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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL -
PDE
MATERIAL DIDÁTICO PEDAGÓGICO
(UNIDADE TEMÁTICA)
ROSANE GONÇALVES GASPAR DA SILVA
APUCARANA-2008
2
ROSANE GONÇALVES GASPAR DA SILVA
OUTROS OLLHARES: UM CONTRAPONTO A NARRATIVA HISTÓRICA
CONSAGRADA SOBRE O PASSADO DA CIDADE DE APUCARANA
Material Didático Pedagógico
desenvolvido através do Curso do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, na área
de História, com o tema de estudo: Os
processos históricos que transformaram as
paisagens do município de Apucarana.
Orientador: Profº. Drº. Gilmar Arruda
APUCARANA
2008
3
Unidade Temática:
NRE: Apucarana Município: Apucarana
Nome do Professor:
Rosane Gonçalves Gaspar da
Silva
e-mail:
Escola: Col. Est. Nilo Cairo Fone: (43) 3422-9118
Disciplina: História Série: 2º Ano do Ensino Médio
Conteúdo Estruturante: Relações de Trabalho, Poder e Cultura
Conteúdo Específico: Industrialização e urbanização no Paraná no contexto
do capitalismo
Título: Outros olhares: um contraponto a narrativa histórica consagrada sobre
o passado da cidade de Apucarana
Relação Interdisciplinar:
Geografia e Artes
APRESENTAÇÃO:
Este texto está dividido em duas partes que são:
A primeira parte representa a unidade temática sobre a história local, as leituras desenvolvidas sobre o tema específico que são as narrativas históricas e imagens do município de Apucarana: (1930 – 2008), que foram feitas ao longo do primeiro ano deste programa (PDE). Esta parte contém reflexões teóricas historiográficas sobre a temática acima.
A segunda parte apresenta proposta de atividades didáticas que serão desenvolvidas com os alunos, como parte da implementação do plano de trabalho proposto anteriormente.
4
No final das atividades será desenvolvido um artigo contendo as avaliações tanto dos estudos realizados, quanto a implementação em sala de aula.
NARRATIVA HISTORICA, IMAGEM E PAISAGEM: O QUE NOS REVELAM?
O objetivo deste material didático pedagógico é analisar as narrativas históricas
e memórias sobre as transformações sócio-econômicos da “ocupação” da região hoje
situada ao norte do Paraná e para isto tomamos como recorte o município de
Apucarana.
Nosso estudo pensando na história local será desenvolvido na cidade de
Apucarana e, portanto, oportuno se torna dizer, desde 1950, muitos foram aqueles que
descreveram pequenos estudos sobre sua cidade. E importante se faz realçar que
parte deles procurou confirmar o discurso dominante, quando não construí-lo,seja
através do discurso da narrativa ou através das imagens. Convém ponderar que
outros procuraram outras possibilidades de análise do esse processo, e é por este
prisma que nos propomos a enveredar.
Posto assim a questão, é de se dizer que os fatos sociais e históricos são
percebidos de modo diferente, dependendo do tempo, do lugar, da classe e da
ideologia de quem analisa, e acrescenta-se a tudo isso o fato de que nenhum estudo
consegue fazer uma reconstituição total dos fatos históricos, portanto, pretendo aqui
apenas pontuar algumas questões mais presentes nas narrativas e que possuem
maior força no sentido de silenciar outros discursos.
Resumo histórico de Apucarana:
Tratar sobre a história de Apucarana é estudar uma parcela histórico-social
do Paraná e do Brasil. A colonização desta região sempre é mencionada como a
cargo da Companhia de Terras Norte do Paraná, fundada por empresários
britânicos. Tendo comprado meio milhão de alqueires do governo do estado em
5
1927, a companhia se dedicou a partir daí à venda de lotes para pequenos e
médios fazendeiros, em sua grande maioria interessados no cultivo de café.
A empresa foi responsável pela fundação da maioria das cidades da região,
entre as quais Londrina, Maringá. Em seu planejamento, a Companhia de Terras
adotou diretrizes bem definidas. As cidades destinadas a se tornarem núcleos
econômicos de maior importância seriam demarcadas de cerca de 100 em 100
quilômetros aproximadamente, como acontece com Londrina, Maringá, Cianorte e
Umuarama. Entre estes, distanciados de 10 a 15 km um do outro, seriam fundados
os patrimônios, a exemplo de Cambé, Rolândia, Arapongas, Apucarana e outras.
Entretanto, no caso de Apucarana, a área era dividida com outra empresa, a
fazenda Três Bocas, do Dr. Joaquim Vicente de Castro que tinha a propriedade das
terras a partir da direita de um marco firmado próximo ao atual centro de
Apucarana, Avenida Curitiba. Apucarana ficou em segundo plano para Companhia,
ou seja, não estava no projeto imediato da Companhia de Terras Norte do Paraná
que não fez muitos investimentos de infra-estrutura como aconteceu com as outras
cidades. (SOBRINHO, 2007)
NOVOS OLHARES SOBRE A NARRATIVA HISTÓRICA DE APUCARANA:
Os pioneiros, do alto da serra do APÓ-CAARÃ-ANÃ, e, portanto, mais perto do Criador, de onde descortinavam o horizonte longínquo e as belezas em derredor, apesar de todas as privações, sentiam-se reconfortados e adentravam o sertão bruto de machado em punho, abrindo as picadas (...) fazendo surgir às queimadas e os primeiros ranchos toscos cercados de palmitos e cobertos de tabuinhas ou de lona e de chão batido que se enfileiravam as margens das clareiras na mata inóspita, onde hoje se situa a Avenida Curitiba. (ASPLANCO, 1985)
Frases como essas, de diferentes autores, são comuns nos escritos, oficiais ou
não, sobre o norte do Paraná, de Apucarana e de outras regiões do Paraná ocupadas
pela sociedade nacional e paranaense no século XX. Tal construção ocorreu dentro
dos marcos da expansão capitalista, da égide da modernidade que incorporou essas
novas áreas ao seu sistema de produção.
6
Como se observam marcados pela persistência dos traços de caráter
capitalista, os avanços produtivos de forte desenvolvimento tecnológico foram
acompanhados por mudanças de relações econômicas e sociais; as migrações
internas e a urbanização ganham um ritmo acelerado, tratava-se de uma
“sociedade em movimento”, nos afirma Fernando Novais.
“... Restava sempre a saída de aventurar-se na fronteira agrícola em movimento. O deslocamento permanente de fronteira agrícola, nestes anos que vão de 1950 a 1980, tornou-se possível porque o estado foi construindo estradas de rodagem e criando alguma infra-estrutura econômica e social (eletricidade, policiais e justiça, escolas, postos de saúde, etc.) nas cidades que foram nascendo ou revivendo na marcha para o interior do Brasil. Nos anos 50, o trabalho na agricultura do norte do Paraná atraiu muitos imigrantes...” (NOVAIS, 1999)
Para Fernando Novais, a industrialização e a urbanização deste
período, ocorriam de forma mais intensa o processo de colonização do interior do
Brasil sentido o Norte do Estado do Paraná.
Por outro enfoque, outras narrativas historiográficas salientam que
sua ocupação data o início do séc. XX, mais precisamente 1908, por comunidades de
posseiros, caboclos e grileiros, que em choque com os índios Kaingangues que
ocupavam a região, sobreviviam de uma agricultura de subsistência e com o comércio
dos tropeiros cargueiros. (TOMAZI, 1999)
Os agentes da construção de tais narrativas históricas são muitos: desde
a história oficial das companhias colonizadoras, os discursos governamentais, os
escritos que fazem a apologia da colonização ocupada pelos chamados “pioneiros”.
Como atestam as fotografias abaixo:
7
Foto 1 Foto 2
Acervo prefeitura municipal Acervo prefeitura municipal Tema: 1ª casa de madeira, Tema pioneiro ao lado construída na Av. Curitiba de uma peroba Autor: desconhecido Autor desconhecido Local e data: década de 40 Local e data década de 30 Apucarana Apucarana
Na foto 1 observam-se ao fundo as florestas da região que foram cortadas pela
picada, dando ênfase a estrada de chão como sinal do progresso que rompe com a
selva inóspita que representa o atraso. Ao lado direito da foto a casa de madeira
demarca a presença e posse do branco desbravador. Já na foto 2 enaltece o “pioneiro”
ao lado do tronco de peroba que apesar de sua magnitude é vencida por ele.
O MITO DO “VAZIO DEMOGRÁFICO”:
A historiografia paranaense, sobretudo, sobre a ocupação nas décadas de 30 e
a 50 do séc.XX, bem como os livros didáticos que se utilizando dessas fontes, repete a
idéia de que as terras indígenas do terceiro planalto do Paraná constituíam um imenso
vazio demográfico, pronto a ser ocupado pelos pioneiros.
Considerando os estudos e documentos de outros autores sobre a presença do
indígena na região que refuta a idéia de “vazio demográfico” acrescentam-se abaixo
as citações de Lúcio Mota:
8
(...) “com isso retiram-se, eliminam-se propositadamente da
História regional as populações indígenas que aqui viviam e resistiram
à conquista de suas terras e destruição de seu modo de vida.” (...)
“Recolocando as populações indígenas como sujeitos ativos da
história, percebemos que os territórios localizados entre os rios
Paranapanema, Tibagi e Ivaí, hoje denominados de norte e noroeste
do Paraná, foram ocupados, desde tempos imemoráveis. (NOELLI e
MOTA, 1999)
De igual forma o discurso dominante omite ou desqualifica outros agentes
históricos que tiveram participação neste contexto, deixando–os no anonimato, são
estes: posseiros, grileiros, caboclos, “bugres”, tropeiros.
É de longa data as primeiras tentativas de ocupação do território da região
norte do Paraná, segundo os registros datam a partir do séc. XVII, a Coroa Portuguesa
Imperial iniciou doações de sesmarias formadas por extensões desconhecidas de
terras e inteiramente formadas por matas nativas e regiões isoladas. O Paraná era um
território “sesmado”. Porém, as terras do norte do Paraná eram anteriormente da
sesmaria, de muitos posseiros e grileiros que viviam da economia de subsistência,
como também dos indígenas da região. Existia uma população denominada de
caboclos ou “bugres” que formavam pequenos núcleos e viviam da agricultura local e
mantinham relações comercias com os tropeiros. (MARSON, E.,2000)
O PIONEIRO COMO FIGURA DE EXCELÊNCIA:
Como se observa na historiografia, muitos autores que escreveram sobre a
ocupação da região norte do estado do Paraná procuraram ressaltar os feitos e a
importância sobre algumas pessoas ou sobre determinadas famílias, dando a elas o
titulo máximo de “verdadeiros pioneiros e heróis”, desconsiderando as pessoas
comuns, que foram os alicerces da construção desta sociedade.
Ao contrário da narrativa histórica dominante o objetivo é analisar alguns
aspectos da memória que consolidou tal narrativa.
9
� Por que se pretende sagrar as ações dos chamados
“grandes homens - os pioneiros”?
� Etimologicamente quem era o pioneiro? O uso desta
expressão tal habitual apresenta estranheza.
� Esta região não seria ocupada anteriormente a este
período de colonização? Quem habitava a região?
É de verificar-se no discurso dominante, que desde o início do processo de
ocupa, tem sido apresentado uma gama de personagens intitulados “pioneiros”,
procurando-se, enaltecer a figura de determinadas pessoas em detrimento de
outras que não são citadas. Nessa esteira a definição mais clara e precisa deste
personagem encontra-se em várias citações e imagens:
Foto 3 Foto 4
Acervo Prefeitura Municipal de Apucarana Acervo: Prefeitura Municipal de Apucarana
Tema: Dr. Joaquim no quintal do chalé, Tema: propaganda da terra fértil feita pela
por ele construído em Apucarana Companhia de terras Norte do Paraná
Data: década de 40 Data: década de 30
Autor: desconhecido Autor: desconhecido
10
“(...) Mas o espírito empreendedor de seus primeiros moradores, (subtende-se pioneiros), oriundos de vários estados e de várias partes do mundo, se aliou no trabalho fecundo e perseverante e com uma garra indescritível, unidos, não se deixaram abater pelo estado de abandono em que se encontravam e pelo desânimo.” (ASPLANCO, 1985)
Na foto 3 Joaquim Vicente de Castro é um personagem colocado em maior
destaque como exemplo maior entre os pioneiros, como desbravador de tantas coisas
e que trouxe benefícios que é desnecessário elencar, na foto 4 a imagem do pioneiro é
marcada pela fé e agradecimento a Deus pela terra abençoada.
Ao fazer uso destas imagens julgando-as, partindo de um olhar histórico do
presente para o período em questão, convém ponderar que a ocupação e colonização
do norte do estado do Paraná não ocorreram de forma pacífica, foi gerado de uma
rede de intrigas, disputas, combates entre índios, posseiros e grileiros e os então
“Pioneiros” da região.
A questão da violência e da expropriação das terras indígenas, bem como a
presença de jagunços, não são métodos do passado, são testemunhos vivos da “ação
civilizatória”, da própria barbárie daqueles que a sofreram. Não deteremos em fazer
citações, visto a gama que comprova esta afirmativa.
A indagação que insiste é por que outros personagens não aparecem
nestas fontes históricas?
OUTRO MITO: O CAFÉ
O café sempre foi posto como o produto de sustentação para a história do
povoamento do Norte do Paraná. No discurso da ocupação do norte do Paraná a
busca do “Eldorado”, da terra promissora, está principalmente associada ao plantio de
café. Tomamos dois trechos como referência:
O processo de colonização do interior do Brasil sentido o Norte do Estado
do Paraná. O após-guerra caracterizou-se pelo plantio intensivo de cafezais:
11
“A cafeicultura paranaense é continuação da “marcha
para o oeste” dos paulistas, que sempre à procura de
perspectivas de lucros adentraram o Paraná quando suas
terras já estavam se tornando escassas ou supervalorizadas
pelo desenvolvimento da agricultura comercial com base na
produção de café.” (CANCIAN, 1981)
O quadro demográfico se altera radicalmente aponta Denninson Oliveira na
citação abaixo e a partir da ocupação do chamado Norte Novo, em decorrência da
produção cafeeira à medida que grande fluxo de contingente humano deslocava-se
para a região, maior era o número de pés de café plantados. Entre as décadas de 40 e
50 o aumento da população paranaense foi intenso.
“O efeito dessa iniciativa (cultivo de café na região)
sobre as estruturas demográficas e econômicas paranaenses
foi enorme. Sabemos que a população do Paraná quase
dobrou de tamanho entre 1940 e 1950, passando de 1.236.276
de hab. Para 2.115.547. Entre 1950 e 1960, dobrou de novo,
atingindo 4.258.239. O ritmo de crescimento será mantido até o
ano de 1970, quando se atingiu 6.929.868 hab. Boa parte
desses índices deriva precisamente da ocupação, baseada na
pequena e média propriedade, da região Norte do Estado.
Somente na área da companhia de Terras Norte do Paraná
calcula-se que teriam se fixado 100 mil famílias já no início dos
anos 50.” (OLIVEIRA, 2001)
O impacto decorrente da modernidade, especialmente com a urbanização,
provocou mudanças de modo geral no território nacional, com o forte deslocamento
populacional e iniciativas de colonização de áreas consideradas até então sertões,
como o caso do Norte do Paraná especificamente. Os recursos e imagens da
paisagem, a natureza exuberante, solo fértil, serviu de estímulo para a vinda de
colonos para a região.
Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a
região cafeeira é conhecida geograficamente como a do Planalto Ocidental
Paranaense, compreendida entre os vales dos rios Ivaí, ao sul, e Paranapanema ao
norte, sendo delimitada, a leste, pela serra da esperança (serra Geral) e a oeste
pelo rio Paraná. O seu limite climático é o paralelo de 24º.
Seu relevo é de espigões planos, levemente arredondados e de altitudes
variáveis, geralmente de material basáltico nas melhores terras para o café. Porém,
12
o café nem sempre esteve associado à terra roxa pura, e sim, muito mais, às terras
ainda virgens, recobertas de matas, o que favoreceu ao processo de colonização e
expansão urbana e ao desmatamento.
A política de valorização do café e o decréscimo da disponibilidade de terras
roxas para a cafeicultura em São Paulo impeliram antigos colonos e lavradores a
comprá-las no Norte do Paraná. (CANCIAN, 1981)
As implicações da política econômica relacionada com o setor cafeeiro, bem
como os preços do café exerceram influência sobre a expansão cafeeira
paranaense e conseqüentemente sobre o processo de colonização e urbanização.
Entretanto o município de Apucarana foi marca do por uma diversidade de
atividades econômicas como a produção de feijão, milho e algodão e não somente
o café. Para atender colonos e barões do café Apucarana se transformou em centro
comercial cerealista.
Para tanto, tomemos como referência a diversidade econômica em décadas,
assim delimitamos este período a partir do surgimento de Apucarana como núcleo
colonial em 1930.
• Entre 1930 e 1950 destacou-se a economia da madeira, suínos
e a produção agrícola do milho.
• Entre 1950 e1970 economia assentada no arroz e no feijão,
produção de grãos, e parque industrial para o beneficiamento do café.
• Entre 1950 e 1980 período das grandes safras de café colhidas
no norte do Paraná.
• Entre 1990 e 2000 período de industrialização, marcado pela
presença maciça de considerado parque industrial de bonés que dá o título à
cidade de capital do Boné. (MARSON, E.,2000)
Obviamente, não pretendemos especificar e detalhar cada período mediante a
riqueza de informações. O que propomos é levantar algumas considerações do
discurso dominante que dá grande ênfase o café como o carro chefe da colonização
na trajetória do município de Apucarana e de tantos outros do norte do Paraná. Fez-se
presente uma diversidade de atividades econômicas assentada na pequena
propriedade e no comércio realizado pelos tropeiros.
13
Antes do plantio o norte do Paraná foi palco do desmatamento e da
instalação de madeireiras. Na região havia grande quantidade de madeira nobre
para abastecer o mercado interno dos grandes centros consumidores: figueira
branca, cedro, pinho, peroba rosa, pau-marfim, jangada, cabriúva, caviúna, pau
d’alho entre tantas outras. A madeira diversificada da região, na década de 30,
atraiu industriais para a exploração do produto. (MARSON, 2000, p.61)
Várias fontes imagéticas comprovam esta referência:
FOTO 5
Acervo: da Prefeitura Municipal de Apucarana
Tema: fixação e desmatamento da região de Apucarana pelos colonos.
Data: década de 30
Autor: desconhecido
OS PROCESSOS HISTÓRICOS E SOCIAIS QUE MUDARAM A
PAISAGEM DO MUNICÍPIO:
Paradoxo da realidade nacional tomada nas décadas de 40 e
especificamente de 50, pelo progresso das comunicações, dos transportes,
avanços tecnológicos, enxurrada de eletrodomésticos, etc., a região Norte do
Paraná, como tantas outras do Brasil, vivia a mais profunda situação de
precariedade. O então Eldorado apresentava suas complicações.
14
Ações e fatores políticos permearam as mudanças e delimitaram os
interesses de transformações do município para o que se encontra atualmente. De
uma cidade basicamente constituída de área rural na época de sua colonização
com extensas lavouras de café e outros cereais, numa busca incessante pela
industrialização e urbanização.
O Brasil, após a 2ª Guerra Mundial, num período relativamente curto de
trinta anos, de 1950 a 1980, tinha sido capaz de construir uma economia moderna,
incorporada aos padrões de produção e consumo próprios dos países capitalistas.
Marcados pela persistência dos traços de caráter capitalista, os avanços
produtivos de forte desenvolvimento tecnológico foram acompanhados por
mudanças de relações econômicas e sociais; as migrações internas e a
urbanização ganham um ritmo acelerado.
O Paraná alcançou a condição de industrialização somente na década de
80.
Em Apucarana faltava de tudo desde a água potável,
até a tão sonhada energia elétrica, somado as intemperanças da
hostilidade da mata bruta e seus perigos: feras, pisotear cobras,
poeira avermelhada, o lamaçal (verdadeiros atoleiros), as agruras
das doenças e da pobreza das vestimentas, a chegado o inverno,
os fortes ventos, etc. (ASPLANCO, 1985)
É oportuno dizer que, e como se observa, a idéia de progresso e
civilização, sempre está associada à paisagem urbana, e os registros históricos
fotográficos dos municípios do norte do Paraná e no caso de Apucarana, em sua
grande maioria enfocam as transformações que ocorreram neste espaço.
Inaugurações de obras arquitetônicas, presença de elementos do moderno,
caminhões, as linhas férreas, a energia elétrica etc., o espaço rural foi sendo
modificado. Como podemos observar nas fotografias abaixo:
15
FOTO 6 FOTO 7
Acervo: da Prefeitura do Município de Apucarana Acervo: da Prefeitura do Município de Apucarana
Tema: Vista parcial da Praça Rui Barbosa Tema: inauguração da chegada linha férrea
Esquina com a Rua João Cândido Ferreira. em Apucarana
Data: 30/10/1952 Autor: desconhecido Data: 10/11/1973 Autor: desconhecido
TRABALHANDO COM FOTOGRAFIAS:
O que se pretende, nesta parte do material didático pedagógico é propor
atividades através do uso de imagens fotográficas que subsidiem a contraposição da
narrativa histórica dominante sobre o município de Apucarana, oportunizando uma
nova vertente de análise sobre a construção desta sociedade.
Muito tem sido dito e escrito acerca das relações entre Imagens e a História,
e muito freqüentemente, professores de História relatam dificuldades para explorar,
em sala de aula, a relação entre as imagens e a história-conhecimento e
particularmente, entre a História e a fotografia.
E na busca de conhecer e fundamentar nossas práticas pedagógicas
apresenta-se identificar os limites e possibilidades para o uso de imagens da
paisagem local nas aulas de história no Ensino Médio.
� Em que medida a leitura de imagens e especificamente o
uso da fotografia, como recurso pedagógico tem despertado o
interesse dos alunos pelo estudo de História?
16
� O aluno tem percebido que o ambiente em que vive se
transforma e modifica pela observação da paisagem? Reconhece-se
como parte deste processo?
Partindo da afirmação de Kossoy que “Toda fotografia é um resíduo do
passado, uma fonte histórica aberta a múltiplas significações” (KOSSOY, 2001), compreende-
se que a imagem e/ou a fotografia não é estática e absoluta, pois está inserida num
contexto do passado e do presente e esta só faz sentido quando nossa interpretação
visual interage com nossos padrões culturais e sociais.
Arruda afirma que, ao tratar os processos históricos que mudaram a
paisagem, “as imagens, em particular as fixadas pelo processo fotográfico, tiveram um grande
peso no processo de domesticação do exótico, do estranho, dos territórios selvagens...”
(ARRUDA, 2005)
É preciso, entretanto não perder de vista o olhar que se lança em direção
ao passado, o problema central que se apresenta aos professores é o tratamento
metodológico que o acervo iconográfico exige, para que não se limite o seu uso
como apenas ilustrativo para um tema ou como um recurso para seduzir um aluno
acostumado com a profusão de imagens e sons do mundo audiovisual.
Alguns cuidados para analisar uma imagem e/ou fotografia:
• A fotografia é um recorte do passado; é uma
representação do real.
• A fotografia não é estática, depende do olhar de que se
lança sobre ela.
• A fotografia é subjetiva, desde a sua produção, existe
sempre um sujeito por trás da máquina fotográfica.
• É necessário perguntar o que está sendo fotografado, a
fim de compreender por que e para que.
17
PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA O USO DA FOTOGRAFIA:
O uso da fotografia como fonte histórica contribui para:
• A identificação de tempo, espaço, pessoas ou grupos sociais
• A compreensão do antes e depois.
• O entendimento do conceito de “geração”.
• A compreensão das mudanças e permanências.
Como destaca Circe Bittencourt e tomando como base os estudos
Kossoy é necessária a “desconstrução” da fotografia. (BITTENCOURT, 2004, p.332 e
366). E esta se dá em três níveis de indagação:
a) Sobre a existência em si da fotografia: o que vem a ser a
fotografia? O que ela é capaz de dizer? Como podemos recuperar o sentido do
seu dizer? Por que tal fotografia existe? Quem a fez, em que circunstâncias e
para que finalidade foi feita?
b) Sobre o significado da fotografia como objeto: o que
significa a fotografia como simples objeto como fruto do trabalho humano?
Como e por quem foi produzida? Para que e para quem foi produzida? Qual a
relação da fotografia (como objeto particular) no universo da produção? Qual a
finalidade e o caráter necessário que comanda sua existência?
c) Sobre o significado da fotografia como sujeito: por quem fala
tal fotografia? De que história particular participou? Que ação e que
pensamento estão contido em seu significado? O que a fez pendurar como
depósito da memória? Em que consiste seu ato de poder? (MARSON, 1984,
P.52)
18
LEITURA DE IMAGENS E/OU FOTOGRAFIAS:
Como outras fontes de documentação, a fotografia exige
procedimentos metodológicos específicos:
1º passo: Aula Expositiva: O que a foto retrata? Como chegar à
compreensão daquilo que não foi revelado pela fotografia?
• O espaço público e o privado e a natureza: (dos homens
e dos animais).
• A vida das pessoas na intimidade.
• A fruição da vida: cotidiano, emocional, calmo ou agitado,
espaço urbano ou rural.
• Mundo em transformação: problemas da sociedade, seus
valores, guerras, preconceito, miséria, etc., vida urbana ou no campo.
2º passo: Decomposição da Fotografia em unidade de significados.
• Ficha 1 (Dados): local, data, tema central, pessoas
retratadas, objetos retratados, atribuições dos personagens,
atribuições da paisagem, autor/data. Observação: primeiramente
apresentar a fotografia aos alunos sem legenda ou crédito, depois
apresentar.
• Ficha 2 (de análise): descrever os conteúdos da
fotografia, como é a expressão das imagens: fisionomia, disposição
dos objetos, o que está em primeiro e segundo plano, ângulo, verem a
mensagem, considerando a imagem e seu significado, tematizar as
imagens.
• Ficha 3 (compreensão histórica): inserir a fotografia no
panorama sócio, econômico, político, cultural de sua época:
personagens suas ações, postura, vestimentas, calçados e adornos,
os objetos presentes na cena, os elementos ausentes, representação
de valores de seu tempo, vida material dos sujeitos no seu tempo,
19
detalhes as formas de ser ou comportamentos, os elementos móveis e
imóveis, arquitetura, formas de trabalho, infra-estrutura, etc.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E CRONOGRAMA:
1º Passo: Sondagem conceitual inicial (duas aulas da segunda semana de
fevereiro)
O que se pode observar nesta imagem? (Observação: não colocar legenda
para deixar livre interpretação dos alunos)
Foto 8
• Como você classifica o município de Apucarana?
• Defina a cidade de Apucarana? Aponte suas
características:
• Você sabe quando e como surgiu a cidade de
Apucarana?
20
2º Pesquisa bibliográfica: sobre O município de Apucarana. Divisão por
equipes (em contra turno – prazo para realização segunda quinzena de fevereiro)
3º Análise e discussão: dos resultados da pesquisa. ( duas aulas da
primeira semana de março)
4º Aula expositiva: sobre o contexto histórico do período da colonização do
município e análise de algumas fotografias. (aplicação do material da unidade
pedagógica). ( duas aulas da segunda semana de março)
5º Pesquisa de campo: entrevistas com outros personagens que não foram
citados na narrativa dominante, coleta de dados (fotografias) e catalogação. ( Em
contra turno durante o mês de abril)
6º Elaboração de texto narrativo: pelos alunos sobre o tema estudado.
(Nas duas últimas aulas do mês de abril)
7º Fotografando a História local: vários pontos atuais do município pelos
alunos. (Também em contra turno durante o mês de abril.)
8º Aula expositiva: de análise das novas fotografias coletadas. (duas aulas
da primeira semana de maio)
9º Organização da exposição de fotos: produção de materiais textos,
filmagem, fotografias, etc. (quatro aulas duas últimas semanas de maio)
10º Exposição em mural das fotografias produzidas: para apreciação da
comunidade escolar. (Em contra turno final de junho, data a confirmar)
11º Sondagem dos resultados do projeto: aula expositiva com a utilização
da mesma imagem da aula de abertura seguido de redação pelos alunos -
conclusão e opinião sobre o projeto. (última aula do primeiro semestre/2009)
21
AVALIAÇÃO:
A avaliação será contínua, processual, gradual e cumulativa, através dos
seguintes instrumentos: interesse e participação, pesquisa bibliográfica e de campo,
entrevistas, coleta de dados, textos narrativos, exposição e debates e outros. Se
possível, pretende-se no final do projeto a produção pelos alunos de material
multimídia com fotografias do município.
REFERÊNCIAS DAS FOTOGRAFIAS:
Acervo do Departamento de Cultura da Prefeitura do município de
Apucarana: ainda se encontra em fase de catalogação, portanto não apresenta
créditos.
Foto 1: Acervo prefeitura municipal, Tema: 1ª casa de madeira, construída na Av. Curitiba, Autor: desconhecido, Local e data: década de 40, Apucarana
Foto 2: Acervo prefeitura municipal, Tema pioneiro ao lado de uma peroba, Autor: desconhecido, Local e data década de 30, Apucarana
Foto 3: Acervo prefeitura municipal, Tema: Dr. Joaquim no quintal do chalé, por ele construído em Apucarana, Data: década de 40, Autor: desconhecido.
Foto 4: Acervo:prefeitura municipal, Tema: propaganda da terra fértil feita pela Companhia de Terras Norte do Paraná, Data: década de 30, Autor: desconhecido
Foto 5: Acervo: da Prefeitura Municipal de Apucarana, Tema: fixação e
desmatamento da região de Apucarana pelos colonos, Data: década de 30, Autor: desconhecido.
Foto 6: Acervo: da Prefeitura do Município de Apucarana, Tema: Vista parcial da Praça Rui Barbosa com a esquina da Rua João Cândido Ferreira, Data: 10/11/1973, Autor: desconhecido
22
Foto 7: Acervo: da Prefeitura do Município de Apucarana, Tema: inauguração da chegada linha férrea em Apucarana, Data: 10/11/1973, Autor: desconhecido.
Foto 8: Acervo: da Prefeitura do Município de Apucarana, Tema:parcial da avenida Curitiba de Apucarana, Data: década de 50, Autor: desconhecido
BIBLIOGRAFIA:
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