Roger Zelazny - Caminho Dos Condenados

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Roger Zelazny - Caminho Dos Condenados

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CAMINHO DOS CONDENADOS Roger Zelazny http://groups.google.com/group/digitalsource A gaivota levantou vo perto dali, parecendo planar por um momento. Hell Tanner atirou a bituca do cigarro nela, um tiro certeiro. O pssaro soltou um grito rouco e, de repente, bateu as asas. Subiu aproximadamente quarenta metros e, se gritou uma segunda vez, nunca saberia. Desaparecera. Uma nica pena branca balanava no cu, alm da borda do penhasco. Descia bailando para o oceano. Tanner riu, atravs de sua barba, sob o rugido constante do vento e do martelar da ressaca. Ento, tirou os ps do guidom, ajeitou-se no banco e trouxe sua motocicleta de volta vida. Desceu lentamente o declive at a trilha, ento aumentou a quase trinta milhas quando alcanou o asfalto. Inclinou-se para a frente e acelerou de novo. Tinha toda a estrada para ele, deu o mximo que a mquina podia dar. Ajustou seus culos de proteo e olhou o mundo atravs das lentes baratas e coloridas, e que era muito bonito de se ver, mesmo sem elas. Todos os velhos pinos e ponteiras haviam cado de sua jaqueta e sentia falta do botton da sustica, da foice e do martelo e do dedo mdio ereto, especialmente. Perdera seu velho emblema. Talvez pudesse conseguir outro l em Tijuana, ou no. Melhor no. Tudo aquilo j era. Seria traio e no duraria um dia. O que devia fazer era vender a Harley, ir para a costa, endireitar a vida e ver o que podia encontrar para si na outra Amrica. Costeou uma colina e subiu rugindo outra. Rasgava o asfalto em velocidade atravs de Laguna Beach, Capistrano Beach, San Clemente e San Onofre. Reabasteceu em Oceanside e passou por Carlsbad e todas aquelas pequenas praias desertas que ficavam antes de Solana Beach Del Mar. Mas era fora de San Diego que o esperavam. Viu o bloqueio de estrada e virou. No esperavam que pudesse reagir nessa velocidade. Mas agora estava se afastando. Ouviu os tiros de espingarda e continuou. Ento ouviu as sirenes. Tocou sua buzina duas vezes em resposta e se inclinou. A Harley saltou pra frente. Continuou acelerando por dez minutos e no podia mais ouvi-los. Seguiu assim por mais quinze. Chegou ao topo de outra colina e viu o segundo bloqueio adiante, ao longe. Estava cercado. Olhou ao redor para as laterais da estrada e no viu ningum. Ento traou um curso reto para o segundo bloqueio. Com sorte conseguiria passar. Aquilo no era bom. Havia carros alinhados cruzando a estrada inteira, at mesmo fora dela. Freou no ltimo minuto possvel, e quando sua velocidade estava correta, elevou a moto sobre a roda traseira, dirigindo direto para seus perseguidores. Havia seis carros vindo na sua direo e outras sirenes surgiram s suas costas. Freou outra vez, inclinando para a esquerda, soltou o acelerador e pulou do assento. A motocicleta manteve-se na direo, e ento bateu no cho capotando. Ele ficou de p e comeou a correr. Ouviu o cantar dos pneus e uma batida. Ento mais tiros de espingarda, e continuou correndo. Estavam atirando por sobre sua cabea, mas ele no sabia. Queriam-no vivo. Aps quinze minutos foi colocado contra um muro, o cercaram, alguns com rifles apontados na sua direo. Deixou cair a barra de ferro que pegara e levantou as mos. Vocs ganharam, cidados, disse. Faam o que tm que fazer. E eles fizeram. O algemaram e o levaram de volta aos carros. O empurraram no banco de trs de um deles e um oficial se sentou de cada lado. Outro se sentou ao banco junto do motorista com a espingarda no colo. O motorista ligou o motor, engatou uma marcha, voltando para a rodovia 101. O homem com a arma virou-se e olhou fixamente com os bifocais que faziam seus olhos parecerem ampulhetas cheias de areia verde. Olhou direto para ele por talvez dez segundos e disse: Aquilo foi uma coisa muito estpida! Hell Tanner olhava para trs quando ele falou. Muito estpida, Tanner. Oh, no sabia que estava falando comigo! Eu estou olhando para voc, filho. E eu estou olhando para voc! Ol!! Ento o motorista disse, sem tirar os olhos da estrada: Voc sabe o que ruim? Temos que te entregar em bom estado e olhe o que voc fez, atirando a maldita motocicleta contra o outro carro. Ele bem que podia sofrer um acidente, cair e quebrar umas costelas disse o homem ao lado esquerdo de Tanner. O homem direita no disse nada, mas o da espingarda balanou a cabea concordando. Nada vai te acontecer a no ser que voc tente escapar. Los Angeles quer voc em bom estado! Por que no tenta fugir, camarada? Voc sabe que a gente te pega de novo. Tanner grunhiu. Por que vocs querem me pegar? No fiz nada! O motorista riu. por isso. Voc no fez nada e eles querem que voc faa uma coisa. Tembrado? No devo nada a ningum. Eles me deram o perdo e me deixaram sair! Voc tem uma memria muito ruim, garoto. Voc fez uma promessa nao da Califrnia, umomessa quando foi solto ontem. J se passaram mais de vinte e quatro horas do prazo que pediu para resolver seus assuntos. Voc pode recusar o trabalho e ter o seu perdo revogado. Ningum est te forando a nada. Voc pode passar o resto da vida fazendo pedronas virarem pedrinhas. A gente no se importa. Ouvi falar que j tem gente pronta para fazer seu trabalho neste exato momento mesmo. Me d um cigarro, disse Tanner. O homem direita acendeu um e passou para ele. Hell tragou e soprou a fumaa para o cho. Corriam pela auto-estrada, e quando atravessavam povoados ou encontravam trnsito, o motorista ligava as sirenes e as luzes vermelhas e azuis acendiam piscando no teto. Quando isso ocorria, as sirenes dos outros dois carros que seguiam atrs tambm gritavam. O motorista no diminuiu nem freou por todo caminho at LA e de tempos em tempos falava no rdio. Ento ouviram um barulho como o estrondo da quebra da barreira de som; uma nuvem de poeira e pedregulhos caiu sobre eles como granizo. Uma pequena fissura apareceu no canto esquerdo do pra-brisas prova de balas, e pedras do tamanho de bolas de sinuca acertaram o teto do carro. Os pneus fizeram um barulho de triturao ao passar sobre os pedregulhos que cobriam a superfcie da estrada. A poeira era como uma nvoa pesada, mas dez segundos depois haviam j sado dela. O cu estava ficando prpura atravessado por linhas negras, de oeste para leste. Essas linhas sinuosas se uniam e formavam algumas figuras, movendo-se rapidamente. O motorista acendeu os faris. Tem uma das boas vindo por ai, disse o homem com a pistola. O motorista assentiu: Parece pior ao norte. Surgiu um som, como um lamento alto, no ar acima deles, e as faixas escuras continuaram a alargar-se. O som aumentava de volume, perdendo sua qualidade aguda, transformando-se em um rugido constante. As linhas no alto tornaram o cu escuro como uma noite sem estrelas e sem lua e a poeira caa sobre eles em pesadas nuvens. Ocasionalmente um sibilo e um fragmento mais pesado golpeava o carro. O motorista havia ligado as luzes de fora e a sirene outra vez e pisava fundo no acelerador. O rugir e o som da sirene lutando um com o outro e distante, ao norte, uma aurora azul comearam a se espalhar pulsando. Tanner terminou o cigarro e o homem lhe deu outro. Todos estavam fumando com ele. Sabe, voc tem sorte da gente te pegar, garoto, disse o homem esquerda. Voc gostaria de estar empurrando sua moto atravs dessa coisa? Gostaria, Tanner disse. Voc maluco! No, j fiz isso antes. Quando chegaram a Los Angeles a aurora azul tomava metade do cu, tingida de cor de rosa com manchas amareladas que se pareciam com pernas de aranha. O rugido era ensurdecedor, uma coisa fsica que enchia os ouvidos e os deixavam zunindo. Assim que deixaram o carro e atravessaram o estacionamento em direo a um grande prdio com pilares na frente, tiveram que gritar para ser ouvidos. uma sorte termos chegado aqui disse o homem com a pistola. Vamos subir! Seus passos tornavam-se maiores medida que subia as escadas. A gente podia ter quebrado a qualquer instante. gritou o motorista. Assim que entraram no hall, o prdio pareceu ser um enorme pedao de uma escultura em gelo com as luzes coloridas do cu brincando nas superfcies e criando sombras frias. Como se fosse feito de cera, esperando para derreter. Seus rostos e a carne das mos sem cor, parecendo cadveres. Apressaram-se para subir as escadas e um patrulheiro estadual deixou-os entrar pela pequena abertura na portas duplas de grosso e pesado metal que eram a entrada principal do prdio, trancando assim que eles passaram. Abriu o fecho do coldre ao ver Tanner. Pra onde? perguntou o homem com a espingarda. Segundo andar, disse o patrulheiro apontando a escadaria direita. Siga direto quando chegar l. um escritrio grande no final do corredor. Obrigado. Ali o rugido era consideravelmente menos agressivo e os objetos tinham recuperado sua aparncia natural sob as luzes artificiais. Subiram e seguiram pelo caminho at encontrarem o escritrio fechado. O homem com a arma disse para o motorista bater na porta. Uma mulher atendeu e comeou a dizer alguma coisa, parando quando reparou em Tanner. Deu um passo para trs e segurou a porta. Por aqui ela disse, ento foi at a mesa, pressionou um boto e falou: Mister Fiske? Eles esto aqui e trouxeram o sujeito, senhor. Mande-os entrar. A mulher os guiou para uma sala ao fundo, com as janelas cobertas. Um homem grisalho e corpulento, atrs da mesa de vidro, empurrou as costas contra o encosto de sua cadeira enquanto tranava seus dedos curtos frente ao queixo e os observava atentamente com olhos to cinzentos quanto seus cabelos. Sua voz era suave e um tanto desagradvel. Sente-se disse para Tanner, pedindo para que os outros esperassem do lado de fora. O senhor sabe que este cara perigoso, Mister Denton, disse o homem com a arma, apontando Tanner que se sentava confortavelmente naquele instante. Persianas metlicas cobriam as trs janelas do recinto e, mesmo que o homem no pudesse ver o lado de fora, podia imaginar o que acontecia devido ao som semelhante a metralhadoras disparando sem cessar. Eu sei. Bom, ele est algemado. O senhor est armado? Sim. Ok. Estarei do lado de fora. E deixou a sala. O homem chamado Denton aguardou at que a porta fosse fechada e disse: Resolveu todos os seus problemas particulares? Tanner fez que sim, ento... Qual diabos seu primeiro nome? Os registros dizem... Hell disse Tanner. o meu nome. Sou o stimo filho e, quando nasci, a enfermeira me pegou no colo e perguntou ao meu velho qual era o nome que ele queria na certido de nascimento. Meu pai disse, Hell (Inferno) e foi embora. Foi o que meu irmo me contou. Nunca encontrei meu pai para lhe perguntar se foi mesmo assim. Ele desapareceu naquele mesmo dia. E sua me criou os sete? No, ela morreu algum tempo depois. Fomos criados por alguns parentes. Sei. Bem, voc tem uma escolha, voc sabe. Quer arriscar ou no? Afinal, qual o trabalho? Sou o Secretrio de Trnsito da Nao Californiana. E o que eu tenho com isso? Estou coordenando a coisa toda. Podia ser responsabilidade do Ministro da Sade ou dos Correios, mas este trabalho vai de encontro minha responsabilidade. Conheo a coisa melhor do que qualquer um, sei das particularidades... Do que voc est falando? Pela primeira vez, Denton fechou os olhos. Bem, existe um risco neste trabalho... Ningum nunca fez isso antes, exceto aquele maluco que nos trouxe as novidades e ele est morto. Eu sei disse Denton devagar, voc acha que um trabalho suicida, e provavelmente est certo; Ns estamos mandando trs carros, com dois motoristas em cada um. Se qualquer um deles conseguir chegar perto o suficiente de Boston, ser o bastante. Mas voc no precisa ir, voc sabe. Sei, estou livre para passar o resto da minha vida na priso. Voc matou pessoas. Poderia ter sido condenado pena de morte. No fui. Por que falar sobre isso? Oua Mister, eu no quero morrer e nem quero ficar preso. Dirija ou no, sua a escolha. Mas lembre-se, se escolher dirigir, tudo ser esquecido. Voc ser perdoado e poder seguir seu rumo. A Nao pagar pela moto que voc roubou eestruiu e at mesmo pelos danos no carro de polcia. Grato. O rugir do vento os fez lembrar do que se passava do lado de fora. Voc um bom motorista disse Denton, depois de um tempo. Voc j dirigiu todo veculo possa ser dirigido. At em corridas. Quando voc era apenas um traficante, costumava ir mensalmente a Salt Lake City e so poucos os motoristas conseguem faz-lo, mesmo hoje em dia. Hell Tanner sorriu, lembrando-se de algo. ...e no seu nico e legtimo emprego, s voc conseguia levar o correio at Albuquerque. Poucos, depois de voc ter sido demitido, conseguiram esse feito. Aquilo no foi culpa minha. Voc tambm era o melhor na rota de Seattle. continuou Denton, Seu supervisor me disse. O que eu estou tentando lhe dizer que, embora possamos escolher qualquer outro, voc quem tem a maior probabilidade de conseguir fazer o trabalho. por este motivo que sou indulgente com voc, mas no podemos esperar muito mais. sim ou no, agora mesmo! E voc parte dentro de algumas horas se for sim. Tanner levantou suas mos algemadas em direo janela e disse: No meio dessa coisa? Os carros esto preparados para vencer a tempestade. Cara, voc deve estar louco. Pessoas esto morrendo enquanto estamos conversando. Alguns mais no vo fazer diferena. No d para esperar at amanh? No. Um homem deu a sua vida para nos trazer aquelas notcias. E temos que fazer esta jornada atravs do continente agora ou ento no adianta mais. Com tempestade ou sem tempestade, os carros devem partir! Seus sentimentos no importam se comparados situao. Tudo que quero de voc, Hell, uma palavra. Ento, o que ser? Quero comer alguma coisa. Faz tempo que eu no Tem bastante comida nos carros. Qual sua resposta? Hell parou olhando para a janela fechada. Ok disse. Vou fazer o Caminho dos Condenados por voc. Mas no saio daqui antes que tudo esteja preto no branco, assinado no papel! J est pronto! Denton abriu uma gaveta e puxou um envelope de onde tirou uma folha com o carimbo da Nao Californiana. Deu a volta mesa e entregou a Tanner. Hell leu com ateno por alguns minutos e ento falou: Aqui diz que se seu fizer a entrega em Boston receberei total perdo por qualquer crime que cometi neste pas... Est certo. Aqui no inclui aqueles que talvez voc no saiba e que podem aparecer mais tarde... Hell, est escrito, qualquer crime. Ok, gordo, voc est certo! Tire estas algemas e me mostre meu carro. O homem chamado Denton passou para o outro lado de sua mesa. Deixe-me dizer mais uma coisa, Hell. Se voc tentar escapar em algum trecho do Caminho, os outros motoristas tem ordens de disparar contra voc e de queim-lo at no sobrar nem as cinzas. Pegou a idia ? Sim. Isso significa que eu posso fazer a mesma coisa com eles? Correto. Pra mim est bom. Vai ser divertido! Achei que voc gostaria. Agora, se voc me soltar, tenho um trabalho a fazer. No at eu acabar de dizer tudo o que eu quero. disse Denton. Ok, se vai perder seu tempo me passando sermo enquanto gente inocente est morrendo... Cale a boca! Voc sabe que no se importa com esta gente! Eu s quero dizer que eu acho que voc o sujeito mais baixo que j encontrei. Voc matou homens e estuprou mulheres. Arrancou os olhos de um sujeito apenas para se divertir. Foi condenado duas vezes por uso de drogas e trs por explorao sexual. Voc um bbado, um degenerado e acho que nunca tomou um banho desde que nasceu. Voc e sua gangue aterrorizaram e molestaram gente decente que s queria tentar comear uma nova vida depois da guerra! Voc roubou, espancou, extorquiu bens e dinheiro com ameaas de violncia fsica. Eu queria que tivesse morrido naquela noite, como o resto do seu bando. Voc no um ser humano! Voc tem um buraco a dentro, onde as outras pessoas tm algo que as permite viverem em sociedade com os seus vizinhos. A nica virtude que voc possui, se que pode se chamar assim, ser forte, ter bons reflexos e saber dirigir qualquer coisa por qualquer parte. E por isso que a Nao da Califrnia est perdoando sua desumanidade! Basta voc fizer uso da sua virtude para ajudar e no para ferir algum. Saiba que eu no concordo com isso. No quero depender de voc por que voc no confivel. Queria que c morresse nesta viagem, espero que algum te mate. Eu te odeio! Agora voc tem seu perdo. Seu carro est pronto! Vamos! Tanner estava a menos de cinco metros de Denton, olhando para baixo e rindo. Eu vou dar conta. disse. Se aquele homem de Boston conseguiu e depois morreu, eu vou conseguir e continuar vivendo. J fui mais longe que isso, at Missus Hip. Mentira. verdade. E tenho um pedao de papel em meu bolso que diz qualquer crime, e eu gosto disso. No foi fcil, mas eu tive sorte. S eu consegui, ningum mais. Bom, eu me garanto pelo menos pela metade do caminho. E se eu passar da metade, eu chego at l. Foram em direo porta. Eu no devia dizer isso... mas... boa sorte disse Denton, mas espero que se d mal. , eu sei. Denton abriu a porta e disse Deixem o homem ir. Ele vai dirigir! O oficial passou a arma para o sujeito que havia dado cigarros a Tanner e puxou um pequeno molho de chaves do bolso da camisa. Abriu as algemas de Tanner, deu um passo para trs e as pendurou no cinto. Vou com vocs, a garagem fica l embaixo disse Denton. Saram do escritrio, e a Sra. Fiske abriu sua bolsa e tomou um rosrio em suas mos e curvou sua cabea. Rezou por Boston e rezou pela a alma dos mensageiros que partiam. Inclusive por Hell Tanner. O sino estava tocando. Seu bater implacvel, ilimitado, enchia o quarteiro. distncia, outros sinos eram ouvidos, e juntos compunham a sinfonia do demnio que parecia estar l desde o incio dos tempos, ou pelo menos era o que parecia. Franklin Harbershire, presidente de Boston, engoliu seu caf frio e acendeu seu charuto. Pela sexta vez, pegou o relatrio de fatalidades, leu os ltimos nmeros e jogou-o na mesa, coberta com papis cinzentos. Isso no era nada bom. Aps setenta e seis horas sem dormir nada parecia fazer sentido. Ainda mais toda e qualquer tentativa de quantificar a taxa de mortalidade. Inclinou-se para trs em sua cadeira de couro, espremeu seus olhos fechados e abriu-os outra vez. Estava ciente que os quadros eram agora obsoletos. Tinham sido igualmente imprecisos no incio e j era ruim ter tantos mortos no descobertos, ele sabia. Os sinos disseram-lhe que sua nao estava afundando lentamente na obscuridade que se encontra sempre uma meia polegada distante da vida, esperando a crosta se enfraquecer. Por que voc no vai para casa, senhor presidente? Pelo menos, tire pelo menos um cochilo. Ns cuidaremos das coisas pelo senhor. Piscou os olhos e olhou fixamente o homem pequeno cuja a gravata tinha desaparecido h muito tempo, junto com o revestimento escuro do terno, e cuja cara angular carregava diversos dias de barba por fazer. Peabody no estava l h um segundo atrs. Obrigado, Peabody. Eu no conseguiria dormir nem mesmo se tentasse. Eu sou assim. No h nada para fazer a no ser esperar... Bem, ento, o senhor quer um caf? Sim, obrigado. Peabody pareceu ter ido por somente alguns segundos. Harbershire piscou seus olhos e um copo do caf fresco estava fumegando ao lado da sua mo direita. Obrigado, Peabody. As estatsticas mais recentes acabaram de chegar, senhor. Parecem diminuir. Provavelmente um mau sinal. H pouca gente para fazer o relatrio, e menos ainda para apurar. A nica maneira de sabermos os nmeros reais ser fazer uma contagem dos vivos, se houver qualquer vida, quando tudo isso acabar, e ento subtrair do que tnhamos antes. Eu no confio nestes quadros sem valor. Realmente, nem eu, senhor. Harbershire queimou a lngua no caf. Os motoristas devem estar prontos, a ajuda deve estar a caminho. Possivelmente, disse Harbershire. Ento, porque no me deixa trazer um cobertor e um travesseiro? O senhor pode se deitar um pouco e dormir. No h mais nada a fazer. Eu no posso dormir. Se quiser, posso encontrar algum usque. Uns tragos poderiam ajud-lo a relaxar. Obrigado, j tomei dois... Mesmo se os motoristas no conseguirem completar a misso , esta coisa tem que acabar algum dia, o senhor sabe. Talvez. Todos esto esperando. Finalmente chegamos idia de que se reunir ruim. . Alguns esto deixando a cidade. No uma m idia. Seguir para as montanhas. Pode salvar seus pescoos, ou alguns dos nossos, j alguma coisa... Tomou um outro gole do caf, morno desta vez. Estudou as estruturas da fumaa que se dobrava acima de seu cinzeiro. E sobre a pilhagem? perguntou. Ainda continua. A polcia matou uma dzia esta noite. tudo que ns precisamos, mais mortes. Mande uma mensagem ao chefe. Tentem prend-los, ou machuque-os somente, se possvel. Deixe porm o pblico pensar que ainda esto disparando para matar. Sim, senhor. Eu queria poder dormir. Realmente, Peabody. Eu no posso agentar muito mais... As mortes, senhor? Isso, tambm. Quer dizer a espera, senhor? Todos lhe admiram pela maneira que suportou No, no a espera, raios! Engoliu mais caf e soprou uma grande nuvem de fumaa do charuto no ar. So estes malditos sinos disse gesticulando em direo noite alm da janela. Esto mando louco! Desceram para o poro, para o subsolo e para um nvel abaixo dele. Quando chegaram l, Tanner viu trs grandes veculos prontos para partir e cinco homens sentados junto parede. Um deles ele reconheceu. Denny, disse, vem c! e foi na direo do jovem magro e loiro que segurava um capacetvelho debaixo do brao direito. O que diabos voc t fazendo aqui? perguntou Tanner. Sou o segundo motorista do carro trs. Voc tem sua prpria garagem e est longe de problemas! Por que entrou nessa? Denton me ofereceu cinqenta pacotes, disse Denny, e Hell respondeu: Droga! No vai te adiantar nada se voc morrer! Preciso da grana. Por qu? Quero me casar e vou precisar dele. Achava que voc estava bem de vida. Estou, mas quero comprar uma casa. Sua garota sabe disso? No. Eu sabia que no. Presta ateno: eu vou fazer isso porque minha nica escolha. Voc nrecisa disso. Isso quem sabe sou eu. Ento vou lhe contar uma coisa. Dirija para fora de Pasadena, para aquele lugar aonde a gente ia quando era garoto, com as pedras e aquelas trs grandes arvores, entendeu? Sei, me lembro. Na rvore grande, do meio, do lado onde eu entalhei minhas iniciais, conte sete passos pro sul e cave uns quatro metros. Entendeu? Entendi. O que tem l? meu tesouro, Denny. Voc encontrar uma caixa de metal. Agora deve estar toda enferrujada. Pode abrir. Est cheia de canos de seis polegadas dentro. Esto selados nas pontas e dentro deles tem pelo menos 5 mil em notas. dinheiro limpo. Por que est me dizendo isso? Agora essa grana sua., disse Tanner, acertando um gancho no queixo de Denny. Quando ele caiu, Hell o acertou nas costelas, trs vezes, antes que os outros o segurassem. Idiota! gritou Denton. Voc um louco idiota. Hm-hm disse Tanner. Nenhum irmo meu vai para o Caminho dos Condenados enquanto eu estiver por aqui! Ache logo outro motorista logo, por que eu quebrei algumas costelas deste aqui. Se preferir, me deixe dirigir sozinho. Ento voc vai dirigir sozinho disse Denton. Ns no podemos esperar mais. Tem plulasporta-luvas para manter voc acordado e melhor tomar, porque se voc tentar mais alguma besteira eles vo te queimar vivo. Lembre disso! No vou esquecer, mister. No se preocupe! Melhor ir para o carro dois e coloc-lo na direo da rampa. Os veculos esto abastecidos e o compartimento de carga est na traseira. , eu sei. E se eu vir voc de novo, ser por pouco tempo. Saia da minha frente, escria! Tanner deu as costas para o Secretrio de Trnsito da Nao Californiana. Alguns policiais estavam ajudando seu irmo e um deles saiu para buscar o mdico. Denton fez dois times com os motoristas remanescentes e os mandou para os carros um e trs. Tanner entrou na cabine, deu partida e esperou. Olhou para a rampa e imaginou o que estava por vir. Procurou no porta-luvas e encontrou cigarros. Acendeu um. Os outros motoristas posicionaram seus veculos blindados frente e atrs. O rdio apitou e ento uma voz foi ouvida. Carro um pronto. Uma pausa e ento carro trs pronto disse uma voz diferente. Tanner agarrou o microfone e apertou o boto lateral. Carro dois pronto disse. Podem seguir! veio a ordem e todos foram para a rampa. Uma grande porta foi aberta frente deles e, ento, entraram na tempestade. Sair de Los Angeles pela rodovia 91 foi um pesadelo. A chuva torrencial e as pedras do tamanho de bolas de basquete colidiam com o escudo do seu carro. Tanner ligara as luzes especiais. Usava culos infravermelhos e a noite e a tempestade o maltratavam. O rdio muitas vezes apitava e ento parecia ouvir um murmrio de uma voz ao longe, porm nunca entendia o que ela dizia. Seguiram pela rodovia o mais longe possvel e ento os grandes pneus reforados encontraram o caminho de terra que comeava ao final da rodovia. Tanner olhou para o carro frente e depois para o detrs. Seguiam pela velha trilha dos contrabandistas que traziam doce para os mrmons. Possivelmente, ele era a nica pessoa viva que sabia disso. Possvel, mas havia sempre algum procurando por rotas de fuga em L.A. Era possvel que mais gente soubesse. Um relmpago caiu, no sozinho, mas em camadas. O carro tinha sido isolado, mas depois de algum tempo seu cabelo estava em p. Achou ter visto um monstro Gila gigante, mas no poderia ter certeza. Manteve seus dedos perto do controle de disparo. Conservaria a calma at que a ameaa fosse iminente. No scanner retrovisor pareceu que o carro atrs dele tinha disparado um foguete, mas no poderia ter certeza: havia perdido todo o contato de rdio com eles assim que deixaram o edifcio. A chuva que descia contra ele, lavava todo o carro. O cu parecia com uma carga de artilharia. Um pedregulho do tamanho de uma lpide caiu na frente dele, e mesmo assim ele passou por cima. Luzes vermelhas piscaram atravs do cu, do norte para o sul. Percebeu muitas faixas pretas indo do oeste ao leste. No era um espetculo encorajador. A tempestade podia continuar por dias. Continuou contornando um bolso de radiao que no desaparecera por quatro anos. Chegaram a um lugar onde as areias foram fundidas em um mar vtreo, e ele reduziu a velocidade, observando adiante as crateras e as falhas. Mais trs pedregulhos o acertaram antes que o cu se rachasse e abrisse, revelando uma luz azul e brilhante, quase violeta. Cortinas escuras rolaram para trs para os Plos, e o rugir diminuiu. Um fulgor de alfazema permaneceu ao norte e um sol verde mergulhou no horizonte s suas costas. Desligou o infra-vermelho, tirou seus culos e ligou as lmpadas noturnas normais. O deserto j era ruim o bastante s por existir. Algo grande, parecido com um morcego, atravessou o tnel formado por suas luzes e se foi. Ele ignorou. Cinco minutos mais tarde fez uma segunda passagem, desta vez muito mais prxima, e soltou uma chama de magnsio. Uma forma escura, talvez dez metros, foi iluminada, e Hell deu-lhe dois disparos de cinco segundos das armas de calibre cinqenta. A coisa caiu e no retornou. Para os novatos, aquilo era o Caminho dos Condenados. Para Hell Tanner, este ainda era o parque de estacionamento. Tinha estado ali umas trinta e duas vezes, e para ele o Caminho comeava no lugar que antes era chamado de Colorado. Agora ele liderava os carros e a noite era como um abrasivo. Nenhum avio podia mais voar. No desde a guerra. Nenhum avio poderia se arriscar acima de trezentos metros, o lugar onde os ventos comeavam. Os ventos, os poderosos ventos que circundavam o globo, rasgando as partes superiores das montanhas e das sequias, destruindo edifcios, matando pssaros, insetos e qualquer outra coisa que se movesse acima desse limite, os ventos que rodavam sobre o mundo, atando os cus com linhas escuras, ocasionalmente se encontrando, fundindo, deixando cair toneladas de dejetos onde quer fosse. O transporte pelo ar estava definitivamente fora de discusso em qualquer lugar no mundo. E estes ventos circundantes nunca cessavam. Em vinte e cinco anos (que Tanner lembrasse) nunca houve sequer uma melhoria. Tanner conduzia o comboio numa diagonal ao verde pr do sol. Nuvens de poeira continuavam a cair, grandes nuvens, e o cu era violeta e ento prpura uma vez mais. Ento o sol se foi e a noite veio com as estrelas que era pontos de luz muito distantes e fracos acima deles. Depois de um tempo, uma lua cor de rosa, pela metade, mostrou seu brilho e a noite tornou-se da cor de um copo de chianti diante de uma vela. Ele acendeu outro cigarro e comeou a dizer maldies, lentamente, sem emoo. Encontrava seu caminho entre montes de entulho, rocha, metal, fragmentos de maquinaria, a proa de um barco. Uma serpente, to grande e larga quanto uma lata de lixo, verde escura sob a luz dos faris, atravessou o trajeto e Tanner freou o veculo com tudo que pde. Talvez uns trinta e seis metros de serpente passaram perto antes de Tanner remover seu p do freio e o tocar delicadamente em cima do pedal do acelerador. Olhando de relance para a tela junto da mo esquerda, onde prendeu uma tela infra-vermelha , pareceu ver dois olhos incandescentes dentro da sombra de um monto das vigas e de alvenaria. Tanner manteve a mo perto da tecla do disparo e no a tirou dali por muitos quilmetros. No havia nenhuma janela no veculo, apenas as telas com vistas de cada direo, incluindo em linha reta acima e debaixo do carro. Tanner estava sentado dentro de uma caixa iluminada que o protegia da radiao. O veculo que conduzia tinha oito pneus preparados e dez metros de comprimento. Montados sobre ele, oito metralhadoras automticas calibre cinqenta e quatro lanadores de granada. Carregava trinta foguetes anti-blindados que poderiam ser disparados frente ou num ngulo de at quarenta graus. Cada um dos quatro lados, assim como o teto do veculo, abrigava um lana-chamas. Lminas de ao de dezoito polegadas de largura em suas bases e afiladas nas pontas podiam ser movidas atravs de um arco completo de cento e oitenta graus ao longo dos lados do carro e paralelo terra, em uma altura de sessenta centmetros do cho. Podiam ser usadas como lanas durante um ataque. O carro era prova de balas, com ar condicionado, e tinha sua prpria unidade sanitria. Um .357 magnum cano longo foi preso por um grampo na porta perto da mo esquerda do motorista. Um 30.6, um .45 calibre automtico e seis granadas de mo ocuparam a cremalheira acima do assento dianteiro. Mas Tanner mantinha, a seu prprio gosto, um punhal longo e fino da SS dentro da bota direita. Removeu suas luvas e limpou as palmas nos joelhos de sua cala de sarja. O corao perfurado tatuado nas costas da mo direita parecia vermelho na luz do painel. A faca que o atravessava era azul escura, com seu nome tatuado na mesma cor abaixo dela, uma letra em cada junta do dedo, comeando na base de seu dedo menor. Abriu e explorou os dois compartimentos prximos, mas no encontrou nenhum charuto. Ento esmagou seu cigarro no assoalho e acendeu outro. A tela adiante mostrava a vegetao, e ele diminuiu a velocidade. Tentou usar o rdio, mas no podia dizer se qualquer um o ouviu, recebendo somente a esttica de resposta. Olhou fixamente adiante. Diminuiu mais ainda. Colocou as luzes dianteiras no mximo de intensidade e estudou a situao. Uma pesada muralha de arbustos de espinho estava adiante, alcanando uma altura de talvez quatro metros. Varreu com a luz sobre a sua direita e a sua esquerda, desaparecendo fora da vista em ambos os sentidos. Era densa, e tambm devia ser profunda, no poderia dizer. No estava l alguns anos antes. Moveu para a frente lentamente e ativou os lana-chamas. Podia ver na tela do retrovisor que os outros veculos tinham parado cem metros atrs dele e tinham escurecido suas luzes. Conduziu at onde poderia ir e no mais adiante e a seguir pressionou a tecla para a chama dianteira. Disparou uma lngua de fogo, lambendo quinze metros e a manteve assim por cinco segundos e parou. Ento disparou uma segunda vez e manteve-se afastado enquanto as chamas queimavam. Comeou com um fulgor minsculo depois espalhou lentamente direita e esquerda, crescendo em proporo e brilho. Enquanto Tanner aguardava afastado, teve que escurecer sua tela, o fogo espalhou-se por quase cinqenta metros antes e mais cem e saltava dez metros no ar. A chama alargou, a trinta, quarenta Enquanto Tanner estava longe, podia ver um rio do fogo fluir distncia e a noite brilhava. Prestou ateno no que parecia estar vendo, um mar derretido. Ento procurou o refrigerador, mas no havia nenhuma cerveja. Abriu um refresco e o tomou enquanto olhava a queimada. Aps uns dez minutos o ar condicionado ligou sozinho. Hordas de criaturas escuras, quadrpedes, do tamanho de ratos ou gatos fugiam do inferno com seu plo em fogo. Eles o cercaram, chegando a cobrir a tela traseira e pde ouvir o rudo das suas garras nas placas e no teto. Apagou as luzes e desligou o motor, atirando a lata vazia no lixo. Apertou o boto para reclinar o assento e encostou-se fechando os olhos. Foi acordado pelo som de buzinas. Ainda era noite e o relgio no painel indicava que havia dormido por quase trs horas. Ajeitou o banco e se sentou. Os outros carros haviam se movido e um deles estava bem ao lado. Hell buzinou duas vezes e ligou o motor, acendeu as luzes dianteiras e vestiu as luvas. Muita fumaa ainda pairava sobre o campo e direita, ao longe, ainda havia uma luz como se o fogo continuasse, distante. Num lugar antigamente conhecido como Nevada. Coou os olhos e o nariz ento tocou a buzina mais uma vez e engatou a marcha. Movia-se lentamente. A rea queimada parecia nivelada sob os grossos pneus. Assim que entrou no campo negro suas telas foram obscurecidas por cinza e fumaa de todos os lados. Continuou ouvindo o som dos pneus sobre os restos queimados. Ajustou as luzes para o mximo de brilho. Os veculos que o flanqueavam ficaram oito metros para trs e ele diminuiu as telas para que no refletissem as luzes dos outros. Pressionou o acelerador e os carros atrs dele se distanciaram um pouco, fugindo da nuvem de cinzas que levantava. Seu rdio continuava a picotar sons, ouviu uma voz, mas no entendeu as palavras. Tocou a buzina e acelerou ainda mais. Os outros veculos o acompanharam. Dirigiu por uma hora e meia antes do fim do campo negro e das cinzas at voltar terra. Quinze minutos depois estava rodando sobre o deserto novamente. Checou a bssola e apontou para o oeste. Os carros um e trs o seguiam e ele dirigia com uma das mos ao volante e a outra segurando um sanduche de rosbife. Veio a manh. Muitas horas depois daquilo, tomou uma plula para manter-se alerta ao gemido do vento. O sol se erguia em um banho de prata direita e trs partes do cu eram de um cinza mbar com linhas finas e escuras como teia de aranha. O deserto cor de topzio e a cortina marrom da poeira pendurada continuamente atrs dele, perfurada somente pelos oito pontos luminosos dos outros carros. Um tom rseo tomou o deserto enquanto o sol crescia como uma coroa vermelha brilhante e as sombras fugiram no oeste. Escureceu suas luzes enquanto passava prximo a um cacto alaranjado na forma de cogumelo de talvez quinze metros de dimetro. Morcegos gigantes voavam para o sul e adiante, na distncia, viu uma cachoeira descer dos cus. Foi antes que alcanasse a areia mida daquele lugar, onde um tubaro morto jazia esquerda, e algas, algas e mais algas, e peixes mortos jaziam por toda parte. Engoliu um frasco de gua gelada e sentiu-a chegar em seu estmago. Passou por mais cactos, e um par de chacais sentados na base de um deles, prestando ateno. Pareciam rir. Suas lnguas eram muito vermelhas. Enquanto o sol brilhava, escureceu as telas. Fumou e encontrou uma tecla que ligava a msica ambiente. Checou os nveis de radiao l fora e estavam apenas um pouco acima do normal. Da ltima vez que passara por ali estavam consideravelmente muito acima. Passou por alguns veculos abandonados, parecidos com o seu. Cruzava a plancie de silcio onde, ao centro, havia uma gigantesca cratera que ele margeava. O rseo do cu foi escurecendo cada vez mais at que um tom avermelhado o substituiu. As linhas negras continuavam l e ocasionalmente tornavam-se um rio negro que despencava no leste. tarde, uma dessas linhas eclipsou o sol por quase onze minutos. Quando partiu, deixou uma tempestade de areia em seu lugar e Tanner teve que ligar novamente as luzes e o radar. Sabia que havia um precipcio em algum lugar frente e antes de entrar na tempestade, tomou a esquerda por quase dois quilmetros antes que desaparecesse. Os outros veculos o seguiram e Tanner novamente fez uso da bssola. A poeira foi substituda por um vento forte e, mesmo com as telas com o brilho reduzido, Tanner colocou os culos escuros para se proteger da luz refletida do sol no solo o qual atravessavam. Passou por formaes que pareciam ser quartzo. Nunca havia parado para investigar no passado e no desejava comear agora. Uma luz espectral danava na base destas formaes refletindo a luz para bem distante. Afastando velozmente da cratera, chegava novamente onde as areias eram claras, depois marrons, depois brancas, depois traioeiras depois vermelhas. E mais cactus e enormes dunas de areia. O cu continuava a mudar at finalmente ficar azul como os olhos de um beb. Tanner estava cantarolando por um tempo quando viu o monstro. Era um lagarto Gila, maior que seu carro e se movia rpido. Saiu das sombras do vale de cactus e veio correndo na sua direo; seu corpo brilhava com diversas cores ao sol, os olhos negros que no piscavam, movendo-se sobre suas pernas rpidas de lagarto, deixando uma nuvem de poeira atrs de sua cauda, que era grande como a vela de um barco grande e pontuda como um espinho. No poderia usar foguetes, pois vinha lateralmente. Acionou as calibre cinqenta e as lminas enquanto apertava o acelerador at o cho. Quando se aproximou Tanner acionou o lana-chamas, mandando uma nuvem de fogo na sua direo. Os outros carros tambm abriram fogo. O monstro balanou sua cauda e fechou as presas e muito sangue foi ao cho. Ento um foguete o acertou e ele foi atirado de lado, tombando sobre um dos carros. Fez-se ento um som enorme de metal se retorcendo. Vinha do carro nmero um. Tanner freou, num cavalo-de-pau. O carro trs fez o mesmo, alinhando-se ao seu lado at ambos pararem. Tanner saltou da cabine e correu at o veculo destroado. Tinha o rifle na mo e atirou seis vezes na cabea do monstro antes de se aproximar. A porta do carro um estava aberta, pendurada em uma nica dobradia inferior. Tanner viu os dois homens desacordados dentro do carro e havia algum sangue no painel e no assento. Outros dois motoristas vieram e olharam fixamente. Ento o mais baixo dos dois rastejou para dentro e aguardou at escutar a pulsao e a respurao deles. Mike t morto disse, mas Greg est acordando. Uma mancha comeou a crescer no cho junto da traseira do veculo e continuou crescendo e crescendo e o cheiro de gasolina encheu o ar. Tanner pegou o cigarro da boca, apagou e guardou no mao. Podia ouvir o som dos tanques rompidos derramando combustvel. O homem ao lado de Tanner disse: Eu nunca vi uma coisa dessas... j tinha visto fotos, mas... nunca vi nada parecido com aquilo... Eu j disse Tanner e ento o outro motorista saiu das ferragens, puxando o homem que chamara de Greg. Greg est bem. S bateu com a cabea no painel. O homem junto de Tanner disse: Leve ele com voc, Hell. Ele pode te substituir, depois, quando estiver melhor. Tanner riu e deu as costas para eles e acendeu o cigarro. Eu penso que voc no deve... comeou a dizer um deles. Dane-se disse Tanner e soprou a fumaa bem na sua cara. Greg tinha olhos e cabelos negros e era bem bronzeado, um tipo ndio ou algo assim. Era to grande quanto Tanner, mais de um metro e noventa de altura, mas no to forte. Vestia um macaco de oficina. Greg ficou de p, respirando profundamente. Temos que enterrar o Mike, disse o baixinho. Detesto perder tempo disse seu companheiro mas Ento Tanner atirou seu cigarro aceso, pulando quando o cigarro encontrou a piscina de gasolina que saia do carro danificado. O carro explodiu, chamas e mais exploses. Os foguetes armazenados explodiram e riscaram o cu de fumaa, tornando mais quente o ar da tarde. A munio das calibre cinqenta explodiu em seguida, assim como as granadas de mo e Tanner se enfiou na areia cada vez mais, cobrindo a cabea e os ouvidos contra o barulho e os destroos. Assim que a coisa toda acalmou, esticou sua mo para o rifle. Algum apontava uma pistola para ele. Levantou-se lentamente com as mos para o alto. Maldio! Por que fez uma coisa estpida dessas? Disse um dos motoristas, o que apontava a pistola. Tanner sorriu e respondeu: Agora no precisamos enterr-lo. Cremao tambm bom e j acabou. Voc poderia ter nos matado se aquelas metralhadoras ou os lanadores estivessem apontados para a gente! No estavam. Eu vi. Um pedao de metal poderia... droga. Pegue a porcaria do rifle e deixe ele apontado pro cho. Tire as balas e ponha no bolso! Tanner fez o que mandou enquanto o outro falava: Voc tentou matar a gente, no foi? Ento ia porde fugir, como tentou ontem. No ? voc quem est dizendo disse Tanner no eu. verdade, eu sei. Voc no d a mnima para aquela gente l em Boston. Minha arma est sem balas, cara disse Tanner. Volte ento para seu maldito carro e vamos embora! Eu vou ficar bem atrs de voc! Tanner voltou pro carro. Ouvia os outros falando, mas no achava que atirariam nele. Quando estava prestes a entrar na cabine, viu uma sombra se aproximar. Era o homem chamado Greg, alto e calado, como um fantasma de macaco. Quer que eu dirija um pouco? Perguntou a Tanner sem nenhuma expresso no rosto. No, descanse. Estou bem. Quem sabe mais tarde, talvez, se voc estiver legal. O homem concordou com a cabea e deu a volta para subir pelo outro lado. Ao entrar, reclinou seu assento. Tanner bateu a porta e ligou o motor. Ouviram o som do ar condicionado voltando a funcionar. Quer recarregar isso? Perguntou com o rifle numa mo e as balas em outra. O outro pegou o rifle e as balas. Tanner tirou as luvas e disse: Tem um monte de refrigerantes na geladeira. No tem mais muita coisa no. O carro trs estava se movendo. melhor a gente comear a rodar! Disse Hell engatando uma marcha e tirou o p da embreagem. Charles Britt estava ouvindo o sino. Seu escritrio ficava na diagonal da catedral, do outro lado da rua e cada repique do grande sino fazia com que as paredes tremessem; contemplava o livro fiscal, que para ele havia perdido seu sentido e estava lhe causando apenas mal estar. Penteou uma mecha do cabelo branco para trs e ajustou os bifocais. Virou uma pgina do calhamao e abaixou a cabea para ler o rodap. Perdas apenas. Se ao menos tivesse comprado uma farmacutica. Patentes medicinais e aspirinas pareciam ser as nicas coisas que davam retorno financeiro certo. O negcio de roupas estava fora. Todos se viravam como podiam. O ramo de alimentos era suspeito. Ferramentas e material de reparo no tinham sada. Quem fazia reparos hoje em dia? Quem se importava? Soltou uma praga e virou a pgina. Ningum estava trabalhando, ningum estava comprando. Trs cargueiros aguardavam no cais, incapazes de serem descarregados, por conta da quarentena. E a pilhagem? Tinha perdido trs lotes para os malditos saqueadores. Era certo que as companhias de seguros encontrariam uma maneira de reembols-lo. Muito de seu dinheiro foi pelo seguro. Pelo menos a polcia estava atirando para matar aqueles saqueadores. Sorriu. Um chuva leve lavou sua janela, escondendo a catedral alm. Sentia um pouco de pena do pregoeiro debaixo de chuva, que gritava pelo quarteiro, competindo com o montono chamado do sino da morte. Charles Britt fora uma vez tambm pregoeiro, muitos anos atrs, quando suas calas eram curtas e seus olhos no dependiam de lentes. Naqueles dias ele odiava a chuva. Ningum estava usando dos seus txis. Carros fnebres e ambulncias ficavam com todo o negcio e ele no possua nem um nem outro. Ningum estava comprando armas ou munio. Com a populao reduzida, no havia gente o bastante para ser ofendida ou se defender. Ningum ia aos seus cinemas, pois j havia drama o bastante para preencher a vida de cada ser vivo. E ningum, ningum mesmo estava comprando a ltima edio do seu jornal, edio especial,eita de forma herica com um dcimo do pessoal, para no mencionar o extra que pagara pela produo da coisa. A Edio da Praga saa com uma chamativa primeira pgina de bordas pretas, com um exclusivo artigo intitulado A praga atravs da histria escrito por um professor de Harvard, um artigo mdico sobre os sintomas das pestes, deixando-o saber que variedade da praga estava o matando; seis pginas e meia de obiturios, cem entrevistas de interesse humano, com pais, mes, irmos e irms, vivos e vivas e um excitante editorial sobre os hericos motoristas dos seis veculos que seguiam para a costa oeste. Quase chorava ao lembrar das pilhas de jornais envelhecendo nos estoques, para nada, to inteis quanto notcia velha, mesmo com a atraente primeira pgina de bordas negras A nica coisa que ainda o fazia sorrir era a ltima pagina do livro fiscal. Ele conseguira colocar as mos, no ltimo minuto, em sessenta por cento dos caixes da cidade, duas floriculturas (que custavam caro para manter abertas) e algo como cinco mil sepulturas. Compre na baixa, sempre fra sua filosofia, para no dizer sua religio, sexo, poltica e tica. De alguma forma, servia para equilibrar a situao, possivelmente no lhe dando nenhum lucro. Se a morte era o negcio do futuro, ele estava garantido. Aguou a audio e ouviu novamente os gritos, meio abafados pelo sino. para serem queimados! Aquilo o incomodava. Enquanto ouvia o anncio ser repetido, lembrava-se do artigo exclusivo A praga atravs da histria. do professor de Harvard. As casas funerrias, hospitais e necrotrios ocupavam o papel das antigas casas sepulcrais. Naqueles tempos eles tinham que... sim. ...cremao em massa para evitar que a doena se espalhe gritou o garoto na rua. Os seguintes lugares foram escolhidos e os mortos devem ser entregues nestes locais para serem queimados! Nmero um, O Parlamento de Boston... Charles Britt fechou o livro, tirou as lentes e comeou a limp-las. Depois de quase meia hora o homem chamado Greg disse: verdade o que o Marlowe falou? Quem Marlowe? O cara que est dirigindo o outro carro... que voc est querendo nos matar? Voc quer mesmo dar no p? Hell gargalhou e disse verdade, voc est certo. Por qu? Hell ficou quieto por um minuto ento falou: Porque no? No tenho pressa de morrer. Quero viver um pouco mais. Greg disse Se a gente no conseguir, a populao do continente pode ser reduzida pela metade. Se for uma questo de eles ou eu, prefiro que sejam eles. As vezes eu penso como que existe gente como voc. Do mesmo jeito que todo mundo, duas pessoas se divertem um pouco e ento a confuso comea. O que eles fizeram com voc, Hell? Nada. O que fizeram pra mim? Nada. Nada. O que eu devo a eles? Nada! Por que voc fez aquilo com seu irmo? Por que eu no queria que ele fizesse uma idiotice como essa e acabasse morto. Algumas costelas quebradas podem ser consertadas. A morte um problema mais permanente. No foi o que eu perguntei. O que eu quero saber porque se importa dele se dar mal? Ele um bom garoto, por isso. Ele tem um lance com uma garota, entende, e no consegue enxergar direito agora. E o que isso tem a ver com voc? Como disse, meu irmo, um bom garoto. Eu gosto dele. Como pode? Diabos, ns passamos por muita coisa juntos, tudo! O que voc est tentando fazer? Me analisar? S curiosidade. Agora voc sabe. Se quiser conversar, fale sobre outra coisa qualquer, certo? Ok. Voc j passou por aqui antes, certo? Certo. O quanto voc chegou na direo leste? At Missus Hip. Sabe ento o caminho pra l? Acho que sim. A ponte para Saint Louis permanece l. E por que no a atravessou da outra vez? T brincando? A coisa est cheia de carros cheios de ossos. No valia a pena! Pra comear, por que foi to longe? S pra ver como era l. Eu tinha ouvido umas histrias e queria dar uma olhada... E como era? Um monte de lixo. Cidades queimadas, grandes crateras, animais esquisitos, algumas pessoas... Pessoas? Tem gente viva ainda? Se voc puder chamar de gente... So uns selvagens fudidos. Usam trapos ou peles de animais ou esto nus. Me atiraram pedras e tive que matar dois deles. Ento me deixaram em paz. Quando foi isso? Seis, sete anos atrs. Eu era s um garoto. Como voc nunca contou isso pra ningum? Eu contei. Prum monte de amigos. Ningum me perguntou mais nada. A gente ia at l, pegar umas garotas e trazer pra cidade, mas os caras amarelaram. E vocs iam fazer o qu com elas? Sei l... transar e vender depois, eu acho. Caras como voc faziam coisas assim, l para Barbary Coast, vendiam pessoas, no ? Era. Antes da Grande Batida. E como voc conseguia viver por l? Achei que tivessem limpado o lugar. Cumpria pena, disse Hell - A.M.A. O que isso? Assalto a mo armada. E depois que te deixaram sair, o que voc fez da vida? Fui reabilitado. Me deram um emprego nos correios. Ah sim, ouvi falar. No sabiam quem voc era. Eles acharam que voc era um cara legal, pronto para uma promoo. Ento voc acertou seu chefe e perdeu o emprego. O que aconteceu? Ele estava me enchendo por causa da minha ficha e sobre a minha velha gangue na Costa. At que um dia eu disse pra ele se danar e ele riu, a eu o acertei com uma cadeira. Arranquei os dentes da frente do filho da puta. E faria de novo. Isso ruim. Eu era o melhor motorista que ele tinha. Ningum mais fez a corrida de Albuquerque at hoje. A no ser que estejam precisando muito da grana. Voc gostava do trabalho, quer dizer, quando trabalhava? , gosto de dirigir. Voc devia ter pedido uma transferncia quando o cara comeou a te encher. Eu sei. Se acontecesse hoje era o que eu provavelmente faria. Mas eu era bravo e costumava enlouquecer mais rpido do que hoje. Acho que estou mais esperto do que naquele tempo. Se voc conseguir fazer esta entrega, pode conseguir de volta seu emprego. J pensou nisso? Em primeiro lugar disse Tanner No acho que a gente vai conseguir. Em segundo, se a gente chegar l e tiver gente viva ainda, seria melhor ficar l do que voltar. Greg concordou. Esperto. Voc seria um heri. Ningum l conhece a sua ficha. Vo achar que voc um cauito bom. Que se danem os heris disse Tanner. Quanto a mim, vou voltar, se tudo der certo. Pra Cape Horn? Isso a. Vai ser divertido. Mas voltar pr qu? Tenho minha velha me e um monte de irmos e irms pra cuidar e tenho uma garota por l. Tanner acertou o brilho da tela conforme escurecia. Como a sua me? Uma boa senhora. Criou ns oito. Mas est sofrendo com artrite. E como voc era quando garoto? Ela trabalhava durante o dia, mas cozinhava nossas refeies e algumas vezes nos dava doces. Fazia nossas roupas tambm. Contava histrias pra gente, como as coisas eram antes da guerra. Brincava conosco e quando conseguia, nos dava brinquedos. E seu velho? Perguntou Tanner depois de algum tempo. Bebia de monto, teve vrios empregos mas nunca batia em ns. Ele era legal, foi atropelado por um carro quando eu tinha uns vinte anos. E ento voc ficou tomando conta de todos? Isso. O filho mais velho. E o que voc fazia? Peguei o seu antigo trabalho. Eu entregava o correio em Albuquerque. T me gozando? No. Maldio! O Gorman ainda supervisor? Aposentou-se ano passado por incapacidade. Maldio! Isso muito engraado! Olhe, em Albuquerque voc ia a um bar chamado Pedro? Estive por l. Eles ainda tem uma garota loira que toca piano? Margaret? No. Oh. Tem um cara agora. Um gordo com um anel enorme na mo esquerda. Tanner assentiu e acelerou assim que comearam a subir uma colina. Como est sua cabea agora? perguntou quando chegaram ao topo e comearam a descer pelo outro lado dela. Est bem. Tomei uma aspirina com soda. Sente-se bem para dirigir um pouco? Claro, posso sim. Ok. Tanner buzinou algumas vezes e freou. Apenas siga a bssola por cem quilmetros e ento me acorde. Certo? Certo. Trocaram de assentos e Tanner reclinou o seu, acendeu um cigarro, fumou a metade dele e caiu no sono. O sino abafava cada stima palavra sua, mas desde que tinha dito suas palavras mais de sete vezes, nada foi perdido pelos oito ouvintes atentos que ocupavam os bancos frente dele: cinco mulheres e trs homens de idades diversas. Outros vieram, parando distncia prximos luz da entrada, escutaram por um tempo, depois partiram apressados, debaixo de uma chuva leve que comeava a cair. O que ele dizia no era uma novidade para eles. Seu colarinho de padre estava frouxo e tinha uma bandagem na mo direita que lhe parecia mais suja cada fez que gesticulava, o que era freqente. Sua barba era recente, seu traje negro e tradicional. As marcas esto no meu corpo...elas me dizem que meus dias esto... disse, seus olhos negros e midos como a noite e a chuva e brilhantes como a luz entrada. e eu digo que isso o julgamento. Ns todos ...cada um de ns, homem...e criana, julgados aqui...os dias, culpados!... e isso causou esta coisa...sobre ns, podem estar certos disso! ...nada mais... Nossas vidas! E agora... fria por aqueles cada palavra correndo como bestas... e a corrupo tornando os homens... com sete cabeas e sete chifres... quem vai... seguir... o final, os selos quebrados... os quatro cavaleiros... estaro aqui esta noite... para nos julgar, e somente... pode nos salvar... a resposta! A verdade... pode ainda nos salvar... podemos...? Est em seus coraes! Ele baixou a cabea, juntou as palmas das mos, e continuou lutando contra o sino. Quanto tempo mais? Quanto tempo mais? meu gritou At que a humanidade perceba que E os cus estavam cheios de sinais criptografados e indecifrveis, como aquela luz azul que saltava de um plo a outro do planeta. Quando Greg o acordou j era noite. Tanner tossiu e bebeu um gole de gua gelada e foi at a latrina. Quando voltou de l, sentou ao assento do motorista e checou o contador de quilmetros e a bssola. Corrigiu o curso e disse Chegamos em Salt Lake City antes da manh. Se tivermos sorte... voc teve algum problema? No, foi fcil. Vi algumas cobras, mas deixei quieto. S isso. Tanner engrenou outra marcha. Qual era o nome do sujeito que trouxe as noticias sobre a praga? perguntou Hell. Brady ou Brody, algo assim respondeu Greg. O que foi que o matou? Ele pode ter trazido a praga para Los Angeles, voc sabe. Greg mexeu a cabea negativamente. No. Seu carro estava todo quebrado e ele deve ter ficado exposto radiao por grande parte do caminho. Eles queimaram seu carro e seu corpo e todos que tiveram contato prximo com ele receberam injees de haffikine. O que isso? o que estamos carregando, haffikine antiserum. a nica cura para a praga. Desde que foi descoberta, uns vinte anos atrs, ns a produzimos. Boston no, por isso est morrendo. Parece doentio, que a outra nao do continente, talvez do mundo, no tenha procurado se proteger. Provavelmente tentaram. Eles te deram umas injees antes te soltar? Sim. Era haffikine. Fico imaginando como ele passou por Missius Hip. Ele no disse, no ? Ele mal conseguiu falar. Ficamos sabendo da coisa toda por uma carta que ele levava. Ele devia ser um motorista dos infernos para atravessar o Caminho dos Condenados. sim. Ningum nunca tinha feito isso, no mesmo? Ningum que eu saiba. Gostaria de ter conhecido este cara. Eu tambm. uma pena no podermos nos comunicar atravs do rdio, como antigamente. Por que? Por que ele no precisaria ter feito isso e ns no estaramos aqui. Devem estar mortos de qualquer jeito. Voc pode estar certo, mister, e em um dia ou mais ns chegaremos a um ponto onde ser mais difcil voltar do que seguir em frente. Tanner ajustou o visor. Olha aquilo! No vejo nada! Coloque seu infravermelho! Greg colocou e ento viu. Morcegos. Enormes morcegos enchendo o cu sobre eles, como nuvens negras. Deve ter centenas deles, talvez milhares. Acho que sim. Acho que tem muito mais deles do que quando eu passei por aqui anos atrs. Devem estar trepando por toda Carlsbad. Nunca vi isso em L.A. Talvez sejam inofensivos. Da ultima vez que estive em Salt Lake ouvi falar que eles foram coelhos. Algum dia, um de ns vai estar extinto, ou eles ou ns. Voc um cara encantador como companhia, sabia? Tanner riu e acendeu um cigarro. Por que no faz um caf pra gente? Greg encheu a cafeteira e a conectou no painel. Depois de algum tempo, ela passou a borbulhar e a assoviar. Que diabo isso! Tanner enfiou o p no freio. O outro carro, dezenas de metros atrs tambm o fez. pegou o microfone e disse Carro trs! O que isso parece para vocs? E aguardou prestando ateno naquilo. Elevando-se, as partes superiores afiladas que giraram entre a terra e o cu, balanando dum lado pro outro, varrendo o cho para a frente e para trs, aproximadamente um quilmetro adiante. Pareceu que haviam quatorze ou quinze dessas coisas. Agora pareciam colunas, e elas danavam. Furavam a terra e sugavam a poeira amarela. Havia uma tempestade de poeira sobre elas. As estrelas acima delas no brilhavam ou desapareciam por detrs. Greg ficou olhando e disse Ouvi falar de tornados, enormes, girando e girando, mas nunca tinha visto um, mas parecem do jeito que me descreveram. O rdio fez um barulho e uma voz abafada do homem chamado Marlowe foi ouvida: Diabos gigantes de poeira disse Tempestades de areia rodopiantes. Sugam tudo para o cinturo da morte e no vi nada cair de volta. J tinham visto um antes? No, mas meu parceiro disse que sim. Ele diz que a melhor coisa a se fazer prender as ncoras e ficar por aqui. Tanner no respondeu de pronto. Prestou ateno neles, pareciam crescer, ficando maiores. Esto vindo pra c! disse. No vou estacionar aqui e ser um alvo. Quero manobrar se for preciso. Vou tentar atravessar! Acho que no vai conseguir! Ningum te perguntou! Mas se voc tiver miolos, vai fazer o mesmo! Meus foguetes esto apontados para o seu traseiro, Hell! Voc no vai atirar! No por uma coisa assim, posso estar certo e voc pode estar errado e voc no vai atirar com o Greg aqui. Houve um silncio com esttica e ento ouviram: Ok, voc venceu. V em frente, ns vamos observar. Se voc conseguir, ns te seguimos, seno, ficamos por aqui! Vou disparar o lana chamas quando chegar do outro lado disse Tanner ento voc vo vee faro o mesmo, ok? Ok. Tanner desligou e olhou estudando as gigantescas colunas negras. Algumas camadas de luz rompiam a tempestade, e o ar era nevoento na obscuridade de seus troncos. vamos l disse Tanner acendendo todas as luzes no mximo. Prenda as correias, menino e Greg obedeceu enquanto o veculo saltou para a frente. Tanner prendeu seus cintos de segurana enquanto avanavam lentamente. As colunas cresciam conforme avanavam, e ele pode ouvir o coro do vento cantando. Ele desviou do primeiro que tinha uns trezentos metros de largura e continuou esquerda, evitando outro que vinha crescendo. Assim que o fez, surgiu outro e depois um espao vazio de talvez duzentos metros frente, direita. Acelerou por ali passando entre duas torres semelhantes a pilares de bano de cem metros de largura. Assim que o fez, um pneu quase foi rasgado e pareceu ter penetrado o habitar de um trovo eterno. Virou a direita e desviou de outro ainda acelerando ao mximo. Ento viu sete outros, tomou o caminho entre dois deles e passou. Aquele que ficou para trs pareceu se mover e persegui-lo. Mais um outro veio esquerda. Foi surpreendido pelos ltimos quatro e freou, as tiras do cinto lhe feriam os ombros, e dois torvelinhos se chocaram violentamente. Um passou adiante e outro por trs e a frente do carro foi atirada pro alto. Hell apertou o acelerador de novo e ultrapassou os ltimos dois, deixando-os para trs. Continuou por uns trezentos metros e ento virou o carro sobre uma pequena elevao e estacionou. Acionou o lana-chamas em uma chama nica, como uma estrela cadente, por quase meio minuto. Acendeu o cigarro e recostou-se esperando. O cigarro chegou ao fim. Nada, disse talvez eles no puderam ver o sinal ou ns no conseguimos ver o sinal deles. Espero que sim disse Greg. Quanto tempo voc quer esperar? Vamos beber aquele caf. Uma hora se passou, e ento duas. Os pilares comearam a enfraquecer, at s sobrarem trs deles, bem mais finos. Moveram-se para o leste e sumiram de vista. Tanner disparou outra chama e ainda assim nenhuma resposta. Melhor a gente voltar e procurar por eles. disse Greg. Ok. E o fizeram. No havia nada l, nada que indicasse o destino do carro trs. A alvorada chegou antes de terminarem as buscas e Tanner virou o carro, checou a bssola e tomou a direo norte. Quando voc acha que chegaremos a Salt Lake? perguntou Greg depois de um longo silncio. Talvez em duas horas. Voc teve medo l atrs quando atravessamos aquelas coisas? No. Mesmo assim, no me senti bem. Greg concordou. Quer que eu dirija? No. No vou conseguir dormir. Vamos abastecer em Salt Lake, conseguir algo pra comer enquanto um mecnico verifica o carro. Ento, voltamos pr estrada e voc pode dirigir enquanto eu descanso. O cu estava prpura novamente, com faixa negras. Tanner dirigia rpido. Disparou duas vezes o lana-chamas em dois morcegos que decidiram atacar o carro. Eles caram e Greg lhe ofereceu caf. O cu j estava escuro quando chegaram a Salt Lake City. John Brady, era seu nome, havia passado por ali alguns dias atrs e a cidade estava aguardando por um carro de resposta. Quase todos os duzentos habitantes da cidade apareceram na avenida e antes que Hell e Greg saltassem do carro no primeiro posto-garagem que encontraram, a tampa traseira do carro dois foi aberta e trs mecnicos j verificavam o motor. Um deles veio falar com eles. Era baixo, queimado de sol e sujo de graxa, fazendo seus olhos parecerem mais brilhantes do que eram. Sorriu revelando os dentes encapados de ouro. Ol, sou Monk disse vocs devem ser os caras que vo pra Boston, no? . Mandarei os rapazes verificarem tudo. Vai levar umas das horas. Quais so seus nomes? Sou Greg. Hell disse Tanner. Hell? Hell ele repetiu. Onde podemos fazer um lanche? Tem um restaurante do outro lado da rua. Mas julgando pela multido l fora, nunca vo chegar l. Por que eu no mando um dos rapazes pegar algo pra vocs? Podem comer no meu escritrio! Ok. Achei que iriam mandar mais do que um carro. Mandaram. Perdemos dois. Oh, sinto muito. Sabem, falei com aquele sujeito, Brady, quando esteve aqui. Disse que Boston havia mandado seis carros. Ele parecia bem mal, e seu carro parecia que tinha sado de uma guerra. O presidente pediu que ficasse, dissemos que poderamos mandar outra pessoa fazer o resto do caminho. Mas Brady no quis ouvir. Ele disse que conseguiria e por Deus, conseguiu mesmo! Maluco disse Tanner. Ele puxou uma arma quando tentamos lev-lo para ver um mdico. No deixou o carro. Eu acho que estava meio louco. Por isso, mandamos um carro dos nossos atrs dele, para garantir que ele entregaria a mensagem. Que carro? perguntou Greg. Ele no...? Greg fez que no, com a cabea. Monk puxou um mao de cigarros do bolso do peito do macaco. Ofereceu aos outros antes de tirar um para si e acender. Achava que o nosso mensageiro tinha conseguido. S o Brady chegou disse Grag mais ningum. Como est Brady? Morto. Seus escudos estavam em mau estado quando revisamos seu carro disse Monk o sujeito ficou irado quando tentamos entrar. A gente queria que ele pegasse outro veculo, mas ele nos apontou a arma. Por Deus, ele levaria aquele carro at o fim, mesmo quente pela radiao. Ento tentamos arrumar os escudos, mas no era fcil descontamin-lo to rpido. Quando saiu daqui, parecia estar sentado em um forno. Foi por este motivo que mandamos Darver... vamos entrar no escritrio. fez um gesto apontando uma porta verde. Hei, Ruivo! chamou. Um rapaz ruivo deixou de trabalhar no pra-choques e se aproximou, limpando as mos num pano com gasolina. Que , Monk? V se limpar e depoisv at o outro lado da rua. Traga para estes rapazes um caf da manh. Estaremos no escritrio. Ok. Cad o dinheiro? Pegue cinqenta na caixa registradora e deixe uma nota. Certo! disse antes de ir. Assim que entraram no escritrio, Monk fechou a porta e puxou algumas cadeiras. Sentem-se, fiquem vontade. Fechou a veneziana, cortando a viso de quatro caras que espiavam pela janela. Queria desejar-lhes melhor sorte disse Caras, vocs deviam ter visto o estado do tal de Brady quando chegou aqui! Tudo bem disse Greg no precisa ficar nos lembrando disso. Desculpe. No quis voc sabem T bem. Vamos falar de outra coisa! Tanner riu e soprou a fumaa do cigarro em forma de anel. Acha que vai chover hoje? perguntou. Greg abriu a boca e ento a fechou e engoliu o que quer que fosse dizer. Monk levantou uma beirada da persiana e espiou pela janela. Um par de policiais est mantendo o pessoal l fora disse e tem outro carro chegando, pode ser o presidente, mas no estou bem certo. O que ele quer? perguntou Tanner. Dar boas vindas e desejar sorte, eu acho. Greg puxou uma cadeira e sentou-se. Qual a desse presidente? Que se dane! disse Tanner. Somos celebridades disse Greg. Quem precisa disso? No faz nenhum mal. Sim, o presidente disse Monk soltando a veneziana vou l fora falar com ele. Ele estar aqui num minuto. Eu prefiro que venha a comida. Completou ao ver Monk sair. Por que voc assim desse jeito? reclamou Greg. Que jeito? Detestvel! O cara o todo poderoso local e est vindo para dizer algo agradvel pra gente! Por que voc quer arrebentar com ele? Quem disse que vou arrebentar com ele? S estou dizendo. Bem, voc est errado, cidado, serei a criatura mais doce, gentil e o heri mais bajulvel que o bastardo j viu, desde que claro isso sirva para reeleg-lo, claro. Ok? No dou a mnima. Tanner riu. Em algum lugar do prdio o som de uma porta abrindo foi ouvido. Tanner apagou o cigarro pisando-o no cho e acendeu outro. Quem ia querer ser presidente? perguntou, enquanto em algum lugar uma porta era fechada. Greg atravessou a sala indo at um bebedouro. Pegou um copo e serviu-se. Ouviram passos e a porta do escritrio se abriu. O presidente era um homem magro, careca, nariz de gancho e sorria com dentes brancos e pequenos como prolas. Estendeu a mo direita e disse: Sou Travis. Estou muito contente em v-los e receb-los em Salt Lake. Este o presidente disse Monk sorrindo com as mos nos bolsos. Tanner levantou e estendeu sua mo. Meu nome Tanner, senhor. Estou honrado em conhec-lo. Este meu amigo Greg. Estou feliz em voltar a Salt Lake novamente. Est cada dia mais bela! Ol Greg ah, voc ento j esteve aqui? Um nmero grande de vezes. Foi por este motivo que outros jovens motoristas foram preteridos e eu fui escolhido para o trabalho. Eu dirigia um pouquinho antes de me aposentar, sabe? Mesmo? Sim. Eu tenho um rancho pequeno e alguns poucos empregados e passava a maior parte do meu tempo ouvindo musica clssica e lendo filosofia. Algumas vezes escrevia poemas. Quando ouvi falar sobre este servio, pensei, sei que devo humanidade e nao californiana, serei um voluntrio! Afinal, eles tm sido muito bons para mim. Ento por este motivo aqui estou eu visitando a sua cidade mais uma vez. Eu admiro seu esprito, mister Tanner... o que o levou a ser voluntrio, Greg? Eu, bem, eu sou voluntrio por que... sou motorista; levava o correio para Albuquerque. Tenho bastante experincia. Entendo. Bem, ambos sero condecorados. Se tudo sair como esperamos, vocs passaro na volta por aqui, no mesmo? o que eu planejo, senhor! disse Tanner. Muito bom. Ficarei feliz em receb-los a qualquer hora na minha cidade. Talvez possamos jantar e poderei ouvir um relato da viagem. Seria um prazer para ns, senhor. E se algum dia estiver por Los Angeles, espero que pare na cidade e passe algum tempo no meu rancho. Seria delicioso. Tanner sorriu e deixou um pouco de cinza ir ao cho. Estou um pouco receoso quanto a nossa rota aps sairmos da cidade, disse Tanner. A US 40 parece boa distancia, no entanto, ningum pode afirmar. Nunca houve razo para nossos motoristas dirigirem naquela direo. Eu entendo. Mas isso basta. Estava planejando mesmo utilizar a 40 e isso me ajuda bastante. Obrigado. Fico contente por ajudar. J comeram? Um companheiro que aqui trabalha est nos providenciando algo. Estar de volta em breve. Temos que nos apressar, o senhor sabe. verdade. Bem, se existir alguma coisa que eu possa fazer por vocs, basta pedir. Obrigado. Apertaram as mos novamente. Como disse, boa sorte para ambos. Nosso povo estar rezando por vocs. muito gentil, mister Presidente. Nos veremos, ento. Bom dia. Adeus. O presidente saiu junto com Monk que o seguia. Tanner comeou a rir. Pra que aquela conversa toda, Hell? Por que eu sabia que ele acreditaria nela. Por qu? Ele quer que tudo d certo. Ento eu s lhe falei coisas boas e ele acreditou. Por que no? O bastardo imbecil acreditou mesmo naquela historia de voluntrios! Alguns caras foram voluntrios, Hell. Ento por que no deixaram eles dirigirem? No eram bons o bastante. Este o motivo pelo qual foram voluntrios. Agora eles podem se gabar disso. Viu como ele me olhou quando eu falei da humanidade? Odeio sujeitos assim. So apenas um bando de empoados. Pelo menos ele se foi com uma boa impresso. Tanner riu de novo. Ento a porta abriu e Monk entrou seguido de Ruivo que carregava um grande saco de papel. Trouxe o caf de vocs, disse e para Monk, Aqui est o troco!. Enquanto abriam o pacote, Monk que guardava o troco disse: Vou dar uma ajuda nos acertos do carro enquanto vocs comem. Aliais, tem um sujeito l fora chamado Blinky, que diz conhecer voc Hell. Nunca ouvi falar. Ok, vou mand-lo embora. Depois que saiu deixando a porta um tanto aberta, um homem muito alto, com culos de leitura, com um tufo de cabelos brancos entrou por ela. Oi Hell disse. O que voc quer? O que eu posso fazer por voc? Nada. V embora! deste jeito que voc fala com o cara que vai fazer voc rico? Rico? Ouvi o presidente falando sobre a sua propriedade l na costa. Muito legal! Voc fez a maior parte da sua fortuna negociando comigo, voc sabe. Esquea. O que voc tem a? So coisas para Boston. Um cara como voc no estaria fazendo esta viagem a no ser que houvesse um lucro considervel nisso. O que mais voc carrega? Se voc no tiver sumido assim que eu terminar esta torrada, vou te ensinar outras formas de dor. Voc no vai fazer negcios com qualquer outro aqui nesta cidade, Hell. O que est carregando? Doces e maconha como sempre? Herona, quem sabe? Tanner atirou a torrada na boca e da bota, tirou o punhal SS que carregava. Acho que est ouvindo to mal quanto v, Blinky. Disse brincando com a adaga no ar, entre os dedos da mo. A mo esquerda de Blinky segurou a maaneta. Voc no me mete medo, Hell. Precisa de mim nesta cidade. Hell levantou e o esbofeteou. Por que fez isso? Blinky perguntou sem inflexo. Por que foi engraado disse Tanner e chutou suas canelas. Quando o homem caiu de joelhos, Tanner se preparou para fur-lo, mas Greg o segurou: Por Deus! Pare! disse enquanto Tanner acertava um soco no estmago de Blinky. D uma surra no sujeito, mas no precisa mat-lo! Tanner soltou-se de Greg e usou o joelho para acertar violentamente Blinky. Blinky rolou no cho gemendo. Greg segurou Tanner antes que este pudesse chutar o homem. Para com isso, diabos! No existe um nome para isso que voc est fazendo! Certo! Mas tire ele daqui!. OK, eu cuido disso se voc guardar esta faca! Ele todo seu! Greg o soltou e levantou o homem do cho. Tanner guardou seu punhal e voltou ao caf. Greg arrastou o homem para fora do escritrio. Voltou depois de alguns minutos. Menti sobre o que aconteceu disse e acho que eles acreditaram em mim, talvez por que o sujeito tem um passado criminoso. Mas por que voc fez aquilo? Ele me encheu. Por que? Ele um traficante miservel, no iria aceitar um no como resposta. Isso era motivo de fazer o que voc fez com ele? Tambm foi divertido. Voc um maldito miservel! Sua torrada est esfriando. O que voc teria feito se eu no o detivesse? Matava ele? No. Provavelmente arrancaria alguns dentes dele com aquele alicate ali na mesa. Greg sentou-se e olhou os ovos. Voc deve ser louco ou coisa assim. Quem no ? Talvez. Mas aquilo foi to... Talvez voc no tenha entendido, Greg. Eu sou um anjo. Sou o ltimo anjo vivo. Sou um anjo desde antes que trocamos nossas roupas boas por estas de couro, por conta das malditas tempestades. Sabe o que isso significa? Que eu sou o ltimo, e tenho uma reputao a manter! Ningum mexe com a gente ou ns mostramos pra eles! isso! Agora, este traficante otrio vem me pressionar s por que ele tem um carro envenenado em algum lugar l fora e ele pensa que eu estou indo fazer a entrega pra algum. Ento ele vem aqui e tenta me tratar como se eu fosse um daqueles quadrades l fora. Eu tinha que lhe dar uma lio, entende? Dei uma chance para ele se calar e ele no quis. Ento era uma questo de honra. Tinha que mandar ver. Mas voc no est mais numa gangue. Voc apenas um homem. O ultimo catlico no era o Papa? Acho que voc no vai durar muito tempo, Hell. Tambm acho. Mas voc tambm no vai viver muito mais do que eu. Tirou a tampa da cafeteira e bebeu um gole e arrotou. Felizmente acertamos as contas tambm. Nunca gostei do desgraado! Por que ele escolheu voc? Por que eu era um bom motorista. Eu trouxe a gente at aqui, no foi? Greg no respondeu e Tanner levantou e foi at a janela. Afastou as persianas e olhou para fora. A multido diminuiu. A maioria est agora do outro lado da rua. Olhou para o relgio e disse Era melhor que a gente j estivesse a caminho. Odeio perder a luz do dia nesta cidade. Greg no disse nada ento Tanner abriu a gaveta de um arquivo, olhou dentro e a fechou. Tomou um copo de caf e acendeu um cigarro. Eu imagino o que eles esto fazendo com nosso carro... Greg finalmente acabara de comer e atirou os restos na cesta de lixo. Pegou os de Tanner e atirou no lixo tambm. Voc um porcalho. disse. Tanner olhava de novo pela janela. Eu vou achar o responsvel. disse Greg e saiu. Tanner ainda ficou um tempo ali e s deixou o lugar depois de acabar de fumar. Foi at onde os homens trabalhavam no carro. Como est? Tudo est ok! Viu o sujeito que se feriu? . Parecia mal, com todo aquele sangue... Vai trocar o leo? Vou. Quanto tempo at ficar pronto? Talvez uma hora. Este lugar tem uma porta dos fundos? V at aquele carro vermelho e vire esquerda, ento vai ver. Sabe se tem algum l fora? Acho que no. s mato e o nosso ferro velho. Tanner grunhiu e foi para o fundo da loja. Abriu a porta, olhou l fora ento saiu. O ar estava quente, com cheiro de graxa e leo de banana e gasolina, e no era noite de verdade, mas j estava escuro. Ficou algum tempo parado esperando a viso se ajustar. Viu um velho assento de carro e foi se sentar nele, com as costas contra o concreto cinza, ouvindo os rudos dos gafanhotos no mato e acendeu outro cigarro. Atirou o fsforo contra uns pra-choques e eixos de motor enferrujados, ouviu o pio de um pssaro acima dele e matou um mosquito. Sentiu a brisa fria tocar-lhe o rosto e chegar com uma promessa de chuva, que no era de todo bem vinda e inalou a fumaa do cigarro. Atirou uma pedra num rato que saia do lixo, mas errou. Ele tramava mentalmente entre as lembranas violentas do passado e o medo de saber dos problemas que ainda estavam por vir. Por trs de seus olhos, a viso de chamas, chamas partindo do seu carro, como uma flor da morte, dois esqueletos enegrecidos dentro dele e toda a munio sendo consumida em exploses espantosas e todos aqueles quadrades que uma vez o odiaram, ou seja, todo mundo, gritando, bebendo, batendo seus canecos num circulo danando ao redor do fogo. Malditos todos vocs disse suavemente e um risco de branco no cu tornou-se largo como um dedo em riste e ento veio um trovo como um riso. Permitiu-se lembrar dos dias em que tinha sido o nmero um, e os pensamentos o incomodaram. Lembrava do fogo e dos tiros daquela noite em que eles tinham atacado a costa e matado quase a turma toda. Depois disso, ele era como um pas sem homens. Agora um outro destino especial, um outro fogo especial tinha cado sobre ele, servir aqueles que o fizeram assim. Sentia falta do seu amor, o farol de um nico olho de sua vida, seu porco, com sua embreagem de quatro velocidades, da transmisso da Harley-Davidson, os dois carburadores grandes explodindo o poder entre suas coxas, os manetes do guido nas mos, o perfume infernal de borracha queimada e a fumaa expelida pelos canos de descarga ardendo suas narinas. Tinha se ido. Pra sempre. Desmontada e vendida para pagar as dvidas dos estragos. O caminho de tudo quanto metal. Agora no ferro velho s suas costas. Quem sabe. A mquina tinha sido sua esposa, maldio, e devia merecer algum pranto em sua morte, em seu lugar e no to ao leste. Xingou e pensou no irmo. Tinha passado mais de um ano desde que o vira. E tinha uma grade entre eles e tinha um guarda na sala, que permitiu que apertassem as mos e fumassem, pois tinham, diabos, muita coisa para conversar. Provavelmente seu irmo agora estava amarrado numa cama em algum lugar. Salvo do fogo e do ferro velho, j era alguma coisa, de todo jeito. Ele era o nico quadrado que valia a pena ser salvo, decidiu Hell. Acendeu outro cigarro e atirou a velho alem de um entulho. Um rato correu. Lembrou de sua iniciao. Tinha dezesseis naquela poca. O balde era passado e ele, alto e orgulhoso em sua jaqueta e seus metais e ponteiras e bottons e totalmente bbado, ele no se deixava mandar. Um por um, eles urinaram no balde. Quando terminaram, o viraram sobre sua cabea. Este fora seu batismo de anjo. Manteve aquele fedor por quase um ano e aos dezenove ele era o Nmero Um. Ele os liderava nas lutas, todos sabiam seu nome e no ficavam em seu caminho. Ele era Hell e sua turma era dona de toda Barbary Coast. Iam onde queriam ir e faziam o que queriam fazer, at o dia em que se envolveu em srios problemas e depois disso, foram dias sombrios para a Costa. A cidade estava sempre pegando fogo por conta daquela coisa que caia do cu. Sua gangue era a maior, mas um dia se acabou. Sua cela tinha seis por oito e a dividia com um homem que havia assassinado garotinhas, bem, isso no foi muito prudente. Depois de tentar mat-lo, o trancaram numa solitria. Ao menos era prefervel ao ficar junto ao manaco de olhos azuis com quem o haviam colocado. Craig s vezes espumava pela boca, at que um dia Hell o acertou e a espuma virou sangue. Agarrou seu pescoo passando seus dedos com fora ao redor at quebrar. Eles pensavam que Hell ficaria louco na solitria, contaram depois de transferi-lo para uma cela s sua, meses depois. Pensavam que por ser um homem de gangue precisaria de companhia. Eles no entendiam. Pensaram que a gangue era de anjos e que um anjo sozinho era um vagabundo. Eles estavam errados, pensou. Ele no ficou louco ou ao menos no admitiria ter ficado. Apenas se sentou. No inventou jogos nem contou nmeros, s ficou sentado. Sabia que eles no podiam feri-lo. E ele esperou. Pelo que, no sabia. Por isso, pensou. Por isso ele esperou, o dia em que estaria sentado ali, pensando na grande mquina. O que era aquilo? Fogo? Provavelmente era fogo, olhou para o cu e inalou fundo. Matou outro mosquito. Ainda tinha o cheiro de chuva e queria um drinque. Os gafanhotos emudeceram assim como o pssaro. A luz se derramou do cu sobre o mundo uma vez mais, branca e brilhante. O cu se abriu, como um mar de fsforo lavando e tudo se encheu com um brilho pouco natural, cada pedao de lixo no ferro velho atrs dele pareceu voltar vida, e ele quase podia ouvir a conversa sobre os detalhes de sua vida sem sentido pelas estradas restantes neste mundo. Os ferro-velhos falavam sobre ele, quando ouviu a voz de Greg; T quase pronto Hell timo! O que voc est fazendo a? Pensando. A porta bateu. Tanner sentou-se l por minutos mais e uma chuva leve comeou a cair, levando aquele brilho estranho do mundo, silenciando o ferro velho, os pssaros e os ratos em seus buracos, apagando seu rosto, manchando as botas, semeando um odor de cinzas sobre a Terra. Levantou-se e entrou na garagem, sacudindo gotculas da barba. Tudo pronto disse Monk apontando o carro No quer esperar at a chuva parar? No. Vai comear a escurecer logo. Provavelmente. Foram para um das janelas, respirar e observar a chuva. L fora as pessoas ainda permaneciam nas ruas. Bando de imbecis disse Tanner Ser que no sabem que devem sair da chuva? Esto determinados a ver vocs. Bem, ns vamos dar um show para eles, queimando os pneus pra longe daqui. Pode ir abrindo os portes agora, Monk. Obrigado pelo caf. disse Greg. Era o mnimo que podia fazer. O que aconteceu com aquele cara? perguntou Greg. Quem? Blinky. Aquele que sofreu o acidente. Oh, est no hospital. Os policiais os levaram para os primeiros socorros e ele teve um ataque do corao por l. Esto lhe dando oxignio agora. Ele um pequeno vigarista, tem uma ficha do tamanho do seu brao, no vale um centavo! Isso ruim. Monk riu o que se ganha bebendo e caindo por a. Ento, vocs vo pegar a 40? Greg olhou para Hell. isso a Tanner disse Quem come os Monstros Gila? Huh? Temos grandes cobras que os Gilas comem, alm de outras coisas como bises e coiotes e Deus sabe o que mais e tem estes morcegos gigantes que comem frutas das rvores por todo caminho at o Mxico, algumas aranhas esquisitas que se alimentam de qualquer coisa que caia na suas teias. Mas quem come os Gilas? Um rapaz chamado Alex l em Los Angeles, dizia que desde que tudo come outra coisa, ento algo deve comer os Gilas. No pude responder. Voc sabe? As borboletas disse Monk foi o que eu ouvi dizer. Borboletas? ! Voc vai ter sorte se nunca as encontrar. So maiores que filhotes de gato, pousam no pescoo dos Gilas e do ferroadas at atordo-lo. Ento depositam seus ovos. Depois de chocados, as lagartas se alimentam dos lagartos paralisados. Sei. Ento quem se alimenta das borboletas? perguntou Greg. Diabos me levem se eu sei! Talvez os morcegos. Existe um mundo inteiro l fora, onde outro existiu por centenas de anos e as coisas continuam mudando rapidamente. Duvido que algum saiba o que cada um come. Huh. Tenho um pressentimento que qualquer um que for procurar vai encontrar rapidamente o que aguarda os humanos. Obrigado disse Greg por tudo, foi um prazer conhec-lo, Monk! At logo. Apertaram as mos. Duvido disso disse Tanner Acho que nunca mais irei v-lo, mas obrigado pela bia. Talvez voc oua falar da gente algum dia. Boa sorte. Todos estamos torcendo por vocs. Tanner atravessou o caminho at o veculo, abriu a porta e subiu para o assento do motorista. Logo depois, Greg sentou ao seu lado. Voc nem apertou a mo dele disse. No gosto de apertar mos disse Tanner a maioria dos cidados se preocupa menos quando faz isso. Voc estica uma mo vazia e isso significa que no tem uma faca nela, isso tudo, se for canhoto, esto ferrados. E vice-versa. Agora, eu sou canhoto, ento poderia fazer isso, mas no dou a mnima. Se a pessoa for amiga, no precisa apertar minha mo para provar. Ele saber e eu saberei tambm. Voc encontra algum e de repente sabe que algo aconteceu. No precisa de mais nada. Nada. So amigos. No precisa de todo aquele protocolo que vai desaparecer com os velhos. isso. Fecharam as portas e Tanner ligou o motor. Ficou ouvindo-o por um tempo ento ligou os visores. O grande porto da garagem fora aberto e ele buzinou uma vez. Vamos rodar! Houve uma ovao quando saram para a rua e aceleraram em direo leste. Podia ter tomado uma cerveja disse Tanner maldio!. E alcanaram a entrada que uma vez foi conhecida como a rota US 40. Tanner trocou de assento e esticou-se no assento de passageiro. O cu continuava sombrio sobre eles, mudando pouco de aparncia daquele que encontrara em LA um dia antes. Talvez possamos escapar dele Disse Greg. Espero que sim. Um pulso azul comeou ao norte, inflamando-se como uma brilhante aurora. Corra! gritou Tanner Corra para o alto daquelas colinas frente. Talvez possamos encontrar um abrigo ou uma caverna. Mas aquilo desabou antes que pudessem chegar nas colinas. Primeiro veio o granizo depois o bombardeio pesado. As grandes rochas se seguiram e o scanner da direita pifou. As rochas o arrancaram e ficaram sob aquela cachoeira celestial que fez o motor tossir e engasgar. Conseguiram chegar aos morros e acharam um lugar, um vale rochoso onde as paredes possuam salincias que serviam para quebrar a fora da tempestade de vento, areia, p, pedras e gua. Pararam ouvindo os ventos gemendo e gritando ao redor. Fumaram e ouviram. No vai dar disse Greg voc tinha razo, eu achei que que a gente tinha uma chance, mas no, tudo est contra ns, at o clima. Temos uma chance disse Tanner Talvez no seja boa, mas tivemos sorte de chegar to longe. lembre-se disso. Greg cuspiu dentro da lixeira. Por que este otimismo repentino? Logo de voc? Eu estava doido e falei muita coisa. Bem, continuo louco, mas me sinto com sorte. s. Greg riu. Uma sorte dos infernos. D uma olhada l fora disse. J vi disse Tanner Este veculo foi feito para isso e est dando conta. Alm disso, esmos apenas a dez por cento do caminho. Ok, mas que diferena isso faz? Aquilo l fora pode durar dias. Ento vamos esperar que se v. Se esperarmos demais seremos esmagados. Se esperar demais e mesmo se no formos esmagados, no haver como sair daqui. Levarei de dez a quinze minutos para consertar o scanner... Precisamos de olhos de reserva, e se a tempestade durar mais de seis horas, ns iremos de qualquer modo. Ns quem? Eu Porqu? Voc aquele cara que est louco para se safar. Como que de repente resolveu se colocar em risco por minha causa? Tanner deu uma tragada e disse Estive pensando e ento no disse mais nada. Sobre o qu? Greg perguntou. Estas pessoas em Boston Tanner disse. Talvez valha a pena, no sei. Nunca fizeram nada por mim, mas diabos, eu gosto de ao, e odiaria ver o mundo inteiro morrer. Acho que tambm gostaria de ver Boston, ver como ela . E deve ser divertido ser um heri, s pra ver como . No me leve a mal, no dou a mnima praquela gente de l, s no gosidia de tudo ficar como o Caminho aqui, tudo queimado e ferrado e cheio de porcaria. Quando perdemos o outro carro l nos tornados, isso me fez pensar... eu odiaria ver todos acabarem daquele jeito. Eu deveria fazer algo se eu tivesse uma chance, mas s estou te falando como eu me sinto agora. tudo. Greg olhou para longe e riu um riso, um pouco mais vigoroso que o de sempre. Nunca achei que fosse to filosfico. Nem eu. Estou cansado. Me fale dos seus irmos e irms. Certo. Quatro horas depois, a tempestade deu folga e as rochas se tornaram chuva de poeira. Tanner reps o scanner direito e saram dali, passando pouco depois pelo Parque Nacional Rocky Mountain. A poeira e a neblina combinadas limitavam a visibilidade. Pela tarde passaram margem do que foi Denver e Tanner assumiu a direo aps cruzarem aquele lugar que um dia fora o Kansas. Dirigiu a noite inteira e pela manh o cu estava mais claro do que havia estado em dias. Acordou Greg e experimentou seus pensamentos e seu caf. Era um sentimento estranho que o invadira, sentado l, com o perdo em seu bolso e as mos no volante. A poeira levantada atrs da passagem do carro. O cu era da cor de botes de rosa e as listras e linhas escuras reapareceram. Ele lembrava do dia em que os msseis caram, queimando tudo de norte a sul, o dia em que os ventos chegaram e as nuvens desapareceram e o cu perdeu seu azul, os dias quando o canal do panam foi destrudo e os rdios deixaram de funcionar. Quando os avies no podiam mais voar. Lamentava, pois sempre quisera voar, alto, como um pssaro, subindo e planando. Sentiu frio e as telas exibiam uma claridade cristalina, como piscinas de gua transparente. Em algum lugar frente, bem distante, estava o que poderia ser chamado de o outro resto de humanidade no mundo. Ele poderia salv-los se chegasse a tempo. Viu as pedras e a areia e parte de um barraco garagem destroado que viera de alguma forma at ao sop de uma montanha. Lembrava que muito tempo antes ele tinha passado por ali. Partida e demolida, meio coberta de entulho, assumia uma forma monstruosa e inflexvel, como um crnio que ocupara certa vez o lugar sobre os ombros de um gigante; apertou mais o acelerador, porm no podia ir mais rpido. O cu brilhava e ele no tocou nos controles das telas. Por que justamente ele tinha que ser o escolhido. Viu uma massa de fumaa subindo frente e direita. Conforme dirigia mais e mais prximo, viu que subia de uma montanha que acabara de perder seu topo e que estava repleta de focos de incndio em seu lugar. Pegou a esquerda, afastando-se quilmetros, muitos quilmetros da rota que havia escolhido. Ocasionalmente o cho tremia sob