Rodrigo Siqueira de Sousa. O aprendizagem informal em ambiente de redes sociaisvirtuais. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Ciência da Computação) - Universidade

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No mundo altamente globalizado e competitivo que vivemos hoje, é cada vez mais essencial a busca por qualificação e experiências enriquecedoras. As informações estão difundidas em diversos meios e com uma velocidade de propagação altíssima, fazendo com que as pessoas se deparem sempre com um novo detalhe. Nesse contexto, o aprendizado informal aparece como uma forma eficiente de buscar conhecimento, ao mesmo tempo em que se adequa às necessidades de cada um. Uma das características desse tipo de aprendizado é a ausência de um critério curricular pré-definido e da figura autoritária do professor ou facilitador. O aprendizado informal preza pela espontaneidade e disponibilidade do indivíduo, uma vez que ele pode desenvolver as atividades que quiser, onde quiser e na hora que for mais conveniente. Para potencializar ainda mais o aprendizado informal, busca-se sempre encontrar ambientes propícios para seu desenvolvimento. Nesse trabalho, foi analisado o ambiente de redes sociais virtuais, por acreditar que ele possui características que preservam e amplificam os requisitos básicos para que o indivíduo desfrute do aprendizado informal.

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

    CENTRO DE INFORMTICA

    GRADUAO EM CINCIA DA COMPUTAO

    Aluno: Rodrigo Siqueira de Sousa ([email protected]) Orientador: Alex Sandro Gomes ([email protected])

    Recife, Junho de 2008

    O APRENDIZADO INFORMAL EM

    AMBIENTES DE REDES SOCIAIS VIRTUAIS

    TRABALHO DE GRADUAO

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    Dedicatria

    Dedico este trabalho aos meus pais, Sandra e Rogrio.

    minha me, pois, no fosse seu amor incondicional, eu no teria condies de chegar at aqui.

    Ao meu pai, pois, apesar do pouco tempo que passamos juntos, aprendi com ele valores e atitudes que guardo comigo at hoje. Onde quer que ele esteja, sei que est muito feliz por mais esta etapa de minha vida que consigo vencer.

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    Agradecimentos

    Ao meu irmo, Tiago, pelo companheirismo e amizade.

    Aos meus amigos-irmos do G4 (Renan, Brita e Rafo), por tornar esses nove longos semestres na UFPE muito mais agradveis e divertidos.

    Ao professor Alex Sandro, pela orientao, pacincia e entusiasmo durante toda minha

    graduao.

    Aos membros do CCTE, pois apesar do pouco tempo de convvio, eles muito contriburam para o desenvolvimento de algumas das idias que esse trabalho aborda.

    Aos membros da comunidade Fsica, no Orkut, pelos depoimentos enriquecedores.

    A todos que contriburam direta ou indiretamente para a realizao desse trabalho.

    Obrigado a todos !

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    Triste mundo esse em que vivemos, onde mais fcil desintegrar um tomo do que um preconceito.

    (Albert Einstein)

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    Resumo:

    No mundo altamente globalizado e competitivo que vivemos hoje, cada vez mais essencial a busca por qualificao e experincias enriquecedoras. As informaes esto difundidas em diversos meios e com uma velocidade de propagao altssima, fazendo

    com que as pessoas se deparem sempre com um novo detalhe. Nesse contexto, o aprendizado informal aparece como uma forma eficiente de

    buscar conhecimento, ao mesmo tempo em que se adequa s necessidades de cada um.

    Uma das caractersticas desse tipo de aprendizado a ausncia de um critrio curricular pr-definido e da figura autoritria do professor ou facilitador. O aprendizado informal

    preza pela espontaneidade e disponibilidade do indivduo, uma vez que ele pode desenvolver as atividades que quiser, onde quiser e na hora que for mais conveniente.

    Para potencializar ainda mais o aprendizado informal, busca-se sempre encontrar ambientes propcios para seu desenvolvimento. Nesse trabalho, foi analisado o ambiente de redes sociais virtuais, por acreditar que ele possui caractersticas que preservam e amplificam os requisitos bsicos para que o indivduo desfrute do aprendizado informal.

    Palavras-Chave: aprendizado informal, redes sociais virtuais, orkut, aprendizado em redes sociais virtuais, software social.

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    ndice 1. Introduo ............................................................................................. 7

    2. Redes sociais na Internet ....................................................................... 8

    2.1. Software social....................................................................................................... 10

    2.1.1. Histria do software social............................................................................ 13

    2.1.2. Aspectos funcionais de software social .................................................... 16

    2.1.3. Atividades humanas em software social .................................................. 19

    2.2. Orkut......................................................................................................................... 21

    2.2.1. Interao no Orkut......................................................................................... 23

    3. O aprendizado informal e redes sociais na Internet ............................. 24

    3.1. Tipos de Aprendizagem....................................................................................... 24

    3.2. Aprendizado informal........................................................................................... 26

    3.3. Aprendizado informal em software social ....................................................... 28

    4. Metodologia.......................................................................................... 30

    4.1. Procedimento ........................................................................................................ 31

    4.2. Anlise de contedo............................................................................................ 32

    4.3. Coleta e classificao de dados ...................................................................... 35

    5. Resultados............................................................................................ 37

    5.1. Tpicos Selecionados........................................................................................... 37

    5.1.1. Tpico 1 ............................................................................................................ 37

    5.1.2. Tpico 2: ........................................................................................................... 40

    5.1.3. Tpico 3 ............................................................................................................ 42

    5.1.4. Tpico 4: ........................................................................................................... 45

    5.1.5. Tpico 5 ............................................................................................................ 46

    5.1.6. Tpico 6 ............................................................................................................ 49

    5.2. Anlise Quantitativa ............................................................................................. 52

    5.3. Anlise Qualitativa................................................................................................ 52

    6. Concluses ........................................................................................... 57

    Referncias Bibliogrficas ........................................................................ 60

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    1. Introduo

    Atualmente fcil perceber que vivemos num mundo altamente globalizado e conectado Internet. A cada ano so divulgados nmeros surpreendentes de novos

    adeptos grande rede, bem como uma gama bastante variada de novos servios on-line, voltados para atender s necessidades e desejos da sociedade. Cada vez mais os usurios usufruem de comodidade e conforto para ter o que desejam, na hora certa, onde quer que estejam.

    Dentre os servios criados, um excelente exemplo de difuso e aceitao pelos internautas so os chamados softwares sociais. Nessa categoria esto includos os blogs, redes sociais na internet, wikis, fotologs, programas de mensagens instantneas, etc. Os softwares sociais se adaptaram muito bem nova ordem global e esto colaborando bastante no quesito incluso digital.

    Dos softwares sociais existentes, os sites de rede social possuem algumas caractersticas peculiares, que os outros no possuem: permitem a criao e a

    manipulao de uma rede de contatos, bem como o fornecimento de locais virtuais onde

    pessoas com interesses em comum so estimuladas a trocar idias e compartilhar seu conhecimento.

    So por essas caractersticas supracitadas que as redes sociais na Internet so potenciais ambientes para o desenvolvimento do aprendizado informal. Diferentemente do aprendizado formal, o informal se caracteriza por no seguir um currculo pr-estabelecido de ensino, nem conta com o auxlio de professores ou facilitadores. O

    indivduo aprende de forma natural, de acordo com suas vontades e disponibilidade. Essa espontaneidade caracterstica do aprendizado informal bastante explorada em

    ambientes de redes sociais na Internet, j que no h mecanismos reguladores de atividade no local, ou seja, no existem regras rgidas sobre o contedo da postagem, o desenvolvimento dos debates so construdos e controlados pelos prprios usurios.

    Este trabalho buscou estudar e relacionar estes conceitos, com o intuito de

    observar e analisar um ambiente de redes sociais virtuais, sob a perspectiva do aprendizado informal. O ambiente escolhido foi o Orkut, e os dados foram coletados em uma de suas comunidades virtuais.

    No segundo captulo, apresentado o conceito de redes sociais na Internet. A histria dos softwares sociais, bem como suas relevncias funcionais e humanas so

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    exploradas, com o objetivo de avaliar seu desenvolvimento e visualizar suas principais caractersticas. Tambm mostrada em especial a rede social Orkut, por conta de sua importncia nesse trabalho.

    No terceiro captulo, so apresentados conceitos de aprendizagem, com nfase nos princpios e caractersticas da aprendizagem informal. Tambm feito um relacionamento entre o aprendizado informal e o software social, visando analisar suas principais propriedades em comum e como pode acontecer o aprendizado informal na

    rede social virtual. O quarto captulo descreve a metodologia utilizada no desenvolvimento deste

    trabalho, bem como a forma de anlise do contedo coletado. O quinto captulo apresenta os resultados obtidos a partir da anlise dos dados

    colhidos, mostrando os debates selecionados e depoimentos de participantes dos mesmos.

    O sexto captulo aponta as concluses do autor acerca do que foi estudado, bem como as percepes do desenvolvimento do aprendizado informal em tais ambientes.

    Tambm so sugeridas aplicaes para o fenmeno estudado.

    2. Redes sociais na Internet

    Os servios de redes sociais na Internet, de forma geral, podem ser definidos como locais virtuais de segmentao de interesses, onde cada indivduo participa dos grupos

    de discusso que lhe forem convenientes. Por ser na Internet, obviamente as barreiras geogrficas so vencidas e o debate ampliado a nveis jamais imaginados. Mas fica a pergunta: Por que esse tipo de servio d certo? Para responder essa pergunta, pode-se citar o filsofo e escritor basco Fernando Savater, quando ele afirma que "a inteligncia

    construda socialmente, somos humanos porque somos sociveis". Interpretando esta citao, infere-se que os seres humanos so muito parecidos uns com os outros, e

    buscam essencialmente as mesmas coisas, como: reconhecimento, companhia, proteo, diverso, segurana, entre outras.

    As ferramentas para redes sociais so construdas prevendo-se uma relao de dependncia entre suas unidades, j que o pressuposto bsico de que ocorram formas de relacionamento e colaborao entre os participantes. De acordo com Boyd e Ellison

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    [Boyd e Ellison, 2007], a maioria dos sites de redes sociais existentes na internet atua como um mantenedor das redes sociais pr-existentes, embora alguns deles tenham como objetivo facilitar e estimular o encontro de indivduos totalmente desconhecidos, porm, com interesses em comum. Apesar disso, o grande objetivo das redes sociais na internet no a promoo do encontro de estranhos, mas sim a oportunidade de proporcionar de oferecer mecanismos que permitam aos seus usurios articular e tornar visveis suas redes sociais.

    De forma especfica, do ponto de vista do servio oferecido, considera-se os sites de redes sociais como um servio baseado na internet que permite aos indivduos (i) construir um perfil pblico ou semi-pblico dentro do sistema utilizado, (ii) articular uma lista de outros usurios, com os quais deseja-se estabelecer uma conexo, e (iii) visualizar e cruzar com a lista de conexes de outros usurios do sistema. A natureza e a nomenclatura dessas conexes podem variar de site para site [Boyd e Ellison, 2007].

    Para utilizar os servios oferecidos pelos sites de redes sociais, necessrio fazer um cadastro, contendo informaes particulares, sejam eles de cunho pessoal, profissional, educacional, etc. A partir da, o usurio pode navegar pelo ambiente e ser identificado pelo seu perfil, geralmente composto por um apelido, uma foto, e algumas informaes que foram adicionadas no cadastro. Ele tambm estar apto a visualizar outros usurios do site e interagir com eles, seja por meio de mensagens individuais, comentrios em fruns e comunidades virtuais, bem como adicion-los a sua lista de amigos.

    A exibio pblica dos perfis nesses sites uma poderosa ferramenta para disseminao das redes sociais de cada indivduo. Isso ocorre pois a lista de amigos contm links para o perfil de cada amigo, permitindo que os visualizadores naveguem pela teia social apenas clicando num elemento da lista de amigos. Na maioria dos sites, a lista de amigos visvel para todos, embora existam excees e as permisses de visualizao variam de site para site.

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    Figura 1 - Redes Sociais na Internet

    interessante perceber que nem todos os sites comearam, genuinamente, como sites de redes sociais. Muitas das pginas encontradas hoje ofereciam anteriormente servios de blog, compartilhamento de arquivos de msica e vdeo e mensagens instantneas. Com o passar do tempo, percebeu-se a necessidade de aumentar a

    interao dos usurios entre si, fortalecendo a comunidade apreciadora de determinada operao na internet. Por isso que se diz que na rede fcil encontrar nichos e

    segmentao pessoal, e nesses locais existe uma tendncia de troca de informaes e colaborao entre as pessoas envolvidas, possuidoras de interesses em comum.

    2.1. Software social

    O software social qualquer software ou rede on-line que permite aos utilizadores interagir e partilhar conhecimento numa dimenso social, realando o potencial humano

    em vez da tecnologia que possibilita a transmisso (Wikipedia, 2006). Ao analisar esta definio, percebe-se que o foco no o software em si, ou seja, a tecnologia e os aplicativos utilizados esto em segundo plano, pois o que realmente importa a criao

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    de um ambiente colaborativo, propcio interao entre os participantes, ao mesmo

    tempo em que permite uma adequao s necessidades e disponibilidades de cada um. Atualmente, as formas mais conhecidas de software social so os sites redes

    sociais, programas de mensagens instantneas, blogs e wikis. O papel dessas novas tecnologias na sociedade atual fundamental, haja vista que elas esto moldando a forma de como ocorre a colaborao, dentro e fora da internet. Mas, apesar disso, necessrio cautela para se avaliar os reais benefcios e aplicabilidade. Boyd (2006), ao discutir sobre a necessidade de categorizao do que software social, afirma que os limites so necessrios para evitar que todas as novas tecnologias sejam classificadas como "software social", s porque esto na "moda", e tambm para dar definies claras para futuras pesquisas, discusses e debates.

    Com o aumento significativo verificado em usurios da internet nos ltimos anos - estima-se que o nmero de brasileiros conectados rede j passa das 32 milhes (Folha de So Paulo, 2005) - percebeu-se tambm um incremento no nmero de participantes dos sites de redes sociais, bem como uma maior variabilidade dos servios oferecidos,

    como compartilhamento de fotos e vdeos, incluso de blogs, interao com dispositivos mveis, entre outros. Esse aumento est relacionando tanto com a expanso do acesso a internet, diminuio nos custos de aquisio de computadores e a tendncia convergncia de servios, verificada em diversos setores da sociedade.

    A revista Time (25 de Dezembro, 2006 / 1 de Janeiro, 2007) dedicou o nmero da Pessoa do Ano 2006 a "Voc" e explicou a forma como o software social d poder a consumidores individuais. A revista apresenta um mapa que liga as formas atravs das quais o software social permite aos indivduos:

    Faz-lo - isto , contedo direcionado ao usurio Batiz-lo - isto , bookmarking social referido como folksonomy Trabalhar Nele - isto , colaborao em massa ou crowdsourcing Encontr-lo - isto , pesquisa do produto on-line a partir do novo modelo de

    negcios, conhecido como Longa Cauda, que se caracteriza por descrever a estratgia de nichos de mercado encontrados na internet.

    O alvo inicial desta pesquisa era um pequeno conjunto de tecnologias de software social que ainda no tivessem sido pesquisados e que, entretanto, tivessem comeado a ser utilizadas com sucesso no ambiente de ensino e aprendizagem da Formao

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    Profissional, principalmente blogs, wikis e softwares de conferncia e bookmarking social.

    A pesquisa reconheceu, no entanto, que o panorama do software social est mudando constantemente. provvel que ferramentas especficas sejam rapidamente melhoradas ou ultrapassadas. Assim, o mtodo foi reconhecer algumas ferramentas de software social que so utilizadas atualmente para a partilha de conhecimento, desenvolvimento de capacidades e/ou ensino e aprendizagem no mbito

    da Formao Profissional [Evans, 2007].

    Figura 2 - Capa da revista Time (Dez/2006)

    Como era de se esperar, o software social tambm teve seu crescimento atrelado ao cunho educacional que ele proporciona, no sentido de divulgar, expandir e executar prticas de ensino coletivo. Por trs desse interesse, pode-se citar o rpido crescimento

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    no uso do software social, em geral por todos os grupos etrios, porm com uma grande

    aceitao principalmente da "Gerao da Internet" (Marketing Magazine, 2005), que inclui em sua classificao, entre outros fatores, indivduos com idade entre 12 e 24 anos.

    Tambm merece destaque o fato de que os educadores esto atentando para o potencial dessas novas ferramentas, que so cada vez mais pertinentes na colaborao e criao de ambientes virtuais de ensino, permitindo uma interao social, que gera

    partilha de conhecimento e colaborao em projetos.

    2.1.1. Histria do software social

    De acordo com a definio do que vem a ser um site de rede social explanada

    acima, considera-se o SixDegrees como o primeiro servio reconhecido na rea, lanado em 1997. Esse site possua recursos bsicos de redes sociais, tais como a criao de perfis, construo de lista de amigos, bem como a visualizao da lista de amigos de outros participantes do site. Contudo, por no ter um modelo de negcio bem definido, o servio foi finalizado em meados do ano 2000. Uma das grandes queixas dos usurios que no se tinha muito o que fazer no site alm de aceitar requisies de novas

    amizades, e, na poca, as pessoas no estavam muito interessadas em se relacionar virtualmente com estranhos. Ao falar sobre o fim do site, seu fundador acredita que o

    servio no deu certo simplesmente porque estava frente de seu tempo (Weinreich apud Boyd e Ellison, 2007).

    De maneira geral, entre 1997 e 2001, no surgiram grandes ferramentas de interao entre as comunidades nos sites que eram lanados, apenas alguns aperfeioamentos e criao de perfis pessoais, profissionais e voltados a paquera. Como exemplos de sites desse perodo, pode-se citar o AsianAvenue, Black Planet, MiGente e o Live Journal. Aps esse perodo, comeou a surgir uma nova gerao de sites de redes

    sociais, mais voltados para os contatos profissionais dos usurios. No fim de 2001 foi lanado o Ryze.com. O criador deste site afirmou que o site

    contava inicialmente com membros da comunidade de negcios e tecnologia de San Francisco, incluindo empreendedores e investidores interessados em ampliar suas redes de contatos. Seguindo esta idia, surgiu o LinkedIn, que hoje considerado o mais poderoso site de relacionamentos voltado ao mundo dos negcios.

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    Figura 3 - Linha do tempo da criao de softwares sociais

    Em 2002 surgiu o Friendster, que inicialmente tinha uma proposta de ser um complemento do Ryze, ou seja, voltado ao lado profissional, mas ele ganhou popularidade pela funcionalidade de paquera contida no site. Diferentemente de outros

    sites de paquera, que geralmente se focam em cruzar perfis de indivduos com interesses comuns, o Friendster foi desenvolvido baseado no relacionamento entre amigos de

    amigos, partindo da premissa que pessoas com amigos em comum formariam casais mais facilmente que se no tivessem tais laos de amizade. Contudo, o Friendster no estava preparado para um sucesso to rpido e repentino, causando ento uma

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    sobrecarga em seus servidores e no banco de dados, culminando na lentido e erros no

    servio, deixando frustrados seus usurios. A essa altura, o Friendster e os demais sites de redes sociais estavam se deparando

    com algo inesperado: a criao de perfis falsos, conhecidos popularmente como fakes. Os fakes, de modo geral, so perfis criados por um usurio comum, mas se passando por outra pessoa, notadamente os cones da sociedade, tais como: celebridades, esportistas, polticos, etc. O que se verificou que, na prtica, poucas pessoas realmente criam esses

    fakes, a maioria dos usurios apenas se diverte visitando esses perfis, como uma forma de entretenimento. Porm, grande parte dos sites resolveu excluir esses perfis falsos de

    seu banco de dados, mostrando, assim, que existia um desalinhamento entre os interesses da companhia e dos usurios [Goldberg apud Boyd e Ellison, 2007].

    No incio de 2004 foi lanado o Orkut, um site de rede social associado ao Google (empresa norte-americana de servios na Internet). Por se tratar do site escolhido para representar o software social na realizao deste trabalho, mais informaes sobre o Orkut so encontradas mais adiante.

    Outro grande sucesso da Internet o MySpace. O maior site de relacionamentos dos Estados Unidos conta hoje com mais de 110 milhes de usurios. Criado em meados de 2003, o MySpace surgiu inovando na rea de mdias: um eficiente sistema de hospedagem de MP3 foi apresentado pelo site, o que atraiu a ateno de bandas de rock

    americanas. O site passou ento a ser um divulgador dessas bandas, contando com um grande fluxo dos fs desses grupos. Por possuir essa caracterstica peculiar, de abrigar

    grande quantidade de bandas e msicos, o MySpace sofre com a invaso de perfis falsos, principalmente de celebridades da msica norte-americana. O MySpace ainda possui uma funo de customizao dos perfis, onde o usurio pode criar cdigos em HTML e Flash e adicion-los sua pgina.

    Para finalizar esse breve histrico dos sites de redes sociais existentes, em 2004 surge o Facebook. Com uma abordagem diferente, o Facebook inicialmente foi criado

    para movimentar a comunidade estudantil, notadamente a da Universidade de Harvard. S era possvel o cadastro no site de indivduos que possussem endereo eletrnico com extenso harvard.edu. Com o sucesso conquistado, o Facebook rapidamente foi

    abrangendo os potenciais cadastrveis, primeiro permitindo que indivduos com endereo eletrnico de qualquer unidade estudantil (at mesmo de ensino mdio) se cadastrassem, e, no incio de 2006, o cadastro foi permitido para endereos de qualquer extenso, no s os de instituies educacionais.

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    Uma caracterstica interessante do Facebook que desenvolvedores de software

    podem construir aplicaes que permitam aos usurios personalizar seus perfis da maneira que acharem mais conveniente, e tambm aplicativos como comparadores de preferncias musicais, viagens, entre outros (Boyd e Ellison, 2007). Esse tipo de permisso muito oportuno e permite uma maior interao e disseminao do conhecimento na rede criada. O site ainda conta com a funcionalidade Facebook MarketPlace, que um local que permite aos usurios publicar classificados

    gratuitamente dentro das seguintes categorias: For Sale ( venda) , Housing (imveis), Jobs (emprego) e Other (outros)(Wikipedia, 2007).

    2.1.2. Aspectos funcionais de software social

    Para compreender melhor os impactos do software nas relaes sociais, h uma gama de teorias e medies matemticas que do suporte e credibilidade aos resultados alcanados com o uso do software social. Dentre essas teorias, a que melhor explica e representa o fenmeno das redes sociais a teoria dos grafos.

    Os estudos sobre a teoria dos grafos foram iniciados pelo matemtico Leonard Euller, que publicou, em 1736, um artigo contendo o "Problema das sete pontes de Konigsberg", considerado o primeiro teorema da teoria dos grafos. Um grafo um conjunto de pontos, chamados ns (ou vrtices), conectados por linhas, chamadas de arestas (ou arcos) (Wikipedia, 2008). Dentre as inmeras aplicaes suportadas por grafos atualmente, a anlise de redes a que se aplica a esse trabalho.

    Um grafo uma rede genrica, abrangendo vrios campos, tais como uma rede eltrica, rede biolgica, redes de internet, e, obviamente, as redes sociais. Essas anlises contam ainda com estruturas de apoio, tais como redes small-world, crculos sociais e redes scale-free.As redes sociais so uma forma de analisar e entender as interaes e organizaes sociais do dia a dia. A anlise de redes sociais (Social Network Analysis - SNA) uma ferramenta analtica para analisar como padres de interaes entre atores sociais formam as estruturas que organizam o comportamento deles. Os dados a serem

    utilizados em SNA so, principalmente, as relaes sociais entre os atores. Ao invs de focar nos atributos dos atores, o foco analtico nas relaes entre estes atores (Adaptado dos slides do prof. Cleidson Souza, UFPA).

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    SNA possui vrias mtricas para definir melhor uma rede. As principais so

    apresentadas na tabela abaixo:

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    Tabela 1 - Algumas mtricas utilizadas em redes.

    Betweenness Grau em que um n se posiciona entre outros individuais dentro da rede. O permetro em que um n est diretamente

    conectado somente a aqueles outros ns que no esto diretamente conectados uns

    com os outros; sendo um intermedirio; uma ponte.

    Closeness O grau que um n est prximo de todos

    os outros ns da rede (direta ou indiretamente).

    Degree / Centrality A contagem das ligaes para outros ns na rede.

    Centralization A diferena entre o n de ligaes de cada n dividido pela soma mxima possvel de

    diferenas. Uma rede centralizada vai ter muita das suas ligaes dispersadas em volta de um ou poucos ns, enquanto uma rede descentralizada uma em que existe

    pequena variao entre o n das ligaes que cada n possui.

    Clustering / Coefficient Uma medida de probabilidade de que duas associaes de um n esto associadas

    entre si. Um grande valor nessa mtrica indica um alto nvel de faces.

    Path Length A distncia entre par de ns dentro da rede. A mdia dessa mtrica a mdia das mnimas distncias entre cada par de ns da rede.

    Structural equivalence Refere-se ao permetro em que ns tm

    um conjunto comum de ns ligados com outros ns da rede.

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    2.1.3. Atividades humanas em software social

    As redes de relacionamentos virtuais visam impulsionar as relaes humanas

    atravs da tecnologia. Castells [Castells, 2002] apresenta uma anlise sobre os mltiplos laos de sociabilidade existentes nas comunidades virtuais, citando o trabalho do

    pesquisador e socilogo Barry Wellman sobre a classificao desses vnculos em fortes e fracos. Os laos fracos existentes entre conhecidos distantes, so considerados teis no fornecimento de informaes e na abertura de novas oportunidades a baixo custo. Esses vnculos cibernticos transcendem a distncia, a baixo custo, geralmente

    apresentam uma natureza assncrona, com propagao rpida da informao e favorecem afiliaes mltiplas.

    Como j foi dito anteriormente, o conhecimento humano se d na interao. A comunicao interpessoal e intergrupal de fundamental importncia para a construo de uma rede de conhecimento colaborativa, permitindo assim que a disseminao das atividades esteja sempre ao alcance de todos na comunidade, podendo ser manipulada a qualquer momento. Tepper [Tepper, 2003], ao falar sobre o potencial de integrao na sociedade atual, afirma que o software social cria um loop no seu feedback; isso ocorre com a construo de ferramentas que permitem aos indivduos juntar-se e encontrar idias em comum, tornando assim mais fcil o surgimento de novas idias e discusses

    e, consequentemente, criando um ambiente de mais colaborao, cooperao e conversas online.

    A ferramenta pioneira que trouxe s atividades humanas o diferencial do debate construdo de forma no-presencial, assncrono e expandido, "como se crescesse por conta prpria [Lvy, 1993], foi o groupware. Essa ferramenta, conhecida no Brasil como grupo de discusso, permite que os participantes troquem informaes via internet (geralmente por e-mail), a partir de um assunto especfico que foi levantado. De fato, a reunio de um grupo que partilha a mesma meta encontra no groupware uma alternativa para cooperao e coordenao de tarefas atravs de uma plataforma de diferentes

    ferramentas integradas. Tais ferramentas visam dar suporte coordenao, cooperao e comunicao. Enquanto as ferramentas de comunicao objetivam a troca de idias, as de coordenao enfocam a organizao do contedo e as de cooperao viabilizam execues conjuntas num espao compartilhado [Fuks et. al., 2003].

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    Ainda sobre as atividades humanas em software social, Tepper [Tepper, 2003] afirma que elas esto presentes em praticamente todas as esferas, seja ela pessoal ou profissional. Nas empresas, muitas delas esto adotando os blogs (ou dirios pessoais) para projetos e trabalhos em equipe. Segundo ele, esses blogs servem tanto para o gerenciamento de informaes quanto para a coordenao de projetos. Alm disso, tal iniciativa facilita que pessoas ainda no envolvidas no projeto possam rapidamente inteirar-se do trabalho das equipes.

    Outra atividade humana notvel na rea de softwares sociais a interao com os chamados wikis (que significa "rpido" em havaiano). Trata-se de uma ferramenta desenvolvida especialmente para facilitar o trabalho em equipe, tendo se tornado um dos programas mais estudados nos ltimos anos. Desenvolvido em 1995, por Ward Cunningham, para facilitar a conduo de grandes projetos de informtica, esse programa permite que todo internauta edite qualquer texto no sistema. Inicialmente, o

    sistema Wiki foi utilizado para a escrita coletiva da documentao de projetos (tanto a descrio de especificaes tcnicas quanto o manual de instrues). Mas a partir de 2001, o sistema passou a ser utilizado para a construo cooperada de uma enciclopdia online: a Wikipdia. Assim, populariza-se no apenas o acesso a informaes cientficas, mas a prpria redao de um compndio cujo formato era antes produzido apenas por um grupo de especialistas [Primo e Recuero, 2003].

    Como no podia deixar de ser, os sites de redes sociais tambm representam um novo tipo de interao em softwares sociais. Talvez a grande novidade em relao s

    outras ferramentas apresentadas acima a questo da segmentao explcita dos usurios, a partir do agrupamento de amigos. Nos sites de redes sociais existem espaos denominados comunidades virtuais, onde usurios debatem questes de interesse comum. notvel que esse tipo de atividade muito de assemelha ao groupware, contudo, os indivduos contam com uma visualizao mais completa dos participantes do debate, podendo agreg-los a sua lista de amigos, bem como desfrutar dos outros

    meios de interao disponveis na ferramenta. Portanto, ao analisar as interaes citadas acima, pode-se perceber que as

    atividades humanas em software social lidam basicamente com informao, mais

    precisamente com a manipulao e disseminao da mesma. Essas atividades, consequentemente, demandam a necessidade de ambientes adequados aos anseios dos

    participantes naquele momento, visando uma melhoria no processo colaborativo. Como foi mostrado, vrias ferramentas surgiram ao longo dos tempos, muitas delas inclusive

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    sendo consideradas evolues das anteriores, mas, com os mesmos objetivos. Obviamente, muitas das melhorias apresentadas em cada verso dependem da evoluo tecnolgica vislumbradas em cada perodo de tempo, contudo, a grande inovao percebida no advm ao tipo de tecnologia utilizada, mas sim da mudana dos hbitos de comunicao que proporcionada, respeitando, assim, a individualidade de cada um, no sentido de que a disponibilidade e os interesses individuais so preservados.

    2.2. Orkut

    O Orkut uma rede social filiada ao Google (www.google.com), criada em 24 de Janeiro de 2004 com o objetivo de ajudar seus membros a criar novas amizades e manter relacionamentos. Seu nome originado no projetista chefe, Orkut Bykkokten, engenheiro turco do Google. Tais sistemas, como esse adotado pelo projetista, tambm so chamados de rede social.

    Influenciado por sites como o Friendster e o LinkedIn, o Orkut buscou inovar no que diz respeito criao de comunidades de discusso temticas, permitindo assim uma melhor organizao dos usurios do site em nichos bem definidos de discusso. Na

    verdade, essas comunidades nada mais so do que fruns modificados, com o diferencial de que sua estrutura foi planejada para facilitar o uso. Assim, qualquer pessoa pode aprender a lidar com os recursos de uma comunidade com relativa facilidade (Wikipedia, 2007).

    Atualmente o Orkut conta com mais de sessenta milhes de usurios (68.182.262 usurios em 20 de agosto de 2007) e os brasileiros so maioria absoluta no site, com 55,29% do total de perfis (Wikipedia, 2007). Dentre os fatores que explicam essa invaso de brasileiros, alm das inovaes citadas acima, pode-se dizer que o fator

    novidade foi fundamental. Antes do Orkut, o site de rede social mais conhecido no Brasil era o Friendster, mas no era muito popular.

  • 22

    Figura 4-Crescimento do Orkut nas suas primeiras 11 semanas. Fonte: Hempell, 2004.

    A presena dessas comunidades no Orkut o que mais claramente aproxima este servio de redes sociais s comunidades virtuais tradicionais. Estes ambientes se

    caracterizam pelo debate e discusso em torno de uma temtica ou interesse comum e a gerao de valores compartilhados e do sentimento de pertencimento. Todo usurio do

    Orkut pode integrar-se e participar de uma das milhares de comunidades disponveis sobre uma infinidade de temas, cobrindo temticas que variam desde assuntos da atualidade a um programa de TV, por exemplo. Com esta funcionalidade o Orkut

    tornou-se um servio que facilita o contato entre usurios que possuem interesses em

    comum [Melo, 2007]. Outra inovao foi a forma de cadastramento no site, que s era possvel caso

    algum membro j cadastrado no site enviasse um convite. Depois de recebido o convite, o sistema solicita o preenchimento de uma srie de informaes que, mais tarde, constituir o perfil do usurio. Esta forma de cadastro acabou gerando um interesse dos

    usurios ainda no membros a conhecer o site, atiando a curiosidade acerca do sistema. Atualmente, no mais exigido o convite, qualquer pessoa pode se cadastrar livremente.

  • 23

    2.2.1. Interao no Orkut

    O Orkut possui mecanismos de interao que podem, basicamente, ser divididos

    em duas categorias: a interao atravs da troca de mensagens e a gesto de impresses [Meneses, 2004]. No que diz respeito s trocas de mensagem, o usurio pode se manifestar nas comunidades virtuais ou no livro de recados (scrapbook) de cada usurio. Para enviar uma mensagem em uma comunidade, o usurio tem a opo de

    participar de um tpico j existente ou de criar um novo tpico. Obviamente, para estar apto a realizar tais interaes, o usurio deve ser membro da comunidade, j que o Orkut no permite a postagem de no-membros. No caso da interao via recados, o usurio pode entrar no lbum de recados de um outro usurio (no necessariamente precisa ser seu amigo no sistema) e escreve a mensagem. O lbum de recados fica localizado no perfil do usurio, e todos os possuem.

    Figura 5 - Estrutura de um perfil do Orkut.

  • 24

    A gesto de impresses, segundo Meneses [Meneses, 2004], diz respeito aos locais do site onde se pode descrever e fazer julgamentos dos usurios do servio. Nestes locais possvel classificar um determinado usurio com ferramentas relacionadas aparncia fsica e a confiana despertada pelo mesmo. Existem ainda os chamados testemunhos (testemonials), que servem para declarar publicamente suas impresses acerca da pessoa.

    Em um ambiente de interao em rede como este, a informao que algum

    oferece sobre si mesmo para preencher o perfil individual complementada pelas avaliaes dos membros de sua prpria rede. Assim, como ferramenta de software social, com esta funcionalidade o Orkut d um exemplo claro de que o usurio no pode sustentar uma identidade independente da existncia dos demais usurios conectados a ele. Quando um usurio escreve um testemunho ou deixa um recado (scrapbook) para um outro usurio est contribuindo para o delineamento colaborativo de um perfil,

    elaborado atravs da participao e negociao de todos aqueles que contribuem para o acervo de mensagens sobre um determinado usurio. [Melo, 2007].

    3. O aprendizado informal e redes sociais na Internet

    3.1. Tipos de Aprendizagem

    De forma breve, importante tecer comentrios acerca do que se entende por aprendizado e educao. A palavra educao vem do verbo latim educere, que significa "guiar para frente, adiante", e compreende basicamente duas formas de conhecimento: a

    educao formal e a educao no-formal. Uma caracterstica comum a essa duas formas citadas a existncia de duas entidades bsicas: o professor e o aluno. Presume-

    se que o professor seja um indivduo com um maior conhecimento e domnio de um currculo organizado acerca de algum programa educacional, e o aluno uma pessoa com menos conhecimento que o professor e possuidora da expectativa de ser monitorada e instruda na atividade desejada [Livingstone, 2001]. Quando o professor possui autoridade para determinar quais pessoas conseguiram atingir o conhecimento

  • 25

    exigido por um currculo pr-definido para atividade em questo, a forma de

    conhecimento a educao formal. Por conta de sua maior difuso perante a sociedade, interessante nesse ponto

    conceituar o ensino formal para que as diferenas entre ele e as demais formas de ensino a ser apresentadas fiquem bem claras. Segundo Schugurensky [Schugurensky, 2000], a educao formal abrange desde a pr-escola at a graduao. O sistema possui as seguintes caractersticas:

    a) fortemente institucionalizado; b) Inclui um perodo chamado "educao bsica" (que varia de pas para pas, e usualmente ocorre quando o aluno tem entre 6 e 12 anos), e conta com um currculo pr-estabelecido - aprovado pelo Estado - com metas explcitas e mecanismos de avaliao, professores certificados contratados e as atividades institucionais so

    fortemente reguladas pelo Estado; c) Cada nvel de ensino prepara o indivduo para o prximo nvel, e para cursar um certo nvel pr-requisito ter completado satisfatoriamente um nvel anterior; d) um sistema hierrquico, usualmente com ministros da educao no topo, e estudantes na base; e) No fim de cada nvel ou graduao, aos concluintes garantido um diploma ou certificado que os permite serem aceitos em um prximo nvel de ensino ou no mercado de trabalho.

    J a educao no-formal refere-se a todos os programas educacionais que se desenvolvem fora de um sistema de escola formal, e geralmente de curta durao e voluntria. Nessa modalidade est includa uma grande variedade de atividades, tais como: curso de tnis, programa de segunda lngua, aulas de yoga, cursos de pintura, entre outros. Obviamente que na educao no-formal, assim como na formal, existem

    professores e um currculo com vrios nveis de aprendizado. Mas, diferentemente do ensino formal, esses programas normalmente no exigem pr-requisitos educacionais para iniciar as atividades, embora, ao fim de muitas dessas atividades, um diploma ou

    certificado emitido [Schugurensky, 2000]. E, finalmente, todas as outras formas de conhecimento intencional ou tcito, nas

    quais h um engajamento de forma individual ou coletiva, sem a direta confiana em

  • 26

    um professor e nem em currculos externamente organizados, podem ser chamadas de

    aprendizagem informal. [Livingstone, 2001]. Fica claro, diante das definies acima apresentadas, que a principal diferena

    entre o aprendizado informal e os outros tipos de aprendizado que, no informal, no existe a necessidade de cumprir um programa pr-estabelecido de ensino, muito menos freqentar estabelecimentos credenciados e submeter-se autoridade de um professor. Mas, importante ressaltar que o aprendizado informal tambm pode ocorrer em

    ambientes de ensino formal, ou seja, nada impede numa escola, por exemplo, alunos se encontrem na cantina e troquem idias. Obviamente, este aprendizado no baseado na

    sala de aula, nem h uma estruturao prvia de seu desenvolvimento, porm, no deixa de ser uma rica fonte de compartilhamento e educao entre os participantes.

    3.2. Aprendizado informal

    O aprendizado (ou aprendizagem) informal qualquer atividade que envolva a busca por compreenso, conhecimento ou habilidade, e ocorre sem obedecer a um currculo de uma instituio educacional, workshops ou cursos oferecidos por agncias

    sociais ou educacionais [Livingstone, 1999]. Como se pode perceber, o aprendizado informal apresentado como uma forma natural de estimular o conhecimento do ser

    humano, de forma que as atividades educacionais que vivemos no dia-a-dia ocorrem sem que agentes externos pr-estabelecidos interfiram no processo.

    evidente que, em nossa sociedade, muito difcil separar o processo de aprendizagem da prtica educacional [Sefton-Green, 2006]. Ainda segundo o autor, sempre que h uma discusso sobre conhecimento, ela inextricavelmente associada aos sistemas de educao formais: como as escolas devem ser organizadas, relacionadas

    e gerenciadas. Isso se d pois existe uma grande dificuldade em quebrar paradigmas em educao. O sistema formal de ensino intrnseco ao modo como as pessoas vivem,

    principalmente pelo fato de ser medido, regulado e controlado por uma entidade maior. O aprendizado informal considerado o "corao" da educao, pois seu foco centrar-se nos alunos e nas lies que so aprendidas e posteriormente consideradas como

    experincias de vida. [Marsick & Watkins, 1990]. Talvez a grande dificuldade de se mostrar a verdadeira eficcia e os benefcios do

    aprendizado informal que seu conceito ainda muito amplo e h uma certa dificuldade

  • 27

    em medir seus resultados prticos com preciso e padronizao. Schugurensky

    [Schugurensky, 2000] prope, com o intuito de facilitar a medio de resultados, uma diviso do aprendizado informal em duas categorias: intencional e consciente. A essas categorias principais, possvel desenvolver uma taxonomia que identifica trs formas de aprendizado informal: prprio, acidental e de socializao.

    Tabela 2 - Formas de aprendizado informal. Fonte: Schugurensky, 2000.

    Forma Intencional Consciente

    Prprio Sim Sim

    Acidental No Sim

    De Socializao No No

    O aprendizado prprio caracterizado quando o indivduo busca a compreenso

    sobre um tema sem a assistncia de um 'educador' (professor, instrutor, facilitador, etc.), mas pode contar com a ajuda de algum que sirva como uma fonte de consulta, embora sem ser visto como um educador. Analisando a tabela, percebe-se que essa modalidade considerada intencional e consciente. intencional, pois o indivduo tem o propsito de aprender algo mesmo antes do processo de conhecimento efetivamente comear, e consciente, pois o indivduo possui a noo de que tem aprendido algo. Como exemplo,

    pode-se citar uma pessoa que busca conhecer mais acerca de um evento histrico qualquer. Para buscar conhecimento, ela vai ler livros, assistir filmes e vdeos, procurar

    por documentos arquivados, ir a museus e entrevistar pessoas que participaram ou testemunharam o evento em questo.

    J o aprendizado acidental caracteriza-se pelas experincias que ocorrem quando o indivduo no tem a prvia inteno de aprender algo no processo, mas aps a experincia ele toma conscincia que incorporou algum novo tipo de conhecimento sua personalidade. Como exemplo, pode-se citar a situao onde uma criana toca um ferro de passar ligado. Imediatamente aps o toque, a criana percebe o ferro quente e

    aprende que no inteligente repetir o ato novamente. Por fim, o aprendizado de socializao refere-se internalizao de valores,

    atitudes, comportamentos, habilidades, etc. e ocorre durante nossas atividades rotineiras. A princpio, no se tem a inteno de adquirir esse conhecimento, e nem h conscincia sobre o que se est aprendendo. Por exemplo, um indivduo que nasceu e viveu num

  • 28

    ambiente de intolerncia racial possui uma percepo negativa sobre pessoas de outra

    raa e desenvolve atitudes discriminatrias contra elas. Esse indivduo assume essa percepo como parte de uma realidade objetiva e no como um processo de aprendizado em sociedade.

    pertinente lembrar que, embora a aprendizagem de socializao seja usualmente um processo inconsciente, o indivduo pode ter uma conscincia tardia acerca daquele aprendizado. Por exemplo, quando exposto a um ambiente social diferente, o indivduo

    pode ser despertado e reconhecer que possui alguns preconceitos ou inclinaes que so produtos de sua socializao primria [Schugurensky, 2000].

    3.3. Aprendizado informal em software social

    Por tudo que foi mostrado neste captulo, percebe-se que o aprendizado informal

    ocorre sem a necessidade de um controle rgido sobre o usurio, principalmente no que diz respeito ao horrio e o local (fsico) da interao. Fazendo a ligao entre as caractersticas do aprendizado informal com as principais propriedades do software social, nota-se claramente o preenchimento de alguns requisitos que o torna vivel a ser

    um ambiente adequado ao aprendizado informal. Aliado s facilidades j debatidas que a Internet proporciona, como a quebra de

    barreiras geogrficas e nmero crescente de usurios, o software social surge como o principal local em potencial para acolher o desenvolvimento do aprendizado nos tempos atuais. Uma teoria interessante e que vem dando suporte construo desse ambiente propcio ao aprendizado informal a teoria do conectivismo, proposta por George Siemens [Siemens, 2004]. Segundo o prprio autor, "o conectivismo a integrao de princpios explorados por teorias sociais e a do caos e das redes complexas. O

    aprendizado (definido como conhecimento ativo) pode residir fora das pessoas, focado em conectar conjuntos especializados de informaes e, essas conexes que nos permitem aprender cada vez mais so mais importantes que o nosso estgio atual de conhecimento". Ainda segundo Siemens [Siemens, 2004], "o conectivismo dirigido pelo entendimento de que as decises so baseadas em ambientes com alteraes

    rpidas. Novas informaes esto continuamente sendo adquiridas. A habilidade de fazer distines entre as informaes importantes e as inteis vital. A habilidade de reconhecer quando uma informao nova altera o ambiente atual crtica.

  • 29

    Analisando o ponto de vista do autor, clara a sua preocupao de levar em conta

    a heterogeneidade da aquisio do conhecimento. O aprendizado um processo difcil de ser mapeado e ocorre com muitas variveis envolvidas, entre elas o ambiente em que se est inserido, a capacidade de adquirir novas informaes e o nvel de proatividade do indivduo. Acerca do ambiente, interessante perceber que o ponto de partida para o conhecimento o prprio indivduo, mas um ambiente bem conectado, e com a presena de pessoas com idias semelhantes o que faz o ciclo do aprendizado gira.

    Os sites de redes sociais possuem caractersticas peculiares que proporcionam e estimulam o aprendizado informal. Uma delas a existncia da comunidade virtual.

    Conforme exposto no segundo captulo deste trabalho, tais comunidades servem como um ponto de encontro virtual entre pessoas com interesses e idias em comum. As configuraes das comunidades virtuais variam de site para site, mas, de modo geral, cada um deles disponibiliza uma srie de ferramentas que permite ao usurio ler os

    comentrios postados pelos outros membros, bem como escrever seus prprios comentrios, seja num tpico j iniciado ou em um que o usurio esteja criando naquele momento.

    Uma outra caracterstica importante a no existncia de um controle temporal e presencial rgido. Em outras palavras, isso significa que o usurio pode ler ou fazer um comentrio quando e onde desejar, sem ter de se preocupar com regras de postagem. importante lembrar que os tpicos iniciados, via de regra, tm tempo de vida indeterminado, s sendo excludos da comunidade ou pelo proprietrio da comunidade,

    ou do prprio tpico, facilitando assim a persistncia da informao e acesso possveis discusses ocorridas antes da entrada do indivduo na comunidade, por exemplo.

    Portanto, a grande problemtica que este trabalho buscou resolver foi a de examinar a fundo como se d o aprendizado informal em ambientes de redes sociais virtuais, com o intuito de confirmar ou no se o ambiente em questo proporciona, de fato, condies propcias ao desenvolvimento do aprendizado informal.

  • 30

    4. Metodologia

    Antes de apresentar os resultados obtidos neste trabalho, fundamental tecer

    comentrios a fim de explanar melhor a metodologia utilizada no colhimento e anlise de dados. O objetivo geral deste trabalho foi analisar como ocorre o aprendizado informal em softwares sociais, mais especificamente em sites de redes sociais. E, para

    atingir tal objetivo, foi utilizado o mtodo de pesquisa no-experimental, ou seja, no foi elaborado um experimento nos moldes da pesquisa cientfica tradicional, com construo de hipteses e definio de amostras de indivduos, mas sim uma observao experimental do site Orkut, com a inteno de identificar e analisar os indcios de

    aprendizado informal ocorridos no local. A observao experimental citada foi executada nos moldes do mtodo conhecido como observao naturalstica ou

    Etnografia.

    Segundo Cozby [Cozby, 2003], a observao naturalstica exige que o pesquisador mergulhe na situao, observando ambiente, padres de relacionamento pessoal e as reaes das pessoas aos eventos. O objetivo fornecer um quadro completo e preciso, em vez de testar hipteses previamente formuladas. Ainda conforme aquele autor, este tipo de mtodo bastante til em investigaes a cerca de um ambiente social complexo

    e no indicado para situaes que envolvem o estudo de hipteses bem definidas, sob condies precisamente definidas.

    J a etnografia (do grego ethnos, nao e graphein, escrita), por excelncia o mtodo utilizado pela antropologia na coleta de dados. Baseia-se no contato inter-subjetivo entre o antroplogo e seu objeto, seja ele uma tribo indgena ou qualquer outro grupo social sob qual o recorte analtico seja feito (Wikipedia, 2008). Frente a essa definio, pode-se perceber que a etnografia preocupa-se em compreender os hbitos e costumes de determinado grupo social escolhido, baseado numa observao direta e por

    um perodo de tempo especificado. Em particular em reas ligadas tecnologia, a Etnografia tem sido uma ferramenta importante de investigao dos hbitos de uso das pessoas com certos artefatos tecnolgicos. Ao entrar em contato com novos campos da atividade humana, a etnografia se transformou, tornou-se mais flexvel e adaptada s

  • 31

    novas condies de pesquisa, distintas daquelas encontradas pelos antroplogos [Melo, 2007].

    No caso especfico desse trabalho, foi utilizada a etnografia virtual, que, como o prprio nome sugere, trata-se da imerso do pesquisador no mundo virtual utilizado pelo grupo analisado. Essa tcnica vem crescendo bastante, pois com o surgimento do ciberespao, tornou-se premente o uso e aplicao de metodologias de pesquisa que permitam capturar a essncia dos fenmenos presentes no mesmo. (Hine apud Melo 2007).

    Como vantagens de seu uso, pode-se concluir que ela conduzida de forma mais

    rpida, menos dispendiosa e menos subjetiva que a etnografia tradicional. O fato desse trabalho no ter o intuito de interferir no ambiente pesquisado foi determinante para o uso da etnografia virtual, j que essa tcnica se caracteriza pela observao do fenmeno da forma menos intrusiva possvel. importante destacar que, por conta desse intuito vislumbrado, os usurios pesquisados no foram informados que uma pesquisa estava em curso enquanto eles desenvolviam seus comentrios na

    comunidade virtual analisada.

    4.1. Procedimento

    Conforme mencionado, a realizao deste trabalho contou com uma observao naturalstica (etnografia) da rede social Orkut (www.orkut.com). O autor deste trabalho usurio do Orkut desde 2005, o que facilitou o processo, haja vista ele conhecer as ferramentas e as formas de interao possveis, bem como estar habituado forma de postagem nas comunidades do site.

    A comunidade escolhida para a observao foi a "Fsica", que, de acordo com sua

    descrio, tem por objetivo reunir "os amantes da bela cincia chamada Fsica, para troca de idias, referncias e notcias". A comunidade, que foi criada no dia 12 de abril

    de 2004, possua, no incio da observao, 36.496 membros, aproximadamente 2.700 tpicos criados e pouco mais de 40 enquetes em andamento. A lngua oficial da comunidade o Portugus e ela pode ser acessada atravs do endereo

    http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=40685 . A comunidade "Fsica" foi escolhida pelo autor, que no membro da referida

    comunidade, entre algumas outras comunidades sugeridas. O critrio de seleo da

  • 32

    comunidade se baseou em uma srie de fatores, entre eles: nmero de participantes,

    nmero de tpicos com mais de 15 postagens (valor mnimo determinado pelo autor para determinar se uma discusso representativamente relevante), mdia de postagens por dia, nmero de tpicos novos por dia e o nmero de tpicos criados com o intuito de compartilhar e construir conhecimento.

    A observao etnogrfica da comunidade "Fsica" ocorreu do dia 5 de maio de 2008 at o dia 9 de junho de 2008. Neste intervalo de tempo, foram considerados para anlise somente os tpicos com nmero de postagem relevante, criados por um membro identificado (e.g. o Orkut permite a criao de tpicos por "pessoas annimas", ou seja, usurios que preferem ter a identidade preservada. Estes tpicos foram desconsiderados) e os escritos em Portugus. A comunidade no foi monitorada todos os dias, j que, por ser uma ferramenta de comunicao assncrona, o Orkut no possui mecanismos que estimulem a comunicao em tempo real. Tambm no foi necessrio observar um

    tpico logo quando uma nova mensagem era postada, pois o Orkut registra a data e o horrio da mensagem, possibilitando assim o acesso a esses dados, caso o autor julgasse necessrio.

    Aps a identificao de tpicos condizentes com o objetivo deste trabalho, o autor buscou identificar os usurios que mais contriburam para o desenvolvimento do tpico e entrou em contato com os mesmos, a fim de esclarecer os reais motivos de suas

    inseres na discusso e, consequentemente, verificar se as inferncias do autor acerca das intenes do tpico estavam corretas.

    4.2. Anlise de contedo

    A anlise qualitativa das interaes observadas por este trabalho tomou como base

    uma tcnica conhecida como Anlise de Contedo. Segundo o Wikipedia (2008), a Anlise de Contedo uma metodologia de anlise de textos que parte de uma

    perspectiva quantitativa, analisando numericamente a freqncia de ocorrncia de determinados termos, construes e referncias em um dado texto.

    Este mtodo foi escolhido por melhor se adequar ao tipo de comunicao ocorrido

    em ambientes de redes sociais, onde os usurios utilizam-se de diversos usos da linguagem. Por conta disso, analisar aspectos qualitativos da linguagem tornou-se fundamental para a compreenso do que estava de fato ocorrendo na interao

  • 33

    analisada, gerando assim uma inferncia mais precisa e fiel sobre o aprendizado

    informal naquele momento. Assim, o grande objetivo da Anlise de Contedo neste trabalho foi servir de base para a interpretao do contedo encontrado nos tpicos e, ento, construir as inferncias sobre o aprendizado informal.

    Na anlise de contedo o ponto de partida a mensagem, mas devem ser consideradas as condies contextuais de seus produtores e assenta-se na concepo crtica e dinmica da linguagem [Puglisi e Franco, 2005]. Deve ser considerado, no apenas a semntica da lngua, mas tambm a interpretao do sentido que um indivduo atribui s mensagens. A anlise do contedo, em suas primeiras utilizaes, assemelha-

    se muito ao processo de categorizao e tabulao de respostas a questes abertas. Criada inicialmente como uma tcnica de pesquisa com vistas a uma descrio objetiva, sistemtica e quantitativa de comunicaes em jornais, revistas, filmes, emissoras de rdio e televiso, hoje cada vez mais empregada para anlise de material qualitativo obtido atravs de entrevistas de pesquisa [Machado, 1991].

    De acordo com Krippendorff (1980 apud Freitas, 2000), alguns aspectos devem ser explicitados em toda anlise de contedo, so eles:

    1. Que dados sero analisados? 2. Como estes dados so definidos?

    3. Qual a populao de onde estes dados so extrados? 4. Qual o contexto em relao ao qual os dados so analisados? 5. Quais so os limites da anlise? 6. Qual o alvo das inferncias?

    Segundo Melo [Melo, 2007], a importncia destes pontos est no fato de que a sua explicitao auxilia na determinao e no foco de quais contedos so de interesse da investigao e quais contedos no esto contidos no escopo da investigao e,

    portanto, no devero ser levados em considerao nos momentos de produo e anlise de dados.

    Com o intuito de responder aos tpicos acima apresentados, pode-se dizer que os

    dados analisados foram os contedos das mensagens postadas por cada usurio em tpicos existentes na comunidade "Fsica", do Orkut. Essas mensagens so definidas

    como qualquer contedo publicado nos tpicos das comunidades que atendem aos requisitos deste estudo. Em relao populao, difcil traar um perfil bem definido

  • 34

    dos usurios pois o ambiente estudado um servio de redes sociais aberto, ou seja, no restringe o acesso a perfis determinados de usurio. Fora isso, todas as informaes sobre os perfis so fornecidas pelo usurio, portanto no h uma garantia de que tudo seja verdade. Como o escopo deste trabalho analisou a comunidade temtica "Fsica", imagina-se que os usurios ali presentes nutrem, ao menos, alguma afinidade com o assunto. Portanto, pode-se dizer que a caracterstica da populao envolvida neste estudo que so usurios cadastrados do Orkut e que possuem algum interesse pela

    disciplina Fsica ou cincias naturais afins. As mensagens foram colhidas num ambiente virtual desenvolvido com o intuito de

    promover discusses sobre diversas temticas. Neste estudo em especfico, os temas das discusses giraram em torno dos diversos ramos da Fsica. A anlise textual foi utilizada nos tpicos que possuam caractersticas estimuladoras do aprendizado informal. Segundo Melo [Melo, 2007], A observao de tpicos do Orkut deixa claro que as mensagens publicadas naquele servio raramente obedecem a um formato nico. Apesar de o sistema obedecer a uma estrutura esttica (interface grfica e aplicaes em linguagem de programao), tal rigidez no elimina a liberdade que os usurios tm para elaborarem suas mensagens. Assim, acredita-se se a formatao das mensagens no um aspecto apenas esttico, mas parte da informao transmitida pela mensagem.

    Em termos de limites, at pelo modo com as interaes no ambiente ocorrem, so

    as mensagens escritas que tornam possveis as interpretaes sobre os debates. bvio que as interaes no Orkut no esto limitadas apenas troca de mensagens, contudo,

    elas correspondem praticamente totalidade das interaes observveis e relevantes. J as inferncias foram construdas O interesse pelos enunciados dos usurios se deu porque apenas atravs da contribuio escrita que possvel detectar a interao entre participantes no Frum.

    Fica claro tambm que as interaes no Orkut no esto limitadas s trocas de enunciados, todavia este recorte foi feito aqui por conta das caractersticas prprias do

    ambiente em que ocorre as interaes. As inferncias, por sua vez, foram direcionadas a buscar nas mensagens pontos que dessem sustentao classificao das mensagens quanto ao tipo de interao emergente. Neste sentido, como ser visto posteriormente, a

    prpria definio de cada categoria para a classificao das mensagens deixa claro que pontos so relevantes durante a fase de anlise dos dados.

  • 35

    Figura 6 - Diagrama ilustrando o processo investigativo deste trabalho.

    4.3. Coleta e classificao de dados

    A partir das condies impostas pelo autor e j explanadas nesse trabalho, os tpicos condizentes com os objetivos desse trabalho foram analisados e classificados durante o perodo de etnografia.

    Ao todo foram analisados 109 tpicos durante o perodo de etnografia na comunidade, cada um com em mdia 30 mensagens, servindo de base para a classificao das mensagens e de um registro estatstico do autor acerca das discusses vigentes.

    Classificao dos dados

  • 36

    Os dados foram classificados de forma quantitativa e qualitativa, e essa

    classificao fez-se necessria para auxiliar na identificao da estrutura de cada tpico, com o intuito de facilitar o entendimento e permitir que os tpicos escolhidos abrangessem as mais diversas modalidades de aprendizado informal possveis.

    Nesse mbito, foram analisados trs aspectos: a mdia de mensagens por participante no tpico, os tipos de participao identificados e o tipo de interao estabelecida na comunidade. A mdia de mensagens por participante, como o prprio

    nome diz, o quociente entre o total de mensagens e o nmero de participantes no tpico.

    Em relao aos tipos de participao, as mensagens foram classificadas como administrativas, publicitrias, sociais ou de contedo. No estudo das mensagens administrativas foram consideradas as mensagens geradas em funo do suporte tcnico do site. So mensagens voltadas para explanar melhor o funcionamento das ferramentas

    disponveis e do sistema em geral. As mensagens publicitrias so as mensagens promocionais, que geralmente so enviadas pelos usurios com o intuito de divulgar e

    promover eventos e livros. As mensagens sociais dizem respeito as que tiveram elementos de sociabilidade, de integrao ou de natureza afetiva [Brando et al, 2003]. As mensagens de contedo foram as que tinham no seu contedo um assunto de natureza profissional, sendo esta tcnico-cientfica ou sobre o exerccio profissional da

    fsica.

    J em relao dimenso de interao, Henri (1992) diferencia as contribuies para a discusso on-line como de natureza explcita, implcita ou independente. Nas explcitas o sujeito para o qual a mensagem dirigida identificado. Nas implcitas existe um comentrio ou resposta a uma mensagem anterior sem a meno explcita do nome a que a mensagem dirigida. A colocao independente representou as que as idias no mantinham vnculos com as anteriormente apresentadas ou no geravam respostas nem discusses. No estudo, as naturezas implcita e explcita foram tratadas

    em conjunto sendo representativas de interao/comunicao e os estabelecimentos independentes como mensagens isoladas no-interativas para o debate. [Brando et al, 2003]

    As outras trs dimenses do processo de aprendizagem da estrutura analtica de Henri no consideradas no presente estudo, foram as habilidades cognitivas e

    profundidade de processamento, e as habilidades e o conhecimento metacognitivos.

  • 37

    5. Resultados

    Este captulo discute os resultados obtidos a partir da anlise dos dados, conforme

    descrio no captulo anterior, com o intuito de alcanar os objetivos deste trabalho, que o de verificar e analisar as situaes de aprendizado informal ocorridas num ambiente de redes sociais virtuais.

    As impresses do autor, bem como as inferncias sobre as situaes de aprendizado nos tpicos foram registradas medida que a anlise foi sendo feita. Aps o fim da anlise de cada tpico, o autor fez todos os esforos possveis para entrar em contato com os participantes dos tpicos

    Sero apresentados os tpicos selecionados, bem como suas estatsticas, as inferncias do autor, e o depoimento de usurios participantes de tais tpicos.

    5.1. Tpicos Selecionados

    5.1.1. Tpico 1

    Ttulo do tpico: Um pequeno desafio: dupla fenda

    Incio: 18 de maio de 2008 ltima mensagem: 21 de maio de 2008 Estatsticas:28 mensagens enviadas por 4 usurios

    Usurio Mensagens

    Fernando 9

    Linus 9

    Fbio 9

    Julie 1

    Resumo:

    O tpico foi criado pelo usurio Fernando, que lanou uma pergunta-desafio aos usurios. Segue a mensagem do Fernando:

  • 38

    Fernando

    No experimento da dupla fenda, aprendemos que se soubermos por qual fenda o fton passou, no observamos um padro de interferncia. Vamos considerar o aparato da figura em http://www.orkut.com/AlbumZoom.aspx?uid=2835697613182563591&pid=1211143068758&aid=1 aonde, S uma fonte que emite sempre um par de ftons em sentidos opostos, D_A,D_B, detectores de ftons e F_A,F_B as fendas do experimento. As linhas tracejadas representam os ftons emitidos, sendo que 1 e 2 designam os ftons emitidos para a direita e esquerda de S, respectivamente (no caso para a fenda F_A e o detector D_B). Notemos que se o detector D_B (D_A) for ativado, isso significa que o fton passou pela fenda F_A (F_B). De forma que na forma que o experimento est sugerido, no aparece um padro de interferncia, pois sempre sabemos por qual fenda o fton passou. Mas vamos considerar a situao aonde os detectores so colocados de tal forma que a deteco (em D_A ou D_B) ocorra aps o fton atingir a tela (no mostrada na figura). Mas como os ftons "sabem" que no devem produzir o padro de interferncia, mesmo antes dos detectores (que esto distantes) sejam ativados? Ou o padro de interferencia formado? (Notemos que os ftons que passam pela fenda no so observados/perturbados!) Boa diverso.

    A estatstica mostra que o tpico teve uma participao pequena em nmero de usurios (apenas 4) no desenrolar da discusso, e o debate foi centrado em 3 desses usurios: Fernando, Linus e Fbio. A usuria Julie contribuiu com uma mensagem,

    dando uma indicao de um vdeo na Internet que pode auxiliar no entendimento da questo.

    At por ser o criador do tpico, e de ter estimulado todo o debate, Fernando

    aparenta dominar melhor o assunto. Linus, embora inseguro em alguns momentos, demonstra interesse pelo assunto, mesmo admitindo no ter total domnio do assunto.

    Essa mensagem que ele enviou ilustra bem a situao :

  • 39

    Linus Vou tentar (chutar) novamente.. A resposta que os padres nunca se formam. A causa no seria a presena dos detectores, mas porque os ftons so direcionados deterministicamente para as fendas. Ou seja, no dada chance ao fton emitido "escolher" por qual fenda passar. E ai... Acertei?

    J Fbio parece ter um bom conhecimento sobre o assunto, e apresenta algumas

    solues ao grupo. Ao dar muitas respostas, principalmente s perguntas do Linus, o debate, por um momento, centra-se entre os dois. Abaixo segue a resposta que Fbio deu pergunta do Linus, transcrita acima, e, logo depois, um questionamento do Linus.

    Fbio No. Os padres se formam se voce no souber por onde os ftons passaram e no se formam mesmo se voce detectar o fton depois dele passar pela fenda. O principio da complementariedade sempre vale, essa uma das estranhezas da natureza.

    Linus Fabio, Tenho minhas reservas a essa interpretao... Pra mim, no o fato de saber. Mas o fato de que para poder extrair informao vc acaba destruindo a aleatoriedade do sistema.

    Pense no seguinte. Se os ftons direitos ao invs de serem direcionados para uma das fendasforem direcionados para um espelho semi-refletor a 45 graus. Se o fton atravessar o espelho ele vai para um fenda. Se for refletido, ele vai para a outra fenda. Assim, independente do caminho certo do fton esquerdo, o fton direito segue para uma das fendas de modo aleatrio e certamente o padro de interferncia se forma. Enfim, no o fato de saber, mas o fato de que saber por qual fenda implica que estamos interferindo na aleatoriedade do evento.

    Por um momento alheio ao debate, Fernando retorna e de certa forma direciona os outros dois participantes ao foco do debate. Por vezes, Fernando age como um mediador

  • 40

    da discusso, fazendo os questionamentos e avaliando a resposta dos demais. Pode

    concluir esta anlise inferindo sobre episdios de aprendizado no tpico em questo... Os participantes do tpico foram procurados pelo autor, que deixou recado para todos nas pginas de perfil de cada um, contudo, apenas Fernando e Linus concordaram em colaborar com o trabalho.

    Ao ser questionado pelo autor se o Orkut era um local adequado ao aprendizado, ele se mostrou um tanto quanto ctico, afirmando que "o orkut no um local ideal para

    disseminao de conhecimento, muito mais pela sua alta heterogeneidade do que qualquer outra coisa. Talvez pontualmente funcione/ajude no processo de disseminar informaes, as boas e as ruins. Infelizmente a maioria parece que so ruins..

    Ele ainda complementa dizendo que "se mantiver apenas como troca de informaes, acho ambientes como o orkut interessantes, mas como ambiente para aprendizagem, ai a situao muda bastante. O grau de interatividade, apesar de - parecer

    - intenso, acho muito impessoal, o que torna o processo de aprendizagem somente efetivo para quem tem interesse." Quando questionado sobre o tpico em especfico, Fernando afirma que para explorar melhor episdios de aprendizagem, deveria haver algum tipo de superviso nos tpicos, para que as idias flussem de forma mais ordenada.

    J Linus acredita que o Orkut um bom local para o aprendizado, na medida em

    que "democratiza as opinies e possui as facilidades j conhecidas da Internet, como acessibilidade e quebra de barreiras geogrficas." Falando sobre o tpico, ele afirma que

    foi uma boa oportunidade para debate, na medida em que, no fosse o Orkut, ele no teria a chance de debater e aprender coisas novas sobre um assunto de seu interesse.

    Fica claro que os participantes do tpico possuem diferentes vises sobre o ambiente, no quesito facilitador de aprendizado. Contudo, eles so unnimes ao afirmar que a rede social permitiu, mesmo sem eles perceberem, um aprendizado sobre algo que era, at ento, desconhecido.

    5.1.2. Tpico 2:

    Ttulo do tpico: Como anda a pesquisa no Brasil? Incio: 15 de maro de 2008 ltima mensagem: 21 de maro de 2008 Estatsticas: 33 mensagens enviadas por 5 usurios

  • 41

    Usurio Mensagens

    Mrio 13

    Kenny 11

    Felipe 5

    Ivan 2

    Robert 2

    Anlise:

    O tpico foi iniciado pelo usurio Kenny, com a mensagem abaixo:

    Kenny

    Ol pessoal, Gostaria de debater um pouco sobre a situao da pesquisa cientfica no Brasil. O que vocs sabem sobre o assunto?

    A partir da, alguns usurios mostraram-se interessados pelo assunto. interessante notar que neste tpico cada um dos participantes tinha uma opinio formada, baseado no ambiente acadmico em que viviam.

    Por exemplo, Mrio estudante de engenharia qumica no Esprito Santo, e enriqueceu o debate expondo um pouco da realidade da pesquisa cientfica que ele viveu nos locais em que estudou. Ele estimulou os demais colegas a mostrar as realidades deles e, assim, comparar e discutir como anda a situao. Nesse ponto, o

    debate foi bastante rico, pois, alm de simplesmente falar sobre sua realidade, os participantes deram idias e sugeriram mudanas no macro ambiente da pesquisa

    cientfica no Brasil, e at mesmo no exterior.

    O usurio Felipe contou de sua experincia acadmica no Canad. Segundo o mesmo, ele estudou durante seis meses na Universidade de Toronto e enfatizou os incentivos que o governo canadense d ao pesquisador, como bolsas e acesso boa infra-estrutura.

  • 42

    No que diz respeito ao aprendizado informal, os participantes tiveram uma boa

    oportunidade de conhecer a realidade da pesquisa em outros locais e, segundo os mesmos, o Orkut foi de fundamental importncia. Kenny e Mrio foram contundentes ao afirmar que a rede social na Internet est desfrutando de um poder muito grande no ambiente educacional, pois ela permite conhecer pessoas com interesses em comum, ao mesmo em que vivem em ambientes e culturas diferentes.

    5.1.3. Tpico 3

    Ttulo: Falhas na Universidade

    Incio: 30 de maio de 2008 ltima mensagem: 31 de maio de 2008 Estatsticas: 44 mensagens enviadas por 9 usurios

    Usurio Mensagens

    Leandro 18

    Bozo, David 5

    Breno 4

    Alexandre 3

    Erick Cartman, Paulo E. 2

    Fbio, Antnio 1

    Anlise:

    O tpico foi criado por Leandro, com duas mensagens. Na primeira ele indica uma matria, cujo link est transcrito abaixo, de ttulo "Estudante desenvolve mtodo para degradar sacola plstica". Esse texto fala de um garoto canadense de apenas 16 anos, que conseguiu desenvolver um mtodo para acelerar a degradao do plstico,

    diminuindo assim o impacto ambiental. O debate gira em torno do fato de um garoto de

  • 43

    apenas 16 anos, e no grandes pesquisadores terem descoberto o mtodo. Abaixo as mensagens iniciais do tpico.

    Mensagem 1:

    Leandro Prezados, acredito que a Universidade vem apresentando srios problemas, principalmente no sentido de inibir a criatividade e o raciocnio intuitivo dos alunos e futuros profissionais!!!!!!!!!! Prova disso que uma boa parcela dos pesquisadores, acaba seguindo mtodos (matemticos ou no) devidamente padronizados e acabam se restringindo a um raciocnio e mtodo limitados!!!!!!!!!! Fala-se muito em lgica matemtica, modelagem matemtica e aplicao da prpria Matemtica nas Cincias Naturais e, com isso, esquecem que Fsica e Qumica no so desenvolvidas apenas no universo dos nmeros!!!!!!!!!! Neste sentido, grande parte dos pesquisadores no mundo acabam por abandonar caractersticas essenciais para o prprio timo desenvolvimento e evoluo da Cincia e da Tecnologia, ignorando completamente os aspectos relativos criatividade e intuio humanas!!!!!!!!! Para mostrar que no se trata de divagaes sem sentido, leiam o artigo abaixo, que fala de um moleque de 16 anos, canadense, que INTUITIVAMENTE, desenvolveu um mtodo para degradar com altos rendimentos, sacolas plsticas!!!!!!!!!! E nenhum doutor no mundo conseguiu fazer isto!!!!!!!!!!! http://newserrado.com/2008/05/27/estudante-desenvolve-mtodo-para/Com isso, cai por terra a idia de que s se faz Cincia usando mtodos avanados e puramente matemticos e que a INTUIO seria algo totalmente descartvel para o desenvolvimento e evoluo cientfica!!!!!!!!! Viu, Krishna, intuio tambm faz parte do desenvolvimento, inclusive cientfico!!!!!!!!!

    Mensagem 2:

    Leandro O mtodo desenvolvido pelo guri to simples, lgico, intuitivo e bvio que, quando li a matria, fiquei com dio mortal de mim mesmo, por no ter sido criativo neste sentido!!!!!!!! E olha que, certamente, o pi no ficou calculando derivadas, integrais, mtodos numricos, etc, para realizar esta descoberta e nem fez nenhum outro clculo mirabolante para chegar nesta proposta de soluo do problema!!!!!!!!!! No sugiro com isto, que se deva eliminar os mtodos matemticos, pelo contrrio!!!!!!!! S acho

  • 44

    que a universidade deveria trabalhar melhor e valorizar mais a lgica intuitiva, o raciocnio intuitivo e a criatividade, que so caractersticas que no podem ser plenamente explicadas e substitudas completamente por nenhum mtodo matemtico existente!!!!!!!!!!! Pensem sobre isso!!!!!!!!!!!

    Como pode-se perceber, o usurio Leandro indica a leitura aos demais participantes e incita um debate acerca da metodologia utilizada nas universidades, haja vista o garoto no ser universitrio.Logo, Bozo e David entram na discusso e classificam o texto da matria como tendencioso e omisso. Segundo eles, algum deve

    ter orientado o garoto, e ele s fez sua descoberta por conta das disciplinas cientficas que ele recebe na escola.

    No entanto, Leandro lembra aos demais da criatividade e informalismo do garoto ao desenvolver tais atividades, demonstrando que o aprendizado informal foi

    responsvel para o objetivo do adolescente ser atingido. Abaixo segue a defesa de Leandro sobre mtodos mais informais nas universidades.

    Leandro David, entendo o que vc diz e at concordo contigo sobre a questo do sensacionalismo!!!!!!!! Entretanto, acredito que mesmo assim, existam falhas no sentido de valorizar mais a criatividade dos alunos e que tais falhas podem ser oriundas de um mtodo universitrio que nem sempre condiz completamente com a realidade!!!!!!!!!! Neste sentido, acho que as universidades poderiam melhorar!!!!!!!!!! Bozo, no tem nada a ver com disciplinas, pelo contrrio!!!!!!!!!! O formalismo atrapalha o desenvolvimento dessas habilidades!!!!!!!!! Neste sentido, acredito que um estudo da Histria das Cincias, num contexto de evoluo das idias ao longo do tempo, poderia ser um forte aliado para ajudar no desenvolvimento de tais habilidades, para quem no as tem!!!!!!!!!

    Aps esse comentrio, Paulo E. entra na discusso e sai em defesa do mtodo formal de ensino nas universidades, uma vez que, segundo ele, "as pessoas que falam

    mal da universidade so justamente aquelas que passaram pela universidade (ou lecionam nelas) e receberam uma formao slida o bastante que lhes permite reunir elementos para fazer critica universidade(...). Nunca vi algum sem instruo formal de qualquer nvel falar mal das instituies responsveis pela instruo formal."

  • 45

    A partir dessa declarao do Paulo E., a discusso se polariza entre os que

    defendem o ensino formal e os que preferem uma maior informalizao. Aps algumas ponderaes e crticas aos mtodos, Antnio entra na discusso e lana uma reflexo aos participantes que defendem com vigor apenas o mtodo formal de ensino nas universidades. Para isso, ele cita uma passagem de Albert Einstein que diz que "a imaginao mais importante que o conhecimento" e, portanto, a criatividade e espontaneidade estimuladas pelos mtodos informais devem ser preservadas.

    5.1.4. Tpico 4:

    Ttulo: Novo Record Mundial dos 100m rasos

    Incio: 2 de Junho de 2008 ltima mensagem: 3 de Junho de 2008 Estatsticas: 34 mensagens enviadas por 11 usurios

    Usurio Mensagens

    Jorge 6

    Joo Vtor, Fbio 5

    Vtor 3

    Alexandre, Risadinha 2

    Sir Gian, Erick Cartman, OrnitoPhysico,

    Lucas, Gilberto 1

    Anlise:

    O tpico foi criado por Alexandre com o intuito de discutir o novo recorde

    mundial da prova dos 100 metros rasos, batido pelo jamaicano Usua Bolt, numa prova disputa em Nova Iorque, no dia 31 de Maio de 2008. O jamaicano correu os 100 metros num tempo de 9s72, batendo o antigo recorde, do tambm jamaicano Asafa Powell (9s74), alcanado em setembro de 2007. Alexandre inicia o tpico fazendo um comentrio acerca da velocidade mdia do corredor durante a prova. Abaixo a mensagem de Alexandre.

  • 46

    Alexandre: 9,72 s. Esta a nova marca. Logo, a maior velocidade atingida por um ser humano at agora : v = 100 m / 9,72 s = 10,29m/s (37,04 km /h)

    A partir desse comentrio, muitos usurios entraram na discusso e emitiram

    opinies acerca da velocidade mdia, mxima velocidade atingida, picos de velocidade, etc. O usurio Vtor posta um comentrio indicando pginas na internet onde h

    grficos indicativos da velocidade de corredores, segundo a segundo. J o participante Sir Gian, indica materiais sobre estatsticas da prova dos 100 metros ao longo da histria.

    Jorge entra na discusso e faz questionamentos acerca dos limites de velocidade

    do ser humano, questionando os demais sobre o menor tempo humanamente possvel para se completar a referida prova. Os participantes admitem no ter muito

    conhecimento em biologia para falar sobre limites do corpo, mas fazem projees baseadas nas leis da fsica. O debate torna-se muito interessante e os usurios desenvolvem uma boa troca de idias.

    Ao ser questionado pelo autor deste trabalho sobre sua participao no tpico,

    Jorge admite ter sido bastante satisfatria a discusso. Sobre a adequao do ambiente ao desenvolvimento do aprendizado informal, Jorge afirma que "um ambiente de redes

    sociais, com ferramentas de interao e o usurio com o controle da participao, ideal para aprender, at por conta das facilidades da internet e dispositivos da informtica. Eu mesmo, respondi esse tpico com meu laptop no colo, sentado numa poltrona de avio, em algum lugar entre o Brasil e a Espanha!". Esse depoimento importante pois, ainda segundo o participante, ele jamais teria condies de debater esse assunto "exatamente naquele dia, naquela hora, naquele lugar(...). No fosse o computador e a rede social, eu estaria assistindo a um filme chato naquele horrio, sem aprender nada".

    5.1.5. Tpico 5

    Ttulo: Questes de Pedagogia Incio: 14 de maio de 2008 ltima mensagem: 17 de maio de 2008

  • 47

    Estatsticas: 52 mensagens enviadas por 18 usurios diferentes

    Usurio Mensagens

    Erick 13

    Leandro 7

    Tom 6

    Paulo E., N, Frank, Danilo, Donizete 3

    Vtor, Breno, Fbio, Erick Cartman 2

    Joe, Marcos Paulo, Mateus, Leandro Seixas, Krishnamurt, David

    1

    Anlise:

    Este tpico foi criado pelo Tom com o intuito de expor aos demais participantes

    uma situao que ocorreu num concurso para professores realizado pelo Governo do Estado de Pernambuco. No referido concurso, apenas 6% dos candidatos foram aprovados, os demais levaram pontos de corte nas provas de pedagogia e conhecimentos especficos. O objetivo do tpico foi analisar criticamente a situao das licenciaturas em todo pas, e tambm a elaborao das provas de concursos. Abaixo segue a mensagem inicial do tpico.

    Tom:

    Aos futuros licenciados, j licenciados e interessados: vejam as questes 11 40 dessa prova de um concurso ocorrido em PE*:http://www.upenet.com.br/concursos/professor_estado_pe_08/Provas/PROVA%20FISICA.pdf isso o que aprendem no curso de licenciatura? Poderiam fazer uma analise crtica de algumas dessas questes (tanto as boas, quanto as ruins), por favor? Grato,

    Tom*

    94% de candidatos a professor reprovados em PE

  • 48

    A discusso inicia-se com o Erick e o Joe fazendo crticas aos elaboradores da

    prova. Segundo eles, a prova no testa os reais conhecimentos do candidato nem seleciona bons profissionais, pois ela " uma prova de decoreba", segundo Joe. A partir da, o debate fica concentrado em qual a melhor forma de se avaliar um candidato a professor, especialmente os de Fsica. Danilo d sua opinio, afirmando que no se pode exigir muito de um candidato a professor, por conta do dficit de profisionais na rea. No entanto, esta opinio criticada pelo Erick. Segue abaixo a mensagem dele:

    Erick: Colega, me considero um dos mais lcidos aqui em se tratando de questes educacionais. No afirmei ou enviesei nada, apenas fiz a indagao e cada um responde e comenta sua resposta como quer. Nada justifica a adoo de profissionais medocres seja em que rea for. Se h carncia que se estimule sua formao de qualidade e se proponha melhores condies de trabalho para evitar fuga de graduandos do curso de Fsica ou migrao desses graduados para outras carreiras. No nosso pas h carncia enorme de mdicos, todavia no se ver faculdades do tipo FA FE FI F F de fundo de quintal formando mdicos s pressas. No PI h carncia enorme de engenheiros civis ao ponto de TODOS os graduandos qu e queiram TRABALHAR a partir do 8 ou 9 semestres j podem faz-lo. H inclusive uma migrao de engenheiros civis de outros lugares que so atrados para l pela oferta e emprego e bons salrios. L no PI tambm no se v se formando engenheiro em fundo de quintal ou se contratando qualquer um que possua diploma, pois o MERCADO exige formao slida e competncia. Nas provas da OAB temos outro belo exemplo. Minoria so os aprovados. Na OAB-SP nesse ano foram aprovados aproximadamente 29% do total. Ou seja, 71% de reprovao. Em outros lugares do pas h 95% de reprovao. Podem inventar cursos de fundo de quintal vontade que ningum passa. Alis a OAB e o MEC j esto quase fechando 100 faculdades de Direito pelo pas que no possuem nenhuma condio de funcionamento. Apesar desse quadro todo no Direito, no se v a OAB aliviando nas provas com questes de nvel mais fcil. Abraos.

    Continuando a discusso, Erick cita a Constituio Federal para lembrar sobre o

    direito da educao gratuita e de qualidade, do ensino infantil ao ensino mdio. Leandro participa da discusso e indica aos demais usurios o material de uma prova para

  • 49

    selecionar professores de Qumica no estado do Paran. Segundo Leandro, a prova tambm peca em aspectos como a elaborao adequada de questes, consequentemente, prejudicando a escolha dos profissionais mais capacitados.

    Ento, os participantes continuaram postando comentrios, em geral sempre em resposta ao comentrio anterior, como bem lembra o Erick. O autor deste trabalho entrou em contato com o Erick e, sobre a qualidade do debate, ele diz que "[o debate] foi razovel, no bom. Como se v o tema principal, 'Avaliao de Professores em

    Concurso Pblico', foi vrias vezes 'desvirtuado' para sub-temas que esse tema principal desencadeia como a relao professor (j concursado) x aluno etc.

    Em geral nos tpicos do Orkut quando a discusso abre possibilidade de emisso de vivncia e opinio pessoal de fatos, os membros costumam relatar sempre coisas que aconteceram consigo mesmos. Eu vejo em tais casos o orkut ser usado como uma espcie de 'div' e vlvula de escape. Eu mesmo fiz isso em determinado momento do

    tpico ao relatar um caso ocorrido comigo." Quando questionado sobre a possibilidade de aprendizado informal no debate em

    questo, ele afirma que "(...) sim, aprendi algo. O principal que aprendi foi a impresso que algumas pessoas possuem sobre o tema. Alm disso, durante uma discusso h algumas informaes que cada um possui que so 'mais ou menos certas', mas no to exatas. Assim, alguns membros nos solicitam mais exatido ou o prprio interlocutor

    original j busca essa exatido ao fazer pesquisas e se preocupar em citar fontes. Nessa hora h um aprendizado."

    Ao falar especificamente sobre o Orkut, ele lembra que "o orkut funciona como uma ferramenta valiosa em debates visto que a pessoa pode em tempo hbil refletir, buscar informaes, verificar referncias e aps isso emitir uma opinio ou juzo de valor de forma mais ou menos consistente. Alm do fato de congregar pessoas de diferentes origens que possuem um tema de interesse comum como a Fsica. Tal ambiente de debate pouco se v ou no se v no meio acadmico.", numa clara aluso

    falta de estmulo e debates existentes nos ambientes formais de educao.

    5.1.6. Tpico 6

    Ttulo: Intercmbio Estudantil: importante? Incio: 22 de maio de 2008

  • 50

    ltima mensagem: 27 de maio de 2008 Estatsticas: 31 mensagens enviadas por 7 usurios diferentes

    Usurio Mensagem

    Rafo 8

    Mark 7

    Luca Toni, der 5 Fbio, Mancinni 2

    Michel, Luiggi 1

    Anlise:

    O tpico foi criado pelo usurio Rafo, que fez uma pergunta aos demais

    membros. Rafo contou sobre sua experincia em outro pas, sobre a cooperao entre universidades e centros de estudo ao redor do mundo, e gostaria de debater se isso uma opo vivel para o desenvolvimento dos estudos cientficos. Abaixo, a mensagem inicial do tpico:

    Rafo: Ol pessoal, Sou estudante de Fsica na USP e acabei de retornar ao Brasil. Morei e estudei por 1 ano na Frana, na cidade de Lyon. L pude aprender coisas fantsticas, muito alm dos livros de Fsica. Tive contato com outro modelo de ensino, com outra forma de encarar a pesquisa, enfim, foi muito rica a experincia. O que vocs pensam sobre isso?!!

    A partir dessa mensagem muitos usurios entraram no debate para dar sua opinio, contar histrias recentes de cooperao, e at mesmo tirar dvidas sobre o processo. O

    usurio Mark, por exemplo, falou sobre sua exper