15
1 Roçadores de trecho: uma abordagem ergonômica. Antônio Sarraff Pereira Júnior 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2 Cristiano Ramos 3 Pós Graduação em Ergonomia Faculdade de Ávila Resumo A saúde do trabalhador é um requisito de suma importância ao sistema produtivo e a ergonomia tem um papel vital dentro das empresas, que visa estabelecer uma relação mútua com a qualidade dos serviços prestados com um aumento de produtividade e melhoria das condições do trabalho aos trabalhadores. A avaliação as condições de trabalho dos operadores de roçadeira, que realizam a atividade de roço na manutenção de uma faixa de dutos, identificando os principais problemas que afetam esses trabalhadores ergonomicamente. Centenas de rotações são feitas durante 25 a 30 min. e o continuo movimento de rotação do tronco afeta o disco intervertebral. O que é agravado pelo a atividade que realiza quando está desembarcado. Palavras-chave: Ergonômia, Operador de roçadeira, roçadores. 1. Introdução A abordagem ergonômica baseia-se no princípio básico deque o trabalho deve adaptar-se ao homem. Através da mesma se pode produzir um ambiente de trabalho mais humanizado. Ela procura aproveitar as habilidades mais refinadas dos trabalhadores e proporcionar um ambiente que os encorajem a desenvolver suas atividades. A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e espaços de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a contribuição de diversas disciplinas científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de aplicação, deve resultar em uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos, dos ambientes de trabalho e de vida (IEA, 2000, tradução nossa). Essa abrangência própria da ergonomia possibilita sua aplicação em todas as situações onde esteja presentes a interface homem trabalho, bem como a atuação de diversas disciplinas da ciência as quais possuem conteúdos teóricos e práticos aplicáveis para a melhor adaptação do meio ao homem. Um dos fatores que desequilibra essa relação é o fato da exposição dos trabalhadores a riscos e problemas ergonômicos decorrentes do seu serviço. Uma avaliação ergonômica tem como função melhorar a situação do empregado em seu ambiente laboral e, segundo Dul (2004), tem como princípio contribuir para a prevenção de 1 Pós-graduando em Ergonomia 2 Orientador 3 Co-orientador

Roçadores de trecho: uma abordagem ergonômicaportalbiocursos.com.br/ohs/data/docs/21/45_-_RoYadores... · 2014-11-04 · com a qualidade dos serviços prestados com um aumento de

Embed Size (px)

Citation preview

1

Roçadores de trecho: uma abordagem ergonômica.

Antônio Sarraff Pereira Júnior1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia2

Cristiano Ramos3

Pós Graduação em Ergonomia – Faculdade de Ávila

Resumo

A saúde do trabalhador é um requisito de suma importância ao sistema produtivo e a

ergonomia tem um papel vital dentro das empresas, que visa estabelecer uma relação mútua

com a qualidade dos serviços prestados com um aumento de produtividade e melhoria das

condições do trabalho aos trabalhadores.

A avaliação as condições de trabalho dos operadores de roçadeira, que realizam a atividade

de roço na manutenção de uma faixa de dutos, identificando os principais problemas que

afetam esses trabalhadores ergonomicamente.

Centenas de rotações são feitas durante 25 a 30 min. e o continuo movimento de rotação do

tronco afeta o disco intervertebral. O que é agravado pelo a atividade que realiza quando está

desembarcado.

Palavras-chave: Ergonômia, Operador de roçadeira, roçadores.

1. Introdução

A abordagem ergonômica baseia-se no princípio básico deque o trabalho deve adaptar-se ao

homem. Através da mesma se pode produzir um ambiente de trabalho mais humanizado. Ela

procura aproveitar as habilidades mais refinadas dos trabalhadores e proporcionar um

ambiente que os encorajem a desenvolver suas atividades.

A ergonomia é o estudo científico da relação entre o homem e seus meios, métodos e

espaços de trabalho. Seu objetivo é elaborar, mediante a contribuição de diversas disciplinas

científicas que a compõem, um corpo de conhecimentos que, dentro de uma perspectiva de

aplicação, deve resultar em uma melhor adaptação ao homem dos meios tecnológicos, dos

ambientes de trabalho e de vida (IEA, 2000, tradução nossa).

Essa abrangência própria da ergonomia possibilita sua aplicação em todas as situações onde

esteja presentes a interface homem – trabalho, bem como a atuação de diversas disciplinas

da ciência as quais possuem conteúdos teóricos e práticos aplicáveis para a melhor adaptação

do meio ao homem.

Um dos fatores que desequilibra essa relação é o fato da exposição dos trabalhadores a riscos

e problemas ergonômicos decorrentes do seu serviço.

Uma avaliação ergonômica tem como função melhorar a situação do empregado em seu

ambiente laboral e, segundo Dul (2004), tem como princípio contribuir para a prevenção de

1 Pós-graduando em Ergonomia 2Orientador 3Co-orientador

2

erros, melhorando o desempenho, sendo assim um importante fator para a redução de erros

operacionais.

Fernandes (1996) propõe os seguintes critérios para avaliar as condições de trabalho:

Jornada de trabalho - número de horas de trabalho e sua relação com as tarefas

realizadas; carga de trabalho - quantidade de trabalho realizada no turno de

trabalho; ambiente físico - condições de bem-estar e organização do local de

trabalho; material e equipamentos - quantidade e qualidade dos materiais e

equipamentos disponibilizados para a realização do trabalho; ambiente saudável -

condições de trabalho que não ofereçam riscos de lesão ou doenças aos

trabalhadores; estresse - quantidade de estresse percebido pelos trabalhadores na

jornada de trabalho.

O (Canadian Center for Ocupational Health and Safety) apud MARTINS (2005) pressupõe

que as condições ergonômicas são inadequadas quando o trabalho realizado é incompatível

com o corpo dos trabalhadores e/ou sua capacidade de continuar trabalhando, sendo que tais

condições podem causar desconforto, fadiga, lesões e doenças. No entanto, é possível

prevenir lesões e doenças relacionadas com condições ergonômicas adequadas, desde que

tanto o local quanto à organização do trabalho sejam ajustados às necessidades individuais

(físicas e mentais) de cada um.

De acordo com Iida (2005) a ergonomia, assim como qualquer outra atividade relacionada

com o setor produtivo, só será aceita em uma instituição pelos seus administradores, se for

capaz de comprovar que é economicamente viável, ou seja, se apresentar uma relação

custo/benefício favorável. Por exemplo, como custos alguns itens estariam incluídos, como

elaboração de projetos, aquisição de máquinas, materiais e equipamentos, treinamento de

pessoal e queda de produtividade durante o período de implantação. Já nos benefícios,

poderiam ser alcançados economias de material, mão de obra e energia, redução de

acidentes, absenteísmos e aumento da qualidade e produtividade.

A utilização de máquinas manuais, como roçadeiras, assume um importante papel na

manutenção de áreas verdes de faixa de dutos, ou trecho. Para operar com este tipo de

equipamento, deve-se, no entanto, levar em consideração parâmetros ligados à máquina

como, por exemplo, funcionamento, conformação e adaptabilidade às diferentes condições

de operação e trabalho.

Segundo Gadanha Júnior et al. (1991), máquinas agrícolas são um conjunto de órgãos que

apresentam movimentos relativos, e com resistência suficiente para transmitir o efeito de

força externas, chamadas movidas ou transformar energia, denominadas motoras.

Atividades agrícolas expõem o trabalhador rural a riscos ocupacionais e podem ser

consideradas uma das profissões com maiores riscos. Alguns destes riscos podem

transformar-se em acidentes fatais ou deixar sequelas nos trabalhadores; este quadro se

agrava quando o trabalhador utiliza equipamentos ou máquinas agrícolas (FARIA, 2005).

Contudo, é importante considerar a interação homem-máquina como, por exemplo, a

temperatura de trabalho, o intervalo de tempo de utilização ininterrupta e a utilização de

dispositivos de segurança, devendo-se sempre considerar o operador como principal

elemento do sistema (ALONÇO, 2004).

3

Iida (1993) afirma que a fadiga “é o efeito de um trabalho continuado que provoca uma

redução reversível da capacidade do organismo e uma degradação qualitativa desse

trabalho”.

Ainda para Iida (1993):

Os sintomas de fadiga psicológica (psíquica) são mais dispersos e não se

manifestam de forma localizada, mas de forma mais ampla, como sentimento de

cansaço geral, aumento da irritabilidade, desinteresse e maior sensibilidade a certos

estímulos como fome, calor, frio ou má postura.

Não são apenas as condições físicas de trabalho que importam. As condições sociais e

psicológicas também fazem parte do ambiente de trabalho, ou seja, para alcançar qualidade e

produtividade, as organizações precisam ser dotadas de pessoas participantes e motivadas

nos trabalhos que executam e recompensadas adequadamente por sua contribuição.

(CHIAVENATO, 2004)

Para avaliar a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos

trabalhadores, de acordo com a Norma Regulamentadora NR17, o empregador deve realizar

um estudo ergonomico, abordando no mínimo, as condições de trabalho, o que incluem

aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais, ao

mobiliário, aos equipamentos, às condições ambientais do posto de trabalho, a área de

trabalho, e a própria organização do trabalho.

Do ponto de vista de higiene do trabalho, ruído é o fenômeno físico vibratório com

características indefinidas de variações de pressão (no caso ar) em função da frequência, isto

é, para uma dada frequência podem existir, em forma aleatória através do tempo, variações

de diferentes pressões (SALIBA, 2004).

De acordo com Mendes (2005), normalmente ruído é definido como um som indesejável, já

a National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH, 1998) define ruído como

um som errático, intermitente ou com oscilação estaticamente aleatória.

Para que a vibração sonora possa ser ouvida é necessário que a frequência situe-se entre

dezesseis e vinte mil Hz e a variação de pressão sonora provocada atinja o limiar de

audibilidade; 2x10-5 N/m2 (SALIBA, 2004).

De acordo com Associação Brasileira de Normas Técnicas, a NBR 9999 (ABNT, 1987)

determina a “Medição do Nível de Ruído no posto de Operação de Tratores e Máquinas

Agrícolas”, e a Norma Regulamentadora nº 15 “Atividades e Operações Insalubres”

(BRASIL, 1978) determina os níveis máximos de exposição para a jornada de trabalho de

oito horas.

Para a avaliação do nível de ruído em uma atividade laboral pode-se utilizar uma grande

variedade de equipamentos, a escolha dependerá do dado que se deseja obter, assim como do

tipo de ruído que se deseja avaliar. Os três instrumentos mais frequentemente utilizados são

medidor de nível de pressão sonora, medidor integrador de uso pessoal, também denominado

dosímetro, e analisadores de frequência, todos descritos na sequência (SOUZA, 1999).

4

Poletto et. al. (2012) conduziu trabalhos sobre análise do ruído em roçadoras costais

motorizadas. O autor verificou que o agente físico estudado, ruído, apresenta níveis de

exposição que podem acarretar lesões aos trabalhadores, apresentando limites de tolerância

acima do permitido pela legislação, indicando que este agente deve ser controlado com

maior rigor pelas empresas. Ainda segundo Poletto (2010) os níveis de ruído dos

equipamentos ensaiados, quando comparados com as normas regulamentadoras estão muito

acima dos padrões de conforto, atingindo a região de perda de audição.

Calor pode ser definido como a “forma de energia que se transfere de um sistema para outro

por uma diferença de temperatura entre os dois. Sensação que se tem num ambiente

aquecido (pelo sol ou artificialmente), ou junto de um objeto quente ou que aquece”

(FERREIRA, 2004, p.118).

Do ponto de vista da higiene ocupacional, o calor é compreendido como o agente de

natureza física que pode causar dano à saúde do trabalhador quando da violação do limite de

tolerância fixado no Anexo nº 3, da Norma Regulamentadora nº 15 (BRASIL, 1978), que

estabelece para avaliação o Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo – IBUTG.

Segundo Grandjean (1998), a ergonomia tem como objetivo a adaptação do posto de

trabalho, instrumento, máquina, horário e ambiente às necessidades psico-fisiológicas do

trabalhador, portanto, para atender a estes objetivos deve-se estudar série de fatores, dentre

eles: o trabalhador, suas características físicas, fisiológicas e psicológicas; as máquinas e

equipamentos; e o ambiente onde esta atividade é realizada, contemplando temperatura,

ruído, vibração, entre outros fatores (IIDA, 2005)

Conforme Smith (1996), movimentos repetitivos podem causar esgotamento e desgaste nas

articulações, atrito e desgaste nos tendões e ligamentos e aumento da fadiga muscular

acarretando risco de ergonômicos. Ainda segundo Smith (1996), distúrbios acumulativos são

maiores quanto mais o trabalhador é exposto a esforço físico, longos períodos de ações

semelhantes durante a jornada de trabalho, exposições devidas à profissão; exposições

contínuas, diárias, sem pausas.

Além das máquinas e equipamentos utilizados nos meios de produção para transformar os

materiais, deve-se também considerar todas as situações em que ocorre o relacionamento

entre o homem e o seu trabalho e não apenas o ambiente físico, mas também os aspectos

organizacionais, isto é, de como o trabalho organizado, programado e controlado visando

produzir os resultados desejados (IIDA, 2005).

Segundo Másculo (2011), carga de trabalho pode ser definida como resultante das exigências

que sobrecarregam o indivíduo no decorrer de sua atividade de trabalho.

Iida (2005) comenta que o trabalho rural pode ser caracterizado por ritmo intensivo com

exigência de alta produtividade em tempo limitado, condições inadequadas, problemas de

ambiente, equipamentos e processos, condições que acabam acarretando insatisfações,

cansaços, queda de produtividade, problemas de saúde e acidentes de trabalho.

As lesões decorrentes de sobrecarga física ocorrem quando se tem uso de cargas máximas,

má projeção de equipamentos e má orientação quanto ao treinamento. O trabalho nas

atividades agrícolas depende da compreensão dos limites humanos físico, fisiológico e

mental e da sua correta aplicação nas situações reais encontradas (SANTOS et al., 2013).

5

Dentre os aspectos ergonômicos destacam-se:

Limites Físicos do Operador: São aqueles que envolvem características do

trabalhador, por exemplo: biótipo, idade, altura, peso, sexo. Quando o indivíduo

não consegue realizar determinada tarefa por causa de suas características

corporais ele pode estar se expondo além de seus limites físicos (SANTOS et al.

2010).

Limites Fisiológicos do Operador: Estes limites referem-se a aptidão física,

descanso, boa saúde, correta nutrição e também o efeito de drogas no organismo.

Esses limites podem variar diariamente, por exemplo, se o indivíduo não

descansou adequadamente ou não teve uma alimentação correta, pode apresentar

problemas na execução de alguma tarefa que exija força ou concentração

(SANTOS et al. 2010).

Limites Mentais e Emocionais do Operador: Os limites mentais e emocionais

também como os limites fisiológicos podem variar diariamente, de acordo com o

estresse mental do indivíduo. O indivíduo pode perder a capacidade de entender ou

executar tarefas com a segurança necessária. À empresa contratante dos serviços

são essenciais a observação e identificação de condições e fatores que possam

causar sobrecarga nos funcionários, visando proporcionar ao colaborador um

ambiente de trabalho em que este possa executá-lo de modo feliz, satisfeito e

confortável (SANTOS et al. 2010).

Adissi (2011) comenta que o trabalho rural tem peculiaridades que devem ser mais bem

analisadas, tais como: postos de trabalhos desestruturados, móveis e dependentes das

variações naturais de relevo, solo, intempéries. Além disso, também cabe ao trabalhador

rural controlar as condições do solo, a umidade, protegendo a cultura da concorrência de

outros vegetais e da ação de predadores, insetos e de agentes microscópicos que podem

prejudicar a cultura.

Segundo Sato e Coury (2005) apud Moccellin et al. (2007), as lesões atingem o trabalhador

no auge de sua produtividade e experiência profissional, sendo um problema com magnitude

em diversos países do mundo, o que reforça a importância de se identificar os fatores de

risco que desencadeiam e/ou agravam essas lesões.

A sobrecarga sobre os músculos e articulações, oriundos de trabalhos estáticos, assim como

trabalhos que exigem muita força ou ainda os que exigem posturas desfavoráveis, como o

tronco inclinado e torcido, podem levar à fadiga muscular, dores, como também provocar

lesões musculares. Fatores estes responsáveis pelo aumento da prevalência de doenças

relacionadas ao trabalho, como as Lesões por Esforços Repetitivos (LER), também

denominadas de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), que

caracterizam-se por sintomas como dor, fadiga nos membros superiores, pescoço e coluna

lombar e resultam de postura inadequada e falta de pausas durante a jornada de trabalho

(IIDA, 2005; MOCCELLIN et al., 2007; KROEMER E GRANDJEAN, 2005).

Para o médico e presidente da ABQV (Associação Brasileira de Qualidade de Vida), Alberto

Ogata, desempenhar atividades em dois ou mais empregos contribui para um cenário de

pouco tempo para relaxar, agenda corrida, alimentação inadequada, vida social ausente e

cansaço e fadiga. “Podemos afirmar que todo excesso a esse quadro geral será prejudicial e

certamente o fato de ter dois empregos agravará essa situação, provocará a aquisição de

maus hábitos e intensificará os riscos de saúde decorrentes do trabalho”.

6

2. Material e Métodos

A metodologia utilizada no presente trabalho foi composta de pesquisa com levantamento

dos dados sobre os agentes estudados buscando identificar os principais problemas que

possuem.

Neste item são descritos também o ambiente estudado e os colaboradores envolvidos na

pesquisa.

2.1. Ambiente Analisado

O trabalho foi desenvolvido por meio de questionário com perguntas abertas e fechadas

sobre a atividade exercida pelos colaboradores que fazem a manutenção de faixa de dutos,

entre os municípios de Codajás e Caapiranga, no Estado de Amazonas, Brasil.

2.1. Colaboradores

A atividade desenvolvida pelos trabalhadores que fazem a manutenção de faixa de dutos,

com equipamentos denominados roçadora transversal motorizada, utilizadas para roçar a

vegetação ao longo do trecho.

2.2. Do trabalho

O trabalho é em regime de embarque 14 x 14 dias, sendo a jornada de trabalho oito horas,

sendo que o local das atividades é determinado pelo contratante.

Os operadores de roçadeira ficam alojados em embarcações ou balsas alojamentos, que

possuem serviço de hotelaria, nessas embarcações os mesmos tomam café e jantam

O horário de saída dos trabalhadores é às seis horas da manhã, e devem estar de volta a

embarcação às cinco horas. O tempo de deslocamento entre o alojamento e o local

determinado para a execução das tarefas, assim como o retorno ao ponto de encontro estão

incluídos na jornada de trabalho. A equipe tem uma hora destinada para a refeição e pode

parar para descansar durante a caminhada e o serviço.

Os operadores que preencheram o questionário realizam suas ao longo do trecho, para chegar

ao ramal de acesso onde acontece o serviço de roço, faz-se necessário o uso de uma lancha, o

percurso pode demorar 10 min. ou até 1 hora ate o ramal de acesso. Do acesso ate o local

onde irão executar a atividade existe a possibilidade de caminhar, subindo e descendo ladeira

algumas bem íngremes, carregando seu material, por no máximo 7km.

Os operadores de roçadeira realizam a roçagem motorizada por 25 a 30 min. em terreno

irregular. (Figura 01)

7

1. Atividade de roçagem

A área total a ser roçada no dia é determinada pelo encarregado e varia entre 300 a 600

metros, dependendo da dificuldade do local. Para o controle do serviço executado o

encarregado fotografa o local antes de iniciar e ao termino do serviço, e prepara um relatório,

que é enviado para o gerente do contrato.

No local da atividade é construído uma cabana com madeira e lona onde os funcionários

descansam, abrigam-se em caso de chuva e realizam suas refeições, que são oferecidas pela

empresa.

O abastecimento e a afiação da roçadeira é feito pelo funcionário responsável pela mesma

em campo.Na eventualidade do equipamento quebrar durante a execução da roçada, o

roçador pode descansar o restante do período de trabalho.

2.3. O Questionário

O questionário foi aplicado com duas equipes que fazem o trabalho de roço, lembrando que

somente os operadores de roçadeira foram o foco deste trabalho, num total de vinte e cinco

trabalhadores.

3. Resultados da pesquisa

Ao analisar as variáveis pessoais, observa-se que há predominância de profissionais da

classe masculina (100%). A idade predominante dos participantes situa-se entre 25 e 35

anos, 57,1% da população. Com relação ao nível de escolaridade, a maioria dos profissionais

não possuem ensino médio completo.

A pesquisa aponta que 24% dos entrevistados queixaram-se de dores na coluna, conforme

tabela abaixo. Outra queixa que merece destaque é o ombro com 20% de indicações.

SARRAFF,2013

8

Tabela 01: Desconforto sentido pelos funcionários

Os operadores de roçadeira que manifestaram algum tipo de incomodo 28% disseram

apresentar o sintoma a mais de 6 meses, conforme tabela abaixo.

Tabela 02: Tempo que sentem dores

Dos funcionários entrevistados 68% afirmaram que as dores estão ligadas as suas atividades

ocupacionais atuais e que elas ficam mais fortes durante as caminhadas até a local da

atividade.

Mesmo com sentindo dor 40% dos entrevistados não tomam remédio para combater os

sintomas sentidos.

Grande parte dos funcionários que preencheram o questionário classifica as dores que

sentem como moderada de acordo com a tabela 03.

Tabela 03: Como os funcionários classificam as dores

9

Um ponto que merece destaque são as atividades realizadas pelos funcionários no período

em que estão desembarcados. Dos entrevistados 64% afirmaram exercer alguma atividade no

período em que estão desembarcados, sendo que 44% realizam trabalho de pedreiro

conforme tabela abaixo.

Tabela 04: Atividade realizada quando desembarcado

4. Discussão

O questionário estrutura de maneira evitar perguntas mal entendidas, permitindo o

esclarecimento na entrevista e reposta equivocadas, foi o ideal para a abordagem proposta,

uma vez nível escolaridade dos operadores de roçadeira é baixo de acordo com o apontado

na pesquisa.

Grande parte dos entrevistados relataram apresentar dores na colona. O movimento de

rotação do tronco desenvolvida na atividade durante a roçagem gera tensão no anel fibroso

do disco intervertebral. Centenas de rotações são feitas durante 25 a 30 min. (tempo que dura

um tanque da roçadeira).

Fato esse que pode se agravar devido ao longo caminho até o ponto onde será realizado a

atividade, podendo chegar a 10 km por dia, carregando seu material.

Esse tipo de ação gera fissuras no anel fibroso que dificilmente são cicatrizados uma vez que

a pressão é intensa e o período de descanso é limitado.

Todavia, a etiologia da dor lombar não está claramente definida devido aos múltiplos fatores

de risco associados com o distúrbio.

A maioria dos entrevistados alegou trabalhar na agricultura no período em que estão

desembarcados, e os problemas são peculiares a da atividade que exercem no período em

que estão embarcados.

5. Conclusões

De acordo com as condições em que a pesquisa foi realizada e com bases nos resultados

obtidos, foi possível evidenciar problemas ergonômicos na atividade dos trabalhadores em

seu ambiente de trabalho no qual, poderá futuramente gerar como consequência principal,

acidentes de trabalho com afastamentos.

10

Outro fato importante que se deve salientar são as longas caminhadas, que fazem para chegar

ao local onde executaram suas atividades, nessa atividade sempre levam consigo seu

material de trabalho, no caso a roçadeira.

A operação da roçadeira dura cerca de 25 a 30 min., o tempo que leva para secar o tanque da

máquina. Durante esse tempo realizam centenas de rotações de tronco e as pausas entre uma

atividade ou outra é de dez minutos.

A fadiga muscular ocasionada pelas longas caminhadas, que causa uma redução de

desempenho do músculo fadigado, não apenas pela redução da força, mas também pela

redução da velocidade de movimento. Isso pode explica os problemas erros e acidentes que

acontecem.

Os operadores de roçadeira trabalham quatorze dias contínuos e no seu desembarque,

conforme pesquisa, realizam outra atividade, na agricultura ou como pedreiro, para

completar sua renda.

As atividades exercidas pelas as pessoas que trabalham em regime de embarque, no período

de trabalho e no período de folga, pode ser um potencial para o aparecimento de fadigas

musculares nos trabalhadores, relacionados às posturas assumidas durante a atividade

laboral.

No questionário utilizado foi aplicado auxilio durante a entrevista, devido ao baixo grau de

estudo e entendimento dos participantes, dessa maneira foi evitado problemas com perguntas

mal entendidas e resposta equivocadas.

Portanto, a saúde do trabalhador é um requisito de suma importância ao sistema produtivo e

a ergonomia tem um papel vital dentro das empresas, que visa estabelecer uma relação

mútua com a qualidade dos serviços prestados com um aumento de produtividade e melhoria

das condições do trabalho aos trabalhadores.

Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, ABNT - NB-66,

Conceituação e Normalização das Máquinas Agrícolas, Rio de Janeiro, 1987.

ADISSI, P. J., Ergonomia no trabalho agrícola, Editora Campus, 2011, São Paulo, SP.

ALONÇO, A. dos S. Metodologia de projeto para a concepção de máquinas agrícolas

seguras. 2004. 221f. Tese (Doutorado em Eng. Mecânica) - UFSC.

BERASATEGUI, M.B.R. Modelización y simulación del comportamiento de un sistema

mecánico con suspensión aplicado a los asientos de los tractores agrícolas. Tese Universidad

Politécnica de Madrid, Madrid, España. 2000.

CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos: o capital humano das organizações. 8. ed.

São Paulo: Atlas, 2004.

DUL, J. e WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. 2ª Ed. São Paulo: Edgard Blücher,

2004.

11

FARIA, N. M. X. Saúde do trabalhador rural. 2005. Tese (Doutorado em epidemiologia)

Programa de Pós-Graduação em epidemiologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

FERREIRA, A. B. H.; Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, São Paulo, Editora

Positivo, 2004.

GADANHA J., C., D., MOLIN, J., P., COELHO, J., L., D., YAHN, C., H., TOMIMORI, S.,

M., A., W., Máquinas e Implementos Agrícolas do Brasil. São Paulo: Núcleo Setorial de

Informações em Máquinas Agrícolas, Fundação de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio

Grande do Sul e Instituto de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo,

1991.GRANDJEAN, E. Manual de ergonomia. Adaptando o trabalho ao homem. 4º ed.

Porto Alegre : Artmed Editora, 1998.

IIDA, I, Ergonomia Projeto e Produção, São Paulo, Editora Edgard Blucher, 2005.

INTERNATINAL ERGONOMICS ASSOCIATION.Whatisergonomics. Disponível

em:http://www.iea.cc/browse.php?contID=what_is_ergonomics>. Acesso em: 11 maio 2007.

MÁSCULO, F. S., Ergonomia, trabalho adequado e eficiente, Editora Campus,São Paulo,

SP, 2011.

MARTINS, Caroline de Oliveira. Repercussão de um programa de ginástica laboral na

qualidade de vida de trabalhadores de escritório. Florianópolis, 2005. Dissertação (Mestrado

em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção,

Universidade Federal de Santa Catarina

MENDES, R., Patologia do trabalho, São Paulo, Ed. Atheneu, 2005.

MOCCELLIN, A.S.; BERNARDI, L.; AGUIAR, R. G.; ITO, E. I.; NOVAIS-SHIMANO, S.

G.; FONSECA, C. R. Avaliação ergonômica de um trabalhador da área de jardinagem: relato

de caso. CBB: USP Ribeirão Preto, 2007.

NIOSH National Institute for Occupational Safety and Health. Preventing Occupational

Hearing Loss. A Practical Guide, 1998.

OGATA, Alberto. ADMINISTRADORES. Disponível em:

http://www.administradores.com.br/noticias/carreira/saiba-os-efeitos-de-ter-dois-empregos-

na-sua-qualidade-de-vida/43126/ . Acesso em:02 Jan 2014.

SALIBA, T., M.; Insalubridade e Periculosidade, Aspectos Técnicos e Práticos, Editora Ltr,

São Paulo, 2004.

SANTOS J.E.G., GUERRA, S.P.S., CAMPOS, F.H., BARBIERI, A.A.M., OGURI, G.

Prevenção de acidentes com tratores agrícolas, ergonomia aplicada em tratores agrícolas e

florestais e florestais. UNESP, Botucatu: Editora Diagrama, 2010, disponível em:

<www.fepaf.org.br>. Acesso em: Dez 2013.

SCHLOSSER, J. F.; DEBIASI, H., Conforto, preocupação com o operador. Caderno técnico

da Revista Cultivar Máquinas, Pelotas, 2002.

12

SMIT H, M. J., Considerações psicossociais sobre distúrbios ósteo musculares relacionados

ao trabalho (DORT) nos membros superiores. In: Proceedings of the Human Factors and

Ergonomics Society, 1996.

13

ANEXO

14

15

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Concordo em participar, como voluntário, do estudo que tem como

pesquisador responsável o aluno Antônio Sarraff Pereira Junior do curso de Pós Graduação

em ergonomia da Universidade de Ávila, representada em Manaus pelo Biocursos, que pode

ser contatado pelo e-mail [email protected] e pelo telefone (92) 8187-5953 e (92)

9304-6957. Tenho ciência de que o estudo realizado, por parte do referido aluno a realização

do TCC intitulada “Roçadores de trecho: Uma abordagem ergonômica.”. Minha

participação consistirá em preencher um questionário sobre minhas atividades.

Entendo que esse estudo possui finalidade de pesquisa acadêmica, que os dados obtidos não

serão divulgados, a não ser com prévia autorização, e que nesse caso será preservado o

anonimato dos participantes, assegurando assim minha privacidade. O aluno providenciará

uma cópia da transcrição da entrevista para meu conhecimento. Além disso, sei que posso

abandonar minha participação na pesquisa quando quiser e que não receberei nenhum

pagamento por esta participação.

______________________________

Assinatura

Manaus, ___ de _________ de 2013