelectrodes. The surface electrodes were then posi-tioned in bipolar configuration, longitudinally to thedirection of the muscular fibers, in the venter of thevastus lateralis towards the muscular fibers, accordingto the recommendation proposed by Basmajian &DeLuca(2), DeLuca(3) and Pincivero et al.(14). Thedistance between the electrodes is set in 2cm, typicalof the model of electrode used (NORAXON, model# 242) and, between the two samples, the imped-ance level between the electrodes was measured,controlled and kept below 3,000 Ohms(12), throughthe verification made by a multimeter. A referenceelectrode was put on the front face of the tibia. Theposition of the electrodes was marked in the skinwith a marker for retroprojector in order to assurethe same position of the electrodes between the twosamples(4).

Isometric ProtocolAfter the preparation and positioning of the elec-trodes, each individual warmed-up using a bicycleergometer, with light intensity during 5 minutes.Then they went to the chair of the isokineticsdynamometer where they were attached by bands thatcrossed their torax and pelvis. Hips and knees stayedin angles of 110 and 107 degrees respectively(7) andthe knee articulation was lined with the rotation axisof the dynamometer. In the protocol, similar to theone used by Moritan & DeVries (11) and Rabita etal.(15), 3 maximum voluntary contractions were per-formed (MVCs) each one being of 3 seconds.

EMG signal reliability during exercise

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The MVC with the highest torque peak was used tocalculate the different percentages of the submaxi-mum isometric strength (20, 40, 60 and 80% ofCVM), which were lately executed for 4 seconds andkept through the visual feedback, given by an oscil-loscope. Between each MVC and among the foursubmaximum contractions 2 minutes’ break periodswere made to avoid muscle fatigue effects. The sameprotocol was executed 48 hours after the first acqui-sition to verify the reproducibility of the signal.The torque (Nm) of the knee extensors muscles wasobtained through the values registered by thedynamometer and transmitted simultaneously to theEMG signal collected by the electromiographer, tothe CODAS program of data acquisition and to theoscilloscope in order to make the visualization of thedifferent percentages of the MVC possible. Theacquisition of the torque curves (EMGvlat) was madeusing a sampling frequency of 2.000 Hz (2) andspecifically to the signal EMG gains ranging between1.000 and 2.000 K were used.

Treatment of the torque dataIn each evaluation, the torque curves and the signalEMG of the VL muscle were saved in a continuousfile. After the samples were gathered, the differentpercentages of the isometric strength were identi-fied through the plateaus produced during the pro-tocol. Immediately, each percentage was classifiedin order to produce independent files (ex: 20, 40,60, 80% and MVC) for later analysis in theSAD2(32bits) 2.61.05 mp data acquisition systemelaborated in the Laboratory of MechanicMeasurements at the UFRGS. After the classifica-tion the five files of each individual were importedin the SAD2 data acquisition system for the pro-cessing of the curves. So, the torque curves were fil-tered with a butterworth filter of 9th order with cut--off frequencies ranging from 0 to 9 Hz.The torque curves preserved the unit used in theiracquisition, in this case, volts (V). So, after the filter-ing process in the file with maximum torque, it wasidentified the point of maximum torque production,in order to calculate the values of the curves thatshould be used as reference for the classification ofthe EMG signals of the VL muscle in the respectivepercentages of the MVC (20, 40, 60 and 80%).

EMG Signal analysisAfter the import of the curves in the SAD2 dataacquisition system, the following treatment of theEMG signal was performed: 1- removal of the con-tinuous components; 2- removal of the gains used inthe acquisition process; 3- filtering of the signal witha filter of butterworth of 5th order and cut-off fre-quencies ranging from 20 to 500 Hz; 4- filtering ofthe signal with a filter via FFT of the kind “removesautomatic peaks”, with average bandwidth and ratioof 30 and 2 respectively; 5- identification, in theEMG, of the corresponding place to the torque curveequivalent to the level of effort made; 6- generationof windows with 1 second in the EMG signal in thepoint previously identified; 7- generation of“envelopes” root mean square (rms) with gaps of 50ms, in windows previously created; and 8- identifica-tion of the average values of each “envelope” RMS,that were used as representative values of each EMGcurve, in the different levels of voluntary effort. Thefiltering procedures follow the proposed recommen-dation by DeLuca(3), while the classifying and quan-tification were similar to the ones used by Pinciveroet al.(14).

Statistical AnalysisA statistical package SPSS version 11.0 was used fordata comparison. Descriptive statistics was alsoused. The normality and homogeneity were analyzedthrough tests of Shapiro-Wilk and Levene respec-tively. The reliability of the signal was proved to betrue with the test of Pearson intra-class correlation,and the level of significance was considered p<0.05.

RESULTSTable 1 presents the values rms EMG obtained bythe different individuals with the respective levels ofisometric effort required in the first and in the sec-ond sampling.

Michel A. Brentano, Eduardo M. Silva, Eduardo L. Cadore, Luiz F.M. Kruel

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Table 1. Values rmsEMG on the different days of sampling (1 and 2) obtainedfrom the different individuals (1, 2 and 3) in the respective levels of required

isometric effort (MVC, 80, 60, 40 and 20%).

rmsEMG 1 rmsEMG 2values (mV) values (mV)

MVC 0.39 0.38 Individual 1MVC 0.39 0.4 Individual 2MVC 0.49 0.48 Individual 380% 0.34 0.3 Individual 180% 0.26 0.35 Individual 280% 0.33 0.35 Individual 360% 0.25 0.2 Individual 160% 0.21 0.23 Individual 260% 0.24 0.26 Individual 340% 0.14 0.13 Individual 140% 0.11 0.14 Individual 240% 0.13 0.15 Individual 320% 0.06 0.05 Individual 120% 0.07 0.07 Individual 220% 0.07 0.08 Individual 3

rmsEMG, electromiographic root mean square; MVC, maximum voluntary contraction; mV, milivolts.

Figure 1 shows the existence of a high correlation(r=0.972, p>0.01) among rms values of the EMG sig-nal of the VL muscle obtained in the 2 evaluations.

Figure 1. Values rms (mV) of the electromiographic signal of the VL muscle,obtained in the first (EMG1) and in the second (EMG2) evaluation.

DISCUSSIONReported data about the reproducibility of the EMGsignal are controversial when small gaps betweentest and re-test have been accessed(1,17,18). Theresults obtained in the present study suggest thepossibility of reproducing the EMG signal of the VL

muscle with great reliability in short gaps betweenone sampling and the other one. Moritan &DeVries(11) in similar methodological approach hadregistered good reproducibility of the EMG signal(r=0.998; p<0.001), in the biceps brachii muscle inyoung men and women. Later on, analyzing theeffects of strength training about neural adaptationof the individuals, Hartobágyi et al.(8) verified thereproducibility of the EMG signal in the vastus later-alis muscle in young Caucasian people. This authorfound a high correlation (r=0.96) among the acqui-sitions performed, however the study does not showthe protocol used. Bamman et al.(1) observed highICC between EMG values obtained among 5 days(0.71 to 0.90), in three superficial quadriceps mus-cles: rectus femoris, vastus medialis e vastus lateralis.Viitasalo e Komi(18) showed similar values (0.77 to0.93) in rectus femoris, however they observed higherreproducibility of measurements within the test ses-sion than between different days.The present study showed high levels of repro-ducibility between EMG signals obtained of vastuslateralis muscle. Because no difference was observedin peak torque between days, the increased day-to-day variability in EMG was not likely due to atorque-dependent source of error (e.g. subject moti-vation). Sources of measurement error that couldaccount for differences between test days includeelectrode position and skin preparation; however,these were controlled in our study.Although evidences that the EMG signal can bereproducible in different acquisitions, in a recentstudy Kolmitzer et al.(9), verified that different gapsof time among the acquisitions could influence thereliability of the signal of the rectus femoris muscle.When the gap of time among the samplings was just3 minutes, the presented correlation was too high(r=0.999). After a 90-minute gap the correlationkept high (r=0.945). However, when the gap amongthe samplings was of six weeks, although the corre-lation had kept high (r=0.871) it was significantlysmaller when compared to the previous correlations.That’s why caution is suggested while analyzing theamplitude of the EMG signal in acquisitions madewith long gaps of time. In this case some care mustbe taken concerning the positioning of the elec-trodes, mainly in studies that evaluate the rehabilita-

EMG signal reliability during exercise

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tion or the muscular training, once long periods oftime between the test and the re-test are necessary.

CONCLUSIONThe reliability of the EMG signal in the vastus later-alis muscle in maximum and submaximum levels ofvoluntary isometric effort seems feasible in shortperiods among different acquisitions. This couldmake its use possible in investigations that aim atcomparing the amplitude of this signal in differentoccasions.

CORRESPONDENCEMichel Arias BrentanoRua: Felizardo, nº 750Bairro: Jardim BotânicoC.P.: 90690-200Escola de Educação Física/ LAPEX sala 208Porto Alegre, RSBrazilE-mail: [email protected]

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Michel A. Brentano, Eduardo M. Silva, Eduardo L. Cadore, Luiz F.M. Kruel

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Uso de células de carga para mensuração da força dos membros inferiores em nado ondulatório

Marcelo Papoti 1,3

Ricardo Vitório 2

André B. Velosa 3

Sergio A. Cunha 4

Adelino S. Ramos da Silva 3

Luiz E. B. Martins 5

Claudio A. Gobatto 3

1 Faculdades Integradas de Bauru — CEPAF, Brasil2 Laboratório de Pesquisa em Educação Física — LAPEFUNESP, Brasil

3 Laboratório de Fisiologia Aplicada ao Esporte, IBUNESP, Brasil

4 Laboratório de Análises Biomecânicas, UNESP, Brasil 5 Laboratório para instrumentação em Fisiologia do Exercício, UNICAMP, Brasil

RESUMOConsiderando a crescente utilização da técnica de nado ondula-tório submerso (NOSB) durante a saída e as viradas nas provasde nado crawl, o presente estudo objetivou determinar a forçados membros inferiores em nado ondulatório (FMINO) e suascorrelações com as performances máximas do NOSB e nasuperfície (NOSP). Para isso 19 nadadores com idade de15,2±0,6 anos filiados a federação aquática paulista foram sub-metidos a um esforço máximo de 30s de FMINO, atados a umdinamômetro contendo células de carga como elemento sensorprimário. A tensão detectada pelo dinamômetro, devido aosesforços dos nadadores, foi amplificada por uma fonte deextensometria. Os valores obtidos foram enviados ao computa-dor armazenados na freqüência de 200 Hz e suavizados utili-zando o filtro “butterworth” de quarta ordem com freqüênciade corte de 3 Hz. Com a utilização da reta de calibração pode-se converter valores de tensão (mV) em unidades de força (N)pelo programa Matlab 5.3, possibilitando assim a determinaçãodos valores médios de FMINO. Posteriormente os nadadoresrealizaram esforços máximos de 15 m de NOSB e de 25 mNOSP. As possíveis relações entre esses três esforços, foramanalisadas utilizando o teste de correlação de Pearson comnível de significância pré-fixado para P<0,05. Verificamos valo-res de 53,85±11,45 N, 1,19±0,14 m.s-1 e 1,76±0,26 m.s-1 paraa FMINO, NOSB e NOSP, respectivamente. A FMINO apresentousignificativas correlações com a NOSB (r=0,80) e NOSP(r=0,76). Os resultados do presente estudo sugerem a utiliza-ção da FMINO na avaliação e predição do NOSB e NOSP de nada-dores treinados. No entanto mais pesquisas são necessáriaspara verificar a sensibilidade da FMINO aos efeitos específicosdo treinamento em natação.

Palavras-chave: nado ondulatório; nado atado; mensuração deforça.

ABSTRACTUse of load cells to measurements of underwater dolphin kickiforce in swimming tethered

Considering the crescent utilization of the underwater dolphin kick(NOSB) techniques during the beginning and the turns of front crawlevents, the main purpose of the present study was to determine the dol-phin kick force (FMINO) in tethered swimming and its correlationswith the maximal performance determined in NOSB and in dolphin kickwith a commercial board (NOSP). Nineteen male swimmers with meanage of 15.2±0.6 years and affiliated with Sao Paulo AquaticFederation participated in the present study. The athletes were submit-ted a 30-s maximal effort of dolphin kick tethered to a dynamometerwith strain gages (load cells) as a primary sensor element. The tensiondetected by the dynamometer due the swimmers’ efforts was amplifiedby an extensometer font. The results obtained during the efforts weresent to a computer using an interface and were stored in a data acquisi-tion program at 200 Hz. After these procedures, the results weresmoothed using the “butterworth” filter of fourth order with 3-Hz fre-quency. Using the calibration straight line, the values were convertedinto force units (N) by the Matlab 5.3 program. This conversionallowed the determination of the dolphin kick mean force in tetheredswimming (FMINO). Then, the swimmers performed a 15-m maximumeffort of underwater dolphin kick (NOSB) and another 25-m maximumeffort of dolphin kick using a commercial board (NOSP). The relation-ships between these three maximum efforts were analyzed using thePearson’s correlation coefficient. A significance level of 5% was chosen.The mean ± standard deviation of FMINO, NOSB and NOSP were53.85 ± 11.45 N, 1.19 ± 0.14 m.s-1, and 1.76 ± 0.26 m.s-1, respec-tively. The FMINO presented significant correlations with NOSB (r=0.80) and NOSP (r= 0.76). According to the results of the presentstudy, the use of FMINO to evaluate and predict the NOSB and NOSP ofexpert’s swimmers is suggested. However, more studies are necessary toverify the sensibility of the FMINO to specific effects into the swimmingtraining.

Key-words: dolphin kick; tethered swimming; force measurement.

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INTRODUÇÃO O nado ondulatório submerso (NOSB) em decúbitoventral (para o nado borboleta) e dorsal (para onado costas) é um procedimento tradicionalmenterealizado na saída e após as viradas em natação. NosJogos Olímpicos de Seoul em 1988 foram verificadassignificativas reduções nos recordes mundiais nonado de costas devido à utilização do NOSB

(3).Apesar da distância permitida para a realização dessemovimento ter sido limitada para 15 m, o NOSB

ainda é muito utilizado nos os nados borboleta ecostas. Recentemente o NOSB foi incorporado nasaída e viradas nas provas de nado livre(3) de modoque alguns nadadores também realizam esses movi-mentos na posição lateral(9).Provavelmente em função da crescente utilização doNOSB, diversos estudos investigaram esses movimen-tos sob o aspecto cinemático(2) bem como os possíveisbenefícios da incorporação dessa técnica na performan-ce de nado livre(3). No entanto, a literatura ainda care-ce de um maior numero de pesquisas empenhadas eminvestigar o desenvolvimento de metodologias quepossibilitem de avaliação e monitoramento dos efeitosdo treinamento específico do NOSB.Os testes em nado atado (TNA), particularmente osque utilizam células de carga como elemento sensorprimário são metodologias alternativas que possibili-tam mensurar a força do nadador com sistemas deaquisição de dados(4,8,11,13,14,15,6,20) e que, por permi-tirem a coleta de grande número de valores em umpequeno espaço de tempo, parecem apresentar van-tagem sobre o sistema de anilhas(13). Além disso, osresultados de força média (utilizando nado comple-to) durante esforços máximos com duração entre 10e 30 s em nado atado apresentaram elevadas correla-ções com as performances entre 25 e 600 m duranteo nado livre(11,14,15,17). Yeater et al.(20) também utili-zando células de carga, constataram valores médiosde 119±35 e 138±47N para a força de membrosinferiores nos nados crawl e peito, respectivamente.No entanto, ainda não foram encontradas na litera-tura, pesquisas que mensuraram a força de NOSB emnado atado. Desse modo o propósito do presente estudo foideterminar as forças máxima e média do NOSB emnado atado e suas correlações com o nado ondulató-rio submerso e na superfície.

METODOLOGIAParticipantesPara isso foram avaliados 19 nadadores do sexo mas-culino com idade, estatura, envergadura e massa cor-poral de 15,2±0,6 anos; 176,7±6,8 cm; 181,62±5,9cm e 66,4±5,4 kg respectivamente da cidade deBauru filiados a Federação Aquática Paulista e comtempo mínimo de natação competitiva de 2 anos. Avelocidade média dos nadadores para a distância de100m nado crawl (1,73±0,07 m.s-1) corresponde aaproximadamente 89% e 82% dos recordes brasilei-ro para idade e mundial respectivamente.Previamente aos testes, os nadadores realizaram umperíodo de aquecimento típico de aproximadamente1000 m em ritmo moderado (determinado subjetiva-mente pelos nadadores), sendo composto de esfor-ços utilizando os 4 estilos (borboleta, costas, peito ecrawl) com predominância para o nado crawl. Os nadadores e os técnicos foram previamente infor-mados com relação aos procedimentos a que seriamsubmetidos e assinaram um termo de consentimentolivre e esclarecido, aprovado pelo comitê de ética empesquisa do Instituto de Biociências da UniversidadeEstadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campusde Rio Claro, autorizando a participação no estudo.

TestesTodos os testes foram realizados em piscina abertade 25 m, profundidade de 180 cm e temperatura daágua de 26º C. Os nadadores foram submetidos atrês testes máximos envolvendo o nado ondulatóriosubmerso (NOSB), na superfície (NOSP) e a força dosmembros inferiores em nado ondulatório (FMINO)na situação de nado atado (NA).

Determinação das velocidades de nado ondulatório sub-merso (NOSB) e na superfície (NO SP)O NOSB consistiu na realização de um esforço máxi-mo submerso na distância de 15 m. Somente foramconsiderados os nadadores que conseguiram comple-tar todo o percurso de modo submerso. Já o NOSP

consistiu na realização de um esforço máximo de 25m utilizando uma prancha comercial. Em ambos ostestes, os nadadores permaneceram próximos àborda da piscina de modo que após o sinal sonoro(apito) os nadadores iniciaram os esforços a partirde um impulso na borda da piscina. O tempo de

Marcelo Papoti, Ricardo Vitório, André B. Velosa, Sergio A. Cunha, Adelino S. Ramos da Silva, Luiz E.B. Martins, Claudio A. Gobatto

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nado foi mensurado com a utilização de um cronô-metro manual de modo que a velocidade de nadoondulatório foi determinada pela razão entre a dis-tância de nado e o tempo total de percurso.

Determinação da força dos membros inferiores emnado ondulatório (FMINO) Para determinação da FMINO, os nadadores foramatados ao aparato de medição padronizado porPapoti et al.(15). Esse equipamento é constituído porum sistema de aquisição de dados tendo células decarga como elemento sensor primário suspensosobre 2 traves de madeira de modo a permitir a cali-bração e mensuração da força em nado atado.A deformação detectada pelas células de cargas(strain gage), devido à tensão gerada pelos esforçosdo nadador, foi amplificada por uma fonte de exten-sometria portátil (SODMEX ME-01D). Os valoresobtidos durante os esforços foram enviados por umainterface ao computador e armazenado no programapara aquisição de dados Lab View na freqüência de200 Hz. Os dados obtidos foram submetidos ao pro-cesso de análise residual e suavizados utilizando ofiltro “butterworth” de quarta ordem com freqüênciade corte de 3 Hz. Com a utilização da reta de calibra-ção, os valores de tensão (mV) foram convertidosem unidades de força (N) pelo programa Matlab 5.3,possibilitando assim a determinação das forças pico(FPNA) e média (FMNA) em nado atado.O teste consistiu da aplicação de 1 esforço máximode nado ondulatório com duração de 30 s e incentivoverbal dos atletas e pesquisadores. O início e o tér-mino do teste foram determinados por sinal sonoro(apito). Previamente ao início do esforço máximo osnadadores realizaram aproximadamente 10 s denado moderado atados ao sistema de aquisição dedados. Durante os esforços, os nadadores estiveramcom os braços estendidos sobre uma prancha comer-cial sendo solicitado aos atletas que mantivessem acabeça fora da água.Observou-se que os valores iniciais (aproximada-mente 1 s) foram bastante elevados, provavelmentedevido aos esforços realizados durante a transição donado moderado para o nado intenso. Desse modo os200 pontos iniciais foram desconsiderados para nãosuperestimarem os valores reais(15,19) (Figura 1).

Figura 1. Comportamento de todo o sinal e somente o esforço máximo de umúnico nadador durante 30 s de teste de força dos membros inferiores de

nado ondulatório em situação atada.

Tratamento estatístico

De acordo com o Shapiro-Wilk W test, o conjunto dedados apresentou distribuição normal; além disso, ahomogeneidade foi confirmada através do Levene test.Dessa maneira, a comparação entre os valores obti-dos no NOSB e NOSP utilizou-se o teste de Studentpara amostras dependentes. As possíveis relaçõesentre os parâmetros obtidos a partir da FMINO

(FPNA, FMNA) com os NOSB e NOSP foram analisadasatravés do teste de correlação de Pearson. Para todosos casos o nível de significância foi pré-fixado parap<0,05.

RESULTADOSForam verificadas diferenças significativas entre avelocidade de nado obtida no NOSB (1,19±0,14 m.s-1)e NOSP (1,76±0,26 m.s-1). No entanto esses valoresforam altamente correlacionados (r=0,92).A FMNA correspondeu a 87% da FPNA (Figura 2).Tanto os valores de FPNA como os de FMNA apresen-taram significativas correlações com as velocidadesdos NOSB e NOSP. (Tabela 1).

Força dos membros inferiores em nado ondulatório

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Figura 2. Valores (N) de forcas pico (FPNA) e media (FMNA) em nado atado durante esforços máximos de 30 s.

Tabela 1. Valores de correlação de pearson (r) entre as forças pico (FPNA) emédia (FMNA) em nado atado com as velocidades de nado ondulatório sub-

merso (NOSB) e na superfície (NOSP).

NOSB NOSP

FPNA 0,81* 0,80*FMNA 0,80* 0,76*

* Indica correlação significativa para p<0,05.

DISCUSSÃO O principal achado do presente estudo foi a signifi-cativa correlação entre os valores de força de mem-bros inferiores em nado ondulatório (FMINO) com asvelocidades de nado ondulatório na superfície(NOSP) e submerso (NOSB).Considerando que variáveis como força e potênciasão parâmetros importantes na performance dosnadadores(18) e que a técnica de NOSB vem sendoamplamente utilizada, alem dos nados borboleta ecostas, também no nado livre(3,9), o presente estudoesteve empenhado em mensurar a FMINO em situa-ção de nado atado. Yeater et al.(20) verificaram valores de 384±77 N e693±231 N de força máxima durante as pernadas decrawl e peito respectivamente. Esses valores forammuito superiores aos verificados no presente estudo(força pico=61,90±11 N). No entanto esses pesqui-sadores não mensuraram a FMINO e, apesar do ergô-metro utilizado nesse estudo também conter célulasde carga como ao dinamômetro foram diferentes.

No estudo de Yeater et al.(20) os nadadores estiveramamarrados ao dinamômetro (fixado na plataforma desalto) por um fio de nylon. Este fio ainda passavapor um sistema de polias localizado na borda opostada piscina com relação à localização do dinamôme-tro. Aparentemente esse sistema objetivou ajustar atensão durante o processo de calibração. No presen-te estudo os nadadores foram amarrados ao dinamô-metro que também esteve localizado na borda dapiscina. No entanto foi utilizado um fio de aço compropriedade elástica reduzida(14,15,16) e a calibraçãodesse sistema foi realizada com a adição de pesosconhecidos diretamente no dinamômetro. Com esseprocedimento não é necessário que o fio de açopasse por um sistema de polias localizado na bordaoposta da piscina. É possível que as diferenças entre os ergômetros apre-sentada anteriormente, juntamente com as diferençasno nível dos nadadores bem como as particularidadesde cada tipo de pernada tenham sido responsáveispelas diferenças observadas nos valores de força. No presente estudo, os valores de correlação entre aFPNA e as NOSB e NOSP foram superiores aos observa-dos quando tendo a FMNA como variável dependente.Esses resultados contrariam os achados de Papoti etal. (16) que determinaram as FMNA e FPNA e consta-ram que somente a FMNA apresentou correlaçõessignificativas com as performances de 100 m(r=0,78), 200 m (0,82), 300 m (r=0,75), 400 m(0,74) e 600 m (r=0,70) nado crawl. Essas contradições podem em parte ser explicadapela participação dos sistemas energéticos envolvi-dos. No estudo de Papoti et al.(16) os esforços varia-ram entre 100 m a 600 m. Embora a predominânciaenergética nos esforços prolongados seja aeróbia,pelo fato dos esforços terem sido supra limiaresparte a energia necessária à realização do exercícioprovavelmente foi proveniente do sistema glicolíticoenquanto que a energia necessária para a realizaçãodos esforços de nado ondulatório em nado atadoestaria mais relacionada com o sistema anaeróbioalático. Embora existam criticas quanto às corretas termino-logias(7) as potências pico e média obtidas durante oteste de Wingate estão associadas preferencialmenteaos metabolismos anaeróbio alático e lático respecti-vamente(1,17). Essa suposição justifica a maior corre-

Marcelo Papoti, Ricardo Vitório, André B. Velosa, Sergio A. Cunha, Adelino S. Ramos da Silva, Luiz E.B. Martins, Claudio A. Gobatto

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lação entre os valores de FMNA e performances de100 m a 600 m no estudo de Papoti et al.(16),enquanto que os esforços de nado ondulatório emnado atado estiveram, teoricamente, mais relaciona-dos com a condição anaeróbia alática e, portanto,apresentaram maior correlação com a FPNA. Interessante notar que a NOSB foi altamente correla-cionada com a NOSP (r=0,92). Esse achado sugere apossibilidade dos técnicos de natação utilizar tam-bém como elemento de treinamento exercícios com-postos de NOSP, mesmo quando o objetivo do trei-namento for aprimorar a NOSB. No entanto maisestudos são necessários para investigar especifica-mente a transferência dos efeitos do treinamento deNOSP para a NOSB.

Durante os esforços de nado ondulatório em nadoatado, três nadadores relataram a sensação de teremtocado os pés no fio de aço. Objetivando minimizaressa limitação potencial do ergômetro, a força pico foiassumida como a média dos valores de força duranteos 5 s iniciais por ser o período nos quais os maioresvalores de potência no teste de Wingate são geral-mente obtidos(6). No entanto, um período prévio defamiliarização com o teste torna-se necessário paraque os valores de força não sejam superestimados.Embora a mecânica de nado seja alterada durante onado atado(8,10) e os valores de força não reflitamnecessariamente a força propulsiva gerada durante onado livre(12), a determinação das FPNA e FMNA apre-sentaram-se adequadas para avaliação e predição dasNOSP e NOSB de nadadores treinado.

CORRESPONDÊNCIAMarcelo PapotiEndereço Departamento de Educação FísicaIB, UNESPAv. 24-A, 1515, Bela Vista13506-900, Rio Claro – SPBrasilE-mail: [email protected]

Força dos membros inferiores em nado ondulatório

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20. Yeater RA, Martin RB, White MK, Gilson HK (1981).Tethered swimming forces in the crawl, breast and beckstrokes and their relationship to competitive performance.J Biomechanics 8:527-537.

Marcelo Papoti, Ricardo Vitório, André B. Velosa, Sergio A. Cunha, Adelino S. Ramos da Silva, Luiz E.B. Martins, Claudio A. Gobatto

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Efeitos da ingestão de diferentes soluções hidratantes nos níveis de hidratação e na frequência cardíaca durante um exercício de natação intervalado

Fabrícia G. FerreiraGraciene L. de AlmeidaJoão C. B. Marins

Departamento de Educação FísicaLaboratório de Performance Humana (LAPEH)Universidade Federal de ViçosaBrasil

RESUMOEste estudo objectivou identificar os níveis de hidratação e ainterferência na frequência cardíaca decorrente da adopção dediferentes procedimentos de hidratação durante um exercíciode natação intervalado. Um total de 15 atletas do sexo masculi-no com faixa etária entre 18 e 26 anos (20,7±3,8 anos) foramsubmetidos aos procedimentos: a) nenhum tipo de hidratação,b) hidratação com placebo c) hidratação com Gatorade®. Cadatratamento experimental correspondeu a uma distância total de4150 metros divididos em 250 metros de aquecimento; 1 x 400metros à velocidade máxima; 1 x 100 metros em recuperação;10 x 250 metros à 85-90% da velocidade máxima para esta dis-tância, com intervalos de 50 metros de recuperação e 400metros em velocidade máxima. Foi mensurada a frequência car-díaca, o peso corporal antes e depois de cada teste, a quantida-de de líquido consumido durante o exercício e a urina produzi-da, para estabelecer os níveis de hidratação. O tratamento esta-tístico indicou não haver diferença estatisticamente significati-va (p>0,05) no efeito tempo e entre os grupos em nenhum dosdois parâmetros analisados. Pode–se concluir que os procedi-mentos de hidratação adoptados não influenciaram na respostada frequência cardíaca e nível de hidratação durante o modeloexperimental desenvolvido.

Palavras-chave: hidratação, desidratação, natação e freqüênciacardíaca

ABSTRACTEffects of intake of different hydrating solutions on the hydra-tion levels and heart rate during a swimming exercise

This study aimed to identify the hydration levels and interference in theheart rate as a result of adopting different hydration procedures duringa swimming exercise with intervals. A total of 15 male athletes withage 18–26 years (20.7±3.8 years) was submitted to the followingprocedures: a) no type of hydration, b) hydration with placebo, and c)hydration with Gatorade®. Each treatment corresponded to a totaldistance of 4150 meters divided in 250 meters of warm-up; 1 x 400meters at maximum velocity; 1 x 100 meters in recovery; 10 x 250meters at 85–90% of maximum velocity for this distance, with inter-vals of 50 meters in recovery and 400 meters at maximum velocity.Heart rate, body weight before and after each test, amount of liquidconsumed during exercise and urine produced were measured to esta-blish the hydration levels. No statistically significant difference(p>0.05) was found on the time effect and between the groups in anyof the two parameters analyzed. It can be concluded that the hydrationprocedures adopted did not influence the heart rate and hydration levelresponses during the experimental model developed.

Key-words: hydration, dehydration, swimming, heart rate

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INTRODUÇÃONos treinamentos e provas de longa duração ahidratação deve ser constantemente realizadavisando a manutenção da homeostase hídrica(23).Um procedimento de hidratação inadequado, oumesmo a sua ausência, promoverá o aparecimentode um quadro de desidratação, podendo provocaralterações cardiovasculares e no equilíbrio hidroe-letrolítico(14).Observa-se que a maioria das pesquisas envolvendohidratação e eventos de longa duração empregam omodelo de exercício da corrida ou do ciclismo.Porém, os trabalhos que aplicam o modelo de exercí-cio de natação relacionado com hidratação são escas-sos ou apenas são estudados quando ocorre a repro-dução de um triathlon, como foi o caso das pesqui-sas desenvolvidas por Jeukendrup11 e Millard -Stafford e colaboradores(19).A natação, no entanto, apresenta condições especiaisque modifica a relação da termogênese corporal,uma vez que o contacto do corpo com a água facilitaa perda de calor e melhora a termogênese(17). Outrofactor diferenciador relaciona-se com o contacto daboca com a água durante todo o período de treina-mento, o que estimula os receptores nervosos locali-zados na região orofaríngea, actuando assim como seo atleta estivesse continuamente se hidratando(15).Este tipo de estimulação nervosa faz com que onadador não sinta sede, podendo provocar em mui-tas ocasiões uma ausência total de hidratação aolongo do treinamento.A frequência cardíaca representa um importanteparâmetro de controle do treinamento. Na natação aresposta da frequência cardíaca é diferente se compa-rada a um exercício como a corrida ou o ciclismo,pois o efeito imersão produz uma maior respostabradicárdica(12). Considerando que a frequência car-díaca também sofre influência da desidratação,torna-se interessante investigar como será a respostacronotrópica com diferentes acções de hidrataçãopropostas ao longo de um treinamento de nataçãointervalado.Tem-se assim como objectivo investigar os efeitos daingestão de diferentes soluções hidratantes nosníveis de hidratação e na frequência cardíaca duranteum exercício de natação intervalado

MATERIAL E MÉTODOSEste estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética emPesquisa com Seres Humanos da UniversidadeFederal de Viçosa, de acordo com a resolução doConselho Nacional de Saúde nº196/96, em conso-nância com as propostas das Diretrizes ÉticasInternacionais para Pesquisas BiomédicasEnvolvendo Seres Humanos (CIOMS/OMS 1982 e1993) e a declaração de Helsínquia (1989). Osvoluntários receberam esclarecimentos detalhadossobre os procedimentos que seriam utilizados nacolecta de dados e, em seguida, assinaram um termode consentimento livre e esclarecido.

AmostraParticiparam na investigação 15 atletas do sexo mas-culino, pertencentes à Associação Atlética Acadêmicada Universidade Federal de Viçosa - Viçosa/MG eMinas Tênis Clube de Belo Horizonte/MG, comfaixa etária compreendida entre 18 e 26 anos(20,7±3,8 anos). Todos os avaliados treinavam regu-larmente no mínimo 4 vezes por semana, possuíamtotal domínio das técnicas do nado e participavamregularmente de competições. As característicasantropométricas básicas dos avaliados foram de180±7,3 cm para a estatura, 11±3,1 % para o per-centual de gordura corporal, sendo o peso corporaldescrito na Tabela 2.

Procedimentos experimentaisFoi solicitado aos avaliados para que se abstivessemdo treinamento por um período de 48 horas antes decada uma das situações experimentais, visando nãointerferir na capacidade de armazenamento de glico-génio muscular e hepático. Solicitou-se ainda quemantivessem seus hábitos alimentares, inclusive osmesmos horários de refeição, durante o período decolecta de dados e que procurassem ter uma boanoite de sono.

Desenho experimentalTodos os avaliados foram submetidos no período damanhã (7:00 às 10:00 h) a quatro testes padroniza-dos, diferenciados nas condições de hidratação,durante um período de tempo máximo de um mêsde avaliação, dividido em quatro etapas:1ª Etapa: determinação da velocidade máxima em

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uma prova de natação estilo livre para uma distânciatotal de 250 metros.2ª Etapa: exercício de natação intervalado, totalizan-do 4150 metros, e sem hidratação.3ª Etapa: exercício de natação intervalado, totalizan-do 4150 metros, e hidratação programada com solu-ção carboidratada.4ª Etapa: exercício de natação intervalado, totalizan-do 4150 metros, e hidratação programada com solu-ção placebo.As quatro etapas foram realizadas no Departamentode Educação Física da UFV (Viçosa, Minas Gerais) eMinas Tênis Clube 2 (Belo Horizonte, MinasGerias).Foi planejado um desenho experimental, tendo comoprincipal objectivo comparar as condições entre assituações de hidratação propostas. Para isto, foiadoptado um desenho cruzado e balanceado (cross-over), de maneira que cada grupo de três avaliados,nas três ultimas etapas, iniciavam o procedimento dehidratação com uma acção distinta, caracterizandoassim um desenho experimental denominado dequadrado latino(5).

Desenvolvimento do experimentoA massa corporal dos avaliados foi determinada coma utilização de uma balança digital Soehnle®

(Espanha) com precisão de 100 gramas, estando oavaliado apenas de sunga.O percentual de gordura foi estimado utilizando ométodo de três dobras cutâneas, sendo elas tríceps,tórax e subescapular, e posteriormente empregou-sea equação de Jackson & Pollock(10). Para o registodas dobras cutâneas foi empregado o compasso cien-tífico Cescorf® (Brasil) com precisão de 1 mm. Osprocedimentos metodológicos de mensuração depeso e estatura seguiram as orientações propostaspor Marins e Giannichi(16).

Procedimento protocolizadoNa primeira etapa de testagem foi realizada a deter-minação da velocidade máxima em uma prova denatação estilo livre, para uma distância total de 250metros. Nas três últimas etapas empregou-se oseguinte procedimento:a) Aquecimento: 250 metros em ritmo livre, selec-cionado pelo nadador.

b) Primeira série de velocidade máxima em umaprova de 400 metros.c) Recuperação activa de 100 metros em ritmo livred) Repetição de um total de dez séries de 250metros a uma velocidade entre 85–90% da velocida-de máxima da prova de 250 metros, seguida deintervalos activos de 50 metros.e) Segunda série de velocidade máxima para umaprova de 400 metros.

Procedimentos de hidrataçãoComo o estudo era de característica duplo cego, assoluções de hidratação eram codificadas com nume-ração 148 e 226, sendo posteriormente identificadascomo Gatorade® e solução placebo, respectivamente.Antes de iniciar os protocolos, os atletas ingeriamágua na proporção de 3 ml/kg de peso corporal.Durante o experimento também foi oferecido amesma quantidade de líquido em 3 ocasiões. ATabela 1 apresenta um resumo dos procedimentosmetodológicos desenvolvidos no presente estudo.

Tabela 1. Ação metodológica de hidratação do estudo.

Repouso* Aqu. 1ªS S1 S2 S5* S6 S7 S9 2ªSS3 S4 S8 S10

Hid 250 400 Hid 250 Hid 250 250 Hid 250 400m m m m m m m

Aqu = Aquecimento; S = Serie; Hid = Hidratação programada; * Extração de amostras sanguíneas.

Procedimentos para mensuração do nível de hidrataçãoe frequência cardíacaNível de hidrataçãoO nível de hidratação foi considerado pelo comporta-mento do peso corporal dos avaliados. Para isto, opeso corporal foi mensurado antes e depois de cadaprova, utilizando a balança referida anteriormente.Para sua mensuração, o avaliado era pesado apenasde sunga, sendo que após o treino o nadador secavaseu corpo com uma toalha antes de ser pesado.Para a análise da perda hídrica absoluta, foi considera-do peso mensurado no final do teste menos peso ini-cial, mais quantidade de líquido consumido durante oexperimento. Já a perda hídrica relativa foi calculadapela diferença registada na balança entre o peso final eo inicial, desconsiderando o líquido ingerido.

Hidratação na natação

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Fabrícia G. Ferreira, Graciene L. de Almeida, João C.B. Marins

Tabela 2. Resultado do peso corporal (PC) em Kg e suas variações antes e depois das testagens, adotando diferentes procedimentos de hidratação.

PC inicial e final em Kg adotando diferentes procedimentos de hidratação

n= 15 Sem hidratação Gatorade® PlaceboPC antes PC depois PC antes PC depois PC antes PC depois

Média 77,28 76,36 77,37 77,35 77,13 77,04Desvio padrão 8,86 8,77 8,97 9 9,48 9,44Máximo 90,4 89,8 89,8 90,3 90,1 89,9Mínimo 63,4 62,3 65,1 64,8 62,1 61,8p >0,05 0,779 0,995 0,935

Tratamento estatístico – Interanálise – Análise de Variância

Anova Peso corporal antes Peso corporal depoisp>0,05 0,998 0,941

Tabela 3. Perda hídrica absoluta e relativa com adopção dos diferentes tratamentos

Perda hídrica relativa (PR), perda hídrica absoluta (PA) em Kg e % PA nos Diferentes tratamentos

n = 15 Sem hidratação Gatorade® PlaceboPA(Kg) PR(kg) %PA PA(kg) PR(kg) %PR PA(kg) PR(kg) %PR

Média -0,91 -0,91 1,18 -0,95 -0,02 0,025 - 0,99 0,09 0,116Desvio padrão 0,36 0,36 0,47 0,32 0,30 0,38 0,26 0,23 0,295Máximo -1,6 -1,6 1,89 -1,47 -0,4 0,47 -1,55 -0,5 0,57Mínimo -0,4 -0,4 0,6 -0,53 +0,5 NC -0,58 +0,4 NC

NC : Houve ganho – hiperhidratação

Tabela 4. Cota de produção de suor em ml/minuto empregando os diferentes tratamentos

Cota de produção de suor em ml/minuto

n =15 Sem hidratação Gatorade® Placebo

Média 11,75 11,97 12,5Desvio padrão 4,71 3,86 3,38Máximo 20,6 18,44 19,97Mínimo 5,24 7,36 7,33

Tratamento estatístico – Interanálise – Análise de Variância

p>0,05 0,872

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Portanto, com base no resultado final da balança eno líquido consumido, foi possível estabelecer aperda hídrica absoluta, a perda hídrica relativa, ataxa de produção de suor por minuto e o percentualde desidratação.A frequência cardíaca foi registada em repouso edurante cada intervalo de 5 segundos, durante todoo transcurso do experimento, com as diferentessituações de hidratação, utilizando o monitor de fre-quência cardíaca da marca Polar® modelo AcurexPlus®. Este equipamento possui Interface PlusTM

Training AdvisorTM com software for Windows®. A aná-lise estatística da frequência cardíaca tomou comoreferência o valor da frequência mais alta obtida nofinal de cada série nadada.

Fatores intervenientesDurante o transcurso das etapas, vários factores

poderiam intervir de maneira directa ou indirecta,provocando alterações dos resultados. Para minimi-zar a interferência destes elementos externos àinvestigação foram mensurados alguns factorescomo, temperatura da água da piscina que se mante-ve durante o período de testagem em média com26±2º C; horário de realização dos testes, sempreno período da manhã; nível de hidratação e quanti-dade de líquido hidratante, adoptando-se a quantida-de de 3 ml/kg de peso corporal.

Tratamento estatísticoO sistema informático Primer® foi utilizado para rea-lização das análises estatísticas, sendo que para ava-liação da homogeneidade das distribuições utilizou-se o teste de Kolmogorov-Smirnov. Após esta avaliaçãoem uma primeira etapa, empregou-se uma análiseestatística descritiva e na etapa seguinte, utilizou-se

Hidratação na natação

Tabela 5. Frequência cardíaca máxima registada nas séries de 250 metros

n =15 Sem ingestão de líquido Anova Gatorade® Anova Placebo Anova

Média DP Máx Min Média DP Máx Min Média DP Máx Min

Série1 172 10,5 189 150 0,998 171,9 9,84 195 157 0,994 168,2 8,05 183 157 0,960Série2 173 9,88 189 155 172,7 8,87 192 159 170,1 8,54 181 148Série3 172 10,1 186 150 174 8,85 192 159 172,3 7,15 182 161Série4 173 9,45 188 152 173,5 8,82 190 161 171,8 7,85 183 157Série5 174 7,98 188 161 173,4 9,02 192 162 171,5 8,72 185 155Série6 171 8,84 189 158 170,9 9,95 190 159 168,3 9,39 182 151Série7 172 8,83 188 157 172,4 8,10 187 162 169,4 10,29 186 152Série8 173 8,43 187 158 174,1 11,16 201 159 169,7 12,08 188 142Série9 172 8,29 188 158 172,1 7,67 183 158 169,4 11,77 187 143Série10 173 8,52 187 161 171,6 9,62 189 158 168,7 11,94 187 140

Anova Tratamento estatístico – Interanálise - Análise de variância

p>0,05 Série1 Série2 Série3 Série4 Série5 Série6 Série7 Série8 Série9 Série100,482 0,588 0,829 0,838 0,692 0,691 0,6 0,511 0,672 0,53

Tabela 6. Frequência cardíaca máxima média registada nas duas séries de 400 metros empregando diferentes tratamentos.

N= 15 Série 1 de 400 metros Série 2 de 400 metros

Média DP Máx Min Média DP Máx Min Teste t

Sem líquido 174,9 11,19 192 153 174,7 12,62 198 143 0,976Gatorade® 177,2 12,39 205 155 177,5 10,9 198 160 0,938Placebo 171,3 12,48 187 138 176,5 12,71 193 146 0,274

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uma estatística inferencial com o teste de ANOVA“One Way” para medidas repetidas, a fim de identifi-car as diferenças entre os procedimentos de hidrata-ção, e cota de produção de suor, correspondendo,assim, a uma análise intra-grupo. O teste t pareadofoi utilizado para verificar diferença no peso antes edepois de cada procedimento (análise inter-grupo).Adoptou-se o nível de significância p<0,05 para con-siderar válida a hipótese estatística.

RESULTADOSA tabela 2 apresenta o peso corporal dos avaliados,antes e após cada tratamento, enquanto a Tabela 3 e4 referem-se respectivamente ao percentual de perdahídrica absoluta e relativa dos nadadores e sua cotade produção de suor.Observa-se que embora tenha ocorrido redução dopeso corporal em todos os tratamentos esta reduçãonão foi estatisticamente significativa (p>0,05), omesmo ocorrendo com a cota de produção de suor.Avaliando os valores de frequência cardíaca entre asséries de 250 e 400 metros apresentados respectiva-mente nas Tabelas 5 e 6, também não se verificoudiferença estatisticamente significativa.

DISCUSSÃONível de hidrataçãoObservou-se uma diminuição média entre o peso ini-cial e final dos atletas adoptando os diferentes proce-dimentos, com redução de 0,913±0,36 kg para asituação sem hidratação, o que representa uma desi-dratação de 1,18±0,47%. Para as situações ingestãode Gatorade® e placebo, a perda hídrica foi de0,02±0,3 kg e 0,093±0,23 kg respectivamente. Estasdiferenças não foram consideradas estatisticamentesignificativa nos três procedimentos adoptados,mesmo incluindo a situação não hidratando. Estesresultados são totalmente contraditórios, quandocomparados durante modelos semelhantes emambientes terrestres de corrida, onde a não hidrataçãoé responsável por uma perda hídrica aguda(15, 17).Uma das justificativas para a ausência de diferençasentre as condições de hidratação, frente à não hidra-tação na natação é a termogênese facilitada no meiolíquido, de forma que a produção de sudorese éminimizada, sendo a perda de calor obtida através dacondução e convecção.

Apesar de ocorrer uma redução de peso corporal emcondições de ausência de hidratação de 910±360 g epraticamente não haver sido registado perda de pesonas duas condições onde manteve-se o nadadorhidratado constantemente estes resultados estatisti-camente não foram considerados como significativosno comportamento do peso corporal ao longo dotreinamento de natação evidenciado neste estudo.Isto torna claro que a desidratação como elementoredutor de performance assume um papel secundá-rio, se comparado ao que ocorre com o exercício decorrida e ciclismo.É evidente que não se trata de recomendar a nãohidratação, porém adaptar as recomendações doACSM(1). É interessante destacar que o procedimen-to nutricional durante um treino de natação possater como foco principal a reposição energética, sejaela sobre a forma de barras energéticas, gel ou bebi-das com maior concentração de carboidratos, ofereci-dos em intervalos superiores aos habituais 15 minu-tos(1). A reposição energética virá neste caso minimi-zar o risco de um quadro de hipoglicemia. O percentual de desidratação observado pela perdade peso dos atletas deste estudo quando não ingeri-ram líquidos foi em média de 1,18±0,47%, estandoem conformidade com o estudo de Krug(13) queencontrou um percentual de desidratação em nada-dores de 1,5% realizando um treinamento de nata-ção com distância total de 4900 metros, ou seja, 750metros a mais que o presente estudo. Estes valoresde desidratação são inferiores ao valor crítico de 2%,que é suficiente para redução na performance(24).Os resultados do presente estudo e do estudo deKrug(13) demonstram que actividade física sem inges-tão de líquido leva a uma desidratação, fato compro-vado pela perda de peso corporal. No entanto, obser-va-se que a redução de peso na natação é menor queem outros esportes de longa duração como, porexemplo, a maratona onde as perdas hídricas podemalcançar quatro litros(4).Contrariamente aos dados apresentados até aqui,Diprampero et al.(9) observaram perda de peso cor-poral em nadadores entre 2 e 3 kg, durante sessõesde treinamento, comprovando que mesmo com atermogênese facilitada pelo meio líquido a desidrata-ção pode ser alta dependendo da temperatura daágua e de características individuais dos avaliados.

Fabrícia G. Ferreira, Graciene L. de Almeida, João C.B. Marins

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A ausência de diferença entre o grau de perdahídrica quando comparadas 2 formas de hidrata-ção (Gatorade® versus placebo) não chega a sur-preender, já que outros estudos também não obti-veram diferença durante exercícios de corrida(25) eciclismo(2, 14).A Figura 1 demonstra que, as maiores perdas depeso absolutas encontradas neste estudo, ocorreramcom os voluntários 9 e 15, que perderam respectiva-mente 1,6 kg não hidratando e 1,55 kg hidratandocom Gatorade® . Estes atletas em particular devemmanter um maior nível de atenção para a hidratação,já que a desidratação influencia a performance, e elespossuem uma taxa de sudorese alta para a natação(20,6 e 19,97 ml/minuto, respectivamente).Por outro lado, a menor diminuição de peso absolu-to ocorreu com o avaliado 11 perdendo apenas 0,4kg quando não se hidratou, produzindo uma taxa desudorese de 5,24 ml/min. Esta diferença na perda depeso entre os atletas pode ser explicada por factoresindividuais. A Figura 1 apresenta de forma claracomo que a resposta de produção de suor é especifi-camente individual, porém reprodutível no mesmosujeito.Considerando a resposta individual de produção desuor, é recomendável que cada nadador controle seupeso corporal antes e depois do treinamento, facili-tando o planejamento da curva de recuperação dosfluidos corporais, que segundo Maughan eShirrefs(18) deverá corresponder a 150% do peso per-dido, ou seja, caso a diferença seja de 500 g o nada-dor deverá consumir 750 g ou o equivalente a 750ml de líquido após o treino.Outro fato relevante observado é que ao ingerir solu-ção carboidratada ou placebo alguns atletas tiveramum ganho de peso como, por exemplo, o avaliado 7que ganhou 500 gramas ao hidratar com Gatorade®e o avaliado 14 que ganhou 400 gramas ao hidratarcom placebo e Gatorade® (Figura 2). No caso destesdois atletas pode-se inferir que em treinamentos lon-gos (de 4 horas de duração ou mais) eles poderiamter um risco maior de hiperhidratação, caso manti-vessem a mesma cota de hidratação proposta nesteestudo. É importante destacar que durante o períodode testagem não se registou perda hídrica por viaurinária em nenhum voluntário.

Figura 1. Perda absoluta de peso dos 15 avaliados

Figura 2. Perda relativa de peso dos 15 avaliados

Frequência cardíacaNeste estudo não se verificou diferença estatística nocomportamento da frequência cardíaca inter-grupo,comparando as três diferentes condições de hidrata-ção, e intra-grupo comparando a FC ao longo decada exercício entre as dez séries. Este resultadopode ser justificado devido ao baixo nível de desidra-tação médio apresentado pelos atletas(1,18%±0,47% de perda de peso). Este grau de desi-dratação não foi suficiente para promover um incre-mento na frequência cardíaca dos atletas quandoestes não ingeriam líquidos. Estes dados estão emconformidade com os dados de Krug(13) que tambémnão observou diferença estatisticamente significativana frequência cardíaca de nadadores, com níveis dedesidratação de aproximadamente 1,5%.Em situações de exercício com e sem hidratação,observa-se que não hidratando ocorre um aumentona frequência(21), sendo que esta resposta da eleva-ção da frequência cardíaca no estado desidratadoprovavelmente é decorrente da redução do volumesanguíneo(14, 7, 22). No entanto, no presente estudo asoscilações observadas de FC média durante as 10séries de 250 metros, não foram suficientes para oteste de ANOVA detectar diferenças significativas,indicando assim uma resposta constante do coração,independentemente da série. Comportamento seme-lhante foi obtido entre a FC média da 1º e 2º séries

Hidratação na natação

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de 400 metros, ao não ser identificada diferençassignificativas através do teste t pareado, quando ana-lisada de forma independente em cada uma das trêssituações estudadas. Estes resultados surpreendem quando se avaliam asduas condições de hidratação frente à não hidrata-ção. Em trabalhos com este tipo de acção metodoló-gica, porém realizadas através do exercício de corridae ciclismo os resultados apontam para uma elevaçãodesta cota da frequência cardíaca quando da nãohidratação. Observa-se claramente na natação umamenor elevação da frequência cardíaca quando danão hidratação frente ao hidratado em ambiente ter-restre. Os possíveis factores influenciadores paraesta resposta atípica seriam: a) termogênese facilita-da; b) menor índice de desidratação; c) posição docorpo em exercício.O aumento contínuo da frequência cardíaca ao longodo exercício, conhecido como cardiovascular “drift” édecorrente de quadros de desidratação, o que pro-move uma redução do volume plasmático, conse-quentemente do volume sistólico. Visando equilibraro débito cardíaco, tem-se como resposta adaptativa oaumento da frequência cardíaca(14, 26) . Neste estudo,os níveis de desidratação produzidos nas três condi-ções avaliadas não foram suficientes para influenciaro sistema cardiovascular e apresentar este fenómeno.A ausência de diferença significativa na resposta dafrequência cardíaca entre os dois procedimentos dehidratação não surpreendem, tendo em vista queconcordam com outros trabalhos que comparam ainterferência na frequência cardíaca ao se adoptarsolução carboidratada versus água, de maneira que afrequência cardíaca não varia em função dos diferen-tes procedimentos de hidratação utilizados(6, 14, 20).Entretanto, outros estudos demonstram que hávariação quando são comparados diferentes bebi-das(3, 8). No entanto, provavelmente esta variaçãoestá mais relacionada à quantidade de líquido ofere-cido, não havendo razões teóricas que justifique adiferença entre as bebidas, a não ser quando existeuma diferença no tempo de esvaziamento gástricoentre os líquidos que possa interferir na hidratação.

CONCLUSÕESOs diferentes tipos de hidratação empregados nesteestudo não modificaram significativamente a respos-

ta do nível de hidratação e da frequência cardíacados atletas.Características individuais de variação do peso cor-poral podem aumentar a perda hídrica do nadador,minimizando o efeito mais termogênico do meiolíquido, impondo uma desidratação superior a 2% dopeso corporal.Os níveis de desidratação obtidos não foram sufi-cientes para promover o aumento contínuo da fre-quência cardíaca ao longo do exercício.

AGRADECIMENTOSAo PIBIC/CNPq pela concessão da bolsa de iniciaçãocientífica, ao Gatorade Sport Science Institute pelofinanciamento do projecto e aos clubes e atletas par-ticipantes da pesquisa.

CORRESPONDÊNCIAFabrícia Geralda FerreiraUniversidade Federal de ViçosaDepartamento de Educação FísicaLaboratório de Performance HumanaViçosa, MG, Brasil - CEP.: 36571-000Tel.: (55) 31 3899 2249 – (55) 38-91062434E-mail: [email protected]

Fabrícia G. Ferreira, Graciene L. de Almeida, João C.B. Marins

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Hidratação na natação

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Efeitos da frequência de feedbackna aprendizagem do saque do voleibol

Ivan W. Tertuliano 1

Alessandra A.C. Ugrinowitsch 2

Herbert Ugrinowitsch 2

Umberto C. Corrêa 1

1 Laboratório de Comportamento MotorEscola de Educação Física e EsporteUniversidade de São PauloBrasil

2 Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia OcupacionalUniversidade Federal de Minas GeraisBrasil

RESUMOParticiparam deste estudo 20 crianças com idade variando entreoito e onze anos. A tarefa utilizada foi o saque por baixo dovoleibol realizado da linha de ataque de uma quadra de volei-bol, com o objectivo de acertar um alvo posicionado na linha deataque da quadra oposta, o qual não podia ser visualizado pelossujeitos. Foram formados dois grupos que diferiram em funçãoda frequência feedback fornecida: uma informação a cada duasexecuções (G50%) ou uma informação a cada três execuções(G33%). O experimento constou de 70 execuções na fase deaquisição e 10 execuções na fase de transferência. A segundafase ocorreu 5 minutos após o término da aquisição, sem feed-back. Os resultados mostraram o melhor desempenho do G33%na fase de aquisição quando comparado ao G50%, e, tambémna fase de transferência. Esses resultados indicam que a menorfrequência de feedback auxilia na melhora do desempenho dosaque por baixo do voleibol.

Palavras-chave: aprendizagem, frequência, feedback, voleibol.

ABSTRACTEffects of the extrínsic feedback frequency in serve of volleyballlearning

Twenty infants participated of this study aged from eight to elevenyears. The task involved the volleyball under serve from the attack linein one side of the volleyball court aiming to reach one target positionedin the attack line of the opposite court, which could not be seen by theparticipants. There were two groups that deferred as a function of thefrequency of augmented feedback: one information every two trials(G50%) or one information every three trials (G 33%). The experi-ment had 70 trials in the acquisition phase and 10 trials in the trans-fer phase. The second phase was carried out 5 minutes after the last ofthe acquisition, without augmented feedback. The results showed thebest performance of the G33% in relation to G50% during the acquisi-tion phase and transfer test as well. These results indicate that tosmaller frequency of feedback is helpful to improve the performance ofthe volleyball under serve.

Key-words: learning, frequency, feedback, volleyball.

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INTRODUÇÃOO feedback é caracterizado como uma informaçãosensorial que indica algo sobre o estado real domovimento de uma pessoa(13). Segundo Tani(14), eletambém pode ser caracterizado como uma informa-ção sobre as situações passadas que podem ser utili-zadas para controlar situações futuras, e assim alcan-çar o objectivo da tarefa. O feedback fornecido aoaprendiz pode conter informação relacionada ao:Conhecimento de Performance (CP) ouConhecimento de Resultado (CR). O CP é informa-ção verbalizada ou não verbalizada sobre a naturezado padrão de execução, apresentada após a execuçãode uma tarefa, responsável pelo resultado do movi-mento, frequentemente utilizado por instrutores eterapeutas em situações do dia-a-dia. O CR é a infor-mação sobre o resultado da resposta no meioambiente, apresentada após a execução de uma tare-fa(7). Apesar de que, por definição, as duas formas deinformação serem de fontes distintas, algumas pes-quisas mostram que elas têm as funções compatíveisno que se refere à aprendizagem motora(20), ou seja,os mecanismos de CR e CP são os mesmos, o quedifere são os diferentes aspectos da resposta que ainformação se refere.Apesar de ambos servirem como uma referência paraexecuções futuras, o CR é mais utilizado em pesqui-sas, pois é uma variável mais fácil de ser controlada,o que fornece maior fidedignidade aos resultadosobtidos. Vários estudos têm testado diferentes for-mas de controlar a quantidade de informação forne-cida. Uma delas, e a mais utilizada, é a frequência deCR, que se refere ao número de CRs fornecidos emuma sequência de tentativas(6). Existem duas medi-das diferentes de frequência: a relativa, que se refereà porcentagem de tentativas em que o CR é provido;a absoluta, que se refere ao número total de CRs for-necidos durante as tentativas(6). Uma outra forma decontrolar a quantidade de informação fornecida é ofeedback sumário, que é a informação sobre um con-junto de tentativas(6). Uma outra forma de controlara quantidade de informação fornecida é denominadade amplitude de feedback. Nessa forma o feedback éfornecido só quando o aprendiz excede uma faixapré-determinada, por exemplo, 10% de desvio doobjectivo da tarefa(8).

Até a metade da década de 1970 acreditava-se quequanto mais preciso, frequente e imediato fosse oCR, mais visíveis seriam os seus efeitos na aprendi-zagem de habilidades motoras(3). Isso acontecia por-que nos estudos não era realizado o teste de reten-ção ou de transferência, que diferenciam os efeitostransitórios do desempenho dos efeitos relativamen-te permanentes da aprendizagem.Baird e Hughes(2), utilizando um delineamento simi-lar ao de Bilodeau e Bilodeau(3), realizaram um testede retenção após a fase de prática, e os resultadosmostraram uma tendência dos sujeitos com menorfrequência relativa de CR terem desempenho supe-rior aos sujeitos com maior frequência. Outros estu-dos(1, 5, 20, 17, 21, 23) corroboram esses resultados, indi-cando que frequências menores de CR são melhorespara a aprendizagem, especificamente quando sãoaplicados os testes de transferência e retenção.Apesar desses estudos investigarem o efeito do CRna aquisição de habilidades motoras, eles nãotinham a preocupação com “o que” era aprendidoquando o desempenho apresentava melhora, ou seja,quando se tornava mais consistente. Para conseguirexplicar isso, tradicionalmente os estudos estãorecorrendo à Teoria de Esquema Motor(11), que pro-põe a aquisição de um programa motor generalizado(PMG) para uma classe de movimentos, que é umarepresentação armazenada na memória, ao qual sãoadicionados os parâmetros em cada execução.Um dos estudos pioneiros que procurou investigar oefeito de frequência relativa de CR na aprendizagemdo PMG foi o de Wulf e Schmidt(23). Neste estudo,ambos os grupos realizaram o mesmo número detentativas de prática durante a fase de aquisição, emum arranjo de prática em blocos de seis tentativas demodo seriado, num total de 108 tentativas paraambos os grupos. O grupo que praticou com 67% defrequência relativa de CR obteve melhores resulta-dos na fase de transferência que o grupo que prati-cou com 100% de CR. Resultados similares foramencontrados em outros estudos(22, 5).Já estudos como os de Wulf, Lee e Schmidt(24) utili-zaram quatro grupos com frequência de 50 % e100% de CR, em relação ao timing relativo (PMG)ou ao tempo absoluto (parâmetro) durante a fase deprática. Os resultados mostraram que, nos testes deretenção e transferência, a frequência reduzida auxi-

Feedback e aprendizagem do saque do voleibol

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liou a aprendizagem do PMG, mas não foi efectivaou mesmo dificultou a aprendizagem de parâmetros. Chiviacowsky e Tani(6) também investigaram a fre-quência relativa de CR na aprendizagem de diferen-tes PMG. Os indivíduos tinham por objectivo acertarum botão de futebol de mesa em um alvo, sendo quea impulsão do botão foi realizada de três maneirasdiferentes. Os grupos foram divididos em 50% e100% de CR. Na fase de aquisição, os grupos apre-sentaram desempenho muito semelhante, porém, ostestes de transferência mostraram uma superiorida-de do grupo de 50% de CR.Ugrinowitsch, Tertuliano, Coca, Pereira eGimenez(19) investigaram os efeitos da frequênciaabsoluta de feedback na aprendizagem de uma tarefade preensão, na qual era requerida a aprendizagemde um novo parâmetro de força, utilizando um dina-mómetro digital da Takey Instruments. Participaram doexperimento 45 universitários, sem conhecimentosprévios da tarefa, os quais deveriam fazer umapreensão manual com 60% da força máxima, utili-zando a mão não-dominante em um dinamómetrodigital. Os sujeitos foram divididos em três gruposem relação ao fornecimento de feedback: G1, querecebeu feedback após cada execução; G2, que rece-beu feedback a cada duas execuções e o G3, que rece-beu feedback a cada três execuções. Os resultadosmostraram que na primeira fase do experimento ogrupo G1 apresentou um melhor desempenho ediminuição da variabilidade, em contra partida, ogrupo G3 foi o que apresentou maior consistênciaquando a meta da tarefa mudou para 40% da forçamáxima. Esses resultados permitem concluir que amenor frequência de feedback não é um factor preju-dicial para a aprendizagem.Tani, Meira Jr. e Gomes(16) investigaram o efeito deCR no processo adaptativo na aquisição de umahabilidade motora de controle de força manual, con-siderando as variáveis: precisão, frequência e locali-zação temporal de CR. Em um dos experimentos oobjectivo foi controlar a força em um dinamómetro,utilizando 50% da força máxima na fase de estabili-zação e 30% na fase de adaptação. Participaram doexperimento 80 universitários, sem experiência pré-via da tarefa. Os sujeitos foram divididos randomica-mente em quatro grupos (G100, G66, G33, G20).Na fase de estabilização (50% da força máxima), a

frequência absoluta foi de dezoito (18) CRs paratodos os grupos, com frequência relativa de 100%,66%, 33% e 20%, respectivamente, para G100, G66,G33 e G20, cabendo para estes mesmos grupos, por-tanto, um total de 20, 29, 58 e 96 tentativas a exe-cutar. Para todos os grupos, a informação de CR con-templou magnitude e direcção do erro. Na fase deadaptação (30% de força máxima), todos os sujeitosexecutaram 10 tentativas sem o fornecimento de CR.Os resultados mostraram que na estabilização, G66errou mais que o G100, e este mais que o G33 eG20. Na adaptação foi detectado que o G66 obtevepior performance em relação aos demais. Os autoresconcluíram que maior ou menor frequência de CRtêm o mesmo efeito na aprendizagem de habilidadesmotoras.Em suma, os primeiros estudos de feedback concluí-ram que as tentativas sem feedback não auxiliavam aaprendizagem. Posteriormente, com a incorporaçãodos testes de retenção e transferência, os resultadostêm mostrado que a menor frequência facilita aaprendizagem. Tais resultados corroboram as conclu-sões de Ugrinowistch, Tertuliano, Coca, Pereira eGimenez(19) e Weeks e Kordus(20) de que ocorre aaprendizagem mesmo com uma menor frequência defeedback.Esses achados contradizem as conclusões dos pri-meiros estudos de que prover mais feedback é melhorpara aprendizagem. Nessa nova visão, um númeromenor de CR é considerado necessário para que aaprendizagem ocorra, pois se essa quantidade forexcessiva, os sujeitos tendem a não desenvolver osmecanismos internos de detecção e correcção deerros. Os resultados dos estudos revisados mostramque as frequências de feedback ficaram em torno de25% a 66%, porém não dizendo ao certo qual seria amelhor, e sim só que elas são melhores que os gru-pos controles (100%). Nesse caso, ainda se faznecessário investigar qual a melhor faixa de frequên-cia de CR a ser utilizada na aquisição de habilidadesmotoras.O objectivo deste estudo foi investigar o efeito deduas frequências de feedback inferiores a 100%, utili-zando uma tarefa que privilegia a validade ecológica,já que todos os estudos supracitados utilizaram tare-fas laboratoriais, nos quais há uma perda da validadeecológica. Nesse tipo de pesquisa busca-se colocar

Ivan Tertuliano, Alessandra Ugrinowitsch, Herbert Ugrinowitsch, Umberto C. Corrêa

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em prática a proposta de Chalmers(4), de testar osconhecimentos advindos da pesquisa básica em situa-ções mais próximas do real. As pesquisas desse tipovalorizam a tarefa utilizada, tarefa do dia-a-dia doprofissional, mas ainda buscando um grande controledas variáveis. Porém, como nesse tipo de tarefa háum certo “relaxamento” no controle das variáveis(18),como das variáveis intervenientes, os resultadosganham em validade ecológica(15). Seguindo esseraciocínio, é possível assumir que as pesquisasdesenvolvidas dentro dessa linha podem fornecermaiores subsídios para os profissionais da área.Com base na hipótese de orientação(10), a qual assu-me que CR frequente pode levar ao bloqueio do pro-cessamento das informações intrínsecas sobre omovimento anteriormente executado, que auxiliam odesenvolvimento do mecanismo de detecção e cor-recção de erros, fazendo com que o aprendiz setorne dependente da informação fornecida por meiode algum meio externo, é possível especular que osresultados apresentem indicativos de superioridadepara o grupo que receber menos informação externa.

MÉTODOParticiparam deste estudo 20 indivíduos de ambosos sexos, com idade entre 8 (oito) e 11 (onze) anos,participantes da Escola de Esportes do Clube daCidade Vila Manchester. Os indivíduos não pos-suíam conhecimento prévio da tarefa praticada e par-ticiparam de forma voluntária, com seus pais assi-nando o termo de autorização.A tarefa consistiu em realizar o saque por baixo devoleibol a partir do lado I da quadra (na região atrásda linha dos três metros) por sobre a rede, sem tocá-la, em direção a um alvo, visando alcançar a maiorpontuação possível numa situação (teste adaptadode Teixeira(18)). A rede foi coberta com um plásticopreto de forma que os indivíduos não tivessem avisão do alvo, e assim poder ser manipulada a variá-vel dependente. O alvo foi colocado num plano hori-zontal no lado II (oposto ao lado de saque) da qua-dra de voleibol, na forma de um quadrado em umplástico azul, com as zonas de pontuação demarca-das por tinta vermelha. A zona “um” foi à zona cen-tral, com 1.0m2, e valor de dez pontos: a zona “dois”foi distanciada 2,0m do centro do quadrado central epossuía valor de oito pontos: a zona “três” foi dis-

tanciada 3,0m do centro do quadrado central comvalor de seis pontos e a zona “quatro” foi distancia-da a 4,0m do centro do quadrado central, com valorde quatro pontos. As bolas que caíam do outro ladoda quadra, porém fora do alvo tinham o valor de trêspontos. As bolas que caíam depois da rede fora daquadra de voleibol, tinham o valor de dois pontos eas tentativas em que a bola tocava a rede, a fitasuperior, as antenas laterais ou caíam antes da rede,tinham o valor de um ponto (Figura 1). A larguradas linhas seguiu o padrão da quadra de Voleibol, ouseja, cinco centímetros, e pertencia à zona de maiorpontuação. Cada saque foi computado como umatentativa.

Figura 1. Zona de saque e posição do alvo durante o teste de saque de voleibol (adaptado de Teixeira(18)).

Os indivíduos foram divididos de forma randômicaem 2 (dois) grupos de igual número em relação àfrequência de feedback que foi fornecida: G50%, querecebia feedback a cada duas execuções e G33%, querecebia feedback a cada três execuções, baseado noconsenso da literatura de que a faixa de frequênciade CR, que auxilia a aquisição de habilidades moto-ras, está entre 25% e 60%. Além disso, optamostambém por utilizar uma tarefa que privilegia a vali-dade ecológica dos resultados.O experimento consistiu de 70 execuções na fase deaquisição e 10 execuções no teste de transferência.O teste de transferência foi aplicado 5 minutos apóso término da fase de aquisição, sem o fornecimentode feedback. A fase de aquisição foi realizada em doisdias, sendo que cada sujeito realizou um bloco de 35tentativas em um dia e outro bloco de 35 tentativasapós dois dias. Após cada tentativa, o sujeito recebiaoutra bola e aguardava a informação fornecida pelo

Feedback e aprendizagem do saque do voleibol

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experimentador (de acordo com o grupo experimen-tal), com um atraso de 5 segundos após o términoda tentativa, e então se preparava para a tentativaseguinte, o que resultou em um intervalo inter-ten-tativas de 7 segundos. Durante a fase de aquisição,as tentativas foram realizadas na região de saque 1 e,durante o teste de transferência, na região de saque2 (Figura 1).

RESULTADOSOs resultados foram descritos em blocos de dez ten-tativas e o desempenho foi analisado pelo alcance desua meta, ou seja, a pontuação alcançada no referidosaque (escores relativos ao alvo=10, 8, 6, 4, 3, 2, 1).No caso do alcance da meta, utilizou-se à somatóriade pontos, a fim de verificar o valor exacto que ossujeitos alcançaram nas tentativas, ou seja, os pon-tos que eles alcançaram. Essa medida foi utilizadaporque é sabido que com a prática um aprendizapresenta ganhos em precisão, gerando um aumentode sua pontuação.Dada a natureza “ordinal” da variável dependente e ofato do teste de normalidade não ter mostrado distri-buição normal, optou-se pela utilização de testes não-paramétricos. O desempenho de cada grupo em ter-mos dos pontos alcançados é ilustrado na Figura 2.

Figura 2. Somatória de pontos dos grupos G33% e G50% nas duas fases do experimento.

Para fins de análise intra-grupo foi conduzido emcada grupo um teste de Friedman na fase de aquisi-ção e um teste de Wilcoxon entre o último bloco daaquisição e o bloco da transferência. Em termos decomparações entre grupos, analisou-se os desempe-nhos da fase de aquisição e do último bloco de tenta-tivas da fase de aquisição e o bloco do teste de trans-ferência, por meio do teste de U de Mann Whitney.

Concernente ao teste a posteriori, no caso das com-parações intra-grupo, na fase de aquisição, utilizou-se o o teste de Wilcoxon. Para controle do erro tipo1 foi utilizado o procedimento sequencial Holm deBonferroni. Esse procedimento requer a divisão donível de significância adoptado (0,05) pelo númerode comparações realizadas (Ex: na comparação intra-grupo, nos pontos, utilizamos 4 blocos, nesse caso, 6comparações, na comparação entre grupos, utiliza-mos os 8 grupos, nesse caso, 28 comparações) paralocalizar a menor diferença. Ao ser localizada, o alfaé dividido pelo número de comparações menos umae assim sucessivamente, até não poder localizar adiferença.Com relação à fase de aquisição, na análise intra-grupo, pode-se observar na Figura 2 que os gruposmantiveram o desempenho durante toda a fase. Issofoi parcialmente confirmado pelo teste de Friedman,visto que foi detectada diferença significativa para ogrupo G50% [χ2 (6, n=10)=14,946, p=0,021], maspara o G33% não foi detectada diferença [χ2 (6,n=10)=4,403, p=0,622]. Para o grupo G50%, oteste de Wilcoxon, com o procedimento sequencialHolm de Bonferroni, não identificou diferenças sig-nificativas, porém quando se analisa sem o procedi-mento sequencial Holm de Bonferroni, verifica-se adiferença entre os blocos 3 e 6 (p=0,008) e entre osblocos 6 e 7 (p=0,015). Isto significa que o grupomelhorou seu desempenho até o bloco 6, mas piorouo desempenho no bloco 7. Com relação à compara-ção entre o último bloco da aquisição e a fase detransferência, a Figura 2 indica que o G33% piorou eo G50% manteve seu desempenho. Contudo, o testede Wilcoxon não detectou diferenças significativaspara os grupos, todos com p>0,05.Na análise entre grupos, na fase de aquisição, pode-se observar que o G33% teve um desempenho supe-rior ao G50% durante toda a fase. Isso foi confirma-do pelo teste U de Mann Whitney, visto que foramdetectadas diferenças significativas no bloco 2 (Z=-2,270, GL=6, 10,500, p=0,023), no bloco 3 (Z=-2,421, GL=6, 18,000, p=0,015) e no bloco 7 (Z=-2,990, GL=6, 20,000, p=0,002). Esses resultadosindicam que o G 33% foi melhor que o G50% nafase de aquisição. Com relação à comparação entre oúltimo bloco da aquisição e a fase de transferência, aanalise da Figura 2 indica que o G33% foi melhor

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que o G50%. Esse resultado foi confirmado peloteste U de Mann Whitney, visto que foram detecta-das diferenças significativas nos blocos 7 (Z=-2,990,GL=1, 10,500, p=0,002) e no bloco da fase detransferência (Z=-2,349, GL=1, 19,000, p=0,0190).

DISCUSSÃO E CONCLUSÃOO objectivo deste estudo foi investigar os efeitos dediferentes frequências de feedback na aprendizagemde habilidades motoras. Para isso foi utilizado umexperimento com fase de aquisição e teste de trans-ferência e duas frequências de CR que têm suportenos estudos revisados. Além disso, outra opção foiutilizar uma tarefa que privilegia a validade ecológi-ca, para testar se os resultados obtidos em tarefas delaboratório são replicados em situações mais próxi-mas de ensino-aprendizagem.Primeiramente, por não ter sido utilizado um grupocontrole, foi necessário verificar se ocorreu aprendi-zagem. Os resultados da análise de somatória depontos, intra-grupo, mostraram aumento nos pontossomente para o G50%. Esse aumento na somatóriados pontos é um indicativo de aprendizagem, o quepermite levar adiante a discussão dos resultados.Levando para uma visão sistémica de aprendizagemmotora, é possível observar que o G33% foi melhor,pois conseguiu estabelecer mais relações entre ofeedback extrínseco e o feedback intrínseco, ou seja,conseguiu trocar energia com o meio ambiente embusca de uma evolução de complexidade. Isto reflec-tiu-se numa melhora qualitativa, tendo o G33% con-seguido um desempenho superior em relação aoG50%, demonstrando assim uma melhor adaptaçãoà nova situação imposta.Os resultados obtidos neste estudo mostraram que,nas fases de aquisição e transferência, o G33% apre-sentou superioridade no desempenho em relação aoG50%, o que mostra que o grupo que recebeu umainformação a cada três execuções apresentou umdesempenho superior em relação ao grupo que rece-beu informação a cada duas execuções. Tais resultadoscorroboram com os resultados do estudo deTeixeira(17), que mostraram uma tendência de superio-ridade com uma frequência menor de feedback, bemcomo os do estudo de Chiviacowsky e Tani(6), quemostraram que a redução da frequência de feedback nãoprovocou resultados negativos para a aprendizagem.

As pesquisas produzidas até então não conseguiramidentificar a frequência de feedback que mais favorecea aprendizagem, o que pode ser devido à utilizaçãode diferentes tarefas. Isso é um indicativo de que aquantidade de informação que mais favorece aaprendizagem está relacionada às características datarefa. Apesar do feedback ainda ser consideradouma variável de grande importância no processo deaprendizagem, não podemos afirmar que as tentati-vas sem feedback não influenciam a aprendizagem(3).Pelos estudos anteriormente citados, verificamos quemesmo as tentativas sem feedback parecem auxiliarno processo de aprendizagem.Os achados do presente estudo e de outros de(2, 4, 8,

19) contradizem as primeiras pesquisas sobre essetema, de que prover mais feedback é melhor paraaprendizagem. Um número reduzido de CR é consi-derado eficaz para que a aprendizagem ocorra.Alguns estudos(6, 8, 19) têm mostrado que algumascondições ou variações de CR (amplitude, CR redu-zido, resumido, etc.) prejudicam o desempenhodurante a fase de aquisição, ou apresentam desem-penho similar aos grupos com 100% de CR, masmelhoram o desempenho quando medido na fase deretenção e transferência.Esse efeito da menor frequência pode ser explicadopelo facto de a alta frequência de CR pode fazer comque o aprendiz não utilize as informações intrínsecaspara a correcção do erro e, como consequência, nãodesenvolva adequadamente a capacidade de detectá-lo e corrigi-lo, comportamento observado nos resul-tados desse estudo. Tais resultados dão suporte àhipótese de orientação(10), de que o CR frequentelevaria ao bloqueio do processamento das informa-ções intrínsecas sobre o movimento anteriormenteexecutado, informações essas fundamentais nodesenvolvimento do mecanismo de detecção e cor-recção de erros. Consequentemente, o aprendiz setornaria dependente da informação fornecida pormeio de algum meio externo e não obteria bomdesempenho na ausência dessa informação, o que foiobservado nos resultados. Apesar dos resultadosindicarem a vantagem de uma menor frequência deCR para o saque do voleibol, ainda fica a questão dainteracção entre frequência de CR e a complexidadeda tarefa, sendo essa uma importante questão a serinvestigada futuramente.

Feedback e aprendizagem do saque do voleibol

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Por último, os resultados do presente estudo tam-bém vão ao encontro dos obtidos em estudos queutilizaram tarefas laboratoriais(1, 2, 5, 20, 17, 19, 21, 23) eindicaram superioridade dos grupos que receberaminformação reduzida, ou seja, CR menor que 100%.Esse panorama dos resultados também conduz aproposta de verificar se os mesmos resultados sãoreplicados com outras formas de reduzir a quantida-de de informação, tais como o feedback sumário e aamplitude de feedback.

CORRESPONDÊNCIAProf. Dr. Umberto César CorrêaUniversidade de São PauloEscola de Educação Física e EsporteDepartamento de Pedagogia do Movimento do Corpo Humano Laboratório de Comportamento MotorAv. Mello Moraes, 65 - Cidade UniversitáriaCEP 05508-900 - São Paulo, SPE-mail: [email protected]

Ivan Tertuliano, Alessandra Ugrinowitsch, Herbert Ugrinowitsch, Umberto C. Corrêa

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Estrutura de prática na aquisição de uma tarefa de timing coincidente com desaceleração do estímulo visual

João de P. PinheiroUmberto C. Corrêa

Laboratório de Comportamento MotorEscola de Educação Física e EsporteUniversidade de São PauloBrasil

RESUMOO objetivo deste trabalho foi investigar os efeitos de diferentesestruturas de prática na aquisição de uma tarefa de timingcoincidente com desaceleração do estímulo visual. Participaramdo estudo 56 crianças divididas em quatro grupos experimen-tais: prática constante, prática aleatória, prática constante-alea-tória e prática aleatória-constante. O instrumento utilizado foio aparelho de timing coincidente em tarefas complexas. A tare-fa foi tocar cinco alvos em uma ordem pré-estabelecida emintegração a um estímulo visual. O estudo teve duas fases deaprendizagem: estabilização e adaptação. Foram utilizadascomo medidas de desempenho global os erros absoluto, variá-vel e constante e, como medidas relacionadas ao padrão de exe-cução, o timing relativo e o tempo total de movimento. Osresultados mostraram os grupos de prática aleatória e aleatória-constante tiveram desempenhos mais consistentes do que ogrupo de prática constante. Observou-se, também, que na fasede adaptação esse último modificou seu padrão de movimentoem relação à micro-estrutura enquanto que os outros modifica-ram a macro-estrutura. Pôde-se concluir que as práticas aleató-ria e aleatória-constante possibilitaram melhor adaptação doque a prática constante.

Palavras-chave: estrutura de prática, aquisição de habilidadesmotoras, timing coincidente, desaceleração do estímulo visual.

ABSTRACTPractice schedule in the acquisition of a coincident timing taskwith deceleration of the visual stimulus

The aim of the present study was to investigate the effect of differentpractice schedules in the acquisition of a coincident timing task withdeceleration of the visual stimulus. Participants were 56 children dis-tributed in four experimental groups of practice: constant, random,constant-random, and random-constant. The instrument was an appa-ratus of coincident timing for complex tasks. The task consisted oftouching five response keys sequentially in integration to a visual stim-ulus. The study was composed by two phases of learning: stabilizationand adaptation. Measures of global performance were absolute, vari-able, and constant errors; on the other hand, measures related to thepattern of execution were the relative timing and the total time ofmovement. The results showed that the groups of random practice andrandom-constant practice had more consistent performances than thegroup of constant practice. In addition, it was observed that, in theadaptation phase, the group of constant practice modified its micro-structure while the other groups modified their macro-structure. It canbe concluded that random and random-constant practice schedules ledto better adaptation than constant practice, since these schedulesenabled the formation of a more flexible macro-structure.

Key-words: practice schedule, motor skill acquisition, coincident tim-ing, deceleration of the visual stimulus.

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INTRODUÇÃOUm dos aspectos mais intrigantes de seres humanosrefere-se a sua notável capacidade de realizar com-portamentos habilidosos, isto é, realizar acçõesmotoras com precisão, consistência e com o mínimodispêndio de tempo e energia. A consideração deque esse comportamento é fruto de aprendizagem e,portanto, tem a prática como um elemento funda-mental, por muitos anos tem instigado pesquisado-res a investigarem os efeitos de diferentes formas deestruturação da prática na aprendizagem de habilida-des motoras. Várias formas de organizar a prática têm sido espe-culadas nas pesquisas como, por exemplo, aquelasdenominadas de constante, variada aleatória, variadapor blocos, variada seriada e mista, sendo que amaior parte das investigações têm sido feitas vincu-ladas, principalmente, à teoria de esquema(15) e aoprincípio de interferência contextual(2).Contudo, nos últimos anos essas pesquisas e, porconseguinte, os backgrounds teóricos, têm recebidoalgumas críticas(8), dentre as quais destaca-se aquelarelativa às mesmas caracterizarem modelos de equi-líbrio e, como tal, focalizam a aquisição de habilida-des motoras apenas como um processo de estabiliza-ção da performance. Em outras palavras, nessas pes-quisas a aquisição de habilidades motoras como umprocesso contínuo é negligenciada. Den Brinker etal.(9) sugerem que as explicações acerca da eficáciada prática variada aleatória na aquisição de habilida-des motoras têm se remetido a indivíduos em está-gios avançados de aprendizagem. É importante des-tacar que, embora tenham havido recentes proposi-ções sobre a aprendizagem de habilidades motoras,que avançam as proposições de Schmidt e Battig,como aquelas de Guadagnoli e Lee(11) e Shea eWulf(16), elas continuam a caracterizar modelos deequilíbrio.Por utilizarem processos baseados em feedback nega-tivo ou mecanismo de neutralização do erro, mode-los de equilíbrio são capazes de explicar a formaçãoe a manutenção de uma estrutura, mas são incapazesde explicar como, a partir dessa estrutura, outras sãoformadas. Em termos de aprendizagem motora,modelos de equilíbrio são incapazes de explicarcomo é que novas habilidades são formadas a partirdaquelas já existentes.

Recentemente, a consideração das limitações demodelos de equilíbrio tem conduzido pesquisadoresa investigar a estruturação da prática na aprendiza-gem motora com base de um modelos de não equilí-brio de aprendizagem motora(1, 4, 5, 6, 10, 12, 13, 18).Um aspecto dessas pesquisas que tem chamado aatenção é que com excepção de uma(18), elas foramrealizadas utilizando-se de uma tarefa de timing coin-cidente. Tarefas dessa natureza, isto é, que envolvem aexecução de movimentos em integração a estímulosvisuais ou objectos em movimento, têm sido intensa-mente utilizadas nos campos da Aprendizagem eControle Motor. A grande utilização desse tipo detarefa deve-se à mesma possibilitar a simulação demuitas habilidades executadas no mundo real como,por exemplo, em esportes com bola(19). Um outro aspecto que chama a atenção é que nascitadas pesquisas(1, 4, 5, 6, 10, 12, 13, 18) a tarefa de timingcoincidente foi manipulada em termos de velocidadeconstante do estímulo visual. Porém, como se sabe,no mundo real a sincronização do indivíduo rara-mente ocorre com objectos em movimento em velo-cidade constante(3). Por exemplo, no futebol, emqualquer que seja o chute, a bola muda em termosde aceleração durante sua trajectória; o mesmo ocor-re no voleibol com passes, saques e cortadas; notênis; no basquetebol; etc. Sendo assim, entendeu-seque havia a necessidade de investigar a aquisição dehabilidades motoras em diferentes estruturas de prá-tica utilizando-se de tarefas de timing coincidentecom estímulo visual em diferentes acelerações. Éimportante destacar, também, que recentemente aliteratura tem mostrado evidências de diferentesdesempenhos em tarefas de timing coincidente emfunção da característica do estímulo visual, isto é,desaceleração versus velocidade constante(14).A partir do exposto, o presente estudo teve porobjectivo investigar os efeitos de diferentes estrutu-ras de prática na aquisição de habilidades motorasutilizando-se de uma tarefa de timing coincidentecom desaceleração do estímulo visual.

MÉTODOSujeitosParticiparam do estudo 56 crianças voluntárias deambos os sexos, com idade de 12 anos (±1,0), semexperiência prévia na tarefa utilizada, distribuídas

Estrutura de prática

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aleatoriamente em quatro grupos experimentais. Osdados foram colectados em uma escola pública brasi-leira. Foi pedida autorização prévia por escrito dosresponsáveis pelas crianças. Essa pesquisa teveaprovação do Comitê de Ética da Escola de EducaçãoFísica e Esporte da Universidade de São Paulo,Brasil.

Tarefa e equipamentoA tarefa consistiu em tocar cinco alvos em uma ordempré-estabelecida em integração a um estímulo visual.Para tanto foi utilizado o aparelho de timing coinci-dente em tarefas complexas(7) descrito a seguir e ilus-trado na Figura 1. Ele é composto por uma canaletacom 100 diodos dispostos a uma distância de 1 cmuns dos outros; uma mesa de madeira sobre a qualficam instalados os sensores; um computador com umsoftware que possibilitava o controle do aparato.

Figura 1. Ilustração do aparelho de timing antecipatório em tarefas complexas (Corrêa & Tani, 2004).

Delineamento experimentalOs participantes foram distribuídos aleatoriamente emquatro grupos (n=14), conforme a estrutura de práti-ca: constante, aleatória, constante-aleatória e aleatória-constante. O estudo foi realizado em duas fases: esta-bilização, na qual foram realizadas 72 tentativas deacordo com a situação experimental de cada grupo e,adaptação, com 36 tentativas em uma mesma situaçãopara todos os grupos. Todos os grupos executaram atarefa numa mesma ordem de toques nos sensores (1-2-4-3-5) em ambas as fases do experimento.

Na fase de estabilização as crianças do grupo de prá-tica constante executaram todas as tentativas emapenas uma desaceleração do estímulo visual (-0,87m/s2); as crianças do grupo de prática aleatória exe-cutaram todas as tentativas com a variação aleatóriade três desacelerações do estímulo visual (-0,87m/s2, -0,73 m/s2, e -0,89 m/s2); as crianças do grupode prática constante-aleatória executaram a primeirametade das tentativas da mesma forma que o grupode prática constante (-0,87 m/s2), e as tentativasposteriores em três desacelerações do estímulo (-0,87 m/s2, -0,73 m/s2, -0,89 m/s2) aleatoriamente,ou seja, semelhante ao grupo de prática aleatória; e,ao contrário do grupo de prática constante-aleatória,as crianças do grupo de prática aleatória-constanteexecutaram a primeira metade das tentativas varian-do aleatoriamente a desaceleração do estímulo (-0,87 m/s2, -0,73 m/s2, -0,89 m/s2), e as tentativasposteriores em apenas uma desaceleração do estímu-lo visual (-0,87 m/s2). Na fase de adaptação, todosos grupos executaram as tentativas em uma mesmadesaceleração do estímulo visual (-0,86 m/s2), dife-rente daquelas praticadas na fase de estabilização.Os valores da desaceleração foram calculados utili-zando a seguinte equação: v = v0+αt, onde v é a velocidade final; v0 é a velocidade inicial; α é a aceleração; e t é o tempo.Para o valor de desaceleração de -0,87 m/s2, a veloci-dade inicial foi de 2,24 m/s e a velocidade final foide 1,12 m/s. Para o valor de desaceleração de -0,73m/s2, a velocidade inicial foi de 2,24 m/s e a veloci-dade final foi de 1,44 m/s. Já na desaceleração de -0,89 m/s2, a velocidade inicial foi de 2,24 m/s e avelocidade final foi de 0,92 m/s. E, para a desacele-ração de -0,86 m/s2, a velocidade inicial foi de 2,24m/s e a velocidade final foi de 0,75 m/s.

ProcedimentosO indivíduo foi posicionado de frente para o apare-lho, em pé, de forma que seu abdómen ficasse àaltura da mesa, e que ele pudesse tocar todos os sen-sores sem restrições. Também foi verificada a possi-bilidade de o indivíduo tocar os alvos sem apoiar-se,ou debruçar-se sobre a mesa. Considerados esses

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aspectos, foram dadas explicações sobre o aparelho ea tarefa. Primeiramente, foram dadas explicaçõessobre a canaleta, posicionada à frente da criança,num ângulo de 30º, e foi mostrado o seu funciona-mento. Também foram dadas informações sobre ossensores e o computador. Em seguida, a tarefa foiexplicada: o experimentador informou à criança queela deveria colocar sua mão sobre a mesa, numamarca determinada, e dirigir seu olhar para o diodode alerta. A partir do início do movimento do estí-mulo luminoso, a criança deveria tocar os sensorescom a ponta dos dedos, fazendo com que o últimotoque (alvo nº 5) coincida com o acendimento dalâmpada alvo. Para todos os indivíduos foram apre-sentadas analogias com acções esportivas, como porexemplo, a rebatida no tênis, o saque e a cortada novoleibol. Após essas explicações, o experimentadorverificou a compreensão da tarefa por parte dascrianças e permitiu que ela executasse a sequênciade toques até cinco vezes para reforçar seu entendi-mento. O experimentador informou à criança queapós cada tentativa ela deveria colocar sua mãonovamente na marca determinada, e que lhe seriamdadas informações sobre o seu desempenho (conhe-cimento de resultados). O conhecimento de resulta-dos (CR) foi fornecido da seguinte maneira: até ±50 ms de diferença entre a chegada do estímulovisual e o toque do indivíduo no sensor alvo (n° 5),a resposta foi considerada “certa”; entre ± 50 ms e± 100 ms, o CR fornecido foi “um pouco antes” ou“um pouco depois” (dependendo se o indivíduotocasse o sensor alvo antes da chegada do estímulovisual ou depois); e acima de ± 100 ms, o CR forne-cido foi “muito antes” ou muito depois” (dependen-do se o indivíduo tocasse o sensor alvo antes da che-gada do estímulo visual ou depois). O intervaloentre cada execução foi de aproximadamente 6segundos. Ao término da fase de estabilização, oexperimentador explicou à criança que a desacelera-ção do estímulo iria mudar, e que na próxima fase oseu desempenho não iria ser informado. Em seguidaa fase de adaptação foi iniciada.

MedidasForam utilizadas como medidas de desempenho oserros absoluto, variável e constante, respectivamen-te, precisão, consistência e direcção do desempenho.Também foram utilizadas duas medidas relativas a

organização do padrão de movimento: timing relati-vo e tempo total de movimento. O timing relativo(proporção de cada componente em relação aotempo total de movimento) foi utilizado como medi-da da macro-estrutura do padrão de movimento,enquanto que o tempo total de movimento (tempogasto para executar a tarefa) foi utilizado comomedida da micro-estrutura.Os dados foram analisados em blocos de nove tenta-tivas. Para os erros absoluto, variável e constante foiconduzida para cada grupo, na fase de estabilização,uma análise de variância (ANOVA one-way) paraverificar o comportamento de cada grupo na suasituação experimental. E, na fase de adaptação foirealizada uma análise de variância a dois fatores (4grupos x 5 blocos de tentativas), com medidas repe-tidas no segundo fator (ANOVA two-way), para com-parar os efeitos das diferentes estruturas de práticas.Para esta análise foram considerados o último blocoda fase de estabilização e os quatro blocos de tenta-tivas da fase de adaptação. O teste post-hoc de Tukeyidentificou a localização das diferenças significativas.O timing relativo foi analisado em termos de magni-tude, por meio da média aritmética de blocos denove tentativas. Foi efectuada uma análise de variân-cia multivariada (MANOVA) para se verificar comofoi a adaptação dos componentes, sendo que foramutilizados os dados de cada componente do últimobloco de tentativas da fase de estabilização, e dosquatro blocos da fase de adaptação – os blocos foramcomparados um a um separadamente - (5 compo-nentes x 2 blocos de tentativas). Foi feita uma análi-se univariada para identificar quais componentesapresentaram diferenças significativas.O tempo total de movimento foi analisado com rela-ção a sua variabilidade, que reflete a consistência namicro-estrutura da habilidade. Essa medida foi cal-culada por meio do desvio padrão do tempo total derealização da tarefa em blocos de nove tentativas.Efectuou-se, com as medidas relacionadas à micro-estrutura na fase de estabilização uma análise devariância (ANOVA one-way) para cada grupo, para severificar o seu comportamento em cada condição deprática. E na fase de adaptação efectuou-se uma aná-lise de variância a dois factores (4 grupos x 5 blocosde tentativas), com medidas repetidas no segundofactor (ANOVA two-way). O teste post-hoc de Tukeyidentificou a localização das diferenças significativas.

Estrutura de prática

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RESULTADOSErro absolutoAo observar a Figura 2 nota-se que todos os gruposdiminuíram o erro absoluto durante a fase de estabi-lização. Essa observação foi confirmada pelas ANO-VAS. Para o grupo de prática constante foram encon-tradas diferenças significativas (F7;91 =2,65;p<0,020), sendo que o teste de Tukey mostrou queo quinto, sexto, sétimo e o oitavo blocos de tentati-vas foram diferentes do primeiro bloco (p<0,05).Para o grupo de prática aleatória verificaram-se dife-renças significativas (F7;91=9,73; p<0,01). O testede Tukey mostrou que o segundo, sexto, sétimo e ooitavo blocos de tentativas foram estatisticamentediferentes do primeiro bloco (p<0,01). Para o grupode prática constante-aleatória, verificaram-se diferen-ças significativas (F7;91=2,17; p<0,05), contudo, oteste de Tukey não conseguiu detectar entre quaisblocos ocorreram diferenças. E, finalmente, para ogrupo de prática aleatória-constante a ANOVAencontrou diferenças (F7;91=12,01; p<0,01). O testede Tukey mostrou que o quinto, sexto, sétimo e ooitavo blocos de tentativas foram diferentes do pri-meiro bloco (p<0,01).Apesar de se observar, no primeiro bloco de tentati-vas da fase de adaptação, superior desempenho parao grupo de prática aleatória, pode-se dizer que osgrupos tiveram desempenho semelhante nessa fase(Figura 2). Essa observação foi corroborada pela aná-lise estatística, visto que a ANOVA detectou diferen-ças significativas apenas entre os blocos de tentati-vas (F4;208=4,1; p<0,01). O teste de Tukey mostrouque o erro absoluto no primeiro bloco de tentativasda fase de adaptação foi superior ao dos demais blo-cos desta fase (p<0,03), e, portanto, que os grupostornaram-se mais precisos.

Figura 2. Médias dos erros absoluto, variável e constante (ms), por blocosde nove tentativas, nas fases de estabilização (E1 a E8) e adaptação (A1 a

A4), dos quatro grupos de prática (Constante, aleatória, constante-aleatóriae aleatória-constante).

Erro variávelSimilarmente ao erro absoluto, pode-se notar que nafase de estabilização ocorreu diminuição do errovariável para todos os grupos (Figura 2). Pode-sedestacar que tal diminuição foi menos acentuadapara o grupo de prática constante-aleatória. Essasobservações foram confirmadas pelas análises esta-tísticas, pois a ANOVA só não encontrou diferençaspara o grupo de prática constante-aleatória(F7;91=1,55; p>0,05). Para o grupo de prática cons-tante, verificaram-se diferenças significativas(F7;91=2,19; p<0,05). Entretanto, o teste de Tukeynão conseguiu apontar entre quais blocos ocorreramdiferenças. Para o grupo de prática aleatória tambémverificaram-se diferenças significativas (F7;91=5,45;p<0,01). O teste de Tukey mostrou que o primeirobloco de tentativas foi diferente do sétimo e oitavoblocos (p<0,01), e que o quinto bloco de tentativasfoi diferente do oitavo bloco (p<0,04). Para o grupode prática aleatória-constante a ANOVA encontrounovamente diferenças (F7;91=5,45; p<0,01). O testede Tukey mostrou que o primeiro bloco de tentativasfoi diferente do sexto, do sétimo e do oitavo blocos(p<0,01).Pode-se observar na Figura 3 que, na fase de adapta-ção o grupo de prática constante obteve erro variávelsuperior aos demais grupos. Essa observação foi cor-roborada pela ANOVA que encontrou diferençasestatisticamente significativas entre grupos(F3;52=3,81; p<0,02) e pelo teste de Tukey que mos-trou que o grupo de prática constante foi diferenteestatisticamente do grupo de prática aleatória e do

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grupo de prática aleatória-constante (p<0,05). AANOVA também encontrou diferenças para o factorblocos de tentativas (F4;208=6,3; p<0,01), sendo queo teste de Tukey mostrou que houve diferença entreo primeiro bloco de tentativas da fase de adaptaçãoe os demais blocos dessa fase (p<0,01). Não houvediferenças estatisticamente significativas entre o últi-mo bloco da fase de estabilização e o primeiro blocoda fase de adaptação. A ANOVA também não encon-trou diferenças para a interacção entre blocos de ten-tativas e grupos.

Erro constanteConforme escrito anteriormente, o erro constantereflecte a direcção do desempenho, ou seja, no casoda tarefa de timing coincidente, se o último sensor foitocado após ou antes da chegada do estímulo visual.Ao observar a Figura 2 nota-se que todos os grupostiveram uma tendência a atrasar a resposta durante afase de estabilização. A única excepção foi o grupo de

prática constante-aleatória que, durante o quintobloco de tentativas, teve uma tendência para adiantara resposta. As ANOVAS encontraram diferenças esta-tisticamente significantes em todos os grupos.Para o grupo de prática constante verificaram-sediferenças significativas (F7;91=2,34; p<0,04), sendoque o post hoc de Tukey mostrou que o quinto e ooitavo blocos de tentativas foram diferentes do pri-meiro bloco (p<0,05). Para o grupo de prática alea-tória a ANOVA encontrou de novo diferenças signifi-cativas (F7;91=5,43; p<0,01). Neste caso, o teste deTukey mostrou que o segundo, terceiro, sétimo e ooitavo blocos de tentativas foram diferentes do pri-meiro bloco (p<0,05). Para o grupo de prática cons-tante-aleatória também se observaram diferenças(F7;91=5,56; p<0,01). O post hoc indicou que o pri-meiro, o segundo, terceiro, quarto e o sétimo blocosde tentativas foram diferentes do quinto bloco(p<0,03). E, para o grupo de prática aleatória-cons-tante a ANOVA encontrou diferenças (F7;91=2,6;

Estrutura de prática

Figura 3. Médias da magnitude do timing relativo dos cinco componentes (1°, 2°, 3°, 4° e 5°) dos grupos de prática constante, aleatória, constante-aleatória e aleatória-constante, nas fases de estabilização (E1 a E8) e adaptação (A1 a A4), por blocos de nove tentativas.

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p=0,017), porém, o teste de Tukey não conseguiumostrar entre quais blocos ocorreram tais diferenças.Ao contrário da fase anterior, na fase de adaptaçãotodos os grupos tiveram uma tendência a adiantar aresposta, além de terem desempenho semelhante(Figura 2). A ANOVA two-way detectou diferençasapenas entre os blocos de tentativas (F4;208=114,73;p<0,01). O post hoc de Tukey mostrou que o últimobloco de tentativas da fase de estabilização foi dife-rente dos demais blocos de tentativas da fase deadaptação (p<0,01).

Medidas de macro e micro-estruturas da habilidadeTiming relativoOs resultados dos grupos de prática constante, alea-tória, constante-aleatória e aleatória-constante, refe-rentes ao do timing relativo, são ilustrados na Figura3. No que concerne à magnitude do timing relativodos componentes do grupo de prática constante, aMANOVA identificou diferenças para: o último blocoda fase de estabilização e o primeiro bloco da fase deadaptação [λ=0,21 (F5;9=6,53; p<0,01)], sendo quea análise univariada apontou tais diferenças no ter-ceiro (F1;13=5,94; p<0,03) e quinto componentes(F1;13= 29,38; p<0,01); o último bloco da fase deestabilização e o segundo bloco da fase de adaptação[λ=0,21 (F5;9=6,54; p<0,01)], sendo que a análiseunivariada apontou diferenças no terceiro(F1;13=7,77; p=0,01) e quinto componentes(F1;13=18,23; p<0,01); o último bloco da fase deestabilização e o terceiro bloco da fase de adaptação[λ=0,17 (F5;9=8,55; p<001)], sendo que a análiseunivariada apontou diferenças no terceiro(F1,13=14,21; p<0,01) e quinto componentes(F1;13=24,39; p<0,01); e entre o último bloco dafase de estabilização e o último bloco da fase deadaptação [λ=0,02 (F5;9=8,10; p<0,01)], sendo quea análise univariada apontou tais diferenças no ter-ceiro (F1;13=13,56; p<0,01) e quinto componentes(F1;13=34,88; p<0,01).Para a magnitude do timing relativo do grupo deprática aleatória a MANOVA identificou diferençaspara: o último bloco da fase de estabilização e o pri-meiro bloco da fase de adaptação [λ=0,18(F5;9=7,96; p<0,01)], sendo que a análise univariadaapontou tais diferenças no segundo (F1;13=31,73;p<0,01), no terceiro (F1;13=9,63; p<0,01) e no

quinto componentes (F1;13=48,87; p<0,01); o últi-mo bloco da fase de estabilização e o terceiro blocoda fase de adaptação [λ=0,12 (F5;9=13,73; p<0,01)],sendo que a análise univariada apontou tais diferen-ças no primeiro (F1;13=5,39; p<0,04), no segundo(F1;13=6,02; p<0,03), e no quinto componentes(F1;13=54,16; p<0,01); o último bloco da fase deestabilização e o último bloco da fase de adaptação[λ=0,20 (F5;9=6,98; p<0,01)], sendo que a análiseunivariada apontou tais diferenças no segundo(F1;13=27,55; p<0,01) e no quinto componentes(F1;13=33,61; p<0,01); o primeiro e o segundo blo-cos da fase de adaptação [λ=0,24 (F5;9=5,74;p<0,02)], sendo que a análise univariada apontoutais diferenças no segundo (F1;13=11,36; p<0,01),no quarto (F1;13=5,19; p<0,05), e no quinto compo-nente (F1;13=27,63; p<0,01); e para o primeiro eúltimo blocos da fase de adaptação, sendo que a aná-lise univariada apontou tais diferenças no primeiro(F1;13=7,04; p<0,02), e no quinto componente(F1;13=20,58; p<0,01).Com respeito ao grupo de prática constante-aleatóriaa MANOVA identificou diferenças estatisticamentesignificativas entre: o último bloco da fase de estabi-lização e o primeiro bloco da fase de adaptação[λ=0,17 (F5;9=9,01; p<0,01)], sendo que a análiseunivariada apontou tais diferenças no segundo(F1;13=4,96; p<0,05), e no quinto componente(F1;13=28,37; p<0,01); o último bloco da fase deestabilização e o terceiro bloco da fase de adaptação[λ=0,18 (F5;9=8,19; p<0,01), sendo que a análiseunivariada apontou tais diferenças no primeiro(F1;13=5,16; p<0,05) e no quinto componente(F1;13=10,65; p<0,01); o último bloco da fase deestabilização e o último bloco da fase de adaptação[λ=0,15 (F5;9=10,56; p<0,01)], sendo que a análiseunivariada apontou tais diferenças no quinto compo-nente (F1;13=10,10; p<0,01); e entre o primeiro e oterceiro blocos da fase de adaptação [λ=0,29(F5;9=4,40; p<0,03)], sendo que a análise univariadaapontou tais diferenças no primeiro (F1;13=26,31;p<0,01) e no quinto componente (F1;13=6,63;p<0,03).E, concernente aos resultados do grupo de práticaaleatória-constante a MANOVA identificou diferen-ças estatisticamente significativas entre: o últimobloco da fase de estabilização e o primeiro bloco da

João de P. Pinheiro, Umberto C. Corrêa

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fase de adaptação [λ=0,20 (F5;9=7,32; p=0,01)],sendo que a análise univariada apontou tais diferen-ças no primeiro (F1;13=19,16; p<0,01) e no quintocomponente (F1;13=19,34; p<0,01); o último blocoda fase de estabilização e o segundo bloco da fase deadaptação [λ=0,27 (F5;9=4,80; p<0,03)], sendo quea análise univariada apontou tais diferenças nosegundo (F1;13=6,29; p<0,03) e no quinto compo-nente (F1;13=22,30; p<0,01); o último bloco da fasede estabilização e o terceiro bloco da fase de adapta-ção [λ=0,19 (F5;9=7,47; p<0,01)], sendo que a aná-lise univariada apontou tais diferenças no quintocomponente (F1;13=12,20; p<0,01); entre o primeiroe o terceiro blocos da fase de adaptação [λ=0,24;(F5;9=5,65; p<0,02)], sendo que a análise univariadaapontou tais diferenças no primeiro (F1;13=33,79;p<0,01) e no quinto componente (F1;13=8,70;p<0,02); e entre o segundo e terceiro blocos da fasede adaptação [λ=0,30 (F5;9=4,14; p<0,04)], sendoque a análise univariada apontou tais diferenças noprimeiro (F1;13=9,36; p<0,01), no segundo(F1;13=6,00; p<0,03), e no quinto componente(F1;13=4,76; p<0,05).

Figura 4. Médias da variabilidade do tempo de movimento dos grupos de prá-tica constante, aleatória, constante-aleatória e aleatória-constante, nas

fases de estabilização (E1 a E8) e adaptação (A1 a A4), por blocos de novetentativas.

Variabilidade do tempo total de movimentoAs médias da variabilidade do tempo total de movi-mento de cada grupo nas duas fases do experimentosão ilustradas na Figura 4.Na fase de estabilização, para o grupo de práticaconstante, a ANOVA one-way verificou diferenças sig-nificativas (F7;91=2,21; p<0,05). Contudo, o teste deTukey não conseguiu encontrar diferenças estatisti-

camente significantes entre os blocos de tentativas.Para o grupo de prática aleatória a ANOVA demons-trou novamente diferenças significativas (F7;91=4,89;p<0,01), sendo que o teste de Tukey revelou que oprimeiro bloco de tentativas foi diferente de todos osdemais blocos dessa fase (p<0,05). Para o grupo deprática constante-aleatória, a análise de variância nãoencontrou diferenças estatisticamente significanteentre os blocos de tentativas (F7;91=1,8; p=0,09). E,para o grupo de prática aleatória-constante aANOVA encontrou diferenças significativas(F7;91=2,17; p<0,05), mas o teste de Tukey nãoencontrou diferenças estatisticamente significanteentre os blocos de tentativas (p>0,05).Em relação à fase de adaptação, ANOVA two-wayencontrou diferenças entre grupos (F3;52=3,54;p=0,02), sendo que o teste de Tukey encontroudiferenças entre o grupo de prática constante e ogrupo de prática aleatória; e entre blocos(F4;52=6,64; p<0,01), sendo que o teste de Tukeyencontrou diferenças entre o último bloco de tentati-vas da fase de estabilização e o primeiro bloco dafase de adaptação, e também entre este bloco e osdemais blocos da fase de adaptação (p<0,01). AANOVA não encontrou diferenças para a interacçãoentre grupos e blocos.

DISCUSSÃO E CONCLUSÃOComo se pôde observar na análise dos resultados, osgrupos mantiveram o mesmo nível de precisão dodesempenho em toda a fase de adaptação. Mas comrelação à sua consistência, os grupos de prática alea-tória e aleatória-constante foram mais eficientes doque o grupo de prática constante.Um primeiro passo na tentativa de explicação dessesresultados referiu-se a uma análise do desempenhona fase de estabilização. Isso devido ao pressupostobásico de que o processo adaptativo pressupõe oprocesso de estabilização(17). Contudo, os resultadosdesta fase mostram que todos os grupos consegui-ram aumentar a precisão e a consistência e, portan-to, alcançaram a estabilização funcional.Todavia, quando se analisou o comportamento decada grupo em termos do padrão de execução, verifi-cou-se que quando foi introduzido um novo valor dedesaceleração (fase de adaptação), o grupo de práticaconstante alterou dois componentes (3º e 5º) de sua

Estrutura de prática

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macro-estrutura. Já os grupos de prática aleatória ealeatória-constante alteraram, respectivamente, cincoe quatro componentes. Esses resultados permiteminferir que os grupos de prática aleatória e aleatória-constante foram mais consistentes do que o grupode prática constante porque foram capazes de “sacri-ficar” mais o seu padrão de movimento em termosda macro-estrutura, em prol da manutenção dodesempenho. Portanto, eles foram mais flexíveis doque o grupo de prática constante. Mas por que esses grupos foram mais flexíveis? Umapossível resposta está na prática aleatória. Pode serque a prática aleatória tenha possibilitado aos gru-pos uma maior disponibilidade de recursos paralidar com mudanças temporais, já que foi esse oaspecto variado durante a prática. É importantenotar que os grupos de prática aleatória e aleatória-constante tiveram disponibilidade de mudar amacro-estrutura e por isso foram melhores. Essainferência ganha suporte, também, nos resultadosrelativos à micro-estrutura, visto que o grupo deprática constante mostrou-se mais inconsistente doque do grupo de prática aleatória. Neste caso, pode-se pensar que o grupo de prática constante procurouadaptar-se via alteração de parâmetros, diferente-mente dos outros grupos que se adaptaram viamodificação da macro-estrutura.Uma outra forma de colocar essas interpretaçõesrefere-se à modificação na micro-estrutura da habili-dade, portanto, apenas alterações em parâmetros nãoforam suficiente para dar conta da perturbação (alte-ração da desaceleração) que foi de tal envergaduraque exigiu modificação dos próprios componentes dahabilidade.É importante ressaltar que esses resultados diferemdaqueles obtidos por Corrêa(4), que utilizou tarefa edelineamento semelhantes, porém com velocidadeconstante ao invés de desaceleração do estímulovisual. No estudo acima citado, Corrêa não encon-trou diferenças entre os grupos para ambas medidasde desempenho – erros absoluto e variável - ao con-trário do presente estudo, no qual os grupos de prá-tica aleatória e aleatória-constante foram mais con-sistentes do que o grupo de prática constante. Opresente estudo não encontrou diferenças entre ogrupo de prática constante-aleatória e os demais gru-pos nas medidas de desempenho.

Em relação à direcção da resposta (erro constante),observou-se que todos os grupos adiantaram a res-posta na fase de adaptação. Uma possível explicaçãopara isso está no fato de o valor de desaceleraçãointroduzido ter aumentado o tempo para execuçãoda tarefa e, como consequência, os indivíduos reali-zavam os cinco toques bem antes da chegada doestímulo luminoso. Mais especificamente, os indiví-duos executavam rapidamente os quatro primeirostoques e ficavam “tão ansiosos” para a execução doúltimo toque que o mesmo era efectuado antecipa-damente.Em conclusão, os resultados do presente estudo per-mitem inferir que as práticas aleatória e aleatória-constante possibilitaram melhor adaptação em ter-mos da consistência do desempenho do que a práticaconstante. Esses resultados permitem sugerir, tam-bém, em concordância com Pinheiro e Corrêa(14),que o desempenho em tarefas complexas de timingcoincidente com velocidade constante é diferente dodesempenho em tarefas complexas de timing coinci-dente com desaceleração do estímulo visual. Em ter-mos de futuros estudos, visualiza-se a necessidadede se explorar a combinação de aceleração com desa-celeração, bem como outros componentes quepodem ser manipulados na prática, como o compo-nente motor e a combinação do perceptivo com omotor.

NOTAEsta Pesquisa foi fomentada pela Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado de São Paulo –FAPESP.

João de P. Pinheiro, Umberto C. Corrêa

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CORRESPONDÊNCIA João de Paula PinheiroUniversidade de São PauloEscola de Educação Física e EsporteLaboratório de Comportamento MotorAv. Prof. Mello Moraes, 65CEP 05508-900 São Paulo – SPBRASILE-mail: [email protected]

Estrutura de prática

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Estabilidade da aptidão física na transição da infância (7-9 anos) para a puberdade (15 anos): o Estudo Morfofuncional da Criança Vianense

Luis Paulo Rodrigues 1,2

Sérgio Angélico 1

Linda Saraiva 1

Pedro Bezerra 1,3

1 Instituto Politécnico Viana do CasteloPortugal

2 LIBECUniversidade do MinhoPortugal

3 Southern Cross UniversityAustrália

RESUMOO objectivo deste estudo foi o de inquirir sobre a estabilidadedas trajectórias de aptidão física entre a infância e o final dapuberdade. Cento e setenta e quatro rapazes e raparigas foramanualmente avaliados em sete provas constituintes de umabateria de aptidão física durante três anos consecutivos nainfância (7, 8 e 9 anos de idade), sendo sujeitos a uma novarepetição passados seis anos (15 anos). A estabilidade dosresultados foi aferida através dos coeficientes de auto-correla-ção (Spearman e Pearson) e do Kappa de Cohen (K). Os resulta-dos encontrados demonstraram que a estabilidade da aptidãofísica na transição do período pubertário (9-15 anos) foi menordo que na infância (7-9 anos), e os rapazes foram sempre maisestáveis que as raparigas. Os valores de auto-correlação inter-idade variaram de 0,43 a 0,81 entre os 7 e os 9 anos, e de 0,23a 0,66 dos 9 aos 15 anos. Na generalidade, o tracking encontra-do ao longo das idades estudadas foi bastante baixo (K entre0,11 a 0,33), mas quando analisada a estabilidade relativa aquatro canais percentílicos, percebe-se que as crianças com pio-res prestações tendem a permanecer mais no seu canal percen-tílico (<p25) enquanto se perspectiva uma maior troca de posi-ções entre os melhores (>p75).

Palavras-chave: tracking, estabilidade, aptidão física, EMCV, lon-gitudinal, adolescência.

ABSTRACTTracking physical fitness from childhood (7-to-9 years old) tolate puberty (15 years-old): the Estudo Morfofuncional daCriança Vianense.

Our main goal in this study was to understand the stability and track-ing of physical fitness from childhood to late puberty. One hundred sev-enty four Portuguese boys and girls, participants on the EstudoMorfofuncional da Criança Vianense, were annually assessed on sevenphysical fitness tests for three consecutive times during pre-pubertalyears (ages 7-, 8-, and 9-years old), and once at late puberty (15-yearsold). Tracking was assessed using auto-correlation coefficients (Spearmanand Pearson) and Cohen’s Kappa (K). Results showed higher stabilityduring pre-puberty years (7-to-9-years old) compared with pubertalyears (9-to-15-years-old), with boys’ fitness levels being more stablethan girls. Overall age-to-age correlations for 7 to 9 years old rangedbetween 0,43 and 0,81, and 0,23 and 0,66 for 5 to 15 years old.Tracking across all ages was low (K ranging from 0,11 to 0,33), butchildren classified in the lower quartile (< p25) tended more to remainon the same performance channel, while the ones classified in the high-er quartile (> p75) changed position more often

Key-words: tracking, physical fitness, EMCV, longitudinal, adoles-cence.

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INTRODUÇÃOA crescente preocupação com a implementação deestilos de vida activos leva a que os níveis de aptidãofísica (ApF) das populações jovens sejam encaradoshoje em dia como factor fundamental na potenciaçãodas melhorias de saúde. As evidências actuais apon-tam para um declínio crescente dos níveis de aptidãofísica na criança e no jovem(24, 26, 33). Ao mesmotempo, verifica-se uma redução acentuada dos tem-pos e intensidades de actividade física e um aumentodos factores de risco para a saúde em populaçõescada vez mais jovens, o que sugere a importância daaptidão física na infância como factor protector destefenómeno(8,15,16,17). Aliás, na aproximação, já clássi-ca, da relação entre aptidão física e actividade física,estas são consideradas como factores que se influen-ciam mutuamente na determinação da saúde na ado-lescência e idade adulta(21). Apesar de existir um vasto conhecimento nacional einternacional acerca da aptidão física das crianças ejovens, os estudos longitudinais que nos podem per-mitir inferir acerca das reais trajectórias de desenvol-vimento são reconhecidamente escassos e centram-se essencialmente no período pós-pubertário e napassagem para a idade adulta(5, 6). Neste contexto, oestudo da estabilidade (ou tracking), entendida comoa manutenção das posições relativas de uma variávelno seio do grupo de pertença, assume uma relevân-cia fundamental para a melhor compreensão das tra-jectórias individuais da ApF ao longo do crescimentoe na sua relação particular com a saúde(17).O que sabemos hoje sobre a aptidão física de crian-ças sugere a existência de uma grande variabilidadeinterindividual, que tende a aumentar com idade.Presumir que a ApF se desenvolve de forma estávelpressupõe um risco aumentado para as crianças queexibem desde cedo menor proficiência, já que não sócontinuariam nessa situação ao longo do crescimen-to como ainda por cima tenderiam a registar menosmelhorias. Ilustrativo deste exemplo são os resulta-dos da prova de resistência aeróbia incluída noEstudo Morfofuncional da Criança Vianense, onde osvalores entre os seis e os dez anos do p90 melhora-ram cerca de três vezes mais que os do p10 emambos os sexos(28 ,29).O conhecimento do fenómeno da maior ou menorestabilidade da ApF é ainda incipiente no que diz

respeito à passagem da infância para o final dapuberdade. A maior parte dos estudos tem-se sobre-tudo debruçado sobre as relações entre o final dapuberdade e a idade adulta, com resultados indicati-vos de tracking moderado a alto nas diversas compo-nentes da ApF(25, 5, 21). O facto de os valores regista-dos para a estabilidade da ApF na idade adultaserem quase sempre mais elevados do que os relati-vos à actividade física(25, 21) reforça a utilidade dotracking na ApF durante a infância e juventude. Aexistência de razoáveis níveis de estabilidade entre ainfância e pós-puberdade seria pois motivo parareforçar a validade do diagnóstico e estimulação pre-coce da ApF como estratégia de intervenção nummomento em que as crianças se encontram especial-mente sensíveis às modificações comportamentais.Deste modo poder-se-ão assegurar melhores níveisde aptidão física na passagem para a vida adulta,com a consequente adopção de estilos de vida maissaudáveis. Este cenário parece ser suportado poralguns resultados que sugerem que os mais aptosdurante a infância tendem a perservar esta caracte-rística durante a adolescência(17) e a ser mais activosna idade adulta(21, 11).Entre as várias componentes da aptidão física, a resis-tência aeróbia, a força abdominal e a flexibilidade têmsido apontadas (conjuntamente com a composiçãocorporal que não é tratada neste estudo) como asmais relacionadas com a saúde geral (health-relatedphysical fitness). A aptidão aeróbia parece apresentaruma estabilidade moderada durante o período corres-pondente à passagem da infância para a puberdade,com os rapazes a evidenciarem geralmente valoresmais elevados que os pares do sexo oposto. Os valo-res de auto-correlações encontrados na literatura refe-rem-se a provas diferenciadas (VO2máx, corrida de 600metros, corrida da milha) e idades iniciais tambémdistintas mas com intervalos de tempo semelhantes(≈4 anos). São referidas correlações de 0,44 e 0,39entre as idades de 10-14 anos, 0,62 e 0,40 para os7–11 anos, e 0,56 e 0,42 aos 9–12 anos, respectiva-mente para rapazes e raparigas, e de 0,55 para jovensentre os oito e os doze anos de idade(14, 17, 23, 31).A estabilidade das prestações de força relatadas naliteratura varia segundo os grupos musculares testa-dos. Na força superior, medida pelo tempo máximode suspensão na barra, os valores situam-se entre

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0,52 e 0,54 para rapazes (8 aos 14, e 10 aos 16anos), e 0,44 em raparigas entre os oito e os catorzeanos(9, 12). Nas prestações de força média abdominal(entre os 10–16 e 9–12 anos) foram encontradas cor-relações de 0,40 e 0,46 para os elementos do sexomasculino e de 0,47 no sexo feminino(12). Na forçainferior e no período entre os sete e os onze anos deidade, rapazes e raparigas obtiveram valores respec-tivamente de 0,43 e 0,40 na prova de salto em com-primento sem corrida preparatória(14).A estabilidade da velocidade tem sido pouco estuda-da neste período etário, mas numa prova de veloci-dade lançada de 15 e 20 metros a auto-correlaçãoencontrada entre os sete e os onze anos de idade foide 0,54 nos rapazes e 0,50 para as raparigas(14). Naflexibilidade têm sido encontrados valores de estabi-lidade razoáveis no teste de sit-and-reach, variandoentre 0,52 e 0,67 nos rapazes, e 0,44 e 0,72 nasraparigas, entre os 8-14 e 9-12 anos de idade respec-tivamente(9, 23).No presente estudo, e dada a falta de estudos denatureza longitudinal relatando este comportamen-to, propusemo-nos inquirir sobre a estabilidade dastrajectórias de ApF entre a infância e o final dapuberdade. É nossa expectativa poder ajudar a perce-ber melhor a natureza do desenvolvimento das com-ponentes da ApF numa fase julgada tão importanteda vida as crianças e jovens. Será que as criançasmais aptas crescem naturalmente para serem jovensigualmente aptos ou a “norma” (e o inverso com osmenos aptos)? Qual é a força do condicionamento, ainfluência, que os níveis de ApF exibidos em criançaexercem sobre os momentos mais tardios de vida?Será que a puberdade se perfila como momento sin-gular na determinação das trajectórias de ApF? Seráque a estabilidade (ou falta dela) neste período devida é semelhante para todas as componentes deApF e independente do género? Estas são algumas das questões que pretendemosabordar nesta investigação, em que 174 rapazes eraparigas foram anualmente avaliados em sete provasconstituintes de uma bateria de ApF durante trêsanos consecutivos na infância (7, 8 e 9 anos deidade), sendo sujeitos a uma nova repetição passadosseis anos (15 anos). À luz dos resultados encontradosesperamos poder melhor perspectivar as intervençõesna melhoria da ApF na infância e juventude.

MATERIAL E MÉTODOSO delineamento experimental deste estudo é tipica-mente longitudinal apesar de não apresentar unifor-midade nos intervalos de testagem. A amostra defi-nida foi avaliada em quatro momentos distintos, trêsdeles antes da puberdade (7, 8, e 9 anos) e umsituado num momento tardio ou mesmo final dosalto pubertário (15 anos). O salto de seis anos narecolha de dados teve como propósito explícito evi-tar as perturbações naturais decorrentes da grandevariabilidade dos ritmos individuais característicosdo período pubertário, e retomar a análise nummomento final ou próximo do final deste período. Não foram utilizados neste estudo quaisquer indi-cadores do estatuto maturacional das crianças ejovens que nos permitam assegurar que este inter-valo de seis anos incluiu o momento de saltopubertário para todas os sujeitos, mas criançaseuropeias e norte-americanas têm sido geralmenteclassificadas no primeiro estádio dos indicadoressexuais secundários aos 9 anos (pré-puberdade), eno último estádio, indicativo do final da puberdade,aos 15 anos(22).Os dados relativos aos três primeiros momentosforam extraídos do EMCV, investigação que decorreude 1997 a 2000 e que recolheu dados morfológicos,bio-sociais e de aptidão física de 2386 crianças perten-centes a quinze escolas do 1º Ciclo do Ensino Básicode Viana do Castelo. Assim, vamos referir-nos apenasaos procedimentos relativos ao quarto momento derecolha de dados (15 anos), já que os três primeirosforam já descritos anteriormente(28, 29, 30).

AmostraEste estudo apresenta os resultados das componen-tes de ApF de 174 jovens (101 rapazes e 73 rapari-gas) que foram avaliados longitudinalmente em qua-tro momentos, correspondendo a uma média deidade similar para ambos os géneros, de respectiva-mente 7,1, 8,1, 9,1 e 15,1 anos (DP= 0,4).A amostra foi desenhada com o objectivo de seguirapós a puberdade as crianças pertencentes ao EMCV.De um conjunto inicial de 435 elementos (203 rapa-zes, 216 raparigas), foram identificados 325 jovensem nove escolas EB2,3 e Secundárias do Concelhode Viana do Castelo (EB 2,3 Frei Bartolomeu dosMártires; EB 2,3 Viana do Castelo; EB 2,3 Dr. Pedro

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Barbosa; EB 2,3 Pintor José de Brito; EB 2,3 deLanheses; Externato das Neves; ES Santa MariaMaior; ES Monserrate). Desta amostra, três alunosdesistiram de estudar e outros três não foram autori-zados pelos pais a participar no estudo, 13 encontra-vam-se doentes ou lesionados no momento da ava-liação, 23 recusaram-se a realizar os testes de ApF, enão foi possível avaliar outros 37 alunos devido aausência dos docentes ou dos próprios alunos no diamarcado para a avaliação dos testes de ApF.Consequentemente foram avaliados 246 alunos,representando 76% dos alunos que haviam sido pre-viamente identificados e que permaneceram no siste-ma educativo no concelho. Destes, e dada a naturezalongitudinal desta análise, são apresentados nesteestudo apenas os dados referentes aos 174 jovensque participaram em todos os quatro momentos detestagem.

Testes de Aptidão FísicaA bateria de ApF utilizada foi a previamente adopta-da no EMCV(29) e realizou-se na seguinte ordem:teste de tempo máximo de suspensão na barra(TSB), sit-and-reach (SR), corrida de agilidade 4x10metros (shuttle-run) (SHR), número de abdominaisem 60 segundos com membros inferiores flectidos emembros superiores cruzados sobre o peito (ABD),salto em comprimento sem corrida preparatória(SCP), a corrida de velocidade em 50 metros (C50),e a corrida de resistência em vaivém de 20 metros(CVV).

Recolha de dadosForam solicitadas e obtidas autorizações do Centrode Área Educativa de Viana do Castelo, dosConselhos Executivos e dos Conselhos Pedgaógicosdas Escolas, dos professores de Educação Física dasturmas envolvidas, e dos pais e dos jovens perten-centes à amostra. No caso dos pedidos de autoriza-ção entregues aos alunos/pais eram incluídos osvalores anteriormente registados pelo aluno (e sódele) nos quatro anos do EMCV. Esta estratégia foiutilizada para aumentar o interesse dos alunos naparticipação nos testes. Após o período de testagens,todas as escolas e alunos envolvidos receberam umainformação contendo os seus resultados individuaise médios da escola.

Devido à diversidade de escolas e turmas envolvidas,a equipa de observadores foi constituída por seis ele-mentos que, em grupos de dois, se deslocaram acada escola para realizar a avaliação de ApF nasaulas de Educação Física e na presença do professorda turma. A testagem foi inteiramente conduzidanas instalações (ginásios e espaços desportivos exte-riores) utilizadas pelas escolas envolvidas e decorreudurante os meses de Abril e Maio. No total foramvisitadas 89 turmas, contendo cada uma de 1 a 21alunos a serem testados. Todos os procedimentosutilizados respeitaram as normas internacionais deexperimentação com humanos, expressas naDeclaração de Helsínquia de 1975.

Controlo de qualidade dos dadosA execução dos testes obedeceu aos protocolos des-critos nas baterias de teste de onde são originá-rios(1,2,10). Na C50 e SHR foram registados dois tem-pos, sendo a média considerada como resultadofinal. As equipas de observação, constituídas porjovens licenciados do Curso de Educação Física,foram previamente treinadas nas tarefas específicasque desempenhavam. De acordo com os procedi-mentos anteriormente utilizados no EMCV, um emcada doze alunos foi escolhido aleatoriamente pararepetir a execução dos testes (à excepção dos ABD eCVV, devido ao elevado esforço dispendido para asua realização), com a finalidade de se aferir a fiabili-dade da avaliação. Os coeficientes de correlaçãointra-classe resultantes desta repetição situam-seentre os 0,78 no TSB e os 0,95 no SR, dentro doslimites considerados como normais para um estudodesta natureza(32).Os dados finais, após introdução na base de dadosinformatizada, foram escrutinados para detecção depossíveis erros. O registo de distribuição de cadavariável foi analisado e todos os valores detectadoscomo extremos foram reconfirmados nos registosoriginais e corrigidos ou apagados (nos casos emque existia erro evidente no registo original).

Procedimentos estatísticosO comportamento de cada variável ao longo das dife-rentes idades e segundo o sexo, é descrito atravésdos valores da média (M) ± desvio-padrão (DP). Anormalidade da distribuiçao das variáveis em cada

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Quadro 1. Valores descritivos (número, média e desvio padrão) dos testes de aptidão física em rapazes e raparigas ao longo dos quatro momentos de observação.

7 anos 8 anos 9 anos 15 anos

Prova Sexo n M ±DP M ±DP M ±DP M ±DP

ABD Masc 98 20,5 ±7,8 25,2 ±7,8 30,7 ±7,5 43,5 ±9,2Fem 72 19,9 ±7,2 23,1 ±8,0 27,8 ±8,8 35,1 ±11,3

TSB Masc 77 14,5 ±11,6 11,7 ±11,0 13,2 ±9,9 34,2 ±14,9Fem 70 14,4 ±12,6 12,7 ±11,8 14,7 ±12,3 19,3 ±12,6

SCP Masc 97 107,5 ±18,2 113,4 ±18,8 118,6 ±18,7 189,1 ±28,8Fem 72 100,5 ±16,4 105,0 ±15,4 108,9 ±16,4 156,2 ±22,3

C50 Masc 94 11,4 ±1,1 10,8 ±1,0 10,2 ±1,0 7,8 ±0,9Fem 68 12,2 ±1,2 11,3 ±1,0 10,8 ±0,9 8,9 ±1,1

SHR Masc 98 13,1 ±1,0 12,4 ±0,9 12,2 ±1,0 10,8 ±1,2Fem 72 13,8 ±1,1 13,0 ±1,1 12,6 ±0,8 11,8 ±1,1

CVV Masc 89 24,8 ±12,0 33,3 ±15,0 37,5 ±16,1 58,7 ±21,5Fem 67 21,8 ±10,6 25,6 ±10,8 28,8 ±12,3 31,2 ±12,9

SR Masc 101 25,6 ±5,8 25,0 ±6,3 23,6 ±6,3 24,6 ±7,6Fem 73 27,8 ±5,0 27,3 ±6,0 26,6 ±6,1 30,0 ±5,9

Masc = masculino; Fem = feminino. TSB - teste de tempo máximo de suspensão na barra; SR - sit-and-reach; SHR corrida de agilidade 4x10 metros (shuttle-run);ABD - número de abdominais em 60 segundos; SCP - salto em comprimento sem corrida preparatória; C50 - corrida de velocidade em 50 metros; CVV corrida de

resistência em vaivém de 20 metros

momento foi escrutinada através do teste de ShapiroWilks. O coeficiente de auto-correlação de Spearmanfoi utilizado para descrever a estabilidade das presta-ções momento-a-momento nos casos em que sedetectaram distribuições não normais (ABD, TSB,C50, SHR, CVV, e SR). No teste de SH foi empregueo coeficiente de auto-correlação de Pearson. Comovalores de referência entende-se que auto-correlaçõesabaixo de 0,30 são indicadoras de baixa estabilidadeidade a idade, entre 0,30 e 0,60 estabilidade modera-da, e acima deste valor a estabilidade é consideradade moderada a alta(20).Para avaliar a estabilidade dos resultados ao longodos quatro momentos (tracking) foi utilizado o Kappade Cohen (K) que testa a permanência dos sujeitosno mesmo canal ao longo do tempo. Foi previamenteestipulada a divisão em quatro canais percentílicoscom os valores de corte relativos a p25, p50 e p75.Este procedimento estatístico não-paramétrico resis-te a violações dos pressupostos de normalidade das

distribuições, e corrige para a utilização de intervalosdesiguais de recolha de dados tal como acontece nonosso delineamento experimental. Segundo as pro-postas de Landis e Koch(19) um valor de K> 0.75indica estabilidade excelente, K entre 0,40 e 0,75estabilidade moderada a boa, e valores abaixo de 0.40demonstram estabilidade baixa.A estatística descritiva e as auto-correlações idade aidade foram obtidas no programa SPSS 11.0. Os valo-res de tracking foram encontrados recorrendo ao pro-grama estatístico Longitudinal Data Analisys (LDA).

RESULTADOSResultados dos valores médiosNo Quadro 1 são apresentados os valores médios erespectivos desvios-padrão dos testes de ApF paracada momento de testagem e por sexo.Durante os quatro momentos de testagem verifica-ram-se melhorias gerais no desempenho médio detodas as componentes da ApF, excepção feita ao teste

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de flexibilidade do tronco (SR). Neste último, ecomo geralmente tem sido descrito(2, 18), existe umapequena diminuição ao longo do período pré-puber-tário (7, 8 , 9 anos) para depois se verificar umamelhoria, em particular nas raparigas, durante osalto pubertário.Os rapazes obtiveram melhores prestações médiasem seis dos sete testes (ABD, SCP, TSB, C50, SHR eCVV), sendo as raparigas mais proficientes no SR.Demorando o nosso olhar especificamente nas trans-formações ocorridas durante o período pubertário (9aos 15 anos) reparamos que as melhorias demons-

tradas pelos rapazes são muito maiores do que asdas raparigas, fenómeno naturalmente associado aodimorfismo sexual no crescimento morfológico ocor-rido neste período. De notar que as maiores evidên-cias destas diferenças se encontram na aptidão aeró-bia (CVV) com um incremento médio de 21 percur-sos nos rapazes versus apenas 2 nas raparigas, e naforça superior (TSB) (21 versus 5 segundos).

Resultados de estabilidade / trackingOs resultados das autocorrelações entre os diversosmomentos para cada um dos testes de ApF estão

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Quadro 2. Coeficientes de auto-correlação (idade-a-idade) das prestações nos testes de aptidão física de rapazes e raparigas.

ABD TSB7 anos 8 anos 9 anos 15 anos 7 anos 8 anos 9 anos 15 anos

7 anos — 0,54 0,46 0,43 — 0,76 0,65 0,44 7 anos8 anos 0,61 — 0,60 0,37 0,65 — 0,80 0,44 8 anos9 anos 0,49 0,51 — 0,38 0,66 0,72 — 0,42 9 anos15 anos 0,38 0,43 0,23 — 0,42 0,42 0,52 — 15 anos

SCP C507 anos 8 anos 9 anos 15 anos 7 anos 8 anos 9 anos 15 anos

7 anos — 0,73 0,70 0,53 — 0,71 0,63 0,42 7 anos8 anos 0,76 — 0,72 0,61 0,74 — 0,74 0,58 8 anos9 anos 0,68 0,85 — 0,69 0,70 0,697 — 0,48 9 anos15 anos 0,48 0,52 0,59 — 0,45 0,360 0,56 — 15 anos

SHR CVV7 anos 8 anos 9 anos 15 anos 7 anos 8 anos 9 anos 15 anos

7 anos — 0,76 0,66 0,34 — 0,60 0,43 0,22 7 anos8 anos 0,75 — 0,74 0,39 0,62 — 0,46 0,31 8 anos9 anos 0,73 0,70 — 0,45 0,55 0,73 — 0,33 9 anos15 anos 0,34 0,25 0,44 — 0,49 0,52 0,63 — 15 anos

SR7 anos 8 anos 9 anos 15 anos

7 anos 0,68 0,64 0,458 anos 0,78 0,77 0,649 anos 0,78 0,81 0,6315 anos 0,53 0,63 0,66

Nota: todos os coeficientes são significativos (p<.01) com excepção dos encontrados na CVV feminino aos 15-8 anos (p<.05), e 15-7 anos (não significativo).TSB - teste de tempo máximo de suspensão na barra; SR - sit-and-reach; SHR corrida de agilidade 4x10 metros (shuttle-run); ABD - número de abdominais em 60segundos; SCP - salto em comprimento sem corrida preparatória; C50 - corrida de velocidade em 50 metros; CVV corrida de resistência em vaivém de 20 metros

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representados no Quadro 2. Os valores encontradospara o sexo masculino figuram na metade inferioresquerda e os do sexo feminino na metade superiordireita da diagonal.Relativamente ao período pré-pubertário (7-9 anos),os valores de auto-correlação demonstram a existên-cia de uma estabilidade razoável no desempenho dostestes de TSB, SH, C50, SHR e SR em ambos ossexos, e na CVV somente para os rapazes. Quandoreparamos no padrão das correlações neste mesmoperíodo verificamos que a estabilidade da prestaçãoparece aumentar com a idade nos testes ABD eC50m nas raparigas, nos SH e CVV nos rapazes, enos TSB e SR para ambos os sexos.Analisando os valores das auto-correlações entre osdois momentos considerados como imediatamenteantes e após a puberdade (9 e15 anos) encontramosvalores de estabilidade moderada (0,52 a 0,66) paraas prestações dos rapazes no TSB, SH, C50, CVV eSR, e apenas no SH e SR para as raparigas, sendo

todos os outros desempenhos considerados comopouco estáveis nesta transição da idade pubertária.Reparando no padrão mais global das matrizes deauto-correlação - que nos dá uma ideia mais globalda estabilidade do desempenho ao longo de todos osmomentos testados - constatamos mais uma vez queapenas o SH, CVV, e o SR nos rapazes; e o SH e oSR nas raparigas, revelam valores de estabilidademoderada no desempenho longitudinal. Neste tipode análise global destacam-se também, mas pelosbaixos valores de estabilidade exibidos, as prestaçõesna CVV das raparigas. Esta particularidade é aliás aúnica característica distintiva entre os sexos no queao padrão geral das auto-correlações diz respeito, jáque em todas as outras provas o comportamento ébastante idêntico.O valor do Kappa de Coehen (K) permite-nos estabe-lecer a estabilidade da trajectória dos sujeitos aolongo de vários momentos no tempo, testando a suapermanência no mesmo canal percentílico de desen-

Estabilidade da aptidão física

Quadro 3. Valores de tracking (Kappa de Cohen geral e respectivos intervalos de confiança e Kappapor canal quartílico) para cada um dos testes de aptidão física para os rapazes e raparigas.

Kappa 95%CI kappa track<p25 p25-p50 p50-p75 >p75

ABD Fem 0,22 0,16-0,28 0,32 0,16 0,06 0,32Mas 0,19 0,14-0,23 0,29 0,06 0,10 0,32

TSB Fem 0,23 0,18-0,29 0,31 0,06 0,13 0,43Mas 0,26 0,20-0,31 0,46 0,12 0,11 0,33

SCP Fem 0,29 0,24-0,35 0,46 0,11 0,16 0,43Mas 0,33 0,29-0,38 0,51 0,25 0,17 0,39

C50 Fem 0,21 0,16-0,27 0,33 0,13 0,05 0,36Mas 0,24 0,19-0,29 0,43 0,13 0,03 0,38

SHR Fem 0,24 0,18-0,30 0,32 0,08 0,20 0,36Mas 0,27 0,22-0,32 0,42 0,13 0,11 0,44

CVV Fem 0,11 0,05-0,16 0,21 0,00 -0,01 0,23Mas 0,23 0,18-0,28 0,41 0,04 0,11 0,34

SR Fem 0,26 0,21-0,32 0,50 0,11 0,05 0,37Mas 0,33 0,28-0,37 0,52 0,13 0,20 0,44

Masc = masculino; Fem = feminino. TSB - teste de tempo máximo de suspensão na barra; SR - sit-and-reach; SHR corrida de agilidade 4x10 metros (shuttle-run);ABD - número de abdominais em 60 segundos; SCP - salto em comprimento sem corrida preparatória; C50 - corrida de velocidade em 50 metros; CVV corrida de

resistência em vaivém de 20 metros

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volvimento. O facto de esta análise utilizar a infor-mação de todos os momentos de testagem propor-ciona uma medida mais ajustada à verdadeira noçãode traço da aptidão física do indivíduo (estabilidadedas posições relativas dos sujeitos ao longo dotempo). Para além da medida geral, este teste esta-tístico permite-nos ter uma visão do comportamentodos sujeitos em cada um dos canais escolhidos, per-mitindo na prática diferenciar traçados de estabilida-de segundo a maior ou menor proficiência exibida. No Quadro 3 podemos encontrar os valores do Kgeral e respectivos intervalos de confiança (95% IC)para cada um dos testes de ApF segundo o sexo.Estão ainda representados os K parciais para cadaum dos quatro canais percentílicos de performancepreviamente escolhidos e que nos permitem perce-ber o seu tracking específico.Na generalidade o tracking encontrado para cada umdos testes de ApF é bastante baixa (K entre 0,11 a0,33), indiciando falta de estabilidade no desempe-nho de rapazes e raparigas em todas as provas e aolongo das idades estudadas. Destacam-se com osvalores mais baixos os rapazes na prova de ABD(0,19) e as raparigas na de CVV (0,11). Apesar de oselementos do sexo masculino apresentarem quasesempre valores de K mais elevados (com excepção daprova de ABD), estas diferenças não são suficientespara inferir de qualquer significado estatístico nacomparação da estabilidade entre sexos (valores nãomostrados).Quando analisamos a indicação da estabilidade rela-tiva aos quatro canais percentílicos estabelecidos épossível constatar uma realidade um pouco diferen-te. Como é usual, o tracking encontrado nos canaisde desempenho centrais (p25-p50-p75) é muitobaixo, sendo mais elevado entre os que se encon-tram nos dois extremos: os mais fracos e os maisproficientes. Ainda assim, e no canal indicador dasmelhores performances (>p75) apenas nas provas deTSB e SH das raparigas, e nas de SHR e SR dos rapa-zes se verificaram indícios moderados de estabilida-de (0,43 a 0,44). Já no primeiro canal (o de pioresdesempenhos) foram encontrados valores indicativosde estabilidade moderada (0,41 a 0,52) em seis dossete testes nos rapazes (TSB, SH, C50, SHR, CVV, eSR), mas apenas em dois nas raparigas (SH e SR,respectivamente 0,46 e 0,50).

DISCUSSÃONão existem na literatura muitos estudos de nature-za longitudinal relatando a auto-correlação das com-ponentes de aptidão física em idades pré-pubertáriase na passagem para a puberdade. Além disso os pou-cos estudos existentes variam imenso no tipo deprovas efectuadas, no tempo que medeia entre asobservações, no intervalo etário consagrado e conse-quentemente nos ritmos de maturação biológica, eno ambiente envolvente, o que dificulta a compara-ção de valores. Parece, no entanto, haver concordân-cia entre os autores de que a estabilidade destascomponentes da ApF é ligeiramente maior durante operíodo pré-pubertário do que entre este e o final dapuberdade(9, 14, 23). No resumo dos estudos existen-tes (Quadro 4), os autores referem a existência devalores de estabilidade moderada (de 0,40 a 0,62) aolongo de um período de quatro anos na infância (6-10 anos e 7-11 anos), decrescendo ligeiramente(0,39 a 0,54) quando o período de recolha passou aincluir o salto pubertário.Nos nossos dados, os valores de auto-correlaçãoentre os 7 e os 9 anos variaram de 0,43 a 0,81, reve-lando na generalidade uma estabilidade moderada(ABD, CVV), a moderada alta (TSB, SH, C50, SHR,SR), com os valores mais elevados a pertencerem aoteste de flexibilidade do tronco (0,68 – 0,81).Os valores mais baixos de estabilidade registaram-senas provas de abdominais em ambos os sexos (0,46a 0,61) e de CVV no sexo feminino (0,43 a 0,60)constituindo esta última uma observação comum aoutros autores(14, 23, 17, 31). A menor familiaridade dascrianças com este tipo de provas poderá ajudar aexplicar estes valores, traduzindo-se numa dificulda-de coordenativa na execução do movimento de forçaabdominal ou, no caso da CVV, do esforço para com-pletar a prova.Também pelo que ficou anteriormente dito seria deesperar as auto-correlações nas crianças e jovensaqui descritos pudessem ser maiores entre os 9-7anos do que entre os 15-9 anos, o que de facto acon-teceu na generalidade das provas. No entanto, osvalores da auto-correlação das provas de SCP e SRmantiveram-se acima (ou muito próximo) do valorconsiderado como de estabilidade moderada alta(0,60) nos dois momentos, sendo mesmo que nasraparigas apenas decresceram 0.01 de um momento

Luis Paulo Rodrigues, Sérgio Angélico, Linda Saraiva, Pedro Bezerra

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para o outro (0,70 para 0,69, e 0,64 para 0,63, res-pectivamente no SCP e SR), o que parece indicarmesmo (e dado o maior intervalo de tempo) umganho de estabilidade neste segundo momento. Paraalém disso, e ao contrário de todas as outras provas,os rapazes melhoraram a estabilidade da sua presta-ção na CVV no intervalo dos 9 aos 15 anos. Estamelhoria poderá dever-se à maior dificuldade sentidapelas crianças mais novas para cumprirem os requi-sitos da prova (apesar de termos tentado minimizarestas dificuldades tendo sempre um adulto a corrercom as crianças, marcando o ritmo da prova e incen-tivando à sua execução máxima), ou pela especializa-ção metabólica que tem sido descrito ocorrer duran-te a puberdade(4) e que resulta num perfil mais aeró-bio ou anaeróbico do jovem, e logo numa maiorestabilidade do seu desempenho.A análise da estabilidade ao longo de todo o períodoconsiderado (7 aos 15 anos) através do Kappa deCohen e segundo os níveis de prestação (canais

quartílicos) demonstra que, embora com valores deexpectativa moderada, as crianças com piores presta-ções tendem a permanecer mais no seu canal percen-tílico (<p25) enquanto se perspectiva uma maiortroca de posições entre os melhores (>p75). Estesresultados, aliados aos baixos valores gerais de esta-bilidade em todas as provas de ApF, parecem indicarque prestações passadas não asseguram necessaria-mente resultados futuros no comportamento destasvariáveis, mas também, com tudo o que esta conclu-são tem de gravosos para a perpetuação de baixosníveis de ApF nos percursos de desenvolvimentoindividual das crianças e jovens, que as lacunas sen-tidas pelas crianças menos aptas parecem ser as maisdifíceis de corrigir.A interpretação estrita desta falta generalizada deestabilidade nas trajectórias da infância para a puber-dade tardia pode ter várias leituras. Por um ladoparece ser característica humana (a que os investiga-dores dificilmente conseguem escapar) a esperança

Estabilidade da aptidão física

Quadro 4. Valores de correlações idade-a-idade das componentes de aptidão física de rapazes e raparigas em vários estudos.

Intervalo etário Masc Fem

Aptidão AeróbicaVO2 max (ml . min-1 . kg-1) 6 - 10 0,49 Saris et al (1986)

8 - 12 0,556 - 12 0,56

10.8-14.6 0,44 0,39 Janz et al (2000)600 m 7 - 11 0,62 0,42 Falk et al (2001)Milha 9 - 12 0,56 0,42 Marshall et al (1998)

Velocidade15/20 m sprint 7 - 11 0,54 0,50 Falk et al (2001)

ForçaSCP 7 - 11 0,43 0,40 Falk et al (2001)ABD 10 - 16 0,40 Ellis et al (1975)

9 - 12 0,46 0,47 Marshall et al (1998)TSB 10 - 16 0,54 Ellis et al (1975)

8 - 14 0,52 0,44 Branta et al (1984)

FlexibilidadeSR 9 - 12 0,67 0,72 Marshall et al (1998)

8 - 14 0,52 0,44 Branta et al (1984)

Masc = masculino; Fem = feminino. TSB - teste de tempo máximo de suspensão na barra; SR - sit-and-reach; ABD - número de abdominais em 60 segundos; SCP - salto em comprimento sem corrida preparatória.

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de encontrar comportamentos previsíveis, logo está-veis, ao longo do desenvolvimento. Esta assumpçãotraduz-se na interpretação quase sempre abonatóriada existência de traços estáveis, trazendo assim algu-ma segurança à nossa compreensão do fenómeno e àconsequente avaliação e diagnóstico preditivo dassituações de excepcionalidade futuras (risco e rendi-mento). Por outro lado esta mesma interpretaçãotraz consigo um carácter determinista e uma conse-quência de quase inevitabilidade a que nem sempretemos prestado a devida atenção. De facto, altosníveis de estabilidade nas prestações de ApF duranteum período tão alargado e repleto de mudançascomo é o estudado (7 aos 15 anos), constituiria umaprova da inevitabilidade do nosso destino genético,capaz de resistir a tantas influências ambientais aque as nossas crianças e jovens estão naturalmentesujeitos. Não seria por isso, estamos certos, uma boanotícia para todos os que se dedicam à promoção daApF com a convicção de que a estimulação é ele-mento fulcral nesta matéria. Em síntese, poderemos concluir que a estabilidadeda ApF na transição do período pubertário (9-15anos) é menor do que na infância (7-9 anos) emqualquer dos sexos, mas os rapazes apresentamníveis de ApF mais estáveis do que as raparigas,quer observando os períodos separadamente querquando entramos com todos os momentos na análi-se longitudinal. Entre as provas realizadas, a forçamédia abdominal (ABD) para ambos os sexos, e aresistência aeróbia (CVV) nas raparigas, apresen-tam-se com os mais baixos índices de estabilidade.Esta conclusão é sobremaneira importante já que,sendo estes itens normalmente associados à saúdedos indivíduos, a sua pouca estabilidade coloca difi-culdades na detecção precoce de problemas.Demonstrada a baixa estabilidade longitudinal dascomponentes da ApF, ressalta das conclusões desteestudo a possibilidade clara das modificações dastrajectórias dos indivíduos com relevância especialnas mudanças para níveis mais elevados. Uma pala-vra de cautela deve ser deixada no que diz respeitoàs crianças colocadas muito cedo nos níveis maisbaixos e que parecem, essas sim, ainda mais necessi-tadas de intervenção precoce dada a sua maior ade-rência a este estado de menor proficiência.

AGRADECIMENTOSEste estudo foi parcialmente suportado por umabolsa do Programa PAFID, Projecto Ref Nº18/2006,do Instituto de Desporto de Portugal.Os autores querem ainda expressar os seus maisprofundos agradecimentos à Câmara Municipal deViana do Castelo pelo apoio prestado, às escolas erespectivos professores e alunos pela sua colabora-ção desinteressada, e aos elementos da equipa deobservação do quarto momento (Drs ArlindoPeixoto, Raul Oliveira, João Rocha, João Sá, e DanielRafael) pela sua colaboração inestimável.

CORRESPONDÊNCIALuís Paulo RodriguesEscola Superior Educação Viana do CasteloAv. Capitão Gaspar de CastroApartado 513 4901-908 Viana do Castelo Telefone 258806200Telefax 258806209 E-mail: [email protected]

Luis Paulo Rodrigues, Sérgio Angélico, Linda Saraiva, Pedro Bezerra

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Estabilidade da aptidão física

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Os estudos dos esportes na natureza: desafios teóricos e conceituais

Cleber Augusto G. Dias 1

Victor Andrade de Melo 1,2

Edmundo D. Alves Junior 3

1 Instituto de Filosofia e Ciências SociaisUniversidade Federal do Rio de JaneiroBrasil

2 Escola de Educação Física e DesportosUniversidade Federal do Rio de JaneiroBrasil

3 Departamento de Educação FísicaUniversidade Federal FluminenseBrasil

RESUMOEste artigo tem por objectivo apresentar e discutir alguns desa-fios teóricos e conceituais que nos parecem mais prementespara o desenvolvimento de investigações que têm os esportesde aventura na natureza como objectos. Mais especificamente,apresentamos alguns problemas relacionados às conceituaçõesutilizadas e à falta de uma compreensão histórica mais adequa-da. Esperamos abrir canais de diálogo com outros pesquisado-res que se debruçam sobre a temática, bem como buscarmelhor entender as diversas dimensões que configuram o fenó-meno na contemporaneidade, não o considerando somente apartir da ideia de ruptura, mas buscando possíveis continuida-des do campo esportivo, observáveis desde a modernidade.

Palavras-chave: esporte na natureza, história do esporte, moder-nidade

ABSTRACTStudies of sports in the environment: conceptual and theoreticalchallenges

This article has for purpose to present and to argue some theoreticaland conceptual challenges that we consider more important for thedevelopment of researches that have the sports in the environment asobject of study. More specifically, we argue some problems related tothe used conceptualizations and the lack of an adjusted historicalunderstanding. We expect to open channels of dialogue with otherresearchers, as well as better searching to understand the nowadaysdimensions of this social phenomenon, not only considering it from therupture idea, but searching possible continuities of the sporting fieldsince the modernity.

Key-words: sports in the nature, sport history, modernity

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INTRODUÇÃODesde as décadas finais do século XX pode-se obser-var o aumento das preocupações ecológicas e umaproliferação de discursos ambientalistas. Este con-junto de reflexões e práticas políticas têm tido clarainfluência no forjar de novos comportamentos, inclu-sive gerando hábitos de consumo, que vão desde apreferência pela utilização de produtos biodegradá-veis até o desenvolvimento de novas formas de culti-vo de alimentos, entre muitas outras coisas.Articulado a esse processo, podemos situar o cresci-mento, a valorização e a difusão de esportes pratica-dos na natureza. A nova demanda pela prática de esportes na naturezaapresenta aos investigadores o desafio de tentar expli-car mais adequadamente esse fenómeno em suasvárias dimensões: o que motiva a adesão a esse tipode actividades? Que sentido cultural assumem noquadro social contemporâneo? Qual a origem dessesesportes? Seriam mesmo esportes ou trata-se de umaconfiguração completamente diferente? Que conceitosnos permitem melhor definir as suas peculiaridades?A despeito de alguns indicadores alvissareiros –como o aumento no número de dissertações e tesesque versem sobre o tema, percebemos que ainda sãoparciais os esforços mais sistemáticos no sentido deproblematizar algumas questões teóricas e concei-tuais colocadas pela popularização dessas práticassociais, fundamentalmente pela ausência de umacompreensão histórica mais profunda. O que tenta-mos afirmar é que pode ser limitado analisar essaspráticas as considerando somente a partir de umolhar contemporâneo, deixando de lado ou minimi-zando seus antecedentes históricos, abandonando oentendimento de longa duração da própria configu-ração do campo esportivo. Este artigo tem por objectivo aprofundar a discussãoteórica e conceitual sobre os esportes na natureza,buscando melhor entendê-los historicamente.Esperamos com esse estudo abrir canais de diálogocom outros pesquisadores que se debruçam sobre atemática, bem como buscar melhor entender as diver-sas dimensões que configuram o fenómeno na con-temporaneidade, não o considerando somente a partirda ideia de ruptura, mas buscando possíveis continui-dades do campo esportivo, observáveis desde os pri-mórdios do processo de constituição da modernidade.

DIMENSÕES CONCEITUAISÉ comum falarmos do carácter polifónico do conceitode esporte. As ambiguidades e contradições do objec-to geram consideráveis dificuldades no que se referea sua definição, muitas vezes mesmo impedindo opacto de acordos mínimos que assegurem estarmostratando conceitualmente de um fenómeno que com-põe uma mesma categoria de análise. No caso daspráticas em ambientes naturais, tem-se mesmo ques-tionado se a utilização do termo “esporte” seria ade-quada para definir estas modalidades. Em linhasgerais, apresenta-se a ideia de que são caracterizadaspor motivações, modelos, objectivos, condições eespaços bastante distintos dos “esportestradicionais”(1).Queremos deixar claro que não consideramos infun-dado ou irresponsável tal posicionamento, queencontra inclusive base em muitas posições teóricasacerca do conceito de esporte. Estamos, todavia,questionando determinadas compreensões, notada-mente no que se refere a uma certa intransigência àpluralidade de formas de manifestação do esporte e àfalta de um entendimento histórico mais profundoacerca dos sentidos e significados do campo esporti-vo na suas existência concreta desde a modernidade.Antes de discutir sobre a adequação ou não da inser-ção das práticas corporais na natureza no âmbito docampo esportivo, devemos reflectir sobre o que seconsidera como “esporte” nessa tentativa de defini-ção. Essa questão, aparentemente simples, pode serembaraçosa e desconcertante, e é de grande impor-tância, pois a explicitação do que se compreendecomo “esporte” vai estabelecer categorias concei-tuais a que se devem remeter a interpretação dasexperiências a serem analisadas. A título de exemplificação podemos problematizaruma compreensão comummente propagada: a de queo conceito de esporte refere-se a uma actividade cor-poral de movimento com carácter de competição. Poresse motivo as práticas corporais na natureza nãopoderiam ser entendidas como esportivas. Tais asser-tivas nos permitem discutir dois mal entendidos. O primeiro seria o risco de reduzir o esporte tãosomente a uma prática de carácter competitivo nosentido mais stricto. Vale lembrar que há um legadode interpretações, algumas inspiradas no pensamen-to de Jean-Marie Brohm(2), que tendem a caminhar

Estudos dos esportes na natureza

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nesse sentido1. O esporte seria uma reprodução fieldo mundo do trabalho, sendo os elementos lúdicospraticamente eliminados. O esporte seria “a poesiada hierarquia”; guiado única e exclusivamente peloprincípio de rendimento, norteado fundamentalmen-te pelas características formais e ocupacionais docampo esportivo.Essas interpretações encontram ainda eco em umatradição de análise marxista mais convencional, ondese observa que a difusão massiva do espectáculoesportivo pelas redes de televisão maximizaria adimensão competitiva em nome de um saciamentoda sua própria espetacularização.Os estudos históricos recentes apontam outras com-preensões. Trabalhando na perspectiva dos EstudosCulturais e buscando entender de forma mais mati-zada e complexa a influência do esporte na formaçãodos sentidos e significados da modernidade, Melo(6,

7) demonstra que foi apreendido como um novo esti-lo de vida, articulado com a constituição da socieda-de do espectáculo, destacando-se pelo seu carácterde festa (relacionado a uma nova dinâmica social deocupação do espaço público) e por dialogar constan-temente com o conjunto de dimensões valorizadaspelas formações culturais específicas. A idéia de cir-cularidade cultural, aponta o autor, parece mais inte-ressante para compreender a formação do campoesportivo.Sendo assim, devemos questionar os que limitam oesporte a uma reprodução linear da ideia de rendi-mento, e entendê-lo como um fenómeno social maisamplo. Isto não significa uma negação da ideia decompetição no esporte. Na verdade, estamos apenastentando não menosprezar o seu carácter “lúdico”(um termo, aliás, muitas vezes utilizado com poucaprecisão conceitual) e dimensionar o debate paraalém do dualismo competição–não competição.Um segundo problema seria a compreensão dosesportes na natureza como de carácter exclusivamen-te cooperativo, oposto à competição, como se foraum jogo desinteressado, ainda que se admita umprogressivo processo de profissionalização. Não édifícil cair nessa armadilha, já que há um efectivodeslocamento do elemento competitivo do outro, doadversário, para si mesmo ou para o próprio meioambiente, como já demonstraram algumaspesquisas(8, 9).

O que tentamos ponderar e colocar em questão é seessa forma de pensar não parte de uma premissaidealizada, ou até mesmo romantizada, pouco afeitaàs tensões que se estabelecem ao redor dessas práti-cas. Desse modo, se apreendidas de maneira linear,as concepções em tela pecariam por desconsiderar apluralidade de significados inerente ao próprio con-ceito de esporte, tomando-o como uma prática cul-tural com sentido unívoco. Ambas insistiriam emum esquema de análise dual, que compartimenta ofenómeno esportivo como sendo, por um lado, umamanifestação do espectáculo e do rendimento, e, poroutro, uma expressão do lazer e da ludicidade2.Cremos que não é possível compreender o esportedividido entre a pura gratuidade ou a severa serieda-de; entre a funcionalidade ou o desinteresse. Podematé existir arranjos das práticas esportivas com pre-dominância de certos aspectos, mas não exclusivida-de. Ou seja, não há um esporte absoluta e univoca-mente “competitivo” ou, ao contrário, “cooperativo”.Entendê-lo no embate e diálogo complexo entre asduas dimensões, sempre simultâneas, parece-nosfundamental para nos permitir uma aproximaçãomaior com as ocorrências concretas do objecto. Não podemos nos limitar a uma leitura homoge-neizadora do esporte, à luz somente das suasdimensões institucionais, burocráticas ou especta-culares. Ao contrário, devemos buscar uma visãomultidimensional, que nos permita entender acomplexidade e multiplicidade dos vários aspectosque o compõem. Trata-se de integrar os aspectos laborais e lúdicosrumo a uma definição mais aceitável de esporte (nosentido de permitir captar com mais acuidade a suaconcretude), tal como já propusera o sociólogo AllenSack(11), que concebeu um modelo que considerava aprática esportiva como um jogo institucionalizadoque repousa na proeza física, em que proporçõesvariáveis de jogo e trabalho, seriedade e ludicidade,intervêm simultaneamente, dependendo da naturezaespecífica da actividade. Nesse sentido, os esportes na natureza são umaespécie de subcultura esportiva, mas que integram ocampo esportivo mais amplo e parece que é assimque devem ser estudados. Ainda que cada modalida-de possa ser apreendida em suas especificidades, hásempre referências em comum(12).

Cleber Augusto G. Dias, Victor Andrade de Melo, Edmundo D. Alves Júnior

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Tomar como premissa, por exemplo, que o surfe e ofutebol não fazem parte de um mesmo campo porpertencerem a culturas diferentes é no mínimo exa-gerado, ainda mais quando consideramos o movi-mento de esportivização da cultura corporal, onde adistância cultural entre duas modalidades parecediminuir, tornando o compartilhamento de referên-cias simbólicas ainda mais evidente3.É certo que futebol e surfe – só para permanecermoscom esses exemplos – pertencem a “subculturas”diferentes, ao mesmo tempo em que podem compor-tar uma infinidade de formas. Como bem afirmamBlanchard e Chask: “a variabilidade é, provavelmente,uma característica da maioria dos acontecimentos esporti-vos em qualquer marco cultural. E toda análise cultural doesporte deve levar em conta essa variabilidade”(11). Masisso não significa que façam parte de campos dife-rentes, já que, de maneira mais profunda, comparti-lham uma série de dimensões simbólicas.Sendo uma manifestação cultural, o esporte é dinâ-mico, sofre mutações no seu desenrolar histórico,acompanhando as mudanças estruturais da socieda-de contemporânea. A questão é saber se esse con-junto de modificações do campo esportivo constitui-se em uma ruptura com sua forma clássica de orga-nização ou se, ao contrário, reproduz-se os seus ele-mentos simbólicos presentes desde o fim do séculoXVIII. Argumentamos que os esportes na naturezanão se constituem em um descontinuidade, damesma forma que a pós-modernidade não se consti-tui em uma ruptura com a modernidade, ainda queapresente uma série de novas dimensões que nãopodem ser negadas e que devem ser cuidadosamenteconsideradas(13, 14, 15). Devemos então evitar a cano-nização de uma determinada forma de expressão doesporte (o que pode soar a idealismo e/ou falta decompreensão histórica), a partir do entendimento deque essa manifestação cultural, como todas asdemais, é dinâmica. Mesmo os encontros de linguagens, típicos da con-temporaneidade, ainda que originem novas formasde organização, não destroem as anteriores. As for-mas de fazer cinema na pós-modernidade, por exem-plo, tensionam com os sentidos modernos, mas issonão faz que deixe de ser cinema. A dança contempo-rânea, continua sendo dança, a despeito das novasdimensões. As artes plásticas na pós-modernidade,

do mesmo modo, se confrontam directamente comcertas práticas modernas, mas:

Para não incorrermos no erro da própria crítica modernis-ta, é necessário dizer que o contemporâneo não rompe como moderno, não estabelece com ele um par dicotômico. Aocontrário, a arte contemporânea se entrelaça ao moderno,surge de e graças a sua herança, onde encontrou chão paraseus próprios saltos (16).

Assim, as inegáveis mudanças observáveis nos arran-jos sociais do esporte na contemporaneidade com-põem, nada mais, nada menos, uma nova configura-ção do fenómeno esportivo, sem com isso descarac-terizá-lo como tal. Trata-se de uma adequação(tensa, dialógica e complexa) das práticas esportivasaos novos parâmetros sociais que organizam a vidaem sociedade.Por tudo isso, enfim, acreditamos que é bastanterazoável entender a disseminação dos esportes nanatureza à luz do processo moderno de esportiviza-ção, compreendido aqui como a transformação doselementos da cultura corporal de lazer em esporte,ou em outros termos, a regulamentação, a decodifi-cação e a institucionalização dos passatempos(17).Falar de definição de conceitos é falar também deuma questão histórica de fundação. Nosso esforçono próximo item será o de entender a partir de quemomento a ideia de contacto com a natureza apare-ceu definida como prática específica, a partir de quemomento podemos falar de “esportes na natureza”.

DIMENSÕES HISTÓRICASConsiderando o quadro que acabamos de delinear,nos parece indispensável o enfrentamento teórico deum segundo desafio: uma compreensão mais apro-fundada do contexto histórico em que surge a ideiada busca da natureza para fins esportivos e de lazer.Vale a pena lembrarmos o alerta de Pierre Bourdieu:“Uma das tarefas mais importantes da história social doesporte poderia ser sua própria fundação, fazendo a genea-logia histórica da aparição do seu objeto como realidadeespecífica”(18). Importa logo destacar que o comportamento de bus-car o meio ambiente como locus para as vivênciaslúdico-recreativas não é um fenómeno recente. Aideia de valorização e busca da natureza, encarada

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como um refúgio para as mazelas do rápido e desor-ganizado crescimento das cidades no século XIX,algo articulado com as ideias do primitivismo noâmbito das artes plásticas e do mito do bom selva-gem no âmbito da antropologia, vai marcar clara-mente uma nova organização dos modos de diver-são, entre os quais as práticas esportivas(19).Portanto, ainda que os esportes em seu sentidomoderno sejam em muito fruto do crescimento deuma cultura urbana, desde suas origens eles tambémestavam articulados com a ideia de “re-ocupação” doambiente “natural”.Aqui colocamos o termo “natural” entre aspas por-que desde aquele momento é possível identificar quese tratava de uma apreensão bastante idealizada.Naquele instante, “ir à natureza” significava se afas-tar um pouco dos centros urbanos, comparecendo àspraias, rios e bosques localizados nas zonas da peri-feria, que, aliás, já eram utilizados como local dodespejo dos detritos da cidade(19). Nesses locais “sel-vagens” rapidamente se desenvolveu uma boa estru-tura de entretenimento, que permitia aos frequenta-dores simular “aventuras” e “contactos com ocampo” com consideráveis doses de conforto e segu-rança4. Algo bastante similar ao que encontramosnos dias de hoje.Basta lembrar que, na actualidade, as empresas espe-cializadas oferecem viagens que conciliam aventura econforto. Algumas delas tornaram-se conhecidasexactamente por oferecer “aventura com estilo”. Porexemplo: passeios em Fernando de Noronha regadosa champanhe; acampamento no Jalapão, com col-chões infláveis, banheiros químicos portáteis e car-dápio com crepe flambado; viagens pelos rios daAmazónia onde:

férias na maior floresta do planeta [...] não significa seembrenhar pela mata e passar apertos. As aventuras vistasapenas em livros de história ou em filmes sobre a regiãopodem ser vividas em confortáveis — e divertidos — rotei-ros de lazer montados por agências e hotéis (21).

Considerando especificamente as actividades que sãousualmente reconhecidas como esportes na nature-za, podemos dizer que tal prática data, pelo menos,dos idos de 1857, com a fundação do clube de excur-sionismo britânico. A este se seguiram outras inicia-

tivas congéneres: o clube alpino suíço e italiano(1863), o clube alpino alemão (1869), o clube alpinofrancês (1874), o clube alpino Belga (1883)5, e aindaos clubes de montanhismo do Canadá (1906) e dosEstados Unidos (1910). Um pouco mais tarde, omesmo começa a acontecer na América Latina, como Centro Excursionista Brasileiro (1919), o ClubeAndino de Bariloche (1931) e o clube Andino doChile (1933). Lembremos que a organização de clubes é uma dasmarcas do desenvolvimento do campo esportivo,ainda que não seja a única a ser considerada. Issodemonstra que já naquele momento existiam preo-cupações de sistematização da prática. Isso é, taisacontecimentos, mais do que marcos simbólicos,podem significar indícios de um processo de decodi-ficação de um conjunto de mudanças que estavamem curso nas representações colectivas de umaépoca; uma espécie de expressão mais evidente dereorientações que já estavam em desenvolvimento,sobretudo aquelas que dizem respeito às maneirasde se conceber e de se relacionar com a natureza. Aquantidade numérica de iniciativas, a sua amplitudegeográfica e o fato de que grande parte desses clubesexiste até os dias de hoje é significativo para consi-derarmos que não se tratava de esforços isolados,mas sim de uma determinada conjuntura. Tratava-sejá da constituição de uma subcultura, articulada aum campo em constituição.Enfim, a institucionalização do hábito de se buscar o“campo” para o divertimento, atribuindo-lhe usosesportivos e recreativos, inclusive por meio da fun-dação de clubes, federações e associações esportivas,ilustra as mudanças relacionadas às ideias e concep-ções acerca da natureza, o que não pode ser descola-do do novo modelo de cidade: ainda que muitasvezes tais esportes aconteçam afastados dos grandescentros, parece-nos inegável que eles têm uma pro-funda articulação com a ideia de urbano(24).Os novos comportamentos têm relação com umarcabouço de ideias em construção, podendo ser aexpressão concreta de um sistema de pensamentos,ainda que a partir de alguns sentimentos imprecisos.Lembremos que Vovelle considera que opiniõespodem mesmo se tornar móveis da acção, onde oquadro de ideias funciona como um modelo(25). Asconvicções de poucos podem se transformar na acção

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de muitos. Revoluções conceituais forjam mudançasnos valores e nos comportamentos humanos.As mudanças nos sentidos empreendidos ante aideia de natureza estão profundamente articuladascom a aparição de novos comportamentos, inclusiveaqueles hábitos ligados à busca da natureza para odivertimento e para a prática esportiva. E esse pro-cesso tem claramente suas raízes no século XIX.Que idéias poderiam explicar o surgimento do hábi-to esportivo em meio à natureza? Que elementospodem ser apontados como estímulos preponderan-tes para a aparição desses novos hábitos e comporta-mentos esportivos? Que sistema de pensamentopode ser um fator histórico determinante para acompreensão dos esportes na natureza? As atitudes humanas diante do meio ambiente sãohistórica e culturalmente construídas, sendo mutá-veis e maleáveis(26). Nos momentos precedentes afundação dos clubes de montanhismo, percebia-seuma postura de receio, de menosprezo e mesmo derepugnância no que se refere às montanhas.Segundo Robert Mac Farlane, elas eram, até meadosdo século XVIII, vistas como lugares a serem evita-dos, não associadas a ideia de beleza ou de prazer.Somente na virada do século XIX é que esses lugarespassaram a exercer extraordinário apelo a imagina-ção: “três séculos atrás, arriscar a vida escalandomontanhas era considerado algo insano. Na verdade,mal existia a noção de que paisagens inóspitas cons-tituíam um atractivo [...] No século XVII, os indiví-duos mais cultos referiam-se às montanhas em tomde censura”(27). Alan Corbin também demonstrouque sensações e sentimentos desta ordem perpassa-vam as percepções sobre a praia(28). No contexto da modernidade, os sentidos e os valo-res construídos em relação ao “meio ambiente” sedesdobram em um conjunto de modelos de aprecia-ção paisagística, uma nova maneira de conceber, deapreciar e de se relacionar com as “paisagens natu-rais”, que por sua vez incidem e se materializamnuma série de práticas sociais, incluindo a populari-zação do hábito de se buscar meios “naturais” paraas actividades de lazer, entre as quais as práticasesportivas. Nesse sentido, existe uma forte relaçãoentre o surgimento desse novo sistema de represen-tações colectivas e os primórdios dos esportes nanatureza, mais particularmente com o desenvolvi-

mento histórico e institucional do montanhismo,inegavelmente o grande precursor desses costumesesportivos.São muitos os elementos que contribuem para odelineamento deste novo imaginário colectivo, entreos quais destacamos: o crescimento das cidades; anova organização do trabalho e a valorização dosmomentos de lazer; o higienismo; a noção de pito-resco; a doutrina do sublime e o romantismo; a teo-logia natural; a difusão da figura do homem acadé-mico; a popularização de algumas ciências e os avan-ços tecnológicos; tudo articulado com o conjunto demudanças de natureza económica.Discorramos sobre o progresso de algumas ciências,sobretudo o das ciências naturais, como um dosimpulsos decisivos para a emergência de uma novasensibilidade com relação à natureza. O desenvolvi-mento e a popularização da História Natural, porexemplo, permitiu um maior conhecimento e com-preensão do meio ambiente. É importante lembrarque: “por volta da década de 1880, havia várias centenasde sociedades de história natural e clubes de campo no inte-rior que reuniam cerca de cem mil membros”(29). O desenvolvimento da ornitologia ao longo do sécu-lo XIX foi mais um estímulo para que um númerocrescente de pessoas buscasse os ambientes natu-rais, à busca da beleza dos pássaros. A geologia, porseu turno, também se prestou a intensificar o fascí-nio e a curiosidade pela natureza. Por volta da déca-da de 1860 se proliferava na Europa o chamadoturismo geológico, uma modalidade de viagem emque se organizavam visitas guiadas a montanhas ecursos sobre rochas. Esse súbito interesse incentiva-va o contacto com penhascos e actividades ao arlivre: “o topo da colina e a vista panorâmica ali propiciadatornaram-se um atractivo para pessoas que buscavam olazer”(27). O montanhismo mais particularmente – que esta-mos utilizando como exemplo para reflectir sobre osurgimento destes novos costumes esportivos – sem-pre caminhou pari passu com o progresso científico.Até meados da década de 1920 eram primordialmen-te fundações científicas que financiavam expedições,como a tentativa de conquista do Everest. Se a revo-lução científica e tecnológica do século XIX alterouirremediavelmente uma série de atitudes huma-nas(30), talvez o tenha feito ainda mais particular-

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mente no que se refere aos posicionamentos diantedo “natural”: a compreensão mais detalhada dosmecanismos de funcionamento da natureza foi pau-latinamente aproximando os seres humanos dessesantes desconhecidos e hostis espaços. Mais ainda, oavanço científico reduziu a influência e os constran-gimentos de natureza religiosa, mais uma importan-te dimensão tanto para o surgimento de novas for-mas de diversão quanto para uma nova ocupação eproximidade com o meio ambiente.

Ao longo de três séculos, portanto, ocorreu no Ocidenteuma grande mudança de percepção, no que diz respeito àsmontanhas. Características que outrora levavam a ser des-prezadas – altitude, desolação, perigo – passaram a consti-tuir os aspectos mais apreciados(27).

Na medida em que aumentava a capacidade da ciên-cia de revelar mais sobre as estruturas naturais6,bem como cresciam rapidamente os complexos urba-nos, surgem reacções contra a ideia de desenvolvi-mento urbano-industrial, ao mesmo tempo em quese desenvolvem iniciativas que propugnavam queuma vida campestre e rural seria um antídoto paraos problemas ocasionados pelo ainda recente modelode organização social, que começava a dar os primei-ros sinais explícitos de falência, algo que ficou clarocom a Primeira Grande Guerra, marcando o fim dachamada “Belle Époque”7. A depressão económicade 1880 aumentou a agitação e consequentemente oentendimento de que o espaço urbano era agressivoe prejudicial8. Na verdade, já em 1865 fora fundado na Inglaterra oprimeiro grupo ambientalista que reivindicava maisespaços naturais para o lazer da população(26). Algunsgovernos começaram a reservar áreas naturais para odivertimento público, como o Parque Nacional deYellowstone (fundado em 1879, nos Estados Unidos),seguido de iniciativas análogas na Austrália (em1879), no Canadá (com a criação do Parque Banff, em1888) e na Nova Zelândia (com o Parque Tongarino,em 1894). Àquele tempo, os conceitos de preservaçãoe recreação praticamente se fundiam(29).Um outro aspecto importante na configuração ousedimentação dessa nova sensibilidade é o movimen-to estético do romantismo, com sua típica valoriza-ção da curiosidade e da busca por lugares exóticos,

desconhecidos, naturais e bucólicos. Ao passo que sedifundiam os ideais românticos, podia-se notar umapredilecção pela busca de lugares isolados e de difícilacesso, como os Alpes ou os Pirineus.

Havia motivos práticos para fugir das congestionadas cida-des vitorianas. As pessoas que dispunham de recursostinham uma razão suplementar para sair: desfrutar dasbelezas da natureza, de preferência em seu estado original.Esse prazer por lugares ermos e selvagens também eranovo. John Ruskin viu os Alpes pela primeira vez em 1833,quando tinha quatorze anos – e ficou impressionado. Aodescrever a sensação mais tarde, ele escreveu que sua emo-ção “devia-se à época: alguns anos antes – menos de umséculo – nenhuma criança se preocuparia em dar atenção àsmontanhas”. A conclusão de Ruskin é importante. O movi-mento romântico mudou não só os princípios artísticos, mastambém as sensibilidades das pessoas. A paisagem dasmontanhas e do litoral, antes desprezada, passou a ser pro-curada como uma gratificante experiência estética(32).

A busca da natureza também era incentivada peloprogressivo aumento das alternativas de lazer no fimdo século XIX, onde as viagens apresentavam-secomo uma importante opção. Nos passeios de fériasou de fim de semana vivenciava-se algo relativamen-te novo até então: a possibilidade de se obter prazerpura e simplesmente pelo conhecimento de outroslugares. Certamente a melhora e o desenvolvimentode novos meios de transporte (a bicicleta, o trem, ocarro e posteriormente o avião), algo que está articu-lado com o já discutido processo de revolução cientí-fica-tecnológica do século XIX, aumentou considera-velmente as possibilidades de mobilidade social e,em alguma medida, incentivou (e mesmo permitiu)o desejo de se conhecer novos lugares.No final dos anos 1880, lugares avaliados como sím-bolos de belezas misteriosas e selvagens eram inva-didos por andarilhos em busca dos prazeres ofereci-dos pela natureza. Aos poucos, como nos relataEugen Weber, “os penhascos deixavam de produzir mausespíritos e passavam a produzir moedas brilhantes deixadaspor turistas curiosos”(23). Não por acaso as estações demontanha foram os primeiros destinos de viagem acriar centros de informações turísticas. Desde muitoprecocemente já se observava a organização de ummercado ao redor dessas práticas.

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Não se tratava exclusivamente da busca pela nature-za em si. Nessas viagens já se destacava o interessepelo ar puro, mas também pela ginástica, pela aven-tura e pelas proezas físicas. Os lugares destinados àsviagens de lazer estavam atrelados, graças ao forteapelo do discurso higienista da época, a virtudesmedicinais, que quase sempre eram apresentadascomo remédios para os males da vida urbana, nota-damente o estresse e a poluição.Enfim, os fundamentos mais elementares da ideia debusca da natureza como fonte de prazer e de diverti-mento, marcas do surgimento dos esportes na natu-reza, já estavam postos no século XIX. Naquelemomento tais práticas já estavam organizadas emmodelos bastante semelhantes ao dos dias de hoje.Obviamente que hodiernamente tais esportes apre-sentam uma série de novas peculiaridades, dialogan-do com as diversas dimensões socioculturais con-temporâneas. Contudo não parecem se apresentarcomo ruptura com os formatos multifacetados docampo esportivo. Antes parecem mais desdobramen-tos desse processo contínuo e tenso de configuração.

À GUISA DE CONCLUSÃOA crítica central desse estudo é a de que comum-mente os trabalhos académicos que têm os esportesna natureza como objecto de investigação desconsi-deram ou fazem uso parcial e controvertido de refle-xões de natureza histórica. Isso pode ser responsávelpela construção e utilização de conceitos limitadosno sentido de operar interpretações mais amplas ecomplexas acerca da presença concreta dessas práti-cas no tempo e no espaço, inclusive no contexto dasociedade contemporânea.Ao propormos que os princípios de organização dos

esportes na natureza já estavam bem definidos desdeo século XIX não estamos negando a actualidade quea interface entre esporte e meio ambiente assumenos dias de hoje. Tampouco estamos desconsideran-do as reconfigurações do campo esportivo. A questãocentral é que os elementos de descontinuidade, deruptura e de inovação, devem ser analisados articula-damente com as “estruturas de longa duração”(33).Estamos, portanto, defendendo a ideia de que asinovações nos hábitos esportivos que os esportes nanatureza trazem consigo se inserem em um longoprocesso de desenvolvimento histórico, que deve ser

seriamente considerado para fins de uma compreen-são mais ampliada dos seus sentidos e significadosno quadro contemporâneo.Isso está profundamente articulado com o entendi-mento teórico e conceitual que vai se atribuir a estaspráticas. Não estamos propondo respostas definiti-vas. Ao contrário, conforme mencionamos no iníciodeste trabalho, nosso objectivo foi o de chamar aatenção para alguns desafios que nos parecem maisprementes e abrir um debate e canais de diálogonessa direcção.

CORRESPONDÊNCIACleber Augusto Gonçalves DiasRua Otávio de Souza, lote 12, quadra D, casa 1Campo GrandeRio de Janeiro, RJ – Brasil. 23087 – 030E-mail: [email protected]

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NOTAS1 Uma discussão sobre o pensamento desse autor pode serencontrada nos estudos de Marcelo Proni(3) e de RichardGiulianotti(4, 5). 2 Marco Stigger(10) alerta para o perigo teórico-metodológico denegligenciarmos as apropriações microsociais do fenómeno, oque pode conduzir a um enfoque exagerado nos grandes even-tos, distanciando-se do espaço concreto e cotidiano onde oesporte também acontece. 3 Tendência que se manifesta no impulso em dotar as manifesta-ções corporais de um caráter competitivo e espetacularizado talcomo ocorre, já há alguns anos, com o montanhismo, onde exis-te um movimento que tenta enquadrar o esporte nos moldesolímpicos. Vale destacar que tal movimento influência mesmooutros típicos de manifestações, algo claro, por exemplo, nas“olimpíadas de matemática” ou “jogos olímpicos de arte”.4 Por exemplo, no início do século XIX a rainha Maria Antonietafrequentava uma casa de verão, em Versalhes, que simulavauma aldeia normanda e era dotada de vários artifícios para imi-tar uma paisagem natural. Nas duas viagens anuais que fazia aolocal, tentava “fazer de conta que era uma camponesa, tomando sorve-te numa mesa de mármore, colhendo flores no jardim ou segurando umavara de pescar na beira do lago artificial”(20).5 Alguns países da Europa têm nos esportes de montanha umade suas principais tradições esportivas. A mentalidade esporti-va alemã, por exemplo, esteve durante muitos anos ligada

quase que exclusivamente a ginástica, as marchas e ao alpinis-mo(22). Na França, depois da fundação do seu primeiro clubealpino, a prática rapidamente se popularizou. O modelo asso-ciativo francês não era limitado a escaladores como aconteciana Inglaterra(23) e isso certamente incentiva o acesso.Actualmente, de acordo com os dados da Federação Francesade clubes de alpinismo e montanhismo, o país conta com 240clubes e 89.000 membros associados.6 Desempenhando grande influência, deve-se destacar a publica-ção da obra “A origem das espécies”, de Charles Darwin em 1859.7 Nesse sentido, a minuciosa análise das condições urbanas dosoperários ingleses, empreendida por Friedrich Engels em “Asituação da classe trabalhadora na Inglaterra”, teve grande impacto.A organização de movimentos dos trabalhadores contribuiupara explicitar as contradições do sistema. Uma análise doperíodo pode ser encontrada no livro de Eric Hobsbawn(31).8 Em 1800, Londres já era a maior cidade do mundo, com ummilhão de habitantes. Entre 1800 e 1850, a população daInglaterra mais que dobrou e no fim do século a capital londri-na apresentava uma população de cinco milhões de habitantes.Essas condições impulsionavam o aparecimento de protestos elamúrias acerca dos problemas urbanos. Quem visitava aLondres do século XIX, “achava os congestionamentos de trânsitoum escândalo. O fedor de urina e estrume dos cavalos erainsuportável”(32).

Cleber Augusto G. Dias, Victor Andrade de Melo, Edmundo D. Alves Júnior

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A imprensa e a memória do futebol brasileiro

Antonio Jorge G. Soares 1,2

Tiago L. Bartholo 2

Marco S. Salvador 3,4

1 Universidade Gama FilhoBrasil

2 Universidade Federal do Rio de JaneiroBrasil

3 Universidade Estadual do Rio de Janeiro4 Colégio D. Pedro IIBrasil

RESUMOO artigo analisa a memória do futebol brasileiro a partir dasnarrativas produzidas pela imprensa esportiva. Utiliza comomaterial empírico os jornais editados durante as Copas doMundo de futebol (1998-2002) e os editados durante a Copado Mundo de 1970. Compara as imagens e narrativas construí-das no evento de 1970 com as construídas e mantidas atual-mente na memória jornalística, quando rememora a vitóriadesse campeonato. Conclui-se que os eventos sobre a seleçãode 1970 rememorados pela imprensa atual são apresentados apartir da complexa relação entre lembrança e esquecimento quese ajustam às demandas de afirmação da identidade do “fute-bol-arte” como uma das formas de reafirmação da identidadenacional.

Palavras-chave: identidade, futebol e memória

ABSTRACTThe press and the memory of the Brazilian soccer

This article examines the memory of Brazilian soccer through narra-tives produced by the sporting press. The analyzed material comprisesnews pieces published during the two consecutive world championships,the World Cup (1998-2002), as well as pieces published during theWorld Cup in 1970. The objective is to compare the images and narra-tives from 1970 World Cup to the narratives of 1998 and 2002World Cups. The analysis indicates that the events referring to the1970 team narrated by the current press are subject to selection andedition processes that are adjusted to the demands of the identity of the“Brazilian soccer style “.

Key-words: identity, soccer, memory

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INTRODUÇÃOO artigo investiga a “reconstrução” e a “actualiza-ção” da memória da selecção brasileira de futebol naCopa do Mundo de 1970i. Comparamos as matériasde jornais veiculadas durante a conquista do selec-cionado brasileiro na Copa do Mundo de futebol de1970 com as matérias que rememoram tal conquistanas Copas de 1998 e 2002. O objectivo do estudo édemonstrar como os esquecimentos produzidossobre a selecção de 1970 são funcionais para reafir-mar a identidade do futebol brasileiro, chamado defutebol-arte ou “jogo bonito”, bem como, para refor-çar as imagens de criatividade e de espontaneidadeque os “brasileiros” tanto se orgulham. Nessa direc-ção, o futebol serve para ilustrar como o terreno damemória é um local de tensões na afirmação dasidentidades.A memória no campo da história já rendeu um signi-ficativo debate sobre o assunto que gerou uma sériede argumentos de distinção conceitual: uma visãopositivista a toma como distorção, ideologia, ficção;outra visão a entende como uma das formas de aces-so ao passado que reflecte o acontecido no presentee o projeta no futuro(16).No plano epistemológico, a memória pode ser pen-sada a partir da relação entre lembranças, esqueci-mentos e silêncios. Se a lembrança, sempre selectiva,é algo quase evidente quando se pensa no conceitode memória, os esquecimentos e os silêncios comocategorias de análise não são tão claros e explíci-tos(12). Eles possuem uma função na construção ouna protecção de identidadesii, logo, merecem umaatenção especial quando entramos nesse campo deestudos.Os jornais são um dos guardiões da memória socialna modernidade. Rememorar qualquer evento queligue o presente ao passado se tornou um dos motesdo jornalismo. No caso do futebol, as narrativas jor-nalísticas apresentam sua memória resgatando fatos,imagens, ídolos, êxitos e fracassos anteriores, nosentido de construir uma tradição, como um eloentre as gerações dos aficionados pelo esporteiii.Os jornais brasileiros que cobriram a Copa de 1970ao apresentarem jogos e probabilidades de vitória daselecção, contra qualquer adversário, relembravamdramas de derrotas ou vitóriasiv. A construção daimprevisibilidade excita o leitor. Como estratégia jor-

nalística, tal acção coloca o presente em continuida-de com o passado fornecendo elos identitários entregerações e apresentando o esporte como um“drama” que faz a identidade ficar em permanenteprocesso de afirmação nesse campo.A hipótese levantada é a de que as narrativas jorna-lísticas ao rememorarem, no presente, eventos e per-sonagens da Copa de 1970, esquecem, de forma não-consciente, elementos e eventos que não se ajustamà tradição da narrativa do “futebol-arte” que setransforma, em certas ocasiões, em metonímia danação. O argumento que sustenta a hipótese é: amemória jornalística esquece e quase apaga as ima-gens da disciplina, do esforço, do planejamento, darotina, do treinamento e da ciência, que foram fun-damentais na obtenção do sucesso da selecção de1970. Todavia, tais imagens não se ajustam às ima-gens identitárias da “arte”, da “criatividade”, da“malícia” ou “malandragem” do jogador brasileiro –imagens hegemónicas em determinadas situações.

METODOLOGIANeste artigo analisamos as reportagens dos jornais OGlobo e Jornal do Brasil – periódicos de circulaçãonacional – e das revistas Veja, Manchete, Aconteceu,High Sport e Motel Clube Minas Gerais publicadas em1970. Foram seleccionadas 32 matérias em 1970, 24matérias dos jornais da Copa de 1998 e 27 da Copade 2002, todas classificadas a partir das seguintescategorias: a) o “futebol-arte” – técnica corporal sin-gular do brasileiro que identifica o estilo de jogo; b)a valorização da “ciência” no esporte – matérias queenfatizavam o processo científico de preparação físi-ca da selecção de futebol; e c) a conciliação entreestilo de jogo e ciência. As categorias de análise doconteúdo, segundo Bardin, classificam os elementosde um grupo ou conjunto observando o critério dediferenciação, posteriormente reagrupando-os porintermédio das semelhanças, de acordo com critériosestabelecidos(1).

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOSAs narrativas sobre o futebol no Brasil ainda tomama selecção de 1970 como um dos pilares do orgulhona reafirmação de uma identidade positiva. O estilode jogo da selecção brasileira de 1970 tornou-se areferência do bom futebol que identifica o Brasil.

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Embora datada a construção desse estilo, a constan-te tensão entre afirmação e perda do estilo estruturauma narrativa identitária que se pretende atemporal-mente como a “natureza” do “ser brasileiro” nesseespaço social. Tal imaginário transforma-se num bemcultural que mobiliza afetos e rende bons debatesnos jornais, na televisão e no cotidiano.Salles e Soares(14) realizaram uma enquête, com 50entrevistados, homens e mulheres, de diferentes fai-xas etárias (17 aos 60 anos), questionando-os sobre“o que é o melhor do futebol brasileiro?” e “quais são osmaiores jogadores da sua história?” As respostas indi-cam dominantemente os jogadores e as seleções de1970 e de 1982v. Os entrevistados fornecem umaprofusão de informações sobre lances, gols, resulta-dos e detalhes eivados de emoções. As respostas dosentrevistados indicam que o brasileiro é alguém “fes-tivo”, “criativo”, “alegre” e “moleque”(14). Essas são asmesmas imagens reforçadas na mídia sobre o futebolbrasileiro. Tais dados reforçam as interpretações devários autores que se debruçaram sobre a relaçãofutebol-sociedade no Brasil(5, 8, 10, 15, 18, 21, entre outros).Deve-se ressaltar que a memória, quando accionada,funciona como um mecanismo fundamental dereforço identitáriovi.O papel da preparação física no treinamento daselecção de 1970 foi amplamente divulgado nosperiódicos jornalísticos durante a Copa de 1970, taisveículos cobriram desde a pré até a pós-temporadado evento.

Figura 1. dados colectados nos periódicos durante a Copa de 1970

Do total de 32 matérias que seleccionamos duranteo ano de 1970, 20 reportagens ou aproximadamente62% do total se referem ao trabalho da preparaçãofísica construída a partir de bases científicas (Figura1). Não podemos esquecer que os governos ditato-riais pós-1964 tinham investido na imagem de umpaís que estaria se modernizando. Nessa direcção,ciência, tecnologia e planejamento eram temas queestavam na agenda política e se difundia por outrossectores(17). Constatamos apenas quatro narrativasjornalísticas (aproximadamente 13%) que tratamespecificamente do tema “futebol-arte” ou estilo dejogo. A ênfase na preparação física, na modernizaçãodo futebol brasileiro, estava de certa forma vinculadaao avanço dos conhecimentos no campo dos estudossobre treinamento e exercício físicos e à derrota naCopa de 1966, chamada no Brasil de “Copa daforça”, na qual a eficácia do estilo brasileiro foi colo-cado em questãovii.A memória sobre o triunfo na Copa de 1970 presen-te nos jornais durante a Copa do Mundo de 1998,indica um processo de esquecimento das imagens doplanejamento, da disciplina e do treinamento, esteconstruído a partir de bases científicas, em favor dolouvor e da exaltação do “futebol-arte”.

Figura 2. Dados colectados nos periódicos durante a Copa de 1998

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Se, em 1970, o “estilo de jogo” foi pouco enfatizadopelos jornais, em detrimento da novidade da valori-zação da aplicação de conhecimentos científicos nofutebol, em 1998 observamos exactamente o quadroinverso. Do total de 24 matérias que colectamos 19narrativas (aproximadamente 79%) descrevem oestilo de jogo como “magia”, “genialidade” e “arte”do futebol do passado (Figura 2). Os jogadores emembros da comissão técnica que integraram aselecção de 1970, quando entrevistados na actualida-de, tecem comentários e análises que indicam que ofutebol brasileiro está perdendo o estilo de jogo queo identificava no passado. A memória da selecção de1970 acaba por idealizar um estilo de jogo que fun-ciona como exemplar para avaliar o futebol no pre-sente. O ato de rememorar indica a necessidade deresgate desse estilo. A retórica da perda do futebol-arte promove um duplo movimento: de um ladobusca resgatar a forma singular de uso do corpo nojogo, de outro, auxilia a delimitar o que seria esseestilo e, por extensão, o que definiria sua identidade.No levantamento realizado durante a Copa de 1998,as narrativas que conciliam o estilo de jogo com oplanejamento científico somam 4, aproximadamente17%, e somente uma matéria colectada trata exclusi-vamente do treinamento, da ciência e do planeja-mento como bases fundamentais em 1970 – aproxi-madamente 4%. Isso configura que os esquecimen-tos sociais do trabalho ancorado em bases científicasna preparação da selecção de 1970 é secundarizadoem favor do discurso identitário do “jogo bonito”.A Copa de 2002 segue a mesma tendência das narra-tivas encontradas nos periódicos em 1998 quandorelembra a Copa de 1970. Num total de 27 matériassobre as memórias da Copa de 1970, identificamos24 narrativas cujo conteúdo aborda o estilo de jogobonito, aproximadamente 89%, exaltando o futeboldo passado como o “verdadeiro futebol brasileiro”.As matérias que descrevem o treinamento em conci-liação com o estilo totalizam apenas 3 reportagens(11% aproximadamente). Por fim, não obtivemosregistos (0%) de matérias que rememorassem espe-cificamente o papel específico do planejamento naconquista de 1970 (Figura 3). O esquecimento, nosdias de hoje, sobre a importância do PlanejamentoMéxicoviii naquela vitória é tácito.

Figura 3. Dados colectados nos periódicos durante a Copa de 2002

Um dado relevante é que os principais jogadores daselecção de 1970 ocupam actualmente significativosespaços na mídia, sejam como comentaristas, treina-dores, colunistas ou como pessoas públicas – Pelé,Zagalo, Parreira, Tostão, Rivelino, Gérson, CarlosAlberto Torres, para citar alguns dos principais acto-res. Esses actores possuem “voz” e são a memóriaviva nas páginas dos jornais, “fazendo” notícia,sendo “objecto” da notícia e lutando para não caíremno esquecimento.As análises das matérias sobre a Copa de 1970,durante as Copas de 1998 e 2002, tomam o êxitodaquele seleccionado como referência para comparara qualidade do futebol na actualidade. A memóriatraz, como imagem dominante, a selecção tricampeãdo mundo habitada por “génios da bola” que dignifi-caram o “verdadeiro futebol brasileiro”.

[Titulares Absolutos na Seleção dos Nossos Sonhos][...] Tostão e Pelé. Alguém duvida de que este time, mesmosem os dois zagueiros centrais, ganharia fácil uma Copa doMundo de campeões mundiais de todos os tempos? Claroque não. Os craques dessa seleção atemporal estão naFrança vendo de perto uma seleção brasileira da qual qual-quer um deles seria o titular absoluto (O Globo,28/06/1998, p. 8).

O debate em torno da qualidade do futebol a partirdos diferentes contextos históricos é extenso. A dis-

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cussão se Pelé, Garrincha, Rivelino e Tostão teriam omesmo desempenho no actual contexto, no qual avelocidade e a marcação rigorosa são imperativas,aparece, por exemplo, em vários programas e colu-nas esportivasix. A selecção de 1970 representa aafirmação do “futebol-arte”. Notemos, no entanto,que se verificam nos jornais do presente tensões emtorno da imagem idealizada no estilo de jogo. Essastensões podem estar revelando os novos jogos iden-titários entre o global, o nacional e o local(2, 15).Vejamos a seguinte afirmação do jornalista AydanoAndré Mota:

Qualquer que seja o destino brasileiro na Copa de 2002deve-se consignar: será, pelos séculos afora, um prazerassistir ao futebol a vapor, aquelas imagens espetaculares,quase ficção. O eterno show de bola. Mas já passou dahora de encerrar comparações [...]. A separar os dois, háum abismo de evolução tecnológica, científica que transfigu-rou o esporte. É como comparar tijolo com vaca. [...]Ronaldinho, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e alguns (pou-cos) outros não merecem ser condenados pela época em quevivemx. São craques incontestáveis, como demonstram suasbiografias. São o verdadeiro futebol brasileiro – o queganha. Ao contrário de Denílsonxi, essa inutilidade rebola-tiva que emplacou a segunda Copa consecutiva como reden-ção moderna do futebol a vapor (Jornal do Brasil,23/06/2002, p. 3).

Helal e Soares(9), analisando essa tensão interna nojornalismo esportivo, completam: “Esse tipo de vozvem surgindo pouco a pouco na imprensa como uma reaçãode crítica interna ao jornalismo esportivo e, talvez, umembate entre gerações de jogadores, torcedores ejornalistas”. Observemos que mesmo essa críticaesquece que o futebol da selecção de 1970 estava afi-nado com o que existia de mais moderno em termosde preparação física e treinamento. Notemos tam-bém que um artigo de Joaquim Ferreira dos Santos(Jornal do Brasil, 7/10/2001, p. 33) deu origem a umdebate sobre o tema ao avaliar que o futebol de 1970pelo videoteipe era “chato, medíocre e que naquelaépoca era muito fácil de se jogar”. Imediatamente,esse artigo gerou resposta na coluna do Tostão e noartigo de Augusto Nunes na edição do Jornal doBrasil, de 14/10/2001, na p. 26.

O sentimento de afirmação da identidade pelo fute-bol brasileiro vinha sendo desenhado desde a décadade 1930, mas sua consolidação ocorreu com a con-quista do bicampeonato num curto espaço de quatroanos (1958-1962). Entretanto, como no esporte odiálogo entre passado e presente é permanentemen-te tenso, a derrota na Copa de 1966 foi lida comodecadência e atraso do futebol, na qual a “força” pre-dominou sobre a “arte” em relação às novas tecnolo-gias do treinamento físico e táctico. A imagem deatraso é constante na tradição das análises sobre oBrasil que pode ser datada pelo menos desde o sécu-lo XIX até nossos dias(13). Em matéria jornalísticaJoão Saldanha – famoso jornalista e que foi técnicoda seleção de 1970 durante as eliminatórias – expli-cita essa idéia:

Aimoré Moreira deu o grito de independência de nosso fute-bol tão agarrado às velhas fórmulas. [...] não é mais possí-vel continuarmos vivendo do passado. Aquilo que era bomem 1958 e 1962 já não serve mais. Vou mudar tudo, deoutra forma sucumbiremos. [...] Uns o apoiaram incondi-cionalmente (Aimoré) porque tinha razão. [...] Mas houveuma parte, cerca de metade, que não o apoiou. É sempreassim, quando as coisas novas são apresentadas. Aindamais que sempre, com a boca cheia, os conservadores fala-vam das vitórias de 58 e 62, esqueciam-se com muita faci-lidade do fracasso de 1966, na Inglaterra (O Globo,25/6/1970, p. 22).

A vitória na Copa de 1970 viria recuperar triunfal-mente o posto de “melhor futebol do mundo” e oretorno do orgulho nacional, à custa daquilo que osanalistas e protagonistas da época entendiam comoreformulação e modernização do futebol nacional.Uma dessas mudanças foi a introdução do pioneiro eminucioso projecto de preparação física, montadopor especialistas da época na Escola de EducaçãoFísica do Exercito (EsEFEx), com bases científicasadquiridas por intermédio de intercâmbio com paí-ses estrangeiros e com a própria produçãointerna(20).Algumas matérias jornalísticas explicitam a influên-cia da preparação científica naquele seleccionado.Uma delas é uma entrevista com João Saldanha reali-zada pela revista High Sport, poucos meses antes daCopa, em Março de 1970:

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Nós, do Brasil, sabemos de tudo que se passa a respeitode métodos de preparação física no mundo. O intercâm-bio é muito grande, as escolas de Educação Física, queexistem em todos os lugares, se correspondem, trocaminformações. Os clubes brasileiros estão excursionandoconstantemente [...]. Faremos testes de Cooper (resistên-cia, flexibilidade, velocidade e capacidade pulmonar), ede acordo com os resultados obtidos, dividiremos os joga-dores em três ou quatro grupos distintos, conforme suascaracterísticas [...] Naturalmente que faremos algunstreinamentos especiais, por exemplo com os goleiros(High Sport, 03/1970, pp. 28-30).

A valorização do treinamento e dos métodos científi-cos ficava explícita nos jornais e nas revistas daépoca, tendo nos membros da comissão seus princi-pais porta-vozes:

Para Admildo Chirol, o principal motivo do excelente esta-do físico dos jogadores brasileiros foi a estada de 21 diasem Guanajuato porque aumentou em quase o dobro a taxade glóbulos vermelhos do sangue, num período ideal paraadaptação à altitude (Jornal do Brasil, 10/6/70, p. 22).

Observamos, de acordo com as narrativas jornalísti-cas, que a introdução de métodos científicos napreparação do seleccionado brasileiro de futebolpara a Copa de 1970 era comum nas páginas espor-tivas da imprensa no período anterior à referidaCopa, tomando um vulto cada vez mais significati-vo no transcorrer do evento, a cada vitória da equi-pe. Isso confirma a importância dos referidos méto-dos como suporte imprescindível na conquista dotricampeonato.

[...] segundo Admildo Chirol, já temos um título: somoscampeões mundiais do preparo físico, o que foi comprovadopor um órgão da Organização Mundial de Saúde [...] parachegar a esta perfeição atlética o Brasil seguiu o programaexecutado com todo o rigor científico. Para começar esco-lheu uma equipe excepcional de preparadores físicos, inte-grada por Admildo Chirol, o capitão Coutinho (o melhorconhecedor do assunto no exército brasileiro, inclusive como estágio no organismo que cuida da preparação dos cosmo-nautas norte-americanos) e Carlos Alberto Parreira queconhece a fundo os métodos europeus (Jornal do Brasil,11/7/1970, Caderno B, capa).

A última matéria citada não economizou elogios àracionalidade científica, pois afirma categoricamenteque, seja qual for o resultado da Copa, já detínha-mos (ou nos auto-outorgávamos) o título de cam-peões do “preparo físico”.A introdução da ciência no esporte não se limitavaapenas ao treinamento físico. A psicologia esportivatinha sua contribuição a dar no planejamento da pre-paração da selecção. O argumento que sustentava talintervenção se baseava no fato que os jogadoresseriam inseridos em um novo ambiente, longe dafamília e poderiam sofrer diferentes tipos de pressãopsicológica: “[...] a correta preparação psicológica foidurante essa competição, e fatalmente o será na próximaCopa do Mundo, fator mais que importante para condicio-nar as excelentes performances aos dotes de cada um”(Motel Clube do Brasil, 1970, p. 14).A narrativa do suporte científico na preparação dasequipes era patente naquele contexto. O relatório daFederação Internacional de Futebol (FIFA)(7) apontaque muitas selecções na época estudaram cientifica-mente o melhor processo de adaptação fisiológica dosatletas à altitude. A altitude era encarada como umforte adversário das selecções acostumadas a jogar nonível do mar. No caso brasileiro, o professorLamartine Pereira DaCosta (1967) já havia publicadointernacionalmente em 1967 o trabalho sobre “altitudetraining”, sobre as estratégias de adaptação à altitude.Esse método foi utilizado em todo processo de adap-tação física dos jogadores durante a competição(20).O debate sobre o suporte científico dando base aosprogramas de treinamento e adaptação biológicaestava na pauta de nossos jornais em 1970. Comouma corrida à conquista do espaço, em voga naépoca, todos os países estavam preocupados com amelhor estratégia de adaptação de seus atletas e amídia tornava notícia esse tema:

[...] o Brasil optou inicialmente por Guadalajara, de ondeseguiu, uma semana depois, para a cidade de Guanajuato,distante três horas e meia de automóvel, a uma altitudebem superior. Os ingleses fizeram o contrário. Para princí-pio de atividade, decidiram passar doze dias na capitalmexicana, relaxando o corpo e espírito. Terminado esseestágio, viajarão para Bogotá e Quito com a finalidade dejogar a uma altitude de 2.400 metros acima do nível domar [...] Quem está certo: o Brasil, que foi diretamente

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para Guadalajara, ou a Inglaterra, que prefere excursionar,voltando em cima da hora para disputar o campeonatomundial? (Motel Clube Minas Gerais, 1970, p. 14).

As evidências apresentadas indicam como os jornaisressaltavam os processos de treinamento baseadonos conhecimentos científicos da época. Todavia, asimagens que traduziam a “arte” do jogador brasileironão eram negligenciadas nas narrativas. Naquelemomento as narrativas cientifizantes do futebol seconciliavam com as narrativas identitárias de nossofutebol:

[...] Zagalo abriu os olhos do futebol internacional para anova concepção do time que não se divide mais em ataque edefesa [...] o título de 70 deve ser exaltado com uma asso-ciação de valores artísticos e criativos. “A técnica de Pelé eGerson só levou o futebol brasileiro a final do Asteca por-que um comando competente soube executar um programade preparação física e de habilitação tática, a meu ver tãopreciosos quanto o espírito de sacrifício dos jogadores” [...]submetido[s] a treinamento rigoroso e criterioso, o jogadorbrasileiro adquire um nível atlético que permite realizarplenamente sua luminosa técnica e como é incomparável emhabilidade, leva a loucura e exaure o rival dos pés a cabeça,tentando em vão bloquear a circulação da bola (Jornal doBrasil, 23/6/1970, p. 35).Ao aliar a sincronização de um balet europeu à improvisa-ção quase mágica de seus atacantes a seleção brasileiraimpôs um padrão de jogo que tonteou os europeus e deixou-os até agora sem justificativas lógicas para goleada (Jornaldo Brasil, 5/06/70, p. 25).

A sincronização do balé europeu indica treino, per-sistência e perfeição conseguidas ao custo da disci-plina e do esforço. Noutra direcção, a narrativa traz aideia de improvisação que se ajusta à imagem maispróxima da natureza e da sabedoria extraída de umcontexto de necessidade, além da ênfase nas caracte-rísticas étnicas, indicando a velha combinação, aoestilo freyreano, da irracionalidade com a racionali-dade, da miscigenação cultural formando um equilí-brio de antagonismos(19).Essa matéria, publicada após o primeiro jogo doBrasil, denota uma tendência jornalística iniciadapós-1966 que encontra nos resultados de sucesso doseleccionado uma espécie de confirmação de que nãobastaria somente o “talento” ou a “arte”. O futebol

brasileiro precisava se modernizar sem perder suaidentidade.Como já argumentamos anteriormente, a ideia daciência, do treinamento e do sacrifício conciliadascom as imagens identitárias do futebol brasileiropresentes durante e imediatamente após a conquistade 1970 vão-se perdendo e sendo esquecidas namemória jornalística. Os jornais durante as Copas de1998 a 2002 ligam o presente ao passado ressaltan-do imagens sobre as selecções do passado com mar-cas da criatividade, autenticidade e singularidade dojogador brasileiro. Nas matérias seleccionadas n‘OGlobo de 1998 e 2002, encontramos raras mençõesao processo de treinamento físico e tático da selec-ção de 1970. As imagens que dominam são as da“arte” e da criatividade de nosso jogador:

1970: foram as páginas mais gloriosas da história da sele-ção brasileira e provavelmente de qualquer seleção campeãmundial. A equipe do Brasil de 1970, pelo talento de seuscraques, pela tática e pela beleza de seu futebol, é a melhorde todos os tempos (O Globo, 30/6/ 2002, p. 4).Na Copa de 70, um verdadeiro dream-team do futebol ven-ceu os sete jogos disputados e exorcizou parte dos fantas-mas de 1950 ao derrotar o Uruguai nas semifinais por 3 a1 (O Globo, 8/7/1998, p. 12).[Referindo-se a Zagalo] Em 70, dirigiu a seleção maisbrilhante da história do futebol brasileiro (O Globo,20/6/1998, p. 1).[Denílson identificando-se como continuador da tra-dição] – Acho que os meus dribles são a alma do futebolbrasileiro. Esse jeito de jogar nos consagrou (O Globo,4/6/2002, p. 4).

Zagallo sentencia: “Tenho saudades daquele futebol dearte, alegre e ofensivo. Não havia tanta velocidade, mas apreocupação com a marcação também era bem menor. Erarealmente mais bonito – disse, incluindo-se nos times dasviúvas de 70” (O Globo, 22/6/1998, p. 3). Os conteú-dos das matérias definem os recortes históricos ele-gendo os seus mitos em relação ao glorioso passado,nomeando os seus heróis e façanhas e relegando aoesquecimento marcas que possam entrar em contra-dição com a identidade do futebol brasileiro. O pla-nejamento geral, que incluía o treino técnico, tácticoe físico, é secundarizado na actualidade na medidaem que contraria a ideia do “improviso” e do “dom”dos jogadores brasileiros.

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CONCLUSÃOOs esquecimentos são essenciais na ressignificaçãodo passado para garantir a continuidade e actualiza-ção da tradição. As narrativas jornalísticas de 1998 e2002, quando trazem à tona a memória sobre a Copade 1970, esquecem o discurso da ciência, do treina-mento físico e do planejamento que estiveram forte-mente marcados nos jornais que cobriram os even-tos em 1970.Os jornais, ao apagarem o processo de racionalizaçãodo treinamento de 1970, vendem a imagem que osbrasileiros alimentam sobre “eles próprios”. Todavia,algumas narrativas, ainda que modestas, já aparecemem reação a esse processo de glorificação ao passa-do, tornando tensa a relação entre passado e presen-te, entre o local e o global.Por fim, se por um lado, o esquecimento do treina-mento e do planejamento com base em conhecimen-tos científicos reforça a identidade do futebol brasi-leiro, por outro, apaga da memória o importantepapel que a educação física, a medicina desportiva eseus respectivos profissionaisxii tiveram nesse glorio-so momento da história do futebol brasileiro. Emoutras palavras, o papel da educação física e damedicina desportiva é esquecido em favor das narra-tivas identitárias do “dom” do jogador brasileiro.

AGRADECIMENTOFinanciamento: CNPq e CAPES.

CORRESPONDÊNCIAAntonio Jorge G. Soares Rua Theodor Herzl, 56/ apartamento 103BotafogoCEP 22260030. Rio de Janeiro/ RJBrasilE-mail: [email protected]

NOTASi A conquista da Copa do Mundo de futebol de 1970 foi o ter-ceiro título mundial conquistado pelo Brasil nessa modalidade(1958, 1962, 1970). O time terminou a competição invicto,vencendo na final a seleção italiana pelo placar de 4x1. O Brasiltornava-se, naquele momento, a primeira nação a sagrar-se trêsvezes campeã, obtendo o direito de ter a posse definitiva dataça Jules Rimet.ii Identidade aqui é conceituada como “uma norma de vincula-ção, necessariamente consciente, baseada em oposições simbó-licas”(4).iii Sobre a importância da dimensão histórica do evento esporti-vo, Boyles e Raynes escreveram: “One of the particular appealsof sport, for both media and supporters, is the extent to whichthe narratives or stories which surround sport act as a bridgebetween the present and the past. Sporting events need to havea longevity to feel important”(3).iv Durante a Copa de 1970 pudemos acompanhar que a impren-sa rememorava as derrotas do passado – Copa de 1950 e 1966–, assim como os êxitos de 1958 e 1962 na construção de vín-culos com a memória.v A seleção de futebol que disputou a Copa do Mundo de 1982é vista, por grande parte da imprensa, apesar de ter sido derro-tada nas semifinais pela Itália, como uma seleção que resgatouo futebol-arte e, por isso, merecedora de grande respeito damídia e da população.vi Lovisolo(11) afirma sobre o papel da memória: “A memória his-tórica se apresenta idealmente como âncora e plataforma. Enquantoâncora possibilita que, diante do turbilhão da mudança e da moderni-dade, não nos desmanchemos no ar. Enquanto plataforma permite quenos lancemos para o futuro com os pés solidamente plantados no passa-do criado, recriado ou inventado como tradição”.vii Em 1966 a preparação física e os conhecimentos científicosdos europeus teriam, segundo os analistas, superado o estilo dejogo dos brasileiros. A imprensa, entre muitas outras reclama-ções e racionalizações, vociferava que o futebol brasileiro deve-ria modernizar-se e acompanhar as inovações. O estilo de jogo,a “arte”, teria caído por terra diante da “força” e da disciplinafísica e táctica dos europeus.viii Planejamento México foi o nome dado para o plano de pre-paração realizado pela selecção brasileira de futebol para dispu-tar uma competição em grandes altitudes(20).ix Fica evidente que estamos diante de um tipo de narrativaprópria do universo esportivo. No campo da ciência, principal-mente na hard science, esse tipo de comparação não faz sentido.O passado é visto como parte da tradição de um determinadocampo científico.x Ronaldinho, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo foram titulares daequipe brasileira campeã da Copa do Mundo de 2002.xi Denílson, atacante conhecido por seus dribles que relembramo “antigo” futebol brasileiro, participou das Copas do Mundode 1998 e 2002.xii Graças às pesquisas e à aplicação de um trabalho científicodesenvolvido em equipe, os profissionais de educação física quecompunham a comissão técnica da Copa de 1970: CláudioCoutinho, Admildo Chirol e Carlos Alberto Parreira, em parce-ria com o trabalho pioneiro sobre “altitude training” do profes-sor Lamartine Pereira DaCosta, influíram directamente no êxitoda conquista do tricampeonato em 1970.

A imprensa e a memória do futebol brasileiro

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Antonio Jorge G. Soares, Tiago L. Bartholo, Marco S. Salvador

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TUTORIAL

[TUTORIAL]

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Uma ajuda na análise e interpretação de informação da aptidão física de crianças e jovens provenientes de amostras de grande dimensão. Um tutorial centrado na modelação hierárquica ou multinível

José A.R. Maia 1

Rui Garganta 1

André Seabra 1

Vítor Lopes 2

Simonete Silva 1

Alcibíades Bustamante 1

Rogério César Fermino 1

Duarte Freitas 3

António Prista 4

Cássio Meira Jr 5

1 Faculdade de Desporto, Universidade do Porto, Portugal2 Escola Superior de EducaçãoInstituto Politécnico de Bragança, Portugal

3 Universidade da Madeira, Portugal4 Faculdade de Ciências de Educação Física e DesportoUniversidade Pedagógica de Moçambique, Moçambique

5 Escola de Educação Física e EsporteUniversidade de São Paulo – Brasil

RESUMOEste estudo pretende apresentar, de modo didáctico, a utiliza-ção da modelação hierárquica ou multinível na análise e inter-pretação do desempenho motor de crianças e jovens a partir daprova da corrida-marcha da milha. As diferentes etapas damodelação são mencionadas, analisando o comportamento dosresultados a partir dos output´s do software utilizado, o HLM6.02. Cada etapa da análise é devidamente esclarecida e men-cionada a sua relevância em termos interpretativos dos resulta-dos.

Palavras-chave: modelação, hierarquia, desempenho motor,crianças

ABSTRACTHelping in analyzing and interpreting information from physicalfitness of children gathered in large samples. A tutorial based onhierarchical or multilevel modelling

The aim of this study is to present, didactically, the use of hierarchicalor multilevel modelling in analysing and interpreting children´s motorperformance, namely the one mile run-walk. We mention briefly thesteps of modelling, analysing the results from the output of the soft-ware used, HLM 6.02. Each step is duly explained, and presented itsrelevance in interpretative terms.

Key-words: Modelling, hierarchy, motor performance, children

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INTRODUÇÃOOs estudos de natureza epidemiológica acerca doestado, ou nível de aptidão física (AptF) de criançase jovens lidam, necessariamente, com amostras degrandes dimensões – normalmente na casa das cen-tenas ou milhares. Exemplos bem ilustrativos destetipo de pesquisas em Portugal são os de Almeida etal.(1) em 768 crianças e jovens dos 10 aos 16 anos,de mais de 30 escolas do Concelho de Lamego, deFerreira et al.(9) em 720 jovens de ambos os sexosdos 10 aos 18 anos do Concelho de Viseu provenien-tes de 33 escolas, de Freitas et al.(10) em 1470 obser-vações do seu estudo na região autónoma daMadeira oriundas de 29 escolas e de Maia et al.(17)

em 3744 crianças dos seis aos 10 anos de idade de57 escolas provenientes de oito Ilhas do arquipélagodos Açores. No Brasil, os exemplos são também cadavez maiores, de que destacamos os trabalhos deMatsudo (19), Nahas et al.(20), Guedes e Guedes(13),Marcondes et al.(18), Waltrick e Duarte(29).Estes estudos são de natureza transversal, observacio-nais na sua essência, cujos propósitos se podem situarem vários planos de que salientamos os seguintes: (1)descrever o nível ou estado de aptidão física relaciona-da á saúde (AptFS) das crianças e jovens em funçãodo sexo e idade, com recurso a medidas descritivasbem conhecidas (média, desvio-padrão, mínimo emáximo), e raras vezes intervalos de confiança (IC)para as respectivas médias; (2) avaliar aspectos dodimorfismo sexual, em que estas diferenças são atri-buídas a um conjunto variado de factores (peso, altu-ra, índice de massa corporal - IMC, valores de activi-dade física - ActF, estatuto sócio-económico, espaçoshabitacionais, etc.); (3) apresentar cartas centílicas docomportamento dos valores das diferentes provas deaptidão, propondo valores de referência que podemser da maior importância em termos educativos, peda-gógicos e de saúde pública.Raras vezes encontramos esforços de modelação dodesempenho das crianças e jovens a partir de umqualquer posicionamento biológico e/ou cultural, ouorientado por uma teoria do desempenho motor (seé que tal teoria existe, não obstante os relevantesesforços de Nevill e Holder(21). Para além deste factoque consideramos indesmentível, um dos principaisproblemas do tipo de pesquisa anteriormente refe-renciado reside na circunstância de dirigir toda a

atenção para o nível informacional mais baixo deuma vasta hierarquia, ou seja, os sujeitos. Ora estesestudos, de larga escala, realizam-se em grandesespaços territoriais, amostrando crianças de diferen-tes escolas, que estão localizadas em regiões distin-tas do ponto de vista socio-económico. Crianças,escolas, espaços de localização geográfica expressamuma estrutura hierárquica de forte dependência rela-cional que exige uma abordagem mais ecológi-ca(8,15,25), que não ignore os problemas da heteroge-neidade das rectas de regressão, dependência dasobservações e agregação(12,14, 24, 30).Como bem demonstraram diferentes pesquisas emcontexto escolar(4, 11, 23, 26, 28), é impossível pensarque o desempenho de crianças e jovens seja inde-pendente da dimensão das turmas, da qualidadediversificada dos professores, das condições distintasdas escolas, e por aí adiante. Estamos pois na presença de informação multinívelou hierárquica que reclama uma atenção urgente sobpena de se perder uma parte substancial da sua quali-dade interpretativa, bem como se incorre no risco dese concluir de modo reducionista sobre o desempe-nho motor de crianças e jovens. Já chamamos a aten-ção para este facto no espaço da língua portuguesa(16)

e os exemplos de outros países são bem claros nosdomínios da performance motora de bebés(6), desenvol-vimento do consumo máximo de O2

(2, 3), e climamotivacional nas aulas de educação física (EF)(22).Face à reduzida expressão de textos didácticos acercado uso da modelação hierárquica ou multinível(MHMN) quando a estrutura dos dados é de nature-za eminentemente transversal, é nosso propósitoapresentar um documento que auxilie os leitores noseu uso mais extenso, e sobretudo na necessidade deum maior cuidado no delineamento das suas pesqui-sas, ousadia no lançamento das hipóteses e maiorrobustez e elegância na análise e interpretação dosresultados. Deste modo este trabalho está dividido em três par-tes: na primeira apresentamos o problema com baseem informação concreta de um estudo acerca daAptF de crianças e jovens. A segunda refere-se aosaspectos da MHMN de um modo didáctico e sequen-cial a partir do lançamento de um conjunto diversifi-cado de questões que colocaremos aos dados. Naterceira, apresentaremos partes do output do progra-

José A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra, Vítor Lopes, Simonete Silva, Alcibíades Bustamante, Rogério César Fermino, Duarte Freitas, António Prista, Cássio Meira Jr.

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ma que utilizaremos, o HLM 6.02 colando-as aotexto e interpretando o seu significado.No sentido de não repetirmos informação previa-mente referenciada, solicitamos a todos os interessa-dos nesta abordagem a leitura da parte final do textode Sousa e Maia(27) concretamente o ponto setedessa obra, onde o leitor encontrará um breve rotei-ro auxiliador de pesquisadores que pretendam utili-zar este tipo de metodologia nos seus estudos.Chamamos a atenção do leitor que não é nosso pro-pósito abordar a complicada estrutura estatística for-mal e aspectos computacionais da MHMN [sobreestas matérias consultar Raudenbush e Bryk(24),Goldstein et al.(12)], mas tão somente apresentar deuma forma didáctica as etapas sequenciais da análi-se, pensando sempre na óptica do utilizador destetipo de metodologia e procedimento de análise [vero texto editado por Corgeau(7) acerca de aspectosfilosóficos, metodológicos e analíticos da MHMN].Não obstante lidarmos exclusivamente com o soft-ware HLM 6.0 (a versão estudante é gratuita bemcomo o respectivo manual, o site oficial possuiexemplos comentados muito interessantes e alta-mente didácticos; é um dos softwares de MHMN

mais “amigável” para os utilizadores), isto não sig-nifica que seja o único disponível, ou o melhor (sobre

esta matéria consultar refª 16).

Os dados para análiseO Concelho de Amarante pertence ao distrito doPorto, fica situado na região norte do país, tendo 40freguesias distribuídas por uma área de 301,5 Km2.Este Concelho é atravessado por zonas urbanas elitorais com forte variabilidade económica. A suarede escolar está distribuída por seis agrupamentos,com um total de 73 escolas do primeiro ciclo doensino básico. Foram amostradas 92% (n=2940) dascrianças dos seis aos 14 anos do universo escolar.Contudo, dado que o efectivo a partir dos 10 anos deidade era reduzido, consideramos somente 2801crianças. A inspecção detalhada dos dados obrigou àconsideração, para efeitos de apresentação daMHMN, de somente 1779 indivíduos distribuídospor 53 escolas dos seis agrupamentos (Quadro 1). Éevidente que a frequência de alunos por escola é bas-tante diversificada dadas as características demogra-fias e orográficas de cada freguesia.A AptFS foi avaliada de acordo com a bateria ameri-

Tutorial — Análise da AptFS de crianças e jovens

Quadro 1. Estatísticasdescritivas dos dois pla-nos da hierarquia infor-macional (output do HLM6.02)

*Infra-estruturas escola-res e recursos humanos“mais relevantes” poragrupamento escolar(Meio: 0=tipicamenterural; 1=rural; 2=urbano.Recreio: 0=não tem;1=espaço pequeno, masnão permite a prática dequalquer desporto;2=espaço que permite aprática de desporto;3=espaço que permite aprática de desporto, maisum ou dois campos defutebol de cinco. Demaisindicadores: 0=não e1=sim)

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cana Fitnessgram e a ActF a partir do questionário deGodin e Shephard(11). A determinação de aspectosrelativos às condições sócio-económicas de implan-tação da escola, das características das infra-estrutu-ras disponíveis, bem como do material humano dis-ponível para leccionar aulas de EF para as criançasestão extensamente detalhadas no livro de Sousa eMaia(27).Para evitar a construção de um texto muito extenso,iremos centrar a nossa atenção, exclusivamente, naprova da milha. Chamamos a atenção dos leitoresque foram utilizadas diferentes estratégias e procedi-mentos de análise (bivariada e multivariada) paraavaliar a qualidade de toda a informação recolhida, ecujos resultados são altamente satisfatórios e indi-ciadores da elevada qualidade dos dados disponíveis.Pode parecer descabido e incorrecto o cálculo de

médias com variáveis binárias tal como é ilustradono output anterior. Contudo, não deixa de ser escla-recedor tal cálculo. Por exemplo, se tivéssemos omesmo número de meninos e meninas, a médiaseria 0,50. Do mesmo modo, se pode entender que onúmero de escolas que têm ginásios (GINAS) éextremamente baixa, praticamente insignificante,dado que a média é 0,04. Deixamos ao leitor a inter-pretação das outras médias.

ETAPAS NA ANÁLISE DA MHMN Etapa nº1: ANOVA de efeitos aleatórios (do inglês ran-dom effects ANOVA)A primeira etapa de modelação consiste em determi-nar a extensão da variação que existe ao nível dosalunos e das escolas, isto é, estimar a magnitude davariância nos dois níveis da hierarquia informacio-

Quadro 2.Resultados do

modelo nulo(partes do out-

put do HLM6.02).

José A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra, Vítor Lopes, Simonete Silva, Alcibíades Bustamante, Rogério César Fermino, Duarte Freitas, António Prista, Cássio Meira Jr.

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nal. Este primeiro esforço é solucionado com basenos resultados da ANOVA de efeitos aleatórios(também designado de modelo nulo, ou intercept onlymodel, dado que não contém qualquer variável queexplique, em qualquer dos níveis da hierarquia, avariação encontrada). Os resultados estão no Quadro2, que passaremos a explicar com base no seguinteconjunto de questões (ver Quadro 2).Será possível ter uma ideia da grande média dodesempenho na prova da milha de todos os alunosde todas as escolas, algo semelhante a uma grandemédia? A grande média na corrida marcha da milhaé de 11,72 minutos. Com 95% de confiança (IC95%),a média do desempenho nesta prova que pretendemarcar a aptidão cárdio-respiratória de todas ascrianças dos seis aos 10 anos de idade do Concelhode Amarante, situa-se entre 11,31 e 12,13 minutos[11,72±1,96 (0,21)].Qual é a extensão da variância entre alunos e entreescolas? A variância inter-individual dos alunos detodas as classes e de ambos os sexos (efeito ao níveldos alunos) é de 4,75 (p<0,001); a variância quemarca as diferenças de desempenho na milha é de2,13 (p<0,001) ao nível das escolas.Será possível ter uma ideia da magnitude da depen-dência do desempenho à circunstância dos alunospertencerem a diferentes escolas? Isto é, qual a mag-nitude do efeito das escolas? A presença de umaestrutura hierárquica nos resultados requer o cálculodo coeficiente de correlação intraclasse (rho), cujafórmula é 2,12600/(2,12600+4,74675)≈0,31. 31%da variância total do desempenho é devido a umefeito da escola, o que é um valor substancial. Esteé, de facto, o passo essencial para justificar a presen-ça da modelação hierárquica. Por exemplo, no estu-do dos Açores(17), o valor da correlação intraclassepara a mesma prova foi de 7,5%, na pesquisa deZhu(30) no mesmo intervalo de idade foi de 22,4%, eem Maia et al.(16) foi de 22%, mas em crianças ejovens dos 10 aos 18 anos de idade. Estes valoresatestam, de uma forma substancial, a estrutura mul-tinível do desempenho.Qual é a magnitude da fiabilidade da média dodesempenho de cada escola? O seu valor é extrema-mente elevado, sendo de 0,891. Este valor salienta aelevada qualidade dos resultados em termos da suafiabilidade.

Será possível testar a hipótese das escolas terem amesma média de desempenho na prova da milha?Claro que sim. Se tivessem a mesma média, a com-ponente de variância na parte aleatória do modelo(random part no output relativo ao intercept) seria nãosignificativa, o que não se passa. O intervalo de con-fiança a 95% para a média das escolas é de 8,86 a14,58 [11,72±1,96(2,13)1/2], o que significa umaamplitude substancial dos níveis de aptidão cárdio-respiratória entre escolas. Há escolas com um bomdesempenho, e outras com um desempenho demenor qualidade (Figura 1).

Figura 1. Amplitude do desempenho (diagrama de extremos e quartis) deuma amostra aleatória ordenada (70%) das escolas em função da média do

seu desempenho. Na abcissa encontram-se escolas, e na ordenada o desem-penho expresso em minutos (gráfico obtido no HLM 6.02).

Etapa nº2: Modelo de efeitos fixos (do inglês Level-1random intercept model)A segunda etapa implica um esforço de modelaçãodo desempenho a partir dos predictores disponíveisao nível dos alunos, isto é, no primeiro nível da hie-rarquia informacional: idade, sexo, níveis de ActF e oIMC. O problema a ser esclarecido é saber se odesempenho melhora com a idade, se os meninospercorrem a distância num tempo menor, se os maisactivos têm performances melhores, e se os que têmvalores de IMC mais elevados são penalizados noseu desempenho (Quadro 3).

Tutorial — Análise da AptFS de crianças e jovens

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Interpretemos o output nos seus diferentes aspectos:Primeiro: A grande média do desempenho alterou-se pela circunstância de haver agora predictores nomodelo. O seu valor é de 12,3 minutos. O que é queeste valor significa? É o valor médio correspondenteao desempenho das meninas, uma vez que a variávelreferência relativa ao sexo no modelo é zero para asmeninas, e um para os meninos.Segundo: O aumento da idade implica uma reduçãosignificativa do tempo de prova, em cerca de 0,31

minutos por ano de idade (B1= -0,31±0,05 minu-tos). Os meninos têm performances superiores àsmeninas, em média uma redução significativa notempo de desempenho de 1,27 minutos (B2= -1,27±0,14). As crianças mais activas são as que per-correm a distância em menos tempo (B3= -0,02±0,005). As que têm valores mais elevados deIMC são penalizadas na prova, em média 0,29 minu-tos (B4=0,29±0,02).Terceiro: Ainda há variância inter-individual por

Quadro 3.Resultados do

modelo com efeitosfixos (parte do out-

put do HLM 6.02).

José A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra, Vítor Lopes, Simonete Silva, Alcibíades Bustamante, Rogério César Fermino, Duarte Freitas, António Prista, Cássio Meira Jr.

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explicar, e cujo valor é de 3,32. Está aberto o espaçopara a inclusão de outros predictores que não forampensados nesta pesquisa e que futuros investigado-res deverão considerar, como aspectos da economiade corrida, percepção do tempo de prova, motivaçãopara a sua realização, amplitude da passada quedepende do comprimento do membro inferior, etc..Quarto: Há variância significativa no desempenhomédio entre escolas, cuja magnitude é de 2,20, que éestatisticamente significativa (p<0,001), e que maisadiante modelaremos.Quinto: Dado o esforço de modelação, é importantesaber da sua qualidade. Isto é, precisamos não só deinformação acerca do significado estatístico dos parâ-metros incluídos (essa informação é providenciadapelo output), bem como de uma estatística que nosinforme acerca do valor de cada modelo. Essa estatís-tica é designada de Deviance. A Deviance só faz sentidoquando comparada com modelos contidos em si mes-mos (do inglês nested within). Ora relativamente aomodelo nulo, este que agora elaboramos, o de efeitosfixos, é mais expansivo, e neste sentido pode sercomparado com o modelo nulo. Assim, a Deviance decada modelo é sempre apresentada no final do output,bem como do número de parâmetros estimados. NoHLM 6.02 há uma opção de teste de hipóteses, quepermite comparar dois modelos entre si desde quesejam nested within, isto é, hierarquicamente contidos.O resultado encontra-se numa parte designada demodel comparison test. Dado que o resultado é estatisti-camente significativo (c2

(4)=619,27, p<0,001), onosso esforço de modelação foi bem sucedido.

Sexto: Qual é a variância explicada,ao nível do desempenho dos alunos,pela entrada destes predictores? Aresposta é bem simples. Basta paratanto contrastar as variâncias resi-duais entre os dois modelos, de talmodo que a variância explica-da=(4,74675-3,31603)/4,74675=0,30. O conjuntodos predictores idade, sexo, ActF eIMC explica 30% da variância total dodesempenho interindividual, o querepresenta um valor elevado.Na Figura 2 encontram-se as trajectó-rias dos sujeitos de todas as escolas.

Chamamos a atenção dos leitores para as diferençasnos dois gráficos, que reclamam duas explicaçõespara serem entendidos:como se assumiu que o modelo era de trajectóriasfixas, todas as rectas de regressão relativas asdesempenho são paralelas cujo declive é negativo.Isto significa que com o aumento da idade o tempopara percorrer a distância é cada vez menor.A idade (na abcissa) está expressa em duas métricasdistintas*. Na esquerda nos valores originais da idadedos sujeitos. Esta métrica coloca alguma dificuldade deinterpretação, dado que, conceptualmente, o valor naordenada corresponde ao desempenho das criançasquando a sua idade é zero, o que é uma impossibilida-de (não obstante estar nos seis anos de idade). O valorzero não tem pois qualquer significado, uma vez que àidade zero não pode corresponder qualquer desempe-nho na prova. Na figura da direita os diferentes valoresde idade de todos os sujeitos foram subtraídos à médiaglobal. O que aqui temos são, pois, dados centrados elogicamente interpretáveis, dado que o valor médioglobal do desempenho (o valor na ordenada) corres-ponde agora a uma criança média de idade igual a 7,69anos, o que tem todo o sentido. Não é pois de estra-nhar os valores de idade que aparecem na abcissa (aidade de 7,69 corresponde ao zero da abcissa). O valorna ordenada (intercept) corresponde ao desempenho deuma criança cujo valor é igual à média da sua respecti-va escola. Na situação deste modelo, as rectas sãoparalelas por não se ter assumido que diferenças nasdistribuições de idades, sexos e valores do IMC distin-guiria o desempenho entre escolas.

Tutorial — Análise da AptFS de crianças e jovens

Figura 2. Trajectórias modeladas do desempenho dos sujeitos das diferentes escolas no modelo de efeitos fixos (gráficos obtidos no HLM 6.02)

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Etapa nº 3: Modelo de efeitos aleatórios (do inglês Level-1 random-intercepts and random-slopes model)Tornando um pouco mais complexa a análise, e nosentido de explorar ainda mais o conteúdo da infor-mação disponível, poderia pensar-se que os desempe-nhos entre escolas sejam função da distribuição daidade das crianças (e nem todas têm o mesmo efecti-vo e a mesma distribuição de idades), das diferenças

nos efectivos de crianças de ambos os sexos na com-posição das turmas, e nas diferenças entre valores doIMC. Trata-se, agora de modelar aspectos aleatóriosdestas variáveis no contexto das suas respectivas esco-las. Os resultados estão no Quadro 4, e na Figura 3,onde são bem marcantes as diferenças nos declivesentre escolas, dado que o seu desempenho é condicio-nado pelas variáveis referidas no parágrafo anterior.

Quadro 4.Resultados do

modelo com efeitosaleatórios (parte

do output do HLM6.02).

José A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra, Vítor Lopes, Simonete Silva, Alcibíades Bustamante, Rogério César Fermino, Duarte Freitas, António Prista, Cássio Meira Jr.

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Interpretemos, então, os resultados do Quadro 4,tendo sempre presente que há diferenças nos valoresrelativamente ao modelo anterior dadas as novascondições deste modelo:Primeiro: A grande média do desempenho é agora de12,27 minutos, cuja interpretação nos é agora familiar.Segundo: O aumento da idade implica uma reduçãosignificativa do tempo de prova em cerca de 0,32minutos (B1=-0,32±0,05 minutos). Os meninostêm performances superiores às meninas, em médiauma redução significativa no desempenho de 1,17minutos (B2=-1,7±0,13). Os mais activos são osque cobrem a distância em menos tempo (B3=-0,02±0,002). Os que têm valores mais elevados deIMC são penalizados na prova, em média 0,26 minu-tos (B4=0,26±0,02).Terceiro: Ainda há variância inter-individual porexplicar, e cujo valor é de 3,11. As sugestões ante-riormente apresentadas são também transferíveispara aqui.Quarto: Há variância significativa no desempenhomédio entre escolas, cuja magnitude é de 2,50 que éestatisticamente significativa (p<0,001).Quinto: Ficou evidente que as variáveis idade, sexoe IMC são significativas na parte aleatória do mode-lo, sugerindo que a variação da sua distribuiçãopelas escolas implica uma atenção adequada para seentender o seu significado.

Sexto: A Deviance deste modelo passou a ser de7286,33, que contrastada com a do modelo anteriorse revelou estatisticamente significativa(χ2

(9)=43,34, p<0,001), implicando o sucesso donosso esforço de modelação.Sétimo: Qual é a variância explicada, ao nível dodesempenho dos alunos, por este modelo? A respos-ta é bem simples. Basta para tanto contrastar asvariâncias residuais entre os dois modelos, o nulo eeste, tal que a variância explicada=(4,74675-3,11103)/4,74675=0,35. Relativamente ao modelocom efeitos fixos, ganhou-se cerca de 5%.

Etapa nº4: Modelo com predictores do 2º nível (do inglês intercepts and slopes as outcomes)Resta agora a tarefa de maior dificuldade e que impli-ca algum esforço de contenção no uso dos predicto-res entre escolas. Da lista apresentada no Quadro 1,dos oito predictores, temos alguma dificuldade nasua escolha por dois motivos fundamentais:não conhecemos qualquer esforço de teorização rela-tivamente ao desempenho motor de crianças destenível de ensino, qualquer que seja a estrutura opera-tiva da bateria de testes utilizada.A maior parte dos predictores têm uma variabilidadeextremamente reduzida entre escolas. Daqui que anossa escolha recaia sobre a variabilidade da locali-zação das escolas (variável MEIO), e na diversidadematerial e de espaço do recreio escolar (RECREIO).Os resultados deste nosso esforço estão no Quadro5. A sua interpretação está condicionada ao valor daDeviance e à comparação correspondente com omodelo anterior. Ora o resultado do valor de prova(p=0,35) e que está na última linha do output, impli-ca que o aumento de complexidade deste modelonão redundou em aumento de capacidade explicati-va. Nesta situação preferimos um modelo mais par-cimonioso, precisamente o anterior (Level-1 random-intercept and random-slopes model). Dito de um modomais explícito, este modelo, enquanto intérprete dacomplexidade organizacional do desempenho situa-do em ambos os níveis da hierarquia, não se ajustabem aos dados disponíveis.Tentemos interpretar o porquê desta “falha” domodelo apresentado pelos autores para interpretaros resultados na prova da milha, e não o modeloestatístico subjacente à MHMN. Do ponto de vista

Tutorial — Análise da AptFS de crianças e jovens

Figura 3. Trajectórias modeladas do desempenhodos sujeitos das diferentes escolas, no modelo de

efeitos aleatórios (gráfico obtido no HLM 6.02)

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Quadro 5. Resultados do modelo com pre-dictores ao nível do envolvimento (parte

do output do HLM 6.02).

José A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra, Vítor Lopes, Simonete Silva, Alcibíades Bustamante, Rogério César Fermino, Duarte Freitas, António Prista, Cássio Meira Jr.

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“ecológico” faria todo o sentido em atribuir signifi-cado às condições do ambiente (meio sócio-econó-mico de implantação da escola, condições materiais eespaciais dos recreios) para dar algum significado àsdiferenças de desempenho entre crianças pertencen-tes a essas escolas. Tal não aconteceu. Contudo, nãonos parece que condições externas às crianças nãocondicionem o seu desempenho na prova da milha,um indicador indirecto da sua resistência aeróbia,dado que nenhum dos parâmetros estimados paratais variáveis seja estatisticamente significativo.A literatura da especialidade (concretamente a queutiliza delineamentos gemelares ou de famíliasnucleares) bem sumariada no texto de Bouchard etal.(5) sugere que os factores genéticos explicam apro-ximadamente cerca de 50% da variação total daresistência aeróbia. Há pois um espaço de outros50% de variabilidade que deve ser encontrado nasforças vivas e sempre cambiantes do meio envolven-te, cuja influência no desempenho e resposta ao trei-no são importantes.Pode ter bem acontecido que a operacionalização dosfactores do envolvimento considerados neste estudonão tenha sido a mais adequada. Neste sentido, cha-mamos a atenção dos leitores para a necessidade deum maior cuidado na operacionalização das condi-cionantes ambientais, sobretudo na construção dabase de dados de indicadores que com maior valida-de de conteúdo reflictam estas variáveis. Este é umexemplo “real” recheado dos ingredientes de algumaincerteza que povoam a investigação empírica. A suaexploração é sempre bem diferente e mais contin-gencial da que ocorre com os exemplos construídospara serem incluídos em manuais de MHMN. Daquia sua vantagem e valor ao permitir uma discussãomais esclarecedora dos resultados e dos problemasque estão normalmente associados à operacionaçãodas variáveis, i.e., a aspectos da sua validade.Finalmente para salientar, que no estudo de Zhu(30)

e precisamente na prova da milha, os factores doenvolvimento mais relevantes eram a presença deum professor de EF qualificado a dar as aulas àscrianças, bem como a avaliação da sua AptF e ainterpretação, juntamente com todos os alunos decada classe, do significado dos resultados obtidos e oestabelecimento de objectivos adequados para pro-mover uma melhor AptF. Ora no estudo de Sousa e

Maia(27) das 53 escolas amostradas, somente umatinha aulas com um professor de EF. Um triste factopara todas as crianças.

CONSIDERAÇÕES FINAISEm resumo, quando se considera informação relativaao desempenho motor de crianças e jovens, e cujosdados estejam constituídos por uma estrutura orga-nizacional (e esta é a maior parte das situações), éimportante recorrer a MHMN para extrair todo “aessência” contida nos resultados. A não consideraçãodesta condição implica um viés sério em termos deinterpretação do desempenho. A riqueza da análise eda atribuição de significado aos parâmetros estima-dos por este tipo de metodologias representa umsalto qualitativo enorme na exploração do desempe-nho, e sobretudo no estabelecimento de hipótesesmais abrangentes e esclarecedoras.

AGRADECIMENTOSOs autores agradecem ao revisor anónimo os comen-tários que permitiram clarear diferentes aspectos dotrabalho. Do mesmo modo agradecem à Fundaçãopara a Ciência e Tecnologia o apoio na realizaçãodeste estudo (POCI/DES/62499/2004).

CORRESPONDÊNCIAJosé António Ribeiro MaiaFaculdade de DesportoUniversidade do Porto Rua Dr. Plácido Costa, 914200-450 PortoPortugal E-mail: [email protected]

Tutorial — Análise da AptFS de crianças e jovens

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José A.R. Maia, Rui Garganta, André Seabra, Vítor Lopes, Simonete Silva, Alcibíades Bustamante, Rogério César Fermino, Duarte Freitas, António Prista, Cássio Meira Jr.

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ENSAIO

[ESSAY]

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Uma aproximação estética ao corpo desportivo

Teresa O. Lacerda Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMONa sociedade mediatizada do século XXI, em que a imagemdesempenha um papel crucial, a imagem do corpo desportivoadquiriu um protagonismo nunca antes alcançado. O corpo des-portivo converteu-se no corpo da moda, exercendo uma forteatracção sobre o imaginário social, que procura continuamenteaproximar o seu corpo do cânone instituído.Se é certo que a atracção sobre a forma é algo que caracteriza odomínio da Estética, certo é também que, enquanto categoriaantropo-filosófica, a Estética refere-se a, pela forma, atingiruma singularidade. Erradamente, a Estética do Desporto éassociada, quase de maneira exclusiva, às formas do corpo dealguns desportistas. O presente trabalho procura evidenciarque a morfologia corporal constitui, certamente, um factor deinfluência na estruturação da experiência estética desencadeadapelo Desporto. Contudo, sublinha-se de modo enfático, que oolhar estético amplia, ao invés de reduzir, as possibilidades docorpo desportivo, o que significa que a diversidade de tiposmorfológicos exibida por esse corpo, expressa a sua pluralidadeem termos de valor estético.

Palavras-chave: corpo, desporto, estética

ABSTRACTSporting body aesthetics: an overview

In mediatised XXIst century society, image gets an important role andsporting body image acquired a protagonism never ever reached before.Sporting body became synonym of the fashion body, exerting a strongattraction through the social imaginary that keeps on reaching toapproach its body to the established canon.Aesthetics dominium is characterized by shape attraction but, as ananthropological and philosophical category, Aesthetics deals with reach-ing, through shape, some kind of singularity. Erroneously, theAesthetics of Sport is associated, in almost an exclusive way, to somesportsmen body shapes. The present study aims to enhance that bodymorphology is certainly an influence factor in the construction of aes-thetic experience through sport. Nevertheless, it is strongly emphasizedthat the aesthetic way of looking extends, and not reduces, sportingbody possibilities, which means that sporting body morphologic diversi-ty expresses its plurality in what concerns its aesthetic value.

Key-words: body, sport, aesthetics

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INTRODUÇÃOTransformações bruscas e profundas a nível social, eco-nómico, científico e tecnológico são alguns dos sinaisque marcam a sociedade contemporânea. Um outrosinal dos tempos é igualmente a valorização atribuídaao corpo: da ciência à filosofia, da arte ao desporto, ointeresse sobre o corpo manifesta-se numa multiplici-dade de discursos, em que a linguagem corporal seassume como uma forma de expressão que viabiliza epromove a comunicação e a inter-acção social. Comosinaliza Gil(5), existe uma invasão do culto do corpo euma profusão das suas significações.O desporto investe o corpo de movimento, permi-tindo-lhe um discurso individual e colectivo, quepossibilita algumas dessas significações. Se o movi-mento, em termos latos, se baseia num conjunto deritmos, mais ou menos coordenados (dos ritmosfisiológicos aos ritmos locomotores), o movimentodesportivo aufere a possibilidade de animar o corponuma dança que se identifica com a vida. Na socie-dade tecnológica do século XXI o desporto consti-tui uma das vias mais importantes de acesso docorpo ao movimento e o corpo que não experimen-ta o desporto, corre o risco de perder uma parteimportante da significação do movimento. No limi-te a ausência de movimento do corpo humano tra-duz a doença ou a morte. Contemporaneamente, a importância do desporto napreservação da saúde e na manutenção de um corpocuja morfologia respeite os padrões impostos social-mente, é por demais evidente. É pacífico que o des-porto se manifesta como um meio de prevenção eprofilaxia da doença, assim como de aquisição e con-servação de uma forma corporal tão próxima, quantopossível, do designado corpo da moda.Ao longo da história, a actividade desportiva temreflectido os princípios e valores dominantes emcada época, assumindo-se como um espaço impor-tante de manifestação dos diferentes tipos de relaçãoque o homem vai estabelecendo com o corpo. Ocorpo próprio do pastor nómada pré-histórico, cujo diaa dia se traduzia na luta constante pela sobrevivên-cia, era um corpo em movimento: marchar, trepar,correr, saltar, lançar, levantar, transportar, fazia partedo seu reportório motor; a excelência da performancemanifestava-se por meio do sucesso na defesa contraos perigos a que se expunha diariamente.

Posteriormente, o corpo colectivo do agricultor seden-tário procurava estar apto a zelar pela protecção davida de cada comunidade. As práticas ludo-desporti-vas actuais encontram na dança, na caça, na natação,na canoagem, na corrida, nos lançamentos ou nossaltos do homem pré-histórico, a sua origem. Ocorpo da antiguidade clássica era um corpo unitário,que se robustecia por meio do exercício e se edifica-va através da literatura e da música. A idade média,por seu lado, difundiu a concepção dualista do corpo:o fanatismo e a superstição exprimiam-se atravésdum corpo físico que era local de confronto entre obem e o mal, substância carnal na qual se manifesta-va a tentação, a corrupção, a doença; o corpo espiri-tual era o locus da alma, que aspirava à pureza e àsalvação. A caça, a arte de cavalgar, os jogos e adança faziam parte da actividade física. Os períodoshistóricos que se sucederam foram alternando entreas concepções de corpo unitário e corpo fragmentário,evoluindo-se progressivamente dos exercícios corpo-rais para a actividade desportiva regulamentada enorteada pelo princípio do rendimento.No presente trabalho evidencia-se a importância docorpo desportivo na compreensão da estética do des-porto, ou seja, reflecte-se acerca daquele corpo queelege o movimento desportivo como forma deexpressão e se converte num elemento matricial daestética do desporto. Detemo-nos no corpo desporti-vo da competição, da recreação, no corpo deficientee no corpo envelhecido.

A ESTÉTICA DO CORPO DESPORTIVODe forma equívoca, a estética do desporto é associa-da, quase exclusivamente, às formas do corpo dealguns desportistas o que, em termos de tipo morfo-lógico, radica no ectomorfismo – percentagem eleva-da de massa magra e muscularidade moderada. Amorfologia corporal interfere, naturalmente, narepresentação da estética do corpo desportivo, eintervém como um factor de influência na estrutura-ção da experiência estética desencadeada pelo des-porto. Contudo, o olhar estético amplia, ao invés dereduzir, as possibilidades desse corpo, o que significaque a diversidade de tipos morfológicos exibida pelocorpo desportivo expressa as suas potencialidadesem termos de valor estético.

Teresa O. Lacerda

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Ao metamorfosear-se, pelo exercício físico e pelotreino, o corpo desportivo evidencia-se, na expressãode Cunha e Silva(3) como um corpo de variabilidades,que revela todas as suas possibilidades plásticas porintermédio do movimento desportivo. A plástica docorpo em movimento traduz-se nas linhas, formas,relevos, volumes daquele corpo que preenche o espa-ço e ocupa o tempo com o movimento. O corpohumano, graças ao treino intensivo a que pode sersubmetido, adquire qualidades e graus de plasticida-de optimais. Pode quase afirmar-se que o corpo éuma matéria plástica, no sentido em que é, de certaforma, modelável (pelo exercício físico e pelo trei-no). No domínio das artes plásticas, a intensa atrac-ção pelas formas do corpo, remonta à arte pré-histó-rica, constituindo-se a Vénus de Willendorf (datadade cerca de 40.000 anos a.c.) como uma das suasreferências basilares. De formas espessas, abdómensaliente, ancas largas, seios volumosos e coxas enor-mes, esta mulher gorda simbolizava a fertilidade etambém a saúde, a abundância e a prosperidade,numa época ameaçada pela fome e pela privação.Esta obra remete para a aparência de alguns corposcontemporâneos dos países mais desenvolvidos: sãocorpos marcados pelo excesso de peso, pela era dafast-food. Curiosamente, em alguns países subdesen-volvidos e em vias de desenvolvimento, o excesso depeso começa a ser uma marca que se inscreve nocorpo das populações, a evidenciar que os alimentoscalóricos são baratos e que a obesidade pode tradu-zir também um sinal de pobreza.As proporções do corpo sempre fascinaram os artis-tas, representando-as como uma realidade mágica,no caso da arte egípcia, ou como um ideal estético,na arte grega, ou sendo celebradas como uma incar-nação visível da harmonia musical e astral, na arterenascentista(7), que teve o mérito de trazer à repre-sentação pictórica do corpo, a tridimensionalidade.As vanguardas artísticas do século XX, que rompe-ram com o academismo e com o impressionismo,encontraram em Nu bleu de Matisse (1907) e nasDemoiselles d’Avignon de Picasso (1907), as referên-cias que anunciam a arte conceptual, que parte embusca de símbolos e de relações abstractas. As novasimagens rompem com todos os cânones estéticos,procurando provocar prazer, mas buscando tambémensinar a interpretar o mundo com olhos diferen-

tes(4). Contemporaneamente os artistas representamo corpo, cada um segundo uma tradução específicada sua visão: da representação figurativa ao isola-mento de partes do corpo, transformadas, deforma-das, ocultas, conjugadas de acordo com lógicas pes-soais e expressas por técnicas próprias. O corpo des-portivo tem inspirado a arte do nosso tempo: a lite-ratura, o cinema, a arquitectura, a fotografia, a pin-tura, a escultura ou a dança, encontram na liberdadede movimentos expressa pelo corpo desportivo,fonte originária para a criação artística. O atleta jogacom o valor estético do desporto, expondo categoriascomo a força, a velocidade, a habilidade ou a dispu-ta, produzindo no artista um sentimento de identi-dade, que o impele a entrar no jogo. A participar nograndioso e mediático jogo de futebol, no qual ocorpo colectivo encontra um dos espaços mais excelen-tes de expressão, ou no não menos grandioso eigualmente mediático combate de boxe, protagoniza-do pelo corpo individual. A propósito do último filmeque integra o que pode ser já considerado como ummarco na cinematografia dedicada ao desporto, aantologia Rocky, é oportuno evocar o fascínio que oboxe tem exercido sobre a arte. O corpo do boxeur étreinado e disciplinado para resistir e sobreviver,qual metáfora da inexorável condição humana. Onada ou a glória, como refere Antón Castro(2), escritorespanhol da actualidade, que encontra no desporto aexaltação das linguagens do corpo.

A estética do corpo da competiçãoDo corpo da competição do atleta de alto rendimen-to, espera-se perfeição e excelência de movimentos.De forma extemporânea e algo simplista, a perfeiçãopode remeter para uma certa fidelidade a estereóti-pos técnicos, isto é, pode sugerir reprodução, imita-ção de modelos. É possível, contudo, realizar outrasleituras acerca desta categoria. Na perfeição existe,de facto, uma afinidade com modelos técnicos que,até certo ponto, pode ser entendida como imitação.Aristóteles afirmava que imitar é co-natural aohomem, é reconhecer o que está fora de si e exerceatracção, determinando uma escolha que exige imi-tação. De acordo com esta perspectiva, nenhum actoimitativo é passivo ou inócuo; imitar é partilhar, poradesão profunda às disposições daquilo que se imita.Pode-se, contudo, imitar de muitas maneiras dife-

Estética e corpo desportivo

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rentes, o significa, segundo Aristóteles, e de acordocom o seu conceito de mimesis, que toda a imitação édiferença(1). Assim, permite-se ao observador distin-guir naquela forma determinada de execução técnica,uma certa autonomia e singularidade, não se tratan-do, portanto, de uma cópia literal. A tecnicidade nãopode ser redutível à simples disposição imitativa,traduzindo-se, antes, numa actualização dos mode-los, que revela a dinâmica produtiva humana.No desporto passa-se algo de muito semelhante aoque acontecia com os pintores impressionistas, queusavam de forma repetida o mesmo modelo, funda-mentados em duas ordens de razões: a inesgotabili-dade do modelo e o sentimento de que nunca conse-guiam verdadeiramente atingi-lo. No desporto,quando uma técnica passa a estar completamentedominada e rotinizada o atleta aspira a criar algo denovo. Não se trata apenas do estilo que o desportistaé capaz de manifestar quando domina habilmenteuma técnica, mas sim de desenvolver novas formaspara atingir o mesmo objectivo.Perfeição e excelência remetem também para virtuo-sismo, que pode ser entendido como a capacidadeque alguém possui em conseguir ser tão perfeito tec-nicamente, que acaba por contaminar esteticamentequem o observa. A estética do desporto prende-semuito com este “contágio”, com o fascínio que oatleta em movimento é capaz de exercer sobre oobservador. Ao expressar-se através do corpo, o movimento des-portivo adequa-se, ao mesmo tempo que é adequa-do, ao morfótipo do atleta. Da ginasta de rítmica oudo saltador em altura espera-se linearidade, que per-mita amplitude de movimentos e grande impulsãovertical; do halterofilista ou do culturista espera-sesignificativa hipertrofia muscular que possibilitemanifestações superlativas de força em regime depotência; dos lutadores sumo esperam-se quantitati-vos excepcionais de massa gorda. O corpo do des-portista comunica, é um corpo-livro(8), que possuiuma certa gramática de gestos(5) e que, através da suanarrativa, conta a história daquela pessoa que é oatleta. A harmonia entre o tipo morfológico e a tipo-logia do movimento é fundamental neste processode comunicação. Procura-se uma relação perfeitaentre forma e função, ou seja, entre o modelo docorpo e o movimento que lhe é requerido pela

modalidade em causa. A experiência estética induzi-da pela observação de desporto encontra na variabili-dade morfológica do corpo desportivo, alguns dosnutrientes que a alimentam e potenciam. Comosublinha Cunha e Silva(3), o desporto tem a capacida-de de comunicar ao movimento corporal uma mais-valia estética. Trata-se como que de uma injecçãocromática com que o Desporto valora o movimento.

A estética do corpo da recreaçãoNa sociedade mediatizada do século XXI, em que aimagem desempenha um papel crucial, a imagem docorpo desportivo adquiriu um protagonismo nuncaantes alcançado. O corpo limpo, plano, lustroso,jovem, saudável, sedutor, exerce uma forte atracçãosobre o imaginário social que, a qualquer preço, pro-cura aproximar o seu corpo deste estereótipo tãodifundido. Se é certo que a atracção sobre a forma éalgo que caracteriza o domínio da estética, certo étambém que, enquanto categoria antropo-filosófica,a estética se refere a, pela forma, atingir uma singula-ridade. Não é isto, contudo, que os clientes dosginásios, health clubs, fitness centers, clubes de saúde,etc., procuram. Neste locais, orientados pelos valo-res da economia de mercado, imperam os princípiosdo rendimento, da eficácia, da competitividade. Olucro exprime-se por meio do consumo calórico, aeficiência na depleção dos açúcares e das gordurastraduz a eficácia dos programas de treino, a concor-rência expõe-se nas imagens reflectidas pelos espe-lhos que não mentem nem iludem. O cliente queagora pedala no cicloergómetro, rumo a um destinonunca alcançado, pode até não saber o nome do seucolega do lado que rema no vazio, de mãos presas aoremoergómetro, estranho passageiro de uma embar-cação que desliza por um rio sem margens nem cau-dal. No entanto, ele conhece ao pormenor a topogra-fia do corpo do seu companheiro de viagem, elesrelacionam-se pelo olhar antroposcópico. Como refe-re Gumbrecht(6) os frequentadores de ginásios são,ao mesmo tempo, atletas e espectadores. Nestesespaços, mais de vigilância inter-corporal do que deinter-acção social, a estética revela-se na sua acepçãomais próxima do senso comum, como meio de atin-gir objectivos pessoais e reconhecimento social. É aestética do instituto de beleza, da massagem e depi-lação, da cosmética e da maquilhagem. Não deixa de

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ser, naturalmente, uma dimensão da estética, a dasuperfície. Mas a superfície por si só, isolada, defi-nha e extingue-se; existe para permitir a comunica-ção, a articulação com a profundidade, a manifesta-ção do interior. A estética, ao olhar a superfície, olhaem profundidade e exerce uma influência sobre ointerior.

A estética do corpo deficienteNo movimento do corpo diferente, deficiente, o des-porto descobriu um outro espaço para manifestar asua estética. Na sociedade da imagem em que esta-mos imersos o corpo é, como salienta Rodrigues(9)

“um factor de inclusão ou de exclusão social. A comunica-ção que ele veicula aproxima ou afasta as pessoas de deter-minadas realidades sociais.” (p. 40). As malformaçõescorporais, congénitas ou adquiridas, atentam contraa integridade estética e funcional do corpo. Os indi-víduos deficientes podem apresentar uma aparênciafísica que choca e angustia os ditos normais, que têmdificuldade em reconhecer valor estético no corpodiferente. Portadores de um corpo que se afasta doestereótipo do corpo da pessoa dita normal, o corpodeficiente é frequentemente considerado menosbelo, despertando atitudes de rejeição e de repulsa.O desporto para deficientes, que tem o seu expoentemáximo no desporto paralímpico, sinaliza um exem-plo de como o corpo deficiente possibilita a aberturaa novos olhares sobre o corpo desportivo, olharesesses que alargam e enriquecem os horizontes daestética do desporto. A força, a graça, a perfeição, aelegância, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, a criati-vidade, a transgressão, a superação, adquirem umvalor semântico acrescentado por meio das perfor-mances exibidas pelo corpo desportivo deficiente. Seé certo que o desporto de alta competição exigededicação, talento e desgaste físico, do desportistadeficiente ele exige tudo isto de forma ampliada, namedida em que à luta para chegar mais alto, e sermais rápido e mais forte, se junta o combate contraos estigmas que o acompanham, enquanto portadorde um corpo deficiente. Deste modo, a categoriasuperação contribui de forma muito expressiva paraa estética do desporto para deficientes.Busca, força, inspiração, celebração foram o lema dosJogos Paralímpicos de Atenas 2004. Os heróis damitologia grega, que ultrapassavam a sua capacidade

humana, oferecendo narrativas únicas com as suasconquistas, revelam-se como uma imagem excelenteda transcendência a que o corpo deficiente acedeatravés do movimento desportivo. Busca do nuncaantes alcançado, força para mostrar que quando osdeficientes são a referência, os diferentes podem seros normais, inspiração na criação de momentos deuma emocionalidade singular, celebração da liberda-de, que não se aprisiona em corpo nenhum, muitomenos no do desportista deficiente.

A estética do corpo envelhecidoA liberdade do corpo por meio do desporto expressa-se também através do desporto para seniores, queredimensiona o valor estético do corpo. A sociedadecontemporânea impõe o desequilíbrio entre a idadebiológica e a aparência física, de modo que envelhe-cer deixou de ser natural, tornou-se quase perverso.Há que envelhecer mantendo um aspecto belo,jovem e saudável. É certo que a associação entre des-porto e saúde é hoje em dia incontestável, parecendomuito consistente a fundamentação científica quantoaos benefícios do exercício físico na redução, porexemplo, dos acidentes cardiovasculares e dos aci-dentes vasculares cerebrais, sobretudo devido aocontrolo e diminuição dos factores de risco. Masqual o papel da estética no domínio do desportopara os mais velhos? Ao nível do senso comum, opapel do desporto respeita, principalmente, à manu-tenção de uma forma física que se afaste da flacideze da obesidade. Para as mulheres, sobre as quais apressão social relativamente ao estereótipo corporalse exerce de forma bem mais acentuada do que emrelação aos homens, a utilização do desporto comoum meio de esculpir o corpo pode tornar-se quaseuma obsessão. Numa sociedade em que se inventame reinventam, a um ritmo frenético, meios para man-ter a juventude, mas em que não se ensina a lidar e aaceitar o declínio do corpo com a idade, as categoriasmorais culpa e censura podem perturbar significativa-mente o quotidiano do género feminino (e cada vezmais também o do masculino). No domínio filosófi-co, a estética há muito transpôs a norma, o padrão, ocânone. O olhar estético procura insistentementedesvendar novas formas nas formas estereotipadas,jogar com a luz, com as sombras, com o espaço, como tempo, com o belo e com o feio. O nosso corpo

Estética e corpo desportivo

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deve ser um lar, não uma prisão. A forma como ovemos e como com ele convivemos deve ser estética,mas não no sentido anestésico que prolifera actual-mente. Os gordos, os baixos, os calvos, os flácidos, ospouco bronzeados, os velhos, são invisíveis, estamosanestesiados perante a sua presença, eles tornam-setransparentes aos nossos olhos. No entanto, o corpoenvelhecido tem um valor estético próprio, ele pre-serva a memória da vida por que passou, revela ahistória do ser do homem no mundo. No domínioestético, o desporto para seniores terá que projectarpara primeiro plano a categoria estética liberdade. Ocorpo envelhecido que pratica desporto é mais livre,não apenas porque tem mais força, maior amplitudede movimentos, mais agilidade, mais equilíbrio, mastambém porque é mais capaz de conciliar a aparênciacom a essência. Se actualmente o desporto pode ser olhado comomais um dos palcos em que o corpo contemporâneooscila entre um desejo de superfície e um desejo deprofundidade, a estética do corpo desportivo poderepresentar um espaço de conciliação e de harmonia,espaço de libertação, e não de constrangimento, dodesportista e do homem do século XXI.

CORRESPONDÊNCIATeresa Oliveira LacerdaFaculdade de DesportoRua Dr. Plácido Costa, 914200-450 PortoPortugalE-mail: [email protected]

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comentário e apêndices de Eudoro de Sousa. 5ª ed. Lisboa:Imprensa Nacional-Casa da Moeda.

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3. Cunha e Silva, P. (1999). O lugar do corpo. Elementos parauma cartografia fractal. Lisboa: Instituto Piaget.

4. Eco, U. (2004). História da Beleza. Algés: Difel. 5. Gil, J. (1997). Metamorfoses do corpo. 2ª ed. Lisboa : Relógio

D’Água Editores.6. Gumbrecht, H.U. (2006). In praise of athletic beauty. London

: The Belknap Press of Harvard University Press.7. Maisonneuve, J.; Bruchon-Schweitzer, M. (1981). Modèles

du corps et psychologie esthétique. Paris : PressesUniversitaires de France.

8. Ribeiro, A.P. (1994). Dança temporariamente contemporânea.Lisboa: Vega.

9. Rodrigues, D. (2005). Corporeidade e exclusão social. InDavid Rodrigues (ed.), O corpo que (des) conhecemos. CruzQuebrada: Faculdade de Motricidade Humana.

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ARTIGO DEREVISÃO

[REVIEW]

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A investigação sobre os modelos de ensino dos jogos desportivos

Amândio Graça Isabel Mesquita

Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

RESUMOO objectivo deste artigo é o de fazer uma revisão da literaturarelativa aos dois modelos mais marcantes na actualidade noque respeita ao ensino dos jogos desportivos, o Teaching Gamesfor Understanding e o Sport Education Model, considerando os con-tributos percebidos como mais significativos no que diz respei-to à origem dos modelos; às reflexões teórica e apreciações crí-ticas dos modelos, às propostas de revisão e tendências de evo-lução dos modelos, à literatura de carácter didáctico associadaaos modelos; à evolução da investigação empírica directamenteassociada aos modelos; e, finalmente ao diálogo entre os mode-los e os desafios colocados por novas abordagens ao ensino dosjogos desportivos.

Palavras-chave: modelos de ensino, jogos desportivos, TGfU,modelo de educação desportiva

ABSTRACTResearch on models for teaching games

The main goal of this paper is to review the literature related to theTeaching Games for Understanding (TGfU) and the SportEducation Model (SE), which are presently the most influential mod-els addressing the teaching of sport games. The scope of the reviewcomprehends the contributions perceived to be relevant for examiningthe roots of the models; the theoretical essays and critical appraisals ofthe models; the proposals of revision and evolution trends for the mod-els; the didactical literature associated to the models; the evolution ofthe empirical research directly focused on the models; and finally, thedialogue between the models and the challenges coming from newapproaches to the teaching of games.

Key-words: teaching models; team sports, games, TGfU, sport educa-tion model

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O ENSINO DOS JOGOS PARA A COMPREENSÃOA criação e difusão do modeloO modelo de ensino dos jogos para a compreensão(Teaching Games for Understanding – TGfU) tem as suasraízes num movimento reformador do ensino dosjogos iniciado nos fins dos anos 60 e anos 70 doséculo passado, na universidade inglesa deLoughborough(178). Bunker e Thorpe(18), num peque-no artigo intitulado “A Model for the teaching ofgames in secondary schools”, publicado num númerodo Bulletin of Physical Education, inteiramente dedica-do ao tema “Reflecting on the teaching of games”formalizaram, por assim dizer, o aparecimento destemodelo de ensino. No essencial, os proponentes pre-tendiam que a atenção tradicionalmente dedicada aodesenvolvimento das habilidades básicas do jogo, aoensino das técnicas isoladas, fosse deslocada para odesenvolvimento da capacidade de jogo através dacompreensão táctica do jogo. A ideia era deixar dever o jogo como um momento de aplicação de técni-cas, para passar a vê-lo como um espaço de resoluçãode problemas. Esta ideia é concretizada através doarranjo de formas de jogo apropriadas ao nível decompreensão e de capacidade de intervenção dos alu-nos no jogo. A adaptação destas formas de jogo faz-se por referência a quatro princípios pedagógicos(71,

168, 169): a selecção do tipo de jogo (game sampling); amodificação do jogo por representação (formas de jogoreduzidas representativas das formas adultas dejogo); a modificação por exagero (manipulação dasregras de jogo, do espaço e do tempo de modo acanalizar a atenção dos jogadores para o confrontocom determinados problemas tácticos); o ajustamen-to da complexidade táctica (o repertório motor que osalunos já possuem deve permitir-lhes enfrentar osproblemas tácticos ao nível mais adequado paradesafiar a sua capacidade de compreender e actuarno jogo). O jogo, objectivado numa forma modificadaconcreta, é a referência central para processo deaprendizagem, é ele que dá coerência a tudo quantose faz de produtivo na aula. A centralidade do jogopara este modelo é enfatizada por Waring eAlmond(177), quando propõem uma designação alter-nativa para este modelo -”game-centred games”.No ambiente desta forma adaptada de jogo (verFigura 1), o foco didáctico incidiria sucessiva e cicli-camente sobre a apreciação dos aspectos constituin-

tes do jogo; sobre a tomada de consciência dos prin-cípios tácticos do jogo; sobre a tomada de decisão doque fazer e como fazer nas diferentes situações dejogo; sobre a exercitação das habilidades necessáriasà melhoria da performance no jogo; e, finalmente,sobre a integração dos aspectos técnicos e tácticosnecessários à melhoria da performance no jogo.

Figura 1. Modelo de ensino dos jogos para a compreensão (TGfU, Bunker e Thorpe, 1982, p, 6)

No respeitante aos critérios de selecção dos jogos, aclassificação dos jogos em função de semelhançasestruturais proposta por Ellis(40): jogos de alvo (golfe,bowling, bilhar), jogos de rede/parede (ténis, badmin-ton, squash, voleibol), jogos de batimento (basebol,softball, criquet) e jogos de invasão ou territoriais (fute-bol, basquetebol, andebol, rugby), veio permitir ummapeamento coerente dos diversos tipos de jogos,com consequências evidentes quer ao nível de umabusca deliberada dos efeitos de uma prática transfe-rível, quer ao nível da racionalização do currículo doensino dos jogos(19, 22, 45). No primeiro caso, trata-sede dispor jogos e formas do jogo pertencentes a ummesmo tipo de jogo numa ordenação de complexida-de crescente de modo a facilitar o desenvolvimentoda aprendizagem pela acentuação e tomada de cons-ciência dos princípios de jogo comum, facultandodeste modo a transferência das estratégias de leituradas situações de jogo e de busca de soluções paraproblemas com similaridade estrutural(37, 65, 84, 116,

117). No segundo caso trata-se de estabelecer crité-

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rios não meramente casuísticos para a colocação dosjogos nos currículos (22, 85, 169), a sua articulação hori-zontal (selecção jogos para um determinado nível deescolaridade) e vertical (sucessão e articulação dosjogos ao longo da escolaridade). Mitchell, Oslin eGriffin(120), na sua abordagem temática ao ensino dosjogos para as idades infantis (primeiro e segundociclos do ensino básico), propõem que se deixe delado as abordagens centradas em modalidade singu-lares, o futebol, o basquetebol, o hóquei-em-campo,tratadas separadamente, para passar a tratá-las emconjunto, como membros de uma classe de jogos,focando a atenção da aprendizagem sobre os aspec-tos comuns e transferíveis de jogo para jogo. Em ter-mos práticos, os autores propõem formatos de jogospré-desportivos para uma dada classe de jogos (ex.jogos de invasão), a partir dos quais os mesmos pro-blemas tácticos (os temas de ensino) possam serconcretizados em formas de jogo particulares que sedistinguem por usarem objectos de jogo de diferen-tes tamanhos e feitios, por estipularem diferentesmodos de jogar e, por conseguinte, requisitaremdiferentes habilidades motoras.O modelo TGFU acolheu perfeitamente as ideiasconstrutivistas sobre o papel do aluno no processode aprendizagem, colocando-o numa posição deconstrutor activo das suas próprias aprendizagens,valorizando os processos cognitivos, de percepção,tomada de decisão e compreensão(16).Correlativamente, o modelo adere bem a um estilode ensino de descoberta guiada(37), em que o aluno éexposto a uma situação problema (a forma de jogocom os seus problemas tácticos) e é incitado a pro-curar soluções, a verbalizá-las, a discuti-las, a expli-cá-las, ajudado pelas questões estratégicas do profes-sor, com o objectivo de trazer a equação do problemae respectivas soluções para um nível de compreensãoconsciente e de acção deliberadamente táctica nojogo. O papel do professor consubstancia-se nasseguintes funções(174): (a) o professor estabelece aforma de jogo; (b) o professor observa o jogo ou aexercitação; (c) o professor e os alunos investigam oproblema táctico e as potenciais soluções (exercita-ção referenciada ao jogo); (d) o professor observa ojogo; (e) o professor intervêm para melhorar ashabilidades (se necessário); o professor observa ojogo e intervém para ensinar.

O envolvimento cognitivo, no entanto, não deve alie-nar o propósito primeiro do modelo: “The primarypurpose of teaching any game should be to improvestudents’ game performance and to improve theirenjoyment and participation in games, which mightlead to a more healthy lifestyle”(178).Desde o seu aparecimento formal em 1982, o mode-lo TGfU tem vindo a posicionar-se num lugar decharneira a nível mundial no que diz respeito àinvestigação e à formação no âmbito do ensino dosjogos desportivos. Os esforços de internacionaliza-ção do modelo aconteceram de imediato com parti-cipação nos congressos da AIESEP em 1983,Roma(167), e em 1984, Eugene, EUA (169). Em1986, com a edição do livro Rethinking GamesTeaching, Thorpe, Bunker e Almond, com o contri-buto de outros autores, consolidam as bases con-ceptuais do modelo, no que respeita à selecção emodificação dos jogos ou à estruturação do proces-so de ensino e aprendizagem(170). Na década de 1990, com o ocaso crescente dainvestigação de pendor behaviorista e o crescimen-to da influência das correntes cognitivistas e cons-trutivistas, com o seu foco no processamento dainformação, na tomada de decisão e na construçãodo conhecimento, os temas da táctica passam aconstar da nova agenda da literatura relacionadacom o ensino da educação física. O TGfU, com asua orientação para a compreensão, para a táctica,para a tomada decisão, estava disponível para rece-ber e enquadrar os contributos destas novas pers-pectivas. Poderemos destacar, o esforço sustentadode enriquecimento do modelo, através da publica-ção de ensaios, da elaboração de propostas e instru-mentos didácticos, ou da implementação de progra-mas de formação e a institucionalização de umaconferência internacional TGfU. O Journal of Phyical Education, Recreation andDance (JOPERD), uma revista essencialmente orien-tada para a comunidade de professores de educaçãofísica, publica com regularidade artigos relacionadoscom o TGfU, incluindo a organização de númerosespecialmente dedicados ao tema(9, 12, 19, 26, 27, 34, 37, 62,

65, 83, 116, 126, 132, 149). Linda Griffin, Stephan Mitchell e Judith Oslin publi-caram dois manuais de referência o “Teaching sportconcepts and skills: a tactical games approach”(69) e

Modelos de ensino dos jogos desportivos

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o “Sport foundations for elementary physical educa-tion: a tactical games approach”(120). Estes autoresdesenvolveram e validaram um instrumento de ava-liação da participação e desempenho dos alunos nojogo, o Game Performance Assessment Instrument(GPAI)(127) e têm procurado validar a sua abordagemtáctica ao ensino dos jogos através de estudos expe-rimentais(70, 119). Outros recursos importantes para fazer o balanço eapreciar as tendências de desenvolvimento da inves-tigação e da reflexão teórica e das propostas práticassobre o TGfU são os livros “Teaching games forunderstanding in physical education and sport”(21),que resultou da primeira edição da conferênciaTGfU, em 2001, e mais recentemente “TeachingGames for Understanding: theory, research, andpractice”(67). Recentemente também, a revistaPhysical Education and Sport Pedagogy publicou umnúmero dedicado ao TGfU, editado por RichardLight(101) e constituído por artigos desenvolvidos apartir de apresentações à conferência TGfU deMelbourne(2, 20, 64, 66, 102, 130). O rastreio das conferên-cias internacionais TGfU (ver materiais acessíveisem http://www.tgfu.org/index.htm) dá-nos conta dovigor e da natureza das questões que preocupam eatraem investigadores e práticos relativamente aoensino dos jogos. Curiosamente, a realização da 2ªconferência, em 2003, em Melbourne, Austrália, da3ª conferência em 2005, em Hong Kong, China, e daAsia Pacific Conference on Teaching Sport andPhysical Education for Understanding, em 2006, emSydney parece ter deslocado o centro de gravidadedo TGfU para o outro lado do mundo. Ainda que a4ª edição marcada para 2008, em Vancouver, Canadávenha compensar esta tendência.O modelo TGfU não é um modelo cristalizado,entendido como algo que atingiu a sua forma perfei-ta e acabada. É um modelo aberto ao diálogo comdiferentes perspectivas teóricas sobre o curriculum,a instrução, a relação pedagógica e a aprendizagem,com preponderância para as diversas perspectivascognitivistas e construtivistas, mais ligadas às teo-rias do processamento da informação(15, 68, 174), àsperspectivas construtivistas de pendor mais piagetia-no ou radical(19, 61, 138), de pendor mais vygotskiano,social e cultural (33), como a teoria da aprendiza-gem situada(90, 91, 93, 100, 102).

Desta última perspectiva de aprendizagem situadasurgiu uma proposta de revisão do modelo, assinadapor Kirk e MacPhail(93, ver Figura 2). Os autores pro-põem a alteração da designação de alguns elementosdo modelo inicial e acrescentam focos de interfacepara aprofundar a relação entre os elementos domodelo numa perspectiva de aprendizagem situada,sucintamente definida pelos autores:

Learning is an active process of engagement with sociallyorganized forms of subject matter, through perceptual anddecision-making processes and the execution of appropriatemovement responses, individuals bring prior knowledge tolearning episodes that contain a (sometimes wide) range ofalternative conceptions of a topic. The learner’s activeengagement with subject matter is embedded within andconstituted by layers of physical, sociocultural, and institu-tional contexts. These contexts include the immediate physi-cal environment of the classroom, gym, or playing field,social interaction between class members, the institutionalform of the school, and aspects of culture such as mediasport.(93)

Nesta perspectiva é importante que o professor, naselecção da forma de jogo apropriada, se preocupeem apresentar formas de jogo que tenham em contaas concepções que os alunos trazem para a situaçãode aprendizagem e que possam ser vistas por partedos alunos como formas de jogo credíveis e autênti-cas. A compreensão emergente surge assim comouma interface entre a forma de jogo adoptada e oconceito de jogo, cuja função é focar a atenção doprofessor sobre como ajudar os alunos a estabelecera ligação entre os propósitos do jogo e a formamodificada de jogo proposta. Os elementos conceitode jogo e pensar estrategicamente substituem osantecessores apreciação do jogo e consciência tácticapara vincarem melhor uma ligação entre o conheci-mento declarativo e processual, indo além da meratransmissão-aquisição de conhecimento das regras eoutros aspectos do jogo, para visar o conhecimentosituado e o uso dos conceitos no jogo. A interfacepercepção de sinais pretende sublinhar a necessidadede fornecer apoio aos alunos, ajudá-los a procurar eidentificar os sinais pertinentes, por exemplo deuma boa linha de passe, de uma situação favorávelpara finalizar, ou criar uma situação de finalização.

Amândio Graça, Isabel Mesquita

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Figura 2. Revisão do modelo TGfU proposta por Kirk e Macphail(93)

Uma boa tomada de decisão, depende de uma boaleitura da situação e esta, por sua vez, depende dascompetências de busca, de antecipação, de saber oque procurar e onde procurar. As interfaces selecçãoda técnica e o desenvolvimento da habilidade preten-dem reforçar a interligação entre a técnica e a tácti-ca, reconhecendo o carácter situado das habilidadese do seu uso. Uma habilidade nesta perspectiva émais que uma técnica, é um módulo de aprendiza-gem que integra em unidade a capacidade de perce-ber sinais pertinentes, a capacidade estratégica e acapacidade de execução de movimentos. Finalmentea performance situada e a interface participação peri-férica legítima numa comunidade de prática chamama atenção para a autenticidade e significado dasexperiências de aprendizagem dos alunos tendo porreferência as práticas extra escolares dos jogosenquanto realidades sociais, culturais e institucio-nais complexas, multifacetadas e heterogéneas. Outro contributo para a revisão do TGfU proveio deHolt, Strean e Bengochea(82), clamando para que oTGfU estenda as suas preocupações ao domíniosócio afectivo, dê espaço à emoção, ao sentimento,ao prazer e não se quede apenas pela compreensão epela execução do movimento. Em sentido semelhan-te argumentaram Pope(130), na defesa de uma releitu-ra afectiva do modelo TGfU, e Kretchamar(94), nadefesa do domínio subjectivo, do significado daexperiência e do deleite, que é mais exigente, masmais memorável e mais profundo que as experiên-cias divertidas.

O TGfU é um modelo que acomoda diferentes inter-pretações culturais: Game Sense(16, 99) (Austrália);Game Concept Approach(109) (Singapura); TacticalApproach(69, 120) (EUA); Tactical Decision MakingApproach(64) (França). É um modelo que permiteexplorar entendimentos com outros modelos, comosejam o modelo de educação desportiva(2, 80) e omodelo de aprendizagem cooperativa(38, 39). O TGfUtem uma raiz comum com “movement education”,porquanto os precursores do TGfU referem ainfluência das ideias da ginástica educativa de Laban,que estão na base do movement education e enqua-dram as suas concepções didácticas sobre o ensinodos jogos. Acresce que o TGfU tem beneficiadomuito da investigação relativa ao ensino dos jogos eaprender a ensinar inspiradas ou principais propo-nentes, com destaque para os estudos de Rovegno ecolaboradores e de Barrett e colaboradores(7, 8, 30, 148-

151), cuja importância, só por si mereceria um trata-mento especial. Entre nós o modelo TGfU e as abordagens tácticasao ensino dos jogos têm feito parte do labor dosmembros do Centro de Estudos dos JogosDesportivos da Faculdade de Desporto daUniversidade do Porto, ao nível da investigação eensaio teórico, da formação inicial e contínua de pro-fessores e treinadores, da produção e divulgação derecursos didácticos, com destaque para a publicaçãodas várias edições do manual “O ensino dos JogosDesportivos”(50-53), a publicação de vários capítulosno manual “Pedagogia do Desporto”(46, 56, 111, 112, 166),ou ainda a participação no projecto europeuElectronic Sport Education Program, do qual resul-tou a produção de um conjunto de CD-Roms relati-vos ao modelo de competência nos jogos de invasão(http://www.lo-bsw.ugent.be/ESEP/).

A investigação empírica sobre o TGfUA primeira estratégia de investigação adoptada noestudo do TGfU consistiu na determinação da eficá-cia relativa deste modelo em comparação com outrasabordagens de ensino, através do recurso a desenhosde investigação experimental, dentro de um ambien-te geral que opunha as abordagens tácticas às abor-dagens técnicas(173). Entre as variáveis dependentesfiguram medidas relativas à execução das habilida-des, à tomada de decisão, ao conhecimento declarati-

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vo ou processual; medidas que são recolhidas emsituações descontextualizadas, testes de habilidadesestandardizados, testes de papel e lápis ou suporteinformático; a partir de imagens de situações reaisou virtuais de jogo; ou ainda a partir da observaçãodo desempenho dos alunos em contexto de jogo.Numa análise crítica a esta investigação,Mcmorris(108) sublinha a escassez de estudos publica-dos em revistas com revisão de pares, desconsideran-do os outros trabalhos por não oferecerem garantiasde validade e fiabilidade dos processos de testagem. Os resultados desta linha de investigação, com algu-mas excepções, não confirmaram a superioridade dasabordagens tácticas sobre as abordagens técnicas ouvice-versa, por exemplo, no que concerne à tomadade decisão (41, no badminton, 42, idem, 118, no futebol, 173, no hóquei

em campo), nem no que concerne à execução das habili-dades no jogo(41, 42, 43, no squash, 172, no hóquei em campo, 173,

idem), ou em testes estandardizados(41, no badminton, 42,

idem, 98, ibidem, 172, 173).No respeitante ao impacto sobre o conhecimentodeclarativo e processual dos alunos, os estudos for-necem resultados algo contraditórios. Alguns estu-dos não revelaram diferenças significativas entre osgrupos(41, 42, 98, 173, 174). Outros estudos reportaramuma vantagem significativa do TGFU(70, 118, 172). Alguns estudos, por contemplarem períodos de ins-trução demasiado breves, geraram resultados inevita-velmente inconclusivos dada a falta de tempo paraconsolidar as de aprendizagens e evidenciar quais-quer efeitos distintivos das abordagens de ensino.Porém, mesmo com abordagens mais longas, osresultados não chegam a ser concludentes. O estudode Turner(172), com 16 aulas de 45 minutos dedicadasao ensino do hóquei em campo a alunos do 6º e 7ºanos, conseguiu evidenciar vantagens estatisticamen-te significativas no progresso do grupo TGfU emrelação ao grupo da abordagem técnica no conheci-mento declarativo do jogo, no controlo da posse debola e na tomada de decisão. Os grupos não se dis-tinguiram no conhecimento processual e na execuçãodas habilidades no jogo. Numa réplica deste estudo,com 15 aulas de 45 minutos também dedicadas aoensino do hóquei em campo a alunos do 6º e 7ºanos, Turner e Martinek(174) corroboraram parcial-mente os resultados anteriores: o grupo TGfU obteveresultados significativamente superiores nas variáveis

tomada de decisão relativa ao passe, controlo da bolae execução do passe durante o jogo. Nas restantesmedidas reportadas ao jogo, o grupo TGfU apresentaum perfil de evolução mais favorável, mas aquém doslimiares de significância estatística. Já o inversoacontece com os testes técnicos, especialmente noque respeita à velocidade de execução. O exemplo talvez mais consistente neste tipo deestudo foi realizado por uma equipa de investigado-res do qual resultou a publicação de um númeromonográfico no Journal of Teaching in PhysicalEducation(140), tendo contemplado duas experiênciasde ensino do badminton a alunos de 9º ano de esco-laridade, a primeira com uma duração de 3 semanas(15 sessões de 45 minutos) e a segunda com umaduração de 6 semanas (30 sessões de 45 minutos).O desenho de investigação constou de grupos expe-rimentais (abordagem táctica – sem ensino explícitoda técnica; abordagem técnica – sem ensino explícitoda táctica; e abordagem combinada) e um grupo decontrolo. Em ambos os estudos, todos os gruposexperimentais evoluíram significativamente relativa-mente ao grupo de controlo. Assim como evoluíramsignificativamente, no segundo estudo, da avaliaçãointermédia (final da 3ª semana) para a avaliaçãofinal. No estudo de 3 semanas não se registaramdiferenças entre os grupos no respeitante às medidasrelacionadas com o jogo. O grupo da abordagemcombinada obteve resultados mais fracos nos testestécnicos do serviço e do drop, em comparação com osoutros grupos. No estudo de 6 semanas, o grupo daabordagem combinada. teve uma evolução mais difí-cil que os outros grupos. Na avaliação do final daterceira semana, apresentava um atraso significativonas decisões de jogo e na execução das habilidades.No final das seis semanas, recuperou e não se distin-guia significativamente dos outros grupos, à excep-ção do teste técnico do clear. As razões para esta difi-culdade podem ter a ver com o facto de o desenhoda instrução para este grupo ser mais segmentado,com mais tarefas e com menos tempo por tarefa;pode também ter gerado a dispersão da atenção dosalunos por diferentes aspectos da performance compossibilidades de induzir interferência atencional(42).O facto de o grupo da abordagem táctica não se dis-tinguir do grupo da abordagem técnica sem ter rece-bido instrução técnica explícita e vice-versa indica

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que os alunos foram capazes de aprender essesaspectos implicitamente. Porventura, o badminton éum jogo cujas tácticas iniciais são simples e eviden-tes e há uma forte interrelação entre a táctica e a téc-nica neste jogo. Por outro lado, as situações de reso-lução de problemas de jogo colocadas pela aborda-gem táctica podem ter criado as condições para osalunos aplicarem padrões de movimento reportadosàs diferentes técnicas do badminton. A dicotomia entre as abordagens tácticas e aborda-gens técnicas obrigava a introduzir um artificialismonos estudos que fazia com que nos processos de ins-trução se evitasse explicitar elementos da abordagemcontrária. Ora o TGfU não nega a necessidade doensino da técnica, apenas sustenta que o trabalhoespecífico da técnica surja após a apreciação do jogoe a contextualização da sua necessidade a partir desituações modificadas de jogo. Como bem sublinhaKirk(90): “TGfU has never been about the mere deve-lopment of tactical awareness. It has always beenabout developing good game players”. O TGfU tempor finalidade desenvolver a capacidade de jogo dosalunos e isso depende do seu conhecimento táctico,da capacidade de perceber e escolher os cursos deacção mais apropriados, assim como da capacidadede executar as acções de jogo. Esta última capacida-de tem consequências não apenas ao nível de darseguimento às leituras e decisões, como, e muitoimportante, retroage sobre a própria capacidade deleitura dos alunos, ampliando ou reduzindo as possi-bilidades e disponibilidades de busca, de percepção ede tomada de decisão. Erguer uma barreira entre atécnica e a táctica conduz-nos a uma falsa questão,dado que ambas são importantes para o desempenhono jogo. É necessário ter sempre bem presente que atomada de decisão é limitada e enviesada por cons-trangimentos de ordem técnica(44). Nada do que fica dito pode servir, no entanto, paradar argumentos a favor de uma abordagem tradicio-nal, na qual as técnicas do jogo se apresentam comouma finalidade em si mesmo, sem articulação com ojogo ou com o modo como são requisitadas no jogopraticado pelos alunos. A descontinuidade da abor-dagem técnica com as necessidades do jogo fazemdesta abordagem um beco sem saída para o ensinodo jogo, e a sua conservação, desde há muito tempocriticada, só se percebe como meio para satisfazer o

fim do currículo oculto da disciplina e da ordem(90).Se organizar a actividade dos alunos com exercícios eformações fáceis de gerir e controlar dá segurança aoprofessor e contribui para a eficiência e harmonia daaula, para o busy, happy and good(129), isso não servede justificação bastante, se que aquilo que se exercitanão possuir relevância educativa ou, no caso presen-te, transferibilidade para a aprendizagem do jogo. A estratégia típica de comparação de abordagens,métodos, estilos, estratégias, ou procedimentos deensino tem sistematicamente conduzido a resultadosinconclusivos, a acusações de enviesamento da inves-tigação, de fomento de generalizações abusivas e deassentar numa concepção inevitavelmente reducio-nista do processo de instrução(104, 115). Por esta razão,os estudos mais recentes em vez de comparar asuperioridade de uns modelos sobre os outros, têmprocurado apreciar em maior detalhe o funcionamen-to dos modelos e reportar os efeitos induzidos poreles e os obstáculos que se levantam à aprendizagem. Metzler(115) adverte-nos para que os desenhos e fer-ramentas de investigação sejam congruentes com onível de complexidade implicado no estudo dosmodelos, pelo que as ferramentas e desenhos deinvestigação utilizados para o estudo de métodos,estilos e estratégias de ensino não cumprem osrequisitos para estudar uma realidade de complexi-dade superior. Para o autor, não faz mais sentidocomparar modelos que à partida se distinguem pelotipo de resultados de aprendizagem que perseguem,de processos que promovem e de domínios queenfatizam. Será bem mais produtivo estudar a aplica-bilidade do modelo e as necessidades de afinamentodo modelo em função dos professores, do seu conhe-cimento e da sua experiência, em função dos alunos,das suas características, em função da matéria e dosmateriais de ensino e aprendizagem, do modo comoo conteúdo, as actividades e tarefas podem ser estru-turados. Há que ter em conta e estudar em simultâ-neo as interacções entre a arquitectura do modelo, oconteúdo, o contexto e os resultados.O desenvolvimento de instrumentos de avaliação con-textualizada da qualidade de participação no jogo,nomeadamente o Game Performance AssessmentInstrument (GPAI) desenvolvido por Oslin, Mitchel eGriffin(127) e o Team Sport Assessment Procedure (TSAP)desenvolvido por Gréhaigne, Godbout e Bouthier(63)

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vieram abrir novas possibilidades ao estudo dasdimensões técnicas e tácticas contextualizadas nasituação de jogo, como ainda abrir perspectivas de uti-lização pedagógica ao serviço do alinhamento da ins-trução com uma avaliação autêntica(62, 72, 121, 128, 135-

137). Outras iniciativas de validação e aplicação de ins-trumentos de avaliação de aspectos críticos do jogosão por exemplo os trabalhos de autores finlande-ses(13-15, 105), belgas(162-165) e portugueses(25, 106, 107, 113).Apesar da transferibilidade ser um tema omnipre-sente no ideário do TGfU, o certo é que não deixa deser um tema muito pouco investigado. Registe-se oestudo experimental realizado por Mitchell eOslin(119) para testar a transferibilidade da aprendi-zagem do badminton para outro jogo de rede tactica-mente semelhante, o picleball, e no qual puderamconstatar que a compreensão táctica adquirida nasaulas de badminton se transferiam para a compreen-são do novo jogo.Outro aspecto pouco estudado diz respeito à respos-ta afectiva dos alunos ao TGfU. Dado que a motiva-ção foi desde sempre um dos argumentos a favor domodelo, não deixa de ser uma situação estranha.Tjedersma, Rink e Graham(171) compararam a res-posta afectiva de alunos que participaram em unida-des de ensino do badminton de 6 semanas (aborda-gem técnica vs. abordagem tátctica). A experiênciafoi avaliada como muito positiva por todos os gru-pos, que não se distinguiram entre si. Wallhead eDeglau(176) investigaram o efeito do TGfU na motiva-ção de 248 alunos com idades compreendidas entreos 10 e os 16 anos (prazer, percepção de esforço,competência percebida e percepção do envolvimentode aprendizagem. Os resultados revelaram que omodelo proporcionou uma experiencia positiva, nãoameaçadora para aceitar desafios, gratificante pelaaquisição de competência táctica e intrinsecamentemotivante pelo prazer proporcionado pelas activida-des de jogo. Reorientando a investigação sobre o TGfU na direc-ção de uma aprendizagem situada, Kirk, Brooker eBraiuka(91) preocuparam-se com a interacção entre oconhecimento específico do domínio e o conheci-mento estratégico dos alunos, tomando por referên-cia as dimensões física-perceptiva, social-interactivae institucional-cultural da experiência de aprendiza-gem situada. Para ilustrar estas três dimensões e o

carácter situado das cognições dos alunos, os autoresconstruíram três vinhetas alusivas a incidentes críti-cos gerados a partir de uma análise naturalísticabaseada na observação, em entrevistas e diários rela-tivos a uma unidade TGfU dedicada ao ensino dobasquetebol a estudantes do 8º ano de escolaridade.Uma outra linha de estudos procurou traçar as parti-cularidades da experiência de aprendizagem domodelo TGfU e dos desafios às concepções pessoaissobre o ensino dos jogos durante a formação inicial,ou a formação em serviço. Laursen(97) estudou o impacto na alteração da estru-tura conceptual sobre os jogos perfilhada por estu-dantes da formação inicial de professores de educa-ção física, por influência de um programa de 48 ses-sões de 2 horas dedicado à aprendizagem do modeloTGfU. Utilizando uma abordagem qualitativa, oautor constatou que a generalidade dos estudantesno início do programa já possuía uma estrutura con-ceptual relativamente compatível com as ideias doTGfU e que no final do programa estavam bem iden-tificados com a estrutura apresentada no programade formação.Light e Butler(102) analisaram as histórias de estudan-tes de Instituições de formação inicial em EducaçãoFísica e de professores nos primeiros anos da carreirados Estados Unidos e Austrália, no respeitante aosseus percursos pessoais de confronto com as ideias eexperiências formativas relativas ao TGfU.Pretenderem os autores explorar o efeito exercido pormeios culturais e institucionais distintos no desen-volvimento do programa de formação, na receptivida-de, identificação e adesão às perspectivas do modeloTGfU. Os autores destacaram a dimensão afectiva,pessoal, corporizada e não textual implicada na ade-são ao modelo: Como referem os autores:

Their stories reveal a personal attachment to TGfU thathas been shaped by their own life experiences of sport andphysical education and their beliefs about, and dispositionstoward, teaching. Certain ways of knowing that are non-textual and embodied are basic to teaching and teacherdevelopment. (p.252)

Num estudo semelhante, Light e Tan(103) puseramem evidência a influência de contextos culturais dis-tintos no modo como são vividas e interpretadas as

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experiências formativas relativas ao modeloTGfU/Games Concept Approach no âmbito da for-mação inicial de professores de educação física naAustrália e em Singapura. Brooker, Kirk e Braiuka(16) realizaram um estudo decaso relativo à implementação de uma experiência deensino do basquetebol num contexto natural comalunos do 8º ano de escolaridade, tendo como prota-gonista uma professora sem experiência anterior deensino do modelo. Os autores constaram a dificulda-de inerente à mudança conceptual sobre o ensinodos jogos, quando se tem confiança e competêncianoutro tipo de abordagens e sinalizaram os esforçosnecessários para ultrapassar os constrangimentoscontextuais, como a configuração dos espaços eequipamentos para a aula, as práticas institucionali-zadas da educação física na escola, o apoio e colabo-ração do grupo de educação física. Graça e Mesquita(49) estudaram as concepções deensino dos jogos desportivos perfilhadas por profes-sores de educação física envolvidos num programade formação contínua orientado para uma aborda-gem inspirada no TGfU. Os autores constataram aexistência de concepções distintas para o ensino dosjogos, desde uma mais tradicionalista de ensino dastécnicas isoladas e prática da versão completa dojogo, outra similar à progressão desenvolvimentistadas fases de desenvolvimento de jogo de Rink(139); efinalmente uma terceira mais aproximada do modeloTGfU, com valorização dos jogos modificados e daprecedência dos problemas de jogo, da consciênciatáctica e tomada de decisão sobre a execução moto-ra, sem deixar de valorizar a contextualização da res-posta motora e de colocar no horizonte do ensino odesenvolvimento da capacidade de jogo. Dado quecom a experiência os professores vão consolidandoas suas concepções de ensino dos jogos e as compe-tências para os ensinar, proceder a uma renovaçãodas concepções e práticas de ensino requer não ape-nas uma crença firme no valor educativo das novaspropostas, capaz de justificar a energia e o investi-mento pessoal necessários para a mudança, mastambém condições de envolvimento e recursosmuito favoráveis para assistir, dar apoio e confiançaface à instabilidade natural e desconforto que decor-re da falta de rotinas e competências específicasrequisitadas pelo novo modelo.

O MODELO DE EDUCAÇÃO DESPORTIVAA criação e difusão do modeloSiedentop(158) reporta a génese do modelo de educa-ção desportiva à sua tese de doutoramento que advo-gava a colocação da educação lúdica (play education)num lugar destacado nas orientações curriculares daeducação física. O seu manual Physical Education:Introductory Analisys, publicado pele primeira vez em1972, difundiu esta sua visão da educação física, queJewett e Bain(86) recensearam como modelo curricu-lar autónomo. Foi em 1982 que Siedentop, numaconferência proferida no âmbito do CommonwealthGames, em Brisbane, propôs, pela primeira vez, acriação de Sport Education, na procura da contextuali-zação da sua concepção de play education, através daimplementação de ambientes de prática propiciado-res de experiências desportivas autênticas; destemodo, pretendia de uma assentada resolver equívo-cos e mal entendidos na relação da escola com o des-porto. Para a expansão deste novo modelo curricularmuito contribuíram a inclusão de um capítulo dedi-cado ao Sport Education no manual “PhysicalEducation: Teaching and curriculum strategies forgrades 5-12”(160) e em 1987, “ The theory and practiceof sport education”(153), nos quais são apresentados osmotivos que justificam a sua criação bem como osseus objectivos e características estruturais. A conso-lidação das bases conceptuais do modelo é consegui-da com o lançamento, em 1994, de uma outra intitu-lada “Sport Education: Quality P.E. through positive sportexperience” (155), que chancelou validação do modeloenquanto ferramenta pedagógica e objecto de inda-gação científica. Para além de inúmeros workshopsnos Estados Unidos da América,(158) e de diversaspublicações de carácter didáctico, de ensaio, de refle-xão, ou de investigação(10, 11, 73, 75, 89), o modelo reco-lheu uma aceitação muito favorável e foi alvo de pro-jectos de dimensão nacional na Nova Zelândia(57) ena Austrália(1, 3-5). O SE influenciou programas deEducação Física de diferentes espaços geográficos eculturais do globo, com realce natural para outrosespaços de influência anglo-saxónica, como aInglaterra(29), Hong Kong(88), mas também aGrécia(6), ou a Rússia(81). O recente manual publica-do por Siedentop, Hastie e van der Mars(159),“Complete Guide to Sport Education”, sistematizaos contributos da experiência acumulada e da inves-tigação em torno do modelo.

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Embora não se circunscreva ao ensino dos jogos, oSE constitui um modelo curricular que oferece umplano compreensivo e coerente para a renovação doensino dos jogos na escola, preservando e reavivandoo seu potencial educativo. Aposta na democratizaçãoe humanização do Desporto, de forma a evitar osproblemas associados a uma cultura desportivaenviesada, tais como o elitismo, a iniquidade e a tra-paça(32). Comporta a inclusão de 3 eixos fundamen-tais que se revêem nos objectivos da reforma educa-tiva da educação física actual: o da competência des-portiva, o da literacia desportiva e o do entusiasmopelo desporto, sendo o seu propósito formar a pes-soa desportivamente competente, desportivamenteculta e desportivamente entusiasta. Competente,quer dizer que domina as habilidades de forma apoder participar no jogo de um modo satisfatório eque conhece, compreende e adopta um comporta-mento táctico apropriado ao nível de jogo praticado.Baseia-se na assunção de que o desempenho compe-tente se relaciona mais com os conteúdos tácticos,os jogos modificados e as progressões de jogos doque com o desenvolvimento das habilidadesisoladas(155). Culto, significa que conhece e valorizaas tradições e os rituais associados ao desporto e quedistingue a boa da má prática desportiva. Entusiasta,quer dizer que a prática do desporto o atrai e que éum promotor da qualidade e um defensor da auten-ticidade da prática desportiva. A importância daenfatização do entusiasmo pela prática fundamenta-se no entendimento de que os níveis de motivaçãodas crianças para a prática desportiva podem serincrementados quando as componentes afectivas esociais são expressivamente consideradas, enquantoconteúdo curricular da disciplina de EducaçãoFísica(31, 156).A elevada adesão dos professores à sua inclusão nosprogramas curriculares de Educação Física foi refor-çada pelo apelo a duas linhas de força apontadaspara a reforma educativa nos anos 90, a da educaçãoorientada para resultados autênticos e a da avaliaçãoautêntica(156). Os resultados autênticos evidenciam-se numa demonstração culminante de aprendizagem,reveladora da capacidade de executar uma tarefa atéao fim, com significado contextual, onde estãoincluídos os conteúdos, os processos e os meios apli-cados. Por sua vez, a avaliação autêntica reporta-se a

desempenhos contextualizados, procurando-se umalinhamento da instrução com a avaliação. Destemodo, as práticas de avaliação não suspendem o pro-cesso de aprendizagem, são, antes de mais, oportu-nidades para os alunos aprenderem e exercitarem osresultados desejados e receberem feedback sobre odesenvolvimento da sua aprendizagem.O SE sustenta a efectivação de uma avaliação autên-tica, que se reporta, em primeiro lugar, à capacidadede jogar. A instrução técnica é organizada em funçãoda sua aplicação táctica e é dado tempo suficientepara desenvolver a consciência e a competência tácti-ca. No sentido de garantir a autenticidade das expe-riências desportivas Siedentop(155) integrou seiscaracterísticas do desporto institucionalizado noModelo de Educação Desportiva: a época desportiva,a filiação, a competição formal, o registo estatístico,a festividade e os eventos culminantes.As épocas desportivas substituem as unidades didácti-cas de curta duração porquanto o autor argumenta ainsuficiência temporal destas para a consolidação dasaprendizagens, sendo a época desportiva estendida,pelo menos, por 20 aulas(87). A necessidade de seaumentar o tempo de contacto do aluno com o con-teúdo de ensino surge como contraponto à tradicio-nal preferência de currículos salpicados de múltiplasactividades de reduzida duração e de efeitos impro-váveis. Esta preferência encontrou suporte no argu-mento de que quanto maior a diversidade de activi-dades oferecidas, melhor informado estará o aluno,maior a possibilidade de ir ao encontro das preferên-cias pessoais de cada um, logo maior probabilidadede incluir voluntariamente uma actividade desporti-va nos seus hábitos de vida. Todavia, ela é revelado-ra, de uma ideologia de activismo inconsequente quevive cada momento presente sem uma ideia de futu-ro, de transformação, de superação, de desenvolvi-mento da competência(47).A filiação promove a integração, no imediato, dosalunos em equipas e, consequentemente, o desenvol-vimento do sentimento de pertença ao grupo. A variedade de papéis assumida pelos alunos naconstituição das equipas (jogadores, árbitros, jorna-listas, dirigentes, etc.) evidencia uma redefinição depapéis do professor e dos alunos, sugerindo a filia-ção do SE às ideias construtivistas prevalecentes nosanos 90. As equipas têm nomes, símbolos, cores,capitão, treinador, uma área própria para treinar.

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Uma diferença fundamental do modelo de educaçãodesportiva em relação às abordagens tradicionais é asua preocupação extrema em diminuir os factores deexclusão, lutando por harmonizar a competição coma inclusão, por equilibrar a oportunidade de partici-pação e por evitar que a participação se reduza aodesempenho de papéis menores por parte dos alunosmenos dotados(76). Assim, os critérios de formaçãode grupos visam assegurar, não apenas o equilíbriocompetitivo das equipas, mas também o desenvolvi-mento das relações de cooperação e entreajuda naaprendizagem(157). Através de uma prática desporti-va, na qual é conferida ao aluno iniciativa e valoriza-ção do seu desempenho, independentemente do seunível de habilidade, são criados os pressupostos paraque o aluno se sinta confiante, o que, consequente-mente, se reflecte no gosto pela prática.A implementação de um quadro competitivo formal éefectivada logo no início da época pela constituiçãode equipas, através do estabelecimento de mecanis-mos promotores da igualdade de oportunidades paraparticipar, nomeadamente pelo premiar da colabora-ção na aprendizagem e treino no seio de cada equi-pa. O fair play é enfatizado durante toda a época,havendo pontuação para este aspecto em separado,ou com impacto na pontuação geral da equipa.Simultaneamente a competição constitui um ele-mento de auto-avaliação importante e um incentivopara o trabalho de preparação. Como forma de valo-rizar a competição, são realizados registos de resul-tados, comportamentos, estatísticas individuais, oude equipa que marcam a história e conferem impor-tância ao que se faz na competição.Cada época tem um evento culminante e procura-seque seja revestido por um carácter festivo. O calen-dário competitivo prevê normalmente uma sucessãode torneios que, em função do nível da turma, podenem chegar ao jogo formal. Cada tipo de jogo é con-figurado nos seus elementos tácticos estruturantes erespectivas técnicas de suporte. A formulação desseselementos tácticos e técnicos orientarão os processosde preparação das equipas.

Investigação empírica sobre o modelo de educação desportivaO interesse evidenciado pelos professores na imple-mentação do SE atraiu a atenção dos investigadores,

tendo-se assistido nos últimos vinte anos à publica-ção de mais de sessenta artigos em revistas comrevisão de pares(175). Entre os artigos publicadosapresentam especial destaque os estudos empíricossobre o impacto do modelo de educação desportivanas aprendizagens dos alunos, quer ao nível doconhecimento e desempenho táctico e no domíniodas habilidades técnicas como no que se referenciaàs competências pessoais, afectivas e sociais.A eficácia da aplicação dos programas de educaçãodesportiva tem mostrado resultados consistentes naparticipação entusiástica dos alunos(24, 75). Esta evi-dência é patente, não só, nas convicções dos profes-sores(5, 161) e alunos(11), como pela observação siste-mática dos alunos(23, 74, 75). Grant et al.(57), eHastie(75) advogam que a filiação e a responsabilidadeconferida aos alunos na tomada de decisões é o factorque mais contribui para o incremento do entusiasmodurante a prática desportiva. Carlson e Hastie(24) evi-denciam que uma das maiores singularidades do SE,em relação a outras abordagens, reside no facto dosalunos serem colocados simultaneamente a desempe-nhar tarefas de ensino e de gestão, papéis tipicamen-te desempenhados pelo professor, o que lhes exigeum maior comprometimento com o desenvolvimentodas actividades e com os resultados obtidos. Para oincremento da proficiência dos alunos na realizaçãodestas funções concorre a adopção de sistemas deaccountability que regulem e estabilizem as diferentesfunções a desempenhar pelos alunos(77).A filiação tem mostrado ser um dos aspectos maisatractivos do modelo para os alunos(11).Nomeadamente os alunos menos dotados e as rapa-rigas, habitualmente marginalizados nos programastradicionais, sentem que, com os programas de edu-cação desportiva, trabalham mais e dão um contribu-to importante para a equipa; acreditam que apren-dem mais e referem que se divertem mais(23, 24, 75, 76).Convicção partilhada também pelos professores(1)

fundamentada na assunção de que os alunos menosdotados e as raparigas retiram vantagens significati-vas do SE ao demonstrarem maior gosto pela práticadesportiva e pelo desempenho das tarefas queapoiam a competição. Hastie(74) reporta um impactopositivo dos programas na componente da literaciadesportiva e no desempenho sério de papéis de árbi-tro, anotador e estatístico. Todavia, esta constatação

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não é extensiva às actividades que directamente serelacionam com a actividade motora. Curnow eMacDonald(32), através da análise do comportamentodos alunos durante as aulas mostraram que os rapa-zes dominaram a posse de bola e desempenharam,durante toda a época desportiva, os papéis maisimportantes. A este respeito Hastie(75) faz saber queapesar do SE ter por postulado gerar a inclusão eproporcionar a todos oportunidades iguais de parti-cipação, não controla efectivamente a implementaçãoda equidade “…It may have provided equal opportunitiesfor girls to practice and become skillful but it did not over-tly address equality issues”,pp. 169. Segundo Wallheade O’Sullivan(176) um melhor entendimento desta pro-blemática passa, necessariamente, pela realização deinvestigação longitudinal, que considere a análise demúltiplas aplicações do SE. A reacção positiva dos alunos e professores à extensãodo tempo dedicada a uma mesma modalidade temsido evidenciada em diferentes estudos(4, 24, 57, 74-76).No tocante à competência para jogar grande partedos estudos realizados debruçaram-se sobre as per-cepções dos professores acerca da eficácia do mode-lo(57), bem como nas reflexões dos alunos sobre asexperiências de aprendizagem desenvolvidas nasaulas de Educação Física(78, 131). Em ambos os casosos resultados obtidos suportam a pertinência do SEem proporcionar o desenvolvimento do conhecimen-to do jogo por parte dos alunos, potenciado pela pre-sença da competição ao longo das aulas(5). Estasconstatações foram corroboradas por estudos descri-tivos, com recurso a notas de campo, em diferentesníveis de escolaridade, desde o 5º (131) e 6º ano deescolaridade(78) até ao 9ºano de escolaridade(24). São, no entanto, escassos os estudos experimentaisfocalizados sobre o impacto do SE no incremento doconhecimento e desempenho táctico. Destacam-sedois estudos publicados em revistas com revisão depares. Um estudo conduzido por Ormond e colabora-dores(125) comparou o impacto de um programa deSE e de um programa tradicional no incremento doconhecimento e desempenho táctico dos alunos emBasquetebol. Os autores verificaram maior eficáciado SE sobre o desempenho táctico enquanto que aonível cognitivo, pela aplicação de testes, antes e apóso período instrucional, não houve diferenças entre osdois modelos. O facto de o estudo ter recorrido a

peritos para avaliar o desempenho táctico dos alunose não aplicar instrumentos de avaliação com sistema-tização quantificada dos progressos na aprendizagemcondiciona a consistência dos resultados obtidos.Posteriormente, Hastie(76) monitorizou o desempe-nho táctico individual dos jogadores e das equipasnuma época de SE de 30 sessões dedicadas à modali-dade de ultimate frisbee, pela aplicação de um instru-mento de avaliação do desempenho táctico (TSAP)desenvolvido por Gréhaigne e colaboradores(63). Oautor verificou que os alunos obtiveram progressossignificativos, tanto em acções de recepção da bolacomo de intercepção. O autor considera a extensãoda época desportiva e a manutenção na mesma equi-pa como principais factores do desenvolvimento dacompetência táctica e destaca três características dainstrução observadas no programa que se associam àmelhoria da performance dos alunos: (a) fornecer aoaluno tempo para jogar; (b) ensinar habilidades comtransferibilidade para o jogo; (c) fornecer tempo paradesenvolver jogadores competentes. Este estudo, porsua vez, como argumentam Wallhead e O’Sullivan(175), apresenta a limitação de utilizar um ins-trumento de avaliação que não considera as acçõesde apoio dos atacantes sem bola, que são uma com-ponente táctica fundamental dos jogos de invasão. Aausência de resultados satisfatórios pela aplicação doSE no desenvolvimento das competências tácticasdos alunos pode encontrar explicação no facto domodelo privilegiar as questões do foro social e afecti-vo, em detrimento dos procedimentos didácticos ine-rentes ao processo de ensino-aprendizagem. À semelhança do verificado para a competência tácti-ca também ao nível das habilidades técnicas, a inves-tigação evidencia um claro desencontro entre as per-cepções dos professores e alunos acerca da eficáciado modelo de educação desportiva e o seu realimpacto sobre as aprendizagens. De facto, apesar dosprofessores(5, 57) e alunos advogarem que os alunosprogridem mais ao nível técnico pela aplicação do SErelativamente a outras abordagens, os estudos empí-ricos não validaram esta assunção, principalmentepara os alunos de nível de desempenho inferior epara as raparigas(32). Na mesma linha, num estudode grande extensão realizado por Hastie(76), o autorverificou que os alunos durante 30 aulas de ultimatefreebee não registaram progressos, individualmente,

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no passe e na recepção. Mais recentemente, e depoisde alguma experiência adquirida na aplicação domodelo, os professores tem vindo a evidenciar algu-mas reservas sobre a eficácia do SE ao nível das com-petências motoras. Num estudo desenvolvido porAlexander e Luckman(1), o qual integrou 377 profes-sores australianos, apenas 54% dos professores con-cordaram ou concordaram muito que a competênciamotora é mais incrementada pelo SE do que poroutras abordagens. Como referem os autores: “Itappears at least while teachers are using the sport educationmodel they believe motor skills are less achievable”(p.154).Entre as possíveis explicações para esta fragilidade,Hastie(77) identificou o sistema instrucional do SE,em que um dos alunos desempenha a função de trei-nador e outros, a de jogadores, como um potencialproblema no controlo do conhecimento do conteúdode ensino. De facto, o desempenho da função detreinador por parte dos alunos exige algum domíniodo conteúdo de ensino, porquanto na sua ausência, aprática pode resvalar para experiências ausentes designificado e descaracterizadas em relação aos seuspropósitos. Aliás, como refere Hastie(77), alguns trei-nadores podem ser bons jogadores, o que não signi-fica que sejam capazes de proporcionar experiênciasqualificadas de prática; nem, tampouco, apresenta-rem competências para transmitir feedback apropria-do em relação aos erros de execução. Siedentop(154),já em 1988, na génese da criação do modelo, e cientedesta dificuldade, alertava para a necessidade deserem utilizadas diferentes estratégias de ensino,incluindo o modelo de instrução directa, a aprendi-zagem cooperativa, o ensino de pares e adopção demecanismos de resolução de conflitos, no sentidodos alunos serem preparados para desempenhar fun-ções que dada a sua diversidade e peculiaridade exi-gem uma preparação prévia. Como refere Graça(48),uma impreparação no modelo de educação desporti-va deixará os alunos sem apoio e poderá transformara aula num recreio supervisionado bem organizado,se o professor possuir boas competências de organi-zação e gestão, dado que este modelo assenta numsistema de organização descentralizado e muitocomplexo (gestão dos espaços, dos grupos, das com-petições, dos resultados, dos papeis). Neste sentido,é crucial que a investigação se centre na análise das

tarefas de instrução desenvolvidas pelos alunos nafunção de treinadores durante aplicação do SE, deforma a ser realizado um exame minucioso do con-teúdo a ser ensinado e aprendido. Tal poderá possi-bilitar a indicação de caminhos no desenvolvimentode competências, por parte dos alunos, nas tarefasde ensino enquanto treinadores, sem comprometer aresponsabilização e autonomia atribuída aos alunosna tomada de decisões e desenvolvimento das activi-dades, característica crucial do modelo.

PARA ALÉM DOS MODELOS TGfU E SPORT EDUCATIONSendo esta revisão centrada sobre dois modelos deensino dos jogos, o TGfU e o SE, é natural que osautores ou os contributos que não visem directa-mente estes dois modelos tendam a ficar excluídosda revisão. Porém, dada a influência que algunsautores e estudos exercem na conceptualização einvestigação da problemática do ensino e da aprendi-zagem dos jogos, esquecê-los é de todo injustificado.Inez Rovegno não se identifica formalmente com oTGfU. Porém, a matriz conceptual da concepção deensino que perfilha revê-se perfeitamente no núcleode preocupações fundamentais da TGfU - o jogocomo espaço de problemas, o aluno como construtoractivo da sua aprendizagem, a importância da com-preensão e da tomada de decisão. A sua investiga-ção, a partir de uma perspectiva construtivista daaprendizagem, sobre os problemas de aquisição edesenvolvimentos de conhecimento pedagógico doconteúdo sobre o ensino dos jogos, de corte com asabordagens tradicionais, especialmente, mas nãoexclusivamente, no âmbito da formação de professo-res,(142-147, 150); e a investigação em equipa sobre oensino dos jogos de invasão a alunos do 4º ano deescolaridade, publicada em 2001, num númeromonográfico do Journal of Teaching in PhysicalEducation(123, 124, 151, 152) são assumidas como contri-butos fundamentais, tanto nos aspectos teóricoscomo nos metodológicos, pelos adeptos do TGfU. Metzler(114, 115) e Kirk(90, 92) acreditam que a educa-ção física terá muito a ganhar se os modelos se afir-maram no quotidiano das escolas e do trabalho dosprofessores e dos alunos. Apesar do grau de sofisti-cação a que chegaram estes dois modelos, apesar daqualidade e quantidade de materiais e recursosdidácticos e apesar da base de investigação que vali-

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dam e credibilizam os modelos, muito há ainda parapercorrer para transformar aquele desejo e fundadaexpectativa em realidade. Entretanto, têm vindo a emergir, pelo caminho,novas tendências quer no sentido da diversidade,quer no sentido da confluência e aproximação demodelos. Ainda que contraditórias estas duas ten-dências são não apenas desejáveis como necessáriaspara evitar a cristalização e o formalismo das ideias edas práticas de ensino dos jogos. Um movimento de confluência entre o SE e o TGfUtem vido a esboçar-se em diversos quadrantes e adiversos níveis. Por exemplo, a simpatia de Kirk(91-93)

pela congruência dos dois modelos com uma concep-ção situada da aprendizagem dos jogos, assente navalorização conjunta das dimensões física-perceptiva,social-interactiva e institucional-cultural contribuipara legitimar esta aproximação. Outros autoresargumentaram a favor da conjugação das potenciali-dades dos dois modelos(2, 35, 38, 39).Tem vindo a crescer o número de estudos empíricossobre experiências de conjugação dos modelos TGfU eSE quer entre si, quer com outros modelos e os resul-tados têm permitido extrair algumas conclusões inte-ressantes e levantar novas questões(17, 79, 80). Hastie eCurtner-Smith(80), num estudo aplicado na Austrália,e que envolveu 29 alunos do 6º ano de escolaridade,pretenderam descrever as experiências de ensino e areacção dos alunos a um programa de ensino híbridobaseado no TGFU e no SE, durante um período de 5semanas. Este estudo teve a particularidade de seconstituir uma experiência de ensino leccionada peloinvestigador principal do estudo. Os autores constata-ram que a aplicação combinada dos dois modelos nãofragilizou qualquer das vantagens de cada um deles,embora se verificasse uma maior tendência para oprofessor assumir maior protagonismo na orientaçãodas actividades e consequentemente a sua participa-ção ser mais intensiva. Os autores acautelam a neces-sidade dos professores possuírem um forte domíniodo conhecimento pedagógico do conteúdo na aplica-ção de um programa de ensino híbrido o qual integrea combinação do TGFU e o SE. O modelo de competência nos jogos de invasão(54, 55,

122), ainda que conceptualmente mais próximo doTGfU, procura acolher as ideias do modelo de educa-ção desportiva no que respeita a aspectos de organi-

zação da experiência desportiva dos alunos no quediz respeito aos elementos que favorecem a criaçãode um contexto desportivo autêntico. Ricardo(133, 134)

desenvolveu um estudo experimental de validaçãodeste modelo de ensino, tendo desenvolvido umaépoca desportiva de 25 aulas de 45 minutos dedicadaao ensino basquetebol a alunos do 9º ano de escolari-dade. Os alunos do grupo experimental(39) e do grupode controlo(18) foram pré e pós avaliados nas variáveisconhecimento táctico declarativo (teste escrito) edesempenho em jogo relativo à tomada de decisão, àexecução motora e ao resultado da acção das acçõesofensivas dos alunos. A unidade de ensino de bas-quetebol contribui para a melhoria significativa dogrupo experimental nas variáveis tomada de decisãoem jogo, execução motora e resultado da acção Osalunos de nível de entrada mais baixo demonstraramter aproveitado o período de instrução para melhoraras suas acções ofensivas em dois aspectos críticos dojogo, o passe e os movimentos sem bola.Com a publicação do manual “Play practice: the gamesapproach to teaching and coaching” Launder(96) desen-volve uma alternativa de ensino, também ela centra-da no jogo, na contextualização dos problemas tácti-cos, mas com uma interacção que pretende ser maisimediata e íntima dos aspectos técnicos e tácticos,em observância de uma dinâmica interna de estrutu-ração e sequência marcadas pela ideia de alinhamen-to da prática com o jogo. Considerando outros desenvolvimentos mais distan-tes, mas ainda assim centrados na ideia de jogo, deaprendizagem situada em contextos de práticaautênticos, surge-nos a “Escola da Bola” proposta einvestigada por Roth e colaboradores(95, 110, 141) edivulgada entre nós por Pablo Greco(58-60), privile-giando o desenvolvimento da inteligência e da criati-vidade, das capacidades de pensamento convergentee divergente na tomada de decisão táctica, através deuma abordagem que designam de não específica paradesenvolver as competências básicas nos domíniostácticos, coordenativos e técnicos.Uma outra perspectiva (ou grelha de leitura?) preten-de constituir uma pedagogia não linear(28, 36) a partirda perspectiva ecológica da aprendizagem motora, queconsidera a interacção de constrangimentos organis-mo-tarefa-envolvimento. Uma manipulação judiciosados constrangimentos e uma identificação dos princi-

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pais constrangimentos individuais permitirá envolveros alunos num processo de exploração e auto-desco-berta de soluções para os movimentos.

CONCLUSÃOOs modelos de ensino dos jogos para a compreensão(TGfU) e de educação desportiva (SE) têm evidentespontos de contacto, alguns aspectos que se podemcomplementar e outros que são mais ou menosmanifestamente divergentes. Os modelos coincidemna crítica ao currículo de múltiplas actividades, peloseu carácter descontextualizado e inconsequente,sendo que ambos favorecem os jogos reduzidos e acontextualização das situações de jogo(80). Apesar doSE possuir pontos de convergência com o TGfUdemarcam-se em duas vertentes: enquanto que o SEé sobretudo um modelo de ensino que visa a valori-zação da dimensão humana e cultural doDesporto(158), o TGFU realça as competências dospraticantes para o domínio do jogo(80). Ambos dãoimportância à componente táctica do jogo, embora oTGfU pareça envolver uma componente cognitivamais acentuada por parte do aluno. Particularmente,O TGFU é mais elaborado nos critérios que presi-dem à determinação das formas modificadas de jogoe da respectiva evolução. Por sua vez, o modelo deeducação desportiva visa uma socialização desportivamais completa, abrangendo papéis diversificados eum leque de responsabilidades mais vasto a assumirpelos alunos. Ambos os modelos dependem criticamente do conhe-cimento pedagógico do conteúdo que o professor pos-sui a respeito dos jogos. Uma impreparação no TGFUtransformará as aulas num formalismo de questõesabstractas ou irrelevantes para os reais problemas tác-ticos, nada contribuindo para os ajudar a ler o jogo deuma forma tacticamente mais inteligente. Um e outro modelo são alternativas comprovada-mente válidas às abordagens tradicionais ao ensinodos jogos desportivos, mas não esgotam, nem tãopouco pretendem monopolizar as alternativas válidasou auspiciosas para o ensino dos jogos. Têm-se aber-to possibilidades de cooperação criativa e mutua-mente enriquecedora entre modelos, têm-se ensaia-do desenvolvimentos diferenciados dos modelos pararesponder a contextos culturais, sociais e institucio-nais distintos bem como a agendas com problemas epropósitos diferenciados.

A investigação empírica relacionada com ambos osmodelos tem vindo a crescer e a diversificar-se tantono que diz respeito ao ângulo ou ângulos de aborda-gem (ensino, aprendizagem, currículo), aos sujeitose tópicos destacados (ex. o aluno: concepções pes-soais, conhecimento declarativo ou processual,tomada de decisão, execução motora, motivação,afectividade; o professor ou candidato a professor:concepções e percursos pessoais e disposições para aaprendizagem e a mudança, conhecimento pedagógi-co do conteúdo); às perspectivas teóricas (ex. teoriasdo processamento da informação, construtivistas, dacognição situada, dos sistemas dinâmicos e dosconstrangimentos) e metodológicas (ex. abordagensqualitativas e quantitativas, estudos de casos, estu-dos experimentais).Este crescimento exige também maior sofisticação.Metzler(115) adverte-nos para que os desenhos e fer-ramentas de investigação sejam congruentes com onível de complexidade implicado no estudo dosmodelos, pelo que as ferramentas e desenhos deinvestigação utilizados para o estudo de métodos,estilos e estratégias de ensino não cumprem osrequisitos para estudar uma realidade de complexi-dade superior. Para o autor, não faz mais sentidocomparar modelos que à partida se distinguem pelotipo de resultados de aprendizagem que perseguem,de processos que promovem e de domínios queenfatizam. Será bem mais produtivo estudar a aplica-bilidade do modelo e as necessidades de afinamentodo modelo em função dos professores, do seu conhe-cimento e da sua experiência, em função dos alunos,das suas características, em função da matéria e dosmateriais de ensino e aprendizagem, do modo comoo conteúdo, as actividades e tarefas podem ser estru-turados. Há que ter em conta e estudar em simultâ-neo as interacções entre a arquitectura do modelo, oconteúdo, o contexto e os resultados.

CORRESPONDÊNCIAAmândio GraçaGabinete de Pedagogia do DesportoFaculdade de Desporto, Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200-450 Porto, PortugalE-mail: [email protected]

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Tipos de publicação

Investigação originalA RPCD publica artigos origi-nais relativos a todas as áreasdas ciências do desporto.

Revisões da investigaçãoA RPCD publica artigos desíntese da literaturaque contribuam para a gene-ralização do conhecimentoem ciências do desporto.Artigos de meta-análise erevisões críticas de literaturasão dois possíveismodelos de publicação.Porém, este tipo de publica-ção só estará aberto aespecialistas convidados pelaRPCD.

ComentáriosComentários sobre artigosoriginais e sobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como são fran-camente encorajados pelocorpo editorial.

Estudos de casoA RPCD publica estudos decaso que sejam consideradosrelevantes para as ciências dodesporto. O controlo rigorosoda metodologia é aqui umparâmetro determinante.

EnsaiosA RPCD convidará especia-listas a escreverem ensaios,ou seja, reflexões profundassobre determinados temas,sínteses de múltiplas abor-dagens próprias, onde àargumentação científica, filo-sófica ou de outra naturezase adiciona uma forte com-ponente literária.

Revisões de publicaçõesA RPCD tem uma secçãoonde são apresentadas revi-sões de obras ou artigospublicados e que sejam con-siderados relevantes para asciências do desporto.

Regras gerais de publicação

Os artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ou experi-mentais, na área das ciênciasdo desporto. A parte subs-tancial do artigo não deveráter sido publicada em maisnenhum local. Se parte doartigo foi já apresentadapublicamente deverá serfeita referência a esse factona secção deAgradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados pelos edito-res-chefe e terão como crité-rios iniciais de aceitação:normas de publicação, rela-ção do tópico tratado com as ciências do desporto emérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, se for considerado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. A acei-tação de um e a rejeição deoutro obrigará a uma 3ª consulta.

Preparação dos manuscritos

Aspectos geraisCada artigo deverá seracompanhado por umacarta de rosto que deveráconter:

– Título do artigo e nomesdos autores;

– Declaração de que o artigonunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverão

ser escritos em papel A4com 3 cm de margem, letra12 e com duplo espaço enão exceder 20 páginas;

– As páginas deverão sernumeradas sequencialmen-te, sendo a página de títuloa nº1;

Dimensões e estilo– Os artigos deverão ser o

mais sucintos possível; Aespeculação deverá ser ape-nas utilizada quando osdados o permitem e a lite-ratura não confirma;

– Os artigos serão rejeitadosquando escritos em portu-guês ou inglês de fracaqualidade linguística;

– As abreviaturas deverãoser as referidas internacio-nalmente;

Página de títuloA página de título deveráconter a seguinte informação:

– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);

– Título conciso mas sufi-cientemente informativo;

– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir graus acadé-micos)

– “Running head” concisanão excedendo os 45 carac-teres;

– Nome e local da institui-ção onde o trabalho foirealizado;

– Nome e morada do autorpara onde toda a corres-pondência deverá serenviada, incluindo endere-ço de e-mail;

Página de resumo– Resumo deverá ser infor-

mativo e não deverá refe-rir-se ao texto do artigo;

– Se o artigo for em portu-guês o resumo deverá serfeito em português e eminglês;

– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;

Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;

– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;

– O resumo não deverá exce-der as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientemente

compreensível, explicitan-do claramente o objectivodo trabalho e relevando aimportância do estudo faceao estado actual do conhe-cimento;

– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá ser

incluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;

– Os métodos deverão serajustados ao objectivo doestudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau defidelidade;

– Quando utilizados huma-nos deverá ser indicadoque os procedimentos uti-lizados respeitam as nor-mas internacionais deexperimentação comhumanos (Declaração de Helsínquia de 1975);

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

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– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a uma comis-são de ética;

– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípios acti-vos, dosagem e dosagem;

– A confidencialidade dossujeitos deverá ser estrita-mente mantida;

– Os métodos estatísticosutilizados deverão ser cui-dadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão ape-

nas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;

– Os resultados só deverãoaparecer uma vez no texto: ou em quadro ou em figura;

– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;

– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;

– Unidades, quantidades efórmulas deverão ser utili-zados pelo SistemaInternacional (SI units).

– Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os aspec-

tos mais importantes doestudo deverão ser relevadosde forma clara e concisa;

– Não deverão ser repetidosos resultados já apresen-tados;

– A relevância dos dadosdeverá ser referida e a com-paração com outros estudosdeverá ser estimulada;

– As especulações nãosuportadas pelos métodos

estatísticos não deverão serevitadas;

– Sempre que possível, deve-rão ser incluídas recomen-dações;

– A discussão deverá sercompletada com um pará-grafo final onde são realça-das as principais conclu-sões do estudo;

Agradecimentos– Se o artigo tiver sido par-

cialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;

– Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão ser

citadas no texto por núme-ro e compiladas alfabetica-mente e ordenadas nume-ricamente;

– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normas interna-cionais (ex: IndexMedicus);

– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)

– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendo assina-lados como “dados nãopublicados”;

– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-revie-wed” será uma condição denão aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. Int JSports Med 18: 113-117

LIVRO COMPLETO

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London: AcademicPress Inc. Ltd.

CAPÍTULO DE UM LIVRO

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURAS

Figuras e ilustrações deve-rão ser utilizadas quandoauxiliam na melhor com-preensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;As figuras deverão serimpressas em folhas sepa-radas daquelas contendo ocorpo de texto do manus-crito. No ficheiro informá-tico em processador detexto, as figuras deverãotambém ser colocadasseparadas do corpo detexto nas páginas finais domanuscrito e apenas umaúnica figura por página;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão ser evi-tadas;

QUADROS

Os quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com as mes-mas regras das referidas

para as legendas e figuras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar as abreviatu-ras utilizadas no quadro.

Formas de submissão

A submissão de artigos paraa RPCD poderá ser efectuadapor via postal, através doenvio de 1 exemplar domanuscrito em versãoimpressa em papel, acompa-nhada de versão gravada emsuporte informático (CD-ROM ou DVD) contendo oartigo em processador detexto Microsoft Word(*.doc).Os artigos poderão igual-mente ser submetidos via e-mail, anexando o ficheirocontendo o manuscrito emprocessador de textoMicrosoft Word (*.doc) e adeclaração de que o artigonunca foi previamente publicado.

Endereços para envio de artigos

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugalE-mail: [email protected]

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Working materials (manuscripts)

Original investigationThe PJSS publishes originalpapers related to all areas ofSport Sciences.

Reviews of the literature (state of the art papers)State of the art papers or critical literature reviews arepublished if, and only if,they contribute to the gener-alization of knowledge.Meta-analytic papers or gen-eral reviews are possiblemodes from contributingauthors. This type of publi-cation is open only to invit-ed authors.

CommentariesCommentaries about pub-lished papers or literaturereviews are highly recom-mended by the editorialboard and accepted.

Case studiesHighly relevant case studiesare favoured by the editorialboard if they contribute tospecific knowledge withinthe framework of SportSciences research. Themeticulous control ofresearch methodology is afundamental issue in termsof paper acceptance.

EssaysThe PJSS shall invite highlyregarded specialists to writeessays or careful and deepthinking about severalthemes of the sport sciencesmainly related to philosophyand/or strong argumentationin sociology or psychology.

Book reviewsThe PJSS has a section forbook reviews.

General publication rules

All papers submitted to thePJSS are obliged to haveoriginal data, theoretical orexperimental, within therealm of Sport Sciences. It ismandatory that the submit-ted paper has not yet beenpublished elsewhere. If aminor part of the paper waspreviously published, it hasto be stated explicitly in theacknowledgments section.All papers are first evaluatedby the editor in chief, andshall have as initial criteriafor acceptance the following:fulfilment of all norms, clearrelationship to SportSciences, and scientificmerit. After this first screen-ing, and if the paper is firstlyaccepted, two independentreferees shall evaluate itscontent in a “double blind”fashion. A third referee shallbe considered if the previoustwo are not in agreementabout the quality of thepaper.After the referees receive themanuscripts, it is hoped thattheir reviews are posted tothe editor in chief in nolonger than a month.

Manuscript preparation

General aspectsThe first page of the manu-script has to contain:

– Title and author(s)name(s)

– Declaration that the paperhas never been published

Format– All manuscripts are to be

typed in A4 paper, withmargins of 3 cm, usingTimes New Roman stylesize 12 with double space,and having no more than20 pages in length.

– Pages are to be numberedsequentially, with the titlepage as nr.1.

Size and style– Papers are to be written in

a very precise and clearlanguage. No place is allowed for speculationwithout the boundaries ofavailable data.

– If manuscripts are highlyconfused and written in avery poor Portuguese orEnglish they are immedi-ately rejected by the editorin chief.

– All abbreviations are to beused according to interna-tional rules of the specificfield.

Title page– Title page has to contain

the following information:– Specification of type of

manuscript (but see work-ing materials-manu-scripts).

– Brief and highly informa-tive title.

– Author(s) name(s) withfirst and middle names (donot write academicdegrees)

– Running head with nomore than 45 letters.

– Name and place of the aca-demic institutions.

– Name, address, fax num-ber and email of the per-son to whom the proof isto be sent.

Abstract page– The abstract has to be very

precise and contain nomore than 200 words,including objectives,design, main results andconclusions. It has to beintelligible without refer-ence to the rest of thepaper.

– Portuguese and Englishabstracts are mandatory.

– Include 3 to 6 key words.– Do not use abbreviations.

Introduction– Has to be highly compre-

hensible, stating clearly thepurpose(s) of the manu-script, and presenting theimportance of the work.

– Literature review includedis not expected to beexhaustive.

Material and methods– Include all necessary infor-

mation for the replicationof the work without anyfurther information fromauthors.

– All applied methods areexpected to be reliable andhighly adjusted to theproblem.

– If humans are to be usedas sampling units in exper-imental or non-experimen-tal research it is expectedthat all procedures followHelsinki Declaration ofHuman Rights related toresearch.

– When using animals allethical principals related toanimal experimentation areto be respected, and whenpossible submitted to anethical committee.

– All drugs and chemicalsused are to be designatedby their general names,

Portuguese Journal of Sport Sciences

PUBLICATION NORMS

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active principles anddosage.

– Confidentiality of subjectsis to be maintained.

– All statistical methodsused are to be preciselyand carefully stated.

Results– Do provide only relevant

results that are useful fordiscussion.

– Results appear only oncein Tables or Figures.

– Do not duplicate informa-tion, and present only themost relevant results.

– Importance of main resultsis to be explicitly stated.

– Units, quantities and for-mulas are to be expressedaccording to theInternational System (SIunits).

– Use only metric units.

Discussion– New information coming

from data analysis shouldbe presented clearly.

– Do no repeat results.– Data relevancy should be

compared to existing infor-mation from previousresearch.

– Do not speculate, other-wise carefully supported,in a way, by insights fromyour data analysis.

– Final discussion should besummarized in its majorpoints.

Acknowledgements– If the paper has been part-

ly presented elsewhere, doprovide such information.

– Any financial supportshould be mentioned.

References– Cited references are to be

numbered in the text, andalphabetically listed.

– Journals’ names are to becited according to general

abbreviations (ex: IndexMedicus).

– Please write the names ofall authors (do not use etal.).

– Only published or “inpress” papers should becited. Very rarely areaccepted “non publisheddata”.

– If non-reviewed papers arecited may cause the rejec-tion of the paper.

ExamplesPEER-REVIEW PAPER

1 Pincivero DM, LephartSM, Kurunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. In JSports Med 18:113-117

COMPLETE BOOK

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London:AcademicPress Inc. Ltd.

BOOK CHAPTER

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURES

Figures and illustrationsshould be used only for abetter understanding of themain text.Use sequence arabic num-bers for all Figures.Each Figure is to be pre-sented in a separated sheetwith a short and precisetitle.In the back of each Figuredo provide informationregarding the author andtitle of the paper. Use apencil to write this infor-mation.

All Figures and illustra-tions should have excellentgraphic quality I black andwhite.Avoid photos from equip-ments and human subjects.

TABLES

Tables should be utilizedto present relevant numeri-cal data information.Each table should have avery precise and short title.Tables should be presentedwithin the same rules asLegends and Figures.Tables’ footnotes should beused only to describeabbreviations used.

Manuscript submission

The manuscript submissioncould be made by post send-ing one hard copy of thearticle together with an elec-tronic version [MicrosoftWord (*.doc)] on CD-ROMor DVD.Manuscripts could also besubmitted by e-mail attach-ing an electronic file version[Microsoft Word (*.doc)]together with the declarationthat the paper has neverbeen previously published.

Address for manuscript submission

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Desporto da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugalE-mail: [email protected]

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