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A Introdução e cultivo da soja no Noroeste Gaúcho através da História Oral
RHUAN TARGINO ZALESKI TRINDADE
Introdução
“Na Escola Agronômica de Guarani distribuiu as sementes [de soja] que geraram
a maior riqueza vegetal gaúcha”, eis parte da inscrição do busto erguido em 1998 como
homenagem ao agrônomo polonês Ceslau Biezanko, em Guarani das Missões, cidade
localizada no noroeste gaúcho.
A cidade de Guarani das Missões está muito vinculada com a imigração polonesa
ocorrida no final do século XIX na região. Esta característica permite a conformação de
uma identidade étnica entre os habitantes locais, congregados através da polonidade.
Outro marcador identitário da cidade é a relação com o “pioneirismo” do cultivo da soja
nos primeiros anos da década de 1930. A introdução da leguminosa é remetida para os
colonos poloneses da região, tendo sido distribuída pelo mencionado agrônomo
Biezanko. Estes dois elementos são constituintes da comunidade guaranienese e são
estimulados pelas lideranças e poderes públicos locais como formadores de um
autorreconhecimento e de heterorreconhecimento, uma vez que ajudam a constituir a
identidade dos habitantes da cidade frente às cidades vizinhas, um espaço de disputas em
torno do pioneirismo do cultivo da soja e da hierarquização étnica.
Nosso foco principal neste texto é com relação ao rememorado caso do agrônomo
Ceslau Mario Biezanko1, um imigrante polonês nascido em 1895, em Kielce2, que depois
de se formar Engenheiro Agrônomo e trabalhar na Europa, constituindo um extenso
currículo (TRINDADE, 2015), foi enviado pelo governo polonês no início da década de
1930 para a América do Sul.
UFPR, Doutorando em História, apoio CAPES. 1 O personagem e sua relação com a soja foi tema da dissertação de mestrado “Um cientista entre colonos:
Ceslau Biezanko, Educação, Associação Rural e o cultivo da Soja no Rio Grande do Sul no início da década
de 1930” defendida em 2015 no PPGH da UFRGS. 2 Cidade localizada no centro-sul da Polônia, na época, parte do Império Russo, hoje, localiza-se na
província (Voivodia) de Świętokrzyskie.
O agrônomo viria a se fixar no Brasil onde foi reconhecido oficialmente pelo
governo brasileiro como o introdutor de sementes de soja no Rio Grande do Sul em 1963.
Tal homenagem é devido justamente ao seu trabalho junto aos colonos poloneses da então
colônia de Guarani das Missões, entre 1932 e 1934. Em Guarani, além de fundar
associações agrícolas, escolas e publicar trabalhos em diferentes áreas, disseminou
sementes de variedades (12 cultivares3) de soja, muito antes do “boom” da leguminosa
naquela região, que é evidente somente a partir dos anos 1950 e especialmente a partir
dos anos 1970. Em 1934 o agrônomo teve de sair da cidade em razão, entre outras disputas
na comunidade local4, dos maus resultados obtidos com o uso da soja como ração suína,
elemento causador (quando em alta porcentagem) de descalcificação e consequentemente
morte dos animais.
Conforme Candau (2012), a conformação da identidade está conjugada com a
memória, ambas nutrindo-se mutuamente e capazes de produzir uma história, uma
narrativa, uma trajetória de vida e/ou um mito, sendo a memória que constrói, alimenta e
fortalece a identidade, tanto individual, mas no nosso caso, principalmente a coletiva.
Com base nesta assertiva, a proposta deste trabalho é descrever e analisar os vínculos do
cultivo da soja com os colonos poloneses em Guarani das Missões baseado em relatos
orais obtidos em entrevistas com diferentes agentes. Com base nestes dados propomos
verificar as disputas memorialísticas em torno do pioneirismo do cultivo da leguminosa
e as temáticas relacionadas à identidade étnica polonesa, isto é, a polonidade, igualmente
importante, visto que é componente da oralidade observada nos depoimentos.
História Oral e soja/colonos poloneses
Primeiramente, não podemos deixar de esclarecer alguns aspectos metodológicos
importantes quanto ao nosso grupo de fontes aqui destacados, os depoimentos. Para tanto,
nos valemos da História Oral, método de pesquisa (ALBERTI, 2005: 29) que desde 1960
3 BIEZANKO, Ceslau. Relação de plantas exóticas e indígenas cultivadas em Guarani Das Missões (1930-
1934) e em Pelotas (1934-1949) (Rio Grande Do Sul). Curitiba: Gráfica Vicentina, 1964. 4 Disputas envolvendo a igreja, representada pelo clero, os “instrutores” poloneses (intelectuais enviados
pelo governo polonês às colônias) e os colonos.
vem ganhando importância entre os historiadores. Esta metodologia é entendida aqui em
conformidade com Alberti (2005), na sua possibilidade “método-fonte-técnica” e com o
intuito de examinar a “construção, desconstrução e reconstrução da memória” (POLLAK,
1989: 13).
Aliamos essa análise à constituição da noção, do que Candau (2012) chama de
“prosopopeia”, dentro do contexto da “panteonização”, processo que envolve jogos
identitários para um determinado grupo, em que ocorre uma modelização, idealização,
enaltecimento, emulação e/ou heroicização de homens do passado como personagens
ideais que servem como exemplos e objetos de memória e identidade.
Para retomar estes esquemas mnemônicos, através dos discursos e entrevistas,
pretendemos averiguar informações, testemunhos, versões e interpretações de
determinados indivíduos sobre o tema específico. Sabendo da existência de dois modos
de proceder, um “conferindo maior importância à precisão factual e à informação e outro
mais preocupado com o que revelam os interstícios do discurso” (VOLDMAN, 1998: 35).
Nesse sentido, premente se faz a entrevista temática, a qual tem como objetivo
obter subsídios de algo não necessariamente vivido pelo indivíduo, mas do qual sabe ou
participou de alguma maneira. Uma série de entrevistas foram promovidas, e a escolha
dos entrevistados foi feita a partir de interesses e proximidade destes com a temática5.
Alguns depoentes conviveram com o Biezanko nos anos 1930; também parentes de
pessoas próximas ao cientista em Guarani das Missões; estudiosos da etnia polonesa,
além de outros indivíduos (desde políticos, colonos, professores, empresários e outras
figuras que tiveram contato com a introdução da soja e sua história) que foram chamados
a prestarem seus depoimentos para nossa pesquisa, constituindo um corpus documental.
As entrevistas permitiram ao depoente falar sobre Biezanko, soja, imigração,
Polônia, entre outros assuntos a partir de questionamentos amplos e provocativos, os
quais, na medida do interesse do autor, eram especificados. Preferimos omitir os nomes
ao longo do texto, destacando apenas as iniciais, ofício e idade dos depoentes.
5 Infelizmente, devido ao período recuado da nossa temporalidade em destaque, não existem muitas
testemunhas vivas dos acontecimentos aqui relatados.
Os debates sobre a ética no uso das fontes orais são polêmicos e existem várias
indicações e manuais, de maneira que seguimos a perspectiva da carta da Associação
Nacional de História - Brasil (ANPUH) sobre os princípios éticos (2015), privilegiando
o anonimato dos depoentes citados ao longo do texto e que tiveram as informações
transcritas neste trabalho.
Em suma, segundo Alberti (2005: 29), “sendo um método de pesquisa, a história
oral não é um fim em si mesma, e sim um meio de conhecimento”, influenciados por esta
forma de pensar, pretendemos articular os depoimentos orais com outras fontes como
cartas e periódicos, a fim de dar maior completude para nossa análise.
Ceslau Biezanko e a soja
A soja é mencionada no Brasil desde o século XIX6, e sua “origem” não é fácil de
ser rastreada. Há vínculos com a vinda de agrônomos estrangeiros, experimentos em
instituições educacionais rurais e estatais, bem como, a alegada introdução entre
agricultores, notadamente os japoneses em São Paulo e os alemães e poloneses no Rio
Grande do Sul (TRINDADE, 2015).
Biezanko foi um dos possíveis introdutores, quando trouxe algumas sementes da
leguminosa para o Brasil em 1932, numa época, lugar e condições específicos. Este fato
relacionado ao pioneirismo é menos importante diante do trabalho amplo e coletivo que
estabeleceu na colônia polonesa. O elemento principal é que Biezanko ajudou a assentar
as bases da soja no Rio Grande do Sul, e para tanto recebeu oficialmente o
reconhecimento.
O agrônomo assume responsabilidade pela inserção de sementes de variedades da
leguminosa entre colonos de Guarani. Em uma série de entrevistas7 a diferentes
periódicos, o cientista sobressai sua atuação. Mormente em 1958, Biezanko apregoa suas
realizações na publicação das traduções adaptadas de uma série de artigos originalmente
6 Dean (1989) escreve que um viajante encontrou soja em 1818 no Rio de Janeiro. 7 Agricultura e Cooperativismo, Porto Alegre, 1976; Cotrifatos, Cerro Largo, 1978, Zero Hora, Porto
Alegre, 1984.
publicados em polonês no periódico polono-brasileiro Lud (O Povo), de Curitiba, em
1934, no qual trata da soja e das suas atividades com ela na colônia Guarani. O cientista
assevera nos artigos que ajudou na introdução da soja, admite que as distribuiu entre os
colonos em Guarani e relata sua expansão pela região.
Na cidade, os entrevistados confirmam os dados abonando a noção de como
ocorriam as distribuições: A.W. (supervisor de produção aposentado, 64 anos) afirma
segundo seu pai, Miguel Valeriano Wastowski “Ele contou que ele era, que... Que ganhou
essas sementes do Biezanko, e ele falava; se orgulhava muito sabe, de que foi ele o
primeiro plantador”, Z.K. (agricultora aposentada, 74 anos) confirma sobre sua família
que “Eu sei que lá em Bom Jardim8 quem plantava; quem também ganhou o... A
sementinha, da semente de soja, também era o Francisco Hamerski, que era primo-irmão
do meu pai”, completando que “Ele ganhou. Mas se o meu pai tinha ganhado, eu acho
que não, que já depois ele ganhou desse Francisco, desse primo”, fato que demonstra
também a redistribuição. Ela destaca após que “Mas isso era pouquinha sementinha!...
Isso era... Sementinhas pouquinhas! Que ele dava para ti, as testava se isso ia render
alguma cultura ou não”. E.W. (dentista aposentado, 78 anos) aponta que “Ele [Biezanko]
de fato, ele trouxe essa soja, esse punhado se soja, e deixou aqui com... Com o pai, e aí
distribuiu para o Estanislau Kowalski, ali da Harmonia, não é, e para o pessoal... Para
o pessoal da Linha... 8 de Agosto”. Também para o agricultor aposentado A.A. (62 anos),
seu avô recebeu e trouxe as sementes para plantá-las na colônia da sua família9. Existem
ainda muitos outros relatos.
Para além da soja, Biezanko trabalhou com afinco na introdução de bichos-da-
seda, sorgo, criação de nutrias, além de uma série de outros produtos, os quais estão
registrados num artigo do cientista (BIEZANKO, 1964). Entretanto, apenas a soja teve
grande destaque na memória oral coletada dentre os depoentes, mesmo que tenha existido
um gap entre a introdução de algumas variedades de maneira experimental por Biezanko
8 Linha da colônia de Guarani das Missões. 9 Segundo entrevista com A.A. (agricultor aposentado, 62 anos): “Eu tenho certeza não é; só disso: que o
vovô João Klidzio, o meu vovô, pai da minha mãe, ele trouxe, mas, pelo que eu sei, eu acho que de Guarani
não é? Guarani já era uma cidadezinha, era Vila naquele tempo, o Município mãe é São Luiz Gonzaga, na
serra não é. Daí ele trouxe uma sementinha, e nessa terra aqui que nós estamos morando, ali atrás do poço,
essa soja foi plantada. Isso eu tenho certeza. Agora, quem distribuiu, pode ser quem foi”.
e a efetiva produção em larga escala nos anos 1960, que faz parte de outro processo. Esta
rememoração específica está relacionada ao contexto atinente ao desenvolvimento da
agricultura na região.
O Brasil, com o fim da Segunda Guerra, passa por um período de modificação da
agricultura colonial tradicional, quando se inicia um processo de modernização da
agricultura. Nos anos 1960, com o regime militar, este processo ganha impulso e, entre
outras consequências, ocorre a expansão da agricultura mecanizada voltada ao mercado
externo.
A soja tem, portanto, seu boom, devido a várias razões relacionadas com o
contexto econômico regional e supranacional. Este processo ocorre, sobretudo, na região
noroeste do estado, a partir de uma difusão tecnológica, propalado através das lideranças
locais, da extensão rural e do treinamento para convencer os agricultores (ZARTH, 2009).
Não podemos deixar de frisar, que a mesma razão a qual conduziu à consideração
de Biezanko e seu trabalho, o crescimento da sojicultura, foi o motivo pelo qual a
leguminosa é justamente mais destacada em relação a outros produtos incentivados pelo
cientista, que tiveram um investimento por parte do professor tal e qual o da soja, mas os
quais economicamente não foram importantes no período posterior. Ocorreu, portanto,
um trabalho de seleção da memória daquilo que deveria ou não ser lembrado e esquecido
entre os habitantes de Guarani.
A própria imprensa brasileira fez uma série de reportagens com Biezanko nas
décadas de 1960, 1970 e 1980 relembrando seu trabalho em Guarani no início dos anos
1930 e relacionando uma novidade introduzida num tempo e espaço muito particular e
determinado com as mudanças da agricultura tradicional daquelas décadas.
Em tempo, ainda a título de reconstrução mnemônica, em 1963, Biezanko recebeu
sua mais lembrada condecoração, a “Ordem do Cruzeiro do Sul” e foi também
reconhecido pelo Ministério da Agricultura como o “Introdutor da soja no Rio Grande do
Sul”10. Por estas razões, se torna personagem importante na constituição da identidade
polonesa no estado, posto que desta forma era visto como um imigrante que havia
contribuído para a riqueza do Brasil ao propor um produto de sucesso para o país, a
10 Lud, 16/03/1976.
sojicultura. Portanto, é a vinculação de Biezanko com aquela planta específica que
constituiria uma memória a ser expressa pelos depoentes.
Igualmente, o cientista é vinculado a Guarani das Missões, através de uma
(re)construção identitária feita pelos habitantes e a política local, através de ações da
prefeitura, que heroiciza o personagem como um símbolo da cidade. Em 1998 foi erguido
um busto na principal praça da cidade de Guarani. Além disso, uma rua da cidade foi
batizada com o nome do cientista. Em 1996, um professor local foi enviado pela prefeitura
para fazer uma pesquisa da documentação sobre Biezanko.
A comunidade polonesa gaúcha e brasileira, e a cidade de Guarani das Missões,
renderam muitas homenagens ao professor-cientista e o constituíram como um dos
“vultos”, dos grandes personagens da imigração polonesa, um herói da comunidade.
Representando o “imigrante que deu certo”, o “exemplo”, capaz de positivar a imagem
daqueles grupos e reforçar a sua identidade, tornando-se elemento de coesão interna e de
notabilidade para fora dele, principalmente do ponto de vista interacional étnico, no qual
os poloneses estavam em situação de desvantagem e numa posição de inferioridade,
diante do contexto de hierarquização étnica (de origem europeia) do Rio Grande do Sul
(GRITTI, 2004).
Biezanko, a partir destes relatos, além de ser elemento de reforço à identidade
polonesa, enquanto personagem destacado e reconhecido, serviria para avigorar a
identidade local apontando tal personalidade como parte do “grupo” de poloneses e de
Guarani das Missões. Esta observação leva-nos a entender a distinção entre rememoração,
trabalho de memória individual, e comemoração, de acordo com Ricoeur (1985), como
trabalho de uma memória coletiva, em que o lembrar incita o testemunho do outro para
uma exigência de fidelidade.
Para Ricouer, os grupos sociais seriam portadores de memórias com noções
subjetivas e assim, as narrativas coletivas dos acontecimentos históricos (no nosso caso,
dos personagens históricos) são transmitidas de gerações em gerações, constituindo um
tempo anônimo “a meio caminho entre o tempo privado e o tempo público", portanto a
mediação entre a memória individual e coletiva passaria por uma identidade narrativa,
inscrita no tempo e na ação. A comemoração é um exemplo da seletividade da memória,
de maneira que haja uma relação com interesses os mais variados, num jogo de
esquecimentos e lembranças, que conformam as tramas de uma rememoração social.
Biezanko, portanto, se converteu em elemento de rememoração individual e
comemoração coletiva, atrelado a construção da identidade polono-gaúcha mais
especificamente, e polono-brasileira de maneira geral, bem como do “ser guaraniense”.
Entre os depoentes, muitos utilizavam da memória familiar coletiva para construir suas
narrativas, inclusive tentando aproximar seu passado da figura de Biezanko através de
possíveis contatos com antepassados, como observamos nas passagens supracitadas.
Observamos a existência de um discurso comum e estabelecido da relação de Biezanko
com a soja e Guarani das Missões.
O pioneirismo da soja, no entanto, tem sido elemento de debate, que envolve
diferentes cidades e grupos étnicos no planalto do Rio Grande do Sul. A história de
Biezanko em Guarani das Missões é muito importante em razão da sua rememoração
social, apesar das polêmicas quanto ao pioneirismo da soja na região ou entre os
poloneses, das quais o nome do cientista aparece com frequência. Estes assuntos são
temas da próxima seção.
O pioneirismo da soja e a relação com os imigrantes poloneses no noroeste gaúcho:
disputas de memória e identidade
O noroeste gaúcho, onde se encontra Guarani das Missões, revelou ao longo da
pesquisa uma realidade complexa e uma memória muito particular com relação à
introdução da cultura da soja na região, este acontecimento desenvolveu uma série de
particularidades, que remontam ao período da chegada do cientista polonês Ceslau
Biezanko e até mesmo antes dele.
A fim de exprimir o modo como se depreende a complexa teia memorial e de
representações simbólicas com relação ao processo maior da soja e projeção de Biezanko
na colônia polonesa, partimos para a análise das disputas que envolvem o cultivo pioneiro
da soja na região.
Entendemos as contendas a partir da noção de Bourdieu, envolvendo a criação de
formulações que, acima de tudo, são nomeações, categorizações, atribuições de sentido
qualificadoras do real, entendido aqui como um campo de lutas simbólicas. Este processo,
segundo Bourdieu (1989), envolve o poder (simbólico) de uma formulação definidora
aceitável no corpo social, de modo que apenas os “porta-vozes” tem o poder de fazer a
enunciação, a nomeação. Nesse ínterim, partimos para as perspectivas sobre o
pioneirismo da soja, as quais permitem uma apreciação da objetivação de aspectos
simbólicos como marcadores de identidade.
Os grupos e indivíduos com poder de enunciar e “fazer crer” (BOURDIEU, 1989)
estabelecem o que “deve” ser (re)memorado e comemorado (RICOEUR, 1985), diante
das diferentes alternativas possíveis encarnadas por outros grupos e indivíduos
obscurecidos simbolicamente. Estes embates abarcam a constituição da identidade dentro
de um contexto interacional, que envolve os porta-vozes de cidades (sua representação
política) e grupos étnicos interessados na conformação de um passado comum. Para essa
(re)criação social os indivíduos e grupos representados utilizam da soja e seu posterior
sucesso comercial, ademais de possíveis introdutores, os quais são heroicizados, como
elemento constituidor de coesão social para a conformação da memória e identidade
coletiva.
Em primeiro lugar, nas entrevistas percebemos que na memória do guaraniense11,
Santa Rosa (cidade vizinha) usurpou o título de capital nacional da Soja, ao ser
considerada o “verdadeiro” berço do produto, onde teria ocorrido a introdução pioneira
da leguminosa, que levou consequentemente à criação da Fenasoja (Festa nacional da
soja)12 desde os anos 1960.
A questão do pioneirismo da soja tem início a partir da disputa pelo título de
“Capital Nacional da Soja”, desde muito cedo capitaneado pela maior cidade da região,
Santa Rosa (ainda que a oficialização fosse posterior), a qual ostenta a denominação
honorífica alegando o início da cultura por volta de 1914, com ações do pastor Lembauer,
11 Gentílico, que expressa também uma “identidade” de modo usual, expressa em jornais da cidade ou na
memória dos cidadãos. 12 Soubemos através dos entrevistados que no Museu da Soja na cidade de Santa Rosa há referências ao
trabalho de Biezanko em Guarani das Missões.
o que a tornaria o “Berço Nacional da Soja”. Tal fato permitiu a criação da Feira Nacional
da Soja, a FENASOJA, iniciada em 1966 e que ocorre periodicamente desde 1974, na
qual chegaram a existir embates com guaranienses que reivindicavam o título para sua
cidade.
Em praticamente todas nossas entrevistas com os habitantes de Guarani, a querela
com o município vizinho era manifesta, as referências são muito recorrentes, como:
“Guarani ficou para trás, cidade pequena não é...” (A.A. agricultor aposentado, 62 anos),
“Por que sabe de uma coisa? Guarani brigou com Santa Rosa por causa disso aí!” (C.B.
agricultora aposentada, 78 anos), “Porque é ele [Biezanko] que – contam não é? – ele
que trouxe as primeiras sementes do soja; e depois foi plantada no nosso município, e
hoje quem leva a fama é Santa Rosa” (M.L., dona de casa, 78 anos), ou então menções
ao fato de Biezanko ter levado sementes para linhas que eram, então, parte de Santa Rosa.
O “título” honorífico em disputa seria um elemento de reforço identitário
importante para a constituição do grupo étnico polonês e da cidade, tendo como resultado
o aumento dos seus recursos, não apenas culturais, mas inclusive materiais através da
divulgação e turismo. É possível que as disputas com a cidade vizinha tivessem um
elemento étnico destacado, já que Santa Rosa é uma cidade originada de uma colônia
alemã, mas esta assertiva deve ser confirmada com uma pesquisa mais sistemática.
Para além das contestas com Santa Rosa, dentro da própria colônia polonesa há
questões quanto a quem foi o introdutor da soja. Em todos os grupos sociais (como os
étnicos) existem divisões, referentes a variadas formulações, ainda mais, quando remete
à constituição identitária grupal, que envolve posicionamentos e capacidade de
enunciação e ativação de determinadas situações em relação a outras, ou seja, o potencial
de “representação” cujo porta-vozes têm nas disputas simbólicas, o qual tem
reverberações nos discursos.
Deve-se ressaltar que a memória é sempre seletiva, uma construção qualitativa e
parte de múltiplos fatores que implicam “em predisposições que condicionam os
indivíduos a seleccionarem o seu passado”, uma vez que “os ritos de recordação”
desempenham funções nas sociabilidades e instituições. A memória cumpre, dessa forma,
um papel programático e normativo, que insere os indivíduos em “cadeias de filiação
identitária, distinguindo-os e diferenciando-os em relação a outros” (CARTROGA, 2001:
50). Desta forma, recordar tem uma função identificadora, que no nosso caso, perpassa a
constituição de uma identidade étnica polonesa no Brasil (polonidade), mas também da
comunidade guaraniense, com o elenco de mitos/vultos ou personagens de destaques
representativos da comunidade e positivadores de sua imagem. Uma memória unificada
constrói e conserva a unidade grupal, de maneira que há seleções (conscientes ou
inconscientes) daquilo que deve ser esquecido ou lembrado em nome da coesão,
mantendo/constituindo um sentimento de pertença entre os indivíduos nos grupos sociais.
A definição do personagem relacionado à introdução da soja na atual memória do
guaranienses e na sua transmissão oral parece menor, com Biezanko já estabelecido como
notável, mas nas fontes encontramos diversas referências, especialmente na atuação de
diferentes intelectuais polono-brasileiros no Rio Grande do Sul.
Józef Kuryło, um professor de origem polonesa que atuava nas linhas da colônia,
em artigo ao periódico polono-brasileiro Odrodzenie (O Renascimento) de 24 de janeiro
1934, afirma que já em 1931 iniciou não apenas o cultivo, mas a distribuição de sementes
de soja na região próxima ao rio Comandaí, na margem pertencente ao então município
de Santa Rosa.
Franciszek Wasilewski, quem assina o artigo na verdade, em função de ser uma
liderança na região, era um antigo oficial do exército russo e ex-combatente da guerra
Russo-Japonesa. Ele teria recebido em 1931 exatamente 33 sementes da mão do professor
Kuryło e não de Biezanko (meses antes da chegada deste inclusive).
Kurylo até mesmo debate através de missivas, em 1966, com o engenheiro, e então
líder da comunidade polonesa, Edmundo Gardolinski, afirmando que em 1933 o Prof.
Biezanko distribuiu algumas sementes, no entanto, teria vindo mais tarde e a soja já era
conhecida e bastante plantada, mas com pouca divulgação escrita, ao contrário do que
teria Biezanko realizado, ao publicar artigos. Kurylo chega a acusar Biezanko de ser um
“demagogo”, que escrevia sobre o trabalho que não tinha feito.
A partir desta polêmica, fica patente a questão da problemática que era o
pioneirismo da soja. É possível que em 1931 já houvesse a utilização de espécimes de
soja entre os colonos poloneses na cidade. Até mesmo Biezanko em artigo no Lud em
1934 destaca que Wasilewski, juntamente com outro agricultor, plantavam o produto com
sucesso na região missioneira do Rio Grande do Sul. Na verdade, Kurylo e Wasilewski
trabalharam conjuntamente com Biezanko nos anos 1930 numa associação de agricultores
conhecida como Centralne Towarzystwo Rolnicze (Sociedade Central dos Agricultores),
em Guarani.
A disputa memorialística aparente nas entrevistas remete ao início da produção
em larga escala da soja nos anos 1960, atrelado à inauguração da Fenasoja em Santa Rosa,
o aumento dos preços do produto (na Bolsa de Chicago), a mecanização da lavoura,
enfim, aquilo que identificamos como boom da produção da soja. Estas razões, quiçá,
tenham sido suficientes para iniciar o embate em busca de reconhecimento e de poder de
enunciação, que como resultado final, tem Biezanko como “vencedor” ao ser fortemente
lembrado em oposição a Kuryło.
Mesmo assim, ainda existem indivíduos que interessados pela história local
continuam guardando na memória aquele professor. Como é o caso de A.W.K (agricultora
aposentada, 76 anos), segundo ela “Mas [...], agora, esse lugar de onde esse soja veio
primeiro, é Ubiretama”. Precisamente, Ubiretama é um município da região noroeste do
estado e faz divisa com Guarani das Missões e Santa Rosa tendo se emancipado desta
última mais tarde, em 1995, e seria exatamente onde Kuryło teria atuado.
Segundo a entrevistada
Porque na verdade isso foi assim[...]: o meu irmão ele andava no colégio, lá
nesse colégio na [...] Linha Vinte e Três, [...] do rio, [...]. Então, tinha um
professor que era assim, de origem polonesa, e eles eh... Daí tinha o
presidente, era o Wasilewski, Francisco[...] lá, não sei como é que
descobriram – que tinha uma semente que o pessoal podia plantar para fazer
o óleo e servia para tratar os animais e tudo, essa tal de soja.
Depois confirma a introdução afirmando
Porque o pai sempre e a mãe contavam isso, contavam essa história. Até
depois um dia – porque daí eu vou contar bem certo –, daí veio, dizem que um
pacotinho assim, veio tudo empacotado para aquela sociedade Santo Isidoro,
a sociedade Santo Isidoro. [...] e lá daí, mas como com esse punhadinho que
veio, então para plantar, todos os sócios vão pegar não vai dar em nada! Aí
esse presidente plantou a primeira vez, colheu, e depois distribuiu para cada
um, por entre, então os alunos ganharam um punhadinho.
O depoimento rememorado a partir das histórias do pai de A.W.K, Zygmunt, vai
ao encontro com o artigo do Odrodzenie. Wasilewski era presidente da sociedade
polonesa Santo Isidoro na linha do Rio, onde existia uma escola na qual Kurylo era
professor. O esposo da entrevistada senhor J.K. (agricultor aposentado, 80 anos) recorda
o professor que difundiu a soja na região. Teria inclusive distribuído sementes para os
alunos nos primeiros anos do cultivo, para que levassem as suas casas e ensinassem os
pais a plantarem, caso ocorrido com a irmã de A.W.K, quem ainda assevera
E daí... Aquela soja começou; então o meu pai, quando começou a plantar,
que ele; aí isso cresceu uma soja assim alta, que podiam se esconder, os pés
altos assim que debaixo de um pé de soja dava sombra, para a pessoa sentar.
E, mas plantaram um ano; aumentou; outro ano; no fim depois já não sabiam
mais o que fazer, e não tinha comércio. Então o pai tratava para os porcos,
cozinhava junto com mandioca, e depois o pai continuou sempre. E, mas daí,
depois daquilo, então quando esse presidente, que era o Wasilewski faleceu,
aí eles botaram no túmulo dele uma pedra assim, daquelas pedras que faziam
os túmulos – agora é mármore não é, mas antigamente –, daí eles botaram
assim uma pedra muito bonita, assim feita, meio arredondada, e o pé de soja;
e daí tinha a data de quando esse pé de; essa soja surgiu. Só que depois veio
um temporal...
J.K lembra Wasilewski
Quando ele começou, primeiro, a plantação. É; a soja ela veio; esse professor;
tinha um russo13
, que ele foi para a guerra14
, não sei, acho que era na Polônia
ou... Não sei, não lembro que local, então eles se guardavam na sombra, e ele
falava, disse que plantava essa soja, e disse que dava para fazer óleo, e
explicava para esse professor, e o professor mandou uma carta para lá, e eles
mandaram, disse que um punhadinho, e aí cada sócio ganhou acho que dois
grãos. E aí começaram a plantar
Segundo os entrevistados, a “realidade é essa”, sua pequena cidade, Ubiretama,
seria o berço nacional da soja e não a cidade maior, Santa Rosa ou muito menos a vizinha
Guarani. Neste caso temos mais um elemento de questionamento e que envolve as tramas
da memória dos habitantes daquela região que até os anos 1950 era dividida entre São
13 Polonês imigrado da parte russa. 14 Russo-japonesa em 1905.
Luiz Gonzaga, Santo Ângelo e Santa Rosa, permeada de colônias de diferentes etnias e
onde na década de 1930 emergiu o cultivo de um novo produto entre seus colonos.
Mas o debate continua, para alguns habitantes de Guarani, a existência de soja
antes de Biezanko na região “é mentira”, como uma das entrevistadas afirmou. Os porta-
vozes locais silenciaram sobre outros possíveis introdutores e na “memória oficial” de
Guarani, e da comunidade polonesa, é Biezanko, quem está destacado como personagem-
modelo e “único” introdutor da leguminosa.
Apesar destas querelas, não é significativo saber quem foi ou não o introdutor da
soja quando o próprio Biezanko admite a colocação de outros personagens, não nos
empenharemos na resolução desta polêmica e nem é nosso objetivo, mas sim entender e
analisar a constituição da memória local de um personagem central, na sua vinculação
com a identidade. É sintomático que o agrônomo, a partir do seu gabarito intelectual, seu
capital cultural e seu reconhecimento internacional como pesquisador, pode ter sido o
motivo de este ser “lembrado”, enquanto outros personagens de menor destaque não.
Gardolinski afirma em resposta às cartas de Kurylo que Biezanko não era “indivíduo
banal”, mas um cientista muito reconhecido e que não queria os louros do título de
introdutor da soja, mas os havia recebido igualmente. Os silenciamentos permitem
identificar a construção da memória e, consequentemente, da identidade, bem como
contribuem para entender o caráter seletivo próprio dessas construções.
Outro silenciamento importante é quanto à saída de Biezanko de Guarani das
Missões. Segundo E.G.J. (administrador de empresas aposentado, 68 anos), a despedida
teve aspectos de expulsão por parte da comunidade e fuga do cientista, devido a
problemas na utilização da soja como ração para os porcos, que teriam morrido e
conduzido a uma revolta dos colonos. Biezanko então dirigiu-se, com a ajuda de
sacerdotes, para o sul do estado (Rio Grande e depois Pelotas) onde atuaria na área do
ensino (química, entomologia, agronomia, etc.) e pesquisa. Tal fato é lembrado apenas
por um depoente próximo de Biezanko, mas que não era de Guarani. N comunidade
guaraniense, nenhum entrevistado fez menção a esta passagem.
O que pretendemos demonstrar foi a importância da memória do evento, o qual
envolve as emoções das pessoas e permite diferentes interpretações do pesquisador. Essas
observações são importantes diante da publicidade que a soja atingiu, das disputas dos
municípios por títulos e festas, as quais atraem turistas e interessados, perante os usos,
enfim, da história na sua vinculação com a memória, que são peremptórios levantarmos,
embora conclusões mais ou menos definitivas sejam difíceis de serem alcançadas, pois
questões de quando, onde, ou como a soja foi introduzida são difíceis de responder ou
tem muitas respostas distintas.
Considerações finais
Com a expansão da soja pelo sul e sudeste brasileiro e seu contínuo avanço em
direção norte, o cientista Ceslau Biezanko granjeia uma atenção particular, mesmo que
tenha ocorrido uma descontinuidade entre as tentativas do cientista e o posterior processo
de modernização. Aparentemente, a soja, em razão do seu maior destaque nacional e
internacional, catapultaria a cidade que fosse considerada seu berço, diante de um
contexto de busca das origens em que se faz uso da história e da memória. Por esta razão,
personagens como Biezanko são importantes para a construção da identidade de um grupo
que se pretende afirmar e positivar diante da sociedade englobante.
O resgate da polêmica, que discorremos, não tem o objetivo de resolver a questão,
de resto sem sentido para o processo histórico, que depende sempre de múltiplos fatores,
mas mostrar que a própria controvérsia reforça a relação dos poloneses com a soja além
do papel de vários intelectuais/líderes étnicos poloneses na questão da leguminosa e na
sua vinculação com aquele grupo de colonos. Biezanko faz parte desta temática, mas com
um raio de ação que foi muito mais dinâmico, extenso, exposto e efetivo na distribuição
e divulgação da soja no início da década de 1930, tema trabalhado por Trindade (2015).
O seu currículo de trabalho intelectual e sua extensa formação garantiram o
prestígio e reconhecimento, em resumo, sua heroicização, que significavam a
comunidade polonesa na sua construção da identidade. Gardolinski, como principal líder
da comunidade polonesa, depois amigo de Biezanko, fez uma biografia em polonês e
português do cientista publicada, além de guardar documentos no seu acervo pessoal;
ademais, o professor Biezanko era convidado para importantes encontros e gostava de
explicar como realizou a introdução das sementes de soja na colônia polonesa.
Na cidade de Guarani das Missões, as dificuldades e disputas pelas quais passou,
principalmente a polêmica com seu antigo relativo e contribuinte, Kuryło, e a retirada
/fuga da cidade, praticamente foram olvidadas pela memória construída ao longo do
tempo entorno ao personagem. Desta forma, a oralidade e a memória são moldadas
também de silêncios e esquecimentos.
Em suma, através da oralidade dos habitantes da cidade, percebemos o vínculo
Guarani/poloneses/soja/Biezanko, equação fundamental para a constituição da identidade
local e étnica polonesa na região, de maneira a sobressair àquela comunidade em relação
à sociedade englobante e frente às comunidades e cidades vizinhas, isto é, os outros.
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