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# 187 ano LIX Setembro 2011 ISSN 0101-6040 revista Uma publicação da Cia. de Saneamento Básico do Estado de São Paulo //distribuição gratuita D A E Comunidades Isoladas ENSAIO Resolução CONAMA nº430/2011 sobre emissão de efluentes. O quê mudou? exigem um saneamento sob medida exigem um saneamento sob medida Carta 9912263842-DR/SPM SABESP

Revista_DAE_Edicao_187 ARTIGO TCC e CONAMA 430!!!!!!!!!!!

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Revista_DAE_Edicao_187 ARTIGO TCC e CONAMA 430!!!!!!!!!!!

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    setembro/2011

    #187ano LIX

    Setembro 2011

    ISSN 0101-6040

    revistaUma publicao da Cia.de Saneamento Bsico doEstado de So Paulo

    //distribuio gratuita

    DAE

    Comunidades Isoladas

    ENSAIO

    Resoluo CONAMA n430/2011

    sobre emisso de efluentes. O qu mudou?

    exigem um saneamento sob medidaexigem um saneamento sob medida

    Carta9912263842-DR/SPM

    SABESP

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    nesta edio

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    Notas Tcnicas

    Notcias

    Calendrio de Eventos

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    COMUNIDADES

    ISOLADAS

    EXIGEM UM

    SANEAMENTO

    SOB MEDIDA

    Reportagem de Capa

    Artigos Tcnicos

    EnsaioResoluo CONAMA n 430 de 13 de maio de 2011 sobre emisso de efluentes.O qu mudou?

    Remoo de 17-Etinilestradiol de guas de Abastecimento, utilizando diferentes Tecnologias de Tratamento Fsico-qumico17- Ethinylestradiol Removal from SupplyingWater, using different Physicist-chemistry Treatment Technologies

    Desempenho do sistema filtrao em margem seguida de filtrao lenta retrolavvel em Ituporanga Santa Catarina.Performance of the system bankfiltration followed of bankwashed slow sand filtration in Ituporanga Santa Catarina.

    Pr-tratamento de lodo de tanques spticos mediante flotao, antes do lanamentos em ETEs Pre-treatment of sludge from septic tanks by flotation, before to release in WWTP

    Estudo hidrodinmico de reatores utilizando-se a anlise em fluxoHydrodynamic studying of reactors using The flow analysis

    55Produo de mudas de calophyllum brasiliense cambess com substratos comercial e base de lodo de esgoto compostadoSeedlings production of calophyllum brasiliense cambess with commercial and composted based sewage sludge substrates

    Comparao entre os mtodos de medio de oxignio dissolvido por sensor eletroqumico (membrana)e ptico, quanto ao seu desempenho em sistemas de tratamento de esgotosA comparison between electrochemical and luminescence oxygen dissolved sensors, and their performance in wastewater treatment

    Depois dos PCs, Bill Gates se prope a reinventar os WCs

    O aqufero Guarani, segundo maior do mundo, poludo por indstrias, lixes e canaviais.

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    editorial

    Misso A Revista DAE tem por objetivo a publicao de artigos tcnicos e cientficos originais nas reas de saneamento e do meio ambiente. Iniciou-se com o ttulo Boletim da Repartio de guas e Esgotos (RAE) em 1936, prosseguindo assim at 1952, com interrupes em 1944 e 1945. No circulou em 1953. Passou a deno-minar-se Boletim do Departamento de guas e Esgotos (DAE) em 1954. Passou a denominar-se Revista do Departamento de guas e Esgotos de 1955 a 1959. De 1959 a 1971, passou a denomi-nar-se Revista D.A.E. e, a partir de 1972, Revista DAE. Interrupo de 1993 a 2007. Publicao Diretoria de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente - T

    Superintendncia de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovao Tecnolgica - TX

    Rua Costa Carvalho, 300 - Pinheiros 05429 000 - So Paulo - SP - Brasil Tel (11) 3388 9422 / Fax (11) 3814 5716

    Editor Chefe Engenheiro Amrico de Oliveira Sampaio Assistente Editorial Engenheira Iara Regina Soares Chao Conselho Editorial Prof. Pedro Alm Sobrinho (USP), Prof. Cleverson Vitrio Andreoli (Cia. de Saneamento do Paran Sanepar), Prof. Jos Roberto Campos (USP), Prof. Dib Gebara (Unesp), Prof. Eduardo Pacheco Jordo (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Prof. Ra-fael Kospchitz Xavier Bastos (Universidade Federal de Viosa), Prof. Wanderley S. Paganini (USP e representante da Sabesp), Prof Emilia Wanda Rutkowiski (Unicamp), Prof. Marcos Tadeu (USP e representante do Instituto de Pes-quisas Tecnolgicas - IPT). Coordenao do Eng Amrico de Oliveira Sampaio (Sabesp). Jornalista Responsvel Srgio Lapastina - Mtb: 18276 Capa Foto de Atendimento de Comunidade Isolada - Taquariva / Alto Paranapanema - SP.

    Foto Ildio Silva Teixeira - rea decomunicao de Itapetininga / Sabesp

    Impresso Grfica Sonora Tiragem 4.500 exemplares

    [email protected]

    A to esperada universalizao dos servios de saneamento b-sico em nosso pas passa, necessariamente, pelo equaciona-mento adequado da atual situao das comunidades isoladas. Entende-se como comunidades isoladas, os ncleos habitacionais cuja interligao aos sistemas integrados de abastecimento de gua e esgotamento sanitrio da zona urbana, seja tcnica ou economica-mente invivel a curto/mdio prazo. Estas localidades apresentam especificidades que as diferenciam consideravelmente dos ncleos urbanos de maior densidade habitacional, requerendo, portanto, uma abordagem bastante diferenciada para a implantao e operao dos seus sistemas de saneamento bsico.

    A experincia acumulada pelas diversas instituies nacionais neste campo, demonstra que o processo de seleo das solues sanit-rias para estas comunidades deve ser realizado com a participao efetiva da populao atendida, levando em considerao aspectos relacionados ao seu estgio de organizao, cultura e capacidade de apropriao tecnolgica. Importante tambm ressaltar o carter multiinstitucional dos trabalhos envolvidos nestas aes, muitas ve-zes deixados em segundo plano nos programas tradicionais de im-plantao e operao de sistemas integrados.

    Destaca-se, por fim, a necessidade imperiosa de que os servios pres-tados, sejam devidamente remunerados, de modo a garantir a susten-tabilidade econmica do programa.

    Chamamos a ateno igualmente para a coluna Ensaio, que apresen-ta opinies de dois renomados especialistas sobre a recente reviso da Resoluo CONAMA 357. A nova Resoluo 430/2011 apresenta alte-raes significativas em relao ao texto anterior, que ainda geram po-lmicas e, portanto, necessitam ser melhor discutidos pela comunidade tcnica. A Revista DAE presta, nesta edio, sua contribuio para este importante debate, entendendo que s assim poderemos efetivamente contribuir para o aprimoramento de nosso arcabouo legal e, consequen-temente, para a melhoria das condies ambientais dos corpos de gua do territrio nacional.

    Na seo Nota Tcnica, apresentamos um estudo comparativo do desempenho de uma das mais importantes instrumentaes de esta-es de tratamento de esgotos: o medidor de oxignio dissolvido.

    Apresentamos ainda, nesta edio, os seguintes artigos tcnicos:

    Remoo de 17-etinilestradiol de guas de abastecimento, utilizando diferentes tecnologias de tratamento fsico-qumi-co;

    Desempenho do sistema filtrao em margem seguida de filtrao lenta retrolavvel em Ituporanga Santa Catarina;

    Pr-tratamento de lodo de tanques spticos mediante flota-o, antes do lanamento em ETEs;

    Estudo hidrodinmico de reatores utilizando-se a anlise em fluxo;

    Produo de mudas de calophyllum brasiliense cambess com substratos comercial e base de lodo de esgoto compostado.

    Boa leitura!

    __________________________________Amrico de Oliveira Sampaio

    Editor Chefe

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    Reportagem de Capa

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    COMUNIDADES ISOLADASEXIGEM UM SANEAMENTOSOB MEDIDAA garantia de um futuro vivel para as prximas geraes est cada vez mais associada ao conceito de sustentabilidade, inclusive na rea de saneamento bsico.

    A busca por solues sustentveis para a questo, o que inclui o acesso a servios de naturezas diversas (econmicos, sociais e ambientais), tem preocupado os tericos e estudiosos do tema h alguns anos, mas o assunto polmico e esbarra em um aspecto relevante para os programas de saneamento em comunidades isoladas: a da conscientizao de que necessrio elaborar estratgias diferenciadas que respeitem a identidade natural e social do lugar.

    Texto: Carla Hosoi

    Um dos grandes desafios do saneamento brasi-leiro, atualmente, desenvolver um modelo sustentvel para levar gua de qualidade adequada ao consumo humano e tratamento de esgoto s comunidades isoladas, isto , aglomerados de moradias ou ncleos habitacionais localizados em periferias de cidades, ou comunidades de difcil acesso, cuja interligao aos sistemas municipais demonstra-se invivel, exigindo solues independentes.Fo

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    H um longo caminho a ser percorrido em busca de arranjos ideais para o saneamento de comunidades isoladas.

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    Segundo o professor de engenharia Luiz Srgio Phillipi, da Universidade Federal de Santa Catarina, funda- mental uma leitura descentralizada para resolver o abastecimento de gua e esgotamento em regies distantes dos grandes centros. O saneamento tem que ser pensado com uma viso mais sistmica, no apenas do ponto de vista da infraestrutura. Existem modelos que atendem melhor coletivamente e outros, isoladamente. A gesto deve ser trabalhada como um todo, considerando uma ocupao dos espaos mais articulada com a sociedade. Nessa linha de pensamento possvel aumentar a capacidade de se resolver a falta de saneamento em comunidades economicamente mais sensveis, argumenta o professor.

    Tecnologias aplicadas

    H diretrizes estratgicas e parmetros que orientam as aes e os projetos de saneamento bsico, inclusive com relao s solues tecnolgicas. Podem ser construdos diversos modelos, levando em contas as caractersticas regionais. Mas o principal levar em conta as caractersticas de cada localidade, onde vai acontecer a ao ou o projeto de saneamento bsico e at mesmo os modelos que podem ser reconstrudos a partir de cada realidade concreta, argumenta Pedro Villar, coordenador Geral de Engenharia Sanitria do Departamento de Engenharia de Sade Pblica da FUNASA (Fundao Nacional de Sade).

    Segundo o coordenador, a instalao dos servios ou sistemas, sejam individuais (por famlias) ou coletivos (por comunidades), envolvem diversos fatores que devem ser considerados, tais como a quantidade de pessoas por famlias a serem atendidas, a disponibilidade de recursos financeiros e oramentrios, dificuldade ou

    O atendimentoas comunidades isoladas um

    problema globale que perpassa as condies sociais

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    No destaque: Unidade de Medio de gua em residncia pertencente a comunidade isolada de Taquariva/SP.

    disponibilidade de manancial apropriado, a alternativa tecnolgica disponvel ou a ser construda, a viabilidade social e econmica da alternativa/projeto; e a gesto e sustentabilidade das aes e dos servios.

    Programas, modelos e gesto

    Embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido em busca de arranjos ideais para o saneamento de comunidades isoladas, j existem alguns modelos funcionando em estados brasileiros. O nordeste por exemplo, um dos maiores plos de investimento no setor, demonstrando grandes avanos atravs da implementao de programas que vem ganhando cada vez mais notabilidade entre especialistas e instituies ligadas ao saneamento no pas.

    O Estado do Cear, por exemplo, adota o modelo SISAR (Sistemas de Integrao do Saneamento Rural), que atualmente atendem cerca de 615 comunidades isoladas no estado, o que totaliza 350 mil habitantes beneficiados com abastecimento de gua e sistema de esgoto filiadas e localizadas na mesma bacia hidrogrfica. O empreendimento , que foi iniciado em 1996 com investimentos do banco alemo KFW, baseia-se num modelo associativista, de mltiplas comunidades.

    Funcionando como uma federao de associaes, cada SISAR criado numa assembleia realizada entre as associaes filiadas. Cada associao tem um conselho de administrao, formado por associados e trs gestores (administrativo, tcnico e social). Nesse sistema organizacional, a comunidade recebe capacitao e treinamento apropriados para gerir o prprio sistema. Ns damos o apoio tcnico e tambm social, pois a gesto a parte mais complicada desses tipos de

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    O saneamento tem que ser pensado

    com uma viso mais sistmica, no apenas do ponto de vista da

    infraestrutura.Existem modelos

    que atendem melhor coletivamente e

    outros,isoladamente."

    Luiz Srgio PhillipiUniversidade Federal de Santa Catarina

    Segundo Helder Cortez, desde o comeo muitas mudan-as foram aperfeioando o modelo, que hoje encontra-se mais informatizado e automatizado. Todas as melhorias so sentidas na comunidade, que passa a ter mais fora como associao garantidora de direitos e cidadania, complementa.

    Para continuar garantindo qualidade nos servios ofertados, a CAGECE faz avaliaes individuais dos sistemas, considerando indicadores tcnicos, sociais, administrativos e tambm possveis perdas. O modelo foi implementado tambm no Piau e na Bahia, onde foram chamados de Centrais.

    No Rio Grande do Norte, a CAERN, Companhia de guas e Esgotos do estado tambm vem desenvolvendo aes bem sucedidas e economicamente viveis de saneamento pblico em zonas rurais. O modelo de gesto adotado caracteriza-se tambm pela autonomia das comunidades atendidas, sendo elas mesmas responsveis pela administrao e operao do prprio sistema de abastecimento.

    A Assessoria de Saneamento Rural da CAERN realiza reunies para estimular a participao da comunidade, orientando os beneficirios sobre funcionamento do modelo e a administrao dos sistemas. Com o modelo aprovado pela comunidade, em reunies em carter de assemblia, o contrato firmado entre a CAERN e a associao de moradores.

    Em cada casa instalado um hidrmetro e o consumo cobrado pela prpria associao. O baixo custo do sistema permite que os moradores paguem tambm uma taxa de administrao para aquisio de materiais hidrulicos, gratificao do operador escolhido pela associao, alm de outros benefcios incorporados a favor da prpria comunidade.

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    sistemas. A comunidade no apenas precisa aprender a tratar daquela gua, como tambm a fazer com que os beneficiados paguem por ela, diz Helder Cortez, gerente responsvel pelo programa no estado.

    Para garantir a sustentabilidade e autogesto, a tecnologia empregada , segundo o prprio gerente, a mais simples possvel. No adianta nada ter uma tecnologia de ponta no assimilvel. A gua deve ser tratada, desinfetada e o prprio membro da comunidade tem que ser capaz de ajustar esse tratamento. Nos SISAR, a comunidade envolvida desde o planejamento at a obra, para que ela decida qual a alternativa mais eficiente e sustentvel, ressalta Helder Cortez.

    Os recursos iniciais para a implementao dos SISAR vieram de uma parceria com o banco alemo KFW, mas a partir de 2000, a CACEGE, Companhia de gua e Esgoto do Estado do Cear e o Governo do Estado do Cear resolveram replicar o modelo, que comeou na regio norte do estado, para outras regies carentes de abastecimento. Atualmente j h oito SISAR em funcionamento no estado, localizados estrategicamente em oito bacias hidrogrficas diferentes.

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    O modelo adotado no estado do Cear, o Sisar, prev a capacitao da

    comunidade com treinamentos

    apropriados para a gesto dos sistema nos

    aspectos dministrativos, tcnico e social

    Hoje a CAERN abastece cerca de 500 comunidades rurais atravs das adutoras implantadas no estado e a metaat o prximo ano, alcanar 32,5 mil pessoas residentes em assentamentos, stios, distritos e comunidades afastadas dos centros urbanos.

    A COPASA, Companhia de Saneamento do Estado de Minas Gerais, tambm vem promovendo aes de saneamento em reas rurais, com sistemas gerenciados pelas prefeituras ou pelos prprios moradores, apoiada por convnios firmados com instituies estaduais e federais. Em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Regional e Poltica Urbana do Estado, a empresa vem atendendo unidades carentes de saneamento por meio do programa Saneamento bsico: Mais sade para todos. O programa vem proporcionando uma melhoria nas condies de vida de populaes rurais e de pequenas sedes municipais atravs de uma identificao precisa das emergncias e estruturas necessrias a cada regio.

    A mobilizao no Estado de So Paulo

    O Estado de So Paulo, est concebendo um novo modelo de atendimento de servios de abastecimento de gua e esgotos sanitrios para comunidades iso-ladas. Esse programa denominado PROPEQ, dever ser oficialmente lanado nos prximos meses como parte dos esforos do estado para universalizar os servios de saneamento. J temos a minuta do decreto que regulamenta o programa. Estamos apenas aguardando a aprovao oramentria para 2012, pois precisamos de recursos. No incio de 2012 ele j deve estar em pleno funcionamento, diz Hadmilton Gatti, coordenador de saneamento da Secretaria de Recursos Hdricos do estado de So Paulo.

    O programa adotar tipologias tcnicas e arranjos flexveis de operao, manuteno e gesto, buscando compatibiliz-los com a realidade econmica e fsica de cada regio.

    Todo esse processo exige um planejamento detalhado. Desde as alternativas tcnicas, comunitrias ou indivi-dualizadas, at a cobrana, tudo precisa ser estudado e cada caso requer uma demanda diferenciada, diz Edson Giriboni, secretrio de Saneamento e Recursos Hdricos do Estado de So Paulo.

    Para superar essas dificuldades, a Secretaria pretende estabelecer parceria com a Sabesp, que j opera em 364 municpios do Estado, entre eles, muitos com caractersti-cas de isolamento. J existe um caminho a seguir, o que precisamos acelerar esse trabalho identificando carncias e provendo as comunidades com saneamento o mais rpido possvel,diz Edson Giriboni, secretrio de Saneamento e Recursos Hdricos do Estado de So Paulo.

    Em cada comunidade h necessidade de viabilizar modelos diferenciados; Em alguns casos necessita-se

    No SISAR a comunidade recebe treinamento para operar os sistemas.

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    da perfurao de poos, em outros, de estaes de tratamento modulares, s vezes a melhor soluo a integrao com outros sistemas produtores, mesmo que a quilometros de distncia. Em se tratando de esgoto de comunidades isoladas, a soluo que est sendo estudada o atendimento por unidades sanitrias individuais, j que pela prpria caracterstica de isolamento destas comunidades com ncleos de moradias muito esparsas e/ou com relevo muito irregular, a implantao de sistemas coletivos fica prejudicada. Cada local tem uma carncia que ser objeto de avaliao do programa e que precisar contar com o apoio das prefeituras, explica Maria da Glria Rosetti Marques, superintendente da Unidade de Negcio do Alto e Mdio Paranapanema da SABESP, responsvel pelos servios de 48 cidades localizadas nestas bacias.

    As regies do Alto e Mdio Paranapanema e do Vale do Ribeira que foram escolhidas como ponto de partida do programa, at porque em alguns bairros dessas localidades a SABESP j atua com sistemas isolados. Atualmente a SABESP ja atende pelo menos 66 comunidades com gua e algumas tambm com esgoto na regio. No municpio de Taquariva a instalao de rede de distribuio de gua j est beneficiando pessoas que no contavam com abastecimento, como o caso da Dona Erundina.

    Capo Bonito, Itarar, Ribeiro Grande, entre outras localidades, tambm vm recebendo o suporte da SABESP com sistemas eficientes para o beneficiamento da popu-lao local. Pessoas que tinham que buscar gua em fontes com baldes e bacias, que nunca tiveram uma gua de qualidade agora se beneficiam de uma rede abastecedora. A melhora na qualidade de vida sentida imediatamente com um saneamento adequado, ressalta a superinten-dente da Sabesp.

    Segundo o secretrio Giriboni, um dos maiores desafios do saneamento em comunidades isoladas o alto custo do empreedimento para um retorno muito baixo. Imagine o quanto empreendido numa extenso de rede de um quilmetro para atender uma ou duas famlias. No h como retornar esse investimento, complementa. Em funo disso, uma poltica do estado para enfrentar essa problemtica com viabilizao tcnica e envolvimento da comunidade urgente. Com o PROPEQ, nosso objetivo no apenas equacionar a cobertura de servios, mas buscar alternativas de modelos e gerenciamentos inovadores e adequados para os sistemas de pequeno porte, complementa. Alternativa tcnica no o nosso problema. H vrios estudos nas universidades sobre fossas e outras tecnologias simples e mais acessveis economicamente, diz a Eng Ana Lcia Brasil, Coordenadora da Cmara Tcnica de Sade e Saneamento em Comunidades Isoladas da ABES/SP.

    A questo to complexa que a ABES-SP criou, em novembro de 2007, uma cmara tcnica de sade e saneamento em comunidades isoladas, que desde

    O estado de So Paulo,est concebendo um novo modelo de atendimento de servios de abastecimento

    de gua e esgotossanitrios para

    comunidades isoladas.Esse programa denominado

    PROPEQ, dever ser oficialmente lanado nosprximos meses como parte dos esforos do

    Estado para universalizaros servios de saneamento.

    D. Erundina, moradora do municpio de Taquariva / Alto Paranapanema

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    ento vem desenvolvendo convnios de cooperao, seminrios, oficinas, troca de experincias e tecnologias entre instituies governamentais, municipais, federais e no governamentais. Queremos discutir tudo que envolve o saneamento e sade dessas comunidades, pois a carncia grande e as solues e a gesto devem ser diferenciadas, complementa Ana Lcia Brasil.

    A ABES (Associao Brasileira de Engenharia Sanitria e Ambiental), alm de promover discusses importantes no mbito do saneamento de comunidades isoladas, tambm vem realizando projetos pilotos em parceria com outras intituies do setor (pblicas e no-governamentais) no estado de So Paulo. Um deles o projeto piloto da Vila Machado, configurado como comunidade isolada pela sua caracterstica geogrfica, localizada em rea de proteo de mananciais, s margens da represa Paiva Castro no municpio de Mairipor. Sua localizao geogrfica totaltmente situada no manancial, foi o diferencial para escolha.

    Na regio, composta por 240 domiclios de classe mdia e mdia baixa, a SABESP identificou que 60% das casas utilizam fossa negra como esgotamento. O objetivo do projeto promover alternativas sustentveis que viabilizem a coleta e destinao adequada dos esgotos residenciais, evitando que os despejos contaminem o lenol fretico, as ruas e os mananciais.

    J existe um caminho a seguir, o que precisamos

    acelerar esse trabalho identificando carncias e provendo as comunidades com saneamento o mais

    rpido possvel

    Edson GiriboniSecretrio de Saneamento e Recursos

    Hdricos do Estado de So Paulo.

    Para a Eng Ana Lcia Brasil, Coordenadora da Cmara Tcnica de Comunidades Isoladas da ABES/SP, o projeto Vila Machado um programa de educa-o ambiental e gesto compartilhada que envolve direitos e obrigaes dos moradores e das instituies participantes, faz com que a comunidade comece a ter voz e se transforme em uma instituio formal, que resgata a cidadania. A gesto sustentvel, que integra os diversos atores em questo, um instrumento fundamental para atingir esse objetivo, explica.

    Suporte financeiro, tcnico e social

    Como principal diretriz para a elaborao de qualquer plano pblico de saneamento bsico e esgotamento, a Lei 11.445, que regulamenta o setor, deveria incorporar todos os componentes que envolvem o saneamento iso-lado, mas no bem isso que acontece, segundo o professor Luiz Srgio Phillippi, da UFSC. Sistemas uniresidenciais e pluriresidenciais no so contemplados com devida importncia nas polticas pblicas de saneamento, o que gera dificuldades para implementao de modelos no suportados por grandes estruturas, explica.

    Os investimentos, que somam um montante elevado, necessitam da colaborao de diversos setores gover-namentais, federais, terceiro setor e tambm de insti-tuies financeiras nacionais e internacionais. Alm do aporte financeiro, os sistemas descentralizados de-mandam apoio tcnico, operacional e social para garantir a continuidade da gesto e qualidade dos servios. Para viabilizar programas em municpios e comunidades de pequeno porte, contar com a ajuda de rgos financiadores uma sada eficaz para acelerar a universalizao dos servios de saneamento.

    A grande questo que vem mobilizando diversas instituies

    e companhias de saneamento

    como estabelecer um custo e uma

    gesto sustentvel para um sistema descentralizado,

    mantendo a mesma qualidade de abastecimento e esgotamento. Esse processo de responsabilizao da

    comunidade, de faz-la entender como funciona o seu sistema de saneamento,

    difcil, pois exige capacitao, treinamento, e negociao

    Eng Ana Lcia Brasil Coordenadora da Cmara Tcnica de Sade

    e Saneamento em Comunidades Isoladasda ABES/SP.

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    Comunidade Isolada de Vila Machado, Mairipor, SP - Localizao geogrfica totalmente situada no manancial foi o diferencial para a escolha como rea piloto.

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    A Fundao Nacional de Sade FUNASA, rgo executivo do Ministrio da Sade, uma das instituies do Governo Federal que apoia aes de saneamento em pequenos municpios (de at 50 mil habitantes) e reas especiais com caractersticas rurais, como comunidades quilombolas, extrativistas, assentamentos e populaes ribeirinhas. Entre 2007 e 2011, a Funasa investiu nessas reas a quantia de R$ 3,9 bilhes, em aes e obras de saneamento bsico, com destaque para abastecimento de gua e esgotamento sanitrio. Foram contemplados 2386 municpios. Neste universo e deste volume de recursos, foram atendidas comunidades indgenas de 278 municpios; comunidades quilombolas de 128 municpios e comunidades rurais de 334 municpios.

    De acordo com o Relatrio de Gesto da FUNASA/ 2010, aspectos intrnsecos da populao rural, como a disperso fsica e problemas socioeconmicos, aliados com a insuficincia de polticas pblicas voltadas para a sade e o saneamento e a escassez de recursos aplicados para essas comunidades, tm contribudo para consolidar um quadro de carncias, caracterstico da rea rural do pas. Para diminuir esse dficit a FUNASA, no ano de 2010, contou com um oramento de R$ 94,3 milhes para a implantao , ampliao ou melhorias do servio de saneamento

    em 170 comunidades remanescentes de quilombos, assentamentos da reforma agrria e comunidades rurais at 2.500 habitantes, nmero que caiu para 524 comunidades em funo da reviso dos custos. O programa de beneficiamento dessas populaes est em andamento.

    Segundo Pedro Villar, os recursos financeiros, na sua grande maioria, so recursos no onerosos e os municpios podem entrar com uma contrapartida, definida pela Lei de Diretrizes Oramentrias LDO de cada ano. Os recursos financeiros so definidos a partir dos dficits de atendimento, critrios epidemiolgicos, ambientais e sanitrios. So apresentadas propostas ao PPA (Plano Plurianual do Governo), ao PAC (Programa de Acelerao do Crescimento) ou outros Programas de Governo, sempre dependendo de definio de instncia federal que coordena o planejamento e o oramento federal. Os investimentos, em sua grande maioria, so em obras ou infraestrutura de saneamento bsico. o caso do PAC I e II. O PPA aplica recursos em medidas estruturantes, em especial na capacitao de recursos humanos e cooperao tcnica junto aos estados e municpios, explica.

    O Banco Mundial, por meio de aes de combate ao empobrecimento, tambm tem apoiado programas

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    Comunidades isoladas requerem solues diferenciadas Cr

    dito

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    de abastecimento de gua e esgotamento, incluindo comunidades isoladas. Recentemente realizou um es-tudo que avaliou diversos modelos de saneamento para essas localidades. Os programas dos Estados do Cear, Piau, iniciativas do Estado do Rio Grande do Norte, das Centrais da Bahia, Programas do Estados de Pernambuco e Paran foram visitados por especialistas com o objetivo de identificar as questes relevantes e desafiadoras dos modelos de gesto de comunidades isoladas. Nessa avaliao notamos que a chance de sucesso de um mode-lo depende muito do suporte prestado s comunidades. Sem um apoio tcnico e capacitao, a gesto no se sustenta, no tem continuidade, a no ser que haja uma liderana ou integrao muito bem estabelecida entre os moradores, revela Juliana Garrido, especialista em infraestrutura do Banco Mundial. O entendimento de como operar e manter os sistemas fundamental para que eles no entrem em colapso em pouco tempo de funcionamento. Em funo disso, a presena de uma instituio estadual que se responsabiliza pelo monitoramento e capacitao dessas comunidades to importante quanto sensibilizao e participao dos prprios beneficiados, complementa.

    Atualmente a instituio apoia programas em estados do nordeste, como Pernambuco e Cear (ampliao da escala dos SISAR), por meio de recursos hdricos para

    A presena de uma instituio estadual

    que se responsabilize pelo monitoramento e capacitao dessas comunidades to

    importante quanto a sensibilizao eparticipao dos

    prprios beneficiadosJuliana Garrido

    Especialista em Infraestruturado Banco Mundial

    abastecimento de gua e esgotamento sanitrio e tambm com assistncias mais direcionadas. Mas, segundo a especialista, no existe nenhum critrio uniforme que determine uma orientao maior ou menor para determi-nada regio do pas. Estamos abertos a todos os estados.

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    Reservatrio da comunidade de Ilha Monto de Trigo em So Sebastio/SP - Necessidade de apoio tcnico e capacitao

    Cada projeto tem carncias e arranjos financeiros especficos, por isso o direcionamento dos recursos varia muito. A nica limitao que existe em termos de projetos muito pequenos, j que o custo operacional do banco gira em torno de 80 milhes de dlares, explica Juliana Garrido. Em geral, os programas tm 50% de contrapartida do estado, mas a porcentagem de participao dos rgos investidores definida pelo governo federal, pois depende da capacidade de cada regio.

    J a FINEP - Financiadora de Estudos e Projeto, empresa pblica vinculada ao MCT (Ministrio de Cincia, Tecnologia e Inovao) possui um programa de Pesquisas em Saneamento Bsico, o PROSAB, que apoia o desenvolvimento de pesquisas e o aperfeioamento de tecnologias nas reas de guas de abastecimento, guas residurias e resduos slidos de fcil aplicabilidade e baixo custo de implantao, operao e manuteno, mas no possui um investimento especfico para saneamento de comunidades isoladas. At o terceiro edital a FINEP e o CNPq alocaram conjuntamente R$ 16,5 milhes e a Caixa Econmica, R$ 1,7 milhes para o PROSAB.

    Atualmente, as aes em andamento constituem-se da construo de 6 unidades de demonstrao, em escala real, em municpios escolhidos por critrios da FUNASA: duas estaes de tratamento de gua ( em Corumbata/So Paulo e Dr. Ulisses/ Paran, trs estaes de tratamento de esgoto ( Vitria /ES, Luisburgo/MG eLuzerne /SC) e um gerenciamento integrado de esgoto em Linhares/ES. Nesses projetos, os recursos da FINEP foram destinados aos projetos bsico, executivo e ao acompanhamento em todas as etapas do processo.

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    Um problema que perpassa condies sociais e geogrficas / Itacar / BA

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    na 28 reunio da Cmara Tcnica de Controle e Qualidade Ambiental CTCQA, realizada em 8 e 9 de julho de 2008, pela criao de Grupo de Trabalho GT, sob a coordenao do governo de Minas Gerais e relatoria do Ibama. O GT foi criado com a misso de buscar uma abordagem inovadora, cujo foco recairia nos conceitos de cargas e capacidade de suporte dos recursos hdricos. Foi identificada ainda a necessidade de, no estabelecimento de parmetros e padres de lanamento, considerar tipos de atividades e suas particularidades, tais como os efluentes de sistemas de coleta e tratamento de esgotos sanitrios, alm de incluir orientaes para anlise da capacidade de suporte do corpo de gua receptor, bem como da ecotoxicidade dos efluentes.

    O GT em referncia GT Lanamento de efluentes realizou 11 reunies de discusso, no intervalo de cerca de um ano (7 de outubro de 2008 a 6 de novembro de 2009). Aps o GT, as discusses foram realizadas no mbito da CTCQA (40 a 43 Reunies da CTCQA), tendo sido aprovada, na 43 Reunio da CTCQA, a verso encaminhada Cmara Tcnica de Assuntos Jurdicos CTAJ. Essa verso foi apreciada na 59 CTAJ, realizada em 3 e 4 de novembro de 2010, tendo sofrido algumas emendas referentes tcnica legislativa, adequao de redao e referncias a dispositivos normativos etc. A proposta resultante da CTAJ foi pautada inicialmente na 100 Reunio Ordinria do Plenrio do Conama, realizada em 24 e 25 de novembro de 2010 e, finalmente, aprovada na 101 Reunio Ordinria do Conama, realizada nos dias 30 e 31 de maro de 2011.

    3. A nova Resoluo Conama n 430/2011 e seus aspectos relevantes para a gesto ambiental e de

    recursos hdricos

    A nova Resoluo buscou aprimorar os parmetros e mecanismos de gesto de efluentes lquidos e conservao da qualidade das guas, de modo a garantir os seus usos mltiplos. Para tanto, alterou e complementou a Resoluo n 357, de 17 de maro de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente Conama, a qual dispe sobre a classificao e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de guas superficiais, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes.

    No que concerne ao aprimoramento dos mecanismos de gesto, j em seu artigo 1, estabelece a necessidade de observao de normas e disposies especficas do rgo ambiental competente, bem como as diretrizes da operadora dos sistemas de coleta e tratamento de esgotamento sanitrio.

    Em seu art. 2, a nova Resoluo repete o disposto no art. 29 da anterior, em relao disposio de efluentes no solo, que ainda que tratados, no poder causar poluio das guas superficiais e subterrneas. Importante destacar que a Resoluo Conama n 420/2009, que dispe sobre critrios e valores orientadores

    1. IntroduoEste artigo apresenta os principais avanos para a gesto ambiental, contemplados pela aprovao da Resoluo Conama n 430/2011 que dispe sobre as condies e padres de lanamento de efluentes, complementando e alterando a Resoluo Conama n 357/2005. Para tanto, apresentado um breve histrico e contextualizao do processo de elaborao da resoluo, em seguida, realizada uma detalhada discusso dos novos dispositivos e das alteraes vis a vis o texto da Resoluo n 357/2005; Como concluso, so apresentadas consideraes de carter geral da sua relevncia para a gesto ambiental no Brasil.

    2. Histrico e contextualizao

    Em 17 de maro de 2005, foi editada a Resoluo Conama n 357, a qual resultou de um processo de cerca de dois anos de discusso em relao ao disposto na Resoluo Conama n 20, de 18 de junho de 1986. Apesar do amplo processo de discusso a que foi submetido o contedo disposto na norma em referncia, algumas questes no foram exauridas, tendo sido, inclusive, prevista, no art. 44 da Resoluo n 357/2005, a necessidade de complementao das condies e padres de lanamentos de efluentes definidos na mesma. Assim, o prprio texto dessa Resoluo sinalizou a necessidade de complementao em um relativamente curto intervalo de tempo.

    Nesse contexto, foi iniciado o processo de discusso da reviso da Resoluo Conama n 357, tendo sido deliberado,

    Resoluo CONAMA n430 de 13 de maio de 2011 sobre emisso de efluentes. O qu mudou?

    Volney Zanardi JniorEng. Qumico, MSc em Ecologia, PhD em Cincias Ambi-entais, Conselheiro do CONAMA e Presidente da Cmara Tcnica de Controle e Qualidade Ambiental do CONAMA desde 2007. Diretor do Departamento de Gesto Estra-tgica do Ministrio do Meio Ambiente e servidor pblico da carreira de Especialista em Recursos Hdricos da Agn-cia Nacional de guas.

    Veronica Marques Tavares Eng. Qumica e Bacharela em Direito, servidora pblica da carreira de Especialista em Meio Ambiente no Minist-rio do Meio Ambiente.

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    de qualidade do solo quanto presena de substncias qumicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de reas contaminadas por essas substncias em decorrncia de atividades antrpicas j estabeleceu os padres de qualidade do solo e determina, em seu art. 15, que as concentraes de substncias qumicas no solo, resultantes da aplicao ou disposio de resduos e efluentes, no podem ultrapassar os valores de preveno VPs, os quais so definidos nesta norma especfica no tocante qualidade ambiental do solo. Assim, a disposio de efluentes no solo dever, com a ressalva de no causar poluio s guas superficiais e subterrneas, atender aos parmetros da referida Resoluo especfica.

    Em seu artigo 3, a Resoluo refora a necessidade de observao das condies do corpo receptor, enfatizando a prerrogativa, em seu pargrafo nico, dos rgos ambientais competentes em acrescentar outras condies, padres ou restringir os existentes, bem como exigir a tecnologia de tratamento de efluentes ambientalmente adequada, mediante fundamentao tcnica. Esse um aspecto relevante a que a gesto de efluentes e dos recursos hdricos devem se ater, considerando-se que a definio de padres apenas um instrumento, muitas vezes, necessrio, mas no suficiente, para a manuteno ou recuperao da qualidade ambiental das guas, de modo a proporcionar ou garantir os padres de qualidade de gua compatveis com os usos do corpo hdrico, sejam esses usos existentes ou pretendidos.

    Em seu Captulo I, a nova Resoluo Conama estabelece definies em complementao s contidas na de n 357/2005, de modo a fixar entendimentos ou introduzir conceitos importantes para a compreenso do contedo das normas que acrescenta ou altera, considerando-se o diploma normativo de referncia. Merecem destaques as definies referentes a indicadores e padres ecotoxicolgicos, tais como, Concentrao de Efeito No Observado (CENO), Concentrao Letal Mediana (CL50) ou Concentrao Efetiva Mediana (CE50), Fator de Toxicidade (FT), testes de ecotoxicidade. A introduo desses conceitos no rol de normas que dispe sobre gesto de efluentes e dos recursos hdricos no Brasil consiste em um avano, uma vez que no basta que a qualidade das guas seja avaliada por parmetros isoladamente entre si, mas que sejam garantidas as condies ecolgicas do corpo hdrico, de modo a manter as condies adequadas vida aqutica no corpo receptor. A Resoluo Conama n 357/2005 tratava de alguns aspectos referentes toxicidade e ecotoxicidade dos efluentes, mas a nova resoluo acrescentou detalhamentos relevantes. Tambm, no que concerne s definies previstas no art. 4, h que se observar, o aprimoramento no tocante zona de mistura, com base em modelos tericos, levando-se em conta as caractersticas dos efluentes, do corpo receptor e do respectivo parmetro em anlise.

    O Captulo II, por sua vez, consiste no cerne da Resoluo, e estabelece, em suas Sees II e III, condies e padres de lanamento de efluentes, gerais e especficos para os efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sanitrios, respectivamente, repetindo e ou complementando o disposto

    na Resoluo Conama n 357/2005. Na Seo I do Captulo II, so apresentadas disposies gerais. Importante destacar a manuteno das normas referentes ao enfoque na qualidade da gua e capacidade de suporte do corpo receptor no seu art. 5, repetindo-se a previso referente s metas progressivas intermedirias e final de enquadramento dos recursos hdricos. A qualidade das guas uma das finalidades precpuas da gesto de efluentes lquidos e de recursos hdricos e, assim, deve ser observada, ainda que os padres de lanamentos sejam atendidos. Isso devido ao fato de o estabelecimento destes padres, conforme j mencionado, ser um instrumento de gesto da qualidade das guas, necessrio, porm, no suficiente.

    A redao do art. 6, em seu inciso I, manteve a previso do art. 25 da Resoluo Conama n 357/2005, quanto necessidade de comprovao de relevante interesse pblico para autorizao de lanamento em desacordo com os padres estabelecidos. No entanto, alterou o inciso III, retirando a exigncia de Estudo de Impacto Ambiental EIA para a autorizao excepcional prevista no caput, substituindo por estudo ambiental tecnicamente adequado. O EIA um estudo que possui caractersticas prprias, com escopo diferenciado do objeto de anlise que a exceo aberta pela norma em discusso apresenta (vide Resoluo Conama n 01/1986, especialmente, seus artigos 5 e 6). Assim, a alterao vem ao encontro da real necessidade que a situao exige; despropositado um estudo com escopo to diversificado quanto o de um EIA para uma questo que enseja um campo menor de estudo para sua adequada avaliao. Ademais, a fonte poluidora envolvida pode ter sido ou ser objeto de licenciamento ambiental mediante EIA e, assim, o estudo proposto no art. 6 tem carter adicional.

    Alm disso, ainda no art. 7, 1 (correspondente ao art. 26, 1 da Resoluo n 357/2005), retira a condio de No caso de empreendimento de significativo impacto para que o rgo ambiental possa exigir estudo de capacidade de suporte. Entende-se adequada esta alterao, uma vez que o foco da gesto de efluentes e da qualidade da gua deve ser na qualidade da gua e na capacidade de suporte do corpo receptor, no se restringindo possibilidade de adoo de medidas adicionais de gesto aos padres de lanamento apenas no caso de empreendimento classificado como de impacto ambiental significativo.

    Tambm, a resoluo manteve a proscrio para lanamento de Poluentes Orgnicos Persistentes POPs, mudando-se a referncia legislao, alterando-se para em vigor, no se restringindo citao da Conveno de Estocolmo e respectivo Decreto Legislativo n 204, de 7 de maio de 2004, que a ratifica. Dessa forma, explicita-se que devem ser consideradas todas as normas referentes a esses compostos, sejam essas editadas ou que venham a ser editadas na vigncia da Resoluo em apreo.

    O disposto no art. 32 da Resoluo Conama n 357/2005 mantido por meio dos artigos 11 e 12, com nova redao, no entanto, sem alterao de contedo. mantida a vedao

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    de lanamento de efluentes ou disposio de resduos de quaisquer fontes poluidoras, ainda que tratados, nas guas de classe especial (art. 11); no art. 12 e respectivo pargrafo nico, so estabelecidas as condies de lanamento de efluentes nos recursos hdricos nas demais classes de enquadramento, repetindo-se, em outras palavras, o disposto no art. 32, incisos e respectivo pargrafo nico, da Resoluo n 357/2005, no tocante manuteno do padro de qualidade da gua nas condies de vazo de referncia ou incluiu-se, em relao norma em vigor volume disponvel, bem como outras exigncias aplicveis. A incluso de volume disponvel na nova Resoluo, conforme destacado, vem ao encontro do disposto no art. 14 correspondente ao art. 35 da Resoluo n 357/2005 o qual zela pela manuteno da qualidade da gua, admitindo-se medidas especficas e mais restritivas a serem definidas pelo rgo ambiental quando o volume de gua disponvel for inferior vazo de referncia; situao essa em que h um aumento da vulnerabilidade da qualidade da gua.

    No tocante s concentraes na zona de mistura (art. 13), a nova Resoluo do Conama alterou o disposto em sua Resoluo n 357/2005, admitindo-se concentraes de substncias em desacordo com os padres de qualidade. Na Resoluo anterior (art. 33), essa possibilidade era condicionada autorizao do rgo ambiental. Entendeu-se desnecessria autorizao especfica para tanto, uma vez que a avaliao e as medidas de gesto de efluentes devem ser contempladas no licenciamento ambiental das fontes poluidoras, alm de que, por consistir em zona de mistura, no h homogeneidade nas concentraes presentes no corpo receptor, de modo que alguns pontos podem apresentar concentraes em desacordo com os padres de qualidade previamente definidos. A regra referente necessidade de estudos para investigar a extenso da zona de mistura e concentraes de substncias na mesma, se assim determinado pelo rgo ambiental, no entanto, foi mantida. Necessrio destacar que, conforme o texto da resoluo, essas concentraes em desacordo com os padres de qualidade no devem comprometer os usos previstos para o corpo receptor, consoante disposio anterior. Assim, ainda que no prevista autorizao especfica para essa situao no texto da resoluo, a admisso dessas concentraes em desacordo no devem comprometer os usos da gua e, portanto, essa situao continua alvo do poder de polcia do rgo ambiental competente e dos rgos ou entidades gestoras de recursos hdricos.

    H, ainda, outras normas na Resoluo, presentes na Seo I, do Captulo II, que foram mantidas em relao Resoluo n 357, tais como, a que refere vedao da prtica de diluio, antes do lanamento, de efluentes por mistura a gua de melhor qualidade (art. 9 da nova resoluo e art. 30, da n 357/2005); a que confere ao rgo ambiental a discricionariedade de aplicao dos padres que dispe, individual ou conjuntamente, quando a fonte poluidora possuir diferentes efluentes (art. 10 da nova Resoluo e art. 37 da anterior); a que prev exigncias adicionais, quando do lanamento de efluentes em leito seco de corpos receptores de regime hdrico intermitente (art. 15 da nova

    Resoluo e art. 37 da n 357/2005), destacando a competncia do rgo ambiental para definir condies especiais, ouvido o rgo gestor de recursos hdricos.

    Conforme citado anteriormente, a Seo II do Captulo II trata das Condies e Padres de Lanamento e Efluentes. Para tanto, repetiu, com algumas alteraes o disposto no art. 34 da Resoluo Conama n 357/2005. No caput da nova resoluo foi retirado o termo indiretamente, uma vez que o pargrafo nico, art. 1 estabelece que os lanamentos indiretos de efluentes em um corpo receptor, na ausncia de normas especficas, devem obedecer ao disposto nas disposies do rgo ambiental competente ou diretriz da operadora de sistema de coleta de esgotos sanitrios. Tambm, altera corpo de gua para corpo receptor, da mesma forma que o fez no caput do art. 3. No entanto, considerando a incluso de uma Seo com normas especficas para condies e padres para o lanamento dos efluentes dos sistemas de tratamento de esgotos sanitrios (Seo III, Captulo II), para evitar interpretaes contraditrias, foi prevista, no 2, do art. 16, norma que estabelece a aplicabilidade das regras especiais previstas na Seo III a esse tipo de efluente. Ainda, no inciso I, art. 16 da Resoluo, so mantidos os parmetros previstos na Resoluo n 357 e includo o referente remoo mnima de 60% de DBO5, 20C.

    Na Tabela I (art. 16, inciso II), so repetidos os parmetros da Tabela X da Resoluo n 357, com as alteraes da Resoluo n 397/2008, e acrescentados cinco novos parmetros: compostos orgnicos sintticos do grupo BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno) e estireno. No 1, art. 16, a Resoluo prev um novo dispositivo normativo que estabelece que os efluentes oriundos dos sistemas de disposio final de resduos slidos de qualquer origem devem atender ao disposto no caput e seus incisos. O 2, por sua vez, remete Seo III, no tocante aos efluentes dos sistemas de tratamento de esgotos sanitrios.

    O 3, art. 16 da nova Resoluo alterou o disposto no art. 36 da anterior. A alterao visou a adequar a disposio referente aos parmetros de qualidade ambiental da gua e de efluentes de servios de sade, ressalvando a necessidade de adequao s normas sanitrias especficas. Desse modo, a nova Resoluo absteve-se de tratar questes de competncia normativa das autoridades sanitrias. necessrio, em termos de estabelecimento de padres ambientais, que os efluentes dos servios de sade atendam ao disposto para os efluentes sanitrios. Estabelece, ainda, a possibilidade de lanamento em rede coletora de esgotos sanitrios conectada a estao de tratamento ou lanamento direto, desde que aps tratamento especial.

    O art. 18 do texto da nova Resoluo idntico ao do 1, art. 34 da Resoluo n 357/2005. O 1 do respectivo dispositivo adequou a referncia ao caput (anteriormente apresentado na forma de pargrafo), estabelece a exigncia de realizao dos testes ecotoxicolgicos para dois nveis trficos de organismos aquticos e substituiu a qualificao desses testes de padronizados para aceitos pelo rgo ambiental. Alm disso, estabeleceu diretrizes para avaliao do efeito txico do efluente no corpo receptor, com base em parmetros definidos em seu art. 4 (CECR, CENO e FT). Essas diretrizes consistem

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    em uma inovao em relao ao disposto na Resoluo Conama n 357/2005. Ainda em relao aos ensaios de ecotoxicidade, o art. 19 remete aos rgos ambientais competentes a determinao de quais empreendimentos e atividades devero realiz-los.

    O art. 20 trata do lanamento de efluentes por meio de emissrios submarinos, os quais devem atender aos padres e condies dispostos na nova Resoluo, alm dos padres da classe do corpo receptor e ao padro de balneabilidade. No pargrafo nico correspondente, so estabelecidas as exigncias para disposio por emissrio submarino de efluentes em desacordo aos padres de emisso previstos nos dispositivos normativos correspondentes da Resoluo. Observa-se, no entanto, conforme o disposto no seu art. 6, que os efluentes, mesmo na situao de exceo, no podero conferir caractersticas de qualidade em desacordo com as metas do seu enquadramento.

    Conforme j mencionado, a Seo III, Captulo II da nova Resoluo contempla condies e parmetros especficos para efluentes oriundos dos sistemas de tratamento de esgotos sanitrios. Importante destacar que o estabelecimento de parmetros e padres especficos para efluentes sanitrios decorrente da necessidade de estabelecer padres condizentes s caractersticas dos efluentes em questo. A Resoluo n 357 j excepcionava os efluentes sanitrios da observncia do parmetro referente ao Nitrognio Amoniacal total, o que foi mantido na nova norma. O novo texto estabelece, ainda, diferenciais em alguns parmetros, alm de no listar, na Seo III, todos os parmetros previstos na sua Seo II. No entanto, estabelece que estes, mantida a exceo ao Nitrognio Amoniacal total, sejam aplicveis em funo de caractersticas locais (1, art. 21), a critrio do rgo ambiental competente; bem como, no caso de recebimento de lixiviados de aterros sanitrios (2, art. 21), determina que o rgo ambiental competente indique os parmetros da Tabela I que devero ser atendidos e monitorados. O 3, art. 21 limita-se a estabelecer que as amostras dos efluentes, para a avaliao da remoo da carga poluidora, em termos de DBO

    5,20C, de sistemas de

    tratamento com lagoas de estabilizao devero ser filtradas.

    O Conama entendeu que a limitao do nmero de parmetros aplicveis aos efluentes sanitrios justifica-se diante das caractersticas e da composio, relativamente comuns, dos mesmos. Alm do nmero de parmetros, as normas especficas para efluentes de sistema de tratamento de esgotos sanitrios so mais flexveis no tocante a leos e graxas e DBO

    5, 20C. Isso justificvel, considerando a natureza dos

    efluentes em questo.

    O art. 22 trata das condies e exigncias para o lanamento de efluentes sanitrios por meio de emissrios submarinos, o que consiste em uma inovao da nova norma em relao anterior. Destaca-se, nesse artigo, a preocupao com a manuteno dos padres do corpo receptor e ao padro de balneabilidade, conforme normas vigentes.

    Relevante destacar, ainda, a incluso de regra referente possibilidade de exigncia de testes de ecotoxicidade (art. 23)

    aos efluentes de sistemas de tratamento de esgotos sanitrios, pelo rgo ambiental competente, no caso de interferncia de efluentes de origem industrial. Isso porque essa interferncia pode levar configurao de condies ou formao de compostos ou substncias com potencial deletrio vida aqutica do corpo receptor, por exemplo, a formao de organoclorados leves, tais como, trihalometanos, decorrente da interferncia com efluentes industriais ricos em cloretos. Ainda nos pargrafos do mesmo dispositivo, so contemplados alguns princpios e orientaes com vistas a subsidiar aes de gesto na bacia mediante os resultados de testes de ecotoxicidade, incluindo-se a possibilidade de controle nas fontes geradoras de efluentes potencialmente txicos ao corpo receptor.

    No tocante ao proposto no Captulo III, so apresentadas as diretrizes para gesto de efluentes, ressaltando a necessidade de automonitoramento, estabelecimento de exigncia de declarao anual de carga poluidora, contemplando a caracterizao qualitativa e quantitativa dos efluentes, alm de normas com vistas a agregar confiabilidade aos resultados das anlises referentes a automonitoramento, bem como referentes a entrega e disponibilidade dos laudos, relatrios e estudos.

    Finalmente, o Captulo IV Das Disposies finais apresenta regras de transio, considerando as alteraes e inovaes Resoluo n 357/2005.

    4. Consideraes Finais

    Procurou-se apresentar neste artigo que a aprovao da Resoluo n 430/2011 adicionou vrios dispositivos aos que existiam na Resoluo n 357/2005, procurando no s atender a uma demanda de reviso j estabelecida, mas responder s necessidades identificadas pelos rgos ambientais de se estabelecer novos conceitos e metodologias, com vistas a uma melhor gesto dos efluentes, com enfoque na manuteno da qualidade da gua. Entende-se, ainda, que os acrscimos e alteraes introduzidos ao disposto na Resoluo Conama n 357/2005 facilitam a interpretao e, portanto, a aplicao das normas em referncia.

    Alm disso, foi adotada uma perspectiva de valorizar aspectos da gesto de efluentes, com o estabelecimento do Captulo III. Relevante ainda destacar os esforos do novo diploma normativo em dar racionalidade gesto dos efluentes sanitrios, considerando as suas caractersticas especficas, bem como em dar nfase aos aspectos qualitativos e ecolgicos da gesto dos recursos hdricos, agregando normas e diretrizes para a avaliao da ecotoxicidade dos efluentes nos corpos receptores, com vistas a garantir as condies ecolgicas adequadas manuteno da vida aqutica.

    Desse modo, defende-se que a Resoluo Conama n 430/2011 consolida as bases para uma adequada gesto da qualidade das guas com vistas a uma maior integrao entre a gesto ambiental, gesto de recursos hdricos e as polticas de saneamento ambiental no Brasil.

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    nas Resolues N 397/2008 (que altera o inciso II do 4 e a Tabela X do 5, ambos do art. 34 da Resoluo Conama N 357/2005) e na Resoluo N 393/2007 (que dispe sobre o descarte contnuo de gua de processo ou de produo em plataformas martimas de petrleo e gs natural).

    O Grupo Tcnico foi subdividido em 5 subgrupos que trataram dos seguintes temas especficos :

    - Novos parmetros da Tabela X;- Parmetros para efluentes do setor de Saneamento;- Ecotoxicidade;- Efluentes dos Servios de Sade;- Gesto de Efluentes.

    Os subgrupos discutiram seus temas e apresentaram propostas que foram analisadas e aprovadas pelo GT. Os temas do subgrupo de Gesto de Efluentes foram discutidos diretamente no GT. Os trabalhos do GT foram coordenados pelo Governo do Estado de Gerais e relatados pelo IBAMA.

    Os principais pontos de destaque da resoluo com-plementar so:

    1- Foi dada maior clareza na definio da aplicao da nova resoluo para lanamento direto e indireto de efluentes;

    2- Foram includas as seguintes novas definies: I - guas costeirasII - Capacidade de suporte do corpo receptorIII Concentrao de Efeito No Observado (CENO): IV Concentrao do Efluente no Corpo Receptor (CECR),

    expressa em porcentagem:V - Concentrao Letal Mediana (CL50) ou Concentrao

    Efetiva Mediana (CE50VI - EfluenteVII - Emissrio submarinoVIII - Esgotos sanitriosIX - Fator de Toxicidade X - Lanamento diretoXI - Lanamento indiretoXII - Nvel trfico XIII - Parmetro de qualidade do efluenteXIV - Testes de ecotoxicidadeXV - Zona de mistura

    3- Foi dada maior flexibilidade no uso da norma para atu-ao dos rgos de controle ambiental, permitindo inclusive em condies excepcionais e de utilidade pblica e com fundamentao tcnica a autorizao de lanamentos em condies e padres em desacordo com a Resoluo por tempo determinado.

    4- Foram estabelecidos novos requisitos para declarao de carga poluidora de modo a no comprometer as metas esta-belecidas no enquadramento do curso receptor;

    A RESOLUO N 430, DE 13 DE MAIO DE 2011 que dispe sobre condies, parmetros, padres e diretrizes para gesto do lanamento de efluentes em corpos de gua receptores, alterou parcialmente e complementou a Resoluo n 357 de 17 de maro de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente-CONAMA a qual dispe sobre a classificao e diretrizes ambientais para o enquadramento dos corpos de guas superficiais, bem como estabelece as condies e padres de lanamento de efluentes.

    A Resoluo 357 que foi resultado de um processo de cerca de dois anos de discusso em relao ao disposto na antiga Resoluo Conama N 20 de 1986, apesar deste processo de discusso a que foi submetida, ainda deixou algumas questes para complementao posterior, tendo sido esse fato, inclusive, previsto no art. 44 da Resoluo N 357, que explicita a necessidade de complementao das condies e padres de lanamentos de efluentes definidos na mesma, um dos objetos da elaborao da Resoluo 430.

    A Resoluo complementar 430 tambm foi fruto de uma intensa discusso entre diversos interlocutores durante 11 reunies no Grupo de Trabalho criado em julho de 2008, ocorridas no perodo de mais de um ano, at o seu encaminhamento para a Cmara Tcnica de Controle e Qualidade Ambiental CTCQA e finalmente aprovao no CONAMA em maro de 2011.

    O trabalho contou com a participao dos mais diversos setores dentre os quais representantes de governos estaduais, MMA, IBAMA, Ministrio das Cidades, ANA, ANVISA, entidades da sociedade civil, laboratrios de anlises, consultores, empresas do setor de saneamento e indstrias e teve como objetivo inicial atender o disposto

    Resoluo CONAMA n430 de 13 de maio de 2011 sobre emisso de efluentes. O qu mudou?

    Clia Regina Alves Renn

    Engenheira civil e sanita-rista pela EEUFMG, com especializao em enge-nharia ambiental no Il-linois Institute of Tech-nology de Chicago, em gerenciamento de recursos hdricos na Universidade de Lund, Sucia e MBA em Gesto Estratgica de Em-

    presa de Saneamento na Fundao Joo Pinheiro e na Fundao Dom Cabral. Coordenadora de Pro-jeto Estratgico ligada Presidncia da Companhia de Saneamento de Minas Gerais - COPASA.

    Presidente eleita da ABES MG

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    5- Foram includos novos parmetros de controle para ben-zeno, tolueno, etilbenzeno, xileno, estireno e modificado os limites de lanamento de DBO, alm de excludo o par-metro Boro de lanamentos em guas salinas.

    6- Foram definidos e detalhados os critrios de ecotoxicidade para os efluentes a partir de resultados de ensaios ecotoxi-colgicos utilizando organismos aquticos de pelo menos dois nveis trficos diferentes.

    7- Foram definidas as condies para lanamento de efluentes em emissrios submarinos;

    8- Foram estabelecidos condies e padres especficos para o lanamento de Efluentes de Sistemas de Tratamento de Esgotos Sanitrios em corpos receptores e emissrios sub-marinos e definida a necessidade de teste de ecotoxicidade para esses efluentes somente quando esses tiverem interfe-rncia de efluentes industriais e com o objetivo de subsidiar aes de gesto sobre o sistema de esgotos.

    9- Foram estabelecidas regras para tratamento de lixivia-dos de aterros sanitrios e efluentes oriundos dos servios de sade;

    10- Foram estabelecidas exigncias mais rigorosas para a realizao das coletas de amostras e ensaios laboratoriais de efluentes.

    A resoluo 357 est compatibilizada com a Poltica e o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos e seus conceitos e padres relativos gesto da qualidade das guas.

    A resoluo 430 foi elaborada para o detalhamento e atualizao dos parmetros de lanamento de efluentes para substncias inorgnicas e orgnicas, conforme previsto na legislao, tendo como premissa o acompanhamento das condies estabelecidas pela evoluo tecnolgica ocorrida nos tratamentos, tendo sido dado nfase ao estabelecimento novas condies e padres de lanamento para o setor de saneamento, compatibilizando a poltica de saneamento do governo e as tecnologias utilizadas no pas para esse fim com as diretrizes da legislao ambiental vigente.

    Considera-se, portanto que a Resoluo 430 apresenta-se como um avano da legislao ambiental ao considerar as peculiaridades do setor de saneamento e ao incluir orientaes para anlise da capacidade de suporte do corpo de gua receptor para recebimento dos efluentes, bem como com o detalhamento do processo de avaliao da ecotoxicidade dos efluentes e das aes de gesto necessrias ao seu controle.

    Ficou ainda pendente na Resoluo 430 um maior detalhamento da zona de mistura a ser considerada em cada lanamento, onde no so avaliadas as condies de atendimento do lanamento a qualidade do corpo receptor e como sero incentivadas as aes de uso racional das guas e reduo da carga poluidora.

    Ressalta-se que o processo de discusso dos novos parmetros e diretrizes da resoluo manteve a histrica construo

    participativa da legislao ambiental do pas, reconhecidamente moderna e abrangente, o que sempre louvvel.

    Ressalta-se, contudo tambm, que durante esse processo no foram novamente avaliados os recursos necessrios para que os empreendimentos sejam adequados para atendimento a essa resoluo, e que sempre se constata durante o processo de construo das resolues a carncia de dados qualitativos e quantitativos adequados e consistentes da qualidade das guas e efluentes gerados no pas.

    Novamente essa reviso da legislao e elaborao de resoluo foi realizada sem uma avaliao mais profunda da compatibilidade da qualidade da gua que hoje conseguimos manter nos cursos de gua com aquela que foi estabelecida na CONAMA 357, que a representao mais prxima do desejo da sociedade, e tambm sem se avaliar novamente a real possibilidade de que aquilo que se est deliberando est realmente levando ao atendimento de todas as exigncias. Alm disso, foi dado um prazo de trs anos na deliberao para os empreendimentos se adequem a esses novos padres sem que tenham sido levantados quais os recursos seriam necessrios para esse fim nem quais seriam as fontes financiadoras dos mesmos.

    Portanto as leis e regulamentos brasileiros continuam sendo deliberados e aprovados em cima do desejo dos seus formuladores e ainda uma incgnita se as condies e padres e os enquadramentos e metas que vem sendo definidos para as guas do pas representam uma qualidade de gua passvel de ser alcanada ou mesmo que se tenha a mnima previso de quando esses padres sero atingidos. Mas pior, ainda no foram calculados nem estimados os recursos necessrios para atingir e manter essa qualidade e muito menos identificados quem sero os responsveis por esses investimentos.

    Continuamos ento participando e tentando contribuir para o processo de construo da legislao, mas nesse processo nos mantemos com a dvida se essa resoluo vai ser atendida ou no e quanto tempo a sociedade brasileira ter que esperar para contar com o efetivo cumprimento das leis ambientais aprovadas e com a qualidade ambiental sonhada.

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    Remoo de 17-Etinilestradiol de guas de Abastecimento, utilizando diferentes Tecnologias de Tratamento Fsico-qumico17- Ethinylestradiol Removal from Supplying Water, using different

    Physicist-chemistry Treatment Technologies

    Roberto Fernandes (*) Engenheiro Qumico pela Universidade Federal de So Car-los (UFSCar). Mestre em Saneamento e Ambiente pela Facul-dade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Uni-versidade de Campinas FEC/UNICAMP

    Prof. Dr. Rubens Bresaola JuniorProfessor Doutor do Departamento de Saneamento e Ambi-ente da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urba-nismo - FEC/UNICAMP. Foi Diretor de Educao do CREA - SP, Membro do Conselho Estadual de Recursos Hdricos do Estado de So Paulo

    Endereo para correspondncia (*): Av. Washington Luis, 2700 Ap. 84B, Parque Prado Campi-nas - SP - CEP: 13042-903 - Brasil - Tel: (19) 9794-3293e-mail: [email protected]

    Data de entrada: 13/11/2009 Data de aprovao: 09/06/2011

    RESUMO

    O 17-Etinilestradiol um princpio-ativo sinttico presente nos contraceptivos orais. O excesso desse composto no absorvido pelo organismo feminino eliminado, princi-palmente, pela urina. No sistema de esgotos, mesmo sobre a existncia de tratamento, este no removido completamente, alcanando mananciais que podem ser utilizados para abastecimento pblico. No presente trabalho foram avaliadas as eficincias de remoo do 17-Etinilestradiol da gua, por oxidao com Hipoclorito de Sdio ou Dixido de Cloro, adsoro em carvo ativado em p (CAP) e tratamento fsico-qumico. Dentre as tecnologias estudadas destacou-se a adsoro em CAP, pela elevada eficincia de remoo do composto (acima de 97,5%), por ser um material inerte de simples remoo e por no demandar a adio de produtos qumicos complementares a gua.

    ABSTRACT

    17-Ethinylestradiol is a synthetic pharmaceutical substance used as active ingredient of contraceptives. The excess of this compound, not absorbed by woman organism, is eliminated mainly by urine. Even after sewage treatment, 17-Ethinylestradiol residual is not totally removed, re-maining as contaminant of water sources that can be used for public supplying.In this work, 17-Ethinylestradiol removal efficiencies were evaluated using different technologies such as: oxidizing with Sodium Hypochlorite or Chlorine Dioxide, adsorption in powder activated carbon (PAC) and physicochemical treatment.

    INTRODUO

    Aps a consagrao e popularizao da tcnica da contracepo oral, hoje em uso por mais de 100.000.000 de mulheres no mundo, segundo OKKERMAN e GROSHART (2001), recebe foco atualmente a preocupao com a presena de resduos dos princpios ativos, detectados em quantidade cada vez maior nos efluentes domsticos, pela excreo do excesso no absorvido pelas usurias. De acordo com MULROY (2001) entre 50 e 90% dos princpios ativos dos frmacos, onde podem ser includos os anticoncepcionais, so liberados pelo organismo atravs das fezes e urina. Na gua, a presena dos princpios-ativos pode representar um risco tanto ao ambiente, quanto aos organismos vivos, por se tratarem de substncias antropognicas ainda pouco conhecidas aos equilbrios naturais. TERNES (1999). Nesse sentido, o presente trabalho contm estudos que avaliam e comparam as eficincias de remoo do 17-Etinilestradiol da gua, quando utilizadas as tecnologias: oxidao com hipoclorito de sdio ou dixido de cloro; adsoro em carvo ativado em p (CAP) e tratamento fsico-qumico composto de coagulao; floculao; sedimentao e filtrao. A pesquisa realizada possui carter exploratrio, uma vez que, globalmente, so escassos os trabalhos publicados sobre a remoo deste hormnio sinttico em guas para abastecimento. A escassez de dados de eficincia dos processos de tratamento de guas de abastecimento e de esgoto, comumente empregados no Brasil, frente reduo da concentrao dos frmacos contaminantes, contribui para o reduzido grau de divulgao e discusso da questo, perante os diversos segmentos da populao brasileira. A carncia de informao tambm dificulta o posicionamento legislativo local, frente a elaboraes de leis para a proteo, tanto do meio ambiente quanto da populao exposta. A aquisio de dados intrnsecos s condies e realidade brasileiras de vital importncia na formao de base para futuras solues dedicadas ao problema.

    Among the studied technologies, powder activated carbon adsorption was considered the best solution provided that, it presented high removal efficiency (> 97.5%), it is an inert material and it does not rely on additional chemicals introduction in the water.

    Palavras-chave: Hipoclorito de Sdio; Dixido de Cloro; Carvo Ativado em P; Tratamento de gua; Plula Anticon-cepcional; Interferente Endcrino; 17-Etinilestradiol

    Key words: Sodium Hypochlorite; Chlorine Dioxide; Powder Activated Carbon; Water Treatment; Oral Contraceptive; En-docrine Disruptor; 17- Ethinylestradiol

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    METODOLOGIA

    A pesquisa proposta foi desenvolvida no Laboratrio Analtico Corporativo do Centro Tcnico de Clientes da 3M do Brasil ltda, sede de Sumar SP e no LABPRO (Laboratrio de Prottipos da Engenharia Civil) UNICAMP.A gua bruta utilizada nos estudos possuiu como fonte o poo artesiano localizado no Ginsio Multidisciplinar da UNICAMP e as alquotas coletadas, foram pr-contaminadas com o padro slido 17-Etinilestradiol - 98% de pureza produzido pela Sigma-Aldrich Co., com concentrao terica ajustada para 5,0000 g/L.Os experimentos foram subdivididos em mdulos de testes e executados em duplicata, nos quais cada mdulo foi dimensionado em funo do nmero de variveis inerentes ao estudo de cada tecnologia.

    Estudos de oxidao (MDULOS 1 e 2)

    Os ensaios de oxidao foram executados temperatura ambiente, empregando-se procedimentos idnticos para os dois reagentes oxidantes comerciais, que foram estudados em separado. Primeiramente, carregou-se cada reator (bquer de 2L de vidro) com 2L de amostra de gua de poo e em seguida dosou-se, em cada reator, 200 L do contaminante padro 17-Etinilestradiol , correspondente a concentrao terica de 5,0000 g/L de 17-Etinilestradiol , fixada como concentrao inicial referncia para todas as etapas do estudo. Este valor de concentrao foi pr-estabelecido por pertencer a uma faixa estatisticamente confivel, com relao ao limite de deteco do mtodo escolhido e tambm por ter sido prxima a adotada como referncia por outros autores, em trabalhos recentes sobre o assunto. HUBER (2004); TERNES (2004)Aps a adio da alquota do contaminante em cada um dos cinco reatores que compunham cada ensaio, foram adicionadas as dosagens pr-calculadas dos oxidantes em cada um dos reatores. As referidas dosagens contemplariam as concentraes de interesse (0 - controle; 0,20; 2,00; 5,00 e 10,00 mg/L) e a amostra de cada reator era ento submetida agitao em agitadores eletromagnticos sob rotao de 120 rpm, empregando barra magntica de 4 cm de comprimento. Nesse momento, iniciava-se a marcao do tempo de reao atravs de cronmetro digital. Os reatores em cada ensaio, aps a adio do contaminante e dos agentes oxidantes, eram vedados com filme plstico e permaneciam dessa forma, durante todo o tempo de contato estudado. Os valores de concentrao de Hipoclorito de Sdio e Dixido de Cloro e os tempos de contato adotados no trabalho pertenceram mesma faixa descrita na metodologia de HUBER (2004), em pesquisa semelhante.Ao final do tempo de reao de interesse em cada experimento cessava-se, imediatamente, as reaes de oxidao pela adio do agente inibidor Tiosulfato de Sdio (Na

    2S

    2O

    3) a 3%, em cada

    reator, de acordo com a quantidade descrita pelo procedimento de desclorao de amostras de gua descrito no mtodo 9060 Standard Methods, tambm utilizado por HUBER (2004). Aps a interrupo programada de cada reao de oxidao, as amostras de gua eram disponibilizadas para a fase seguinte:

    a extrao em fase slida. As cinco dosagens dos oxidantes foram estudadas em 4 diferentes tempos de contato: 0,5; 1; 3 e 5 horas. Cada oxidante foi estudado isoladamente, denominando-se Mdulo 1 os ensaios pertinentes a aplicao do hipoclorito de sdio e Mdulo 2 a aplicao do dixido de cloro.

    Estudos de adsoro em carvo ativado em p (MDULO 3)

    A eficincia de remoo do 17-Etinilestradiol, pela aplicao de carvo ativado em p (CAP), fornecido pela empresa Bahiacarbon Agroindustrial ltda., foi avaliada sob 5 dosagens: 0; 2,0; 10,0; 50,0 e 100,0 mg/L; coerentes metodologia adotada por TERNES (2004). Os ensaios foram executados com o mesmo volume de gua de poo descrito nos mdulos de oxidao e mesma concentrao terica inicial do contaminante 17-Etinilestradiol: 5,0000 g/L. O mdulo de estudo da adsoro em CAP foi realizado em equipamento de jar-test considerando-se gradiente de velocidade constante de 30 s-1 e dois diferentes tempos de contato: 60 e 120 minutos. Os processos de enchimento dos jarros do equipamento jar-test com a gua de poo e as dosagens do contaminante 17-Etinilestradiol foram realizados atravs do mesmo procedimento descrito dos Mdulos 1 e 2 (oxidao). As massas de carvo ativado em p (CAP) foram quantificadas em balana analtica e dosadas, imediatamente aps a contaminao da amostra de gua de cada jarro. Os tempos de contato do carvo com as amostras de gua pr-contaminadas, para cada experimento, eram inicialmente monitorados no ato da ligao da agitao do aparelho jar-test, o qual estava previamente programado para gradiente de velocidade constante de 30 s-1. Ao final de cada experimento, cada amostra foi submetida a um processo de filtrao a vcuo, para a remoo de todo o carvo ativado anteriormente adicionado, evitando assim sua interferncia no processo subseqente (extrao do contaminante em fase slida). Para as filtraes foram empregadas, sequencialmente, meios filtrantes de ster de celulose na forma de discos de 47 mm com as seguintes distribuies mdias de dimetro de poro: 40, 20, 5 e 1 m. Aps a etapa de filtrao as amostras de gua foram armazenadas em frascos de vidro de 2L, ficando assim disponveis para a extrao em fase slida, tcnica empregada para a etapa de pr-concentrao do analito.

    Estudos de tratamento fsico-qumico (MDULO 4)

    O tratamento fsico-qumico da gua foi realizado empregan-do-se diferentes combinaes de carvo ativado em p (CAP) e do agente coagulante Sulfato de Alumnio PA - Al

    2(SO

    4)3,

    fornecido pela Indstria Qumica Cataguases ltda, em cada jarro do equipamento jar test. As dosagens de carvo ativado neste mdulo foram 1,00; 5,00; 25,00 e 50,00 mg/L e as de coagulante foram: 5,00; 25,00 e 50,00 mg/L; faixa coerente com a metodologia descrita por CARBALLA (2005). Os experimentos deste mdulo, tambm consistiram de ensaios simultneos, empregando-se o mesmo volume de gua de poo pr-contaminada, descrito nos mdulos anteriores. As massas de carvo ativado e Sulfato de Alumnio, empregadas no estudo, foram previamente quantificadas em balana analtica. Neste mdulo foi admitido um nico valor de gradiente de

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    velocidade de 30 s-1, aplicado na mistura durante 30 minutos aos reatores, aps a adio do carvo e do coagulante. Ao trmino deste tempo aguardava-se 40 minutos para submeter as amostras filtrao vcuo, tempo suficiente para a sedimentao dos flocos, sob velocidade de sedimentao de 0,5 cm/min.Identicamente ao procedimento utilizado no mdulo anterior, ao final de cada experimento, cada amostra foi individualmente filtrada atravs de vcuo, para a remoo dos flocos e partculas de carvo ativado, evitando assim sua interferncia no processo subseqente (extrao do contaminante em fase slida). Aps a etapa de filtrao, as amostras foram disponibilizadas para a etapa de extrao do analito, em fase slida.

    Determinao das concentraes de 17-Etinilestradiol das amostras

    Etapa de pr-concentrao

    Para as quantificaes do 17-Etinilestradiol, presente nas amostras de gua, foi necessrio aplicar uma tcnica de pr-concentrao do analito, numa escala de 4.000 vezes, atravs de extrao em fase slida, devido as concentraes do lquido de trabalho serem reduzidas e variveis nas faixas entre g/L e ng/L. A preparao das amostras para as anlises via CLAE (cromatografia lquida de alta eficincia) consistiu de duas etapas: extrao e pr-concentrao do analito de interesse.A extrao do 17-Etinilestradiol em fase slida (EFS) foi realizada atravs de cartuchos extratores modelo Strata-X (Phenomenex) - 3mL/200mg, compostos pela fase octadecil slica (C

    18) com carbono grafitizado. So inmeras as

    Amostra de gua de gua de poo pr-contaminada com 17-

    etinilestradiolAmostra pr-concentrada,

    pronta para ser analisada via

    CLAE

    Bomba peristltica

    Analito de interesse

    publicaes cientficas que apontam essa tcnica como apropriada para a extrao de hormnios em meio aquoso, na faixa de concentrao de g/L e ng/L e que destacam o elevado grau de seletividade do extrator. HU (2005); ALDA (2001); INGERSLEV (2003). Anteriormente ao processo de extrao, cada cartucho extrator foi condicionado pela passagem de 10 mL de Metanol nanograu e 3 mL de gua osmolisada, antes de ser conectado ao aparato extrator. Este procedimento foi realizado em capela, devido toxidade do solvente. A Figura 1 exibe um fluxograma do sistema contendo um cartucho extrator de fase slida (EFS), cujo modelo foi empregado durante a execuo dos experimentos.Ao final do processo, cada cartucho era ento secado via presso negativa (vcuo) por aproximadamente 2 minutos.Na seqncia, cada cartucho extrator seco recebia 10 mL de Metanol nanograu - JT Baker, solvente apropriado para anlises em CLAE, numa taxa de 0,3 mL/min, alcanada por presso atmosfrica. Este procedimento garantia a transferncia de massa quantitativa do analito retido, na fase slida do extrator, para a fase do solvente, devido sua maior afinidade pela fase alcolica. RAIMUNDO (2007)O volume de Metanol percolante ao extrator era ento acondicionado em frascos de vidro com capacidade para 10 mL, dotados de tampa plstica e em seguida, sofria um processo de completa secagem em ambiente inerte com gs Nitrognio de alta pureza. Aps a completa evaporao do solvente, finalmente, cada amostra era ento eluda em 0,5 mL de Metanol, adicionado ao frasco atravs de pipeta automtica. O eluato, nesta fase, encontrava-se isento de interferentes e em concentrao apropriada para a anlise via CLAE (cromatografia lquida de alta eficincia).

    Figura 1 - Fluxograma esquemtico do sistema empregado para a extrao do analito de cada amostra de gua atravs de extratores em fase slida

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    Etapa de separao dos compostos por cromatografia lquida de alta eficincia

    As determinaes do 17-Etinilestradiol foram realizadas em equipamento cromatogrfico HPLC marca Waters, com a seguinte configurao: coluna C

    -18 de fase reversa de 150 mm

    de comprimento e 3,9 mm de dimetro; bomba modelo Waters pump 51S; refratmetro diferencial modelo Waters 410 e arranjo de diodos com UV modelo Waters 996 de injeo manual. Este equipamento encontra-se no Laboratrio Corporativo do Centro Tcnico de Clientes (CTC), da sede da empresa 3M do Brasil ltda.As condies operacionais para as anlises quantitativas foram ajustadas sob as seguintes condies de trabalho:

    Ala de amostragem de 20 L: alquota admitida peloequipamento em cada anlise;

    Composio da fase mvel: mistura binria de 40% Acetonitrila grau HPLC / 60% gua osmolisada;

    Eluio isocrtica: uso de concentraes fixas para os dois componentes da fase mvel;

    Vazo de 0,6 mL/min para a fase mvel, atravs do equipamento;

    Tempo de corrida de 12 minutos: tempo no qual o equipamento permanecia em operao para cada anlise de amostra;

    Pico de absoro do 17-Etinilestradiol: 280 2 nm; Varredura entre 200 e 360 nm: intervalo de deteco em

    funo do comprimento de onda de absoro dos compostos.

    Todos os ajustes descritos foram mantidos registrados em um programa especfico de apoio, contido no software de gerenciamento de anlises do prprio equipamento.Aps as verificaes descritas, uma a uma as amostras eram injetadas aleatoriamente no cromatgrafo, empregando-se uma microseringa de vidro de capacidade 100 L. Entre uma amostra e outra, para evitar possveis contaminaes cruzadas, tanto a ala de amostragem do sistema, quanto a microseringa eram lavados com cerca de 400 L de Metanol. Ao final de cada seqncia de cinco amostras analisadas era injetada, aleatoriamente, uma das amostras-padro de 17-Etinilestradiol para a construo da curva analtica. As concentraes-padro analisadas, que serviram de base para a construo da curva foram: 0,30; 0,50; 1,00; 2,00; 3,00; 4;00; 5,00; 10,00; 30,00 e 40,00 mg/L.A presena do 17-Etinilestradiol em uma dada amostra era caracterizada por um pico caracterstico no cromatograma, coincidente, temporalmente, com padres do analito, pre-viamente injetados para a construo da curva analtica. Cada cromatograma concludo era, automaticamente, armazenado no software gerenciador do sistema e disponvel para posterior anlise e tratamento.

    Etapa de quantificao

    O analito de interesse foi quantificado por padronizao externa. A curva analtica que correlaciona as alturas dos picos cromatogrficos correspondentes ao composto

    artigos tcnicos

    17-Etinilestradiol, com suas concentraes, foi construda a partir da preparao de um padro inicial, mais concentrado, constitudo do padro PA slido do frmaco em estudo. A concentrao do padro inicial preparado foi de 50,00 mg/L e este, pela aplicao de diluies apropriadas com metanol, originou a srie de padres secundrios, que serviram de base para a construo da curva analtica: 0,30; 0,50; 1,00; 2,00; 3,00; 4,00; 5,00; 1,00; 5,00; 10,00; 30,00; 40,00 mg/L. As concentraes dos padres secundrios foram especificamente escolhidas para a faixa de trabalho da pesquisa, ou seja, ampla o suficiente para conter tanto as guas pr-contaminadas, com 5 g/L de 17-Etinilestradiol (condio inicial da pesquisa), quanto suas concentraes inferiores, obtidas aps a aplicao de cada tecnologia em estudo.Os padres preparados foram injetados no HPLC para a construo das curvas do mtodo analtico. Os picos correspondentes ao 17-Etinilestradiol possuam intensidades de altura proporcionais s concentraes injetadas e serviram de base para a construo da curva (concentrao de padro x altura do pico), chamada curva analtica. A preciso da metodologia de quantificao CLAE empregada na pesquisa foi avaliada em termos de repetibilidade, atravs do clculo do desvio-padro absoluto para um nmero de cinco repeties, para cada concentrao de padro analisada.

    Validao do mtodo analtico

    A eficincia do processo de extrao em fase slida foi previamente avaliada, atravs de testes de recuperao, que consistiram da preparao e anlise de amostras de gua de poo, com trs diferentes dosagens do padro 17-Etinilestradiol: 1; 3 e 5 g/L. Em seguida, cada uma das trs amostras foi submetida ao processo completo de extrao e ao final quantificado a concentrao do analito de interesse. A relao entre a concentrao inicial terica e a quantificada via CLAE (X obtido / X pr-dosado) fornece o nvel de recuperao do processo de extrao. Os intervalos aceitveis de recuperao para anlise de compostos em concentraes-trao esto entre 70 e 120 %, com preciso de at 20 %, de acordo com GARP (1999).

    RESULTADOS OBTIDOS PARA A OXIDAO DO 17- ETINILESTRADIOL

    (MDULOS 1 e 2)

    Tanto para o Mdulo 1, quanto para o Mdulo 2, cada figura apresentada exibe uma mdia dos resultados da duplicata para as dosagens avaliadas. Esto representadas sob forma de ponto as concentraes iniciais de 17-Etinilestradiol na gua e sob forma de colunas verticais, suas respectivas concentraes, aps a aplicao de cada uma das tecnologias; a linha em vermelho representa o limite de quantificao do mtodo empregado para o estudo. Esta mesma padronizao descritiva foi aplicada aos demais mdulos em estudo.Nas Figuras 2 a 5 so mostrados os resultados dos estudos de oxidao do 17-Etinilestradiol em meio aquoso, quando em contato com o Hipoclorito de Sdio e Dixido de Cloro sob dosagens de 0 (controle); 0,200; 2,00; 5,00 e 10,00 mg/L.

  • 24 DAEmaio/2010

    setembro/2011

    artigos tcnicos

    3,0551

    < LQ

    1,5704

    0,1172

    1,2998

    3,05513,2019

    2,9213

    3,3073

    0,0000

    0,5000

    1,0000

    1,5000

    2,0000

    2,5000

    3,0000

    3,5000

    4,0000

    0 0,5 1 3 5

    Tempo (h) - [NaClO] = 0,2 mg/L

    Con

    cent

    ra

    o de

    EE

    2 (m

    icro

    gram

    a/L)

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - final

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - inicial

    LQ = 0,0679 g/L

    0,42690,1951 0,1652 0,1592

    5,0677

    3,3135

    4,0456

    2,8525

    5,0677

    0,0000

    0,5000

    1,0000

    1,5000

    2,0000

    2,5000

    3,0000

    3,5000

    4,0000

    4,5000

    5,0000

    5,5000

    6,0000

    0 0,5 1 3 5

    Tempo (h) - [ClO2] = 0,2 mg/L

    Con

    cent

    ra

    o de

    EE

    2 (m

    icro

    gram

    a/L)

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - final

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - inicial

    LQ = 0,0679 g/L

    Figura 2: Mdias e desvios-padro dos resultados dos estudos de oxidao do 17- Etinilestradiol em meio aquoso,quando em contato com o Hipoclorito de Sdio e Dixido de Cloro a 0,200 mg/L

    Figura 3: Mdias e desvios-padro dos resultados dos estudos de oxidao do 17- Etinilestradiol em meio aquoso,quando em contato com o Hipoclorito de Sdio e Dixido de Cloro a 2,00 mg/L

    Figura 4: Mdias e desvios-padro dos resultados dos estudos de oxidao do 17- Etinilestradiol em meio aquoso,quando em contato com o Hipoclorito de Sdio e Dixido de Cloro a 5,00 mg/L

    3,0551

    < LQ0,0941

    0,4622

    0,6877

    3,05513,2019

    2,9213

    3,3073

    0,0000

    0,5000

    1,0000

    1,5000

    2,0000

    2,5000

    3,0000

    3,5000

    4,0000

    0 0,5 1 3 5

    Tempo (h) - [NaClO] = 2 mg/L

    Conc

    entra

    o

    de E

    E2 (m

    icro

    gram

    a/L)

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - final

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - inicial

    LQ = 0,0679 g/L

    0,2281 0,1203 0,13780,2736

    5,0677 5,0456

    3,3135

    2,8525

    5,0677

    0,0000

    0,5000

    1,0000

    1,5000

    2,0000

    2,5000

    3,0000

    3,5000

    4,0000

    4,5000

    5,0000

    5,5000

    6,0000

    0 0,5 1 3 5

    Tempo (h) - [ClO2] = 2 mg/L

    Con

    cent

    ra

    o de

    EE2

    (mic

    rogr

    ama/

    L)

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - final

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - inicial

    LQ = 0,0679

    0,0336< LQ < LQ < LQ

    2,92133,0551 3,0551

    3,20193,3073

    0,0000

    0,5000

    1,0000

    1,5000

    2,0000

    2,5000

    3,0000

    3,5000

    4,0000

    0 0,5 1 3 5

    Tempo (h) - [NaClO] = 5 mg/L

    Con

    cent

    ral

    ao d

    e E

    E2

    (mic

    rogr

    ama/

    L)

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - final

    Concentrao de EE2 (micrograma/L) - inicial

    LQ = 0,0679 g/L