38 | WIDE | 86 > CRIAÇÃO

sentar-se em um restaurante,

pedir o menu ao garçom e

receber um iPad para poder

consultar as informações e

os preços das refeições. sim,

estamos na era da tecnolo-

gia. Para saber como isso fun-

ciona, a Wide conversou com

Ronaldo gazel, diretor da gaz

games, agência responsável

pelo desenvolvimento do car-

dápio digital da hamburgueria

Jack’s big burger, localizada

em belo Horizonte. Confira!

jaCk’S big burger

HaMburgueria gourMeTwww.jacksbigburger.comRua Paraguai, 20bairro sionbelo Horizonte, mg(31) 2552-4002

86 > CRIAÇÃO | WIDE | 39

CRIAÇÃO

WIDE Um dos trabalhos mais inovadores desenvolvidos pela Gaz

Games foi a criação do cardápio da Jack’s Big Burger para o iPad. Em

relação a esse projeto, você poderia falar das necessidades e expec-

tativas do cliente?

ROnALDO A hamburgueria em questão possui muitos diferen-ciais, características exclusivas, como a decoração, o atendi-mento para lá de personalizado e, principalmente, o menu, com produtos deliciosos e de valor artístico agregado — sob a chan-cela do termo “hamburger gourmet”. Os sócios, então, pensaram em uma ação que pudesse, ao mesmo tempo, refletir o caráter “cool” da empresa e servir como uma ferramenta. Surgiu, assim, a ideia de se criar um cardápio virtual. O que eu fizemos foi pegar o briefing e criar um planejamento completo, dividido em três eta-pas, constituindo o cardápio virtual apenas na fase inicial.

WIDE Por ser algo inusitado nos bares e restaurantes aqui no Brasil,

como você avalia até o momento a aceitação dos clientes a essa

forma inovadora de ler um cardápio?

ROnALDO O primeiro que vi desse gênero foi o cardápio da Chopperia Albano’s, em Belo Horizonte, produzido pela Sense8. Depois de conhecer pessoalmente o projeto, fiquei bastante entu-siasmado com a ideia — por causa da simplicidade do modelo “webapp” e porque via ali uma possibilidade de transformar situações, como o pedido ou enquanto se aguarda à mesa, em momentos de entretenimento. Por exemplo, a possibilidade de se criarem “playgrounds” virtuais nos quais o usuário, antes de receber seu pedido, fica imerso em games customizados, inclu-sive usando multiplayer para aumentar ainda mais a diversão.

Não é preciso ser um expert para compreender a conexão semântica instantânea das interfaces de toque, com o nosso gestual, com o nosso corpo. A maior prova disso é a espontanei-dade com que as crianças de quatro, cinco anos interagem com elas. Por isso mesmo, já sabia de antemão que a aceitação do cardápio estava mais vinculada ao desafio de atribuirmos algo além de um simples cardápio, até mesmo porque o de papel é muito mais leve e jeitoso. Então, o risco era termos um “elefante

branco”, mas felizmente tem sido um grande sucesso.

WIDE Quais tipos de testes foram realizados nesse projeto antes de

ser colocado definitivamente em prática, tendo em vista que os fre-

quentadores do restaurante podem não ter qualquer familiaridade

com o funcionamento de um iPad?

ROnALDO Foi uma aposta — como acontece com as primeiras experiências, com os pioneiros. Claro que um cardápio virtual não é exatamente uma aposta arriscada, afinal ele é, basicamente, o mesmo cardápio tradicional, impresso. As diferenças estão nos detalhes. Durante o processo de criação, tínhamos em vista que não estávamos fazendo um menu “clicável”, mas propondo recursos especiais de interação que só as interfaces de toque per-mitem, permeadas por uma arquitetura de informação objetiva e, o mais importante, tudo feito com o mínimo de ruído cognitivo, considerando que o usuário está focado no seu desejo de comer.

Outro detalhe importante: a interface foi devidamente planejada para as futuras expansões, não sendo necessário qualquer tipo de reengenharia para atualizar o sistema, o que significa menos gastos, maior unidade de campanha e apro-veitamento dos recursos.

WIDE Em termos de combinação cromática, quais aspectos determi-

naram a paleta de cores e texturas utilizadas na criação desse projeto

e quais fatores influenciaram na escolha da tipografia a ser utilizada?

ROnALDO O design do cardápio impresso já nos dava algumas dicas do caminho a seguir, como elementos gráficos e definições da paleta primária. A partir desse cenário, estudamos profun-damente as combinações tipográficas e cromáticas possíveis e, assim, chegamos ao resultado final, buscando sempre uma esté-tica que tivesse identificação máxima com a da própria franquia Jack’s: deslocamento temporal para um universo mágico, para-lelo, que refletisse aquele feeling retrô e, ao mesmo tempo, ofere-cesse uma interface atual, atraente.

Juntamos o melhor do design gráfico impresso com recur-sos pró-usabilidade, o que conferiu uma personalidade única à

Cardápio digital da hamburgueria Jack’s big burger

40 | WIDE | 86 > CRIAÇÃO

CRIAÇÃO

interface: breadcrumbs, uso de uma terceira família exclusiva para informações relevantes e atualizáveis; espaçamentos gene-rosos e uma paleta de cores aplicada com toda parcimônia, real-çando apenas os itens necessários — afinal, um cardápio precisa ser extremamente prático, rápido e fácil de usar.

Uma curiosidade é que cada um dos produtos do Jack’s Big Burger possui uma representação na forma de um personagem. Utilizamos, assim, os próprios rostos dos personagens — como se fossem quadros de celebridades, emoldurados, para repre-sentá-los. Na segunda etapa, o cliente/usuário poderá clicar na imagem e assistir a um vídeo com o chef falando sobre sua criação, de maneira a aumentar ainda mais a imersão, enrique-cendo a experiência.

WIDE Foi iniciada recentemente por vocês a implementação da

segunda etapa do projeto: a integração do iPad com o caixa e com a

cozinha do estabelecimento. Poderia nos contar como essa novidade

funcionará?

ROnALDO Tínhamos consciência, desde o início, de que um cardápio virtual, pura e simplesmente — tirando o lado “cool” de rodar em um iPad — poderia ser facilmente substituído por um cardápio impresso, e que o projeto todo só se justificaria como uma solução real de gestão e de negócios se houvesse um plano maior, se os objetivos fossem mais ousados do que simplesmente em cardápio em forma de tablet.

Criamos, assim, três etapas: a primeira foi a implementação do cardápio, simplesmente; a segunda envolve um engenhoso e divertido ambiente interativo feito sob medida para a cozinha, por meio de uma touchscreen posicionada estrategicamente próxima aos fornos, com a qual o chef e seus assistentes têm controle total de todos os pedidos, distribuindo os sanduíches e configurando seus pontos de preparos.

Essa implementação na cozinha, que está em andamento, trará reflexos na interface do usuário, nos iPads, oferecendo uma “timeline” de cada prato e, dessa forma, podemos acompanhar cada etapa do nosso pedido enquanto ele é preparado. Clicando no ícone do sanduíche, dentro das etapas, assistimos a um vídeo com o chef Tércio Maia mostrando todos os detalhes de produ-ção e apresentando a cozinha aos clientes.

WIDE O cardápio digital também possibilita a integração com as

redes sociais. Em sua opinião, qual a importância dessa interatividade

no contexto do projeto? E como funciona? São os próprios clientes

que podem divulgar o cardápio do Jack’s Big Burger em seus perfis?

ROnALDO A implementação da terceira etapa faz uso intensivo das redes sociais para gerar tempo de engajamento, de expo-sição e interação com o universo da marca. Para isso, criamos uma série de experiências interativas, como o clube de rela-cionamento, no qual o usuário participa de promoções exclu-sivas, acumulando pontuação e podendo trocá-la a qualquer momento por bônus e itens diversos. Temos também o Game Hall, uma espécie de árcade em que os usuários podem se diver-tir com jogos de ação criados exclusivamente com a temática “Steampunk” + “Diners”, que formam a estética do Jack’s. Para jogar todos esses games é preciso estar logado pelo Facebook,

e um sistema de Achievements/Badges faz com que o usuário avise a seus seguidores quais foram seus últimos progressos no relacionamento com o Jack’s — isso pode se refletir tanto em vitó-rias nos games quanto em vantagens que ele recebeu.

Um desdobramento interessante do Game Hall é a possibili-dade de interação entre os clientes por meio do modo multiplayer em jogos colaborativos criados especialmente para serem jogados entre as mesas — cada uma com seu respectivo cardápio virtual. Assim, é possível criar desafios interessantes que ofereçam brin-des e bônus diversos para as mesas vencedoras dos desafios.

WIDE O cardápio está disponível para download na AppStore?

ROnALDO O cardápio virtual do Jack’s Big Burger foi desenvol-vido no formato “webapp”, ou seja, não é uma aplicação tradicio-nal compilada em Objective-C e, consequentemente, não precisa passar pela aprovação da Apple Store e nem exige qualquer tipo de instalação especial. Além disso, funciona também em apare-lhos Android sem qualquer restrição.

A atualização das informações é realizada por um CMS, o Food Club CMS, desenvolvido pela Gaz Games em parceria com o Studio Lazuli, incluindo relatórios específicos e estatísticas de acesso que permitem uma melhor percepção do público que uti-liza o cardápio virtual, para que possamos criar ações e oferecer experiências mais relevantes. Outra vantagem é a possibilidade de atualizar o cardápio a distância e em tempo real, o que, geral-mente, não é uma tarefa muito simples em se tratando de um cardápio tradicional.

Atualmente, o cardápio é hospedado em um servidor interno, mas a partir da terceira etapa do planejamento ele estará dispo-nível no próprio website do Jack’s Big Burger, permitindo que as experiências de relacionamento e entretenimento se esten-dam também aos momentos em que o usuário estiver fora do ambiente do Jack’s.

Cardápio digital da hamburgueria Jack’s big burger