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REVISTA UNIVAP Universidade do Vale do Paraíba Universidade do Vale do Paraíba

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REVISTA UNIVAP

Universidade do Vale do ParaíbaUniversidade do Vale do Paraíba

A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos detrabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveramparticipação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica.Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação totalou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa àfonte.

CORRESPONDÊNCIAUNIVAP-Av. Shishima Hifumi, 2.911 - UrbanovaCEP 12244-000 – São José dos Campos - SP - BrasilTel. (0 12) 3947-1036 / Fax (0 12) 3949-1334E-mail: [email protected]

Supervisão Gráfica: Prof.ª Maria da Fátima Ramia Manfredini - Pró-Reitoria de Cultura e Divulgação - Univap - Revisão: Prof.ª GlóriaCardozo Bertti - (12) 3922-1168 - Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3911-4807 - Impressão: Jac Gráficae Editora - (12) 3928-1555 - Publicação: Univap/2002

Campus Centro: !Praça Cândido Dias Castejón, 116 - CentroSão José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3922-2355!Rua Paraibuna, 75 - CentroSão José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3922-2355

Campus Urbanova: !Avenida Shishima Hifumi, 2911 - UrbanovaSão José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000

Unidade Villa Branca: !Estrada Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora - Villa BrancaJacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000

Unidade Aquarius: !Rua Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim AquariusSão José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090

Av. Shishima Hifumi, 2911 - UrbanovaCEP: 12244-000 - São José dos Campos - SP

Fone: (12) 3947-1000 - www.univap.br

Universidade do Vale do ParaíbaUniversidade do Vale do Paraíba

Universidade do Vale do ParaíbaFicha Catalográfica

Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. V.1, n.1 (1993)- .São José dos Campos: UniVap, 1993-

v. : il. ; 30cm

Semestral com suplemento.ISSN 1517-3275

1 - Universidade do Vale do Paraíba

S U M Á R I O

v.9 n.17 dez.02 ISSN 1517-3275

PALAVRA DO REITOR. .................................................................................... 5

EDITORIAL. .......................................................................................................... 7

A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E AUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9

A APRENDIZAGEM DA NATAÇÃO DO NASCIMENTO AOS 6 ANOS- FASES DE DESENVOLVIMENTOLuis Fernando Zulietti, Ive Luciana Ramos Souza ........................................... 12

ENSINO DE ENGENHARIALuiz Carlos Scavarda do Carmo, Antonio de Souza Teixeira Júnior .............. 18

SENSORIAMENTO REMOTO NOS DIFERENTES NÍVEISEDUCACIONAIS: UM ESTUDO DE CASOAngelica Carvalho Di Maio, Sandra Maria Fonseca da Costa, Gilson dosAnjos Ribeiro ...................................................................................................... 27

PLANEJAR COM A PAISAGEM: UMA CONTRIBUIÇÃO DOPAISAGISMO AO PLANEJAMENTO URBANO E REGIONALEmmanuel Antonio dos Santos ......................................................................... 34

AS LEIS DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E SUA RELAÇÃO COMO ÍNDICE DE ÁREA VERDE POR HABITANTEWalter Brant Zaroni de Paiva, Mario Valério Filho ....................................... 44

PLANEJAMENTO E GESTÃO MUNICIPAL INTEGRADA: UMAQUESTÃO PARA DEBATEMaria Lígia Moreira do Carmo, Flávio José Nery Conde Malta ................... 48

URBANIZAÇÃO E MEIO AMBIENTE DO LITORAL NORTEPAULISTA: CONSTRUÇÃO E DESTRUIÇÃOLuciana Ayuko Yui ............................................................................................. 56

AS POLÍTICAS PÚBLICAS DO PODER EXECUTIVO NA REMOÇÃOE/OU REURBANIZAÇÃO DE FAVELAS NO MUNICÍPIO DE SÃOJOSÉ DOS CAMPOS - SPArtur Rosa Filho, José Oswaldo Soares Oliveira ............................................. 61

TECNÓPOLIS, PARQUES TECNOLÓGICOS E INCUBADORASAntonio de Souza Teixeira Júnior ..................................................................... 66

O VETOR ACADEMIA-EMPRESA PARA O INCREMENTO DAINOVAÇÃO TECNOLÓGICAJosé Miguel Alvarez Chaddad, Tales Andreassi ............................................... 78

QUEBRA DE SIMETRIA EM MAPAS EQUIVARIANTES: EVOLUÇÃODO CÓDIGO GENÉTICOMarcio Magini .................................................................................................... 85

Baptista Gargione FilhoReitor

Antonio de Souza Teixeira JúniorVice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade -Sociedade

João Luiz Teixeira PintoPró-Reitor de Credenciamento e Recredenciamento deCursos e de Recredenciamento da Universidade

Ailton TeixeiraPró-Reitor de Administração e Finanças

Luiz Antonio GargionePró-Reitor de Planejamento

Elizabeth Moraes LiberatoPró-Reitora de Avaliação

Élcio NogueiraPró-Reitor de Graduação

Fabiola Imaculada de OliveiraPró-Reitora de Pós-Graduação Lato Sensu

Ana Maria C. B. BarsottiPró-Reitora de Assuntos Estudantis da Univap

Maria da Fátima Ramia ManfrediniPró-Reitora de Cultura e Divulgação

Maria Cristina Goulart Pupio SilvaPró-Reitora de Assuntos Jurídicos

Francisco José de Castro PimentelDiretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba

Francisco Pinto BarbosaDiretor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura eUrbanismo

Frederico Lencioni NetoDiretor da Faculdade de Educação

Luiz Alberto Vieira DiasDiretor da Faculdade de Ciência da Computação

Renato Amaro ZângaroDiretor da Faculdade de Ciências da Saúde

Samuel Roberto Ximenes CostaDiretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas

Vera Maria Almeida Rodrigues CostaDiretora da Faculdade de Comunicação e Artes

Marcos Tadeu Tavares PachecoDiretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

Maria Valdelis Nunes PereiraDiretora do Instituto Superior de Educação

COORDENAÇÃO GERALAntonio de Souza Teixeira Júnior

REVISÃO DE TEXTOGlória Cardozo Bertti

DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃOGlaucia Fernanda Barbosa Gomes

CONSELHO EDITORIALAmilton Maciel MonteiroAntonio de Souza Teixeira JúniorAntônio dos Santos LopesCláudio Roland SonnenburgÉlcio NogueiraElizabeth Moraes LiberatoFrancisco José de Castro PimentelFrancisco Pinto BarbosaFrederico Lencioni NetoJair Cândido de MeloMarcos Tadeu Tavares PachecoMaria da Fátima Ramia ManfrediniMaria do Carmo Silva SoaresMaria Tereza Dejuste de PaulaRosângela TarangerSamuel Roberto Ximenes CostaVera Maria Almeida Rodrigues Costa

PALAVRA DO REITOR

Este 17º número da Revista Univap ocorre em um momento de mudança de alta administraçãoda República, com a posse de um Presidente que se formou na escola da vida sindical, grande parte dotempo lutando pelo atendimento de reivindicações populares por melhores condições de vida, comosaúde, educação e habitação.

Esperamos que consiga tudo que almeja, pois o Brasil necessita ser uma Nação caracterizadapor uma distribuição de renda mais justa e cabe à Universidade lutar por essa condição, como já vemfazendo, mediante a participação em numerosos projetos sociais, não limitados só ao entorno, masmuito mais a dezenas de municípios carentes do Norte e Nordeste do País.

Os artigos ora publicados mostram a preocupação de nossos docentes com a solução deproblemas importantes da nossa sociedade, como Planejamento Municipal, Urbanização, Favelas,Tecnópolis, Ocupação do Solo, além de inserções, ligadas ao ensino e à aprendizagem.

- Qual o desenvolvimento que nos interessa?

A resposta mais abrangente seria: o desenvolvimento sustentável, entendido este com todo o seucompromisso social, do que se quer em termos de revisão da importância da comunidade na organizaçãosocial, unir os objetivos políticos aos sócio-econômicos, com predomínio da ética e do interesse público.Sobretudo, a universidade deve ser um exemplo de democracia, em oposição não só à burocraciaestagnante e obtusa, mas ainda à burguesia deslumbrada pelos falsos valores que a mídia glorifica, aomesmo tempo que ignora os promotores maiores do desenvolvimento sustentável.

Baptista Gargione Filho, Prof. Dr.Reitor da UNIVAP

EDITORIAL

Temos conversado com nossos professores, sobre as perspectivas de ampliar a sua participaçãoem publicações.

Precisamos dispor de um bom número de artigos, abordando com profundidade assuntos ligados,por exemplo, aos núcleos de maior competência da UNIVAP – Planejamento Urbano e Regional ePesquisa Biomédica.

É bem possível que a partir de artigos com base em teses e dissertações, seja possível chegar atrabalhos de boa qualidade.

Outro assunto, é o estímulo à publicação de livros, a partir, por exemplo, de práticas de aulas. Játemos obtido bons resultados, mas seria importante obter maiores contribuições, para chegar a umaEditora da UNIVAP.

É claro que sempre se dirá que não há tempo, que os compromissos de ensino, pesquisa,extensão e administração absorvem todos os momentos

Mas foram as pessoas sem tempo que arranjaram momentos para os grandes saltos doconhecimento. Como Beethoven, mesmo surdo, arranjou tempo para produzir suas sinfonias econcertos? E como Einstein, a partir de um cargo burocrático, conseguiu escrever as equações queprocuram uma explicação para o universo?

Na história de cada grande realização há sempre momentos de desprendimento e de superaçãodas dificuldades aparentemente intransponíveis.

A Universidade, finalmente, não é um gueto erudito e distante, mas um núcleo de excelênciavoltado para o desenvolvimento e para a conquista de um Brasil solidário e igualitário.

Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr.Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade

Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 9

A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E AUNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP)

A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede àPraça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade deSão José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita noMinistério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Ins-crição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filan-trópica e comunitária, que não possui sócios de qual-quer natureza, com seus recursos destinados integral-mente à educação, instituída por escritura pública de 24de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1ºOfício da Comarca de São José dos Campos, às folhas93 vº/96 vº, do livro 275.

A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantidapela FVE, tem como área de atuação prioritária o DistritoGeoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção daeducação para o desenvolvimento da Região do Vale doParaíba e Litoral Norte (DGE-31).

Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi:

a) Campus Centro, em São José dos Campos, situadoà Praça Cândido Dias Castejón, 116, e à RuaParaibuna, 75.

b) Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi,2911, que abrange os territórios dos municípios deSão José dos Campos e Jacareí.

c) Unidade Aquarius, em São José dos Campos, situadoà Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181

d) Unidade Villa Branca, localizado em Jacareí, naEstrada Municipal do Limoeiro, 250.

A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange oscursos e programas a seguir descritos:

1) Graduação, abertos a candidatos que tenham con-cluído o ensino médio ou equivalente e que tenhamsido classificados em processo seletivo.

2) Pós-graduação, compreendendo programas deMestrado, Especialização e outros, abertos acandidatos diplomados em cursos de graduação eque atendam aos requisitos da UNIVAP.

3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aosrequisitos estabelecidos pela UNIVAP.

4) Educação a distância, com uso de novas tecnologiasde comunicação.

5) Formação tecnológica, com formação de tecnólogosem nível de 3º grau.

6) Cursos seqüenciais, por campo de saber, de dife-rentes níveis de abrangência, a candidatos que aten-dam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP.

A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educa-ção integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos deEducação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio eainda de Formação Profissional e Técnica.

A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se:

1) numa função política, capaz de colocar a educaçãocomo fator de inovação e mudanças na Região doVale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31;

2) numa função ética, de forma que, ao desenvolver asua missão, observe e dissemine os valores positi-vos que dignificam o homem e a sua vida em socie-dade;

3) numa proposta de transformação social, voltadapara a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte;

4) no comprometimento da comunidade acadêmica como desenvolvimento sustentável do País e, emespecial, com a Região do Vale do Paraíba e LitoralNorte, sua principal área de atuação.

A UNIVAP está em permanente interação com agentessociais e culturais que com ela se identificam. Como de-corrência da demanda de seus cursos ou dos serviçosque presta, estabelece convênios com instituiçõespúblicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estesconvênios resultam na cooperação técnica e científica,na qualificação de seus recursos humanos etecnológicos, na viabilização de estágios acadêmicos ena prestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizadana trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte,traz consigo a marca da participação comunitária, a partirdo compromisso que tem com a sociedade regional,alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica,na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidadee no exercício da tríplice função constitucional deassegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional,ensino e extensão.Como atividades de extensão, destacam-se, na UNIVAP,aquelas relativas à Comunidade Solidária, que têm porobjetivo mobilizar ações que contribuam para a alfabeti-zação e melhoria da qualidade de vida de populaçõescarentes. Dentro deste Programa, foram realizadasatividades nas áreas de Saúde, Higiene, Cidadania, Edu-cação e Lazer, em Santa Bárbara (BA), Beruri (AM),Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE), Coreaú (CE),Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras (CE), Atalaiado Norte (AM), Pão de Açúcar (AL) e, no Vale do Paraíba,nas cidades de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí,Paraibuna, São Francisco Xavier e São José dos Campos.

Revista UniVap, v.9, n.17, 200210

Todas as pesquisas institucionais da Universidade es-tão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvol-vimento (IP&D), o qual executa programas e projetos econgrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP,envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimen-to e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nasáreas sócio-econômica, genômica, instrumentaçãobiomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e de-senvolvimentos educacionais, ciências ambientais etecnologias espaciais, computação avançada,biomédicas, atrai e dá condições de trabalho apesquisadores de grande experiência, do País e doexterior. Os alunos têm condições de participar, com osprofessores, de pesquisas, executando tarefas criativas,motivadoras, que propiciam a formulação de modelos ede simulações, trabalhando com equipamentos deprimeira linha, e isto faz a diferença entre a memorização

e a compreensão. Bolsas de estudo vêm sendo oferecidasa alunos e pesquisadores, quer pela UNIVAP, quer porinstituições como CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP.

O esforço da UNIVAP em construir, no CampusUrbanova, uma Universidade com instalações especiaispara cada área de atuação, com atenção especial aos la-boratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade,compatível com as exigências da sociedade atual.

A UNIVAP, para o ano letivo de 2003, fiel ao lema de que“o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminharmais seguro”, oferece à comunidade da Região do Valedo Paraíba e Litoral Norte o seguinte Programa, de seusdiversos cursos, que vão desde a Educação Infantil àPós-Graduação, passando inclusive pelo Colégio Técni-co Industrial e pela Faculdade da Terceira Idade.

CURSOS DE GRADUAÇÃO

- Administração de Empresas e Negócios- Arquitetura e Urbanismo- Ciência da Computação- Ciências- Ciências Biológicas- Ciências Contábeis- Ciências Econômicas- Ciências Sociais: História, Geografia- Comunicação Social: Jornalismo- Comunicação Social: Publicidade e Propa-

ganda- Direito- Educação Física- Enfermagem- Engenharia Aeroespacial- Engenharia Ambiental- Engenharia Biomédica- Engenharia Civil- Engenharia da Computação- Engenharia de Materiais- Engenharia Elétrica- Fisioterapia- Letras (Português/Inglês e

Português/Espanhol)- Matemática- Normal Superior- Odontologia- Secretariado Executivo- Serviço Social- Terapia Ocupacional- Turismo.

CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO

- Doutorado

- Engenharia Biomédica

- Mestrado

- Bioengenharia- Ciências Biológicas- Engenharia Biomédica- Planejamento Urbano e Regional- Engenharia de Produção (ensino a dis-

tância).- Sistemas Computacionais Adaptativos

- Especialização - Lato-Sensu

- Engenharia Aeroespacial- Farmacologia e Toxicologia de Produtos

Naturais- Fisiologia do Exercício- Gestão Empresarial- Laser na Biomedicina- Laser na Odontologia- Metodologias de Treinamento- Produtos Naturais, Farmacologia e Toxi-

cologia

- Sequencial

- Sistemas de Telecomunicações- Tecnologia Aeroespacial

(ênfase em Manutenção Aeronáutica)- Tecnologia Aeroespacial

Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 11

(ênfase em Sistemas de Aviões)- Tecnologia e Estruturas de Concreto

São José dos Campos

Com cerca de 500.000 habitantes, São José dos Camposé o município com maior população na sua região, sendoque seu grande desenvolvimento começou realmente coma construção da Rodovia Presidente Dutra e do CentroTécnico Aeroespacial (CTA). Além disso, a localizaçãoestratégica e privilegiada entre São Paulo e Rio de Janei-ro e a topografia apropriada para a construção de gran-des indústrias possibilitaram que a cidade crescesse ver-tiginosamente na década de 70, passando a ser uma dasáreas mais dinâmicas do Estado e a terceira maior taxa decrescimento da década de 80. De 1993 para cá, a cidadepassou por grandes transformações, alcançando avan-ços na área da saúde, desenvolvimento econômico, edu-cação, criança e adolescente, saneamento básico e obras.

O comércio de São José dos Campos é bastante desen-volvido e vive um período de extensão, com vários cen-tros de compras e grandes supermercados e ShoppingCenters. Com mais de 1.000 indústrias, 4.000 estabeleci-mentos comerciais e superando 7.000 prestadores deserviço, o perfil industrial de São José dos Campos temdois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespaciale aeronáutica, como a Embraer, e outro diversificado, comindústrias, como a General Motors, Johnson & Johnson,Petrobras, Rhodia, Monsanto, Kodak, Panasonic, Hitachi,Bundy, Ericsson, Eaton e outras. É o quarto municípiodo Estado de São Paulo em arrecadação e ICMS, atrás

apenas da capital, Santo André e Campinas.

São José dos Campos possui, como resultado da atuaçãode suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais edos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta,mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos des-tacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seusInstitutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica,IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto deFomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Institutode Estudos Avançados.

Com uma vida cultural bastante intensa, o município contacom uma Fundação Cultural e vários espaços culturais,como o Museu Municipal, galerias de arte, centros deexposição, casas de cultura, Teatro municipal, Cine-Tea-tro Benedito Alves da Silva, Cine-Teatro Santana e oTeatro Univap Prof. Moacyr Benedicto de Souza,cinemas, emissoras de rádio FM e AM, Central Regionalda TV Globo, jornais diários com circulação regional,além dos da capital, e várias Bibliotecas Escolares,Universitárias e de Pesquisa, como a da UNIVAP, a doINPE e a do ITA.

A UNIVAP constitui, além do CTA e do INPE, o maiorcentro de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escolaà Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e daTerceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto dePesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorpora-ção da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP,permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pes-quisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com em-presas e instituições do município, notadamente as deensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, deonde são provenientes o reitor, pró-reitores e vários pro-fessores.

Revista UniVap, v.9, n.17, 200212

A Aprendizagem da Natação do Nascimento aos 6 Anos –Fases de Desenvolvimento

Luis Fernando Zulietti *Ive Luciana Ramos Sousa **

Resumo. Este trabalho tem a intenção de mostrar as capacidades de cada criança em sua respectivaidade na natação do nascimento até 6 anos.Desde o nascimento o bebê tem seus reflexos e comportamentos no meio líquido por relembrar suaexistência durante a gestação; a partir do 6º ao 8º mês, começa a deixar de ter comportamentosinvoluntários para ter comportamentos voluntários. A partir dessa fase, a criança se desenvolve nanatação conforme sua maturidade e capacidade, e aos 6 anos a criança alcança 80% de seudesenvolvimento.Através de pesquisas, este trabalho procura mostrar que a natação desde bebê é válida por váriosmotivos e que se o ensino respeitar a capacidade de cada criança, poderão surgir grandes atletasno nosso futuro.

Palavras-chave: Maturação, fases do desenvolvimento, criança.

Abstract. The purpose of this paper is to show each child’s swimming capacity, according to theirage, from birth to 6 years of age.At birth, a baby has a certain reflex and behavior in the liquid environment because she remembersher existence before birth and at 6-8 months of age, begin to lose those involuntary reactions to startvoluntary movements. As from this phase on, the child develops her swimming capacity according toher maturity and skills, and a age 6, the child reaches 80% of her development.Through research, I have formulated this work in order to show that swimming for babies is valid forseveral reasons and that if the teaching approaches respects each child’s skills many great athletesare about to emerge in the future.

Key words: Maturity, development phases, child.

* Professor da UNIVAP.** Professora da A. E. S. J. (Associação Esportiva São

José).

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é mostrar as fases dedesenvolvimento de bebês e crianças até 6 anos. Atravésde pesquisas em livros, apostilas, sites da internet evivências em aulas que o primeiro autor ministra,percebeu-se que o desenvolvimento do bebê na águainicia-se durante a gestação, pois relembra sua vivênciadentro da barriga da mamãe, o que demonstra que a águaé prazerosa. O desenvolvimento na água acontececonforme sua maturação, com o aprimoramento de seusreflexos e da coordenação.

Para cada fase de desenvolvimento da criança,existem as respectivas capacidades neuro-motoras para

a realização de movimentos na água. Desde o nascimentoo bebê já possui seus reflexos e respostas motoras nomeio líquido.

Este processo é dividido em dois períodos: oSensório-motor, que compreende do nascimento aos 24meses e o Período pré-operacional que vai dos 3 anos atéos 6 anos, período que se caracteriza pela realização demovimentos característicos dos estilos da Natação.

Para que possamos promover uma boa adequaçãodo bebê às atividades aquáticas, devemos nos fixar noritmo próprio de cada criança e obedecer o seudesenvolvimento global, que é diferenciado de outra, emnível mental-cognitivo e sócio-emocional.

2. O SIGNIFICADO DA MATURAÇÃO NODESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA NA NATAÇÃO

Segundo Lima (1999), durante muito tempo a

Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 13

natação foi realizada de modo mecanista e detalhista,visando mais o plano técnico do que o pedagógico, ondeas crianças eram supervisionadas por técnicos os quaistinham como meta ensinar os estilos para formação denovos atletas em pouco tempo.

A natação permanecia reduzida a um conceitopuramente mecanista, buscando exclusivamente e deforma incessante desempenhos imediatos e deixando delado as relações de reciprocidade, sociabilidade epsicomotricidade. Com isso, os alunos se desinteressavampela natação por não assimilarem as rápidas informaçõese pela especificidade dos movimentos que lhes erampassados.

A natação ou qualquer outra área na EducaçãoFísica deve proporcionar o inter-relacionamento entre oprazer e a técnica, através de procedimentos pedagógicoscriativos, podendo ser sob formas de jogos, brincadeiras,desde que visando sempre o desenvolvimento da criança.

Conforme Lima (1999), os primeiros conhecimentose estudos do ensino da natação versam sobre o nível ouestado maturacional do aluno; muitos professoresutilizam exercícios não apropriados para a idade, por issonão eram realizados com eficiência.

“Maturação é o estado de prontidãoneurofisiológica do organismo em realizardeterminadas tarefas, independentes ou não dos fatoresambientais” (Lima,1999).

Se ensinarmos exercícios que são precoces para aidade, poderemos trazer frustrações e desistências porparte do aluno, pois ele não conseguirá realizar osmovimentos demonstrados pelos técnicos, pelaespecificidade do exercício.

A aprendizagem conduz o indivíduo a estar diantede um fator novo, com a inter-relação entre os fatoresinternos (representados pelo nível maturacional evivências anteriores dos indivíduos) e externos(representados pelo meio ambiente e estratégias doprofessor), resultando na redução da tensão ao aprenderdeterminado exercício.

O primeiro fator, e talvez o mais importante, é queo indivíduo sinta prazer em estar na água e descubra asboas sensações que ela lhes proporciona.

Segundo Bresges (1980), bebê não aprende anadar; dando-lhe oportunidade, aprende, isto sim, a fazeruso de suas vantagens inatas – grande flutuabilidade,reserva de oxigênio, inconsciência do perigo etc. – para,eventualmente, FICAR LIVRE DO PERIGO N’ÁGUA.

A criança bem encaminhada desde os primeirospassos nos facilitará o trabalho e constituirá o elementomais elevado de aptidão psicomotora, necessários paraas grandes performances.

A natação age como um pré-estímulo motor, pois,antes mesmo de a criança tentar deslocar-se fora da água,já o consegue dentro da água, porque ela fica muito leve,conseguindo, assim, executar movimentos que muitasvezes não consegue fora da água. A criança realiza osmovimentos de acordo com sua idade e seu nível dedesenvolvimento.

3. ESTIMULAÇÃO AQUÁTICA PARA BEBÊS

A chamada “Natação de lactentes ou para bebês”,que abrange os primeiros 18 meses de vida, pouco tem aver com a natação propriamente dita.

O bebê na água relembra sua vivência dentro dabarriga da mamãe durante a gestação, podendo-sededuzir, então, que a água é prazerosa, principalmente obanho deve ser uma descontração.

Os primeiros passos de uma estimulação aquáticaseria o banho, que tem por objetivo trazer prazer ao bebê.Deixar respingar água no rosto e depois deixar escorrer aágua da cabeça para o rosto e brincar muito durante obanho.

Os preparativos para a natação do lactente,iniciam-se já imediatamente após a alta do pediatra,devendo-se:

· Reduzir a temperatura da água do banho aospoucos até atingir 32º;

· Familiarizar a criança com a água;

· Habituar os pais a um manuseio seguro dacriança.

Conforme Fonseca (1983), um elementofundamental para as experiências com bebês no meioaquático é a presença da mãe/pai/alguém que lhe é familiar,junto dele na água, durante todo o processo deestimulação aquática, isto é, a “aula”, onde os pais vãoproporcionar-lhes segurança afetiva e segurança física,atuarão como agentes no auxílio no desempenho e nós,professores, seremos os mediadores.

Não é recomendado substituir os pais, nem mesmopelo professor altamente especializado. Deve-seconsiderar os aspectos psicológicos de cada criança: obebê ainda tem um círculo muito restrito de seu meioambiente; os adultos que o cercam, são os de sua

Revista UniVap, v.9, n.17, 200214

convivência familiar e doméstica, portanto, qualquerpessoa estranha que entre no seu pequeno mundo serámotivo de abalo em seu equilíbrio emocional, então comos pais, as crianças já não se assustam tanto.

Como é citado no livro de Bresges (1980), a boaadaptação ao meio líquido dependerá principalmente darelação da criança com a água, sendo resultado da maneirapela qual a aproximam do meio líquido e do tempo que lheconcederam para brincar.

Antes de tudo existem quatro aspectos essenciaisnesta fase: o respeito pela fase de desenvolvimentomaturacional que o aluno se encontra, o contato físico, ocontato social que o aluno terá com o professor e asegurança, pois não basta que o aluno esteja seguro esim que ele se sinta seguro.

Segundo Barbosa (1999), existem alguns estímulospsicomotores no meio líquido. São eles:

· Desenvolver com harmonia suas habilidadesmotoras através de movimentos e formaslúdicas;

· Estimular sua coordenação fina e grossa,através dos movimentos e materiaisespecíficos;

· Estimular a percepção dos cinco sentidos: tato,audição, visão, olfato e paladar;

· Despertar e sentir diversas sensações atravésdos movimentos;

· Exercitar seu equilíbrio, vivenciando diversasposturas aquáticas;

· Proporcionar a motivação na água, paradeslocamentos;

· Desenvolver a noção espacial e lateralidadeatravés dos mergulhos, giros, saltos etc.

· Exercitar seus movimentos espontâneos;· Vivenciar diferentes sinais gestuais e verbais;· Promover o desenvolvimento sensório-motor

e da inteligência (Piaget).

Contudo Corrêa & Massaud (1999) afirmam queas expectativas de realizar as atividades aquáticas paraos bebês são:

1) Evitar acidentes em piscina: no caso de acriança cair na piscina acidentalmente.

2) Evitar futuros problemas motores: a nataçãoage com pré-estímulo motor, pois, antes mesmode a criança tentar deslocar-se fora da água, jáo consegue dentro dela, porque ela fica muitoleve, conseguindo, assim, executar movimentos

que muitas vezes não consegue fora da água.

3) Melhorar a saúde dos bebês: muitos pais achamque a natação vai fazer o “milagre” de curarseus bebês de problemas respiratórios. Nãoexiste qualquer afirmação científica a esserespeito, afirma o Dr. Flávio José Magalhães.“Apesar de muito auxiliar na respiração, anatação comum, da forma como é ministradaem escolas e clubes, não é capaz de auxiliar acriança a controlar uma crise respiratória.”

4. FASES DO DESENVOLVIMENTO PEDAGÓGICONA NATAÇÃO DESDE O NASCIMENTO ATÉ OS 6ANOS

Piaget (1982) propõe dois estágios dedesenvolvimento até os 6 (seis) anos:

1. Período Sensório-motor: do nascimento aos 2anos.

2. Período Pré-operacional: dos 3 aos 6 anos.

4.1. Período sensório-motor

Este período é compreendido do nascimento até acriança completar 24 meses.

A criança durante esta fase adquire habilidades eadaptações do tipo comportamental, e ainda nãodesenvolveu habilidades como raciocínio, coordenaçãomotora mais fina. Os exercícios são realizados através deadaptações de estímulos, respostas e estímuloscondicionados. Comportamentos adaptativos,inteligentes a utilização de brinquedos, imitação deanimais aquáticos e as fantasias são as principaisestratégias do período sensório-motor.

Do 1º ao 4º Mês:

Segundo Lima (1999), a criança utiliza mais osreflexos no relacionamento com o meio ambiente, isto é,qualquer barulho ou uma luz mais forte chamará a atençãoda criança. Os primeiros banhos são imporkkktantes paraa adaptação ao meio líquido; a maneira com que os paismolham o rosto ou transferem o seu calor para a criançaajudará no aprendizado da natação.

Durante este período de vida a criança fortaleceseu relacionamento com o mundo exterior, começa a sentirprazer pela água e as diferenças de temperatura.Praticamente o elo de ligação entre a criança e o meioambiente é o choro.

Com a água no rosto, apresenta bloqueios

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respiratórios, observa o ambiente movimentando braços,pernas e o olhar. Os movimentos apresentados sãorústicos. Realiza movimentos na água com auxílio doprofessor.

Exercitar na posição de frente para a água(decúbito ventral) é importante para obter segurança. E,depois, em decúbito dorsal, pois estimula a sua visão, otato e a audição.

Do 4º ao 8º Mês: adaptações intencionais

Durante este período a criança começa a manipularo meio externo. Chora quando sente ou deseja algo. É operíodo mais interessante para colocá-la na natação, poissua imunidade já está mais desenvolvida, sendo a épocaideal, não para aprender os estilos, mas sim para se adaptarao meio líquido. Quando a água molha as viasrespiratórias externas (boca e nariz) a respiração dolactente sadio é bloqueada por reflexos.

Conforme Bresges (1980), estes bloqueiosrespiratórios que os bebês apresentam, a partir do 6º ao8º mês, são comportamentos voluntários. O bebê começaa reter a respiração, o comportamento involuntáriotransforma-se em comportamento voluntário. Por isso, éde maior importância acostumar a criança a mergulhar.Ela observa o ambiente, movimenta os braços e pernasde forma semelhante ao engatinhar. Salta da borda emovimenta-se na água com auxílio do professor; começaa recusar a posição de costas e é capaz de permanecerflutuando livremente até 9 minutos. As músicas são elode ligação professor-criança.

Do 8º ao 12º Mês: comportamento instrumental ebusca do objeto desaparecido

Segundo Lima (1999), é um período ótimo dedesenvolvimento da natação, pois pode-se relacionar osexercícios aos brinquedos. Antes o brinquedo era paraatrair a atenção da criança e agora o objetivo é de integrá-lo aos exercícios.

Com 12 meses, a criança reconhece o professor(sociabilização), salta da borda e desloca-se na água semauxílio e é capaz de ficar em apnéia durante 10 a 20segundos. Entende o pedido “soltar bolinhas dentro daágua”. Abre os olhos dentro da água (usa-se muito osbrinquedos para buscar no fundo da piscina). As músicassão utilizadas para a integração entre o professor-exercício-aluno. A criança tem uma flutuação em decúbitodorsal autônoma de até 15 minutos, troca posições(dorsal, lateral, ventral) e faz giros. Até essa idade, arespiração é o reflexo da glote.

Do 12º ao 18º mês: reações circulares terciárias

Conforme Lima (1999), a partir desse período acriança inclui no seu universo a figura das pessoas queestão com ela esporadicamente, como professores denatação, tias, avós etc, aumentando seu relacionamento.Na natação realiza movimentos de pernas semelhantesao engatinhar e começa a perceber e a entender melhor omeio ambiente.

Nesta fase aumenta o tempo de apnéia para 10 a30 segundos; explora mais o meio e abre os olhos,melhorando a curiosidade durante a imersão. Orelacionamento com os brinquedos é realizado atravésde fantasias e histórias os quais fazem parte da aula. Asfantasias e as músicas são as estratégias maisimportantes, coincidindo com a prontidão neurofisiológicada criança, e os primeiros sinais de defesa aparecem nessafase (medo de não colocar os pés no fundo da piscina).

Do 18º ao 24º Mês: representação do mundoexterno, fantasias

O relacionamento com o meio ambiente éconcretizado nesse período, aparecendo os primeirossinais de medo. Não se deve manifestar o medo na criançada parte mais funda da piscina, dizendo, por exemplo:“Cuidado, você pode se afogar aí no fundo”; devemossempre contornar a situação, podendo trabalhar com afantasia como estratégia para essa faixa etária.

Os primeiros movimentos caracterizando osestilos são conduzidos das pernas, semelhantes aos dosestilos crawl e costas, progressivas contribuições(estímulos) de coordenação de braços e pernas paradeslocamentos em decúbito dorsal, movimentosrudimentares dos braços, somente utilizados como apoiopara respirar (elevar a cabeça, não respiração específicados estilos). Com a melhor sociabilização, atenua-se oreceio pela parte mais funda da piscina, com as primeirasnoções de segurança, como entrar e sair da piscina:fundo-raso-evitar corridas.

A criança realiza mergulhos, percorrendo umacerta distância sob a água e buscando a superfície,retornando à borda de origem ou ao professor, e arespiração é sob forma de imitação.

4.2. Período pré-operacional

Período compreendido entre 3 (três) e 6 (seis) anos.

Conforme Lima (1999), é o fim do períodocomportamental e início da compreensão, doentendimento, agrupamento de conceitos, aquisição edesenvolvimento da coordenação mais fina e

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desenvolvimento das habilidades do aprendizado dosestilos da natação. O comportamento é mais sensato elógico nas situações de brinquedo livre. As crianças tema capacidade de compreender novos conceitos, aprendea nadar os estilos, iniciando por movimentos mais rústicosaté a realização de movimentos mais complexos.

Segundo Corrêa & Massaud (1999), na criança,um dos principais objetivos para que se consiga umdesenvolvimento, em busca de saúde e equilíbrio, édesenvolver o gosto pela atividade, através de açõeslúdicas, prazerosas, com objetivos claros, dentro de suacapacidade psicomotora.

Enfatizamos que, nesta faixa etária, as aulas nãodevem atingir somente os objetivos específicos danatação, como a adaptação ao meio líquido e aaprendizagem dos nados. Devem, também, atingir todasas potencialidades da criança, compreendendo osdomínios afetivo, cognitivo e psicomotor.

Nesta faixa etária, normalmente as criançasatingem com relativa rapidez os conteúdos programáticospropostos pela natação. Isto muitas vezes causa umapreocupação por parte de alguns professores, seperguntando. “O que eu faço agora?” , “O que a mãe vaiachar de todos os dias fazermos as mesmas aulas?”

A freqüência deste fato fez com que a nataçãonesta faixa etária se tornasse algo mais do que somenteaprender a nadar. A utilização de materiais facilitam arealizar movimentos variados, ajudando no aprendizado.

É importante que mostremos aos responsáveisque aquela criança está em freqüente evolução.

Aos 3 anos

Segundo Lima (1999), é nesta fase que surgem osprimeiros movimentos oriundos da coordenação maisfina, com pernas de crawl e costas mais caracterizados.movimentos de braços não somente como apoio, mastambém como deslocamento. Como braçada de crawl,somente a fase submersa – mais fácil. Caracterização dasfantasias nos exercícios, como: Foguete – braçosestendidos, uma mão sobre a outra, deslizar pela água.Comportamento de explorar a piscina realizando atravésde brincadeiras como “caça ao tesouro”. Atividadesrecreativas durante e ao final das aulas; saltos da bordacom apoio de aros são bem aceitos.

Aos 4 anos

Acentua-se a coordenação mais fina,conseqüentemente os movimentos das pernas de crawle costas ficam mais elaborados, aproximando-se do

movimento ideal. Nesse momento as pernas começam aauxiliar a sustentação do corpo. Quanto aos movimentosde braços, ainda são realizados com dificuldade,principalmente o movimento aéreo (recuperação), peladificuldade em tirá-los da água.

Aos 5 anos

Conforme Lima (1999), é comum encontrar, nessafase mais intensa da coordenação, crianças comdesenvolvimento mais tardio em relação a outras ecrianças que ficam durante alguns meses sem apresentarevolução nos movimentos. Apresentamos aos alunos acoordenação das pernas e braços e a respiração específicado crawl – respiração lateral. Os movimentos da braçadasão realizados com mais facilidade, principalmente a parteaérea. É importante incrementar os movimentos das mãosnas diferentes direções com o objetivo de desenvolver asensibilidade quanto à sustentação e propulsão(deslocamento). Iniciamos a coordenação dosmovimentos das pernas, braços, respiração específica,até alcançarmos o nado completo, complexidade demovimentos que a criança deverá realizar.

Aos 6 anos

Os movimentos coordenados dos estilos crawl ecostas são mais elaborados, iniciando a fase doaperfeiçoamento. É incrementado o mergulho elementar,movimentos mais elaborados do que os saltosapresentados nas idades anteriores. As crianças realizamalguns movimentos de pernada de peito.Maturacionalmente é a idade em que as crianças maisassimilam os movimentos dos estilos crawl, costas emergulho elementar, encerrando praticamente a primeirafase da pedagogia da natação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho busca demonstrar aimportância da sociabilização e da estimulação do bebêno meio líquido, nas fases de seu desenvolvimento motorque vai do nascimento aos 6 anos.

A cada uma das fases corresponde uma grandevariedade de movimentos.

A natação propriamente dita inicia-se a partir dos5 anos, podendo haver casos mais precoces, em que ascrianças começam a realizar movimentos característicosdos estilos. Até então, podemos dizer que o “nadar” sãoESTÍMULOS AQUÁTICOS PARA BEBÊS.

O oferecimento de atividades aquáticas adequadasà criança constitui-se em um dos principais fatores quecontribuem para o desenvolvimento da suas capacidades

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motoras. Na criança, um dos principais objetivos paraque consigamos um desenvolvimento, em busca de saúdee equilíbrio, é desenvolver o gosto pela atividade, atravésde objetivos claros, dentro de sua capacidadepsicomotora.

A aprendizagem da natação para crianças, em geral,é realizada respeitando-se idades e habilidades conformeo seu desenvolvimento, e, assim, não tornando o ensinoprecoce, pois pode prejudicar o seu desenvolvimento.Respeitando-se o desenvolvimento da criança pode-sefazer com que ela tenha uma longa vida útil na natação,ou seja, atinja a idade adulta nadando, e que se torne ummultiplicador dos futuros nadadores, das novas gerações.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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* Coordenador Central de Projetos de Desenvolvimento Vice-Reitoria de Desenvolvimento da PUC-Rio.** Vice-reitor da UNIVAP.

Ensino de Engenharia

Luiz Carlos Scavarda do Carmo *Antonio de Souza Teixeira Júnior **

Resumo. A “engenharia”, como atividade humana, remonta aos primórdios da civilização.Se o homem, para os antropólogos, é o macaco que desceu da árvore, a engenharia, para osinvestigadores da pré-história, teria início com a saída do homem das cavernas e necessidade deposterior adaptação às novas condições de vida.O ensino de Engenharia, contudo, só passou a ser considerado atividade escolar a partir de 1747,com a Escola fundada em Paris.A necessidade de uma contínua atualização, para uma profissão que apresenta tantasespecializações, torna o ensino de Engenharia objeto de cuidados constantes, o que explica osvários Congressos dedicados ao assunto.Estamos também organizando o “Ibero-American Summit on Engineering Education”, com sede emSão José dos Campos – SP, no câmpus Urbanova da Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, de24 a 26 de março de 2003.São parceiros da UNIVAP, no Comitê de Organização, a Pontifícia Universidade Católica – PUC,com sede no Rio de Janeiro – RJ – Brasil, a Universidade da Flórida – EUA, com sede em Gainesville,e a Universidade de Porto Rico – Mayaguez, com sede em Porto Rico.O Congresso tratará de assuntos atuais, como o problema da mobilidade de docentes e discentes;o reconhecimento continental dos diplomas e conseqüentemente facilidade da acreditaçãotransnacional; as novas metodologias e a valorização dos novos conhecimentos; o papel dasincubadoras, Parques Tecnológicos e Parques industriais junto às universidades; estes e muitosoutros assuntos justificam a realização pretendida.

Palavras-chave: Engenharia, Ensino de Engenharia, Conferência Ibero-Americana de Ensino deEngenharia.

Abstract. Engineering, as a human activity, had its start at primordial times of civilization.If man, according to the anthropologists, is the monkey that climbed down the tree, engineering, forthe experts on pre-history, had its beginning at the human’s exit from the caves and the need of aposterior adjustment to the new conditions of life.Engineering Education, however, was considered an academic activity only after 1747, with thefoundation of an Engineering School in Paris.The necessity of being continuously renewed as a profession that presents an enormous number ofspecialization areas, Engineering Education is compelled to be update, and this is the reason of thelarge number of Congresses like this Summit.We are organizing the “Ibero-American Summit on Engineering Education”, in São José dos Campos-SP-Brazil, at UNIVAP’s Urbanova campus, from March 24 through 26, 2003.The Summit Committee Directorate has the participation of UNIVAP, the Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro, Florida University, in Gainesville and Universidad de Puerto Rico –Mayaguez.The Summit includes issues like mobility of professors and students, accreditation of diplomas andcertificates, new methodologies, Incubators, Technological and Industrial Parks etc., all importantissues that justify this Summit.

Key words: Engineering, Engineering Education, Ibero-American Summit Engineering Education.

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1. INTRODUÇÃO

A origem da engenharia é por muitos atribuída àsaída do homem das cavernas, aliada à necessidade deconstruir habitações, pontes, barragens e dominar anatureza para adquirir maior comodidade.

Se, por um lado, a engenharia, como atividade,remonta aos primórdios da civilização, foi só a partir doséculo XVIII que ela passou a ser considerada comomerecedora de uma formação superior.

São conhecidas obras de engenharia como apirâmide de Kheops, construída no século XXVIII A.C.,canais para facilitar o tráfego de embarcações, datadosno século XIV A.C., o Templo de Amon, em Karnak, noséculo X A.C., todas no Egito, ruínas de canais, represase aquedutos na Babilônia, construídos no século VI A.C.Os romanos contribuíram, também, com importantes obrasde engenharia, como a via Apia, em 312 A.C., o aquedutoClaudius, entre 50 e 36 A.C. etc.

A primeira Escola de Engenharia foi instalada emParis, em 1747, com o nome de “École Nationale de Pontset Chaussées”. E só em 1818 é fundado, em Londres, oInstituto de Engenheiros Civis, para defender, prestigiare definir a Engenharia Civil.

É a partir da Engenharia Civil que se forma amultiplicidade de especialidades, como a EngenhariaMecânica, Elétrica, de Minas, Naval, Ferroviária,Aeroespacial, Química etc.

No Brasil, o ensino de Engenharia teve início em1810, mediante a criação da Academia Militar, no Rio deJaneiro, em Carta Régia d. João VI, embora já em 1792, noRio de Janeiro, houvesse sido criada a Real Academia deArtilharia, Fortificação e Desenho, com o ensino dedisciplinas básicas para a formação do engenheiro, queserviu de exemplo para a sua transformação na AcademiaMilitar.

Formavam-se engenheiros militares somente, atéque, em 1823, um ano após a Independência, foi permitidoo ingresso de civis. A denominação é alterada para EscolaMilitar da Corte, em 1839, com cursos dedicados ainda àEngenharia Militar.

A Engenharia Civil, propriamente, só é instituídaa partir de 1858, mediante a criação da Escola Central,destinada ao ensino da Matemática, às Ciências em gerale à Engenharia Civil. Em 1874, o ensino militar é separadodo civil, com a instalação da Escola Politécnica do Rio deJaneiro, sediada no Largo de São Francisco, até suatransferência para a Ilha do Fundão.

Em 1889 é criada a Escola Politécnica de São Paulo,fundada por Antonio Francisco de Paula Souza. Damesma forma que a Escola Politécnica sediada no Rio deJaneiro, esta instituição teve enorme significado nodesenvolvimento econômico do Estado de São Paulo,em particular, de todo Brasil.

Hoje, o ambiente do ensino superior do Brasil érepresentado predominantemente pelas entidadesprivadas, e o ensino de Engenharia cresceu tambémquantitativamente, com aparente queda da qualidade,conforme os resultados do Exame Nacional dos CursosSuperiores vêm mostrando.

2. CONFERÊNCIA REGIONAL DE ENSINO DEENGENHARIA

Há, como em todos os setores do conhecimentohumano, necessidade de estabelecer comparações, demodo a aproveitar o que de melhor é feito, em diferentespaíses, no sentido de provocar avanços nos diferentescampos do conhecimento.

A Educação não foge a esta regra e a chamadaEducação Comparada é disciplina dos currículos doscursos de Pedagogia. O Ensino de Engenharia tambémprecisa ter seus resultados comparados e as ConferênciasMundiais e Regionais pretendem buscar padrões dequalidade para ganhar, mais rapidamente, resultados maissignificativos.

Estamos organizando uma Conferência de Ensinode Engenharia Regional, no Continente Americano, Norte,Central e Sul, o “Ibero-American Summit on EngineeringEducation”, com sede em São José dos Campos – SP, nocâmpus Urbanova, da Universidade do Vale do Paraíba –UNIVAP, de 24 a 26 de março de 2003.

A motivação maior para organizar o Summit é ocrescente aumento do interesse em questões regionais.Os organizadores preparam uma conferência para cercade 200 participantes, originários basicamente da AméricaLatina, Estados Unidos, Canadá e Península Ibérica, evoltada a contribuir para o fortalecimento da integraçãodo Continente Americano a partir da formação de umaestirpe de engenheiros com visão moderna, espíritointernacional e mobilidade regional que possam contribuirpara maior produtividade do setor produtivo. Os laçosculturais com a Península Ibérica motivaram a suainclusão no Summit.

A percepção da necessidade de maior competitivi-dade industrial visando à formação de regiões socialmenteestáveis justifica o forte enfoque na presença do setorprodutivo desde a organização da conferência até a suarealização e definição de planos de ações futuras.

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A experiência da União Européia - UE, estimulouos organizadores a prever presença de europeus. Algunsparticipantes de outras Nações, interessadas também emsuas regiões e no estabelecimento de laços locais, jámanifestaram interesse em comparecer. Assim, o objetivogeral do Summit é o de estabelecer um ambiente decolaboração entre o sistema produtivo com interesse noContinente Americano e as Escolas de Engenharia daRegião (1), além de uma aproximação entre essas Escolas.

Os mecanismos que se pretende discutir paraaumentar esta interação contemplam:

· o estudo do caso europeu para compreenderproblemas, vantagens e dificuldadesassociados ao estabelecimento de cursossuperiores que respeitam um formato único (ouquase único!) regional, e que visam a facilitar amobilidade de estudantes e profissionais, comohoje ocorre na Europa por uma decisão daUnião Européia em seu processo de integração;

· a compreensão das vantagens e dificuldadespara o estabelecimento de um sistema comumde avaliação internacional e o conseqüentemútuo reconhecimento para as Escolas deEngenharia da região do Continente Americanoe Península Ibérica;

· a busca de novas formas educacionais quecompreendam o novo conceito de relevânciaassociada à Inovação em uma Sociedade quehoje se chama “do Conhecimento”;

· o desenho de programas de interação regionalou binacional, apoiados por governos ou pelosetor produtivo, que estimulem o melhoramentoda qualidade educacional das escolas deEngenharia, tanto individualmente quanto noformato de coalizões, e desenvolvam umambiente de pesquisa em rede com aparticipação do Setor Produtivo;

· o estudo de formatos com êxito reconhecido ede ações coerentes envolvendo todos osinteressados para o estabelecimento deIncubadoras de Empresas e ParquesTecnológicos que visam ao desenvolvimentolocal;

· a divulgação das ICEEs (Conferência de Ensinode Engenharia) visando ao aumento daparticipação de representantes da AméricaLatina em eventos internacionais, nos quaisquestões atuais relacionadas com o Ensino deEngenharia e sua missão na sociedade sãodiscutidas.

As instituições universitárias diretamenteenvolvidas nesta Conferência são a UNIVAP, a PUC-

Rio, a University of Florida in Gainesville e aUniversidad de Puerto Rico em Mayagüez. Entre asações já desenvolvidas por estas instituições contam-sea obtenção do apoio do International Network forEngineering Education and Research - iNEER, entidadeque apoia as ICEEs, da Associação Brasileira para oEnsino de Engenharia – ABENGE, da American Societyfor Engineering Education – ASEE, e a busca de apoiode empresas como EMBRAER, PETROBRAS, HP eMicrosoft, todas eventuais patrocinadoras, além do apoiotradicional da FINEP, CNPq, CAPES e FAPESP.

2.1. Breve histórico da motivação para a proposta

A revisão da perspectiva, objetivos e métodos doEnsino de Engenharia no Brasil contou, ao longo dadécada dos anos 90, com maciço apoio do GovernoFederal Brasileiro (Programa REENGE apoiado pelaCAPES, MEC/SESU, MCT/CNPq e MCT-FINEP) e dediversas Fundações de Apoio à Pesquisa Estaduais(FAPs). Nesse período, além de equipar laboratórios emodernizar métodos de apresentação, o programaREENGE colaborou para o estabelecimento de uma novaação pedagógica e estimulou profundas modificaçõesno ambiente das Escolas de Engenharia brasileiras,particularmente no que tange à percepção de uma novavisão de ensino voltado para a formação de engenheirosempreendedores e para a universalização do ensino dasEscolas de Engenharia.

As mudanças na visão que se pode observar nosnovos cursos de Engenharia e nos processos didáticosaplicados são uma resposta ao aumento da importânciada Inovação no ambiente produtivo e também ao aumentoda necessidade de contribuir para a formação de um novoprofissional que possa ser um ativo elemento donecessário aumento da competitividade internacional daindústria nacional.

A forma do programa REENGE sofreu decisivainfluência de programas americanos que na época eramapoiados pela National Science Foundation – NSF.Dessa forma, o programa nacional gerou um grandeenvolvimento internacional das diversas Escolas deEngenharia. Em 1998, realizou-se no Rio de Janeiro aInternational Conference on Engineering Education –ICEE-98, na qual os resultados do programa REENGEpuderam ser apresentados para um fórum internacional,e durante a qual diversos aspectos da internacionalizaçãodas Escolas de Engenharia foram apresentados. Alémdisso, as escolas de engenharia brasileiras puderamestabelecer contato com suas co-irmãs de outros países,começando, assim, um efetivo esforço deinternacionalização de seus cursos.

A formação de grupos regionais parece ser uma

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tendência atual, como ocorreu com a ComunidadeEuropéia, que criou muitos mecanismos de integração,desafiando tradições até seculares, como a moeda única.Um outro mecanismo de integração, também difícil e aindaem processo de estabelecimento, é o de aproximação daperspectiva, conteúdo e forma dos cursos superiores,visando a estimular a circulação de estudantes europeusna Europa e permitir também a livre circulação deprofissionais.

Ao longo das diversas ICEEs, desde 1998, umgrande esforço tem sido envidado pelos membros doSteering Committee (Comitê Organizador) dessasconferências para atrair participantes latino-americanosalém dos brasileiros. O sucesso tem sido pequeno emtermos da região, e as delegações brasileiras, geralmentede maior presença e participação, têm aumentado a suainteração com diversas escolas de todas as partes domundo, menos com a América Latina. Essa dificuldadetem sido observada pelos diversos membros do SteeringCommittee das ICEEs, principalmente europeus e norte-americanos, e tem sido considerada como uma limitaçãoda atuação das ICEEs. Surgiu, assim, a idéia de umaconferência específica para o Continente Americano,liderada por brasileiros (PUC-Rio e UNIVAP) e Norte-americanos (University of Florida e Universidad dePuerto Rico em Mayagüez).

As quatro instituições envolvidas na organizaçãodo Congresso em tela têm tido intensa participação nasdiversas ICEEs. Especificamente, a PUC-Rio foi sponsorda ICEE-98 e liderou o estabelecimento do programaREENGE no Brasil; a Universidade da Florida temgrande experiência em receber estudantes da AméricaLatina, possui um Centro de Estudos Latino-Americanose tem organizado diversos workshops sobre“Internacionalização do Ensino de Engenharia”; aUniversidade de Puerto Rico em Mayagüez fundou e ésede, há muitos anos, do CoHemis, um organismo deligação entre os dois hemisférios do ContinenteAmericano, e a UNIVAP, além de participar de diversosICEEs, está se preparando especificamente para ser asede do Summit proposto.

2.2. Motivação para o tema Ensino de Engenharia

O mundo se caracteriza pela aceleração constantedos avanços tecnológicos e por forte demanda porempresas que atuem no ambiente internacional de formacompetitiva. As rápidas mudanças das realidades demercado e da disponibilidade de novas tecnologias emétodos de produção de alcance planetário exigem umanova visão para o profissional das grandes empresas. Ocrescimento da sociedade de serviços, fundamentada emum novo conceito de produção e distribuição de riqueza,com base no avanço do conhecimento, fizeram crescer a

relevância das pequenas, mini e micro-empresas de basetecnológica, mudando o perfil do novo Engenheiro, comoprofissional que deve possuir, além de base técnica ecientífica sólida, também visão de mercado nacional einternacional e sobretudo mentalidade empreendedora.

A realização de um novo profissional com estascaracterísticas não pode mais ser feita por uma escola deEngenharia não conectada com o setor produtivo e comoutras Escolas de Engenharia.

2.3. Educação: Instrumento para o desenvolvimento dosmétodos produtivos

A educação é um dos mecanismos mais efetivosde inclusão social. Nos dias em que a maior importânciada inovação está caracterizada no seio da “Sociedade doConhecimento”, a Educação passa a ser um importanteelo para o desenvolvimento do Setor Produtivo.

A interação entre a universidade e o setorprodutivo é recente e está ligada à efetiva resposta comque esta interação pode atender às crescentes demandasde criação e disseminação de conhecimento comomecanismo de produção e distribuição da riqueza. AUniversidade, em particular as Escolas de Engenharianos dias atuais, ainda que mantendo a sua independênciaacadêmica, precisa responder a necessidades do setorprodutivo e reagir de forma explícita a estímulos nascidosfora de seus muros acadêmicos. Assim, a Universidadeapenas recentemente começou a abrir-se para valoresdefinidos por parâmetros extramuros.

A América Latina precisa concluir um esforço demodernização de seu parque industrial, de capacitaçãode seus recursos humanos e de universalização do ensinobásico para suprir as deficiências legadas por anos deineficiências acumuladas. A formação de um blocoregional de toda a América somente será do interesse detodos se o bloco Latino-americano conseguir dar um saltode qualidade e competitividade em seus métodosprodutivos. O estabelecimento da primeira e segundarevoluções industriais não foi completado nessa região(2), e o crescimento da competitividade exige recursoshumanos de muito alto nível. Assim, a América Latinaprecisa desenvolver, seja seu ensino fundamental, sejaseu ensino superior, com especial ênfase nos aspectosda produtividade industrial, o que coloca as Escolas deEngenharia na posição de fulcro de um movimento demodernização universitária, de interação com empresas ede aproximação com o ensino pré-universitário.

É importante observar que os três aspectos deconectividade das Escolas de Engenharia – entre elasmesmas, com o setor produtivo e com o Ensino pré-universitário, foram a base do programa REENGE e o

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programa americano de reforma do Ensino de Engenhariafinanciado pela NSF.

2.4. Objetivos gerais

O objetivo geral desta Conferência é o de estudarefetivas condições que permitam apoiar a interação entreo setor produtivo com interesse na região do ContinenteAmericano e as Escolas de Engenharia, visando àformação de profissionais modernos, com mobilidaderegional e visão empreendedora. Dentro deste escopo,serão sugeridos mecanismos educacionais que facilitemtanto a interação presencial de estudantes e professoresquanto a interação virtual entre eles, a proposição detemas de pesquisa que possam ser realizadas em rede,envolvendo, sempre que possível, o setor produtivo e aaproximação com a Escola Média, sempre nos temastécnicos e científicos. Em outras palavras, serão buscadasformas de integração entre as Escolas de Engenharia, e asua aproximação com o setor produtivo com interesse nocontinente e com o Ensino Médio.

2.5. Objetivos específicos

Especificamente, pretende-se aumentar aparticipação de representantes da América Latina, alémda dos brasileiros, nos eventos internacionais ondequestões atuais relacionadas com o Ensino de Engenhariae sua missão na sociedade são discutidas, em particularas ICEEs.

Pretende-se ainda desenhar possíveis programasde interação regional ou binacional que possam apoiar odesenvolvimento e integração das escolas de Engenharia,e a sua maior interação com o setor produtivo e com oensino de temas técnicos e científicos da Escola pré-universitária.

Entende-se que, como mecanismo de integraçãoregional, é necessário estudar novos ambienteseducacionais que contribuam para o aumento da visãoregional e mobilidade dos estudantes, professores efuturos profissionais de Engenharia.

Especificamente, como forma de integração,pretende-se discutir possíveis mecanismos de avaliaçãointernacional dos cursos que possam contribuir para omútuo reconhecimento dos profissionais de engenhariaformados na região. Para tanto, pretende-se apresentarem particular o caso europeu para melhor compreenderos esforços de gerar cursos superiores de dimensãoregional.

2.6. Estratégia para o Summit e ações já realizadas

É preciso considerar, em primeiro lugar, que asICEEs são conferências anuais, de cunho internacional,para as quais diversos locais para os futuros eventos jáforam estabelecidos. A presente conferência precisavainserir-se nesta série de Conferências, como ummecanismo de apoio à realização das ICEEs e não decompetição com elas. Como o escopo desta Conferênciaé Regional, ficou claro para os membros do SteeringCommittee das ICEEs que este esforço contribuirá paraas diversas ICEEs, em particular a de agosto de 2003 quese realizará em Valência – Espanha, na qual se pretenderelatar para o público internacional os resultados doSummit que se está propondo. A primeira ação dosorganizadores foi buscar o apoio necessário internacionaldo Steering Committee das ICEEs.

Um breve histórico das ICEEs é apresentado noAnexo 2.

Propostas inicias para essa Conferência foramapresentadas em atividades internacionais, como aICEE2001 (em Oslo – Noruega), e a reunião anual daAmerican Society for Engineering Education – ASEE,que neste ano, sublinhando a tendência pelo maiorinteresse no desenvolvimento Regional, ocorreu emQuebec, Canadá.

Em terceiro lugar, estamos formando, com o auxíliodo CoHemis, órgão da Universidad de Puerto Rico, umarede de instituições da Região que possam auxiliar noestabelecimento das propostas já referidas e a sua efetivaimplementação, por universidades, sociedadesprofissionais, federações de empresas e organismos defomento. Dessa maneira, o formato desta reunião, cujoprograma provisório segue no Anexo 2, sublinha aapresentação de key note speakers (apresentadores detemas) e a realização de workshops (sessões) que definamefetivas ações futuras.

Em quarto lugar, buscamos apoio do setorprodutivo por meio de empresas internacionais de basetecnológica, originadas no país, como a EMBRAER e aPETROBRAS, e de empresas internacionais, também debase tecnológica, porém com grande presença na AméricaLatina, como a HP e a Microsoft. Estas empresasrepresentam setores relevantes da indústria, para os quaisum ensino de engenharia moderno é de grandeimportância, além das entidades de apoio já mencionadas.

Para mais informações sobre a Conferência deMarço-2003, acesse o site http://www.univap.br/iasee oumande e-mail para: [email protected]

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3. NOTAS

(1) Região, no contexto deste documento,compreende um conjunto de nações com interessescomuns, que se unem em tratados como a UE, o Mercosulou a ALCA.

(2) Veja Anexo 1.

4. BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO, F. As Ciências no Brasil, vol. 1, p. 34.

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VARGAS, M. História da técnica e da tecnologia noBrasil. São Paulo: UNESP/CEETEPS, 1995.

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ANEXO 1:

UMA DIGRESSÃO SOBRE A EDUCAÇÃO NAREVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O sistema produtivo passou por fases distintas desde a revolução industrial iniciada na Inglaterra no finaldo século XVIII. Os historiadores caracterizam três ondas da revolução industrial, nas quais observa-se nítidadistinção no significado do conhecimento. A primeira onda de revolução industrial gerou a fábrica, local ondeartesãos conduziam a produção utilizando mecanismos que eles mesmos haviam estabelecido anteriormente emseus ambientes domésticos. A nascente classe trabalhadora, recentemente imigrada do campo, não necessitavamais do que os conhecimentos básicos aprendidos em casa para engajar-se no sistema produtivo. A escola era umagente de socialização, necessário para a vivência civilizada em cidades que cresceram desmesuradamente emdimensão. O conhecimento efetivamente utilizado na fábrica era absolutamente empírico.

A segunda onda da revolução, no final do século XIX e início do século XX, trouxe o conhecimentocientífico para a fábrica, tanto para o desenvolvimento tecnológico, quanto para o desenvolvimento dos métodosde gerência. Produção em série, Ford e Taylor marcaram este período, que também viu nascer indústrias sofisticadascomo as ligadas à química e a produtos farmacêuticos e elétricos. Este período, que se estende até meados dosanos 70 do século passado, efetivou a importância da tecnologia de ponta e da descoberta do conhecimentocientífico básico como precursor do tecnológico aplicado. Produção e criação de conhecimentos passaram a unir-se no complexo processo de gerar riqueza. A Universidade abriu-se para o desenvolvimento tecnológico e precisourever a estrutura de formação de recursos humanos para atender novas necessidades de profissionais.

Ao longo desta onda ocorreu um profundo processo de descentralização do uso da energia. A produçãode automóveis distribuiu o transporte mecanizado de mercadorias e de pessoas, antes centralizados pelos trens enavios. A construção de redes elétricas domésticas e para o setor produtivo e sistemas de telecomunicaçãocapilares (telefone) e de larga escala (rádio e televisão) exemplificam a descentralização.

A universidade, durante a segunda onda da revolução industrial, tornou-se o berço da formação superiorvoltada para o processo produtivo da geração da ciência que permite a existência de tecnologia de ponta, sem,contudo, perder as qualidades acadêmicas já alcançadas anteriormente de geração de conhecimento para a cultura.A produção de conhecimento aplicado, em seguida às descobertas científicas, preserva para a universidade aorigem intramuros de sua motivação acadêmica.

No final do século XIX, as universidades americanas, que receberam um land grant, se especializaram emagricultura e mecânica. Eram as universidades Agricultura e Mecânica - A&M que desenvolveram o conhecimentoque permitiu a mecanização da agricultura. A produtividade do campo, acrescida ao longo do século XX com osresultados das revoluções da química, informática e biologia, é um claro exemplo de produção de riqueza quesucedeu a produção do conhecimento. Os avanços tecnológicos derivados das telecomunicações e microeletrônicasão outro exemplo.

Os países mais avançados reviram o ensino superior várias vezes, em particular nos campos científicos etecnológicos das engenharias, como forma de adequação a processos produtivos mais sofisticados (1).Particularmente, nos EUA, o ensino de Engenharia foi revisado várias vezes, sempre que o cenário internacionalmudava.

A terceira onda da revolução industrial, iniciada nos anos 70 e 80 do século que acabou de concluir-se, é arevolução da informática, da automação e das telecomunicações. É a revolução social das comunicações bi-direcionais fáceis distribuídas de forma capilar, da Internet e da revolução tecnológica das decisões tomadastambém de forma capilar, desta vez por máquinas montadoras que geram, sempre com possibilidades de altíssimaqualidade e com custos reduzidos, produtos cuja qualidade não depende da interferência humana direta durantea sua fabricação. Muitas decisões simples passaram para as máquinas, deixando os homens livres para exercer sua

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criatividade. O conhecimento passou a permear o processo produtivo, que, ao mesmo tempo que desconhecedistâncias e se torna global, distribui-se e se revela em pequenas, mini e mesmo microempresas.

Neste momento, mais uma vez a universidade estende sua missão, interagindo com o setor produtivo pormeio da geração de conhecimentos de forma a desafiar a visão ortodoxa e seqüencial da geração da ciênciaaplicada a partir da descoberta científica que caracterizou a precedente onda da revolução industrial e aindacaracteriza a ciência básica e a tecnologia de ponta. Essa forma seqüencial, entretanto, não representa a busca deconhecimento das micro e pequenas empresas, para as quais as necessidades extramuros universitários, seja domercado, seja da demanda social, são a motivação para o desenvolvimento do conhecimento. O conceito deempreendedorismo trazido para o seio universitário é uma das conseqüências dessa onda de revolução industrial.

A capilaridade dos processos produtivos e a demanda por maior competitividade industrial, nos dias dehoje, estão estimulando a formação de Blocos Regionais. A Universidade e a Escola de Engenharia em particularprecisam responder a esta tendência, formando um profissional que tenha visão internacional e mobilidade, nomínimo, regional. A visão estratégica das escolas de Engenharia precisa apoiar o Desenvolvimento Local e Regional.

(1) Veja, por exemplo, “Shaping the Future: New Expectation for Undergraduate Education in Science, Mathematics,Engineering and Technology”; advisory Committee of the National Science Foundation”; Washington D.C.;1996.

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ANEXO 2:

BREVE HISTÓRICO DAS ICEEs

As International Conference on Engineering Education – ICEEs, foram concebidas dentro de umainteração entre os EEUU e Taiwan. As duas primeiras conferências ocorreram em Taipei em 1994 e 1995.

Em 1996, a ICEE ocorreu como parte da reunião da American Society for Engineering Education – ASEE,e, mais uma vez, o seu caráter internacional não conseguiu desabrochar, sendo, entretanto, uma intenção de seusorganizadores.

Em 1997, ocorreu a primeira efetiva reunião internacional, em Chicago, e que contou já com uma grandedelegação nacional: 26 professores, dois representantes de agências de fomento (CNPq e FINEP) e um representanteda Petrobras. Nessa época, o programa REENGE havia sido iniciado no Brasil e diversos professores e membrosde agências de fomento queriam um termo de comparação com ações em outro país.

Durante a realização da ICEE-97, um dos organizadores do Summit em São José (Luiz Carlos Scavarda doCarmo) propôs que o Rio de Janeiro sediasse a ICEE-98, no que contou com o apoio do Steering Committee daICEE.

A conferência do Rio de Janeiro foi a maior dentre as diversas ICEEs, contando com cerca de 600participantes.

A série de ICEEs que se sucederam ou estão programadas são:

ECEE – 99 Praga – República TchecaICEE – 2000 Taiwan – República da ChinaICEE – 2001 Oslo – NoruegaICEE – 2002 Manchester – Reino UnidoICEE – 2003 Valência – EspanhaICEE – 2004 Flórida - EEUU

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Sensoriamento Remoto nos Diferentes NíveisEducacionais: Um Estudo de Caso

Angelica Carvalho Di Maio *Sandra Maria Fonseca da Costa **

Gilson dos Anjos Ribeiro ***

Resumo. Vários autores têm discutido a importância do conhecimento de sensoriamento remotonos diferentes níveis de ensino, apontando a necessidade de adaptação desse conhecimento, ouseja, a conversão do nível de conhecimento universitário, por exemplo, para os níveis elementar emédio. Neste sentido, os professores envolvidos com o curso de Geografia da Universidade do Valedo Paraíba (UNIVAP) têm se preocupado com essa questão. Os alunos estudam SensoriamentoRemoto e Geoprocessamento ao longo de dois anos em três diferentes disciplinas e são envolvidoscom o conteúdo considerado importante para a compreensão destas áreas. Este Curso de Geografiaforma professores do ensino fundamental e médio e ainda bacharéis e o conteúdo dessas disciplinasvisa à formação sólida desses profissionais, considerando que eles tornar-se-ão técnicos e educadores.Dessa forma, o objetivo deste trabalho é tratar essa discussão e descrever a experiência, bastanteprodutiva, dos profissionais ligados a educação em sensoriamento remoto no Curso de Geografiada UNIVAP.

Palavras-chave: Sensoriamento Remoto, Geografia, transferência de conhecimento, ensino fundamentale médio.

Abstract. Several authors have been discussing the importance of remote sensing on differenteducation levels, pointing out the need of adaptation of the acquired knowledge, or better, theconversion of undergraduate level knowledge, for instance, to elementary and high school levels. Inthis sense, the lecturers involving the Geography undergraduate course in the University of Vale doParaíba (UNIVAP) have been having this preoccupation. Pupils study Remote Sensing andGeoprocessing, throughout two years in three disciplines; they are involved with the contentconsidered important for the understanding of this area of knowledge. That Geography courseforms elementary and high school teachers and academic undergraduates and the content of thesedisciplines targets the solid formation of those professionals, considering that they will becometechnicians and educators. In this way, the purpose of this paper is to deal with this discussion andto describe the quite productive experience,, that the professionals involved with Remote Sensingeducation in the Geography course of UNIVAP have been having.

Key words: Remote Sensing, Geography, knowledge transfer, elementary and high-school education.

* ** *** Professor(a) da UNIVAP.* [email protected]** [email protected]*** [email protected]

1. INTRODUÇÃO

Há algum tempo, os métodos e as teorias daGeografia Tradicional tornaram-se insuficientes paraapreender a realidade e sua complexidade e,principalmente, explicá-la. O levantamento feito por meio

de estudos empíricos tornou-se insuficiente. É precisorealizar estudos voltados para a análise das relaçõesmundiais. Por outro lado, o meio técnico e científico exerceforte influência nas pesquisas realizadas no campo daGeografia. Para estudar o espaço geográfico globalizado,começou-se a recorrer a tecnologias, como oSensoriamento Remoto e a Informática, esta comoarticuladora de massa de dados, que evoluiu para ossistemas de informações geográficas – SIG (ParâmetrosCurriculares Nacionais, 1999).

Nesta linha de raciocínio, no Documento de

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Camboriú (Sausen et al., 1997), gerado durante a I Jornadade Educação em Sensoriamento Remoto no Âmbito doMercosul, no período de 20 a 23 de maio de 1997, foisugerida “a obrigatoriedade do Sensoriamento Remotonos cursos de graduação em Geografia”. Esta sugestãodeve-se ao fato de que os egressos destes cursos serãoos professores de Geografia nos níveis fundamental emédio, sendo eles, portanto, os que deverão ensinar asnoções básicas de espaço e meio ambiente, temas nosquais o Sensoriamento Remoto é extremamente útil. Alémdisso, a formação do geógrafo como técnico émarcadamente de um profissional que trabalha em equipesmultidisciplinares, nas quais o conhecimento destaciência e tecnologia é de vital importância (Sausen et al.,1998).

Neste sentido, os professores envolvidos com ocurso de Geografia da Universidade do Vale do Paraíba(UNIVAP) têm tido esta preocupação. A partir do ensinode Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento, aolongo de dois anos em três disciplinas, trabalha-se comos alunos o conteúdo considerado fundamental para acompreensão deste campo do conhecimento. Este cursode Geografia forma licenciados e bacharéis, e o conteúdodestas disciplinas visa a formação sólida desteprofissionais, considerando que estes se tornarão ostécnicos e educadores. Transformar o conhecimento dosaber universitário, sem desfigurá-lo e sem desvalorizá-lo, em objeto de ensino supõe uma transposição didáticaque nem vulgarize e nem empobreça o saber universitário,mas que se apresente como uma construção diferenciada,realizada com a intenção de atender o público escolar(Simielli, 1999).

A partir desta premissa, há, neste curso, umapreocupação com a transferência do conhecimento,tendo-se em vista que “um curso fundamental ou médionão é um resumo do saber universitário” (Hugonie, apudSimielli, 1999). Ou seja, as finalidades, os objetivos e osmeios da prática de Sensoriamento Remoto na Geografianão são os mesmos na universidade, no ensinofundamental e médio.

Desta forma, este trabalho tem como objetivoenfocar esta discussão e relatar a experiência, bastanteprodutiva, que os profissionais envolvidos com o ensinode Sensoriamento Remoto na Geografia da UNIVAP vêmtendo.

2. O CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVAP

O curso de Geografia da UNIVAP foi criado noano de 1990, com um currículo voltado exclusivamentepara a licenciatura plena, com duração de quatro anos. Oprofessor de Geografia era um profissional raro no Vale

do Paraíba e este curso veio suprir esta deficiência deformação de recursos humanos nesta área. Porém, aindanão se trabalhava com a utilização do SensoriamentoRemoto como recurso didático-pedagógico.

No ano de 1993, houve uma reformulação nocurrículo, quando este passou também a habilitar alunospara o bacharelado, tendo sido, a partir de então,introduzida a disciplina de Sensoriamento Remoto eGeoprocessamento. A idéia de introduzir esta disciplinaveio da necessidade de disponibilizar para o aluno umatécnica eficaz e importante para monitoramento do meioambiente, tema de interesse dos geógrafos.

É importante ressaltar que a proximidade daUniversidade em relação ao Instituto Nacional dePesquisas Espaciais possibilitou a criação de umlaboratório de Sensoriamento Remoto bem equipado,além de formação, em nível de Mestrado, de docentes.Desde, então, o curso de Geografia da UNIVAP temtrabalhado ativamente com seus alunos dentro desta linhade pesquisa, tanto no nível de Iniciação Científica quantona utilização em sala de aula como recurso didático emvárias disciplinas. A experiência dos alunos, dalicenciatura, em relação à utilização desta técnica comorecurso didático tem gerado trabalhos inéditos, que estãocontribuindo no processo de ensino-aprendizagem emGeografia. Ao longo deste trabalho serão relatadasalgumas destas experiências, tanto no campo dalicenciatura, quanto no campo de análise ambiental.

2.1. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento noCurso de Geografia da UNIVAP

Na UNIVAP existem três cursos que oferecem adisciplina de Sensoriamento Remoto em sua gradecurricular: “Geografia”, “Arquitetura e Urbanismo” e“História e Geografia”. Porém, o curso de Geografia,atualmente, é o único na Universidade a possuir em suaestrutura três disciplinas voltadas para o ensino dasGeotecnologias: Introdução ao Sensoriamento Remoto,Introdução ao Geoprocessamento e SensoriamentoRemoto Aplicado. Estas disciplinas são oferecidas nas3a e 4a séries do curso e possuem uma carga horária totalde 200 horas/aula, com o objetivo de oferecer ao futurobacharel e professor deGeografia subsídios técnicos parafacilitar a caracterização e monitoramento ambiental,urbano e regional. Desta forma, o domínio das técnicasde interpretação de produtos de Sensoriamento Remotoamplia as possibilidades de atuação do profissional nomercado de trabalho (Di Maio Mantovani e Costa, 1997).

A estrutura destas disciplinas pode ser visualizadana Tabela 1. O acesso a este conhecimento tem propiciadoaos alunos a utilização desta técnica em seus trabalhos

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de graduação, além do aproveitamento em empresas daregião, para a realização de estágios ou para a contratação

como profissionais, e como recursos didático em sala deaula.

Tabela 1 - Conteúdo Programático

3. A INTERFACE DAS DISCIPLINAS VOLTADAS ÀSGEOTECNOLOGIAS COM A FORMAÇÃO DOSALUNOS

3.1. A Influência nos Trabalhos de Graduação

A existência da disciplina de SensoriamentoRemoto ao longo do curso de Geografia despertou ointeresse em desenvolver trabalhos de iniciação científica/conclusão de curso utilizando os conhecimentos destaferramenta. No ano de 2001, o trabalho desenvolvido porOliveira (2000) foi selecionado pela comissão científicado X Simpósio de Sensoriamento Remoto como um doscinco melhores na categoria iniciação científica,submetido ao evento. A seguir, serão apresentadosalguns dos trabalhos desenvolvidos ao longo dos últimos3 anos:

1) Santos e Silva (1999) obtiveram no resultado dapesquisa a geração de um mapa de uso do solo quepermitiu identificar as áreas correspondentes às classesde uso do solo no município de Bananal, no Estado deSão Paulo, utilizando a imagem de Satélite Landsat /TM,composição colorida 4R3GB5, escala 1/50000, adquiridaem outubro de 1998.

2) Scheide (2000) utilizou fotografias aéreas obtidasem 1962, 1973, 1985 e 1997 para mapear o uso do solourbano na cidade de São José dos Campos, SP, com opropósito de compreender as mudanças funcionais nacidade.

3) Oliveira (2000) utilizou imagem MSS, obtida em1977, imagem TM, obtida em 1985 e imagem SPOT-PAN,obtida em 1997, para mapear o crescimento da mancha

urbana da cidade de São José dos Campos, SP,comparando a potencialidade do sensor com a verdadeterrestre (fotografias aéreas). Através deste estudo foipossível verificar a confiabilidade dos dados orbitaiscomo substitutos de produtos de melhor resoluçãoespacial no mapeamento da mancha urbana.

4) Lopes (2001) mapeou as áreas verdes da cidadede São José dos Campos, em um período de 40 anos,diferenciado-as em duas classes: mata nativa ereflorestamento. Este mapeamento foi realizado utilizandofotografias aéreas obtidas em 1962, 1973, 1985 e 1997, asquais possibilitaram a visualização do processo de perdade área verde no perímetro urbano ao longo do períodoestudado, além do cálculo do índice de verde porhabitante.

5) Bruno (2001) teve como resultado do seutrabalho o monitoramento da ocupação humana urbanaem áreas de riscos de Caraguatatuba, utilizando técnicasde processamento de dados de Sensoriamento Remoto eSistema de Informações Geográficas (SIG). Nestapesquisa foram utilizados dados do satélite TMLANDSAT-5 de 1989 e ETM – LANDSAT 7, de 2001.

5) Freitas (2001) realizou um estudo da dinâmicaespacial no setor Sul da cidade de São José dos Campos,São Paulo, utilizando fotografias aéreas de vôosrealizados em 1962 (1:25.000), 1977 (1:8.000) 1988 (1:10.000)e 1997 (1:10.000). Este estudo teve como objetivoidentificar as mudanças espaciais no que diz respeito àocupação residencial da área.

7) Bastos (2001) testou uma metodologia deensino de feições do relevo no ensino fundamental, a

Introdução ao SensoriamentoRemoto80 h/a

Introdução aoGeoprocessamento

80 h/a

Sensoriamento RemotoAplicado

40 h/a3a Série 3a Série 4a Série

1. Introdução, definições eevolução;

2. Princípios físicos;3. Sistemas sensores;4. Comportamento espectral de

alvos;5. Métodos de extração da

informação;6. Algumas aplicações.

1. O que é um SIG;2. Natureza de um SIG e

modelo conceitual;3. Subsistemas de um SIG;4. Formatos de representação

de dados;5. Análise espacial;6. Modelagem cartográfica;7. Aplicações.

1. Potencialidades dos produtosde Sensoriamento Remoto;

2. Métodos de extração deinformação;

3. Uso da terra: metodologiasde interpretação;

4. Geração de mapas temáticos

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partir de produtos orbitais de Sensoriamento Remoto.De acordo com a autora, houve um aprendizado melhorpor parte dos alunos, na identificação das feições.

3.2. Transposição Didática do ConhecimentoUniversitário

O Programa da disciplina de SensoriamentoRemoto permite a apreensão de fundamentos e técnicasdesta ciência, e quando associada à disciplina deMetodologia e Prática do Ensino de Geografia integra osconhecimentos teóricos à prática na sala de aula a partirde propostas de procedimentos e atividades didáticas.

Os alunos de graduação do curso de Geografia,de posse do material de Sensoriamento Remoto e com oembasamento teórico adquirido, têm como objetivoadaptar esses conhecimentos para os alunos do ensinofundamental e médio.

O primeiro passo é a elaboração do material nasaulas da disciplina de Prática de Ensino, atendendo aalguns critérios como:

- adequar a linguagem escrita e visual para osalunos de ensino fundamental e médio;

- relacionar os materiais de sensoriamento remotoaos objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais;

- planejar atividades práticas contextualizadas;- produzir o material didático correspondente à

atividade;- obter as imagens necessárias a execução da

atividade (da cidade, do Estado, conforme a escala detrabalho etc.).

Após essa etapa os alunos da graduação aplicam/testam o material com estudantes do ensino fundamentale médio da rede pública e particular.

Os procedimentos dessa segunda etapa seguemos critérios como adequação da atividade ao planejamentodo Professor responsável pela turma, no caso do ensinofundamental, ou pela disciplina de Geografia, para oensino médio. É essencial não perder de vista que oobjetivo é ensinar Geografia com o auxílio doSensoriamento Remoto, e não ensinar somente oSensoriamento Remoto, ou seja, o Sensoriamento Remotofunciona como uma importante ferramenta para ainterpretação dos objetivos próprios da Geografia.

3.2.1. Experiências em Sala de Aula

Os alunos da graduação, inicialmente, explicam aevolução histórica das técnicas de SensoriamentoRemoto, passando pelo período da Guerra Fria, assuntocontemplado no programa do ensino fundamental da

oitava série, até os dias atuais, mostrando a evoluçãodas imagens e suas diferentes aplicações.

No decorrer da aulas, os alunos participam atravésde questionamentos e relatos de conhecimentosanteriores sobre o assunto abordado, como a imagemque viram na televisão sobre o tempo, entre outras.

Em algumas atividades os alunos, divididos emgrupos, manipularam pares de fotografias aéreas,visualizaram o terreno em três dimensões. Para isso, foramutilizados estereoscópios de bolso, através do qual osalunos puderam reconhecer feições e descrever a áreaobservada.

Ao final da atividade construíram cartazes cominformações a respeito do terreno verificado e montaramuma exposição onde cada grupo relatava sobre sua áreade estudo e sua experiência com o material didático.

Em outras atividades são utilizadas imagensorbitais em diferentes escalas, cartas topográficas eplantas, do Município de São José dos Campos, ondesão explorados os aspectos explicados a seguir e asrespectivas etapas de trabalho desenvolvidas em sala.

! Localização.

- identificação de feições planimétricas dereferência para localização na planta, por exemplo:aeroporto, rios, shoppings etc;

- estabelecimento da relação do local identificadona planta com a imagem orbital utilizada em aula;

- a partir desta relação, uma série de hipótesessão levantadas pelos alunos no que se refere às demaisfeições que observam na imagem, principalmente emvirtude das formas e cores/tonalidade que indicam ainterpretação, que ocorre naturalmente.

! Onde fica minha Escola?

- Utilizando-se produtos de SensoriamentoRemoto de diferentes resoluções espaciais (fotografiasaéreas, imagens SPOT e TM), a partir da localização, emescala detalhada, da escola, na fotografia aérea, avaliandoa sua vizinhança, proporciona-se ao aluno a possibilidadede reconhecer aspectos espaciais que são de seuconhecimento (Figura 1).

- A partir deste reconhecimento, o estudante deGeografia utiliza outros produtos de escalas menores,para mostrar aos alunos como a sua escola se insere noseu bairro, seu bairro na sua cidade, sua cidade no seumunicípio.

- Esta atividade é direcionada aos alunos de 5a

série.

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Sul

Norte

OesteSudeste

Leste

Fig. 1 - Exemplo dos materiais utilizados para a atividade “onde fica minha escola”: (a) imagem fotografia aéreado “centro” da Vista Verde; (b) imagem LANDSAT/TM da cidade de São José dos Campos; (c) imagemLANDSAT/TM do município; (d) perímetro urbano de São José dos Campos, com as divisões em Zonas.

! Trabalhando as noções de escala.

- Da mesma forma que a atividade anterior, sãoutilizadas imagens orbitais, em diferentes escalas, desdeprodutos SPOT/LANDSAT até NOAA, para mostrar aoaluno de 5a série que, dependendo da escala, há apossibilidade de se visualizar mais ou menos detalhes doespaço geográfico.

- O estudante aproveita esta oportunidade paradiscutir com os alunos alguns elementos espaciais decaráter local, regional e nacional.

! Aspectos físicos da paisagem de São José dosCampos.

- A várzea: utilizando-se imagens TM (Figura 2),o estudante mostra ao aluno de 6a série como esta várzeaestá ocupada no município e no Vale do Paraíba(agricultura, urbanização etc), tentando explorar osaspectos relacionados ao processo de ocupação.

- As Serras do Mar e da Mantiqueira: através dasimagens TM o professor/estagiário explora o aspectotextural da imagem para apresentar ao aluno as duas serrasque cortam o Vale do Paraíba, sua dimensão e altitude.

Fig. 2 - Exemplo de relacionamento de uma paisagem de São José dos Campos e sua característica na imagem:(a) imagem LANDSAT/TM; (b) fotografia do Banhado.

Central

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! Dinâmica espacial: desmatamento e urbanização.

- Desmatamento: utilizando-se duas imagens MSSe TM, obtidas em datas diferentes (1977 e 1993), oprofessor/estagiário explora em sala o processo dedesmatamento na Amazônia, discutindo o tamanho dasparcelas agrícolas, formas de ocupação e intensidade doprocesso.

- Urbanização: utilizando-se imagens MSS e TMda cidade de São Paulo, de diferentes datas e escalas,explora-se, em sala, a dinâmica urbana e a qualidade devida.

Todos os produtos utilizados pelos alunos sãoelaborados na disciplina de Introdução ao SensoriamentoRemoto associada à disciplina de Metodologia do Ensinode Geografia.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda não há uma avaliação, sob o ponto de vistaformal, do reflexo da utilização destes produtos em salade aula pelos estudantes de graduação em Geografia emseus estágios supervisionados, mas o retorno que elestêm dos alunos em relação às suas aulas é de umaaceitação muito grande e de um interesse imediato pelotema abordado

Resultados preliminares mostram que oSensoriamento Remoto pode ser utilizado como uminstrumento eficaz no auxílio ao ensino, embora sejamnecessárias mais avaliações formais do ponto de vistapedagógico. Observou-se que este instrumento fornecebenefícios no processo de ensino e aprendizagem, umavez que torna este processo mais interessante para osalunos.

Esta ferramenta tem proporcionado aosprofessores, em diferentes níveis de ensino, um meio paraensinar Geografia, porém utilizar uma nova tecnologiaem sala de aula não é uma tarefa fácil tendo em vista osproblemas a serem superados como a inexistência ouescassez de material didático adequado, a falta deexperiência por parte dos professores no uso efetivo dosprodutos e técnicas de Sensoriamento Remoto e até abarreira do próprio professor, que se mostra, em algunscasos, relutante no uso de novas tecnologias associadasao ensino. No entanto, espera-se que os professoressejam encorajados a utilizar as vantagens da tecnologiade Sensoriamento Remoto visando a melhoria daqualidade do ensino e do interesse dos alunos pelaGeografia.

5. REFERÊNCIAS

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Planejar com a Paisagem: uma Contribuição doPaisagismo ao Planejamento Urbano e Regional

Emmanuel Antonio dos Santos *

Resumo. A eficaz e concreta incorporação dos elementos do meio natural ou com relativo grau denaturança no processo de pensar o planejamento urbano e de promover a urbanização podeefetivamente contribuir para a obtenção de um meio urbano mais equilibrado, mais justo, maisdiversificado no uso dos recursos da natureza dos/nos espaços, com paisagens mais integradas eintegradoras e de maior qualidade de desenho dos espaços, especialmente aqueles de uso público.As populações de menor poder aquisitivo são aquelas que ficam mais prejudicadas em face dosproblemas decorrentes da falta de integração entre os processos naturais e os processos urbanos;é sobre elas que também recai o ônus maior da carência e desqualificação dos espaços livrespúblicos.À luz de uma experiência concreta na elaboração de plano diretor, expõe-se uma reflexão sobre osprocessos de elaboração de planos e de proposições de planejamento. Entende-se que processos demudança no planejamento e intervenção se dão a partir da realidade presente na sociedade; esta,atualmente, já inclui a questão ambiental; sua problemática é parte das alternativas do projeto demudança. O enfoque, e conseqüentemente a abordagem, visa contribuir na busca das alternativas,ao incorporar de fato, a paisagem na prática do planejamento.

Palavras-chave: Paisagem, ambiente, plano diretor, planejamento, incorporação.

Abstract. The effective and concrete incorporation of elements of the natural medium or elementswith a relative “natural” degree in the way of “thinking” the urban planning and how to promoteurbanization, may contribute for a urban medium that is more balanced, fairer and more diversifiedin terms of the use of natural resources of/in the spaces, with more integrated and integratinglandscapes and more quality in the design of the spaces, specially public ones. Low incomepopulations are suffer the most in face of the problems of a lack of integration among natural andurban processes. They are subject also to the heaviest burden of the lack of free public spaces.Having in mind the concrete experience of elaborating a directive plan, the paper presents areflection upon the plan elaboration process and planning propositions. We understand that changeprocess for planning and intervention begin in the social reality. That reality, presently, includesthe environmental issues. The problematic of the environmental issues are already part of thealternatives for the changing processes. The focus and the approach, as a consequence, target thesearch for alternatives when incorporating the landscape in the planning practice.

Key words: Landscape, environment, master plan, planning, incorporation.

* Professor da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

Considera-se o plano de Aarão Reis para a capitalmineira Belo Horizonte em 1875 a primeira atividade deplanejamento urbano de modo formal ou stricto sensuno Brasil. Plano de complexidade, dimensões esofisticação pioneiros (1) inauguram, segundo algunsautores, o pensamento urbanístico brasileiro. Não resta

dúvida de que o plano de Belo Horizonte seja pelopioneirismo da iniciativa, seja pela qualidade e amplitudeque alcançou atestados pela permanência no tecido dacidade da estrutura básica constante em sua proposta,tenha sido a primeira manifestação formal, concreta erealizada do planejamento no Brasil que desenha umacidade e lhe confere a configuração resultante dopensamento urbanístico fruto da vontade de fazer a cidadeque prioriza a higiene, a estética e a fluidez: a cidademoderna.

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Torna-se evidente também que ao inaugurar opensamento urbanístico moderno dito brasileiro, - euacrescento a expressão moderno, desde que já seidentificou um projeto ou plano urbanístico no caprichosodesenho que resultou das formas de ocupação emdiversas porções do nosso território especialmente nascidades portos ou cidades fortificações implantados noBrasil no período colonial, (2) - este desperta, ainda queindiretamente, uma crescente produção de planos eprojetos urbanísticos, desde as intervençõesconsideradas por alguns como modernizadoras do finaldo século XIX e início do século XX até os projetosurbanos e planos diretores mais atuais.

Desse primeiro despertar até nossos dias,desenvolveram-se diversas modalidades de intervençãourbanística, cada qual procurando à sua maneira tantopromover o crescimento e/ou desenvolvimento urbanopor meio do controle do uso e da ocupação dos solos,como imprimir uma aparência ou qualidade do e no urbanoatravés das propostas dos desenhos para a urbanização,para partes do tecido urbano estrategicamenteselecionadas, ou até mesmo nos projetos de higienizaçãoe embelezamento paisagístico pontuais.

É certo que ações de intervenção urbanísticaconsolidadas e configuradas em um plano têm sua origemem períodos mais remotos do que aqueles aqui apontados.Basta lembrar as orientações para bem construir umacidade contidas nos dez livros de Marco Vitrúvio Polião- Da Arquitetura -, onde se pode verificar em especial aspreocupações com a escolha do sítio segundo as suaspeculiaridades, as orientações para o melhoraproveitamento das condições naturais e todo umconjunto de indicações para o agenciamento urbanosegundo localizações e características das edificações.Outros exemplos notáveis podem ser verificados naRenascença como: o tratado de Alberti - De re aedificatoria-, ...“tentativa de estabelecer, baseando-se em Vitrúvio,um fundamento teórico à almejada restauratio urbisRomae”... (Argan, 1999, p.68), as obras de Michelângeloem Roma, e o grande plano de reformulação de Roma nopontificado de Sisto V que confere uma estrutura maisarrojada ao sistema de circulação, saneando as áreaspantanosas e insalubres.

Contudo, é sobretudo com a revolução industrialque as condições das organizações sócio-espaciais seagravam. Mudam-se o sistema de produção e aorganização das atividades em todos os âmbitosaprofundando a precariedade das condições de higiene,saúde e marginalidade. Movimentos pela melhoria dascondições de habitação e higiene proliferam, instituem-se regras para a construção das habitações e propõem-se localizações mais “adequadas” para os operários. (3)Procuram-se respostas espaciais para a organização de

uma sociedade cada vez mais estruturada na produçãoindustrial onde a segregação é cada vez mais umaestratégia do que um efeito. Propostas as mais variadas,segundo os mais diversos espectros ideológicos surgem,na sua grande maioria adotando o planejamento comoforma de organizar a distribuição e localização dasatividades e das gentes para um bem viver. Planos eprojetos são desenvolvidos e implementados na parteou no todo.

Uns mais identificados com o embelezamento e osaneamento, outros, com a reorganização da sociedadeem bases mais igualitárias, ou mais identificados comproposições de convivência integrada com a natureza, eaté mesmo buscando a maior rentabilidade provenientesdas melhores vantagens relativas. É de se notar quequaisquer que sejam as suas vertentes teóricas econceituais, a busca por uma sociedade mais integradacom o meio natural, mais bela e justa esteja semprepresente, mesmo que no âmbito das proposições isso seperca.

Da gama variada de formas de intervenção urbanaque se desenvolveram no Brasil, o Plano Diretor, para obem e para o mal, acabou constituindo-se na maneirapreferencial adotada como modo de se “fazer”planejamento urbano pelo poder público.

Instala-se em torno destes a crença de instrumentodotado da solução absoluta e redentora, em muitos casosa sua aplicação transcende as escalas originais para asquais teria sido pensado, reforçando a idéia de umplanejamento centralizado a ser executado a partir dosplanos de âmbito regional e nacional. No entanto, sejapelas dificuldades de sua implementação devido inclusiveà sua característica de documento técnico burocráticodistanciado da realidade, seja pela facilidade com que foisendo apropriado pelo poder público como peça desustentação do discurso ideológico, seja pela pretensãoem abarcar a tudo e a todos, foi cada vez mais tendo oseu papel ou efeito esvaziado, sendo substituído poroutros instrumentos que se propõem o controle do uso eda ocupação dos solos, os quais se apropriaram do papelde fazer planejamento, vindo a se constituir no seuinstrumento preferencial (4). Assim toma-se a parte, ouseja um dos instrumentos de ordenação do território, pelotodo, organiza-se - ainda que saibamos que é uma ordemfalaciosa - o território com um projeto de ordenação, semadequação ao ambiente, sem uma estrutura de paisagem.Procura-se em verdade estabelecer os valores do solourbano, e garantir as melhores vantagens relativas mesmoque para isso perdas sejam necessárias, desde que osganhos imobiliários diretos ou indiretos compensem.

Os planos, os projetos e as intervenções, todoseles de uma maneira ou de outra incorporam questões de

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paisagem e ambiente. Ora como fator de proteção derecursos caros para a subsistência como nas primeirasações para a proteção dos mananciais ainda no períodoimperial, quando se procurava proteger os mananciaisde água potável no Rio de Janeiro, utilizando-se paratanto a recomposição da floresta da Tijuca. Ora bem maistarde como fator de embelezamento e higiene, conformeos projetos para as novas capitais, os planos e projetosde saneamento, especialmente os conduzidos porSaturnino de Brito, e mesmo os planos preponderante-mente viários como os de Prestes Maia para a cidade deSão Paulo e de Pereira Passos para a cidade do Rio deJaneiro, onde se pode verificar a preocupação com aproteção das águas e das áreas vegetadas, procurandoos melhores solos para ocupação e uso e também ondese identifica a proposta de um desenho da cidade comforte presença de espaços livres e fartamente vegetados.

A natureza muito ou pouco processada semprepresente nos planos, para embelezar a cidade, criar áreasde “respiro”, de contemplação e de atividades de lazer,como no exemplo notável do parque do Flamengo nacidade do Rio de Janeiro, orla criada, espaço roubado aomar através do desmonte do morro de Santo Antonio,natureza inventada pelo homem e para todos os homens.

Podemos também destacar como experiências nãosomente inovadoras, mas significativamente importantes,as proposições de Lúcio Costa, especialmente o ParqueGuinle e o Plano Piloto de Brasília, (5) nos dois casos alibertação da edificação do chão e a generosa apropriaçãode áreas livres bem vegetadas e necessariamente de usoe domínio público demonstram o desejo de modificar maisdo que a forma - contorno externo dos objetos -, a maneirade proceder a urbanização, produzindo novas paisagense outros ambientes. É certo que nesses casos em particularé de uma paisagem construída e processada que se trata,mas é sem dúvida paisagem e ambiente o que se constrói.

De todo modo parece-nos que as questõesecológicas ainda não faziam eco entre nós (6). Isso sómais tarde, por volta do final dos anos de 1960, veio aocorrer, quando surgem as primeiras manifestaçõespopulares em defesa da natureza.

As manifestações antipoluição por volta dosprimeiros anos de 1970 coincidem com a disseminaçãodos planos diretores que se inicia ao final dos anos de1960, mais em função do processo de crescimento urbano,da política nacional de desenvolvimento, com a crescenteconcentração de capitais nas áreas em urbanizaçãoacelerada, e da participação dos agentes representantesdo setores da economia interessados na aplicação dosrecursos do que pelas imposições do SERFHAU (7).

Proliferando os planos, quando no contexto

mundial avançava o despertar ecológico, estes bem oumal com maior ou menor abrangência, mas ainda demaneira muito preliminar vão citando sobretudo nosdiagnósticos a questão ambiental. Os planos todospassam a contar com um capítulo específico que, adespeito das mais diversas denominações, tratavam dadescrição dos aspectos fisiográficos do território, a títulode apontar os recursos naturais e a necessidade de suapreservação em muitos casos ou a indicação para a suautilização em poucos. O ambiente e a paisagem ainda sãocomo que entidades distintas e distantes, algo que estálá num outro lugar, mas que sendo “necessário” para o“bem-estar” é preciso “resguardar”. O urbano ouurbanização, sem desenho, diga-se a bem da verdade,continua pensado como o lugar da atividade emcontraposição ao lugar do natural e do passivo.

Desenvolve-se um sem número de planos comlevantamentos fisiográficos ricos muito bem elaboradosapresentados em mapas e gráficos detalhados, e que nomais das vezes servem apenas como ilustração ou retórica.Essa situação permanece e se agrava ao longo de 20anos, quando o plano perde cada vez mais o papel deordenação territorial e assume cada vez mais o papel deinstrumento da ideologia. Somente ao final dos anos de1980 com a nova constituição o Plano Diretor retorna àribalta do debate urbano no Brasil.

A aparente possibilidade que se abre para procedera reforma urbana, com o artigo da política urbana da novaconstituição, a experiência pioneira quando da elaboraçãodo Plano Diretor para a cidade de São Paulo naAdministração Luiza Erundina de Souza, quando seassume o Plano Diretor como instrumento preferencialda ação política pela reforma urbana, aliado àsexperiências de participação da população nosorçamentos municipais como oportunidades de inovaçãona gestão urbana que se seguem em tantas outras, fazcom que os governos municipais, e destes principalmenteos das administrações progressistas, entendam queatravés do Plano Diretor poder-se-ia promover o amploacesso à terra e à moradia entendidos como os principaisquesitos da função social da propriedade urbana.

Nesse cenário de luta, pela reforma urbana e pelaredistribuição e democratização das melhores vantagenscomparativas no e do urbano, novamente o ambiente e apaisagem são relegados a uma esfera menor. As questõesde paisagem nesse contexto circunscrevem-se: ao projetodos parques urbanos, à recuperação de umas poucasáreas de mananciais, e em alguns dos projetos “re” nasáreas centrais.

Os procedimentos conservadores se confirmam eexplicita-se a incompreensão do papel que os aspectosde paisagem e ambiente podem ter no processo de

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planejamento.

2. OBJETIVO

Procuramos, na contramão desse processo,apresentar como a paisagem pode contribuir com oplanejamento por considerá-la um vetor da inclusão nosmais diversos níveis; um instrumento de compreensãodos processos de apropriação e transformação urbanos;e um fator de contribuição para a estruturação do espaçoà medida que deixe de ser capítulo ou atividade dedescrição ou técnica de embelezamento.

3. METODOLOGIA

Mais do que leitura do espaço ou “melhoria”urbana, a paisagem revela tempos, usos, ocupações,querências, e mais do que tudo os objetos e ações,auxiliando na percepção do modo nem sempre justo, nemsempre mais adequado, nem sempre sustentável com quefazemos as nossas inserções. Ou seja, entende-se porora a paisagem como a escala perceptível entre osprocessos humanos e naturais, nesse sentido a paisageminclui todos os artefatos humanos e todos os elementosdo natural - ou natureza. Desse modo, a combinação dentreos aspectos naturais - elementos da natureza - e osaspectos culturais - artefatos humanos - em ummovimento contínuo, portanto dialético, cria aspaisagens.

A maneira pela qual esses são combinados eutilizados reflete a cultura da espécie humana e criaespecificidades de aparências informando diferentestipos de paisagens conforme se privilegie este ou aqueleaspecto no processo de combinação e utilização daqueleselementos - artefatos humanos e natureza. A paisagemportanto é perceptível nas feições que as nossasorganizações sócio-espaciais adquirem em função dasconfigurações das combinações resultantes dosprocessos humanos sobre a natureza.

A pesquisa desenvolveu-se a partir das reflexõesdo autor na sua experiência na elaboração do Plano Diretorpara o município de São José dos Campos no Estado deSão Paulo. Constitui-se em revisão crítica em que sereavaliam os processos e os produtos perante oarcabouço teórico. Para uma reflexão mais abrangenteprocedeu-se a uma revisão bibliográfica ampla,selecionando-se as referências obrigatórias procurandocobrir os aspectos fundamentais, os específicos e oscomplementares. Foi levantada, organizada e comentadaa legislação específica para o planejamento no estudo decaso de 1860 a 1990, com o sentido de montar um amplopanorama dos instrumentos de controle urbanístico àmedida que se discute a abrangência do planejamentocom a inclusão das questões de desenho da paisagem,

como parte de uma compreensão atual das questõessócio-ambientais. Retoma-se também trabalhodesenvolvido anteriormente no mestrado onde sedemonstra o papel dos diferentes tipos de produçãoeconômica e os conseqüentes modos de apropriação doterritório na constituição da paisagem, com o sentido demelhor explicitar as peculiaridades do estudo de caso nocontexto nacional.

4. OBJETO

São apresentados os aspectos introdutórios daabrangente discussão resultante da pesquisa, onde sãoidentificados alguns dos diversos modos como apaisagem pode ser percebida, valorizada e incorporadano processo de planejamento. Mormente dos aspectosque apontam para uma necessidade de mudança deenfoque e conseqüentemente de abordagem, segundo aqual entende-se que a efetiva e concreta incorporaçãodos elementos do meio natural ou com relativo grau denaturança no processo de pensar e promover aurbanização, pode efetivamente contribuir para a obtençãode qualidade de desenho dos espaços, de paisagens maisintegradas e integradoras e de um meio urbano ou deurbanização mais equilibrado, mais justo e maisdiversificado no uso dos recursos da natureza dos/nosespaços.

Argumenta-se no sentido de reforçar anecessidade de buscar desenhos de urbano e deurbanização onde, ao incorporar os elementos depaisagem, estes contribuam para imprimir uma dimensãoqualitativa em nossas organizações sócio-espaciais e danecessidade de se pesquisar novos arranjos não sóespaciais mas sócio-culturais.

4.1. Planejando com a paisagem

Um plano que toma a paisagem como idéia - forçacentral do planejamento por considerá-la um vetor dainclusão nos mais diversos níveis; um instrumento decompreensão dos processos de apropriação etransformação urbanos; e um fator de contribuição paraa estruturação do espaço, não poderia seguir outrosprocedimentos que não o de realizar as análises e fazerproposições, por meio dos aspectos relacionados com apaisagem e o ambiente. Procura-se explicitar essaabordagem tornando mais claro os processos e asmaneiras de ler o espaço com a paisagem. Em seguidadiscute-se como os aspectos de paisagem foram setornando fundamentais para a compreensão daurbanização e quais as contribuições que se procuroutrazer para o processo de planejamento a partir dessasformulações tanto no âmbito das necessárias açõesinstitucionais, como do processo para indicar osdesenhos desejáveis da urbanização. Demonstra-se

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também a necessidade de transitar em diversas escalasdado que proposições e diretrizes gerais são próprias deescalas maiores e diretrizes de projeto e de desenho nãoprescindem de escalas menores, onde os pormenorespodem ser mais bem indicados, elencados, ou mesmodetalhados.

Cabe destacar também que a elaboração ediscussão de planos diretores revestem-se de relativaimportância desde que em muitos dos casos apresentam-se como oportunidades reais de transformação do espaçourbano, seja quanto às desigualdades sócio-espaciaishistóricas, seja quanto à qualidade dos desenhos.

4.2. Adotando a paisagem como elemento de planejamento

A idéia de elaborar um plano que viesse a atenderaos pressupostos de justiça e equilíbrio sócio-ambientalgarantindo a participação popular, como ao final ficouexpresso no texto de abertura do PDDI 95 – Plano Diretorde Desenvolvimento integrado de São José dos Campos,levantava a necessidade de adotar um novo procedi-mento, o qual mesmo não se pretendendo um novoparadigma, ao menos sinalizava a exigência de repensaros outros procedimentos até então adotados na execuçãode todas as etapas preliminares já encaminhadas etambém a revisão dos aspectos práticos e teóricosconceituais norteadores para a continuidade dostrabalhos.

Contava-se à época com farto material constituídode dados estatísticos, sócio-econômicos e físico-territoriais consolidados em um relatório intitulado PlanoPreliminar, cujos levantamentos e análises haviamcontado com a colaboração da UNESP / Rio Claro, atravésde contrato de assessoria. Somados a esse relatório, haviaainda o conjunto das sugestões colhidas durante umaprimeira audiência pública realizada em Outubro de 1991,registradas oficialmente em livro ata. Portanto, não seriao caso de iniciar-se do zero com o costumeiro trabalho delevantamento de dados e as dificuldades para procederas análises preliminares, posto que estas tarefas já haviamsido concluídas.

A qualidade do relatório do qual constava umaexaustiva e detalhada interpretação dos dados coletados,a sua subdivisão em setores e áreas de interesse, massem contudo contar com uma conclusão que encerrassemais do que análises uma idéia de plano, - evidentementeessa ausência é compreensível, dado que não competenecessariamente às assessorias e nem é mesmo muitodesejável que a elas seja delegado “fechar” o conteúdodo plano -, permitia retomar a discussão sobre quais seriamos procedimentos mais adequados para elaborar, a partirdaí, o plano.

Questões que se referiam a: com quaisinstrumentos dever-se-ia contar, o que seria desejávelcontemplar no tocante a organização do território, e maisdo que tudo com que pressupostos teórico-conceituaisdever-se-ia trabalhar para atingir os objetivos iniciaiscolocados de adotar a paisagem como fator que podecontribuir de maneira muito significativa com aestruturação do espaço e conseqüentemente tambémcomo idéia - força central do planejamento porque buscaincluir a paisagem na compreensão dos processos deapropriação e transformação urbanos e como vetor dainclusão nos mais diversos níveis, indicavam anecessidade de adotar procedimentos diferenciadosdaqueles até então utilizados.

Mais do que ser necessariamente inovador ouoriginal procurava-se evitar apriorismos sem conduzir osprocedimentos necessariamente deste ou daquele modo,não assumindo como as mais ou menos adequadasquaisquer das maneiras mais usuais de elaborar planos.Dessa maneira procurava-se evitar pré-condições muitorígidas, as quais poderiam inclusive logo de princípioinduzir a descartar procedimentos os quais, mesmo queaparentemente conservadores, se bem conduzidos eempregados podem ser úteis.

No que concerne à multidisciplinaridade,procedimento muito usual nessas oportunidades,destaca-se que os levantamentos e análises de outrasáreas e setores ao chegarem filtrados e consolidados naforma de demandas a serem atendidas, conforme umentendimento específico e desarticulado, se tornam únicae exclusivamente indicadores para um desenho deatendimento dessas demandas.

Isso pode configurar um cenário de menorabrangência, desde que somente atende demandagerando demanda sem corrigi-las e sem desenhar umcenário que propicie a sua mudança.

O que se aponta é que a correção ou mudançaexige que a multidisciplinariedade se manifeste no espaço,desde o momento da identificação dos processos queformam as demandas, os quais são possíveis de ler napaisagem, através da qual é possível identificar ondeocorrem, como ocorrem porque ocorrem e com queconfiguração ocorrem, até o momento das proposiçõespara a sua readequação ou transformação qualitativa,manifestando-se, não só em novos equipamentos ouserviços, mas sobretudo em paisagens que conformam einformam a mudança na organização sócio-espacial.

Assim sendo, não se querendo adotar soluçõesparadigmáticas, sejam elas sofisticadas, ou simplistas,se fazia necessário descobrir a quais elementos iniciaisde análises se deveria atribuir prioridade. Não se tratava

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de buscar outras categorias somente pela busca empíricade um modo diferenciado como já se disse. O que sebuscava era identificar fundamentalmente quais assoluções estruturais, qual a categoria chave capaz de secolocar como idéia –força central, posto que ...“Soluçõesfuncionais são subordinadas em sua eficácia duradouraa soluções estruturais”...(Santos, M., 1990), e quetodavia se acreditava essas últimas poderiam seridentificadas numa abordagem em que o viés seria o dapaisagem e ambiente.

Nesse sentido, nada mais apropriado do quepromover as discussões a partir dos aspectos maisrelacionados com a paisagem e o ambiente. Contudo, éde se notar a partir das experiências com planos diretores,que apesar de em quase todos os modelos de planos atéentão conhecidos, descrições do meio natural, dosimpactos das ações humanas sobre estes, das fontescausadoras e dos problemas decorrentes da poluição emseus mais diversos aspectos, estarem presentes em maiorou menor grau, o são normalmente, associadas, semexplicar muito bem como, nem com que sentido de açõesintegradas e integradoras das populações como o meio,ao que se convencionou chamar de “qualidadeambiental”.

Ora se tem a impressão que nos capítulos de meioambiente são utilizados os dados de levantamentosfisiográficos como ilustração, que de todo modo serviriampara justificar certas tomadas de decisão geralmente muitodiscutíveis, ora a impressão é de que se referem apreocupações com o intemperismo e suas relações comas recorrentes catástrofes e as correspondentes açõesmitigadoras, ora são excelente objeto de apoio paraimprimir uma sofisticação elegante e pseudocientífica nodiscurso dos políticos. Ou seja, quase sempre aparecemcom uma clareza quase científica pela qualidade dos dadose das fontes utilizadas, mas sobretudo, sendo utilizadospara apontar mais um aspecto que precisa funcionar direitopara que tudo corra bem.

Tomada a decisão de assumir a paisagem comoidéia – força central (Souza, M. L., 2002), com o cuidadoem se evitar a sua utilização nos mesmos moldes usuaisconforme criticamos, como base preliminar selecionaram-se os aspectos de fisiografia, a partir dos quais se entendiaseria possível estabelecer inicialmente certa familiaridadecom os temas mais usuais, como relevo, hidrografia,cobertura vegetal, antropização enquanto componentesestruturais da conformação de um território, mais do quesimples estudo corográfico. Menos ainda como nosvários momentos da história da urbanização quando seconsideram as especiais caraterísticas do sítio comoóbices a serem evitados ou atrativos naturais a seremexclusivamente apropriados, seja em função da faixa derenda, seja pela acessibilidade, e que refletem desse modo

mais do que má vontade deliberada, a incapacidade emincorporar de fato a paisagem no processo de pensar epropor a urbanização tanto no que se refere aoplanejamento da urbanização quanto ao seu desenho.Exemplificam essa incapacidade as citações como segue:

...“Mesmo desempenhando eventualmente papeldemográfica e territorialmente secundário, os atrativosdo sítio natural têm constituído importante fator deatração da expansão urbana. A importância desse fatordecorre especialmente do fato de ele – ao contrário dasvias regionais – atraírem população de alta renda”...,

...“Há, entretanto, outros casos nos quais o sítionatural não só apresenta grande beleza, como tambémparece interminável. Por essas característicastransformaram-se em traço típico da metrópole brasileira:são os casos das orlas de alto-mar”... (Villaça, 1998, p.107)

...“Como a estrutura existente, que representaenorme capital social a ser aproveitado ao máximo, foienormemente influenciada pelas condições topográficas,o critério de economicidade levará também, se bemtrabalhado, a um resultado paisagístico altamenteconveniente, com acentuação de vales, colinas, eespinhaços, regulação dos ventos e das linhas visuais”...(Campos Fº, 1992, p.101)

...“Diante do alastramento das epidemias, amedicina elaborou a teoria do contágio, desenvolvendoa idéia de que a propagação das doenças se dava emfunção da presença de um meio inadequado. Inicialmentese estudou o meio físico – tipos de solo, topografia,direção dos ventos, presença de praias, rios, pân-tanos -, promovendo uma classificação de locais mais oumenos propícios para a produção de doenças”... (Rolnik,1997, p. 39,40)

Procura-se, inversamente, incorporar as questõesde paisagem tratando-se os elementos das bases naturaisenquanto uma daquelas forças a ocupar papelsignificativo na conformação da distribuição espacial daurbanização, nos desenhos dos espaços e na aparênciados lugares, contribuindo dessa maneira de fato com oprocesso de pensar o planejamento que venha a concorrerpara a obtenção da tão desejada qualidade ambiental.

...“A análise dialética exige que a estruturaçãoterritorial seja encarada como um processo e, como tal,sua abordagem é efetuada em termos de movimento, e omovimento das estruturas urbanas é sempre fruto daatuação de várias forças que atuam em sentidos diferentescom intensidades diferentes. O que cabe analisar são asforças presentes, suas origens e intensidades”...

...Esse movimento só será captado se juntarmos a

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geografia e a história”... (Villaça, 1998, p. 133)

Assim, ao pensar em força, é das interferências dahistória sócio-econômica que incidem sobre uma basefísico-territorial e que se realiza no tempo, que se fala.

...“a história econômica e social e, de maneira geral,o tempo (em síntese, após a última glaciação, isto é, depoisque o homem consegue marcar com sua presença aevolução da ecosfera) contribuem de forma essencial parao desenrolar dos processos que configuram o pano defundo dos problemas ambientais”... (Jollivet; Pavé, 1997,p.102)

A reaproximação com os elementos do suportefez-se possível através da retomada do relatório preliminarno qual constava um capítulo bastante detalhado defisiografia. No entanto, este apresentava um claro quantoàs possibilidades de utilização desses dados e dessasanálises por parte do arquiteto e mais especificamentedo planejador, ainda que os dados coletados, as análisese as descrições explicativas da base físico-territorial coma terminologia específica da geografia e da geologiafossem de qualidade indiscutível.

Não que essas descrições não sejam necessáriase por vezes até desejáveis. Via de regra estão presentesem todos os tipos de planos e talvez até em função dasdificuldades de interpretação para seu uso de modo maisobjetivo e pragmático por parte do arquiteto e dourbanista. Em muitos casos, findam por serem utilizadasa título de simples ilustrações, ou mesmo descrições parasustentar justificativas de decisões que sem elaspareceriam carecer de consistência, ou até mesmo comoconjunto de elementos, que de alguma maneira deveriamser considerados na hora da adoção dos padrões usuaispara urbanização, tais como a proteção das margens doscórregos e a adoção dos índices de áreas verdes porhabitante e tantos outros.

A necessidade de compreender as característicaspróprias dos elementos das bases naturais e aidentificação de uma maneira pela qual estas pudessem,nos seus diversos níveis, ser incorporadas no processode urbanização, passou a ser então a diretriz básica domodo de pensar o processo de urbanização e doplanejamento.

Para tanto se tornou necessário rever posturasmais simplificadas e disposição para entender que épossível a adequação (8) simultânea do suporte e dasintervenções antrópicas, não só quando da inevitabilida-de de ocupação e usos, mas, outrossim, que ao consideraresses aspectos em uma dimensão de totalidade, tanto daperspectiva do suporte – meio ecológico – quanto dasações humanas – antropização –, a discussão que se

coloca passa a ser menos centrada em opções de carátermaniqueísta e mecanicista com as eternas dúvidas eintermináveis digressões entre o certo e o errado, opermitido e o proibido.

4.3. A incorporação dos aspectos paisagísticos noplanejamento

Contrariamente ao tratamento mais convencionalque se costumou dar aos aspectos paisagísticos noprocesso de planejamento, como se aponta nos itensprecedentes, propõe-se a priori que o ato de usar épermitido sempre. Busca-se desse modo possibilitar aconversão de limitações em potencialidades através daidentificação das possíveis intensidade, diversidade ecomplementaridade para os usos, da sua localização edistribuição preferencial e da indicação dos desenhoscorrespondentes para ocupações.

Essa postura pressupõe também rever o que seentende por ocupação e uso. Geralmente ao se utilizardessas expressões está-se referindo aos aspectos deutilização exclusivamente produtivo - econômico ecomercial - do território, determinados segundo umconjunto conhecido de opções com desenhos muitorestritos, decorrendo como conseqüência feições“padronizadas”.

Propõe-se amplificar a sua aplicação ao entender-se a ocupação e uso referindo-se a uma gama mais variadae menos utilitarista de opções e desenhos, incluindo aídesde o conceito mais usual que atribui à ocupação e aouso indistintamente a idéia de local de posse e de trabalhosocialmente produzido nos quais as atividades serealizam, até a idéia mais elástica de apropriação e usança,as quais permitem falar em apropriação e uso social doterritório, sem com isso querer dizer necessariamente umaocupação e um uso no sentido físico

Procura-se com isso incorporar os diversos níveisde permanência de situações em estados menosprocessados normalmente associados à idéia de beleza,de notabilidade, de inusitado, e com aparência natural,por que conferem “qualidade aos lugares”.

Essa postura permite análises e reflexões comresultados que não só incorporam de fato, como por vezesprivilegiam os elementos das bases naturais para aindicação das intensidades desejáveis. Indicandotambém possibilidades de propor morfologias menospadronizadas, já que as oportunidades de ocupações eusos seriam mais do que correlato às limitações epotencialidades próprias do território, invenções deformas e modos para antigos e novos usos, procurandocom isso, não uma morfologia específica preconcebida,mas morfologias para o ambiente e paisagem.

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A obtenção dessas morfologias tornou-sepossível a partir do resultado da inter-relação de umanecessária gama de usos em correspondência a umainevitável gama das características do suporte em que secontempla desde as situações encontradas no territóriocom aparência muito próxima do natural, portanto muitopouco ou quase nada processadas; situações comaparência medianamente próxima do natural, portanto comgrau médio de processamento, e as situações comaparência muito distante do natural, portanto com altograu de processamento e artificialidade. Dessa forma osdesenhos – morfologias - resultantes guardam estreitacorrespondência com o grau / nível de processamento,possibilitando assim a ocupação e uso de todo o território,mas de modo a garantir por intermédio da diversidade deintensidade algumas das “qualidades” de ambiente epaisagem mais usualmente desejadas, quais sejam, agarantia da manutenção dos recursos hídricos, dacobertura vegetal, do relevo, da beleza do sítio e da formada distribuição espacial da urbanização.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É recorrente a dificuldade em compreender osaspectos de paisagem e das possibilidades que se abremcom a sua incorporação nas análises e propostas nosprocessos de elaboração de planos para além dosdesenhos de aformoseamento.

Os vários graus de processamento, que serelacionam com os vários graus das aparências, dasdiversas formas de controle ou falta deste, da ocupaçãoe uso, e dos desenhos resultantes, não são de per semaus ou bons, mais adequado procurar entender quesão decorrentes do modo em como são pensados eproduzidos os nosso espaços, como aparece de maneirabastante clara na citação que se segue:

...“E será preciso atentar que não são a urbanizaçãoe a industrialização, em si, como se tem apontadofreqüentemente, os réus da questão. É no modo em queem nossas organizações sociais se insere a urbanizaçãoe a industrialização”... (Magnoli, 1987)

É também no modo como se percebe, se entende,e se inserem os elementos das bases naturais enquantoambiente e paisagem nas nossas urbanizações que sedeve buscar a compreensão, incorporação e proposiçãode desenhos da urbanização mais adequados em termospaisagísticos e ambientais.

6. NOTAS

(1) Levantamento exaustivo sobre os planoselaborados no Brasil, onde consta artigo explicando ocenário e a constituição daquele que é considerado o

primeiro Plano Diretor Stricto Sensu entre nós, bem comouma série histórica e cronologicamente bem apresentadaque facilita a compreensão da produção dos planos eprojetos urbanos no Brasil, pode ser consultado notrabalho coordenado por LEME, Maria Cristina S.,Urbanismo no Brasil 1895-1965, Nobel/FUPAM, 1999,600p.

(2) O urbanismo ou projeto urbano do períodocolonial brasileiro, fartamente documentado comprimorosos desenhos, mapas e um texto que cobre desdeas intenções de dominação do território pela metrópoleaté as diretrizes para a constituição dos núcleos urbanos,e da sofisticação cultural que alguns alcançaram, encontra-se na obra de Nestor Goulart Reis Filho, Imagens de Vilase Cidades do Brasil Colonial, EDUSP, Cia. das Letras,2000, 411p.

(3) Para uma rápida visualização sobre a históriado planejamento, suas diversas teorias e modelos verdentre outros: CHOAY, Françoise, O Urbanismo, Ed.Perspectiva, 1979, 350 p., onde por meio de uma antologiasão apresentados os principais movimentos daurbanística moderna. BENEVOLO, Leonardo, As origensda urbanística moderna, Coleção Dimensões, 1981, 166p., mostrando a ação reparadora que a urbanísticamoderna se coloca frente aos processos de transformaçãodo modo capitalista de produção. HALL, Peter, Cidadesdo Amanhã, Ed. Perspectiva, 1999, 550 p., onde as teoriase práticas urbanísticas são apresentadas à luz de seusobjetivos e efeitos concretos enfatizando os seuspropósitos de promover as condições mais adequadaspara o consumo do urbano. HOWARD, Ebenezer,Cidades-Jardim de amanhã, HUCITEC, 1996, 211 p.,apresenta o ideário de uma cidade desenhada para seintegrar com o meio natural, abrigando uma sociedadeigualitária. PERROUX, F. L’ Économie du XX siècle, Paris,Presses Universitaires de France, 1961, para uma idéia dateoria dos pólos, muito estudada nos anos de 1960 e1970. Sem pretender organizar bibliografia específica cabelembrar: a partir de 1950/1960 é maior o interesse pelosestudos urbanísticos no Brasil: destaca-se na área deArquitetura e Urbanismo a Tese de Livre Docência deNestor Goulart Reis Filho, Evolução Urbana no Brasil(1510-1720)defendida em 1964 e somente publicada em1968; inicia o resgate das políticas urbanas estabelecidasdesde o colonização. Nesses períodos iniciais deembasamento dos estudos brasileiros deve-se lembrar ainfluência dos estudos de Weber, Chabot, Lavedan,Geddes, Park, Burgess e McKenzie, L. Munford, K. Marx,K. Mannheim e, entre os geógrafos e cientistas sociaisque abordavam a sociedade brasileira, FlorestanFernandes, Caio Prado Junior, Sergio B. de Holanda,Arodldo de Azevedo, Inácio Rangel, Raymundo Faoro,Celso Furtado. Nos anos subseqüentes passaram a serincluídos, com diferentes campos de abordagem e

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temáticas, principalmente W. Alonso, R. Bastide, DavidHarvey, H. Lefebvre, M. Castells, J. Lodjkine,Langenbuch, Pierre Monbeig, Richard Morse, Ab’Saber,Messias da Costa, Robert Moraes, E. Soja, Milton Santos,Candido Malta Campos Filho, Flávio Villaça e maisrecentemente SOUZA, Marcelo L. de, Mudar a cidade.Uma introdução crítica ao planejamento e à gestãourbanos, Bertrand Brasil, 2001, 556 p. que faz um longopercurso pelas mais significativas teorias urbanísticas ede planejamento, analisando as modalidades de PlanosDiretores e as experiências mais recentes de gestão urbanano Brasil.

(4) A história do planejamento no Brasil,especialmente com relação aos Planos Diretores, e acrítica aos vários “modelos” de planos adotados entrenós, esclarecendo inclusive o papel que muitos dessesassumem como mera peça de retórica ou discursoideológico, bem como instrumento de obtenção delegitimidade devido a sua aura ou apelo junto ao públicofoi exaustivamente estudado e discutido em VILLAÇA,Flávio, Uma Contribuição para a história do planejamentourbano no Brasil in O Processo de urbanização no Brasilorgs. DÉAK, Csaba e SHIFFER,Sueli R.,EDUSP/FUPAM,1999, 346 p., além, é claro, das discussões sobre os atorese seus cenários preferencias na construção do espaçointra-urbano no Brasil do mesmo VIILLAÇA, Flávio, Oespaço intra-urbano no Brasil, 1998, 373 p.

(5) As críticas ao Plano de Lúcio Costa paraBrasília, aos resultados de sua implementação e àscondições de segregação e de reforço das desigualdadescomo características que lhe são intrínsecas, constituemjá farto material. Dentre outros, pode-se verificar umadiscussão mais específica sobre a sua apropriação econsumo em HOLSTON, James , A cidade modernista.Uma crítica de Brasília e sua utopia, São Paulo, Cia dasLetras, 1993, já quanto aos aspectos contraditórios emrelação ao que expressa a Memória Descritiva do PlanoPiloto e as sucessivas limpezas efetuadas nosacampamentos e favelas, deslocando as populaçõespobres para as periferias das cidades satélites, ver LEITE,Maria Angela F. P., Uma história de movimentos, p. 433,in O Brasil. Território e sociedade no início do séculoXXI, org. SANTOS, Milton & SILVEIRA, María L., Riode Janeiro, Record, 2001.

(6) A constituição do pensamento e do movimentoecológico no Brasil é muito recente e surge pelo viés dapreservação e da proteção contra a extinção de recursosnaturais como o ar, a água, a vegetação e as espéciesanimais, por volta dos anos de 1970. Só mais tarde é quea discussão desloca-se um pouco da visão extremamente

parcial e catastrófica para se aproximar de apelospropositivos em que não se coloca o homem somentecomo réu. E mesmo mais recentemente ainda são poucasas situações relacionadas com movimentos e proposiçõespreservacionistas em que a espécie humana é assumidacomo co-partícipe do processo de conservação danatureza. O surgimento dos movimentos pelaconservação e preservação da natureza pode ser maisbem compreendido através de VIOLA, Eduardo, Omovimento ecológico no Brasil (1974 – 1986) Doambientalismo à ecopolítica, Revista brasileira de ciênciassociais 1 (3) :5-26, no caso específico brasileiro, e deDIEGUES, Antonio C., O mito moderno da naturezaintocada, HUCITEC,1996, 169 p., no âmbito mundial.Interessante também com relação as relações homem-natureza percorrer o desenvolvimento do pensamentofilosófico, especialmente na compreensão da natureza,para isso recomenda-se LENOBLE, Robert, História daidéia de Natureza, Edições 70, 1969, 3637p. No que dizrespeito ao processo de transformação do meio naturalpela ação do homem e as mudanças de paradigma comrelação aos modos de apropriação dos recursos naturais,entre outros ver THOMAS, Keith, O homem e o mundonatural, 1983.

(7) A desmistificação do SERFHAU como indutorda proliferação dos planos diretores a partir do final dosanos de 1960, pode ser atestada em SOUZA, Maria AdéliaA., O II PND e a política urbana brasileira: Umacontradição evidente in O Processo de urbanização noBrasil orgs. DÉAK, Csaba e SHIFFER, Sueli R., EDUSP/FUPAM, 1999, 346p.

(8) O Conceito de adequação utilizado aqui étomado o de HENDERSON, Lawrence J. The Fitness ofthe Environment, The Mac Millan Company, New York,1913, p.22. Apud Mc HARG, por entender-se que é o quemelhor responde aos nossos interesses: “O conceitodarwiniano de adequação pressupõe uma relação mútuaentre o organismo e o meio. Para esta relação, a adequaçãodo meio é um componente tão importante como aadequação que surge do processo de evolução orgânica;e, no caso de certas características fundamentais, o meio,tal como chegou a constituir-se é o melhor suporte paraa vida. Utiliza-se também o conceito de co-desenvolvi-mento e cooperação desenvolvido em JACOBS, Jane, Anatureza das Economias, BECCA, São Paulo, 2002, ondese discute que a vida é possibilitada por dádivas danatureza tais como o sol a água e os outros componentesdo meio natural, por meio dos mais diversos processospelos quais os homens deles se apropriam devido à suacapacidade de engendrar.

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As Leis de Uso e Ocupação do Solo e Sua Relação com oÍndice de Área Verde por Habitante

Walter Brant Zaroni de Paiva *Mario Valério Filho **

Resumo. O presente trabalho tem por objetivo demonstrar a abrangência atual das leis de uso dosolo urbano e sua relação frente ao conceito de Índice de Área Verde (IAV) por habitante,recomendado pela Organização Mundial de Saúde - OMS. Neste contexto, são apresentadosexemplos de parcelamento do solo em várias formas, conforme o método tradicional, e outrorecomendando um novo modelo, compatível com os padrões do índice da Organização Mundial daSaúde.

Palavras-chave: Parcelamento do solo urbano, área verde, índices urbanísticos.

Abstract. The main subject of this article is to demonstrate the performance of the Brazilian urbanland use legislation and its relationship with the concept of Green Area Index, recommended byWorld Health Organization. In this context some examples of land parceling, in different ways,according to the traditional methods, are presented, and a new model of urban land parceling isrecommended.

Key words: Urban land parceling, green area, urbanism indexes.

* Mestrando em Planejamento Urbano e Regional -UNIVAP 2002.

** Professor da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

As leis de uso do solo urbano atingem a todos,independentemente da condição social, pois o cenáriopor elas gerado é desfrutado pelos habitantes das áreasurbanizadas. Seu desempenho pode ser avaliado pelaqualidade de vida proporcionada à população.Atualmente fala-se muito em desenvolvimentosustentável, um conceito de importância relevante nasquestões que regem o parcelamento do solo, e queconsiste na utilização equilibrada do ambiente,respeitando as condições naturais e, mais que isso,contribuindo para o seu desenvolvimento.

2.PROCESSO DE OCUPAÇÃO URBANA

Desde quando surgiram os primeiros aglomeradoshumanos houve a necessidade de uma regulamentaçãopara que o convívio, em um mesmo espaço, fossepossível. As primeiras leis ou normas que surgiramtentavam simplesmente controlar a saúde do ambienteem geral. Eram leis básicas de comportamento e não leisque determinassem os tipos de lotes, zoneamentos ou

moradias. Com o passar do tempo essas leis começarama ser criadas, melhorando a convivência e o bem-estarcomum.

No Brasil, essas leis começaram a se tornar maisevidentes a partir do final do século XIX e início do séculoXX, quando, depois da abolição da escravatura e iníciodo desenvolvimento industrial, começaram a ocorrermudanças do modo de vida das famílias (rural para ourbano).

Esse fluxo de pessoas em direção aos centrosurbanos exigia uma solução rápida para o alojamentodelas, o que resultou no surgimento dos cortiços e seusproblemas, e assim, como na Europa, segundo Engels(1975), “no final do século XVIII, tanto na Inglaterraquanto no País de Gales, vários problemas surgiram nosnúcleos urbanos decorrentes dos processos deindustrialização e urbanização. A população que deixavao campo, atraída pela oferta de emprego no sistema fabril,criava, nas cidades, novas camadas de proletariadourbano, ampliando a taxa populacional dessesaglomerados com relação ao total de habitantes do país.”

As precárias condições do interior dessashabitações começaram a preocupar o poder público, comopode ser observado através do edital promulgado pelaCâmara Municipal do Rio de Janeiro em 1º de agosto de1855 com a exigência de que “a construção de qualquer

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novo cortiço deve se submeter à aprovação da Câmara”.Mais tarde, 1º de setembro de 1876, chega-se ao extremode “proibir a construção de novos cortiços”.

Nessa seqüência de evolução, surgem as vilasoperárias e, logo depois, nos anos 20, os primeirosedifícios de apartamentos. Até essa data não sequestionava a forma e o método de parcelamento do solo,pois a vida urbana ainda era desconhecida para a maioriada população. Somente havia preocupação com aedificação, sua forma e função.

Com a promulgação do Decreto-Lei 58 em 1937,iniciou-se o questionamento da importância doparcelamento do solo. A intenção principal do decretoera regular a compra e venda das propriedades, pois comoagora havia um “produto” sendo comercializado, fazia-se necessário descrever suas dimensões, localização equalquer outro item que se julgasse importante.

No caso dos loteamentos, era questionada aqualidade do lote, no tocante a sua capacidade deutilização e acessibilidade, mas nada relativo à qualidadede vida do ambiente que seria produzido ou no cenáriodo futuro bairro.

Naquela época havia bom senso quanto aotamanho dos lotes, os quais tinham dimensões generosas.Isso por que não havia escassez de terras, nemespeculação imobiliária, e a dimensão da área verde eraimensa em relação à área urbanizada.

O Decreto-Lei 58/37 vigorou, quase que solitário,durante 42 anos, atendendo com satisfação àsnecessidades da época em relação ao parcelamento dosolo, que praticamente marcava como sendo a transiçãodo modo de vida rural para o urbano.

Mas, na metade do século XX, o modo de vidaurbano estava instalado e havia no mínimo uma geraçãourbana. As grandes cidades, tradicionais na Europa, setornaram uma realidade também no Brasil, e os problemasurbanos estão sendo observados pela população e oGoverno.

Foi então que em 1979 é promulgada a Lei Federal6.766 sobre o uso e ocupação do solo, determinandoparâmetros que organizam e melhoram a qualidade dosloteamentos e os lotes que o compõem.

Com sensível melhora em relação ao Decreto 58/37, a nova lei define as porcentagens de áreas destinadasao uso comum nos loteamentos (geralmente: 5% parauso institucional, 10%, para áreas verdes e 20%destinados às vias de circulação), sendo 35% do total da

gleba; o lote mínimo com 125,00 m² e a proibição daocupação em terrenos com declividade superior a 30%.

Ocorre que o legislador contava com o bom sensodo loteador, na definição dos loteamentos, mas o que naprática acontecia e acontece é que sempre se utilizam osíndices nos seus limites e o cenário gerado, embora dentroda lei, pode deixar a desejar a qualidade de vida aosocupantes locais.

Um item a ser avaliado é a porcentagem fixadestinada à área verde, determinada em 10% do total dagleba. Esse índice foi determinado para atender àsnecessidades da época, uma vez que até os grandescentros urbanos não eram tão adensados e havia grandequantidade de áreas com vegetação nativa.

Percebe-se que sua definição está centrada comosendo uma fração da área total a ser parcelada e não sequestiona o zoneamento local (se será ocupado porresidências, comércio ou indústrias) e nem o número dehabitantes que irão ocupar a área.

A preocupação com o meio ambiente já existia,mas os conceitos de desenvolvimento sustentável aindanão eram evidentes. A percepção das necessidades dohomem, bem como o relacionamento com a natureza,evoluiu. E como se comportaram as leis? Elas evoluíramtambém? Será que os índices urbanísticos estipuladosem uma determinada época ainda estão compatíveis coma realidade atual? Será que atendem às necessidadeshumanas satisfatoriamente?

Em 1999 foi promulgada a Lei 9.785 que substituiua Lei 6.766 e tomou outras providências. Poucas foram asalterações, e o quesito qualidade de vida não foiquestionado. Manteve-se o mesmo método deparcelamento e seus índices urbanísticos, onde valoresde porcentagem fixos determinam o destino de uso deáreas da gleba.

O exemplo a seguir mostrará o método deparcelamento hoje utilizado e será feita uma comparaçãodos resultados da quantidade de áreas verdes com oíndice determinado da OMS (Organização Mundial deSaúde).

“Ainda em relação aos índices é importantecomentar que está difundida e arraigada no Brasil aassertiva de que a Organização das Nações Unidas(ONU), a Organização Mundial de Saúde (OMS), ou aFood Agricultural Organization (FAO), considerariam idealque cada cidade proporcionasse 12 m2 de área verde/habitante, (Cavalheiro & Del Picchia, 1992, in MartinsJunior 1996)”.

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3.EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Tem-se uma gleba de 500.000,00 m², a ser loteada,em um local plano, para habitações unifamiliares.

O passo inicial é determinar as áreas destinadasao uso comum, que somadas totalizam 35% da gleba. Sãoelas:

5% para uso institucional (25.000,00 m²);10% para área verde (50.000,00 m²);20% para vias de circulação (100.000,00 m²).

Ao uso comum são destinados então175.000,00 m², e para o uso residencial tem-se uma áreade 325.000,00 m².

Vamos executar dois tipos de loteamentos. Oprimeiro, denominado modelo “A”, composto de lotesmínimos (5,00 m x 25,00 m = 125,00 m²) e outro, denominadomodelo “B”, com lotes de um padrão maior (15,00 m x30,00 m = 450,00 m²), e fazer um quadro comparativo entrea relação da quantidade de área verde por habitante, quepode ser considerada um item de qualidade de vida.

Tomando-se a área destinada ao uso residencial(325.000,00 m²) e dividindo-a pela área do lote mínimopadrão (125,00 m²), teremos o número de 2.600 lotesunifamiliares. Considerando-se o número de 4 pessoascomo a média de pessoas por família no Brasil, teremosuma população local de 10.400 pessoas.

Dividindo-se a parte destinada a ser área verdepelo número estimado de habitantes, faz com que hajaum resultado de 4,81 m² de área verde por habitante nomodelo “A”.

A seguir, se dividirmos a área da gleba pelo lotede padrão maior (450,00 m²), teremos o númeroaproximado de 722 lotes, que multiplicado pelo númerode pessoas por família, teremos uma população local de2.888 pessoas.

Isso resulta em 17,31 m² de área verde por habitanteno modelo “B”.

Já que segundo a OMS (Organização Mundial deSaúde), o índice ideal é de 12,00 m² de área verde porhabitante, percebe-se que no modelo “A” o valor ficabem distante do ideal, enquanto no modelo “B” o valoratingido ultrapassa o índice.

Esse é o método pelo qual os parcelamentos sãoexecutados atualmente, seguindo as determinaçõesestipuladas na Lei 6.766 do ano de 1979.

Se o método de parcelamento fosse baseado noíndice de área verde por habitante da OMS, onde fossegarantida essa condição “ideal”, a realidade dosloteamentos seria bem diferente.

Tomando-se os 12,00 m² de área verde porhabitante, e multiplicando-o por uma família ( 4 pessoas),teremos 48,00 m² de área verde por lote, independente doseu tamanho.

Mantendo-se os mesmos valores para as áreasdestinadas ao uso institucional e de circulação, tem-se aseguinte situação:

Tendo-se a gleba 500.000,00 m² e subtraindo-seos 5% (25.000,00 m²) de área institucional e os 20%(100.000,00 m² de arruamento) resta uma área com375.000,00 m².

Dividindo-se esse valor pela área do lote mínimo(125,00 m²), acrescida da quantidade de área verde que aele lhe cabe (48,00 m²), obtém-se o resultado de 2167lotes (modelo “A”), conforme a Tabela 1.

Aplicando-se esse novo método para o modelo“B” tem-se que dividir a área pelo lote padrão adotado(450,00 m²) acrescido dos 48,00 m² de área verde, o queresultaria em 753 lotes, conforme Tabela 1.

Método Área daGleba

ÁreaInstitucional

ÁreaVerde

Área deCirculação

ÁreaResidencial

Quantidadede Lotes

Número deHabitantes

Área verde /Habitante

Lei 9.785Mod. “A” 500.000 m2 25.000 m² 50.000 m² 100.000 m² 325.000 m² 2.600 10.400 4,81 m2

Lei 9.785Mod. “B” 500.000 m2 25.000 m² 50.000 m² 100.000 m² 325.000 m² 722 2.888 17,31 m2

Índice OMS /Mod. “A” 500.000 m2 25.000 m² 104.016 m² 100.000 m² 270.984 m² 2.167 8.668 12,00 m2

Índice OMS /Mod. “B” 500.000 m2 25.000 m² 36.144 m² 100.000 m² 338.856 m² 753 3.012 12,00 m2

Tabela 1 - Quadro demonstrativo das dimensões de áreas verdes para os modelos A e Bsegundo a Lei 9.785 e a OMS.

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Pode-se verificar que dependendo do tipo deloteamento e da sua densidade populacional há anecessidade de mais, ou menos, área verde.

4.CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa disparidade é resultado do modelo deparcelamento adotado em uma época passada cominteresses e necessidades diferentes. Presentemente,muitos estudos tentam mostrar a importância dodesenvolvimento sustentável, e com base nas suaspremissas o presente exemplo corrobora para com anecessidade da revisão da lei de parcelamento do solourbano.

Ficou demonstrado que o método baseado noíndice da OMS mostra-se muito mais adequado, assimsendo caberia aos órgãos responsáveis a criação demétodos de controle, para que as áreas que futuramenteserão ocupadas o sejam de forma mais eficiente do queos atualmente utilizados, adequando-os à realidade. Oexemplo abordou loteamentos residenciais unifamiliares,mas deve-se desenvolver parâmetros específicos paraáreas industriais, comerciais e residenciais de altadensidade, sem esquecer de reavaliar as outras áreasdestinadas ao uso comum.

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Planejamento e Gestão Municipal Integrada:uma Questão para Debate

Maria Lígia Moreira do Carmo *Flávio José Nery Conde Malta **

Resumo. Este trabalho refere-se à questão do Planejamento Regional no Estado de São Paulo epropõe uma reflexão sobre o planejamento em nível microrregional, representado pela gestãomunicipal integrada. É apresentado o estudo que está sendo desenvolvido no Curso de PlanejamentoUrbano e Regional, da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, sobre o planejamentomicrorregional nos municípios de Campos do Jordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antonio doPinhal e Monteiro Lobato, localizados na Serra da Mantiqueira, no Estado de São Paulo.

Palavras-chave: Planejamento Regional, Gestão Municipal Integrada.

Abstract. This paper refers to the Regional Planning in the State of São Paulo, Brazil, and aims atdiscussing the planning on micro-regional level, expressed by an integrated municipal management.The study is being developed as part of the Course of Urban and Regional Planning, at Universidadedo Vale do Paraíba - UNIVAP, concerning the micro-regional planning in the cities Campos doJordão, São Bento do Sapucaí, Santo Antonio do Pinhal and Monteiro Lobato, located in themountains of Serra da Mantiqueira – state of São Paulo.

Key words: Regional Planning, Integrated Municipal Management.

* Mestranda em Planejamento Urbano e Regional -UNIVAP 2002.

** Professor da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

O Plano Plurianual do Estado de São Paulo – 2000-2003, enfatiza que o Estado entra no século XXI com aresponsabilidade de, simultaneamente, ampliar acapacidade competitiva de sua economia e promover odesenvolvimento humano e social. Nesta perspectiva,abre-se espaço para a discussão do papel doplanejamento urbano e regional como forma desistematização e articulação de ações das váriasinstâncias que atuam no espaço urbano, em um processoque permita o desenvolvimento econômico integrado, omaior benefício social dos investimentos e que estimulea ação local como contribuição efetiva aodesenvolvimento.

Como apontado por Kurkdjian e Blanco (1992), amelhoria da qualidade de vida das populações depende,dentre outros fatores, de eficientes sistemas deplanejamento. A busca da melhoria da qualidade de vidadas populações é o que, socialmente, justifica a existênciado planejamento.

O planejamento pode ser conceituado de diversasmaneiras. Segundo Bruna et al (1983), em síntese, pode-se dizer que o planejamento consiste em uma atividadecujo objetivo é a organização sistemática de meios a seremutilizados para se atingir determinada meta ou fim. Planejarsignifica não somente prever, como também executar eavaliar constantemente os resultados.

Para ter êxito, o planejamento urbano e regionaldeve contar com a ação conjunta de planejadores, técnicose sociedade, e ter sua eficácia avaliada frente à realidadeconcretamente existente.

Diante dessas considerações, apresentamos umquadro breve da estruturação regional do espaçoterritorial no Estado de São Paulo e a questão doplanejamento microrregional como forma de equacionaras dificuldades econômicas e sociais pelas quais muitosmunicípios paulistas estão passando.

2. A QUESTÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃOPAULO

A partir da década de 1950 houve um avançosignificativo na pesquisa e no planejamento urbano eregional no Estado de São Paulo. No ano de 1954, com avinda do Padre Lebret ao Brasil, para integrar a Comissão

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Interestadual da Bacia do Paraguai-Uruguai, foi realizadoum diagnóstico da bacia, inclusive do Estado de SãoPaulo. Pode-se dizer que esse estudo deu início aoprocesso de subdivisão regional do Estado.

Após a subdivisão proposta pelo relatório“Regionalização do Estado de São Paulo: Diretrizes parauma Reforma Administrativa”, em 1966, foram criados osníveis intermediários de administração no Estado: a regiãoe a sub-região; tendo sido adotado o critério de “regiãopolarizada” para fins de definição. Não se pode, contudo,afirmar que houve nessa proposta o objetivo claro demelhoria de condições de vida da população do Estado.Propostas posteriores alteraram a subdivisão em regiõese sub-regiões, mantendo a estrutura vertical deadministração.

Embora novas propostas tenham expressado oobjetivo de integração horizontal e intersetorial norelacionamento entre o Estado e os interesses locais, adificuldade de efetivar tal organização continua existindoaté hoje.

Segundo Zahn (1987), para garantir a efetivaçãode uma política de regionalização preconizada pelo modelode integração dos órgãos governamentais, bem como deefetivar a descentralização decisória no nível regional,questões essenciais como a necessidade de reordenaçãoda estrutura administrativa dos órgãos setoriais e anecessidade de reorientar a política de investimentopúblico no Estado devem ser equacionadas. Para tanto,é necessária a valorização das Regiões mediante aabertura de graus de autonomia decisória. Enquanto nãohouver tal autonomia, a realidade local não seráplenamente tratada e questões de desenvolvimento socialcontinuarão sendo decididas exclusivamente com basenos recursos financeiros disponíveis ou na força políticaque os projetos detêm.

Conforme o texto da Constituição Federal de 1988,ao Estado de São Paulo, assim como a todos os Estadosbrasileiros, é facultado ao governo estadual criar regiõespara fins administrativos. O Art. 25 desta Constituiçãoassegura a autonomia dos Estados para organizarem-see regerem-se pelas Constituições e leis que adotarem,observando-se os princípios da Constituição Federal.

Na Constituição do Estado de São Paulo, de 1989,há um capítulo contemplando a questão da organizaçãoregional do Estado, cujo objetivo é, segundo essaConstituição, de impulsionar o desenvolvimento sócio-econômico e a melhoria da qualidade de vida, acooperação dos diferentes níveis de governo, mediantea descentralização, articulação e integração de seusórgãos e entidades da administração direta e indireta com

atuação na região, a redução das desigualdades sociaise regionais, entre outros objetivos.

Ao tratar do questão do desenvolvimento sociale da qualidade de vida da população no Capítulo“Organização Regional do Estado”, a ConstituiçãoEstadual aponta na direção de que a organização regionaldeve considerar os problemas sociais como questõesprioritárias na pauta da administração e do planejamento.Contudo, para a efetivação de ações neste sentido, há dese percorrer um longo caminho que inclui a sistematizaçãoe a articulação intersetorial das ações do governo e dasociedade.

De modo a escalonar o grau de intervençãogovernamental em função das prioridades regionais, aConstituição Estadual classificou as categorias deentidades regionais, quais sejam: regiões metropolitanas,aglomerações urbanas e microrregiões.

A atual divisão administrativa do Estado soma 12Regiões Administrativas, 3 Regiões Metropolinas, e 42Regiões de Governo, coordenadas pela Secretaria deEconomia e Planejamento do Estado. As Regiões deGoverno são subordinadas às Regiões Administrativase contam com colegiados municipais (CAM) e colegiadosadministrativos (CAM), cujas atribuições, entre outras,são a articulação da ação do Governo do Estado noâmbito da região de governo, e a promoção da integraçãodos diversos setores da administração pública.

A Tabela 1 apresenta as 12 RegiõesAdministrativas e as 3 Regiões Metropolitanas atualmenteexistentes no Estado de São Paulo.

Apesar de ter uma história de mais de 50 anos, oplanejamento do Estado de São Paulo ainda se baseia emuma forma de organização que aponta para uma gestão“de cima para baixo”. Nas Regiões de Governo, osmembros dos colegiados respondem a pautas definidaspela coordenação da Secretaria Estadual dePlanejamento. Na prática, esses colegiados atuam comoórgãos consultivos junto aos Escritórios de Articulaçãoe Planejamento (ERPLANs), na Região Administrativa.Nas Regiões Administrativas não há um sistema depesquisa e planejamento propriamente dito. A pesquisano Estado, com relação às questões econômicas, sociaise de planejamento, está a cargo de Instituições como oCentro de Estudos e Pesquisas de AdministraçãoMunicipal (CEPAM), a Fundação Sistema Estadual deAnálise de Dados (SEADE), o Instituto Geográfico eCartográfico (IGC), e outros órgãos setoriais das diversassecretarias do Estado. As Regiões Metropolitanas sãoassessoradas pela Empresa Paulista de PlanejamentoMetropolitano S/A (EMPLASA).

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Tabela 1 - Regiões Administrativas e Metropolitanas do Estado de São Paulo, em 2002.

Fonte: Secretaria de Economia e Planejamento do Estado de São Paulo, 2002.

3. MICRORREGIÕES E PLANEJAMENTO

A microrregião, segundo a Lei EstadualComplementar no. 760, de 01/08/1994, é o agrupamentode municípios limítrofes, a exigir planejamento integradopara seu desenvolvimento e integração regional, e queapresente, cumulativamente, características de integraçãofuncional de natureza físico-territorial, econômico-sociale administrativa.

A forma que mais se aproxima do conceito demicrorregião na atual divisão estabelecida pelo Estadode São Paulo é a Região de Governo.

A diferença entre as Regiões de Governo e asmicrorregiões está basicamente no conceito deregionalismo adotado pelo Governo do Estado ao definiras Regiões de Governo, uma vez que, ao organizá-las, oEstado considerou a proximidade geográfica dosmunicípios, a fim de facilitar a administração. Amicrorregião, definida a partir da iniciativa dos própriosmunicípios, apresenta o caráter de regionalização, que éa organização a partir de características homogêneas nosmais diversos aspectos, sejam eles geográficos,econômicos, sociais etc., entre os municípios que acompõem; extrapolando, desta forma, a simplesorganização para fins administrativos.

A estruturação de microrregiões, como meio paraplanejamento integrado de municípios, embora sejacontemplada na Constituição do Estado, ainda tem sidopouco discutida. A contribuição efetiva que pode serdada por este modelo é a de que municípios, organizadosem microrregiões, possam articular iniciativas, programase projetos locais, buscando integrá-los às ações do Estado

e da União, de modo a combinar esforços a fim de obteros melhores resultados em face dos problemas epotencialidades locais. Para tanto, há necessidade de que,no âmbito microrregional, os municípios se inter-relacionem e debatam as questões que lhes atinjamdiretamente; não dentro de uma visão estritamentesetorial, como a que tem sido adotada pelo Estado, maspreocupando-se com a intersetorialidade, onde cadaquestão mantém vínculos indissolúveis com outrasquestões e com outros setores da estrutura urbana eregional.

A complexidade da gestão econômica e social noEstado é muito grande e envolve diferentes escalõesgovernamentais: federal, estadual e municipal. Ao ladodos instrumentos de planejamento, organizados pelosgovernos, outras medidas são imprescindíveis, como acriação de mecanismos capazes de interferir na realidade,atenuando as disparidades regionais e maximizando ocrescimento através de um tratamento adequado àrealidade local. Neste contexto, as Instituições como oCEPAM e a Fundação SEADE, que atuam como órgãostécnico-científicos e de pesquisa para o desenvolvimentodas Regiões do Estado, no âmbito local, teriam seustrabalhos requisitados e utilizados de forma mais intensapelos governos locais e pelas organizaçõesmicrorregionais.

Segundo Birkholz (1992), a estrutura de regiõesadotada pelo Estado de São Paulo em 1984, e que está emvigor até hoje, prevê uma política de ação regional cujomodelo visa, simultaneamente, a integração da ação doEstado em cada Região de Governo e a sua articulaçãocom as respectivas administrações municipais. Mas énecessário que os municípios tomem a iniciativa de

Região Administrativa/Metropolitana

AraçatubaSão José do Rio PretoBarretosFrancaPresidente PrudenteMaríliaBauruRibeirão PretoCentralSorocabaRegistroSão José dos CamposRegião Metropolitana de CampinasRegião Metropolitana de São PauloRegião Metropolitana da Baixada Santista

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organizarem-se a fim de discutir questões que lhes sãopeculiares e encontrar a melhor definição para a gestãomunicipal integrada.

A dificuldade de encontrar os melhores meios paraarticular a organização microrregional são muitas,correndo-se o risco, inclusive, de o planejamento limitar-se a responder questões imediatistas e parciais ou atuarem função dos interesses de determinados grupos. Daíconstata-se a necessidade de constante planejamento eavaliação das ações concretizadas, inclusive por parteda população.

Ao compararmos o desenvolvimento deagrupamentos de municípios do Estado de São Paulo,vemos diferenças marcantes no nível dedesenvolvimento econômico e social. A Figura 1 mostraalguns dados comparativos do nível da renda familiar em7 agrupamentos do Estado: Central, Leste, RegiãoMetropolitana de Santos, Norte, Oeste e Vale do Paraíba.Segundo os dados da Fundação SEADE, em 1998 orendimento familiar na Região Metropolitana de Santos eno Leste do Estado era significativamente mais elevadodo que a renda nos demais agrupamentos.

Renda média total por agrupamentos urbanos - interior do Estado de São Paulo - 1998Em reais de set/98

Fig. 1 - Gráfico da renda familiar total segundo agrupamentos urbanos no Estado de São Paulo, em 1998.Fonte: Fundação SEADE, 2002.

Em 1998, no interior paulista, a renda familiar percapita era de R$ 454, com diferenças expressivas segundoos agrupamentos urbanos: enquanto o Leste possuíarenda familiar per capita de R$ 488, o Oeste apresentavaapenas R$399 per capita.

Os dados da Fundação SEADE nos mostramdiferenças marcantes nas condições de vida entre osagrupamentos de municípios; mas essas diferenças sãoainda maiores quando comparamos o nível dedesenvolvimento econômico e social entre algunsmunicípios do Estado. Essas diferenças têm sido objetode preocupação do governo estadual, demonstradaatravés de ações e projetos de efeitos assistemáticos eque muitas vezes não “cabem” na realidade local, o que

contribui para a tese de que os governos municipais,juntamente com a sociedade local, são os melhoresagentes para indicar cenários possíveis e propor aoEstado ações corretivas, quando estas forem necessárias,contribuindo com a administração “de baixo para cima”.

A gestão integrada em nível microrregional,partilhada por governo e sociedade, pode indicar o melhorcaminho para a eqüidade e a justiça social, a partir dodesenvolvimento econômico equilibrado, com base narealidade local. Por outro lado, um sistema deplanejamento que pretenda abranger os problemas locaisde forma intersetorial e integradora não deve assumiruma postura puramente pragmática, mas associada àpesquisa e à análise de técnicos e planejadores.

1.237

1.398 1.468 1.321

1.150

1.300

0

200

400

600

800

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1400

1600

Central Leste RM Santos Norte Oeste Vale doParaíba

R$

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Segundo Haddad (1980), uma alternativa para aelaboração de material consistente, capaz de descreveros múltiplos aspectos de determinada estrutura urbana eregional, é identificar os principais problemas e potenciaisda área, ainda que de forma não qualificada, e, a partirdesse marco conceitual, elaborar programas e projetospara a região, ao mesmo tempo em que se estruturam osdetalhes técnicos do diagnóstico e das alternativas eestratégias de desenvolvimento.

No âmbito microrregional, uma vez que a gestãomunicipal integrada subordina-se ao planejamento doestado financeira e administrativamente, caberia aosgovernos municipais consolidar material diagnóstico epropositivo a fim de submetê-lo à esfera estadual. Quantomais substanciado for o material propositivo, maiorcontribuição este poderá trazer para a gestão municipalintegrada.

Com relação à elaboração de diagnósticos,Haddad (1980), em seus estudos sobre o planejamentoregional no Estado de Minas Gerais, verificou que háuma tendência em realizar diagnósticos longos, muitasvezes limitados a descrever aspectos físico-geográficos,econômicos e sociais de determinada região, elaboradospor técnicos pouco ou nada dedicados à definição deestratégias ou alternativas de desenvolvimento ou àelaboração de programas e projetos. Tal tendênciatambém pode ser verificada no Estado de São Paulo,através de alguns estudos e planos que foram elaborados.A fim de que tais deficiências sejam corrigidas, em nívellocal, através da gestão integrada, os municípios têmmaiores condições de apresentar propostas aoplanejamento do Estado, uma vez que lhes é facilitadoaliar o conhecimento técnico à realidade e potencialidadesdos municípios, procurando obter, desta forma,proposições realistas e contributivas para as questõesdiagnosticadas.

4. PLANEJAMENTO E GESTÃO INTEGRADA ENTREOS MUNICÍPIOS DE CAMPOS DO JORDÃO, SÃOBENTO DO SAPUCAÍ, SANTO ANTÔNIO DOPINHAL E MONTEIRO LOBATO

Os municípios de Campos do Jordão, São Bentodo Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal e Monteiro Lobato,localizados no Estado de São Paulo, estão sendo objetode estudo na Universidade do Vale do Paraíba, dentro noCurso de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional.O objetivo deste estudo é, com base nos conceitos deplanejamento e gestão integrada, entender como essesmunicípios se estruturam política e administrativamentenum contexto microrregional, diante da organizaçãoregional proposta pelo governo do Estado.

O estudo propõe uma reflexão sobre ascontribuições que podem ser dadas pelo planejamentomicrorregional, especificamente nas áreas econômica esocial, a partir da articulação de políticas e ações aliadasa técnicas de profissionais e a participação da sociedadecivil organizada.

Esses municípios têm uma localização geográficaprivilegiada, na Região da Serra da Mantiqueira. Em menorou maior grau, as economias dos municípios baseiam-seno turismo. Ao lado dos governos estadual e municipal,atuam nesta área algumas Organizações nãoGovernamentais (ONGs), que desenvolvem suasatividades voltadas principalmente às questõesambientais. Porém, as questões nem sempre são tratadasno contexto sistematizado e intersetorial. Ao lado da faltade planejamento integrado entre esses municípios,caminha o crescimento do grau de pobreza da população,que tem gerado diferenciações gritantes no espaço intrae interurbano.

Assim como pode ser verificado em todo o Estado,há um alto grau de diferenciação nas condições de vidada população nos municípios em estudo. A Tabela 2apresenta o rendimento médio dos municípios em estudoe dos municípios-sedes das Regiões de Governo ondeestes estão localizados.

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Tabela 2 - Rendimento médio dos responsáveis pelos domicílios em 2000.

Fonte: Dados do Seade, 2002.

Observa-se que o rendimento médio das pessoasresponsáveis pelos domicílios nos municípios em estudoé abaixo da média das sedes de Região de Governo emque eles se situam, assim como da média do Estado. Nomunicípio de São Bento do Sapucaí, por exemplo,observa-se que o rendimento médio dos responsáveispelo domicílio aproxima-se a 50% do rendimento médiona Região de Governo e no Estado.

Atualmente a população do município de Camposde Jordão é 99% urbana, enquanto que os outrosmunicípios, apesar do grande êxodo rural ocorrido nastrês últimas décadas, ainda têm população rural em númeroequivalente à urbana.

Entre os anos de 1980 e 2002, a população deCampos do Jordão teve crescimento de 70%; MonteiroLobato 88%; São Bento do Sapucaí 11% e Santo Antôniodo Pinhal 12%. O grande incremento urbano traz consigoquestões importantes referentes à qualidade de vida dapopulação, infra-estrutura etc, que devem ser planejadase acompanhadas sistematicamente.

No espaço intra-urbano, verifica-se que emCampos do Jordão há um abismo de poder aquisitivoentre a população de baixa renda e a de alta renda. Omunicípio tem sido palco de investimentos pesados no

turismo, o que, aliado à exuberância do seu sítio, tematraído turistas e veranistas de alto poder aquisitivo. Aolado disso, a população de baixa renda, em geral semqualificação profissional, se vê desapropriada de seulugar, de sua cultura, e sem possibilidades de atuar nasatividades turísticas de alto padrão.

Os aspectos da localização, do clima e dapaisagem, aliados à infra- estrutura viária implantada, têmcontribuído para o crescimento do interesse capitalistapelo município de Campos do Jordão, de forma que osoutros municípios da rede tem perseguido essas mesmascondições como meio de crescimento econômico. Porém,verifica-se que não há um sistema de planejamento emdesenvolvimento entre esses municípios de forma aconduzir o crescimento das potencialidades econômicasde toda a microrregião. Ainda no âmbito intra-urbano,também não se observa o planejamento intersetorial deforma sistematizada e que contribua para odesenvolvimento social da população dos municípios.

A Tabela 3 apresenta os Índices deDesenvolvimento Humano (IDHM) desses municípios,comparados aos de municípios-sedes das Regiões deGoverno pertencentes à Região Administrativa de SãoJosé dos Campos.

Tabela 3 - IDHM dos municípios em estudo e dos municípios-sedes de Regiões de Governo, em 1991.

Obs.: * Municípios-sedes de Região de Governo.Fonte: Seade, 2002.

Município Região deGoverno

Rendimento médio dos responsáveis pelosdomicílios no ano de 2000

(em R$)Campos do Jordão Taubaté 835,50São Bento do Sapucaí Taubaté 531,57Santo Antônio do Pinhal Taubaté 597,48Taubaté Taubaté 1.069,62Monteiro Lobato São José dos Campos 614,17São José dos Campos São José dos Campos 1.252,05Média do Estado 1.076,21

Município IDHM em 1991Campos do Jordão 0,760Monteiro Lobato 0,679Santo Antônio do Pinhal 0,680São Bento do Sapucaí 0,740São José dos Campos* 0,815Taubaté* 0,815Caraguatatuba* 0,761Cruzeiro* 0,771Guaratinguetá* 0,792

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O IDHM é calculado a partir das dimensões delongevidade, educação e renda. Os números referentesaos municípios em estudo mostram que eles estão abaixoda média dos municípios-sedes das Regiões de Governoda Região Administrativa de São José dos Campos.

Campos do Jordão é o município que apresentamelhor desempenho no IDHM entre os municípios emestudo. Contudo, a média está abaixo do município deCaraguatatuba, que também tem sua economia baseadaprincipalmente no setor terciário.

Na sociedade moderna, espaços dedicados aoturismo organizam-se como reafirmação da ideologiacapitalista que busca a solução do retorno à naturezaatravés da apropriação do espaço numa visão românticado lugar-consumo. Faz parte deste processo a procurapor belos sítios que, lapidados segundo os interessesdo capital e do consumo de alto padrão, impulsionam ocrescimento de empreendimentos imobiliários de luxo, ainstalação de sofisticados estabelecimento comerciais.Este quadro pode ser observado principalmente emCampos do Jordão, que desenvolve o turismo dirigidoprincipalmente para a classe de alto poder aquisitivo.

A cultura do consumismo, impulsionada pelapropaganda, contribui para o desenho do lugar-consumode alto padrão, onde os visitantes encontrarão “belaspaisagens e gente bonita”. Os demais municípios emestudo, que não se sentem participando plenamentedesse movimento ideológico do turismo, estãoprocurando meios para tornarem-se participantes. Nomunicípio de Monteiro Lobato, por exemplo, são muitosos novos empreendimentos para o turismo, ondepropriedades rurais estão sendo adaptadas etransformadas em pousadas e hotéis.

No ano de 2000, segundo dados da FundaçãoSEADE, havia em Campos do Jordão 968estabelecimentos de serviços e comércio; em São Bentodo Sapucaí eram 67; em Santo Antônio do Pinhal eram 57e em Monteiro Lobato eram 44. Entre o ano de 1990 e2000, o crescimento desses números foi de 20% emCampos do Jordão, 36% em São Bento do Sapucaí, 72%em Santo Antônio do Pinhal e 144% em Monteiro Lobato.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ampliação da capacidade competitiva daeconomia municipal e a promoção do desenvolvimentohumano e social deve ser preocupação de governo e dasociedade em geral. Neste contexto, o planejamento e agestão municipal integrada possibilitam a tomada dedecisões que promovam de forma equilibrada odesenvolvimento econômico e a melhoria da qualidadede vida das populações.

As atividades turísticas que estão sendodesenvolvidas nos municípios de Campos do Jordão,São Bento do Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal eMonteiro Lobato requerem constante planejamento. Éinquestionável que este setor é importante para o País.Todavia, o turismo, como qualquer atividadedesenvolvida sem planejamento, traz prejuízos sociais eambientais.

Quanto à gestão municipal integrada, é importanteenfatizar que, para que tenha êxito, deve ser conduzidapor membros que acreditem de fato que a máxima éverdadeira: “nenhum de nós é tão bom quanto nós todosjuntos”. A partir desse pacto, os governos municipaispoderão, com a atuação de técnicos e planejadores, maisa sociedade, criar novas possibilidades para ampliar acapacidade local, atenuando suas dificuldades eacentuando seu potencial.

Finalmente, diante do exposto é possível afirmarque entre os municípios de Campos do Jordão, São Bentodo Sapucaí, Santo Antônio do Pinhal e Monteiro Lobato,o planejamento e a gestão municipal integrada é umaquestão para debate.

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Urbanização e Meio Ambiente do Litoral Norte Paulista:Construção e Destruição

Luciana Ayuko Yui *

Resumo. Este trabalho teve o objetivo de discutir o processo de expansão urbana e a degradaçãoambiental decorrente deste uso na região do litoral norte paulista. O texto procura mostrar algunsfatores responsáveis por esse crescimento urbano dos municípios integrantes, bem como asconseqüências sobre o meio ambiente, enfatizando o comportamento da região frente às atividadesturísticas.

Palavras-chave: Litoral norte paulista, expansão urbana, meio ambiente, planejamento urbano e regional,turismo.

Abstract. The main objective of this paper was to discuss the urbanization process and theenvironmental degradation due to the urban expansion in the area of the north coast of São Paulo.The paper tries to show some factors for the urban growth of the municipal districts involved, aswell as the consequences for the environment, emphasizing the behavior of the area in face of touristactivities.

Key words: North coast of São Paulo, urban expansion, environment, urban and regional planning,tourism.

* Mestranda em Planejamento Urbano e Regional -UNIVAP 2002.

1. INTRODUÇÃO

O processo de urbanização nas cidades do litoralbrasileiro intensificou-se a partir do século XX, quandoo hábito dos banhos de mar tornou-se uma prática socialconsolidada em todo o País. Desenvolveu-se de umaforma especial quando foi configurada nos subúrbiosdas grandes cidades costeiras uma nova estruturaurbana, a qual denomina-se de bairro ou subúrbio deveraneio.

Entretanto, este processo desencadeou sériosproblemas nas cidades costeiras, desenvolvendo-seassentamentos urbanos em áreas com restriçõesambientais, colocando em risco a potencialidade doambiente litorâneo.

Na região do Litoral Norte Paulista, este processoocorreu após a consolidação do acesso rodoviário em1959, ligando definitivamente esta região ao Vale doParaíba. Na década de 60, com o advento do turismo, osmunicípios de Caraguatatuba, São Sebastião, Ubatuba eIlhabela sofreram sérias alterações espaciais devido aosnumerosos empreendimentos imobiliários destinados à

população flutuante, surgindo os loteamentos urbanosà beira-mar.

Esta expansão urbana teve como uma de suasconseqüência ocupações irregulares em áreas comgrandes restrições ao uso urbano. O uso inadequado dosolo desconsiderou as características ambientais,promovendo a destruição de importantes ecossistemascosteiros como a restinga, o mangue e a mata atlântica.

A situação do terreno agrava-se pelo fato de aquestão ambiental não ter sido levada em consideraçãopor parte do Estado, independente de sua esfera pública.As degradações ambientais ocasionadas no espaçocênico litorâneo exigem uma revisão na política dedesenvolvimento e conservação frente aocomportamento humano e seu meio ambiente.

Neste sentido, este artigo teve como propósitodiscutir o crescimento urbano na região, enfatizando aatual situação diante das restrições do meio ambientecosteiro.

2. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Nesta presente discussão, assume-se comomáxima importância a preservação da qualidade, não sódos elementos da natureza que constituem o ambiente

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litorâneo, mas da vida urbana num contexto mais amplo.

Dentre os elementos naturais mais importantesdestaca-se o mar, recurso natural que mais influenciouna transformação do espaço costeiro, pois foi a partir dasua valorização que o processo de urbanização foiconsolidado nas cidades marítimas.

Neste caso, Lefebvre (apud Gottdiener, 1994)afirma que o arranjo espacial pode aumentar as forçasprodutivas transformando-o numa mercadoria: “Opróprio meio ambiente é consumido através darecreação ou pela relocalização dos negócios devidoàs atratividades naturais. Assim, o próprio designespacial pode ser convertido em mercadoria” (p.129).

Até o século XIX, o mar significava apenas umespaço de contato com o mundo externo, passando a serno século seguinte o elemento mais importante,valorizando-se as praias como local de residência, após acriação dos balneários. Neste sentido, os loteamentosurbanos à beira-mar mostraram ser um excelente meio degeração de recursos para as indústrias turísticas eimobiliárias, principalmente aqueles destinados àssegundas residências.

De acordo com Tulik (1997), segundas residênciassignificam “alojamentos turísticos particulares,utilizados temporariamente nos momentos de lazer, porpessoas que têm o seu domicílio permanente em outrolugar” (p.196). Este tipo de alojamento gera sériasrepercussões negativas nos espaços receptores, comosegregação físico-espacial, e o desencontro de objetivosentre turistas e a comunidade local.

Além disso, segundo Marcelino (1996), osempreendimentos turísticos desenvolvem ocupações quepromovem inicialmente a expulsão das populaçõesnativas de seu local de assentamento original, passandoestas à ocupação de espaços menos nobres e valorizados.

Deve-se ressaltar também que as degradaçõesambientais estão associadas às atividades turísticas,principalmente nas cidades especializadas em segundasresidências. Macedo (1996) exemplifica tal afirmação numdos seus trabalhos sobre o ambiente costeiro, como ocaso de Bertioga-SP, no bairro de Riviera de São Lourenço.A mata de restinga, muito rica na região, foi destruídapelos assentamentos humanos, mais precisamenteatravés da construção de condomínios verticaisdestinados à população flutuante. O caso de Guarapari,no Estado do Espírito Santo, é outro exemplo citado peloautor onde os costões litorâneos foram invadidos tambémpela produção do espaço vertical.

Os problemas tornam-se mais críticos nos

períodos de temporada, principalmente aquelesrelacionados ao saneamento básico, pois demandamtempo e custos sociais elevados. É evidente a importânciada questão ambiental quando relacionados aos ambientescosteiros e as perdas dos recursos naturais provenientesdo processo de expansão urbana.

Ao se tratar de uma região com atratividadesturísticas, o planejamento torna-se fundamental eindispensável para o desenvolvimento harmonioso.Conforme Ruschmann (1997), o desenvolvimento de umaregião turística deve estar em harmonia com os recursosfísicos, culturais e sociais, evitando que o turismo destruaas bases que o fazem existir, pois são abundantes asdegradações sócio-ambientais decorrentes das atividadesturísticas.

A preocupação com as questões ambientais levouà criação do planejamento ambiental, uma vertente doplanejamento regional. O propósito do planejamentoambiental é suprir necessidades para que se superem osproblemas existentes, bem como criar metas ou subsídiospara a conservação dos recursos, acompanhado de umanova ética social, com cidadãos participativos, atuandopara a contribuição da sustentabilidade futura.

Embora os espaços litorâneos tenham sido alvosde preocupação pública, a implantação de umgerenciamento costeiro está ainda muito distante deconstituir a preservação da vida urbana e da naturezalitorânea. É necessária, portanto, uma revisão doprocesso de urbanização tal como vem ocorrendo e umapolítica mais presente de preservação e gerenciamentodestes espaços.

3. EXPANSÃO URBANA X MEIO AMBIENTE NOLITORAL NORTE PAULISTA

Vários são os estudos publicados sobrecrescimento urbano e sua relação com o meio ambiente,porém há distinções quanto aos fatores estruturais quecontribuíram para este crescimento e as implicações sobreo meio ambiente.

Por ser uma região que expressa uma coerênciafuncional determinada por aspectos econômicos, osmunicípios integrantes do Litoral Norte muitas vezesapresentam condições e sintomas equivalentes.

As divergências podem ocorrer quandorelacionadas à inserção do município em sua rede urbana.De acordo com Malta (1994), a base econômica, e o fatode estar localizado no ponto de passagem obrigatória detodo o contingente turístico que se utiliza da rodovia dosTamoios – SP99, tem garantido ao município deCaraguatatuba o papel de Pólo regional do Litoral Norte,

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polarizado diretamente por São José dos Campos emantendo relações de dependência com Ubatuba e SãoSebastião, que, por sua vez, tem sob sua influência omunicípio de Ilhabela.

As causas de mesma natureza que explicam ointenso crescimento urbano dos quatro municípios sãoos movimentos migratórios do Planalto ao litoral iniciados

na década de 70. Segundo o IBGE-Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística, o Litoral Norte passou de 87.877residentes na década de 80 para 196.973 habitantes em1999, com um aumento de 124%. Desde a década de 80,todos os municípios presenciaram um crescimentodemográfico acelerado, exceto Ilhabela que teve suapopulação reduzida de 1990 para 1999, como pode serobservado na Tabela 1.

Tabela 1 - Evolução populacional do Litoral Norte: 1980/1990/1999

Município 1980 1990 1999Caraguatatuba 33.799 52.878 74.702São Sebastião 9.747 33.890 48.596

Ubatuba 27.161 47.398 60.997Ilhabela 7.810 13.538 12.678

Fonte: IBGE.

Este movimento migratório foi motivado pelasatratividades desenvolvidas no ramo da construção civilna região do Litoral Norte, sendo a mão-de-obra utilizada,especialmente, na implantação de loteamentos urbanosà beira-mar, destinados à população flutuante.

Dotada de atrativos turísticos, a indústria do lazere o setor imobiliário transformaram esta região litorâneaem verdadeiro reduto de segundas residências. Nestecaso destacam-se os municípios de Caraguatatuba eUbatuba, onde este tipo de domicílio correspondeu, em1991, aproximadamente à metade da parcela total deresidências, como pode ser observado na Tabela 2.

Tabela 2 - Total de residências e segundas residências do Litoral Norte: 1970/1980/1991

Ano de 1970 Ano de 1980 Ano de 1991Município Número total de

residênciasSegundas

residênciasNúmero totalde residências

Segundasresidências

Número totalde residências

Segundasresidências

Caraguatatuba 5.757 2.407 15.788 6.697 34.443 17.421Ubatuba 5.417 1.766 13.135 5.464 30.614 15.141

São Sebastião 3.502 995 7.666 2.568 19.631 8.972Ilhabela 1.807 418 3.002 878 6.440 2.362Total 16.483 5.586 39.591 15.607 91.128 43.896

Fonte: Afonso, 1999.

Dentre as quatro cidades da região, Caraguatatubae Ubatuba são as que possuem planícies mais extensas,e por isso, possuem condições menos desfavoráveis àurbanização.

Já as condições do meio físico de São Sebastião eIlhabela são mais críticas, sendo que, nesta última, dosseus 348,30 km2, 80% da área está destinada à preservaçãoambiental.

No entanto, em todos os municípios da região aurbanização extrapolou as planícies costeiras, sendo asencostas também tidas como áreas para os assentamentoshumanos.

As invasões em áreas de preservação ambientaliniciaram-se, em especial, a partir da década de 80 noLitoral Norte, sob a influência de um conjunto de fatorescriados na segunda metade da década de 70, entre outros,a construção da rodovia BR 101, a Rio-Santos, econtraditoriamente a criação do Parque Estadual da Serrado Mar- PESM, através do decreto 10.251 de 08/1977.

Ambas as realizações foram distanciadas, e muito,de seus objetivos iniciais, devido à falta de açõessubseqüentes no que concerne ao planejamento efiscalização do poder público.

Certamente, a descontrolada urbanização emáreas periféricas e restritivas foi influenciada pela grande

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atuação do setor imobiliário através da exploração doespaço litorâneo para obter retornos cada vez maislucrativos.

A oferta limitada dos terrenos à beira-mar somadaàs restrições ambientais, provocou uma intensa

especulação imobiliária, fazendo com que todas ascidades da região apresentassem um alto índice de lotesociosos, em função dos sucessivos “erros” deparcelamento do solo, como pode ser observado naTabela 3.

Tabela 3 - Ocupação do solo no Litoral Norte em 1990Municípios Caraguatatuba Ubatuba São Sebastião IlhabelaLoteamentos 111 180 149 31

Número de lotes 62.981 21.140 31.040 7.875Lotes vagos 72% 54% 68% 60%

Fonte: Secretaria do Estado do Meio Ambiente, 1996.

Assim, não só as porções de terra com maioresatratividades paisagísticas como também aquelasdistantes do olhar paisagístico, tiveram seu valor elevado,não deixando outra alternativa para as populações debaixa renda senão as ocupações irregulares ouclandestinas em áreas de risco e de preservação ambiental,como nas áreas do PESM. Em Caraguatatuba,aproximadamente 450 famílias ocupam áreas de risco embairros periféricos, sujeitas aos processos de inundaçãoou escorregamento, e que ocorrem de forma acentuadaem períodos de alta pluviosidade.

O conflito torna-se mais sério devido à ausênciade ações públicas conseqüentes no que concerne àpolítica habitacional e à canalização de recursos deinvestimentos em infra-estrutura. Neste sentido, o Estadoalega que a precariedade ou mesmo a falta de infra-estrutura nestas áreas é devida à topografia peculiarlitorânea, o que dificultaria a implantação de um sistemaadequado, chegando a custar doze vezes mais caro quenas regiões interioranas.

Atualmente, estão em evidência outras formas deapropriação do espaço litorâneo, não mais relacionadasapenas à abertura de extensos loteamentos, mas atravésda reprodução do espaço vertical, especialmente em áreaspróximas ao mar. Neste caso, dois municípios se destacamno processo de verticalização.

Sendo Caraguatatuba o entreposto comercial daregião, a produção do espaço vertical deste municípiosempre foi justificada pelo poder público local como ummeio de evitar gastos com a infra-estrutura - rede de água,esgoto, energia elétrica e asfalto - e de prevenir a expansãoda malha urbana em áreas de preservação ambiental.Desde que o setor imobiliário pronunciou certo interessena construção de condomínios verticais, o governomunicipal fez questão de facilitar tais ações através dacriação de leis de zoneamento, permitindo a construçãode edifícios com mais de dez pavimentos à beira-mar.

Em Ubatuba, os bairros litorâneos verticalizadostambém foram permitidos, reproduzindo na cidade costeiraos mesmos padrões de vida das grandes cidades.

Já no município de São Sebastião, em setembrode 1999, esta questão provocou sérias discussões entrea comunidade local, políticos e pesquisadores sobre odesenvolvimento da cidade previsto em seu plano diretor.De um lado, o setor de propriedade – indivíduos do setorimobiliário, políticos etc - defendeu a possibilidade deatrair novos investimentos e empreendimentosimobiliários no intuito de incluir esta cidade no roteiroturístico internacional, e de outro, os movimentosambientalistas que temem a desvalorização turística frenteaos impactos ambientais no cenário litorâneo, já que SãoSebastião, como Ilhabela, não possui condomíniosverticais.

O fato de a verticalização não ser incluída em seuplano diretor, não significou, porém, que o processo dedegradação ambiental tenha sido paralisado. Em SãoSebastião está ocorrendo uma acelerada expansão urbanaem áreas, até então, intocadas pela urbanização.Desafiando a lei, luxuosos condomínios fechadosdestinados à população veranista são construídos,destruindo as restingas e os manguezais, ecossistemasprotegidos desde 1965 pelo Código Florestal.

Do mesmo modo, em particular, observa-se que,em Caraguatatuba, a produção do espaço vertical tambémnão significou, como justificada pelo governo municipal,a prevenção de uma expansão desnecessária do território.Muito pelo contrário, as invasões em áreas de preservaçãoambiental foram realizadas de forma mais significativa emvirtude da intensa especulação e valorização fundiáriapossibilitada pela verticalização aprovada através dozoneamento, o que impossibilitou a aquisição de terrenosem condições fundiárias legais pelas populações maiscarentes.

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Neste caso, permite-se dizer que não se trataapenas de ser a favor ou não da verticalização, mas depreparar a cidade, independente da decisão tomada. Nãobastam criar unidades de conservação ambiental de formaautoritária como realizada na criação do PESM, se oEstado não for capaz de fiscalizar efetivamente as normasestabelecidas. Do mesmo modo, torna-se tambéminsuficiente criar restrições urbanas em algumas áreas seoutras, às vezes, até com maiores restrições ambientais,estão sujeitas a se transformarem em novos alvos daexploração imobiliária.

As perdas e os custos sócio-ambientaisprovocados pela urbanização tendem a aumentartornando-se urgente uma revisão nos padrões deurbanização dos espaços costeiros, e de uma políticaambiental, realizada de forma efetiva, para a conservaçãodos recursos cênicos litorâneos, uma vez que estesconstituem a principal matéria-prima da atividade turísticae a base da vida da população local.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de urbanização acelerado ocorrido naBaixada Santista levou a sua saturação através daverticalização das orlas marítimas ao fenômeno deconurbação, à descaracterização da paisagem costeira eao afastamento da população turística para outras regiõeslitorâneas, como, por exemplo, para a região de estudo.Este quadro fez com que fossem atraídos empreendedoresimobiliários para o Litoral Norte, visando construçõesvoltadas às segundas residências. O trabalho identificaque nesta região caminha-se para a concretização domesmo processo ocorrido nesta outra região litorâneapaulista.

Neste sentido, a oportunidade de umplanejamento regional delineia-se como a primeiranecessidade do Litoral Norte. Planejamento este queelabore e organize estratégias para o desenvolvimentoturístico, respeitando os recursos naturais, considerandoe abrangendo todas as instâncias imbricadas à instânciafísico-territorial, ou seja, as instâncias econômica/social,política/institucional e ideológica/cultural.

No entanto, não se deve depender apenas dacapacidade do poder público de colocar em prática osplanos ambientais litorâneos, como os Planos deGerenciamento Costeiro- nacional, estadual e municipal,bem como depender da atuação do Instituto Brasileirode Meio Ambiente-IBAMA.

Faz-se necessária maior união de todos os atoressociais envolvidos, sejam públicos ou privados, incluindo

participação de movimentos ambientalistas e de reformaurbana. Enfim, exige-se participação de toda sociedadepara enfrentar a questão da qualidade do meio urbanocosteiro.

5. BIBLIOGRAFIA

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As Políticas Públicas do Poder Executivo na Remoção e/ouReurbanização de Favelas no Município de

São José dos Campos - SP

Artur Rosa Filho *José Oswaldo Soares Oliveira **

Resumo. Este artigo tem como objetivo analisar o impacto das políticas públicas do poder executivomunicipal no tocante à remoção dos moradores de favelas das áreas centrais, deslocando-os paraa periferia. Os estudos destacam o padrão de vida e as baixas condições de moradia dostrabalhadores do bairro Campo dos Alemães no contexto da dinâmica da urbanização industrialem São José dos Campos-SP de 1970 até 2000.Elegeu-se a questão da moradia para analisar o padrão de vida dos trabalhadores, pois entendeser este um dos elementos relevantes para examinar as condições de sobrevivência e reprodução dapopulação brasileira. Devido às precárias condições econômicas e o baixo padrão de remuneração,os trabalhadores foram sendo empurrados para áreas mais periféricas da cidade num processoreiterado pelo poder público municipal.Uma dessas áreas para a qual os trabalhadores pobres foram removidos foi o bairro Campo dosAlemães, localizado no extremo sul da cidade de São José dos Campos. Ao serem removidos paraeste bairro, houve uma intensificação da perda do padrão de vida, pois o acesso ao conjunto deequipamentos urbanos e sociais ficou mais difícil, sobretudo porque estes ainda hoje se concentramnas áreas centrais.Trata-se de uma opção política, pois difere de alternativas empregadas pordiferentes administrações municipais.

Palavras-chave: Trabalhadores, sub-moradia, padrão de vida, políticas públicas habitacionais esegregação sócio-espacial, reurbanização e remoção de favelas.

Abstract. The present work analyses the impact of public policies of this city’s executive authoritiesconcerning the removal of slum population from central areas to the suburbs. The research showedthe standard of living and the poor housing conditions of the workers in a comparative analysisbetween the district of Campo dos Alemães and the dynamics of the industrial urbanization in SãoJosé dos Campos – SP, from 1970 to 2000.The housing issue was chosen to analyze the workers living because it was considered to be one ofthe most relevant elements for examining the survival and procreation conditions of the Brazilianpopulation. São José dos Campos’ industries profile favors big companies, while the small ones,without tax incentives are forced to shut down. Workers, most of them lacking qualification, havebeen facing losses in their quality of life.This loss has directly reflected on the lives of these workers, especially on the ones living downtownunder very bad conditions. Due to the precarious economic conditions of those workers and theirlow-income standard they have been pushed to distant areas by city authorities.One of the areas where these poor-housing workers were removed to is the district of Campo dosAlemães located in the south of São José dos Campos. When moved to that suburb, there was adecrease in their standard, due to the more difficult access to urban and social resources. In SãoJosé dos Campos, the poor housing conditions and standard of living are a result of the low incomeof the lower classes and the precarious urban location of the neighborhood they live in.

Key words: Workers, housing condition, precarious economic conditions, social public policies andslum’s removal.

* Mestrando em Planejamento Urbano e Regional -UNIVAP 2002.

** Professor da UNIVAP.

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1. INTRODUÇÃO

As primeiras atividades industriais surgiram emSão José dos Campos no final da década de 20, maisprecisamente, em 1927 com a instalação da TecelagemParayba. Já os primeiros núcleos de favelas surgiram nacidade no início da década de 30.

Desde esta década, a cidade já passava a recebermigrantes vindos de outros Estados do Brasil. Osprimeiros foram migrantes do Sul de Minas Gerais,oriundos da desestruturação agrária do Estado.

Em 1931 surge a Favela do Banhado, hoje JardimNova Esperança. Em 1932, surge a Favela da Linha Velha,hoje Vila Santa Cruz. Ambas localizadas no centro dacidade.

Neste período, a cidade era dirigida por uma juntaprovisória formada por três doutores, Dr. Rui Dória, Dr.Arnaldo Cerdeira e Dr. Austin W. Tibiriçá. Em São Josédos Campos, nesta década, ainda não havia registrosdemográficos, o que veio a acontecer somente na décadaseguinte.

Na década de 40 surgiram os primeiros registrosdemográficos em São José dos Campos. A cidaderegistrou uma população de 36.279 habitantes. Destes,apenas 40% viviam na zona urbana.

A partir da década de 40, São José dos Camposrecebeu uma outra importante indústria para a cidade, aRhodia S/A, na região Norte, que, segundo Oliveira (1999),influenciou todo um quadro sócio-econômico da cidade,favorecendo inclusive a formação de uma elite dirigentemunicipal. O que se intensificou com a implantação doCTA (Centro Técnico Aeroespacial) e outras instituiçõesaeronáuticas.

Nos anos 50, já com uma população de 44.804habitantes, verificou-se a instalação de outras importantesindústrias na cidade, como, por exemplo, a Alpargatas(calçados), a Johnson & Johnson (química) e a Ericsson(eletrônica), colocando São José dos Campos como umadas principais cidades do Vale do Paraíba. Nesta década,a cidade era dirigida pelo prefeito o Professor ElmanoFerreira Veloso. A cidade ainda contava com somenteduas favelas, nas áreas centrais.

O final da década de 60 foi marcado pela primeiraação do poder público em um núcleo de favela. Em 1967,o prefeito da cidade, o professor Elmano Ferreira Veloso,indenizou cerca de 64 famílias que moravam na favela daLinha Velha para a construção da Avenida Fundo doVale que passaria dentro desta favela.

Na década de 70, São José dos Camposapresentava uma população de 148.332 habitantes. Emcerca de 20 anos a população triplicou, a cidade jácontabilizava 4 núcleos de favelas com 430 barracos e1926 habitantes. Agora, além das Favelas do Banhado eda Linha Velha no centro, surgiram a Favela da VilaGuarani, também no centro da cidade, e a Favela da VilaCristina, na zona Norte.

Nos anos 70 São José dos Campos possuía 284indústrias e cerca de 1,3% da população já era moradorade favelas. De 1970 a 1975, a cidade era dirigida pelo o Sr.Sérgio Sobral de Oliveira. No dia 27/4/1975, o PrefeitoSobral decreta o fim da Linha Velha. Remove cerca de 150famílias para o Conjunto Habitacional Torrão de Ouro,localizado na região sudoeste da cidade e longe do centro.Ainda não foi uma remoção total. As famílias que nãoforam removidas permaneceram no local, mas foramescondidas através da construção de um muro, o “muroda vergonha”, deixando claro a política usada pelo poderpúblico para esconder, camuflar os moradores destafavela.

No final da década de 70, em 1977, a cidaderegistrou 287.513 habitantes, 11 núcleos de favelas com870 barracos e 3721 moradores. O número de indústriastambém aumentou, passou para 390 espalhadas por todaa cidade. O Prefeito da cidade era o engenheiro EdnardoJosé de Paula Santos.

Entre as décadas de 80 e 90, São José dos Camposconviveu de modo intenso com os reflexos doagravamento da crise econômica que o País estavapassando, levando a uma queda no padrão de vida dapopulação. A partir de então, houve uma demanda muitogrande por lotes populares, demanda esta não atendidapelo imobiliário. O município apresentava uma escassezde lotes urbanizados e moradias para a população debaixa renda, por outro lado, havia um estoque de lotesurbanos de propriedade privada cujo custo não eraacessível para esta parcela da população.

Sem condição de adquirir seu imóvel regularizado,esta parcela da população passou a contribuir para oaumento do processo de favelização e de moradias emloteamentos clandestinos na cidade. A cidade na metadeda década de 80, com quase 300.000 mil habitantes,contabilizava 13 núcleos de favelas com 884 barracos e3.110 moradores.

A política adotada pelo poder público municipal,na metade da década de 80, era a de não proliferação defavelas. Fiscais da Prefeitura faziam rondas noturnas pelomunicípio para coibir as famílias que por ventura viessema construir algum barraco pela cidade.

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Em 1986, o prefeito eleito, o advogado RobsonMarinho, renunciou ao cargo para concorrer a outro. Emseu lugar assumiu o vice, o Professor Hélio Augusto deSouza. O vice-prefeito Souza faleceu poucos mesesdepois de assumir a prefeitura, e então assumiu oPresidente da Câmara Municipal da cidade o Sr. AntônioJosé Mendes de Faria dando continuidade à gestão deRobson Marinho.

No início dos anos 90, São José dos Campos soba administração da médica Ângela Guadagnin do Partidodos Trabalhadores, experimentou outra política voltadapara moradores de favelas. A reurbanização foi a bandeirada sua administração. Mesmo com esta nova política, oque se observou foi um aumento do número de núcleosde favelas. A população saltou para 442.370 habitantes eos núcleos chegaram a um total de 25, representandocerca de 1,8% da população do município.

No final dos anos 90, em 1997, sob a administraçãodo Prefeito Emanuel Fernandes do PSDB, com algunsnúcleos erradicados, a cidade chegou a um total de 22núcleos com 2077 moradias e 9230 moradores. Apopulação total do município chegou a 538.909habitantes, sendo que quase 2% desse total sãomoradores de favelas.

A política dessa administração voltada paramoradores de favelas foi o da remoção. Os moradoressão removidos para áreas distantes do centro da cidade,dificultando o seu acesso a equipamentos urbanos esociais e agravando a segregação sócio-espacial dessesmoradores.

2. POLÍTICAS PÚBLICAS: CAMPO DOS ALEMÃES:UM ESTUDO DE CASO. REMOÇÃO DE FAVELASPARA A PERIFERIA

Localizado no extremo Sul da cidade de São Josédos Campos, o bairro Campo dos Alemães, por si só, já éum bairro segregado, devido justamente à sua localização,distante da malha urbana mais consolidada. O loteamentono bairro teve início em 1980 com a declaração de utilidadepública para fins de moradia popular. Após a construçãode um outro Conjunto Habitacional, Elmano FerreiraVeloso, nos arredores, o loteamento foi interrompido por5 anos.

Em 1986, sob a gestão do advogado RobsonMarinho, foram retomados os trabalhos na área dahabitação popular, o loteamento também foi retomado.Como a cidade apresentava uma escassez de lotesurbanos para a população de baixa renda, foram abertasinscrições para esta parcela da população. Para seinscrever, a família tinha que comprovar que ganhava nomáximo 3 salários mínimos.

Para os moradores de favelas foi realizado umcadastramento. Este visava identificar o déficit demoradias para a população de baixa renda. Nem todos asfamílias foram atendidas pelo Programa. Dentre estasfavelas, duas foram destacadas para estudo, pois selocalizam no centro da cidade e são as mais antigas deSão José dos Campos. São elas: a Favela do Banhado,iniciada em 1931 e, atualmente, com o nome de JardimNova Esperança, e a Favela da Linha Velha, iniciada em1932, atualmente, com o nome de Jardim Santa Cruz I, II eIII. Em 1988, iniciou-se o sorteio dos lotes para aquelesque haviam se cadastrado e estavam no Programa.

Foram removidas para o Campo dos Alemães cercade 250 famílias moradoras de diversas favelas da cidade.Dentre essas favelas estão as favelas do Banhado, daLinha Velha na região central, e do Caramujo e do JardimNova Detroit mais distantes do centro. A política deremoção de moradores das áreas centrais para a periferiafoi agravada pelo baixo poder de consumo dostrabalhadores que pela distância do trabalho para a casae pela dificuldade de acesso aos equipamentos urbanose sociais acabaram sendo segregados da sociedadeurbana industrial.

A acessibilidade a esses equipamentos urbanose sociais no centro da cidade é mais fácil que na periferia,distante do centro. Sob a óptica dos moradores removidosdas favelas do Banhado e da Linha Velha para o Campodos Alemães, constatou-se que para alguns teria ocorridouma melhora no padrão de vida, contudo, esta estavaassociada mais no simples fato de se ter uma casa própria.Esta visão ainda foi reforçada pelas poucas melhoriasrealizadas pelo poder público municipal.

Constatou-se que, de fato, houve uma tendênciada Prefeitura Municipal em reiterar a segregação social eespacial desses moradores que estão à margem dasociedade de consumo e do mercado de propriedadeprivada do solo. A pesquisa instrumental de camporealizada com questões abertas no bairro do Campo dosAlemães apresentou dados sobre a insatisfação dosmoradores em relação às ações do poder públicomunicipal no bairro.

De fato, há uma queda do padrão de vida dessesmoradores em função da localização do bairro e dadistância do trabalho, reiterando a tese de Kowarick(1993), ao estudar a classe trabalhadora paulistana nosanos 40 do século XX, quando estes foram praticamenteexpulsos do centro para a periferia, perdendo muito emqualidade de vida.

Portanto, uma elite industrial domina grandeparcela da população, que gera suas riquezas e, que seempobrece cada vez mais, perdendo seu poder de compra

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e sendo empurrada para bairros mais periféricos,intensificando a espoliação urbana estudada porKowarick (1993) e a espoliação econômica exposta porEngels, ainda anos quarenta, do século XIX.

Conclui-se, portanto, que em São José dosCampos, as subcondições de moradia e o padrão de vida,decorrem, tanto do baixo poder de consumo das classespopulares, quanto pela precária localização urbana dobairro em que moram. Este patamar precário dehabitabilidade é decorrente, sobretudo, da economiaindustrial do município, reiterada pela lógica das políticaspúblicas sociais, com a prática de remoção de favelasdas áreas centrais espalhando-as para áreas distantes dacidade, intensificando a segregação e a precariedade demoradia na sociedade urbana contemporânea.

3. NOTA

Os dados no tocante à demografia e indústriasforam cedidos pela Secretaria de Planejamento e MeioAmbiente da Prefeitura Municipal de São José dosCampos. Os dados sobre o surgimento de favelas foramdados em entrevista feita ao Professor Geraldo Vilhena,ex-Secretário Municipal de Desenvolvimento Social daPrefeitura de São José dos Campos nos anos de 1968-1970, 1978-1982 e 1989-1992, pelo autor deste artigo.

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Revista UniVap, v.9, n.17, 200266

Tecnópolis, Parques Tecnológicos e Incubadoras

Antonio de Souza Teixeira Júnior *

Resumo. O desenvolvimento sustentável decorre em grande parte da capacidade de transformar osresultados da ciência em novas tecnologias inovadoras.Esta capacidade parece ser privilégio da combinação da competência acadêmica com a empresarial,e um mecanismo que vem sendo usado são as incubadoras de empresas de base tecnológica.Descrevemos, neste trabalho, como a Universidade do Vale do Paraíba, mantida por Fundação nãoestatal, em parceria com o SEBRAE, a Agência local do CIESP e a Prefeitura Municipal de São Josédos Campos vem implementando a atuação das empresas incubadas, de modo a apresentar projetosinovadores, que vêm tendo apoio das agências de fomento estaduais e federais.Casos de êxito são igualmente descritos e analisados, seguidos de uma síntese das possíveis razõesjustificadoras do sucesso obtido.Da mesma forma, procuramos enfatizar a importância do Plano de Negócios a ser apresentado eseguido pelas empresas candidatas à incubação e descrevemos seu possível conteúdo. Este é umtópico sobre o qual nos alongamos, porque consideramos fundamental para o bom êxito dasincubadas.Apresentamos, a seguir, o projeto do Parque Tecnológico, cuja pedra fundamental foi lançada em24 de agosto de 2002 e com o qual esperamos ajudar esta Tecnópolis, que é São José dos Campos,a acentuar ainda mais o empreendedorismo como sua característica.O Parque Tecnológico da FVE/UNIVAP visa realizar a famosa transferência de tecnologiauniversidade/empresa, mediante parcerias que consubstanciem, em síntese, objetivos, metas, prazose custos para que os produtos sonhados pelas empresas sejam realidades industriais e comerciais echeguem ao usuário com a qualidade desejável.

Palavras-chave: Incubadoras, Parques Tecnológicos, Tecnópolis, Transferência de Tecnologia,Parcerias.

Abstract. Cases of incubator’s success are explained and analyzed, and a synthesis of possiblereasons being described.In addition the paper emphasizes how important the application of a business plan is for thecandidates to be incubated. A model of this Plan, considered essential for the new company success,is presented.The future Univap Technological Park is described as an important part of São José dos Camposdevelopment whose success must not be taken for granted by its population so that the city caneffectively be a Technopolis.The Park, which began to be constructed on August 24, 2002, intends to accomplish technologicaltransfers between the university and the companies, through partnerships that setup objectives,goals, terms and prices to steadily strengthen their capabilities and efficiency in keeping theiroverall and explicit participation in the national development.

Key words: Incubator’s, Technological Park, Technopolis, Technology Transfer, Partnerships.

* Vice-reitor da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

A ciência é universal, mas a tecnologia resultanteé propriedade das nações ricas e desenvolvidas. E aquelasque dominam a tecnologia dominam as demais.

Patentes e outros mecanismos bloqueiam atransferência indiscriminada de tecnologia. Os países queaplicam seu esforço na realização de pesquisas acabampor transferir conhecimentos inovadores que geramtecnologias que asseguram o seu desenvolvimentoeconômico e conseguem ainda obter predomínio, a partirda participação em órgãos colegiados, com poder de veto

Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 67

em relação às pretensões de desenvolvimento dossubdesenvolvidos. A ciência é universal, repetimos, masseus resultados acabam sendo apropriados por umaminoria de países desenvolvidos.

Este é um processo acumulativo, de tal modo quedesenvolvimento agrega mais desenvolvimento,aumentando o desnível com os não desenvolvidos.

As armas de guerra são cada vez maisdependentes das transferências de tecnologia, numprocesso descontínuo, com pólos de rápido e intensodesenvolvimento, detidos pelos cada vez maispreparados.

É necessário semear, no País, as bases dos pólosde desenvolvimento tecnológico, mediante universidadese centros de pesquisa em permanente interação com asempresas. E é neste aspecto que as incubadoras deempresas e os parques tecnológicos vêm se constituindoem focos geradores de tecnologia e de empresas,operando, além do mais, com custos reduzidos.

2. INCUBADORAS

A incubadora de empresas, que é o mecanismo deprocurar o desenvolvimento, com base na colocação dasempresas em um recinto comum, de modo a terem razoávelapoio de equipamentos – telefone, fax, internet, e-mailetc – vem ganhando corpo nos diversos países do mundo.A localização de incubadoras nos câmpus universitáriosnos parece uma solução rápida para o problema datransferência de tecnologia universidade/empresa paraquem possa utilizá-la e como resultado obter lucros egerar empregos.

O Brasil já conta com cerca de 150 incubadorasinstaladas, e muitas vêm tendo razoável êxito: empresasincubadas se desenvolvem e a seguir se transformam ementidades fortes e geradoras de empregos.

A UNIVAP é gestora de duas incubadoras, emSão José dos Campos, uma das quais localizada em seucâmpus, sobre a qual centraremos nosso estudo de caso.A presença da incubadora no próprio câmpusuniversitário vem sendo um fator de estímulo para asatividades das empresas da incubadora, comodemonstraremos. A existência de um Conselho Técnico-Científico, constituído por representantes da PrefeituraMunicipal de São José dos Campos, da representaçãolocal do CIESP, do SEBRAE e da UNIVAP é outra razãopara o sucesso que vem sendo possível obter.

Adotamos também o pressuposto de que a criaçãode um processo econômico sustentável, com base no

desenvolvimento científico, é efetuada, não porburocracias centralizadas, mas sim por uma rica misturade acadêmicos e empreendedores privados.

3. ENTENDIMENTOS UNIVERSIDADE-INDÚSTRIA:PRÓS E CONTRAS

A tríplice função da universidade, constituída pelaindissociação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, podeser a chave para levar à interação das universidades coma indústria e, para isto, a extensão precisa retirar dapesquisa e do ensino os ingredientes que podeminteressar à empresa.

A vida da universidade está ligada à pesquisa eao ensino, sem maiores problemas. Já a extensão,entendida como relacionamento direto com setores dacomunidade, para a prestação de serviços ou para atransferência de tecnologia, é pouco praticada, emborahaja incentivos diversos para acelerar esta interação.

Um exemplo disto foi o PADCT (Programa deApoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico) queprocurou tornar realidade a Transferência de Tecnologiada universidade para a indústria, mediante a apresentaçãode projetos, pela universidade, privilegiando a parceriacom as empresas. O Programa de Instrumentação buscouestabelecer esta interação, e acabou tendo sucesso como grupo de Física de São Carlos, o qual, sob a coordenaçãodo Prof. Oscar Panepucci, chegou à produção de doistomógrafos de Ressonância Magnética (R. M.) querealizam atendimento a pacientes, na cidade.

A transferência, porém, para uma indústria queproduzisse os tomógrafos e os comercializasse, não severificou.

Este foi, contudo, no subprograma deInstrumentação do PADCT, o exemplo de maior êxito,pois originou um grupo de físicos altamente qualificadosem R. M. Isto mostra que para implantar no País umaindústria, que se dedique à produção de equipamentorazoavelmente complexo, não basta dispor de gente muitocompetente. Cabe aí, como em outros países vemocorrendo, a ação inicial do governo, criando umacompetência comercial suficiente para garantir, aostécnicos envolvidos, a possibilidade de elaborar um planode negócios e constituir a empresa, com possibilidade dechegar à exportação inclusive.

A EMBRAER chegou a efetuar o levantamentodos custos do tomógrafo do grupo de São Carlos, masparece não ter encontrado ressonância em nenhum apoiopara iniciar o negócio. Note-se que isto ocorreu antes dea EMBRAER ter tido o atual êxito financeiro.

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4. INCUBADORA DA UNIVAP, INSTALADA NOCÂMPUS URBANOVA, EM SÃO JOSÉ DOSCAMPOS.

A Incubadora sediada na UNIVAP teve sua origemem convênio de outubro de 1996, sendo que em março de1997 foi contratada a primeira empresa.

A gestão coube à Fundação POLOVALE, quepretendia produzir ações de P&D em São José dosCampos, mas que acabou tomando rumos não desejadospelos partícipes, notadamente a UNIVAP, que se retirou,e denúncias supervenientes tornaram necessária aintervenção da Curadoria de Fundações. A POLOVALEfoi desativada e as incubadoras que lhe estavam afetaspassaram a ser geridas pela Fundação Valeparaibana deEnsino – FVE, mantenedora da Universidade do Vale doParaíba – UNIVAP. De uma certa maneira, mesmo durantea gestão da POLOVALE, a UNIVAP já vinha orientando aatuação da incubadora, situada em seu câmpus,preservando a sua conduta dos desvios ocorridos naPOLOVALE, de modo que foi possível a continuidadesem maiores conseqüências. Isto mostra como aproximidade entre incubadora e universidade éfundamental para o seu bom desempenho.

As propostas para incubação são apresentadaspelas empresas, que expõem seus objetivos e metas deprodução, distribuição e vendas, que constituem o seuPlano de Negócios. Este deve ser apresentado por escritoe é seguido de uma exposição oral, pelo interessado.Ocorre uma entrevista, para saber até onde está opretendente motivado. Está disposto a vender seu carro,se for preciso, e colocar o dinheiro obtido no negócio?Tem possibilidade de sustentar o negócio por quantotempo? Estas são perguntas provocativas para estudar areação do candidato.

A proposta de negócio compreende:

a. Identificação do Proponente.

b. Identificação dos sócios.

c. Identificação da empresa.

d. O Empreendimento.d1. Definição do negócio.d2. Razões que o induziram a montar a

empresa.d3. Cenário que beneficia a implantação do

negócio: conhecimento e experiênciados empreendedores. O produto éinovador? Não há concorrentes noPaís? E no exterior?

d4. Fatores possíveis de sucesso:· Identificação.

d5. Análise estratégica:· Oportunidades de mercado. Ameaças:concorrência; mudanças de política degoverno.· Ambiente interno: financeiros,marketing e processos a seremimplantados.

d6. Missão da empresa: alcance social dosprodutos.

d7. Metas e cronograma.d8. Produtos e/ou serviços:

· Descrição dos produtos ou serviçose se já houve pesquisa de campo arespeito de sua necessidade.

d9. Fluxo do processo.d10. Recursos humanos:

· Descrição das necessidades e grausde escolaridade pretendidos.

d11. Recursos Físicos:· Equipamentos e materiaispermanentes.· Material de consumo.

d12. Fornecedores:· Relação de fornecedores.

d13. Parcerias e alianças estratégicas:· Indicação dos possíveis parceirosfuturos.· Indicação dos possíveis intercâmbioscom entidades nacionais eestrangeiras, que possam ajudar nodesenvolvimento do negócio.

d14. Análise de Mercado:· Aplicações do produto.· Público alvo.· Clientes.· Segmentação: público/privado.· Dimensões do mercado.· Concorrentes.· Tendências.· Participação pretendida no mercado.

d15. Marketing:· Política e composição de preços.· Canais de distribuição.· Diferencial em relação aosconcorrentes.· Promoções: estratégia.

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· Pós-venda: assistência técnica;reposição de peças; expansão denovos produtos.

d16. Aspectos Financeiros:· Especificação e quantificação dasnecessidades de capital físico, comcronograma de alocação dos recursos.· Previsão de vendas: cronograma dosdois primeiros anos, a partir dainstalação.· Custos fixos – cronograma dos doisprimeiros anos.· Custos variáveis – idem.

· Fluxo de caixa – idem.d17. Equipe Técnica – Nomes e resumo de

qualificações.d18. Apoio esperado à Incubadora, por

parte da UNIVAP.

Estes são itens que poderão ser adequados adiferentes planos de negócio. A criatividade dos autoresdeverá ser a marca principal na exposição dascaracterísticas inovadoras a imprimir ao plano de negócio.

4.1. Apoio recebido de entidades de incentivo, pelasempresas da Incubadora – UNIVAP.

Tabela 1 - Empresas com projetos aprovados na FAPESP

Tabela 2 - Empresas contempladas com bolsas do Programa RHAE

* Bolsas com duração de 24 meses ** Bolsas com duração de 12 meses

EMPRESA PROJETO VALOR(R$)

EQE – Tecnologia Sistema de comunicação por voz atravésde rede elétrica – 1ª fase. 35.120,00

Metal Plasma S/C Ltda. Desenvolvimento de processo a plasmaaplicado à metalurgia – 1ª fase. 49.000,00

Metal Plasma S/C Ltda. Tratamento a plasma em bobinas de açocarbono - 1ª fase. 26.700,00

NAVCON – Navegação eControle Ltda.

Plataforma integrada de sensoresinerciais/GPS - 1ª e 2ª fases. 296.000,00

NAVCON – Navegação eControle Ltda.

Receptor GPS em aplicações espaciais –1ª fase 61.000,00

QUIMLAB – Química eMetrologia S/C Ltda.

Montagem de um laboratório demetrologia química e produção depadrões químicos – 1ª e 2ª fases

600.000,00

T O T A L 1.067.820,00

EMPRESA PROJETO Tipo daBolsa Qtde. Valor

(R$)EQE – Tecnologia Sistema de comunicação por

voz através de rede elétrica– 1ª fase

*DTI – 7A*DTI – 7F

11

75.065,0030.420,00

Metal Plasma S/CLtda.

Desenvolvimento deprocesso para otimização dereator a plasma.

*DTI – 7D*DTI – 7D

BSP

111

44.117,0044.117,00

4.500,00NAVCON –Navegação eControle Ltda

Receptor GPS emaplicações espaciais – 1ª

fase

*DTI – 7A*DTI – 7B*DTI – 7G

111

76.065,0063.134,0025.101,00

QUIMLAB –Química eMetrologia S/C Ltda.

Análise dimensional depeças através de visãocomputacional.

**DTI – 7H**DTI – 7G**DTI – 7C

111

10.417,0012.550,0026.242,00

T O T A L 407.228,00

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Tabela 3 - Projetos em aprovação

4.2. Um caso de sucesso, descrito pelo diretor da empresaincubada na UNIVAP, Nilton Ferreira Alves.

Parceria viabiliza a implantação de Laboratóriode Análises Ambientais

Uma parceria entre a Universidade do Vale doParaíba – UNIVAP, e a empresa Quimlab – Química eMetrologia, possibilitou a criação de um novolaboratório instalado junto ao Centro de Estudos daNatureza, no Câmpus Urbanova. Esta nova unidade,chamada Laboratório de Análises Ambientais, destina-se ao atendimento de análises químicas,microbiológicas e de ecotoxicidade de águas e efluentesindustriais. Este laboratório complementará os serviçosde análises físico-químicas, hoje oferecidos aos clientesda QUIMLAB.

Os investimentos foram da ordem de R$ 100 milutilizados na compra de equipamentos e montagem dainfra-estrutura. Será um dos laboratórios maiscompletos do Estado de São Paulo para realização deestudos referentes à qualidade da água. Será capaz deavaliar a taxa de mortalidade de peixes,microcrustáceos e plantas aquáticas em presença dequalquer tipo de água ou efluente industrial com algumtipo de contaminação, e, com isso, atribuir suaecotoxicidade. Instalado estrategicamente dentro doCâmpus da Univap a aproximadamente 500 metros dorio Paraíba do Sul, contará com uma equipeprofissional bem treinada composta de biólogos equímicos.

Por tudo isso, a QUIMLAB se credencia a ofereceràs indústrias, prefeituras e órgãos de vigilânciasanitária da região serviços especializados nacaracterização microbiológica em qualquer tipo deágua ou efluentes industriais, bem como desenvolverprojetos de pesquisas nas fontes de água destinadas aoconsumo público.

A QUIMLAB é uma empresa residente naIncubadora Tecnológica UNIVAP, onde iniciou seusprimeiros trabalhos para a instalação de umlaboratório de metrologia química. Em meados de 1998,a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SãoPaulo - FAPESP, aprovou projeto da empresa paraimplantação deste laboratório. Ao longo de 2,5 anos, aFAPESP repassou recursos à empresa no valor de R$600 mil que foram investidos na compra deequipamentos de última geração e pagamento debolsistas, entre eles um especialista com doutorado emquímica orgânica. Este apoio possibilitou atingir a metade ter o primeiro laboratório brasileiro de produçãode padrões químicos com reconhecimentointernacional, empregados para aferir grandezas como:pH, condutividade e concentrações de metais da ordemde ppb (partes por bilhão).

A QUIMLAB atende, atualmente, grandesempresas da região: KODAK, PETROBRAS, CRYLOR,KAISER, NITROQUÍMICA, EMBRAER, MONSANTO ecerca de mais 30 empresas da região do Vale do Paraíbae Grande São Paulo.

A possibilidade de iniciar suas atividades dentroda UNIVAP, através da Incubadora, foi um dos fatoresdeterminantes de crescimento, pois a infra-estrutura eo ambiente acadêmico favorecem muito as empresas quedesenvolvem serviços e produtos tecnológicos. Segundoo proprietário, os novos serviços possibilitarão atingira meta de R$ 1 milhão de faturamento em 2002 contracerca de R$ 700 mil em 2001.

Obs.: A QUIMLAB candidatou-se ao Editaldedicado à Tecnologia Industrial Básica, com prazo deentrega até 21/6/02, mas não teve êxito.

EMPRESA PROJETO FOMENTO VALORNAVCON GPS aplicado à agricultura de precisão

(1ª fase) FAPESP 60.000,00QUIMLAB Desenvolvimento de padrões para

cromatografia de ions e líquidos (2ª fase) FAPESP 298.000,00QUIMLAB Avaliação de águas subterrâneas no

pólo cerâmico de Sta. Gertrudes CTHIDRO 150.000,00QUIMLAB Avaliação hidrológica de lençóis freáticos

de Jacareí FEHIDRO 162.000,00

T O T A L 670.000,00

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4.3. Outro caso de sucesso foi a InfoMed.

Em janeiro de 1999, apresentou-se a empresaInfoMed, como candidata à Incubadora.

A função da InfoMed é agilizar o intercâmbio deinformações entre os participantes do setor de saúde(por exemplo, empresas de Assistência Médica, Hospitais,Laboratórios, Centros de Diagnósticos e Médicos)utilizando a Internet como ambiente.

4.3.1. Software inicial, para Centros Médicose Associações, de assistência médica.· Concessão de autorizaçõeseletrônicas para o atendimento deserviços de saúde, em substituição àsatuais guias de autorização.· Transferência eletrônica defaturamento dos prestadores deserviços de saúde para as empresas deassistência médica (Convênios).· Transferência eletrônica decomunicados entre os profissionais desaúde e as empresas de assistência

médica.· Transferência eletrônica de resultadosde exames complementares aospacientes e aos respectivos médicossolicitantes.· Acesso aos dados de emergência,fistórico de exames complementares ehistórico familiar dos pacientes.· Acesso às informações deprofissionais e empresas de saúdecadastradas, bem como suas homepages.· Fórum de debates entre osprofissionais de saúde via chat.· Pesquisas para atualização técnica eprofissional com links para diversasinstituições de ensino e pesquisanacionais e internacionais.· Comércio eletrônico de equipamentosmédico-hospitalares.

4.3.2. O começo da InfoMed foi muitomodesto, conforme a Tabela 4demonstra:

Tabela 4 - Valor total do investimento necessário

* PE = Ponto de Equilíbrio

VALORR$

Equipamentos 15.000,00Softwares(ferramentas)

10.000,00

Móveis e Utensílios 2.000,00Outros 3.000,00Subtotal 30.000,00Fluxo de Caixa (PE)* 35.000,00Total Geral 65.000,00

Revista UniVap, v.9, n.17, 200272

Tabela 5 - Projeções financeiras

4.3.3. Seqüência de desenvolvimentos daInfoMed.

A InfoMed teve seu início naIncubadora em fevereiro de 1999.

Em novembro de 1999 participa dePlano de Negócios em Saúde, em São Paulo e, emdecorrência, em maio de 2000 recebe aporte de recursosde um milhão de reais, retirando-se da Incubadora epassando a operar em São Paulo. É então incorporada àE. Health Latin American, em um “pool” da ordem defaturamento de 90 milhões de dólares.

5. UM EXEMPLO DE SETOR DE ELEVADOPOTENCIAL INDUSTRIAL: A BIOTECNOLOGIA

No Brasil, a Biotecnologia é atividadepredominantemente acadêmica, cuja origem se prende àelucidação do DNA e do código genético. O estudo dogenoma, no Brasil, ganhou corpo principalmente mediante

o apoio da FAPESP a diversos núcleos de cerca de 30universidades do Estado de São Paulo, que participaramdas pesquisas da praga do cancrocítrico, a “Xylelafastidiosa”, cujo quadro genético foi finalmente montado.

A UNIVAP foi partícipe deste esforço, sendo umadas entidades agraciadas com o Prêmio Governador doEstado, no ano 2000. Atualmente, o laboratório Genomada UNIVAP trabalha nos seqüenciamentos genéticos dacana-de-açúcar e do câncer humano.

Tentamos algumas alternativas de ligar este tipode trabalho a alguma atividade industrial, mas nãoencontramos ainda parceiros.

O cientista brasileiro Antonio S. Oliveira dosSantos, que trabalha no Canadá, em instituto ligado apesquisas do câncer, é de opinião que a Biotecnologiatem potencial para mudar o padrão de vida da população,mas as dificuldades a vencer são inúmeras, pelaspeculiaridades que o setor apresenta:

TOTAL 1999R$

TOTAL 2000R$

RECEITASBrutas 275.500,00 1.100.000,00Líquidas (-10% iss, pis, cofins...) 247.950,00 990.000,00

DESPESAS FIXASDepreciação 15.000,00 15.000,00Combustível 3.600,00 6.000,00Telefone 2.400,00 3.500,00Internet 450,00 900,00Pró-labore 36.000,00 135.000,00Aluguel Imóvel 3.000,00 3.000,00Aluguel Telefones 2.400,00 4.800,00Total 64.850,00 168.200,00

DESPESAS VARIÁVEISMarketing 36.000,00 120.000,00Pessoal 46.000,00 196.500,00Insumos 9.000,00 15.000,00Manutenção de equipamentos 2.500,00 12.000,00Encargos sociais e outrosImpostos 40.000,00 175.000,00

Outros 4.000,00 12.000,00Total 137.500,00 530.500,00

Lucro bruto 45.600,00 291.300,00Lucro líquido (-25% IR) 34.200,00 218.475,00

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a.produtos de altíssimo valor agregado;b. altos custos com pessoal ultra-especializado(empresas com 20% de doutores são comuns);c. internalização de pesquisa e desenvolvimento(P&D);d. baixa taxa de sucesso de produtos potenciais(menos de 10% conseguem sucesso no mercado);e.intensa regulação estatal;f. longo período de desenvolvimento (dez anospara terapias);g. dependência de propriedade intelectual;h. dependência de capital de risco.

As dificuldades são muito grandes, como édemonstrado pelo perfil de alta mortalidade das empresasemergentes.

Segundo o cientista citado, “o Brasil dispõe delegislação de proteção à propriedade intelectual, essencialà indústria de Biotecnologia. Sem tal proteção, é puerilsonhar com investimentos não-estatais”.

O setor de Biotecnologia depende, portanto, decapital de risco, nacional ou estrangeiro.

Este tipo de atividade poderia ter um início emincubadoras, com ajuda da FAPESP (no Estado de SãoPaulo), seguido rapidamente de alojamento em ParqueTecnológico, com forte ajuda ainda para o crescimento.

6. PARQUES TECNOLÓGICOS

Com esta denominação são designados osconjuntos destinados a sediar empresas de cunhotecnológico, tendo em geral as características a seguir:

a.são ou deveriam ser ligadas, em geral, a centrosde pesquisa de universidades;b. têm origem na necessidade de parceria comuniversidades, e entidades de classe, empresas,governo, ONGs e agências de apoio a fomento,tendo em vista projetos de desenvolvimento;c.podem situar-se ou não nos câmpusuniversitários, porém, em qualquer caso, devemmanter intercâmbio com universidades do seuentorno.

A Fundação Valeparaibana de Ensino – FVE,mantenedora da Universidade do Vale do Paraíba –UNIVAP, deu início, a partir do lançamento da pedrafundamental, em solenidade no dia 24 de agosto de 2002,às 11h30min., às obras do seu Parque Tecnológico FVE/UNIVAP. Situado em seu câmpus, o Parque é constituídoinicialmente por um edifício inteligente com 19.100 metrosquadrados de área construída, no qual devem ser alojadascerca de 40 empresas de tecnologia moderna. O sistemacompreende salas de reunião, biblioteca com periódicosdedicados a desenvolvimento de empresas; e setor deestratégias de gestão e captação de recursos.

O esquema a seguir ilustra as interaçõesprováveis.

Fig. 1 - Esquema de Interação do Parque Tecnológico.

Revista UniVap, v.9, n.17, 200274

Fig. 2 - Parque Tecnológico FVE/UNIVAP - Visão do conjunto.

Fig. 3 - Parque Tecnológico FVE/UNIVAP - Visão do conjunto, com destaque para a ala das oficinas.

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O Parque Tecnológico da FVE/UNIVAP, é umprojeto que buscou apoio na FINEP, sem obter sucesso,mediante exigências inúmeras, até de aval pessoal dediretores da Fundação. A seguir, foi ao Fundo Verde-Amarelo, sem igualmente ter acesso a financiamento e aele voltou a solicitar apoio, com base em Edital, semresultado novamente.

A própria FVE resolveu realizar a construção eequipamento do Parque, com apoio BNDES.

Contamos já com o interesse de várias empresas,que necessitam de um total de áreas da ordem de 5.000metros quadrados. Isto, sem maior trabalho de induçãopela FVE.

O capital necessário será da ordem de 8 milhõesde reais, que poderão ser em parte cobertos pelo BNDES,se este não apresentar exigências obliterantes, comoocorreu com a FINEP.

Será possível, então, contar com este Parque paraa implementação de empresas de base tecnológicamoderna, cremos, a partir do segundo semestre de 2003.

Esta é uma realização importante, que esperamosviabilizar mesmo sem o apoio de quem deveria ter talincumbência.

É ainda muito incipiente o apoio para possibilitarque empresas dependentes de P&D tenham vez no Brasil.O que se vê é dinheiro público convergindo paraentidades públicas, o que é sempre um risco menor a serassumido pelos poderes públicos, só que a transferênciade tecnologia para o setor privado, fundamental para odesenvolvimento do País, acaba não se dando.

7. ENTREVISTA COM O REITOR

a. Por que o Parque Tecnológico FVE/UNIVAP?

A universidade tem obrigação de praticaratividades de Extensão, em estreita interação com oEnsino e a Pesquisa.

O Parque representa um importante apoio à criaçãode uma cultura de interação da UNIVAP com o seuentorno, notadamente com as empresas das chamadas“tecnologias portadoras de futuro.”

b. E para a FVE/UNIVAP, qual a importância dacriação do Parque, já que para a cidade de São Josédos Campos esta importância é evidente?

Podemos assinalar diversas vantagens:

a. Será possível maior integração entre a pesquisae o desenvolvimento econômico do entorno.

A Pesquisa é em geral medida pelo número deartigos que os pesquisadores escrevem e vêempublicados em revistas indexadas. Mas há outra maneira,mais sensível à população, que é mediante os resultadoseconômicos provocados, isto é, pela receita gerada pelosprodutos resultantes da aplicação das pesquisas. Onúmero de patentes geradas é um indicador válido disto,também.

Um exemplo do resultado concreto da pesquisasão os tomógrafos obtidos a partir dos trabalhos depesquisa do Prof. Dr. Oscar Panepucci, na USP – Depto.de Física de São Carlos-SP.

b. A FVE/UNIVAP mantém, juntamente com CIESP,PMSJC e SEBRAE, uma incubadora em seu câmpus eoutra no parque fabril da Revap – PETROBRAS, em SãoJosé dos Campos, juntamente com a própria PETROBRASe os parceiros anteriores.

As empresas incubadas necessitam sair daincubadora, mas é necessário garantir-lhes apoio pós-incubação e este é o papel do Parque, impedindo que asempresas tenham intervalo de vida breve e frustreminiciativas relevantes.

Atuando no câmpus da FVE/UNIVAP, as empresasinteragem com os setores de ensino e pesquisa e isto ébenéfico para todos, pois ocorre uma realimentaçãoextremamente valiosa, pela atualidade deste aprendizado.

c. A transferência de tecnologia que decorre destasinergia, aliada à presença de alunos e ex-alunos noprocesso, é muito estimulante, não só pelos empregosadvindos, mas principalmente pela qualidade do capitalhumano gerado: são pesquisadores e técnicos jovensque se apresentam e emprestam sua experiência ainovações de grande interesse para o desenvolvimentolocal, principalmente.

d. Outro resultado importante é a oportunidadede a universidade poder induzir a prática dodesenvolvimento sustentável, orientando as empresaspara o empreendedorismo inovador e construtivo.

Enfim, o Parque Tecnológico FVE/UNIVAP é umnegócio do qual podem participar, de algum modo, todosos cidadãos da Comunidade da Força de Trabalho deSão José dos Campos, com ganhos para todos.

8. TECNÓPOLIS

O mundo apresenta modelos de Tecnópolis,

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cidades que se desenvolveram ou foram, em alguns casos,fundadas, tendo em vista parcerias entre empresas euniversidades, com o objetivo de integrar conhecimentospara seu aproveitamento relativo à implantação de novastecnologias, tendentes à produção de bens e serviços.

São José dos Campos pode ser caracterizada comouma Tecnópolis, pois seu desenvolvimento ocorreu apartir da implantação do Centro Técnico Aeroespacial -CTA, e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA;do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE, e aseguir da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP, e,posteriormente, das empresas que aproveitaram oambiente formado, como a EMBRAER e a seguir aAVIBRAS, a TECSAT e outras, para se dedicar atecnologias modernas, tendo em vista, além das aplicaçõesaeroespaciais, outras mais endereçadas à informática,telecomunicações, à química etc. Houve, como é sabido,a atuação decidida do Governo Federal, que induziu afazer, de São José dos Campos, uma Tecnópolis.

O modelo é particularmente utilizado na FRANÇA,em 40 tecnópolis (Toulouse, Lyon, Montpellier etc.),tendo havido, até, a criação de uma cidade com área de2.000 hectares – Sophie Antinópolis, nas proximidadesde NICE – para a promoção da ciência e tecnologia e suatransformação em bens e serviços.

Ocorreu, desta forma, um grande número deiniciativas, com a idéia de gerar conhecimento e transferi-los para a produção de bens e serviços. São bemconhecidas, entre outras, as Tecnópolis do Vale do Silício,nos EUA, e Tsukuba e Kansai, no Japão.

O modelo foi extensivamente adotado por todosos países desenvolvidos e, também, em grande parte,dos assim chamados, em desenvolvimento.

Acreditamos que o conjunto formado pela FVE/UNIVAP e seu câmpus abrigando o Parque Tecnológicoe as duas incubadoras possa vir a ser a complementaçãonecessária para que a grande Tecnópolis São José dosCampos dê origem e implementação a modernas empresasportadoras de tecnologias de futuro.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

BROCKMAN, J. As maiores invenções dos últimos 2.000anos. Tradução Marcos Santarrita. Rio de Janeiro:Objetiva, 2000. 170p. ISBN 85-7302-280-9.

DYSON, F. O Sol, o Genoma e a Internet: ferramentasdas revoluções científicas. Tradução Otacílio NunesJúnior. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 140p. ISBN85-359-0203-1.

LOPES, J. L. Ciência e Libertação. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1969. 174p. (Série Ciência e informação, v.1).

MATSUSHITA, M. The Mind of Management: fifty yearswith Konosuke Matsushita. Osaka: Matsushita ElectricIndustrial Co., 1996. 171p. ISBN 4-569-54949-7.

RAYMOND, S. V. (Ed.). Science-based economicdevelopment: case studies around the world. New York:The New York Academy of Sciences, 1996. 345p. (Annalsof the New York Academy of Sciences, v. 798). ISBN 1-57331-052-2.

10. COMENTÁRIOS SOBRE AS REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS.

Science-based Economic Development: case studiesaround the world.

O texto descreve, a partir da consideração de queo Capital Social é o elemento chave para a escolha, entreos diversos caminhos para o desenvolvimento, daqueleque conduz as instituições científicas a exerceremimportante papel.

Os diferentes capítulos enfatizam a tecnologiacomo elemento gerador do crescimento econômico; idemda ciência e tecnologia em conjunto e estudos de caso,em diferentes Estados são muito bem apresentados: Texas(Austin); Florida; Georgia; Kansas; Louisiana; Maine,State; Maine, Foundation of Science and Technology;Oregon; Ohio; Montana. Seguem-se 11 capítulos sobre“Global Cases and Issues Studies e o Sumário dosdiferentes grupos de trabalho.

Este é um texto muito importante para a análise daCiência e Tecnologia e seu papel no DesenvolvimentoEconômico.

Ciência e Libertação.

Este é um livro publicado há muitos anos, masainda de grande atualidade.

O autor parte do conceito de que a Ciência éuniversal, mas os seus resultados, que geram astecnologias utilizáveis, são propriedade das NaçõesDesenvolvidas, que as protegem por meio de patentes.

Os seis capítulos defendem a existência de umaindústria nacionalizada: Ciência e Desenvolvimento;Responsabilidade dos Homens de Ciência; Ciência eHumanidade; Que universidade?; Organização daProdução Científica; Fases da Física no Brasil.

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The Mind of Management.

O livro retrata o pensamento do empreendedorjaponês Konosuke Matsushita, fundador da MatsushitaElectric Industrial Co., Ltd.

Konosuke considera que o dirigente industrial,da mesma forma que o pesquisador, deve ter mentalidadeinquisidora e buscar respostas às questões surgidas emmomentos de atividade ou de repouso. É necessário, nosnegócios, responder sempre a novas condições eantecipar-se de modo correto aos demais, na tomada dedecisões estratégicas.

Este livro é importante para entender o que sepassa com os empresários e relevar certas dificuldadesque os acadêmicos atribuem somente à impassibilidadedos detentores do capital, face aos produtos inovadoresoferecidos para serem produzidos em série e vendidos.

O Sol, o Genoma e a Internet: ferramentas das revoluçõescientíficas.

O autor é conhecido pela sua originalidade einquietude.

O livro todo é um convite à irreverência que conduzà inovação e permite antecipações tecnológicas.

São somente três capítulos: RevoluçõesCientíficas; Tecnologia e Justiça Social; A Estrada

Principal. Fecha com o epílogo, no qual relata a derrotado campeão de xadrez Gary Kasparov frente aocomputador executando o programa Deep Blue, em maiode 1997.

É um livro muito inspirador para quem pensa nasaplicações utilizáveis para produção industrial, resultanteda P&D praticadas nas universidades.

As Maiores Invenções dos Últimos 2.000 Anos.

O autor reúne indicações, muito variadas,procurando responder à pergunta que constitui o títulodo livro.

As respostas variaram muito: a imprensa; o sistemadecimal; o cavalo; o feno; os óculos; o relógio; a pílulaanticoncepcional oral; o computador e a bomba atômica;o método empírico; fazer perguntas etc.

Este livro é muito importante para que paremosum instante para refletir sobre o que é importante. E maisainda: importante para quem? Somos seis bilhões depessoas neste Planeta Terra e tudo depende do acessoque cada um tem ao mundo dos produtos reais e virtuais.Grande parte da humanidade nunca viajará de avião euma ínfima parte terá acesso a análises por ressonâncianuclear, por exemplo. Mas é importante que a minoriadisfrutadora dessas facilidades utilize seu tempo econforto para obter o desenvolvimento social sustentávele desejado.

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O Vetor Academia-Empresa para o Incremento daInovação Tecnológica

José Miguel Alvarez Chaddad *Tales Andreassi **

Resumo. O presente artigo tem como principal objetivo analisar, de maneira exploratória, osprincipais empecilhos e facilitadores da relação universidade-empresa, propondo algumasrecomendações para que tal relação seja, senão bem sucedida, ao menos frutífera para os doislados envolvidos. Para tanto, o artigo apresenta uma breve revisão teórica relacionada à interaçãouniversidade-empresa, passando para a discussão de alguns exemplos empíricos primeiramente notocante ao ambiente universitário e depois às empresas. Como conclusão, são apresentadas algumasrecomendações no sentido de se procurar aumentar a eficácia da relação universidade-empresa.

Palavras-chave: Relação universidade-empresa, parcerias, inovação tecnológica.

Abstract. This paper intends to analyze the main obstacles and helping factors related to therelationship between universities and companies. First, some theoretical aspects are presented inthe literature review. Then, some examples are reported, from the university point of view. The nextstep is the description of some examples related to the company context. The final step is the conclusionof this study, which gives some recommendations in order to improve the relationship betweenuniversities and firms.

Key words: Company-University Relationship, partnership, technological innovation.

* Diretor Executivo da Anpei – Associação Nacionalde Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia dasEmpresas [email protected]

** Professor da EAESP/Fundação Getúlio Vargas eConsultor da Anpei e do IPT – Instituto de PesquisasTecnoló[email protected]

1. INTRODUÇÃO

No atual quadro econômico na qual as empresasse inserem, marcado pela alta competitividade, qualidadedos produtos e concorrência acirrada, cada vez mais oêxito empresarial depende da capacidade de a empresainovar tecnologicamente, colocando novos produtos nomercado, a um custo-benefício menor, com uma qualidademelhor e a uma velocidade maior do que seusconcorrentes. Assim, se no âmbito interno a inovaçãoestá se tornando cada vez mais uma condição necessáriapara a sobrevivência da empresa, no âmbito externo adecisão de inovar é uma condição essencial para que aempresa consiga ganhar mercados internacionais eatender os rígidos padrões desses mercados.

Se a inovação tecnológica pode ditar o ritmo docrescimento de um país, conforme afirma Marcovitch(1981), nada mais natural o incentivo ao fomento depolíticas que efetivamente incrementem a inovação deum país. Dentre as várias políticas de incremento –incentivo fiscal, crédito à inovação, incubadoras,programas de formação de mão-de-obra, entre tantasoutras – o incentivo à interação universidade-empresaseguramente encontra-se entre as políticas que vemmerecendo um grande destaque. Entretanto, muito dessedestaque é infelizmente negativo, relatando-seexperiências infelizes entre a interação academia-empresa.

Deve-se ressaltar, ainda, que tal experiêncianegativa ocorre apesar dos inúmeros esforçosgovernamentais de incentivo à interação universidade-empresa, a começar pela Lei 8661/93 – PDTI/PDTA, queincentiva a pesquisa cooperativa, passando pela Lei daInformática, e mais recentemente a criação dos FundosSetoriais e a elaboração da Lei de Inovação. O maisinteressante é que os exemplos de fracasso parecemconcentrar-se principalmente nas áreas tecnológicas, umavez que na área de gestão isso não ocorre - haja vista obom resultado que as escolas de Administração,Economia e Contabilidade obtêm na venda de seus“serviços” de consultoria e treinamento às empresas.

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Nesse sentido, chega-se ao objetivo do presenteartigo, que é o de analisar, de maneira exploratória, osprincipais empecilhos e facilitadores da relaçãouniversidade-empresa, propondo algumas recomenda-ções para que tal relação seja, senão exitosa, ao menosfrutífera para os dois lados envolvidos. Para tanto, oartigo apresenta uma breve síntese da situação dasexportações brasileiras e a importância de se investir eminovação para reverter esse quadro. A seguir, serãodiscutidas algumas questões teóricas relacionadas àinteração universidade-empresa, passando para adiscussão de alguns exemplos empíricos primeiramenteno tocante às empresas e depois ao ambienteuniversitário. Finalmente, são apresentadas algumasconclusões e recomendações.

2. CONTEXTUALIZAÇÃO DAS EXPORTAÇÕESBRASILEIRAS

Considerando que o Brasil está entre as dezmaiores economias do globo, a contribuição dasexportações brasileiras no nível de exportação mundial érealmente baixa, atingindo menos de 1% do total. Maisalarmante ainda é a constatação de que nossacontribuição caiu significativamente, de 2,4% nos anos50 para menos de 1% em 2000, conforme pode servisualizado no Gráfico 1. Ressalta-se que, em valoresabsolutos, aumentamos as exportações, conformeverificado no Gráfico 2. Mas como nossa contribuiçãodiminuiu, é de se supor que os outros países deram umaatenção especial a tal questão, o que de fato nãoaconteceu com o Brasil.

Infelizmente, as ações governamentais com opropósito de reverter o quadro exportador só começarama ser tomadas no final deste Governo, conforme afirma oex-ministro Antonio Delfim Neto, citado por Moraes Silva(2002):

“...só agora o presidente Fernando HenriqueCardoso chegou à conclusão de que o Brasilprecisa exportar mais, se quiser corrigir osdesequilíbrios crônicos no balanço em conta-corrente e a tendência crescente para oendividamento externo. Nos últimos seis anos emeio de governo, fizeram tudo para destruir o

setor exportador, congelando o câmbio, elevandoos juros. Trataram o exportador como um serineficiente. O problema urgente do balanço depagamento foi criado pelo governo. Foram anosde perseguição aos exportadores. O milagre foieles terem sobrevivido”.

Certamente esse descaso com as exportaçõesacabou refletindo no saldo da balança comercial brasileira,que acabou caindo bruscamente a partir de 1992,conforme verificado no Gráfico 2. Tal data coincide com aabertura dos mercados realizada pelo governo Collor,abertura esta não acompanhada pelo incremento àexportação.

Gráfico 1 - Participação (%) do Brasil nas Exportações e Importações Mundiais - 1950 - 2000

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

Parti

cipa

ção

%

Exportação Importação

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Além do saldo da balança comercial, outrapreocupação é o alto índice de concentração daexportação brasileira. Segundo Moraes Silva (2002), 25produtos representam 60% do total das exportaçõesbrasileiras, sete países compram mais de 56% desse total,40 empresas são responsáveis por 39% desse total e asregiões sul e sudeste respondem por 83% do montanteexportado.

A partir dos dados comentados acima, fica nítidaa necessidade de reversão do quadro exportadorbrasileiro. Não há dúvidas que políticas econômicas decontrole cambial e taxas de juros são importantes paraincentivar as exportações. Contudo, não se exportam bensmanufaturados ou bens de capital se o produto não forbom. E para isso precisamos ter produtostecnologicamente competitivos, inovadores, modernos,arrojados e isso só se consegue com um investimentocontínuo em inovação, com a implementação de umacultura inovadora dentro das empresas, cultura esta quevai se solidificando com o passar dos anos. E é aí queentra a interação entre universidade e empresa, um dosvetores capazes de alavancar a inovação tecnológicaempresarial.

3. A RELAÇÃO UNIVERSIDADE-EMPRESA

A cooperação universidade pode ser definida, no

entender de Plonski (1992) apud Segatto e Sbragia (1996),“como um modelo de arranjo interinstitucional entreorganizações de natureza fundamentalmente distinta, quepodem ter finalidades diferentes e adotar formatosbastante diversos. Inclui-se nesse conceito desdeinterações tênues e pouco comprometedoras, como ooferecimento de estágios profissionalizantes, atévinculações intensas e extensas, como os grandesprogramas de pesquisa cooperativa, em que chega aocorrer repartição de créditos resultantes dacomercialização dos seus resultados”.

Embora no âmbito internacional a interação entreuniversidade e empresa não seja algo novo, foi só a partirde 1970 que esta tem ser tornado mais formal, freqüente eplanejada, conforme aponta Vedovello (1996). A autoraressalta também que tal tema vem despertando umcrescente interesse, seja em países desenvolvidos comoem desenvolvimento, “que ainda a consideram como umrecurso científico-tecnológico sub-utilizado”, o quedemonstra ainda a alta capacidade de exploração do temaem questão. É interessante notar que tal subutilizaçãotambém é verificada em países desenvolvidos, uma vezque a OCDE tem enfatizado a ausência e/ouinadequabilidade de análises qualitativas e quantitativassobre a interação entre universidades e indústria (OECD,1990 apud Vedovello, 1996).

Gráfico 2 - Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2000 - US$ bilhões FOB

-15

-10

-5

0

5

10

15

20

25

30

35

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45

50

55

6019

50

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1962

1965

1968

1971

1974

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1980

1983

1986

1989

1992

1995

1998

US$

bilh

ões

FO

B

Exportação Importação Saldo Comercial

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Uma das possíveis explicações para essa sub-utilização é que a relação universidade-empresa já seapresenta controversa no momento em que se analisamas motivações que a criaram. Segundo Segatto e Sbragia(1998), enquanto que a academia procura as empresaspara a obtenção de conhecimentos práticos sobre osproblemas existentes, incorporação de novasinformações aos processos de ensino e pesquisa,obtenção de recursos financeiros e materiais adicionaise para a divulgação da imagem da universidade, osprincipais motivadores que levam as empresas a procurara academia são o acesso aos recursos humanos altamentequalificados, resolução de problemas técnicos que gerama necessidade de pesquisa, redução de custos e riscosenvolvidos em processos de P&D, acesso a novosconhecimentos desenvolvidos no meio acadêmico eidentificação de alunos para o recrutamento futuro.Embora tais motivações não sejam totalmenteincompatíveis, elas são certamente diferentes, e sem umgerenciamento eficaz do processo tais diferenças acabampor se tornar obstáculos intransponíveis.

Nesse sentido, Segatto e Sbragia (1998) apontamalguns empecilhos na relação universidade-empresa:

· a busca do conhecimento fundamental pelauniversidade, enfocando a ciência básica e não odesenvolvimento ou comercialização;

· a extensão do tempo do processo;

· a visão de que o Estado deve ser o únicofinanciador de atividades de pesquisas universitárias afim de garantir a plena autonomia universitária e aliberdade de publicação;

· ausência de instrumentos legais queregulamentam as atividades de pesquisa;

· as filosofias administrativas das instituições;

· o grau de incerteza dos projetos;

· a carência de comunicação entre as partes;

· a instabilidade das universidades públicas;

· o excesso de burocracia das universidades.

Apesar de todas as dificuldades listadas acima,os ganhos oriundos de uma parceira eficaz entreuniversidade e empresa são certamente recompensadores.Conforme afirmam Lima, Reis e Castro (1998), asvantagens que as relações universidade-empresa trazempara as organizações envolvidas são a legitimação daatividade institucional, otimização dos recursos, reduçãodos riscos, melhoria na qualidade das ações, possibilidadede intercâmbio de informações, melhor identificação dedemandas dos clientes, maior interação entre técnicos emaior permeabilidade institucional ou maior alcancegeográfico das ações.

Já Fonseca (1998) estudou a parceria universidade-empresa sob a ótica da geração de inovação, e afirma quepara a configuração de relações duradouras entre auniversidade e o meio produtivo mostrou-se necessáriaa combinação de medidas de interação das trêscategorias: os instrumentos político-normativos, criandomedidas de amparo às atividades inovadoras em parceria;os mecanismos administrativos, criando condiçõesculturais, motivacionais, comportamentais e técnicasfavoráveis à parceria e ao desenvolvimento de projetosde inovação tecnológica; e as estruturasorganizacionais, criando uma base formal, capaz deviabilizar a execução conjunta de projetos e aconcretização das inovações.

Vale ressaltar, porém, que na América Latina arelação universidade-empresa apresenta algumascaracterísticas diferenciadas, como apontam Meneghel,Mello e Brisolla (1998). Segundo as autoras, na AméricaLatina a interação caracteriza-se pela participação dasgrandes empresas públicas, pois representam setorestecnologicamente mais avançados e com melhor dotaçãode recursos humanos. Já a cooperação com empresasmultinacionais ocorre em menor escala, uma vez que estasconcentram a pesquisa básica nos laboratórios de suasmatrizes. Além disso, a tentativa de construção, apenasnos anos 1960 de um sistema nacional de C&T, a falta deestabilidade e coerência entre as políticas implícitas eexplícitas dos governos, o modelo de industrializaçãobaseado na importação de tecnologias e a falta de tradiçãodas empresas nacionais em buscar desenvolver e atémesmo conhecer novas tecnologias acabaram atrasandoas experiências de relacionamento universidade-empresa.

4. O PONTO DE VISTA DA UNIVERSIDADE

Os principais aspectos empíricos da interaçãouniversidade-empresa foram analisados, sob o ponto devista dos pesquisadores, por Meneghel, Mello e Brisolla(1998). Segundo as autoras, uma série de barreiras acabamaflorando nessa relação. Uma delas é burocracia e arigidez encontradas na estrutura universitária, comoafirma um docente da Unicamp citado pelas autoras:

“Várias universidades criam escritórios parafalar com as empresas; cada um com umadenominação diferente. Algumas vezes são mega-estruturas: presidente, diretor, chefe do conselhonão sei do quê, representação não sei de onde,aquela coisa toda. Eu critico isso, acho umabsurdo a gente ainda estar pensando nesse tipode coisa (...) Às vezes me perguntam: como é quevocê faz contatos? Pelo telefone, eu digo. Porquesempre estão pensando em mecanismos,documentos, protocolo, carimbo”.

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Na verdade, a rigidez e a burocracia universitáriaescondem o despreparo do pesquisador advindo dasáreas eminentemente técnicas de lidar com o ambienteempresarial, de falar a mesma linguagem das empresas,como mostra o exemplo de um professor da Unicampobrigado a “esconder” sua profissão a fim de facilitar arelação, descrito por Meneghel, Mello e Brisolla (1998):

“Por que se você colocar para negociar umprofessor, doutor, pós-graduado, com váriostítulos (não tenho nada contra), a chance dedar certo é muito baixa (...). O grande problemadas universidades é justamente esse, é uma coisamuito acadêmica. As pessoas que estão fazendoisso não tem a menor experiência nessa área,pelo menos com as empresas. Eles são muito bonspesquisadores, ótimos docentes, mas nunca foramempresários, com algumas exceções. Eles nãosabem nem a linguagem, e então não há conversa(...). Inclusive, eu sempre digo que não souprofessor, que sou engenheiro. Isso temfuncionado, facilita um pouco”.

Além dos fatores acima citados, rigidez, burocraciae despreparo, há ainda o ranço, o “preconceito” doambiente universitário contra o ambiente empresarial,como mostram alguns depoimentos colhidos porMeneghel, Mello e Brisolla (1998):

“Eu ouvi, outro dia, um professor declarar, numcolóquio, que não faz sentido nenhum aUniversidade desenvolver uma técnica para aindústria faturar e lucrar com isso”.

“Vários docentes e instituições, pordesenvolverem projetos de cooperação, passarama enfrentar resistências no meio acadêmico”.

“eles (colegas que se concentram na pesquisabásica) tendem a achar que a gente é ummercador, que está se vendendo. Nos colegiadoseles mostram um certo desdém pelas nossasatividades”.

Obviamente que tais depoimentos não podem serconsiderados representativos de toda a comunidadecientífica, mas de certa forma refletem um ranço existentepor parte da universidade em relação ao ambienteempresarial, da mesma forma que existe o ranço dasempresas diante da estrutura universitária. Certamente,para o ganho de ambas as partes, tal ranço tem que sersuperado.

Contudo, Meneghel, Mello e Brisolla (1998)descrevem também algumas experiências positivas, comoum relato feito por um professor da Unicamp, no qual seu

grupo de pesquisa desenvolveu uma tese de mestradoque modelava um processo de produção. A partir destatese, o grupo verificou a possibilidade de aplicação domodelo elaborado e propôs o scale-up do projeto a umaempresa. Tendo sido implementado e atestado o seusucesso, o processo desenvolvido foi implantado naempresa, gerando demandas de assistência técnica. Osucesso dessa experiência fortaleceu o grupo e gerou apossibilidade de serem estabelecidas outras parcerias nosetor. Ou seja, a aproximação com o setor empresarialdecorreu de ações planejadas para esse fim.

5. O PONTO DE VISTA DA EMPRESA

Para a elaboração deste item do trabalho, foramentrevistados cinco altos executivos de empresas comforte atuação em P&D e que se utilizam de projetosconjuntos com universidades para o desenvolvimentoou aperfeiçoamento de produtos ou processos. Taisempresas, localizadas em diferentes estados do país, são:Bematech (PR), Máquinas Agrícolas Jacto (SP), Embraco(SC), OPP Química (RS) e Ericsson (SP).

No entender de um dos diretores entrevistados:

“...o interesse dos acadêmicos é mais por assuntosrelacionados à alta tecnologia, preferencial-mente em campos ainda não explorados. Issoporque tais assuntos acabam originando artigospassíveis de serem apresentados em congressoscientíficos, o que de certa forma se justifica pelofato de as publicações serem importantes noscritérios de avaliação e carreira dos docentes epesquisadores”.

Para a empresa, os objetivos da interação estãomais relacionados com tipos de P&D mais próximos dapesquisa aplicada e do desenvolvimento experimental.Tais tipos de P&D, em primeiro lugar, não têm umaprobabilidade muito grande de gerar artigos científicose, em segundo, quando existe tal possibilidade muitasvezes ela não é interessante para a empresa em função daconfidencialidade dos assuntos envolvidos. Há casos,porém, de se compatibilizar os interesses comuns, sendopossível a publicação de artigos, negociando-se seuconteúdo.

Outro problema muito citado são os entravesburocráticos que acabam afetando o prazo de finalizaçãodas pesquisas. Nas palavras de um dos entrevistados:

“Quando precisamos desenvolver algum projeto,quando é possível procuramos diretamente opesquisador ou o professor, sem passar pelostrâmites burocráticos da universidade. Mesmoassim, quando o projeto é em conjunto com a

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universidade, já colocamos um horizonte deprazo maior para sua finalização porque o ritmoda universidade é mais lento que o nosso”.

“....temos também que aceitar, nos projetos deparceria, a participação de mestrandos,doutorandos e estagiários, que apesar daqualidade técnica estão mais interessados emobter titulação ou formação”.

Mas há também outras experiências bastantepositivas, principalmente quando se encontra o parceirocerto. Segundo um dos depoimentos,

“A empresa abre as portas para a academia desde1983 para buscar independência tecnológica econquistar novos mercados. No início doprocesso houve muitas frustrações, até seencontrar a ‘noiva’ certa. Contudo, não se podeesperar resultados imediatos, há de se terpaciência e apostar no médio e longo prazos.Hoje o intercâmbio entre profissionais é muitogrande, sendo que a empresa mantém interaçãocom diversas universidades no Brasil e noexterior”.

“hoje já temos mais de 20 anos de experiêncianesse campo. Assim, quando vamos buscar novosparceiros, já sabemos das dificuldades e usamosnossa experiência para evitar problemas decomunicação e atrasos no início dodesenvolvimento”.

Apesar das experiências positivas, o mesmoentrevistado admite a dificuldade de a universidadetrabalhar com indicadores, os quais de certa forma refletemobjetivos bem definidos e delineados. Além disso,reconhece que o potencial humano dentro dasuniversidades é muito bom, mas os problemas estruturaispor que passam a maioria das universidades brasileirasacabam gerando um pesquisador muitas vezesdesmotivado.

Um dos entrevistados, em função da largaexperiência de interação com instituições de pesquisa euniversidades, identificou e aplica três estratégias a fimde aumentar ao máximo a sinergia entre as a empresa e ainstituição parceira:

“...a primeira é identificar áreas de interessecomum quando da definição dos projetos depesquisa, ou seja, somente estabelecer parceriasquando a universidade já tiver desenvolvidoexpertise na área e tiver interesse em continuartrabalhando com o tema. Isso de certa forma nãoé difícil identificar, pois as universidades são

obrigadas a informar suas linhas de pesquisapara instituições do tipo Capes ou CNPq. Asegunda estratégia é respeitar o ambientecaracterístico existente nas universidades, quecertamente é diferente do ambiente empresarial.Finalmente, a terceira estratégia é acordarmecanismos de acompanhamento de projetos,definindo prazos, custos e resultados esperadosde forma clara e objetiva. Isso propicia oacompanhamento das várias etapas do projeto,evitando surpresas desagradáveis”.

Outro entrevistado acredita que o advento dosFundos Setoriais vai dar um grande incremento para aparceria. Apesar da burocracia e da lentidão por parte daacademia, a parceria funciona na empresa, tendo jáinteragido com diversas universidades brasileiras:

“A parte mais complicada tem sido o início daparceria até as coisas engrenarem, passando daía funcionar. Evidentemente que acompanhamosde perto o desenvolvimento para não haveratrasos, em especial no início da parceria”.

Ao se fazer uma análise dos cinco depoimentos,aqui não explicitados extensivamente por razõesmetodológicas, podemos observar que:

· em nenhum dos depoimentos se fez menção àmá qualidade dos resultados ou restrição à competênciada universidade;

· burocracia e lentidão foram citados por 4 dos 5entrevistados;

· o modelo da oferta de projetos prontos ou emandamento ainda é freqüente.

Por outro lado, um ponto positivo que se verificanestes depoimentos é que empresas com mais tradiçãoem parcerias com a academia adquiriram experiência nagestão da interface e quando iniciam trabalhos com novosparceiros superam mais rapidamente os obstáculosinerentes à cultura acadêmica. Empresas com experiênciasmais recentes têm mais dificuldades em iniciar novasparcerias.

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

A conclusão mais explícita que se pode tirar destetrabalho empírico é a de que as parcerias academia-empresas podem se tornar um eficiente vetor de geraçãode inovação e incorporação de tecnologia aos produtose serviços, possibilitando ganhos de competitividade egerando possibilidades de acesso a novos mercados, emparticular ao mercado exterior. Pode-se ousar dizer,inclusive, que para as empresas pequenas e médias as

Revista UniVap, v.9, n.17, 200284

parcerias com a academia são o mais importante meio deacesso à tecnologia, mesmo que incremental. Reside aquigrande oportunidade para ambos os setores emconjugarem objetivos e obterem resultados concretos,desde que os obstáculos sejam eliminados.

Alguns pontos ficam como recomendação:

a) em duas entidades distintas, com culturasdiferentes, a aceitação das diferenças é muitoimportante e a habilidade de gerir esta interfaceé fundamental no sucesso da parceria;

b) a flexibilização da academia é o ponto principalno aumento e dinamização das parcerias. Mesmoas fundações e institutos criados para issoainda carecem de uma flexibilização maior;

c) a adaptação do perfil do pesquisador àscondições orgânicas das empresas é outroponto que deve merecer atenção. O lucro é arazão de ser das empresas e a sustentação desua sobrevivência, não podendo merecerqualquer prurido de aversão por parte daacademia. Neste caso, a formação de híbridospesquisador-empresas pode ser vista comoelemento catalizador;

d) a gestão da interface deve merecer por partedas empresas o máximo de habilidade e cuidado.A ótica dos resultados imediatos por parte dosempresários deve ser restringida, e a visão demédio prazo deve ser uma componente inerenteà parceria. A comunicação entre os parceirostem que ser ágil, franca e objetiva para o sucessoda parceria;

e) o modelo da demanda, ainda que induzida, deveprevalecer ao da oferta. A academia tem suamaior força na qualidade de seus recursoshumanos que devem se adaptar às necessidadesdas empresas e não na oferta de soluçõesprontas.

Sem dúvida, ainda temos muito que caminhar eevoluir na relação universidade-empresa, tanto na óticadas empresas quanto na das universidades. Mas se oBrasil realmente quiser garantir sua inserção no mercadomundial, deve inevitavelmente investir em inovação. E ainteração universidade-empresa certamente é o maisimportante dos vetores que irão alavancar tal inserção.

7. REFERÊNCIAS

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Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 85

Quebra de Simetria em Mapas Equivariantes: Evolução doCódigo Genético

Marcio Magini *

Resumo. Sistemas dinâmicos com simetria vêm se mostrando uma ferramenta matemática poderosapara explicar alguns fenômenos físicos. Atualmente, além de seu uso em Física, os contextos dequebra de simetria e de simetria dinâmicos se inserem em problemas de cunho macroscópico, como,por exemplo, em Biologia e em Engenharia. Neste presente trabalho apresentamos um sistemadinâmico, equivariante sob a ação do grupo de simetria Oh assim como os atratores resultantes daiteração desse difeomorfismo. Não obstante também tecemos uma breve mas importante explanaçãosobre a aplicação desse sistema dinâmico no modelo algébrico para a evolução do código genético.

Palavras-chave: Sistemas dinâmicos, mapas, simetria, atrator, grupo de simetria e evolução.

Abstract. Dynamic systems with symmetry are proving to be a powerful mathematical tool to explainsome physical phenomena. Presently, despite their use in Physics, symmetry breaking context anddynamic symmetry breaking are applied to macroscopic problems like in Biology and Engineering.This work presentes a dynamic system equivariant under the action of symmetry group Oh and theattractors resulting of the map iteration. The result leads us to a brief but important explanationabout the application of this dynamic model in the algebraic model for the evolution of the geneticcode.

Key words: Dynamic systems, maps, symmetry, attractors, symmetry group and evolution.

* Professor da UNIVAP.

1. INTRODUÇÃO

A idéia de que a natureza segue padrõesmatemáticos é usada desde os primórdios da humanidade,seja pelos atomistas gregos ou mesmo pelos matemáticosegípcios que usavam a Matemática como ferramenta deEngenharia (Chassot, 1994, Martins, 1994). Nestes casosa busca do entendimento da natureza se inseria em umcontexto filosófico, como uma idéia de contemplação dabeleza criada pelo “Divino”. Nos séculos 15 e 16 muito seamplificou a respeito da natureza e das possibilidades desua quantificação. Um dos mais importantes precursoresdesse fenômeno foi Isaac Newton que de forma brilhantetrouxe para sua forma matemática as observações danatureza e deu à ciência, já contextualmente bemestabelecida, importantes contribuições, que foram desdea Mecânica Clássica, passando pelo Cálculo Diferencialaté a Óptica (Isaac, 1642.)

Posteriormente a busca pelas leis matemáticasintrínsecas na natureza se intensificou e elas se tornaramparte integrante na vida de muitos pesquisadores ecuriosos na humanidade. A idéia de átomo foi melhorada,

as experiências em Física Atômica se tornaram maisprecisas e sofisticadas e uma nova linha de pensamentosurgiu, a Mecânica Quântica. Tal área teve contribuiçõesimportantes de diversos físicos, entre eles, Niels Bhor,Rutheford e mesmo Albert Einstein (Eisberg, 1994). Apóssua criação, os conceitos usados na formulação daMecânica Quântica e a sua matemática são largamentediscutidos em congressos e reuniões científicas. Váriosartigos são publicados com explanações sobre átomos,núcleos e física de altas energias, muitos deles tiveramgrande impacto nas nossas vidas.

Todas as trajetórias do desenvolvimento daciência e da quantização da natureza têm como base umaidéia, a simetria como objeto presente em qualquerobservação. A simetria sempre desempenhou um papelfundamental na vida do homem sob vários aspectos. Oaspecto estético esteve presente nos primórdios dahumanidade como símbolo da perfeição de “Deus”.Posteriormente foi observado que a simetria era umconceito não puramente estético mas de grande valiapara a ciência (Weyl, 1997). Verificou-se que por trás dasleis de conservação na natureza havia, de uma formaconceitual e não puramente geométrica, definições desimetria. Tais definições são usadas hoje em larga escalapara explicar desde as energias de átomos (Levine, 1991)

Revista UniVap, v.9, n.17, 200286

até o modo de caminhar de animais (Golubitsky, 1998,Golubitsky, 1999).

As técnicas de simetria para a solução deproblemas se resumem a algumas aproximações simples:

a. Encontrar equações que possuam propriedadesde simetria semelhantes às propriedadesobservadas no sistema em questão.

b. Analisar as relações entre os parâmetrosprovenientes da solução desse sistema deequações com a simetria do problema.

c. Estudar a evolução do sistema de forma apreservar as propriedades de simetria jáobservadas.

d. Extrair dessas soluções alguma informação sobreo modelo estudado.

Existe ainda uma forma de estudar um sistema semque seja necessário o trabalho com equações diferenciais.Este estudo é direcionado aos mapas ou difeomorfismos.Esses mapas são funções que possuem as propriedadesde simetria do sistema e são construídos com base nestas.A análise matemática desses mapas resulta na obtençãode informações importantes sobre o sistema a serestudado. A forma de construção desses mapas já é bemconhecida e muitos resultados já foram obtidos a esserespeito (Golubitsky, 1985, Golubitsky, 1988, Atson, 1998,Chossat, 1988). Aqui construímos um sistema que possuia característica de ser equivariante sob ação do grupode simetria Oh,em outras palavras, se tomarmos γ ∈ Γ ,onde Γ = Oh e g é um elemento de simetria do grupo, aação do elemento do grupo sobre a coordenada e sobreo mapa resultam na mesma operação matemática, ouseja,

(1)

onde f(r) é nosso mapa e γ é um elemento de simetria dogrupo.

No caso do grupo Oh podemos ter γ como umarotação de 90º em torno de um dos eixos x, y ou z noespaço. O sistema de coordenadas utilizadas aqui é osistema euclidiano simples em três dimensões (Boldrini,1984). O estudo desse sistema resultou em um processodinâmico de quebra de simetria, ou seja, uma simetria édiminuída de forma espontânea através da propagaçãodesse sistema no tempo. A análise do processo de quebrade simetria é feita através da observação dos atratoresproduzidos pela iteração desse sistema (Barany, 1993).Esses atratores, figuras geométricas, reproduzem de formageral os aspectos de simetria encontrados no sistema

)()( rfrf γγ =

que se quer estudar.

Visando manter a conexão com a realidademostramos aqui de forma resumida uma aplicação dasidéias de simetria em um sistema biológico, o códigogenético. Não obstante mostraremos como esse mapa serelaciona com o modelo algébrico para o código genético(Hornos, 1993, Hornos, 1999) e algumas de suasconseqüências para este modelo.

2. CONSTRUÇÃO DO SISTEMA DINÂMICO

Aqui queremos apresentar o nosso sistemadinâmico detalhando a sua construção e mostrandoalguns dos resultados mais importantes provenientes daiteração de mapa.

O passo inicial é escrever o grupo de simetria Ohna sua forma matricial. Como este admite umarepresentação de dimensão 3 (Hammermesh, 1989, Barut,1986) podemos associar a esta representação matrizes 3 ́3 em um total de 48 matrizes. O número de matrizes éequivalente ao número de elementos do grupo de simetria.As possíveis operações de simetria do grupo Oh podemser vistas se estudarmos a Figura 1. Esta figura representaa simetria octaedral, ou seja, simetria do grupo Oh.

Os índices podem ser rearranjados de maneira quea Figura 1 pareça não se mover, essas operações são asoperações de invariância do grupo e o caracterizam. Comoum exemplo façamos o seguinte, em uma seqüência detrocas tomemos como ponto inicial o índice 1 e levamosesse ao índice 2, essa operação é representada de duasmaneiras

(2)21→

Fig. 1 - Grupo de simetria octaedral.

Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 87

ou ainda como uma permutação,

(3)

mas tal operação implica que o índice 3 → 4 e écaracterizada como uma rotação de 90º em torno do eixoque liga os pontos 5 e 6. Essa operação de simetria podeser representada por uma matriz

. (4)

Essa matriz representa uma rotação em torno do eixo z de90º. O grupo de simetria Oh pode ser produzido utilizandoapenas 3 matrizes na forma M1, essas matrizes sãochamadas de geradores do grupo. No nosso caso temosa matriz M1 como um dos geradores e os outros doisgeradores serão as matrizes

, (5)

e

.(6)

Essas três matrizes multiplicadas entre si formam umconjunto de 48 matrizes, incluindo-as, conjunto essechamado de grupo, mais ainda, grupo de simetria poisdeixa invariante a Figura 1 quando essas agem sobre osíndices dessa mesma figura. Temos os dois pontos departida para construirmos nosso sistema dinâmico (mapa).Supondo que um mapa ou função pode ser escrito, deforma mais geral, como

(7)

onde Aαααααβη βη βη βη βη é uma constante a se determinar através dasrelações entre os coeficientes α, β e η. Usando o princípiode equivariância e tomando a primeira ação a matrizidentidade, que faz parte do grupo de simetria Oh, teremoso primeiro resultado importante

(8)

ou ainda

)12(

=

100001010

1M

−−

−=

100010001

2M

=

010001100

3M

∑= ηβααβη zyxArf )(

,)(

=

∑∑∑

ηβααβη

ηβααβη

ηβααβη

zyxAzyxAzyxA

rf

(9)

continuando a ação das outras matrizes obtemos umaforma geral para o mapa equivariante sob a ação do grupo.Para obtenção do mapa mais geral devemos definir asfunções invariantes sob a ação do grupo. Dado umelemento γ ∈ Γ, onde Γ = Oh e f(r): ℜ 3→ℜ 3. Dizemosque f(r) é invariante sob a ação dos elementos de Γ se

(10)

As funções invariantes são polinômios decoeficientes pares em x, y e z. Nosso mapa pode ser escritocomo uma função desses polinômios e podemos atravésde um algebrismo complexo determinar os coeficientesque influenciarão na forma da dinâmica. Como resultadoobtemos o seguinte mapeamento

(11)

onde P, Q e R são os polinômios invariantes dados por

e δ, σ, ϕ são parâmetros fixos e λ é o parâmetro quedetermina a simetria do mapa quando iterado.

3. ATRATORES COM SIMETRIA

,)(

= ∑

ηβα

ηβα

ηβα

αβη

zyxzyxzyx

Arf

).()()( rfrfrf == γγ

+++++++++

=)],,(([)],,(([)],,(([

)(RQPgQPzRQPgQPyRQPgQPx

rfϕλσδϕλσδϕλσδ

;;

;

222

222222

222

zyxRzxyzyxQ

zyxP

=

++=++=

Fig. 2 - Resultado da iteração do mapa paraλλλλλ = -1.440, simetria octaedral preservada.

Revista UniVap, v.9, n.17, 200288

Fixando-se os valores δ = 1, σ = -0.7, ϕ = -0.8temos uma dinâmica bem comportada, ou seja, umadinâmica que quando iterada se mantém estável e o valordas coordenadas sempre assumem valores reais. O pontode partida é dado com λ = -1.440. Neste valor o atratorproduzido, descrito pela Figura 2 preserva a simetria dogrupo Oh, mais ainda, a dinâmica mostra que essa simetriapode assumir uma forma diferente da forma de umoctaedro, mas possui os mesmos elementos de simetriaque o grupo octaedral. Isso pode ser verificado atuandoos elementos no grupo nos pontos resultantes da iteraçãodo difeormorfismo.

Com a variação contínua de λ , temos oaparecimento de subsimetrias, ou seja, simetrias com umamenor quantidade de elementos. As subsimetrias ousubgrupos de simetria aparecem para λ = -1.400, λ = -1.354, λ = -1.332 e são ilustradas na Figura 3.

É possível observar nessa figura três simetrias: asimetria D4, a simetria do grupo de Klein e a simetria Z2.Essas simetrias contêm cada uma 8, 4 e 2 elementos desimetria cada um, respectivamente.

Esses atratores, além de representarem uma quebradinâmica de simetria, nos dão uma idéia de como umsistema que contém uma simetria octaedral como simetriaresidual é reduzido em subsimetrias via um processodinâmico de quebra de simetria. Esse processo resultaem uma cadeia de quebra de simetria dada por:

(12)

Essa cadeia reproduz várias propostas de modelosmatemáticos que contém de forma intrínseca em suanatureza alguma simetria residual. O modelo algébricopara a evolução do código genético (Hornos, 1993) é umexemplo de um modelo natural que possui uma simetriacomo simetria residual. O resultado da análise dessassimetrias mostrou que ela é determinante para um melhorentendimento do ponto de vista matemático de comopoderia ter se dado o processo de evolução dos códonsresponsáveis pela formação do código genético(Magini,2002).

Outro ponto importante foi a constatação de quea simetria de Klein desempenha um papel fundamentalna determinação da estabilidade de um código genético.Foi verificado que quando o código era dito estável a

24 ZKDOh ⊃⊃⊃

simetria de Klein os quais já eram considerados pelaliteratura especializada como candidatos a códigosestáveis (Osawa, 1995).

4. O MODELO EVOLUTIVO CÓDIGO GENÉTICO

Uma importante aplicação dos resultados obtidosé no modelo algébrico para a evolução do código genético(Hornos, 1993, Hornos, 1999). Neste modelo parte-se dopressuposto de que a evolução dos códons se deu emsaltos. Baseado em trabalhos anteriores (Osawa, 1995,Jukes, 1973) foi possível estabelecer uma conexão entrequebra de simetria e evolução.

A hipótese principal deste modelo é que oscódons, ou seja, uma seqüência de três bases Adenina,Guanina, Citosina e Uracil que são responsáveis pelasinformações sobre a produção de proteínas nas células,evoluíram a partir de um único aminoácido e que em saltosforam sendo produzidos os aminoácidos posteriores atéos 20 aminoácidos e o sinal de terminação queconhecemos hoje. Mas a possibilidade de combinaçõesdessas bases gera um total de 64 códons. Esse fato dá aocódigo genético uma alta degenerescência, mais de umcódon é responsável pela informação da síntese de um

Fig. 3 - Representação dos subgrupos de simetria via atratores. Da esquerda para a direita simetria D4, K e Z2.

Revista UniVap, v.9, n.17, 2002 89

único aminoácido. Além do mais, a distribuição doscódons não é uniforme, não temos um igual número decódons para os 20 aminoácidos e o sinal de terminação,na verdade esta distribuição segue um possesso dequebra de simetria.

A quebra de simetria a princípio é reproduzida porconjuntos contínuos ou grupos contínuos. Essa quebrareproduz uma seqüência temporal de aparecimento doscódons. Essa seqüência é

na primeira etapa consideramos um único códon, queposteriormente sofre complexificação e produzindo emsaltos 6, 14, 16 e 21 sendo esta última etapa representandoos dias atuais. Em cada uma dessas etapas é definidauma simetria como correspondente no processoevolutivo, são elas

(13)

onde (Z2)x representa uma reflexão no eixo x. Notem queas formas de quebra de simetria dadas pelas equações(12) e (13) possuem como grupos análogos em suaevolução.

As possibilidades de subgrupos observados apartir do grupo Oh e suas possíveis quebras são em umnúmero razoável. Mas a quebra de simetria proposta nomodelo algébrico é única já que o modelo se baseia emhipóteses provenientes da Biologia e bem estabelecidasno mundo científico. Já a quebra de simetria observadana evolução do mapa tem um caráter, aparentemente,meramente matemático e único, em outras palavras, adinâmica que tem como simetria inicial à simetria do grupooctaedral evolui em um processo de quebra de simetriade forma única dada pela equação (12). Aparentementeas ações estão desconexas, mas se observarmos ocomportamento, ou o que chamamos de “pattern” dosistema, vemos uma clara conexão entre esses. Esseresultado veio a ratificar o modelo algébrico para o códigogenético, além de explicar alguns fenômenos dentro dessetornando-se complementar em alguns aspectos e decaráter retificador em outros.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sistemas dinâmicos vêm sendo usados paraexplicar vários sistemas na natureza. A força deste tipode aproximação se mostra cada vez mais rica, no que dizrespeito a captar dentro de um sistema complexo a

21161461 ⇒⇒⇒⇒

,

)()()()(

)()(

2222

2224

KZZZZ

ZZZDO

zyxz

yxh

××⊃×

×⊃×⊃

simplicidade dos números. Os números por sua vezpossuem padrões que vão da simetria geométrica aestados estatísticos.

Mapas com simetria são uma pequena parte daspossíveis contribuições desse estudo. As possibilidadesde aplicação são amplas com uma enorme possibilidadede exploração. Aqui apresentamos sucintamente umsistema dinâmico em três dimensões e suas propriedadesde simetria e mostramos uma aplicação direta dessesistema que resultou, em grande parte, na ratificação deum modelo algébrico proposto para explicar a evoluçãodo código genético.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2. Língua. Os artigos deverão ser escritos preferen-cialmente em Português, aceitando-se também textos emInglês e Espanhol. No caso do uso das línguas Portu-guesa e Espanhola, deverá ser anexado um resumo emPortuguês (ou Espanhol) e em Inglês (Abstract).

3. Os trabalhos devem obedecer à seguinte ordem:- Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordocom o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aquiapresentados.- Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s)do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas, com aste-risco, colocado logo após o nome completo do autor ouautores, remetendo a uma nota de rodapé relativa à(s)informação(ões) referentes às instituições a quepertence(m) e às qualificações, títulos, cargos ou outros

atributos.- Resumo. Com no máximo 500 palavras, o resumo deveapresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, comofoi feito (metodologia), apresentando os resultados, con-clusões ou reflexões sobre o tema, de modo que o leitorpossa avaliar o conteúdo do texto.- Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa. Casoo trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deverá sertraduzido para o Português (Resumo).- Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas a cin-co palavras-chave sobre o tema.- Texto. Deve ser distribuído de acordo com as caracte-rísticas próprias de cada trabalho. Um trabalho pode, porexemplo, ter uma Introdução, um Desenvolvimento, Con-siderações Finais e Referências Bibliográficas. De ummodo geral, contém: a) Introdução, b) Material e Méto-dos, c) Apresentação e Análise dos Dados d) Resulta-dos, e) Discussão f) Conclusões, Recomendações ouConsiderações Finais, g) Agradecimentos (quando ne-cessário), h) Referências Bibliográficas.- Citações dentro do texto. As citações textuais longas(mais de três linhas) devem constituir um parágrafo inde-pendente. As menções a autores no decorrer do textodevem subordinar-se ao esquema sobrenome do autor,data (Novo, 1989, p.20). Se as idéias dos autores foremapresentadas de modo interpretado e resumido, portan-to não sendo “textuais”, devem trazer apenas o sobre-nome do autor e a data. Ex.: Segundo Demo (1991),nenhum texto diz tudo. As linhas não dizem tudo. Asentrelinhas muitas vezes dizem mais. Caso o nome doautor já estiver no texto, indica-se apenas a data entreparênteses. Ex.: Segundo dados do SEBRAE (1993), ogrupo de áreas destinadas às lavouras temporárias fica-va em torno de 7% do total das terras. Se a citação fortextual, deve-se adicionar o número da página. Ex.: Se-gundo Jaime Lerner (1992, p.20), “A cidadeambientalmente correta evita a industrialização forçada,rejeita as indústrias poluentes...”.- Refências Bibliográficas. Elas devem ser apresenta-das no final do trabalho, em ordem alfabética de sobre-nome do(s) autor(es), como nos seguintes exemplos:a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local depublicação: Editora, data. Exemplo:PÉCORA, A. Problemas de redação. 4.ed. São Paulo:Martins Fontes, 1992.b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título do ca-pítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do livro.Local de publicação: Editora, data. Página inicial-final.Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar a geografia... liquidar aidéia nacional? In: VESENTIN, José William (org.).Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus,1989. p.31-82.

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c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Título doartigo. Título do periódico, local de publicação, volumedo periódico, número do fascículo, página inicial-páginafinal, mês(es). Ano. Exemplo: ALMEIDA JÚNIOR, M. Aeconomia brasileira. Revista Brasileira de Economia, SãoPaulo, v. 11, n.1, p. 26-28, jan./fev. 1995.d) Dissertações e Teses: SOBRENOME, Nome. Títuloda dissertação (ou tese). Local. Número de páginas (Ca-tegoria, grau e área de concentração). Instituição em quefoi defendida. data. Exemplo:CECCATO, V. Proposta metodológica para avaliaçãoda qualidade de vida urbana a partir de dadosconvencionais de sensoriamento remoto, Sistema deInformações Geográficas e banco de dadosgeorrelacional. São José dos Campos, 140 p. (INPE-5457-TDI/499). Dissertação (Mestrado em SensoriamentoRemoto) - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais,1992.

e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNTpara Referências Bibliográficas.

4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fo-tos) e tabelas devem apresentar boa qualidade e seremacompanhados de legendas breves e claras. Indicar, noverso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figu-ra, o nome do autor e o título abreviado do trabalho. Asfiguras devem ser numeradas seqüencialmente com nú-meros arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendo ficarna parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráfico decontrole de custo. No caso das tabelas, elas tambémdevem ser numeradas seqüencialmente, com númerosarábicos, e colocadas na parte superior da tabela. Exem-plo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figuras etabelas devem ser impressas juntamente com o original equando geradas no computador deverão estar gravadasno mesmo arquivo do texto original. No caso de fotogra-fias, desenho artístico, mapas etc., estes devem ser deboa qualidade e em preto e branco.

5. O encaminhamento do original para publicaçãodeve ser feito acompanhado do disquete e com a indica-ção do software e versão usada.

6. O Corpo Editorial avaliará sobre a conveniênciaou não da publicação do trabalho enviado, bem comopoderá indicar correções ou sugerir modificações. A cadaedição, o Corpo Editorial selecionará, dentre os traba-lhos considerados favoráveis para publicação, aquelesque serão publicados imediatamente. Os nãoselecionados serão novamente apreciados na ocasiãodas edições seguintes.

7. Os conteúdos e os pontos de vista expressos nostextos são de responsabilidade de seus autores e nãoapresentam necessariamente as posições do Corpo Edi-torial da Revista UniVap.

8. Originais. A Revista não devolverá os originaisdos trabalhos e remeterá, gratuitamente, a seus autores,cinco exemplares do número em que forem publicados.

9. O Corpo Editorial se reserva o direito de introdu-zir alterações nos originais, com o objetivo de manter ahomogeneidade e a qualidade da publicação, respeitan-do, porém, o estilo e a opinião dos autores.

10. Endereços. Deverá ser enviado o endereço com-pleto de um dos autores para correspondência. Os tra-balhos deverão ser enviados para:

UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA - UNIVAPPRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO

UNIVERSIDADE/SOCIEDADE

Conselho Editorial da Revista UniVapAv. Shishima Hifumi, 2.911 - Bairro UrbanovaCEP 12244-000 - São José dos Campos - SPTelefone: (0 12) 3947-1036Fax: (0 12) 3947-1211E-mail: [email protected]

Gráfico 2 - Balança Comercial Brasileira - 1950 a 2000 - US$ bilhões FOB

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US$

bilh

ões

FO

B

Exportação Importação Saldo Comercial

Gráfico 1 - Participação (%) do Brasil nas Exportações e Importações Mundiais - 1950 - 2000

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

Parti

cipa

ção

%

Exportação Importação

Fig. 1 - Esquema de Interação do Parque Tecnológico.

Fig. 3 - Representação dos subgrupos de simetria via atratores. Da esquerda para a direita simetria D4, K e Z2.

Fig. 2 - Resultado da iteração do mapa paraλλλλλ = -1.440, simetria octaedral preservada.

Fig. 1 - Grupo de simetria octaedral.

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