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Ronaldo Rigobello DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE CÓDIGO COMPUTACIONAL PARA ANÁLISE DE ESTRUTURAS DE AÇO APORTICADAS EM SITUAÇÃO DE INCÊNDIO Tese apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Doutor em Engenharia de Estruturas. Orientador: Prof. Dr. Jorge Munaiar Neto Versão Corrigida A versão original encontra-se na Escola de Engenharia de São Carlos. SÃO CARLOS – SP 2011

Ronaldo Rigobello DESENVOLVIMENTO E APLICAÇÃO DE

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  • Ronaldo Rigobello

    DESENVOLVIMENTO E APLICAO DE

    CDIGO COMPUTACIONAL PARA

    ANLISE DE ESTRUTURAS DE AO

    APORTICADAS EM SITUAO DE

    INCNDIO

    Tese apresentada Escola de Engenharia de

    So Carlos da Universidade de So Paulo,

    como parte dos requisitos para obteno do

    Ttulo de Doutor em Engenharia de

    Estruturas.

    Orientador: Prof. Dr. Jorge Munaiar Neto

    Verso Corrigida

    A verso original encontra-se na Escola de Engenharia de So Carlos.

    SO CARLOS SP 2011

  • AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

    Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Tratamento da Informao do Servio de Biblioteca EESC/USP

    Rigobello, Ronaldo

    R572d Desenvolvimento e aplicao de cdigo computacional

    para anlise de estruturas de ao aporticadas em situao

    de incndio / Ronaldo Rigobello ; orientador Jorge

    Munaiar Neto - So Carlos, 2011.

    Tese (Doutorado - Programa de Ps-Graduao em

    Engenharia de Estruturas) - Escola de Engenharia de So

    Carlos da Universidade de So Paulo, 2011.

    1. Anlise estrutural. 2. Incndio. 3. Cdigo

    computacional. 4. Anlise trmica. 5. Anlise

    termoestrutural. 6. Mtodo dos elementos finitos

    posicional. Ttulo.

  • Simplifique o mximo que puder, mas no v alm disso.

    (Albert Einstein)

    Comece fazendo o que necessrio, depois o que possvel, e de repente

    voc estar fazendo o impossvel.

    (So Francisco de Assis)

  • minha esposa Eliane, com amor e gratido por seu suporte,

    compreenso e carinho durante a elaborao deste trabalho.

  • AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

    Primordialmente Deus, pelo dom da vida.

    Ao professor Jorge Munaiar Neto, pela orientao, amizade e apoio constante durante

    toda minha ps-graduao.

    Ao professor Humberto Breves Coda, pela parceria, apoio e efetiva coorientao no

    desenvolvimento deste trabalho.

    Ao professor Valdir Pignatta e Silva, pelas contribuies no exame de qualificao, pela

    amizade e assistncia nas mais diversas dvidas.

    Ao professor Jos Jairo de Sales, pelos sempre sbios conselhos e lies de engenharia.

    Aos professores Maximiliano Malite e Rodrigo Ribeiro Paccola, pela presteza nas mais

    variadas discusses e dvidas.

    Ao CNPq, pela bolsa concedida para realizao desta pesquisa.

    A todos os funcionrios do Departamento de Engenharia de Estruturas que contriburam

    direta ou indiretamente para o desenvolvimento do trabalho.

    A todos amigos do Departamento de Engenharia de Estruturas. Em especial aos amigos

    Saulo, Erika Kimura, Wanderson, Dorival, Aref, Edmar, Manoel Denis e Leonardo,

    pelo companheirismo nesta jornada.

    Aos amigos da Republica Purguero Paulo, Lus, Salmo, Fabian, Renato, Glauber e

    Ulisses, pela amizade, apoio e pelos excelente e saudosos momentos de convivncia.

    Aos meus pais, Israel e Maria Ansia, a tia Lena e meus irmos, Robson e Leandro, que

    mesmo distantes sempre torcem pela minha felicidade e sucesso profissional.

    minha amada esposa Eliane, grande companheira nesta jornada, que tambm neste

    mesmo perodo viveu a experincia do doutoramento e, por isso, me sinto duas vezes

    abenoado.

  • RREESSUUMMOO

    RIGOBELLO, R. (2011). Desenvolvimento e aplicao de cdigo computacional

    para anlise de estruturas de ao aporticadas em situao de incndio. 272 p. Tese

    (Doutorado) - Escola de engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo, So

    Carlos, 2011.

    O presente trabalho teve por objetivo desenvolver um cdigo computacional com base

    no mtodo dos elementos finitos, para anlises termoestruturais de estruturas de ao

    aporticadas quando expostas a aes trmicas tpicas de situaes de incndio. O cdigo

    utilizado nas anlises estruturais emprega elemento finito de prtico no linear 3-D de

    formulao posicional. A formulao posicional utiliza como graus de liberdade as

    posies dos ns ao invs dos deslocamentos, resultando em uma descrio

    intrinsecamente no linear do comportamento geomtrico das estruturas. Podem ser

    consideradas sees transversais quaisquer com o elemento finito em questo, e sua

    representao geral tridimensional. Adota-se uma lei constitutiva tridimensional

    completa e a cinemtica de Reissner, de modo que o modelo de plasticidade considera o

    efeito combinado das tenses normais e cisalhantes para verificao do critrio 3-D de

    plasticidade. O cdigo computacional desenvolvido permite que sejam realizadas

    anlises trmicas transientes com base no mtodo dos elementos finitos para se

    determinar campos de temperatura nas sees transversais dos elementos estruturais

    sujeitos ao fogo. Assim, a influncia da temperatura nas propriedades dos materiais

    levada em considerao para se avaliar o desempenho da estrutura em cada instante da

    anlise em situao de incndio, at que o colapso estrutural seja verificado. Anlises de

    casos presentes na literatura so utilizados para validar os resultados obtidos, os quais

    comprovam a preciso do cdigo computacional desenvolvido e da formulao

    posicional quando aplicados a anlises de estruturas de ao aporticadas temperatura

    ambiente e em situao de incndio.

    Palavras chave: Anlise estrutural. Incndio. Cdigo computacional. Anlise trmica.

    Anlise termoestrutural. Mtodo dos elementos finitos posicional.

  • AABBSSTTRRAACCTT

    RIGOBELLO, R. (2011). Development and application of computational code for

    steel frame analysis in fire situation. 272 p. Ph.D Thesis - So Carlos School of

    Engineering, University of So Paulo, So Carlos, 2011.

    The present work deals with the development of a computational code based on the

    finite element method for thermo-structural analyses of steel framed structures when

    exposed to typical thermal actions of fire condition. The structural analysis is performed

    considering a computer code that uses 3-D frame nonlinear finite elements of positional

    formulation. This formulation is based on the positions of the finite element nodes,

    instead of displacements, which results in an intrinsically nonlinear description of the

    geometric behavior of structures. The cross-sections of finite elements can be of any

    geometry due to the tridimensional representation. A complete tridimensional

    constitutive law is used and, therefore, the effect of combined normal and shear stresses

    is taken into account for the tridimensional plasticity evolution. The developed

    computational code allows performing transient thermal analyses to determine the

    temperature field over the cross-sections of the structural elements subjected to fire. The

    influence of temperature on the material properties is considered to evaluate the

    structure response at each defined instant of the fire analysis, until the collapse occurs.

    The achieved results, when compared to those found in the literature, allow verifying

    the precision of the developed computational code when applied to steel frame analysis

    at ambient temperature and in fire situation.

    Keywords: Stuctural analysis. Fire. Computacional code. Thermal analysis.

    Thermo-structural analysis. Positional finite element method.

  • LLIISSTTAA DDEE SSMMBBOOLLOOSS 1

    Captulo 3 Anlise trmica via mtodo dos elementos finitos (MEF)

    T Temperatura (Kelvin)

    Temperatura (o Celsius)

    U Energia interna

    Fluxo de calor

    c Calor especfico

    Massa especfica

    Operador gradiente

    Indica derivada parcial

    q Calor interno por unidade de tempo

    Coeficiente de transferncia de calor devido conveco

    r Coeficiente de transferncia de calor devido radiao

    Ni Funes de interpolao

    i Funes ponderadoras

    [N] Matriz das funes interpoladoras

    { }T Vetor de temperaturas

    ]C[ Matriz de capacidade calorfica

    [ ]K Matriz de rigidez trmica

    { }F Vetor de fluxos de calor

    t Intervalo de tempo

    Parmetro de integrao temporal

    { } Vetor de Resduos

    - Quociente de Raileigh

    P fator de reduo ou amplificao do incremento de tempo

    1 Deve-se notar que, devido amplitude de assuntos abordados, smbolos semelhantes ou at mesmo iguais so adotados em diferentes captulos com diferentes significados, necessitando o leitor estar atento descrico dada pelo texto. Alm disso, s os smbolos mais importantes de cada captulo so contemplados nesta listagem.

  • Lista de smbolos

    II de IV

    Captulo 5 Mtodo dos elementos finitos posicional e a formulao para

    elemento finito de prtico no linear 3-D

    f(x) funo mudana de configurao

    A Gradiente da funo mudana de configurao

    1 , 2 e 3 Coordenadas adimensionais da configurao de referncia

    Funo de forma

    Pl Designao de n na descrio do contnuo

    iXl Coordenadas do n Pl , na configurao de referncia

    iYl Coordenadas do n Pl , na configurao atual

    0if Componente i do vetor mapeamento da configurao de referncia para a inicial

    1if Componente i do vetor mapeamento da configurao de referncia para a atual

    h0 Espessura inicial;

    h Espessura atual;

    1iVl ,

    2iVl Vetores generalizados que geram a seo transversal na configurao inicial

    1igl ,

    2igl Vetores generalizados que geram a seo transversal na configurao atual

    C Alongamento de Cauchy-Green direita

    E Mdulo de elasticidade

    Coeficiente de Poisson

    E Tensor de deformao de Green

    miYl Translaes

    1 , 2 Coordenadas adimensionais ordinrias para elemento finito triangular

    j , j Coordenadas dos pontos que constituem a malha auxiliar da seo transversal

    j1 2( , ) a matriz das funes de forma do elemento triangular

    1l, 2

    l Intensidade da taxa de deformao segundo a direo dos vetores 1 e 2

    elDl

    Valores dos deslocamentos devido ao empenamento para os l pontos de cada

    elemento finito W

    l Intensidade do empenamento

  • Lista de smbolos

    III de IV

    Captulo 6 Anlises inelsticas em temperatura ambiente

    f Funo de plastificao

    J2 Segundo invariante do tensor de tenses desviador

    I1 Tensor de tenses hidrosttico

    m Tensor mdio

    i j Delta de Kronecker

    Fora termodinmica

    0 Tamanho inicial da superfcie de plastificao

    Coeficiente de atrito, caracterstica do material

    Multiplicador plstico

    Deformaes totais

    e Deformaes elsticas

    p Deformaes plsticas

    p Incremento da deformao plstica

    Direo do fluxo plstico

    p Ceficiente de Poisson plstico

    Kp Mdulo de compressibilidade virtual

    eC Tensor elstico de segunda ordem

    pC Tensor elstico de segunda ordem

    pD Inversa do tensor plstico de segunda ordem

    Tensor de tenses

    hd Encruamentos desviador

    hv Encruamento volumtrico

    epC Tensor constitutivo tangente

    plC Parcela plstica do tensor constitutivo tangente

    epmodC Tensor constitutivo tangente modificado

  • Lista de smbolos

    IV de IV

    Captulo 7 - Anlises termoestruturais: Aspectos e resultados obtidos Tenso total

    i Tenso inicial

    r Tenso residual

    Coeficiente de dilatao

    sec Coeficiente de dilatao secante

    ref Temperatura de referncia (oC)

    /l l Alongamento relativo

    G Deformaes de Green

    eng Deformaes de engenharia

    fy Resistncia ao escoamento do ao a 20C

    fy, Resistncia ao escoamento do ao a uma temperatura a

    fp Limite de proporcionalidade do ao a 20C

    fp, Limite de proporcionalidade do ao a uma temperatura a

    E Mdulo de elasticidade dos de aos laminados a uma temperatura a

  • SSUUMMRRIIOO

    CAPTULO 1 INTRODUO ................................................................................. 1

    1.1 COMENTRIOS PRELIMINARES .................................................................. 1

    1.2 OBJETIVO .......................................................................................................... 2

    1.3 JUSTIFICATIVA ..... ........................................................................................... 3

    1.4 METODOLOGIA ................................................................................................ 5

    1.5 APRESENTAO DO TRABALHO ................................................................ 8

    CAPTULO 2 ANLISE DE ESTRUTURAS EM SITUAO DE INCNDIO:

    UMA BREVE REVISO .............................................................................................. 9

    2.1 INTRODUO ................................................................................................... 9

    2.2 A MODELAGEM DO INCNDIO ................................................................. 11

    2.2.1 Curva temperatura-tempo de um incndio ......................................................... 11

    2.2.2 Modelo de incndio-padro ............................................................................... 13

    2.2.3 Modelo de incndio natural ............................................................................... 14

    2.2.4 Modelo de incndio localizado .......................................................................... 15

    2.2.5 Modelos de zona ................................................................................................ 15

    2.2.6 Fluidodinmica computacional (CFD) .............................................................. 17

    2.3 ANLISE TRMICA ....................................................................................... 19

    2.3.1 Resultados de ensaios ........................................................................................ 20

    2.3.2 Modelos simplificados ....................................................................................... 20

    2.3.3 Modelos avanados ............................................................................................ 21

    2.4 ANLISE ESTRUTURAL ............................................................................... 22

    2.4.1 Princpios bsicos da anlise de estruturas de ao em situao de incndio ..... 23

    2.4.2 Anlise estrutural via mtodo dos elementos finitos .......................................... 25

  • SUMRIO

    II de VI

    2.4.3 Principais aspectos da modelagem de elementos estruturais em situao de

    incndio .............................................................................................................. 26

    2.4.4 Modelagem da estrutura em nvel global Consideraes ............................... 28

    2.4.5 Alguns cdigos computacionais empregados na anlise estrutural em situao de

    incndio .............................................................................................................. 28

    2.5 REVISO BIBLIOGRFICA DA ANLISE DE ESTRUTURAS DE AO

    APORTICADAS EM SITUAO DE INCNDIO ......................................... 29

    2.6 ANLISE DE EDIFICAES COMPLETAS EM SITUAO DE

    INCNDIO - BREVE COMENTRIO ............................................................ 32

    CAPTULO 3 ANLISE TRMICA VIA MTODO DOS ELEMENTOS

    FINITOS (MEF) .......................................................................................................... 37

    3.1 COMENTRIOS PRELIMINARES ................................................................ 37

    3.2 EQUAO DIFERENCIAL DA CONDUO DE CALOR EM

    SLIDOS ........................................................................................................... 37

    3.3 CONDIES INICIAIS E DE CONTORNO ................................................... 40

    3.4 O MEF APLICADO SOLUCO DA EQUAO DIFERENCIAL DE

    CONDUO DE CALOR ................................................................................ 42

    3.4.1 Mtodo dos resduos ponderados Breve abordagem ...................................... 42

    3.4.2 Equao de conduo de calor via MEF ............................................................ 43

    3.5 PROBLEMAS EM REGIME ESTACIONRIO Consideraes .................. 46

    3.6 PROBLEMAS EM REGIME TRANSIENTE Soluo considerada ............. 46

    3.7 RESOLUO DO PROBLEMA TRMICO NO LINEAR: APLICAO DO

    MTODO DE NEWTON-RAPHSON .............................................................. 49

    3.8 RESOLUO DE PROBLEMAS DE ANLISE TRMICA TRANSIENTE

    PROCEDIMENTO DE CLCULO .................................................................. 51

    3.9 INCREMENTO DE TEMPO: PREVISO E BISSEO ............................... 53

    3.10 CONSIDERAES COMPLEMENTARES .................................................... 55

    CAPTULO 4 CDIGO COMPUTACIONAL PARA ANLISES

    TRMICAS .................................................................................................................. 57

    4.1 O MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS E A PROGRAMAO

    ORIENTADA A OBJETOS - Aspectos gerais .................................................. 57

  • SUMRIO

    III de VI

    4.1.1 Introduo .......................................................................................................... 57

    4.1.2 Programao Orientada a Objetos (POO) .......................................................... 58

    4.1.3 Caractersticas da POO ...................................................................................... 59

    4.2 IMPLEMENTAO COMPUTACIONAL ..................................................... 60

    4.2.1 Classes empregadas para mtodo dos elementos finitos ................................... 60

    4.2.2 Elementos finitos disponveis ............................................................................ 64

    4.2.3 Tipos de materiais suportados na anlise ........................................................... 65

    4.2.4 Matrizes reduzidas e solver ................................................................................ 65

    4.2.5 Condies iniciais e de contorno aplicveis ao cdigo ...................................... 67

    4.2.6 Interface do cdigo ............................................................................................ 67

    4.3 VALIDAO DO CDIGO COMPUTACIONAL PARA ANLISES

    TRMICAS ....................................................................................................... 69

    4.3.1 Anlise trmica estacionria de uma chamin industrial ................................... 69

    4.3.2 Bloco quadrado em condies adiabticas ........................................................ 70

    4.3.3 Anlise trmica uma viga de ao sob laje de concreto e sobre alvenaria em

    situao de incndio ........................................................................................... 73

    4.3.4 Anlise trmica de um pilar misto de ao e concreto em situao de incndio ..78

    4.3.5 Perfil de ao i laminado sem proteo e com revestimento tipo contorno ........ 80

    4.4 EXPLORANDO A SELEO AUTOMTICA DO INCREMENTO DE

    TEMPO E BISSEO ...................................................................................... 84

    4.4.1 Anlise com recurso de bisseo do passo de tempo ........................................... 86

    4.4.1 Anlise com seleo automtica do passo de tempo e bisseo ........................... 87

    CAPTULO 5 MTODO DOS ELEMENTOS FINITOS POSICIONAL E A

    FORMULAO PARA ELEMENTO FINITO DE PRTICO NO

    LINEAR 3-D ................................................................................................................. 89

    5.1 BREVE INTRODUO SOBRE O MEFP ..................................................... 89

    5.2 FUNO MUDANA DE CONFIGURAO .............................................. 90

    5.3 ELEMENTO FINITO DE PRTICO NO LINEAR 3-D ............................. 92

    5.3.1 Mapeamento vetorial no restrito ...................................................................... 93

    5.3.2 Mapeamento da mudana de configurao ........................................................ 97

    5.3.3 Aperfeioamento da cinemtica da seo transversal ...................................... 100

  • SUMRIO

    IV de VI

    5.4 EXEMPLOS DE APLICAO DO ELEMENTO FINITO DE PRTICO NO

    LINEAR 3-D .................................................................................................... 103

    5.4.1 Viga curva em balano .................................................................................... 103

    5.4.2 Viga em L em balano ..................................................................................... 107

    5.4.3 Instabilidade de pilar com imperfeio geomtrica ......................................... 108

    5.4.4 Configuraes deformadas para a elstica do pilar de Euler ........................... 111

    5.4.5 Instabilidade lateral de viga em balano .......................................................... 112

    CAPTULO 6 ANLISES INELSTICAS TEMPERATURA

    AMBIENTE ............................................................................................................... 115

    6.1 ANLISES INELSTICAS Introduo ...................................................... 115

    6.2 CONSIDERAO DA NO LINEARIDADE DE MATERIAL ............... 117

    6.2.1 Regra e critrios da plasticidade ...................................................................... 118

    6.2.2 Tensor constitutivo tangente ............................................................................ 120

    6.2.3 Tenses residuais ............................................................................................. 122

    6.3 BISSEO DO INCREMENTO DE CARREGAMENTO E MECANISMO DE

    REINCIO NAS ANLISES INELSTICAS ................................................ 122

    6.4 ANLISES INELSTICAS COM O SYSAF ................................................ 123

    6.4.1 Pilar com tenso residual ................................................................................. 123

    6.4.2 Portal de Vogel ................................................................................................ 127

    6.4.3 Prtico de edifcio de dois vos e seis andares ................................................ 131

    6.4.4 Prtico tridimensional de dois andares com sees retangulares .................... 134

    6.4.5 Prtico tridimensional de ao de dois andares com sees tipo H .................. 136

    6.4.6 Prtico tridimensional de ao com seis andares .............................................. 139

    CAPTULO 7 ANLISES TERMOESTRUTURAIS: ASPECTOS E

    RESULTADOS OBTIDOS ....................................................................................... 143

    7.1 PROCESSO DE SOLUO DA ANLISE TERMOESTRUTURAL ......... 143

    7.2 CONSIDERAO DAS DEFORMAES TRMICAS NO MODELO

    MECNICO .................................................................................................... 145

    7.3 RELAO CONSTITUTIVA DO AO EM TEMPERATURAS

    ELEVADAS .................................................................................................... 147

  • SUMRIO

    V de VI

    7.4 CORREO DA FORA TERMODINMICA DEVIDO MUDANA DE

    TEMPERATURA ............................................................................................ 151

    7.5 CONSIDERAO DAS TENSES RESIDUAIS EM SITUAO DE

    INCNDIO ...................................................................................................... 153

    7.6 EXEMPLOS DE ANLISES TERMOESTRUTURAIS ................................ 154

    7.6.1 Viga de ao de seo retangular submetida a aquecimento e resfriamento ..... 154

    7.6.2 Pilares de ao em situao de incndio ............................................................ 156

    7.6.3 Ensaio de viga em escala reduzida .................................................................. 159

    7.6.4 Ensaios de prticos em escala reduzida ........................................................... 161

    7.6.5 Portal de vogel sob ao de incndio .............................................................. 166

    7.6.6 Prtico tridimensional de ao de dois andares com sees tipo H .................. 167

    7.6.7 Edifcio industrial sob ao de incndio .......................................................... 169

    CAPTULO 8 CONCLUSES ............................................................................. 173

    8.1 DISCUSSES E CONSIDERAES ............................................................ 173

    8.2 SUGESTES PARA TRABALHOS FUTUROS ........................................... 177

    BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................181

    ANEXO A MODELOS DE INCNDIO-PADRO .............................................195

    ANEXO B MODELO DE INCNDIO NATURAL E AS CURVAS

    PARAMETRIZADAS DO EUROCODE .........................................199

    ANEXO C DETERMINAO DAS AES TRMICAS NAS ESTRUTURAS

    EM SITUAO DE INCNDIO ......................................................203

    ANEXO D PROPRIEDADES TRMICAS DOS MATERIAIS AO E

    CONCRETO ...................................................................................... 213

    ANEXO E ANLISE TRMICA VIA MODELOS SIMPLIFICADOS DE

    CLCULO .......................................................................................... 223

  • SUMRIO

    VI de VI

    ANEXO F INFORMAES COMPLEMENTARES SOBRE O MEF ........... 235

    ANEXO G PROCEDIMENTO VIA MEFP PARA RESOLUO DE

    PROBLEMAS COM O EMPREGO DO ELEMENTO FINITO DE

    PRTICO NO LINEAR 3-D ......................................................... 257

    ANEXO H CAMPOS DE TEMPERATURA ..................................................... 263

  • IINNTTRROODDUUOO CAPTULO

    11

    1.1 COMENTRIOS PRELIMINARES

    Dentro do contexto experimental, a anlise de estruturas submetidas a aes

    trmicas tpicas de incndio tem como notvel caracterstica um elevado grau de

    complexidade e um custo considervel. Por essa razo, h atualmente um grande

    interesse na adoo e aplicao de ferramentas alternativas, como por exemplo, cdigos

    computacionais, que possibilitem simular de maneira adequada o comportamento de

    estruturas em situao de incndio. Tais cdigos computacionais consistem de

    ferramentas numricas construdas com base, por exemplo, nos Mtodos dos Elementos

    Finitos (MEF), dos Elementos de Contorno (MEC), das Diferenas Finitas (MDF),

    entre outros.

    Apesar das limitaes numricas na representao do cenrio real de uma dada

    estrutura de interesse, o emprego de cdigos computacionais tem sido amplamente

    utilizado por pesquisadores como forma de auxiliar o entendimento do complexo

    comportamento das estruturas dentro dos contextos da elasticidade, da plasticidade, da

    dinmica e, inclusive, dentro do contexto do incndio (elevadas temperaturas), objeto de

    interesse do presente trabalho.

    De acordo com os aspectos mencionados em WANG (2002), os cdigos

    computacionais para anlise de estruturas em situao de incndio podem ser divididos

    em duas categorias: os cdigos especialistas e os cdigos comerciais ou generalistas

    (por seu vasto campo de aplicao). Dentre os cdigos generalistas elaborados com

    base no MEF podem ser citados o ANSYS, o ABAQUS, o ADINA, o DIANA, entre

    outros similares. Tal tipo de cdigo tem, normalmente, uma ampla biblioteca de

    elementos finitos e oferece vrias opes para simular o comportamento estrutural

  • Captulo 1 - Introduo

    2

    considerando no linearidades geomtrica e de material, inerentes anlise de estruturas

    em situao de incndio.

    No entanto, os pacotes comerciais impem a necessidade de um investimento

    inicial geralmente considervel, tanto quando de sua aquisio (compra do pacote)

    como para treinamento de um analista especializado em razo da complexidade de tais

    pacotes. Alm disso, existem os custos associados manuteno das licenas, o que

    pode eventualmente tornar essa opo ainda mais onerosa.

    Dentre os cdigos especialistas citam-se o ADAPTIC (IZZUDDIN e

    ELNASHAI, 1989; IZZUDIN et al., 2000), o SAFIR (FRANSSEN, 2005, 2007) e o

    VULCAN (HUANG et al. 2004; YU et al. 2010), entre outros similares. Tais cdigos

    apresentam uma melhor relao custo-benefcio quando o assunto em questo a

    anlise estrutural em situao de incndio. Porm, geralmente possuem limitaes em

    relao aos tipos e quantidade de elementos finitos disponveis para anlise, bem como

    em relao s opes para se lidar com no linearidades geomtrica e de material

    necessrias dentro do contexto das anlises estruturais a elevadas temperaturas.

    Nota-se, portanto, a existncia de vantagem e desvantagens quando da escolha e

    utilizao dos cdigos generalistas ou especialistas, as quais devem ser adequadamente

    ponderadas pelo usurio para situao que se deseja estudar. Outro aspecto que merece

    ser mencionado o fato de ambos os tipos de cdigos realizarem boa parte de seus

    clculos sem apresentar ao usurio os passos e consideraes que esto sendo feitas

    durante o processo de execuo de uma anlise estrutural, sendo por muitas vezes

    taxados pelos usurios de caixas-preta.

    Nesse sentido, buscando melhorar a relao benefcio-custo, bem como permitir

    ao usurio um maior controle dos mecanismos numricos que regem a execuo de um

    cdigo computacional se considera, como alternativa, principalmente quando se trata de

    pesquisa, a construo desses cdigos pelo prprio usurio.

    1.2 OBJETIVO

    Este trabalho consiste no desenvolvimento e aplicao de cdigo computacional,

    com base no mtodo dos elementos finitos, cujo objetivo possibilitar a realizao de

  • Captulo 1 - Introduo

    3

    anlises termomecnicas de estruturas aporticadas de ao 3-D quando expostas s aes

    trmicas tpicas de situaes de incndio.

    Dentro desse contexto, destacam-se os objetivos especficos:

    Elaborao de cdigo para anlise trmica bidimensional da seo transversal de

    elementos estruturais

    Acoplamento termomecnico com cdigo de anlise estrutural existente. As

    anlises estruturais so viabilizadas por meio do cdigo computacional de

    anlise estrutural ACADFRAME 3-D, desenvolvido pelo GMEC (Grupo de

    Mecnica Computacional do Departamento de Engenharia de Estruturas da

    EESC/USP).

    Codificao do mecanismo de bisseo de carregamento e considerao de

    tenses residuais pelo cdigo de anlise estrutural

    Anlises de validao do cdigo de anlise estrutural aplicado anlises

    avanadas de estruturas de ao aporticadas

    Desenvolvimento da matriz elastoplstica tangente para o modelo no

    associativo

    Correo da fora termodinmica para o modelo elastoplstico devido

    mudana de temperatura

    Destaca-se tambm o objetivo de trabalho conjunto com o GMEC, que visa a

    integrao entre linhas de pesquisa do Departamento de Engenharia de Estruturas (SET)

    da EESC/USP, buscando incremento da produtividade cientfica, minimizar a

    dependncia de cdigos comerciais e utilizao efetiva de produtos provenientes das

    pesquisas pertencentes ao SET. Os cdigos desenvolvidos ou adaptados tero por fim

    possibilitar anlises de estruturas de ao aporticadas em situao de incndio.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    A verificao estrutural em situao de incndio deve-se ao fato de as

    propriedades mecnicas dos materiais (ao, madeira e concreto, por exemplo)

    resultarem reduzidas quando expostas a elevadas temperaturas, podendo provocar o

    colapso da estrutura. A influncia da temperatura na resistncia e rigidez, do ao e do

  • Captulo 1 - Introduo

    4

    concreto, pode ser observada na figura 1.1, onde se esquematiza graficamente a

    evoluo dos fatores de reduo em funo da temperatura.

    (a)

    (b)

    Figura 1.1 Fatores de redues do ao e do concreto, em funo da temperatura: (a) resistncia e (b) mdulo de elasticidade. Adaptado de VARGAS e SILVA (2003).

    Os modelos de clculo de estruturas em situao de incndio se dividem

    basicamente em: Modelos Simplificados e Modelos Avanados.

    Os Modelos Simplificados de clculo permitem obter a elevao de temperatura

    de modo homogneo para toda a seo transversal do elemento de interesse, por meio

    de simples equaes analticas, geralmente aplicveis a um nmero limitado de casos.

    Tal temperatura empregada para obteno de fatores de reduo das propriedades

    mecnicas (figura 1.1) com vistas anlise estrutural, tambm simplificada, com base

    na anlise da seo transversal. No so levadas em considerao solicitaes que,

    porventura, venham surgir em resposta elevao de temperatura nos elementos,

    ocasionadas pelo impedimento s dilataes e pelos efeitos provenientes do gradiente

    trmico no sistema.

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    0 200 400 600 800 1000 1200

    Res

    ist

    nci

    a

    Temperatura (C)

    Ao

    Concreto

    0

    0,2

    0,4

    0,6

    0,8

    1

    0 200 400 600 800 1000 1200

    Md

    . de

    elas

    tici

    dad

    e

    Temperatura (C)

    Ao

    Concreto

  • Captulo 1 - Introduo

    5

    Para contornar este problema, faz-se necessrio lanar mo de Mtodos

    Avanados de clculo que tm como base mtodos numricos como, por exemplo, o

    Mtodo dos Elementos Finitos. Esses mtodos permitem obter o campo de temperatura

    num determinado elemento e, numa anlise acoplada, possibilitam considerar a reduo

    das propriedades mecnicas dos materiais e os efeitos mecnicos causadas pelas

    restries axiais aos deslocamentos e os efeitos dos gradientes trmicos na seo nos

    elementos estruturais em situao de incndio.

    As restries axiais ao deslocamento podem ocasionar o surgimento de foras de

    compresso ou de trao nas vinculaes e o gradiente trmico pode introduzir esforos

    adicionais de flexo no elemento. Como afirmado anteriormente, anlises que levem em

    conta tais aspectos so de grande interesse e de fundamental importncia na tendncia

    de estudos voltados para o desempenho das edificaes em situao de incndio.

    importante destacar ainda que a anlise de estruturas em situao de incndio

    comumente envolve grandes deslocamentos, apresentando um comportamento

    intrinsecamente no linear geomtrico.

    Diante disso, neste trabalho o emprego da formulao posicional do mtodo dos

    elementos finitos (CODA, 2003; CODA, 2009; CODA e PACCOLA, 2010) passa a ter

    importncia relevante na anlise das estruturas aporticadas em situao de incndio,

    objetivo final deste trabalho. A formulao posicional ou Mtodo dos Elementos

    Finitos Posicional (MEFP) tem como caracterstica principal ser de natureza no linear

    geometricamente exata sendo, portanto, bastante adequada resoluo de problemas

    que envolvam tal no linearidade. Anlise de estruturas em situao de incndio com o

    emprego de cdigo com base no MEFP inovadora.

    Assim, o presente trabalho contempla, alm da integrao entre linhas de

    pesquisa, minimizar a dependncia de pacotes computacionais comerciais como

    ANSYS, ABAQUS e DIANA, ou mesmo dos cdigos denominados especialistas para

    anlises de estruturas em situao de incndio tais como SAFIR e VULCAN.

    1.4 METODOLOGIA

    Anlises trmicas em slidos, realizadas por meio de cdigo computacional, tm

    por base a equao diferencial do equilbrio trmico (num volume de controle), equao

  • Captulo 1 - Introduo

    6

    (1.1), tal como a apresentada em LIENHARD IV e LIENHARD V (2005). Maiores

    detalhes quanto aplicao da equao (1.1) com soluo pelo Mtodo dos Elementos

    Finitos podem ser vistos em bibliografia especializada, tais como BATHE (1996),

    LEWIS et al. (2004) e REDDY (2004).

    {

    calordegeraoconduo

    armazenadaenergia

    qTt

    Tc 2 &321

    321+=

    (1.1)

    O Mtodo dos Elementos Finitos permite calcular as temperaturas nodais e,

    consequentemente, usar as temperaturas nodais para obter outras grandezas trmicas de

    interesse para um dado problema.

    O cdigo computacional para anlises trmicas, com base na equao (1.1), foi

    desenvolvido por meio da linguagem DELPHI e utilizando-se da programao orientada

    a objetos (POO). A descrio e a validao do cdigo so feitas no captulo 4,

    comparando-se os resultados obtidos queles apresentados para casos presentes na

    bibliografia disponvel, bem como comparando a resultados obtidos por outros cdigos,

    tais como ANSYS ou TCD (ANDERBERG, 1997).

    Depois de elaborado e validado o cdigo de clculo para anlises trmicas,

    tratou-se da transferncia adequada dos campos de temperaturas para os cdigos de

    anlise estrutural por meio de codificao adequada das interfaces dos cdigos. Assim,

    se parte de anlise trmica bidimensional, para efetuar o acoplamento termoestrutural

    com cdigo de clculo de elemento finito de prtico no linear, o ACADFRAME 3-D,

    que tem por base a formulao apresentada em CODA (2009) e CODA e PACCOLA

    (2010). Essa formulao, descrita no captulo 5, est inserida no contexto do Mtodo

    dos Elementos Finitos Posicional (MEFP) (CODA, 2003). O MEFP tem por base o

    princpio da mnima energia potencial e a posio dos ns dos elementos finitos, ao

    invs de deslocamentos, empregada na formulao tradicional de elementos finitos.

    Tal formulao tem como caracterstica principal, como j afirmado

    anteriormente, ser de natureza no linear geometricamente exata sendo, portanto,

    bastante adequada resoluo de problemas que envolvam tal no linearidade, como o

    caso da anlise de estruturas em situao de incndio. Nessa formulao, o gradiente da

    funo mudana de configurao escrito a partir das posies inicial e final como

  • Captulo 1 - Introduo

    7

    funo de espao adimensional auxiliar (CODA, 2003; CODA et. al., 2006; CODA e

    PACCOLA, 2008; CODA, 2009; CODA e PACCOLA, 2010).

    Por meio da funo mudana de configurao obtm-se uma medida de

    deformao objetiva (invariante a movimentos de corpo rgido) que possibilita a criao

    de um funcional de energia. Aplicando-se o princpio da mnima energia potencial a

    esse funcional resulta um sistema no linear de equaes, cuja soluo pode ser obtida

    por um mtodo usualmente aplicvel, como o de Newton-Raphson, por exemplo.

    O cdigo ACADFRAME 3-D contempla as no linearidade do material e

    geomtrica, cuja validao em anlises inelsticas (em temperatura ambiente)

    apresentada no captulo 6. Tais aspectos so indispensveis para anlises de estruturas

    em situao de incndio.

    Obtido o campo de temperaturas nas sees dos elementos estruturais em um

    dado instante, por meio de anlise trmica prvia, essas temperaturas podem ser

    fornecidas na anlise estrutural aos ns dos elementos finitos das sees transversais,

    discretizadas como aquelas apresentadas na figura 1.2, por exemplo.

    Figura 1.2 Exemplos de discretizao da seo transversal para anlises estruturais com elemento finito de prtico no linear 3-D.

    Pode-se ento, em cada ponto de integrao, considerar a no linearidade de

    material, bem como a eventual introduo de esforos no elemento devido elevao de

    temperatura. Neste caso codificou-se a parcela do cdigo para se lidar com as mltiplas

    curvas tenso-deformao tpicas dos materiais em situao de incndio e a variao do

    alongamento em funo da temperatura.

    1v

    2v

  • Captulo 1 - Introduo

    8

    1.5 APRESENTAO DO TRABALHO

    Ao longo deste captulo foi apresentada a proposta do presente trabalho,

    incluindo objetivos, descrio e justificativa.

    No captulo 2 faz-se a abordagem da anlise estrutural em situao de incndio,

    com descrio das etapas envolvidas e a apresentao das ferramentas disponveis para

    tal fim. Alm disso, se faz uma breve reviso bibliogrfica

    No captulo 3 so apresentados e discutidos aspectos referentes anlise trmica

    via mtodo dos elementos finitos. Parte-se da deduo da equao diferencial de

    equilbrio do fenmeno fsico at sua soluo por meio do mtodo dos elementos

    finitos.

    No captulo 4 descreve-se a estrutura do cdigo computacional para anlise

    trmica, de acordo com o paradigma da programao orientada a objetos.

    Adicionalmente, se faz a validao do cdigo trmico desenvolvido comparando-se

    resultados obtidos com casos disponveis na bibliografia.

    Em seguida, no captulo 5, so apresentados os princpios do Mtodo dos

    Elementos Finitos Posicional e a formulao posicional no linear geomtrica do

    elemento finito de prtico no linear 3-D disponvel no cdigo utilizado na pesquisa

    para as anlises estruturais. So tambm apresentados exemplos de aplicao em que se

    verifica a preciso da formulao em anlises de estruturas sujeitas a grandes

    deslocamentos.

    O captulo 6 trata das consideraes referentes ao modelo de plasticidade e

    critrio de resistncia adotado, bem como feita a validao do cdigo em anlises

    inelsticas de estruturas de ao aporticadas em temperatura ambiente, inclusive em

    casos com a considerao de tenses residuais.

    No captulo 7 os cdigos desenvolvidos e validados so aplicados em anlises

    termomecnicas de estruturas de ao aporticadas em situao de incndio com o intuito

    de se comprovar a eficcia dos procedimentos numricos adotados para tal fim.

    Finalmente, no captulo 8, so apresentadas as concluses e discusses do

    trabalho, bem como sugestes para trabalhos futuros.

  • AANNLLIISSEE DDEE EESSTTRRUUTTUURRAASS EEMM SSIITTUUAAOO DDEE IINNCCNNDDIIOO:: UUMMAA

    BBRREEVVEE RREEVVIISSOO

    CAPTULO

    22 2.1 INTRODUO

    A engenharia de segurana das estruturas em situao de incndio consiste em

    analisar os efeitos da ao trmica de incndios nas edificaes, numa combinao com

    aes previstas temperatura ambiente e, consequentemente, projetar os elementos

    pertencentes a essas mesmas edificaes para suportar os esforos decorrentes de tal

    situao.

    Entretanto, a teoria e os procedimentos para anlise do comportamento das

    estruturas em situao de incndio resultam, na grande maioria das situaes, muito

    mais complexos se comparados s anlises de estruturas temperatura ambiente. Tal

    fato se deve a uma srie de aspectos que passam a ter seus efeitos acentuados e que

    devem ser levados em conta na anlise, como, por exemplo, nas questes referentes s

    no linearidades geomtricas e de material, bem como das prprias condies de

    contorno do problema.

    Atualmente, os procedimentos para anlise e projeto de estruturas em situao

    de incndio podem ser divididos em trs classes. A primeira classe envolve os

    procedimentos mais simples, encontrada na maioria das normas e cdigos relacionados

    s exigncias de segurana das estruturas em situao de incndio. Tais normas, como a

    ABNT NBR 14432:2000, por exemplo, especificam um Tempo Requerido de

    Resistncia ao Fogo para as edificaes e, por consequncia, para os elementos

    estruturais com base em testes de elementos isolados em fornos. A chave neste

    procedimento, com base em FRANSSEN et al. (2009) e VILA REAL (2003), provar

    que o elemento estrutural tenha uma resistncia ao fogo (determinada em ensaio) ou

    dimenses iguais ou superiores quela requerida nas regulamentaes.

    Normalmente, so disponibilizadas nesses cdigos ou catlogos de fabricantes,

    informaes sobre as dimenses dos elementos e detalhes construtivos para atender tais

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    10

    exigncias. Assim, o projetista estrutural precisa apenas respeitar certos aspectos

    construtivos de modo a atender as exigncias normativas, requerendo pouco

    conhecimento de engenharia estrutural em situao de incndio. A anlise e o

    dimensionamento por meio desses procedimentos podem ser classificados como

    prescritiva. A segunda e a terceira classes de procedimentos de anlise e projeto

    procuram prever o desempenho estrutural em situao de incndio. Assim, a anlise

    com tais procedimentos denominada anlise com base no desempenho.

    A segunda classe de procedimentos considera a resistncia estrutural com base

    nos procedimentos analticos de clculo temperatura ambiente. Nesses procedimentos

    leva-se em conta a reduo de resistncia e de rigidez dos materiais quando submetidos

    a elevadas temperaturas, de modo a se determinar o comportamento estrutural numa

    temperatura tpica de uma situao de incndio. Tal abordagem propicia uma maior

    flexibilidade ao engenheiro projetista de estruturas.

    A terceira classe envolve procedimentos que levam em conta a interao entre os

    trs principais aspectos de uma anlise e projeto estrutural em situao de incndio: o

    modelo do incndio, a transferncia de calor para a estrutura e a resposta estrutural. A

    complexidade do procedimento depende das hipteses e ferramentas adotadas para

    descrever e simular cada um dos trs aspectos citados.

    Essas duas ltimas classes de procedimento normalmente necessitam do auxlio

    de cdigos computacionais e de engenheiros especializados no assunto, mas propicia

    um meio mais flexvel para projetos inovadores e pesquisa de solues mais

    econmicas. Por essa razo, no contexto internacional, a regulamentao de segurana

    contra incndio em edificaes tem evoludo no sentido de se libertar progressivamente

    das exigncias de carter prescritivo, passando a adotar procedimentos fundamentados

    no desempenho dos elementos construtivos ou estruturas expostas a situaes de

    incndios reais.

    A seguir discute-se sucintamente o estado da arte dos aspectos bsicos da anlise

    de estruturas em situao de incndio: a modelagem do incndio, a anlise trmica e

    anlise estrutural. Porm, vale salientar que, com relao s questes sobre a

    modelagem de incndio, fazem-se apenas breves abordagens deixando as questes de

    equacionamento e normativas para serem contempladas na forma de anexos. Ao final do

    captulo se faz uma breve reviso bibliogrfica

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    11

    2.2 A MODELAGEM DO INCNDIO

    2.2.1 Curva temperatura-tempo de um incndio

    Para que possa ocorrer um incndio torna-se necessria a existncia simultnea

    de trs fatores: uma fonte de calor, o combustvel e o comburente (oxignio). O incio

    do incndio ocorre quando a mistura combustvel/oxignio est suficientemente quente

    para que ocorra a combusto. Na figura 2.1, est representada a curva temperatura-

    tempo tpica de um modelo de incndio real, em que podem ser observadas, ou mesmo

    estabelecidas para fins de modelagem do fenmeno, trs fases sucessivas e de interesse:

    Figura 2.1 Curva temperatura-tempo tpica de um incndio real. Adaptado de VARGAS e SILVA (2003)

    Pr-flashover Fase que se inicia o incndio devido ignio localizada de material

    combustvel num compartimento, determinando o incio do mesmo. Nesta fase, as

    temperaturas do ambiente permanecem baixas (exceto na regio da ignio), tendo

    apenas influncia localizada no comportamento estrutural das edificaes. Embora no

    includa nas curvas temperatura-tempo regulamentares , do ponto de vista da

    segurana vida humana, a mais crtica, pois durante sua ocorrncia so produzidos

    gases txicos;

    Aquecimento Esta fase tem seu inicio no instante em que o fogo se espalha

    principalmente por efeito da radiao ou contato direto, resultando no incndio

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    12

    generalizado de todo o compartimento, fenmeno ou instante conhecido como

    flashover. A partir desse instante as temperaturas sobem rapidamente alcanando a

    tempertura mxima, at todo material combustvel comear a extinguir-se;

    Resfriamento Nesta fase, ocorre uma diminuio progressiva da temperatura dos

    gases, pela falta de carga combustvel ou de oxignio.

    Normalmente, os fatores que influenciam a severidade de um incndio num

    compartimento de uma edificao so: tipo de combustvel predominante (celulsico,

    hidrocarbonetos, etc.), densidade e distribuio do combustvel, tamanho do

    compartimento e geometria, condies de ventilao e propriedades trmicas das

    paredes do compartimento.

    A ocorrncia do flashover num compartimento define a transio entre as fases

    de ignio e de aquecimento no desenvolvimento do incndio. Os modelos de incndio

    podem ser classificados como pr-flashover e ps-flashover, exceto os modelos com

    base em fluidodinmica computacional (CFD), que abrangem ambas as fases.

    Com base em FRANSSEN (2009) e BAILEY (2011), dentre as vrias opes de

    modelos disponveis para dinmica de incndio cita-se: Incndio-Padro ou Incndio

    nominal, Incndio Paramtrico, Incndio Localizado, Modelos de Zona e

    Fluidodinmica Computacional (CFD). Quanto ao grau de complexidade dos modelos,

    os trs primeiros podem ser classificados como modelos simples, enquanto que

    Modelos de Zona e do tipo CFD so considerados modelos avanados.

    Os modelos simplificados requerem normalmente poucas informaes na entrada

    de dados e a temperatura dos gases de um compartimento tomada como uniforme e

    representada por uma curva de aquecimento temperatura versus tempo. So modelos

    empregados para a fase ps-flashover do incndio.

    Os modelos avanados so normalmente modelos computacionais que simulam

    os processos de transferncia de calor e massa num compartimento em situao de

    incndio. Esses modelos necessitam de informaes bem detalhadas na entrada de

    dados, no entanto eles no s permitem obter com mais detalhes as temperaturas no

    compartimento em incndio, como tambm possvel levar em conta o movimento da

    fumaa e mapear o espalhamento do incndio.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    13

    No caso dos Modelos de Zona, possvel obter a temperatura dos gases em uma

    ou vrias zonas diferente, enquanto que com modelos desenvolvidos com base em CFD

    se pode obter de forma detalhada a distribuio de temperaturas dos gases no

    compartimento.

    Nos itens que se seguem, so descritas de maneira sucinta cada um dos modelos

    anteriormente mencionados.

    2.2.2 Modelo de incndio-padro ou incndio nominal

    O modelo de incndio-padro ou de curvas nominais consiste em representar

    curvas temperatura-tempo de um incndio de maneira pr-definida. Tais curvas foram

    desenvolvidas como modelo de incndio para anlise experimental de estruturas e de

    materiais de proteo contra fogo em fornos de institutos de pesquisa (SILVA, 2001).

    Como exemplo desse modelo de incndio, podem ser citadas as curvas ISO 834-1:1999,

    ASTM E119:2000 e as curvas nominais do CEN EN 1992-1-2:2002 . De maneira geral,

    as curvas temperatura-tempo do modelo de incndio-padro podem ser representadas

    conforme figura 2.2.

    Figura 2.2 Modelo do incndio-padro. Adaptado de VARGAS e SILVA (2003).

    O ANEXO A do presente trabalho apresenta maiores informaes sobre os

    principais modelos de incndio-padro ou nominais utilizados atualmente.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    14

    2.2.3 Modelo de incndio paramtrico

    O modelo de incndio paramtrico, de acordo com SILVA (2001), tem por base

    ensaios (ou modelos matemticos aferidos por meio de ensaios) que buscam simular

    situaes reais de incndios em compartimentos de edificaes. Para a utilizao

    adequada deste tipo de modelo de incndio, devem ser levados em considerao: a

    variao da quantidade de material combustvel (carga de incndio), o grau de

    ventilao do compartimento, entre outros aspectos.

    A principal caracterstica das curvas temperatura-tempo desse modelo, e que as

    distinguem da curva de incndio-padro, a de possurem um ramo ascendente (fase de

    aquecimento) e um ramo descendente (fase de resfriamento) que, simplificadamente,

    pode ser representado por meio de uma reta, conforme figura 2.3. Portanto, essas curvas

    admitem (racionalmente) que os gases do ambiente em incndio no tm sua

    temperatura sempre crescente com o tempo, situao essa mais prxima de um incndio

    real.

    Figura 2.3 Modelo de incndio paramtrico.

    O ANEXO A do EN 1991-1-2:2002 disponibiliza o mtodo mais aceito na

    determinao de curvas temperatura-tempo com base em modelos de incndios

    paramtricos. Tais curvas so denominadas curvas paramtricas de incndio e so

    apresentadas com mais detalhes no ANEXO B do presente trabalho.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    2.2.4 Modelo de

    Um incndio num compartimento pode ser classificado como localizado quando

    no h a possibilidade da

    disponibilizadas em WANG (2002), tal situao pode ocorrer em edificao tais como

    estacionamentos, estdios e aeroportos.

    grandes dimenses e vazios, o flashover no p

    sujeita ao aquecimento l

    O fluxo de calor na superfcie dos elementos submetidos a incndios localizados

    pode ser determinado de maneira simplificada

    C do EN 1991-1-2:2002

    2.2.5 Modelos de Zona

    Modelos de Zona

    consideram o compartimento em chamas dividido em diferentes zonas,

    cada uma dessas zonas previamente definidas a

    simplificao, como

    modelos permitem considerar

    qual ilustrado na figura 2.4.

    Figura

    Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    Modelo de Incndio Localizado

    Um incndio num compartimento pode ser classificado como localizado quando

    possibilidade da ocorrncia do flashover. De acordo com

    WANG (2002), tal situao pode ocorrer em edificao tais como

    estacionamentos, estdios e aeroportos. Nesses tipos de edificaes, devido

    grandes dimenses e vazios, o flashover no passvel de ocorrncia

    sujeita ao aquecimento localizado de alguns de seus elementos.

    O fluxo de calor na superfcie dos elementos submetidos a incndios localizados

    pode ser determinado de maneira simplificada, de acordo com prescries d

    2:2002.

    Modelos de Zona

    Modelos de Zona so definidos como modelos computacionais simples que

    consideram o compartimento em chamas dividido em diferentes zonas,

    cada uma dessas zonas previamente definidas a temperatura admitida

    uniforme (BUCHANAN, 2000; FRANSSEN et al., 2009)

    considerar o comportamento de incndios em fase pr

    qual ilustrado na figura 2.4.

    Figura 2.4 Estgio pr-flashover num compartimentoAdaptado de BUCHANAN (2000).

    Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso 15

    Um incndio num compartimento pode ser classificado como localizado quando

    De acordo com informaes

    WANG (2002), tal situao pode ocorrer em edificao tais como

    es tipos de edificaes, devido s suas

    de ocorrncia e a estrutura

    O fluxo de calor na superfcie dos elementos submetidos a incndios localizados

    prescries do ANEXO

    como modelos computacionais simples que

    consideram o compartimento em chamas dividido em diferentes zonas, sendo que em

    temperatura admitida, por

    ANSSEN et al., 2009). Tais

    o comportamento de incndios em fase pr-flashover tal

    flashover num compartimento.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    16

    Para a fase pr-flashover, empregam-se usualmente modelos de duas zonas (two-

    zone models), tendo em vista que se considera o incndio no compartimento dividido

    em duas camadas homogneas ou zonas, e a pluma que conecta estas duas camadas.

    Modelos de uma zona (one-zone models) so os modelos mais simples, empregados

    apenas para a fase ps-flashover de incndios.

    De acordo com BAILEY (2011), a base terica destes modelos so as leis de

    conservao de massa, momento e energia, que so aplicadas em cada zona num

    processo dinmico que calcula o tamanho, a temperatura e a concentrao de espcies

    em cada zona com o progresso do incndio. Nesse processo, o modelo leva tambm em

    conta a pluma de fogo e o movimento da fumaa e dos produtos txicos pelas aberturas

    nas paredes e no teto.

    Tais modelos tm por base algumas hipteses da fsica do comportamento do

    incndio e do movimento de fumaa sugeridos por observaes experimentais de

    incndios reais em compartimento. Os modelos de zona no permitem obter a evoluo

    do incndio em objetos ou superfcies, de modo que necessitam para a fonte calor uma

    curva de aquecimento temperatura x tempo como dado de entrada.

    Resultados tpicos fornecidos por este tipo de modelo incluem a altura da

    camada, temperatura e concentrao dos gases nas camadas, temperatura das paredes e

    piso, alm do fluxo de calor ao nvel do piso (BUCHANAN, 2000). Existem diversos

    cdigos computacionais para modelagem de incndio com base em modelos de zona.

    Entre os cdigos com base em modelos de uma-zona, so citados:

    COMPF2, do National Institute of Standards and Technology (NIST) dos Estados

    Unidos;

    SFIRE-4, da Universidade de Lund, Sucia.

    Com relao aos cdigos com base em modelos de duas-zonas, so citados:

    CCFM.VENTS, do National Institute of Standards and Technology (NIST), Estados

    Unidos;

    CFAST, do NIST;

    OZone, da Universidade de Lige, Blgica.

    A hiptese dos modelos de zonas uma forma conveniente de se calcular o

    comportamento do incndio em compartimentos, porm simplificada. Na realidade, h

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    17

    uma transio gradual e tridimensional de temperatura, de massa e de fumaa entre as

    camadas, de modo que essa transio limita a preciso dos modelos de zona. Para

    obteno de resultados mais detalhados deve-se recorrer aos modelos de fluidodinmica

    computacional (CFD)

    2.2.6 Fluidodinmica Computacional (CFD)

    Atualmente a tcnica mais avanada na modelagem de incndios o emprego da

    Fluidodinmica Computacional (CFD), cuja utilizao permitida pelo EN 1991-1-

    2:2002. Modelos com base em CFD tm se mostrado eficientes na simulao dos

    movimentos da fumaa e, recentemente, passaram a ser aplicados na modelagem de

    incndios. Tal tcnica permite a modelagem da fase pr-flashover e de incndios

    localizados em geometrias complexas, com movimento da fumaa em compartimentos

    mltiplos (YEOH e YUEN, 2009; BAILEY, 2011;).

    Anlise com modelos tpicos de CFD envolvem escoamento de fluidos,

    transferncia de calor e a associao desses dois fenmenos pela resoluo das equaes

    fundamentais da mecnica dos fluidos. So elas: equao da conservao de massa ou

    da equao da continuidade, equao da conservao da quantidade de movimento ou

    Segunda Lei de Newton e equao da conservao da energia ou 1 Lei da

    termodinmica. O que se busca descobrir durante a anlise de um escoamento

    basicamente so as componentes do tensor das tenses, as componentes de velocidade, a

    temperatura ou massa especfica em determinado ponto. Assim, se com a presena de

    massa e tenses houver acelerao, recorre-se a segunda Lei de Newton, e se houver

    variao da temperatura ou fluxo de calor, recorre-se a primeira lei da termodinmica,

    assim por diante (SANCHES, 2011).

    Os modelos de CFD, em geral, demandam considervel esforo computacional e

    requerem um analista experiente para definio dos dados de entrada e interpretao dos

    resultados obtidos. Por outro lado, os resultados so obtidos de maneira bastante

    detalhada em cada ponto do compartimento modelado, fornecendo informaes tais

    como temperatura, velocidade e concentrao de espcies qumicas. Dentre os

    programas de CFD ditos especialistas, isto , voltados para modelagem de incndios,

    podem ser citados: o FDS (desenvolvido pelo NIST), o SMARTFIRE (pela University of

    Greenwich) e o SOFIE (pela Cranfield University).

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    18

    Alm desses, pacotes co

    modelagem de incndio como, por exemplo,

    conforme ilustra a figura 2.5.

    (a)

    (b)

    Figura 2.5 Resultado de simulao de incndio com o programa FLUENT

    (a) concentrao de gs carbnico no ambiente e

    perfis da estrutura num determinado instante da anlise.

    Fonte: http://www.difisek.eu/

    Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    merciais de CFD tambm tm sido empregados para

    como, por exemplo, o CFX e o FLUENT da ANSYS Inc,

    Resultado de simulao de incndio com o programa FLUENT

    concentrao de gs carbnico no ambiente e (b) temperatura na superfcie dos

    erfis da estrutura num determinado instante da anlise.

    http://www.difisek.eu/. Acessado em 20/02/2009.

    Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    merciais de CFD tambm tm sido empregados para

    da ANSYS Inc,

    Resultado de simulao de incndio com o programa FLUENT:

    temperatura na superfcie dos

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    19

    importante mencionar que em http://www.firemodelsurvey.com/ tm-se uma

    base de dados bastante completa sobre cdigos computacionais para modelagem de

    incndio e fumaa, onde podem ser encontradas maiores informaes sobre cdigos

    computacionais de modelagem de incndio alm daqueles mencionados neste texto.

    2.3 ANLISE TRMICA

    A anlise trmica de um elemento estrutural em situao de incndio consiste

    em determinar a variao de temperatura ou o a variao do campo de temperaturas no

    elemento de interesse, a partir das condies de contorno provenientes do modelo de

    incndio adotado. No caso de problemas de estruturas em situao de incndio, a anlise

    trmica pode ser dividida, basicamente, em duas partes:

    a-) Determinao do calor transferido por conveco e radiao, proveniente do

    incndio , no contorno do elemento de interesse;

    b-) Determinao da transferncia de calor por conduo no interior nos elementos

    estruturais.

    Para tanto, deve-se entender adequadamente os mecanismos de transferncia de

    calor, por conveco, radiao e conduo, os quais possibilitam determinar a

    transferncia de energia para um elemento de interesse. No ANEXO C so apresentados

    e discutidos esses mecanismos, bem como as hipteses usualmente adotadas para

    anlise trmica de estruturas em situao de incndio.

    Para determinao adequada da transferncia de calor no interior dos elementos

    estruturais necessrio considerar a variao das propriedades trmicas dos materiais

    em situao de incndio. No ANEXO D so apresentadas as variaes das propriedades

    trmicas dos materiais de interesse, ao e concreto, segundo especificaes da

    ABNT NBR 14323:1999, bem como dos Eurocodes CEN EN 1993-1-2:2005 e CEN

    EN 1994-1-2:2005.

    A seguir so apresentados, de forma sucinta, os principais meios para anlise

    trmica de um elemento submetido a uma situao de incndio, tais como: resultados de

    ensaios, modelos simplificados, e modelos avanados ou modelos computacionais.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    20

    2.3.1 Resultados de Ensaios

    A anlise trmica em elementos estruturais pode ser bastante complexa,

    especialmente nos casos de materiais que retm umidade e possuem baixa

    condutividade trmica, como nos casos do concreto, argamassas de proteo contra fogo

    e da madeira, por exemplo.

    O mtodo mais simples de se definir o perfil de temperaturas numa seo

    transversal de um elemento estrutural utilizar resultados de ensaios apresentados em

    tabelas ou grficos que so publicados em normas ou guias de projeto. Tais dados so

    geralmente obtidos por meio de ensaios em fornos sob condio de incndio-padro, e

    contemplam apenas as geometrias mais comuns de sees transversais.

    2.3.2 Modelos simplificados

    Os modelos simplificados permitem obter a elevao de temperatura, de maneira

    homognea, em toda a seo transversal ou em partes constituintes da seo transversal

    do elemento de interesse, por meio de simples equaes analticas. Tais modelos, no

    entanto, so disponveis apenas para perfis de ao com e sem proteo contra fogo, lajes

    mistas, vigas mistas e pilares mistos de ao e concreto. Eles so normalmente

    apresentados nas normas e guias de projeto que tratam de estruturas de ao e mistas de

    ao e concreto em situao de incndio.

    Os modelos simplificados levam em conta a transferncia de calor por

    conveco e radiao e permitem obter a evoluo de temperatura no perfil durante a

    ocorrncia do incndio. Para a resoluo das equaes do modelo de maneira transiente

    necessita-se o emprego de planilhas, eletrnicas ou no, porm, de fcil utilizao. No

    caso de elementos de ao com proteo contra fogo, as equaes so similares quelas

    utilizadas no clculo dos perfis sem proteo. So necessrias, porm, as propriedades

    dos materiais de proteo que, em muitos casos, so difceis de obter.

    O ANEXO E apresenta de forma detalhada os modelos simplificados de clculo

    para perfis de ao sem e com proteo contra fogo, as hipteses adotadas e limitaes de

    tais modelos, bem como prescries das normas ABNT NBR 14323:1999 e dos

    Eurocodes CEN EN 1993-1-2:2005 e CEN EN 1994-1-2:2005.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    21

    2.3.3 Modelos avanados

    Os modelos avanados para problemas de transferncia de calor geralmente se

    referem a modelos computacionais. Na maioria dos problemas de engenharia estrutural

    em situao de incndio a anlise trmica transiente, com condies de contorno

    dependentes do tempo e com propriedades dos materiais dependentes da temperatura, o

    que confere a tal anlise um carter consideravelmente no linear. Consequentemente, a

    maioria dos modelos avanados desenvolvida com base no Mtodo dos Elementos

    Finitos (MEF) e, por fim, a anlise trmica pode ento ser efetuada com modelos

    bidimensionais ou tridimensionais.

    A anlise da transferncia de calor em problemas de estruturas em situao de

    incndio pode ser feita por meio de pacotes comerciais de elementos finitos como

    ABAQUS, ANSYS e DIANA. No entanto, existem alguns pacotes dedicados anlise

    trmica de estruturas em situao de incndio, dito especialistas, dentre os quais podem

    ser citados o TCD (ANDERBERG, 1997), o SAFIR (FRANSSEN, 2005, 2007), e o

    FIRES-T3 (IDING et al., 1996). Em mbito nacional pode-se citar o PFEM_2D

    (SILVA, 2003) e o THERSYS (RIBEIRO, 2004, 2010).

    A figura 2.6 ilustra a malha de elementos finitos e o campo de temperaturas

    obtido com o cdigo ANSYS numa anlise trmica tpica de uma viga mista em

    situao de incndio.

    (a) (b)

    Figura 2.6 Anlise trmica de uma viga mista de ao e concreto com o programa ANSYS. (a) Malha de elementos finitos e (b) Campo de temperaturas para um

    tempo de 30 minutos para o perfil W 150x13.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    22

    No captulo 3 do presente trabalho so abordados os aspectos referentes anlise

    trmica via mtodo dos elementos finitos. Parte-se da deduo da equao diferencial de

    equilbrio do fenmeno fsico at sua soluo por meio do mtodo dos elementos

    finitos.

    2.4 ANLISE ESTRUTURAL

    O mtodo mais simples de se avaliar o comportamento de estruturas em situao

    de incndio a anlise de elementos isolados com base nos estados limites em situao

    de incndio. A verificao dos estados limites em situao de incndio fornecida nas

    normas e literatura de estruturas em situao de incndio.

    Entre as referncias que tratam do dimensionamento de estruturas de ao e

    mistas em situao de incndio, onde se apresenta com detalhes os mtodos

    simplificados de clculo, podemos citar FRANSSEN et al. (2009), PURKIS (2007)

    VILA REAL (2003) e SILVA (2001). Em BUCHANAN (2000) apresentado, alm

    dos procedimentos de dimensionamento de estruturas de ao e mistas de ao e concreto,

    procedimentos para verificao de elementos estruturas de madeira e concreto em

    situao de incndio.

    No entanto, sabe-se que o comportamento de um elemento estrutural em

    situao de incndio depende de sua interao com os demais elementos da estrutura, e

    que os projetos com base nos procedimentos de anlise de elementos isolados podem

    conduzir a resultados conservadores ou mesmo contra a segurana.

    Nesse sentido, o desenvolvimento de modelos de anlise estrutural est voltado

    para a estrutura como um todo. Devido versatilidade para se modelar estruturas com

    uma disposio qualquer, seja de geometria ou das condies de contorno, o Mtodo

    dos Elementos Finitos (MEF) tem sido o preferido da maioria dos pesquisadores e

    especialistas da anlise de estruturas em situao de incndio. Com o MEF possvel

    incorporar a variao das relaes tenso-deformao com a temperatura, bem como

    levar em conta o surgimento de tenses e deformaes na estrutura com um todo.

    Afora o fato de ser possvel modelar a estrutura como um todo, tem-se de levar

    em conta se tais modelos consideram grandes deformaes, as possveis falhas

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    23

    localizadas que porventura venham surgir, seja flambagem local em elementos de ao,

    seja fratura em elementos de concreto, ruptura de ligaes, etc.

    Portanto, em funo dos aspectos citados, bem como da estabilidade numrica

    diante de problemas que envolvam grandes deslocamentos e deformaes, que devem

    ser avaliadas as possveis limitaes das ferramentas de anlise com base no mtodo dos

    elementos finitos. Alm disso, necessrio enfatizar que a anlise estrutural ser to

    precisa quanto forem a modelagem do incndio e a anlise trmica nos problemas de

    engenharia estrutural em situao de incndio.

    2.4.1 Princpios bsicos da anlise de estruturas de ao em situao de

    incndio

    De acordo com USMANI et al. (2001), definindo-se m como a parcela referente

    s deformaes mecnicas e th a parcela referente s deformaes trmicas, a relao

    fundamental, e de grande importncia, que governa o comportamento de estruturas

    submetidas a efeitos trmicos dada pela equao (2.1).

    mth += (2.1)

    As deformaes totais () influenciam o estado de deformao da estrutura por

    meio das consideraes cinemticas ou de compatibilidade. Em contrapartida, o estado

    de tenso na estrutura, em regime elstico ou plstico, depende somente das

    deformaes mecnicas, estando essas deformaes trmicas, em situaes sem

    restries axiais ou rotacionais, livres para se desenvolverem de maneira irrestrita, sem

    carregamento externo, cujo efeito da expanso (ou retrao) axial ou do gradiente

    trmico resultado da relao dada pela equao (2.2).

    th= (2.2)

    Todavia, onde as deformaes trmicas so totalmente restringidas, sem

    carregamento externo, as deformaes totais so nulas e tenses trmicas e de

    plastificao resultam das deformaes dadas de acordo com a equao (2.3).

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    24

    thm = (2.3)

    O fator mais importante, e que determina a resposta real da estrutura ao

    aquecimento, a maneira com a qual ela responde s inevitveis deformaes trmicas

    induzidas em seus elementos durante o aquecimento. Elementos cujas extremidades so

    restringidas axialmente produzem deformaes mecnicas contrrias expanso trmica

    e, portanto, geram considerveis tenses normais de compresso, conforme esquematiza

    a viga da figura 2.7.

    Figura 2.7 Aquecimento uniforme de uma viga restringida horizontalmente e o surgimento de reaes de compresso nos apoios.

    Agora, ao se aplicar um gradiente trmico uniforme ao longo do comprimento,

    identificado por ,y (diferena de temperatura entre as fibras superior e inferior, por

    exemplo), sem nenhum aumento da temperatura mdia viga da figura 2.7, uma

    curvatura induzida termicamente na viga, conforme figura 2.8.

    Figura 2.8 Viga restringida horizontalmente submetida a um gradiente uniforme de

    temperatura ,y.

    No caso de elementos cujos extremos so restringidos rotao, conforme figura

    2.9, as deformaes devido curvatura induzida por gradiente trmico podem conduzir

    a grandes momentos de flexo negativos por toda a extenso do elemento.

    Figura 2.9 Viga com restrio rotacional submetida ao um gradiente uniforme de

    temperatura ,y.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    25

    Diante do exposto, fica claro que o efeito das restries de extremidade crucial

    na determinao da resposta de elementos estruturais s aes trmicas, tendo, como

    consequncia, a necessidade da anlise da estrutura como um todo devido

    impossibilidade de se quantificar localmente os efeitos das restries axiais a rotao

    nas extremidades dos elementos. Assim, pode-se concluir que as deformaes trmicas

    se manifestaro na forma de deslocamentos (se no estiverem restringidas) ou como

    tenses (se estiverem restringidas) de forma a contrapor as deformaes mecnicas

    geradas pelas foras de restrio (reaes de apoio).

    2.4.2 Anlise estrutural via Mtodo dos Elementos Finitos

    Como afirmado anteriormente, o desempenho de estruturas em situao de

    incndio pode ser avaliado com o emprego de cdigos elaborados com base no MEF,

    sejam eles cdigos especialistas para tal fim ou pacotes comerciais generalistas.

    Vale enfatizar que, da mesma forma que foi dito para os mtodos simplificados,

    o emprego do mtodo dos elementos finitos na anlise estrutural uma aproximao do

    comportamento real da estrutura. Antes de usar cdigos computacionais de interesse, o

    usurio precisa entender as hipteses e aproximaes intrnsecas a esse cdigo, bem

    como a validade de tais hipteses e aproximaes frente ao problema a ser analisado.

    No entanto, pode-se afirmar que um dos requisitos indispensveis para qualquer

    programa empregado para anlise de estruturas em situao de incndio que estes

    devem ser capazes de lidar com as no linearidades geomtricas e de material na

    modelagem do problema.

    Os principais efeitos da ao do fogo numa dada estrutura de interesse so:

    a-) Degradao das propriedades dos materiais constituintes;

    b-) Induzir interaes entre os elementos constituintes da estrutura onde restries

    axiais e ao giro estiverem presentes.

    Alm disso, importante destacar que para a modelagem de uma estrutura

    completa, a perda da capacidade de carga de um elemento gera a redistribuio de

    carregamento para elementos ou estruturas adjacentes. Portanto, a modelagem numrica

    de uma estrutura completa deve contemplar duas frentes:

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    26

    a-) Ser capaz de simular a capacidade portante de elementos isolados e as

    instabilidades locais;

    b-) Em contexto global, levar em conta as interaes e redistribuies de carregamento

    quando possvel.

    2.4.3 Principais aspectos da modelagem de elementos estruturais em situao de

    incndio

    Vigas e Pilares - Consideraes

    Segundo WANG (2002), observaes experimentais do comportamento das

    estruturas em situao de incndio sugerem que os seguintes aspectos sejam levados em

    conta na modelagem de vigas e pilares: flexo e cisalhamento, instabilidade local,

    instabilidade lateral com toro, instabilidade distorcional e o efeito de catenria em

    resposta s grandes deformaes;

    A modelagem numrica de vigas e pilares usualmente feita com o emprego de

    elementos de barra. Com a definio apropriada dos graus de liberdade, a flexo, o

    cisalhamento e instabilidade lateral com toro podem ser adequadamente modelados e

    identificados. Para simular o efeito de catenria o cdigo deve ser capaz de lidar com a

    no linearidade geomtrica em situao de grandes deslocamentos.

    As instabilidades dos tipos local e distorcional so comuns de ocorrerem em

    elementos de barra constitudos por chapas de parede fina. No caso, os elementos de

    barra no conseguem simular tais fenmenos. Para tanto, elementos finitos de casca ou

    elementos do tipo slido devem ser utilizados.

    Ligaes - Consideraes

    A considerao da conexo entre elementos finitos deve ser cuidadosamente

    definida para a considerao do comportamento real da estrutura, tendo em vista que em

    situao de incndio o comportamento da estrutura bastante influenciado pelos

    esforos provenientes das restries a expanso trmica e, portanto, deve se garantir que

    os elementos estejam conectados nas posies corretas para se simular as restries

    axiais a expanso trmica adequadamente (WANG, 2002).

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    27

    temperatura ambiente, uma ligao viga-pilar pode ser simulada por um

    elemento de mola, e uma relao momento-rotao suficiente para descrever o

    comportamento de tal ligao. No entanto, em situao de incndio, devido s restries

    axiais ao deslocamento, essa ligao pode ser submetida a esforos adicionais de trao

    ou compresso, alm dos esforos de flexo. Essa combinao de flexo e cisalhamento

    na ligao pode conduzir a ruptura de componentes da ligao como parafusos e chapa

    de ligao. Portanto, as ligaes viga-pilar devem ser mais bem avaliadas por meio de

    modelos com elementos de casca, elementos slidos e elementos de contato.

    Nos casos das vigas mistas, a viga e a laje podem ser tratadas como elementos

    independentes e a interao entre eles pode ser garantida por meio de elementos de

    barra representando os conectores de cisalhamento. Para garantir que no haja

    penetrao entre a viga e a laje nas situaes de grandes deslocamentos, podem ser

    utilizados elementos de contato na interface entre a viga e a laje.

    Diante do exposto, fica claro que a considerao do comportamento real das

    ligaes nos modelos numricos no uma tarefa simples, e pode demandar uma

    anlise local mais detalhada para que se possam prevenir possveis colapsos localizados

    nas ligaes. Alm disso, o emprego de elementos de contato numa anlise em situao

    de incndio pode aumentar significantemente as dificuldades de convergncia durante o

    processamento.

    Lajes - Consideraes

    A estratgia de modelagem numrica para lajes depende da funo da mesma na

    estrutura. Se a funo da laje for apenas aumentar a resistncia a flexo de vigas, a laje

    pode ser tratada como parte de um elemento de barra como, por exemplo, no caso da

    mesa comprimida numa viga mista de ao e concreto. Entretanto, sabe-se que numa

    situao real a laje pode redistribuir as aes gravitacionais para os elementos

    estruturais adjacentes.

    Alm disso, em situaes de grandes deslocamentos, os efeitos de membrana

    podem ser ativados, fato que explica o desempenho superior alcanado nos ensaios de

    resistncia flexo de pavimentos num edifcio em escala real, realizados em

    CARDINGTON no Reino Unido na dcada de 90 (HUANG et al., 2003a; HUANG et

    al., 2003b).

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    28

    A forma mais adequada de se modelar as lajes com o emprego de elementos

    finitos do tipo casca, j que o emprego de elementos finitos do tipo slidos pode

    aumentar muito o esforo computacional na anlise do problema para que sejam obtidos

    resultados coerentes e em concordncia com observaes experimentais.

    2.4.4 Modelagem da estrutura em nvel global - Consideraes

    A principal diferena entre o comportamento de uma estrutura completa de uma

    edificao e o comportamento de elementos isolados em situao de incndio que, no

    caso de estruturas completas, estas possibilitam redistribuio de esforos quando da

    ocorrncia do colapso de um de seus elementos. Portanto, alm de ser capaz de lidar

    com grandes deslocamentos dos elementos, o cdigo dever ser capaz de simular

    corretamente a possibilidade de colapso progressivo da edificao com a redistribuio

    de esforos.

    2.4.5 Alguns cdigos computacionais empregados na anlise estrutural em

    situao de incndio

    Para fins de anlise de estruturas em situao de incndio, como j afirmado

    anteriormente, os cdigos podem ser divididos em generalistas (pacotes comerciais) e

    especialistas. Dentre os generalistas podem ser citados o ANSYS, o ABAQUS e o

    DIANA.

    Dentre os programas ditos especialistas para anlises de estruturas em situao

    de incndio pode-se citar novamente o SAFIR (FRANSSEN, 2005, 2007), o VULCAN

    (HUANG et al. 2004; YU et al. 2010), o ADAPTIC (IZZUDDIN e ELNASHAI, 1989;

    SONG et al., 2000; IZZUDIN et al., 2000) e, mais recentemente desenvolvido no Brasil,

    o cdigo THERSYS (RIBEIRO, 2004, 2010). Uma reviso abrangente dos principais

    cdigos especialistas e de suas caractersticas pode ser vista em WANG (2002) e em

    CALDAS (2008).

    Neste trabalho a anlise estrutural consistir da anlise de estruturas aporticadas

    planas com elemento de prtico laminado. A formulao de elementos finitos a ser

    empregada ser a formulao posicional (CODA, 2003; CODA e PACCOLA, 2010),

    apresentada e discutida no captulo 5.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    29

    2.5 REVISO BIBLIOGRFICA DA ANLISE DE ESTRUTURAS DE AO

    APORTICADAS EM SITUAO DE INCNDIO

    A seguir so apresentados por meio da tabela 2.1 alguns trabalhos desenvolvidos

    no Brasil e no mundo, relacionados com o tema Anlise de Estruturas de Ao,

    principalmente as aporticadas, em situao de incndio, tanto no contexto numrico

    quanto experimental.

    Na tabela 2.1 valem a s seguintes abreviaes:

    MEF - Mtodo dos elementos finitos

    SI - Situao de incndio

    NLG - No linearidade geomtrica

    NLM - No linearidade de material

    Tabela 2.1 - Resumo de estudos envolvendo anlise de estruturas de ao, principalmente as aporticadas, em situao de incndio.

    Trabalho Objetivo Descrio

    RUBERT e SCHAUMANN

    (1985, 1986)

    Anlise em escala reduzida do comportamento de prticos de

    ao em SI.

    Anlise experimental de trs tipos diferentes de prticos de ao em escala

    reduzida de 1/4 para obteno da temperatura de colapso.

    COOKE e LATHAM

    (1987)

    Observar a diferena de comportamento de um

    elemento isolado e de outro semelhante numa estrutura

    aporticada em SI.

    Primeiro ensaio de um prtico em escala real em situao de incndio. Resultados mostraram a importncia de se considerar

    a continuidade das estruturas em SI.

    FRANSSEN et al. (1995)

    Simular numericamente o comportamento de prticos

    bidimensionais em situao de incndio

    Apresenta resultados de simulaes numricas de estruturas aporticadas

    bidimensionais em SI com o programa CEFICOOS. Sugere que programas

    computacionais como esse podem ser bastante teis no auxlio a anlise de

    estruturas em SI.

    NAJJAR e BURGES (1996)

    Descrever o cdigo 3DFIRE para anlise de estruturas

    aporticadas em SI

    O trabalho descreve e valida o cdigo em casos elementares, bem como aplicado

    a anlise de uma subestrutura de edificao considerando o incndio

    restrito a um compartimento.

    SILVA (1997) Estudo do comportamento das

    estruturas de ao em altas temperaturas

    Analisa a influncia da ventilao, da carga de incndio e da geometria da seo transversal na temperatura dos elementos estruturais. Prope modelos simplificados de clculo com considerao das NLG e

    NLM e das deformaes trmicas.

  • Captulo 2 Anlise de estruturas em situao de incndio: uma breve reviso

    30

    Tabela 2.1 (Continuao 1) - Resumo de estudos envolvendo anlise de estruturas de ao, principalmente as aporticadas, em situao de incndio.

    Trabalho Objetivo Descrio

    LI e JIANG (1999)

    Propor um procedimento para calculo da resposta no linear e do carregamento de colapso de

    prticos de ao em SI

    Apresenta formulao para elemento de prtico considerando NLG e NLM. Os

    resultados obtidos em SI so comparados com resultados experimentais de dois prticos de ao ensaiados em escala

    reduzida.

    NWOSU e KODUR (1999)

    Reviso do estado da arte da anlise do comportamento de estruturas aporticadas em SI.

    Enfatiza a diferena do comportamento elementos estruturais em SI quando se

    considera a anlise de elementos isolados e quando se considera a interao deste

    com os demais elementos presentes numa estrutura aporticada.

    SONG et al. (2000) e

    IZZUDIN et al. (2000)

    Apresentar um novo mtodo para anlises adaptativas de estruturas de ao aporticadas

    expostas ao fogo e a exploses.

    O artigo apresenta os novos desenvolvimentos inseridos no programa

    ADAPTIC e valida os resultados do programa frente a resultados

    experimentais e numricos de anlises estruturas expostas ao fogo

    HUANG et al. (2004)

    Descrever um elemento finito de prtico no linear com seo

    transversal qualquer para anlise tridimensional de

    estruturas aporticadas. O elemento foi implementado no

    software VULCAN e, em seguida, foi validado por comparao com resultados

    de estudos tericos e experimentais existentes de elementos estruturais de ao

    e mistos de ao e concreto. IU e CHAN

    (2004)

    Apresentar a formulao que inclui NLM e NLG para prever o comportamento estrutural de elementos de ao sem proteo

    em temperaturas elevadas.

    A formulao de elemento finito de prtico apresentada tem por base o conceito das rtulas plsticas para

    modelar o comportamento elasto-plstico do material. Apresenta comparaes de resultados experimentais e numricos.

    LANDESMANN (2005)

    Desenvolvimento de modelo computacional para anlise de estruturas de ao aporticadas

    em situao de incndio

    Analisa estruturas ap