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As Mudanças Climáticas RISCOS E OPORTUNIDADES Novembro de 2015

RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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Page 1: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

As Mudanccedilas ClimaacuteticasRISCOS E OPORTUNIDADES

Novembro de 2015

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Ficha Teacutecnica

WWF-BRASIL

CARLOS NOMOTOSecretaacuterio Geral

MAURO ARMELINSuperintendente de Conservaccedilatildeo

ANDRE COSTA NAHURCoordenador de Clima e Energia

MARK WILLIAN LUTESEspecialista em Clima

LIGIA PITTA RIBEIROAnalista de Conservaccedilatildeo

KARINA MARQUESINI KOLOSZUKCoordenadora de Financcedilas para Sustentabilidade

FABIO LUIZ GUIDOEspecialista em Financcedilas para Sustentabilidade

BANCO DO BRASIL

OSMAR FERNANDES DIASVice Presidente de Agronegoacutecios e Micro e Pequenas Empresas

ASCLEPIUS RAMATIZ LOPES SOARESGerente Geral Unidade Negoacutecios Sociais e Desenvolvimento Sustentaacutevel

WAGNER DE SIQUEIRA PINTOGerente Executivo

ANA MARIA RODRIGUES BORRO MACEDOGerente de Divisatildeo

JORGE ANDRE GILDI DOS SANTOSAssessor Empresarial

Equipe Teacutecnica ResponsaacutevelPROGRAMA DE CLIMA E ENERGIA WWF-BRASIL

Andreacute Costa Nahur - Coordenador de Clima e EnergiaMark Willian Lutes - Especialista em Clima

Liacutegia Pitta Ribeiro - Analista de Conservaccedilatildeo

CoordenaccedilatildeoAndreacute Costa NahurFabio Luiz Guido

Jorge Andre Gildi dos Santos

Design e diagramaccedilatildeoGuilherme K Noronha gknoronhacom

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Sobre o Aacutegua Brasil

Em 2010 quatro importantes instituiccedilotildees brasileiras uniram-se por um objetivo comum a preservaccedilatildeo da aacutegua E da parceria entre o Banco do Brasil a Fundaccedilatildeo Banco do Brasil a Agecircncia Nacional de Aacuteguas e a WWF-Brasil surgiu o Programa Aacutegua Brasil

O Programa Aacutegua Brasil representa o posicionamento de sustentabili-dade do Banco do Brasil e sua missatildeo eacute promover transformaccedilotildees em diversas regiotildees do paiacutes a favor da conservaccedilatildeo e da gestatildeo da aacutegua

Por meio de boas praacuteticas de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental gestatildeo integrada de resiacuteduos soacutelidos e accedilotildees de inclusatildeo e promoccedilatildeo social o Programa Aacutegua Brasil desenvolveu projetos modelo que pode-ratildeo ser replicados em todo o paiacutes

Com quatro eixos de atuaccedilatildeo - Projetos Socioambientais Comunicaccedilatildeo e Engajamento Mitigaccedilatildeo de Riscos e Negoacutecios Sustentaacuteveis - o Pro-grama Aacutegua Brasil estaacute presente em sete bacias hidrograacuteficas e cinco cidades brasileiras

O Programa desenvolve ainda estudos para mitigaccedilatildeo de riscos na con-cessatildeo de creacutedito junto ao Banco do Brasil e incentivos para o financia-mento de negoacutecios sustentaacuteveis

O tema Mudanccedilas Climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humani-dade para o seacuteculo XXI Haacute fortes evidecircncias cientiacuteficas de que essa mudanccedila se deve ao aumento da concentraccedilatildeo de determinados gases na atmosfera resultantes da atividade humana O processo de aqueci-mento global afetaraacute os recursos naturais o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos a sauacutede e o meio ambiente

A questatildeo do clima comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo am-biental e em seguida foram feitos estudos sobre sua relaccedilatildeo com a produccedilatildeo e consumo inclusive de energia ateacute que se concluiu que a

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transiccedilatildeo para uma ldquoeconomia de baixo carbonordquo eacute imprescindiacutevel para a humanidade

O Banco do Brasil ciente da relevacircncia e urgecircncia do tema das mu-danccedilas climaacuteticas e a importacircncia do engajamento do setor privado nos esforccedilos para reduccedilatildeo dos gases de efeito estufa e para a adaptaccedilatildeo de comunidades em aacutereas de vulnerabilidade climaacutetica estaacute compro-metido com a transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono e o papel de lideranccedila que o Brasil pode assumir neste tema

Para saber mais sobre o Aacutegua Brasil acesse

httpbbaguabrasilcombr

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Apresentaccedilatildeo

O presente material tem por finalidade apresentar informaccedilotildees e con-sideraccedilotildees sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos principais impactos relacionados a fim de fomentar a reflexatildeo e a dis-cussatildeo sobre o assunto

Eacute importante destacar que o setor financeiro tem uma dupla ligaccedilatildeo com o tema ao financiar investir e viabilizar negoacutecios para os setores econocircmicos governamentaispuacuteblicos industriais agropecuaacuteriosrurais extrativistas e de serviccedilos e nas suas proacuteprias atividades do dia a dia

No mundo atual monitorar as mudanccedilas climaacuteticas e avaliar os princi-pais impactos sobre o nosso cotidiano e sobre a nossa forma de fazer negoacutecios satildeo iniciativas fundamentais

Fonte UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

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Sumaacuterio

Sobre o Aacutegua Brasil 3

Apresentaccedilatildeo 1

1 Introduccedilatildeo 3

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas 6

3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos 14

4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas 17

5 O Protocolo de Quioto 29

6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil 34

7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas 37

8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil 75

9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro 106

10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas 111

11 Referecircncias Bibliograacuteficas 123

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1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

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ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

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2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

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812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

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92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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11 Referecircncias Bibliograacuteficas

ALBUQUERQUE Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mu-danccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no Brasil Laura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica - Banco de Informaccedilotildees de Geraccedilatildeo Acesso em 22072014 httpwwwaneelgovbrareacfmidArea=15

AVZARADEL Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFFPrograma de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 2014

Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambien-tais contemporacircneas paiacutes emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

CLIMATE Policy Initiative The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentup-loads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

CNT Confederaccedilatildeo Nacional do Transporte Disponiacutevel em httpwwwcntorgbrPaginasPesquisasaspx

FGVCes Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Centro de Estudos em Sustentabi-lidade Empresas pelo Clima Disponiacutevel em wwwempresaspeloclimacombr

GREEN Climate Fund Disponiacutevel em httpwwwgcfundorgfilead-min00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadi-ness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

124

httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ndash Centro de Ciecircn-cia do Sistema Terrestre - CCST-INPE UNESP 2012 Disponiacutevel em httpredeclimaccstinpebrwp-contentuploads201304RedeClima--2011-2012-mais-baixapdf

__Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pe-cuaacuteria no Brasil (p3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

_Fifth Assessment Report Climate Change 2013 The Physical Science Basis Disponiacutevel em httpwwwipccchreportar5wg1 e httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planeja-mento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente Inventaacuterio Nacional de Emissotildees At-mosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014) Disponiacutevel em httpwwwmmagovbrestruturas163_publicacao163_publicacao27072011055200pdf

MME Ministeacuterio de Minas e Energia Balanccedilo Energeacutetico Nacional ndash BEM Disponiacutevel em httpsbenepegovbrdownloadsRelatorio_Final_BEN_2013pdf

PBMC Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas 2014 Disponiacutevel em httpwwwpbmccoppeufrjbrptpublicacoesrelatorios-pbmc

SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

125

SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCam-bridge University Cambridge 2006

UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change Disponiacutevel em httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=2 e httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php e httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 2: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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Ficha Teacutecnica

WWF-BRASIL

CARLOS NOMOTOSecretaacuterio Geral

MAURO ARMELINSuperintendente de Conservaccedilatildeo

ANDRE COSTA NAHURCoordenador de Clima e Energia

MARK WILLIAN LUTESEspecialista em Clima

LIGIA PITTA RIBEIROAnalista de Conservaccedilatildeo

KARINA MARQUESINI KOLOSZUKCoordenadora de Financcedilas para Sustentabilidade

FABIO LUIZ GUIDOEspecialista em Financcedilas para Sustentabilidade

BANCO DO BRASIL

OSMAR FERNANDES DIASVice Presidente de Agronegoacutecios e Micro e Pequenas Empresas

ASCLEPIUS RAMATIZ LOPES SOARESGerente Geral Unidade Negoacutecios Sociais e Desenvolvimento Sustentaacutevel

WAGNER DE SIQUEIRA PINTOGerente Executivo

ANA MARIA RODRIGUES BORRO MACEDOGerente de Divisatildeo

JORGE ANDRE GILDI DOS SANTOSAssessor Empresarial

Equipe Teacutecnica ResponsaacutevelPROGRAMA DE CLIMA E ENERGIA WWF-BRASIL

Andreacute Costa Nahur - Coordenador de Clima e EnergiaMark Willian Lutes - Especialista em Clima

Liacutegia Pitta Ribeiro - Analista de Conservaccedilatildeo

CoordenaccedilatildeoAndreacute Costa NahurFabio Luiz Guido

Jorge Andre Gildi dos Santos

Design e diagramaccedilatildeoGuilherme K Noronha gknoronhacom

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Sobre o Aacutegua Brasil

Em 2010 quatro importantes instituiccedilotildees brasileiras uniram-se por um objetivo comum a preservaccedilatildeo da aacutegua E da parceria entre o Banco do Brasil a Fundaccedilatildeo Banco do Brasil a Agecircncia Nacional de Aacuteguas e a WWF-Brasil surgiu o Programa Aacutegua Brasil

O Programa Aacutegua Brasil representa o posicionamento de sustentabili-dade do Banco do Brasil e sua missatildeo eacute promover transformaccedilotildees em diversas regiotildees do paiacutes a favor da conservaccedilatildeo e da gestatildeo da aacutegua

Por meio de boas praacuteticas de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental gestatildeo integrada de resiacuteduos soacutelidos e accedilotildees de inclusatildeo e promoccedilatildeo social o Programa Aacutegua Brasil desenvolveu projetos modelo que pode-ratildeo ser replicados em todo o paiacutes

Com quatro eixos de atuaccedilatildeo - Projetos Socioambientais Comunicaccedilatildeo e Engajamento Mitigaccedilatildeo de Riscos e Negoacutecios Sustentaacuteveis - o Pro-grama Aacutegua Brasil estaacute presente em sete bacias hidrograacuteficas e cinco cidades brasileiras

O Programa desenvolve ainda estudos para mitigaccedilatildeo de riscos na con-cessatildeo de creacutedito junto ao Banco do Brasil e incentivos para o financia-mento de negoacutecios sustentaacuteveis

O tema Mudanccedilas Climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humani-dade para o seacuteculo XXI Haacute fortes evidecircncias cientiacuteficas de que essa mudanccedila se deve ao aumento da concentraccedilatildeo de determinados gases na atmosfera resultantes da atividade humana O processo de aqueci-mento global afetaraacute os recursos naturais o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos a sauacutede e o meio ambiente

A questatildeo do clima comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo am-biental e em seguida foram feitos estudos sobre sua relaccedilatildeo com a produccedilatildeo e consumo inclusive de energia ateacute que se concluiu que a

4

transiccedilatildeo para uma ldquoeconomia de baixo carbonordquo eacute imprescindiacutevel para a humanidade

O Banco do Brasil ciente da relevacircncia e urgecircncia do tema das mu-danccedilas climaacuteticas e a importacircncia do engajamento do setor privado nos esforccedilos para reduccedilatildeo dos gases de efeito estufa e para a adaptaccedilatildeo de comunidades em aacutereas de vulnerabilidade climaacutetica estaacute compro-metido com a transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono e o papel de lideranccedila que o Brasil pode assumir neste tema

Para saber mais sobre o Aacutegua Brasil acesse

httpbbaguabrasilcombr

1

Apresentaccedilatildeo

O presente material tem por finalidade apresentar informaccedilotildees e con-sideraccedilotildees sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos principais impactos relacionados a fim de fomentar a reflexatildeo e a dis-cussatildeo sobre o assunto

Eacute importante destacar que o setor financeiro tem uma dupla ligaccedilatildeo com o tema ao financiar investir e viabilizar negoacutecios para os setores econocircmicos governamentaispuacuteblicos industriais agropecuaacuteriosrurais extrativistas e de serviccedilos e nas suas proacuteprias atividades do dia a dia

No mundo atual monitorar as mudanccedilas climaacuteticas e avaliar os princi-pais impactos sobre o nosso cotidiano e sobre a nossa forma de fazer negoacutecios satildeo iniciativas fundamentais

Fonte UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

2

Sumaacuterio

Sobre o Aacutegua Brasil 3

Apresentaccedilatildeo 1

1 Introduccedilatildeo 3

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas 6

3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos 14

4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas 17

5 O Protocolo de Quioto 29

6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil 34

7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas 37

8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil 75

9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro 106

10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas 111

11 Referecircncias Bibliograacuteficas 123

3

1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

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ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

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2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

80

812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

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92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

123

11 Referecircncias Bibliograacuteficas

ALBUQUERQUE Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mu-danccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no Brasil Laura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica - Banco de Informaccedilotildees de Geraccedilatildeo Acesso em 22072014 httpwwwaneelgovbrareacfmidArea=15

AVZARADEL Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFFPrograma de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 2014

Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambien-tais contemporacircneas paiacutes emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

CLIMATE Policy Initiative The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentup-loads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

CNT Confederaccedilatildeo Nacional do Transporte Disponiacutevel em httpwwwcntorgbrPaginasPesquisasaspx

FGVCes Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Centro de Estudos em Sustentabi-lidade Empresas pelo Clima Disponiacutevel em wwwempresaspeloclimacombr

GREEN Climate Fund Disponiacutevel em httpwwwgcfundorgfilead-min00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadi-ness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

124

httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ndash Centro de Ciecircn-cia do Sistema Terrestre - CCST-INPE UNESP 2012 Disponiacutevel em httpredeclimaccstinpebrwp-contentuploads201304RedeClima--2011-2012-mais-baixapdf

__Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pe-cuaacuteria no Brasil (p3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

_Fifth Assessment Report Climate Change 2013 The Physical Science Basis Disponiacutevel em httpwwwipccchreportar5wg1 e httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planeja-mento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente Inventaacuterio Nacional de Emissotildees At-mosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014) Disponiacutevel em httpwwwmmagovbrestruturas163_publicacao163_publicacao27072011055200pdf

MME Ministeacuterio de Minas e Energia Balanccedilo Energeacutetico Nacional ndash BEM Disponiacutevel em httpsbenepegovbrdownloadsRelatorio_Final_BEN_2013pdf

PBMC Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas 2014 Disponiacutevel em httpwwwpbmccoppeufrjbrptpublicacoesrelatorios-pbmc

SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

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SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCam-bridge University Cambridge 2006

UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change Disponiacutevel em httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=2 e httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php e httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 3: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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Sobre o Aacutegua Brasil

Em 2010 quatro importantes instituiccedilotildees brasileiras uniram-se por um objetivo comum a preservaccedilatildeo da aacutegua E da parceria entre o Banco do Brasil a Fundaccedilatildeo Banco do Brasil a Agecircncia Nacional de Aacuteguas e a WWF-Brasil surgiu o Programa Aacutegua Brasil

O Programa Aacutegua Brasil representa o posicionamento de sustentabili-dade do Banco do Brasil e sua missatildeo eacute promover transformaccedilotildees em diversas regiotildees do paiacutes a favor da conservaccedilatildeo e da gestatildeo da aacutegua

Por meio de boas praacuteticas de recuperaccedilatildeo e conservaccedilatildeo ambiental gestatildeo integrada de resiacuteduos soacutelidos e accedilotildees de inclusatildeo e promoccedilatildeo social o Programa Aacutegua Brasil desenvolveu projetos modelo que pode-ratildeo ser replicados em todo o paiacutes

Com quatro eixos de atuaccedilatildeo - Projetos Socioambientais Comunicaccedilatildeo e Engajamento Mitigaccedilatildeo de Riscos e Negoacutecios Sustentaacuteveis - o Pro-grama Aacutegua Brasil estaacute presente em sete bacias hidrograacuteficas e cinco cidades brasileiras

O Programa desenvolve ainda estudos para mitigaccedilatildeo de riscos na con-cessatildeo de creacutedito junto ao Banco do Brasil e incentivos para o financia-mento de negoacutecios sustentaacuteveis

O tema Mudanccedilas Climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humani-dade para o seacuteculo XXI Haacute fortes evidecircncias cientiacuteficas de que essa mudanccedila se deve ao aumento da concentraccedilatildeo de determinados gases na atmosfera resultantes da atividade humana O processo de aqueci-mento global afetaraacute os recursos naturais o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos a sauacutede e o meio ambiente

A questatildeo do clima comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo am-biental e em seguida foram feitos estudos sobre sua relaccedilatildeo com a produccedilatildeo e consumo inclusive de energia ateacute que se concluiu que a

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transiccedilatildeo para uma ldquoeconomia de baixo carbonordquo eacute imprescindiacutevel para a humanidade

O Banco do Brasil ciente da relevacircncia e urgecircncia do tema das mu-danccedilas climaacuteticas e a importacircncia do engajamento do setor privado nos esforccedilos para reduccedilatildeo dos gases de efeito estufa e para a adaptaccedilatildeo de comunidades em aacutereas de vulnerabilidade climaacutetica estaacute compro-metido com a transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono e o papel de lideranccedila que o Brasil pode assumir neste tema

Para saber mais sobre o Aacutegua Brasil acesse

httpbbaguabrasilcombr

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Apresentaccedilatildeo

O presente material tem por finalidade apresentar informaccedilotildees e con-sideraccedilotildees sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos principais impactos relacionados a fim de fomentar a reflexatildeo e a dis-cussatildeo sobre o assunto

Eacute importante destacar que o setor financeiro tem uma dupla ligaccedilatildeo com o tema ao financiar investir e viabilizar negoacutecios para os setores econocircmicos governamentaispuacuteblicos industriais agropecuaacuteriosrurais extrativistas e de serviccedilos e nas suas proacuteprias atividades do dia a dia

No mundo atual monitorar as mudanccedilas climaacuteticas e avaliar os princi-pais impactos sobre o nosso cotidiano e sobre a nossa forma de fazer negoacutecios satildeo iniciativas fundamentais

Fonte UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

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Sumaacuterio

Sobre o Aacutegua Brasil 3

Apresentaccedilatildeo 1

1 Introduccedilatildeo 3

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas 6

3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos 14

4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas 17

5 O Protocolo de Quioto 29

6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil 34

7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas 37

8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil 75

9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro 106

10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas 111

11 Referecircncias Bibliograacuteficas 123

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1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

5

ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

6

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

80

812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

81

bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

85

92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCam-bridge University Cambridge 2006

UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change Disponiacutevel em httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=2 e httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php e httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 4: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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transiccedilatildeo para uma ldquoeconomia de baixo carbonordquo eacute imprescindiacutevel para a humanidade

O Banco do Brasil ciente da relevacircncia e urgecircncia do tema das mu-danccedilas climaacuteticas e a importacircncia do engajamento do setor privado nos esforccedilos para reduccedilatildeo dos gases de efeito estufa e para a adaptaccedilatildeo de comunidades em aacutereas de vulnerabilidade climaacutetica estaacute compro-metido com a transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono e o papel de lideranccedila que o Brasil pode assumir neste tema

Para saber mais sobre o Aacutegua Brasil acesse

httpbbaguabrasilcombr

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Apresentaccedilatildeo

O presente material tem por finalidade apresentar informaccedilotildees e con-sideraccedilotildees sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos principais impactos relacionados a fim de fomentar a reflexatildeo e a dis-cussatildeo sobre o assunto

Eacute importante destacar que o setor financeiro tem uma dupla ligaccedilatildeo com o tema ao financiar investir e viabilizar negoacutecios para os setores econocircmicos governamentaispuacuteblicos industriais agropecuaacuteriosrurais extrativistas e de serviccedilos e nas suas proacuteprias atividades do dia a dia

No mundo atual monitorar as mudanccedilas climaacuteticas e avaliar os princi-pais impactos sobre o nosso cotidiano e sobre a nossa forma de fazer negoacutecios satildeo iniciativas fundamentais

Fonte UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

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Sumaacuterio

Sobre o Aacutegua Brasil 3

Apresentaccedilatildeo 1

1 Introduccedilatildeo 3

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas 6

3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos 14

4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas 17

5 O Protocolo de Quioto 29

6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil 34

7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas 37

8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil 75

9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro 106

10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas 111

11 Referecircncias Bibliograacuteficas 123

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1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

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ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

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2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

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812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

82

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

85

92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

121

que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

123

11 Referecircncias Bibliograacuteficas

ALBUQUERQUE Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mu-danccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no Brasil Laura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

ANEEL Agecircncia Nacional de Energia Eleacutetrica - Banco de Informaccedilotildees de Geraccedilatildeo Acesso em 22072014 httpwwwaneelgovbrareacfmidArea=15

AVZARADEL Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFFPrograma de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 2014

Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambien-tais contemporacircneas paiacutes emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

CLIMATE Policy Initiative The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentup-loads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

CNT Confederaccedilatildeo Nacional do Transporte Disponiacutevel em httpwwwcntorgbrPaginasPesquisasaspx

FGVCes Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas Centro de Estudos em Sustentabi-lidade Empresas pelo Clima Disponiacutevel em wwwempresaspeloclimacombr

GREEN Climate Fund Disponiacutevel em httpwwwgcfundorgfilead-min00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadi-ness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

124

httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais ndash Centro de Ciecircn-cia do Sistema Terrestre - CCST-INPE UNESP 2012 Disponiacutevel em httpredeclimaccstinpebrwp-contentuploads201304RedeClima--2011-2012-mais-baixapdf

__Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pe-cuaacuteria no Brasil (p3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

_Fifth Assessment Report Climate Change 2013 The Physical Science Basis Disponiacutevel em httpwwwipccchreportar5wg1 e httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planeja-mento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

MMA Ministeacuterio do Meio Ambiente Inventaacuterio Nacional de Emissotildees At-mosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014) Disponiacutevel em httpwwwmmagovbrestruturas163_publicacao163_publicacao27072011055200pdf

MME Ministeacuterio de Minas e Energia Balanccedilo Energeacutetico Nacional ndash BEM Disponiacutevel em httpsbenepegovbrdownloadsRelatorio_Final_BEN_2013pdf

PBMC Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas 2014 Disponiacutevel em httpwwwpbmccoppeufrjbrptpublicacoesrelatorios-pbmc

SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

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SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCam-bridge University Cambridge 2006

UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change Disponiacutevel em httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=2 e httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php e httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 5: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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Apresentaccedilatildeo

O presente material tem por finalidade apresentar informaccedilotildees e con-sideraccedilotildees sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos principais impactos relacionados a fim de fomentar a reflexatildeo e a dis-cussatildeo sobre o assunto

Eacute importante destacar que o setor financeiro tem uma dupla ligaccedilatildeo com o tema ao financiar investir e viabilizar negoacutecios para os setores econocircmicos governamentaispuacuteblicos industriais agropecuaacuteriosrurais extrativistas e de serviccedilos e nas suas proacuteprias atividades do dia a dia

No mundo atual monitorar as mudanccedilas climaacuteticas e avaliar os princi-pais impactos sobre o nosso cotidiano e sobre a nossa forma de fazer negoacutecios satildeo iniciativas fundamentais

Fonte UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

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Sumaacuterio

Sobre o Aacutegua Brasil 3

Apresentaccedilatildeo 1

1 Introduccedilatildeo 3

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas 6

3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos 14

4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas 17

5 O Protocolo de Quioto 29

6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil 34

7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas 37

8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil 75

9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro 106

10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas 111

11 Referecircncias Bibliograacuteficas 123

3

1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

4

um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

5

ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

6

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

7

dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

8

Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

9

Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

10

Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

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812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

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92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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MME Ministeacuterio de Minas e Energia Balanccedilo Energeacutetico Nacional ndash BEM Disponiacutevel em httpsbenepegovbrdownloadsRelatorio_Final_BEN_2013pdf

PBMC Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas 2014 Disponiacutevel em httpwwwpbmccoppeufrjbrptpublicacoesrelatorios-pbmc

SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

125

SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCam-bridge University Cambridge 2006

UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change Disponiacutevel em httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=2 e httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php e httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 6: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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Sumaacuterio

Sobre o Aacutegua Brasil 3

Apresentaccedilatildeo 1

1 Introduccedilatildeo 3

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas 6

3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos 14

4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas 17

5 O Protocolo de Quioto 29

6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil 34

7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas 37

8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil 75

9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro 106

10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas 111

11 Referecircncias Bibliograacuteficas 123

3

1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

5

ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

6

2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

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812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

82

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

85

92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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11 Referecircncias Bibliograacuteficas

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AVZARADEL Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFFPrograma de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 2014

Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambien-tais contemporacircneas paiacutes emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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124

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__Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pe-cuaacuteria no Brasil (p3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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PBMC Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas 2014 Disponiacutevel em httpwwwpbmccoppeufrjbrptpublicacoesrelatorios-pbmc

SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

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SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 7: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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1 Introduccedilatildeo

O tema mudanccedilas climaacuteticas eacute um dos grandes desafios da humanida-de para o seacuteculo XXI Anaacutelises cientiacuteficas compiladas pelo Painel Inter-governamental para Mudanccedilas do Clima (IPCC sigla em inglecircs) ressal-tam que existe probabilidade de mais de 95 de que as mudanccedilas no clima sejam ocasionadas pelo aumento de Gases de Efeito Estufa (GEE) provenientes de accedilotildees humanas As mudanccedilas climaacuteticas jaacute afetam a disponibilidade de recursos naturais impactando o acesso agrave aacutegua a produccedilatildeo de alimentos e a sauacutede1 Os impactos oriundos das mudan-ccedilas climaacuteticas podem gerar grandes perdas econocircmicas Soacute no Brasil estima-se perdas anuais de 7 bilhotildees ateacute 20202 Centenas de milhotildees de pessoas poderatildeo passar fome sofrer com a falta de aacutegua enfrentar eventos climaacuteticos extremos e inundaccedilotildees costeiras agrave medida que o clima no mundo vai se alterando

A questatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa (GEE) comeccedilou a ser analisada pela sua dimensatildeo ambiental mas atualmente qualquer poliacutetica relacionada agrave reduccedilatildeo de emissotildees estaacute diretamente relacio-nada com a produccedilatildeo e o consumo da economia mundial A transiccedilatildeo para uma economia de baixo carbono aleacutem de imprescindiacutevel para a humanidade pode trazer um aumento anual de US$ 26 trilhotildees adi-cionais ateacute 2030 se poliacuteticas governamentais melhorarem a eficiecircncia energeacutetica a gestatildeo de resiacuteduos e o transporte puacuteblico34

Um dos paiacuteses liacutederes nas discussotildees sobre as mudanccedilas do clima em funccedilatildeo de sua relevacircncia para as emissotildees mundiais de sua economia crescente e da abundacircncia de recursos naturais o Brasil eacute tambeacutem

1 STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCambridge University Cambridge 2006

2 Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas lanccedilado em 20143 Banco Mundial Climate-Smart Development Adding Up the Benefits of Actions that Help

Build Prosperity End Poverty and Combat Climate Change 20144 Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambientais contemporacircneas paiacutes

emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

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ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

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2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

9

Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

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812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

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92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

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SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

STERN N The economics of Climate Change The Stern ReviewCam-bridge University Cambridge 2006

UNEP Finance Initiative 2014 Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change Disponiacutevel em httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=2 e httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php e httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 8: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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um dos paiacuteses mais impactados pelas mudanccedilas climaacuteticas no mundo Ao instituir a Poliacutetica Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas5 e assumir o compromisso nacional voluntaacuterio de adotar accedilotildees de mitigaccedilatildeo de GEE com a meta de reduzir entre 361 e 389 suas emissotildees projetadas ateacute 2020 por meio de planos setoriais de reduccedilatildeo de emissotildees o paiacutes busca meios para mitigar as mudanccedilas do clima de forma efetiva e ga-rantir o bem-estar de seus cidadatildeos no longo prazo Nesse sentido a articulaccedilatildeo entre outras poliacuteticas puacuteblicas brasileiras e os financiamen-tos de baixo carbono satildeo fundamentais para o Brasil implementar um futuro de baixo carbono e baixo impacto para a populaccedilatildeo

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas tecircm sido um tema im-portante na discussatildeo do desenvolvimento econocircmico das principais naccedilotildees do mundo criando riscos e oportunidades para os principais setores econocircmicos A balanccedila dos riscos e oportunidades decorren-tes das mudanccedilas climaacuteticas tem mostrado que o desenvolvimento de baixo carbono pode ser uma oportunidade econocircmica associada ao respeito ambiental desenvolvimento e inclusatildeo social Contudo para que esta oportunidade seja uma realidade eacute necessaacuterio um es-forccedilo coletivo e integrado de diferentes setores da sociedade para um futuro em que a qualidade de vida das proacuteximas geraccedilotildees seja garantida Esse compromisso aumentaraacute a responsabilidade corpo-rativa do setor privado com medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos processos produtivos e dos indiviacuteduos na reavaliaccedilatildeo de seus pa-drotildees de consumo

No Brasil a vulnerabilidade climaacutetica pode se manifestar em diversas aacutereas aumento da frequecircncia e intensidade de enchentes e secas per-das na agricultura ameaccedilas agrave biodiversidade mudanccedila do regime hi-droloacutegico (com impactos sobre a capacidade de geraccedilatildeo hidreleacutetrica) expansatildeo de vetores de doenccedilas endecircmicas etc Aleacutem disso a eleva-

5 Lei nordm 12187 de 29 de dezembro de 2009 regulamentada pelo Decreto nordm 7390 de 9 de dezembro de 2010

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ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

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2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

80

812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

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82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

85

92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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11 Referecircncias Bibliograacuteficas

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Barros AFG O Brasil na governanccedila das grandes questotildees ambien-tais contemporacircneas paiacutes emergente Textos para discussatildeo CEPAL 40 IPEA 2010

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__Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pe-cuaacuteria no Brasil (p3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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PBMC Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas Relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas 2014 Disponiacutevel em httpwwwpbmccoppeufrjbrptpublicacoesrelatorios-pbmc

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SENADO Federal Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Se-nado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNA-MENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

SEROA da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima as-pectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDI-TORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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WRI World Resources Institute Climate Data Explores ndash CAIT Dis-poniacutevel em httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emis-sionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Lan-d-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

Page 9: RISCOS E OPORTUNIDADES...e Engajamento, Mitigação de Riscos e Negócios Sustentáveis -, o Pro-grama Água Brasil está presente em sete bacias hidrográficas e cinco cidades brasileiras

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ccedilatildeo do niacutevel do mar pode afetar regiotildees da costa brasileira em especial as metroacutepoles litoracircneas

As mudanccedilas climaacuteticas portanto representam um tema essencial para que se possa discutir a sustentabilidade em nosso planeta e em nossas atividades

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2 O que satildeo mudanccedilas climaacuteticas

Muito tem se falado em mudanccedilas climaacuteticas nos uacuteltimos tempos Vamos ten-tar entender um pouco mais sobre esse assunto

21 Como funciona o clima na Terra

O clima eacute uma dimensatildeo ampla de fatores que descrevem o estado atual da atmosfera Basicamente o clima eacute influenciado por variaacuteveis como a temperatura componentes de vento pressatildeo concentraccedilatildeo de vapores drsquoaacutegua e concentraccedilatildeo de aacutegua em diferentes estados

O sistema climaacutetico da Terra eacute um conjunto altamente complexo for-mado por cinco componentes principais a atmosfera (gases partiacuteculas e vapor drsquoaacutegua) a hidrosfera (aacutegua superficial e subterracircnea) a criosfe-ra (parte gelada do planeta) a superfiacutecie terrestre (terras emersas com diferentes tipos de solo) e a biosfera (conjunto dos seres vivos terrestres e oceacircnicos) A dinacircmica do clima terrestre eacute determinada por fenocircme-nos que ocorrem dentro dos componentes citados e entre eles Todos esses fatores se autoinfluenciam e a evoluccedilatildeo da atmosfera influencia os oceanos pela pressatildeo dos ventos em sua superfiacutecie o que provoca movimentos de aacuteguas superficiais (oceanos e outros) que interferem diretamente na temperatura da atmosfera que determina a evaporaccedilatildeo das aacuteguas6 (Brasil 2004 IPCC 2007)

A biosfera tambeacutem tem grande influecircncia em questotildees climaacuteticas O carbono armazenado na biosfera eacute regulado e influenciado pela fotos-siacutentese que eacute responsaacutevel por transferir o dioacutexido de carbono da atmos-fera para a biosfera e pela respiraccedilatildeo absorvendo oxigecircnio e liberando

6 Brasil Protocolo de Quioto e legislaccedilatildeo correlata Brasiacutelia Secretaria Especial de Editoraccedilotildees e publicaccedilotildees 2004 Senado Federal (Ed) Coleccedilatildeo Ambiental 3 PAINEL INTERGOVERNAMENTAL SOBRE MUDANCcedilAS CLIMAacuteTICAS (IPCC) Mudanccedila do Clima 2007 Adaptaccedilatildeo e Vulnerabilidade Contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho II ao Quarto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas Sumaacuterio para poliacuteticos Genebra 2007

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dioacutexido de carbono A decomposiccedilatildeo de mateacuteria orgacircnica tambeacutem eacute importante no fluxo de carbono da biosfera para a atmosfera na forma de dioacutexido de carbono ou monoacutexido de carbono ou ainda metano A composiccedilatildeo da biosfera ainda eacute responsaacutevel por importantes questotildees da temperatura do planeta Terra variando em funccedilatildeo da sua cobertura florestal e sua superfiacutecie A refletividade da superfiacutecie (chamada de al-bedo) depende do tipo de cobertura do solo sendo maiores em aacutereas sem cobertura vegetal o que influencia na liberaccedilatildeo de vapor de aacutegua aleacutem da evaporaccedilatildeo das superfiacutecies de aacutegua e da transpiraccedilatildeo das plantas (Brasil 2004 IPCC 2007)

Um dos principais elementos para o clima eacute a radiaccedilatildeo solar que atinge a Terra na forma de luz e calor Essa radiaccedilatildeo aquece e coloca todo o sistema climaacutetico em funcionamento O calor afeta todos os sistemas e eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida no planeta Terra A Terra inter-cepta a radiaccedilatildeo solar e uma parte dela eacute refletida de volta para o es-paccedilo pela atmosfera e pela superfiacutecie terrestre O restante eacute absorvido pelos cinco componentes do sistema climaacutetico mencionados anterior-mente A proacutepria Terra tambeacutem emite radiaccedilatildeo que ela recebe de fora mantendo a temperatura do planeta dentro de determinados limites

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Figura 1 efeito estufa natural Fonte IPCC

Disponiacutevel em httpwwwipccchpublications_and_dataar4wg1enfaq-1-3html

Esse balanccedilo de energia eacute fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra Sem a composiccedilatildeo e a relaccedilatildeo harmocircnica entre atmosfera bios-fera criosfera hidrosfera superfiacutecie terrestre e o efeito estufa natural o planeta natildeo seria habitaacutevel Se compararmos com a Lua as temperatu-ras sem a atmosfera poderiam chegar a 100ordmC durante o dia e -150ordmC durante a noite

A energia do Sol que entra na atmosfera eacute em grande parte refletida mas outra parte se manteacutem e eacute distribuiacuteda uniformemente aquecendo mais os troacutepicos do que os polos O ar mais quente tende a se expandir e tende a se mover para os locais mais frios Em conjunto com o movi-mento de rotaccedilatildeo da Terra todos estes fatores se conectam gerando um movimento complexo da atmosfera que eacute responsaacutevel pelo clima no planeta

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Figura 2 Ceacutelula de Hadley Walker que mostra a circulaccedilatildeo atmosfeacuterica Disponiacutevel em httpserccarletoneduimageseslabshurricanes3d_hadley_mdv3jpg

22 Fatores que podem afetar o equiliacutebrio climaacutetico

Diferentes fenocircmenos podem afetar o equiliacutebrio entre a radiaccedilatildeo que entra e a que sai da Terra levando ao aquecimento ou ao resfriamento do sistema climaacutetico Tais fenocircmenos podem ser naturais ou fruto de atividades humanas Dentre esses fenocircmenos destacam-se a ativida-de solar alteraccedilotildees na oacuterbita da Terra a variaccedilatildeo climaacutetica natural os aerossoacuteis e alteraccedilotildees no efeito estufa

Os trecircs primeiros satildeo fenocircmenos naturais poreacutem os dois uacuteltimos aleacutem de serem processos naturais satildeo tambeacutem influenciados pelas ativida-des humanas conforme explicado a seguir

23 As mudanccedilas climaacuteticas

A Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC) define ldquoMudanccedilas no Climaldquo como

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Significa uma mudanccedila de clima que possa ser dire-ta ou indiretamente atribuiacuteda agrave atividade humana que altere a composiccedilatildeo da atmosfera mundial e que se some agravequela provocada pela variabilidade climaacutetica natural observada ao longo de periacuteodos comparaacuteveis (Brasil 2004 p69)

Jaacute o Painel Intergovernamental sobre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC) apre-senta outra definiccedilatildeo de mudanccedila climaacutetica

Mudanccedila climaacutetica refere-se a uma variaccedilatildeo estatisti-camente significativa nas condiccedilotildees meacutedias do clima ou em sua variabilidade que persiste por um longo pe-riacuteodo ndash geralmente deacutecadas ou mais Pode advir de processos naturais internos ou de forccedilamentos natu-rais externos ou ainda de mudanccedilas antropogecircnicas persistentes na composiccedilatildeo da atmosfera ou no uso do solo (IPCC 2001)

O aquecimento global fenocircmeno ocasionado pelo aumento da con-centraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera tem se apre-sentado como um problema de gravidade crescente impactando sig-nificativamente as condiccedilotildees de vida na Terra O aumento do niacutevel dos oceanos o crescimento e o surgimento de desertos o aumento do nuacute-mero de furacotildees tufotildees e ciclones e a observaccedilatildeo de ondas de calor em regiotildees de temperatura tradicionalmente amena satildeo os exemplos mais notoacuterios desse fenocircmeno motivando a adoccedilatildeo de medidas para o seu combate

Dessa forma aquecimento global eacute o aumento da temperatura meacutedia dos oceanos e da camada de ar proacutexima agrave superfiacutecie da Terra que pode ser consequecircncia de causas naturais e de atividades humanas

O efeito estufa corresponde a uma camada de gases que cobre a su-perfiacutecie da Terra Essa camada eacute composta principalmente por gaacutes car-

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bocircnico ou dioacutexido de carbono (CO2) gaacutes metano (CH4) oacutexido nitroso (N2O) e vapor drsquoaacutegua e eacute um fenocircmeno natural fundamental para a manutenccedilatildeo da vida na Terra pois sem ela o planeta poderia se tornar muito frio inviabilizando a sobrevivecircncia de diversas espeacutecies

Normalmente parte da radiaccedilatildeo solar que chega ao nosso planeta eacute re-fletida e retorna diretamente para o espaccedilo outra parte eacute absorvida pelos oceanos e pela superfiacutecie terrestre e uma parte eacute retida por essa camada de gases o que causa o chamado efeito estufa O problema natildeo eacute o fenocirc-meno natural mas o agravamento dele Como muitas atividades humanas emitem uma grande quantidade de gases formadores do efeito estufa os chamados GEE essa camada tem ficado cada vez mais espessa reten-do mais calor na Terra aumentando a temperatura da atmosfera terrestre e dos oceanos e ocasionando o aquecimento global

Entre os principais Gases de Efeito Estufa (GEE) o vapor drsquoaacutegua ape-sar de ser o mais poderoso eacute gerado apenas por evaporaccedilatildeo podendo ser aumentado pela emissatildeo dos outros gases que elevam a tempera-tura e geram mais liberaccedilatildeo de vapor drsquoaacutegua Os outros gases (CO2 CH4 e N2O) satildeo provenientes de processos naturais e de fontes antroacute-picas ndash aquilo que resulta da accedilatildeo humana O CO2 eacute atualmente o gaacutes mais lanccedilado na atmosfera e dentre os trecircs o com maior potencial de gerar efeito estufa seguido pelo CH4 e N2O Poreacutem o forccedilamento ra-dioativo7 desses gases eacute inverso sendo o metano 21 vezes e o oacutexido nitroso 310 vezes maior do que o CO2 Existem ainda gases produzidos exclusivamente pela accedilatildeo humana como o clorofluorcarbono (CFC) os hidrofluorcarbonos (HFC) o perfluorcarbono (PFC) e o hexafluoreto de enxofre (SF6) A porcentagem e a liberaccedilatildeo desses gases tecircm efeitos na manutenccedilatildeo do equiliacutebrio climaacutetico global

7 Forccedilamento radioativo capacidade de um gaacutes em causar alteraccedilotildees no clima (IPCC 2007)

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24 Exemplos de alguns acontecimentos recentes decorrentes das mudanccedilas climaacuteticas

Apenas para ficar em alguns exemplos podemos mencionar que uma consequecircncia da estiagem e das altas temperaturas estaacute assombrando Satildeo Paulo a maior metroacutepole da Ameacuterica do Sul o esgotamento dos mananciais que fazem parte do Sistema Cantareira que abastece boa parte da regiatildeo metropolitana de Satildeo Paulo e outras grandes cidades do Estado como Campinas As perspectivas futuras natildeo satildeo positivas a precipitaccedilatildeo de chuvas ateacute outubro de 2014 ficou aqueacutem do espera-do e a cidade pode chegar ao colapso do seu sistema de abastecimen-to de aacutegua potaacutevel Se o proacuteximo veratildeo for ainda mais seco o abasteci-mento de aacutegua na capital paulista estaraacute fortemente comprometido no curto e no meacutedio prazo Na situaccedilatildeo em que estamos hoje para recupe-rar os mananciais e estabilizar a captaccedilatildeo de aacutegua para abastecimento seria necessaacuterio que chovesse acima da meacutedia dos uacuteltimos anos nos proacuteximos trecircs verotildees Se a situaccedilatildeo piorar a recuperaccedilatildeo se torna ainda mais complicada de acontecer em um futuro proacuteximo

No hemisfeacuterio norte o inverno em 2014 foi disfuncional Na Ameacuterica do Norte o voacutertice polar congelou o Canadaacute e o norte dos Estados Unidos por semanas com temperaturas que chegaram ateacute a faixa entre -40ordmC e -50ordmC No norte da Europa por outro lado eventos esportivos de inver-no tiveram que ser cancelados pela falta de neve na Escandinaacutevia Em boa parte do continente europeu o inverno foi muito mais quente que a meacutedia de anos recentes

Em uma dimensatildeo maior e bem mais cruel os Baacutelcatildes particularmente a Boacutesnia-Herzegovina a Seacutervia e a Croaacutecia vivenciaram a pior cataacutestrofe climaacutetica dos uacuteltimos 120 anos Em pouco mais de quatro dias em maio de 2014 choveu o previsto para trecircs meses O prejuiacutezo foi de bilhotildees de doacutelares e 49 pessoas morreram

Na Ameacuterica do Sul em contraste com a seca no sudeste brasileiro a Boliacutevia viveu um dos seus verotildees mais chuvosos da histoacuteria recente o

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que resultou na cheia histoacuterica dos rios da bacia amazocircnica entre fe-vereiro e marccedilo de 2015 No Brasil houve reflexo O excesso de aacutegua isolou fisicamente o Estado do Acre do restante do paiacutes por semanas

A associaccedilatildeo entre esses eventos climaacuteticos especiacuteficos e as mudan-ccedilas do clima natildeo eacute factualmente simples mas a maior ocorrecircncia des-ses eventos nos uacuteltimos meses nos ajuda a entender como eacute viver em um mundo climaticamente instaacutevel

25 Conclusatildeo

O que podemos tirar desse cenaacuterio mais extremo eacute que as mudanccedilas climaacuteticas nos trazem desafios que vatildeo aleacutem da reduccedilatildeo das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) O desafio da adaptaccedilatildeo se torna cada vez mais dramaacutetico na medida em que avanccedilamos o ldquofarol vermelhordquo do aumento da temperatura meacutedia global Em grande parte sua urgecircncia estaacute associada com a nossa incapacidade de agir efetivamente nas uacutel-timas duas deacutecadas ndash estamos discutindo mudanccedilas climaacuteticas haacute pelo menos 20 anos ndash para reduzir as emissotildees globais de GEE O Protocolo de Quioto (acordo internacional voltado para a reduccedilatildeo das emissotildees de GEE) assinado em 1997 somente entrou em vigor em 2005 e mes-mo assim sem a presenccedila do entatildeo principal emissor do planeta os Estados Unidos Hoje ainda em vigor ele trata apenas de uma parte do problema visto que o Protocolo natildeo prevecirc compromissos obrigatoacuterios de reduccedilatildeo para os paiacuteses emergentes que hoje satildeo muito mais repre-sentativos no consumo das emissotildees do que haacute 20 anos (especialmente China Iacutendia e Brasil)

Mais adiante neste material voltaremos ao assunto

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3 Por que eacute importante se falar de mudanccedilas climaacuteticas ndash consequecircnciasimpactos

As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas criam riscos e oportunida-des para os principais setores econocircmicos

As alteraccedilotildees climaacuteticas satildeo um dos grandes desafios que a sociedade enfrenta na busca pelo desenvolvimento sustentaacutevel As consequecircncias das mudanccedilas climaacuteticas afetam natildeo apenas o bem-estar humano e os ecossistemas mas tambeacutem os padrotildees de consumo e de produccedilatildeo

A preocupaccedilatildeo com os efeitos das mudanccedilas climaacuteticas na vida do pla-neta tem ganhado cada vez mais espaccedilo nos estudos acadecircmicos nas poliacuteticas governamentais nas accedilotildees dos setores puacuteblico e privado e em iniciativas de organizaccedilotildees natildeo governamentais enfim da sociedade como um todo O maior interesse pelas consequecircncias das alteraccedilotildees no clima aumentou com a intensificaccedilatildeo dos fenocircmenos naturais como ondas de calor secas furacotildees enchentes e aumento do niacutevel do mar Tambeacutem as pesquisas cientiacuteficas colaboram para que o tema tenha maior evidecircncia pois apontam que com o crescimento da concentra-ccedilatildeo na atmosfera de Gases de Efeito Estufa (GEE) resultantes princi-palmente da queima de combustiacuteveis foacutesseis (carvatildeo mineral petroacuteleo e gaacutes natural) e da derrubada de florestas tropicais a temperatura do planeta subiu quase 1 grau Celsius nos uacuteltimos 100 anos e em algumas regiotildees esse aquecimento chegou a ateacute 2 graus Celsius

Historicamente por conta do desenvolvimento industrial os paiacuteses de-senvolvidos tecircm sido responsaacuteveis pela maior parte das emissotildees de GEE mas os paiacuteses em desenvolvimento vecircm aumentando considera-velmente suas emissotildees

Existem vaacuterias maneiras de reduzir as emissotildees dos Gases de Efeito Es-tufa (GEE) e os efeitos no aquecimento global Diminuir o desmatamento investir no reflorestamento e na conservaccedilatildeo de aacutereas naturais incentivar o uso de energias renovaacuteveis natildeo convencionais (solar eoacutelica biomassa

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e Pequenas Centrais Hidreleacutetricas) preferir a utilizaccedilatildeo de biocombus-tiacuteveis (etanol biodiesel) a combustiacuteveis foacutesseis (gasolina oacuteleo diesel) investir na reduccedilatildeo do consumo de energia e na eficiecircncia energeacutetica reduzir reaproveitar e reciclar materiais investir em tecnologias de baixo carbono e melhorar o transporte puacuteblico com baixa emissatildeo de GEE satildeo algumas das possibilidades E essas medidas podem ser estabelecidas por meio de poliacuteticas nacionais e internacionais de clima

Em outra frente as ldquobatalhasrdquo por alimento e aacutegua devem eclodir den-tro de cinco a dez anos devido aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas Essa projeccedilatildeo do presidente do Banco Mundial Jim Yong Kim foi feita durante entrevista ao jornal britacircnico The Guardian em abril de 2014 A fim de manter o aquecimento global abaixo do limite acordado inter-nacionalmente de 2 graus Celsius Kim observou que o mundo precisa de um plano para mostrar que estaacute comprometido com a meta Ele deli-neou quatro aacutereas em que o Banco Mundial poderia ajudar a combater a mudanccedila climaacutetica investir em cidades mais limpas e sustentaacuteveis encontrar um preccedilo estaacutevel para o carbono reduzir os subsiacutedios aos combustiacuteveis foacutesseis e desenvolver uma agricultura mais inteligente e resistente ao clima

Os comentaacuterios de Kim seguem a publicaccedilatildeo da segunda parte do quin-to relatoacuterio do IPCC que advertiu que nenhuma naccedilatildeo ficaria intocada pelo aquecimento global O relatoacuterio tambeacutem alertou para os efeitos que as mudanccedilas climaacuteticas teriam sobre os preccedilos dos alimentos assim como em muitas outras aacutereas como recursos hiacutedricos A produtividade agriacutecola pode cair 2 por deacutecada ateacute o final do seacuteculo ao passo que a demanda deveraacute aumentar 14 ateacute 2050

Atualmente no Brasil as mutaccedilotildees climaacuteticas com rios e coacuterregos to-talmente secos em algumas regiotildees assustam A navegabilidade do Rio Tietecirc em Satildeo Paulo estaacute praticamente interrompida em todo o seu curso O governo brasileiro jaacute pensa em criar por exemplo novas usi-nas nucleares a Usina Nuclear Angra 3 jaacute estaacute em andamento para ser entregue em 2018

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Analisando as mudanccedilas climaacuteticas Rachel Kyte do Banco Mundial reconhece o problema A escassez de aacutegua ameaccedila a viabilidade em longo prazo de projetos de energia em todo o mundo Mostrando a gra-vidade do quadro Kyte observa que apenas no ano passado a falta de aacutegua forccedilou o fechamento de usinas teacutermicas na Iacutendia causou o decliacutenio nas plantas de produccedilatildeo de energia nos Estados Unidos e a capacidade hidreleacutetrica foi ameaccedilada em muitos paiacuteses incluindo Sri Lanka China e Brasil Satildeo Paulo a maior cidade brasileira sente o dra-ma em seu cotidiano

Satildeo vaacuterias as consequecircncias do aquecimento global e algumas delas jaacute podem ser sentidas em diferentes partes do globo Os cientistas ob-servam que o aumento da temperatura meacutedia do planeta tem elevado o niacutevel do mar devido ao derretimento das calotas polares podendo ocasionar o desaparecimento de ilhas e cidades litoracircneas densamente povoadas E haacute previsatildeo de uma frequecircncia maior de eventos extremos climaacuteticos (tempestades tropicais inundaccedilotildees ondas de calor secas nevascas furacotildees tornados) com graves consequecircncias para popu-laccedilotildees humanas e ecossistemas naturais podendo ocasionar a extin-ccedilatildeo de espeacutecies de animais e de plantas

Em nosso paiacutes as mudanccedilas do uso do solo e o desmatamento satildeo res-ponsaacuteveis pela maior parte das nossas emissotildees As aacutereas de florestas e os ecossistemas naturais satildeo grandes reservatoacuterios e sumidouros de carbono por sua capacidade de absorver e estocar CO2 Mas quando acontece um incecircndio florestal ou uma aacuterea eacute desmatada esse carbono eacute liberado para a atmosfera contribuindo para o efeito estufa e o aque-cimento global Aleacutem disso as emissotildees de GEE por outras atividades como agropecuaacuteria e geraccedilatildeo de energia vecircm aumentando considera-velmente ao longo dos anos

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4 O histoacuterico das mudanccedilas climaacuteticas

Desde o ano de 1750 a atividade humana tem se transformado e alte-rado o equiliacutebrio dinacircmico do processo climaacutetico no planeta Isso tem acontecido por causa do aquecimento global do efeito estufa e de ou-tros fenocircmenos como por exemplo o aumento da reflexibilidade do so-lo8 A Revoluccedilatildeo Industrial iniciada na segunda metade do seacuteculo XVIII foi o iniacutecio do aumento substancial das emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) de fonte antroacutepica (resultante da accedilatildeo do homem) para a atmosfera Foi uma revoluccedilatildeo que reorganizou atividades humanas trazendo novos materiais e processos o que demandou um aumento da necessidade de energia A produccedilatildeo industrial cresceu vertiginosa-mente em todos os setores e isso exigiu um aumento da demanda por recursos naturais

O papel da accedilatildeo humana no aquecimento global fica evidente em anaacute-lises da oscilaccedilatildeo da temperatura no decorrer do seacuteculo XX quando foram considerados resultados esperados para a temperatura com a atividade humana (faixa vermelha na figura a seguir) e somente com forccedilamentos naturais (faixa azul na figura a seguir) a linha preta mostra a temperatura efetivamente observada

8 IPCC 2007

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Figura 3 Simulaccedilotildees de temperatura - IPCC 2007

Essas simulaccedilotildees indicam a forte ligaccedilatildeo da accedilatildeo antroacutepica com a osci-laccedilatildeo da temperatura no seacuteculo passado O aquecimento global perce-bido no uacuteltimo seacuteculo foi registrado pela comunidade cientiacutefica como au-mentos anocircmalos de temperatura em relaccedilatildeo aos 1300 anos anteriores

Com relaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas os primeiros estudos de impacto comeccedilaram a aparecer na deacutecada de 1980 com o marco do Relatoacuterio Brundtland ndash Nosso Futuro Comum (1987) que mencionou as mudan-ccedilas climaacuteticas como o maior desafio ambiental a ser enfrentado pelo desenvolvimento

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A partir daiacute podemos mencionar os seguintes marcos

bull 1988 aconteceu a Conferecircncia Mundial sobre Mudanccedilas Atmos-feacutericas (The Changing Atmosfere Implications for Global Security) quando foi agilizada a adoccedilatildeo de uma convenccedilatildeo internacional so-bre o tema Em novembro desse mesmo ano de 1988 o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente (UNEP ndash United Nations Environment Programme) em colaboraccedilatildeo com a WMO (World Me-tereological Organization) criou o Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC ndash Intergovernamental Panel on Climate Change) um grupo de trabalho responsaacutevel pela compi-laccedilatildeo da evoluccedilatildeo teacutecnica e cientiacutefica das questotildees climaacuteticas composto por uma equipe de mais de dois mil cientistas do mundo inteiro que frequentemente emitem um relatoacuterio sobre a evoluccedilatildeo dos aspectos das mudanccedilas climaacuteticas e seus possiacuteveis impactos9 O IPCC permanece sendo o principal oacutergatildeo de anaacutelise e elaboraccedilatildeo de relatoacuterios sobre o conhecimento do estado da arte das mudanccedilas climaacuteticas globais

bull 1990 o IPCC publica o seu ldquoPrimeiro Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeordquo confirmando a evidecircncia cientiacutefica das mudanccedilas climaacuteticas Esse relatoacuterio afirma que para os Gases de Efeito Estufa (GEE) de lon-ga vida como o dioacutexido de carbono (CO2) ldquoseriam necessaacuterias re-duccedilotildees imediatas das emissotildees geradas pelas atividades humanas acima de 60rdquo para poder estabilizar suas concentraccedilotildees atmosfeacute-ricas em niacuteveis de 1990

Com a publicaccedilatildeo do relatoacuterio que ressaltava o significativo aumento da concentraccedilatildeo de GEE nos uacuteltimos 150 anos a preocupaccedilatildeo com as mudanccedilas climaacuteticas comeccedilou a chamar a atenccedilatildeo dos poliacuteticos internacionais

Neste primeiro relatoacuterio o IPCC anunciou que os cincos anos mais

9 Avzaradel Pedro Curvello Saavedra 2008 Mudanccedilas Climaacuteticas risco e reflexividade UFF Programa de Poacutes- Graduaccedilatildeo em Sociologia e Direito

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quentes jamais registrados haviam ocorrido na deacutecada de 1980 Dali em diante essa afirmaccedilatildeo ganharia atualizaccedilotildees frequentes revelando recordes cada vez mais preocupantes

bull 1992 com a preocupaccedilatildeo cientiacutefica na Conferecircncia das Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED ndash Uni-ted Nations Conference on Environment and Development) a cha-mada ldquoCuacutepula da Terrardquo sediada no Rio de Janeiro foi instituiacuteda a Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (CQNUMC ou em Inglecircs UNFCCC ndash The United Nations Framework Convention on Climate Change) uma iniciativa global para o encaminhamento do problema do aquecimento atmosfeacuterico10

A criaccedilatildeo da Convenccedilatildeo-Quadro foi assinada pelos governos presentes na ldquoCuacutepula da Terrardquo incluindo o entatildeo presidente dos EUA George Bush Nela os paiacuteses industrializados adotaram uma ldquometardquo natildeo obri-gatoacuteria para ateacute o ano 2000 retornar as emissotildees aos niacuteveis de 1990

bull 1994 entra em vigor a UNFCCC obrigatoacuteria para os paiacuteses que a ratificaram

bull 1995 eacute divulgado o segundo relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que os uacuteltimos anos estavam entre os mais quentes (IPCC 1995) Esse relatoacuterio aborda a seguinte questatildeo os humanos estatildeo causando as mudanccedilas climaacuteticas ou as mudanccedilas climaacuteticas ocor-rem por uma flutuaccedilatildeo natural Para responder a essa questatildeo o relatoacuterio atesta que ldquoo balanccedilo das evidecircncias sugere que haacute uma influecircncia humana perceptiacutevel no clima globalrdquo

bull 1995 eacute realizada a Primeira Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 1rdquo) em Berlim na Alemanha Daacute origem ao chamado ldquoManda-to de Berlimrdquo uma rodada de dois anos de conversas para negociar um protocolo ou outro instrumento legal para reduccedilatildeo de emissotildees

10 KLIGERMAN DC ldquoMultilateral Environmental Agreements (Meas) and Adaptationrdquo SSN Adaptation Program Report Programa de Planejamento Energeacutetico COPPE UFRJ agosto de 2005

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bull 1997 eacute firmado o Protocolo de Quioto (PK) em Quioto no Japatildeo (ldquoCOP 3rdquo) contendo metas de reduccedilatildeo de emissotildees obrigatoacuterias para os paiacuteses desenvolvidos a serem cumpridas ao longo do periacute-odo de 2008 a 2012

bull 2001 lanccedilado o terceiro relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC que afirmou que 1998 e os anos 1990 foram o ano e a deacutecada mais quentes que se tinha registro (IPCC 2001) O relatoacuterio indicou que ldquohaacute evidecircncias novas e mais fortes de que a maior parte do aquecimento observado durante os uacuteltimos 50 anos eacute atribuiacutevel a atividades humanasrdquo

bull 2001 durante a seacutetima Conferecircncia das Partes da UNFCCC (ldquoCOP 7rdquo) eacute formado o ldquolivro de regrasrdquo para os mecanismos do Protocolo de Quioto como o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) a Implementaccedilatildeo Conjunta e o comeacutercio de emissotildees

bull 2005 entra em vigor o Protocolo de Quioto apoacutes a ratificaccedilatildeo da Ruacutessia Realizada a Primeira Reuniatildeo das Partes do Protocolo de Quioto ldquoformalrdquo (ldquoCOP MOP 1 - do inglecircs meeting of parts)rdquo em paralelo com a ldquoCOP 11rdquo da UNFCCC) as partes concordam em ne-gociar novos compromissos no acircmbito do protocolo como o acordo de ldquonatildeo haver lacunasrdquo depois de 2012 Outras informaccedilotildees sobre o protocolo estatildeo no item 5 deste material

bull Lanccedilado o Relatoacuterio Stern O Relatoacuterio Stern (relatoacuterio do econo-mista britacircnico Nicholas Stern encomendado pelo governo britacircnico e lanccedilado em 2006) revolucionou o debate em torno das mudanccedilas climaacuteticas ao expressar pela primeira vez de forma quantitativa que o total dos custos e riscos das alteraccedilotildees climaacuteticas seraacute equivalente agrave perda anual de no miacutenimo 5 do PIB global permanentemente e que se forem levados em conta uma seacuterie de riscos e impactos mais amplos as estimativas dos danos poderiam aumentar para 20 ou mais do PIB global

A conclusatildeo central do estudo eacute que a inaccedilatildeo eacute consideravelmente mais cara que a accedilatildeo pois os custos da adoccedilatildeo de medidas de mitigaccedilatildeo

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que estabilizem as emissotildees em 500 ppm e o aumento da temperatura em menos de 2degC ateacute 2100 giram em torno de 1 a 3 do PIB mundial anual Ou seja os benefiacutecios de uma accedilatildeo forte e imediata para enfren-tar as mudanccedilas climaacuteticas ultrapassam de longe os custos de poster-gar a accedilatildeo ou natildeo agir em absoluto (FGVCes EPC 2010)

O relatoacuterio tambeacutem afirma que se natildeo forem tomadas medidas para a reduccedilatildeo das emissotildees a concentraccedilatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera poderaacute atingir o dobro do seu niacutevel preacute-industrial jaacute em 2035 sujeitando-nos praticamente a um aumento da temperatura meacutedia global de mais de 2ordmC O relatoacuterio apontou ainda que em longo prazo haacute mais de 50 de possibilidade de que o aumento da tempera-tura venha a exceder os 5ordmC

bull 2007 o IPCC lanccedilou seu quarto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo com dados atualizados relatando que entre 1995 e 2006 estariam os onze dos doze anos mais quentes registrados (IPCC 2007)11

bull 2009 na Cuacutepula de Copenhague (ldquoCOP 15rdquo MOP 5) foi firmado o ldquoAcordo de Copenhaguerdquo (natildeo vinculante a metas obrigatoacuterias) com anexos de metas nacionais submetidas pelos paiacuteses tais como a meta de 2 graus (tambeacutem natildeo obrigatoacuteria) e um pacote de fast-tra-ck finance (compromisso dos paiacuteses desenvolvidos de mobilizar US$ 100 bilhotildees em financiamento climaacutetico ateacute 2020)

bull 2010 os ldquoAcordos de Cancunrdquo na ldquoCOP 16rdquo formalizam as pro-postas do ldquoAcordo de Copenhaguerdquo dentro do processo da ONU formando uma estrutura para novas negociaccedilotildees e compromissos em diversas aacutereas como adaptaccedilatildeo transferecircncia de tecnologia desmatamento novos mecanismos de mercado e monitoramento aleacutem de reporte e verificaccedilatildeo

11 Albuquerque Laura Anaacutelise Criacutetica das Poliacuteticas Puacuteblicas em Mudanccedilas Climaacuteticas e dos Compromissos Nacionais de Reduccedilatildeo de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa no BrasilLaura Albuquerque ndash Rio de Janeiro UFRJCOPPE 2012

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bull 2011 na ldquoCOP 17rdquo em Durban na Aacutefrica do Sul satildeo dados os uacutelti-mos passos para a extensatildeo de meacutedio prazo do Protocolo de Quioto no poacutes-2012 para a estrutura de um novo acordo global em longo prazo (a Plataforma Durban) bem como para o set-up e operaciona-lizaccedilatildeo do Fundo Verde para o Clima

bull 2012 na ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foram finalizadas as regras para um segundo periacuteodo do Compromisso do Protocolo de Quio-to (CP2) O Protocolo de Quioto foi prorrogado ateacute 2020 (visto que muitos paiacuteses natildeo atingiram as metas estabelecidas) Foram tam-beacutem discutidos avanccedilos para aumentar a ambiccedilatildeo preacute-2020 para desenvolver uma estrutura poacutes-2020 e para consolidar outras aacutereas de negociaccedilatildeo

bull 2013 na ldquoCOP 19rdquo em Varsoacutevia na Polocircnia o foco foi na mudan-ccedila para discussotildees de alto niacutevel mais abstratas buscando um pro-gresso mais concreto nas negociaccedilotildees que garantam as bases ne-cessaacuterias para colocar em vigor um acordo global a ser alcanccedilado em 2015 Isso exige a construccedilatildeo de um impulso poliacutetico para 2015 que desenvolva os ingredientes principais tais como o Fundo Verde para o Clima accedilotildees nacionais em todos os paiacuteses a ratificaccedilatildeo e a entrada em vigor do segundo periacuteodo de compromisso do Protoco-lo de Quioto bem como os progressos no acircmbito da Plataforma de Durban para uma Accedilatildeo Reforccedilada ou o reforccedilo da ambiccedilatildeo preacute-2020 por meio de uma seacuterie de accedilotildees possiacuteveis

bull 2014 o IPCC divulgou seu quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo relatan-do com uma probabilidade de mais de 95 de intervalo de confian-ccedila que as mudanccedilas nas temperaturas globais estatildeo sendo ocasio-nadas por atividades humanas

bull 2014 na ldquoCOP 20rdquo em Lima no Peru primeira Conferecircncia de Clima na Ameacuterica do Sul os paiacuteses concordaram nos elementos base do novo acordo previsto para ser concluiacutedo na COP 21 em Paris (2015)

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Ao mesmo tempo acordaram as regras baacutesicas sobre como todos os paiacuteses podem enviar contribuiccedilotildees para o novo acordo12

bull 2015 seraacute realizada em Paris a ldquoCOP 21rdquo que poderaacute ser um mar-co nas negociaccedilotildees internacionais pois teraacute o objetivo de finalizar as negociaccedilotildees do proacuteximo acordo climaacutetico que comeccedilaraacute a vigorar apoacutes 2020

bull 2020 fim do segundo periacuteodo do Compromisso de Quioto (CP2) pra-zo para o novo acordo global previsto para entrar em vigor O finan-ciamento climaacutetico poderaacute crescer acima de US$ 100 bilhotildees ao ano a partir de 202013 Prazo suficiente para a ambiccedilatildeo de meacutedio prazo ter sido alcanccedilada mantendo o aumento de temperatura em 2degC

A UNFCCC ou Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mu-danccedila do Clima que entrou em vigor em marccedilo de 1994 foi assinada por 189 paiacuteses e iniciou suas negociaccedilotildees baseando as discussotildees na responsabilidade comum de todos os paiacuteses em combater as mudan-ccedilas climaacuteticas mas com responsabilidades diferentes diante da contri-buiccedilatildeo histoacuterica dos paiacuteses para a emissatildeo de Gases de Efeito Estufa (GEE) Tambeacutem determinou que paiacuteses industrializados e de economias em transiccedilatildeo deveriam conduzir esforccedilos na mitigaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas e apoio financeiro aos paiacuteses em desenvolvimento em accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas A Convenccedilatildeo teve como objetivo uacuteltimo a estabilizaccedilatildeo da concentraccedilatildeo de Gases de Efeito Estufa na atmosfera em tal niacutevel que mantivesse a elevaccedilatildeo da temperatura em niacuteveis seguros para os processos socioambientais no mundo permitindo que os ecossistemas se adaptassem naturalmente agraves mudanccedilas climaacuteticas

12 httpunfcccintresourcedocs2014cop20eng10a01pdfpage=213 httpunfcccintbodiesgreen_climate_fund_boardbody6974php

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Figura 4 Aumento das emissotildees e da temperatura Fonte United Nations Environment Programme ndash UNEP (ou em Portuguecircs Programa das

Naccedilotildees Unidas para o Meio Ambiente ndash PNUMA) 2012

As Conferecircncias das Partes de Clima da UNFCCC (COP ndash Confe-rence of Parties) reuniotildees de negociaccedilatildeo intergovernamental mundial para a regulamentaccedilatildeo sobre questotildees referentes agraves mudanccedilas climaacute-ticas discussatildeo e implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias para concre-tizar a UNFCCC desde 1995 promovem encontros regulares e devem observar o cumprimento dos compromissos assumidos para alcanccedilar os objetivos da Convenccedilatildeo divulgar novas questotildees cientiacuteficas e verifi-car a eficaacutecia dos programas nacionais de mudanccedilas climaacuteticas Uma das tarefas principais da COP eacute revisar as Comunicaccedilotildees Nacionais e a submissatildeo dos inventaacuterios de GEE De posse dessas informaccedilotildees a COP analisa os efeitos das medidas tomadas pelas partes e o progres-so em atingir o respectivo objetivo da Convenccedilatildeo (UNFCCC 2012)

O uacuteltimo relatoacuterio do Painel de Cientistas da ONU ndash quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC ndash divulgado em 2014 reafirma que os combustiacuteveis

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foacutesseis continuam sendo o maior vilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas sendo o gaacutes carbocircnico (CO2) responsaacutevel por 76 das emissotildees de GEE e 10 paiacuteses satildeo responsaacuteveis por mais de 70 das emissotildees mundiais O relatoacuterio ressalta que para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute o ano de 2100 seratildeo necessaacuterias grandes mudanccedilas na matriz energeacutetica e grandes reduccedilotildees nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

Apesar da crise econocircmica global de 20072008 ter reduzido as emis-sotildees nesse periacuteodo a tendecircncia de aumento das emissotildees continua e as emissotildees globais cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano) e tendem a continuar crescendo Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na at-mosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacuteodo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 englobando o periacuteodo de 1750 a 2010

Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 ocorreram a partir do setor industrial (30) O relatoacuterio reafirma que na uacuteltima deacutecada o crescimento econocircmico e da populaccedilatildeo tem impulsionado o aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir essas emissotildees a tendecircncia de aumento deve continuar

Outros pontos importantes ressaltados pelo quinto relatoacuterio do IPCC

bull A concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global su-perior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-industriais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas nego-ciaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacutexico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Seraacute necessaacuterio triplicar a percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono ou que natildeo emitem carbono em sua operaccedilatildeo pelo menos ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa (GEE) teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem ateacute 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exigi-raacute novos padrotildees de investimento Especificamente o investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e de extraccedilatildeo Seraacute neces-saacuteria uma diminuiccedilatildeo de US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) nessas matrizes enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (meacutedia +100 ) Para uma perspectiva o investimento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

O relatoacuterio termina enfatizando que as promessas feitas pelos gover-nos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun natildeo seratildeo suficientes A uacuteltima parte do relatoacuterio reforccedila a urgecircncia ambiental que o mundo estaacute enfrentando se forem postergados investimentos e iniciativas de mitigaccedilatildeo das emissotildees para depois de 2030 seraacute muito difiacutecil manter o aquecimento global abaixo dos niacuteveis de 2ordmC

Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

Mais informaccedilotildees sobre o quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo do IPCC estatildeo no item 7 deste material

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Governanccedila da UNFCCC

A Conferecircncia da Partes ndash COP eacute a maior autoridade na UNFCCC Eacute uma associaccedilatildeo que inclui todos os paiacuteses membros do Protocolo de Quioto e em geral se reuacutene anualmente durante duas semanas O puacuteblico da conferecircncia inclui delegados de governos observadores de organizaccedilotildees e jornalistas Jaacute foram realizadas 20 conferecircncias

Aleacutem do IPCC e da COP foram criadas outras entidades para auxiliar na implementaccedilatildeo da UNFCCC Satildeo elas

bull CLIMATE CHANGE SECRETARIAT ndash Secretariado da Convenccedilatildeo do Clima (UNFCCC) responsaacutevel por organizar as COP elaborar e transmitir relatoacuterios prestar assistecircncia agraves partes estabelecer mecanismos administrativos e contratuais e demais funccedilotildees de secretariado

bull SBSTA (Subsidiary Body for Scientific and Technical Advice) ndash Corpo Subsidiaacuterio para o Conselho Cientiacutefico e Teacutecnico que deve manter a COP informada e aconselhaacute-la sobre as questotildees cientiacutefi-cas e tecnoloacutegicas relacionadas ao IPCC e ao UNFCCC

bull SBI (Subsidiary Body for Implementation) ndash Corpo Subsidiaacuterio para Execuccedilatildeo que auxilia os participantes da UNFCCC na avaliaccedilatildeo e na implementaccedilatildeo da Convenccedilatildeo

bull GEF (Global Environment Facility) ndash Fundo Ambiental Global es-tabelecido em 1991 para operar como financiador da UNFCCC dando suporte aos paiacuteses elegiacuteveis para que eles alcancem seus objetivos Tido atualmente como o maior fundo do planeta para projetos ambientais

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5 O Protocolo de Quioto

O Protocolo de Quioto assinado em 1997 e que entrou em vigor em 2005 eacute um tratado internacional que estipulou metas de reduccedilotildees obrigatoacuterias dos principais Gases de Efeito Estufa (GEE) em uma meacutedia de 52 para o periacuteodo de 2008 a 2012 em relaccedilatildeo aos niacuteveis de 1990 Apesar da resistecircncia por parte de alguns paiacuteses desenvolvidos foi acordado o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo Assim os paiacuteses desenvolvidos e industrializados (integrantes do Anexo I da UN-FCCC) por serem responsaacuteveis histoacutericos pela maior parte das emissotildees e por terem mais condiccedilotildees econocircmicas para arcar com os custos de-correntes seriam os primeiros a assumir as metas de reduccedilatildeo ateacute 2012

O tratado referente ao Protocolo fundamentou-se basicamente em dois princiacutepios o ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo e o ldquoPrinciacutepio da Responsabili-dade Comum poreacutem Diferenciadardquo O ldquoPrinciacutepio da Precauccedilatildeordquo seme-lhante ao princiacutepio baacutesico do Direito Ambiental declara que a falta de plena certeza cientiacutefica natildeo deve ser usada como argumento para se postergar medidas quando houver ameaccedila de dano seacuterio ou irreversiacutevel ao meio ambiente e agrave sociedade E o ldquoPrinciacutepio da Responsabilidade Comum poreacutem Diferenciadardquo atribui a lideranccedila pelo movimento de mu-danccedila do clima aos paiacuteses desenvolvidos que emitiram GEE tempos antes dos paiacuteses em desenvolvimento comeccedilarem a emitir Esse princiacute-pio leva em conta a contribuiccedilatildeo histoacuterica de cada paiacutes

Assim os paiacuteses foram considerados em dois grupos

bull Anexo I ndash paiacuteses mais industrializados e consequentemente gran-des emissores histoacutericos de GEE

bull Natildeo Anexo I ndash paiacuteses menos industrializados que para atender agraves suas necessidades baacutesicas de desenvolvimento precisam aumentar a sua oferta energeacutetica e potencialmente suas emissotildees de GEE

Para o cumprimento das metas do Protocolo de Quioto foram desen-volvidos trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo para ajudar os paiacuteses do

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Anexo I a atingirem suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE e minimizarem os custos dessa reduccedilatildeo Jaacute para os paiacuteses do Natildeo Ane-xo I ou seja paiacuteses em desenvolvimento esses mecanismos flexiacuteveis representam uma oportunidade de aporte de capital para investimento em projetos que reduzam as emissotildees de GEE e fomentem o desenvol-vimento sustentaacutevel compensando as emissotildees em outras regiotildees14

Os trecircs mecanismos de flexibilizaccedilatildeo satildeo comeacutercio de emissotildees (CE) Implementaccedilatildeo Conjunta (IC) e Mecanismo de Desenvolvimento Lim-po (MDL) Os mecanismos apresentam grandes diferenccedilas quanto aos participantes e quanto agrave dinacircmica Os dois primeiros satildeo restritos agrave par-ticipaccedilatildeo de paiacuteses pertencentes ao Anexo I e apenas o MDL permite a participaccedilatildeo dos paiacuteses em desenvolvimento Com relaccedilatildeo agrave forma de operacionalizaccedilatildeo dos instrumentos o CE baseia-se na comerciali-zaccedilatildeo de permissatildeo de emissatildeo enquanto os outros dois instrumentos baseiam-se na elaboraccedilatildeo de projetos que levem a uma reduccedilatildeo de emissatildeo Estes mecanismos satildeo abordados a seguir

Em 2012 a meta de reduccedilatildeo das emissotildees de GEE de 5 em relaccedilatildeo a 1990 durante o primeiro periacuteodo de compromisso do Protocolo de Quio-to (2008 a 2012) natildeo foi atingida

Durante a ldquoCOP 18rdquo em Doha no Qatar foi adotada uma emenda ao Pro-tocolo de Quioto definindo o segundo periacuteodo de compromisso do Proto-colo de Quioto (1ordm de janeiro de 2013 a 31 de dezembro de 2020) e que manteve em operaccedilatildeo o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ndash MDL

Em 2020 quando o Protocolo de Kyoto perder sua validade espera--se que os paiacuteses busquem um novo acordo com metas para todos os paiacuteses incluindo os paiacuteses em desenvolvimento Essa seraacute a principal discussatildeo da COP de 2015 em Paris15

14 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

15 httpunfcccintkyoto_protocolitems2830php

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51 Mecanismos de Flexibilizaccedilatildeo

511 Comeacutercio de Emissotildees (CE)

O CE permite apenas a participaccedilatildeo de paiacuteses do Anexo I pois lida com elementos relacionados agraves metas de reduccedilatildeo de emissatildeo Como os paiacuteses do Natildeo Anexo I natildeo possuem metas natildeo podem participar desse mecanismo Os paiacuteses tecircm uma grande heterogeneidade em re-laccedilatildeo agraves suas condiccedilotildees poliacuteticas modernidade do parque industrial haacutebitos da sociedade ou dependecircncia de combustiacuteveis foacutesseis Assim haacute paiacuteses com maior facilidade de reduccedilatildeo de emissatildeo e outros com maior dificuldade

Em funccedilatildeo disso permitiu-se que os paiacuteses possam negociar os seus direitos de emitir Ou seja um paiacutes A que consegue reduzir suas emis-sotildees a um custo baixo tem um incentivo para reduzir o maacuteximo possiacutevel podendo entatildeo comercializar a diferenccedila entre sua reduccedilatildeo de emissatildeo e sua meta para paiacuteses que apresentam uma maior dificuldade de re-duccedilatildeo de emissatildeo ou seja um maior custo Essa permissatildeo que o paiacutes A possui foi definida no Protocolo de Quioto como AAU (Unidade de Quantidade Atribuiacuteda) tambeacutem conhecida no mercado como Allowan-ces ou seja ldquopermissotildeesrdquo pois se tratam da comercializaccedilatildeo do direito de emitir quantidades de GEE16

512 Implementaccedilatildeo Conjunta ndash IC (do inglecircs Joint Implementation ndash JI)

Foi um instrumento proposto pelos EUA que permite a negociaccedilatildeo bi-lateral de implementaccedilatildeo conjunta de projetos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE entre paiacuteses integrantes do Anexo I

16 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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Conforme definido no Artigo 61 do Protocolo de Quioto por meio da IC um paiacutes industrializado ou empresa pode compensar suas emissotildees participando de sumidouros e projetos de reduccedilatildeo de emissotildees em ou-tro paiacutes do Anexo I Implica portanto em constituiccedilatildeo e transferecircncia de creacutedito de emissotildees de Gases de Efeito Estufa do paiacutes em que o projeto estaacute sendo implementado para outro paiacutes Este pode comprar ldquocreacutedito de carbonordquo e em troca constituir fundos para projetos a serem de-senvolvidos em outros paiacuteses Os recursos financeiros obtidos seratildeo aplicados necessariamente na reduccedilatildeo de emissotildees ou em remoccedilatildeo de carbono (UNFCCC 2007)

513 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

A criaccedilatildeo do instrumento de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) suas normas e condiccedilotildees para implementaccedilatildeo satildeo definidas no Artigo 12 do Protocolo de Quioto O propoacutesito do MDL eacute prestar a muacutetua assistecircncia entre Partes do Anexo I e Natildeo Anexo I para que viabilizem o desenvolvimento sustentaacutevel e contribuam para o objetivo final da Con-venccedilatildeo (UNFCCC) a reduccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa

O objetivo final de mitigaccedilatildeo de GEE eacute atingido por meio da implemen-taccedilatildeo de atividades de projetos nos paiacuteses em desenvolvimento que resultem na reduccedilatildeo dessas emissotildees Para que sejam consideradas elegiacuteveis no acircmbito do MDL as atividades de projetos devem contribuir para o objetivo primordial da Convenccedilatildeo e observar alguns criteacuterios fun-damentais entre os quais o da adicionalidade ou seja resultar na re-duccedilatildeo de emissotildees de Gases de Efeito Estufa eou na remoccedilatildeo de CO2 de forma adicional ao que ocorreria na ausecircncia da atividade de projeto do MDL As quantidades relativas agraves reduccedilotildees de emissatildeo de Gases de Efeito Estufa atribuiacutedas a uma atividade de projeto resultam em Redu-ccedilotildees Certificadas de Emissotildees (RCE) medidas em tonelada meacutetrica de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) As RCE representam creacuteditos que podem ser utilizados pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado

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o Protocolo de Quioto como uma maneira de cumprimento parcial de suas metas de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE

As atividades de projeto do MDL bem como as reduccedilotildees de emissotildees de GEE a estas atribuiacutedas devem ser submetidas a um processo de afericcedilatildeo e verificaccedilatildeo por meio de instituiccedilotildees e procedimentos estabe-lecidos na Decisatildeo nordm 17 da ldquoCOP 7rdquo17

17 SOUZA P F de M e Metodologias de monitoramento de projetos de MDL uma anaacutelise estrutural e funcional [Rio de Janeiro] COPPEUFRJ MSc Planejamento Energeacutetico 2005

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6 Poliacutetica Nacional de Clima no Brasil

O Brasil confirmou o Acordo de Copenhague na ldquoCOP 16rdquo em 2010 em Cancun no Meacutexico Nessa Conferecircncia o Brasil apresentou sua NAMA (Nattionaly Apropriated Mitigation Action) ou seja o conjunto de accedilotildees visando agrave reduccedilatildeo de emissotildees incluindo sua meta nacional vo-luntaacuteria de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE A submissatildeo feita pelo Brasil previa reduccedilotildees entre 361 e 389 das emissotildees nacionais projeta-das ateacute 2020 com base em niacuteveis de referecircncia de 1994 1995 e 2004 Tais metas foram definidas na Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima (PNMC) Lei 12187 2009 aprovada pelo Congresso Nacional

A PNMC foi importante para amparar as posiccedilotildees brasileiras nas dis-cussotildees multilaterais e internacionais sobre combate ao aquecimento global sendo um marco legal para a regulaccedilatildeo das accedilotildees de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo no paiacutes Marco esse que dita princiacutepios diretrizes e instru-mentos para a consecuccedilatildeo dessas metas nacionais independentemen-te da evoluccedilatildeo dos acordos globais de clima18

Em dezembro de 2010 foi editado o Decreto no 7390 que regulamen-tou os Artigos 6 11 e 12 da Lei nordm 121872009 que instituiu a PNMC e deu outras providecircncias Entre elas estabeleceu em consonacircncia com a PNMC planos setoriais de mitigaccedilatildeo e de adaptaccedilatildeo agraves mu-danccedilas climaacuteticas visando agrave consolidaccedilatildeo de uma economia de baixo consumo de carbono Esse decreto permitiu esclarecer e definir vaacuterios aspectos regulatoacuterios do texto legal quanto agrave mensuraccedilatildeo das metas e agrave formulaccedilatildeo dos planos setoriais

Dentre outras coisas em relaccedilatildeo agraves metas brasileiras o Decreto projeta as emissotildees nacionais de GEE para o ano de 2020 em 3236 milhotildees de toneladas meacutetricas de dioacutexido de carbono equivalente (tCO2e) sem considerar nenhuma accedilatildeo de mitigaccedilatildeo Esse mesmo documento diz

18 Seroa da Motta R A Poliacutetica Nacional sobre Mudanccedila do Clima aspectos regulatoacuterios e de governanccedila Em Seroa da Motta et al (EDITORES) Mudanccedila do Clima no Brasil aspectos econocircmicos sociais e regulatoacuterios Brasiacutelia IPEA 2011

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ainda que para alcanccedilar esse compromisso nacional voluntaacuterio o paiacutes se compromete a reduzir entre 1168 milhotildees de tCO2e equivalente aos 361 e 1259 milhotildees de tCO2e do total das emissotildees projetadas para 2020 equivalente aos 389 As emissotildees de GEE projetadas para 2020 totais e por setor constam do Artigo 6 do Decreto e as reduccedilotildees de emissotildees projetadas para 2020 constam do Artigo 5

Por outro lado para o atingimento da meta publicada pelo Brasil o De-creto contou com uma lista de accedilotildees de mitigaccedilatildeo das emissotildees

I reduccedilatildeo de oitenta por cento dos iacutendices anuais de desmatamen-to na Amazocircnia Legal em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1996 a 2005

II reduccedilatildeo de quarenta por cento dos iacutendices anuais de desmata-mento no Bioma Cerrado em relaccedilatildeo agrave meacutedia verificada entre os anos de 1999 a 2008

III expansatildeo da oferta hidroeleacutetrica da oferta de fontes alternativas renovaacuteveis notadamente centrais eoacutelicas pequenas centrais hi-dreleacutetricas e bioeletricidade da oferta de biocombustiacuteveis e in-cremento da eficiecircncia energeacutetica

IV recuperaccedilatildeo de 15 milhotildees de hectares de pastagens degradadas

V ampliaccedilatildeo do sistema de integraccedilatildeo lavoura-pecuaacuteria-floresta em 4 milhotildees de hectares

VI expansatildeo da praacutetica de plantio direto na palha em 8 milhotildees de hectares

VII expansatildeo da fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio em 55 milhotildees de hectares de aacutereas de cultivo em substituiccedilatildeo ao uso de fertilizan-tes nitrogenados

VIII expansatildeo do plantio de florestas em 3 milhotildees de hectares

IX ampliaccedilatildeo do uso de tecnologias para tratamento de 44 milhotildees de m3 de dejetos de animais e

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X incremento da utilizaccedilatildeo na siderurgia do carvatildeo vegetal originaacute-rio de florestas plantadas e melhoria na eficiecircncia do processo de carbonizaccedilatildeo

Ao regulamentar a PNMC o decreto federal nordm 73902010 dispotildee que os Planos Setoriais se integrariam com os Planos de Prevenccedilatildeo de Des-matamento e o Plano Nacional de Mudanccedilas Climaacuteticas No decreto foram definidos dois Planos de Prevenccedilatildeo ao Desmatamento (PPCDAM e PPCERRADO) e trecircs planos setoriais de emissotildees (Plano Decenal de Energia Plano de Agricultura de Baixo Carbono e o Plano de Reduccedilatildeo de Emissotildees da Siderurgia) Os demais planos previstos pela PNMC foram finalizados em 2013 sendo eles (i) Plano Setorial da Induacutestria (ii) Plano Setorial da Mineraccedilatildeo (iii) Plano Setorial de Transporte e (iv) Plano Setorial da Sauacutede Todos esses planos estatildeo disponiacuteveis no site do Ministeacuterio do Meio Ambiente

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7 Painel Intergovernamental de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash IPCC e o Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas ndash PBMC ndash consideraccedilotildees sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas

71 IPCC

O Grupo de Trabalho II (WGII da sigla em Inglecircs) foi o responsaacutevel pela compilaccedilatildeo de resultados do quinto relatoacuterio de avaliaccedilatildeo (AR5) do IPCC divulgado em 31 de marccedilo de 2014 O Grupo de Trabalho II estaacute encarregado de discutir impactos adaptaccedilatildeo e vulnerabilidade em di-ferentes cenaacuterios O relatoacuterio contempla dados disponiacuteveis sobre os im-pactos das mudanccedilas climaacuteticas em recursos hiacutedricos biodiversidade e ecossistemas aacutereas costeiras e de baixa altitude sistemas marinhos produccedilatildeo de alimentos e seguranccedila alimentar perdas econocircmicas glo-bais sauacutede puacuteblica seguranccedila humana e pobreza

Os pontos que se seguem destacam os impactos previstos em niacutevel mundial e para a Ameacuterica do Sul e Central com base na versatildeo final do quinto Relatoacuterio de Avaliaccedilatildeo do IPCC aprovado entre os dias 25 e 29 de marccedilo de 2014 em Yokohama no Japatildeo

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Projeccedilatildeo de mudanccedilas nas temperaturas anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as temperaturas meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Mudanccedilas nas precipitaccedilotildees anuais

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

O mapa no topo indica as precipitaccedilotildees meacutedias anuais registradas no periacuteodo de referecircncia entre 1986 e 2005 Os dois mapas do meio in-dicam diferentes cenaacuterios para meados do seacuteculo entre 2046 e 2065 Finalmente os uacuteltimos dois mapas indicam cenaacuterios para o final do seacuteculo entre 2081 e 2100

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Ocorrecircncia de eventos climaacuteticos extremos ndash ondas de calor

Fonte AR5 Climate Change 2013 The Physical Science Basis

Tendecircncias em frequecircncia anual de temperaturas extremas durante o periacuteodo de 1951-2010 para (a) noites frias (TN10p) (b) dias frios (TX10p) (c) noites quentes (TN90p) e (d) dias quentes (TX90p) (Box 24 Tabela 1) Tendecircncias foram calculadas apenas com dados acu-mulados por ao menos 40 anos durante o periacuteodo e quando os da-

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dos natildeo terminaram antes de 2003 Aacutereas cinzentas indicam dados incompletos ou em falta Preto com sinais de adiccedilatildeo (+) indicam ten-decircncias significativas (ou seja uma tendecircncia a zero estaacute fora do in-tervalo de confianccedila de 90) A fonte de dados para mapas tendecircn-cia eacute HadEX2 (Donat et al 2013c) atualizado para incluir a versatildeo mais recente do conjunto de dados europeus de avaliaccedilatildeo climaacutetica (Klok e Tank 2009) Ao lado de cada mapa estatildeo as seacuteries tempo-rais quase-abrangentes de anomalias anuais desses iacutendices no que diz respeito aos iacutendices globais de 1961-1990 por trecircs conjuntos de dados HadEX2 (vermelho) HadGHCND (Ceacutesar et al 2006 Azul) e atualizado para 2010 e GHCNDEX (Donat et al 2013a Verde) Meacutedias globais satildeo calculadas usando os trecircs conjuntos de dados sempre que apresentem pelo menos 90 dos dados durante o periacuteodo de tempo Tendecircncias satildeo significativas (isto eacute uma tendecircncia de zero se encontra fora do intervalo de confianccedila de 90) para todos os iacuten-dices gerais mostrados

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Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Na legenda o verde escuro indica a cobertura florestal enquanto o verde meacutedio e o bege indicam aacutereas cobertas por vegetaccedilatildeo de di-ferentes densidades As bolas vermelhas apontam localidades que sofreram secas intensas e alta mortalidade de aacutervores devido a ondas de calor desde 1970 Finalmente as formas ovaladas assinalam aacutere-as mencionadas em diferentes publicaccedilotildees devido agrave ocorrecircncia de eventos climaacuteticos intensos

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711 Riscos futuros em aacutereas especiacuteficas

7111 Disponibilidade de aacutegua

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central tecircm uma distribuiccedilatildeo muito de-sigual de recursos hiacutedricos por incluiacuterem aacutereas extremamente uacutemidas como as florestas tropicais e outras muito secas no topo dos Andes A principal consumidora de aacutegua da regiatildeo eacute a agricultura seguida pela populaccedilatildeo de cerca de 580 milhotildees de pessoas A aacutegua tambeacutem eacute essencial para a matriz energeacutetica do subcontinente De acordo com a Agecircncia Internacional de Energia a geraccedilatildeo hidreleacutetrica eacute responsaacutevel por 60 da eletricidade consumida na regiatildeo em contraste com o que ocorre em outras partes do mundo onde a contribuiccedilatildeo meacutedia da hidro-eletricidade fica na casa de 20

Em razatildeo da dependecircncia da Ameacuterica do Sul e Central dos recursos hiacute-dricos as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo um impacto substancial na econo-mia da regiatildeo afetando o bem-estar da sociedade Mudanccedilas na vazatildeo e na disponibilidade de aacutegua jaacute foram observadas e a perspectiva eacute de que continuem no futuro afetando ainda mais aacutereas jaacute vulneraacuteveis

O gelo e os glaciares nos Andes estatildeo diminuindo em um ritmo alarman-te afetando o periacuteodo e o volume das vazotildees A bacia do Rio da Prata (Brasil Paraguai Argentina e Uruguai) tem sofrido crescentes inunda-ccedilotildees e uma reduccedilatildeo dos escoamentos na parte central dos Andes (no Chile e na Argentina) e na Ameacuterica Central A diminuiccedilatildeo das precipita-ccedilotildees e o aumento da evapotranspiraccedilatildeo em aacutereas que jaacute satildeo semiaacuteridas afetaratildeo ainda mais o abastecimento de aacutegua das cidades a geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica e a agricultura

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull Ao final deste seacuteculo o nuacutemero de pessoas expostas a enchentes fluviais recordes seraacute trecircs vezes maior e as regiotildees mais secas pro-vavelmente enfrentaratildeo estiagens mais frequentes

bull A cada grau de elevaccedilatildeo da temperatura eacute projetada uma reduccedilatildeo do estoque de aacutegua disponiacutevel em pelo menos 20 problema agra-vado pelo crescimento de 7 da populaccedilatildeo global

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Os glaciares tropicais estatildeo perdendo massa em ritmo acelerado en-tre 20 e 50 desde a deacutecada de 1970 Inicialmente esse fenocircme-no aumentou as vazotildees de rios da regiatildeo mas agora diminuiu como fica evidenciado na Cordillera Blanca no Peru Alguns deles podem desaparecer completamente em um periacuteodo entre 20 e 50 anos com um decliacutenio contiacutenuo na disponibilidade de aacutegua durante os meses de seca Estima-se que o completo derretimento dos glaciares nos Andes peruanos levaria a uma reduccedilatildeo de 2 a 30 na descarga anual au-mentando ainda mais a vulnerabilidade da regiatildeo agrave seca

bull Os glaciares os campos de gelo e a camada de neve na zona sub-tropical dos Andes (regiotildees central e sul do Chile e da Argentina) deveratildeo derreter ainda mais jaacute que eacute esperada uma reduccedilatildeo dos fluxos nas estaccedilotildees de seca e um aumento nas estaccedilotildees de chuva Nessas regiotildees a diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees associadas ao esco-amento deve continuar com perdas significativas na disponibilidade de aacutegua fresca

bull A previsatildeo de perda de geraccedilatildeo hidreleacutetrica devido ao derretimento das geleiras estaria em torno de US$ 100 milhotildees no caso do abas-tecimento de aacutegua de Quito no Equador e entre US$ 212 milhotildees e US$ 15 bilhatildeo no conjunto do setor energeacutetico peruano

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bull A reduccedilatildeo da precipitaccedilatildeo e o aumento na evapotranspiraccedilatildeo prova-velmente diminuiratildeo o escoamento na maior parte dos rios da Ameacute-rica Central incluindo uma reduccedilatildeo de 20 no escoamento da ba-cia do Rio Lempa que cobre partes da Guatemala Honduras e El Salvador uma das maiores da Ameacuterica Central Isso poderia ter um enorme impacto na geraccedilatildeo de energia hidreleacutetrica na regiatildeo

bull A reduccedilatildeo da disponibilidade de aacutegua afetaria substancialmente a agricultura com impactos econocircmicos que tecircm o potencial de pro-mover uma grande emigraccedilatildeo no Nordeste brasileiro

7112 Ecossistemas terrestres e aquaacuteticos extinccedilatildeo de espeacutecies

A Ameacuterica do Sul e a Ameacuterica Central possuem um conjunto uacutenico de ecossistemas e a maior biodiversidade do planeta Infelizmente esse capital natural estaacute ameaccedilado pelo estresse climaacutetico e a expansatildeo da industrializaccedilatildeo e da agricultura A ocupaccedilatildeo dos ambientes naturais eacute a principal responsaacutevel pela perda de biodiversidade e ecossistemas no subcontinente especialmente na Mesoameacuterica no Chocoacute-Darieacuten (Colocircmbia) na porccedilatildeo oeste do Equador nos Andes tropicais no Chile central e na Mata Atlacircntica e no Cerrado brasileiro As mudanccedilas cli-maacuteticas contribuiratildeo para o aumento do ritmo de extinccedilatildeo de espeacutecies A mudanccedila do uso do solo somada agrave transformaccedilatildeo dos padrotildees de precipitaccedilatildeo provavelmente obrigaratildeo diversas espeacutecies a deixarem seus habitats atuais levando agrave extinccedilatildeo de algumas delas No Brasil por exemplo alguns paacutessaros da Mata Atlacircntica bem como espeacutecies endecircmicas de aves e plantas do Cerrado seratildeo empurrados mais ao sul onde sua sobrevivecircncia estaraacute ameaccedilada por haver pouquiacutessimos habitats naturais remanescentes

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Projeccedilatildeo de queda no potencial maacuteximo de pesca

Fonte 5 Relatoacuterio do IPCC 2014

Redistribuiccedilatildeo global projetada do potencial maacuteximo de pesca A anaacutelise inclui aproximadamente 1000 espeacutecies de peixes e inverte-brados considerando um aquecimento de 2degC Projeccedilotildees compara-ram as meacutedias de 10 anos do periacuteodo 2001-2010 e 2051-2060 sem anaacutelise dos potenciais impactos da sobrepesca ou da acidificaccedilatildeo dos oceanos

Em niacutevel global a mudanccedila climaacutetica estaacute projetada para causar uma redistribuiccedilatildeo em grande escala do potencial de pesca com um au-mento meacutedio de 30 a 70 no rendimento em altas latitudes Em latitu-des meacutedias o potencial de pesca meacutedia deve permanecer inalterado Uma queda de 40 a 60 iraacute ocorrer nos troacutepicos e na Antaacutertica Isso destaca altas vulnerabilidades nas economias dos paiacuteses costeiros tropicais

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Principais conclusotildees

q No mundo

bull As mudanccedilas climaacuteticas oferecem um risco adicional de extinccedilatildeo a uma grande parcela de espeacutecies terrestres e aquaacuteticas que jaacute es-tatildeo expostas a outros elementos de pressatildeo como as mudanccedilas no habitat a superexploraccedilatildeo a poluiccedilatildeo e a presenccedila de espeacutecies invasoras

bull Nas regiotildees onde as mudanccedilas climaacuteticas ocorreratildeo em ritmo meacutedio ou acelerado ao longo deste seacuteculo muitas espeacutecies seratildeo incapa-zes de se deslocar a tempo de encontrar um novo local onde possam se adaptar Estima-se tambeacutem que a produtividade dos oceanos cairaacute globalmente ateacute 2100

q Na Ameacuterica Latina e Central

bull Ateacute a metade ou o final deste seacuteculo a reduccedilatildeo das chuvas a eleva-ccedilatildeo das temperaturas e o estresse hiacutedrico podem levar a uma substi-tuiccedilatildeo abrupta e irreversiacutevel da Floresta Amazocircnica por uma vegeta-ccedilatildeo similar agrave da savana africana com impactos de larga escala para o clima a biodiversidade e os habitantes locais

bull As mudanccedilas climaacuteticas satildeo parcialmente responsaacuteveis pela acele-raccedilatildeo do desaparecimento de espeacutecies animais e vegetais da Ameacuteri-ca do Sul e Central O Brasil estaacute entre os paiacuteses com o maior nuacutemero de espeacutecies ameaccediladas de paacutessaros e mamiacuteferos O paiacutes tambeacutem tem um grande percentual de espeacutecies de peixes de aacuteguas doces com distribuiccedilatildeo restrita e que provavelmente seratildeo afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas

bull Espeacutecies de altitudes elevadas dos Andes e da Sierra Madre (Meacutexi-co) satildeo especialmente vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas devido agrave sua pequena aacuterea de distribuiccedilatildeo e grande demanda de energia e espaccedilo

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7113 Aacutereas costeiras e de baixa altitude centenas de milhotildees de pessoas em risco

A elevaccedilatildeo do niacutevel do mar continuaraacute causando impacto sobre os sis-temas costeiros e mariacutetimos em toda a Ameacuterica do Sul e Central Os pa-iacuteses costeiros dessa regiatildeo tecircm uma populaccedilatildeo de mais de 610 milhotildees de habitantes dos quais 75 vivem a menos de 200 quilocircmetros da costa e poderiam ser seriamente afetados pelas mudanccedilas climaacuteticas El Salvador Nicaraacutegua Costa Rica Panamaacute Colocircmbia Venezuela e Equador em particular tecircm 30 de suas populaccedilotildees vivendo em aacutereas costeiras diretamente expostas a eventos climaacuteticos

O problema eacute particularmente grave na costa proacutexima a grandes aglo-merados humanos Ali a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar se soma a fatores de estresse natildeo climaacuteticos como a sobrepesca a poluiccedilatildeo a presenccedila de espeacutecies invasoras e a destruiccedilatildeo dos habitats Tais fatores de pressatildeo ameaccedilam os estoques de peixes corais e mangues comprometem a recreaccedilatildeo e o turismo e dificultam o controle de doenccedilas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Mais de 70 das aacuteguas litoracircneas globais tiveram aquecimento sig-nificativo nos uacuteltimos 30 anos Esse fenocircmeno somado agrave acidifica-ccedilatildeo das aacuteguas costeiras tem causado impactos diretos e indiretos nos ecossistemas naturais

bull Diante do aumento dos niacuteveis do mar registrados desde o iniacutecio des-te seacuteculo os sistemas costeiros e as aacutereas de baixada enfrentaratildeo um aumento de eventos adversos como submersatildeo inundaccedilotildees e erosatildeo costeira

bull Ateacute 2100 devido agraves mudanccedilas climaacuteticas e aos padrotildees de desen-volvimento e na ausecircncia de accedilotildees de adaptaccedilatildeo centenas de mi-

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lhotildees de pessoas seratildeo afetadas por inundaccedilotildees costeiras e seratildeo deslocadas devido agrave perda de suas terras

bull A maioria das pessoas afetadas vive nas porccedilotildees leste sul e sudeste da Aacutesia Os custos relativos de adaptaccedilatildeo vatildeo variar imensamente de regiatildeo para regiatildeo

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Locais que tiveram mais de 40 das mudanccedilas no aumento do niacutevel do mar apresentaratildeo um incremento nas enchentes no futuro Dentre eles estatildeo o litoral sul de Cuba a Repuacuteblica Dominicana o Haiti o litoral norte da Jamaica as Ilhas Cayman Honduras a Nicaraacutegua a Costa Rica o Panamaacute a Colocircmbia e a Venezuela

bull Os maiores niacuteveis de inundaccedilatildeo da regiatildeo ocorrem no Rio da Prata estuaacuterio formado pela confluecircncia dos rios Uruguai e Paranaacute na fron-teira entre Argentina e Uruguai Elas deveratildeo aumentar ainda mais devido agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Aacutereas urbanas ao longo do litoral leste do Brasil tecircm enfrentado inun-daccedilotildees costeiras excepcionais e esta situaccedilatildeo deveraacute piorar no futuro

bull A erosatildeo das praias eacute um problema seacuterio para vaacuterios paiacuteses costeiros e tende a piorar com a elevaccedilatildeo do niacutevel do mar e as inundaccedilotildees do litoral O risco eacute particularmente alto no litoral norte de Cuba no Haiti na Repuacuteblica Dominicana na costa leste de Antiacutegua e Barbuda na ilha de Dominica e em Santa Luacutecia Barbados Guiana Suriname Guiana Francesa Brasil Chile Meacutexico e Colocircmbia

bull Ondas maiores e mais fortes associadas ao aumento no niacutevel do mar poderiam afetar significativamente a infraestrutura e a estrutura costeira de algumas cidades ao longo da costa oeste da Ameacuterica do Sul e Central

bull A elevaccedilatildeo das temperaturas a acidificaccedilatildeo dos oceanos e a perda de recifes de coral poderiam reduzir significativamente o volume da

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pesca marinha e afetar negativamente os meios de subsistecircncia das comunidades em aacutereas costeiras Algumas projeccedilotildees indicam que os recifes de coral mesoamericanos entraratildeo em colapso ateacute a meta-de do seacuteculo (entre 2050 e 2070) causando grandes perdas econocirc-micas na regiatildeo especialmente em Belize Guatemala e Honduras Graccedilas ao turismo baseado em atividades marinhas agrave pesca e agrave proteccedilatildeo costeira os recifes mesoamericanos contribuem com algo entre US$ 395 milhotildees e US$ 559 milhotildees por ano para a economia de Belize

bull Muitos manguezais de importacircncia ecoloacutegica e econocircmica sobre-tudo nas costas atlacircntica e paciacutefica da Ameacuterica Central podem ser perdidos nos proacuteximos 100 anos se as ameaccedilas climaacuteticas e natildeo climaacuteticas como o desmatamento a conversatildeo do uso da terra e os criadouros de camarotildees continuarem a avanccedilar O colapso dos mangues poderaacute levar agrave reduccedilatildeo da pesca e ao comprometimento dos meios de subsistecircncia de paiacuteses da Ameacuterica Central bem como do Brasil da Guiana Francesa e da Colocircmbia

bull Peru e Colocircmbia satildeo dois dos oito paiacuteses com atividade pesqueira mais vulneraacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas por diversos motivos inclu-sive a importacircncia da pesca para a sua economia e dieta e pela limi-tada capacidade social de adaptaccedilatildeo a impactos e oportunidades potenciais

7114 Produccedilatildeo de alimentos risco para a seguranccedila alimentar

As mudanccedilas climaacuteticas afetaratildeo substancialmente a produtividade agriacutecola com consequecircncias para a seguranccedila alimentar da populaccedilatildeo mais pobre mas seus impactos teratildeo grandes disparidades regionais Aacutereas com maior pluviosidade segundo as projeccedilotildees manteratildeo ou am-pliaratildeo a sua produtividade meacutedia ateacute o meio do seacuteculo Entretanto a Ameacuterica Central o Nordeste do Brasil e as regiotildees andinas provavel-

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mente teratildeo um aumento nas temperaturas e diminuiccedilatildeo das chuvas e poderatildeo perder produtividade no curto prazo ateacute 2030

Os impactos climaacuteticos vecircm se somar a outros fatores de pressatildeo sobre a regiatildeo como a mudanccedila no uso da terra a industrializaccedilatildeo e o aumen-to da demanda por alimentos Aleacutem disso o desenvolvimento e a raacutepida expansatildeo da produccedilatildeo agropecuaacuteria e bioenergeacutetica ameaccedilam o capi-tal natural regional e intensificam os impactos climaacuteticos negativos

Dentre as culturas que provavelmente seratildeo mais afetadas pelo aumen-to nas temperaturas podemos incluir o arroz no Sudeste do Brasil o milho em toda a Ameacuterica do Sul e Central e a soja na regiatildeo central do Brasil Para enfrentar tais desafios algumas medidas de adaptaccedilatildeo seratildeo necessaacuterias como o investimento na gestatildeo da aacutegua e o melho-ramento geneacutetico

Como a Ameacuterica do Sul e Central (sobretudo Brasil Chile Colocircmbia e Panamaacute) satildeo regiotildees fundamentais para a agropecuaacuteria global tere-mos o desafio de aumentar a qualidade e o volume de alimentos produ-zidos mantendo a sustentabilidade do meio ambiente a despeito das mudanccedilas climaacuteticas

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Se natildeo houver investimento em adaptaccedilatildeo conforme mencionado um aumento da temperatura local de pelo menos 1degC acima dos niacute-veis preacute-industriais teraacute um impacto negativo em lavouras dos maio-res cultivos (trigo arroz e milho) em regiotildees tropicais e temperadas

bull Independentemente da ocorrecircncia de medidas adaptativas as mu-danccedilas climaacuteticas reduziratildeo a produccedilatildeo em ateacute 2 por deacutecada ateacute o fim do seacuteculo Esses impactos seratildeo amplificados dada a projeccedilatildeo de aumento de demanda de aacutereas cultivadas que poderaacute crescer em ateacute 14 por deacutecada ateacute 2050

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q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull As mudanccedilas climaacuteticas tecircm o potencial de afetar severamente as populaccedilotildees mais pobres e a sua seguranccedila alimentar aumentando o quadro atual de subnutriccedilatildeo crocircnica Hoje a Guatemala eacute o paiacutes com o pior iacutendice de seguranccedila alimentar na regiatildeo por percentual da populaccedilatildeo (304) e o problema tem crescido nos uacuteltimos anos

bull O aumento das precipitaccedilotildees e da umidade do solo levou a uma me-lhor produtividade das plantaccedilotildees de veratildeo e dos pastos e expan-diu as aacutereas dedicadas agrave agricultura no sudeste da Ameacuterica do Sul Se compararmos as condiccedilotildees climaacuteticas observadas entre 1970 e 2000 com as registradas no periacuteodo entre 1930 e 1960 veremos que houve um aumento dos campos de cultivo de milho e soja (de 9 para 58) na Argentina no Uruguai e no Sul do Brasil uma tendecircn-cia que deve continuar no futuro

bull O aumento do calor e da umidade poderaacute beneficiar as plantaccedilotildees em aacutereas do sul e do oeste dos Pampas e do Sul do Brasil A produ-tividade das plantaccedilotildees de arroz e feijatildeo irrigadas deve aumentar

bull A produccedilatildeo de cana-de-accediluacutecar pode ser beneficiada visto que o aquecimento permite a expansatildeo das aacutereas cultivadas no sul onde hoje as temperaturas satildeo um fator limitante

bull O aumento da produtividade das lavouras poderia chegar a 6 no Estado de Satildeo Paulo em 2040 Resultados menos homogecircneos satildeo projetados para os campos de soja milho e trigo no Paraguai

bull Uma reduccedilatildeo nas precipitaccedilotildees poderia ameaccedilar a sustentabilidade dos sistemas agriacutecolas em regiotildees que jaacute satildeo marginais A praacutetica con-tiacutenua da agricultura nessas aacutereas poderia levar a fortes tempestades de poeira mortalidade do gado quebras de safra e migraccedilatildeo rural

bull No Chile e no oeste da Argentina as lavouras poderiam ser redu-zidas devido agraves limitaccedilotildees de disponibilidade de aacutegua Na regiatildeo central do Chile o aumento das temperaturas a reduccedilatildeo das horas

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de frio e a escassez de aacutegua podem diminuir a produtividade das culturas de inverno das plantaccedilotildees de frutas dos vinhedos e dos pinheiros da espeacutecie Pinus radiata

bull A diminuiccedilatildeo das precipitaccedilotildees e a subsequente reduccedilatildeo na meacutedia dos fluxos hiacutedricos na bacia do Rio Neuqueacuten (no norte da Patagocircnia Argentina) poderia afetar negativamente a produccedilatildeo de frutas e de vegetais na regiatildeo

bull Na porccedilatildeo norte da Bacia de Mendoza (Argentina) a combinaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas com o aumento da demanda por recursos hiacutedricos devido ao crescimento populacional poderia comprometer a disponibilidade de aacutegua subterracircnea para a irrigaccedilatildeo e forccedilar muitos produtores a deixar a agricultura ateacute 2030

bull As colheitas de culturas de subsistecircncia como feijatildeo milho e mandio-ca provavelmente declinaratildeo no Nordeste do Brasil e aacutereas que hoje satildeo favoraacuteveis ao plantio do feijatildeo caupi provavelmente encolheratildeo

bull A produccedilatildeo de cafeacute eacute altamente sensiacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas Ela poderaacute tornar-se inviaacutevel em cenaacuterios de altas temperaturas em alguns Estados brasileiros como Minas Gerais e Satildeo Paulo no Su-deste Portanto poderaacute ter de ser transferida para regiotildees mais ao sul onde as temperaturas satildeo mais baixas e o risco de geada eacute me-nor Uma elevaccedilatildeo de 3ordmC poderaacute levar a expansatildeo da variedade de cafeacute araacutebica para o extremo sul do Brasil perto da fronteira com o Uruguai e para o norte da Argentina

bull Nos piores cenaacuterios estima-se que as lavouras de soja teratildeo uma retraccedilatildeo de 44 na regiatildeo amazocircnica

bull Alteraccedilotildees climaacuteticas poderatildeo reduzir a aacuterea adequada para a ocor-recircncia do pequi (Caryocar brasiliense uma aacutervore frutiacutefera impor-tante para a economia do cerrado brasileiro) Isso poderaacute afetar as comunidades mais pobres da regiatildeo central do Brasil

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7115 Sauacutede humana expansatildeo de doenccedilas tropicais

Nas proacuteximas deacutecadas as mudanccedilas climaacuteticas causaratildeo impacto sobre a sauacutede humana e exacerbaratildeo problemas jaacute existentes especialmente em regiotildees com altos iacutendices de crescimento populacional expostas agrave poluiccedilatildeo ou que sejam vulneraacuteveis nas aacutereas de sauacutede abastecimento de aacutegua saneamento e nutriccedilatildeo Na Ameacuterica do Sul e Central fatores relacionados ao clima estatildeo aumentando a morbidade a mortalidade e o surgimento de deficiecircncias Eles tambeacutem estatildeo expandindo a ocor-recircncia de doenccedilas para aacutereas antes natildeo endecircmicas

Alteraccedilotildees na temperatura e nas precipitaccedilotildees estatildeo associadas a doenccedilas respiratoacuterias e cardiovasculares doenccedilas com origem ou transmitidas pela aacutegua e por vetores (malaacuteria dengue febre amarela leishmaniose coacutelera e outras doenccedilas diarreicas) hantaviacuterus e rotaviacute-rus doenccedilas renais crocircnicas e traumas psicoloacutegicos A vulnerabilidade varia de acordo com a geografia idade sexo raccedila etnia e status socio-econocircmico e eacute crescente nas grandes cidades

Principais conclusotildees

q No mundo

bull Um dos cenaacuterios com projeccedilotildees ateacute 2100 indica que em algumas aacutereas a combinaccedilatildeo de altas temperaturas e umidade durante par-tes do ano iraacute comprometer as atividades humanas normais incluin-do o cultivo de alimentos e o trabalho ao ar livre

q Na Ameacuterica do Sul e Central

bull Furacotildees e enchentes induzidos pelo clima poderatildeo afetar a sauacutede e comprometer a sobrevivecircncia de milhares de pessoas na regiatildeo Isso ficou evidente em 1998 quando o furacatildeo Mitch desencadeou surtos de doenccedilas de veiculaccedilatildeo hiacutedrica ou provocados por vetores e em 2010 e 2012 quando a Colocircmbia sofreu enchentes que cau-

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saram a morte de centenas de pessoas e fizeram com que milhares perdessem suas casas

bull O nuacutemero de casos de malaacuteria aumentou na Colocircmbia e em outras regiotildees urbanas e rurais da Amazocircnia durante as uacuteltimas cinco deacuteca-das Sem uma prevenccedilatildeo efetiva as mudanccedilas climaacuteticas continua-ratildeo multiplicando os casos da doenccedila

bull A transmissatildeo da malaacuteria tambeacutem estaacute aumentando vertiginosamen-te nos Andes bolivianos Atualmente os vetores satildeo encontrados em altitudes mais altas desde a Venezuela ateacute a Boliacutevia

bull Nos uacuteltimos 25 anos a incidecircncia da dengue influenciada pelas con-diccedilotildees climaacuteticas aumentou nas aacutereas tropicais da Ameacuterica cau-sando perdas econocircmicas anuais da ordem de US$ 21 bilhotildees

bull Apesar das amplas campanhas de vacinaccedilatildeo o risco de surtos de febre amarela aumentou principalmente nas aacutereas urbanas pobres e densamente povoadas da Ameacuterica

bull O aquecimento climaacutetico deveraacute aumentar as ocorrecircncias de esquis-tossomose especialmente em aacutereas rurais do Suriname na Vene-zuela nas aacutereas altas dos Andes e nas aacutereas rurais e nas periferias urbanizadas do Brasil

bull Temperaturas mais altas e a deterioraccedilatildeo da qualidade do ar nas aacutereas urbanas estatildeo aumentando as ocorrecircncias de doenccedilas crocirc-nicas respiratoacuterias e cardiovasculares e tambeacutem a morbidade da asma e da rinite

bull Outras doenccedilas como a coacutelera a doenccedila de Chagas e a leishmanio-se cutacircnea ou visceral satildeo afetadas por variaccedilotildees climaacuteticas como os fenocircmenos meteoroloacutegicos El Nintildeo e La Nintildea e podem piorar com as mudanccedilas climaacuteticas

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7116 Seguranccedila humana mais migraccedilotildees

Ao longo do seacuteculo 21 as mudanccedilas climaacuteticas influenciaratildeo signifi-cativamente no padratildeo das migraccedilotildees o que poderaacute comprometer a seguranccedila humana Elas criaratildeo novos desafios para diversos paiacuteses e moldaratildeo cada vez mais as poliacuteticas de seguranccedila nacional Peque-nos estados insulares e outros altamente vulneraacuteveis agrave elevaccedilatildeo do niacute-vel do mar jaacute enfrentam grandes desafios agrave sua integridade territorial As alteraccedilotildees climaacuteticas tambeacutem podem ter impactos transfronteiriccedilos associados a mudanccedilas na configuraccedilatildeo do gelo marinho ao compar-tilhamento dos recursos hiacutedricos e agrave migraccedilatildeo das populaccedilotildees de pei-xes Tais impactos podem potencialmente aumentar a rivalidade entre diferentes populaccedilotildees e naccedilotildees

7117 Perdas econocircmicas e pobreza

Ao longo deste seacuteculo as mudanccedilas climaacuteticas certamente contribuiratildeo para desacelerar o crescimento econocircmico erodir a seguranccedila alimen-tar e reverter a tendecircncia de reduccedilatildeo da pobreza Esse cenaacuterio exa-cerbaraacute a pobreza em paiacuteses de baixa e de meacutediabaixa renda e criaraacute novos nichos de pobreza em paiacuteses de meacutediaalta a alta renda aumen-tando a iniquidade Programas de seguro medidas de proteccedilatildeo social e o gerenciamento dos riscos de desastres naturais podem aumentar a resiliecircncia da populaccedilatildeo pobre e marginalizada no longo prazo caso as poliacuteticas puacuteblicas tratem a pobreza de maneira multidimensional

Como tendecircncia mundial um aumento meacutedio de temperatura de 25ordmC acima dos niacuteveis preacute-industriais poderaacute levar a uma perda econocircmica agregada de 02 a 2 da renda global o que fatalmente reforccedilaraacute impactos quanto ao aumento de pobreza As perdas cresceratildeo signi-ficativamente com a elevaccedilatildeo da temperatura mas natildeo haacute estimativas quanto aos impactos econocircmicos associados a uma elevaccedilatildeo acima dos 3ordmC

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712 Administrando riscos futuros e aumentando a resiliecircncia

Princiacutepios para uma adaptaccedilatildeo efetiva

bull O esforccedilo de adaptaccedilatildeo eacute altamente recomendado e varia conside-ravelmente conforme o contexto

bull Os custos globais das adaptaccedilotildees teratildeo de ser substancialmente maiores do que os investimentos atuais particularmente em paiacuteses em desenvolvimento e isso sugere que existe uma lacuna no seu financiamento e um deacuteficit crescente de demanda de adaptaccedilatildeo

bull As estimativas mais recentes do custo de adaptaccedilatildeo global sugerem que os paiacuteses em desenvolvimento precisaratildeo investir entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano entre 2010 e 2050

Caminhos de resiliecircncia climaacutetica e transformaccedilatildeo

bull Caminhos de resiliecircncia climaacutetica satildeo modelos de desenvolvimento sustentaacutevel que combinam adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo com a finalidade de minimizar as mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos Eles incluem um processo contiacutenuo que visa assegurar que uma gestatildeo de riscos eficaz seja implementada e mantida

bull As mudanccedilas climaacuteticas em um cenaacuterio muito pessimista podem atingir tal magnitude que excedam a capacidade de adaptaccedilatildeo que surge a partir da interaccedilatildeo entre as alteraccedilotildees climaacuteticas e as restri-ccedilotildees biofiacutesicas e socioeconocircmicas

bull Mudanccedilas de paradigmas e metas podem levar a transformaccedilotildees nos sistemas poliacuteticos econocircmicos e tecnoloacutegicos e isso poderaacute facilitar adaptaccedilotildees e mitigaccedilotildees promovendo o desenvolvimento sustentaacutevel

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713 Diferenccedilas entre o quarto e o quinto relatoacuterios de avaliaccedilatildeo do IPCC (AR4 e AR5)

bull O grau de certeza de que haveraacute impactos climaacuteticos sobre as aacuteguas doces cresceu e haacute mais clareza de qual seraacute a escala dos impactos em diferentes cenaacuterios

bull Haacute um elevado grau de certeza de que uma grande parte das espeacute-cies terrestres e aquaacuteticas enfrenta um maior risco de extinccedilatildeo nos cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas projetados para o seacuteculo 21 e daiacute em diante Algumas espeacutecies de plantas e animais teratildeo de se adap-tar a novos locais Haacute tambeacutem um elevado grau de certeza de que os impactos projetados sobre o sistema costeiro e as aacutereas de baixada afetam e continuaratildeo a afetar centenas de milhotildees de pessoas

bull Segundo o quinto relatoacuterio as principais culturas (trigo arroz e mi-lho) perderatildeo produtividade com um aumento da temperatura local acima de 1ordmC aleacutem dos niacuteveis preacute-industriais ao contraacuterio do previs-to no relatoacuterio anterior

bull Haacute um maior grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas teratildeo impacto sobre a populaccedilatildeo humana com maior probabilidade de lesotildees doenccedilas e oacutebitos

bull Haacute um alto grau de certeza de que as mudanccedilas climaacuteticas promo-veratildeo mais migraccedilotildees

bull Os gastos com os projetos de adaptaccedilatildeo que seratildeo necessaacuterios satildeo estimados entre US$ 70 bilhotildees e US$ 100 bilhotildees por ano para paiacute-ses em desenvolvimento no periacuteodo entre 2010 e 205019 As mudan-ccedilas climaacuteticas contribuem para aumentar a inseguranccedila alimentar e a pobreza e datildeo origem a novos focos de fome

19 Esse valor se baseia no estudo do Banco Mundial de 2010 ou seja posterior ao AR4 que eacute de 2007 sendo possiacutevel contemplaacute-lo no AR5 Fonte httpwwwipccchpdfassessment-reportar5wg2WGIIAR5-Chap17_FINALpdf

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714 Conclusotildees ndash IPCC

bull O risco associado agraves mudanccedilas climaacuteticas eacute real amplo e variado

bull A existecircncia de divergecircncias sobre os graus de certezaincerteza natildeo eacute razatildeo para adiar a tomada de decisotildees e a implementaccedilatildeo das accedilotildees necessaacuterias

bull As comunidades pobres e marginalizadas seratildeo as mais atingidas

bull Natildeo haacute medidas adaptativas que solucionem todos os problemas especiacuteficos de cada regiatildeo

bull A capacidade de adaptaccedilatildeo tem limite

bull Enfrentar as alteraccedilotildees climaacuteticas exige cooperaccedilatildeo internacional em conjunto com poliacuteticas locais nacionais e regionais eficazes

bull As emissotildees cresceram mais rapidamente ao longo dos uacuteltimos 10 anos (em 22 ao ano) do que ao longo de todo o periacuteodo de 30 anos de 1970 a 2000 (13 por ano)

bull A crise econocircmica mundial de 20072008 reduziu temporariamente as emissotildees mas natildeo alterou a tendecircncia geral de crescimento

bull As emissotildees de dioacutexido de carbono (CO2) de combustiacuteveis foacutesseis continuam a crescer O crescimento foi de cerca de 3 entre 2010 e 2011 e de cerca de 1-2 entre 2011 e 2012

bull O CO2 continua a ser o gaacutes de efeito estufa mais comum represen-tando 76 das emissotildees totais de GEE em 2010

bull Ao longo das uacuteltimas quatro deacutecadas a quantidade total de CO2 na atmosfera duplicou passando de cerca de 900 GtCO2 para o periacute-odo de 1750 a 1970 para 2000 GtCO2 considerando o periacuteodo de 1750 a 2010

bull Os padrotildees regionais de emissotildees de GEE estatildeo mudando de acor-do com as mudanccedilas na economia mundial

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bull Os aumentos de poluiccedilatildeo estatildeo sendo vistos em paiacuteses de renda meacutedia-alta onde o crescimento econocircmico e o desenvolvimento de infraestrutura tecircm sido altos

bull Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel por grande parte das emissotildees globais Em 2012 11 paiacuteses (China Estados Unidos Uniatildeo Europeia Iacutendia Ruacutessia Indoneacutesia Brasil Japatildeo Canadaacute Alemanha Meacutexico e Iratilde20) foram responsaacuteveis por cerca de 70 das emissotildees de CO2 do mundo considerando combustiacuteveis foacutesseis e processos industriais Um pequeno nuacutemero de paiacuteses eacute responsaacutevel pela maio-ria das emissotildees de CO2 que remontam a 1750

bull Mais de 75 do aumento das emissotildees anuais de GEE entre 2000 e 2010 foram a partir do fornecimento nos setores de energia (47) e induacutestria (30)

bull Durante o periacuteodo de 2000 a 2010 o crescimento econocircmico e a populaccedilatildeo foram os dois principais impulsionadores do aumento das emissotildees Sem esforccedilos expliacutecitos para reduzir as emissotildees esses mesmos padrotildees de emissotildees continuaratildeo

bull De acordo com o IPCC a concentraccedilatildeo de mais de 530 partes por milhatildeo (ppm) de CO2 na atmosfera iraacute provavelmente conduzir a um aquecimento global superior a 2degC em relaccedilatildeo aos niacuteveis preacute-indus-triais ndash o limite maacuteximo para o aquecimento global que os governos acordaram nas negociaccedilotildees climaacuteticas da ONU em Cancun no Meacute-xico em 2010 Em 2013 o mundo ultrapassou a marca de 400 ppm pela primeira vez

bull Manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 exigiraacute mudanccedilas de grande escala na matriz global de energia aleacutem de reduccedilotildees profundas nas emissotildees nas proacuteximas deacutecadas

20 httpcaitwriorghistoricalCountry20GHG20Emissionsindicator[]=Total20GHG20Emissions20Excluding20Land-Use20Change20and20Forestryampindicator[]=Total20GHG20Emissions20Including20Land-Use20Change20and20Forestryampyear[]=2012ampsortIdx=1ampsortD

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bull A percentagem de fontes energeacuteticas de baixo carbono que seratildeo necessaacuterias devem pelo menos triplicar ateacute 2050 enquanto as emissotildees de Gases de Efeito Estufa teratildeo de ser reduzidas em 40 a 70 tambeacutem em 2050 (em relaccedilatildeo a 2010)

bull A contribuiccedilatildeo do Grupo de Trabalho 3 afirma que a estabilizaccedilatildeo das concentraccedilotildees de GEE em niacuteveis baixos teraacute de incluir ldquoreduccedilatildeo de longo prazo de tecnologias de conversatildeo de combustiacuteveis foacutes-seisrdquo e sua substituiccedilatildeo por alternativas de baixas emissotildees

bull O relatoacuterio afirma tambeacutem que as concentraccedilotildees de CO2 na atmosfe-ra soacute podem ser estabilizadas se o pico global de emissotildees de CO2

(liacutequido) reduzir-se no longo prazo

bull A transformaccedilatildeo para uma economia de baixo carbono tambeacutem exi-giraacute novos padrotildees de investimento

bull Para manter o aumento da temperatura abaixo de 2degC ateacute 2100 mu-danccedilas significativas nos fluxos anuais de investimento entre 2010 e 2029 seratildeo necessaacuterias

bull O investimento em combustiacuteveis foacutesseis em usinas de energia e na extraccedilatildeo deveraacute diminuir em US$ 30 bilhotildees por ano entre 2010 e 2029 (meacutedia -20) enquanto o investimento em energias de baixo carbono deveraacute aumentar em US$ 147 bilhotildees (media +100 )

bull A poliacutetica de mitigaccedilatildeo pode desvalorizar doaccedilotildees dos paiacuteses expor-tadores de combustiacuteveis foacutesseis com grandes impactos negativos sobre exportadores de carvatildeo Para uma perspectiva o atual inves-timento total anual global no sistema de energia eacute de cerca de US$ 12 trilhatildeo

bull Se forem postergados investimentos e iniciativas ateacute 2030 seraacute mui-to difiacutecil manter o aquecimento abaixo de 2degC

bull O relatoacuterio deixa claro que as promessas feitas pelos governos nas negociaccedilotildees sobre o clima em Cancun no Meacutexico em 2020 natildeo seratildeo suficientes

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bull Para manter o aumento da temperatura abaixo dos 2degC cobenefiacutecios adicionais seratildeo necessaacuterios

bull Tornar menos custoso o caminho para atingir a seguranccedila energeacuteti-ca e os objetivos de qualidade do ar

bull Reduzir os impactos sobre a sauacutede humana e os ecossistemas

bull Melhorar a capacidade dos paiacuteses para atender agraves suas necessida-des de energia o que levaraacute a uma menor volatilidade dos preccedilos e a interrupccedilotildees de fornecimento

72 Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC)

O Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) eacute um organismo cientiacutefico nacional criado em 2009 que tem como objetivo reunir sinte-tizar e avaliar informaccedilotildees cientiacuteficas sobre os aspectos relevantes das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

As informaccedilotildees satildeo divulgadas por meio da elaboraccedilatildeo e publicaccedilatildeo perioacutedica de Relatoacuterios de Avaliaccedilatildeo Nacional Relatoacuterios Teacutecnicos Su-maacuterios para Tomadores de Decisatildeo sobre Mudanccedilas Climaacuteticas e Rela-toacuterios Especiais sobre temas especiacuteficos

O PBMC foi estabelecido nos moldes do Painel Intergovernamental so-bre Mudanccedilas Climaacuteticas (IPCC em Inglecircs)

Na linha de cooperaccedilatildeo internacional e capacitaccedilatildeo o PBMC tambeacutem compartilha meacutetodos resultados e conhecimento com paiacuteses em de-senvolvimento ajudando a fortalecer as suas capacidades nacionais de respostas agraves mudanccedilas climaacuteticas

Disponibiliza informaccedilotildees teacutecnico-cientiacuteficas sobre essas mudanccedilas a partir de avaliaccedilatildeo integrada do conhecimento teacutecnico-cientiacutefico pro-duzido no Brasil ou no exterior sobre causas efeitos e projeccedilotildees re-lacionadas agraves mudanccedilas climaacuteticas e seus impactos de importacircncia para o paiacutes

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721 Pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do PBMC

Lanccedilada em 2013 uma compilaccedilatildeo dos principais pontos levantados no uacuteltimo relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas apresen-ta as principais causas das Mudanccedilas Climaacuteticas Podemos destacar os seguintes pontos

bull A populaccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste se apresenta como a mais vulne-raacutevel agraves mudanccedilas climaacuteticas devido aos baixos iacutendices de desen-volvimento social e econocircmico Essa avaliaccedilatildeo eacute baseada no pressu-posto de que grupos populacionais com piores condiccedilotildees de renda educaccedilatildeo e moradia sofreriam os maiores impactos das mudanccedilas ambientais e climaacuteticas

bull O Semiaacuterido nordestino pode em um clima mais quente no futuro transformar-se em regiatildeo aacuterida Isso pode afetar a agricultura de subsistecircncia regional a disponibilidade de aacutegua e a sauacutede da popu-laccedilatildeo obrigando estas a migrar para outras regiotildees

bull Algumas regiotildees do Brasil poderatildeo ter seus padrotildees de temperatura e de chuva alterados com o aquecimento global Com a mudanccedila dos padrotildees anuais de chuva ou mesmo onde natildeo houver alteraccedilatildeo do total anual deveratildeo ocorrer intensificaccedilotildees dos eventos severos Poderaacute acontecer aumento de eventos extremos principalmente de chuvas nas grandes cidades brasileiras vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas como Satildeo Paulo e Rio de Janeiro

bull No setor agropecuaacuterio as consequecircncias do aquecimento global seratildeo inuacutemeras Espera-se que o aumento da temperatura promo-va um crescimento da evapotranspiraccedilatildeo e consequentemente um aumento na deficiecircncia hiacutedrica com reflexo direto no risco climaacutetico para a agricultura Por outro lado com o aumento da temperatura ocorreraacute uma reduccedilatildeo no risco de geadas no Sul no Sudeste e no Sudoeste do paiacutes acarretando um efeito beneacutefico agraves aacutereas atual-mente restritas ao cultivo de plantas tropicais

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bull De modo geral os estudos revelam que as avaliaccedilotildees considerando projeccedilotildees a partir de modelos climaacuteticos globais ou regionais de mudanccedilas de uso da terra em larga escala ou de cenaacuterios projeta-dos para o futuro podem alterar o clima regional o qual seria mais quente e mais seco sobre a regiatildeo leste da Amazocircnia

bull A dinacircmica climaacutetica deveraacute causar uma migraccedilatildeo das culturas adaptadas ao clima tropical para as aacutereas mais ao sul do paiacutes ou para zonas de altitudes maiores para compensar a diferenccedila climaacute-tica Ao mesmo tempo haveraacute uma diminuiccedilatildeo nas aacutereas de cultivo de plantas de clima temperado do paiacutes Um aumento proacuteximo a 3degC causaraacute uma possiacutevel expansatildeo das culturas de cafeacute e da cana-de--accediluacutecar para aacutereas de maiores latitudes

bull As aacutereas cultivadas com milho arroz feijatildeo algodatildeo e girassol so-freratildeo forte reduccedilatildeo na Regiatildeo Nordeste com perda significativa da produccedilatildeo Duas regiotildees poderatildeo ser mais atingidas toda a aacuterea correspondente ao agreste nordestino hoje responsaacutevel pela maior parte da produccedilatildeo regional de milho e a regiatildeo dos cerrados nor-destinos como sul do Maranhatildeo sul do Piauiacute e oeste da Bahia

722 Outras consideraccedilotildees do PBMC sobre impactos das mudanccedilas climaacuteticas

7221 Recursos hiacutedricos

O impacto das mudanccedilas do clima deve considerar a diversidade hidro-loacutegica do territoacuterio brasileiro

Diversos estudos tecircm sido realizados para identificaccedilatildeo de tendecircncias em diferentes regiotildees e bacias hidrograacuteficas brasileiras considerando as variaccedilotildees naturais e os possiacuteveis efeitos das mudanccedilas climaacuteticas

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As tendecircncias encontradas para as diversas regiotildees do Brasil satildeo

bull Na Amazocircnia natildeo foram verificadas tendecircncias significativas nas chuvas ou vazotildees nas uacuteltimas deacutecadas ainda que o desmatamento tenha aumentado gradativamente nos uacuteltimos vinte anos

bull No Nordeste os estudos natildeo foram consensuais na identificaccedilatildeo da ocorrecircncia ou natildeo de tendecircncias de longo prazo no regime pluviomeacutetrico

bull As precipitaccedilotildees e as vazotildees fluviais na Amazocircnia e no Nordeste apresentam uma variabilidade nas escalas interanual e interdecadal mais importantes do que tendecircncias de aumento ou reduccedilatildeo po-dendo estas estar associadas a padrotildees de variaccedilatildeo climaacutetica de grande escala

bull No sul do Brasil e norte da Argentina foram observadas tendecircncias para aumento das chuvas e vazotildees de rios desde meados do seacuteculo XX O Rio Paranaacute e o Rio da Prata apresentaram uma tendecircncia de queda de 1901 a 1970 e um aumento sistemaacutetico nas vazotildees des-de o iniacutecio da deacutecada de 1970 ateacute o presente A regiatildeo do Pantanal tambeacutem faz parte dessa bacia de modo que qualquer alteraccedilatildeo na vazatildeo dos rios mencionados tem implicaccedilotildees diretas na capacidade de armazenamento desse enorme reservatoacuterio natural

bull A bacia do Rio Paranaacute tem sua seacuterie de vazotildees natildeo estacionaacuterias com as seguintes caracteriacutesticas (1) as seacuteries de vazotildees naturais dos Rios Tietecirc Paranapanema e Paranaacute (a jusante do Rio Grande) natildeo satildeo estacionaacuterias apresentando aumento de vazotildees meacutedias apoacutes o ano de 1970 (2) a taxa de aumento das vazotildees meacutedias cresce de montante para jusante (3) os postos pluviomeacutetricos nas bacias dos Rios Grande Tietecirc e Paranapanema tambeacutem natildeo satildeo estacionaacuterios e (4) somente a bacia do rio Paranaiacuteba manteve a estacionariedade de vazotildees para todo o periacuteodo de anaacutelise

bull As bacias das Regiotildees Sul e Sudeste satildeo de grande importacircncia para a geraccedilatildeo hidreleacutetrica correspondendo a 80 da capacidade

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instalada brasileira A natildeo estacionariedade das seacuteries de vazotildees pode ter impacto significativo no caacutelculo da energia assegurada

a) Ecossistema de aacutegua doce e terrestres

Os principais impactos aos quais os sistemas naturais terrestres e aquaacute-ticos continentais brasileiros estatildeo sujeitos incluem a) desmatamento fragmentaccedilatildeo e impacto sobre recursos naturais renovaacuteveis a partir de mudanccedilas no uso da terra e b) impacto sobre a qualidade de recursos hiacutedricos e sobre o solo por poluiccedilatildeo derivada de accedilatildeo antroacutepica

Esses dois tipos de impactos por sua vez tecircm efeito direto sobre o clima Impactos projetados ateacute 2100 decorrentes de mudanccedilas climaacuteti-cas incluem alteraccedilatildeo no regime de chuvas e aumento de temperatura praticamente para todo o territoacuterio brasileiro implicando em extinccedilatildeo ou mudanccedilas da distribuiccedilatildeo geograacutefica de espeacutecies

b) Ecossistemas oceacircnicos

Estudos recentes demonstraram que as mudanccedilas climaacuteticas podem promover uma redistribuiccedilatildeo em larga escala do Potencial Maacuteximo de Captura (PMC) de vaacuterias espeacutecies ou seja o potencial de pesca com um aumento de 30 a 70 em regiotildees de altas latitudes e quedas nos troacutepicos As perdas e ganhos do PMC nas latitudes tropicais seratildeo da ordem de 10 mas podem atingir valores entre 15 e 50 do lado oeste tropical do Oceano Atlacircntico ao largo da costa brasileira A previ-satildeo eacute a de que o Brasil diminua em 6 seu PMC nos proacuteximos 40 anos

Aspectos positivos decorrentes de mudanccedilas no ambiente poderatildeo tambeacutem ocorrer Estudos apontam para um aumento da produccedilatildeo pes-queira em algumas regiotildees em decorrecircncia de alteraccedilotildees nos padrotildees de distribuiccedilatildeo e da abundacircncia de algumas espeacutecies entre outros as-pectos da sua biologia

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7222 Sistemas e seguranccedila alimentares

Os cenaacuterios agriacutecolas apontam para uma reduccedilatildeo da aacuterea cultivaacutevel de ldquobaixo risco e alto potencialrdquo em 2020 e 2030 O Brasil poderaacute perder cerca de 11 milhotildees de hectares de terras adequadas agrave agricultura por causa das alteraccedilotildees climaacuteticas ateacute 2030

Os efeitos negativos sobre a oferta de commodities devem resultar em preccedilos significativamente mais elevados de algumas mateacuterias-primas especialmente os alimentos baacutesicos como arroz feijatildeo e todos os pro-dutos de carne Isso iraacute compensar o decliacutenio na produtividade sobre o valor da produccedilatildeo agriacutecola mas poderaacute ter importantes efeitos negati-vos sobre os pobres e o consumo desses itens baacutesicos

Diante disso algumas medidas adaptativas para o setor agropecuaacuterio satildeo

bull Para alcanccedilar o desenvolvimento nacional a seguranccedila alimentar a adaptaccedilatildeo e a atenuaccedilatildeo das mudanccedilas climaacuteticas assim como as metas comerciais nas proacuteximas deacutecadas o Brasil precisaraacute elevar de forma significativa a produtividade por aacuterea dos sistemas de cul-tivo de produtos alimentiacutecios e de pastagens ao mesmo tempo re-duzindo o desmatamento reabilitando milhotildees de hectares de terra degradada e adaptando-se agraves mudanccedilas climaacuteticas

bull Medidas adaptativas poderiam promover avanccedilos na incorporaccedilatildeo de novos modelos e paradigmas de produccedilatildeo agropecuaacuteria O foco na descentralizaccedilatildeo da produccedilatildeo na busca de soluccedilotildees mais adaptadas agraves condiccedilotildees locais na diversificaccedilatildeo da oferta interna de alimentos e na qualidade nutricional representa possiacuteveis soluccedilotildees para adap-taccedilatildeo na agricultura Aleacutem disso deve-se buscar o melhoramento ge-neacutetico de variedades tolerantes agrave seca a transiccedilatildeo de produccedilatildeo por monocultivos para sistemas integrados de produccedilatildeo e a ampliaccedilatildeo do acesso agrave tecnologia de irrigaccedilatildeo eficiente e aos mecanismos de ges-tatildeo que conservam e elevam o niacutevel de carbono do solo

bull A utilizaccedilatildeo de novas praacuteticas de manejo agriacutecola contribui para a su-peraccedilatildeo de problemas ocasionados por extremos climaacuteticos como

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por exemplo a defesa contra geadas que incidam sobre a lavoura cafeeira ou a adoccedilatildeo de cultivares mais tolerantes agrave seca em cultu-ras natildeo irrigadas O desenvolvimento de novas tecnologias agriacuteco-las aleacutem de promover a reduccedilatildeo na emissatildeo dos Gases de Efeito Estufa (GEE) promove o aumento da produtividade das culturas

bull O governo brasileiro e o setor privado vecircm facilitando constantemen-te a adoccedilatildeo de melhores praacuteticas agriacutecolas de conservaccedilatildeo do solo como o plantio direto e os sistemas mais eficientes em termos de recursos da mesma maneira que os esquemas de integraccedilatildeo la-voura-pecuaacuteria que satildeo por natureza mais resistentes aos choques climaacuteticos do que alguns modos de cultivo intensivo

bull O governo estaacute concedendo creacutedito e financiamento para o Plano Setorial de Mitigaccedilatildeo e de Adaptaccedilatildeo agraves Mudanccedilas Climaacuteticas para a Consolidaccedilatildeo de uma Economia de Baixa Emissatildeo de Carbono na Agricultura conhecido como Plano ABC composto por tecnologias sustentaacuteveis de baixa emissatildeo de carbono e desenvolvidas para as condiccedilotildees tropicais e subtropicais

bull O acuacutemulo de carbono no solo agriacutecola tambeacutem pode ser qualificado para o recebimento de pagamentos de carbono nos mercados vo-luntaacuterios e formais (futuros)

7223 Subsistecircncia e pobreza

As populaccedilotildees mais vulneraacuteveis aos efeitos do clima satildeo as que por razotildees de ordem social estatildeo mais expostas aos desastres ambientais assim como tecircm menor capacidade de se proteger e de responder aos impactos adversos pelo limitado acesso das pessoas a bens e serviccedilos baacutesicos inclusive os de sauacutede

Na perspectiva de mudanccedilas climaacuteticas comunidades com agricultura familiar dependente de chuvas seratildeo muito mais sensiacuteveis a mudan-ccedilas nos padrotildees da precipitaccedilatildeo em comparaccedilatildeo com outras em que o meio de subsistecircncia dominante seja menos sensiacutevel aos fatores de

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clima Do mesmo modo um ecossistema fraacutegil como a caatinga no Se-miaacuterido brasileiro eacute mais sensiacutevel agrave diminuiccedilatildeo da precipitaccedilatildeo do que outros ecossistemas

Outra consequecircncia de aumento da vulnerabilidade se relaciona agrave alta concentraccedilatildeo da populaccedilatildeo em zonas urbanas principalmente de pessoas dependentes de atividades de subsistecircncia fugindo das con-diccedilotildees adversas de aacutereas rurais mais vulneraacuteveis a tais riscos agra-var-se-atildeo as condiccedilotildees de sobrevivecircncia com implicaccedilotildees sobre a po-breza e consequentemente sobre o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede Consideram-se ainda os aspectos de inseguranccedila alimen-tar em funccedilatildeo da queda prevista de produccedilatildeo da agricultura praticada nos moldes tradicionais As migraccedilotildees para vilas e cidades agravaratildeo o tipo e a qualidade de alimentaccedilatildeo das pessoas resultando em graus variados de subnutriccedilatildeo e problemas de sauacutede como resultado da de-terioraccedilatildeo das condiccedilotildees sanitaacuterias das periferias dos centros urbanos

A existecircncia em territoacuterio brasileiro de vaacuterias doenccedilas infecciosas en-decircmicas sensiacuteveis ao clima pode resultar em alteraccedilatildeo dos respectivos ciclos favorecendo tanto o aumento como a diminuiccedilatildeo de incidecircncias por variaccedilotildees de temperatura e umidade entre outros fatores haacute tam-beacutem a possibilidade de se redistribuiacuterem espacialmente como con-sequecircncia de fenocircmenos demograacuteficos regionais Esse foi o caso dos surtos de calazar (leishmaniose visceral) observados em capitais do Nordeste no iniacutecio das deacutecadas de 1980 e 1990 como consequecircncia da grande migraccedilatildeo rural-urbana impulsionada por secas prolongadas

No Nordeste brasileiro eacute esperado maior impacto das mudanccedilas de clima com reduccedilatildeo da pluviosidade e aumento de temperatura com consequecircncias sobre a produccedilatildeo de alimentos provenientes das es-peacutecies tradicionalmente cultivadas esses impactos tenderatildeo a gerar inseguranccedila alimentar em funccedilatildeo da queda na produccedilatildeo da agricultura de subsistecircncia

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Os impactos de mudanccedilas no clima com reflexos sobre a produccedilatildeo de alimentos e de forma mais abrangente sobre as condiccedilotildees de vida das populaccedilotildees mais vulneraacuteveis provavelmente tornaratildeo mais acentu-adas as diferenccedilas sociais afetando especialmente os mais pobres e resultando em fome por estarem as populaccedilotildees pobres expostas mais diretamente agraves adversidades climaacuteticas A agricultura industrializada talvez poderaacute reagir agraves mudanccedilas do clima poreacutem a de subsistecircncia enfrentaraacute mais dificuldades e deveraacute se adaptar radicalmente explo-rando atividades mais apropriadas dada a vulnerabilidade

Em se tratando do bioma amazocircnico existem grandes desafios para a sua conservaccedilatildeo e preservaccedilatildeo Eacute fundamental manter as atividades econocircmicas sem destruiccedilatildeo de novas aacutereas e reduzir os riscos de mu-danccedilas climaacuteticas A poliacutetica agriacutecola e ambiental tambeacutem eacute importan-te para resolver questotildees socioambientais da Amazocircnia A reduccedilatildeo da destruiccedilatildeo dos recursos naturais dependeraacute do desenvolvimento de ati-vidades agriacutecolas mais sustentaacuteveis e de incentivos como o pagamento por serviccedilos ambientais

7224 Centros urbanos

Cidades enfrentam impactos significativos das alteraccedilotildees climaacuteticas Esses impactos tecircm consequecircncias potencialmente graves para a sauacute-de humana e para os meios de subsistecircncia especialmente para a po-pulaccedilatildeo urbana mais pobre assentamentos irregulares e outros grupos vulneraacuteveis

Aumentar a resiliecircncia das cidades envolve abordar reduccedilatildeo da base de pobreza Uma cidade resiliente eacute aquela que estaacute preparada para os impactos climaacuteticos atuais e futuros limitando assim a sua magnitude e gravidade

As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Qua-se toda a Regiatildeo Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador

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Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo

Nos proacuteximos 30 anos a cidade do Rio Janeiro por exemplo eacute a que mais sofreria entre os municiacutepios do Estado com o aumento do niacutevel do mar chuvas intensas inundaccedilotildees perda de biodiversidade aleacutem do aumento de casos de doenccedilas induzidas pelas mudanccedilas climaacuteticas

O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alte-raccedilotildees do clima

Figura 5 As cidades brasileiras satildeo vulneraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas Quase todo o Nordeste o noroeste de Minas Gerais e as regiotildees

metropolitanas de Satildeo Paulo Rio de Janeiro Belo Horizonte Salvador Brasiacutelia e Manaus satildeo as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis aos efeitos das

mudanccedilas climaacuteticas que podem ocorrer ateacute o final deste seacuteculo O mapa a seguir apresenta as aacutereas do Brasil mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima

segundo o iacutendice misto para medir a vulnerabilidade socioclimaacutetica de uma regiatildeo (SCVI) Aacutereas mais suscetiacuteveis agraves alteraccedilotildees do clima estatildeo em

vermelho correspondendo agraves aacutereas de maior densidade populacionalFonte CCST-INPE UNESP 2012

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Os possiacuteveis impactos dessas mudanccedilas deveratildeo ocorrer em diferentes escalas de acordo com as caracteriacutesticas especiacuteficas de cada regiatildeo do Brasil Faz-se necessaacuterio conhecer e mapear as vulnerabilidades das regiotildees brasileiras para identificar propor e implementar medidas de adaptaccedilatildeo

723 Siacutentese dos principais impactos identificados pelo Grupo de Trabalho 2 do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas

Podemos destacar

a Reduccedilotildees significativas das aacutereas de florestas e matas nos estabe-lecimentos agriacutecolas

b Aumento das aacutereas de pastagens

c As regiotildees Centro-Oeste e Nordeste seriam as mais severamente atingidas

d O plantio de cana-de-accediluacutecar pode ser favorecido

e Reduccedilatildeo do crescimento econocircmico

f Os setores e as regiotildees natildeo satildeo impactados de forma homogecircnea

g A agricultura e a pecuaacuteria satildeo os setores mais sensiacuteveis agraves mu-danccedilas climaacuteticas mas outros setores tambeacutem seriam afetados negativamente

h ldquoPecuarizaccedilatildeordquo mais acentuada das regiotildees rurais no Nordeste

i Aumento das desigualdades regionais

j Aumento das forccedilas de expulsatildeo populacional das zonas rurais

k Pressatildeo sobre demanda por serviccedilos puacuteblicos em grandes aglome-raccedilotildees urbanas

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l Aumento da pobreza

m O aumento na frequecircncia e na intensidade de eventos extremos ten-deria a gerar impactos adversos sobre a produtividade e a produ-ccedilatildeo de culturas agriacutecolas com efeitos perversos sobre a seguranccedila alimentar

n Chuvas intensas e inundaccedilotildees imporiam custos crescentes agraves aglo-meraccedilotildees urbanas

o As condiccedilotildees de sauacutede humana no Brasil poderiam ser severamente afetadas em razatildeo sobretudo do histoacuterico de doenccedilas de veicula-ccedilatildeo hiacutedrica das doenccedilas transmitidas por vetores e das doenccedilas respiratoacuterias

p As mudanccedilas climaacuteticas poderiam ser vistas como potencializado-ras das situaccedilotildees de risco uma vez que tenderiam a intensificar a ocorrecircncia de doenccedilas tropicais pobreza e desastres

q Vulnerabilidades associadas agraves mudanccedilas climaacuteticas no Semiaacuterido nordestino poderatildeo afetar sobretudo a disponibilidade de aacutegua a subsistecircncia regional e a sauacutede da populaccedilatildeo Os agentes mais vul-neraacuteveis agraves mudanccedilas climaacuteticas seriam aqueles com menos recur-sos e menor capacidade de se adaptar tais como os trabalhadores de baixa renda principalmente os agricultores de subsistecircncia na aacuterea do Semiaacuterido A variabilidade climaacutetica obrigaria as populaccedilotildees a migrarem gerando ondas de refugiados ambientais do clima para as grandes cidades da regiatildeo ou para outras regiotildees aumentando os problemas sociais jaacute presentes nas grandes cidades

r A vulnerabilidade econocircmica a mudanccedilas climaacuteticas dos Estados brasileiros em ambos os cenaacuterios do IPCC na Regiatildeo Centro-Oeste seria a que apresentaria maiores impactos nos custos chegando a 45 do PIB em 2050 conforme cenaacuterios previstos pelo PBMC Nes-se mesmo cenaacuterio estimou-se em 2050 uma perda permanente de 31 do PIB regional para a Regiatildeo Norte 29 para o Nordeste e

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24 para o Sudeste em comparaccedilatildeo com o que poderia ter sido em um mundo sem mudanccedilas climaacuteticas No caso da Regiatildeo Sul que se beneficiaria em ambos os cenaacuterios o ganho seria significa-tivo conforme cenaacuterios propostos pelo PBMC (2 do PIB regional em 2050)

s A vulnerabilidade econocircmica da Regiatildeo Nordeste teria efeito nega-tivo sobre o PIB e o emprego Os Estados mais afetados em termos de PIB e emprego no final do periacuteodo de projeccedilatildeo de acordo com os cenaacuterios de mudanccedilas climaacuteticas seriam Pernambuco Paraiacuteba e Cearaacute em relaccedilatildeo agrave situaccedilatildeo sem essas mudanccedilas

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8 Os setores econocircmicos e os impactos climaacuteticos no Brasil

81 Energia

811 Riscos

No contexto mundial o setor energeacutetico eacute um dos maiores contribuintes agrave emissatildeo atmosfeacuterica de GEE e consequentemente pelas mudanccedilas climaacuteticas devido agrave queima de combustiacuteveis foacutesseis (derivados do pe-troacuteleo carvatildeo mineral e gaacutes natural) para geraccedilatildeo de energia

De acordo com as estimativas do Sistema de Estimativa de Emissotildees de GEE do Observatoacuterio do Clima (SEEG) o setor de energia foi o que apresentou a maior taxa meacutedia de crescimento anual no periacuteodo entre 1990 e 2012 As emissotildees do setor partiram de um patamar de 195 mi-lhotildees de toneladas de dioacutexido de carbono equivalente (CO2e) em 1990 para 440 milhotildees de toneladas em 2012 praticamente equiparando-se agraves emissotildees da agropecuaacuteria e da mudanccedila de uso da terra ateacute entatildeo os setores que mais contribuiacuteam para as emissotildees brasileiras A menos que surjam elementos novos que possam reverter essa tendecircncia no futuro proacuteximo eacute bastante provaacutevel que esse setor venha a se tornar o mais importante em termos das emissotildees de GEE

Somente a geraccedilatildeo de eletricidade em decorrecircncia do aumento da par-ticipaccedilatildeo das teacutermicas na base de combustiacutevel foacutesseis que cresceram 21 entre 1990 e 2012 aumentaram as emissotildees de GEE em mais de quatro vezes entre 1990 (94 MtCO2e) e 2012 (485 MtCO2e) ano em que as emissotildees do setor atingiram seu patamar mais elevado repre-sentando 11 das emissotildees do setor de energia que inclui outros seto-res como transportes e induacutestrias (SEEG 2013)

No contexto mundial o Brasil apresenta uma situaccedilatildeo bastante distinta com uma matriz eleacutetrica predominantemente renovaacutevel que coloca a

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naccedilatildeo em situaccedilatildeo privilegiada entre os paiacuteses que almejam uma eco-nomia de baixas emissotildees de carbono

Atualmente da capacidade instalada de empreendimentos em opera-ccedilatildeo no paiacutes 6713 satildeo hidreleacutetricas e 1948 teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis (oacuteleo diesel gaacutes e carvatildeo mineral) aleacutem de 916 de biomassa 269 de energia eoacutelica e 153 de energia nuclear (BIG ANEEL 22072014)

Figura 6 capacidade instalada energeacutetica no Brasil Fonte Adaptado de BIG ANEEL 2272014

O modelo do sistema eleacutetrico brasileiro eacute baseado fortemente em gran-des hidreleacutetricas e em teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis fun-cionando como energia de backup ou seja quando o niacutevel dos reser-vatoacuterios estaacute baixo as teacutermicas satildeo acionadas As demais fontes tecircm exercido um caraacuteter complementar

Com a falta de chuvas o Brasil vem enfrentando nos uacuteltimos anos uma crise no setor devido agrave baixa dos reservatoacuterios necessitando o aciona-mento de termeleacutetricas por um extenso periacuteodo de tempo

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A gestatildeo da seguranccedila energeacutetica de um paiacutes deve estar atenta a cer-tos fatores como a previsibilidade a disponibilidade (presente e futura) e a complementaridade da oferta de energia que favoreccedilam maior di-versificaccedilatildeo e portanto menor risco do mix energeacutetico e melhor preccedilo possibilitando ao gestor do sistema ofertar energia agrave induacutestria e agrave popu-laccedilatildeo a uma tarifa que natildeo pressione os iacutendices de inflaccedilatildeo ou se cons-titua em uma barreira ao desenvolvimento do paiacutes (FGVces EPC 2010)

Em um cenaacuterio de mudanccedilas climaacuteticas as fortes oscilaccedilotildees nos regi-mes de chuva e seca aumentam o risco de abastecimento comprome-tem a seguranccedila energeacutetica do sistema encarecem o preccedilo de energia e aumentam a necessidade do acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis foacutesseis grandes emissoras de GEE

O relatoacuterio do Painel Brasileiro de Mudanccedilas Climaacuteticas (PBMC) publi-cado em 2013 ressaltou que a temperatura no Brasil poderaacute aumentar de 3degC a 6degC no paiacutes em diferentes regiotildees com graves consequecircn-cias sociais ambientais e econocircmicas E as chuvas poderatildeo diminuir em ateacute 40 no Norte-Nordeste o que poderaacute impactar os reservatoacuterios das hidreleacutetricas na Amazocircnia o que jaacute vem ocorrendo atualmente nas regiotildees Sudeste e Nordeste

Segundo Salati et al (2008) a disponibilidade hiacutedrica superficial em diversas bacias hidrograacuteficas e entre elas a amazocircnica seraacute consi-deravelmente impactada em consequecircncia de mudanccedilas no regime climaacutetico A projeccedilatildeo das vazotildees hidroloacutegicas entre 2011 e 2100 con-siderando dois cenaacuterios climaacuteticos distintos aponta para uma reduccedilatildeo significativa nas vazotildees dos corpos drsquoaacutegua sobretudo na regiatildeo Norte

Investir em fontes de energia alternativas como solar eoacutelica e biomas-sa que utilizam sistemas de geraccedilatildeo distribuiacuteda e estatildeo mais proacuteximos dos centros consumidores aleacutem de possibilitar uma maior diversifica-ccedilatildeo podem reduzir significativamente ao longo do tempo os custos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo

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A Alemanha por exemplo investiu US$ 710 bilhotildees em energia reno-vaacutevel reduzindo a operaccedilatildeo de usinas nucleares em 2013 a energia eoacutelica e a energia solar forneceram 60 da demanda do paiacutes um recor-de segundo o instituto de pesquisas Internacional Forum for Renewa-bles Energies Os EUA e a China os dois maiores emissores mundiais de GEE tambeacutem tecircm adotado medidas para combater as mudanccedilas climaacuteticas e para reduzir a poluiccedilatildeo investindo em fontes renovaacuteveis alternativas de energia

O Brasil tem um grande potencial em energias renovaacuteveis alternativas oriundas de Sol vento e biomassa que aleacutem de terem menos impactos e baixas emissotildees de CO2 satildeo recursos abundantes e inesgotaacuteveis di-ferentes dos combustiacuteveis foacutesseis que satildeo recursos finitos e com custo elevado Nosso potencial para geraccedilatildeo com bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar por exemplo poderia chegar a 14000 MW meacutedios em 2021 A geraccedilatildeo pela fonte eoacutelica hoje de 763MW representa menos de 1 da energia gerada no paiacutes mas o Atlas Eoacutelico Brasileiro de 2001 estima um poten-cial de mais de 140 mil megawatts aleacutem do que especialistas afirmam que esse potencial pode duplicar com a utilizaccedilatildeo de aerogeradores com torres mais altas e eficientes A ABEEolica (Associaccedilatildeo Brasileira de Energia Eoacutelica) afirma que o paiacutes tem condiccedilotildees de crescer 2 GW de energia eoacutelica por ano Sem falar na energia solar cujo iacutendice de radia-ccedilatildeo solar no Brasil eacute um dos mais altos do mundo e estudos apontam que se apenas 5 desse potencial fossem aproveitados poderiacuteamos suprir a demanda de energia eleacutetrica no paiacutes

Aleacutem de aumentar a diversificaccedilatildeo e a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis alternativas eacute imprescindiacutevel aumentar a eficiecircncia energeacutetica no consu-mo da energia gerada Os investimentos em eficiecircncia e conservaccedilatildeo de energia tecircm sido muito baixos nos uacuteltimos anos Investimentos em efici-ecircncia energeacutetica nos setores eletro-intensivos industriais e residenciais e em sistemas inteligentes de gerenciamento de energia (Smart Grid) tra-zem ganhos econocircmicos seguranccedila reduzem a necessidade de expan-satildeo do sistema e consequentemente reduzem as emissotildees de GEE

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Dessa forma para enfrentar a crise e garantir a seguranccedila energeacute-tica seria fundamental investir em um modelo de planejamento susten-taacutevel eficiente e adaptado agraves mudanccedilas climaacuteticas Seraacute necessaacuterio investir mais em medidas de eficiecircncia e racionalizaccedilatildeo energeacutetica e ampliar a participaccedilatildeo de outras fontes de energia limpa e renovaacutevel como solar biomassa energia eoacutelica e pequenas centrais hidreleacutetricas que satildeo complementares principalmente nos meses de menor incidecircn-cia de chuvas Isso possibilitaria poupar o uso dos reservatoacuterios das grandes hidreleacutetricas reduzindo a necessidade de acionamento das teacutermicas agrave base de combustiacuteveis

Nesse cenaacuterio eacute importante

bull Criar incentivos para aumentar a participaccedilatildeo de fontes renovaacuteveis de energia e apoiar a cadeia produtiva dessas fontes

bull Aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento princi-palmente de fontes que necessitam de um maior desenvolvimento tecnoloacutegico no paiacutes como por exemplo a solar e a maremotriz (ge-raccedilatildeo de energia por meio do movimento das mareacutes)

bull Realizar leilotildees anuais especiacuteficos para cada fonte (eoacutelica solar bio-massa e PCH)

bull Garantir linhas de financiamento para projetos de fontes renovaacuteveis alternativas e de eficiecircncia energeacutetica que incluam a cadeia de pro-duccedilatildeo de maacutequinas e equipamentos

bull Criar incentivos tributaacuterios para investimentos em eficiecircncia e gera-ccedilatildeo de energias renovaacuteveis alternativas

bull Estabelecer metas de curto a longo prazo de capacidade instalada de fontes renovaacuteveis alternativas para garantir uma maior diversifi-caccedilatildeo e participaccedilatildeo dessas fontes na matriz eleacutetrica brasileira

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812 Oportunidades

Podemos identificar a seguintes oportunidades

bull Melhoria da eficiecircncia da oferta e distribuiccedilatildeo de energia com a am-pliaccedilatildeo da geraccedilatildeo e uso de fontes renovaacuteveis

bull Substituiccedilatildeo de combustiacuteveis que satildeo mais carbono-intensivos por aqueles com menor teor de carbono ou por outros de fontes renovaacuteveis

bull Aumento de investimentos em projetos de captaccedilatildeo e armazena-mento de carbono

bull Investimentos em conservaccedilatildeo e eficiecircncia energeacutetica e criaccedilatildeo de linhas de financiamento com taxas diferenciadas e direcionadas que impulsionem o mercado de eficiecircncia energeacutetica

bull Criaccedilatildeo de linhas especiacuteficas para realizaccedilotildees de diagnoacutesticos de eficiecircncia energeacutetica

bull Incentivo agrave eficiecircncia energeacutetica nas induacutestrias por meio de linhas de financiamento diferenciadas e subsiacutedios tarifaacuterios de forma a tor-nar atraentes os investimentos no setor industrial e eletro-intensivo brasileiro buscando a inserccedilatildeo nos mercados externos e o atendi-mento aos padrotildees ambientais cada vez mais exigentes

bull Aumento da eficiecircncia no consumo de recursos naturais e energeacuteti-cos no setor da construccedilatildeo civil por meio de linhas de financiamento diferenciadas para a promoccedilatildeo do retrofit (revitalizaccedilatildeoreforma de uma construccedilatildeo preservando aspectos originais e adaptando-a agraves exigecircncias e aos padrotildees atuais) bem como do uso de energia solar para aquecimento e geraccedilatildeo de eletricidade

bull Promoccedilatildeo da eficiecircncia na transmissatildeo distribuiccedilatildeo e no consumo de energia mediante incentivos agrave pesquisa e desenvolvimento de novos modelos de transmissatildeo e distribuiccedilatildeo de energia bem como de materiais e equipamentos implantaccedilatildeo de redes inteligentes (smart grids) e criaccedilatildeo de incentivos agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda

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bull Incentivo agraves energy service companies (ESCO) cujo papel eacute funda-mental para o desenvolvimento de projetos de eficiecircncia energeacuteti-ca Com a ampliaccedilatildeo dos recursos e das linhas de financiamento bem como com maior celeridade no processo de aprovaccedilatildeo com os agentes financiadores Aleacutem disso deveriam ser criadas linhas es-peciacuteficas para os setores industriais eletro-intensivos e residenciais com taxas de juros diferenciadas tornando os investimentos em efi-ciecircncia energeacutetica mais atraentes

bull Promoccedilatildeo de leilotildees de projetos de eficiecircncia energeacutetica conside-rando a reduccedilatildeo de demanda por meio de investimentos para me-lhoria da eficiecircncia no consumo industrial A proposta considera que o MWh mais barato atualmente no mercado nacional eacute aquele origi-nado em accedilotildees de eficiecircncia que poderiam ser financiadas no longo prazo por linhas de creacutedito diferenciadas sendo a energia reduzida comercializada pela empresa concessionaacuteria que investiu no projeto

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento direcionadas ao setor de energia renovaacutevel oferecendo creacutedito mais barato para projetos e para a ins-talaccedilatildeo de uma induacutestria nacional de componentes para essa cadeia produtiva

bull Incentivo agraves operaccedilotildees do mercado financeiro e de capitais volta-dos ao desenvolvimento de novas tecnologias em energias renovaacute-veis considerando o importante papel dos fundos de capital em-preendedor (angel investors seed capital venture capital private equity) apresentam para o financiamento de empresas e tecnologias incipientes

bull Criaccedilatildeo de incentivos fiscais ou tributaacuterios para projetos de geraccedilatildeo de fontes alternativas de energia e de eficiecircncia energeacutetica Incenti-vos econocircmicos satildeo uma importante ferramenta para investimentos em projetos ainda natildeo financiados por bancos de investimento de forma a possibilitar seu desenvolvimento a partir de centros de pes-quisa ou incubadoras tecnoloacutegicas

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bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e incentivo ao uso de equi-pamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala e pela criaccedilatildeo de um sistema para comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pelas concessionaacuterias de energia

bull Realizaccedilatildeo de leilotildees anuais especiacuteficos por fontes para geraccedilatildeo de energia renovaacuteveis alternativas (eoacutelica solar biomassa e PCH) Os leilotildees especiacuteficos evitam a competiccedilatildeo entre diferentes fontes alter-nativas garantem contratos de longo prazo de compra da energia gerada e maior seguranccedila aos investidores

bull Pagamento de tarifas diferenciadas ou incentivadas para tecnologias em maturaccedilatildeo (tarifas feed-in) e a garantia de compra em contratos de longo prazo bem como o incentivo agrave pesquisa e ao desenvolvi-mento de tecnologias inovadoras

bull Estiacutemulo agrave geraccedilatildeo distribuiacuteda e ao consumo de energia renovaacutevel por meio de financiamentos diferenciados e do incentivo ao uso de equipamentos de geraccedilatildeo de energia renovaacutevel em microescala como paineacuteis solares (fotovoltaicos e solar teacutermicos) e pequenas tur-binas eoacutelicas nas instalaccedilotildees industriais comerciais e residenciais

bull Criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de energia renovaacutevel pe-las Concessionaacuterias de Transmissatildeo e Distribuiccedilatildeo de Energia que permita a compra da ldquoenergia verderdquo excedente e a criaccedilatildeo de um sistema de comercializaccedilatildeo de certificados de energias renovaacuteveis

bull Aperfeiccediloamento do caacutelculo do Iacutendice Custo Benefiacutecio (ICB) de modo a internalizar os benefiacutecios socioambientais dos empreendi-mentos baseados em energias renovaacuteveis alternativas consideran-do as externalidades ambientais negativas dos empreendimentos que utilizem combustiacuteveis foacutesseis ou que gerem grandes impactos ambientais e sociais

83

82 Transportes

821 Riscos

Segundo dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissotildees de Gases de Efeito Estufa) o aumento das emissotildees de GEE do setor de energia no Brasil estaacute relacionado principalmente ao uso de combustiacuteveis foacutes-seis Nesse contexto somente o setor de transportes foi responsaacutevel por 422 das emissotildees provenientes da queima de combustiacuteveis foacutes-seis seguido pelo setor industrial (175) e geraccedilatildeo de energia eleacutetrica (107) O setor de transportes tem apresentado as taxas de cresci-mento do consumo de energia mais elevadas especialmente nos uacutelti-mos dez anos do periacuteodo avaliado (442 ao ano entre 2002 e 2012) As emissotildees de CO2 refletem esse comportamento do consumo ener-geacutetico mais do que dobraram nas uacuteltimas deacutecadas passando de 84 milhotildees de toneladas em 1990 para 204 milhotildees em 2012 (SEEG 2014)

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil em 2010

Perfil de emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no mundo em 2010

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

12

Setor Energeacutetico

6

Induacutestria29

Transporte43

Outros10

Os valores brasileiros foram obtidos da IEA e diferem dos reportados pelo SEEG pois na induacutestria estatildeo incluiacutedas as emissotildees geradas pelo uso de coque de carvatildeo mineral na reduccedilatildeo do mineacuterio de ferro

Geraccedilatildeo de energia eleacutetrica

41

Setor Energeacutetico

5

Induacutestria21

Transporte22

Outros11

Figura 7 Perfil de Emissotildees de CO2 pela queima de combustiacuteveis no Brasil Fonte SEEG 2014

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Devido agrave predominacircncia do modal rodoviaacuterio e agrave forte dependecircncia do petroacuteleo especialmente pela utilizaccedilatildeo do oacuteleo diesel por veiacuteculos pe-sados que efetuam o transporte coletivo de passageiros e de cargas e pela utilizaccedilatildeo da gasolina nos demais veiacuteculos automotores o setor de transportes configura-se possivelmente como o maior responsaacutevel pela queima de combustiacuteveis foacutesseis no paiacutes

O predomiacutenio do modal rodoviaacuterio explica em grande medida a enorme importacircncia que o oacuteleo diesel tem no setor de transportes bem como a presenccedila do caminhatildeo como principal fonte de emissotildees de GEE natildeo apenas no setor de transportes mas no setor de energia como um todo Basta ver que as emissotildees dos caminhotildees no Brasil (822 Mt) estatildeo mui-to proacuteximas por exemplo das emissotildees de todo o setor industrial (912 Mt) conforme dados do SEEG 2014

Eacute oportuno lembrar que existe tecnologia que permite usar o etanol como substituto do diesel Trata-se de um mercado mundial maior que o da gasolina de acordo com a IEA (International Energy Agency) pois engloba os caminhotildees dedicados para transporte de cargas aleacutem de uma fraccedilatildeo de automoacuteveis com tendecircncia a aumentar sua presenccedila relativa ateacute 2050 em escala global Portanto para os responsaacuteveis pelo planejamento estrateacutegico de longo prazo faz sentido promover a tecno-logia de uso de etanol em motores tipo diesel

A dependecircncia excessiva no transporte rodoviaacuterio justifica-se em par-te pela baixa disponibilidade e pelas limitaccedilotildees atuais do transporte ferroviaacuterio de cabotagem e de navegaccedilatildeo de interior As dimensotildees territoriais do Brasil e suas condiccedilotildees geograacuteficas (extensatildeo da costa oceacircnica bacias hidrograacuteficas) natildeo condizem com uma matriz de trans-porte de carga centrada no modal rodoviaacuterio Uma matriz mais diversi-ficada por meio da integraccedilatildeo intermodal com maior participaccedilatildeo dos modais ferroviaacuterio e aquaviaacuterio (fluvial e de cabotagem) eacute de importacircncia estrateacutegica para o paiacutes pois reduz o consumo energeacutetico por tonelada transportada por quilocircmetro diminui os custos logiacutesticos e aumenta a competitividade da induacutestria nacional (FGVCes EPC 2010)

85

92

5

2

1

2012

Rodoviaacuterio Aeacutereo

Hidroviaacuterio Ferroviaacuterio

2

45

315

2

132

2012

Oacuteleo Combustiacutevel Oacuteleo DieselGasolina Automotiva Querosene de AviaccedilatildeoGaacutes Natural EtanolBiodiesel EletricidadeGasolina de Aviaccedilatildeo

Figura 8 Participaccedilatildeo do consumo de energia no setor de transportes ndash2012 Fonte BEN 2013 Ano-Base 2012 (MMEEPE 2013)

O Brasil poderia baixar significativamente suas emissotildees no transporte de cargas se explorasse melhor outros modais e fizesse uma integra-ccedilatildeo entre eles Contudo a ampliaccedilatildeo da oferta de ferrovias e hidrovias e a criaccedilatildeo de plataformas logiacutesticas requerem investimentos robustos com projetos de longo periacuteodo de maturaccedilatildeo e implantaccedilatildeo e segundo o Plano Nacional de Logiacutestica de Transportes (PNLT) marco do pla-nejamento de transportes no Brasil o modal rodoviaacuterio seguiraacute crescen-do Dessa forma melhorar a infraestrutura das estradas e rodovias e a eficiecircncia no consumo de combustiacuteveis eacute fundamental para reduzir as emissotildees a curto e meacutedio prazos (SEEG 2014)

A integraccedilatildeo das ldquopropostas climaacuteticasrdquo ao PNLT torna-se natural pois se verifica que os modais de transporte alternativos ao rodoviaacuterio pro-

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movem menor emissatildeo de CO2 por unidade de carga ou passageiro transportado e nesse caso consistem em uma alternativa que resulta na melhoria da qualidade do transporte de cargas e passageiros com ganhos sistecircmicos nos campos econocircmico e ambiental com reflexos sociais positivos pela possiacutevel reduccedilatildeo de custos dos produtos ven-didos e exportados em consequecircncia de menor custo logiacutestico para abastecimento e distribuiccedilatildeo da produccedilatildeo (FGVCes EPC 2014)

Ainda que o sistema de transporte brasileiro privilegie fortemente o mo-dal rodoviaacuterio a disponibilidade de rodovias pavimentadas no Brasil ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao total de rodovias do paiacutes correspon-dendo a apenas 13 Segundo pesquisa realizada pela CNT (2013)21 sobre as condiccedilotildees de traacutefego nas rodovias brasileiras cerca de 30 de toda a malha rodoviaacuteria pavimentada podem ser classificadas como ruins ou peacutessimas em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees de pavimentaccedilatildeo e sinali-zaccedilatildeo o que aleacutem de acarretar acidentes incide em maior tempo de deslocamento e maior consumo energeacutetico e consequentemente em mais emissotildees trazendo prejuiacutezos sociais econocircmicos e ambientais para o paiacutes

No sistema de transporte de passageiros o ritmo acelerado de cresci-mento do consumo de energia e de emissotildees de GEE nos uacuteltimos anos se explica principalmente pela ampliaccedilatildeo do uso da gasolina nos au-tomoacuteveis em detrimento do etanol e pela predominacircncia do transporte individual em relaccedilatildeo ao transporte puacuteblico

Ainda que a matriz energeacutetica do setor de transportes brasileiro tenha destaque no cenaacuterio internacional por ter uma participaccedilatildeo razoaacutevel dos biocombustiacuteveis (aacutelcool etiacutelico anidro ou hidratado e biodiesel e a adiccedilatildeo do biodiesel ao oacuteleo diesel na proporccedilatildeo de 5 desde 2010)

21 De acordo com a metodologia do relatoacuterio da CNT (2007) nos resultados gerais satildeo considerados todos os trechos rodoviaacuterios pesquisados tanto de rodovias federais como de rodovias estaduais e nos dois casos incluindo rodovias sob gestatildeo estatal e pedagiadas Denomina-se avaliaccedilatildeo do estado geral a anaacutelise simultacircnea das caracteriacutesticas de pavimento sinalizaccedilatildeo e geometria viaacuteria

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desde 2009 houve uma crescente perda de espaccedilo do etanol para a gasolina no transporte de passageiros passando de 34 em 2009 para 23 em 2012

O mercado de etanol vem sofrendo vaacuterios impactos nos uacuteltimos anos principalmente em decorrecircncia de perda de produtividade por conta das secas que impactaram a produccedilatildeo da cana-de-accediluacutecar competiccedilatildeo econocircmica com a gasolina devido agrave variaccedilatildeo dos preccedilos internacionais do petroacuteleo e do accediluacutecar e o preccedilo da gasolina

Aleacutem dos fatores acima destacados quando o preccedilo internacional do accediluacutecar estaacute elevado haacute desvio da produccedilatildeo de etanol para o accediluacutecar o que reduz a produccedilatildeo de etanol hidratado e consequentemente pro-move seu aumento de preccedilo Essa flutuaccedilatildeo de preccedilos desagrada o consumidor o que tem levado grande parte dos proprietaacuterios de veiacutecu-los flex-fuel a optar pelo uso da gasolina o que acarretou um aumento consideraacutevel das emissotildees no transporte de passageiros

Eacute necessaacuterio avanccedilar e investir cada vez mais no potencial brasileiro em energias renovaacuteveis o que aleacutem de atenuar as questotildees climaacuteticas traz ganhos de competitividade e poderia tornar o paiacutes exportador de tecnologias limpas e de biocombustiacuteveis

Para tanto seria necessaacuterio criar uma Poliacutetica de Desenvolvimento In-dustrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecnoloacutegico voltado ao mercado nacional e internacional que possibilitasse ao paiacutes se tornar autossuficiente em biocombustiacuteveis e tecnologias limpas bem como se transformar em um polo exportador de tecnologia e de produtos industrializados (FGVCes EPC 2010)

Aleacutem disso o governo brasileiro tem tido um papel de destaque nas negociaccedilotildees de clima e para manter os seus compromissos e atingir as suas metas de reduccedilotildees de emissotildees de GEE poderia investir mais em energias e combustiacuteveis renovaacuteveis evitando o aumento exponencial das emissotildees do setor de energia

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A eficiecircncia do consumo energeacutetico e a reduccedilatildeo de emissotildees tanto do transporte de cargas quanto do transporte de passageiros pas-sa pela ampliaccedilatildeo do uso de fontes renovaacuteveis de energia na matriz de transporte por meio da promoccedilatildeo dos biocombustiacuteveis (etanol de cana-de-accediluacutecar e biodiesel) e pela introduccedilatildeo de novas tecnologias de combustatildeo e de combustiacuteveis alternativos eou mais eficientes As propostas no acircmbito da incorporaccedilatildeo de biocombustiacuteveis na matriz energeacutetica de transportes satildeo tratadas nos Planos Setoriais de Energia e de Agricultura22

Desde a deacutecada de 1950 o governo brasileiro optou por um sistema de transporte rodoviaacuterio que incentiva o uso dos automoacuteveis apoiando a induacutestria automobiliacutestica e criando e expandido a malha viaacuteria Mais re-centemente a poliacutetica de reduccedilatildeo de IPI para a compra de automoacuteveis que vem ocorrendo desde 1993 resultou em um crescimento vertiginoso da frota de veiacuteculos causando grandes congestionamentos nas cidades e gerando uma perda significativa de eficiecircncia e de mobilidade urbana acarretando em aumento das emissotildees de GEE e da poluiccedilatildeo sonora e do ar acidentes impactos na sauacutede e na qualidade de vida das popula-ccedilotildees e perdas de produtividade O custo da emissatildeo de poluentes locais e dos acidentes de tracircnsito nas cidades com mais de 60 mil habitantes atingiu em 2012 a cifra de R$ 215 bilhotildees Segundo dados da SEEG o transporte individual foi responsaacutevel por 80 das emissotildees

Nos uacuteltimos anos o Brasil tem passado por um processo de crescimen-to econocircmico acompanhado de distribuiccedilatildeo de renda que somado ao aumento de creacutedito e promoccedilatildeo de benefiacutecios tributaacuterios para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos tem resultado no aumento significativo da taxa de motori-zaccedilatildeo da populaccedilatildeo Combinados com as facilidades para a circulaccedilatildeo

22 Propostas empresariais de poliacuteticas puacuteblicas para uma economia de baixo carbono no Brasil Energia Transportes e Agropecuaacuteria Realizaccedilatildeo FGV-GVces e EPC Novembro de 2010 (httpss3-sa-east-1amazonawscomarquivosgvcescombrarquivos_epcarquivos180GVces-EPC_PEPPEBCB_EnergiaTransportesAgropecuaria_2010pdf)

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dessa frota23 e com a baixa qualidade do transporte puacuteblico esse fenocirc-meno tem reforccedilado o uso do transporte individual (SEEG 2014)

Figura 9 Evoluccedilatildeo das emissotildees de CO2 e no transporte rodoviaacuterio de passageiros

Fonte elaborado a partir do Inventaacuterio Nacional de Emissotildees Atmosfeacutericas por Veiacuteculos Automotores Rodoviaacuterios 2013 Ano-Base 2012 (MMA 2014)

Assim o desafio que se apresenta eacute a adoccedilatildeo de um conjunto de me-didas que ao mesmo tempo reduza as emissotildees de GEE e amplie a acessibilidade e a mobilidade urbana por meio de accedilotildees de planejamen-to que viabilizem uma integraccedilatildeo intermodal e melhorias no transporte puacuteblico aumentando a oferta e melhorando a comodidade e a qualida-de para os seus usuaacuterios Tambeacutem podem ser adotados instrumentos regulatoacuterios e econocircmicos que desestimulem o uso do transporte indi-

23 Acrescente-se ainda que o desenho urbano tem induzido agrave expansatildeo das vias como suporte ao transporte individual motorizado de modo a oferecer as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para a circulaccedilatildeo e acessibilidade de quem usa o automoacutevel Este tipo de desenho urbano que integra um conjunto de medidas conhecido internacionalmente como ldquocar oriented developmentrdquo pode ser facilmente identificado ao se observar o desenho contiacutenuo das vias e os investimentos em viadutos tuacuteneis e outros tipos de obras que aumentam a capacidade viaacuteria para o transporte individual

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vidual motorizado (ex rodiacutezio de placas pedaacutegio urbano em zonas co-merciais e de grande circulaccedilatildeo restriccedilatildeo de aacutereas de estacionamento etc) Medidas que podem proporcionar a migraccedilatildeo de usuaacuterios dos veiacuteculos particulares para o transporte coletivo

Para um planejamento do sistema de transporte com qualidade e com baixas emissotildees de GEE eacute necessaacuterio investir na infraestrutura de mo-dais de transporte urbano coletivo de menor intensidade carbocircnica como trem metrocirc BRT e VLT (veiacuteculos leves sobre trilhos) e de modais natildeo motorizados (ciclovias calccediladas de pedestres) aleacutem de terminais de integraccedilatildeo e equipamentos estruturais que reduzam o tempo de des-locamento e viabilizem a interconexatildeo entre os diferentes modais (tarifa uacutenica para diferentes meios de transporte bicicletaacuterios pontos de ocircni-bus faixas exclusivas de ocircnibus ou VLT etc)

Esses investimentos devem proporcionar o acesso da populaccedilatildeo ao trans-porte coletivo de qualidade o que para aleacutem da ampliaccedilatildeo da oferta da malha e da renovaccedilatildeo de frota implica reduzir significativamente o tempo de trajeto e respeitar limites internacionais recomendados de densidade em horaacuterio de pico (passageirosm2) (FGVCes EPC 2010)

Embora as diferentes opccedilotildees de transporte puacuteblico sejam capazes de tirar dezenas de veiacuteculos das ruas por conseguinte reduzindo as emis-sotildees do setor de transportes a maior parte dos ocircnibus ainda eacute movida a diesel Eacute possiacutevel ir em direccedilatildeo a opccedilotildees de veiacuteculos de menor emissatildeo (ou natildeo emissoras) de GEE como biocombustiacutevel eletricidade e outras tecnologias limpas O Brasil jaacute tem algumas experiecircncias piloto realiza-das com ocircnibus movidos a eletricidade (hiacutebrido eletricidade-diesel) a etanol e a hidrogecircnio (FGVCes EPC 2010)

Financiamentos e parcerias com instituiccedilotildees de pesquisa satildeo essenciais para garantir que tecnologias como essas ganhem viabilidade financeira e escala comercial passando a fazer parte das frotas de ocircnibus das cidades brasileiras Desse modo verifica-se a necessidade de poliacuteticas de PampD para o setor de transportes de forma a envolver a induacutestria automobiliacutestica

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e sua cadeia de fornecedores as agecircncias de fomento agrave pesquisa cientiacutefi-ca e as universidades e centros de pesquisa (FGVCes EPC 2010)

Desse modo aleacutem de melhorar a mobilidade e a interconexatildeo modal eacute necessaacuterio inovar em tecnologias veiculares que garantam mais efi-ciecircncia no consumo e a utilizaccedilatildeo de combustiacuteveis mais limpos e com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE Por exemplo motores mais efi-cientes e equipamentos que contribuam para a reduccedilatildeo do consumo de combustiacutevel motocicletas flex-fluel caminhotildees e ocircnibus movidos a biodiesel e etanol veiacuteculos hiacutebridos eleacutetricos e aviotildees movidos a etanol avanccedilado Aleacutem do incentivo aos modais natildeo motorizados que aleacutem de trazerem ganhos para o meio ambiente beneficiam a sauacutede e a qualida-de de vida de seus usuaacuterios como andar a peacute ou de bicicleta

822 Oportunidades

Poliacuteticas de incentivo ao uso mais eficiente da energia no setor de trans-portes poderiam abranger

bull Aumento da eficiecircncia no setor que pode se dar pela adoccedilatildeo de praacuteticas de reduccedilatildeo do consumo a partir da gestatildeo de frotas e com-bustiacuteveis e melhoria da logiacutestica de cargas

bull Melhoria da infraestrutura e da logiacutestica para o transporte de cargas de modo a aumentar a participaccedilatildeo de modais mais eficientes como o ferroviaacuterio e o aquaviaacuterio

bull Estiacutemulo ao transporte ferroviaacuterio por meio do incentivo ao investimento na ampliaccedilatildeo da malha ferroviaacuteria e adequaccedilatildeo da estrutura existente

bull Estiacutemulo ao transporte aquaviaacuterio por meio do desenvolvimento de rotas fluviais e de transporte mariacutetimo

bull Investimentos em melhorias e expansatildeo de estradas e vias urbanas asfaltadas

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para a produccedilatildeo de etanol de segunda e terceira geraccedilotildees para substituir

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o diesel e o querosene de aviaccedilatildeo bem como de novas mateacuterias-pri-mas para a produccedilatildeo de biodiesel

bull Financiamentos e investimentos em pesquisa e desenvolvimento para veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos especialmente que utilizem fontes renovaacuteveis com baixa emissatildeo ou que natildeo emitam GEE (solar hidro-gecircnio etanol etc)

bull Investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para motores e equipamentos que tenham mais eficiecircncia e menor volume de emissotildees

bull Criaccedilatildeo de uma Poliacutetica de Desenvolvimento Industrial baseada em incentivos e subsiacutedios para o estabelecimento de um parque tecno-loacutegico para o desenvolvimento de tecnologias limpas para os setores energeacutetico de transportes e industrial

bull Incorporaccedilatildeo de tecnologias veiculares que promovam aumento da eficiecircncia energeacutetica de motores e veiacuteculos como um todo

bull Incentivo agrave produccedilatildeo e agrave venda de veiacuteculos que utilizem combustiacute-veis renovaacuteveis e eleacutetricos com a criaccedilatildeo de linhas de financiamento e incentivos para aquisiccedilatildeo de veiacuteculos eleacutetricos hiacutebridos

bull Estiacutemulo ao desenvolvimento de rotas de transporte regional de passageiros

bull Instalaccedilatildeo de infraestrutura para modais de maior eficiecircncia bem como a adequaccedilatildeo com construccedilatildeo de terminais de conexatildeo e trans-bordo entre os modais em pontos estrateacutegicos de integraccedilatildeo

bull Poliacuteticas de promoccedilatildeo da sustentabilidade na mobilidade urbana por meio do incentivo ao transporte puacuteblico de grande capacidade da estruturaccedilatildeo de um modelo de BRT (Bus Rapid Transit) e de Veiacuteculos Leves sobre Trilhos com criaccedilatildeo de incentivos para adoccedilatildeo nos mu-niciacutepios brasileiros e extensatildeo da malha e da melhoria da qualidade do modal ferroviaacuterio urbano (trens metropolitanos e metrocirc)

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bull Investimento em ciclovias nas cidades brasileiras e de bicicletaacuterios em terminais de conexatildeo e transbordo e em estaccedilotildees de metrocirc e trem

bull Incentivo ao plantio e ao aumento da produtividade de gecircneros agriacute-colas que sirvam de insumo para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Criaccedilatildeo de linhas de financiamento para a produccedilatildeo de biocombustiacuteveis

bull Incentivos fiscais e garantia de compra para a produccedilatildeo e comercia-lizaccedilatildeo de biodiesel

bull Incentivo agrave cogeraccedilatildeo de energia eleacutetrica a partir da biomassa

bull Revisatildeo da capacidade de endividamento do setor agriacutecola

bull Incentivos fiscais para empresas com frota baseada em combustiacute-veis renovaacuteveis

83 Agronegoacutecio

831 Riscos

No mundo o Brasil ocupa o 4deg lugar no ranking das emissotildees em ati-vidades agropecuaacuterias Os dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) para o ano de 2012 mostram que a agropecuaacuteria foi responsaacutevel por 297 das emissotildees brasileiras e as emissotildees do setor cresceram em quase 50 nos uacuteltimos anos passan-do de 300 Mt de CO2 em 1990 para 440 Mt de CO2 em 2012 acompa-nhando a expansatildeo agriacutecola e o aumento da produtividade

O Brasil assistiu a um grande crescimento do setor agropecuaacuterio nos uacuteltimos anos e hoje eacute o 3ordm maior exportador agropecuaacuterio do mundo depois dos EUA e do grupo dos 27 paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia (FAO 2010 FGVCes EPC 2010)

As emissotildees provenientes da mudanccedila de uso do solo pela expansatildeo agriacutecola e da pecuaacuteria em aacutereas de vegetaccedilatildeo nativa natildeo estatildeo incluiacute-

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das nas emissotildees da agropecuaacuteria mas se fossem somadas responde-riam por mais de 60 das emissotildees brasileiras em 2012 E em relaccedilatildeo aos tipos de GEE emitidos as atividades decorrentes da mudanccedila do uso da terra e florestas representam a maior fonte de emissotildees de di-oacutexido de carbono (CO2) enquanto a agropecuaacuteria eacute responsaacutevel pela maior parte das emissotildees de metano (CH4) e oacutexido nitroso (N2O) gases com maior potencial de efeito-estufa

Entre as principais fontes de emissatildeo de GEE do setor a fermentaccedilatildeo enteacuterica do rebanho de ruminantes resultante do processo digestivo principalmente do gado bovino ocupa o primeiro lugar Os bovinos satildeo herbiacutevoros ruminantes que ao fazerem digestatildeo liberam grande quantidade de metano na atmosfera Dados demonstram que 56 das emissotildees de GEE na agropecuaacuteria satildeo provenientes da fermentaccedilatildeo enteacuterica sendo a pecuaacuteria bovina a maior responsaacutevel por esse volume devido ao tamanho do rebanho brasileiro (SEEG 2014)

Em segundo lugar aparecem as emissotildees das atividades em solos agriacute-colas (que inclui o uso de adubo animal fertilizantes sinteacuteticos e restos de culturas agriacutecolas) Seguidas das emissotildees do manejo de dejetos de animais em pastagens e de suiacutenos aves e bois confinados e das emis-sotildees do cultivo de arroz irrigado e da queima de resiacuteduos agriacutecolas como os da cana-de-accediluacutecar Ao transformar os gases em CO2 equiva-lente eacute possiacutevel dizer que 86 das emissotildees do setor satildeo provenientes da produccedilatildeo animal aproximadamente 6 da produccedilatildeo vegetal e 7 da aplicaccedilatildeo de fertilizantes nitrogenados (SEEG 2014)

Bovinocultura de Corte

A pecuaacuteria de corte no Brasil alcanccedilou em 2012 um rebanho de 211 milhotildees de cabeccedilas (IBGE) mantendo o paiacutes em segundo lugar no ranking de maior produtor de carne bovina do mundo e maior exporta-dor mundial A produccedilatildeo concentra-se principalmente nos estados do Centro-Oeste e do Sudeste sendo o Mato Grosso o maior produtor do

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Brasil com mais de 28 milhotildees de cabeccedilas seguido de Minas Gerais Goiaacutes Mato Grosso do Sul e Paraacute (SEEG 2014)

As projeccedilotildees do agronegoacutecio preveem um aumento de 2 ao ano do rebanho bovino podendo chegar a mais de 225 milhotildees de cabeccedilas de gado em 2023 Se a estimativa estiver correta a previsatildeo eacute de que as emissotildees do setor passem de 342 Mt de CO2 emitidas em 2012 para cerca de 380 Mt de CO2 em 2023 agravando ainda mais a contribuiccedilatildeo do setor para as emissotildees nacionais (SEEG 2014)

Segundo os relatoacuterios do Observatoacuterio ABC (Agricultura de Baixo Car-bono) para aumentarmos o rebanho brasileiro com uma perspectiva de baixas emissotildees de carbono eacute fundamental buscar nas boas praacuteticas agriacutecolas maior eficiecircncia na produccedilatildeo e no balanccedilo final de GEE Os principais alvos seriam a reduccedilatildeo do desmatamento para a ocupaccedilatildeo pela pecuaacuteria principalmente na Amazocircnia e no Cerrado e a recupera-ccedilatildeo de pastos degradados no paiacutes inteiro Apesar de o Brasil ser desta-que na produccedilatildeo mundial de carne bovina a produtividade do rebanho nacional ainda eacute baixa Segundo o Censo Agropecuaacuterio de 2006 no Brasil a produccedilatildeo de gado eacute feita com uma taxa de lotaccedilatildeo de apenas 13 animais por hectare (FGVCes EPC 2010)

Estudo realizado pelo WWF-Brasil indicou que o paiacutes tem terras suficien-tes para suprir todas as suas necessidades de produtos silvoagropecu-aacuterios sem conversatildeo adicional de habitats naturais Isso seria possiacutevel por meio de investimentos na produtividade das pastagens que hoje gira em torno de 33 da capacidade de carga associada agrave reduccedilatildeo da conversatildeo dos ecossistemas rurais Esse aumento na produtividade das pastagens para 50 permitiria suprir a demanda de carne e liberaria terras para colheitas que supririam tambeacutem as demandas de madeira e biocombustiacuteveis bem como possibilitaria a mitigaccedilatildeo de 113 milhotildees de toneladas equivalentes de dioacutexido de carbono ateacute 2040 (WWF 2014)

As grandes aacutereas de florestas no Brasil constituem importante sumidouro de carbono contribuindo significativamente para a regulaccedilatildeo climaacutetica em

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outras regiotildees do paiacutes Experiecircncias cientiacuteficas realizadas nos uacuteltimos anos pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazocircnia) revelaram que a reduccedilatildeo de chuvas nas Regiotildees Sul e Sudeste estaacute intimamente ligada agraves agressotildees ambientais existentes na Regiatildeo Norte do paiacutes E o setor agriacute-cola eacute fortemente afetado pelo aumento da temperatura pelas alteraccedilotildees nos padrotildees de precipitaccedilatildeo e pelos impactos de eventos extremos uma vez que a atividade eacute intrinsecamente relacionada aos ambientes naturais e depende do equiliacutebrio destes para subsistir (FGVCes EPC 2010)

Por outro lado aacutereas agriacutecolas tambeacutem satildeo consideradas um sumidou-ro pois contecircm um expressivo estoque de carbono incorporado aos solos na medida em que seu ciclo bioloacutegico remove o CO2 presente na atmosfera Portanto a transformaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pasta-gens ou outras culturas em lavouras produtivas aleacutem de evitar a expan-satildeo da agropecuaacuteria para aacutereas naturais se converte em uma estrateacutegia de mitigaccedilatildeo que contribui para a reduccedilatildeo das emissotildees brasileiras do setor agropecuaacuterio

De acordo com anaacutelise promovida pela consultoria McKinsey o Brasil eacute visto como um dos cinco paiacuteses com maior potencial para reduzir suas emissotildees para o horizonte ateacute 2030 (McKinsey 2009) Quanto aos cus-tos de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE no Brasil por fonte de emissatildeo estimativas levantadas colocam as atividades ligadas agrave mitigaccedilatildeo de emissotildees decorrentes do uso do solo como as de melhor relaccedilatildeo cus-to-benefiacutecio para o compromisso brasileiro de reduccedilatildeo de emissotildees de GEE com maior potencial de reduccedilatildeo pelo menor custo de abatimento (FGVCes EPC 2010)

As emissotildees de metano pela fermentaccedilatildeo enteacuterica tambeacutem podem ser reduzidas significativamente como resultado do aumento de produti-vidade incluindo a melhoria geneacutetica do rebanho e o uso de raccedilotildees complementares e de sal mineral que permitem a engorda mais raacutepi-da maiores taxas de sobrevivecircncia e ciclo de vida curto por cabeccedila de gado em relaccedilatildeo aos padrotildees atuais da pecuaacuteria extensiva Outras tecnologias com potencial de mitigaccedilatildeo de emissotildees de GEE requerem

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investimento em pesquisa e desenvolvimento incluindo espeacutecies de ca-pim e leguminosas com menor potencial de emissatildeo aditivos (tais como ionoacuteforos) precursores como propionatos e vacinas

Fertilizantes

Responsaacutevel por 7 das emissotildees de GEEs na agropecuaacuteria em 2012 a contribuiccedilatildeo dos fertilizantes nitrogenados para as mudanccedilas climaacute-ticas vem crescendo rapidamente O Brasil estaacute em 4ordm lugar no ranking dos maiores consumidores de fertilizantes sinteacuteticos do mundo segun-do o site da empresa Heringer A induacutestria nacional natildeo consegue suprir essa demanda sendo necessaacuteria a importaccedilatildeo desse insumo O Brasil consome cerca de 6 de todo adubo do mundo ficando atraacutes apenas de China Iacutendia e Estados Unidos (SEEG 2014)

As culturas que mais consomem adubo nitrogenado anualmente no Bra-sil satildeo milho cana cafeacute arroz e trigo A soja em alguns casos utiliza pequenas quantidades de adubo nitrogenado no momento do plantio Estudos sobre bacteacuterias fixadoras de nitrogecircnio vecircm sendo desenvolvi-dos o que poderaacute diminuir a aplicaccedilatildeo de fertilizantes nessas culturas ou mesmo aumentar sua produtividade sem o aumento desse insumo Aleacutem disso pesquisas mostram que cerca da metade do adubo consu-mido eacute perdido desde o transporte ateacute a aplicaccedilatildeo no campo Dessa forma aumentando a eficiecircncia do uso do adubo nitrogenado eacute possiacutevel reduzir tanto os volumes comprados como a aplicaccedilatildeo do produto aleacutem de manter a produtividade e reduzir as emissotildees (SEEG 2014)

Dejetos de animais

Segundo dados do SEEG as emissotildees oriundas do manejo de dejetos animais no Brasil representam 5 das emissotildees do setor agropecuaacuterio em que somente a suinocultura responde por 3 do total de emissotildees do setor E conforme pode ser observado no graacutefico a seguir somente

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a suinocultura foi responsaacutevel por 44 das emissotildees decorrentes do manejo de dejetos de animais em 2012

Figura 10 Emissotildees de CH4 e N2O provenientes de dejetos animais em 2012 Fonte Adaptado de SEEG 2014

A maior parte dessa porcentagem eacute resultante dos dejetos dos animais e uma pequena contribuiccedilatildeo se deve agrave fermentaccedilatildeo enteacuterica Como a maior parte da produccedilatildeo de suiacutenos ocorre de forma confinada seus de-jetos se acumulam em lagoas charcos e tanques de tratamento Esse material orgacircnico produz grandes quantidades de metano ao ser de-composto por bacteacuterias Jaacute ao ser depositado diretamente no solo libera oacutexido nitroso para a atmosfera tambeacutem contribuindo para as mudanccedilas climaacuteticas (SEEG 2014)

Segundo levantamento realizado pelo MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) a produccedilatildeo de carne suiacutena tem um cresci-mento projetado de 19 ao ano essa taxa corresponde a acreacutescimos na produccedilatildeo entre 2013 e 2023 de 206 na carne suiacutena Essas proje-

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ccedilotildees podem levar ao aumento proporcional de emissotildees se o metano emitido pelos dejetos dos animais natildeo for utilizado Atualmente jaacute exis-tem algumas tecnologias acessiacuteveis ao produtor para dar uso ao meta-no gerado como biodigestores (SEEG 2014)

Os biodigestores satildeo construiacutedos nas instalaccedilotildees de suinocultura para a produccedilatildeo de energia a partir do metano liberado na fermentaccedilatildeo dos dejetos acumulados A depender do volume de metano a propriedade rural pode se tornar autossustentaacutevel em energia e reduzir significativa-mente suas emissotildees de GEE Poreacutem como o valor da eletricidade na zona rural eacute baixo e os custos de investimento e de manutenccedilatildeo do biodi-gestor satildeo altos o investimento pode natildeo compensar Uma das soluccedilotildees para esse problema satildeo projetos que reuacutenem vaacuterios produtores e formam ldquocondomiacutenios de agroenergiardquo Isso facilita a manutenccedilatildeo e promove uma produccedilatildeo maior de gaacutes e energia aleacutem do tratamento dos dejetos o que consequentemente reduz as emissotildees de GEE evita a poluiccedilatildeo dos rios e do ar e gera como subproduto o biofertilizante que pode ser utilizado nas pastagens e lavouras aumentando a produtividade (SEEG 2014)

Queimadas

No Brasil a principal fonte de emissatildeo de Gases do Efeito Estufa (GEE) vem da derrubada de florestasmatas e das queimadas para conversatildeo de aacutereas com vegetaccedilatildeo nativa em pastagens ou lavouras Haacute tambeacutem os incecircndios florestais

O uso da derrubada e de queimadas provoca alteraccedilotildees substanciais nos processos biogeoquiacutemicos e gera emissotildees de GEE e de poluentes As queimadas que acompanham o desmatamento determinam as quan-tidades de gases emitidos natildeo somente da parte da biomassa que quei-ma mas tambeacutem da parte que natildeo queima Quando haacute uma queimada aleacutem da liberaccedilatildeo de gaacutes carbocircnico (CO2) satildeo liberados tambeacutem ga-ses-traccedilo como metano (CH4) monoacutexido de carbono (CO) e nitroso de oxigecircnio (N2O)

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De acordo com o estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentaacutevel Brasil 2008 produzido pelo IBGE a destruiccedilatildeo da vegetaccedilatildeo natural em especial na Amazocircnia e no Cerrado resulta em 75 das emissotildees de GEE no paiacutes que fazem do Brasil o quarto maior emissor do mundo com 13 Gtano

Segundo dados levantados pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) entre os biomas no periacuteodo de 2003 a 2008 o Cerrado se-guido da Amazocircnia teve a maior extensatildeo de aacutereas queimadas tanto em relaccedilatildeo agrave sua aacuterea total quanto agraves aacutereas convertidas para pastagem E as emissotildees por desmatamento e queimadas (que resultam em emis-sotildees liacutequidas de CH4 e N2O) das aacutereas de Cerrado convertido em pas-tagens correspondem a 8189 milhotildees de toneladas de CO2e (carbono equivalente) na Amazocircnia para o mesmo periacuteodo foram 3416 Mton CO2e (INPE)24

O controle das queimadas eacute fundamental para diminuir a emissatildeo de GEE O governo brasileiro tem incentivado a reduccedilatildeo do desmatamento por meio da reduccedilatildeo das queimadas nos biomas Cerrado e Amazocircnia por meio do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Controle do Desmata-mento na Amazocircnia Legal e do Plano de Accedilatildeo para a Prevenccedilatildeo e Con-trole do Desmatamento e das Queimadas no Cerrado ndash PPCerrado Os produtores rurais por sua vez tambeacutem devem adotar medidas preven-tivas como a natildeo utilizaccedilatildeo da queima ou o uso da queima controlada e de aceiros atendendo os periacuteodos mais adequados para a realizaccedilatildeo desta evitando os periacuteodos de seca

Queima da palha da cana-de-accediluacutecar

A queima da palha da cana-de-accediluacutecar eacute utilizada na preacute-colheita para melhorar o rendimento da colheita manual Os principais Gases de Efei-

24 Estimativa de Emissotildees Recentes de Gases de Efeito Estufa pela Pecuaacuteria no Brasil (p 3) Endereccedilo eletrocircnico httpwwwinpebrnoticiasarquivospdfResumo_Principais_Conclusoes_emissoes_da_pecuaria_vfinalJeanpdf

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to Estufa (GEE) produzidos pela queima satildeo metano ndash CH4 monoacutexido de carbono ndash CO oacutexido nitroso ndash N2O e oacutexidos de nitrogecircnio ndash NOX

O Decreto Federal nordm 2661 de 8 de julho de 1998 determinou que a praacutetica da queima da cana-de-accediluacutecar fosse eliminada em todo o ter-ritoacuterio nacional ateacute 2021 de forma gradativa em aacutereas passiacuteveis de mecanizaccedilatildeo da colheita (cuja declividade seja inferior a 12) e ateacute 2031 para aacutereas onde ainda natildeo eacute possiacutevel a mecanizaccedilatildeo O Protoco-lo Agroambiental do Estado de Satildeo Paulo de 2007 antecipou de 2021 para 2014 nas aacutereas onde jaacute eacute possiacutevel a colheita mecanizada e de 2031 para 2017 nas aacutereas onde natildeo existe tecnologia adequada para a mecanizaccedilatildeo Outros Estados produtores tambeacutem tecircm adotado legisla-ccedilotildees proacuteprias para eliminar a queima da cana-de-accediluacutecar (Mato Grosso do Sul Minas Gerais Goiaacutes e em discussatildeo no Paranaacute e Rio de Janei-ro) (SEEG 2014)

Os resultados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) mostram que a partir de 2008 ocorreu uma contiacutenua redu-ccedilatildeo de emissotildees provenientes da queima de cana-de accediluacutecar mesmo com o crescimento da produccedilatildeo Segundo a UacuteNICA (Uniatildeo da Induacutestria de Cana-de-Accediluacutecar) a safra de 20112012 no Estado de Satildeo Paulo maior produtor de cana-de-accediluacutecar atingiu mais de 65 da aacuterea de co-lheita sem queima

Arroz

Conforme dados do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa) a contribuiccedilatildeo do arroz irrigado para as emissotildees na agropecuaacuteria brasileira eacute de apenas 2 poreacutem o MAPA (Ministeacuterio da Agricultura Pecuaacuteria e Abastecimento) projeta um aumento de 111 na produccedilatildeo de arroz nos proacuteximos 10 anos No Brasil o arroz eacute pro-duzido em aacutereas inundadas (arroz irrigado) e em aacutereas secas (arroz de sequeiro) em que a maior parte da produccedilatildeo ocorre no Rio Grande do Sul onde predomina o arroz irrigado e que concentrou 665 da produ-

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ccedilatildeo em 2013 O arroz quando cultivado em campos inundados ou em aacutereas de vaacuterzea emite metano devido agrave decomposiccedilatildeo anaeroacutebia de mateacuteria orgacircnica presente na aacutegua (SEEG 2014)

Pesquisas estatildeo sendo desenvolvidas para aumentar a produtividade do arroz irrigado por hectare De qualquer forma esse aumento de pro-duccedilatildeo pode acarretar no incremento de mateacuteria orgacircnica residual nas aacutereas inundadas emitindo assim maiores quantidades de metano por hectare alterando o fator de emissatildeo atual para essa cultura Dessa forma para atender agrave demanda nacional e ao mesmo tempo produzir dentro dos princiacutepios da agricultura de baixo carbono o crescimento da produccedilatildeo de arroz brasileiro deveria se dar em aacutereas de sequeiro evitando assim o aumento das emissotildees de GEE (SEEG 2014)

Aleacutem da questatildeo do aumento das emissotildees na agropecuaacuteria e suas con-sequecircncias para as mudanccedilas climaacuteticas as alteraccedilotildees nos padrotildees climaacuteticos sujeitam a atividade agropecuaacuteria a uma seacuterie de adversida-des como a alteraccedilatildeo da disponibilidade hiacutedrica a erosatildeo do solo o aparecimento de novas pragas e doenccedilas etc com consequente im-pacto negativo sobre a produccedilatildeo Assim investir em accedilotildees para reduzir e mitigar a emissatildeo de GEE faz parte de uma estrateacutegia de adaptaccedilatildeo a essa nova realidade climaacutetica Por outro lado tais desafios podem se traduzir em oportunidades de crescimento para o setor no Brasil des-critas a seguir

832 Oportunidades

Com mercados cada vez mais exigentes quanto aos requisitos socioam-bientais em especial para produtos vindos de paiacuteses em desenvolvimen-to e com exigecircncias dos consumidores quanto agrave rastreabilidade dos pro-dutos consumidos vaacuterias oportunidades se abrem para o empresariado do setor do agronegoacutecio que corresponde a uma parcela significativa do comeacutercio internacional brasileiro Seja na adequaccedilatildeo a padrotildees interna-cionais (com consequente rotulagem e certificaccedilatildeo diferenciada) seja na produccedilatildeo de bens diferenciados (FGVCes EPC 2010)

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O aproveitamento dessas oportunidades de mitigaccedilatildeo se traduz na reduccedilatildeo de emissotildees do Brasil como parte signataacuteria da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima e tambeacutem na reduccedilatildeo na intensidade carbocircnica do produto agropecuaacuterio brasileiro Produtos com menor intensidade em carbono (menor volume de emis-sotildees por unidade produzida por exemplo) podem em um cenaacuterio natildeo muito distante ser privilegiados com acesso a mercados e a investi-mentos de fundos puacuteblicos e privados para accedilotildees climaacuteticas obten-do preccedilos diferenciados no mercado internacional de commodities e ainda gerando ganhos econocircmico-financeiros para as empresas que forem proativas na sua atuaccedilatildeo (FGVCes EPC 2010)

Figura 12 Accedilotildees nacionais de mitigaccedilatildeo apresentadas no Acordo de Copenhague

Fonte FGVCes EPC 2010

Apesar do grande potencial de mitigaccedilatildeo de GEE no setor de agrope-cuaacuteria muitas tecnologias disponiacuteveis natildeo tecircm sido adotadas em sua plenitude em funccedilatildeo de diversos tipos de barreira dificultando a migra-ccedilatildeo para uma agropecuaacuteria de menor impacto para o clima Essas bar-

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reiras podem se converter em oportunidades para que o setor reduza suas emissotildees sendo necessaacuterio haver (FGVCes EPC 2010)

bull Eficiecircncia no uso do recurso natural solo seja pelo aumento da pro-dutividade da pecuaacuteria ou pela melhoria do manejo de pastagens que podem ser alcanccediladas pela difusatildeo por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e extensatildeo rural e por melhores praacuteticas agropecuaacuterias

bull Investimentos em assistecircncia teacutecnica e extensatildeo rural para capaci-taccedilatildeo dos agricultores

bull Mecanismos de financiamento para facilitar o acesso ao creacutedito dife-renciado e direcionado agraves accedilotildees de adaptaccedilatildeo e mitigaccedilatildeo

bull Financiamento em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia agro-pecuaacuteria de menor intensidade carbocircnica voltadas a novos equipa-mentos variedades de plantas tecnologias de plantio manejo do pasto e fixaccedilatildeo bioloacutegica de nitrogecircnio

bull Investimentos em bioengenharia de raccedilotildees de animais para reduzir as emissotildees de metano por fermentaccedilatildeo enteacuterica e linhas de finan-ciamento e de creacutedito para compra dessas raccedilotildees

bull Incentivo a tecnologias de baixo carbono na agricultura e pecuaacuteria (ex plantio direto rotaccedilatildeo de culturas manejo e rotaccedilatildeo de pastagens)

bull Incentivo ao uso do biocarvatildeo e substituiccedilatildeo de carvatildeo mineral para carvatildeo vegetal renovaacutevel

bull Financiamento e linhas de creacutedito para compra de equipamentos e para adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono (ex biodigestores usi-nas de cogeraccedilatildeo de energia equipamentos e tecnologias de plantio manejo de pasto e lavouras que reduzam as emissotildees de GEEs)

bull Incentivo a boas praacuteticas agropecuaacuterias e adoccedilatildeo de certificaccedilotildees

bull Controle de queimadas e incecircndios florestais

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para projetos de produccedilatildeo or-gacircnica sistemas agroflorestais e de permacultura

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bull Linhas de financiamento para recuperaccedilatildeo de aacutereas degradadas por pastagens ou lavouras para transformaacute-las em terras produtivas com correccedilatildeo e adubaccedilatildeo de solos

bull Linhas de financiamento para projetos que integrem lavouras e pas-tagens ou sistemas agrossilvopastoris com adoccedilatildeo de tecnologias de baixo carbono

bull Linhas de financiamento para conversatildeo de pecuaacuteria extensiva para intensiva

bull Linhas de financiamento para construccedilatildeo e modernizaccedilatildeo de equi-pamentos para tratamento de dejetos e adequaccedilatildeo sanitaacuteria eou ambiental

bull Instrumentos econocircmicos que incentivem as boas praacuteticas de uso do solo e a proteccedilatildeo ambiental diminuindo pressatildeo pela expansatildeo da fronteira agriacutecola e pecuaacuteria

bull Regulaccedilatildeo mais clara para Reduccedilotildees de Emissotildees por Desmata-mento e Degradaccedilatildeo (REDD) e para os mecanismos de Pagamentos por Serviccedilos Ambientais (PSA) que possam contribuir para o desen-volvimento de projetos de mitigaccedilatildeo de GEE na agropecuaacuteria uma vez que utilizam uma abordagem que premia aqueles que adotam praacuteticas agropecuaacuterias sustentaacuteveis e protegem o meio ambiente

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para o desenvolvimento de bio-combustiacuteveis e outras fontes renovaacuteveis de agroenergia (biodiges-tores e cogeradores que utilizem resiacuteduos agriacutecolas ndash bagaccedilo de cana-de-accediluacutecar casca de arroz cavaco de madeira coco laranja)

bull Linhas de financiamento e de creacutedito para adequaccedilatildeo da proprieda-de rural e recuperaccedilatildeo de Aacutereas de Preservaccedilatildeo Permanente e de Reserva Legal

bull Linhas de financiamento para implantaccedilatildeo e manutenccedilatildeo de flores-tas destinadas a fins econocircmicos

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9 As mudanccedilas climaacuteticas e o setor financeiro

Em nosso paiacutes as instituiccedilotildees financeiras entendem que tecircm um papel importante nesse cenaacuterio de anaacutelise e combate agraves mudanccedilas climaacuteti-cas jaacute que tecircm grande representatividade no mercado e na sociedade Isso leva agrave necessidade de mapear riscos e se preparar para lidar com eles em atividades de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo tanto nas suas instala-ccedilotildees fiacutesicas quanto nos negoacutecios aleacutem de ser essencial tambeacutem mo-nitorar as atividades dos clientes

O setor financeiro compartilha da visatildeo de que as mudanccedilas climaacuteticas representam um dos principais desafios do presente e do futuro e por isso busca incorporar suas variaacuteveis nos negoacutecios gerenciando riscos e desenvolvendo soluccedilotildees que respondam adequadamente agrave busca pela reduccedilatildeo das emissotildees dos Gases de Efeito Estufa e agrave necessidade de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas

Aleacutem de adotar criteacuterios de anaacutelise de impacto ambiental na concessatildeo de creacuteditosfinanciamentos e nos negoacutecios de seguros e investimentos os bancos adotam tambeacutem praacuteticas para mitigar os impactos ambien-tais diretos de suas operaccedilotildees

Nesse direcionamento tecircm sido adotadas pelo setor financeiro algu-mas iniciativas que merecem destaque

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 39882011 e a Circular Bacen nordm 34572011 que estabeleceram a necessidade de estrutura de gerenciamen-to de capital e de Processo Interno de Autoavaliaccedilatildeo da Adequa-ccedilatildeo de Capital (ICAAP) para todos os riscos revelantes incluindo o socioambiental

bull Resoluccedilatildeo CMN nordm 43272014 que dispotildee sobre as diretrizes que devem ser observadas no estabelecimento e na implementaccedilatildeo da Poliacutetica de Responsabilidade Socioambiental pelas instituiccedilotildees fi-nanceiras e demais instituiccedilotildees autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil

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bull Sistema de Autorregulaccedilatildeo Bancaacuteria da Federaccedilatildeo Brasileira de Bancos ndash FEBRABAN SARB nordm 142014 que institui o normativo de criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacutetica de responsabilidade socioam-biental que formaliza diretrizes e procedimentos fundamentais para as praacuteticas socioambientais dos seus Signataacuterios nos negoacutecios e na relaccedilatildeo com as partes interessadas

bull Participaccedilatildeo na Empresas pelo Clima (EPC) uma plataforma empre-sarial gerenciada pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas (FGV) atuando por meio de atividades de capacitaccedilatildeo de gestores empresariais e de apoio agraves empresas na elaboraccedilatildeo de suas poliacuteticas corporativas e estrateacutegias para a gestatildeo de GEE

bull Participaccedilatildeo nas Conferecircncias das Partes (COP) da Convenccedilatildeo--Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila de Clima (UNFCCC)

bull Participaccedilatildeo em outros foacuteruns eventos congressos e reuniotildees espe-ciacuteficas sobre o tema

bull Desenvolvimento de planejamento estrateacutegico e planos de accedilatildeo es-pecialmente voltados para riscos e oportunidades em mudanccedilas cli-maacuteticas englobando a elaboraccedilatildeo de diagnoacutesticos a identificaccedilatildeo de oportunidades de melhoria e dos desafios atrelados ao tema e a implementaccedilatildeo de accedilotildees efetivas

bull Avaliaccedilatildeo e monitoramento dos riscos relativos agraves questotildees socio-ambientais incluindo as alteraccedilotildees climaacuteticas aleacutem de avaliaccedilatildeo e monitoramento dos impactos das mudanccedilas climaacuteticas em outros ti-pos de riscos inerentes ao setor como riscos de negoacutecios riscos operacionais e riscos regulatoacuterios

bull Realizaccedilatildeo de Inventaacuterio de GEE seguindo as diretrizes do Progra-ma Brasileiro GHG Protocol e da Norma ISO 14064 O inventaacuterio eacute uma importante ferramenta que permite natildeo somente manter o pa-dratildeo e a comparabilidade das informaccedilotildees com os anos anteriores mas tambeacutem avaliar o perfil de emissotildees e desenvolver accedilotildees para

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minimizar o impacto das atividades o que contribui para a definiccedilatildeo de indicadores e para o estabelecimento de metas voluntaacuterias de reduccedilatildeo

bull Inclusatildeo em Iacutendices de Sustentabilidade relevantes como o Dow Jo-nes Sustainability Index (DJSI) o ISE (Iacutendice de Sustentabilidade Em-presarial da BMampFBOVESPA) e mais recentemente (desde 2010) o Iacutendice Carbono Eficiente (ICO2) tambeacutem da BMampFBOVESPA desen-volvido por meio de uma iniciativa conjunta da BMampFBOVESPA e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econocircmico e Social (BNDES) com o intuito de incentivar as companhias a trabalhar para uma eco-nomia de baixo carbono

bull Adoccedilatildeo do CDP (Carbon Disclosure Project) e do CDP Supply Chain visando divulgar informaccedilotildees e estimular boas praacuteticas relacionadas ao tema de mudanccedilas climaacuteticas aos stakeholders principalmente fornecedores

bull Realizaccedilatildeo de benchmarkings no setor e mapeamento de iniciativas jaacute existentes considerando estrateacutegias governanccedila anaacutelise de ris-cos e oportunidades gestatildeo accedilotildees socioambientais e comunicaccedilatildeo

bull Adaptaccedilotildees ou otimizaccedilotildees em produtos e serviccedilos principalmente produtos de empreacutestimosfinanciamentos seguros e investimentos de modo que os criteacuterios socioambientais sejam sempre considera-dos na formulaccedilatildeo de novos produtos e serviccedilos e no aprimoramento de produtos e serviccedilos existentes Haacute ainda os produtos que satildeo exclusivamente voltados para as questotildees socioambientais como os financiamentos de MDL os financiamentos para projetos de cunho ambiental financiamento de projetos com base nos Princiacutepios do Equador e outros Em investimentos o desafio eacute incorporar criteacuterios socioambientais no processo de gestatildeo de recursos de terceiros

bull A questatildeo climaacutetica eacute uma das variaacuteveis que mais afeta a induacutestria de seguros O papel das seguradoras nesse caso eacute colaborar para a reduccedilatildeo dos riscos para a mitigaccedilatildeo dos efeitos e para a adaptaccedilatildeo

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dos clientes atuais e futuros diante de vulnerabilidades operacionais atreladas a aspectos de alteraccedilotildees climaacuteticas Eventos como desas-tres naturais vendavais furacotildees tufotildees ou ciclones tropicais aleacutem de se materializarem em prejuiacutezos financeiros significativos causam potenciais trageacutedias sociais ambientais e econocircmicas As apoacutelices de seguro se contratadas adequadamente satildeo capazes de ameni-zar o agravamento de situaccedilotildees criacuteticas por meio do pagamento de indenizaccedilotildees para os clientes que contam com a proteccedilatildeo oferecida pelas soluccedilotildees securitaacuterias e com o conhecimento em gerenciamen-to de riscos Vale mencionar tambeacutem que para seguros de bens moacuteveis ou imoacuteveis a precificaccedilatildeo das coberturas de seguros pode levar em conta a localidade do bem a ser segurado considerando assim os aspectos climaacuteticos da regiatildeo

bull Aleacutem dos pontos mencionados existem tambeacutem oportunidades Por meio do conhecimento das instituiccedilotildees seriam desenvolvidos novas tecnologias produtos e serviccedilos que poderiam ser oferecidos aos clientes para mitigar riscos e para orientaacute-los em aspectos de geren-ciamento Temas como creacuteditos de carbono energias renovaacuteveis estrateacutegias de concessatildeo florestal via manejo sustentaacutevel vulnerabi-lidade climaacutetica de culturas agriacutecolas e planejamento urbano entre outros satildeo oportunidades para atuaccedilatildeo e fortalecimento do papel das instituiccedilotildees financeiras

bull Desenvolvimento e implantaccedilatildeo de planos de contingecircncia eou con-tinuidade de operaccedilotildees no que tange a possiacuteveis impactos decor-rentes das mudanccedilas climaacuteticas nas instalaccedilotildees fiacutesicas (agecircncias e outros preacutedios) das instituiccedilotildees financeiras considerando fenocircme-nos como chuvas constantes enchentes vendavais seca prolonga-da e outros fenocircmenos que poderiam interromper o funcionamento da operaccedilatildeo cuja intensidade e frequecircncia podem estar associadas a efeitos das mudanccedilas climaacuteticas no Brasil

Internamente as aacutereas de TI (Tecnologia de Informaccedilatildeo) das instituiccedilotildees financeiras tambeacutem tecircm construiacutedo planos especiacuteficos de contingecircncia

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e atuaccedilatildeo como infraestrutura duplicada reforccedilo de processos amplia-ccedilatildeo de controles etc O objetivo eacute terem condiccedilotildees de natildeo interromper as atividades em caso de impactos climaacuteticos mais acentuados em de-terminados locais tendo em vista que muitas organizaccedilotildees financeiras tecircm dependecircncias em diversas localidades espalhadas pelo paiacutes

Haacute tambeacutem uma preocupaccedilatildeo estrateacutegica em se ter poliacuteticas proces-sos e ferramentas que permitam e estimulem a utilizaccedilatildeo racional e oti-mizada dos recursos Accedilotildees para aperfeiccediloar a eficiecircncia energeacutetica gerenciar resiacuteduos reutilizar aacutegua e reduzir o consumo de papel e ou-tros insumos fazem parte das preocupaccedilotildees cotidianas e podem pro-porcionar ganhos operacionais efetivos

Conveacutem registrar que o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Meio Am-biente (PNUMA ou em Inglecircs United Nations Environment Programme ndash UNEP) tem um curso on-line bastante completo totalmente direciona-do aos profissionais do setor financeiro Eacute o curso UNEP Finance Initia-tive 2014 ndash Online Course on Climate Change Risks and Opportunities for the Finance Sector

Mais informaccedilotildees httpwwwunepfiorgtrainingclimate-change

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10 Financiamentos e instrumentos econocircmicos relacionados agraves mudanccedilas climaacuteticas

Segundo o Relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance 2013 elaborado pelo Climate Policy Institute ndash este relatoacuterio eacute a fonte de da-dos mais completa sobre os investimentos climaacuteticos e eacute atualizado e liberado anualmente ndash podemos destacar o seguinte

101 Financiamento de medidas de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

1011 Financiamento por setor

Anaacutelises relatam que em 2013 o fluxo de financiamentos relacionados com a questatildeo climaacutetica foi de cerca de US$ 359 bilhotildees ou seja em torno de US$ 1 bilhatildeo ao dia abaixo das estimativas mais conservado-ras dos investimentos necessaacuterios25 Ao mesmo tempo grandes avan-ccedilos podem justificar um otimismo na questatildeo do financiamento climaacuteti-co Apesar de o financiamento privado ter caiacutedo em termos gerais (vide quadro a seguir) os custos da tecnologia para energias alternativas em larga escala foram reduzidos aumentando a viabilidade de investi-mentos em um futuro de baixo carbono No contexto de financiamento governamental existe uma urgecircncia de recursos governamentais para viabilizar e acelerar investimentos de baixo carbono e opccedilotildees de cres-cimento nacional que sejam resilientes agraves mudanccedilas climaacuteticas

25 The Global Landscape of Climate Finance 2013 Disponiacutevel em httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf

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Fonte Global Landscape of Climate Finance 2013

Setor puacuteblico

O setor puacuteblico contribuiu com um montante entre US$ 132 bilhotildees e US$ 139 bilhotildees em torno de 38 dos fluxos de financiamento climaacuteti-co entre 2011 e 2012

Foram firmados compromissos feitos por governos de paiacuteses desenvol-vidos de US$ 4 bilhotildees a US$ 11 bilhotildees dos quais 45 a 56 desses recursos foram desembolsados por meio de organizaccedilotildees governamen-tais como por exemplo agecircncias bilaterais e organizaccedilotildees da ONU Esse montante exclui fluxos de recursos via fundos de clima e coopera-ccedilatildeo em desenvolvimento via instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento No total o financiamento do setor puacuteblico de paiacuteses desenvolvidos para paiacuteses em desenvolvimento totalizaram de US$ 35 bilhotildees a US$ 49 bi-lhotildees No mesmo relatoacuterio de 2012 entidades governamentais tambeacutem tinham conexotildees diretas com estruturas de investimento privado que contribuiacuteram com aproximadamente US$ 42 bilhotildees para financiamento climaacutetico O relatoacuterio categorizou apenas US$ 5 bilhotildees como financia-mento puacuteblico considerando ainda que os gastos do setor puacuteblico satildeo responsaacuteveis pelo financiamento primaacuterio de atividades especiacuteficas re-

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lacionadas ao clima O restante US$ 37 bilhotildees eacute categorizado como investimento privado considerando que o setor puacuteblico se torna um ator relacionado com entidades do setor privado Esses recursos se mostra-ram fundamentais para acelerar o aumento local de medidas relaciona-das agrave implementaccedilatildeo de energias renovaacuteveis no mundo

Intermediaacuterios do setor puacuteblico com a abordagem de instrumentos fi-nanceiros e conhecimento especializado essas organizaccedilotildees gover-namentais satildeo mecanismos fundamentais no esforccedilo de gerenciar e distribuir recursos para iniciativas de baixo carbono e desenvolvimen-to climaacutetico de alta resiliecircncia Somente em 2012 estas organizaccedilotildees comprometeram um terccedilo ou US$ 121 bilhotildees sendo mais da meta-de no formato de empreacutestimos de baixo custo Bancos nacionais de desenvolvimento e instituiccedilotildees financeiras multilaterais distribuiacuteram em sua maioria em torno de 69 (US$ 83 bilhotildees) desses recursos dos quais 65 desses fluxos foram feitos para atividades relacionadas com energias renovaacuteveis e eficiecircncia energeacutetica Bancos de desenvolvimen-to multilaterais contribuiacuteram com o restante 31 (US$ 38 bilhotildees) do total sendo 28 desses recursos destinados a projetos de transporte sustentaacutevel

Instituiccedilotildees financeiras de desenvolvimento destinaram recursos cru-ciais para iniciativas de adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas climaacuteticas contri-buindo com aproximadamente US$ 18 bilhotildees e apoiando a gestatildeo e a implementaccedilatildeo de alguns fundos de adaptaccedilatildeo importantes Adicional-mente a essas organizaccedilotildees fundos multilaterais e nacionais de clima aprovaram aproximadamente US$ 16 bilhatildeo para intervenccedilotildees em pro-jetos ligados ao clima

Setor privado

O setor privado ainda continua sendo o principal investidor em finan-ciamento climaacutetico no mundo totalizando US$ 224 bilhotildees muito desse valor ainda eacute garantido por meio de financiamentos puacuteblicos

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Em termos de montante de investimento o do setor privado tecircm caiacutedo desde 2011 apesar de um recente aumento no financiamento de ener-gias renovaacuteveis Diante de limitaccedilotildees nos dados disponiacuteveis o relatoacuterio natildeo pocircde concluir qual o fator responsaacutevel por essa queda

No setor privado desenvolvedores de projetos no setor de energias re-novaacuteveis representaram um grande foco de investimento principalmen-te em accedilotildees relacionadas a utilidades nacionais e regionais de energias renovaacuteveis produtores independentes de energia e desenvolvedores de projetos focados em energias renovaacuteveis No relatoacuterio de 2013 os investimentos em energias renovaacuteveis totalizaram US$ 102 bilhotildees (28 do total) Atores corporativos incluindo construtores e corporaccedilotildees do final da cadeia contribuiacuteram com US$ 66 bilhotildees 19 dos fluxos Enti-dades de niacutevel familiar indiviacuteduos com atividades de alta rentabilidade e seus intermediaacuterios contribuiacuteram com aproximadamente US$ 33 bi-lhotildees ou seja 9 dos fluxos financeiros

Instituiccedilotildees financeiras comerciais tiveram uma participaccedilatildeo de US$ 21 bilhotildees nos fluxos de recursos relacionados ao clima fundos de infraes-trutura e venture capital com US$ 1 bilhatildeo intermediaram juntos apro-ximadamente 6 dos recursos globais para financiamento climaacutetico e tiveram um papel essencial em apoiar estruturas financeiras para garan-tir os investimentos

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Figura 13 Distribuiccedilatildeo de investimentos em clima por setor Fonte The Global Landscape of Climate Finance

1012 Financiamento de mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Em 2012 o relatoacuterio The Global Landscape of Climate Finance ressal-tou que a maior parte do financiamento climaacutetico foi direcionado para atividades de mitigaccedilatildeo Em 2012 dos US$ 359 bilhotildees US$ 337 bi-lhotildees foram investidos em atividades relacionadas agrave mitigaccedilatildeo de GEE e de US$ 20 bilhotildees a US$ 24 bilhotildees direcionados agraves atividades de adaptaccedilatildeo

Financiamento de mitigaccedilatildeo

Como nos estudos preacutevios realizados pelo Climate Policy em 2013 os recursos destinados a medidas adaptativas totalizaram quase 94 dos

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recursos de financiamento climaacutetico Os investimentos relacionados a energias renovaacuteveis foram responsaacuteveis por quase 74 desses fluxos financeiros sendo US$ 137 bilhotildees para energia solar (incluindo pai-neacuteis fotovoltaicos projetos teacutermicos e investimentos em infraestrutura) seguidos de US$ 85 bilhotildees para energia eoacutelica (onshore e offshore) A questatildeo da eficiecircncia energeacutetica representou 9 dos investimentos de atores puacuteblicos correspondendo a US$ 32 bilhotildees

Outras medidas de mitigaccedilatildeo totalizaram em torno de US$ 40 bilhotildees incluindo transporte sustentaacutevel e mudanccedilas de modal (US$ 19 bilhotildees) aleacutem de agricultura e mudanccedila de uso do solo com o restante A ampla diversidade de atividades associadas agrave reduccedilatildeo e ao combate a drivers de desmatamento e de apoio a uma transiccedilatildeo para um caminho econocirc-mico mais sustentaacutevel dificulta definir criteacuterios para definir e monitorar os investimentos que busquem esses resultados A maior parte dos re-cursos puacuteblicos associados agraves accedilotildees de mitigaccedilatildeo em iniciativas de re-duccedilatildeo de desmatamento e agricultura chegou a aproximadamente US$ 3 bilhotildees em 2013 Dados relatados tambeacutem sobre o fluxo de recursos de REDD+ (Reduccedilatildeo das Emissotildees por Desmatamento e Degradaccedilatildeo Florestal) em mercados voluntaacuterios satildeo reduzidos

A maior parte dos financiamentos em mitigaccedilatildeo foi feita na China na Uniatildeo Europeia e nos EUA Segundo os dados do relatoacuterio os investi-mentos do setor privado de US$ 224 bilhotildees foram feitos quase que exclusivamente em projetos de geraccedilatildeo com energias renovaacuteveis Em termos regionais esses investimentos foram maiores em projetos na Eu-ropa totalizando US$ 73 bilhotildees na China no montante de US$ 68 bilhotildees nos EUA ndash US$ 27 bilhotildees e na Iacutendia ndash US$ 5 bilhotildees O Bra-sil reduziu seus investimentos em 52 saindo de US$ 71 bilhotildees em 2012 para US$ 34 bilhotildees em 2013

No mundo os principais contribuidores para investimentos climaacuteticos foram desenvolvedores de projetos (US$ 102 bilhotildees) atores corpo-rativos (US$ 66 bilhotildees) e instituiccedilotildees financeiras comerciais (US$ 21 bilhotildees) Apesar de ser o principal ator no financiamento climaacutetico o

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setor privado ainda tem uma relaccedilatildeo direta com contribuiccedilotildees de fontes puacuteblicas e intermediaacuterias por meio de instrumentos que apoiem custos adicionais26

O setor puacuteblico tambeacutem apresenta um foco maior em atividades de mi-tigaccedilatildeo com 84 de seus recursos sendo destinados para mitigaccedilatildeo e 16 para medidas adaptativas Esse resultado ressalta principalmen-te a ambiccedilatildeo de incorporar o desenvolvimento de baixas emissotildees e compromissos para apoiar as mudanccedilas estruturais nos sistemas de energia que os paiacuteses em desenvolvimento em particular veem como motores do crescimento econocircmico Instituiccedilotildees financeiras tecircm papel principal nesse contexto e contribuiacuteram com aproximadamente US$ 103 bilhotildees ou 91 para accedilotildees de mitigaccedilatildeo sendo US$ 36 bilhotildees para energias renovaacuteveis US$ 31 bilhotildees para eficiecircncia energeacutetica e US$ 37 bilhotildees para outras accedilotildees de mitigaccedilatildeo

Os projetos de eficiecircncia energeacutetica e de energias renovaacuteveis no Brasil tecircm contado com apoio do BNDES em linhas de creacutedito como o PRO-ESCO e de outros programas de cooperaccedilatildeo internacional por meio da cooperaccedilatildeo alematilde e do Banco de Desenvolvimento KFW27

Financiamento de adaptaccedilatildeo

O relatoacuterio de financiamento climaacutetico de 2013 relata que de US$ 20 a US$ 24 bilhotildees satildeo destinados a medidas adaptativas no mundo sendo a maioria por meio de financiamento internacional em paiacuteses em desen-volvimento Instituiccedilotildees de financiamento contribuiacuteram com 81 desses recursos fundos governamentais contribuiacuteram com 16 e fundos cli-maacuteticos com 3 A maior parte do financiamento de adaptaccedilatildeo ainda eacute proveniente de financiamento governamental considerando a expertise

26 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 11

27 Fonte httpclimatepolicyinitiativeorgwp-contentuploads201310The-Global-Landscape-of-Climate-Finance-2013pdf - paacutegina 12

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do governo em trabalhar com temas de relevacircncia socioambiental para a populaccedilatildeo como um todo Os valores mapeados no relatoacuterio ressal-tam que quase 44 do valor (US$ 10 bilhotildees) foram destinados agraves ati-vidades relacionadas agrave disponibilidade e agraves gestotildees hiacutedricas sendo o restante destinado a atividades relacionadas a itens como agricultura gestatildeo do uso do solo pesca e gestatildeo de recursos naturais O tema de financiamento em adaptaccedilatildeo ainda apresenta grandes lacunas prin-cipalmente na questatildeo da contribuiccedilatildeo que o setor privado destina agraves atividades Ressalta-se ainda que muitas atividades e iniciativas de mi-tigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo podem ser consideradas para ambos os setores ndash puacuteblico e privado

102 Cooperaccedilatildeo multilateral

1021 Alemanha

A cooperaccedilatildeo alematilde no Brasil tem desempenhado um papel importante em questotildees de proteccedilatildeo climaacutetica e preservaccedilatildeo da biodiversidade e atualmente haacute duas iniciativas principais focadas na ldquoProteccedilatildeo e Ma-nejo Sustentaacutevel das Florestas Tropicais da Amazocircniardquo e nas ldquoEnergias Renovaacuteveis e Eficiecircncia Energeacuteticardquo

A atual cooperaccedilatildeo para a proteccedilatildeo e manejo sustentaacutevel das florestas na Amazocircnia abrange trecircs setores ndash ldquoAacutereas de proteccedilatildeo e manejo de recursos sustentaacutevelrdquo ldquoDemarcaccedilatildeo e proteccedilatildeo sustentaacutevel das aacutereas indiacutegenasrdquo e ldquoOrdenamento territorial desenvolvimento regional e gestatildeo do meio am-bienterdquo Aleacutem disso a Alemanha contribuiu ateacute o presente com 22 milhotildees de euros para o Fundo Amazocircnia criado pelo governo brasileiro

A atual cooperaccedilatildeo para o fomento das energias renovaacuteveis e da efici-ecircncia energeacutetica engloba a criaccedilatildeo e a melhoria de profiacutecuas condiccedilotildees gerais bem como a ampliaccedilatildeo das possibilidades de financiamento para energias renovaacuteveis e projetos relacionados agrave eficiecircncia Outro setor da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento eacute a assim chamada ldquoCooperaccedilatildeo Tri-

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lateralrdquo Enquanto o Brasil contribui com o aprendizado de suas proacuteprias experiecircncias de desenvolvimento a Alemanha colabora com o know-how de mais de 50 anos de cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento e apoia o Brasil em seu processo de transformaccedilatildeo de receptor para doador

Desde o iniacutecio da cooperaccedilatildeo para o desenvolvimento em 1963 a Ale-manha disponibilizou cerca de 15 bilhatildeo de euros ao Brasil No acircmbi-to das negociaccedilotildees governamentais de 2009 a Alemanha alocou mais de 264 milhotildees de euros (248 milhotildees para cooperaccedilatildeo financeira e 16 milhotildees para cooperaccedilatildeo teacutecnica) para projetos atuais nos setores supramencionados

O Ministeacuterio Federal da Cooperaccedilatildeo Econocircmica e do Desenvolvimento (BMZ) eacute responsaacutevel e planeja a poliacutetica alematilde para o desenvolvimento A Embaixada da Alemanha em Brasiacutelia eacute responsaacutevel pela coordenaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo com o governo parceiro bem como com outros parceiros (bi e multilaterais) do Brasil Aleacutem disso a embaixada acompanha e coordena a implementaccedilatildeo da cooperaccedilatildeo alematilde bilateral de desenvol-vimento por meio das agecircncias executoras no Brasil

No acircmbito da Iniciativa Internacional para o Clima (IKI) o Ministeacuterio Federal do Meio Ambiente Proteccedilatildeo agrave Natureza e Seguranccedila Nuclear (BMU) tambeacutem atua no Brasil desde 2008 por meio de projetos (wwwbmu-klimaschutzinitiativedede) O BMU disponibilizou recursos finan-ceiros no valor de 159 milhotildees de euros em 2008 em 2009 de 195 milhotildees de euros Esses recursos satildeo aplicados principalmente em pro-jetos das agecircncias executoras GIZ e KfW mas tambeacutem de organiza-ccedilotildees natildeo governamentais Elas prestam uma colaboraccedilatildeo significativa para os objetivos poliacuteticos de desenvolvimento e de meio ambiente da Cooperaccedilatildeo Brasil-Alemanha

1022 Reino Unido

A Embaixada Britacircnica no Brasil tem sido outro parceira financiadora fun-damental para a discussatildeo sobre mudanccedilas climaacuteticas Na linha de mu-

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danccedilas climaacuteticas estatildeo contemplados projetos que ampliam as discus-sotildees e a compreensatildeo sobre os impactos das mudanccedilas climaacuteticas ou que atuam no desenvolvimento de poliacuteticas nacionais para a mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agraves mudanccedilas do clima Nessa aacuterea satildeo apoiadas temaacuteticas como por exemplo a Economia do Clima A iniciativa atua com um grupo de instituiccedilotildees brasileiras de renome para o desenvolvimento de evidecircn-cias que possam colaborar para a formulaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas aleacutem de medidas variadas para a promoccedilatildeo da mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo

Alguns projetos de destaque apoiados pela embaixada contemplam o ldquoProtocolo GHGrdquo Coordenado pela Fundaccedilatildeo Getuacutelio Vargas o projeto colabora para que as empresas brasileiras construam seus inventaacuterios de pegadas de carbono e desenvolvam estrateacutegias para reduccedilatildeo de suas emissotildees

A embaixada ainda apoia projetos importantes de Modelagem Cli-maacutetica e Poliacuteticas de Construccedilatildeo Sustentaacutevel na Ameacuterica do Sul Por meio do primeiro item satildeo apoiadas duas iniciativas do Instituto Na-cional de Pesquisa Espacial (INPE) com o objetivo de criar um alto grau de desenvolvimento na previsatildeo de mudanccedilas climaacuteticas no Brasil e na Ameacuterica do Sul O segundo programa eacute implementado pela organizaccedilatildeo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia os governos de Argentina Brasil e Uruguai para a melhoria da seguranccedila energeacutetica

Na linha de Seguranccedila Energeacutetica vale mencionar a Rede de Comuni-dades Locais ndash Modelo em Energias Renovaacuteveis ndash que atua na geraccedilatildeo no fornecimento e no uso de energia renovaacutevel entre municiacutepios com foco nos papeacuteis e responsabilidades de governos locais

A terceira linha de apoio eacute a da Reforma Econocircmica realizada com o propoacutesito de incentivar mudanccedilas econocircmicas para o combate das mu-danccedilas climaacuteticas O apoio eacute direcionado para importantes atores nos foacuteruns econocircmicos especialmente instituiccedilotildees governamentais e orga-nizaccedilotildees interessadas na agenda econocircmica como a BMampFBOVESPA

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que liderou um estudo para a anaacutelise do potencial de criaccedilatildeo de um mercado de carbono no Brasil

Satildeo tambeacutem alvos de apoio accedilotildees alinhadas com o conceito de desen-volvimento sustentaacutevel Em relaccedilatildeo a esse tema pretende-se o estabe-lecimento de um diaacutelogo entre o Brasil e o Reino Unido de forma que sejam realizadas iniciativas e novos modelos para um mundo sustentaacute-vel Nessa linha eacute desenvolvido o projeto ldquoPromovendo Compras Puacute-blicas Sustentaacuteveisrdquo implementado pelo ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade) que apoia a criaccedilatildeo de metodologias para compras puacuteblicas tendo em vista produtos sustentaacuteveis

103 Fundo Verde do Clima

O Fundo Verde foi oficialmente lanccedilado no GCF (The Global Certifica-tion Forum ou Foacuterum Global dos Governadores para Clima e Floresta forccedila-tarefa subnacional estabelecida com base em um memorando de entendimentos que fornece a base para a cooperaccedilatildeo em inuacutemeros assuntos relacionados a poliacuteticas climaacuteticas financiamento troca de tecnologia e pesquisa composto por Estados e paiacuteses) O GCF foi esta-belecido pela Convenccedilatildeo-Quadro das Naccedilotildees Unidas sobre a Mudanccedila do Clima (UNFCCC) durante a Conferecircncia das Partes ldquoCOP 17rdquo em 2011 em Durban na Aacutefrica do Sul Poreacutem a primeira reuniatildeo do GCF ocorreu somente em 2012 e o principal motivo disso foi o fato de soacute nes-se ano terem sido preenchidos os 24 assentos do seu Conselho

O GCF eacute o uacutenico fundo multilateral cujo mandato eacute servir exclusivamente a Convenccedilatildeo e que tem como objetivo oferecer quantidades iguais de financiamento para mitigaccedilatildeo e adaptaccedilatildeo sendo pelo menos 50 de seu fundo de adaptaccedilatildeo destinado aos paiacuteses mais vulneraacuteveis Sua estrutura de governanccedila eacute balanceada entre paiacuteses desenvolvidos e em desenvolvimento (12 membros de cada) Outra caracteriacutestica do fundo eacute que seu financiamento eacute implantado por meio de uma rede de instituiccedilotildees que devem ser credenciadas Essas entidades e as Autori-

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dades Nacionais Designadas (National Designated Authority-NDA) po-dem apresentar propostas de financiamento para o GCF Para garantir a apropriaccedilatildeo pelo paiacutes o Conselho de Administraccedilatildeo do Fundo soacute consi-deraraacute propostas de financiamento que satildeo apoiadas por uma carta de natildeo objecccedilatildeo do NDA28 No Brasil a Autoridade Nacional Designada eacute o Ministeacuterio da Fazenda ndash Secretaria de Assuntos Internacionais29

Durante a Cuacutepula do Clima em setembro de 2014 em Nova York nos EUA governos e instituiccedilotildees financeiras anunciaram que mobilizaratildeo US$ 200 bilhotildees ateacute o fim de 2015 para o Fundo Verde para o Clima criado para incentivar programas de baixa emissatildeo de carbono dos pa-iacuteses em desenvolvimento O acordo deve dar um impulso significativo para a meta da ONU de obter US$ 100 bilhotildees por ano ateacute 2020

O acordo combina o financiamento puacuteblico e privado incluindo pro-messas de doadores e de paiacuteses em desenvolvimento Do setor pri-vado destacam-se instituiccedilotildees financeiras fundos de pensatildeo e segu-radoras bem como os bancos de desenvolvimento e comerciais que nunca tinham atuado em iniciativas sobre mudanccedilas climaacuteticas em tatildeo larga escala

Atualmente o fundo alcanccedilou a cifra de US$102 bilhotildees30 suficientes para que o fundo inicie suas operaccedilotildees Qualquer instituiccedilatildeo pode acessar os recursos desde que respeite as salvaguardas sociais e ambientais O risco socioambiental eacute categorizado em trecircs faixas alto meacutedio e baixo e o tamanho dos projetos em micro pequeno meacutedio e grande porte de acordo com o custo total do projeto Os projetos submetidos ao fundo de-vem comprovar o atendimento ao regulamento do fundo apresentar track record em projetos socioambientais e de mudanccedilas climaacuteticas

28 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsPress3-Minute-Brief-for-Negotiatorspdf

29 httpwwwgcfundorgfileadmin00_customerdocumentsReadiness2015-7-24_NDA_and_Focal_Point_nominations_for_the_Green_Climate_Fundpdf

30 httpwwwgcfundorgpresspress-releaseshtml

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SEEG Sistema de Estimativa de Emissatildeo de Gases de Efeito Estufa Disponiacutevel em httpseegecobr

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WWF-Brasil Fundo Mundial para a Natureza Uso aperfeiccediloado da ter-ra ndash Aacuterea agriacutecola atual pode suprir demandas e poupar a natureza no Brasil 2014

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