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.txt Ano III - Número 12 Novembro de 2010 página 12

Revista .txt - Edição 12

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Edição número 12 da revista .txt, produzida pelos alunos de jornalismo da UFSM.

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Revista Laboratório do 4º semestre de Jornalismo da UFSM

Edição: Viviane BorelliSub-edição: Marlon DiasDiagramação: Anelise Dias, Guilherme Porto, Luiz Valério Seles, Maiara Alvarez (8º sem.),Manuela Ilha, Mathias Rodrigues e Yuri MedeirosRevisão: Gabriel Bortulini, Janine Appel, Maurício Brum e Olívia Scarpari.Fotografia: Gabriela Moraes e Iuri Müller. Divulgação: Bárbara Barbosa, Camila Marchesan, Débora Dalla Pozza, Eduarda Toscani, Greice Marin e Julia do CarmoEdição online: Giuliana Matiuzzi, Kamila Baidek e Nadia GarletRevisão Online: Fernanda Arispe, Gabriel Bortulini e Gregório MascarenhasCapa: Maiara AlvarezFoto da capa: Iuri MüllerProfessora responsável: Viviane Borelli Mtb/RS 8992Endereço: Campus da UFSM, prédio 21, sala 5234Telefone: (55) 3220 8487Impressão: Imprensa UniversitáriaData de fechamento: 12 de novembro de 2010Tiragem: 500 exemplares

www.ufsm.br/[email protected]

sumário

.txt Novembro de 20102

expediente

Projeto Rondon, lição de vida e cidadania

Automobilismo ganha espaço na Universidade

O RU e o comportamento dos usuários

Núcleo de Prática Jurídica atende comunidade

EAD, expansão para democratizar o ensino

Desvendando os monumentos da UFSM

Passagem aumenta, mas problemas continuam

21 arco da velha

22 cultura

Rato, o faz-tudo do CPD24 perfil

7 geral

6 categorias

18 de dentro para fora

16 geral

19 de fora para dentro

12 capa

4 entrevista

11 geral

Discórdia entre estudantes e vigilantes na CEU

Produção cinematográfica na UFSM

Rotina de quem cuida dos animais na UFSM

20 cultura

Português e espanhol para policiais rodoviários

REVISTA .TXT NA WEBEm outubro de 2010, a .txt ampliou as possibilidades

de comunicação com seus leitores. A revista ganhou uma página na web, hospedada no endereço www.ufsm.br/revistatxt. No site, além da versão impressa completa, os internautas encontram fotos, vídeos, infográficos e tex-tos exclusivos para a versão online. Para o website, são produzidos textos que trazem as impressões dos repórte-res sobre as matérias, o relato das dificuldades enfrenta-das na apuração e situações curiosas.

Mais que uma réplica virtual das páginas que você está prestes a ler, o site oferece conteúdo pensado e pro-duzido especialmente para o leitor on line.

Cenas históricas do movimento estudantil

15 paralelo

ACAMPAVIDAO Acampavida chegou a 12ª edição consolidado

como um dos mais tradicionais eventos promovidos pelo Núcleo Integrado de Estudos e Apoio à Terceira Idade (Nieati) do Centro de Educação Física e Desportos (CEFD). Atraídos pela programação voltada ao público da terceira idade, 840 idosos foram recebidos no campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), durante os dias 22, 23 e 24 de outubro de 2010.

Um baile no Clube Santamariense abriu a programação na noite da sexta-feira, 22. Os dias de sábado e domingo foram voltados à realização de oficinas no campus. Acadêmicos dos cursos de Educação Física, Odontologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Fonoaudiologia, Enfermagem, Nutrição, Psicologia, Direito, Espanhol, Zootecnia, Agronomia, Comunicação Social, Biologia e Matemática coordenaram atividades educativas com os idosos. A programação da noite de sábado contou com uma Mostra Artística, quando os participantes puderam expor seus talentos na dança, declamação e música.

Na sexta-feira, antecipando as atividades do Acampavida, o Nieati realizou a primeira edição do Seminário de Pesquisa e Extensão sobre Terceira Idade e Envelhecimento. Voltado ao público acadêmico, o evento contou com a presença de especialistas em gerontologia das universidades do Estado de Santa Catarina, de Passo Fundo e da Federal do Rio Grande do Sul. A iniciativa desses eventos integra o conjunto de ações do Núcleo que visam a valorização dos idosos, o aumento da sua autonomia e a melhoria da qualidade de vida.

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O movimento estudantil ganhou expressividade nos “Anos de Chum-bo” quando jovens de vários recantos do Brasil foram às ruas protestar con-tra a repressão. Os estudantes busca-vam uma sociedade mais justa e igua-litária que só seria possível através da união. Com o passar dos anos, esses ideais foram se perdendo. Mas hoje, mesmo numa sociedade marcada pelo individualismo característico de nosso tempo, o movimento estudantil mos-tra que o compartilhamento de ideias ainda é um caminho.

Expor problemas do cotidiano é um dos propósitos do movimento. Ao perceberem que era iminente mais um aumento no preço das passagens urba-nas, os jovens foram às ruas. Ocupa-ram a Prefeitura Municipal, a Câmara de Vereadores e as ruas centrais da cidade durante uma semana ininter-rupta de protestos no mês de outubro. Os problemas no transporte coletivo continuam, mas os estudantes conse-guiram mostrar para os governantes locais que vivemos numa sociedade democrática e que é preciso liberdade de expressão.

Os movimentos evidenciaram a necessidade de exercício da dialética. Como prega o sociólogo alemão Jür-gen Habermas, a interação e a busca de diálogo são formas de construir uma sociedade mais democrática. O primeiro passo foi dado. Mesmo que seja um caminho tortuoso a percorrer, autoridades e estudantes devem conti-nuar tendo bom senso para dialogar e avançar nas negociações.

Marlon Dias e Viviane Borelli

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carta ao leitor

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CÓDIGOS SECRETOS PELO CAMPUSO quick response code (QR Code) é um código que pode

carregar diversos tipos de informações, como endereços da internet, imagens e textos. Criado no Japão, em 1994, o QR Code funciona como um código de barras, porém mais eficiente. Para decifrá-lo, é necessário um celular com câmera fotográfica, o aplicativo decodificador e conexão com internet. Também é possível fazer sua leitura na webcam do computador, através de um aplicativo específico que decodifique o software.

No Brasil, o QR Code ainda é pouco utilizado. Na UFSM, a primeira experiência de utilização do código foi testada pela equipe do Infocampus (Informativo on line publicado no website da UFSM) por sugestão da editora de multimídia e acadêmica do curso de Comunicação Social - Jornalismo, Paolla Wanglon. Móbiles e cartazes contendo os desconhecidos “quadradinhos pretos” foram espalhados pelo campus da Universidade, suscitando curiosidade.

A campanha de divulgação incentivava as pessoas a acessarem o site do Infocampus e descobrir, afinal, o que era aquilo. Quando entrassem no site, os curiosos descobririam que os “quadradinhos pretos” escondiam textos com as informações antecipadas sobre a programação do 5º Festival de Cultura da UFSM, realizado entre os dias 9 e 12 de novembro. A equipe também utilizou textos sobre trabalhos apresentados na 25ª Jornada Acadêmica Integrada e que foram produzidos por acadêmicos do 2º semestre do curso de Jornalismo.

O QR Code é uma “forma de cobertura diferenciada e de experimentação para disponibilizar conteúdo na web”, esclarece o editor-chefe do Infocampus, Lucas Dürr Missau.

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Lições de BrasilidadeManuela Ilha e Nadia Garlet

O Projeto Rondon foi resultado da ação voluntária de alunos da antiga Universidade do Estado da Guanabara (atual UFRJ) que foram para Rondônia desenvolver atividades que estimulassem o crescimento daquela região em 1967. A UFSM foi uma das primeiras universidades brasileiras a ingressar no grupo de trabalho criado no ano seguinte. A

importância que o projeto assumiu dentro da UFSM nesses 42 anos de atividades é imensurável. Contudo, é possível saber mais sobre o Projeto Rondon e suas práticas através das memórias de um dos mais antigos rondonistas em atividade, Ubiratan Tupi-nambá da Costa, o Bira, pró-reitor adjunto da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE), professor do curso de Odontologia e coordenador do Projeto Rondon na UFSM. O envolvimento do professor Bira com as atividades do Projeto iniciou quando ainda era acadêmico, e tem marcado sua trajetória na Universidade. Ele é responsável pelas operações dentro da UFSM desde o final da década de 1970, e foi diretor do campus avançado de Roraima entre 1977 e 1983.

.txt - Mesmo com 42 anos de tradição, ainda há cer-to desconhecimento sobre as ações desenvolvidas pelo Projeto Rondon?

Bira - É algo marcante e que diz respeito às contribui-ções dadas pela Universidade para a sociedade. Os resulta-dos vão além dos números – como é possível medir a satis-fação de fazer as ações e observar os resultados finais? Por isso, há a questão da sensibilidade em participar de uma ação solidária comunitária, social.

Tudo que o rondonista consegue experimentar faz diferença em sua formação cidadã e acadêmica, além de agregar muitas coisas boas para a vida.

Em primeiro lugar, há a inconstância das pessoas den-tro da Universidade, já que o aluno permanece quatro ou cinco anos na Instituição e a deixa quando se forma. Tam-bém há outras ações que motivam mais a participação dos alunos. A pesquisa, por exemplo, tem uma repercussão muito maior do que a extensão, já que oferece bolsas e fi-nanciamentos. Quem participa do Projeto Rondon não ga-nha nada! O Projeto Rondon ainda não tem as dimensões que merece – quem participa gosta da experiência, mas até saber é um longo caminho.

.txt - Na primeira fase do Projeto Rondon (1969-1985), as atividades desenvolvidas pela UFSM envol-veram a participação nas operações nacionais e regio-nais. Além disso, houve a instalação pioneira no Brasil de um campus avançado. Como foi a instalação deste campus pela UFSM?

Bira - Em linhas gerais, o campus avançado era uma atividade promovida pela UFSM em Roraima. Os campi avançados foram iniciativas do Projeto Rondon que deram certo. Eles foram criados a partir de 1969 e perduraram até

1989. O mais representativo dos campi avançados era o da UFSM, por ter sido o primeiro e por ser o mais distante da universidade de origem. As atividades lá permaneceram até 1985. Não eram ações de férias, eram mensais – a cada trinta dias, as equipes mudavam. Primeiro, os acadêmicos ficavam em prédios emprestados pelo governo, até a cons-trução das edificações; depois, foram construídos prédios para alojar e receber os alunos que iam durante o ano. Por isso, o campus avançado deu origem à Universidade Fede-ral de Roraima (UFRR).

.txt - E que ações foram desenvolvidas no campus avançado?

Bira - Naquela época, o assistencialismo funcionava, pois era necessidade de então. A preocupação do governo era a interiorização, ou seja, fazer o acadêmico participar das atividades como rondonista e estimulá-lo a voltar para trabalhar. Muita gente que foi para o campus avançado ape-nas “desceu” para pegar o diploma e já retornou para Boa Vista. Os interessados mandavam seus documentos através das equipes que iam, mês a mês, para o campus. A UFSM tinha boa reputação e o campus tinha uma história positiva em Roraima, pois lá, o objetivo de interiorização proposto pelo Projeto Rondon funcionou muito bem. Em 1979, so-mente integrando o quadro de funcionários do estado de Roraima, havia mais de 150 egressos da UFSM.

Foi uma aventura pela Amazônia e pela região norte do país. Para além do conhecimento, foi possível andar pelo Brasil e ver sua grandiosidade e riqueza.

.txt - Em 1989, o Projeto Rondon foi extinto e, em 1996, surgia o programa Universidade Solidária, cujas ações eram semelhantes ao projeto precursor. Em 2005, o nome Projeto Rondon foi resgatado e retomou

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suas atividades, agora sob coordenação do Ministério da Defesa. Quais as diferenças entre a primeira fase e o atual momento do Projeto Rondon?

Bira - O antigo Rondon era assistencialista, enquan-to o novo modelo adota outra concepção, de capacitação de multiplicadores. O tempo disponível para as atividades tornou-se menor, os tempos são outros e há outra realida-de no país. Por isso, hoje o Rondon busca formar multipli-cadores em determinados assuntos. Eles aprendem novas coisas, e são capazes de crescer e mudar sua realidade. Essa capacitação de multiplicadores também dá chances para o acadêmico avaliar sua capacidade de conhecimento e de comunicação. A resposta da comunidade também impor-ta, assim como a participação nas nossas oficinas.

.txt - O envolvimento da UFSM já é tradicional no Projeto Rondon. A Instituição participou de quase to-das as operações do programa. Apesar de ter participa-do tantas vezes, cada nova operação pode ser conside-rada um desafio?

Bira - Costumo dizer que cada operação parece ser a primeira. Sinto-me motivado a cada nova etapa – os luga-res são novos, as pessoas também. Isso é provocante pela novidade e expectativa do que poderemos encontrar na cidade. Na nossa Universidade, o Projeto Rondon é algo especial. Por isso, levo sempre tudo a sério e busco atingir os objetivos de equipe. Não sou egoísta, mas sempre quero que a minha Universidade seja melhor que a outra! O fato de se estar em um lugar diferente é um desafio muito gran-de, e saber conviver com as pessoas que trabalharemos é complicado. A ideia não é ser o “salvador da pátria”, mas de alguma forma tentar contribuir para o próximo.

.txt - Em quais lugares a Universidade já atuou?Bira - Com o projeto Universidade Solidária, fomos a

Coari/AM, Antônio Cardoso/BA, Caroebe/RR. Por meio desse programa, fomos também a Jatobá/PE – onde esti-vemos quatro vezes (2001-2004) –, Canapólis/BA e Nina Rodrigues/MA. Na segunda fase do Projeto Rondon, atu-amos três vezes em Tabatinga/AM, fomos a Marechal Tau-maturgo/AC, Oiapoque/AM, Faro/PA, Lagoa da Confu-são/TO, Barros Cassal/RS, Salto do Jacuí/RS, Orocó/PE e Arari/MA.

.txt - Quais são as vantagens que o acadêmico tem em participar das Operações do Projeto Rondon?

Bira - A maior vantagem é a oportunidade da expe-riência que só a Extensão oferece. Essa retroalimentação

é a pregação principal do Projeto Rondon e da Extensão Universitária: trazer para dentro da Universidade as ques-tões que são próprias da comunidade. Acredito que o aca-dêmico, ao ser veículo dessa relação, tem um crescimento muito grande. Por menos que ele tenha conseguido atingir todos os objetivos, assim mesmo, ele trouxe um aprendi-zado, até pela derrota – mas geralmente é pela vitória de ter conseguido aplicar tudo aquilo que ele se propôs. Se o aluno não conseguir atingir sua plenitude, ele vai saber identificar as dificuldades que teve e fazer as correções no decorrer da sua vida profissional. É também a oportunida-de de poder experimentar esse Brasil maravilhoso, além de criar expectativa de mercado de trabalho, de conhecer as possibilidades.

.txt - E o que o Projeto deixa de mais especial para o aluno que participa dessa experiência?

Bira - Acredito que o acadêmico que participa do Pro-jeto Rondon tem outra visão de mundo. Sai estimulado pelo princípio humanitário de solidariedade e de parti-cipação. O universitário rondonista tem um crescimento muito grande porque descobre, a partir dali, as potenciali-dades da nossa Universidade, enriquecendo sua formação cidadã e acadêmica. O espírito de brasilidade de qualquer um de nós aumenta consideravelmente porque apren-demos a respeitar este país e a nos identificar com uma riqueza nossa, que é vítima da cobiça internacional. Nós temos a oportunidade de, ao viajar, conhecer todas essas riquezas. E tudo isso serve muito para informação e ama-durecimento do universitário. .txt

Atividades realizadas no Amapá, em 2007

Para ser um Rondonista

70% do curso completo;Participação em Projeto de Extensão;Carta de recomendação do seu curso;Projeto baseado nas informações do município selecionado.

Equipe da UFSM na Operação Rei do Baião, em Orocó/PE (2010)

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categorias

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O EsquiladorQuando é tempo de tosquia/ já clareia o dia com outro sabor/

Os versos de “Esquilador”, cantados por Telmo de Lima Freitas, descre-vem com poesia o início de mais

um dia de lida campeira de Ari Vieira de Sou-za, funcionário do Departamento de Zootec-nia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) desde 1978 e que, há quatorze anos, trabalha no Laboratório de Ovinocultura. A função desempenhada por Seu Ari na Insti-tuição talvez esteja entre as menos burocrá-ticas. Em contrapartida, o cumprimento de suas obrigações exige muita dedicação de tempo e energia.

Seu Ari costuma chegar ao trabalho por volta das sete horas da manhã. Não cumprirá suas próximas horas de expediente dentro de uma sala com ar condicionado num prédio de concreto, mas em galpões, baias, mangueiras e potreiros. Ao invés de passar café, prepara o chimarrão a ser partilhado com os demais participantes da reunião matinal que definirá a ordem do dia para as lidas com um rebanho de aproximadamente 300 ovinos.

Na primavera, quando a temperatura co-meça a aumentar, é tempo de aparar a lã dos animais.

Um descascarreia/ outro já maneia/ e vai levantando/ para o tosador

Durante a realização da tosa, a divisão de tarefas entre Seu Ari e os alunos dos cursos de Medicina Veterinária e Zootecnia do Cen-tro de Ciências Rurais (CCR) parece coreo-grafar a canção que exalta o ofício de tosquiar ovelhas.

As tesouras cortam /em um só compasso/ enrijecendo o braço/ do esquilador

Enquanto isso, uma a uma, as ovelhas vão perdendo a lã. Homem acostumado desde cedo às lidas do campo, ele orienta com fir-meza o ofício da gurizada menos experiente na esquila. No entanto, sua aparente dureza é desfeita nas palavras ternas que revelam seu carinho pelos acadêmicos: “Esses guris

são como meus filhos” – diz o funcionário da UFSM. Além de esquilador, Seu Ari é uma espécie de capataz do Laboratório de Ovinocultura. Cuidados com alimentação e vacinação dos animais são rigorosamente controlados por ele. Para fins de pesquisa acadêmica, o funcionário mantém anotados e atualizados em cadernetas todos os dados sobre o rebanho cultivado

A silhueta desse esquilador revela um ho-mem simples que guarda a sabedoria do cam-po. Suas mãos calejadas pela tesoura revelam marcas da rotina de um duro trabalho braçal. Seu Ari representa uma categoria profissio-nal pouco evidenciada na Universidade, mas fundamental para que as pesquisas na área de produção rural avancem. “Produzir uma car-ne de melhor qualidade, com o menor gasto, no menor tempo, é o que buscamos nas pes-quisas dos alunos e dos professores. Orien-tamos o produtor a repetir nossas experiên-cias porque nossos resultados são positivos”, pondera. A seu modo, Seu Ari contribui com a construção do conhecimento dos acadêmi-cos da área de Ciências Rurais sobre um tema que a vivência do campo se encarregou de lhe ensinar..txt

Janine Appel, Kamila Baidek e Marlon Dias

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.txtgeral

Trajeto conflituosoAnelise Dias e Gregório Mascarenhas

Aumento do preço da passagem gera divergências entre Prefeitura, ATU e estudantes

Pouco mais de dez quilômetros separam o centro da cidade do campus da Universida-de Federal de Santa Maria (UFSM). Qua-

tro linhas de ônibus – Vale Machado, Bombeiros, Tancredo Neves e Circular – transportam, diaria-mente, estudantes, funcionários e visitantes até a Cidade Universitária. Mas nem sempre essa viagem é tranqüila. Problemas como lotação maior do que a permitida, atrasos e indisponibilidade de linhas em determinados horários podem transformar um percurso necessário em aborrecimento. Se a quali-dade do serviço de transporte tem influência direta na rotina do usuário, o valor da tarifa é determinan-te no orçamento. No dia 26 de outubro, o preço da passagem subiu de R$2,00 para R$2,20. A tarifa au-mentou, mas o serviço se manteve problemático.

A relação entre a Associação dos Transporta-dores Urbanos de Santa Maria (ATU), a Prefeitura Municipal e os universitários sempre foi conflituosa. Quando o atual prefeito Cezar Schirmer (PMDB) venceu a eleição municipal em 2008, comprome-teu-se em mediar as crises entre os responsáveis pelo transporte coletivo municipal e os usuários. Na época, em entrevista à .txt (edição nº 3, outubro de 2008), Schirmer disse: “A passagem em Santa Maria é cara. Deveria ser R$1,40. Uma coisa é certa: eu não vou assumir e aumentar a passagem”.

Com menos de dois anos na gestão de Schirmer, Santa Maria teve o segundo aumento da tarifa. Com as promessas não cumpridas pelo prefeito, a relação entre estudantes, Administração Municipal e ATU piorou. Os universitários que dependem do trans-porte coletivo permanecem insatisfeitos. O estu-dante Omar Albuquerque, graduando em Ciências Sociais pela UFSM – um dos cursos noturnos da Universidade – queixa-se da lotação e da escassez de linhas à noite: “se eu pegar um ônibus às 18h ou 18h15min, que são horários de pico, eu vou em pé. Como embarco na última parada da Rua do Acam-pamento, o ônibus vem sempre lotado. Além disso, o tempo de espera entre um veículo e outro é de 15 a 20 minutos. Se espero por um ônibus menos lota-do, chego atrasado à aula”.

Já para a estudante de Medicina Isabel Ferreira, o problema é a pouca oferta de veículos que per-correm o trajeto Bombeiros/Universidade: “Não existem muitos ônibus da linha Bombeiros fora do horário de maior movimento. Então, todo mundo espera e, quando o ônibus chega, lota logo na se-gunda parada.” E complementa: “além do mais, a frota do Bombeiros é bem menor, se comparada à da Vale Machado”. segue

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Manifestantes bloquearam o trânsito na Rua do Acampamento em protesto ao aumento da passagem

Foto: Nathália Schneider

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geral

.txt Novembro de 20108

O percurso do aumentoQuando o ex-prefeito Valdeci Oliveira

(PT) foi eleito, em 2000, a tarifa do trans-porte público em Santa Maria era R$0,80. De lá para cá – tanto no governo petista quanto no atual – o valor da passagem sofreu suces-sivos reajustes até chegar aos atuais R$2,20. O aumento representa 275% em dez anos – ou seja, o custo para o passageiro quase triplicou. No mesmo período, a inflação no Brasil somou 73,35% segundo os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Quando a tarifa subiu de R$1,80 para R$2,00 – no terceiro mês do governo Schir-mer –, algumas exigências a serem cumpri-das pelas empresas de ônibus foram firma-das no Decreto Executivo Nº 020, de 9 de março de 2009. No documento assinado pelo prefeito, estavam firmadas algumas exi-gências: implantação da passagem integra-da até fevereiro de 2010, ampla divulgação dos horários e freqüências das linhas atuais e implantação de veículos equipados para o transporte de pessoas com necessidades especiais. Conforme o documento, o des-cumprimento desses compromissos formais por parte das empresas implicaria na não concessão de novos aumentos e no retorno da tarifa para R$1,80.

Em fevereiro de 2010, Schirmer revogou

o Decreto. No lugar do documento anterior, o prefeito apresentou um novo, no qual desconsiderava as exigências formalizadas anteriormente e renovava a concessão do transporte coletivo às mesmas empresas por mais dez anos – sem que houvesse processo licitatório.

Apesar disso, a pressão exercida pelas empresas através da ATU para que o preço aumentasse continuou. De acordo com o Secretário de Controle e Mobilidade Urba-na, Sérgio Renato Medeiros, a Associação já havia protocolado o pedido de atualização do cálculo tarifário quatro vezes em 2010. Na quinta tentativa, a prefeitura cedeu. O cálculo foi refeito e, segundo os dados apre-sentados pelo governo municipal, o custo para o passageiro deveria ser R$2,31.

No dia 11 de outubro – uma semana e um dia depois do primeiro turno das elei-ções –, Sérgio Medeiros apresentou o estu-do com a proposta de aumento. O estudante de Direito do Centro Universitário Francis-cano (Unifra) e um dos porta-vozes da opo-sição ao reajuste, Tiago Aires, lamenta a falta de transparência e abertura para o debate: “o pedido foi feito numa segunda-feira, entre um domingo e um feriado. Na quarta, a pla-nilha com os cálculos da nova tarifa já estava pronta para ser apresentada à prefeitura. A população não teria ficado sabendo de nada Secretário de Controle e Mobilidade Urbana,

Sérgio Medeiros, responsável pelo cálculo do reajuste da tarifa do transporte coletivo

A votação no Conselho Municipal de Transportes

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A favor do aumento Sindicato dos Contadores e Técnicos em Contabilidade de Santa MariaSindicatos dos Trabalhadores e Condutores de Veículos Rodoviários (SITRACOVER) Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa MariaSindicato das Empresas de Transporte (SETRANS -SM)Câmara de Comércio e Indústria de Santa Maria/Sindicato dos Lojistas e Câmara dos Dirigentes Lojistas (CASISM/SINDILOJAS/CDL)Sindicato dos Taxistas (SindTaxi)Prefeitura Municipal - três votos: Sérgio Medeiros, Sérgio Martini e Andréa SantosAssociação das Empresas Inter-Distritais

Ajuste da tarifa na última década(valores em reais)

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se algumas pessoas não tivessem assistido à reunião”.

Porém, os valores que compõem o cál-culo tarifário já vinham sendo pesquisados pela Secretaria há mais tempo. Um pedido de orçamento, feito em agosto deste ano (reproduzido abaixo), demonstra que os trâmites necessários para que o aumento se concretizasse já circulavam pelos corre-dores da Prefeitura pelo menos dois meses antes que o reajuste viesse a público.

Feito o cálculo, o próximo passo foi a votação no Conselho Municipal de Trans-portes (CMT). O órgão é formado por 17 entidades que discutem e votam as ques-tões referentes ao trânsito em Santa Ma-ria. O CMT, entretanto, é um instrumento apenas consultivo e não deliberativo – isto é, as decisões tomadas pelo Conselho ser-vem apenas como recomendação e, na prática, as resoluções cabem somente ao prefeito. Porém, segundo Tiago Aires, “na forma como o Conselho foi projetado, os interesses das empresas transportadoras sempre vão se sobressair aos interesses da população. Isso porque as entidades que historicamente votam pelos empresários têm mais cadeiras”.

O professor do Curso de Ciências Econômicas da UFSM Roberto da Luz acrescenta: “o CMT é um conselho polí-tico e não técnico. Há representantes dos estudantes, das empresas de ônibus, da

prefeitura e de algumas entidades. Se o con-selho fosse técnico daria um respaldo para a decisão do prefeito. Mas ele é meramente político”.

No dia 13 de outubro, a chamada para a reunião do Conselho, em caráter extraordi-nário, trazia no texto duas pautas: “apresen-tação do relatório do cálculo tarifário pelo relator”, bem como “votação e aprovação da tarifa de transporte coletivo urbano”. Das 17 entidades que compõem o CMT, 15 es-tavam presentes na votação, que aconteceu no auditório do SEST/SENAT, dia 18 de outubro. O resultado: dez votos a favor da proposta de aumento contra cinco desfa-voráveis (veja quadro). Com a planilha de custos pronta e aprovada pelo Conselho, só faltava a sanção do prefeito.

Oito dias depois, dia 26, Cezar Schir-mer ratificou o reajuste. No entanto, houve uma ressalva: o prefeito decidiu aumentar a passagem para R$2,20 e não para os R$2,31 calculados pela Secretaria de Controle e Mobilidade Urbana. Segundo fontes da Prefeitura, Schirmer optou pelo valor mais baixo porque as empresas não haviam cum-prido as promessas de melhoria na quali-dade do transporte público desde o último aumento, em março de 2009. O professor Roberto da Luz, porém, contesta: “a prefei-tura dá uma base de cálculo maior, já espe-rando que o valor final fique um pouco mais baixo”. segue

O percurso do aumento

Acadêmico de Direito da Unifra, Tiago Aires, opositor ao acréscimo no valor da

passagem de ônibus

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A votação no Conselho Municipal de Transportes

Contra o aumento

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

Diretório Central dos Estudantes (DCE)

Sindicato dos Trabalhadores Urbanos de Santa Maria (STU)

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)

União Santamariense dos Estudantes (USE)

O orçamento anexado à planilha de reajuste apresentada pela Prefeitura

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geralMovimentações na contramão do aumento

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O estudante Rodrigo Almeida (DCE), contrário ao aumento, apresenta documento à Prefeitura

.txt Novembro de 2010

Tão logo os jornais chegavam às bancas trazendo a notícia de que a tarifa do ônibus poderia aumentar novamente, a Universi-dade começava a efervescer. Indignados tanto com o segundo acréscimo na tarifa em menos de dois anos de governo, quanto com as promessas não cumpridas pelo pre-feito Cezar Schirmer, os estudantes se or-ganizaram na tentativa de barrar o reajuste. “Mais aumento eu não agüento”, “2,31 é roubo”, “Se a passagem aumentar, a cidade vai parar” diziam os cartazes espalhados pelos muros de Santa Maria. Iniciavam as panfletagens e as manifestações estudantis que seguiriam até a aprovação oficial do aumento.

Schirmer se reuniria com o CMT para discutir a proposta de aumento, na segun-da-feira, 18 de outubro. Por volta das 6h45 do dia da reunião, os estudantes já se con-centravam em frente à Prefeitura. A reu-nião teria início apenas às 8h, no auditório do térreo. Na tentativa de evitar a presença de manifestantes, o encontro foi transferi-do para outra sala, no quinto andar. Não adiantou. Os estudantes foram até lá.

O prefeito não compareceu. Quem conversou com os estudantes foi o secretá-rio Sérgio Medeiros. Dele, cobravam a ma-nutenção da tarifa, sob a alegação de que as exigências definidas no Decreto Executivo Nº 020, na ocasião do aumento da passa-gem de R$1,80 para R$2,00, não foram cumpridas. Pediam por novo processo li-citatório.

O manifestante Tiago Aires exigia que a Lei Orgânica do Município de Santa Ma-ria fosse respeitada: “é dever do poder pú-blico municipal fornecer serviço de trans-porte coletivo com tarifa que considere

o poder aquisitivo da população, o custo operacional do sistema e a justa remune-ração do serviço”. Mencionou também o caso da cidade de Dourados (MS), onde um sistema de pagamento de propinas en-volvendo o transporte coletivo municipal foi desmantelado pela Polícia Federal. Uma das empresas participantes do esquema fraudulento em Dourados atua também no transporte de passageiros em Santa Maria. Tiago acrescentou: “em Santa Maria ainda não foi descoberto nada parecido. Mas no que depender dos estudantes, aqui não vai sobrar um centavo para a corrupção”.

Frente a tais argumentos, a Prefeitura transferiu a votação do CMT para a tarde, no prédio do SEST/SENAT – localizado em no bairro Nonoai, afastado do centro da cidade. A reunião foi fechada e a parti-cipação de apenas quatro membros do Di-retório Central dos Estudantes (DCE) da UFSM foi permitida. O DCE votou contra; a UFSM também. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi igualmente contrária e alegou que o acréscimo máximo que acei-taria seria de R$0,20. Ainda assim, a pro-posta do aumento da passagem foi apro-vada. Caberia ao prefeito, então, decidir o que seria feito.

Os protestos, porém, não terminariam. Nos dias seguintes à votação do CMT, os estudantes voltaram à Prefeitura pedindo por uma audiência pública. Dessa vez, não foi permitido que entrassem no prédio. Como resposta à manifestação estudantil, o prefeito assinou um termo de compro-misso redigido a próprio punho, no qual garantia a realização de audiência pública na Câmara de Vereadores. Pedia apenas que a data fosse marcada pelos estudan-

tes. A audiência foi agendada, então, para a noite de segunda-feira, 19 de outubro. Às 19h, os estudantes estavam lá, como firma-do no acordo. Junto deles, compareceram vereadores, líderes de movimentos sociais, representantes de entidades e usuários do transporte coletivo.

O prefeito não foi à Câmara nem man-dou representante. No dia seguinte à au-diência, assinou a aprovação do aumento. Apesar disso, a luta dos acadêmicos não acabou no momento do reajuste da pas-sagem. O Coordenador Geral do DCE, Eduardo Flech, assevera: “vetar aumento na tarifa é uma das bandeiras do Diretó-rio, mas não é a única. Nossa briga é por um transporte coletivo de qualidade para Santa Maria. E, para isso, vamos continuar lutando”. .txt

Foto: Anelise Dias

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O projeto de extensão do curso de Engenharia Mecânica da Univer-sidade Federal de Santa Maria

(UFSM), Bombaja, tem uma nova divisão desde março deste ano. Trata-se do Fórmu-la SAE, que consiste em construir, a cada ano, um carro diferente. A equipe é forma-da pelo professor orientador, Mário Edu-ardo Santos Martins, e por alunos da En-genharia Mecânica. O grupo representa a UFSM na cidade de Americana, São Paulo, onde acontece a competição Fórmula SAE, no campo de testes da Goodyear de 19 a 21 de novembro.

O Bombaja é suporte para outros pro-jetos do Centro de Tecnologia da UFSM, como o Baja SAE, o Aerodesign SAE e o Eficiência Energética, além do próprio Fór-mula SAE. Dentro do Bombaja, os acadêmi-cos têm a oportunidade de aplicar os conceitos que aprendem em sala de aula e adquirir expe-riência para atuação no mercado de trabalho. No caso do Fórmula e de outros dois projetos, o Baja e o Aerodesign, existe ainda outra insti-tuição responsável por estas produções: a SAE, que significa Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos que visa difundir co-nhecimentos relativos à tecnologia da mo-bilidade. Fundada por líderes como Henry Ford, Thomas Edison e Orville Wright em 1905 nos Estados Unidos, a SAE está atual-mente constituída em 93 países, e presente no Brasil desde 1991.

Em março deste ano, um grupo de alu-nos de engenharia resolveu dar início a uma tarefa ousada: construir do zero um carro muito parecido com os de Fórmula 1 em apenas sete meses. O estudante de Engenharia Mecânica Gibran Portolan dos Santos é integrante do programa Bombaja

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Gabriel Eduardo Bortulini e Luiz Valério Seles

geral

Uma nova fórmula na engenhariaProjeto Bombaja aproxima acadêmicos ao mundo do automobilismo

Integrantes da Equipe Fórmula SAEAndrea Corneli Ortis, Artur Krüger, Cássio Lino Cassol Görck, Cristiano João Brizzi Ubessi, Eduardo Cezar Marques, Evandro Farias Medeiros, Felipe Mittmann Hilgert, Fernando Machado Leal, Fernando Mariano Bayer (Professor), Gabriel Azevedo Tatsch, Gibran Portolan dos Santos (Capitão), Guilherme Paul Jaenisch, Jeferson Machado Callai, Leonardo Barili Brandi, Leonardo Aier Trost Morcelli, Luciano Rivas Mendes Ribeiro, Macklini Dalla Nora, Mariane Wojciechowski Barbosa, Mario Eduardo Santos Martins (Professor Orientador), Miguel Guilherme Antonello, Paulo Henrique de Oliveira, Paulo Romeu Moreira Machado (Professor), Rafael Sebastião Miranda, Renan Felipe Schirmer, Rogers Guilherme Reichert, Susana Tebaldi Toledo, Villiam Hackenhaar, Vinícius Bernardes Pedrozo, Vinícius Rückert Roso, Willian Rigon Silva.

desde seu primeiro semestre de curso, em 2007. Fez parte do Baja SAE até o final de 2009 e, com o surgimento do projeto Fór-mula SAE, no início de 2010, entrou na equipe e foi escolhido capitão. “O nosso objetivo sempre foi ter o carro para esse ano. Tem outras equipes que preferem ter esse tempo maior, cerca de dois anos de projeto e fabricação. Já a nossa abordagem foi diferente porque para reunir recursos a gente precisava mostrar o carro. Para obter esses recursos da universidade e externos, dos nossos parceiros, era preciso mostrar o carro”, comenta Gibran dos Santos.

O carro projetado pelos acadêmicos

é um monoposto (veículo para uma pes-soa) de competição, com o motor de até 600 cilindradas. É um protótipo que pode ficar abaixo de 200 kg com o piloto. Isso somado à potência de seu motor de 100-110 cavalos pode fazer o carro atingir com facilidade os 200 Km/h. Possui boa parte da tecnologia de um Fórmula 1 em escala reduzida.

A oportunidade de aplicar nos proje-tos as teorias aprendidas em sala de aula desenvolve um acadêmico mais completo. A produção é profissional e engloba desde a fabricação do protótipo, com projetos secundários para cada parte do veículo,

materiais e peças, até os relatórios de custos.

No geral, o projeto tem como patrocinadora a indústria metal-mecâ-nica. Porém, o apoio dos patrocinadores se restrin-ge à cessão do material necessário. A equipe ain-da não conseguiu apoio financeiro de fora da universidade. “A Reitoria nos deu um apoio feno-menal para o laboratório de motores que está em licitação e vai ser cons-truído no ano que vem. Foram R$ 600 mil”, conta o orientador do projeto, Mário Martins. .txt

Fotos e ilustração: arquivo equipe Fórmula SAE

Equipe simulando medidas com a estrutura pronta

Iustração do protótipo

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Nem oitonem

oitentaMoradores da Casa do Estudante

protestam contra excessos da vigilância da UFSM

Quinta-feira, 7 de outubro de 2010, 21h. União Universi-tária. Aos poucos uma sala vazia, que serve de auditório improvisado, vai se enchendo. Moradores da União e

das Casas do Estudante Universitário (CEU) do campus realizam uma Assembleia Geral. Esse tipo de reunião às vezes junta pouco mais de uma dezena, mas esta parece diferente. Logo começam a faltar cadeiras. Mais tarde, nem se encontra mais lugar para ficar em pé. Quase 300 estudantes acotovelam-se para ouvir e serem ouvidos. O tema, a segurança na Universidade.

Há mais ou menos um ano, alguns moradores da Casa inco-modaram-se com certas atitudes da vigilância. Segundo uma car-ta de denúncia que circulou entre os alunos, e foi lida na Assem-bleia, vigilantes estariam cometendo “ações repressivas e ilegais”. O documento ia além: citava ações como perseguições, constran-gimento público, toque de recolher, ameaças físicas, morais e até mesmo de morte “por parte da chefia da vigilância e de seus su-bordinados”.

Quem narra um desses casos é o estudante de Filosofia e mo-rador da CEU II, Gabriel Vaccari: “temos um Grupo de Estudos Marxistas e colocamos cartazes de divulgação. Chegou ao extre-mo dos vigilantes arrancarem das paredes. Se dentro de uma uni-versidade você não pode colar cartazes de um grupo de estudo, é porque a coisa se desvirtuou completamente”. A estudante de Pedagogia e membro da Direção da CEU, Márcia Rambo, lembra de outro caso: “Sabemos de pessoas que estavam no bosque e no Planetário pela noite e que foram abordadas com armas sacadas pela vigilância”.

Os moradores presentes na reunião do dia 7 de outubro ou-viam com atenção os relatos dos membros da Direção sobre a si-tuação. Também foram informados sobre as negociações com a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) e com a Pró-Reitoria de Infraestrutura (Proinfra). As acusações não foram contestadas e à medida que cada um pedia a palavra, mais depoimentos se somavam.

Da maior Assembleia da CEU dos últimos anos, fez-se um documento com propostas. A sala de um grupo de estudos, no bloco 13, que estava sem uso e que fora ocupada pela vigilância há alguns meses deveria voltar aos alunos. Quanto à atuação dos vigilantes, os estudantes queriam um abrandamento e não o seu fim. “Não queremos nem oito e nem oitenta”, disse o estudante de Ciências Sociais e membro da Direção da Casa, Fabrício Teló.

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Iuri Müller e Mathias Rodrigues

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.txtO protesto e as repercussões

Na semana seguinte, ocorreu outra As-sembleia – que resultaria em uma manifes-tação no saguão do prédio da Reitoria, no dia 20 de outubro. Desta vez, dos cem alu-nos presentes, dois se manifestaram con-trários às deliberações e se disseram a favor das atitudes da segurança. Segundo eles, havia utilidade nas ações, já que os furtos diminuíram, bem como o barulho. Como representavam uma parcela numericamen-te insignificante, o ato foi mantido.

O protesto rendeu resultados: a sala do bloco 13 foi devolvida e os vigilantes foram obrigados a usar crachás durante o traba-lho. Ao invés de abrandarem o tratamento

com os estudantes, os vigilantes teriam, de acordo com alguns moradores, ficados alheios à CEU II. O morador Gabriel Vac-cari se posiciona: “de tão fácil que foi essa

vitória, me parece duvidosa. Não sabemos se foi um passo político para dizer: já que não querem vigilância, a gente tira tudo, até que aconteça um grande problema”. E

não é esse o pedido: “sabemos da necessi-dade de segurança, só que os vigilantes não podem exceder limites”.

O aluno ainda constata qual a parcela de culpa dos estudantes na situação: “você vai cada vez mais perdendo a sua capaci-dade de intervir. Isso foi uma das questões que deu origem a esse ganho de autoridade da vigilância.” Vaccari exemplifica: “quan-do um morador ouve outro com um som alto, ele não tem a capacidade de pedir para que abaixe a música. Ele liga para a vigilân-cia. Essa é a contradição da situação, nós também somos responsáveis pelo que está acontecendo” – admite.

Tensão distancia a vigilância da CEU IIO conflito que tanto desagradou os

estudantes teve, desde as primeiras quei-xas, um alvo principal: o chefe do setor de vigilância da UFSM, Romeu Lemes. Há quase duas décadas na instituição, o ex-policial militar conta que não havia tido problemas com alunos até então. E sobre a atualidade, diz que o desgaste poderia ter sido evitado. A questão com o chefe da vigilância tomou contornos pessoais: nas manifestações, o nome de Romeu foi gri-tado e sempre relacionado ao destempero das ações.

Para que o descontentamento fosse freado, bastaria, segundo Romeu, uma conversa franca com os acadêmicos. “Me colocaram um rótulo, como escreveram numa parede “Romeu Repressor”. Disse-

ram que eu ameacei alguém de morte, mas nunca falaram comigo. Eu fico chateado, porque trabalho na UFSM há muito tem-po e nunca tive problema com estudante”, lamenta. Todas as queixas chegaram a ele

na manifestação do dia 20, na Reitoria.Com placas e faixas estampando frases

como “pra que(m) serve a segurança?”,

“segurança para proteção e não opressão” e “estudante não é patrimônio”, cerca de cinquenta estudantes protestaram no pré-dio da administração da UFSM. Reclama-vam das abordagens truculentas, do posto de vigilância que surgiu dentro da Casa do Estudante e da complacência da Reitoria.

Romeu Lemes reconhece que pode ter havido, sim, excessos em certas ações – mas nega que a equipe de vigilantes seja despreparada. Em esferas superiores da Universidade, defende-se a ideia de um curso de preparação. O pró-reitor de assuntos estudantis, José Francisco Dias, afirma que “é preciso definir que tipo de pessoa vai atuar na casa; que se faça um treinamento para os vigilantes que não sa-bem como abordar um estudante.”

Fotos: Camila M

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Moradores reclamavam das abordagens

truculentas, do posto de vigilância

que surgiu dentro da CEU e da complacência

da Reitoria

“Sabemos da necessidade de segurança, só que

os vigilantes não podem exceder limites”

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capa

O pensamento encontra eco nas pa-lavras do reitor da UFSM, Felipe Müller. Em entrevista para a .txt, ele garante que solicitou “uma capacitação em gestão de pessoas, e principalmente na gestão de jo-vens e adolescentes” para a Pró-Reitoria de Recursos Humanos (PRRH), destina-da àqueles que trabalham mais próximos às Casas do Estudante.

Assim como Romeu, o reitor também é criticado pelos moradores descontentes – pois foi logo no primeiro ano da gestão de Felipe Müller que a atuação da vigilân-cia se intensificou. A situação, entretanto, poderia ter mais ligação com antigos pro-blemas da Casa do Estudante do que com uma ordem da Reitoria.

O cenário da CEU II apresentava as-pectos complicados. Segundo o chefe da

vigilância, nos últimos tempos houve re-gistros de furtos, arrombamentos, tráfico de drogas e tentativa de estupro. Mais do que qualquer tentativa de repressão, a ins-talação do posto de vigilância na Casa foi justificada pela realidade do local.

Por outro lado, os estudantes afirmam que jamais exigiram o fim da segurança:

para que os problemas fossem soluciona-dos, os alunos não poderiam temer justa-mente quem os protege, como disse Ga-briel. Mas após as reclamações, o que se viu foi a ausência da vigilância nas cerca-nias da CEU II.

Da repressão ao abandono, teria sido uma questão de poucos dias. Desde que o

antigo posto de vigilância voltou aos alu-nos, as rondas praticamente deixaram de existir. A diretora da CEU II relata que na semana posterior à reintegração da sala, só ouviu o barulho do tradicional Opala da vigilância em uma única madrugada. Ro-meu afirma que a Casa não foi entregue à sorte – os prédios estariam protegidos por uma vigilância móvel e, por isso, menos visível.

Já o reitor Felipe Müller reconhece que “houve um momento de conflito” que ge-rou o sumiço dos vigilantes, mas que du-rou apenas três dias. A solução foi abrir o gabinete da Reitoria para a Direção da Casa. O posicionamento do reitor é claro: “o que nós queremos não é a eliminação da vigilância, e sim uma vigilância que possa conviver de forma pacífica, que possa en-tender as necessidades de uma população em termos de lazer e convivência”.

À procura de um tom moderadoe também pelas da Reitoria, formou-se um grande emaranhado de inquietudes entre estudantes e vigilantes. Mas os próximos passos, ao que parece, devem ser de mais

negociação e menos conflitos. Os direto-res da Casa do Estudante ainda buscam medidas mais flexíveis, como a permissão da volta dos passeios pelo campus durante

Perguntado se o recente conflito en-fraquece a assistência estudantil da Uni-versidade, o pró-reitor José Francisco Dias diz que a UFSM segue uma linha que vai contra a tendência de diminuir a proxi-midade com o acadêmico. Instituições de Santa Catarina e do Paraná já repensam o modelo de abrigar estudantes dentro dos limites universitários, o que não ocorre em Santa Maria. O pró-reitor também lembra que a discussão da segurança entre alunos e vigilantes é um tema nacional – e que “é a partir do debate que as soluções se ampliarão”.

Da Assembleia em que surgiram as de-núncias, passando pelas manifestações e pela argumentação do chefe da segurança,

toda a noite e a madrugada.O episódio pode ser resumido como

um combate a dois exageros. Na visão da vigilância, houve excesso nas reivindi-cações dos alunos, “o pessoal fala em re-pressão, compara a época atual com a do Regime Militar. Eu vivi aquele tempo, era um tempo de palavras proibidas, em que sumia gente. Hoje, se pode debater. Os moradores nunca me procuraram para dis-cutir os problemas da vigilância” – lembra Romeu. Já para os alunos, o exagero repre-senta um cerco à liberdade de expressão e sugere um comportamento repressivo dos responsáveis pela segurança – aspectos de uma vida universitária que se assemelha-ria àquele período histórico. .txtFo

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No gabinete do reitor...

“Houve um momento de conflito”, admite o

reitor Felipe Müller

Os próximos passos, ao que parece,

devem ser de mais negociação e menos

conflitos

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.txt Novembro de 2010 15

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Acordar cedo, cumprir horários pré-determinados, dirigir-se à universidade, fazer contato diariamente com colegas e professores são tarefas que fazem parte da rotina da maior parte dos universitários do Brasil. Entretanto, com o advento de novas tecnologias, surge uma nova possibilidade de crescimento profissional para pessoas que não dispõem de tempo ou de recursos financeiros para frequentar um curso pre-sencial.

“É demasiado retrógrado pensar que as metodologias de ensino não evoluam, não se transformem. Hoje, a sede de co-nhecimento e informação é tão grande que o espaço físico não poderia limitar a aprendizagem” afirma Mateus Schmidt, 20 anos, escriturário da Prefeitura Municipal de Três Passos, RS, e acadêmico do curso de Licenciatura em Física na modalidade à distância, pela Universidade Aberta do Brasil (UAB).

A criação da UAB se deu em 2005, pelo Ministério da Educação, visando a amplia-ção e interiorização da oferta do ensino superior gratuito no Brasil. Suas ações, em parceria com os estados, municípios e uni-versidades, procuram identificar e alcançar as áreas carentes de educação para a devida implementação de novos pólos. São ofere-cidos cursos de graduação, pós-graduação e extensão com o objetivo de implementar a educação à distância (EAD) em várias instituições públicas do território brasi-leiro, inclusive na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Su-perior), em 2009 a UAB ofereceu 129.474 vagas em 88 instituições federais e estadu-ais de ensino superior e 723 pólos de apoio presencial. Até 2011, o sistema UAB prevê

o estabelecimento de cerca de mil polos no Brasil.

De acordo com o coordenador da UAB na UFSM, Fábio de Bastos, prioriza-se três aspectos: 1) a formação de professo-res da Educação Básica do Brasil, uma vez que nem todos a possuem; 2) o resgate da agricultura familiar e 3) cursos na área de políticas públicas. Bastos acrescenta que a EAD não é tão à distância como se ima-gina: há encontros presenciais para avalia-ções dos acadêmicos, tais como provas e seminários. Esses encontros acontecem ge-ralmente às sextas-feiras, a partir das 19h, e nos sábados, de manhã e de tarde.

Pela internet, o contato entre aluno e universidade acontece através de um am-biente virtual de ensino-aprendizagem: o Moodle. Por meio do Moodle os alunos re-cebem semanalmente tarefas, vídeo-aulas, módulos de leitura e exercícios. Além dis-so, há um fórum para os acadêmicos posta-rem dúvidas e esclarecerem conteúdos.

Os cursos de graduação abrangem as mais diversas áreas como: Física, Letras (ênfase em Espanhol ou Português), Pe-dagogia, Sociologia, Tecnologia em Agri-cultura Familiar, Administração Pública e Educação especial. São 27 polos espa-lhados pelo Rio Grande do Sul, além dos demais distribuídos por outros estados, como Paraná, São Paulo, Ceará e Tocan-tins. Os polos comportam estrutura com computadores, biblioteca, tutor e espaço para encontros presenciais.

Para o aluno do curso de Administra-ção Pública Ead do polo de Restinga Seca - RS, Sidney Marchiori, 35 anos, há pro-fessores e tutores de plantão diariamente para elucidar possíveis dúvidas que surjam ao longo da disciplina. “Eu me obrigo a ter que estudar e pesquisar muito. É preciso

ter muita discipli-na, pois os horários

sou eu quem escolhe, mas tenho prazos semanais

a cumprir. Toda semana temos módulos de leitura e tarefas a rea-

lizar. Antes de ingressar no EAD pensava que seria mais fácil”.

Após longos períodos de exclusão, cidades pequenas que não contam com instituições públicas recebem do projeto Universidade Aberta do Brasil a oportu-nidade de acesso à educação de nível su-perior.

A servidora pública e acadêmica do Curso de Administração Pública EAD do polo de Sobradinho, RS, Marilise de Mo-raes, 29 anos, declara que a UAB é uma oportunidade de crescimento profissional e que seria “praticamente impossível fre-qüentar aulas regulares porque trabalho de dia e aqui não tem universidade”, conta.

Em contrapartida, a educação pre-sencial sempre teve e terá seu espaço no processo educativo: trata-se de um siste-ma tradicional, de bastante credibilida-de que não dispensa a presença física do professor e promove a convivência entre alunos e docentes. Geralmente, os alunos do ensino regular são pessoas que não tra-balham e que dispõem de mais tempo ou condições financeiras para se dedicarem a uma universidade em tempo integral.

De qualquer maneira, seja próximo ou à distância, as duas modalidades têm um fim comum: aprimorar a formação de pro-fissionais que já se encontram no merca-do, preparar os que ainda não foram nele inseridos e, ainda, dar chance àqueles que jamais sonhariam em estar num ambiente acadêmico, seja por entraves financeiros ou geográficos. .txt

Greice Marin e Bárbara Barbosa

Projeto Universidade Aberta do Brasilpromove educação ao alcance de todos

EAD: uma opção de ensino

UFSM

Polos de apoio

Arte: Maiara Alvarez

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geral

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O lugar onde uma pessoa se encon-tra altera seu modo de agir. É isso que enuncia o sociólogo ameri-

cano Erving Goffman, conhecido por seus estudos sobre as interações em espaços pú-blicos. Longe de ser apenas um cenário, o espaço condiciona a forma como nos rela-cionamos com as pessoas dentro dele. Isso pode ser constatado durante um almoço no Restaurante Universitário (RU), ao obser-varmos o local com um olhar mais demora-do. O ambiente coletivo, em um contexto no qual todos têm pressa, faz com que o comportamento grupal se altere significa-tivamente.

A fila externa, que permanecia como uma reclamação quase unânime dos es-tudantes até a abertura do novo RU no campus, parece ter sido deixada para trás. Com o problema mais elementar já sana-

do e a entrada dos usuários mais tranqüila, passou a ser possível focar atenções para dentro do RU: o fluxo interno e o aprovei-tamento de espaço.

No Restaurante, todos são levados a obedecer convenções determinadas pela forma como as pessoas fazem uso do lugar. Da mesma maneira, deve-se considerar a “situação social”, ou seja, verificar o que o contexto dispõe. Isso sigifica, por exemplo, que dentro de um ambiente como o do RU, é importante compreender a necessidade de facilitar o fluxo de pessoas. O diretor do RU, Odone Romeu Denardin, exemplifica: “Já me sugeriram colocar uma televisão, mas se eu fizesse isso muitos se distrairiam e ficariam ainda mais tempo sentados”.

Para o melhor fluxo de pessoas, inclu-sive, lança-se mão das cores estratégicas. A professora do curso de Publicidade e

Propaganda da UFSM, Juliana Petermann, explica que a psicologia das cores orienta o uso dos diferentes tons de laranja, que estimulam o apetite e ao, mesmo tempo, faz com que as pessoas comam num ritmo mais acelerado.

Em pesquisa de opinião realizada pela reportagem da .txt entre os dias 9 e 10 de novembro com 140 estudantes, a perma-nência nas mesas por mais tempo que o ne-cessário para a refeição é um dos compor-tamentos considerados mais prejudiciais ao bom andamento das atividades no RU (59%), e também uma das mais recorren-tes. Também foram assinalados o desres-peito à fila de entrega da bandeja (38%) e a marcação de mesas com pastas ou bolsas (21%).

Outras ocorrências, apesar de menos frequentes, são mais sérias. Logo que os co-pos permanentes foram implantados, mui-tos foram furtados, levando a assessoria de comunicação do RU a realizar uma campa-nha em tempo recorde para que as pessoas atentassem para o fato. Segundo o diretor, a campanha teve um efeito positivo e hoje o problema é quase inexistente: “No começo foi mais grave, os copos não voltavam. Ago-ra são apenas casos isolados”. Além disso, em outras ocasiões, registrou-se também furtos de objetos nos escaninhos. Do uni-verso dos pesquisados, 5% relatou ter sido vítima de furto, especialmente de guarda-chuvas. Contudo, Denardin pondera que as reclamações dessas ocorrências por en-quanto cessaram.

RU: modos de usar e conviver

Como o Restaurante Universitário e o comportamento dos seus usuários se relacionam

Giuliana Matiuzzi e Olívia Scarpari

Desrespeito à fila externa

18%21%Marcação das mesas com objetos pessoais

38%Desrespeito à fila de entrega

59%

4%

Permanên-cia desnes-sária nas mesas

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Práticas prejudiciais à boa convivência no RU

Fonte: pesquisa .txt

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.txt Novembro de 2010 17

A pesquisa realizada pela .txt também questionou aos 140 usuários, a quem eles atribuiriam maior parcela de responsabi-lidade por eventuais tumultos dentro dos Restaurantes Universitários da UFSM. Constatou-se que 61% das pessoas acre-ditam que isso seria um problema estru-tural do RU e outros 39% dos pesquisados crêem que, na verdade, a maior parte dos tumultos ali ocorridos se dá pela falta de eficiência do público freqüentador do Res-taurante.

Um problema bastante importante que a diretoria registra é o da aglomeração para a entrega da bandeja: “Na maioria das ve-zes, os estudantes são rápidos para entregar os materiais, mas se tem alguém que atrasa e que demora mais do que o normal, isso já prejudica todo o fluxo. Tem gente que de-mora dois segundos para entregar todos os elementos da bandeja; outros, dois minu-tos. Não tem muito o que fazer”, comenta Denardin.

O arquiteto da Pró-reitoria de infra-estrutura (Proinfra) da UFSM, Alberto Brilhante, está do lado que crê que os con-tratempos ocorridos se devem à falta de estruturas e planejamento para os Restau-rantes Universitários da UFSM – juntos, em média, os RUs giram suas catracas para um contingente de 5.500 almoços diários. “Não se trata da culpa dos usuários. Vejo que o aluno, mesmo aquele que está ain-da se acostumando com o novo sistema da Universidade, em dois meses já se habitua com a ordem correta da entrega dos utensí-lios utilizados”.

Para sanar esses e outros problemas, uma reforma seria necessária. “O problema reside na organização funcional do RU. Por exemplo, sabe-se que 90% da população é destra, por que então o sistema de entrega no RU é feito pela esquerda e não pela direi-ta? É claro que uma reforma repercutiria na cultura do RU, tanto por parte dos funcio-

nários, quanto por parte dos que almoçam ali. No entanto, para isso acontecer, preci-samos reformular a estrutura da cozinha e outras partes externas, e isso custa caro.” – afirma. Alberto Brilhante também sugere que a ordem de entrega da bandeja deveria ser modificada: “Logicamente precisaria começar pelas coisas mais leves como en-tregar os talheres e copos primeiro”.

Para o psicólogo Luciano Haussen, “dois aspectos que sabidamente geram es-tresse na maioria das pessoas são o barulho intenso e constante em locais com muita gente”.

O arquiteto da Proinfra explica que de-vido a entraves financeiros não foi instalado um sistema de atenuação de ruídos no RU. “A cozinha é o local mais barulhento de um refeitório. Os funcionários empilham pra-tos, etc. Os RUs não contam com sistemas de abafamento desses sons. Isso sem contar que, como se trata de um restaurante com muitas pessoas, o barulho das conversas e das movimentações também reverbera.” – avalia o arquiteto. Em meio a um ambiente tão estrepitoso, o local causaria desconfor-to nos usuários.

Em relação às condutas inadequadas por parte dos freqüentadores do Restau-rante, Haussen avalia que uma possível ex-plicação para esse tipo de comportamento é o fato das pessoas se sentiriam mais à von-tade quando protegidas pelo anonimato de um grande grupo. Segundo Haussen, tais atitudes, em diferentes graus de seriedade, deflagrariam o pensamento dos que infrin-gem convenções nesses contextos: “Eles raciocinam assim: ‘se todos estão fazendo, também posso fazer’ e isso é aumentado se não há nenhuma punição ou resposta nega-tiva do meio”. O especialista ainda assegura que conflitos são choques de educações di-ferentes entre os participantes da situação: “Por mais que isso pareça batido, aquilo que os pais transmitem será apresentado

fora de casa”.O arquiteto Alberto Brilhante cita ain-

da outros problemas no comportamento dos usuários que estão diretamente ligados à estrutura do espaço do Restaurante Uni-versitário. “Quando bolamos o projeto do novo RU nos baseamos no que dava errado, e continua dando, no RU antigo. Um dos problemas que os usuários enfrentam é o da locomoção nas dependências do recin-to. No novo RU, dividimos as mesas por se-tores com diferentes cores. Isso nos permi-tiu deixar corredores bastante espaçosos. Como no outro restaurante a quantidade de mesas foi aumentada e não o espaço em si, a dificuldade de locomoção causa pro-blemas”. O arquiteto cita o caso de pessoas que transitam procurando local para se sen-tar e que, acidentalmente, acabam batendo as bandejas nas pessoas que já estão senta-das, ou que, pelo esbarrão, acabam derru-bando líquidos no chão. Também lembra que, como as mesas do RU antigo possuem a mesma cor, os usuários demoram mais tempo para localizar um assento vazio. E ainda, uma vez identificado, se o local for muito distante, a dificuldade de locomoção poderia incorrer em constrangimentos de convivência, como o caso de um outro usu-ário se sentar antes no lugar pretendido.

Como explicava o teórico Erving Goff-man, o modo como os hábitos se propagam constrói o ambiente. No Restaurante Uni-versitário, o coletivo estabelece significa-dos e se apropria de um local que é um dos mais importantes da assistência estudantil. A renovação dos usuários é cíclica e a cul-tura de uso está sempre sendo transforma-da, ainda mais em épocas de expansão da comunidade universitária, como é o caso da UFSM. Analisar o comportamento de uma estrutura tão relevante para o bom funcionamento da Universidade faz com que, quem sabe, se empreendam melhorias a respeito do uso desses espaços..txt

Estrutura física versus comportamento do usuário

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Quem caminha pela Floriano Peixoto e passa pelo prédio do Centro de Ciências Sociais e Humanas (CCSH), antiga sede da Reitoria da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),

dificilmente repara na fachada amarela, bem na beirada da calçada. Por trás dali acontece um importante projeto de extensão. Em cima de um portãozinho de latão branco, uma placa azul indica: ali funciona a Assistência Judiciária Gratuita da UFSM que beneficia a comunidade de Santa Maria desde 1978. Na época, o curso de Direito não contava com um espaço dentro da Instituição para que os alunos experimentassem o cotidiano da profissão. Então, a Pró-Reitoria de Extensão implantou o projeto cujo regimento interno, criado em 1996, tornou-o uma sub-unidade do CCSH.

Na Assistência, trabalham geralmente alunos dos últimos semestres, tanto do Direito Diurno, quanto do Noturno, que dão aconselhamento a todos que procuram uma solução aos seus mais diversos casos. “Se for um caso previdenciário, trabalhista ou penal a gente só aconselha a pessoa a procurar núcleos jurídicos ou a defensoria pública”, explica o estudante do décimo primeiro semestre de Direito e estagiário, Niklas Hamm. Já quando são casos de direito civil, de família ou de revisão de contratos, os estudantes solicitam que a pessoa agende uma entrevista de triagem com a assistente social da Assistência Judiciária, Mara Bortoluzzi.

A triagem leva em consideração fatores sociais, como renda e gastos mensais, para determinar se a pessoa preenche os requisitos para o atendimento. É beneficiado quem ganha no máximo três salários mínimos. Entretanto, essa norma é abrandada em casos específicos, como quando o cliente tem muitos filhos, paga pensão ou comprova que não tem condições de pagar um advogado particular.

Para a população santa-mariense, a Assistência é uma forma acessível de fazer valer os seus direitos, enquanto para os alunos, é uma maneira de colocar em prática a teoria aprendida em sala de aula. As situações cotidianas são muito mais complicadas do que as hipotéticas que o acadêmico analisa nos semestres anteriores. Apenas aliando esse conhecimento à prática jurídica, o estudante conseguirá alcançar a maturidade necessária para o mercado de trabalho.

Além do exercício prático da profissão, o estágio também permite que o acadêmico entre em contato com uma vivência que, muitas vezes, é afastada da sua. “É um forte baque saber o que frequentemente acontece em comunidades como Boi Morto, Vila Carolina, Urlândia ou Jockey Clube. Não temos noção do tipo de violência que muitas dessas pessoas sofrem”, pondera Niklas. Tratar de situações reais e contribuir para mudar a realidade de uma pessoa são aprendizados para um acadêmico, que passa a enxergar no seu curso, além de uma carreira de futuro, uma forma de fazer valer princípios de justiça, igualdade e dignidade humana.

O trabalho desenvolvido na “casinha amarela” bem na beirada da calçada, há mais de 30 anos, aproxima a população santa-mariense mais humilde do que já é dela, mas que geralmente desconhece: seus direitos. Uma sociedade mais justa não se vale apenas de leis postas, pois justiça social se conquista principalmente nas ações cotidianas. Nesse quesito, a Assistência Judiciária da UFSM já está fazendo a sua parte. .txt

Direito em extensão

de dentro para fora

UFSM presta assistência jurídica gratuita há mais de 30 anos

Eduarda Toscani

Após a entrevista de triagem, o caso é estudado pelos alunos até encontrarem uma solução para o problema, seguindo a orientação dos professores Carlos Nor-berto Vieira e Maria Ester Bopp. Só então encaminham a petição inicial do proces-so. Os estudantes acompanham todo o desenrolar do caso, acompanhando as notas de expediente e repassando o an-damento às partes. Enquanto o processo esta correndo, os clientes também são as-sistidos por alunos do curso de Psicologia da UFSM, que prestam apoio emocional e psicológico. Segundo o diretor, Éverton Miralha Massia, cerca de 85% dos casos que a Assistência recebe são de direito fa-miliar. O estudante Niklas Hamm detalha que boa parte desses casos são de pesso-as que querem terminar sua vida conjugal devido à violência familiar.

O trabalho da Assistência não se limita ao auxílio nos trâmites jurídicos, pois dá outros suportes para a superação desses conflitos. Já em casos mais brandos, ten-ta-se a audiência de conciliação entre as partes, como explica Everton: “há situa-ções em que o próprio casal se reconcilia ou entra em acordo, então nem precisa-mos encaminhar a ação”.

Como funciona a Assistência

UFSM possui Assistência Judiciária para carentes

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19.txt Novembro de 2010

Foto: Arquivo Cepesli

Os diferentes usos de uma lingua-gem, por si só, são elementos afirmadores e identificadores das

relações culturais de uma sociedade. Pela língua falada e sua utilização abstraem-se conclusões sobre o contexto cultural e a forma como os indivíduos se apropriam dela.

Conhecer outro idioma deve ser essen-cial para quem convive com culturas dis-tintas no seu ambiente de trabalho. Não é mesmo? Quem bem pode afirmar isso são os policiais rodoviários – brasileiros ou es-trangeiros –, que entram em contato com pessoas de múltiplas nacionalidades no cumprimento de sua função. Nos países do Mercado Comum do Sul (Mercosul), esses profissionais vivem em meio a um crescen-te incremento do turismo entre os quatro países membros originários da união adu-aneira (Argentina, Brasil, Paraguai e Uru-guai).

Frente a essa realidade, dois projetos de extensão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) vêm agregando qualidade ao dia-a-dia de policiais brasileiros e uru-guaios responsáveis pela fiscalização e pelo cuidado das rodovias de seus países. Os cursos de capacitação em Português Ins-trumental para Agentes do Governo Uru-guaio: Polícia Rodoviária e em Espanhol Instrumental para Agentes do Governo Brasileiro: Polícia Rodoviária possibilitam que profissionais que exercem a mesma função nos países vizinhos aprendam a lín-gua correspondente dos colegas.

O projeto surgiu em 2005, diante de um pedido por aulas de espanhol instru-mental pela Polícia Rodoviária Estadual à coordenadora dos projetos de extensão e do Centro de Ensino e Pesquisa de Línguas Estrangeiras Instrumentais (Cepesli), pro-

fessora Maria Tereza Marchesan. Segundo ela, os policiais sentiram a necessidade de capacitação para lidar com turistas de pa-íses vizinhos que viajavam ao litoral brasi-leiro no verão.

A falta de compreensão do espanhol pelos oficiais brasileiros impossibilitava a eficiência comunicacional pretendida na realização de seus trabalhos. A expansão do curso aconteceu quando, em 2006, em conversa com a professora Maria Tereza, a Policía Caminera Uruguaya requisitou que também fosse ministrado aos seus oficiais um curso similar ao já estruturado, voltado ao ensino de português instrumental.

O aprendizado de uma língua estran-geira instrumental é diferenciado do en-sino habitual de idiomas: “o princípio do ensino do idioma instrumental é instruir o aluno o necessário para suprir suas de-mandas de aprendizagem”, detalha Maria Tereza. Dessa forma, o suporte didático composto por apostila e material de áudio é exclusivamente criado para o Curso.

Os benefícios

O comandante regional da Polícia Ro-doviária Estadual, Capitão Elton Colussi, afirma que o curso é importante para a Bri-gada Militar especialmente no atual mo-mento: “estamos próximos de uma Copa do Mundo que ocorrerá no Brasil e trará alto volume de turistas a nosso país. Saber uma nova língua para trocar informações com pessoas diferentes é mais do que ne-cessário para as autoridades que trabalham com público”.

A professora Maria Tereza, por sua vez, destaca que esses projetos expuseram o perfil humano existente por trás da farda dos policiais, o que motivou os acadêmicos

envolvidos a produzirem publicações deri-vadas dos dois projetos de extensão.

A iniciativa é reconhecida como “mis-são diplomática” pelo Ministério das Rela-ções Exteriores. Tal prestígio reafirma uma nobre premissa: o ensino - assim como as grandes rodovias - é mesmo um caminho de mão-dupla, no qual muito se recebe em troca do que se transmite aos outros .txt

Policiais rodoviários brasileiros e uruguaios têm acesso a idiomas instrumentais para agregar valor à profissão

Débora Dalla Pozza

Português e Espanhol: uma via de mão dupla

Aula prática que integra policiais uruguaios e Polícia Rodoviária Estadual é destaque do curso

.txtde fora para dentro

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20 .txt Novembro de 2010

Cinema não se restringe à projeção de imagens e à indústria cinemato-gráfica. Seu produto é obra artísti-

ca, que, por sua vez, não se limita à forma-ção acadêmica de seus produtores.

Mesmo sem possuir um curso de Cine-ma, pessoas ligadas à UFSM sempre man-tiveram uma relação íntima com a Sétima Arte. Um dos casos é o de Sérgio Assis Brasil. Ex-diretor da TV Campus, Assis Brasil foi o responsável pelo primeiro lon-ga-metragem realizado em Santa Maria. Ao adaptar o livro Manhã Transfigurada para as telas, o cineasta deu um grande passo para o crescimento cultural da cidade e quebrou o tabu da centralização da produção cine-matográfica.

Assis Brasil também é um dos responsá-veis por outro marco do cinema na UFSM e em Santa Maria. Junto a outros profissio-nais, fundou o curso de Especialização em Cinema Digital. O Curso teve cinco edições entre os anos de 2002 e 2007 e o resultado foi a produção de diversos curtas-metragens que romperam as fronteiras do Rio Grande do Sul, ganhando destaque em todo o Bra-sil. Dentre as produções, o curta Centopéia (de Cristina Trevisan, Tiago Gonçalvez e

Gabriel Isaia) ganhou o prêmio de Melhor Vídeo Universitário no Festival de Cinema de Gramado e 1969 (de Maurício Canterle e Manolo Zanella) faturou seis prêmios no Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC).

O crescente destaque e a paixão pelas produções cinematográficas culminaram em uma ação do professor e coordenador do curso de Comunicação Social - Jornalismo da UFSM, Rondon de Castro, que também trabalhou na fundação da Especialização em Cinema Digital. A UFSM possui cursos que têm em seu currículo disciplinas e professores com capacidade para suprir as necessidades da criação da graduação em Cinema. O professor enviou o projeto de criação do curso de Cinema para aprovação no Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais (Reuni), mas, infelizmente, esbarrou no “desinteresse de órgãos superiores”, como salientou.

Além de limitar o crescimento da Uni-versidade, a desistência da criação do Curso também atrasa a expansão artística de San-ta Maria, a nossa “Cidade Cultura”. Limitar o crescimento do cinema significa limitar o desenvolvimento de uma das grandes ri-quezas da cidade: o turismo cultural.

Hamartia – ventos do destinoUm contrato firmado em 2004 entre

e UFSM e a Força Aérea Brasileira (FAB) deu início à produção de Hamartia – Ven-tos do Destino, dirigido por Rondon de Castro. Desde então, diversos projetos voltados exclusivamente para a produção do filme foram elaborados em cursos da UFSM. Acadêmicos do Desenho Indus-trial, por exemplo, trabalharam durante um ano e meio na produção do storyboard e da maquete do longa. Acadêmicos da Psicolo-gia atuaram no que chamaram de “psicoha-martia”, ao estudar e criar o perfil dos ato-res, os quais atuaram praticamente como profissionais da FAB. Outra participação muito importante veio do curso de Músi-ca. Um único acadêmico produziu a trilha sonora original e criou uma biblioteca de sons para o filme. No total, foram mais de 50 acadêmicos envolvidos nos projetos.

Hamartia está em fase de montagem e em dezembro será finalizado. Em abril, Rondon de Castro pretende levá-lo para os festivais e salas de cinema do país. Cidades como Porto Alegre, São Paulo, Belo Hori-zonte, Recife e Brasília possuem uma cul-tura cinematográfica muito forte, por isso serão alvo das exibições, ainda no primeiro semestre. Em Brasília, por exemplo, o fil-me será exibido durante um mês em qua-tro salas, a fim de medir o público e então seguir para outros locais. Em seis meses, estima-se um público de, pelo menos, 400 mil pessoas envolvidas diretamente com a FAB, sem contar o público em geral.

Produções como Hamartia seguem o caminho traçado por Sérgio Assis Brasil e outros amantes da Sétima Arte, que lu-taram e trabalham para a manutenção e o crescimento do cinema em Santa Maria. Essas ações mostram toda a força que a vontade e o interesse podem gerar, mesmo que com recursos limitados. O ponto de partida foi dado. Que agora os ventos car-reguem essa arte para caminhos ainda não desbravados. .txt

Gabriela Moraes e Guilherme Porto

cultura

Fotos: Divulgação Hamartia

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21.txt Julho de 2010

.txtFoto: Orozim

bo Ramos Penna

.txt

.txt Novembro de 2010 21

Iuri Müller

o arco da velha

Posse da diretoria do DCE, em dezembro de 1973. À direita da foto,

quase fora do enquadra-mento, está o então reitor

da UFSM, Hélios Homero Bernardi.

Jantar de inauguração da sede do DCE, em

setembro de 1970. O fundador da UFSM,

José Mariano da Rocha Filho, é o último homem antes do

espelho. Mais tarde, o local se transformaria

na tradicional boate do Diretório Central.

Movimento estudantil em protesto na frente do prédio da Reitoria. A névoa que quase esconde o planetário mostra o rigor do inverno de 1980, ao menos naquele agosto.

Fotos: Departam

ento de Arquivo Geral da UFSM

Dando continuidade à seção em homenagem aos 50 anos da UFSM, esta edição traz imagens históricas do Diretório Central dos Estudantes (DCE).

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.txt Novembro de 201022

cultura

Aos 18 anos, José Mariano da Rocha Filho revelou, em carta à sua mãe, Maria Clara Marques da Cunha,

aquele que era o seu maior sonho. Nos idos de 1933, o jovem rabiscara algumas poucas palavras esperançosas, dedicadas ao ani-versário da mãe: “Agora quero dar-vos um abraço e pedir-vos a benção para que este vosso filho seja um homem que produza alguma coisa à humanidade”. Mal sabia ele, ao expressar seus anseios nessas contidas e utópicas palavras, que, 27 anos depois, seu sonho transformar-se-ia em realidade. No dia 14 de dezembro de 1960, o garoto que sonhara produzir “alguma coisa à humani-dade” criaria a primeira universidade fede-ral do interior do Brasil.

Não é de se estranhar, então, que haja homenagens em profusão àquele menino que não mediu esforços para realizar seu sonho. Entre elas, um monumento dedica-do a ele chama atenção e desperta curio-sidade nas centenas de universitários que passam apressados pelo campus todos os dias. Localizado no final da Avenida Rorai-ma, próximo à Reitoria e ainda não com-pletamente finalizado, o monumento agu-ça a curiosidade dos jovens: além de não ser auto-explicativo, também carrega várias teorias a respeito de suas simbologias ocul-tas.

Não há quem nunca as ouviu. Calouro ou formando, quem frequenta a UFSM já deve ter escutado ou criado a sua própria teoria a respeito da imponente construção em frente à Reitoria. Ouvimos várias ver-sões sobre o monumento: algumas envol-vem águias, faróis, a letra “M” de Mariano e a maçonaria. Cansadas de tantas versões diferentes e com a curiosidade aguçada também pela nossa própria imaginação, fomos em busca de alguém que pudesse explicar tão intrigante construção. Francis-co José Mariano da Rocha foi o indicado. Atual diretor do Planetário da UFSM, ele é filho do Mariano. E as explicações vieram.

Francisco nos conta que a ideia inicial do monumento era representar Nossa Se-nhora Medianeira. “Marianinho era muito cristão. Ele queria dedicar a Universidade à Nossa Senhora Medianeira”. Com o andar da obra, outros significados foram incor-porados à ideia inicial. A grande pirâmide,

Símbolos ocultosUm passeio pelo campus pode intrigar um observador mais atento. Entre os monumentos, o que mais chama a atenção, seja pela imponência ou pela curiosidade que desperta, é o dedicado ao fundador UFSM

que muitos acreditam ser a prova da rela-ção de Mariano com os maçons, serviria para representar a busca do homem por Deus, por apontar para o céu.

Além disso, instrumentos de traba-lho (compasso, esquadro) com a ideia de “moldar o caráter” também farão parte do monumento. Porém não estarão ligados aos ideais da Francomaçonaria, e sim aos da Ordem de Malta. “O Mariano era Ca-valeiro de Malta e Cavaleiro da Santa Sé. Os Cavaleiros de Malta são a continuação dos Cavaleiros Templários, só que ligados à Igreja Católica”, revelou.

Ao ser questionado sobre a existência atual da Ordem, as palavras de Francisco faltaram, mas os olhos brilharam, um sorri-so se abriu e as mãos procuraram no bolso um chaveiro. Branco, com uma cruz verme-lha no centro: o símbolo dos Cavaleiros de Malta.

Francisco nos explicou que também havia sido iniciado na Ordem de Malta. Ba-sicamente, sua estrutura é bastante pareci-da com a dos Templários. Porém, enquanto historicamente estes faziam a proteção mi-litar dos cruzados, a Ordem de Malta enfo-cava mais a saúde e a medicina. “No mun-do inteiro, eles fazem o ‘bem’. E os mesmos instrumentos que a Maçonaria usa, já eram usados por eles.”

Agora, depois dessas revelações, um simples passeio pelo campus se tornará di-ferente. A partir de hoje, o monumento em homenagem a Mariano da Rocha assume um novo significado, envolto em toda uma simbologia própria. O irônico é perceber que algumas daquelas teorias conspirató-rias estavam certas. O monumento é cober-to de referências a uma ordem secreta. Não eram os maçons, como muitos apostavam, mas sim os Cavaleiros de Malta.

Provavelmente, quando, aos 18 anos, Mariano da Rocha Filho escrevera aquela carta à sua mãe contando seus sonhos, ele não imaginava que iria tão longe. O mem-bro de uma Ordem secular que fundou a UFSM, 27 anos depois, com certeza, não era mais aquele garoto dos idos 1933, mas uma coisa pode-se dizer que nele nunca mudou. Ele ainda sonhava em “produzir alguma coisa à humanidade”. E, ninguém pode negar, ele conseguiu..txt

Camila Marchesan, Fernanda Arispe e Julia do Carmo

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BússolaA estética da bússola sugere a exalta-ção da diversidade existente dentro da UFSM. Valorizar as diferenças e as peculiaridades de cada pessoa, seja ela de onde for, é o motivo de se utilizar traços que formam um rosto na obra. Os cabelos, por exemplo, tendo cada fio desenhado de uma maneira diferente, tentam abranger os representantes de todas as etnias. Uma linha reta busca representar descendentes das raças indígena e oriental. Uma linha ondulada busca representar a raça branca, e uma linha encaracolada remete à raça negra. As duas faces da escultura representam a importância, para a instituição, tanto das pessoas que chegam quanto das que deixam a Universidade.

Relógio Solar Equatorial e HorizontalAlém de marcar as horas com as projeções de sua sombra, o Relógio Solar traz alguns simbolismos. Durante os equinócios, a som-bra do relógio projeta uma cruz no centro da estrutura. Ainda, em determinadas épocas do ano, há a projeção da Bandeira Internacional da Paz (um círculo com um ponto no cen-tro). Segundo Francisco, o ponto central da bandeira significaria Deus e o círculo traria a ideia de que todos os homens estão à mesma distância dele. O relógio ainda marca a data da fundação da Universidade (14/12/1960). Todo ano, nessa mesma data, às 14h30 (15h30 pelo horário de verão) a sombra do relógio projeta-se em cima de uma estrela de cinco pontas, desenhada na parte inferior da estrutura. Para comemorar os 50 anos da Universidade, está prevista a construção de um Relógio Solar Indígena, utilizado pelos índios brasileiros para determinar o meio-dia solar, os pontos cardeais e as estações do ano.

IntihuatanaIntihuatana, ou “pedra que amarra o sol”, é um megalito Inca que serve para marcar os solstícios e os equinócios com as projeções de sua sombra. Os incas acreditavam que estava amarrada a esta pedra uma corda de prata que a prendia ao sol. Durante os solstícios, eles faziam uma festividade em volta da pedra para puxar o sol de volta. A estrutura representa um puma em posição de comando. O monu-mento também é dividido em três planos, que representam os três mundos: mundo dos mortos, dos vivos e dos espíritos.

Fotos: Maurício Brum

As simbologias ocultas, porém, não estão

presentes somente no monumento em

homenagem a Mariano. Elas se multiplicam

em outros marcos da Universidade

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.txt Novembro de 201024

Foto

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rício

Bru

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Na última noite dos anos no-venta, duas expectativas mo-nopolizavam os pensamentos

enquanto os foguetes de Ano Novo não espocavam. Um misto de catarse coletiva trazida por um ano redondo como o 2000, com o temor por uma hecatombe digital provocada pelo chamado Bug do Milênio – o sumiço repentino de arquivos em com-putadores com sistemas antigos, nos quais os anos eram marcados com apenas dois dígitos e a passagem de 99 para 00 poderia ser entendida como um retorno a 1900.

Então, na escuridão do 31 de dezembro de 1999, Rato virou o ano no Centro de Processamento de Dados (CPD) de uma UFSM vazia. Além do Hospital, poucas luzes respingavam no espectro da Cidade Universitária e quase ninguém deve ter atentado que, naquele prédio baixo ao lado da Reitoria, havia alguém de vigília para evitar que a primeira alvorada de 2000 ins-taurasse o caos na parte informatizada da Universidade. Rato levou a esposa Leila para fazer companhia, esperou alguns mi-nutos após a meia-noite e constatou o que já imaginava: o medo coletivo não se con-firmou.

O homem que fez o provável plantão menos desejado da história do CPD é co-nhecido como Rato nos recantos da UFSM e estranha quando lhe chamam pelo nome real, Jorge Luiz Alves. A alcunha veio de uma daquelas provocações de infância. O pequeno Jorge tinha as orelhas e dentes pronunciados, o que gerou brincadeiras dentro de casa, e apelido que não se gosta é que pega. Aos 47 anos, com um casal de ratinhos de borracha como mascotes sobre sua mesa no CPD, o técnico em informática evidencia que hoje aceita bem o apelido.

Rato é natural de Santa Maria, mas, nos anos 80, deixou a cidade para trabalhar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), logo após se casar. Em Porto Alegre, sua função era relacionada aos de-partamentos de pessoal da instituição, num setor ingrato – tratava do auxílio para fune-rais de funcionários e lidava com as resci-sões contratuais e demissões numa época em que não havia estabilidade no serviço

público.Sem se adaptar à capital, Rato vis-

lumbrou uma perspectiva diferente para a carreira nos novos computadores que chegavam à UFRGS: passou a fazer o curso técnico em informática e articulou um re-torno à cidade natal. Em 1989, conseguiu a transferência para a UFSM, integrando o CPD, à época, apenas um núcleo situado no sétimo andar da Reitoria. Imediatamen-te, passou a morar no campus, cuidando

do supercomputador que administrava os sistemas da Universidade. Permaneceu no prédio reservado aos funcionários até 2001, quando o computador central foi substituído por servidores relacionados.

Mas as atribuições de Rato se acumu-laram e não se resumiram às correrias para evitar resfriamentos e aquecimentos exces-sivos da ‘máquina’. Também cabia a ele lu-tar contra eventuais problemas no pionei-

ro sistema on-line da UFSM – que desde 1990 registrava as consultas do Hospital Universitário – e prestar atendimento aos usuários no campus. No início dos anos 2000, encarava qualquer variação climática para levar um grupo de estagiários até os porões da UFSM, interligando os prédios com cabos de fibra óptica.

Hoje, ele coordena uma equipe de 14 bolsistas e é responsável pela transmissão televisiva via web de diferentes eventos relacionados à Universidade. Iniciado em 2004, o sistema evoluiu e tem a estimativa de finalizar o ano atual com cerca de 600 eventos transmitidos ao vivo. Já foi fechado um convênio com o Grupo RBS para par-ceria com o Canal Rural.

Rato, que tem dificuldades para lem-brar o nome exato de seu cargo, prefere se considerar um “Severino”. “Quebra os ga-lhos” que surgem, está disposto a tudo, e não gosta da ideia de se aposentar – algo que poderia ocorrer em quatro anos, já que a periculosidade da sua função reduz o tempo de carreira. Nesse dia, Jorge Luiz Alves terá apenas 51 anos. Ele quer ficar. No que depender da sua vontade, o casal de ratinhos não sai tão cedo de cima das mesas do CPD. .txt

Na escuridão do 31 de dezembro de 1999, Rato virou o ano no Centro de

Processamento de Dados de uma UFSM vazia

Jorge, um Rato Severino

Maurício Brum e Yuri Medeiros