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Revista RecreArte 9 JUL08 - ISSN: 1699-1834 Revista RecreArte 9 > I - Creatividad Básica: Investigación y Fundamentación David de Prado Díez

Revista RecreArte 9 · hemisfério esquerdo do cérebro sobre o direito produz uma série de filtros ... Jung e da teoria dos modelos criativos por David ... - há dois tipos de

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Revista RecreArte 9 JUL08 - ISSN: 1699-1834

Revista RecreArte 9 > I - Creatividad Básica: Investigación y Fundamentación

David de Prado Díez

 

Hábito e Criatividade: em direção ao novo.

Resumo: O tema ‘O conceito de Hábito na obra peirceana’ proposto para a 11ª Jornada do Centro Internacional de Estudos Peirceanos (CIEP) e 4º Advanced Seminar on Peirce´s Philosophy and Semiotcs, a princípio levou-nos a refletir no porque deste como relevância tanto dentro do corpus peirceano, como em outro corpus teórico, como o da criatividade, por exemplo.

Na sua 7ª palestra da série Cambridge Conferences, pronunciadas em fevereiro e março de 1898, com publicação no 7º volume, livro III, capítulo 3º dos seus Escritos Coligidos (Collected Papers of Charles Sanders Peirce. Cambridge, Massachussetts, Harvard University Press, 1931-1935) Hábito, em Peirce, é um princípio de lei, um termo que congrega Lei da Mente, Associação de Idéias, Sinequismo, categoria terceira, generalização, portanto, necessário porque conforma crenças e condutas imprescindíveis à vida e ao desenvolvimento desta; mas visto este mesmo conceito pela ótica de outra teoria, a da criatividade, este termo é relacionado a um comportamento prejudicial ao processo de criar, pois há hábitos que tendem a levar ao estabelecimento de rotinas e procedimentos que nos quitam a possibilidade de abrir espaço para o novo.

Junto à teoria da criatividade, perguntamos: se é fato que todos nascemos com aproximadamente o mesmo potencial criativo, então por que nos diferenciamos com o passar do tempo? Por que estabelecemos e incorporamos hábitos que se tornam barreiras e bloqueios à criatividade, tais como os de origem sócio/culturais ou os pessoais de cunho emocional e/ou perceptivo?

Nascentes ou condicionadas pelo meio, as reações físicas e psíquicas a estas diferentes influências são variadas, e é sabido que a ação dominante do hemisfério esquerdo do cérebro sobre o direito produz uma série de filtros bloqueadores da criatividade funcionando como uma parede que impede de enxergar novas idéias.

Se por um lado então, o estabelecimento e a manutenção do hábito são necessários, e por outro necessário será a quebra dos hábitos bloqueadores da criatividade, como pensar este conflito entre estas diferentes posições, como proceder para que um mecanismo tão forte de estabelecimento de lei possa ser alterado de forma que se afete os filtros bloqueadores, se altere a associação condicionante para a manutenção do hábito para uma outra associação que possibilite a quebra deste, de forma que, o que antes bloqueava, agora abra espaço para o novo?

Refletiremos sobre as questões acima a partir da filosofia semiótica de Peirce, da física quântica por Amit Goswami, da psicologia analítica de Carl Gustav Jung e da teoria dos modelos criativos por David Prado Díez.

Palavras Chave: Hábito. Mente. Criatividade. Bloqueios Psicosociais. Tipos Psicológicos.

 

Autores:

Integrantes do Grupo de Estudos em Filosofia da Mente

CIEP - Centro Internacional de Estudos Peirceanos - PUC-SP

DIB, Maria Augusta Nogueira Machado [email protected]

Pontifícia Universidade Católica. PUC/SP. Brasil

SANMARTIN, Stela Maris [email protected]

Fundação Armando Álvares Penteado. FAAP/SP. Brasil

 

 

Habit and creativity: toward the new

Abstract:

The theme “The concept of Habit in the Peirce's work”, proposed for the 11 th

Journey of the International Centre for Peircean Studies (ICPS) and the 4th

Advanced Seminar on Peirce's Philosophy and Semiotics, in principle, has led

us to consider why it is so important both within Peircean environment, as well

as outside it, or in other theoretical field, such as creativity.

In his 7th lecture of the series presented in Cambridge Conferences, in February

and March, 1898, through the publication of the 7th volume, book III, chapter 3

of his Collected Papers of Charles Sanders Peirce (Cambridge,

Massachussetts, Harvard University Press, 1931-1935), Habit is, for Peirce, a

principle of law, a term that brings together Law of Mind, Association of Ideas,

Synechism, the third category, generalization, therefore, necessary because it

conforms beliefs and conduct, essential to life and its development. However,

considering this same concept through the theory of creativity point-of-view, this

term is related to an injurious behavior to the process of creating, because

habits tend to lead to the establishment of routine and procedures that leave us

the possibility of opening a space toward the new.

From this point, we ask: Whether it is a fact that we all were born with

approximately the same potential of creativity, then, why do we become so

different through the time? Why do we establish and incorporate habits that will

block and become barriers to creativity, like the ones of social / cultural origin or

personal of emotional and / or perceptive?

Born or conditioned by environment, the physical and psychological reactions to

these different influences are varied, and it is known that the dominant action of

the left hemisphere of the brain on the right produces a series of blocking filters

of creativity, functioning as a wall that hinders to see new ideas.

Therefore, if on one hand, the establishment and maintenance of habit are

needed, the other will be necessary to break the blocking habits of creativity.

 

How do we consider this conflict between these different positions? How do we

proceed to amend such a strong mechanism for the establishment of law in a

way that it affects the blocking filters, it changes the constraint association for

the habit maintenance for another association that allows its shattering. To this

extent, does the one which blocked before open now a space for the new?

The above issues will be considered from Peirce’s Philosophy of Semiotics,

Quantum Physics by Amit Goswami, Analytical Psychology of Carl Gustav Jung

and Theory of Creative Models by David Prado Diez.

Key words: Habit. Mind. Creativity. Psychosocial Blocs. Psychological Types.

Authors: Members of the Research Group on Philosophy of Mind

ICPS - International Centre for Peircean Studies – PUC/SP.

DIB, Maria Augusta Nogueira Machado [email protected]

Pontifícia Universidade Católica. PUC/SP. Brasil

SANMARTIN, Stela Maris [email protected]

Fundação Armando Alvares Penteado. FAAP/SP. Brasil

 

Hábito e Criatividade: em direção ao novo.

Proposição

O tema ‘o conceito de Hábito na obra peirceana’ proposto para a 11ª Jornada do Centro Internacional de Estudos Peirceanos (CIEP) e 4º Advanced Seminar on Peirce´s Philosophy and Semiotcs, levou-nos à reflexão da pertinência e importância deste conceito na sua integridade e na sua ambigüidade. Se por um lado, Hábito, como um princípio de funcionamento da lei mental nos chama a atenção como necessário à própria constituição da vida e sua continuidade, por outro e ao mesmo tempo, nos chama a atenção como muitas vezes serão estes mesmos hábitos, tão necessários à sobrevida, aqueles que poderão exercer uma função bloqueadora ao aparecimento do novo, igualmente necessário à criação. Como se no Hábito convivesse o paradoxo de ser necessário à vida, tal qual ela se apresenta, e ao mesmo tempo trazer em si, pela tendência à repetição incessante do mesmo, a capacidade de impedir o surgimento do novo.

Na 7ª das oito da série de palestras das Cambridge Conferences pronunciadas por Charles Sanders Peirce em fevereiro e março de 1898, com publicação no 7º volume, livro III, capítulo 3º dos seus Collected Papers, sobre sua concepção de Hábito, quando explanando a respeito do fenômeno da associação das idéias, encontra-se:

- a ocorrência repetida de uma idéia geral e a experiência de sua utilidade resultam na formação ou fortalecimento de uma concepção.

- o resultado da ocorrência repetida de uma idéia geral, isto é, o resultado da coocorrência de uma idéia e de outras que são trazidas à consciência.

- não só a reiterada coocorrência ajuda a consolidar uma associação de idéias por contigüidade, a experiência de que a combinação das idéias tem conseqüências significativas é outro fator que exerce importante papel na realização da associação e fortalecimento da concepção.

- há dois tipos de associação: por semelhança, por contigüidade.

- o primeiro tipo se dá por uma disposição natural da mente, uma vez que a associação causa a semelhança, a mente humana atribui valor particular e dá mais ênfase a algumas semelhanças, e porque quando uma qualidade é trazida vividamente à consciência, outras terão imediatamente sua vivacidade aumentada.

- há uma lei da ação das idéias. Uma grande lei da mente, a tendência generalizante, a lei de associação, a lei de aquisição de hábito.

- as leis do universo formam-se sob a tendência universal de todas as coisas para a generalização e aquisição de hábitos.

 

Visão filosófica

Bacha (2002: cap. 5, 293-296) nos chama a atenção para o The Architecture of Theories CP 6.7-6.32 de 1891, onde Peirce afirma que entre os princípios da lógica que tem aplicação na filosofia, estão as concepções de primeiro, segundo e terceiro. Acaso é Primeiro, Lei é Segundo e Tendência a adquirir Hábitos é Terceiro, e ainda, Mente é primeiro, Matéria é segundo e Evolução é terceiro. Mas estas concepções também podem ser aplicadas às outras ciências, como por exemplo: na Psicologia – Sentimento é Primeiro, Sentido de Reação é Segundo e Concepção Geral é Terceiro ou, na Biologia – a idéia de Probabilidade (Sporting) é Primeiro, Hereditariedade é Segundo, e o Processo no qual os caracteres se tornam fixos é Terceiro (CP 6.32 de 1891); e concluindo este seu parágrafo Bacha cita Peirce quando ele diz de sua previsão sobre um tipo de metafísica que seria apropriadamente construída para representar o estado de conhecimento trazido pelo século XIX, e de sua visão de como se iniciou a tendência para o hábito :

“... Seria uma Filosofia Cosmogônica como algumas das mais antigas e como algumas das mais recentes especulações. Ela iria supor que no início – infinitamente remoto – havia um caos de feeling não personalizado, que não tendo conexão ou regularidade, seria apropriadamente sem existência. Este feeling diversificando-se aqui e ali, em pura aleatoriedade teria iniciado o germe de uma tendência generalizadora. Suas outras variações teria sido evanescentes, mas esta teria uma virtude de crescimento. Assim a tendência para o hábito estaria iniciada, e desta com outros princípios da evolução todas as regularidades do universo teriam evoluído. A qualquer momento então, um elemento de puro acaso sobrevive e ainda permanece até que o mundo se torne absolutamente perfeito, racional e um sistema simétrico, no qual a mente é por fim cristalizada no infinito futuro distante” (CP 6.33)

Estaria Peirce nos levando ao sentimento de que um possível caráter de ambigüidade do Hábito, anteriormente referido, não se justifica? Poderíamos entender que em sua doutrina está previsto um componente do elemento de primeridade onde o acaso, o caos de feeling, a ação criativa e evolutiva também como hábito do universo?

Porém, trazendo a questão para o universo delimitado através da observação cotidiana quanto à conduta humana de uma forma mais geral, e em situações de processos mentais de criação de uma forma mais específica, conforme algumas teorias da criatividade observam, há hábitos que parecem bloquear a atividade mental criadora, como até mesmo se a atividade criadora nem sequer fosse também um hábito da primeridade, como na doutrina peircena faz parecer ser.

Ibri (1992: cap.6, 95-119) nos chama a atenção para o quanto em Peirce: 1.O Hábito está relacionado à generalização, a uma lei fruto de uma historicidade de associações, a uma regra, a uma descrição de uma tendência de conduta. 2. Assim como entender também que toda ação é pensamento feito concreto que envolve um propósito racional que é meio através do qual a

 

unidade do pensamento se definiu e se existencializou, sendo esse pensamento um fenômeno universal mediatizado pela experiência e necessitado de um mundo sob princípios de ordem como condição de possibilidade. 3. O que não é matéria de experiência não é nada, não existe, pois a lógica metafísica peirceana aponta para a relação necessária entre geral e particular onde o geral e o universal aparecem na experiência particular, individual. Até mesmo “a dúvida genuína não pode ser criada por um mero esforço de vontade, mas deve estar circunscrita pela experiência” (CP 5.498).

E Ibri continua, agora citando Peirce: “Ao nível de uma Lógica dos argumentos, a redutibilidade da máxima do Pragmatismo a uma relação necessária entre o particular e o geral traduz, implicitamente, a condição de possibilidade do argumento indutivo. O transcurso temporal da experiência, na sua singularidade, induz à generalidade do conceito; a pluralidade dos atos induz à cognição da potência. Este tem sido o âmago da doutrina do Pragmatismo. Explicitamente, não é outra coisa que está presente na seguinte passagem da obra do autor: “... a validade da indução depende da relação necessária entre o geral e o singular. É precisamente isto que é a base do Pragmatismo” (CP. 5.170).”

Será por esta relação necessária entre geral e particular tão prezada pelo idealismo objetivo de Peirce, seu realismo, e partindo do pressuposto de que os seres humanos são particulares que participam do geral universal, e, portanto, estão regidos pelas mesmas leis, que o presente artigo/comunicação convida, pois, a uma reflexão sobre aqueles hábitos que em algumas teorias da criatividade são considerados bloqueadores à criação humana e sua crença na possibilidade de quebra destes hábitos bloqueadores, como necessária ao processo de criação. O que em Peirce “Significando por mudança de hábito uma modificação das tendências de uma pessoa para a ação, resultante de experiências prévias ou do exercício prévio de sua vontade ou atos, ou de um complexo de ambas as espécies de causas”. (CP 5.476).

Relação Pensamento e Ação. Quando criativa?

“O pragmatismo não é um sistema de filosofia. É apenas um método de pensamento” (CP 8.206) – “Admitindo-se que a ação requer um fim, e que este fim deveria ser algo similar a uma descrição geral, então o espírito da máxima, de que devemos olhar os resultados finais de nossos conceitos a fim de apreendê-los corretamente, direcionar-nos-ia para alguma coisa diferente dos fatos práticos, a saber, das idéias gerais, como as verdadeiras intérpretes de nosso pensamento” (CP 5.3).

“O Pragmatismo é uma doutrina correta apenas na medida em que se reconhece que a ação material é o mero aspecto exterior das idéias... Mas o fim do pensamento é a ação na medida em que o fim da ação é outro pensamento” (CP 8.272).

 

Nas palavras de Peirce explanando sobre seu próprio Pragmatismo, que ele o preferiu Pragmaticismo, evidente está a correlação necessária e contínua entre pensamento e ação, e vice-versa. “Pois dizer que vivemos para o mero objetivo da ação, enquanto ação, desconsiderando o pensamento que ela veicula, seria o mesmo que dizer que não há propósito racional” (CP 5.429). No Pragmaticismo peirceano, pois, “... “prático” quer dizer apto a afetar a conduta, e “conduta”, ação voluntária que é autocontrolada por deliberação adequada” (CP 8.322). “Mas no que consiste o caráter intelectual da conduta? Claramente na harmonia aos olhos da razão, isto é, no fato de que a mente ao contemplá-la, nela encontrará harmonia de propósitos. Em outras palavras, ela deve ser capaz de interpretação racional para o pensamento futuro. Assim, o pensamento é racional somente na medida em que ele se recomenda para um futuro pensamento. Ou, em outras palavras ainda, a racionalidade de um pensamento reside em sua referência a um futuro possível” CP 7.361.

Refletindo as palavras acima de Peirce, nelas contido a correlação entre pensamento racional e recomendação ao pensamento futuro, contemplação da conduta pela mente e harmonia de propósitos, parece que não caberia o que as teorias da criatividade observam quanto à presença de hábitos que bloqueando a mente, impediriam o futuro possível. No Pragmatismo de Peirce, conforme nos diz Lauro Silveira (2007: 130-132) o pensamento é ação criadora e em verdadeiro hino à reconciliação universal. “a criação do universo, (...) que prossegue hoje e nunca termina é o próprio desenvolvimento da Razão”... a Razão, como ideal de conduta, assume todo o conhecimento, por mais particular que seja, nesta tarefa de criação do universo.

O que algumas teorias da criatividade, partindo do pressuposto de que todos nascemos com aproximadamente o mesmo potencial criativo, lançam a pergunta: então por que nos tornamos diferentes com o passar do tempo? E se assim ocorre, poderíamos acreditar na possibilidade de associações de idéias terem sido estabelecidas como bloqueadoras ou como condicionamentos limitantes à criatividade? Poderíamos acreditar no intuito de transformações destes hábitos antigos e bloqueadores em novos abertos à criação?

Agora outras afirmações peirceanas poderão nos auxiliar na condução da reflexão proposta na presente comunicação, para esta Jornada. “... nossas crenças guiam nossos objetivos e moldam nossas ações. O sentimento de crença é uma indicação mais ou menos certa de que se estabeleceu em nossa natureza algum hábito que irá determinar nossas ações. A dúvida nunca produz tal efeito” CP 5.370-371. “... a crença não nos faz agir de imediato, mas nos coloca em condições de nos comportarmos de certo modo quando surge a ocasião. A dúvida não produz, sequer minimamente tal efeito, mas estimula-nos a investigar até que ela seja destruída” CP 5.373. “A essência de uma crença é o estabelecimento de um hábito; e crenças diferentes são distinguidas pelos diferentes modos de ação a que dão origem” CP 5.398.

 

Hábitos Bloqueadores à criatividade

Estaria Peirce agora com estas palavras acima nos conduzindo ao entendimento de que, se considerando que a essência de uma crença é o estabelecimento de um hábito, e considerando que segundo teorias da criatividade há hábitos bloqueadores à criação, então estariam na própria ação das crenças estabelecedoras de hábitos, a possibilidade de algumas delas provocarem tais referidos bloqueios? Seriam então essas crenças que deveriam ser quebradas?

Vejamos o que teorias da criatividade nos dizem sobre estes, por elas considerados hábitos bloqueadores: parte delas considera que podem ser encontrados no meio em que o indivíduo vive (família, escola, trabalho) e na forma como este indivíduo enfrentará as conformações sociais. Acredita-se que: 1. o comportamento humano esteja submetido a restrições de todos os tipos, entendê-las, avaliá-las e, se necessário, superá-las, seja o comportamento desejado para as pessoas criativas; 2. a ação dominante do hemisfério esquerdo sobre o direito produz uma série de filtros que são denominados barreiras ou bloqueios à criatividade. Esses filtros funcionam como uma parede que impede de enxergar novas idéias.

Existe uma hierarquia entre barreiras (paradigmas) e bloqueios. Os paradigmas são mais superficiais. São comportamentos esperados por motivações objetivas (cultura, religião, sexo, etc...) que induzem comportamentos futuros. Já os bloqueios, são mais profundos e representam uma impossibilidade concreta de uma pessoa, no gozo de sua liberdade, realizar uma ação determinada. Os bloqueios mais severos necessitam, para sua superação, em muitas oportunidades, um auxílio médico ou psicológico.

Algumas teorias acreditam em “armadilhas” que o nosso cérebro “cria” e que redundam numa diminuição da capacidade expressiva e criativa. Dependendo do autor, o nome e a classificação dos bloqueios podem variar, mas, de uma forma geral, todos representam, ansiedades com relação a idéias e conformidade com o pensamento preso a hábitos e atitudes que pedem para serem quebrados de forma que se transformem e outros surjam em prol da capacidade expressiva e criativa.

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De hábitos bloqueadores em hábitos facilitadores à criatividade.

Considerando já mesmo desde esta própria transformação – já que também é um processo de formação de hábito (Kevelson: 1998) - como “um processo semiótico de criação de significado”, agora de novos significados, considerando que tudo no universo está em contínuo processo semiótico, postulamos uma posição otimista quanto à possibilidade de uma interferência ativa nos processos mentais humanos, que por sua vez, advém de processos físicos e psíquicos, para uma transformação de hábitos bloqueadores à criatividade em hábitos facilitadores à criatividade.

Recorreremos agora, para a continuidade da reflexão aqui proposta, a autores que nos auxiliarão neste empreendimento uma vez que algumas de suas idéias teóricas em correlação apontam para tal possibilidade. Carl Gustav Jung – O Homem e seus Símbolos; Luiz Paulo Grinberg – Jung: o homem criativo; David Prado Díez – Modelos creativos para El cambio docente e Educrea: La creatividad motor de La renovación de La educación; Amit Goswami – O Médico Quântico: orientações de um físico para a saúde e a cura.

Os bloqueios mais comuns são os considerados I - de ordem pessoal como atitude inadequada em relação a problemas; autoconfiança deficiente: “Não posso”, “Não consigo”; medo das críticas: “Não quero ser ridículo”; tendência à comparação; condicionamento negativo precoce, autocrítica sistemática; ausência de sentimentos e emoções positivas; desprezo à fantasia e ao uso da imaginação; auto-desvalorização; conformidade com a primeira solução surgida; avaliações prematuras; incapacidade de evitar julgamentos críticos; enfoque inadequado à solução de problemas e resistência às novas idéias, advindos de entraves emocionais e/ou perceptivos. II – e as barreiras de ordem ambiental, cultural e organizacional como apego ao estabelecimento; ameaça à segurança e ao status “quo”; o caminho arriscado dos canais organizacionais; normas da instituição ou empresas; cultura organizacional que resiste a ser alterada.

Frases, expressões ou gestos, que diante de uma nova idéia, ao invés de incentivá-la ou apoiá-la, simplesmente a aniquila, podem ser altamente bloqueadores, tais como: “Quero apenas a resposta certa”, “Isso não vai dar certo”, “Isso não vai funcionar”, “Isso não tem lógica”, “Isso é tolice”, “Isso não é da minha conta”, “Isso não é prático”, “Não há tempo suficiente”, “Quer um conselho? Siga as normas”, Parece bom, mas...”, “Parece coisa de quem não tem o que fazer”, “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, etc...

Para desenvolver o pensamento criativo, primeiro é preciso 1. aprender a desaprender, ou seja, liberar-se de antigos hábitos para poder rever, questionar e descobrir novos valores, novos paradigmas, novos sentidos advindos de novos processos semióticos; 2. Utilizar o potencial criativo que acreditamos ter, ou seja, saber divergir, convergir, balancear esses tipos de pensamentos na busca de idéias inovadoras, ou mesmo abrir espaço para a intuição e até mesmo para processos inconscientes (que buscam naturalmente

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a consciência porque caminham para o numinoso, segundo Jung), responsáveis por muitas das soluções originais.

O inconsciente e a imaginação nos processos de criação

A importância da participação dos processos inconscientes que buscam as conscientes, a participação dos processos da imaginação ativa na atividade criadora, é salientada por Jung. “Fruto de inspiração arquetípica, a ação criativa não vem do eu consciente, ela organiza, processa. A inspiração vem do inconsciente, da profundeza da experiência humana que é arquetípica.” (Sanmartin, 2004:30). “O inconsciente sem limites, desimpedido pelo intelecto literal, faz as inesperadas conexões que constituem a essência da criação.” (Kneller, 1978:67).

Para Carl Gustav Jung, pai da psicologia analítica, “os conteúdos, os processos psíquicos que não entretêm relações com o ego constituem o domínio imenso do inconsciente. O inconsciente, na psicologia junguiana, compreende inconsciente pessoal e coletivo. O inconsciente pessoal refere-se às camadas mais superficiais do inconsciente, cujas fronteiras com o consciente são bastante imprecisas, enquanto, o inconsciente coletivo, corresponde às camadas mais profundas do inconsciente, aos fundamentos estruturais da psique comuns a todos os homens.” (Nise da Silveira, 1971:71-72). É nesta perspectiva, a do inconsciente coletivo, que Jung chega à idéia dos arquétipos, ou imagens primordiais. O arquétipo exerce a função de um plano, um protótipo, um modelo básico. São disposições herdadas para reagir aos estímulos ambientais. Controlam os meios de a pessoa perceber o mundo, e decorrem das próprias conexões entre as partes diencefálicas e o córtex cerebral, as quais existem em potencial no nascimento. Os arquétipos – que constituem o conteúdo do inconsciente coletivo – podem ser considerados como formas de pensamento universal (idéia) com forte carga afetiva. São elementos dinâmicos e transpessoais da psique, pois transcendem os limites pessoais, interligando todas as psiques, e representando também uma fronteira entre a consciência e a matéria. “Arquétipos são possibilidades herdadas para representar imagens similares, são formas instintivas de imaginar. São matrizes arcaicas onde figurações análogas ou semelhantes tomam forma.” (Nise da Silveira, 1971:77).

Em O homem e seus símbolos Jung diz ‘ existe uma diferença radical entre uma decisão consciente, que separa e suprime temporariamente uma parte de nossa psique, e uma situação na qual isto acontece de maneira espontânea, sem o nosso conhecimento ou consentimento e mesmo contra nossas intenções. (Jung, s/d: 25). Complementa Stein que “Para Jung, as intuições e os pensamentos que surgem do inconsciente não são produtos de esforços deliberados para pensar, mas objetos internos, parcelas do inconsciente que pousam ocasionalmente na superfície do ego.” (Stein, 1998:184)

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Poderíamos pensar, no entanto que, se estas intuições não forem ‘capturadas’, elaboradas e colocadas em prática, não resultarão em representações reais, ou na criação propriamente dita. “Todo ser tende a realizar o que existe nele em germe, a crescer, a completar-se. Mas o homem, embora o desenvolvimento de suas potencialidades seja impulsionado por forças instintivas inconscientes, adquire caráter peculiar: é capaz de tomar consciência desse desenvolvimento e influenciá-lo. Precisamente no confronto do inconsciente pelo consciente, no conflito como na colaboração entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa síntese, na realização de um indivíduo inteiro.” (Sanmartin, 2004:26).

Segundo Lauro Silveira (2007: 23-24) “representar o real e atuar sobre ele no futuro, quando a ocasião permitir, são para Peirce dois aspectos inseparáveis do conhecimento e do pensamento. Por isso mesmo, o proceder intelectual encontra seu sentido na medida em que cria um hábito de conduta que facilite a interação com o objeto que se quer conhecer... Para Peirce, não há lugar para um pensamento totalmente desinteressado, pois nenhum ser a ele procederia por total falta de motivo. O pensamento não se impõe compulsoriamente, mas é exercitado como um determinante da conduta em vista de um objeto desejado. O pensamento é sempre aprendizagem na apreciação atenta do diagrama e, jamais uma imposição da realidade. Essa nos desafia a procurá-la. Representar, porém, decorre de um ato deliberado em busca do objeto desejado. E Silveira cita Peirce para concluir seu próprio pensamento neste trecho de sua obra:

... “Imaginamos casos, colocamos diagramas mentais diante dos olhos de nossa mente e multiplicamos aqueles casos, até que se forme um hábito de esperar que tenha lugar o caso que foi visto como sendo o resultado em todos os diagramas. Apelar para tal hábito é muito diferente do que apelar para qualquer instinto imediato da racionalidade... um hábito é involuntariamente formado a partir de diagramas, cujo processo, quando aprovado deliberadamente, torna-se um raciocínio indutivo” (CP 2.170). A independência dos fatos face à razão exclui qualquer forma de determinismo na ordem do pensamento, mas confere a esse último propósito uma transcendente razão de ser: conferir ao ser inteligente um lugar no universo fenomenológico, transformando um mero jogo de forças brutas num lugar de experiências e de crescimento.

Ana Jorge (2006) apresentando a Topologia da ação mental, segundo Peirce, fala-nos que o diagrama dá vazão a um processo de raciocínio estimulado por quaisquer tipos de experimentos realizados no ato de introvisão, de caráter heurístico e relacional, exigido sempre que se recorra à observação de qualquer dado, ou fenômeno, na esfera da imaginação, tornando possível ao homem que se aponte o conhecimento de seu mundo interno pelo modo como se reflete em fatos externos.

A imaginação, que é um dos componentes fundamentais à atividade criativa, é a força transformadora que nos tem permitido modificar o entorno e reinventarmos a nós mesmos. Desde esse ponto de vista, o tema do

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pensamento criativo tem uma importância muito grande e, na medida em que a humanidade siga refletindo sobre si própria e siga aberta a buscar novas possibilidades, seguiremos em contínuo desenvolvimento desta importante dimensão humana. Podemos considerar a imaginação como uma forma de pensamento que ‘desenha o futuro’ por meio de imagens mentais, impulsionando-nos à ação realizadora. Em Ensaios Filosóficos encontramos que: “A imaginação é provavelmente o mais antigo traço mental tipicamente humano - mais antigo do que a razão discursiva; é provavelmente a fonte comum do sonho, da razão, da religião e de toda observação geral verdadeira. É esta primitiva força humana - a imaginação - que engendra as artes e é, por seu turno, diretamente afetada por suas produções.” (Langer, 1971:197)

No dicionário de Psicologia a definição de imaginação consta como sendo uma forma de pensamento que evoca na memória imagens Mnemônicas (imaginação reprodutora) e criadoras, quando há reordenação do conhecido em novas formas. Portanto, imaginar permite ao homem trazer a presença, por meio de uma imagem mental, o objeto ausente. Rubem Alves diz que “antes de tudo é preciso reconhecer que a imaginação é a forma mais fundamental de operação da consciência humana”. (O Enigma da Religião, 1975:151)

O Viver criativo

Desenvolver a criatividade pessoal significa desenvolver traços intrinsecamente humanos, agilizá-los, melhorá-los. Da mesma forma, viver criativamente possibilita que o homem transcenda o dado, inaugurando novas realidades por meio de suas criações. “O traço fundamental, distintivo do homem e do animal, é sem dúvida, a imaginação. Enfrentando a materialidade do mundo, por ela o homem cria as significações e projeta a sua ação transformadora e construtora do real. (Duarte Jr., 1988) Enquanto o animal se adapta ao mundo e preserva sua vida, o homem através de sua criatividade transforma e cria novos mundos. Poderíamos considerar a criatividade como um território no qual o homem irá construir os mapas redesenhando suas geografias, construtor de mapas da história com suas descobertas e realizações. “A forma mais elevada da imaginação é a expectativa criadora. Quando esperamos que nosso desejo se torne realidade, e acreditamos firmemente, podemos muitas vezes, fazer com que se torne realidade.” (Osborn, 1972: 94).

“O impulso de que necessitamos, para utilizar ao máximo a imaginação, é habitualmente uma mistura de impulsos internos e obrigações impostas voluntariamente.” (Osborn, 1972: 166)

A atração instintiva para viver os fatos é celebrada na cosmologia e no pragmatismo de Peirce, desde a tendência evolutiva do caos para a ordem, através do hábito, por um mecanismo lógico ou semiótico, e se Silveira (2007:131) nos apresentou o pensamento, segundo Peirce, como ação criadora que tende para o desenvolvimento da Razão, ou do Geral que

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governam todos os acontecimentos pela sua capacidade de representação, veremos Santaella (1995) expondo sobre a ligação triádica indissolúvel entre signo, objeto e interpretante para que o processo de representação ocorra. A Teoria Geral dos Signos: semiose e autogeração, observada, percebida e proclamada pelo pensamento lógico triádico peirceano, foi minuciosamente explicitada por Santaella (1995:187), cita Peirce através de Savan (1976:50):

“Todo homem exerce mais ou menos controle sobre si mesmo por meio da modificação de seus hábitos, e a maneira como ele trabalha para produzir esse efeito, naqueles casos em que as circunstancias não lhe permitem praticar reiterações da espécie de conduta desejada no mundo exterior, mostra que ele está muito bem familiarizado com o importante princípio de que reiterações no mundo interior – reiterações imaginárias – se bem intensificadas pelo esforço direto, produzem hábitos, do mesmo modo que reiterações no mundo exterior também produzem; e esses hábitos terão poder para influenciar o comportamento no mundo exterior”.

Se assim é, conforme vimos em Jung, pelas ações da correlação entre inconsciente, consciente e imaginação ativa; e em Peirce, pelas ações das correlações da existência, da experiência e do pensamento entre as tricotomias e reiterações imaginárias, fundamentado e justificado está que se investigue sobre ações psíquicas e ações físicas intervenientes na aquisição dos hábitos (crenças) que, em exercendo função bloqueadora à criação, que se busque o desbloqueio destes em prol da conquista de hábitos (crenças) facilitadores à criação.

De acordo com o Professor Doutor David de Prado, consultor internacional em criatividade: teorias da criatividade e processos criativos, em tese desenvolvida sobre Modelos Creativos para el cambio docente (1986), há uma correlação entre a personalidade dogmática e estilos de ser e criar; o que poderíamos relacionar com os tipos psicológicos de Jung e suas funções Intuição – Sensação e Pensamento – Sentimento. Prado enfatiza a interferência da personalidade dogmática autoritária no sentido de dificultar o processo criativo, enquanto, ao contrário a interferência da personalidade flexível e democrática no sentido de facilitar o processo criativo.

Jung buscou encontrar particularidades básicas capazes de ajudar a pôr alguma ordem nas diferenças, aparentemente ilimitadas, da individualidade humana, chegando a quatro critérios que definem tipos de conduta. O que Luiz Paulo Grinberg, na sua análise - Jung: o homem criativo nos explica que os quatro tipos psicológicos funcionais, apontados por Jung, correspondem às quatro formas evidentes através das quais a consciência se orienta em relação à experiência. A sensação (isto é, a percepção sensorial) nos diz que alguma coisa existe; o pensamento nos mostra o que esta coisa é; o sentimento revela se ela é agradável ou não; e a intuição nos dirá de onde vem e para onde vai. São quatro critérios que definem tipos de conduta humana, são apenas quatro pontos de vista entre muitos outros, como a força de vontade, o temperamento, a imaginação, a memória, e assim por diante. Um dos grandes méritos de Jung ao descrever os quatro tipos psicológicos – quando apresenta a combinação

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das atitudes extroversão e introversão com uma das quatro funções: pensamento, sentimento, sensação e intuição, para formar uma orientação habitual da consciência do ego, em decorrência de uma necessidade de adaptação à vida interior e exterior, foi elevar o sentimento e a intuição à categoria de função psicológica da consciência e colocá-las em pé de igualdade com as funções do pensamento e da sensação, predominantes em nossa cultura ocidental.

E se assim é agora, e recordando do que anteriormente nos disse Peirce, poderíamos considerar os tipos psicológicos propostos por Jung como cristalização de hábitos de conduta? Será que aí estaria a importância em conhecer tais formas de atuar no mundo abrindo espaços para outras maneiras, alargando assim nossas possibilidades criadoras? Os tipos psicológicos propostos por Jung, na equilibração de suas funções, talvez possam favorecer esta operação de quebra de crenças/hábito trazendo abertura para o novo. E a imaginação criadora, que papel cumpre na atividade criativa?

Acreditando e entendendo o ser humano como um ser criador, podemos investigar o processo criativo individual, no momento de busca em direção das conjecturas que se vão articulando e/ou sendo testadas. Neste movimento talvez possamos encontrar a criatividade em pleno estado de metabolismo e crescimento.

Dr. Prado em sua tese faz uma análise das teorias da criatividade, apoiado em Busse e Mansfield, apresenta sete teorias sobre o Processo Criativo, e nos mostra que em seis delas a associação é apontada como uma das atividades mentais implicadas no processo criativo. Não é curioso que a associação diretamente relacionada ao hábito, segundo Peirce, também seja procedimento valioso para os processos criativos, segundo as teorias da criatividade?

A relação mente – matéria de foco peirceano, diferente de Descartes, é salientada por Bacha (2002, cap.5) trazendo Peirce - “a velha noção dualista de mente e matéria, tão proeminente no Cartesianismo, como dois tipos de substâncias radicalmente diferentes, dificilmente encontraria defensores hoje”, e assim considerada por Ibri (1992: cap.4): “A única teoria inteligível do universo é aquela do idealismo objetivo que matéria é mente exaurida, hábitos inveterados se tornando leis físicas”, relação esta ainda por eles explicitada nas suas obras anteriormente citadas, apontando para: “a chave da relação entre mente e matéria está na admissão de que sendo o universo material provido de hábitos de conduta na forma de leis naturais, há que o conceber como uma forma de mente.” O que nos leva à compreensão de que em Peirce há um contínuo entre mente e matéria, e não um antagonismo.

Dr. Amit Goswami no livro Médico Quântico (2006:195) nos diz: que “visto que a mente é um sistema quântico, há apenas três modos de processá-la: a Criatividade Fundamental (a capacidade de dar saltos quânticos a partir de contextos conhecidos de significado mental); a Criatividade Situacional (a

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capacidade de criar significado novo a partir de uma combinação de contextos conhecidos); e Condicionamento (utilizando significado mental conhecido). Isso nos dá três qualidades da mente.”

Adquirida a abertura para o novo – que pode surgir no salto quântico provocado entre o conhecido e o desconhecido - e nova crença e/ou hábito se estabelecem, e assim sucessivamente. E dentro da teoria que você traz para a produção da criação, o que se espera é que uma cadeia de associações já estabelecidas como hábito ou crença de efeito bloqueadora, possa ser quebrada, e por outra substituída, agora a que se deseja - a facilitadora ao processo de criação.

Poderíamos correlacionar, portanto, a Criatividade Fundamental proposta por Goswami, como a advinda do mergulho no inconsciente proposto por Jung, que gera o resultado original. A Criatividade Situacional, aquela que emerge de associações voluntárias, já apontado anteriormente, quando Peirce nos diz que ‘não há lugar para um pensamento totalmente desinteressado, pois nenhum ser a ele procederia por total falta de motivo’. Com uso de imaginação criadora a mente criativa pretende lograr, o que nas teorias de criatividade conhecemos como inovação: “ato deliberado em busca do objeto desejado” como também apontado anteriormente por Lauro Silveira. Por último, o que Goswami classificou como Condicionamento, finalmente nos faz chegar à pessoa presa em suas crenças, portanto bloqueada à possibilidade de criar. Vemos então, como as proposições acima estão em acordo com o que Peirce afirma sobre as concepções de primeiro, segundo e terceiro: Acaso é Primeiro, Lei é Segundo e Tendência a adquirir Hábitos é Terceiro.

Dr. David de Prado no Capítulo IV “La creatividad: valor de motivación intrínseca y de diversión humorística gozosa” da referida tese, fala sobre o valor motivacional intrínseco da criatividade e levanta elementos importantes para mantê-la: 1. A liberdade de pressões externas (citando Amabile, p. 369); 2. O humor e a curiosidade como fator gratificante e desencadeante; 3. O compromisso do indivíduo frente as pressões sociais e normativas de motivação extrínseca; 4. O enriquecimento de tarefas, nutrido de autodeterminação.

Sugere que a execução de tarefas algorítmicas, considerando-as ações ordenadas, sucessivas e sempre exercitadas de modo mecânico, podem ser impulsionadas mediante motivação extrínseca, mas na realização de tarefas heurísticas (criativas), que consideram o acaso, o imprevisível e mergulham em espaços abertos do pensamento que duvida, de respostas imprevisíveis, serão afetadas adversamente. 

"Estamos seguros que un mayor nivel de motivación intrínseca de tarea puede hacer más probable y más usual la rotura de hábitos y la asunción de riesgos cognitivos, y por tanto incrementar el repertorio permanente de habi-lidades de creatividad." (Amabile, p. 369).

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Finalmente no Capítulo V. Dr. Prado faz uma síntese das características da personalidade criativa: 1.aberta a experiencia interior e exterior; 2. dominante, enérgica e autoconfiante; 3. independente em seu pensamento e ação; 4.estável espontânea em sua interação pessoal e social; 5.disposta psicológicamente; 6.flexível cognoscitivamente e possuidora de um amplo espectro de intereses; 7.inclinada a expresar seus impulsos e sua imaginação; 8.livre de repressões mutiladoras e de inibições; 9.motivada à tarefas criativas; 10. interessa-se pelo complexo e assimétrico; 11. tolerante com o ambíguo; 12. sensível para o estético.

Como vimos, a lógica ou semiótica e o pragmaticismo de Peirce, não afeitas a dicotomias, possibilita-nos entender sobre um fluxo continuo presente entre mente e materia, entre pensamento e ação, entre geral e particular, individual e universal, através do continuo entre as tres categorias, o que para a reflexão é fundamental. Tanto quanto também fundamental o é a crença peirceana na força instintual criativa e evolutiva do amor agápico. (Dib: 2002 e 2007; Ibri: 2005)

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