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Uma publicação da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica ANO II Nº 5 - janeiro/maio 2011 Nacional por fora, estrangeiro por dentro O esvaziamento tecnológico se alastra pela cadeia produtiva brasileira Novo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, revela como pretende incentivar a inovação

Revista Pró Inovação - Edição 05

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Uma publicaçãoda Sociedade BrasileiraPró-Inovação Tecnológica

ANO II Nº 5 - janeiro/maio 2011

Nacional por fora, estrangeiro por dentro

O esvaziamento tecnológico se alastra pela cadeia produtiva brasileira

Novo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, revela como pretende incentivar a inovação

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lSumário

editorial

Notas............................................................................................................................................ 2Fomento – Edital Senai Sesi Inovação ganha mais recursos e foca no mercado............................... 3Capa – O esvaziamento tecnológico da indústria brasileira...................................................................4Legislação – Compras públicas a serviço do desenvolvimento nacional.........................................8Entrevista – Ministério do Desenvolvimento reafirma compromisso com a inovação..................10Espaço Rets................................................................................................................................ 12

Possibilidade de recomeço

A presidente Dilma Roussef herdou um País

estabilizado, em crescimento econômico e com

melhorias sociais pelo aumento do poder aquisitivo

da população. Um quadro propício a gerar uma

gestão míope. Para nossa boa surpresa, porém, este

início de governo vem sendo marcado por uma

postura enérgica contra problemas inegáveis da

indústria – que, anteriormente, tinham seu lugar

cativo embaixo do tapete. Barreiras comerciais

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contra produtos importados foram anunciadas e tomam formas bastante

inteligentes, como a exigência de selo de qualidade, certificados de segurança e

especificações técnicas. A inovação, que nos interessa mais diretamente, está no rol dos principais itens

apontados pelo governo no resgate à competitividade. Mas, até agora, ações concretas

não foram sinalizadas. A reportagem de capa desta edição mostra vários dos problemas

que precisarão ser combatidos, relacionados à “desindustrialização à brasileira”. A

matéria detalha como acontece o fenômeno, caracterizado pelo esvaziamento

tecnológico das cadeias produtivas.O ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, adianta em entrevista à

Pró-Inovação, na página 10, como sua pasta tratará do tema. O que se pode perceber é

uma pré-disposição em continuar os planos do governo anterior: focar a Secretaria de

Inovação em áreas consideradas estratégicas, manter a gestão da subvenção

econômica exclusivamente no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia e elevar

a inovação nas empresas com ajuda da segunda versão da Política de

Desenvolvimento Produtivo (PDP). Sabemos que a política de inovação pode ser ainda melhor que a proposta pelo

governo até então. A Protec, assim como outras entidades, já solicitou audiências

para expor as necessidades da indústria e as possíveis soluções há tempos estudadas. Se estiverem abertos para o diálogo, os gestores de nosso País poderão começar

dos avanços já conquistados. É o caso da recente Lei 12.349, que permite privilegiar

empresas com tecnologia nacional nas licitações públicas. Ótimo incentivo à

inovação, ainda não é aplicado por falta de vontade política, segundo avaliação do

advogado Denis Borges Barbosa, expressa na reportagem da página 8. O momento

atual favorece um grande processo de transformação, que, se for efetivado, dará

margem para que qualquer um diga: “Nunca na história deste País se inovou tanto”.

João Carlos Basilio Presidente da Protec

Uma publicaçãoda Sociedade BrasileiraPró-Inovação Tecnológica

Sociedade BrasileiraPró-InovaçãoTecnológica

Presidente:

João Carlos BasilioVice-presidentes:

Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira,Jorge Lins Freire, Paulo Skaf,Robson Braga de Andrade e

Rodrigo Rocha LouresConselheiros:

Armando Monteiro Neto,Carlos Alexandre Geyer,

Franco Pallamolla,Celso Antônio Barbosa,

João Carlos Basílio,José Manuel de Aguiar Martins,

Luiz Aubert Neto,Luiz Guedes, Luiz Amaral,

Merheg Cachum, Paulo Godoy ePaulo Okamotto

Diretoria:Roberto Nicolsky, Marcos Oliveira,

Fabián Yaksic e Joel Weisz

Pró-Inovação é a revista bimestral daSociedade Brasileira

Pró-Inovação Tecnológica

ExpedienteCoordenação editorial:

Natália CalandriniTextos:

Natália CalandriniIgor Waltz

Colaboração:Luciana Ferreira

Projeto e produção editorial:Ricardo Meirelles

Diagramação:Jessica S. Gama

Estagiárias:Fernanda MagnaniMayara Almeida

Comercial e Marketing:Alexandre Nicolsky

Circulação: 3 mil exemplares

Protec - Sociedade BrasileiraPró-Inovação Tecnológica

Av. Churchill, 129 - Grupo 1101 - CentroRio de Janeiro - RJ

CEP 20020-050Tel.: (21) 3077-0800Fax.: (21) 3077- 0812

[email protected]

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no

tasnotas

Uma série de melhorias que o setor produtivo reivindica já de longa data para os editais de inovação ganha corpo com o novo Sebraetec. Reformulado no fim de 2010, o programa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) traz como novidades a abertura de chamadas ao longo do ano – semelhante ao esquema de balcão – e a liberação dos recursos diretamente para as empresas. O Sebraetec atende exclusivamente a pequenas empresas que faturaram no ano fiscal de 2010 até R$ 2,4 milhões.

O novo formato do programa se diferencia do anterior por criar linhas de subsídio à inovação tecnológica, aumentar os valores a serem disponibilizados e dividir os serviços tecnológicos do Sebrae nas categorias básico e avançado, o que permite uma melhor distribuição de recursos.

O Sebraetec terá o valor total de R$ 787 milhões entre 2011 e 2013. Suas linhas serão gerenciadas pelas unidades regionais do Sebrae, que já começaram a operar os serviços tecnológicos em cada estado. No apoio à inovação, as primeiras seleções estaduais de projetos estão previstas para acontecer ainda este ano. Uma quarta linha de atuação – a de indicação geográfica –, no entanto, só deve ser operacionalizada a partir de 2012.

Informações: Central de Relacionamento do Sebrae – 0800 570 0800

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Mais recurso para a microempresa

Previsões do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) indicam que a arrecadação de impostos em 2011 deve crescer 11% nominais (sem descontar a inflação), apesar de a economia ter projeção de avançar apenas 4,5%. Caso confirmada a projeção, o peso da carga tributária chegará a 38,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos últimos dez anos, esse percentual passou de 30,03% para 35,04% - um aumento que levou o governo a abocanhar R$ 1,85 trilhão, ou seja, praticamente o PIB do México. Estudo do Banco Mundial mostra que uma empresa precisa trabalhar 13 vezes mais no Brasil para pagar tributos do que se estivesse instalada em um país desenvolvido. De acordo com o banco, em média 69,2% do faturamento das empresas servem apenas pagar impostos. Os números não seriam tão assustadores se trouxessem como contrapartida o desenvolvimento econômico do País. Porém, a precariedade do incentivo à competitividade e à inovação tecnológica permanece.

Escalada tributária

O Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec) chega à sua 10ª edição este ano. Tradicional evento da Protec, com apoio das Entidades Tecnológicas Setoriais (ETS), o Enitec desta vez dará destaque para a desindustrialização brasileira, que demanda soluções urgentes do novo governo. Porém, as análises da subvenção econômica, do financiamento e do apoio tecnológico continuam a fazer parte da programação. O evento será em São Paulo, nos dias 25 e 26 de maio. Acompanhe as novidades sobre o X Enitec em www.protec.org.br.

Dez anos de Enitec

O 5º Encontro Nacional de Inovação em Fármacos e Medicamentos (ENIFarMed) já tem data marcada: 29 a 31 de agosto de 2011. O evento será no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. Os painéis terão maior tempo para os debates, permitindo que os participantes avaliem a política industrial brasileira. No site do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Medicamentos (IPD-Farma), entidade promotora do evento, está disponível uma enquete para eleição dos temas a serem contemplados no encontro. Participe da pesquisa em www. ipd-farma.org.br.

Dada a largada para o 5º ENIFarMed

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O apoio técnico regional

ajuda na melhoria de produtos

e processos ou na criação de novas

metodologias

Alysson Amorim

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fomento

www.protec.org.br 3

Edital Senai Sesi terá mais recursos para inovação com foco no mercado

oa notícia para as empresas que B aguardam a abertura de chamadas públicas de apoio à inovação. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) lançaram no dia 15 de março o Edital Senai Sesi de Inovação 2011. Melhor ainda: o orçamento deste ano aumentou consideravelmente, pulando de R$ 15 milhões em 2010 para R$ 26 milhões. A expectativa é que seja movimentado o total de R$ 50 milhões, juntando recursos das duas instituições, bolsas do Conselho Nacional de D e s e n v o l v i m e n t o C i e n t í f i c o e Tecnológico (CNPq) e contrapartidas das empresas e das unidades estaduais.

“O aumento dos recursos em 2011 reflete os resultados já obtidos pelo edital. O Senai e o Sesi percebem os impactos econômicos dos projetos, mesmo com o orçamento limitado, se comparado com o de outros programas”, conta Alysson Andrade Amorim, analista de desenvolvi-mento industrial do Senai Nacional. O órgão dobrou sua participação, chegando a R$ 16 milhões. O objetivo de disponibilizar mais recursos consiste tanto em ampliar o número de empresas atendidas – que deve chegar a 90 – quanto o aporte por projeto.

Por isso, o teto das propostas passou de R$ 200 mil para R$ 300 mil, sem valor mínimo, o que favorece as micro e pequenas empresas. No caso de projetos apresentados por Senai juntamente com Sesi, o limite máximo é de R$ 400 mil. A contrapartida mínima das empresas e de cada unidade regional equivale a 5% do valor total do projeto e quanto maior forem as contrapartidas, maior serão os pontos na avaliação.

A parceria entre unidade regional – que presta consultoria e apoio tecnológi-co durante todo o projeto – e empresa é o fator de sucesso do Edital Senai Sesi de Inovação. Os projetos também contam com a experiência acadêmica dos bolsistas do CNPq. “O apoio técnico

regional ajuda na melhoria de produtos e processos ou na criação de novas metodologias”, conta Amorim.

Aperfeiçoamento constanteAs empresas terão até maio para

negociarem projetos de inovação tecnológica com as unidades estaduais das duas instituições, responsáveis por apresentar, em parceria, a proposta para a comissão avaliadora nacional.

A cada edição, o Senai cria normas ou procedimentos para o edital, com o

objetivo de garantir a entrada da inovação no mercado. Agora, o sistema interno para inscrição de projetos está adaptado de forma a ajudar os técnicos a avaliar a real viabilidade econômica das propostas.

Para que as equipes estejam bem preparadas para divulgar o edital e receber as empresas, foi oferecido um workshop nos dias 23 e 24 fevereiro, em Brasília, para os representantes estaduais. Eles coordenam a cha-

mada regionalmente, sendo, inclusive, os profissionais de atendimento às empre-sas. A lista com os contatos dos represen-tantes está disponível no edital.

Segundo estudo feito em 2010 pela Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) em 15 estados brasileiros, 33% das companhias que criaram projeto para o edital Senai Sesi com base em demanda de mercado conseguiram obter sucesso comercial com produtos ou processos. O índice cresce para 57% quando as empresas apresentam plano de negócios.

Como o desenvolvimento dos projetos é acompanhado pelos técnicos, o Senai e o Sesi constantemente têm insumos para melhorar a chamada a cada ano. Além disso, a comissão avaliadora fornece feedback sobre seu parecer, informando os motivos da não aprovação, quando é o caso. “Acontece de projetos não serem aprovados em um ano, mas no seguinte eles são aperfeiçoados e passam”, afirma Amorim.

O Portal Protec publica, até maio, uma série de reportagens sobre os requisitos, os serviços e os casos de sucesso do Edital Senai Sesi Inovação. Acompanhe em .www.protec.org.br

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A indústria farmacêutica brasileira facilmente poderia ser eleita símbolo do crescimento econômico do País – seu faturamento aumentou 73,5% em cinco anos, acompanhados de intensos processos de fusões e aquisições. Ao mesmo tempo, é o setor que melhor exemplifica a tão debatida desindustriali-zação. Os altos lucros obtidos na ponta final dessa cadeia produtiva dissimulam o que se passa no meio dela: os fabricantes de princípios ativos nacionais, que fornecem insumos para as farmacêuticas, estão praticamente extintos, com o mercado sendo abastecido por produtos importados. E são justamente os princí-pios ativos que acumulam quase toda a tecnologia dos medicamentos. É o que se pode chamar de “desindustrialização à brasileira”, caracterizada pelo esvazia-mento tecnológico das cadeias produti-vas, um conceito que surge a partir do recente e peculiar perfil de desenvolvi-mento econômico adotado pelo Brasil.

O fenômeno se expressa desde a

transferência de fábricas do Brasil para outros países até a permanência da produção no País, porém apenas nas fases finais. A consequência é que a indústria nacional deixa de atuar justamente nas etapas produtivas que mais concentram capacitação tecnológica. Os elos posicio-nados no meio da cadeira encolhem ou são perdidos e quem está na ponta se dedica a procedimentos mínimos. Isso é o que o diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec), Roberto Nicolsky, chama de “esvaziamento tecnológico”.

Segundo Nicolsky, o processo dá base para a “desindustrialização à brasileira”, termo cunhado por ele em contraposição à “doença holandesa” – expressão usada pelos economistas para quando a alta exportação de commodi-ties valoriza o câmbio, desestimulando a atividade industrial.

Como os bons números da produção e do faturamento do setor no Brasil mostram, o caso do País se difere da

Holanda (desindustrializada em consequência da alta exportação de petróleo). A doença brasileira está na perda de conteúdo tecnológico, efeito colateral da enxurrada de dólares vinda de capital especulativo e da venda de commodities agrícolas, atualmente supervalorizadas no mercado inter-nacional. Pesam, ainda, todos os entraves à competitividade que compõem o custo Brasil, como alta carga tributária, péssima infraestrutura e elevados custos de produção.

A medida da dependênciaA Protec também criou o conceito de

déficit tecnológico para verificar a competitividade dos segmentos indus-triais brasileiros de maior intensidade tecnológica no comércio exterior. Este indicador - que reflete o grau da depen-dência brasileira por tecnologia - inclui o saldo comercial dos grupos de alta e de média-alta tecnologia e das contas de serviços tecnológicos, como computação,

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Brasil prospera, mas com

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Estamos reduzindo o

conteúdo local dos aparelhos

eletroeletrônicos e desnacionalizando o mercado com os

produtos estrangeiros já acabados

Luiz Cezar Elias Rochel

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Capa

royalties e aluguel de equipamentos. Ano após ano, o déficit tecnológico

da indústria brasileira só faz crescer. A Protec acompanha os números mensal-mente e, de acordo com o balanço de 2010, o indicador ficou em US$ 84,9 bilhões, superando em mais de US$ 20 bilhões, ou 33,2%, o resultado de 2008 - o pior registrado até então. O agrava-mento do déficit tecnológico acompanha a trajetória de valorização do real, a partir de 2006.

Levantamento realizado pelo Insti-tuto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) chegou a conclusões semelhantes às da Protec. O economista-chefe da instituição, Rogério César de Souza, avalia que os setores de alta e de

média-alta intensidade tecnológica têm histórico de saldos negativos, que aumentaram consideravelmente entre 2008 e 2010. Ele observa, por exemplo, que o País cada vez mais importa nova tecnologia de TVs LED, sem adquirir capacitação tecnológica. Os setores de média-baixa tecnologia registraram déficit pela primeira vez em 2010, especialmente em segmentos como têxteis, couro e calçados. Isso fora o déficit geral da indústria manufatureira.

Ainda mais graves são os casos de empresas que transferiram suas fábricas para outros países ou deixaram de abri-las

no País. A Vulcabras A z a l e i a d e c i d i u montar uma indústria de calçados no Oriente, de onde pretende exportar produtos para a América Latina – inclusive o Brasil. No começo do ano, a Philips fechou a fábrica de lâmpadas automo-tivas existente há 43 anos em Recife. Agora, i m p o r t a d e s u a s unidades na Ásia e Europa. Em nota, a empresa justificou a decisão pelo alto custo interno de produção.

Alta tecnologia em baixaNo setor de eletroeletrônicos, o

déficit comercial persiste ano a ano. Em

2010, ele foi 56% superior ao de 2009,

ficando acima de todas as previsões com

o valor recorde de US$ 27,3 bilhões. O

levantamento da Associação Brasileira

da Indústria Elétrica e Eletrônica

(Abinee) também revela o aumento

significativo da importação de compo-

nentes de alto conteúdo tecnológico, caso

dos elétricos, eletrônicos, para telecomu-

nicações e para informática, além de

semicondutores. Esses itens constituem

um elo importante da cadeia produtiva,

por serem fornecidos para diferentes

indústrias. Além disso, vale destacar a

compra externa de produtos totalmente

acabados, como lâmpadas e aparelhos de

ar condicionados de janela.O gerente de economia da Abinee,

Luiz Cezar Elias Rochel, avalia que o

setor se desindustrializa. “Estamos

reduzindo o conteúdo local dos apare-

lhos eletroeletrônicos e desnacionali-

zando o mercado com produtos

importados que já vêm acabados.

Considerando somente os bens finais,

ano a ano cresce a participação dos

importados no consumo aparente, que

foi de 15,9% em 2005 e passou para

21,5% em 2010”, calcula.Principal polo de eletroeletrônicos do

País, a Zona Franca de Manaus tem

Indústria brasileira

Fonte: SECEX, BCB e OCDE

O gráfico mostra que o déficit tecnológico do País cresce nos momentos de valorização do real

(R$)(US$)

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Empresas fecharam unidades de princípios ativos

farmoquímicos, que concentram a tecnologia do medicamento

Nelson Brasil de Oliveira

“ “Não temos

mecanismos que induzam

as múltis a trazerem pesquisa e

desenvolvimento para o País

Franco Pallamolla

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Capa

também aumentado as importações. De acordo com o Sindicato de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Amazonas (Sinaees), cerca de dez empresas deixaram o polo nos últimos três anos, mas continuam abastecendo o mercado com produtos importados de outras filiais, principalmente da Ásia. Até fabricantes de bens de consumo diminuem a produção e passam a importar toda a linha, ou parte dela, como acontece com os aparelhos de DVD e de áudio. Foi a fórmula encontrada para não perderem mercado.

Por outro lado, Fabián Yaksic, gerente do Departamento de Tecnologia e Política Industrial da Abinee, percebe manifestação heterogênea na desindustrialização do setor. Enquanto há empresas voltando suas atividades para outros nichos de mercado, algumas de capital nacional mantém a P&D no Brasil, porém transferem as fábricas para o exterior. Para Yaksic, o efeito mais grave acontece em uma terceira situação, quando empresas desativam seus centros de P&D no País, que, assim, perde conhecimento.

Desnacionalização agrava déficitA desindustrialização toma con-

tornos mais específicos no setor de artigos e equipamentos para saúde. Apesar do avanço progressivo do déficit comercial, que aumentou 255% entre 2003 (US$ 629 milhões) e 2009 (US$ 2,23 bilhões), o que assombra o setor há quatro anos é a compra de empresas nacionais com desenvolvimento tecnológico médio por companhias estrangeiras.

De acordo com o perfil operacional das empresas verificado em 2009 pela Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), 71% do volume de produção, em média, ainda são feitos em fábricas nacionais, enquanto 12% são artigos importados das matrizes e o restante (17%) vem de montagem ou terceirização. O perigo está na tendência de aumento das fusões e aquisições dentro de um modelo que desprivilegia a inovação local.

“ A d e s i n d u s t r i a l i z a ç ã o t e m ocorrido de forma indireta, pois não temos mecanismos que induzam as múltis a trazerem pesquisa e desenvol-vimento para o País. Após a compra de empresas nacionais, algumas passam apenas a importar. Por outro lado, muitas continuam fabricando, porém sem incorporar outras linhas de produtos, com novos agregados tecnológicos. Se a aquisição ocorrer somente para se ganhar mercado, além de o setor se desnacionalizar, ele entrará no processo de desindustriali-zação”, analisa Franco Pallamolla, presidente da Abimo.

A t e n d ê n c i a v e r i f i c a d a p o r Pallamolla pode derrubar um setor no Brasil ainda pequeno, porém pujante, tanto econômica quanto tecnologica-mente. A maioria de suas empresas foi constituída por imigrantes e cresceu com base em inovações incrementais para atender a necessidades familiares. O setor evoluiu consideravelmente nos últimos 11 anos, ampliando seu faturamento 307%, ficando em R$ 7,7 bilhões em 2009. O mercado estima ainda um crescimento médio, nos próximos três anos, de 23%. De acordo com o estudo da Abimo, 53% das

empresas investem em P&D, a uma média de 7,5% do faturamento.

“O produto nacional é competitivo do ponto de vista tecnológico. Não é a vanguarda da tecnologia, mas atende a 90% da demanda de um hospital. Porém, com o câmbio baixo e sem alíquotas de importação, está difícil de competir. Hoje é mais barato um hospital importar do que comprar no mercado interno. Vamos pedir medidas protecionistas momentâ-neas ao governo”, adianta Pallamolla.

Produção com máquina estrangeiraO setor de máquinas e equipamentos

– considerado de média-alta tecnologia – está entre os que mais sofrem com a desindustrialização. Em 2010, a impor-tação respondeu por 35,4% do consumo aparente do País, de acordo com estudo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

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Foto: Divulgação/Abimo

Foto: Divulgação/Abifina

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Capa

Ainda segundo dados da entidade, o setor produtivo brasileiro importa 60% das máquinas que usa, em vez de comprar no País. Como efeito do câmbio aliado ao custo Brasil, as diferenças de valores entre os mercados nacional e internacional são consideráveis. Apenas para se ter uma ideia, o preço por quilo da válvula tipo gaveta no Brasil é de US$ 53,30, enquanto o importado da Alemanha custa US$ 35,08 e o da China, simbólicos US$ 4,95.

Na área da química fina, os fabricantes contam com o agravante de precisarem submeter seus produtos à demorada

aprovação de órgãos reguladores antes de serem comercializados. Segundo Nelson Brasil de Oliveira, vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina e suas Especialidades (Abifina), o processo leva de dois a três anos, enquanto os importados entram no País sem qualquer fiscalização sanitária, por exemplo. “A falta de isonomia reforça a desindustrialização na cadeia produtiva de fármacos e medicamentos, pois as empresas acabam se preocupando apenas com a aprovação dos produtos destinados ao consumidor. Elas abrem mão da dor de cabeça de aprovar os insumos farmoquí-

micos, optando por importá-los em vez de produzi-los”, diz.

Nesse processo, os elos da cadeia mais prejudicados são aqueles de maior tecnologia . “Temos not íc ias de empresas que fecharam unidades de princípios ativos, que são a alma do medicamento. Eles é que têm maior conteúdo tecnológico”, aponta o vice-presidente a Abifina. Segundo ele, nos anos 90, mais de mil unidades produ-tivas de farmoquímicos foram fechadas. Hoje, existem apenas dois fabricantes nacionais, além de cerca de 50 que produzem de forma descontinuada.

Rogério César de Souza, do Iedi, considera que o Brasil passa por uma “desindustrialização relativa”, cuja principal característica é a perda de participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB), hoje em 16%, contra os 27% dos anos 80. Para quem considera o movimento tendência natural do desenvolvimento econômico, ele avisa que nos países emergentes em que o PIB cresceu mais de 5%, a indústria aumen-tou sua participação, principalmente na Coreia e na China.

Souza rebate os principais argumentos que justificam o aumento das importações. “Ele poderia ser explicado pelo crescimen-

to da economia, mas não na magnitude em que aconteceu. O que está por trás são o câmbio e outras questões. A indústria não está com a capacidade estourada; sempre trabalhou com baixa ociosidade. Não existe o argumento de que não há condições de atender à demanda”.

Porém, na aval iação de Lia Hasenclever, professora do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), não há evidências suficientes que permitam concluir sobre a existência de um processo de desin-dustrialização. “A perda de participação no PIB pode ser uma mudança estrutural em função do aumento dos serviços, a

partir da enorme terceirização promovida na década de 90. Antes, nas estatísticas, essas empresas eram contabilizadas como parte da indústria. Sobre o argumento de o Brasil estar exportando mais para os países em desenvolvimento, isso não significa necessariamente perda de competitividade. Pode ter sido uma opção deliberada do governo Lula. São hipóteses que não permitem uma análise conclusi-va”, contextualiza Lia. Com olhar pragmático sobre o debate, Souza diz: “Com desindustrialização ou não, é consenso que o Brasil perde competitivi-dade. Basta ver a balança comercial. Então, vamos discutir isso”, defende.

Múltiplas faces da desindustrialização nacional

Debate

Cadeia produtiva farmacêutica Concentração de empresas no Brasil

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Intermediários de síntese química

Insumos Farmacêuticos Ativos (IFAs)

Medicamentos

O Brasil concentra suas ativida-des no fim da cadeia, ficando, assim, dependente do fornecimen-to externo. Porém, mesmo entre as farmacêuticas, a importação de produtos semi-acabados é alta. Já no segmento de IFAs, temos poucas unidades indutriais, apesar de elas produzirem o item que mais pesa no custo final dos medicamentos.

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Compras públicas: a batalha continua

Lei 12.349, que estabelece a preferên-A cia de produtos e serviços com tecnologia nacional nas licitações públicas, é um caso em que, depois da bonança, pode vir a tempestade. Ao ser sancionada em dezembro de 2010, foi amplamente comemorada por ser vista como meio de estimular a inovação, além de dar igualdade de condições à indústria instalada no País, em relação aos importados favorecidos pelo câmbio. Passada a euforia inicial, a batalha agora é para que a nova lei saia do papel. Para que isso aconteça, será preciso muita coragem e vontade política de nossos governantes.

Dirigentes setoriais consultados pela reportagem afirmam que o uso da Lei 12.349 ficará estagnado enquanto o governo não regulamentá-la. Entre as

questões em aberto, estão os índices de nacionalização que deverão ser adotados para cada produto ou setor. A lei estabelece, apenas, uma regra geral: a margem de preferência nacional nas licitações para preços até 25% superiores.

Porém, o advogado Denis Borges Barbosa (veja entrevista na pág. ao lado), professor da Academia de Propriedade Intelectual e Inovação do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), afirma que não é necessário esperar pela regulamentação. “É possível agir caso a caso, fixando o que se quer como objeto de desenvolvimento e inovação. O governo precisa tomar decisão, definindo áreas e margens para preferência nacional”.

Grande defensor do uso do poder de compra do Estado como incentivo ao

desenvolvimento tecnológico, Barbosa acredita que aplicar a Lei 12.349 depende, acima de tudo, de vontade política. Seu argumento pressupõe outro modelo de Estado, que seja de fato competente e comprometido com o avanço da sociedade e não de grupos políticos. O País estaria, neste momento, vivenciando a oportuni-dade de superar o fantasma da corrupção e da ineficiência – o grande temor provocado pela lei é o do favorecimento a empresas.

“É preciso muita coragem para aplicar essa lei. Precisamos superar o velho paradigma de que o Estado só existe para o rei. A ousadia por trás da lei é que o Estado é para nós e não para os políticos. Esta é nossa grande questão histórica”, defende o especialista em propriedade industrial e inovação, com mais de 40 anos de experiência.

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Proteção para a área da defesaUm setor altamente sensível à lei das

compras públicas é o da defesa, que basicamente atende a dois clientes: os Ministérios da Defesa e da Justiça. Seus fabricantes faturam mais de US$ 1 bilhão por ano, cifra nada desprezível. Porém, as aquisições do governo ainda são escassas, de acordo com o almirante Carlos Afonso Pierantoni, vice-presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde). O fato justifica o baixo investimento em inovação, apesar da oferta de produtos de alto valor agregado, como radares. “As empresas de menor porte são maioria no setor e, por dependerem do mercado interno, passam por uma agonia enorme”, desabafa.

Segundo Pierantoni, a indústria da defesa teria, hoje, condições de suprir 80% da demanda do País, mas ele estima que apenas 40% da produção sejam nacionais. As limitações orçamentárias são o maior inimigo do aumento das compras públicas. “Se o orçamento for pequeno, talvez o governo não gaste os 25% a mais em produtos e serviços nacionais inovados, já que a lei não é mandatória”, aponta.

Para Fabián Yaksic, gerente do Departamento de Tecnologia e Política Industrial da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), a

A atuação política d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a P r ó -Inovação Tecnológica (Protec) determinou as bases jurídicas para a formulação da Lei 12.349, de 2010. Seis anos antes, a

Protec no centro das contribuições

lei poderia ser mais agressiva. Para o Brasil concorrer com os produtos eletroeletrôni-cos do sudeste asiático, são necessários pelo menos 40% de vantagem, segundo ele. “Não há como competir com menos que isso”. Ele lembra antigos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que ofereci-am taxas de juros reduzidas para empresas que comprovassem a nacionalização da produção ou do projeto. “Deveríamos retomar algo semelhante”, defende.

Saúde em primeiro lugarA Lei 12.349 também poderá ter

impacto significativo para a indústria de equipamentos para a saúde, em que as compras públicas respondem por 50% do faturamento – levando-se em conta as aquisições de hospitais públicos e conveniados ao Sistema Único de Saúde (SUS). O dado é citado por Franco Pallamolla, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo). Ele ressalta que as empresas do Complexo Industrial da Saúde, por serem importantes em agregação de valor, não podem ser vistas pelo governo como despesa e sim como prioridade.

“Sem viés protecionista, mas desenvol-vimentista, a lei pode ser instrumento importante de política industrial. O País precisará formular uma regulamentação

que dê pesos diferentes às empresas, de acordo com o tamanho da P&D, que deverá ter comprovação efetiva. Dessa forma, a lei poderá se tornar um grande mecanismo de atração de tecnologia”, diz Pallamolla. Em sua opinião, porém, a lei, por si só, não dará conta de fomentar a inovação na indústria. A subvenção econômica ainda se faz necessária.

Sob o olhar de Denis BorgesBarbosa, advogado

O senhor considera o poder de compra do Estado a melhor forma de incentivar a inovação?Acredito mais nas compras públicas do que em patentes, subvenção e incentivos fiscais. Os custos de transação são menores. Além disso, um contrato de até 10 anos, em bilhões de reais, justifica qualquer investimento em inovação. Qual é o subsídio que oferece essa capacidade?

Como devem ser conduzidos os casos em que o setor não tiver condições de desenvolver integralmente a tecnologia para fornecimento imediato?O governo poderia permitir que a e m p r e s a i m p o r t a s s e n o s primeiros anos e fosse aumentan-do o índice de nacionalização até um limite em que não seja mais permitida a importação.

A preferência de empresas nac iona is nas compras públicas é um tabu?Para impedir corrupções, a regra constitucional da isonomia sempre foi interpretada de forma rigorosa e paranóica. Deixamos de fazer o bem com medo de que agentes do Estado e políticos venham a fazer o mal. Se partirmos do princípio de que não temos um governo, a lei não poderá existir.

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Protec começou a batalhar pela criação de um dispositivo na Lei de Inovação que garantisse a preferên-cia, nas compras públicas, de empresas desenvolvedoras de tecnologia nacional. Inicialmente

foi proposto um novo artigo, que, recusado, acabou por ser transfor-mado no inciso IV no artigo 27, com apoio do autor da Lei de Inovação, o deputado federal Ricardo Zarattini. O segundo embate foi para o recurso ser usado. O laboratório público Farmanguinhos foi uma das poucas instituições a colocá-lo em prática até hoje, para a compra de antirretrovirais. A expectativa da Protec é que a nova lei encoraje outros órgãos a aplicar o mecanis-mo para favorecer o desenvolvi-mento tecnológico nacional.

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10 Pr nº 5 - janeiro/maio 2011ó-Inovação em Revista - Ano II -

entrevista

Fernando Pimentel

A inovação proposta pelo Mdic governo Dilma Roussef entrou em cena com passo firme, sinalizando disposição em adotar medidas O

para fortalecer os produtos nacionais frente à invasão de importados. Mas, além das consideradas bem-vindas barreiras comerciais e desonerações à exportação, o setor produtivo aguarda ansiosamente por ações mais firmes de estímulo à competitividade. Nesta entrevista, o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic), Fernando Pimentel, adianta como conduzirá a pasta em temas críticos relacionados à inovação, como a subvenção econômica, o apoio às micro e pequenas empresas e a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) 2. Com orçamento de R$ 454,6 milhões, Pimentel adianta que, mesmo com possíveis cortes anunciados pelo governo, a ordem é investir e trabalhar em pesquisa, desenvolvimento e inovação.

A ordem da presidente Dilma Roussef é reduzir custos. Que áreas ou projetos do Mdic devem sofrer cortes? Fernando Pimentel: Espero não ter que cortar orçamen-to de nenhuma área ou projeto. No Mdic, a ordem é investir e trabalhar em ações voltadas para pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Nossos programas contemplarão todos os setores produtivos com potencial exportador ou de gerar efeitos de encadeamento sobre o conjunto da estrutura industrial.

Quais são os planos para a Secretaria de Inovação? F. P.: A estratégia da Secretaria de Inovação, criada em fevereiro de 2010, é fazer a diferença no aprimoramento de políticas públicas e impulsionar a inovação no sistema brasileiro por meio das seguintes áreas:

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Foto: Aluízio Alves/Mdic

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Os programas do Mdic contemplarão os setores produtivos

com potencial exportador ou de

gerar encadeamento da estrutura

industrial

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Caso haja reivindicação de

mudanças no edital de subvenção de 2011, ela deverá ser feita diretamente

ao MCT

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entrevista

www.protec.org.br 11

nanotecnologia, software e tecnologia da informação, biotecnologia e biocombus-tíveis. Agregar valor ao produto made in Brazil é fundamental para aumentarmos nossa competitividade.

O Mdic pretende promover melhorias no edital de subvenção econômica que possam torná-lo mais acessível a empresas produtivas?F. P.: Caso haja alguma reivindicação de mudanças no edital de 2011, ela deverá ser feita diretamente ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

O governo planeja investir diretamen-te nas empresas um volume maior de recursos subvencionados? F. P.: Estamos formulando a PDP 2 e, como já adiantei em meu discurso de posse, a inovação será um tema transver-sal, presente em todas as ações do ministério. Mas é bom lembrar que, nos últimos anos, as operações de crédito para projetos de inovação realizados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) cresceram bastante, passando de R$ 315,6 milhões,

em 2007, para R$ 1,6 bilhão, em 2010. Acredito que os desembolsos das

agências oficiais devem crescer ainda mais, em decorrência da prorrogação das medidas adotadas no âmbito do P r o g r a m a d e S u s t e n t a ç ã o d o Investimento (PSI), que melhoraram as condições de financiamento das empresas que investem em PD&I.

De que forma o ministério pretende incentivar o crescimento e a ino-vação nas micro, pequenas e

médias empresas?F. P.: Por meio do Fórum Permanente de Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, coordenado pela Secretaria de Comércio e Serviços do Mdic. Esse Fórum está estruturado em seis comitês temáticos: comércio exterior; compras governamentais e varejo; desburocrati-zação e desoneração; investimento e financiamento; rede de disseminação, informação e capacitação; e tecnologia e inovação. Os comitês são responsáveis por articular, elaborar propostas e formular políticas públicas. Quanto às metas, elas serão estabelecidas no âmbito da PDP 2.

Está nos planos de sua gestão desenvolver tecnologicamente fornecedores para aproveitarem as oportunidades criadas pelo pré-sal, as Olimpíadas e a Copa?F. P.: Claro que sim. Esse processo de desenvolvimento tecnológico já está em curso. Um exemplo disso é eu ter participado da audiência da presidenta Dilma Rousseff com o presidente do Grupo GE, Jeffrey Immelt, para falar sobre a implantação de um centro de pesquisas no Brasil. O centro é parte de um plano de investimentos do grupo no País que chegará a US$ 550 milhões nos próximos dois anos. Inclusive, a GE já investiu US$ 7 bilhões na aquisição de três empresas que fabricam equipamentos para o setor petrolífero, com especial atenção para a cadeia de exploração do pré-sal.

Alguns países separam a política científica da tecnológica. O senhor considera o modelo adequado para o Brasil? F. P.: Cada país deve adotar um modelo de acordo com suas características. Aqui no Brasil, por exemplo, Mdic e MCT traba-lham em conjunto a política científica e tecnológica. A PDP 2, cujo objetivo principal é elevar a capacidade de inovação das empresas brasileiras, seguirá trabalhando num esforço convergente com o Plano de Ação de Ciência e Tecnologia e Inovação (PACTI/MCT).

O senhor acredita que a inovação nas empresas depende do conhecimento gerado nas universidades?F. P.: Apesar da dinâmica das universi-

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dades ser distinta da das empresas privadas, não significa que não seja possível uma interação produtiva entre elas. Há vários mecanismos de relaciona-mento: um deles é a própria adequação de currículos, de cursos e de programas de forma a atender a algumas especifici-dades do mercado de trabalho. Outra forma de interação é a possibilidade de transferência de tecnologia produzida na universidade para as empresas privadas. No Mdic, o papel da Secretaria de Inovação (SI) é de articulador e de formulador de políticas que possibilitem o melhor uso de recursos públicos no atendimento às necessidades do setor produtivo no que se refere à formação de mão de obra qualificada para a inovação e de criação de mecanismos que facilitem a transferência de tecnologia da acade-mia às empresas.

Quais são as perspectivas de o go-verno reduzir a taxa de câmbio e a carga tributária para o setor produtivo?F. P.: O governo não pretende intervir no câmbio. Quanto à redução da carga tributária, temos um regime chamado drawback, criado para desonerar os insumos importados a serem utilizados em produtos destinados à exportação. Esse regime acaba de ser aprimorado por portaria da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), publicada no Diário Oficial de 15 de fevereiro de 2011, e passou a privilegiar igualmente a matéria-prima adquirida no Brasil. Agora, as indústrias poderão comprar insumos desonerados no mercado interno. A regulamentação do novo modelo prevê, inclusive, um efeito retroativo, que beneficiará operações já realizadas.

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12 Pr Ano II - nº 5 - janeiro/maio 2011ó-Inovação em Revista -

Regulamento para aprovaçãoO grupo de trabalho de Governança finalizou a proposta de regulamento para a

Rede de Entidades Tecnológicas Setoriais (Rets). Ela será referendada pelos associados em maio, no X Encontro Nacional da Inovação Tecnológica (Enitec). O documento define e formaliza o que é a Rets, seus objetivos, quem pode se associar, os direitos e deveres dos associados, diretrizes para o trabalho sistêmico e normas para o processo eleitoral do Conselho Gestor. Desde o IX Enitec, as entidades ligadas à Rets trabalham conjuntamen-te, divididas em grupos de trabalho, em ações que possibilitarão planejar as estratégias da rede. Em breve, será formado um comitê consultivo que orientará as atividades.

Tecnologia da saúdeA Associação Brasileira da Indústria de

Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) realizará seu primeiro Congresso de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (Cimes). O evento acontecerá em São Paulo, nos dias 29 e 30 de junho, com apoio da Protec, do Sebrae e da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). O objetivo do Cimes é reunir

Além das fronteirasCom o objetivo de posicionar a indústria de transforma-

ção plástica brasileira como uma das principais exporta- doras mundiais do setor, a Associação Brasileira da In- . dústria Química (Abiquim) mantém o programa Export Plastic. Ações para a internacionalização das empresas, como promoção comercial, inteligência comercial, capacitação e su- porte operacional, são oferecidas em parceria com a da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex- Brasil). Entre os dias 13 e 16 de abril, o Export Plastic levou associados a Santiago para rodadas de negócios com empre- sários chilenos, dentro do Projeto Vendedor no Chile, que teve uma edição anterior, em 2008.

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Inovação farmacêuticaO Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos

(IPD-Farma) iniciou 2011 debatendo os principais desafios encontrados pelo setor para o desenvolvimento de novos medicamentos. A entidade firmou parceria com a Protec, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Inovação Farmacêutica (INCT-IF) e a Axonal Consultoria Tecnológica para promover, entre janeiro e março, os Seminários de Inovação Farmacêutica. Executivos, pesquisadores, técnicos e estudantes de São Paulo, Recife e Goiânia foram contemplados na ação, que teve apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

representantes da indústria e do governo para debater aspectos políticos e técnicos referentes ao desenvolvimento tecnológico do setor, além de estimular a formação de redes de relacionamento.

Associados da Rets

Abendi – Associação Brasileira de Ensaios

Não Destrutivos e Inspeção

Abifina - Associação Brasileira das

Indústrias de Química Fina, Biotecnologia

e suas Especialidades

Abimo – Associação Brasileira das

Indústrias de Artigos e Equipamentos

Médicos e Odontológicos

Abiquim – Associação Brasileira da

Indústria Química

ABM – Associação Brasileira de

Metalurgia, Materiais e Mineração

Abraco – Associação Brasileira de

Corrosão

Abravest – Associação Brasileira do

Vestuário

Abripur – Associação Brasileira da

Indústria do Poliuretano

ABTCP – Associação Brasileira Técnica de

Celulose e Papel

CT-Dut - Centro de Tecnologia em Dutos

FBTS – Fundação Brasileira de

Tecnologia da Soldagem

IBTeC – Instituto Brasileiro de Tecnologia

do Couro, Calçado e Artefatos

IPDEletron – Instituto de Gestão de

Pesquisa e Desenvolvimento para a

Indústria Elétrica e Eletrônica

IPD-Farma – Instituto de Pesquisa e

Desenvolvimento de Fármacos e Produtos

Farmacêuticos

IPD-Maq - Instituto de Pesquisa e

Desenvolvimento Tecnológico da

Indústria de Máquinas e Equipamentos

ITeB – Instituto Tecnológico da Borracha

Itehpec – Instituto de Tecnologia e

Estudos de Higiene Pessoal, Perfurmaria

e Cosméticos

Page 15: Revista Pró Inovação - Edição 05

AGENDE-SE!Saiba mais em www.ipd-farma.org.br e participe!

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AGOSTO 2011Centro de Convenções RebouçasFundação Faculdade de Medicina da USP, São Paul - SP

Realização Correalização Patrocínio

Apoio

A fórmula que mais combina com vocêA fórmula que mais combina com você

Inovação no Complexo

Industrial da Saúde

O ENIFarMed é o fórum privilegiado de articulação entre indústria, governo e academia. O programa,

focado no tema central "CIS: estratégico no acesso a medicamentos", vai apresentar o cenário mundial através de renomados profissionais internacionais. O debate vai envolver a platéia e servirá para embasar estratégias conjuntas para aumentar a competitividade do País. Você também poderá contribuir!

O 5º Encontro Nacional de Inovação em

Fármacos e Medicamentos

Page 16: Revista Pró Inovação - Edição 05

enitec

X ENCONTRO NACIONAL DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Déficit Tecnológico eRisco de Desindustrialização

Dias 25 e 26 de maio, Centro de Convenções Indianópolis - ABIMAQ - SPInformações: (21) 3077-0800, [email protected]

Os bons números da produção nacional

escondem a fragilidade de diversos segmentos industriais. Fábricas que antes produziam passam agora ao patamar de montadoras de componentes importados e perdem tecnologia.

O X Enitec reunirá representantes do governo e do setor produtivo para debaterem este cenário ameaçador. O Encontro também será o fórum para o levantamento de propostas que possam resgatar a competitividade do setor produtivo nacional.

O Brasil precisa fortalecer os elos de sua

cadeia produtiva

Realização Patrocinadores Copatrocinadores

Apoio Apoio Institucional

INFORMÁTICA