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Roberto J. Fraga Moreira
Ela chegou de repente, marcando presença com seu perfil invulgar e uma sutil irreverência no olhar e no
andar.
Atravessou o salão com elegância e determinação, alheia a tudo e a todos, provocando fortes emoções
nos corações.
A valsa cessou, o vozerio parou e o champanhe borbulhou quando ela entrou sem olhar para toda
aquela gente que parecia descrente do que via desfilar à sua frente.
Venceu os últimos metros aproximando-se de um senhor a quem enlaçou e beijou com todo ardor, demonstrando muita afeição, causando enorme decepção a todos os jovens presentes no salão.
Seria o seu pai ? Provavelmente sim, devido a desigualdade da idade, mas o beijo que deu em seus
lábios deixou patente uma outra possibilidade
Quem seria, afinal, o senhor idoso que recebera o dadivoso, porém indecoroso beijo? Talvez fosse seu admirador, ou, quem sabe, um protetor abastado ?
E a valsa continuava parada sem uma razão plausível, aparentemente aguardando uma explicação que justificasse aquela estranha
situação.
E a curiosidade imperava e até suplantava a valsa interrompida. E, do jeito que havia chegado, num
provocante rebolado iniciou a sua saída, atravessando o salão novamente de uma forma mais
do que inconsequente.
E a cada passo que dava, o povo todo murmurava e a admirava, ainda sem saber quem seria aquele
estranho e belo ser.
E após a sua partida , ficou o ar impregnado com o seu aroma na forma de um suave perfume, causando
um imenso queixume naqueles que a viram desaparecer na obscuridade, sem deixar sequer uma
tênue pista de quem seria na realidade.
Passado aquele instante, ecoou no recinto um profundo lamento dos que haviam presenciado
aquele momento inusitado, imediatamente seguido da valsa que reiniciou lentamente o
seu ritmo, bem nostalgicamente.