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Sociologias, Porto Alegre, ano 14, n o 30, mai./ago. 2012, p. 156-193 SOCIOLOGIAS 156 DOSSIÊ Cultura política, cidadania e representação na urbs sem civitas: a metrópole do Rio de Janeiro 1 Luiz Cesar de Queiroz ribeiro * FiLipe souza Corrêa ** Resumo O objetivo deste artigo é trazer elementos teóricos e empíricos que nos permitam refletir sobre a cultura política como uma condição para o exercício de uma cidadania ativa num contexto metropolitano marcado por uma dinâmica histórica de segregação socioespacial. Com isso, buscamos destacar a importância de se considerar a dimensão das desigualdades urbanas no entendimento das diferentes culturas políticas entre os cidadãos metropolitanos. Para tal, utilizamos os dados de um survey sobre cultura política aplicado em 2006 na Região Metro- politana do Rio de Janeiro e, a título de ilustração do impacto da diferenciação socioespacial metropolitana sobre o comportamento político dos cidadãos metro- politanos, utilizamos os dados espacializados da disputa eleitoral para deputado estadual em 2006, na RMRJ. Os dados analisados indicam uma diferenciação interna significativa de acordo com os indicadores de cultura política utilizados, 1 Este texto retoma e desdobra questões apresentadas no capítulo “Cultura Política na Me- trópole Fluminense: cidadania na metrópole desigual” do livro Cultura Política, Cidadania e Voto nas Metrópoles: desafios e impasses, Rio de Janeiro, Carta Capital, no prelo, organizado por Azevedo, Ribeiro e Santos Junior. Os autores agradecem os comentários dos pareceristas anônimos que muito contribuíram para a clareza do texto e assumem inteira responsabilidade pelo conteúdo apresentado. * Professor Titular do Instituto de Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ. Coordena- dor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia INCT-Observatório das Metrópoles/CNPq- FAPERJ.(Brasil). E-mail: [email protected] ** Doutorando em Ciência Política (UFMG) e Pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia INCT-Observatório das Metrópoles/CNPq-FAPERJ (Brasil).

RIBEIRO, L. C. Q; CORRÊA, F. S. Cultura Política, Cidadania e Representação Na Urbs Sem Civitas: a Metrópole Do Rio de Janeiro

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The aim of this paper is to provide theoretical and empirical elements that allow us to reflect on the political culture as a condition for the exercise of active citizenship in a metropolitan context marked by a historical dynamics of segregation. Therefore, we sought to highlight the importance of taking into account the dimension of urban inequalities in order to understand the distinct political cultures hold by metropolitan citizens. For this purpose, we used data collected in a survey on political culture applied in 2006 in the Metropolitan Region of Rio de Janeiro. Also, aiming to illustrate the impact of socio-spatial differentiation on the political behavior of metropolitan citizens, we used spatialized information from the results elections for state legislature, in 2006, in the metropolitan area of Rio de Janeiro. The data analysis indicate a significant internal differentiation according to the indicators of political culture used, and that this distinction largely corresponds to the socio-spatial differentiation of the metropolis. So, first, we confirmed the importance of taking into account the urban dimension in the analysis of political culture in metropolitan areas, and, secondly, the analysis of election results indicated possible connections between the political culture dimension, understood in its socio-spatial differentiation, and the dynamics of political representation.

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    DOSSI

    Cultura poltica, cidadania e representao na urbs sem civitas: a metrpole do Rio de Janeiro1

    Luiz Cesar de Queiroz ribeiro*

    FiLipe souza Corra**

    Resumo

    O objetivo deste artigo trazer elementos tericos e empricos que nos permitam refletir sobre a cultura poltica como uma condio para o exerccio de uma cidadania ativa num contexto metropolitano marcado por uma dinmica histrica de segregao socioespacial. Com isso, buscamos destacar a importncia de se considerar a dimenso das desigualdades urbanas no entendimento das diferentes culturas polticas entre os cidados metropolitanos. Para tal, utilizamos os dados de um survey sobre cultura poltica aplicado em 2006 na Regio Metro-politana do Rio de Janeiro e, a ttulo de ilustrao do impacto da diferenciao socioespacial metropolitana sobre o comportamento poltico dos cidados metro-politanos, utilizamos os dados espacializados da disputa eleitoral para deputado estadual em 2006, na RMRJ. Os dados analisados indicam uma diferenciao interna significativa de acordo com os indicadores de cultura poltica utilizados,

    1 Este texto retoma e desdobra questes apresentadas no captulo Cultura Poltica na Me-trpole Fluminense: cidadania na metrpole desigual do livro Cultura Poltica, Cidadania e Voto nas Metrpoles: desafios e impasses, Rio de Janeiro, Carta Capital, no prelo, organizado por Azevedo, Ribeiro e Santos Junior. Os autores agradecem os comentrios dos pareceristas annimos que muito contriburam para a clareza do texto e assumem inteira responsabilidade pelo contedo apresentado.* Professor Titular do Instituto de Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ. Coordena-dor do Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia INCT-Observatrio das Metrpoles/CNPq-FAPERJ.(Brasil). E-mail: [email protected]** Doutorando em Cincia Poltica (UFMG) e Pesquisador do Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia INCT-Observatrio das Metrpoles/CNPq-FAPERJ (Brasil).

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    e que esta diferenciao corresponde em grande medida diferenciao socio-espacial da metrpole analisada. Portanto, em primeiro lugar, se confirmou a im-portncia da considerao da dimenso urbana nas anlises de cultura poltica no espao metropolitano, em segundo, a anlise dos resultados eleitorais apontou para as possveis conexes entre a dimenso da cultura poltica, entendida a partir da sua diferenciao socioespacial, e a dinmica da representao poltica.

    Palavras-chave: Cidadania. Cultura poltica. Segregao socioespacial. Desigual-dades sociais. Metrpoles.

    Political culture, citizenship and representation in the urbs without civitas: the metropolis of Rio de Janeiro

    Abstract

    The aim of this paper is to provide theoretical and empirical elements that allow us to reflect on the political culture as a condition for the exercise of active citizenship in a metropolitan context marked by a historical dynamics of segrega-tion. Therefore, we sought to highlight the importance of taking into account the dimension of urban inequalities in order to understand the distinct political cultures hold by metropolitan citizens. For this purpose, we used data collected in a survey on political culture applied in 2006 in the Metropolitan Region of Rio de Janeiro. Also, aiming to illustrate the impact of socio-spatial differentiation on the political behavior of metropolitan citizens, we used spatialized information from the results elections for state legislature, in 2006, in the metropolitan area of Rio de Janeiro. The data analysis indicate a significant internal differentiation according to the in-dicators of political culture used, and that this distinction largely corresponds to the socio-spatial differentiation of the metropolis. So, first, we confirmed the importan-ce of taking into account the urban dimension in the analysis of political culture in metropolitan areas, and, secondly, the analysis of election results indicated possible connections between the political culture dimension, understood in its socio-spatial differentiation, and the dynamics of political representation.

    Keywords: Citizenship. Political culture. Socio-spatial segregation. Social inequa-lity. Metropolises.

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    OIntroduo

    presente artigo se insere na linha de vrias investigaes que, em diferentes disciplinas e a partir de enfoques tericos distintos, vm buscando entender o compor-tamento poltico do brasileiro e sua relao com a cons-truo da cidadania. Mais especificamente, buscamos

    refletir sobre os desafios impostos pela prpria organizao sociespacial das metrpoles brasileiras para a consolidao de uma cidadania plena no Brasil a partir da experincia da metrpole do Rio de Janeiro.

    Artigos e livros publicados nos campos da sociologia poltica e da cincia poltica no Brasil tm convergido na focalizao da anlise da re-lao entre os cidados e as instituies, na compreenso dos valores que fundamentam as suas atitudes e suas disposies cvicas para o compor-tamento poltico. Tais anlises tm tambm convergido na identificao da desconfiana interpessoal e nas instituies democrticas como o trao marcante destes valores e atitudes, portanto, fundamento da constituio de um ethos semelhante ao familismo amoral (Reis, 1995) e da consti-tuio de um comportamento caracterizado pelo hobbesianismo social (Santos, 1993). Estes autores identificam, no ambiente social e cultural brasileiro e no funcionamento das nossas instituies polticas, os funda-mentos da racionalidade de um comportamento poltico orientado pelo egosmo, pelo individualismo e pela recusa ao coletiva fora do crculo restrito pelas relaes pessoais. E, segundo Renn Jr. (1999, p. 107), a partir de uma abordagem denominada de racionalidade cultural adapta-tiva, podemos considerar que a forma como se constitui a cultura polti-ca do cidado brasileiro apresenta interferncia sobre o clculo racional imediato para o comportamento poltico. Ou seja, de acordo com essa

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    perspectiva, a lgica da desconfiana2 surge como uma resposta racional-adaptativa aos constrangimentos e incentivos gerados por contextos so-ciais e institucionais caracterizados: (i) pela existncia de elevados ndices de violncia nas relaes interpessoais e mesmo na relao entre os indi-vduos e as instituies de segurana pblica; (ii) por fortes desconfianas da populao quanto a real capacidade do Estado para administrar a Justia; (iii) pelo baixo grau de efetividade das polticas pblicas no aten-dimento das demandas bsicas da populao; e (iv) pelas desigualdades sociais objetivas e subjetivas persistentes na sociedade que geram uma percepo coletiva de mundos sociais hierarquizados e distanciados. Por conseguinte, estes elementos convergem na criao e difuso de um sen-timento de insegurana e incerteza que gera um ambiente cultural domi-nado pela desconfiana, seja nas relaes interpessoais, seja em relao s instituies, elevando consideravelmente os custos da participao so-ciopoltica. Desse modo, causas estruturais, culturais e institucionais so identificadas por estes autores como fundamentos da constituio de uma lgica da desconfiana, guiando o comportamento poltico do brasileiro, bloqueando a constituio de uma cidadania ativa, e, por consequncia, criando impasses para a consolidao de uma democracia plena no Brasil.

    1. Cidade, Cidadania e Cultura Poltica no Brasil

    O objetivo central do presente artigo o de contribuir para o apro-fundamento do debate sobre a relao entre cidadania e cultura poltica,

    2 O cidado no encontra, cultural e institucionalmente, incentivos seletivos para buscar solucionar seus conflitos dirios na esfera pblica. O ambiente cotidiano desestimula a busca de rgos estatais para resolver seus problemas, assim como o envolvimento em comunidades com fins comuns, porque prevalece uma sensao generalizada de desconfiana quanto ao prximo, s leis e s organizaes pblicas. A essncia da lgica da desconfiana a imprevi-sibilidade dos comportamentos alheios. (Renn Jr., 2000).

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    explorando a dimenso urbana dos mecanismos explicativos das desigual-dades polticas entre os cidados metropolitanos. O nosso ponto de partida a constatao emprica de um baixo grau de confiana interpessoal e poltica na populao da metrpole do Rio de Janeiro a partir de anlise dos dados de um survey sobre cultura poltica e cidadania que utilizou os indicadores do International Social SurveyProgramme (ISSP)(http://www.issp.org). Esta pesquisa foi realizada no ano de 2006 pelo Observatrio das Metrpoles em parceria com o Instituto Universitrio de Pesquisa do Es-tado do Rio de Janeiro (IUPERJ) e o Instituto de Cincias Sociais (ICS) de Lisboa. O objetivo desta pesquisa foi identificar a percepo, os valores e as prticas vinculadas ao exerccio da cidadania e a dinmica democrtica nas duas metrpoles. Na metrpole do Rio de Janeiro, pudemos aplicar o questionrio em uma amostra excedente que nos permitiu no apenas explorar os indicadores para o conjunto desta regio, como tambm de-sagregar os dados em grandes reas, visando explorar eventuais diferen-ciaes na cultura cvico-poltica fluminense, tendo em vista a diversidade social e urbana da metrpole. Foram entrevistadas um mil e dez pessoas na Regio Metropolitana do Rio de Janeiro, que foram selecionadas segundo um sorteio probabilstico sistemtico dos setores censitrios levando-se em considerao o total de domiclios de cada setor selecionado. A amostra foi estruturada por cotas para sexo, idade e escolaridade, mantendo-se uma margem de erro de cinco pontos percentuais. No que se refere ao perfil da amostra, temos 52,7% de mulheres e 47,3% de homens, todos maiores de 18 anos, distribudos entre as seguintes faixas etrias: 31,1% entre 18 e 29 anos; 32% entre 30 e 44 anos; 21,7% entre 45 e 59 anos; 12,7% entre 60 e 74 anos; e 1,7% com mais 75 anos. Em geral, o nvel de escolaridade dos entrevistados baixo, prevalecendo pessoas que cursaram at o nvel mdio incompleto (68,5% da amostra). Tomando como referncia o mo-delo terico da cultura cvica, no se identificou nesta pesquisa a conexo

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    esperada entre a confiana (interpessoal ou poltica), a cultura cvica e a mobilizao poltica dos indivduos metropolitanos. Este resultado nos in-centivou a refletir sobre os fundamentos urbanos desta conexo truncada da cultura poltica na metrpole do Rio de Janeiro.

    No entanto, esse sentimento de desconfiana generalizado em re-lao s instituies no um fenmeno recente, como nos mostra Jos Murilo de Carvalho (1987) ao refletir sobre as condies histricas da instalao da Repblica no Brasil. Segundo Carvalho, esta profunda trans-formao social resultou num divrcio entre a sociedade poltica e a so-ciedade urbana da cidade do Rio de Janeiro, gerando uma cultura poltica empobrecida em termos de virtudes cvicas, caracterizada pela descon-fiana interpessoal e nas instituies, pelo distanciamento dos governan-tes em relao ao povo, e pela fragmentao das formas associativas. No entanto, considera-se que este elemento histrico transformou-se em rea-lidade social ao gerar uma cultura poltica e desenhar instituies polticas que reproduzem essa dissociao, entre a sociedade poltica e a socieda-de urbana no Rio de Janeiro, com base na reproduo de uma escassez de cidade, metfora criada por Maria Alice de Carvalho (1995).

    Antes de prosseguirmos, importante destacar a relevncia da cidade para a consolidao das bases da cidadania em contraponto submisso pessoal. Segundo Weber (2009, p. 427), a cidade ocidental se caracteri-zou pela substituio da solidariedade hierrquica baseada nos laos de pertencimento aos grupos de cl por uma solidariedade horizontal base-ada nas associaes contratuais de bases territoriais. Essa perda de privil-gios estatutrios gerou, portanto, um relativo nivelamento social. Ou seja, a cidade ocidental teria constitudo uma experincia coletiva centrada na valorizao de indivduos livres e iguais, assim como na existncia de insti-tuies sociais e polticas geradoras de um sentimento de autonomia e de integrao a uma comunidade citadina. Como fundamentos destas trans-

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    formaes esto: o surgimento do mercado, da diviso social do trabalho e um amplo processo de racionalizao cultural, que vai da instaurao das relaes contratuais adoo de cdigos legais institucionalizados, passan-do pela reorganizao da dimenso espao-temporal da vida social.

    A leitura atenta deste famoso escrito de Max Weber nos adverte, po-rm, para o carter histrico dessa relao. Com efeito, nem sempre e nem em todos os lugares o processo de urbanizao, acompanhado por uma expanso das relaes mercantis, transformou a cidade em comunas; isto , numa experincia coletiva fundamentada em instituies que asseguraram a liberdade e a igualdade moral e ligaram estruturalmente as dimenses urbes e civitas do fenmeno urbano. Portanto, imprescindvel considerar a historicidade das trajetrias de construo das relaes entre a cidade, a emergncia do mercado, e o surgimento de instituies polticas. Ao longo da histria social e poltica iniciada com o advento do fenmeno urbano na idade mdia, a cidade na sua essncia vem sendo produtora das formas mais significativas de sociedade civil (Ansay, P.; Shoonbrodt, R. 1989).

    Porm, no caso das cidades latino-americanas, as investigaes de Fernando Henrique Cardoso (1975) e Richard Morse (1975) convergiram para a constatao de que o fenmeno da urbanizao experimentado na Amrica Latina no realizou as mudanas sociais descritas por Weber; ou seja, a experincia urbana apesar de ter produzido um ambiente cultural favorvel disseminao dos valores da liberdade e da igualdade moral, no conseguiu gerar instituies sociais e polticas baseadas num sentimen-to de comunidade cvica. com base nesta constatao que Cardoso cunha a interessante expresso cidade sem cidadania (Cardoso, 1975, p. 162).

    Portanto, frisamos aqui a importncia da insero da dimenso ur-bana na reflexo sobre os comportamentos polticos orientados para uma cidadania ativa. Neste ponto incorporamos a metfora da cidade escas-sa, cunhada por M. A. de Carvalho (1995). Essa metfora pretende dar

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    conta da manifestao no espao das condies sociopolticas que repro-duzem uma tica que orienta e legitima o comportamento social baseado na atitude privatista em busca da realizao de interesses particulares a qualquer custo, nas interaes entre grupos sociais, na interao entre os indivduos e os grupos, e na interao entre estes grupos e o poder pblico. Com base nesse raciocnio, entendemos que a marginalizao de grande parte da populao em relao aos direitos de cidade ou direitos de cidadania (em latim, civitas) tem como fundamento a manuteno de fortes desigualdades sociais em termos do direito cidade. Cidadania aqui entendida enquanto o gozo pleno dos direitos civis, que garantem a vida em sociedade, dos direitos polticos, que garantem a participao no go-verno da sociedade, e dos direitos sociais, que garantem a participao dos indivduos na riqueza produzida coletivamente (Carvalho, 2001, p. 9-10). Ou seja, podemos dizer que so as desigualdades de acesso aos elementos que compem o bem-estar urbano (transportes, saneamento, habitao, etc.) e de acesso s oportunidades de melhoria das condies de vida (edu-cao e trabalho) que fundamentam os diferenciais de cidadania entre os indivduos no espao metropolitano. A hiptese que buscaremos construir e sedimentar neste trabalho de que o bloqueio ao acesso a estes recur-sos implica na insero de grande parte da populao metropolitana nas inmeras redes de subordinao pessoal presentes na base da sociedade carioca, o que favoreceria a manuteno no tempo de instituies polticas que reproduzem essa dissociao (das mquinas partidrias clientelsticas s entidades assistencialistas mantidas por parlamentares).

    Esta cultura poltica estaria, portanto, na base dos comportamentos dos agentes que controlam os circuitos da contraveno e do crime, na permanente subordinao pessoal daqueles desprovidos de recursos para o exerccio do poder, por meio de mecanismos e condies que repro-duzem relaes de hierarquia e patronagem que integram de maneira

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    subordinada e seletiva aqueles que esto na margem da cidade escassa. Contudo, tais relaes seriam necessrias na medida em que os margi-nalizados da cidade, sendo portadores de direitos polticos formais, so chamados a validar um sistema representativo incapaz de universalizar os interesses particulares. Em outras palavras, atravs da manuteno da hierarquia e por meio da patronagem que os marginalizados passam a fazer parte da cidade escassa; porm, essa integrao se d de forma subordinada aos donos do poder, e por meio de dinmicas fragmenta-doras da coeso social, j que a escassez de cidade proporciona chances desiguais para que os indivduos desprovidos de poder tenham seus inte-resses e demandas atendidos. Com isso, fecha-se o circuito: os que esto na margem da cidade devem tambm estabelecer entre si um diferencial de poder a fim de assegurar uma parcela da acumulao dos escassos recursos urbanos (transporte, saneamento, pavimentao, habitao, es-cola, etc.), mesmo que isso signifique a ilegalidade.

    Na constituio e reproduo da cidade escassa, trs elementos tm importncia e atuam reforando-se mutuamente. O primeiro relaciona-se formao histrico-geogrfica da cidade. O stio acidentado em que a ci-dade est fundada, associado a sua histria social, facilitou a constituio de mundos sociais distanciados do ponto de vista territorial com a separao das elites e as camadas populares, especialmente com a exploso demogr-fica do final do sculo XIX. O segundo tem a ver com a geografia social da cidade que alimentou, durante muitos anos, intensas desigualdades sociais expressas especialmente nas desigualdades urbanas. Essa geografia social teve como base o modelo de poltica de tolerncia total com a ilegalidade da propriedade da terra, atravs da aceitao tcita pelo poder pblico dos processos de favelizao e de construo de loteamentos ilegais e clandes-tinos nas reas perifricas. A precariedade das condies urbanas a que foi submetida grande parte da populao da metrpole do Rio de Janeiro

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    expressa a no universalizao de direitos bsicos de cidadania necessrios proteo e autonomizao dos indivduos perante aqueles que detm o poder. Os efeitos dessa geografia social na reproduo do poder so catas-trficos. Tomando como referncia o citado trabalho de Reinhard Bendix (1996), podemos dizer que a legitimidade da autoridade pblica na cidade do Rio de Janeiro no se fundou na permuta entre o consentimento da subordinao ao Estado e a proteo dos direitos pblicos neste caso os direitos urbanos que colocasse os indivduos (e grupos) ao abrigo das re-laes de poder. A importncia da manuteno da ilegalidade e mesmo da irregularidade da posse da terra na constituio de frgil cultura cvica das nossas cidades no foi objeto de merecidas reflexes aprofundadas por par-te da sociologia poltica3. Por cultura cvica frgil estamos nos referindo ao baixo grau de conscincia de deveres e direitos com relao aos interesses gerais da sociedade, encarnados pelo Estado. Ao contrrio, o Estado teve que buscar outras formas de legitimao baseadas no binmio submisso-favor entre as camadas populares e os agentes do poder pblico. Por fim, O terceiro elemento seria a violncia como forma de sociabilidade que, segundo Maria Alice Rezende de Carvalho (1995), decorrente da frgil legitimidade do Estado. Neste sentido, o texto abaixo transcrito sintetiza bem o pensamento da autora:

    3 Em parte, a pouca ateno concedida a este tema pela sociologia deve-se associao abu-siva entre os direitos de propriedade privada e a ideologia do individualismo possessivo. Em texto relativamente recente, Robert Castel, fazendo uma reflexo sobre a insegurana social contempornea, a partir de atenta leitura de clssicos da sociologia poltica (como Locke), nos brinda com interessantes e instigantes pginas sobre como foi necessrio a disseminao da concepo do direito de propriedade privada como proteo dos indivduos contra os arbtrios da dominao pessoal para que, posteriormente, se institusse na sociedade a noo de pro-priedade social que funda o contrato social do Estado do Bem-Estar (Castel, 2003).

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    Com base, ento, nesse quadro de referncia, sublinharei uma dimenso poltica do problema da violncia, chamando a ateno menos para os riscos conjunturais que um fen-meno dessa extenso pode introduzir na conduo demo-crtica do governo, e mais para o problema da autonomiza-o crescente da organizao social em relao ao quadro poltico-institucional. Quero dizer que a violncia nas gran-des cidades brasileiras est associada baixa legitimao da autoridade poltica do Estado, cujo privatismo congnito estreitou excessivamente a dimenso da polis, condenando praticamente toda a sociedade condio de brbaros. A ex-presso cidade escassa refere-se a isto, ou seja, dimenso residual da cidadania e, portanto, sua parca competncia para articular os apetites sociais vida poltica organizada isto que, no mundo das ideias polticas, caracteriza a cidade liberal-democrtica. (Carvalho, 1995, p. 4)

    Em resumo, no contexto da cidade escassa, o Estado no se orien-ta para o uso da autoridade consentida com vistas generalizao de um pacto social estvel e universalista, pelo contrrio, a experincia social passa a se organizar com base em intensa fragmentao de juzos. Nesse sentido, a evoluo poltica carioca e o padro de tica social que de-riva dela podem ser apresentados como uma histria de variados tipos de nexo entre indivduos, grupos, e a esfera estatal, que, embora mais recentemente tenha propiciado alguma integrao social, no inscreveu a poltica representativa como a arena privilegiada para a resoluo de demandas por parte dos marginalizados. Como aponta Carvalho (1995, p. 4), o resultado desse processo se traduziria, hoje, em duas prticas facilmente identificveis: de um lado, a apatia da sociedade em re-lao atuao na esfera pblica; e de outro, no comportamento da parcela mais pobre da populao que espera ser capturada pela malha do clientelismo urbano, agora exercido no apenas pelos seus agentes tradicionais, mas tambm por segmentos da burocracia estatal, igrejas e organizaes no-governamentais, cuja ao em meio carncia tende a

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    confirmar estratgias de uma racionalidade perversa, pois so orientadas para a manuteno dos vnculos de clientela. com base nesse quadro de referncia que buscamos refletir sobre alguns indicadores relativos s desigualdades das pr-condies do exerccio da cidadania e aos diferen-ciais de intensidade de modalidades do exerccio da cidadania no interior da metrpole fluminense.

    2. Cultura Poltica Escassa na Metrpole Fragmentada

    Uma das dimenses explicativas da hiptese da escassez de cida-de enunciada por Maria Alice de Carvalho o surgimento de uma orien-tao poltica voltada mais para a resoluo individualista dos conflitos do que pela resoluo compartilhada destes, destacando o fato de que esta orientao poltica predatria estaria fundamentada na organizao socioespacial da metrpole fluminense. Com base nesta perspectiva, con-sideramos que uma anlise mais profunda das possveis variaes internas da cultura poltica na metrpole fluminense poderia nos ajudar a pensar os efeitos dessa organizao socioespacial fragmentada sobre a confor-mao dos padres de comportamento, crenas, valores e atitudes em relao poltica. A hiptese que as reas segregadas da metrpole so propcias para o surgimento de uma cultura da desconfiana, seja nas interaes sociais, seja na interao com as instituies polticas; assim como, para a manuteno de prticas polticas orientadas menos para a representao poltica formal e mais para a resoluo negociada das suas necessidades e carncias, de infraestrutura e/ou de bem-estar urbano.

    Para isso, veremos como se configura essa organizao socioespacial da metrpole fluminense em termos do nvel de renda, de acordo com a distribuio da mdia do rendimento familiar per capita de acordo com as reas internas da metrpole; do nvel de escolaridade, de acordo com

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    a distribuio da mdia por rea da mdia dos anos de estudo dos adultos nos domiclios que compem essas reas; e por meio da distribuio das carncias de uma infraestrutura de servios pblicos (Corra, 2011, p. 101).

    Em primeiro lugar, calculamos a mdia dos diferentes nveis de rendi-mento familiar per capita por rea de ponderao do Censo Demogrfico de 2000, e em seguida, a fim de facilitar a visualizao da distribuio da renda familiar per capita pelo espao metropolitano dividimos esta distri-buio em quartis, o que nos permite classificar essas reas em quatro nveis de renda (baixa, mdio-baixa, mdio-alta, e alta). A espacializao dos quartis de renda familiar per capita para as reas de ponderao da RMRJ indica que, apesar do dinamismo econmico crescente de muni-cpios da baixada fluminense como Nova Iguau e Duque de Caxias, a distribuio espacial da renda ainda apresenta um marcado padro centro-periferia, com alguma elevao na renda nas reas centrais dos municpios do entorno metropolitano; porm, a grande maioria das reas dos munic-pios do entorno apresentam um nvel de renda entre mdio-baixo e baixo.

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    Figura 1. reas de ponderao da RMRJ segundo os nveis de renda familiar per capitaFonte: Corra, 2011

    Em seguida apresentamos a classificao das reas da metrpole flu-minense de acordo com a mdia dos anos de estudo dos adultos (indiv-duos acima de 25 anos) nos domiclios, essa varivel conhecida como clima educativo domiciliar. Estudos recentes sobre segregao residencial e desigualdades sociais tm destacado a capacidade desta varivel em sintetizar as desigualdades sociais expressas no territrio, pois apresenta resultados significativos sobre o rendimento escolar de crianas e adoles-centes e sobre as chances de jovens e adultos acessarem oportunidades de emprego de qualidade e bem remunerados (Ribeiro e Koslinski, 2010; Ribeiro, Rodrigues e Corra, 2010; Zuccarelli e Cid, 2010). A espacializa-

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    o dos quartis do clima educativo domiciliar indica a assimetria da dis-tribuio desta varivel entre as diferentes reas do espao metropolitano j que a mdia do clima educativo no quartil mais baixo (5,05 anos de estudo) praticamente a metade da mdia do clima educativo no quartil mais elevado (10,17 anos de estudo).

    Figura 2. reas de ponderao da RMRJ segundo os nveis do clima educativo domiciliar mdio

    Fonte: Corra, 2011

    Para identificarmos a distribuio espacial das carncias de servios de infraestrutura, criamos um ndice composto que tem como objetivo discrimi-nar o percentual de pessoas nas reas de ponderao vivendo em domiclios que apresentam carncia de pelo menos um servio de infraestrutura como

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    Figura 3. reas de ponderao da RMRJ segundo os quartis do ndice de carncia de infraestrutura

    Fonte: Corra, 2011

    4 A construo deste ndice composto importante por dois motivos: primeiro, porque nos permite identificar as reas da RMRJ que apresentam as situaes mais crticas em termos do atendimento de condies mnimas de infraestrutura; E, segundo, porque nos permite identi-ficar a sobreposio de diferentes carncias em uma mesma rea, j que algumas reas sofrem mais com um tipo de carncia do que outras.

    abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, e coleta de lixo 4. Constata-mos que 25% das reas de ponderao da RMRJ apresentavam em 2000 um ndice de carncia variando entre 24,02% e 79,35% de pessoas residindo em domiclios com alguma das quatro situaes de carncia (Figura 3). No-vamente, as reas mais carentes de infraestrutura na RMRJ se localizam em grande parte nos municpios perifricos da RMRJ. Em alguns municpios todas as reas de ponderao apresentaram 24,02% ou mais de pessoas residindo em domiclios com alguma carncia de servios de infraestrutura.

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    A partir desta caracterizao do espao metropolitano fluminense com base em variveis socioeconmicas como renda e escolaridade, as-sim como pelo nvel de carncia de servios de infraestrutura possvel perceber que esta organizao socioespacial metropolitana se caracteriza por uma marcada fragmentao social. Da mesma forma, de acordo com Preteceille e Ribeiro (1999), Ribeiro (2000) e Ribeiro e Lago (2001), uma anlise da estrutura social metropolitana baseada em categorias scio-ocupacionais, revela que a regio metropolitana fluminense um espao fortemente organizado de acordo com um sistema de distncias e opo-sies sociais que fragmenta os diferentes grupos do espao social pelo espao fsico da metrpole. De acordo com estes autores, as classes su-periores ou seja, os grupos de indivduos que compartilham de gran-des quantidades de capital econmico, social e cultural da metrpole fluminense localizam-se quase que exclusivamente nas reas da chamada zona sul da cidade do Rio de Janeiro, enquanto que as classes popu-lares localizam-se predominantemente nos espaos perifricos da regio metropolitana e em parte da zona oeste da cidade do Rio de Janeiro; e, ambas se distanciam em alguma medida dos segmentos mdios da estru-tura social que se localizam predominantemente nos espaos suburbanos onde a configurao social , no entanto, menos definida. Ou seja, h uma ntida projeo das linhas divisrias da sociedade fluminense no seu espao fsico, de tal modo que morar em um lugar ou outro da metr-pole demonstra a sua posio na estrutura. essa dinmica de constante separao no espao de grupos sociais diferentes entre si, e de agregao de grupos sociais parecidos que estes autores chamam de segregao re-sidencial (ou segregao socioespacial). Segundo esses autores, esses pro-cessos de auto-segregao ou segregao compulsria dos grupos sociais no espao so tpicos do modelo de urbanizao das grandes cidades e com consequncias ainda mais perversas no caso brasileiro; j que, de

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    acordo com Ribeiro (2004, p. 34), os resultados deste modelo de se-gregao socioespacial refletem a nossa ordem social hbrida, na qual, por um lado, existe uma lgica social que distribui recursos de poder de acordo com uma escala de honra e prestgio social, ao mesmo tempo em que uma lgica econmica, competitiva e individualista, distribui recur-sos de poder de acordo com a autonomia e capacidade dos indivduos. Portanto, essa ordem espacial reflete os resultados de uma ordem social altamente hierrquica e desigual que se entranha na prpria lgica de funcionamento do poder pblico nas suas diversas esferas e rgos de atuao sobre o ordenamento socioespacial. O resultado disso, ao que tudo indica, a reproduo das desigualdades de poder pela reproduo das desigualdades sociais, hiptese que retomaremos mais a frente. Antes, necessrio retornarmos dimenso da cultura poltica agora pensada numa perspectiva intrametropolitana.

    Uma desagregao dos indicadores de cultura poltica o primeiro passo para a busca de evidncia acerca da relao entre uma organiza-o socioespacial fragmentada e a conformao dos padres diferencia-dos de comportamento, crenas, valores e atitudes em relao poltica. Para isso, dividimos os dados coletados pelo survey anteriormente citado em trs reas, de acordo com os seguintes critrios: (a) a estrutura social destas reas; (b) as formas predominantes de ocupao e uso do solo e de produo da moradia; (c) a concentrao (ou carncia) de bem-estar social urbano; e (d) as conexes com as reas centrais da metrpole. O que resultou na identificao das seguintes reas: (1) Ncleo: Composto pelos bairros da Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro, e mais a Barra da Tijuca, a Grande Tijuca e Niteri, onde se concentra a maior parte das camadas superiores da estrutura social metropolitana, o que confere a esta rea um forte poder social, exercido pela capacidade de conexo com o poder poltico atravs de mecanismos como a presena na mdia e

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    acionamento das redes sociais; o (2) Subrbio: Onde se concentra parte da classe mdia tradicional e da classe operria, misturada com reas de favela; e a (3) Periferia que compreende a Zona Oeste do Rio de Janeiro e a Baixada Fluminense, ambas apresentam as maiores concentraes das camadas populares na metrpole e se caracterizam pela presena de di-nmicas localistas de exerccio do poder, como a hegemonia de estruturas familsticas que controlam o poder local na Baixada Fluminense.

    Quando desagregamos os indicadores de confiana interpessoal de acordo com as reas da metrpole, o sentimento de desconfiana aparece com mais fora na Periferia do que no Ncleo e no Subrbio da metrpo-le5. Na Periferia, mais da metade da populao acredita que quase sem-pre as pessoas tentaro tirar vantagem de alguma situao. J a dimenso mais abstrata da confiana apresenta uma diferena moderada entre as reas, no entanto, mais da metade da populao da Periferia tambm acredita que quase sempre todo cuidado pouco com as pessoas. Ou seja, se a desconfiana nas interaes sociais algo predominante na me-trpole, ela mais intensa nas reas mais perifricas, o que corresponde a uma das principais evidncias no sentido da hiptese da cidade escassa.

    5 Importante ressaltar que as distribuies de frequncia dos indicadores de cultura poltica apresentadas nesta seo apenas ilustram as variaes nas respostas que compem os indica-dores quando consideramos as divises internas da RMRJ. Para um maior controle estatstico destas comparaes utilizamos as mdias dos indicadores e os seus respectivos testes de An-lise de Varincia a fim de identificar as variaes significativas entre os resultados encontrados para as diferentes reas (Conferir o Anexo).

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    Tabela 1. A confiana interpessoal nas reas da RMRJ

    Pessoas tentaro tirar vantagem*

    As pessoas so confiveis**

    Ncleo Subrbio Periferia Ncleo Subrbio Periferia

    Quase sempre 38,6 37,4 53,2 Quase sempre 7,0 2,4 4,5

    Algumas vezes 34,6 32,3 22,7 Algumas vezes 20,0 10,6 17,1

    Justas algumas vezes 16,7 23,2 16,6

    Algumas vezes todo cuidado

    pouco

    30,4 40,8 25,5

    Justas quase sempre 10,1 7,1 7,6

    Quase sempre todo

    cuidado pouco

    42,6 46,3 52,9

    Total 100 100 100 Total 100 100 100

    (*) Acha que as pessoas tentaro tirar vantagem quando puderem, ou acha que elas tentaro ser justas?(**) Acha que pode confiar nas pessoas, ou, pelo contrrio, todo cuidado pouco?Fonte: Pesquisa Observatrio das Metrpoles, IUPERJ, ICS-UL, ISRP, 2008.

    Quando especificamos a confiana em relao classe poltica, os resultados indicam um sentimento generalizado de desconfiana acerca de uma conduta tica e eficiente por parte dos governantes entre as reas da RMRJ, principalmente quando consideramos as opinies acerca da busca de vantagens pessoais por parte dos governantes. A anlise mais detida dos dados indica que os moradores do Ncleo da RMRJ tendem a ser mais crticos em relao a uma conduta eficiente por parte da classe poltica do que os moradores do Subrbio e os da Periferia, no entanto, a anlise das mdias das respostas no apresentou diferenas significativas.

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    Tabela 2. A confiana poltica nas reas da RMRJ

    As pessoas no governo faro o que certo* A maioria dos polticos procura obter vantagens pessoais**

    Ncleo Subrbio Periferia Ncleo Subrbio Periferia

    Concorda totalmente 7,1 11,2 8,7 65,8 63,3 67,6

    Concorda em parte 16,4 6,2 6,3 17,5 20,1 9,9

    Nem concorda nem discorda 13,7 8,9 15,4 9,6 4,6 13,4

    Discorda em parte 19,5 29,3 33,1 4,8 7,3 5,9

    Discorda totalmente 43,4 44,4 36,6 2,2 4,6 3,2

    Total 100 100 100 100 100 100

    (*) Em geral,pode-se confiar que as pessoas no governo faro o que certo,(**) A maior parte dos polticos est na poltica para obter vantagens pessoais,Fonte: Pesquisa Observatrio das Metrpoles, IUPERJ, ICS-UL, ISRP, 2008.

    Apesar da existncia de indcios da lgica da desconfiana nas atitu-des do morador da RMRJ, paradoxalmente ele tem internalizado elevado grau do que a literatura chama de virtudes cvicas, ou seja, tem como referncias os valores esperados de quem se sente integrado a uma co-munidade poltica. O posicionamento dos cidados metropolitanos em relao a comportamentos considerados cvicos indica mais uma preocu-pao com os mais necessitados (do Brasil e do Mundo) do que a valoriza-o de um posicionamento poltico mais consistente como a participao em associaes, sindicatos ou partidos polticos, ou mesmo o consumo consciente do ponto de vista tico e ambiental. Porm, neste caso in-teressante perceber que h uma maior atribuio de importncia cvica para esses comportamentos na Periferia do que no Ncleo da RMRJ, o que relativiza a polarizao entre as duas reas, em termos de cultura cvica. De certo modo, o que este resultado indica a tendncia a uma menor valorizao de condutas cvicas no Ncleo da RMRJ, principal-mente em relao ajuda aos mais necessitados, o que indica em grande medida um comportamento mais individualista.

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    Tabela 3. As virtudes cvicas nas reas da RMRJ

    Escala de Importncia*

    Ncleo Subrbio Periferia

    Pouco Imp. Imp.

    Muito Imp.

    Pouco Imp. Imp.

    Muito Imp.

    Pouco Imp. Imp.

    Muito Imp.

    Ajudar as pessoas no Brasil que vivem pior que voc 5,7 17,0 77,3 3,1 14,7 82,2 4,9 10,1 85,0

    Ajudar as pessoas no Mundo que vivem pior que voc 8,3 21,4 70,3 5,8 17,8 76,4 3,2 11,8 85,0

    Obedecer sempre s leis e aos regulamentos 10,0 20,5 69,4 8,1 20,9 70,9 6,3 17,5 76,2

    Tentar compreender a maneira de pensar das pessoas com opinies diferentes das suas

    8,8 18,5 72,7 11,3 27,2 61,5 7,6 18,2 74,1

    Manter-se informado sobre as atividades de governo 17,1 16,7 66,2 10,1 31,9 58,0 9,6 17,7 72,7

    Nunca sonegar impostos 11,0 18,4 70,6 15,9 21,3 62,8 9,0 19,5 71,5

    Estar disposto a prestar o servio militar quando for preciso 24,1 25,9 50,0 23,4 21,9 54,7 15,4 16,4 68,1

    Votar sempre nas eleies 18,3 20,4 61,3 13,1 25,0 61,9 16,8 20,2 63,0

    Escolher produtos por razes polticas, ticas ou ambientais 21,2 34,1 44,7 32,9 34,5 32,5 14,8 32,5 52,7

    Participar em associaes, sindicatos e partidos 23,3 30,8 45,8 25,1 42,7 32,2 18,3 34,1 47,7

    (*) H muitas opinies diferentes sobre o que se deve fazer para ser um bom cidado, numa escala de 1 a 7, em que 1 significa nada importante e 7 muito importante, que importncia o(a) Sr.(a) atribui pesso-almente a cada um dos seguintes aspectos?Fonte: Pesquisa Observatrio das Metrpoles, IUPERJ, ICS-UL, ISRP, 2008.

    De acordo com essa hiptese clssica do comunitarismo cvico (Pu-tnam, 1996), o sentimento de pertencimento a uma comunidade cvica seria contraditrio com a existncia de elevados graus de desconfiana interpessoal e poltica. Com base na constatao deste paradoxo, pode-ramos ensaiar duas explicaes: a primeira seria de que este paradoxo estaria confirmando a existncia da dissociao entre sociedade civil e a sociedade poltica anteriormente citada por J. M. de Carvalho (1987). A segunda explicao seria a identificao de um cinismo cvico como

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    padro de comportamento predominante entre os cidados da metrpo-le do Rio de Janeiro. A base deste comportamento seria a valorizao de uma conduta condizente com os ideais democrticos, ao mesmo tempo em que predomina um nvel bastante elevado de desconfiana poltica resultado do funcionamento precrio das instituies e a predominncia da luta de todos contra todos pelos bens escassos, de acordo com a tese do hobesianismo social de Santos(1993) , e um nvel elevado de des-confiana nas relaes interpessoais por conta da difuso do compor-tamento social individualista e predatrio que valoriza a dimenso fami-liar em detrimento da esfera pblica, de acordo com a tese do familismo amoral aplicado ao caso brasileiro por Reis (1995).

    Uma maneira de testar essa primeira hiptese explicativa seria verifi-car a relao entre a manifestao das virtudes cvicas e o engajamento dos cidados em aes de participao sociopoltica. De acordo com o previsto pela literatura, devemos esperar que quanto mais intenso o sentimento de obrigaes do cidado com relao comunidade poltica, maior seria o seu ativismo das esferas social (associativismo) e poltica (mobilizao poltica)

    A anlise da Tabela 4 indica, contudo, a baixa insero dos moradores da metrpole em associaes cvicas clssicas que propiciam a formao de um capital social constitudo pela insero em redes sociais fundadas em la-os fortes (Granovetter, 1973). Apenas a participao religiosa, modalidade dotada de altas doses de comunitarismo, apresentou nveis considerveis, porm, esta modalidade de associativismo apresenta dificuldades em con-ciliar essa integrao social em comportamento poltico consistente com uma perspectiva democrtica mais ampla. Por outro lado, h uma maior incidncia de pertencimento s formas associativas de maior potencial po-ltico (partidos polticos, sindicatos, grmios e associaes profissionais) no Ncleo da RMRJ, ao passo que o pertencimento a organizaes religiosas aumenta na Periferia, o que sugere a existncia de uma clara segmentao intrametropolitana das formas associativas de participao poltica.

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    Tabela 4. O Associativismo nas reas da RMRJ

    Pertencimento a associaes*

    Ncleo Subrbio Periferia

    Sim Alguma vez

    Nunca Sim Alguma vez

    Nunca Sim Alguma vez

    Nunca

    Partido poltico 5,4 11,2 83,5 3,8 9,2 86,9 3,3 5,3 91,4

    Sindicato, grmio ou associao pro-

    fissional

    11,0 20,2 68,9 8,4 16,5 75,1 9,0 10,4 80,6

    Igreja ou outra organi-zao religiosa

    30,1 21,0 48,9 29,9 27,6 42,5 40,4 20,9 38,8

    Grupo desportivo, cultural ou recreativo

    14,8 19,1 66,1 6,5 18,8 74,6 8,8 7,6 83,6

    Outra associao voluntria

    10,8 9,9 79,3 4,9 12,2 82,9 4,6 4,6 90,8

    (*) Por vezes as pessoas participam em grupos ou associaes. Para cada um dos grupos (a) partido po-ltico, (b) sindicato, grmio ou associao profissional, (c) igreja ou outra organizao religiosa, (d) grupo desportivo, cultural ou recreativo, e (e) outra associao voluntria, diga se (i) participa ativamente; (ii) pertence, mas no participa ativamente; (iii) j pertenceu; ou (iv) nunca pertenceu.Obs.: os percentuais referentes s respostas (i) e (ii) foram agrupados na categoria Sim, j o percentual referentes resposta (iii) corresponde categoria Alguma vez, e o percentual referente resposta (iv) corresponde categoria Nunca.Fonte: Pesquisa Observatrio das Metrpoles, IUPERJ, ICS-UL, ISRP, 2008.

    Os dados de mobilizao poltica tambm indicam um baixo nvel de mobilizao para fins polticos por parte dos indivduos residentes na RMRJ. As duas modalidades que apresentaram maior taxa de participao foram assinatura de petio ou abaixo-assinado e participao em comcios ou reunies poltica, que de acordo com Azevedo e outros (2009, p. 710) caracterizam-se por um baixo custo de engajamento por serem vistos como eventos efmeros no caso das assinaturas ou pela perda considervel do significado poltico dos comcios a partir da popularizao dos chamados showmcios, o que justificaria os elevados percentuais para as duas moda-lidades. No entanto, interessante notar que as trs ltimas modalidades de mobilizao poltica (Dar dinheiro ou tentar recolher fundos para uma causa pblica, Contatar ou aparecer na mdia para exprimir as suas opi-

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    nies e Participar num frum ou grupo da internet) apresentam taxa de participao significativamente maior no Ncleo da RMRJ do que nas de-mais reas, assim como o boicote a produtos e a participao em manifes-taes. Deste modo, podemos dizer que tambm h fortes indcios de uma segmentao das formas de mobilizao poltica, principalmente daquelas modalidades que exigem maior engajamento sociopoltico.

    Tabela 5. O Associativismo nas reas da RMRJ

    Participao em mobilizaes polticas nos ltimos anos*

    Ncleo Subrbio Periferia

    Sim No Sim No Sim No

    Assinar uma petio ou fazer um abaixo-assinado 38,9 61,1 36,9 63,1 35,3 64,7

    Boicotar ou comprar determinados produtos, por razes polticas, ticas ou ambientais 20,9 79,1 15,0 85,0 14,4 85,6

    Participar numa manifestao 26,3 73,7 19,5 80,5 14,9 85,1

    Participar num comcio ou numa reunio poltica 24,6 75,4 20,8 79,2 22,0 78,0

    Contatar, ou tentar contatar, um poltico ou um funcio-nrio do governo para expressar seu ponto de vista 10,9 89,1 7,8 92,2 8,3 91,7

    Dar dinheiro ou tentar recolher fundos para uma causa pblica 11,4 88,6 3,8 96,2 5,5 94,5

    Contatar ou aparecer na mdia para exprimir as suas opinies 8,3 91,7 2,7 97,3 2,2 97,8

    Participar num frum ou grupo de discusso atravs da internet 9,2 90,8 6,1 93,9 2,2 97,8

    (*) Abaixo so listadas algumas formas de ao poltica e social que as pessoas podem ter. Por favor, indi-que, para cada uma delas: a) assinar uma petio ou fazer um abaixo-assinado, b) boicotar ou comprar determinados produtos, por razes polticas, ticas ou ambientais, c) participar numa manifestao, d) participar num comcio ou numa reunio poltica, e) contatar, ou tentar contatar, um poltico ou um funcionrio do governo para expressar seu ponto de vista, f) dar dinheiro ou tentar recolher fundos para uma causa pblica, g) contatar ou aparecer na mdia para exprimir as suas opinies, h) participar num frum ou grupo de discusso atravs da internet, tendo como opes: (i) fez no ltimo ano; (ii) fez nos anos anteriores; (iii) nunca fez mas poderia fazer; e (iv) nunca o faria.Obs: os percentuais referentes s respostas (i) e (ii) foram agrupados na categoria Sim e os referentes s respostas (iii) e (iv) foram agrupados na categoria NoFonte: Pesquisa Observatrio das Metrpoles, IUPERJ, ICS-UL, ISRP, 2008.

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    Portanto, resta saber como essas tendncias e contradies para o surgimento de uma cultura cvica na RMRJ esto relacionadas com a pre-disposio para a mobilizao poltica dos indivduos considerando-se as reas da RMRJ. No Quadro 1 adiante, apresentamos os resultados dos efeitos de algumas variveis condicionantes do nvel de mobilizao po-ltica dos indivduos metropolitanos. Nosso objetivo, no entanto, no esgotar as possibilidades explicativas da mobilizao poltica, o que fugiria aos objetivos do presente artigo, mas sim, levantar evidncias empricas da importncia da considerao da diversidade socioespacial da RMRJ e seus impactos sobre o comportamento poltico com vistas conforma-o de uma cultura cvica participativa. Ou seja, conforme verificamos nas anlises descritivas anteriormente apresentadas, no s os indicado-res de cultura poltica variam entre os indivduos, como tambm, temos como hiptese que essas variveis se articulam de maneira diferenciada de acordo com a origem espacial destes.

    Sendo assim, no Quadro 1 vemos que a confiana poltica invaria-velmente no significativa no seu efeito sobre a mobilizao poltica, mui-to em parte pelo fato de que essa experincia de desconfiana em relao classe poltica perpassa toda a sociedade em nveis bastante elevados, por outro lado, a confiana interpessoal no Subrbio e na Periferia apre-senta correlao significativa e inversa com a mobilizao poltica. Outro exemplo, no Ncleo da RMRJ identificamos um peso maior do nvel de escolaridade e da experincia associativa para a explicao do grau de mobilizao dos indivduos, enquanto que na Periferia os indicadores de socializao primria e interesse na poltica apresentam ganhos explica-tivos maiores do que o nvel de escolaridade dos indivduos. Em resumo, os dados indicam que se a desconfiana um elemento desmobilizador, por outro lado existem outras variveis de cultura poltica que podem compensar este efeito. Disso decorre que, caso estas variveis tambm es-

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    tejam distribudas de maneira desigual no territrio, como a escolaridade, o grau de interesse na poltica, o grau de socializao primria e o nvel de associativismo, ento devemos considerar que o efeito desmobilizador da cultura da desconfiana ser mediado em alguma medida pelo lugar de origem dos indivduos na metrpole, ou seja, pelos diferentes nveis de cultura cvica que essa relao com o territrio proporciona.

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    Quadro 1. Condicionantes6 da mobilizao poltica nas reas da RMRJ

    Ncleo Subrbio Periferia

    1 bloco: 0,201*** 0,138* 0,102**

    Escolaridade (0,024) (0,024) (0,021)

    2 bloco 0,141* n.s. 0,215***

    Socializao primria (0,042) (0,036) (0,024)

    3 bloco n.s. 0,210** n.s.

    Socializao secundria (0,049) (0,047) (0,032)

    4 bloco 0,129* n.s. 0,161***

    Interesse na poltica (0,037) (0,036) (0,024)

    5 bloco: 0,140* n.s. 0,150***

    Virtude cvica (0,029) (0,025) (0,017)

    6 bloco: n.s. -0,155** -0,099*

    Confiana interpessoal (0,052) (0,043) (0,029)

    7 bloco: n.s. n.s. n.s.

    Confiana poltica (0,037) (0,029) (0,021)

    8 bloco: 0,291*** 0,307*** 0,272***

    Associativismo (0,062) (0,064) (0,045)

    R Ajustado 35% 32% 29%

    Nmero de casos 1.010 1.010 1.010

    Acrscimo no R

    Ajustado

    1 bloco 12% 9% 5%

    2 bloco 11% 7% 10%

    3 bloco 2% 7% 2%

    4 bloco 1% 0% 2%

    5 bloco 4% 0% 3%

    6 bloco 1% 4% 1%

    7 bloco 1% 0% 1%

    8 bloco 7% 8% 7%

    6 Alm das variveis anteriormente apresentadas, acrescentamos as seguintes condicionantes da mobilizao poltica: a (1) escolaridade que foi construda a partir do nvel de escolaridade declarado pelo respondente, considerando as seguintes faixas: (i) sem instruo, (ii) baixo n-

    Nota: Os valores so coeficientes de regresso padronizados (betas) estatisticamente significativos. * p 0,05; ** p 0,01; *** p 0,001; n.s. = p > 0,05.Fonte: Pesquisa Observatrio das Metrpoles, IUPERJ, ICS-UL, ISRP, 2008.

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    vel de instruo, (iii) acima do baixo nvel de instruo, (iv) nvel secundrio de instruo, (v) acima do nvel secundrio de instruo, (iv) superior completo; a (2) a socializao primria, composta pela mdia das respostas s perguntas: Quando o Sr.(a) tinha 14/15 anos, com que frequncia se falava de poltica em sua casa e E na escola/universidade, com que frequncia se fala, ou se falava, de poltica, tendo como opes: (i) frequentemente, (ii) algumas vezes, (iii) raramente, e (iv) nunca; a (3) a socializao secundria composta pela mdia das respostas s perguntas: hoje em dia, fora dos meios de comunicao (televiso, rdio e jornais), com que frequncia ouve falar de assuntos polticos em cada um dos seguintes locais: a) no local de trabalho, b) nos encontros com os amigos, c) em sua casa ou de seus familiares, d) em reuni-es associativas, e) em conversas com vizinhos, tendo como opes: (i) frequentemente; (ii) algumas vezes; (iii) raramente; e (iv) nunca; e (4) o interesse na poltica composto pela mdia das respostas pergunta: O Sr(a) diria que interessado em poltica, tendo como opes: (i) muito interessado; (ii) interessado; (iii) no muito interessado; e (iv) no tem interesse nenhum.7 A partir dos locais de votao geocodificados na RMRJ, construiu-se o ndice do nmero efetivo de candidatos (Ncand) por locais de votaopara cada local, cujo objetivo ter uma estimativa do nmero mdio de candidatos que adquirem votao expressiva que os torna competitivos naquele local de votao, portanto, permite a identificao do grau de competi-

    Alm desta fragmentao da confiana interpessoal e das virtudes cvicas tidas pela literatura como base para um comportamento mais ativo politicamente orientado por uma cultura cvica consistente, evidncias recentes apontam para algo que pode ser considerado um dos resultados mais diretos desse diferencial na conformao da cultura poltica na me-trpole. Na sequncia, buscaremos levantar evidncias empricas que nos ajudem a ilustrar os impactos dessa configurao diferenciada da cultura poltica dos cidados metropolitanos fluminenses sobre o comportamento poltico, neste caso, o voto. Tomamos como hiptese que as escolhas de voto em eleies proporcionais levam em considerao no seu clculo imediato a cultura poltica dos indivduos mediada pela sua experincia com o territrio, o que proporcionaria diferentes maneiras de se relacio-nar com as formas representativas do poder.

    A ttulo de exemplo, uma anlise desagregada sobre os resultados eleitorais para deputado estadual, considerando-se o recorte metropolita-no, aponta para uma diferena significativa no nmero de competidores por votos entre as diferentes reas da metrpole. A partir da distribuio territorial do grau de competitividade por votos7 nos locais de votao da

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    RMRJ, Corra (2011, p. 99) realizou uma classificao das reas intraurba-nas8 da metrpole do Rio de Janeiro. Essa classificao teve como resul-tado quatro tipos de reas, sendo a varincia intragrupos de 38% e uma varincia intergrupos de 62%. A partir do resultado espacializado dessa classificao do grau de competitividade na disputa eleitoral na metrpo-le (Figura 4), pode-se perceber que h uma desigualdade na distribuio dessa competio por votos entre as reas da RMRJ, quando considerados os candidatos a deputado estadual no pleito de 2006. O que chama aten-o neste resultado que as reas classificadas como de mercado eleitoral altamente concentrado correspondem, em grande medida, periferia da RMRJ, enquanto que as reas classificadas como de disperso alta esto circunscritas apenas ao municpio polo da regio metropolitana.

    tividade por votos em cada local. O ndice calculado de acordo com a seguinte frmula: ,onde pij a proporo de votos de um candidato j no local de votao

    i; e n o nmero de candidatos que receberam pelo menos 1 voto no local de votao i.

    8 reas de ponderao do Censo Demogrfico de 2000 (IBGE).

    Nicand = 1/

    nj= 1

    p2ij

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    Figura 4. reas de ponderao da RMRJ segundo o grau de competitividade da disputa eleitoral para deputado estadual

    Fonte: Corra, 2011.

    Anlises multivariadas a partir dos dados do Censo Demogrfico de 2000 (Corra, 2011, p. 114) indicaram uma forte correlao entre essas diferenas no grau de competitividade e a distribuio de caractersticas socioeconmicas da populao da regio metropolitana do Rio de Janei-ro. Em resumo, os resultados indicam haver uma significativa e consider-vel relao entre a hierarquizao das reas intraurbanas identificadas a partir da distribuio desigual de indivduos no espao metropolitano com elevada concentrao de recursos como renda e escolaridade, e pela

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    distribuio desigual dos servios pblicos de infraestrutura9 e a com-petitividade eleitoral na disputa por cargos proporcionais.

    Segundo a perspectiva terica da geografia do voto (Ames, 2003; Carvalho, 2003), quanto mais concentrada territorialmente a votao de um candidato, maiores sero os incentivos para que assuma uma con-duta parlamentar orientada pelo atendimento de interesses paroquiais e, inversamente, quanto mais dispersa, maiores so os incentivos para uma conduta parlamentar que seja guiada por interesses universalistas. De acordo com a classificao dos deputados realizada por Corra (2011), considerando-se somente os deputados metropolitanos, ou seja, aqueles que obtiveram mais de 50% de sua votao no interior do espao metro-politano, 31 dos 50 assim caracterizados apresentaram perfil de votao identificado como um incentivo para o que Nelson de Carvalho (2009) tem denominado de paroquialismo metropolitano, isto , a manuten-o de redutos eleitorais mesmo no interior da metrpole.

    A fora da votao concentrada no interior da Capital fluminense j foi destacada anteriormente no trabalho de Kuschnir (2000). De acordo com a autora, com base em levantamento feito desde a dcada de 1980, pelo menos um tero da Cmara de Vereadores do Rio de Janeiro eleito com base em uma votao concentrada geograficamente. No entanto, o que se tem destacado no trabalho de Kuschinir a conexo existente entre a concentrao geogrfica das votaes dos vereadores e deputados no Rio de Janeiro e a existncia de centros de assistncia populao que so mantidos por parlamentares, os chamados centros sociais (Kuschnir,

    9 A concentrao de recursos medida a partir do percentual por rea dos indivduos cuja renda familiar per capita acima de cinco salrios mnimos e cuja mdia da escolaridade dos adultos do domiclio acima de onze anos de estudo. J a carncia de infraestrutura medida a partir do percentual por rea de pessoas vivendo em domiclios onde no h abastecimento de gua por meio de rede pblica ou fonte prpria no terreno; ou em domiclios que no tenham acesso rede de esgotamento sanitrio por rede geral ou por meio de fossa sptica; ou ainda, em domiclios cujo lixo no seja coletado por servio pblico de limpeza (Corra, 2011, p. 114).

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    2008). Nesses locais, so oferecidos diversos servios pblicos de inte-resse da populao e o seu financiamento se d por meio da arrecadao de recursos pblicos. De acordo com Kuschnir:

    fundamental destacar que os Centros Sociais muitas vezes tm estreitas relaes com o poder constitudo, recebendo o ttulo de utilidade pblica por indicao das casas le-gislativas e sano do prefeito ou do governador. Isso lhes garante iseno de impostos e eventualmente contratos em convnios com os governos estadual e municipal, prestando servios como creches, atendimento mdico e centros de ca-pacitao profissional. H denncias de que vrios Centros funcionam como entidades que propiciam a arrecadao de dinheiro pblico atravs de superfaturamento em com-pras de equipamentos, remdios e outros servios (Campos, 2004). Embora sofram algumas sanes no perodo eleitoral em funo da legislao, notrio que operam abertamente nas demais pocas do ano. (Kuschnir, 2008, p. 7)

    Neste caso, fica clara a interferncia do exerccio do mandato em relao manuteno dos centros sociais, j que a concesso de ttulo de utilidade pblica pelas casas legislativas o principal mecanismo de legitimao destas entidades. Por outro lado, no podemos deixar de destacar a relao existente entre as votaes dos deputados e a presena dos seus centros sociais, como podemos conferir no exemplo disponibi-lizado por Kuschnir (2008, p. 5), onde se verificou essa correspondncia entre as reas de predominncia de votao de um deputado estadual e a distribuio geogrfica dos frequentadores do seu centro social.

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    Figura 5. Distribuio espacial da votao de um deputado e dos usurios de um centro social mantido pelo parlamentar

    Fonte: Kuschnir, 2008.

    Consideraes finais

    guisa de concluso, com base nas evidncias empricas elencadas na seo anterior podemos dizer que se mostra plausvel a hiptese de que o espao metropolitano fluminense se organiza de forma a repro-duzir fortes desigualdades urbanas, e que os diferenciais de condies sociais destas reas serviriam de base para o desenvolvimento de condi-es sociopolticas diferenciadas entre os cidados metropolitanos. Neste sentido, a forma como os indivduos experimentam o territrio na vida cotidiana, com destaque aos diferentes nveis de ateno do poder pbli-co s necessidades imediatas das reas da cidade, fomentam diferentes formas de se configurar a cultura poltica dos indivduos, o que impacta posteriormente no seu comportamento poltico, sobretudo, no grau de engajamento cvico-poltico e nas maneiras como esse comportamento se manifesta. Mais do que oferecer elementos explicativos da manuteno da lgica da desconfiana na metrpole fluminense, objetivo que extra-polaria o escopo do presente artigo, buscamos evidenciar a importncia de se considerar a dimenso das desigualdades urbanas no entendimento

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    das diferentes culturas polticas entre os cidados metropolitanos. Dito de outra maneira, possvel considerar que a manuteno, no interior do espao metropolitano, de fortes desigualdades com relao ao acesso ao bem-estar urbano o que se confirma com base na distribuio dos nveis de carncia de infraestrutura de servios pblicos e, com relao ao acesso s oportunidades de melhoria das condies de vida mais ime-diatas, pode ser visualizado a partir das distribuies de renda familiar per capita e de clima educativo domiciliar no espao metropolitano coloca grande parte dos cidados metropolitanos na margem do direito cidade. Ou seja, o resultado direto dessa lgica de organizao metropolitana segregadora e excludente a marginalizao de grande parte da popula-o metropolitana em relao aos seus direitos enquanto moradores da cidade (ser atendido por uma rede de transporte eficiente, ter acesso s redes de abastecimento de gua potvel, esgotamento sanitrio e coleta de lixo, o acesso a condies dignas de habitao, o acesso a equipamen-tos de sade, educao, lazer e cultura, e etc.) que fortalece e legitima a desigualdade de condies do exerccio da cidadania (civitas), relao que bem captada pelas metforas de cidade escassa ou escassez de cidade de M. A. de Carvalho. Por fim, ao conectarmos essas condies desiguais de bem-estar urbano com o funcionamento do nosso sistema poltico democrtico-representativo, o que se percebe a utilizao da instncia poltica representativa como forma de barganha da subordina-o pessoal dos grupos em situao de carncias urbanas, garantindo a reproduo no poder de determinados grupos polticos por meio das m-quinas partidrias clientelsticas at s entidades assistencialistas mantidas por alguns parlamentares. O caso da cassao do mandato do Deputado Estadual Natalino (eleito em 2006 com votao concentrada na regio da Zona Oeste carioca) por conta do seu envolvimento com um grupo mili-ciano da regio levanta srias questes sobre os resultados perversos que

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    essa dupla carncia de direitos (do direito cidade e do direito de cidade) sobre a qualidade da democracia nas grandes metrpoles que apresen-tam uma lgica de organizao socioespacial parecida.

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    Recebido em: 20/12/2011Aceite final: 11/04/2012