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1 RIQUEZA E DOMICÍLIOS DE ESCRAVISTAS E NÃO ESCRAVISTAS NOS CAMPOS GERAIS DO PARANÁ NO SÉCULO XIX Rogério Vial 1 Fernando Franco Netto 2 Introdução A pesquisa histórica traz aos seus praticantes um sabor especial quando adentram no espaço contido nas fontes. Olhá-las, degustá-las, sentir o passado roçando as mãos e os olhos do pesquisador quando este manuseia sua fonte traz um prazer que apenas quem o faz pode sentir. Buscar nas fontes uma maneira de tirar os véus que o passado traz consigo se apresenta como uma tarefa saborosa, mas ao mesmo tempo árdua. No entanto, cabe a nós historiadores essa tarefa, a qual pretendemos aqui apenas apontar alguns meios para a pesquisa e o que a fonte escolhida pode propiciar ao pesquisador. As fontes escolhidas para esse trabalho fazem parte de um acervo do pesquisador as quais foram buscadas nos arquivos da Casa de Cultura Emilia Erichsen 3 e no Museu do Tropeiro 4 na cidade de Castro na região que conhecemos como Campos Gerais 5 do Paraná. São documentos contidos nos processos de inventários do século XIX entre os anos de 1840 e 1860. Compreendemos que o primeiro passo a ser dado se encaminha para uma breve contextualização do que seria Castro e os Campos Gerais nesse período entre 1840 e 1860. Castro, os Campos Gerais e a Província do Paraná. A região dos Campos Gerais constituiu-se como uma importante área na expansão da Colônia Lusitana da América a partir de 1704. Este ano ocorre a primeira distribuição de sesmaria 1 Bolsista CAPES/CNPQ e Mestrando do Curso de História na Universidade Estadual do Centro Oeste – UNICENTRO. 2 Doutor em História – UFPR, Professor Adjunto na Universidade Estadual do Centro Oeste. 3 Casa da Cultura Emília Erichsen, doravante grafado apenas como CCEE. 4 Museu do Tropeiro, doravante grafado apenas como MDT 5 A expressão "Campos Gerais do Paraná" foi consagrada por MAACK, que a definiu como uma zona fitogeográfica natural, com campos limpos e matas galerias ou capões isolados de floresta ombrófila mista, onde aparece o pinheiro araucária. Ver em Reinhard Maack, Geografia física do Paraná (Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.

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    RIQUEZA E DOMICLIOS DE ESCRAVISTAS E NO ESCRAVISTAS NOS

    CAMPOS GERAIS DO PARAN NO SCULO XIX Rogrio Vial1

    Fernando Franco Netto2

    Introduo

    A pesquisa histrica traz aos seus praticantes um sabor especial quando adentram no espao

    contido nas fontes. Olh-las, degust-las, sentir o passado roando as mos e os olhos do

    pesquisador quando este manuseia sua fonte traz um prazer que apenas quem o faz pode sentir.

    Buscar nas fontes uma maneira de tirar os vus que o passado traz consigo se apresenta como uma

    tarefa saborosa, mas ao mesmo tempo rdua. No entanto, cabe a ns historiadores essa tarefa, a qual

    pretendemos aqui apenas apontar alguns meios para a pesquisa e o que a fonte escolhida pode

    propiciar ao pesquisador.

    As fontes escolhidas para esse trabalho fazem parte de um acervo do pesquisador as quais

    foram buscadas nos arquivos da Casa de Cultura Emilia Erichsen3 e no Museu do Tropeiro4 na

    cidade de Castro na regio que conhecemos como Campos Gerais5 do Paran. So documentos

    contidos nos processos de inventrios do sculo XIX entre os anos de 1840 e 1860.

    Compreendemos que o primeiro passo a ser dado se encaminha para uma breve contextualizao do

    que seria Castro e os Campos Gerais nesse perodo entre 1840 e 1860.

    Castro, os Campos Gerais e a Provncia do Paran.

    A regio dos Campos Gerais constituiu-se como uma importante rea na expanso da

    Colnia Lusitana da Amrica a partir de 1704. Este ano ocorre a primeira distribuio de sesmaria 1 Bolsista CAPES/CNPQ e Mestrando do Curso de Histria na Universidade Estadual do Centro Oeste UNICENTRO.

    2 Doutor em Histria UFPR, Professor Adjunto na Universidade Estadual do Centro Oeste. 3 Casa da Cultura Emlia Erichsen, doravante grafado apenas como CCEE. 4 Museu do Tropeiro, doravante grafado apenas como MDT 5 A expresso "Campos Gerais do Paran" foi consagrada por MAACK, que a definiu como uma zona fitogeogrfica natural, com campos limpos e matas galerias ou capes isolados de floresta ombrfila mista, onde aparece o pinheiro araucria. Ver em Reinhard Maack, Geografia fsica do Paran (Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.

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    (LOPES, 2004) na regio que hoje conhecemos por Campos Gerais. Esse fato favorece o incio

    oficial da ocupao do territrio onde se localiza a cidade de Castro. A primeira famlia a chegar

    oficialmente foi a do Capito-Mor Pedro Taques de Almeida. Foram os primeiros proprietrios

    oficiais de terras na regio, e atravs desta famlia outras se instalaram e buscaram explorar os

    campos naturais para a criao e engorda de gado. No entanto, somente com a abertura do caminho

    entre a Provncia de So Pedro do Rio Grande at os Campos Gerais entre 1728 e 1730, e estes a

    Sorocaba no interior de So Paulo, realmente o momento em que toda a regio comea a despertar

    interesse comercial (MARTINS, 2011, p. 49). Porm, a freguesia do Iap6 s foi elevada a Vila em

    29 de janeiro de 1789, com a instalao da Vila com o smbolo da Justia o Pelourinho, e a

    designao para alugar uma casa para que fosse instalada a Cmara Municipal e de Cadeia Pblica7.

    Dentre muitos viajantes que passaram pela regio alguns registraram suas percepes e

    conseguiram visualizar a importncia econmica dos Campos Gerais. Saint-Hilarie deixou em seus

    registros uma breve leitura sobre a geografia e a importncia que essa rea territorial tinha no

    contexto da poca;

    (...) trata-se de um desses territrios que, independente das divises polticas, se distinguem de qualquer regio pelo seu aspecto e pela natureza de seus produtos e de seu solo; onde deixam de existir as caractersticas que deram regio um nome particular a ficam os limites desses territrios. Na margem esquerda do Itarar comeam os Campos Gerais, regio muito diversa das terras que a precedem do lado nordeste, e elas vo terminar a pouca distncia do registro de Curitiba, onde o solo se torna desigual e as verdejantes pastagens so substitudas por sombrias e imponentes matas. (SAINT-HILARIE, 1978, p. 15)

    A regio formada por estas pastagens verdejantes compem um local muito favorvel para

    a criao e/ou engorda de gado, atividade econmica que determinou a instalao da vila, e a

    consequente explorao econmica de toda uma regio natural. A atividade tropeira colocava os

    Campos Gerais dentro da dinmica econmica que envolvia diversos setores e ainda possibilitava

    que a regio tivesse o seu domnio poltico e institucional ligado ao Imprio Portugus. Foi

    importante para o desenvolvimento da regio, sua localizao, como ponto intermedirio dos

    campos do sul e as feiras do interior paulista, para o Imprio sua localizao possibilitou grande

    expanso territorial com o domnio se prolongando numa regio at ento pouco povoada e que 6 Iap o primeiro nome da vila que posteriormente viria a ser Castro. 7 CCEE. Livro de Registros de Atas da Cmara de Castro, 1789.

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    deixava uma lacuna entre os territrios centrais e os do sul. Podemos considerar que a primeira

    funo que os Campos Gerais realmente tiveram, foi a de estabelecer o domnio portugus neste

    caminho entre o centro e o sul da colnia.

    O setor econmico obtm importncia significativa devido criao e a engorda de gado.

    Podemos observar que Castro e os Campos Gerais obtm do tropeirismo a maior contribuio

    econmica para a vila e suas redondezas. A atividade econmica centrada no comrcio de gado

    fornecia aos moradores da regio uma alternativa econmica vantajosa, assim, como bem observou

    Saint-Hilarie, a inteno de estar dentro do sistema econmico do tropeirismo era enorme, e se no

    fazia com que todos fossem em busca de riquezas que poderiam ser geradas pelo comrcio de gado,

    boa parte dos moradores buscavam nela juntar algum tipo de lucro.

    No se deve pensar, porm, que os habitantes dos Campos Gerais permaneam sempre em sua terra. Homens de todas as classes, operrios, agricultores, no momento em que ganham algum dinheiro partem para o Sul, onde compram burros bravos para revend-los em sua prpria terra e em Sorocaba. (SAINT-HILARIE, 1978, p. 19)

    Devemos observar que o viajante condiciona a ida ao sul aos homens, no entanto devemos

    resguardar uma desconfiana, pois bem provvel que isso no se manifestava como vontade de

    todos, muitos se mantinham em Castro vivendo de servios e de comrcio com outros homens

    ligados a atividade. Nossas fontes de pesquisa, os inventrios, demonstram que a riqueza no se

    concentrava apenas na cria/engorda de gado, pois encontramos as mais diversas atividades, muito

    embora estreitamente ligadas dinmica tropeira. A economia encontrava suporte no tropeirismo,

    onde vrias atividades se sustentavam com o comrcio e a prestao dos servios aos tropeiros que

    pelos Campos Gerais passavam. Dentro deste contexto havia um nmero razovel de escravos que

    pertenciam a proprietrios rurais e a proprietrios urbanos. A concentrao de riqueza destes se

    concentrava no apenas no gado ou nas terras, pois os escravos representavam importante soma

    financeira dentro da organizao econmica dos Campos Gerais.

    Castro se destaca na nova Provncia do Paran, formada em 1853, e o sistema tropeiro

    representava a base econmica da sociedade a qual recebe e consolida sua influncia regional com o

    apoio econmico obtido no comrcio de gado. Com a formao social e econmica paranaense

    gravitando entre os Campos Gerais e Curitiba, e tambm com um movimento econmico ligado ao

    litoral, Castro destaca-se como uma das cidades de importncia econmica e poltica da nova

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    provncia. bem notvel a importncia das vilas e cidades que esto no caminho das tropas entre as

    regies produtoras do sul e a feira de Sorocaba, dentre elas podemos destacar Ponta Grossa e Lapa,

    alm de Castro. Tambm, num momento posterior, Guarapuava e Palmas se destacam

    principalmente no que diz respeito ampliao do territrio brasileiro. Porm, no nosso objetivo

    versar sobre esses outros locais, o que nos interessa analisar Castro e suas caractersticas. Em

    especial analisaremos um importante item que fazia parte da sociedade, da economia, da cultura e

    de todo o contexto castrense: os escravos. Buscaremos analisar os escravos dentro de um contexto

    econmico e poltico interessante que abrange os anos de 1840 a 1860. No entanto, optamos por

    realizar uma amostragem com quatro anos em especial; 1841, 1847, 1853 e 1860.

    Conjuntura econmica, poltica e militar.

    O ano de 1704 demarca a primeira posse de terras atravs da doao da sesmaria da famlia

    Taques de Almeida. No entanto em 1853 que todo esse territrio se desmembra da provncia de

    So Paulo e torna-se o Paran. Paran que ainda no estava totalmente ocupado e que nem suas

    fronteiras estavam bem definidas. No que diz respeito s questes polticas e econmicas a regio,

    envolvida na atividade tropeira, inevitavelmente se insere nas disputas que ocorrem no seu entorno,

    principalmente no sul, e em tudo que se estabelece no Imprio do Brasil. Alguns aspectos

    determinam o contexto e as aes polticas e econmicas que envolvem a regio dos Campos

    Gerais.

    A Revoluo Farroupilha (1835-1845) influencia diretamente na economia e na poltica dos

    Campos Gerais. Muitos homens de Castro partiram para a guerra e lutaram, na grande maioria,

    defendendo os interesses do Imprio. A economia, o comrcio de animais, a atividade tropeira e

    tudo que est direta ou indiretamente ligado a ela, tambm sofrem com a guerra. O setor

    econmico, consequentemente, reflete as dificuldades que esse confronto traz a regio. No entanto,

    a emancipao poltica que acontece em 1853, oito anos aps o fim dessa guerra possibilita a regio

    de Castro, Curitiba e o litoral a determinar por si s algumas aes a fim de desenvolver

    economicamente a provncia.

    Em 4 de setembro de 1850 a Lei Eusbio de Queiroz deu um duro golpe na escravido que

    nutria de braos escravos as necessidades de mo de obra no sistema escravista brasileiro. A

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    proibio de trfico intercontinental de escravos j existia com a primeira Lei em 1831 que na

    verdade serviu como meio de troca a fim de obter da Inglaterra o reconhecimento da independncia

    do Brasil. J a Lei de 1850 criou de fato grandes dificuldades no trfico negreiro. Essas dificuldades

    encareceram a escravido, mas no colocaram um fim nela. Num sistema capitalista que visa o

    lucro, o custo de produo de qualquer produto est ligado na mo de obra disponvel, e com o

    encarecimento da escravido, certamente os proprietrios de escravos de Castro sentiram os efeitos

    desta Lei. importante ressaltar que a Inglaterra j patrulhava o Oceano Atlntico na busca de

    navios negreiros com destino ao Brasil e isso j fazia com que o trfico aumentasse os seus custos.

    A Quinta Comarca de So Paulo se torna uma provncia em 1853, Zacarias Ges de

    Vasconcelos se torna o primeiro Presidente, Curitiba a capital provincial. A economia da regio

    trazia frutos principalmente com o comrcio de gado, no entanto, a explorao de erva-mate e seu

    beneficiamento comeava a dar resultados e mostrava que a regio poderia deixar de depender

    apenas do gado para trazer lucros dentro de suas divisas. A economia gravitava em torno da mo de

    obra escrava, ainda que em escala menor que em outras regies do Imprio8, mas que consistia num

    item de riqueza importante para a poca.

    Esses efeitos e fatos deram a economia da regio dos Campos Gerais um rumo que pode ter

    dimensionado para mais ou para menos a importncia do escravo e a sua participao econmica na

    sociedade de Castro. Vamos buscar nos inventrios deixados como fontes de pesquisa, uma anlise

    sobre a importncia do escravo. Mais precisamente, tentaremos encontrar no preo do escravo, na

    sua participao, atravs das mais diversas faixas etrias, do sexo, e do valor avaliado, para

    encontrarmos evidncias que permitam entender o conjunto de fatores e sua importncia no

    contexto castrense.

    Inventrios e suas avaliaes

    Nossas fontes so os inventrios contidos no Museu do Tropeiro da cidade de Castro. So

    documentos importantes da poca e que aqui podemos relacionar com o recorte temporal que

    pretendemos estabelecer. Entendemos que a interrupo do trfico intercontinental determinou

    88 Para ver melhor sobre o assunto consultar Emilia Viotti da Costa, Da Senzala a Colnia; Maria Sylvia de Carvalho Franco, Homens Livre na Ordem escravocrata; Zlia Maria Cardoso de Mello, Metamorfoses da Riqueza; entre outros.

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    alta nos preos dos escravos. Emilia Viotti da Costa em seu livro Da Senzala Colnia discorre

    sobre esse fator:

    A interrupo do trfico determinou tambm a alta no preo dos escravos. De 1850 a 1860 o preo dos escravos subiu constantemente, chegando em certos casos a seis vezes o seu valor inicial, a partir de ento os preos de venda de escravos declinaram. Interrompido o trfico externo, a populao de escravos no se reproduziu to rapidamente quanto era necessrio para atender crescente demanda de mo de obra. (COSTA, 1997. P. 33)

    Os inventrios constituem numa fonte de pesquisa importante, pois as avaliaes dos bens,

    geralmente, eram realizadas por dois ou trs avaliadores, os quais, em suas avaliaes, imprimiam a

    importncia de cada item avaliado na sua poca. Pois a comparao entre um escravo de 27 anos em

    1841 e a de outro individuo da mesma idade em 1860, provavelmente dar nmeros muitos

    distantes. So nesses detalhes que pretendemos alavancar nossa pesquisa.

    Nosso recorte temporal se explica por um fator de comparao. O ano de 1850 se torna

    decisivo para o trfico de escravos e consequentemente para a escravido. Com a dificuldade de

    trazer escravos da frica, o mercado interno se aquece e a troca interprovincial de escravos cresce.

    Castro est ligada a esse trfico interno, pois como citamos no incio deste artigo, a regio fazia

    parte de um corredor comercial entre as regies centrais do Brasil e as regies sulinas, criadoras de

    gado e muares. Certamente a carncia de escravos em outras regies de economia mais rentvel,

    favorecia a sada de escravos, e se no favorecia a sada, determinaria o aumento dos preos como

    forma de manter os plantis de escravos. No tocante dos plantis, buscaremos encontrar um

    aumento na participao de infantes, pois o aumento de plantel, depois de 1850, estaria ligado

    diretamente produo interna, assim as crianas ganham importncia, e as mulheres em idade

    reprodutiva tambm.

    Os valores e o apego castrense escravido

    Determinar um fator extra que tenha influenciado a economia com dados levantados dentro

    de uma localidade apenas sem que haja outra base comparativa no mnimo imprudente. Buscando

    diminuir as diferenas vamos traar nessa parte do artigo uma comparao com outros centros

    sociais com escravos. Um deles Guarapuava, centro pecurio produtor localizado na borda

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    perifrica da ocupao brasileira do continente, mas que mantm algumas semelhanas com Castro.

    bom lembrar que a tomada dos Campos de Guarapuava e Palmas tiveram na cidade de Castro a

    base de apoio as expedies de conquistas. Castro e Guarapuava, apesar de ligadas pela pecuria,

    tiveram diferentes caractersticas na sua ocupao e formao. No entanto, para este trabalho, so

    duas localidades que razoavelmente se aparentam, e existem dados pesquisados e estudados quanto

    aos preos dos escravos na regio guarapuavana.

    Nas regies de produo que necessitavam de grande quantidade de mo de obra, para a

    poca, era nas lavouras cafeeiras do sudeste. O avano dos cafezais culminou com a proibio

    efetiva do trfico em 1850. Essa interrupo possibilitou, se assim possvel entender, um

    tratamento mais humanizado com os escravos. Durante o trfico era relativamente fcil obter

    escravos, geralmente chegavam ao Brasil com um valor muito baixo que desencorajava os senhores

    a favorecerem uma reproduo interna de seus plantis. Tambm no que tange os tratos com estes

    eram mais rudes, pois no se preocupava com a longevidade dos escravos se era fcil obter a preos

    baixos. No entanto, com o fim do trfico, os proprietrios se viram obrigados a resolver

    internamente a falta de mo de obra escrava e buscaram no trfico interno e na reproduo dos

    plantis a garantia de sua fora de trabalho (COSTA, 1997. p. 32).

    Os plantis que em geral, em reas novas de produo, eram formados por escravos do sexo

    masculino, comearam a concentrar maiores contingentes de mulheres com o intuito de ampliar

    seus plantis com a produo interna de escravos. Guarapuava era uma das regies brasileiras em

    que a mo de obra feminina se equivalia a mo de obra masculina (FRANCO NETTO, 2011). As

    regies cafeeiras buscavam nas outras regies do Imprio os braos escravos que necessitavam para

    a sua lavoura lucrativa.

    Em 1873, a Assemblia Provincial de So Paulo suprimiu o imposto de duzentos mil-ris que, at ento, recaa sobre cada escravo que entrasse na provncia. De Minas, da Bahia, do Nordeste e at do Rio Grande do Sul vinham levas de homens para as fazendas de caf. Essa migrao interna ir suprir momentaneamente a necessidade de braos. (COSTA, 1997. p. 177)

    Certamente Castro e todo o sul do Imprio se viram assediados por compradores de escravos

    que ofereciam um bom preo ao escravo sulino a fim de transform-lo em mo de obra cafeeira no

    interior paulista. Qual a valorizao dos escravos nesse perodo entre 1840 e 1860? Mesmo com a

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    alta no preo e a possibilidade de ganho maior com a venda dos escravos, a sociedade de Castro se

    agarrava na escravido como status de riqueza? Que rumo e que importncia tomou a escravido

    nos Campos Gerais?

    Dentro desse contexto podemos notar que entre os anos estudados, os plantis tinham uma

    boa proporo de crianas. Em 1841 o nmero de crianas era relativamente pequeno, apenas 14

    crianas entre zero e 13 anos estavam relacionadas nos inventrios. Mesmo assim isso representa

    33,33% do total de escravos relacionados, pois contabilizamos 42 escravos sendo 14 crianas.

    Nossa opo em adotar a idade de 13 anos como limite entre a infncia e a idade adulta

    baseou-se no trabalho de Cristiany M. Rocha que destaca os motivos para tal escolha: (...) a idade

    fixada pela primeira lei que proibia a separao de pais e filhos em 1869, ou seja, os filhos at 15

    anos no poderiam ser separados, por venda, doao ou herana, dos seus pais (ROCHA, 2004,

    p. 115, nota 3). No entanto, optamos por usar a idade de 14 anos como base, pois entendemos que

    essa idade correspondia a venda e uso de escravos pelas descries nos inventrios da poca. Com

    14 anos encontramos indivduos nos testamentos sendo destinados a diferentes herdeiros,

    mostrando que o seu trabalho j est consolidado no meio social de Castro.

    J em 1847 com um nmero bem maior de escravos inventariados, total de 110,

    encontramos 32 crianas que representam um total de 29,09% dos plantis. Notamos uma leve

    diminuio do nmero de escravos crianas. No ano de 1853, j com a proibio efetiva do trfico,

    encontramos 24 crianas num total de 88 escravos inventariados, perfazendo um total de 27,27% de

    crianas nos plantis. Nova diminuio e no momento seguinte a suspenso do trfico. Se levarmos

    em conta que o preo mdio de um escravo do sexo masculino de idade entre 14 e 39 anos em 1847

    gravitava em torno de 561$333 ris em Castro e em 1853 o mesmo perfil de escravo havia subido

    apenas para 569$047 ris, podemos presumir que as dificuldades de encontrar mo de obra escrava

    em Castro no haviam mudado. O valor dos escravos no havia aumentado de maneira que pudesse

    ser sentido pelos avaliadores dos inventrios. J em 1860 o preo mdio desse mesmo perfil de

    escravo quase triplicou, passando ao valor de 1:477$777 ris. E exatamente em 1860 que

    encontramos o maior percentual de crianas nos plantis dos Campos Gerais, dos 87 escravos

    avaliados, 33 eram crianas, 37,93% de todos os escravos no tinham 14 anos ainda. Considerando

    que em 1853 o valor mdio de uma escrava entre zero 13 anos era de 325$000, e passa para

    580$000 em 1860, representando um aumento de 78,5%, podemos sentir que o fim do trfico foi

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    realmente sentido no perodo posterior a 1853. Ainda para auxiliar nessa constatao encontramos o

    preo mdio dessas mesmas escravas, com o mesmo perfil em 1847 recebendo um valor de

    avaliao mdio de 416$315 valor superior ao do ano de 1853, mas ainda assim abaixo do pedido

    em 1860. Vejamos abaixo como se comportou o preo dos escravos menores de 14 anos entre 1841

    1860: Grfico 1: Variao do valor dos escravos de zero a 14 inventariados em Castro.

    Fonte: Banco de Inventrios do Museu do Tropeiro em Castro/PR

    O ano de 1847, dentre os escolhidos, aparece como um fator de surpresa, pois no apenas

    nesse item, como poder ser visualizado posteriormente, ele sugere algumas mudanas nos padres

    de Castro. Tambm notvel a grande variao no brao escravo infante feminino, com oscilaes

    grandes no perodo estudado.

    Apresentamos inicialmente os dados relativos aos escravos menores de 14 anos, no entanto

    devemos apresentar um grfico que esboce a totalidade de escravos inventariados nesse perodo e

    como se comportou a sua quantificao. Vejamos: Grfico 2: Relao de indivduos na amostragem dos anos estudados.

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    Fonte: Banco de Inventrios do Museu do Tropeiro em Castro/PR

    Em 1841 e 1847 existe uma igualdade por sexo no nmero de indivduos (1841; 21 homens

    e 21 mulheres. 1847; 55 homens e 55 mulheres) o quadro s se modifica em 1853 quando o nmero

    de homens supera levemente o nmero de mulheres sendo 47 homens e 41 mulheres (53,4% de

    homens e 46,6% de mulheres) e em 1860 quando as mulheres superam o nmero de homens nas

    escravarias inventariadas sendo 41 homens e 46 mulheres (47,12% de homens e 52,88% de

    mulheres). Mesmo com o aumento dos preos e sabendo que outras reas do sul exportavam

    escravos e Castro se mantinha como via de ligao entre as fazendas de caf de So Paulo e os

    campos de pecuria do sul, bem provvel que o nmero de escravos do sexo masculino diminusse

    com o assdio dos viajantes que poderiam comercializar mulas e homens na sua ida a Sorocaba.

    Para uma compreenso maior do que ocorrera no perodo deveramos buscar em outras

    fontes e nas que estamos estudando, por indcios que evidenciem as atividades em que os escravos

    estavam mais relacionados. No entanto, no temos as condies para responder a esses fatores neste

    momento. bom ressaltar que isso poderia averiguar em que tipo de trabalho os escravos estavam

    ligados e se nesses locais eram realmente necessrios ou pertenciam a algum tipo de sustentculo de

    status que o proprietrio estava ligado. Essa resposta poder aparecer no trabalho que estamos

    elaborando dentro da pesquisa de mestrado.

    Entendemos que necessrio demonstrar alguns dados referentes ao aproveitamento da mo

    de obra escrava, e como isso poderia ser representado. Compreendemos que haveria a explorao

    do brao escravo nas mais diversas faixas etrias, seja em servios domsticos ou de campo. No

    entanto a faixa etria que mais se encaixa no perfil do escravo em auge de fora fsica vai dos 14

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    Homens

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    anos aos 39 anos, faixa etria que a explorao da mo de obra pode produzir mais frutos.

    Chamaremos essa faixa etria de idade produtiva. Vejamos;

    Grfico 3: Escravos por faixa etria e sexo.

    Fonte: Banco de Inventrios do Museu do Tropeiro em Castro/PR

    Os dados apontam para uma diviso geral num total de 54 homens e 58 mulheres,

    caracterstica que difere de outros estudos principalmente nos que abordam a escravido em outras

    regies do Brasil Imprio, zonas cafeeiras e de produo aucareira e mineradora, o que difere nas

    regies de explorao semelhante como acima citamos Guarapuava. Se considerarmos que o

    nmero total de escravos homens nesses quatro anos de 164 indivduos e de 163 mulheres,

    podemos considerar que as mulheres se encontravam em idade produtiva em maior porcentagem

    que a de homens na maioria do perodo estudado. No total 35,58% das mulheres escravas se

    encontravam dentro da idade produtiva, sendo que 32,92% dos homens estavam em idade

    produtiva. Isso demonstra que proporcionalmente as mulheres escravas tinham maior participao

    na economia castrense que os homens escravos.

    Apenas em 1853 que os homens superam em grande quantia, o nmero de mulheres. Esse

    ano representa o pice do aproveitamento de mo de obra masculina, e fornece indivduos para que

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    25

    1841 1847 1853 1860

    Homens

    Mulheres

  • 12

    o nmero se aproxime da quantidade de mulheres. Basicamente a mo de obra com idade produtiva

    em Castro era de mulheres. Tabela 1: relao idade produtiva X sexo

    Escravos Total % Idade produtiva %

    Homens 50,15 48,21

    Mulheres 49,85 51,79 Fonte: Banco de Inventrios do Museu do Tropeiro em Castro/PR

    Vale ressaltar que em todos os anos avaliados tivemos inventrios que continham o escravo,

    seu valor, mas no tinha sua idade. Esse fator representa um total de 61 escravos sem idade definida

    que deixa uma lacuna na avaliao final do montante de escravos inventariados, e dificulta a

    avaliao das condies de cada plantel. Um escravo de 25 anos em 1841 poderia ter seu valor

    avaliado em torno de 400$000, mas em 1860 um escravo de 25 anos poderia chegar a 1:900$000.

    evidente que essa avaliao levava em conta as suas habilidades, seu perfil corpreo, sua aparncia,

    entre outros fatores que aqui no tem grande importncia para a pesquisa, o certo que entender

    essa disparidade de preos passa inevitavelmente pelas condies de compra e de ampliao do

    plantel.

    Esses dados apontam para um inevitvel aumento dos preos de escravos. O Paran comea

    a sentir os reflexos da suspenso do trfico e do assdio dos compradores paulistas. No ano de

    1867, perodo posterior ao recorte da pesquisa, mas que aponta a real situao do comrcio de mo

    de obra escrava e o que isso representava economicamente para a Provncia do Paran, encontramos

    no Relatrio da provncia do Paran deste ano a informao de que o imposto arrecadado sobre os

    escravos era bem prximo do imposto gerado pela venda de animais, que naquele momento

    representava grande parte das rendas provindas das terras do Paran (RELATRIO DO

    PRESIDENTE DA PROVNCIA DO PARAN. 1867.). Mesmo entendendo que esse nmero no

    representa precisamente a regio dos Campos Gerais, pois so nmeros de todo o territrio povoado

    do Paran, e que no litoral o assdio poderia ser maior e o prprio desapego ao brao escravo ser

    diferente, no podemos negar a importncia desses nmeros. Castro recebe esses efeitos e reage de

    maneira a garantir seus escravos, ou, se no possvel mant-los, que rendessem uma boa quantia

    em dinheiro.

  • 13

    Outras regies tambm sofreram com a elevao dos preos dos escravos. Em Santa Maria

    no Rio Grande do Sul, onde a mdia das escravarias tambm era pequena, e a economia girava em

    torno do sistema tropeiro, encontramos grandes dificuldades dos criadores de gado em manter ou

    ampliar seus plantis.

    Segundo os dados dos inventrios, a mdia de escravos por estabelecimento pertencente a criadores de 05 cativos, variando, nos processos pesquisados, entre nenhum e treze escravos. O baixo nmero de escravos se deve ao fato das atividades desempenhadas nas estncias (a criao de gado e, eventualmente, tambm a plantao de culturas alimentares e a fabricao de farinha de mandioca) exigirem bem menos mo-de-obra do que a produo de caf ou a fabricao do charque, por exemplo. Alm disso, como j foi dito, tratava-se de uma regio de pecuria pobre, com pouca capacidade para fazer investimentos maiores, tanto mais na poca de encarecimento do preo dos cativos, aps 1850. (FARINATTI, SAD. p. 5)

    O reduzido nmero de escravos por mdia de inventrios tambm encontrado nos dados

    recolhidos em Castro. Em 1841 foram 14 inventrios com uma mdia de 3 escravos por inventrio.

    Metade desses inventrios possua escravos como bens. Se analisssemos apenas esses que

    continham escravos a mdia subiria para 6 indivduos por plantel. A maior escravaria desse ano era

    composta por 15 escravos e a maioria dos que possuam escravos tinham poucos. Em 1847 no era

    muito diferente, a mdia de indivduos por escravarias inventariadas era de 7,85 escravos. Em 1853

    a mdia voltava a cair pra apenas 5,17 escravos por inventrio. No entanto tnhamos 14 inventrios

    com escravaria e a anlise de apenas esses passaria para uma mdia de 6,28 escravos. E mesmo em

    1860 onde encontramos a maior escravaria inventariada com 36 escravos pertencentes Dona Ana

    Rodrigues Ferreira, a mdia de todos os inventrios de 8,7 escravos. importante destacar que em

    1860 tivemos 10 inventrios e deste apenas seis com escravos, o que daria em mdia 14,5

    indivduos. Se retirarmos os 36 escravos de Dona Ana Rodrigues Ferreira, percebemos que a mdia

    cai para apenas 8,5 escravos por inventrio. O nmero de inventrios sem escravos no significa

    muito, pois apenas 40% dos inventrios no possuam escravos em 1860, j em 1841 metade (50%)

    dos inventrios no possuam escravos, dessa forma no podemos afirmar que houve um desapego

    ao brao escravo ao logo desses dezenove anos. Vejamos o quadro a seguir com o desempenho

    mdio das escravarias por inventrios que continham escravos:

  • 14

    Grfico 4: Relao de inventrios com e sem escravarias.

    Fonte: Banco de Inventrios do Museu do Tropeiro em Castro/PR

    O ano de 1847 volta a surpreender com o nmero total de inventrios possuindo escravos.

    No entanto podemos notar que nos demais anos estudados os nmeros de inventrios e a mdia

    sempre andaram prximos, demonstrando o apego da sociedade castrense pelo brao escravo.

    Possuir escravos poderia determinar um padro social melhor do que o restante da sociedade. A

    qualidade desses plantis pode ser questionada, pois, como vimos anteriormente, os escravos em

    idade produtiva eram poucos, ou representavam um nmero relativamente baixo na porcentagem

    geral, mesmo que fossem a maioria. de se esperar que os proprietrios de escravos obtivessem

    esses indivduos a fim de operacionalizar melhor suas atividades econmicas, mas o fato que

    encontramos um grande nmero de mulheres e de crianas nos plantis. Podemos entender que o

    trabalho que esses escravos e escravas eram submetidos era menos penoso que os trabalhos nas

    reas de engenhos de cana e nas fazendas de caf, mas que mesmo assim eram indispensveis para

    a sociedade de Castro.

    Chegamos a um ponto determinante da pesquisa: quanto valia um escravo em Castro? A

    evoluo no valor mdio do escravo nos inventrios acompanhou e teve reflexo aos acontecimentos

    polticos, econmicos e militares que no inicio do artigo ns apontamos. Vejamos o prximo

    grfico:

    0

    5

    10

    15

    20

    1841 1847 1853 1860

    Total de Inventrios

    Inventrios com escravos

  • 15

    Grfico 5: Valor mdio dos escravos inventariados.

    Fonte: Banco de Inventrios do Museu do Tropeiro em Castro/PR

    O grfico acima aponta em mil ris a evoluo do valor mdio dos escravos nos inventrios.

    Nesse cenrio o ano que surpreende o de 1853, onde o valor mdio das escravas menor do que

    em 1847 e no segue a evoluo do valor dos escravos do sexo masculino. Podemos apontar dois

    fatores que possam ter influenciado nesse resultado do ano de 1853: primeiro, pode no ter sido

    sentido o fim do trfico intercontinental aqui na provncia do Paran e o seu efeito pode ter sido

    tardio, com um abastecimento mais eficiente e rentvel de escravos vindos de Minas e do Nordeste,

    a regio dos Campos Gerais no sentiu imediatamente as conseqncias desse fato. Segundo, os

    plantis avaliados em 1853 podem, comparativamente, ter sido de inferior qualidade e assim o valor

    ter sido jogado para baixo. No temos certeza dessa hiptese, parece-nos mais aceitvel a primeira

    sugesto mesmo que no seja exatamente por essas conseqncias bem provvel que os

    escravistas dos Campos Gerais sentiram os efeitos da suspenso do trfico s mais tarde como o ano

    de 1860 demonstra, com uma elevao muito grande do valor do escravo em Castro.

    Um ponto relativamente interessante e que poderia resultar em uma boa pesquisa relativo a

    baixa taxa de escravos com mais de 60 anos. Dos 327 escravos que aparecem nos inventrios dos

    anos pesquisados, encontramos apenas 3 indivduos com mais de 60 anos. Devemos atentar para o

    fato de que a populao do Paran, mesmo que no propriamente como provncia, cresceu pouco

    desde 1721 at 1860 e bem provvel que o nmero de escravos com idade acima de 60 anos

    0 200 400 600 800

    1000 1200 1400 1600

    1841 1847 1853 1860

    Homens

    Mulheres

  • 16

    tivesse sido bem reduzido9. Tambm carecamos de outras fontes para entender esse fenmeno,

    como livro de registro de batismo e bitos de Castro, assim poderamos constatar o grau de

    mortalidade de escravos no perodo e traar uma idade de vida que um escravo possua naquela

    sociedade. Tambm poderamos relacionar com a lista de manumisses para verificar e, se fosse o

    caso, compreender o significado desses atos para os escravos dos Campos Gerais do sculo XIX.

    No entanto, essas fontes nos faltam nesse momento, o que impossibilita essa leitura mais refinada.

    Consideraes Finais

    Castro, em meados do sculo XIX, se caracteriza por ser uma vila/cidade que tem sua

    economia baseada no sistema tropeiro de comrcio e servio. A sociedade em si, pelo pouco uso do

    brao escravo, no pode ser considerada como sendo uma sociedade escravista. Ela se apresenta

    como uma sociedade com escravos, mas que tem pouca populao escrava. Decididamente o item

    escravo representa um importante fator na sociedade, mesmo que em nmeros muito baixos. No

    entanto o que transparece o apego da sociedade castrense ao escravo, poderia esse escravo ser

    mulher ou homem, ter idade mais baixa do que ocorria nas zonas cafeeiras. O status em volto do

    escravo que poderia ser maior. A importncia que esse item relegava ao possuidor de escravo

    pode ter determinado parte desse apego ao brao escravo.

    Uma das constataes que surge nesse estudo que o efeito encarecedor dos escravos

    sentido tardiamente nos Campos Gerais. As avaliaes que encontramos em 1853 no apontam para

    um encarecimento do escravo. Sabemos das dificuldades de locomoo e transporte da poca

    facilitava essa onda tardia sobre o valor do escravo, mesmo assim inevitvel a importncia do

    processo proibitivo para o valor dos escravos no Brasil em geral e que diversos historiadores, acima

    citados, apontam. Castro se defende, ou aproveita o aumento nos preos de escravos s mais tarde.

    em 1860 que encontramos os nmeros mais altos no valor avaliado dos escravos. Esses valores j

    estavam espalhados por todo o territrio do Imprio, e representavam os efeitos mais fortes da

    suspenso do trfico negreiro.

    9 Ver BALHANA, Altiva P & MACHADO, Brasil. P & WESTPHALEN, Ceclia M. Histria do Paran. Curitiba, 1969.

  • 17

    O que podemos considerar que o brao escravo de Castro consistia em grande quantidade

    de crianas e mulheres, e uma populao distribuda por sexo de maneira igual. A idade produtiva

    dessa populao no era muito importante no contexto geral, pois os plantis eram formados por

    indivduos de todas as faixas etrias e com uma distribuio sexual semelhante. A importncia

    desses plantis, provavelmente, estava ligada ao status social do seu proprietrio. Ele, como senhor

    de escravos, poderia alcanar dentro da sociedade castrense, um patamar mais elevado. No entanto

    um estudo mais profundo, cruzando os dados referentes a ocupao dos escravos, ao ramo

    econmico que ele estava diretamente ligado e a posio social do senhor na sociedade castrense

    poder reduzir as dvidas quanto a sua importncia social, econmica e poltica para os Campos

    Gerais. Isso pretendemos suprir na pesquisa de mestrado que est sendo construda.

    Fontes

    Museu do Tropeiro, Fundo Inventrios, 1841-1850. Inventrios Gerais. Museu do Tropeiro, Fundo Inventrios, 1851-1860. Inventrios Gerais. Relatrio dos Presidentes da Provncia do Paran (Presidente Horta de Arajo) do ano de 1868, disponvel na internet na pgina eletrnica do Arquivo Pblico do Estado do Paran http://www.arquivopublico.pr.gov.br/arquivos/File/pdf/rel_1868_a_p.pdf Referncias bibliogrficas

    BALHANA, Altiva P & MACHADO, Brasil. P & WESTPHALEN, Ceclia M. Histria do Paran. Curitiba, 1969.

    COSTA, Emlia Viotti da, Da Senzala Colnia. So Paulo: UNESP, 1997. FARINATTI, Luiz A. E, Criadores de gado em Santa Maria (Rio Grande do Sul, 1850-1890) (CEUNFRAN, Brasil) retirado http://www.fee.tche.br/sitefee/download/jornadas/1/s7a2.pdf acesso em dezembro de 2012. FRANCO NETTO, Fernando. Senhores e escravos no Paran provincial: os padres de riqueza em Guarapuava (1850-1880). Guarapuava: UNICENTRO, 2011. LOPES, Jos Carlos V. Fazendas e stios de Castro e Carambe. Curitiba: Torre de Babel, 2004. MAACK, Reinhard, Geografia fsica do Paran. Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.

  • 18

    MARTINS, Ilton Csar. E eu s tenho trs casas: a do senhor, a cadeia e o cemitrio: crime e escravido na Comarca de Castro (1853 1888). Curitiba-PR, Tese de Doutorado/UFPR, 2011. ROCHA, C. M. Histrias de famlias escravas: Campinas, sculo XIX. Campinas: Unicamp, 2004. SAINT-HILAIRE, August de. Viagem a Curitiba e Provncia de Santa Catarina. Belo Horizonte: Itatiaia; So Paulo: Ed. Da USP, 1978.