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revista portuguesa de ciências do desporto Volume 2 · Nº 4 Janeiro·Junho 2002

revista portuguesa de ciências do desporto Volume 2 · Nº 4

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revista portuguesa deciências do desporto Volume 2 · Nº 4

Janeiro·Junho 2002

revista portuguesa de ciências do desportoVol. 2, N

º 4Janeiro

·Junho 2002

Publicação semestralVol. 2, Nº 4, Janeiro ·Junho 2002ISSN 1645–0523, Dep. Legal 161033/01

A RPCD é subsidiada pelo

INVESTIGAÇÃO

Inteligência e conhecimento específico em jovensfutebolistas de diferentes níveis competitivosJ.C. Costa, J. Garganta, A. Fonseca, M. BotelhoUse of the polar coordinates technique to study interactionsamong professional soccer playersCarlos Lago Peñas, M. Teresa Anguera ArgilagaA importância do estudo do tracking (estabilidade e previsão)em delineamentos longitudinais: um estudo aplicado àepidemiologia da actividade física e à performance desportivo-

-motoraJosé A. R. Maia, Vítor P. Lopes, Rui G. da Silva,André SeabraRazões para a prática de ginásticas de academiacomo actividade de lazerAna L. PereiraO exercício físico e o desenvolvimento da criança naliteratura médica e pedagógica de SetecentosJ. V. Ferreira, A. G. FerreiraA inserção da alta competição nos programas dos governosconstitucionais em Portugal e o seu enquadramentonormativoMaria José Carvalho

REVISÃO

O desafio da altitude. Uma perspectiva fisiológicaJ. Magalhães, J. Duarte, A. Ascensão,J. Oliveira, J. SoaresStudies in Somatic Growth, Biological Maturation, PhysicalFitness and Activity in Portuguese Speaking Countries:an OverviewDL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre,AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

ENSAIO

Training: a special form of teachingEckhard MeinbergOntem, hoje, amanhã: A unidade criadora do temponos ofícios da profissãoManuel Ferreira Patrício

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Revista Portuguesa de Ciências do DesportoPublicação semestral da Faculdade de Ciências doDesporto e de Educação Física da Universidade do PortoVol. 2, Nº 4, Janeiro·Junho 2002, ISSN 1645-0523. Dep. Legal 161033/01

DirectorJorge O. Bento [[email protected]]

EditorAntónio T. Marques [[email protected]]

Corpo editorialAmândio Graça [[email protected]]

Ana Maria Duarte [[email protected]]

Eunice Lebre [[email protected]]

João Paulo Vilas-Boas [[email protected]]

Jorge Mota [[email protected]]

José Alberto Duarte [[email protected]]

José Alberto Moura e Castro [[email protected]]

José Maia [[email protected]]

José Pedro Sarmento [[email protected]]

Júlio Garganta [[email protected]]

Ovídio Costa [[email protected]]

Rui Garcia [[email protected]]

Design gráfico e paginaçãoArmando Vilas Boas [www.avbdesign.com]

CapaImagem de Armando Vilas Boas [[email protected]] eTeresa Oliveira Lacerda [[email protected]], integrante do projecto«Formas do Desporto» [www.fcdef.up.pt/Galeria/FormasDoDesporto].Modelo: Daniela Silva.Impressão e acabamentoMultitema [www.multitema.pt]

Assinatura AnualPortugal e Europa: 18,00€ , Brasil e PALOP: 25,00€ (USD 28),outros países: 28,00 € (USD 30)Preço deste númeroPortugal e Europa: 10,00€ , Brasil e PALOP: 14,00€ (USD 15),outros países: 15,00 € (USD 17)Tiragem500 exemplaresCopyrightA reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitidacom autorização escrita do Director.

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação Físicada Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 91 · 4200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700Fax: +351–[email protected]

ConsultoresAdroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul)Alberto Amadio (Universidade São Paulo)Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro)Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas)Anthony Sargeant (Universidade Manchester)Antônio Carlos Guimarães (Universidade Fed. Rio Grande Sul)António da Paula Brito (Universidade Técnica Lisboa)António Prista (Universidade Pedagógica Moçambique)Apolônio do Carmo (Universidade Federal Uberlândia)Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia)Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa)Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro)Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia)Eduardo Archetti (Universidade de Oslo)Eduardo Kokubun (Universidade Estadual Paulista, Rio Claro)Francisco Camiña Fernandez (INEF Galiza)Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa)Francisco Martins Silva (Universidade Federal Paraíba)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina)Glória Balagué (Universidade Chicago)Go Tani (Universidade São Paulo)Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa)Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia)Helena Santa Clara (Universidade Técnica Lisboa)Hermínio Barreto (Universidade Técnica Lisboa)Hugo Lovisolo (Universidade Gama Filho)Ian Franks (Universidade de British Columbia)Jan Cabri (Universidade Técnica de Lisboa)Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon)Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa)José Borges Gouveia (Universidade de Aveiro)José Gomes Pereira (Universidade Técnica Lisboa)José Manuel Constantino (Universidade Lusófona)Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina)Jürgen Weineck (Universidade Erlangen)Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho)Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa)Manoel Costa (Universidade de Pernambuco)Manuel Patrício (Universidade de Évora)Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina)Margarida Matos (Universidade Técnica Lisboa)Maria José Mosquera González (INEF Galiza)Michael Sagiv (Instituto Wingate, Israel)Paulo Machado (Universidade Minho)Pilar Sánchez (Universidade Múrcia)Robert Brustad (Universidade Northern Colorado)Robert Malina (Universidade Estado Michigan)Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa)Valdir Barbanti (Universidade São Paulo)Víctor Matsudo (UNIFEC)Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa)Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança)Wojtek Chodzko-Zajko (Universidade Illinois Urbana-Champaign)

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Revista Portuguesa deCiências do Desporto

Vol. 2, Nº 4, Janeiro·Junho 2002ISSN 1645-0523Dep. Legal 161033/01

MINISTÉRIO DA JUVENTUDE E DO DESPORTO

CENTRO DE ESTUDOS E FORMAÇÃO DESPORTIVA

A RPCD é subsidiada pelo

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃOInteligência e conhecimento específico em jovens futebo-listas de diferentes níveis competitivosJ.C. Costa, J. Garganta, A. Fonseca, M. BotelhoUse of the polar coordinates technique to study interac-tions among professional soccer playersCarlos Lago Peñas, M. Teresa Anguera ArgilagaA importância do estudo do tracking (estabilidade e previ-são) em delineamentos longitudinais: um estudo aplicadoà epidemiologia da actividade física e à performance des-portivo-motoraJosé A. R. Maia, Vítor P. Lopes, Rui G. da Silva,André Seabra Razões para a prática de ginásticas de academia comoactividade de lazerAna L. PereiraO exercício físico e o desenvolvimento da criança na lite-ratura médica e pedagógica de Setecentos J. V. Ferreira, A. G. Ferreira A inserção da alta competição nos programas dos gover-nos constitucionais em Portugal e o seu enquadramentonormativoMaria José Carvalho

ARTIGOS DE REVISÃOO desafio da altitude. Uma perspectiva fisiológicaJ. Magalhães, J. Duarte, A. Ascensão, J. Oliveira,J. SoaresStudies in Somatic Growth, Biological Maturation,Physical Fitness and Activity in Portuguese SpeakingCountries: an OverviewDL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JALefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

ENSAIOTraining: a special form of teachingEckhard MeinbergOntem, hoje, amanhã: A unidade criadora do tempo nosofícios da profissãoManuel Ferreira Patrício

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Nota editorialEm nome do desporto

Jorge Bento

1. Há, no dizer do escritor uruguaio EduardoGaleano, uma tradição universal de divórcio da cabe-ça com o resto do corpo, desprezando aquilo quenão serve para pensar. É ela que afecta a relação demuitos intelectuais de direita e de esquerda com odesporto e nomeadamente com o futebol. Os dedireita dizem que o futebol é a prova de que o povopensa com os pés. Os de esquerda atribuem ao fute-bol a culpa de que o povo não pense. Muitos dessesintelectuais afirmam amar a humanidade, mas des-prezam as gentes, sobretudo as mais simples.Acercam-se com interesse de temas populares, mastêm alergia no tocante ao futebol por ser uma activi-dade cada vez com mais espectadores e com menosprotagonistas. Claro que isto é verdade, mas omesmo se passa no cinema, no teatro, na dança enoutras formas de cultura e arte, sem que suscitemidêntica reacção.Não, não me revejo neles. Sinto-me muito bem noconvívio com o desporto e com os seus actores.Tenho apreço por eles e considero relevante o seupapel. Tomo o desporto como uma oportunidadepara o encontro simples com a nossa própria huma-nidade. Como um local onde o homem cultiva asforças impulsivas e irracionais da sua natureza e semove por emoções, paixões e ideais. Onde o Id, istoé, o reservatório de pulsões simples e primitivas etudo quanto de infantil, bestial, alógico e sensualpasta no inconsciente, sai da clandestinidade e pene-tra no consciente para celebrar a paz até que surja apróxima guerra com o Ego. Onde podemos alcançar aserenidade e fazer as pazes entre tudo o que estádentro de nós. Sim, o desporto serve para cuidar docorpo e para limpar e aquietar a alma.

Mais, não tenho qualquer rebuço em afirmar quepertenço ao número dos que rejubilam com as vitó-rias e sofrem com as derrotas desportivas. Queaplaudo e valoro os feitos dos atletas, porquantojogam, correm e transpiram não apenas por eles,mas sobretudo para darem expressão viva aos nossossonhos, desejos, aspirações, ilusões e desenganos. Ésobretudo pelos outros que eles lutam, sofrem,ganham e perdem. E por isso são credores do nossorespeito, estima e afecto. No meu entender e sentir, uma partida de futebol,por exemplo, é pretexto para as mais diversas finali-dades e instrumentalizações. Dela irradiam externa-lidades inimagináveis por mentes tacanhas, havendonela, pelo menos, dois jogos simultâneos: o dos atle-tas e o dos adeptos. Dito de outro modo, o desempe-nho dos atletas é ocasião para os adeptos jogarem aoutras coisas; um segundo jogo, bem mais sério ecomplexo, sobrepõe-se ao primeiro, legitimando-o eoutorgando-lhe importância.

2. Vejo o desporto como um lugar pedagógico porexcelência. Uma fonte inesgotável de humildade e demoralização do nosso percurso e passagem. É umaoportunidade de nos desocultarmos, de retirarmosos véus que nos encobrem e afastam, para nosconhecermos e revelarmos uns aos outros em toda aautenticidade. E assim celebrarmos uma verdadeiraliturgia do relacionamento. Certamente que ele torna evidentes as nossas fra-quezas, insuficiências e contradições. Mas, por issomesmo, funda e reforça também a convicção de queo caminho mais longo é o homem como pessoamoral. É para ele que vale verdadeiramente a pena

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trabalhar, recusando, porém, modelos idealistas enoções apriorísticas da perfeição humana que muitopouco ou nada têm a ver com a natureza do homem.O desporto faz parte da luta contra a ideologia daimpotência que nos sussurra que na vida não hánada para fazer, que não podemos fazer nada pornós, que não somos sujeitos principais da nossaconstrução, que nos devemos omitir e entregar nosbraços de um destino de derrotados e vencidos daexistência. Lembra-nos o mandamento de persistir-mos na humanização da terra, de maneira modesta erealista. Sem metas e ilusões desmedidas, mas esgo-tando o campo do possível por entre os apertos queamarram a condição humana à natureza do homem. Portanto rio-me quando leio e ouço comentários,rotulando de alienação esta identificação. Rio-meporque não vale a pena zangarmo-nos com a nossaprópria natureza e impotência e porque a tão deseja-da condição humana não se alcança com palavras.Rio-me ainda da ignorância atrevida de gente cheiade prosápia, a revelar quão pouco sabe da vida e doshomens. E a provar que a sua intelectualidade nãovai além do formalismo inócuo, balofo, inútil e gon-górico. E que se desobriga de qualquer compromissode acção através da proclamação de ideias inflamadasdo ardor da salvação.

3. Destes posicionamentos pode inferir-se que mehabita uma convicção, que por certo é partilhada pormuitas pessoas: O desporto é a nossa paixão.Reparem que não digo a nossa maior, mas tãosomente a nossa paixão. É que não sei se aindahaverá outras. E se as há encontram-se em francodeclínio. Porém passemos adiante.Esta paixão implica uma função específica para osdiversos agentes do desporto. Os políticos é misterque desenhem o quadro de interesses nacionais esociais que o desporto deve cumprir e que para tantodefinam a hierarquia de prioridades e disponibilizemos respectivos meios. Os dirigentes, técnicos e atle-tas obrigam-se à função de o configurar e realizarcom o mais alto grau de excelência possível. E sobreos académicos impende a tarefa de o pensar e teori-zar, de balizar os caminhos que ele deve seguir emordem à melhor concretização do ideário que o ins-pira e das finalidades que o determinam. Como umprojecto axiológico e um edifício de princípios.

Percebe-se bem que, sendo a paixão comum, as dife-rentes funções dialogam entre si e complementam-seumas às outras. Logo o desporto que entra em cenaé sempre a expressão do compromisso entre o ima-ginável e desejável, por um lado, e o possível e con-cretizável, por outro.

4. Esta revista e a escola que a edita assumem ine-quivocamente o desporto como seu objecto.Vinculam-se portanto à obrigação de procurar esta-belecer conhecimentos, padrões e critérios susceptí-veis de ajudar a uma configuração do desporto quepode e deve ser sempre melhor. E à mesma luz envi-dam esforços no sentido de agregar e multiplicar asforças capazes de projectar o espaço lusófono nacomunidade internacional de construção da Ciênciado Desporto.É nesta conformidade que a Escola Superior deEducação Física da Universidade Federal do RioGrande do Sul, a Escola de Educação Física eEsporte da Universidade de São Paulo e a Faculdadede Ciências do Desporto e de Educação Física daUniversidade do Porto estão a ultimar um projectosaudado pelas autoridades académicas, qual seja o deum curso de doutoramento inter-institucional, visan-do a formação avançada de jovens doutores na vastapanóplia de relações entre o desporto e a saúde.Trata-se de um projecto inovador à escala internacio-nal, no domínio da Ciência do Desporto, inspiradona preocupação de formar especialistas com umavisão muito alargada e com competência em tecnolo-gias de ponta. Espera-se que os quadros formadosneste programa estejam à altura de traçar para anossa área e para as suas instituições os caminhoslargos do futuro. Livres da estreiteza e superficialida-de de vistas e abordagens herdadas do passado e queainda penalizam o presente.

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ARTIGOS DEINVESTIGAÇÃO

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Inteligência e conhecimento específico em jovens futebolistasde diferentes níveis competitivos

J.C. CostaJ. GargantaA. FonsecaM. Botelho

RESUMOA presente investigação visa avaliar e comparar a inteligênciageral e o conhecimento específico do jogo em jovens pratican-tes de Futebol segundo o nível competitivo.Para tal, foram utilizados o teste de atenção de Toulouse-Piéron,o teste das figuras idênticas de Thurstone e as matrizes progres-sivas de Raven, para avaliar os processos cognitivos gerais dosjovens futebolistas, bem como o protocolo de avaliação doconhecimento específico do jogo construído por Mangas (1999)e aperfeiçoado por Correia (2000). Estes instrumentos foramaplicados a uma amostra de 44 praticantes federados de Futebolde diferentes níveis competitivos, com uma média de idades de16.00±0.53 para o grupo de nível competitivo superior e de16.13±0.63 para o grupo de nível competitivo inferior. Os resultados mostraram uma tendência de maior conhecimen-to específico da modalidade em situações ofensivas para ogrupo de futebolistas federados de nível competitivo superior,em relação aos de nível competitivo inferior, apesar das diferen-ças encontradas não se terem revelado estatisticamente signifi-cativas. Inversamente ao sucedido para o conhecimento especí-fico do jogo, no que respeita à inteligência geral, os jogadorescom nível competitivo inferior apresentaram valores superiorese estatisticamente significativos quando comparados com os dogrupo de nível competitivo superior.

Palavras-chave: Futebol; Táctica; Inteligência; Conhecimentoespecífico do jogo.

ABSTRACTIntelligence and game understanding in young soccer playersat different competitive levels

In this research, it is intended to evaluate and to compare the generalintelligence and the specific knowledge of the game in young Soccerpractitioners according to the competition level.The Toulouse-Piéron attention test, the Thurstone identical figures testand the Raven Progressive Matrixes (to evaluate the general cognitiveprocesses of the young Soccer players) were used to evaluate the generalcognitive processes of the young soccer players. To evaluate the game’sspecific knowledge a protocol built by Mangas (1999) and improved byCorreia (2000) was used. These instruments were applied to a sampleof 44 Soccer federate practitioners of different competition levels, withan age average of 16.00±0.53 for the higher competition level groupand 16.13±0.63 for the lower competition level group.The group of federate Soccer players of high competition level showed agreater specific knowledge of the game in offensive situations thanthose of lower competition level, in spite of the differences foundhaven’t revealed themselves as statistically significant. Inversely towhat occurred with the specific knowledge of the game, with the gener-al intelligence the players with a lower competition level showed statis-tically higher results when compared to those of the higher competitionlevel group.

Keywords: Soccer; Tactics; Intelligence; Game Understanding.

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do PortoPortugal

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1. INTRODUÇÃO Apesar da manifesta dificuldade em definir com pre-cisão as variáveis mais importantes a estudar paraconhecer as razões conducentes ao sucesso (11, 60),a investigação em ciências do desporto tem apontadoo desenvolvimento das habilidades perceptivas ecognitivas como um dos fundamentos e requisitosessenciais para a excelência da performance desporti-va (53, 44, 102, 73, 89, 78, 95, 115).No sentido de apurar como se formam os expertosno desporto, tem aumentado o número de estudosonde são analisadas as suas qualidades perceptivas eas componentes estratégicas, quer por indagaçãoretrospectiva, quer por testes de conhecimentodeclarativo e processual, reconhecimento de padrõesde jogo, protocolos verbais para análise das estraté-gias de tomada de decisão, análise dos comporta-mentos visuais dos desportistas expertos e nãoexpertos (114).Perante a, aparente, necessidade dum conhecimentosustentado e da existência de processos de recolha eutilização deste conhecimento, importa saber quetipo de relações existem, de facto, entre o conheci-mento e o processamento geral. Mais concretamen-te, será que os jogadores que possuem maior inteli-gência geral evidenciarão um maior nível de conheci-mento específico da sua modalidade? E relativamen-te à performance desportiva, poderá um melhorconhecimento do jogo contribuir, de alguma forma,para um nível de rendimento superior?

2. OBJECTIVO DO ESTUDOCom o presente estudo pretendemos analisar e com-parar a forma como a inteligência geral (IG) dosjogadores de Futebol e o seu conhecimento especifi-co do jogo (CE) se relacionam e se complementam,considerando diferentes níveis competitivos.

3. REVISÃO DA LITERATURA3.1. Natureza contextual do jogo de FutebolOs Jogos Desportivos Colectivos (JDC) caracterizam--se pela aciclicidade técnica, solicitações morfológi-co-funcionais diversas e intensa actividade psíquica,num contexto permanentemente variável, de coope-ração-oposição (94, 49, 40, 45, 69, 83), com umaimportância capital dos aspectos estratégico-tácticos

(37), onde a tomada de decisão precede a execução(18, 50). Os inúmeros problemas surgidos no jogo obrigam ojogador a decidir e seleccionar qual a solução maisconsentânea com a situação, obedecendo aos princí-pios gerais do jogo através do conhecimento quepossui do jogo. Os jogadores têm que saber o quefazer, para depois seleccionar como o fazer, utilizan-do a acção motora mais adequada ao problema (6,40). Assim, sem conhecer a essência do jogo e dosseus princípios tácticos, não se pode aproveitar naplenitude os recursos técnicos (75)). O Futebol é considerado o JDC mais imprevisível e alea-tório (29), características que resultam do envolvimentoaberto (51), do elevado número de jogadores e dadimensão do espaço de jogo, bem como da duração dotempo de jogo. Neste sentido o jogo de Futebol reclamados praticantes uma elevada capacidade perceptiva (40)e maiores exigências relativamente à componente visualque os restantes JDC (21).Ao jogador é exigido que decida e exteriorize o seuraciocino mental ou decisão cognitiva (89). De todasas actividades desportivas é nos JDC que a tácticaadquire o seu mais alto nível de expressão (44).Deste modo, diversos autores (107, 106, 89, 44, 12,37) salientam a importância do desenvolvimento datáctica, pois nos JDC o principal problema que secoloca aos indivíduos que jogam é essencialmentetáctico.Concordamos assim com Garganta & Cunha e Silva(41), quando defendem que: "Cada sujeito percebe ojogo, as suas configurações, em função das aquisi-ções anteriores e do estado presente. Perante o fenó-meno jogo, o observador constrói uma paisagem deobservação, entendida como um conjunto de estímu-los organizados face ao ponto de vista que ele possuisobre o fenómeno." (p.5).O sucesso nos jogos tácticos depende largamente donível de desenvolvimento das faculdades perceptivase intelectuais dos atletas, especialmente em associa-ção com outros factores que determinam a perfor-mance (88).

3.2. Cognição: a faceta não visivel do processo táctico--estratégicoAs acções tácticas distinguem-se das restantesacções desportivas, porque o seu desenvolvimento

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dá lugar a processos intelectuais muito mais alarga-dos e qualitativamente superiores. O acto táctico é,na sua essência, a aplicação criadora do saber, dasdiferentes capacidades e do “savoir faire” (57).A determinação táctica do movimento desportivopressupõe uma actividade cognitiva (42, 89, 8, 23,21), todavia inadequada e insuficientemente traba-lhada (52, 94, 98). Em cada acção o jogador avalia as possibilidades deêxito e prepara mentalmente a acção a realizar emfunção da antecipação do comportamento dosadversários e da acção que os companheiros pre-vêem realizar-se nesse contexto (43), exigindo-se--lhe decisões inteligentes através de processos cog-nitivos (21).De acordo com Rink, French & Tjeerdsma (78) eGarganta (37, 39), a investigação permite identificarum conjunto de traços cognitivos e motores caracte-rísticos do jogador experiente nos jogos desportivos.Constata-se assim a presença, a nível cognitivo, de:(i) conhecimento declarativo e processual mais orga-nizado e estruturado; (ii) processo de captação deinformação mais eficiente; (iii) processo decisionalmais rápido e preciso; (iv) mais rápido e precisoreconhecimento dos padrões de jogo (sinais perti-nentes); (v) superior conhecimento táctico; (vi) umamaior capacidade de antecipação dos eventos do jogoe das respostas do oponente; e (vii) superior conhe-cimento das probabilidades situacionais (evoluçãodo jogo). Ao nível da execução motora evidenciam: (i) elevadataxa de sucesso na execução das técnicas durante ojogo; (ii) maior consistência e adaptabilidade nospadrões de movimento; (iii) movimentos automati-zados, executados com superior economia de esfor-ço; e (iv) superior capacidade de detecção de erros ede correcção de execução.Para Konzag (52), os desportistas com um elevadonível de desempenho em situação de jogo, possuemprocessos cognitivos de alto nível, nos quais a recep-ção e elaboração das informações são mais rápidas emais precisas.

3.3. Estrutura do comportamento táctico inteligente emfutebolÉ através dum complexo mecanismo que engloba apercepção e análise da situação, a decisão a tomar e

a execução (57, 1, 98, 36) que a táctica se consubs-tancia como elemento central e coordenador dosjogos de oposição (2, 6, 44, 1, 77, 89, 71). O sistemade referências múltiplas em que os atletas actuamsugere uma implicação específica das funções psico-lógicas, nomeadamente no que se reporta aos aspec-tos cognitivos.

3.3.1. Inteligência geralA capacidade de inteligência tem constituído umadas preocupações fundamentais dos psicólogos (31)e constitui um assunto de interesse de professores egestores de recursos humanos (4), apesar de perma-necer também como um conceito genérico, ambíguoe de difícil definição (92, 115).Os autores estão, no entanto, de acordo que paracompreender a inteligência é necessário identificaros processos que no seu conjunto constituem o com-portamento inteligente (93).Alguns autores comprovaram a importância da inte-ligência ao verificarem a existência de elevada corre-lação entre inteligência e a velocidade de processa-mento da informação (28) e ao encontrarem relaçãoentre aprendizagem e inteligência (20).Em suma, o conceito de inteligência é consideradovago, generalista e evasivo (48, 4). Reporta-se funda-mentalmente a noções e conhecimentos académicos,dado o carácter abstracto de que os estudos habi-tualmente se revestem. Consiste predominantemen-te na exteriorização racional e teórica em detrimentode habilidades interventivas e práticas como as artesou o desporto exigem, apesar de alguns autoresapontarem cada vez mais inteligências específicaspara determinados domínios. A inteligência é assim entendida como uma con-fluência de requisitos e capacidades, tratando-se deum constructo, de uma conjugação de capacidadesde compreensão, atenção, velocidade e memorizaçãoque relacionadas permitem ao sujeito desempenhardeterminadas tarefas com maior precisão e acuidade.Os profissionais e investigadores do desporto ques-tionaram-se inúmeras vezes sobre a relação entre osfactores de inteligência estabelecidos pelos testespsicológicos e as habilidades técnicas e tácticas des-portivas (13). A inteligência geral parece ser um factor importanteno processo de escolha e decisão desportivas, contu-

Inteligência e conhecimento em Futebol

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do com uma relevância relativamente discreta, poisnão parece explicar as diferenças individuais de per-formance dos jogadores (19, 86). As investigações sobre a relação entre o êxito des-portivo e o coeficiente de inteligência não têm obti-do dados concretos. No entanto, algumas das apti-dões assinaladas no domínio cognitivo, como aorientação espacial, têm um papel não negligenciá-vel (104).Esta temática vem sendo estudada por diversosautores. Botelho (14) num estudo com ginastas,concluiu que estes são mais rápidos e concentradosque indivíduos sedentários. Carvalho (22) no âmbitodo Futebol, concluiu que os atletas de elite apresen-taram níveis superiores de inteligência, assim comomelhor velocidade atencional e velocidade perceptivae, quanto à exactidão das respostas, o grupo amadorapresentou resultados superiores ao de elite.Mendelsohn (65), num trabalho com jogadores deFutebol profissional, concluiu que o grau de concen-tração dos jogadores é proporcional ao grau de res-ponsabilidade defensiva. Veiga, Colaço e Brito (112)estudaram a atenção e a inteligência geral (factor g)em ginastas, e concluíram que o sector masculinoapresenta melhores índices de atenção, com uma

significativa relação entre atenção e prestação des-portiva, e registaram uma correlação significativaentre atenção e Inteligência.

3.3.2. Conhecimento tácticoA compreensão dos processos cognitivos utilizadospelos jogadores durante a competição é limitada.Ainda assim, é sabido que estes têm origem noconhecimento táctico, altamente especializado earmazenado na memória de longo prazo. A perfor-mance superior manifestada por jogadores expertosem situações específicas não se evidencia quando astarefas são irrelevantes para o domínio de acção dojogador (61).Assim, o indivíduo que sabe jogar é um indivíduoconhecedor, não no que diz respeito a conhecimen-tos académicos, mas no que se refere a convençõesinteractivas, nas quais saber fazer, e saber quandofazer, são o mesmo saber (81).Uma vez que a táctica depende dos conhecimentostácticos adquiridos e da forma como os utilizamos(36), vários autores têm relacionado a natureza doconhecimento dos praticantes com a sua performan-ce desportiva quer em Portugal, quer no estrangeiro,como comprova o quadro 1.

J.C. Costa; J. Garganta; A. Fonseca; M. Botelho

Quadro 1 - Quadro resumo dos autores, métodos e amostra utilizadas em estudos no âmbito do conhecimento específico do jogo.

Autor Métodos AmostraPortugalTavares & Vicente (1991) Sequências de imagens de jogo em vídeo e TV 28 alunos de opção Basquetebol da FCDEF

(praticantes e não praticantes)Tavares (1993) Sequências de imagens de jogo em PC 99 Basquetebolistas, seniores (24,7±4,4

anos de idade) e cadetes (15,6±0,7 anosde idade)

Brito (1995) Sequências de imagens de jogo em vídeo 42 Futebolistas: 21 Federados e 21 não(resposta e tempo) Federados; Juniores, juvenis e iniciados

Machado (1996) Sequências de imagens de jogo em vídeo 40 Futebolistas: 20 seniores (24,4 anos de(resposta e tempo) idade) e 20 iniciados (13,7 anos de idade)

Tavares (1996) Sequências de imagens de jogo em vídeo e TV 30 Basquetebolistas, dois grupos (24,8 e15,3 anos de idade)

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de 8 mm numa parede, responde e executa adecisão táctica mais ajustada com bola

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Deste modo, são destacados pela literatura doistipos de conhecimento relevantes para a performan-ce desportiva: o conhecimento declarativo e o conhe-cimento processual (4, 37, 43, 58). A especificidade desportiva implica um conhecimen-to das acções (conhecimentos declarativos) e conhe-cer como utilizar as acções (conhecimento proces-sual) (9). Estes dois tipos de conhecimento diferen-ciam-se, sendo o “conhecer que” ou conhecimentodeclarativo e o “conhecer como” ou conhecimentoprocessual.Segundo Thomas, French & Humphriest (105), oconhecimento declarativo pode ser definido como oconhecimento do regulamento da modalidade, aspec-tos das posições dos jogadores, estratégias básicasde defesa e ataque, enquanto o processual se refereàs acções no decorrer do jogo.Por outro lado, o conhecimento processual constituia realização dum comportamento que dificilmenteexplicamos (43).A metodologia de avaliação mais utilizada nos últi-mos tempos para o estudo desta problemática tem-sebaseado em testes que apresentam situações de jogo,em vídeo ou filme, nos quais, após o visionamento,se decide qual a acção táctica mais ajustada (96). Méndez Giménez (68), numa revisão da literaturapelos diversos trabalhos em diferentes modalidades,comparando o nível de conhecimento de jogo (decla-rativo e processual) dos praticantes, concluiu que osestudos analisados apontam o ensino voltado para osconceitos tácticos como potenciador do desenvolvi-mento do conhecimento declarativo (34, 63, 110,109, 111, 35, 67).

3.3.3. Tomada de decisão tácticaA tomada de decisão consiste na capacidade detomar decisões rápidas e tacticamente exactas, cons-tituindo uma das mais importantes capacidades doatleta (88). Ela determina muitas vezes o sucessodos jogos técnico-tácticos e é frequentemente res-ponsável pelas diferenças na performance individual(17, 54, 79,100, 88, 94, 59,). Dum conjunto de possibilidades em permanentemudança o jogador escolhe a solução mais adequadaà situação presente (97, 108). Nos JDC, acção ésinónimo de tomada de decisão, porque cada situa-ção requer uma nova solução. É talvez este contexto

de incerteza que proporciona aos JD uma “magia”particular (99).Ripoll (80) concluiu, numa revisão aos diversos tra-balhos realizados, que os expertos utilizam regrasheurísticas para lidar com a multidimensionalidadedas condições pressionantes (um comportamentovisual sintético), processam apenas a informaçãorelevante e eliminam as pistas não relevantes. Alves& Araújo (8) acrescentam que quanto mais comple-xas as decisões, mais os expertos se distinguem dosiniciados. Em meio instável e inconstante o praticante esforça--se em extrair as constâncias e regularidades no con-junto das informações disponíveis. O desportistaexperiente utiliza duas grandes categorias de estraté-gias: (1) encontrar regularidades nas modificações doenvolvimento, (2) na construção de um repertório deesquemas que permitem ler a situação actual e deantecipar, a curto prazo, os acontecimentos numabase de tomada de informação, não sobre as acçõesdo adversário, mas sobre as suas. Assim, os princi-piantes activam um único programa motor para con-trolar o conjunto do movimento, enquanto que osexperientes disponibilizam ao longo da acção doissub-programas funcionalmente independentes (30).A qualidade de decisão do atleta depende ainda,segundo Alves & Araújo (8), do seu conhecimentodeclarativo e conhecimento processual específicos,das suas capacidades cognitivas e da competência dasua utilização.

3.4. Inteligência vs conhecimentoInteligência e conhecimento parecem dois campos deintervenção diferentes mas inter-relacionados naprocura de soluções e respostas para as dificuldadescom que o jogador se depara. Existe, à primeiravista, uma espécie de descontinuidade, de ruptura,entre eles, pois têm sido abordados e confrontadosem diferentes momentos, em distintos lugares e comdiferentes preocupações e exigências teóricas dife-rentes. Mas, não é nosso propósito estabelecer econfrontar diferenças históricas, mas sim tentaresclarecer, a partir da sua especificidade relativa, quelugar poderá ocupar cada uma destas dimensõesnum campo único como o desporto. Podemos distinguir la memoria inmediata, la diferi-da y muchas otras formas de memoria; hay tantas

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como órganos sensoriales (memoria visual, auditiva,táctil...). Podemos distinguir la memoria inmediata,la diferida y muchas otras formas de memoria; haytantas como órganos sensoriales (memoria visual,auditiva, táctil...). Podemos distinguir la memoriainmediata, la diferida y muchas otras formas dememoria; hay tantas como órganos sensoriales(memoria visual, auditiva, táctil...). Podemos distin-guir la memoria inmediata, la diferida y muchasotras formas de memoria; hay tantas como órganossensoriales (memoria visual, auditiva, táctil...).Podemos distinguir la memoria inmediata, la diferi-da y muchas otras formas de memoria; hay tantascomo órganos sensoriales (memoria visual, auditiva,táctil...).Como destacam Chi & Glaser (24), o conhecimentoespecífico de uma determinada área tem importânciadecisiva na solução efectiva dos problemas que essaárea de actividade apresenta, razão pela qual algunsestudos recentes têm incidido nas interacções entreinteligência e conhecimento (4).No presente estudo procuramos indagar se os joga-dores que possuem maior inteligência geral eviden-ciam, também, um maior nível de conhecimentoespecífico da sua modalidade, considerando os res-pectivos níveis competitivos.

4. MATERIAL E MÉTODOS4.1. Caracterização da amostraA amostra utilizada abrange 44 praticantes deFutebol federados (Sub-16 e Sub-17) do sexo mascu-lino. Por exigência qualitativa dos objectivos do estu-do, seleccionámos dois grupos de praticantes emcampeonatos de níveis competitivos diferentes: 22elementos participantes no Campeonato Nacional deJuniores B, com um nível competitivo superior(Grupo sup), com uma média de idades de 16±0,52,com uma prática desportiva federada média de6,14±2,07 anos e um total de 6 horas de treinosemanal; e 22 elementos participantes noCampeonato Distrital da A. F. Porto, constituindo ogrupo de nível competitivo inferior (Grupo inf), comuma média de idades de 16,1±0,62, com uma práti-ca desportiva federada média de 5,73±2,4 anos e umtotal de 4,5 horas de treino semanal. As equipasseleccionadas pertencem à mesma área geográfica.As horas de treino semanal constituem a única

característica geral em que se verifica a existência dediferenças estatisticamente significativas entre eles.

4.2. Instrumentos de avaliação Face aos instrumentos de avaliação disponíveis paracada um dos parâmetros em estudo, seleccionámos eutilizámos aqueles que nos garantiam maior fiabili-dade, validade e exequibilidade. Deste modo foramutilizados os seguintes meios para a avaliação dosjogadores:

4.2.1. Protocolo de avaliação do conhecimento específicodo jogo A avaliação do conhecimento declarativo no âmbitodos JDC tem-se socorrido de protocolos de análisede prontidão e qualidade de resposta. Utilizámos umprotocolo de avaliação do conhecimento construído evalidado por Mangas (58), melhorado posteriormen-te por Correia (25) com a incorporação do factortempo. O teste, composto por 11 imagens, foi classi-ficado de acordo com o número de respostas correc-tas e respostas erradas de cada praticante, e aindaquanto ao tempo total de resposta às situações apre-sentadas.

4.2.2. Testes de inteligência geralFace aos objectivos do nosso estudo seleccionámosalgumas provas de natureza psicológica que nospareceram importantes a fim de caracterizar cadauma das variáveis em estudo. Deste modo, todos ossujeitos foram submetidos a três provas específicasno intuito de medirmos os seguintes factores:Matrizes Progressivas de Raven PM 38 – “factor g deinteligência”;Teste de Barragem de Toulouse-Piéron (TP) - aten-ção concentração;Figuras Idênticas de Thurstone (FI) – velocidadeperceptiva.

4.3. Procedimentos estatísticosOs procedimentos estatísticos utilizados, para alémda estatística descritiva, consistiram no t-teste e naAnova unidimensional, para comparar diferenças demédias entre os dois grupos considerados, tendo-serecorrido ao coeficiente de correlação de Spearmanpara análise das correlações para a totalidade daamostra. O nível de significância foi mantido em 5%.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO5.1. Comparação das classificações da inteligência geralversus classificação protocolo de avaliação do conheci-mento do jogo

Constatámos ao comparar os grupos que a tendênciade classificação evidencia uma supremacia do grupode nível competitivo inferior nos testes de inteligên-cia geral e do grupo de nível competitivo superiornos testes de CE (Quadro 2).

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Quadro 2 – Classificações relativas por grupos (G sup e Ginf) para a velocidade atencional (Atvel), exactidão ou capacidade de concentração (Atexact), velocida-de perceptiva (Fi), decisão/identificação (Rav) e conhecimento específico do jogo.

Inteligência Geral Conhecimento específico do jogoClassificação Rav Fi Atvel Atexact Correctas Erradas TempoMelhor G inf G inf G inf G inf G sup G sup G supPior G sup G sup G sup G sup G inf G inf G inf

Alves (6) defende que a inteligência está relacionadacom a fase de identificação dos estímulos, que, atra-vés duma estratégia visual mais eficiente, irá reflec-tir-se numa comparação mais rápida dos estímulosapresentados com os memorizados noutras situa-ções. Verificamos neste estudo que ambas as meto-dologias exigem percepção e identificação dos estí-mulos pertinentes, contudo apenas no CE estesforam concretos e específicos da actividade desporti-va, logo apenas aqui os diferentes níveis de rendi-mento e experiência se diferenciaram de acordo coma sua natureza qualitativa.Comparámos as classificações do protocolo de ava-liação do CE com os teste de IG, com o intuito deverificar se estão, de alguma forma, correlacionadas,facto que não se verifica.Quanto a saber se os jogadores mais inteligentesnoutras áreas do conhecimento também o são no

desporto (86), a resposta encontrada aponta paraque tal não se verifique, até porque as correlaçõesencontradas indicam em sentido contrário e quandopositivas atingem valores muito baixos.

5.2. Resultados dos testes de inteligência geralQuando comparamos as médias dos resultados davelocidade atencional (Atvel), exactidão ou capacida-de de concentração (Atexact), velocidade perceptiva(Fi) e decisão/identificação (Rav) para ambos osgrupos (Quadro 3), verificamos uma superioridadedo G inf em todos os itens analisados. Importa res-salvar que na Atexact quanto menor o valor melhoré o resultado. Apesar da existência das referidasdiferenças, apenas no Raven estas são estatistica-mente significativas (p=0,04).

Quadro 3 – Média (X) ± desvio padrão (dp) para os valores da velocidade atencional (Atvel), exactidão ou capacidade de concentração (Atexact), velocidadeperceptiva (Fi) e decisão/identificação (Rav).

Rav Fi Atvel AtexactGrupo sup (n=22) X±dp 40,86±12,12* 23,45±5,44 195,40±45,43 19,68±15,87Grupo inf (n=22) X±dp 47,36±08,75 26,18±7,61 209,00±51,09 18,82±14,37

* diferenças estatisticamente significativas entre os grupos (p≤ 0,05).

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As diferenças geográficas, causa de possíveis diferen-ças sociais e culturais entre os sujeitos, foram esbati-das ao seleccionarmos a amostra da mesma zona(Grande Porto). Contudo, apesar desta preocupação,é frequente, pela sua maior capacidade de recruta-mento, que equipas como as do G sup seleccionempara os seus quadros jogadores de zonas do paísmais distantes, apesar de agora residentes na mesmaregião.Outros estudos como os de Veiga, Colaço e Brito(112), encontraram correlações positivas entre inte-ligência (factor g) e atenção e uma relação igualmen-te positiva entre atenção e prestação desportiva.Também Carvalho (22), em estudo com futebolistasseniores, encontrou uma relação positiva entre ostestes psicológicos e o nível de prestação desportivade cada grupo.

Se atendermos às características dos jogadores expe-rimentados, indicadas por Ruiz Pérez (84), constata-mos que os resultados por nós encontrados estão deacordo com algumas das características apontadascomo: serem expertos no seu desporto concreto enão demonstrarem a sua superioridade em testesgerais.

5.3. Comparação dos resultados do teste de conheci-mento específico do jogo Comparados os dois grupos da amostra verificamos,através do Quadro 4, que ao contrário dos testes deinteligência, nos testes de conhecimento do jogo ogrupo G sup apresenta valores médios superiores aoG inf, quer quanto à qualidade das respostas, querquanto ao tempo de resposta às mesmas.

Inteligência e conhecimento em Futebol

Quadro 4 - Média (X) ± desvio padrão (dp) para os valores das respostas correctas e erradas e dos tempos de decisão total nos dois grupos da amostra.

Respostas Correctas Respostas Erradas Tempo de Decisão Total (Seg.)Grupo sup (n=22) TOTAL X±dp 145 11 931,25

6,59±1,7 0,50±0,67 42,32±14,03Grupo inf (n=22) TOTAL X±dp 123 16 949,17

5,59±1,73 0,72±0,70 43,14±14,20

Ao nível das respostas correctas verificamos que osjogadores do G sup (6,59±1,7) obtiveram em médiaum valor superior aos jogadores do G inf(5,59±1,73); relativamente ao número de respostaserradas, encontramos também uma supremacia do Gsup (0,5±0,67) sobre o G inf (0,72±0,7). Analisadoo tempo médio utilizado para responder às situaçõesapresentadas no protocolo, constatámos que o G sup(42,32±14,03) continua a superiorizar-se ao G inf(43,14±14,20); como nos itens anteriores não exis-tem diferenças estatisticamente significativas.Parece assim confirmarem-se os resultados de estu-dos já realizados, segundo os quais se pensa que asequipas classificadas nas melhores posições obtêmos melhores resultados nos testes de conhecimentotáctico (43). Estudada a correlação verificamos que entre as res-postas erradas e correctas existe uma correlação

negativa (r=-0,454; p=0,002), entre as respostascorrectas e o tempo de decisão existe uma correlaçãopositiva (r=0,387; p=0,009) e entre a respostaserradas e o tempo de decisão (r=-0,132; p=0,394)verificamos uma correlação que apesar de negativanão é estatisticamente significativa. Isto é, existeuma tendência para que aqueles que mais acertamserem também os que menos erros cometem. Assimcomo para aqueles que mais acertam utilizarem tam-bém menos tempo para responder.Comparados os nossos resultados com os dos estu-dos realizados por Mangas (58) e Correia (25), emestudos com metodologia idêntica, encontramos umvalor médio do número de respostas correctas do Gsup do nosso estudo (6,59±1,7) superior ao domesmo escalão do estudo de Correia (25),(5,62±1,85). Relativamente a Mangas (58), em esca-lão etário mais baixo apesar de federado e com um

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nível competitivo considerado também elevado(6,97±1,63), obtivemos para ambos os grupos danossa amostra resultados inferiores. Importa referirque, no caso deste estudo, os sujeitos testados nãotiveram pressão temporal para tomar a decisão, umavez que o tempo de resposta não foi uma variáveltida em consideração. Quando comparamos o número médio de repostaserradas, verificamos que a nossa amostra volta a evi-denciar melhores resultados (0,5±0,67 do G sup)comparativamente com os estudos de Mangas (58)(0,64±0,78) e de Correia (25) (0,81±0,81).Os nossos resultados parecem corroborar os encon-trados por Helsen & Pauwels (47), que investigarampraticantes de Futebol de recreação e praticantesfederados com dez anos de prática em competição; esão também concordantes com os referidos nos estu-dos de French & Thomas (34) e McPherson &Thomas (62), estes realizados com basquetebolistasde diferentes níveis de experiência.Contudo, conforme sustentam Williams & Davids(113), o CE pode ser mais um requisito do que umaaquisição prática através da exercitação. Em estudocom futebolistas experientes, concluíram que oconhecimento declarativo é um pressuposto impor-tante dos jogadores de elite e não resultado de eleva-da experiência, ou exposição ao contexto desportivo.Os diversos estudos de Greco (42, 43, 44) alertarampara este facto aquando da validação dos testes paraavaliar o conhecimento táctico. Segundo o autor, onível de conhecimento táctico superior apresentadopelos atletas de clube pode justificar-se pelas exigên-cias competitivas, bem como pela importância dacomponente táctica no treino. Com uma amostra dejovens praticantes de Futsal, demonstra que os atletasfederados apresentam um conhecimento táctico supe-rior ao revelado pelos praticantes do desporto escolar. No nosso estudo, apesar da supremacia evidente doG sup, os anos de experiência de cada um dos gru-pos analisados é idêntico, isto é, possuem tempo deprática idêntico, o que traduz uma experiência quan-titativa semelhante. Considerando que o nível com-petitivo superior, em que actua o G sup, é fomenta-dor de melhor experiência, apesar de não existiremdiferenças estatisticamente significativas nos anos deprática federada, de acordo com Williams & Davids(113) o maior nível de conhecimento dos jogadores

mais experientes deve-se também à prática desporti-va e não apenas à instrução. Pelo que este estudovem corroborar outros já realizados nesta área (47,79, 53, 94, 102, 66, 58, 25), nos quais se sugere quea qualidade de decisão está correlacionada com aexperiência e anos de prática.Williams, Davids & Williams (114) sustentam queos atletas mais experientes possuem um conheci-mento específico da modalidade mais amplo, permi-tindo-lhes identificar e valorizar determinadas situa-ções e/ou soluções. Relativamente aos diversos estudos realizados emPortugal, os valores obtidos no âmbito do CE acom-panham a tendência manifestada pela investigaçãointernacional. Assim, comparativamente com os resultados encon-trados por Tavares (94), com jogadores deBasquetebol onde os mais experientes se revelarammais rápidos no processamento da informação e nacapacidade de decisão, quando comparados comjogadores menos experientes, denotámos totalencontro com os resultados obtidos por uma amos-tra de basquetebolistas masculinos de dois níveis deexperiência.Posteriormente, Pinto (73) num trabalho na mesmamodalidade, percorrendo diferentes áreas do conheci-mento, mostrou-nos que os resultados apontam oconhecimento do jogo como a variável de maior poderpreditivo no valor dos sujeitos. 0 teste de conheci-mento do jogo permitiu descrever o nível de compe-tência dos sujeitos nessa matéria e evidenciou sensibi-lidade suficiente para discriminar grupos distintos.Ainda no contexto do Basquetebol, Rodrigues (82),utilizando o teste validado por Pinto (73), concluiu,à semelhança do nosso estudo, que os jogadoresfederados possuíam conhecimento declarativo supe-rior quando comparados com os do desporto escolar,sendo as questões tácticas aquelas que mais os dife-renciaram. Também no protocolo referente à tomadade decisão, os federados optaram por decisões tácti-cas mais adequadas do que os do desporto escolar.Em 1999, Mendes comprovou em estudo na mesmamodalidade, mas com iniciados masculinos, que osatletas com quatro ou mais anos de prática apresen-tam um conhecimento superior aos atletas com infe-rior tempo de prática. Daí decorre o alerta feito ante-riormente quanto à questão da qualidade da expe-

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riência de cada grupo. Ou seja, até que ponto onúmero de anos de prática reflecte um nível superiorde experiência?Mais concretamente no âmbito do Futebol, Brito &Maçãs (16) procuraram averiguar as diferenças depercepção e decisão técnico-táctica dos jogadores,segundo as suas idades e níveis competitivos.Comparativamente ao nosso estudo, os resultadoscorroboram os encontrados relativamente à qualida-de da resposta, mas contrariam-nos no que respeitaao facto de os jogadores não federados encontraremas respostas mais rapidamente. Relativamente ao trabalho de Mangas (58), com atle-tas federados (Sub-14), concluiu-se que os jogadoresfederados possuíam conhecimento declarativo supe-rior quando comparados com os do desporto escolar,reforçando a tese de que a experiência adquiridaatravés dum quadro competitivo mais vasto e ricocontribui para a melhoria do conhecimento.Da análise dos diversos estudos, parece lícito con-cluir-se que os atletas de melhor nível possuem umconhecimento mais elevado do que os seus colegasde nível inferior, facto comprovado pelos nossosresultados.Tais resultados advêm, não só das maiores exigênciasa que o G sup está sujeito no seu processo de forma-ção, mas também do maior tempo de exposição àaprendizagem, uma vez que apresentam um númerode horas de treino semanais superior e com diferençaestatisticamente significativa para o G sup. Váriosestudos (34, 3, 114, 103, 73, 82) demostraram aexistência de um maior conhecimento específico damodalidade por parte dos atletas mais experientes, oque leva a que estes reconheçam mais facilmente osproblemas e identifiquem melhor as soluções.Como sustenta Garganta (38): "De facto, à luz dasexigências do desporto actual, não basta chegar maislonge, nem saltar mais alto, nem ser mais forte, épreciso ser mais rápido, mais veloz. Mais rápido, nãoapenas a chegar ao local desejado, ou a realizar umaacção, mas também a pensar, a encontrar soluções, aperceber o erro, a descodificar os sinais do envolvi-mento. Em síntese, mais rápido e melhor, a perceber,a pensar e a agir." (p.6). Os jogadores devem ter con-dições para inventar novos jogos no decorrer do pró-prio jogo (41).

6. CONCLUSÕESO conjunto de resultados deste estudo remetem-nospara as seguintes conclusões:

i. os jogadores do mesmo nível competitivo dife-rem, entre eles, nas classificações obtidas em cadauma das avaliações realizadas (inteligência geral econhecimento específico do jogo), isto é, os querevelaram melhor conhecimento específico dojogo não são os que apresentam melhores resulta-dos nos testes de inteligência geral.

ii. os jogadores de nível competitivo inferior prevale-cem sobre os de nível competitivo superior navelocidade perceptiva e atencional, factor geral deinteligência, capacidade de concentração e exacti-dão; logo os indicadores psicológicos gerais nãose revelaram bons indicadores da performancedesportiva;

iii.os grupos em estudo diferem significativamentequanto aos resultados obtidos nos testes de inte-ligência geral, na avaliação do factor geral de inte-ligência, destacando-se neste sentido os sujeitosdo grupo de nível competitivo inferior;

iv. os jogadores com maior experiência e nível com-petitivo mais elevado apresentam um superiorconhecimento específico do jogo.

Inteligência e conhecimento em Futebol

CORRESPONDÊNCIAJúlio GargantaGabinete de FutebolFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 [email protected]

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Use of the polar coordinates technique to study interactionsamong professional Soccer players

Carlos Lago Peñas

Facultad de CC. de la EducaciónUniversidad de Vigo

ABSTRACTThis paper studies the process of interaction among the mem-bers of a soccer team using observational methodology. Datawere collected from six matches played by Deportivo LaCoruña during the 2000-01 season, using the polar coordinatestechnique to establish the activation or inhibition relationshipsamong team members. This analysis allows the reduction ofdata from the value Zsum, introduced by Cochran [1] andapplied by Sackett [1]. Polar coordinates analysis allows thecombination of diachronic and synchronic perspectives throughthe representation of the values obtained as vector modulesand angles (polar coordinates). The nature of the interactiverelationship, depending on the quadrant in which it is locatedis represented by the angle, while the degree of significancedepends on the vector module (>1.96 at a level of significanceof 5%).

Key Words: Players’ interactions, polar coordinates technique,activation and inhibition relationships, game analysis, profes-sional soccer.

RESUMOUtilização da técnica de coordenadas polares para estudar a inte-racção em jogadores profissionais de futebol

Neste trabalho centrámo-nos no estudo do processo de interacção que seestabelece entre os membros de uma equipa de futebol. Para levar acabo o estudo foi utilizada a metodologia observacional, a partir dovisionamento de seis jogos disputados pelo Real Club Deportivo de ACoruña durante a temporada de 2000-01. A análise dos dados foi rea-lizada a partir da técnica de coordenadas polares, a qual permite esta-belecer as diferentes relações de activação ou inibição que se processamentre as categorias que integram o instrumento de registo e codificação.Esta análise permite levar a cabo uma redução dos dados a partir daestatística Zsum, proposta por Cochran (8) e aplicada por Sackett(13). A análise das coordenadas polares permite uma leitura conjugadadas perspectivas diacrónica e sincrónica do comportamento dos jogado-res, mediante a representação dos valores obtidos sob a forma de módu-los e ângulos de vectores (coordenadas polares). O módulo do vector(>1,96) representa o significado; e o ângulo, dependendo do quadranteem que se encontre, traduz a natureza da relação interactiva.

Palavras-chave: Interacções de jogadores, técnica de coordenadas pola-res, relações de activação e de inibição, observação em futebol, desportode rendimento.

M. Teresa Anguera Argilaga

Facultad de PsicologíaUniversidad de Barcelona

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1. INTRODUCTIONUnlike other psychomotor activities and sports, theaction in soccer is built up collectively. With time,the play becomes increasingly complex, through theprogressive complication of the structure of motorinterpersonal relations – defined as the system N+1intervening in the action – and through the difficultyof carrying out required behaviours [2]. Players’involvement is not limited to their immediate sur-roundings; it can depend on events which take placein another area of the field and do not directlyinvolve them, but have an influence on what occursin their vicinity.This particular feature makes it difficult to under-stand the behaviour of competitive sportsmen, fortwo reasons. First, players’ conduct cannot be readi-ly explained by their personal attributes. When theirbehaviour or the choices they make depend on thebehaviour or choices of others, it is not usually pos-sible to obtain small sets of individuals merely byaddition or extrapolation. Second, the compositionof individual actions produces the so-called aggregateeffects and can prompt perverse effects in the behaviourof sportsmen. These two problems mean that sportsmen’s behav-iour appears to the observer as indeterminate (the com-plexity from the observer’s point of view). This makes itdifficult to direct research lines in particular areas ofactivity in team games [1] and also restricts our abili-ty to establish a correlation and/or consistencybetween the internal logic of the game and the coursethat intervention should take in training sessions [1].How can this situation be overcome? In our view,the core of the problem for researchers trying tounderstand the behaviour of sportsmen lies inuncovering the complex relations that link the sub-jective intentions of each individual in the variousstages of the game to the opportunities and limita-tions imposed by the social context in which theyare involved.However, the proposal that the context in soccerentails participation in different dimensions or levelsof interaction is valid only when these levels can beidentified and empirically verified. This is the pur-pose of the present study.Building on earlier work [3, 4] that suggested theexistence of stable interactions among players in the

same team, we will try to identify the dyadic group-ings that link sportsmen to each other in order toreveal the various dimensions that make up theaction in soccer: from the micro level of the behav-iour of individual players to the macro level of thebehaviour of teams.

2. POLAR COORDINATES ANALYSIS. REASONS FOR OURCHOICE OF METHODOLOGY.Polar coordinates analysis, first described by [5], is adouble data reduction strategy which provides a vec-tor representation of the complex network of inter-relations among the different categories (or configu-rations of field formats) that make up an ad hoc sys-tem produced to record the behavioural flow deriv-ing from any activity or situation.The structure of the polar coordinates technique isbased on the complementarity of two analytical per-spectives [6, 7]:

1. Prospective perspective: A criterion behaviour isestablished for each analysis. This behaviour is pro-posed as the trigger of a series of connections withthe rest of the categories, known as matching behav-iours. In this paper the criterion behaviour was theparticipation in play of each player.The first part of the process follows the same opera-tions as the simple lag technique for sequentialanalysis [5, 8-10]. Starting from a number r of lagsspecified in each case, the tables of matching fre-quencies and matching probabilities (expected andobserved) are produced and the corresponding Z sta-tistics are calculated. This provides us with a matrix,k x r, where k is the number of categories in the sys-tem (or the number of field format configurations),and r the number of lags taken into account.Thus far only the prospective perspective has beenconsidered, that is to say the result of consideringthe forward evolution of the flow of social exchangesand of the individual with the environment.2. Retrospective perspective: This perspectiveaims to establish the extent to which previousevents in the behavioural flow demonstrate a signifi-cant intensity in the connection of each of the k cat-egories in the system to the focal behaviour, whichin this retrospective perspective takes the role of thematching behaviour.

Carlos Lago Peñas, M. Teresa Anguera Argilaga

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That is, we want to know whether the associationbetween each of the categories of the system or fieldformat configurations (now regarded as the criterionbehaviour) is either excitatory or inhibitory (that is,statistically significant or non-significant) withrespect to the focal behaviour which is now in therole of the matching behaviour.Anguera [11] suggested that there may be a genuineretrospectivity through the criterion behaviour and“backwards”, considering negative lags, and detect-ing the consistency of actions of order n previous tothe criterion behaviour. If E is the criterion behav-iour, then A, B, C and D would be matching behav-iours, but only considering negative lags (Figure 1).In agreement with this suggestion, behavioural pat-terns obtained through retrospective sequentialanalysis provide us with a mirror image of how thelast, last but one etc., behaviours previous to the cri-terion behaviour maintain a stable relationship withthe others, and consequently the actions that are“preparatory” to the event of the criterion behav-iour, bearing in mind that each behavioural patternis composed exclusively by the codes (categorycodes or field format configuration codes) that wereshown to be excitatory or significant in each of thenegative lags considered.

Figure 1. Polar coordinates analysis: Modified outline of genuineretrospectivity.

With the z values of relative indexes of sequentialdependence [12], we can apply an extremely power-ful technique for the reduction of data by calculatingthe Zsum statistic described by [13], consisting in

: that is, for each of the columns correspon-ding to each of the z value matrices – which

are independent of one another – the sum of thosevalues divided by the square root of the number oflags considered throughout the process.The Zsum statistic is based on the principle that thesum of a number r (since there as many as there arelags) of independent z scores follows a normal dis-tribution, with m=0 and s =1. Consequently, weobtain as many Zsum as there are categories in eachof the perspective, the prospective and the retrospec-tive; the ones corresponding to the former aretermed criterion Zsum and the latter matching Zsum.Each Zsum can be either positive or negative, and sothe set of signs will determine in which of the fourpossible quadrants the categories will fall in relationto the focal behaviour adopted (Figure 2).

Figure 2. Polar coordinates analysis: Process (Anguera, 2001).

Each quadrant is characterised as follows (Figure 3):

Quadrant I (+ +). Mutually excitatory criterionand matching behaviours.Quadrant II (- +). Inhibitory criterion behaviourand excitatory matching behaviour.Quadrant III (- -). Mutually inhibitory criterion andmatching behaviours.Quadrant IV (+-). Excitatory criterion behaviourand inhibitory matching behaviour.

Interactions among professional Soccer players

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Figure 3. Polar coordinates analysis: decision on the quadrant for the Zsum.

The most genuine and useful representation provid-ed by this data reduction technique is the oneknown as polar coordinates – after which the analy-sis technique is named. It is produced in vector form(with a module or length, and with a specifiedangle). Because categories are in different quadrantsdepending on the type of relation between the crite-rion behaviour and the matching behaviour, it ispossible to determine the distance from the origin(0,0) of the Zsum coordinates and the point of inter-section (determined by the criterion Zsum value onthe horizontal axis and the matching Zsum value onthe vertical axis), which is the value of the radius ormodule (which, when >1.96, is statistically signifi-cant at a level of 5%), and which is calculated byadding together the square root of the prospectiveZsum and the square of the retrospective Zsum; theangle is calculated as the retrospective Zsum arc sinedivided by the radius.The quadrant in which each category is foundshould be borne in mind in order to calculate thevalue of this angle (Figure 4):

Quadrant I (0 < ϕ <90) = ϕQuadrant II (90 < ϕ <180) = 180 - ϕQuadrant III (180 < ϕ <270) = 180 + ϕQuadrant IV (270º < ϕ < 360º) = 360º - ϕ

Figure 4. Vector module and angle.

So we can trace all the vectors corresponding to eachof the codes depending on the focal behaviour con-sidered, and every category or field format configura-tion can be considered as a focal behaviour whennecessary for the evaluation. The technique is thus apowerful tool for overcoming the numerous method-ological obstacles that face the attempt to identify allthe interrelations among all the category codes orfield format configurations.

3. OBJECTIVESThe study aims to produce an inter-relational mapidentifying stable dyadic groupings among a particu-lar player and his team-mates during attacking play;that is, patterns of collective behaviour taking intoaccount only the behaviours generated by the playersin relation to the ball. At this point we should maketwo important definitions:

a) A team is attacking when it has possession of theball.

b) A team has possession when one of its playershas technical and tactical control over the ball andis able to continue the attacking process.

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All his actions and those of his team-mates are con-sidered as components of the attacking sequenceand therefore part of the attacking process.

4. METHODOLOGYSampleThe study was conducted in a total of six soccermatches involving Deportivo La Coruña during theNational League Championship and the Champions’League in the 2000-01 season. There was a numberof reasons for the choice of the team and of thematches for analysis. First, Deportivo La Coruña wasan ideal example of a high standard soccer team,since they had won the National LeagueChampionship the previous season (1999-2000).Second, the matches were chosen on the groundsthat the team selection was the same or only slightlydifferent in all of them; in addition, this line-up pro-vided the team’s best results during the season. Thematches coded were:

– Deportivo – Oviedo. National League Championship.

– Deportivo – Valencia. National League Championship.

– Deportivo – Real Madrid. National League Championship.

– Deportivo – Espanyol. National League Championship.

– Deportivo – Paris Saint Germain. Champions League.

– Milan – Deportivo. Champions League.

ToolThe ad hoc tool was a field format built up on thebasis of the following criteria: Number of Player inPossession (PP), Sub-role of start of the attackingprocess, Spatial location on the field, Sub-role ofbuild-up and development of the attacking process,Sub-role of end of the attacking process. Table 1presents an outline of the field format.

Interactions among professional Soccer players

Table 1. Field format in the attacking phase in soccer.

Number of Sub-role of start of the Spatial location Sub-role of build-up Sub-role of endPlayer in attacking process on the field of attacking process of attacking processPossession (PP)d1 Kick-off Z.1 Receiving/controlling the ball Resultd2 Goal kick Z.2 Continuing – Shot on targetd3 Corner Z.3 Maintaining possession – Shot wided4 Throw-in Z.4 Advancing with the ball – Goald5 Free-kick in variable Z.5 Beating opponentd6 areas Z.6 Passing upfield Loss of possessiond7 Penalty Z.7 Occasional interruption of move Opponents regain possessiond8 Goalkeeper restarts play Z.8 (but possession retained) End of attack withoutd9 Z.9 loss of possessiond10 Z.10d11 Z.11... Z.12dn

ProcedureThe analysis was made from VHS videotapes of thegames recorded from a state TV channel. The tapesfocused on the spatial development of the game,

continually following the player in possession andhis actions. The images were obtained using threedifferent cameras: one provided a side-view, and theother two were placed behind each of the goals.

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The methodology used was systematised unobtru-sive observation in a natural environment.To identify behaviour patterns for each attackingaction, the following descriptive criteria were record-ed: Number of Player in Possession (PP), Sub-role ofstart of the attacking process, Spatial location on thefield, Sub-role of build-up and development of theattacking process, Sub-role of end of the attackingprocess.For the sequential analysis prior to the calculation ofthe Zsum statistic we used the computer programmeSDIS-GSEQ 4.0 devised by [9]. The data were codedas multi-events.The observations and recordings were carried out bya team of five specially trained researchers, amongthem one of the authors of this study.The data were controlled quantitatively and qualitative-ly. Each game was watched and coded twice.Consensus agreement was used to obtain the qualita-tive profile, and the quantitative profile was obtainedusing a statistic measuring the degree of association.The coefficient used, Cohen’s Kappa, takes intoaccount random effects; it was above 90% in all games.

5. RESULTS AND DISCUSSIONTo produce behaviour maps reflecting the motorinteractions among the Deportivo players, represent-ed on the polar coordinates diagram, the six games

in the sample were coded. A total of 1192 clearlydefined attacking actions were recorded to analysethe behavioural patterns. For each the followingvariables were specified:

– Number of Player in Possession (PP),– Sub-role of start of the attacking process,– Spatial location in the field,– Sub-role of build-up and development of the

attacking process,– Sub-role of end of the attacking process.

We now present the behaviour maps in the polarcoordinates graph, together with the tables forprospective and retrospective Zsum values, the quad-rant of the vector, radius length, y/z ratio, initialangle and transformed vector angle in the behaviourmaps. In the graphic representation of the vectormodule the radius was 1.96, shown to scale. Eachplayer in turn was designated as focal behaviour andhis activity assessed in relation to the rest of mem-bers in the team.We wanted to determine the relation of activationand inhibition among the players’ behaviours, and tocompare the results obtained for the relationsamong them from both prospective and retrospec-tive perspectives. The figures and tables below pres-ent these relations clearly.

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Table 2. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 2) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 2 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 3 -9.46 -8.60 III 12.79 0.67 42.1 222.1No 4 0 1.14No 6 -1.15 6.59 II 6.69 0.99 81.9 98.1No 7 7.17 -9.17 IV 11.64 0.79 52.2 307.8No 8 1.43 4.01 I 4.26 0.94 70 70No 10 -4.30 -7.17 III 8.36 0.86 61.6 241.6No 13 -3.15 0.57 II 3.20 0.18 10.4 169.6No 14 2.58 6.31 I 6.81 0.93 68.4 68.4No 18 8.60 -2.87 IV 9.07 0.32 18.7 341.3No 20 -1.72 8.03 II 8.21 0.98 78.5 101.5

Figure 5. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 2) and the rest of the players.

Interactions among professional Soccer players

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Table 3. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 3) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 3 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 -8.77 -7.36 III 11.45 0.64 39.8 219.8No 4 1.13 3.68 I 3.85 0.96 73.7 73.7No 6 4.8 12.17 I 13.08 0.93 68.4 68.4No 7 2.83 -9.62 IV 10.03 0.96 73.7 286.3No 8 3.96 3.96 I 5.60 0.71 45.2 45.2No 10 16.41 4.53 I 17.02 0.27 15.7 15.7No 13 -1.99 1.67 II 2.60 0.64 39.9 140.1No 14 -5.67 -3.40 III 6.61 0.51 30.7 210.7No 18 -5.37 -7.10 III 8.90 0.80 53.1 230.1No 20 -5.09 -4.53 III 6.81 0.67 42.1 222.1

Figure 6. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 3) and the rest of the players.

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Table 4. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 4) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 4 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 -4.32 5.19 IV 6.75 0.77 50.4 309.6No 3 5.19 5.19 I 7.40 0.71 45.2 45.2No 6 4.91 0No 7 -4.91 -11.54 III 12.54 0.92 66.9 246.9No 8 1.15 -5.77 I 5.88 0.98 78.5 78.5No 10 6.35 -6.35 IV 8.98 0.71 45.2 314.8No 13 0.60 6.64 I 6.67 1 90 90No 14 -4.04 -3.17 III 5.14 0.62 38.3 218.3No 18 -5.19 -7.79 III 9.36 0.83 56.1 236.1No 20 3.46 8.37 I 9.06 0.92 66.9 66.9

Figure 7. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 4) and the rest of the players.

Interactions among professional Soccer players

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Table 5. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 6) and the rest of the players

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 6 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 0.28 1.43 I 1.46 0.98 78.5 78.5No 3 7.16 3.85 I 8.13 0.47 28 28No 4 1.71 6.88 I 7.10 0.97 75.9 75.9No 7 -5.16 -10.88 III 12.05 0.90 64.2 244.2No 8 6.02 -4.31 IV 7.40 0.58 35.5 324.5No 10 4.86 2.87 I 5.64 0.51 30.7 30.7No 13 -3.72 -0.57 III 3.76 0.15 8.6 188.6No 14 0.85 1.72 I 1.92 0.90 64.2 64.2No 18 0.84 -8.30 IV 8.34 1 90 90No 20 -2.58 0.51 II 2.63 0.19 11 169

Figure 8. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 6) and the rest of the players.

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Table 6. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 7) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 7 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 -2.51 5.87 II 6.39 0.92 66.9 113.1No 3 -6.15 4.48 II 7.60 0.59 36.2 143.8No 4 -2.80 -2.24 III 3.59 0.62 38.3 218.3No 6 -4.47 -3.07 III 5.42 0.57 34.8 214.8No 8 8.67 4.19 I 9.63 0.43 25.5 25.5No 10 7.26 1.40 I 7.40 0.19 11 11No 13 -3.64 1.12 II 3.81 0.30 17.5 162.5No 14 -1.88 2.24 II 2.92 0.77 50.4 129.6No 18 10.34 0.56 I 10.40 0.05 2.9 2.9No 20 -7.83 -1.68 III 8.01 0.21 12.1 192.2

Figure 9. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 7) and the rest of the players.

Interactions among professional Soccer players

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Table 7. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 8) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 8 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 2.33 3.51 I 4.21 0.83 56.1 56.1No 3 2.63 4.96 I 5.61 0.88 61.6 61.6No 4 1.45 1.46 I 2.06 0.71 45.2 45.2No 6 -1.75 7.90 II 8.10 0.98 78.5 101.5No 7 11.68 -5.55 IV 12.93 0.43 25.5 334.5No 10 7.60 4.97 I 9.10 0.55 33.4 33.4No 13 -4.38 -0.26 III 4.39 0.06 3.4 183.4No 14 0.30 3.21 I 3.22 1 90 90No 18 2.04 -2.64 IV 3.37 0.80 53.1 306.9No 20 -6.13 0.29 II 6.14 0.05 2.9 177.1

Figure 10. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 8) and the rest of the players.

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Table 8. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 10) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 10 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 -5.70 -3.70 III 6.80 0.55 33.4 213.4No 3 5.85 16.52 I 17.53 0.94 70.1 70.1No 4 -2.27 4.83 II 5.34 0.91 65.5 114.5No 6 2.84 5.98 I 6.62 0.90 64.2 64.2No 7 8.54 -5.98 IV 10.43 0.57 34.8 325.2No 8 10.82 5.70 I 12.23 0.47 28 28No 13 -1.91 -1.42 III 2.38 0.60 36.9 216.9No 14 1.42 0.28 I 1.45 0.19 11 11No 18 0.85 -7.40 IV 7.45 0.99 81.9 278.1No 20 -8.34 -3.13 III 8.91 0.35 20.5 200.5

Figure 11. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 10) and the rest of the players.

Interactions among professional Soccer players

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Table 9. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 13) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives, with No 13 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 -2.20 -0.82 III 2.35 0.35 20.5 200.5No 3 - 9.60 14.78 II 17.62 0.84 57.1 122.9No 4 7.12 19.75 I 21.00 0.94 70.1 70.1No 6 1.37 -5.49 IV 5.69 0.97 75.9 284.1No 7 5.48 -12.63 IV 13.76 0.92 66.9 293.1No 8 -3.02 -13.73 III 14.06 0.98 78.5 258.5No 10 -4.61 -15.10 III 15.79 0.96 73.7 253.7No 14 2.33 0.55 I 2.39 0.30 17.5 17.5No 18 -2.19 -1.10 III 2.45 0.45 26.7 200.7No 20 9.60 7.95 I 12.46 0.64 39.8 39.8

Figure 12. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 13) and the rest of the players.

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Table 10. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 14) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives with No 14 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 2.25 9.28 I 9.55 0.97 75.9 75.9No 3 -3.93 -6.75 III 7.81 0.86 59.3 239.3No 4 -2.81 -0.56 III 2.87 0.12 6.9 186.9No 6 0.84 8.44 I 8.49 1 90 90No 7 3.94 -7.31 IV 8.30 0.88 61.6 298.4No 8 4.50 -0.56 IV 4.53 0.12 6.9 353.1No 10 0.28 0.28 I 0.40 0.71 45.2 45.2No 13 -3.35 0No 18 5.34 -3.38 IV 6.31 0.53 32.0 328No 20 -1.41 0.28 II 1.44 0.19 11 179

Figure 13. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 14) and the rest of the players.

Interactions among professional Soccer players

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Table 11. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 18) and the rest of the players

Combination of the prospective and retrospective perspectives with No18 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 2.22 11.67 I 11.88 0.98 78.5 78.5No 3 -5.28 -8.61 III 10.10 0.85 58.2 238.2No 4 -3.73 1.66 IV 4.08 0.41 24.2 335.8No 6 -5.83 6.37 IV 8.64 0.74 47.7 312.3No 7 17.22 0.55 I 17.23 0.03 1.7 1.7No 8 8.05 1.11 I 8.13 0.14 8.0 8.0No 10 -4.16 -3.60 III 5.50 0.65 40.5 220.5No 13 -2.77 -0.27 III 2.78 0.10 5.7 185.7No 14 2.5 5.83 I 6.34 0.92 66.9 66.9No 20 -6.94 2.5 II 7.34 0.34 19.9 160.1

Figure 14. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 18) and the rest of the players.

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Table 12. Module and angle of the vectors corresponding to the interrelations among the focal category player (No 20) and the rest of the players.

Combination of the prospective and retrospective perspectives with No 20 as focal behaviourPlayer Prospective Retrospective Quadrant Radius Angle ϕ Transformed

(Criterion Zsum) x (Matching Zsum) y angleNo 2 4.36 6.54 I 7.86 0.83 56.1 56.1No 3 -2.18 0.82 II 2.33 0.35 20.5 159.5No 4 2.72 7.91 I 8.36 0.95 71.8 71.8No 6 0.81 8.73 I 8.77 1 90 90No 7 5.36 -10.36 IV 11.66 0.89 62.9 297.1No 8 0.27 -10.63 IV 10.63 1 90 90No 10 -1.36 -8.18 III 8.30 0.99 81.9 260.9No 13 -1.76 6.55 II 6.78 0.97 75.9 104.1No 14 -1.36 1.36 II 1.92 0.71 45.2 134.8No 18 1.96 -6.27 IV 6.57 0.95 71.8 288.2

Figure 15. Vector representation of the interrelations among the focal category player (No 20) and the rest of the players.

Interactions among professional Soccer players

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The results obtained provided empirical evidence ofstable dyadic groupings among players of the sameteam in attacking play. The different sequences ofassociation for each player suggest the existence of aselective network in the interactions among team-mates. The results reveal the following statisticallysignificant relations among players:

Table 13. Statistically significant relations among players.

Mutually excitatory Asymmetrical Mutually inhibitory(Quadrant I) (Quadrants II and IV) (Quadrant III)No 2 - No 8 No 2 – No 20 No 2 – No 3No3 – No 4 No 2 – No 13 No 2 - No 10No 3 – No 6 No 2 – No 7 No 3 – No 14No 3 - No 8 No 2 - No 18 No 3 – No 2No 3 - No 10 No 2 – No 6 No 3 – No 20No 4 - No 8 No 3 – No 13 No 3 - No 18No 4 - No 20 No 3 - No 7 No 4 – No 14No 4 – No 3 No 4 – No 2 No 4 – No 18No 4 – No 13 No4 – No 10 No 4 - No 7No 6 – No 4 No 6 – No 20 No 6 - No 7No 6 – No 10 No 6 – No 8 No 6 – No 13No 6 - No 3 No 6 – No 18 No 7 – No 20No 7 – No 8 No 7 – No 14 No 7 – No 6No 7 – No 10 No 7 – No 13 No 7 – No 4No 7 – No 18 No 7 – No 3 No 8 – No 13No 8 – No 10 No 7 – No 2 No 8 – No 13 No 8 – No 4 No 8 – No 20 No 10 – No 2No 8 – No 2 No 8 – No 7 No 10 – No 20No 8 – No 3 No 8 – No 18 No 10 – No 13No 8 – No 14 No 8 – No 6 No 13 – No 2No 10 – No 8 No 10 – No 7 No 13 – No 18No 10 – No 6 No 10 – No 18 No 13 – No 10No 10 – No 3 No 10 – No 4 No 13 – No 8No 13 – No 4 No 13 – No 3 No 14 – No 4No 13 – No 20 No 13 – No 6 No 14 – No 3No 13 – No 14 No 13 – No 7 No 18 – No 10No 14 – No 8 No 14 – No 18 No 18 – No 3No 14 – No 2 No 14 – No 8 No 18 – No 13No 14 – No 6 No 18 – No 20 No 20 – No 10No 18 – No 2 No 18 – No 6No 18 - No 14 No 18 – No 4No18 - No 8 No 20 – No 3No 18 - No 7 No 20 – No 7No 20 – No 2 No 20 – No 18No 20 – No 4 No 20 – No 8No 20 – No 6 No 20 – No 13

No 20 – No 6

Carlos Lago Peñas, M. Teresa Anguera Argilaga

It is this capacity of interrelation and dependenceamong the members of a team that makes it a sys-tem, and not a simple group of components. Theteam is a qualitatively different entity, whose totalvalue cannot be reflected by the sum of its individualvalues, but rather by a new dimension that emergesfrom the interaction among its components [14].Indeed, according Teodorescu [15] “team games canbe approached as situations in which to analysegroup dynamics”, in which the different positions ofparticipants are translated into relation of strengthamong them. Each team is a micro-society with net-works and relation-structures that relate the compo-nent elements to each other; making up “a complexand dynamic social micro-system” [1].Therefore, studying the behaviour of soccer playersrequires more than the direct observation of thebehaviour of one or more people in the same place.It needs the analysis of interaction systems of awide range of people who are not limited to a singleenvironment.The motor action in soccer should be understood asa changing fabric of multiple interdependencies thatbind the players to each other – whether they are ornot in the same immediate context. The organisa-tion of social relations is the key to analyse struc-tural properties of the networks in which soccer-players are immersed, and to detect emerging socialphenomena, which have no existence at the individ-ual level.

6. CONCLUSIONSThe polar coordinates technique has enabled us toproduce a conceptual map of the motor relationsamong the members of a soccer team by comparingthe different associations among players.The opportunity to representing the relations amongthe player taken as the focal behaviour and the restof players in the same conceptual map makes it clearthat the action in soccer is not built up individually.The dyadic links can only be understood in connec-tion with other dyads or parts of the network.Connections between two individuals are importantby themselves and also as parts of the social net-works to which they belong. Each link gives the

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member directs access to those individuals to whomtheir alter ego is related. Indirect links bind groupsof relations which place the members of a networkin a wider social system [16].This paper has focused on the analysis of interac-tions among players in the attacking phase and hasstressed the behaviour of the player in possession ofthe ball. The study should be followed up with theanalysis of the attacking phase and the situations ofco-operation and opposition during the game. Thismay help to reveal the manifestations of the game’sinner logic.

Interactions among professional Soccer players

ADDRESSCarlos Lago PeñasFacultad de CC. de la EducaciónUniversidad de VigoAv. Buenos Aires s/n36002 PontevedraEspañ[email protected]

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A importância do estudo do tracking (estabilidade e previsão) emdelineamentos longitudinais: um estudo aplicado à epidemiologiada actividade física e à performance desportivo-motora

José A. R. MaiaRui G. da SilvaAndré SeabraFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do Porto, Portugal

RESUMOEsta pesquisa pretende demonstrar a importância do estudo dotracking em investigação epidemiológica e da performance des-portivo-motora. A partir de dois conjuntos de dados é apresen-tado o problema, a sua relevância e essência analítica. No pri-meiro estuda-se o tracking da participação em actividade física(i.e., práticas desportivas generalizadas) a partir de informaçãoproveniente de 588 sujeitos seguidos longitudinalmente dos12.7 aos 17.7 anos. Foi utilizado um modelo quasi-simplex,que evidenciou a elevada estabilidade da prática desportiva,bem como o valor moderado a elevado das trajectórias interin-dividuais. No segundo estudo recorremos a informação prove-niente de 12 saltadores em comprimento, a partir da suamelhor marca em seis anos consecutivos. Recorreu-se ao con-ceito de canalização a partir dos procedimentos propostos porCohen, e Foulkes e Davies. Os resultados salientaram um fracaestabilidade da performance no tempo, bem como o seu carácternão-linear. Em conclusão há que salientar três aspectos funda-mentais: o primeiro radica na necessidade do uso de novos pro-cedimentos para pesquisar o fenómeno do tracking; o segundosugere a forte estabilidade e tracking moderado a elevado naprática desportiva ao longo da adolescência; o terceiro salientaa fraca canalização da performance dos saltadores, revelando aausência de estabilidade.

Palavras-chave: Tracking, modelos, simplex, actividade física,performance.

ABSTRACTThe importance of tracking (stability and prediction) in longitu-nal designs: an applied study to the epidemiology of physicalactivity and sports performance

This study aims at the presentation of the tracking phenomena in epi-demiological and motor performance research.The problem of tracking, its essence and importance were presentedbased on two sets of data. The first one was related to physical activity(i.e., sports practise) of 588 youngsters followed longitudinally for 6years, starting at the age of 12.7 years and ending at 17.7 years. Aquasi-simplex model was used, and showed the high stability of sportspractise, as well as the moderate to high tracking. In the second study, information came from the best performance of 12long jumpers in six consecutive years. This data was analysed accordingto the concept of canalisation, using the procedures suggested by Cohen,and Foulkes and Davies. Results showed a low stability of performanceover time, as well as its non-linear behaviour.In conclusion, three aspects deserved main attention: the first one relat-ed to the use of novel approaches to the study of tracking; the secondone showed the high stability of sports practise, as well as the moder-ate to high tracking; the third one evidenced the low canalisation of theperformance of the long jumpers due to its low stability.

Key Words: Tracking, modeling, simplex, physical activity,performance

Vítor P. LopesInstituto Politécnico de Bragança, Portugal

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INTRODUÇÃOA interpretação, significado e alcance do estudo daestabilidade e da mudança de características ou tra-ços mensuráveis, contínuos ou discretos, de atletasde níveis distintos de rendimento são do maior inte-resse dos pesquisadores das Ciências do Desporto.Estabilidade, mudança e previsão exigem, necessa-riamente, informação de natureza longitudinal,supondo, ou não, que os pontos de observação eregisto dos traços em estudo sejam equidistantes notempo 5, 44.O termo tracking contém, em si mesmo, uma duplanoção: a primeira refere-se à distância constanteentre um par de rodas, e a segunda contempla a pos-sibilidade em seguir uma pista que deixa marcasvisíveis no terreno 11,39. Deste carácter bi-fronte dotracking emergem quatro pontos chave: (1) presençade indicadores no terreno, (2) estabilidade das pis-tas, (3) facilidade em seguir uma pista, e (4) anteci-par pontos da pista a partir de outros previamenteconhecidos. O tracking implica, pois, duas ideias quese interpenetram - estabilidade e previsibilidade 50.Tracking é um termo genérico que pretende descreverum padrão regular de crescimento ou mudançanuma colecção de padrões de crescimento. Kowalskie Schneiderman (1992) referem, por um lado, aausência de uma definição universal para o termo, epor outro a ideia genérica do seu conteúdo – tendên-cia de um indivíduo ou colecção de indivíduos empermanecer(em) num dado curso ou canal de cresci-mento ou mudança, reflectindo estabilidade no seupadrão de crescimento ou mudança.O estudo do tracking é da máxima relevância se pre-tendermos atribuir significado próprio aquilo que éou não estável nos sujeitos em função da histórianatural do seu desenvolvimento, de um dado progra-ma de intervenção, ou de um tratamento específico.A título de mero exemplo ilustrativo, salientaremosaspectos centrais de alguns domínios de pesquisaonde a matéria do tracking é saliente:

– Biologia Humana, Antropologia Física e AuxologiaVerificar o efeito do estatuto sócio-económico oumaturacional na variação do crescimento somáticode uma população, ou verificar o grau de estabili-dade do processo individualizado de crescimentosomático.

– Biologia e ClínicaDeterminar os efeitos de uma terapêutica hormo-nal no crescimento somático (contrastar efeitosdistintos de terapias diferentes).

– EpidemiologiaAvaliar o padrão de crescimento somático de umsujeito relativamente aos valores de referência(identificar problemas de crescimento somático),ou inventariar o comportamento de grupos extre-mos relativamente ao factor de risco x ou variável z.

– Aprendizagem MotoraVerificar a magnitude e padrão de resposta de gru-pos de sujeitos submetidos a protocolos distintosde aprendizagem, ou avaliar o follow-up de sujeitosem condições distintas de aprendizagem.

– Treino DesportivoAnalisar o comportamento da performance indivi-dual ou grupos distintos de sujeitos submetidos aprotocolos diferenciados de treino, ou inventariar aresposta a intervenções específicas de treino (estu-dos de caso).

Ainda que as metodologias disponíveis para abordarquantitativamente o fenómeno do tracking sejamdiversificadas 24,39, foram Foulkes e Davies, em1981, os primeiros autores a sugerirem a existênciade duas correntes fundamentais de pensamentometodológico relativo à operacionalização destanoção:

– A primeira centra a sua atenção (1) no estudo dascorrelações entre medições sucessivas da(s)mesma(s) variável(eis) (i.e. auto-correlações), bemcomo de (2) regressão linear ou não-linear, sendoque daqui emerge a possibilidade de predição devalores futuros com base em observações prévias.Exemplos esclarecedores desta posição são eviden-tes em pesquisas epidemiológicas acerca do com-portamento da tensão arterial 40, de factores derisco da doença coronária 1, actividade física 18,36,aptidão aeróbia 17, ou em estudos na área da edu-cação 6. Há um outro conjunto de autores (ver porexemplo 51) que estende a ideia da estrutura dasauto-correlações (se estas evidenciarem estabilida-de em que o valor de r≥ 0.50) à possibilidade deprevisão. Aqui o enfoque é em estudos multivaria-dos com recurso a generalized estimation equations e

José A. R. Maia, Vítor P. Lopes, Rui G. da Silva, André Seabra

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curvas de crescimento polinomial em dois estádios.Exemplos relevantes são os de Baumgartner eRoche (1988) acerca do padrão de adiposidadesubcutânea, ou o de Twisk et al. (1996) relativo aocomportamento do colesterol e das lipoproteínasde alta densidade.

– A segunda corrente dirige o seu olhar para osseguintes aspectos: (1) o carácter inequívoco dadistribuição dos valores monitorizados mudaremnaturalmente com o tempo; (2) e os indivíduos“manterem as suas posições relativas”, uns relati-vamente aos outros, em cada distribuição de valo-res e em cada ponto do tempo. Daqui que o pro-blema nuclear a que se pretende dar resposta éprecisamente o da definição precisa de posiçãorelativa. A resposta tem sido diversificada e os pro-cedimentos analíticos também são distintos, embo-ra os resultados finais sejam idênticos 14,31,51. Asformas mais óbvias de solucionar a noção de posi-ção relativa centram-se na ordem ou posição dossujeitos (i.e., no cálculo de medidas de posição),no estudo do comportamento das posições dossujeitos numa distribuição quantílica, ou no cálcu-lo dos desvios da média em função do tempo 24.Alguns exemplos desta abordagem estão consigna-dos na pesquisa de Kelder et al. (1994) sobre ocomportamento de adolescentes relativo aos seushábitos tabágicos, de actividade física e de escolhasalimentares, ou ainda de Van Lenthe et al. (1994)no que concerne ao comportamento da tensão arte-rial em crianças e jovens. Um estudo fascinante é ode Park et al. (1997), acerca do fenómeno daausência de canalização do peso e estatura durantea infância e adolescência.

Os dois estudos que iremos apresentar acerca dotracking provêm de domínios distintos de interesses:epidemiologia da actividade física e performance des-portivo-motora. Nestes olhares diversificados sobrea dinâmica de um fenómeno interactivo - estabilida-de, mudança e previsibilidade - recorreremos amodelos díspares de análise, por forma a salientaraos leitores algumas facetas do diamante polifaceta-do de olhares sobre a matéria. No primeiro recorre-remos ao simplex de Markov. No segundo, ao Kappade Cohen e ao gama de Foulkes e Davies.

A abordagem em cada um dos domínios anterior-mente citados será pois a seguinte: (1) em primeirolugar será lançada a importância da problemática;(2) de seguida apresentaremos a amostra, bem comoos aspectos metodológicos da análise e finalmente,(3) abordaremos os principais resultados e seu signi-ficado.

EXEMPLO 1Epidemiologia da actividade físicaÉ grande a convicção, entre investigadores de dife-rentes quadrantes de interesses da Medicina eCiências do Desporto, de que a actividade físicadiminui os factores de risco de um conjunto variadode condições mórbidas e parece possuir a capacidadede aumentar a longevidade (sobre esta matéria con-sultar 9,33,47). É também grande a convicção queum estilo de vida activo e saudável na vida adultaencontra as suas raízes na infância e adolescência.Daqui que a educação para a saúde tenda a percorrertoda a história de vida de cada um de nós e assentenum conjunto de pressupostos dirigidos para a pro-moção da saúde em idades baixas. Tais pressupostossão apresentados por Kelder et al. (1994) do seguin-te modo:

1º Um certo número de crianças tende a situar-seem zonas de risco fisiológico e comportamental.

2º Os riscos de natureza fisiológica tendem a eviden-ciar estabilidade (i.e., tracking moderado a subs-tancial) da infância à idade adulta.

3º O desenvolvimento de factores de risco fisiológicodepende, largamente, das idades do seu apareci-mento, sobretudo daquilo que se designa porcomportamentos comprometedores da saúde (ex:dietas com baixo valor nutritivo; hábitos tabági-cos; hábitos de inactividade física).

4º A prevenção primária pode, e deve, ser realizadaatravés da modificação de comportamentos que sepensa estarem associados com factores de riscofisiológico, antes que tais padrões comportamen-tais estejam profundamente enraizados e sejammais resistentes à mudança.

Estudo do tracking em epidemiologia e performance

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É a partir deste conjunto de pressupostos, e combase nas convicções da íntima associação da práticade actividade física e desportiva, que se tem produzi-do investigação sobre o tracking da actividade física.A título de exemplo, salientamos algumas pesquisasrecentes realizadas por Glenmark et al. (1994) relati-vas à previsão dos níveis de actividade física de adul-tos, com base nos valores evidenciados pelos sujei-tos durante a adolescência; por Pate et al. (1996)relativo ao tracking da actividade física de criançasnum estudo com a duração de 3 anos; de Telama etal. (1996) também sobre o tracking da actividade físi-ca de crianças e adolescentes durante 3 anos numdelineamento longitudinal-misto; e por Pate et al.(1999) acerca do tracking da actividade e inactividadefísica em crianças com 10 anos de idade.A análise dos resultados destes estudos desagua,normalmente, de tabelas de contingência onde secalculam proporções de acordos ou o Kappa deCohen, regressão múltipla, ou muito frequentemen-te em auto-correlações de Pearson ou Spearman.Apesar da relevância inegável destas pesquisas, pen-samos que “sofrem” de algumas limitações do pontode vista metodológico 26,28: (1) o significado subs-tantivo a atribuir ao valor de r, assumindo uma ideiade causalidade que a noção de correlação nuncaencerrou; (2) a limitação da amplitude dos dadosnas medidas repetidas do mesmo indicador, reflecti-da na ausência de amostras aleatórias, ou no limitetemporal da pesquisa; (3) o significado atribuído aovalor empírico de r≥ 0.50 para qualquer característi-ca evidenciar estabilidade não ser, na quase totalida-de dos casos, justificado; (4) a reduzida dimensãodas amostras (normalmente <100 sujeitos), o quecoloca sérios problemas na estimação de parâmetros,bem como na ausência de precisão da amplitude dosintervalos de confiança e generalização dos resulta-dos; (5) a circunstância dos valores de r não estaremcorrigidos pelas estimativas de fiabilidade, implican-do que os resultados mencionados na literaturasejam sempre sub-estimados, dado estarem contami-nados por erros de medição.Ora, é com base neste conjunto de “críticas”, e a par-tir de inovações no plano metodológico e estatístico,que se propõe uma forma distinta para abordar oproblema do tracking no domínio da actividade física.

ASPECTOS METODOLÓGICOSAmostraA informação relativa a este estudo provém da famo-sa pesquisa (Leuven Growth Study) realizada naUniversidade Católica de Lovaina sob a orientaçãodo Prof. Gaston Beunen1, em que 588 sujeitos dosexo masculino foram seguidos longitudinalmentedurante 6 anos. No primeiro momento da observa-ção, a idade média dos sujeitos era de 12.7 anos, eno último momento de registo era 17.7. À excepçãode algumas medidas somáticas cujo registo erasemestral, na maior parte dos outros indicadores asmedições foram efectuadas anualmente. De um con-junto multifacetado de indicadores cobrindo aspec-tos do crescimento somático, maturação biológica,somatótipo, composição corporal, aptidão física eestatuto socio-económico, há também informaçãorelativa à actividade física. Neste último domínio, ainformação é muito detalhada. Contudo, para finsilustrativos do modelo que a seguir se apresenta,focalizaremos a nossa atenção no indicador númerode horas de prática desportiva formal, independente-mente das horas de prática realizada nas aulas deEducação Física.

Análise de estruturas de covariânciaO modelo de estruturas de covariância (MEC) é umaespécie de alquimia estatística moderna, dado consi-derar, numa formulação única altamente flexível esuficientemente genérica, as propostas de biometris-tas, econometristas e psicometristas (ver por exem-plo em língua portuguesa, Maia, 1998a). Na suaessência, trata de conceber e realizar, numa aborda-gem única, a análise factorial e a regressão múltiplamultivariada, com inclusão de variáveis latentes evariáveis observadas, com diferentes escalas demedida e sob diferentes tipos de distribuições. Asunidades de análise não necessitam de ser medidasde forma contínua. Fortes desenvolvimentos meto-dológicos estão disponíveis para variáveis ordinais edicotómicas. A MEC está fortemente teorizada (verpor exemplo Bollen, 1989; Joreskog, 1969; Joreskog

José A. R. Maia, Vítor P. Lopes, Rui G. da Silva, André Seabra

1 Gostaríamos de expressar a nossa gratidão aos Profs.Doutores Gaston Beunen e Johan Lefevre pelo facto de nosfacilitarem o acesso à sua base de dados.

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& Sorbom, 1989; 1996), não cessa de ser alargada aoutros horizontes analíticos (ver por exemploMarcoulides & Schumacker, 1996) e aplicada emdiversos domínios que vão de estudos meramentedescritivos a experimentais, percorrendo áreas tãodistintas como são as ciências da educação e a epide-miologia, estudos econométricos ou de genéticaquantitativa. O MEC é composto por dois sub-modelos, o demedida e o estrutural. O sub-modelo de medida,numa das suas formalizações mais simples e que nosinteressa para ilustrar a noção de tracking será apre-sentado de seguida, a partir da operacionalizaçãosimples da noção complexa de actividade física.O modelo estrutural será ilustrado mais adiante.As preocupações dos peritos na avaliação das apti-dões e/ou comportamentos reflectem-se, do ponto devista operacional, na apresentação de baterias de tes-tes ou instrumentos de trabalho mais simples, comosão os questionários, que reflictam as noções de eco-nomia e parcimónia. Daqui que cada uma das compo-nentes das aptidões ou de uma característica do com-portamento do sujeito possa ser marcada por umúnico indicador. No caso presente, e a título de exem-plo, a actividade física será imperfeitamente represen-tada e marcada pelo indicador número de horas deprática desportiva. O modelo de medida, de acordocom a Teoria Clássica dos Testes, é pictograficamenterepresentado do seguinte modo (ver Figura 1).

Figura 1. Especificação pictográfica para o modelo de medida da actividadefísica.

No contexto da MEC, as variáveis latentes (η) sãorepresentadas em círculos ou elipses, e as variáveis

observadas (y) em quadrados ou rectângulos. O λrefere-se, neste caso, ao valor de validade convergen-te (em termos de Análise Factorial é o loading estru-tural) do indicador horas de prática desportiva pararepresentar a noção de actividade física. O ε repre-senta o erro de medição, a extensão de variância erroque reflecte o maior ou menor grau de fiabilidadedos resultados obtidos no questionamento das horasde prática desportiva.O algoritmo que soluciona numericamente a MEC estádisponível em software com diferentes parametrizações- o EQS (Bentler e Wu, 2001), o LISREL (Joreskog eSorbom, 1996), e o Mplus (Muthén e Muthén, 2001).Para além destes três programas, há outros disponíveisno mercado e implementados em software estatísticobem conhecido - o COSAN (no SAS), o AMOS (noSPSS) e o SEPATH (no STATISTICA). As estatísticas disponíveis nos resultados da aplica-ção destes programas para modelar estruturas decovariância são suficientemente esclarecedoras dasua vantagem relativamente ao simples cálculo deestatísticas descritivas como o r de Pearson ou deSpearman que a maior parte da pesquisa sobre otracking disponibiliza. Destacamos, pois : (1) medi-das de ajustamento global para a totalidade domodelo, considerando um equilíbrio entre complexi-dade e parcimónia; (2) estimativas pontuais e inter-valares para os parâmetros fundamentais de cadamodelo; (3) medidas de variância explicada; (4) esti-mativas de variância verdadeira não contaminada porerro de medição que se designam por coeficientes detracking; (5) ajuda na localização de fontes de máespecificação de cada um dos modelos.O modelo que vamos descrever será apresentado deforma semântica, a que se seguirá a sua representa-ção ou especificação pictográfica. Os resultadosnuméricos serão interpretados no contexto de cadaformulação. Para não carregar o texto, não será refe-rida a estrutura estatística de cada modelo. Os leito-res interessados neste particular encontrarão nasreferências matéria suficiente para uma viagem maisminuciosa a este território.

O modelo simplex de Markov: ideias genéricas,representação gráfica, hipóteses e resultadosEste modelo pretende descrever dois aspectosnucleares da dinâmica da mudança nos níveis de

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actividade física - sobretudo a noção de estabilidadede covariância (ou tracking) e a de mudança. Amudança é expressa pela magnitude da variação nacomponente aleatória (ζi) e a estabilidade pela com-ponente determinística (βji).Assume-se que a continuidade ocorre quase queexclusivamente pelo efeito dos valores das variáveisem pontos diferidos do tempo, produzindo aquiloque se designa por modelo auto-regressivo de 1ªordem (Figura 2), dado que os valores em ti sãodependentes exclusivamente dos valores obtidos emti-1. Não há pois lugar para efeitos não-adjacentesno tempo.

Figura 2. Especificação gráfica para o modelo simplex de Markov relativo àactividade física.

Nesta formulação, o valor da expressão da actividadefísica, por exemplo, em cada ponto do tempo étransferida para o ponto seguinte, fazendo do valorem ti formalmente dependente do valor em ti-1. Istosignifica que o valor da actividade física aos 12.7anos influencia directamente, é o preditor único, dovalor aos 13.7 anos, o dos 13.7 anos é preditor únicodo valor aos 14.6 anos e assim sucessivamente.Trata-se de um modelo auto-regressivo ordenado notempo face à estrutura espacial mais ou menos fixadas ocasiões de avaliação. Este modelo é tambémdesignado de Markov (nome do eminente estatísticorusso que formulou a estacionaridade em sistemasdesta natureza), sendo possível separar a estabilida-de (βji = coeficiente de regressão) da distribuiçãodos valores dos sujeitos, da instabilidade da suaposição relativa no tempo (ζi = instabilidade navariância, também designada por perturbação naestacionaridade do sistema). A magnitude do valorde ζi reflecte, pois, os efeitos aleatórios de mudançaocorrida em ti, por outros factores que não os impli-cados por ti-1.

Por questões de identificação de modelos desta natu-reza, a variância da variável latente (i.e. a actividadefísica) está expressa nas unidades de medida do indi-cador considerado – horas de prática desportiva(para tal fixam-se os valores de λii em 1). Tal comofoi anteriormente referido, os valores de εi represen-tam erros de medição, e os λii são indicadores devalidade convergente.Este tipo de modelos foram solucionados matemati-camente por Joreskog (1970) no contexto da MEC,têm sido utilizados para estudar o crescimento aca-démico (Werts, Linn & Joreskog, 1977), processoseconométricos (Baltagi, 1995), sociológicos (Finkel,1995), estruturas hierárquicas de aprendizagem(Hill, 1987), dados de natureza educacional(Cuttance & Ecob, 1987), bem como em aplicaçõesdesenvolvimentalistas (McArdle & Aber, 1990). Oseu uso em estudos de natureza epidemiológica daaptidão física e em desenvolvimento motor deve-sea Maia et al. (1998a; 1998b; 2001).O Quadro 1 apresenta a matriz de auto-correlaçãorelativa às horas de prática desportiva nos seis pon-tos do tempo. Estes valores de auto-correlação sãonormalmente designados por valores de tracking daactividade física. Na sua generalidade, a magnitudedos resultados é baixa, sugerindo a inexistência detracking.

Quadro 1. Matriz de auto-correlação para os valores relativos às horas deprática desportiva.

Idade 12.7 13.6 14.6 15.6 16.7 17.712.7 1.0013.7 0.45 1.0014.6 0.39 0.52 1.0015.6 0.31 0.35 0.52 1.0016.7 0.28 0.33 0.42 0.54 1.0017.7 0.25 0.28 0.37 0.45 0.58 1.00

Uma leitura mais atenta desta matriz revela doisaspectos importantes: (1) os valores de correlaçãovão diminuindo à medida que nos afastamos da dia-gonal principal, i.e, em cada coluna, e (2) aumentamao longo de cada linha. Tal estrutura tem proprieda-des matemáticas muito importantes, sendo um caso

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particular do simplex de Guttman, e que foram solu-cionadas por Joreskog (1970). Dado que os valoresde correlação se referem aos resultados obtidos dasrespostas relativamente ao número de horas de práti-ca desportiva e possuem uma quantidade de erro demedição, esta matriz é designada de quasi-simplex,uma vez que não se verifica a seguinte igualdade,

rij = (ri,i+1) (ri+1,l+2) ... (rj-1,j), para i<jou seja, num perfeito simplex, a correlação entreduas variáveis i e j seria igual ao produto das correla-ções entre todos os pares adjacentes.Dado que no modelo quasi-simplex se analisa exclu-sivamente a estrutura da covariância dos valoresobtidos, a hipótese que aqui vai ser colocada é aseguinte:

Tal como quantificada pelo número de horas de prá-tica desportiva, a actividade física evidencia umaforte estabilidade de covariância no tempo. Amudança ocorrida implica que os sujeitos mante-nham as suas posições relativas dos 12.7 aos 17.7anos de idade. Ou seja, face à estabilidade interindi-vidual das trajectórias de crescimento nos níveis deactividade física, é relativamente fácil predizer valo-res futuros de actividade física dos sujeitos a partirdo conhecimento de valores prévios. Dito de umoutro modo, pode dizer-se que a forte estabilidadesignifica uma canalização acentuada na trajectória decada sujeito. Se a instabilidade na actividade físicafosse reduzida, então estaria aberto o caminho paraa previsão de valores futuros de actividade física,dada a presença de um tracking elevado.

Dada a enorme flexibilidade da MEC, foram testadostrês modelos alternativos:

– Um primeiro modelo sem qualquer restrição nosparâmetros (βij, ζi e εi), à excepção de necessidadede identificação da solução para se conseguir con-vergência do algoritmo - ε1 e ε2 serem iguais, e omesmo ocorre para ε5 e ε6 em zero (ver Joreskog,1970). Este modelo é normalmente considerado debaseline, dado que permite testar de forma hierár-quica um outro conjunto de modelos que podemser mais parcimoniosos. Este é o modelo querepresenta a hipótese previamente formulada.

– O segundo modelo apresenta restrições nos parâ-metros βij e εi. A primeira refere-se à sugestão deuma estabilidade de covariância perfeita para aactividade física, também conhecida por estabilida-de paralela; a segunda propõe o mesmo valor paraa variância erro. Isto quer dizer que os valores defiabilidade das respostas dos sujeitos nos diferen-tes pontos do tempo são os mesmos - uma hipóte-se altamente plausível.

– O terceiro modelo considerou a possibilidade denão haver tracking – a covariância entre medidasrepetidas no tempo não seria significativamentediferente de zero. Daqui que só houvesse variânciasindependentes. Este é o modelo mais restritivo.

Um modelo descritor perfeito da estrutura de cova-riância amostral teria 0 graus de liberdade e χ2=0.Neste caso, o modelo representaria a realidade dofenómeno em estudo, o que é, em si mesmo, umaimpossibilidade, dado que, por definição, um modeloé uma aproximação da representação da realidade.Contudo, mostra desde logo que um bom modelo,entre outros aspectos da análise, será aquele quepossuir um menor número de graus de liberdade eum valor mais reduzido de χ2 – encontro entre parci-mónia e complexidade de representação e explicaçãoda matriz de covariância.Todos os cálculos foram realizados no programa Mplus(Muthén e Muthén, 2001), recorrendo ao métodorobusto de estimação por máxima verosimilhança.As principais estatísticas descritivas dos dadosencontram-se no Quadro 2.

Quadro 2. Mediana (Me), média (M), desvio padrão (Dp), assimetria (G1) eachatamento (G2) das horas de prática desportiva nos seis momentos deregisto.

Anos Me M Dp G1 G212.7 2.33 3.33 3.34 1.64 3.6313.6 2.83 3.64 3.37 1.41 2.1514.6 3.33 4.08 3.33 1.50 2.8615.7 4.00 4.88 4.01 1.49 2.7316.7 4.33 5.10 3.97 1.30 1.8817.7 3.88 4.86 4.07 1.19 1.23

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É evidente a forte assimetria e achatamento das dis-tribuições da variável em estudo ao longo dos seisanos. Quer os testes univariados à assimetria, querao achatamento produziram resultados altamentesignificativos (p<0.01). Tal traduz uma violação ànormalidade das distribuições. Daqui que, qualqueresforço de modelação da estrutura dos dados exijaprocedimentos robustos.Os principais resultados do ajustamento dos mode-los testados encontram-se no Quadro 3.

Quadro 3. Estatísticas de ajustamento global dos modelos previamente apre-sentados.

Modelos χ2 gl1 p2 CFI3 RMSEA4

Modelo baseline 3.13 6 0.79 1.00 0.00Modelo de tracking perfeito 21.02 11 0.03 0.98 0.04Modelo de tracking perfeito,com variância erro constante 29.26 14 0.00 0.98 0.05Modelo de ausência de tracking 659.64 15 0.00 — —

1=graus de liberdade; 2=valor da prova; 3=Comparative Fit Index; 4=RootMean Square Error of Approximation

Os resultados do ajustamento quer global quer localsugerem a forte plausibilidade do primeiro modeloface ao baixo valor do Qui-quadrado, e sobretudo àcircunstância do valor da prova ser de 0.79. Ao nãoser rejeitada a hipótese nula, que é a hipótese pre-viamente lançada está encontrado o melhor modeloem contraste com os outros que rejeitam sempre assuas hipóteses nulas (detalhes de contraste estatísti-co entre modelos é encontrado, por exemplo, emFoguet e Gellart, 2000; Maia, 1998a; Raykov eMarcoulides, 2000). Os aspectos mais relevantes damelhor solução estão no Quadro 4.

Quadro 4. Solução do modelo simplex de Markov para a actividade físicamarcada pelo número de horas de prática desportiva.

Actividade FísicaCoeficiente de estabilidade (βji)12.7-13.7 0.7813.7-14.6 0.8114.6-15.6 0.7715.6-16.7 0.8216.7-17.7 0.84Variância explicada (R2)12.7-13.7 0.6013.7-14.6 0.6514.6-15.6 0.6015.6-16.7 0.6616.7-17.7 0.70Instabilidade na variância (ζi)12.7-13.7 0.4013.7-14.6 0.3514.6-15.6 0.4015.6-16.7 0.3416.7-17.7Medidas de ajustamento global 0.30Qui-Quadrado 3.13CFI 1.00RMSEA 0.00

Os valores dos coeficientes de estabilidade (valoresestandardizados) são moderados a elevados, expres-são visível da manutenção da posição relativa decada sujeito na sua trajectória de crescimento daactividade física em relação aos outros. Os valores devariância de cada equação estrutural são moderados,situando-se entre os 60% e os 70%. Daqui se infereque a instabilidade das trajectórias seja baixa, contu-do presente. Os resultados da modelação revelam uma canaliza-ção moderada a elevada de desenvolvimento interin-dividual nos níveis de actividade física. Conforme évisível no Quadro 4, a instabilidade das medidasadjacentes no tempo é baixa e situa-se, quase sem-pre na mesma magnitude, entre 0.30 e 0.40.Se porventura os valores de estabilidade fossemreduzidos, o que não se verifica neste estudo, pode-ríamos estar na presença de:

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– Fiabilidade e validade convergente baixas para avariável marcadora da actividade física. Tal nãoparece ser o caso.

– Saltos mais ou menos aleatórios no processo decrescimento da actividade física, ou eventualmentea circunstância da mudança se processar por está-dios. Ora nem uma nem outra possibilidades pare-cem estar patentes nos resultados.

Um aspecto muito relevante do modelo simplexresulta no cálculo de valores de actividade física nãocontaminados por erros de medição. A matriz de taisvalores, designada por matriz de auto-correlação oude tracking deste processo, está no Quadro 5. É evi-dente uma forte diferença destes resultados relativa-mente aos que se encontram no Quadro 1. Os valo-res de tracking estimados a partir do modelo simplexsão moderados, em nítido contraste com os primei-ros que sugeriam a possibilidade do tracking da acti-vidade física ser baixo a irrelevante.

Quadro 5. Matriz de auto-correlação ou tracking da actividade física(estimação a partir do modelo simplex).

Idade 12.7 13.6 14.6 15.6 16.7 17.712.7 1.0013.7 0.78 1.0014.6 0.63 0.81 1.0015.6 0.48 0.62 0.77 1.0016.7 0.39 0.51 0.63 0.82 1.0017.7 0.33 0.43 0.53 0.68 0.84 1.00

Em suma, são aqui salientadas duas ideias funda-mentais. A primeira radica na enorme riqueza con-ceptual e analítica do recurso à MEC para estudar otracking, face não só à possibilidade em postularhipóteses rivais para os mesmos dados, mas tambémà disponibilidade do software em fornecer uma varie-dade substancial de estatísticas que não se encon-tram nos estudos anteriores sobre o tracking querecorrem quase que exclusivamente a correlações dePearson ou Spearman. A segunda ideia mostra adependência estrutural moderada e elevada dosníveis de actividade física em cada ano face ao ante-rior, e o mesmo ocorre para os valores do tracking-

moderados a elevados. Contudo, não deixa de serinteressante verificar que os resultados da instabili-dade se situam entre 0.30 e 0.40, o que mostra algu-ma labilidade neste comportamento ao longo dosanos.

EXEMPLO 2Performance desportivo-motoraUm dos aspectos nucleares de todo o processo detreino estruturado e planeado na direcção do altorendimento é o da preocupação com o comporta-mento da dinâmica da performance. Contudo, e inex-plicavelmente, não parece ser muito evidente umaforte preocupação dos investigadores por esta temá-tica2, muito menos dos treinadores, a “julgar” pelaausência de estudos ou reflexões escritas sobre amatéria. Por exemplo, manuais recentes sobre o trei-no desportivo (Bompa, 1999; Siff & Verkhoshansky,2000), ou sobre o atletismo3 não relevam qualquerapetência pelo estudo da dinâmica da performance emfunção do tempo. Do mesmo modo, revistas daactualidade (ver por exemplo a “Revue AEFA”, a“Track Coach” ou a “Atletismo Español”) tambémevidenciam algum silêncio sobre tal matéria.Muito mais pobre é tal produção em Portugal, ondenão se vislumbra, até ao momento, qualquer tentati-va de modelação do dinamismo da performance des-portivo-motora em função do tempo4. Contudo, nãodeixamos de salientar o alvo de todo o processo detreino com vista ao alto rendimento – o sucessocompetitivo. Não duvidamos que o problema dodinamismo da performance seja motivo de forte preo-cupação de qualquer treinador. Infelizmente, as suasreflexões raramente tomam forma de letra publicadaem revistas da especialidade.

Estudo do tracking em epidemiologia e performance

2 Uma consulta à base de dados da Sport Discus não produziuresultados satisfatórios dada a escassez de produção na maté-ria da modelação da dinâmica da performance em função dotempo. Foram usadas diversas combinações de palavras-chave:modeling, performance, long-jump, track and field, dynamics.

3 Uma consulta na bibliografia disponível na biblioteca daFCDEF-UP não revelou qualquer resultado frutífero nestamatéria específica.

4 Não conhecemos qualquer publicação sobre esta matéria quetenha analisado dados longitudinais de atletas ou de equipas.

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A título de exemplo ilustrativo do tracking, servir--nos-emos de informação longitudinal provenientede uma especialidade marcada pela expressão daforça explosiva – o salto em comprimento.

ASPECTOS METODOLÓGICOSAmostraOs dados para este estudo provêm das melhores mar-cas anuais de doze saltadores em comprimento por-tugueses. Isto significa que possuímos informaçãocompleta sobre todos os saltadores (ver Quadro 6).

Quadro 6. Valores da melhor marca no salto em comprimento de 12 atletasdurante 6 anos (os resultados estão em metros).

Atletas 1 2 3 4 5 61 6.23 6.64 7.27 7.33 7.55 7.452 6.50 6.59 7.00 7.24 7.18 7.463 6.21 6.59 7.00 7.28 7.71 7.524 6.85 7.15 7.37 7.30 7.40 7.325 6.65 6.94 7.10 7.05 7.02 6.786 6.75 6.94 6.86 6.89 6.73 7.337 6.57 6.75 6.88 7.00 6.69 6.918 6.49 6.73 6.80 6.57 7.17 6.859 6.65 6.66 6.81 6.61 7.25 6.9810 6.78 6.66 6.85 6.77 6.92 6.6811 6.36 6.78 6.83 6.93 7.16 7.0512 6.52 6.65 6.77 6.69 6.71 6.88Média 6.64 6.77 6.97 6.97 7.15 7.10

PROCEDIMENTOS E PRINCIPAIS RESULTADOSUma forma demasiadamente elementar de análisedos resultados seria, muito simplesmente, a centra-ção da atenção nos valores médios. Tal atitude pare-ce-nos superficial e insuficiente, porque não exploraa totalidade das características da informação indivi-dual disponível.A título de mero exemplo, vejamos o comportamen-to dos resultados de dois atletas (ver Figura 3), con-trariando fortemente a tirania dos valores médios.Os gráficos revelam uma diversidade inequívoca decomportamentos da performance dos dois sujeitos quejamais seria capturada pela simples apreciação dosvalores médios.

Figura 3. Representação do ajustamento demodelos distintos de regressão onde se notaum comportamento não-linear dos resultados(R2=0.98) no painel de cima e linear (R2=0.81)no de baixo.

Um conceito extremamente interessante que podeser aplicado ao estudo da performance dos saltadoresé o de canalização. Este conceito foi inicialmenteproposto em 1957 pelo geneticista inglêsWaddington no seu livro Strategy of the Genes, umareflexão teórica sobre aspectos da Biologia, lançan-do-se na aventura concreta da Biologia doDesenvolvimento a partir de informação proveniente

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da embriologia e da genética. O autor sugeria, nocontexto biológico, que o desenvolvimento ou ocrescimento se processava ao longo de um dadocanal numa paisagem epigenética com múltiplas pos-sibilidades, onde era evidente não só um comporta-mento regular do fenómeno, como também a ten-dência para se dirigir para um alvo geneticamentedeterminado e actualizado pelo envolvimento.Tanner (1978) estende esta noção ao processo decrescimento somático, e Baumgartner e Roche(1988) e Roche e Baumgartner (1988) utilizaram-nopara pesquisar as alterações na distribuição dopadrão de gordura corporal durante o crescimentodo ser humano.A noção de canalização emerge de forma clara quan-do se interpretam valores repetidos do crescimentosomático de um dado sujeito numa carta de cresci-mento, sobretudo quando se monitoriza o seu pro-cesso e se pretende situá-lo no contexto de referên-cias locais ou internacionais.Sempre que as medidas repetidas no tempo de umavariável (por exemplo a altura, o peso, ou um indica-dor relevante da performance desportivo-motora) deum dado sujeito permanecem entre um par de per-centis adjacentes (por exemplo P10-P25; P50-P75), ouque não se desviam mais do que um dado centilmaior ou para o canal contíguo, diz-se que se está napresença de canalização. De acordo comBaumgartner e Roche (1988) e Roche e Baumgartner(1988), este conceito é credor de uma forte aplicaçãona pesquisa sobre o crescimento e desenvolvimentosomático e motor ou da performance desportiva intra--individual, dado implicar um prognóstico relativa-mente ao valor a ser atingido no estado adulto, ouno nível mais elevado de performance. Daqui que estanoção exija alguma modelação matemática paradados de comportamento linear ou não-linear.Estamos na presença de mudança de canal de desen-volvimento ou da performance desportiva sempre quea alteração das medidas repetidas no tempo impli-que uma transição para canais não adjacentes, porexemplo passar do canal P10-P25 para o canal P50-P75.Pode acontecer que por motivos de “forte conspira-ção” do envolvimento (por exemplo sub-nutrição,condições desfavoráveis de treino, alteração substan-cial das condições da competição, ou do própriosujeito) haja um desvio do canal de desenvolvimento

ou da performance. Se se remover este efeito nocivo, oorganismo possui uma tendência inata para voltar aoseu canal original. Este fenómeno designa-se porrecanalização.A aplicação destas noções tem sido extremamentefértil na descrição e interpretação do crescimentosomático (ver por exemplo Park et al., 1997; Tanner,1978).Um modo altamente promissor de análise e interpre-tação dos resultados apresentados no Quadro 6 é orecurso à segunda corrente de pensamento metodo-lógico, no que ao tracking diz respeito, se nos “adap-tarmos” aos conteúdos provenientes da ideia decanalização. Para tal faremos uso da sua implemen-tação no software estatístico Longitudinal Data Analysis(Schneiderman e Kowalski, 1993), recorrendo exclu-sivamente ao Kappa de Cohen e ao gama de Foulkese Davies (sobre esta matéria ver Kowalski eSchneiderman, 1992).

O Kappa (K) de CohenEste procedimento estipula a existência de tracking(i.e., estabilidade5 na performance) se os sujeitos ten-derem a permanecer no mesmo quantil (track oucanal) da distribuição. A pergunta chave é pois:quantas vezes é que a marca de cada atleta está noseu quantil, que é calculado em função dos valoresdas marcas dos atletas em cada ponto do tempo.Este procedimento não exige qualquer a priori acercada forma da curva de crescimento da performance,bem como não reclama qualquer avaliação da norma-lidade da distribuição, dado tratar-se de uma estatís-tica não-paramétrica. Baseado nas sugestões deLandis e Koch (1977), considera-se a seguinte inter-pretação para os valores do Kappa: K≥ 0.75=excelen-te; K≥ 0.40 e K<0.75=moderado a bom;K<0.40=mau.

Estudo do tracking em epidemiologia e performance

5 Por estabilidade não se entende a ausência de mudança, a nãoser que o valor das médias, ou os valores de cada sujeitos nãose alterem substancialmente no tempo. O conceito de estabi-lidade é bem dinâmico e plural, podendo evidenciar caracte-rísticas que a qualificam de paralela, estrita ou monotónica(sobre esta matéria ver Maiaet al., 1998a; Maia et al., 2001).

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A Figura 4 mostra, para a distribuição em causa,quatro canais que pretendem descrever a performanceno tempo das sub-categorias de atletas da amostra, eo Quadro 7 contém os valores dos percentis, bemcomo os respectivos pontos de corte das marcas. Oscanais podem ser considerados como zonas distintasde performance de sub-grupos de saltadores.

Figura 4. Canais da distribuição dos valores da performance dos atletas emfunção do tempo.

Quadro 7. Pontos de corte dos principais percentis nos seis momentos.

Centis 1 2 3 4 5 6P100 6.85 7.15 7.37 7.33 7.71 7.52P75 6.67 6.86 7.10 7.26 7.33 7.39P50 6.55 6.74 6.87 6.97 7.17 7.02P25 6.43 6.66 6.82 6.73 6.94 6.87

Na Figura 5 estão incluídos os canais da distribuiçãoquantílica dos resultados, bem como os traçados daperformance de cada atleta.

Figura 5. Canais de performance e trajectórias individuais não modeladas.

Os resultados da estabilidade da performance de cadaatleta estão no Quadro 8.

Quadro 8. Valor de Kappa para cada atleta, bem como a frequência de per-manência no respectivo canal.

Kappa individual Canal 1 Canal 2 Canal 3 Canal 40.47 2 0 0 40.40 0 1 4 10.27 2 0 1 30.67 0 0 1 50.13 1 1 2 20.13 1 2 1 20.47 0 2 4 00.26 3 2 1 00.20 2 2 2 00.27 2 3 0 10.27 1 3 2 00.47 4 2 0 0

Conforme é evidente do Quadro anterior, o valor daestatística Kappa de cada sujeito é baixo, à excepçãodo atleta número 4, cujo Kappa é de 0.67, salientan-do o facto de estar 5 vezes no seu quantil ou canalde performance mais elevado, e só uma vez no canalimediatamente inferior. Contudo, é importante con-siderar a dinâmica dos seus resultados (ver Quadro6). Ainda que se situe no canal mais elevado de per-

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formance, e a maior frequência de resultados estejano canal 4, as cinco últimas marcas salientam umcarácter algo “ondulatório – de 7.15 passa para 7.37,depois desce para 7.30, sobe para 7.40, e volta a des-cer para 7.32. O sujeito número 6, pelo contrário,possui um Kappa baixíssimo (K=0.13). Está umavez no canal 1, duas no canal 2, uma no canal 3 eduas no canal 4. Se esta fosse a ordem da sua perfor-mance, i.e. a mudança sistemática para canais supe-riores de performance, o valor do tracking, ainda quebaixo, traduziria os incrementos sistemáticos dosresultados deste atleta. Contudo, este não é o seucomportamento. Basta para tanto apreciar as suasmarcas no Quadro 6.O valor do Kappa para a totalidade dos sujeitos é de0.11±0.04, e os respectivos limites de confiança para95% são 0.03; 0.20. Estes resultados sugerem aausência de estabilidade na performance dos saltado-res. Tal significa, no contexto do próprio treino, umcomportamento inconsistente nas melhores marcasde cada ano, o que reduz muito substancialmentequalquer aventura de previsão para o grupo e paracada atleta em particular.

O gama (γ) de Foulkes e DaviesEste procedimento pretende examinar a quantidadede indivíduos que mantêm a mesma posição relativa(rank relativo). Isto é, calcula a probabilidade deduas curvas ou perfis aleatórios de performance nãose entrecruzarem. O tracking será perfeito quando ogrupo de perfis de crescimento individual da perfor-mance não se entrecruzarem, i.e. quando a sua posi-ção relativa no seio da distribuição for mantida notempo do estudo.Se o valor de γ=0.50 não se verifica qualquertracking; se γ=1.00, o tracking é perfeito, e se γ<0.50,o tracking é irrelevante.Dado que o γ de Foulkes e Davies é uma estatísticanão-paramétrica, não há qualquer pressuposto acumprir acerca da forma da curva de crescimento daperformance. É evidente que quanto mais simples fora curva, tanto mais elevado será o valor de γ.Os valores da performance dos atletas foram submeti-dos, sequencialmente, a um ajustamento linear edepois a um quadrático que se revelou mais adequa-do (F=3.50, p=0.06), e que se encontram represen-tados, após modelação, na Figura 6.

Figura 6. Modelação não linear dos trajectos individuais da performance.

Os traçados da performance do salto representados nafigura anterior, modelados por uma função polino-mial de grau 2, mostram o forte cruzamento dos per-fis da performance dos sujeitos.O γ de Foulkes e Davies evidenciou um valor de0.19±0.06, cujos limites de confiança a 95% são0.08; 0.32. De acordo com as sugestões anteriorespara os valores de γ, estamos na presença de trackingirrelevante, ou dito de um modo mais adequado, naausência de tracking ou canalização da performancedos atletas.Em suma, é nossa convicção a forte utilidade do con-ceito de canalização da performance, uma faceta dotracking, quando se estuda a dinâmica da performance.O recurso aos procedimentos estatísticos e gráficosanteriores e aquilo que sugerem, torna tal matériada máxima importância para o analista da performan-ce e para o treinador, dado apreciarem de modo dis-tinto os resultados do treino sistemático e planeadoa que se submete os atletas. Esta é uma forma inte-ressante de monitorizar, em curto, médio ou longoprazo, a dinâmica de resposta dos atletas ao treino eà competição.Esperamos que estes exemplos simples de aplicaçãoda ideia do tracking tenham sido suficientementeesclarecedores da sua importância quando lidamoscom dados longitudinais, e procuramos perceberaspectos da sua dinâmica interna. O modelo simplexde Markov e as sugestões de Cohen ou Foulkes e

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Davies são auxiliares preciosos no entendimento daestabilidade e mudanças individuais e do grupo.Contudo, é importante salientar que modelos maissofisticados podem responder a questões bem maiscomplexas no domínio dos delineamentos longitudi-nais, como sejam, a título de mero exemplo: (1) a dadeterminação do grau de influência de preditores,invariantes ou não no tempo, na dinâmica dos regis-tos longitudinais; (2) a da identificação da influênciarecíproca de dois processos dinâmicos de desenvolvi-mento da própria performance em pontos equidistan-tes do tempo, ou estão desfasados temporalmente;(3) a possibilidade em lidar com sub-grupos ou clas-ses distintas de sujeitos cujo dinamismo da mudançaé diferente e cujos preditores actuam de modo diver-so nos sub-grupos de sujeitos; (4) ou ainda a possi-bilidade em lidar com informação omissa numa tabe-la de dados longitudinais, a eventualidade de efec-tuar previsões da performance, ou a classificação deatletas em distintos canais ou níveis de rendimento.Este tipo de questões e a sua modelação têm sidoaplicados com sucesso noutras áreas do conhecimen-to de cariz desenvolvimentalista, i.e., em que proces-sos de dinamismo longitudinal estão presentes. Sóesperam que alguém os traga para o domínio dasCiências do Desporto. O ganho descritivo e interpre-tativo será enorme. Aguardemos atentamente o futu-ro de tais aventuras.

José A. R. Maia, Vítor P. Lopes, Rui G. da Silva, André Seabra

CORRESPONDÊNCIAJosé António Ribeiro MaiaLaboratório de Cineantropometriae Estatística AplicadaFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 [email protected]

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Razões para a prática de ginásticas de academiacomo actividade de lazer

Ana L. Pereira

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Universidade do PortoPortugal

RESUMOO tempo livre, é um tempo «ganho», se ocupado de uma formaútil e rentabilizado enquanto capital. Na diversidade de activi-dades de lazer e tempo livre, a actividade física surge comouma das formas de «concorrência» à crescente tecnologizaçãoda nossa sociedade. Verifica-se, por isso, um aumento donúmero de ginásios/academias/health-clubs para assim corres-ponder às necessidades evidenciadas de uma prática de activi-dade física.O presente estudo tem como principal objectivo, analisar econhecer o aluno/cliente dos ginásios/academias/health-clubs dacidade do Porto, através da percepção do sentido da escolha daactividade e da importância que a esta confere. Na sua concreti-zação desenvolveu-se uma pesquisa no terreno, complementadapor entrevistas semiabertas a alunos/clientes destes locais.A análise dos resultados do nosso estudo sugerem que o clien-te do ginásio/academia/health-club opta por este tipo de activi-dade, pela necessidade de prática de actividade física e por con-siderar que é esta que melhor lhe permite corresponder aosparâmetros estético-corporais da nossa sociedade. Além disso,parecem ser estas práticas as que mais se adequam às dificulda-des inerentes aos constrangimentos laborais. A frequência comque se desloca a estes locais depende dos objectivos intrínsecosà prática de uma actividade física, assim como das relaçõessociais que aí se vão estabelecendo.

Palavras-chave: Actividade física, lazer, ginásios, imagemcorporal

ABSTRACTReasons for the practice of fitness activities as leisure activities

One of the greatest manifestations in our changing times concerns thegradual decreasing of work time that will lead to a natural free timeincreasing. Therefore, there’s a generalized necessity for fulfilling thisfree time, and this can be a profit one, if well spared. The goal of ourstudy is to analyse and to find out who are the persons that practicephysical activity in their leisure time and choose places like health-clubsor gym academies for it. We intend to perceive the meaning of theirchoice and why do they continue practicing the kind of physical activi-ties that are offered in health-clubs and gym academies. Our methodology includes a fieldwork in which we adopted an “insiderrole” in three gym/health-clubs in the city of Porto, and was supportedby a set of semi-structured interviews. After this study, we might con-sider the person who chooses this kind of physical activity, in its leisuretime, as a person who gives a special importance to ones own bodyimage. But, there are other things we must consider, in one hand peopleshould enjoy their practice, in the other hand, they are also looking forconnections, relationships that give them reasons to continue, other-wise, they might give up.

Key Words: Physical activity, leisure, gym academies, body image

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INTRODUÇÃOA nossa sociedade tem sido alvo de contínuas trans-formações que se fazem sentir fundamentalmente, notempo, no espaço e no ego, enquanto figuras deexcesso (1). Assim sendo, é pela abundância de acon-tecimentos que se sentem alterações no tempo, querna sua percepção, quer no uso e modo como dele dis-pomos, é pela multiplicação de referências imagina-das e imaginárias e pela espectacular aceleração dosmeios de comunicação que surgem modificações con-sideráveis no espaço e é pela pretensão do indivíduoem ser o mundo que se justifica a produção indivi-dual de sentido como algo realmente necessário(1). O tempo, enquanto elemento regulador do quotidia-no e devido à evolução tecnológica, manifesta-sesocialmente cada vez mais como tempo livre e cadavez menos como tempo de trabalho. Este incremen-to do tempo livre, é, para Baudrillard (3), um tempo«ganho», se ocupado de uma forma útil e se rentabi-lizado enquanto capital. O indivíduo, social e cultu-ralmente situado, dispõe de uma crescente variedadede ofertas que, inevitavelmente, se sentem no âmbi-to do tempo livre e do lazer. É nessa diversidade deactividades de lazer que a actividade física surgecomo uma das formas para «concorrer» com a tecno-logização da nossa sociedade (21), emergindo umacada vez maior variedade de possibilidades para essaprática, no seu âmbito, ou no seu sentido.Neste contexto de diversidade de oferta da nossasociedade, também de consumo, denota-se umaumento significativo no número de ginásios, acade-mias e/ou health-clubs, cujo objectivo é corresponderàs necessidades evidenciadas na nossa sociedade noque concerne à prática de uma actividade física, quemais do que uma necessidade é, para Crespo (6),uma obsessão do presente que dá importância aossinais do hedonismo. Um presente que ao ser domi-nado pela redescoberta do corpo o transformou numdos principais valores do quadro axiológico actual. O presente estudo tem como principal objectivo,analisar, conhecer, saber quem é o aluno/cliente dosginásios, academias e health-clubs da cidade do Porto,através da percepção do sentido da escolha da activi-dade e da importância que a esta confere.

TAREFA DESCRITIVAPara a concretização da tarefa descritiva, foi desen-volvida uma pesquisa no terreno, recorrendo àobservação participante (18) durante os dois últimosanos. Como forma de complementar as informaçõesobtidas nesta pesquisa, realizaram-se 16 entrevistassemiabertas a alunos/clientes (11 do sexo femininoe 6 do sexo masculino, com um intervalo de idadesentre os 18 e os 34 anos) de três dos ginásios/acade-mias/health-clubs da cidade do Porto.As entrevistas foram submetidas à técnica de análisede conteúdo, na medida em que esta permite efectuarinferências sobre as mensagens inventariadas e siste-matizadas com base numa lógica explicitada (28).A escolha circunscreveu-se a três destes locais deactividade física1 (ginásio G, academia A e health-clubH), na medida em que parecem representar a diver-sidade de lugares disponíveis para esta prática nacidade em questão (a terminologia utilizada refere-sea três tipos de espaços que se distinguem pela varie-dade e tipo de serviços que cada um oferece). Através das conversas informais que se foram esta-belecendo ao longo da pesquisa no terreno com osresponsáveis destes locais, percebemos que esteslugares se foram ajustando, tentando corresponderàs “exigências” da população que pretendiam cativar.Uma população cada vez mais consumista em todosos aspectos da sua vida social e, naturalmente, notempo dos seus lazeres. Um tempo de consumo quese torna um tempo social forte, assinalado e produti-vo de valor, sendo, não uma sobrevivência económi-ca, mas antes uma “salvação social” (3).É natural, portanto, que os investidores neste tipode empreendimentos de lazer mais recentes, consi-derem as orientações do indivíduo enquanto consu-midor (21) e prevejam, como principais factores desucesso a variedade e qualidade de serviços que ven-dem. Este facto está em consonância com a designa-da pós-modernidade, de onde subjaz a ideia de que odesporto «investe em si próprio» com elementos dopós-modernismo, no sentido de melhor se constituircomo um objecto de consumo desenhado para oscidadãos desta sociedade (22).

A. Pereira

1 Na cidade do Porto existem cerca de 35 ginásios, academiase/ou health-clubs (referimo-nos apenas à cidade e não à suaárea metropolitana).

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A importância do consumo é realçada com a expres-são inconspicuous comsuption, que tem origem, segundoLipovetksy (15), numa acção convergente de umfeixe de valores onde figuram, entre outros, os valo-res desportivos e o novo ideal individualista do «look»jovem. Valores como o corpo, enquanto imagem«superficial» e capital (9), hedonismo, relativismo econsumismo, adquirem uma valorização cada vezmais «valorada» na sociedade contemporânea ociden-tal, justificando, por isso, a promoção e o apareci-mento deste tipo de investimentos. Esta valorizaçãopermitiu, segundo Grande (11), que o corpo tenhauma nova postura no imaginário colectivo da socieda-de contemporânea ocidental e urbana que, para umaafirmação pessoal, se desenvolvessem uma série decódigos de tratamento. Efectivamente, podemos inte-grar as ginásticas de academia como mais uma dastécnicas de modelação, manutenção e melhoramentoda imagem corporal (4, 29, 9, 20, 14).

TAREFA INTERPRETATIVAApós efectuarmos uma leitura flutuante sobre o cor-pus de estudo, a primeira fase da análise de conteúdodefinida por Bardin (2), estabelecemos e interrela-cionámos como primeira e segunda categorias, ashabilitações literárias e a profissão/ocupação, respec-tivamente, na medida em que geralmente a primeiracondiciona a segunda. São estas que nos demons-tram, em primeira mão e de um modo geral, as cir-cunstâncias sócio-económicas que prevalecem einfluenciam os estilos de vida nos nossos entrevista-dos. Com efeito, Giddens (9) refere-se ao estilo devida adoptado como um conjunto de práticas quedão forma a “uma narrativa particular da auto-iden-tidade”, práticas essas que fazem parte do quotidia-no, da rotina diária, em que o trabalho/emprego estáinserido. Se a esfera do trabalho condiciona forte-mente as hipóteses de vida, conforme afirma omesmo autor, este e o ambiente em que se desenro-la, não podem separar-se do campo das escolhas plu-rais, na medida em que se constituem em elementosbásicos das orientações dos estilos de vida. Tambémna concepção de Baudrillard (3), a questão das esco-lhas está inerente à aceitação do estilo de vida dedeterminada sociedade e passa pela satisfação dasnecessidades veiculadas aos valores que prevalecemnessa mesma sociedade. Daí que não se trate tanto

de uma escolha, mas antes de uma «reacção» ao con-sumo enquanto função de integração no grupo e decontrolo social, já que este surge, na opinião deBaudrillard (3), “como uma conduta activa e colecti-va, como coacção e moral, como instituição”. Assimsendo, é natural que a escolha do tipo de actividadefísica, enquanto uso do tempo de lazer na constru-ção do estilo de vida do indivíduo de determinadogrupo social, seja fortemente influenciada pela suaocupação/profissão (24). Temos ainda que realçar que, de uma forma geral, oquotidiano do Homem da sociedade contemporâneaocidental e urbana, cada vez mais dispensa o movi-mento. De facto, até as técnicas mais elementarescomo correr, andar e saltar foram quase suprimidas,sendo então necessário recorrer, àquilo que Le Breton(14) denomina de próteses técnicas, para aumentar aactividade e dar forma ou «talhar» a sua aparênciae/ou incrementar o «seu potencial de saúde».Nesta perspectiva, os aspectos relacionados com otipo de profissão dos nossos entrevistados nãopodem ser descurados. Por um lado, porque todoseles têm profissões/ocupações com baixo nível dedispêndio energético, criando-lhes a necessidade derecorrerem a estas “próteses técnicas” e assim mini-mizarem o carácter hipocinético da sua actividadelaboral. Por outro lado, ao terem profissões/ocupa-ções liberais ou ocuparem lugares de quadro supe-rior, a sua capacidade económica permite-lhes prati-car uma actividade física num clube privado como ohealth-club H. Na realidade, tal como referemLaermas (13) e Roberts (24), muitos dos bens e ser-viços de lazer são de elevado custo económico e, porisso, um salário elevado pode determinar a escolhada actividade física a praticar.Quando questionados acerca das razões que os leva-ram a escolher este tipo de actividade física e nãooutra, a maioria dos nossos entrevistados é omissaquanto à selectividade da actividade, atribuindo asua prática, essencialmente, à necessidade de “fazerqualquer coisa”. Apenas 4 dos 16 entrevistados fun-damentam claramente a sua escolha indicando, porum lado, a facilidade de horários relativa à frequên-cia num ginásio/academia/health-club, pois “... oginásio permite vir sozinho e fazer quando apete-ce...”, por outro lado, a dificuldade inerente às “acti-vidades colectivas, que implicam arranjar um espaço

Actividade física e lazer

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diferente o que é mais raro, arranjar um grupo quegoste da mesma modalidade que eu, o que também édifícil, arranjar um grupo que tenha disponibilidadede vir praticar quando eu também tenho essa dispo-nibilidade, o que também é difícil…”. A escolha de uma actividade como forma de lazer,também parece estar relacionada com um conjuntode questões que cada um coloca a si próprio acercade si mesmo. Conforme refere Laermans (13), oindivíduo perante este tipo de decisão questiona-se“quem sou eu?” e nas possibilidades que se colo-cam, necessariamente, estão subjacentes os objecti-vos, os desejos e outras questões intimamente liga-das à própria identidade, isto é, “o que é que eu pre-tendo ser num futuro imediato?” Por conseguinte,existem respostas que demonstram que aliada ànecessidade de prática de uma actividade física, estáa necessidade de criar hábitos que transformem oualterem o estilo de vida. Ou seja, “acabei o curso,comecei a trabalhar e comecei a sentir uma grandenecessidade de praticar desporto, porque estava asentir-me muito sedentário, notava que a minha vidaera passar o dia todo sentado a trabalhar”.Ao observarmos os dados relativos à idade com queos entrevistados iniciaram este tipo de actividadefísica, verificámos que são as mulheres que a iniciammais cedo e que os homens o fazem geralmente apósterminarem a sua formação escolar e/ou académica einiciarem a sua vida laboral. Uma das razões paraeste facto, está relacionada com a importância que anossa sociedade atribui à imagem corporal. De acor-do com Shilling (25), as mulheres tendem a ser maisencorajadas que os homens a desenvolver os seuscorpos como objectos de percepção para os outros.Também Bourdieu (5) considera que as mulheressão inclinadas socialmente a prestarem uma atençãoconstante a tudo o que se associa à beleza e elegân-cia do corpo. Durante a pesquisa no terreno quefomos realizando nos ginásios em questão, e talcomo no estudo efectuado por Maguire e Mansfield(16), percebemos que, de uma forma quase explícita,as jovens e as adultas mais jovens encontram noexercício uma ferramenta para atingir a aparênciaesbelta e atlética que Lipovetsky (15) e Crespo (7),entre outros autores, sugerem como sendo o este-reótipo da mulher na sociedade contemporânea. Poroutro lado, o abandono mais tardio de outro tipo de

actividades físicas e/ou desportivas por parte dosrapazes, também parece justificar a sua opção porestas actividades numa fase posterior. Efectivamente,os dados obtidos através da nossa observação parti-cipante, permitem-nos afirmar que os elementos dosexo masculino procuram este tipo de actividadeapós esgotadas outras possibilidades no que diz res-peito à compatibilidade do horário laboral e à possi-bilidade de continuar um outro tipo de prática física.A análise do discurso circulante, isto é, das conver-sas que se desenrolam acerca deste assunto, revelaque anteriormente muitos dos sujeitos do sexo mas-culino tinham outros interesses desportivos, cujadisponibilidade requerida para a sua prática, em fun-ção de condicionalismos organizacionais, não se coa-duna com o seu actual “dia-a-dia tão ocupado”.Quando associamos as razões da escolha desta activi-dade com as unidades de registo, isto é, com as res-postas categorizadas como “Razões para continuar” e“Estar em forma”, podemos confirmar a relação exis-tente entre este tipo de actividade física e o conceitode “técnicas do corpo” desenvolvido por Mauss (18).Para este autor, estas técnicas, enquanto hábitos docorpo, modos de agir que são adoptados, desenvolvi-dos e integrados pela educação e aculturação nasociedade a que se pertence no sentido de adaptar ocorpo ao seu uso de um modo eficaz, estão bemdemarcadas em cada sociedade, na medida em quetêm como função melhorar a eficácia do indivíduocomo ser social. Também Ribeiro (23) realça o factode no uso preciso do corpo estar o resultado da for-mação social e das técnicas que são diversificadasconforme a imagem ideal de corpo de cada sociedade.Com efeito, as respostas obtidas nas entrevistas eanálise do discurso circulante no que concerne àrazão pela qual frequentam este tipo de actividades,revelam uma preocupação acrescida com as rotinasde cuidados corporais, entre os quais a prática deginásticas de academia. Manter a forma, obter umasensação de bem-estar, estão de facto subjacentes aosobjectivos intrínsecos do «culto do corpo», ao cultoda melhor imagem corporal. Para a maioria dosentrevistados “Estar em forma”, mais do que teroptimizadas as suas capacidades orgânicas e, even-tualmente, ter melhorado os seus índices de saúde, éalgo que está essencialmente associado à estética cor-poral, ao “bom aspecto físico”, à sensação de bem-

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-estar, é “olhar para o espelho e dizer – Gosto do quevejo!”. Parece-nos pois evidente que a prática destetipo de actividade física está intimamente ligada àimportância que o corpo adquiriu no quadro axiológi-co da sociedade actual, sendo cada vez mais percebi-do como capital e cartão de visita (10). O corpoganha mais visibilidade como superfície do que como«algo» que é fundamental manter «funcional e biolo-gicamente eficaz», isto é, o carácter promotor desaúde atribuído à actividade física não parece ter ainfluência que seria de esperar neste tipo de práticas.A reflexividade inerente à contemporaneidade (9)está tão fortemente imbricada nas atitudes que seadoptam, que se repercute nos hábitos e práticascorporais diárias. Esta interpretação pessoal e reper-cussão dos valores emergentes da sociedade ociden-tal contemporânea e urbana, promove a integraçãode regimes corporais como parte do quotidiano e rei-tera a importância da actividade física como um «tra-balho» que envolve a aparência corporal numa tarefaquase diária. No nosso estudo, este facto é salienta-do pela categoria Frequência/Tempo de treino. Aanálise desta categoria sugere que, para os nossosentrevistados, a ida ao ginásio é naturalmente incluí-da numa rotina diária ponderadamente organizadade forma a contemplar esse fim. Efectivamente, deacordo com Sousa Santos (26), a importância daactividade física enquanto regime corporal e a suafrequência de prática, parece conferir-lhe o estatutode segunda força produtiva, ao lado daquela que éconsiderada a primeira força de trabalho propria-mente dita.Ao questionarmos os indivíduos sobre a relevânciada ida às aulas de ginástica, relativamente a outrastarefas diárias, as suas respostas sugerem um eleva-do grau de prioridade concedido à «construção» daaparência corporal, pois “...tudo o que marco tentoque não seja à hora da ginástica”, “sim, deixo defazer algumas coisas”.O confronto da análise da frequência e tempo depermanência no ginásio com as restantes categorias,assim como a informação adquirida através da pes-quisa no terreno, revelam a existência de outros fac-tores para além dos intrínsecos à condição dealuno/cliente de um ginásio/academia/health-club,isto é, extrínsecos à prática da actividade física pro-priamente dita, que parecem igualmente influenciar

a sua assiduidade a estes locais de culto do corpo. Énotório que a frequência e o tempo de permanênciaaumentam de acordo com o nível de ligação afectivaestabelecida entre os «companheiros» de actividade.Este facto parece conjugar o processo de individuali-zação e as possibilidades sociais que Laermans (13)tão bem expressa ao afirmar que “along with theprocess of «self production” a lot of «social produc-tion» occurs”. Frequentemente, alguns dos alunosclientes deslocam-se ao ginásio sem qualquer outromotivo que não seja “...hoje só passei por cá para verquem estava”, pois como referem Henderson eFrelke (12) “people are looking for connections”.Com efeito, a análise da categoria relacionada comas razões para continuar a actividade em análise,sugere existir uma noção de identidade associada aolugar que Henderson e Frelke (12) mencionam comosignificante na configuração do ambiente humano. Oespaço, este não é estático, pelo contrário, é dinâmi-co e, neste caso concreto, criado por uma série deinter-relações sociais derivadas de todo um conjuntode actividades que se desenrolam e que lhe conferemum estatuto de existencialidade para uma identida-de. “A tal ponto que se pode falar de um espaçomental” (19), cuja geografia se esbate na experiênciaindividual e colectiva, projectando-se na construçãoidentitária e imaginária do indivíduo.Esta necessidade de identificação com o espaçoresulta, ainda, na promoção e oferta de outro tipo deactividades organizadas para os alunos/clientes eparalelas àquelas regulares nestes centros de lazer(torneios de squash, actividades de aventura ou janta-res inerentes à época festiva), para que assim não secriem rotinas no lazer, pois, tal como Elias eDunning (8) afirmam, se estas se instalam e nãohouver mais nada de novo nas actividades de lazer,esvaziam-se de qualquer função.Relativamente aos tipos de aulas pelos quais os alu-nos podem optar, os nossos dados indicam que é nasdenominadas ginásticas localizadas2 que estão assuas principais preferências, seguidas pelas aulas de

Actividade física e lazer

2 Nesta denominação incluem-se uma grande variedade de acti-vidades cujo objectivo é desenvolver uma aula onde os exercí-cios propostos são focalizados em determinados grupos mus-culares, de que são exemplo as aulas de localizada, abdomi-nais, glúteos, bodypump, pushpower, gap.

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step3 e pelas de spinning4 e musculação5. Na realida-de, é nas ginásticas localizadas que a “tarefa” de“tonificar os músculos”, como referem, é mais perce-bida como necessária e o esforço aliado ao sofrimen-to são sentidos com mais intensidade, isto é, como“tem que ser”, “faz parte”, pois essa parece ser a viamais eficaz para conseguir o corpo «trabalhado», ocorpo desejável (27) e assim melhor corresponder aoestereótipo feminino da sociedade contemporânea.Markula (17), num estudo similar ao nosso, afirmaque os exercícios que se realizam neste tipo de aulasão planeados e configurados para melhorar a apa-rência corporal e, mesmo que considerados “tortuo-sos, difíceis e horríveis”, são entendidos pelas alunascomo imprescindíveis para atingir o “tónus muscu-lar”, tão desejado e socialmente reconhecido e apre-ciado. De certa forma, este facto está em consonân-cia com o que Shilling (25) afirma relativamente àstécnicas corporais, já que estas, embora habilitado-ras, são simultaneamente constrangedoras e ofensi-vas, pelo «sacrifício» que podem envolver.Relativamente às aulas de step e de spinning, emboraambas se possam enquadrar conjuntamente quanto àpreponderância da solicitação energética a que fazemapelo e, consequentemente, associar aos objectivosinerentes às alterações da composição corporal,nomeadamente a perda de massa gorda, parecem,contudo, distinguir-se pela existência de uma com-ponente coreográfica que está presente no step eausente no spinning. Decorrente da participação maisisolada de determinados grupos musculares nomovimento padrão do spinning, isto é, no movimentode pedalar, esta actividade é ainda distinguida dostep, pelos participantes, quanto à percepção subjec-tiva de esforço. A opção pelas aulas de spinning, rela-tivamente ao step, está por isso associada aos alu-nos/clientes que procuram uma actividade menoscoreografada, mas sentida como mais intensa e,assim, potencialmente mais adequada ao objectivo e

“necessidade de emagrecer”, pensando que por ser“nestas aulas que se transpira” e “sinto que gastomais energia”, conseguirão atingir a sua meta.

CONCLUSÃOA análise dos resultados do nosso estudo sugeremque o cliente do ginásio/academia/health-club dacidade do Porto opta por este tipo de actividade, nãosó pela necessidade de prática de actividade físicamas, igualmente, por considerar esta “técnica corpo-ral” como um instrumento que lhe permite corres-ponder aos parâmetros estético-corporais “impos-tos” pela sociedade contemporânea ocidental e urba-na. Adicionalmente, na opinião dos nossos entrevis-tados, parece ser a prática destas actividades físicasnestes locais de culto do corpo, em função das dis-ponibilidades e ofertas logísticas existentes, as quemais se adequam e compatibilizam com as dificulda-des inerentes aos horários e constrangimentos labo-rais. “Sentir-me bem comigo próprio”, é uma dasprincipais razões apontadas para que o cliente conti-nue a prática destas actividades, porém, a frequênciacom que se deslocam a estes locais também depen-de, a par dos objectivos intrínsecos à prática de umaactividade física, do tipo de relações sociais que aí sevão desenvolvendo. Assim, quanto mais ligado afec-tivamente, mais frequentemente aí se desloca e per-manece.De uma forma geral, a escolha da actividade a desen-volver nestes locais, de entre um vasto leque de pos-sibilidades e ofertas, parece estar mais associada apreocupações de ordem estética e à imagem corporaldo que aos aspectos inerentes à diminuição de facto-res de risco no âmbito da saúde.

CORRESPONDÊNCIAAna Luísa PereiraFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação Física Universidade do Porto, PortugalRua Dr. Plácido Costa, n.º [email protected]

A. Pereira

3 Actividade desenvolvida com movimentos baseados na mar-cha e que consiste em subir uma plataforma, concebida para oefeito, acompanhada de música.

4 Actividade realizada em bicicleta estacionária que se baseia nomovimento de pedalar em diferentes posições, acompanhadade música cujo ritmo define a intensidade do esforço a adoptar.

5 Actividade que recorre a máquinas, pesos livres e outrosmateriais para o desenvolvimento da força muscular.

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O exercício físico e o desenvolvimento da criança na literaturamédica e pedagógica de Setecentos

J. V. Ferreira

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Físicada Universidade do Porto, Portugal

A. G. Ferreira

Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educaçãoda Universidade de Coimbra, Portugal

RESUMOAcompanhando a emergência da sociedade moderna, as propos-tas pedagógicas dos educadores mais ilustres vão, cada vezmais, encarar a educação do corpo como um aspecto de funda-mental importância.Todavia, não se pode ignorar que as preocupações relativas aobem-estar e equilíbrio do corpo se encontravam presentes emalgumas obras médicas da primeira metade de Setecentos.Médicos e cirurgiões consideraram o exercício físico como algode relevante na conservação da saúde.No entanto, nas obras médicas e cirúrgicas da primeira metadedo século, a preocupação dominante, senão a única, era a dapreservação da saúde. Raramente, nelas se encontrava a preo-cupação com o desenvolvimento integral do homem.Na segunda metade do século XVIII, os médicos e pedagogospassaram a olhar a Educação Física como uma condição funda-mental do desenvolvimento global do indivíduo. Neste sentido,o exercício já não era particularmente entendido apenas comonecessário à preservação da saúde, mas como factor de desen-volvimento físico, base importante da formação moral.No presente estudo, pretendemos analisar os argumentosentão apresentados sobre a importância da Educação Física esublinhar as principais ideias e aspectos a definirem a tendên-cia das propostas médicas e pedagógicas publicadas, durante oséculo XVIII, em Portugal.

Palavras-chave: Exercício físico, criança, desenvolvimento, ideias,médicos, pedagogos, século XVIII, Portugal.

ABSTRACTExercise and Child Development on Medical and PedagogicalLiterature of the 18th Century

Following the modern society emergency the pedagogic proposals of themost famous educators will face, more and more, the body education asan aspect of major importance.However, we could not ignore that the concerns related to body wellbeing were already treated in some medical works of the first half ofthe 18th century. Doctors and surgeons considered exercise as some-thing relevant in health preservation.Nevertheless, in the medical and surgical works of the first half of thatcentury, the main concern, if not the only one, was health preservation.Seldom, the concern with man’s whole development was found.In the second half of the 18th century, doctors and pedagogues beganto look to physical education as a fundamental condition for individualglobal development. In this sense, exercise was not only understood asneeded for the health preservation, but also as a factor of physicaldevelopment and moral formation.In the present study, we want to analyse the arguments presented inthe 18th century about the importance of physical education and tounderline the main ideas and aspects that define the trends of medicaland pedagogic proposals published in Portugal during this period.

Key Words: Exercise, Child, Development, Ideas, Doctors, Educators,18th century, Portugal.

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INTRODUÇÃOAs concepções e as práticas inerentes ao passado daEducação Física, em Portugal, nunca foram alvo degrande atenção. Ainda que, durante as últimas déca-das do século XX, tivessem surgido alguns títulos apermitirem-nos ir alcançando algum conhecimentosobre o assunto, eles continuaram a mostrar que osexercícios físicos não se têm mostrado interessantesà compreensão da evolução cultural do país. É certoque alguns dos trabalhos iniciais pretendiam, sobre-tudo, trazer à luz elementos significativos para a his-tória da formação dos profissionais da EducaçãoFísica e, por isso, tinham interesse somente para umpúblico muito circunscrito (8,9,13); mas tambémnos parece evidente que o estudo sobre as práticasfísicas do passado foi, até aos nossos dias, menosconsiderado do ponto de vista intelectual. Assim,uns, por olharem a educação física como mera mani-festação técnico-motora, e outros, por menospreza-rem as capacidades culturais dos exercícios corpo-rais, têm contribuído para a incipiente investigaçãoneste domínio.Com isto, não se pretende dizer que nada se tenhafeito durante os últimos anos do século anterior e noinício deste. Alguns investigadores (10,14, 20, 27,29) têm levantado nova informação e possibilitadoum melhor conhecimento acerca das concepções epráticas físicas ao longo de várias épocas. Sobretudo,têm procurado interpretar o desenvolvimento dosexercícios corporais como uma manifestação humananum dado contexto sócio-cultural. Levando em aten-ção esta linha de interpelação da informação e man-tendo-nos coerentes com as nossas anteriores inves-tigações (16,17), é nossa intenção trazer, agora, maisalguns elementos capazes de enriquecerem o enten-dimento da educação física no século XVIII.Procuraremos, fundamentalmente, equacionar ovalor dos exercícios físicos no desenvolvimento dosmais jovens, cruzando informação proveniente dediversas fontes e interpretando-a tendo em conta ocontexto científico-cultural da época em que foi pro-duzida. Além disso, tentaremos delimitar os discur-sos e as práticas, descortinando o sentido dos exercí-cios corporais e perscrutando as tendências que,então, se evidenciavam.Como é evidente, os exercícios físicos e os jogos nãosão privilégio só da nossa época ou civilização.

Ainda, hoje, é possível encontrar inúmeros testemu-nhos dessas práticas físicas, ao longo do tempo, emvárias partes do mundo. Todavia, como tantas outrasmanifestações características do género humano, seos exercícios corporais são uma constante no percur-so do Homem, eles são igualmente marcados pelotempo, ou seja, são elementos culturais da socieda-de, desenvolvendo-se nos limites do pensamento aíproduzido. Neste sentido, mais do que definirmomentos de ruptura a apontarem o caminhar deci-sivo da Educação Física em direcção à contempora-neidade, indicaremos o mais evidente sobre o discur-so e a prática do exercício físico no século XVIII,mostrando como aí se articulavam as ideias maisinovadoras com as actividades tradicionais.

A IMPORTÂNCIA DO EXERCÍCIOConsensual, entre os que se preocuparam com acriação das crianças, era que elas tinham necessidadede fazer exercício, cada vez mais intenso e variado, àmedida que se iam desenvolvendo. Aos recém-nasci-dos, todavia, ainda não se lhes reconhecia essanecessidade, sendo costume comprimirem-se-lhes osmembros entre faixas e mantilhas, por isso, só, noscurtos momentos da muda das roupas, as criançasmais pequenas tinham ocasião de moverem os seusmembros. Enquanto bebé de colo, a única possibili-dade do recém-nascido contactar com a realidadeenvolvente e de respirar um ar diferente daquele queo envolvia no compartimento em que, normalmente,o deixavam, era através do passeio feito ao colo dealguma pessoa da casa.Este ciclo de vida, contudo, tinha o seu fim, suce-dendo-lhe um outro em que o bebé, por si, começa-va a querer movimentar-se pelo chão, gatinhando eexplorando o espaço pelos seus próprios meios.Nesta idade, na opinião dos médicos, não se deviaforçar a natureza, pondo as crianças de pé, e obri-gando-as a andar antes de chegada a ocasião própria,o que, normalmente, devia acontecer quase ao fimdo primeiro ano, momento do ensaio dos primeirospassos, podendo, no entanto, estas tentativas seremmais prematuras numas do que noutras. O tentar antecipar-se este momento era, porém, umhábito mantido pelo tempo e um desejo normal dafamília, uma “gracinha” a contar aos familiares e ami-gos, o qual tinha implicações nefastas para o futuro.

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Este acelerar da natureza era visto com maus olhosmesmo antes do século XVIII e ilustração disto é oalerta lançado, nos finais da centúria anterior, porFrei Manuel de Azevedo, o qual advertia as amas e asmães para jamais tentarem obrigar os seus filhos acomeçarem a caminhar (5, p.11). Esta admoestaçãonão surtiu, todavia, o efeito desejado, uma vez que,para antecipar e encurtar o tempo de aprendizagemdo andar, se chegaram a usar de alguns artifícios quesó, muito recentemente, têm vindo a ser postos departe, dado considerar-se o gatinhar uma prática deenormes benefícios para a criança.Na última década de Setecentos, alguns clínicos saí-ram mesmo a terreiro para condenar o facto de seensinar os meninos a andarem mais cedo, utilizando--se, com este intuito, uma espécie de suspensóriosou carrinhos. Em todo o caso, não eram as vantagensdo gatinhar que se apontavam, mas antes se salienta-vam os problemas e as malformações provocados portais artifícios. As andadeiras, clamava Francisco Joséde Almeida, “além de opprimirem o peito dos meni-nos, sustentando-os sobre as pernas”, só podiam sercausa de tortura dos que se punham a andar antesque o “osso da canela” tivesse a precisa consistência,o qual, ao torcer-se, levaria consigo os músculos, pro-vocando uma deformidade ou, até, um aleijão (4, p.76). Apesar dos argumentos dos médicos, estes auxi-liares da aprendizagem do andar, quer fossem sim-ples fitas presas às roupas quer carrinhos com rodasmais ou menos sofisticados, deviam ser bastantecomuns. Melo Franco, embora os considerasse vanta-josos, dado evitarem as quedas frequentes, responsa-bilizava-os pelas “tortuosidades das pernas, e máconformação das últimas vértebras do espinhaço” e,principalmente, pelos graves danos visíveis nos ossosda bacia de muitas mulheres, causa de tantas dificul-dades nos partos (18, p. 88-89).No entendimento dos esculápios de finais deSetecentos, desde o momento que as crianças chegas-sem à idade de andar, só era necessário conceder-lhestotal liberdade de movimentos e espaço adequadopara o tentarem fazer. Contudo, devia-se vigiá-laspara que, através de alguma queda mais violenta, nãose molestassem excessivamente. Para isso, bastariauma casa espaçosa e pouco adornada, onde não fossepossível chegar a objectos que as pudessem magoar, eter o cuidado de não se entregar o menino aos cuida-

dos de outras crianças mais velhas que, na suainconsciência, pudessem vir a facilitar mais perigosdo que vigilância. Bastaria, portanto, deixar agir anatureza que, a seu tempo, tudo viria. AsseveravaManuel Henriques de Paiva no final do século: “Nãohe preciso ensinar as crianças a andar; deixem-serolar e mover de huma para outra parte sobre tape-tes, cobertores etc., porque este exercício as vigora, ecom elle se habituam pouco a pouco a usar dos bra-ços, e pernas, de sorte que aos seis meses poucomais ou menos, poderão andar sós” (24, p. 18).Enquanto bebés, a tendência geral era para se con-servarem em casa, bem resguardados e agasalhados,no temor de que algo os molestasse, fosse o frio ouqualquer má intenção de um olhar invejoso e maléfi-co; quando mais crescidos, era a falta de quem ospudesse levar até locais aprazíveis e saudáveis, onde,além de brincarem e correrem, pudessem respirar oar puro, uma vez que os pais, ocupados na labuta dodia-a-dia, poucas disponibilidades teriam para pro-porcionarem aos filhos tais regalias. Mais felizesseriam as crianças no campo, os filhos das gentes demenores riquezas, que sairiam, neste particular, rela-tivamente favorecidas. Fora de portas, brincandolivres de vigilância apertada, por certo, melhorexpandiriam todas as suas energias e imaginação emjogos, brincadeiras e correrias próprias da meninice.Em vantagem nítida, estavam, é claro, os filhos daaristocracia mais proeminente. As casas que habita-vam, já de si espaçosas, dispunham geralmente dequintas, pátios, jardins, varandas e terraços, onde erapossível passarem grande parte do dia em brincadei-ras sem fim, reunindo, à sua volta, outras criançasda casa, amigos e parentes. Além disso, era tambémnormal deslocarem-se aos arredores da cidade, empasseios, bem como a alguma das residências de quea família dispusesse. Os momentos festivos e de reu-nião familiar eram especialmente propícios a que ascrianças dessem largas às suas actividades preferi-das. Enquanto os adultos se entretinham entre si, aliberdade e o tempo de actuação delas aumentava.Às crianças, de seu natural irrequietas, pouco maisseria preciso de acordo com os médicos dos finais deSetecentos, do que proporcionar-lhes o espaço sufi-ciente para se movimentarem, porque logo cum-priam essa parte fundamental do seu desenvolvi-mento (30, p.41-42). Todavia, lembrando as de sua

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natureza mais indolentes, havia quem salientasse avantagem de as estimular, dado o exercício ser abso-lutamente necessário, na primeira idade, para endu-recer os músculos ainda fracos e dissipar, com atranspiração, a humidade que se pensava sobejar nosmeninos (18, p. 91). Usando a forma interrogativa,argumentava Francisco José de Almeida acerca dainevitabilidade e utilidade da natureza buliçosa dascrianças: “E como filtrará o figado a colera, se osmusculos abdominaes não o comprimirem para aju-dar hum circulo de si froxo, e vagaroso? Como secorroborarão os membros, se elles se não moverem?As digestões serão tardias, e imperfei-tas; o quylonão poderá passar se as pequenas forças do meninonão forem ajudadas por hum longo, e vivo exercicio(…). Nesta idade se decide da sorte do homem;trata-se de fazer hum individuo molle, enfermo, tris-te, e pezado, ou hum animal vigoroso, sadio, alegre,e util?” (4, p. 91).As considerações, em torno das vantagens do exercí-cio físico, multiplicavam-se. O exercício moderadoconservava a vida e o calor natural, consumia assuperfluidades, corroborava as faculdades, era ologro do tempo e o inimigo do ócio, bem como odevido à mocidade e gozo da velhice (28, p. 108).Mas para que o exercício fosse benéfico, algumasregras teriam de ser observadas, designadamente,quanto ao momento da sua prática mas também dasua duração e intensidade. Sendo demasiado, corria--se o risco de se “adelgaçarem” os humores, fazendonascer “defluxos, incendios, febres” a poderem levaraté à “dissipação” desses mesmos humores e das“partes solidas” (1, 21, p. 494-495 e 23, p. 399).Perante tais efeitos perversos, recomendava-se a suaprática apenas até que o corpo se pusesse “corado, equente”, começando a suar (1, 21, p. 493 e 28, p.108) e, de preferência, pela manhã, em jejum, quan-do estava feita a digestão da ceia e o estômago seencontrava vazio, porque, fazendo evacuar os excre-mentos do dia anterior, melhor se dispunha o corpopara receber o novo alimento (1, 21, p. 493-494 e28, p. 108).Em todo o caso, e para se considerar exercício, nãobastava mexer o corpo, uma vez que só os movimen-tos feitos com algum vigor, e que acelerassem a res-piração, podiam ser tidos como tal. Assim, conside-ravam-se exercícios capazes de ajudarem à conserva-

ção da saúde e ao desenvolvimento do homem, prá-ticas como os jogos de bola, da péla e do volante, anatação, a esgrima, a dança, a corrida e o andar acavalo e a pé (24, p. 58). Todavia, nem todos osexercícios eram tidos por adequados às crianças maisnovas. A estas reservava-se a corrida e demais jogospróprios da meninice e também os exercícios da voz,como cantar e declamar (19, p. 243-246). Mas desa-conselhava-se, por exemplo, o aprender a nadar, nosrios e no mar, que já, então, era considerado um dosmais completos e úteis exercícios, no entanto, reme-tia-se a sua aprendizagem para a entrada do meninona puberdade. Para as raparigas, desta idade, deviapreferir-se a dança, equivalente à equitação e à esgri-ma para os rapazes, porque, além de dar graça e har-monia aos movimentos, habituava à correcta posiçãodo corpo (19, p. 239-240). Os exercícios eram assimdefinidos como adequados tanto pela presunção dacapacidade dos corpos como pelo preconceito cultu-ral regulado pela hierarquia das idades ou pela desi-gualdade sexual.Apesar disso, em perfeita sintonia com as tendênciasda medicina e da pedagogia europeia, os médicosportugueses, mais ousados, dos finais de Setecentosatribuíam, de facto, tão grande importância ao exer-cício físico na formação global do indivíduo queaconselhavam os pais a não reprimirem o instintolúdico das crianças. O seu entendimento era de quenão se devia mesmo castigar as crianças que come-tessem excessos nas suas brincadeiras uma vez queera despropositado castigá-las por aquilo de quedependia a sua saúde e robustez (18, p. 91). Comose depreende, eram entusiásticos defensores de quese deixasse as crianças brincarem a seu bel-prazer,correndo e saltando a qualquer hora do dia.Chegavam, até, a exortar os mestres a ensinarem ascrianças através de divertimentos e brincadeiras e aintervalarem a instrução com momentos de recreio,dado a contenção corporal provocar a saturação inte-lectual (18, p. 92 e 24, p. 27).

JOGOS E RECREIOSComo já vimos, os exercícios físicos das criançasdeviam apenas circunscrever-se a corridas e a jogospróprios da idade. Ora, entre os jogos apropriadosaos mais pequenos, contavam-se o do pião, o da

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bola, o da péla, o do truque, o do toque emboque, odo talo e o da conca. Francisco José de Almeidaadvogava mesmo que os adultos, sempre que tal semostrasse necessário, desafiassem a natural activida-de e vivacidade das crianças “ensinando-lhes a jogara pella” e depois “a bolla e o bilhar” (4, p. 79) eHenriques de Paiva ia ainda mais longe, ao defenderque “os jogos de bilhar, da laranjinha, da pella, o cor-rer, bailar” e outras actividades se deviam sucederumas às outras e misturarem-se mesmo com as“occupações sérias”, sem atender à rigidez dos horá-rios (24, p. 27).Alguns destes jogos foram-se perdendo na memóriados tempos, mas outros chegaram até nós com maio-res ou menores adaptações, por vezes, mudando só onome por que se conhecem. Por exemplo, o talo joga-va-se com dois paus sendo um, o talo, do diâmetrode um dedo polegar e quase um palmo de compri-mento, afiado em ambas as pontas, e o outro três ouquatro vezes maior que o primeiro, mas sensivelmen-te da mesma grossura. À frente de um muro, fazia-seuma cova e o objectivo do jogo consistia em atirar otalo ao muro, distância previamente estabelecida, demodo a fazê-lo cair na cova. Não acertando, o outrojogador devia bater com o pau maior numa das pon-tas do talo, fazendo-o saltar e, enquanto no ar, dar-lhe uma pancada que o fizesse cair na cova. Este jogopraticava-se ainda há alguns anos atrás, sendo conhe-cido, nas Beiras, por bilharda.Um outro jogo, ainda praticado em algumas localida-des portuguesas, era a conca, hoje, normalmenteconhecida por malha. Jogava-se com três pedras,uma, espetada no chão, a servir de termo ou balizae, as outras, para serem atiradas pelos jogadores,desde a distância marcada, devendo acertar na bali-za. Mais pontuava quem mais próximo ficava doobjectivo, o que se podia medir a olho nu ou, noscasos duvidosos, a palmos ou com auxílio da palhi-nha ou fio. Muito curiosa era a recomendação feitade vigiar para que, ao tomar a medida, não se fizessebatota, dado se gerarem, destes actos repetidos,hábitos difíceis de tirar depois, como o de furtar e“fazer outras semelhantes indecencias” (2). Aliás, ede forma geral, proibiam-se aqueles jogos mais sus-ceptíveis de criarem maus hábitos, como era o casodos jogos de sorte e azar (10, p. 378-379 e 15, p.

193-196). Não era, por acaso, que, no Regimento eestatutos do Colégio dos Reis de Vila Viçosa, se autoriza-va, no tempo destinado à recreação, a jogar algunsdos “jogos honestos” já mencionados, mas se proi-biam os de cartas e dados ou qualquer um a dinheiro(26, p. 612).Quanto aos mais velhos, sendo filhos das famíliasmais abastadas, reservavam-se outros exercícios,como a esgrima, a dança e a picaria, especialidades afazerem parte dos planos de estudos do Colégio dosNobres e do Colégio de Mafra e que, segundo osestatutos destas instituições educativas, os alunosdeviam praticá-los, diariamente, entre as cinco e assete e meia da tarde, no horário de Verão, ou seja,desde a Páscoa até aos finais de Agosto (11, p. 403 e12, p. 15). Também do plano de educação particularque a viúva do embaixador em Viena de Áustria,Ambrósio Freire de Andrade e Castro, mãe do futuromarechal Gomes Freire de Andrade, traçava para seufilho, fazia parte o aprender a dançar, a jogar o flore-te e a montar a cavalo (3). Por sua vez, confessava oMarquês de Fronteira, referindo-se à sua vida demiúdo, que, nas visitas feitas com o seu irmão aoColégio dos Ingleses, se divertiam a jogar florete e apéla, a andar a cavalo e a dançar (6, p. 122). Aliás, aconvivência com ingleses, presentes em Portugal nasequência das Invasões Francesas, proporcionariaaos nobres meninos, longas e excitantes cavalgadas,entre Benfica e Oeiras, levadas a cabo tanto de diacomo de noite (6, p. 134-135).É natural, no entanto, que, quando se tratasse deinstituições destinadas aos filhos de gente menosbem posicionada na escala social, fosse diferente, oque se estipulava para os alunos. No Colégio deAlcobaça, dava-se a primazia aos passeios ao ar livre,nas tardes dos dias feriados, tempo em que todos osalunos deviam ir passear pelas “cercas immediatasao Mosteiro” e pela quinta do Colégio, estabelecen-do-se ainda que, um dia por mês, todos os do colé-gio iriam passar o dia na quinta, em “recreação”(22,p. 88-89). O mesmo se passava com os alunos doSeminário de S. Caetano, em Braga, que passeavamnas tardes dos domingos e dias feriados, excepto, noAdvento e Quaresma, períodos em que tinham de irouvir sermão numa das igrejas da cidade. Nessesdias, o passeio era substituído por uma volta pela

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cidade “ou seus arrabaldes” (7, p. 38). No Colégiode Nossa Senhora da Graça, no Porto, os passeios sótinham lugar “humas vezes por outras em cadasemana” (25, p. 6).Mais vulgar ainda que os passeios, eram as horas derecreação, durante as quais os alunos se ocupariamlivremente em “jogos innocentes”, com excepção dosde cartas (25, p. 6), devendo, todavia, manter umcomportamento adequado, sem gritos, nem arreme-dos e, tão pouco, brigando (7, p. 45). Essas seriamas ocasiões aproveitadas por eles para a prática dosseus jogos e brincadeiras preferidas, de acordo comos seus interesses e as suas idades. Estes momentos de lazer, presentes em quase todosos horários dos estabelecimentos educativos, parti-cularmente, nos que recebiam porcionistas, obede-ciam aos princípios defendidos pelos educadores--moralistas que louvavam as virtudes dos exercíciosfísicos e dos jogos, desde que estes fossem controla-dos de modo a não ocuparem demasiado tempo e aservirem os propósitos da educação preconizada,recusando, por isso, tudo o que pudesse conduzir aoabuso, à desonestidade e à violência. Segundo eles, aprática física era útil na medida em que afastava ascrianças da ociosidade e as aliviava do enfado dosestudos. A partir de meados do século deSetecentos, porém, estes objectivos complementa-vam-se com as novas ideias médico-sanitárias asalientarem que o exercício físico, além de natural,era imprescindível à manutenção da boa forma e dasaúde das pessoas. Todavia, se os estabelecimentoseducativos tinham necessidade de demonstrar queatendiam às propostas higienistas de médicos epedagogos, raramente eram explícitos quanto ao tipode práticas a propiciarem. Na maioria dos casos, osseus planos de estudo aludiam apenas a temposlivres para recreação e passeio (17, p. 150).Depreendemos, assim, que não existia qualquerespaço estruturado para aplicação de exercícios físi-cos sistemáticos e que os jogos ocorriam nestesmomentos de lazer e se realizavam espontaneamenteseguindo a tradição, ou seja, de acordo com os inte-resses das crianças e os condicionalismos culturaisda época.

CONCLUSÃOQuando olhamos o discurso médico produzido noséculo XVIII, reconhecemos existir nele uma posturacrítica face a práticas a implicarem com a formaçãodo corpo. No geral, médicos e cirurgiões reconhe-ciam a necessidade de inverter a tendência da con-formação dos corpos pelos ditames da passividadeou da acção mínima. Para eles, independentementeda parte do século a que pertenciam, a prática físicafoi sempre considerada de grande importância para apreservação da saúde, daí advogarem o exercício físi-co especialmente para aqueles que eram dados aogozo da boa mesa e à vida sedentária. No entanto,com o avançar da segunda metade do século, foi-seacentuando a importância do exercício físico para aformação do indivíduo, o que lhe conferia umamaior qualidade pedagógica e o remetia definitiva-mente também para o espaço da educação. A partirde então, vemos convergir duas tendências desenca-deadoras de um movimento favorável ao desenvolvi-mento do corpo. De um lado, os jogos e as mais prá-ticas físicas legadas pelos séculos anteriores e, dooutro, concepções médico-pedagógicas preocupadas,sobretudo, com as condições higiénicas e o desen-volvimento dos indivíduos. Como vimos, as práticas descritas testemunhamtanto a permanência de técnicas corporais ancestraisprivilegiadoras de critérios de elegância e posturasartificiais como o contemplar de espaços vocaciona-dos para práticas físicas a servirem as preocupaçõeshigiénicas e pedagógicas. Contudo, olhando commais atenção, os exercícios corporais aparecem fun-damentalmente associadas a uma concepção de edu-cação física higiénica ou tradicional. De facto, embo-ra os filhos da aristocracia, quer nos Colégios dosNobres e de Mafra quer numa educação doméstica,tivessem tempos especialmente dedicados à dança, àequitação e à esgrima, a generalidade dos meninos, adedicarem-se aos estudos, apenas conhecia espaçosde recreação ou horas de passeio. Sendo assim, osexercícios sistemáticos estavam reservados principal-mente àqueles que deviam exibir refinamentos cor-porais sublinhadores da sua situação social; para osoutros, disponibilizavam-se tempos a deverem per-mitir a recuperação de energias necessárias a umamelhor aprendizagem e a oportunidade de momen-tos lúdicos propiciadores de desenvolvimento físico.

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Contudo, à maioria da população, infantil e juvenil,restava-lhe gerir o desenvolvimento do corpo aoritmo permitido pelas possibilidades da sobrevivên-cia ou da exigência do trabalho.

CORRESPONDÊNCIAJosé Vítor FerreiraFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação Física Universidade do PortoRua Plácido Costa, nº 914200-450 [email protected]

FONTES E BIBLIOGRAFIAFontes manuscritas1. B.F.M.P. [170?]. Reservados: Pontos para os exames de

Cirurgia, Sessão 5ª, Capítulo 4º.2. B. N. L. (1742). Reservados: Methodo breve e claro de jogar a

bilharda, pião, e conca: dedicado e offerecido ao sereníssimosenhor D. José Arcebispo e senhor de Braga pelo P.e FranciscoMonteiro reytor do Collegio da Comp.a da mesma cidade, Doc.26, nº 144.

3. B. P. E. [170?]. Reservados: Plano de educasam para meufilho, Doc. C I X/ 1-10, nº 24.

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J. V. Ferreira, A. G. Ferreira

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25. Plano que deve observar-se ácerca da educação, e ensino dos por-cionistas, que houverem de ser admittidos, para este fim, no RealCollegio de N. Senhora da Graça, e Meninos Órfãos desta cidadedo Porto (1813).

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27. Rosário, Trovão (1996). O desporto em Portugal: Reflexo e pro-jecto de uma cultura. Lisboa: Instituto Piaget.

28. Sá, J. F. F. (1723). Epithome cirurgico, medicinal, observantequesteonado, dividido em tres livros com muytas observações medi-cas, & cirurgicas, & hum antidotario de varios remedios tiradosde vários autores, & outros inventos seus. Lisboa Oriental: NaOfficina Ferreyriana, Parte I.

29. Serra, M. Cameira (1998). Os jogos tradicionais. As relaçõesentre as práticas lúdicas e as ocupações agrícolas e pastoris. Tesede Doutoramento. Vila Real: UTAD. Texto policopiado.

30. Villeneuve, J. R. (1767). A aia vigilante ou reflexões sobre aeducação dos meninos, desde a infância até à adolescência.Lisboa: Na Officina Ferreyriana.

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A inserção da alta competição nos programas dos governosconstitucionais em Portugal e o seu enquadramento normativo

Maria José Carvalho

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do PortoPortugal

RESUMOA alta competição, entendida como a prática desportiva inseri-da no âmbito do desporto de rendimento que corresponde àevidência de talentos e de vocações de mérito desportivo excep-cional cujos resultados se aferem por padrões internacionais,carece de especial orientação e organização. O propósito deste estudo foi investigar qual tem sido o espaçodestinado a este subsistema desportivo nos programas doscatorze governos constitucionais em Portugal e pesquisar aintervenção do legislador quanto à regulamentação deste espa-ço de vida. Para tanto, procedemos à análise documental dosreferidos programas governativos e à recolha e interpretação detodos os diplomas legais respeitantes à alta competição.Os resultados obtidos evidenciaram que, à excepção dos V, VI,VII, todos os programas dos governos constitucionais incluemreferências explícitas ou implícitas à alta competição com espe-cial assento após o VIII Governo. O estudo revelou tambémque desde 1976 é consagrada à alta competição uma vasta pro-dução legislativa, consubstanciada actualmente num conjuntode medidas de apoio específicas para atletas, treinadores, diri-gentes e árbitros e na imposição de tarefas de organização pró-prias para as federações desportivas e a administração central.

Palavras-chave: Alta competição, Direito do Desporto,Legislação, Medidas de apoio à alta competição.

ABSTRACTThe Insertion of Top-Level Competition in the ConstitutionalGovernments’ Programs of Portugal and its Legal Framework

Top-level competition, meaning the sportive practice within the scope ofsport-performance, which corresponds to the appearance of talents andskills of exceptional merit whose results are assessed by internationalstandards, lacks specific orientation and organisation.In this study, we aim at investigating the space occupied by thissportive subsystem in the 14 constitutional governments’ programs andstudying the legislator’s intervention in terms of regulating this sectorof life. Therefore, we analysed those governments’ programs and gath-ered all the legal diplomas related with top-level competition.The results obtained lead us to consider that all but the V, VI, and VIIconstitutional governments’ programs have explicit or implicit refer-ences to top-level competition, with a special emphasis after the VIIIGovernment. The study also showed that specific laws have been pub-lished since 1976 focused on top-level competition, reinforced by a setof specific measures created to support athletes, coaches, officials andreferees and by the obligation of fulfilling specific organisational tasksto sport federations and bodies of central administration.

Key Words: Top-level competition, Sport Law, Legislation, Supportingmeasures to Top-level competition.

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1. INTRODUÇÃOA prática desportiva de alta competição, tanto navertente profissional como na amadora, sobretudopelo seu significado sociocultural e pela projecção dasua valência competitiva e espectacular, confere umaexpressão ímpar ao fenómeno desportivo (7). Éindubitável que, seja qual for a parte do globo emque nos fixemos, a alta competição das modalidadesrainhas dessas culturas é, hoje em dia, para as popu-lações, um espectáculo e uma manifestação culturalde grande atractividade.Reflectir sobre a prática desportiva de alta competi-ção é reflectir sobre um campo de expressão humanaque pode ser perspectivado sob várias vertentes ematizes, e é iniludível que, do ponto de vista investi-gacional, todo este subsistema tem constituído nasúltimas décadas um excelente campo de reflexão eestudo, quer pelas denominadas ciências sociais querpelas ciências exactas (10). Também a Ciência doDireito através da produção legislativa, da doutrina eda jurisprudência tem, paulatinamente, vindo aintervir e a ser reclamada pelo desporto, e neste par-ticular pela alta competição, no sentido de contribuirpara a sua melhor organização e aperfeiçoamento.Tendo presente esta relação de intimidade entre oDireito e o Desporto, partimos para esta investiga-ção formulando duas questões iniciais:

– Os programas dos catorze governos constitucionaisconsagram medidas específicas para a prática des-portiva de alta competição?

– Qual a intervenção do legislador, após a Revoluçãode Abril de 1974, na regulamentação da práticadesportiva de alta competição?

Assim, o objecto do presente trabalho assenta noestudo dos programas dos catorze governos consti-tucionais e de todos os diplomas respeitantes à altacompetição publicados após a revolução de Abril de1974, pelo que os campos de pesquisa incidem res-pectivamente nos Diários da Assembleia daRepública (DAR) e nos Diários da República (DR).Procedemos à análise de conteúdo e interpretação detais instrumentos legislativos com o objectivo deaveriguar a existência ou ausência de medidas pro-gramáticas relativas à alta competição nos documen-tos referidos, assim como investigar a produção nor-

mativa respeitante a este subsistema desportivo e oseu enquadramento jurídico actual.

2. A INSERÇÃO DA ALTA COMPETIÇÃO NOSPROGRAMAS DOS GOVERNOS CONSTITUCIONAISPoder-se-á questionar a necessidade, ou não, deintervenção pública na normatização da alta compe-tição, sendo ela já espaço de regulamentação nasestruturas associativas que a fomentam1. Porém,sendo o Direito um conjunto de regras de condutasocial que regulam a convivência dos Homens emsociedade (8), facilmente se compreende que, dadasas tremendas exigências de rendimento físico-des-portivo desta actividade, os seus crescentes interes-ses políticos e económicos e o elevado nível de atrac-ção que adquiriu junto do grande público, se tenhatornado um espaço social a necessitar de um conjun-to de normas gerais e abstractas para regular a suaexistência e funcionamento. Estas normas emanamdo ordenamento jurídico público, para que todos osoperadores deste subsistema sejam usufrutuários emplena igualdade do mesmo estatuto, ou seja, adstri-tos aos mesmos direitos e obrigações. Caso contrá-rio, seria um espaço de vida apenas ordenado pelosregulamentos federativos e, consequentemente,dependente das decisões e políticas eventualmentediferenciadas das várias modalidades, susceptíveis decriar desigualdades e assimetrias assinaláveis entreatletas que obtivessem resultados idênticos emrepresentações internacionais de carácter similar.Devemos atender também à argumentação deChaker (6) quando refere que Portugal, a par deoutros países da Europa meridional e oriental, adop-tou um modelo de legislação desportiva intervencio-nista. Ao percorrermos o nosso ordenamento jurídi-co desportivo verificamos que este intervencionismoremonta a 1942 com a emanação do históricoDecreto-Lei n.º 32 241, de 5 de Setembro, relativo àorganização da actividade desportiva. Nele subjazuma intervenção plenamente dirigista, fruto da ideo-logia política do Estado Novo, diferente, natural-mente, da dos dias de hoje. Porém, mesmo após a

O enquadramento normativo da alta competição em Portugal

1 Esta competência regulamentar deriva do disposto no artigo21.º, alínea h) do Decreto-Lei n.º 144/93, de 26 de Abril, queregula o regime jurídico das federações desportivas.

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transição do regime ditatorial para o regime demo-crático, o Estado Português não se inibiu de intervirlegalmente no sistema desportivo.Pensamos, pois, ser curial investigar se a alta competi-ção tem sido considerada como matéria substantiva daactividade governamental na era após a Revolução deAbril de 1974. Para tal teremos, necessariamente, deanalisar os programas dos catorze governos constitu-cionais, os quais constituem os documentos ondeconstarão as principais orientações políticas e medidasa adoptar no domínio deste subsistema desportivo.Da investigação efectuada aos programas menciona-dos deparamo-nos com três períodos distintos quan-to ao seu conteúdo (2, 11) pelo que decidimos apre-sentar uma leitura desta intenção política agrupadaem três momentos:

A – do I ao IV governos constitucionais2

Neste período, entre 1976 e 1978, época de grandeinstabilidade política com mudanças sucessivas degovernos, a alta competição aparece com referênciasimplícitas que se traduzem no apoio ao desportofederado (I e III GC), surge associada à execução deuma política de instalações desportivas que atendaàs suas necessidades (II GC) e surge explicitamenteno apoio a estudos na alta competição e definição decritérios de participação internacional (IV GC).

B – do V ao VII governos constitucionais3

Entre 1979 e 1981 os programas governativos nãocontemplaram, sequer implicitamente, a alta compe-tição.

C – do VIII ao XIV governos constitucionais4

Após 1981, ultrapassada a fase de grande instabilida-de política, a alta competição surge novamente como

uma medida programática de carácter explícito tra-duzida nas seguintes menções:

a) Lançamento de um sistema de apoio à alta com-petição (VIII GC);

b) Incremento e consolidação do apoio aos atletas eequipas portuguesas, especialmente emCampeonatos da Europa, Campeonatos doMundo e Jogos Olímpicos (IX, X, XI, XII, XIII eXIV GC);

c) Reestruturação da medicina desportiva, no senti-do de permitir o desenvolvimento da investigaçãoe apoio à alta competição ( XI e XIII GC);

d) Criação de estruturas de apoio específico, os cen-tros de alto rendimento, que respondam às exi-gências de detecção, formação e acompanhamentodos praticantes de alta competição ( XIII GC) ;

e) Criação de condições para que as figuras de reco-nhecido prestígio do desporto português possamcontinuar a divulgar e a promover o desportoapós o termo das suas carreiras desportivas (XIIIGC).

Sintetizando, desde 1976 até aos dias de hoje, asprincipais medidas governativas ao nível da altacompetição focalizam-se no sistema de apoio aospraticantes nas mais representativas competiçõesinternacionais, ao nível da medicina desportiva, nacriação dos centros de alto rendimento e na consti-tuição de modelos desportivos por parte dos prati-cantes de maior prestígio do desporto português.Fundamentalmente a partir de 1981, ou seja, do VIIIGoverno Constitucional, constatamos que a alta com-petição passou a figurar de forma explícita e contínuanos programas dos governos constitucionais.

3. O ENQUADRAMENTO NORMATIVO DA ALTACOMPETIÇÃOForam certamente feitos distintivos internacionaisobtidos a partir de 1976 por atletas como CarlosLopes

5, Armando Marques, Rosa Mota, António

Leitão, Aurora Cunha, Alexandre Yokochi, entreoutros, e também, naturalmente, pressões de técni-cos qualificados junto da administração central que

Maria José Carvalho

2 Publicados, respectivamente, nos DAR, II Série Suplementoao n.º 17, de 3 de Agosto de 1976; Suplemento ao n.º 34, de3 de Fevereiro de 1978; n.º 105, de 8 de Setembro de 1978 en.º 13, de 5 de Dezembro de 1978.

3 Publicados, respectivamente, nos DAR, II Série n.º 96, de 14de Agosto de 1979, n.º 11, de 12 de Janeiro de 1980 e n.º 20,de 17 de Janeiro de 1981.

4 Publicados, respectivamente, nos DAR, II Série n.º 101, de 15de Setembro de 1981; Suplemento ao n.º 6, de 21 de Junhode 1993; n.º 4, de 16 de Novembro de 1985; Suplemento aon.º 4, de 28 de Agosto de 1987; II Série-C, n.º 1, de 15 deNovembro de 1991; II Série-A, n.º 2, de 8 de Novembro de1995; II Série-A, n.º 2, de 6 de Novembro de 1999.

5 Um primeiro marco assinalável é a vitória de Carlos Lopes noCampeonato do Mundo de Corta-Mato a 28 de Março de 1976.

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sensibilizaram a classe política e o legislador portu-guês para a realidade específica da alta competição epara as necessidades próprias destes atletas. Comefeito, até esta data reinava a improvisação e a anar-quia neste sector da actividade desportiva (3). Darecolha por nós efectuada

6é também no ano de 1976

que descortinamos o primeiro normativo respeitanteà alta competição, o Decreto-Lei n.º 559/76, 16 deJulho de 1976. Este diploma consagrava normas rela-tivas à requisição ou destacamento de trabalhadoresdos sectores público ou privado para participaremem provas desportivas internacionais. Esta medidafacilitou a participação dos nossos atletas nos JogosOlímpicos de Montreal que decorreram de 17 deJulho a 1 de Agosto de 1976. Desde então, paulatina-mente, começou a estruturar-se a edificação do regi-me jurídico da alta competição perfazendo até à pre-sente data cerca de 50 diplomas com objectos deregulação diferenciados. Devemos deixar aquiexpresso a importância da Portaria n.º 730/80, de 26de Setembro, dado que constitui um marco substan-cial na valoração política e conceptual da alta compe-tição. Neste diploma surge pela primeira vez o reco-nhecimento do desporto de alta competição comoum elemento importante de desenvolvimento des-portivo e é delineado o primeiro regulamento deapoio ao desporto de alto rendimento e o estatuto doatleta de alta competição. Ao longo de vinte anosvários diplomas revogaram e alteraram sucessiva-mente modelos organizativos e medidas de apoio aosagentes desportivos desta prática desportiva até aoaparecimento da Lei de Bases do Sistema Desportivo,a Lei n.º 1/90, de 13 de Janeiro. Este foi, de facto,um momento de excelência no domínio da regula-mentação do desporto na medida em que tal norma-tivo estabeleceu as principais linhas político-jurídicasdo sistema desportivo português. Esta lei geral dodesporto consignou também, nas suas directrizes, aalta competição através de menção expressa no arti-go 15.º, o qual determinou ulterior regulamentação afim de desenvolver cabalmente os princípios neleexpressos e, diga-se em abono da verdade, que olegislador foi lesto a fazê-lo.

O primeiro decreto de desenvolvimento surge a 7 deAgosto de 1990 através do Decreto-Lei n.º 257/90 edecorridos cinco anos ocorreu a sua revogação com oDecreto-Lei n.º 125/95, de 31 de Maio. É estenormativo que se mantém na actualidade com a alte-ração constante do Decreto-Lei n.º 123/96, de 10 deAgosto. Contudo, existe um conjunto legislativoregulamentador de várias medidas de apoio ínsitasneste diploma que merecem destaque: Portaria n.º205/98, de 28 de Março, relativa às bolsas académi-cas a atletas de alta competição; Portaria n.º 211/98,de 3 de Abril e Portaria n.º 393/97, de 17 de Junho,respeitantes aos prémios, sendo a segunda destinadaaos atletas deficientes; Portaria n.º 947/95, de 1 deAgosto, que define os critérios técnicos para a quali-ficação como praticante desportivo de alta competi-ção e praticante integrado no percurso de alta com-petição; Portaria n.º 392/98, de 11 de Julho, relativaao seguro desportivo especial dos praticantes emregime de alta competição e Decreto-Lei n.º 393-A/99, de 2 de Outubro, que regula os regimes espe-ciais de acesso ao ensino superior permitindo aosatletas com estatuto e integrados no percurso de altacompetição beneficiarem deste regime.Atentemos, ao diploma que rege as medidas de

apoio à alta competição, o Decreto-Lei n.º 125/95,efectuando uma análise crítica dos seus principaisaspectos caracterizadores (2, 12, 13).

3.1. Estrutura formal e material do diplomaTrata-se de um diploma formalmente extenso, com10 capítulos e 41 artigos, o qual revela sinais de sis-tematização algo defeituosa dado agrupar matériascom objectos diferenciados no mesmo capítulo, oque provoca alternâncias despropositadas de conteú-dos. Veja-se o exemplo do Capítulo X, referente aosdeveres dos praticantes, onde figuram os direitosdos cidadãos deficientes (artigo 40.º) e os direitosdos seleccionáveis (artigo 39.º). Em termos mate-riais, destaque para a distinção na qualificação dosatletas em praticantes com estatuto de alta competi-ção, praticantes integrados no percurso de alta com-petição, praticantes profissionais em regime de altacompetição e praticantes que integram selecçõesnacionais. Estas diferentes qualificações implicamdiferentes usufrutos das medidas de apoio consigna-das no diploma, como veremos adiante. De assinalar

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6 Toda a legislação compilada desde esta data até aos dias dehoje pode ser consultada em Carvalho (2).

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também a extensibilidade do regime constante nestediploma a cidadãos deficientes que obtenham resul-tados de excelência na prática desportiva em compe-tições internacionais.Globalmente, a estrutura do normativo em análise éanáloga à do Decreto-Lei n.º 257/90, a qual resultasobretudo de um trabalho de compilação de matériasrelativas à alta competição que se encontravam regu-ladas em diplomas avulsos anteriores. Existe, porconseguinte, há mais de vinte anos, uma continuida-de na filosofia subjacente à alta competição determi-nando que, para problemas novos, continuem a sub-sistir velhas soluções. Domínios relativos à regula-ção do estatuto social, com especial acuidade para oregime laboral e da segurança social, e do estatutofiscal constituem lacunas assinaláveis na estruturadeste diploma e, consequentemente, fraquezas notocante ao estatuto jurídico do praticante desportivonão profissional de alta competição.

3.2. Conceito de alta competiçãoQuando se fala em alta competição torna-se necessá-rio enquadrar devidamente esta actividade, semtibiezas quanto ao seu conceito. Juridicamente nãosurgem dúvidas de interpretação relativas ao concei-to precipitado no artigo 2.º deste diploma: “a altacompetição é a prática desportiva que, inserida noâmbito de desporto-rendimento, corresponde à evi-dência de talentos e de vocações de mérito desporti-vo excepcional, aferindo-se os resultados porpadrões internacionais, sendo a respectiva carreiraorientada para o êxito na ordem desportiva interna-cional”. Facilmente se depreende que para integrareste conceito poderá não bastar ser campeão nacio-nal, integrar a selecção nacional, ou ser um profis-sional do desporto prestigiado local ou nacionalmen-te, caso estes factos não se repercutam na obtençãode resultados internacionais suficientemente meritó-rios face aos padrões internacionais.

3.3. OrganizaçãoNo que respeita à organização e desenvolvimento daprática desportiva de alta competição, são duas asorganizações mencionadas no diploma em análise:uma do foro privado, as federações desportivas deutilidade pública desportiva, e outra do foro público,o Instituto do Desporto de Portugal.

Dadas as atribuições cometidas às federações des-portivas, estas organizações conquistaram um espaçodecisivo no fomento, planeamento e até regulamen-tação da alta competição das suas modalidades, res-tando praticamente à administração pública central aatribuição de meios financeiros aos programas poraquelas apresentados. Assim sendo, parece-nosimportante a existência de uma terceira estruturaque perspective a prática desportiva de alta competi-ção como um todo e, consequentemente, com com-petências de supervisão e orientação estratégicadesta prática desportiva.

3.4. Medidas de apoio a praticantes, treinadores,dirigentes e árbitrosAs medidas de apoio ínsitas no Decreto-Lei n.º125/95 têm diferentes destinatários: são eles os pra-ticantes, os treinadores, os dirigentes e os árbitros,juízes, comissários e cronometristas.

3.4.1. Quanto a praticantes Os atletas com estatuto de alta competição não pro-fissionais podem beneficiar de medidas de apoio res-peitantes aos seguintes domínios:

a) Regime escolar (artigos 9.º a 18.º);b) Dispensa temporária de funções (artigos 19.º a

21.º);c) Obrigações militares (artigos 22.º e 23.º);d) Acesso a formação superior, especializada e pro-

fissional (artigos 27.º a 29.º);e) Apoio material (artigos 30.º a 33.º);f) Seguro desportivo e apoio médico (artigos 34.º e

35.º).

Deste conjunto de medidas exceptuam-se as bolsasde alta competição (artigo 30.º) e o seguro desporti-vo especial (artigo 34.º) para os praticantes integra-dos no percurso de alta competição e para os prati-cantes profissionais com estatuto de alta competi-ção. Quanto aos atletas que, apesar de não integra-rem a alta competição, participem regularmente nasselecções nacionais beneficiam de algumas medidasreferentes ao regime escolar (artigos 10.º a 13.º), àdispensa temporária de funções, às obrigações mili-tares e apoio médico.

Maria José Carvalho

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Merecem-nos uma apreciação especial duas destasmedidas, o regime escolar e o apoio material.Actualmente, qualquer atleta estudante de alta com-petição terá um dia a dia deveras atribulado se pre-tender conciliar a sua actividade estudantil com aprática desportiva, na medida em que o tempo des-pendido em dois treinos diários e nas deslocaçõesconstitui, por si só, o horário normal de qualqueraluno que não seja praticante desportivo. Assimsendo, pensamos que medidas como a relevação defaltas, alteração de provas de avaliação, etc., poucobeneficiam os atletas de alta competição. É tempo deequacionar novas formas de enquadramento da vidadestes praticantes desportivos. Quanto ao apoiomaterial, os resultados de um estudo por nós reali-zado a atletas com estatuto de alta competição (2)indicaram que as bolsas de alta competição (art.º30.º) não estavam a ser usufruídas por metade doselementos da amostra, que apenas 14% dos elemen-tos da amostra utilizavam centros especiais de apoio(art.º 31.º) para a sua preparação e que os prémios(art.º 32.º) atribuídos aos atletas lhes foram entre-gues ao fim de um prazo médio de nove meses.A pertinência destes resultados leva-nos a crer nanecessidade dos responsáveis pela alta competiçãoefectuarem constantes aferições entre o que estáestipulado na lei e o que na realidade é usufruídopelos agentes aos quais ela se destina.

3.4.2. Quanto a treinadoresOs técnicos de apoio aos praticantes em regime dealta competição ou que acompanhem as selecçõesnacionais beneficiam das seguintes medidas:

a) Dispensa temporária de funções (artigos 19.º a21.º);

b) Regime escolar (artigo 11.º a 13.º); c) Obrigações militares (artigos 22.º e 23.º);d) Formação especializada (artigo 25.º); e) Acesso ao ensino superior (artigo 27.º); f) Prémios (artigo 33.º).

3.4.3. Quanto a dirigentesOs dirigentes que se dediquem ao subsistema dealta competição ou que acompanhem as selecçõesnacionais beneficiam das necessárias adaptações domencionado nas alíneas a), b) e c) respeitantes aostreinadores.

O legislador diferenciou os técnicos e dirigentes deapoio a praticantes em regime de alta competiçãodaqueles técnicos e dirigentes que acompanhemselecções nacionais. Nada teríamos a contrapor casonão se vislumbrassem desigualdades assinaláveis naaplicação das medidas de apoio, com prejuízo paraos treinadores de apoio aos atletas, como por exem-plo não beneficiarem de medidas no domínio dasobrigações militares, do horário escolar e regime defrequência e da relevação de faltas, o que traduz aconfusão e incoerência reinantes neste domínio.

3.4.4. Quanto a árbitros, juízes, comissários e cronometristasEstes agentes podem beneficiar de relevação de fal-tas escolares, alteração de datas de provas de avalia-ção e dispensa temporária de funções aquando dedeslocações a congressos ou eventos de nível inter-nacional reconhecidos de interesse público.O Decreto-Lei n.º 125/95 consigna também deverespara os agentes desportivos da alta competição. Porconseguinte, os praticantes em regime de alta com-petição têm de se submeter regularmente aos con-trolos anti-dopagem, em competição ou fora dela(n.º 1 do artigo 36.º) e integrar as selecções nacio-nais (n.º 2 do artigo 36.º). Também os treinadores edirigentes devem zelar para que os praticantes sobseu acompanhamento se abstenham de qualquerforma de dopagem (artigo 38.º).

4. CONCLUSÕESCumpre-nos neste espaço retirar as principais ilaçõesdo presente estudo e por conseguinte dar resposta àsquestões inicialmente formuladas. Assim, os resulta-dos obtidos na investigação efectuada aos programasdos catorze governos constitucionais sugerem que oapoio à alta competição constitui uma das medidas aadoptar no domínio da actividade governamental.Com excepção do V, VI, VII todos os governos cons-titucionais inserem a alta competição nos seus pro-gramas com especial incidência de continuidade apartir do VIII Governo Constitucional. Um segundodado conclusivo, relativo à investigação da produçãonormativa respeitante a este subsistema desportivo,permite-nos afirmar que existe um vasto quadro nor-mativo público fruto de um processo de apuramentolegislativo desde 1976 até aos dias de hoje. O nor-mativo referencial das medidas de apoio ao desen-

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volvimento deste subsistema desportivo, o Decreto--Lei n.º 125/95, de 31 de Maio, necessita de melho-rias quer ao nível de técnica legislativa quer ao nívelde reajustamentos à realidade hodierna dos agentesdesportivos de alta competição.

Maria José Carvalho

CORRESPONDÊNCIAMaria José CarvalhoGabinete de Gestão DesportivaFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 [email protected]

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ARTIGOS DEREVISÃO

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O desafio da altitude. Uma perspectiva fisiológica

J. MagalhãesJ. DuarteA. AscensãoJ. OliveiraJ. Soares

RESUMOA prática de actividades físicas em altitude tem sofrido umaumento significativo ao longo dos últimos anos. Estas activi-dades, de que são exemplo o montanhismo, o alpinismo e oesqui, implicam a exposição esporádica ou prolongada dos“turistas de altitude” a ambientes de hipóxia hipobárica e, emconsequência, induzem elevada agressão orgânica. No presentetrabalho serão descritas as adaptações fisiológicas agudas e cró-nicas que ocorrem (i) nos sistemas respiratório e circulatório,(ii) nos componentes hematológicos e (iii) na morfologia emetabolismo musculares, com o objectivo de atenuar os efeitosfisiológicos da rarefação do oxigénio no ar atmosférico, possibi-litando a permanência e a funcionalidade do Homem nesteslocais hostis. Na perspectiva do rendimento desportivo, serãoabordados, de forma sumária, o efeito fisiológico e os benefí-cios para o desempenho ao nível do mar decorrentes do deno-minado “treino em altitude”.

Palavras-chave: Altitude, hipóxia, adaptações fisiológicas agudas,adaptações fisiológicas crónicas, treino em altitude.

ABSTRACTThe High-Altitude Challenge. A Physiological Point of View

High-altitude physical activities have been widely performed in thelater years. Activities like mountaineering, climbing and skiing,demanding short or prolonged high-altitude exposure, induce strenuousphysiological exertion as a consequence of hypobaric hypoxic environ-mental conditions. The present work reviews the main acute and chron-ic physiological adaptations on (i) the respiratory and cardiovascularsystems, (ii) hematological components and (iii) muscular morphologyand metabolism, allowing the maintenance of life and practice of physi-cal activities on high-altitude hostile regions. Finally, is briefly reviewedthe state of the art on altitude training concerning the physiologicaland sports benefits to perform at sea level.

Key Words: Altitude, hypoxia, acute physiological adaptations, chron-ic physiological adaptations, altitude training.

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do PortoPortugal

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1. INTRODUÇÃOO Homem é o único ser vivo nativo das regiões aonível do mar que se expõe, propositadamente e poroutras razões que não as de sobrevivência, aos rigo-res e à adversidade dos ambientes hipóxicos caracte-rísticos das regiões montanhosas de elevada altitude.Actualmente, a ascensão de indivíduos residentes aonível do mar, até áreas de moderada e elevada altitu-des, através dos mais variados meios (e.g. teleférico,marcha, carro, comboio) e para os mais diversos fins(treino desportivo, turismo, investigação científica,negócios, operações militares e actividades laborais),é uma realidade. Ao longo dos últimos anos e emconsonância com o incremento da prática de activi-dades físicas ao nível do mar, diversas actividades,entre as quais o montanhismo, o alpinismo e oesqui, têm eclodido, acarretando a permanência pro-longada e/ou intermitente dos seus praticantes emlocais de elevada altitude. Uma vez que grandemaioria destes “turistas de altitude” reside ao níveldo mar, a sua exposição aguda a ambientes de altitu-de poderá traduzir-se numa elevada agressão orgâni-ca. Por estas razões, grande ênfase tem sido dada aoestudo da resposta fisiológica do Homem à exposi-ção a ambientes de altitude.A fisiologia de altitude tem como objecto de estudodescrever e interpretar as respostas fisiológicas, agu-das e crónicas, do organismo à exposição a ambien-tes de moderada (1400 a 3000 m) ou elevada altitu-de (3000 a 8850 m). Neste domínio, a investigaçãotem sido realizada, quer em contexto laboratorialquer no terreno (e.g. Alpes, Himalaias), recorrendo ahumanos (para ref.’s ver 11, 17, 19, 43, 51, 83) ouao modelo animal (22, 34, 58). Nos trabalhos de terreno com humanos o objecto dainvestigação tem sido o estudo da resposta fisiológi-ca à exposição contínua/intermitente com amostrasde alpinistas em regiões montanhosas elevadas, depopulações nativas de altitude (e.g. Sherpas,Quechuas) ou profissionais em actividade laboral(e.g. mineiros) nesses locais de elevada altitude.Da mesma forma, embora a altitudes moderadas, osinvestigadores têm procurado descrever as adapta-ções orgânicas induzidas pelo denominado treino ematitude, procurando interpretar o seu real contributopara a melhoria do desempenho em altitude e, parti-cularmente, ao nível do mar. Neste último domínio

da investigação, para além dos muitos estudos deterreno (5, 9, 44, 71), também tem sido desenvolvi-da abundante investigação laboratorial (2, 3, 50). Nos estudos laboratoriais, têm sido utilizadas câma-ras com ambiente interior hermeticamente controla-do para simular condições de altitude.Efectivamente, pela capacidade de controlar a pres-são barométrica no interior destas câmaras recorren-do à utilização de bombas que aspiram ar para oexterior (10, 52, 59, 74), ou à injecção de uma mis-tura de gases rica em nitrogénio diminuindo, assim,a pressão parcial de oxigénio no seu interior (28, 54,88), é possível simular ambientes de hipóxia hipobá-rica e normobárica, respectivamente.A exposição aguda ou crónica a ambientes de altitu-de e a prática simultânea de actividades físicas, indu-zem níveis de stress fisiológico acrescidos, devido àscondições de hipotermia, hipohidratação, hipoglice-mia e, particularmente, hipóxia hipobárica a queestão associadas (36).

2. A HIPÓXIA HIPOBÁRICAO incremento da altitude, ao estar associado aodecréscimo exponencial da pressão barométrica e,paralelamente, da pressão parcial de oxigénio no aratmosférico (PIO2), promove alterações no conteúdoarterial de oxigénio e, em consequência, na “quanti-dade” de oxigénio fornecido aos tecidos (45, 47).Conforme Torricelli referia em 1643 (84), vivemossubmersos num oceano de ar que, mediante experiênciasinquestionáveis, sabemos ter peso, por isso, tomandocomo referência a pressão barométrica ao nível domar (760 mmHg), à medida que subimos em altitu-de a pressão exercida por esta camada de ar, isto é, apressão barométrica, vai diminuindo. A uma altitudede 5800 metros, a pressão barométrica decresce paracerca de metade (379 mmHg) da registada ao níveldo mar e no cume do Everest (8850 m) assume valo-res de cerca de um terço (253 mmHg) desta pressãobarométrica (83). Da mesma forma, uma vez que aconcentração de oxigénio no ar atmosférico(20.93%) não se altera em função da altitude (83), apressão parcial de oxigénio do ar atmosférico dimi-nui proporcionalmente com o decréscimo da pressãobarométrica. Assim, regista-se no cume do Everestuma PIO2 de cerca de um terço (52.9 mmHg) daregistada ao nível do mar (159 mmHg).

J. Magalhães, J. Duarte, A. Ascensão, J. Oliveira, J. Soares

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Sendo a difusão de oxigénio dos alvéolos pulmona-res para os tecidos condicionada por gradientes depressão nos diferentes níveis a que ocorrem as tro-cas gasosas, o decréscimo da PIO2 afecta negativa-mente a taxa de difusão do oxigénio dos alvéolospara os capilares pulmonares, diminuindo a percen-tagem de saturação da hemoglobina e, consequente-mente, o conteúdo arterial e o transporte de oxigé-nio para os tecidos (11, 69). Assim, à medida que seascende em altitude, o decréscimo de oxigénio dis-ponível para o metabolismo celular compromete apermanência e o desempenho do ser humano erepercute-se, de diversas formas, na homeostasia dosdiferentes sistemas biológicos. Como sugeria PaulBert em 1878 (84), os organismos existentes no seu esta-do natural na superfície da Terra estão adaptados ao nívelda pressão parcial de oxigénio em que vivem e qualquerdiminuição ou aumento desta pressão será prejudicial paraeles. Efectivamente, nas condições de hipóxia hipobá-rica, a diminuição da quantidade de oxigénio dispo-nível para os tecidos implica um decréscimo do con-sumo máximo de oxigénio (26, 64) e traduz-se, parao mesmo trabalho, num aumento da intensidaderelativa ou na diminuição da capacidade de trabalhodesenvolvido para uma determinada intensidade deexercício, com aparecimento precoce da fadiga.

3. ADAPTAÇÕES AGUDAS E CRÓNICAS À EXPOSIÇÃOÀ ALTITUDEA exposição a ambientes de hipóxia hipobárica éindutora de inúmeras adaptações fisiológicas agudase crónicas, que tendem a minimizar o efeito deleté-rio da diminuição da quantidade de oxigénio dispo-nível para os diferentes tecidos. Adaptações nos sis-temas respiratório e circulatório, na regulação hor-monal e hídrica, nos componentes hematológicos ena morfologia e metabolismo musculares, entreoutras, parecem contrariar os efeitos fisiológicos dararefação de moléculas de oxigénio para os tecidos(13, 25, 30, 32, 37, 39, 62, 82). Estes mecanismosde adaptação, sendo críticos para permanecer e sus-tentar trabalho em locais de elevada altitude, são umexemplo da capacidade adaptativa do organismohumano às alterações homeostáticas, orgânicas eteciduais em ambientes extremamente hostis. Desalientar, no entanto, que a exposição aguda a altitu-des superiores 2500/3000 metros, particularmente

se associada a ascensões rápidas, poderá induzir aocorrência de um conjunto de alterações e sintomas,como cefaleias, anorexia, tonturas, naúseas, fraque-za, vómitos, distúrbios no sono, entre outros, habi-tualmente designado por Acute Mountain Sickness(AMS) (36, 38). A exuberância deste síndroma pare-ce estar relacionada com o ritmo de ascensão, a alti-tude atingida e a intensidade e/ou duração da activi-dade realizada, iniciando-se a sua manifestação 6horas após o início da ascensão, agravando-se até às24 horas de permanência em altitude e regredindogradualmente nos 2 a 4 dias seguintes (38). Umavez que os referidos sintomas são consequência deuma resposta fisiológica inadequada à baixa pressãoparcial de oxigénio, a continuidade da exposição àaltitude associada ao incremento da severidade dossintomas, poderá induzir complicações mais graves,nomeadamente edema pulmonar e cerebral de eleva-da altitude. De salientar, no entanto, que a severida-de do AMS não parece estar relacionada com o nívelde aptidão física, sexo e idade, existindo uma grandevariação interindividual relativamente à susceptibili-dade dos sujeitos (36). Da mesma forma, relativamente às adaptações cróni-cas induzidas pela aclimatação prolongada em altitu-de, ainda que o nosso organismo se adapte progres-sivamente às características destes ambientes,melhorando o deficiente suprimento de oxigénio aostecidos, não compensa de forma absoluta a progres-siva limitação do desempenho humano imposta peloincremento da altitude (83). Assim sendo, emambientes de hipóxia hipobárica, particularmente aaltitudes superiores a aproximadamente 5500metros, a permanência e/ou o desempenho estãoseveramente afectados, sobrepondo-se o efeito dadeterioração tecidual e orgânica à eficácia dos meca-nismos de adaptação a longo prazo (83).

3.1. Adaptações ventilatóriasUm dos mecanismos de adaptação fisiológica maiscaracterísticos, inerente à exposição aguda a elevadasaltitudes, é o incremento acentuado da frequênciarespiratória e do volume corrente (27, 45, 72, 84).Esta resposta ventilatória à hipóxia induzida, essen-cialmente, pela estimulação de químio-receptoresperiféricos (11, 43) sensíveis às variações do conteú-do arterial de oxigénio, possibilita o incremento da

Fisiologia de altitude

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ventilação de 2 a 5 vezes relativamente aos valoresobtidos ao nível do mar e, com isso, o aumento dapressão alveolar parcial de oxigénio alveolar (38, 73).Assim sendo, os gradientes de pressão de oxigénioaumentam, sendo melhorada a taxa de saturação deoxigénio no sangue e, consequentemente, melhoradaa sua difusão para os tecidos. Nesta fase inicial deexposição à altitude, os indivíduos que apresentamum incremento mais acentuado da ventilação estarãomelhor adaptados para tolerar as condições de hipó-xia. A exuberância deste processo adaptativo, isto é,do grau da resposta ventilatória ao estímulo hipóxi-co, apresenta grande variabilidade interindividualparecendo estar associada a diversos factores, taiscomo o fenótipo e genótipo (31, 77). Deste modo,alguns estudos com populações nativas de regiões deelevada altitude (14, 15, 79), nomeadamente andinase himalaínas, têm demonstrado que, comparativa-mente a sujeitos caucasianos residentes ao nível domar, a sua resposta ventilatória à hipóxia não é tãoexuberante. Este facto, influenciado por factoresontogenéticos e filogenéticos, parece reflectir umpadrão de adaptação ventilatório característico, regu-lado pela importância da manutenção do equilíbrioácido-base sanguíneo e por adaptações anatómicasespecíficas do sistema respiratório (31, 55, 56).Como consequência do aumento agudo da ventila-ção, verifica-se uma crescente e acentuada libertaçãode CO2 para o ar atmosférico. A diminuição da pres-são parcial de CO2 no sangue arterial promove aocorrência de alcalose respiratória, isto é, de aumen-to ligeiro do pH arterial, e desvio da curva da oxihe-moglobina para a esquerda (69). Contudo, se a alca-lose respiratória se pode traduzir em benefício, namedida em que aumenta a fixação do oxigénio àhemoglobina a nível pulmonar (70), uma alcaloseacentuada e prolongada não é compatível com asfunções biológicas normais, perturbando a funciona-lidade e a estrutura de numerosas proteínas celularesvitais. Por isso, com o decorrer dos dias de perma-nência em altitude e de aclimatação, o incremento daexcreção renal de bicarbonato (11, 70) e da concen-tração de 2,3 difosfoglicerato nos globúlos vermelhos(12) tendem, ainda que não completamente, a resta-belecer o pH para valores mais próximos dos obser-vados em indíviduos ao nível do mar e a deslocar,ainda que não completamente, a curva de dissociação

da oxihemoglobina novamente para a direita. Destaforma, estes processos de adaptação pretendem esta-belecer um compromisso entre os mecanismos venti-latórios que visam a melhoria da eficácia do sistemade transporte de oxigénio e os reajustes metabólicoscom vista à manutenção de níveis óptimos de pHsanguíneo (69, 70). Porém, é de realçar que algunsestudos sugerem que mesmo após o regresso aonível do mar, alpinistas sujeitos a exposições prolon-gadas a altitudes elevadas continuam a apresentarum pH ligeiramente alcalino (17) e a sua ventilaçãopersiste relativamente elevada (72).

3.2. Adaptações cardiovascularesRelativamente às adaptações cardiovasculares, aexposição aguda à hipóxia hipobárica, desencadeiaum aumento da actividade do sistema nervoso autó-nomo simpático, que promove o incremento da fre-quência cardíaca e do débito cardíaco em repouso eem exercício submáximos (38, 51, 67) e alteraçõesdo fluxo sanguíneo por vasoconstrição selectiva (29,51). De salientar que o incremento da actividade dosistema nervoso simpático parece reflectir, não umaumento das concentrações de catecolaminas circu-lantes, mas sim um incremento da estimulaçãodirecta dos seus terminais nervosos (67). Algunsestudos (para ref.’s ver 67) têm sugerido a manuten-ção ou a diminuição das concentrações plasmáticasde catecolaminas durante a exposição aguda à hipó-xia, por incremento da sua clearance e/ou por dimi-nuição da sua síntese, pois a enzima chave desta bio-síntese (tirosina hidroxilase) é oxigénio-dependentee, por isso, a sua actividade parece ser influenciadapor condições de hipóxia tecidual. Em contrapartida,tendo em conta a importância crítica do conteúdoarterial de oxigénio na actividade da tirosina hidroxi-lase, em indivíduos sujeitos a protocolos de exposi-ção crónica à altitude, têm sido referidos aumentosprogressivos das concentrações plasmáticas de cate-colaminas, por incremento dos níveis de saturaçãoda hemoglobina e, consequentemente, do transportede oxigénio para os tecidos (para ref.’s ver 67).A exposição prolongada a elevadas altitudes parece,no entanto, promover uma diminuição significativado volume plasmático e, conjugadamente com aredução da frequência cardíaca máxima (46), impli-car a diminuição do débito cardíaco máximo (51, 63,

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81) devido ao elevado índice de perda de água porsudação e pela ventilação (89), aumento da diurese,incremento da permeabilidade capilar e inadequadaingestão de fluidos. Estudos laboratoriais (para ref.’sver 35) e de terreno (46) mostraram que o decrésci-mo da frequência cardíaca máxima e do volume sis-tólico, parecem ser factores associados à diminuiçãodo consumo máximo de oxigénio (VO2max) típica daaltitude. Em concordância com estes resultados, umestudo recente (63), em que foi simulada umaascensão ao monte Everest (Operação Everest III)em câmara hipobárica, demonstrou ainda que emindivíduos aclimatados, infusões endovenosas desoro expansor do volume plasmático parecem contri-buir significativamente para o incremento do VO2max

e melhorar o desempenho em altitude.

3.3. Adaptações hematológicasNo que concerne às adaptações hematológicas, adiminuição do conteúdo arterial de oxigénio, caracte-rística da exposição a ambientes hipóxicos, estimulaa libertação acrescida de eritropoietina (EPO) a nívelrenal e hepático com consequências no incrementoda produção de eritrócitos pela medula óssea e naconcentração de hemoglobina (47). O nível máximodas concentrações de EPO e o tempo necessário parao atingir, parecem depender do grau de hipóxia a queos indivíduos são sujeitos (47). Durante uma ascen-são de 3 dias até uma altitude de 4559 metros, osvalores de EPO foram gradualmente aumentando aolongo da exposição, tendo-se encontrado o resultadomais elevado quando os alpinistas atingiram a referi-da altitude (48). Porém, se a secreção acrescida deeritropoietina se inicia imediatamente após a exposi-ção aguda à altitude (1, 42, 68), a produção aumen-tada de glóbulos vermelhos é retardada, assumindoincrementos significativos apenas após algumassemanas de exposição crónica a altitudes superioresa 3000 metros e valores máximos alguns mesesdepois (47). De destacar que na fase de exposiçãocrónica, em que a produção acrescida de eritrócitosse torna significativa, os níveis de eritropoietina já seencontram perto dos valores pré-altitude (47).Concentrações plasmáticas de eritropoietina modera-damente elevadas ou dentro dos parâmetros tidoscomo normais em indivíduos residentes ao nível domar, parecem ser suficientes para manter uma taxaacrescida de eritropoiese em condições de hipóxia

crónica (47, 60). De salientar, no entanto, que a esti-mulação da eritropoiese não parece depender unica-mente do grau de hipóxia. A concentração de hemo-globina no sangue parece aumentar linearmente atéuma altitude de 4000 metros, acima deste valor e atéaos 6000 metros aumenta desproporcionalmente e apartir daí parece diminuir (47). Contrariamente aos resultados obtidos em estudosde exposição contínua ou intermitente (65, 66) aelevadas altitudes, a exposição intermitente aambientes hipóxicos de baixa ou moderada altitude(1, 2, 3), característica das metodologias utilizadasno denominado treino em altitude, não tem demons-trado eficácia quanto à capacidade acrescida de indu-zir eritropoiese. Ashenden e colaboradores (1, 3),em trabalhos com atletas expostos de forma intermi-tente a condições simuladas de hipóxia normobárica(2650 m), numa nitrogen house, durante 12 e 5 noitesrespectivamente, encontraram aumentos significati-vos nas concentrações plasmáticas de EPO sem, con-tudo, ser evidente o incremento da produção de reti-culócitos. Da mesma forma, num outro estudo destaequipa de investigadores (2), atletas expostos duran-te 23 noites a condições simuladas de altitude (3000m) não evidenciaram incrementos significativos namassa total de hemoglobina, nem na produção deglóbulos vermelhos. Assim, se numa fase inicial deexposição aguda, os valores do hematócrito sãoincrementados essencialmente à custa da diminuiçãodo volume plasmático e sanguíneo, só posteriormen-te o aumento da massa eritrocitária compensa odecréscimo do volume plasmático, reestabelecendo ovolume sanguíneo total e compensando a redução doconteúdo arterial de oxigénio (47). Todavia, a impor-tância deste incremento da concentração de eritróci-tos, no âmbito da aclimatação à altitude, é um fenó-meno que tem merecido alguma discussão. De facto,o aumento da viscosidade sanguínea, induzido poreste aumento do hematócrito, associado à diminui-ção do volume plasmático, poderá aumentar o dis-pêndio energético cardíaco e dificultar o fluxo san-guíneo nos capilares, diminuindo a eficácia cardio--vascular no transporte de oxigénio para os tecidos(47). Estudos desenvolvidos por West (84) são con-cordantes com o anteriormente exposto, sugerindoque alguns nativos da região dos Andes conseguemproduzir mais trabalho quando as suas concentra-ções de eritrócitos são mais reduzidas.

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3.4. Composição corporal, adaptações morfológicase metabólicasNo âmbito da composição corporal após exposiçãocrónica à altitude, diversos estudos (24, 87) têmdemonstrado uma perda acentuada de peso corporalem função da altitude e do tempo de exposição.Efectivamente, diminuições de peso da ordem dos 5a 10 kg, correspondendo a cerca de 8 a 10% do pesocorporal, têm sido relatadas (18, 61, 89) em alpinis-tas de diversas expedições de grande altitude e longaduração, nomeadamente ao Monte Everest. Estedecréscimo de peso corporal parece, no entanto, sero resultado da conjugação de diversos factores, parti-cularmente (i) do incremento acentuado da taxametabólica basal (39, 61), (ii) de um acrescido esta-do de desidratação (39, 85), (iii) de uma eventualdiminuição da capacidade de absorção de nutrientesno tracto gastrointestinal (24, 40), (iv) de um estadode anorexia de altitude (87) e consequente desequi-líbrio entre o input e o ouput energético (16, 86, 87)e, por fim, (v) de um acentuado decréscimo demassa muscular (8, 75, 85) e de massa gorda (76,89). Do ponto de vista muscular, diversas adaptaçõesestruturais e metabólicas são descritas após aclima-tação crónica a elevadas altitudes. Para diferentesautores (19, 33), este decréscimo significativo damassa muscular, poderá estar associado, em parte,ao efeito do destreino relativo, isto é, a uma dimi-nuição da quantidade de trabalho realizado em ele-vadas altitudes (acima de 5500 m) e, eventualmente,à hipóxia per se no controlo do metabolismo protei-co, isto é, por interferência, directa ou indirecta, naregulação hormonal associada à síntese e degradaçãoproteica. Esta atrofia pronunciada parece ser confir-mada pelas reduções significativas da área de secçãotransversal das fibras musculares que têm sido des-critas. Hoppeler e colaboradores (33) analisaramamostras de tecido, após realização de biópsias mus-culares, em 14 alpinistas envolvidos em duas expedi-ções de grande altitude durante cerca de 8 semanas,tendo encontrando decréscimos de cerca de 20% naárea de secção transversal das fibras e reduções de11% na área de secção transversal do músculo.Ainda a nível muscular, têm sido descritas adapta-ções crónicas quanto à capilarização, ao volumemitocondrial e à actividade enzimática. Tem sidodemonstrado (30, 33, 49), talvez de forma surpreen-

dente, que em condições de hipóxia crónica, a razãocapilar por fibra no músculo vastus lateralis de algunsalpinistas, ou não sofre qualquer alteração ou émesmo diminuída. Estes resultados contrariam asugestão dada por Valdivia em 1954 (19) de que ascondições de hipóxia de elevada altitude seriamindutoras de neoformação capilar. Destes resultadosemerge, ainda, que o aumento da densidade capilar(de 9 a 12%) observado em alguns estudos de mor-fologia muscular (30, 33), deriva inteiramente dofenómeno de atrofia muscular, isto é, da redução daárea das fibras e não de mecanismos de angiogénese(49). No entanto, como uma mesma rede capilarparece suprir um menor volume muscular, a reduçãoda área da fibra muscular poderá favorecer o forneci-mento de oxigénio às mitocôndrias se, eventualmen-te, não se alterar a razão capilar por fibra.Relativamente a este organelo celular, as evidências(19, 33) parecem, igualmente, demonstrar a existên-cia de diminuições do volume mitocondrial total decerca de 20% a 30%. Estes estudos referem aindaque as diferentes subpopulações mitocondriais pare-cem ser afectadas de forma distinta pela hipóxia cró-nica. Assim, as mitocôndrias subsarcolemais pare-cem sofrer uma redução do seu volume total maisdramática que as interfibrilares, isto é, 43% e 19%respectivamente. Esta redução do volume mitocon-drial, poderá, por seu lado, condicionar a actividadede algumas enzimas oxidativas. Efectivamente,alguns estudos (30, 41) sugerem que as diminuiçõesda actividade de algumas enzimas oxidativas,nomeadamente da citrato sintetase (-14%) (30), dasucinato desidrogenase (-31%) (30), da citocromooxidase (-23%) (30), bem como de outras enzimas--chave do metabolismo lipídico, nomeadamente a 3-hidroxi-acil-CoA desidrogenase (41) e a carnitinapalmitil-transferase (41), encontradas em alpinistasparticipantes em expedições de grande altitude(Expedição Suiça ao Lotse e ao Everest) ou ascen-sões simuladas (Operação Everest II), mais do que aperda da qualidade da função mitocondrial, reflec-tem uma redução da sua estrutura por perda devolume. Em síntese, a exposição prolongada à hipó-xia hipobárica, particularmente de elevada altitude,parece comprometer de forma significativa a área desecção transversal do músculo por redução da áreadas fibras musculares, os mecanismos associados à

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neoformação capilar, por redução da expressão gené-tica dos factores de crescimento do endotélio vascu-lar e o volume e a actividade mitocondrial (para refsver 49).Paradoxalmente, apesar das condições de hipóxia, ouseja, da menor disponibilidade de moléculas de oxi-génio característica destes ambientes de altitude,estudos recentes, recorrendo à utilização de marca-dores de agressão oxidativa induzida por produçãoacrescida de espécies reactivas de oxigénio, nomea-damente, marcadores de peroxidação lipídica, de oxi-dação proteica, bem como, indicadores da actividadedo sistema anti-oxidante, têm evidenciado a ocorrên-cia de condições teciduais de stress oxidativo apósexposição aguda ou prolongada à hipóxia (20, 57,75, 80). O desequilíbrio entre a produção de com-postos oxidantes e a concentração e/ou actividade decompostos antioxidantes parecem criar condiçõesfavoráveis à ocorrência de toxicidade celular comrepercussões na estrutura, funcionalidade e até naviabilidade celular. De facto, a elevada instabilidademolecular e consequente reactividade que caracterizaas espécies reactivas de oxigénio confere-lhes umelevado grau de afinidade por diferentes componen-tes lipídicas e proteicas, nomeadamente as membra-nas celulares, as proteínas estruturais, as enzimas eos ácidos nucleicos, comprometendo o normal fun-cionamento da célula. Em altitude, estudos recentes(20, 57, 74, 75) têm sugerido que condições dehipóxia tecidual indutoras de disfunções mitocon-driais na cadeia transportadora de electrões, bemcomo uma acrescida exposição às radiações ultravio-leta (UV) poderão estar no origem do stress oxidativoem altitude.Um estudo laboratorial com animais expostos duran-te 1 dia a condições simuladas de altitude (7620 m.)em câmara hipobárica revelou que, quando compara-dos com os animais mantidos em condições de nor-móxia, os animais sujeitos a hipóxia apresentaramdiminuições significativas das concentrações muscu-lares de glutationa reduzida (GSH), bem como umincremento das concentrações de substâncias reacti-vas ao ácido thiobarbitúrico (TBARS), sugerindo aocorrência de stress oxidativo e de lesão muscularinduzida por agressão oxidativa (74). Em dois traba-lhos distintos (20, 57) com grupos de militares daMarinha Americana (Marines) sujeitos a um protoco-

lo de treino em altitude (2700 m e 3000 m, respecti-vamente) durante 14 dias, não se registaram incre-mentos significativos dos marcadores de lesão mus-cular induzida por stress oxidativo nos grupos suple-mentados com misturas de compostos anti-oxidan-tes, contrariamente aos grupos em que foi adminis-trada uma substância placebo. Este facto reforça apossível acentuação do stress oxidativo tecidual, parti-cularmente muscular esquelético, em altitude. A exposição prolongada a altitudes superiores a5500 metros, para além das necessidades básicas deaclimatação e dos compromissos inerentes aos afaze-res normais de uma expedição, nomeadamente mon-tagem de cordas, de escadas, dos diferentes campos,etc., deverá ser o mais possível restrita no tempo.Na realidade, a estas altitudes, a permanência e/ou odesempenho humano estão severamente afectados,verificando-se uma sobreposição da deterioraçãotecidual e orgânica relativamente à eficácia dosmecanismos de adaptação a longo prazo.

4. TREINO EM ALTITUDE E RENDIMENTO DESPORTIVONum contexto claramente distinto, o desporto derendimento apropriou-se das condições de hipóxiahipobárica, características dos ambientes de altitude,como mais um instrumento de optimização dascapacidades dos atletas de alta competição para arealização de desempenhos ao nível do mar. Foram,assim, criados os denominados Centros Desportivosde Treino em Altitude. Com o desenvolvimento de programas de treino queprevêem a realização de unidades de treino em locaisde moderada altitude (1600 a 3000 m), pretende-secomplementar o efeito do treino com as supostasvantagens da adaptação do organismo às condiçõesde hipóxia, isto é, com a melhoria das condições detransporte de oxigénio (aumento da concentração dehemoglobina) e da sua utilização a nível celular(aumento da actividade das enzimas oxidativas). Defacto, para os defensores desta metodologia, o treinoem altitude poderá conferir benefícios adicionais aosatletas devido ao efeito sinergista altitude-treino.Acreditam que, particularmente os atletas cujo ren-dimento desportivo é determinado pela optimizaçãoda capacidade de resistência aeróbia, melhorem oseu desempenho ao nível do mar após estágios detreino em altitude, sendo o estímulo hipóxico o

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mecanismo subjacente à optimização da “maquinariaoxidativa”. Diversos estudos (5, 6, 7, 44, 50) quemonitorizaram a evolução do VO2max com o treinoem altitude têm, de facto, sido desenvolvidos desdeos anos 60, com o intuito de testemunhar a hipotéti-ca melhoria do desempenho ao nível do mar. Porém,quer pela dificuldade de estandardizar as condiçõesde realização dos protocolos em altitude e ao níveldo mar, quer pela escassez de estudos incluindo gru-pos de controlo, os resultados apresentam-se contro-versos. Estudos recentes (5, 53, 78) sugerem que asuposta eficácia destes programas de treino nãoparece repercutir-se na melhoria dos resultados des-portivos ao nível do mar. Terrados e colaboradores(78) estudaram o efeito de programas de treino emaltitude e ao nível do mar, no VO2max e na capacida-de de trabalho de ciclistas. Os resultados mostraramque enquanto a capacidade de trabalho em altitudeera melhorada significativamente pelo treino em alti-tude, relativamente ao treino ao nível do mar, estemesmo parâmetro quando analisado ao nível do marnão variou de forma significativamente distinta comos dois protocolos. Ficou assim por demonstrar quepara o desempenho ao nível do mar, o treino em alti-tude é mais eficaz que o treino equivalente ao níveldo mar. Na realidade, diversas desvantagens associa-das à realização de exercício em altitude, nomeada-mente (i) o destreino associado à necessidade dereduzir a intensidade e o volume de treino, (ii) a ele-vada desidratação, de que resulta, por exemplo, adiminuição do volume plasmático e sanguíneo, (iii)os sintomas associados à ocorrência de AcuteMountain Sickness, tais como, náuseas, vómitos, cefa-leias, anorexia, etc., decorrentes da exposição agudae, eventualmente, (iv) o sobretreino (4), entendidocomo o desequilíbrio entre a carga e a recuperação,não parecem compensar as vantagens da adaptaçãofisiológica à altitude. Recentemente, pela necessida-de de não comprometer as características da carga detreino, ou seja, de não comprometer a intensidade eo volume de treino habitualmente utilizados ao níveldo mar, mas retirando vantagens da permanência emambientes de hipóxia hipobárica , isto é, da perma-nência em altitude, um novo modelo de “treino emaltitude” tem sido sugerido (44). Este modelo, paramelhoria do desempenho ao nível do mar, no qual seprivilegia a residência em locais de moderada altitu-

de e o treino ao nível do mar, tem vindo a ser desen-volvido e utilizado com perspectivas de eficácia,sendo denominado de “Living High – Training Low”(44). Contudo, este modelo não parece estar isentode controvérsia, uma vez que estudos recentes vie-ram demonstrar que, mesmo nestas condições,poderá existir uma grande variabilidade interindivi-dual na resposta à hipóxia (21), ou mesmo umaausência da mesma (1, 2, 3). Assim, diferentes indi-víduos parecem responder de forma distinta aomesmo estímulo hipóxico da altitude, colocando emcausa a generalização da eficácia deste novo modelode treino em altitude.

5. CONCLUSÃOA exposição a ambientes de altitude constitui-secomo um estímulo biológico agressivo e indutor deadaptações fisiológicas agudas e crónicas. Destemodo, a hipóxia hipobárica parece assumir-se comoum modelo de agressão orgânica e tecidual impor-tante e um tópico de investigação relevante emFisiologia. Relativamente ao treino em altitude e àssuas repercussões no desempenho desportivo aonível do mar, nomeadamente nas actividades comuma predominância de solicitação aeróbia e de dura-ção prolongada, o modelo “Living High-Training Low”parece ser aquele que suscita maior consenso porparte da comunidade científica, quanto à sua eficá-cia, pese embora alguma controvérsia e a necessida-de de mais investigação neste domínio que demons-tre, de forma inequívoca, a vantagem do treino emaltitude relativamente ao treino ao nível do mar.

CORRRESPONDÊNCIAJosé MagalhãesFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 [email protected]

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Studies in Somatic Growth, Biological Maturation, Physical Fitnessand Activity in Portuguese Speaking Countries: an Overview

DL FreitasUniversity of MadeiraDepartment of Physical Education and SportsJA Maia, AT MarquesUniversity of OportoFaculty of Sports Sciences and Physical Education

ABSTRACTThe present study has the following purposes: (1) to presentand situate the studies made in the Community of PortugueseSpeaking Countries and (2) to present some recommendationsfor future investigations. Seventeen studies are considered andthe following conclusions are drawn: (1) almost the totality ofthe studies present a cross-sectional design; (2) in theCommunity of Portuguese Speaking Countries context, theheight and weight of Portuguese and Brazilian children are near-ly coincident while the youngsters of Mozambique are shorterand less heavy. The children from Cabo Verde and Mozambiquehave less subcutaneous fat than the Portuguese and Brazilianchildren. On sit and reach, Mozambique presents the best per-formances but the opposite holds true for sit ups. On 12-minuterun/walk, Portuguese perform better than Brazilians; (3) inEuropean context, boys and girls from Brazil and Mozambiqueare slightly shorter than Belgians. Children and youth fromMozambique are less heavy and have lower subcutaneous fatlevels than Belgian children. On sit and reach Mozambique boysand girls perform better than their Belgian peers. Future growthstudies need to consider to use: (1) longitudinal or mixed-longi-tudinal designs; (2) multidisciplinary research teams; (3) welldefined methodologies in training of test team; (4) rigorousquality control during data collection and data entry; and (5)inclusion of parameters related to health.

Key words: CPLP, growth, maturation, physical fitness, physicalactivity.

RESUMOEstudos sobre crescimento somático, maturação biológica,aptidão física e actividade física nos países de língua oficialportuguesa: uma revisão

O presente estudo tem como objectivos: (1) situar os trabalhos efectua-dos na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e (2) apresentaralgumas recomendações para investigações futuras. Dezassete estudossão considerados e extraídas as seguintes conclusões: (1) a quase totali-dade dos estudos apresentam um delineamento transversal; (2) no con-texto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a altura e pesodas crianças Portuguesas e Brasileiras são quase idênticos, enquanto osjovens de Moçambique são mais baixos e mais leves. As crianças deCabo Verde e Moçambique apresentam menos gordura subcutânea doque as crianças Portuguesas e Brasileiras. No teste ‘sit and reach’ osMoçambicanos apresentam os melhores resultados mas o oposto é verda-deiro para o ‘sit ups’. Na corrida/andar de 12 minutos os Portuguesesapresentam melhores resultados do que os Brasileiros; (3) no contextoEuropeu, os rapazes e raparigas Brasileiros e Moçambicanos são ligeira-mente mais baixos do que os Belgas. As crianças e adolescentes deMoçambique são mais leves e têm níveis de gordura subcutânea maisbaixos do que os Belgas. No ‘sit and reach’ os rapazes e raparigasMoçambicanos apresentam melhores resultados do que os seus paresBelgas. Estudos de crescimento futuros devem privilegiar: (1) delinea-mentos longitudinais ou longitudinais mistos; (2) equipas de investiga-ção multidisciplinares; (3) metodologias de treino da equipa de campobem definidas; (4) controlo rigoroso na recolha e entrada dos dados nocomputador; e (5) parâmetros relacionados com a saúde.

Palavras-chave: CPLP, crescimento, maturação, aptidão física eactividade física.

GP Beunen, JA Lefevre, AL Claessens, MA ThomisKatholieke Universiteit LeuvenFaculty of Physical Education and PhysiotherapyDepartment of Sport and Movement SciencesRM PhilippaertsGhent University, Faculty of Medicine and Health Sciences,Department of Movement and Sports Sciences.

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INTRODUCTIONIn 1989, at the time of the 1st Congress on PhysicalEducation and Sports Sciences of the PortugueseSpeaking Countries, a number of studies and proj-ects on growth, maturation, physical fitness andactivity were presented. These studies were conduct-ed over the past years in Portuguese SpeakingCountries (CPLP). The main purpose of those stud-ies was to construct their own reference values forgrowth, maturation and physical fitness.Simultaneously, other characteristics such as regularphysical activity, physiological parameters and socio-economic status were also considered with the pur-pose of better understanding human variability andprovide more evidence for the associations betweenphysical fitness and health.Although the Portuguese language is not directlyimplicated in these processes, genetic and culturalaspects can be on the basis of some morphologicaland functional similarity. The colonisation by thePortuguese and the departure of African slaves toBrazil justify the existence of common trends.However, distinct socio-economic realities are foundin these countries.With the exception of Portugal, the countries thatintegrate the CPLP are classified by the World Bankas Developing Countries. African countries (Angola,Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mozambique and SãoTomé and Príncipe) are considered very poor.Infantile mortality and illiteracy rates and GrossDomestic Product show values that go negativelyaway from the world average. Brazil is better posi-tioned in socio-economic terms but reveals a lot ofdisequilibrium in wealth distribution. The adverseclimatic conditions (flood and drying periods) andthe civil wars experienced in Angola andMozambique also guide to a lack of food withstraight repercussions in growth and maturationprocesses.During the last years attempts to review the studiesmade in CPLP were not carried on. Knowledge aboutstudy designs and main results of the researches willconstitute important pieces in the development ofthe future actions. Methodological changes, inclu-sion of other variables and the beginning of commonprojects are the main implications of this paper. Inthis context, the present review has the followingpurposes: (1) to summarize the findings of the stud-ies made in the CPLP between 1989 and 1999; and(2) to present recommendations to be considered infuture research.

METHODOLOGYThe reviewed studies are included in three largegroups: Portugal, Brazil and African countries. Homecountry, research in growth, maturation, fitness andphysical activity, experimental nature, age-groups(first two decades of life), accessibility to the readerand the period of realization of the studies (till1999) are the selection criteria used. For a betterfacility of exposition, the studies were examined interms of sample, study design, components andmain results.Height, weight, sum of skinfolds (triceps and sub-scapular), sit and reach, sit ups and 12-minuterun/walk were compared among CPLP countries andwith Belgian (27; 30; 18) and Netherlands (16; 17)groups.

STUDIES EXECUTED IN CPLPTables 1-3 present the most important characteris-tics of the studies conducted in CPLP. A total of sev-enteen studies, eight of which took place inPortugal, seven in Brazil1, one in Mozambique andanother in Cabo Verde within the period of 1972and 1999 are considered. From the seventeen stud-ies only eleven were published, five in books and sixas papers.The samples comprised children and youth of bothsexes from 7 to 18 years. Apart from that, and withexception of the preliminary presentation of themixed-longitudinal study in progress in theAutonomous Region of Madeira (9) and the longitu-dinal studies of Nahas et al. (23) and Duarte (8) inBrazil, the totality of the studies is of a cross-sec-tional nature.With regard to anthropometry, body mass, heightand skinfolds are included in about 2/3 of the stud-ies. The bone diameters and muscular circumfer-ences are also measured in the studies of Sobral (31;32), Sobral and Marques (33), Duarte (8), Matsudo(22), Madureira (20), Freitas et al. (10) and Lopes(19). For maturational status, the inspection of thesecondary sex characteristics (pubic hair) and deter-mination of age at menarche were used most often.The study of Freitas et al. (10) combines the retro-spective and status quo methods for age at menar-che with the skeletal maturation assessed from a x-ray to the left hand and wrist.

Growth and development in CPLP

1 The study made by Madureira (20) includes samples fromPortugal and Brazil. For this revision it is considered as aBrazilian study.

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Table 1. Studies made in the Community of Portuguese Speaking Countries: Portugal

DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

Authors/Country Subjects Design Title, test programs and components Main results

Brito (7) • Females(the sampleis notprecise)

• Ages of 11,13 and 15years.

• Cross-sectional

• Sounding on the physical condition(performance) of the Portuguesefemale school population of 11, 13and 15 years of age.

• Adaptation of AAHPER (2)• Motor

• Muscular strength and endurance(abdominal and upper body)

• Anaerobic power• Speed• Agility

• Presentation of the results inpercentile tables by factor andage, without any analysis anddiscussion of the same.

Nunes et al. (25) • 6078 (nodistinctionbetweensexes)

• Agesbetween 13and 17years.

• Cross-sectional

• Characterisation of the schoolteenager - assessment of thephysical condition

• Initial outline of the Eurofit (1)• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibilility• Strength

• Upper body (static and dynamic)• Abdominal• Inferior

• Agility• Speed

• The boys presented better resultsthan girls in all tests and ages,with the exception of flexibility.

Sobral (31; 32) • 1008 (531boys and477 girls)

• Agesbetween 13and 17years.

• Cross-sectional

• Statistic and anthropometric andnormatives physical values of theAutonomous Region of Azores/Growthstate and physical fitness of theschool population of Azores.

• Set of tests selected according tocriteria established by the author.

• Motor• Cardiorespiratory endurance• Strength

• Upper body (static and dynamic)• Abdominal• Inferior

• Speed• Somatic

• Weight• Height• Skinfolds• Diameters• Circumferences

• The boys and girls of Azorespresent in the explosive strengthtests of upper body higherperformances than those ofBelgian youth.

• Azorians of both sexes presentsimilar performances to theSpanish in sit ups.

• The Azorians present inferiorvalues in weight and heightrelatively to the Portuguesemainland population.

• In skinfolds and in both sexes, thevalues of Azorians are higher thanthose of English and Italian.

• The girls present in subscapularand triceps skinfolds higher valuesthan the boys.

• In both sexes, the averageamounts of the three skinfolds of

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Growth and development in CPLP

• Head dimensions the Azores sample are higher thanthe registered of the Europeanpopulation used in the discussion.

Sobral andMarques (33)

• 212 (133boys and79 girls)

• Agesbetween 11and 14years.

• Cross-sectional

• Facdex: somatic-motor developmentand sport excellence factors in thePortuguese school population

• Facdex Battery• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static and dynamic)• Abdominal• Inferior

• Agility• Speed

• Somatic• Weight • Diameters• Height • Circumferences• Skinfolds • Maturational status

• The Portuguese present betterperformances in the 12-minuterun in comparison to the Americanand French.

• The values presented by thePortuguese in the 50 metres run,standing long jump and handgriptests are superior than othersexecuted in Portugal.

• Lifestyle and habitual physicalactivity

• Coordination• Postural assessment• Health and body concept• Motivation for the practice of sports

Main results

Sá (29) • 218 (106boys and112 girls)

• Agesbetween 13and 15years.

• Cross-sectional

• Physical fitness and school sports• Set of tests developed by Sobral (31;

32).• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Strength

• Upper body (static and dynamic)• Abdominal• Inferior• Speed

• Somatic• Weight• Height

Nascimento (24) • 1117 (540boys and577 girls)

• Agesbetween 11and 14years.

• Cross-sectional

• Physical fitness of the schoolpopulation of the District of Aveiro• Facdex battery

• Motor• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static and dynamic)

• The values presented by the youthof Azores, of the present study, aresuperior to the results presentedby Sobral (31; 32) and Sobral andMarques (33).

• The improvement of results isjustified from the selectivity of thesample.

• Inferior values in the sit and reach,50-metre run, standing long jumpand 12-minute run tests whencompared to the foreign studiesused in discussion.

• Superior values in the shuttle run(10x5 metres), handgrip and situps tests.

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DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

• Abdominal• Inferior

• Agility• Speed

Freitas et al.(11)

• 583 (253boys and330 girls)

• Agesbetween 11and 15years.

• Cross-sectional

• Physical fitness of the schoolpopulation of the Autonomous Regionof Madeira

• Facdex battery• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static and dynamic)• Abdominal• Inferior

• Agility• Speed

Freitas et al.(10)

• 507 (256boys and251 girls)

• Agesbetween 8and 18years.

• Mixed-longitudinal

• Madeira Growth Study• Eurofit battery/AAHPERD (3)• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static)• Abdominal• Inferior

• Agility• Speed (of the limbs)• Balance

• Somatic• Weight • Circumferences• Height• Skinfolds• Diameters• Maturational status

• Physical activity• Socio-economic

• General tendency for inferiorresults compared to the remainingreference populations in the sitand reach and standing long jumptests.

• Similar values to the remainingpopulations in the sit ups andhandgrip tests.

• The results were not published.

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Table 2. Studies made in the Community of Portuguese Speaking Countries: Brazil

Growth and development in CPLP

Authors/Country Subjects Design Title, test programs andcomponents

Main results

Nahas et al. (23) • 84 (40boys and44 girls)

• Agesbetween7 and 10years.

• Longitudinal • Growth and health-relatedfitness in children from 7 to 10years old – a longitudinalstudy.

• Adaptation of AAHPERD (3)• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body• Abdominal

• Somatic• Weight• Height• Sitting height• Skinfolds

• Growth data are inside of normalpatterns when compared withinternational references. In Brazilcontext, data for boys and girls fromFlorianopolis are superior than otherRegions.

• Boys present in somatic and motorvariables better results than girls. Forsit and reach the opposite is found.

Duarte (8) • 44 (26boys and18 girls)

• Agesbetween7 and 18years.

• Longitudinal • Longitudinal study of pubertalpeak height velocity andrelated morphological andfunctional components inBrazilian children.

• Set of tests selected accordingto criteria established by theauthor.

• Motor• Strength

• Upper body• Inferior

• Speed• Agility

• Somatic• Weight• Height• Skinfolds• Diameters• Circumferences• Maturational status

• The mean age of Peak Height Velocity(PHV) in Ilhabela girls and boys was11.55±1.11 and 13.99 years,respectively). The magnitude of PHVwas 9.15 cm/year for girls and 9.72cm/year for boys.

• The mean age of menarche for Ilhabelagirls was 12.67 years.

• A growth spurt was observed in thefemale group in body weight, sum of 7skinfolds, handgrip and shuttle runperformance. Growth spurts were alsoobserved in weight, vertical jump,standing broad jump, hand gripstrength, and 50m run in Ilhabela boys.

• A peak velocity coincident with orclose to PHV was observed in Ilhabelagirls for sum of 7 skinfolds, handgrip,and shuttle run, while for boys a peakvelocity was demo nstrated for bodyweight, vertical jump, standing broadjump, handgrip, and 50m run.

• The developmental curves of girls andboys from Ilhabela when analyzedrelative to years before and after PHVshowed a general superiority of boyscompared to girls in all variables.

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DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

Matsudo (22) • 5200• Ages

between7 and 18years.

• Cross-sectional

• Physical fitness in developingcountries.

• Set of tests selected accordingto criteria established by theauthor.

• Motor• Cardiorespiratory endurance• Strength

• Inferior• Speed• Agility

• Somatic• Weight• Height• Skinfolds• Diameters• Circumferences• Maturation

• Socio-economic

• For the same socio-economic statusdifferences in physical fitnesscharacteristics were not seen.

• Poor social conditions seems to have astrong impact in maturational (height)and functional growth curves.

• The disadvantages presented inmetabolic and neuromotors profilesdisappear when the absolute valueswere corrected by weight and height.

• The profile for maturation curves wasvery identical in different Regionsinside of the same country and incountries with the same or distinctlysocio-economic conditions.

• Undernourished children seem topresent a later maturation andunderstand an effort in a moreintensive way than the betternourished children.

Guedes (14) • 4289(2186boys and2103girls)

• Agesbetween7 and 17years.

• Cross-sectional

• Growth, body composition andmotor performance in childrenand teenagers of theMunicipality of Londrina.

• Set of tests selected accordingto criteria established by theauthor.

• Motor• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static anddynamic)

• Abdominal• Inferior

• Speed• Somatic

• Weight • Skinfolds• Height

• The children and youth of the Municipalityof Londrina present lower values in heightand weight relative to the remainingsamples. An identical situation isobserved in the moto r tests, mainly forthe girls.

• The profile presented by somatic andmotor variables express a similarconfiguration to the remaining studies.

• Only 15% of the population of theMunicipality of Londrina managed toobtain the minimum health inaccordance to criterion-referencedanalysis.

• About 13 - 14% of the teenagers of thisstudy present very high adipositylevels.

Madureira (20) • 654Brazilian(375boys and279 girls)

• 356Portuguese (209

• Cross-sectional

• Anthropometrical,maturational, physical fitnessand lifestyle and habitualphysical activity study onBrazilian and Portuguesestudents ages between 7 and16 of both sexes.

• Set of tests selected according

• The menarche age was similar in bothgroups but lower than in othercountries.

• In males, no significant statisticdifferences occurred in pubic hair andsecondary sex characteristics.

• The body mass (weight) and the levelsof subcutaneous adiposity are similar

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Growth and development in CPLP

boys and147 girls)

• Agesbetween7 and 17years.

to criteria established by theauthor.

• Motor• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static)• Abdominal• Inferior

• Agility• Somatic

• Weight • Diameters• Height • Circumferences• Skinfolds • Maturational status

• Lifestyle and habitual physicalactivity

between the two groups, however suchdoes not happen with height, as thePortuguese are taller.

• In motor tests the results are similar tothe previous, being in the shuttle runand 12-minute run.

• The lifestyle of both samples areidentical up to the age of 13. As fromthis point, the participation ofPortuguese girls in sports activities issubstantially reduced and thesedentary increases.

Gaya et al. (13) • 675 (408boys and267 girls)

• Agesbetween12 and17 years.

• Cross-sectional

• The young Brazilian athletes –report of the field study of theyoungster games.

• Set of tests selected accordingto criteria established by theauthor.

• Motor• Strength

• Upper body (static)• Abdominal

• Flexibility• Coordination

• Somatic• Weight • Sitting height• Height • Skinfolds

• Motivation for sports andlifestyle

• Presentation of the results by modalityand sex.

Lopes (19) • 1757Brazilian(858boys and899 girls)

• Agesbetween7 and 10years.

• Cross-sectional

• Anthropometry, bodycomposition and lifestyle ofchildren from distinct ethnic-cultural background in theState of Santa Catarina, Brazil.

• Somatic• Weight • Diameters• Height • Circumferences• Skinfolds

• Lifestyle and physical activity• Socio-economic• Ethnic-cultural background

• The Italian and German ethnic-culturalgroups (7 and 10 years) showed highervalues for anthropometric variables(with the exception of skinfolds) thanthe Portuguese one.

• The Portuguese group had lower valueson lean body mass than the Germanand Italian ethnic-cultural groups.

• High correlations were found whenlifestyle variables were associated withanthropometric and body composition.

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Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2002, vol. 2, nº 4 [92–111]100

Table 3. Studies made in the Community of Portuguese Speaking Countries: Brazil and Cabo Verde Republic.

DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

Authors/Country Subjects Design Title, test programs and components Main results

Prista et al (28)(Mozambique)

• 593 (277boys and316 girls)

• Agesbetween 8and 15years.

• Cross-sectional

• Relationship between physicalactivity, socio-economic, and physicalfitness of 8-15-year-old youth fromMozambique.

• AAHPERD (3); Eurofit (1)• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (static)• Abdominal

• Agility• Somatic

• Weight• Height• Skinfolds• Maturational status

• Physical activity• Socio-economic• Physiological parameters

• In the distance run tests andflexibility the Mozambiquepopulation presents higherresults than the remainingstudies.

• At the level of upper body andabdominal strength, the resultspresented by the population fromMozambique are inferior to thoseof developed countries.

• At anthropometric level, theMozambique population presentsitself in stature lower values thanthe international standards,reflecting a probable maturationdelay.

• The profile of the habitual physicalactivity seems to be positivelyinfluenced by a specific socio-cultural reality and ischaracterised by a volume andfrequency slightly superior to thatof populations of industrializedcountries. The activities identifiedare of a spontaneous type and areconnected to survival and leisuregames.

Oliveira (26)(Cabo VerdeRepublic)

• 276 (136boys and140 girls)

• Agesbetween10 and 12years.

• Cross-sectional

• Growth and physical fitness of CaboVerde children aged from 10 to 12.

• AAHPERD (3)• Motor

• Cardiorespiratory endurance• Flexibility• Strength

• Upper body (dynamic)• Abdominal

• Somatic• Weight• Height• Skinfolds• Maturational status

• Orography• Socio-economic

• The somatic growth andmaturational development do notseem to influence the motorcontribution.

• The socio-economical factorinfluences in a diversified mannerthe children from Cabo Verde inthe somatic and motor domains.

• The orographic conditions seem tobe in a direct relation with somesomatic and motorcharacteristics.

• The children of Cabo Verdepresent in the motor andanthropometrical variables valuesinferior to those of the remainingcountries of the discussion.

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The studies of Sobral (31; 32), Sobral and Marques(33), Duarte (8), Matsudo (22), Guedes (14), Pristaet al. (28), Oliveira (26), Madureira (20) and Gayaet al. (13) relate the maturational status to morphol-ogy. For the calculation of the fat mass and fat-freemass, the relative amount of fat in the body (% fat) -sum of skinfolds, body mass index (BMI) and soma-totype are the indicators used.In general, EUROFIT (1988), and AAHPERD (3; 4)test batteries have been used in several growth stud-ies. In Portugal, the FACDEX battery (33) was devel-oped. The studies of Sobral (31; 32), Duarte (8),Matsudo (22), Guedes (14), Sá (29), Madureira (20)and Gaya et al. (13), present a set of tests selectedaccording to criteria established by the authors.The abdominal strength is the health-related fit-ness component included in almost all the studies.Few exceptions can be observed in studies made inBrazil by Duarte (8), Matsudo (22) and Lopes (19).Cardio-respiratory endurance was evaluated in thir-teen studies and flexibility in eleven. Body compo-sition is also considered in the studies of Sobral(31; 36), Nahas et al. (23), Sobral and Marques(33), Duarte (8), Matsudo (22), Guedes (14),Prista et al. (28), Oliveira (26), Freitas et al. (10),Madureira (20) and Gaya et al. (13). For perform-ance-related fitness, upper body strength (staticand/or dynamic) was evaluated in nearly all thestudies. Also explosive strength and velocity/agili-ty, were investigated in twelve and thirteen studies,respectively. Balance is only evaluated in the studyof Freitas et al. (10) and coordination, in the stud-ies of Sobral and Marques (33), Freitas et al. (10)and Gaya et al. (13).

For somatic and fitness characteristics reference val-ues are constructed and age and sex specific meansand standard deviation are provided for each of thesomatic dimensions and tests. Guedes (14) also con-siders the fitness levels with regard to criteria pro-posed in the North American battery AAHPERDPhysical Best (4) for the sit and reach, sit ups and 9-and 12- minute run/walk tests.The evaluation of the lifestyle and physical activity isobject of study in Sobral and Marques (33),Madureira (20), Freitas et al. (10), Gaya et al. (13),Prista et al. (28) and Lopes (19). In all these studiesphysical activity was assessed by means of self-reported questionnaires. In the studies of Madureira(20), Gaya et al. (13) and Lopes (19) the question-naire used was the one developed by Sobral andMarques (33) to evaluate the lifestyle of childrenand youth in the Region of Oporto during childhoodand adolescence (EVIA). Prista et al. (28) developeda ‘weekly description’ model adopted forMozambique population and lifestyle whereasFreitas et al. (10) used the Baecke questionnaire (5).When comparing some somatic characteristics inCPLP studies, the average height values of Brazilian(14) and Portuguese (10) samples are very similar(Fig. 1). For boys from 8 to 11 years of age theBrazilians are slightly taller than those from Portugalbut this situation changes from 11 years onwardswhen the Portuguese show higher averages. For girls,a similar trend is observed but the Portuguese sam-ple only surpasses the Brazilian at the age of 16 and17. With regard to Mozambique, boys are clearlysmaller in comparison to Portuguese and Braziliansamples. For girls, the differences in height are small.

Growth and development in CPLP

Figure 1 Height of Brazilian ( ), Portuguese ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Guedes (14), Freitas et al. (10) and Prista et al. (28), respectively.

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Figure 3 Sum of skinfolds (triceps and subscapular) of Brazilian ( ), Cabo Verde ( ), Portuguese ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are fromGuedes (14), Oliveira (26), Freitas et al. (10) and Prista et al. (28), respectively.

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For body mass, similar differences as to height werefound in both sexes (Fig. 2). Portuguese andBrazilian boys present nearly coincident values from8 to 11 but from this age onwards the Portuguesesample is greater in terms of weight than theBrazilian. Brazilian girls show higher body massaverages from 8 to 12 but the values are more orless the same from the ages of 13 through to 15.

Once more, the Portuguese sample presents higherbody mass averages at 16 and 17. WhenMozambique, Brazilian and Portuguese samples arecompared the same tendency as to height can beobserved: Mozambique boys and girls have lowerbody mass than Brazilian and Portuguese youngstersbut the differences in girls are smaller than in boys.

DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

Figure 2 Weight of Brazilian ( ), Portuguese ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Guedes (14), Freitas et al. (10) and Prista et al. (28), respectively.

The average levels of subcutaneous fat obtained bythe sum of triceps and subscapular skinfolds showthat Portuguese and Brazilian children and youth, ofboth sexes, present higher adiposity values thanCabo Verde (26) and Mozambique (28) samples (Fig.3). Between Portuguese and Brazilian boys the firstones present higher subcutaneous fat levels at all agegroups but the results are very close at the age of 10,11 and 17. In contrast, the Brazilian girls have higher

adiposity than Portuguese girls at all age groups withexception of 11 years of age where the opposite wasfound. The Cabo Verde boys have higher subcuta-neous fat than those of Mozambique at the age of 10,11 and 12. For girls, no general trend can be seenbetween the two samples with Cabo Verde girlsshowing higher adiposity than those of Mozambiqueat 10 and 11 and lower at the age of 12.

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The performance on sit and reach test of theMozambique and Cabo Verde samples of both sexesis higher than those of Portuguese and Brazilian

children and youth (Fig. 4). The best results areobtained by Mozambique boys and girls, followed byCabo Verde, Brazilian and Portuguese samples.

Growth and development in CPLP

Figure 4 Performance on sit and reach in Brazilian ( ), Cabo Verde ( ), Portuguese ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Guedes (14),Oliveira (26), Freitas et al. (11) and Prista et al. (28), respectively.

Figure 5 Performance on sit ups in Brazilian ( ), Portuguese ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Guedes (14), Freitas et al. (11) andPrista et al. (28), respectively.

For sit ups Portuguese and Brazilian children andyouth of both sexes present higher performancesthan those of Mozambique as was observed forstature and body mass (Fig. 5). The growth curvesfor trunk strength of boys and girls from Brazil and

Portugal show approximately the same pattern from11 to 15 years old, however, the Brazilian sampleperforms slightly better than the Portuguese one.For girls at the age of 12 and 13 the opposite can befound with better results in the Portuguese sample.

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Finally, the Portuguese boys and girls perform betterthan the Brazilian sample at all age groups on 12-minute run/walk test (Fig. 6). An exception can be

observed for boys at the age of 11, 12 and 13 wherethe Brazilian sample showed higher performancescompared to the Portuguese.

DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

Figure 6 Performance on 12-minute run/walk in Brazilian ( ) and Portuguese ( ) boys and girls. Data are from Madureira (20) and Freitas et al. (11), respectively.

DISCUSSIONThe non-existence of the normal revision process insome publications can lead to incorrect suppositionsand some weakness in the discussion of the results.Also, the non-access to raw data did not allow us todo a more powerful statistic analyses. In presentreview, the studies made in the CPLP were com-pared to multidisciplinary studies of growth and fit-ness in Belgian (27; 30) and Netherlands (16; 17).Out of the 17 CPLP studies only four, i.e. Brito (7),Nunes et al. (25), Nascimento (24) and Freitas et al.(11), focus uniquely on physical fitness, this is, aunique agglomerate of motor components. Theremaining 13 studies are multidisciplinary, encom-passing motor, somatic and physical activity charac-teristics as well as physiological, coordination, pos-tural and socio-economic parameters.The studies of Simons et al. (30) and Kemper (16;17) still include more characteristics. In the studyon Flemish girls apart from the somatic, motor andsocial dimensions, the pulmonary function and car-dio-respiratory parameters are also studied. In theDutch study (16) four groups of measurements canbe identified: (a) biological measurements, anthro-

pometry, menarche, skeletal age, physiological char-acteristics and motor performance tests-MOPERFitness Test; (b) psycho-social methods (personality,school attitude and sociometric status); (c) eatingand smoking habits; and (d) physical activity. In thefollow-up of the Amsterdam Growth Study (17) newitems were included, namely, bone mineral densityand dietary calcium intake, analyses of blood, urineand saliva, now comprising five domains: (a) biolog-ical measurements of body size, build, and composi-tion; (b) motor performance and physiological meas-urement; (c) psychological measurements and per-sonality; (d) lifestyle measurements concerningdietary habits, physical activity, psycho-social behav-iour, and stress; and (e) health measurements, con-cerning both physical and mental aspects.This demonstrates that the CPLP studies were lessmultidisciplinary, that the focus was less on health-related fitness items and that there is a need to fol-low the literature in the field closely so that therecent techniques can be incorporated.In each country there is a concern with constructingits own standards in growth, maturation and physi-cal fitness. In the CPLP the results of each

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variable/test are presented by age and sex throughthe mean and standard deviation, whereas the stud-ies of Ostyn et al. (27), Kemper (16; 17) and Simonset al. (30) use percentile scales.Out of the seventeen studies conducted in the CPLPfourteen have a cross-sectional design and only threea longitudinal or mixed-longitudinal designs. Takinginto account that individual growth characteristicscan only be investigated by means of longitudinaland mixed-longitudinal designs it becomes necessaryto conduct longitudinal and mixed-longitudinalstudies in the CPLP. Such studies would permit tostudy growth patterns and tracking as is done in thestudies of Beunen et al. (6) and Kemper (17) forsomatic and motor characteristics.In the CPLP only one study is conducted to investi-gate the adolescent growth spurt in the differentsomatic and performance characteristics. This weak-ness seems to be associated with financial and tech-nical aspects. Longitudinal studies require long-termfinancial obligations (due to their high cost) and thenecessity of a permanent attendance of the testteam. Furthermore, there is also the risk of dropouts- essential condition for the success of this type ofinvestigation.With regard to data input and quality control, thestudies of Ostyn et al. (27) and Simons et al. (30)constitute good models. In epidemiological studies,special attention should be given to the training ofthe test team and errors that may occur in the datacollecting (misreading an instrument, in transcribingdata into forms, in coding answers to questions, orin punching data to tape or disk). In an attempt toevaluate these errors and, if possible to limit them,Ostyn et al. (27) describe the training of test teamsunder the supervision of the experienced instructors.In the study of Simons et al. (30) a team was trainedduring a 45 day period, in which each test leaderwas involved in a pilot study during which 450 indi-viduals of both sexes and different age groups weremeasured and tested.An important aspect of the measurement/evaluationof the anthropometric and motor variables consistsin the determination of the errors of measurementand the presentation of the reliability of the testsand measurements. Both Ostyn et al. (27) andSimons et al. (30) conducted test-retest reliability

studies and reliability studies before the main proj-ect started. Subsequently they developed in-fieldmethods to evaluate the in field reliability and meas-urement error.Also during data entry quality control was carriedout. All individual data were entered twice into acomputer file and under program control the twodata sets were compared, errors deleted and verifiedwith the original data sheets. The following step ledto the elimination of the outliers whenever the valueregistered was very different from the value estimat-ed. In the study of Simons et al. (30), whenever thisdifference was superior to 2.58 times the standarderror of measurement the outlier was verified withthe original data sheet. If the outlier was correct asdocumented by other characteristics it was accepted,if no clear evidence was presented it was deleted.In studies conducted in the CPLP, references to thequality of the evaluation results and the method-ological rigour of the investigation are presented byDuarte (8), Guedes (14), Prista et al. (28), Oliveira(26), Madureira (20), Nascimento (24) and Freitaset al. (10; 11).The reliability and reproducibility of anthropometricand physical fitness variables were evaluated byDuarte (8) in a group of 5 girls and 7 boys using atwo day test-retest procedure. The reliability of thedata was very high, with correlation (r) values rang-ing from 0.85 to 1.0. The reproducibility evaluatedby the student t-test showed no significant meandifferences between days for any of the variables,suggesting very good reproducibility.In a pilot study Guedes (14) investigated the repro-ducibility of motor and somatic measurements. Forbody dimensions the correlation varied between 0.97and 0.99 and technical error of measurement waslow indicating a good agreement between the twoevaluations. For motor tests, correlation coefficientsvary between 0.76 and 0.93 indicating sufficienttest-retest reliability. Lowest reliability was observedin children aged less than 12 years in the 9/12-minute run/walk and standing long jump. In thisstudy, one of the purposes was also to determine theoverall reproducibility level of the set of motor tests.Canonical correlation coefficients for the two sets oftests varied between 0.48 and 0.99 for the six sub-groups considered and values of total redundancy

Growth and development in CPLP

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(Rd) between 0.87 and 0.88. Since the estimate oftotal redundancy reflects the concordance level inthe variation between the two sets of tests, about 87to 88% of the variation found in the motor testresults was common to both sets of tests.A similar work was conducted in the AutonomousRegion of Madeira by Freitas et al. (11; 9). In firstplace, we intended to know the reliability of thetests (absolute and relative reliability), of the differ-ent items of the FACDEX battery (33), of the stu-dents who participated in the ‘Physical Fitness of theSchool Population of Autonomous Region ofMadeira’. The second step was the evaluation of theglobal reliability of the battery. Regarding the firstaspect, the execution of a retest to a sub-sample of134 students allowed the extraction of intraclasscorrelation coefficients (relative reliability) and thestandard error of measurement (absolute reliability),both by age group. Values of R between 0.78 and0.99, show, clearly, the high test-retest reliability.Also the standard error of measurement (SEM) waslow for motor tests. Noteworthy is that, as observedby Guedes (14), the highest standard error of meas-urement occurred in the 12-minute run/walk and instanding long jump. However, ‘Mixed Anova’ did notshow any significant pattern of learning or testingeffect over age groups. With respect to the overallreliability of the FACDEX battery, the results of thecanonical correlation analysis indicate redundancylevels (Rd1) between 0.66 and 0.80, in the first eval-uation, and Rd2 between 0.71 and 0.82 in the sec-ond, which shows that the battery as a whole is reli-able and stable across groups.Also in this context, Prista et al. (28) validated aquestionnaire to estimate the habitual physical activ-ity of Mozambique children and youth. A group ofchildren was observed during 24 hours by 12observers. The activities observed led to the con-struction of a set of questions to be included intotwo types of questionnaires: the ‘24 hour descrip-tion’ and the ‘weekly description’ models.The validity of the two models was determined by apilot study. A group of 16 students was observed fora period of 24 hours. Each individual was followedby two distinct observers who independently regis-tered the activities carried on. The following day,each student was interrogated by an interviewer

with the ‘24 hour description model’ and, fifteendays later, the same individuals were interviewed bythe ‘weekly description model’. The comparison ofthe activity values observed and registered in inter-view revealed intraclass correlation coefficientbetween 0.10 and 0.80 for the ‘24 hour descriptionmodel’, which indicates that the individuals mani-fested little ability in the self-report of the timeinvolved in daily physical activity. For the ‘weeklydescription model’ the observation and interviewresults were compared by ANOVA (one way) basedon the Activity Coefficient manifested in the ques-tionnaire by two distinct groups: active (EM equal orsuperior to P50) and non-active (EM inferior toP50). The active group shows higher values than thenon-active, although without a statistical signifi-cance. The analysis of the results, at an individuallevel, reveals that 83% of the individuals were cor-rectly classified into the active group indicating thatthe self-reported weekly description is associatedwith the more objective observation. Subsequentlythe reliability of the weekly self-reported question-naire was studied using a test-retest design.Reliability coefficients for the different items variedbetween 0.30 and 0.80 with an average value ofR=0.71).In the studies of Oliveira (26), Madureira (20) andNascimento (24), the analysis of the data was preced-ed by a study of the normality of the distributions ofthe characteristics under investigation and the even-tual presence of outliers was verified. Madureira (20)and Nascimento (24) present reliability values,obtained by the test-retest procedure an intraclasscorrelation coefficient, equal or superior to 0.72[R>0.95 – Madureira (20); 0.72<R<0.99 –Nascimento (24)]. There are no references to thepreparation of the test team or execution of pilotstudies.It should be mentioned that in the studies made inthe CPLP the interrelation between growth, matura-tion, physical activity and performance were onlypartly investigated. Matsudo (22) studied the rela-tionship between growth, maturation, physical fit-ness and socio-economic status. Duarte (8) analysedthe relationship between growth, maturation andphysical fitness, while Lopes (19) investigated theconnection between growth and physical activity.

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Prista et al. (28) related the concepts of growth,maturation, physical fitness and physical activity,and Oliveira (26) studied the relationship betweengrowth, maturation, physical fitness and socio-eco-nomic status.In an attempt to situate the CPLP studies in anothercontext we plotted some somatic characteristics andmotor tests against Belgian data. For height, boysand girls from Brazil and Mozambique are slightlyshorter than Belgians (Fig. 7). This difference ismore notable for Mozambique sample of both sexeswhile Brazilian girls are closer to the height averagespresented by Flemish girls at 8, 9, 10 and 11 yearsold. Similar analysis was made by Guedes (14) and

Prista et al. (28) when comparing the Brazilian andMozambique data with North-American referencevalues (15). For Brazilian boys differences of about 2to 5 centimetres less than North Americans can beobserved from 10 years onwards whereas, in girls,this difference is about 2 centimetres. The averageheight of boys from Mozambique comes close to theP5 of the NCHS norms and for girls within the P5and P50 channel. In both studies these differencesare explained through the interacting effectsbetween environmental conditions and geneticspotential, i.e. the environmental conditions areinsufficient to obtain optimal growth as determinedby genetic potential.

Growth and development in CPLP

Figure 7 Height of Brazilian ( ), Belgian ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Guedes (14), Lefevre et al. (18) and Prista et al. (28), respectively.

For body mass, children and youngsters fromMozambique are lighter than Belgians at all agegroups and in both sexes (Fig. 8). Similar weightsare presented by Portuguese girls from 8 to 13 yearsold but the difference between the two samples isstrongly marked from 14 to 17 years where thePortuguese sample showed lower body mass aver-ages. For boys, data are nearly identical from 8 to 11years and from 16 to 17 years old. From 12 to 15years the Portuguese boys are heavier than theBelgians. The lighter weight expressed byMozambique sample, in comparison to thePortuguese and Belgian samples may be explained

by a lower stature. Prista et al. (28), although inanother context, compared the average values of hissample with the averages proposed by Frisancho(1990) for relative weight of North American blackpeople. The values came close to the P50. Withregard to the Portuguese sample the intermediatebody mass levels and lower stature relative to theBelgian boys and girls can be associated to the fataccumulation.

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The average levels of subcutaneous fat (sum of tri-ceps and subscapular skinfolds) of Portuguese,Belgian and Mozambique samples are presented inFig. 9. Once again, the Mozambique sample of bothsexes has lower skinfold values than Belgian andPortuguese boys and girls. For Portuguese boys,slightly higher subcutaneous fat levels are presentedrelatively to the Flemish boys. For girls, the skinfoldvalues are very close to each other and no consistent

pattern of differences can be found between the twosamples. These data strengthen the previous sugges-tion that the intermediate weight levels and lowerstature presented by Portuguese sample could beassociated to the fat accumulation. For children andyouth from Mozambique the lower body mass canbe explained not only by a shorter stature but alsoby lower subcutaneous fat levels.

DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

Figure 8 Weight of Portuguese ( ), Belgian ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Freitas et al. (10), Lefevre et al. (18) and Prista et al. (28),respectively.

Figure 9 Sum of skinfolds (triceps and subscapular) of Portuguese ( ), Belgian ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Freitas et al. (10),Lefevre et al. (18) and Prista et al. (28), respectively.

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For motor dimensions, and with regard to the sitand reach test, Mozambique boys and girls obtainbetter results than Belgians at all age levels (Fig.10). For Brazilian boys the results are very close tothe Belgian sample but girls present lower perform-ances at all age groups. Similar findings were

observed by Prista et al. (28) and Guedes (14) whenMozambique and Brazil data were plotted againstNorth-American norms (4). The clear advantage ofMozambique sample was justified by these authorsthrough a different type of physical activity carriedout by children and youth from Mozambique.

Growth and development in CPLP

Figure 10 Performance on sit and reach in Brazilian ( ), Belgian ( ) and Mozambique ( ) boys and girls. Data are from Guedes (14), Lefevre et al. (18) andPrista et al. (28), respectively.

CONCLUSIONSThe studies made in the CPLP reflect the concern ofeach country/territory in characterising and describ-ing their population/group reporting specific refer-ence data for growth, maturation, physical fitnessand physical activity.Among the different countries/territories the high-est number of studies reviewed is conducted inPortugal and Brazil. On the seventeen studies twelveincluded somatic and fitness characteristics. Formotor fitness, the measurement of the abdominaland explosive strength is common in nearly all thestudies. The physical activity is object of study in theinvestigations made by Sobral and Marques (33),Madureira (20), Freitas et al. (10), Gaya et al. (13),Prista et al. (28) and Lopes (19). In this domain, allstudies used self-reported questionnaire.Almost all the studies conducted in the CPLP pres-ent a cross-sectional design. Few exceptions are thepreliminary presentation of the mixed-longitudinal

study in progress in the Autonomous Region ofMadeira – Portugal (10) and the longitudinal studiesmade by Nahas et al. (23) and Duarte (8) in Brazil.The studies of Duarte (8), Guedes (14), Prista et al.(28) and Freitas et al. (10; 9) present a similarmethodology to those developed in Belgium byOstyn et al. (27) and Simons et al. (30). However,the non-existence of strategies to include proceduresto control data quality during data collection anddata entry reflects some of the methodological weak-nesses in these studies.The multidisciplinary factor of the CPLP studies isoperationalised by the inclusion of physical fitnessdimensions, somatic characteristics, lifestyle andphysical activity, coordination, posture, socio-eco-nomic status, and some physiological parameters.The associations between the dimensions are onlypartially studied (8; 22; 28; 19; 26).In CPLP context, data from Portugal (10) and Brazil(14) present nearly identical average height and

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body mass values, those from Mozambique (28) areshorter and lighter. Portuguese and Brazilian sam-ples present higher subcutaneous fat levels (sum oftriceps and subscapular skinfolds) than Cabo Verde(26) and Mozambique. For motor dimensions, boysand girls from Mozambique perform better thanBrazilian, Cabo Verde and Portuguese samples on sitand reach. The opposite holds true for sit ups wherechildren and youth from Brazil and Portugal (11)show better results than Mozambique sample. On12-minute run/walk, Portuguese sample performsbetter than Brazilian one.In European context, boys and girls from Brazil (14)and Mozambique (28) are slightly shorter thanBelgians (18). Similar body mass can be observed inPortuguese and Belgian samples. Children and youthfrom Mozambique are lighter and have lower subcuta-neous fat levels (sum of triceps and subscapular skin-folds) than Portuguese and Belgians. For Portugueseboys, slightly higher subcutaneous fat levels are pre-sented relatively to the Flemish boys whereas, ingirls, skinfolds values are very close to each other. Forsit and reach test, Mozambique boys and girls per-form better than Belgians. For Brazilian boys theresults are very close to the Belgian sample but girlspresent lower performances at all age groups.Consequently future projects in the area of growth,maturation, fitness and physical activity should con-sider: (1) longitudinal or mixed-longitudinal design;(2) multidisciplinary test teams; (3) well definedmethodologies in training of test team - courses ofanthropometric and evaluation of physical tests;identification and familiarisation with the evaluationinstruments - codes, control and verification; prac-tice; pilot study; (4) rigorous quality control duringdata collection and data entry; and (5) inclusion ofparameters related to health.

ADDRESSDuarte Luís de FreitasUniversidade da MadeiraCampus Universitário da Penteada – SecçãoAutónoma de Educação Física e Desporto9000.390 [email protected]

DL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre, AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

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* Unpublished data

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ENSAIO

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Training: a special form of teaching

Eckhard Meinberg

German Sport University CologneGermany

ABSTRACTThis article pursues two objectives: in the first place I want toshow to what extent coaching in action is a special form ofteaching, i.e. that it is a genuinely pedagogical process. I pro-pose to do this by portraying teaching as a complex actionwhich is characterised by a set of definite basic operations likeshowing, diagnosing, anticipating, interpreting and many more.In addition I want to pay tribute to the temporal constitutionof training by looking at it from the aspect of articulation,show the interrelation between training and educating andunderline the fostering of talent as a task that teaching andtraining have in common. At the end I want to discuss themoral dimension of coaching. All of this makes it possible toproceed with the article’s second aim which is to establish aconnection to the current international discourse about teacherprofessionalism which then will be transferred to the profes-sionalisation of coach-action.

Key Words: Teaching, learning, coaching, competence, moral/ethics.

RESUMOTreino: uma forma especial de ensino

Este artigo persegue dois objectivos: em primeiro lugar quero mostraraté que ponto a intervenção do treinador é uma forma especial de ensi-no, isto é, que se trata de um processo genuinamente pedagógico.Proponho fazer isto retratando o ensino como um processo complexo,que é caracterizado por um conjunto de operações básicas como ademonstração, a antecipação, a interpretação e muitas outras.Complementarmente, quero valorizar a estrutura temporal do treino,percebendo-a a partir da necessidade de articulação, mostrar a interre-lação entre o treino e a educação e sublinhar a importância da promo-ção de talentos como uma tarefa que o ensino e o treino têm em comum.Finalmente, quero discutir a dimensão moral da acção do treinador.Tudo isto torna possível avançar para o segundo objectivo deste artigo,que é estabelecer uma relação com o discurso corrente no plano interna-cional acerca do profissionalismo do professor, o qual então será trans-ferido para a profissionalização da acção do treinador.

Palavras-chave: Ensino, aprendizagem, treino, competência,moral/ética.

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1. INTRODUCTIONSince there was competitive sport there have beencoaches. The origins of systematic coaching can betraced back to the ancient world. Less in gymnasticsthan in athletics coaches were in demand early on,especially where people struggled for fame and sport-ing honour on the occasion of the Olympic Games orthe (pythic and isthmic Games). Back then somecoaches gained in prestige enormously when theirathletes happened to be successful so that the antiq-uity already had its FERGUSONs, HITZFELDs orCRUFFs. But many centuries had to pass before thisprofession was able to gain acceptance and before–thanks to the support of the media- it was able tomake some coaches famous. Those coaches enjoyed akind of fame that usually only the athletes themselvesor actors or maybe politicians are expected to get.Back in the ancient times you couldn’t have foreseenthat so-called world-class coaches would one dayachieve the status of cult figures, that people wouldmake icons out of them as they are doing today.Coaching itself may be old (1) yet as a profession itis extremely young and it profits from the enormousand unstoppable rise of sport and the gaining popu-larity of a sporting style of living. It is a fact that theactivity of coaches in the Western industrialisedcountries isn’t confined to the institutionalised sportin clubs and associations. In these rich countrieswhere certain “classes” (BOURDIEU) set great storeby their health and well-being an increasing numberof “wellness-coaches” are able to earn their living bythis occupation. But also highly rated men of indus-try and commerce treat themselves with their “per-sonal-trainer”, who watches over the wellbeing ofhis clients. The “body boom” provides coaches withtotally new job prospects outside the traditionalsport business. At the time the “body boom”seems to correspond to a “trainer boom”.Admittedly, this article exclusively deals with the“classic” coach of clubs and associations, i.e. thekind of coaches who should they be able to walk offwith enormous success often are the number onetopic of the media. But if you’re looking closely athow coaching developed into a new profession inthe modern age you cannot fail to realise that it isstill on its way towards a genuine professionalisa-tion/ professionalism. According to the theory of

professionalisation/professionalism the status ofcoaches isn’t secured yet and the fact that there arehighly successful professional coaches basking them-selves in the limelight is no contradiction to that.This article doesn’t want to deal with the coaches’recipes for success, which sometimes are being cher-ished like life itself, although this would be bothpossible and fruitful, what it sets out to deal with isthe coaching-profession and its professionalism byshowing aspects that have been neglected up to now,it wants to pave the way for future research.What this article centres on is to prove that coach-ing is a special form of teaching. But not onlythat: The thesis above can be strengthened by thefact that coaching is instructive and didactic at itscore. Before I can give a selective yet substantialanswer to the question why coaching is a form ofteaching I have to give you an idea of the require-ments and demands that are surrounding this activi-ty. In other words: I want to put the performanceprofile of coaching for your inspection.

2. COACHING AS A COMPLEX CHALLENGEProfessional coaching is an extremely demandingactivity and occupation that requires versatility,which you can see clearly when looking at the activi-ties of national coaches. HOLZ has given an elabo-rated outline of this: “ in principle you can differen-tiate between eight fields of activities with their cor-responding tasks:

– Planning, carrying out, managing and controllingtraining – and competition processes

– Advice, counselling, care, help– Co-ordination/ management– Organisation– Evaluation/ analysis– Public relations– Further vocational training, continuation of one’s

education– Teaching, research (2, 10)

Obviously, this occupation includes extremely com-plex spheres which go far beyond the actual trainingprocess.Beside the training process itself the coach has tomanage a multitude of tasks and accordingly he has

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to be competent in many different spheres. Today,one area of competence seems to get increasinglyimportant and that is the kind of competence youneed when dealing with the media. This “media-competence” seems to be coming to the fore moreand more. Especially coaches who are working on ahigh performance level with their athletes and whoare in the centre of public interest (e.g. soccercoaches) are expected to be able to cope with themedia in an appropriate way. This means that theyhave to acquire a kind of competence they haven’tbeen or at least not sufficiently been trained in. In the meantime what seems quite remarkable is therapid specialisation of this profession, which is alsotypical of a lot of other occupations today. What isbehind this is the belief that such a specialisation ofcoaches will have a positive effect on the athletes’performances. Nowadays it seems to be en vogueamong professional coaches that the head coach,who carries the main responsibility for the planningand carrying-out of the training, surrounds himselfwith special coaches for fitness-training and goalkeeping, who recently have been joined by mentalcoaches who are paying tribute to the motto thatthe decision over win or defeat is already being donein the mind. You can see that the trend moves awayfrom the soloist towards a whole team of coaches. Here, you can observe an ambivalent process:On the one hand complexity is being reduced but onthe other hand it is being increased. In our examplethe increase in complexity lies less in the trainingitself, i.e. the training in the narrower sense, the car-rying out of the training, than on the social-commu-nicational level. The complexity lies in the relationbetween people. As a rule you lead a team of coach-es in a different way than you lead a team of ath-letes.In the following I want to concentrate on training inthe narrower sense, which is a special form of teach-ing. In order to be able to prove this I want to offeryou some clear-cut clues by presenting a brief andshortened phenomenology of coaching. When youdevote some time on thinking about the teaching-process you cannot fail to realise that teaching is anextremely complex activity and that it consists of anumber of different forms of actions.

3. TEACHING AS MULTI-FORMED ACTION As soon as you start dissecting teaching you’llimmediately discover a multitude of tasks whichmake up this practice. When somebody is teaching-and a coach is doing that same thing- then he’s car-rying out a number of basic operations which makeup teaching. Of those I only want to mention a fewof the most important ones: Even if at first you’llhesitate to describe training in the narrower sense asa form of teaching without doubt you’ll still be con-tent to describe it as a special form of instruction,which has many parallels to the teaching done inschool, but which differs considerably from physicaleducation in school in some respects: Voluntariness,exterior basic conditions and performance level.Nevertheless, there cannot be any doubt that trainingis indeed a specific teaching situation because it isabout imparting something – a subject- to some-body, e.g. enabling somebody to do the overhandpass in volleyball. In short this is the typical basicconcept of teaching: Somebody who is competentin sth. (=coach/teacher) teaches a subject to theones less competent than him (=athletes, pupils,learners). Since ROUSSEAU at the latest peoplehave described this procedure as the pedagogical tri-angle. Who would honestly be able to substantiatethat training isn’t about a typical teaching and learn-ing process, an equivalent to teaching and learning?The coach teaches in order to make the athleteslearn something. This way teaching can be definedas a supportive action for learning. Learning andteaching turn out to be two sides to the same thing.To put it in rather more concrete words: Whichactions have to be performed so that learning cantake place? Above all: showing or pointing at st.Somebody teaching at the same time always showssomething by pointing at a subject or the learners.The teacher chooses something from a whole rangeof possibilities, e.g. the learner’s jumping behaviourat the net while doing the overhand pass. When theplayer is making a mistake, the coach corrects himby pointing at the player and by showing him howto correct his mistakes. But: The coach isn’t justpointing at a subject or a player, no: He is alsoshowing something of himself as a person, of hiscommitment, his temperament, his feelings and soon. He is exposing himself to a certain degree, he is

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revealing himself as a specific personality, which iswhy this act of showing or pointing at something asa basic process of learning has three different ele-ments as point of reference: Firstly the subject, sec-ondly the athletes and thirdly the teacher himself,i.e. the coach.Unmistakably, other activities are closely connectedwith this act of showing at the same time, activitieswhich make up teaching and which training doesalso consist of. One of those you simply cannot dowithout is verbalising. A person who is showingsomething doesn’t remain in a silent gesture, quitethe reverse, he is talking because he wants toexplain something. That is the reason why showingdoesn’t happen just for its own sake. The motivationbehind showing rather is the attempt to explainsomething and this explanatory showing is fittedinto various interpretations. Interpreting is aimedat making something comprehensible, the motivat-ing force behind it is understanding.Comprehensibility is the primary principle behindall systematic teaching and it has speech and speak-ing as its deciding medium, which in turn is deter-mined by acts of interpreting.Training as a special form of teaching is no exceptionto this, it affirms it. When coach and team cometogether in a meeting after training or before thebeginning of a competition to discuss or fix theirtactic line of approach the coach presents andexplains his tactical approach by drawing the playsystem on a board and by pointing at some of theathletes in order to interpret their play behaviourwith the help of anticipation. With that, another basic activity is coming to light:anticipating. Anticipating undoubtedly means forg-ing links between the past and the future. Coachespractice foreseeing things, they practice anticipatingcoming events – the more they are able to anticipatethe better will be their team’s prospects of success.Anticipating is so fundamental that it projects intoother elementary activities. Even diagnosing, whoserves to take stock, often contains anticipatorymoments, which are transferred into a prognosis. Acoach diagnoses his team’s state of mind and body,and with the help of anticipation he tries his hand ata prognosis for the next game. Anticipating as a pri-mary operation of teaching and training points to the

temporal dimensions of teaching. When anticipatingyou’re trying to take a look into the future but in away that both the present and the past are involved:The actual act of anticipation takes place in the pres-ent, but in order to be able to anticipate you have toinclude the past into your considerations. All thedimensions of time pervade teaching and the same istrue for training. It is one of the shortcomings of anelaborate theory of training that until now it stillhasn’t properly considered this phenomenon of time.Sport science as a whole hasn’t really spend enoughtime on time. In the following I want to outline onemain thought about time that is relevant to teaching.

4. THE TEMPORAL ASPECT: THE ARTICULATION OFTRAININGTraining as a special form of training is –like allother human activity- subject to the dimensions oftime. Although there is compulsory school atten-dance, which is the price our society has to pay forthe modernisation of our world, fortunately there isno such thing as compulsory training attendance.However: The one who attends training on his ownfree will necessarily needs and uses up time.Depending on the ambitions of the athletes they’lldevote more or less time to their training.Furthermore: The one who is working as a coach ina professional way is forced to use his time efficient-ly to get the most out of time.Included in that is the ability to plan and organise. Inthe modern and hectic training business of todaysomething that I want to call “time competence” isin demand more or less. Included is also that coachesmust be able to organise training in single units.Following the terminology of modern didactics youcould introduce the term articulation, whichexpresses the temporal structure of the trainingprocess-and this in two different constellations. Itincludes firstly the following sequence: 1. Beginning,2. broadening of the horizon and making possiblenew ways of learning, 3. repeating/ exercising and4.creating possibilities for further learning. In addi-tion, part of articulation is also the temporalsequence of the following phases: preparation oftraining, carrying out of training and evaluation.There’s no room in this article for pursuing the ideaof the articulation of training any further or in more

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detail, I only want to stress one aspect which is con-nected with the basic operations which are character-istic of teaching.What I’m talking about here is the observation thata coach has to perform different operations in differ-ent training phases. During the preparatory phase oftraining much attention is directed towards plan-ning, which includes anticipating, but also interpre-tations are not being neglected while communica-tion is of no or little importance. Major activities ofthe phase in which training is actually being carriedout are: showing something, explaining, present-ing and establishing contact with the athletes.Here, leading and guiding come to the fore, whichare of no importance at all during the preparatoryphase. The evaluation phase is occupied with evalu-ating, reconsidering, interpreting and analysing,i.e. operations which all leave their mark on teach-ing practice. Though they are also present in other“articulation phases” during the evaluation phasethey are of the greatest significance and they lendplausibility to the thesis that individual activities areemphasised differently in different phases of train-ing. At the same time this confirms time to be anirreplaceable instrument for managing the training, afact that finds its obvious expression in the articula-tion of training. It is one of the certainties of professional teachingthat it doesn’t go off in a uniform way but that itvaries according to external basic conditions and thepersonality of the teacher. Teaching is a deeply indi-vidual activity, each teacher develops his own per-sonal style: a unique form of teaching which is notexchangeable and which is dependent on many dif-ferent factors. On the analogy of the teaching style,in which at the same time both knowledge and abili-ty find their expression, with regard to training wecan talk about a training style. In this training stylethe didactic character of training becomes evident.

5. THE TRAINING STYLEIn my view, a pedagogical theory of training which isat the same time structured in a logical way, rich inempirical content and which goes beyond a merecollection of remedies but does justice to the com-plexity of training is nowhere in sight yet. For some-body interested in developing such a theory an

important task would be to take a close look at thecommunicative level of training, to examine howthis level reveals itself in the relations and coopera-tions between coach and athletes and also betweencoach and coach. The research of training styles isstill in its very initial stages. If it appears at all it willimport results from educational science and resultsfrom research about teaching styles, as you can seein the LENK’s works on training. LENK, a professorof philosophy, Olympic medallist and successfulrowing coach, propagates the democratic and auto-cratic style of teaching, which we know from educa-tional science and consistently he talks about ademocratic and an autocratic training (5).While the democratic training backs up theautonomous athlete the autocratic training putsmore emphasis on the heteronomous athlete. LENKsides with the democratic training, taking the modelof the “mature athlete” as a point of reference. Ofspecial importance is: The way in which single ele-ments of training practice make up a specific train-ing style refers to a specific orientation towards dif-ferent images of man. LENK decides in favour of theold European educational idea of maturity, which herecommends as a central idea of a humane training.In addition, at least two more images of man have apart to play in the difference between democratic andautocratic training, which haven’t been mentioned byLENK, but which preserve “classic” images of man ofthe modern times: On the one hand an optimisticone, which stresses autonomy and freedom ofman and which forms the latent anthropologicalbase for the democratic training, and on the otherhand a pessimistic image, which lays moreemphasis on heteronomy and lack of freedom andwhich lays the anthropological foundations forthe autocratic training. While the optimistic imageof man had a vehement advocate in ROUSSEAU, itwas HOBBES that championed the pessimistic one.This “memory” or “remembrance” left aside, I onlywanted to briefly mention that, obviously, trainingstyles cannot do without basic points of reference.Images of man can serve as such points of reference.This is why training styles can be traced back to cer-tain images of man, which exert an influence on acoach’s actions that though it might be latent stillcannot be put aside.

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Another observation closely connected with theabove is as follows: The differentiation in democraticand autocratic training has its origins in the coach’smanagement style. Different kinds of styles couldinduce a typology of trainers, which would containeach coach’s individual characteristics, his “personaltouch”. The “democratic coach” as well as the “auto-cratic coach” would be two counterpoles on a “coachrange”, which would help to get information aboutthe way the profession of coaches sees itself.In addition, we can also observe that the trainingstyle is almost as complex as teaching itself as thereare quite a few factors which have an effect on thisstyle. On the one hand there are external factors,e.g. the institutions a coach works for. Such institu-tions like e.g. traditional sports clubs engender aspecial atmosphere, which is largely determined byconventions, in which an unwritten code for theinstitution’s attitude towards a coach is included.Some clubs let their coaches work in peace, they“give them their head” and do not want to reap thefruits of their coaches’ industry immediately. Othersexert pressure on their coaches, who are more orless forced to be successful, which in turn mighthave an effect on the training style.Beside these external factors, you can also findinternal ones, which concern the coach as aperson, the way he sees his personality and hisidentity, his emotions, knowledge, mentality, theway he perceives the world around him and so on.Accordingly, the training style cannot be reduced toa purely methodical, technological sector. In the endthe style is deeply rooted in the way a coach sees hisown self and therefore also shows moral qualitieswhich I will go into at the end of my paper. At thispoint I only want to indicate that the teaching stylehas found its counterpart in the training style, whichagain proves the didactic character of training.

6. TRAINING AND EDUCATINGTraining as a special form of teaching is closely relat-ed to education without merging with it. Whatunites teaching and educating is the modified didac-tic triangle. Because of this triangle there is a corre-spondence between educating and teaching:Educating is made of the following components:somebody more competent in sth. (educator), some-

body less competent (person that is being educated)and a subject as the objective of the educatingprocess, which as a rule consists of a great numberof different values.There are indeed situations where the coach is “all”educationalist intending to influence his athletes’attitudes for purely educational reasons in order toimprove their behaviour: Whenever he purposeful-ly applies sanctions, whenever he admonishes, repri-mands, criticises or threatens somebody – and viceversa whenever he encourages positive behaviour bypraise. Indeed: The every day life of training is full ofpossible causes for education and educationaleffects. Training situations may turn into education-ally relevant ones anytime: a training situation maysometimes take the form of an educational processand neither coach nor athlete may necessarily beaware of this. An educational context like that may be planned andused with intention but then again this doesn’talways have to be the case. For the training can havelatent educational effects without the coachintending it to. A casual or accidental action, e.g. anexhortation coming from the coach directed at hisprotégé may well be of educational importance. It isperfectly conceivable and also realistic that coachescause pedagogical effects in their athletes they neverintended to. The opposite is also possible: A coachmay have the firm intention to influence a situationin an educational way and all his intentions will fallflat, they won’t have any effect whatsoever howeverhard he may struggle away.What you can learn from this: Only on the conditionthat athletes are ready to go along with their coach-es’ educational ambitions, pedagogical effects mayindeed occur. As soon as the athlete’s will to lethimself be educated is lacking, all the coach’s inten-tions, however honestly they may be meant, will beclutching at thin air. To make a general principle outof this: As soon as the coach’s educational abilitywon’t meet the athlete’s will, fruitful educational sit-uations cannot take place. To actually be able to doeducationally effective work the coach is dependingon the cooperation with his protégés, once theyrefuse all the coach’s attempts will remain futile.We can see that during training both intentional andunintentional educational influence is possible. One

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influence that is more unconscious and stays underthe surface is something you may call the “hiddencurriculum” of training. This hidden curriculumdescribes the structures training takes place in,which are not made public but which are more orless being taken for granted. These structures arebeing protected and supported by typical values,which cannot be given up. In training people mayand will internalise some of these latent values, e.g.the athletes learn that work and effort will pay, thatthey may cause personal respect and strengthen theathlete’s self esteem. In general, athletes cannotavoid learning what wins and defeats may mean tothe individual athlete’s identity, without the coachhaving to stress this fact. Subliminally there is a“latent” chance of teaching values already inherentin these “objective structures”.The central question for pedagogy whether trainingcan educate somebody or not and if it does thenhow it does so would necessarily become the crucialelement of a theory of educating training (6), ifthe answer is not to be left to mere speculation. Upto now this theory hasn’t gone beyond a few scat-tered starting-points: It is still a real desideratum.What shouldn’t be in dispute anymore is the follow-ing: Training as a special form of teaching always hasto reflect the possibility of an educating training.

7. FOSTERING AS A MAIN TASK OF TRAININGWithout doubt training is subordinate to the mainpurpose of encouragement and fostering. This isthe same for both coaches and physical educationteachers. The task for both of them is to foster theabilities and skills of their clientele, only that coach-es have the “advantage” that their target groupattends training on their own free will whereasphysical education teachers are confronted withpupils who are forced to attend lessons. It goeswithout saying that these different initial conditionswill necessarily have consequences. Anyway, at thispoint it is futile to attempt to elaborate on the taskof fostering as it is a whole new subject of its own.My aim is now to examine the didactic character oftraining from another perspective, i.e. from the pointof view of fostering, which is an activity that inte-grates several basic operations. What peopleintend to foster is talent. But the question that

comes to mind directly is: what is talent? The answerlies far beyond the limited number of pages that Ihave for this article. Therefore allow me a few briefremarks: In the current discussion the opinion gainsacceptance that a person’s talent cannot be equatedwith his or her cognitive abilities. Talent is some-thing more complex and differs from what IQ testsprofess to measure. A “talent profile” has many morefacets to it. As a rule we can start out from a multi-ple talent which the HARVARD-researcher GARD-NER (7) has quite impressively argued in favour ofin the last few years. According to him almost allpeople show signs of a whole ensemble of talents,one of which is the physical talent, which the fos-tering in the sport training is directed at.The “better” a coach is able to foster his athlete’stalent potential, the more successful he and his ath-letes will be. Coach and athletes form a communityof success, which explains why a coach’s success andan athlete’s success are mutually dependent. What ismore important at the moment: “Good” coachesalways are also “good” at fostering talent, i.e. a basisfor assessing a coach’s quality to a great extent is hiscompetence in developing talents to the full, whichis an ability that I want to call the developmentcompetence of a coach.A coach, like any other teacher, always is somebodyhelping development along. In that there is an indi-cation that a basic activity of fostering is helpingsomebody. A coach who ist fostering talent helps hisathletes to reach the supposed or hoped for talentoptimum. He supports them in both word and deed,which also includes the ability to be able to copewith a momentary “performance decrement”, a“developmental step backwards” as well as to beable to find the right words after unexpected defeats.In these situations he has to really help out the ath-letes, if a defeat, which may be a bitter experiencefor the ones affected, is to be properly “digested”.Fostering essentially means supporting some-body, a basic activity that is also part of education(SCHLEIERMACHER). Supporting often is encour-aging, which is the epitome of an operation con-cerning the fostering of talent. Before the fosteringof talent comes discovering it. This discovery isbased on diagnosing, which often goes along withselecting. Talent selection is a distinguished phrase

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for these activities. The talent scouts who have agood eye for sporting talents are of the greatestimportance these days. In the hard business of pro-fessional sport where astronomical sums of moneyare at stake (just think of soccer or tennis) success-ful scouts are much sought after because with newtalents there is always the hope that one day you’llbe raking in the money. To be blunt about it, thebodies of these young talents then serve as instru-ments of capital (ZINNECKER).Whatsoever: diagnosing of talents connected withanticipating are – together with helping, supporting,encouraging- activities that join together in the act offostering, around which training is revolving after all.

8. THE MORAL DIMENSION OF TRAININGTeaching ought–as a classic maxim goes-always to becarried out to the best of one’s knowledge and belief.You couldn’t put the moral relation more succinctly.Not only do teachers have to know something to beable to teach, they also have to act conscientiously,which means that they have to act in a moral way.It would be wrong to believe that the moral dimen-sion is important only in the teaching of values, i.e.only episodically and occasionally. In reality, all teach-ing has moral foundations – no matter which subjectit may be about, a teacher’s moral standards arealways demanded. The moral behaviour finds itsexpression in the teaching ethos, which has alwaysplayed an important part for the pedagogical profes-sion and the theory-forum of which constitutes thepedagogical ethics as a special ethic.It is quite remarkable that in the young internationalresearch of profession a trend is gaining acceptancethat evaluates considers this same moral dimensionof teaching as a strong factor of teacher professional-ism (8), which, however, is necessarily so, as the“professional self”, the teacher personality isreceiving much attention these days. This tendency allows a connection to my subject.For: It could be proven repeatedly and beyond adoubt that training is indeed a specific variant ofteaching that as such possesses its very own moralquality. The “teacher ethos” corresponds to a“coach ethos”, which in another place I havealready positioned in detail in the context of trainer-ethic (9). Trainer ethics is a relatively young ethics,

which seems to be getting increasingly important(10), especially because an ethic like that is a crucialconstituent of the professionalisation and the profes-sionalism of coaches. The coaches’ need for profes-sionalisation consists for the most part in his moraltask to watch over the athletes’ freedom from harm,over their physical and psychological integrity (11).Coaches act from a position of moral guardians,which is being drawn together and being expressedby the teacher ethos. Accordingly, the quality oftheir actions is also dependent on their moral behav-iour. Coaches necessarily cannot be morally neu-tral because they have power and therefore areforced to use this power in an appropriate way. Asthere are all kinds of dangers that coaches may mis-use the power attributed to and acquired by them –either by manipulating young athletes, by secretlyadministering drugs to them or by exploiting themin another way- an ethos of this profession mustbe developed. Similar to the teacher ethos the train-er ethos isn’t only related to single parts or areas ofa coach’s activities but accompanies and backs up allthe coach’s fields of activity (compare 2) more orless intensively, without one being aware of thismoral quality all the time.How crucial this moral dimension may turn out to befor the professional self of the coach is being rein-forced by the impressive, philosophically-inspired,general theory of identity by TAYLOR (12), who isasking after the sources of the self. He considers themoral source to be of a special importance, as it isthe source by which many people define themselvesand their identity. Why shouldn’t coaches do thesame?

9. DISCUSSIONThe considerations above, which had to accept manya shortening and reduction, may stimulate furtherdiscussion, which may be devoted to the profession-alism of the coaches’ actions. If you agree to theargumentation presented in this article, which hasemphasised the pedagogical quality of coachingtaking teaching as an example, then you might alsoagree that of future importance will be to discussthe professionalism of coaching from the point ofview of pedagogical professionalism.

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The coach’s professional self could prove a fruit-ful/promising starting point for discussion, whichcould also be useful for finding a connection tointernational debates about basic research in thefield of teacher education. In addition, this course ofaction would have the advantage of being able to liftthe “competence problem” of coaches onto anotherlevel of discussion. Close attention would have to bepaid to the moral competence, which could take mysuggestion of the “hypocratic oath” for coaches asa point of reference (13). It is probably no coinci-dence that in future professional coaches will haveto take an oath at before the Olympic Games, whichwill then make evident the moral quality of thisprofession.

BIBLIOGRAPHY1. Patsantaras, N. (1994). Trainer als “Sportberuf”. Schorndorf:

Hofmann.2. Holz, P. (1985). Trainer was ist das? Leistungssport, 2 (15):

5-14.3. Meinberg, E. (2001). Trainieren als Unterrichten. In:

Jahrespublikation der Zeitschrift Ethik und Unterricht, 47-54.4. Prange, K. (1986). Bauformen des Unterrichts. Bad

Heilbrunn: Klinkhardt.5. Lenk, H. (1979). Mündiger Athlet und demokratisches

Training. In: H. Gabler, H. Eberspächer, E. Hahn, G.Schilling (eds.) Praxis der Psychologie im Leistungssport.Berlin, München, Frankfurt a.M..

6. Meinberg, E. (2001). Trainerethos und Trainerethik. Köln:Strauss.

7. Gardner, H. (1986). Frames of Mind. The Theory of MultipleIntelligences. New York: Basic Books. In German (1991).Stuttgart: Clett-Kotta.

8. Clark, C.M. (1995). Thoughtful teaching. New York:Teachers College Press.

9. Meinberg, E.. (2001). Trainieren als Unterrichten. In:Jahrespublikation der Zeitschrift Ethik und Unterricht, 47-54.

10. Patsantaras, N. (1998). Trainer/Training/Trainerethos. In:O. Grupe, D. Mieth (eds.) Lexikon der Ethik im Sport.Schorndorf: Hofmann, 566-569.

11. Lüsebrink, I. (2001) Trainer/innen und Lehrer/innen.Vergleichende Überlegungen zurProfessionalisierungsbedürftigkeit. Sportwissenschaft 2 (31)148-161.

12. Taylor, C. (1996). Sources of the Self. German Translation.Frankfurt a.M.: Suhrkamp.

13. Meinberg, E. (1998). Kinderhochleistungssport wohin?Ein Orientierungsversuch. In: R. Daugs, E. Emrich, C. Igel(eds). Kinder und Jugendliche im Leistungssport: Beiträge desInternationalen Interdisziplinären Symposiums “KinderLeistungen” vom 7. bis 10. November 1996 in Saarbrücken.Schorndorf: Hofmann, 87-100.

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Ontem, hoje, amanhã: a presença explícita do tempo.Palavras que fazem lembrar o poema de abertura deOs Quatro Quartetos de T. S. Elliot:

O tempo passado e o tempo presenteFazem todos parte do tempo futuro.

Elliot apontava aqui, indubitavelmente, para a unida-de do tempo. O tempo presente foi futuro, antes deser o tempo que foi, para o tempo passado. O tempopresente tornou-se passado quando o tempo futurose tornou presente.Quando um tempo se instala desinstala outrotempo. Quando um tempo se instala, instala a reali-dade que lhe pertence. Ele não é, em rigor, essa rea-lidade, mas é como se a fosse. Com efeito, a desins-talação dessa realidade é a desinstalação dessetempo e a desinstalação desse tempo é a desinstala-ção dessa realidade. Todavia, essa realidade é o queesse tempo traz consigo, não o que esse tempo é.O tempo, que mistério! Santo Agostinho disse dele,positivamente, esta coisa tão pouca e tão profunda,no Livro XI das Confissões: “O tempo é uma certa dis-tensão”. É, pois, um certo movimento. Movimentoelástico. Movimento de qualquer coisa. De algo. Quealgo? O filósofo de Hipona não o disse. Nós pode-mos arriscar: movimento do Ser. Talvez, dizendomelhor: movimento de ser. Talvez ainda melhor:movimento do Ser a ser. Os alemães dizem: seiende.Os franceses dizem: étant. Os ingleses dizem: being.Nós também dizemos sendo. Mas dizemos, alémdisso, por sobre isso, a ser. Damos o ser na sua pul-sação. No seu palpitar. No seu movimento vivo, real,de ser. Sendo não diz o mesmo que a ser. Sendo é afixação, a paralisação, do movimento vivo de ser. A

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Ontem, hoje, amanhã: a unidade criadora do temponos ofícios da profissão

Manuel Ferreira Patrício

Universidade de ÉvoraPortugal

ser é um movimento vivo na sua pulsação real. A serdá o movimento do tempo presente para o tempopassado e do tempo futuro para o tempo presente.O tempo presente vai, o tempo futuro chega. E logovai. E logo outro chega. “O tempo é uma certa dis-tensão”.Platão disse de outro modo, e talvez outra coisa: “Otempo é a imagem móvel da eternidade”. O filósofode Atenas é um dualista integral. Há a Eternidade ehá o Tempo. Há o Mundo Inteligível — Mundo daEternidade — e há o Mundo sensível — Mundo doTempo. Há o Conhecimento da Eternidade — o doConceito — e há o Conhecimento do Tempo — o daSensação. “O Tempo é a imagem móvel daEternidade”. O Tempo, no fim de contas, é ainda ummodo da Eternidade: um modo de a Eternidade semostrar, como imagem de si. Ao Conhecimento porsensação, que é o próprio do Tempo. O Tempo sente-se. Sente-se como uma certa distensão. Por issoSanto Agostinho também disse do Tempo: se meperguntarem o que é, não sei; se não me pergunta-rem, sei. O que se sente não é respondível; só é res-pondível o que se pensa. O Tempo sente-se.Todavia, não desistimos de o pensar. Aristóteles pen-sou-o assim: o Tempo é a medida do Movimento.Que o Tempo é indissociável do Movimento, eis oque parece óbvio. É ele o próprio Movimento? Ou é,como disse Aristóteles, a medida do Movimento? Enós perguntaremos: a medida do movimento ouaquilo que a medida do movimento mede? O Tempoé a sua própria medida, ou diferente da sua medida?Há entre o Tempo e o Espaço uma relação íntima. Orelógio é uma extraordinária invenção humana queassenta nessa relação. Com efeito, o que o relógiofaz é medir o Tempo por meio do Espaço. O que os

[Comunicação ao Simpósio “Os ofícios da Profissão”,organizado pela Associação dos Antigos Alunos daFCDEF-UP, 18 a 20 de Abril de 2001.]

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O tempo nos ofícios da profissão

ponteiros fazem é deslocar-se no espaço. A medidadessa deslocação é a medida do tempo. O Tempo édado nessa, e por essa, medida.A filosofia moderna — e também a ciência moderna— associou sempre o tempo e o espaço. Veja-seNewton. Veja-se Leibniz. Leibniz definiu luminosa-mente o Espaço e o Tempo. Eis como definiu oEspaço: “O Espaço é a ordem das coexistências”. Eis como definiu o Tempo: “O Tempo é a ordem dasucessões”. São belas definições, geniais definições.Todavia, ficam fora do que se define. Porque toda acoexistência é um instante do tempo, um ponto daEternidade. E toda a sucessão é um movimento doEspaço ou do seja o que for que se move.Se o que se move não for Espaço, então será Não--Espaço, In-Espaço. O Espírito, por exemplo, é In--Espaço. A mínima pulsação do Espírito também émovimento. A passagem de uma pulsação doEspírito a outra é sucessão. Há ali tempo. Temposem Espaço. Foi Kant quem viu claramente, naCrítica da Razão Pura, que o Tempo é mais fundo,mais originário, ontologicamente primeiro, que oEspaço. A simples experiência de sentir, a simplesexperiência de pensar, dá o Tempo. A experiência deser a ser é a mais espantosamente originária e evi-dente experiência do Tempo. É a vivência íntima doTempo. É a vivência do seu próprio ser a ser.Quando me sinto a ser não conheço o Tempo, não osei definir: vivo-o. Eis o mistério do Tempo. Eis tam-bém a suprema e imediata e intuitiva transparênciado Tempo.Há uma obra de Fernando Namora com este título:Estamos no Vento. Nós diríamos, preferencialmente:Estamos no Tempo. Diríamos, melhor ainda: Somos noTempo. Ou, finalmente: Somos Tempo. Ontem, Hoje,Amanhã. Somos, fomos, seremos. Somos o quefomos e somos o que seremos, como seremos o quefomos e o que somos. É a unidade do Tempo.Unidade criadora? O Tempo leva, o Tempo traz. Criasempre. Cria quando leva e cria quando traz, criaquando destrói e cria quando constrói. É o presenteque cria o passado: dá vida ao passado quando cria opassado. É o futuro que cria o presente: dá morte aofuturo no acto de dar vida ao presente. A Morte é aVida e a Vida é a Morte: eis a essência contraditória,absurda, do Tempo. Teve razão Carlos de Oliveiraquando escreveu: “Não há machado que corte /

A raiz ao pensamento. / Não há morte para o vento/ Não há morte”. Diremos: há só vida. Na unidadecriadora do Tempo. O ser do Tempo é criar. Mesmoquando cria a Morte. Só há a Morte que o Tempocria. A Morte é ainda uma criação do Tempo, umaobra do Tempo, uma obra viva do Tempo. Tudo évida. Não há Morte.Que é que, em nós, faz do passado algo vivo? É alembrança. É a memória. A lembrança, a memória: agrande potência criadora da alma portuguesa. A lem-brança de uma coisa com desejo dela é o que DuarteNunes de Leão chamou a saudade, que Pascoaes veioa escrever com letra maiúscula. De que fez umaDeusa: a grande Deusa lusíada. A Saudade une eaduna o passado, o presente e o futuro. Lembra-se acoisa hoje e tem-se desejo dela hoje, mas com o sertodo no futuro. Ontem, Hoje, Amanhã. A grandeDeusa lusíada é a Saudade do Futuro. Este é o segre-do do pensamento futurista de António Vieira,Sampaio Bruno, Teixeira de Pascoaes e FernandoPessoa. A Saudade é o Jano bifronte português: temo rosto que olha para trás, e lembra; tem o rosto queolha para diante, e deseja. Deseja e anseia. Deseja,anseia e quer. E ao querer real segue-se a presençado objecto real, do objecto desejado, ansiado, amado.Foi assim que os Portugueses fizeram asDescobertas. E assim faremos as Descobertas que ofuturo nos reserva, se as merecermos, se verdadeira-mente as quisermos. É o milagre da unidade criado-ra do Tempo.Mas nós dizemos ainda no título: a unidade criadorado Tempo nos ofícios da profissão.Como profissão, temos a de professor. Somos a deprofessor. Somos professores.Professor é um termo que tem a mesma origem queprofissão. Vêm ambos os termos de pro-fateri: falarem prol, em favor de. O professor professa. O profis-sional professa. Quem professa crê. Crê e expõe asua crença. Crê e expõe-se na sua crença. O agentede ensino cita e recita. O professor afirma a sua con-vicção. Assume-a. Expõe-se. Arrisca. Arrisca ser oque é, arrisca ser quem é. Temos uma profissão derisco. O que não arrisca está por engano nesta pro-fissão. Pela boca morre o peixe, diz o povo. Mastambém é pela boca que vive o peixe. Eis o retratoda nossa profissão.

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Coménio definiu assim aquela Casa que é o Temploonde celebramos a liturgia da nossa profissão, ouseja, a Escola: “A Escola é oficina de humanidade”.A Escola é, portanto, a Casa onde exercemos o nossoofício. Por isso é oficina.Nem sempre houve ofícios. Os ofícios, o haver ofí-cios — eis uma extraordinária conquista da humani-dade. Os ofícios são recortes do fazer no oceanoimenso e indiferenciado do fazer. Os ofícios repre-sentam a estruturação ontológica do fazer. Oficial é oque tem um ofício e o exerce. Situa-se dentro de umdomínio do fazer. Faz o que se faz ali. É ali que pro-fessa. É ali que se constitui e erige humanamentecomo um profissional.Mas há o Tempo. E há o Ofício e os ofícios. O Ofícioé da ordem da Eternidade. Os ofícios são da ordemdo Tempo. A fidelidade ao Ofício tem de compagi-nar-se com a fidelidade aos ofícios. Os ofícios nãosão apenas a actividade do profissional. Os ofíciossão, sobretudo, o dever do profissional: são as diver-sas profissões de fé no Ofício que o Tempo exige etraz. Há uma exigência inesgotável de ofícios noexercício da profissão.Aqui se inscreve a dinâmica geracional. Aqui se ins-crevem as tensões geracionais. Porque há os ofíciosque estão já a deslizar para o passado e os ofíciosque estão a chegar do futuro. E estão ambos aindano presente. E os profissionais dos primeiros reagemaos profissionais dos segundos e os profissionais dossegundos reagem aos profissionais dos primeiros.Eis no que dá a incompreensão da lógica profundada unidade criadora do Tempo. Eis no que resulta aincompreensão da verdade de que não há Morte etudo é Vida.Aliás, essa tensão existe e é activa dentro de cadaum de nós. Porque cada um de nós é o profissionalque já desliza irreversivelmente para o passado e étambém aquele a que o futuro chega continuamente.Cada um de nós é o Tempo velho que se desinstala eo tempo novo que se instala. Contradição viva.Instalação que é a própria Vida. É o mistério, e é omilagre, da unidade criadora do Tempo nos ofíciosda profissão.Fixemos bem: estamos vivos enquanto não estiver-mos mortos. E estamos vivos enquanto o Tempofluir em nós, enquanto formos uma realidade cons-ciente em que o Tempo flui. Por isso o povo diz:

velhos são os trapos. Precisamente: os trapos nãosão uma realidade consciente em que o Tempo flui.Todos nós, que aqui nos encontramos a pensar osofícios da nossa profissão, ontem - hoje - amanhã,são os três tempos do compasso da vida. Uma vidadedicada ao outro: ao que se entrega a nós, que emnós confia, para a edificação da sua própria vida.Somos a unidade criadora dos três tempos do com-passo. Se nos faltar um tempo, não há compasso.Qual de nós quer que a nossa vida de oficiais danobre profissão de professor seja um compassomutilado?!…Sejamos, pois, dialecticamente, a unidade criadorado tempo nos ofícios da nossa profissão: contradito-riamente conservadora, actualistas e futuristas.Realizemos o milagre desta contradição.

Manuel Ferreira Patrício

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Tipos de publicação

Investigação originalA RPCD publica artigos origi-nais relativos a todas as áreasdas ciências do desporto.

Revisões da investigaçãoA RPCD publica artigos desíntese da literatura quecontribuam para a generali-zação do conhecimento emciências do desporto.Artigos de meta-análise erevisões críticas de literaturasão dois possíveis modelosde publicação.

ComentáriosComentários sobre artigosoriginais e sobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como são fran-camente encorajados pelocorpo editorial.

Estudos de casoA RPCD publica estudos decaso que sejam consideradosrelevantes para as ciênciasdo desporto. O controlorigoroso da metodologia éaqui um parâmetro determi-nante.

Revisões de publicaçõesA RPCD tem uma secçãoonde são apresentadas revi-sões de obras ou artigospublicados e que sejam con-siderados relevantes para asciências do desporto.

Regras gerais de publicação

Os artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ou experi-mentais, na área das ciênciasdo desporto. A parte subs-tancial do artigo não deveráter sido publicada em maisnenhum local. Se parte doartigo foi já apresentadapublicamente deverá serfeita referência a esse factona secção deAgradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados pelos edito-res-chefe e terão como crité-rios iniciais de aceitação:normas de publicação, rela-ção do tópico tratado comas ciências do desporto emérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, sefor considerado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. A acei-tação de um e a rejeição deoutro obrigará a uma 3ªconsulta.

Preparação dos manuscritos

Aspectos geraisCada artigo deverá seracompanhado por umacarta de rosto que deveráconter:

– Título do artigo e nomesdos autores;

– Declaração de que o artigonunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverão

ser escritos em papel A4com 3 cm de margem, letra12 e com duplo espaço;

– As páginas deverão sernumeradas sequencialmen-te, sendo a página de títuloa nº1;

– É obrigatória a entrega de4 cópias;

– Uma das cópias deverá seroriginal onde deverá incluiras ilustrações também ori-ginais;

Dimensões e estilo– Os artigos deverão ser o

mais sucintos possível; Aespeculação deverá ser ape-nas utilizada quando osdados o permitem e a lite-ratura não confirma;

– Os artigos serão rejeitadosquando escritos em portu-guês ou inglês de fracaqualidade linguística;

– As abreviaturas deverãoser as referidas internacio-nalmente;

Página de títuloA página de título deveráconter a seguinte informa-ção:

– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);

– Título conciso mas sufi-cientemente informativo;

– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir graus acadé-micos)

– “Running head” concisanão excedendo os 45 carac-teres;

– Nome e local da institui-ção onde o trabalho foirealizado;

– Nome e morada do autorpara onde toda a corres-pondência deverá serenviada;

Página de resumo– Resumo deverá ser infor-

mativo e não deverá refe-rir-se ao texto do artigo;

– Se o artigo for em portu-guês o resumo deverá serfeito em português e eminglês;

– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;

– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;

– O resumo não deverá exce-der as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientemente

compreensível, explicitan-do claramente o objectivodo trabalho e relevando aimportância do estudo faceao estado actual do conhe-cimento;

– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá ser

incluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;

– Os métodos deverão serajustados ao objectivo doestudo; deverão ser replicá-veis e com elevado grau defidelidade;

– Quando utilizados huma-nos deverá ser indicadoque os procedimentos uti-lizados respeitam as nor-

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

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mas internacionais deexperimentação comhumanos (Declaração deHelsínquia de 1975);

– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a uma comis-são de ética;

– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípios acti-vos, dosagem e dosagem;

– A confidencialidade dossujeitos deverá ser estrita-mente mantida;

– Os métodos estatísticosutilizados deverão ser cui-dadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão ape-

nas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;

– Os resultados só deverãoaparecer uma vez notexto: ou em quadro ouem figura;

– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;

– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;

– Unidades, quantidades efórmulas deverão ser utili-zados pelo SistemaInternacional (SI units).

– Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os

aspectos mais importantesdo estudo deverão ser rele-vados de forma clara econcisa;

– Não deverão ser repetidosos resultados já apresen-tados;

– A relevância dos dadosdeverá ser referida e a com-paração com outros estu-dos deverá ser estimulada;

– As especulações nãosuportadas pelos métodosestatísticos não deverão serevitadas;

– Sempre que possível, deve-rão ser incluídas recomen-dações;

– A discussão deverá sercompletada com um pará-grafo final onde são realça-das as principais conclu-sões do estudo;

AgradecimentosSe o artigo tiver sido par-cialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão ser

citadas no texto por núme-ro e compiladas alfabetica-mente e ordenadas nume-ricamente;

– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normas interna-cionais (ex: IndexMedicus);

– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)

– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendo assina-lados como “dados nãopublicados”;

– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-revie-wed” será uma condição denão aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability and pre-cision of isokineticstrength and muscularendurance for the quadri-ceps and hamstrings. Int JSports Med 18: 113-117

LIVRO COMPLETO

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascular sys-tem. London: AcademicPress Inc. Ltd.

CAPÍTULO DE UM LIVRO

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURAS

Figuras e ilustrações deve-rão ser utilizadas quandoauxiliam na melhor com-preensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;Cada figura deverá serimpressa numa folha sepa-rada com uma legendacurta e concisa;Cada folha deverá ter naparte posterior a identifica-ção do autor, título do arti-go. Estas informaçõesdeverão ser escritas a lápise de forma suave;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão ser evi-tadas;

Endereço para envio de artigos

Revista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Ciências doDesporto e de EducaçãoFísica da Universidadedo PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal

QUADROS

Os quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com as mes-mas regras das referidaspara as legendas e figuras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar as abreviatu-ras utilizadas no quadro.

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revista portuguesa deciências do desporto Volume 2 · Nº 4

Janeiro·Junho 2002

revista portuguesa de ciências do desportoVol. 2, N

º 4Janeiro

·Junho 2002

Publicação semestralVol. 2, Nº 4, Janeiro ·Junho 2002ISSN 1645–0523, Dep. Legal 161033/01

A RPCD é subsidiada pelo

INVESTIGAÇÃO

Inteligência e conhecimento específico em jovensfutebolistas de diferentes níveis competitivosJ.C. Costa, J. Garganta, A. Fonseca, M. BotelhoUse of the polar coordinates technique to study interactionsamong professional soccer playersCarlos Lago Peñas, M. Teresa Anguera ArgilagaA importância do estudo do tracking (estabilidade e previsão)em delineamentos longitudinais: um estudo aplicado àepidemiologia da actividade física e à performance desportivo-

-motoraJosé A. R. Maia, Vítor P. Lopes, Rui G. da Silva,André SeabraRazões para a prática de ginásticas de academiacomo actividade de lazerAna L. PereiraO exercício físico e o desenvolvimento da criança naliteratura médica e pedagógica de SetecentosJ. V. Ferreira, A. G. FerreiraA inserção da alta competição nos programas dos governosconstitucionais em Portugal e o seu enquadramentonormativoMaria José Carvalho

REVISÃO

O desafio da altitude. Uma perspectiva fisiológicaJ. Magalhães, J. Duarte, A. Ascensão,J. Oliveira, J. SoaresStudies in Somatic Growth, Biological Maturation, PhysicalFitness and Activity in Portuguese Speaking Countries:an OverviewDL Freitas, JA Maia, GP Beunen, AT Marques, JA Lefevre,AL Claessens, MA Thomis, RM Philippaerts

ENSAIO

Training: a special form of teachingEckhard MeinbergOntem, hoje, amanhã: A unidade criadora do temponos ofícios da profissãoManuel Ferreira Patrício