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9 771983 190002 ISSN - 1983-1900

Rio Pesquisa 14 2011 - FAPERJ do Estado do Rio de Janeiro Governador | Sérgio Cabral Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia Secretário | Alexandre Cardoso FFF undação Carlos

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983-1900

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1 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano IV SUMÁRIO

EXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTEEXPEDIENTE

Governo do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGoverno do Estado do Rio de JaneiroGovernador | Sérgio Cabral

Secretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TSecretaria de Estado de Ciência e TecnologiaecnologiaecnologiaecnologiaecnologiaSecretário | Alexandre Cardoso

FFFFFundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àilho de Amparo àPPPPPesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � Fesquisa do Estado do Rio de Janeiro � FAPERJAPERJAPERJAPERJAPERJDiretor Presidente | Ruy Garcia MarquesDiretor Científico | Jerson Lima SilvaDiretor de Tecnologia | Rex Nazaré AlvesDiretor de Administração e Finanças | CláudioFernando Mahler

3 | BIOLOGIAImportantes para a preservação dabiodiversidade, os morcegos sãoobjeto de estudo na UniversidadeFederal Rural do Rio de Janeiro(UFRRJ), que faz levantamento deespécies que vivem no Estado

6 | CULTURAProjeto do Conservatório Brasileiro deMúsica cria ferramenta para auxiliar oensino de música nas escolas públicas

8 | MEDICINA NUCLEARPesquisadores do Instituto deRadioproteção e Dosimetria (IRD/Cnen) desenvolvem estudo voltadopara análise da exposição depacientes e profissionais àradioatividade

12 | ESPORTEAplicação de tecnologia deidentificação por radiofrequência(RFID) pode garantir cronometragensprecisas em provas de ciclismo emaratonas

15 | TECNOLOGIA SOCIALCooperativa de Criadores de Peixes eRãs impulsiona cultura de tilápia emCachoeiras de Macacu e ajuda apromover transformaçãosocioeconômica na região

18 | INOVAÇÃOTECNOLÓGICAParceria entre empresas fluminensesdesenvolve motocicleta capaz depulverizar inseticida com a ajuda dosistema de exaustão do veículo

22 | ARTIGOEm artigo exclusivo para a Rio Pesquisa, omusicólogo e historiador da MPB RicardoCravo Albin faz um resumo das atividadesdo instituto que leva seu nome, depositáriode um dos mais importantes acervos demúsica popular brasileira no País

25 | ENTREVISTAPe. Josafá Siqueira: reitor da PUC-Rio desdejulho de 2010, o biólogo, ambientalista eeducador explica como a universidadeconsegue se manter no topo em um variadocampo de áreas do Ensino Superior

28 | EDUCAÇÃOFruto de uma cooperação entrepesquisadores de instituições sediadas noEstado do Rio de Janeiro, o jogo Célulaadentro propõe uma divertida e criativamaneira de aprender

31 | PERFILElisa Baggio Saitovitch: gaúcha de BomJesus, ao abraçar a Física e trocar o Sulpelo Rio, acabou virando referência paraas novas gerações de pesquisadores

35 | REPORTAGEM DE CAPACientistas do INCT-Inofar vêmpesquisando com sucesso novasformulações para produzirmedicamentos de modo mais práticoe a custo mais baixo

39 | DESENVOLVIMENTOSUSTENTÁVELEmpresa de Itaperuna transforma resíduosda indústria de laticínios do noroestefluminense em insumo para a produçãode ração animal

42 | ENTOMOLOGIAFORENSEPor meio da análise de insetos, atraídospor material em decomposição,pesquisadores conseguem responder aperguntas cruciais para oesclarecimento de crimes diversos

45 | TECNOLOGIA DAINFORMAÇÃOSistema de alerta via SMS, desenvolvidona UFF, pode minimizar impactos dedeslizamentos

46 | AGRICULTURAPesquisadores da Embrapa estudammaneiras de reproduzir em laboratórioa Terra Preta de Índio, solo com altoteor de nutrientes encontrado naAmazônia

50 | MEIO AMBIENTEEstudo realizado na Uerj investigaefeitos da poluição do ar no TúnelRebouças e na Avenida Brasil

54 | FAPERJIANASDiretoria e assessores se reúnem paraavaliar desempenho das atividades defomento da fundação no últimoquadriênio, fazer correções de rumo eplanejar os próximos passos

56 | EDITORAÇÃOO Programa de Auxílio à Editoração(APQ3) está com inscrições abertas atéo dia 26 de maio. No últimoquadriênio (2007-2010), número detítulos publicados anualmente por meiodo programa se aproxima de umacentena

Rio Pesquisa. Ano IV. Número 14

Coordenação editorial e edição | Paul Jürgens

Redação | Danielle Kiffer, Débora Motta, VilmaHomero, Vinicius Zepeda e Elena Mandarim(estagiária)

Colaborou para esta edição | Flávia Machado

Diagramação | Mirian Dias

Mala direta e distribuição | Élcio Novis e VivianeLacerda

Foto da capa | Cristália Produtos QuímicosFarmacêuticos Ltda.

Foto 3ª capa | Ryan Weis

Revisão | Ana Bittencourt

Tiragem |15 mil exemplares

Periodicidade |Trimestral

Distribuição gratuita |Proibida a venda

Avenida Erasmo Braga 118/6° andar - CentroRio de Janeiro - RJ - CEP 20020-000Tel.: 2333-2000 | Fax: 2332-6611

[email protected]

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 2EDITORIAL

Um corpo de funcionários ex-pandido, dependências quepassam por uma ampla re-

forma arquitetônica e modernização,incluindo a incorporação de novos es-paços que ampliam em cerca de 50%a área física de suas instalações, e a cer-teza da continuidade de uma estraté-gia de gestão que, em quatro anos, in-jetou mais de R$ 1,1 bilhão na pesqui-sa fluminense. É nessa moldura quese inicia, para a FAPERJ, um novoquadriênio do calendário da política defomento à Ciência e Tecnologia no Es-tado do Rio de J aneiro. Em meadosde janeiro, a direção da Fundação pro-moveu uma reunião a fim de realizarum amplo balanço de suas atividadesnos anos 2007-2010, fazer as correçõesde rumo necessárias e planejar os no-vos investimentos, que deverão garan-tir ao importante conjunto de institui-ções de pesquisa e ensino sediadas noEstado realizar novas descobertas eavanços em setores estratégicos parao desenvolvimento econômico e soci-al do Estado e do P aís (mais detalhes da

reunião na seção Faperjianas à pág. 54).

Física em atividade. Gaúcha de BomJesus, Elisa trocou o Rio Gr ande doSul pelo Rio de Janeiro ainda jovempara se tornar uma referência para asnovas gerações que atuam nos diver-sos campos da física.

À pág. 35, começa a reportagem queaborda as mais recentes descobertasdo INCT�Inofar � um entre os 122Institutos Nacionais de Ciência eTecnologia espalhados pelo País �sediado na Faculdade de Farmácia daUniversidade Federal do Rio de Janei-ro (UFRJ), na ilha do Fundão, ondecientistas vêm pesquisando com su-cesso novas formulações para produ-zir medicamentos de modo mais prá-tico e a custo mais baixo.

Outra matéria que também merecedestaque nesta edição é a que revelacomo dois empreendedores se associ-aram para criar uma nova versão do�fumacê�, em motocicletas adaptadasque podem ajudar a comba ter pragasagrícolas, no interior, e vetores de do-enças, como mosquitos, em centrosurbanos. Boa leitura!

A primeira edição de Rio Pesquisa noquadriênio 2011-2014 traz, para osnossos leitores, mais um variado pai-nel de pesquisas � estejam elas conclu-ídas ou em andamento � que recebe-ram apoio da Fundação. Fomos con-ferir, por exemplo, um estudo realiza-do por pesquisadores ligados ao Insti-tuto de Radioproteção e Dosimetria(IRD/Cnen), visando dar mais segu-rança a pacientes e trabalhadores en-volvidos com a prática da MedicinaNuclear � técnica que envolve expres-sivo número de exames que hoje reali-zamos. O entrevistado da edição é opadre e biólogo Josafá Siqueira. Mem-bro do Conselho Superior da FAPERJ,o reitor da PUC-Rio tem 12 livros pu-blicados � vários deles voltados para atemática do meio ambiente � e preo-cupa-se com o destino do planeta e aqualidade da educação.

Para traçar o Perfil da escolhida paraesta edição � Elisa Saitovitch �, foipreciso aguardar um momento dispo-nível na atribulada agenda dessa que éum dos mais impor tantes nomes da

Foto: PedroCury.com

Em parceria com a empresa Allen Informática, o empresárioBruno Leonardo de Souza Christ e seus colaboradoresdesenvolveram um sistema de identificação por radiofrequência

Financiar sim, mas com planejamento

que pode garantir cronometragens precisas em muitasmodalidades esportivas, como provas de ciclismo e maratonas.Confira a reportagem a partir da pág. 12.

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3 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano IV

Débora Motta

Tradicionalmente temidos pelaaparência sombria, os morce-gos não figuram entre os ani-

mais mais queridos no imaginário po-pular. Mas longe das estórias de fic-ção que os apresentam sempre dis-postos a atacar as jugulares, associ-ando-os aos vampiros e a outras cria-turas do mal, eles desempenham umpapel fundamental para a preserva-ção das outras espécies na natureza.�Os morcegos controlam o númerode insetos nocivos, dispersam semen-tes e contribuem ativamente para areprodução de árvores�, explica obiólogo Carlos Eduardo LustosaEsbérard, do Laboratório de Diver-

Caçadores de morcegosImportantes paraa preservação da

biodiversidade,os morcegos sãoobjeto de estudo

na UFRRJ, que fazlevantamento de

espécies quevivem no Estado

do Rio de Janeiro

sidade de Morcegos da Universida-de Federal Rural do Rio de Janeiro(UFRRJ). Ciente da importância dapreservação desses animais, ele co-ordena um minucioso levantamentodas diversas espécies que vivem noEstado do Rio de Janeiro. �Conhe-cer bem os morcegos é o primeiropasso para preservá-los�, diz.

O projeto tem como objetivo reali-zar inventários sobre os morcegosem vários pontos no Estado: no no-roeste fluminense � municípios deCambuci, Miracema, Santa MariaMadalena e Cantagalo; nas ilhas daregião da Costa Verde, no litoral suldo Estado � Ilha Grande, Gipoia,Marambaia, Itacuruçá, Algodão,Jaguanum e Capítulo; e na Região

BIOLOGIA3 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano III

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 4

Serrana. �Os inventários são impor-tantes para entender a ocorrência e adiversidade dos morcegos no Esta-do e para identificar os padrões tem-porais de abundância, de reproduçãoe de comportamento. Já detectamos,por exemplo, que eles realizam deslo-camentos entre as ilhas do litoral sulfluminense e o continente. No casoda Ilha da Gipoia, espécies de hábi-tos insetívoros (que se alimentam deinsetos) e piscívoros (que se alimen-tam de peixes) foram atraídas a cons-trução de um açude�, conta Esbérard,que já deu início à elaboração de in-ventários longos no noroeste do Es-tado e na Costa Verde.

Segundo o professor, apesar de o Riode Janeiro ser um dos estados brasi-leiros com um bom número de amos-tras da fauna de morcegos, os inven-tários realizados anteriormente emoutras pesquisas eram principalmentede curta duração e, consequen-temente, não apresentavam informa-ções precisas sobre as populaçõesestudadas. �Os inventários de curtoprazo desconsideravam fatores im-portantes, como os deslocamentosentre as populações de morcegos, etrabalhavam com um número redu-zido de exemplares coletados�,

pondera o biólogo. Por esse motivo,além de ter uma abrangência maiorcom relação às áreas estudadas, con-siderando pontos do Estado onde osmorcegos ainda não foram avaliados,os inventários que estão sendo ela-borados no projeto do biólogo sãode longo prazo, com previsão de,pelo, menos três anos de duração.

Acompanhado por uma equipe de 14estudantes, entre alunos de gradua-ção e de pós-graduação em Biologia,o professor coleta periodicamente osmamíferos voadores na naturezapara catalogá-los e observar diferen-ças nas espécies recapturadas, comomudanças no peso do animal, quepodem estar relacionadas à degrada-ção do meio ambiente. Para tanto, ospesquisadores realizam expediçõesnoturnas em locais de difícil acesso.

�A coleta dos morcegos é realizadadurante toda a madrugada. Pegamosuma média de 35 a 40 morcegos pornoite. A ideia é fazer coletas durantecem noites ao longo de três anos, emcada local estudado�, diz Esbérard,que é Jovem Cientista do Nosso Estado.

A tarefa não é simples. O sonar dosmorcegos é tão aperfeiçoado que écapaz de captar informações exatassobre o espaço que os cerca, incluin-do obstáculos, inimigos e até a tex-tura do alimento desejado. �Eles sãocapturados com ajuda de redes ar-madas em suas rotas de voo, muitasvezes montadas sobre espelhos deágua�, conta. Aliás, o uso de redessobre a água tem propiciado a cap-tura de espécies raramente observa-das e em quantidades não esperadas.�Relacionamos a diversidade amos-trada com o tamanho de cada lagoa,com a localização destas, a altitude eoutros aspectos ambientais citadosem uma das dissertações de mestradorecentemente defendida.�

Depois da coleta, cada animal rece-be uma coleira de identificação e énovamente solto, para poder serrecapturado em outras coletas futu-ras. �O momento da recaptura é o

Das 75 espéciesidentificadas até omomento no Estadodo Rio de Janeiro,apenas três sãohematófagas

Trabalho de campo: pesquisadores armam rede acima de curso d�água para coletar morcegos que, em seguida, têm peso e tamanho avaliados

Fotos: Luciana Moraes Costa

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Pesquisador: Carlos EduardoLustosa EsbérardInstituição: Universidade FederalRural do Rio de Janeiro (UFRRJ)

mais gratificante. É quando pode-mos saber o que aconteceu no perío-do em que eles estiveram em seushabitats�, diz. Com as informaçõesobtidas na recaptura, os pesquisa-dores podem descobrir qual é a épo-ca de reprodução dos animais, seeles se deslocaram ou não nessemeio tempo, se a relação entre pesoe tamanho está relacionada à diver-sidade vegetal de seus habitats e, ain-da, se existe alguma relação entre osparasitas que os acometem e a má-conservação das cavernas e de ou-tros abrigos onde vivem.

De acordo com o biólogo, foramcoletadas até então, em todo o Esta-do, 75 espécies diferentes de morce-gos � número que está em atualiza-ção permanente. �A diversidade deespécies no Rio de Janeiro é grande.É preciso saber quantas de fato exis-tem, até para contabilizar alteraçõesque essas populações podem sofrerperante às possíveis mudanças climá-ticas no futuro�, destaca Esbérard,lembrando que das 75 espécies ob-servadas, apenas três são hema-tófagas (alimentam-se de sangue) eduas são carnívoras (alimentam-se depequenos vertebrados inteiros, comoos lagartos e pererecas). Todas as ou-tras espécies encontradas são fru-gívoras (alimentam-se de frutos),insetívoras ou nectarívoras (de néc-tar); e uma delas piscívora. �A maio-ria que vive nas regiões urbanas enas matas é frugívora. Já nos man-guezais, predominam as espéciesinsetívoras�, completa.

Uma das linhas paralelas de pesquisa,que norteia uma tese de doutorado emandamento, tem como objetivo rela-cionar as espécies encontradas embananais e compará-las com as demata contígua, para entender como sedá a diversidade dos morcegos e quaisserviços (polinização, dispersão e con-trole de insetos) eles desprezam ao serestringirem aos bananais. O profes-sor frisa que em cada local investiga-

do é realizada uma busca direta porrefúgios dos mamíferos. Quando umexemplar é encontrado, a equipe ten-ta capturar todos os integrantes dacolônia, a intervalos regulares, paraobter dados sobre a variação do pesoe do tamanho de cada um deles. �Jánotamos diferenças temporais na ocu-pação desses locais pelos dois sexosem várias espécies.�

Até o momento, as notícias são boas.Não há indícios de extinção de ne-nhuma espécie de morcego f lu-minense. �Descobrimos que algumasdas que estão na lista das ameaçadassão mais abundantes no Estado doque se imaginava�, diz. Um exemploé Lonchophylla bokermanni, que só exis-te no Rio de Janeiro e em Minas Ge-rais e, provavelmente, no Espírito San-to. �Já encontramos essa espécie em21 localidades fluminenses�, conta.Outras espécies raras foram relata-das nos inventários do projeto. �En-contramos na ilha da Gipoia a espé-cie Macrophyllum macrophyllum, que éapenas o segundo registro encontra-do em todo o Estado. Na reserva doRio das Pedras, em Mangaratiba, en-contramos a Thyroptera tricolor, que

não era capturada há 70 anos�, res-salta Esbérard.

Outra espécie rara é a hematófagaDiaemus youngi, que se alimenta do san-gue de aves. Ela tem sido encontradaem maior abundância em criatórios deaves silvestres, atacando aquelasempoleiradas em galhos altos. �Tal-vez sua raridade tenha sido erronea-mente associada a coletas feitas ape-nas entre as galinhas, que dormem emgalhos mais baixos ou em galinheiros.Mas só com um esforço de longo pra-zo, em muitos sítios de coleta, pode-remos reunir satisfatoriamente toda ariqueza de espécies de morcegos noEstado�, conclui. O trabalho já ren-deu 14 publicações em renomadasrevistas cientificas, como Brazilian

Journal of Biology, Zoologia, Memórias da

Fundação Oswaldo Cruz, Zootaxa eAmerican Journal of Parasitology.

Carlos Esbérard: �Os morcegos controlam o número de insetos nocivos, dispersamsementes e contribuem ativamente para a reprodução de árvores�, afirma o biólogo

Foto: Divulgação

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 6

Para daro tom na

sala de aula

As artes e, por extensão, a mú-sica, transformaram-se aolongo do tempo, em artigos

de luxo na Educação Formal no País,assimiladas apenas pelas classes eco-nomicamente mais favorecidas, quedispõem de meios para garantir a ma-trícula de seus filhos em escolas par-ticulares. Agora, com a aprovação daLei 11.769, de agosto de 2008, é pos-sível vislumbrar mudanças em hori-zonte próximo. Até o fim de 2012,as escolas públicas de Ensino Bási-co � que compreende da EducaçãoInfantil até o terceiro ano do EnsinoMédio � em todo o País terão de in-cluir Música como componentecurricular obrigatório.

Para ajudar os educadores a compre-ender os objetivos da música na edu-cação regular no cotidiano do traba-lho escolar, a professora do Conser-vatório Brasileiro de Música/CentroUniversitário (CBM-CEU), ElzaLancman Greif, coordenou, ao ladode outros quatro professores, um

projeto para reunir uma série de pro-postas de atividades na área musical.A iniciativa resultou no CD-RomMúsica em Tela, que reúne uma varie-dade de informações úteis para aque-les que ficarão responsáveis pela edu-cação musical nas escolas.

Para realizar o trabalho, Elza, que édoutora em Música, realizou umapesquisa sobre os diversos gênerosmusicais. �Além de sugerir biblio-grafia, escrevi um texto para cadaum deles�, explica a professora, res-saltando que seu objetivo foi o defacilitar a pesquisa dos professores.O material contou com auxílio doedital Apoio à Produção e Divulgação das

Artes, da FAPERJ.

Entre os gêneros abordados está ofunk. Nos anos 1970, o ritmo come-çou a ganhar espaço em todos os ex-tratos sociais da cidade. O avanço,contudo, esbarrou no preconceito dasclasses economicamente maisfavorecidas da população, ao contrá-rio do hip-hop, que também conquis-tou seu espaço, não só no Rio de Ja-neiro, mas também nas demais gran-

Projeto do Conservatório Nacional deMúsica cria ferramenta para auxiliar oensino de Música nas escolas públicas

Vinicius Zepeda des cidades do País. �Nada contra ofunk�, diz Elza. �Só acho errado amaneira vulgar e excessivamente eróti-ca como ele tem sido utilizado. Maso funk, por si, tem uma riqueza rít-mica. Um aluno meu, de IniciaçãoCientífica e morador de uma comu-nidade de baixa renda do Rio, estádesenvolvendo um projeto que bus-ca investigar, em meio à interação so-cial que os bailes funk promovem, osaspectos terapêuticos desse ritmo�, re-lata a professora, que defende a ne-cessidade de os professores de esco-las públicas evitarem uma posturaelitista e se aproximarem da realidadesocial e cultural dos alunos.

Elza lembra que no caso do hip-hop,o gênero nasceu como um movimen-to antiviolência, antidrogas e an-tiexclusão. �Logo tornou-se, ao mes-mo tempo, um movimento artístico,político e ideológico, motivo para ajuventude negra se orgulhar de suaorigem e cultura�, explica. Além dese utilizar dos raps (do inglês rhythm

and poetry, ou rima e poesia) � as mú-sicas compostas por uma letra quase

CULTURA Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 6

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7 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano IV

falada, em que os mestres de cerimô-nia, os MC�s, cantam mensagens po-líticas sobre o cotidiano das periferi-as, urbanas sob uma batida eletrôni-ca repetitiva � o hip-hop se com-plementa com o DJ, o uso do grafitee da dança break. �Estas referênciaspodem ser apropriadas pelos profes-sores da Educação Básica, cujos alu-nos, muitos deles apreciadores ouprodutores desse tipo de cultura, vi-vem em comunidades onde esse rit-mo está presente�, diz o texto doCD-ROM.

Outro ritmo abordado no projeto é osertanejo, conhecido por sua verten-te mais comercial e romântica de can-tores, como Daniel, Leonardo, Zezédi Camargo & Luciano, além de fe-nômenos ditos �universitários�, quemisturam influências de rock e country

rock, como o ídolo teen Luan Santana.�O cancioneiro sertanejo é abran-gente, envolvendo desde músicas po-pulares de características rurais, comviolas caipiras e acordeons, e tocadasnas rodas de viola por boiadeiros elavradores, até os sucessos de duplasfamosas, responsáveis por um merca-do que vende milhares de CDs todosos anos�, detalha Elza.

O mais conhecido e genuíno ritmobrasileiro, o samba, claro, não pode-ria deixar de marcar presença. O rit-mo teria surgido entre o último quar-to do século XIX e as primeiras dé-

cadas do século XX, em festas orga-nizadas pelas �tias� baianas, nos bair-ros de Saúde e Gamboa, na zonaportuária do Rio, que incluíam co-mida, bebida, música, dança e algunsaspectos do candomblé. �O exem-plo mais emblemático dessas reu-niões era a casa da baiana Hilária Ba-tista de Almeida, a tia Ciata, casadacom um funcionário do chefe dePolícia da cidade, baiano que adqui-rira certos privilégios por ter estuda-do durante dois anos na Faculdadede Medicina de Salvador�, confirmaa pesquisadora. Entre seus frequen-tadores, estavam os músicos Donga,Pixinguinha, Caninha e Heitor dosPrazeres. �Ali, foi criado coletivamen-te, em 1917, aquele que é considera-do o primeiro samba gravado no País:Pelo telefone�, completa.

O CD-ROM traz ainda mais quatromódulos: Apresentação, Música e Edu-

cação, Atividades e Glossário, além doscréditos do material. Música e Edu-cação lista textos variados sobreMúsica, Educação, Cultura, aprendi-zagem musical, Música na EducaçãoInfantil, Educação Básica nas Esco-las, Mundo Sonoro e alguns depoi-mentos em vídeo com alunos e pro-fessores do CBM/CEU. Na seção�Para saber mais�, há sugestões de

bibliografia e textos sobre história damúsica/história da música brasileira,choro, MPB, forró, rock/rock noBrasil e música de concerto. �Valedestacar ainda o módulo de ativida-des, que traz sugestões de dinâmicasdestinadas à sala de aula, sobre ostemas Acústica e Audição; o Objetosonoro; Objeto Musical; Sons Cor-porais: percussão e sopro; Voz; Ob-jetos Instrumentais; e InventandoMovimentos Musicais�, lista Elza.

Ela acredita que a inclusão da Músi-ca no currículo escolar trará enormesbenefícios às gerações futuras. �Éclaro que a simples inclusão da dis-ciplina não formará necessariamen-te músicos nos colégios. Mas vai aju-dar a desenvolver o potencial que oser humano já tem dentro de si. As-sim, a escola formará um ser maiscompleto, mais sensível e criativo�,acredita. �Afinal, da mesma formaque muitos músicos improvisam suasmelodias, a imaginação criativa podeser replicada no dia a dia, como for-ma de criar soluções para os proble-mas que surgem na vida�.

Para além do erudito: CD-ROM elaborado pelo projeto leva em conta a diversidade degêneros musicais, incluindo ritmos populares entre os alunos, como o funk e o sertanejo

Elza Greif avalia como positiva a inclusãoda Música no currículo escolar

Pesquisador: Elza Lancman GreifInstituição: Conservatório Brasileirode Música/Centro Universitário(CBM-CEU)

Foto: Divulgação/CBM-CEU

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 8

em doses certasmedicina nuclear

Pesquisadoresdo Instituto de

Radioproteção eDosimetria (IRD)

investigam fatoresque afetam aexposição de

pacientes eprofissionais

que atuamnesse segmento

da Medicina

Danielle Kiffer

Especialidade que possibilita arealização de diagnósticospor meio de imagens, a Me-

dicina Nuclear garantiu um salto dequalidade no desenvolvimento dastécnicas não invasivas. Seu empregocrescente em hospitais e clínicas per-mitiu substituir, em diversos casos, achamada cirurgia exploratória, a queos médicos com frequência precisa-vam recorrer para examinar o inte-rior do corpo humano. Com a Me-dicina Nuclear, os diagnósticos de vá-rias doenças ficaram mais eficazes, in-cluindo alguns tipos de câncer.

De acordo com o Banco de Dadosde Instalações Radioativas da Comis-são Nacional de Energia Nuclear(CNEM), existem atualmente, no Bra-sil, cerca de 300 serviços de Medici-na Nuclear, 44 deles instalados noEstado do Rio de Janeiro. Para avali-ar as exposições às quais estão sujei-tos os profissionais que atuam nessesegmento e as atividades de radiofár-macos administradas aos pacientes,um grupo de pesquisadores do Insti-tuto de Radioproteção e Dosimetria(IRD), vinculado à CNEM, apresen-

tou à FAPERJ um projeto intituladoEstudo dos fatores que afetam a exposi-

ção de pacientes e trabalhadores na práti-

ca da Medicina Nuclear, no âmbito doedital de Apoio a Grupos Emergentes

de Pesquisa, desenvolvido no perío-do 2008-2010.

O principal objetivo do trabalho foidisponibilizar metodologias que per-mitam otimizar a utilização dosradiofármacos na Medicina Nuclear,que é também uma das funções doIRD. No caso dos pacientes, os es-tudos podem melhorar os protoco-los de diagnósticos em uso. Segun-do a física Silvia Velasques, uma das

MEDICINA NUCLEAR

Uma

Monitoramento: equipamento...

Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 8

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9 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano IV

integrantes da equipe, existe uma re-lação inversa entre a atividade doradiofármaco e o tempo para a aqui-sição das imagens. �Se a atividade fordemasiado reduzida, o exame pode-rá ser mais demorado, criando �arte-fatos de movimento�, e sua qualida-de poderá não ser aceitável dentrodos padrões já estabelecidos no País.Além disso, causa desconforto ao pa-ciente e diminui-se a possibilida-de de atender um maior número depacientes�, diz a pesquisadora.

Por outro lado, aumentando-se a ati-vidade dos radiofármacos, aumen-tam-se também as doses absorvidas

em órgãos radiossensíveis. �O equi-líbrio no uso das atividades de radio-fármacos determina o protocolo óti-mo�, afirma Sílvia, lembrando queisso é especialmente importante paraos chamados �grupos de risco�, quesão pacientes jovens, especialmentecrianças e mulheres em idade re-produtiva, gestantes e lactantes. Nes-se sentido, a pesquisadora tem estu-dado os critérios usados em um novoprotocolo pediátrico formulado pelaAssociação Europeia de MedicinaNuclear. �Antes, considerava-se opeso corporal e da idade do pacien-te. O novo protocolo considera tam-

bém a toxicidade do radiofármaco ea qualidade da imagem que poderáser obtida.�

Ao longo da pesquisa, Silvia e suaequipe também avaliaram criançascom carcinoma diferenciado detireoide tratados com iodo-131 (I-131). �Em procedimentos tera-pêuticos, as at ividades são muitomaiores do que em diagnóstico, e omaterial radioativo é captado no te-cido que se deseja tratar, mas tam-bém é captado em alguns órgãos sa-dios e deve-se estimar as doses ab-sorvidas nesses órgãos�, explica. �Adose não pode ser alta a ponto de

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... instalado na Unidade de Contador de Corpo Inteiro do IRD avalia a quantidade de nuclídeos radioativos no corpo humano

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representar risco significat ivo deefeitos tardios para a criança, que émais rádiosssensível do que os adul-tos, mas não se pode reduzir exces-sivamente a atividade do I-131, pois,nesse caso, a terapia não terá efei-to�, esclarece a física. Segundo apesquisadora, o material é excretadopelos rins, que estão próximos dasgônadas, órgãos rádiossensíveis.�Outro problema é a possibilidadede causar insuficiência renal paradoses acima de 23 Grays nos rins[Nota: �Gray� é uma unidade utilizada

para medir dose de radiação absorvida].Por isso, devemos calcular a dosenos rins durante o tratamento.�

O uso de determinados elementosradioativos para diagnóstico permi-te que as imagens apresentem altadefinição. Um exemplo é a tomo-grafia por emissão de pósitrons(PET), que possibilita a obtenção deimagens que fornecem informaçõessobre o estado funcional dos órgãos,podendo detectar, ao longo do exa-me, possíveis alterações metabólicas.Nas técnicas de radiologia tradicio-nais, com suas imagens estáticas,

destacam-se, principalmente, o es-tado morfológico dos órgãos. An-tes de ser submetido ao PET, o pa-ciente é injetado com uma dose deflúor-18, que emite partículas deno-minadas de pósitrons. Estasinteragem com os tecidos do corpoonde são emitidas, gerando fótons,que são os responsáveis pela forma-ção da imagem dos órgãos que sedesejam avaliar.

A exposição aos elementos radioati-vos daqueles que trabalham com essaespecialidade da Medicina deve sercontrolada. Os funcionários de clí-nicas que utilizam flúor-18 necessi-tam aproximar-se dos pacientes que

receberam uma dose do radio-fármaco e, assim, apresentam riscode exposição externa, como, aliás,também ocorre em todos os demaisexames de Medicina Nuclear. �Todoprofissional que atua em MedicinaNuclear deve receber o treinamentoadequado em radioproteção, e é sem-pre recomendável reduzir o mínimopossível os riscos de exposição in-terna e externa�, diz o coordenadordo projeto, Bernardo Dantas.

Ele relata que os níveis de contami-nação interna dos funcionários, queforam monitorados até o ano de2009, estão abaixo dos limites esta-belecidos pelas normas da CNEM.Para realizar essa avaliação, a quími-ca Ana Letícia Almeida Dantas e suaequipe no IRD empregam equipa-mentos como o contador de corpointeiro � que permite que se identi-fique e quantifique os radiofármacospresentes no corpo do indivíduo mo-nitorado. �Sugerimos que seja im-plementada uma monitoração inter-na rotineira dos profissionais da áreade Medicina Nuclear, o que atual-mente não é realizado�, propõe Ana.

A pesquisa em diferentes etapas: à esq., sala de instrumentação do Laboratório de Bioanálises do Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD); àdir., sistema de espectrometria gama mede a quantidade de elementos radioativos em amostras de urina de pessoas submetidas à radiação

Uso de elementosradioativos permiteque as imagensobtidas nos examesapresentem altadefinição

Fotos: Luiz Tadeu Duarte

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Para avaliar o nível de contaminaçãointerna e o tempo necessário àsemidesintegração dos elementosradioativos no organismo dos quetrabalham no setor � processo quena química é designado como �meia-vida� �, o grupo também utiliza téc-nicas de bioanálise in vitro, principal-mente em urina e fezes. �A meia-vidaefetiva está relacionada ao tempo queo elemento permanece ativo no cor-po. Com essas técnicas, podemos de-terminar o parâmetro�, explica a quí-mica Ligia Castro Julião, responsá-vel pelo Laboratório de Bioanálise doIRD. Análises desse tipo confirmamo que foi observado nas mediçõesdiretas, realizadas no contador decorpo inteiro, ou seja, que os traba-lhadores frequentemente apresentamcontaminação interna por I-131, umdos radiofármacos manipulados emMedicina Nuclear para fins de tera-pia e diagnóstico. Tais resultados cor-roboram a necessidade de se imple-mentar programas rotineiros demonitoração interna da exposiçãoocupacional desses profissionais.

Com relação à exposição externa,atualmente, apenas a monitoração detórax é obrigatória. Embora as mãosacabem ficando mais expostas que otórax, poucos são os profissionaisque usam dosímetros individuais deextremidade, como anéis ou pulsei-ras, para medi-la. A análise estatísti-ca das doses externas recebidas poresses profissionais, monitorados noEstado do Rio de Janeiro durante oestudo, revelou alguns valores acimado limite anual estabelecido pelaCNEM. �O que estamos fazendo dediferente é medir meticulosamente asdiversas áreas das mãos para verifi-car a parte mais atingida pela radia-ção durante as diversas etapas dosexames mais comuns de MedicinaNuclear�, informa a física ClaudiaLúcia de Pinho Maurício, do Servi-ço de Monitoração Individual Exter-na (Semex) do IRD.

No processo de injeção de flúor-18,por exemplo, a dose no dedo indica-dor, o dedo mais exposto, é mais doque 20 vezes maior que a do tórax ecerca de 10 vezes maior que a dopulso. No processo de manipulaçãodo flúor-18, a dose no dedo indica-dor chega a ser 200 vezes maior quea do tórax. No caso de exames comtecnécio-99m, as diferenças das do-ses do tórax para as áreas atingidasnas mãos na etapa de injeção doradiofármaco são bem menores, masda mesma ordem de grandeza: noprocesso de manipulação, a dose nodedo indicador é quase 100 vezesmaior que no tórax. Essa parte doestudo foi realizada com dosímetrostermoluminescentes importadoscom apoio da FAPERJ.

Para complementar essas medições,o grupo de pesquisadores faz simu-lações computacionais para avaliarmelhor o local mais exposto, pois nãoconseguimos colocar dosímetrostermoluminescentes em todas as po-sições das mãos dos trabalhadores.�Não conseguimos, por exemplo,medir a ponta dos dedos�, informao físico Denison de Souza Santos.

�No caso do exame PET, em que seutiliza o flúor-18, executo, no com-putador, uma previsão matemáticabaseada na emissão de pósitrons doelemento em questão. Com isso, pos-so chegar a uma probabilidade daexposição recebida em todos os pon-tos das mãos do profissional que in-jeta ou manipula o radiofármaco�,diz Denison, que também integra aequipe do Semex, do IRD. Para aequipe, o importante é, também nes-se caso, determinar precauções para,cada vez mais, proteger a saúde dosprofissionais do setor.

Pesquisador: Bernardo MaranhãoDantasInstituição: Instituto deRadioproteção e Dosimetria (IRD),Comissão Nacional de EnergiaNuclear (Cnen)

Trabalho em equipe: grupo participou do projeto que visa disponibilizar metodologiasmais adequadas para otimizar a utilização dos radiofármacos na Medicina Nuclear

Fotos: Luiz Tadeu Duarte

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Uma corrida a favor do tempoAplicação de tecnologia de

identificação por radiofrequênciaRFID pode garantir

cronometragens precisas emprovas de ciclismo e maratonas

Eventos esportivos realizados em circuito �dentro ou fora de estádios e arenas � e quereúnem um numeroso grupo de atletas,

como as provas de ciclismo e maratonas, costu-mam atrair audiência e mobilizar grande público.Essas mesmas modalidades esportivas, contudo,têm enfrentado um obstáculo comum ao longo dosanos: o de garantir uma precisa cronometragemaos competidores. Correndo contra o relógio, deolho nos Jogos Olímpicos de 2016, o empresárioBruno Leonardo de Souza Christ achou que era

Danielle Kiffer

ESPORTE Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 12

Ciclistas em ação no cartão postal carioca: novaopção tecnológica poderá dar aos atletas um registroconfiável e preciso do tempo e distância percorridos

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hora de criar algo, que pudesse ga-rantir, a cada um dos participantes,um registro confiável e preciso. Aoser selecionado no edital de Apoio

ao Desenvolvimento de Inovações no Es-

porte da FAPERJ, aplicou os recur-sos que recebeu no desenvolvimen-to e adaptação da tecnologia deidentificação por radiofrequência(RFID, na sigla em inglês) para acronometragem nos esportes.

Em parceria com a empresa Alleninformática, Bruno e seus colabora-dores criaram um sistema com leito-res de etiquetas descartáveis, dotadas

de um chip, que podem ser afixadasna roupa ou no corpo dos atletas, pormeio de cintas, pulseiras etornozeleiras, ou ainda em seus equi-pamentos, dependendo da modalida-de esportiva. �Em maratonas, porexemplo, o ideal, conforme as regrasestabelecidas, é que a leitura corretade chegada seja feita na altura dotronco do participante�, explica oempreendedor, formado em Educa-ção Física e especializado em Treina-mento Desportivo. �Em outras com-petições esportivas, pode-se utilizar aetiqueta em bicicletas, capacetes, pul-seiras ou tornozeleiras, dependendodas regulamentações esportivas.�

Monitoramento porradiofrequência

Para colocar o sistema em funciona-mento, são disponibilizadas, em pon-tos específicos de passagem dos atle-tas, máquinas leitoras com antenasdestinadas a �iluminar� digitalmenteo espaço. Quando o competidor pas-sa por um desses locais, a antena �car-rega� o chip dentro da etiqueta emmilissegundos e, em seguida, essemesmo chip manda a �resposta� devolta para o equipamento, que é au-tomaticamente armazenada, revelan-do o tempo ou a distância de cadaum. �Com essa tecnologia, não con-trolamos somente o tempo de cadaatleta. Também podemos averiguarsua capacidade aeróbica em treinos,por exemplo, pois com a leituraRFID é possível identificar a distân-cia percorrida. Com estas duas me-didas, tempo e distância, é feito o

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cálculo que mede a resistência físicados atletas�, explica Bruno.

Embora funcione por meio de me-canismos bastante dist intos, atecnologia de identificação porradiofrequência também pode teruma utilização nos esportes similar aodo Sistema de Posicionamento Glo-bal (GPS). �O RFID permite monito-rar os atletas presentes em jogos co-letivos, em quadra ou campo, para alocalização e controle da movimen-tação de cada um deles�, diz o em-presário, assegurando que a tecnologiade radiofrequência, nesses moldes,ainda não é utilizada nos esportes.

Um dos objetivos do projeto é am-pliar o uso de RFID no controle deesportes cíclicos � aqueles que mos-tram repetições de fases, como mar-cha, corrida, natação, remo, ciclis-mo etc. �Existem inúmeras vanta-gens que podem ser consideradas nahora de optar pelo RFID nos espor-tes, e uma delas é que, por ser umatecnologia nacional, os custos tor-nam-se mais baixos para sua aquisi-ção�, defende Bruno. Ele tambémacredita que a cronometragem porradiofrequência seja mais eficiente.�Com essa nova leitura, os resulta-dos são obtidos instantaneamente esem margem de erros�. A crono-metragem com a tecnologia RFID,desenvolvida por Bruno e sua equi-pe, já passou por sua prova de tes-tes em competições esportivas or-ganizadas pela Federação de Atle-tismo do Estado do Rio de Janeiro

(Farj). �Houve grande aceitação porparte dos atletas e dos orga-nizadores�, conta o empresário, semesconder a satisfação. A tecnologiaRFID já é utilizada, por exemplo, emcancelas de pedágio, controle de fur-tos de algumas lojas e por indústri-as químicas para monitoramento daevasão de funcionários no caso deacidentes.

História dacronometragem

De acordo com o empresário, difi-culdades na cronometragem de even-tos esportivos há muito representamum desafio para organizadores e di-rigentes. Um bom exemplo, segun-do Bruno, é a mais famosa corridade rua do País, a Corrida Internacio-nal de São Silvestre, realizada todosos anos no dia 31 de dezembro. �Nadécada de 1970, não havia cro-nometragem para todos os partici-pantes e apenas os 10 ou 15 primei-ros colocados tinham seus temposregistrados pela organização�, lem-bra o empresário.

Outro exemplo dos obstáculos àcronometragem, lembra Bruno, vemda década de 1980, época quando asgrandes corridas reuniam, no máxi-

mo, 1.200 pessoas � em 2010, cercade 20 mil atletas participaram da SãoSilvestre. Naquela ocasião, surgiu osistema de cronometragem por se-nhas, em que cada atleta recebia umnúmero (que era a sua identificação)em um pedaço de pano, que vinhacosturado em sua camisa. Além dis-so, recebiam três pedaços de papelplastificados, com senhas. A primei-ra delas, ele deixava na largada; a se-gunda, no meio do caminho; e a últi-ma, na chegada. Esses papéis eramcolocados em uma espécie de espe-to e, no final, a ordem das senhas eracomputada de acordo com o tempocronometrado ponto por ponto. Aofinal, cruzavam-se as informações eobtinham-se os resultados. �Muitoserros aconteciam nessa época e mui-tos atletas foram prejudicados comisso. O desenvolvimento tecnológicocertamente veio para beneficiar omonitoramento esportivo�, conclui.Agora, a corrida é para convenceroutros dirigentes e organizadores aexperimentar a inovação, que podechegar no tempo certo dos Jogos de2016 no Rio de Janeiro.

Empreendedor: Bruno Leonardo deSouza ChristEmpresa: Allen informática

Aplicação prática: o primeiro teste da nova tecnologia de radiofrequência para omonitoramento esportivo foi realizado durante uma corrida de rua, em Petrópolis

Fotos: Divulgação/Allen Informática

Bruno Christ: para o empreendedor,software nacional terá custo acessível

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Quando tecnologia rima

Cooperativa de Criadoresde Peixes e Rãs impulsiona

cultura de tilápia emCachoeiras de Macacu e

ajuda a promovertransformação

socioeconômica na região

Como proposta inovadora de desenvolvimento einclusão social, a Tecnologia Social já garantiuum lugar de destaque como instrumento destina-

do a promover soluções de baixo custo para problemasnas mais diversas áreas, da alimentação à energia, da educa-ção à habitação, dos recursos hídricos ao meio ambienteetc. Consagrada principalmente no âmbito das pequenas emicroempresas, ela é responsável por um número crescen-te de iniciativas e usa, como plataforma, estratégias formu-ladas com a participação das comunidades, que se organi-zam para promover uma transformação socioeconômicaem uma determinada região, sempre, claro, para melhor.

com socialFoto: www.uvi.edu

Capacidade de adaptação e crescimento rápido fazem da tilápia, com sua carne leve e saborosa, opção de cultivo no interior fluminense

Elena Mandarim

TECNOLOGIA SOCIAL

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No município de Cachoeiras deMacacu, situado na Baixada Litorâ-nea, região central do territóriofluminense, por exemplo, uma par-ceria entre a prefeitura e a Co-opercrãmma � Cooperativa Regionalde Piscicultores e Ranicultores doVale do Macacu e Adjacências Ltda.� vem impulsionando os negócios nosetor da Aquicultura. Desde 2005, apolpa de tilápia produzida pela coo-perativa faz parte do cardápio dasescolas municipais. Com o cresci-mento na demanda, os cooperadosbuscam meios de aumentar a produ-ção do peixe e aperfeiçoar o seuprocessamento. Um avanço que,além de garantir maior rentabilida-de, torna a atividade uma nova alter-nativa de trabalho naquela região.

Desde o começo desta década, oconceito de Tecnologia Social vemsendo pensado no Brasil por diferen-tes atores sociais, como organizaçõesda sociedade civil, universidades egestores públicos. Seguindo essa ten-dência, a FAPERJ lançou, em 2008,a primeira versão do edital de Apoio

ao Desenvolvimento de Modelos de Inova-

ção Tecnológica e Social. A seleção fi-nal de projetos contemplou, entremuitos outros, o engenheiro agrô-nomo José Marcelino Lima deSousa, cooperado e diretor técnicoda Coopercrãmma, que buscava re-cursos para incrementar a produçãoda cooperativa.

De acordo com Sousa, o projeto visa,além da modernização e adequaçãoda estrutura produtiva, o desenvol-vimento de um novo produto e acapacitação de novos cooperados.�O nosso maior objetivo, contudo, écriar uma forte economia solidária afim de que os pequenos produtorespossam se organizar para aumentare consolidar a produção local�, apos-ta o engenheiro.

Tilápia chega às escolasmunicipais

De 2005 a 2007, a Coopercrãmma for-neceu polpa de tilápia bruta às esco-las municipais. Para Sousa, o períodoserviu para observar o potencial devenda do produto e o grau de aceita-ção entre os estudantes. �As meren-deiras nos deram informações preci-osas sobre as reações dos alunos aoproduto. Constatamos, a partir dessaexperiência, que a polpa de tilápia ti-nha potencial de venda, mas que fal-tava um algo a mais�, diz Sousa.

Em parceria com a unidade do Ser-viço Nacional de Aprendizagem In-dustrial (Senai), instalada no municí-pio de Vassouras, um novo produto,à base de tilápia, foi desenvolvidopara melhor atender à prefeitura deCachoeiras de Macacu. �Entre trêsprodutos criados, a polpa de tilápiatemperada foi a escolhida pela comis-são formada por diretores, merendei-

ras e alunos. Agora, o Senai vai pas-sar a �receita� para a Coopercrãmmaproduzi-la�, conta o engenheiro.

Para assegurar o abastecimento des-se novo mercado, a Coopercrãmmaprecisará garantir o aumento da ca-pacidade produtiva de seus associa-dos. O primeiro passo, segundoSousa, é adequar a estrutura da coo-perat iva . �Com os r ecursos daFAPERJ, compramos novas máqui-nas, maiores e mais modernas, comoo misturador de massa. Construímos,ainda, uma área administrativa, comsalas informatizadas�, relata.

O segundo passo é capacitar novosprodutores para aumentar, assim, aprodução do peixe. O empreendedorconta que, por meio da parceria coma prefeitura de Cachoeiras de Macacu,a Secretaria de Agricultura do muni-cípio fez um levantamento dos inte-ressados, priorizando os agricultoresfamiliares. Os cursos de capacitaçãoe as visitas técnicas aos futuros pro-dutores de tilápias foram realizadospor técnicos da Fundação Instituto dePesca do Estado do Rio de Janeiro(Fiperj), vinculada à Secretaria Esta-dual de Desenvolvimento Regional,Abastecimento e Pesca (Sedrap).

Meta é criarmetodologias replicáveis

A principal premissa da TecnologiaSocial é criar metodologias que pos-sam ser replicáveis em outras locali-dades. Para Sousa, o projeto daCoopercrãmma se insere nesse con-ceito. �Nossas estratégias podem sercopiadas na área rural de qualquer re-gião, desde que esta apresente con-dições para estabelecer a piscicultu-ra e conte com a parceria da prefei-tura local.�

Segundo Sousa, a Coopercrãmma sedestaca ainda por desenvolver ummodelo de gestão cujo principal ob-jetivo é estabelecer uma economiasolidária. �A economia solidária pode

Alunos da rede municipal provam a polpa de tilápia temperada fornecida pela cooperativa

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ser entendida como uma rede de co-operação, na qual um grupo de tra-balhadores se organiza para impulsio-nar atividades econômicas de produ-ção, distribuição, consumo, poupan-ça e crédito�, explica.

Se, por um lado, o projeto aumenta arentabilidade dos antigos coopera-dos; por outro, permite a inserção denovos produtores. �Pelos cursos decapacitação, já formamos cerca de 80alunos e a meta é atingir 120. Quemrealmente quiser iniciar a produçãodo peixe já conta com financiamen-to do Programa Moeda Verde � Multi-

plicar, do Governo do Estado do Riode Janeiro. A prefeitura de Cachoei-ras de Macacu cedeu, ainda, ummaquinário para construir tanques decriação de tilápia�, divulga Sousa.

Ele ressalta que a Coopercrãmmafunciona dentro das normas exigidaspelo Serviço de Inspeção Federal(SIF), do Ministério da Agricultura.Ele conta, ainda, que além desubprodutos derivados da tilápia, acooperativa processa carne de rã ejacaré. Para Sousa, o atual projeto,mais que valorizar o trabalhador, for-talece a economia local.

�Antes de 2005, o peixe consumidonas escolas municipais de Cachoeirasde Macacu era importado da Argenti-na e a produção local era pouco esti-mulada�, lembra o engenheiro. Como desenvolvimento de um novo pro-duto � a polpa de tilápia �, a adequa-ção da estrutura da cooperativa e acapacitação dos cooperados para au-mentar a capacidade produtiva da co-operativa, a Coopercrãmma vem con-tribuindo para promover uma efetivatransformação socioeconômica na re-gião de Cachoeiras de Macacu.

Empreendedor: José Marcelino Limade SouzaEmpresa: Coopercrãmma �Cooperativa Regional dePiscicultores e Ranicultores do Valedo Macacu e Adjacências Ltda.

Capacitação: cooperativa tem como meta formar 120 novos produtores de tilápia no Estado

Fotos: Divulgação/Coopercrãmma

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Um novo aliadopara o combate àspragas agrícolas

Foto: Divulgação/Fumajet

Motofog: veículo, que já tem patente registrada, está disponível para comercialização no mercado

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Foi um longo caminho até quea agricultura brasileira pudes-se se transformar em um dos

principais �celeiros do mundo�. Portrás dessa ascensão estão investimen-tos maciços em máquinas e fertili-zantes, necessários ao combate daschamadas pragas agrícolas, como in-setos, fungos, bactérias e outros pre-dadores, que continuam a atacar edestruir plantações. Pensando emuma forma de minimizar o proble-ma, pesquisadores fluminenses cria-ram um kit a ser instalado em umamotocicleta de 125 a 150 cilindradas,adaptada para liberar inseticida pelosistema de exaustão do veículo. Oproduto, que recebeu o nome de�Motofog Fumacê�, promete facili-tar o combate em áreas de difícil aces-so, como montanhas, becos, beirasde canais, terrenos arenosos e nocampo. A iniciativa é fruto de umaparceria entre as empresas AtivaTecnologia e Desenvolvimento Ltda.e a Fumajet Comércio de Equipa-mentos Ltda. � ligada à Incubadorade Empresas da Universidade Veigade Almeida (UVA), e foi desenvolvi-do com auxílio do edital Apoio à Ino-

vação e Difusão Tecnológica, da FAPERJ.

Com sua patente devidamente regis-trada, o �Motofog� já está disponí-vel para comercialização no merca-do. Quando se trata do controle devetores urbanos, no entanto, a suautilização está restrita exclusivamen-te às autoridades sanitárias e de saú-de. �O uso do inseticida deve ser fei-to com a orientação de um agrôno-

Em parceria, empresas fluminensesdesenvolvem motocicleta capaz depulverizar inseticida com a ajuda dosistema de exaustão do veículo

Vinicius Zepeda mo e autorização dos órgãos gover-namentais, e não pode ser adquiridopor particulares�, explica MarceloMachado, um dos sócios da Fumajet.Mesmo nos diversos programas decontrole de insetos e outros vetoresde doenças, o País segue o que pre-coniza a Organização Mundial deSaúde (OMS), em especial ao docu-mento Chemical Methods for the Control

of Vectors and Pests of Public Health

Importance. �Não se deve usar o pro-duto sem orientação, já que seu em-prego de forma errada pode provo-car desequilíbrio no ecossistema deuma região e expor o aplicador aorisco de intoxicação�, alerta.

Para evitar que o motorista aspire oinseticida enquanto conduz o veícu-lo, o �Motofog� possui um kit EPI� Equipamento de Proteção Indivi-dual � composto de roupa e máscaraprotetoras. Um outro kit micro-processado de injeção eletrônica foiadaptado para liberar o produto portermonebulização. Para tanto, a par-te traseira ganhou um tanque onde asubstância fica estocada. Dois tuboscom saídas conectadas a um sistemaeletrônico, a chamada Centra lMicroprocessada de Vazão (CMV),controlam a mistura de inseticidacom óleo mineral. �A CMV ficaacoplada a uma mangueira de altapressão, com um bico injetor eletrô-nico na ponta externa, ligado ao es-capamento da moto�, detalha Macha-do. Na parte de fora da caixa, umaválvula libera a mistura de inseticida,enquanto um botão de acionamentodo sistema, com luzes de alerta, in-dica o funcionamento de operação.

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

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�Próximo ao guidom, há um siste-ma de controle digital de vazão, comquatro níveis para liberação do pro-duto�, complementa.

Equipamento pode serusado na cidade e nocampo

Gerente de projetos da Ativa Tec-nologia e Desenvolvimento Ltda.,Daniel Almeida Camerini chama aatenção para as diversas possibilida-des de utilização do �Motofog�. �Nocaso da agricultura e da fruticulturaem geral, ele pode ser usado contrainsetos, fungos e bactérias que agri-dem a plantação, além do controlede formigas e cupins, e ainda em ca-naviais, pastos e reflorestamentos�,explica Camerini. �Também servepara a dedetização de áreas portuári-as, usinas, galpões, armazéns, indús-trias, garagens, entre outros�, lista.

O sistema já foi testado em um en-saio biológico, realizado pelo Labo-ratório Central de Saúde PúblicaNoel Nutels (Lacenn), vinculado àSecretaria Estadual de Saúde e De-fesa Civil (Sesdec), quando obteve100% de sucesso na eliminação demosquitos, sobre um período de 24horas, utilizando inseticida do gru-po químico piretroide. A iniciativaainda conta com outras chancelas im-

portantes, como a de Comprovaçãode Eficácia em Ensaio de Campo, domesmo Lacenn, o Certificado de Ex-clusividade da Associação Brasileirade Indústria de Máquinas e Equipa-mentos (Abimaq) e a aprovação doSistema Nacional de Metrologia, Nor-malização e Certificação da Qualida-de (Sinmetro).

Na área de Saúde Pública, o�Motofog� pode ser empregado nocombate ao Aedes aegypti, o mosquitotransmissor da dengue, na fase adul-ta, assim como contra insetos, comopernilongos, borrachudos e trans-missores de doenças como febreamarela, malária e doença do Nilo.No caso da dengue, o método decombate mais eficaz, recomendadopelo Ministério da Saúde, ainda é avisita domiciliar de agentes de saúdepara eliminar os criatórios de larvasdo mosquito existentes nas residên-cias, além de campanhas educativas epublicitárias destinadas a promover oengajamento da população.

Novo sistema ampliaalcance do �fumacê�

Bastante empregados ao longo dasúltimas décadas, os veículos �fumacê�continuam sendo uma opção para ocombate coadjuvante ao mosquitoadulto, particularmente em áreas vul-

neráveis, e de preferência no inícioda manhã e no fim do dia, períodosde maior atividade do mosquito etambém de maior suspensão do in-seticida � condição essencial para suaeficácia. Por suas dimensões, contu-do, nem sempre esses veículos con-seguem atingir determinados locais,acessíveis ao �Motofog�, como be-cos em favelas, áreas íngremes, ter-renos baldios, beira de canais e fer-ros-velhos, entre outros. Atualmen-te, o �Motofog� já opera em algunsmunicípios do Rio de Janeiro, comoAngra dos Reis, Itaboraí, Maricá,Campos e São Gonçalo.

A trajetória que levou a criação do�Motofog� teve início em 1999. Na-quele ano, com objetivo de co-mercializar equipamentos para ocombate a pragas agrícolas e urba-nas, o engenheiro Marcius Victorioda Costa, junto com seu pai, Cícero,buscavam um equipamento eficaz eprático para o combate de vetores,como o da dengue. Começaram, en-tão, a importar máquinas destinadasà operação do �fumacê� no País.Diante das altas taxas de importa-ção e das fortes oscilações no câm-bio, no entanto, o projeto acabouinviabilizado. O falecimento de seupai, pouco tempo depois, no fim de2000, não fez Marcius desistir daempreitada. Com seu conhecimen-to em Engenharia Mecânica e deProdução, ele decidiu apostar queaquele era o momento de concen-trar esforços no desenvolvimento deum produto mais adequado às de-mandas locais. No correr dos estu-dos, veio a ideia da escolha da mo-tocicleta como plataforma, que per-mitiria conjugar uma maior flexibi-lidade e autonomia. Assim surgiu o�Motofog Fumacê�.

Nessa fase do projeto, foi fundada aFumajet, que iniciou, então, uma par-ceria com a Ativa Tecnologia e De-senvolvimento Ltda. para desenvol-ver um sistema de injeção eletrônica

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microprocessada, adicionando ou-tro grande diferencial com relaçãoaos equipamentos existentes: o con-trole digital de múltipla vazão emtempo real. �Elaboramos todo o sis-tema de Engenharia Eletrônica e,em 2008, concorrermos ao edital daFAPERJ. Só aí tivemos os recursosnecessários para viabilizar a trans-formação do protótipo em projetopronto�, relata Daniel.

O processo de desenvolvimento dosprimeiros rascunhos até o �balcão�,passando pela linha de montagem,foi longo. Foram necessários seisanos de estudos para, ao final, con-seguir patentear a tecnologia no Ins-tituto Nacional de Propriedade In-dustrial (INPI). Ao longo de doisanos, o �Motofog� passou por inú-meros testes de eficácia, para, porexemplo, aferir o sistema segundo ospadrões exigidos pela OrganizaçãoMundial de Saúde (OMS) e definiros melhores componentes e técnicaspara uma produção em escala quepreservasse a qualidade e tecnologia.

No ano passado, os sócios tiverama primeira confirmação de que va-leu a pena ter apostado no projeto.Ao inscrever o produto para con-correr à primeira edição nacional doDesafio Brasil 2010 � competiçãode projetos elaborados por empre-sas surgidas em incubadorastecnológicas de universidades queocorre desde 2006, apenas em SãoPaulo � o resultado não poderia tersido melhor: �Tiramos o primeirolugar e fomos selecionados para De-safio Intel 2010, competição quereuniu 162 concorrentes brasileirose mais quatro classificados de dife-rentes países, como Chile, México,Argentina e República Dominicana�,conta um entusiasmado Marcelo. Oresultado não foi diferente: um novoprimeiro lugar e a seleção da em-presa para participar da quarta edi-ção do IBTEC Challenge, concursopromovido pela Intel e Microsoft,

em parceria com a Universidade deBerkeley, na Califórnia, EstadosUnidos. A iniciativa é voltada paraempresas nascentes que sejam liga-das a uma instituição de ensino.

Sócio de Marcelo na Fumajet, MarciusVictorio da Costa viajou à Califórniapara representar a empresa e apresen-tar o �Motofog Fumacê�. A disputa,claro, ficou mais acirrada, com a pre-sença de empresas com recursos demilhões de dólares, como sistemas deturbinas para gasodutos e processosde dessalinização. Mas entre represen-tantes de 60 países, o produto acabou

entre os 15 finalistas. �Nós consegui-mos nos destacar pela tecnologia ba-rata e inovadora, ganhamos visibili-dade entre investidores do mundotodo e ainda fomos convidados a fa-zer um curso de empreendedorismopela Universidade de Berkeley�, co-memora Marcius.

Empreendedores: MarceloMachado, Marcius Victorio daCosta e Daniel Almeida CameriniEmpresas: Fumajet Comércio deEquipamentos Ltda. e AtivaTecnologia e Desenvolvimento Ltda.

Fumacê sobre duas rodas: no alto, �Motofog� percorre área de difícil acesso paraautomóveis, onde espalha inseticida para ajudar no combate ao mosquito da dengue;acima, os empreendedores Marcius (esq.) e Marcelo ao lado das motocicletas adaptadas

Fotos: Divulgação/Fumajet

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 22

Uma década de serviçosprestados à MPB

Em artigo exclusivopara a Rio Pesquisa, o

musicólogo e historiadorda MPB Ricardo Cravo

Albin faz um resumo dasatividades do instituto que

leva seu nome, depositáriode um dos mais importantesacervos de música popular

brasileira no País

O Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA) nasceu,formalmente, nos primeiros meses de 2001, res-paldado por personalidades cariocas de público

reconhecimento, companheiros meus de vida dedicadaao País.

O Instituto � uma instituição sem fins lucrativos e noqual os dirigentes são impedidos pelos estatutos de rece-ber remuneração � funciona no sítio histórico-arqueoló-gico do Largo da Mãe do Bispo, uma área de 3.000 metrosquadarados dentro de braço da Mata Atlântica, abran-gendo vários platôs nas encostas dos morros Pão de Açú-car e Urca. Esta surpreendente chácara e seus arredores �onde pontifica uma construção de feição colonial � sãoligados ao apartamento de cobertura, também doado aoinstituto, em pequeno prédio que faceia o antigo Cassinoda Urca. O ICCA oferece à cidade o sítio privilegiado, deonde se descortinam algumas das vistas mais especiais dacidade e da Baía de Guanabara.

Muito se tem feito nestes últimos 10 anos, especialmenteporque, já há muito, a FAPERJ ampara o ICCA com pre-ciosas bolsas de mestrado, doutorado e � o mais como-vedor � de Iniciação Científica, dando aos estudantes deArquivologia, Museologia, História e Música a oportuni-dade rara de �botar a mão à massa�. Ou seja, a intimida-de, tão necessária, com o concreto, o real, enfim, o obje-to do estudo empreendido na universidade. Vale realçaraqui um dos orgulhos da nossa instituição: ela é um orga-nismo pulsante, atuante, vivo, mas que funciona basica-mente em patamares acadêmicos. Ou seja, com as bolsasde estudo fornecidas prioritariamente � e desde seu iní-cio há exatos dez anos � pela FAPERJ. O ICCA não ape-nas mantém em exposição permanente e/ou temporáriauma apreciável coleção de arte brasileira, composta dediscos, fotos, quadros, objetos e mobiliário de época. Oinstituto está fazendo muito mais que isso. Cria projetos,com ideias generosas e originais, para fazer florescer seusdois objetivos principais que são o levantamento, a pre-servação necessária de acervos que são doados regular-mente ao ICCA, e a constante promoção do melhor damúsica brasileira, em especial a popular e a carioca.

Ricardo Cravo Albin

ARTIGO Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 22

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O prestígio de nossa música popu-lar, na verdade, consolida-se em todoo mundo, podendo ser consideradacomo um dos símbolos de nossa gen-te, seus hábitos, seus fazeres, have-res e falares.

Por tudo isso, surgiu a ideia do Dicio-

nário Cravo Albin da Música Popular

Brasileira, o único exclusivamentededicado à música popular do Bra-sil, iniciado em 1995 pela PontifíciaUniversidade Católica do Rio de Ja-neiro (PUC-Rio).

O dicionário, que está on line desde2001, justifica-se não só pela pos-sibilidade de tentar recuperar e con-solidar a memória musical de nossopovo. Justifica-se, sobretudo, pelavontade de resgatar nomes, períodoshistóricos, canções e gêneros. Aliás,aqui se faz necessário destacar que acada mês dispomos de mais materialpara análise e preparação e/ou apri-moramento de novos verbetes. Con-tinuamos a receber de todo o Brasile do exterior uma quantidade expres-siva de dados inéditos, entre infor-mações novas, sugestões, retificaçõese adendos: este é um trabalho quejamais terá um final, uma conclusão.Aliás, dentre os livros editados peloICCA, um se destaca: lançado em2006, o Dicionário Houaiss Ilustrado da

MPB é uma edição do dicionário on

line de refinado acabamento gráficoe impecável definição de substânciae pesquisa. Entenda-se por bom aca-bamento gráfico nunca luxos supér-fluos, mas sim definições gráficasinovadoras e contemporâneas.

O dicionário contém ilustrações (de-senhos e caricaturas), de nomes quevão de Jota Carlos a Chico Caruso,envolvendo uma quase antologia dacaricatura no Brasil , trabalhocuratelado por Cássio Loredano, quereuniu quase 700 caricaturas. Conta-mos também com algumas reprodu-ções de capas de discos valiosas, in-teressantes e históricas, que foramrecolhidas da Discoteca do ICCA.

Outra inovação do ICCA foi um cria-tivo folder eletrônico. O Instituto,coerente com seus objetivos, reali-zou, com o apoio da FAPERJ, umvídeo institucional. Ou seja, ele pró-prio se mostra em imagens, em me-nos de dez minutos.

O instituto também realizou, aindacom o patrocínio da fundação, omapeamento das escolas de sambado Estado do Rio de Janeiro, desdea origem até os dias de hoje, regis-trando os desfiles, seus autores, suahistória e as cores da escola. O tra-balho que o instituto realizou foi damaior importância para a preserva-ção e a promoção deste extraordiná-rio fenômeno social e cultural que éo carnaval carioca.

Amparado por instituições comoBNDES e Finep, outro objetivo deessência é a preservação/ampliaçãoda Discoteca Cravo Albin � considera-da uma das melhores do País emelepês de MPB � assim como de de-zenas de outras coleções particula-res que já foram doadas por outroscolecionadores. As doações, a pro-pósito, não param de chegar ao ins-tituto, constituindo-se em valiosoacervo, sempre renovado, a cada se-mestre, a cada ano.

Enquanto seu acervo se nutre e me-lhora a cada mês, o ICCA promovea realização permanente de ativida-des sobre MPB, envolvendo a cele-bração da memória, de saraus, se-minários, cursos e palestras, além delivros, catálogos e monografias quesão transcritos e publicados.

Especificamente a partir dos nossossaraus, não passa despercebida pelapopulação carioca a utilização dasede social do ICCA, com seu es-paço cênico privilegiado, para ma-nifestações e eventos que celebrama música popular do País e o Rio deJaneiro como cidade sedução doBrasil, além de comemorar datas his-tóricas e homenagear figuras repre-

sentativas do nosso cenário culturale musical.

Mas dentre todos os projetosprioritário desse instituto, o início doprojeto MPB nas Escolas terá sido agrande realização socioeducacionalda nossa organização, no começo dosanos 10 do século XXI.

A partir das pesquisas realizadas econsiderando a necessidade de aten-der o público infanto-juvenil, matri-culado nas escolas do Ensino Médio,optou-se por produzir uma série deseis cartazes didáticos, acompanha-dos por seis DVDs, seis livretos e umprecioso CD contendo 20 dos me-lhores canções do País.

Com essa coleção, os estudantes doEnsino Médio do Estado do Rio deJaneiro receberam informações bá-sicas sobre a história e a trajetória danossa música popular, podendoaprofundar o conhecimento pormeio de pesquisas no site do Dicio-

nário Cravo Albin da MPB.

Musicólogo, historiador de MPB,produtor musical, de rádio etelevisão, crítico, comentarista eescritor, Ricardo Cravo Albin foidiretor da Embrafilme e presidentedo Instituto Nacional de Cinema(INC). Autor de mais de 2.500programas para a Rádio MEC,fundou e dirigiu (1965-1971) oMuseu da Imagem e do Som (MIS).À frente do Instituto Cultural CravoAlbin (ICCA), criou o DicionárioCravo Albin da Música PopularBrasileira, disponível on-line naInternet, com cerca de sete milverbetes.

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Os seis livretos ilustrados contêm odesenvolvimento das informaçõeshistóricas (abordadas nos seis carta-zes/pôsteres), em linguagem adap-tada aos jovens, bem como os prin-cipais verbetes individualizados decada um desses �segmentos estraté-gicos� da história da MPB. Os seisDVDs � curtas-metragens com cer-ca de 15 a 20 minutos cada um � exi-bem material contendo histórico decada um dos nossos seis �segmen-tos estratégicos� anteriormente ex-postos. Cada DVD foi estruturadoem forma de aula prática, com de-poimentos de artistas famosos e es-pecialistas notórios na matéria. En-

tendemos ser esse projeto, além depioneiro, absolutamente inédito.

Outro projeto de sucesso, Visita à

Música Popular, foi criado pelo ICCApara estimular o gosto das criançascariocas pela história da MPB, seusgrandes vultos, seus principais ritmose suas origens. Patrocinada pelaFAPERJ, a novidade foi a visita àsede histórica do instituto por alu-nos da rede municipal de ensino bá-sico. A cada mês, um grupo de 40 a50 crianças visitou o ICCA na Urca,tendo a oportunidade de entrar emcontato com a sedução da MPB, pormeio de aulas práticas, vídeos e gra-vações históricas.

O instituto também foi escolhidopelo Departamento Cultural do Mi-nistério das Relações Exteriores para,de 2002 a 2007, dar consultoria eproduzir CDs sobre a essência daMPB para a publicação Texts from

Brazil, de distribuição mundial, ver-tida para o espanhol, francês e inglês.

Também, a convite do então embai-xador do Brasil em Londres, CelsoAmorim, produziu um site, em por-tuguês/inglês, sobre toda a históriada MPB, que ficou em exibição du-rante quatro anos na embaixada doBrasil no Reino Unido.

Em 2007, o Itamaraty e seu Depar-tamento Cultural encomendaram(juntamente com a Fundação Alexan-dre de Gusmão) a versão ampliadado livro, todo em inglês, Tones and

Sounds of Rio de Janeiro of San Sebastian,

contendo o DVD da Sinfonia do Riode Janeiro, de autoria de FrancisHime, gravada ao vivo no TheatroMunicipal do Rio, com Lenine, ZéRenato, Leila Pinheiro, Olívia Himee Sergio Santos, acompanhados pororquestra sinfônica e coral.

Em 2009 e 2010, a parceria do Mi-nistério das Relações Exteriores como ICCA foi alimentada por dois no-vos e preciosos volumes, que tiverama colaboração decisiva da Finep e ain-da da FAPERJ. Foram os �capas-du-ras� MPB � A alma do Brasil (escritopor cinco autores: Ricardo CravoAlbin, João Máximo, Arthur Xexéo,Antonio Carlos Miguel e Luiz Giron)e Vinícius de Moraes, ambos acompa-nhados por preciosos CDs e DVDs.

Finalmente, em parceria com a em-presa de comunicação Insight, oinst i tuto edita , há c inco anosininterruptos, a revista trimestralCarioquice, com mailing exclusivo para10 mil destinatários. A revista é con-siderada um sucesso editorial pelopadrão e esmero de sua confecção.E agora, em 2011, entra no ar a nos-sa maior novidade, tambémpropulsionada pela FAPERJ: a rá-dio Dica da MPB, uma luz de origi-nalidades na web para contemplar oque de melhor se pode ouvir emMPB no País.

Em resumo: chegamos aos 10 anoscomo se já tivéssemos cumpridomais de 20.

Memória da MPB levada a sério: trabalhominucioso de conservação do vasto acervodo ICCA é um dos destaques do instituto,sediado em um casarão colonial notradicional bairro da Urca

Fotos: Divulgação/ICCA

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�A PUC-Rio está em contato coma realidade social do País, pois nela conseguimos manter aqualidade do ensino com inclusão social�

Pe. Josafá Siqueira:

Doutor em Biologia Vegetalpela Universidade Estadu-al de Campinas, o padre

Josafá Carlos de Siqueira assumiu, emjulho de 2010, o cargo de reitor deuma das mais prestigiadas e concor-ridas universidades do País, aPontifícia Universidade Católica doRio de Janeiro (PUC-Rio). Após ocu-par a vice-reitoria da instituição porseis anos, ele se tornou o décimo-pri-meiro dirigente máximo da mais anti-ga universidade católica brasileira, fun-dada em 1940 e transformada, pordecreto da Santa Sé, em Pontifícia, noano de 1947. Autor de 55 artigos ci-entíficos e 12 livros, vários deles vol-tados para a temática do meio ambi-ente, o atual reitor da PUC-Rio estáem perfeita sintonia com os ideais eas tendências que florescem ao alvo-recer do século XXI. Biólogo e

ambientalista, o religioso e educadorse diz um �apaixonado pelo reino ve-getal, tanto pela sua rica diversidade ebeleza como pela enorme contribui-ção que ele presta à humanidade e aoplaneta Terra�. Ao chegar à PUC-Rioem 1986, Pe. Josafá construiu uma só-lida reputação como professor e pes-quisador no Departamento de Geo-grafia. Agora, como dirigente, foi oprincipal responsável pela implemen-tação de um novo curso de caráterinterdisciplinar na área de Biologia,com ênfase em Ciências Ambientaise que, nas suas palavras: �Dialoguecom outros campos dos saberes eaberto às questões relacionadas comas mudanças climáticas�. Além de rei-tor da PUC-Rio, o padre Josafá é tam-bém membro do Conselho Superiorda FAPERJ. Confira a entrevista.

Ao assumir o cargo de reitor daPUC-Rio, o senhor anunciou acriação de um novo curso de

graduação, em Biologia, que de-verá privilegiar o conhecimentointerdisciplinar. Desde o início dosanos 1990, o senhor vem traba-lhando para a consolidação deuma agenda ambiental na uni-versidade, que permitiu, entreoutras ações, a fundação do Nú-cleo Interdisciplinar de Meio Am-biente (Nima), em 1999. Pode-mos dizer que esse novo curso deBiologia insere-se nessas açõesanteriores voltadas para a áreaambiental?

O novo curso de Biologia da PUC-Rio, com ênfase em Ciências Am-bientais, é, na verdade, uma propostaque foi sendo amadurecida ao longodos anos, com o crescimento da áreaambiental na universidade. É o cursomais interdisciplinar e interde-partamental que temos, envolvendosete departamentos nos centros Téc-nico-Científico, Ciências Sociais, Ci-ências Humanas e Ciências Médicas.

ENTREVISTA

Fotos: Bruno Pereti/PUC-Rio

Paul Jürgens

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Serviços prestados à cidade: Pe. Josafá recebe do vereador Reimont Luiz Otoni SantaBárbara a medalha Pedro Ernesto, a mais alta comenda da Câmara Municipal do Rio

Foto: Isabela Campos/PUC-Rio

A nossa ideia é formar um biólogoque dialogue com outros campos dosaber e aberto às questões relacio-nadas com as mudanças climáticas.

O senhor é autor de 12 livros,vários deles de temática am-biental, como Um olhar sobre anatureza, Ética e meio ambiente,A flora do campus da PUC-Rio eÉtica socioambiental. Como sur-giu esse interesse pela áreaambiental? O contato e o traba-lho, ainda jovem, no Laboratóriode Botânica da Universidade Ca-tólica de Goiás, antes de cursar eobter o diploma em História Na-tural na mesma universidade, foideterminante?

Certamente, esta experiência inicialfoi importante para a minha vocaçãode biólogo e, mais tarde, a formaçãona área de Botânica no mestrado edoutorado na Unicamp [Universida-de Estadual de Campinas]. Emborano período de graduação gostassemuito de Entomologia, o amor peloestudo das plantas foi mais forte.Hoje, depois de quase 40 anos noestudo da Botânica, continuo sendoum apaixonado pelo reino vegetal,tanto pela sua rica diversidade e be-leza como pela enorme contribuiçãoque ele presta à humanidade e ao pla-neta Terra.

Em seu discurso de posse comoreitor, o senhor disse que traba-lhará para tornar a PUC-Rio umauniversidade �verdadeiramente�sustentável, destacando que iráprocurar novos caminhos desustentabilidade econômica, afim de que a instituição não seapoie de forma exagerada nasmensalidades. Poderia detalharalgumas destas ações?

A sustentabilidade econômica deuma instituição superior de ensinoprivado, com excelência acadêmica,não pode sobreviver apenas com asmensalidades de graduação, mas, aocontrário, deve se expandir na áreade pesquisa e extensão. Como a pes-quisa é fundamental para enriquecer

a graduação e apoiar e nutrir a pós-graduação, continuaremos apoiandoa expansão das pesquisas, por meiodos inúmeros projetos que temoscom os setores público e privado,além de estabelecer uma política decrescimento da extensão para aten-der a algumas demandas mais emer-gentes da sociedade.

O diploma da PUC-Rio, não se-ria exagero dizer, abre portas emum variado número de carreirasdo mercado de trabalho. Comoo senhor resume a excelência dauniversidade em um campo tãovariado de áreas no Ensino Su-perior?

A PUC-Rio vive um momento dematuridade acadêmica, fruto de op-ções sábias e corretas feitas no pas-sado, criando um modelo que per-mite manter a excelência no ensinoe na pesquisa, dentro de estruturasdepartamentais desburocratizadas,austeras e eficientes. Embora os nos-sos quadros acadêmicos sejam pe-quenos, comparados com outras ins-tituições, nossa produtividade cien-tífica é bastante elevada, tanto na gra-duação como na pós-graduação. Aunião do corpo docente, o amor pelainstituição, a dimensão comunitária,

a relação da graduação com a pós-graduação, as parcerias com setorespúblicos e privados, as inúmeras pos-sibilidades de intercâmbios interna-cionais com outras instituições e oapoio ao empreendedorismo e a ino-vação, são fatores que contribuempara manter o bom padrão de ensi-no, a criatividade acadêmica e a ga-rantia da empregabilidade.

A PUC-Rio é considerada a uni-versidade preferida dos adoles-centes egressos das melhores es-colas particulares da zona Sul ca-rioca, a região de maior IDHno município. De outra forma, évista com alguma desconfiançapor setores socialmente menosfavorecidos da população, já quemuitos, mesmo que aprovadosnos exames vestibulares, não te-riam como financiar os estudosna instituição. A distância de seucampus das áreas menos fa-vorecidas da metrópole e as al-tas mensalidades não distanciama universidade do contato coma verdadeira realidade social doPaís?

Creio que a PUC-Rio hoje é bastan-te diferente com relação ao passado,onde praticamente a maioria dos alu-nos era procedente da zona Sul da

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cidade. Nos últimos 15 anos, a situa-ção mudou bastante, pois a universi-dade, por manter a excelência acadê-mica e uma maior abertura para osocial, passou a ser preferida tambémpelos jovens das zonas Oeste, Nortee Baixada Fluminense. A política debolsa na PUC-Rio atinge hoje maisde 6 mil alunos, em várias modalida-des, desde a bolsa integral até a par-cial. Esse dado é bastante considerá-vel, em um universo de 13 mil alu-nos de graduação. A universidadeabre mão atualmente de mais de 30%de sua receita em favor das bolsas deestudos. Só da Baixada Fluminense,estudam hoje na PUC-Rio mais demil alunos com bolsa integral, vale-transporte, vale-alimentação e auxí-lio-moradia e xerox. Na PUC, existeum programa de pré-vestibular paranegros e carentes, favorecendo, as-sim, a entrada de muitos jovens decamadas mais pobres da população.Existe na PUC-Rio inúmeros proje-tos sociais desenvolvidos por váriosdepartamentos, com objetivo deatender a comunidades carentes.Acho que a PUC-Rio está em conta-to com a realidade social do País, poisnela conseguimos manter a qualida-de do ensino com inclusão social,sem muito marketing, mas com açõesque estão de acordo com os princí-pios de uma instituição humanística,cristã e católica.

Nas primeiras semanas de ges-tão, o senhor disse que tambémtrabalhará pela ampliação dasrelações da instituição com a so-ciedade civil, política e empresa-rial, apoiando o empreende-dorismo. Como isso poderia sertraduzido em termos de açõesconcretas?

A relação com a sociedade civil con-siste em ampliar e acolher as princi-pais demandas sociais e ambientaisda sociedade local e global, permi-tindo que o espaço universitário sejaum cenário de reflexão, pesquisa esoluções para os grandes problemas

do mundo moderno. Na relação po-lítica, significa melhorar e ampliar odiálogo com os políticos que desem-penham um papel importante na for-mação dos valores éticos na socie-dade. Manteremos um contato maisproximal com os antigos alunos daPUC-Rio que hoje desempenhamfunções importantes nos poderesExecutivo, Legislativo e Judiciário.Na relação com o mundo empresa-rial, certamente, apoiaremos e ampli-aremos os contatos e parcerias, poisisso faz parte de nossa tradição. Man-temos muitas parcerias com empre-sas públicas e privadas, sejam pormeio de projetos de pesquisas comode cursos de capacitação e apoio emprogramas de bolsas de estudo. Asempresas de grande porte têm inte-resse em apoiar programas de forma-ção de bons alunos, que possam ser,no futuro, profissionais competentes,empreendedores e inovadores.

Em entrevista ao boletim onlineda FAPERJ, o senhor afirmou queé preciso construir valores susten-táveis, articulando-se nas instân-cias local e global, e disse que oslogan �Pensar globalmente e agirlocalmente� está superado. Nãoseria prematuro abandonar essamáxima ambientalista?

Não se trata de abandonar essa má-xima ambientalista, mas simplesmen-te adequá-la à realidade atual, pois olocal não é apenas o espaço da ação,

mas também do pensar, do refletir.A relação entre global e local é maispróxima do que imaginamos, poisuma pequena ação local repercute noglobal e muito do que acontecem glo-balmente tem reflexo no local. Oplantio de árvores no território localé uma ação pensada que temconsequência global, pois está con-tribuindo para sequestrar CO

2 na at-

mosfera. Mudanças climáticas glo-bais têm repercussões no local. As-sim, temos que pensar e agir local eglobalmente.

Na pesquisa científica, o prestí-gio da PUC-Rio pode ser medi-do, por exemplo, pelo grande nú-mero de outorgas concedidaspela FAPERJ em anos recentes �com destaque para o programaCientistas do Nosso Estado � etambém pela forte presença dainstituição em programas fede-rais, como os Institutos Nacionaisde Ciência e Tecnologia. O quefaz a mais antiga universidadecatólica do País para permanecerno topo da pesquisa no País?

A nossa permanência no topo dapesquisa no País consiste em nãoabrir mão do modelo que nos dife-rencia de outras universidades, ouseja, formar e manter bons profes-sores e pesquisadores, investir eapoiar a pós-graduação de qualida-de, não abrir mão do processo per-manente de avaliação interna, man-ter a flexibilidade nos projetos deparcerias público-privados, não de-sassociar a graduação da pós-gradu-ação, conservar as estruturas acadê-micas que permitem associar com-petência , agi l idade e interdis-ciplinaridade e manter um proces-so contínuo de renovação e capaci-tação do quadro docente. Temosmuito orgulho em manter um lugarespecial nas outorgas e programasda FAPERJ, contribuindo, assim, pa-ra o crescimento e melhoria da Ciên-cia, Tecnologia e Inovação no Esta-do do Rio de Janeiro e no Brasil.

�A relação com asociedade civilconsiste em ampliare acolher asprincipais demandassociais e ambientaisda sociedade local eglobal�

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 28EDUCAÇÃO

Brincando e aprendendo: jogadores usam pistas que envolvem a biologia molecular e celular para desvendar enigmas científicos

Quando tambémaprenderdivertidopode ser

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Em uma festa à fantasia, foi roubada uma joiavaliosa. No local, restou apenas o fio de cabelodo gatuno � uma informação sem muita impor-

tância, mas valiosa e que pode servir como ponto de par-tida para se chegar até o ladrão. Este é um dos cincocasos propostos pelo Célula adentro, um jogo de tabuleiro,investigativo, em que cada jogador assume o papel dedetetive e usa pistas que envolvem biologia celular emolecular para solucionar os enigmas propostos. A cria-ção do jogo foi resultado de um projeto realizado poruma equipe multidisciplinar formada por biólogos, pro-fessores do Ensino Médio e Superior, em ação coorde-nada e idealizada pelos biólogos Carolina Spiegel eGutemberg Alves, ambos professores do Instituto deBiologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), emcolaboração com os pesquisadores do Instituto OswaldoCruz (IOC/Fiocruz) Maurício Luz, do Laboratório deAvaliação em Ensino e Filosofia das Biociências, e AndréaHenriques-Pons e Tânia Araújo-Jorge, do Laboratório deInovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos. A inicia-tiva teve apoio financeiro do Conselho Nacional de De-senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e daFAPERJ, por meio do programa Estímulo à Produção e Di-

vulgação Científica e Tecnológica.

Foi preciso cerca de dez anos para que os pesquisadoresaprovassem a proposta final de Célula adentro, indicadotanto para alunos do Ensino Médio como do Superior.Formulado a partir da abordagem do aprendizado pormeio da solução de problemas, o jogo traz, desenhadasobre o tabuleiro, uma enorme célula, por onde selocomovem os peões, atribuídos a cada um dos jogado-res. Os casos propostos abordam aspectos relacionadosao estudo da célula, como em O Hóspede do Barulho (sobrea origem da mitocôndria), O Caso da Membrana Plasmática,Surfando na Célula (sobre infecção viral), Um por Todos (abor-dando a morte celular) e A Pérola do Nilo (sobre biologiaforense). Passando pelas casas do tabuleiro com organelas(mitocôndria, lisossomo, citoesqueleto, entre outros), osjogadores conquistam o direito de adquirir cartões comdiferentes pistas sobre o caso.

�O interessante do jogo é que nenhuma pista, sozi-nha, ajuda aos participantes a chegar a uma resposta

Fruto de umacooperação entrepesquisadores deinstituiçõessediadas noEstado do Rio deJaneiro, o jogoCélula adentropropõe umadivertida ecriativa maneirade aprender

Danielle KifferFoto: Leandra Melim

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final. É preciso associar ideias e mui-to raciocínio para conseguir chegar àssoluções de cada um dos casos�, ex-plica a bióloga. �Por meio do ensinoinvestigativo, o que queremos não éentregar respostas prontas aos estu-dantes, mas fazer com que eles pen-sem.� As pistas trazem gráficos e fi-guras relacionadas a experimentos ci-entíficos. �O jogo é baseado na inter-pretação de pistas que podem ser es-quemas, figuras, experiências ou re-sultados científicos originais com osquais a comunidade científica se de-parou ao investigar cada um dos te-mas. Dessa forma, os alunos são mo-tivados a agir como investigadores ea chegar a suas próprias conclusões.Nossa intenção é que os alunos se fa-miliarizem com a linguagem científi-ca de forma lúdica�, aposta Carolina.

Se as pistas ajudam os jogadores, ascartas, de azar ou sorte, podem atra-sar bastante o percurso até o fim dojogo e a solução do caso. Tirandouma delas, o jogador pode ser�fagocitado� e ficar uma rodada semjogar; ou, pior ainda, pode ser dige-rido por um lisossomo � uma dasorganelas da célula � e ter de voltarpara a casa do tabuleiro por onde já

havia passado. Mas se tiver sorte,pode pegar carona no sistema detransporte da célula e somar pontospara a próxima rodada. �As cartas deazar ou sorte fazem muito sucessocom os alunos porque dão mais emo-ção à brincadeira. Eles leem e se di-vertem com os textos, que são sem-pre bem-humorados�, comenta.

Célula adentro pode ser jogado de doismodos diferentes: contra o relógio,em grupos de 4 a 12 integrantes, quetrabalham em conjunto para chegarà solução o mais rápido possível, ouem grupos que competem entre si.De uma forma ou de outra, tudo ésupervisionado por um professor,que encontra as instruções e suges-tões do jogo no Caderno do Professor.�Apesar de apresentarmos duas for-mas diferentes de jogar, acreditamosque a melhor delas é a cooperativa,na qual todos se unem para solucio-nar o caso em um tempo pré-deter-minado. Pelo que constatamos emnossas avaliações, assunto que foitema da dissertação de mestrado deLeandra Melim no curso de Ensinode Biociências e Saúde, do InstitutoOswaldo Cruz, os alunos gostambastante dessa estratégia. Jogando

contra o relógio, há estímulo para otrabalho em grupo, os participantesacabam aprendendo uns com os ou-tros e percebem a importância dascontribuições de cada um�, explicaCarolina.

Para a bióloga, o objetivo não é so-mente ensinar conceitos de Biologiaaos estudantes, mas fazê-los entendercomo foi construído o conhecimen-to acerca de cada teoria. �Em um doscasos propostos, chamado Surfando na

Célula, abordamos a herpes. Assim, osalunos aprendem como os cientistasdescobriram qual o mecanismo que ovírus Herpes simplex usa para chegarao núcleo da célula�, detalha. no fim,quando uma equipe avalia que já re-solveu o problema, ela deverá com-parar a solução que escreveu no blo-co de notas, que vem incluído no jogo,com a que é apresentada no cadernode soluções�.

Para Carolina, o jogo traz alegria paraa sala de aula, permite que alunos eprofessores brinquem de pesquisa-dores e desperta o interesse pela in-vestigação científica. �Ele já foi temade teses de mestrado e doutorado,tendo sido avaliado positivamenteem escolas do Ensino Médio, univer-sidades brasileiras e no exterior�, ga-rante a pesquisadora Tânia Araújo-Jorge, diretora do IOC/Fiocruz, quetambém participou da coordenaçãodo projeto.

Animados com a experiência, os in-tegrantes da equipe já começam adesenvolver outra brincadeira nosmesmos moldes. Desta vez, a novaproposta, voltada para o Ensino Fun-damental, explora o tema da obesida-de. Cópias gratuitas do jogo Célula

adentro podem ser baixadas do site

http://celulaadentro.ioc.fiocruz.br.

Os biólogos Carolina Spiegel e Gutemberg Alves: proposta do jogo é estimular oraciocínio dos estudantes e familiarizá-los com a linguagem científica de forma lúdica

Pesquisadores: Carolina Spiegel eGutemberg AlvesInstituição: Universidade FederalFluminense (UFF)

Foto: Júlia Soares

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Uma cientistaque não fogeaos desafiosA gaúcha Elisa BaggioSaitovitch, ao abraçar aFísica e trocar o Sul peloRio, virou referência paraas novas gerações depesquisadores

Pode-se dizer que o Brasil ainda não co-nhece o potencial que as mulheres podemimprimir ao campo da Ciência e

Tecnologia. E esse não é um fato regional, masque se estende a outras partes do mundo. Pes-quisas recentes, realizadas dentro e fora do País,têm confirmado aquilo que já saltava aos olhos:quanto maior a hierarquia acadêmica ou cientifica,menor é a participação feminina. Apesar de aproporção de mulheres que recebe apoio para apesquisa estar aumentando em todas as áreas daCiência, os estudos demonstram ainda que umaparcela das que passam pelos primeiros estágiosde capacitação e treinamento para as atividadescientíficas se perde ao longo desse caminho ousimplesmente não alcança o reconhecimento dospares pelo apoio que recebem das agências defomento e instituições de pesquisa.

De outra forma, se por um lado as mulheres têmparticipado cada vez mais das atividades de Ciên-cia e Tecnologia no Brasil; por outro, ainda pre-cisam avançar em cargos e posições de destaquee reconhecimento � os mais cobiçados �, embo-ra haja exceções.

Elisa Baggio Saitovitch é uma dessas exceções eela concorda com os resultados das pesquisas aque nos referimos no início desta matéria, vistoque se vê como minoria quando representa o

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Flávia Machado

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Brasil em congressos nacionais e in-ternacionais. E eles não são poucos.Pesquisadora titular do Centro Bra-sileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)� unidade de pesquisa sediada no Riode Janeiro, vinculada ao Ministérioda Ciência e Tecnologia (MCT) �com pós-doutorado pela Technische

Universität München, da Alemanha,Elisa dedica todo o seu tempo � ouquase isso � para fazer pesquisa noBrasil e manter um �diálogo� comoutros países na busca pelo desen-volvimento científico. Tida comouma das físicas brasileiras mais atu-antes em sua área, ela tem mais de

300 artigos publicados em periódi-cos científicos, além de ser uma in-cansável organizadora de congres-sos e orientadora de teses demestrado e doutorado no CBPF. Paraela, o relativo prestígio e reconheci-mento das mulheres na pesquisa nãoé nenhuma novidade e vê muitas ra-zões para isso, pois vivencia o coti-diano de uma física, pesquisadora,orientadora, mãe e mulher. �A mu-lher tem muitos desafios em conci-liar seus diversos papéis no mundocontemporâneo, mas ser uma pes-quisadora exige muita dedicação e

não é uma escolha das mais sim-ples�, comenta.

Gaúcha de Bom Jesus, na fronteirado Rio Grande do Sul com SantaCatarina, Elisa é descendente de ita-lianos vindos para cá na época daimigração no fim do século XIX einício do XX. Nascida no outono de1944, sétima de uma família de oitofilhos, ela teve uma infância sem atro-pelos, típica de cidade do interior. Nainteriorana Bom Jesus, que no inver-no, não raro, costuma registrar asmais baixas temperaturas do Brasil,manteve uma intensa vida social, ten-do sido, aos 10 anos, rainha do

Carnaval infantil, e, aos 18, rainha docinquentenário da cidade. Muito boaaluna, obtinha sempre excelentesnotas, para júbilo do pai, que, apesarde ser um homem simples, acredita-va e investia na educação dos filhos.Casado com Judith De Boni Baggio,o comerciante e pecuarista AntonioBaggio esforçava-se para dar a chancea todos os seus oito filhos de estu-darem e concluírem uma faculdade,independentemente de serem ho-mens ou mulheres. Assim foi feito:Elisa, no exame de seleção do anti-go �Admissão�, porta de entrada para

o �Ginásio� (atualmente 2º ciclo doEnsino Fundamental), tirou o primei-ro lugar geral na cidade e virou moti-vo de folclore, que correu a pequenaBom Jesus. �Diziam que eu ficavacom os pés em uma bacia com águafria para poder passar a noite em cla-ro, estudando!�, relembra sorridente.

O passo seguinte era inevitável: mu-dar para a metrópole, o que signifi-cava partir para a capital, Porto Ale-gre, a fim de cursar o �SegundoGrau�, hoje chamado de EnsinoMédio. Na época, podia-se optar peloensino �Clássico� ou �Científico�,em que o primeiro focava as Ciênci-

as Humanas e o segundo, as Exatas.Ela optou pelo �Clássico�, pois pre-tendia seguir carreira de advogada,�influenciada pelo irmão mais ve-lho�, acredita. Em pouco tempo, viuque seu interesse não estava ali, masno �Científico�, onde, uma veztransferida de turma, conseguiu, semdificuldade, acompanhar os novoscolegas. Àquela altura, Elisa elegiapara si mesma duas opções: a Físicaou a Matemática.

Em 1962, com 18 anos, ela, afinal,ingressou na Graduação de Física, naUniversidade Federal do Rio Grande

Elisa como rainha no Carnaval, em 1954, e no cinquentenário de Bom Jesus (RS); no casamento, em 1969; com a filha Ana Riva, a primogênita...

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do Sul (UFRGS). Estudante atuante,não só na Física como também navida acadêmica, Elisa participou ati-vamente dos movimentos político eestudantil, acompanhando a épocaturbulenta que o País enfrentava naocasião. Foi durante o período da fa-culdade que ela conheceu o marido,Henrique Saitovitch, que havia dei-xado a Faculdade de Medicina paraestudar Física. Para Elisa, embora fi-zesse parte dos graduandos convida-dos a dar aulas na Faculdade de Físi-ca após o término do curso, a opor-tunidade de vir para o Rio de Janeirofalou mais alto.

Convite levou Elisa a seinstalar no Rio

O professor Jacques Danon, um dosmais importantes cientistas brasilei-ros do século XX, foi um grandeincentivador de sua carreira. Por suainfluência, Elisa, já casada comHenrique, trocou a capital gaúchapelo Rio, em 1969, para completarseu mestrado no CBPF, instituiçãoconceituada e importante já naque-la época, para a qual foram contra-tados. Também pelo CBPF, Elisaobteve o título de doutora, tendo

como orientador Danon, ao inves-tigar efeitos de radiação com elé-trons usando o �Efeito Mössbauer�� que mais tarde lhe valeria umabolsa de pós-doutorado na Alema-nha para estudar no instituto ondeo pesquisador que deu nome ao efei-to, Rudolph Mössbauer, era diretor.O cientista alemão ganhou, em1961, o Prêmio Nobel de Física peladescoberta realizada durante suatese de doutorado.

Com uma longa trajetória profissio-nal ligada ao CBPF, seria absoluta-mente normal que ela se envolvessecom os debates e discussões acerca

dos destinos e desafios do instituto.Na época de seu doutoramento, par-ticularmente, o CBPF passava poruma crise histórica. Sem receber re-cursos federais, sofria ameaças defechamento por não se enquadrarcomo uma instituição de ensino, massim de pesquisa. Elisa, juntamentecom um grupo de pesquisadores, saiuem defesa do centro, mantendo in-tensas reuniões até encontrar uma so-lução que normalizasse a situação. Osobstáculos foram enfim superadosquando, em 1975, o então presiden-te Ernesto Geisel decide que o CBPF

ficaria vinculado ao Conselho Naci-onal de Desenvolvimento Científicoe Tecnológico (CNPq), onde perma-neceu por alguns anos até ser trans-ferido para o Ministério da Ciência eTecnologia (MCT), o mesmo queabriga o CNPq.

Em 1975, Elisa parte para Munique,e seu marido, Henrique, para Bonn,onde um acordo de cooperação fir-mado entre o Brasil e a Alemanhaproporcionou que pesquisadores bra-sileiros participassem de um inter-câmbio entre os países. Nos três anosem que morou na Alemanha, ela ga-rante que não enfrentou dificuldades

para se adaptar. Nem mesmo o difí-cil dialeto da região da Bavária foium empecilho para dar continuida-de às suas pesquisas. Mas entre asrecordações daquele tempo tambémestão presentes alguns percalços,como a dificuldade de levar adiantea gravidez � o que acabou ocorren-do mais de uma vez e resultou emabortos espontâneos.

O retorno ao Brasil, conta, foi um pe-ríodo difícil após a incorporação dealguns hábitos locais, �como o jeitoreservado de ser dos alemães�. Masde volta ao País, ela pode comemorar

...ao lado do marido, Henrique, e da caçula, Flora; com Fidel, em 1990, e na companhia do Prêmio Nobel Rudolph Mössbauer, durante conferência

Fotos: Arquivo pessoal

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a alegria de ser, além de uma cien-tista aficionada pelo trabalho, mãe.Primeiro da Ana Riva, e depois, deFlora.

Sobre a experiência que passou noexterior, ela acredita que um pesqui-sador precisa interagir com a comu-nidade internacional, pois a carreirafora dos grandes centros é muitolimitante � embora ressalte que essalimitação tende a ser minimizadaatualmente pela comunicação eletrô-nica. Mesmo assim, Elisa tem umaagenda de congressos e visitas sem-pre agitada, que lhe permite conhe-cer o trabalho de cientistas de outraslatitudes e ficar por dentro do queacontece no campo da pesquisa noresto do mundo. Só em 2010, parti-cipou de nove congressos fora doPaís, na maioria das vezes comopalestrante convidada. E isso é sóuma parte de sua intensa atividadecomo pesquisadora.

Desde que voltou ao Brasil, ela seempenhou em estabelecer, no CBPF,laboratórios com toda a infraes-trutura necessária para suas pesqui-sas em �Materiais Avançados�. Alémdisso, é responsável, há cerca de 30

anos, pelo Laboratório de Criogenia,que atende a todos os laboratóriosde �matéria condensada� do CBPF.Lutou por recursos e investimentos,idealizando projetos de interesse paraa comunidade científica � conquis-tando muitas vitórias e aprendendo,com as derrotas, a seguir em frente.Coordenou a vinda de importantesequipamentos estrangeiros para oslaboratórios, além de estimular o in-tercâmbio responsável pela presen-ça regular de pesquisadores de di-versas partes do mundo no CBPF.�Entre mestres e doutores, formeimais de 40 alunos, incluindo mui-tos estudantes de Cuba, Peru, Co-lômbia e Paraguai.�

À frente do seu grupo de �MateriaisAvançados� do CBPF, Elisa está emcasa. Conhece os equipamentos e oslaboratórios como ninguém e seguecom as pesquisas em Física da Maté-ria Condensada, estudando proprie-dades físicas de diversos materiaissupercondutores, férmions pesadose nanoestruturas magnéticas. Con-tando com apenas dois colaborado-res do quadro efetivo do CBPF, elaconduz seu trabalho com a ajuda de

uma equipe formada por visitantesestrangeiros, jovens pesquisadoresem estágio de pós-doutoramento ealunos de pós-graduação.

Entre as causas que abraçou ao lon-go do caminho, apenas uma delasainda a incomoda: a questão do gê-nero na ciência. Tendo atuado nogrupo SOS Mulher nos anos 1980,que prestava apoio a mulheres víti-mas de violência, a questão da �mu-lher� sempre esteve presente em suaspreocupações. Como uma forma decontribuir para o debate do tema naárea da Ciência, ela se vale de sua ex-periência para organizar congressosque buscam estreitar os laços de pes-quisadoras de áreas diversas da Ci-ência. O mais recente deles foi a Con-ferência de Mulheres Latino-ameri-canas nas Ciências Exatas e da Vida� Ciência Mulher, onde pesquisado-ras latino-americanas de diferentesáreas da Ciência compartilharamexperiências, dificuldades e proble-mas. A conferência do Rio, em 2004,que inspirou o programa Gênero eCiência, da Secretaria de Políticaspara as Mulheres (SPM), da Presi-dência da República, foi seguida deeventos no México, Bolívia eGuatemala. Elisa, que já foi vice-presidente da Sociedade Brasileirade Física (SBF), considera que, alémde aumentar a participação de mu-lheres em todas as áreas da Ciência,é �importantíssimo� estabelecer po-líticas que permitam qualificar me-lhor esta participação.

Para o momento por que passa o País,no que toca à Ciência e à Tecnologia,ela só tem elogios. �Estamos viven-do um momento especial para a pes-quisa no Brasil, com muitos recur-sos e investimentos sendo dis-ponibilizados, com amplo apoio aospesquisadores. Espero que continue-mos nesse caminho�, torce. E, noque depender de Elisa, com muitasmulheres fazendo � como ela � his-tória nas Ciências.

Em palestra na China, em 2010: Elisa Saitovitch tem agenda cheia, que inclui presençafrequente em congressos e eventos dos quais participa como organizadora ou convidada

Foto: Arquivo pessoal

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35 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano IV

Mais e melhoresmedicamentos

Cientistas do INCTCientistas do INCTCientistas do INCTCientistas do INCTCientistas do INCT�����InofarInofarInofarInofarInofarvêm pesquisando comvêm pesquisando comvêm pesquisando comvêm pesquisando comvêm pesquisando comsucesso novas formulaçõessucesso novas formulaçõessucesso novas formulaçõessucesso novas formulaçõessucesso novas formulaçõespara produzir remédios depara produzir remédios depara produzir remédios depara produzir remédios depara produzir remédios demodo mais prático e amodo mais prático e amodo mais prático e amodo mais prático e amodo mais prático e acusto mais baixocusto mais baixocusto mais baixocusto mais baixocusto mais baixo

REPORTAGEM DE CAPA35 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano III

Uma notícia que mereceu ampla cobertura da mídia no fim de 2010,sobre a descoberta de uma nova

rota de síntese que permitirá a produçãomais barata, prática e mais rápida de umdos medicamentos usados no mundo parareduzir taxas de colesterol, pôs em rele-vo o trabalho dos pesquisadores do Ins-tituto Nacional de Ciência e Tecnologia

Vilma Homero

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 36

sadores tanto trabalham para desen-volver medicamentos voltados aatender as questões de saúde consi-deradas prioritárias para a populaçãobrasileira, no primeiro caso, comoprocuram canalizar a expertise da Aca-demia para causar impacto social maisrápido, como na formulação de no-vos genéricos, no segundo.

Atuando em uma rede que compre-ende � as universidades federais deAlagoas (Ufal), do Ceará (UFC), deGoiás (UFG), de Minas Gerais(UFMG), de Alfenas (Unifal), daParaíba (UFPB), do Rio Grande doSul (UFRS), a Fluminense (UFF), aRural do Rio de Janeiro (UFRRJ),além das universidades estaduaisPaulista (Unesp � Araraquara), deCampinas (Unicamp), do Estado doRio de Janeiro (Uerj), da FundaçãoOswaldo Cruz (Fiocruz), da Univer-sidade de São Paulo (USP) � e diver-sos de seus laboratórios, o INCT�Inofar tem sede instalada no prédiodo Centro de Ciências da Saúde(CCS), da UFRJ. Uma de suas metasé identificar parcerias empresariais,que tenham interesse em absorver astecnologias inovadoras desenvolvi-das por seus pesquisadores, consoli-dando, assim, a aproximação entreuniversidade, governo e mercado.

�Temos vários projetos em estágiopré-clínico que podem interessar àIndústria Farmacêutica. É o caso, porexemplo, da rota recém-criada peloscientistas da Unicamp, para a produ-ção de um fármaco importante nocombate a altas taxas de colesterol�,exemplifica Barreiro. Para o pesqui-sador, a descoberta abre uma impor-tante oportunidade de negócios paraa Indústria Farmacêutica nacionalporque possibilitará a criação de umgenérico para um dos redutores decolesterol mais consumidos nomundo inteiro, o Lipitor®, comer-cializado pela multinacional Pfizer.Os pesquisadores, agora, queremfechar parceria com uma empresafarmacêutica e depositar a patentedesse novo processo.

Do grupo das estatinas, a atorvas-tatina age pela inibição da enzima-chave na biossíntese do colesterol.Dentre as estatinas, ela foi idealmenteeleita, entre outros motivos, porqueo acúmulo do substrato dessa enzimanão provoca nenhum tipo de ônusnem efeitos tóxicos ao organismo.�Ao pesquisarmos quais medicamen-tos estariam com patente por expi-rar, descobrimos que o Lipitor® eraum deles e procuramos investir emalternativas. Um genérico desses con-ta com um mercado potencial expres-sivo e pode representar uma signifi-cativa economia para o SUS [Siste-ma Único de Saúde]�, diz Barreiro.

Ele explica que o projeto, de carac-terísticas bastante específicas, permi-tirá fabricar a atorvastatina desde amatéria-prima até o produto final.�De saída, já poderemos usar comomatéria-prima um insumo químicomais acessível, que, embora tambémseja importado, é mais barato e contacom um maior número de fornece-dores, em vários países�, diz o coor-denador do INCT-Inofar. Além dis-so, entre as vantagens da descober-ta, ele cita mais uma: �Trata-se de umarota mais curta, de poucos passos e

Fotos: Divulgação/INCT�Inofar

Fármaco inovador: amostra do LASSBio-596, desenvolvido em laboratório daUFRJ para o controle de doençascrônicas pulmonares e que se encontraem fase de testes

de Fármacos e Medicamentos(INCT�Inofar). O projeto � um pri-meiro passo para que indústrias na-cionais possam produzir a versão ge-nérica da atorvastatina, cuja patenteexpirou em dezembro passado � émais uma das diversas pesquisas quevêm sendo desenvolvidas no INCT�Inofar.

Sob a coordenação do professorEliezer J. Barreiro, pesquisador doLaboratório de Avaliação e Síntese deSubstâncias Bioativas da Faculdadede Farmácia da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), oINCT�Inofar mobiliza o trabalho de35 cientistas, entre químicos e farma-cêuticos, empenhados em transfor-mar conhecimento científico em ino-vação radical, � por meio de proces-sos inteiramente novos, � ou em ino-vação incremental, o aprimoramen-to de produtos e processos já exis-tentes, que respondem pela maioriadas inovações desenvolvidas nas em-presas. Isso quer dizer que os pesqui-

Rede de pesquisa,formada porquímicos efarmacêuticos detodo o País, buscasoluções inovadoras

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uma substância nova, que atua em ummecanismo diferente dos remédioshabituais. �Trata-se do LASSBio-596,desenvolvido em laboratório da UFRJ,que, em testes feitos com ratos, mos-trou-se bem-sucedido�, comenta opesquisador.

Outro projeto, na área de doençasnegligenciadas, no qual os pesquisa-dores apostam suas fichas é umasubstância sintética planejada paraagir contra o protozoário daLeishmania. Em animais, os resulta-dos não só protegeram como fize-ram regredir infestações já instaladas.�Isso nos leva a crer que ela efetiva-mente tem efeito curativo. Com umavantagem adicional: como nossaabordagem é multiprotozoário, essamesma substância também poderáser aplicada contra outros pro-tozoários da mesma árvore evolutiva,como o da doença de Chagas e damalária�, explica Eliezer Barreiro.Testar o espectro de atividade damolécula descoberta é o próximopasso do projeto. Os pesquisadorestambém querem saber qual é o me-canismo de atuação da molécula, sa-ber como ela elimina o protozoáriocausador da leishmaniose.

Na área de doenças mentais, como aesquizofrenia, os cientistas do INCT�Inofar também trabalham em pesqui-

sas com perspectivas igualmente pro-missoras. É o caso do neurolépticoque vem sendo pesquisado nos la-boratórios da UFRJ e da UFRS e de-verá atuar sobre o sistema nervosocentral, controlando a evolução dadoença. A substância foi desenvol-vida a partir de inovações estruturaiscriadas sobre a closapina. Com umnovo mecanismo de atuação, o tra-balho resultou em uma completa ino-vação terapêutica. �A escolha da clo-sapina foi por se tratar de um neu-roléptico potente, que atua sobre osreceptores de dopamina, como fa-zem os medicamentos atualmenteempregados para o tratamento daesquizofrenia. A grande diferença éque ao otimizar seu padrão mo-lecular, nossos pesquisadores criaramum mecanismo plural, que atua tam-bém sobre outros receptores, e nãoapenas nos da dopamina. Isso signi-fica a ausência dos efeitos colateraiscaracterísticos dos medicamentos des-se tipo, como boca seca, tonteiras, tre-mores e suores frios�, diz Barreiro.Nos testes de toxicidade feitos emanimais, a substância, batizada como�579�, mostrou ótimos resultados.

Todas essas pesquisas, no entanto,vêm esbarrando em um gargalo jáidentificado pelos pesquisadores doINCT�Inofar. �Nossa dificuldade é

reações pouco complexas, de fácildomínio tecnológico. A maior van-tagem de tudo isso, no entanto, é quese trata da primeira rota criada paraum fármaco com características ab-solutamente originais e inteiramentedominada por nossa equipe�, garan-te Barreiro.

Além da atorvastatina, várias outraspesquisas em andamento se mostramigualmente promissoras. �Antes daatorvastatina, nossos cientistas daUFF já haviam implementado umoutro genérico, a ticlopidina, umantirrombótico usado na prevençãode doenças cardiovasculares. Trata-se de um medicamento importantepara o SUS, de grande apelo social�,conta. Ele explica que neste primeiroano de funcionamento efetivo doINCT�Inofar, houve a preocupaçãodos pesquisadores em investir em pro-jetos que realmente representassemimpacto social. �Procuramos trabalharno desenvolvimento de medicamen-tos de alto custo para o SUS, como osoncológicos, e também na inovaçãoradical, com a criação de fármacosinteiramente novos, que possam �fa-lar português� do início ao fim�, dizBarreiro. Nesse segundo caso, está oprojeto para controlar doenças crôni-cas pulmonares, como a asma. Paraisso, os cientistas estão pesquisando

Tecnologia fluminense: equipe do INCT-Inofar trabalha no novo caminho para a síntese química da atorvastatina, mais curto e de fácildomínio técnico. Para o professor Eliezer Barreiro (dir.), este é o primeiro passo para a produção do genérico pela indústria nacional

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fazer a transposição de escala para rea-lizar os ensaios finais da fase pré-clí-nica. Como não há laboratórios deescalonamento no País, ou seja, capa-zes de permitir a produção dessassubstâncias em quantidades maioresque as obtidas em laboratório � cum-prindo etapas que culminam com aprodução industrial �, uma de nossasalternativas é assumir esse ônus, in-cluindo a construção de um laborató-rio de escala, instalado na UFRJ, emnossa agenda para 2011. Seria um Ins-tituto de Tecnologia funcionando nosmoldes de instituições semelhantes deEstados Unidos, Alemanha e França.Nesse caso, procuraremos cumprirtodas as exigências de segurança,como não permitir o acesso de pes-soal não credenciado e manter a pres-são ambiente abaixo da pressão ex-terna, por exemplo�, planeja Barreiro.

Segundo o pesquisador, esse será umpasso importante em um estadocomo o Rio de Janeiro, com vocaçãolatente para o desenvolvimento defármacos. Vocação endossada pordiversos fatores enumerados porBarreiro: a densidade de pesquisado-res ativos e produtivos do Estado,que segundo ele é a maior por quilô-metro quadrado no País. E além des-se capital humano, outro patrimônio

fluminense é a planta física do Riode Janeiro. �Contamos com os trêslaboratórios das Forças Armadas,capacitados para a formulação defármacos, que atualmente atendem àsnecessidades do SUS. Temos tam-bém Farmaguinhos e o Instituto Vi-tal Brasil (IVB), parceiros no dese-nho da competência em fármacos noEstado. Por tudo isso, nada mais na-tural que o primeiro laboratório deescalonamento no País seja implan-tado no Rio de Janeiro�, defendeBarreiro.

Outro passo, segundo o coordenador,é realizar workshops para promovermaior aproximação entre universida-de, iniciativa privada e governo. �Pro-jetos de forte apelo empresarial nósjá temos. Agora, precisamos fazer comque esses atores políticos se manifes-tem�, fala o pesquisador. Tambémestá nos planos de Barreiro identifi-car, entre seus pesquisadores mais jo-vens, aqueles que demonstrem maiorvocação para o empreendedorismo, edirecioná-los nesse caminho. �Vamosprocurar investir em todas essas dire-ções, já que são alternativas que secomplementam.

Como se já não bastasse toda essaatividade, o INCT�Inofar tambémaposta na divulgação e popularizaçãoda Ciência. �Ao vincularmos o anti-

go Instituto Virtual de Fármacos aoINCT�Inofar, criamos o �Portal dosFármacos�, que passou a ser nossajanela de divulgação virtual. Foi oponto de partida para uma ampla ati-vidade de difusão científica�, contaBarreiro. Como ações complemen-tares, cartilhas, ilustradas com chargese desenhos e distribuídas em escolase eventos, como forma de alertar cri-anças e jovens sobre o uso racionalde medicamentos, os riscos daautomedicação, a posologia de cadaremédio e a conveniência de guardá-los em locais apropriados.

O diretor-presidente da FAPERJ, RuyGarcia Marques, é um dos grandes en-tusiastas do programa INCT: �AFAPERJ foi uma das primeiras fun-dações estaduais a aderir ao progra-ma, junto com o CNPq [ConselhoNacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico] e demais parcei-ros. Dezenove INCTs estão sediadosaqui no Estado, com recursos finan-ceiros da ordem de R$ 72 milhões,sendo R$ 36 milhões oriundos daFAPERJ. Os resultados que vêm sen-do obtidos pelo INCT�Inofar é algoque, de certa forma, já esperávamos.Sabíamos que estávamos investindoem 19 grupos altamente competen-tes e que, logo, os resultados começa-riam a surgir. Uma das característicasdesse programa é justamente o de fa-zer com que ocorra transferência doconhecimento adquirido para amelhoria da vida de nossa população�.Sobre a descoberta da nova rota paraa obtenção da artovastatina, Marquesa avalia como uma conquista impor-tante: �Com a utilização desse novométodo, a economia gerada será in-calculável, já que se trata de um medi-camento de grande consumo, tantoem nosso País como no mundo. Éuma conquista, que beneficiará mi-lhões de usuários.�

Pesquisador: Eliezer J. BarreiroInstituição: Universidade Federal doRio de Janeiro (UFRJ)

Batizado de LASSBio-579, testes com novoantipsicótico, destinado ao tratamento dedoenças mentais, como a esquizofrenia,mostraram resultados promissores

Projeto atende àvocação latente doEstado do Rio deJaneiro para odesenvolvimentode fármacos

Ilustração: Divulgação/INCT-Inofar

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39 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano IV

Tecnologia contra o desperdício

Empresa em Itaperunatransforma resíduosda indústria delaticínios do noroestefluminense em insumopara a produção deração animal

A indústria de laticínios, em período de expansãona região noroeste do Estado do Rio de Janei-ro, vem contribuindo para o aquecimento da eco-

nomia local. Com a Lei 5.703, de abril de 2010, o gover-no estadual zerou o Imposto sobre Circulação de Merca-dorias e Serviços (ICMS) sobre leite e derivados produzi-dos por empresas instaladas em território fluminense, atra-indo novos investimentos e favorecendo a abertura deparques industriais na região. Os dados são otimistas. Deacordo com a Secretaria de Estado de Agricultura e Pe-cuária (Seapec), a produção de leite saltou de 470 mi-lhões de litros por ano, em 2007, para os atuais 600 mi-lhões, e, até 2014, a expectativa é a de chegar a uma pro-dução estadual de 1 bilhão de litros por ano. Mas o cres-cimento do setor Lácteo na região alimenta, também, umapreocupação ambiental: o que fazer com os resíduos ge-rados pela indústria de laticínios em tempos de desenvol-vimento sustentável?

Em Itaperuna, uma das cidades do noroeste fluminenseonde o setor vem ganhando força, a estimativa é que 23toneladas de material orgânico descartadas pela Indústriade Laticínios sejam lançadas diariamente no lixão muni-cipal, a céu aberto. �Os resíduos são formados, basica-mente, pela gordura concentrada que resulta da fabrica-ção de derivados de leite�, explica o empreendedor MarcioLuis dos Santos, da empresa Itaclean � Companhia deLimpeza Urbana de Itaperuna. Ele conta que esses rejeitossão frequentemente despejados nos cursos de água daregião, in natura, sem tratamento adequado. �Em função

Débora Motta

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Versatilidade: resíduos da indústriade laticínios viram insumo para aprodução de ração de animais

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da concentração de matéria orgâni-ca, eles se tornam poluentes quan-do lançados nos rios, pelo grandeconsumo de oxigênio presente naágua�. Outro fator que os torna ain-da mais poluentes é o uso de subs-tâncias tóxicas para a limpeza dedutos entupidos pela gordura do lei-te nas fábricas. �Na linha de produ-ção, é comum misturar soda cáusti-ca à gordura concentrada, resultan-te da fabricação de derivados de lei-te�, completa.

A necessidade de desenvolver umatecnologia ecologicamente corretapara o reuso desse alto volume dematerial descartado na região levou aempresa a criar uma alternativa inteli-gente para o reaproveitamento dosresíduos: transformá-los em insumosalimentares, que são a base para a pro-dução de ração para animais. A ideiasurgiu quase por acaso. No princípio,a Itaclean trabalhava apenas com acoleta tradicional de resíduos em al-gumas das indústrias de laticínios daregião. �Começamos apenas com o

serviço de coleta, mas passamos adesconfiar que, se eles tivessem va-lor nutr ic ional , poderiam serreutilizados de alguma forma susten-tável�, conta Santos, gestor ambientale proponente do projeto, que rece-beu apoio da FAPERJ por meio doprograma Pappe � Rio Inovação, umaparceria com a Financiadora de Es-tudos e Projetos do Ministério daCiência e Tecnologia (Finep/MCT).

Partindo dessa suposição, a equipeda Itaclean deu início, em novembro

de 2009, a uma série de análises quí-micas realizadas no laboratório daempresa para identificar a composi-ção nutricional exata dos resíduoslácteos (gorduras, minerais, pH,carboidratos, proteínas etc.), a fim deencontrar um caminho que via-bil izasse, concretamente, o seureaproveitamento. �Inicialmente,pensamos em utilizar os rejeitos paragerar adubo, mas vimos que eles nãotinham quantidade de nitrogênio su-fic iente. Depois, pensamos em

Estação de tratamento de efluentes de umafábrica de laticínios da região noroeste doRJ: resíduos lácteos são coletados no local

Ecologicamente correto: funcionários da Itaclean recolhem os resíduos gordurosos que seriam descartados por uma fábrica de laticínios.Depois dos procedimentos químicos no laboratório da empresa, eles se transformam em insumo para produzir ração para animais (à dir.)

Fotos: Divulgação

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mica de Oxigênio (DQO), Deman-da Bioquímica de Oxigênio (DBO),óleos e graxas, nitrogênio, fósforo,produtos químicos ácidos e alcalinos,detergentes, desinfetantes, lubrifican-tes etc. Jeni lce informa que oefluente gerado no beneficiamentodo leite contém uma Demanda Quí-mica de Oxigênio (DQO) em tor-no de 3.000 mg/L. Em setores emque há grande produção de queijose derivados, o valor de DQO é daordem de 50.000 mg/L.

Benefícios econômicos eambientais

Para Marcio dos Santos, o uso deinsumos obtidos a partir dos rejeitosda cadeia do leite pode representaruma economia considerável aos pe-quenos produtores de animais nahora de comprar ração. �O custodesse novo tipo de insumo será bemmenor para os fabricantes de rações,que ainda dependem da compra deinsumos importados. O Brasil aindanão é autossuficiente na produçãodesse item�, destaca. De acordo comele, a conversão dos resíduos do lei-te em insumos para ração representauma mudança de conceito na cadeiaprodutiva do leite, já que caracterizauma inovação predominantementetecnológica. �Esse tipo de inovaçãovai agregar tecnologia à produção lo-

cal, priorizando o desenvolvimentode uma nova matéria-prima.�

Além de ajudar a movimentar a eco-nomia do noroeste fluminense, co-nhecido como a bacia leiteira do Es-tado do Rio de Janeiro, a adoção datécnica pode minimizar os impactosambientais da emissão de resíduospoluentes da indústria de laticínios eevitar o desperdício de um grandevolume de resíduos que ainda pre-servam valor nutritivo. �Apenas umadas indústrias de laticínios da regiãoproduz em média 1.200 quilos deresíduos por dia. Em toda a região, osetor produz cerca de 7 toneladas deresíduos diariamente�, calcula.

Por ora, ainda não há data definidapara a comercialização do novoinsumo. �O primeiro passo foi saberse era possível reaproveitar os rejeitosdo leite e criar a tecnologia neces-sária ao desenvolvimento desse tipode insumo. Agora, nossa intenção ébuscar parcerias que garantam a in-serção do produto no mercado�,conclui Santos. Sem dúvida, umaopção ecológica que pode fazer adiferença para o mercado lácteo doRio, que movimenta cerca de U$ 2,4bilhões por ano.

utilizá-los para fazer biocombustível,mas os elevados teores de água e depH dos rejeitos nos fizeram desis-tir�, relata o químico responsávelpelo projeto, Jenilce Martins.

A alternativa seguinte, de reaproveitaros rejeitos como base para produzirinsumo destinado às fábricas de ra-ções de animais, mostrou-se, afinal, amais adequada, depois de algumastentativas frustradas. �Após os proces-sos de filtração e desidratação, conse-guimos atingir um baixo teor de umi-dade (2,5%), o que permite a produ-ção do insumo com menor risco dedegradação, e balancear o teor de pro-teínas�, lembra Martins.

Atendendo às expectativas dos em-preendedores, o material analisadoapresentou alto teor nutritivo. �O va-lor energético do produto é de 397kcal para cada quilo de insumo, o querepresenta 20% do valor nutricionalpara o consumo diário de animaisadotado pelas fabricantes de rações�,informa. �As propriedades nutri-cionais são bastante satisfatórias e oproduto é rico em ácidos graxosômega 3 e 6�, pondera Martins. Eleressalta que o diagnóstico químicotem a chancela do Centro Tecnológicode Análise de Alimentos (Cetal), la-boratório de referência na área.

De acordo com Martins, a estimati-va é a de que o volume de efluentesgerados mensalmente pela indústriade laticínios deve ser próximo aoconsumo de água de cada uma dasempresas, uma vez que algumas de-las não realizam controles de medi-das para os efluentes. �As águas delavagem resultantes das operaçõesde higienização das instalações sãoas que mais contribuem para o vo-lume gerado de efluentes nos laticí-nios�, diz o químico. Ele explica queessas águas são constituídas basica-mente de leite � matéria-prima ederivados �, resultando em umefluente com elevada Demanda Quí-

Novo tipo deinsumo pode tornaro preço da raçãomais acessível paraos produtores

Empreendedor: Marcio Luis dosSantosEmpresa: Itaclean � Companhia deLimpeza Urbana de Itaperuna

O gestor Marcio Santos (esq.) e o químicoJenilce Martins: depois de desenvolver a

tecnologia, objetivo é fechar parceriaspara inserir o produto no mercado

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Sherlocks da natureza

Se não são exatamente deteti-ves com asas, certos tipos demosca podem ajudar peritos

criminalistas a descobrir exatamentecomo, quando e de que forma al-guém foi assassinado. Para elas, nãoimporta se, nas tentativas de dificul-tar o trabalho policial, o corpo tenhasido carbonizado, jogado na águapara lavar evidências ou oculto emlugares distantes do local do crime.Esses �Sherlocks� alados, tudo � ouquase tudo � conseguem desvendar.Basta que os detetives da vida real

Análise deinsetos, atraídospor material emdecomposição,

ajuda autoridadesno esclarecimento

de crimes

tenham material adequado para en-tender o que esses insetos têm a re-velar. Exatamente por isso, a pesqui-sadora Janyra Oliveira da Costa, doInstituto de Criminalística CarlosÉboli (ICCE) vem montando, desde2005, um banco de dados de en-tomologia forense, que reúne váriostipos de análise para comparação. Otrabalho recebeu recursos por meiodo edital de Apoio à Inovação

Tecnológica, da FAPERJ.

Conhecida popularmente por vare-jeira, a mosca Chrysomia albiceps sem-pre é encontrada em cadáveres.Como ela, certos tipos de inseto são

Vilma Homero

Sempre presentes em cadáveres, moscas como a Chrysomia albiceps podem se tornar um importante aliado no trabalho de investigação

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ENTOMOLOGIA FORENSE Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 42

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atraídos por material em decompo-sição, característica que vem sendousada como recurso na criminalísticados Estados Unidos e de vários paí-ses europeus, que já contam combancos de dados bastante completos.Isso, no entanto, de nada adianta parao Brasil e outros países da Américado Sul, já que as espécies se compor-tam de forma diferente não só de umpaís para outro, mas mesmo de umestado ou de uma cidade para outra,dadas as diferenças de clima e vege-tação. �Se em áreas urbanas do Riode Janeiro o limiar de desenvolvi-mento de uma Chrysomia se dá a tem-peraturas entre 12 a 15 graus, porexemplo, no Rio Grande do Sul, esselimiar pode ser algo entre 7 e 8graus�, exemplifica Janyra.

Como explica a pesquisadora, o pro-tocolo básico da entomologia foren-se exige que se faça, pelo menos, umexperimento utilizando um modeloanimal, em geral, o porco, por suasemelhança com o homem � paraque se conheça o comportamentodos insetos em humanos. �Precisa-mos não só identificar as várias es-pécies presentes nas diferentes regiõ-es do Estado do Rio de Janeiro, comotambém especificar o período dedecomposição que atrai cada umadelas. Ou seja, mostrar que espéciechega em um corpo e quando�, ex-plica Janyra.

E eles chegam quase imediatamenteapós a morte. Sem que se perceba,começam a colocar ovos nos orifíci-os naturais do corpo, especialmenteboca, narinas e ouvidos. Cada está-gio de decomposição corresponde àpresença de diferentes tipos dessesinsetos, já que, por suas característi-cas, eles costumam preferir determi-nadas características físico-químicas� que, nesse processo, estão sempremudando � do cadáver. Mas comoalgumas famílias de insetos, como amosca Sarcophagidae, são de difícilidentificação, a pesquisadora contacom a ajuda de três especialistas de

áreas distintas. Para a identificaçãodas espécies de insetos, Janyra tem aparceria das taxonomistas CátiaAntunes Mello-Patiu e Márcia Couri,do Museu Nacional � UniversidadeFederal do Rio de Janeiro (UFRJ).Mas quando se trata de coletar e ana-lisar material molecular, entra emcena o geneticista Rodrigo MouraNeto, também vinculado à UFRJ.

A partir daí, será possível dizer, porexemplo, quem é o cadáver. �Emuma cidade como o Rio de Janeiro,que costuma ser quente, em dois outrês dias um corpo começa a ficar in-flado, com odor forte, já em fase ga-sosa. Nesses casos, dada a dificulda-de de se coletar digitais no cadáverque começa a se desfazer, a identifi-cação tem de ser genética�, dizJanyra. Cadáver inflado também sig-nifica que o material se encontramuito misturado, contaminado. Masisso não chega a ser problema paraas �moscas-detetives�. �Graças a umprocesso digestivo muito particular,esses insetos nos auxiliam em qual-quer circunstância. Como têm umsistema digestório compartimen-talizado, no primeiro compartimen-to, os tecidos ingeridos não sofreminfluência de enzimas digestivas epermanecem absolutamente preser-vados. Com isso, é possível recolhê-los para análise e o material que esti-ver ali será única e exclusivamente docadáver�, explica.

Segundo Janyra, isso também valepara crimes com motivação sexual.Como as moscas preferem se alojare pôr ovos nos orifícios naturais docorpo, incluindo o ânus e a vagina,tudo o que ingerirem dessas áreasficará igualmente preservado em seuprimeiro compartimento digestivo.Se houver sêmen, por exemplo, eleserá ingerido e mantido preservadona primeira seção digestiva. �Na ver-dade, ao comer, esses insetos se en-carregam de fazer a coleta de mate-rial para que possamos depois anali-sar�, diz a pesquisadora.

Outras duas questões que podem serrespondidas pelos insetos são �quan-do� e �onde�. A primeira, para sedeterminar o dia da morte, pode serrespondida pelo tempo de desenvol-vimento das larvas de mosca. �Comosabemos que as moscas chegam ecolocam ovos no mesmo dia da mor-te, o estágio de desenvolvimento daslarvas nos indica o tempo de mor-te�, fala Janyra. Saber o �onde� tam-bém é questão de se conhecer as es-pécies endêmicas de cada área, sejamurbanas ou rurais. �Se alguém foimorto na cidade e seu cadáver leva-do para uma região de serra Em umatentativa de ocultação de corpo, porexemplo, mesmo assim os insetosnos dirão. Será o caso de recorrer aobanco de dados para identificar deque áreas são as moscas coletadas. Sedivergirem da região em que o cor-po foi encontrado, é sinal de que elenão foi morto ali�, explica.

Mesmo em estágios avançados dedecomposição, esses corpos não es-capam de exames toxicológicos oude análises para determinação da cau-sa da morte. Heroína, anfetaminas,cocaína, crack ou carbamato, o popu-lar chumbinho, podem perfeitamen-te ser detectados nas larvas. Da mes-ma forma, vestígios de chumbo, bárioe antimônio são detectáveis e sua pre-sença indica ferimento por arma defogo, mesmo que esse ferimento te-nha sido transfixante � ou seja, o pro-jétil tenha entrado e saído sem serencontrado. Também não adiantacarbonizar o corpo ou atirá-lo na

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água. �Apesar das condições de ca-lor, odor de combustível e ausênciade umidade, se ainda houver tecido,certas espécies de moscas atrasam,mas mesmo assim aparecem. Alémdisso, há certos tipos de besouro quesão atraídos pelos ossos. Também umcadáver afogado atrai determinadostipos de inseto. Basta saber iden-tificá-los e saber a que estágio de de-composição eles correspondem.

Certas situações, no entanto, podemconfundir os especialistas, como nocaso de alguém enforcado. �É queem um corpo pendurado, os insetos,como tudo o mais, sofrem a ação dagravidade e caem. Isso pode preju-dicar a avaliação do tempo de mor-te, como aconteceu em uma avalia-ção que fizemos para o Instituto deCriminalística. Enquanto as teste-munhas diziam que o morto estavadesaparecido há 15 dias, o legistaavaliava o estágio de decomposiçãoem uma semana. Isso porque nessaposição, pendurado, a decomposi-ção é mais lenta.�

O trabalho, que vem sendo feitodesde 2005, teve novo impulso coma aquisição de equipamento e, pos-teriormente, com a compra de kits

para processamento de análises. Parase ter ideia da enorme quantidadede amostras já reunidas, basta se

pensar que, desde o primeiro dia doprojeto, há seis anos, são feitas co-letas diárias de material para o ban-co de dados. �Os estagiários da equi-pe também estão digitalizando asanálises e passando para o banco dedados, que deve ser concluído nodecorrer de 2012�, conta Janyra.Com isso, a perícia criminal defini-tivamente está ganhando um gran-de aliado. �Ainda há poucos grupostrabalhando com entomologia fo-rense no País. Além do nosso, noRio, há o pessoal da Universidade

Estadual de Campinas (Unicamp),da Universidade de Brasília (UnB),da Universidade Federal do Paraná(UFPR) e o pessoal do InstitutoNacional de Pesquisas da Amazô-nia (Inpa). Acredito que, aos pou-cos, isso vá mudando. Afinal, preci-samos recorrer aos insetos porqueeles contam toda a história.�

Pesquisadora: Janyra Oliveira daCostaInstituição: Instituto de CriminalísticaCarlos Éboli (ICCE)

Investigação inteligente: a pesquisadora Janyra Oliveira da Costa está organizando, juntocom equipe, um banco de dados para analisar os insetos que podem ajudar em perícias

Fotos: Divulgação/ICCE

Trabalho minucioso: o estágio de desenvolvimento das larvas de moscas atraídas por cadáver é capaz de evidenciar o dia em que ocorreu a morte(esq.); perito coleta insetos presentes em corpo em decomposição (centro), que são aprisionados em uma armadilha para posterior avaliação

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Um software de envio de men-sagens curtas (SMS) paracelulares, desenvolvido na

Universidade Federal Fluminense(UFF), pode ser um aliado inteligen-te para alertar a população que se en-contra em áreas de risco dedeslizamentos. Trata-se do SMSalva-vidas, um produto de inovaçãotecnológica que já está à disposiçãodo poder público para se tornar umaferramenta de uso gratuito. De acor-do com o coordenador do projeto epró-reitor de Pesquisa, Pós-gradua-ção e Inovação da UFF, AntônioCláudio Nóbrega, a iniciativa podeajudar a suprir uma lacuna frequen-temente deixada de lado nas estraté-gias de prevenção de acidentes: a in-formação. �A disseminação da infor-mação é uma importante peça noprocesso de alerta de desastres e oscelulares são instrumentos de comu-nicação de amplo alcance, especial-mente para quem vive em áreas derisco�, justifica o professor.

A ideia de empregar o software paraajudar a minimizar as consequênciasdos desastres ambientais surgiu comoum desdobramento do projeto Uso de

serviços de mensagens curtas (SMS) perso-

nalizadas para a melhoria da adesão dos

pacientes ao tratamento do diabetes mellitus,contemplado pela FAPERJ no editalApoio ao Desenvolvimento da Tecnologia da

Informação no Estado do Rio de Janeiro,em 2010. A motivação para desenvol-ver essa vertente de trabalho paralelapartiu dos deslizamentos que castiga-ram a região serrana fluminense noinício de janeiro deste ano, quandomuitos moradores de áreas de riscoignoravam a gravidade do perigo quecorriam. �O projeto inicial, tambémem andamento, desenvolveu um sis-tema de envio de SMS para ajudar a

monitorar pacientes com diabetes querecebem tratamento pelo HospitalUniversitário Antônio Pedro (Huap/UFF). Resolvemos, então, aproveitara tecnologia deste mesmo software paraalertar populações de áreas de riscode deslizamentos�, conta.

O sistema consiste no cadastramentodo máximo de pessoas de uma loca-lidade, com endereço e respectivo te-lefone celular, que são georrefe-renciados num mapa do município.A partir daí, o gestor público podemarcar as regiões segundo os grausde risco � intermediário, iminente ouprovável � e enviar informações fun-damentais para prevenir desastres,como �chuva perigosa� ou �evacuarimediatamente�. �As mensagensgeorreferenciadas de alerta são envia-das imediatamente para os celularesde acordo com a localização especí-fica de cada morador cadastrado den-tro de uma área, de modo personali-zado. É muito diferente de enviarmensagem-padrão para todos ou co-locar uma sirene, que pode gerar pâ-nico generalizado e, em alguns casos,piorar a situação�, explica Nóbrega.

As informações a serem enviadas porSMS podem ser programadas de acor-do com a demanda do poder públicointeressado, e podem ser elaboradasem ação conjunta com institutos demeteorologia, Defesa Civil e outros.Tudo pela maior disseminação da in-formação de perigo no menor espa-ço de tempo possível. �O sistema estápronto para ser utilizado e é uma ofer-ta gratuita da UFF ao poder público.Já recebemos contatos de algumasprefeituras e governos estaduais.Estamos abertos às autoridades inte-

ressadas�, destaca o pró-reitor. �Ocusto de treinar e articular o trabalhoconjunto de institutos de me-teorologia, por exemplo, e da DefesaCivil seria mínimo diante do desen-volvimento do sistema, que já foi rea-lizado, e dos prejuízos às vidas quepoderiam ser evitados�, conclui.

O projeto SMSalva-vidas contou coma colaboração ativa de alunos do cur-so de Ciência da Computação e dapós-graduação em Ciências Cardio-vasculares da UFF, entre eles VitorZenha, Thiago Diogo, Mario Mariani,Igor Braz e Leticia Fontes, e tambémda empresa Quantum, incubada nauniversidade. Mais informações sobreo sistema podem ser obtidas na Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduaçãoe Inovação da UFF (http://www.proppi.uff.br).

Um torpedo que pode salvar vidasSistema de alerta via SMS podeminimizar impactos de deslizamentos

Débora Motta

TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO45 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano III

Pesquisador: Antônio CláudioNóbregaInstituição: Universidade FederalFluminense (UFF)

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Solo fértil sob afloresta verdePPPPPesquisadores daesquisadores daesquisadores daesquisadores daesquisadores daEmbrapa estudamEmbrapa estudamEmbrapa estudamEmbrapa estudamEmbrapa estudammaneiras de reproduzirmaneiras de reproduzirmaneiras de reproduzirmaneiras de reproduzirmaneiras de reproduzirem laboratório a Tem laboratório a Tem laboratório a Tem laboratório a Tem laboratório a TerraerraerraerraerraPPPPPreta de Índio, solo comreta de Índio, solo comreta de Índio, solo comreta de Índio, solo comreta de Índio, solo comalto teor de nutrientesalto teor de nutrientesalto teor de nutrientesalto teor de nutrientesalto teor de nutrientesencontrado na Amazôniaencontrado na Amazôniaencontrado na Amazôniaencontrado na Amazôniaencontrado na Amazônia

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Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 46

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Um tipo de solo formado pela açãode indígenas de uma época pré-colonial, que habitaram a Amazô-

nia, pode ser o caminho para o desenvol-vimento de uma agricultura sustentável nostrópicos. Estamos falando da Terra PretaArqueológica, também chamada Terra Pre-ta de Índio, formada ao longo do tempopelo trabalho dos indígenas, que enterra-vam em suas aldeias os resíduos vegetais eanimais da agricultura, do extrativismo eda caça. Esses resíduos orgânicos eramcarbonizados por queima incompleta, queera conseguida limitando-se a quantidadede ar durante a queima. Um dos procedi-mentos utilizados era o de enterrar os re-síduos em montes, deixando pequenasentradas de ar (cavidades na terra que co-bria os resíduos) e atear fogo. Com isso,os resíduos orgânicos não eram queima-dos completamente, restando grandesquantidades de carvão � processo seme-lhante ao usado para produzir carvão ve-getal utilizado em churrasqueiras. As alte-rações naturais desse material no ambien-te levaram à criação de solos excepcional-mente férteis.

As evidências serviram, de acordo com oagrônomo Etelvino Henrique Novotny, daEmbrapa Solos, para derrubar o mito deque os povos amazônicos pré-Colombia-nos estavam em um estágio civilizatóriomuito primitivo, limitados pelas condiçõesambientais adversas. �Hoje, sabemos quehavia sociedades complexas, que foramcapazes de alterar o próprio ambiente,melhorando-o do ponto de vista ecológi-co, algo de que temos muito a aprender�,diz o pesquisador. �Especialmente tendoem conta outro conceito antropológicovigente, de que é inerente do ser humanodestruir seu ambiente, dito Homo devastans.�

Um número significativo de pesquisas jáapontaram que muitos dos solos da Ama-zônia são pouco férteis para a agricultura.�Já as Terras Pretas de Índio possuem umteor de nutrientes até dez vezes maior queo de solos próximos desses locais. Além

Herança dos povos indígenas daAmazônia: queima incompletade resíduos orgânicospropiciou a criação de solosextremamente férteis

Vinicius Zepeda

AGRICULTURA47 | Rio Pesquisa - nº 14 - Ano III

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disso, são solos resilientes, ou seja,altamente resistentes à degradação domeio ambiente�, explica o agrôno-mo, coordenador de um projeto quebusca recriar em laboratório a maté-ria orgânica das Terras Pretas e foiselecionado pelo programa Priorida-

de Rio, da FAPERJ.

A presença de restos de cerâmicas euma quantidade de matéria orgânicamuito maior que a encontrada nor-malmente nos solos tropicais estãoentre as principais características des-sas terras. �Enquanto uma significa-tiva parte dos solos na Amazônia tema camada superficial enriquecida emcarbono [matéria orgânica], com umaprofundidade de até 20 centímetros,

as Terras Pretas de Índio podem al-cançar até 2 metros de profundida-de�, explica Novotny. Para reforçarainda mais a importância das TerrasPretas, ele desmitifica o senso co-mum que aponta as árvores comoos maiores sequestradores de carbo-no da atmosfera. �Na verdade, a ma-téria orgânica do solo é o principalreservatório superficial de carbono,e não as árvores, sendo assim res-ponsável por equilibrar o conteúdode gás carbônico do ar�, garante oagrônomo. �Daí a importância deum solo rico em matéria orgânica,como esse encontrado na RegiãoAmazônica, e que chega a armaze-nar até 10 vezes mais carbono queos demais solos do País.�

Na tentativa de promover o casamen-to entre a sabedoria dos nossos an-cestrais com a tecnologia moderna,Novotny tem buscado promoveruma solução que permita dar umdestino adequado aos resíduos orgâ-nicos produzidos nas diferentes re-giões do País, transformando-os emfertilizantes naturais.

A ideia, segundo o agrônomo, não éapenas aplicar os resíduos carboni-zados � carvão, biocarvão ou biochar

� e aguardar que a natureza faça seupapel, alterando esse material e au-mentando a fertilidade e resiliênciado solo, como faziam os índios ama-zônicos, mas sim procurar alterar es-ses produtos, tendo como modelo amatéria orgânica das Terras Pretas,utilizando-se técnicas modernas, dan-do assim uma pequena ajuda à natu-reza. �Um exemplo é o carvão vege-tal, essencial para a indústria siderúr-gica e do qual o Brasil é o maior pro-dutor do mundo, respondendo por7 milhões de toneladas produzidasanualmente � cerca de 38% da pro-dução mundial�, informa Novotny.�Verificamos, por exemplo, que al-guns resíduos da produção de car-vão, como o fino do carvão, podemser utilizados na tentativa de repro-duzir as características desses solosespeciais, algo sobre o qual já obti-vemos sucesso em condições de la-boratório�, conta.

No município de Santo Antônio deGoiás, vizinho a Goiânia, onde ficaa Embrapa Arroz e Feijão, estão insta-lados dois experimentos que buscammimetizar as Terras Pretas por meioda verificação da eficácia do fino docarvão, como condicionante do solo.O primeiro foi instalado em novem-bro de 2008, estudando o arroz desequeiro � um tipo de arroz resistentea solos ácidos muito utilizado na ocu-pação do cerrado brasileiro. Já o se-gundo investiga, desde setembro de2006, a eficiência do resíduo em soja.Os projetos são conduzidos pelaagrônoma e pesquisadora da Em-brapa, Beata Emoke Madari. �Osresultados preliminares indicam quea aplicação desse produto fez aumen-tar a produtividade do arroz e da soja

Na imagem menor, detalhe de cerâmicasindígenas comumente encontradas nasTerras Pretas�; ao lado, o engenheiroagrônomo Etelvino Novotny em frente abarranco deste tipo de solo, quepode alcançar até 2 metros

Fotos: Divulgação/Embrapa Solos

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e, em consequência, a capacidade depromover o sequestro de carbono�,assegura Novotny. �Essa adaptaçãoda tecnologia indígena para os diasatuais é uma prova de que é possívelo sequestro de carbono, mitigandoas emissões antrópicas, melhorandoa fertilidade do solo e reduzindo-sea necessidade de fertilizantes mine-rais�, complementa.

Estudante do quinto período deEngenharia Ambiental na Universi-dade Federal Fluminense (UFF),Jasmin Lemke, 20 anos, bolsista deIniciação Científica da FAPERJ, co-labora com o projeto coordenadopor Novotny. Empolgada com otema, ela destaca a importância dapesquisa científica para a utilizaçãoplena de técnicas de manejo do meioambiente. �Graças a esse estudo,pude descobrir a real importância detestar a toxidade dos materiais, pa-dronizar testes e apresentar resulta-dos e dados relativos ao experimen-to�, explica Jasmin. Ela chama a aten-ção para o fato de que é preciso ana-lisar e avaliar o produto que se estágerando antes que este possa ser uti-lizado e aplicado ao meio ambiente.�Os testes devem ser repetidos di-versas vezes e múltiplas técnicas deanálise devem ser utilizadas para cer-tificar as propriedades físico-quími-cas do produto e os possíveis impac-tos ambientais do seu uso�, afirma ajovem estudante.

Na tentativa de copiar as técnicasutilizadas pelos nossos ancestrais,Novotny destaca a importância detestar outros tipos de rejeitos pro-duzidos nas diferentes regiões doPaís. Um exemplo é o bagaço dacana-de-açúcar. Segundo estimativasda União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), na próxima safra(2010/2011), o Brasil irá produzir650 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, resultando em aproxima-damente 200 milhões de toneladasde bagaço. �A maior parte é utiliza-

da nas próprias destilarias na gera-ção de energia. Porém, ainda sobra12%, suficiente para produzir 8 mi-lhões de toneladas de carvão�, ex-plica o agrônomo.

De acordo com Novotny, há outrosresíduos, muitos deles com proble-mas de descarte, sendo passivosambientais que poderiam ser utili-zados para a produção de energia,como de biocarvão � resíduo sóli-do da pirólise, que pode ser deli-beradamente aplicado ao solo paramelhorá-lo. A técnica da pirólise é aconversão térmica da biomassa, emambiente com pouco oxigênio, pro-duzindo-se combustíveis (bio-óleoou gás de síntese) e que tem comoresíduo a biomassa carbonizada, se-melhante ao carvão vegetal. Ele citaos resíduos das indústrias madeirei-ra e de papel e celulose, lodo de es-goto, casca de coco-verde no litoraldo País, restos da emergente indús-tria de biocombustíveis, como a tor-ta de pinhão manso e outras oleagi-nosas, e dejetos animais, entre ou-tros. �Agora, estamos estudando autilização de ossos de suínos, car-bonizados e moídos como fertili-zantes�, acrescenta.

Para o agrônomo, além de garantiruma destinação mais adequada paraos resíduos, o casamento da técnicaancestral dos índios com a tecnologiapermitirá um aumento no sequestrode carbono por meio do solo. Outravantagem, ainda segundo Novotny,é que uma eventual reprodução dascondições de solo encontradas nasTerras Pretas poderá gerar tecnologianecessária para o desenvolvimentode produtos orgânicos que não agri-dam o meio ambiente e melhorem aqualidade dos solos. �Por serem fer-tilizantes de liberação lenta � forne-cendo os nutrientes às plantas aospoucos � os �genéricos� das TerrasPretas minimizariam as perdas des-ses nutrientes, permitindo a reduçãoda aplicação de fertilizantes quími-

cos no meio ambiente�, afirma. Elefrisa que, dependendo da dosagem,o uso dos resíduos pirolisados podeajudar na redução do óxido nitrosona atmosfera. �Altamente nocivo, eletem um potencial de aquecimentoglobal até 300 vezes maior que o gáscarbônico, sendo um dos principaisresponsáveis pelo efeito estufaantrópico no planeta�, diz. Para ocoordenador do projeto, as vantagenstambém se estendem ao setorAgropecuário, responsável por par-te importante da riqueza produzidapelo País. �Apesar de o Brasil ter umaenorme extensão de terras destina-das à agropecuária, é necessário, cadavez mais, recuperar áreas degradadase aumentar a produção das áreas exis-tentes, reduzindo, assim, a pressãopor desmatamentos�, conclui.

Foto: Stock Photo/Michiru Maeda

Amazônia em foco: estudo pretende reproduzir ascaracterísticas de solos criados por povos que habitarama floresta e que revelaram um alto teor em nutrientes

Pesquisador: Etelvino HenriqueNovotnyInstituição: Embrapa Solos (EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária)

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O ar querespiramosPPPPPesquisa na Uerj investiga efeitos daesquisa na Uerj investiga efeitos daesquisa na Uerj investiga efeitos daesquisa na Uerj investiga efeitos daesquisa na Uerj investiga efeitos dapoluição do ar em dois importantespoluição do ar em dois importantespoluição do ar em dois importantespoluição do ar em dois importantespoluição do ar em dois importantescorredores viários da cidadecorredores viários da cidadecorredores viários da cidadecorredores viários da cidadecorredores viários da cidade

Os veículos são responsáveis pelaemissão de 77% do total de poluenteslançados na atmosfera da RegiãoMetropolitana do Rio de Janeiro

MEIO AMBIENTE Ano III - nº 14 - Rio Pesquisa | 50

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A poluição do ar provocadapor automóveis permanececomo um dos principais de-

safios da atual agenda ambiental, sen-do responsável por uma variedadede problemas que afetam a rotina doshabitantes das metrópoles. Só paracitar alguns, eles vão desde proble-mas de saúde da população até a cor-rosão de materiais que prejudica aconservação de edifícios e monu-mentos, passando pela chuva ácida,que tem impacto sobre as áreas ver-des das cidades. Na cidade do Riode Janeiro, o intenso fluxo de veícu-los é o principal responsável pelaemissão de gases tóxicos na atmos-fera. De acordo com o RelatórioAnual de Qualidade do Ar do Esta-do do Rio de Janeiro de 2009, divul-gado pelo Instituto Nacional doMeio Ambiente (Inea), as fontesmóveis � como carros, caminhões eônibus � emitem 77% do total depoluentes lançados na atmosfera naRegião Metropolitana do Rio de Ja-

Débora Motta neiro, enquanto as fontes fixas � en-tre elas, as fábricas � representam23%. Para fazer um diagnóstico daqualidade do ar em pontos-chave dotráfego carioca, uma pesquisa naUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (Uerj) vem monitorando doisimportantes locais de passagem deveículos no Rio: o Túnel Rebouças ea Avenida Brasil.

Além de avaliar as condições atmos-féricas nesses pontos da cidade, oestudo tem como objetivo verificaros possíveis impactos da poluição doar na saúde das pessoas que circu-lam por ali diariamente. Para isso,pesquisadores do Laboratório deMutagênese Ambiental (Labmut), doDepartamento de Biofísica eBiometria do Instituto de BiologiaRoberto Alcantara Gomes (Ibrag/Uerj), investigam a concentração deagentes mutagênicos � aqueles capa-zes de modificar o DNA, determi-nando alterações que podem levar àetapa inicial do desenvolvimento docâncer. �Em ambientes onde as con-centrações dos poluentes são eleva-das, e dependendo de sua toxicidade,podem ocorrer efeitos genotóxicoscom chances de comprometer a saú-de dos ecossistemas�, explica o pro-fessor e biólogo Israel Felzenszwalb.

Monitoramento daqualidade do ar

O estudo, contemplado pelaFAPERJ no edital Estudo de Soluções

para o Meio Ambiente, já apresentou osprimeiros resultados parciais. Os pes-quisadores estão monitorando ascondições do ar na Avenida Brasildesde abril de 2010 e no TúnelRebouças, desde julho do mesmoano. A qualidade do ar nessas vias éavaliada com o Amostrador de Gran-de Volume (AVG), fabricado pelaEnergética Indústria e ComércioLtda., um equipamento que coletapartículas totais em suspensão na at-

mosfera. Esse material particuladoadere a um filtro, periodicamente in-serido no interior do equipamen-to, que é quimicamente analisado.�Tanto na Avenida Brasil como noTúnel Rebouças, verificamos a pre-sença predominante de nitro-compostos, entre eles de substânci-as conhecidas como hidrocarbonetospolicíclico-aromáticos. Essespoluentes são capazes de provocarmutações mesmo sem sofrer qual-quer tipo de metabolização, o quechamamos de pró-carcinógenos�,destaca Israel.

O equipamento responsável pela co-leta do ar dentro do Rebouças estálocalizado no vão entre as duas gale-rias do túnel, próximo à Lagoa. Elefunciona por seis horas durante qua-tro dias na semana, totalizando 24horas de coleta semanal. �Toda se-mana, durante a madrugada, quan-do o túnel fecha para manutenção,recolhemos o filtro para análise erecolocamos um novo�, explica. NaAvenida Brasil, outro equipamentoidêntico foi instalado no pátio doCentro Integrado de Educação Pú-blica (Ciep) Leonel de Moura Brizola,na altura de Ramos, junto à passarelade número 13. Ali, o materialparticulado do ar é coletado 24 ho-ras por dia.

�Como se trata de um ambiente fe-chado, em seis horas, o filtro docoletor no Rebouças fica saturado. Jána Avenida Brasil, são necessárias 24horas para saturá-lo�, explicaFelzenszwalb. Os equipamentos tam-bém avaliam medidas de variação detemperatura, umidade e pressão.

Testes laboratoriais

Depois que o material particuladodo ar é coletado pelos equipamen-tos instalados em ambos os locais,os pesquisadores do Labmut/Uerjrealizam dois procedimentos labo-ratoriais para tentar identificar o

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seguida, o material obtido é subme-tido ao ensaio bacteriano de Ames,em cinco diferentes concentrações.�Nesse ensaio, quando o valor doíndice de mutagenicidade é igual ousuperior a dois, consideramos que omaterial em análise tem potencialmutagênico�, detalha o professor,que observou nos dois locais um ín-dice de mutagenicidade positivo. �Asamostras coletadas na Avenida Bra-sil apresentaram um índice demutagenicidade 3 e 4. A Organiza-ção Mundial de Saúde (OMS) man-tém o valor de 2,5 como índice acei-tável, mas crítico. Nas amostras doTúnel Rebouças, o índice demutagenicidade variou entre 9 e 23,e o efeito mutagênico foi visualizadologo no início do teste�.

A determinação da influência da po-luição do ar na saúde humana é ex-tremamente complexa. Exige umaavaliação quantitativa e qualitativa deum grande número de fatores, taiscomo a concentração do poluente,duração da exposição, localização dasua atuação e efeitos sinergéticos ouantagônicos � tudo aliado à influ-ência de fatores meteorológicos. Avelocidade do vento e a estabilida-de térmica da atmosfera são osparâmetros mais importantes para ascondições de dispersão desse spoluentes. Uma concentração me-nor de material particulado no mêsanterior não significa necessaria-mente que houve lançamento demenos poluentes para a atmosfera.Isso pode ocorrer por causa de con-dições mais favoráveis à sua disper-são. �Ambientes fechados concentram

O professor Israel Felzenszwalb orienta amestranda Claudia Rainho, no Labmut/Uerj;e células da planta coração-roxo, emcontato com ar poluído, apresentam maiorfrequência de micronúcleos, o que indicaquebra induzida nos seus cromossomos

Fotos: Divulgação

potencial mutagênico dos poluentesencontrados em suspensão no ar. Umdeles é o Teste de Ames, um ensaiobiológico reconhecido internacional-mente que fornece informações so-bre a capacidade de agentes físicos,biológicos e químicos induzirem odesenvolvimento de mutações nomaterial genético das células.

O filtro recolhido do Amostrador deGrande Volume é �lavado� e, em

Estudo avalia acapacidade dos

poluentes emsuspensão no ar deinduzir mutações no

material genéticodas células

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mais esses poluentes, o que conse-guimos detectar com as amostras dotúnel.�

O outro procedimento técnico a seradotado no estudo é o teste demicronúcleo, utilizando a plantaTradescantia pallida var. purpurea. Co-nhecida popularmente como cora-ção-roxo, essa espécie ornamental,comum no Rio, funciona como umtermômetro natural da presença desubstâncias mutagênicas no ar, sen-do por isso considerada um ótimobioindicador. Sensível, ela apresentamutações nas tétrades (denominaçãodos cromossomos durante a divisãocelular) de grãos de pólen quando emcontato com poluentes, servindocomo um sensor na avaliação da qua-lidade do ar. �O teste de micronúcleocom a Tradescantia é considerado umexcelente bioindicador pela simpli-cidade da metodologia e pela sensi-bilidade da planta aos agentesgenotóxicos�, diz Felzenszwalb.

Em contato com os poluentes, ascélulas que formam os grãos de pó-len costumam apresentar altafrequência de micronúcleos, o queindica a ocorrência de mutação ge-nética. Essa etapa de testes, no en-tanto, ainda será realizada. Por en-quanto, os pesquisadores colocarammudas da Tradescantia em pontos es-tratégicos do Túnel Rebouças e daAvenida Brasil. �As plantas coloca-das no Rebouças não sobreviveram.Mesmo sendo uma planta resistente,parece que a poluição no local estábem acima de sua capacidade de so-brevivência�, pondera.

Para dar continuidade a essa etapa, aequipe do Labmut planeja outra es-tratégia. �Estamos avaliando a pos-sibilidade de usar o material obtidodo filtro coletor para uma avaliaçãodireta em mudas saudáveis, em labo-ratório, e assim podermos continuaro estudo�, explica. �Usaremos a so-lução produzida pela lavagem dos

filtros colocados no Rebouças parapulverizar as plantas, e faremos umaposterior avaliação de micronúcleos�,completa. Na Avenida Brasil, o ex-perimento com as plantas foi inicia-do no último trimestre de 2010, nomesmo local da instalação doAmostrador de Grande Volume, e ospesquisadores ainda não processaramos resultados.

Além do professor Israel Felzenszwalb,participam do projeto os pesquisado-res Claudia Aiub e José Luis Mazzeida Costa, ambos do Labmut/Uerj; oprofessor Sérgio Machado, da Facul-dade de Tecnologia da Uerj ; amestranda Claudia Rainho, do progra-ma de Pós-graduação em Biociênciasdo Instituto de Biologia RobertoAlcântara Gomes, da Uerj; e o alunode Iniciação Científica Antonio deSalles Guerra, bolsista do ConselhoNacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq).

A educação ambiental não foi esque-cida pelos pesquisadores no momen-to de formular o projeto. Estudantesdo Ciep da Avenida Brasil que abri-ga a estação de monitoramento doar já tiveram três encontros com ospesquisadores para discutir a proble-mática da poluição do ar atmosféri-co. �Tentamos conscientizar os jo-vens sobre a necessidade de preser-vação do meio ambiente�, conta.�Esperamos que a atividade de edu-cação ambiental venha a contribuirpara a conscientização cidadã da po-pulação e que ela tenha um efeitomultiplicador�, conclui. Iniciativascomo essas podem, no futuro, aju-dar na adesão a medidas que façamrecuar a poluição do ar nas grandesaglomerações urbanas.

Emissão de poluentes: presença predominante de nitrocompostos no ar do TúnelRebouças e da Av. Brasil pode levar à etapa inicial do desenvolvimento do cãncer

Pesquisador: Israel FelzenszwalbInstituição: Universidade do Estadodo Rio de Janeiro (Uerj)

Foto: Claudio Gonçalves

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Diretoria e assessores reúnem-separa avaliação e planejamento

Convocada pela presidência dafundação, foi realizada, nosdias 12 e 13 de janeiro, reu-

nião para avaliação das atividades daFAPERJ no último quadriênio e pla-nejamento para o ano de 2011 e osanos subsequentes do novo qua-driênio que se inicia. O secretáriode Estado de Ciência e Tecnologia,Alexandre Cardoso, participou da

abertura e manifestou seu apoio àiniciativa, destacando a importânciade garantir total liberdade à pesqui-sa científica e tecnológica no Esta-do. �Temos de garantir a autonomiados pesquisadores em nosso Esta-do, mas, ao mesmo tempo, criar ascondições para que as universidadesse transformem em uma estruturacapaz de pensar o desenvolvimento

do Rio de Janeiro�, disse. Cardosoacrescentou que é dever da FAPERJo financiamento da pesquisa em te-mas prioritários para o desenvolvi-mento econômico e social do Esta-do: �É preciso sensibilizar as insti-tuições de ensino e pesquisa flu-minenses para que trabalhem paradiminuir o fosso entre os que têm eos que não têm�.

Durante os dois dias, cada um dosassessores responsáveis pelos diver-sos programas/editais mantidos pelafundação fez uma apresentação so-bre o que foi realizado ao longo doúltimo quadriênio, com ênfase nosanos de 2009 e 2010. O objetivo cen-tral foi o de identificar as eventuaisdificuldades para garantir a maisampla difusão e alcance dessas ativi-dades, debatendo sugestões paraaprimorá-las, bem como o lançamen-to de novas ações.

O diretor-presidente da FAPERJ,Ruy Garcia Marques, disse que es-tava seguro de que todas as áreas doconhecimento haviam sido contem-plados ao longo do período 2007-2010, e destacou dois programas deamplo alcance que considerou �im-portantes� para estimular a pesqui-sa, ambos voltados para questões

Na abertura da reunião, o secretário de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso,defendeu política de fomento que contemple também temas ligados à cidadania

2010 teve umtotal de 27 editais

Por meio da assinatura de Termo deCooperação entre a FAPERJ, Fede-ração das Indústrias do Estado doRio de Janeiro (Firjan) e o ServiçoBrasileiro de Apoio às Micros e Pe-quenas Empresas do Rio de Janeiro(Sebrae-RJ), foi anunciado, no dia 16de dezembro de 2010, o lançamentodo edital Apoio ao Desenvolvimento do

Design em Empresas Sediadas no Estado

do Rio de Janeiro, uma parceria inédita

Foto: Vinicius Zepeda

que reúne recursos de R$ 2,7 mi-lhões. Na mesma semana, a FAPERJanunciou o lançamento de seu últi-mo edital de 2010, uma nova ediçãodo Pesquisa para o SUS: gestão compar-

tilhada em saúde (PP-SUS). Fruto deuma parceria com o Ministério daSaúde, por intermédio de seu Depar-tamento de Ciência e Tecnologia, daSecretaria de Ciência, Tecnologia eInsumos Estratégicos (Decit/SCTIE), o Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq), a Secretaria de

Estado de Saúde e Defesa Civil, aSecretaria de Estado de Ciência eTecnologia e a FAPERJ, o programadisponibilizou R$ 3,5 milhões emrecursos. Com o anúncio de maisesses dois editais, a fundaçãocontabilizou o lançamento de 27editais ao longo de 2010.

Instituições de C&Tajudam região serrana

Representantes do Ministério daC&T, da Secretaria Municipal de

FAPERJIANAS

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estratégicas no Estado � Pensa Rio ePrioridade Rio. Os dois programas,juntos, somaram R$ 85 milhões emrecursos, cada um deles com duasedições, contemplando mais de 380propostas.

Além de novas edições de progra-mas importantes que, tradicional-mente, já fazem parte da política defomento da fundação, como Cientista

do Nosso Estado e Apoio às Universi-

dades Estaduais, o grupo de direto-res e assessores apoiou propostaencaminhada pela diretoria de quea FAPERJ lance, ainda no primeirosemestre de 2011, um edital volta-do para temas ligados à �Cidadania�,destinado a pesquisas que visem aodesenvolvimento de um ambientesocial capaz de proporcionar melho-res garantias individuais e coletivasà população fluminense.

No segundo dia de atividades, parteda programação foi dedicada à revi-são do manual de Auxílios e Bolsasda fundação, que deverá ganhar umanova versão � digital e impressa �ainda no primeiro semestre. A dire-toria também prepara um novo rela-tório sobre as atividades desenvolvi-das pela fundação, desta vez ,enfocando o biênio 2009-2010.

C&T, da FAPERJ e de instituiçõesde pesquisa, universidades, museuse centros de ciência fluminenses reu-niram-se em janeiro, na Casa da Ci-ência/UFRJ, para discutir um planode ação para ajudar as cidades da Re-gião Serrana do Estado atingidas pe-las chuvas no mês de janeiro. As ins-tituições, além de receber doações,organizam at ividades para osdesabrigados (em especial as crian-ças) e ações de popularização da ci-ência na região, com ênfase na pre-venção de desastres. Instituições in-

teressadas em participar do plano deação podem entrar em contato coma Casa da Ciência/UFRJ. Mais infor-mações: (21) 2542-7494 e http://www.casadaciencia.ufrj.br

Bolsas-sanduíche:25 novos bolsistas

Vinte e cinco novos bolsistasfluminenses estagiarão em universi-dades e instituições de ensino e pes-quisa na América do Sul, na Europae nos EUA. São os contemplados doprimeiro período de inscrições doPrograma de Estágio de Doutoran-dos no Exterior da FAPERJ, tambémconhecido como bolsa-sanduíche,cujo resultado foi divulgado no mêsde fevereiro. Com permanência pre-vista de 4 a 12 meses, os novos bol-s istas estagiarão em diversas eprestigiadas instituições, como oKing�s College, de Londres. Criado nofim de 2010, o segundo período desubmissão de propostas para o Pro-grama de Estágio de Doutorandosno Exterior teve início em 10 demarço, e se estenderá até 28 de abril.

Marques encontraGlauco Arbix na ABC

A Academia Brasileira de Ciências(ABC) recebeu, no dia 3 de fevereiro,o recém-empossado presidente daFinanciadora de Estudos e Projetos(Finep), Glauco Arbix. Participaramdo encontro o presidente da ABC,Jacob Palis; o diretor-presidente daFAPERJ, Ruy Garcia Marques; a vice-presidente regional da ABC, ElisaReis, além dos diretores Evando Mir-ra, Jerson Lima e Luiz Davidovich, eo secretário-executivo Lindolpho deCarvalho Dias; o ex-presidente daABC e atual vice-presidente da

Guimarães (à esq.) e Marques durantereunião de trabalho na sede da fundação

Fapesp, Eduardo Krieger; e os asses-sores de Arbix, Maria AparecidaStallivieri e Celso Fonseca. Ao finaldo encontro, Ruy Marques convidouArbix para participar de um dos pró-ximos encontros do Conselho Nacio-nal das Fundações Estaduais de Am-paro à Pesquisa (Confap).

FAPERJ e Capesreafirmam parceria

Ruy Garcia Marques recebeu, no iní-cio de março, o presidente da Coor-denação de Aperfeiçoamento de Pes-soal de Nível Superior (Capes), Jor-ge de Almeida Guimarães, em reu-nião que também contou com as pre-senças do diretor Jerson Lima, doassesor da presidência EgbertoGaspar de Moura e do coordenadorda área Biológicas II da Capes,Adalberto Ramon Vieyra. No encon-tro, foi discutida a renovação de acor-do de cooperação técnica e acadêmi-ca, visando ao fortalecimento do Pro-grama Nacional de Pós-douto-ramento e o lançamento de novosprogramas. No convênio anterior,celebrado em 2009, no valor total deR$ 94 milhões (R$ 47 milhões paracada agência), foram implementadas320 bolsas de pós-doutorado. Durantea reunião, decidiu-se reeditar o Pro-grama de Pós-doutorado para os anosde 2011 e 2012, com o oferecimentode mais bolsas.

Foto: Vilma Homero

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Ano IV - nº 14 - Rio Pesquisa | 56

O assunto pode ser a músicabrasileira ou o renascimentoitaliano, ou mesmo os tuba-

rões e raias que habitam as águas dolitoral fluminense, como aparece, aseguir, na relação de algumas das obrasque receberam apoio da FAPERJ pormeio de seu programa de Auxílio àEditoração (APQ 3). Com uma mé-dia que se aproxima de uma centena

Uma rica variedade de temas enviada ao prelo

Vinicius de MoraesAcompanha: DVD e CD comdocumentários e registros musicais

A partir de uma homena gem ao poeta eembaixador Vinicius de Mor aes, em uma ce-lebração ocor rida no segundo semestre de2010, no Salão Nobr e do Palácio do

Itamaraty, este livro pretende ser um mar co formal de váriosacontecimentos da vida do poeta aqui r egistrados, sendo sau-dado como r epresentante da cultur a, da poesia, da liter atura eda música no Brasil.

Organização: Ricardo Cra vo Albin

Editora: Imprinta Expr ess

Número de páginas: 227

Renascimento ItalianoEnsaios e traduções

O presente volume fornece ao leitor de lín-gua portuguesa um conjunto de te xtos iné-ditos sobre o Renascimento italiano, escri-tos por historiadores da Arte de Destaqueem universidades brasileiras. O livro reúne11 ensaios e sete traduções sobre questões

centrais relativas ao Renascimento.

Organizadora: Maria Berbara

Editora: Nau

Número de páginas: 494

O Serviço Social no BrasilOs fundamentos de sua imagemsocial e da autoimagem de seusagentes

Obra imprescindível para todos que se pr eo-cupam com os r umos profissionais do Ser vi-ço Social br asileiro e, por isso, dedicam-se adecifrar sua história � os ne xos da sua r elaçãocom o capitalismo (contemporâneo), sua di-

mensão ética (e política) e o seu atual projeto profissional.

Autora: Fátima Gra ve Ortiz

Editora: E-papers

Número de páginas: 226

EDITORAÇÃO

de títulos por ano no últimoquadriênio, a fundação possibilita, as-sim, a divulgação para a sociedade �por meio de editoras fluminenses derenome no mercado � de livros, vídeose CDs de inegável valor científico. Umainiciativa que já alcança às bibliotecasdo interior do Estado por meio de umaparceria com o Sistema Estadual de Bi-bliotecas (SEB). O programa, que con-

ta com dois períodos de submissãode propostas ao longo do ano, estácom inscrições abertas até o dia 26de maio. Na mais recente seleção deprojetos, que teve o resultado divul-gado na segunda quinzena de dezem-bro passado, das 93 propostas inscri-tas, 74 foram aprovadas. Consulte osite da FAPERJ para conhecer maisdetalhes do regulamento.

Infância e literaturaNeste livro, a autor a aborda concepçõesde infância, de linguagem e de liter aturaem diálogo com autor es destacados nocampo teórico. Apresenta, também,análise criteriosa de uma coleção de li-vros voltados para crianças em suas pri-meiras experiências com a literatura.

Autora: Már cia Cabral da Silv a

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Este livro nasceu do pr opósito de apro-ximar o público brasileiro do presente eda história de Cuba como etapa impres-cindível para a compar ação, oferecendouma fina seleção de textos históricos eantropológicos assinados por pesquisa-

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Hugo R. S . Santos

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